proficiência motora em crianças e jovens com síndrome de asperger

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Proficiência Motora em Crianças e Jovens com Síndrome de Asperger 1 Proficiência Motora em Crianças e Jovens com Síndrome de Asperger “Estudo Descritivo e Comparativo do Perfil Motor de Crianças e Jovens com Síndrome de Asperger com base na bateria de testes de proficiência motora de Bruininks- Oseretsky” Dissertação com vista à obtenção do Grau de Mestre em Reabilitação Psicomotora Orientador: Professora Doutora Ana Rodrigues Júri: Presidente: Doutor Pedro Jorge Moreira de Parrot Morato Vogais: Doutor Filipe Manuel Soares de Melo e Doutora Ana Isabel Amaral Nascimento Rodrigues de Melo Eduarda Maria de Almeida Mimoso Correia 2012

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Proficiência Motora Em Crianças e Jovens Com Síndrome de Asperger - utilização do instrumento de avaliação Bruininks-oseretsky

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  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    1

    Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de

    Asperger

    Estudo Descritivo e Comparativo do Perfil Motor de Crianas e Jovens com Sndrome

    de Asperger com base na bateria de testes de proficincia motora de Bruininks-

    Oseretsky

    Dissertao com vista obteno do Grau de Mestre em

    Reabilitao Psicomotora

    Orientador: Professora Doutora Ana Rodrigues

    Jri:

    Presidente: Doutor Pedro Jorge Moreira de Parrot Morato

    Vogais: Doutor Filipe Manuel Soares de Melo e Doutora Ana Isabel

    Amaral Nascimento Rodrigues de Melo

    Eduarda Maria de Almeida Mimoso Correia

    2012

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    2

    NDICE

    ndice de tabelas 3

    ndice de figuras 3

    ndice de anexos 4

    Agradecimentos 5.

    Resumo 6

    Abstract 7

    Introduo 8

    ENQUADRAMENTO TERICO 9

    OBJETIVOS E METODOLOGIA DA INVESTIGAO 12

    Objetivos de investigao 12

    Metodologia de investigao 12

    Caracterizao da amostra 12

    Critrios de seleo da amostra 13

    Variveis 13

    Mtodos de recolha de dados 14

    Instrumento de avaliao 14

    Mtodos de anlise de dados 17

    APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 17

    Apresentao e discusso dos resultados 17

    Resumo global da amostra 18

    CONCLUSO DOS RESULTADOS 26

    REFERNCIAS 29

    ANEXOS 31

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    3

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Caracterizao da amostra por idades, frequncias e percentagens

    12

    Tabela 2 - Variveis que constituem cada componente, da motricidade fina e da

    motricidade global 13

    Tabela 3 - Variveis qualitativas ordinais e respetivas mensuraes 14

    Tabela 4 - reas de funcionamento motor e respectivos subtestes 15

    Tabela 5 - Subtestes e itens da forma reduzida do teste de Bruininks-Oseretsky

    15

    Tabela 6 - Resultados das variveis qualitativas, por observao do aplicador

    21

    Tabela 7 - Percentagens atribudas s variveis qualitativas 22

    Tabela 8 - Correlao das variveis: ateno, esforo, compreenso e fluidez do movimento quando relacionadas com a MF e MG 24

    Tabela 9 - Proficincia motora dos jovens da amostra de estudo quando comparada com jovens sem perturbaes do movimento, com as mesmas idades 24

    Tabela 10 - Mdias dos resultados dos jovens com S.A da amostra em estudo e dos

    jovens com S.A da BOT-2,nos subtestes das reas de funcionamento motor. 25

    Tabela 11- Comparao dos resultados das componentes da motricidade fina, motricidade global e proficincia motora entre dois grupos de idades distintas.G1-grupo dos mais novos e G2-grupo dos mais velhos, com o teste de Mann-Whitney 26

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 Resultados individuais dos jovens da amostra de estudo nos itens que compem a MF 19

    Figura 2 - Resultados individuais dos jovens da amostra de estudo nos itens que compem a MG 20

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    4

    NDICE DE ANEXOS

    Anexo 1 - Pedido de autorizao aos encarregados de educao para participao no

    estudo 32

    Anexo 2 - Ficha de registo de dados da forma reduzida da bateria de testes de

    proficincia motora de Bruininks-Oserestsky 35

    Anexo 3 - Ficha de recolha de dados demogrficos 38

    Anexo 4 - Descrio individual sobre cada jovem da amostra em estudo 40

    Anexo 5 - Frequncias e percentagens dos subitens que constituem a MF 43

    Anexo 6 - Frequncias e percentagens dos subitens que constituem a MG 44

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    Agradecimentos

    Excelentssima Senhora Professora Doutora Ana Rodrigues, pela orientao e perspiccia na ajuda da escolha do tema desenvolvido, pelo qual me apaixonei.

    minha maior amiga e companheira de vida, a minha me, sempre disposta a ajudar e com um conhecimento infindvel.

    A um amigo e colega excepcional, que saber que este agradecimento especificamente para ele.

    Aos meus amigos, pela compreenso na falta de ateno que lhes proporcionei este ano.

    Aos pais e mes que tm ao seu encargo crianas especiais e que eles prprios se tornam especiais, tendo estado disponveis para a participao neste estudo, com uma amabilidade e simpatia excepcionais.

    Associao Portuguesa de Sndrome de Asperger, principalmente Excelentssima Senhora Dr Maria da Piedade Monteiro, pela sua disponibilidade e interesse na divulgao deste estudo

    Aos jovens que me cativaram e por quem me apaixonei no desenvolvimento da minha carreira e que, pelo facto de serem to especiais, me tm ensinado a crescer, a compreender as diferenas, a desvalorizar o que no essencial, a valorizar as coisas simples da vida.. enfim, a viver. A eles, um agradecimento muito, muito especial.

    Muito obrigada!

    Eduarda Correia

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    Resumo

    Este estudo tem como objectivos: (1) identificar dificuldades motoras especficas em crianas e jovens com S.A. (2) verificar a possibilidade de definio de um perfil motor tpico na S.A. e (3) relacionar os perfis de proficincia motora da criana com S.A. com os perfis de proficincia motora da criana atpica.

    Os valores utilizados na comparao da proficincia motora dos jovens com S.A. e jovens sem qualquer perturbao do espetro autista, foram os referidos e padronizados na bateria de testes de proficincia motora de Bruininks-Oserestky.

    Foi aplicada a forma reduzida do teste de proficincia motora de Bruininks-Oserestsky a uma amostra de 11 jovens do sexo masculino, com S.A. comprovado por atestado mdico, com idades compreendidas entre os 8 anos e 4 meses e os 18 anos e 5 meses.

    Em relao aos resultados obtidos estes referem dificuldades motoras em todos os jovens da amostra, verificando-se alguma variabilidade nestas dificuldades mas, sendo possvel traar-se um perfil motor especfico, em virtude das reas fracas e fortes identificadas se situarem ao nvel das mesmas componentes motoras.

    Os melhores resultados na motricidade fina foram encontrados no subtestes - preciso motora fina e os resultados mais fracos no subteste destreza manual. Na motricidade global verificaram-se os melhores resultados no subteste - coordenao bilateral e os desempenhos mais baixos no subteste fora.

    Em relao totalidade dos subitens verificaram-se as melhores pontuaes no subitem - desenhar linhas atravs de percursos- labirintos e os desempenhos mais baixos no subitem - flexes de braos com pernas em flexo.

    A proficincia motora dos jovens situou-se muito abaixo da esperada para as suas idades, quando comparados com jovens da mesma idade, sem perturbaes do movimento e com a mesma problemtica - S.A.

    No se verificaram diferenas na proficincia motora dos dois grupos de idades, ao contrrio do que seria de esperar.

    Verificou-se uma correlao significativa da varivel ateno e esforo com a motricidade fina e uma correlao altamente significativa da varivel compreenso com a motricidade global.

    Palavras chave: Sndrome de Asperger, Proficincia Motora, Teste de Bruininks-Oseretsky, Desenvolvimento Motor.

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    Abstract

    This study aims: 1) to identify specific motor difficulties in children and young people with A.S. 2) to verify the possibility of a definition of a motor profile typical to A.S., and 3) to compare the profiles of motor proficiency of those young individuals with A.S. with the profiles of motor proficiency of atypical young individuals.

    The values used to compare motor proficiency of young individuals with and without autistic spectrum disorders were those included and standardized in the Bruininks-Oseretsky test of motor proficiency.

    This study chose the brief form of the Bruinings-Oseretsky Test of Motor Proficiency. It was used in a sample of 11 young male individuals with AS confirmed by a medical certificate, aged from 8 years and 4 months to 18 years and 5 months.

    The results obtained point to motor difficulties in all of the individuals of the sample. There is some variability in such difficulties but it is possible to draw a specific motor profile since the weak and the strong areas which were identified lie at the level of the same motor components.

    The best results concerning fine motor skills were found in the fine motor precision test, and the weakest results in the manual dexterity test. For gross motor skills, the best results were found in the bilateral co-ordination subtest and the lower performances in the strength subtest.

    Concerning global sub-items results, the best performances were found in the sub-item: drawing lines through courses-labyrinths, and the lower performances in the sub-item: arms flexions with legs in flexion.

    The motor proficiency of the young individuals stands in a much lower level than expected for their ages when compared with young people of the same age, without motor difficulties but with the same AS condition.

    Contrary to what could be expected, the two age groups did not present motor proficiency differences.

    It was observed a significant relation between the variable attention and effort and fine motor skills, and a highly significant relation between the variable understanding and gross motor skills.

    Key-words: Asperger syndrome, motor proficiency, Bruininks-Oseretsky tests, motor development

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    Introduo

    O estudo do desenvolvimento motor de extrema importncia na medida em que atravs da ao motora que a criana, numa primeira fase, interage com o mundo e com as pessoas que a envolvem. Conhecer a sequncia das aquisies motoras permite identificar que desvios existem a este processo de desenvolvimento e, por conseguinte, identificar precocemente perturbaes de desenvolvimento.

