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REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES SECRETARIA REGIONAL DA SAÚDE Solar dos Remédios – 9701-855 Angra do Heroísmo Telef.: 295204200 Fax: 295204255 Email:[email protected] F ISCALIZAÇÃO EM M EDICINA NO T RABALHO _2012 Processo 3.11/2011/4 R ELATÓRIO AGOSTO 2012

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REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES

SECRETARIA REGIONAL DA SAÚDE

Solar dos Remédios – 9701-855 Angra do Heroísmo Telef.: 295204200 Fax: 295204255 Email:[email protected]

FISCALIZAÇÃO EM MEDICINA NO

TRABALHO_2012

Processo 3.11/2011/4

REL AT ÓRIO

AGOSTO 2012

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SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS ................................................................................................................................................ 2

CONCLUSÕES/PROPOSTAS ........................................................................................................................................................................ 3

CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO

1. FUNDAMENTO ............................................................................................................................................................................................. 5

2. TIPOLOGIA E METODOLOGIA DA AÇÃO .......................................................................................................................................................... 5

Quadro I – Deslocações ............................................................................................................................................................................. 6

3. COLABORAÇÃO DE ENTIDADES E PESSOAS EXTERNAS À IRES ....................................................................................................................... 7

4. CONDICIONANTES ........................................................................................................................................................................................ 8

5. QUADRO NORMATIVO ................................................................................................................................................................................. 8

Quadro II – Regime Normativo.................................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO II

CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. ADVERTÊNCIA ........................................................................................................................................................................................... 15

2. BOLETIM DE SANIDADE .............................................................................................................................................................................. 15

3. MEDICINA FAMILIAR /PREVENTIVA VS. MEDICINA DO TRABALHO ................................................................................................................. 17

i) Sobreposição funcional - eventual violação do dever à protecção da intimidade privada do trabalhador ....................................... 18

ii) Distorções na relação contratual entre empregador e trabalhador ................................................................................................... 22

iii) Concorrência ilícita ......................................................................................................................................................................... 23

4. TRANSMISSIBILIDADE DA INFORMAÇÃO DE SAÚDE: SEGREDO PROFISSIONAL E PROPRIEDADE INTELECTUAL DO FICHEIRO CLÍNICO ............... 24

i) Sigilo Profissional ........................................................................................................................................................................... 24

ii) Propriedade intelectual da informação clínica. ............................................................................................................................... 28

6. LIMITE DE TRABALHADORES SOB A RESPONSABILIDADE DO MÉDICO DE TRABALHO - PERIODICIDADE DA VIGILÂNCIA .................................. 32

7. SERVIÇO DE SST CONVENCIONADO............................................................................................................................................................ 34

8. EXERCÍCIO DE MEDICINA DO TRABALHO POR MÉDICOS NÃO ESPECIALISTAS ................................................................................................ 35

CAPÍTULO III

DETERMINAÇÃO DA AMOSTRA E APRECIAÇÃO INDIVIDUAL

1. QUANTIFICAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DA AMOSTRA ........................................................................................................................................ 38

Quadro III – Médicos com e sem especialidade em medicina do trabalho ............................................................................................... 38

Gráfico I – Médicos de trabalho na RAA ................................................................................................................................................. 38

Quadro IV – Médicos de trabalho na RAA .............................................................................................................................................. 38

Quadro V – Empresas e n.º de trabalhadores do universo e da amostra ................................................................................................... 39

Gráfico II – Empresas e n.º de trabalhadores do universo e da amostra ................................................................................................... 39

2. APRECIAÇÃO INDIVIDUAL .......................................................................................................................................................................... 40

Quadro VI – Critérios de ponderação (questionário)................................................................................................................................ 40

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SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS

BMJ Boletim do Ministério da Justiça

CC Código Civil.

CDADC Código do Direito de Autor e Direitos Conexos.

CDOM Código Deontológico da Ordem dos Médicos.

Cf. Confronte-se.

CNECV Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

CNPD Comissão Nacional de Protecção de Dados.

CP Código Penal.

CPI Código de Propriedade Industrial.

CRP Constituição da República Portuguesa.

CT Código de Trabalho – Lei n.º 7/2009, de 12 fevereiro.

DGS Direcção-Geral da Saúde.

Doc. Documento.

DREF Direcção Regional da Educação e Formação.

DRS Direção Regional de Saúde.

IReS Inspeção Regional de Saúde.

IRT Inspecção Regional do Trabalho.

Op. cit. Obra (opus) citada.

OT Orientação Técnica.

pp. Páginas.

SReS Secretaria Regional da Saúde.

RDES Revista de Direito e Estudos Sociais.

SRTSS Secretaria Regional do Trabalho e Solidariedade Social.

SST Segurança e Saúde no Trabalho.

STJ Supremo Tribunal de Justiça.

V.g. Por exemplo (verbi gratia).

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N.º CONCLUSÕES/PROPOSTAS Ponto do

relatório

1

O boletim de sanidade, aprovado pela Portaria regional n.º 74/1988, de 18 de Outubro, está abrangido pela Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro. A Portaria foi revogada pelo artigo 3.º da Portaria n.º 77/2012, de 10 de Julho, por

proposta da IReS, através da O.T. inscrita na informação IRS-SAI/2012/324, de 29-05-2012, dirigida ao Sr. Secretá-

rio Regional da Saúde.

Capítulo II,

ponto 2

2

Os encargos suportados pelos trabalhadores quanto ao pagamento das taxas sanitárias violam o disposto no n.º 12

do artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, podendo consubstanciar contraordenação muito-grave,

variando a coima entre 4 590,00€ e 61 200,00€, consoante o volume de negócios da empresa e a infração ter sido

praticada a título de negligência ou dolo (artigo 1.º e n.º 14 do artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro e

n.º 4 do artigo 554.º da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro). Deixa-se para ponderação da tutela a eventual abertura

do competente procedimento contraordenacional.

Capítulo II,

pontos 2.3,

2.7 e 2.8

3

A medicina preventiva/familiar não se confunde com a medicina no trabalho, ainda que esta última também assuma

funções preventivas. A confusão entre ambas fórmulas pode originar sobreposição funcional, distorcer as obriga-

ções inerentes à relação contratual entre o empregador e o trabalhador, e provocar, de modo ilícito, vantagens com-

petitivas entre os diversos prestadores de serviços em medicina do trabalho, suportado em atos de enriquecimento

sem causa.

Capítulo II,

ponto 3 e ss.

4

A confusão entre medicina preventiva/familiar e medicina do trabalho pode violar o direito à intimidade privada dos

trabalhadores, podendo igualmente consubstanciar violação deontológica. Sugere-se remessa do presente relatório

para o Conselho de Disciplina da Ordem dos Médicos.

Capítulo II,

pontos 3.3 a

3.12

5

O aproveitamento dos exames médicos realizados no âmbito da medicina familiar/preventiva para a medicina do

trabalho pode configurar fraude à lei, independentemente do elemento intencional do ato, enquanto modalidade de

violação à lei

Capítulo II,

pontos 3.13 a

3.15

6 O aproveitamento das consultas em sede de medicina preventiva em medicina do trabalho tem fortes probabilidades

de gerar situações de concorrência ilícita entre os diversos operadores externos no âmbito da SST.

Capítulo II,

pontos 3.16 a

3.17

7

O médico do trabalho cedente deve transmitir, ainda que genericamente, a informação médica dos trabalhadores ao

médico cessionário. Considera-se prudente que a tutela solicite pedido de parecer à CNPD, sobre o modo de proce-

der a transmissão de informação em saúde no âmbito da medicina do trabalho entre médicos cedente e cessionário.

Capítulo II,

pontos 4.4 a

4.14.

8

A propriedade intelectual incide sobre o conteúdo da informação do médico, de cariz científico, registada nos

ficheiros clínicos, que apresentem elementos criativos suscetíveis de configurar uma obra ou expressão intelectual.

Não se aplica à mera propriedade corpórea do registo físico nem a informação meramente descritiva, insuscetível de

ser qualificada como obra ou expressão intelectual com elementos criativos, dignos de proteção. Mesmo nos casos

em que a informação clínica revele atividade intelectual criativa, e portanto protegida pela propriedade intelectual,

tal não obsta à obrigatoriedade do médico primevo ou cedente transmitir a informação, ainda que de forma sumária,

ao médico coevo ou cessionário, tendo sempre como primeiro objetivo acautelar os interesses dos trabalhadores, da

entidade empregadora e reflexamente a saúde pública. Considera-se prudente que a tutela solicite parecer do Conse-

lho Consultivo da Procuradoria-Geral da República sobre a questão agora colocada, isto é, qual a extensão ou âmbi-

to da propriedade intelectual dos conteúdos inscritos no ficheiro clínico do médico de trabalho.

Capítulo II,

pontos 4.15 a

4.20

9 O serviço externo em medicina do trabalho pode ser exercido por pessoa singular. Capítulo II,

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� �

pontos 5.5. e

5.6.

10 As modalidades de SST são estanques, não permitindo modalidades mistas ou atípicas. No caso de serviços exter-

nos a lei não autoriza a utilização das instalações das entidades patronais.

Capítulo II,

pontos 5.7.

11

Durante a ação de fiscalização verificou-se situações em os limites mínimos nem sempre foram respeitados, sem

prejuízo de não se ter vislumbrado violação dos limites máximos. Reconhece-se que o número de médicos de traba-

lho, a realidade insular açoriana, com território reduzido, geograficamente descontínuo e níveis de dispersão que

dificultam o acesso, representam ónus acrescidos que dificultam o cumprimento dos limites mínimos mensais pre-

vistos na Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro. Esta situação pode justificar a intervenção da tutela através da

implementação de um sistema convencionado em medicina do trabalho com o SRS e/ou médicos da especialidade,

optativo, aproveitando as unidades de saúde nas ilhas mais carentes ou com acesso mais dificultado a este serviço.

Capítulo II,

ponto 6.

12 O artigo 76.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, refere um conjunto de trabalhadores relativamente aos quais a

SST deve ser assegurada pelo SRS.

Capítulo II,

ponto 7 e ss.

11

A tutela pode prorrogar as autorizações aos médicos de trabalho sem especialidade, desde que devidamente funda-

mentado e cumpridos os requisitos constitutivos da prorrogação (insuficiência de médicos do trabalho), no âmbito

da discricionariedade administrativa da Administração Pública. Alerta-se, porém, para o desincentivo que sucessi-

vas prorrogações podem gerar ao nível da especialização dos médicos profissionais, bem como eventuais distorções

concorrenciais entre prestadores sedeados noutras zonas do território português.

Capítulo II,

ponto 8.

12

O incumprimento da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, por parte dos serviços externos, embora não seja direta-

mente imputável ao empregador não o isenta de responsabilidade no âmbito contraordenacional, cabendo-lhe, even-

tualmente, o direito de regresso sobre o agente da infração

Capítulo III,

ponto 2.5.

13

No caso da empresa MT18, embora a taxa de incumprimento seja reduzida, por se reconduzir a apenas 2 das 9

empresas cujos dados foram cruzados, não espelha de forma fidedigna os atos praticados. Remete-se a análise para a

resposta da empresa MT18, no Anexo I, e empresas clientes no Anexo II.

Capítulo III,

ponto 2.6. e

2.7.

14

No caso da empresa de serviços externos MT5, verificou-se que os MCDT foram prescritos a partir de paletes pre-

viamente definidas e não de modo casuístico. Verificou-se a emissão de prescrições assinadas pelo médico, mas

sem descritivo, bem como análises clínicas que à primeira vista não apresentam conexão com a atividade do traba-

lhador (v.g. HIV). Cruzaram-se os dados com o serviço de conferência de faturas do Centro de Saúde de Ponta

Delgada e apurou-se que, em 2010 e 2011, aquela unidade de saúde pagou 84 504,55€ respeitantes a análises clíni-

cas dos trabalhadores da empresa cliente. Verificou-se igualmente que o custo médio das análises clínicas aos traba-

lhadores da empresa cliente é elevado, no âmbito da medicina do trabalho (média de 219,00€ para 259 trabalhado-

res), o que pode violar as boas práticas de prescrição e as regras deontológicas associadas à prestação médica. A

circunstância das análises clínicas serem prescritas pela empresa de serviço externo MT5, cujo edifício é partilhado

pelo laboratório de análises clínicas beneficiário do pagamento, bem como ao facto de os sócios de cada empresa

(laboratório e clínica privada) serem familiares, permite suspeitar da existência de enriquecimento ilegítimo por

meio de engano sobre factos, podendo consubstanciar a prática de crime de burla ao SRS, eventualmente agravada.

Capítulo III,

2.9.

15

Propõem-se à tutela que todas as empresas de serviços externos e os médicos de serviços internos fiscalizados,

regularizem os pontos fracos, sobretudo os mais graves, mediante prova suficiente junto da DRS, sob pena de anu-

lação da autorização administrativa da actividade em saúde no trabalho.

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CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO

1. Fundamento

1.1. Nos termos do Plano de Atividades da IReS para 2012, aprovado por despacho do Exmo. Sr.

Secretário Regional da Saúde de 20-04-2012, a IReS desencadeou a respetiva ação de fiscalização,

no âmbito da Segurança e Saúde do Trabalho.

1.2. A acção foi realizada conjuntamente com a Inspecção Regional do Trabalho (IRT), cabendo a este

serviço a fiscalização da área da segurança e à IReS a temática da saúde, sobre a qual incide o pre-

sente relatório.

1.3. A acção teve por objectivo averiguar o cumprimento dos principais normativos aplicáveis, nomea-

damente a Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, e demais legislação conexa (cf. quadro normati-

vo), no âmbito da SST.

2. Tipologia e metodologia da ação

2.1. A escolha do tipo de ação a empreender pela IReS foi a ação de fiscalização, na medida em que

incidiu sobre o sector privado, tendo em vista o cumprimento dos normativos e orientações em

vigor para o sector (1). A acção não pretendeu enveredar por uma vertente repressiva ou sanciona-

tória, mas prospectiva e/ou pedagógica, sem embargo da remessa do relatório para as entidades

competentes em situações de indícios de ilícito penal ou deontológico.

2.2. Por outro lado, o desenrolar da acção de fiscalização gerou um conjunto de dúvidas que se preten-

dem esclarecidas, ou pelo menos elucidadas, pelo presente relatório, o que acabou por desvirtuar o

tipo de acção, aproximando-a de uma inspecção temática (2). Pese embora a acção de fiscalização

não comporte o exercício de audiência prévia, considera-se prudente para o cabal esclarecimento

(1) Artigo 5.º e 35.º a 41.º do Regulamento de Procedimentos da IReS, aprovado por Despacho n.º 1227/2011, de 25 de novembro, publica-do no JORAA n.º 227, II Série, de 25 de novembro de 2011 (2) Os tipos de ações previstas no Regulamento de Procedimentos da IReS não são estanques, mas flexíveis, ou seja, são tipos – e não con-ceitos – que podem admitir graduação entre si.

