professor: leandro couto · irlanda do norte dominada há séculos pelo reino unido, a irlanda do...

12
1 Professor: Leandro Couto Os conflitos contemporâneos, o nacionalismo e as lutas étnico-religiosas no mundo pós-Guerra Fria Durante os 45 anos de guerra fria, as duas superpotências do mundo bipolar, EUA e URSS, exerceram influência direta ou indireta sobre quase todos os eventos de repercussão internacional, ocorridos nas mais diversas partes do mundo, o que fez com que muitos conflitos hoje vivenciados meio que passassem por um “congelamento”, pois o receio de se tornar um novo Vietnã – que foi invadido pelos EUA -, ou Afeganistão invadido pela URSS - era evidente. Hoje em dia é possível afirmar que devido à interdependência econômica entre os países, e a existência de mecanismos supranacionais de negociação como a ONU apesar de estar desmoralizada depois da guerra do Iraque -, a possibilidade de guerra entre os países do mundo desenvolvido parece ser cada vez menor. Assiste-se, no entanto, na era pós-guerra fria, a um ressurgimento de movimentos nacionalistas que se julgava superados e uma multiplicação de conflitos localizados, especialmente em países periféricos e em alguns dos países que compunham o bloco socialista, pois foi no seu interior que se manifestou uma série de confrontos armados de cunho nacionalista que surpreenderam o mundo, pela violência que desencadearam. Para melhor compreender cada um desses conflitos é preciso entender primeiro três conceitos base: 1) Nação Nação é um conjunto de pessoas, ou povo, que têm as mesmas origens históricas, a mesma cultura e uma identidade em comum. Exemplo: As tribos indígenas brasileiras, Os curdos, etc. 2) Território É uma parte do Espaço Geográfico delimitado por fronteiras e mantido através de relações de poder. 3) Estado É o poder centralizado que comanda o Território e representa muitas vezes a nação. A questão dos Bálcãs Situado no centro da montanhosa península balcânica, o território da Iugoslávia reduziu-se a menos da metade de sua extensão com a independência de quatro de suas ex-repúblicas, nos anos 90, após o fim do bloco socialista que patrocinava o regime de domínio dos sérvios sobre as demais nações que compunham aquela região. Esse regime deu início a um longo conflito que se arrasta até os dias de hoje. A oposição sérvia ao movimento separatista, sob a liderança de Milosevic, aliada aos antagonismos entre os grupos nacionais provoca a pior guerra civil da Europa contemporânea (1991 1995). LESTE EUROPEU PÓS-GUERRA FRIA Desde 1992, a Iugoslávia é formada apenas por Sérvia e Montenegro. Um acordo assinado em 2002 arquiva os planos separatistas de Montenegro, ao estabelecer uma nova união entre as duas repúblicas. Kosovo Permanece sob o controle internacional, embora pertença formalmente à Iugoslávia desde 1999 com o acordo de paz assinado. A administração da província está a cargo de uma missão da ONU, que tem a tarefa de reduzir a tensão entre sérvios e albaneses. A resistência Chechena ao domínio russo A Chechênia, uma das repúblicas russas de população muçulmana, declara independência em 1991, depois do colapso da URSS. As hostilidades aumentam em 1994, e tropas russas invadem o território, mas são derrotadas. Cerca de 100 mil pessoas morrem em dois anos de conflito, encerrado em 96 com um acordo de paz que adia a decisão sobre o status político da república. Chechenos, em agosto de 99, invadem o Daguestão, também muçulmana para formar um Estado islâmico. O presidente Putin apóia à coalizão antiterrorismo pós 11 de setembro e afirma que separatistas mantêm vínculos com os terroristas envolvidos nos ataques aos Estados Unidos. Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante (58%) e católica (42%) que vivem lado a lado. Enquanto os

Upload: others

Post on 23-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

1

Professor: Leandro Couto

Os conflitos contemporâneos, o nacionalismo e as lutas étnico-religiosas no mundo pós-Guerra Fria Durante os 45 anos de guerra fria, as duas superpotências do mundo bipolar, EUA e URSS,

exerceram influência direta ou indireta sobre quase todos os eventos de repercussão internacional, ocorridos nas mais diversas partes do mundo, o que fez com que muitos conflitos hoje vivenciados meio que passassem por um “congelamento”, pois o receio de se tornar um novo Vietnã – que foi invadido pelos EUA -, ou Afeganistão – invadido pela URSS - era evidente. Hoje em dia é possível afirmar que devido à interdependência econômica entre os países, e a existência de mecanismos supranacionais de negociação como a ONU – apesar de estar desmoralizada depois da guerra do Iraque -, a possibilidade de guerra entre os países do mundo desenvolvido parece ser cada vez menor. Assiste-se, no entanto, na era pós-guerra fria, a um ressurgimento de movimentos nacionalistas que se julgava superados e uma multiplicação de conflitos localizados, especialmente em países periféricos e em alguns dos países que compunham o bloco socialista, pois foi no seu interior que se manifestou uma série de confrontos armados de cunho nacionalista que surpreenderam o mundo, pela violência que desencadearam. Para melhor compreender cada um desses conflitos é preciso entender primeiro três conceitos base: 1) Nação – Nação é um conjunto de pessoas, ou povo, que têm as mesmas origens históricas, a mesma cultura e uma identidade em comum. Exemplo: As tribos indígenas brasileiras, Os curdos, etc. 2) Território – É uma parte do Espaço Geográfico delimitado por fronteiras e mantido através de relações de poder. 3) Estado – É o poder centralizado que comanda o Território e representa muitas vezes a nação. A questão dos Bálcãs

Situado no centro da montanhosa península balcânica, o território da Iugoslávia reduziu-se a menos da metade de sua extensão com a independência de quatro de suas ex-repúblicas, nos anos 90, após o fim do bloco socialista que patrocinava o regime de domínio dos sérvios sobre as demais nações que compunham aquela região. Esse regime deu início a um longo conflito que se arrasta até os dias de hoje.

