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Este documento inclui o programa e os resumos das apresentações e saídas de campo integradas no Seminário "A Geologia da Rota da Vinha e do Vinho: do Lima ao Minho", realizado entre 25 e 27 de abril de 2014 em Viana do Castelo, Monção e Melgaço.

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PROGRAMA • RESUMOS

ORGANIZAÇÃO

CO-ORGANIZAÇÃO

25 de abril sexta-feira

13h30–19:00 Saída de campo “Testemunhos da evolução geomorfológica e ambiental do território, entre os rios Minho e Neiva: Parte I”. Coordenação: Ricardo J. Carvalhido, Diamantino I. Pereira e Renato F. Henriques - CGUP, CESAM, DCT-UM (inclui almoço rápido). Local de encontro: Praia Norte (Viana do Castelo).20:00–22:00 Receção dos participantes: Espumante Verde de Honra. Prova de vinhos realizada por Agostinho Peixoto - Foz Caffé Viana do Castelo (Praça da Liberdade)

26 de abril sábado • Solar do Louredo

10:00–10:30 Sessão de Boas-Vindas (APG, Município de Viana do Castelo, Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho)10:30–11:00 Conferência de Abertura “Região dos Vinhos Verdes. Território, Encepamento e Tecnologia” Rogério de Castro - ISA/CBAA.UL11:00–11:40 Painel Geologia, Geomorfologia e Geodiversidade11:00-11:20 “Litostratigrafia dos depósitos costeiros do NO de Portugal (Minho-Neiva)” Ricardo J. Carvalhido, Diamantino I. Pereira e Pedro P. Cunha - CGUP, CESAM, DCT-UM11:20-11:40 “Monitorização da migração costeira – – o que medir, como medir e com que finalidade?” Renato Henriques - DCT-UM11:40–12:20 Painel Enoturismo e Viticultura11:40-12:20 “Terroir, identidade dos vinhos na região do Vinho Verde” Anselmo Mendes - - Anselmo Mendes Vinhos12:30–14:30 Almoço no Solar do Louredo com produtos regionais14:30-15:30 Painel Geologia, Geomorfologia e Geodiversidade14:30-14:50 “Episódios de Instalação e Deformação das Rochas Graníticas (Viana do Castelo, NW Portugal)” Jorge Pamplona - CIGR/DCT, Escola de Ciências, UM

14:50-15:10 “Geodiversidade de Portugal: um novo modo de caracterizar e avaliar o território” Diamantino Pereira - DCT-UM15:10-15:30 “Património geológico: um recurso científico, educativo e turístico” José Brilha - DCT-UM15:30-16:00 Wine break com café16:00–17:00 Painel Enoturismo e Viticultura16:00–16:20 “Cartografia digital e estratificação de vinhas com recurso a fotografias aéreas captadas por veículos aéreos não tripulados (VANT)” José Aranha e Renato Henriques - CITAB-UTAD, CGUP-UM16:20–16:40 “O conceito de Terroir na agricultura biodinâmica” Vasco Croft - Aphros Wine16:40–17:00 “A enologia do Vinho do Louredo” Carlos Blanco - Solar do Louredo17:00-17:30 Sessão de encerramento (APG, Município de Viana do Castelo, Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho)17:30–18:30 Visita às instalações de produção do Solar do Louredo 18:30–19:30 Verde de Honra20:00 Jantar convívio

27 de abril domingo

08:30-18:00 Saída de campo “Testemunhos da evolução geomorfológica e ambiental do território, entre os rios Minho e Neiva: Parte II”. Coordenação: Diamantino I. Pereira - DCT-UM (inclui almoço piquenique e visitas ao Palácio da Brejoeira, Quinta do Mato, Quintas de Melgaço e Quinta do Soalheiro). Local de encontro: Praia Norte (Viana do Castelo).

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A Região dos Vinhos Verdes demarcada em 1909 é geografica-mente a maior denominação de origem de Portugal, e a que nos últimos dez anos cresceu sistematicamente na exportação.Território

O Noroeste português compara-se a um anfiteatro que da orla marítima se eleva gradualmente para o interior expon-do-se à influência atlântica. Os vales dos principais rios cor-tam a região e são toda uma rede de penetração dos ventos oceânicos, sendo uma região de pluviometria média elevada (1.400mm/ano) mas mal distribuída. Com alguma frequên-cia aos exageros das chuvas seguem-se períodos secos de verão tornando-se necessário recurso à rega. As chuvas, são particularmente nocivas quando coincidem com as vindi-mas. Em geral as temperaturas são amenas havendo por ve-zes picos que poderão causar estragos (escaldão…) agravados se coincidem com stress hídrico.

A região assenta fundamentalmente em formações gra-níticas com algumas manchas de xistos. São solos pobres, ácidos, franco arenosos, enriquecidos ao longo de muitas gerações em matéria orgânica, pelas aplicações maciças de estrume. (Galhano 1986)

“O solo é devido à desagregação dos graníticos…com fal-ta de cal e ácido fosfórico…provocando desequilíbrio na sua composição física… A abundância de água e de estrumações fazem com que nesta província a cultura se estenda por toda a superfície útil subindo encostas. O trabalho incansável de uma população exuberante supre as deficiências do solo” (M. Figueiredo 1924). Mas os tempos mudaram. O engenho-so aproveitamento da água e dos tradicionais sistemas de regadio desapareceram. O abandono das” bouças” , o não aproveitamento do mato (tojo) para as “camas” do gado e os fogos, vêm tornando o Noroeste português perigosamente menos fértil, com maior erosão com escassez de matéria or-gânica e de água. (cf. Ribeiro Telles, 2007).

Sistemas de condução da vinhaA viticultura desta região perde-se nos tempos. A introdu-

ção e coexistência da vinha contínua e em bordadura remon-ta à época medieval – vinea integra e enforcado. É referido o fenómeno da pouca terra com tanta gente para alimentar, e as consequências da introdução do milho grosso (seculo XVI) que terão remetido a vinha para as bordas dos campos. Esta nova cultura viria a provocar autentica revolução no siste-ma agrário regional. Não obstante a relevante importância socio-económica que a vinha sempre teve, do século XVI ao século XX aparece sempre integrada neste sistema cultural apenas nas bordaduras, ora em enforcado e arjoado, explo-rando em altura o que se perde em superfície, ora em latadas ou ramadas, sempre associadas às práticas culturais do inte-rior dos campos. Apenas no século XX se retomaria a vinha contínua, assim volvidos 20 séculos! Nas décadas 50 e 60 do século passado com a transferência dos festões da bordadura para o interior dos campos dá-se a sua sistematização de for-ma contínua na forma cruzeta. Este novo modelo integra dois cordões horizontais e pareados, aos quais se associam duas cortinas independentes e com vegetação retumbante.

Em consequência das deficiências apontadas às cruzetas nos anos 80, outras alternativas surgiriam, mas todas de cor-dões horizontais: cordão simples, com vegetação retumban-te e cordão sobreposto, sendo retumbante a vegetação do su-perior e indisciplinada a vegetação do cordão /cepa inferior.

Recentemente a perda de algumas actividades rurais, nomeadamente a pecuária e a bouça e consequente escas-sez de matéria orgânica, vem-se reflectindo na deficiente fertilidade dos terrenos – mais erosão, menos estrume e consequente perda de vigor generalizada nos vinhedos. A brusca decadência das bordaduras sobretudo das ramadas, está a causar drástica perturbação na paisagem do Entre--Douro e Minho.

26 abril 2014 sáb 10:30-11:00conferência de abertura

REGIÃO DOS VINHOS VERDESTerritório, Encepamento e TecnologiaRogério de CastroISA/CBAA – Universidade de Lisboa [email protected]

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A actual vinha contínua em termos de condução não está sistematizada de modo criterioso, limitando a mecanização em termos de economia de escala. Ainda abundam o cordão sobreposto e sobretudo o cordão simples (monoplano retum-bante). Duas outras formas começam a ter expressão: mono-plano ascendente - modelo mais universal mas menos ligado à viticultura regional, e o sistema Lys com vegetação ascen-dente e retumbante, conducente a um mais eficaz comando do crescimento, da produção e do microclima sobretudo ao nível dos cachos.O encepamento

Tradicionalmente dominavam os vinhos tintos. Em tem-pos recuados tiveram notoriedade os tintos “abertos” sobre-tudo no Alto Minho. Entretanto consagraram-se os Verdes Tintos, mais encorpados e com muita cor, decorrente do pre-domínio da casta Vinhão. Atualmente estes vinhos apenas se impõem no mercado local, sobretudo para autoconsumo. Por sua vez, os brancos estão hoje em franco ascendente na região, no país e correm mundo. Avanços notáveis na tecno-logia vitícola e enológica e a nobreza das suas castas, são a causa deste sucesso. No encepamento da região destacam-se castas autóctones (Alvarinho, Loureiro, Avesso…) e a excelen-te adaptação da Arinto (sin. Pedernã) – a casta portuguesa mais “plástica” quer em termos ecológicos quer enológicos (vinhos jovens ou vinhos de guarda, espumantes… ). Recen-temente assiste-se a mudanças bruscas nos encepamen-tos, nesta como noutras regiões. Modas? Mercados?… ou a pressão do tempo que faz correr atrás da própria sombra?! O fenómeno de reencepamento ou re-enxertias pela técnica “chip-buding” é uma ferramenta de grande valia por permi-tir num curto espaço de tempo e sem perda significativa de produção, actualizar o encepamento e incorporar novos ma-teriais biológicos – há um rico património genético a preser-var e riqueza a produzir.

