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Page 1: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
Page 2: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

GOVERNO DO

ESTADO DO

PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título DAS ATIVIDADES DE ORALIDADE PARA RETEXTUALIZAÇÃO ESCRITA DO GÊNERO

MEMÓRIAS LITERÁRIAS: O aluno com voz e com vez

Autor Rosilene Aparecida Bender Ferreira Corrêa.

Escola de Atuação

Colégio Estadual Ana Neri – Ensino Fundamental e Médio.

Município da escola Perobal – Paraná .

Núcleo Regional de Educação

Umuarama – Paraná.

Orientador Neiva Maria Jung.

Instituição de Ensino Superior

IES – UEM (Universidade Estadual de Maringá).

Disciplina/Área (entrada no PDE)

Língua Portuguesa.

Produção Didático-pedagógica

Sequência Didática.

Relação Interdisciplinar

Não há relação interdisciplinar.

Público Alvo

As propostas deste material foram planejadas para serem desenvolvidas com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Ana Neri, que participarão de maneira voluntária em contra-turno (período da tarde).

Localização

Colégio Estadual Ana Neri – Ensino Fundamental e Médio. Rua Guilherme Bruchel, 795 – centro.Perobal – Paraná. CEP- 87538 000.

Apresentação:

Desde a publicação dos PCNs, no final da década de 90, vêm sendo publicados diversos estudos debatendo o ensino da modalidade oral. De acordo com as DCEs (2007), “O trabalho com os gêneros orais deve ser consciente”, ou seja, não basta deixar, ou fazer com que o aluno fale, é necessário todo um planejamento e encaminhamento, com objetivos claros e práticas linguísticas voltadas para o desenvolvimento de habilidades orais. Diante desse cenário, optou-se para que esta Produção Didático-Pedagógica esteja devidamente relacionando a oralidade e a escrita por meio de atividades de retextualização. O que propõe este material é um conjunto sistematizado de atividades ligadas entre si, que objetiva contribuir com práticas linguageiras voltadas para o ensino da oralidade por meio da retextualização, baseado no modelo e nas propostas sugeridas por Marcuschi na obra “Da fala para a escrita: atividades de retextualização”. Para tanto, o material apresenta diversas atividades, relacionando as modalidades oral e escrita, a temática minha escola e os gêneros entrevista e memórias literárias, com a proposição de cada uma das etapas a serem seguidas pelos alunos, sempre acompanhadas de informações e esclarecimentos direcionados ao professor que pretensa aplicar esta sequência didática.

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)

Oralidade; retextualização escrita; entrevista; memórias

Page 3: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

ROSILENE APARECIDA BENDER FERREIRA CORRÊA

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

DAS ATIVIDADES DE ORALIDADE PARA RETEXTUALIZAÇÃO ESCRITA DO GÊNERO MEMÓRIAS LITERÁRIAS:

O aluno com voz e com vez

Trabalho realizado como apresentação da Sequência Didática do projeto desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional, como pré-requisito parcial para complementação das etapas do programa. Orientadora: Profª Drª Neiva Maria Jung

MARINGÁ 2011

Page 4: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO AOS PROFESSORES ...................................................................... 4

CRONOGRAMA DE TRABALHO: ............................................................................... 7

MÓDULO I – TROCANDO IDEIAS ORALMENTE: ................................................... 9

MÓDULO II – MAPEANDO O CONHECIMENTO .................................................. 12

MÓDULO III - O QUE É GÊNERO TEXTUAL? ........................................................ 14

MÓDULO IV – ESTUDANDO O GÊNERO ENTREVISTA ....................................... 17

MÓDULO V – AMPLIANDO OS ESTUDOS DO GÊNERO ENTREVISTA ............. 25

MÓDULO VI – TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ORAL ENTREVISTA ....................... 32

MÓDULO VII – RETEXTUALIZANDO A ENTREVISTA ........................................ 35

MÓDULO VIII – TRANSFORMANDO A ENTREVISTA EM UMA ÚNICA VOZ ... 38

MÓDULO IX – UM NOVO GÊNERO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS ......................... 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 53

ANEXO I ........................................................................................................................ 56

ANEXO II ...................................................................................................................... 59

Page 5: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

4

APRESENTAÇÃO AOS PROFESSORES

Desde a publicação dos PCNs, no final da década de 90, vêm sendo

publicados diversos estudos debatendo o ensino da modalidade oral. De

acordo com as DCEs (2007), “O trabalho com os gêneros orais deve ser

consciente”, ou seja, não basta deixar, ou fazer com que o aluno fale, é

necessário todo um planejamento e encaminhamento, com objetivos claros e

práticas linguísticas voltadas para o desenvolvimento de habilidades orais.

Diante desse cenário, optou-se para que esta Produção Didático-Pedagógica

esteja devidamente relacionando a oralidade e a escrita por meio de atividades

de retextualização.

É natural que diante de um cenário tão jovem como os estudos em

Linguística Aplicada nas práticas escolares que envolvam oralidade e práticas

discursivas, nós professores de Língua Portuguesa, ainda sintamos imensas

dúvidas de como conduzir essas práticas no ambiente escolar. O que propõe

este material é um conjunto sistematizado de atividades ligadas entre si,

baseado em estudos teóricos e com uma metodologia e avaliação

desenvolvidas para este material, que objetiva contribuir com práticas

linguageiras voltadas para o ensino da oralidade por meio da retextualização.

Mediante estudos de Marcuschi (2010), observou-se o relato de

experiências feitas com alunos de Letras, por meio das quais sugere atividades

de retextualização de um texto oral, passando-o a outro num processo contínuo

de reescrita, tentando sempre manter as informações básicas, mas

modificando o original passo a passo. O autor destaca, entretanto, que às

vezes as transformações acabam por alterar também as informações iniciais, o

que pode ser discutido com a turma. Dessa forma descobrimos no transcorrer

de formulações discursivas que, o distanciamento entre textos não é gerado

pela modalidade (fala e escrita) utilizada, mas por todas as condições e

características envolvidas no ato de cada produção.

As propostas deste Caderno Pedagógico foram planejadas para serem

realizadas com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual

Ana Neri, no município de Perobal – Paraná, dispondo de um total de 32 horas-

aulas para a realização das atividades de oralidade para a retextualização

Page 6: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

5

escrita. Os alunos serão convidados a participarem de um grupo de estudos

em contra-turno (os alunos da manhã que tiverem interesse em desenvolverem

os estudos do material deverão comparecer no período da tarde). A

metodologia e as atividades a serem desenvolvidas, no transcorrer do processo

(da oralidade para retextualização), tomarão como base o modelo e as

propostas sugeridas por Marcuschi na obra “Da fala para a escrita: atividades

de retextualização”. Para tanto, torna-se necessário elucidar que o “Modelo das

operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito”

é de autoria do teórico, mas a condução das atividades serão propostas

mediante a realidade da turma, pois todo processo de ensino e aprendizagem

com a língua requerem a observação de vários e complexos aspectos, como: o

contexto, a faixa etária dos envolvidos, o conhecimento prévio, o gênero

textual, o propósito, os objetivos de cada atividade, as condições de produção

e assim por diante.

O material está composto por atividades de linguagem voltadas à

compreensão e realização por parte dos alunos, mas cada etapa do processo

está também minuciosamente detalhada e esclarecida nas “orientações aos

professores” deste material, por isso, para o sucesso do trabalho é necessária,

por parte do professor regente, a leitura cuidadosa de cada proposta com o

acompanhamento das orientações, antes da aplicação das atividades,

observando que os trabalhos a serem realizados apresentam uma sequência

sistematizada de atividades, relacionando as modalidades oral e escrita, a

temática minha escola e os gêneros propostos: entrevista e memórias literárias,

com a proposição de cada uma das etapas a serem seguidas.

Torna-se necessário ressaltar também que, para que as propostas

atinjam os objetivos esperados, as atividades deverão seguir o curso

estabelecido neste material, ou seja, o professor que pretensa observar se há

eficiência nesta sequência, deverá segui-la da forma como ela se apresenta, só

minimizando as atividades que observar que seus alunos já dominam, ou

acrescentado e especificando onde perceber maiores dificuldades por parte

dos discentes, adequando-a à realidade dos seus alunos.

Não temos a pretensão de esperar que o aluno, ao término das

atividades deste Caderno Pedagógico, esteja “dominando a fala e a escrita”,

mas acreditamos que ao longo das execuções das atividades, o discente seja

Page 7: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

6

capaz de perceber, de forma menos ingênua e preconceituosa, a prática da

oralidade, e isso inclui também a comparação dessa modalidade com a prática

da escrita, para que assim, diante dessas percepções, ele possa fazer

escolhas e usos conscientes dessas duas modalidades na sua vida escolar e

social, pois o falar e o escrever são práticas corriqueiras de uso diário.

Page 8: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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VAMOS COMBINAR?

Conversando com os alunos sobre o plano de ação da sequência

didática

Você está convidado a partir de agora a compartilharmos um percurso

de atividades que serão desenvolvidas da fala até chegarmos a uma coletânea

de textos escritos. A seguir conversaremos um pouco sobre as atividades que

serão desenvolvidas, quando serão nossos encontros e como iremos estudar.

CRONOGRAMA DE TRABALHO:

TRAÇANDO CAMINHOS – Apresentação do percurso dos estudos

Uma conversa sobre oralidade e escrita.

Produção de um primeiro texto individual (avaliação do

conhecimento prévio).

Breve definição de gênero textual.

As marcas próprias do gênero entrevista: Atividades de

compreensão e fixação.

Ampliação do conhecimento sobre o gênero entrevista. Atividades

para: ouvir, ler, responder, escrever, apreciar e comentar sobre esse

gênero.

A produção da entrevista. – O que é importante saber?

A busca de informações sobre o tema: colocando a entrevista em

prática.

Estudo do processo de transcrição.

Professor (a): Este deverá ser seu primeiro encontro com os alunos, por isso é importante explicar como serão as atividades, o envolvimento, o tempo necessário, os encontros, o crescimento esperado; para isso faça um plano de trabalho com o grupo. Prepare um cartaz com a lista das atividades dos próximos encontros. Depois de pronto, leia o cartaz em voz alta e o coloque num lugar de destaque, ou você poderá entregar cópias do roteiro do percurso. Assim, a turma poderá acompanhar e marcar as tarefas já realizadas. Lembre: É importante explicar o trabalho passo a passo, para que os alunos conheçam e se envolvam em cada etapa proposta.

Page 9: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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A passagem do texto oral (entrevista) para o grafado.

O gênero memórias literárias: O que vocês conhecem sobre esse

gênero?

O processo da retextualização.

Ensaio geral: produzindo um texto coletivamente.

A hora de retextualizar individualmente.

Escrever e transcrever exige estudo, esforço e dedicação:

Melhorando o texto.

Aprovação da retextualização pelo entrevistado.

A reunião dos textos em uma coletânea.

Page 10: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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MÓDULO I – TROCANDO IDEIAS ORALMENTE: O que é mais importante a oralidade ou a escrita?

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Oralidade e escrita. Justificativa: Desmistificar a superioridade da escrita sobre a fala e

vice-versa. Objetivos:

Propiciar uma prática de oralidade reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;

Levar os alunos a refletirem e a construírem opiniões direcionadas sobre a construção e usos da oralidade e da escrita.

Recursos: Por ser oral, esta atividade só necessitará da entrega dos

questionamentos aos alunos. Desenvolvimento: Essa atividade poderá ser lida pelo professor,

para em seguida ser discutida em pequenos grupos e, finalmente, apresentadas e confrontadas as opiniões para toda turma, com cadeiras dispostas em um grande círculo.

Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e

participação dos alunos. Conversando com o(a) professor(a): Os questionamentos propostos são para que os alunos possam expor

o que sabem e o que pensam a respeito dos usos e importância da fala e da escrita. Nessa atividade inicial, é relevante deixar os alunos falarem de forma livre, para expressarem suas ideias. A organização e o tempo de duração dessa atividade, dependerá da disponibilidade do professor e da participação da turma.