A oposição sérvia ao movimento separatista, sob a liderança de Milosevic, aliada aos antagonismos entre os grupos nacionais provoca a pior guerra civil da Europa contemporânea (1991 – 1995). LESTE EUROPEU PÓS-GUERRA FRIA Desde 1992, a Iugoslávia é formada apenas por Sérvia e Montenegro. Um acordo assinado em 2002 arquiva os planos separatistas de Montenegro, ao estabelecer uma nova união entre as duas repúblicas. Kosovo Permanece sob o controle internacional, embora pertença formalmente à Iugoslávia desde 1999 com o acordo de paz assinado. A administração da província está a cargo de uma missão da ONU, que tem a tarefa de reduzir a tensão entre sérvios e albaneses. A resistência Chechena ao domínio russo A Chechênia, uma das repúblicas russas de população muçulmana, declara independência em 1991, depois do colapso da URSS. As hostilidades aumentam em 1994, e tropas russas invadem o território, mas são derrotadas. Cerca de 100 mil pessoas morrem em dois anos de conflito, encerrado em 96 com um acordo de paz que adia a decisão sobre o status político da república. Chechenos, em agosto de 99, invadem o Daguestão, também muçulmana para formar um Estado islâmico. O presidente Putin apóia à coalizão antiterrorismo pós 11 de setembro e afirma que separatistas mantêm vínculos com os terroristas envolvidos nos ataques aos Estados Unidos. Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante (58%) e católica (42%) que vivem lado a lado. Enquanto os

Page 2: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

2

Professor: Leandro Couto

protestantes aprovam a união com a coroa britânica (unionistas), os católicos reivindicam a integração de Ulster à República da Irlanda – país de maioria católica. Nas eleições para o parlamento de Ulster os protestantes sempre obtêm maioria e excluem os católicos do governo. Em contrapartida o movimento dos católicos por direitos civis cresce em embates liderados pelo Ira, que também promove atentados terroristas nas Inglaterra. A violência do Ira e de grupos paramilitares protestantes debilita a economia e dificulta acordos de paz. A questão Basca Encravada entre o norte da Espanha e o sudoeste da França a região basca tem uma cultura própria, sobretudo a língua, euskara, e sustenta um movimento nacionalista desde o fim do século XIX. É um típico conflito de uma nação em busca do reconhecimento do seu Estado. A campanha pela independência cresce com a fundação, em 1959, da organização separatista pátria basca e liberdade (ETA). Com a constituição espanhola de 78, o país basco conquista alto grau de autonomia, apesar disso alguns remanescentes do ETA decidem continuar com a luta. Atentados atribuídos ao ETA matam mais de 800 pessoas desde 68 quando desencadeiam a luta armada. O Apartheid A partir de 1911, na África do Sul, a minoria dominante branca descendente dos ingleses, promulga uma série de leis que consolida seu poder sobre a população negra. A política de segregação racial do apartheid (separação em africâner) é oficializada em 1948. Algumas medidas do apartheid: 1) Impede o acesso dos negros à propriedade da terra e a participação política; 2) Obriga-os a viver em zonas residenciais segregadas; 3) Torna ilegais casamentos e relações sexuais inter-raciais; 4) Torna Obrigatório o uso, por parte dos negros, do “Passbook”, uma espécie de passaporte para que os mesmos pudessem circular livremente pelo país. A oposição ao apartheid toma forma na década de 50 seu líder, Nélson Mandela, é preso em 62 e condenado à prisão perpétua. Em 1990, Mandela é libertado e em 1994 eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições multirraciais da história do país, consolidando o fim do apartheid. As FARC e o Plano Colômbia Ex – combatentes liberais criam em 1965 as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que é subsidiada principalmente pelo tráfico de cocaína. Estima-se que essa região produza mais da metade da cocaína consumida no mundo. Outras guerrilhas de esquerda, como o exército de libertação nacional (ELN) e o movimento revolucionário 19 de Abril (M – 19), são fundadas nos anos seguintes, e a guerra civil avança no país. Em 98, com plano centrado na pacificação do país, o governo tenta sem sucesso negociar com as guerrilhas. Na visão de Washington e do governo colombiano, a eliminação do plantio de coca é crucial para a pacificação do país. O plano Colômbia tem por objetivo oficial acabar com a produção de droga no país e conta com a ajuda logística dos EUA, no entanto, é preciso observar bem de perto esse caso, pois ele se passa na Amazônia, e é fato conhecido que os EUA têm interesse especial nessa região. Até agora os resultados tem sido insatisfatórios, pois de acordo com dados da CIA o cultivo da coca cresceu 24,7% em 2001. O MUNDO ISLÂMICO O islamismo é a religião que mais cresce atualmente, há mais de 1,3 bilhão de muçulmanos no mundo. A maior concentração está na Ásia e na África, embora tenha se expandido muito na Europa Oriental. Distribuição da População Muçulmana no mundo. De um lado, o terrorismo radical elegeu os Estados Unidos como a representação de todo o mau que existe no mundo ocidental, do outro, o islamismo prega o respeito por outras crenças, e se auto proclama a religião da paz. O Oriente Médio caracteriza-se por sua posição geográfica estratégica como fornecedor de petróleo para um grande número de países poderosos, pelo quebra-cabeça político representado pela convivência

