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1 PROGRAMA DE BIODIVERSIDADE Cristiano Augusto Felix; Danubia Giselle Pessoa de Lima; Mirella Renata de Lira Freire; Sandra Emília de Lima Silveira FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA RESUMO O Polo Automotivo Jeep, parte importante da estratégia global do grupo FCA - Fiat Chrysler Automobiles, foi erguido em área onde predomina a monocultura da cana- de-açúcar, que teve início na colonização Portuguesa, principal fator de supressão da Mata Atlântica. A elevada fragmentação e a presença de inúmeras espécies endêmicas ameaçadas de extinção tornam esse bioma um dos mais ameaçados mundialmente e, por isso, considerado como um dos hotspots para a prioridade global da conservação da biodiversidade [1]. De acordo com a ideia de pertencimento ao meio, a FCA procurou conhecer o patrimônio atual e histórico da biodiversidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco, onde está instalado o Polo Automotivo Jeep. Para tanto, desenvolveu, em parceria com pesquisadores das Universidades Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), estudos sobre a fauna e flora secular da Zona da Mata Norte, promovendo o resgate histórico da biodiversidade local. A partir desse resgate foi concebido o Programa de Biodiversidade que visa promover a integração com a vegetação nativa da região. Diante da necessidade de manutenção e conservação dos ambientes naturais a FCA decidiu inovar e implantar em seu projeto de paisagismo, apenas espécies nativas da floresta atlântica brasileira, visando recriar ambientes que possam contribuir para a regeneração florestal e consequente atração de fauna local. Foram selecionadas espécies essencialmente da Mata Norte de Pernambuco pioneiras e secundárias iniciais; espécies que aparecem em risco de extinção local e também, espécies que possuem resistência as condições de solo (argiloso e baixa fertilidade) e a períodos de seca [2]. Além do projeto de paisagismo foi construído um viveiro de mudas de 1ha, com capacidade de produção de 22 mil mudas a cada três meses, as quais vem sendo utilizadas para a recuperação ambiental da área. Os benefícios ambientais do Programa de Biodiversidade no Polo Automotivo Jeep consistem no resgate do bioma Mata Atlântica o qual propicia a volta de animais ameaçados de extinção ao habitat natural. Além dos benefícios diretos à flora e fauna da região, o Programa proporciona, indiretamente, maior conforto térmico e qualidade de vida aos colaboradores [3].

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PROGRAMA DE BIODIVERSIDADE

Cristiano Augusto Felix; Danubia Giselle Pessoa de Lima; Mirella Renata de Lira Freire; Sandra Emília de Lima Silveira

FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA

RESUMO

O Polo Automotivo Jeep, parte importante da estratégia global do grupo FCA - Fiat Chrysler Automobiles, foi erguido em área onde predomina a monocultura da cana-de-açúcar, que teve início na colonização Portuguesa, principal fator de supressão da Mata Atlântica. A elevada fragmentação e a presença de inúmeras espécies endêmicas ameaçadas de extinção tornam esse bioma um dos mais ameaçados mundialmente e, por isso, considerado como um dos hotspots para a prioridade global da conservação da biodiversidade [1]. De acordo com a ideia de pertencimento ao meio, a FCA procurou conhecer o patrimônio atual e histórico da biodiversidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco, onde está instalado o Polo Automotivo Jeep. Para tanto, desenvolveu, em parceria com pesquisadores das Universidades Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), estudos sobre a fauna e flora secular da Zona da Mata Norte, promovendo o resgate histórico da biodiversidade local. A partir desse resgate foi concebido o Programa de Biodiversidade que visa promover a integração com a vegetação nativa da região. Diante da necessidade de manutenção e conservação dos ambientes naturais a FCA decidiu inovar e implantar em seu projeto de paisagismo, apenas espécies nativas da floresta atlântica brasileira, visando recriar ambientes que possam contribuir para a regeneração florestal e consequente atração de fauna local. Foram selecionadas espécies essencialmente da Mata Norte de Pernambuco pioneiras e secundárias iniciais; espécies que aparecem em risco de extinção local e também, espécies que possuem resistência as condições de solo (argiloso e baixa fertilidade) e a períodos de seca [2]. Além do projeto de paisagismo foi construído um viveiro de mudas de 1ha, com capacidade de produção de 22 mil mudas a cada três meses, as quais vem sendo utilizadas para a recuperação ambiental da área. Os benefícios ambientais do Programa de Biodiversidade no Polo Automotivo Jeep consistem no resgate do bioma Mata Atlântica o qual propicia a volta de animais ameaçados de extinção ao habitat natural. Além dos benefícios diretos à flora e fauna da região, o Programa proporciona, indiretamente, maior conforto térmico e qualidade de vida aos colaboradores [3].

