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Educação FOLHA DIRIGIDA www.folhadirigida.com.br 12 a 18 de janeiro de 2012 CADERNO DE carentes de valorização Professores RENATO DECCACHE [email protected] T em sido cada vez mais comum a realização, por secretarias de educação, palestras para gru- pos de professores, como for- ma de contribuir para que os profissionais tenham acesso a novas con- cepções educacionais. Com isto, alguns especialistas têm a oportunidade de per- correr várias cidades e ter contato com docentes de realidades e perfis os mais diferenciados. É o que acontece, por exemplo, com o educador João Beauclair, que é palestran- te e conferencista Internacional sobre temas motivacionais, organizacionais, educacionais e psicopedagógicos, e pro- fessor de cursos de pós-graduação, capa- citação e formação continuada de edu- cadores. Ao ser perguntado sobre do que percebe que sentem mais falta os pro- fessores com os quais tem contato, ele foi categórico: valorização por parte do poder público, não só em relação a sa- lários, mas em termos de qualificação. “O desafio, no que concerne à elabo- ração de políticas públicas efetivas, é criar novos modelos de formação em serviço, validando as histórias de vida dos educadores e reforçando sua im- portante tarefa de formar pessoas”, destaca o educador. Autor do livro Do Fracasso Escolar ao Su- cesso na Aprendizagem: proposições psicopedagógicas(Ed. WAK), João Beauclair aborda, nesta entrevista, os obstáculos que os estudantes enfrentam para alcan- çarem o aprendizado, analisa as relações entre famílias e escolas e estudantes, e destaca a importância dos limites no processo educacional. “Sem limites, não há possibilidades de construção de bons hábitos, boas manei- ras, boas atitudes. Transferir este respon- sabilidade somente para os professores é injusto”, destacou o especialista. — O SENHOR É AUTOR DO LIVRO DO FRACAS- SO ESCOLAR AO SUCESSO NA APRENDIZA- GEM: PROPOSIÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS. NA ESCOLA, O QUE PODE FAZER A DIFERENÇA PARA QUE O ALUNO REALMENTE CONSIGA APRENDER? João Beauclair — Acredito que na es- cola e na prática educativa, sejam elas em qualquer nível e modalidade, o que pode fazer a diferença para que o alu- no efetivamente aprenda é a construção de vínculos saudáveis com a informa- ção, com o conhecimento e com a sa- bedoria. Vivemos em um tempo onde há excesso de informação, algum conhe- cimento e uma grande escassez de sa- bedoria. Desafios para as instituições que educam e para os educadores é fa- zer a mediação desta tríade de modo vincular e significativo. — A SEU VER, QUE ASPECTOS SÃO DETER- MINANTES PARA O CHAMADO FRACASSO ESCOLAR? A expressão “fracasso escolar” possui sen- tidos múltiplos, pois são aspectos mui- to diversos que, intervindo em nossos processos cotidianos de seguir na magia da aprendizagem humana, referem-se ao tema. Questões relacionadas aos trans- tornos específicos na aprendizagem es- colar, aspectos vinculados disfunções neuropsicológicas e imaturidade, além de demandas oriundas da própria vida emocional dos aprendentes e de uma série de outros fatores presentes na di- nâmica relação entre corpo, organismo, desejo e inteligência. A Psicopedagogia que defendo é vital para nutrir os espa- ços do aprendere do ensinar,com uma Didática do Assombro, onde sejamos capazes de perceber que aquilo que não conhecemos pode ser uma boa oportu- nidade de aprendermos