Uma nota sobre porta enxertos: longe vai o tempo do Cor-riola de raiz “pastadeira”, eficiente na vinha em bordadura com os campos estrumados e bem regados. Tarda o reconhe-cimento do Gravesac, excelente para solos ácidos. Visando a antecipação da maturação permitindo vindimas antes da chuva, será recomendável o 101.14 (desde que corrigido o pH) e o 196.17 (também adaptável a solos ácidos e bom coloniza-dor do solo em profundidade). Para aumentar as produtivi-dades (imperativo actual na região) será de retomar o uso do SO4.

Há terroir, castas e tecnologia... Trata-se de conquistar o futuro reconhecendo o passado.

Abril 2014

Para mais informações, consultar:2011, CASTRO, R. (2011). A viticultura da região dos Vinhos

Verdes. Os primórdios e do virar do século à actualidade. In: Francisco Girão. Um inovador da vitivinicultura do nor-te de Portugal, Vol. II, p. 7-41.

2012, CLÍMACO, P.; RICARDO-DA-SILVA ,J; LAUREANO, O.; CAS-TRO, R.; TONIETTO, J. (2012). O Clima vitícola das principais regiões produtoras de uvas para vinho de Portugal. In: Cli-ma, zonificación y typicidad del vino en regiones vitiviníco-las Iberoamericanas. 315-357. EDITORES TéCNICOS: JORgE TONIETTO, VICENTE SOTéS RUIz E VICENTE góMEz-MIgUEL. CYTED, MADRID.

palestras

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Apesar do litoral do distrito de Viana do Castelo constituir uma extensa área de afloramentos, distribuídos ao longo de mais de 30 km de costa, a evolução subactual da paisagem, nomeadamente durante a última crise climática importante (Pequena Idade do Gelo), terá contribuído para a ocultação da maioria das formações sedimentares, nomeadamente pelo desenvolvimento de uma extensa cobertura dunar, que poderá, em parte, explicar o desinvestimento científico nesta área nas últimas décadas. Os trabalhos que incidiram nos depósitos costeiros desta área, essencialmente teses, são comparativamente em menor número que os das regiões li-torais limítrofes de Galiza e Neiva-Aveiro.

A tendência de recuo que a linha de costa tem mostrado nas últimas décadas revelou um importante registo sedi-mentar, cujo estudo possibilitou um avanço sobre a concep-ção tradicional dos paleoambientes da fachada atlântica do norte de Portugal, estabelecida em torno da terminologia de

Costa & Teixeira (1957) - Formação Areno-Pelítica de Cober-tura, bem como termos similares: cobertura areno-pelítica, areno-pelítico, depósito areno-argiloso, Formação Areno--Argilosa do Litoral, Formação de Cobertura e Formação areno-limosa (e.g. Alves, 1996; Carvalho & Granja, 2003; Ri-beiro, 2003). Carvalho & Granja (2003) reconhecem que esta formação não tem sido motivo do devido estudo aprofunda-do quando comparado, por exemplo, com outras formações como a de Mougás. Alves (1996) referiu-se à Formação are-no-limosa como sendo constituída por duas unidades – UI (unidade inferior), de origem eólica e US (unidade superior) proveniente de alimentação local.

Foram identificados e amostrados 11 locais que se denomi-narão de estações de amostragem, distribuídos entre os 2 os 13 m de altitude (n.m.m.) (Fig. 1).

As estações de amostragem estão numeradas de acordo com o critério de localização, de norte para sul (Quadro 1).

26 abril 2014 sáb 11:00-11:20painel geologia, geomorfologia e geodiversidade

Litostratigrafia dos depósitos costeiros do NO de Portugal (Minho-Neiva)Ricardo J. Carvalhido1,2, Diamantino I. Pereira1,3, Pedro P. Cunha4

1Centro de Geologia da Universidade do Porto 2Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro 3Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho 4Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra

Fig. 1 - Estações de estudo e amostragem das unidades quaternárias do Litoral Norte. A imagem apresentada não abrange o setor Anha - Neiva, por não existirem depósitos aflorantes. A escala varia segundo a perspetiva. Imagem do Google Earth.

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Estação deamostragem Descrição sumária Fotografia

1 Estrada Real

Talude de direção aproximada NO-SE, subperpendicular à linha de costa atual, com cerca de 50 m. Terraço granítico à cota de 8 m (nmm). A espessura do corte varia entre os 100 cm e os 400 cm.

2 S. Domin-gos

Afloramento de arriba de praia subparalelo à linha de costa, com cerca de 130 m de extensão. Sequência sedimentar com vários níveis; espessura entre 150 e 250 cm instalada sobre terraço granítico à cota aproximada de 3 m (nmm).

3 Sto. Isidoro Afloramento de arriba de praia, 160 m a SO da Capela de Sto. Isidoro, em Vila Praia de Âncora. Possui cerca de 20 metros de extensão e espessura entre 60 e 120 cm.

4 Forte do Cão

A estação de amostragem é constituída por dois cortes, às cotas aproximadas de 3 e 13 m (nmm). O corte à cota inferior situa-se na praia do Forte do Cão, cerca de 45 metros a norte daquela estrutura de defesa e desenvolve-se até à arriba de praia. Parcialmente coberto por dunas.

5Alcantilado de Monte-

dor

Sequência sedimentar acessível mediante amostragem por trado ou por escava-ção. O topo da sequência está a cerca de 5 m, estendendo-se 230 cm até atingir o substrato granítico. Os afloramentos são acessíveis unicamente a pé. A estação encontra-se aproximadamente 70 m a oeste da Ronca de Montedor.

6 Cambôa do Marinheiro

A estação de amostragem localiza-se na arriba de praia da Cambôa do Marinheiro, em Montedor, 130 m a sul da praia de Fornelos. Extensão aproximada de 30 m, segundo NNO-SSE. Espessura de sedimentos entre 100 e 170 cm. A sequência está assente sobre o terraço granítico-quartzítitico à cota de 2.6 m (nmm).

7 Canto Ma-rinho

Sequência sedimentar preservada sob as dunas da praia do Canto Marinho. Foi revelada uma extensão de 40 m, segundo NNE-SSO. A base do corte está à cota de 2 m, com espessura de cerca de 130 cm abaixo da superfície topográfica, até atingir o substrato (Formação de Valongo).

8 S. Sebastião

O corte resultou da construção do viaduto ferroviário, no lugar de S. Sebastião - Areosa. Permitiu o acesso a um talude com 160 m orientado segundo NE-SO. Situa--se na zona interior da plataforma litoral em contacto com a arriba menor. A es-pessura do corte é variável, entre os 10 e os 450 cm, aumentando para oeste. A cota do terraço é cerca de 13 m (nmm).

9 Rego de Fontes

A sequência sedimentar desenvolve-se na zona do Fortim de Rego de Fontes, cerca de 150 m a NO daquela edificação. É um afloramento subparalelo à linha de costa, com espessura variável, embora inferior a 50 cm. O topo da sequência foi observa-do a 2.3 m (nmm). Aflora sob a praia de seixos local.

10 Portela da Areosa

O talude situa-se em plena Plataforma Litoral, na zona da veiga da Areosa. A vala, com uma extensão de 15 m segundo NE-SO, permitiu a exploração de um corte com cerca de 150 cm de espessura. A base do terraço está a 7.5 m (nmm).

11 GaleãoAs areias que afloram no maciço de Galeão foram estudadas em três cortes, às altitudes médias de 50, 100 e 160 m (nmm), com espessuras médias de 400, 100 e 150 cm, respetivamente.

Quadro 1 - Síntese e descrição sumária das estações de amostragem

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Os dados de campo e de laboratório permitiram identificar 16 unidades litostratigráficas distribuídas, no essencial, por 3 terraços (assentes em plataformas costeiras). São propos-tas as seguintes formações geológicas: Formação de S. Se-bastião (T2 - 13 m, n.m.m.), Formação de Estrada Real (T3 - 8 m, n.m.m.) e Formação de S. Domingos (T5 - 3 m, n.m.m.). A Formação de S. Domingos é constituída por 4 membros com

localização e idades absolutas características: Membro de Galeão (MIS1), Membro de Montedor (MIS2/1), Membro de S. Domingos (MIS4/3) e Membro do Cão (MIS5e) (Quadro 2).

As três formações compreendem depósitos de ambientes continentais e de transição, nomeadamente praia, duna, es-tuário, fluvial, aluviais (debris-flow, grain-flow, mud-flow, so-lifluxão), lagoa e pântano (Fig. 2).

