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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação O CENÁRIO COMUNICACIONAL DO HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR SOB A PERSPECTIVA DA COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA Autora: Vânia Mara Vasques Balbino de Souza Orientadora: Dr.ª Luíza Mônica Assis da Silva Brasília - DF 2016

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação

O CENÁRIO COMUNICACIONAL DO HOSPITAL DA CRIANÇA

DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR SOB A PERSPECTIVA DA

COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA

Autora: Vânia Mara Vasques Balbino de Souza

Orientadora: Dr.ª Luíza Mônica Assis da Silva

Brasília - DF

2016

VÂNIA MARA VASQUES BALBINO DE SOUZA

O CENÁRIO COMUNICACIONAL DO HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA

SOB A PERSPECTIVA DA COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Comunicação da Universidade Católica de Brasília. Área de concentração: Processos Comunicacionais nas Organizações.

Orientadora: Professora Dra. Luíza Mônica Assis da Silva

Brasília

2016

Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UCB.

S729c Souza, Vânia Mara Vasques Balbino de. O cenário comunicacional do Hospital da Criança de Brasília sob a

perspectiva da Comunicação Terapêutica/ / Vânia Mara Vasques Balbino de Souza. – Brasília, 2016.

179 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Profª. Dra. Luíza Mônica Assis da Silva.

Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2016.

1. Comunicação como processo. 2. Comunicação Organizacional Integrada. 3. Comunicação Terapêutica. 4. Comunicação e Saúde. 5. Comunicação Interpessoal. I.Silva, Luíza Mônica Assis da. II. Universidade Católica de Brasília. III. Título.

CDD 301.161 CDU 005.57

Ao meu amor, Rogério: o caminhar se faz

caminhando. Obrigada por ser minha

companhia.

Aos meus filhos, Vinícius e Gustavo.

Aos meus pais, Joaquim e Jane.

Ao meu irmão Sérgio.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por tudo.

Aos meus pais, Joaquim e Jane, que sempre acreditam.

Ao meu marido Rogério, que vislumbrou o momento de se buscar o Mestrado

e sempre aponta minhas potencialidades.

Aos meus filhos, Vinícius e Gustavo, pela carinhosa presença.

À Fátima, pelo suporte nas tarefas domésticas.

Aos meus irmãos, pelo olhar de admiração.

Ao meu irmão Sérgio, que na vivência do câncer, apontou o caminho.

À minha orientadora, Professora Luíza Mônica Assis da Silva, pela amizade,

respeito, confiança, incentivo, paciência e carinho, na orientação dessa pesquisa e

por acreditar na minha “intuição sensível”.

Aos professores da banca examinadora na qualificação e defesa desta

dissertação, pelo carinho e olhares atentos, professora Alessandra Rocha Arrais,

professor João José de Azevedo Curvello e professor Robson Borges Dias.

À Candice Alvarenga Coelho, pela sonora pronúncia das palavras

“comunicação terapêutica”.

Ao professor Arquimedes Pessoni, por não se negar a me ensinar sobre

Comunicação e Saúde.

À Professora Inesita Araújo, da Fiocruz, pelas palavras entusiasmadas e

incentivadoras.

À Universidade Católica de Brasília por acreditar na Comunicação como

campo científico.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes,

pela concessão de Bolsa de Pós-Graduação.

Aos professores Alexandre Kieling, Cosette Castro, Florence Dravet, João

Curvello, Luiz Carlos Iasbeck, Luíza Mônica, Roberval Marinho e Robson Dias pela

dedicação em suscitar novos questionamentos em suas aulas no Mestrado da UCB.

Aos colegas do Mestrado: Alcidina, Alessandra, Alexandre, Aline, Amanda,

Bruna, Carol, Daniella, Detley, Fabíola, Fernanda, Fernando, Gabrielli, Ivone,

Janaína, Luciana, Luli, Luna, Marcelo, Márcia, Núbia, Odila, Paulo, Rafael, Richard,

Rosângela, Ruth, Tatiane e Watson, pelo respeitoso convívio.

Aos professores Ciro Marcondes Filho, José Luiz Braga, Maria Imacolatta

Vassalo de Lopes e Sérgio Dayrell Porto pelas Aulas Magnas no Mestrado da UCB.

À Ilda Peliz, presidente da Abrace, por acreditar que a Comunicação pode

curar.

Ao Hospital da Criança de Brasília José de Alencar, pela acolhida.

A todos os profissionais do HCB, pelo tempo dedicado, pelas informações

prestadas, por se apresentarem sem reservas e sempre dispostos a colaborar na

condução da pesquisa.

Às mães entrevistadas no HCB, pela luta.

Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir

Tenho muito pra contar

Dizer que aprendi

E na vida a gente tem que entender

Que um nasce pra sofrer

Enquanto o outro ri

Mas quem sofre sempre tem que procurar

Pelo menos vir a achar

Razão para viver

Ver na vida algum motivo pra sonhar

Ter um sonho todo azul

Azul da cor do mar

Tim Maia

Azul da Cor do Mar

RESUMO

SOUZA, Vânia Mara Vasques Balbino de. O cenário comunicacional do Hospital da Criança de Brasília sob a perspectiva da Comunicação Terapêutica. 179 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2016.

Esta dissertação apresenta os entendimentos sobre Comunicação Organizacional

Integrada, desenvolvida principalmente por Margarida M. Kroling Kunsch, em

relação e articulada com a Comunicação Terapêutica, uma abordagem psicoterápica

desenvolvida por Jurgen Ruesch, sistematizada e aplicada pelos profissionais de

Enfermagem, cujo referencial maior se faz a Maguida Stefanelli, e como incremento

à subárea Comunicação e Saúde. Foi desenvolvida no Hospital da Criança de

Brasília José de Alencar – HCB e estabelece a intrínseca relação entre Consciência

e Comunicação, a partir de Marcondes Filho, e entre Comunicação Interpessoal para

a formulação de uma consciência comunicativa com potencial terapêutico. O objetivo

da pesquisa foi entender como a comunicação terapêutica se concretiza nas ações

comunicacionais do HCB. Para isso, metodologicamente, realizou-se pesquisa

empírica de caráter exploratório, por meio de entrevistas em profundidade, análise

documental e observação semiparticipante. Conforme estabelecido nos objetivos

específicos, foram realizados dois estudos “O Cotidiano Comunicacional do HCB” e

“O Cotidiano Terapêutico do HCB”. O Estudo Um aponta que a Comunicação é

compreendida e assumida pelos setores que têm a incumbência de pensá-la

globalmente, como processo que permeia a todas as ações cotidianas do HCB,

afetando a todos e, por isso, exigindo que se estabeleçam linhas estratégicas de

ação para as funções assumidas por todo o organograma institucional. As análises

documentais, as entrevistas em profundidade e a análise sobre Visão, Missão e

Valores do HCB revelaram que alguns funcionários estão imbuídos do a priori

definidor da natureza de uma organização hospitalar, transpondo, muitas vezes, as

funções burocráticas ou funcionais para favorecer comportamentos terapêuticos. O

Estudo Dois tinha a perspectiva de entender quando a comunicação do HCB se

revelaria com potencial terapêutico. Os resultados indicaram que há

comportamentos comunicacionais conscientes, com potencial terapêutico. A

experiência em campo para observação semiparticipante, do Estudo Dois, confirmou

os prognósticos. As equipes que ali estão para aplicar os tratamentos inerentes a

uma Unidade de Terapia Endovenosa não possuem conhecimentos sobre

comunicação terapêutica, mas produzem um ambiente de compartilhamentos de

experiências, para as quais há a predisposição de que sejam integradamente

terapêuticas, incluídas aí as relações que se estabelecem, o ambiente propício, os

procedimentos de cuidado atento e a devida aplicação das substâncias

medicamentosas. Os resultados obtidos nos dois estudos apontam para a

perspectiva de apresentação de uma proposta de integração da comunicação

terapêutica à política de comunicação do Hospital da Criança de Brasília José de

Alencar. Vislumbra-se o desafio de continuar os estudos para uma

operacionalização entre o amplo conceito de comunicação terapêutica e sua

articulação com uma comunicação organizacional integrada, na perspectiva de um

modelo de comunicação organizacional integrada com potencial terapêutico para os

serviços de saúde. Isto apoiado por uma “intuição sensível” dos fatos observados e

em busca dos aprofundamentos necessários e possíveis com a visão inter e

multidisciplinar das áreas de Saúde e Comunicação.

Palavras-chave: Comunicação como processo. Comunicação Terapêutica.

Comunicação Interpessoal. Comunicação Organizacional Integrada. Comunicação e

Saúde.

ABSTRACT

SOUZA, Vânia Mara Vasques Balbino de. The communication setting of Children's Hospital of Brasilia from the perspective of therapeutic communication. 179 f. Dissertation (Master of Communication) – Brasilia Catholic

University. Brasília, 2016.

This dissertation presents understandings of Organizational Communication Integrated,

mainly developed by Margarida M. Kroling Kunsch, compared and linked with the

Communication Therapy, a psychotherapeutic approach developed by Jurgen Ruesch,

systematic and applied by nursing professionals, whose main reference is made to Maguida

Stefanelli, and how to increase the subarea Health Communication. Was developed at

Hospital da Criança de Brasília José Alencar - HCB and establishes the intrinsic relationship

between consciousness and communication, from Marcondes Filho, and between

Interpersonal Communication for the formulation of a communicative awareness with

therapeutic potential. The objective of the research was to understand how therapeutic

communication is realized in communication actions of HCB. For that, methodologically,

there was empirical research exploratory, through in-depth interviews, document analysis

and observation semiparticipant. As set out in the specific goals, two studies were conducted

"The Daily Comunicacional HCB" and "The Daily Therapeutic HCB." Study A shows that the

communication is understood and assumed by the sectors that have the responsibility to

think of it broadly as a process that pervades all the everyday actions of HCB, affecting

everyone and therefore requiring to be established strategic lines action to the functions

assumed by all the institutional organization chart. The documentary analyzes, interviews

and the analysis of Vision, Mission and HCB Values revealed that some employees are

imbued with the defining priori nature of a hospital organization, transposing often

bureaucratic or functional roles to favor therapeutic behaviors. Study B had the perspective

to understand when communication HCB would prove with therapeutic potential. The results

indicate that there is communication conscious behavior, with therapeutic potential.

Experience in the field to semiparticipant observation, Study B, confirmed the predictions.

The teams that are there to apply the treatments inherent to a Therapy Unit Endovenous not

have knowledge of therapeutic communication, but produce an experience shares

environment, for which there is a predisposition to be an integrated therapies, there included

the relations establish the enabling environment, attentive care procedures and proper

application of medicinal substances. The results from the two studies point to the prospect of

submitting a proposal of therapeutic communication integration to the communication policy

of the Hospital da Criança de Brasília José Alencar. The challenge in sight, to continue

studies for an operationalization of the broad concept of therapeutic communication and its

articulation with an integrated organizational communication from the perspective of an

integrated organizational communication model with therapeutic potential for health services.

This supported by a "sensible intuition" of observed facts and seeking the necessary and

possible insights with inter and multidisciplinary view of Health and Communication areas.

Keywords: Communication as a process. Therapeutic Communication. Interpersonal

Communication. Integrated Organizational Communication. Health Communication.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Comunicação Organizacional Integrada

Figura 2 Consulta sobre Comunicação Terapêutica em 2014 – Busca booleana

“com todas as palavras”.

Figura 3 Consulta sobre Comunicação Terapêutica em 2016 – Busca booleana

“com todas as palavras”.

Figura 4 Estrutura Física do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar –

Bloco I

Figura 5 Desenho Computadorizado do Bloco II do Hospital da Criança de

Brasília José de Alencar

Figura 6 Identidade Estratégica do HCB

Figura 7 Organograma do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Figura 8 Proposta de Comunicação Organizacional Hospitalar, pelo foco da

Comunicação Terapêutica

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Atitudes terapêuticas: tolerância discriminada

Tabela 2 Atitudes Terapêuticas, seus significados e encadeamentos

Tabela 3 Análise categorial temática: como os entrevistados percebem a

comunicação no HCB – Categoria 1

Tabela 4 Análise categorial temática: como os entrevistados percebem a

comunicação no HCB – Categoria 2

Tabela 5 Categorias de Atitudes Terapêuticas

Tabela 6 Categorias encontradas na Situação 1, Estudo Um

Tabela 7 Categorias encontradas na Situação 2, Estudo Um

Tabela 8 Categorias encontradas na Situação 3, Estudo Um

Tabela 9 Resultados do Estudo Dois

SIGLAS E ABREVIATURAS

ABRACE Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças

Portadoras de Câncer e Hemopatias

APS Atenção Primária à Saúde

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CD Compact Disc

CDC Center of Disease Control and Prevention-Centro de Controle e

Prevenção de Doenças

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CG Contrato de Gestão

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CISEP Centro Integrado e Sustentável de Ensino e Pesquisa

CMCE Central de Regulação da Secretaria de Saúde do Distrito Federal

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONEP Conselho Nacional de Ética em Pesquisa

CSAI Ciências Sociais Aplicadas I

DVD Digital Versatile Disc

FEPECS Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

GDF Governo do Distrito Federal

GHCB Grupo Gestor do Hospital da Criança de Brasília

GTM Grupo de Trabalho Multidisciplinar

HAB Hospital de Apoio de Brasília

HBDF Hospital de Base do Distrito Federal

HCB Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

ICIPE Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada

IES Instituição de Ensino Superior

MPDFT Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

MS Ministério da Saúde

OS Organização Social

PNH Política Nacional de Humanização

SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

SES-DF Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal

SIPAT Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho

SisRHC Sistema de informação do Registro Hospitalar de Câncer

SMS Short Message Service

SUS Sistema Único de Saúde

TR Termo de Referência

UCB Universidade Católica de Brasília

UFAL Universidade Federal de Alagoas

UMESP Universidade Metodista de São Paulo

USP Universidade de São Paulo

UTE Unidade de Terapia Endovenosa

UTI Unidade de Tratamento Intensivo

WFO-OMF World Family Organization -Organização Mundial da Família

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................. 20

1.1 APRESENTAÇÃO ........................................................................ 20

2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................... 24

2.1 CONSCIÊNCIA ............................................................................. 25

2.2 COMUNICAÇÃO .......................................................................... 26

2.3 RELAÇÃO DE CONSCIÊNCIAS .................................................. 28

2.4 COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL .............................................. 30

2.5 COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL .................................................. 33

2.6 COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA ................................................ 34

2.6.1 O Mentor da Comunicação Terapêutica ....................................... 34

2.6.2 Atitudes Terapêuticas ................................................................... 36

2.6.2.1 Tolerância Discriminada ............................................................... 36

2.6.2.2 Verbalização de Temas Tabu ....................................................... 37

2.6.2.3 Disposição Expectante ................................................................. 37

2.6.2.4 Audição Catártica ......................................................................... 38

2.6.2.5 Compromisso Condicional ............................................................ 38

2.6.2.6 Seletividade Construtiva ............................................................... 39

2.6.2.7 Atitude Direta Não Destrutiva ....................................................... 39

2.6.2.8 Desempenho Responsável .......................................................... 39

2.6.2.9 Quando Tomar as Rédeas ........................................................... 40

2.6.2.10 Linguagem do Paciente ................................................................ 40

2.6.2.11 Responsividade Incondicional ...................................................... 41

2.7 HUMANIZAÇÃO ........................................................................... 42

2.8 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ......................................... 47

2.9 COMUNICAÇÃO E SAÚDE ......................................................... 52

2.10 CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................... 59

3. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................... 61

4. LOCAL DE PESQUISA ................................................................ 70

4.1 ABRACE ....................................................................................... 70

4.2 HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR ... 71

4.2.1 Modelo de Gestão ........................................................................ 75

4.2.2 Como está estruturado o Setor de Comunicação no HCB............ 78

5. METODOLOGIA .......................................................................... 80

5.1 OBJETIVOS ................................................................................. 81

5.1.1 Objetivo Geral ............................................................................... 82

5.1.2 Objetivos Específicos ................................................................... 82

5.2 QUESTÕES DE PESQUISA ........................................................ 82

6. RESULTADOS PARCIAIS E DISCUSSÃO ................................. 88

6.1 ESTUDOS EMPÍRICOS ............................................................... 88

6.2 ESTUDO EMPÍRICO UM: O COTIDIANO COMUNICACIONAL

DO HCB ........................................................................................

