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THIAGO SCHMIDT RODRIGUES DE QUADROS PRODUÇÃO TRANSMÍDIA DENTRO DA REALIDADE AUDIOVISUAL BRASILEIRA: COMO O CONTEÚDO TRANSMÍDIA PODE ALIAR O ENGAJAMENTO DOS FÃS AOS NOVOS FORMATOS DE PRODUÇÃO INDEPENDENTE NO BRASIL Artigo a ser apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso de Pós- Graduação em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais da Universidade Estácio de Sá. Orientadora: Profª Luciana Manfroi, Mestre

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THIAGO SCHMIDT RODRIGUES DE QUADROS

PRODUÇÃO TRANSMÍDIA DENTRO DA REALIDADE AUDIOVISUAL

BRASILEIRA: COMO O CONTEÚDO TRANSMÍDIA PODE ALIAR O

ENGAJAMENTO DOS FÃS AOS NOVOS FORMATOS DE PRODUÇÃO

INDEPENDENTE NO BRASIL

Artigo a ser apresentado como Trabalho

de Conclusão do Curso de Pós-

Graduação em Comunicação e Marketing

em Mídias Digitais da Universidade

Estácio de Sá.

Orientadora: Profª Luciana Manfroi, Mestre

2

Florianópolis

2016

Resumo: O seguinte artigo tem como objetivo mostrar como a cultura da

convergência vem modificando o hábito de consumo da mídia pelo espectador.

Como diversas plataformas de comunicação podem estar integradas na difusão do

conteúdo, de forma complementar, e ainda privilegiar a participação do público? E

quais são os desafios na implementação do conteúdo transmídia dentro do contexto

da cultura audiovisual brasileira?

Palavras chave:

Transmídia, Crossmídia, TV Digital, Segunda tela, On Demand, Engajamento da

audiência.

Abstract: The following article has the purpose to show how the culture of

convergence is changing the consumption habits of the media by the viewer. How

many communication platforms can be integrated in the dissemination of content,

complementarily, and still privileged the participation of the audience? And what are

the challenges in implementing the transmedia content within the context of Brazilian

audiovisual culture?

Tags: Transmedia, Crossmedia, HD TV, Second Screen, On Demand, Audience

Engagement.

Introdução: A Evolução dos principais meios de comunicação

Compartilhar informações, já não é mais um dilema social. É algo

espontâneo, pois estamos imersos na cultura da convergência, segundo JENKINS

(2008). A informação que já não era mais centralizada passou a ser compartilhada.

E todos os meios de comunicação estão mais acessíveis, transformando o público

em parte do processo de comunicação entre as mídias. São várias plataformas

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integradas para divulgar uma idéia, ou complementar uma história, ou mensagem.

Para MCLUHAN (apud JENKINS), o meio é a mensagem.

Há quase três séculos aconteceu a primeira revolução industrial e por

consequência a primeira revolução da comunicação. O telégrafo é o “pai” de todos

os meios de comunicação de longa distância. Através de um sistema binário

conhecido como Código Morse, o telégrafo foi o meio mais eficiente de comunicação

por mais de um século. No início do século XX, o telefone e o rádio foram

determinantes para a expansão da comunicação durante as duas guerras mundiais.

O que dizer então do cinema e a televisão? Com pouco tempo de existência, a

comunicação audiovisual mudou drasticamente a cultura da informação, o mundo

artístico e a indústria do entretenimento. A internet, uma mídia jovem, é fruto dessas

revoluções e sua origem se deu durante a guerra fria, porém foi na década de 90

que se tornou uma das mais importantes ferramentas de comunicação do mundo.

A mídia de comunicação em massa, durante muito tempo foi centralizadora. A

mensagem era difundida entre um emissor para um receptor. Segundo ARNAUT et

al (2008), cada formato de mídia foram categorizados, conforme a evolução

comunicacional em fases distintas: Monomídia, multimídia, crossmídia e transmídia.

A monomídia é um só canal, o espectador é passivo com a informação e a atenção

da audiência é dividida por interrupções, comerciais em sua maioria. Multimídia é o

uso de mais de um meio de comunicação para passar o mesmo conteúdo, sendo os

outros meios, cópias do conteúdo original. Crossmídia usa vários meios com

mensagens diferentes, de acordo com cada formato, para no fim passar o mesmo

conteúdo. Enquanto a transmídia fornece conteúdo exclusivo para cada formato de

maneira complementar. Utilizando a definição de JENKINS transmídia é:

Processo onde os elementos integrais da ficção são sistematicamente dispersos através múltiplos canais de distribuição para criar uma experiência unificada e coordenada de entretenimento. (JENKINS, 2008)

Para JENKINS o conceito de transmídia não substitui as demais plataformas,

mas acaba somando aproveitando que há de melhor em cada uma. Rompe com as

fronteiras entre os meios de comunicação, em que cada um representa uma parte

de um todo.

Cada mídia deve fazer o que faz de melhor para que seja possível introduzir uma história em diferentes mídias. Estas mídias devem gerar

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conteúdos que as conectem de alguma forma, no entanto, sem torná-las dependentes. É necessário que seja possível consumir apenas um meio, e que este viabilize a compreensão da narrativa. (JENKINS, 2008)

Ainda existe uma grande diferença entre o conceito de transmídia e

crossmídia. Embora ambos usem diferentes plataformas de mídia, a concepção de

projeto para cada uma é completamente diferente. Uma propaganda que pode ser

veiculada em todas as mídias com uma mesma campanha, é considerada

crossmídia. Um seriado, ou uma novela, que é veiculado como conteúdo on

demand, também é crossmídia. Faz parte da experiência imersiva da comunicação

transmídia, quando existe interatividade direta com o conteúdo e complemento de

informação. Tanto a comunicação crossmídia e transmídia, coloca o espectador

como agente ativo na maneira em como vai consumir o determinado produto,

podendo escolher os horários e os formatos em que vai assistir ao conteúdo.