Page 3: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

3

Professor: Leandro Couto

difícil entre o Estado Judaico, seus vizinhos árabes e a população palestina, que reivindica a criação de um Estado Nacional próprio, e pelas diferenças culturais entre ocidente e oriente. O Oriente Médio constitui-se ainda no principal foco de tensões mundiais, mesmo no período pós-guerra fria. A questão da Palestina A Palestina, uma estreita faixa de terra desértica, que se estende ao longo do mediterrâneo, entre o Líbano e o Egito, tem sido objeto, há mais de 50 anos, de uma violenta disputa que envolve israelenses e palestinos. O Estado de Israel foi criado em 1948, pela ONU, oficialmente para abrigar o povo judeu que estava espalhado pelo mundo, no entanto, a ONU foi coagida pelos EUA para a formação do Estado de Israel, pois era importante para os planos geopolíticos estadunidenses dominar aquele ponto estratégico localizado “na porta do Oriente, ao norte da África, abaixo da Europa e de frente para o Mediterrâneo”. O que é lamentável, é que a ONU desconsiderou a existência do povo palestino, e uniu no mesmo país dois povos historicamente irmãos e inimigos. Desde então é um sonho para o mundo islâmico a retomada dessa área e a formação de um Estado Palestino. A questão da Caxemira Situada na cordilheira do Himalaia, a Caxemira é o pivô de uma disputa envolvendo Índia e Paquistão desde a independência. Em 1947, logo após a divisão, a Índia e o Paquistão entram em guerra pelo controle da Caxemira, conflitos que se encerra no ano seguinte com a primeira divisão da Caxemira entre os dois países. A hostilidade indiano–paquistanesa se enquadra na guerra fria – a Índia tem apoio soviético, e o Paquistão respaldo estadunidense. A questão dos Curdos Maior etnia sem Estado do mundo, os curdos habitam uma vasta região de 500 mil quilômetros quadrados, que extrapolam as fronteiras da Turquia, da Armênia, do Azerbaijão, do Irã, e do Iraque. São majoritariamente muçulmanos sunitas e falam o idioma curdo. A partir dos meados do século XX ocorrem rebeliões na Turquia e no Iraque e surge o projeto de um Estado curdo na região (o Curdistão). Os governos reprimem com violência os separatistas A DOUTRINA BUSH Os desdobramentos dos atentados de 11 de setembro de 2001 continuam em 2003. Graças ao prestígio adquirido na ocasião, Bush escapa ao desgaste provocado pelos escândalos contábeis das grandes corporações e o desaquecimento da economia norte-americana, colocando seu conflito contra o Iraque no centro da agenda internacional e empurra o Partido Republicano à vitória nas eleições legislativas de novembro. A vitória tornou-se mais fácil com a chamada Doutrina Bush. A anunciada em setembro, essa doutrina é considerada agressiva. Por ela os EUA se arrogam o direito de agir preventivamente, atacando potenciais adversários e agir sem o aval da ONU. Depois de derrubar o regime Taliban, no Afeganistão, o governo Bush elege o Iraque côo alvo principal de sua cruzada contra o terror. O Ataque estadunidense ao Iraque O Iraque é um país rico em petróleo, não possui saída para o mar, e foi governado pela ditadura violenta de Saddam Hussein, figura entre os países acusados de abrigar terroristas islâmicos, e esteve envolvido no início da década de 90 com a invasão do Kuwait. Nesse ano o Iraque foi vítima de vários ataques provindos da aliança EUA – Inglaterra, liderada por Bush e Blair. Os mesmos usaram como justificativa ao ataque a posse de armas químicas de destruição em massa por parte do Iraque, de acordo com suas justificativas, os EUA e a Grã-Bretanha estavam agindo preventivamente, devido os ataques terroristas ocorridos ultimamente. O ataque ao Iraque, portanto, faz parte de um plano de ações geoestratégicas chamado de “guerra contra o terror”, onde os EUA acham que com esse pretexto têm o direito de atacar qualquer país do mundo, inclusive, sem o aval da ONU, que notadamente enfraqueceu-se após esse episódio. A Guerra do Golfo

Page 4: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

4

Professor: Leandro Couto

A tentativa de anexar o Kuwait resulta em um ataque de uma coalizão de países liderados pelos EUA, em janeiro e fevereiro de 1991. Após a libertação do Kuwait, o Conselho de Segurança da ONU requisitou ao Iraque que se desfizesse de todos os armamentos de destruição em massa e mísseis de longo alcance e que permita inspeções por parte da ONU. Sanções comerciais da ONU continuavam vigorando devido ao cumprimento incompleto do Iraque de resoluções relevantes da organização. A Coréia do Norte A península coreana voltou ser centro de atenção internacional (a guerra da Coréia ocorre em 1950-53), depois do Bush ter incluído a Coréia do Norte no chamado eixo do mal, ao lado do Iraque. Acusado de possuir armas nucleares, o regime de Pyonggyang passa a ser pressionado por Washington. Isso ocorre no momento em que o ditador Kim Jong II procura sair do isolamento, promovendo reformas econômicas e aproximando-se da Coréia do Sul e do Japão. Ao combater o regime norte-coreano, Bush dificulta o processo de reunificação do país sob a liderança sul-coreana. Cada vez mais prospera, a Coréia do Sul vem procurando escapar da tutela norte-americana e vislumbra na reunificação a possibilidade de se transformar em regional. A luta do Bush contra o terrorismo fundamenta-se nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Em 12 de outubro de 2002, duas bombas explodem na paradisíaca ilha de Bali, na Indonésia, com mais de 180 mortos, a maioria turistas australianos, as autoridades culpam grupos terroristas ligados a Al Qaeda, de Osama bin Laden. O CONTEXTO LATINO O caso da Venezuela De um lado, o companheiro de Fidel Castro, perigo para a estabilidade da América Latina. De outro, um país imperialista com interesse nas riquezas do sul do continente americano. Desde 1998, com a subida de Hugo Chávez ao poder, críticas e acusações dominam a relação entre a Venezuela e os Estados Unidos. A divergência entre os dois países não se encontra apenas no campo do discurso. Interesses econômicos são importantes fatores que conduzem o rumo dessa relação. Petróleo As relações entre os países dependem de múltiplos interesses, entre eles, o econômico. No caso da Venezuela e dos EUA, estão envolvidos recursos naturais importantes, como o petróleo. Desde os anos 20, o petróleo sustenta a Venezuela que, hoje, ocupa o quinto lugar na produção mundial do produto. Naquele tempo, a política refletia a situação econômica do país, com uma minoria branca e rica no poder e o restante da população vivendo à margem do sistema. Há 40 anos, dois partidos políticos revezavam-se no governo. Para as empresas estrangeiras, principalmente as do ramo petrolífero, vigorava a tranqüilidade nos negócios. Nos anos 1990, esse sistema de revezamento político passou por problemas, esgotado pela corrupção. A Venezuela enfrentava as conseqüências das reformas neoliberais mal planejadas, além de variações no próprio preço do petróleo. Com isso, o país entrou numa forte crise política e econômica. Foi a oportunidade de Chávez para subir ao poder. Presidente venezuelano e a economia Hugo Chávez define-se como um representante das massas que iria implantar um sistema político-econômico próximo ao socialismo, um discurso que confronta a posição ideológica norte-americana. Em termos econômicos, os EUA ainda são os principais parceiros nos negócios da Venezuela. Mas o cenário não anda tão previsível como antes. Em 2001, Chavéz ratificou medidas legislativas que, entre outras coisas, centralizavam o controle do petróleo para o governo. Recentemente, numa sessão plenária em praça pública, o congresso venezuela aprovou um pacote de medidas que conferem poderes especiais ao Presidente Chávez, dando-lhe “superpoderes” e conferindo-lhe a possibilidade de tomar medidas sem consultar ao congresso antes. A preocupação com perdas econômicas motivou o golpe para derrubar Chávez, em 2002. A iniciativa fracassou e Hugo Chávez confirmou o apoio popular em um referendo nacional realizado em agosto de 2004 e em sua reeleição em 2006. O presidente venezuelano acusa os norte-americanos de participação no golpe, afirmação negada pelos EUA.