91

6.2.1 Pesquisa Documental: análise dos Relatórios de Gestão 2011 e

2012 ..............................................................................................

91

6.2.1.1 Discussão ..................................................................................... 93

6.2.2 Pesquisa Documental e pesquisa na web: análise da Missão,

Visão e Valores ............................................................................

94

6.2.2.1 Discussão ..................................................................................... 97

6.2.3 Pesquisa de Campo: entrevistas em profundidade para análise

de conteúdo ..................................................................................

100

A. A Comunicação Organizacional ........................................... 100

6.2.3.1 Resultados .................................................................................... 102

6.2.3.2 Discussão ..................................................................................... 104

B. A Comunicação Terapêutica ................................................. 106

Situação 1 ..................................................................................... 107

6.2.3.3 Resultados .................................................................................... 108

6.2.3.4 Discussão ..................................................................................... 108

Situação 2 ..................................................................................... 109

6.2.3.5 Resultados .................................................................................... 111

6.2.3.6 Discussão ..................................................................................... 112

Situação 3 ..................................................................................... 113

6.2.3.7 Resultados .................................................................................... 113

6.2.3.8 Discussão ..................................................................................... 113

6.3

ESTUDO EMPÍRICO DOIS: O COTIDIANO TERAPÊUTICO DO

HCB .............................................................................................. 115

6.3.1 Pesquisa de Campo: entrevistas em profundidade para análise

de conteúdo ..................................................................................

115

6.3.1.1 Grupo de Profissionais: resultados e discussão ........................... 116

6.3.1.2 Grupo de Mães: resultados e discussão ...................................... 119

6.3.1.3 Considerações Gerais .................................................................. 123

6.3.2 Observação semiparticipante ....................................................... 125

6.3.2.1 Ambiência: resultados .................................................................. 126

6.3.2.2 Ambiência: discussão ................................................................... 127

6.3.2.3 Procedimentos: resultados ........................................................... 128

6.3.2.4 Procedimentos: discussão ............................................................ 129

6.3.2.5 Pessoas: resultados ..................................................................... 130

6.3.2.6 Pessoas: discussão ...................................................................... 130

6.3.2.7 Comunicação Terapêutica: resultados ......................................... 132

6.3.2.8 Comunicação Terapêutica: discussão .......................................... 133

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 135

REFERÊNCIAS .................................................................................................

GLOSSÁRIO .....................................................................................................

APÊNDICES .....................................................................................................

Apêndice A: Roteiro semiestruturado para entrevistas em profundidade –

Profissionais do Núcleo de Estratégia e Inovação ...........................................

Apêndice B: Roteiro semiestruturado para entrevistas em profundidade –

Profissionais do Núcleo de Comunicação e Mobilização ..................................

Apêndice C: Roteiro semiestruturado para entrevistas em profundidade –

Médico ...............................................................................................................

Apêndice D: Roteiro semiestruturado para entrevistas em profundidade –

Enfermagem ......................................................................................................

Apêndice E: Roteiro semiestruturado para entrevistas em profundidade –

Familiar ou responsável pelo Paciente .............................................................

ANEXOS ...........................................................................................................

Anexo A: Protocolo de Recebimento de Documentos do Centro Integrado e

Sustentável de Ensino e Pesquisa (CISEP) do HCB, em 22/04/2015 ..............

Anexo B: Termo de Concordância do HCB, em 22/06/2015 ...........................

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171

Anexo C: Folha de Rosto para Pesquisa envolvendo Seres Humanos,

Plataforma Brasil, MS/CNS/CONEP, em 23/06/2015 .......................................

Anexo D: Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP),

em 03/08/2015 ..................................................................................................

Anexo E: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..................................

Anexo F: Termo de Assentimento ....................................................................

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175

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20

1. INTRODUÇÃO

1.1 – APRESENTAÇÃO:

Esta pesquisa buscou o entendimento sobre Comunicação para a sua

articulação entre as áreas de Comunicação e Saúde, por meio da teoria do

psiquiatra Jurgen Ruesch, denominada Comunicação Terapêutica.

O percurso de pesquisa teve início com o enfrentamento de um câncer na

família. O acompanhamento a uma sessão de quimioterapia resultou na percepção

de uma forma singular de se proporcionar saúde – física e mental –, para a qual os

profissionais envolvidos se empenhavam em manter o ânimo na luta diária de

pessoas desconhecidas. Da recepção à sessão de quimioterapia, todos se

mostravam empenhados em acolher com respeito, carinho e atenção a todos os

pacientes, independentemente da situação do caso: diagnósticos com potencial de

cura ou de terminalidade da vida.

O estranhamento provocado por tal realidade aguçou o desejo por entender

as diferenças gritantes existentes em serviços de saúde pública. Por que algumas

organizações de saúde simplesmente conseguem oferecer um atendimento que

promovem saúde a despeito da doença? Que compreensão essas instituições

possuem?

Na busca pela compreensão daquela experiência satisfatória com e pelo Ser

Humano, deparei-me com as palavras “comunicação terapêutica”; uma forma

comunicacional de que nunca ouvira falar.

Investigando sobre a abrangência desse processo comunicacional e em quais

contextos se aplica, encontrei a subárea Comunicação e Saúde, instituída no Brasil

em 1994, pela visão científica de José Marques de Melo, à época, no Instituto

Metodista de Ensino Superior de São Paulo, e hoje, Universidade Metodista de São

Paulo (UMESP).

Interessada no enfoque da comunicação terapêutica e desejando ampliar os

estudos em Comunicação e Saúde, busquei compreender, pelo ponto de vista

acadêmico, o cuidado humanizante assumido para além dos procedimentos clínicos

de um ambiente hospitalar. Ganha força a intenção da pesquisa na história de vida

de um grupo de voluntárias de Brasília, que, em 1986, se mobilizou por melhores

condições de atendimento para seus filhos em tratamento de câncer no Hospital de

Base do Distrito Federal (HBDF) e se organizou na entidade filantrópica para apoio

21

às crianças com câncer, Abrace – Associação Brasileira de Assistência às Famílias

de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias.

O empenho da Abrace se consolidou na construção do Hospital da Criança de

Brasília José de Alencar (HCB), em 2011, local onde se realizou a pesquisa.

É pelo olhar da presidente da Abrace, Ilda Peliz, em entrevista concedida em

12 de outubro de 2014, que seu ideal de comunicação humanizadora com aqueles

que perdem a estrutura emocional ao se depararem com o prognóstico de morte

pelo câncer, confirma o potencial da pesquisa:

A mãe, em prantos, desesperada, me disse:

– Dona Ilda, o doutor falou que meu filho vai morrer e ele não pode morrer.

Disse para voltarmos para o Acre para que ele aproveite o resto de vida com a avó,

com os brinquedos, com os amiguinhos, porque o resultado dos exames não é bom.

Que não precisamos voltar mais.

Telefonei para o médico, sugerindo-lhe que alguém do hospital ligasse para a

Abrace no dia seguinte pedindo para a mãe voltar com o menino para uma

reavaliação do exame. Que ele não desmentisse o que foi dito, mas que marcasse

um retorno para o menino em data futura. Pela perspectiva do médico, o menino teria,

no máximo, três meses de vida. Estávamos em setembro, então, que fosse marcado

um retorno para dezembro, pois com o prognóstico de três meses de vida, eles

acabariam não tendo como voltar.

Só que eu fiquei tão abalada com o estado daquela mãe que, terminada a

conversa com o médico, disse para ela que assim que ela saiu do HCB, o médico

tinha visto mais alguma coisa nos exames. Pronto! No dia seguinte ela voltou ao

hospital e o médico marcou um retorno para dezembro. Na época, o menino, com 10

anos, ouvindo o médico orientar para voltarem em dezembro, disse:

– Não, doutor! Deixa eu voltar em janeiro? Porque em janeiro é meu

aniversário e gostaria de comemorar o aniversário aqui.

Aquilo cortou o meu coração.

No dia 17 de janeiro, eu recebi um telefonema dele, dizendo que estava em

Brasília para comemorar o aniversário dele.

O fato é que, mesmo com toda a piora do quadro do menino enquanto estava

no hospital, inexplicavelmente, esse menino não apresentou mais o tumor.

Olha como esse médico poderia ter feito diferente, sem trazer tanto

sofrimento para essa mãe! – ressalta Ilda Peliz.

22

Seu relato aponta também a preocupação com as atitudes comunicacionais

que marcam a diferença entre o atendimento hospitalar que engloba integralmente o

Ser Humano daqueles que, simplesmente, consideram o paciente pela patologia ou

pelo número do prontuário:

Eu não era a Ilda, eu era a mãe ou a acompanhante do leito 13; minha filha não tinha

nome, minha filha era o leito 13 ou o astrocitoma do leito 13, e aquilo para mim era

muito estranho, porque se está chocada, perdida, e eles falam para você não

entender. (...) Eu ficava atenta a tudo e briguei muito para que tivéssemos um hospital

para criança em que a comunicação fosse diferente: que o tratamento fosse mais

humanizado, que levasse em consideração que as crianças têm um nome. A minha

ideia era que cada cabeceira de cama no hospital tivesse um local para colocar o

nome da criança, da mãe ou do acompanhante.

Estes e outros depoimentos apresentados nas análises feitas pelo olhar da

teoria de Ruesch corroboram o valor da comunicação. Os resultados indicam o

potencial terapêutico que pode adquirir um processo comunicacional consciente,

considerando-se todo o cenário circundante e, sobretudo, o potencial de

aprendizagem oferecido por cada pessoa em tratamento. Não são trocas, pura e

simplesmente; trata-se de evolução, de compreensão de que cada Ser Humano é

único e que oferece um universo de possibilidades.

Desse modo, partiu-se para a construção de uma metodologia que tenta

abarcar o mecanismo da Comunicação Terapêutica como integrador de práticas na

comunicação organizacional hospitalar.

Entendendo a Comunicação como relação de consciências, apresenta-se

como Referencial Teórico o encadeamento lógico buscado a partir das definições

de Consciência, em Maturana e Varela; Comunicação, em Marcondes Filho;

Relação de Consciências, em Marcondes Filho, Martino e Merleau Ponty;

Comunicação Interpessoal, em Littlejohn e os teóricos da Pragmática da

Comunicação (Watzlawick et al.); Comunicação Terapêutica, em Ruesch e

Stefanelli; o conceito de Humanização pela Política Nacional de Humanização

instituída pelo Ministério da Saúde; Comunicação Organizacional Integrada, em

Kunsch e, para entender como tem se desenvolvido no país a área de atuação para

os profissionais de Comunicação, uma abordagem sobre Comunicação e Saúde, em

Pessoni.

23

Na Revisão de Literatura são apresentados os desafios relacionados à

inexistência de estudos desenvolvidos na área de Comunicação com esse foco

específico – Comunicação Terapêutica –, e o fato de que os estudos desenvolvidos

na área de Enfermagem, não apresentam as premissas específicas de Ruesch: são

sistematizações afins de estudiosos das áreas de Comunicação Interpessoal, da

Psiquiatria, da Psicologia e da Enfermagem, justificando-se a apresentação aqui, do

problema de pesquisa com os objetivos estabelecidos.

É importante entender em Local de Pesquisa os esforços empreendidos pela

Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer

e Hemopatias (ABRACE) para que o Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

se concretizasse.

Em Metodologia são apresentados os caminhos trilhados para que se

conseguisse construir um método de análise que traduzisse a percepção do

fenômeno como uma realidade possível, aplicável. As questões de pesquisa são

apresentadas em dois estudos: o Estudo Um revela “O Cotidiano Comunicacional do

HCB” e o Estudo Dois, “O Cotidiano Terapêutico do HCB”.

Por fim, as Considerações Finais tentam dar conta do relato dos desafios

encontrados e dos potenciais achados para a busca de uma validação da proposta

no diálogo com as áreas da Comunicação e da Saúde.

Tomou-se o cuidado de oferecer um Glossário, para aquelas palavras que

não são de domínio da área de Comunicação.

Em Apêndice encontram-se os roteiros semiestruturados utilizados nas

entrevistas e, finalmente, os documentos que autorizaram a consecução da

pesquisa, em Anexos.

24

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A ciência é empírica, baseada na experiência humana, e a experiência humana é sempre a de seres humanos específicos envolvidos com o mundo enquanto nele vivem e não enquanto teorizam sobre ele. Devemos voltar a essa experiência vivida, voltar às próprias coisas, se quisermos inclusive entender o papel que a ciência desempenha em nossas vidas.

Eric Matthews

Ao conhecimento das várias fontes disponíveis no universo reificado acerca

das teorias da comunicação, depara-se com uma riqueza de abordagens. Os

estudiosos não confirmam a existência de uma teoria específica da Comunicação,

pois cada qual foi sendo observada e estudada conforme o contexto vigente à

época, buscando-se o entendimento do fenômeno pesquisado com as implicações,

as relações intrínsecas de cada área do saber.

Wolton (2006, p. 11-12) aponta que:

Não existe uma ciência da comunicação, porque a comunicação diz respeito a várias

disciplinas. A comunicação é um objeto de conhecimento interdisciplinar, no

cruzamento das disciplinas tradicionais e dos saberes recentes, ligados à expansão

da comunicação e das técnicas do mesmo nome. Dez disciplinas a estruturam:

Filosofia, Antropologia, Sociologia, Ciências Políticas, Linguística, Direito, Economia,

História, Psicologia e Geografia.

Não se esquecendo da Matemática, da Biologia e da Química.

Ainda que se tente definir Comunicação, cada pesquisador vai apresentar a

sua visão a partir do seu foco de pesquisa. São várias as fontes disponíveis para

que se possa compreendê-la. São muitas as teorias sobre Comunicação e teóricos

para explicá-las. Tal variedade aponta também quão complexa ela pode ser.

A interdisciplinaridade e/ou a transdisciplinaridade da comunicação é

condição inegável aos estudiosos, ainda que algumas defesas sejam mais

categóricas que outras. Observa-se, também, que se buscam um reconhecimento

para um campo constituído da Comunicação, embora o consenso pareça distante de

acontecer.

25

Às vezes, comunicamo-nos sem ter intenção; outras, não conseguimos, por mais que

insistamos. Há quem ache que cada um de nós é uma “caixa-preta”, cujos

sentimentos, emoções, vivências são impossíveis de passar ao Outro; outras pessoas

dizem que temos tudo para comunicar. O mundo atual está repleto de equipamentos

de comunicação – correio eletrônico, televisão e telefone digital, satélite etc – mas, a

sociedade parece ainda sucumbir à solidão, às muralhas entre pessoas, aos

desencontros. Esse é o enigma da comunicação. Precisamos entrar em seu mundo

para buscar desvendá-lo. (MARCONDES FILHO, 2002, contracapa).

Apresenta-se, pois, a combinação de elementos que constroem o argumento

de pesquisa para o sentido pretendido. O enquadramento teórico que se vislumbra,

procura relacionar algumas compreensões postuladas em Comunicação e outras em

Psicologia, sempre em interface com outras áreas do saber.

2.1 – CONSCIÊNCIA:

As ciências humanas não têm consciência dos caracteres físicos e biológicos dos

fenômenos humanos. As ciências naturais não têm consciência da sua inscrição

numa cultura, numa sociedade, numa história. As ciências não têm consciência do

seu papel na sociedade. As ciências não têm consciência dos princípios ocultos que

comandam as suas elucidações. As ciências não têm consciência de que lhes falta

uma consciência. (MORIN, 2005, contracapa).

Morin aponta as fragmentações que as verdades científicas buscam

sustentar. Sua fala corrobora a afirmativa de Wolton, de que os saberes são vistos

de forma fragmentada, cada qual em sua área, em sua especialidade, sem a

consciência de uma visão que considere o fenômeno em sua totalidade.

No esforço de não cair na mesma dinâmica, busca-se, então, apresentar o

constructo da pesquisa para que se alcance essa visão de interdependência, e,

traga, principalmente, a consciência dos fenômenos implicados.

O Ser Humano, ou o indivíduo, como alguns autores adotam, é “uma

totalidade biopsicossociológica” (MORIN, 2012, p. 05) e, a começar pela Biologia,

tem-se o entendimento de que a consciência é “essa contínua concatenação de

reflexões”. (MATURANA; VARELA, 2001, p. 254).