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dos factos que o presente relatório seja submetido para contraditório às entidades visadas, para

resposta no prazo de 10 dias.

2.3. Tratando-se de uma fiscalização temática, com a finalidade descrita, e porque vários foram os pro-

fissionais de saúde e as entidades fiscalizadas, incluindo empresas clientes, serviços externos e

serviços internos de SST, a identificação nominal será inscrita apenas no relatório final dirigido à

tutela e restantes entidades oficiais. No relatório enviado às entidades fiscalizadas será omitida

qualquer identificação nominal, excepto a do destinatário. No relatório final, para publicação na

página Web da IReS, serão omitidos todos os elementos nominais.

2.4. Previa-se a realização de uma segunda ronda de deslocações a entidades a fiscalizar na ilha de S.

Miguel, mas que por motivos de economia processual e financeira, e suportados nas conclusões

preliminares aferidas ao longo da acção de fiscalização empreendida, levou à sua inutilidade,

atendendo às finalidades da acção de fiscalização descritas em 2.1. bem como a possibilidade de

demonstração através do cruzamento de dados entre empresas clientes e laboratórios de análises

clínicas. A inspecção implicou deslocações na ilha Terceira e em S. Miguel, nos seguintes dias:

QUADRO I – DESLOCAÇÕES

N.º de deslocações Datas Ilhas

14 15 a 18 de Maio Terceira

21 a 25 de Maio São Miguel

Total dias/ilhas 2

2.5. A equipa de fiscalização foi constituída pela Inspector Regional da Saúde, Dr. Paulo Jorge Gomes,

pela inspectora economista, Dr. Carla Terra, no âmbito da saúde no trabalho (IReS); pelo Engº.

Pedro Silveira, na ilha Terceira, e pelo Eng. Hugo Resendes, na ilha de S. Miguel, no âmbito da

segurança (IRT).

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3. Colaboração de entidades e pessoas externas à IReS

3.1. Nos termos do n.º 1 do artigo 13.º do Regulamento de Procedimento da IReS (3), solicitou-se a cola-

boração da DRS e das Autoridades de Saúde concelhias.

3.2. Na ilha Terceira, a IReS contou com a colaboração do Coordenador Regional de Saúde Pública, Dr.

Carlos Lima e do técnico superior jurista, Dr. Pedro Lima, ambos da DRS. Na fiscalização na ilha

de S. Miguel, para além do Dr. Pedro Lima, a IReS contou com a colaboração da Autoridade de

Saúde concelhia de Ponta Delgada, Dra. Rosa Lafayette e Dr. José Senra; e da Autoridade de Saúde

concelhia da Ribeira Grande, Dr. Ângelo Amaral.

3.3. Todos os colaboradores, excepto as Autoridades de Saúde concelhias, em virtude do seu estatuto

próprio, assinaram auto de compromisso de honra, junto ao processo, no qual se comprometeram ao

leal exercício das suas funções, à obrigatoriedade de invocar situações de impedimento ou escusa e

o dever de segredo sobre todas as informações obtidas no âmbito da colaboração.

3.4. No âmbito da acção de fiscalização à Pronicol, S.A., foram invocados dois pedidos de escusa: pelo

Coordenador de Saúde Pública, por pedido de 10-05-2012, com fundamento em colaboração profis-

sionalmente com a empresa cliente fiscalizada até ao ano de 2004; e pelo Inspector Regional de

Saúde, através de pedido ao Sr. Secretário Regional da Saúde, de 18-04-2012, por a médica respon-

sável pelo serviço interno da empresa ter relação familiar indirecta, por afinidade, e ser médica

assistente de familiar directo, em 2.º grau, linha recta.

3.5. Atendendo às finalidades específicas da sua participação, designadamente quanto ao acesso aos

registos clínicos, o pedido do Coordenador de Saúde Pública mereceu despacho negativo do Inspec-

tor Regional da Saúde, de 11-05-2012, com base nos fundamentos constantes na resposta. O pedido

do Inspector Regional de Saúde foi aceite pelo Sr. Secretário Regional de Saúde, por despacho da

mesma data do pedido.

3.6. A ação decorreu de modo articulado e conforme planeado. Foram organizadas duas equipas na ilha

Terceira. Cada equipa foi constituída por dois ou três elementos, consoante a extensão dos atos ou

pessoas a inspecionar, bem como do acompanhamento por parte de pessoal inspetivo ou médico.

Na ilha de S. Miguel foi apenas constituída uma única equipa. (3) Cf. nota 1.

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3.7. Cumpre louvar o diligente auxílio de todos os colaboradores externos envolvidos, em detrimento de

compromissos pessoais e profissionais para benefício da ação inspetiva.

4. Condicionantes

4.1. Regra geral, as entidades inspeccionadas, seja empresas clientes, seja serviços externos, colabora-

ram no desenrolar da acção de fiscalização.

4.2. No caso da fiscalização à empresa MT5 e ao respectivo médico especialista a acção de fiscalização

também incidiu sobre os indícios de irregularidades na prescrição de MCDT, na sequência da

informação prestada pelo serviço de conferência de facturas do Centro de Saúde de Ponta Delgada.

Pela possibilidade de conexão de ambos os casos entre a medicina do trabalho e a prescrição de

MCDT, bem como atendendo à poupança de recursos logísticos, foram planeados 2 dias de fiscali-

zação à entidade e ao médico em questão.

4.3. Apesar de notificado para o efeito, o médico não compareceu ao 2.º dia de fiscalização, para efeitos

de confrontação dos registos clínicos e das prescrições de MDCT suspeitas, violando assim o dever

de colaboração que lhe incumbia (artigo 23.º, n.º 2 do Decreto Regulamentar Regional n.º 14/2010/A, de 27 de

Julho). Por conseguinte, havendo impossibilidade de acesso aos ficheiros clínicos e mantendo-se os

indícios de irregularidades na prescrição dos MDCT, procedeu-se à selagem do arquivo nos quais

constavam os registos clínicos, segundo informação prestada pelo médico, aquando do primeiro dia

de fiscalização, e responsável pelo laboratório/clínica. A selagem permanece à data da redação pre-

sente relatório.

5. Quadro Normativo

5.1. Os atos e pessoas submetidos à ação inspetiva regem-se pelo seguinte quadro normativo, sem pre-

tensões de exaustividad

[quadro na página seguinte]

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QUADRO II – REGIME NORMATIVO

Acto Normativo Âmbito OBS

Decreto-Lei n.º 22/93, de 26 de JulhoAprova para ratificação a Convenção n.º 160 da OIT, relativa à Estatística de Acidentes de Trabalho

Decreto-Lei n.º 363/93, de 15 de OutubroRegula a informação estatística sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais

Portaria n.º 137/94, de 8 de MarçoAprova o modelo de participação de acidente de trabalho e o mapa de encerramento de processo de acidente de trabalho

Decreto-Lei n.º 352/2007, de 23 de OutubroAprova a Tabela Nacional de Incapacidades por Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais

Lei n.º 98/2009, de 4 de SetembroRegulamenta o regime jurídico de reparação de acidentes de trabalho e doenças profissionais

Decreto-Lei n.º 224/87, de 3 de Junho

Estabelece normas relativas à prevenção dos riscos de acidentes graves que possam ser causados por certas actividades industriais, bem como a limitação das suas consequências para o homem e o ambiente

Decreto-Lei n.º 254/2007, de 12 de Julho

Aprova o regime jurídico da prevenção e controlo dos perigos associados a acidentes graves que envolvam substâncias perigosas, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2033/105/CE, do Conselho, de 16 de Dezembro.

Decreto-Lei n.º 126/93, de 20 de Abril Utilização de organismos geneticamente modificados

Decreto-Lei n.º 84/97, de 16 de Abril

Transpõe as Directivas do Conselho n.º 90/679/CEE, de 26 de Novembro; 93/88/CEE, de 12 de Outubro; e n.º 95/30/CE, da Comissão, de 30 de Junho, relativas às protecção da segurança e saúde dos trabalhadores contra os riscos resultantes da exposição a agentes biológicos durante o trabalho

Portaria n.º 405/98, de 11 de Julho Aprova a classificação dos agentes biológicos

Portaria n.º 1036/98, de 15 de DezembroAltera a lista dos agentes biológicos classificados para efeitos da prevenção de riscos profissionais.

Decreto-Lei n.º 2/2001, de 4 de Janeiro Regula a utilização confinada de organismos geneticamente modificados. Altera parcialmente o Decreto-Lei n.º 126/93, de 20 de Abril.

Decreto-Lei n.º 479/85, de 13 de NovembroEstabelece as substâncias, os agentes e os processos industriais que comportam risco cangerígeno, efectivo ou potencial para os trabalhadores profissionalmente expostos.

Decreto-Lei 301/2000, de 18 de Novembro

Regula a protecção dos trabalhadores contra os riscos ligados à exposição aagentes cancerígenos ou mutagénicos durante o trabalho

Acidentes de trabalho

Acidentes industriais

graves

Agentes biológicos

Agentes cancerígenos

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Decreto-Lei n.º 385/93, de 18 de Novembro

Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva nº 91/410/CEE, da Comissão, de 22 de Julho, que altera a Directiva nº 67/548/CEE, do Conselho, de 27 de Junho, relativa à classificação, embalagem e rotulagem das substâncias perigosas. Altera o Decreto-Lei nº 294/88, de 24 de Agosto (estabelece normas relativas à classificação, rotulagem e embalagem de pesticidas e adjuvantes)

Decreto-Lei n.º 232/94, de 14 de Dezembro

Transpõe para a ordem jurídica interna as Directivas nºs 91/173/CEE, do Conselho, de 21 de Março, e 91/338/CEE, do Conselho, de 18 de Junho, que estabelecem limitações à comercialização e utilização de substâncias e preparações perigosas

Portaria n.º 968/94, de 28 de Outubro

Estabelece as normas técnicas necessárias ao cumprimento do Decreto-lei nº 232/94, de 14 de Setembro, que transpõe para a ordem jurídica interna as Directivas nºs 91/173/CEE, de 21 de Março, e 91/338/Cee e 91/339/CEE do Conselho, de 18 de Junho, que estabelecem limitações à comercialização e utilização de substâncias e preparações perigosas (capítulo II revogado pelo DL n.º 256/2000, de 17 de Setembro.

Decreto-Lei n.º 264/98, de 19 de Agosto

Transpõe para a ordem jurídica as Directivas nºs 94/60/CE, 97/10/CE e 97/16/CE,que estabeleceram limitações à comercialização e utilização de determinadassubstâncias perigosas

Decreto-Lei n.º 256/2000, de 17 de Setembro

Transpõe para a ordem jurídica interna as Directivas nºs 94/27/CE, doParlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Junho, 1999/43/CE, do ParlamentoEuropeu e do Conselho, de 25 de Maio, e 1999/51/CE, da Comissão, de 26 de Maio,relativas à limitação da colocação no mercado e da utilização de algumassubstâncias e preparações perigosas

Decreto-Lei n.º 82/2003, de 23 de Abril

Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 1999/45/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Maio, relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados membros respeitantes à classificação, embalagem e rotulagem de preparações perigosas, adaptada ao progresso técnico pela Directiva n.º 2001/60/CE, da Comissão, de 7 de Agosto, e, no que respeita às preparações perigosas, a Directiva n.º 2001/58/CE, da Comissão, de 27 de Julho

Decreto-Lei n.º 22/2004, de 22 de Janeiro

Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2003/82/CE, da Comissão, de 11 de Setembro, que altera a Directiva n.º 91/414/CEE, do Conselho, no respeitante às frases tipo relativas a riscos especiais e às frases tipo relativas às precauções a tomar aplicáveis aos produtos fitofarmacêuticos, aditando os anexos V e VI ao Decreto-Lei n.º 94/98, de 15 de Abril, relativo à colocação de produtos fitofarmacêuticos no mercado

Decreto-Lei n.º 98/2010, de 11 de Agosto

Estabelece o regime a que obedecem a classificação, embalagem e rotulagem das substâncias perigosas para a saúde humana ou para o ambiente, com vista à sua colocação no mercado, transpõe parcialmente a Directiva n.º 2008/112/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Dezembro, e transpõe a Directiva n.º 2006/121/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de Dezembro.

Agentes e substâncias perigosas

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Decreto-Lei n.º 273/89, de 21 de AgostoAprova o regime de protecção da saúde dos trabalhadores contra os riscos da exposição ao cloreto vinilo monómero nos locais de trabalho.

Decreto-Lei n.º 274/89, de 21 de AgostoEstabelece diversas medidas de protecção da saúde dos trabalhadores contra os riscos de exposição ao chumbo

Decreto-Lei n.º 24/2012, de 06 de Fevereiro

Consolida as prescrições mínimas em matéria de protecção dos trabalhadores contra os riscos para a segurança e a saúde devido à exposição a agentes químicos no trabalho e transpõe a Directiva n.º 2009/161/UE, da Comissão, de 17 de Dezembro de 2009.

Directiva n.º 98/23/CEE, de 7 de AbrilProtecção da Segurança e Saúde no Trabalho dos trabalhadores contra riscos de exposição a agentes químicos

Decreto-Lei n.º 305/2007, de 24 de Agosto

Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2006/15/CE, da Comissão, de 7 de Fevereiro, que estabelece uma segunda lista de valores limite de exposição profissional (indicativos) a agentes químicos para execução da Directiva n.º 98/24/CE, do Conselho, de 7 de Abril, alterando o anexo ao Decreto-Lei n.º 290/2001, de 16 de Novembro (revogado pelo DL n.º 24/2012, de 06 de Fevereiro)

Portaria n.º 1049/93, de 19 de OutubroEstabelece normas relativas à descarga de águas residuais aplicáveis a todas as actividades idustriais que envolvam o manuseamento de amianto.

Declaração de rectificação n.º 262/94, de 31 de Dezembro

Rectifica o Decreto-Lei nº 228/94, do Ministério da Indústria e Energia, que altera o Decreto-Lei nº 28/87, de 14 de Janeiro (limita a comercialização e a utilização do amianto e dos produtos que o contenham), publicado no Diário da República, nº 212, de 13 de Setembro de 1994

Resolução da Assembleia da República n.º 24/2003, de 2 de Abril

Utilização do amianto em edifícios públicos

Decreto-Lei n.º 101/2005, de 23 de Junho

Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva nº 1999/77/CE, da Comissão, de 26 de Julho, relativa à limitação da colocação no mercado e da utilização de algumas substâncias e preparações perigosas, alterando o Decreto-Lei nº 264/98, de 19 de Agosto.

Decreto-Lei n.º 266/2007, de 24 de Julho

Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2003/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Março, que altera a Directiva n.º 83/477/CEE, do Conselho, de 19 de Setembro, relativa à protecção sanitária dos trabalhadores contra os riscos de exposição ao amianto durante o trabalho.