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1. APLICABILIDADE A atuação no programa de Biodiversidade do Polo automotivo Jeep não se restringe apenas aos setores de comunicação e de meio ambiente da fábrica. A prática se estende a todos os funcionários das mais variadas formas, desde o plantio coletivo no encontro de líderes (Figura 01) a eventos como o Family Day que marcou o dia do trabalhador no ano de 2015, onde a família de cada funcionário Jeep recebeu um vale árvore e plantou uma muda de espécie nativa da Mata Atlântica (Figura 02). Cerca de 10 mil pessoas compareceram ao evento do dia trabalhador e plantaram aproximadamente 500 mudas [3].

Figura 01. Plantio de mudas na fábrica por colaboradores - líderes Jeep.

Figura 02. Plantio de mudas em família durante evento na fábrica destinado ao dia do trabalhador.

As ações do Programa de Biodiversidade não são isoladas ou exclusivas de um setor, pois a prática é ampla e cresceu para fora dos portões da empresa, o que tem demonstrado a preocupação com o meio ambiente. Foi firmado um compromisso com a Prefeitura de Igarassu e com o Instituto de corresponsabilidade pela Educação (ICE) e o Instituto Qualidade no Ensino (IQE), que prevê a atuação focada em duas frentes: qualificação dos docentes e implantação de escolas em tempo integral [5]. Além dos dois programas supracitados, voltados para a melhoria da qualidade da educação básica na rede municipal da cidade de Igarassu, o Programa de biodiversidade também permite a difusão do conhecimento através do planejamento de ações de educação ambiental com a sociedade como um todo, principalmente com alunos de escolas da região que tem participado do Programa de Visitas da Jeep – o Experiência Jeep (Figuras 03 e 04). Mais do que conhecer como funciona uma das fábricas mais modernas do país, os visitantes adquirem conhecimento acerca do programa de biodiversidade e a importância da conservação do meio ambiente. O projeto promove experiências de aprendizagem significativas, alinhado à escola e conteúdo personalizado de acordo com a idade e o grau de visitante que deixa seu legado na fábrica. A parceria com escolas da região tem como objetivo proporcionar uma experiência marcante, tanto para o aluno quanto para o professor. Ambos

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adquirem conhecimento ambiental expandido e a construção de uma visão crítica favorecida [3].

Figura 03. Alunos de Igarassu em visita à planta Jeep.

Figura 04. Voluntária com alunos dentro da fábrica explicando o processo produtivo.

Ao final da visita, as pessoas deixam seu legado na fábrica através do plantio de espécies nativas nas áreas verdes da fábrica, onde são transmitidas as informações direcionadas ao plantio, proporcionado uma aula prática sobre biodiversidade [3,4]. 2. OBJETIVO O Programa de biodiversidade do Polo Automotivo Jeep visa resgatar a mata nativa da região, com o compromisso de um desenvolvimento responsável e sustentável que promove a convivência entre o homem, a natureza e fábrica. 3. RESGATE DA BIODIVERSIDADE DA ZONA DA MATA NORTE

