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HERON DE SOUSA ARRUDA PROCESSO POLÍTICO HISTÓRICO E CONFIGURAÇÃO ESPACIAL: UM ESTUDO DAS PRAÇAS CENTRAIS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2016

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HERON DE SOUSA ARRUDA

PROCESSO POLÍTICO HISTÓRICO E CONFIGURAÇÃO ESPACIAL:

UM ESTUDO DAS PRAÇAS CENTRAIS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2016

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria - PPGTH

Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

HERON DE SOUSA ARRUDA

Projeto de dissertação apresentado ao colegiado do PPGTH para o exame de qualificação, requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Turismo e Hotelaria – área de concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e da Hotelaria – Linha de Pesquisa: Planejamento do destino turístico – PLAJET. Orientador: Prof. Dr. Luciano Torres Tricárico

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2016

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AGRADECIMENTOS

Escrever uma dissertação não é uma tarefa que se pode fazer sozinho, as

contribuições são imprescindíveis neste trabalho. Muitas pessoas foram

importantes durante esses anos de dedicação à pesquisa. Gostaria, portanto

de agradecer, primeiramente ao meu orientador, professor Dr. Luciano Torres

Tricárico, que teve muita competência e toda paciência de esperar pelo tempo

que foi necessário para o trabalho chegar até a banca de apresentação. À

professora Drª Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira, cujos ensinamentos

preciosos para este trabalho se iniciaram em 2005, no mestrado de Gestão de

Políticas Públicas. À professora Drª Adriana Marques Rossetto, que me

orientou no meu primeiro curso de mestrado e continua contribuindo, o que

muito me honra.

Agradeço também aos professores que ministraram as disciplinas do curso

e ao coordenador, exemplos de competência e dedicação.

À minha companheira Ana Luiza, que sofreu comigo as noites insones e

humor abalado, auxiliando nas pesquisas, aos meus pais que me amparam até

hoje nas dificuldades várias da vida.

A todos que contribuíram de alguma forma para a realização desta

pesquisa.

“Na Praça acho graça, No Prédio acho tédio”

Grafite no muro da Praça da Bíblia, BC.

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RESUMO O presente trabalho tem como foco o estudo do processo político histórico e espacial de apropriação das praças da área central da cidade de Balneário de Camboriú, quais sejam, a praça Almirante Tamandaré, a praça João Higino Pio, a praça da Bíblia, a praça Kurt Amann; e a contribuição dessas para com a atividade turística. Estes espaços foram selecionados por serem logradouros urbanos situados em posições importantes para a formação da imagem turística da cidade e por sua história, descrita neste trabalho por vários atores da gestão pública e cidadãos moradores de Balneário Camboriú. Com o fim de atingir o objetivo geral proposto foi efetuado um estudo político-histórico dos referidos espaços, levando-se em conta o pressuposto de que estes espaços se configuram como agentes de formação para a imagem turística da cidade, devido ao fato de ali congregarem uma significativa quantidade de pessoas e onde são realizadas manifestações de toda ordem. Como procedimento metodológico adotou-se a revisão bibliográfica sobre o tema, análise documental, entrevistas semiestruturadas e a Teoria da Sintaxe Espacial, numa abordagem essencialmente qualitativa, exploratória e descritiva. Para análise dos dados utilizou-se o estudo de caso comparativo dos espaços públicos e análise discursiva das entrevistas. A análise levantou a questão da apropriação dos espaços públicos, ressaltando que alguns atributos locais como diversidade de uso e atividades locais são fundamentais para a apropriação das praças, assim como o processo político histórico que se revelou importante na construção da imagem turística da cidade, embora pouco explorado, observou-se demanda pela manutenção da memória da cidade e utilização dessa memória para o turismo. Palavras-chave: Turismo; Espaço público; Balneário Camboriú.

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ABSTRACT

This work investigates the historical political and spatial process of appropriation of public squares in the central area of the town of Balneário Camboriú, such as Almirante Tamandaré Square, João Higino Pio Square, Bíblia Square, and Kurt Amann Square, and the contribution of these areas to tourism in the town. These locations were selected because they are urban spaces located in important positions for the formation of the tourist image of the city and for its history, described in this work by various actors of the public administration, and citizens living in the town. To achieve the overall objective, a political historical study was made of the abovementioned spaces, based on the assumption that they are instrumental in the formation of the tourist image of the city, as places that gather large numbers of people, and the venues for all sorts of displays and manifestations. A bibliographic review of the subject, document analysis, semi-structured interviews, and the Theory of the Spatial Syntax were adopted as methodological procedures, in an essentially qualitative, exploratory and descriptive approach. A comparative case study of the public spaces and a discursive study of the interviews were conducted for the analysis of the data. This analysis raised the issue of the appropriation of public spaces, highlighting the fact that some local attributes, such as the diversity of use and the local activities, are essential for the appropriation of the squares, as well as the political historical process, which are very important for the construction of the tourist image. Although it has been little explored, it is clear that there is a demand to preserve the historical aspects of the town, and to use these for tourism.

Key words: Tourism; Public spaces; Balneário Camboriú.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Santa Catarina – SDR.......................................................................15 Figura 2 - Traçado urbano no início da década de 70.......................................17 Figura 3 – Boi de Mamão na praça Almirante Tamandaré................................28 Figura 4 - Busto do prefeito Higino João Pio.....................................................31 Figura 5 - Praça Almirante Tamandaré nos anos 80.........................................39 Figura 6 - Praça Almirante Tamandaré nos anos 90-........................................40 Figura 7 - Praça Almirante Tamandaré em 2013...............................................41 Figura 8 - Mapa da cidade de Balneário Camboriú 1952..................................42 Figura 9 – Praça Higino João Pio......................................................................44 Figura 10 - Praça da Bíblia................................................................................45 Figura 11 - Praça da Bíblia – Academia ao ar livre...........................................46 Figura 12 - Praça Kurt Amann...........................................................................47 Figura 13 - Lagoas de Balneário Camboriú 1949..............................................50 Figura 14 – Barreiras e Permeabilidades..........................................................53 Figura 15 – Calçadão da Avenida Atlântica ......................................................55 Figura 16 – Mapa da axialidade de Balneário Camboriú...................................71 Figura 17 – Mapa da axialidade central de Balneário Camboriú.......................72 Figura 18 – Praça Almirante Tamandaré...........................................................81 Figura 19 – Praça Almirante Tamandaré do alto...............................................82 Figura 20 – Área de avaliação do uso do solo...................................................83 Figura 21 – Portais da Praça Almirante Tamandaré..........................................85 Figura 22 – Praça Higino João Pio....................................................................86 Figura 23 – Área de avaliação do uso do solo...................................................87 Figura 24 – Portais da praça Higino joão Pio....................................................89 Figura 25 – Praça da Bíblia...............................................................................89 Figura 26 – Área de avaliação do uso do solo...................................................90 Figura 27 – Portais da Praça da Bíblia..............................................................92 Figura 28 – Praça Kurt Amann..........................................................................92 Figura 29 – Portais de entrada da Praça Kurt Amann.......................................93 Figura 30 – Área de avaliação do uso do solo...................................................94 Figura 31 – Portais da Praça Kurt Amann.........................................................95

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação dos primeiros prefeitos de Balneário Camboriú.................30 Tabela 2 – Praças selecionadas e faixas de integração global.........................57 Tabela 3 – Apropriação nas praças centrais de BC..........................................74 Tabela 4 – Escala de quantidade de pessoas nas praças................................75 Tabela 5 – Média das apropriações das praças centrais de BC.......................79 Tabela 6. Valores dos atributos nas praças.......................................................96 Tabela 7 – Análise comparativa Atributos x Apropriação..................................97 Tabela 8 – Análise comparativa Atributos x Apropriação..................................98 Tabela 9 – Análise comparativa Atributos x Apropriação..................................99 Tabela 10 - Análise comparativa Atributos x Apropriação...............................100 Tabela11 – Análise comparativa Atributos x Apropriação...............................101 Tabela 12 – Combinação de atributos.............................................................102

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LISTA DEABREVEATURAS E SIGLAS

BC – Balneário Camboriú SC. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Seturbc – Secretaria de Turismo de Balneário Camboriú

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS...........................................................................................6

LISTA DE TABELAS...........................................................................................7

LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS............................................................8

SUMÁRIO............................................................................................................9

1. INTRODUÇÃO........................................................................................11

1.1. PERGUNTA DE PESQUISA.......................................................................14

1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA......................................................................14

1.2.1. Objetivo geral.....................................................................................14

1.2.2. Objetivos específicos.........................................................................14

1.3. JUSTIFICATIVA..........................................................................................14

1.4. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E METODOLOGIA..........................18

1.6. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO.............................................................20

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................20

2.1. ESPAÇO PÚBLICO DA PRAÇA NA CIDADE............................................20

2.2. A PRAÇA PÚBLICA PARA O TURISMO....................................................22

2.3. A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA NAS PRAÇAS DE BC....................24

2.4. CONTEXTO POLÍTICO HISTÓRICO DE BC.............................................32

2.5. DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO...................................................37

2.5.1. Praça Almirante Tamandaré.............................................................37

2.5.2. Praça Higino João Pio......................................................................41

2.5.3. Praça da Bíblia..................................................................................44

2.5.4. Praça Kurt Amann.............................................................................46

2.6. RELAÇÕES ENTRE ORG. ESPACIAL E ATIV. TURÍSTICA.................48

2.7. SINTAXE ESPACIAL..............................................................................51

2.7.1. Conceitos básicos da Sintaxe Espacial.............................................55

2.8. ESTUDO DE CASO................................................................................58

2.9. ATRIBUTOS ESPACIAIS........................................................................61

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2.10. ENTREVISTAS.......................................................................................62

3. ANÁLISE.................................................................................................68

3.6. PADRÕES ESPACIAIS E APROPRIAÇÂO NAS PRAÇAS....................68

3.6.1. Aplicação da Teoria da Sintaxe Espacial.....................................68

3.6.2. Praça Almirante Tamandaré.........................................................80

3.6.3. Praça Higino João Pio..................................................................86

3.6.4. Praça da Bíblia.............................................................................89

3.6.5. Praça Kurt Amann........................................................................94

3.7. ANÁLISE COMPARATIVA......................................................................96

3.7.1. Combinação de Atributos Locais................................................102

4.3. ANÁLISE DO DISCURSO DAS ENTREVISTAS..................................100

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................108

REFERÊNCIAS...............................................................................................111

APÊNDICES A................................................................................................116

APÊNDICES B................................................................................................132

APÊNDICE C...................................................................................................135

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1. INTRODUÇÃO

Pretende-se expor aqui o tema da pesquisa, o problema, o contexto em

que está inserido e os objetivos, assim como sua relevância. Ainda nesta

introdução, apresentam-se a organização e uma síntese da metodologia.

A presente pesquisa pretende estudar a relação entre a história e a

apropriação dos espaços públicos da área central da cidade de Balneário

Camboriú SC/Brasil. Estes espaços foram escolhidos por serem logradouros

urbanos situados em posições importantes na formação da imagem turística da

cidade.

As Praças, das quais se tratam nesta pesquisa, estão localizadas no

centro geográfico e geométrico da orla da baía, na praia principal do município.

Porém, não só pela localização, mas por muitos aspectos estes espaços se

configuram como espaços privilegiados, pelo caráter multifuncional, recebendo

comemorações, manifestações e outros eventos, constituem-se em referência

e síntese da memória urbana, tornando-se então, uma parte importante da

história da cidade. Como espaço coletivo, historicamente as praças públicas

têm a função de representar o lugar do encontro, onde se desenvolve a vida

social, e o espaço de identidade, onde os grupos sociais se reconhecem e

onde existe a possibilidade de trocas, a imagem da cidade se forma a partir da

relação dos habitantes com seus espaços públicos (LYNCH, 2011 p.7).

O recorte temporal se inicia com o primeiro Plano Urbano implantado no

município, em 1974, até a última intervenção no desenho das praças em 2013.

Balneário Camboriú apresenta condições ideais para a pesquisa, por se

tratar de um destino turístico consolidado, capaz de atrair elevado número de

turistas a cada temporada de verão e de distribuí-los pela região, uma vez que

mantém relações com os demais municípios do Estado e do país por meio da

recepção e emissão de turistas, de acordo com a Secretaria Municipal de

Turismo (SECTURBC, 2015).

A cidade se destaca no cenário turístico nacional, por ter condições

excepcionais de balneabilidade nas suas praias, por seu patrimônio

paisagístico de grande importância e localização privilegiada em razão da

proximidade dos grandes centros urbanos do sul do país (Florianópolis 83 km,

Curitiba 224 km e Porto Alegre 522 km). Trata-se de um balneário com fluxo

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turístico próximo de um milhão de turistas na temporada de verão, segundo a

Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte – SANTUR - Santa

Catarina Turismo S/A, Diretoria de Planejamento e Desenvolvimento Turístico

(Sinopse 2014), que contabiliza anualmente a passagem de pessoas nas

cidades do estado.

Em 1964 elevou-se à categoria de município emancipado da cidade de

Camboriú, tornando-se rapidamente um local turístico com implantação de

infraestrutura para atender essa demanda. Esse crescimento veloz levou à

criação de um plano urbano para a cidade1, com consequente setorização,

zoneamento e implantação do sistema viário, onde surgiram os espaços

públicos das praças, objeto deste estudo. São espaços raros e caros do ponto

de vista imobiliário, cercados de imóveis de alto valor de mercado, onde o m²

construído chega atingir R$8,1mil, informa o Sindicato das Indústrias da

Construção Civil (SINDUSCON, 2015), em um balneário prestigiado pelo

turismo nacional e estrangeiro.

A Praça Almirante Tamandaré surgiu como uma “salvaguarda” contra a

voracidade dos que tomavam os espaços do território e tornou-se símbolo do

poder instituído à força; a Praça Higino João Pio nasceu de uma visão

distorcida dos valores dos atores públicos, pressupondo que valeria a pena

subjugar a natureza; a Praça da Bíblia, que acumulou na sua trajetória algumas

tentativas de apropriações indevidas por parte de empresas particulares,

tornou-se repositório das intenções políticas de agradar grupos ideológicos; a

praça Kurt Amann, que é uma parte do calçadão da Avenida Atlântica

“adotada” pelo empresário homenageado com seu nome2.

São histórias de espaços públicos importantes aviltados e pouco

compreendidos.

O estudo sobre as relações entre organização espacial e atividade turística

nos espaços públicos é o foco buscado nessa dissertação. Desta forma, além

das questões relacionadas com o processo político-histórico ocorrido nas

1 De acordo com o Arquivo Histórico de Balneário Camboriú, o crescimento rápido da cidade resultou em transferência da comarca no início dos anos 70 e o turismo passa a ser uma atividade importante para o desenvolvimento do município e uma garantia dos investimentos locais. 2 As denominações oficiais das praças públicas de Balneário Camboriú são pouco conhecidas, sendo de domínio público os nomes “praça da Bíblia”, para a praça da Cultura e “praça Kurt Amann” para a praça 20 de Julho. A origem destes nomes está explicada na Fundamentação Teórica dessa pesquisa.

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últimas décadas e que definiu a estrutura espacial da cidade, o turismo como

atividade econômica e que emergiu dentro deste processo, foi preponderante

para as características espaciais dos ambientes construídos.

A relação das praças da área central de Balneário Camboriú com a

atividade turística e o modo como se processa, deveria estar evidenciada na

história destes espaços públicos, tratados sistematicamente como instrumentos

da atividade do turismo, para o desenvolvimento econômico da cidade.

Este desenvolvimento é desejado pela população local, porém, percebem-

se nas pesquisas iniciais demandas por “lugares antropológicos” como se

referiu Marc Augé (1994), “um lugar que se define identitário, relacional e

histórico”. O que é oferecido como atrativo turístico poderia ter maior

compromisso com a história dos espaços disponíveis para a população,

segundo opinião das pessoas (usuários) ouvidas nestes lugares. Os não-

lugares (AUGÉ, 1994) se caracterizam como comprometidos com o provisório

e efêmero, são a medida de uma política pública factual e da individualização

das referências em contraposição às necessidades coletivas.

Para Beni (2007) existe a necessidade de que os planejadores públicos

busquem a qualidade dos espaços através da interpretação das necessidades

sentidas pela comunidade, pois os problemas existentes na cidade são nocivos

ao turismo – prejudicam a qualidade de vida local. Por outro lado, com a oferta

de produtos turísticos melhorando, há uma proporcional melhora na qualidade

de vida dos residentes.

No discurso dos moradores encontrou-se pouco ou nenhum conhecimento

acerca da história das praças. Como o discurso é algo construído social e

historicamente, o entendimento exige obrigatoriamente uma análise do

passado da cidade. Tratou-se de buscar na linha do tempo os dispositivos que

supostamente teriam conduzido à construção da cidade de forma alheia aos

desejos dos moradores.

Como afirma a professora Maria Tereza Luchiari: “As cidade turísticas

representam uma nova e extraordinária forma de urbanização porque elas são

organizadas não para a produção, como o foram as cidades industriais, mas

para o consumo de bens, serviços e paisagens” (LUCHIARI, 1998).

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1.1. PERGUNTA DE PESQUISA

O legado resultante do processo histórico político e apropriações espaciais

das praças centrais de Balneário Camboriú possui elementos de atratividade

para o fomento da atividade turística da cidade?

1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA

1.2.1. Objetivo Geral:

Avaliar as relações existentes entre o processo político histórico e a

configuração espacial das praças na área central de Balneário Camboriú/ SC e

sua contribuição para a atividade turística local.

1.2.2. Objetivos Específicos:

Relatar como o processo histórico-politico e a configuração espacial destes

espaços públicos influenciam na apropriação da atividade turística da cidade.

Analisar comparativamente o processo histórico-politico da apropriação das

praças da área central de Balneário Camboriú com o ideal turístico.

Relacionar os padrões espaciais com os níveis de apropriação encontrados na

história dos espaços públicos da área central de Balneário Camboriú.

1.3. JUSTIFICATIVA

Balneário Camboriú constitui-se no principal polo turístico do sul do Brasil.

Situada no litoral norte de Santa Catarina, confronta-se ao leste com o oceano

Atlântico, a Oeste com o município de Camboriú, ao norte com Itajaí e ao sul

com Itapema. O mapa apresentado na Figura 1 mostra a posição das cidades

na região que pertence, segundo a regionalização administrativa do estado, a

Secretaria do Desenvolvimento Regional de Itajaí (SDR-Itajaí), que agrega os

municípios da Foz do Rio Itajaí-Açu, composta atualmente por mais 8

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De acordo com dados obtidos junto ao Plano Diretor Participativo (2014), a

cidade conta com uma população fixa de 108.089 habitantes numa área de 50

km2.

A Secretaria Municipal de Turismo (2015) estima que a cidade recebe por

ano aproximadamente um milhão de turistas que se concentram sobretudo nos

meses de dezembro a março.

Durante muito tempo, sobretudo a partir da década de 1960, até a década

de 1990 houve na cidade uma significativa explosão imobiliária, fazendo de

Balneário Camboriú uma cidade cuja economia tinha por base a arrecadação

proveniente do setor turístico.

Neste período, a paisagem urbana, sobretudo a próxima à orla foi se

modificando. A Avenida Atlântica e suas adjacências passaram a se configurar

como pontos atrativos para o turismo e as praças situadas em sua cercania,

quais sejam, a praça Almirante Tamandaré, praça Higino João Pio, praça da

Bíblia e praça Kurt Amann, firmaram-se como espaços importantes, com

grande fluxo de pessoas, como via de acesso ou para desenvolvimento de

atividades de lazer e manifestações de toda ordem.

Os anos 70 marcam a efetiva construção do traçado urbano de Balneário

Camboriú (Figura 2) com o estabelecimento de inúmeros loteamentos dirigidos

exclusivamente pela iniciativa privada (SKALEE e REIS, 2008) e o início da

verticalização da orla. Em destaque na foto, a implantação da 3ª Avenida3.