Carl Rogers apresenta em seus estudos de Psicologia que:

(...) Devemos reconhecer que neste mundo particular de experiência do indivíduo,

apenas uma parte dessa experiência e, provavelmente, uma parcela muito pequena,

é conscientemente vivida. Muitas das nossas sensações sensoriais e viscerais não

26

são simbolizadas. No entanto, também é verdade que grande parte do mundo da

experiência está acessível à consciência, e pode estar ciente de que a necessidade

do indivíduo determina que certas sensações passem a um primeiro plano, porque

estão associados com a satisfação de uma necessidade. (...) É ainda verdade que o

indivíduo é o único que pode dizer como foi percebida a experiência. (...) A

experiência é um mundo particular para cada indivíduo (...). (1966, p. 411). [Tradução

nossa].

Na concatenação dos sentidos, faz-se ainda necessário destacar a

importância da percepção na experiência para a tomada de consciência, porque

Rogers aponta que “não reagimos ante a uma realidade absoluta, e sim ante a uma

percepção dessa realidade.” (1966, p. 411).

Duarte, ao estudar Merleay-Ponty, destaca que “o ato de perceber um mundo

direciona a consciência, o que necessariamente faz emergir uma zona de fronteiras,

de troca de sentidos. A consciência só pode ser observada no encontro perceptivo.”

(2003, p. 47).

Em síntese, a consciência da realidade é um mundo particular das

percepções do Ser Humano.

2.2 – COMUNICAÇÃO:

O verbete desenvolvido por Marcondes Filho (2009, p. 86) indica que

“comunicação é um substantivo feminino, cuja etimologia latina communicatio

significa estabelecer uma relação com alguém, mas também com um objeto

cultural.”

Ele discorre sobre as diferenças entre sinalização, informação e

comunicação:

Comunicação não se confunde com sinalização nem com informação. (...) Qualquer

coisa ao nosso redor produz sinais que podem ou não ser convertidos em

componentes do processo comunicacional. (...) É o que se chama de emissão,

processo autônomo e independente, relacionado com a nossa observação do mundo

que nos rodeia ou com a ausência dela, e relacionado também com as intenções de

intervenção, manipulação, de sedução, de controle, de administração, de operação

sobre o outro. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 86-87).

Para diferenciar a sinalização da informação, Marcondes Filho ressalta a

importância da intencionalidade:

27

Uma sinalização pode tornar-se uma informação. Aquilo que antes era apenas um

“ruído”, uma “irritação”1, pode ser alvo da minha atenção em relação ao outro. Diz a

fenomenologia que para que eu me volte ao outro – seja esse outro uma pessoa, um

anúncio publicitário, um dado da natureza – é preciso que haja interesse. Qualquer

coisa que esteja no meu redor só passa a existir no momento em que eu me voltar

para ela. Dessa maneira, a percepção é algo absolutamente subordinado à minha

relação com as coisas, e não com o mundo em geral. Eu transformo sinais em

informação quando me volto a eles, quando lhes dou atenção, quando lhe concedo a

minha curiosidade ou minha preocupação. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 87).

Marcondes Filho chama a atenção para a exceção gerada pelo artifício da

sedução e da publicidade, para as quais há uma “traição” da intencionalidade

percebida.

A publicidade mantém desconhecido o motivo daquilo que é anunciado; ela não

esconde os fins a que se propõe, mas jamais revela os meios utilizados que são

capciosos. (...) Ela insere um fato perturbador na regularidade cotidiana da vida, um

desejo que não nasceu espontaneamente das vontades das pessoas, mas que foi

criado pela estratégia de captura e convencimento da publicidade. A pessoa acaba

desejando o que jamais desejaria. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 87).

E, finalmente, para definir comunicação, ele discorre:

Quando recebo sinais externos, eles podem rebater sobre mim como informação,

mas também como comunicação. Trata-se da diferença estabelecida por Platão, no

livro VII da República, onde ele fala que há duas espécies de coisas no mundo: as

que deixam o pensamento inativo ou lhe dão apenas aparência de atividade e as que

fazem pensar, que nos forçam a pensar. (...) Na busca de informações, agimos

seletivamente procurando fatos e material para nos assegurarmos em nosso mundo.

(...) Mas, ao mesmo tempo, sentimos necessidade de coisas novas. Emoções novas,

experiências novas, fatos que interfiram em nosso cotidiano para arejá-lo. (...) Essa

ambiguidade justifica nossa necessidade de comunicação. (...) A rotina cansa e pede

continuamente por algo novo. (...) A comunicação realiza-se no plano da interação

entre duas pessoas, nos diálogos coletivos onde esse novo tem chance de aparecer,

onde o acontecimento provoca o pensamento, força-o, onde a incomunicabilidade é

rompida e criam-se espaços de interpenetração. (...) Portanto, comunicação como

algo isento de substancialidade, materialidade, predicado, é uma situação não trivial

de diluição de nós no outro, na coisa. Uma experiência que perpassa a todos, em que

todos que dela participam sentem, e que muda os que ela põe em jogo. (...)

(MARCONDES FILHO, 2009, p. 87-89; 2010, p. 20-22).

Na construção de uma circularidade de sentidos, tem-se, portanto que as

percepções de uma realidade e a forma como se reflete sobre essas percepções

1 Referindo-se a Niklas Luhmann.

2 Referindo-se aqui à relação que ele estabelece com a obra de Marcel Proust.

28

dão condições de se constituir uma consciência acerca dessa realidade. Tudo

sinaliza. A percepção e o interesse acerca dessa sinalização alcançam uma

informação, que pode resultar numa comunicação transformadora, porque traz algo

novo, ou reforçadora, porque confirma uma compreensão, reduz um

estranhamento. A “comunicação (...) tem a virtualidade de evocar em nós a

necessidade de pensar sobre a coisa, pensar sobre seu objeto, pensar sobre o

drama envolvido em seu enredo.”2 (MARCONDES FILHO, 2010, p. 10).

2.3 – RELAÇÃO DE CONSCIÊNCIAS:

Parece haver um entendimento concordante de que a comunicação aconteça

na relação de consciências.

Marcondes Filho considera em seus estudos a abordagem de Auroux & Weil

(p. 61-61) para os quais a “comunicação é, de início, compreendida como relação

privilegiada de consciências humanas.” (2002, p. 13). E mais, afirma que “comunicar

encerra necessariamente a validação do outro ou das outras coisas, e isso remete à

questão do reconhecimento”. [grifo do autor] (2002, p. 11-12).

Martino, por sua vez, argumenta:

Nós representamos a comunicação neste domínio pelo esquema Cs X Cs (relação de

consciências). Para este domínio, comunicar tem o sentido de tornar similar e

simultânea as afecções presentes em duas ou mais consciências. Comunicar é

simular a consciência de outrem, tornar comum (participar) um mesmo objeto mental

(sensação, pensamento, desejo, afeto). (MARTINO, 2001, p. 23).

Complementar a essa construção de sentidos, apresenta-se Duarte:

(...) Para que algo seja comum a um grupo, para que haja comunhão, para tornar um

pensamento comum, os envolvidos inevitavelmente têm de estar em relação. Estar

em relação implica a emergência de uma superfície comum de troca, ou uma zona de

encontro de percepções dos emissores e receptores. (DUARTE, p. 46 In: DE LOPES,

2003).

(...) Merleau-Ponty chama a atenção para essa particular característica do ato de

comunicar como sendo o encontro de fronteiras perceptivas. Para ele, o homem

como ser natural dá-se conta de sua própria consciência, mas não da existência de

outra consciência. O outro ou outra consciência só lhe é possível acessar ou

conceber por ser o homem também um ser cultural. É na cultura que a consciência

2 Referindo-se aqui à relação que ele estabelece com a obra de Marcel Proust.

29

individual percebe que está inserida num mundo de objetos culturais que foram

produzidos por outras consciências. Cada objeto do qual um ser consciente se serve,

como uma faca (...), traz a marca de uma função ou a marca de um motivo gerado

por outra consciência talvez anterior, mas que se serve tanto quanto o ser consciente

serve-se desse objeto. (...) Para Merleau-Ponty é esse o momento da manifestação

de uma consciência. Não se trata da consciência de um puro ser para si e em si, ser

decifrada em seus labirintos, mas de uma consciência que se manifesta em

percepção. O ato de perceber um mundo direciona a consciência, o que

necessariamente faz emergir uma zona de fronteiras, de troca de sentidos. (...) Para

Merleau-Ponty o sentimento de partilha é o que define a comunicação, é construir

com o outro um entendimento comum sobre algo. É o fenômeno perceptivo no qual

suas consciências partilham na fronteira. O entendimento comum não quer dizer

concordância total com os enunciados envolvidos na troca. O entendimento pode ser

a conclusão das consciências que discordam dos enunciados uma da outra.

(DUARTE, p. 47 In: DE LOPES, 2003).

Mostra-se, portanto, coerente, a lupa de Marcondes Filho, uma vez que a

disposição é a de entender uma comunicação que se propõe terapêutica. Ora, se “a

sociedade parece ainda sucumbir à solidão, às muralhas entre pessoas e aos

desencontros”, como isso se dá no mundo de quem se defronta com uma das

doenças mais estigmatizadas pelos significados de doença incurável e potencial

morte? Sobretudo quando são as crianças as que pouca vivência possuem para

compreender o que se estabelece a partir de um diagnóstico de câncer.

Arrais destaca a importância dessa comunicação:

Autores como Makipernaa (1989) e Faulkner, Peace e O`Keeffe (1995) afirmam que é

fundamental que esta comunicação ocorra entre a família, equipe e criança, para que

esta última não seja deixada à parte dos conhecimentos básicos da doença e dos

procedimentos, oportunizando assim uma maior sensação de controle sobre o

desconhecido ou inesperado. Caso esta comunicação não se estabeleça, o

conhecimento adquirido pelas crianças estaria baseado apenas na experiência

vivenciada. Ou seja, só após passar por algumas intervenções e procedimentos é que

as crianças atribuiriam a essas experiências algum significado. Essa falta de

conhecimento pode ter uma conotação desfavorável, tendo em vista que na época do

tratamento não tinham uma noção adequada das rotinas a que teriam de se

submeter, resultando certamente em vivências negativas. (ARRAIS, 1987, p.79-80).

Por isto, acredita-se que os preceitos estabelecidos para uma comunicação

que esteja para além da informação, ou seja, que possa, como postulam Duarte e

Monteiro (2012, p. 341), “criar consciência comunicativa”, estejam ao alcance das

30

práticas hospitalares e daqueles que cumprem a missão de cuidar e/ou salvar Seres

Humanos. Nesse sentido, busca-se na Comunicação Terapêutica os elementos que

podem contribuir para esse entendimento, integrando-se ao modo de ser da

comunicação pensada para esse tipo de organização.

Ainda na construção de uma circularidade de sentidos, faz-se necessário o

caminhar pela Comunicação Interpessoal.

2.4 – COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL:

“A comunicação interpessoal ocorre no contexto da interação face a face”

afirma Litlejohn, estabelecendo-se uma “dinâmica de relações. Um relacionamento é

um padrão de interação entre duas pessoas, baseado em suas percepções

recíprocas." (p. 205-206, 1988).

Herbert Blumer – apóstolo de George Herbert Mead, ambos sociólogos e

psicólogos sociais –, sintetiza os estudos de Mead, ampliando a perspectiva

interacionista3 de seu mentor por meio de três premissas:

1. Os Seres Humanos agem em relação às coisas na base dos significados que as

coisas têm para elas; 2. (...) o significado de tais coisas deriva, ou decorre, da

interação social que um indivíduo tem com seus semelhantes; 3. (...) esses

significados são manipulados e modificados através de um processo interpretativo

usado pela pessoa no trato com as coisas com que se defronta. (LITTLEJOHN, 1988,

p. 71-72; VAZ-FREIXO, 2006, p. 105).

Vaz-Freixo, discorrendo sobre as teorias da comunicação interpessoal,

apresenta a definição de Barlund:

O estudo da comunicação interpessoal ocupa-se (...) da investigação de situações

sociais relativamente informais em que pessoas em encontro face a face sustentam

uma interação concentrada através da permuta recíproca de pistas verbais e não

verbais. Essa definição pressupõe cinco princípios fundamentais: 1. Devem existir

duas ou mais pessoas em proximidade física e que percebam a presença umas das

outras; 2. A comunicação interpessoal envolve “interdependência comunicativa”, ou

seja, por outras palavras, o comportamento comunicativo de uma pessoa é uma

consequência direta de outra, (...) ou seja, “interação focalizada”, a qual implica

3 Referindo-se ao Interacionismo Simbólico, cuja expressão foi cunhada por Blumer e não por Mead,

como se costuma pensar.

31

atenção mútua concentrada; 3. A comunicação interpessoal envolve a troca de

mensagens; 4. As mensagens são codificadas de várias formas verbais e não

verbais; 5. A comunicação interpessoal é relativamente carente de estrutura, ela é

marcada pela informalidade e pela flexibilidade. (VAZ-FREIXO, 2006, p. 157-158

apud BARLUND, 1968).

Os estudiosos da Escola de Palo Alto “percebem o relacionamento enquanto

envolvência da interação humana que integra a comunicação interpessoal”. (VAZ-

FREIXO, 2006, p. 160).

Postulando uma pragmática da comunicação humana, na comunicação

interpessoal, eles apresentam cinco axiomas:

1. “Não se pode não comunicar” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2007,

p. 47):

O comportamento não tem um oposto, (...) não existe um não-comportamento, (...)

um indivíduo não pode não se comportar [grifo dos autores]. Ora, se está aceito que

todo comportamento, numa situação interacional, tem valor de mensagem, isto é, é

comunicação, segue-se que, por muito que o indivíduo se esforce, é-lhe impossível

não comunicar. Atividade ou inatividade, palavras ou silêncio, tudo possui um valor de

mensagem. (...) Deve ficar entendido que a mera ausência de falar ou de observar

não constitui exceção ao que acabamos de dizer. (...) O passageiro de avião que se

senta de olhos fechados está comunicando que não quer falar com ninguém nem que

se fale com ele. (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2007, p. 44-45).

2. “Toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação,

de tal modo que o segundo classifica o primeiro e é, portanto, uma

metacomunicação” (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2007, p. 50):

(...) Qualquer comunicação implica um (...) compromisso; e, por conseguinte, define

a relação. (...) O aspecto “relato” de uma mensagem transmite a informação e,

portanto, é sinônimo na comunicação humana, do conteúdo [grifo dos autores] da

mensagem. Pode ser sobre qualquer coisa que é comunicável, independentemente

de essa informação ser verdadeira ou falsa, válida, inválida ou indeterminável. O

aspecto “ordem” por outro lado, refere-se à espécie de mensagem e como dever ser

considerada; portanto, em última instância, refere-se às relações entre os

comunicantes. (Idem, p. 47-48).

3. “A natureza de uma relação está na contingência da pontuação das

sequências comunicativas entre os comunicadores” (WATZLAWICK; BEAVIN;

JACKSON, 2007, p. 54):

32

Suponhamos que um casal tem um problema marital, para o qual o marido contribui

com um retraimento passivo, enquanto os 50 por cento da esposa são censuras e

críticas irritantes. (...) O marido dirá que o seu retraimento é a única defesa [grifo dos

autores] contra as implicâncias da esposa, enquanto ela classificará essa explicação

de uma grosseira e deliberada distorção do que “realmente” acontece em seu

casamento, notadamente, que ela o critica por causa [grifo dos autores] da

passividade do marido. (...) “Eu me retraio porque você implica” e “Eu implico porque

você se retrai”. O problema reside (...) na incapacidade de ambos para

metacomunicarem sobre os padrões respectivos de suas interações. (Idem, p. 52-53).

4. “Os seres humanos comunicam digital e analogicamente (...)”

(WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2007, p. 61):

Podemos dizer que toda comunicação tem um conteúdo e uma relação e que os dois

modos de comunicação não só existem lado a lado, mas complementam-se em todas

as mensagens. Nesta lógica, todos os aspectos de conteúdo têm a probabilidade de

serem transmitidos digitalmente, ao passo que o aspecto relacional (sentimentos,

afetos, expectativas) será predominantemente analógica sua natureza. (VAZ-

FREIXO, 2006, p. 164).

A comunicação analógica deve abranger postura, gestos, expressão facial, inflexão

de voz, sequência, ritmo e cadência das próprias palavras, e qualquer outra

manifestação não verbal de que o organismo seja capaz, assim como as pistas

comunicacionais infalivelmente presentes em qualquer contexto [grifo dos autores]

em que uma interação ocorra. (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2007, p. 57).