    Actualmente, apesar de existirem vrios estudos sobre o desenvolvimento motor do ser humano em que se identificam fases de desenvolvimento e delineiam factores associados, como o momento de incio destas fases, s muito recentemente estudos se tm centrado nas alteraes motoras do desenvolvimento humano.

    Como se trata de uma rea do desenvolvimento humano com poucos conhecimentos cientficos fundamentados, s muito recentemente que comeam a existir testes normalizados com validade e fiabilidade aferidas. Nesta sequncia, o teste de proficincia motora de Bruininks-Oseretsky, apesar de ainda no se encontrar normalizado para a populao portuguesa, um dos mais utilizados em Portugal, no estudo do desenvolvimento motor e na deteco da disfuno motora e avaliao da proficincia motora, numa faixa etria bastante ampla - entre os 4 anos e os 21 anos e 11 meses.

    Tem sido de grande importncia quer no mbito clnico quer no educacional, pois pode ser utilizado nas suas formas longa, composta ou reduzida, consoante os objetivos que se pretendem atingir - despiste e/ou diagnstico de disfunes motoras e, por conseguinte, permite pensar na interveno precoce e elaborao de estratgias adequadas.

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    ENQUADRAMENTO TERICO

    Os estudos sobre o distrbio nas praxias comeam a definir-se a partir das pesquisas fundamentalmente clnicas da neurologia do incio do sculo XX. A partir de determinadas leses cerebrais verificam-se perturbaes motoras no que se refere execuo de movimentos.

    O movimento um factor fundamental no desenvolvimento fsico, cognitivo e social do ser humano.

    Os sinais observados atravs do movimento so os primeiros a serem detetados na criana, podendo observar-se durante o primeiro ano de vida dificuldades no desenvolvimento motor, nomeadamente nos reflexos, nas posturas precoces, no tipo e evoluo da marcha, no posicionamento e no comportamento das mos.

    A investigao recente indica que padres atpicos de movimento podem ser detectados em bebs que mais tarde desenvolvem sinais clnicos de S.A.

    Teitelbaum et al. (1998), Dawson & Watling (2000) e Miller & Ozonoff (2000) analisaram as posturas e movimentos precoces de crianas com diagnstico de autismo e S.A., verificando que, embora com manifestaes diversas, todas elas apresentaram distrbios nos padres motores que podem ser detetados logo aos 6 meses de idade.

    O movimento deve ser equacionado tendo como base uma estrutura que supe uma integrao de mecanismos neurofisiolgicos, dependente da evoluo dos sistemas piramidal e extrapiramidal. O primeiro responsvel pela motricidade fina, voluntria e ideomotora e o segundo constitui o fundo tnico motor automtico. Devemos igualmente referir o sistema cerebeloso, responsvel pela harmonia espacial do movimento. Aquele sistema contribui para manter o equilbrio e ajuda a relacionar padres de movimentos. De acordo com Morato (1986), o cerebelo desempenha um papel na regulao da adaptao postural e na iniciao, execuo e finalizao dos movimentos voluntrios, coordenando as principais vias sensoriais e motoras e permitindo o jogo harmonioso dos movimentos agonistas e antagonistas. Os efeitos e as leses sobre os diferentes nveis estruturais do cerebelo so vrios e caracterizam-se, principalmente, por problemas graves quer ao nvel da motricidade esttica quer da dinmica e por dfices globais de controlo motor. Ao nvel do equilbrio esttico e da marcha verifica-se um alargamento da base de sustentao. Em relao execuo de movimentos, estes traduzem-se por uma amplitude alterada no espao dismetria, por perturbaes na coordenao do tempo como um atraso em comear ou finalizar um movimento - discronometria e pela incapacidade de execuo rpida de movimentos alternados adiadococinsias (Morato, 1986, cit. Duarte, Cludia, 2011, p.1).

    Pesquisas recentes (Silva e Kleinhans, 2005) sugerem que o cerebelo possa estar, ainda, envolvido com a memria de trabalho, inteno, organizao temporal e controlo de actos impulsivos. Estes estudos sugerem que pessoas com alteraes cerebelosas se tornam mais lentas e simplificam os movimentos, como estratgia de compensao da falta de dados sensoriais de qualidade. Morato (1986) refere que no existe uma nica estrutura responsvel pela organizao da motricidade, mas, sim, vrios sistemas de controlo implicados (cortico-talmicos-cerebelosos). Se em qualquer destes sistemas no se observar equilbrio de funcionamento e relao com os outros, verificam-se alguns sintomas de debilidade motora, instabilidade psicomotora ou de desorganizao prxica.

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    O movimento sempre um testemunho das relaes e (co) relaes entre os aspetos perifricos (msculos e rgos sensoriais) e os aspetos do centro (crebro) (Fonseca e Mendes, 1998, cit. Silva, Elvira p.14).

    O conceito de descoordenao motora no est operacionalmente definido. A descoordenao a imperfeio habitual dos movimentos. Dizemos que algum inbil quando no consegue executar o que gostaria de fazer ou aquilo que gostaramos de o ver fazer. Todos os factores que intervm na execuo de um movimento podem, portanto, pela sua insuficincia, tornar-se uma causa de descoordenao (Wallon,1986, p.26). Ao contrrio, diz-se que os indivduos possuem boa coordenao quando se movem facilmente e a sequncia e a sincronizao dos seus actos so bem controladas. Este elemento essencial de desempenho motor no facilmente medido de modo objectivo, embora a realizao perfeita em qualquer evento implique boa coordenao.

    A coordenao de movimentos exige a presena de posturas suficientemente integradas e assumidas. De uma forma geral, um indivduo ter uma funo de execuo precisa e ajustada se efectivamente as estruturas de equilibrao estiverem intactas. Assim, se existirem problemas nas estruturas de equilibrao, existem necessariamente problemas de coordenao e de motricidade fina. A eficincia motora, ou seja a adaptao correta das praxias, aparece tanto ao nvel dos grandes segmentos e da sua orientao no espao, como ao nvel da motricidade fina. A possibilidade de manter uma posio no espao o suporte da eficincia motora, que o mesmo que o equilbrio postural que facilita a disponibilidade gestual, a preciso do acto voluntrio e o livre jogo dos automatismos (Neto, 2003, p.23). Para existir eficincia motora tambm so necessrios a integridade do sistema sensorial e o desenvolvimento normal do esquema corporal. Ao contrrio da existncia de variados estudos sobre o desenvolvimento motor e as fases que o constituem so poucos os estudos sobre a disfuno motora e, embora continue a existir falta de consenso em relao inabilidade motora na S.A., enquanto critrio de diagnstico desta, e, no sendo esta considerada como caracterstica obrigatria para a caracterizao da sndrome, esta considerada por muitos autores, como caracterstica fundamental da S.A. Esta caracterstica no se verifica necessariamente em simultneo em todas as pessoas com S.A. As alteraes motoras que se tm verificado na S.A. (Mari et al., 2003) so muitas vezes consideradas como um indicador ou sinal precoce das perturbaes do espetro autista (PEA). Enticot et al., (2006) referem que as dificuldades de movimento constituem uma caracterstica determinante na trajetria do autismo e Asperger. A investigao refere que 50% a 90% das crianas e adultos com S.A. tm problemas de coordenao motora (Ehlers & Gillberg, 1993; Ghaziuddin et al., 1994; Gillberg / Gillberg, 1989; Szatmari et al.,1990; Tantam,1991). Wing (1981) identificou os problemas de coordenao motora na S.A. como sendo uma das maiores caractersticas da S.A. Dos 34 casos estudados por Wing, 90% dos indivduos eram fracos em jogos que envolviam habilidades motoras e por vezes os problemas de execuo afetavam a capacidade para escrever ou desenhar. Tantam (1988), no seu estudo com 60 adultos cuja histria de vida englobava excentricidade e isolamento social, e em que, destes, 46 tinham caractersticas da S.A., considerou a descoordenao como um critrio para a definio da S.A. no adulto. Segundo Manjiviona e Prior (1995), o primeiro indicador de descoordenao motora na criana com S.A. refere-se ao facto de a criana iniciar a marcha alguns meses mais tarde do que seria de esperar. Tantam (1991) refere a descoordenao motora como uma caracterstica da S.A. Mari et al., (2003) revelaram que as dificuldades no planeamento e coordenao motora ocorrem em simultneo e talvez sejam sinais neurolgicos

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

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    ligeiros destas perturbaes. Rinehart et al. (2006) referem que no tem sido descrito na literatura cientfica o padro exacto dos dfices motores, no entanto, actualmente, j se sabe que os dfices no planeamento motor ou movimentos atpicos podem ser reveladores de disfunes em determinadas reas cerebrais como os gnglios basais ou o cerebelo. Segundo Gillberg (1993) e Klin (2003), a criana com S.A. possui um desenvolvimento motor normal, mas com algumas inabilidades psicomotoras. Gunter, Ghaziuddin & Ellis 2002; Manjiviona & Prior 1995; Miyara et al.,1997; Gillberg, 1989, referem dfices na destreza motora. Nass e Gutman (1997), identificam problemas na coordenao motora geral, no equilbrio, respectivamente equilbrio dinmico e esttico, na fora, e no tnus. Nass e Gutman 1997; Szatmari et al. (1998), referem a realizao de tarefas manuais com menor velocidade. Gillberg (1989) refere peculiaridades na locomoo. Tantam (1991) e Manjiviona e Prior (1995), referem dificuldades nas actividades que incluem lanamentos e recepes de bola. A criana com S.A. pode ser imatura no desenvolvimento da capacidade de apanhar, lanar e pontapear uma bola. Beversdorf et al., (2001), referem alteraes na caligrafia. Manjiviona e Prior (1995) no ritmo e imitao de movimentos. O indivduo com S.A. apresenta ainda problemas com a preparao mental e o planeamento de movimento, com vias motoras relativamente intatas (Minshew, Goldstein & Siegel 1997; Rinehart et al., 2001; Rogers et al., 1996; Smith & Bryson 1998; Weimer et al., 2001). Podem tambm ter problemas com a orientao do corpo no espao (Weimer et al., 2001) e com a capacidade de manter a postura (Gepner & Mestre, 2002; Molly, Dietrich & Bhattacharya, 2003). Algumas crianas tm problemas com o sistema vestibular que lhes afecta o equilbrio, a percepo do movimento e a coordenao (Smith Myles et al., 2000). Volkmar et al., (1994) mostraram na aplicao de testes de motricidade que os atrasos motores e a descoordenao motora so muito comuns na S.A. Estudos sobre coordenao motora em crianas com S.A, indicam alteraes motoras e referem que o dfice de coordenao motora afecta vrias capacidades relacionadas quer com a motricidade fina quer com a motricidade global (Ghaziuddin et al., 1994; Gillberg 1989; Gowen & Miall 2005; Green et al., 2002; Hippler & Klipera, 2004; Klin et al., 1995; Manjiviona & Prior, 1995; Miyahara et al., 1997), indicando que em todas as crianas com S.A. ocorrem expresses especficas de perturbao do movimento. Problemas na motricidade global ou fina tm sido tambm descritos por Dawson e Watling (2000); Miller e Ozonoff (2000) assim como por Provost, Lopez e Heimerl (2006), num estudo com perturbaes do espetro autista com idades compreendidas entre os 21 e 41 meses, que verificaram que existia atraso no desenvolvimento das habilidades motoras globais e finas. Teitelbaum et al. (1998, 2004) analisaram as posturas e movimentos precoces de crianas com diagnstico de autismo e S.A. verificando que, embora com manifestaes diversas, todas elas apresentaram distrbios nos padres motores que podem ser detetados logo aos 6 meses de idade.