Page 11: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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ATIVIDADES PARA O ALUNO

Nesta atividade inicial é importante que você expresse seus

conhecimentos e opiniões, para que assim possamos conversar e aprofundar

os saberes a respeito dos usos e da importância da fala e da escrita.

CONVERSANDO COM OS COLEGAS:

O que é mais importante falar ou escrever?

O que o ser humano aprendeu a utilizar primeiro: a oralidade ou a

escrita? Posso dizer que a mais antiga é também a mais importante,

ou vice-versa?

Qual das duas modalidades é mais difícil de formular: falar ou

escrever?

O que utilizamos mais no nosso cotidiano: a fala ou a escrita?

Nós usamos a oralidade e a escrita para as mesmas finalidades?

Na escola, qual das duas é mais usada? E em casa?

Cite um lugar fora da sua casa e da escola onde a fala seja muito

usada.

Agora, cite um lugar fora de casa e da escola onde a escrita seja

muito usada.

Toda as pessoas falam da mesma forma?

Você fala sempre da mesma forma?

Quase todos aprendem a falar, e por que muitos não aprendem a

escrever?

Onde as pessoas aprendem a falar? Como aprendem e com a ajuda

de quem?

E a escrever, onde aprendem? Como aprendem e com a ajuda de

quem?

Comente um pouco sobre como foram as suas experiências de

aprendizagem da fala e da escrita.

Em sua opinião, ensinar a escrever é tarefa de qual professor? E

Page 12: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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como você acredita que isso deveria ser ensinado?

Você pensa que a escola deveria ensinar a falar? Caso sim, como

seria?

Existe a expressão “falar difícil”, o quê seria “falar difícil”?

Saber falar bem é o mesmo que “falar difícil”?

E a expressão “escrever difícil” existe? Justifique sua resposta.

Posso afirmar que escrever bem só pode ser dito para grandes

autores, estudiosos, aqueles que escrevem “sem erros de

português”?

Você, sendo uma pessoa que vive em uma sociedade, “abriria mão”

de saber falar ou escrever?

Page 13: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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MÓDULO II – MAPEANDO O CONHECIMENTO (Produzindo texto)

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Investigando os saberes dos alunos. Justificativa: Nesta etapa, é importante diagnosticar o conhecimento da

turma em relação a capacidade discursiva escrita, para que o professor possa melhor intervir no processo de aprendizagem.

Objetivos:

Verificar o que os alunos já conhecem sobre o gênero memórias literárias;

Observar o nível linguístico-discursivo dos alunos. Recursos: Atividades do Caderno Pedagógico; Texto:Uma definitiva

presença, do escritor Bartolomeu Campos de Queirós; Folhas para produção; cópias dos textos produzidos nesta aula.

Desenvolvimento: Essa atividade poderá ser conduzida pelo professor por meio da proposição de uma conversa sugerida pelo questionamento inicial. Após breves reflexões, o professor poderá ler, ou solicitar que algum aluno leia o texto proposto. Para finalizar, o professor deve explicar a importância dessa produção inicial e os passos a serem seguidos, e então esperar que os alunos escrevam seus textos. Sugestão: Devolver aos alunos uma cópia do texto que eles produzirem, pois assim eles também poderão ir observando os seus progressos desde o diagnóstico inicial.

Tempo: 100 minutos (duas horas-aulas). Avaliação: Análise do nível lingüístico-discursivo escrito e do conhecimento

sobre o gênero memórias nos textos produzidos pelos alunos. Conversando com o (a) professor (a): Procure levar os alunos a conversarem sobre o que conhecem a respeito do

gênero em estudo, ou suporem sobre o que imaginam ser. Comente com os alunos que um texto de memórias literárias é uma história contada pelas lembranças de alguém, por isso, a verdade é sempre uma versão do real.

No momento da produção, peça aos alunos que escrevam livremente, sem temores, pois essa é uma atividade importante para observar o que eles entendem do gênero e como relacionam os seus saberes. Nesse momento, o mais importante é a produção de um material que possibilite verificar o que os alunos conhecem para poder propor novos conhecimentos.

Page 14: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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ATIVIDADES PARA O ALUNO

MAPEANDO O CONHECIMENTO: Conversando sobre o texto de

memórias literárias

Vocês já ouviram falar sobre texto de memórias literárias? Já

escutaram ou leram algum?

Ouvindo história

Ouçam agora a história que será contada a vocês. Fiquem atentos aos

detalhes.

Produzindo um primeiro texto

Você irá agora escrever seu primeiro texto de memórias literárias da

nossa sequência de atividades. Para sua história obedecer ao esperado,

observe as situações indicadas abaixo:

a) Você deverá escrever sobre um acontecimento ou uma reunião de

lembranças do seu passado escolar. Ou seja, aconteceu na escola,

em uma aula, ou em uma série específica. Por isso, você não pode

perder de vista que há um leitor curioso para conhecer o seu

passado.

b) Você será o autor (escritor) e narrador do seu texto, ou seja, a

história aconteceu com você (use o pronome eu).

c) Seu texto será uma história de ficção, ou seja, de invenção da

realidade, por isso ora você poderá recorrer a sua memória, ora

“enfeitar” suas lembranças com fatos e palavras, ou seja, você não

precisa se preocupar em ser totalmente verdadeiro em suas

lembranças.

d) A história que você irá escrever será lida pelos colegas do grupo e

pela professora, para podermos assim ampliar nossas conversas e

estudos sobre esse tipo de texto.

Professor (a): O texto sugerido encontra-se no final deste material como anexo I.

Page 15: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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MÓDULO III - O QUE É GÊNERO TEXTUAL?

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Gêneros textuais na sala de aula. Justificativa: O trabalho e definição de gênero textual são muito amplos

para estudarmos detalhadamente neste momento. Para nosso aluno cabe agora uma breve e simplificada definição apenas para que ele seja capaz de formar uma ideia sobre esse assunto e assim executar as atividades propostas, e além disso, para que se sinta estimulado para identificar e construir as marcas próprias dos gêneros que serão estudados nesta sequência didática.

Objetivos:

Propiciar atividades com gêneros textuais reconhecendo suas particularidades;

Formar um conceito básico sobre a definição de gêneros textuais. Recursos: As atividades poderão ser reproduzidas ou passadas no

quadro-negro. Desenvolvimento: As atividades deverão ser direcionadas por você,

professor. E, após a explicação, os exercícios deverão respondidos em duplas. Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e

participação dos alunos na realização das atividades.

Breve definição Quando interagimos por meio da linguagem, seja na modalidade oral ou

escrita, produzimos textos com poucas variações, que se repetem na estrutura (se devem ou não ter título; se está organizado em prosa ou verso; se deve ou não ser assinado; e assim por diante); no conteúdo (se é pessoal; humor; técnico; literário;...); e no tipo de linguagem (formal ou informal).

Existem alguns aspectos que nos ajudam a reconhecer um gênero, mas é importante ressaltar que não se trata de uma “fórmula” completa ou fechada, é apenas uma simples contribuição para verificação, que são: estrutura (formato da composição do texto); veículo (local onde o texto circula); suporte ( “local” físico ou virtual onde o texto está fixado. Por exemplo para gêneros orais: rádio, telefone. Para gêneros escritos: livros, jornais); finalidade (para que o texto foi produzido?:- Para expressar opiniões e defesa de um ponto de vista?; - Para transmitir conhecimentos?; – Para contar fatos reais ou imaginários?; – Para ensinar?; e assim por diante).

Page 16: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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ATIVIDADES PARA O ALUNO

O QUE É GÊNERO TEXTUAL?

Você sabe o que é gênero textual? Qual o significado dessas

palavras para as aulas de Língua Portuguesa?

Gêneros textuais são modelos comunicativos que cumprem uma

finalidade específica na sociedade. Difícil? Não se imaginarmos alguns gêneros

que circulam socialmente, como: bilhete, convite, receita culinária, contrato de

aluguel, piada, fofoca, manual de instruções, tabela de preços, letra de música,

entre muitos outros.

Atividades

1) Para entender um pouco mais.

Abaixo temos alguns gêneros textuais. Procure encaixá-los nas suas

breves definições.

. é um gênero composto por uma história

contada em primeira pessoa (eu: singular ou nós:plural), onde se

estabelece uma ligação entre passado e presente, por isso

expressões e verbos marcam o tempo passado (tempo de

relembrar), e ainda, os autores utilizam uma linguagem literária com

emoções e sentimentos para atrair o leitor.

é um gênero que tem por

finalidade a interação com um interlocutor distante, com o objetivo

de informar, fazer um convite, agradecer, aconselhar, solicitar,

reclamar, sugerir, dentre outros, de forma a contemplar a

necessidade do momento. Sua característica primordial é a

aproximação entre autor (remetente) e interlocutor (destinatário). O

gênero é composto por cabeçalho (que indica a cidade e a data),

lenda Memórias literárias seminário carta familiar entrevista

Page 17: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

16

vocativo (saudação), desenvolvimento (assunto), despedida e

assinatura (do autor).

é um gênero oral que leva os

participantes a uma reflexão maior sobre conteúdos pesquisados. A

organização desse gênero deve ser através da formação de grupos,

tendo como representante um coordenador. E deve seguir a

seguinte ordem: Introdução (apresentação da temática geral,

ressaltando as questões mais relevantes); em seguida, cada grupo

realiza a apresentação dos sub-temas (objetivos, justificativas, falas

dos participantes, conclusões); e finalmente espaço destinado à

interlocução com o público ouvinte (discussão do assunto) e

despedida.

é um gênero concebido de

forma oral face a face, assim, não é possível estabelecer uma nítida

fronteira entre a informação (relato oral ou descrição de um fato) e a

versão da exposição grafada desse mesmo fato, ou seja, os

comentários e adequações do redator do texto (aquele que passou

o oral para o escrito), sempre estarão presentes no texto impresso.

é um gênero que tem como

função social preservar histórias fantásticas (e/ou fantasiosas)

criadas pela imaginação do homem, pelas suas crenças, e que

foram sendo repassadas, oralmente, de geração para geração,

tornando-se parte da cultura popular. A narrativa é centralizada em

torno de algum herói popular (revolucionário, santo, guerreiro), se

amplia e se transforma sob efeito de evocação poética ou da

imaginação popular, sem explicações científicas.

Page 18: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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MÓDULO IV – ESTUDANDO O GÊNERO ENTREVISTA

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Reconhecimento do gênero entrevista. Justificativa: Iniciar atividades com um gênero oral. Objetivos:

Propiciar práticas de oralidade e escrita reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;

Estimular a percepção do discurso constituído oralmente (face a face);

Reconhecer o gênero entrevista. Recursos: Os textos e atividades poderão ser reproduzidos ou passados no quadro-

negro. Desenvolvimento:As conversas deverão ser direcionadas por você, professor. E,

após a “descoberta” do gênero, os textos poderão ser lidos em duplas para toda turma, antes das atividades de compreensão.

Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e participação dos

alunos nas atividades orais e escritas.

Breve definição A entrevista é um gênero produzido, geralmente, entre duas pessoas face a face,

caracterizada pela alternância “pergunta/resposta”, que reproduz tão fielmente quanto possível uma conversa entre entrevistador e entrevistado, ou seja, a entrevista organiza-se em turnos da fala e tem como finalidade uma das duas situações:

a) levar a conhecer a opinião de uma figura pública (entrevistado) sobre um tema da atualidade (porque o assunto é importante ou o entrevistado é importante com relação ao assunto em questão);

b) levar a conhecer a importância de uma personalidade, instituição ou circunstância que, embora não sendo do conhecimento geral, tenha vindo a assumir pelo seu trabalho ou impacto uma relevância que justifique a sua divulgação.