Quadro 2 – Litostratigrafia do Litoral Norte de Portugal (Minho – Neiva).

Fig. 2 – Paleoambientes do litoral norte de Portugal (entre os rios Minho e Neiva). Adaptado de Carvalhido et al. (2014).

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Fig. 4 – (A) Conglomerados Superiores da Estrada Real (U6); (B) Conglomerados Inferiores da Estrada Real (U5); (C) Areias da Estrada Real (U4). Ambiente palustre-lacustre: alimentação a partir de fluxos proximais de drenagem difusa; meio progressivamente confinado com o desaparecimento das condições de oxidação verificadas no nível inferior.

Fig. 3 – (A) Areias Superiores de S. Sebastião – U3. Ambiente aluvial: instalação de um canal fluvial efémero, compatível com inundação episódica. Para o topo evolui para fluxos com caráter de derrame proximal (grain-flow); (B) Areias e Siltes de S. Sebastião – U2. Ambiente estuarino: canais ou áreas confinadas de caráter lagunar, com influência mareal; (C) Conglomerados e Areias de S. Sebastião – U1. Ambiente litoral: instalação de uma praia de elevada energia (cascalhenta) substituída por uma praia de baixa energia (arenosa).

Formação de S. Sebastião - AreosaA Formação de S. Sebastião ocorre no terraço T2 (ca. 13 m

n.m.m.), em Forte do Cão e em S. Sebastião. É constituída por três unidades litostratigráficas: U1 - Conglomerados e Areias do Forte do Cão (Fig. 3C), que em Forte do Cão representa uma praia de seixos, equivalente lateral da U1 de S. Sebas-tião, uma praia arenosa; U2 - Areias e Siltes de S. Sebastião (Fig. 3B), ocorre em S. Sebastião e constitui um depósito de fácies estuarina, sugerindo a posição do estuário do Lima cerca de 3 km a norte da atual localização; U3 - Areias Supe-riores de S. Sebastião (Fig. 3A), fácies de enchimento de canal refletindo a instalação de um regime fluvial do tipo inunda-ção episódica, evolui para leque aluvial. A datação por lumi-nescência revelou que o sinal pIRIR290 está muito próximo da saturação, pelo que as idades obtidas para a U1 (>220 Ka) e U3 (>210 ka) deve ser considerada mínima.Formação da Estrada Real - Moledo

A Formação da Estrada Real preenche o terraço T3 (ca. 8 m n.m.m.) e está bem representada na Estrada Real, em Mole-do. Identificaram-se 3 unidades sobre o substrato granítico, que mostra evidências morfológicas de ocupação marinha (e.g. marmitas): U4 - Areias da Estrada Real (Fig. 4C), inter-pretada como um ambiente aquático lacustre, com bom are-jamento, evoluindo para confinamento. Esta unidade está

ravinada por depósitos de debris-flow (U5 – Conglomerados Inferiores da Estrada Real) (Fig. 4B) que passa lateralmente a seixos imbricados, bem calibrados (U6 – Conglomerados Superiores da Estrada Real) (Fig. 4A), interpretados como o registo um nível de praia (9 m, n.m.m.). A datação OSL sobre os grãos de Qtz e Fk da U4 revelou o sinal OSL em saturação, pelo que a idade obtida (>220 ka) é mínima. Formação de S. Domingos - Moledo

Os terraços T4 e T5 têm um enchimento sedimentar de gé-nese continental e de transição, e que constitui a Formação de S. Domingos. Nas superfícies de terraço observaram-se geoformas que comprovam a origem marinha dessas super-fícies: T5 - entalhes basais e alvéolos de Paracentrotus lividus (ouriço-do-mar), e T4 - apenas entalhes basais.

As unidades sedimentares mais recentes (U16 à U7) foram observadas principalmente no T5 e raramente o T4. Os depó-sitos que cobrem o T4 são, principalmente, gerações de depó-sitos de dunas eólicas de idade diversa (e.g. Areias da Ronca de Montedor – U8 e Areias de Galeão – U16) e depósitos aluviais.Membro de Galeão

Corresponde a depósitos de areias bem calibradas de ida-de histórica (século XVI a XVIII) de origem eólica (Fig. 5A) e fluvial (Fig. 5B).

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Fig. 5 – (A) Areias de Galeão (U16) - ambiente dunar eólico por instalação de condições de secura, frio e vento verificadas na Pequena Idade do Gelo (Mínimo de Dalton); (B) Areias da Ribeira da Areia (U15) - ambiente fluvial.

Fig. 6 – (A) Conglomerados e Areias de Rego de Fontes (U14), com evidências de processos de grain-flows, debris-flows e solifluxão; dados compatíveis com lençóis de água líquida em situação de confinamento, revertendo para derrames proximais do tipo debris-flow (imbri-cação de clastos, MPS=56 cm, nível de Rego de Fontes) e solifluxão (arrastamento de crioclastos, MPS=170 cm - nível de Sto Isidoro); (B) Siltes da Cambôa do Marinheiro (U13) – ambiente lacustre: meio altamente confinado, alimentado por fluxos de reduzida competência; evolui para o topo da unidade no sentido da diminuição do confinamento, acompanhado de maior dinâmica dos fluxos associados.

Membro de MontedorCorresponde a depósitos gerados entre fim da glaciação

Würm e o fim da deglaciação (MIS2-MIS1).Os Conglomerados e Areias de Rego de Fontes (U14) (Fig.

6A) representam condições deposicionais com alguma va-riabilidade sedimentológica, função da disponibilidade de água, variando entre depósitos mais grosseiros – regime torrencial (grain-flow a debris-flow) e depósitos finos – pro-cessos solifluxivos.

Os Siltes da Cambôa do Marinheiro (U13) (Fig. 6B) registam processos sedimentares de drenagem difusa com escassez de água e terão contribuído para a formação de corpos la-custres altamente confinados, com caráter pantanoso, ins-talados em depressões costeiras da plataforma litoral. Os dados palinológicos reportam presença de escassa floresta local de pinheiros com rara cobertura arbustiva e confirmam a presença de charcos. O ambiente evolui no sentido do de-senvolvimento das espécies herbáceas e arbustivas, como a Oleaceae, o que poderá denotar condições ambientais de alguma secura.Membro de S. Domingos

O Membro de S. Domingos representa a maior parte das unidades litostratigráficas da Formação de S. Domingos,

depositadas entre o MIS4 e MIS3, correspondendo ao Würm Inicial e o Würm, respetivamente.

As Areias e Siltes de S. Domingos (U10) (Fig. 7C), as Areias Superiores de S. Domingos (U11) (Fig. 7B) e as Areias da Ri-beira de Portela (U12) (Fig. 7A) reportam redução progressi-va da influência marinha indireta: lagoas/pântanos inter-dunares (U10), leques aluviais (grainflow e mud-flow) (U11) e depósitos fluviais (U12). As condições de deposição são marcadas pela disponibilidade de água, com o aumento da hidrodinâmica para o topo das unidades. A U10 evidencia instalação de um solo.

As Areias da Ronca de Montedor (U8) (Fig. 7E) são compa-tíveis com dunas eólicas (U8) e as Areias de Sto Isidoro (U9) (Fig. 7D) com o ambiente fluvial (U9), ambas instaladas em clima quente sub-húmido a seco.Membro do Cão

O Membro do Cão corresponde aos Conglomerados e Areias do Forte do Cão que representam as condições inter-glaciárias do Pré-Würm. Esta unidade aflora no Forte do Cão (Fig. 8), mas também em Moledo (fácies de areia grossa) e na Praia do Cabedelo, a sul do Rio Lima.

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Fig. 7 – (A) Areias da Ribeira de Portela - U12. Ambiente fluvial: drenagem proximal competente, com oscilação energética ocasional em regime de turbulência (canal da ribeira da Portela?); (B) Areias Superiores de S. Domingos - U11. Depósitos de grainflow e mudflow: Sistema deposicional com flutuação marcada na quantidade de água disponível; (C) Areias e Siltes de S. Domingos - U10. Ambiente de lagoa com isolamento progressivo da influência costeira. Nível siltoso (topo): elevado confinamento; receção de drenagem continental com acumulação de matéria orgânica; influência eólica discreta ou ausente; Nível arenoso (base): reduzido confinamento; importante influência eólica, até 29% do total de grãos do depósito; (D) Areias de Sto Isidoro - U9. Ambiente fluvial: depósitos de fluxos turbulentos, de alta energia. Clima quente e húmido com contraste estacional; (E) Areias da Ronca de Montedor - U8. Ambiente dunar eólico, com progressivo afastamento da influência marinha.

Fig. 8 - Conglomerados e Areias do Forte do Cão – U7. Modelo Praia: praia de elevada energia (Forte do Cão) a moderada energia (S. Domingos).

BibliografiaAlves, A. M. C. (1996). Causas e Processos da Dinâmica Sedi-

mentar na Evolução Actual do Litoral do Alto Minho. Tese de Doutoramento, Univ. Minho, 438p.