    Teitelbaum et al. (1998, 2004) referem, relativamente ao padro da marcha, que as crianas com PEA e S.A. apresentam assimetrias e atraso de desenvolvimento, verificando que aos 2 anos ou mesmo mais tarde possuem um padro de marcha imaturo. Teitelbaum refere tambm que a maioria das perturbaes do movimento observadas ocorre no lado direito do corpo, ao contrrio de outras problemticas.

    Tendo em conta este enquadramento terico, o estudo prtico que se segue tem por objectivo, verificar e confirmar ou eliminar as premissas que ali so referidas. A importncia da independncia da criana na realizao das actividades dirias requer uma complexa evoluo nas suas habilidades motoras. da combinao entre qualidades como a velocidade, a direo, a distncia, a intensidade, as relaes espaciais e a fora que possvel descobrir e construir uma compreenso do acto

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

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    motor, sendo que a sua eficincia aumenta na medida em que o crebro e o sistema nervoso se desenvolvem.

    OBJETIVOS E METODOLOGIA DA INVESTIGAO

    OBJETIVOS DE INVESTIGAO

    Tentar-se- perceber em que reas motoras os jovens com S.A. apresentam maiores dificuldades, se estas coexistem em todos eles, permitindo definir um perfil motor tpico da S.A. e at que ponto, existem diferenas na proficincia motora destes jovens quando comparados com jovens da mesma idade, sem esta problemtica.

    Enquadrando-se nos estudos sobre o desenvolvimento motor humano, este estudo tem como objectivos (1) identificar dificuldades motoras especficas em crianas e jovens com S.A., (2) verificar a possibilidade de definio de um perfil motor tpico na S.A. e (3) relacionar os perfis de proficincia motora da criana com S.A. com os perfis de proficincia motora da criana atpica.

    METODOLOGIA DE INVESTIGAO

    CARACTERIZAO DA AMOSTRA

    Trata-se de uma amostra de convenincia, constituda por 11 jovens do sexo masculino com idades compreendidas entre os 8 anos e 4 meses e os 18 anos e 5 meses de idade. A idade mdia de 14 anos e 3 meses, com um desvio-padro de 33,6,Tabela 1. Os jovens encontram-se a frequentar a escolaridade obrigatria, entre o 2 ano de escolaridade e o 11 ano, todos ao abrigo do Decreto-lei 3/2008 de 07 de Janeiro, que regulamenta a Educao Especial; todos os jovens frequentam um currculo normal, com a aplicao de medidas educativas especiais, excepo de um aluno que se encontra com um currculo especfico individual. Todos tm um diagnstico clnico de sndrome de Asperger, existindo dois com um diagnstico associado de dfice de ateno e concentrao. Maior parte pertence a escolas do Concelho de Oeiras.

    Tabela 1 - Caracterizao da amostra por idades, frequncias e

    percentagens.

    Idade Frequncia Percentagem

    8 anos 1 9,1

    11 anos 1 9,1

    12 anos 2 18,2

    14 anos 3 27,3

    15 anos 1 9,1

    16 anos 1 9,1

    17 anos 1 9,1

    18 anos 1 9,1

    Total 11 100,0

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    13

    CRITRIOS DE SELEO DA AMOSTRA

    Na escolha da amostra foram considerados os seguintes critrios de seleo:

    Idades dos jovens (entre os 4 e os 21 anos e 11 meses).

    Obrigatoriedade de diagnstico mdico comprovativo de Sndrome de Asperger.

    Autorizao dos encarregados de educao (Anexo1)

    VARIVEIS

    Foram consideradas como principais variveis do presente estudo as variveis quantitativas: idade dos jovens e proficincia motora. A proficincia motora resultante do somatrio das variveis da motricidade fina (MF) e da motricidade global (MG), Tabela 2.

    Tabela 2- Variveis que constituem cada componente da motricidade fina e da motricidade global.

    Motricidade Fina

    Preciso Motora Fina

    Desenhar uma linha atravs de um percurso - labirinto

    Dobrar papel

    Integrao Motora Fina

    Copiar um quadrado

    Copiar uma estrela

    Destreza Manual

    Transferir moedas

    Motricidade Global

    Coordenao Bilateral

    Saltar no mesmo stio - ambos os lados sincronizados

    Bater os ps e os dedos - ambos os lados sincronizados

    Equilbrio

    Andar sobre uma linha

    Manter-se em apoio unipodal sobre uma trave - olhos abertos

    Corrida de Velocidade e Agilidade

    Saltar em apoio unipodal no mesmo stio

    Coordenao dos Membros Superiores

    Largar e apanhar a bola - duas mos

    Driblar uma bola - alternando mos

    Fora Flexes de braos - pernas em flexo

    (*)

    Abdominais Legenda:

    (*) O termo mencionado deveria ser referido como: Extenses de braos pernas em flexo, de acordo

    com a terminologia utilizada na literatura do treino de fora.

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    14

    Foram ainda consideradas as variveis qualitativas ordinais: ateno, fluidez do movimento, esforo e compreenso da tarefa, Tabela 3.

    Tabela 3- Variveis qualitativas ordinais e respetivas mensuraes

    Variveis Qualitativas Ordinais

    Ateno 1-Fraco, 2-Mdio, 3-Bom, 4-Excelente

    Fluidez do movimento 1-Fraco, 2-Mdio, 3-Bom, 4-Excelente

    Esforo 1-Fraco, 2-Mdio, 3-Bom, 4-Excelente

    Compreenso 1-Fraco, 2-Mdio, 3-Bom, 4-Excelente

    Em relao a estas variveis, h a referir que foram classificadas atravs da observao feita pelo examinador no decorrer do teste; o examinador foi sempre o mesmo; no existem critrios de categorizao pr-definidos para as vrias mensuraes atribudas.

    MTODO DE RECOLHA DE DADOS

    Para recolha de dados foi aplicada a forma reduzida da bateria de testes de proficincia motora de Bruininks-Oserestsky-2 edio (Anexo 2), realizada aos fins-de-semana nas instalaes da Faculdade de Motricidade Humana, em horrios que foram previamente estabelecidos com os encarregados de educao. O teste realizou-se num ginsio da faculdade, em contexto de um para um, salvo 3 casos em que os pais estiveram presentes A maior parte das sesses teve a durao de 30 minutos. Algumas delas prolongaram-se um pouco mais, em virtude de se ter sentido necessidade de criar alguma empatia com os jovens que por vezes se encontravam muito reservados e nervosos.

    Foi tambm solicitado aos pais o preenchimento de uma ficha de recolha de dados demogrficos (Anexo 3), para obteno de maior nmero de informaes. Obtiveram-se ainda informaes, atravs de entrevista com os professores de Educao Especial que acompanham os jovens na escola e com os prprios pais, presentes nas sesses.

    O teste foi aplicado tendo em conta as regras de utilizao e aplicao definidas no manual. O avaliador foi sempre o mesmo. A aplicao do teste apenas foi realizada com o consentimento dos pais. Os resultados obtidos so confidenciais e o tratamento de dados ser entregue aos encarregados de educao.

    INSTRUMENTO DE AVALIAO

    O instrumento de avaliao utilizado foi a forma reduzida do teste de proficincia motora de Bruininks-Oserestsky - 2 edio (BOT-2). Este teste , desde a sua publicao, em 1978, o mtodo de avaliao com referncia norma mais utilizado no estudo da proficincia motora na populao com deficincia, embora no se encontre normalizado para a populao portuguesa. Fornece uma avaliao da proficincia motora especialmente se uma das preocupaes tem a ver com a descoordenao motora, pois consegue identificar dfices da capacidade motora em indivduos com problemas ligeiros a moderados de controlo motor, de fcil aplicao e pontuao e divertido para os examinandos. um teste credvel, com bons indicadores de validade e fiabilidade e actualmente de ampla aplicao quer na Psicologia quer na Educao. A sua aplicao pode ser feita em crianas e jovens entre os 4 anos de

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    idade e os 21 anos e 11 meses. constitudo por quatro grandes reas de funcionamento motor, respetivamente: controlo manual fino, coordenao manual, controlo corporal e fora e agilidade, cada uma delas possuindo dois subtestes que avaliam um aspeto especfico das habilidades motoras, a preciso motora fina (PMF), a integrao motora fina (IMF), a destreza manual (DM), a coordenao bilateral (CB), o equilbrio (E), a corrida de velocidade e agilidade (CVA), a coordenao dos membros superiores (CMS) e a fora (F), Tabela 4.

