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IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64 Professora, professorinha primeira profissão que legitima a mulher do século XIX Ricardo André Aires Melnikoff¹ 1 Elaine Almeida Aires Melnikoff ²(UFS) RESUMO A história da educação feminina no Brasil ainda recente é marcada pelo estabelecimento da ordem patriarcal. A mulher no oitocentos era subordinada e dependente do pai ou do marido, carregava o estigma da fragilidade, da pouca inteligência e assim era excluída dos espaços públicos. Somente no século XIX, com as transformações no cenário mundial com a industrialização e urbanização, possibilita a profissionalização de mulheres com a criação de escolas para moças. Desta forma o presente artigo tem por objetivo fazer um breve resgate da gênese da feminização do magistério, sendo a primeira profissão que liberta a mulher para o mercado de trabalho. Portanto a revisão literária abordará estudos bibliográficos e investigação histórica, a qual dará suporte a esse estudo. Desta forma conclui-se que a escolha profissional tem influencia pelas representações sociais e que a feminização do magistério ainda perpetua nos dias atuais. Palavras-Chaves: Educação feminina, magistério, Brasil, 1 ¹Graduado em Comunicação social UNIT, Direito UNIT, pós graduação em Marketing Empresarial [email protected] ²Mestre em Educação UFS, Graduada em comunicação Social UNIT, Pós Graduada Marketing pela UNIFOA, Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior FASE, graduando em História UFS, Membro integrante do Grupo de Estudo em História da Educação :intelectuais da educação,instituições escolares e práticas educativas UFS e GPGFOP/ UNIT [email protected]

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IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE

O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

Professora, professorinha primeira profissão que legitima a mulher do

século XIX

Ricardo André Aires Melnikoff¹1

Elaine Almeida Aires Melnikoff ²(UFS)

RESUMO

A história da educação feminina no Brasil ainda recente é marcada pelo estabelecimento

da ordem patriarcal. A mulher no oitocentos era subordinada e dependente do pai ou do

marido, carregava o estigma da fragilidade, da pouca inteligência e assim era excluída

dos espaços públicos. Somente no século XIX, com as transformações no cenário

mundial com a industrialização e urbanização, possibilita a profissionalização de

mulheres com a criação de escolas para moças. Desta forma o presente artigo tem por

objetivo fazer um breve resgate da gênese da feminização do magistério, sendo a

primeira profissão que liberta a mulher para o mercado de trabalho. Portanto a revisão

literária abordará estudos bibliográficos e investigação histórica, a qual dará suporte a

esse estudo. Desta forma conclui-se que a escolha profissional tem influencia pelas

representações sociais e que a feminização do magistério ainda perpetua nos dias atuais.

Palavras-Chaves: Educação feminina, magistério, Brasil,

1 ¹Graduado em Comunicação social UNIT, Direito UNIT, pós graduação em Marketing Empresarial

[email protected]

²Mestre em Educação UFS, Graduada em comunicação Social UNIT, Pós Graduada Marketing pela

UNIFOA, Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior FASE, graduando em História UFS, Membro

integrante do Grupo de Estudo em História da Educação :intelectuais da educação,instituições escolares e

práticas educativas UFS e GPGFOP/ UNIT [email protected]

IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE

O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

INTRODUÇÃO

O Brasil no século XIX, era tipicamente agrário, onde as classes sociais eram

divididas em duas : senhores e escravos, nas quais as mulheres eram excluídas de

qualquer aparição no cenário público.

Neste período em que o Brasil foi colônia de Portugal, a educação feminina era

restrita aos cuidados com a casa, marido e os filhos. A educação formal somente era

privilégio dos filhos homens dos indígenas e dos colonos.

As mulheres eram tratadas como imbecis, o sexo feminino fazia parte do

imbecilitus sexus a qual pertenciam a classe dos doentes mentais e criança. A mulher

era desprovida de qualquer instrução, não sabia ler nem escrever. Desde menina era

ensinada a ser mãe e esposa, sua educação limitava-se a aprender a bordar, cozinhar,

costurar, tarefas estritamente domésticas. Priori define:

As habilidades com a agulha, os bordados, as rendas, a cozinha, bem

como as habilidades de mando as criadas e serviçais também faziam

parte da educação das moças, acrescida de elementos que pudessem

torná-las mais agradável ao marido, mas também uma mulher capaz

de bem representá-lo socialmente. (PRIORE, 2009, p.444)

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

A negação de circular em outros espaços além casa/quintal as afastavam também

da educação formal, não sendo permitido o acesso a escola.