5. “Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas ou

complementares, segundo se baseiam na igualdade ou na diferença”

(WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 2007, p. 64):

O último axioma de Watzlawick expressa uma diferença entre interação simétrica ou

complementar. Quando dois comunicadores numa relação se comportam de um

modo muito semelhante, diz-se que a relação é simétrica; as diferenças são assim

minimizadas. Mas, quando as diferenças entre comunicadores são maximizadas, diz-

se que existe uma relação complementar. Por exemplo, quando um casal manifesta a

sua felicidade e interage para reforçar essa felicidade um do outro, eles estão

envolvidos num relacionamento simétrico. (...) Ainda um relacionamento conjugal

complementar existe quando a esposa assume um comportamento de reforço de sua

submissão e o marido responde com um comportamento dominante. (VAZ-FREIXO,

2006, p. 165).

Litlejohn, Barlund e os Pragmáticos da Comunicação levam a concluir que as

percepções recíprocas oriundas do encontro dinâmico entre duas ou mais pessoas

33

em interação, produzem, pela interpretação ou significação da linguagem verbal ou

não verbal, comportamentos comunicantes.

2.5 – COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL:

Assim seria se as palavras fossem tudo. No entanto, elas são apenas o início, pois

além delas está o solo firme sobre o qual se constroem as relações humanas: a

comunicação não verbal. As palavras são bonitas, excitantes, importantes, embora

tenham sido superestimadas em excesso, uma vez que não representam a

mensagem total e nem parcial. Na verdade, segundo opinião de um cientista “a

palavra é aquilo que o homem usa quando todo o resto falha”. (DAVIS, 1979, p. 22).

A comunicação não verbal pode ser mais eloquente que a comunicação

verbal. O movimento dos olhos, o mexer das sobrancelhas, o cruzar de pernas, os

gestos femininos ou masculinos, o dar de ombros e tantos outras linguagens não

verbais parecem ocultar um mundo de significados.

Davis desafia ao exercício de se colocar em frente a um aparelho de TV, de

preferência num programa de entrevistas, eliminar o som e observar. Que códigos

não verbais se depreenderiam da observação?

Silva (1996, p. 48-49), baseando-se nos estudos feitos a partir de Mark L.

Knapp (1980) apresenta:

Paralinguagem – é qualquer som produzido pelo aparelho fonador que não faça

parte do sistema sonoro da língua usada. Independentemente dos fonemas que

compõem as palavras, os sinais paralinguísticos demonstram sentimentos,

características da personalidade, atitudes, formas de relacionamento interpessoal e

autoconceito. Temos, como exemplo, diferentes modos de dizer a palavra “não”.

Esses sinais são fornecidos pelo ritmo da voz, intensidade, entonação, grunhidos

(“ah”, “er”, “uh”) ruídos vocais de hesitação, tosses provocadas por tensão, suspiro

etc.

Cinésica – é a linguagem do corpo, ou seja, os seus movimentos, desde os gestos

manuais, movimentos dos membros, meneios de cabeça, até as expressões mais

sutis, como as faciais. Sabe-se que quanto mais encoberto for um sinal – um leve

tremor nas mãos, por exemplo – mais difícil é ter consciência dele.

Proxêmica – é o uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural

específico, como a distância mantida entre os participantes de uma interação. O

espaço entre os comunicadores pode indicar o tipo de relação que existe entre eles –

diferença de status, preferências, simpatias e relação de poder.

Características físicas – são a própria forma e a aparência de um corpo.

Transmitem informações sobre faixa etária, sexo, origem étnica e social, estado de

34

saúde etc. Os objetos usados pela pessoa também são sinais de seu autoconceito

(joias, roupas, tipo de carro) e das relações mantidas (aliança, anel de graduação).

Fatores do meio ambiente – são a disposição dos objetos no espaço e as

características do próprio espaço, como cor, forma e tamanho.

Tacêsica – é tudo que envolve a comunicação tátil: pressão exercida, local onde se

toca.

Não se pode, portanto, prescindir dos ricos elementos comunicantes nas

relações estabelecidas pela linguagem não verbal, uma vez que elas representam

as singularidades que intercomplementam um mundo complexo de significados.

2.6 – COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA:

No Brasil, as referências encontradas para comunicação terapêutica estão

relacionadas aos estudos de Enfermagem.

Por isto, se torna ainda mais interessante a perspectiva de associação da

comunicação organizacional hospitalar com os preceitos da Comunicação

Terapêutica, pois amplia o campo de atuação dos profissionais de Comunicação e

favorece a troca de experiências entre as áreas da Saúde e da Comunicação.

2.6.1 – O Mentor da Comunicação Terapêutica:

Jürgen Ruesch, psiquiatra italiano, nascido em Nápoles em 1909, mudou-se

para San Francisco em 1943, para dirigir um estudo sobre lesões na cabeça no

recém-inaugurado Langley Porter Neuropsychiatric Clinic na Universidade da

Califórnia, em San Francisco, Estados Unidos da América.

Desenvolveu com Gregory Bateson, as obras The Matrix Social Psychiatry,

em 1951 e Comunicação Não Verbal, com Weldon Kees, em 1956. Ele aposentou-

se em 1977, como professor emérito de Psiquiatria. Faleceu no dia 08 de julho de

1995. Sua rara obra sobre Comunicação Terapêutica foi encontrada num sebo da

cidade do Rio de Janeiro, mas não há referência precisa acerca da data de

publicação. O próprio Ruesch, em agradecimento aos colaboradores que publicaram

estudos em parceria, menciona datas como 1954, 1957 para os trabalhos

35

mencionados. Contudo, a obra estudada contém somente a data de reimpressão

feita pela Paidós, na Argentina: 1980.

No Brasil, a referência que aborda especificamente sobre Comunicação

Terapêutica é a do estudo de Maguida Costa Stefanelli, no livro Comunicação com

Paciente: teoria e ensino, pelo qual são apresentados os conceitos básicos de

comunicação para o desenvolvimento das habilidades necessárias no

relacionamento enfermeira-paciente.

Stefanelli apresenta o conceito adaptado do psiquiatra Jürgen Ruesch para

comunicação terapêutica:

A comunicação terapêutica consiste na habilidade do profissional em usar seu

conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão temporária, a

conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado e a superar

os bloqueios à autorrealização para enfrentar seus problemas. (STEFANELLI, 1993,

p. 81-82).

Ruesch, no entanto, não desenvolve um conceito acerca de Comunicação

Terapêutica. Para ele:

A comunicação terapêutica é uma expressão que abarca todo o intercâmbio entre

pessoas e está destinado a uma finalidade terapêutica. O estudo não sublinha uma

forma de tratamento com exclusão de outros, não assinala a fundação de uma nova

escola terapêutica, nem de uma nova filosofia de vida. (1980, p. 16).

A visão de Stefanelli, no entanto, não apresenta o que Ruesch denomina

como “atitudes terapêuticas” (1980, p. 117), ou seja, um conjunto de elementos que,

uma vez assumidos pelo médico, enfermeiro e pelo paciente, estabelecem uma

“melhor cooperação e comunicação” (RUESCH, 1980, p. 117). Como se trata de

uma pesquisa no âmbito da comunicação organizacional integrada, percebeu-se que

a sistematização das “atitudes terapêuticas” poderia ser uma ferramenta útil para

tornar os conceitos e noções de Ruesch operacionalizáveis na definição de uma

política de comunicação, apesar das categorias (atitudes) definidas serem amplas,

carregadas de subjetividade e que podem contemplar uma miríade de significações.

O esforço também foi voltado para identificar as noções desenvolvidas pelo autor em

situações concretas de comunicação hospitalar entre as equipes, entre as equipes e

36

os pacientes e nas ações comunicacionais dos gestores responsáveis pela

comunicação no hospital.

Tanto Ruesch quanto Corcoran apontam que “as atitudes podem mudar ou

ser mudadas e que também, de alguma forma, podem ser prognosticadas em

respostas a certas situações”. (CORCORAN; CORCORAN, 2010, p. 37).

A construção hipotética chamada atitude é usada para designar a disposição de um

indivíduo para responder de certa maneira ao que é previsível. O termo implica-nos

que o indivíduo tenha que se comportar consistentemente em todas as

circunstâncias; isso apenas significa que, eventualmente, podem ser descobertas

formas definidas de comportamento. (RUESCH, 1980, p. 117).

Postula-se como vital o entendimento da dinâmica estabelecida para que uma

comunicação possa adquirir um caráter terapêutico e, por isso, a necessidade de

entendimento das atitudes terapêuticas abordadas por Ruesch.

2.6.2 – Atitudes Terapêuticas:

2.6.2.1 – Tolerância Discriminada:

A primeira orientação que Dr. Ruesch apresenta para esta atitude é a de que

tolerância não é indulgência. Há limites. As ações esperadas para que se perceba a

atitude tolerante são o “respeito à individualidade, a ausência de preconceito, o

estímulo amigável para a continuidade de uma tarefa e a certeza de que não haverá

punição ao paciente” (idem), implicando, portanto, no estabelecimento de regras. O

quadro abaixo resume a postura do terapeuta frente a duas situações antagônicas:

Tabela 1: Atitudes terapêuticas: tolerância discriminada

Estado do Paciente Postura do Terapeuta Ação esperada no Paciente

Excitação, confusão, ansiedade, depressão ou em situações de emergência.

Rigor para gerar, pela comunicação, a ação.

Conduzir a questão como se houvesse somente uma alternativa.

O rigor do terapeuta reforça as tendências repressivas do paciente, permitindo-lhe concentrar-se em um pedaço de informação de cada vez, recuperando-lhe o equilíbrio.

Rigidez e compulsividade. Tolerância.

O terapeuta dá ao paciente a possibilidade de considerar as alternativas.

Essa atitude permite que o paciente avalie a alternativa, escolha e retifique a escolha.

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Ruesch, 1980, p. 117-118

37

Em suma:

Na prática, claro, a conclusão de que o terapeuta é tolerante tem de ser testada por

um determinado tempo. O paciente tem que descobrir quando e em que

circunstâncias o terapeuta é tolerante fazendo valer sua autoridade, que tipos de

restrições são impostas e que sanções são aplicadas se regras de conduta são

violadas. (RUESCH, 1980, p. 117).

2.6.2.2 – Verbalização de Temas Tabu:

A postura aqui é a de aceitação de que toda e qualquer palavra traz um

significado para o paciente. Não há temas que não possam ser abordados. Todas as

questões concorrem para “descrever o que devem descrever” (RUESCH, 1980, p.

119). Não há palavras boas ou más.

O terapeuta pode inserir os temas convencionalmente proibidos conforme a postura

do paciente: "Você está em uma posição corporal defensiva", o que teme que te

aconteça? Ou você pode apontar o arranjo processador de um paciente: "Está vestido

como que para uma festa, a quem deseja seduzir?” Desta forma, o paciente aprende

a falar sobre seus sentimentos e logo não hesitará em tomar o seu próprio corpo,

suas esperanças ou a própria personalidade do terapeuta como um tópico de

discussão. (RUESCH, 1980, p. 119).

É preciso possibilitar ao paciente expressar o que não é socialmente

mencionável:

Ao aceitar a totalidade do vocabulário do paciente, mesmo gírias e palavrões, e todos

os seus gestos, sejam inúteis, obscenos ou elegantes, o terapeuta permite acessar o

que não é socialmente mencionável. Ele levanta as questões: Como funciona isso?

O que isso quer dizer? Qual o efeito que ele tem? O paciente aprende que não é a

tradição, as boas maneiras ou formas que nos interessam, mas os sentimentos,

ideias ou coisas que elas representam. (RUESCH, 1980, p. 119).

2.6.2.3 – Disposição Expectante:

O comportamento exigido para que esta condição se cumpra é a de que a

verbalização deva acontecer no momento propício ao paciente. O terapeuta

assegura que não haverá nenhuma “intrusão na privacidade do mundo

constituído pela experiência interior do indivíduo” (RUESCH, 1980, p. 120),

mesmo que isso signifique dias, semanas ou meses de silêncio. A segurança que

o terapeuta transmite ao paciente é o preponderante para que se crie a relação

de confiança. A disposição expectante expressa, pois, “o fato de que algo pode

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acontecer se o paciente está preparado para isso. Na verdade, o terapeuta

implicitamente indica saber que o paciente pretende estabelecer uma troca

comunicativa, mas não está pronto para tal tarefa”. (RUESCH, 1980, p. 120).

2.6.2.4 – Audição Catártica:

Ruesch apresenta como audição catártica uma habilidade especial a qual

ele chama de arte, tal é o desafio nesta postura. “Na vida diária, muitas das

pessoas receptivas a quem se recorre para contar-lhes suas penúrias são seres

dominados na arte da audição catártica” (RUESCH, 1980, p. 120). Isto implica,

portanto, numa disposição paciente que favorece o expurgamento do que aflige o

paciente, pois ele sabe que não será julgado por isso.

A expressão audição catártica se refere a uma atitude do terapeuta que implica na

sua disposição de prestar ouvidos às inquietudes do paciente, a seus escrúpulos

emocionais e a outras expressões, num esforço por compreender sem interromper,

guiar, aconselhar ou refutar nada que o paciente diga. (RUESCH, 1980, p. 120).

2.6.2.5 – Compromisso Condicional:

Ruesch ressalta que esse compromisso precisa estar alicerçado na

compreensão de que o paciente deve empenhar-se pelo seu restabelecimento,

pois, se assim não precede, o médico deve voltar à atitude de disposição

expectante:

É importante não confundir o compromisso condicional com uma aprovação

indiscriminada das ações do paciente. Muitos pacientes assumem uma atitude que

expressa que “meu estado psicológico me faz agir assim, (...) “lhe corresponde tolerar

minha conduta”, e, “se não lhe agrada, faça algo para melhorar-me”. Neste momento

o terapeuta deve fazer uso de sua influência. Pode reagir ante aquela parte do

paciente que é capaz de crescer e de comunicar-se, mas não deve fazer frente às

características além do controle interpessoal. (...) O terapeuta pode fazer que o

paciente tome consciência de que todo o mundo tem algum desvio, mas que ninguém

é joguete de suas emoções. Se o paciente se empenha em sua atitude, o terapeuta

se empenhará igualmente em ajudar-lhe. O que é enfatizado aqui não é tanto o êxito

da ação como intento de luta mostrado pelo paciente. Tal empenho do paciente, se

ganha impulso, torna-se mais perto de melhoria; se mantida, no entanto, passivo e

deixar tudo nas mãos do terapeuta, este deve retomar sua disposição expectante.

Portanto, com esta atitude condicional, o terapeuta expressa implicitamente a ideia de

que a atitude do paciente determina em parte o que se sucede. Deve fazer-se que o

paciente chegue a sentir que se perde algo que vale a pena se não assume a

responsabilidade por sua existência. A experiência de íntima proximidade que se

promove através do compromisso condicional proporciona finalmente as forças que

conduzem a um maior estímulo de toda a futura cooperação. (RUESCH, 1980, p.

121-122).

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2.6.2.6 – Seletividade Construtiva:

Conhecer o paciente é condição para que se consiga estabelecer uma

relação terapêutica benéfica. Cabe ao terapeuta a atitude de seletividade

construtiva, que quer dizer que o conhecimento que adquire acerca do paciente,

lhe dá condições de avaliar como proceder.

O terapeuta habituado que estuda o paciente e chega então a uma conclusão, se vê

em condições de tomar posição. Por exemplo, poderia tomar a decisão de lutar

primeiro com os problemas de autoridade do paciente. Para isto precisa demonstrar-

lhe, com suavidade e repetidamente, as diversas ramificações do conflito. Trata-se de

fazer-lhe ver que uma autoridade pode ser útil e bondosa, e que parte de suas

dificuldades estão em não ter experimentado os aspectos amistosos e construtivos de

uma relação deste tipo. A seleção do tema requer uma atitude decidida por parte do

terapeuta. O médico há de dar a entender que nem tudo está perdido, que o paciente

é capaz de aprender. (RUESCH, 1980, p. 122).