juntos, uns com outros, quando desejamos colaborar para o sucesso de nossos empreendimentos e ações como educadores. “De um modo geral, coloca-se a culpa do fracasso dos aprendentes tão somente no sujeito que se deseja educar e acaba-se por esquecer que todo processo de aprendizagem é dinâmico, sistêmico e interdependente. No entanto, família, sociedade, sujeito aprendente e instituições educacionais se integram neste processo” Para João Beauclair, hoje, há excesso de informação e grande escassez de sabedoria — EM SUA OBRA, O SENHOR SE PROPÕE A MUDAR O FOCO DAS DISCUSSÕES E APONTAR NOVAS POSSIBILIDADES DE PERCEPÇÃO SO- BRE O FRACASSO ESCOLAR. QUE MUDANÇA DE PERSPECTIVA EM RELAÇÃO AO PROBLEMA SERIA ESSA? Tenho trabalhado com afinco, faz alguns anos, com estudos e pesquisas sobre este complexo tema em nossa Educação. O livro Do Fracasso Escolar ao Sucesso na Apren- dizagem: proposições psicopedagógicasé fru- to deste movimento, pois como educa- dor sempre me incomodou ver as visões distorcidas a este respeito. um modo geral, coloca-se a culpa do fracasso dos aprendentes tão somente no sujeito que se deseja educar e acaba-se por esquecer que todo processo de aprendizagem é dinâmico, sistêmico e interdependente. No entanto, família, sociedade, sujeito aprendente e instituições educacionais se integram neste processo e devemos cuidar, de mediações educativas que todos se sintam envolvidos: afinal, edu- cação deve compromisso de todos nós. — O PAPEL DO PROFESSOR, NATURALMENTE, DEVE SER FUNDAMENTAL PARA MOTIVAR O ALUNO. MAS, E QUANDO ESSE PROFESSOR NÃO ESTÁ DEVIDAMENTE MOTIVADO, ATÉ POR NÃO RECEBER O RECONHECIMENTO QUE MERECE? O QUE UM GESTOR ESCOLAR PODE FAZER PARA, MESMO EM UM QUADRO COMO ESSE, MOTIVAR SEU PROFESSOR? Tenho defendido a seguinte ideia: se assumo frente a mim mesmo que dese- jo continuar atuando em Educação, devo me posicionar frente a isso com integra- lidade, em minha inteireza, propondo fazer da melhor maneira possível aqui- lo que esta presente em tal assunção. O reconhecimento do trabalho nosso em Educação será fruto de movimentações nossas para que seja possível o resgate da dignidade do exercer a docência. Docentes são gestores de suas salas de aula e gestores de escola devem saber- se motivadores e convencer, a todos os envolvidos, que só com parcerias e bus- cas por soluções coletivas poderão ge- rar melhores resultados. — UM DOS PROBLEMAS APONTADOS POR MUITOS EDUCADORES ATUALMENTE É O DIS- TANCIAMENTO ENTRE ALUNOS E PROFESSO- RES. COMO APROXIMÁ-LOS, INCENTIVAR O RESPEITO MÚTUO ENTRE ELES, COMO EXIS- TIA EM OUTRAS ÉPOCAS? O QUE É FUNDAMEN- TAL PARA ISSO? Há, nesta questão, um belo desafio a ser vivido. Hoje, crianças e jovens vivem em um tempo novo, afinal estamos num novo século e, o que é melhor, um novo milênio se inaugurou. As vivências em sala de aula serão significativas para todos a partir do momento que pais, fi- lhos, educadores e gestores criarem es- paços de dialogicidade. É o resgate do diálogo que fará com que valores huma- nos sejam ressignificados e projetos de construção do novo ganhem visibilida- de e efetividade. O fundamental para isso é formação permanente para todos os envolvidos no belo ato humano de educar — E COM RELAÇÃO AO BULLIYNG: QUAL A ESTRATÉGIA MAIS ADEQUADA PARA AS ESCO- LAS ENFRENTAREM ESSE PROBLEMA? O enfrentamento do bullying só será efi- caz à medida que estejamos em atenção e disponibilidade para aprender a lidar com este fenômeno, não