Carvalhido, Ricardo P; Pereira, Diamantino I; Cunha, Pedro P; Buylaert, Jan-Pieter; Murray, Andrew S. (2014). Charac-terization and dating of coastal deposits of NW Portugal (Minho–Neiva area): A record of climate, eustasy and crus-tal uplift during the Quaternary. Quaternary International 328-329, pp. 94-106; doi: 10.1016/j.quaint.2014.01.025

Carvalho, G. S. & Granja, H. M. (2003). As mudanças da zona costeira pela interpretação dos sedimentos plistocénicos e

holocénicos (metodologia aplicada à zona costeira do no-roeste de Portugal). Revista da Faculdade de Letras - Geo-grafia, I Série, vol.19: 225-236, Porto.

Costa, J. & Teixeira, C. (1957). Carta geológica de Portugal na escala 1:50000. Noticia explicativa da folha 9C - Porto. Ser-viços Geológicos de Portugal.

Ribeiro, I. (2003). Deformação neotectónica pós-plistocénica na zona costeira entre os Rios Minho e Ave. Tese de Douto-ramento, Universidade do Minho.Fig. 8 - Conglomerados e Areias do Forte do Cão – U7. Modelo Praia: praia de elevada energia (Forte do Cão) a moderada energia (S. Domingos).

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26 abril 2014 sáb 11:20-11:40painel geologia, geomorfologia e geodiversidade

Monitorização da migração costeiraO que medir, como medir e com que finalidade?Renato HenriquesCentro de Geologia da Universidade do Porto Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho

Grande porção da zona costeira noroeste de Portugal en-contra-se vulnerável às investidas do mar, havendo vários sectores em migração para o interior nas últimas décadas. Contudo este fenómeno não é generalizado e as causas da migração nem sempre são fáceis de identificar. A observa-ção do comportamento do sistema praia/duna, ao longo do tempo, é fundamental para quantificar as taxas de migração e permitir apoiar o ordenamento destes sistemas naturais de grande vulnerabilidade.

O inverno de 2013/2014 foi caracterizado pela ocorrência de vários episódios de tempestade, que criaram problemas em muitos sectores da costa portuguesa. Nalguns casos fo-ram destruídas infraestruturas edificadas ou foi modificada a configuração geomorfológica local, como ocorreu, com maior exuberância, em Vila Praia de Âncora.

Face ao contexto dinâmico destas zonas, o ordenamento costeiro representa um desafio social, político e económico muito complexo. Um dos maiores desafios é a decisão de colocação de obras de defesa ou a salvaguarda da paisagem natural. A interposição de qualquer estrutura num meio di-nâmico, prática amplamente generalizada na nossa costa, altera os mecanismos dessa mesma dinâmica, por vezes de modo completamente inesperado.

A escassez ou total ausência de dados relativos à evolução da costa, colhidos e interpretados com alguma regularidade, constitui uma das maiores fragilidades das zonas costeiras, numa perspectiva de adaptabilidade à mudança. A monito-rização é a única forma de obter, no espaço e no tempo, da-dos que permitam a compreensão das mudanças em curso, abrir a possibilidade de traçar alguns cenários evolutivos e providenciar ferramentas de decisão.

A monitorização costeira pode ser entendida como a ob-servação, no espaço e no tempo, das mudanças em curso nas zonas costeiras. É baseada na colheita do maior número possível de dados que permitam registar a evolução geo-morfológica ocorrida. Sobre estes dados deve ser feita a res-pectiva interpretação e quantificação, tendo em conta que este exercício deve ser feito com alguma regularidade, pois a atualização da informação é um aspecto incontornável. Os objectivos deste procedimento incluem:

• Identificar, quantificar e compreender os factores de di-nâmica costeira;• Determinar a duração de actuação dos processos;

• Determinar a extensão geográfica da influência de de-terminados processos; • Estabelecer relações com factores meteorológicos e cli-máticos; • Tentar antecipar a tendência evolutiva; • Prestar apoio a operações de planeamento e ordenamento; • Avaliar os impactes positivos e negativos das operações decorrentes do planeamento e do ordenamento.Os objectivos supracitados devem culminar na criação e

expansão de uma base de dados que permita apoiar a previ-são da evolução, processos de decisão e a criação/aperfeiçoa-mento de modelos numéricos de evolução costeira.

Existem inúmeras fontes de dados que podem ser tidas em conta para este efeito. As mais comuns incluem, entre outras: Fotografias históricas obtidas a partir do solo; Carto-grafia histórica a diversas escalas; Fotografia aérea vertical, atual e histórica, a diversas escalas; Levantamentos topo-hi-drográficos; Levantamentos de fauna e flora; Levantamentos de DGPS; Imagem obtida por satélite; Levantamentos de LI-DAR (light detection and ranging); Imagem de vídeo.

A partir de todas as fontes disponíveis, será possível mo-nitorizar os seguintes aspetos: Posição das praias, dos sis-temas dunares ou das arribas, incluindo o cálculo de taxas anuais de variação e a caracterização espacial e temporal de processos de erosão ou acreção; Estudo da distribuição dos sedimentos, do seu transporte e balanço dos volumes mo-bilizados, numa perspectiva espacial e temporal; Medição da variação do nível do mar, da ondulação, das correntes e da velocidade do vento; Acompanhamento das mudanças geomorfológicas; Estudo da dinâmica dos ecossistemas as-sociados; Estudo da variação dos níveis e qualidade da água subterrânea e superficial; Estudo da evolução da ocupação humana e de outros índices sociais.

A fotografia aérea é uma ferramenta poderosa de monito-rização costeira, permitindo uma grande cobertura espacial e a repetição no tempo dos levantamentos, tornando pos-sível a comparação das mudanças observadas entre estes. Para além da extração de informação geográfica resultante da interpretação por visualização direta, é possível interpre-tar diferenças espectrais e fazer interpretação geométrica ou fotogramétrica (criação de modelos digitais de terreno). Uma grande vantagem é que, de modo relativamente sim-ples e com baixo custo, é possível colher indicadores bidi-mensionais de migração costeira, resultantes da observação

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da posição de linhas materializadas visualmente na foto-grafia aérea. Estas linhas podem incluir a “linha de água” (limite mar praia), a “linha de preia-mar” (linha marcada na praia pelo máximo de chegada da onda na última maré alta) ou a “linha de vegetação” (limite entre a areia da praia e a primeira linha de vegetação) (Fig. 1).

A mudança de posição destes indicadores pode ser quan-tificada com recurso a sistemas de informação geográfica, permitindo o cálculo e a atualização das taxas anuais de mi-gração costeira. Com base nestes dados é possível construir instrumentos cartográficos que possam servir de suporte ao ordenamento destas zonas.

O recente advento e generalização de veículos aéreos não tripulados (VANT’s), com capacidade para fazer fotografia aérea vertical, criou uma ferramenta de grande potencial para a monitorização costeira. Os VANT permitem a colheita de fotografia aérea de grande resolução (2 a 8cm/pixel) e a obtenção de modelos tridimensionais bastante densos, de modo relativamente barato e com possibilidade de repetir

Fig. 2 – Exemplos de instrumentos cartográficos obtidos a partir do estudo da migração de indicadores bidimensionais para a costa do Minho: Carta de avanço/recuo (esquerda); Carta de taxas de migração costeira transgressiva (direita).

Fig. 1 – Alguns indicadores bidimensionais de migração costeira.

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mais facilmente os levantamentos, em comparação com a fotografia aérea convencional. Com base nesta informa-ção, para além da colheita dos indicadores bidimensionais acima descritos, é possível detectar, com grande detalhe e precisão, mudanças morfológicas na praia ou dunas e quan-tificar o sedimento mobilizado. Este tipo de ferramenta abre novas e fascinantes oportunidades para o conhecimento e compreensão da dinâmica dos sistemas costeiros.

BibliografiaCardoso, E. (2011) Os Sistemas de Informação Geográfica no

Apoio à Avaliação dos Riscos Costeiros. Tese de Mestrado, Universidade do Porto

Fig. 3 – Extratos de um ortofotomapa (em cima) e do respectivo modelo digital de superfície (em baixo) obtidos para a praia da Ramalha (Apúlia), utilizando um VANT, em 15 de Julho de 2013.

Gonçalves, J., A. and Henriques, R. (2013). Topographical moni-toring of coastal areas with UAV imagery. 6th EARSeL Work-shop on Remote Sensing of the Coastal Zone. Atera, Italy.

Henriques, R (2006) Monitorização da zona costeira tendo em vista a sua vulnerabilidade – Aplicação à zona costeira noroeste de Portugal. Tese de Doutoramento, 526pp, Uni-versidade do Minho.

Thieler, E.R., Himmelstoss, E.A., Zichichi, J.L., Ergul, A. (2009) Digital Shoreline Analysis System (DSAS) version 4.0—An ArcGIS extension for calculating shoreline change: U.S. Geological Survey Open-File Report 2008-1278.