As entrevistas podem ser de dois tipos: oral (radiofônica ou televisiva) em que o texto é registrado no discurso oral, de forma direta; ou escrita (impressa) em que o enunciado da entrevista é passado ao registro escrito, permitindo pequenas correções ou reformulações.

O contato com esse gênero nos permite identificar, questionar ou reconhecer opiniões e visões de mundo.

Para todas as entrevistas, é fundamental a elaboração de um roteiro que oriente o processo a ser seguido.

Page 19: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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ATIVIDADES PARA O ALUNO – ESTUDANDO O GÊNERO ENTREVISTA

Faça uma breve observação dos textos a seguir, publicados em

revista, para podermos conversar sobre eles.

TEXTO 1

O que um turista cego vê Tony Giles nasceu com um problema na visão e ficou cego aos 10 anos. Mas isso

nunca o impediu de viajar. Aos 32 anos, o inglês já encheu 3 passaportes com vistos

de 56 países. E decidiu contar como enxerga as belezas e os problemas de cada lugar

no recém-lançado livro Seeing the World My Way (sem tradução em português). Giles

falou com a SUPER por telefone de 3 cidades diferentes – La Paz, Londres e Atenas.

– Texto de Felipe Datt

Como você faz para

conhecer os locais que

visita?

Não consigo enxergar

sequer sombras. Isso

significa que preciso de

todos os outros sentidos

para absorver a cidade de

acordo com o tipo de

superfície, as músicas, as

vozes, as comidas, os

aromas. Tenho um senso

único em relação aos

outros turistas, porque uso

todos os meus sentidos

em conjunto, algo

raramente feito por quem

enxerga.

Como esses sentidos

ajudam a diferenciar os

lugares?

Pelo ar sei se estou perto

da praia, como quando

sinto o ar salgado de

Seattle ou Bodrum, na

Turquia. Ou se a cidade é

poluída. De Yerevan, na

Armênia, minha

lembrança é uma

combinação de fumaça de

escapamentos, chaminés

de fábrica e cigarro.

Também aprendo sobre a

cultura. Sei que estou em

Chicago logo ao sair da

estação de ônibus por

causa do cheiro da carne

e do jazz e do blues que

ouço. Já Buenos Aires e

Lima me dão a sensação

de caminhar por cidades

interioranas, em vez de

grandes megalópoles,

pois consigo ouvir o som

de pássaros e cachorros.

Qual é sua cidade

favorita?

Na verdade prefiro

natureza a cidades.

Consigo captar muito pela

pele e uso meu corpo

para sentir o ambiente.

Quando caminho por uma

floresta, tenho a sensação

de que o ar está

comprimido. Se parece

que ele se expandiu, sei

que cheguei a uma área

aberta. Posso detectar

mudanças na pressão do

ar e na temperatura. E

sinto que pode chover se

o vento sopra mais forte.

Mas se tivesse que

escolher uma cidade...

Bangcoc, na Tailândia, é

incrível. O cheiro de

Page 20: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

19

sujeira, dos incensos, da

comida de rua, dos canais

e dos esgotos a céu

aberto se junta ao calor, à

umidade e ao barulho do

trânsito para atacar meus

sentidos

simultaneamente. Por

outro lado, Veneza me

decepcionou. Para mim a

cidade cheira a esgoto,

não importa quão

romântica seja para os

outros.

Como você se orienta?

Ando com uma bengala e

na mesma direção do

trânsito ou do vento. Uso

o barulho do tráfego para

me guiar. Se preciso

encontrar um metrô, uma

boa indicação é sentir um

grande número de

pessoas indo e vindo, ou

a vibração que o trem

provoca na calçada.

Também conto as ruas

que atravesso quando me

locomovo e refaço o

caminho na volta. Em

algumas cidades é mais

difícil transitar. Como em

Atenas, onde as pessoas

estacionam os carros na

calçada.

O que achou do Brasil?

O trânsito no Rio, em São

Paulo e no Recife era

impressionante, com

motoristas buzinando e

motores de carros que

soavam como armas de

fogo. Em Salvador tinha

batuque o dia todo, um

barulho parecido com

pessoas batendo à porta.

Gostei muito do povo, das

praias de areia macia e

dos sucos de frutas

frescas. Que país maluco!

Você já sentiu medo de

viajar sozinho?

Sou confiante. Viajar

sozinho nunca foi um

problema e nunca será. É

minha paixão.

Superinteressante,

jun/2011

Page 21: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

20

TEXTOII

O homem que ouve tudo

Julian Treasure não é nenhum caso raro na ciência. É só alguém que resolveu

prestar atenção a todos os barulhos e ritmos que nos cercam. Segundo

Treasure, sons tão banais quanto a música que toca no supermercado podem

interferir radicalmente no seu comportamento. Como? Até empresas como

Honda e Unilever ficaram curiosas – e contrataram a consultoria inglesa de

Treasure para entender. – Texto de Eduardo Szklarz

Você diz que nossa

relação com o som está

cada vez mais

inconsciente. Por quê?

Muito tempo atrás, as

pessoas eram cercadas só

pelo barulho do vento, da

água, dos pássaros. A

audição era nosso sentido

de alerta, indicando

ameaças. Com a

industrialização, criamos o

hábito de suprimir os

ruídos das cidades e

ignorar a audição. A

maioria dos efeitos dos

sons ao nosso redor se

moveu para um plano

inconsciente. Hoje

dependemos demais dos

olhos e não

compreendemos como os

sons influenciam nossa

vida.

Eles podem nos deixar

alertas ou relaxados, é

isso?

Sim, sons têm efeito

psicológico, dependendo

da associação que

fazemos. Muitos acham o

canto dos pássaros

reconfortante, pois ao

longo da evolução

aprendemos que tudo está

tranqüilo quando os

pássaros cantam. O mar

nos relaxa, porque tem

uma freqüência de 12

ciclos por minuto – a

mesma da nossa

respiração quando

dormimos. Mas não é só

isso. Sons interferem no

funcionamento do nosso

corpo. Uma sirene gera

uma descarga do

hormônio cortisol, que

acelera o nosso coração.

Além dos efeitos que

podem influenciar o nosso

comportamento.

Como assim?

Você já deve ter reparado:

se alguém puxa papo

enquanto você trabalha no

computador, sua

concentração vai piorar. É

porque você usa a

memória sensorial para

manipular símbolos e

palavras, e a conversa

afeta seu senso de espaço

– afetando sua

produtividade. Escritórios

amplos e barulhentos

derrubam em 66% a

produtividade dos

funcionários. Nesses

lugares, um fone de ouvido

e música ambiente

ajudariam você a se

concentrar no trabalho.

Alguém poderia usar

sons para nos

Page 22: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

21

manipular?

Sim. O ambiente musical

tem um efeito radical sobre

compras. Mas as

empresas, em geral, não

sabem disso. Em lojas de

departamento, uma

música inapropriada pode

reduzir as vendas em até

28% [como música infantil

em loja de crianças, que

pode espantar os adultos].

A mensagem captada

pelos olhos do cliente é

“entre e gaste seu

dinheiro”, mas

os ouvidos escutam “vá

embora, ambiente hostil”.

Ou então a música pode

influenciar a decisão dos

clientes,como aconteceu

numa loja de vinhos

inglesa. Apesar de os

vinhos franceses serem

mais tradicionais, eles

eram menos vendidos do

que os alemães quando a

loja tocava música da

Alemanha. Ou seja: o som

foi capaz de vencer a

tradição.

Como você chegou a

essas conclusões?

Aliei minhas duas

profissões – além de ter

sido baterista a vida inteira

[Treasure tem 50 anos],

tenho 30 anos de

experiência em marketing.

A busca pelo uso eficiente

do som é o ponto em

comum entre as duas

atividades. E hoje é um

novo tipo de marketing,

que tem crescido. Espero

transformar o som dos

negócios e o modo como o

mundo soa ao nosso

redor.

Superinteressante,Dez/

2009

Page 23: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

22

ATIVIDADES PARA O ALUNO

1. Conversando sobre os textos:

a) Normalmente, as pessoas gostam de conversar. O que é uma

conversa?

b) Podemos dizer que os textos que acabamos de ver são conversas?

Explique.

c) Onde encontramos esse tipo de texto?

d) Quem escreve esse tipo de texto? E para quem é escrito?

e) Com que finalidade esse tipo de texto é produzido?

f) Como os textos estão organizados?

g) A linguagem dos dois textos é espontânea?

h) Você acha que a linguagem dos textos é parecida com a linguagem

do cotidiano? Comente.

i) Você já tinha ouvido no rádio, assistido na televisão, ou lido em

revistas ou jornais algum texto desse tipo?

j) Quais são as principais características desses textos? E que tipo de

textos são esses?

k) Como chamamos a pessoa que faz as perguntas? E a pessoa que

responde?

l) Vamos retornar aos textos para lermos quem são essas pessoas

nos dois textos.

Professor (a), este momento está destinado ao reconhecimento do gênero entrevista, por isso incentive seus alunos a retornarem aos textos deste módulo sempre que considerarem necessário e os conduza a “descobrirem” esse gênero no decorrer da conversa.

Professor (a), as atividades a seguir estão direcionadas a compreensão discursiva das entrevistas, por isso é interessante que sejam respondidas individualmente ou em duplas e por escrito.Chame a atenção dos alunos para a questão e, pois nesse momento vale explicar a complexidade do discurso oral “por telefone de três cidades diferentes”, ou seja, foi demorado e não está escrito da mesma forma que foi dito, sofreu alterações de edição.

Page 24: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

23

2. Mostre que você entendeu os assuntos das entrevistas e responda

as questões abaixo:

a. Com relação ao assunto dos dois textos, o que há em comum entre

eles?

b. E em relação aos entrevistados, o que há em comum entre eles?

c. O título do texto I é: “O que um turista cego vê”, mas se ele é cego

como pode ver?

d. Podemos afirmar que Tony Giles é um exemplo de superação?

Justifique.

e. Na definição de entrevista observamos que “É um discurso de

origem oral constituído face a face”. Essa definição se confirma na

entrevista com Giles? Justifique.

f. Ainda em relação ao texto I, você acredita que a opinião de Tony

Giles sobre o Brasil é boa ou má? Comente sua resposta.

g. O título do texto II é: “O homem que ouve tudo”, mas de acordo

com o texto ele não tem uma audição superior a nossa. Explique

então qual é o diferencial na audição de Julian Treasure.

h. Julian Treasure afirma que o barulho atrapalha em até 66% a

produtividade de funcionários em um escritório, e na sala de aula

você acha que acontece o mesmo?

i. Em sua opinião, qual das duas entrevistas é mais interessante?

Justifique.

j. A revista de onde foram retirados os textos é uma revista destinada

a descobertas e curiosidades, você acha que foi boa a escolha dos

entrevistados dos dois textos? Comente.

3. Observe as palavras destacadas nos trechos retirados dos dois

textos:

“Tony Giles nasceu com um problema na visão e ficou cego aos

10 anos”(texto I)

“A maioria dos efeitos dos sons ao nosso redor se moveu para um

Professor (a), os próximos exercícios estão direcionados ao plano linguístico discursivo, dessa forma, você deverá orientar e mediar sempre que houver necessidade.

Page 25: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

24

plano inconsciente”. (texto II)

a) As palavras destacadas sugerem:

( ) a marcação de um tempo passado

( ) a marcação de um tempo presente

( ) a marcação de um tempo futuro

4. Observe, agora, os seguintes trechos retirados do texto II:

“Muito tempo atrás, as pessoas eram cercadas só pelo barulho do

vento, da água, dos pássaros”.

“Hoje dependemos demais dos olhos e não compreendemos como

os sons influenciam nossa vida”.

Observe que, nos dois trechos temos marcada a relação temporal

do passado (antes) e do presente (agora). Essa relação é

estabelecida somente pelos verbos? Explique.