No Brasil – Colônia, o homem decidia as ações, era ele que dominava a família

patriarcal. Arilda Inês ressalta a origem da palavra família:

de famulus, uma expressão latina que quer dizer: escravos domésticos

de um mesmo senhor, ou seja, todos deviam obediência ao senhor

patriarcal. Sua esposa e filhas também. Elas o chamavam de senhor

meu marido; senhor meu pai. (ARILDA INES, 2000 p. 83)

Com tudo o letramento era um desejo da maioria das mulheres, saber ler e

escrever, no entanto representava para a sociedade branca da colônia uma ameaça. Já

para os indígenas brasileiros que valorizavam suas mulheres, a consideravam

companheiras, não viam razões para diferenças na oportunidade de educação.Desta

forma foram os indígenas os pioneiros a reivindicar o letramento a suas

mulheres.Sensibilizado o padre Manoel de Nóbrega, enviou uma carta a Rainha de

Portugal, Dona Catarina, solicitando educação para as indígenas.

Em resposta a Rainha Dona Catarina, negou a iniciativa alegando: Qualificando-

a ousadia devido às “conseqüências nefastas” que o acesso das mulheres indígenas à

cultura dos livros da época pudesse representar. (ARILDA INÊS, 2000 p.81). Essa

decisão era mais do que certa, uma vez que na própria metrópole as portuguesas eram

analfabetas, não existiam escolas, a educação era feita em casa.

Para os padres jesuítas, a educação feminina era mais do que somente ensinar a

ler e escrever, seria a oportunidade de desencadear um processo de respeito pelas

mulheres que viviam na colônia, já que a miscigenação imposta pelo branco grassava

em quase todas as aldeias, ocasionando nascimentos desvinculados de amor e respeito.

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Na busca de moralizar a colônia, e reduzir os abusos sexuais masculinos, Nóbrega

acreditava que o acesso a instrução colaboraria de forma positiva para o fim da

imoralidade.

Desta forma, por não existir um sistema formal de educação para as mulheres, os

conventos surgem como opção de instrução. As mulheres que não queriam casar com os

pretendentes, que na maioria das vezes eram os pais que arranjavam os casamentos, elas

iam para os conventos, para escaparem da má sorte.

Visando refletir sobre a educação feminina e sua inserção no magistério e para um

melhor entendimento da trajetória desenvolvida para a elaboração do artigo, o mesmo

foi dividido em tópicos, iniciando-se com a introdução que se fez uma breve revisão

conceitual sobre a mulher no Brasil colônia e processo civilizatório e posteriormente,

abordam-se os seguintes temas; educação feminina e processo de feminização do

magistério Brasileiro no século XIX.

Desta forma, baseado no contexto acima o objeto deste artigo é levantar um breve

resgate da gênese da feminização do magistério, sendo a primeira profissão que liberta a

mulher para o mercado de trabalho.

EDUCAÇÃO FEMININA

A história da mulher brasileira é marcada por estigmas de fragilidade e

desprovida de inteligência, desde pequena ela foi induzida a aprender a ser mãe e esposa

e dar conta dos afazeres domésticos. .

Se faz mister que nessa época a vida urbana para as mulheres inexistia no Brasil

sua circulação em espaços públicos só acontecia em ocasiões especiais e ligadas as

atividades da igreja como missa,procissão, configurando assim a única forma de lazer

das moças.

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Neste sentido, o sistema patriarcal legitimado ao longo da história pela religião

cristã foi responsável pelas práticas sociais que naturalizaram o papel da mulher restrito

ao espaço público, favorecendo o exercício do poder ao sexo masculino.