Agentes químicos

Amianto

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Lei n.º 107/2009, de 14 de SetembroAprova o regime processual aplicável às contra-ordenações laborais e de segurança social

Lei n.º 7/2009, de 11 de Fevereiro Código de Trabalho/2009

Decreto-Lei n.º 291/90. de 20 de SetembroEstabelece o regime de controlo metrológico de métodos e instrumentos de medição.

Portaria n.º 977/2009, de 1 de SetembroAprova o Regulamento do Controlo Metrológico dos Sonómetros e revoga a Portaria n.º 1069/89, de 13 de Dezembro

Decreto Regulamentar n.º 6/2001, 5 de MaioAprova a lista das doenças profissionais e o respectivo índice codificado

Decreto Regulamentar Nº 76/2007 , de 17 de JulhoAltera os capítulos 3.º e 4.º da lista das doenças profissionais - a partir de 1-8-2007 do Decreto Regulamentar n.º 6/2001, de 5 de Maio

Decreto-Lei n.º 330/93, de 25 de SetembroTranspõe para a ordem jurídica interna a Directiva nº 90/269/CEE, do Conselho, de 29 de Maio, relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde na movimentação manual de cargas.

Lei n.º 113/99 , de 03 de Agosto Altera o art. 10º do Decreto-Lei n.º 330/93, a partir de 1-12-1999.

Portaria n.º 53/96, de 20 de Fevereiro

Altera a Portaria nº 1179/95, de 26 de Setembro (aprova o modelo da ficha de notificacao da modalidade adoptada pelas empresas para a organização dos serviços de segurança, higiene e saúde no trabalho).

Decreto-Lei n.º 110/2000, de 30 de Junho

Estabelece as condições de acesso e de exercício das profissões de técnicosuperior de segurança e higiene do trabalho e de técnico de segurança e higienedo trabalho

Lei n.º 14/2001 , de 04 de Junho Altera o artigo 20.º do Decreto-Lei n.º 110/2000

Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro Regime jurídico de promoção da segurança e saúde no trabalho

Portaria n.º 55/2010, de 21 de Janeiro

Regula o conteúdo do relatório anual referente à informação sobre a actividade social da empresa e o prazo da sua apresentação, por parte do empregador, ao serviço com competência inspectiva do ministério responsável pela área laboral.

Portaria nº 108-A/2011 , de 14 de Março Altera o artigo 5.º da Portaria n.º 55/2010

Portaria n.º 255/2010, de 5 de MaioModelo de requerimento de serviço comum, externo e dispensa de serviço interno de SST.

Portaria n.º 275/2010, de 19 de Maio Aprova as taxas relativas à autorização dos serviços de SST.

Portaria n.º 299/2007, de 16 MarçoAprova o modelo de ficha de aptidão, a preencher pelo médico de trabalho.

Movimentação manual de

cargas

Contra-ordenações

laborais - regime

processual

Controlo metrológico

Doenças profissionais

Organização dos serviços de

Segurança e Saúde do Trabalho

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Portaria da Região Autónoma dos Açores n.º 69/94, de 2 de Dezembro

Aprova os modelos a utilizar na prescrição de medicamentos, exames complementares, tratamentos, consultas e internamento aos utentes do SRS.

Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro Informação genética e informação de saúde

Lei n.º 67/98, de 26 de Outobro Lei de Protecção de Dados Pessoais

Decreto n.º 41 821, de 11 de Agosto de 1958. Regulamento de Segurança no Trabalho da Construção Civil.(alterado pelo Decreto-Lei nº 308/89 , 14-09-1989, e parcialmente revogado pelo Decreto-Lei n.º155/95, de 01-07-1995).

Decreto 46 427, de 10 de Julho.Aprova o Regulamento das Instalações Sociais Provisórias dos Estaleiros

(alterado pelo Decreto-Lei nº 308/89 , 14-09-1989, e parcialmente revogado pelo Decreto-Lei n.º155/95, de 01-07-1995).

Decreto-Lei n.º 113/93, de 10 de Abril

Transpõe para o direito interno a Directiva do Conselho nº 89/106/CEE, de 21 de Dezembro de 1988, relativa aos produtos de construção, tendo em vista a aproximação das disposições legislativas dos Estados Membros.

Alterado por Decreto-Lei n.º 4/2007 , 2007-01-08 (altera os artigos 1.º a 13.º e republica); Decreto-Lei n.º 374/98 , 1998-11-24 (altera os arts. 5.º, 6.º e 13.º); Decreto-Lei n.º 139/95, 1995-06-14 (altera os artigos 3.º a 6.º, 12.º e 13.º). Aditado por Decreto-Lei n.º 4/2007 , 2007-01-08 (adita os anexos I a IV).

Portaria n.º 1115-C/94, de 15 de DezembroDetermina quais os requisitos a que deve obedecer o livro de obra, a conservar no respectivo local.

Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de Outubro

Procede à revisão da regulamentação das condições de segurança e de saúde no trabalho em estaleiros temporários ou móveis, constante do Decreto-Lei n.º 155/95, de 1 de Julho, mantendo as prescrições mínimas de segurança e saúde no trabalho estabelecidas pela Directiva n.º 92/57/CEE, do Conselho, de 24 de Junho.

Decreto-Lei n.º 4/2007, de 8 de Janeiro

Terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 113/93, de 10 de Abril, que transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 89/106/CEE, do Conselho, de 21 de Dezembro de 1988, que aproxima as legislações dos Estados membros no que se refere aos produtos de construção.

Decreto-Lei n.º 347/93 de 1 de OutubroTranspõe para a ordem jurídica interna a Directiva nº 89/654/CEE, do Conselho, de 30 de Novembro, relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde nos locais de trabalho

Portaria n.º 987/93 de 6 de OutubroEstabelece as prescrições mínimas de segurança e saúde nos locais de trabalho.

Directiva n.º 92/85/CE, do Conselho, de 19 de Outubro

Implementação de medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes no trabalho

Transposta para o direito interno português através do Código de Trabalho.

Lei n.º 7/2009, de 11 de Fevereiro Código do Trabalho

Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro Promoção da segurança e saúde no trabalho

Protecção da Mulher

Informação de saúde

Estaleiros temporários ou

móveis

Locais de trabalho

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Decreto do Governo n.º 1/85, de 16 de Janeiro

Aprova, para ratificação, a Convenção n.º 155, relativa à segurança, à saúde dostrabalhadores e ao ambiente de trabalho, adoptada pela Conferência Internacional do Trabalho na sua 67ª sessão, da Organização Internacional do Trabalho

Directiva do Conselho n.º 89/391/CEE, de 12 de Junho

Aplicação de medidas para promover a melhoria da SST

Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/2008, de 01 de Abril

Aprova a estratégia nacional de SST para o período de 2008-2012

Lei n.º 7/2009, de 11 de Fevereiro Código do Trabalho

Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro Promoção da segurança e saúde no trabalho

Decreto-Lei n.º 83/98, de 3 de Abrilcria o Conselho de Saúde e Segurança no Trabalho na Administração Pública

Lei n.º 59/2008, de 11 de Setembro Aprova o regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas

Decreto-Lei n.º 129/2002, de 11 de Maio Aprova o Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios

Alterado por Decreto Legislativo Regional n.º 23/2010/A , 2010-06-30 (as referências feitas no Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios ao Regulamento Geral de Ruído entendem-se como feitas às correspondentes normas do Decreto Legislativo Regional n.º 23/2010/A, de 30-06); Decreto-Lei nº 96/2008 , 2008-06-09 (altera os artigos 1.º, 2.º, 3.º, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º, 9.º, 10.º, 11.º, 12.º, 13.º, 14.º e 15.º do Regulamento e os quadros ii, iv e v do anexo e republica o Regulamento). Aditado por Decreto-Lei n.º 96/2008 , 2008-06-09 (adita o artigo 10.º-A).

Decreto-Lei n.º 182/2006, de 6 de Setembro

Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2003/10/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 6 de Fevereiro, relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde em matéria de exposição dos trabalhadores aos riscos devidos aos agentes físicos (ruído).

Decreto-Lei n.º 9/2007, de 17 de JaneiroAprova o Regulamento Geral do Ruído e revoga o regime legal da poluição sonora, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 292/2000, de 14 de Novembro.

Alterado por Decreto Legislativo Regional n.º 23/2010/A , 2010-06-30 (as referências feitas no Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios ao Regulamento Geral de Ruído entendem-se como feitas às correspondentes normas do Decreto Legislativo Regional n.º 23/2010/A, de 30-06); Decreto-Lei n.º 278/2007 , 2007-08-01 (altera o artigo 4.º do diploma preambular e o artigo 15.º do Regulamento)

Regulamento n.º 14/2009, de 13 de Janeiro Código Deontológico da Ordem dos Médicos

Decreto-Lei n.º 282/77, de 5 de Julho Estatuto da Ordem dos Médicos

Decreto-Lei n.º 217/94, de 20 de Agosto Estatuto Disciplinar dos Médicos

Lei n.º 48/90, de 21 de Agosto Lei de Bases da Saúde

Decreto Legislativo Regional n.º 28/99/A, de 31 de Julho

Estatuto do Serviço Regional da Saúde Com as alterações promovidas pelo Decreto Legislativo Regional n.º 1/2010/A, de 4 de Janeiro

Exercício medicina e legislação

básica da Saúde

SST

SST para a Administração

Púbica

Ruído

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CAPÍTULO II

CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. Advertência

1.1. Para além dos casos individuais analisados na amostra verificou-se, durante a fase de planeamento e

execução da ação, dúvidas ou inconsistências sobre o quadro normativo em vigor ou relativamente

a actos praticados pelos fiscalizados.

1.2. A IReS não pretende substituir-se às funções de consultoria de outras entidades, nomeadamente a

DRS, nem o entendimento aqui expresso vincula outro serviço que não a IReS, dotada de indepen-

dência técnica para o efeito nos termos do seu estatuto, sem prejuízo da eventual homologação das

conclusões pela tutela, passando a valer como posição oficial. O presente capítulo enquadra-se na

finalidade pedagógica mencionada no ponto 2.1. do capítulo I.

2. Boletim de sanidade

2.1. O artigo 15.º, n.º 12 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, refere como obrigação geral do

empregador a assunção dos “…encargos com a organização e o funcionamento do serviço de segu-

rança e de saúde no trabalho e demais medidas de prevenção, incluindo exames, avaliações de

exposições, testes e outras acções dos riscos profissionais e vigilância da saúde, sem impor aos

trabalhadores quaisquer encargos financeiros” (ênfase nossa). Durante a acção verificou-se vários

casos, identificados no anexo I, em que os encargos com MCDT foram suportados pelo SRS e/ou as

taxas sanitárias pelos trabalhadores.

2.2. Os fiscalizados, sobretudo serviços externos, alegaram a vigência do boletim de sanidade na Região

Autónoma dos Açores, em virtude do qual seriam aproveitados os MCDT e demais exames realiza-

dos – incluindo consulta de observação –, de carácter anual (n.º 1 da Portaria n.º 74/1988, de 18 de Outu-

bro), para as consultas periódicas na medicina do trabalho. A equipa inspectiva foi inclusivamente

informada da posição da DRS, dirigida ao Instituto de Alimentação e Mercados Agrícolas (IAMA)

– São Miguel, na qual se alegou a vigência do boletim de sanidade, aprovado pela Portaria regional

n.º 74/1988, de 18 de Outubro. Salvo o devido respeito, e sem embargo das boas intenções da posi-

ção assumida, discordou-se da conclusão da tutela, conforme os fundamentos oportunamente apre-

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sentados na Orientação Técnica (OT) da IReS, inscrita na informação IRS-SAI/2012/324, de 29-05-

2012, dirigida ao Sr. Secretário Regional da Saúde.

2.3. Segundo a IReS, a vigência da Portaria n.º 74/1988, de 18 de Outubro, tem a virtuosidade de com-

prometer a funcionalidade e finalidade da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro. O n.º 6 da portaria

regional menciona que “…os centros de saúde executarão gratuitamente os exames necessários,

incluindo a observação clínica e análises laboratoriais…” (ênfase nossa). Esta previsão contrasta

com o n.º 12 do artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, sobre a responsabilidade do

empregador nos custos da saúde no trabalho (4). Por outro lado, a portaria regional é omissa quanto

ao responsável pelo pagamento da taxa sanitária, mau grado a interpretação conforme ao n.º 12 do

artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, e a natureza do direito em causa induzirem a

assunção dos custos pela entidade empregadora (artigo 59.º, n.º 1, alíneas b) e c) da CRP e artigos 281.º e

282.º do Código de Trabalho) (5). Efectivamente, verificaram-se casos em que os trabalhadores suporta-

ram o custo administrativo para a emissão do boletim de sanidade (taxas sanitárias).

2.4. Finalmente, a portaria regional contrasta formalmente com uma lei de âmbito nacional (Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro), referente à transposição de diretivas comunitárias (Diretiva-Quadro

89/391/CEE) e emanada no âmbito da competência política e legislativa da Assembleia da República

(alínea c) do artigo 161.º da CRP) (6). A vigência da portaria regional parece bulir com o artigo 112.º da

CRP, no quadro da hierarquia dos actos normativos, pelo que deverá considerar-se como tacitamen-

te revogada.

2.5. O Sr. Secretário Regional da Saúde, por despacho de 31-05-2012, concordou parcialmente com os

fundamentos e proposta da OT da IReS, determinando a revogação da Portaria n.º 74/1988, de 18

de Outubro, o que veio a suceder através do artigo 3.º da Portaria n.º 77/2012, de 10 de Julho (7).

(4) Já contrastava com os artigos 8.º, n.º 5 e 15.º, n.º 3 do Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro. (5) Enquanto direito fundamental do trabalhador, dirigido aos poderes públicos (Estado) e privados (empregadores), cf. inter alia, J.J. GOMES CANOTILHO/V ITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada, vol. I, 4.ª ed., 2007, p. 773; RUI MEDEIROS, Consti-tuição Portuguesa Anotada, org. Jorge Miranda/Rui Medeiros, tomo I, Coimbra Editora, Coimbra, 2005, pp. 605-606; MANUEL M. ROXO, Direito da Segurança e Saúde no Trabalho, Almedina, Coimbra, 2011, pp. 45 e ss.; CÉLINE ROSA PIMPÃO, A Tutela do Trabalhador em Matéria de Segurança, (Higiene) e Saúde no Trabalho, Coimbra Editora, Coimbra, 2011, pp. 83 e ss.; LUÍS CONCEIÇÃO FREITAS, Seguran-ça e Saúde no Trabalho, 2.ª ed., Edições Sílabo, Lisboa, 2011, passim. (6) E não, como erradamente se disse na OT, uma competência exclusiva da Assembleia da República. (7) Jornal Oficial da Região Autónoma dos Açores, I Série, n.º 109, de 10 de Julho 2012.