5. Releia mais um trecho do texto II:

“Ou seja: o som foi capaz de vencer a tradição”

a) A palavra destacada remete :

( ) um fato passado concluído

( ) um fato passado, mas não concluído, ou seja, prolongado.

b) Se em vez de “foi” fosse empregado “era” mudaria o sentido

deste trecho? Explique.

6. Retorne nas entrevistas, localize e copie os quatro pronomes

interrogativos usados nas perguntas, ou seja, as palavras que indicam o início

de uma pergunta.

Page 26: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

25

MÓDULO V – AMPLIANDO OS ESTUDOS DO GÊNERO ENTREVISTA

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Do estudo à produção da entrevista. Justificativa: Aplicar atividades de aprofundamento do gênero oral entrevista,

para que os alunos consigam analisar e identificar os recursos do gênero em estudo e assim realizarem individualmente sua própria entrevista.

Objetivos:

Propiciar práticas de oralidade e escrita reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;

Estimular a percepção do discurso constituído oralmente (face a face);

Compreender e registrar o discurso oral do outro;

Aprofundar o reconhecimento do gênero entrevista;

Desenvolver práticas direcionadas de oralidade com o gênero entrevista;

Realizar individualmente sua própria entrevista. Recursos: Cópia dos textos e atividades do módulo em estudo (poderão ser

reproduzidos ou passados no quadro-negro); quadro-negro; giz colorido (para diferenciar entrevistador e entrevistado).

Desenvolvimento: As atividades deverão ser direcionadas por você,

professor. Como já foi realizada a “descoberta” do gênero, as atividades deste módulo deverão ser realizadas individualmente, para que os alunos consigam sanar dúvidas e fixar as características da entrevista. Após as atividades escritas, as respostas poderão ser trocadas entre duplas de alunos para confrontaram as compreensões e depois apresentadas em um grande círculo. As atividades de produção deverão ser todas mediadas por você, professor.

Tempo: 150 min. (duas a três horas-aulas). Avaliação: Observação do envolvimento e participação dos alunos nas

atividades orais e escritas. Gravação da entrevista. Comentário: neste módulo a entrevista será vista em todos os aspectos do

gênero: discursivo, lingüístico e da produção textual.

Page 27: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

26

ATIVIDADES PARA O ALUNO – AMPLIANDO OS ESTUDOS DO GÊNERO ENTREVISTA

TEXTO

Ela voltará à selva, apesar do jacaré Era meio-dia de 30 de dezembro de 2009 quando o maior predador da

Amazônia, o jacaré-açu, atacou a bióloga paulista Deise Nishimura, 25, que

limpava peixe na varanda de sua casa flutuante no lago Mamirauá. Não morreu

por pouco, mas perdeu a perna direita. Ainda assim, Deise não desistiu da

ciência. Ela que estudava o comportamento de botos-vermelhos, não vê a hora

de voltar à pesquisa na selva. – Por Willian Vieira

Como você foi atacada

por um jacaré de 6

metros?

Eu estava sentada

limpando peixe para o

almoço quando o vi saltar

mais de 1 metro e morder

minha perna direita.

Fomos para o fundo do

lago e ele começou a girar,

girar, mas eu não sentia

dor nenhuma, por causa

da adrenalina. Nossa,

dava para pensar em

muita coisa, pois o tempo

lá tem outra dimensão.

E como você

sobreviveu?

Eu me lembrei de ter visto

em um documentário que

a parte mais sensível do

tubarão é o nariz. Enfiei os

dedos em dois buracos,

que deviam ser os olhos, e

apertei com toda força. Ele

me largou – só não sei se

por isso ou se porque já

tinha levado o que queria,

a minha perna. Nadei

então uns 4 metros, subi a

rampa da casa me

arrastando e chamei ajuda

pelo rádio. O pessoal da

reserva veio, fez um

torniquete e me levou ao

hospital.

Depois do ataque, como

sua vida mudou?

Eu ainda estou me

recuperando, fazendo

fisioterapia. Passei 16 dias

no hospital. Coloquei uma

prótese, mas ainda

estamos fazendo a

adaptação. Talvez tenha

de fazer mais uma cirurgia.

Então minha pesquisa

parou por ali, porque

preciso me dedicar à

recuperação.

É mais arriscado para

um boto ou para uma

pessoa viver nas

mesmas águas que o

jacaré-açu?

Embora eles dividam as

mesmas águas, o boto é

rápido demais para ser

pego por um jacaré. A não

ser que haja um incidente.

O jacaré come peixes,

tartarugas, às vezes aves.

Mas é um animal

oportunista: se vê uma

oportunidade, ele ataca, se

aproveita mesmo da

situação. Se um boto

estiver machucado, vai

pegá-lo.

Mas você é contra a caça

do animal?

Page 28: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

27

Eu sou contra a caça

indiscriminada do jacaré,

mas sou a favor da caça

manejada. Naquela região

há jacarés demais. Caçar

não é um risco tão grande

para o ecossistema, mas o

bicho é para a população

ribeirinha

Você pretende voltar

para a selva? Continuar

a pesquisa de onde

parou?

Eu não sei quando, mas

quero voltar para lá o mais

rápido possível. Sempre

foi meu sonho estudar

cetáceos [ordem de

mamíferos a que

pertencem os botos e as

baleias]. Aí surgiu essa

oportunidade na Amazônia

e eu fui. Desde o momento

que cheguei, me senti em

casa. Acordava às 5h30,

saía de barco e passava 7

horas fazendo avistagem.

De volta em casa,

trabalhava no computador

com os dados que havia

coletado. Eu nunca havia

me sentido tão à vontade

na cidade. A única coisa

que me fez pensar em

desistir foram os

mosquitos. Era uma média

de 15 picadas por dia. Mas

me adaptei bem, pois eu

gostava bastante da rotina.

Então pretendo voltar

assim que me recuperar

totalmente.

Não passou pela sua

cabeça estudar jacarés?

Depois do que aconteceu,

sim. Fiquei bastante

interessada em estudar

esses bichos tão

fascinantes. Vamos ver

Superinteressante, Nov/2010

ATIVIDADES PARA O ALUNO

1. Demonstre que você entendeu a aventura vivida por Deise

Nishimura respondendo as questões abaixo:

a. Qual é o nome do entrevistador e do entrevistado no texto?

b. A bióloga paulista Nishimura sabia dos riscos que corria ao morar

em uma casa flutuante no lago Mamirauá? Comente sua reposta.

Professor (a), o esperado é que neste momento o aluno já seja capaz de reconhecer a entrevista como um gênero textual que se inicia na oralidade e que depois é transferido para a forma grafada passando por mudanças para edição e publicação, mas caso julgue necessário aproveite para conversar sobre isso logo após a leitura feita por alunos em dupla e em voz alta. As atividades seguirão a seguinte ordem: discursivas (de leitura e compreensão do texto); linguística discursiva (da linguagem empregada no texto) e finalmente de produção (fixação e verificação dos conteúdos estudados).

Page 29: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

28

c. É possível afirmar que depois do que aconteceu com a bióloga

Deise, ela está determinada a estudar jacarés? Explique.

d. Deise Nishimura é contra a caça de jacarés? Justifique.

e. Como foi possível uma jovem de apenas 25 anos livrar-se de um

jacaré de 6 metros?

f. Podemos afirmar que qualquer pessoa num confronto com um

jacaré se salvaria?

g. Em sua opinião, por que Deise Nishimura não ficou traumatizada

com o ataque que sofreu do jacaré-acú?

h. Você teria coragem de retomar suas pesquisas após sua

recuperação como pretende fazer a bióloga da entrevista?

Comente.

2. A entrevista tem origem oral, entretanto, quando ela é passada para

forma escrita (registro linguístico), sofre alterações de palavras e de

construção da linguagem. Apesar de a linguagem utilizada no texto ser

simples e clara, é possível percebermos algumas palavras e construções

que a maioria das pessoas não utilizaria na fala. Localize e circule no

texto termos que justifiquem essa afirmação.

3. Em entrevistas temos a utilização da terceira pessoa do singular

nas perguntas (identificando o entrevistado pelo nome ou cargo), e da

primeira pessoa do singular ou do plural nas respostas (a fala do

entrevistado). Transcreva do texto o que se pede:

a. dois pronomes da primeira pessoa do singular:

b. dois verbos na primeira pessoa do singular:

c. dois verbos terceira pessoa do singular:

4. Observe que o pronome “você” refere-se a segunda pessoa do

singular (a pessoa com quem “eu” falo), mas os verbos utilizados com

esse pronome (você) estão conjugados na terceira pessoa (a pessoa de

quem eu falo). Localize e circule na entrevista duas ocorrências desse

caso.

Page 30: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

29

5. O texto que lemos apesar de ser uma entrevista, em certos trechos

“conta uma história” de aventura e terror. Retire do texto e explique ao

menos duas características de narrativa.

PRODUÇÃO DE TEXTO

Nós lemos, conversamos, analisamos, estudamos e identificamos

marcas próprias do gênero entrevista. Agora é o momento de cada um fazer

sua própria entrevista.

Inicialmente precisamos estabelecer um roteiro a ser seguido, ou seja,

o que devemos perguntar, a quem e como perguntar.

1. Definição do tema. Esta é uma questão valiosa para dar

consistência ao texto. É preciso conhecer o tema sobre o qual se escreve, por

isso vamos retomar o mesmo assunto do primeiro texto que você escreveu nos

nossos estudos: Uma experiência escolar. A organização da sua entrevista

deverá ser sobre esse assunto: um acontecimento ou uma reunião de

lembranças do passado escolar do entrevistado. Ou seja, aconteceu na

escola, em uma aula, ou em uma série específica. Por isso, você não pode

perder de vista que há um leitor curioso para conhecer o passado escolar do

entrevistado

2. Escolha do entrevistado. Na sua casa, você já conversou com sua

família sobre como era a escola no tempo deles? O seu entrevistado deverá

ser alguém da sua família, preferencialmente alguém mais velho, que

frequentou a escola por pelo menos um ano, como: avô, avó, pai, mãe ou tios.

Essa escolha se justifica pelo fato de que alguém da família poderá trazer para

o presente o seu passado escolar, e assim com todas as entrevistas

poderemos fazer uma relação de como era a escola no passado e como é hoje

e dessa forma conhecermos a visão da sua família sobre a escola no tempo

deles e ainda das outras famílias entrevistadas que pertencem a nossa

comunidade escolar.

3. Elaboração das perguntas. O que saber e como perguntar?

Devemos considerar os seguintes aspectos:

As perguntas poderão ser “abertas” (permitindo respostas

mais ou menos longas e discursivas) ou “fechadas”

(permitindo respostas do tipo sim/ não);

Page 31: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

30

As perguntas devem ter uma organização lógica, para

permitir a sequência da entrevista;

As perguntas devem ser breves, claras e significativas para o

conhecimento do tema;

A linguagem deve estar adaptada ao entrevistado;

Devem estar previstas estratégias para retornar ao tema,

caso o assunto se desvie;

Deve ficar claramente definido o número de perguntas ou o

tempo de duração da entrevista.

Vamos elaborar nosso roteiro?

Abertura: (sugestão de texto para abertura da entrevista)

Nossas memórias estão sempre repletas de acontecimentos, e

todos aqueles que frequentaram a escola sempre tem histórias para

contar. O que nos interessa, neste caso, são as lembranças fortes e

significativas da sua época escolar, como você recorda, como

viu o que sentiu e o que aconteceu.

Professor (a), abaixo apresentamos um roteiro de questões para a entrevista que nos

conduzem ao gênero final que pretendemos que é Memórias Literárias, mas neste momento isso não

deve ainda ser dito aos alunos, pois a intenção é a de que eles descubram o gênero aos poucos, para

não causar espanto, nem desânimo pelas dificuldades para passar de um gênero (entrevista) a outro

(memórias literárias).

Peça aos alunos para observarem nas entrevistas estudadas que todas elas tem uma

introdução/ abertura antes de iniciarem as perguntas, por isso que antes da elaboração das questões

é necessário deixarem combinado como iniciarão o assunto.