3.1 Prática implementada

O Polo Automotivo Jeep, parte importante da estratégia global do grupo FCA - Fiat Chrysler Automobiles, localiza-se no município de Goiana, às margens da BR-101, entre os quilômetros 13 e 15. É a primeira fábrica inaugurada depois da fusão entre Fiat e Chrysler. Inserida em terreno com 440 ha, a planta tem flexibilidade para fabricar diversos modelos simultaneamente e capacidade instalada para produzir 250 mil veículos por ano. Seu processo de fabricação consiste em estampagem, soldagem, pintura e montagem final [4,5]. As soluções para eficiência energética estão presentes em todas as etapas do processo produtivo e incluem práticas de gestão e implantação de novas tecnologias e equipamentos modernos que fazem a diferença em termos ambientais. Outra grande inovação em termos ambientais foi na unidade de Pintura. Ao contrário dos processos tradicionais, a planta Jeep não possui a etapa do Primer, que foi substituído por uma tecnologia chamada Primer Less. A Pintura trabalha com tinta à base d’água, demandando o uso mínimo de solventes. Na prática, o novo processo significa redução de consumo de energia, além da queda significativa da emissão de CO2 e redução da geração de resíduos [5,6].

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Considerando o cenário que a fábrica foi erguida, é importante tomar atitudes conservacionistas. Os fragmentos florestais, ainda que reduzidos e circundados por matrizes habitacionais ou canavieiras, se configuram como ambientes necessários à recuperação dos ambientes naturais. A conservação desses fragmentos é relevante porque eles, podem funcionar como pontos de fluxo gênico entre as comunidades vegetais e ainda servem de abrigo para o restabelecimento da fauna residente e migratória [2]. Em desenvolvimento desde junho de 2014, o Programa de Biodiversidade envolve quatro etapas: pesquisa histórica sobre a flora, levantamento técnico da fauna e flora (fitosociológico), execução do paisagismo do Polo Automotivo e construção de viveiro com capacidade de produção de 22 mil mudas trimestralmente.

3.1.1 Estudo da fauna e flora A pesquisa sobre a história da fauna e flora da Zona da Mata Norte foi realizada a partir da parceria com as Universidades e consistiu num amplo levantamento bibliográfico da vegetação presente em estudos realizados desde os anos de 1930 até 2013 de modo a identificar o que havia de Mata Atlântica nativa na região antes do início da ação humana - primeiro com a forte exploração do Pau-Brasil e depois com a chegada dos primeiros engenhos em 1570 e o início da monocultura da cana-de-açúcar [2,7]. O trabalho de campo foi realizado em seguida, onde analisaram-se 30 pontos de fragmentos florestais (Figura 05) de mata que restam da floresta original para caracterizar a área de floresta quanto ao seu status de conservação e reconhecer a flora nativa.

Figura 05. Blocos de fragmentos florestais (F1, F2 e F3) localizados nas proximidades da polo automotivo Jeep.