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2.6. Sem embargo do entendimento sufragado pelos relatores, indicado nos pontos 2.3. e 2.4., o enten-

dimento da tutela manifestado através da DRS quanto à vigência do boletim de sanidade de alguma

forma cauciona o aproveitamento dos exames gratuitos para efeitos da medicina do trabalho. Por

conseguinte, sugere-se à tutela que as empresas de serviços externos e empresas clientes que apro-

veitaram os exames suportados pelo SRS no âmbito do boletim de sanidade, e desde que cumpridas

as regras atinentes à sua emissão (8), não seja responsabilizadas pelo aproveitamento dos referidos

exames.

2.7. Ao invés, os encargos suportados pelos trabalhadores quanto ao pagamento das taxas sanitárias vio-

lam o disposto no n.º 12 do artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, sem base legal ou

orientação da tutela que caucione a prática em causa. O incumprimento dos encargos a suportar

pelos empregadores pode consubstanciar contraordenação muito-grave, variando a coima entre 4

590,00€ e 61 200,00€, consoante o volume de negócios da empresa e se a infracção tenha sido pra-

ticada a título de negligência ou dolo (artigo 1.º e n.º 14 do artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de

Setembro e n.º 4 do artigo 554.º da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro).

2.8. Deixa-se para ponderação da tutela a eventual abertura do competente procedimento contraordena-

cional.

3. Medicina familiar/preventiva vs. Medicina do trabalho

3.1. À semelhança dos boletins de sanidade, constatou-se que alguns médicos realizaram consultas de

medicina de trabalho, aproveitando exames efectuados em medicina familiar ou preventiva aos

trabalhadores/utentes.

3.2. Esta dicotomia entre medicina preventiva/familiar vs. medicina no trabalho revela i) sobreposição

funcional, ii ) pode distorcer as obrigações inerentes à relação contratual entre o empregador e o

trabalhador, iii ) e pode provocar, de modo ilícito, vantagens competitivas entre os diversos presta-

dores de serviços em medicina do trabalho, suportado em actos de enriquecimento sem causa.

(8) Designadamente, quanto ao âmbito subjectivo e objectivo de aplicação da Portaria n.º 74/1988, de 18 de Outubro, isto é, atividade pro-fissional que implique contacto direto com alimentos, aplicável a todo o “…pessoal empregado na preparação e embalagem de produtos alimentares, na distribuição e venda de produtos não embalados e na preparação culinária de alimentos em estabelecimentos onde se confeccionam e servem refeições ao público em geral ou a colectividades, bem como aos responsáveis pelos referidos estabelecimentos… [sic]” (ponto 1 da Portaria).

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i) Sobreposição funcional - eventual violação do dever à protecção da intimidade privada do

trabalhador

3.3. A prestação médica no âmbito da medicina do trabalho comporta elementos típicos da consulta em

medicina preventiva/familiar, embora sem se confundirem. A prestação médica no âmbito da saú-

de no trabalho também abrange a prevenção primária, secundária e terciária, através da vigilância

passiva e activa da saúde do trabalhador, sendo este um dos traços distintivos da saúde ocupacio-

nal na Europa em relação a outros sistemas, nomeadamente nos E.U.A. (artigos 5.º. n.º 3, alínea d), 15.º,

n.º 8, 98.º, n.º 1, alínea g), 105.º, n.º 3, 107.º, 108.º, n.º 2, 109.º, n.º 4, da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro) (9).

Nos termos da alínea d) do artigo 3.º da Directiva 89/391/CE, do Conselho, de 12 de Junho, a

«prevenção» é “…o conjunto das disposições ou medidas tomadas ou previstas em todas as fases

da actividade da empresa, tendo em vista evitar ou diminuir os riscos profissionais.”

3.4. Entenda-se por prevenção primária a eliminação dos “…desvios de saúde através da supressão ou

controlo da fonte de risco, mediante mecanismos técnicos ou organizacionais…” nomeadamente

por via da formação ou vacinação dos trabalhadores; por prevenção secundária, o “…controlo da

doença profissional ou desvio de saúde, antes que se desenvolva plenamente”; e prevenção terciá-

ria, a adaptação do local de trabalho ao trabalhador e o trabalhador ao local de trabalho (cf. artigo 4.º,

n.º 2 da Convenção OIT, n.º 155, ratificada pelo Decreto do Governo n.º 1/85, de 16 de Janeiro). Note-se, aliás,

que a vertente preventiva da medicina do trabalho interpenetra-se na vertente da segurança, atra-

vés da prevenção dos riscos para a saúde, para além da formação do trabalhador (artigos 127.º, n.º 1

alínea d) e 281.º, n.º 2,3,4 e 6 do Código do Trabalho (2009)) (10).

3.5. No tocante à medicina do trabalho, é possível visualizar o mencionado a partir de um quadro

sinóptico, com dois círculos concêntricos ou duas esferas com tangencia interna ou ainda duas cir-

(9) Para uma comparação sobre a medicina ocupacional na Europa e nos E.U.A, cf. JULIE C. SUK, «Preventive Health at Work: A Compara-tive Approach.» in American Journal of Comparative Law, vol. 59, n.º. 4, 2011 (Cardozo Law School Legal Studies Research Paper n.º. 342), pp. 1089-1134. A pp. 1090 é dito: “…one important but often ignored aspect of preventive healthcare in European countries: the integration of preventive medicine into employment law. A European directive on occupational health and safety requires employers to prevent risks to employees’ health. In many European countries, this is done through occupational physicians who regularly examine the employees.” (10) LUÍS CONCEIÇÃO FREITAS, op. cit., p. 458; MANUEL FREITAS E COSTA, Dicionário de termos médicos, Porto Editora, 2005, p. 994; JULIE

C. SUK, op. loc. cit., pp. 1091: “distinctive feature of European occupational safety and health law is the employer’s duty to prevent risks. A 1989 EU directive requires employers to “take the measures necessary for the safety and health protection of workers, including preven-tion of occupational risks and provision of information and training, as well as provision of the necessary organization and means.”

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cunferências secantes, que se cruzam num espaço comum, sem porém se confundirem (11), tendo

como critério diferenciador a relação directa, causal ou consequencial, da saúde do trabalhador

com o seu local e prestação de trabalho (12). Assim, o Comité Misto da OIT/OMS (1950) determi-

nou que os “profissionais de saúde devem ter por finalidade: a promoção e manutenção do mais

alto grau de desenvolvimento físico, mental e bem-estar social dos trabalhadores em todas as pro-

fissões; a prevenção entre os trabalhadores dos desvios de saúde causados pelas condições de

segurança do trabalho, a protecção dos trabalhadores no local de trabalho contra os riscos resul-

tantes de factores adversos à saúde; a colocação e manutenção do trabalhador num ambiente

profissional adaptado às suas capacidades fisiológicas e psicológicas; em suma, de adaptar o

trabalho ao homem e cada homem à sua tarefa”.

3.6. Em suma: o âmbito da medicina do trabalho também tem função preventiva. No entanto, não se

confunde com a finalidade da medicina familiar/preventiva, por aquela se circunscrever a um

âmbito específico (laboral) ao contrário desta (de índole generalista). Os exames em medicina do

trabalho têm como elemento de conexão e finalidade última os factores de risco (físicos, químicos,

biológicos, ergonómicos, psicossociais) no trabalho para a saúde do trabalhador, não tanto do

utente.

3.7. Acrescente-se que a utilização de exames para além do estritamente necessário no quadro da

medicina do trabalho pode consubstanciar violação de segredo médico – que se analisará em sec-

ção autónoma (13) – e uma restrição inadmissível do direito à reserva da intimidade privada do tra-

balhador, nos termos do artigo 26.º, n.º 1 da CRP. A constrição deste direito fundamental, por

regra com elevados índices de conflitualidade (14), desdobra-se em dois direitos menores: “…o

(11) Por exemplo, a título meramente ilustrativo:

(12) Cfr. ponto 9 da Estratégia Global de Saúde do Trabalho para Todos, Organização Mundial para a Saúde, Pequim, China, 11 a 14 de

Outubro de 1996 e Declaração do Luxemburgo sobre Promoção da Saúde no Local de Trabalho na União Europeia (1997), em cuja Rede integra a Direcção-Geral da Saúde.

(13) Ponto 4 do presente capítulo. (14) RUI MEDEIROS/ANTÓNIO CORTÊS, Constituição Portuguesa Anotada, cit., p. 290.

Medicina preventiva

Medicina no trabalho

Medicina preventiva

Medicina no

trabalho

Medicina preventiva

Medicin

a no

trabalho

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direito a impedir o acesso de estranhos a informações sobre a vida privada e familiar e o direito a

que ninguém divulgue as informações a que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem”, o

que engloba todas as técnicas de devassa da vida privada e colheita de dados (15).

3.8. O aproveitamento dos exames em sede de medicina preventiva/familiar no contexto da medicina

do trabalho pode incentivar ou ameaçar o acesso a informação sensível, por parte do empregador,

ou à prática de actos ablativos no contexto da discricionariedade técnica do médico de trabalho, na

exacta medida em que as finalidades dos dados submetidos a tratamento não se encontrem sufi-

cientemente determinadas, originando a sua desadequação, impertinência ou excessividade (artigo

5.º, n.º 1, alíneas b) e c) da Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro – Lei da Protecção de Dados Pessoais) (16).

3.9. Conforme jurisprudência do Tribunal Constitucional, plasmada no Acórdão n.º 368/02, a constri-

ção do direito à intimidade privada “…pode ser limitado em resultado da sua harmonização com

outros direitos fundamentais ou com interesses constitucionalmente protegidos no respeito pelo

princípio da proporcionalidade, em termos de se considerarem admissíveis, em certas circuns-

tâncias e com certas finalidades…” (ênfase nossa). No caso de o médico de trabalho ter notícia

de questões patogénicas flanqueáveis à saúde no trabalho, que nada tenham a ver com a aptidão

física e psíquica do trabalhador, “o médico de trabalho está vinculado (…) ao aludido objectivo

legal [saúde no trabalho], o que implica, necessariamente, que ele se confine a um exame limitado

e perfeitamente balizado por aquele objectivo, devendo ater-se ao estritamente necessário, ade-

quado e proporcionado à verificação de alterações na saúde do trabalhador causadas pelo exer-

cício da sua actividades profissional e à determinação da aptidão ou inaptidão física ou psíquica

do trabalhador para o exercício das funções…” (17). Com efeito, o médico não pode, por sua ini-

ciativa, restringir o direito à intimidade do trabalhador alargando o espaço de actuação médica.

Nesses casos, deve reencaminhar o trabalhador para o seu médico de família, respeitando os limi-

tes da sua intervenção (18). A conclusão aplica-se igualmente no caso de o médico de trabalho e

(15) J.J. GOMES CANOTILHO/V ITAL MOREIRA, Constituição…cit., pp. 467-468. Cfr. Acórdãos do Tribunal Constitucional n.º 255/02, de 12 de Julho, proc. 646/96, plenário, relator: GUILHERME DA FONSECA, e n.º 207/03, de 28 de Abril, proc. 52/2003, 3.ª secção, relator: BRAVO

SERRA, disponíveis em www.tribunalconstitucional.pt (última consulta 02-07-2012). (16) Cf. Deliberação n.º 840/2010, de 11 de Outubro, da CNPD, disponível em www.cnpd.pt (última consulta 02-07-2012). (17) Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 368/02, de 25 de Setembro, proc. 577/98, plenário, relator: ARTUR MAURÍCIO, disponível em www.tribunalconstitucional.pt (última consulta, 02-07-2012). (18) Como refere JORGE MIRANDA, Constituição…cit, p.159, há que distinguir «restrição» do direito, que tem a ver com a extensão objetiva do direito em si, envolvendo a amputação de faculdades a priori nele incluídas; e «limite» do direito, ou seja, quando contende com o seu modo de exercício ou manifestação, aplicável a quaisquer direitos.

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médico de família serem a mesma pessoa, até pela diferenciação do responsável pelos encargos, a

entidade patronal ou o SRS, consoante os casos.

3.10. Determinados serviços ou actividades pressupõem, “…pela própria natureza das necessidades

que tais profissões ou serviços visam satisfazer, que os indivíduos que a eles tenham de recorrer

revelem factos que interessam à esfera íntima da sua personalidade, quer física, quer jurídica”,

pelo que a prática em causa também pode comprometer o dever de segredo profissional (19).

3.11. Quanto ao tipo de exames clínicos a efectuar, nomeadamente MCDT, impera a discricionariedade

técnica dos médicos (20), sem embargo da sua previsão no manual de procedimentos e de na medi-

cina do trabalho, tal como na medicina familiar/preventiva, se aplicarem os deveres deontológicos

que recaem sobre estes profissionais, designadamente o artigo 5.º, n.º 4 do Código Deontológico

da Ordem dos Médicos, quanto à rigorosa gestão dos recursos, de modo eficaz e eficiente, bem

como o princípio da boa fé e da tutela da confiança na relação entre o prescritor e o SRS (21).

3.12. O n.º 3 do artigo 108.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, classifica os exames como de

admissão, isto é, “…antes do início da prestação de trabalho ou, se a urgência da admissão o jus-

tificar, nos 15 dias seguintes…”; periódicos, com periodicidade anual para os menores de 18 anos

e maiores de 50 anos, e bianual para os restantes trabalhadores; e ocasionais, “…sempre que haja

alterações substanciais nos componentes materiais de trabalho que possam ter repercussão noci-

va na saúde do trabalhador, bem como no caso de regresso ao trabalho depois de uma ausência

superior a 30 dias por motivo de doença ou acidente” . Sublinha-se: todos os custos inerentes aos

exames médicos, incluindo MCDT, são da responsabilidade do empregador, sob pena de enrique-

cimento da empresa ou médico de trabalho sem causa justificativa (artigo 473.º do CC), podendo além

disso originar infração deontológica, civil, contraordenacional e/ou penal.