Queremos ainda reforçar que a abertura e as questões já elaboradas são apenas sugestões,

mas caso pretenda usá-las vá sugerindo aos poucos e escrevendo-as no quadro-negro, de forma que

os alunos possam intervir, sugerir e sintam-se parte importante no processo de elaboração do roteiro da

entrevista.

1) Sabemos que, na época em que o (a) senhor (a) frequentou a escola, ela não era

exatamente como é hoje. Caso o senhor (ou a senhora) fechasse os olhos poderia ver o

lugar onde estudou e descrevê-lo para nós?

2) É possível lembrar mais ou menos de que ano estamos falando, ou de qual série escolar?

(por exemplo: ginásio, colegial , escola normal...)

3) Por que o (a) senhor (a) ia pra escola? Gostava de estudar?

4) Vocês usavam uniformes? Como era?

5) E o comportamento dos professores como era?

6) E os alunos como se comportavam em aula?

7) Tem alguma lembrança especial de algum professor ou colega de turma?

8) E as aulas? Como eram? Vocês liam, escreviam, conversavam, copiavam,... o que

faziam? E como faziam?

9) Como o senhor (ou a senhora) se sentia na sala de aula?

10) Na sua memória tem algum acontecimento, uma festa na escola, um dia de prova, um

passeio, um desfile, uma aula, um fato qualquer, pensamento ou costume da época que o

senhor (ou a senhora) gostaria de contar?

11) O senhor (ou a senhora) tem algum recado que gostaria de deixar para os alunos de hoje?

Page 32: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

31

Formulando as perguntas

Caso necessário, você poderá retornar ao assunto da entrevista ou

ainda, complementar alguma questão com as sugestões abaixo:

“O senhor (ou a senhora) poderia explicar um pouco mais como

era...”;

“O senhor (ou a senhora) poderia comentar um pouco mais esse

fato, esse costume...”;

“O senhor (ou a senhora) poderia dar mais detalhes...?”.

* Caso o entrevistado fale alguma expressão antiga ou palavra que

esteja em desuso, peça a explicação do sentido ou emprego atual do que foi

dito.

O momento da entrevista

A entrevista deve, de preferência, ser gravada e feita em um lugar

bem silencioso sem interrupções;

Lembremos que para gravarmos a entrevista é preciso primeiro

testar o material (gravador) e pedir a permissão do entrevistado;

Procure tranquilizar o entrevistado, dizendo que ele poderá falar

conforme a memória permitir, que não precisa ter pressa. É

fundamental criar um clima de respeito para que o entrevistado se

sinta à vontade para falar com espontaneidade;

Diga ao entrevistado que ele poderá contar sobre fatos engraçados

ou tristes, que o importante é ele falar como se sentiu e viveu esses

acontecimentos;

A duração da entrevista não deve ultrapassar 12 minutos (gravação

da conversa), para não ficar cansativa e não dificultar a organização

do texto escrito;

As perguntas servem para guiar o entrevistador e entrevistado, mas

vocês não precisam ficar presos a elas, pois o objetivo é uma boa

conversa na qual o entrevistado revele sensações e sentimentos

sobre o que está contando;

Caso a conversa não tenha sido satisfatória, avise que vocês

precisarão marcar uma nova entrevista;

Page 33: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

32

No final da entrevista, deve-se agradecer ao entrevistado e dizer o

quanto foi importante a sua contribuição. Procure explicar que ele

deverá ler o que será escrito por você, para ver se concorda e

aprova o texto escrito. Se estiver de acordo, precisará assinar uma

autorização para a publicação do texto final.

Coletando as informações

Agora que já estudamos como fazer uma entrevista e elaboramos

nosso roteiro de questões, é hora de praticarmos. Marque seu momento da

entrevista e grave-a para nosso próximo encontro. Não se esqueça se seguir

os passos estudados. Caso necessário, leve anotado tudo o que for precisar.

Boa entrevista!

MÓDULO VI – TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ORAL ENTREVISTA

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Transcrição da entrevista. Justificativa: Iniciar a “passagem” da modalidade oral para a escrita. Objetivos:

Compreender e registrar o discurso oral na forma grafada;

Estimular a percepção do discurso constituído oralmente (face a face) na apresentação escrita.

Recursos: Os textos e atividades poderão ser reproduzidos ou passados no quadro-

negro. Gravador, lousa e giz (caso o professor tenha uma gravação). Desenvolvimento: É importante que os alunos tenham em mãos as atividades e

explicações deste módulo, mas a compreensão deve ser lida e orientada pelo professor, com exemplificações e interferências sempre que houver necessidade. Caso o professor tenha feito sua gravação, ele poderá transcrever um trecho coletivamente no quadro-negro, para que os alunos acompanhem, mas caso não tenha, ele poderá pedir a autorização para usar a gravação de um dos alunos. Lembre que a transcrição individual deverá ser realizada em casa, pois exige silêncio e concentração de cada um. A cópia das transcrições deverá ser arquivada pelo professor para acompanhamento dos trabalhos futuros.

Tempo: 50 minutos (uma hora-aula). Avaliação: Os registros escritos das transcrições.

Breve definição

Transcrever é passar um texto de uma modalidade a outra (do oral para o escrito), sem que, entretanto ocorram grandes transformações de conteúdo, ou seja, é a reprodução gráfica dos sons de uma língua.

Page 34: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

33

ATIVIDADES PARA O ALUNO – TRANSCRIÇÃO DO TEXTO ORAL ENTREVISTA

Você coletou as informações, ou seja, fez e gravou a entrevista

oralmente, agora é o momento da transcrição. Como assim? Siga as

recomendações abaixo e observe os modelos.

A entrevista foi oral (conversa gravada) em que o texto foi registrado

no discurso oral, de forma direta; agora para escrita (conversa grafada) o

enunciado da entrevista deve ser passado ao registro escrito da forma que

ocorreu. Somente em atividades futuras iremos fazer algumas mudanças,

permitindo pequenas correções ou reformulações, assim como nos textos das

entrevistas escritas que estudamos.

Ouça a gravação com calma e atenção. Observe como se

assemelha a uma conversa, em que um pergunta e o outro

responde, ou seja, um fala e depois o outro fala (na entrevista

chamamos isso de turnos da fala);

Procure ouvir novamente, só que agora vá passando para o papel o

que escutar, da mesma forma que ouvir. Vá pausando a gravação

para dar tempo de escrever e ouça poucas palavras e já registre,

para não correr o risco de mudar palavras ou a ordem do que foi

dito;

Quando mudar a voz (entrevistador) mude de linha para separar a

outra voz (entrevistado);

Lembre: Nessa atividade procure ser o mais fiel possível ao registro

oral, ou seja, não use pontuação, não se preocupe em usar letras

maiúsculas e não mude a pronúncia das palavras ( Ex: se o

entrevistado disser: nóis era – você deverá registrar dessa forma);

Quando o entrevistado fizer pausas na fala, na escrita marque assim

(...);

Procure manter no escrito todas as palavras do oral: “daí”, “né”,

“bem”, “hã”, “sim”, “sabe”, e outras;

Registre as observações das ações do entrevistado. Por exemplo:

Page 35: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

34

(tossindo), (rindo), (alguém bate na porta).

Observe abaixo alguns exemplos de transcrição (texto oral registrado

na escrita), que foram retirados do livro “Da fala para a escrita: Atividades de

retextualização”, escrito por Luiz Antônio Marcuschi.

eh... eu vou falar sobre a minha família...sobre os meus pais...o que eu acho deles..

como eles me tratam... bem... eu tenho uma família...pequena..ela é composta pelo meu pai...

pela minha mãe...pelo meu irmão...eu tenho um irmão pequeno de...dez anos...eh...o meu

irmão não influencia em nada...a minha mãe é uma pessoa superlegal...sabe? (Narrativa

oral de uma jovem de 17 anos)

J- mas o senhor tem certeza que ele num fez...que ele saiu com o senhor no ônibus e

a morte dele aconteceu?

D- aí num ((incompreensível)) aí/

J- OCORREU naquele momento/

D- aí pode ser até...eu/

J- ele sempre acompanhado pelo senhor heim?

D- justamente/

J- HEIM? (Tomada de depoimento – texto oral)

L2- e ela mora lá...mas ela é ...bem velhinha...maluca né? ela até hoje não sabe das

coisas ela esquece os nomes elea::a mim ela sabe...mas eu invento história pra ela...e ela

acredita em todas as histórias que eu invento... perturba mui:to a vida de minha irmã porque

não tem/...os conceitos de higiene dela já sumiram...só gosta de andar mulamba...

L1- ((riu)) (Texto oral do Projeto NURC- Recife)

Você aprendeu nessa aula como transcrever, agora em casa

procure fazer individualmente a transcrição da sua gravação.

Page 36: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

35

MÓDULO VII – RETEXTUALIZANDO A ENTREVISTA

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Retextualização sem mudança de gênero. Justificativa: Modificar a entrevista da modalidade oral para a entrevista na modalidade

escrita, e assim ir percebendo a igualdade de complexidade nas duas modalidades. Objetivos:

Desenvolver práticas direcionadas de retextualização;

Verificar os processos de mudanças ocorridos na entrevista oral (interação face a face) para a retextualização na modalidade escrita no mesmo gênero.

Recursos: Esta atividade necessitará das gravações, das transcrições dos textos realizadas

pelos alunos, do uso de dicionário, da observação das entrevistas trabalhadas anteriormente, como também, de outras entrevistas grafadas de revistas.

Desenvolvimento: Esta atividade deverá ser iniciada com a proposta de observação de

entrevistas diversas de revistas, de forma a perceberem as diferenças entre esses textos impressos e as transcrições da entrevista oral realizadas por eles. Após esse momento o professor deverá chamar a atenção para complexidade do gênero nas duas modalidades: oral e escrita. E finalmente solicitar que, em casa, os alunos mudem o texto transcrito para um texto retextualizado, ou seja, mude as marcas da entrevista na modalidade oral para as da modalidade escrita.

Tempo: 50 minutos (uma hora-aula) em sala, mas o aluno gastará mais tempo

retextualizando o texto em casa. Avaliação: Observação e comparação, por parte do professor, do texto transcrito para o

texto retextualizado. Breve definição: Retextualização é a transformação de um texto em um novo texto, no caso, ela “obriga”

mais do que simplesmente escrever um texto falado, ela necessita da interpretação do oral para que possa ser registrado o grafado, por vezes, com mudança de modalidade e até de gênero. Por exemplo: uma secretária que ouve uma reunião e registra as falas de forma escrita em uma ata. Ou ainda uma pessoa contando a outra um texto que leu. Observe assim que a retextualização pode ser do oral para o grafado, do grafado para o oral ou ainda do oral para o oral.

Lembre que retextualizar não é o mesmo que transcrever ou reestruturar, é mais do que isso, o redator deve estar ciente que terá que tranformar um texto oral em escrito ou vice-versa, além disso, manter-se atento as características específicas do texto final a que se pretende.

Page 37: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

36

ATIVIDADES PARA O ALUNO – RETEXTUALIZANDO A ENTREVISTA

TRANSFORMANDO A ENTREVISTA

Você leu e estudou entrevistas escritas. Em seguida, você realizou sua

própria entrevista oralmente (gravou uma conversa). Depois passou para o

grafado as falas da entrevista oral e observou as diferenças entre um texto

produzido oralmente (para ser ouvido) e outro produzido de forma escrita (para

ser lido). Agora é o momento de transformar seu texto oral, ou seja, sua

transcrição, em um texto com marcas próprias da entrevista escrita.

Vamos brincar de jornalista?

De acordo com as formulações de Luiz Antônio Marcuschi, estão

apresentadas abaixo a releitura adaptada de alguns passos que você poderá

seguir para modificar seu texto. Mas lembre: não se trata de uma receita a ser

seguida passo a passo, são apenas operações que você deverá observar no

seu texto.