Page 5: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

5

Professor: Leandro Couto

Indústria no Brasil

Até, a metade do século XX, o Brasil dependeu exclusivamente da economia agrícola. Até então, a organização das atividades econômicas eram dispersas e as economias regionais se estruturavam praticamente de forma totalmente autônoma. Os inícios da industrialização tratados na seção anterior e a crise do café em cerca de 1929 foram fatores importantes para que o governo federal passasse a promover a integração dos "arquipélagos naturais". A estrutura da indústria no Brasil cresceu e solidificou-se consideravelmente a partir da década de 1930. O governo de Getúlio Vargas (1882 - morto em 1954) encarregou-se dessa tarefa instalando um sistema de transportes que ligasse os Estados brasileiros, o que terminou aumentando o fluxo de mercadorias e pessoas entre os mesmos. Os produtos industriais produzidos sobretudos na região sudeste alcançou outras regiões do Brasil, causando a falência de indústrias que não conseguiam competir, e estabelecendo um forte centro econômico e industrial em São Paulo e Rio de Janeiro.

No surto industrial da década de 1930, houve indicadores crescentes no consumo de cimento e aço, e importantes substituições de importações decorrentes da maturação dos investimentos com aquisições de bens de capital da indústria têxtil que haviam sido feitos entre 1921 e 1928, e com o controle cambial instaurado em 1931 e que perdurou até 1937. Esse crescimento foi interrompidos pelo aumento das exportações de tecido. O declínio verificado após o último surto só teria um breve período de recuperação durante o biênio 1943-1944, com os investimentos públicos para a instalação da primeira siderúrgica no Brasil. O governo demonstrou preocupação com a atividade industrial e criou a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, mas que apenas a partir de 1941 possibilitaria financiamentos importantes. O presidente Vargas, que representava os conceitos e anseios da Revolução de 1930, passou a investir fortemente na criação da infra-estrutura industrial: indústria de base e energia, e criou diversas companhias e instituições decisivas para a industrialização, como o Conselho Nacional do Petróleo (1938), a Companhia Siderúrgica Nacional (1941, energia elétrica para as indústrias e para a população), a Companhia Vale do Rio Doce (1943, exploração do minério de ferro) e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (1945). Foram as primeiras grandes empresas industriais do país. Somadas a estas, a criação da Petrobrás, em 1953, contribuiu para o aceleramento do crescimento industrial. O governo de Vargas também criou leis trabalhistas que satisfizessem os trabalhadores e que terminaram preparando o país para a organização no crescimento das indústrias, como foi o caso da Consolidação das Leis do Trabalho. Depois de Vargas, o governo de Juscelino Kubitschek (1956 – 1961) também trouxe projetos governamentais em relação ao crescimento industrial, que ganhou maior dimensão com a criação de medidas alfandegárias, propiciando, assim, a vinda de empresas internacionais para o Brasil. Seu Plano de Metas incentivou a produção industrial, que crescia aceleradamente, e o governo de Kubitschek concentrou atenções em investimentos na área de energia e de transportes. Na época, diversas empresas multinacionais investiram no Brasil, entre elas notavelmente a montadora de automóveis Volkswagen, entre outras. Dessa forma, pode-se dizer que com medidas políticas a indústria no Brasil experimentou momentos de grande crescimento, organização e prosperidade. Nos anos 70, 80 e 90, a indústria no Brasil continuou a crescer, embora tenha estagnado em certos momentos de crise econômica. A década de 80, por exemplo, ficou conhecida como a "década perdida" para a economia brasileira devido a retração econômica da indústria. O cenário mudou e, estabilizada, a base industrial atual do país produz diversos produtos: automóveis, máquinas, roupas, aviões, equipamentos, produtos alimentícios industrializados, eletrodomésticos, e muitos outros. Embora seja auto-suficiente na maioria dos setores, a indústria brasileira ainda é dependente de tecnologia externa em campos como a informática. Além disso, o parque industrial brasileiro continua concentrado sobretudo nos estados do Centro-Sul e nas regiões metropolitanas, embora a dispersão da infra-

Page 6: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

6

Professor: Leandro Couto

estrutura de transportes, energia e comunicação tem a dispersado espacialmente nas últimas décadas para diversas outras regiões, inclusive no interior dos estados. Os esforços do passado criaram uma intensificação na indústria brasileira que possui um enorme e variado parque industrial produzindo bens de consumo e até mesmo tecnologia de ponta. Após diversas crises econômicas, o país é hoje um dos mais industrializados do mundo e ocupa o décimo quinto lugar em escala global nesse segmento. Na primeira década do século XXI, a privatização de empresas estatais nas áreas de mineração, bancária e de telecomunicações foi uma característica marcante na economia brasileira. A industrialização brasileira ainda não ocorre de maneira homogênea, portanto certas regiões são densamente industrializadas, enquanto outras são totalmente desprovidas desse tipo de atividade econômica. Apesar de diversos problemas sociais, costumeiramente relacionados à maneira da industrialização no país, o Brasil vem ocupando um lugar de destaque no cenário econômico e industrial internacional.