(19) Parecer do Conselho Consultivo da PGR, n.º 201994, de 09-02-1995 (relator: CABRAL BARRETO), disponível e www.dgsi.pt (última consulta 05-07-2012). (20) Que não se confunde com arbitrariedade, antes pelo contrário, deve encontrar-se clinicamente fundada. (21) O princípio da boa fé enquanto exigência de conduta objectiva, isto é, enquanto acção pautada por critérios axiológicos de lisura e veracidade; e subjectiva, enquanto acto predicável ao agente da acção. A violação, quer pela Administração, quer pelos particulares, do princípio da boa fé, enquanto princípio geral de direito, não depende da prática de acto ilegal uma vez que ilegalidade e ilicitude são con-ceitos que não se confundem. Pode o acto ser legal, mas ainda assim, ilícito, conforme sentença de PAULUS (“non omne quod licet hones-tum est, “nem tudo o que é lícito é honesto” cf. Digesto, 50,17,144, cf. Acórdão Tribunal Constitucional n.º 154/2007, de 02-03-2007, disponível em www.tribunalconstitucional.pt.). Pense-se, por exemplo, nos casos de actos geradores de enriquecimento sem causa pela própria Administração Pública (cf. inter alia, LUÍS CABRAL DE MONCADA, «Boa fé e Tutela da Confiança no Direito Administrativo», in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Sérvulo Correia, vol. II, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra Editora, 2010, pp. 573-611; FREITAS DO AMARAL , Curso de Direito Administrativo, vol. II, 2.ª ed., Almedina, 2011, pp. 146 e ss.; PAULO OTERO, Legalidade e Administração Pública – O Sentido da Vinculação Administrativa à Juridicidade, Almedina, 2003, passim).

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ii) Distorções na relação contratual entre empregador e trabalhador

3.13. É obrigação do empregador assegurar a prestação de trabalho em condições de higiene, segurança

e saúde (aliena c) do n.º 1 do artigo 59.º da CRP e artigos 281.º e 282.º do Código de Trabalho/2009). Este direito,

de natureza individual, seja qual for a sua estrutura, contratual ou extracontratual, pressupõe pré-

via relação de trabalho dependente (22).

3.14. O aproveitamento dos exames médicos realizados no âmbito da medicina familiar/preventiva para

a medicina do trabalho pode configurar fraude à lei, independentemente do elemento intencional

do acto (23). Embora deva existir articulação entre o médico do trabalho e o médico de família, não

se vislumbrando, à primeira vista, impedimento em ambas as funções se concentrarem na mesma

pessoa, tal não implica, contudo, a inutilização das obrigações de promoção e prevenção da segu-

rança e saúde no trabalho a que a entidade empregadora está legalmente adstrita. Todas as etiolo-

gias, ainda que multifactoriais, decorrentes da relação laboral devem estar incluídas na saúde no

trabalho, tendo em vista aferir a “…aptidão física e psíquica do trabalhador para o exercício da

actividade bem como a repercussão desta e das condições em que é prestada na saúde…” do tra-

(22) Sobre a natureza do direito à segurança e saúde no trabalho, cfr. CÉLINE ROSA PIMPÃO, op. cit., p. 71; J.J. GOMES CANOTILHO/V ITAL

MOREIRA, Fundamentos da Constituição, Coimbra Editora, Coimbra, p. 112; idem, Constituição…cit, p. 772-773. Alguns autores enqua-dram este direito na relação contratual empregador/trabalhador (v.g. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 2002; JORGE SINDE MONTEIRO, Responsabilidade por conselhos, recomendações ou informações, Almedina, Coimbra, 1989, p. 313; CÉLI-

NE ROSA PIMPÃO, op. cit., p. 91 e MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO , Direito do Trabalho, parte II, 3.ª ed., 2010, p. 624); diversamente, outros autores defendem a natureza extracontratual do direito, enquanto reflexo do interesse público, manifestação dos deveres de seguran-ça no tráfego ou prevenção do perigo (cfr. RITA AMARAL CABRAL, «Dever de prevenção do perigo», in RDES, ano XXXVI (IX 2.ª série), 1994, pp. 173 e ss.; MANUEL M. ROXO, op. cit., pp. 45 e ss.). Segue-se de perto a concepção da natureza contratual do direito, enquanto dever acessório do empregador no âmbito do contrato de trabalho, concretizando os comandos constitucionais, por melhor se enquadrar na estrutura da relação laboral. Caso contrário, tudo se reconduziria a questões de dignidade constitucional, inutilizando amplos sectores do direito privado. Nas situações em que as relações jurídicas prototípicas do direito privado são ultrapassadas por um poder de facto ainda não maturado por instituto específico poder-se-á, então, propugnar pela aplicabilidade imediata ou horizontal dos direitos fundamentais (cfr. inter alia, CLAUS-WILHELM CANARIS, Direitos Fundamentais e Direito Privado, trad. Ingo Wolfgang Sarlet e Paulo Mota Pinto, Almedina, Coimbra, 2003, VIEIRA DE ANDRADE Os Direitos Fundamentais na Constituição da República Portuguesa de 1976, 3.ª ed., Almedina, Coimbra, 2006, pp. 253 e ss.). (23) Cfr. Acórdão STJ, de 30-10-2007, proc. 07S1260 – revista (relator: SOUSA PEIXOTO), disponível em www.dgsi.pt (última consulta 01/07/2012); Acórdão STJ, de 09-05-1985 (relator. GÓIS PINHEIRO), BMJ, 347, pp.404-408; Acórdão da Relação de Lisboa de 02-12-1997 (relator: DINIS NUNES), BMJ 472, 1998, p.552. Cfr. igualmente CASTRO MENDES, Direito Civil. Teoria Geral, (polic.), vol. III, Lisboa, 1979, p. 768; MANUEL ANDRADE, Teoria da Relação Jurídica, 1960, pp. 339 e ss; PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, Teoria Geral do Direito Civil, 3.ª ed., Almedina, Coimbra, 2005, pp. 430 a 434, MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português – Parte Geral, I, tomo I, 3.ª ed., Almedina, 2011, pp. 689-697. Ocorre fraude à lei quando se obtém um resultado proibido através da conjugação de atos ou formas jurídicas lícitas praticadas para obter o resultado proibido. Na fraude à lei subjetiva exige-se animus fraudandi, intenção fraudulenta; na fraude à lei objetiva basta o mero resultado proibido por lei. A aplicação da figura da fraude à lei, objetiva ou subjetiva, obtém-se através da referenciação dos factos e da interpretação da lei. Por esta razão, a fraude à lei confunde-se com a própria violação da lei, conforme postula a maioria da doutrina e jurisprudência nacionais, acima citadas. Como refere MENEZES CORDEIRO, op. cit., p. 696: “podemos pois assentar em que a denominada fraude à lei é uma forma de ilicitude que envolve, por si, a nulidade do negócio. A sua particularidade residirá, quando muito, no facto de as partes terem tentado, através de artifícios formais mais ou menos assumidos, conferir ao negócio uma feição inócua. No fundo, a fraude à lei apenas exige uma interpretação melhorada dos preceitos vigentes”.

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balhador (artigo 108.º, n.º 1, da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro. Cf. também os artigos 15.º, n.º 12, 44.º, 45.º,

n.º 2, alínea c), 98.º, n.º 1, alínea g), 109.º, n.º 1, todos da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

3.15. A vigilância da saúde no trabalho “…deve permitir a aplicação dos conhecimentos de medicina

do trabalho mais recentes, ser baseada nas condições ou circunstâncias em que cada trabalhador

tenha sido ou possa ser sujeito à exposição a agentes ou factores de risco e incluir, no mínimo, os

seguintes procedimentos: a) Registo da história clínica e profissional de cada trabalhador; b)

Entrevista pessoal com o trabalhador; c) Avaliação individual do seu estado de saúde; d) Vigi-

lância biológica sempre que necessária; e) Rastreio de efeitos precoces e reversíveis” (artigo 44.º,

n.º 2 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

iii) Concorrência ilícita

3.16. Finalmente, o aproveitamento das consultas em sede de medicina preventiva em medicina do tra-

balho tem fortes probabilidades de gerar situações de concorrência ilícita entre os diversos opera-

dores externos no âmbito da SST (24). Os serviços externos, cumpridores da Lei n.º 102/2009, de

10 de Setembro, ao distinguirem as prestações médicas efectuadas no âmbito da medicina preven-

tiva das realizadas em sede de medicina do trabalho imputam um custo na prestação de serviço

que não ocorre com os serviços externos que aproveitam os exames suportados pelo SRS, introdu-

zindo um elemento que contribui na diminuição dos custos e consequentemente nos honorários

cobrados.

3.17. Acrescente-se que a vantagem competitiva é proporcional à quantidade de exames efectuados, isto

é, quanto mais exames realizados, custeados pelo SRS, maior vantagem aufere o serviço externo

que desrespeite os limites da medicina do trabalho vs. medicina preventiva. Sem prejuízo do que

se disse a propósito das dúvidas levantadas pelo boletim de sanidade, e que se pretendem definiti-

vamente sanadas com a expressa revogação da Portaria n.º 74/1988, o modo como a vantagem

competitiva é obtida consubstancia acto ilícito, gerador de responsabilidade contraordenacional e

civil (artigo 15.º, n.º 14 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro e artigo 483.º do CC)

(24) A concorrência ilícita não se confunde com o instituto da concorrência desleal, plasmado no artigo 317.º do Código de Propriedade Industrial, com as alterações promovidas pelo Decreto-Lei n.º 143/2008, de 25 de Julho. Todas as vantagens competitivas decorrentes da violação da lei geram situações de concorrência ilícita (v.g. evasão fiscal, subornos a dirigentes da Administração Pública) mas só em alguns casos, cumpridos os requisitos, gerais ou específicos, é que ocorrerá um ato de concorrência desleal, cfr.. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCEN-

SÃO, Concorrência Desleal, Almedina, Coimbra, 2002, passim, esp.te. p. 154.

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4. Transmissibilidade da informação de saúde: segredo profissional e propriedade intelectual

do ficheiro clínico

4.1. A informação em saúde está protegida pelo segredo profissional, “…só podendo ser facultada às

autoridades de saúde e aos médicos afectos ao organismo com competência para a promoção da

segurança e da saúde no trabalho do ministério responsável pela área laboral” (n.º 2 do artigo 109.º

da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro). Trata-se igualmente de um elemento diferenciador da medicina

do trabalho ao nível europeu (25).

4.2. O n.º 4 do artigo 109.º disciplina o caso de o trabalhador cessar funções na empresa, devendo o

médico entregar-lhe cópia da ficha clínica; o n.º 5 da mesma norma regula a situação de cessação

de actividade do médico, cujo comando é repetido no n.º 4 do artigo 46.º. Não é indicado, contu-

do, o caso da relação entre o médico responsável pelo tratamento de dados, com o qual a entidade

empregadora haja cessado contrato, e o médico com quem tenha sido celebrado novo contrato para

as mesmas funções.

4.3. Verificou-se precisamente uma situação deste tipo, isto é, a recusa de transmissão da informação

de um médico de trabalho, no âmbito de serviço externo, para outro médico de trabalho, em servi-

ço interno. Pergunta-se: o médico de trabalho primevo ou cedente está obrigado a transmitir a

informação de saúde dos trabalhadores até então sob sua responsabilidade ao médico de trabalho

coevo ou cessionário?

i) Sigilo profissional

4.4. A informação clínica consta de “…ficha médica individual de cada trabalhador, colocada sob a

responsabilidade do médico”; o tratamento dos dados pessoais deve igualmente “…respeitar a

legislação disciplinadora da protecção de dados pessoais do trabalho” (n.os 2 e 5 do artigo 46.º da Lei

(25) Pois o mesmo não sucede no direito estado-unidense, cfr. JULIE C. SUK, op. loc. cit., pp. 1124: “U.S. law does not prohibit the company doctor from revealing employees’ confidential medical information to management. American doctors are generally bound by professional ethics rules to respect patient confidentiality. But this duty is not legally recognized as applying to company doctors. (…) In the United States, the company doctors’ lack of independence from the employer stems in part from the enduring doctrine of employment at will in most American jurisdictions.” A «enduring doctrine of employment at will» confere ampla discricionariedade ao empregador para despedir o trabalhador, por qualquer razão (ou mesmo sem razão), tratando-se de uma tese amplamente debatida nos E.U.A. (cfr. JULIE C. SUK, «Discrimination at Will: Job Security Protections and Equal Employment Opportunity in Conflict», in Stanford Law Review, vol. 60, 2007 (Cardozo Law School Legal Studies Research Paper n.º 189), pp. 73-114.

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n.º 102/2009, de 10 de Setembro). O médico de trabalho, ou outros profissionais de saúde, sob direcção

do médico e sujeitos ao dever de sigilo profissional, são única e exclusivamente responsáveis pelo

tratamento dos dados da informação em saúde (26), haja ou não subcontratação, nomeadamente no

caso de serviços externos (artigo 16.º da Lei n.º 67/98, de 28 de Outubro).

4.5. O dever de sigilo assume especial intensidade, atendendo ao que já se disse acima (cf. artigo 17.º da

Lei n.º 67/98, de 28 de Outubro, artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, n.º 2 do artigo 46.º da Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro). A dificuldade agrava-se quando não existe norma expressa quanto à

transmissão da informação entre médicos de trabalho, conforme se indicou no ponto 4.2. supra.

Resta o recurso aos indícios existentes nos enunciados normativos, à jurisprudência e às regras

metodológicas de interpretação das fontes.

4.6. O sigilo profissional “…não exclui o dever do fornecimento das informações obrigatórias, nos

termos legais (artigo 17.º, n.º 3 da Lei n.º 67/98, de 28 de Outubro, por força do n.º 5 do artigo 46.º da Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro). Carece de ponderação, “…por um lado, dos interesses pessoais e públi-

cos protegidos (…) e, por outro lado, do direito à informação” (27).

4.7. Note-se que o presente caso escapa ao n.º 5 do artigo 11.º da Lei n.º 67/98, de 28 de Outubro, res-

peitante ao acesso à informação. Segundo esta norma, quando está em causa informação relativa à

saúde, incluindo dados genéticos, o direito de acesso à informação “…é exercido por intermediá-

rio de médico escolhido pelo titular dos dados”, isto é, pelo próprio trabalhador. A aplicação

imponderada da norma poderia levar a que médico de trabalho coevo ou cessionário necessitasse

de autorização do titular dos dados (o trabalhador) para aceder à informação na posse do médico

primevo ou cedente (28). Dito de modo inverso, o médico primevo ou cedente poderia recusar a

transmissão da informação ao médico coevo ou cessionário enquanto o titular dos dados não auto- (26) Segundo a alínea d) do artigo 3.º da Lei n.º 67/98, de 26 de Outubro, entenda-se por «responsável pelo tratamento» “a pessoa singular ou colectiva, a autoridade pública, o serviço ou qualquer outro organismo que, individualmente ou em conjunto com outrem, determine as finalidades e os meios de tratamento dos dados pessoais; sempre que as finalidades e os meios do tratamento sejam determinados por disposições legislativas ou regulamentares, o responsável pelo tratamento deve ser indicado na lei de organização e funcionamento ou no estatuto da entidade legal ou estatutariamente competente para tratar os dados pessoais em causa”. No presente caso, existe uma norma específica que confere exclusivamente ao médico a responsabilidade da informação em saúde (artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janei-ro). Cfr. também a Deliberação da CNPD n.º 840/2010, de 11 de Outubro, cit.: “a informação de saúde deverá ser de acesso restrito ao médico do trabalho ou, sob sua direcção e controlo, a outros profissionais de saúde obrigados a sigilo profissional”. (27) Parecer do Conselho Consultivo da PGR, n.º 121/80, in Pareceres da Procuradoria-Geral da República – Liberdade de Expressão e de informação, vol. IX, p. 42. (28) Segundo a alínea a) do artigo 3.º da Lei n.º 67/98, de 28 de Outubro, o «titular de dados» é a pessoa singular, identificada ou identificá-vel, “ …considerada identificável a pessoa que possa ser identificada directa ou indirectamente, designadamente por referência a um número de identificação ou a um ou mais elementos específicos da sua identidade física, fisiológica, psíquica, económica, cultural ou social”.