    Tabela 4 - reas de funcionamento motor e respetivos subtestes

    Domnio Motor Global

    Controlo

    Manual Fino

    Coordenao Manual Controlo Corporal Fora e Agilidade

    PMF

    IMF

    DM

    CMS

    CB

    E

    CVA

    F

    Estes subtestes dividem-se por dois grandes grupos, o da motricidade fina (MF) e o da motricidade global (MG). A motricidade fina constituda pelos subtestes: PMF, IMF e DM. A motricidade global constituda pelos subtestes: CB, E, CVA, CMS, F. Cada um destes subtestes constitudo por sua vez por um ou dois itens, Tabela 5.

    Tabela 5 - Subtestes e itens da forma reduzida do teste de proficincia motora de

    Bruininks-Oseretsk

    Subteste 1- Preciso Motora Fina Conjunto de actividades que requerem um controlo preciso dos dedos e movimentos da mo.

    Desenhar uma linha, por um percurso, delimitado por linhas laterais.

    Dobrar papel por cima de linhas pr-definidas.

    Subteste 2 Integrao Motora Fina

    Envolve a motricidade fina na realizao grafomotora avaliando a habilidade para integrar estmulos visuais conjuntamente com o controlo motor.

    Copiar um quadrado Copiar uma estrela

    Subteste 3 - Destreza Manual Envolve o controlo e a coordenao das mos e braos, na manipulao, principalmente de objetos pequenos. Mede a velocidade de realizao da tarefa.

    Iniciando a tarefa com a mo dominante, transferir uma moeda de cada vez, para a outra mo e, com esta, coloc-la numa caixa. Transferir o maior nmero de moedas possvel em 15 segundos

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    Subteste 4 - Coordenao Bilateral Avalia a habilidade da criana em coordenar as mos e os ps em movimentos dissociados sequenciais e simultneos, utilizando ambos os lados do corpo.

    Saltar no mesmo stio, com ambos os lados sincronizados, brao e perna direitos trocam com brao e perna esquerdos. Realizar 5 saltos corretos.

    Bater o p e o dedo do mesmo lado, sincronizadamente, alternando ora um lado ora o outro, com movimentos contnuos. Realizar seguidos 10 batimentos corretos.

    Subteste 5 - Equilbrio Avalia a habilidade da criana na coordenao corporal dos grandes grupos musculares que mantm o equilbrio postural numa posio esttica unipodal e num deslocamento dinmico.

    Andar sobre uma linha, iniciando com o p preferencial, com mos colocadas na cintura.

    Manter-se em apoio unipodal, sobre o p preferencial sobre uma trave, de olhos abertos, com mos na cintura e mantendo a outra perna em flexo de 90 graus.

    Subteste 6 - Corrida de Velocidade e Agilidade Avalia a habilidade de controlar e coordenar grandes grupos musculares envolvidos na locomoo.

    Saltar em apoio unipodal no mesmo stio, saltando sobre o apoio da perna preferencial, a outra perna a 90 graus, mos na cintura, durante 15 segundos.

    Subteste 7- Coordenao dos Membros Superiores Avalia a coordenao culo-manual.

    Com braos em extenso, largar e apanhar uma bola de tnis, com as duas mos.

    Driblar uma bola de tnis alternando mos.

    Subteste 8 - Fora Avalia a fora do membro superior e a fora da regio anterior do tronco.

    Flexionar e estender os braos, movimentado simultaneamente todo o corpo para baixo e cima, com pernas em flexo, durante 30 segundos

    Abdominais - partindo da posio inicial de deitado no cho com pernas em flexo e membros superiores ao lado do tronco, realizar a elevao da cintura escapular e voltar posio inicial, repetindo o movimento durante 30 segundos.

    Antes da aplicao do BOT-2 dever-se- garantir que as condies de aplicabilidade esto preparadas. Procede-se em seguida verificao da mo preferencial no desenho e no lanamento e verificao preferencial do membro inferior. As provas possuem uma ou duas tentativas, registando-se sempre a melhor prestao desenvolvida. Os valores obtidos em cada um dos itens foram convertidos em pontos e estes transformados em resultados padronizados de acordo com as regras de

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    cotao da BOT-2 e verificados para cada idade. Os resultados obtidos para a MF e MG, so o resultado do somatrio dos vrios subtestes que as constituem. O somatrio da MF com a MG, d-nos o valor da proficincia motora (PM). Os itens: ateno, fluidez do movimento, esforo e compreenso, contemplados na bateria e a ter em considerao no desempenho das provas pelo examinado, so avaliados qualitativamente, existindo subjetividade na sua avaliao, em virtude da inexistncia de especificao de critrios de avaliao das mesmas. No entanto a sua avaliao foi realizada sempre pelo mesmo observador, minimizando este erro.

    MTODOS DE ANLISE DE DADOS

    Como se trata de um estudo exploratrio e descritivo foi utilizada estatstica descritiva por meio de tabelas de frequncia, parmetros de tendncia central e disperso, nomeadamente mdia, desvio padro, mnimos e mximos.

    A correlao entre as variveis qualitativas e a MG e MF foi feita atravs da aplicao do teste de Spearman.

    A comparao entre os dois grupos de idades atravs do teste Mann-Whitney.

    A estatstica grfica foi utilizada de acordo com os objetivos para uma melhor clarificao dos dados. A probabilidade de erro escolhida foi de p = 0.05.

    O sistema informtico utilizado no tratamento de dados foi o sistema SPSS, verso 19.

    APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    Os dados obtidos foram apresentados e discutidos da seguinte forma:

    - Procedeu-se primeiro a uma descrio individual sobre cada jovem, tendo em conta as informaes obtidas pelos seus encarregados de educao na ficha de recolha de dados demogrficos, pelos professores de educao especial e pela observao realizada na execuo das provas efectuadas (Anexo 4). Finalizou-se com um resumo global da amostra, realizada atravs de uma anlise de contedo, tendo em conta a anlise das informaes fornecidas por pais e professores. Foi tambm alvo de observao e quantificao a qualidade da prestao motora, quer global quer fina, dos jovens, a sua ateno, esforo e compreenso. A fiabilidade da anlise global confirmou-se atravs dos resultados da Bot-2.

    - Em seguida fez-se uma anlise dos resultados obtidos por cada jovem em cada subteste da BOT-2, cruzando-se estes dados com o resumo global da amostra e relacionaram-se as variveis qualitativas: ateno, fluidez do movimento, esforo e compreenso com a MF e a MG.

    - Verificou-se ainda se existem diferenas nos resultados da PM dos jovens com S.A., da amostra em estudo, quando comparados com jovens sem qualquer perturbao do movimento e com jovens com S.A.

    - Por ltimo, a amostra foi dividida em dois grupos: grupo dos mais novos (G1-8 anos e 4 meses -14 anos e 5 meses) e o grupo dos mais velhos (G2-14 anos e

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    6 meses e 18 anos e 5 meses) e foi feita a comparao entre estes para se verificar se existem diferenas na proficincia motora, pois espera-se que as crianas mais velhas tenham melhor desempenho que as mais novas.

    Resumo global da amostra

    De uma forma geral e em forma de concluso, pode referir-se em relao amostra em estudo, que a atitude relacional dos jovens foi considerada satisfatria em 7 jovens (1, 3, 5, 8, 9, 10 e 11) em virtude da existncia de uma certa reserva e timidez, boa em 3 (4, 6 e 7) e excelente no jovem 2.

    Com pouco contacto ocular existiram 6 jovens (1, 3, 5, 7, 8 e 9) e, estabelecendo um contacto ocular normal , verificaram-se 5 jovens (2, 6, 10, 4 e 11).

    Verificou-se que 5 jovens (1; 5, 7, 8 e 10) apresentaram uma pega do lpis que no funcional para a realizao da escrita, verificando-se em todos eles disgrafia e macrografia. A pega funcional do lpis foi apresentada por 6 jovens (2, 4, 6, 3 e 11).

    A lateralidade apresentou-se definida direita em ambos os membros (superior e inferior) em 6 jovens (1, 2, 4, 7, 8 e 10) e definida de forma cruzada em 4 jovens (3, 5, 9 e 11).

    Observaram-se 2 jovens (5 e 8) com muito pouca auto-estima e auto-confiana, assim como, grande dificuldade em lidar com a frustrao, fatores que influenciaram o seu nvel de prestao motora.

    Nos exerccios de motricidade global a realizao de movimentos foram executados com fraca coordenao, fluidez e agilidade, verificando-se movimentos de extenso exagerada dos membros superiores e afastamento exagerado dos membros inferiores, em 6 jovens (1, 5, 4, 9, 3, e 10). Ao contrrio, 5 jovens (2, 6, 7, 8 e 11), realizaram as atividades de motricidade global com alguma facilidade e destreza de movimentos.

    6 jovens (1, 2, 3, 6, 8 e 9) tiveram antecedentes de prtica de atividade fsica. Atualmente 9 jovens (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10) apenas praticam atividade fsica na escola, na disciplina de Educao Fsica e, s 2 (8 e 11), praticam na escola e no exterior.

    4 jovens (1, 3, 5 e 6) referem que no gostam de atividades desportivas e 7 referem gostar (2,4, 7, 10, 8, 9 e 11).

    Em relao medicao e apoio em psicomotricidade, verificou-se que no tomam qualquer tipo de medicao, 4 jovens (1, 3, 4 e 10) e 6 tomam medicao (2, 5, 6, 8, 9 e 11). Atualmente tm apoio em psicomotricidade 4 jovens (3, 6, 8 e 10), existindo 1 jovem (5), que foi acompanhado, mas que deixou este apoio e, 3 jovens (1, 2 e 6), que nunca tiveram este tipo de apoio. No se obteve informao neste aspeto em relao a 3 jovens (4, 7 e 9).

    Verificaram-se precocemente alteraes no desenvolvimento motor de 4 jovens (3, 6, 9 e 8), especificamente no que diz respeito a atividades que impliquem a motricidade fina, como apertar os atacadores e abotoar/desabotoar botes. No restante da amostra no se salientam quaisquer alteraes do comportamento motor.