2.6.2.7 – Atitude Direta Não Destrutiva:

A postura indicada ao terapeuta para a condução de uma abordagem com

pacientes “intelectualmente confusos ou emocionalmente tensos” (p.123) é ser

direto:

Com este tipo de paciente, o terapeuta deve ser direto. Tem que deixar de lado todos

os enfeites, delicadezas, racionalizações e ressentimentos. Romper com todo o

circunstancial e acessório significa identificar a situação, a emoção dominante ou o

conflito que o provoca. Ainda que a informação seja insuficiente, o terapeuta deverá

sacar algumas conclusões e fazer algumas interpretações que obriguem o paciente a

elucidar em parte a confusão. Deverá usar palavras que façam o impacto adequado

sobre o estado emocional do paciente. (RUESCH, 1980, p. 123-124).

2.6.2.8 – Desempenho Responsável:

Parece-nos, aqui, que a atitude necessária para um “desempenho

responsável” tangencia na atitude “compromisso condicional” descrita

anteriormente, uma vez que o compromisso do médico com o paciente está

condicionado, também, ao empenho do paciente no tratamento e à recusa de

todas as suas ações indiscriminadas.

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No entanto, um desempenho responsável está no fato de que o paciente,

com a intervenção do terapeuta, irá amadurecer quanto às respostas desejadas

para o restabelecimento de seu bem estar físico e mental:

Ocupar-se do próprio crescimento não significa crueldade, mas representa satisfazer

aquelas necessidades que são imperativas para o próprio desenvolvimento, isto é,

liberar-se tanto dos contatos humanos como dos interesses e atividades que não

cumprem função alguma na vital situação do momento. Responsabilidade quer dizer

decisão, respeito aos sacrifícios que se deseja fazer, o preço que se quer pagar e os

êxitos que se pode obter. A seu devido tempo, esta atitude do terapeuta se transmite

ao paciente, que por sua vez compreenderá que a existência do terapeuta não se

baseia sobre o prazer masoquista de ocupar-se dos outros e sim sobre o exercício de

uma habilidade que lhe permite obter não desperdiçar a vida. (RUESCH, 1980, p.

125-126).

2.6.2.9 – Quando Tomar as Rédeas:

Outra atitude esperada para que se concretize uma comunicação

terapêutica, segundo Ruesch, é tomar as rédeas da situação sempre que se

perceba que as psicopatologias ou desvios de conduta são potenciais riscos à

vida em sociedade. Suicida, homicida ou pedófilo, para exemplificar alguns, são

indicativos de potenciais ações que põem em risco a vida de outras pessoas,

cabendo ao terapeuta ações preventivas.

O fato de tomar as rédeas tem uma função bem definida. Fora proteger o paciente, as

ações do médico convencem o paciente de que nem tudo se reduz à conversação. A

compreensão de que o médico tem um poder real dá um sentimento de segurança ao

paciente. Ao atuar de maneira definida, o terapeuta mostra que põe certos limites:

que não tolera um comportamento antissocial ou destrutivo e, sim, que deseja

encontrar soluções alternativas para os problemas do paciente. Se o terapeuta não se

prepara adequadamente antes ou depois de uma intervenção deste tipo, geralmente

o paciente tirará enorme proveito dela. (RUESCH, 1980, p. 126).

2.6.2.10 – Linguagem do Paciente:

Em casos em que a verbalização do paciente não consiga traduzir o seu

estado ao terapeuta, é indicado por Dr. Ruesch o uso da “linguagem corporal ou

de ação”, que consiste na adoção de objetos ou na participação de hobbies que

o paciente goste. A leitura de um livro, uma caminhada em local aprazível, uma

partida de um jogo de tabuleiro, o folhear de um álbum de fotografias são

exemplos que podem estimular uma melhor verbalização do paciente.

Há ainda os casos de verbalização grotesca ou extravagante:

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Às vezes o terapeuta tropeça com pacientes que usam uma linguagem verbal

grotesca ou extravagante. Em vez de decifrar este código, que frequentemente

resulta inacessível, o melhor que pode fazer o terapeuta é ter em conta as ações e

gestos que lhe acompanham. Pode ser que a mensagem principal seja transmitida

por um movimento silencioso e que as palavras somente sirvam para ampliar-lhe ou

obscurecer-lhe. É naturalmente incorreto supor que em todas as circunstâncias as

expressões verbais do paciente se refiram a algum objeto, pensamento ou

sentimento. É muito comum que as palavras representem um procedimento de “fazer

ruído” com o qual o paciente intenciona reafirmar-se. Há animais que grunhem ou

latem, assim como há pessoas que cantam ou assobiam, para obter um estímulo

auditivo externo que, por meio da realimentação, lhes dá a segurança de estarem

vivos. Este fenômeno pode ser observado em crianças, que antes de desenvolver

outras capacidades se entretêm em atividades ruidosas. Mas à medida que aumenta

o controle proprioceptivo o ruído diminui. Em tais situações, o ruído que faz o

indivíduo o orienta e guia suas ações. Os pacientes retraídos ou sensorialmente

diminuídos almejam ouvir as vozes de outros; e se aborda o paciente de uma maneira

pessoal, tanto os ruídos incompreensíveis que produzem como suas alucinações,

tendem a desaparecer. (RUESCH, 1980, p. 127-128).

2.6.2.11 – Responsividade Incondicional:

A condição imutável que se estabelece entre terapeuta e paciente nesta

atitude terapêutica é a de que o paciente não ficará sem resposta. Mais que

afeto, Dr. Ruesch aponta que são as respostas inequívocas que estimulam o

paciente a, gradualmente, adquirir atitudes mais favoráveis em relação à

enfermidade. “Quando um indivíduo, seja médico, enfermeira, parente ou amigo

responde inequivocamente à intenção do paciente e se lhe dá a oportunidade de

responder à sua maneira, se tem estabelecido os fundamentos sobre os quais

pode ter lugar a recuperação”. (RUESCH, 1957, p. 198-207 In: RUESCH, 1980,

p. 128).

Ao longo do capítulo sobre Atitudes Terapêuticas, Ruesch se preocupa em

destacar as palavras que melhor as definem, sumarizando e facilitando, assim, a

compreensão:

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Tabela 2 - Atitudes Terapêuticas, seus significados e encadeamentos

Atitude Terapêutica Palavra-chave

Tolerância discriminada Tolerância não é indulgência.

Verbalização de temas tabu Designações explícitas e implícitas. Pode-se falar sobre qualquer coisa.

A disposição expectante

O paciente toma a iniciativa. O terapeuta aguarda pacientemente.

A audição catártica

Segredos que angustiam a mente. A expressão verbal como descarga das tensões.

O compromisso condicional O compromisso do terapeuta Reação frente à parte saudável do paciente.

Seletividade construtiva

Decisões táticas Apontando as potencialidades. Desatenção dos traços patológicos

A atitude direta, mas não agressiva. Pacientes confusos e dispersos A atitude direta como meio reorientador

O desempenho responsável O prazer da responsabilidade. Responsabilidade ante si mesmo Responsabilidade significa capacidade de decidir.

Quando tomar as rédeas. A intervenção terapêutica Emergências O poder do terapeuta

Como compreender a linguagem do paciente .

A linguagem primitiva do paciente Ajuda ativa As palavras como camuflagem

Responsividade incondicional A resposta substitui o afeto. Fonte: Elaborado pela autora a partir de Ruesch, 1980, p. 117-129.

A Comunicação Terapêutica mostra-se, portanto, com potencial de aplicação

prática, visto que pressupõe o compromisso com atitudes que colaboram com o

tratar o paciente, com o cuidado de forma humanizadora.

2.7 – HUMANIZAÇÃO:

Segundo dados apresentados na página do Ministério da Saúde na internet,

existe no Brasil, desde 2003, o Programa Humaniza SUS, uma “Política Nacional de

Humanização”, que preconiza “efetivar os princípios do SUS no cotidiano das

práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando

trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários.

Outro documento, publicado pelo MS em 2004 – Humaniza SUS: Política

Nacional de Humanização: a Humanização como eixo norteador das Práticas de

Atenção e Gestão em Todas as Instâncias do SUS – parece corrigir a ideia de um

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programa voltado somente para a Assistência Hospitalar, colocando, em seu lugar,

um que contemple “todas as instâncias do SUS”.

O texto do marco teórico-político deste caderno assinala pontos importantes

para que se tenha em conta o ambiente no qual se pretende desenvolver a

pesquisa, haja vista ser o Hospital da Criança de Brasília custeado pelo Sistema

Único de Saúde.

Por que falar em humanização quando as relações estabelecidas no processo de

cuidado em saúde se dão entre humanos? Estaríamos com esse conceito querendo

apenas “tornar mais humana a relação com o usuário”, dando pequenos retoques nos

serviços, mas deixando intocadas as condições de produção do processo de trabalho

em saúde?

(...) Humanizar é, então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços

tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das

condições de trabalho dos profissionais. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 6).

Argumentando sobre como a PNH deve ser gerida bilateralmente nas várias

instâncias do SUS, o Ministério da Saúde propõe a visão de “humanização como

estratégia de interferência no processo de produção de saúde”, ou seja, a saúde

deve ser globalizante, integrada, para a qual o intercâmbio de saberes de todos os

atores envolvidos proporcione e “sustente construções coletivas” e garanta direitos e

constitua novos sentidos.

Trata-se, então, de investir na produção de um novo tipo de interação entre os

sujeitos que constituem os sistemas de saúde e deles usufruem, acolhendo tais

atores e fomentando seu protagonismo. A Humanização, como um conjunto de

estratégias para alcançar a qualificação da atenção e da gestão em saúde no SUS,

estabelece-se, portanto, como a construção/ativação de atitudes ético-estético-

políticas em sintonia com um projeto de corresponsabilidade e qualificação dos

vínculos interprofissionais e entre estes e os usuários na produção de saúde. Éticas

porque tomam a defesa da vida como eixo de suas ações. Estéticas porque estão

voltadas para a invenção das normas que regulam a vida, para os processos de

criação que constituem o mais específico do homem em relação aos demais seres

vivos. Políticas porque é na polis, na relação entre os homens que as relações sociais

e de poder se operam, que o mundo se faz. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006, p. 8).

O Hospital da Criança de Brasília é gerido por meio de Convênio de

Cooperação Técnica Financeira, celebrado entre a Secretaria de Estado de Saúde

do Distrito Federal e a Organização Mundial da Família, com interveniência da

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Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer

e Hemopatias – ABRACE, que constituiu o Instituto do Câncer Infantil e Pediatria

Especializada (ICIPE), para organização, implantação e gestão das ações de

assistência à saúde no HCB.

Integrando a rede pública de saúde no DF, o HCB busca em suas práticas a

aplicação dos preceitos instituídos pela Política Nacional de Humanização.

Além do propósito de contemplar um modelo gerencial inovador, com princípios e

dispositivos da Política Nacional de Humanização, destaque para o desenvolvimento

da Gestão Descentralizada e Participativa, do Acesso Ampliado, do Cuidado Integral

e Resolutivo da Assistência organizada em Unidades de Produção, com Equipes

Multiprofissionais de Referência e Apoio Matricial para a organização dos processos

de trabalho e da lógica gerencial. (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE

ALENCAR, Revisão do Plano de Trabalho para a Organização, Implantação e Gestão

das Ações de Assistência à Saúde no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

2014-2019, p. 8).

Contudo, a diretriz Humanização estabelecida pelo HCB para a sua prática

não aponta o arcabouço preconizado pelo SUS, nem mesmo define o que o HCB

entende por Humanização de forma explícita: “Todas as nossas ações devem estar

imbuídas de humanização, desde o atendimento, aquisição de insumos, assistência

à administração, com o slogan: a nossa missão começa em gostar de gente, gostar

de gente com problemas." (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE

ALENCAR, Revisão do Plano de Trabalho para a Organização, Implantação e

Gestão das Ações de Assistência à Saúde no Hospital da Criança de Brasília José

de Alencar 2014-2019, p. 8).

Mumby, relaciona a Comunicação com Humanização, um cuidado como ato

transformador de mentalidade:

Qualquer exploração da relação entre comunicação e humanização, assim, exige que

consideremos o “outro” (...) aquela pessoa, aquele grupo, ou até mesmo aquele texto,

que apresenta um horizonte de possibilidades diferente do nosso e que representa

risco para nós porque se engajar ao seu horizonte nos abre a possibilidade de

mudança e transformação. Mas esse tipo de engajamento dialético é exatamente o

ponto em que a comunicação se torna mais humana, mais humanitária, porque ela é

fundamentalmente enraizada em um sentido de cuidado pelo outro; (...) significando

uma atenção às diferenças que desafiam a nossa compreensão do senso comum de

como o mundo funciona. Cuidado, assim, não significa aceitar a diferença e deixar

como está; trata-se de se dedicar à diferença de uma forma que nos abra para a

autodestruição. Nessa perspectiva, o engajamento com um “outro” não significa

compreender e reproduzir uma subjetividade pré-existente, mas sim produzir

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significado que seja novo, que não poderia ser produzido pelas partes sozinhas.

(MUMBY, 2010, p. 27 In: KUNSCH).

Voltando, pois, à PNH, que preconiza o atendimento hospitalar que contemple

todas as instâncias do SUS, tem-se o pressuposto de humanização entendido como:

(...) A valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de

saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Os valores que norteiam essa política são

a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, o

estabelecimento de vínculos solidários, a construção de redes de cooperação e a

participação coletiva no processo de gestão. (BRASIL, 2004).

Fato é que, há uma enorme distância entre o que se diz e o que se faz

quando se pensa em Saúde no Brasil. Qualquer atenção dedicada aos meios de

comunicação de massa revela a não surpreendente falência do sistema de saúde

em nosso país, por motivos vários. O Distrito Federal protagonizou em setembro de

2015, um episódio dos extensos capítulos que se desenvolvem todos os dias nos

hospitais. Um médico do Hospital de Base, que recebe pacientes em estado de

emergência do Distrito Federal e de localidades vizinhas, sem condições de oferecer

mais atendimentos, entrou em desespero ao ver chegar mais um paciente para o

qual ele nada tinha a oferecer. Foi-lhe, então, dada voz de prisão por um dos

Bombeiros Militares que prestaram os primeiros socorros e o deslocamento até o

HBDF. Como a onipresença das câmeras dos celulares é infalível, o Brasil tomou

conhecimento do ocorrido.

A descrição do momento não é capaz de alcançar a carga emocional

presente no instante apreendido pelo aparelho celular e revelado ao país, mas vale

como ilustrador da enorme distância que se tem hoje entre discurso e prática:

Bombeiro 1: O senhor está preso por desacato! Médico: Não tem lugar. Não posso! Bombeiro 1: O senhor está preso por desacato! Médico: Não posso, não posso que meus filhos estão em casa me esperando. Bombeiro 1: O senhor está preso por desacato! Médico: Eu tô aqui trabalhando! Bombeiro 2: Eu sou médico também. Calma, calma. Médico: Cara, eu tô trabalhando, eu tô estressado aqui! Tá faltando tudo! (Aos berros) Bombeiro 2: Eu sei, calma, calma. Médico: Tá faltando tudo! Eu quero sumir daqui! (Aos berros)

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O repórter revela, em horário nobre de exibição pela televisão brasileira, que

“a situação choca ainda mais quando se sabe que esse hospital fica a menos de três

quilômetros de distância da Sede do Poder”.

Que valor é esse dado a um dos sujeitos implicados no processo de produção

de saúde? A PNH parece apontar para uma relação bilateral de responsabilidades.

Como ser corresponsável, se prevalece a unilateralidade do compromisso

assumido?

Mumby relata que Peter Frost et al. (2000, p. 25) “descreveram as

organizações como locais de cura e dor diárias, (...) criando uma ecologia emocional

onde a ligação entre humano e cuidado está capacitada ou incapacitada” (...)

refletindo “as realidades da vida organizacional para muitas pessoas.” (MUMBY In:

KUNSCH, 2010, p. 35).

O que se pode dizer, então, frente a uma organização que assume a missão

de Atenção à Saúde? Mumby responde: “muitas vezes a ecologia emocional das

organizações é impedida e reprimida de forma que elas simplesmente atendam aos

objetivos restritos da produtividade e eficiência organizacional.” (2010, p. 35-36).

Parece, contudo, que nem a produtividade, nem a eficiência organizacional

conseguem se fazer alcançar pelas organizações de saúde brasileiras.