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rizasse o acto. No entendimento dos relatores, esta conclusão, ainda que possível, seria excessiva à

Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, conforme se explica de seguida.

4.8. A previsão ou fatispécie do n.º 5 do artigo 11.º da Lei n.º 67/98, de 28 de Outubro, é de aplicação

geral, respeita à informação de saúde sem consideração do domínio especial da saúde no trabalho.

Genericamente, a informação de saúde é propriedade do titular dos dados, “…não podendo ser

utilizada para outros fins que não os da prestação de cuidados e a investigação em saúde e outros

estabelecidos por lei” (ênfase nossa) (n.º 1 do artigo 3.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro). O âmbito e

finalidade da medicina do trabalho estão especialmente disciplinados na Lei n.º 102/2009, de 10

de Setembro. Ainda que a informação em saúde seja propriedade do titular dos dados, não seria

razoável submeter a transmissão da informação, para efeitos da medicina do trabalho, à autoriza-

ção do trabalhador ou do médico cedente ou primevo, na medida em que paralisaria os comandos

da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, para além de restringir a livre escolha do médico de tra-

balho, incentivando actos de concorrência desleal (artigo 317.º, n.º 1, alínea b) do CPI) ou ilícitos.

4.9. O direito à intimidade privada e à liberdade geral de actuação (artigo 26.º, n.º 1 da CRP), tal como

quaisquer outros direitos fundamentais, mesmo que submetidos ao regime específico dos direitos,

liberdades e garantias, “…não são absolutos nem ilimitados” (29). Ao lado dos direitos existem

deveres fundamentais, nomeadamente (e para o que agora importa) o dever de defender ou assegu-

rar a saúde pública (artigo 64.º, n.º 1 da CRP) (30). As normas referentes à segurança e saúde no traba-

lho, ainda que primeiramente protejam o trabalhador individualmente considerado, não preterem

finalidades de saúde pública, dado que a primeira responsabilidade de zelar pela saúde cabe ao

próprio interessado (cf. Base V, n.º 1 da Lei n.º 48/90, de 21 de Agosto – Lei de Bases da Saúde). Neste con-

texto, a obrigatoriedade de o trabalhador se submeter a exames periódicos (alínea d) do n.º 1 do artigo

17.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro) “…não repugna (…) tendo em conta as mesmas disposições

constitucionais dos artigos 59.º, n.º 1, alínea c) e 64.º, n.º 1 (…). E isto até porque, devendo a

entidade patronal propiciar ao trabalhador a efectivação de um tal exame, se o trabalhador

pudesse livremente a ele se eximir, não ficaria assegurado que tal renúncia não ficasse a dever a

sugestão, influência ou pressão da própria entidade patronal, ou seja, situações análogas àquelas

(29) VIEIRA DE ANDRADE, op. cit., p. 283. (30) Sobre os deveres fundamentais, enquanto categoria autónoma, cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, Por Uma Liberdade com Responsabilidade – Estudos sobre Direitos e Deveres Fundamentais, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, passim, esp.te pp. 248 e ss. e J.J. GOMES CANOTI-

LHO/V ITAL MOREIRA, Constituição…cit., pp. 319-322.

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que precisamente se pretende obviar com as disposições imperativas no domínio da legislação do

trabalho” (31). Com efeito, “…o direito à intimidade não é um direito absoluto (…). Trata-se de

um direito relativo numa dupla acessão. Primeiro, porque a sua própria extensão varia consoante

factores objectivos e subjectivos. Entre aqueles (…) conta-se a actuação incisiva e constante do

Estado (…). Os factores subjectivos têm a ver com cada pessoa, quer considerada isoladamente,

quer focada enquanto membro do corpo social” (32).

4.10. O que foi dito quanto à obrigatoriedade da realização de exames pelos trabalhadores é válido,

mutatis mutandis, para a transmissão da informação de saúde entre os médicos responsáveis pela

saúde no trabalho, cessionário e cedente, na medida em que “…é constitucionalmente imposto que

o exame de saúde obrigatório se adeqúe, com precisão, ao fim prosseguido” (33).

4.11. O n.º 5 do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, embora carente de regulamentação, que

ainda não ocorreu (34), oferece indícios para a conclusão agora defendida. Segundo o preceito “o

processo clínico só pode ser consultado por médico incumbido da realização de prestações de

saúde a favor da pessoa a que respeita…” (ênfase nossa). O n.º 4 da mesma norma refere que “a

informação médica é inscrita no processo clínico pelo médico que tenha assistido a pessoa…”

(ênfase nossa). No âmbito da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, o médico que assiste o traba-

lhador é escolhido e contratado pela entidade empregadora (artigo 15.º, n.º 12, 83.º, n.os 1 e 4, 88.º, n.º 2

alínea c) da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro). A necessidade de autorização por parte do trabalhador

para a transmissão de informação entre os médicos de trabalho seria uma mera formalidade, sem

especificidades dignas de protecção, pois o médico coevo ou cessionário, livremente contratado

pela entidade empregador, mais tarde ou mais cedo terá acesso à informação de saúde do trabalha-

dor. A autorização tão só obstaculizaria o acesso por parte do médico cessionário.

4.12. Por outro lado, semelhante imposição poderia desvirtuar a livre escolha de serviços externos ou do

médico de trabalho por parte da entidade empregadora, conferindo uma vantagem competitiva e

desleal, por contrária às normas e usos honestos da actividade, ao médico cedente ou primevo na

(31) Acórdão do Tribunal Constitucional, n.º 368/02, cit. (32) Parecer do Conselho Consultivo da PGR, n.º 129/83, in Pareceres da Procuradoria-Geral da República – Liberdade de Expressão e de informação, vol. IX, p. 48. (33) Cf. Acórdão do Tribunal Constitucional, n.º 368/02, cit. e ponto 3.9. do presente capítulo. (34) O artigo 22.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, atribuiu ao Governo a competência para a regulamentação da lei no prazo de 180 dias. Até à data da elaboração do presente relatório (Junho/Julho de 2012) a regulamentação encontrava-se omissa.

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posse de informação propriedade do titular dos dados e recolhida para fins determinados (saúde no

trabalho). Esta situação poderá também ameaçar a aptidão do trabalhador para o trabalho, a partir

do não acesso à informação pelo médico coevo ou cessionário. A interpretação sistemática da lei

depõe no sentido de não se aplicar as restrições inerentes ao sigilo profissional, nem a autorização

do trabalhador para a transmissão da informação em saúde no trabalho, previstos para a generali-

dade das situações e sem as especificidades e finalidades próprias da medicina do trabalho (artigo

9.º, n.º 1 e 3 do CC).

4.13. Conforme parecer da CNECV “a informação é fundamental na construção do conhecimento e em

qualquer fundamentada tomada de decisão que vise uma acção concreta. (…) a percepção da

informação em causa [médica] depende do contexto científico, tecnológico, artístico, cultural,

social e, bem assim, de quem a interpreta e a utiliza”. O “conhecimento utiliza e gera informação

(…)”sendo que a “…informação de saúde é construída no contexto de uma relação pessoal com

indivíduos, doentes ou saudáveis; é elaborada e processada por profissionais de saúde, devendo

estar disponível e ser comunicada à pessoa em causa, enquanto recurso essencial para uma

tomada de decisão” (35). Ainda segundo o referido parecer, a informação de saúde “…enquadra-se

no respeito pela autonomia da pessoa, no respeito pelos seus concidadãos (familiares ou outros),

e ainda na responsabilidade dos profissionais pela protecção dessa mesma informação. A auto-

nomia da pessoa humana é, com efeito, o fundamento ético do dever de confidencialidade e de

protecção da privacidade.”

4.14. Sem embargo do entendimento dos relatores, considera-se prudente que a tutela solicite pedido de

parecer à CNPD, quanto ao modo de proceder a transmissão de informação em saúde no âmbito da

medicina do trabalho entre médicos cedente e cessionário.

ii) Propriedade intelectual da informação clínica

4.15. Em alguns casos, alegou-se a propriedade intelectual da informação constante no registo clínico

do médico. Nos termos do n.º 3 do artigo 100.º do CDOM, “o médico é o detentor da propriedade

intelectual dos registos que elabora, sem prejuízo dos legítimos interesses dos doentes e da insti-

tuição à qual eventualmente preste os serviços clínicos a que correspondem tais registos”.

( 35 ) Parecer sobre informação de saúde e registos informáticos de saúde, n.º 60, de 27 de Setembro de 2011, disponível em http://www.cnecv.pt (última consulta 01-07-2012).

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4.16. O preceito em análise carece de confrontação com o Código do Direito de Autor e Direitos Cone-

xos (CDADC) – após a última alteração, promovida pela Lei n.º 16/2008, de 1 de Abril (36). A

propriedade intelectual e os inerentes direitos de exclusivo, pessoais e patrimoniais (artigo 9.º, n.º 1

do CDADC), aplicam-se às “…obras e criações intelectuais do domínio literário, científico e artísti-

cos, por qualquer modo exteriorizadas”. Note-se, contudo, que “as ideias, os processos, os siste-

mas, os métodos operacionais, os conceitos, os princípios ou as descobertas não são, por si só e

enquanto tais, protegidos…” pelo direito de autor (artigo 1.º, n.º 1 e 2 do CDADC). No que concerne à

autoria, “o direito de autor pertence ao criador intelectual da obra, salvo disposição expressa em

contrário” (artigo 11.º do CDADC), sem prejuízo das regras aplicáveis à obra feita em colaboração e

as obras colectivas (artigos 17.º a 19.º do CDADC).

4.17. A obra não é uma qualidade do autor, mas coisa incorpórea. “É uma criação do espírito (…) mas

tem de ser exteriorizada, e uma vez exteriorizada já é um elemento estranho ao seu autor” (37)

sujeitando-se ao requisito constitutivo e atributivo do direito de exclusivo (a actividade intelectual

e a criatividade), sem embargo de outros elementos indiciários (38). Sem prejuízo da duvidosa qua-

lificação da informação constante no registo clínico como sendo uma «obra», as expressões even-

tualmente protegidas pelo exclusivo autoral seriam pertencentes ao domínio científico.

(36) Cf., inter alia, JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito de Autor e Direitos Conexos, Coimbra Editora, Coimbra, 1992; LUIZ FRANCISCO

REBELLO, Código do Direito de Autor e Direitos Conexos Anotado, Âncora Editora, 2002, JOSÉ ALBERTO COELHO V IEIRA, A Estrutura do Direito de Autor no Ordenamento Jurídico Português, AAFDL, Lisboa; 1992; idem, Protecção dos Programas de Computador pelo Direi-to de Autor, Lisboa, Lex, 2005; ANDRÉ LUCAS/HENRI-JACQUES LUCAS, Traité de la Propriété Littéraire et Artistique, 2éme ed., Litec, Paris, 2001; e demais bibliografia citada em PAULO JORGE GOMES, A Partilha de Ficheiros na Internet e o Direito de Autor, IAC, Angra do Heroísmo, 2011. (37) JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito de Autor…cit., p. 67. (38) VITTORIO M. DE SANCTIS, I Soggetti del Diritto d’Autore, Giuffrè Editore, 2000, pp.17 e ss.: “la fattispecie costitutiva del diritto d’autore non è attribuito al suo titolare a seguito di un atto o di un negozio di natura privatistica o pubblicistica, ma da un fatto che il soggeto pone in essere e che, sussistendone i requisiti, la legge assume come fattispecie costitutiva del diritto” . Para JOSÉ DE OLIVEIRA

ASCENSÃO, Direito de Autor…cit, pp. 93 e ss., existiriam outros pressupostos para além da criatividade, consoante o tipo obras a proteger (nomeadamente a novidade, a originalidade, a individualidade). Para JOSÉ ALBERTO V IEIRA, (A Protecção…cit., pp. 226 e ss.), o CDADC perfilha uma conceção unitária na proteção jurídica da obra, concentrando-se no conceito de criatividade. Para este autor, cujo entendimen-to se subscreve, a alínea j) do n.º 1 do artigo 2, artigo 4.º e os artigos 163.º e 164.º do CDADC, incluindo as denominadas obras kleinen Münze (de pequena proteção, à letra, pequena moeda), não significam qualquer relativismo da noção de criatividade, enquanto conceito jurídico operativo. Segundo o autor, “o direito português não autoriza que se defenda a existência de requisitos diferenciados de protec-ção de obras pelo direito de autor. A criatividade da expressão e (…) a proveniência da expressão da actividade intelectual humana são os únicos requisitos que o direito de autor português coloca para que uma obra literária e artística seja protegida” (op. cit., p. 228). Continua o autor: “desde que haja criatividade, a obra é protegida, seja a expressão muito ou pouco criativa. A quantidade de criativida-de funciona não para aferir o limiar da suscetibilidade de proteção entre obras de espécie diferente, mas para determinar a extensão da proteção que a lei (…) concede a cada obra em concreto” (op. cit., p. 232). A inerente abstração do conceito é propositada, pois será uma “…consequência directa do facto desse conceito ser um conceito normativo…” desligando-o assim de conceções filosóficas, sociais ou movimentos culturais, preservando a sua neutralidade. Isto sem prejuízo, reconhece ao autor, de os outros elementos que OLIVEIRA ASCEN-

SÃO considera como pressupostos poderem assumir função indiciária do grau de criatividade (op. cit. p. 257).

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4.18. Em todo o caso, “quer se entenda que o objecto de protecção [das obras científicas] não são as

ideias defendidas, mas a individualidade do autor incorporada na obra, quer se aceite a protec-

ção de obras com funções meramente utilitárias, sem quaisquer elementos artísticos ou individua-

lizadores, bastando que reflictam o esforço criativo do autor, em qualquer caso o acesso à obra

não deixa de bulir com o acesso à informação aí contida…” (39). A segunda parte do n.º 3 do arti-

go 100.º acautela precisamente “…os legítimos interesses dos doentes e da instituição…”, e que

no caso da medicina do trabalho deve ser interpretado de modo adaptado aos interesses dos traba-

lhadores e da entidade patronal, respectivamente.

