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AULA 4 (p. 149) Professor Murilo Góes [email protected]

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AULA 4 (p. 149)

Professor Murilo Góes

[email protected]

PROPÓSITOS TEXTUAIS

TEXTO LITERÁRIO X NÃO LITERÁRIO

INTERTEXTUALIDADE X INTERDISCURSIVIDADE

PARÓDIA

PASTICHE

BRICOLAGEM

ALUSÃO

CITAÇÃO

EPÍGRAFE

PARÁFRASE

Incorporação de um texto em outro.

Podem ser explícitos ou implícitos, a depender do texto referenciado e do repertório dos leitores.

*Propósito: resgatar o sentido de um texto ou transformá-lo.

Teoria literária: todo texto mantém

diálogo com outros textos que lhe são

anteriores intertexto.

IMPORTANTE!

O intertexto funciona apenas quando o leitor

é capaz de perceber a referência do autor a

outras obras ou a fragmentos identificáveis de

variados textos.

Este recurso assume papéis distintos conforme

a contextura na qual é inserido.

PARÓDIA Recriação de um texto, geralmente célebre, conhecido.

Reescritura de caráter contestador, irônico, zombeteiro, crítico, satírico, humorístico, jocoso.

Constrói, assim, um percurso de desvio em relação ao texto parodiado, numa espécie de insubordinação crítica, cômica.

PASTICHE Imitação de um estilo sem qualquer função crítica ou satírica.

Etimologicamente derivado da palavra

italiana pasticcio (massa ou amálgama de elementos

compostos), pastiche era aplicado pejorativamente, no

campo da pintura, a quadros forjados com tal perícia

imitativa que procuravam ser confundidos com os originais.

Durante a Renascença, devido à crescente procura de obras

de arte em Florença e Roma, muitos pintores medíocres

foram levados a imitar quadros de grandes mestres

italianos, com intenções fraudulentas. O conceito viajou

para França e pasticcio converteu-se no

galicismo pastiche, no século XVIII.

BRICOLAGEM Um texto criado através de bricolagem é composto por diferentes trechos de outros textos, que depois são "colados", através de um processo semelhante ao da bricolagem artesanal.

ALUSÃO Referência explícita ou implícita a obras de arte, artistas, autores, trabalhos, ideias ou fatos históricos para servir de termo de comparação.

Apela à capacidade de associação de ideias do leitor.

CITAÇÃO Argumento de autoridade;

Reforço de efeito – autenticação;

Enriquecimento de significados;

Exposição de intenções.

EPÍGRAFE Título ou frase que serve de tema ou introdução de assunto;

Escrita curta;

Colocada em uma página no início da obra ou em destaque na abertura de um capítulo;

Algumas epígrafes parecem preparar o leitor para as histórias que seguirão;

Dá novo valor e sentido ao texto.

PARÁFRASE Reescrita de um texto sem que haja perda de sentido.

O autor modernista

critica a intenção

romântica do autor.

Ufanista, deixa de

fora a figura do negro.

Remete ao Quilombo dos

Palmares.

METÁFORA

METONÍMIA

PLEONASMO

ANÁFORA

ALITERAÇÃO

POLISSÍDETO

IRONIA

ANTÍTESE

PARADOXO

ELIPSE

É um recurso semântico, quer dizer que é um meio utilizado por quem escreve, ou por quem fala, para melhorar a expressividade de um texto literário. Pode ser entendida como um artifício linguístico capaz de promover uma transferência de significado de um vocábulo para outro, através de comparação não claramente explícita.

Esta questão é apenas a ponta do iceberg.

Ela é uma formiga para doces.

Essa notícia foi um balde de água fria.

Minha filha está uma girafa!

Aquele atleta é um touro.

Esta informação será a chave do problema.

O sentido figurado é tão utilizado que sequer nos damos conta de que aquela palavra não corresponde exatamente ao que ela está designando. Por essa razão, alguns estudiosos comparam a catacrese a uma metáfora que, de tão frequente, já foi incorporada ao nosso vocabulário, e às vezes ela é definida como uma “metáfora obrigatória”.

Braço da cadeira.

Embarcar no avião/ no trem/ no ônibus.

Árvore genealógica.