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26 abril 2014 sáb 14:30-15:30painel geologia, geomorfologia e geodiversidade

Episódios de Instalação e Deformação de Rochas Graníticas (Viana do Castelo, NW Portugal)Jorge Pamplona CIGR/DCT, Escola de Ciências, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga; [email protected]

EnquadramentoO núcleo granítico do Antiforme de Viana do Castelo-Cami-nha (AVCC) é constituído por granitos de duas micas, alguns deles leucogranitos[1], também classificados como do tipo--S [2,3], tipo-varisco [4] ou ainda MPG [5]. Os granitos que aflo-ram no núcleo desta estrutura estão relacionados com a D2 [plutonitos de Bouça do Frade (g’p) e de Sta Luzia (g’g)] e a D3 [plutonito de Afife (g’fm; g’mg; g’fmt; g’mgt)], intruíndo xis-tos, quartzitos e meta-conglomerados da Fm. da Desejosa, o quartzito do Arenigiano (Fm. Santa Justa) e os xistos do Lan-virniano (Fm. de Valongo) – Fig. 1.

Estes granitos formam-se aquando da convergência e coli-são de duas placas litosféricas continentais [8, 9]. Segundo[10], a colisão continental que gera estes granitos é oblíqua. A con-vergência e a colisão proporcionam o espessamento crustal, o qual acarreta a fusão da crusta continental e, assim, a génese de granitos peraluminosos[5]. No caso dos granitos que consti-tuem o núcleo do AVCC a sua génese está associada à colisão entre o Gondwana e o Laurentia (Devónico-Carbónico).

A acção das intrusões graníticas no encaixante desenvol-veu metamorfismo de contacto com paragéneses de grana-da, andalusite, (quiastolite com mais de 7 cm), cordierite e, ocasionalmente, alguma silimanite, obliterando as paragé-neses do episódio Barroviano Varisco mais antigo[11, 12] ou a maioria delas.

Análise estrutural - D2

O mecanismo de ascensão e instalação dos granitos de D2 prevê a acção combinada da tectónica tangencial para E que gerou retrocisalhamentos D2 com vergência para W (promovendo uma instalação plutónica do tipo laminar com enraizamento a E e extravasamento para W) - e da migração difusa (pervasive) de magma à mesoescala[6].

Os mecanismos de migração difusa (pervasive) de mag-ma estão restritos a zonas da crusta quentes, nas quais os magmas não estão expostos a arrefecimento rápido: a ele-vação do gradiente geotérmico em zonas mais superficiais

Figura 1 – Corte geológico (com exagero vertical) do AVCC. Diagramas de densidade (rede de Schmidt, hemisfério inferior) com a orienta-ção das estruturas principais da região (adaptado de [6, 7]).

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pode ser obtida pela advecção que acompanha a migração magmática e, assim, permitir fluxo difuso de magma. As-sim, no sector estudado, pensa-se que a existência de um encaixante quente, facto perfeitamente compatível com o grau de metamorfismo do encaixante de baixa viscosidade permitiu a intrusão de “cunhas” magmáticas félsicas. O fac-to do encaixante estar quente evita que o magma arrefeça permitindo, assim, o seu fluxo difuso através das rochas, originando lâminas magmáticas. Esta difusão efectua-se lentamente, em função da flutuabilidade do magma (con-tudo, efectuar-se-á mais rapidamente com a actividade tectónica, como no presente contexto geológico) e apro-veitando planos de fraqueza do encaixante, nomeadamen-te, os retrocisalhamentos e a superfície de xistosidade S2. Segundo[6], também se aceita que, como processo comple-mentar, algum do volume de magma intruído tenha sido canalizado por voláteis (volatile-driven intrusion), verifica-da que foi a existência de fracturação hidráulica no flanco W do antiforme.

É de notar que os granitos que se instalaram em D2 foram, posteriormente, sujeitos a dobramento em D3.

Análise estrutural – D3

O mecanismo proposto para a instalação dos granitos D3 do AVCC está relacionado com a transcorrência dextrógira sin-D3 a qual gerando corredores de cisalhamento en-éche-lon, com distensão local, e dobramento permitiu a instala-ção dos granitos em impulsos sucessivos[6, 7]. A interferência entre a transcorrência regional e a instalação do granito pro-vocou o dobramento da xistosidade, a alteração angular dos filões instalados em cisalhamentos conjugados (em relação com a amplificação do maciço), a rotação de alguns filões – com o mesmo sentido de rotação do maciço -, ou sectores de escape lateral que levaram à concentração dos corpos fi-lonianos em zonas marginais[6]. A transcorrência dextrógira também induziu a reactivação dúctil-frágil de corredores de cisalhamento precoces que foram intruídos por corpos filo-nianos en-échelon[6].

Modelo de ascensão e instalação para o núcleo granítico do AVCC

Do ponto de vista cronológico considera-se que a instala-ção dos granitos de duas micas foi feita de modo sequencial. Inicialmente, no final da D2, ter-se-ão instalado os plutonitos de Bouça do Frade (g’p) e de Sta Luzia (g’g). Posteriormente e já no decurso da D3, instalaram-se as outras fácies graníticas, de um modo geral, primeiro as fácies sem turmalina (inicial-mente as fácies com granularidade média a grosseira - g’mg - e, posteriormente, as fácies com granularidade fina a média - g’fm) e, por fim as fácies com turmalina - g’fmt e g’mgt.

A ascensão e instalação de magma granítico realiza-se, portanto, em duas fases:

(i) no final da D2, instalam-se o plutonito de Bouça de Fra-de (g’p) e, provavelmente, o de Sta Luzia (g’g). Esta intrusão está associada a retrocisalhamentos, que condicionaram a morfologia laminar dos referidos plutonitos. O mecanismo

de ascensão e instalação proposto prevê a acção combinada da migração difusa (pervasive) de magma félsico à mesoes-cala e da tectónica tangencial;

(ii) durante a D3 instalaram-se as outras fácies graníticas. As estruturas analisadas são compatíveis com uma insta-lação dos granitos numa zona de cisalhamento dextrógira, com sectores de distensão local (relacionados com o campo de tensões regional), os quais permitiram a ascensão mag-mática. Também se defende que a própria génese do antifor-me contribua para a instalação dos plutonitos aproximada-mente com uma orientação N-S (com morfologia alongada), isto é, paralelamente ao plano axial do antiforma D3.

Referências Bibliográficas[1] Simões, P. (1993) – Caracterização petrográfica, mineralógica

e geoquímica de granitos de duas micas da região de Viana do Castelo - Vila Praia de Âncora (NW de Portugal). Síntese para provas de A.P.C.C., Universidade do Minho, 157 p.

[2] Chappel, B.W. & White, A.J.R. (1974) – Two contrasting gra-nite types. Pacific Geol., 8, 173-174.

[3] White, A.J.R. & Chappel, B.W. (1977) – Ultrametamorphism and granitoid genesis. Tectonophysics, 43, 7-22.

[4] Pitcher, W.S. (1983) – Granite type and tectonic environ-ment. In: Montain Building Processe, Hsu, K. (ed),. Acade-mic Press, London, 19-40.

[5] Barbarin, B. (1999) – A review of the relationships between granitoid types, their origins and their geodynamic envi-ronments. Lithos, 46 (3), 605-626.

[6] Pamplona, J. & Ribeiro, A. (2012) - Evolução geodinâmica da região de Viana do Castelo (Zona Centro-Ibérica, NW de Portugal). In: R. Dias, A. Araújo, P. Terrinha, J.C. Kullberg (Eds), Geologia de Portugal, vol. 1, Escolar Editora, 149-203.

[7] Pamplona, J., Gutiérrez-Alonso, G. & Ribeiro, A. (2006) - Su-perposition of shear zones during orogenic development: an example from the NW Iberian Variscan Belt (Viana do Castelo NW Portugal). Journal of Structural Geology, 28, 1327-1337.

[8] Lefort, J.P. (1981) – Manaslu leucogranite: a collision signa-ture of the Himalaya. A model for its genesis and empla-cement. J. Geophys. Res., 86, 10545-10568.

[9] Chappel, B.W. & White, A.J.R. (1992) – I- and S-type granites in the Lachlan Fold Belt. Trans. R. Soc. Edinburgh: Earth Sci., 83, 1-26.

[10] Pitcher, W.S. (1979) – Comments on the geological envi-ronments of granites. In: Origin of granites batholites, geochimical evidence , Atherton & Tarney (eds), 1-8.

[11] Martinez, F., Corretge, L. & Suarez, O. (1990) - Distribution, Characteristics and Evolution of Metamorphism. In: Pre--Mesozoic Geology of Iberia, Dallmeyer, R.D. and Martinez Garcia, E. (Editors), Springer-Verlag, Berlin, 207-211.

[12] Ribeiro, M.L. (1992) – Metamorfismo – observações gerais sobre o metamorfismo na Península Ibérica. In: Notícia ex-plicativa da Folha 1 da Carta Geológica de Portugal à escala 1/200 000. E. Pereira (coord.), Serv. Geol. Portugal, 22-27.