4.19. Em suma, a propriedade intelectual incide sobre o conteúdo da informação do médico, de cariz

científico, que apresentem elementos criativos susceptíveis de configurar uma obra ou expressão

intelectual digna de constituir o direito de exclusivo. Não se aplica à mera propriedade corpórea

do registo físico nem a informação meramente descritiva, insusceptível de ser qualificada como

obra ou expressão intelectual com elementos criativos, dignos de protecção (40). Mesmo nos casos

em que a informação clínica revele actividade intelectual criativa, e portanto protegida pela pro-

priedade intelectual, tal não obsta à obrigatoriedade de o médico primevo ou cedente transmitir a

informação, ainda que oralmente ou de forma sumária, ao médico coevo ou cessionário, tendo

como primeiro objectivo acautelar os interesses dos trabalhadores, da entidade empregadora e

reflexamente a saúde pública.

4.20. Em todo o caso, e à cautela, considera-se prudente que a tutela solicite parecer do Conselho Con-

sultivo da Procuradoria-Geral da República sobre a questão agora colocada, isto é, qual a extensão

ou o âmbito da propriedade intelectual sobre os conteúdos inscritos no ficheiro clínico do médico

de trabalho e em que medida é exercida a transmissão das informações entre médico cedente e

médico cessionário.

(39) PAULO JORGE GOMES, op. cit., p. 151. (40) Porque, como asseveram MARTIN WOLFF/LUDWING RAISER, apud LUIZ FRANCISCO REBELLO, «Informação sobre Direitos», in AA.VV. Direito da Sociedade da Informação, vol. III, Coimbra Editora, 2002, p.193: “nenhum dos princípios que regem a propriedade corpórea se aplica à propriedade espiritual”.

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5. Serviço externo vs. interno em SST

5.1. O empregador deve organizar o serviço de SST de acordo com as modalidades previstas na Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro, nomeadamente serviço interno, serviço externo ou serviço comum

(artigo 73.º, n.º 1 e 74.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

5.2. O serviço interno faz parte da estrutura da empresa e abrange exclusivamente os trabalhadores sob

a responsabilidade do poder patronal, sendo obrigatória a sua implementação em estabelecimentos

com pelo menos 400 trabalhadores; no conjunto de estabelecimentos, distanciados até 50 km ao

que ocupa o maior número de trabalhadores, num total repartido de pelo menos 400 trabalhadores;

e aos estabelecimentos ou conjunto de estabelecimentos que desenvolvam actividades de risco

elevado, com pelo menos 30 trabalhadores (artigo 78.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro). As activi-

dades de segurança podem ser organizadas separadamente das de saúde, funcionando o médico na

dependência do empregador, enquanto prestador de serviços ou trabalhador. Certo é que “a utili-

zação de serviço comum ou de serviço externo não isenta o empregador da responsabilidade

específica em matéria de segurança e de saúde que a lei lhe atribui (artigo 74.º, n.os 4 e 6 da Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro).

5.3. O serviço comum “…é instituído por acordo entre várias empresas ou estabelecimentos perten-

centes a sociedades que não se encontrem em relação de grupo nem sejam abrangidas pelo dis-

posto no n.º 3 do artigo 78.º, contemplando exclusivamente os trabalhadores por cuja segurança e

saúde aqueles são responsáveis” (artigo 82.º, n.º 1 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

5.4. O serviço externo é “…desenvolvido por entidade que, mediante contrato com o empregador,

realiza actividades de segurança ou de saúde no trabalho, desde que não seja serviço comum”

podendo assumir natureza associativa, cooperativa, privada ou convencionada com o SRS (artigo

83.º, n.os 1 e 2 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

5.5. Contrariamente ao que foi comunicado à equipa inspectiva por alguns médicos fiscalizados, o ser-

viço externo em medicina do trabalho pode ser exercido por pessoa singular. Verificou-se que

todos os serviços externos efectuados por médicos de trabalho, com ou sem especialidade, subme-

tidos na amostra, eram realizados através de pessoas colectivas, devidamente autorizadas (41). Não

(41) Cf. http://www.azores.gov.pt/NR/rdonlyres/EB6F9123-2131-408C-87BF-C78BDC14E503/584908/EmpresasMedicinadoTrabalho20012012.pdf (últi-ma consulta 05-07-2012).

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se verificou o exercício singular de medicina do trabalho por médicos devidamente autorizados

para o exercício da função.

5.6. Conforme decorre da alínea c) do n.º 2 do artigo 83.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, a

modalidade de serviço externo por privados pode ser prestada por sociedades comerciais, desde

que no pacto social conste actividades em SST, ou “…por pessoa individual detentora das quali-

ficações legais adequadas” (cf. também artigo 86.º, n.º 2 alínea b) da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro). Por

conseguinte, a Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, não obriga a constituição de sociedades

comerciais, mesmo que unipessoais, para o exercício e correspondente autorização de serviços

externos em medicina do trabalho, nomeadamente por pessoa singular.

5.7. Verificou-se que alguns serviços externos utilizaram as instalações das entidades patronais, para o

exercício das atividades em saúde no trabalho. Esta situação é desconforme com o artigo 74.º, n.º

1 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro. As modalidades de SST são estanques, não permitindo

modalidades mistas ou atípicas. Note-se, aliás, que os serviços externos estão submetidos a um

rigoroso processo de autorização no qual se inclui as instalações onde são prestados os actos

médicos. A situação vislumbrada não garante que os requisitos mínimos dos equipamentos e insta-

lações se encontrem assegurados, podendo originar contraordenação muito grave (n.º 5 do artigo 74.º

da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro) ou servir de fundamento para a anulação da autorização admi-

nistrativa para o exercício das actividades de saúde no trabalho.

6. Limite de trabalhadores sob a responsabilidade do médico de trabalho - periodicidade da

vigilância

6.1. O n.º 3 do artigo 105.º da LSSST proíbe o médico de trabalho de “…assegurar a vigilância da

saúde de um número de trabalhadores a que correspondam mais de 150 horas de actividade por

mês”. Trata-se de um limite máximo. O médico de trabalho deve igualmente garantir mínimos de

vigilância, independentemente da modalidade adoptada, os quais variam consoante o estabeleci-

mento tenha natureza industrial ou seja de risco elevado (1 hora por mês por cada grupo de 10 tra-

balhadores ou fracção) ou não (1 hora por mês por cada grupo de 20 trabalhadores ou fracção). No

caso de empresas com mais de 250 trabalhadores, o médico deve ser assistido por enfermeiro (arti-

gos 104.º, n.º 1 e 105.º, n.º 2 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

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6.2. Durante a acção de fiscalização verificou-se situações em os limites mínimos nem sempre foram

respeitados, sem prejuízo de não se ter vislumbrado violação dos limites máximos. De entre as

razões apresentadas estava a circunstância de alguns dos serviços externos se encontrarem sedea-

dos na ilha de São Miguel, originando que as deslocações às restantes ilhas, sobretudo as mais dis-

tantes, se processassem intermitentemente.

6.3. Os limites mínimos previstos no artigo 105.º, n.º 2 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, são

garantias mínimas para a vigilância e efectivação do direito à SST do trabalhador, enquanto con-

cretização de um direito constitucionalmente consagrado. Trata-se de normas imperativas, que não

podem ser afastadas por convenção, atendendo à natureza do direito em causa (n.º 4 do artigo 3.º do

Código do Trabalho (2009)).

6.4. Caso o médico ou empresa de serviços externos não consiga assegurar as garantias mínimas de

vigilância, pode contratar médicos especialistas residentes nas respectivas ilhas e imputar o custo

acrescido da deslocação nos honorários. Reconhece-se que se trata de uma situação que pode one-

rar, de modo excessivo, as empresas sedeadas nas ilhas carentes de serviços externos em SST, já

com custos acrescidos de insularidade comparativamente às restantes ilhas do arquipélago.

6.5. Segundo informação constante no sítio da DRS, a Região Autónoma dos Açores tem 37 médicos

de trabalho, dos quais 19 têm especialidade em medicina do trabalho e os restantes (18) foram

devidamente autorizados (42). Recorrendo à estatística da população empregada nos Açores no 1.º

trimestre de 2012, no total de 103 787 trabalhadores (43), a ratio será, com ligeiras oscilações, de 2

805 trabalhadores por médico. Segundo o artigo 105.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, no

caso de trabalhadores de indústria ou de actividades com risco elevado, cada médico de trabalho é

responsável pelo máximo de 1500 trabalhadores, variando proporcionalmente (4500 trabalhadores

= 2 médicos…). No caso dos restantes trabalhadores, a ratio é de 1 médico responsável até 3000

trabalhadores, variando igualmente de modo proporcional (até 6000 trabalhadores = 2 médicos…).

Aferido em termos globais, independentemente da actividade ou risco, a média do limite máximo

de trabalhadores por médico é de 2 250 [(x+y)/2 ] (44). Atendendo ao número de trabalhadores no

(42) Informação disponível em http://www.azores.gov.pt/NR/rdonlyres/EB6F9123-2131-408C-87BF-C78BDC14E503/587444/Mdicosdotrabalho02022012.pdf (última consulta 03-07-2012). (43) Fonte: Serviço Regional de Estatística dos Açores, disponível em http://estatistica.azores.gov.pt (última consulta 05-07-2012). (44) Sendo x o limite máximo de trabalhadores de indústria ou actividade de risco (1500) e y o limite máximo de trabalhadores das restantes actividades (3000), a dividir por 2 médicos. Logo, 4 500/2 = 2 250.

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1.º trimestre na Região Autónoma dos Açores, seriam necessários 46 médicos para cobrir 100%

das necessidades de vigilância em SST da população activa. Os actuais 37 médicos asseguram

80% das necessidades, ressalvando, porém, que apenas 19 têm efectiva especialidade em medicina

do trabalho.

6.6. Reconhece-se que o número de médicos de trabalho; a realidade insular açoriana, com território

reduzido, geograficamente descontínuo e níveis de dispersão que dificultam o acesso; representam

ónus acrescidos que dificultam o cumprimento dos limites mínimos mensais previstos na Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro.

6.7. Esta situação pode justificar a intervenção da tutela no sentido de minimizar tais constrangimen-

tos. A intervenção da tutela pode ser materializada na implementação de um sistema convenciona-

do em medicina do trabalho com o SRS e/ou médicos da especialidade, optativo, aproveitando as

unidades de saúde nas ilhas mais carentes ou com acesso mais dificultado a este serviço (n.º 12 do

artigo 15.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro).

6.8. Esta possibilidade decorre igualmente do artigo 76.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro.

7. Serviço de SST convencionado

7.1. O artigo 76.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, refere um conjunto de trabalhadores relati-

vamente aos quais a SST pode ser assegurada pelo SRS, a saber: trabalhador independente; agríco-

la sazonal e a termo; aprendiz de serviço de artesão; serviço doméstico; actividade piscatória em

embarcações até 15 m, não pertencentes a frota pesqueira de armador ou empregador equivalente;

e trabalhadores de microempresas que não exerçam actividades de risco.

7.2. A faculdade conferida pelo n.º 1 do artigo 76.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, é atribuída

ao empregador/trabalhador e não ao Estado ou Região Autónoma dos Açores. Com efeito, a Lei

n.º 102/2009, de 10 de Setembro, obriga à formulação de legislação específica “…aprovada pelo

ministério responsável pela área da saúde…” a fim de permitir a opção ao conjunto de trabalha-

dores/entidade patronais previstos na lei. Resta aos trabalhadores optar pela modalidade conven-

cionada ou outra, legalmente consagrada para o serviço externo (artigo 83.º, n.º 2 da Lei n.º 102/2009, de

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10 de Setembro). Até à data da redacção do presente relatório, a regulamentação encontrava-se omis-

sa (45).

7.3. O serviço externo em SST convencionado com o SRS, e de natureza optativa, pode ser aproveita-

do tendo em vista assegurar os limites mínimos de vigilância às empresas situadas em ilhas com

maiores dificuldades de acesso à medicina do trabalho, conforme mencionado no ponto 6.7. aci-

ma.

7.4. Do mesmo modo, o serviço externo convencionado pode ser aproveitado pela Administração

Pública da Região Autónoma dos Açores, central ou autárquica, na medida em que está igualmen-

te obrigada à implementação de serviços de SST (cf. artigo 8.º, alínea f) do RCTFP e artigos 221.º a 229.º do

Regime e 132.º a 204.º do Regulamento da Lei n.º 59/2008, de 11 de Setembro). Desconhece-se o modo e grau

de execução da SST na Administração Pública Regional, sem prejuízo de a tutela desencadear

procedimento com vista à uniformização a todos os departamentos governamentais. Seja como

for, nada impede, à primeira vista, que o serviço externo convencionado com o SRS possa apro-

veitar os trabalhadores da Administração Pública Regional, sem embargo de o sistema dever

garantir a concorrência entre os serviços externos privados.

8. Exercício de medicina do trabalho por médicos não especialistas

8.1. O artigo 103.º, n.º 1 da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, considera como médico de trabalho

“…o licenciado em Medicina com especialidade de medicina do trabalho reconhecida pela

Ordem dos Médicos”. O n.º 2 da mesma norma acrescenta que se considera ainda como médico de

trabalho “…aquele a quem seja reconhecida idoneidade técnica para o exercício das respectivas

funções, nos termos da lei.” Finalmente, o n.º 3 confere a possibilidade, de natureza transitória,

“…no caso de insuficiência comprovada de médicos do trabalho qualificados nos termos referi-

dos (…) o organismo competente do ministério responsável pela área da saúde pode autorizar

outros licenciados em Medicina a exercer as respectivas funções, os quais, no prazo de quatro

anos a contar da respectiva autorização, devem apresentar prova da obtenção de especialidade

(45) A legislação omissa é de natureza regulamentar, da iniciativa do departamento governamental responsável pela saúde, conforme decor-re expressamente do n.º 1 do artigo 76.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro. Atendendo à autonomia do SRS relativamente ao SNS, bem como às competências próprias do Governo Regional dos Açores, previstas nos artigos 89.º e 90.º do EPARAA, a Região Autónoma pode regulamentar, por sua iniciativa e autonomamente, o modelo convencionado de natureza optativa.

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em medicina do trabalho, sob pena de lhes ser vedada a continuação do exercício das referidas

funções.”

8.2. O ponto II da Circular Informativa da DGS n.º 9/DSPPS7DCVAE, de 16/03/2010, refere as prio-

ridades para conferir a autorização mencionada no n.º 3 do artigo 103.º da Lei n.º 102/2009, de 10

de Setembro. Desconhece-se a existência de circular idêntica da DRS, na medida em que não são

publicadas de acesso público.