Nos anos 70, 80 e 90, a indústria no Brasil continuou a crescer, embora tenha estagnado em certos momentos de crise econômica. A década de 80, por exemplo, ficou conhecida como a "década perdida" para a economia brasileira devido a retração econômica da indústria. O cenário mudou e, estabilizada, a base industrial atual do país produz diversos produtos: automóveis, máquinas, roupas, aviões, equipamentos, produtos alimentícios industrializados, eletrodomésticos, e muitos outros. Embora seja auto-suficiente na maioria dos setores, a indústria brasileira ainda é dependente de tecnologia externa em campos como a informática.32 Além disso, o parque industrial brasileiro continua concentrado sobretudo nos estados do Centro-Sul e nas regiões metropolitanas, embora a dispersão da infra-estrutura de transportes, energia e comunicação tem a dispersado espacialmente nas últimas décadas para diversas outras regiões, inclusive no interior dos estados. Os esforços do passado criaram uma intensificação na indústria brasileira que possui um enorme e variado parque industrial produzindo bens de consumo e até mesmo tecnologia de ponta. Após diversas crises econômicas, o país é hoje um dos mais industrializados do mundo e ocupa o décimo quinto lugar em escala global nesse segmento. Na primeira década do século XXI, a privatização de empresas estatais nas áreas de mineração, bancária e de telecomunicações foi uma característica marcante na economia brasileira. A industrialização brasileira ainda não ocorre de maneira homogênea, portanto certas regiões são densamente industrializadas, enquanto outras são totalmente desprovidas desse tipo de atividade econômica. Apesar de diversos problemas sociais, costumeiramente relacionados à maneira da industrialização no país, o Brasil vem ocupando um lugar de destaque no cenário econômico e industrial internacional. A indústria brasileira tem importância crucial no país por ser um microssetor que exige considerável investimento financeiro, por produzir os bens de maior valor da economia e empregar milhões de brasileiros. Grande parte dos bens produzidos, ou seja, os manufaturados, estão diretamente ligados à urbanização do país, como os produtos eletrodomésticos que a população usa para conforto, trabalho, saúde e bem estar. Além disso, as retrações econômicas da indústria, não só no Brasil, provocam uma série de consequências consideravelmente ruins, como o aumento do desemprego pelo fato da demissão de trabalhadores, a elevação dos preços de produtos para compensar as perdas financeiras que pode ocasionar a inflação, a queda da arrecadação de impostos devido a diminuição das vendas do comércio e, também, e sobretudo no Brasil, a redução da capacidade de funcionamento das três esferas de governos. Não obstante, a indústria é muito importante na produção de riquezas do Brasil, mensurada no Produto Interno Bruto (PIB). Como exemplo, podemos citar o ano de 2009, em que o PIB brasileiro atingiu cerca de 3,14 trilhões de reais e a indústria havia sido responsável por 25,4% de todo esse valor.33 O agronegócio, cuja cadeia começa nas fábricas de tratores, de adubos e de ração animal, é responsável por cerca de um quarto do PIB nacional.34 Por fim, as exportações de produtos industrializados e de produtos básicos ou matérias-primas (commodities) também influem na riqueza de qualquer nação.

Page 7: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

7

Professor: Leandro Couto

Agricultura

Durante o regime militar foi criada em 1973 a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), com o objetivo de diversificar a produção agrícola. O órgão foi responsável pelo desenvolvimento de novos cultivares, adaptados às condições peculiares das diversas regiões do país. Teve início a expansão das fronteiras agrícolas para o cerrado, e latifúndios monocultores com a produção em escala semi-industrial de soja, algodão e feijão. Dentre os pesquisadores da Embrapa que possibilitaram a incrementação da revolução verde na agricultura brasileira, destaca-se a pesquisadora tcheca-brasileira Johanna Döbereiner que, com suas pesquisas sobre os microrganismos fixadores de nitrogênio, por sua amplitude mundial, rendeu-lhe, em 1997, a indicação para receber o Prêmio Nobel de Química. Em 1960 eram quatro os principais produtos agrícolas exportados; no começo da década de 1990 estes passaram a dezenove. O avanço nestes trinta anos incluiu o beneficiamento: nos anos 60 os produtos não-beneficiados eram oitenta e quatro por cento do total exportado, taxa que caiu a vinte por cento, no começo da década de 90. As políticas de fomento agrícola incluíam créditos subsidiados, perdão de dívidas bancárias, e subsídios à exportação (que, em alguns casos, chegou a cinquenta por cento do valor do produto). A partir de 1994, com a estabilização monetária do Plano Real, o modelo agrícola brasileiro passou por uma radical mudança: o Estado diminuiu sua participação e o mercado passou a financiar a agricultura que, assim, viu fortalecida a cadeia do agronegócio, desde a substituição da mão-de-obra por máquinas (houve uma redução da população rural brasileira, que caiu de vinte e um milhões e setecentas mil, em 1985, para dezessete milhões e novecentas mil pessoas em 1995), passando pela liberação do comércio exterior (diminuição das taxas de importação dos insumos), e outras medidas que forçaram os produtores brasileiros a se adaptarem às práticas de mercado globalizado. O aumento da produtividade, a mecanização (com redução dos custos) e profissionalização marcam esse período. Questão Agrária

Desde suas origens o Brasil possuiu uma grande concentração de terras, primeiro no sistema conhecido por sesmarias, que vigeu até 1822, e que deu origem aos atuais latifúndios. Em 1850 (mesmo ano da lei que proibia o tráfico negreiro) foi promulgada a Lei de Terras, que manteve o sistema de concentração da terra em latifúndios e que permaneceu até 1964, quando a ditadura preparou o Estatuto da Terra. O custo elevado da produção agrícola na Colônia e Império contribuiu para a formação de latifúndios e no país nunca houve uma grande reforma agrária, que somente passou a integrar a política oficial e legal do país após a Constituição de 1988. Dos cerca de trinta e um milhões de brasileiros que vivem na faixa de pobreza, mais da metade está na zona rural. Nos últimos vinte e cinco anos do século XX cerca de trinta milhões de moradores do campo abandonaram ou perderam suas terras, criando um déficit de cerca de quatro milhões e oitocentas mil famílias sem terra. Neste tempo, a grande maioria dos recursos de financiamento foi dirigido para as oligarquias e grandes proprietários, atendendo ao modelo de exploração intensiva das propriedades, formação de grandes monoculturas e áreas de pastagens, que com o esgotamento da chamada revolução verde, acabou por revelar uma série de problemas como o uso excessivo de agrotóxicos, irrigação e desmatamento descontrolados, agressão à cultura nativa, dentre outros. Com a redemocratização o país teve, entre 1985 e 1988, quase nove mil conflitos sociais no meio rural, com o assassinato de 1.167 pessoas por questões agrárias.23 Neste período teve início um confronto que gerou, de um lado, os sindicatos, movimentos sociais e a Igreja Católica (então no país orientada pela chamada "opção preferencial pelos pobres", com as comissões pastorais) e, do outro, os grandes proprietários, reunidos na União Democrática Ruralista - a UDR - cujo representante maior era Ronaldo Caiado. A mais famosa vítima desses conflitos foi o sindicalista Chico Mendes, no Acre, em 1988.