Metonímia é a figura de linguagem que possibilita troca de um termo por outro de mesma similaridade. É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si.

Quando troca-se o autor pela obra:

Você precisa “ler Shakespeare”.

Quando o continente é substituído pelo conteúdo:

Os meninos comeram dois “pratos” no jantar.

Se trocarmos o inventor por seu invento:

“Thomas Edison” iluminou o mundo.

Quando se toma o abstrato pelo concreto, ou vice-versa:

Pela “cruz” vencerás.

Se o efeito for tomado pela causa ou vice-versa (metalepse):

Ganharás o pão com o “suor de teu rosto”.

Respeito seus “cabelos brancos”.

Antonomásia – É a troca de um nome por uma expressão, ou por outro nome que caracterize uma qualidade, ou um fato identificador.

O “Apóstolos dos Gentios” revolucionou o mundo com sua pregação.

Caracteriza-se pela redundância. Trata-se da repetição de palavras que tem o mesmo significado, em uma mesma oração. Pode ocorrer de duas formas: Como Pleonasmo Literário ou como Pleonasmo Vicioso (perissologia).

SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento antes

E com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu

canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

Figura da repetição. Ocorre quando uma mesma palavra ou várias, são repetidas sucessivamente, no começo de orações, períodos, ou em versos. A repetição tem o objetivo de dar ênfase e tornar mais expressiva a mensagem.

A PRIMEIRA VISTA

Chico César

Quando não tinha nada, eu quis

Quando tudo era ausência, esperei

Quando tive frio, tremi

Quando tive coragem, liguei

Quando chegou carta, abri

Quando ouvi Prince, dancei

Quando o olho brilhou, entendi

Quando criei asas, voei

(...)

Caracteriza-se pela repetição de um determinado conectivo entre palavras ou expressões; utiliza o excesso de elementos de ligação para enfatizar a ideia de acréscimo ou de sucessão.

Enquanto os homens exercem seus podres poderes índios e padres e bichas, negros e mulheres E adolescentes fazem o carnaval (Podres poderes – Caetano Veloso)

“Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro.” (Fernando Pessoa)

Figura de linguagem que consiste na repetição de sons de consoantes iguais ou semelhantes. Ocorre geralmente, no início das palavras, que compõem versos ou frases, mas pode estar também no meio ou no fim.

Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Lá vem o pato Pato aqui, pato acolá Lá vem o pato Para ver o que é que há

(O pato – Vinícius de Moraes)

Emprego de uma palavra ou expressão de forma que ela tenha um sentido diferente do habitual e produza um humor sutil. Para que a ironia funcione, esse jogo com as palavras deve ser feito com elegância, de uma maneira que não deixe transparecer imediatamente a intenção. Frequentemente, esse jogo é feito utilizando-se uma palavra quando na verdade se quer dizer o oposto dela, mas vale lembrar que nem só de oposições se constroem as ironias. Às vezes, o sentido real do que se diz não é exatamente o oposto, mas é diferente, e isso basta para tornar a sentença irônica.

Que pessoa educada! Entrou sem cumprimentar ninguém.

Fale mais alto, lá da esquina ainda não dá para ouvir.

Aproximação de palavras que expressam ideias opostas. Tal aproximação produz um contraste que enfatiza os sentidos das duas palavras, ressaltando-os de uma forma que não seria possível se os termos fossem empregados isoladamente.

Não existiria som se não houvesse o silêncio

Não haveria luz se não fosse a escuridão

A vida é mesmo assim

Dia e noite, não e sim

(Certas coisas – Lulu Santos/ Nelson Motta)

Nasce o sol, e não dura mais que um dia

Depois da luz se segue a noite escura

Em tristes sonhos morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

(À instabilidade das cousas do mundo – Gregório de

Matos)

Expressão de uma ideia lógica por meio do emprego de termos opostos entre si. Num enunciado paradoxal, noções mutuamente excludentes são postas em relação e/ou incidem sobre um mesmo referencial.

Essa menina parece que dorme acordada.

Quanto mais vivemos, mais nos aproximamos da morte.

“Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar” (Tiranizar – Caetano Veloso)

“A explosiva descoberta Ainda me atordoa. Estou cego e vejo.