Eliminação das marcas próprias da oralidade e da transcrição:

a) hesitações (por exemplo: ah..., eh..., e...e, o...o, de..., do..., da...,

dos...),

b) elementos típicos da fala (por exemplo: “sim”, “claro”, “certo”, “viu”,

“entendeu”, “né”, “sabe”, “que acha?”, “bem”, “hã”, principalmente

quando aparecem no interior das falas),

c) partes de palavras iniciadas e não concluídas, que muitas vezes

são transcritas como hesitações,

d) repetições desnecessárias seguidas de palavras e partes duvidosas

são aqui eliminadas.

Professor (a), aqui iremos trabalhar com a retextualização sem mudança de gênero, ou seja, mudaremos a entrevista oral para entrevista escrita, porque essa atividade facilitará a retextualização futura em memórias literárias, pois na entrevista manteremos as falas (as “vozes” do entrevistador e do entrevistado) em perguntas e respostas. Mas observe: retextualizar não é transcrever, pois na transcrição só registramos os turnos da fala sem interferências na escrita; também não é reestruturação do texto, pois não vamos “arrumar” o texto de acordo com normas da língua; retextualizar é transformar um texto em outro texto, no caso, um texto com características da entrevista oral em um texto com características da entrevista escrita.

Page 38: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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Permanência ou acréscimo das expressões que ocorreram no

ato da entrevista oral para clareza do leitor dos aspectos

constituídos face a face (por exemplo: ((falando em voz alta)),

((balançando as pernas)), ((batendo com a mão na mesa)),

((fechando os olhos)), e assim por diante).

Introdução da pontuação com base na entoação das falas na

gravação.

(Tente colocar vírgulas e os pontos que julgar importantes para

compreensão do texto pelo leitor).

Retirada de repetições desnecessariamente reduplicadas, pois

na fala muitas vezes repetimos palavras para retomar ou dar

continuidade a um assunto (por exemplo: Naquele tempo eu

pensava que a história era assim, eu pensava que todos eram

felizes, eu pensava como criança).

Introdução da paragrafação e pontuação detalhada sem

modificação da ordem do texto.

Introdução de palavras de preenchimentos das falas, ou seja,

na fala pode aparecer um “ele” ou um “lá” que na escrita deve

ser substituído por um nome e um local, para assim evitar duplo

sentido na leitura ou má compreensão do que foi dito.

Reconstrução do texto com normas da língua culta escrita.

Esta operação envolve ações bastante diversificadas, pois aqui

deverá aproximar o texto das normas da escrita, como:

concordâncias, reordenação das frases e sequência das falas.

Seleção de novas palavras. Como tomamos por base um texto

oral, as palavras poderão agora ser substituídas visando a uma

maior formalidade. Ou seja, na escrita podemos “escolher” as

palavras que melhor expressem as ideias da entrevista,

deixando-a mais formal.

Agora, em casa, procure, a partir da sua entrevista oral, chegar a

um texto escrito que possa ser publicado em um jornal escolar.

Professor (a), para toda atividade de escrita é preciso oportunizar a reescrita, dessa forma, estabeleça um momento em que o aluno possa ser orientado e acompanhado caso ele sinta essa necessidade.

Page 39: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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MÓDULO VIII – TRANSFORMANDO A ENTREVISTA EM UMA ÚNICA VOZ

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Retextualização com mudança de gênero. Justificativa: Modificar a entrevista escrita, transformando-a em

sequência narrativa. Para falarmos em um novo gênero ficará, ainda, complexo para o aluno, por isso iniciaremos com aspectos estruturais: eliminando as falas e organizando o texto em parágrafos; e em seguida aspectos da narração: narrador em primeira pessoa e verbos no pretérito.

Objetivos:

Desenvolver práticas direcionadas de retextualização;

Verificar os processos de mudanças ocorridos na entrevista escrita para a estrutura narrativa.

Recursos: Esta atividade necessitará das retextualizações das

entrevistas realizadas pelos alunos, do uso de dicionário, como também, de giz e quadro-negro.

Desenvolvimento: Esta é uma atividade bastante desafiadora e

árdua do processo. O professor deverá mediar e coordenar a retextualização de um texto coletivo, dando oportunidade para os alunos manifestarem seus conhecimentos e dúvidas. O professor organiza as falas, faz comentários e observações às participações e vai no quadro-negro transformando as falas da entrevista escrita em uma sequência ordenada em parágrafos.

Tempo: 150 minutos (duas a três horas-aulas) em sala, mas o aluno

gastará mais tempo retextualizando o texto em casa. Avaliação: Observação e comparação, por parte do professor, do

texto entrevista para o texto em parágrafos. Comentário: Nesta atividade, não é tão importante a preocupação

com os verbos ou pronomes, o mais importante aqui é que o aluno seja capaz de “misturar” as falas do entrevistador às do entrevistado, ou seja, a retirada dos turnos da fala, transformando o texto em narrativo.

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ATIVIDADES PARA O ALUNO – TRANSFORMANDO A ENTREVISTA EM UMA ÚNICA VOZ

Você realizou várias mudanças textuais desde a coleta oral das

informações até a sua entrevista escrita. A proposta agora é transformar a

entrevista em uma única voz, ou seja, não teremos mais as “vozes” do

entrevistador e do entrevistado, no final será uma única voz contando uma

história.

Vamos trabalhar? A seguir, alguns procedimentos que poderão ser

observados:

Eliminação total das perguntas. Neste caso, as perguntas e

respostas deverão estar “misturadas” em uma única voz, ou seja,

tudo o que for necessário para sequência e compreensão do texto

deverá ser mantido ou adequado, transformando a conversa em

história.

Mudança de pronomes. Na entrevista o entrevistador pergunta

para “você ou senhor (a)” e nas respostas o “eu” responde. Agora,

por ser uma história acontecida com o “eu”, o narrador deverá estar

sempre em primeira pessoa (eu ou nós, dependendo do caso), pois

a primeira pessoa do plural (nós) marca o pertencer a um grupo ou a

comunidade e a primeira pessoa do singular (eu) traz a voz e marca

a história pessoal do entrevistado. Lembre: agora a história é sua,

como se tudo que foi contado fosse uma experiência sua, acontecida

com o “eu”. Você deverá se colocar no lugar do entrevistado.

Transformação dos verbos. Como em uma história alguém conta

algo que já aconteceu, os verbos deverão estar todos no passado.

Agora, em casa, procure, a partir da sua entrevista escrita,

chegar a um texto narrativo que possa ser publicado em um livro

de memórias.

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MÓDULO IX – UM NOVO GÊNERO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS

ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES

Tema: Da entrevista para retextualização escrita no gênero memórias literárias. Justificativa: Nossas atividades partiram das práticas orais para a modalidade

escrita. Neste módulo iremos finalmente realizar a retextualização do gênero entrevista “texto falado base” ao gênero memórias literárias “texto escrito final”.

Objetivos:

Propiciar práticas de oralidade e escrita reconhecendo suas particularidades, diversidades múltiplas e seus valores sociais;

Reconhecer o gênero memórias literárias;

Verificar os recursos expressivos utilizados no processo comunicativo de memórias literárias;

Verificar os processos de mudanças ocorridos na entrevista oral (interação face a face) para a retextualização no gênero memórias literárias;

Observar mudanças ocorridas textual e discursivamente nas retextualizações produzidas pelos alunos.

Recursos: Os textos e atividades poderão ser reproduzidos ou passados no

quadro-negro. Desenvolvimento: As atividades deverão ser orientadas e direcionadas por

você, professor. Os textos deverão ser lidos por você, para serem ouvidos e apreciados pelos alunos antes da leitura individual. Após a “descoberta” do novo gênero os alunos deverão realizar as atividades de compreensão, e a produção da retextualização final.

Tempo: 150 minutos (três horas-aulas). Avaliação: Observação, por parte do professor, do envolvimento e participação

dos alunos nas atividades orais e escritas. Leitura das retextualizações finais. Breve definição O gênero memórias literárias é um meio de resgatar as lembranças das

pessoas mais velhas articulando o passado ao presente – a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social a que pertenceu. Ao escreverem memórias literárias, os escritores devem assumir a voz do depoimento, ou seja, o texto deve ser em primeira pessoa, como se a história fosse sua, deve também recorrer aos verbos no pretérito perfeito ou imperfeito, algumas palavras e expressões de época, e evocar emoções, sentimentos e sensações ao traçarem uma comparação entre o tempo antigo e o atual.

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ATIVIDADES PARA O ALUNO – UM NOVO GÊNERO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS

DESCOBRINDO O GÊNERO

Preste muita atenção à leitura dos textos a seguir para podermos

conversar sobre eles.

TEXTO I

Como num filme

Antonio Gil Neto

Não foi difícil cair nas graças de Seu Amalfi. Direto, sincero, amoroso,

foi logo falando de sua vida, com um jeito meio solto, especial, como quem vai

montando uma sequência de cenas em nosso pensamento. De início, estáticas

e em preto-e-branco, e, aos poucos, em impulsos coloridos. Depois de uma ou

outra pergunta, quase nem precisei falar mais nada. Apenas ouvir, entregar-se

à brincadeira da memória era o que bastava.

Ele foi contando, contando e imagens foram se instalando em mim

como quem entra em um filme.

“Esse cheirinho de café pendurado no vento leve conduz a meu tempo

Professor (a), o esperado é que neste momento o aluno já possua um amadurecimento maior com relação ao estudo de oralidade, escrita e gêneros textuais, dessa forma haverá o trabalho com o gênero em todos os aspectos, mas de forma mais sintetizada. As atividades terão a seguinte ordem: descoberta do gênero; discursivas (de leitura e compreensão do texto); linguística discursiva (da linguagem empregada no texto) e finalmente de produção (fixação e verificação dos conteúdos estudados).

Page 43: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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mais antigo.

Pensei ouvir bem baixinho um fiapo de uma canção napolitana e tudo

veio à tona. Logo lembrei-me de minha mãe torrando café, fazendo o pão, a

macarronada. Bem que procuro não pensar muito para não marejar os olhos.

O começo de tudo foi na Itália. De lá vieram meus pais. Fugidos do

horror da guerra, acabaram por fazer a vida aqui em São Paulo, onde nasci.

É a partir dessas lembranças que minha cabeça parece uma máquina

de fabricar filmes.

Recordo muita coisa. Não só do que minha mãe contava, mais ainda

das que eu vivi.

Lá pelos idos de 1929, com cerca de sete anos de idade, era menino

feito. Minha vida era um misto de cowboy com Tarzan. Onde hoje fica o

Shopping Center Norte era só mato, água e muita, muita terra. Era lá meu

paraíso. Meu e dos meus amigos: o Vitorino, o Zacarias...Vivia para jogar

futebol, nadar, pescar e caçar passarinhos.

Uma brincadeira de que gostávamos muito era „chocar o trem‟. Sabe o

que é isso?

Era subir rapidinho no trem em movimento. Ele andava bem devagar, é

claro, levando pedras da Serra da Cantareira para construir a cidade. Com o

tempo seu trajeto se encheu de bairros: Tucuruvi, Jaçanã, Vila Mazzei, Água

Fria e mais o que há agora. Lembra aquela música do Adoniran? Tem a ver

com esse trem...

Da escola não gostava tanto. Não era um bom aluno, mas era esperto,

vivido. Isso sim. O que acabava ajudando em muitas situações... Em um abrir e

fechar dos olhos da memória lá estão a escola, o corre-corre das crianças e

todos eles, intactos e em plena labuta do dia: Dona Albertina, Dona Isabel, Seu

Luís, os professores. Ainda o Seu Peter, o diretor, e Seu Luigi, o servente.

Quantas vezes em meio à cópia da lousa, que seguia plena em silêncio e

dever, disparava um piscar enviesado para meus companheiros de time.