8.3. Em todo o caso, subscreve-se os seis critérios gradativos mencionados na Circular Informativa da

DGS, e que se transcrevem: “a) estar inscrito na Ordem dos Médicos e nada constar em seu

desabono; b) caso exerça funções no Serviço Nacional de Saúde [SRS] o horário a dedicar à prá-

tica de medicina do trabalho não pode ser incompatível com o horário praticado no SNS; c) a

primeira prioridade, na autorização transitória do exercício, é dada aos médicos com o curso de

medicina do trabalho concluído e, em especial, aos que estão a frequentar o plano transitório de

formação orientado para a especialidade de medicina do trabalho; d) a segunda prioridade é

atribuída aos médicos que estão inscritos e a frequentar um dos cursos de medicina do trabalho

existentes e como tal comprometidos a concluir a especialidade à Ordem dos Médicos, de que o

curso de Medicina do Trabalho faz parte; e) a terceira e última prioridade, só em casos excepcio-

nais de demonstrada falta de médicos habilitados ou ilegíveis nas alíneas c) e d) anteriores, será

dada a outros médicos”.

8.4. A autorização transitória refere um prazo de quatro anos sob pena de ser vedado a continuação do

exercício das funções em medicina do trabalho. Fica a dúvida se a regra é materialmente excep-

cional, devendo ser interpretada restritivamente, ou de natureza especial. Esta distinção assume

relevância sobretudo se se questionar a possibilidade de prorrogação do período transitório de 4

anos ou a aplicação analógica a outros casos similares, devidamente fundamentados (46).

(46) Cabe distinguir as regras formalmente excepcionais das substancialmente excepcionais. No primeiro caso, a regra só é excepcional devido à formulação escolhida pelo legislador. Por exemplo, a regra “é proibido estacionar, exceto aos domingos” tem o mesmo significa-do da regra “é permitido estacionar aos domingos”. Nada impede, por isso, a aplicação analógica da regra aos dias feriados, na medida em que a excepção só decorre do modo de expressão utilizado pelo legislador. A regra só é substancial ou materialmente excecional se originar um ius singulare que por razões de utilidade particular contraria as regras gerais. O artigo 11.º do C.C., que proíbe a aplicação analógica de regras excepcionais deve, pois, ser interpretado restritivamente, incluindo apenas as normas materialmente excepcionais (cf. MIGUEL TEI-

XEIRA DE SOUSA, Introdução do Direito, Almedina, 2012, p. 400; OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito, 13.ª ed., Almedina, 2005).

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8.5. Sem embargo de o enunciado normativo do n.º 3 do artigo 103.º não ser inequívoco, considera-se

que a norma tem natureza especial, ou sendo excepcional só o será formalmente (47), podendo

suportar a prorrogação do período transitório, desde que devidamente fundamentado e cumpridos

os requisitos constitutivos da prorrogação (insuficiência de médicos do trabalho), no âmbito da

discricionariedade administrativa da Administração Pública. Alerta-se, porém, para o desincentivo

que prorrogações sucessivas podem gerar ao nível da especialização dos profissionais, bem como

eventuais distorções concorrenciais entre prestadores sedeados noutras zonas do território portu-

guês.

� �

(47) Pois a prorrogação tem em vista razões de interesse público por insuficiência de médicos de trabalho. A eventual relação de excepcio-nalidade poderia ser transformada em especialidade, na medida em que não contraria o regime geral, ao invés atesta-o mediante a imposi-ção de apertados requisitos para a autorização de médico não especialista.

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CAPÍTULO III

DETERMINAÇÃO DA AMOSTRA E APRECIAÇÃO INDIVIDUAL

1. Quantificação e qualificação da amostra

1.1. O total dos médicos de trabalho, com ou sem especialidade, autorizados a exercer funções na

Região Autónoma dos Açores são 37, repartidos pelas seguintes ilhas:

1.2. Entre os médicos com especialidade e sem especialidade em medicina do trabalho, a variação é a

seguinte:

QUADRO IV – M ÉDICOS COM E SEM ESPECIALIDADE EM MEDICINA DO TRABA LHO

1.3. Entre os 37 médicos registados na DRS, a maioria exerce a sua atividade como prestadores de

serviços entre as 16 empresas registadas na DRS no âmbito da Medicina no Trabalho. A IReS

obteve dados de 20 entidades (MT1 a MT20). Há que considerar, porém:

• Que das 16 empresas de serviço externo registadas na Região Autónoma dos Açores ape-

nas 14 tinham clientes ou contratos ativos na RAA;

Autorização

extraordinária

46%, 17 médicosEspecialistas

54%, 20 médicos

Médicos que exercem medicina no trabalho na RAA, com

especialidade vs autorização especial

QUADRO III – M ÉDICOS DE TRABALHO NA RAA

Médicos do

trabalho por ilha

Autorização

extraordinária Especialistas Total

Faial 1 1

S. Miguel 10 17 27

Terceira 6 3 9

Total Geral 17 20 37

GRÁFICO I – M ÉDICOS DE TRABALHO NA RAA

Faial

6%, 1 médico

S. Miguel

59%, 27 médicos

Terceira

35%, 9 médicos

Médicos que exercem medicina do trabalho na RAA, por ilha

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• Que entre os 37 médicos, 6 médicos apresentaram dados a título individual, enquanto os

restantes desenvolveram a sua atividade em nome das 14 empresas acima referidas.

QUADRO V – EMPRESAS E N.º DE TRABALHADORES DO UNIVERSO E DA AMOSTRA

GRÁFICO II – EMPRESAS E N.º DE TRABALHADORES DO UNIVERSO E DA AMOSTRA

Total de

empresas

clientes

% do

total

N.º de

trabalhadores

abrangidos

% do

total

Total de

empresas

clientes

% do

total

N.º de

trabalhadores

abrangidos

% do

total

MT 1 30 5,13% 1.408 7,27% 5 16,67% 672 47,73%

MT 2 1 0,17% 9 0,05% 0 0,00% 0 0,00%

MT 3 1 0,17% 9 0,05% 0 0,00% 0 0,00%

MT 4 34 5,81% 3.093 15,98% 6 17,65% 908 29,36%

MT 5 12 2,05% 1.045 5,40% 1 8,33% 603 57,70%

MT 6 25 4,27% 74 0,38% 0 0,00% 0 0,00%

MT 7 35 5,98% 332 1,71% 0 0,00% 0 0,00%

MT 8 5 0,85% 150 0,77% 0 0,00% 0 0,00%

MT 9 1 0,17% 26 0,13% 0 0,00% 0 0,00%

MT 10 1 0,17% 379 1,96% 1 100,00% 379 100,00%

MT 11 13 2,22% 672 3,47% 2 15,38% 414 61,61%

MT 12 11 1,88% 116 0,60% 0 0,00% 0 0,00%

MT 13 13 2,22% 174 0,90% 0 0,00% 0 0,00%

MT 14 2 0,34% 61 0,32% 0 0,00% 0 0,00%

MT 15 1 0,17% 105 0,54% 0 0,00% 0 0,00%

MT 16 12 2,05% 814 4,20% 0 0,00% 0 0,00%

MT 17 1 0,17% 293 1,51% 1 100,00% 293 100,00%

MT 18 377 64,44% 9.153 47,28% 9 2,39% 1.728 18,88%

MT 19 6 1,03% 1.401 7,24% 2 33,33% 1.262 90,08%

MT 20 4 0,68% 47 0,24% 0 0,00% 0 0,00%

TOTAIS 585 100,00% 19.361 100,00% 27 4,62% 6.259 32,33%

Universo

Prestador

Serviços

Seleção da amostra

MT 1

5%

MT 2

0% MT 3

0%

MT 4

6%

MT 5

2% MT 6

4%

MT 7

6%

MT 8

1%

MT 9

0%MT

10

0%MT 11

2%

MT 12

2%

MT 13

2%

MT 14

0%

MT 15

0%

MT 16

2%MT 17

0%

MT 18

64%

MT 19

1%MT 20

1%

Distribuição percentual do mercado entre as 20 entidades prestadoras de serviços no

âmbito da medicina no trabalho, na RAA

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1.4. Uma empresa prestadora de serviços no âmbito da medicina no trabalho (MT18) tem 377 empre-

sas clientes, a que correspondem 9 153 trabalhadores, ou seja, 64% do total das 585 empresas com

contratos ativos no âmbito da medicina no trabalho na Região Autónoma dos Açores, e 47,28%

dos 19 361 trabalhadores abrangidos por estes serviços. Para esta empresa de serviços externos em

particular, foram selecionadas 9 das empresas clientes com maior número de trabalhadores, repre-

sentativas de 18,88% dos 9 153 trabalhadores (1 728 trabalhadores).

1.5. A seleção da amostra teve por base as empresas com maior número de trabalhadores, apurando-se

um total de 27 empresas clientes a que correspondem 6 259 trabalhadores (32,33% do total da

amostra).

1.6. De entre as 27 empresas selecionadas, 8 empresas enquadram-se na modalidade de serviços inter-

nos e as restantes 19 na modalidade de serviços externos.

2. Apreciação individual

2.1. No âmbito da saúde no trabalho, a acção de fiscalização suportou-se em questionário individual,

no qual se decompôs as principais regras plasmadas na Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro. Não

foram incluídos os preceitos conexos com a segurança no trabalho – da competência da IRT – e

foram suprimidas as normas com conteúdo similar ou repetidas em diferentes lugares da Lei n.º

102/2009, de 10 de Setembro.

2.2. A cada questão foi atribuída uma ponderação, variável em função da relevância de cada regra. A

relevância foi apurada em conexão com a gravidade da contraordenação ou da sua inexistência,

nos seguintes termos:

QUADRO VI – CRITÉRIOS DE PONDERAÇÃO (QUESTIONÁRIO )

Gravidade da contra-ordenação Ponderação

Muito grave 1

Grave 0,75

Leve 0,5

Sem contra-ordenação 0,25

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2.3. A ponderação é inscrita a verde ou a vermelho, consoante a resposta à questão seja positiva ou

negativa, respectivamente. No final do questionário é possível verificar a percentagem de respos-

tas positivas e negativas do total, permitindo extrair o conjunto dos pontos positivos e negativos.

2.4. Atendendo aos pontos negativos corresponderem, em grande parte, à prática de actos puníveis

com contraordenação muito grave, deixa-se à ponderação da tutela a abertura do competente pro-

cesso de contraordenação ao empregador, às empresas clientes que apresentem taxa de incumpri-

mento (pontos negativos) igual ou superior a 30%.

2.5. O incumprimento da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, por parte de empresas de serviços

externos, embora não seja diretamente imputável ao empregador, não o isenta de responsabilidade

no âmbito contraordenacional, cabendo-lhe, eventualmente, o direito de regresso sobre o agente da

infração (cf. inter alia, artigos 74.º, n.º 6, 84.º, n.º 7, 98.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro e artigo 500.º, n.º 3

do C.C.).

2.6. No caso da empresa MT18, embora a taxa de incumprimento seja reduzida, por o questionário se

reconduzir a apenas 2 das 9 empresas cujos dados foram cruzados, não espelha de forma fidedigna

os actos praticados. Remete-se a análise para a resposta da empresa MT18, no Anexo I, e empre-

sas clientes no Anexo II. A resposta da empresa MT18, no Anexo II, não procede. Com efeito,

quanto ao ponto 1 da resposta, remete-se para o capítulo II do presente relatório. Quanto aos pon-

tos 2 e 3 não se compreende a relevância do não retorno dos exames prescritos para efeitos da

assunção dos custos, na medida em que os exames são, ou deveriam ser suportados pela entidade

empregadora. Pelo que não havendo retorno, os exames não poderiam incluídos no Relatório Úni-

co; não serviriam de suporte para ao diagnóstico do médico de trabalho, impedindo a aptidão do

trabalhador; nem os custos seriam suportados pela entidade empregadora/Serviço Regional de

Saúde, pois seriam inexistentes ou, tendo sido realizados, caberia à entidade empregadora a assun-

ção do custo.

2.7. Cabe à entidade empregadora, por si ou por terceiros, nomeadamente através de empresas presta-

doras de serviços externos, garantir os meios adequados para assegurar a saúde dos trabalhadores.

2.8. Finalmente, após análise do quadro enviado pela M18, em formato excel e sem qualquer docu-

mento de suporte comprovativo da informação nele constante, não constituindo, assim, qualquer

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tipo de prova, verifica-se, em todo o caso, a inconsistência entre os exames com retorno e as

informações fornecidas pelas empresas clientes.

2.9. No caso da empresa de serviços externos MT5, verificou-se que os MCDT foram prescritos a par-

tir de paletes previamente definidas e não de modo casuístico (48). Verificou-se a emissão de pres-

crições assinadas pelo médico, mas sem descritivo, bem como análises clínicas que à primeira vis-

ta não apresentam conexão com a actividade do trabalhador (v.g. HIV). Cruzaram-se os dados com

o serviço de conferência de facturas do Centro de Saúde de Ponta Delgada e apurou-se que em

2010 e 2011 aquela unidade de saúde pagou 84 504,55€ respeitantes a análises clínicas dos traba-

lhadores da empresa cliente. Verificou-se igualmente que o custo médio das análises clínicas aos

trabalhadores da empresa cliente é elevado, no âmbito da medicina do trabalho (média de 219,00€

para 259 trabalhadores), o que pode violar as boas práticas de prescrição e as regras deontológicas

associadas à prestação médica (49).

2.10. A circunstância acima mencionada, bem como o facto de as análises clínicas serem prescritas pela

empresa de serviço externo MT5, cujo edifício é partilhado pelo laboratório de análises clínicas

beneficiário do pagamento, bem como ao facto de os sócios de cada empresa (laboratório e clínica

privada) serem familiares em 1.º e 2.os graus e em linhas rectas e colaterais, permite suspeitar da

existência de enriquecimento ilegítimo por meio de engano sobre factos, podendo consubstanciar a

prática de crime de burla ao SRS, eventualmente agravada (artigos 217.º e 218.º do C.P.). Por conse-

guinte, informa-se a tutela que remeteu-se o caso para o Ministério Público.

� �

(48) Cfr. Anexo II – Documentos probatórios. (49) Com paletes individuais, por exemplo, no valor 562,08€, 451,30€, 192,96€, 28,80€, 6,91€.

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Angra do Heroísmo, 01 de Agosto, 2012

OS RELATORES

OS COLABORADORES

� � �

INSPECTOR REGIONAL DA SAÚDE

_____________________________

Paulo Jorge Gomes

INSPECTORA ECONOMISTA

_____________________________

Carla Eduarda Borges Terra

AUTORIDADE DE SAÚDE

PONTA DELGADA

_____________________________

José Senra

AUTORIDADE DE SAÚDE

RIBEIRA GRANDE

_____________________________

Ângelo Costa

AUTORIDADE DE SAÚDE

PONTA DELGADA

_____________________________

Rosa Lafayette

TÉCNICO SUPERIOR JURISTA – DIREÇÃO

REGIONAL DA SAÚDE

_____________________________

Pedro Lima

COORDENADOR REGIONAL DE SAÚDE

PÚBLICA

_____________________________

Carlos Lima