Para além das questões políticas inerentes a algumas realidades do fazer

público, vislumbra-se a relação íntima que se pode estabelecer entre PNH e a

Comunicação Terapêutica, como forma consolidadora da condição humana, por si

só. “O Homo sapiens torna-se um Ser Humano quando manifesta os valores

humanos.” (FARAH, 2008 apud MARCHIORI, 2010, p. 143, In: KUNSCH).

Deseja-se que as relações, portanto, sejam baseadas sempre no princípio

universal da dignidade da pessoa humana, “cujo entendimento dado por Hasso

Hofmann sobre a dignidade necessariamente deve ser compreendida sob

perspectiva relacional e comunicativa, constituindo uma categoria da co-humanidade

de cada indivíduo (Mitmenschlichkeit des Individuums)”. (apud SARLET, Ingo W;

2007, p. 370-371).

Deve-se compreender que a dignidade da pessoa humana não é um conceito

objetivo, absoluto, geral, possível de ser abstraído em padrões morais de conduta e a

serem impostos a todas as pessoas. Sem a consideração da alteridade e da

tolerância, ignorando-se a pluralidade e a complexidade da sociedade atual, o uso do

princípio da dignidade humana pode ser usado para a negação da pessoa, para a

homogeneização dos indivíduos e para a negação da dignidade. (BORGES, 2005).

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E, para isso, é preciso:

(...) aprender outras formas de dizer/fazer (...). Especialmente quando se observa

que as grandes corporações e governos não medem esforços e investimentos para

criar políticas do afeto e garantir que nas agendas do futuro a instância do

performativo seja colonizada ou domesticada. Isso para manter/impor uma realidade

linguística circunscrita a determinados propósitos e objetivos, não para garantir a

pluralidade possível dos indivíduos e outra formas de inteligência e cooperação.

(OLIVEIRA, 2013, p. 67 In: OLIVEIRA e MARCHIORI).

Por fim, acredita-se que se possa construir uma comunicação abrangente,

integradora, respeitosa, relacional e, principalmente, consciente e presente no antes,

no durante e depois de um tratamento de Saúde. E, a Comunicação Organizacional

aponta importantes mecanismos para isso. O desafio é transpor a barreira dos níveis

de análise e da aplicação dos pressupostos da comunicação terapêutica: níveis de

comunicação interpessoal; intragrupal; intergrupal, organizacional e até mesmo

societal, segundo Iguartua (2012, p. 25):

A comunicação é um processo de vários níveis, ou seja, entidades envolvidas operando em diferentes níveis de análise (Slater, Snyder & Hayes, 2006). No entanto, a comunicação tem sido considerada, em mais de uma ocasião, como uma disciplina fraturada, separada da comunicação interpessoal em relação à comunicação de massas ou midiática, quando na verdade os dois processos são interdependentes (Hayes, 2006). Em geral, até o presente têm havido poucos esforços para integrar as teorias e dados de diferentes níveis de análise: individual, interpessoal, de grupo, organizacional e social. No entanto, a comunicação humana sempre tem lugar num contexto particular (díade, grupo, comunidade, organização, sociedade, cultura). Em cada contexto tende a uma certa dependência entre os indivíduos em questões como as suas crenças, atitudes e comportamentos (Park, Eveland & Cudeck, 2008) ocorrem. As pessoas interagem umas com as outras dentro de certos contextos sociais, e justamente por isso há certa interdependência entre os indivíduos que explica o seu modo de pensamento, de sentir ou agir. Por exemplo, no nível interpessoal, parte da convergência de atitudes ou comportamentos entre as pessoas que se consideram amigos entre si (e, portanto, formam grupos, como uma gangue) é porque eles são interdependentes e têm algo em comum. [Tradução nossa].

2.8 – COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL:

Situa-se a partir dos anos 1980, a mudança de paradigma para a

compreensão do papel da comunicação nas organizações. Antes vista como uma

variável, a comunicação passa a ser “constitutiva do processo de organizar”

(PACANOWAKY; O´DONNELL-TRUJILLO apud KUNSCH, 2009, p. 69).

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Os estudos interpretativos da comunicação nas e das organizações priorizam

aspectos como a ênfase nas práticas cotidianas, na construção social, nas

interações entre as pessoas e nos processos simbólicos . Há uma valorização da

cultura, das falas e das narrativas das pessoas. (KUNSCH, 2009, p. 69).

Kunsch aponta que a forma de se considerar a comunicação nas

organizações assume uma função “muito mais interpretativa do que instrumental,

buscando-se ter uma visão de mundo” (2009, p. 70). “A comunicação não é mais

descrita como transmissão de mensagens ou conhecimento, mas como uma

atividade prática que tem como resultado a formação de relacionamento.” (TAYLOR,

2005b, p. 215 apud KUNSCH, 2009, p. 71).

Até a década seguinte, os estudiosos em comunicação se concentraram em

debater os métodos apropriados, o desenvolvimento de teorias sobre a “essência do

status das organizações como fenômenos comunicacionais”. (KUNSCH, 2009, p.

71).

No início do terceiro milênio, os estudos da Comunicação Organizacional se

beneficiam com a exploração tanto das tensões como das conexões entre as

perspectivas teóricas e dialógicas. A comunicação organizacional desenvolveu uma

identidade interdisciplinar, abrigando várias perspectivas teóricas e pressupostos

epistemológicos, incluindo (pós)positivismo, realismo, interpretativismo, retórica,

teoria crítica, pós-modernismo e pós-estruturalismo, feminismo e pós-colonialismo.

Na primeira década do século XXI, ela pode ser considerada um campo de

perspectivas múltiplas e universal e sua abordagem, por seus métodos, por suas

teorias, seus âmbitos de pesquisa e seus postulados filosóficos. Essa abrangência e

as inúmeras possibilidades de estudos possibilitarão grandes avanços no sentido de

realmente se estudarem os fenômenos comunicacionais nas organizações como

objetos de uma disciplina própria (...). (KUNSCH, 2009, p. 71).

Portanto, comunicação organizacional é “a disciplina que estuda como se

processa o fenômeno comunicacional dentro das organizações no âmbito da

sociedade global. Ela analisa o sistema, o funcionamento e o processo da

comunicação entre a organização e seus públicos.” (KUNSCH, 2003, p. 149).

Sob o paradigma da complexidade da comunicação organizacional e sob a

perspectiva de uma comunicação que se faça dialógica dentro das organizações,

Baldissera desenvolve os pontos “que podem ser pensados como lugares de

pesquisa, de reflexão e/ou tendências para”:

Escutar a alteridade, reconhecendo-a como valor; criar e ou potencializar os espaços

de fala/interação, manifestação livre, dar fluxo amplo e verdadeiro à comunicação;

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refletir sobre a própria identidade e realizar a autocrítica; possibilitar e estimular a

participação da diversidade e dialogar, particularmente, com as manifestações de

crítica; compreender os comportamentos como informações para retroalimentar o

sistema organizacional, entre outros aspectos. (BALDISSERA, 2009, p. 163).

Para dar conta dessa gama diversa do poder comunicacional, Kunsch propõe

então, uma “filosofia que direciona a convergência das diversas áreas, permitindo

uma atuação sinérgica”. Ela postula a “junção da comunicação institucional, da

comunicação mercadológica, da comunicação interna e da comunicação

administrativa, que formam o mix, o composto da comunicação organizacional

integrada.” (2003, p. 150).

Figura 1 - Comunicação Organizacional Integrada

Fonte: Margarida Kunsch, 2003, p. 151.

50

Mas, como deve, então, portar-se esse comunicador frente ao desafio de uma

comunicação tão múltipla?

As organizações vêm entendendo, cada vez mais, o papel estratégico que a

comunicação ocupa no desenvolvimento de ações para a gestão. Uma pesquisa4

planejada e coordenada pelo professor Paulo Nassar, na Associação Brasileira de

Comunicação Empresarial – Aberje, em 2015, sobre as Tendências na

Comunicação Corporativa no Brasil, apontou que em 84% das empresas

participantes, os profissionais de Comunicação se encontram em posição executiva

na estrutura hierárquica, sendo 42% em nível de Direção e os outros 42% em nível

de Gerência.

Confirmando a visão do papel estratégico da Comunicação, pela ótica do

CEO (Chief Executive Officer) 5 , a pesquisa também indicou que 94% dos

entrevistados acreditam que a Comunicação desempenha um papel estratégico na

organização, sendo que 57% acreditam que essa percepção poderia ser melhorada

em 2015. Os participantes que acreditam (6%) não haver percepção do papel

estratégico têm a área de Comunicação posicionada em níveis de Gerência,

Supervisão e Coordenação.

Outra pesquisa desenvolvida pela Aberje, em 2013, apresentou o Perfil do

Profissional de Comunicação Organizacional no Brasil, com a participação de 1085

profissionais, provenientes de diversos segmentos e setores da economia, não

indicando, no entanto, o percentual desses profissionais atuando em organizações

hospitalares.

O perfil prevalente do profissional participante do estudo é do gênero feminino, com

idade entre 22 e 30 anos, solteira, sem filhos e trabalhando no estado de São Paulo.

É formada em jornalismo, com pós-graduação em nível de especialização/MBA,

tendo realizado os cursos em universidades particulares. Comunica-se também no

idioma inglês. Atua na área de Comunicação por um tempo compreendido entre 4 e 7

anos e, atualmente, trabalha em empresa privada nacional com até 500 funcionários,

do segmento de serviços, com ênfase em agência de comunicação, onde está por um

4 Pesquisa quantitativa com amostra não probabilística por conveniência, realizada entre dezembro

de 2014 e fevereiro de 2015, em sistema on-line, com 72 organizações associadas à Aberje, de diversos segmentos e setores da economia e classificados entre as 500 Maiores Empresas do Brasil, de acordo com "Melhores & Maiores", da Revista Exame. 5 Diretor Executivo

51

período entre 1 e 3 anos, sob contratação pelo regime da CLT. Ocupa, atualmente,

cargo em nível de analista e tem remuneração mensal entre R$ 1.500,00 e R$

5.000,00. Acredita que o mercado de comunicação corporativa irá crescer nos

próximos 5 anos. (ABERJE, 2013).

Destaca-se, ainda, a necessidade de entendimento de que a organização

hospitalar demanda profissionais com conhecimentos multidisciplinares, a fim de

ocupar, com responsividade, o papel integrador da comunicação organizacional.

Neste sentido, Kunsch aponta a importante missão da comunicação interna

no contexto da comunicação organizacional integrada:

A Comunicação interna (...) é um setor planejado, com objetivos bem definidos, para

viabilizar toda a interação entre a organização e seus empregados, usando

ferramentas da comunicação institucional e até da comunicação mercadológica (para

o caso do endomarketing ou marketing interno). Portanto, a comunicação interna

corre paralelamente com a circulação normal da comunicação que perpassa todos os

setores de organização, permitindo seu pleno funcionamento. (KUNSCH, 2003, p.

154).

E Duterme confirma:

Do outro lado da função comunicação, há os defensores da ótica estratégica. (...)

Apercebendo-se de que as coisas são mais complexas, pugnam pela completa

inserção da comunicação no seio da estratégia da empresa e por uma ação

integrativa da comunicação. Desde logo, nesta ótica, a gestão dos fluxos torna-se

menos central e o essencial reside num trabalho sobre o coletivo. (2002, p. 120).

Marchiori (2008, p. 91) argumenta, também, que os profissionais de

comunicação não podem deixar de acompanhar as rápidas mudanças que se

estabelecem em todos os contextos, pois elas exigem respostas.

É preciso que os profissionais estejam acompanhando cada situação para que tomem as decisões no momento mais oportuno e estejam preparados para responder a elas simultaneamente. (...) Os profissionais de comunicação devem desvendar a cultura de uma organização para poder embasar todo seu processo de comunicação junto aos diversos grupos trabalhando na profundidade em nível de relacionamentos; somente dessa forma estará legitimando a organização.

52

Indicando, portanto, o quanto se torna propício ao profissional de

Comunicação o entendimento da dinâmica dos serviços de saúde para a Sociedade,

pois amplia a sua esfera de atuação.

2.9 – COMUNICAÇÃO E SAÚDE:

Primeiramente, parte-se do pressuposto de que há uma interdisciplinaridade

entre as áreas da Comunicação e da Saúde. E para que se possa compreender tal

abrangência, apresentam-se as características das terminologias 1) Health

Communication, 2) Health and Communication, 3) Comunicação para a Saúde, 4)

Comunicação em Saúde e 5) Comunicação e Saúde, encontradas nas pesquisas

realizadas para o entendimento do tema Comunicação e Saúde.

1) Health Communication é expressão estadunidense para 4) Comunicação

em Saúde. O Routledge Handbook of Health Communication apresenta no capítulo

What and Why a Discipline? “What´s In a Name?” (2011, p. 51) a origem dos

esforços para a compreensão de que as disciplinas sociais e comportamentais

presentes na Sociologia, na Psicologia e na Comunicação contribuem para a Saúde.

Em termos de identidades disciplinares, comunicação em saúde se alinha com uma

série de disciplinas que contribuem significativamente para o corpo de conhecimento

que representa a comunicação em saúde. O início dos esforços para abordar de

forma mais sistemática os papéis das disciplinas das Ciências Sociais e

Comportamentais na área da Saúde foi alinhado com a Organização Mundial da

Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em 1970,

quando realizaram a Conferência que estabeleceu a meta de “Saúde para Todos”

(Health For All) até o ano de 2000. [Tradução nossa].

A meta mencionada é a Declaração de Alma Ata, resultado do encontro entre

3000 delegados de 134 países, realizado, à época, na República Socialista Soviética

do Cazaquistão, entre 6 a 8 de setembro de 1978, na qual se estabelecem dez

compromissos pela promoção da Saúde.

A primeira delas dá conta do entendimento de todos sobre a abrangência do

que é Saúde:

53

(...) A saúde - estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não

simplesmente a ausência de doença ou enfermidade6

- é um direito humano

fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais

importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros

setores sociais e econômicos, além do setor saúde. (ALMA-ATA 1978, ATENCIÓN

PRIMARIA DE SALUD, 1978, p. 2).

Assim, o Handbook of Health Communication aponta a década de 1980 como

a era que viu o nascimento dos interesses entre as Ciências Médicas e Sociais

alinhados:

(...) A revista Sociology of Health and Illness, por exemplo, foi publicada pela primeira

vez em 1978; a revista Health Psichology foi publicada pela primeira vez em 1981 e a

revista Health Communication foi publicada pela primeira vez em 1989. (2011, p.51).

[Tradução nossa].

Arquimedes Pessoni (2005, p. 21) por sua vez, na tentativa de estabelecer

uma linha cronológica do surgimento dos estudos em 5) Comunicação e Saúde, em

sua tese doutoral, começa abordando sobre a diferenciação entre 1) Health

Communication, termo a que se refere como 3) Comunicação para a Saúde, e 2)

Heatlh and Communication, afirmando, em nota de rodapé, como sendo uma “área

mais ampla de pesquisa”, na medida em que, na busca booleana 7 pelos

conhecimentos produzidos sobre o tema, a diferenciação entre as expressões “OR”

e “AND” apresentam resultados diversos. (PESSONI, 2014).

Araújo e Cardoso apontam haver distinções nos termos utilizados quando do

interesse da área do pesquisador, que apresenta o foco de sua formação teórica e

política:

O campo da comunicação e saúde (...) é constituído pelos elementos de cada campo

separadamente – da comunicação e da saúde – porém, na sua interface. Não é uma

perspectiva que vê a comunicação como um conjunto de instrumentos a serviço dos

objetivos da saúde. As formas “comunicação em saúde”, “comunicação para a

saúde”, “comunicação na saúde”, bastante utilizadas, refletem em geral, a visão

instrumental de comunicação, mais corrente nas instituições de saúde. Falar em

6 A Conferência de Alma Ata reitera a definição proposta pelo médico sanitarista Andrija Stampar

(1888-1958), de que saúde é "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”, adotada pela Organização Mundial da Saúde, em 1946. 7 Álgebra booleana (também conhecida como redes booleanas) em Ciência da Computação e

Matemática é uma estrutura algébrica que reconhece operações lógicas E, OU e NÃO, bem como um conjunto de operações de união, interseção e complemento.

54

comunicação “e” saúde aponta para uma distinção e uma opção teórica e política.

(ARAÚJO; CARDOSO, 2007, p. 12).