Neste contexto a representação da mulher deveria estar relacionada ao perfil da

mulher mãe e possuidora dos valores morais e patrióticos. A valorização da moral tinha

como objetivo tornar o ensino das mulheres priorizando principalmente a formação

moral do que a instrução entendida como formação intelectual. ”mulheres deveriam ser

mais educadas do que instruídas”, ou seja, para elas a ênfase deveria recair sobre a força

moral, sobre a constituição do caráter, sendo suficientes provavelmente doses pequenas

ou doses menores de instrução (PRIORE, 2009, p. 446).

Nesta época é sabido que o homem era o provedor da casa, a mulher não precisava

trabalhar fora de casa nem fazer concorrência com o esposo no campo de trabalho e

intelectual, podia apenas deter-se a pequenos afazeres como descreve Priore:

No dia-a-dia, trabalhavam nos bordados, faziam rendas ou bolos para

vender. Além de casar, ter filhos e rezar, algumas mulheres

desenvolviam uma pequena indústria caseira, para aumentar os

proventos: a do preparo da rapadura e do melado; ou a fiação do

algodão do qual se faziam roupas de escravo. Também havia a de

velas com aproveitamento de sebo de bois; e a do sabão, preparado

com gorduras e cinzas de plantas. (PRIORE, 2008, p.15)

Portanto, o papel da mulher era basicamente ser serva do esposo ou do pai, era

silenciada e renegada a qualquer opção de independência. Viviam as mulheres deste

tempo como sombras dos maridos e tendo como opção de vida o casamento ou o

convento.

Desta forma, ao longo do século XIX, necessidades econômicas, sociais e

políticas deram inicio a um processo de urbanização em varias regiões brasileiras. A

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instalação da família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808, e a abertura dos

portos pelo príncipe regente D. João VI foram fundamentais para o inicio da

urbanização.

Em meio às transformações, sobretudo da industrialização e urbanização

presente na Europa e Estados Unidos, idéias civilizadoras são fomentadas por grupos

sociais que idealizavam a educação e religião como estratégias de impor um

comportamento individual e coletivo aceitável.

A missão civilizatória atribuída as mulheres fez crescer o debate sobre a

educação nacional, a educação das meninas em particular até então inexistente e o papel

das mulheres como condutoras morais da ordem social.

A abertura de colégios para educação de moças vai possibilitar espaços de

profissionalização da mulher, neste espaço a mulher tem a possibilidade de atuar fora

dos portões de casa, possibilitando assim a articulação do poder. Contudo percebe-se

que a distribuição do saber era distribuída em porções que variam de acordo com as

divisões de classe, etnia e raça.

A exclusão dos negros a educação era clara, já as mulheres podiam freqüentar as

aulas sendo que o currículo era diferenciado, ou seja, elas deveriam aprender a ler,

escrever e fazer as quatro operações, assim a educação feminina se diferenciava da dos

meninos (PRIORI, 2002) geralmente nas classes sócias privilegiadas o ensino das

meninas eram complementados em casa por aulas de piano e françês.com professores

particulares.

Portanto, eram claras as limitações da educação concedida às mulheres,

diferenciada da educação dispensada aos homens às mulheres acabavam sendo educadas

para o provento dos bons costumes e da moral, tendo como função primordial a

educação dos filhos e o bem estar da casa.

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O PROCESSO DE FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

O ensino público e gratuito no Brasil foi sancionado em 1827. O Ato Adicional à

Constituição do Império de 1834 orientava a descentralização do sistema de instrução

pública a qual foi delegado às províncias o direito de regulamentar e promover a

educação pública primária e secundária em seus territórios.

Desprovido de um sistema de ensino capaz de executar suas diretrizes

curriculares, e promover uma política educacional definida e unificada para toda nação,

devido a sustentação de suas bases estarem vinculadas ao poder local das províncias. A

falta de estrutura econômica era empecilho para o desenvolvimento do sistema público

de instrução .

Percebemos que desde a implantação do sistema público de instrução se faz

mister o caráter excludente da maioria dos cidadãos a escolarização deixando a margem

a maior parte da população.Contudo, surgem deste sistema de ensino as primeiras vagas

para o sexo feminino na escola pública elementar, que até então só tinha acesso a

educação religiosa em locais de recolhimento ou conventos.

