procedimentos especiais processo penal

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Gustavo Badaró denúncia ainda pelo juiz cível, os autos eram encaminhados ao juiz criminal (art. 109, § No novo sistema, não há mais o oferecimento da denúncia perante o juiz cível nem a remessa,depois de recebida, ao juiz criminal. Retorna-se, pois, ao regime originário do CPP, cujo art. 504 do CPP dispunha que ação penal deveria ser intentada no juízo criminal. Tal dispositivo havia sido revogado pelo Decreto-lei nQ 7.661/1945, que em seu art. 109, § 2o, determinava que a ação criminal devia ser proposta no juízo cível da falência. Posteriormente, com o recebimento da denúncia pelo juiz cível, os autos deveriam ser remetidos para o juiz criminal.320 L7. Do procedimento dos crimes praticados mcionários públicos 13.7.1. Da revogação do procedimento especial pela Lei n211.719/2008 Asmudanças no procedimento comum ordinário, introduzidas pela Lei nu 11.719/2008, fizeram surgir dúvidas sobre a vigência do procedimento especial dos crimes praticados por funcionários públicos, previsto nos arts. 513 a 518 do CPP. Um primeiro posicionamento seriano sentido dequeo§ 4o do art. 394 do CPP não teria incidência sobreo procedimento especial dos crimes praticados por funcionários públicos, definido nos arts. 513 a 519 do CPP, tendo em vista que este é procedimento especial, em relação aoqual havia previsão de resposta prévia ao recebimento da denúncia.321 Assim, continuar-se-ia aplicando, in totum, o rito especial dos crimes funcionais. Asegunda corrente entende quea resposta preliminar do art. 514 do CPP continua em vigor, mesmo após as modificações do procedimento comum, mas, por força do disposto no art. 394, § 4o, após o recebimentoda denúncia, deve-se seguir o disposto nos arts. 395 a 399 do CPP.322 Na prática, tal posicionamento acaba por misturar os dois procedimentos, gerando uma duplicidade de atos desnecessária: em um mesmo procedimento haverá a resposta escrita do art. 514 do CPP e, depois, se recebida a denúncia, a resposta do art. 396-A,do mesmo código. A terceira posição, que mereceacolhida, é no sentido de revogaçãodo procedimento especial dos crimes praticados por funcionários públicos. Justamente diante da regra de extensão do § 4o do art. 394 do CPP, o procedimento especial dos arts. 513 a 518 do CPP foi revogado. O que o procedimento especial dos crimes praticados por funcionários públicos tinha de diverso ou especializante era, justamente, a possibilidade de uma resposta anterior ao recebimento da denúncia (CPP, art. 514) e, no caso de seu acolhimento, uma sentença de rejeição da denúncia com aptidão de fazercoisa julgada material (CPP, art. 516). Ora, a 320. No Estado de São Paulo,o art. 15da Lei n" 3.947/1983 dispõe que o juiz criminal será o juiz cível da falência. Assim,mesmo diante da nova previsão do art. 183 da LF, o processocontinuará a ser instaurado e a se desenvolver perante o juiz cível da falência que é, por equiparação, o juiz criminal da falência. Contudo, como corretamente observa Gomes Filho (Breves anotações..., p. 12), "com a sistemática agora adotada para a apuração dos crimes falimentares, em que não há mais o inquérito judicial, desaparecem as razões de simplificação e celeridade que recomendaram a ediçãoda leiestadual paulista. Éque o juizda falência não terá nenhuma atribuição na investigação criminal, nem a elecaberá,comoocorria na vigênciada lei revogada,o recebimentoda denúncia ou da queixa subsidiária. Assim, tudo recomenda a revogação da lei estadual". 321. Nesse sentido: Polastri Lima, Manual..., p. 808. 322. Damásio E. de Jesus, Código..., p. 423. 527

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Page 1: Procedimentos Especiais Processo Penal

Gustavo Badaró

denúncia ainda pelo juiz cível, os autos eram encaminhados ao juiz criminal (art. 109, §No novo sistema, não há mais o oferecimentoda denúncia perante o juiz cível nem aremessa,depois de recebida, ao juiz criminal.Retorna-se, pois, ao regime originário do CPP, cujo art. 504 doCPP dispunha que ação

penal deveria ser intentada no juízo criminal. Tal dispositivo havia sido revogado peloDecreto-lei nQ 7.661/1945, que em seuart. 109, § 2o, determinava que aação criminal deviaser proposta no juízo cível da falência. Posteriormente, com o recebimento da denúnciapelo juiz cível, os autos deveriam serremetidos para o juiz criminal.320

L7. Do procedimento dos crimes praticadosmcionários públicos

13.7.1. Da revogação do procedimento especial pela Lei n211.719/2008Asmudanças noprocedimento comum ordinário, introduzidas pelaLei nu 11.719/2008,

fizeram surgir dúvidas sobre a vigência do procedimento especial dos crimes praticadospor funcionários públicos,previsto nos arts. 513 a 518 do CPP.

Um primeiro posicionamento serianosentido de queo§4o do art.394 do CPP não teriaincidência sobreo procedimento especial doscrimes praticados por funcionários públicos,definido nos arts. 513 a 519 do CPP, tendo em vista que este é procedimento especial, emrelação aoqual já havia previsão de resposta prévia aorecebimento da denúncia.321 Assim,continuar-se-ia aplicando, in totum, o rito especial dos crimes funcionais.

Asegunda corrente entende quea resposta preliminar doart. 514 doCPP continua emvigor, mesmo apósas modificações do procedimento comum, mas, por força do dispostono art. 394, § 4o, após o recebimentoda denúncia, deve-seseguir o disposto nos arts. 395 a399 do CPP.322 Na prática, tal posicionamento acaba por misturar os dois procedimentos,gerando uma duplicidade de atos desnecessária: em um mesmo procedimento haverá aresposta escrita do art. 514 do CPP e, depois, se recebida a denúncia, a resposta do art.396-A,do mesmo código.

A terceira posição, que merece acolhida, é no sentido de revogação do procedimentoespecial dos crimes praticados por funcionários públicos. Justamentediante da regra deextensão do § 4o do art. 394 do CPP, o procedimento especial dos arts. 513 a 518 do CPP foirevogado. O que o procedimento especial doscrimespraticados por funcionários públicostinha de diverso ou especializante era, justamente, a possibilidade de uma resposta anteriorao recebimento da denúncia (CPP, art. 514) e, no caso de seu acolhimento, uma sentençade rejeição da denúncia com aptidão de fazer coisa julgada material (CPP, art. 516). Ora, a

320. No Estado de São Paulo,o art. 15da Lein"3.947/1983 dispõe que o juiz criminal será o juiz cívelda falência.Assim,mesmodiante da nova previsãodoart. 183 da LF, o processocontinuará a ser instaurado e a se desenvolverperante o juiz cível da falência que é, por equiparação, o juiz criminal da falência. Contudo, como corretamenteobserva Gomes Filho (Breves anotações..., p. 12), "com a sistemática agora adotada para a apuração dos crimesfalimentares, em que não há mais o inquérito judicial, desaparecem as razões de simplificação e celeridadeque recomendaram a ediçãoda leiestadualpaulista. Éque o juizda falência não teránenhuma atribuição nainvestigação criminal, nem a elecaberá,comoocorria na vigênciada lei revogada,o recebimentoda denúnciaou da queixa subsidiária. Assim, tudo recomenda a revogação da lei estadual".321. Nesse sentido: Polastri Lima, Manual..., p. 808.322. Damásio E. de Jesus, Código..., p. 423.

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