Nos processos de produção de sentido, as autoras enfatizam a

transversalidade e interdisciplinaridade presente nos campos da Comunicação e da

Saúde:

(...) O lugar de onde se fala pode definir a abordagem privilegiada e circunscrever os

objetos, as metodologias e as práticas. Quando se fala do lugar da comunicação – e

isto ocorre mais frequentemente entre os pesquisadores e estudantes das Escolas de

Comunicação – a abordagem tende a ser a da saúde como conteúdo ou objeto que

permitiria avançar na compreensão dos dispositivos de comunicação da sociedade,

midiáticos ou não. Quando o lugar de fala é o da saúde, temos um campo de

interseção e, mais que isto, um contexto a definir a abordagem8. (...) O que se

objetiva é compreender e agir sobre os processos sociais de produção dos sentidos,

que afetam diretamente o campo da saúde. Todo o aparato teórico-conceitual e

metodológico da comunicação, então, adquire pertinência quando operando sobre

esse cenário e articulado a interesses do campo da saúde. (ARAÚJO; CARDOSO,

2007, p. 13).

A questão que se apresenta, portanto, é entender o movimento que a

Comunicação e a Saúde fizeram e fazem para que, em interdependência, possam

construir o entendimento das ações necessárias para uma sociedade mais

consciente.

Cabe ressaltar que, no Brasil, uma das alavancas para a mobilização política

e social para a Saúde encontra-se na Constituição Federal de 1988, que instituiu o

Sistema Único de Saúde – SUS – em seu artigo 198, ao declarar que:

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e

hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as

seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo

dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, p. 105)

E que encontram na Fundação Oswaldo Cruz, por meio do ICICT – Instituto

de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde: 8 As autoras referem-se, aqui, ao contexto do SUS – Sistema Único de Saúde.

55

(...) as estratégias e as ações de informação e comunicação no campo da ciência,

tecnologia e informação em saúde e a participação da avaliação, formulação e

implantação de políticas públicas, objetivando atender às demandas sociais do SUS e

de outros órgãos governamentais nacionais e internacionais. (ICICT, 2014) [Folheto].

Verifica-se, ainda, em Fadul, Dias e Kuhn, ao analisarem a Comunicação

como disciplina científica, o enquadramento de Comunicação para a Saúde como

uma subárea do campo da Comunicação:

1. Campo Científico, 2. Epistemologia da Comunicação, 3. Métodos de pesquisa em Comunicação, 4. Campo da Comunicação, 5. Grandes áreas da Comunicação:

5. 1 Comunicação Organizacional, 5.2 Comunicação Massiva e 5.3 Comunicação Interpessoal.

6. Subáreas da Comunicação: 6.1 História da Comunicação e da Mídia, 6.2 Comunicação Política, 6.3 Comunicação Internacional, 6.4 Comunicação para o desenvolvimento, 6.5 Economia da Comunicação, 6.6 Ética da Comunicação, 6.7 Política e Regulação da Comunicação, 6.8 Educação para a Mídia, 6.9 Estudos Feministas da Comunicação, 6.10 Comunicação para a Saúde, 6.11 Novas Tecnologias da Comunicação. (2001, p. 116).

Verificamos, portanto, que a distinção vai se dar conforme a articulação

interdisciplinar das áreas Comunicação e Saúde. Pessoni (2005) ilustra bem essa

situação, ao mencionar uma visão mais abrangente da pesquisadora da

Universidade do Uruguai, Virgínia Silva Pintos:

Implica processos de comunicação intrapessoal - ao interior do indivíduo –,

interpessoal – entre pessoas, cara a cara – até processos de comunicação apoiados

em suportes massivos como TV, rádio e mídia impressa. A Comunicação para a

Saúde (ou Comunicação em saúde) refere-se não só à difusão e análise de

informação – atividade comumente denominada Jornalismo Científico ou Jornalismo

especializado em Saúde – mas se refere também à produção e aplicação de

estratégias comunicacionais – massivas e comunitárias – orientadas à prevenção,

proteção sanitária e à promoção de estilos de vida saudáveis , assim como o

desenho e o implemento de políticas de saúde e ações globais (PINTOS, 2001, p.

122 apud PESSONI, 2005, p. 38).

56

No Brasil, vários acontecimentos podem ser elencados como

desencadeadores de uma nova área de estudos – ou subárea como aponta Fadul

[et al.] – no campo da Comunicação. A extensa pesquisa de Pessoni (2005) mostra

algumas, que consideramos interessantes sob o ponto de vista de fomento à

pesquisa:

Em 1982, a 34ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

(SBPC) – em Campinas-SP, debate sobre Informação e Desinformação na Medicina,

sobre os paradigmas da alopatia e homeopatia.(MAURENZA DE OLIVEIRA, 2002, p.

14 apud PESSONI, 2005, p. 66).

Em 1989, a OMS lança no Dia Mundial da Saúde a campanha de comunicação com o

slogan “Vamos Falar de Saúde?”. (In: EPSTEIN et al. 2001, p. 308 apud PESSONI,

2005, p. 66).

Em 14 de outubro de 1993, uma missão americana chega ao Instituto Metodista de

Ensino Superior, atual Universidade Metodista de São Paulo – UMESP - para

assinatura de um protocolo destinado a testar no Brasil as metodologias usadas nos

Estados Unidos para campanhas preventivas de saúde pública. (PESSONI, 2005,

p.69).

Em março de 1994, o Instituto Metodista de São Paulo lança o primeiro programa de

Comunicação em Saúde da América Latina, com duração de um ano. (OPAS, 1995,

p. 2 apud PESSONI, 2005, p. 70).

Em 1996, instala-se a Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o

Desenvolvimento Regional, com opção clara pela saúde. (MARQUES DE MELO,

2001, p. 19 apud PESSONI, 2005, p. 70).

Em 1998, a UMESP, tendo à frente o pesquisador José Marques de Melo,

concretiza a Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde – COMSAÚDE,

realizando, durante 12 anos, o encontro com os estudiosos interessados nos temas

correlatos:

I COMSAÚDE, 21 a 23 de outubro de 1998, na Umesp, Mídia e Saúde Pública;

II COMSAÚDE, 10 a 12 de novembro de 1999, nas Faculdades Adamantinenses

Integradas (FAI), Adamantina-SP, Comunicação e Saúde Comunitária,

III COMSAÚDE, 06 a 08 de novembro de 2000, idem, Comunicação e promoção da

Saúde;

57

IV COMSAÚDE, 18 a 20 de outubro de 2001, nas Faculdades Integradas de São

Pedro – Faesa, no Vitória-ES, Comunicação para a Saúde da Família;

V COMSAÚDE, 13 a 16 de agosto de 2002, na Umesp São Bernardo, Saúde Pública

na Agenda Midiática;

VI COMSAÚDE, 1º a 04 de outubro de 2003, na Umesp Planalto, Mídia, Mediação e

Medicalização;

VII COMSAÚDE, 11 a 13 de agosto de 2004, na Associação de Ensino Superior de

Olinda-Aeso, Mídia, Saúde e Alimentação;

VIII COMSAÚDE, 05 a 07 de outubro de 2005, Unisinos, Mídia, Saúde e Trabalho;

IX COMSAÚDE, 09 a 11 de outubro de 2006, Umesp-Rudge Ramos, Unescom 2006

– Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, em

comemoração aos 10 anos da Cátedra Unesco e reuniu 7 eventos:

REGIOCOM - XI Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional;

CELACOM - X Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação;

FOLKCOM - IX Conferência Brasileira de Folkcomunicação; COMSAÚDE - IX Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde; POLITICOM - V Seminário Brasileiro de Comunicação e Marketing

Político; ECLESIOCOM - I Colóquio de Comunicação Eclesial e MÍDIA CIDADÃ – Segundo Encontro de Mídia Cidadã.

X COMSAÚDE, 26 de novembro de 2007, Umesp, Envelhecimento bem-sucedido;

XI COMSAÚDE, 21 a 24 de outubro de 2008, Faesa, Vitória-ES, Comunicação,

Saúde e Gênero;

XII COMSAÚDE, 17 e 18 de setembro de 2009, Instituto Butantã, São Paulo,

Educomunicação na Saúde. (PESSONI, 2005, p. 147-170 e sítio da UMESP).

O crescente aumento das pesquisas em Comunicação e Saúde cria espaço

de diálogo em outros congressos, com status próprio de Grupo de Trabalho – GT:

Essa iniciativa [a UMESP investir na pesquisa em Comunicação e Saúde] certamente

influiu no crescente interesse da comunidade acadêmica brasileira e latino-americana

pelo tema. Resultado disso foi a decisão da Asociación Latinoamericana de

Investigadores de la Comunicación (ALAIC), criando um grupo de estudos sobre

“Comunicação e Saúde”. Essa microcomunidade reuniu-se pela primeira vez em

Recife (Brasil), em setembro de 1998, sob a coordenação do Dr. Luis Ramiro Beltrán,

tendo continuidade nos congressos de Santiago do Chile (2000) e Santa Cruz de la

Sierra, Bolívia (2002), sob liderança do Dr. Isaac Epstein. (MARQUES DE MELO,

2004, p. 264 apud PESSONI, 2005, p. 170).

Hoje, os pesquisadores em Comunicação e Saúde podem apresentar o

resultado de seus trabalhos no GT5 – Comunicação e Saúde da Associação

58

Latinoamericana de Investigadores da Comunicação - ALAIC, coordenado pela

pesquisadora da Fiocruz, Inesita Soares de Araújo, com o apoio da pesquisadora

Adriana González Martínez, da Universidad Autonoma del Estado de Mexico (UAP)

e do pesquisador Jesús Arroyave, da Universidad del Norte, da Colômbia:

(...) O GT tem debatido trabalhos que apresentam pesquisas, problematizações

teóricas e/ou metodológicas ou experiências relacionadas com enfoques teóricos,

metodológicos e perspectivas interdisciplinares em comunicação e saúde; estudos

comparados entre países; atores da comunicação e da saúde; políticas, práticas,

processos e produtos na América Latina; comunicação, saúde e cidadania; relações

entre saúde e meios de comunicação; comunicação interpessoal e intercultural nos

contextos da saúde; comunicação e modelos de saúde, novas tecnologias e

configurações sociais. (PAULINO, 2012, p. 99 In: CASTRO, 2012).

No Brasil, os estudos em Comunicação e Saúde têm espaço na Associação

Brasileira de Saúde Coletiva, Abrasco, que instituiu, desde 1994, o GTCOM – GT de

Comunicação e Saúde (Cronologia Abrasco, p. 225, In: Saúde Coletiva como

Compromisso).

A saúde é articulada em três eixos: política, formação e pesquisa, que

trabalham os temas:

Cobertura midiática sobre saúde Comunicação e controle/participação social Comunicação e políticas públicas de saúde Comunicação na ação de redes: regionalização e Governança Comunicação no âmbito dos serviços e ações de saúde Conexões entre mídia, midiatização e medicalização Democratização de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação Dispositivos públicos de visibilidade de demandas de saúde Diversificação de espaços de pesquisa e intercâmbio com outros países Fomento a publicação científica sobre o tema em periódicos das áreas Formação de profissionais de saúde e de comunicação Impactos e possibilidades abertas pela internet e mídias sociais Modelos de assessoria de imprensa e de campanhas publicitárias Políticas de Comunicação e saúde Relação entre comunicação e desigualdade na saúde Relação entre comunicação e os determinantes sociais da saúde (ABRASCO –

GT DE COMUNICAÇÃO E SAÚDE, 2015).

Embora os pesquisadores da Comunicação encontrem na Sociedade

Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom, criada em 12 de

dezembro de 1977, espaço para divulgação de suas pesquisas nos congressos

regionais e anual, não há um GT específico para Comunicação e Saúde.

E, finalmente, outro fato que merece ser considerado para o entendimento de

como a subárea Comunicação e Saúde vem alargando o seu espaço é a edição

59

especial da Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas

– Organicom (ano 9, n. 16 e 17), editada semestralmente pelo Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCom) da Escola de Comunicações e

Artes da Universidade de São Paulo (USP), por meio do Curso de Pós-Graduação

Lato sensu de Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações

Públicas (Gestcorp), em conjunto com a Associação de Pesquisadores de

Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp), em 2012.

O editorial, assinado pela pesquisadora Maria Aparecida Ferrari, confirma o

potencial que se vislumbra:

Na fase de convocação da comunidade acadêmico-científica e dos profissionais das

áreas de comunicação e saúde para enviarem estudos e pesquisas sobre esses

campos e suas interfaces, obtivemos um altíssimo retorno. Isto nos leva a concluir

que são muitos os profissionais da comunicação que estão pesquisando e se

dedicando às interfaces das duas áreas. Foram recebidos mais de 60 papers, dos

quais, segundo os critérios da revista, 23 foram aprovados por um comitê avaliador,

de acordo com o sistema de peer-review. Diante disso, a comissão editorial e o

comitê executivo de Organicom decidiram fazer uma edição especial sobre essa

temática, integrando os números 16 e 17, relativos ao ano de 2012. No total esta

edição traz 27 textos, distribuídos pelas seções do dossiê, da entrevista, da pesquisa

e das resenhas. (REVISTA ORGANICOM, 2012).

2.10 – CONSIDERAÇÕES GERAIS:

O percurso teórico traçado aponta para a possibilidade de se criar uma

consciência comunicativa a partir de uma política de comunicação organizacional

que se baseie nos pressupostos da Comunicação Terapêutica como direcionador de

práticas específicas para as organizações de Saúde.

Comunicação e Saúde são áreas que vêm se intercomplementando pelas

articulações que realizam para produzir significados: basicamente cuidam da

imagem das instituições de saúde, estabelecem os processos internos de produção,

circulação e apropriação das informações pertinentes e divulgam os avanços obtidos

na área de Saúde.

Esse profissional articulado precisa ter em mente o papel desafiador da

responsabilidade que assume frente à complexidade das múltiplas relações que se

estabelecem nesse contexto.

60

Impõe-se, nesse sentido, uma corresponsabilidade consciente, inerente ao

processo comunicacional que envolve os atores envolvidos numa organização de

saúde pela busca dos sentidos que façam sentido, apoiados por retroalimentações

que, em sua dinamicidade, exigem o compromisso pelo entendimento do que está

em transformação, continuamente.

Os pressupostos da Comunicação Terapêutica parecem colaborar nessa

direção, porque oferecem um modo de realizar a comunicação orientada por um

pensamento ordenado, quase uma filosofia, um facilitador e ajustador das relações

humanas.

Ela propicia o protagonismo desejado pela ordem da Humanização, pois

estabelece “o paciente como centro da atenção”, não somente porque se trata de

uma política, mas porque se consolida pela própria natureza de sua essência, de

seu caráter dignificante e realizador da pessoa.

É, por fim, pela comunicação organizacional integrada que as ações inerentes

a toda essa produção, circulação de informações e movimentações para a Saúde

pode realizar o horizonte de possibilidades que considera o Outro, aquele que

confere unicamente um sentido.

61

3. REVISÃO DE LITERATURA

Viver pressupõe responsabilidade; essa capacidade consciente de apresentar

respostas. E a consciência exige o esforço do discernimento, da busca pelas

respostas que podem beneficiar, ampliar, melhorar um universo. Um universo único

ou plural, mas um universo que faça sentido.

Entender a comunicação terapêutica ganhou maior sentido ainda, quando da

constatação, por meio da literatura disponível dos estudos e dos estudiosos em

Comunicação, da inexistência de busca por respostas sobre algo que amplia o

entendimento da subárea Comunicação e Saúde. Como a Ciência Social Aplicada9

Comunicação não sabe sobre comunicação terapêutica?

O processo comunicacional é como o oxigênio que precisamos para respirar.

Está na atmosfera sem que dele se aperceba. Vive-se, naturalmente, com o ato

comunicacional, assim como se respira. E por ser um processo nato ao Ser

Humano, possibilita, quando do interesse, uma amplitude de conhecimentos, uma

riqueza de descobertas que não se restringe aos estudiosos da área de

Comunicação.

Tal constatação tem retratos na busca pelos grupos de pesquisa do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os dois grupos que

apareciam, em setembro de 2014, pesquisando sobre comunicação terapêutica

eram da área de Enfermagem. Na busca pelas palavras exatas “comunicação

terapêutica” encontram-se o 1) Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Comunicação em

Enfermagem, da Faculdade de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP)10

e o 2) Grupo de Pesquisa em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas Austregésilo

Carrano Bueno, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas

(UFAL)11.

Em recente busca por atualização dos dados, o resultado apontou a

existência de somente um dos grupos encontrados em 2014.