Com o Decreto que sancionava a educação pública para todo cidadão brasileiro,

surge um novo problema capacitar e instruir novos professores. Para atender a

necessidade de falta de mestres e mestras com boa formação surgem as primeiras

Escolas Normais. Segundo Freitas a partir de 1886 a Escola Normal apresentou:

uma tendência a atrair o público feminino com uma procura bastante

expressiva nos anos subseqüentes [...]a pequena demanda do sexo

masculino abriu espaço par que as escolas normais se constituíssem

num espaço socialmente aceito, facultando às mulheres a

possibilidade de transcender o âmbito domestico na busca de

realização e independência social e econômica. (FREITAS, 1995)

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A escola normal vai assumindo a função de preparar profissionais para atuarem

na rede de escolas primaria públicas em expansão, tão necessárias ao novo modelo

político, econômico e social. No entanto o regulamento estabelecia que moças e rapazes

devessem estudar em classes separadas, preferencialmente em turnos ou até em escolas

diferentes (PRIORE, 2009 p.105).

O currículo do estudo feminino era diferenciado do masculino, onde as moças

dedicavam à costura, ao bordado e a cozinha, enquanto no currículo dos homens

estudavam geometria. As mulheres professoras eram isentas de ensinar geometria, mas

essa disciplina era critério para estabelecer níveis de salários o que acentuava também a

descriminação sexual (FREITAS, 2000).

A discriminação com as mulheres se dava de todas as formas como para a

professora mulher assumir o magistério público, ou seja, adentrar no mercado de

trabalho esta só poderia com 25 anos, salvo se ensinasse em casa dos pais e estes fossem

de reconhecida moralidade. Contudo, para adentar no curso a mulher teria que ter no

mínimo 18 anos.

Essa valorização da moral tinha como objetivo tornar o ensino das mulheres

voltado a moral e não a instrução.Catani resalta:

[...] a ênfase do ensino feminino era nas boas maneiras, nas técnicas,

na aceitação da vigilância, na aparência, na formação moralista. Coisa

adequada quando o ensino fundamental se destinava as classes

populares, pois o que estava em jogo não era difundir as perigosas

luzes do saber, mas disciplinar as condutas e refrear a curiosidade.

(CATANI, 1997, p. 28)

A profissionalização das mulheres, aliava-se ao desejo de modernização das

classes dominantes, foi também incentivada pelo processo de industrialização e

necessidades de professores especializados.

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A partir daí a formação de professoras do sexo feminino se faz necessário, pois os

tutores deveriam ser do mesmo sexo que os alunos. Data que o primeiro curso de ensino

normal das Américas surgiu em Niterói (Rio de Janeiro), em 1835 e tinha em seus

estatutos alguns requisitos para quem quisesse cursar o magistério, deveria então: boa

morigeração (idoneidade moral) ter idade superior a 18 anos (MARTINS, 1996, p. 70).

Objetivos políticos emergem para a contribuição da participação feminina no

magistério: as professoras ganhavam menos, e para que se pudesse expandir a educação

para todos , se fazia necessário que o governo tivesse menos ônus com os professores. A

contratação de mulheres professoras era a solução viável para que o progresso no campo

educacional pudesse avançar era necessário que a mulher assumisse esse posto, não pelo

salário, mas por sua suposta vocação natural para essa profissão já que os homens não

aceitariam salários baixos. Catani nos mostra essa justificativa:

Para que a escolarização se democratizasse era preciso que o professor

custasse pouco: o homem que procura ter reconhecido o investimento

na formação, tem consciência de seu preço e se vê com direito à

autonomia – procura espaços ainda não desvalorizados pelo feminino.

Por outro lado, não se podia exortar as professoras. Exaltar qualidades

como abnegação, dedicação, altruísmo e espírito de sacrifício e pagar

pouco: não foi por coincidência que este discurso foi dirigido as

mulheres (CATANI, 1997, p. 28-29).

Esse pensamento estava aliado a necessidade de formação de professoras, tendo

em vista que os homens tentavam buscar vantagens financeiras em outras áreas. Desta

forma as mulheres professoras começaram a abraçar o magistério, visto que a procura

da licenciatura se dava pelas mulheres que proviam de uma situação financeira precária

(como as órfãs que tinham que trabalhar) e as de classe média (ALMEIDA, 1996, p.

74).