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26 abril 2014 sáb 14:50-15:10painel geologia, geomorfologia e geodiversidade

Geodiversidade de Portugal:um novo modo de caracterizar e avaliar o territórioDiamantino Insua PereiraCentro de Geologia da Universidade do Porto Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho

O conceito de geodiversidade envolve rochas, minerais, solos, relevo, fósseis, água e os processos geológicos a eles associados. Em geral, estes componentes representam-se em mapas temáticos, nomeadamente mapas geológicos, geomorfológicos, de solos, e outros. A representação é por vezes complexa e a interpretação muito difícil por parte dos não especialistas. O despertar deste novo conceito conduz a novas formas de expressão, de compreensão e de avaliação do meio físico. Uma metodologia inovadora de quantifica-ção da geodiversidade foi usada para produzir um mapa de geodiversidade de Portugal continental, instrumento que permite olhar o território de forma diferente do habitual. Este método foi inicialmente desenvolvido e testado tendo por base o Estado do Paraná (Brasil) (Pereira et al. 2013). Pos-teriormente incorporada uma metodologia SIG aplicada na Bacia do Xingu (Amazónia, Brasil) (Silva et al. 2013). Para o elaboração do mapa de quantificação geodiversidade de Portugal continental foram introduzidas algumas inovações

metodológicas mantendo-se os princípios fundamentais do método. O procedimento consiste na sobreposição de uma grelha correspondente à cartografia 1/25000, sobre diferen-tes mapas temáticos. Para este fim foi também produzido um mapa inédito de unidades geomorfológicas de 3º nível hierárquico. Este trabalho produziu diferentes mapas de diversidade litológica, geomorfológica, paleontológica, de solos e de ocorrências minerais, bem como o mapa de quan-tificação da geodiversidade.BibliografiaPereira, D I, Pereira P, Brilha J, Santos L (2013) Geodiversity

Assessment of Parana State (Brazil): An Innovative Ap-proach. Environmental Management, 52 (3), 541-552. DOI: 10.1007/s00267-013-0100-2

Silva J, Pereira D I, Aguiar, A M (2013) Geodiversity assess-ment of the Xingu drainage basin. Journal of Maps, 9 (2), 254-262 DOI: 10.1080/17445647.2013.775085

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26 abril 2014 sáb 15:10-15:30painel geologia, geomorfologia e geodiversidade

Património geológico:um recurso científico, educativo e turísticoJosé BrilhaDepartamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho

ResumoO património geológico compreende as ocorrências natu-rais de elementos da geodiversidade – os geossítios – que possuem excepcional valor científico. Trata-se de locais onde os minerais, as rochas, os fósseis, os solos ou as geo-formas possuem características próprias que nos permitem conhecer a história geológica e geomorfológica do nosso planeta. Os geossítios, para além de terem um valor cien-tífico, podem igualmente ter um valor educativo e turístico, cujo uso sustentado deve ser promovido para usufruto da sociedade.

A geoconservação consiste na proteção do património geológico promovendo, simultaneamente, o uso racional desta componente do património natural. Os exemplos ex-cepcionais de elementos da geodiversidade podem enfren-tar diversos tipos de ameaças resultantes, quer de processos naturais, quer de intervenções humanas (como por exemplo o roubo e comércio ilegal de minerais e fósseis; vandalismo;

mineração; ausência de legislação adequada; etc.). A geocon-servação constitui, hoje, uma das especialidades emergen-tes que se desenvolve no âmbito das Ciências da Terra. Ela compreende diversas etapas que passam pela inventariação, caracterização, classificação, conservação e divulgação dos geossítios.

Fig. 1: Website do inventário nacional de património geológico. Fig. 2: Ilha da Madeira.

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Fig. 4: Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.

O inventário nacional do património geológico reúne os principais locais em Portugal (geossítios) onde ocorrem ele-mentos da geodiversidade (minerais, fósseis, rochas, formas de relevo) com elevado valor científico. O inventário reúne os 300 geossítios mais importantes de todo o país, que repre-sentam a geodiversidade nacional e permitem compreen-der a história e a evolução geológicas do nosso território. O inventário está disponível na internet em: geossítios.pro-geo.pt. Trata-se de uma ferramenta obrigatória para todos aqueles que se dedicam a ações de conservação da natureza, ao ordenamento do território e a estudos de impacte am-biental, a professores que procuram locais para organizarem aulas de campo e ao público em geral que deseja conhecer mais sobre o património natural de Portugal.

Fig. 3: Parque Natural de Montesinho.

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26 abril 2014 sáb 16:00-16:20painel enoturismo e viticultura

Cartografia digital e estratificação de vinhas com recurso a fotografias aéreas captadas por veículos aéreos não tripulados (VANT)José Aranha1 e Renato Henriques2

1CITAB–UTAD 2Centro de Geologia da UP/UM

A produção ou a actualização de cartografia digital relativa a vinhas é uma operação dispendiosa, uma vez que depende ou de um apurado trabalho de campo com um GPS topográ-fico ou da captação de fotografias aéreas locais, com recurso a aviões comerciais. O custo destas operações e a escolha de um dos métodos depende da dimensão e da localização da área a cartografar.

Com o advento dos veículos aéreos não tripulados (VANT) e das máquinas fotográficas digitais, estas tarefas passaram a poder ser realizadas de uma forma mais autónoma e aces-sível, uma vez que os custos associados são mais reduzidos do que os dos métodos tradicionais. Dada a capacidade de ser captar imagens digitais separadas em canais e de se po-

der registar os comprimentos de onda do infravermelho, esta nova tecnologia também permite estratificar a vegetação em função do seu estado vegetativo, o que permite identifi-car situação de stress hídrico ou de falta de nutrientes no solo.

Desta forma, não só se consegue produzir ou actualizar a cartografia de uma determinada vinha como se consegue estudar o estado vegetativo da mesma. Dado ser uma tec-nologia que permite uma grande autonomia de acção e a um custo reduzido, poder-se-á realizar múltiplos voos sobre a mesma área, desde o aparecimento das folhas até à épo-ca de colheita, e, desta forma, rentabilizar a gestão da vinha (água, fertilizantes, tratamentos, etc.) bem como prever a data mais adequada para a colheita.

Figura 1 - Ortofotomapa a falsa cor da Quinta de Aciprestes (Região demarcada do Douro)

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Figura 2 - Índice de Vegetação por Razão Normalizada – NDVI.

Figura 3 – Estratificação do NDVI

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26 abril 2014 sáb 16:20-16:40painel enoturismo e viticultura

O conceito de Terroir na agricultura biodinâmicaVasco CroftAphros Wine

A Quinta do Casal do Paço, que se encaixa no vale do rio Lima, permitiu a Vasco Croft concretizar a sua paixão pelo vinho através de uma viticultura que obedece à biodinâmi-ca, construindo com esforço pessoal o projeto Aphros Wines. Este caracteriza-se pela implementação da agricultura bio-lógica, com um método baseado na seleção de práticas agrí-colas sustentáveis dependentes do ecossistema onde se in-tervém. Vasco Croft tomou medidas para recuperar as duas grandes castas da sub-região de Ponte de Lima, o das cas-

tas tintas; ainda que desaconselhado, reconheceu as castas locais como as mais adaptadas ao Terroir específico. Como resultado, a casta adquiriu um novo carácter, destituído da rudeza que lhe estava associada, demonstrando que agri-cultura biodinâmica pode ter resultados notáveis em zonas tornadas improváveis pelo clima. Além da Quinta do Casal do Paço, a Aphros Wine conta também com a Quinta do Es-padanal, da Quinta da Casa Nova e da Quinta de Valfloresfonte: http://aphros-wine.com

26 abril 2014 sáb 16:40-17:00painel enoturismo e viticultura

A enologia do Vinho do LouredoCarlos BlancoSolar de Louredo

Reflexo do respeito a uma tradição já existente de produção de vinho verde de qualidade, a Armindo Fernandes Unipes-soal Lda. tem vindo a demonstrar um aumento consistente da gama de vinhos produzidos em Geraz do Lima, no conce-lho de Viana do Castelo. As Terras de Geraz proporcionam uma produção excecional de Loureiros através de uma par-ticular localização entre o mar e o Rio Lima e entre encos-

tas, conferindo características organolépticas e um Terroir únicos. Em 2010 começou a comercialização do Vinho Verde Branco Solar do Louredo, sendo seguido pelo Vinho Verde Terras de Geraz, resultado de uma aliança entre modernas técnicas de produção e uma inspiração tradicional.fonte: http://solardolouredo.com/

26 abril 2014 sáb 11:40-12:20painel enoturismo e viticultura

Terroir, identidade dos vinhos na região do Vinho VerdeAnlsemo MendesAnselmo Mendes Vinhos

A atividade de Anselmo Mendes é caracterizada pela cele-bração das particularidades da terra em cada região, que se reflete no vinho. Nasceu e cresceu em Monção, tendo con-tacto desde novo com a cultura da vinha e da produção do vinho. Licenciado em Engenharia Agro-Industrial pelo Ins-tituto Superior da Universidade Técnica de Lisboa e com pós-graduação em Enologia pela Universidade Católica, foi em 1998, com a casta Alvarinho em Monção e Melgaço, que

começou a produzir. Atualmente desenvolve o seu trabalho como produtor a partir de três castas e em três zonas da Região Demarcada dos Vinhos dos Verdes – Alvarinho do Vale do Minho, Loureiro no Vale do Lima e Avesso no Vale do Douro. Após um percurso que contou com os Açores, o Brasil e a Argentina, é também consultor em Portugal e no estrangeiro.fonte: http://www.anselmomendes.pt/

saídas de campo

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O litoral NO de Portugal, entre os rios Minho e Neiva, é cons-tituído por duas unidades geomorfológicas principais: o Relevo Marginal, essencialmente preservado nas elevações montanhosas e a Plataforma Litoral, separada do Relevo Marginal por uma arriba de elevado pendor (>30%), de ca-ráter aplanado e que se desenvolve entre a costa e a altitude média de 20 m (n.m.m).