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Os resultados obtidos foram associados a outros estudos florísticos e fitossociológicos realizados na Zona da Mata Norte de Pernambuco, para definição das espécies com uso potencial para o projeto paisagístico do empreendimento [7]. Trabalhos desenvolvidos em parceria com as Universidades primaram pelo levantamento técnico e pela caracterização da fauna de vertebrados dos remanescentes de vegetação na região [2]. Quanto à fauna, o inventário realizado pela UFRPE (ictiofauna, herpetofauna, avifauna e mastofauna) relatou um decréscimo de espécies quando se compara os dados históricos com os dados recentes de coletas [8]. Para a ictiofauna foram analisadas bibliografias entre os anos de 1972 e 2012 para a compilação dos registros históricos presentes nas áreas de Igarassu e Goiana, onde foi apontada a existência de 36 espécies dulcícolas. Apenas uma espécie ornamental conhecida como Betta splendens, endêmica da Tailândia, foi classificada como vulnerável, devido à degradação do habitat [8]. Os dados compilados para o grupo de vertebrados da herpetofauna totalizaram 67 representantes local referentes às localidades de Goiana e Igarassu. Sendo 33 anfíbios anuros e sete de répteis. Foi observada uma quantidade expressiva de espécies, que embora sejam de ampla distribuição na região nordeste do país, apresentam alguma exigência e ocorrem principalmente em áreas florestais que estiveram conectadas no passado, apresentando condições ideais para a ocorrência dessas espécies, e não podem ser retratadas atualmente pela fragmentação e descontinuidade das florestas [8]. Em relação à avifauna, os registros datados entre os anos de 1881 e 2012 mostraram a ocorrência de 291 espécies de aves distribuídas em 24 ordens e 63 famílias. Do total de espécies assinaladas, 276 são consideradas residentes, nove migratórias do hemisfério Norte, duas visitantes do Sul da América do Sul e quatro introduzidas. Para a região foram assinalados 31 endemismos, sendo 16 para a Floresta Atlântica em geral e 15 para o CEP (Centro de Endemismo de Pernambuco). Desses 31 táxons endêmicos, 24 são considerados ameaçados de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) [8]. Nos trabalhos de campo foram identificadas 114 espécies de 17 ordens e 39 famílias. Do total de espécies assinaladas na bibliografia, 275 são consideradas residentes, nove migratórias do Hemisfério Norte, duas visitantes do Sul da América do Sul e quatro introduzidas. As espécies encontradas durante as expedições a campo são aquelas com maior presença em bordas de florestas e em ambientes abertos. Estes dados indicam que a manutenção das aves depende diretamente da manutenção dos remanescentes florestais, que podem funcionar como corredores ecológicos propícios à dinâmica natural das comunidades animais [8]. No que se refere aos mamíferos, nos registros históricos dos municípios de Goiana, Igarassu e Itamaracá foram citadas 53 espécies de mamíferos (28 não alados e 25 alados, os morcegos). Do total de espécies, apenas 33 foram registradas nas coletas de campo, em fragmento florestal nas proximidades da fábrica Jeep [8].

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Tanto os dados referentes à flora quanto à fauna da Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco, evidenciam que a conservação é urgente e necessária. A perda da biodiversidade está bem representada ao comparar os dados históricos de ocorrência das espécies vegetais e animais. A fragmentação florestal acarreta danos à dinâmica das comunidades biológicas e, partir dos dados obtidos, ficou nítida a relação que os sistemas biológicos apresentam. Mesmo fragmentos florestais secundários são essenciais para a conservação, pois funcionam como corredores ecológicos para o fluxo gênico e favorecem a manutenção da fauna residente e migratória, consequentemente contribuindo para a manutenção da biodiversidade [2,7,8].

3.1.2 Paisagismo Espécies como o pau-de-jangada, pau-ferro e visgueiro despertam na memória dos moradores da Zona da Mata Norte pernambucana, a história da formação de um povo que construía jangadas para a pesca, colhia folhas do pau-ferro para preparação de chás e aproveitava a sombra do imponente visgueiro, árvore preferida do conde Maurício de Nassau. Hoje, fazem parte do Projeto de Paisagismo da fábrica Jeep, representando o comprometimento da FCA com a sustentabilidade [2,6]. A prática vem sendo atualizada e apresentando melhorias ao longo do tempo. O plantio das espécies para o paisagismo interno está representado atualmente na Figura 06. A evolução das espécies ao longo de dez anos está representada nas Figuras 07 a 09 [5,6] .

Figura 06. Situação atual do paisagismo com 01 ano do plantio.

Figura 07. Simulação do paisagismo com 02 anos do plantio.

Figura 08. Simulação do paisagismo com 05 anos do plantio.

Figura 09. Simulação do paisagismo com 10 anos do plantio.

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3.1.3 Viveiro de mudas O viveiro de mudas também vem sofrendo alterações e melhorias desde sua implantação. A área, antes ocupada por cana-de-açúcar, aos poucos foi modificada e deu lugar a oito módulos de 40 m x 40 m, com vias de acesso de 20 m, totalizando a área já mencionada, de 01 ha (Figura 10) [3,5].

Figura 10. Localização do viveiro na área do Polo Automotivo com indicação de seus módulos.