recente na his- tória das relações humanas e nas intera- ções dentro das instituições. A grande questão é buscarmos criar novas estra- tégias no que diz respeito ao dinamis- mo social que é a vida em grupo. No campo psicopedagógico, - principalmen- te com a Psicopedagogia Preventiva -, tenho atuado com uma oficina psicos- socioeducativa chamada “O bullying nos- so de cada dia”, onde vivenciamos de modo dinâmico os conceitos de igualdade e diferença. A pergunta principal nesta intervenção é: -”Somos Iguais e Diferentes: em quê?” — OUTROS PÓLOS FUNDAMENTAIS DA EDUCA- ÇÃO QUE SE ENCONTRAM DISTANTES SÃO A FAMÍLIA E A ESCOLA. OS PAIS, POR EXEMPLO, RECLAMAM FREQUENTEMENTE DE FALTA DE INTERESSE E EXCESSO DE EXIGÊNCIAS DA PARTE DOS EDUCADORES. OS RESPONSÁVEIS TÊM RAZÃO NESSA QUEIXA? A Educação é tarefa principal dos pais. Hoje, com todas as modificações soci- ais que a nós se apresentam cotidiana- mente, a família e a escola precisam re- visitar suas práticas e rever conceitos antigos e modos de ser e estar no mun- do, infelizmente definitivamente ultra- passados. Os pais, em suas queixas, podem ter muita razão, mas as exigên- cias aos educadores, em muitas situa- ções, beiram o absurdo. Sem sombra de dúvida, o novo assusta. Resta-nos ape- nas uma alternativa: a busca de soluções compartilhadas, “coopetentes” e coopera- tivas, que são possíveis quando existe, de fato, comprometimento com a forma- ção do sujeito aprendente, que somos todos nós ao longo da vida. — DE OUTRO LADO, OS PROFESSORES TAM- BÉM RECLAMAM DA FALTA DE LIMITES, POR PARTE DOS PAIS, EM RELAÇÃO A SEUS FILHOS. E ARGUMENTAM QUE ESSA POSTURA EXCES- SIVAMENTE PERMISSIVA PREJUDICA O TRABA- LHO DOS PROFESSORES, NA MEDIDA EM QUE O ESTUDANTE TENDE A ACHAR QUE PODE FAZER TUDO O QUE QUISER NA ESCOLA, AS- SIM COMO FAZ EM CASA. OS EDUCADORES TÊM RAZÃO EM SUA QUEIXA? Questão polêmica e de extrema relevân- cia hoje: a construção dos limites. Sem eles, os limites, a tendência do humano é achar que tudo pode e que tudo lhe será permitido. Houve, historicamente, um retrocesso. Depois de anos vivendo uma história social repleta de autoritarismo, a tendência foi a de criar um tanto de justificativas para deixar de lado a voz que deve comandar e o papel do sujeito que educa. Sem limites, não há possibi- lidades de construção de bons hábitos, boas maneiras, boas atitudes. Transferir este responsabilidade somente para os professores é injusto, pois sistemicamen- te existem bases onde o caráter de cada um de nós se constrói e reconstrói. — POR QUE É TÃO DIFÍCIL APROXIMAR FAMÍ- LIA E ESCOLA NOS TEMPOS ATUAIS? Aproximar família e escola nos tempos atuais é imenso desafio, visto que hoje vivemos a emergência do agora, do hoje e somos, em muitos casos, ocupados demasiadamente com múltiplas tarefas que exigem muitas horas de nosso coti- diano. Na verdade, o nosso movimento hoje deve ser o de dialogar, falar com essência, verdade e profundidade sobre o que, de fato, estamos sendo: sujeitos que só consomem ou pessoas que se preocupam com nosso destino humano comum? — O QUE AS ESCOLAS PODERIAM FAZER PARA APROXIMAR OS PAIS E RESPONSÁVEIS DO COTIDIANO ESCOLAR DOS ALUNOS? Seduzir pessoas e criar momentos de integrar pessoas. Em nosso país, um movimento bonito é o das Escolas de Pais, um modelo de formação de pes- soas que lida com o desafio e a missão de apoiar pais, futuros pais e agentes educadores a formar, com criticidade, cidadãos conscientes de suas