Embora a narrativa transmídia seja independente em cada meio, o público

precisa acompanhar pelo menos o conteúdo do principal meio, para compreender

melhor a extensão do universo narrativo dos demais formatos. Dentro de uma

narrativa transmídia existe uma mídia que é o carro-chefe, os demais segmentos

acabam se pautando no conteúdo principal. No planejamento de conteúdo é feito

uma classificação da mídia por grau de importância, para definir uma linha narrativa

central, e qual mídia será responsável por atingir cada nicho de público, pautado em

cima do engajamento social.

O conteúdo transmídia também se estende aos fãs. Atualmente todos têm o

potencial de produzir o seu próprio conteúdo. Seja na criação de um produto original,

ou até mesmo para contribuir no engajamento do seu produto favorito. JENKINS

chama este novo engajamento de letramento midiático. Esta nova forma de

conhecimento vem do fato que o consumidor sabe produzir conteúdo em resposta

ao que consome. O consumidor letrado nas mídias expande o universo do conteúdo

que vivência, criando novas interpretações para a obra, assim como colocando em

crise tudo o que foi criado até então. Isto acaba fugindo do controle das

corporações. O letramento pode ser uma forma de empoderamento, mas, ao mesmo

tempo, uma perda de controle dos criadores da obra sobre o que é produzido. Existe

uma necessidade do mercado em estreitar o relacionamento com o seu público,

transformando-o, em parte da história. A democratização dos meios de comunicação

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possibilita ao público desenvolver habilidades para a cultura da convergência. Para

JENKINS existem cinco tipos de habilidades da cultura da convergência:

1. Capacidade de unir seu conhecimento com o dos outros numa empreitada

coletiva – Cultura do conhecimento.

2. Capacidade de comparar e compartilhar sistemas de valores por meio da

avaliação de dramas éticos – Debates e julgamentos em torno das

personalidades do entretenimento.

3. Capacidade de formar conexões entre pedaços espalhados de informação

– Obras com universo narrativo expandido.

4. Capacidade de expressar suas interpretações e seus sentimentos em

relação a ficções populares por meio de sua própria cultura tradicional –

cinema de fã.

5. Capacidade de circular as criações através da internet, para que possam

ser compartilhadas com outros – Criação de fanfiction.

O sucesso transmidiático da editora de quadrinhos, Marvel Comics mostra que

ao investir sozinha no mercado audiovisual, acabou quebrando paradigmas com o

seu conteúdo transmídia. No artigo: Dos quadrinhos ao cinema: o universo Marvel

no cinema como ponto de partida para a iniciativa transmidiática; os autores

MESSIAS e MAIA (2014) contam como a Marvel Cinematic Universe é um

importante estudo de caso neste assunto. Para os autores, as histórias em

quadrinhos sempre ensaiaram adequações aos diversos formatos de comunicação e

entretenimento. Porém cada obra cinematográfica, ou televisiva funcionava

isoladamente, não havendo conexão com o conteúdo original, como uma

continuidade. Eram simplesmente tratadas como meras adaptações de um meio

para outro. A mudança de paradigma aconteceu em 2008 quando a Marvel se

lançou como um estúdio independente de cinema, deixando de ser apenas uma

editora de história em quadrinhos para ser uma das maiores produtoras mundiais de

conteúdo. O lançamento do Homem de Ferro foi o primeiro filme a sugerir uma

proposta de universo expandido dentro de uma adaptação cinematográfica do

gênero. Dentro do filme existem ligações e referências aos outros heróis do universo

da editora. Os eventos iniciados neste primeiro filme foram continuados nas demais

adaptações dos outros heróis. Cada herói teve seu filme solo, para depois serem

juntados no filme-evento, Os Vingadores. Depois disso a Marvel, que já fazia parte

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do conglomerado Disney, migrou para outras mídias que também dão continuidade

ao universo cinemático iniciado em 2008. Hoje existem séries de televisão,

webseriado, quadrinhos online e claro os filmes que se tornaram o carro-chefe da

empresa.

No Brasil, ainda estamos distantes do sucesso financeiro da Marvel, porém o

conteúdo crossmídia e transmídia ainda vem sendo testada de maneira experimental

no meio audiovisual. Um notório caso bem-sucedido na transmidiação de conteúdo é

o grupo de humor, Porta dos Fundos. Com origem no YouTube, a trupe de

humoristas não para de inovar em conteúdo ao promover experiências inéditas em

cada formato de exibição. Além do canal da web, o grupo tem programas derivados

na televisão a cabo e recentemente lançou seu primeiro longa-metragem, “Contrato

Vitalício”, no cinema.

Começamos a equipe com apenas três produtores de conteúdo transmídia. Hoje são oito e possivelmente serão mais num futuro. Essa equipe está distribuída nas telenovelas que estão no ar (Malhação, novelas das 18, 19, 21 e 22 horas) e nas outras que se encontram em desenvolvimento. Eles também dão um suporte na transmídia de minisséries e séries da casa. São profissionais de características mistas que tanto escrevem quanto dirigem, gravam, editam e publicam nas páginas de sua responsabilidade”. “As iniciativas são sempre pensadas para estender a trama em questão, não intervir. Cada novela tem um perfil diferente, e as propostas transmídias são pensadas de acordo com essa representação diferenciada. Uma proposta de ações transmídia é confeccionada logo após a sinopse ser liberada, ainda na pré-produção da novela. Muitas das iniciativas executadas durante o programa vêm dessa proposta, mas também muitas ações são pensadas durante a exibição da novela. Afinal de contas, a novela é uma obra aberta que toma caminhos e trilhas não pensadas na sinopse. Daí a necessidade de ter certa liberdade e maleabilidade durante sua produção para pensar em novas possibilidades e oportunidades de transmídia. (MEDEIROS & GONTIJO, 2013)

Transmidiação e novos formatos de conteúdo na TV Globo

Devido à grande demanda do público na procura de diversos formatos de

conteúdos, os canais de televisão, tanto aberto quanto da televisão paga, estão

investindo em crossmídia. Ao multiplicar as janelas de exibição, os canais buscam

novas formas de não perder o seu público, que está cada dia migrando para as

novas mídias. A Rede Globo, o maior conglomerado de mídia brasileiro, já tem

praticamente boa parte de sua programação explorada em diversas plataformas,

principalmente com o conteúdo crossmídia. Enquanto o conteúdo transmídia da

Globo apenas expande alguns segmentos da programação, com ênfase na

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teledramaturgia e reality shows, suas ações estão concentradas, como complemento

de divulgação do programa e fidelização do público. Na teledramaturgia da

emissora, a expansão da narrativa, ainda acontece de maneira experimental, com

ações embasadas através de estudos de benchmarking.