3 As avenidas de Balneário Camboriú são conhecidas por: - Avenida Atlântica, a via beira mar do município: seria a 1ª Avenida; - Avenida Brasil, que constitui o binário com a Avenida Atlântica: seria a 2ª Avenida; - Avenida Santos Dumont: mais conhecida com 3ª Avenida; - Avenida Frei Edmundo Piechozeh: mais conhecida por 4ª Avenida; - Avenida Athaualpa G. Mascarenhas Passos: também mais conhecida como 5ª Avenida;

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Figura 2: Traçado urbano no início da década de 70

Fonte: Arquivo Histórico da Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú

Além de estarem localizadas em regiões privilegiadas, as referidas praças

possuem uma riqueza histórica que, apesar de recente, é de fundamental

importância para compreensão da cidade, muito embora seja praticamente

desconhecida dos usuários, de acordo com as pesquisas iniciais deste

trabalho.

De acordo com a Secretaria Municipal da Fazenda (2013), o turismo

continua sendo a maior fonte de arrecadação municipal, porém hoje Balneário

Camboriú constitui-se como um município com vida própria, fato decorrente

das mudanças ocorridas nos últimos quinze anos, devido à implantação de

Instituições de Ensino Superior, no fortalecimento no setor de construção civil,

ou ainda porque se tornou o destino preferencial de moradia para pessoas

pertencentes à terceira idade. O IBGE (2014) considera Balneário Camboriú

como a 4º melhor cidade em qualidade de vida do Brasil.

Por estes atributos elegeram-se as praças como objeto do presente

estudo.

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Quanto à relevância do trabalho, pode-se dividi-lo em dois aspectos mais

significativos, sendo o primeiro de fundamentação teórica e o segundo, quanto

ao aspecto sócio-espacial que a pesquisa pretende abordar.

Partindo-se dos dados acima citados, propõe-se um avanço interdisciplinar

na reflexão sobre o tema, tornando a abordagem ampla no sentido de

proporcionar maior trânsito de conhecimentos ao relatar a relação entre os

espaços públicos da cidade e a atividade turística.

Propõe ainda um resgate de parte importante da história da cidade para a

manutenção de valores e crenças do imaginário social urbano, seja do cidadão

ou do turista.

A pesquisa busca também fornecer subsídios aos gestores públicos de

forma a promover maior qualidade dos projetos urbanos e planejamento

turístico a partir da elucidação do processo histórico-político e da análise

espacial dos referidos espaços.

1.4. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E METODOLOGIA

Com relação à metodologia, a pesquisa recorrerá a uma abordagem

essencialmente qualitativa. Esse tipo de abordagem oferece três possibilidades

de realização da pesquisa: documental, estudo de caso e etnografia. A análise

de documentos é a variante mais antiga para realizar pesquisa, especialmente

no que diz respeito à revisão de literatura. Além de procedimentos tradicionais

de leitura e resumo de ideias, é possível extrair e sumarizar resultados por

meio de meta-análise (ROSENTHAL, 1984).

Algumas características básicas identificam os estudos chamados de

qualitativos, afirma Arilda Schimidt Godoy (GODOY, 1995), Em linhas gerais,

num estudo quantitativo o pesquisador conduz seu trabalho a partir de um

plano estabelecido a priori, com hipóteses claramente especificadas e variáveis

operacionalmente definidas.

Tanto Mayring (2002) quanto Flick (2000) consideram o estudo de caso

como elemento essencial da pesquisa qualitativa. Nas duas publicações

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encontram-se referencias ao processo de pesquisa que não pode ser

entendido como desvinculado da vida fora do mesmo. Isto leva, ainda, a

contextualidade como fio condutor de qualquer análise.

Ao contrário de uma abstração no resultado para que seja facilmente

percebida a interpretação viva e dinâmica estará mais próxima da verdade.

Também está mencionado no trabalho dos autores, que a observação contínua

do objeto e um processo de reflexão sobre seu comportamento enquanto

pesquisador, assim como a interação dinâmica, são condições idealizadas. Tal

postura vai além da formulação de perguntas abertas. Nas palavras de Mayring

(p. 28), “nem estruturações teóricas e hipóteses, nem procedimentos

metodológicos devem impedir a visão de aspectos essenciais do objeto de

pesquisa”.

“(...) Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se

definindo à medida que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção

de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos

pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada,

procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos

sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo” (GODOY,

1995).

O trabalho aqui desenvolvido utiliza a pesquisa documental, assim como o

estudo de caso das praças da área central de Balneário Camboriú. No entanto,

dispõe-se de pesquisa quantitativa em relação à análise da sintaxe espacial.

Quanto aos objetivos será exploratória e descritiva e quanto aos

procedimentos: bibliográfica, análise documental, realização de entrevistas

semi-estruturadas com os atores que participaram do processo político

histórico da cidade e aplicação da Teoria da Análise Sintática, relacionando a

utilização e apropriação das praças centrais de Balneário Camboriú SC.

O recorte temporal escolhido foi o período que se inicia com a implantação

do primeiro Plano Urbano de Balneário Camboriú SC, em 1974, quando da

criação deste espaço público, até 2013, ano da última intervenção no desenho

das praças.

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1.5. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos:

1. No primeiro capítulo, introdutório, com apresentação do tema, objetivos,

justificativa e problema de pesquisa.

2. O segundo capítulo apresenta uma síntese do referencial teórico

estudado, ressaltando a importância dos espaços públicos na cidade e para o

turismo. Ainda neste capítulo, apresentam-se a Sintaxe Espacial e o Estudo de

Caso, além dos Atributos Espaciaisdos espaços públicos selecionados.

3. O terceiro capítulo trás a análise dos espaços selecionados,

apresentando comparativamente as condições de uso e apropriação destes

espaços, utilizando os atributos locais propostos.

4. O último capítulo apresenta as considerações finais, as limitações da

pesquisa e sugere estudos que deem continuidade à pesquisa.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. O ESPAÇO PÚBLICO DA PRAÇA NA CIDADE. O conceito de espaço público aqui utilizado refere-se aos lugares urbanos

que, em conjunto com infraestruturas e equipamentos coletivos, dão suporte à

vida em comum: ruas, avenidas, praças, parques. São bens públicos,

carregados de significados, palco de disputas e conflitos, mas também de

festas e celebrações. Esta pesquisa se concentra na relação fortemente

vinculada a aspectos físicos naturais e construídos, cuja morfologia muitas

vezes representa o lugar, a cidade ou região.

O conceito de praça pública utilizado neste trabalho apoia-se na definição

de Raquel Rolnik, na qual a autora menciona que o espaço público de praça

urbana é uma noção que incorpora a ideia de subjetividade, pois se refere a um

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espaço real, utilizado pelos cidadãos, que estabelecem relações configuradas

espacialmente (ROLNIK, 2012, p.28).

A praça pode ser definida, de maneira ampla, como qualquer espaço

público urbano, livre de edificações que propicie convivência e/ou recreação

para os seus usuários. Marcus Vitruvius, arquiteto romano do século I, ao

descrever os parâmetros de formação da cidade em sua obra De Architectura

Libri Decem (Livro I, VII), destaca a importância da constituição de espaços de

uso coletivo na formação das cidades. Descreve a necessidade de existência

de uma praça, situada em posição de destaque e conformada pelos principais

edifícios institucionais.

As praças podem ser o lócus adequado para diminuir barreiras físicas e

simbólicas dentro do contexto urbano. Por serem abertos e democráticos, estes

espaços são propícios à inclusão, quando o projeto permite

indiscriminadamente o convívio de todos. Na história do ocidente a praça

pública foi sempre o lugar hospitaleiro por definição, reunia funções de

convívio, comércio livre, manifestações de toda ordem e referência da cidade.

A praça é um logradouro do espaço turístico urbano, para Boullón (2002,

p.189), que a conceitua como área nítida, relativamente pequena diante da

superfície total de uma cidade, mas muito importante na formação da imagem

turística da mesma. Robba e Macedo (2003, Prefácio) definem a praça como

espaço livre urbano, destinado ao lazer e ao convívio da população, acessíveis

aos cidadãos e livres de veículos.

A praça pode ser a versão atual da Ágora, onde a cidadania se realiza,

também por ser um espaço livre e democrático e hoje alicerçado nos preceitos

fundamentais da sustentabilidade.

O tema sustentabilidade é muito frequente nos artigos que tratam de

espaços públicos urbanos. Por ser tão relevante em questões relacionadas

com a qualidade de vida, ganham muito destaque e a praça pública se

enquadra como um reduto da vida social saudável. Quando se propõe

revitalização de centros de cidades, as praças poderão se tornar espaços

privilegiados, tanto por serem “multifuncionais”, como por carregarem um

conteúdo simbólico forte no imaginário coletivo.

A importância da praça, descrita nesta revisão bibliográfica, tem um

sentido fundamental na vida da cidade e na vida dos seus cidadãos, pelo que

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Gehl e Gemzøe (2002, p.14) defendem que existe uma correlação óbvia entre

a qualidade urbana e a vida no espaço público. Proporcionar bem-estar aos

indivíduos é o principal objetivo, porém as condições ambientais favoráveis ou

não, interferem nos níveis de apropriação e/ou utilização dos espaços públicos.

O poder público municipal tem responsabilidades que transcendem ao

prover uma cidade de centros de saúde e instituições educacionais. Segundo

Rosa Kliass (KLIASS, 2010) a construção de escolas e hospitais não completa

o compromisso de dar uma boa qualidade de vida aos cidadãos. Os espaços

públicos destinados ao lazer e recreação são necessários para o

desenvolvimento de uma infância e uma adolescência física e mentalmente

sadias. Aos idosos é de extrema importância poder contar com espaços para

encontros, jogos e confraternização. Para todos enfim, a qualidade de vida

urbana está diretamente atrelada a vários fatores que estão reunidos na infra-

estrutura, no desenvolvimento econômico-social e àqueles ligados à questão

ambiental. No caso do ambiente, os espaços públicos constituem-se elementos

imprescindíveis para o bem estar da população, pois influenciam diretamente a

saúde física e mental da população.

2.2. A PRAÇA PARA O TURISMO. O turismo está no campo das práticas histórico-sociais que pressupõem

deslocamentos das pessoas em tempos e espaços diferentes do cotidiano.

Estes deslocamentos são oportunidades de aquisição de conhecimentos e

trocas de experiências, principalmente quando existem espaços disponíveis

que propiciam aproximações, como os espaços públicos urbanos, por exemplo.

Dentro das atividades turísticas, observa-se o turismo urbano como o mais

experimentado mundialmente e, como observa Eduardo Yazigi: “[...] o urbano

não é o único espaço onde acontece a atividade turística, mas é o mais

importante lugar por excelência, do encontro social e cultural” (YAZIGI, 2003

p.71).

Uma das características mais valiosas dos espaços públicos urbanos é a

de permitir acesso irrestrito para as pessoas realizarem atividades individuais

ou em grupo (LYNCH, 2011 p.5). O aspecto democrático destes espaços é um

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elemento preponderante para a atividade turística, que passa a ser um direito

não só de quem tem condições (BENI, 2007 p.71).

O papel do morador no processo de planejamento do turismo é de grande

importância, pois valida as ações do gestor público, outorgando-lhe as bases

do planejamento, de acordo com as aspirações da população local. Para

Boullón (2004, p.64) muitas vezes a preocupação com os resultados imediatos

subtrai a pesquisa e a investigação local desse planejamento. Acreditando ser

capaz de interpretar a vontade popular, ou de propiciar o melhor resultado na

forma de retorno na economia do município, atitudes equivocadas podem ter

sido perpetradas por parte dos planejadores, na estruturação da cidade, com

grandes perdas para o turismo.

As praças têm esta peculiaridade de ser muito suscetível aos projetos que

lhes dão forma e alteram a paisagem da cidade. São espaços muito visíveis,

são Marcos e Pontos Nodais, como em Kevin Lynch (LYNCH, 2011 p.80), ou

como se referiu Gordon Cullen, Pontos Focais (CULLEN, 2013 p.105). São

fragmentos do mosaico espacial que compõe a cidade e estão intimamente

ligadas às questões sociais, formais e estéticas de um assentamento (ROBBA;

MACEDO, 2003 p.18).

Tal percepção sobre a importância das praças públicas, leva ao corolário

inevitável: se as praças têm esta relevância para a cidade e seus moradores ou

turistas e o turismo, muitas vezes é a fonte de recursos mais importante de

uma cidade, consequentemente a praça tem um papel fundamental na

atividade turística local.

Como a linguagem de uma cidade são suas formas (BOULLÓN, 2002

p.195), sua leitura se apoia naqueles signos que melhor a representam.

Sun Alex (2008, p.20) descreve a praça como “uma construção e um vazio,

a praça não é apenas um espaço físico, mas também um centro social

integrado ao tecido urbano”. Acrescenta ainda o autor que a importância da

praça está no seu valor histórico, bem como na sua participação contínua na

vida de cidade. O convívio social está “intimamente relacionado às

oportunidades de acesso e uso” (ALEX, 2008 p.126).

Para Alex, a praça no Brasil caracteriza-se como espaço público, coletivo e

multifuncional, um elemento urbano que identifica e contribui para a

organização do espaço da cidade, na medida em que o acesso livre e a

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possibilidade de convívio são instituídos. Desenvolvido predominantemente nos

Estados Unidos, o paisagismo moderno enfatizou ao longo do século XX o uso

do espaço livre público para recreação, esportes, melhoria do ambiente urbano

e preservação de recursos naturais, sempre como antídotos da vida urbana

conturbada e em favor dos domínios privado, vicinal ou público-privado sobre o

público. A influência norte-americana desvirtua a praça como espaço público

de acessibilidade e convívio social, segundo o autor, criada para o uso

democrático e multifuncional, sendo que os projetos modernos, ou de

inspiração modernista, são anti-sociais ou “antipraças” (ALEX, 2008).

Radicalmente oposta, a praça, urbana, por definição, é um espaço público da

prática da vida pública.

Nesta dissertação foram selecionados espaços públicos destinados ao

lazer, recreação e contemplação e manifestações públicas, ainda que nem

todas estas funções sejam efetivamente exercidas em todas elas.

2.3. A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA EM PRAÇAS PÚBLICAS DE

BALNEÁRIO CAMBORIÚ.

O significado da palavra patrimônio remonta à Grécia e quer dizer pater ou

pai, paterno.

Patrimônio histórico é um bem material, natural ou imóvel que possui

significado e importância artística, religiosa documental ou estética para a

sociedade, que foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas,

numa definição usualmente utilizada na bibliografia relacionada com o tema.

No entanto, para Françoise Choay (CHOAY, 2001), o patrimônio histórico

precisa ser trazido ao centro de uma “reflexão acerca do destino das

sociedades atuais”, não apenas a simples reverência do passado, na relação

do tempo vivido e a memória. Não se trata, portanto da antiguidade somente

que conta no critério de eleição de um patrimônio histórico edificado, mas

antes, uma perspectiva de valores estéticos, afetivos e de referências

espaciais.

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Já o patrimônio natural, de acordo com Antonio Licardo (2015), em

geoturismo “é o legado de objetos naturais e atributos intangíveis que engloba

a flor, a fauna, a paisagem e formas de relevo”.

A Revolução Francesa, em 1789, consolidou o termo “patrimônio”, visto

que nesse período monumentos tinham por fim demonstrar os fatos da

sociedade vigente. Desta forma, a preservação do passado colocava-se presa

a uma noção de melhoria, evolução e progresso. Além disso, o conceito de

patrimônio também se estende a um leque de valores artísticos e estéticos

encontrados, sobretudo nos monumentos e esculturas.

A preservação dos monumentos históricos é um cuidado de todos os

países que sancionam leis de proteção e restauração sempre viabilizando a

manutenção de características originais.

O órgão responsável pela proteção e manutenção do patrimônio histórico

da humanidade é a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Cultura

Ciência e Educação) cuja sede encontra-se em Paris. Criada em 16 de

novembro de 1945, a Unesco tem por fim “contribuir para a paz e a segurança

no mundo mediante a educação, a ciência, a educação, a cultura e as

comunicações”, afirma a mesma fonte.

No Brasil, o Presidente Getúlio Vargas, criou por meio da Lei nº 378 em

1937, o IPHAN, uma autarquia vinculada ao Ministério da Cultura que é

responsável pela preservação do acervo patrimonial, tangível e intangível do

país e divide-se em vinte e sete superintendências regionais de acordo com

Natalia Martins (MARTINS, 2009).

Segundo Martins “a criação da Instituição obedece a um princípio

normativo incluso no artigo 216 da Constituição da República Federativa do

Brasil que define patrimônio cultural e estabelece que cabe ao poder público,

com o apoio da comunidade a proteção, preservação e gestão do mesmo”.

O IPHAN já tombou dezesseis mil edifícios, cinco mil sítios arqueológicos e

cinquenta centros urbanos. Possui um acervo onde são contabilizados e

catalogados mais de um milhão de objetos, sejam livros, arquivos, registros

audiovisuais e fotográficos, de acordo com Martins.

As principais instituições sob a responsabilidade são: o Museu Nacional de

Belas Artes, o Museu Imperial, o Museu Histórico Nacional, o Museu da

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República, o Museu da Inconfidência, o Paço Imperial, a Cinemateca Brasileira

e o sítio Burle Marx.

Na lista de Patrimônio Mundial da Unesco encontram-se doze

monumentos culturais brasileiros: a cidade de Ouro Preto (MG), o Centro

Histórico de Olinda (PE), as Missões Jesuíticas Guarani, Ruínas de São Miguel

das Missões (RS), Centro Histórico de Salvador (BA), Santuário do Senhor de

Bom Jesus de Matosinhos (MG), Plano Piloto de Brasília (DF), Parque Nacional

da Serra da Capivara (PI), Centro Histórico de São Luiz (MA), Centro Histórico

de Diamantina (MG), Centro Histórico da Cidade de Goiás (GO), Praça de São

Francisco (SE) e Rio de Janeiro (RJ).

O patrimônio histórico de Balneário Camboriú está sob a guarda do

Arquivo Histórico, órgão cuja inauguração oficial se deu em vinte de julho de

1993, sendo porém aprovado pela Câmara dos Vereadores em vinte e nove de

novembro do mesmo ano, de acordo com dados do site oficial da prefeitura

municipal.

O Arquivo Histórico faz parte da Fundação Cultural do município e sob sua

responsabilidade está a gestão, guarda, preservação e divulgação do

patrimônio histórico e documental da cidade.

Seu acervo congrega, segundo a mesma fonte “documentos, produzidos

ou recebidos pela administração municipal no desempenho de suas funções ou

de origem privada, consideradas de interesse público. Fazem parte do acervo,

fotografias, documentos textuais, mapas e jornais e outros”.

O patrimônio cultural material congrega na legislação específica, os bens

conforme sua natureza – arqueológico, paisagístico e enográfico, histórico,

belas artes e artes aplicadas.

Estes bens dividem-se em bens imóveis, quais sejam os núcleos urbanos,

sítios arqueológicos, paisagísticos e os bens individuais bem como os bens

móveis, incluindo-se as coleções arqueológicas, acervos musológicos,

documentais, bibliográficos, arquivistas, videográficos, fotográficos e

cinematográficos (Plano Diretor Participativo, 2014).

Balneário Camboriú contempla alguns dos bens acima relacionados, como

se elenca a seguir:

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O Acervo Arqueológico do Parque das Laranjeiras, identificado pelo Padre

João Alfredo Rohr entre os anos de 1977/79, incluindo objetos, adornos e

também corpos sepultados, no total de 165, entre crianças e adultos que

estavam no chão em áreas que se estima deveriam ser de cozinhas. Para os

indígenas, o chão de sua casa era local de sepultamento, pois segundo a

tradição destes povos, quem ali fosse enterrado continuava fazendo parte da

família. Esses achados podem ser vistos no museu Arqueológico do Parque

Cyro Gevaerd (Plano Diretor Participativo, 2014).

A capela de Santo Amaro, antiga Igreja de Bom Sucesso, erguida no

século XIX, localizada no Bairro da Barra é o único resquício do período

colonial da cidade. Foi tombada pelo Município em agosto de 1889 e pelo

Estado em agosto de 1998.

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana, inaugurada em 1961, pelos

veranistas de origem germânica, na rua 2300, no centro da cidade, está hoje

incorporada a uma edificação civil.

Os bens imaterias da cidade são “as representações, expressões,

conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares

culturais que lhe são associados – que as comunidades, grupos e, alguns

casos, os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio

cultural” (Plano Diretor Participativo, 2014).