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O magistério era a profissão mais próxima e acessível para a maioria das mulheres

brasileiras, além de ser o único trabalho considerado digno para elas, e que poderia ser

conjugado às tarefas domesticas de casa. A sua instrução deveria ser aproveitada pelo

marido e filhos. Conforme assiná-la Almeida, como a mulher deveria ser instruída:

[...] de forma que o lar e o bem-estar do marido e dos filhos fossem

beneficiados por essa instrução [...] assim as mulheres poderiam e

deveriam ser educadas e instruídas, era importante que exercessem

uma profissão – o magistério – e colaborassem na formação de

diretrizes básicas da escolarização manter-se-iam sob a liderança

masculina. (AlMEIDA, 1996, p.73)

Todavia, a condução do magistério pelas mulheres não lhe ascenderam

profissionalmente e os cargos administrativos e de liderança eram geridos pelos

homens. Desta forma a mulher continuava em segundo plano perpetuando a submissão

existente na sociedade patriarcal.

Almeida (1998, p 49) analisa a feminilização do magistério primário referindo-se a

expansão da mão- de- obra feminina nos postos de trabalho em escolas e nos sistemas

educacionais, à freqüência da Escolas Normal e aos traços culturais que favorecem a

ocupação do magistério pelas mulheres.

Ao decorrer do século XX os homens que se dedicavam a educação apresentavam

facilidades de promoção na carreira do magistério, ao contrário das mulheres , fato esse

que as levavam a continuar na carreira de professora primária por muitos anos

decorrente também da falta de acesso aos cursos superiores.

Ainda com muitos limites, o caminho do magistério foi para muitas moças a

oportunidade de ter acesso à educação e com isso ter a chance de circular por espaços

públicos e privados, buscando a afirmação pessoal apropriando-se dos espaços

historicamente negado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que o processo engendrado por tantas mulheres do passado na busca

pela emancipação e independência, continua sendo fomentado lentamente. Os

indivíduos vão formando e re-formulando seu espaço social e as mulheres estão muito

mais ativas e presentes neste processo de mudanças.

A atribuição de feminilidade, doçura e fragilidade estabelecia uma vinculação da

mulher com a escola e o lar. Essas atribuições eram visivelmente impostas na maneira

de se educar, instruir,podemos perceber claramente quanto ao tratamento dispensado

aos homens na educação, eles os homens tinham uma diferenciação no currículo escolar

ao qual era incluída a disciplina de geometria e para as moças ficava o aprendizado de

saber cozinhar, costurar e bordar.

A feminização do magistério se dava por vários motivos que se atrelavam no

decorrer da história, com o abandono em que o contingente masculino de professores ia

gradativamente se esvaziando, eram as mulheres as substitutas ideais: virtuosas,

econômicas, abnegadas e ainda vocacionadas para o trabalho de ensinar.

Diante das influências recebidas ao longo do tempo, as mulheres acabaram por

incorporar essas representações sociais que lhes eram impostas e assumiram o papel de

professoras do amor. Percebemos assim que a escolha profissional acaba sendo alvo das

representações existentes na sociedade, que tem suas bases na história da feminização

do magistério.

Portanto, esperamos que os profissionais do magistério dos anos iniciais, possam

exigir a valorização merecida e adquira uma nova identidade fazendo renascer a

esperança de que ganhe o status que sempre mereceu na sociedade e continue atraindo

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profissionais competentes para o trabalho de ensinar, sejam eles do sexo feminino ou

masculino.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, J. S. de. Mulheres na escola: Algumas reflexões sobre o magistério

feminino. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 96, p. 71-78, fev.1996.

CATANI, D. ET al. “História, Memória e Autobiografia da Pesquisa Educacional e na

Formação”. In CATANI, D. et. al. (org) Docência, memória e gênero: estudos sobre

formação. São Paulo: Escrituras Editora, 1997.

PRIORE, Mary Del, História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009

FREITAS, M. T. de A. (org) Memória de Professoras: História e Historias, Juiz de

Fora UFJF,2000.

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FREITAS, Ana Maria Gonçalves Bueno. Vestidas de azul e branco: um estudo sobre

representações de ex-normalistas acerca da formação profissional e do ingresso no

magistério. 1995. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de

Campinas ,Campinas São Paulo.