ações e interações. — O SENHOR REALIZA PALESTRAS PARA PRO- FESSORES EM TODO O PAÍS. EM SEUS CONTA- TOS COM OS PROFESSORES, DE QUE O SENHOR PERCEBE QUE ELES SENTEM MAIS FALTA? É interessante perceber que de norte a sul do país, o que eu percebo com mai- or falta e, portanto, desejo, reside na formação continuada relevante e aces- so aos estudos de aperfeiçoamento e especialização adequados a cada reali- dade. O desafio, no que concerne a ela- boração de políticas públicas efetivas, é criar novos modelos de formação em serviço, validando as histórias de vida dos educadores e reforçando sua impor- tante tarefa de formar pessoas e colabo- rar para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e equânime. É vital nos nutrir com campanhas governamen- tais que sigam valorizando os profissi- onais de Educação. — MUITOS FALAM NA DESVALORIZAÇÃO E NO DESPRESTÍGIO COM OS QUAIS VEM SOFREN- DO A CARREIRA DO MAGISTÉRIO. NO SEU CONTATO COM OS PROFESSORES, O QUE O SENHOR PERCEBE, NELES, A FRUSTRAÇÃO E A INSATISFAÇÃO POR NÃO SEREM VALORIZA- DOS COMO DEVERIAM? Tal percepção é bem real e, em minha própria história pessoal e biografia pro- fissional, em muitos momentos, perce- bo esta desvalorização e desprestígio. No entanto, é uma opção que devemos fa- zer. Ficar esperando o grande dia de ser- mos reconhecidos é caminhar sem en- xergar possibilidades de luz. Ser e estar atuando em Educação, em sua possibi- lidade de evolução pessoal e autoconhe- cimento, é nossa maior validação, como sujeitos que desejam construir uma cul- tura de paz, de não-violência, de valo- res e direitos humanos, a partir do espa- ço mágico da escola. — O QUE, A SEU VER, SERIA FUNDAMENTAL PARA VALORIZAR O PROFESSOR NO PAÍS? A meu ver, o fundamental para a valoriza- ção nossa, enquanto profissionais da Edu- cação, está na elaboração de políticas pú- blicas que sejam eficazes na aplicação de verbas destinadas às escolas, aos planos de cargos, salários e funções, além da for- mação continuada. Continuar movimen- tos sociais efetivos que humanizem a pró- pria escola é outra importante tarefa a ser realizada. Lembrando e parafraseando Edmund Spenser (1552 – 1599), poeta inglês do Renascimento, acredito que os verdadeiros educadores “lutam por nós, (...) velam por nós e nos guardam devidamente. Tudo por amor, sem exigir recompensas”. O momento é este: recompensar os esforços de todos nós, educadores e educadoras deste país, com a construção de uma Pedagogia da Amorosidade, que seja elaborada ocupan- do-se e preocupando-se com a Vida e a Edu- cação no Novo Milênio, dignificando, com salários justos e condições de trabalho adequadas, nossas intervenções e atuações. Atuemos com Amor, mas sejamos recom- pensados por isso. “É interessante perceber que de norte a sul do país, o que eu percebo com maior falta e, portanto, desejo, reside na formação continuada relevante e acesso aos estudos de aperfeiçoamento e especialização adequados a cada realidade” Nesta entrevista, o professor João Beauclair, palestrante e conferencista Internacional sobre da área de educação, salienta que, em suas conversas com professores de todo o país, os profissionais sentem mais falta de ações voltadas para a valorização e qualificação dos profissionais do magistério Professores DIVULGAÇÃO Imagem de profissionais de educação em atividade: para professor João Beauclair, é fundamental desenvolver atividades de interação e aproximação entre professores e alunos