O Relevo Marginal evidencia 7 superfícies de aplanamen-to principais, que se desenvolvem, essencialmente, subpara-lelamente à linha de costa (Fig. 1). As superfícies (S) foram designadas por:

S1 - Superfície de Arga (800 m);S2 - Superfície de Sta Luzia (460 m);S3 - Superfície de S. Mamede (270 m);S4 - Superfície de Além do Rio (160 m);S5 - Superfície de Faro de Anha (100 m);S6 - Superfície de Ola (70 m);S7 - Superfície de Vila Fria (50 m).O número e desenvolvimento das superfícies de aplana-

mento identificadas depende da sua posição no território, sugerindo relação com os alinhamentos estruturais identi-ficados. Na bacia inferior do Lima e tendo a falha do Lima (ENE-OSO) como referência, observa-se que a norte estão preservadas todas as superfícies identificadas; a sul só está representada a Superfície de Além do Rio (S4) e as inferiores, de Faro de Anha (S5), de Ola (S6) e de Vila Fria (S7), pelo que o relevo não ultrapassa os 160-170 metros (S4). A S2 e S3 surgem a sul do Lima como superfícies interiores (a mais de 8 km da costa), nos maciços de Padela e Roques, respetivamente.

Os alinhamentos ENE-OSO Falha do Lima, Falha de Ca-banas e Falha do Pêgo (Fig. 1) também foram identificados como responsáveis por aspetos de detalhe do relevo. Obser-va-se uma compartimentação que resulta em três setores geomorfológicos (Fig. 2):

Setor setentrional – norte da Chã de Afife;Setor médio – a sul da Chã de Carreço;Setor meridional – a sul do rio Lima.Os principais detalhes geomorfológicos do antiforma

Caminha-Viana do Castelo, nomeadamente a inclinação das superfícies de aplanamento (S2 a S5), a assimetria das bacias hidrográficas (>3km2), os knicks, os entalhes e as cap-turas fluviais identificadas (e.g rib. Bouças - Pêgo) sugerem que o relevo deste maciço tenha evoluído segundo um me-canismo em dobradiça, com eixo no paralelo de Montedor, em parte resultado da atividade inversa das falhas ENE-OSO identificadas (Fig. 2): no setor setentrional, a Superfície de Sta Luzia (S2), representada na Chã de Afife e no retalho de Espiga-Sto. Antão verge para NO; no sector médio a Su-perfície de Sta Luzia (S2) e a Superfície de S. Mamede (S3) estão inclinadas para SO. No setor meridional a Superfície de Além do Rio (S4) e do Faro de Anha (S5), também estão inclinadas para SO.

Nos três setores geomorfológicos e em resultado do cruza-mento com as falhas prováveis NNO-SSE (Falha das Ínsuas e Falha de Roques) individualizam-se blocos tectónicos com características orográficas específicas e distintivas, nomea-damente quanto aos extremos e média altimétricas, e mo-vimentação global do relevo do bloco tectónico, expresso no desvio-padrão altimétrico (Carvalhido, 2012). Nos setores setentrional e médio conservam-se os blocos tectónicos de Arga e de Sta Luzia; no setor meridional definem-se quatro blocos tectónicos, dispostos da costa para o interior – S. Ro-mão, Galeão, Roques e Padela.

A Plataforma Litoral está estruturada 5 plataformas cos-teiras preservadas acima da atual, que se desenvolve até cerca de 1,8 m (n.m.m). Sobre estas superfícies dispõem-se diversos tipos de sedimentos que documentam condições paleoambientais que foram variando entre o MIS11 e o MIS1.

Testemunhos da evolução geomorfológica eambiental do território, entre o Minho e o NeivaCoordenadores: Ricardo J. Carvalhido, Diamantino I. Pereira & Renato F. Henriques

Geomorfologia e Paleoambientes do Quaternário no litoral NO de PortugalRicardo J. Carvalhido1,2 & Diamantino I. Pereira1,3

1Centro de Geologia da Universidade do Porto2Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro3Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho

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Fig. 1 – Carta geomorfológica do litoral NO de Portugal, entre os rios Minho e Neiva (Carvalhido et al., 2014a).

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Fig. 2 – Principais setores geomorfológicos identificados no antiforma Caminha-Viana do Castelo. Adaptado de Carvalhido (2012).

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Fig. 3 – Unidades litostratigráficas do Membro de S. Domingos da Formação de S. Domingos: (A) Areias da Ribeira de Portela – fluvial; (B) Areias Superiores de S. Domingos – grainflow/mudflow; (C) Areias e Siltes de S. Domingos – lagoa interdunar/lagoa; (D) Areias de Sto Isido-ro – fluvial; (E) Areias da Ronca de Montedor – dunar. Adaptado de Carvalhido (2012) e Carvalhido et al. (2014a), Carvalhido et al. (2014b).

Paragem 1: Miradouro de Sta. Luzia Aspetos gerais da geomorfologia regionalParagem 2: Praia Norte ao Forte de Rego de Fontes As principais unidades geomorfológicas do litoral A herança paleozóica na geomorfologia atual Indicadores paleoambientais da migração da linha de costa no MIS5-MIS1 Unidades sedimentares: Conglomerados e Areias de Rego de Fontes (MIS1) Paragem 3: Canto Marinho Geomorfologia costeira e História regional: da Idade Média à Idade Moderna Geomorfologia costeira e ecologia: unidades sedimentares do MIS1 e ecologia das veigas litorais de Carreço, Areosa e AfifeParagem 4: Praia de Fornelos ao Alcantilado de Montedor Escalonamento dos terraços marinhos quaternários - T1 (MIS11) ao T5 (MIS5) O papel das geoformas de pormenor na interpretação das variações eustáticas relativas Unidades sedimentares: Areias da Ronca de Montedor (MIS4) e Siltes da Cambôa do Marinheiro (MIS2)Paragem 5: Forte do Cão Unidades sedimentares: Conglomerados e Areias de S. Sebas-tião (MIS9); Areias Superiores de S. Sebastião (MIS9); Conglo-merados e Areias do Forte do Cão (MIS5) Interpretação de geoformas costeiras peculiares: alvéolos de contacto e blocos pedunculadosParagem 6: S. Domingos (Moledo) Consequências da antropização da paisagem costeira local Unidades sedimentares: Areias de Sto. Isidoro (MIS4); Areias e Siltes de S. Domingos (MIS4-3); Areias superiores de S. Domin-gos (MIS3)Paragem 7: Estrada Real (Moledo) Unidades sedimentares (MIS7): Areias da Estrada Real; Conglomerados Inferiores da Estrada Real; Conglomerados Superiores da Estrada Real

Foram identificados paleoambientes continentais (dunas eólicas, lagoas interdunares, pequenos leques aluviais e de cursos de água) e de transição (estuário, praias de areia e de seixo) datados através de OSL (quartzo e feldspato) e AMS 14C (Carvalhido, 2012). Estes depósitos constituem 16 unidades litostratigráficas conservadas nas plataformas costeiras mo-deladas a ca. 13 m (terraço T2), a ca. 8 m (terraço T3) e ca. 3 m (terraço T5) (n.m.m.), definindo 3 formações: a Formação de S. Sebastião (T2), provavelmente correlativa do MIS9; a Forma-ção da Estrada Real (T3), provavelmente correlativa do MIS7 e a Formação de S. Domingos (T5) (Fig. 3), com 4 membros (Cão – MIS5, S. Domingos – MIS4/3, Montedor – MIS2/1 e Galeão – MIS1) e compreendendo o intervalo temporal do MIS5 ao MIS1 (Carvalhido et al., 2014b). Esta formação é constituída, segundo Carvalhido (2012) e Carvalhido et al. (2014a) por a) depósitos de praia arenosa e de seixos (presumivelmente do MIS5); b) depósitos fluviais e dunas eólicas ferruginizadas, datados ca. 67-61 ka (MIS4), provavelmente relacionados com condições sub-húmidas a áridas frias a temperadas; c) coluviões areno-lodosos e depósitos aluviais arenosos data-dos ca. 56-28 ka (MIS3), provavelmente refletindo as condi-ções climáticas frias a temperadas, e secas a sub-húmidas; d) lóbulos de solifluxão e depósitos areno-lodosos a lodosos datados de ca. 20-13 ka (MIS2) formados durante um clima frio e seco; e e) sedimentos fluviais de clima temperado evo-luindo para dunas eólicas da Pequena Idade do Gelo (século XVI ao século XVIII) relacionadas as condições frias e secas, muito ventosas (Abreu, 1987; Carvalhido, 2012; Carvalhido et al., 2014a; Carvalhido et al., 2014b).