A competition for projects designed to reduce our impact on the environment

Figura 11. Área do viveiro de mudas após implantação.

As atividades no viveiro consistem em produzir, monitorar e realizar sistemática de controle e identificação de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas nativas da mata atlântica para atender às áreas verdes definidas no Projeto de Paisagismo do Polo automotivo. As mudas são produzidas através de dois métodos: propagação e semeadura [5]. A propagação das espécies nativas no viveiro é feita pela reprodução sexuada através das sementes nos canteiros e tubetes ou pela reprodução assexuada através da multiplicação da planta-mãe por estacas dos ramos jovens ou divisão de touceiras. Neste método, separa-se uma das touceiras para obter um

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novo indivíduo com todas as características da planta-mãe. Na semeadura, as sementes das espécies são colocadas em canteiros (Figura 12) ou tubetes (Figura 13), onde permanecem até sua germinação [3]. O tempo para germinação varia de espécies para espécie e pode levar de 3 dias até 3 meses. Após a germinação as plântulas, quando obtém 10 cm de altura, são transplantadas para sacos e potes plásticos (Figura 14).

Figura 12. Produção de mudas no solo. Figura 13. Produção de mudas em

tubetes.

Figura 14. Mudas presentes no viveiro. Figura 15. Detalhe de mudas

desenvolvidas no viveiro.

3.1.4 Educação ambiental

O Programa Biodiversidade já ultrapassou as fronteiras do Polo Automotivo Jeep e chegou até o município de Igarassu, na escola Cecília Maria Vaz Curado (Figuras 16 e 17), primeira instituição apoiada pelo programa de implantação de escolas em tempo integral em parceria da FCA com o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) [6].

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Figura 16. Melhoria da fachada da escola Cecília Maria Vaz Curado.

Figura 17. Fachada da escola Cecília Maria Vaz Curado após melhoria implantada.

A escola supracitada recebeu um jardim feito com setes espécies de plantas da mata nativa da região, oriundas do viveiro do Polo. Tal iniciativa representa a extensão do programa de biodiversidade e o local servirá como base prática para conteúdos trabalhados pelas crianças em sala de aula (Figuras 18 e 19).

Figura 18. Construção do jardim executado pela FCA na escola Cecília Maria Vaz Curado.

Figura 19. Jardim da escola com 7 espécies nativas que vieram do viveiro da Jeep.

As ações voluntárias realizadas dentro da plataforma de sustentabilidade da Jeep foi foram iniciadas com a ajuda de profissionais da área de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho do Polo Automotivo. Na ocasião, os voluntários percorreram todas as salas de aula da escola, apresentando o trabalho de resgate de flora nativa local realizado pelo Programa de Biodiversidade (Figuras 20 e 21) e distribuíram, para os alunos da escola levarem para suas casas, 360 sementes de mudas de acácia (Cassia grandis) e cupiuba (Tapirrira guaianensis), duas espécies nativas da Mata Atlântica que estão sendo cultivadas no viveiro do Polo Automotivo [9].

Figuras 20 e 21. Voluntários em ação, falam do Programa de Biodiversidade da Jeep e a importância de preservar a mata nativa.

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A ação na escola incluiu, ainda, a premiação de um concurso de redação promovido pela escola (Figura 22), apresentação cultural (Figura 23) e uma oficina prática de plantio de mudas com a participação dos alunos e do diretor da planta Jeep (Figuras 24 e 25).

Figura 22. Diretor da planta Jeep com alunos da escola durante premiação do concurso de redação.

Figura 23. Alunos da escola durante apresentação cultural sobre biodiversidade.

Figura 24. Voluntária realizando oficina prática de plantio de mudas com alunos da escola.

Figura 25. Plantio de mudas na ação de voluntariado da Jeep.

Além da ação voluntária nas escolas, o programa de visitas Experiência Jeep é a porta de entrada para a comunidade que deseja conhecer a planta. Somente no ano de 2015, foram recebidos cerca de 5 mil visitantes [5].