Page 8: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

8

Professor: Leandro Couto

Segundo o pesquisador Bernardo Mançano, da UNESP, os censos rurais realizados desde 1940 apontavam para a concentração da terra, somente possível de ser revertida com o fim do êxodo rural e assentamento anual de cento e cinquenta mil famílias. Durante o Governo Itamar Franco, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) realizou cerca de cem mil assentamentos anuais; nesta administração foi instituído o rito sumário de desapropriação, vencendo um dos principais obstáculos para a medida, que era a sua demora. Os conflitos atingiram seu ápice em 1996 com o chamado Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando o então governador Almir Gabriel ordenou a desocupação de uma estrada ocupado por sem-terras. A chacina daí decorrente - dezenove mortos e cinquenta e um feridos - expôs ainda mais o problema agrário no país, e o desrespeito aos direitos humanos vivido. Em artigo de 1996, a economista Maria da Conceição Tavares, uma das maiores críticas do Governo Fernando Henrique Cardoso, alertava que "a importância de uma reforma agrária aumentou muito e a disputa pela terra, se não forem regulados rapidamente as relações de "domínio" da propriedade rural, levará a enfrentamentos crescentes".

Em 1998 os movimentos sociais na luta pela terra provocaram cerca de quinhentas ocupações de fazendas que consideravam improdutivas. Como reação às invasões, o Presidente FHC editou a Medida Provisória 2.027-38, que continha a proibição de destinar para a reforma agrária toda terra que fosse ocupada. IRRIGAÇÃO As primeiras experiências de irrigação no Brasil ocorreram no Rio Grande do Sul, para o cultivo do arroz; o primeiro registro data de 1881, com a construção da barragem de Cadro, teve seu início em 1903. Entretanto, a prática só veio a se ampliar nos últimos trinta anos do século XX. Enquanto nas regiões Sul e Sudeste a irrigação desenvolvia-se paulatinamente pela iniciativa privada, na região Nordeste era incentivada por órgãos oficiais, como o DNOCS e a CODEVASF, a partir da década de 1950. Em 1968 foi instituído o Grupo Executivo de Irrigação e Desenvolvimento Agrário (GEIDA), que dois anos depois veio a instituir o Programa Plurianual de Irrigação (PPI). A maioria dos recursos foram destinados ao Nordeste. Essas iniciativas burocráticas federais, entretanto, não obtiveram o sucesso esperado. A partir de 1985 foi dada nova orientação e, em 1996, um novo direcionamento foi buscado, a fim de ampliar o uso da irrigação na agricultura, com o Projeto Novo Modelo da Irrigação, que contou com a participação de mais de mil e quinhentos especialistas do país e do estrangeiro.28 O potencial de irrigação no Brasil, segundo o Banco Mundial é de cerca de vinte e nove milhões de hectares. No ano de 1998 havia, entretanto, somente 2,98 milhões.29 No final da última década do século XX o país tinha a irrigação de superfície como a principal forma (59%), seguida pela aspersão (35%) e, por último, a irrigação localizada. A Região Sul apresentava a maior área irrigada (mais de um milhão e cem mil ha), depois o Sudeste (oitocentos e noventa mil ha) e Nordeste (quatrocentos e noventa mil ha).29 Presentemente, o marco regulatório da atividade encontra-se em tramitação no Congresso Nacional, através do Projeto de Lei 6.381/200528 , que visa substituir a Lei 6.662/1979, que disciplina a Política Nacional de Irrigação.30 A Política Nacional de Recursos Hídricos é disciplinada pela Lei 9.433/1997, e gerenciada pelo Conselho Nacional.28 Escoamento da produção O transporte das safras é um dos problemas estruturais enfrentados pela agricultura, no Brasil. Pedro Calmon registrava que, desde o Império, "o escoamento das safras é difícil" e indicava que "os velhos projetos de estradas de ferro ou caminhos carroçáveis, ligando o litoral às montanhas centrais (…) a que resistem os estadistas forrados de ceticismo, que repetem Thiers, quando, em 1841, achava que as vias férreas não convinham à França".