Balneário Camboriú tem como bens imateriais, a Festa do Boi de Mamão,

as danças de pau de fita, a arte de fazer tarrafa, a arte da olaria e a fala,

principalmente notada nos moradores do Bairro da Barra, onde se verifica

muitos descendentes dos colonizadores açorianos. Na Figura 3, uma

apresentação espontânea em praça pública de um grupo local.

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Figura 3. Boi de Mamão na Praça Almirante Tamandaré

Fonte: Fotoimagem BC 2015

Balneário Camboriú poderia configurar-se como locus apropriado para o

desenvolvimento do turismo histórico cultural, visto essa manifestação se tratar

de um fenômeno social, que foi produzido pelo homem e que se transmuta

para os turistas, em lazer, em entretenimento, em troca cultural, pois o visitante

“se dispõe a interferir e a integrar-se, em um processo cultural, como elemento

ativo e passivo de influência” (ANDRADE, 1997 p.95). Este autor nos diz que

”O turista, assim como qualquer outra pessoa, exerce a função ambivalente de

agente aculturador e de elemento suscetível de sensibilização por culturas

outras que a sua própria”.

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Ulpiano T. Bezerra de Menezes (MENEZES,1998) ressalta, sobre a

questão que essa “integração interdisciplinar na produção do entendimento das

culturas exige um esforço reflexivo para que não se produzam teorias e

conceitos que reforcem a dicotomia entre a vivência e o legado histórico”. Há

que se separar o que constitui um patrimônio histórico das memórias pessoais

ou coletivas. O autor coloca que, “material ou imaterial, as construções

culturais são parte de um uníssono de experiências históricas vivificadas de

forma integrada, portanto, dinâmicas no tempo”.

Não se pode esquecer que o patrimônio histórico permite uma

interpretação do passado, porém esta memória deve sempre estar atrelada ao

presente, pois o todo cultural é a soma desses dois momentos.

O turismo histórico tem suas raízes no desenvolvimento dos meios de

transporte, fato ocorrido com a Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e

XIX, que permitiu um deslocamento, sobretudo entre a burguesia que buscava

com isso uma elitização advinda não somente pela sua condição financeira,

mas sobremaneira pela cultura que poderia lhe ser agregada.

A Europa era o porto onde o turista cultural desejava ancorar, por conter

um vasto patrimônio a ser explorado, pródigo em museus, monumentos e

arquitetura de diversas escolas. Essa exploração, perpetrada tanto por turistas

da própria Europa quanto de outras regiões do mundo seguiu até a eclosão da

Primeira Guerra, entre os anos de 1914/1918 quando houve um arrefecimento

dos transportes.

O Brasil passa a ser então, o destino de turistas estrangeiros, pois possui

um conjunto rico de belezas naturais, aliado também, a um generoso

patrimônio histórico, que perpassava por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia,

conquanto outras regiões não fossem muito privilegiadas, como o Sul do Brasil.

Faz-se necessário frisar que o patrimônio cultural é representado apenas

por monumentos históricos e manifestações artísticas e culturais do passado,

mas também, o que se dá no presente e que formará o patrimônio do futuro,

garantindo assim a preservação de um legado que poderá interferir na

identidade étnico-cultural da comunidade.

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Na história das praças de Balneário Camboriú está imbricada a história da

apropriação indevida dos espaços públicos. O que é público torna-se privado

pelas formas transversas de gerir a coisa pública, e o que é patrimônio fica

relegado ao esquecimento. Os monumentos da cidade celebram eventos,

pessoas e ideias. Dizem respeito a tudo aquilo que nos identifica como

cidadãos e partícipes desta história.

A Praça Higino João Pio tem o nome do primeiro prefeito eleito da cidade,

Higino João Pio foi o primeiro prefeito de Balneário Camboriú (SC), eleito pelo

PSD em 1965, assim que o novo município foi desmembrado de Camboriú.

Tabela 1. Relação dos primeiros prefeitos de Balneário Camboriú

Nome Início Término Condição

Ewaldo Schaefer 20/07/1964 12/12/1964 Prefeito nomeado

Aldo Novaes 13/12/1964 15/11/1965 Prefeito nomeado

Higino João Pio 15/11/1965 03/03/1969 Prefeito eleito -PSD

Álvaro A. Silva 04/03/1969 02/10/1969 Prefeito interino

Fonte: Arquivo Histórico de Balneário Camboriú

Em função de disputas políticas locais e, possivelmente por sua

proximidade com o então presidente João Goulart, foi acusado de

irregularidades administrativas após o Golpe de 1964. Em fevereiro de 1969,

precisamente na quarta-feira de cinzas, Higino João Pio e outros funcionários

da Prefeitura foram presos por agentes da Polícia Federal e conduzidos para a

Escola de Aprendizes de Marinheiros de Florianópolis. Após prestarem

depoimento, todos foram soltos, exceto o prefeito, que permaneceu

incomunicável. No dia 3 de março, a família foi notificada de sua morte, por

suicídio.

Em seu voto na Comissão Geral de Investigações, CEMDP, o relator

afirmou que, “os adversários políticos apelaram para a legislação excepcional

baixada pelo AI-5, submetendo- o à Comissão”. Concluiu pelo deferimento em

função da morte na prisão por causas não naturais. O laudo necroscópico,

assinado por José Caldeira Ferreira Bastos e Leo Meyer Coutinho, indicava

morte por asfixia e enforcamento. Notação Arquivo Nacional (2009).

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O busto do prefeito esteve exposto na praça que recebeu seu nome nos

últimos 46 anos, porém em lugares pouco visíveis e sem identificação. Na

figura 4 representa-se o croquis do busto do prefeito Higino João Pio, no

espaço da praça de mesmo nome. A história do único prefeito brasileiro

assassinado durante a ditadura militar, com idoneidade comprovada pela

investigação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos,

reportada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

(AT0.39.06 - pg.181), poderia ter maior evidência, pois é uma parte importante

da história do Brasil, cuja repercussão deu-se internacionalmente (CNV, 2015).

Figura 4. Busto do prefeito Higino João Pio

Fonte: Croquis do autor

A destruição das memórias herdados do passado acarreta no rompimento

da corrente do conhecimento, levando-nos a repetir incessantemente

experiências já vividas.

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2.4. CONTEXTO POLÍTICO HISTÓRICO DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

Os primeiros povos a habitarem a região litorânea de Camboriú foram os

indígenas pertencentes da tribo Carijó, grupo primitivo dos Guaranis, que foram

descritos pelo cronista português Gabriel Soares de Sousa (Corrêa, 1985,

pg.13) como “pacíficos e de boa índole”. O interior do município era habitado

pelos Botocudos, mais agressivos, ferozes e defensores das suas áreas de

habitação.

A presença destes povos é facilmente comprovada através das ossadas

encontradas várias localidades, em especial na Praia das Laranjeiras, onde foi

detectado um vasto sítio arqueológico cujos achados encontram-se no Museu

do Parque Ciro Gevaerd, localizado às margens da BR 101.

A denominação CAMBORIÚ, como hoje conhecemos, passou por diversas

variações, sempre referenciando o rio Camboriú, cujo leito percorre a região.

De acordo com CORRÊA (1985, pg. 16), a mais antiga referência remete a

um ofício de 15 de outubro de 1779, escrito pelo Governador da Capitania,

Francisco Barros Morais Araujo endereçado a D. Luis de Vasconcelos e Sousa,

Vice-Rei da Freguesia de São Miguel da Terra firme, mais especificamente à

povoação de Enseada das garoupas, hoje Porto Belo, que relata o seguinte:

“(...)Desterro, 15 de outubro de 1779. Declaração das longitudes em que vivem os fregueses da Freguesia de São Miguel moradores na costa do mar grosso para a banda do norte, correndo barra fora e caminho de terra o de Enseada de Camboriassu, por terra dez lagoas e por mar, quinze”.

As localidades acima citadas referem-se às regiões onde se encontram

atualmente os municípios de Camboriú, Balneário Camboriú e Porto Belo.

Existem, porém, outras variantes para a denominação, tais como:

Camboriguassuú, Cabarigú-Assú,Cambriú e Cambiriú, entre outras.

Para CORRÊA (1985) o termo Camboriú passou a ter a grafia atual a partir

do final do século XIX e tem origem indígena, na qual Cambori significa robalo

e Guassu é indicativo de grande.

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O primeiro morador de Camboriú, não indígena foi Baltazar Pinto Corrêa,

proveniente de Porto Belo em 1826, quando solicitou e ganhou do Presidente

da Província, através de sesmaria, terras localizadas no Morro do Canto da

Praia, posteriormente denominada bairro Vila dos Pioneiros, no lado norte da

cidade (CORRÊA, 1985,pg. 20).

Ainda segundo a mesma fonte, outras famílias vieram a se juntar os

descendentes de Manoel Corrêa, como “os pretos das Areias”, a família

Boaventura Caetano e a família Cardoso e a família Silva.

A prole de Baltazar Corrêa logrou êxito no desenvolvimento de suas culturas

agrícolas, fato que trouxe para a localidade, novos aventureiros estimulados

pela fertilidade das terras. Por esta época a pesca como forma de trabalho não

era atividade valorizada.

Segundo dados do Arquivo da Câmara Municipal de Balneário Camboriú.

Em 1849, o então Arraial de Camboriú foi elevado à condição de freguesia.

A Lei 1076 de 5 de abril de 1884 desmembra da Freguesia de Itajaí e a sede

do novo município instala-se no Bairro da Barra, então chamada de Nossa

Senhora dos Prazeres.

Em 18 de fevereiro de 1959, através da resolução 2/59, foi criado o Distrito

da Praia de Camboriú. O Município de Balneário Camboriú foi estabelecido a

partir da Lei Estadual nº 960, em 18 de abril de 1964.

Assim, o bairro da Barra separada da região central pelo rio Camboriú,

apresentou uma evolução lenta e muito gradualmente foi incorporando o

crescimento comercial e turístico.

A margem esquerda do rio, entretanto, apresentou uma trajetória

acelerada, estimulada pela procura da praia como local de turismo.

A evolução dos espaços urbanizados ocorreu a partir dessa demanda, iniciada

na década de 1920, com especial ênfase ao turismo de veraneio. Até esta data,

segundo Corrêa (1985,pg. 26) a praia não tinha vínculo com o lazer. Foi a

população de origem teutônica, oriunda principalmente de Blumenau e

arredores, a responsável por consagrar a praia e o mar como local de diversão

e descanso.

Em junho do mesmo ano, o então Governador do Estado, Celso Ramos,

baixou o decreto nº 1674 que definia a instalação do Município de Balneário

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Camboriú para 20 de julho do corrente ano e nomeou o senhor Ewaldo

Schaffer para o cargo de Prefeito Provisório.

Aldo Novaes assumiu o posto em 18 de julho de 1965 e em 3 de outubro

ocorreu o primeiro pleito, no qual elegeu-se o senhor Higino João Pio. Nesta

data também se constituiu a primeira Câmara de Vereadores, de acordo com

dados obtidos no Arquivo da Câmara Municipal de Balneário Camboriú.

Com a inauguração da BR 101, na década de 1970, a malha urbana

expandiu-se acarretando um significativo aumento nos investimentos

imobiliários.

A paisagem da área central que era até então predominantemente vegetal,

desaparece de forma muito franca e são fatos marcantes o processo de

canalização do rio Marambaia, ao norte da cidade e o aterramento das lagoas

existentes na região do centro da cidade.

O Primeiro Plano Diretor de Balneário Camboriú foi encomendado à

Planepar – Organização de Planejamento Técnico-Econômico, da cidade de

Curitiba PR, em 5 de junho de 1973. Constava neste contrato o Plano Físico

Territorial, a lei do Plano, zoneamento, sistema viário, lei de loteamento, código

de obras e edificações, código de normas e instalações e código tributário;

segundo arquivos do Memorial Prefeito Meirinho (MEMORIAL, 2014).

O projeto seguiu o modelo de desenho da época, modernista, inspirado no

projeto de Curitiba (que sofreu influência da escola racionalista da Europa) cuja

reorganização criou grande repercussão e muitos adeptos das soluções

“técnicas” de problemas urbanos, como menciona Marcelo Lopez de Souza

(2013, p.123), quando se refere ao planejamento físico-territorial, elaborado

como uma tentativa de estabelecer uma “cidade ideal”. A materialização do

projeto carregava todo ideário modernista4, a começar pelo master-plan,

definindo a cidade na escala macro, com intenções de implantar uma nova

4 O ideário modernista internacional foi sumária e explicitamente expresso também no Brasil, pela

vontade de construção de uma sociedade mais igualitária, de substituição da exaurida estética classicizante e historicista por uma "estética nova" da máquina, de industrialização nas cidades e promoção de uma nova classe operária – lastro político do Estado Novo- e de transformação de um país de caráter majoritariamente rural para majoritariamente urbano. Em síntese, este ideário de transformação e progresso, nosso espírito nacional e Zeitgeist da época – coincidente com nossa base positivista de ordem e progresso expressa na bandeira nacional – iria inevitavelmente apoiar-se nas expressões urbanísticas, concretizadas tardiamente se comparadas às expressões arquitetônicas. (DEL RIO, GALLO, 2000).

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realidade para o futuro da sociedade, a partir de mudanças na organização

espacial.

No ano de 1973 o Brasil vivia sob o regime militar e o presidente vigente

era o General Emílio Garrastazu Médici, cujo governo esteve entre os anos

denominados de “anos de chumbo” (D’ARAUJO, SOARES, CASTRO, 1994). O

Programa de Governo se estruturava na execução do Primeiro Plano Nacional

de Desenvolvimento (PND), que tinha por objetivo promover o crescimento

econômico do País. Ainda alimentado pelo desenvolvimentismo que

predominou nos governos militares no Brasil, o país captou muitos

empréstimos no exterior e investiu em obras de grande porte em todo o

território nacional. Destes investimentos públicos surgiu o que se chamou de

Milagre Brasileiro (SINGER, 1972).

Durante este período circunstancial da vida brasileira instaurou-se um

pensamento ufanista de "Brasil potência", que se evidenciou com a conquista

da terceira Copa do Mundo em 1970 no México, quando vigorou o mote:

"Brasil, ame-o ou deixe-o", que veio a exercer alta influência nas bolsas de

valores brasileiras iniciada ao final da década de 1960 e resultou em um clima

de euforia generalizada – incentivado por canções como Pra frente Brasil –,

apelidado pelo autor Elio Gaspari (2002, p.43) de "patriotada". Segundo

Reinaldo Gonçalves (1999, p.37), o período do milagre econômico foi o que

gerou maior crescimento do país desde a Proclamação da República. A

proposta do ministro do Planejamento, Delfim Neto, consistia em concentrar a

renda, formando um “bolo econômico”, a ser posteriormente dividido.

Em 1973 ocorreu a crise mundial do petróleo, que para o Brasil trouxe

como consequência arrocho salarial, o desemprego, a recessão, o

endividamento externo, o inchaço da máquina pública, a desnacionalização da

economia e desperdício de recursos públicos (Gonçalves, 1999 p.55).

Neste contexto inicia-se em Balneário Camboriú o governo municipal de

Gilberto Américo Meirinho (iniciado em 1973 até 1977). A cidade contava com

uma população de pouco mais de 10 mil habitantes , segundo o Arquivo

Histórico da Cidade (2014, Documentos Históricos), e uma estrutura fundiária

irregular, baseada nos loteamentos que se instalavam, nem sempre com

respaldo legal no uso destas ocupações. O prefeito recém-empossado

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contratou a empresa paranaense Planepar de Curitiba, com o intuito de realizar

o plano urbano para a cidade de Balneário Camboriú.

Contando com uma grande equipe multidisciplinar, a empresa produziu um

diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e

administrativa da cidade, apresentando então, um conjunto de propostas para o

desenvolvimento do município: cadastro técnico municipal, o projeto executivo

do sistema de abastecimento de água, o projeto dos esgotos sanitários e o

plano diretor do município do Balneário Camboriú, que seria o norte de todas

as ações concretas de intervenção sobre o território, pelo setor público ou por

qualquer outro agente.

Todo o trabalho foi orientado pelo prefeito e seus assessores diretos, sem

participação dos moradores locais ou de seus representantes eleitos da

câmara de vereadores, como relata o próprio prefeito em sua entrevista para

Paulo Leme (LEME, 2010 p.208):

“(...) Como tínhamos uma visão muito ampla e ambiciosa para o futuro da cidade, contratamos uma empresa de Curitiba, composta principalmente de professores da Universidade Federal do Paraná, para criar o Plano Diretor Físico e Territorial, o Código de Normas e Instalações (antigo Código de Posturas), o Código de Obras e Edificações e o Código Tributário”.

Com tais características autocráticas e um discurso positivista, o projeto urbano

veio com inspiração no modelo de Curitiba PR, com alguns princípios do

urbanismo modernista, na divisão da cidade em zonas funcionais, a

transformação de ruas em avenidas, a hierarquização do sistema viário em

dois eixos principais (longitudinal e transversal) e a identificação das

necessidades segundo um critério técnico, porém sempre amparado no

conceito de “cidade para as pessoas”.

O critério adotado foi criar uma cidade onde as dimensões estivessem em

consonância com a escala humana, ou seja, as avenidas não muito largas e

com canteiro central, calçadas amplas (para os padrões da época) inclusive na

beira-mar, segundo palavras do prefeito Meirinho (LEME, 2010 p.212)

O passeio público da Avenida Atlântica foi determinado por decreto

(Decreto nº 707 de 17 de fevereiro de 1974) quando foi declarado de utilidade

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pública para fins de desapropriação na faixa de terras de marinha com a

largura de seis metros em toda a extensão da Avenida. Não obstante o Código

de Normas e Instalações, criado pela Planepar, prever calçadas largas na orla,

muitas residências possuíam muros demarcando a propriedade até a faixa de

areia. O prefeito Meirinho ordenou a derrubada destes muros, originando um

embate judicial e dividindo a população entre os que viam na medida “uma

arbitrariedade descabida” e os que percebiam no episódio uma “modernização

da cidade, com a avenida e calçadão”5.

O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina deu ganho de causa

para os reclamantes, permitindo que os ocupantes das terras de Marinha

reconstruíssem os muros fora do alinhamento previsto pelo Código de Posturas

da prefeitura, não levando em conta que as terras de frente para o mar são por

lei, da Marinha do Brasil, conforme o artigo 180 da Constituição. O referido

artigo ofereceu embasamento ao projeto, pois o texto determina que, a 33

metros da preamar média seguindo o mapa de 1831, todas as terras serão de

propriedade da Marinha, e geridas pelo Serviço do Patrimônio da União. A

Praça Almirante Tamandaré seria futuramente erigida neste espaço.

2.5. DESCRIÇÃO DOS OBJETOS DE ESTUDO

2.5.1. Praça Almirante Tamandaré

Nas entrevistas realizadas para esta pesquisa com os gestores públicos

que estiveram presentes no início da urbanização da cidade os relatos são

unânimes em afirmar que a história da praça Almirante Tamandaré iniciou com

um conflito de propriedade sobre uma área de terra na orla (informação verbal)

. No relato a seguir procurou-se produzir uma síntese dos depoimentos

colhidos nas entrevistas, com o suporte de documentos dos arquivos do

Memorial Prefeito Meirinho (MEMORIAL, 2014).

5 Depoimentos colhidos nas entrevistas abertas com os usuários das praças.

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A questão das propriedades muradas até a faixa de areia da praia central

de Balneário Camboriú (descrita no Contexto político e o Plano Diretor) não foi

o único obstáculo encontrado pelo poder público, quando da execução da obra

da Avenida Atlântica. No curso da nova avenida havia um tapume de obras,

fechando uma área que, segundo os supostos proprietários, era privativa e um

projeto aprovado permitia que ali se construísse um edifício. O prefeito,

afirmando a não existência desta autorização, ordenou a derrubada do tapume

e retirada de todo o material e pessoal do local, permanecendo ali, onde está

até os dias de hoje, estacas do edifício iniciado. Determinou então que se

contornasse a área, assim a avenida teria um desvio, mas não iria ser

obstruída por um processo moroso na justiça.

Com esta atitude, anexou-se esta área em litígio à orla, impedindo

definitivamente qualquer edificação que não fosse pública. A reação foi

imediata, com a prisão do calceteiro Candido, que trabalhava no calçamento da

via pública, com o pedido de impugnação do mandato (impeachment) do

prefeito e ordem de prisão para o secretário de obras. Novamente a

interferência da Capitania dos Portos foi decisiva na solução sui generis da

cidade, apoiando o prefeito, expedindo documentos defendendo como legítima

a ação da prefeitura municipal.