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EducaçãoFOLHA DIRIGIDA

www.folhadirigida.com.br12 a 18 de janeiro de 2012

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carentes de valorizaçãoProfessores

RENATO [email protected]

T em sido cada vez mais comuma realização, por secretarias deeducação, palestras para gru-pos de professores, como for-ma de contribuir para que os

profissionais tenham acesso a novas con-cepções educacionais. Com isto, algunsespecialistas têm a oportunidade de per-correr várias cidades e ter contato comdocentes de realidades e perfis os maisdiferenciados.É o que acontece, por exemplo, com oeducador João Beauclair, que é palestran-te e conferencista Internacional sobretemas motivacionais, organizacionais,educacionais e psicopedagógicos, e pro-fessor de cursos de pós-graduação, capa-citação e formação continuada de edu-cadores. Ao ser perguntado sobre do quepercebe que sentem mais falta os pro-fessores com os quais tem contato, elefoi categórico: valorização por parte dopoder público, não só em relação a sa-lários, mas em termos de qualificação.“O desafio, no que concerne à elabo-ração de políticas públicas efetivas, écriar novos modelos de formação emserviço, validando as histórias de vidados educadores e reforçando sua im-portante tarefa de formar pessoas”,destaca o educador.Autor do livro Do Fracasso Escolar ao Su-cesso na Aprendizagem: proposiçõespsicopedagógicas(Ed. WAK), João Beauclairaborda, nesta entrevista, os obstáculosque os estudantes enfrentam para alcan-çarem o aprendizado, analisa as relaçõesentre famílias e escolas e estudantes, edestaca a importância dos limites noprocesso educacional.“Sem limites, não há possibilidades deconstrução de bons hábitos, boas manei-ras, boas atitudes. Transferir este respon-sabilidade somente para os professoresé injusto”, destacou o especialista.

— O SENHOR É AUTOR DO LIVRO DO FRACAS-SO ESCOLAR AO SUCESSO NA APRENDIZA-GEM: PROPOSIÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS. NAESCOLA, O QUE PODE FAZER A DIFERENÇAPARA QUE O ALUNO REALMENTE CONSIGAAPRENDER?João Beauclair — Acredito que na es-cola e na prática educativa, sejam elasem qualquer nível e modalidade, o quepode fazer a diferença para que o alu-no efetivamente aprenda é a construçãode vínculos saudáveis com a informa-ção, com o conhecimento e com a sa-bedoria. Vivemos em um tempo ondehá excesso de informação, algum conhe-cimento e uma grande escassez de sa-bedoria. Desafios para as instituiçõesque educam e para os educadores é fa-zer a mediação desta tríade de modovincular e significativo.

— A SEU VER, QUE ASPECTOS SÃO DETER-MINANTES PARA O CHAMADO FRACASSOESCOLAR?A expressão “fracasso escolar” possui sen-tidos múltiplos, pois são aspectos mui-to diversos que, intervindo em nossosprocessos cotidianos de seguir na magiada aprendizagem humana, referem-se aotema. Questões relacionadas aos trans-tornos específicos na aprendizagem es-colar, aspectos vinculados disfunçõesneuropsicológicas e imaturidade, alémde demandas oriundas da própria vidaemocional dos aprendentes e de umasérie de outros fatores presentes na di-nâmica relação entre corpo, organismo,desejo e inteligência. A Psicopedagogiaque defendo é vital para nutrir os espa-ços do aprendere do ensinar,com umaDidática do Assombro, onde sejamoscapazes de perceber que aquilo que nãoconhecemos pode ser uma boa oportu-nidade de aprendermos juntos, uns comoutros, quando desejamos colaborar parao sucesso de nossos empreendimentose ações como educadores.