Page 9: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

9

Professor: Leandro Couto

No Brasil não existe uma política de armazenamento da safra nas propriedades. A maioria do transporte é feito em rodovias, a grande parte em más condições de tráfego, através de caminhões. O custo do transporte, em geral recaindo sobre o produtor, é elevado e não obedece aos princípios de logística. Na safra 2008/2009, por exemplo, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) denunciava o estado precário das estradas da região Centro-Oeste, algumas com problemas desde 2005 e, a despeito de solicitações às entidades governamentais, nada havia sido feito. A despeito disto, o governo federal elaborou, em 2006, um Plano Nacional de Logística e Transportes, destinado a proporcionar um melhor escoamento da produção.34 A falta de investimentos no setor, entretanto, continua a ser o principal problema na logística de escoamento. Estoques reguladores e preço mínimo Um bom exemplo da necessidade da formação de estoques reguladores está na produção de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar. A grande variação de preços ao longo do ano-safra, que variam por razões climáticas e fitossanitárias, justificam a formação de estoques. Os estoques também visam assegurar estabilidade aos rendimentos dos agricultores, além de impedir a flutuação de preços entre-safras. Até a década de 1980 havia no país a implantação da chamada Política de Garantia de Preços Mínimos, que perdeu importância na política agrícola a partir dos anos 90, com a globalização. O principal efeito é a instabilidade de preços dos produtos agrícolas. A composição de estoques, no plano nacional, compete à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Armazenagem A armazenagem agrícola é uma das etapas da produção da agricultura do país que apresentam necessidades de investimento e ampliação, a fim de acompanhar o desenvolvimento do setor. Dentre as ações logísticas da produção, a capacidade de armazenagem brasileira, em 2003, era de 75% da produção de grãos,38 quando o ideal é que seja 20% superior à safra. A produção, por falta de armazéns e silos, precisa ser comercializada rapidamente. Segundo dados da Conab, apenas 11% dos armazéns estão nas fazendas (enquanto na Argentina esse total é de 40%, na União Europeia de 50%, no Canadá chega a 80%). Isto força o agricultor a servir-se dos serviços de terceiros, para estocar sua produção. Fatores sazonais, como a quebra de safras e defasagem cambial descapitalizam o produtor, e este não consegue investir na construção de silos. Com estes pode negociar sua produção em condições mais favoráveis, e não quando da colheita, apenas. A situação brasileira permite dizer que os caminhões se transformam em "silos sobre rodas". A agricultura familiar, assim considerada a que emprega apenas o núcleo familiar (pai, mãe, filhos e, eventualmente, avós e tios) nas lides da terra,40 podendo empregar até cinco trabalhadores temporários,41 é responsável direta pela produção de grande parte dos produtos agrícolas brasileiros. Responde, assim, pela produção de 84% da mandioca, 67% do feijão e 49% do milho. Na década de 1990 a agricultura familiar apresentou um crescimento de sua produtividade na ordem de 75%, contra apenas 40% da agricultura patronal. Isso deve-se, em grande parte, à criação do PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar), que abriu uma linha especial de crédito para o financiamento do setor. Segundo o Censo Agropecuário de 1995/96, do IBGE, havia no país 4.339.859 estabelecimentos familiares no país, com área até 100 ha. Até 2009 foram realizadas seis edições da Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, sendo as quatro primeiras edições em Brasília e as duas últimas no Rio de Janeiro. Seu objetivo é divulgar a importância do setor para a economia brasileira, pois responde por 70% dos alimentos consumidos no pais, o que perfaz um total de 10% do PIB

Page 10: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

10

Professor: Leandro Couto

A colonização do país iniciou-se com o extrativismo vegetal: a exploração da madeira do pau-brasil, chamado pelos nativos de ibirapitanga, e que acabou dando o nome à terra descoberta pelos portugueses. Existem no Brasil quarenta e nove reservas extrativistas e sessenta e cinco florestas protegidas por lei federal, com o intuito de preservar o ambiente natural, nas quais é incentivada a prática do extrativismo vegetal como modo de interagir com o meio, sem degradá-lo. Por falta de incentivo governamental as reservas extrativistas vêm se tornando inviáveis economicamente. O caso da borracha natural é um caso típico: no Acre cerca de quatro mil famílias teriam abandonado a atividade, conforme revelado por políticos do estado no início de 2009. A seringueira vem sendo cultivada, após ter passado por aclimatação, com grande sucesso, no estado de São Paulo, onde mais de trinta e seis mil hectares foram plantados com a árvore - enquanto o Acre conta com pouco mais de mil hectares. A despeito disso, o pesquisador Alfredo Homma, que há mais de três décadas estuda o ambiente amazônico, assinala que a prática é inviável economicamente, em longo prazo. Para tanto ressalta exemplificando que para extrair o látex de quatrocentas e cinquenta árvores um seringueiro deve dispor de uma área superior a trezentos hectares, quando as mesmas plantas podem ser cultivadas em igual número numa área equivalente a um campo de futebol. O cultivo de áreas já degradadas com árvores nativas deve ser uma solução economicamente viável, segundo o estudioso, como já vem sendo feito em várias culturas que tiveram aumento da demanda, a exemplo do cupuaçu e do jaborandi. Segundo o IBGE, no ano de 2003 a produção do extrativismo vegetal apresentou os seguintes dados: o setor não-madeireiro, que representa 35% do extrativismo, produziu um valor de quatrocentos e quarenta e nove milhões de Reais, com os seguintes produtos principais: piaçava (27%), babaçu (amêndoa - 17%), açaí (16%), erva-mate (14%), carnaúba (8%) e castanha-do-pará (5%). Já o setor madeireiro representa 65% do extrativismo no país Nos estados do Sul brasileiro (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) houve considerável participação das cooperativismo. Os produtos de maior representatividade no PIB agrícola do país são a avicultura e o arroz irrigado, que lidera, e posições estáveis com o milho e o feijão - havendo perdido as posições que ocupava no ranking nacional em produtos como soja, trigo, cebola, batata e outros. É, ainda, a maior produtora de tabaco no país que, por sua vez, é o maior exportador mundial. A vocação agrícola no Sul, incrementada a partir da década de 30, coincidiu com a integração com os setores industriais da região. Enquanto nos demais estados as indústrias tenderam, na atualidade, à importação dos insumos, Santa Catarina mantém um elevado grau de interdependência do setor industrial com o agrícola. No Rio Grande do Sul, sobretudo, é importante a participação do chamado agronegócio familiar, derivado sobretudo do modelo de colonização ali verificado, com expressiva representatividade no PIB agrícola daquele estado. Outro fator importante é que este modelo proporciona um elevado grau de fixação do homem no campo, bem como a interação entre os pequenos produtores. No ano de 2004 a região respondia com 14,4% da produção frutícola, ocupando o terceiro lugar do país. Em 1995 o Sudeste (composto pelos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), era responsável pela maior participação no montante do agronegócio do país, mas em tendência de queda face a expansão das fronteiras agrícolas e à instalação de indústrias noutras regiões. O Sudeste é o maior produtor nacional de frutas, com 49,8% do total nacional, em dados de 2004.72 A região concentra 60% das empresas de software voltadas para o agronegócio, segundo levantamento efetuado pela Embrapa Informática Agropecuária (situada em Campinas/SP).73 Quanto à exportação, o setor do agronegócio ocupava a segunda posição nacional, no período de 2000 a maio de 2008, ficando atrás da Região Sul; o Sudeste representou 36% do montante exportado de 308 bilhões de dólares - os produtos que mais se destacaram no comércio exterior na região foram o açúcar (17,27%), café (16,25%), papel e celulose (14,89%), carnes (11,71%) e hortifrutícolas (com destaque para o suco de laranja) com 10,27%