Em contrapartida a praça recebeu o nome do patrono da Marinha, com

busto do homenageado, provocando indignação na população local, visto que o

primeiro prefeito eleito havia sido executado pela ditadura há pouco tempo

(03/03/1969) nas dependências da Capitania dos Portos da Marinha em

Florianópolis (CNV, 2014).

O exercício do poder, propiciado pela ditadura militar foi preponderante na

história da praça. Assim como a imposição dos projetos desenvolvidos no

gabinete do prefeito, todos os empenhos foram feitos no sentido de consolidar

o balneário como destino turístico. O desenho dos espaços públicos foi

submetido à esta orientação política.

Nestes quarenta anos de existência a Praça Tamandaré passou por três

grandes transformações. Sua trajetória histórica do ponto de vista funcional

transcorreu com mudanças no uso e na apropriação de seu papel no contexto

urbano. O conceito inicialmente era de um espaço destinado para eventos,

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onde foi instalada uma grande estrutura metálica de treliças espaciais e

cobertura de policarbonato.

Havia então a intenção de propiciar apresentações públicas culturais,

artísticas etc, em uma área protegida e privilegiada pela localização na orla

marítima da cidade. Em alguns momentos o espaço público foi visto também

como um campo propício para divulgação de atividades de empresas privadas.

Durante os anos 1985 até 1987 a cobertura da praça ostentava a logomarca da

empresa construtora H. Schultz, de propriedade do prefeito neste período, em

uma das atitudes usurpadoras do poder instituído se apropriando do espaço

público. Conforme pode ser observado na ilustração abaixo.

Figura 5. Praça Almirante Tamandaré nos anos 80, com a logomarca em forma de estrela da empresa H. Shultz na cobertura da praça.

Fonte: Croquis do autor

Posteriormente, já nos anos 90, a praça ganhou um novo conceito, como o

desenho de um palco, com vários níveis construídos em degraus, que

favoreceriam as apresentações, com espaço para o público assistir. A política

urbana estaria fundamentada na demanda turística e em propiciar atrações

para esta demanda.

Com relação ao aspecto da representação simbólica, a praça está

temporalmente delimitada pelo significado que a história lhe concedeu. Sem

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projeto que lhe definisse a identidade, sem acessibilidade por sua localização

incômoda, entre o fluxo intenso e o limite das barreiras físicas construídas, sem

legibilidade na sua indecifrável concepção fragmentada em planos, para usar

uma breve análise baseado nas três dimensões fundamentais descritas por

autores contemporâneos, como Lucio Ginnover (2006, p.30). Na ilustração

abaixo, a praça Tamandaré nos anos 90.

Figura 6. Praça Almirante Tamandaré nos anos 90.

Fonte: Croquis do autor.

Na última revisão estética e funcional em 2013, adotou-se o espaço cívico

como conceito, o espaço vazio, livre para eventos, porém com ênfase na

circulação e lazer passivo. O conceito de espaço livre desenvolve-se como

ordenamento espacial produzindo a dissolução da praça tradicional, como

menciona Junia Caldeira (2007, p.8). A questão formal é predominante, pois

existe um grafismo que se observa apenas do alto, orientando o fluxo,

conforme se observa na ilustração abaixo.

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Figura 7. Praça Almirante Tamandaré em 2013.

Fonte: Croquis do autor.

Na fala do ex-diretor da Secretaria do Estado para o Turismo, SANTUR, e

ex-secretário municipal de turismo, Osmar Nunes Filho: -“As gestões

municipais priorizaram sempre a captação de volume de turistas”. A quantidade

de pessoas na praia era motivo de comemorações. O turismo de massa, ou

turismo de sol e praia, de baixo custo, passou a ser a característica do local.

Com esta política a cidade definiu toda sua vida econômica em função do

desenvolvimento turístico, organizando-se para produzir paisagens atrativas

para o consumo e para o lazer. O espaço público passou a ser utilizado como

atração turística apenas.

2.5.2. Praça Higino João Pio.

A Praça Higino João Pio foi criada com propósito definido de atender à

necessidade de espaço público destinado ao lazer e turismo, através da lei

municipal nº 0358 de 23 de abril de 1973 e inaugurada em 20 de julho de 1976.

Esta praça pública nasceu de uma das maiores investidas contra o ambiente

natural do município. No local onde hoje está a praça havia uma lagoa que

tomava boa parte do centro da cidade, conforme mostra o mapa (Figura 01)

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confeccionado em 1952, pelo jornalista e escritor Norberto Cândido Silveira

Junior, e cedido pelo Engenheiro Carlos A. Schlup.

Figura 8. Mapa da cidade de Balneário Camboriú 1952

Local da Praça Higino João Pio

Fonte: Arquivos de Carlos Alberto Schlup.

Esta lagoa, chamada de Lagoa da Ponta, foi totalmente aterrada e a

saída das águas canalizada para o mar, ficava onde está hoje a Praça

Tamandaré.

Enclausurada entre edifícios altos, a Praça Higino João Pio já abrigou

diversos tipos de atividades, desde feiras de artesanato até festas de natal e

páscoa. Porém sua ocupação é pequena diante da área avantajada e

importância como espaço localizado na região mais central da cidade. Possui

poucos e simples equipamentos, restringindo-se aos bancos e floreiras, um

pequeno playground e jardins, além do busto do homenageado, o primeiro

prefeito eleito da cidade, Higino Pio.

A praça tem a sua história iniciada com aquele que foi possivelmente um

dos maiores equívocos do planejamento urbano municipal: o aterro da Lagoa

da Ponta para formar a praça. No entendimento do poder público em 1973, a

prioridade seria criar espaços para o desenvolvimento do turismo e o custo

ambiental foi minimizado para dar lugar à ordem econômica, ou seja, em uma

relação causal, a produção de capital pareceu sobrepujar à própria

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sobrevivência do meio ambiente e de uma paisagem de rara beleza. Desta

forma o patrimônio construído tampouco atendeu às aspirações de se constituir

em atrativo, pois como se constatou em pesquisa, o espaço é ainda hoje pouco

utilizado. Permanece como um “vazio” dentro da malha urbana, enclausurado

entre prédios altos, com poucos interesses para o turismo.

A proximidade da praia contribui para que este espaço seja menos utilizado,

pois as possibilidades ofertadas na orla são grandes, desde a paisagem

imbatível do ponto de vista de atrativo turístico, até alimentação e lazer.

O acesso a esta praça se faz pela Avenida Alvin Bauer ou pela Rua 51,

ou ainda pelas galerias de edifícios que circundam a praça. São entradas

fáceis de encontrar, porém sem informações que direcionem os turistas com

relação aos pontos de interesse próximos. Com relação à legibilidade é

possível dizer que a praça se desvenda de quase todos os pontos de vista,

sendo um ambiente amplo e pouco ocupado por equipamentos e mobiliário,

porém cercado de paredes de alvenaria dos edifícios, trazendo uma

descontinuidade na paisagem do centro da cidade. Os jardins encerrados em

muretas de concreto se transformam nos pontos focais, que juntamente com o

busto do homenageado e um pequeno playground são a pontuação, como

chama Gordon Cullen (CULLEN, 2013).

Não há uma caracterização nesta praça para que ali se identifique como

parte da cidade de Balneário Camboriú. No entanto, a homenagem ao primeiro

prefeito eleito democraticamente e morto durante a ditadura militar, confere ao

lugar uma importância histórica, cujo significado poderia impor maior

valorização, como foi aventado por alguns entrevistados na pesquisa deste

trabalho. Desde o tratamento estético para todo o conjunto da praça até

questões práticas, como informações sobre o personagem no busto erigido em

pedra e metal.

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Figura 9. Praça Higino João Pio

Fonte: Croquis do autor

2.5.3. A Praça da Bíblia.

A lei nº039/1977 criou uma área com 768,50m², somada a mais duas

áreas de 4.725 m² e 2.401 m², declarando de utilidade pública estas porções de

terra, através de decreto, onde está localizada a Praça da Bíblia. A

denominação oficial é “Praça da Cultura”, porém a escultura instalada no centro

deste espaço público, homenageando o livro que contém a coleção de textos

sagrados para o cristianismo e a divulgação (Imprensa Oficial PMBC) do

espaço como propício ao exercício da pregação religiosa, ocasionou a

identificação pela população local como Praça da Bíblia.

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Figura 10. Praça da Bíblia.

Fonte: Croquis do autor

É a mais bem equipada das quatro praças pesquisadas do centro de

Balneário Camboriú. Construída sobre a galeria que sepultou o córrego que

abastecia de água as lagoas no centro da cidade, esta praça assim como as

outras três praças pesquisadas, escondem as mudanças profundas nos

sistemas naturais do meio ambiente.

Sua gênese está ligada às disputas do território, onde o poder público

algumas vezes intercedeu para garantir que as porções de terra sobrantes das

vias públicas pudessem permanecer com o domínio da população local. Assim,

a Avenida da Lagoa teve na sua implantação uma área aterrada no entorno da

via, cujo destino não foi definido no projeto inicialmente. Os embates judiciais

foram extensos, mas com o ministério público finalizando favoravelmente para

a gestão pública (MEMORIAL, 2014).

Esta praça possui um razoável número de itens disponíveis para os

usuários e atratividade suficiente para garantir o uso pelos moradores e

turistas. Tem acessibilidade garantida por se tratar de um espaço linear longo e

estreito, permeado de entradas para automóveis de edifícios vizinhos, o que

ocasionalmente proporciona um conflito entre pedestres e veículos. Tem

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legibilidade por se tratar de um ambiente tradicional de espaço público, com

bancos, árvores, academia ao ar livre, coreto, quiosque, sanitários públicos,

palco de apresentações, bicicletário e uma pequena feira de artesanato. No

entanto há uma baixa frequência, que segundo os entrevistados para a

pesquisa, não basta dispor de espaço e equipamentos para que a população

local ou turista tenha interesse, é necessário promover alguma atividade que

possa concorrer com a orla próxima ou o shopping Center ao lado.

Figura 11. Praça da Bíblia – Academia ao ar livre

Fonte: Croquis do autor

2.5.4. A Praça Kurt Amann

Criada como um espaço público especial, no calçadão da Avenida

Atlântica entre as Ruas 1.101 e a Rua 1.131, a praça 20 de Julho é mais

conhecida como praça Kurt Amann, nome do empresário da hotelaria local que

“adotou” partes da Avenida Atlântica em uma iniciativa voluntária de ajudar no

cuidado com o patrimônio público, patrocinando algumas melhorias. Atribui-se

a preservação da única porção do passeio da Avenida Atlântica, com os jardins

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plantados na gestão do prefeito Higino João Pio, ao zelo da família Amann.

Estão em frente ao Hotel Vila do Mar, as únicas palmeiras restantes do plantio

que abrangia toda a orla, mas que desapareceram. Amann investiu na

recuperação e na conservação da avenida, recebendo do prefeito Leonel

Arcangelo Pavan uma homenagem pública na forma de placa alusiva aos

feitos, o que proporcionou a associação do nome ao lugar (SECTURBC, 2015).

O projeto da praça inclui algumas demandas de frequentadores oriundos

de estados vizinhos e da região serrana de Santa Catarina, como o “Cantinho

do Chimarrão” e espaços para jogos de mesa. Conta também com os jardins

com a maior diversidade das praças pesquisadas.

A “Mão que segura o mundo” escultura de Reiner Wolff, realizada em 1991

em concreto e fibra, homenageia o trabalhador, se configura como um marco

ou ponto de referência (LINCH, 2011, p.88), identifica a praça, que aparece por

vezes denominada de “praça da mão” na mídia.

Figura 12. Praça Kurt Amann

Fonte: Croquis do autor

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Esta praça têm abrigado instalações alusivas às datas comemorativas,

como durante o período de natal com os presépios, ou decorações de páscoa e

carnaval. Além disso, a farta vegetação e os bancos fazem com que os

usuários utilizem este espaço público com frequência, conforme se observa

nas tabelas desta pesquisa.

2.6. RELAÇÕES ENTRE ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E ATIVIDADE

TURÍSTICA.

O estudo sobre as relações entre organização espacial e atividade

turística nos espaços públicos é um dos aspectos importantes nessa

dissertação. Desta forma, além das questões relacionadas com o processo

político-histórico ocorrido nas últimas décadas e que definiu a estrutura

espacial da cidade, o turismo como atividade econômica e que emergiu dentro

deste processo, foi preponderante para as características espaciais dos

ambientes construídos. No intervalo de tempo recortado, a atividade turística é

o principal impulsor do crescimento econômico e populacional da cidade, com

crescimento no patamar de 115% de residências unifamiliares e 1.000% nas

multifamiliares (Plano Diretor Participativo, 2014, p.61).

O principal tipo de turismo que se desenvolveu em Balneário Camboriú, é

aquele conhecido como “turismo de sol e praia”, que se atém aos atributos

naturais da localidade. Do ponto de vista dos atrativos turísticos, tanto naturais

quanto construídos, a cidade possui praias (9), parque ecológico, trilhas, jardim

zoológico, comércio e intensa programação noturna.

Mesmo que não se pretenda discutir todos os condicionantes externos

que influenciaram na formação dos espaços públicos locais, o entendimento

dos fatores que contribuíram para a constituição dos espaços públicos é

importante para a análise das praças públicas de Balneário Camboriú.

O mundo globalizado influenciou na apropriação dos espaços, tornando-os

ainda mais efêmero, ou líquido, como em Modernidade Líquida, de Zygmunt

Bauman. As mudanças do desenho desses espaços acontecem com

frequência, procurando torna-los rentáveis, do ponto de vista do capital,

impulsionado pela atividade turística.

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A relação que se pretende destacar é fortemente vinculada aos aspectos

físicos, naturais e construídos, cujos desenhos de formas representam mais do

que apenas os espaços públicos com função determinada, mas também

representam a imagem do lugar, ou por vezes, a cidade.

A desterritorialização da esfera pública e as formações sociais emergentes

nos espaços públicos virtuais da sociedade em rede têm vindo a concorrer para

uma acentuada erosão da vida coletiva nos espaços públicos e lugares

urbanos tradicionais (BALULA, 2010). No entanto, junto com esta nova cidade

dos fluxos, determinadas áreas urbanas centrais distinguem-se enquanto

espaços de referência para a cidade dos lugares.

De acordo com COSTA, DO AMARAL PEREIRA e HOFFMANN (2006), a

análise completa deveria conter condicionantes externos:

Para melhor compreensão de espaços, sejam eles turísticos ou não, deve ser acrescentada também a análise dos condicionantes externos ao local, como sugere Santos (1997c). As transformações de processo e estrutura

resultam de modificações em esfera global e seus efeitos, tais como a mundialização do capital, a nova divisão do trabalho, competição global e o desenvolvimento de meios de transporte (CASTELLS, 1999; AMATO NETO, 2000; LICK, 2003) exercem influencias sobre o ordenamento dos espaços locais e regionais, bem como dos elementos que o compõem. Esses efeitos podem ser notados tanto do ponto de vista da organização do destino, sua capacidade de adequação a essas realidades e, sobretudo, sua percepção (LICK, 2003).

As peculiaridades locais não foram suplantadas pela homogeneização que

se apregoava no início do fenômeno da globalização, pelo contrário, as

diferenças estão realçadas e se tornaram um bom argumento para valorização

dos lugares, para consumo do capital (COSTA, DO AMARAL PEREIRA e

HOFFMANN, 2006).

A partir do momento em que o turismo passou a ser visto como uma fonte

de recursos para a cidade, rápidas transformações ocorreram na malha viária,

na infraestrutura, comércio e meios de hospedagem. Alterações que pouco

levaram em conta o ambiente natural, pelo contrário, buscou-se subjugar os

sistemas naturais, aterrando lagoas e mudando curso dos rios, ou ainda,

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tentando eliminar alguns, conforme está descrito neste trabalho, na

implantação da Praça Higino João Pio, por exemplo.

A geografia local, muito rica em recursos naturais, há referências de sete

lagoas que desembocavam na praia, sendo a principal delas localizadas entre

as Ruas 301 e 501, denominada Cacimba, que tinha dois afluentes, um deles

desaguando direto no mar, onde existe hoje a Praça Almirante Tamandaré com

o nome de Lagoa da Ponta e outro no Ribeirão das Ostras, que formava a

Lagoa Grande, mais tarde denominada lagoa de Marambaia (Plano Diretor

Participativo, 2014), conforme se observa na foto de 1949 da figura 5.

Figura 13. Lagoas de Balneário Camboriú 1949

Fonte: Eduardo Barbieri 2014.

Desta forma, as características da cidade podem ter sido influenciadas

pela conjuntura externa, porém a estrutura urbana atual, com extensas vias

perpendiculares à praia e poucas transversais, é resultado da ocupação com

prioridade ao capital, maximizando a privatização do território quase despido de

espaços públicos para o lazer.

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2.7. SINTAXE ESPACIAL

A Teoria da Sintaxe Espacial surgiu nos anos 1980 como uma teoria

sistemática sobre fenômenos urbanos observados em suas relações sistêmicas

vivas e aparentes, buscando descrever a dimensão social do espaço público e

privado, através de medidas quantitativas (HILLIER; HANSON, 1984).

Bill Hillier e seus colaboradores da Universidade de Londres criaram esta

teoria, também conhecida como Teoria da Lógica do Espaço, cuja objetividade

e caráter sistêmico sugeriam ser capaz de apontar para a influência da

organização espacial sobre a vida social. A sintaxe pode identificar problemas

e razões das falhas de projetos, com o devido apoio científico ao planejamento

urbano, permitindo entender aspectos importantes do sistema, tais como

acessibilidade e distribuição do uso do solo (SABOYA, 2015).

Quanto à etimologia, o termo SINTAXE ESPACIAL deriva de estudos

linguísticos a partir de uma nítida filiação gramatical. Sintaxe é parte da

gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no

discurso, bem como a relação lógica das frases entre si. A maneira como forma

e espaço se configuram compreende uma linguagem, e como qualquer

linguagem, possui uma sintaxe. A sintaxe é entendida, portanto, como o

conjunto de princípios ordenadores da linguagem.

Uma análise multidisciplinar é possível por meio da sintaxe, segundo Rafael

Pereira a estrutura espacial das cidades pode ser descrita como Configurações

Urbanas e compreende um conjunto de barreiras e permeabilidades na

estrutura física dos espaços (PEREIRA et all, 2001). Pesquisas que abordam a

teoria levam à análise da estrutura social, que é inerentemente espacial e a

configuração espacial do espaço habitado tem uma lógica social (BAFNA,

2003).

Segundo Hillier (2001, p. 02.2), se nós colocarmos um objeto aqui ou ali (se

uma praça for aqui ou ali) dentro de um sistema espacial, então certas

consequências previsíveis afetarão a configuração espacial do ambiente.

Neste método, a primeira etapa consiste na representação gráfica do

espaço construído a ser estudado. Após o desenho, segue-se a análise, obtida

por meio de aplicativos específicos que calculam matematicamente atributos

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numéricos para cada elemento do sistema, considerando as conexões

existentes na trama espacial a partir da ideia de configuração. em seguida são

acrescidos para análise os dados empíricos observados ou coletados,

permitindo que sejam correlacionados os índices matemáticos encontrados

(topológicos) com variáveis diversas.

Como qualquer abordagem, a sintaxe espacial é uma simplificação da

realidade (portanto é passível de críticas e observações).

Apesar de ter trazido um avanço evidente, a teoria tem levantado algumas

polêmicas, por ser uma abordagem que aparece com destaque no limitado

cenário teórico dos estudos da área urbana. Segundo Vinicius de Moraes

Netto, abordagens concorrentes e detratores apontando limitações de sua

epistemologia ou acusando de excesso de formalização ou ainda de redução

geométrica, de sua capacidade de representar a cidade, sua morfologia e

transformações, do modo parcial como captura a complexidade do mundo

social (NETTO, 2013).

Poucas abordagens socioespaciais têm sido tão polêmicas e despertado

reações tão distintas dos estudiosos da cidade quanto a sintaxe espacial.