Dentro da Globo, a narrativa complementar serve apenas como um “extra” ao

conteúdo principal. Nunca um conteúdo transmidiado pela emissora, interfere na

trama principal de uma novela. O autor é soberano, enquanto ainda não exista um

projeto em que o espectador possa ter uma co-autoria no desenvolvimento da

história, através das mídias participativas promovidas pelo portal da emissora. De

acordo com MEDEIROS e GONTIJO, a Globo categoriza a inserção do conteúdo

transmídia nas seguintes categorias:

a) Mídia regente: A existência de uma mídia principal, detentora do texto de

referência, a partir do qual os outros meios estarão articulados.

b) Compreensão aditiva a narrativa: Possibilidade em anexar conteúdo extra,

de forma que permitam a compreensão adicional, em relação a história

contada.

c) Sentido único e compartilhado: Cada texto deve ser compreendido

isoladamente − evitando redundância e agindo independentemente de se

conhecer o texto principal.

d) Especificidade: Cada meio apresenta suas próprias características, que

contribuem para que a história possa ser explorada de maneiras distintas.

Para FECHINE et al (2013) Existem duas estratégias importantes de

conteúdos: Propagação e Expansão. A Propagação representa o conjunto de

conteúdos que buscam reverberar a novela, contribuindo para a sua repercussão no

cotidiano do público. A estratégia de Propagação se divide, assim, em duas

vertentes: Conteúdos re-formatados, que correspondem a variações do conteúdo

televisivo. E conteúdos informativos, que não são ficcionais, mas contribuem para

entender melhor o universo proposto pela telenovela. Já a estratégia de Expansão,

desdobra-se em mais dois caminhos: Conteúdos de extensão textual, que estendem

o texto da nave-mãe, apresentando desdobramentos narrativos. E Conteúdos de

extensão lúdica, que proporcionam vivências para o internauta.

Na novela, Cheias de Charme, a emissora lançou um blog de uma das

protagonistas e lançou o clipe, Vida de Empreguete, primeiro online, viralizando nas

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redes sociais. Enquanto na novela Geração Brasil, foi explorado a venda de

produtos da empresa fictícia Marra.

Com uma marca fictícia, a Rede Globo lançou uma loja virtual de produtos Marra, sobrenome do personagem principal da trama. Foi criado, inclusive, um site oficial da marca, como se realmente existisse. Na página, internautas podem encontrar itens como camiseta e pelúcia do símbolo da empresa (uma abelhinha). O preço mínimo dos produtos é de R$ 29,90. Com a medida, a Globo visa lucrar por meio do folhetim, diversificando produtos e marca, além de aumentar a sensação de “universo paralelo” criada pela trama, escrita por Felipe Miguez e Izabel de Oliveira. (...) A possibilidade de compra de produtos no site, sua aparente semelhança com outras páginas de empresas de tecnologia e a forma como a biografia do protagonista foi construída dão garantias de verossimilhança, essenciais para qualquer narrativa. (ORMANESE & FABBRI JR, 2014)

O caso mais recente de um sucesso transmídia em uma novela foi em

Totalmente Demais. Pela primeira vez a Globo estende uma novela, continuando

com um dos núcleos da trama depois do seu encerramento através dos pequenos

episódios online no portal da emissora.

A audiência das telenovelas brasileiras é composta “predominantemente por pessoas menos familiarizadas com as novas tecnologias de informação”. (...) Como as ações transmidiáticas tem como ponto chave a participação do sujeito, este perfil representa um elemento inibidor. Ao criar extensões que flutuam por distintas linguagens e que necessitam do interesse do público para a sua efetividade, a relação do sujeito com o ecossistema é fundamental para a transmidiação das produções... Outra questão que deve ser considerada na transmidiação das telenovelas é a estrutura organizacional. Enquanto os seriados americanos duram anos, a periodicidade – em média oito meses - das produções nacionais não contribuem para a imersão do sujeito. Assim, há pouco tempo para os agentes criativos se envolverem e se familiarizarem com a história e, consequentemente, explorarem as camadas criadas pelos autores. Podemos afirmar que as telenovelas não têm a mesma extensão dos seriados, e isto se aplica desde a sua estrutura organizacional até a forma como o público se envolve com os atores – que por ficarem pouco tempo no ar, não criam uma relação de proximidade com o público… esta distinção de formatos inviabiliza o desdobramento do universo ficcional principal em universos paralelos e reforça a necessidade de uma maior unidade dramática a partir da delimitação mais clara. (SIGILIANO, 2015)

Mesmo diante de um enorme potencial transmidiático, a Globo ainda trabalha

mal suas redes sociais, ao tentar centralizar a interação entre usuário e conteúdo em

suas plataformas derivadas do seu portal. As demais redes sociais ainda são vistas

como concorrentes diretas de suas plataformas. Inclusive, tentaram de maneira

fracassada, promover seu próprio aplicativo para interagir diretamente com o

programa The Voice Brasil e Superstar. O brasileiro já interage de maneira engajada

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com as mais diversas redes sociais. Cabe a Globo criar uma maior sinergia com as

demais redes sociais, diretamente com a sua programação explorando o que há de

melhor em cada uma.

O fracasso da implementação de uma televisão digital interativa

A televisão digital brasileira foi instaurada no final de 2007, embora tenha

melhorado a qualidade das transmissões da programação regular dos canais

abertos, ainda está longe de cumprir o seu objetivo principal: Transmitir conteúdo

com qualidade 100% HD, com a possibilidade de interatividade com seu conteúdo

com a multiprogramação dos canais em tempo real. Infelizmente o projeto de

televisão digital se mostrou um verdadeiro engodo. A cobertura digital no Brasil

ainda é ineficiente, e o prazo final para a substituição do sinal analógico, foi

prorrogado no mínimo para 2018, segundo o site da Anatel. O conteúdo exibido

ainda não é 100% HD e não prosperou a ideia da multiprogramação aliada com a

interatividade através dos set-up boxes.

No artigo de ANGELUCI & CASTRO (2011) ressaltam oito categorias de

produção para a televisão digital interativa: As categorias de produção de conteúdo

digital são:

1. Interatividade: Segunda tela.

2. Multiplataformas: Crossmídia.

3. Não linearidade no conteúdo: Pode assistir fora de ordem, ou por

assunto e interesse.

4. Convergência: Conteúdo transmídia.

5. Clareza e objetividade nas informações, evitando redundâncias, pois o

espectador não precisa que o assunto seja retomado.

6. Estética: Aproximação com produções cinematográficas.

7. Mobilidade: O espectador pode assistir a qualquer hora e lugar que

quiser.

8. Promover o engajamento e feedback instantâneo.

Infelizmente a multiplicidade de conteúdo vai contra os interesses das

grandes redes, com uma programação centralizada em produtos que não exijam

uma “dispersão” para outras plataformas. Outro grande conflito é permitir o

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espectador assistir o seu programa favorito a hora que quiser. Fora o encarecimento

da produção de conteúdo transmidiado, dentro da plataforma de software das

televisões digitais, chamado Ginga.

No Brasil, a mudança do sinal televisivo do analógico para o digital começou a ser discutida em 1999. Em 2002 foram testados os padrões americano, europeu e japonês. Porém, somente em 2 de dezembro de 2007, com base no padrão japonês, foram iniciadas as transmissões oficiais dos sinais digitais na cidade de São Paulo. Desde então, as emissoras brasileiras têm alterado o padrão de sinal, a programação, os investimentos e a capacitação de profissionais.(...) Com a expansão do sinal digital a partir de 2007, o Brasil se posicionou entre os países o onde houve maior expansão da digitalização. Além deste dado, que mostra uma nova revolução da televisão, outras modificações estão ocorrendo e uma deles é o fato da TV estar novamente em ascensão, pois com a Internet, nem todos acreditavam que a TV poderia estar novamente entre as discussões que envolvem a evolução dos meios de comunicação”. Não foi o que aconteceu: “O fator econômico é o principal entrave para a efetiva instalação do modelo digital em todo o processo de produção, captação e transmissão da programação digitalizada. Os equipamentos quando lançados são muito caros, exigindo um investimento alto das empresas. Muitas vezes a opção é manter os equipamentos mais antigos por tempo suficiente para barateamento. O que se observa é que as redes impuseram que as afiliadas se adaptem rapidamente ao modelo proposto. (ROSA & TONIAZZO, 2010)

Outro fator fracassado da implementação da televisão digital brasileira é a

prometida multiprogramação. Parte desta resistência acontece por medo de uma

maior fragmentação da audiência, fora o aumento custo de produção para manter

mais de um programa simultaneamente no ar. Sem considerar a possibilidade dos

canais arrendarem esta nova faixa de programação para segmentos terceirizados,

tal como os infomerciais e a programação religiosa. Para não haver nenhuma

irregularidade entre os principais canais da televisão aberta, apenas foi liberado a

possibilidade da multiprogramação para as televisões estatais e educativas.

Após a adoção do Sistema Brasileiro de Televisão Digital, nem tudo o que foi prometido pelo Governo Federal foi cumprido. A Norma Geral para Execução dos Serviços de Televisão Pública Digital nº 01/2009 do Ministério das Comunicações estabeleceu que "a multiprogramação somente poderá ser realizada nos canais (...) consignados a órgãos e entidades integrantes dos poderes da União". (…) Em tese, a possibilidade de cada emissora de TV dividir a transmissão de 6 MHz em até oito sinais diferentes, com qualidade standart, multiplicaria o número de canais brasileiros, no mínimo, por oito. (…) Ou seja, dos canais públicos atualmente no ar, apenas TV Brasil (EBC), TV Justiça8, TV Senado9, TV Câmara, emissoras dos legislativos10 estaduais e municipais, TV Escola e Canal da Cidadania (do Ministério da Educação) podem se beneficiar da multiprogramação. Todas as demais emissoras comerciais ou mesmo as de programação de caráter educativo, como a TV Cultura, foram proibidas de usar o recurso. (…) A

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possível utilização da multiprogramação pelas emissoras privadas é vista por alguns setores como ilegal, por caracterizar-se como a concessão de três ou mais novos canais para cada canal existente, cuja outorga teria que ser aprovada pelo Congresso Nacional20. Contudo, se a programação do canal digital for apenas um espelho do canal analógico e transmitida no formato standart, ela desperdiçará uma parte do espectro eletromagnético, o que também é considerado ilegal. (LEMOS DA SILVA, 2013)

Embora tenha desvirtuado do seu propósito original, a televisão brasileira

encontrou novos caminhos para difundir seu conteúdo nas novas plataformas de

mídia. As novas smart tvs excluem o uso dos set-up boxes e permitem acesso ao

conteúdo on demand da web, através do controle remoto. As empresas de televisão

por assinatura também investiram em novas formas de assistir ao conteúdo, desde

gravadores digitais embutidos nos conversores, até um espaço exclusivo para o

conteúdo on demand de diversos canais, podendo ser assistidos sem as restrições

de horário de uma programação normal.

Conteúdo independente nos canais fechados e o crescimento no setor

audiovisual brasileiro

No ano de 2011 foi criada a lei 12.485, que estabelece uma cota mínima de

produção nacional para os canais de TV por assinatura. De acordo com o que foi

informado no site da Ancine, a lei estabelece que os canais fechados exibam pelo

menos três horas e meia de programação semanal no horário nobre de conteúdo

nacional, sendo que metade deve ser produzido por uma produtora brasileira

independente. Desde então os canais fechados estão investindo em uma

programação própria variada, utilizando as produtoras independentes para criar

reality shows e seriados. Em alguns casos, estes canais reprisam alguns sucessos

da televisão aberta, da mesma maneira são parceiros na produção de alguns

programas. No caso dos canais Globosat, algumas produções são exibidas antes de

passar na Globo, que é o caso da Nova Escolinha do Professor Raimundo (2015) e

a mini-temporada do Sai de Baixo (2013).

Essa atividade passa a ter mecanismos de reserva ao conteúdo nacional, independente e regional o que intercede diretamente na Produção enquanto atividade de elaboração, composição, constituição ou criação de conteúdos audiovisuais em qualquer meio de suporte. Ou seja, a produção se remete diretamente a todas as plataformas audiovisual, e não apenas a TV por assinatura. No SeAC a produção também é reverenciada com o aumento dos recursos para o fomento via FSA, em especial o conteúdo nacional,

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independente e das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, sem controle acionário ou patrimonial das empresas de telecomunicações, radiodifusão e programadoras". (porém infelizmente isto não vem acontecendo). (...) daí surgiu a Política Nacional de Cinema e Ancine, mas sem abarcar a TV. A agência manteve a fragilidade das demais instaladas na década de 1990 no quesito capacidade de regular a atividade econômica, e tem uma peculiaridade: é a única que mescla fiscalização e fomento. A Ancine surgiu no momento que o segmento de TV por assinatura sofria restruturação, e a possibilidade de taxar 11% da sua movimentação financeira para destinar ao cinema nacional por meio do Condencine foi alvo de batalhas com os programadores e distribuidores internacionais, sob ameaça de retirar do mercado e recorrer a Organização Mundial do Comércio. Recuou-se, e acordo foi destinar 3% em co-produções. (CARIBÉ, 2014)

JENKINS chama de convergência corporativa, quando interesses de

conglomerados multinacionais acabam se adequando a costumes regionais, para

atingir diferentes nichos de mercados. Tal como as versões reality shows, famosas

no mundo todo, ganham uma maior visibilidade quando lançam sua versão nacional.

Os investimentos publicitários vêm confirmando (ainda) o meio televisivo como principal mídia de massa e, obviamente, isto impacta toda a cadeia audiovisual. A busca por uma exibição qualificada (por segmento) onde o investimento publicitário pode encontrar seu público fez o modelo a cabo crescer sensivelmente em número de assinantes. Hoje, no Brasil, a TV a cabo surge no 3o. posto em investimento publicitário. (BERGO, 2015)

Conteúdo independente nos canais fechados e o crescimento no setor

audiovisual brasileiro

O slogan “Broadcast Yourself”, é o que melhor define a filosofia do YouTube,

o maior portal de vídeos onde todos podem postar o seu conteúdo pessoal de

maneira independente. Em doze anos de existência, o YouTube é o principal meio

para diversos profissionais do audiovisual divulgarem seus trabalhos, assim como

permitiu que pessoas amadoras se profissionalizassem dentro deste meio, tendo

seus canais dentro do portal, uma importante fonte de sustento. Os youtubers são as

mais novas celebridades do momento e não precisam do mainstream midiático para

se promover. Basta apenas postarem seus vídeos, que a divulgação já é

espontânea pelos seus seguidores. Anteriormente foi mencionado o caso do Porta

dos Fundos, porém outros youtubers seguem a mesma tendência, ao explorarem

novos formatos de conteúdo seja em teatro, televisão e até mesmo em livros. A

gama de conteúdo do YouTube, não pode ser replicada por nenhum canal de

televisão convencional, mesmo se houvesse a tão sonhada multiprogramação da TV

digital brasileira. O conceito da Calda Longa desenvolvido por ANDERSON (apud

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JENKINS) pode ser aplicado para o YouTube com seus diversos canais

categorizados por grupos de interesses e seus subgêneros para agradar os mais

variados nichos de públicos.

Anderson afirma que, à medida que os custos de distribuição diminuem, as empresas podem manter cada vez mais títulos em circulação, e à medida que comunidades de nicho conseguem utilizar a web para se mobilizar em torno de títulos que satisfaçam seus interesses particulares, os maiores lucros serão obtidos pelas empresas que gerarem o conteúdo mais diversificado e o mantiverem disponível a preços razoáveis. (JENKINS, 2008)

As emissoras de televisão abertas e fechadas estão investindo em

plataformas digitais on demand, onde podem colocar toda a programação e seu

conteúdo extra, como forma de fidelização do público.

Na contrapartida do YouTube existe o Netflix, um portal multiplataforma, na

qual possui como principal atrativo o seu conteúdo premium, com filmes e séries

famosas mundialmente. O diferencial para seus demais concorrentes na

transmissão de conteúdo on demand, é que o Netflix investe massivamente em

produções próprias e tem parcerias para transmitir conteúdo exclusivo de outros

estúdios. O que é o caso das séries transmidiadas da Marvel, exclusiva para o

Netflix, como parte do então comentado MCU. O custo barato da mensalidade

permite que o usuário assista sem restrições a um enorme catálogo de vídeos. A

facilidade em assistir estes conteúdos permitiu que os usuários assistissem as

temporadas de suas séries favoritas, um episódio seguido de outro, é chamada de

Binge Watching. Este novo hábito fez com que a empresa lançasse a maioria de

suas séries com temporadas completas. O sucesso de uma série original do Netflix é

medida pelo tempo em que a maioria dos usuários assistem a uma temporada

inteira.

Entretanto nem o YouTube e nem o Netflix vão substituir a programação de

uma televisão convencional. A televisão aberta quanto fechada, ainda tem como

trunfo, a exibição de importantes eventos ao vivo. Para a programação regular de

entretenimento, ainda é bastante considerada, a importância da “primeira janela”,

que é quando o conteúdo é exibido pela primeira vez para o espectador. Um

programa de televisão ainda tem maior relevância publicitária em sua primeira

exibição. As reprises e as demais plataformas de exibição ainda são rendas

secundárias para os principais canais abertos. JENKINS critica o pessimismo com

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as novas mídias e chama de “A falácia da caixa-preta”. Nunca existirá uma mídia

única. E não são as mídias que morrem. O que acontece, é a mudança das

ferramentas usadas para acessar o conteúdo. São elas as tecnologias de

distribuição, também consideradas partes de um sistema cultural. JENKINS também

comenta que os produtores de conteúdo, tanto do mainstream quanto

independentes, podem tirar proveito da “primeira janela”, ao engajarem seus

consumidores a fazerem parte do processo de transmidiação da obra. Ele embasa a

sua cultura da convergência, dentro do conceito da cultura participativa, criado por

LEVY. Na cultura participativa, cada pessoa agrega seu conhecimento com os

demais, interpretam uma obra sob diversos pontos de vistas, podendo até criarem

novas versões da mesma história através de fanfiction (ficção criada por fã). Ao criar

um conteúdo transmídia de qualidade, o espectador é convidado a interagir com a

obra, buscando pistas e criando teorias sobre aquilo que pode acontecer na

narrativa central. Um fã de filme, ou seriado não quer perder oportunidade em

assistir em primeira mão, pois sabe que seus amigos, ou membros das comunidades

online em que participam, podem deixar escapar detalhes cruciais da trama, que

podem estragar a experiência de se surpreender com a obra. JENKINS define como

a “cultura do spoiler”, o ato de revelar alguma informação relevante, seja em uma

narrativa ficcional, ou em um acontecimento dentro de reality show, antes que outros

possam ter a chance de assistir. Ninguém quer “ficar para trás”, nos comentários nas

redes sociais. A “primeira janela” se tornou uma importante oportunidade para

promover a segunda tela.

Como aliar o conteúdo interativo da segunda tela com o engajamento do

público?

A inserção da interatividade na televisão digital aberta no Brasil, embora

tenha sido fracassada, ainda não precisa ser totalmente descartada. A evolução dos

meios de comunicação nas redes sociais permite que essa nova convergência

midiática, não fosse exclusiva e limitada apenas a uma tela.

A segunda tela é uma importante ferramenta para as emissoras

transmidiarem informações adicionais, assim como também serve como instrumento

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para medir as preferências e opiniões dos espectadores durante a exibição de um

programa.

Em uma pesquisa realizada em 2013 pelo Google juntamente com a Ipsos, se identificou que 63% dos consumidores brasileiros utilizam pelo menos duas telas ao se consumir informações e 30% utilizam três telas. 31 milhões de brasileiros possuem 3 telas (TV, smartphone e computador). A pesquisa apontou outro dado muito relevante, em relação à nossa exposição às mídias, onde 69% acontece por meio de telas. Esse tipo de informação é primordial no momento de se fazer um planejamento de comunicação. (OLIVEIRA, 2015)

As vantagens de utilizar as redes sociais como segunda tela, é conseguir ter o

feedback instantâneo da reação do público. A reação espontânea do público pode

ajudar a definir uma votação para eliminar um candidato de um reality show, assim

como pode exaltar, ou denegrir um personagem secundário de uma obra da

teledramaturgia. Sem a inclusão de um conteúdo transmídia relevante, o público

pode ignorar a ação promovida pela emissora e deixar de seguir a programação em

sua primeira exibição.

O papel do produtor transmídia é muito importante neste cenário complexo. Um profissional generalista o bastante para enxergar todo o ecossistema dos projetos multiplataformas, e técnico o bastante para ter a percepção do que funcionará no mundo real ou não será obrigatório para que agilidade, planejamento e êxito sejam alcançados, minimizando o risco para todas as áreas envolvidas. (ARNAUT, DION & SIGILIANO, 2015)

Para MACHADO e BEVILAQUA (2014), é necessário conhecer a fundo o

conceito e gênero do programa principal, veiculado na primeira tela. Assim é

possível criar ações transmídias para cada segmento de público, dividindo por faixa

etária, nível socioeconômico e grupos de interesse. É importante definir os

interesses da emissora para o conteúdo transmidiado na segunda tela, seja para

gerar uma ação promocional, fidelizar o público, ou promover a interatividade ao vivo

com a programação. É necessário estabelecer os formatos de comunicação e torná-

los funcionais e acessíveis, para criar a imersão que o público deseja com o seu

programa favorito.

As etapas de pré-produção, produção e pós-produção de primeira e segunda tela precisam caminhar juntas, uma vez que o conteúdo de ambas será ofertado ao mesmo tempo. Deve haver, portanto, uma atenção maior por parte dos produtores, primeiro, para que o que foi definido seja executado, segundo, no prazo estabelecido. As equipes que compõem as frentes de trabalho de primeira e segunda tela precisam trabalhar associadas, para que o telespectador/usuário reconheça no conteúdo a

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identidade do programa, independentemente do suporte em que ele seja disponibilizado. (MACHADO & BEVILAQUA, 2014) Ao incentivar explicitamente o uso da segunda tela, a emissora pode fazê-lo de duas maneiras: induzindo o espectador, incitando a prática de algumas atividades, ou conduzindo-o através da disponibilização de conteúdos simultâneos através de seu site e de aplicativos para smartphones e tablets, com atividades pontuais ou que podem percorrer todo o programa. (LOPES & MÉDOLA, 2015)

Novas oportunidades de produção e engajamento com o conteúdo transmídia

Um bom storytelling, ou narrativa, é fundamental para o sucesso de uma ação

transmídia. Na publicidade, cria-se uma narrativa para o produto como parte da vida

afetiva do consumidor. Segundo JENKINS, o capital emocional pode ser chamado

de “Lovemarks”. Quando o consumidor é chamado para fazer parte da história do

produto, a marca, produto, ou obra faz parte do estilo de vida do usuário. Mais do

que mensurar números, o consumidor hoje é o maior instrumento de divulgação de

um produto. Os consumidores engajados sabem que suas opiniões exercem uma

influência no resultado final daquilo que consome.

A extensão de uma marca baseia-se no interesse do público em determinado conteúdo, pra associá-lo repetidamente a uma marca.(…) Essa intensificação de sentimentos permite ao conteúdo de entretenimento abrir caminho através da confusão e tornar-se memorável aos consumidores”. As ideias não são apenas propriedades intelectuais, fazem parte do capital emocional. Constrói um senso de comunidade em um ambiente seguro e amigável da marca. “O marketing num mundo interativo é um processo cooperativo, em que o profissional de marketing ajuda o consumidor a comprar, e o consumidor ajuda o profissional de marketing a vender. (JENKINS, 2008)

No caso de um produto audiovisual, pode-se pensar a transmidiação de

conteúdo através de franquias. A expansão narrativa pode agregar valores

comerciais de um product placement em uma ação promocional. Um jogo de

videogame precisa estar inserido dentro do universo narrativo. Embora a história

mude em cada meio, os valores da franquia ainda precisa ser o mesmo.

A franquia não precisa mais ser necessariamente uma marca forte e consolidada no mercado para gerar rede de conteúdos. Franquias surgem no contexto de um mundo de histórias em expansão, mas para este mundo se tornar efetivo, a franquia precisa deixar de ser propriedade de um conglomerado de mídia. As franquias pertencem em grande medida aos consumidores dedicados, aqueles que consomem cada vez mais mídias sociais em detrimento das mídias convencionais, com o objetivo de fazer propaganda. (…) Uma das principais marcas da franquia é a sua imensa capacidade de provocar mudanças culturais, sociais e comportamentais ao

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proporcionar ferramentas que conectam os consumidores aos valores que ela representa. (ALVARENGA & MASSAROLO, 2010)

Os produtores de conteúdo ainda precisam deixar o consumidor e usuário livre

para as tomadas de decisão. Criar um ambiente controlado pode ser prejudicial tanto

para a marca, quanto para o conteúdo apresentado. Escutar o que o consumidor

tem a dizer é fundamental para construção de uma relação mais amigável e menos

comercial. A Netflix toma como base as preferências dos usuários, para selecionar

as séries que devem produzir. Outro ponto importante é permitir que o consumidor

faça parte do processo de transmidiação, deixando com que ele produza parte de

um conteúdo alternativo a obra, ou produto. Graças ao letramento digital, o

consumidor pode trazer novas interpretações para aquilo que assiste. Além de ser

um cliente fiel, ele é um influenciador de comportamentos e dita novas tendências

para uma marca. SIGILIANO (2015) fala sobre as facilidades em explorar o

conteúdo transmídia dentro de seriados, ao contrário das telenovelas, que possuem

um intervalo de tempo muito pequeno entre um capítulo e outro. Nos seriados

televisivos, o espaço entre episódios acontecem dentro de uma semana. Tempo

hábil para inserir ações transmídias, que mantenha a atenção na série e ofereça

“recompensas”, detalhes na história que apenas o fã mais assíduo pode desfrutar.

Existe a facilidade em explorar o conteúdo transmídia em uma narrativa seriada de

poucos episódios, no caso dos seriados brasileiros na televisão fechada duram em

média de oito à treze episódios por temporada. Embora existam algumas ações

transmídias para promover os seriados situados alguns meses antes e durante o

período da exibição, ainda não foram explorados uma continuidade do storytelling

entre uma temporada para outra.

Hoje é preciso elaborar um universo que pode sustentar múltiplos personagens e múltiplas histórias em múltiplas mídias. Cada franquia segue sua própria lógica. Algumas apresentam o universo na primeira parte para depois desenvolver a história em torno dos personagens. Ou em outros casos, são apresentados aspectos diferentes do universo a cada novo sequencia, para que mais energia seja despendida em mapear o universo do que em habitá-lo. A construção de universos segue sua própria lógica de mercado, numa época em que cineastas estão envolvidos tanto no negócio de criação de produtos licenciados quanto no negócio de contar histórias. (JENKINS, 2008)

Ao promover a transmidiação de uma obra, permite para que o público tenha

uma compreensão adicional e completa de todo o storytelling. O conteúdo

transmídia pode perdurar anos após o término da narrativa central. No caso da

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franquia Star Wars, diversos produtos e subprodutos deram continuidade a saga de

filmes, criada por George Lucas. A adição de novos elementos na narrativa podem

até criar uma nova interpretação para o cânone de uma saga. A gameficação de

uma narrativa convida o espectador interagir com a saga de maneira imersiva,

mantendo seu público cativo durante anos. Criar franquias de longa duração, ainda é

uma tarefa árdua para o mercado audiovisual brasileiro. O sucesso da Turma da

Mônica é considerado como a única franquia brasileira que vem explorando novos

meios narrativos por mais de 50 anos de existência.

O trabalho do fã está em intensificar o valor de uma propriedade intelectual não pode jamais ser reconhecido publicamente, se o estúdio quiser sustentar a tese que é dona de toda forma de reprodução da obra. Entretanto outros produtores de conteúdo consideram os fãs como um potencial de revitalização de franquias estagnadas e um meio de baixo custo para geração de novos conteúdos de mídia. (JENKINS, 2008)

Como pequenas e grandes produtoras de conteúdo audiovisual podem aliar

seus projetos com a convergência midiática, e ainda serem atrativas

comercialmente para o anunciante conservador?

Produção conteúdo cultural no Brasil é uma tarefa árdua. Mesmo existindo

editais e leis de incentivos governamentais, que facilitam a viabilização de seus

projetos, ainda assim é difícil para o produtor independente ter a mesma visibilidade

e rentabilidade de uma obra, ou evento cultural apoiado (e até financiado) por um

conglomerado midiático.

Há um “estrangulamento no sistema produtivo”, ou seja, demanda-se uma quantidade considerável de recursos, entretanto, apenas um quarto deles é aprovado para receber financiamento indireto do Estado e, mesmo com os incentivos governamentais, apenas metade do montante aprovado é realmente captada junto às empresas. (...) O financiamento para o setor audiovisual e produção de bens culturais ainda é complexo no país. O realizador enfrenta a burocracia e a concorrência como um dos principais obstáculos. Além disso, há o desconhecimento e falta de interesse da iniciativa privada que contribuem para a concentração de aportes financeiros em iniciativas de diretores renomados, diminuindo o espaço de novos criadores no mercado. (...) O financiamento para o setor audiovisual e produção de bens culturais ainda é complexo no país. O realizador enfrenta a burocracia e a concorrência como um dos principais obstáculos. Além disso, há o desconhecimento e falta de interesse da iniciativa privada que contribuem para a concentração de aportes financeiros em iniciativas de diretores renomados, diminuindo o espaço de novos criadores no mercado. (VALIATI & TIETZMANN, 2012)

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Com a facilidade da difusão da mídia em redes sociais, e o baixo custo dos

equipamentos, existem novas formas para o produtor independente lançar seus

trabalhos. Hoje o produtor independente não depende exclusivamente de editais e

novas formas de mecenato. Agora o fã, ou público prospecto, pode ser um

importante patrocinador para um trabalho artístico. O financiamento coletivo, ou

crowdfunding foi criado pelo empresário americano Michael Sulivan, quando lançou

o fundavlog, uma incubadora para projetos de vídeo logs. A simples ideia de usar

doações pessoais, já usados há algum tempo em eventos beneficentes, nunca foi

feita para arrecadar dinheiro para pequenas causas pessoais, tal como uma viagem

financiada através do crowdfunding. O maior site de crowdfunding do mundo é o

kickstarter, enquanto no Brasil, o Catarse é bastante utilizado para financiar diversos

projetos. O grande diferencial do Catarse é que o investidor troca a participação dos

lucros, por diversos prêmios categorizados pelo grau de importância da doação.

Embora exista o risco do projeto não ir adiante, o público tem a experiência de

vivenciar as etapas da produção e ter o seu produto em primeira mão, em uma pré-

venda personalizada. Ainda que o projeto seja produzido através do financiamento

coletivo, o produtor ainda precisa ter uma importante janela de exibição, para que

não fique apenas restrito aos views e likes de uma plataforma como o YouTube.

Para um produtor de teledramaturgia é importante que sua série ganhe espaço em

um canal fechado (logo que as televisões abertas investem massivamente em

produções próprias), ou no catálogo de uma plataforma on demand (Netflix, Net

Now, Crackle). As redes sociais são ótimas para transmidiar diversas formas de

expansão da obra, porém financeiramente, as plataformas de conteúdo pago ainda

tem maior retorno financeiro do que o streaming dentro das redes sociais. No

entanto, as web séries permitem maior experimentação de linguagem e inclusive o

formato é perfeito para transmidiar o conteúdo secundário de uma série, ou novela,

que é o caso do recente sucesso, Totalmente Demais. As vantagens de uma web

série é experimentar produzir produtos menores, porém com uma interação maior

com o público, logo que todo o processo de postagem acontecem dentro de redes

sociais. Em web séries, pode-se explorar diversas formas de product placement,

fazendo com que a marca seja um elemento importante para o storytelling.

Estamos num importante momento de transição, no qual antigas regras estão abertas a mudanças e as empresas sejam obrigadas a renegociar sua relação com os consumidores. A pergunta é se o público está pronto para

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expandir a participação ou propenso a conformar-se com as antigas relações com as mídias. (JENKINS, 2008)

Conclusão

A cultura da convergência representa midiaticamente à sociedade do

conhecimento, para LEVY (apud JENKINS), é uma utopia realizável. Segundo

JENKINS, as velhas mídias não morreram, mas sim, as nossas relações com elas.

As relações entre produtor e consumidor é uma simbiose em que o conteúdo precisa

seguir com as tendências e os costumes criado pelo público, mas, ao mesmo tempo,

trazem um novo olhar para a cultura popular. O letramento dos consumidores além

de fragmentar a audiência de um produto mainstream pode trazer um público mais

qualificado, que pode dar um novo fôlego para a obra de entretenimento. A

concentração do poder de mídia, ainda é um desafio a ser superado, porém com a

convergência midiática, novas plataformas permitem novos olhares e novas

soluções para velhos problemas.

A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. (…) A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. (JENKINS, 2008)

A produção transmídia precisa ter além do conteúdo qualificado, um design de

interação amigável, para que o público sinta-se livre para explorar todas as

possibilidades narrativas de uma obra. As métricas devem servir para aproximar-se

ao comportamento do consumidor, e não ser apenas números referentes à

audiência. É importante saber mediar às opiniões diversas e usar as críticas

negativas (e muitas vezes ofensivas) para melhorar nas próximas obras. E jamais

censurar o fã. Principalmente, quando ele traz novas interpretações, através de

releituras literárias e audiovisuais dos seus filmes e programas favoritos. Ter espaço

para um público cativo e engajado, também é fornecer os meios para que eles

possam ser os futuros produtores de conteúdo da cultura audiovisual brasileira.

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