“De um modo geral, coloca-se a culpa do fracasso dosaprendentes tão somente no sujeito que se deseja educare acaba-se por esquecer que todo processo deaprendizagem é dinâmico, sistêmico e interdependente.No entanto, família, sociedade, sujeito aprendente einstituições educacionais se integram neste processo”

Para João Beauclair, hoje, há excesso de informação e grande escassez de sabedoria

— EM SUA OBRA, O SENHOR SE PROPÕE AMUDAR O FOCO DAS DISCUSSÕES E APONTARNOVAS POSSIBILIDADES DE PERCEPÇÃO SO-BRE O FRACASSO ESCOLAR. QUE MUDANÇADE PERSPECTIVA EM RELAÇÃO AO PROBLEMASERIA ESSA?Tenho trabalhado com afinco, faz algunsanos, com estudos e pesquisas sobre estecomplexo tema em nossa Educação. Olivro Do Fracasso Escolar ao Sucesso na Apren-dizagem: proposições psicopedagógicasé fru-to deste movimento, pois como educa-dor sempre me incomodou ver as visõesdistorcidas a este respeito. um modogeral, coloca-se a culpa do fracasso dosaprendentes tão somente no sujeito quese deseja educar e acaba-se por esquecerque todo processo de aprendizagem édinâmico, sistêmico e interdependente.No entanto, família, sociedade, sujeitoaprendente e instituições educacionaisse integram neste processo e devemoscuidar, de mediações educativas quetodos se sintam envolvidos: afinal, edu-cação deve compromisso de todos nós.

— O PAPEL DO PROFESSOR, NATURALMENTE,DEVE SER FUNDAMENTAL PARA MOTIVAR OALUNO. MAS, E QUANDO ESSE PROFESSORNÃO ESTÁ DEVIDAMENTE MOTIVADO, ATÉ PORNÃO RECEBER O RECONHECIMENTO QUEMERECE? O QUE UM GESTOR ESCOLAR PODEFAZER PARA, MESMO EM UM QUADRO COMOESSE, MOTIVAR SEU PROFESSOR?Tenho defendido a seguinte ideia: se

assumo frente a mim mesmo que dese-jo continuar atuando em Educação, devome posicionar frente a isso com integra-lidade, em minha inteireza, propondofazer da melhor maneira possível aqui-lo que esta presente em tal assunção. Oreconhecimento do trabalho nosso emEducação será fruto de movimentaçõesnossas para que seja possível o resgateda dignidade do exercer a docência.Docentes são gestores de suas salas deaula e gestores de escola devem saber-se motivadores e convencer, a todos osenvolvidos, que só com parcerias e bus-cas por soluções coletivas poderão ge-rar melhores resultados.

— UM DOS PROBLEMAS APONTADOS PORMUITOS EDUCADORES ATUALMENTE É O DIS-TANCIAMENTO ENTRE ALUNOS E PROFESSO-RES. COMO APROXIMÁ-LOS, INCENTIVAR ORESPEITO MÚTUO ENTRE ELES, COMO EXIS-TIA EM OUTRAS ÉPOCAS? O QUE É FUNDAMEN-TAL PARA ISSO?Há, nesta questão, um belo desafio a servivido. Hoje, crianças e jovens vivem emum tempo novo, afinal estamos numnovo século e, o que é melhor, um novomilênio se inaugurou. As vivências emsala de aula serão significativas paratodos a partir do momento que pais, fi-lhos, educadores e gestores criarem es-paços de dialogicidade. É o resgate dodiálogo que fará com que valores huma-nos sejam ressignificados e projetos de

construção do novo ganhem visibilida-de e efetividade. O fundamental para issoé formação permanente para todos osenvolvidos no belo ato humano de educar

— E COM RELAÇÃO AO BULLIYNG: QUAL AESTRATÉGIA MAIS ADEQUADA PARA AS ESCO-LAS ENFRENTAREM ESSE PROBLEMA?O enfrentamento do bullying só será efi-caz à medida que estejamos em atençãoe disponibilidade para aprender a lidarcom este fenômeno, não recente na his-tória das relações humanas e nas intera-ções dentro das instituições. A grandequestão é buscarmos criar novas estra-tégias no que diz respeito ao dinamis-mo social que é a vida em grupo. Nocampo psicopedagógico, - principalmen-te com a Psicopedagogia Preventiva -,tenho atuado com uma oficina psicos-socioeducativa chamada “O bullying nos-so de cada dia”, onde vivenciamos de mododinâmico os conceitos de igualdade ediferença. A pergunta principal nestaintervenção é: -”Somos Iguais e Diferentes:em quê?”