Quebrávamos as pontas dos lápis e com o descaramento e a falsa pretensão

de deixarmos todos eles apontadinhos para a letra ficar bem desenhada e bem

bonita nas nossas brochuras, lá íamos nós, atrás da porta e com a gilete em

punho, armar em cochichos a melhor estratégia para o próximo jogo. Tudo

lorota!

Page 44: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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Meio moleque, meio mocinho, sempre dava algum jeito de arranjar um

dinheirinho para ir à Voluntários, uma das poucas ruas calçadas do bairro, nas

matinês do cine Orion.

Meu figurino era feito por minha mãe: uma camisa clara, bem limpa e

passadinha com ferro de brasa. Com meus colegas ia ver o que estava em

cartaz. Bangue-bangue era o melhor. Lembro-me do Buck Jones, do Rin Tin

Tin, do Roy Rogers e mais uma porção daqueles bambas do momento.

Também me recordo do cine Vogue e de Seu Carvalho, seu dono e operador,

que, ao constatar a enorme fila na bilheteria, dizia para nós, garotos, com certo

orgulho solene, só haver lugares em pé. Entrávamos mesmo assim. Depois de

alguns minutos já tínhamos nossos lugares escolhidos e ... sentados. No

escurinho do filme começado, queimávamos um barbante mal cheiroso que

fazia todo mundo desaparecer de nosso lugar preferido. Comédia pura, não é?

Com o passar dos anos, veio o tempo do trabalho para valer. De

aprendiz de químico tornei-me o titular na fábrica de perfumes dos libaneses.

Fiz de tudo lá: brilhantina, rouge, pó-de-arroz, produtos muito usados na época.

Veio também o tempo do namoro sério e, com ele, o cinema com sorvete a

dois. Minha vida era um filme de aventuras, mais que outra coisa. Tive de

vencer muitos obstáculos. E foi um bom tempo assim.

Construir uma família não é fácil, mas, como se sabe, o amor sempre

vence.

Como nos filmes de amor, acabei me casando em technicolor e em

cinemascope, como um galã, com minha Mercedes, mais bonita que Greta

Garbo ou qualquer outra estrela de Hollywood. Com ela comecei a frequentar o

centro de São Paulo. Íamos de bonde elétrico, descíamos na Praça do Correio

e andávamos de braços dados pelos pontos mais elegantes da cidade.

Misturados aos carros que pertenciam a gente muito rica, estavam os

cabriolés, uma espécie de carroça puxada a cavalos... Na Avenida São João

estavam os melhores cinemas: o Marabá, o Olido, com seu camarotes e frisas.

Quantos filmes! „O Canal de Suez‟, „O Morro dos Ventos Uivantes‟, „E o Vento

Levou!‟. Vejo-nos direitinho, como em um musical indo para cidade de bonde.

O condutor, o Delmiro mais parecia um bailarino, um Fred Astaire tropical, por

conta dos trejeitos, malabarismos de corpo que fazia ao parar, descer,

cumprimentar, receber as pessoas, acomodá-las e, enfim, conduzir o bonde.

Page 45: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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Era mais que um motorneiro. Esse era um show à parte!

Se bem me lembro, o cinema me acompanhou a vida inteira. Isso

porque sou do tempo do cinema mudo, veja você, onde os violinos e o piano

faziam nossa imaginação ouvir as vozes e sentir as emoções dos artistas que

passavam rápidos nas telas. Depois veio o cinema falado e para nós isso era a

maior e a melhor invenção. Olhando para o que passou, constato que fui um

bom frequentador das telas. Com chuva ou com sol!

Até nossa primeira filha, com poucos meses de idade, não impedia

nossa diversão preferida! Era nossa figurante proibida. Íamos ao Bom Retiro,

ao cine Lux. Lá eu conhecia todo mundo e sentávamos com a menina nos

braços bem na última fila, caso precisássemos sair às pressas para acalmar

um choro repentino. Assistimos a tantas histórias e nossa menina dormia

profundamente. Quase sempre.

Talvez por conta de trabalho, das exigências da vida, dos cuidados com

a família e mesmo com a facilidade da televisão, acabei me dando conta de

que fiquei muito tempo sem ir ao cinema. Engraçado, agora que estou

praticamente sozinho, em consequência das perdas que a vida nos traz, o

cinema volta com toda a força. Não perco quase nada do que passa nos

shoppings perto de casa. Tudo é mais confortável, imenso. Mas tudo é mais

barulhento, apressado e real demais. Não sobra muito tempo para sonharmos.

Mesmo assim, quero ir a outros cinemas desta cidade que cresceu e

cresce tanto. O jeito é me armar de um celular para que minha filha não fique

tão preocupada comigo por causa dessas minhas aventuras cinematográficas.”

Quando releio o que está escrito, não sei onde está o que o Seu Amalfi

me contou e onde está o que projetei de sua vida em mim. Engraçado mesmo!

Perdi-me nos labirintos da imaginação, onde o presente e o passado se

fundem em um só desenho. A memória brinca com o tempo, como em um

filme, como uma criança feliz.

Antonio Gil Neto, escritor paulista.

Texto escrito com base no depoimento do sr. Amalfi Mansutti, 82 anos.

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TEXTO II

Uma definitiva presença

Nas lembranças do premiado escritor Bartolomeu Campos de Queirós,

ficou marcada a figura da professora que lia história para ele e seus colegas

numa escola do interior de Minas Gerais.

Bartolomeu Campos de Queirós

Ela entrava na escola abraçando os nossos cadernos “Avante”. (A sala

tinha cheiro de roupa lavada. Tudo limpo como água de mina e o mundo ficava

mudo para escutá-la. Sobre a sua mesa pousava uma jarra sempre com flores

do mato que os alunos colhiam pelo caminho.) Ao abraçar os cadernos era

como se a professora me apertasse sobre seu coração, me perdoando, com

antecedência, os meus erros e acertos. Eu ainda não lia ou escrevia de

“carreirinha”. Mas o seu olhar foi o meu primeiro livro! Ela me acariciava com

seus olhos e derramava sobre mim uma luz mansa de luar, capaz de alvejar

meu desejo obscuro de aprender. Seus olhos me permitiam a liberdade. Sua

presença inteira me trazia uma paz azul e uma certeza de que o futuro era

possível.

É que Dona Maria Campos levava nossas composições, ditados,

cópias, para corrigir em casa. Eu morria de inveja do meu caderno por saber

que ele conhecia onde a professora vivia. Seu lápis, metade azul e metade

vermelho, bordava em nossos trabalhos as notas que iam de 0 a 10. E trazia

sempre uma observação: “muito bom”, “parabéns”, “ótimo”, “mais atenção”, “é

preciso estudar mais”. Eu recebia meu caderno com o coração descontrolado.

Parecia que uma borboleta tinha vindo morar em meu peito. Tinha medo de

não corresponder aos seus ensinamentos. Não queria que a professora

deixasse de me amar.

E como Dona Maria Campos sabia! Para tudo ela tinha uma resposta

ou outra pergunta na ponta da língua. Dava aulas como se estivesse recitando

Page 47: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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uma poesia feita de água, névoa ou nuvem. Eu achava minha professora mais

bonita que os poemas. E não era difícil decorar os versos e repeti-los depois,

no escuro do meu quarto. Guardava tudo de cor sem esforço.

E quando ela pegava no giz branco e passava o ponto, no quadro-

negro, eu mordia a ponta da língua esforçando-me para imitar a sua escrita.

Ela fazia as letras tão bonitas que não me bastava apenas copiar: eu desejava

aprender também a sua letra. E como me emocionavam aqueles “as”

redondinhos, aqueles “emes” como cobrinhas, aqueles “eles” como orelha de

coelho espantado.

Em meus momentos de calma eu enchia páginas e outras páginas com

seu nome, o nome de minha mãe, de meu pai, de minha escola. Era minha

maneira de ter sempre a Dona Maria Campos ao meu lado.

E quando escolhido para passar o ditado no quadro, para os colegas

corrigirem o deles, mais eu caprichava na letra.

O difícil era o quadro não ter linha, pois seguir em linha reta, sem

estrada, dependia também do olhar. Mas para alegrar a professora toda

dificuldade era pouca. Se ela me elogiava eu baixava a cabeça. Por fora muita

vergonha e por dentro um herói.

Nas horas de leitura em voz alta eu não media esforços. Cada menino

lia um pedaço. E a professora escolhia alternado. Ninguém sabia sua hora. Eu

acompanhava as linhas do livro com o dedo. Cheio de medo e desejo esperava

minha vez. Lia devagar cada palavra, obedecendo à pontuação, controlando o

fôlego. Dona Maria Campos dizia que nas vírgulas a gente respirava e no ponto

final dava uma paradinha.

Mas o melhor era quando ela nos mandava guardar os objetos. A gente

fechava o caderno, guardava o lápis e a borracha dentro do estojo e esperava

com os braços cruzados sobre a carteira. Assim, ela continuava mais um

pedaço da história. Parecia com a Sant‟Ana da capela com o livro no colo. Eu

não acreditava que podia existir outro céu além da nossa sala de aula.

Ficava intrigado como num livro tão pequeno cabia tanta história, tanta

viagem, tanto encanto. O mundo ficava maior e minha vontade era não morrer

nunca para conhecer o mundo inteiro e saber muito, como a professora sabia.

O livro me abria caminhos, me ensinava a escolher o destino.

Eu pedia o livro emprestado, depois que Dona Maria terminava. Levava

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para casa e brincava de escola com meus irmãos menores. Assentava com o

livro, com pose de professor, e lia para eles. Era difícil guardar tanta beleza só

para mim. Não sei se gostavam da leitura ou se imaginavam, um dia, serem

alunos da minha escola.

Meu pai, assentado na escada de casa, prestava atenção na minha

leitura, de maneira despistada. De noite, antes de dormir, curioso, ele queria

que eu adiantasse um pouco mais da história. Mas eu não contava. Sabia que

imaginar fazia parte da leitura.

ATIVIDADE DO ALUNO

1- Conversando sobre os textos:

a. Normalmente, as pessoas gostam de contar e ouvir histórias?

b. Podemos dizer que os textos que acabamos de ver são histórias?

Explique.

c. Onde encontramos esse tipo de texto escrito?

d. E oralmente?

e. Quem escreve esse tipo de texto? E para quem é escrito?

f. Com que finalidade esse tipo de texto é produzido?

g. Como os textos estão organizados?

h. A linguagem dos dois textos é espontânea?

i. Vocês acham que a linguagem dos textos é parecida com a

linguagem do cotidiano? Comente.

j. Quais são as principais características desses textos? E que tipo

de textos são esses?

k. No texto I, uma pessoa escreve a história de outra pessoa. Quem

são essas pessoas?

l. Vamos retornar aos textos para lermos e conhecermos melhor as

Professor (a), este momento está destinado ao reconhecimento do gênero memórias literárias, por isso incentive seus alunos a retornarem aos textos deste módulo sempre que considerarem necessário e os conduza a “descobrirem” esse gênero no decorrer das atividades.

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duas histórias e um único gênero.

2- Refazendo o caminho.

No início da nossa sequência de atividades, no módulo II, conversamos

sobre o que você conhecia ou imaginava ser o gênero memórias literárias,

então vimos que é uma história contada pelas lembranças de alguém, por isso,

a verdade é sempre uma versão do real. Depois, a professora fez a leitura do

texto II deste módulo, e assim você escreveu o seu primeiro texto dos nossos

estudos, ainda no módulo II. Agora, retornando aos textos I e II deste módulo,

responda a atividade a seguir colocando V quando as informações sobre o

gênero memórias literárias forem verdadeiras e F quando as informações

sobre o gênero forem falsas.

( ) O texto de memórias literárias é uma história contada por alguém e

depois registrada por escrito, por isso o escritor deve registrar com

as mesmas palavras e na mesma ordem que o depoente contou.

( ) Alguns elementos normalmente presentes nos textos de memórias

literárias são as comparações entre passado e presente, a

presença de palavras e expressões que transportam o leitor para

uma certa época do passado.