Page 11: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

11

Professor: Leandro Couto

No Nordeste brasileiro, região formada por nove estados (Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) 82,9 % da mão de obra do campo equivale à agricultura familiar. A região é a maior produtora nacional de banana, respondendo pelo montante de 34% do total.76 Lidera, ainda, a produção da mandioca, com 34,7% do total. Segunda maior produtora de arroz, com uma safra estimada para 2008 de um milhão, cento e catorze mil toneladas, em que o Maranhão tem majoritária participação (com 668 mil toneladas). Também ocupa a segunda posição na produção frutícola, com 27% da produção nacional. Um dos grandes problemas da região são as estiagens prolongadas, mais fortes nos anos em que ocorre o fenômeno climático do El Niño. Isso provoca o êxodo rural, a perda de produção, minimizados seus efeitos por meio de ações governamentais de emergência, através da construção de açudes e outras obras paliativas, como a transposição do Rio São Francisco. As piores secas dos últimos anos foram as de 1993, 1998 e 1999, a primeira considerada a pior em cinquenta anos A região Norte (composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) tem como principal característica a presença do bioma amazônico, em que a floresta tropical é marcante (e, por sua presença em parte do estado do Maranhão, este é incluído nas ações de governo nesta região). O grande desafio da região é aliar a rentabilidade e produtividade com a preservação da floresta.

A região já foi responsável, por um breve período, pela produção do mais importante produto de exportação brasileiro, no final do século XIX e começo do XX, durante o chamado Ciclo da borracha, em que o extrativismo da seringueira gerou o avanço das fronteiras nacionais (conquista do Acre), até o contrabando da árvore pela Inglaterra e sua aclimatação em países asiáticos. É a segunda maior produtora nacional de banana, respondendo por 26% do total.76 Também é a segunda na produção de mandioca (com 25,9% do total), ficando atrás somente do Nordeste.77 Na produção de frutas ocupa a penúltima posição, responde por 6,1% da produção nacional, à frente apenas da região Centro-Oeste. Há cerca de trinta anos a região era quase desconhecida em seu potencial econômico. O principal bioma é o cerrado, cuja exploração foi possível graças às pesquisas para adaptação de novos cultivares de vegetais como o algodão, girassol, cevada, trigo, etc. - permitindo que, em 2004, viesse a se tornar a responsável pela produção de 46% da soja, milho, arroz e feijão produzidos no país. Essa é a região onde a fronteira agrícola brasileira teve maior expansão. Em as três últimas décadas do século XX sua agricultura teve um crescimento de cerca de 1,5 milhão de toneladas de grãos por safra, saltando de uma produção de 4,2 milhões para 49,3 milhões de toneladas, em 2008 - um crescimento superior a mil e cem por cento.

A área cultivada na região, que compreende os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal em 2008 era de quinze milhões e cem mil hectares, tendo avançado nos primeiros anos do século XXI, sobretudo sobre áreas anteriormente dedicadas à pecuária. Dentre os principais fatores que levaram a esse crescimento conta-se a abertura de estradas, que facilitou o escoamento da produção. Na fruticultura a participação da região, em dados de 2004, aponta o último lugar no país, com 2,7% do total produzido Comércio

Precisar o período em que as atividades comerciais foram inventadas é um tipo de tarefa praticamente impossível de ser cumprida. Contudo, podemos realizar uma breve projeção sobre como as primeiras trocas comerciais apareceram no cotidiano de certas civilizações. Inicialmente, devemos imaginar que nas primeiras comunidades cada indivíduo ou chefe familiar detinha um tipo especifico de habilidade de trabalho. Para que a produtividade desse trabalhador se ampliasse, era necessário que ele gastasse um número maior de tempo na realização de suas atividades. Desse modo, garantiria o sustento de sua família com a coleta ou produção necessária para certo intervalo de tempo. Apesar de ser uma solução

Page 12: Professor: Leandro Couto · Irlanda do Norte Dominada há séculos pelo Reino Unido, a Irlanda do Norte, também chamada de Ulster, é palco de antigo conflito entre comunidade protestante

12

Professor: Leandro Couto

eficiente, esses trabalhadores não teriam condições suficientes para dedicar seu tempo à realização de outras atividades que também integravam seu universo de necessidades essenciais. Dessa forma, um trabalhador poderia recorrer aos produtos de um outro para que então pudesse satisfazer as suas necessidades. Por exemplo, um pescador poderia trocar parte de sua mercadoria com um agricultor que tivesse batatas disponíveis para a troca. Assim, as primeiras atividades comerciais se baseavam em trocas naturais em que as partes estipulavam livremente a quantidade e os produtos que poderiam envolver as suas negociações.

Com o passar do tempo, vemos que essas trocas comerciais se tornaram cada vez mais complexas e envolviam uma gama cada vez maior de produtores. Em algumas situações, o produto de troca oferecido por um trabalhador não era aquele que atendia às demandas de outro. Além disso, a comercialização de determinadas mercadorias de grande porte e de difícil transporte poderia tornar as trocas diretas muito complicadas para as partes envolvidas. Foi daí então que as primeiras moedas apareceram como um meio de dinamizar as atividades comerciais entre os povos. Além de serem aceitas como meio de troca, as moedas deveriam ser de fácil transporte, possuir valores fracionados, ter grande durabilidade e não deveriam ser feitas de um material mais importante para outro tipo de atividade. Naturalmente, todas essas qualidades para uma moeda foram definidas por um longo processo, até que as ligas de metal fossem empregadas como forma de pagamento. Desde os primórdios das atividades comerciais, a quantidade de trabalho empregada para a fabricação de uma riqueza ou mercadoria era um pressuposto fundamental para que o preço dela fosse determinado. Assim sendo, a dificuldade de produção de uma riqueza ou a raridade da mesma seriam fatores essenciais que indicariam o seu preço elevado. Em contrapartida, outra mercadoria de fácil obtenção ou de fabricação simples teria uma valoração bem menor. Progressivamente, vemos que o desenvolvimento do comércio estipulou uma valoração não limitada ao custo natural da mercadoria. Transporte, impostos, salários e outros gastos foram incorporados paulatinamente ao processo de fabricação de tais riquezas. Foi dessa forma que a atividade comercial passou a ganhar ainda mais complexidade entre seus envolvidos. No mundo atual, vemos que a compreensão das atividades comerciais abarca um universo cada vez maior de fatores e variantes.