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Por meio do Programa, mostra-se a empresas, estudantes de escolas públicas e particulares do ensino fundamental e médio, universitários, pesquisadores, autoridades e sociedade os altos níveis de excelência, tecnologia e inovação do nosso processo produtivo, além da jornada transformadora de formação de novos profissionais e de líderes e a implantação de práticas inovadoras em responsabilidade socioambiental [5,6].

3.1.5 Partes interessadas beneficiadas

O Programa de Biodiversidade é ousado, inovador e envolve a comunidade. Traz benefícios às seguintes partes interessadas: visitantes, parceiros, colaboradores Jeep e suas famílias, comunidade local, escolas públicas da região e personalidades. Visitantes, parceiros, colaboradores e funcionários participam do Programa, deixando o seu legado na fábrica a sua contribuição para o futuro, conforme fotos a seguir [5,9].

Figura 28. Presidente Dilma Roussef. Figura 29. Governador do estado de PE - Sr

Paulo Câmara.

Figura 26. Alunos de escola em Igarassu visitam a fábrica.

Figura 27. Alunos do IFPE no espaço Jeep durante visita à fábrica.

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Figura 30. Embaixadora dos Estados Unidos Figura 31. Representantes do órgão ambiental estadual (CPRH).

Companhias e stakeholders que estejam investindo na região poderão utilizar as informações do Programa para nortear suas ações de sustentabilidade ambiental. Desse modo, o poder público, prefeituras e Estado, passam a contar com uma ferramenta estratégica para direcionar a aplicação de suas políticas.

3.1.6 Indicadores utilizados para monitoramento da prática

Os indicadores do Programa de Biodiversidade consistem em:

quantidade de mudas plantadas;

número de espécies plantadas e

quantidade de mudas produzidas no viveiro da planta. Todos os indicadores acima listados são apurados mensalmente, com exceção das mudas a serem produzidas no viveiro. Este indicador é apurado trimestralmente, o que nos permite avaliar se a prática realmente está sendo eficaz. A quantidade de mudas a serem plantadas corresponde a 208 mil, em período indefinido. Já o número de espécies que devem ser plantadas é 250, todas nativas da Mata Atlântica. Em relação às mudas produzidas no viveiro, a meta mensal é 22 mil a cada três meses.

3.1.7 Resultados

Na compilação de dados registrados para a composição florística do município de Goiana e cidades limítrofes, foram considerados relatos no período de 1930 até 2013. Devido a proximidade, também foram considerados os municípios de Abreu e Lima, Igarassu, Itamaracá e Paulista, que hoje pertencem a Região Metropolitana do Recife. No total foram registradas 618 espécies pertencentes a 332 gêneros e 104 famílias botânicas. Em comparação aos dados atuais observa-se o impacto negativo que o desmatamento e uso irregular dos recursos naturais causam na vegetação. Na coleta de dados florísticos e estruturais dos fragmentos florestais localizados em Goiana, foi registrado um total de 188 espécies, distribuídas em 146 gêneros e 64 famílias.

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Apesar das pressões antrópicas sofridas pelas áreas de floresta natural, este fragmento florestal secundário apresenta dados que apontam a necessidade de conservar estas áreas. Os fragmentos florestais analisados nos estudos de campo exibiram uma riqueza e diversidade considerável. Desse modo, é imprescindível a manutenção e conservação desses fragmentos, especialmente no que se refere a Floresta Atlântica que apresenta a maior parte de sua diversidade confinada em remanescentes florestais pequenos, isolados e pouco protegidos. Visando a recuperação desse bioma, o Programa de Biodiversidade prevê o plantio de 208 mil mudas de 250 espécies da Mata Atlântica (v. item indicadores), sendo 25 delas em extinção as quais estão contempladas na tabela a seguir [2,7].

Tabela 1. Lista de espécies ameaçadas por perda de habitat.

POS. ESPÉCIE

Nome científico Nome comum

01 Himatanthus phagedaenicus Banana de Papagaio 02 Schefflera morototoni Sambaquim 03 Acrocomia intumescens Macauba 04 Caraipa densifolia Camaçari 05 Nectandra sp Canela 06 Cariniana legalis Jequitibá 07 Gustavia augusta Jeniparana, Pau fedorento 08 Lecythis sp Sapucaia 0 9 Caesalpinia echinata Pau-Brasil 10 Caesalpinia ferrea Pau Ferro 11 Copaifera langsdorffii Copaiba 12 Hymenae coubaril Jatobá 13 Parkia pendula Visgueiro 1 4 Plathymenia foliolosa Amarelo 15 Plathymenia reticulata Vinhático 16 Bowdichia virgilioides Sucupira 17 Swartzia pickelli Jacarandá 18 Apeiba tibourbou Pau de jangada 19 Brosimum Conduru Conduru 20 Brosimum guianese Quiri 21 Simarouba amara Praiba 22 Albizia pedicellaris Jaguarana 23 Aspidosperma discolor Peroba 24 Virola gardneri Ururcuba 25 Dalbergia nigra Jacarandá-da-bahía

A partir do início do Programa até o momento, foi realizado o plantio de mais de 40 mil mudas, conforme gráfico a seguir. Em relação ao número de espécies, o gráfico a seguir demonstra a evolução das 286 espécies produzidas e/ou adquiridas no viveiro.

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Figura 32. Evolução do plantio de mudas no período de julho/2014 a fevereiro/2016.

Observa-se que a prática é algo real e dinâmico. As mudas vão ocupando espaços ao redor da fábrica, em terrenos antes devastados, indicando o início da recuperação do bioma Mata Atlântica na região da Zona da Mata Norte de Pernambuco, o que tem atraído a fauna que habitava essa região antes da monocultura da cana-de-açúcar. Outro benefício ambiental importante é o aumento do conforto térmico, além da melhoria da qualidade de vida dos colaboradores. Portanto, é possível afirmar que o Programa gera resultados reais e tangíveis, e de fato vem trazendo melhorias periódicas para o meio ambiente. De fato, o Polo Automotivo terá uma biodiversidade bem mais rica do que a existente atualmente em Goiana [6]. O Programa prevê, ainda, a formação de corredores ecológicos (Figura 33) entre os remanescentes inseridos nas proximidades da planta. Esses corredores são definidos como áreas que contêm ecossistemas florestais biologicamente prioritários e viáveis para a conservação da biodiversidade e asseguram a proteção dos remanescentes da área em questão. Desse modo, incrementa, gradativamente, a ligação entre os fragmentos por meio da condução da regeneração e plantio.

3900 5200

6900 8500

12000 13400

15000

18200

21000

26400

29300

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36100 38730

39330 39345 39369 39370 39485

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0

4000

8000

12000

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28000

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36000

40000

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Figura 33. Previsão de formação de corredores ecológicos hachurados na cor branca.

A ideia é criar, além dos corredores ecológicos, áreas planejadas de conservação. Essas equivalem a 304 há de área verde na fábrica. A mata que está sendo recriada vem servindo, também, como abrigo para os animais que habitavam essa região, conforme mencionado anteriormente. Ou seja, o Programa vai garantir a volta ao habitat natural de animais ameaçados de extinção [7]. Destaca-se que a iniciativa do Programa foi uma decisão do grupo FCA por entender a importância de se resgatar a mata nativa da região, além de estabelecer uma forma de relação cuja premissa é fazer parte do meio, construindo uma lógica de interação [3,5]. 4. CONCLUSÃO O Polo Automotivo Jeep nasceu com a missão de reunir, em um só lugar, os melhores processos produtivos da Fiat Chrysler Automobiles (FCA). A premissa também é válida quando o assunto é Sustentabilidade. Em Pernambuco, a Jeep tem a missão de contribuir para a promoção da cidadania das pessoas que estão ao seu redor, nas comunidades do entorno. Para isso, estão desenvolvidas ações nas áreas de Educação, Saúde, Meio Ambiente e Cultura. Baseado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), principal indicador de qualidade educacional brasileiro, o Polo automotivo Jeep, criou uma serie de ações para estimular e desenvolver o aprendizado de crianças, jovens e adultos. Para que a missão seja efetuada, a Jeep fechou no município de Igarassu compromisso com a Prefeitura, Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE) e Instituto Qualidade no Ensino (IQE), a fim de promover um trabalho conjunto entre as entidades e dessa forma contribuir para a melhoria do ensino público do município. Pensando também nos empregados da Jeep desde o início da construção do Polo Automotivo de Pernambuco, ações de conscientização nas áreas de alimentação e

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saúde com foco na prevenção de doenças crônicas como diabetes e hipertensão são estimuladas. Para isso, foi criado o “Nutrição e Saúde”, que busca incentivar e conscientizar os trabalhadores a terem hábitos alimentares mais saudáveis. Acompanhamento médico e nutricional também é oferecido para os empregados. A valorização da cultura também é uma prioridade para a Jeep. Pernambuco possui uma das mais efervescentes cenas culturais do País. Para evidenciar essa característica, o Polo Automotivo Jeep conta com projetos culturais para que artistas populares da Zona da Mata Norte consigam expandir a divulgação de seus trabalhos. Os restaurantes da fábrica e o Communication Center (na recepção e nos escritórios), expõem trabalhos de artistas pernambucanos ou radicados no Estado. A parte de meio ambiente, fechando a plataforma, consiste no Programa de Biodiversidade, prática motivo deste Projeto e que, conforme foi descrito no decorrer deste documento, irá resgatar quase 250 espécies da mata nativa da região. As crianças, as famílias e visitantes do programa de educação ambiental estão contribuindo para esse resgate. Certamente, os alunos que estão sendo trabalhados nesse Programa serão os nossos protagonistas do futuro. 5. REFERÊNCIAS [1] SILVA, Joelmir Marques; FILHO, Amaro Bezerra de Lima. Goiana uma história de engenhos e desmatamentos. Recife, 2014. [2] PINHEIRO, Tassia; MARQUES, Joelmir. Levantamento florístico e fitossociológico de um remanescente de floresta Atlântica da Zona da Mata Norte, Pernambuco. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2014. [3] FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA. Sustainability Report. Disponível em: http://www.fcagroup.com/enUS/sustainability/sustainability_stories/Pages/ehs_leadership_awards.aspx. Acesso em: 07 abr 2016. [4] FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA. Meio ambiente, saúde e segurança. Disponível em: https://peoplenetwork.fcagroup.com/br/Work/EHS/Pages/ehs.aspx. Acesso em 07 abr 2016. [5] FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA. Sustentabilidade Goiana Plant. Disponível em: http://www.fcagroup.com/plants/ptBR/Pernambuco/sustainability/Pages/default.aspx. Acesso em: 02 abr 2016. [6] FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil LTDA. Sustainability Stories. Disponível em: http://www.fcagroup.com/enUS/sustainability/sustainability_stories/Pages/pernambuco_brazil.aspx. Acesso em: 02 abr 2016. [7] PINHEIRO, Tassia; SILVA, Kleber Andrade. Aspectos ecológicos da diversidade da flora e fauna da Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco,

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Brasil: visão histórica e perspectivas futuras. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2015. [8] MOURA, Geraldo Jorge Barbosa; EL DEIR, Ana Carla Asfora; JÚNIOR, Severino Mendes de Azevedo; JÚNIOR, Wallace Rodrigues Telino. Caracterização da fauna de vertebrados dos remanescentes de vegetação na área da empresa FIAT-Goiana, PE. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2014. [9] PEREIRA, Anderson. Meio Ambiente: Polo Automotivo Jeep realiza ação voluntária com resgate da biodiversidade em Igarassu. Disponível em: http://www.blogdoandersonpereira.com/2015/07/programa-biodiversidade-polo-automotivo.html. Acesso em: 23 jul 2015.