Reações variam em um leque envolvendo ora aceitação quase religiosa entre

seguidores, ora rejeição a priori como versão de uma visão positivista do

socioespacial, ora absorção silenciosa de suas principais ideias e aspectos de

seus métodos. (NETTO, 2013). Já para o professor Valério A. S. de Medeiros

(MEDEIROS, 2006), a despeito das críticas, o uso da sintaxe espacial para

estudos de configuração urbana é crescente por possibilitar uma análise

quantitativa de um aspecto ignorado ou apenas explorado descritivamente.

Segundo RATTI e RICHENS (2004, p. 297), “A sintaxe permanece sendo a

única teoria que fornece técnicas para a investigação da configuração urbana”.

A Sintaxe Espacial inclui definições por si só complexas: espaço e

metodologias para sua inserção em processos de transformação urbana como

expressão de dinâmicas sociais terão que ser citadas. Entre as possibilidades

de estudar o objeto existem métodos distintos, que irão privilegiar uma visão

através das dimensões práticas e experienciais e aqueles que levarão para

aspectos relacionais do espaço como estrutura e sua natureza física. A sintaxe

vai trilhar por um caminho das ciências exatas, embora apenas se utilize

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destas, sem pretender ser uma física aplicada ou uma matemática do espaço

(NETTO, 2013).

São três as ferramentas indicadas para estudos configuracionais:

ESPAÇOS CONVEXOS

ISOVISTAS

AXIALIDADE

O espaço urbano é entendido como um sistema complexo de barreiras e

permeabilidades, tal como se observa na figura abaixo, que formam padrões

nos quais relações de proximidade, separação, circunscrição e continuidade

são categorias principais utilizadas.

Figura 14. Barreiras e permeabilidades.

Fonte: adaptado de Saboya/Urbanidades 2015.

Os obstáculos, como edificações, são barreiras dispostas sobre o espaço

vazio contínuo, gerando ilhas que restringem a livre movimentação e

visualização do todo.

A seleção de atributos é feita com objetivo de relacionar formas urbanas

com sua estrutura social. A sociedade é representada por sistemas de

encontros desenvolvidos nos padrões espaciais e materializados por funções

sociais (SPACE SYNTAX, 2015).

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O território deve ser entendido como um espaço vazio contínuo. As

edificações são obstáculos, barreiras dispostas sobre este contínuo, gerando

ilhas que restringem a livre movimentação e visualização do todo.

Bill Hillier denominou de “Comunidade Virtual” o campo de encontros

sociais prováveis, mesmo que não realizados no espaço urbano:

“A forma espacial cria campos de encontros prováveis –

ainda que nem todos possíveis – dentro do qual vivemos e nos

movimentamos, levando ou não à interação social, tal campo é,

em si próprio um importante recurso sociológico e psicológico.

Procurarei demonstrar que tal campo tem estrutura definida,

assim como propriedades de densidade e rarefação. Ele existe

ainda que seja latente e irrealizado, é produto do desenho

espacial. Chamá-lo-ei de Comunidade Virtual” (HILLIER, 1989).

O espaço influenciando e sendo influenciado pela dinâmica social: na

figura 15 temos a imagem desenhada do espaço público à beira-mar. Elemento

que apresenta diferenças simbólicas, morfológicas e funcionais, construídas

através da história da cidade em um contexto social e político, objeto de estudo

desta pesquisa. Na construção destes ambientes interferem motivações nem

sempre reveladas à população, que não é chamada para se manifestar sobre

suas demandas nos espaços públicos, projetados para atender o consumo do

turismo.

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Figura 15. Calçadão da Avenida Atlântica - Balneário Camboriú SC.

Fonte: croquis do autor.

2.7.1. Conceitos básicos da Sintaxe Espacial

Linhas axiais

Linhas axais são as maiores linhas retas capazes de cobrir todo o sistema de

espaços abertos de um determinado recorte urbano (HILLIER; HANSON,

1984). O mapa axial é feito pelo encontro de linhas axiais desenhadas sobre o

sistema viário da base cartográfica da cidade estudada, atravessando todo o

espaço convexo e conectando-se umas às outras. A conectividade de cada

linha é dada pelo número de linhas que a intercepta.

Integração

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É a medida da profundidade de uma linha axial, principal medida da análise

sintática, muito útil na previsão de fluxos de pedestres e veículos e no

entendimento da lógica de localização de usos urbanos e dos encontros

sociais. De acordo com Adriana Dantas Nogueira (NOGUEIRA, 2007), a

integração global mede a profundidade existente de uma linha para as outras

do sistema, e assim, áreas nas quais se obtém como resultado integração

maior terão maior probabilidade de movimento e de encontros entre habitantes

e visitantes.

O conceito de “profundo” vai considerar a distância topográfica e não a

distância medida em metros. Linhas mais “rasas”, mais próximas das outras

linhas do sistema, são linhas mais integradas, ao passo que linhas mais

distantes são consideradas “segregadas”.

A fórmula para obter a profundidade média de uma linha axial (MD) é

obtida pela somatória das profundidades de todas as linhas em relação a ela e

dividida pelo número total de linhas, menos um:

MDi = Profundidade média do espaço i;

dij = Profundidade da linha j em relação à linha i;

k = Número total de espaços do sistema.

A partir da profundidade média é calculada a integração de cada uma das

linhas axiais. Linhas com valores acima de 1,67 são consideradas altamente

integradas, enquanto que os valores abaixo de 1 são consideradas

segregadas. No mapa da axialidade apresentado neste capítulo, as linhas

vermelhas e laranjas apresentam valores de integração global maiores do que

as verdes e azuis. A integração é calculada considerando a relação de cada

elemento do sistema com todos os outros. A axialidade total da malha de

Balneário Camboriú. Através do mapa, buscou-se entender os diferentes

padrões morfológicos da malha urbana da cidade e como a área pesquisada se

insere neste todo. Para realizar o cálculo das medidas de Sintaxe foi utilizado o

software desenvolvido por Lucas Figueiredo (2012): Mindwalk; Axwoman v.4.0

(extensão para o ArcGIS).

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Escolha

A escolha refere-se à frequência com que cada elemento do sistema

comparece nos caminhos mínimos entre todos os pares do sistema. Os

elementos que aparecem mais vezes nos caminhos são marcados com linha

grossa e indicam os elementos de maiores valores de escolha.

Quando as referidas medidas são calculadas considerando as relações

globais, compreendendo todo o sistema, chamam-se Integração Global e

Escolha Global.

Integração Local

A integração local ou de raio limitado, difere-se da integração global pela

profundidade média, obtida apenas para as linhas localizadas dentro de um

determinado limite de passos topológicos.

Desta forma, é adequada para analisar centralidades locais, identificando

áreas com potencial para funcionar como estruturadoras de centralidades de

bairros.

Tabela 2. Praças selecionadas e faixas de integração global

Praça

Faixa de Integração Global

Período matutino

Período Vespertino

Período noturno

Escala de quantidade de pessoas nas praças

1 Praça Almirante Tamandaré 9,9,9,10

2 Praça Higino João Pio 8,8,8,9

3 Praça da Bíblia 8,8,8,9

4 Praça Kurt Amann 9,9,9,9

Fonte: elaborado pelo autor

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2.8. ESTUDO DE CASO

O estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa empírica cujo

objetivo é analisar um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida

real, “especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não

estão claramente definidos” (YIN, 2001 p.32).

Para responder a questões “como” ou “porque”, o estudo trata de forma

explicativa o processo que ocorre ao longo do tempo, mais do que apenas

alguma incidência ou a frequência.

O propósito fundamental da utilização do estudo de caso nesta pesquisa é

analisar intensivamente o fenômeno complexo da apropriação dos espaços

públicos das praças na área central de Balneário Camboriú, razão pela qual o

estudo de caso pareceu apropriado, pois permite a interdisciplinaridade

necessária aplicada à cidade e seus logradouros.

A intenção nesta proposta era uma análise holística, com abordagem que

prioriza o entendimento integral do caso das praças, e não apenas a visão dos

componentes tomados isoladamente. Evidenciam-se as vantagens deste

método com a flexibilidade e a multiplicidade de dimensões de um problema,

focalizando-o por inteiro e apresentando com simplicidade, porém permitindo

uma análise em profundidade dos processos e relações entre os elementos.

O estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa empírica cujo

objetivo é analisar um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida

real, “especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não

estão claramente definidos” (YIN, 2001 p.32).

Para responder a questões “como” ou “porque”, o estudo trata de forma

explicativa o processo que ocorre ao longo do tempo, mais do que apenas

alguma incidência ou a frequência.

O propósito fundamental da utilização do estudo de caso nesta pesquisa é

analisar intensivamente o fenômeno complexo da apropriação dos espaços

públicos das praças na área central de Balneário Camboriú, razão pela qual o

estudo de caso pareceu apropriado, pois permite a interdisciplinaridade

necessária aplicada à cidade e seus logradouros.

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Como estratégia de pesquisa, algumas vantagens importantes podem estar

contidas neste método, no qual o pesquisador pode adaptar seus instrumentos

de coleta de dados às especificações, de acordo com as situações

encontradas, modificar a abordagem para explorar elementos não previstos no

início do trabalho, como no caso das versões levantadas nas entrevistas desta

pesquisa.

A intenção nesta proposta era uma análise holística, com abordagem que

prioriza o entendimento integral do caso das praças, e não apenas a visão dos

componentes tomados isoladamente. Evidenciam-se as vantagens deste

método com a flexibilidade e a multiplicidade de dimensões de um problema,

focalizando-o por inteiro e apresentando com simplicidade, porém permitindo

uma análise em profundidade dos processos e relações entre os elementos.

Algumas fases do desenvolvimento de um estudo de caso foram adotadas

nesta pesquisa, conforme sugerido nos Cadernos de Ensino da Universidade

do Vale do Itajaí (2011, p. 113).

I - Fase Exploratória

- Nesta fase é realizado um exame da bibliografia pertinente. Os autores

que publicaram sobre processo político-histórico, espaços públicos, praças,

Balneário Camboriú e turismo são fontes para este trabalho.

- Observações não-participantes nos objetos de pesquisa, com anotações

sistemáticas sobre o fenômeno, coletando dados sobre a frequência (não

quantitativa), tipo de uso e perfil de usuários.

- Depoimentos de especialistas e pessoas que tem ou tiveram participação

na criação dos espaços pesquisados.

- Coleta de dados através de fontes documentais nos arquivos históricos

públicos e particulares.

- Contatos com pessoas ligadas ao fenômeno estudado.

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- Experiência pessoal do pesquisador, contando com a memória das

vivências no período e local descritos na pesquisa.

II – Fase de delimitação do estudo e coleta de dados.

- Detalhamento das proposições do estudo. Busca pelas evidências, com

base nas questões teóricas. O processo político-histórico e o desenvolvimento

da atividade turística de Balneário Camboriú.

- Delimitação dos espaços públicos e do período pesquisado, fixando na

data de 1974 até 2013 e nos espaços públicos da área central da cidade,

abarcando três praças públicas.

- Construção de um banco de dados, encadeamento de evidências,

constituindo em ligações explícitas entre as proposições feitas, conforme

sugere Yin (2001, p.105).

III – Análise das evidências.

- A estratégia analítica adotada diz respeito ao desenvolvimento da

descrição do caso. Baseado nas proposições teóricas iniciais é possível

estabelecer critérios de análise e possíveis interpretações. A Dialética Sócio-

Espacial irá auxiliar na análise dos espaços para estabelecer as relações da

história dos espaços públicos com a atividade turística.

- Ainda como procedimento metodológico de análise, a descrição do caso

dentro de uma estrutura organizada e sistematizada para relatar o caso:

relatório do estudo de caso.

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2.9. ATRIBUTOS ESPACIAIS

Para a análise das praças na área central de Balneário Camboriú, efetuou-

se um levantamento prévio das praças públicas de balneário Camboriú para

proceder a uma seleção dos espaços analisados, tendo sido adotado o critério

das características semelhantes, neste caso os espaços públicos da área

central da cidade. Esta área, embora não possua uma identificação clara como

“centro” urbano, alguns indicativos permitem apontar um território ocupado por

concentração de comércio, serviços e pontos de interesse com uso intensivo

do solo: trata-se da área da cidade com maior concentração de atividades

econômicas, sobretudo do setor terciário. É ai que se encontram os mais

elevados preços da terra, justificando-se assim a intensidade do uso do solo.

Algumas características são importantes:

• Ampla escala vertical: a presença de edifícios altos, juntos uns aos

outros, viabilizam as ligações interpessoais vinculadas às atividades diárias;

baixo gabarito, tendo os edifícios pequenos substituídos pelos maiores;

• Limitada escala horizontal: o núcleo central é limitado em termos de

extensão, sendo possível de ser percorrido a pé;

• Focos de transporte intraurbanos: é o ponto de convergência do tráfego

urbano;

• Área de decisões: no núcleo central localizam-se as sedes de

instituições públicas, religiosas e comerciais.

Para o objeto de análise deste trabalho, as praças da área central de

Balneário Camboriú, somam-se às características de centro geométrico do

território, ou seja, existe uma posição de centro geográfico onde o crescimento

é mais observado.

O presente trabalho utiliza esses fatores para compreender a apropriação

das praças centrais de Balneário Camboriú que serão estudadas e analisadas

considerando-se algumas variáveis, conforme Jane Jacobs (JACOBS, 2012) e

adaptado para este trabalho:

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. LEGIBILIDADE: refere-se à facilidade de compreensão da estrutura das

praças estudadas. Uma cidade legível seria aquela cujos bairros, marcos ou

vias fossem facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo geral “Um

cenário físico vivo e integrado, capaz de produzir uma imagem bem definida,

desempenha também uma função social”. (LYNCH, 2011, p.3).

. VERSATILIDADE/DIVERSIDADE DE USOS: trata-se de como os espaços

públicos devem estar relacionados com a configuração dos elementos

edificados de forma tal que se possibilite a realização de atividades diversas.

. ATIVIDADES NO LOCAL: é a maneira como os espaços são interpretados

pelos indivíduos a partir da visualização de elementos que compõem a

orientação espacial.

. RIQUEZA PERCEPTIVA: está ligada às percepções sensoriais dos usuários e

leva em conta não somente a percepção visual, por ser a mais relevante, mas

o conjunto de outros sentidos.

. CONDIÇÕES DE SEGURANÇA: refere-se sobremaneira à forma com que os

indivíduos se apropriam dos espaços e como conferem algum significado de

ordem social.

2.10. ENTREVISTAS

Foram feitas oito entrevistas para esta dissertação durante o ano de 2015,

para melhor compreensão foram selecionadas três dessas, que se

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apresentaram com conteúdo importante para o trabalho. As demais apenas

corroboram com estas três e não apresentaram conteúdo aproveitável para o

fim proposto nesta pesquisa.

ENTREVISTA I. Entrevista do Secretário de Estado Sr. Gilberto Antônio Gadotti

ao autor desta pesquisa:

Pergunta: As praças da área central de Balneário Camboriú têm alguma

relevância na atividade turística da cidade?

Resposta:

As praças têm sim muita importância no contexto turístico da cidade,

porém a sua pouca utilização tem alguns fatores para considerar:

Temos uma rotatividade muito grande de moradores – segundo uma

pesquisa recente da Santur (Santa Catarina Turismo S/A) 43% da população

de Balneário Camboriú não reside mais do que 6 anos no município. As

pessoas não ficam por muito tempo na cidade. Como não formam muitos

vínculos, também não se apropriam do lugar.

Os moradores fixos têm muitas restrições aos usos dos espaços públicos –

aturam o barulho durante a temporada de verão, que parece inevitável, mas

não desejam grandes fluxos nas praças durante o ano, por temerem ser

incomodados.

O setor hoteleiro é responsável diretamente por um turismo de massa que

caracterizou desde o início a atividade deste segmento, assim como uma

ausência nas iniciativas do poder público local, ou seja, não participa do

processo de desenvolvimento se isto representar algum custo.

Os turistas que hoje frequentam a cidade, o fazem por um tempo menor do

que acontecia há algumas décadas. Balneário Camboriú se tornou centro

emissor para outros destinos, o que ocasiona uma redução significativa no

tempo de permanência nos espaços públicos fora da praia ou atrações

maiores.

Com este panorama desfavorável para as praças públicas, dificilmente um

espaço assim teria investimentos em infraestrutura para o turismo. No entanto

podemos observar a necessidade destes lugares para a população local, e até

mesmo visitantes ou turistas, quando uma pequena área do território está

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provida de equipamento e atrativos: fora desta faixa da orla os espaços

públicos com equipamentos de ginástica ao ar livre, de jogos e playground

estão sistematicamente sendo utilizados. É a prova de que são importantes,

necessários, mas precisam ser adequadamente mobiliados e mantidos.

Gilberto Antônio Gadotti. Secretário de Estado do Desenvolvimento

Regional SC. Gerente Regional da Fatma. Chefe de gabinete do Governador

do Estado SC. Secretário de Turismo de Balneário Camboriú SC. Diretor de

Planejamento e Pesquisa da Secretaria de Turismo.

Entrevista concedida em 24/03/2015

ENTREVISTA II. Entrevista com o ex-prefeito de Balneário Camboriú Sr. Álvaro

Antônio da Silva. Prefeito de Balneário Camboriú de 04/03/1969 a 02/10/1969.

Pergunta: Ex-prefeito Álvaro Silva, o senhor poderia nos relatar a história

do primeiro projeto de desenvolvimento de Balneário Camboriú?

Certamente. No pleito de outubro de 1965, Higino João Pio assumiu o

poder executivo como primeiro Prefeito eleito pelo povo, em sessão solene de

posse na sede do Camboriú Country Clube, onde simultaneamente, foi

instalado o primeiro período do poder legislativo municipal.

Com a morte do Pio (ex-prefeito Higino João Pio, morto pela ditadura

militar em março de 1969) assumimos o mandato interinamente, pois não havia

a figura do vice-prefeito na época, como presidente da Câmara Municipal me

coube essa função.

O Legislativo constitui uma Comissão Especial para pedir ao Governador

do Estado de Santa Catarina, que apresentasse ao Presidente da República o

meu nome, para continuar a administração dinâmica e eficiente iniciada em 4

de março de 1969, quando eleito pela Câmara em virtude do falecimento do

titular.

Neste período fizemos um projeto, baseado nos estudos iniciados na

gestão do Pio, onde propusemos algumas intervenções urbanas para atender

ao crescimento da cidade e preparar o território que já vinha sendo ocupado

rapidamente, por causa do fluxo turístico.

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Uma das características mais importantes daquele projeto, a preservação

das lagoas na área central de Balneário Camboriú, pretendia criar uma atração

utilizando os recursos da natureza. Estas riquezas naturais que jamais

deveriam ser modificadas, muito menos eliminadas, como fizeram as

administrações que nos sucederam. Em Miami, Estados Unidos, a paisagem

com lagoas naturais é um atrativo vendido para o mundo! South Beach tem

milhares de visitantes que vão ver as belas casas na beira das lagoas, pedalar

nas ciclovias e usufruir de toda esta beleza. Poderíamos ter algo assim aqui,

não fosse a mente estreita de alguns que preferiram aterrar o lugar, enterrando

definitivamente um patrimônio público inestimável.

Não só pelo valor como atração, compondo uma paisagem infinitamente

mais atraente do que as edificações concentradas na área central, mas como

recurso ambiental para manutenção de um bioma existente e que é necessário

para a vida do lugar. O que temos agora é uma área toda em risco constante.

Muitas vezes tivemos erosões nas vias públicas, como Avenida Brasil e

Avenida Alvin Bauer, com desmoronamento das calçadas e até parte das

próprias vias.

Nós pretendíamos uma prática do turismo melhor do que este turismo de

massa que caracteriza a atividade hoje em Balneário Camboriú. A cidade

deveria estar equipada com atrações construídas e naturais, visando a

sustentabilidade e não os ganhos somente, como tem sido feito. Com respeito

ao meio ambiente teríamos garantido o patrimônio por gerações!

Nota do autor: Para completar o mandato de Higino Pio, o presidente da

República Federativa do Brasil Arthur da Costa e Silva, nomeou Egon Alberto

Stein como Interventor Federal no município de Balneário de Camboriú, através

do Decreto Nº 64.868, de 24 de Julho de 1969, afastando o representante

legítimo, eleito pelo voto popular e democrático no pleito de outubro de 1965.

Sete vereadores foram eleitos, Álvaro Antônio da Silva elegeu-se entre os 14

candidatos, que disputaram os votos de 1800 eleitores. A sessão preparatória

para posse e eleição da mesa diretora, da 1ª Legislatura da Câmara de

Vereadores, foi realizada na sala de sessões da prefeitura, no dia 15 de

novembro de 1965.