— OUTROS PÓLOS FUNDAMENTAIS DA EDUCA-ÇÃO QUE SE ENCONTRAM DISTANTES SÃO AFAMÍLIA E A ESCOLA. OS PAIS, POR EXEMPLO,RECLAMAM FREQUENTEMENTE DE FALTA DEINTERESSE E EXCESSO DE EXIGÊNCIAS DAPARTE DOS EDUCADORES. OS RESPONSÁVEISTÊM RAZÃO NESSA QUEIXA?A Educação é tarefa principal dos pais.Hoje, com todas as modificações soci-ais que a nós se apresentam cotidiana-mente, a família e a escola precisam re-visitar suas práticas e rever conceitosantigos e modos de ser e estar no mun-do, infelizmente definitivamente ultra-passados. Os pais, em suas queixas,podem ter muita razão, mas as exigên-cias aos educadores, em muitas situa-ções, beiram o absurdo. Sem sombra dedúvida, o novo assusta. Resta-nos ape-nas uma alternativa: a busca de soluçõescompartilhadas, “coopetentes” e coopera-tivas, que são possíveis quando existe,de fato, comprometimento com a forma-ção do sujeito aprendente, que somostodos nós ao longo da vida.

— DE OUTRO LADO, OS PROFESSORES TAM-BÉM RECLAMAM DA FALTA DE LIMITES, PORPARTE DOS PAIS, EM RELAÇÃO A SEUS FILHOS.E ARGUMENTAM QUE ESSA POSTURA EXCES-SIVAMENTE PERMISSIVA PREJUDICA O TRABA-LHO DOS PROFESSORES, NA MEDIDA EM QUEO ESTUDANTE TENDE A ACHAR QUE PODEFAZER TUDO O QUE QUISER NA ESCOLA, AS-SIM COMO FAZ EM CASA. OS EDUCADORESTÊM RAZÃO EM SUA QUEIXA?Questão polêmica e de extrema relevân-cia hoje: a construção dos limites. Semeles, os limites, a tendência do humanoé achar que tudo pode e que tudo lhe serápermitido. Houve, historicamente, umretrocesso. Depois de anos vivendo umahistória social repleta de autoritarismo,a tendência foi a de criar um tanto dejustificativas para deixar de lado a vozque deve comandar e o papel do sujeitoque educa. Sem limites, não há possibi-lidades de construção de bons hábitos,boas maneiras, boas atitudes. Transferireste responsabilidade somente para osprofessores é injusto, pois sistemicamen-te existem bases onde o caráter de cadaum de nós se constrói e reconstrói.

— POR QUE É TÃO DIFÍCIL APROXIMAR FAMÍ-LIA E ESCOLA NOS TEMPOS ATUAIS?Aproximar família e escola nos temposatuais é imenso desafio, visto que hojevivemos a emergência do agora, do hojee somos, em muitos casos, ocupadosdemasiadamente com múltiplas tarefasque exigem muitas horas de nosso coti-diano. Na verdade, o nosso movimentohoje deve ser o de dialogar, falar com

essência, verdade e profundidade sobreo que, de fato, estamos sendo: sujeitosque só consomem ou pessoas que sepreocupam com nosso destino humanocomum?

— O QUE AS ESCOLAS PODERIAM FAZER PARAAPROXIMAR OS PAIS E RESPONSÁVEIS DOCOTIDIANO ESCOLAR DOS ALUNOS?Seduzir pessoas e criar momentos deintegrar pessoas. Em nosso país, ummovimento bonito é o das Escolas dePais, um modelo de formação de pes-soas que lida com o desafio e a missãode apoiar pais, futuros pais e agenteseducadores a formar, com criticidade,cidadãos conscientes de suas ações einterações.