    Especificamente nas provas do BOT-2, verificaram-se evidentes dificuldades motoras de 2 jovens (1 e 5) na prova de CVA - saltar em apoio unipodal; CB - saltar no mesmo stio mesmos lados sincronizados, por 2 jovens (4 e 10) salientando-se neste caso que 10 apenas conseguiu realizar um salto no mesmo stio; DM - transferir moedas (1 e 3), realizando movimentos muito lentos de transporte das moedas de uma mo para

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    a outra; E- manter-se sobre uma linha em apoio unipodal (5 e 8) e E - andar sobre uma linha (5 e 8). Na prova de CMS - driblar uma bola alternando mos, o jovem (5) apresentou grandes dificuldades de compreenso da execuo da tarefa em virtude do seu elevado nvel de desateno.

    Anlise dos resultados obtidos por cada jovem em cada subteste da BOT-2.

    Em relao aos resultados obtidos da aplicao da BOT-2 e em relao MF, verificaram-se os melhores resultados nas provas de preciso motora fina (PMF), seguida das provas de integrao motora fina (IMF) e destreza manual (DM), Figura 1.

    Figura 1 Resultados individuais dos jovens da amostra de estudo nos itens que compem a MF.

    Estes resultados vo de encontro ao observado, tendo-se verificado maiores facilidades de realizao nas provas de PMF, com excepo do jovem 8 que em virtude da sua imaturidade e relutncia a atividades que impliquem a utilizao do lpis e realizao de grafismos, obteve um resultado francamente baixo. Apesar de maior parte dos jovens realizar uma pega incorreta do lpis a prova de PMF- labirintos foi realizada com sucesso. O facto de no existir tempo de prova facilitou a realizao com sucesso.

    Verificaram-se maiores dificuldades nas provas de IMF, principalmente na prova: copiar uma estrela. Os resultados mais baixos foram atribudos aos jovens (5 e 8). Estas dificuldades talvez possam ser justificadas, pela dificuldade inerente a praticamente todos na coordenao culo-manual, visvel pela disgrafia e macrografia existentes.

    A prova de destreza motora foi a que obteve maior variabilidade de resultados intragrupo, com o desempenho mais fraco no jovem 8 e o melhor resultado em 2. Mais uma vez nesta prova a imaturidade de 8 assim como a sua dificuldade em lidar com a frustrao e relutncia escrita influenciaram a sua prestao motora. Ao contrrio, a segurana, maturidade e controle quer emocional quer motor do jovem 2 contriburam para o seu sucesso.

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    Amostra - indivduos

    Variveis - Motricidade Fina

    PMF1LAB PMF2DOB IMF1QUAD IMF2EST DM1MOE

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    Os fracos desempenhos na prova de DM podem ser explicados pelo facto de esta prova para alm da coordenao bilateral exigir velocidade de realizao, tendo sido a maior dificuldade dos jovens exatamente a velocidade de transferncia das moedas de uma mo para a outra, excepo do 2,

    Relativamente aos subitens que constituem a MF, verificou-se que a melhor prestao foi realizada na prova de PMF- desenhar linhas atravs de percursos-labirintos, com 90,9% da amostra a realizar a prova com sucesso, seguindo-se a prova de IMF- copiar um quadrado, com 81,8% da amostra a cumprir todos os critrios solicitados, 72,7% da amostra realizou com sucesso a prova de IMF- copiar uma estrela; 54,5% obteve sucesso na prova de PMF- dobrar papel e apenas 9,1% da amostra conseguiu atingir o objetivo estipulado para a prova de DM - transferir moedas, tendo nesta ltima o grosso da amostra obtido 27,3% com uma concretizao de 13-14 moedas transferidas, (Anexo 5).

    No que se refere MG, Figura 2, os resultados da prova de CB tiveram pouca variabilidade exceo dos resultados de 8 e 10, considerados bastante fracos. Nesta prova h a salientar a fraca qualidade na execuo do movimento, verificando-se movimentos muito amplos dos membros inferiores, com extenso exagerada dos membros superiores e com uma prestao motora sem ritmicidade.

    Figura 2 Resultados individuais dos jovens da amostra de estudo nos itens que compem a MG.

    Na prova de E verificaram-se maiores dificuldades de realizao por todos os jovens principalmente na prova E- manter-se em apoio unipodal sobre uma trave de olhos abertos.

    A prova de CMS no teve grande variabilidade de resultados intra-grupo. Na prova CMS- largar e apanhar a bola com as duas mos, foi tambm notria a fraca qualidade da execuo motora, verificando-se exagerada extenso e elevao dos membros superiores.

    A prova com resultados mais variados intra-grupo foi a prova de CVA, apresentando resultados muito baixos de alguns jovens (9, 5, e 8) e resultados muito bons de outros (2, 4 e 11). A prova com desempenhos mais fracos foi a prova de fora, principalmente

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    Amostra - indivduos

    Variveis - Motricidade Global

    CB1SALT CB2BAT E1LINHA E2UNIP CVA1

    CMS1APA CMS2DRIB F2AFLE F2AB

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    a prova, F- flexes de braos com pernas em flexo. A falta de prtica de exerccio fsico foi um dos factores que decerto influenciou o resultado desta prova.

    A anlise dos resultados nos subitens da MG, referem as melhores prestaes nas provas de CB - bater os ps e os dedos com ambos os lados alternadamente (90,9%), seguida da prova de CMS - largar e apanhar uma bola com as duas mos (81,8%), e E - andar sobre uma linha (72,7%).

    As provas com resultados mdios foram as de CVA - saltar no mesmo stio com ambos os lados alternados (63,6), Equilbrio - manter-se em apoio unipodal sobre uma trave- olhos abertos (45,5) e CMS - driblar uma bola alternando mos (45,5).

    Por ltimo as provas com desempenhos mais fracos foram as de F- flexes de braos com pernas em flexo e F- abdominais, ambas com apenas 9,1% de sucesso. Na primeira prova de fora o grosso da amostra situou-se nos 36,4% com 3-5 flexes realizadas e na segunda o grosso da amostra situou-se nos 27,3% com 6-10 abdominais realizados, (Anexo 6).

    Os resultados mais fracos do jovem 8 tanto na MF como na MG, explicam-se pela sua imaturidade, grande dificuldade em lidar com a frustrao, desistindo mesmo antes de iniciar a tarefa, dificuldades em cumprir regras, baixa auto-estima e auto-confiana e diagnstico associado de perturbao de dfice de ateno e concentrao. Este um jovem com capacidades motoras, mas que em virtude de todos estes factores, obteve resultados muito baixos na sua proficincia motora. O segundo resultado mais baixo tambm se deveu a um jovem com semelhante caracterizao, 5, que embora um pouco mais velho, possua uma baixa auto-estima uma problemtica associada de perturbao da ateno e hiperatividade e pouca capacidade de lidar com a frustrao, desistindo facilmente. O facto de no estar medicado na altura em que realizou as provas tambm pode ter sido um factor agravante dos seus fracos resultados.

    No que diz respeito s variveis qualitativas, Tabela 6, verificou-se que 2 jovens apresentaram nveis de ateno bons (1 e 4), 7 excelentes (2, 3, 6, 7, 9, 10 e 11), 1 mdio (5) e1 fraco (8).

    Tabela 6 - Resultados das variveis qualitativas, por observao do aplicador

    Variveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

    Ateno 3 4 4 3 2 4 4 1 4 4 4

    Fuidez do movimento

    2 3 2 2 1 3 3 3 2 2 3

    Esforo 2 4 3 3 2 4 3 1 4 3 3

    Compreenso 4 4 4 4 2 4 4 2 3 4 4

    Legenda:

    1-fraco; 2-mdio;3-bom;4-excelente

    A varivel, fluidez de movimentos, foi a varivel que obteve entre os resultados dos jovens, valores mais idnticos e mais baixos. Nenhum jovem da amostra obteve o nvel mximo - excelente e apenas um obteve o valor mais baixo - fraco (J.J), situando-se o restante da amostra, com cinco resultados mdios (1, 3, 4, 9, 10) e cinco bons (2, 6, 7, 8, 11).

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    Os resultados na varivel esforo foram bastante diferentes intra-grupo, com 3 resultados excelentes (2, 6 e 9), 5 bons (3, 4, 7, 10 e 11), 2 valores mdios (1 e 5) e 1 valor fraco (8).

    A varivel compreenso foi a que obteve valores mais elevados, com 8 jovens da amostra com excelente (1, 2, 3, 4, 6, 7, 10 e 11), 1 com bom (9) e dois com mdio (5 e 8).

    A percentagem de resultados mais elevados, tabela 7, situaram-se ao nvel da varivel compreenso com 72,7% de excelentes, seguindo-se da varivel ateno com 63,3%, a varivel esforo com 27,3% e por ltimo a varivel fluidez de movimento sem qualquer qualificao de excelente. Os nveis fracos atribudos foram muito poucos, situando-se numa percentagem de 9,1% para todas as variveis exceo da varivel compreenso que obteve 0% de fracos.

    Tabela 7 Percentagens atribudas s variveis qualitativas

    Variveis Fraco Mdio Bom Excelente

    Ateno 9,1 9,1 18,2 63,3

    Fluidez do movimento

    9,1 45,5 45,5 0

    Esforo 9,1 18,2 45,5 27,3

    Compreenso 0 18,2 9,1 72,7

    Os resultados obtidos pela amostra em estudo em relao varivel ateno surpreenderam, visto que a literatura cientfica aponta para dificuldades na ateno em grande parte das crianas e jovens com S.A. (Nyden et al., 1999) e a amostra apesar de pequena, teve uma elevada percentagem de nveis excelentes. Os jovens com resultados mais fracos nesta varivel possuem associado o diagnstico de perturbao de hiperatividade e dfice de ateno, o que tambm vai de encontro aos estudos realizados que prevem que 75% das crianas tm um perfil de capacidades de aprendizagem indicativo de um diagnstico adicional de perturbao de dfice de ateno (Fein et al. 2005; Goldstein e Schwebach 2004; Hlotmann, Bolte e Poustka 2005; Nyden et al 1999; Scatz, Weimer e Trauner 2002; Sturm, fernell e Gillberg 2004; Yoshida e Uchiyama 2004, cit. Attwood, p. 298).