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ENTREVISTAIII. ENGENHEIRO JORGE OTÁVIO CACHEL.

Engenheiro Civil, J. O. Cachel foi secretário de obras da PMBC na gestão do

Prefeito G. Meirinho, vereador por quatro vezes e presidente da câmara

municipal de Balneário Camboriú.

. Pergunta: Qual foi a sua participação na implantação da Avenida

Atlântica e posteriormente da Praça Almirante Tamandaré?

. Resposta: eu cheguei aqui em 1974 e o sr. Meirinho já era prefeito desde

1973, portanto, as obras já estavam iniciadas. Havia o decreto nº 707 de 17 de

fevereiro de 1974 que determinava uma faixa de areia de 6 metros de largura,

na orla da praia considerada como área de domínio útil, de utilidade pública.

Era preciso um embasamento legal para a implantação da Avenida Atlântica.

Para que a abertura fosse realizada, era necessário a desapropriação de

muitos imóveis e terrenos particulares e praticamente todos os proprietários se

mostraram contrários.

Ainda assim, os muros e casas foram derrubados , ato que para muitos foi

considerado como uma violência. O sr. Meirinho foi acusado de despotismo, de

violento e desrespeitoso. Levou bastante tempo para compreenderem suas

razões, para entenderem que aquilo era necessário e alguns até retiraram as

queixas que haviam sido feitas na justiça.

A verdade é que o sr. Meirinho pensou no futuro da cidade, ele respeitou não o

patrimônio privado, mas deu prioridade ao patrimônio coletivo, da humanidade.

. Pergunta: E com relação á Praça Almirante Tamandaré?

. Resposta: Eu não participei diretamente do episódio envolvendo a

Construtora. Como já falei, eu ainda não morava aqui. Quando cheguei as

estacas já estavam cravadas. Eu participei depois. Era vontade do prefeito

fazer a Praça, mas tinha os poderosos que se intitulavam donos de tal região.

Na época tinha um calceteiro, o Cândido, leal ao prefeito, pegava forte no

martelo. Então o sr. Meirinho, para segurar a Praça Almirante Tamandaré das

investidas dos poderosos, mandou o Cândido calçar, nem botou meio fio. Foi

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botando meio-fio e calçando atrás, em redor. Dobrava ali onde hoje está o

Hotel Mercury, fazia a volta contornando e saía de novo na Avenida Atlântica.

Um juiz mandou um oficial de justiça lá, mas nós passamos por trás, da forma

como está até hoje. É a coisa mais ridícula do mundo, mas ficou assim. Era

para firmar posição e preservar o patrimônio da Prefeitura e era para ser

consertado depois, mas ficou.

.Pergunta: Aquele contorno em volta da Praça?

. Resposta: É. Foi feito na ocasião só para proteger a área que fica de frente

para quatro ruas. Foi uma emergência e tava chegando a temporada e o sr.

Meirinho queria deixar tudo pronto. Aí começou o calçamento. De novo o oficial

de justiça foi lá tentar impedir. Ameaçou o Cândido com prisão, que rebateu:

“Então manda o patrão vir prá cá....Só paro se o patrão mandar”. E eu fui como

engenheiro da obra. Me neguei a assinar e mandei tocar a obra. Aí saiu uma

ordem de prisão, por eu ter desobedecido e o Cândido continuou trabalhando.

Quando o Prefeito soube, para chamar a atenção, tomou uma atitude extrema,

porque a briga era com o juiz. Ameaçou parar a cidade. “vamos parar a cidade

para chamar a atenção das autoridades, porque eu quero abrir a rua e o meu

poder aqui de prefeito, de postura (não posso usar) e o judiciário está querendo

impedir”...

Aí os caminhões saíram, mas encheram de terra toda a Avenida Atlântica.

Montanhas de terra para não passar ninguém. Fechou a Avenida Atlântica,

fechou tudo.

. Pergunta: Fecharam tudo?

. Resposta: Fechamos toda a Avenida Atlântica. Aí veio autoridade, veio o

Estado, veio polícia. “Só abro se a obra continuar, respondeu o Meirinho.

Senão vai ficar fechada”.

A temporada estava vindo, os hoteleiros tinham que faturar. Fechou, fechou e

estava fechada.

Esse foi o primeiro embate do judiciário com a Justiça. O outro foi com o

famoso Country Club, que era um prédio na praça. Ia ser um prédio de vinte

andares mas a obra já estava embargada e o contorno em volta já estava feito.

Aí a construtora entrou na Justiça e foi onde teve a participação da Marinha

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que já tinha feito de tudo para evitar a construção do prédio, porque o local era

de terras da Marinha e inclusive já era chamada de Praça Almirante

Tamandaré. Assim ficava mais fácil a marinha dar preferência ao público do

que ao particular.

A obra foi então embargada pelo Patrimônio da União que foi processado

juntamente com o sr. Meirinho e com a Prefeitura. Mas o Prefeito nunca cedeu

e com a ajuda da Marinha a confusão terminou, porque a Marinha mostrou

garra e ficou tudo certo.

3. ANÁLISE

3.1. PADRÕES ESPACIAIS E APROPRIAÇÃO NAS PRAÇAS.

3.1.1. Aplicação da Teoria da Sintaxe Espacial.

A Teoria da Sintaxe Espacial procura entender o funcionamento da relação

entre a configuração do espaço de cidades e as relações sociais que as

envolvem, em especial os fluxos e movimentos. Em se tratando de relações

sociais, no caso específico proposto, está sendo analisada a atividade turística,

e o envolvimento no processo histórico da cidade, aqui entendida como parte

importante da vida social de Balneário Camboriú.

A cidade possui uma população de 108.089 habitantes (IBGE, 2010), e na

temporada de verão atinge quase 1.000.000 de visitantes (SANTUR, 2012). A

parcela de moradores fixos é uma pequena porcentagem (cerca de 10% do

total de visitantes) e não têm o hábito de frequentar as praças da cidade,

conforme se revelou na pesquisa (anexos), por esses motivos os usuários das

praças encontrados durante a pesquisa são quase todos oriundos de outras

cidades. Esta condição fica mais evidente no verão, quando o volume de

usuários é muito maior, conforme gráficos da Tabela 3. A análise leva em

consideração as disparidades enormes entre a temporada de verão e o

restante do ano.

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O estudo aqui apresentado foi desenvolvido através da construção de

mapas de linhas axiais, traçando-se o menor número de linhas possíveis nos

espaços abertos de uso coletivo, até que todas as ilhas espaciais estejam

completamente envolvidas. O gradiente do potencial do movimento e

possibilidades de encontros dos usuários fornece um mapa de axialidade,

descrevendo uma comunidade virtual (já abordada neste capítulo), apontando

a apropriação dos espaços das praças.

A análise da integração das linhas axiais destaca os espaços mais

facilmente acessíveis, mais integrados e de domínio global, para os visitantes e

para os turistas, assim como ressalta os que desestimulam o fluxo, ou seja, os

espaços mais segregados.

Quando Bill Hillier e Julienne Hanson escreveram “A lógica social do

espaço” argumentaram que a movimentação e os fluxos obedecem a uma

lógica tal que, qualquer deslocamento é realizado pelo menor percurso e a

configuração influi nesses fluxos.

A configuração gera condições de acessibilidade e dá origem a uma

diferenciação hierarquizada, conceitos de integração e segregação. Nesta

pesquisa pretende-se analisar os espaços públicos da área central de

Balneário Camboriú utilizando esta teoria.

Antes de selecionar os espaços públicos a serem analisados nesta

pesquisa, adotou-se um critério de seleção dos espaços que possuíssem

características de integração global semelhantes. Dentro destes parâmetros

encontraram-se os espaços públicos:

1. Praça Almirante Tamandaré.

2. Praça Higino João Pio.

3. Praça da Bíblia.

4. Praça Kurt Amann.

Para análise destes espaços serão utilizados os atributos descritos por

Gabriela de Souza Tenório (TENÓRIO, 2012), selecionando os que se

observam como muito importantes da utilização destes espaços, tais como:

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Legibilidade, Versatilidade/Diversidade de usos, Atividades no local, Riqueza

perceptiva, Condições de segurança, já descritas anteriormente neste trabalho.

A proposta metodológica para este trabalho inclui a utilização de variáveis

e respectivas classificações em níveis de apropriação, conforme o volume de

pessoas encontradas no espaço pesquisado. O registro da verificação in loco

se faz quantitativamente, anotando o intervalo em valor numérico para a

amostra populacional.

Nesta avaliação ficam evidenciados os espaços com classificação numérica

maior como aqueles cuja apropriação é mais favorável. Para avaliação da

atividade turística nos espaços públicos, tomaram-se como referência as

variáveis que analisam o perfil de usuário com relação à utilização/apropriação.

A avaliação do espaço público, as variáveis dizem respeito aos atributos

globais e locais. Nos atributos globais as variáveis referem-se à quantidade e

dimensões dos espaços livres, mobilidade e usos, além da medida sintática da

integração global. Já para os atributos locais, as variáveis referem-se às

dimensões econômicas, bioclimáticas, funcionais e sociais (TENÓRIO, 2012).

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Figura 16. Mapa da axialidade de Balneário Camboriú

Fonte: Adaptado de SKAELEE, 2009.

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Figura 17. Mapa da axialidade da área central de Balneário Camboriú.

Fonte: Adaptado de SKAELEE, 2009.

A presença das praças em um mapa axial não está representada por um

único elemento específico, mas aparece como um complexo de linhas

convergentes nesse espaço. As Praças Almirante Tamandaré e Praça Kurt

Amann estão bastante integradas por suas localizações na orla, em espaços

abertos para a Avenida e para a faixa de areia da praia central, com acessos

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facilitados por passarelas elevadas na Avenida. As áreas de maior fluxo de

movimento correspondem às vias mais integradas do sistema viário, reforçando

localmente os atributos propícios a uma apropriação dos espaços públicos.

A distribuição dos valores de integração vindos da análise configuracional

do mapa axial demonstra que algumas linhas urbanas convergentes nas

praças são incluídas no núcleo de integração do assentamento, ou seja, o

sistema todo está bem integrado, mais de uma linha convergente na praça está

diretamente ligada com as linhas mais integradas de todo o sistema; o que

representa um indicativo da vitalidade urbana.

Os espaços mais segregados no mapa axial estão localizados nas

extremidades do território, coincidindo com as áreas de topografia mais

acidentada e regiões de expansão recente. O núcleo integrador fica localizado

nas avenidas paralelas à praia, como Avenida Atlântica, Avenida Brasil e 3ª

Avenida. As praças pesquisadas fazem parte da porção do território com alta

densidade construída, fazendo com que os espaços públicos estejam dispostos

como vazios na massa edificada, porém com portais propícios para

apropriação.

Para o levantamento e avaliação da vida social, aqui entendida como

atividade turística nos espaços das praças, alguns critérios foram adotados

para que a coleta de dados propiciasse uma análise comparativa entre os

espaços, com condições idênticas de período, horários, condições

meteorológicas e sem eventos especiais. Por serem espaços abertos, sem

cobertura de proteção, as intempéries poderiam modificar as medições, foram

escolhidos os dias secos e sem chuvas, sendo três dias em outubro de 2015,

dias 12, 13 e 14/10/2015 e três dias em janeiro de 2016, dias 11, 12 e

13/01/2016.

Os horários escolhidos foram 10, 12, 16, 20 e 22 horas, onde a frequência

é significativa na maioria dos casos, que por observação prévia, foi possível

detectarem os fluxos de usuários nas praças. Com duração de 10 minutos cada

medição, para estas medições foram levados em conta apenas os que

realmente utilizavam os espaços, não sendo contabilizados os passantes,

servidores públicos e agentes de segurança, pois o objetivo do trabalho é

analisar a frequência de visitantes ou turistas. Na tabela 3 abaixo está expresso

em gráfico a apropriação nas horas e dias pesquisados.

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Tabela 3. Apropriação nas Praças da área central de Balneário Camboriú

PLANILHA 1

PLANILHA 2

Praça Almirante Tamandaré

12/13/14/10//2015

Praça Almirante Tamandaré

11/12/13/01//2016

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PLANILHA 3

PLANILHA 4

Praça Higino João Pio

11/12/13/01//2016

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PLANILHA 5

PLANILHA 6

Praça da Bíblia

12/13/14/10//2015

Praça da Bíblia

11/12/13/01/2016

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PLANILHA 7

PLANILHA 8

Fonte: Elaboração do autor.

Praça Kurt Amann

12/13/14/10//2015

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Fonte: elaborado pelo autor.

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Tabela 5. Média das apropriações das praças centrais de BC.

Fonte: elaboração do autor

As Praças Higino João Pio e Praça da Bíblia têm localização próxima uma

da outra, possuindo um contexto semelhante de espaços enclausurados, como

vazios na massa edificada, porém com muitos “portais” de acesso e tangentes

às avenidas centrais. A integração destes espaços se apresenta como de

menor valor, mas com atributos para uma apropriação cotidiana para o turismo

e população local. O contexto das praças Tamandaré e Kurt Amann, no

entanto, é diferente das primeiras, pois se situam na orla, beneficiando-se do

atrativo maior da cidade, que é a praia. Em consequência desta localização,

têm um número alto de visitantes durante a temporada de verão e em eventos.

Os espaços públicos das praças de Balneário Camboriú são resultado de

um processo histórico cumulativo, decorrente da ocupação desordenada, onde

os interesses privados e máximo aproveitamento do território para lucro

imobiliário. Mais do que projetos de áreas de lazer, estão mais próximos de

aproveitamentos de parcelas sobrantes do sistema viário, utilizados como

atrativos para turistas e moradores locais. É possível observar pelos gráficos

apresentados na Tabela 3, que a apropriação acontece no período de

temporada de verão, atingindo patamares altos e constantes. Porém, nos

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meses restantes do ano, a frequência é muito baixa, revelando o pouco

interesse da população local pelas praças, na forma em que estão atualmente.

A exploração turística constituiu o fator determinante das transformações

que Balneário Camboriú sofreu desde a década de 70, com a atividade

econômica aquecida pelo turismo e também por fatores de infraestrutura, como

a BR 101, integrando geograficamente a região e a implantação das principais

vias da cidade. Estas modificações na estrutura urbana impõe um novo modelo

de reprodução espacial, definindo-se uma urbanização turística.

A urbanização imprime uma lógica própria no cotidiano, condição que se

associa à criação da vida e é transformada por ela. Embora o turista esteja em

trânsito, colabora com a definição da vida local, ampliando as transformações

e, sendo acolhido estabelece a hospitalidade. “O espaço não pode ser reduzido

a uma localização ou às relações sociais da posse de propriedade – ele

representa uma multiplicidade de preocupações sociomateriais” (LEFEBVRE,

1991).

A atividade turística tem uma base espacial para seu desenvolvimento,

sendo uma estrutura apontada pela análise sintática como positiva e propícia

ao desenvolvimento, incentivador das relações entre grupos sociais e que

poderia utilizar-se de sua memória histórica para oferecer conhecimento aos

visitantes e turistas, além do lazer que já dispõe.

A seguir se apresentam os atributos locais de cada uma das praças,

atribuindo valores, de acordo com o número de elementos encontrados

referentes a cada atributo.

3.1.2. Praça Almirante Tamandaré

A praça está localizada no centro geométrico e geográfico da praia central

de Balneário Camboriú, e é um “marco” (LYNCH, 2011), referência da cidade,

auxiliando na leitura do tecido urbano. Na última revisão estética e funcional em

2013, adotou-se o espaço cívico como conceito, o espaço vazio, livre para

eventos, porém com ênfase na circulação e lazer passivo. O conceito de

espaço livre desenvolve-se como ordenamento espacial produzindo a

dissolução da praça tradicional, como menciona Junia Caldeira (2007, p.8). A

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questão formal é predominante, pois existe um grafismo, que se observa

apenas do alto, orientando o fluxo. Possui poucos equipamentos, o que tem

permitido a apropriação para a prática de skate, assim como manifestações

públicas de toda ordem.

Figura 18. Praça Almirante Tamandaré

Fonte: Registro do autor

Legibilidade.

Existe uma facilidade de compreensão da estrutura deste espaço, pois o

olhar abrange toda extensão, independente do ponto que se posicione, é

possível enxergar toda praça. Tem uma configuração muito simples e

geométrica, com pouco mobiliário urbano. Possui um cenário de vazio urbano,

com alguns elementos de uso nas bordas, liberando o centro para

manifestações. “é capaz de produzir uma imagem bem definida, desempenha

também uma função social” (LYNCH, 2011, p.3). É um lugar de referência, pela

localização central e por ter acessos facilitados, pela Avenida Atlântica, pela

praia ou pela Rua 51, ortogonal à praça.

Para utilizar uma medição de legibilidade, utilizou-se de uma revisão de

instrumento de avaliação de acessibilidade espacial (SOUZA, et al, 2014) e dos

exercícios de elaboração de indicadores de turismo (GRENOVER, 2007), onde

os componentes do espaço são pontuados pela existência de informação,

infraestrutura, iluminação urbana (auxilia na visualização), e imagem

considerada pelos visitantes.

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Na avaliação no local, verificou-se que não há informação disponível sobre

a praça, o monumento não possui placa, a localização só é percebida pela

morfologia diferente do restante do calçadão da avenida. A infraestrutura de

praça está resumida em bancos e jardins ainda não formados pela vegetação

recém-plantada. A iluminação urbana é formada pelo sistema convencional de

ruas, auxiliado pelo da orla, com lâmpadas de vapor metálico e ainda doze

postes de iluminação mais baixa, especial para praça. A imagem considerada

pelos visitantes verificou-se positiva, pela pesquisa no local (anexos),

apontando uma aprovação, com respostas de desaprovação frequentes

apenas na população local.

Figura 19. Praça Almirante Tamandaré do alto

Fonte: Arquivo Histórico de BC.

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Versatilidade / Diversidade de usos

A praça tem uma vocação bem definida: presta-se essencialmente para

eventos. Porém tem sido utilizada com frequência por skatistas e por alguns

idosos nos jogos de mesa. Já na faixa de areia há uma cancha de bocha

utilizada regularmente. Durante a temporada de verão costuma instalar-se um

comércio de pequenos objetos e comidas.

No mapa do Geoprocessamento, da Prefeitura Municipal de Balneário

Camboriú observa-se o uso do solo em torno da praça, com um raio de 200

metros de abrangência.

Figura 20. Área de avaliação do uso do solo.

Fonte: Geoprocessamento da PMBC

O local da praça é de alta densidade construída, com edifícios de gabaritos

livres, alguns com mais de 30 pavimentos. A maior parte das edificações tem

uso residencial, com exceções raras, tais como edifícios de garagem, hotéis,

edifícios mistos com escritórios e apartamentos.

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Atividades no local

A Praça Tamandaré tem poucas atividades, compensadas pela localização

junto à praia, o que se constitui em atrativo suficiente para a permanência no

local de pessoas que usam a praça como ponto de encontro. Os skatistas

utilizam com frequência, por encontrarem ali um espaço amplo e pavimentado

para seu uso. Os idosos costumam utilizar para jogos de mesa, e há também

uma cancha de bocha na faixa de areia junto da praça. Durante a temporada

de verão, um comércio ambulante se instala na praça, vendendo pipoca,

cachorro-quente e outras variedades de comidas e bebidas. No entorno da

praça, separados pela avenida, o comércio de comidas e bebidas movimenta

um fluxo constante de turistas.

Riqueza perceptiva

A atratividade das vistas está garantida pela paisagem natural da praia,

sem barreiras que se interpõem, vista para o mar é a maior riqueza perceptiva.

Os jardins poderão vir a ser, quando as novas plantas se desenvolverem. No

sentido Norte – Sul, o calçadão da avenida garante um fluxo constante de

transeuntes junto da praça, o que se constitui em atrativo para muitos turistas.

Na face oeste, oposta ao mar, estão os edifícios altos, formando uma grande

barreira de concreto, o que produz muitas críticas à cidade, por ter permitido

uma massa de edificações muito próxima da praia. O monumento ao

homenageado Almirante Tamandaré está em ótima conservação, embora não

tenha nenhuma identificação no local.