( ) Para escrever um texto de memórias literárias o escritor deverá

identificar uma pessoa que possa realmente contribuir com suas

lembranças para elaboração do texto, pois jamais o autor poderá

escrever sobre suas próprias lembranças.

( ) O gênero memórias literárias é composto por uma história contada

em primeira pessoa (eu: singular; ou nós:plural).

( ) A primeira pessoa do singular (eu) traz a voz e marca a história

pessoal do entrevistado.

( ) A primeira pessoa do plural (nós) relata o sentimento de

pertencimento à comunidade das experiências relatadas.

( ) Um texto de memórias literárias não precisa ter título.

( ) O texto de memórias literárias traz expressões e verbos no

pretérito imperfeito ou perfeito, pois marcam o tempo passado,

tempo de relembrar.

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3- Mostre que você entendeu os assuntos dos textos e responda

as questões abaixo:

a. Com relação ao assunto dos dois textos, o que há em comum entre

eles? Localize e escreva abaixo, ao menos, três características

comuns nos dois textos.

b. Nos dois textos, os personagens contam sobre suas memórias do

tempo escolar. Escreva um parágrafo comparativo com as

semelhanças e as diferenças desse período na vida dos dois

personagens.

c. “Recordo muita coisa. Não só do que minha mãe contava, mais

ainda das que eu vivi”. De acordo com essas frases do texto e sua

experiência de vida, é possível afirmarmos que nossa memória

mistura fatos vividos com fatos ouvidos? Justifique.

d. O personagem das memórias do texto II é um apaixonado por

cinema? Comente sua resposta.

e. Qual dos dois textos nos deixa claro, em sua estrutura e linguagem,

que foi produzido a partir de uma entrevista ou conversa? Justifique

sua resposta.

f. Retorne aos textos I e II, transcreva os títulos abaixo e procure

explicá-los de forma a relacioná-los com suas histórias.

Texto I :

TextoII:

g. Em sua opinião, qual dos dois textos é mais interessante? Comente.

4- Estudo da linguagem

O texto II, deste módulo, já tinha sido lido pela professora. Assim pudemos

perceber que o gênero memórias literárias é um tipo de texto narrativo. Diante

das informações já estudadas, retorne ao texto II e localize três ocorrências de

Professor (a), as atividades a seguir estão direcionadas a compreensão discursiva dos textos, por isso é interessante que sejam respondidas individualmente ou em duplas e por escrito, e somente após a leitura dos dois textos oralmente para a turma.

Professor (a): As atividades que seguem são práticas linguístico-discursivas (estudo da linguagem empregada no texto).

Page 51: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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cada uma das marcas próprias desse gênero. Em seguida transcreva-as

abaixo:

a) Palavras que marcam a primeira pessoa (eu: singular ou nós:

plural)=

b) Verbos ou expressões que marcam o tempo passado (tempo de

relembrar)=

c) Linguagem literária (figurativa, com emoções e sentimentos)=

5- No texto II, qual foi o recurso utilizado pelo escritor Gil Neto, para

separar sua fala das memórias do sr. Amalfi?

6- O fato no tempo

O autor de memórias faz uso dos verbos no pretérito perfeito e

imperfeito. O pretérito perfeito indica uma ação pontual, completamente

terminada no passado (marca ações que se destacam para quem relembra:

“Ela saiu sem se despedir de mim”). E o pretérito imperfeito indica uma ação

que era habitual no tempo passado, um fato cotidiano que se repete muitas

vezes (marca o tempo das memórias. A pessoa que relembra entra num outro

mundo e, muitas vezes, consegue levar o ouvinte/leitor com ela...).

As frases abaixo foram retiradas dos textos I e II. Escreva se os verbos

destacados estão no pretérito perfeito ou no pretérito imperfeito.

a. Mas seu olhar foi o meu primeiro livro.

b. O livro me abria caminhos, me ensinava a escolher o destino.

Professor (a): lembre seus alunos que no gênero “memórias”, além dos tempos verbais, o autor utiliza palavras e expressões como recurso para marcar o tempo passado, faz comparações entre ontem e hoje, e usa expressões antiquadas. Exemplos: “naqueles tempos”; “era assim”; “bambas”; “brilhantina”; “Greta Garbo”; “chocar o trem”; “quando”; “decorar versos”;...

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c. Não era um bom aluno, mas era esperto, vivido.

d. (...) o cinema me acompanhou a vida inteira.

e. Seus olhos me permitiam a liberdade.

7- Produção

Você já deve ter percebido que assim como um escritor de memórias

literárias, você também partiu de um texto oral (a entrevista), selecionou e

organizou as informações relevantes coletadas e escreveu seu texto. Agora,

finalmente, você deverá retextualizar sua entrevista com mudança de gênero,

ou seja, transformar seu texto, o mais aproximado possível, em um texto com

as características próprias do gênero memórias literárias.

Para sua história obedecer ao gênero memórias literárias, observe as

situações indicadas abaixo:

a) O acontecimento ou a reunião de lembranças do passado escolar já

foram coletados com a entrevista. Ou seja, aconteceu na escola,

em uma aula, ou em uma série específica do entrevistado. Agora

você deverá escolher a forma de “como irá apresentá-lo”. Caso

necessário procure o entrevistado para esclarecer dúvidas ou

complementar informações.

b) Você será o autor (escritor) e narrador do seu texto, ou seja, conte a

história como se tivesse acontecido com você (use o pronome eu

ou nós).

c) Seu texto será uma história de ficção, ou seja, de invenção da

realidade, por isso ora você poderá recorrer as suas gravações, ora

enriquecer as lembranças com palavras ou expressões, ou seja,

você não precisa se preocupar em ser totalmente fiel a gravação.

d) Fique atento ao uso dos tempos verbais (pretérito perfeito e

imperfeito);

Professor (a): Chegou o momento da produção final (fixação e verificação dos conteúdos estudados). Incentive seus alunos a revisarem seus textos com carinho e a fazerem quantas inferências forem necessárias. Lembre que você é o mediador das atividades. Bom trabalho!

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e) Sua história será escrita a partir do depoimento de alguém,

portanto, após concluído seu texto, leve-o para o seu entrevistado

reler aquilo que falou e ver se está de acordo.

f) A história que você irá escrever será lida pelos colegas do grupo e

pela professora, para podermos assim organizar os textos em uma

coletânea que ficará na biblioteca do colégio. ficará na biblioteca do

colégio.

Bom trabalho!

Professor (a): Para considerarmos que nossos trabalhos estão concluídos será importante, após o recolhimento dos textos, uma nova conversa sobre a importância das modalidades oral e escrita. Procure deixar clara a complexidade da estrutura e composição das duas modalidades. Este é também o momento oportuno para retomar uma observação aos textos desde a conversa inicial até a última retextualização, solicitando aos alunos que manifestem suas concepções e, para finalizar, lance o seguinte questionamento: - Podemos afirmar que a oralidade e a escrita são igualmente importantes para o processo de interação, e por isso devemos estudar as duas formas para aprendermos o que constitui diferentes gêneros orais e escritos para que possamos usá-los com propriedade no nosso cotidiano?

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO I

TEXTO

Uma definitiva presença

Nas lembranças do premiado escritor Bartolomeu Campos de Queirós,

ficou marcada a figura da professora que lia história para ele e seus colegas

numa escola do interior de Minas Gerais.

______________________________________

Bartolomeu Campos de Queirós

Ela entrava na escola abraçando os nossos cadernos “Avante”. (A sala

tinha cheiro de roupa lavada. Tudo limpo como água de mina e o mundo ficava

mudo para escutá-la. Sobre a sua mesa pousava uma jarra sempre com flores

do mato que os alunos colhiam pelo caminho.) Ao abraçar os cadernos era

como se a professora me apertasse sobre seu coração, me perdoando, com

antecedência, os meus erros e acertos. Eu ainda não lia ou escrevia de

“carreirinha”. Mas o seu olhar foi o meu primeiro livro! Ela me acariciava com

seus olhos e derramava sobre mim uma luz mansa de luar, capaz de alvejar

meu desejo obscuro de aprender. Seus olhos me permitiam a liberdade. Sua

presença inteira me trazia uma paz azul e uma certeza de que o futuro era

possível.

É que Dona Maria Campos levava nossas composições, ditados,

cópias, para corrigir em casa. Eu morria de inveja do meu caderno por saber

que ele conhecia onde a professora vivia. Seu lápis, metade azul e metade

vermelho, bordava em nossos trabalhos as notas que iam de 0 a 10. E trazia

sempre uma observação: “muito bom”, “parabéns”, “ótimo”, “mais atenção”, “é

preciso estudar mais”. Eu recebia meu caderno com o coração descontrolado.

Parecia que uma borboleta tinha vindo morar em meu peito. Tinha medo de

não corresponder aos seus ensinamentos. Não queria que a professora

deixasse de me amar.

E como Dona Maria Campos sabia! Para tudo ela tinha uma resposta

ou outra pergunta na ponta da língua. Dava aulas como se estivesse recitando

uma poesia feita de água, névoa ou nuvem. Eu achava minha professora mais

bonita que os poemas. E não era difícil decorar os versos e repeti-los depois,

no escuro do meu quarto. Guardava tudo de cor sem esforço.

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E quando ela pegava no giz branco e passava o ponto, no quadro-

negro, eu mordia a ponta da língua esforçando-me para imitar a sua escrita.

Ela fazia as letras tão bonitas que não me bastava apenas copiar: eu desejava

aprender também a sua letra. E como me emocionavam aqueles “as”

redondinhos, aqueles “emes” como cobrinhas, aqueles “eles” como orelha de

coelho espantado.

Em meus momentos de calma eu enchia páginas e outras páginas com

seu nome, o nome de minha mãe, de meu pai, de minha escola. Era minha

maneira de ter sempre a Dona Maria Campos ao meu lado.

E quando escolhido para passar o ditado no quadro, para os colegas

corrigirem o deles, mais eu caprichava na letra.

O difícil era o quadro não ter linha, pois seguir em linha reta, sem

estrada, dependia também do olhar. Mas para alegrar a professora toda

dificuldade era pouca. Se ela me elogiava eu baixava a cabeça. Por fora muita

vergonha e por dentro um herói.

Nas horas de leitura em voz alta eu não media esforços. Cada menino

lia um pedaço. E a professora escolhia alternado. Ninguém sabia sua hora. Eu

acompanhava as linhas do livro com o dedo. Cheio de medo e desejo esperava

minha vez. Lia devagar cada palavra, obedecendo à pontuação, controlando o

fôlego. Dona Maria Campos dizia que nas vírgulas a gente respirava e no ponto

final dava uma paradinha.

Mas o melhor era quando ela nos mandava guardar os objetos. A gente

fechava o caderno, guardava o lápis e a borracha dentro do estojo e esperava

com os braços cruzados sobre a carteira. Assim, ela continuava mais um

pedaço da história. Parecia com a Sant‟Ana da capela com o livro no colo. Eu

não acreditava que podia existir outro céu além da nossa sala de aula.

Ficava intrigado como num livro tão pequeno cabia tanta história, tanta

viagem, tanto encanto. O mundo ficava maior e minha vontade era não morrer

nunca para conhecer o mundo inteiro e saber muito, como a professora sabia.

O livro me abria caminhos, me ensinava a escolher o destino.

Eu pedia o livro emprestado, depois que Dona Maria terminava. Levava

para casa e brincava de escola com meus irmãos menores. Assentava com o

livro, com pose de professor, e lia para eles. Era difícil guardar tanta beleza só

para mim. Não sei se gostavam da leitura ou se imaginavam, um dia, serem

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alunos da minha escola.

Meu pai, assentado na escada de casa, prestava atenção na minha leitura, de

maneira despistada. De noite, antes de dormir, curioso, ele queria que eu

adiantasse um pouco mais da história. Mas eu não contava. Sabia que

imaginar fazia parte da leitura.

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ANEXO II