— O SENHOR REALIZA PALESTRAS PARA PRO-FESSORES EM TODO O PAÍS. EM SEUS CONTA-TOS COM OS PROFESSORES, DE QUE O SENHORPERCEBE QUE ELES SENTEM MAIS FALTA?É interessante perceber que de norte asul do país, o que eu percebo com mai-or falta e, portanto, desejo, reside naformação continuada relevante e aces-so aos estudos de aperfeiçoamento eespecialização adequados a cada reali-dade. O desafio, no que concerne a ela-boração de políticas públicas efetivas, écriar novos modelos de formação emserviço, validando as histórias de vidados educadores e reforçando sua impor-tante tarefa de formar pessoas e colabo-rar para a construção de uma sociedademais justa, fraterna e equânime. É vitalnos nutrir com campanhas governamen-tais que sigam valorizando os profissi-onais de Educação.

— MUITOS FALAM NA DESVALORIZAÇÃO E NODESPRESTÍGIO COM OS QUAIS VEM SOFREN-DO A CARREIRA DO MAGISTÉRIO. NO SEUCONTATO COM OS PROFESSORES, O QUE OSENHOR PERCEBE, NELES, A FRUSTRAÇÃO EA INSATISFAÇÃO POR NÃO SEREM VALORIZA-DOS COMO DEVERIAM?Tal percepção é bem real e, em minhaprópria história pessoal e biografia pro-fissional, em muitos momentos, perce-bo esta desvalorização e desprestígio. Noentanto, é uma opção que devemos fa-zer. Ficar esperando o grande dia de ser-mos reconhecidos é caminhar sem en-xergar possibilidades de luz. Ser e estaratuando em Educação, em sua possibi-lidade de evolução pessoal e autoconhe-cimento, é nossa maior validação, comosujeitos que desejam construir uma cul-tura de paz, de não-violência, de valo-res e direitos humanos, a partir do espa-ço mágico da escola.

— O QUE, A SEU VER, SERIA FUNDAMENTALPARA VALORIZAR O PROFESSOR NO PAÍS?A meu ver, o fundamental para a valoriza-ção nossa, enquanto profissionais da Edu-cação, está na elaboração de políticas pú-blicas que sejam eficazes na aplicação deverbas destinadas às escolas, aos planosde cargos, salários e funções, além da for-mação continuada. Continuar movimen-tos sociais efetivos que humanizem a pró-pria escola é outra importante tarefa a serrealizada. Lembrando e parafraseandoEdmund Spenser (1552 – 1599), poetainglês do Renascimento, acredito que osverdadeiros educadores “lutam por nós, (...)velam por nós e nos guardam devidamente. Tudopor amor, sem exigir recompensas”. O momentoé este: recompensar os esforços de todosnós, educadores e educadoras deste país,com a construção de uma Pedagogia daAmorosidade, que seja elaborada ocupan-do-se e preocupando-se com a Vida e a Edu-cação no Novo Milênio, dignificando, comsalários justos e condições de trabalhoadequadas, nossas intervenções e atuações.Atuemos com Amor, mas sejamos recom-pensados por isso.

“É interessante perceberque de norte a sul do país,o que eu percebo commaior falta e, portanto,desejo, reside na formaçãocontinuada relevante eacesso aos estudos deaperfeiçoamento eespecialização adequados acada realidade”

Nesta entrevista, o

professor João Beauclair,

palestrante e conferencista

Internacional sobre da área

de educação, salienta que,

em suas conversas com

professores de todo o país,

os profissionais sentem

mais falta de ações

voltadas para a valorização

e qualificação dos

profissionais do magistério

Professores

DIVULGAÇÃO

Imagem deprofissionais deeducação em atividade:para professor JoãoBeauclair, éfundamentaldesenvolver atividadesde interação eaproximação entreprofessores e alunos