Condições de segurança

Jacobs (2000) refere-se à segurança necessária para um espaço público,

como os “olhos da rua”, que é a situação onde se mantém uma quantidade de

pessoas presentes nas imediações. O contato visual que deve existir entre as

edificações e os espaços públicos. As janelas e portas voltadas para a praça

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garantem certa segurança. Existem centenas de janelas voltadas para a praça,

e dezenas de portas de comércios. A praça tem portais em todas as direções,

sendo apenas a face oeste de acesso através da faixa de rolagem da Avenida

Atlântica, com travessia elevada, onde existem restrições ao pedestre.

Um posto de polícia militar nesta praça garante a segurança do lugar.

Figura 21. Portais da Praça Tamandaré

Fonte: elaborado pelo autor

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3.1.3. Praça Higino João Pio

Figura 22. Praça Higino João Pio

Fonte: registro do autor

Legibilidade.

A Praça Higino João Pio tem características próprias, como o vazio

“escavado” entre edifícios altos. A praça fica enclausurada entre paredes, com

entrada e saída no sentido norte-sul, descortinando suas formas à medida em

que se adentra o ambiente, que oferece bancos, jardins e play-ground. É a

praça com menor apropriação durante o ano todo (Tabela 3). Porém sua

legibilidade está facilitada por equipamentos de praça, iluminação diferenciada

e pavimentação identificadora.

Versatilidade / Diversidade de usos

Com relação ao uso do espaço, tem comércio, feiras e residências em

grande quantidade, predominando os edifícios altos residenciais no entorno. No

raio de 200 metros da praça estão estabelecidos comércios variados e serviços

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públicos. Na praça o uso mais frequente encontrado foi o lazer com animais de

estimação, ou seja, os passeios com cachorros e o uso do playground.

As feiras e exposições são frequentes neste lugar, o grande espaço

disponível e a localização central propiciam o uso para estas atividades.

Algumas atividades comerciais itinerantes também costumam ser instaladas

por tempo determinado nesta praça, tais como vendas de produtos artesanais

e tatuagens.

Figura 23. Área de avaliação do uso do solo.

Fonte: Geoprocessamento da PMBC

Atividades no local

As atividades mais frequentes na praça são os passeios com cães e uso do

playground. Na entrada norte da praça existem comércios de comida e bebida,

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valendo-se da proximidade da Avenida Alvin Bauer, onde o fluxo de pessoas é

grande causado principalmente pelo Shopping Atlântico na quadra seguinte ao

norte e pela praia a uma quadra de distância ao leste.

Riqueza perceptiva

Os jardins da Praça Higino João Pio são os elementos mais percebidos,

seguidos pelo playground, que embora seja pequeno e com poucos

equipamentos, além do monumento em homenagem ao ex-prefeito que deu

nome à praça, são as riquezas percebidas no lugar.

Condições de segurança

A pequena frequência na praça e a distância longa das ruas adjacentes

conferem pouca segurança ao lugar. As janelas voltadas para ela também

estão relativamente distantes pra que se configurem como “olhos da rua”

(JACOBS, 2012). Uma galeria faz a ligação entre a Avenida Atlântica e a praia

por dentro do pavimento térreo do edifício. A galeria facilita o acesso, pois a

praça tem apenas duas vias que permitem chegar até o espaço público, pela

Avenida Alvin Bauer no lado norte e pela Rua 55, no lado sul. É um espaço

com pouca atividade noturna, os poucos estabelecimentos comerciais ficam na

extremidade norte e não permanecem em atividade durante o ano todo,

restringindo-se aos meses de temporada de verão.

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Figura 24. Portais da praça Higino João Pio

Fonte: elaboração do autor

3.1.4. Praça da Bíblia

Figura 25. Praça da Bíblia

Fonte: registro do autor

Legibilidade.

De todas as praças pesquisadas a Praça da Bíblia é a que mais se

aproxima da descrição coletada nas pesquisas aqui realizadas (anexos) como

“praça ideal”. Contra ela pesa a sua localização ao lado do Shopping Atlântico

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e a uma quadra da praia. Apesar dos equipamentos como coreto de praça,

feira de produtos artesanais, bancos, jardins, playground desmontável e duas

academias ao ar livre, a apropriação é baixa durante o ano todo, conforme se

observa na Tabela 5.

Esta praça é muito longa e estreita, fruto de uma área conquistada em

litígio, conforme já descrito neste trabalho, e por ser longa, estreita e curva não

se visualiza por inteiro de quase nenhum ponto de seu espaço.

Versatilidade / Diversidade de usos

A Praça da Bíblia ou Praça 20 de Julho, como é a denominação oficial, tem

uma grande diversidade de uso, pela proximidade do Shopping Atlântico, pela

extensão de quase meio quilômetro, assim como pelos acessos vicinais.

Como em toda área central da cidade, também aqui os edifícios

residenciais são a maioria da utilização do solo, e os pavimentos térreos são

destinados ao uso comercial. A praça possui muitos espaços lúdicos, como as

arquibancadas de teatro grego, o coreto, as academia, feira e playground

Figura 26. Área de avaliação do uso do solo.

Fonte: geoprocessamento PMBC

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Atividades no local

As duas academias ao ar livre dispostas nas extremidades da praça são os

equipamentos mais utilizados e a atividade física é constante nos meses de

verão, principalmente. O playground com peças infláveis só permanece

montado durante o verão, deixando o público infantil sem opções no restante

do ano. Os skatistas também utilizam a praça para a prática, aproveitando o

isso com pavimentação lisa e uniforme. Compras na feirinha é uma atividade

que, embora dependa da sazonalidade, pois não fica em funcionamento

permanente.

Riqueza perceptiva

Esta praça possui equipamentos, jardins, bancos iluminação adequada e

revestimentos em boas condições de uso. Seu maior patrimônio está na

infraestrutura de praça tradicional, com bancos, sombras de árvores, e

localização privilegiada. O monumento da Bíblia também é uma das riquezas

percebidas.

Condições de segurança

Este item tem valor baixo, pois a segurança da Praça da Bíblia está

prejudicada por um grande paredão dos fundos dos edifícios, no lado leste.

Durante a temporada de verão existe uma apropriação que atinge um número

de pessoas expressivo (250, conforme a Tabela 3), porém no restante do ano é

um espaço quase vazio na maior parte do tempo. Está localizada junto de uma

avenida e em frente a uma atividade intensa de shopping center.

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Figura 27. Portais da Praça da Bíblia

Fonte: elaborado pelo autor

3.1.5. Praça Kurt Amann

Figura 28. Praça Kurt Amann

Fonte: registro do autor

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Legibilidade.

A praça possui portais que identificam as entradas/saídas e tem quase todos

os itens apontados pelos entrevistados nesta pesquisa como necessários para

uma praça ideal: bancos, sombra de árvores, iluminação adequada para praça

pública, jardins, academia ao ar livre, monumento e comércio de bebidas e

comidas. O reconhecimento como um espaço de lazer é imediato, por uma

imagem bem definida, cuja função inequívoca é o lazer.

Figura 29. Portal de entrada da praça Kurt Amann

Fonte: croquis do autor

Versatilidade / Diversidade de usos

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O entorno da praça é constituído de edifícios residenciais altos e de

comércio de comidas e bebidas. Como é uma praça instalada no calçadão da

Avenida Atlântica, junto à praia, as atividades de praia estão dispostas

próximas ao lugar. O posto de salva-vidas que atende esta porção de praia é

um marco da avenida beira-mar associado à praça.

Figura 30. Área de avaliação do uso do solo.

Fonte: Geoprocessamento da PMBC

Atividades no local

A academia ao ar livre instalada na areia da praia, junto à praça atrai

muitos visitantes, assim como o quiosque de comidas e bebidas. A praça conta

ainda com chuveiro público e posto de salva-vidas.

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Riqueza perceptiva

O monumento “Mão do trabalhador que move o mundo” é uma das

riquezas percebidas imediatamente ao olhar o espaço, Assim como a

vegetação exuberante dos jardins da praça. A praça possui um mobiliário

urbano como bancos, lixeiras, iluminação de praça pública, e comércio de

comidas e bebidas.

Condições de segurança

As condições de segurança estão garantidas por um número grande de

prédios residenciais e estabelecimentos comerciais de frente para a praça. Por

ser um ambiente aberto, e com portais em todas as direções, junto da avenida

beira-mar e contar com a corporação dos bombeiros dentro da praça, no posto

de salva-vidas, apresenta boas condições de segurança.

Figura 31. Portais da Praça Kurt Amann

Fonte: elaborado pelo autor

Na tabela 7, estão registrados os valores de acordo com o número de elementos

encontrados para cada atributo. Estes valores estão expressos em uma escala que

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varia de 0 até 5, sendo este o número máximo de elementos relacionados ao

correspondente atributo trabalhados nesta pesquisa.

Tabela 6. Valores dos atributos nas praças

Atributo T

Praça

Almirante

Tamandaré

P

Praça

Higino

João Pio

B

Praça da

Bíblia

K

Praça Kurt

Amann

LEGIBILIDADE 2,5 3 2,5 4

VERSATILIDADE/DIVERSIDADE DE USO 5 4 5 4

ATIVIDADE NO LOCAL 3 3 3 4

RIQUEZA PERCEBIDA 4 3 3 5

CONDICOES DE SEGURANCA 5 1 2 4

Fonte: Elaborado pelo autor

3.2. ANÁLISE COMPARATIVA

Para a análise comparativa apresentam-se aqui os gráficos que analisam

os atributos em relação à apropriação das praças pesquisadas. Elaboraram-se

então gráficos com a população das praças no período da temporada de verão,

em janeiro de 2016 e gráficos com os dados do mês de outubro de 2015,

relacionando a legibilidade, versatilidade/diversidade de usos, atividades no

local, riqueza perceptiva e condições de segurança.

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Tabela 7. Análise comparativa Atributo X Apropriação

Fonte: Elaborado pelo autor

Nesta tabela (Tabela 7) é possível demonstrar que uma boa legibilidade

corresponde a uma proporcional apropriação. A exceção é a Praça Higino João

Pio que, por estar um uma localização desfavorável, enclausurada entre

edifícios altos e não dispor de fortes atrativos, não possui uma apropriação alta.

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Tabela 8. Análise comparativa Atributo X Apropriação

Fonte: Elaborado pelo autor

A versatilidade e a diversidade de usos estão diretamente relacionadas

com a apropriação das praças. Como se observa na Tabela 7, as praças com

maior valor do atributo são as que têm apropriação correspondente maior.

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Tabela 9. Análise comparativa Atributo X Apropriação

Fonte: Elaborado pelo autor

A tabela 8 demonstra que as atividades no local provavelmente influenciam

na apropriação das praças, pois no gráfico exposto as praças com maior valor

de atividades no local correspondem às com maior apropriação. Nas medições

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feitas durante o mês de outubro de 2015, poucas atividades foram registradas

nas praças pesquisadas da área central da cidade.

Tabela 10. Análise comparativa Atributo X Apropriação

Fonte: Elaborado pelo autor

A riqueza perceptiva se relaciona aparentemente com a apropriação das

praças, conforme se observa na tabela 9, As praças com valor alto de riqueza

perceptiva também possuem alta apropriação. A Praça da Bíblia apesar de

possuir um bom patrimônio edificado e um número razoável de equipamentos,

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não alcança bons resultados de apropriação, possivelmente pela proximidade

do shopping center e da praia, como já foi analisado anteriormente.

Tabela 11. Análise comparativa Atributo X Apropriação

Fonte: Elaborado pelo autor

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As condições de segurança estão condicionadas às apropriações das

praças, conforme é possível identificar nos gráficos apresentados, ressaltando

que um número expressivo de transeuntes nas praças, ruas e avenidas

adjacentes.

3.2.1. Combinação de atributos locais.

Para que seja possível uma visualização mais clara sobre o fenômeno da

apropriação, elaboraram-se gráficos combinando os atributos locais já

avaliados, de modo que a maior área coberta no gráfico corresponde a uma

melhor combinação dos valores encontrados nas praças centrais da cidade.

Tabela 12. Combinação de atributos

Gráfico 1

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Gráfico 2

Gráfico 3

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Gráfico 4

Fonte: Adaptado de CABRAL, 2015.

Nestes gráficos acima pode ser observada a combinação de atributos nas

praças, sendo evidenciada a Praça Kurt Amann, com maiores valores nos

atributos e a correspondente maior apropriação encontrada nesta pesquisa. Em

seguida a Praça Almirante Tamandaré, com a segunda maior combinação de

atributos e a segunda maior apropriação, coincidindo assim os dados e

corroborando com o a premissa de que uma boa apropriação está relacionada

com uma boa combinação de atributos. Porém poderia ser uma simplificação

ou um reducionismo apontar apenas os atributos locais pesquisados como

responsáveis pelo desempenho do espaço público, desprezando algumas

condições que influenciam nas escolhas humanas.

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As praças pesquisadas têm uma história que conduz a uma apropriação

determinada pelos interesses políticos e econômicos, ou seja, as estruturas

espaciais não se desenvolvem separadamente do modelo social (SOJA, 2007),

mas emergem das relações sociais de produção.

3.3. ANÁLISE DO DISCURSO DAS ENTREVISTAS

A análise dos discursos das entrevistas desse trabalho está orientada por

um suporte teórico da linha francesa, que “articula o linguístico com o social e o

histórico”, interpretação fundada pela intersecção de epistemologias distintas,

pertencentes a áreas da linguística do materialismo histórico.

O processo de análise discursiva procura interrogar os sentidos

estabelecidos em diversas formas de produção, que podem ser verbais e não

verbais, bastando que sua materialidade produza sentidos para interpretação;

constituído pela seguinte formulação: ideologia+história+linguagem.

A ideologia é entendida como o posicionamento do sujeito quando se filia a

um discurso, a história representa o contexto sócio histórico e a linguagem é a

materialidade do texto produzindo o sentido que o sujeito pretende dar. A

questão do tempo é vista por outros ângulos diferentes comumente se

encontra, busca os seus efeitos, as conexões “laterais” para explicar os

fenômenos.

O fato de que os eventos sejam ao mesmo tempo espaciais e temporais

não significa que se pode interpretá-los fora de suas próprias determinações ou

sem levar em conta a totalidade da qual elas emanam e que eles reproduzem.

O espaço social não pode ser explicado sem o tempo social (Santos, 2002, p.

252).

“As relações sociais de produção só existem socialmente na medida em que

existem espacialmente” (SOJA, 2007).

Tudo que existe articula o presente e o passado, pelo fato de sua própria

existência, um enfoque espacial isolado ou um enfoque temporal isolado são

ambos insuficientes. Para compreender uma qualquer situação necessitamos

de um enfoque espaço-temporal (SOJA, 2007).

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Nas entrevistas dos atores que participaram do início da urbanização de

Balneário Camboriú, é possível observar o que existe o sentimento de

frustração com os destinos dados ao território que se tornava destino turístico.

“Estas riquezas naturais que jamais deveriam ser modificadas, muito menos

eliminadas, como fizeram as administrações que nos sucederam” – comentário

do ex-prefeito Álvaro Silva. “O setor hoteleiro é responsável diretamente por um

turismo de massa que caracterizou desde o início a atividade deste segmento,

assim como uma ausência nas iniciativas do poder público local, ou seja, não

participa do processo de desenvolvimento se isto representar algo desembolso”

comentário de G. Gadotti, sobre o destino do turismo praticado na cidade. “Era

vontade do prefeito fazer a Praça, mas tinha os poderosos que se intitulavam

donos de tal região”, na fala do ex-secretário de obras da prefeitura municipal,

engenheiro J. Cachel, o embate entre o poder constituído e o capital que se

apoderava de partes importantes do território, no início da urbanização, nos

anos 70.

As mudanças de hábitos na cidade, com a chegada de turistas, envolvem

relações dinâmicas que configuram novos valores, ligados à hospitalidade.

Essa questão, de aparente simplicidade, tem suas contradições eminentes na

própria condição de reprodução de capital. Tal condição propicia a definição de

um novo modelo de reprodução espacial do turismo baseado no

desenvolvimento econômico do local. Os investimentos se voltam para o

retorno possível dentro da atividade turística. Define-se, desse modo, uma

urbanização turística.

“É incômodo constatar a incerteza e a perplexidade a respeito

do futuro das cidades, que favoreceram o nascimento de um

modelo de gestão urbana que não considera o volume

espantoso de conhecimentos, de criatividade e de capacidade

de inovação dos movimentos sociais empenhados na

construção de algo em que se possa consolidar uma

verdadeira cultura urbana” (GRINOVER, 2007,p.119).

A urbanização engendra lógicas, no cotidiano, para o assentamento e a

permanência da sociedade sobre um determinado espaço. Esta condição se

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associa à criação da vida, do cotidiano, das formas de mobilidade sociais

verticais e horizontais. Constata-se a urbanização turística pelas

transformações do espaço apropriado pelo visitante. Embora em trânsito, em

condições como de definição de fluxos pela cidade, o visitante colabora para

definir uma sociedade de consumo e um cotidiano de acolhimento temporário.

“(...) propusemos algumas intervenções urbanas para atender ao

crescimento da cidade e preparar o território que já vinha sendo ocupado

rapidamente, por causa do fluxo turístico” Ex-prefeito A. Silva. Nesta fala do

gestor público, observa-se a consciência de que preparar a cidade é

necessário, não apenas receber, mas tornar apto ao visitante, e que esta era

uma demanda das populações representadas.

“O espaço não pode ser reduzido apenas a uma localização ou às relações

sociais da posse de propriedade – ele representa uma multiplicidade de

preocupações sociomateriais” (LEFEBVRE, 1974, p.127).

O espaço, um local fisicamente definido, também é uma liberdade essencial

e uma expressão geográfica (NICOLAS, 1999). Diante dessa premissa, poderia

ter grande significado o estudo dos espaços públicos vistos como frutos de

forças sociais, mas que se constituem também em um produto. Assim, propõe-

se um estudo das relações do espaço com o turismo, baseado na análise do

espaço social.

O turismo se define como uma prática social coletiva que interage com o

espaço, através do deslocamento, embora seja uma prática geradora de

atividade econômica, não se restringe a este aspecto, propiciando ganhos de

toda ordem, quando devidamente planejado e respeitando-se a

sustentabilidade. Na entrevista do ex-prefeito Álvaro Silva, ele encerra sua fala

com esta conclusão:

“A cidade deveria estar equipada com atrações construídas e naturais, visando a sustentabilidade e não os ganhos somente, como tem sido feito. Com respeito ao meio ambiente teríamos garantido o patrimônio por gerações!” A. Silva.

“O espaço não é um reflexo da sociedade, ele é a sociedade” (SOJA,

2007). As formas espaciais são produzidas como são produzidos todos os

objetos, pela ação humana. Expressam e executam os interesses de grupos e

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de um Estado numa sociedade definida pelos processos de dominação.

Organizados de forma ideológica, a estrutura espacial humana é um produto de

construção social, da mesma maneira que a história humana representa uma

transformação social do tempo.

É possível perceber nas falas dos entrevistados que apontam para os

problemas acerca da influência dos condicionantes e variáveis importantes na

construção de Balneário Camboriú na vida contemporânea. Apontam

características formais do espaço que vem se desenvolvendo à margem de um

efetivo processo de planejamento que integre ações individuais em um projeto

coletivo de cidade levando a problemas urbanos e ambientais: degradação de

ecossistemas naturais, contaminação dos rios e mar e comprometimento da

balneabilidade.

O espaço é um produto social, resultado de ações acumuladas no tempo e

sobre a dinâmica das relações sociais e interesses públicos ou privados vão se

construindo o território da vida cotidiana, assim o espaço público possui

atributos que são propícios ou restritivos às relações de trocas sociais. É

possível que as praças estejam no papel de salvaguardas da urbanidade,

garantindo o que se mantém vivo dos espaços de trocas e experiências em

ambiente democrático.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo do processo político-histórico e espacial de apropriação das

praças da área central da cidade de Balneário de Camboriú e a contribuição

destas para com a atividade turística, resgatando o processo de construção da

cidade, pode se constituir em um passo importante na formação de uma

consciência acerca da importância da história para o entendimento das

estruturas urbanas de um destino turístico muito valorizado.