    Todos os jovens da amostra possuem dificuldades motoras, que se verificam ou ao nvel da MF, ou da MG, ou de ambas, com um dfice na coordenao motora geral, indo de encontro opinio dos autores (Ehlers & Gillberg, 1993; Ghaziuddin et al., 1994; Gillberg & Gillberg, 1989; Szatmari et al., 1990; Tantam, 1991). Esta confirmao vem dar consistncia s dvidas at ento existentes em relao a considerar-se ou no a disfuno motora como um critrio de diagnstico da S.A., que, como muitos autores referem, deveria ser tida em conta (Wing (1981), Gilberg (1991), Tantam (1988).

    O perfil motor dos jovens idntico, situando-se as suas dificuldades de uma forma geral em todas as reas da MF e MG, mas verificando-se que existem reas de maiores dificuldades, como a da IMF, DM e E, principalmente o equilbrio unipodal (Gunter, Ghaziuddin & Ellis, 2002; Manjiviona & Prior, 1995; Miyara et al.,1997; Gillberg, 1989, Manjiviona & Prior, 1995; Tantam, 1991, Grandim 1992).

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    A dificuldade na atividade de destreza manual prendeu-se especificamente com a velocidade de realizao da tarefa, indo de encontro opinio de Nass & Gutman, 1997; Szatmari et al., que referem menor velocidade na realizao de tarefas manuais nos jovens com S.A.

    A falta de sincronia no movimento de braos e pernas (Gillberg, 1989; Hallet et al., 1993) verificou-se na realizao da prova de saltar no mesmo stio mesmos lados sincronizados, com movimentos rgidos, sem ritmicidade.

    Muito evidentes foram as dificuldades na escrita, apresentando grande parte dos jovens disgrafia e macrografia (Beversdorf et al., 2001). Segundo torres e Fernndez (2002) a disgrafia considerada uma dificuldade de tipo funcional que afeta a qualidade da escrita do individuo no traado ou no grafismo, existindo o maior nmero de casos no sexo masculino. Cruz (1999, cit Silva, Elvira, p.97), refere que a disgrafia est relacionada com a codificao escrita, isto , com problemas de execuo grfica e de escrita de palavras, devido a uma desordem resultante de um distrbio de integrao visuo-motora. Considera que embora no exista defeito visual ou motor, existem dificuldades de realizao relacionadas com a codificao da escrita e problemas de execuo grfica, existindo uma incapacidade de transmitir as informaes visuais ao sistema motor, devido a uma disfuno neurolgica ligeira. Johnson e Mykelebust (1991, 1999) e Kirk e Chalfant (1984,1999), tambm vo de encontro a esta perspetiva.

    Chauzaud (1987) e Ajuriaguerra (1991), referem que a disgrafia pode estar associada a vrias dificuldades, tais como, a desordem da organizao motora, instabilidade, perturbaes leves da organizao cintica e tnica, desordem espao-temporal, perturbao da linguagem e da leitura, distrbios emocionais, cibras nas mos, paratonia, dificuldades de lateralizao e sintomas neurticos na conduta.

    Fonseca (1989), relaciona tambm o desenvolvimento e aquisio da preenso com a especializao da dominncia lateral referindo que enquanto se aperfeioa a preenso vai-se definindo a dominncia lateral, podendo considerar-se que existe uma relao entre o aperfeioamento da preenso e o aparecimento da dominncia lateral.

    Correlao das variveis qualitativas, ateno, esforo, compreenso e fluidez do movimento com as variveis da MF e da MG.

    O estudo da correlao entre as variveis qualitativas quando relacionadas com as variveis da MG e da MF e por conseguinte com a proficincia motora dos jovens, Tabela 8, mostra que existe uma correlao significativa da varivel ateno e esforo quando relacionadas com a M.F com p entre 0,05 e 0,01 e que no existe correlao significativa na sua relao com a M.G.

    A varivel compreenso apresenta uma correlao altamente significativa quando relacionada com a MG com P

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    Tabela 8 - Correlao das variveis: ateno, esforo, compreenso e fluidez do movimento quando relacionadas com a motricidade fina e motricidade global.

    Variveis Motricidade Fina Motricidade Global

    Ateno ,691* ,507

    Esforo ,727* ,563

    Compreenso ,468 ,787**

    Fluidez do movimento ,438 ,399

    Legenda:

    * correlao significativa para 0,05

    ** correlao significativa para 0,01

    As correlaes verificadas nas variveis qualitativas vo de encontro aos resultados observados pelos jovens da amostra de estudo, pois, os jovens com menores nveis de ateno (8 e 5), esforo (8, 1 e 5) e compreenso da tarefa (8 e 5), foram os que obtiveram desempenhos motores mais fracos quer ao nvel da motricidade global quer fina.

    O resultado obtido para a correlao no significativa da varivel fluidez do movimento poder ser explicado pelo facto de este teste no considerar a qualidade da prestao motora ao quantificar os resultados como xitos/inxitos. No entanto, da observao realizada, depreendeu-se que este factor altamente influencivel na qualidade da execuo motora principalmente no que se refere s atividades de motricidade global.

    Verificao de diferenas nos resultados da PM dos jovens com S.A., da amostra em estudo, quando comparados com jovens da mesma idade, sem qualquer perturbao do movimento e com jovens com S.A. apresentados na BOT-2

    No que diz respeito aos valores da PM dos jovens com S.A. quando comparados com jovens sem perturbaes de movimento e com as mesmas idades, Tabela 9.

    Tabela 9 - Proficincia motora dos jovens da amostra de estudo quando comparada com jovens sem perturbaes do movimento, com as mesmas idades.

    Am

    ostr

    a

    Idad

    e/M

    eses

    Co

    ntr

    olo

    Ma

    nu

    al

    fin

    o

    Co

    ord

    en

    a

    o

    ma

    nu

    al

    Co

    ord

    en

    a

    o

    co

    rpo

    ral

    for

    a -

    agili

    dad

    e

    S

    tand

    art

    sco

    re

    Perc

    entil

    1 14,4 5 20 4 20 6 20 3 20 20

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

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    media

    6 16,1 5 20 4 20 5 20 3 20 20

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

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    Corrida de velocidade e agilidade 1,55 8,9

    Coordenao dos membros superiores 3,09 8,9

    Fora 2,91 8,2

    Anlise de resultados entre dois grupos de idades diferentes

    Em relao ao estudo entre dois grupos de idades diferentes: grupo dos mais novos (G1- 8 anos e 4 meses/14 anos e 5 meses) e o grupo dos mais velhos (G2- 14 anos e 6 meses /18 anos e 5 meses), utilizando-se um nvel de significncia de p=0.05, Tabela 11, refere que no existem diferenas significativas entre o grupo G1 e o grupo G2 em nenhuma das variveis que compem a MF.

    Tabela 11- Comparao dos resultados das componentes da motricidade fina, motricidade global e proficincia motora entre dois grupos de idades distintas.G1-grupo dos mais novos e G2-grupo dos mais velhos, com o teste de Mann-Whitney.

    PMF

    IMF

    DM

    CB

    E

    CVA

    CMS

    F

    MF

    MG

    PM

    Nvel

    Correlao

    ,369

    ,763

    ,578

    ,750

    ,698

    ,457

    ,156

    ,017

    ,459

    ,233

    ,314

    Legenda:

    Nvel de significncia de p=0,05

    No que diz respeito MG, verificaram-se diferenas significativas na prova de abdominais (,005) e por conseguinte no subteste fora.

    No se verificaram diferenas significativas na proficincia motora entre o grupo G1 e o grupo G2. Ao contrrio do que seria de esperar - o grupo G2 obter melhores resultados de PM do que o grupo G1 -, isto no se verificou.

    Os resultados encontrados no vo de encontro literatura consultada, pois seria de esperar que o G2 obtivesse melhores resultados do que o G1, visto que o desenvolvimento das vrias competncias psicomotoras est dependente e influenciado pelo crescimento e maturao fisiolgica e neuromuscular (Maline, 2004, cit. Duarte, Cludia, 2011, s.p.).

    De acordo com Morato (1986) a proficincia motora, definida como o desempenho ou performance numa ampla variedade de situaes ou tarefas motoras, tende a aumentar com a idade (cit. Duarte, Cludia, 2011, p.1).

    CONCLUSO DOS RESULTADOS

    De acordo com a literatura consultada e tendo em conta o estudo descritivo e exploratrio realizado, verificou-se que a disfuno motora esteve presente em todos os indivduos com S.A. da amostra em estudo, influenciando grandemente a sua proficincia motora.

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

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    Todos os jovens da amostra apresentam dificuldades motoras, que se verificam ao nvel da motricidade fina, da motricidade global ou de ambas, com um dfice na coordenao motora geral e por conseguinte da sua proficincia motora, o que vai de encontro a Ehlers & Gillberg, 1993; Ghaziuddin et al., 1994; Gillberg & Gillberg, 1989; Szatmari et al., 1990; Tantam, 1991.

    Neste grupo, ao nvel das atividades de motricidade fina, verificou-se que as reas de maiores dificuldades situaram-se primeiro, ao nvel da destreza manual, seguindo-se a integrao motora fina e a preciso motora fina. Ao nvel da motricidade global, as reas de maiores dificuldades situaram-se primeiro, ao nvel da fora, seguindo-se a coordenao bilateral, equilbrio, coordenao dos membros superiores e corrida de velocidade e agilidade.

    As dificuldades nas atividades de equilbrio e coordenao bilateral so justificadas pela problemtica neurolgica inerente sndrome de Asperger, sendo as dificuldades encontradas na fora explicadas pelos baixos ndices de prtica frequente de atividade fsica desde as idades mais baixas e devido falta de oportunidades e experincias prticas.

    Os resultados da prova de fora evidenciam a importncia da realizao de actividade fsica, pois o fraco nvel de fora verificado e apresentado pelos jovens, quer nos membros superiores quer inferiores, apenas se deve falta de exerccio fsico regular. A acentuada atitude ciftica observada em alguns jovens, refora o pressuposto de que a falta de fora muscular ao nvel do tronco implica que a atitude ortoesttica correta no suportada.

    A qualidade da execuo motora, evidente nas provas de motricidade global, esteve muito aqum da desejada para estas faixas etrias.