Arranco os olhos e vejo”.

(Carlos Drummond de Andrade)

A figura de linguagem elipse se dá quando uma palavra ou expressão é omitida da sentença, mas mesmo assim pode ser identificada. O termo fica subentendido e sua ausência na oração não prejudica a compreensão do que está sendo dito.

Na minha estante, livros e discos antigos.

(Na minha estante, há livros e discos antigos.)

ATENÇÃO: Existe uma outra figura de linguagem que também se dá pela omissão de termos, uma espécie de caso particular da elipse. Mas ela possui uma característica que justifica sua descrição como uma figura de linguagem à parte. Trata-se do zeugma.

Caracteriza-se pela omissão de palavras ou expressões anteriormente expressas no período.

Eu gosto de morango e de melancia também.

(Eu gosto de morango e gosto de melancia também.)

Eu chego cedo sempre, só não quando estou sem carro.

(Eu chego cedo sempre, só não chego quando estou sem carro.)

FORMA (SONETO, HAICAI, ODE, POESIA CONCRETA)

SONORIDADE

RIMA

MÉTRICA

Existem alguns poemas que apresentam regras fixas quanto ao número de versos, à combinação das rimas e à organização das estrofes. Entre eles, está o soneto. Quanto à classificação, eles podem ser de dois tipos: soneto italiano e soneto inglês.

⇒ Soneto italiano

É caracterizado pela presença de quatorze versos que, normalmente, possuem dez sílabas poéticas, ou seja, versos decassílabos ou alexandrinos. Esses versos são organizados em duas quadras e dois tercetos.

⇒ Soneto inglês

Assim como o italiano, o soneto inglês também possui quatorze versos, mas diferencia-se por apresentar três quadras e um dístico final.

Frescura das sereias e do orvalho, Dos brancos pés dos pequeninos,

Voz das manhãs cantando pelos sinos, Rosa mais alta no mais alto galho:

De quem me valerei, se não me valho De ti, que tens a chave dos destinos

Em que arderam meus sonhos cristalinos Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?

Também te vi chorar… Também sofreste A dor de verem secarem pela estrada

As fontes da esperança… E não cedeste!

Antes, pobre, despida e trespassada, Soubeste dar à vida, em que morreste, Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!

Manoel Bandeira

Poema curto de origem japonesa. O tradicional haicai japonês possui uma

estrutura específica, ou seja, uma forma fixa composta de três versos

(terceto) formados por 17 sílabas poéticas (5/7/5). Embora essa seja sua

estrutura tradicional, o haicai foi se modificando com o tempo, sendo que

alguns escritores não seguem esse padrão de sílabas.

Os haicais são poemas objetivos com uma linguagem simples e podem ou

não apresentarem um esquema de rimas e títulos. Os temas mais

explorados nos haicais são referentes ao cotidiano e à natureza.

Além da mudança de estrutura, os haicais modernos podem explorar outros temas como o amor, problemas sociais, sentimentos do eu-lírico, dentre outros.

“Viver é super difícil

o mais fundo

está sempre na superfície”

(Paulo Leminski)

“Nos dias quotidianos

É que se passam

Os anos”

(Millôr Fernandes)

“Tremendo de frio

no asfalto negro da rua

a criança chora.”

(Fanny Luíza Dupré)

Ode é uma composição poética do gênero lírico. O termo tem origem no grego “odés” que significa “canto”. Na Grécia Antiga, "ode" era um poema sobre algo sublime composto para ser cantado individualmente ou em coro, e com acompanhamento musical.

Um exemplo de ode são os hinos nacionais dos países, em que os autores fazem uma homenagem à Pátria e aos seus símbolos e são acompanhados por instrumentos musicais.

Ode triunfal – Fernando Pessoa (canto de louvor e exaltação à modernidade)

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica

Tenho febre e escrevo.

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!

Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!

Em fúria fora e dentro de mim,

Por todos os meus nervos dissecados fora,

Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!

Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,

De vos ouvir demasiadamente de perto,

E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso

De expressão de todas as minhas sensações,

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”

O poema não serve apenas para ser lido, mas também para ser

visto e ouvido; há exploração dos aspectos visuais e sonoros.