A importância da história tem origem ideia de que ela representa um

enriquecimento notável, desde que sejam evitados alguns erros comuns, tais

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como subordinar a história das representações a outras realidades, as únicas

às quais caberia um status de causas primeiras (realidade materiais,

econômicas, etc) – renunciar à falsa problemática simplista ou reducionista,

mas também não privilegiar as novas realidades, não lhes conferir um papel

exclusivo de motor da história. Uma explicação histórica eficaz deve

reconhecer a existência do simbólico no interior de toda realidade histórica

(incluída a econômica), mas também confrontar as representações históricas

com as realidades que elas representam e que o pesquisador apreende

mediante outros documentos e métodos.

Para o planejador o conhecimento da história dará certa confiança na

direção que deverá traçar ao projetar os espaços urbanos. Para o cidadão a

história confere identidade e o sentimento de pertencimento ao lugar. Para o

turismo acrescenta um componente atrativo e enriquecedor que está na própria

definição do turismo, a troca de informações e experiências entre as pessoas

envolvidas.

A história destas praças, iniciando com o primeiro plano diretor da cidade

até a atualidade, mostra um contexto de grandes equívocos, desde o aspecto

ambiental, com o ambiente modificado em função do crescimento rápido e que

prestigia os empreendimentos da construção civil, até problemas de caráter

ideológico, com a inspiração modernista na concepção urbana contida no

projeto de 1974, que inspirou o desenho das praças com grande dimensão

morfológica, mas transformadas em espaços vazios, desarticulados do

cotidiano, sendo utilizadas apenas para eventos da atividade turística.

Partindo-se do pressuposto de que estes espaços se configuram como

agentes de formação para a imagem turística da cidade devido ao fato de ali

congregarem uma significativa quantidade de pessoas e onde são realizadas

manifestações de toda ordem, no entanto não foram observados indícios de

que as praças fomentem o turismo de Balneário Camboriú.

O que ficou evidenciado é uma relação inversa: o turismo amplia a

utilização das praças da área central da cidade.

A população local pouco se apropria desses espaços e para o turista existe

uma função meramente funcional: as praças são referências e enquanto não

são providas de atrações, pouco contribuem para a atividade turística.

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A análise levantou a questão da apropriação dos espaços públicos,

ressaltando que alguns atributos locais como riqueza perceptiva e atividades

locais são fundamentais para a apropriação das praças, assim como o

processo político histórico que se revelou importante na construção da imagem

turística da cidade, embora pouco explorado, observou-se demanda pela

manutenção da memória da cidade e utilização dessa memória para o turismo.

No entanto pouco se investiu nestes espaços para torna-los lugares com

acessibilidade, fornecem pouca legibilidade, por possuírem signos sem muita

definição. Também não se percebem identidades próprias: análise das práticas

e representações presentes nos espaços leva a perceber que o sentimento de

pertencimento ao local ainda não tem respostas como identidade própria ou

apropriada.

Porém, cabem ainda novos estudos que aprofundem a questão centrada

nos territórios e nas suas especificidades, onde se destaca o património e os

valores patrimoniais. Outros espaços públicos de praças na área urbana de

Balneário Camboriú possuem características totalmente diversas destas aqui

pesquisadas.

A valorização e promoção destes espaços, tornando-os acessíveis,

legíveis e identificados, atendendo a população local, pode ser um modo de

galgar níveis de qualidade na atividade turística, dispondo de lugares com

condições excelentes para receber turistas e atender à população local.

Balneário Camboriú, cuja construção urbana se deu em um prazo muito

curto de tempo, cerca de 50 anos, possui um traçado urbano hoje já

consolidado e o resgate histórico, assim como o entendimento de seu papel no

cotidiano da cidade constituem etapas imprescindíveis num processo de

qualificação urbana e ambiental.

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114

MEDEIROS, Valério Augusto Soares de. Urbis Brasiliae ou sobre cidades do Brasil: inserindo assentamentos urbanos do país em investigações configuracionais comparativas. 2006. MEMORIAL PREFEITO MEIRINHO. Arquivos da gestão do ex-prefeito Meirinho 1973-1977. Balneário Camboriú, 2014. Documentos impressos.

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SÁNCHEZ, Fernanda. A reinvenção das cidades. Chapecó: Argos, 2002.

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115

SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar acidade: uma introdução ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. TENÓRIO, Gabriela de Souza. Ao desocupado em cima da ponte: Brasília, arquitetura e vida pública. (Tese de doutorado) São Paulo: FAU UNB, 2012.

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APENDICE A

Avaliações dos usuários das praças públicas de Balneário Camboriú, extraídas

do site Trip Advisor 2014 / 2015 / 2016.

Paulo diz:11 de junho de 2014

Bom, ele já desfigurou a estética da praça que homenageava o almirante, as

linhas circulares e os desníveis que eram tão característicos foram substituídos

por um chão plano de linhas retas, mudar o nome não surpreende, só mostra

como a história arquitetônica da cidade tende a ser desprezada dando lugar a

“modernidades” contemporâneas, perdendo qualquer chance da cidade

construir uma história.

Paulo Roberto diz:11 de junho de 2014

Ja nao gostei da praça depois da reforma, mudar de nome nao afeta mais

nada…Depois da burrada feita, nao pode voltar atrasBurrice dupla desse

pardal…kkkkk

james diz:12 de junho de 2014

Gostei da reforma a praça ficou acessivel a todos, excelente homenagem ao

ex-prefeito…

James Alcides Fialho diz:23 de junho de 2014

Tanta coisa importante pra esses caras fazer….

“Praça??”

Avaliou em Junho 6, 2014

Isso está mais para um erro de projeto. É um lugar sem necessidade alguma

de existir. Mais parece um prolongamento do calçadão a beira mar. Até hoje

não entendo a real intenção do "visionário" que criou este lugar. De bom

mesmo só a vista para a bela orla da cidade..

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Visitou em janeiro de 2014

Esta avaliação representa a opinião subjetiva de um membro do programa

TripAdvisor e não da TripAdvisor LLC.

Os lugares mais más frequentados são a praça de skate e a tal da praça

tamandare, apenas pessoas de má frequentam esses dois lugares. Não

recomendo nem que passem perto.

Visitou em fevereiro de 2014

Uma praça incomum, pois não há nela o que se fazer, apenas sentar e apreciar

a praia central com a sua ilha. De frente à ela fica um ótimo restaurante e

vários hotéis. Não é uma praça que encanta.

Visitou em maio de 2014

Lugar legal, em frente ao mar...é muito frequentado por skaitistas e a gelera

que tem Roller, bom para pegar um ar e caminhadas.

Visitou em novembro de 2013

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Verinaldo

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Avançado

33 avaliações

13 avaliações sobre atrações

Avaliações em 4 cidades

10 votos úteis

“Inovadora.”

Avaliou em Maio 8, 2014

Com sinal WI-FI gratuito e leitores de QR no piso, a praça é uma inovação para

os jovens amantes da tecnologia e dos esportes.

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118

Com área de lazer para os praticantes de Bike, ciclismo e Skate bord, a praça

reúne vários jovens a noite e durante todo o dia.

Usada também para festas do município, a praça reúne todos os povos, e

visitantes.

Visitou em maio de 2014

A Praça é o ponto central da cidade. Lá é onde tudo acontece, dos shows aos

comícios, sendo geralmente ponto de largada/chegada das competições

esportivas da cidade. Recentemente reformada, está bem ampla e espaçosa.

Visitou em março de 2014

Pontuações dos visitantes

Excelente

12

Muito bom

13

Razoável

8

Ruim

5

Horrível

0

A praça sempre foi um ponto de encontro na cidade, com apresentação de

shows e eventos. Contudo, depois da reforma que passou em 2013 ficou ainda

melhor. A ciclovia, os bancos e os locais para estacionar as bikes facilitam a

vida de quem mora em Balneário Camboriú e dos turistas que podem curtir a

praia ainda mais.

Visitou em março de 2014

Nada além de uma pequena praça na linda orla de Camboriú. Parece que

eventualmente ocorre algum evento por ali mas das 2 oportunidades que estive

lá não tinha nada.

Visitou em abril de 2014

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119

Praça mais central da cidade que não possui nenhum grande atrativo. Bem

cuidada mas é apenas mais uma praça.

Visitou em abril de 2014

A praça estava bonita, mas com a reforma feita pela prefeitura está

horrivel..realmente só feita para gastar dinheiro..

Visitou em abril de 2014

Agora reformada, a praça tem um visual mais limpo e moderno. Acredito que

ainda poderia ser melhor, mas já vimos uma melhora significativa.

Visitou em março de 2014

Charles_Mittelmann

Blumenau, SC

Colaborador Mestre

161 avaliações

105 avaliações sobre atrações

Avaliações em 21 cidades

41 votos úteis

“No coração de BC”

Avaliou em Abril 7, 2014

Esta praça fica no coração de Balneário Camboriú e é parada obrigatória no

verão. Fica na Avenida Atlântida.

Visitou em janeiro de 2014

Esta avaliação foi útil? Sim

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TripAdvisor e não da TripAdvisor LLC.

Andrea N

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Colaborador Mestre

61 avaliações

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120

37 avaliações sobre atrações

Avaliações em 21 cidades

32 votos úteis

“Central.”

Avaliou em Abril 6, 2014

Pelo que vi ela foi reformada a pouco tempo e ficou mais ampla e limpa na

decoração. Em frente, é onde a praia mais fica cheia. À tardinha o pessoal vem

andar de patins, de skate, de bicicleta, e os idosos armam suas mesas para o

jogo de dominó. Vi alguns eventos comunitários (da Polícia) quando estive lá.

Há um serviço de informações turísticas. Próximo à ela estão o shopping (na

rua atrás) e muitos restaurantes. No passeio do calçadão a gente passa várias

vezes por ela.

Visitou em março de 2014

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JJPratts

Florianópolis, SC

Colaborador Mestre

74 avaliações

39 avaliações sobre atrações

Avaliações em 28 cidades

24 votos úteis

“Ponto de referência”

Avaliou em Março 19, 2014

Embora relativamente pequena, e sem muitos atrativos, é a principal praça de

Baln. Camboriu e, por estar situada na beira da praia, em sua região mais

central, é impossível não passar por ela várias vezes ao dia.

Visitou em novembro de 2013

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A praça estava decorada para a páscoa, com ícones que representam essa

época do ano, muitas crianças brincando, muita diversão. Bem a beirada da

praia, com seguranças de todos os lados.

Visitou em abril de 2013

Esta avaliação foi útil? Sim

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38 avaliações de viajantes

Pontuações dos visitantes

Excelente

12

Muito bom

13

Razoável

8

Ruim

5

Horrível

0

marinasegan

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Mestre

219 avaliações

87 avaliações sobre atrações

Avaliações em 34 cidades

74 votos úteis

“Feia”

Avaliou em Fevereiro 8, 2014

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Ela era tão bonitinha antes da reforma. A Praça agora ta estranha, sem verde,

sem vida, só um povo estranho e feio. O que era para ser uma referencia

bonita da cidade, por ser no centro e de frente para o mar, acho eu que deveria

ser melhor cuidada, ter um melhor visual, e ser mais confortável. Posso resumir

em uma palavra? Feia.

Visitou em fevereiro de 2014

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Luiz P

Curitiba, PR

Colaborador Avançado

32 avaliações

20 avaliações sobre atrações

Avaliações em 5 cidades

42 votos úteis

“Excelente ambiente”

Avaliou em Fevereiro 3, 2014

No coração do balneário propicia palco com shows e atracões . Bem policiada

com central da guarda municipal.

Visitou em janeiro de 2014

Esta avaliação foi útil? Sim 1

BetoD

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Intermediário

16 avaliações

6 avaliações sobre atrações

Avaliações em 8 cidades

2 votos úteis

Avaliação do amigo de um amigo

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Renato Schneider é amigo deste colaborador

“É o centro da cidade”

Avaliou em Junho 10, 2014

É o ponto central da cidade de Balneário Camboriú. É aqui que tudo acopntece.

Programas culturais e apresentações diversas. Com certeza você vai encontrar

alguém para conversar.

Esta avaliação foi útil? Sim

Heloise Laurindo...

Pontuação de amigo

Heloise Laurindo Travain deu uma nota para Praca Almirante Tamandare

Pontuação em Fevereiro 8, 2014

apmolmos

Rio de Janeiro, RJ

Colaborador Intermediário

11 avaliações

6 avaliações sobre atrações

Avaliações em 3 cidades

3 votos úteis

“Encontro de skatistas”

Avaliou em Outubro 14, 2014

Um lugar lindo pela rola e bem agitado ,principalmente aos fins de semanas

pois e o ponto de encontro da garotada.

Sariana B

São José, SC

Colaborador Mestre

101 avaliações

80 avaliações sobre atrações

Avaliações em 9 cidades

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18 votos úteis

“Praça linda”

Avaliou em Outubro 13, 2014

Praça linda e bem localizada. Adorei o local, tirando o mal cheiro. O calçadão é

bem limpinho, mas havia um mal cheiro por todo ele.

Esta avaliação foi útil? Sim

DrCalasan...

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Intermediário

15 avaliações

7 avaliações sobre atrações

Avaliações em 5 cidades

1 voto útil

“caso de policia”

Avaliou em Setembro 29, 2014

desde que foi implantada a ciclovia em toda a orla a galera do skate parou ali e

tomou conta do espaço, com direito a baseados ao ar livre em frente ao posto

da policia instalado no local. Uma pena. Quando há shows a frequencia

melhora. Em tempo, eu tambem ando de skate...

Roberta F

Porto Alegre, RS

Colaborador Avançado

46 avaliações

31 avaliações sobre atrações

Avaliações em 6 cidades

12 votos úteis

“Muito bonita”

Avaliou em Setembro 23, 2014

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A praça fica em frente a praia, ao ficar sentada da para admirar toda a beleza

de Balneário Camboriu, além de ficar muito próxima do centrinho de compras..

amei!

fbosa

Tubarão, SC

Colaborador Júnior

9 avaliações

3 avaliações sobre atrações

Avaliações em 2 cidades

4 votos úteis

“namorar é otimo”

Avaliou em Setembro 17, 2014

local publico com alguns vendedores ambulantes, shows, kioske muita gente

bonita, otimo local para uma paquera noturna com gente 24 horas.

Esta avaliação foi útil? Sim

Emersilia

Itajaí, SC

Colaborador Intermediário

13 avaliações

9 avaliações sobre atrações

3 votos úteis

“Show”

Avaliou em Setembro 8, 2014

Na praça sempre tem algum acontecimento. Shows, exposições,

competições.................. A localização é perfeita!

Esta avaliação foi útil? Sim

Paulo S

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Cornélio Procópio, PR

Colaborador Mestre

106 avaliações

42 avaliações sobre atrações

40 votos úteis

“Referência”

Avaliou em Setembro 6, 2014

Esta praça se torna um ponto de referência pelo menos para mim, e para não

conhece a cidade, com ela dá pra saber onde é o centro da praia, dai sabemos

onde estamos

Leandro_Strutz

Navegantes, SC

Colaborador Mestre

81 avaliações

57 avaliações sobre atrações

18 votos úteis

“Bom”

Avaliou em Agosto 29, 2014

Pra quem gosta de muvuca esse é ponto...rsss FIca bem no centro da avenida

atlantica, muitooo movimentada, no verão então....sem comentarios...

Esta avaliação foi útil? Sim

Graziella S

Cuiabá, MT

Colaborador Mestre

334 avaliações

148 avaliações sobre atrações

53 votos úteis

“Centro de balneário ”

Avaliou em Julho 27, 2014

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127

A praça é bem no centro da avenida atlântica em balneário. Indica o centro da

cidade. A praia nessa região é bem disputada. Perto do calçadão, bom passeio

a pé.

Esta avaliação foi útil? Sim

Gustavo A

Colaborador Mestre

71 avaliações

39 avaliações sobre atrações

23 votos úteis

“Seja skatista ou não perca tempo”

Avaliou em Julho 22, 2014

A praça nunca foi um ponto turístico de destaque, mas a última reforma a

transformou (sem querer) em uma área para a concentração de skatistas.

Cuidado para não ser atropelado. A guarda municipal que está ali é tão útil

quanto uma estátua. Enfim, difícil não passar pelo local, mas guarde a memória

da sua camera fotográfica para locais mais interessantes.

BernardoS2315

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Mestre

258 avaliações

103 avaliações sobre atrações

66 votos úteis

“O Coração de BC”

Avaliou em Julho 22, 2014

O Coração de BC e o palco das mais diversas manifestações artísticas da

cidade. O ponto mais central de BC.

Valdo L

Balneário Camboriú, Santa Catarina, Brazil

Colaborador Avançado

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49 avaliações

16 avaliações sobre atrações

12 votos úteis

“Lugar de encontro”

Avaliou em Julho 17, 2014

Não gostei desta praça porque só tem aborrescente andando e pulando com

aqueles artefatos de madeira com rodinhas rsrs.

Dearegina

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Avançado

29 avaliações

13 avaliações sobre atrações

11 votos úteis

“O ponto central da cidade”

Avaliou em Julho 15, 2014

A Praça Almirante Tamandaré também chamada de praça redonda é o lugar

onde ocorrem os principais eventos ...shows... apresentações folclóricas e

conversas e encontros de amigos.

MarcoBraz

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Avançado

39 avaliações

32 avaliações sobre atrações

26 votos úteis

“Centro de tudo”

Avaliou em Julho 5, 2014

Também conhecida como Praça Central. Sempre tem gente de todas as

idades. Jovens de bike e skate e senhores jogando dominó, bocha ou sentados

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no banco conversando. Tem segurança pois há uma base/posto da Guarda

Municipal além de bela vista para o mar.

Ricardo D

Blumenau, SC

Colaborador Mestre

96 avaliações

45 avaliações sobre atrações

30 votos úteis

“Movimentada”

Avaliou em Junho 29, 2014

Um ótimo local para apreciar tudo que tem de bom na linda Balneário

Camboriú. Ali acontece a maioria dos grandes eventos da cidade. Local ideal

para apreciar a praia.

1954SCHMITZ

Balneário Camboriú, SC

Colaborador Avançado

33 avaliações

13 avaliações sobre atrações

8 votos úteis

“Praça central”

Avaliou em Junho 24, 2014

Situada no centro, ambiente agradável,,moderno, onde acontecem

demonstrações artísticas de grupos locais. Grandes apresentações em

temporada de turismo. Localizada em frente ao mar.

RicardoSam

São Paulo, SP

Colaborador Avançado

44 avaliações

24 avaliações sobre atrações

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15 votos úteis

“Pra quem é muito jovem”

Avaliou em Junho 18, 2014

É onde se reúne a galera skatista e quem se liga em coisas mais "agitadas".

Quando passei por lá, alguém anunciava uma apresentação de rap. Aos finais

de semana, muita gente até altas horas da madrugada. O comércio das

imediações, a partir de determinada hora da noite, trabalha atrás de grades

temendo assaltos. Não sei o histórico sobre o assunto.

Esta avaliação foi útil? Sim

Problemas com esta avaliação?

“SKATE”

Avaliou em Junho 14, 2014

Agora a Praça Almirante Tamandaré em Balneário Camboriú é uma grande

pista de skate para animar a criançada e familiares.

Esta avaliação foi útil? Sim

Problemas com esta avaliação?

Gislenepiragibesanti

Curitiba, PR

Colaborador Intermediário

13 avaliações

avaliações sobre atrações

4 votos úteis

“Local de eventos.”

Avaliou em Junho 8, 2014

No período de Festas Natalinas, são programados diversos eventos musicais,

para todas as idades. Nos outros meses sempre há eventos diversos. Vale a

pena. É bom ter cuidado com os pequenos delinquentes que assaltam pessoas

para roubarem celulares. Em Balneário infelizmente esta acontecendo muitos

roubos feitos por me100 votos úteis

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“Praça??”

Avaliou em Junho 6, 2014

Isso está mais para um erro de projeto. É um lugar sem necessidade alguma

de existir. Mais parece um prolongamento do calçadão a beira mar. Até hoje

não entendo a real intenção do "visionário" que criou este lugar. De bom

mesmo só a vista para a bela orla da cidade..

Matheus W

Itajaí, SC

Colaborador Mestre

94 avaliações

50 avaliações sobre atrações

23 votos úteis

“lado ruim de bc”

Avaliou em Maio 30, 2014

Os lugares mais más frequentados são a praça de skate e a tal da praça

tamandare, apenas pessoas de má frequentam esses dois lugares. Não

recomendo nem que passem perto

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APENDICE B

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APENDICE C

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