    A variabilidade verificada nas dificuldades motoras no permite definir um perfil motor tpico na S.A., mas sim identificar reas de dificuldades em habilidades motoras especficas.

    A proficincia motora dos jovens com S.A. foi considerada muito abaixo da proficincia motora de jovens, com as mesmas idades, sem perturbaes do movimento. O facto da amostra ser reduzida e heterognea em termos de idades, no foi possvel realizar-se uma comparao tima da proficincia motora entre jovens com as mesmas idades.

    Os jovens com S.A. apresentaram diferenas na sua proficincia motora quando comparados com os jovens da amostra da BOT-2, com a mesma problemtica.

    Alm disso, a intensidade e variabilidade das dificuldades individuais verificadas teve como resultado que a comparao realizada entre a proficincia motora do grupo dos mais velhos e a proficincia motora do grupo dos mais novos no apresentou diferenas significativas, ao contrrio do que seria de prever segundo a literatura existente.

    Foi interessante verificar que nas variveis compreenso, fluidez do movimento e esforo obtiveram percentagens de sucesso bastante elevadas, com resultados esperados. Na varivel ateno os resultados surpreenderam. As dificuldades de realizao de prestao motora foram evidentes quer na motricidade fina quer na motricidade global; isto refora a concluso de que, apesar de o jovem com S.A. possuir nveis de ateno, esforo e compreenso bastante bons, falha na execuo motora.

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

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    Verificou-se correlao significativa das variveis ateno e esforo com a MF, correlao altamente significativa da varivel compreenso com a MG e correlao no significativa na fluidez do movimento quer com a MF quer com a MG

    Estas dificuldades, por diminutas que sejam, refletem-se na adaptao e socializao da criana desde muito cedo. Geralmente so diagnosticadas na entrada para a escola primria (apesar de poderem ser detetadas logo aos seis meses de idade), atravs da disgrafia existente, lentido na escrita, dificuldades em atividades da vida diria, como apertar os atacadores dos sapatos e apertar botes e excluso das atividades ldicas de grupo. Estas dificuldades interferem significativamente na autonomia e socializao da criana, sendo motivo de excluso das atividades dos grupos de pares e, por conseguinte, motivo de baixa auto-estima, baixa auto-confiana e de falta de experincias prticas.

    Assim, a avaliao do perfil motor e psicomotor de crianas uma mais valia, pois permite realizar um levantamento das suas reas fracas e fortes, detetando-se dificuldades especficas e prevenindo-se o agravamento e desajustamento destas atravs da elaborao e da implementao de planos de interveno precoces e adequados s caratersticas e necessidades de cada criana. Diminuir os dfices motores ser assim importante na qualidade de vida das crianas e jovens diminuindo-se o rol de problemas acrescidos destes jovens e melhorando-se a sua participao nas actividades fsicas escolares ou comunitrias. Este estudo assim mais um contributo para a compreenso do desenvolvimento motor das crianas e jovens com S.A.

    O instrumento de avaliao escolhido (BOT-2, forma reduzida), apesar de no se encontrar normalizado para a populao portuguesa, foi de encontro aos objetivos definidos para este estudo. Sendo sensvel s reas mais deficitrias, identificou as de maiores dificuldades, permitindo verificar a sua repetibilidade nos jovens com S.A., quer com as mesmas idades, quer com idades diferentes.

    Parece de referir neste momento algumas dificuldades sentidas pelo avaliador aquando da aplicao do instrumento de avaliao BOT-2, forma reduzida:

    Seria benfica a optimizao da avaliao das variveis ateno, esforo, compreenso e fluidez do movimento atravs da quantificao dos critrios qualitativos, de forma a eliminar da avaliao o factor subjectividade. Poderia ainda, eventualmente, estabelecer-se mais um nvel de desempenho entre o nvel Bom e o nvel Excelente, por exemplo o nvel Muito bom.

    O facto de algumas provas permitirem duas tentativas em caso de erro na execuo da primeira, faz com que dois jovens possam obter o mesmo resultado final, com um nmero de execues diferente e eventualmente com qualidade de movimentos diferente. Esta situao no contemplada aquando da quantificao dos resultados, pelo que podemos ter jovens com os mesmos ou com melhores resultados, na mesma prova, mas com tentativas de execuo diferentes.

    Observou-se ainda que o facto de estas provas serem as mesmas para todos os jovens e abrangerem uma faixa etria bastante alargada tem como resultado que, se para uns, as provas se mostram motivantes (idades mais novas), para os jovens com mais idade as provas so consideradas fceis demais, diminuindo o seu nvel de interesse e empenho na realizao das actividades propostas. Na S.A. esta situao facilmente acontece, pois a falta de motivao para actividades que a criana no considera interessantes uma das caractersticas da sndrome.

    E, finalmente, refere-se que, aps a aplicao dos testes a esta amostra de estudo, se concluiu que alguns dos jovens necessitavam que lhes tivesse sido aplicada a forma

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    29

    longa da BOT-2, pois verificou-se que, em virtude de alguns fatores que influenciaram a sua prestao motora, os seus resultados seriam mais consistentes. Deste modo, este mesmo estudo poder ser aprofundado para cada um dos jovens da amostra, aplicando-se quer a forma longa da BOT-2, quer os novos critrios de diagnstico para as perturbaes do espetro autista que se propem ser apresentados em 2013 e que decerto traro novos conceitos e uma compreenso mais esclarecida no que diz respeito s caractersticas do autismo de elevado funcionamento.

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  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    32

    Anexos

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    33

    Anexo 1

    Pedido de participao no estudo em causa aos encarregados de educao

    Boa Tarde,

    Sou professora de Educao Especial do Agrupamento de escolas de Conde de

    Oeiras e encontro-me a realizar o 2 ano do Mestrado em Reabilitao Psicomotora,

    sob a orientao da Professora Doutora Ana Rodrigues, da Faculdade de Motricidade

    Humana.

    Propus-me fazer um estudo Descritivo e Comparativo da PROFICINCIA MOTORA

    EM CRIANAS E JOVENS COM SNDROME DE ASPERGER com base na

    aplicao da bateria de testes de Bruininks-Oseretsky.

    Estudos de investigao sugerem que 50 a 90 % das crianas e adultos com Sndrome de Asperger tm problemas de coordenao motora. A observao do comportamento da criana nos primeiros anos de vida mostra-nos que o primeiro sistema de sinais, muito antes do desenvolvimento social e da comunicao se faz pelos gestos e pelo movimento, sendo assim que a criana inicia a sua conquista do mundo exterior. Assim o reconhecimento de que algo no est bem no desenvolvimento da criana observado logo durante os primeiros anos desta em virtude da existncia de disfunes no seu comportamento motor sendo a deteco precoce das perturbaes motoras e a identificao do tipo de disfuno, indicadores preciosos para o diagnstico e interveno nas perturbaes do espectro autista e por conseguinte, na Sndrome de Asperger. Na sequncia deste estudo, venho solicitar a vossa disponibilidade para o preenchimento de uma ficha de recolha de dados e, autorizao para poder aplicar a bateria de testes de Bruininks - Oserestsky aos vossos educandos. Esta bateria de testes tem sido o mtodo de medio normalizado mais utilizado, desde a sua publicao em 1978, porque fornece informaes acerca de um amplo espectro de capacidades motoras e consegue identificar dfices da capacidade motora em indivduos com problemas leves a moderados de controlo motor, de fcil aplicao e notao e divertido para os examinandos. constituda por um conjunto de provas prticas em que nenhuma agressiva ou ter quaisquer consequncias negativas para o aluno que as realiza. Todas as provas sero demonstradas e explicadas ao aluno e a bateria demora sensivelmente 20 a 30 minutos a ser realizada. Os resultados sero confidenciais. O local de realizao das provas ser nas instalaes da Faculdade de Motricidade Humana, na Cruz Quebrada, em horrio e dia a combinar. A ficha de recolha de dados poder-me- ser entregue no dia da realizao da bateria de testes do seu educando ou enviada por email, caso prefira.

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    34

    Exemplo das provas prticas: - Desenhar linhas atravs de percursos - Dobrar papel - Copiar um quadrado - Transferir moedas de uma caixa para outra - Saltar no mesmo stio - Andar sobre uma linha traada no solo - Manter-se em apoio unipodal sobre uma trave - Largar e apanhar uma bola - Realizar flexes de braos - Realizar abdominais Durante o perodo de realizao da prova do seu educando poder passear pelo complexo desportivo do Jamor (estdio nacional), que possui uma zona verde muito bonita e agradvel, onde possvel caminhar, correr, ou realizar o circuito de manuteno. Existe tambm um ginsio de exterior e actividades que podem ser vistas, como a canoagem e a natao, nas piscinas. No interior do complexo das piscinas existe um mini ginsio para os mais pequenos. Os meus contactos so respectivamente: Email: [email protected] Telemvel: 969235807 Muito obrigada Eduarda Correia

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    35

    Anexo 2

    Ficha de registo de dados da forma reduzida da bateria de testes de Bruininks-

    Oserestsky

    Nome Examinando_____

    Gnero____Ano de

    Escolaridade

    Escola_________________

    Nome do Examinador_____

    Forma Reduzida

    Subteste 1: Preciso Motora Fina Res.

    Bruto Resultado

    3 Desenhar Linhas Atravs de Percursos - Labirinto

    erros

    Bruto 21 15-20 10-14 6-9 4-5 2-3 1 0

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7

    6 Dobrar Papel

    pontos

    Bruto 0 1-2 3-4 5-6 7-8 9-10 11 12

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7

    Subteste 2: Integrao Motora

    Fina

    Forma

    Bsica

    Fecho Bordas Orientao Sobre-

    posio

    Dimenso

    Global

    Res.