A saída de campo ao litoral de Viana do Castelo, entre os rios Lima e Minho permitirá observar e discutir detalhes da evolução do relevo e dos ambientes do passado geológico deste território. Propomos a realização de 7 paragens com objetivos específicos:

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Os terraços fluviais testemunham as etapas de evolução e encaixe dos rios ao longo dos tempos e são gerados essen-cialmente na dependência de factores climáticos e tec-tónicos. Constituem superfícies aplanadas, ligeiramente inclinadas no sentido do leito atual e dispostas de forma escalonada no interior do vale, na direção de ambas as mar-gem. Estes superfícies estão geralmente definidas em mate-riais sedimentares, areno-conglomeráticos, depositados ao longo do processo de encaixe dos rios. A forma regular das superfícies de terraço e a sua proximidade ao leito fluvial favorecem a sua ocupação, testemunhada desde os mais an-tigos registos paleolíticos.

O rio Minho faz a transição entre o domínio das rias ga-legas a norte e o bloco minhoto, caracterizado por rios de orientação geral ENE-WSW e com um contacto por estuário com o meio marinho. Os depósitos de terraço do rio Minho têm uma expressão particularmente interessante, superior à dos restantes rios portugueses situados a norte do Douro.

A bacia do rio Minho, com 17 080 Km2, ocupa uma parte significativa do sector NW da Penínisula Ibérica, entre a Galiza (Espanha) e o norte de Portugal. O rio Minho nasce na serra da Meira, ao norte de Lugo e tem um percurso de cerca de 300 Km até desaguar no Atlântico, entre A Guardia e Caminha. O seu curso inferior coincide com o curso inter-

nacional. Do conjunto de afluente do rio Minho destaca-se o rio Sil que conflui com o rio Minho 15 Km a montante de Orense. Até à confluência dos dois rios o rio Sil tem maior extensão, maior bacia e maior caudal médio. O vale do Sil é fundamentalmente um vale em garganta, de escavação pro-funda motivada por ações climáticas e tectónicas recentes, alargando-se em depressões como a de El Bierzo. O sector imediatamente a jusante da confluência Minho-Sil, em Los Peares, é ainda caracterizada pela forma apertada do vale que se alarga nas proximidades de Orense mas que ainda a jusante mantém um estilo estreito. Nas zonas alargadas deste sector médio do Minho, concentram-se evidentes e po-tentes terraços fluviais, que caracterizam também o sector inferior (Lautensach, 1945).

No seu sector terminal o vale do Minho encontra-se forte-mente condicionado pela fracturação varisca e alarga-se nas depressões de Salvatierra-Monção e de Tui-Vila Nova de Cer-veira, onde o rio se adapta a dois alinhamentos tectónicos de direção N-S (Fig. 1). Nestas depressões ficou preservado o registo sedimentar fluvial cenozoico mais significativo. En-tre Valença e Vila Nova de Cerveira os depósitos de terraços fluviais têm maior extensão e espessura, dispostos numa es-cadaria de terraços fluviais dispostos abaixo de 75 metros de altitude (Teixeira, 1952; Pereira, 1991) (fig. 2).

Os terraços fluviais do rio Minho entre Monção e Vila Nova de CerveiraDiamantino Ínsua Pereira

Centro de Geologia da Universidade do Porto, Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho

Fig. 1: Localização das depressões de Salvaterra-Monção e de Tui--Vila Nova de Cerveira no NW de Portugal (adaptado de Vieira et al. 2011).

Fig. 2: Depósitos de terraço do rio Minho entre Melgaço e Cami-nha. O perfil transversal representa os sedimentos da região de Valença-Vila Nova de Cerveira (adaptado de Vieira et al. 2011).

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Os depósitos de terraço do rio Minho apresentam várias pe-culiaridades que lhes conferem valor científico (Pereira, 1991; 1999; Vieira et al. 2011; Vivien et al. 2012) e que podem ser ob-servadas, por exemplo, nos afloramentos que limitam o Par-que Industrial de Cerveira ou nas proximidades de Monção.

No Parque Industrial de Vila Nova de Cerveira afloram, com espessura e extensão considerável, uma sucessão de vários terraços fluviais quaternários (Fig.3). No terraço mais extenso observam-se conglomerados com estratificação ho-rizontal (com clastos até 30 cm de dimensão e imbricação evidente), conglomerados e areias com estratificação entre-cruzada planar, correspondentes a pavimento de canais e barras arenosas e conglomeráticas (Fig. 4). No topo, amplos canais estão preenchidos por finos de inundação.

Nesta região os depósitos de terraço sobrepõem-se a uma unidade argilosa e fossilífera pliocénica que foi intensamen-te explorada (Fig. 2).

O Conglomerado de Cortes (Monção) constitui um pe-queno afloramento no talude da antiga linha de caminho de ferro que expõe de forma clara esta unidade ao longo de cerca de 150 metros, situa-se junto à povoação de Cortes (Monção) (Fig. 1). Está limitado a ocidente por falha N30E que estabelece um contacto vertical com o granito (Fig. 5); a leste é admitido um contacto do mesmo tipo. O Conglomerado de Cortes (Monção) foi referido por como semelhante aos Grés do Buçaco (BIROT & SOLé SABARIS, 1954)e encontra-se assinalado na folha 1-B (Monção) sob a designação de Cenozóico indife-renciado (RIBEIRO & MOREIRA, 1986).

Fig. 3: Terraços fluviais do rio Minho no Parque Industrial de Cerveira.

Fig. 4: Sucessão de fácies conglomeráticas e arenosas no terraço T3 (Parque Industrial de Cerveira).

Fig. 5: Conglomerado de Cortes (à esquerda) em contacto por falha com granito (à direita).

Fig. 6: Pormenor do Conglomerado de Cortes.

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O talude, com 10 metros de altura, revela a alternância de bancadas métricas de conglomerados e arenitos fortemente compactados por cimento silicioso, com predomínio de fá-cies conglomerática (fig. 3). O conglomerado é constituído por clastos até 10 cm de dimensão, de quartzito e quartzo com rolamento acentuado e alteração reduzida (Fig. 6). Os clastos são semelhantes, na forma e litologias, aos que constituem os terraços quaternários. A observação em lâ-mina delgada permite identificar quartzo, quartzito, xisto quartzo-feldspático, feldspato alterado, moscovite e biotite parcialmente cloritizada, num cimento silicioso, tal como descrito por RIBEIRO & MOREIRA (1986).

Comparativamente, os níveis de terraço, relativamente extensos nesta região, revelam uma compactação reduzida e uma alteração que afecta de forma variável os clastos me-tasedimentares. Pelo contrário, no Conglomerado de Cortes a silicificação inibiu o avanço da alteração pós-deposicional nos clastos.

O Conglomerado de Cortes (Monção) constitui uma ocor-rência rara e singular de fácies sedimentar fluvial, consti-tuída por níveis conglomeráticos e arenosos siliciclásticos, com uma forte cimentação siliciosa (PEREIRA, 1999). O Conglo-merado de Cortes está limitado por falhas e subjacente aos tradicionais depósitos de terraço do rio Minho, predominan-temente conglomeráticos e sem compactação ou litificação. A semelhança dos clastos sugere uma origem semelhante relacionada com o encaixe deste rio, sendo a silicificação o factor invulgar nas fácies do Conglomerado de Cortes. É ad-mitido como provável que a silicificação tenha origem na circulação hidrotermal, associada às falhas visíveis.

Bibliografia

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Birot P. & Solé Sabaris L (1954) Recherches morphologiques dans le Nord-Ouest de la Péninsule Ibérique. Mem. et Doc. C. N. R. S., IV, 7-61.

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Carvalhido, R.; Pereira, D.; Cunha, P.; Murray, A. & Buylaert, J.P. (2014a). Characterization and dating of coastal deposits of NW Portugal (MinhoeNeiva area): A record of climate, eustasy and crustal uplift during the Quaternary, Qua-ternary International (2014),http://dx.doi.org/10.1016/j.quaint.2014.01.025.

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Lantensach H (1945) Formação dos terraços interglaciários do norte de Portugal e suas relações com os problemas da época glaciária. Publ. Soc. Geol. Portugal, I, 39 p.

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A Geologia na Rota da Vinha e do Vinho Verde:

do Lima ao Minho25, 26 e 27 de abril de 2014

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COMISSÃO ORGANIZADORAJosé Romão Associação Portuguesa de GeólogosMónica Sousa Associação Portuguesa de GeólogosRenato Henriques Departamento de Ciências da Terra da Universidade do MinhoRicardo Carvalhido Centro de Geologia da Universidade do Porto & Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de AveiroDiamantinno I. Pereira Centro de Geologia da Universidade do Porto & Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho