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Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINSTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Suspensão de Liminar ajuizada perante a Presidência do e. TJRJ: processo nº 0019730- 36.2016.8.19.0000 Processos de origem abrangidos pelo pedido de suspensão: 0125055-94.2016.8.19.0001 e 0126388-81.2016.8.19.0001 10ª Vara de Fazenda Pública (Central de Assessoramento Fazendário) e 15ª Vara de Fazenda Pública Autores: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E ASSOCIAÇÃO DOS DELEGADOS DE POLÍCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ADEPOL/RJ ESTADO DO RIO DE JANEIRO e FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RIOPREVIDÊNCIA, pessoas jurídicas de direito público interno, neste ato representados pela Procuradoria Geral do Estado, com fundamento no artigo 4º da Lei nº 8.437/92, vêm requerer a presente SUSPENSÃO DE LIMINAR, em decorrência dos fatos e dos fundamentos a seguir aduzidos: ANTECEDENTES A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ajuizou ação civil pública em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO e do RIOPREVIDÊNCIA, com pedido de antecipação de tutela, para condená-los à obrigação de pagar os proventos relativos à competência de

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Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINSTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Suspensão de Liminar ajuizada perante a Presidência do e. TJRJ: processo nº 0019730-

36.2016.8.19.0000

Processos de origem abrangidos pelo pedido de suspensão: 0125055-94.2016.8.19.0001 e

0126388-81.2016.8.19.0001

10ª Vara de Fazenda Pública (Central de Assessoramento Fazendário) e 15ª Vara de Fazenda

Pública

Autores: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E ASSOCIAÇÃO DOS DELEGADOS

DE POLÍCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – ADEPOL/RJ

ESTADO DO RIO DE JANEIRO e FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA, pessoas jurídicas de direito público

interno, neste ato representados pela Procuradoria Geral do Estado, com fundamento no

artigo 4º da Lei nº 8.437/92, vêm requerer a presente SUSPENSÃO DE LIMINAR, em

decorrência dos fatos e dos fundamentos a seguir aduzidos:

ANTECEDENTES

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ajuizou ação civil pública

em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO e do RIOPREVIDÊNCIA, com pedido de antecipação

de tutela, para condená-los “à obrigação de pagar os proventos relativos à competência de

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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março de 2016 dos aposentados e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro atingidos pelo

Decreto Estadual nº 45.628/2016, no prazo de 24 horas, sob pena de, em caso de

descumprimento da ordem judicial: a) ARRESTO de quantia de R$1.066.383.319,96,

correspondente à folha de pagamento dos aposentados e pensionistas (...) nas contas

bancárias dos Réus, a fim de que se proceda ao pagamento dos benefícios em atraso”.

Veja-se o teor do Decreto impugnado:

DECRETO Nº 45.628 DE 12 DE ABRIL DE 2016

DISPÕE SOBRE O PAGAMENTO DOS BENEFÍCIOS

PREVIDENCIÁRIOS DOS SERVIDORES INATIVOS E

PENSIONISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO REFERENTE

AO MÊS DE COMPETÊNCIA MARÇO 2016.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, em exercício,

no uso das atribuições constitucionais e legais, CONSIDERANDO o

déficit do Fundo de Previdência do Estado do Rio de Janeiro e a

necessidade do Tesouro Estadual,

DECRETA:

Art. 1º - O pagamento referente à competência março 2016, dos

servidores inativos da Administração Estadual Direta e Indireta e dos

pensionistas previdenciários do Estado do Rio de Janeiro que recebam

benefícios previdenciários superiores a R$ 2.000,00 (dois mil reais)

líquidos, será creditado até 12 de maio de 2016.

Art. 2º - A Secretaria de Estado de Fazenda e a Secretaria de Estado de

Planejamento e Gestão adotarão as medidas pertinentes ao cumprimento

do disposto neste Decreto.

Art. 3º - Este Decreto entrará em vigor na data da sua publicação.

Argumentou a DEFENSORIA PÚBLICA que a alteração do calendário de pagamento

dos inativos e pensionistas promovida pelo Decreto nº 45.628/2016: a) violaria o mínimo

existencial necessário à sobrevivência digna dos aposentados e pensionistas; b) utilizaria

critério de discriminação inconstitucional, dada a especial proteção aos idosos, pessoas

com deficiência, crianças e adolescentes; c) violaria o princípio da razoabilidade;

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d) violaria a previsibilidade, a segurança jurídica e a confiança legítima na manutenção do

calendário anterior.

Acolhendo as equivocadas premissas da petição inicial, o d. Juiz de 1º grau

deferiu a liminar nos seguintes termos:

“Ante o exposto, antecipo a tutela de mérito, sem oitiva da parte

contrária, para determinar aos réus que efetuem o pagamento dos

proventos e das pensões dos agentes públicos inativos e dos

pensionistas, no prazo de vinte quatro horas. Deixo claro que

responsabilidade dos réus é solidária. Caso não seja efetuado o

pagamento dos proventos e das pensões, defiro o arresto da quantia

correspondente à folha de pagamento dos agentes públicos inativos e

dos pensionistas, descrita nos autos, nas contas de quaisquer dos réus.

Os valores arrestados deverão ser depositados em conta judicial. Ficam

afastadas as quantias depositadas nas contas pertencentes aos órgãos do

Estado que dispõem de dotação orçamentária própria e dos integrantes

das pessoas jurídicas de direito público ou privado, integrantes da

administração pública indireta. Cite-se. Intimem-se, sendo os réus

pessoalmente e por meio de Oficial de Justiça para cumprimento do

decidido”.

Ao lado disso, a ASSOCIAÇÃO DOS DELEGADOS DE POLÍCIA DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO – ADEPOL/RJ também propôs ação ordinária, com fundamentos semelhantes em

que pleiteou a antecipação de tutela para que se efetue o pagamento imediato dos proventos

e pensões dos membros aposentados e pensionistas associados, contemplando os meses

seguintes para que se efetue no 1º dia útil do mês subsequente ao vencido e, quanto ao mês,

requereu o arresto de R$ 25.000.000,00. O pedido foi deferido nos seguintes termos:

Por tais razões, DEFIRO A TUTELA PROVISÓRIA pleiteada para

determinar (i) que o pagamento da retribuição mensal devida aos

aposentados e pensionistas associados da Autora se faça no primeiro

dia útil do mês subsequente ao vencido, com proibição do

parcelamento de quais dos valores devidos, inclusive o 13º salário;

(ii) o pagamento imediato e integral dos proventos de aposentadoria e

pensões dos associados da Autora referente ao mês de março do corrente

ano através da expedição do mandado de arresto no valor de R$ R$

25.000,000,00 (vinte e cinco milhões de reais) das contas dos requeridos

a ser cumprido pelo Oficial de Justiça COM URGÊNCIA nos bancos

Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Caixa Econômica. Quanto aos

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primeiros dois bancos, deverá o Sr. Oficial de Justiça cumprir o mandado

nas agências que se encontram neste Fórum Central. Preferencialmente, o

bloqueio deverá incidir sobre contas de titularidade dos seguintes

números de CNPJ: 42.498.600/0001-71 (Governo do Estado do Rio de

Janeiro) e 42.498.675/0001-52 (Secretaria de Estado de Fazenda),

VEDADA A INCIDÊNCIA DA CONSTRIÇÃO SOBRE VERBAS

DESTINADAS À SAÚDE, EDUCAÇÃO E SEGURANÇA PÚBLICA.

Intime-se, com urgência, a Exma. Sra. Secretária de Planejamento e

Gestão, sob pena de crime de desobediência e ato de improbidade

administrativa, além de multa pessoal de R$ 10.000,00 (dez mil reais),

para que, no prazo máximo de 12 (doze) horas, transfira os valores

arrestados ao Banco Bradesco S/A, devendo, no momento da

transferência, indicar todas as informações relacionadas à folha de

pagamento que se afigurem necessárias à concretização do pagamento e

cada um dos inativos e pensionistas associados da Autora. Eventual saldo

arrestado remanescente deverá ser imediatamente liberado aos cofres

públicos. Intime-se, também, com urgência, o Banco Bradesco para que,

no prazo máximo de 24 horas, contados da efetiva comunicação pela

SEPLAG, promova o pagamento da sobredita folha de inativos e

pensionistas, sob pena de multa diária de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Citem-se e intimem-se os réus.

Nessa última ação, realizou-se o arresto no valor de R$ 25 milhões, na conta 728-

5, agencia 6898, banco 237 atrelada ao convênio relativo ao PROGRAMA MELHORIA E

IMPLANTAÇÃO DE INFRAESTRUTURA VIÁRIA DO ESTADO DO RJ – PROVIAS,

envolvendo, inclusive, operação de crédito.

Apesar de já ter havido a efetivação do arresto determinado na decisão proferida

na ação proposta pela ADEPOL, é certo que, como a decisão liminar abrange os

pagamentos dos meses subsequentes, há franco risco de realização de futuros arrestos para

a efetivação da ordem de pagamentos futuros.

Por comprometer, de forma inaceitável, a ordem e a economia deste Estado, foi

ajuizada suspensão de liminar perante a Presidência do e. Tribunal de Justiça do Estado do

Rio de Janeiro (processo nº 0019730-36.2016.8.19.0000 – inicial, doc. 1), cujo trecho final,

por oportuno, ora se transcreve:

“Por todo o acima exposto, ficou cabalmente evidenciado o atendimento

aos requisitos para a concessão da providência requerida, motivo pelo

qual se confia que Vossa Excelência determinará a suspensão das

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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liminares deferidas pelos Juízos da Central de Assessoramento

Fazendário nos autos do processo nº 0125055-94.2016.8.19.0001 e da 15ª

Vara de Fazenda nos autos do processo nº 0126388-81.2016.8.19.0001.

Postula-se, ademais, a concessão de imediato efeito suspensivo

liminar, consoante permissivo do parágrafo 7º do artigo 4º da Lei nº

8.437/1992, diante da evidente plausibilidade do direito invocado e da

urgência na concessão da medida, consoante amplamente demonstrado

nos tópicos precedentes.

Alternativamente, pleiteia-se, ao menos, que o arresto determinado nas

decisões concessiva da antecipação de tutela restrinjam-se ao valor

total de R$ 661.451.494,79 (seiscentos e sessenta e um milhões,

quatrocentos e cinquenta e um mil, quatrocentos e noventa e quatro

reais e setenta e nove centavos) que, conforme CI SEPLAG/SUBGEP

nº 17/2016 (anexo), é o que basta para saldar os pagamentos

remanescentes dos inativos e pensionistas do Estado do Rio de

Janeiro. Para isso, deve-se determinar que o arresto a ser realizado

na ação proposta pela Defensoria Pública do Estado do Rio de

Janeiro seja limitado ao valor de R$ 636.451.494,79 (valor

remanescente informado pela SEPLAG deduzidos os 25 milhões

objeto da ação da ADEPOL).

Ainda na hipótese alternativa de se entender inviável a suspensão dos

efeitos da decisão concessiva de antecipação de tutela na ação originária,

pleiteia-se seja vedado que o arresto recaia sobre contas

especialmente vinculadas a convênios, com destinação específica em

geral, especialmente aquelas vinculadas a despesas de saúde e

educação e, ainda, sobre as contas do FUNDO CAPITALIZADO DO

RIOPREVIDÊNCIA, conforme fundamentos acima expostos,

tornando ineficaz, por consequência, desde já, o arresto realizado na

ação proposta pela ADEPOL em conta corrente vinculada a

convênio”.

Contudo, o Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro julgou o extinto o processo sem exame do mérito nos seguintes termos:

“Tendo em vista que o Órgão Especial deste E. Tribunal de Justiça, no

julgamento das Arguições de Inconstitucionalidade nº. 0018792-

41.2016.8.19.0000 e nº. 0018812-32.2016.8.19.0000, reconheceu a

inconstitucionalidade do Decreto Estadual 45.628/16, o qual altera o

calendário de pagamento dos inativos e pensionistas, e que tal decisão,

proferida em sede de controle concentrado de constitucionalidade, gera

efeitos vinculantes aos demais órgãos judicantes desta E. Corte,

conforme art. 103 do nosso Regimento Interno, JULGO EXTINTO O

PROCESSO SEM EXAME DO MÉRITO.” (decisão, doc. 2).

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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CABIMENTO DA CONTRACAUTELA

Preceitua o artigo 4º da Lei nº 8.437/1992 que:

Art. 4º - Compete ao Presidente do Tribunal, ao qual couber o

conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho

fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder

Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da

pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto

interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão

à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

Ademais, no que toca à produção de efeitos imediatos por decisões interlocutórias

contra as quais caiba recurso desprovido de efeito suspensivo, o manejo da presente

medida de contracautela é asseverado tanto pela jurisprudência da Suprema Corte (v.g.

STA-AgR56/AM), quanto pela doutrina, in verbis:

“Atualmente, contudo, o pedido de suspensão cabe em todas as

hipóteses em que se concede provimento de urgência contra a Fazenda

Pública ou quando a sentença contém efeitos imediatos, por ser

impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo. É que, sempre

que se concede uma ‘cautela’ contra o Poder Público, admite-se, em

contrapartida, uma contracautela. O pedido de suspensão é, pois, a

contracautela que se confere à Fazenda Pública. Daí se poder dizer que,

hoje em dia, há a suspensão de liminar, a suspensão de segurança, a

suspensão de sentença, a suspensão de acórdão, a suspensão de

cautelar, a suspensão de tutela antecipada e assim por diante”

(destacamos)1.

Fixadas essas premissas, cumpre ser rememorado que, no caso sub examine, se

pretende suspender liminares concedidas pelo MM. Juízo da Central de Assessoramento

Fazendário e da 15ª Vara de Fazenda Pública, por meio da qual se determinou o pagamento

dos proventos e das pensões dos agentes públicos inativos e dos pensionistas, no prazo de

vinte quatro horas, sob pena de arresto de valores expressivos. Na ação da ADEPOL, o

risco de arresto se renova a cada início de mês, tendo em vista que foi determinado o

pagamento dos aposentados e pensionistas associados à autora, sempre no 1º dia útil do

1 CUNHA, Leonardo José Carneiro da, “A Fazenda Pública em Juízo”, 3ª edição, Editora Dialética, p. 377/8

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mês seguinte ao vencido.

Cabe, assim, na forma do §1º do artigo 15 da Lei 12.019/09 – que integra o

microssistema de liminares contra a Fazenda Pública e, portanto, aplicável à hipótese –,

“novo pedido de suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de

eventual recurso especial ou extraordinário”.

E, mesmo que assim não se entenda, o conhecimento e a apreciação deste novo

pedido de suspensão se insere no poder geral de contracautela assegurado à Presidência

desse e. Supremo Tribunal Federal, especialmente na hipótese versada, em que se está

diante de estado de extrema urgência e da patente plausibilidade jurídica do pedido.

Note-se, por outro lado, que a matéria de fundo versa acerca de tema de índole

constitucional, notadamente porque a decisão atacada representa ofensa ao princípio da

separação de poderes (art. 2º da CRFB) e às atribuições privativas do Exmo. Sr.

Governador do Estado para organização e funcionamento da Administração Pública

estadual (art. 84 da CRFB, aplicável por simetria).

Compete, assim, a essa Corte Suprema apreciar esse novo pedido de contracautela.

Superado esse ponto inicial, resta, então, ser demonstrado o preenchimento dos

demais requisitos para o cabimento da contracautela, quais sejam: manifesto interesse

público, bem ainda risco de grave lesão à ordem ou à economia públicas. É o que se passa

a fazer.

O JULGAMENTO DAS ARGUIÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº. 0018792-

41.2016.8.19.0000 E Nº. 0018812-32.2016.8.19.0000 NÃO EXAURE O OBJETO DO PEDIDO

FORMULADO NO PEDIDO DE SUSPENSÃO DA LIMINAR. PERMANÊNCIA DE RISCO À

ECONOMIA E À ORDEM PÚBLICA.

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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Com efeito, houve no dia 25 de abril de 2016, o julgamento dos pedidos liminares

das Representações de Inconstitucionalidade nºs 0018792-41.2016.8.19.0000 e nº.

0018812-32.2016.8.19.0000, por meio das quais o órgão Especial do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro suspendeu a eficácia do Decreto Estadual nº 45.628/16. No

entanto, isso não esgota o risco para a economia e ordem públicas, permanecendo a

necessidade de suspensão dos efeitos das decisões liminares em tela, ao menos

parcialmente.

Ainda que não se possa mais discutir a jurisdicidade do Decreto que alterou a data

de pagamento dos servidores inativos e pensionistas com proventos superiores a R$

2.000,00 (dois mil reais) líquidos do mês de março de 2016 (objeto do Decreto Estadual nº

45.628/16), é certo que há sério risco no modo como será realizado o arresto iminente na

ação proposta pela Defensoria Pública e os futuros arrestos que serão realizados no que

concerne aos pagamentos dos meses subsequentes na ação proposta pela ADEPOL.

Isso tem especial importância, porque as decisões liminares aqui em tela não

ressalvaram as contas correntes com destinação específica, nem mesmo aquelas

destinadas à gestão de recursos de convênios (inclusive com a União Federal) ou

aquelas que envolveram operações de crédito com instituições bancárias.

Rememore-se, por oportuno, que na ação proposta pela ADEPOL foi determinado

“que o pagamento da retribuição mensal devida aos aposentados e pensionistas

associados da Autora se faça no primeiro dia útil do mês subsequente ao vencido, com

proibição do parcelamento de quais dos valores devidos, inclusive o 13º salário”.

Assim, temos ainda, que a decisão liminar na ADEPOL não se limitou a afastar a

aplicação do Decreto Estadual nº 45.628/16 (cuja discussão acerca da inconstitucionalidade

está afastada), mas, sobretudo, afastou a aplicação do Decreto Estadual nº 45.593/2016,

que fixara o calendário de pagamento de todos os servidores ativos, inativos e

pensionistas do Estado do Rio de Janeiro para o 10º dia útil do mês subsequente ao

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vencido e, vale ressaltar, permanece em pleno vigor.

Daí porque permanece o grave risco de lesão à economia e à ordem públicas, a

justificar o presente pedido de suspensão das decisões liminares em tela, ao menos para que

(a) seja vedada a realização de arrestos em valores presentes em contas correntes com

destinação específica, tal como aquelas destinadas à gestão de recursos de convênios e

que envolvem operações de crédito com instituições bancárias; e (b) seja deferido o

pedido de suspensão da decisão liminar proferida na ação da ADEPOL que obriga o

Estado a efetuar o pagamento dos proventos e pensões até o 1º dia útil do mês

subsequente ao vencido.

GRAVE LESÃO À ECONOMIA E À ORDEM PÚBLICA. ESFORÇOS DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO E O RIOPREVIDÊNCIA PARA ARCAR COM SEUS COMPROMISSOS FINANCEIROS

É notório o cenário de dificuldades financeiras pelas quais vêm passando a União,

os Estados e os Municípios que compõem a Federação Brasileira.

Também é de todos conhecida a atual e particular conjuntura econômica e

financeira do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, atingido gravemente pelas mudanças ocorridas

no mercado petrolífero mundial, pela sensível redução na distribuição dos royalties da

exploração do petróleo e pela desaceleração da economia, com a consequente redução das

receitas tributárias do estado.

A título de ilustração, no mês de abril de 2016, a expectativa de arrecadação

líquida do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, descontadas as transferências constitucionais

aos municípios, equivale a cerca de R$ 2,3 bilhões, enquanto as despesas equivalem a

R$ 3,8 bilhões. Ou seja, o déficit mensal (diferença entre arrecadação líquida

estimada e despesas) representa R$ 1,5 bilhão.

Para o mês de março de 2016, a folha apenas dos inativos e pensionistas do

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Estado do Rio de Janeiro atinge o valor total de R$ 1.256.684.635,98 (um bilhão,

duzentos e cinquenta e seis milhões, seiscentos e oitenta e quatro mil, seiscentos e

trinta e cinco reais e noventa e oito centavos), enquanto em 12 de abril de 2016, na

data de edição do Decreto nº 45.628/2016, as contas do FUNDO FINANCEIRO DO

RIOPREVIDÊNCIA somavam apenas R$ 98.764.299,27 (noventa e oito milhões,

setecentos e sessenta e quatro mil, duzentos e noventa e nove reais e vinte e sete

centavos).

Custo da folha bruta do Rioprevidência vinculado ao Fundo Financeiro

Aposentados 955.252.428,37

Pensionistas 301.432.207,61

Total 1.256.684.635,98

Saldos do Fundo Financeiro do Rioprevidência

Instituição Saldo em 12/04

Itaú 6.996.602,56

Banco do Brasil 3.386.802,92

Caixa 4.625.647,35

Bradesco 85.286.948,27

HSBC 1.278.816,74

Pactual 1.272,54

Outros 188.208,89

Total 98.764.299,27

Por sua vez, segundo informado no Of. SUBFIN/GAB/Nº 60/2016 (anexo), o

saldo do Tesouro em 18/04/2015, considerando, inclusive, recursos de terceiros e

transferências constitucionais aos Municípios, é negativo de R$ 1.252.377.217,59 (um

bilhão, duzentos e cinquenta e dois milhões, trezentos e setenta e sete mil, duzentos e

dezessete reais e cinquenta e nove centavos).

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Saldo em 18/04/2015 da Conta Única do Tesouro Estadual, inclusive de Recursos de

Terceiros e Transferências Constitucionais aos Municípios:

Conta corrente Saldo

Conta corrente1 38.354.131,17

Municípios (- 30.350.332,63)

Subtotal 8.003.798,54

Recursos na Conta Única (- 1.260.381.016,13)

(- 1.252.377.217,59)

1 – Saldo aplicado na conta única do Tesouro, considerando arrecadação e cota-parte dos

Municípios e FUNDEB a serem distribuídos;

2 – Recursos de outros órgãos, com FR’s de terceiros, depositados no Tesouro Estadual.

Destaque-se que o ESTADO não paga seus fornecedores com regularidade há

alguns meses. Desde o início da crise estadual, o Governo trata o pagamento do

funcionalismo como compromisso prioritário, sendo todos os esforços realizados para

cumprir integralmente a obrigação e minimizar os efeitos da crise para os servidores.

Nesse cenário, as decisões liminares que determinam arrestos de valores tão

expressivos, sem nenhuma restrição quanto à sua efetivação em contas destinadas a

administração de recursos oriundos de convênios e operações de crédito tornam inviável

qualquer programação financeira que permita ao ESTADO e ao RIOPREVIDÊNCIA

equilibrar suas finanças públicas.

O risco à economia pública, portanto, está objetiva, matemática e exaustivamente

comprovado.

A gravidade dos efeitos da lesão, entretanto, não se limita à exorbitância do

montante cujo desembolso imediato fora determinado pelo MM. Juízo a quo, nem à

comprovada impossibilidade material de cumprimento dessa decisão liminar. Mais grave:

espraia-se, ainda, sobre a ordem pública.

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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Sob esse enfoque, não é preciso demasiado esforço para compreender que o

sequestro ou arresto das receitas que ingressam na Conta Única do Tesouro – que já

conta com saldo negativo de R$ 1.252.377.217,59 - e na conta do Fundo Financeiro do

RIOPREVIDÊNCIA ensejará insuportável ônus para o Estado, que, destarte, não disporá

de recursos para o cumprimento do programa de desembolsos financeiros previsto na

norma orçamentária para o mês de abril e subsequentes, chegando, inclusive, a (i)

inviabilizar os repasses constitucionais obrigatórios aos demais Poderes e aos

Municípios, e a (ii) atingir potencialmente todos os serviços essenciais do Estado.

A agravar essa equação está o fato de que a execução orçamentária envolver a

realização de operações financeiras que, embora não diretamente afetas à prestação de

serviços essenciais, são indispensáveis a assegurar a captação de recursos para essas

atividades, do que é exemplo o pagamento de juros e encargos da dívida com a União,

imprescindível a assegurar transferências voluntárias (repasses de verbas federais) para

inúmeros programas que visam tutelar direitos fundamentais do cidadão fluminense.

Mas não é só. As decisões que se pretende a suspensão criam ambiente de

inaceitável quebra de isonomia, prestigiando aqueles que, em primeiro lugar, possam vir a

pôr as mãos em verbas públicas e, por derivação lógica, coloca em risco, para os demais

credores, o recebimento de seus créditos nas datas aprazadas pelo Executivo, haja vista a

demonstrada escassez de recursos públicos.

Impõe-se ter em vista ainda a profusão de decisões, proferidas em ações ajuizadas

em nome de categorias funcionais específicas, como é o caso da ajuizada pela ADEPOL,

determinando arrestos para “atender à folha de pagamento de servidores ativos, inativos e

pensionistas” da categoria em questão, que acabam por tratar de forma diferenciada

situações jurídicas idênticas e a expor as finanças públicas já debilitadas a um risco de

pagamentos em duplicidade.

Em outros termos, permite um “concurso” de credores anti-isonômico, que

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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prestigia aqueles que atuam em juízo com maior velocidade e que permite que uns recebam

a integralidade de seus créditos, enquanto outros não receberão nada.

Assim, a decisão liminar importa em lesão à ordem pública, pois retira do gestor

público os meios essenciais à responsável alocação dos recursos financeiros do Estado, e,

ainda, (a) representa quebra da isonomia entre credores, (b) inviabiliza o cumprimento do

programa de desembolsos financeiros previsto na norma orçamentária, inclusive os

repasses obrigatórios, e (c) atinge potencialmente todos os serviços essenciais do Estado.

A contracautela, pois, é medida que se impõe à preservação da economia e da

ordem públicas.

FUMAÇA DO BOM DIREITO.

CENÁRIO DE CRISE QUE AUTORIZA A ALTERAÇÃO DO CALENDÁRIO DE PAGAMENTO.

INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO OU CONFIANÇA LEGÍTIMA À PERMANÊNCIA DE

CALENDÁRIO ANTERIOR. RESPEITO À CAPACIDADE INSTITUCIONAL DO PODER

EXECUTIVO DE DEFINIR O CALENDÁRIO DE PAGAMENTO EM TEMPOS DE CRISE

Observe-se, em adição ao que foi até aqui exposto, que os servidores públicos não

têm direito adquirido a determinada data de pagamento prevista anteriormente, que, assim,

pode ser alterada em favor da preservação dos serviços essenciais à população e, ainda, das

limitações orçamentárias.

São de amplo conhecimento dos jurisdicionados as flutuações regularmente

vivenciadas na economia do País ao longo dos anos, que são sentidas no Estado e

afetam, por consequência, os cofres públicos estaduais.

Diante das circunstâncias econômico-financeiras extraordinárias, não há

razões para se entender legítimo confiar na permanência de um calendário de

pagamentos previsto para a higidez dos cofres públicos. Não há falar nem em confiança

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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legítima de permanência, nem em direito adquirido àquela data definida anteriormente.

Justamente por isso, já decidiu o Tribunal Regional Federal da 2ª Região que

“certas situações existentes entre a Administração Pública e seus servidores podem vir,

em determinadas circunstâncias, a serem unilateralmente modificadas, uma vez que o

interesse da administração há de sobrepor-se ao do particular”, razão pela qual inexiste

“ilegalidade na alteração unilateral da data de pagamento dos vencimentos do servidor

...” (Ap. Cível nº 0029499-76.1996.4.02.0000, 3ª Turma do TRF2, relator Desembargador Valmir

Peçanha).

No cenário de crise, a definição do calendário de pagamento dos servidores do

Executivo estadual por meio de Decreto do Govenrnador está perfeitamente conforme o

artigo 84, VI, a, CRFB, que, com a alteração promovida pela EC 32/01, estabeleceu a

competência reservada ao Chefe do Poder Executivo para dispor sobre a “organização

e o funcionamento da Administração”, quando isso não implicar em aumento de despesa,

nem criação ou extinção de órgão público.

A alteração constitucional a este respeito importou em consagrar na Norma

Fundamental o reconhecimento de que não há órgão jurídico da administração com

maior vocação institucional que a Chefia do poder Executivo para dispor sobre a

organização e funcionamento da Administração, aí incluída a definição do calendário

de pagamento dos seus servidores.

Dito de outro modo, somente a Chefia do Poder Executivo conhece com

suficiência a situação financeira do Estado, as suas capacidades e limitações

administrativas, para definir com eficiência a data de pagamento dos seus servidores de

modo a não prejudicar a prestação dos serviços essenciais à população.

Não se pode pleitear ao Judiciário que substitua o Administrador e fixe data

distinta daquela definida pelo Poder Executivo, sob pena de se violar a harmonia e a

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

15

separação dos Poderes (art. 2º da CRFB).

A fixação da data de pagamento dos servidores é matéria reservada aos

regulamentos editados pelo Chefe do Poder Executivo, na forma dos artigos 762 e 84,

incisos I, II3 e VI, alínea a, da Constituição da República, aplicável por simetria ao

Governador do Estado, a quem compete, nas palavras do STF, “a posição de Chefe

supremo da administração pública” estadual (ementa da ADI 2546).

Ainda que se admita o afastamento da aplicação do Decreto Estadual nº 45.628/16,

julgado inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ao menos

deve ser mantido o calendário de pagamento fixado no Decreto Estadual nº 45.593/2016.

O Decreto Estadual nº 45.593/2016, ainda plenamente em vigor, determina que

o pagamento dos servidores públicos ativos, inativos e pensionistas do Estado do Rio

de Janeiro deve ocorrer até o 10º dia útil do mês subsequente ao vencido:

DECRETO Nº 45.593 DE 08 DE MARÇO DE 2016

ALTERA O DECRETO Nº 45.506, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2015.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas

atribuições constitucionais e legais,

CONSIDERANDO a necessidade do Tesouro Estadual,

DECRETA:

Art. 1º - O inciso I do art. 1º do Decreto nº45.506, de 16 de dezembro de 2015,

passa a vigorar com a seguinte redação:

“ I - servidores ativos, inativos e pensionistas previdenciários: até o décimo dia

útil do mês subsequente ao mês de competência;”

Art. 2º - O presente Decreto aplica-se a partir dos pagamentos a serem realizados

no mês em curso.

Art. 3º - A Secretaria de Estado de Fazenda e a Secretaria de Estado de

Planejamento e Gestão adotarão as medidas pertinentes ao cumprimento do

disposto neste Decreto.

Art. 4º - Este Decreto entrará em vigor na data da sua publicação.

Rio de Janeiro, 08 de março de 2016

LUIZ FERNANDO DE SOUZA

2 CRFB, artigo 76: “O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros

de Estado”. 3 CRFB, artigo 84, I e II: “Compete privativamente ao Presidente da República:

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;

II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal”.

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

16

Rememore-se, por oportuno, que na ação proposta pela ADEPOL foi determinado

“que o pagamento da retribuição mensal devida aos aposentados e pensionistas

associados da Autora se faça no primeiro dia útil do mês subsequente ao vencido, com

proibição do parcelamento de quais dos valores devidos, inclusive o 13º salário”.

Assim, tem-se, ainda, que a decisão liminar na ADEPOL não se limitou a afastar a

aplicação do Decreto Estadual nº 45.628/16 (cuja discussão acerca da inconstitucionalidade

está afastada), mas, sobretudo, afastou a aplicação do Decreto Estadual nº 45.593/2016,

que fixara o calendário de pagamento de todos os servidores ativos, inativos e

pensionistas do Estado do Rio de Janeiro para o 10º dia útil do mês subsequente ao

vencido que, vale ressaltar, permanece em pleno vigor, tendo sido derrogado apenas

no que concerne aos proventos de aposentadoria e pensões superiores a R$ 2.000,00

(dois mil) líquidos no que concerne ao mês de março de 2016.

Não há como afastar a aplicação do Decreto 45.593/2016, especialmente

considerando que, com a liminar na ação da ADEPOL limita-se aos servidores

inativos e pensionistas associados da autora, é certo que a decisão liminar determinou

que o pagamento destes proventos deverá ocorrer em data anterior àquela em que

ocorrerá o pagamento da remuneração dos servidores ativos, em total desrespeito ao

princípio da isonomia (art. 5º, da CR).

Deste modo, caso não sejam imediatamente suspensas as decisões que, na

ação proposta pela ADEPOL, deferiu o arresto para a efetivação do pagamento dos

proventos e pensões no 1º dia útil do mês subsequente ao vencido e, na ação proposta

pela Defensoria Pública, o arresto de valor superior a meio bilhão de reais, em

desrespeito à programação financeira determinada pelo Governador do Estado por

meio de Decreto, é certo que haverá consequências graves para os serviços essenciais

à população e para as obrigações financeiras dos meses subsequentes, inclusive para

os repasses constitucionais a outros Poderes, saúde, educação e municípios.

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17

IMPACTO DE ARRESTO NA CONTA ÚNICA DO TESOURO ESTADUAL

É imperioso alertar que eventual arresto na Conta Única do Tesouro Estadual

gerara impacto destrutivo na administração financeira do Estado do Rio de Janeiro,

comprometendo significativamente as principais ações governamentais, cujos recursos

estão programados para serem saldados regularmente conforme o fluxo de caixa estadual,

além de representar acesso direto a recursos de terceiros, já que há valores nessa conta que

são de outras entidades, e não de livre utilização do Tesouro Estadual.

Lembre-se que a Conta Única do Tesouro Estadual (CUTE) compreende todas as

disponibilidades financeiras dos seus entes públicos, inclusive recursos de terceiros ali

depositados, escriturados contabilmente, de forma individualizada, e com vinculação

orçamentária específica, que, portanto, devem ser preservadas.

São exemplos de órgãos o Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro

- DETRAN, o Fundo Especial da Polícia Militar - FUNESPOLMIL, o Fundo Estadual de

Recursos Hídricos - FUNDRHI, o Fundo Especial do Corpo de Bombeiros - FUNESBOM,

a Fundação para a Infância e Adolescência, a Fundação Leão XIII, o Hospital Universitário

Pedro Ernesto e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Caso seja determinado o arresto na CUTE, as transferências constitucionais

destinadas aos Municípios, que são os recursos provenientes da arrecadação de tributos

estaduais, ficarão também prejudicados, sendo bem provável, ademais, que haja prejuízo

direto sobre o repasse de parcela das receitas federais arrecadadas pela União (IPI e

royalties) e daquelas arrecadadas pelo Estado do Rio de Janeiro (ICMS e IPVA) aos

Municípios.

Não fosse isso o bastante, eventual arresto da quantia determinada na decisão

concessiva da antecipação de tutela (superior a meio Bilhão) certamente comprometerá os

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18

repasses constitucionalmente previsto de duodécimos a outros Poderes (art. 168, da CR),

acabando com qualquer chance de programação financeira do Tesouro.

NECESSIDADE, AO MENOS DE PRESERVAÇÃO DE VERBAS COM DESTINAÇÃO ESPECÍFICA

Por outro lado, as consequências do arresto eventualmente realizado podem ser

ainda piores, caso recaiam sobre contas com destinação específica tais como aquelas

destinadas à gestão de recursos oriundos de convênios.

Na ação promovida pela ADEPOL, o Banco que administra as contas do Estado

recebeu ordem judicial para a realização de arresto no valor de R$ 25 milhões, na conta

728-5, agencia 6898, banco 237, que está afetada ao convênio relativo ao PROGRAMA

MELHORIA E IMPLANTAÇÃO DE INFRAESTRUTURA VIÁRIA DO ESTADO DO

RJ – PROVIAS, da SEOBRAS, destinado à obra na RJ-151, RJ-117 e de saneamento

básico e urbanização no Município de São Gonçalo.

A destinação dos recursos do convênio em questão para finalidades não avençadas

no pacto ensejará, além da proibição do recebimento de novas transferências voluntárias, o

vencimento antecipado da dívida, em franca acentuação da já delicada situação financeira

do Estado.

Quer-se destacar que o arresto de verbas oriundas de convênios, como por exemplo

o destinado à finalização das obras do Metrô ou, em especial, aquele realizado para a

satisfação do arresto na ação da ADEPOL, além de importar em constrição sobre verbas de

titularidade de terceiros (de quem não são credores os servidores e pensionistas do Estado

do Rio de Janeiro), importará em não implementação das políticas públicas e valores

constitucionais para cujo atendimento foram firmadas as avenças institucionais, como

ocorre na saúde, na educação (merenda escolar), na assistência social, na execução de obras

e prestação de serviços públicos, dentre tantos outros campos relevantes do agir

administrativo que são suportados por este mecanismo de atuação colaborativa entre os

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

19

entes.

Os convênios, dada a sua natureza, não podem ter a sua estrutura financeira e

obrigacional invadida para atender a outras finalidades públicas.

Essas avenças têm de ser precedidas de um plano de trabalho, que dentre outros

requisitos deve ser instruído com um plano de aplicação específica dos recursos

financeiros, a teor do artigo 116 da Lei n.º 8.666/93.

Há vinculação direta entre os recursos, a forma eficiente na sua gestão e a aplicação

desses recursos e os interesses públicos a serem satisfeitos, o que veda qualquer utilização

estranha às finalidades originárias e específicas.

No caso, por exemplo, dos convênios celebrados com a Administração Pública

Federal, criam-se contas bancárias específicas destinadas ao recebimento de seus

respectivos repasses, que são destinadas exclusivamente ao atendimento do fim

especificado no Programa de Trabalho, conforme o artigo 20 da Instrução Normativa STN

n° 01, de 15 de janeiro de 1997, que dispõe sobre a celebração de convênios de natureza

financeira:

Art. 20. Os recursos serão mantidos em conta bancária específica somente

permitidos saques para pagamento de despesas constantes do Programa de

Trabalho ou para aplicação no mercado financeiro, nas hipóteses previstas em

lei ou nesta Instrução Normativa, devendo sua movimentação realizar-se,

exclusivamente, mediante cheque nominativo, ordem bancária, transferência

eletrônica disponível ou outra modalidade de saque autorizada pelo Banco

Central do Brasil, em que fiquem identificados sua destinação e, no caso de

pagamento, o credor.

Os recursos públicos são, portanto, carimbados e vinculados, devendo chegar ao seu

destino protegidos de interesses privados ou mesmo públicos desvinculados das regras

orçamentárias e financeiras que determinaram a sua liberação, sob pena de violação de

diversos princípios de direito público, como o da impenhorabilidade dos bens públicos,

princípios do planejamento e do equilíbrio fiscal, princípio da finalidade e princípio da

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

20

indisponibilidade do interesse público.

A proteção do núcleo financeiro dos convênios já foi objeto de apreciação do

Supremo Tribunal Federal por meio de controle concentrado, mediante o ajuizamento da

ADPF n° 114/PI, que ainda se encontra em curso. Nela, o então Ministro JOAQUIM

BARBOSA, acolheu, em junho de 2007, o pedido de medida liminar, decidindo pela

impossibilidade de penhora da verba de contas vinculadas provenientes de convênios.

No caso em questão na mencionada ADPF, a COMPEDI, sociedade de economia

mista do Estado do Piauí, havia firmado convênio com a União Federal, sendo-lhe

repassados valores destinados a obras públicas. Contudo, por conta de dívidas trabalhistas,

os recursos depositados para cumprimento do convênio estavam sendo reiteradamente

penhorados.

O Ministro Relator entendeu que os convênios são a manifestação de decisões do

poder público sobre políticas públicas relevantes. Portanto, as ordens de bloqueio, fundadas

em direitos subjetivos individuais, significariam o mero retardo, por via imprópria, da

execução dessas políticas públicas. Leia-se parte da Ementa:

“(...)Ante o exposto, e sem prejuízo de reflexão mais aprofundada na matéria

quando da apreciação do mérito da presente arguição, defiro o pedido de

liminar, nos termos em que requerida, para: (1) determinar a imediata

suspensão do bloqueio de valores oriundos de repasses de recursos federais

para a execução de convênios com o Estado do Piauí, ainda que destes conste

na condição de convenente ou interveniente a COMDEPI, especialmente nos

processos listados a fls. 81; (2) a devolução à conta bancária do Estado do

Piauí em que estavam depositados valores oriundos de repasses de recursos

federais para a execução de convênios com o Estado do Piauí, ainda que destes

conste na condição de convenente ou interveniente a COMDEPI, bloqueados e

já levantados ou postos à disposição da justiça do trabalho; e (3) determinar

que as Varas da Justiça do Trabalho do Piauí se abstenham de determinar

bloqueios dessa natureza. Comunique-se com urgência ao TRT da 22ª Região,

pra que dê ciência desta decisão às varas do trabalho sob sua jurisdição, e às 1ª,

2ª e 4ª Varas da Justiça do Trabalho de Teresina - PI, solicitando-lhes

informações. Intimem-se a União Federal, o Departamento Nacional de Obras

Contra as Secas - DNOCS, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São

Francisco e do Parnaíba - CODEVASF para que se manifestem no prazo das

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

21

informações, se assim desejarem. Publique-se.”4 – grifos nossos

A referida decisão do STF repercutiu, por exemplo, no Tribunal Superior do

Trabalho, que, por decisão de dezembro de 2013, reconheceu a impossibilidade de penhora

de valores em conta única do ente estadual a pretexto de ser repassado às suas empresas

estatais, conforme se depreende do acórdão a seguir:

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIROS.

PENHORA EM CONTA ÚNICA DO ESTADO DO PIAUÍ. VALORES QUE

SERIAM REPASSADOS À EMGERPI. OFENSA AOS ARTS. 100 E 167, VI, DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRECEDENTE DO STF. ADPF Nº 114.

PROVIMENTO. A decisão do eg. Tribunal Regional que determinou a penhora

de valores na conta única do Estado do Piauí para o pagamento de verbas

trabalhistas devidas por ente da Administração Indireta fere tanto o art. 167, VI

da Constituição Federal, já que para o remanejamento de verbas públicas é

necessária autorização legislativa, como o artigo 100 da CF, visto que o

pagamento devido pela Fazenda Pública somente pode ser realizado mediante

precatório. Recurso de revista conhecido e provido5.

É pertinente transcrever um trecho do voto do Ministro-Relator Aloysio Corrêa da

Veiga que reconheceu que a satisfação do crédito trabalhista não pode ocorrer sem a

observância dos demais princípios e normas constitucionais:

A busca pela satisfação do crédito trabalhista não pode ser efetivada a todo

4 STF - ADPF: 114 PI, Relator: Min. Joaquim Barbosa, Data de Julgamento: 21/06/2007, Data de Publicação

27/06/2007 5 RR - 1291-43.2010.5.22.0003, Redator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento:

04/12/2013, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 13/12/2013). No mesmo sentido: RR - 2224-

76.2011.5.22.0004 , Redator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 04/12/2013, 6ª Turma,

Data de Publicação: DEJT 13/12/2013.

Observa-se que essa decisão é posterior à decisão abaixo, do TRT da 6ª Região:

AGRAVO DE PETIÇÃO - ESTADO DE PERNAMBUCO - POSSIBILIDADE DE PENHORA EM CONTA

BANCÁRIA ÚNICA DO ENTE ESTATAL. A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho é pacífica

quanto à legalidade do procedimento executório realizado em quantia identificada como recurso

orçamentário, eis que desafeta do Erário Público, não se assemelhando, pois, a bem de terceiro. Na hipótese

dos autos, resta demonstrando que a conta bancária aberta em nome da Secretaria da Fazenda, nº

5.500.100, fl. 53, foi utilizada para movimentar fundos da PERPART. Então, embora seja o Estado de

Pernambuco titular da conta-corrente bloqueada, a sua movimentação pela PERPART foi autorizada por

procuração passada em favor dos diretores desta, e o numerário nela existente foi utilizado para quitação de

débitos desta última. Portanto, o real intuito para a criação da conta vinculada ao Estado de Pernambuco

era criar obstáculos à execução de débitos perante esta Justiça Especializada, na vã tentativa de evitar que

o patrimônio da entidade paraestatal executada seja atingindo por seus credores. Com isso, fica afasta a

aplicação do regramento contido nos artigos 100, da Constituição Federal, e730, do CPC. 2. Agravo de

Petição improvido (TRT-6 - AP: 117800142009506/PE, Relator: Rogério Freyre Costa, Data de

Publicação: 19/11/2010).

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

22

custo, sem que se observem os demais princípios e normas constitucionais.

Entre conflitos de interesses públicos e privados, o princípio da supremacia do

interesse público deve nortear a conduta do julgador em um juízo de

ponderação, a fim de que um direito individual não prejudique o interesse da

coletividade.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso para desconstituir a penhora realizada

em conta única do Estado do Piauí e determinar o retorno dos autos à Vara de

origem, para prosseguir nos trâmites necessários para a satisfação do débito

exequendo.

O grau de reprovabilidade que o legislador conferiu ao núcleo financeiro e

vinculativo na destinação das verbas pública é tão significativo que a Lei n.º 8.429/92,

prescreve no seu artigo 10, inciso XI, que constitui ato de improbidade administrativa a

liberação de verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de

qualquer forma para a sua aplicação irregular.

Existe um interesse público definido em lei que não pode ser subvertido

casuisticamente, por mais relevante que seja o interesse público que o Poder Judiciário

pretenda proteger.

Não se olvide que a Prestação de Contas é obrigatória para qualquer pessoa física

ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre

dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome

desta, assuma obrigações de natureza pecuniária, conforme disposto no § único, art. 70, da

CF/88, art. 93, do Dec-Lei 200/67 e art. 66 do Dec. nº 93.872/86.

Para viabilizar a prestação de contas, os recursos liberados pela União deverão ser

mantidos e geridos em conta corrente bancária específica do convênio ou do contrato de

repasse e somente podem ser utilizados para pagamento de despesas constantes do Plano de

Trabalho ou para aplicação no mercado financeiro. Em nenhuma hipótese os recursos

podem ser transferidos para movimentação em outras contas do convenente ou gerenciados

recursos de diversos convênios em uma mesma conta.

Desse modo, caso o arresto recaia sobre conta com destinação específica para o

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

23

gerenciamento de recursos provenientes de convênios, isso possivelmente acarretará

prejuízos severos ao Estado, inviabilizando o repasse de recursos futuros da União.

Por fim, também devem ser preservadas as contas com receitas de Fundos

Orçamentários, como é o caso dos recursos do Fundo Especial do Tribunal de Justiça do

Estado – FETJ, do Fundo do Ministério Público – FEMP, do Fundo da Procuradoria e da

Defensoria Pública – FUNPERJ e FUNDPERJ, assim como do Fundo Capitalizado do

Rioprevidência, tendo em vista a indisponibilidade dessas receitas para aplicação em

finalidade distinta daquela prevista na respectiva lei instituidora do fundo.

Pelo exposto, considerando as graves consequências dos arrestos já determinados

pelas decisões concessivas de antecipação de tutela, se requer seja determinada a suspensão

de seus efeitos ou, ao menos, seja vedado que o arresto recaia sobre contas vinculadas

a convênios e sobre as contas de Fundos Orçamentários, conforme fundamentos

acima expostos.

* * * * * *

Por todo o acima exposto, ficou cabalmente evidenciado o atendimento aos

requisitos para a concessão da providência requerida, motivo pelo qual se confia que Vossa

Excelência determinará a suspensão das liminares deferidas pelos Juízos da Central de

Assessoramento Fazendário nos autos do processo nº 0125055-94.2016.8.19.0001 e da 15ª

Vara de Fazenda nos autos do processo nº 0126388-81.2016.8.19.0001.

Postula-se, ademais, a concessão de imediato efeito suspensivo liminar,

consoante permissivo do parágrafo 7º do artigo 4º da Lei nº 8.437/1992, diante da evidente

plausibilidade do direito invocado e da urgência na concessão da medida, consoante

amplamente demonstrado nos tópicos precedentes.

Alternativamente, pleiteia-se, ao menos, que seja suspensa a decisão liminar que

fixou data de calendário de pagamento de salários e proventos diversa daquela vigente para

Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro

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todo o funcionalismo estadual (Decreto Estadual nº 45.593/2016 que fixa o calendário

de pagamento de todos os servidores ativos, inativos e pensionistas do Estado do Rio

de Janeiro para o 10º dia útil do mês subsequente ao vencido).

Ainda alternativamente, pleiteia-se, ao menos, que seja vedado que os arrestos

determinados nas decisões concessivas da antecipação de tutela recaiam sobre: (i)

contas vinculadas a convênios; e (ii) recursos de Fundos Orçamentários.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2016.

LUCIA LÉA GUIMARÃES TAVARES

PROCURADORA-GERAL DO ESTADO

CIRO GRYNBERG

SUBPROCURADOR-GERAL DO ESTADO

JULIANA CABRAL BENJÓ EMERSON BARBOSA MACIEL

PROCURADOR DO ESTADO PROCURADOR-CHEFE NA CAPITAL FEDERAL