    Bruto

    2 Copiar um Quadrado

    0 1

    0 1

    0 1

    0 1

    0 1

    7 Copiar uma Estrela

    0 1

    0 1

    0 1 0 1

    0 1

    Subteste 3: Destreza Manual Res. Bruto

    Ensaio 1 Ensaio 2

    2 Transferir Moedas

    moedas

    moedas

    Bruto

    0-2 3-4

    5-6

    7-8

    9-10

    11-12

    13-14

    15-16 17-18

    19-20

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

    Subteste 4: Coordenao Bilateral Res. Bruto

    Ensaio 1 Ensaio 2

    3 Saltar no Mesmo Stio

    Mesmos lados,

    Bruto 0 1 2-4 5

    Pontos 0 1 2 3

    Ano Ms Dia

    Data da Avaliao _______ _______ _______

    Data de Nascimento _______ _______ _______

    Idade Cronolgica _______ _______ _______

    Mo Preferida no Desenho: Direita

    Esquerda

    Mo/Brao Preferido no Lanamento: Direita Esquerda

    P/Perna Preferida: Direita Esquerda

    TPMBO 2 Teste de Proficincia Motora de Bruininks-Oseretsky

    Traduo e adaptao da 2 Edio Revista e Actualizada do Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency de

    Bruininks & Bruininks (2005). Exclusivamente para fins de investigao. C. Duarte, J. Carvalho, A. Rodrigues & P.

    Morato.

    (Adaptado por Doutora Ana Nascimento Rodrigues e Cludia Duarte para efeitos de estudo,

    do School Situations Questionnaire, Barkley, R. & Benton, C., 2007)

    15 seg

  • Proficincia Motora em Crianas e Jovens com Sndrome de Asperger

    36

    sincronizados saltos saltos

    6 Bater os Ps e os Dedos

    Mesmos lados,

    sincronizados

    batidas

    batidas

    Bruto 0 1 2-4 5-9 10

    Pontos 0 1 2 3 4

    Subteste 5: Equilbrio Res. Bruto

    Ensaio 1 Ensaio 2

    2 Andar sobre uma Linha

    passos

    passos

    Bruto 0 1-2 3-4 5 6

    Pontos 0 1 2 3 4

    7

    Manter-se em Apoio

    Unipodal sobre

    uma Trave

    Olhos Abertos

    segs.

    segs.

    Bruto 0.0-0.9 1.0-2.9 3.0-5.9 6.0-9.9 10

    Pontos 0 1 2 3 4

    Subteste 6: Corrida de

    Velocidade e Agilidade

    Res. Bruto

    Ensaio 1 Ensaio 1

    3 Saltar em Apoio

    Unipodal no

    Mesmo Stio

    saltos

    saltos

    Bruto 0 1-2 3-5 6-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-39 40-49 50

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    Subteste 7: Coordenao dos

    Membros Superiores

    Res. Bruto

    Ensaio 1 Ensaio 1

    1 Largar e Apanhar a Bola

    Duas Mos

    capturas

    Bruto 0 1 2 3 4 5

    Pontos 0 1 2 3 4 5

    6 Driblar uma Bola

    Alternando Mos

    dribles

    dribles

    Bruto 0 1 2 3 4-5 6-7 8-9 10

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7

    Subteste 8: Fora Res. Bruto

    2a Flexes de Braos

    Pernas em

    Flexo

    Ou (circundar

    um)

    Flexes de Braos

    Pernas em Extenso

    flexes

    Bruto

    0

    1-2

    3-5

    6-10

    11-15

    16-20

    21-25

    26-30

    31-35

    36

    2b

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

    3 Abdominais

    abdominais

    Bruto 0

    1-2

    3-5

    6-10

    11-15

    16-20

    21-25

    26-30

    31-35

    36

    Pontos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

    Resultado Total Forma Reduzida

    (Max=88)

    (max=88)

    10 seg

    15 seg

    30 seg

    30 seg

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    Observaes Comportamentais e Outras

    Existem algumas consideraes que podem ter afectado a preciso dos

    resultados?_____________________________________________________________________

    Foram realizadas adaptaes para deficincias

    fsicas?________________________________________________________________________

    Fraco Mdio Bom Excelente

    Ateno 1 2 3 4

    Fluidez do Movimento 1 2 3 4

    Empenho 1 2 3 4

    Compreenso 1 2 3 4

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    Anexo 3

    Ficha de recolha de dados demogrficos

    Ficha para recolha de dados demogrficos

    Escola:______________________________________________________________________

    Nome do examinador: Eduarda Correia

    Data da Avaliao: ____/____/____

    Nome do examinado:_________________________________________________________

    Gnero:__________ Data de Nascimento: ____/____/_____ Idade Cronolgica:________

    Diagnstico:_________________________________________________________________

    A preencher pelo examinador

    Preferncia: Mo, no desenho: Dir./Esq. Mo/ Brao, no lanamento: Dir./Esq. P/Perna: Dir./Esq.

    A preencher pelo examinado (aluno)

    Pratica algum desporto/actividade fsica? _________________________________________ Que modalidade/s:_______________________________Desde quando?(idade)__________ Sente prazer em realizar exerccio fsico?_______________Porqu?____________________

    Sente alguma dificuldade quando realiza actividade fsica?______________Qual?__________

    Prefere a prtica de desportos individuais ou colectivos?__________ Porqu?_____________

    Como ocupa os seus tempos livres?______________________________________________

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    Na escola, durante os intervalos, como costuma ocupar o seu tempo?____________________

    Neste momento, sente dificuldade quando executa alguma das seguintes tarefas?

    Muita Dificuldade

    Alguma Dificuldade

    Nenhuma Dificuldade

    Vestir

    Despir

    Desabotoar botes

    Abotoar botes

    Abrir fechos

    Fechar fechos

    Fazer laos (Tnis)

    Escrever

    Recortar

    Muito obrigada pela tua participao

    A preencher pelo pai/ me

    Identificao Me - Data de Nasc:____/____/_____Profisso:____________ Pai - Data de Nasc:____/____/______Profisso:____________ Irmos N irmos :_____Mais velhos: ____Sexo:________Mais novos: _____Sexo:_________

    Histria Clnica Diagnstico: _________________________________________________________________ Etiologia provvel:_____________________________________________________________ Quando foi detectada: ___________________________ Por quem:_____________________ Toma alguma medicao?______________________________________________________ Problemas associados:________________________________________________________

    Histria do desenvolvimento (Assinale com um X e se possvel, refira a idade a que a criana fez as seguintes aquisies) Mostra resposta me:________________________________________________________ Em decbito ventral (barriga para baixo)suporta a cabea:_____________________________

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    Senta-se sozinha:_____________________________________________________________ Anda de gatas:_______________________________________________________________ Marcha independentemente:____________________________________________________ Sobe escadas:_______________________________________________________________ Come com o garfo ou colher:____________________________________________________ Bebe por um copo:____________________________________________________________ Veste alguma pea de vesturio independentemente:________________________________ Pede para fazer as necessidades:_______________________________________________ Outras aquisies que julgue de interesse referir:__________________________________ Muito obrigada pela sua participao!

    Anexo 4

    Descrio individual sobre cada jovem da amostra em estudo

    1 - Jovem reservado. No fez contacto ocular. Comeou por se mostrar interessado na realizao das provas mas depressa mostrou desinteresse por considerar as provas fceis demais. Apesar de parecer alheado, o seu nvel de ateno foi muito bom e mostrou um excelente nvel de compreenso das tarefas. A pega no lpis apesar de digital no funcional. A sua lateralidade est definida direita. Marcha normal com abaixamento da cabea. Atitude postural evidenciando hipercifose dorsal. Postura rgida na execuo dos movimentos, evidenciando extenso exagerada quer dos membros superiores quer inferiores e rigidez postural no tronco. Todos os exerccios foram feitos com fraca agilidade e fluidez de movimentos. No teste de Corrida de velocidade e agilidade - saltar em apoio unipodal no mesmo stio, a qualidade do movimento, na realizao da prova, foi bastante fraco. No teste de destreza manual-transferir moedas, realizou a atividade com um ritmo muito lento de execuo. Praticou natao mas actualmente no pratica qualquer actividade desportiva a no ser a Educao Fsica na escola. No aprecia actividades desportivas, prefere estar ao computador. No toma medicao.

    2 - Jovem extremamente simptico e com uma atitude relacional excelente. Fez contato ocular. Mostrou-se sempre interessado e participativo na realizao das provas. Nveis de ateno e compreenso das tarefas muito bons. Realizao de movimentos graciosos e geis. As actividades de MF foram realizadas com qualidade de execuo. Pega no lpis funcional. A sua lateralidade est definida direita. Marcha normal. muito bom aluno a Educao Visual e Tecnolgica e no tem dificuldades na realizao da disciplina de Educao Fsica. Apesar de no praticar actualmente nenhuma actividade fsica, a no ser na escola, gosta de o fazer. Ocupa os seus tempos livres a ler, ouvir msica, ver televiso, jogar videojogos, computador, tocar guitarra e piano. Toma medicao para a depresso. O seu desenvolvimento motor decorreu normalmente sem dificuldades a mencionar. No seguido em nenhuma terapia. No foi seguido em psicomotricidade.

    3 - Comeou por apresentar-se reservado e distante, sem contato ocular. Aos poucos, no decorrer da sesso, mostrou-se participativo, interessado e expectante. Interagiu

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    muito bem. Iniciou o contacto ocular, embora no o fizesse sistematicamente. Os seus nveis de ateno e compreenso foram muito bons. Realizao de movimentos lentos e com pouca destreza e agilidade. Lateralidade do membro superior definida direita e do membro inferior esquerda. De momento no pratica nenhuma actividade fsica, a no ser na escola, mas tambm no gosta. Fez natao entre os 3 e os 12 anos, mas continua com algumas dificuldades nas tcnicas de nado. Tem preferncia pela prtica de desportos individuais. Ocupa os seus tempos livres jogando PS3 e computador. No seu desenvolvimento motor h a referir a verificao de descoordenao motora na corrida e maiores dificuldades nas actividades que impliquem a MF, especificamente o recortar, utilizao dos talheres, utilizao do compasso e rgua. A sua pega do lpis no funcional causando disgrafia. No toma medicao. seguido uma vez por semana num centro de desenvolvimento.

    4 - Jovem simptico e com uma boa atitude relacional. Mostrou-se interessado e empenhado nas actividades, apresentando um nvel de ateno e compreenso muito bons. Movimentos realizados com alguma fluidez e agilidade, no entanto, na prova de coordenao bilateral saltar no mesmo stio, foi notria a rigidez postural, com extenso exagerada