A poesia deixa de ser discursiva – a comunicação é visual.

Os espaços em branco são explorados.

Augusto de Campos

Décio Pignatari

Décio Pignatari

Ronaldo Azeredo

Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de

linguagem para

a) condenar a prática de exercícios físicos.

b) valorizar aspectos da vida moderna.

c) desestimular o uso das bicicletas.

d) caracterizar o diálogo entre gerações.

e) criticar a falta de perspectiva do pai.

ENEM 2004

Cidade grande

Que beleza, Montes Claros.

Como cresceu Montes Claros.

Quanta indústria em Montes Claros.

Montes Claros cresceu tanto,

ficou urbe tão notória,

prima-rica do Rio de Janeiro,

que já tem cinco favelas

por enquanto, e mais promete.

(Carlos Drummond de Andrade)

Entre os recursos expressivos empregados

no texto, destaca-se a

a) metalinguagem, que consiste em fazer a

linguagem referir-se à própria linguagem.

b) intertextualidade, na qual o texto retoma e

reelabora outros textos.

c) ironia, que consiste em se dizer o

contrário do que se pensa, com intenção

crítica.

d) denotação, caracterizada pelo uso das

palavras em seu sentido próprio e objetivo.

e) prosopopéia, que consiste em personificar

coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

ENEM 2004

Metáfora - Gilberto Gil

Uma lata existe para conter algo,

Mas quando o poeta diz: “Lata”

Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo,

Mas quando o poeta diz: “Meta”

Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso não se meta a exigir do poeta

Que determine o conteúdo em sua lata

Na lata do poetatudonada cabe,

Pois ao poeta cabe fazer

Com que na lata venha caber

O incabível

Deixe a meta do poeta não discuta,

Deixe a sua meta fora da disputa Meta

dentro e fora, lata absoluta

Deixe-a simplesmente metáfora.

Disponível em: http://www.letras.terra.com.br.

Acesso em: 5 fev. 2009.

A metáfora é a figura de linguagem identificada

pela comparação subjetiva, pela semelhança ou

analogia entre elementos. O texto de Gilberto Gil

brinca com a linguagem remetendo-nos a essa

conhecida figura. O trecho em que se identifica a

metáfora é:

a) “Uma lata existe para conter algo”.

b) “Mas quando o poeta diz: „Lata'”.

c) “Uma meta existe para ser um alvo”.

d) “Por isso não se meta a exigir do poeta”.

e) “Que determine o conteúdo em sua lata”

ENEM 2009 – Cancelado

ENEM 2007

O açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema

não foi produzido por mim

nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro

e afável ao paladar

como beijo de moça, água

na pele, flor

que se dissolve na boca. Mas este açúcar

não foi feito por mim.

Este açúcar veio

da mercearia da esquina e tampouco o fez o

Oliveira,

[dono da mercearia.

Este açúcar veio

de uma usina de açúcar em Pernambuco

ou no Estado do Rio

e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana

e veio dos canaviais extensos

que não nascem por acaso

no regaço do vale.

(…)

Em usinas escuras,

homens de vida amarga

e dura

produziram este açúcar

branco e puro

com que adoço meu café esta manhã em

Ipanema.

Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de

Janeiro:Civilização Brasileira, 1980, p. 227-8.

A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade

brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e

a) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar.

b) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se dissolve na boca.

c) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde se produz o açúcar.

d) a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale.

e) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas escuras.

ENEM 2014

da sua memória

mil

e

mui

tos

out

ros

ros

tos

sol

tos

pou

coa

pou

coa

pag

amo

meu

ANTUNES, A.2 ou + corpos no mesmo espaço.

São Paulo: Perspectiva, 1998.

Trabalhando com recursos formais inspirados no

Concretismo, o poema atinge uma

expressividade que se caracteriza pela

a) interrupção da fluência verbal, para testar os

limites da lógica racional.

b) reestruturação formal da palavra. para

provocar o estranhamento no leitor.

c) dispersão das unidades verbais, para

questionar o sentido das lembranças.

d) fragmentação da palavra, para representar o

estreitamento das lembranças.

e) renovação das formas tradicionais, para

propor uma nova vanguarda poética.