9 Conforme classificação da Capes, Comunicação é uma área de estudos das Ciências Sociais

Aplicadas I, junto com Ciência da Informação e Museologia. Estão classificadas em Ciências Sociais Aplicadas os estudos em Direito, Administração, Ciências Contábeis, Turismo, Economia, Arquitetura e Urbanismo, Desenho Industrial e Demografia. Extraído de < http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/TabelaAreasConhecimento_042009.pdf>. Acesso em 15jan2015. 10

Disponível em < dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/5332658397632901>. Acesso em 22set2014. 11

Disponível em < dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1071757017556567>. Acesso em 22set2014.

62

Figura 2 - Consulta sobre Comunicação Terapêutica em 2014 – Busca booleana “com todas as

palavras”.

Fonte: CNPq12

O Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Comunicação em Enfermagem foi

criado em 1987 pelos pesquisadores da Universidade de São Paulo - USP e possuía

duas linhas de pesquisa:

A comunicação como base para educação em saúde e

Comunicação no cuidado em enfermagem.

A linha “A comunicação como base para educação em saúde” visava

desenvolver estudos sobre comunicação verbal, não verbal e escrita que

facilitassem a educação em saúde à toda população, colaborando para o ensino das

relações terapêuticas.

As palavras-chave desta linha eram:

Ações terapêuticas em enfermagem psiquiátrica,

Comunicação em enfermagem e

Comunicação na educação para a saúde. 12

Disponível em <http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf> Acesso em 22 set. 2014.

63

Havia seis doutores e um estudante de Doutorado em Enfermagem ligados à

linha.

A linha “Comunicação no cuidado em enfermagem” realizava estudos que

contribuíam para o cuidado humanitário e para a qualidade do cuidado em

enfermagem em diferentes clínicas e contextos de atuação do enfermeiro.

Englobava estudos com pacientes, famílias e equipes.

As palavras-chave desta linha eram:

Comunicação em saúde/pesquisa,

Comunicação terapêutica,

Relações interpessoais,

Comunicação verbal e não verbal e

Competência interpessoal.

Havia seis doutores e três estudantes, sendo dois em Mestrado e uma em

Especialização em Enfermagem ligados a esta linha de pesquisa.

Figura 3 - Consulta sobre Comunicação Terapêutica em 2016 – Busca booleana “com todas as

palavras”.

Fonte: CNPq13

13

Disponível em <http://dgp.cnpq.br/dgp/faces/consulta/consulta_parametrizada.jsf>. Acesso em 19 fev. 2016.

64

O Grupo de Pesquisa em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas Austregésilo

Carrano Bueno foi criado em 2008, pelos pesquisadores da Universidade Federal de

Alagoas – UFAL e mantém as oito linhas de pesquisa encontradas em 2014 em

2016:

Acolhimento em saúde mental,

Assistência de enfermagem em serviços substitutivos,

Inovação do ensino e do cuidar na atenção psicossocial,

Perfil em Saúde Mental,

Relação Interpessoal,

Tecnologias da relação interpessoal,

Transtornos em Saúde Mental e

Uso e Abuso de Álcool e Outras Drogas.

Destas, somente a linha de pesquisa “Relação Interpessoal” contempla a

Comunicação Terapêutica como foco, em função das palavras-chave elencadas:

Relação interpessoal,

Comunicação Terapêutica,

Relação de Ajuda,

Cuidado e

Sofrimento psíquico.

O número de pesquisadores ligados à linha “Relação Interpessoal”,

comparando-se 2014 e 2016, continua praticamente o mesmo: três Doutores, um

Especialista e dez estudantes, sendo dois em Graduação, dois em Mestrado, cinco

sem indicação do estágio de formação e, o que diferencia de um período ao outro, a

indicação de um estudante em Especialização.

Em março de 2015, num contato por endereço eletrônico, a professora Dra.

Maria Júlia Paes da Silva, coordenadora do Grupo de Pesquisa da USP, havia

mencionado que estava se aposentando, justificando, talvez, o encerramento das

atividades do Grupo de pesquisa da USP.

Tais retratos apontam o caráter interdisciplinar do fenômeno comunicacional.

A própria Capes, ao relatar os estudos no Documento de Área no ano de 2013,

destaca que a interdisciplinaridade é necessária para que as Ciências Sociais

Aplicadas I (CSAI) possam alcançar o entendimento de seus objetos de estudo.

65

A interdisciplinaridade retira os campos de conhecimento de sua zona de conforto e sua prática implica ousar transitar pelas áreas que podem esclarecer os seus objetos de estudo, lançando sobre eles experiências teóricas, analíticas, interpretativas, que permitam às pesquisas em curso alcançar outros momentos de iluminação. Interdisciplinaridade é um conceito complexo quando se trata de identificá-lo em áreas de concentração, linhas de pesquisa, projetos, produção científica e estruturas acadêmicas implicados na formação de docentes e pesquisadores. Sob esta perspectiva, a Área aceita o desafio e entende que a interdisciplinaridade deve ser valorizada como possível elemento constitutivo da identidade de Programas e por este indicada quando relacionada a Áreas de Concentração, Linhas de Pesquisa, Proposta do Programa, Produção Científica e os demais itens de avaliação. (CAPES, 2013).

Nessa perspectiva, encontrou-se o suporte para o desenvolvimento dessa

pesquisa, uma vez que a comunicação, como processo inerente à condição

humana, precisa ser apropriada por todos e, tanto mais, quando se busca a sua

efetividade para a solução de problemas. E, mais ainda, quando se refere a uma

condição de fragilidades humanas, para as quais se pode oferecer soluções outras

que não as já consagradas pelos manuais de gestão de qualidade.

Entende-se, portanto, como potencial realidade o estudo de integração da

comunicação terapêutica à comunicação de uma organização hospitalar, pois o

pressuposto da humanização instituído pelo Ministério da Saúde (MS) para o

Sistema Único de Saúde (SUS) caminha pelo mesmo princípio da comunicação

terapêutica: a dimensão subjetiva que exige a atenção pela alteridade.

Um dos aspectos que mais tem chamado a atenção, quando da avaliação dos serviços, é o despreparo dos profissionais e demais trabalhadores para lidar com a dimensão subjetiva que toda prática de saúde supõe. Ligado a esse aspecto, um outro que se destaca é a presença de modelos de gestão centralizados e verticais, desapropriando o trabalhador de seu próprio processo de trabalho. O cenário indica, então, a necessidade de mudanças. Mudanças no modelo de atenção que não se farão sem mudanças no modelo de gestão. Queremos um SUS com essas mudanças. Para isso, criamos no SUS a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde – HumanizaSUS. (BRASIL, 2010).

O fazer pelo conhecimento acerca da Comunicação Terapêutica encontra-se

no âmbito de estudos da Enfermagem e da Medicina, mais concentradamente da

Enfermagem.

Mas sua gênese é obra de Jurgen Ruesch, ex-professor de Psiquiatria da

Escola de Medicina da Universidade da Califórnia (EUA), que formula:

66

A comunicação é uma função universal do homem, que não está restrita em particular a nenhum lugar, tempo ou contexto; e desde um ponto de vista básico, a comunicação capaz de produzir um efeito terapêutico não difere, de modo algum, do que ocorre nas trocas comuns e ordinárias. A comunicação terapêutica, portanto, não se limita a uma hora combinada e ao consultório do médico. Ao contrário, ocorre quase em todas as partes – no campo de jogo, na batalha, na enfermaria do hospital, em casa, ou no trabalho. Tampouco implica na obrigação de usar acessórios tais como um divã ou uma cadeira, nem transcorre de acordo com uma fórmula especial. A comunicação terapêutica não se limita geralmente ao terapeuta e seu paciente. Uma criança pode ser terapeuta de sua mãe e um patrão pode ser de um empregado; a terapia é feita durante todo o dia por muita gente que ignora estar se comportando como terapeuta, e são muitos os que, sem saber, tiram proveito de tais experiências. A comunicação terapêutica não é um método inventado pelos médicos para combater as enfermidades; é simplesmente algo que ocorre espontaneamente por todas as partes da vida cotidiana, e o médico se vê desafiado a fazer com que esses eventos aconteçam naturalmente com maior frequência. (RUESCH, 1980, p. 40-41) [Tradução nossa].

No Brasil, a comunicação terapêutica foi sistematizada por Maguida Stefanelli,

da Enfermagem, que, no uso das técnicas para atuação com uma comunicação

interpessoal terapêutica, entende que “é a competência interpessoal, usada de

modo terapêutico, que vai permitir à enfermeira entender as necessidades do

paciente, levando em consideração a sua cultura e ambiente.” (STEFANELLI, 1993,

p. 16).

Seus estudos foram compilados a partir de estudiosos da Comunicação, da

Enfermagem, da Psiquiatria e da Psicologia, dentre eles a enfermeira Hildegard

Peplau, que desenvolveu uma Teoria das Relações Interpessoais (1952), Joyce

Travelbee, enfermeira psiquiátrica, que também desenvolveu estudos sobre Relação

Interpessoal (1969), Harold Lasswell (Teoria da Agulha Hipodérmica), entre outros,

mas também Jurgen Ruesch, de quem ela sistematiza um conceito para

comunicação terapêutica. (STEFANELLI, 1993, p. 81-122).

Os estudos apontam os elementos constituintes das relações interpessoais e

suas variáveis, como emissão e recepção de mensagens, barreiras na comunicação,

o processo de audição reflexiva, verbalização e clarificação, num mix constituído

pelas significações dos estudiosos que construíram sua importante visão de

comunicação terapêutica.

Segundo Stefanelli, a comunicação terapêutica consiste na habilidade do

profissional em usar seu conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa

com tensão temporária, a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não

67

pode ser mudado e a superar os bloqueios à autorrealização para enfrentar seus

problemas. (STEFANELLI, 1993, p. 81-82).

A ênfase dessa relação, segundo a autora, se situa na comunicação

interpessoal, “porque é a que mais ocorre na situação enfermeira-paciente e que

facilita o desenvolvimento dos demais níveis, grupal e de massa” (1993, p. 24).

Note-se, aqui, que a visão grupal de comunicação não é considerada como

interpessoal. Segundo Fadul et al (2001) as grandes áreas de desenvolvimento pelo

campo científico, são a Comunicação Interpessoal, a Massiva e a Organizacional.

Vaz-Freixo também indica o entendimento de que a comunicação em

pequeno grupo é naturalmente um componente da comunicação interpessoal, visto

que ela se dá pela interação face a face. (2006, p. 14).

Um artigo publicado em conjunto por Hellen Roehrs, Mariluci Alves Maftum e

Maguida Costa Stefanelli, oriundo de uma dissertação de mestrado de Hellen Roers,

da Universidade Federal do Paraná (2006) e publicado em 2007, apontou três

temáticas do estudo realizado com 11 professores do Ensino Fundamental de uma

escola da cidade de Curitiba, no Paraná. Os resultados apontaram três focos: “a

comunicação na relação interpessoal do professor e estudante adolescente, o

professor reconhece a função terapêutica de sua comunicação e a especificidade da

comunicação do adolescente.” Contudo, todo o referencial teórico foi baseado em

Stefanelli, sem menção a Jurgen Ruesch.

Na Medicina, a comunicação é objeto de estudos em Cuidados Paliativos e

pela Comunicação de Más Notícias. Mais recentemente, 2000, os estudos da

Medicina Narrativa vêm sendo desenvolvidos pela médica Rita Charon, na

Universidade de Columbia, Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.

A Medicina Narrativa é uma prática clínica fortificada pela capacidade de sabermos o que fazer com as histórias. Não substitui nada daquilo que os clínicos fazem, mas é fortalecida pela compreensão das consequências que têm as histórias que nos são contadas. Aprendemos a habitá-las, a captar toda a evidência que essas histórias nos oferecem e a comovermo-nos com elas, o que é muitas vezes esquecido, e a agir perante aquilo que aprendemos. As pessoas chamavam a isso de Literatura na Medicina ou Humanidades na Medicina, mas nunca gostei dessas expressões. (CHARON, 2010, entrevista).

Mas, a perspectiva é a de que a Comunicação Organizacional Integrada, por

sua natureza convergente e dinamismo sinérgico possa incorporar também a

Comunicação Terapêutica em seu modo de fazer, visto que a comunicação

68

organizacional “analisa o sistema, o funcionamento e o processo de comunicação

entre a organização e seus diversos públicos.” (KUNSCH, 2003, p. 149).

Nesse sentido, ainda em relação aos 27 estudos divulgados pela Revista

Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas – Organicom (ano 9,

n. 16 e 17, 2012), verificou-se que apenas dois artigos se voltam para o ambiente

hospitalar, caracterizando, com isso, o pouco interesse dos pesquisadores pela

comunicação organizacional integrada de Kunsch (2007) nesse ambiente.

O levantamento bibliográfico apresentado por Dellazzana (2012, p. 200-212)

das pesquisas publicadas em 2011, dá conta de que “o tema [Comunicação e

Saúde] engendra vieses os mais diversos e que, na maioria dos casos, a

comunicação organizacional em saúde privilegia o aspecto institucional em

detrimento do mercadológico” e ela destaca que somente um estudou,

especificamente, o ambiente hospitalar, referindo-se à Michele Paris (2012), que

dissertou sobre “As relações comunicacionais em um ambiente organizacional

hospitalar à luz da autopoiese”, na Universidade Católica de Brasília, mas, que,

ainda assim, “sem referenciar o conceito de comunicação integrada de Kunsch

(2007).”

O outro artigo foi apresentado por Marisa Romangnolli e Maria Teresa Miceli

Kerbauy (2012, p 170-181) sobre os vínculos organizacionais na percepção do

processo comunicativo entre um hospital universitário público e seus usuários, da

cidade de Bauru-SP, sob o enfoque da comunicação dialógica.

A revista traz também duas entrevistas realizadas por Maria Aparecida Ferrari

e Arquimedes Pessoni: uma com o então Ministro da Saúde, Fernando Padilha

(2012, p. 280-289): “Saúde, Comunicação, Humanização” e a outra com o Diretor

Técnico de Serviço do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Dr. David Uip (2012, p.

290-297), sobre “Comunicação médico-paciente”.

Padilha mencionou, dentre vários temas abordados na entrevista, sobre “a

necessidade de uma comunicação voltada para cada tipo de público” (2012, p. 286)

ao se referir sobre a comunicação dos profissionais de saúde com o usuário e, Uip,

ao defini-la como “arte” e entender a necessidade da inserção da Comunicação

como disciplina na grade curricular dos cursos de Medicina (2012, p. 294).

O cenário vislumbra, portanto, as ricas oportunidades de estudos, debates e

de sistematização de conhecimentos, uma vez que a comunicação no âmbito

69

hospitalar exige uma integração de saberes para a concretização das diretrizes da

Política Nacional de Humanização.

O HCB, nesse sentido, deu um passo importante com a realização da

Jornada de Psicologia Pediátrica, ocorrido de 17 a 19 de setembro de 2015, quando

foram apresentados os trabalhos desenvolvidos pelos profissionais não só da

Psicologia, mas em diálogo com os parceiros Universidade de Brasília, Hospital

Materno-Infantil de Brasília e Centro Universitário de Brasília, destacando-se os

temas referentes a multidisciplinaridade, atenção à família das crianças com

doenças crônicas e o desafio da interação entre pesquisa e assistência,

confirmando, por fim, a necessidade de maior inserção dos profissionais de

Comunicação na Saúde, a fim de contribuir e participar desse processo de

transformação e evolução.

Ainda cabe mencionar a realidade de países como os Estados Unidos da

América e Portugal, que oferecem cursos denominados Literacia em Saúde (Health

Literacy) ou Alfabetização e Comunicação em Saúde, para a população em geral e

para profissionais de Saúde, capacitando a todos a tomar as decisões eficazes na

prevenção de doenças. A plataforma Cousera oferece gratuitamente alguns cursos.

Esse, especificamente, é oferecido pelo Medical Center da Universidade do

Nebraska, em parceria com o CDC14 (Center of Disease Control and Prevention ) –

Centro de Controle e Prevenção de Doenças e constitui-se, também, em

oportunidade de melhor compreensão acerca dessa importante demanda, na qual a

Comunicação é foco.

14

Disponível em http://www.cdc.gov/healthliteracy/training/

70

4. LOCAL DE PESQUISA

4.1 – ABRACE:

Antes de se apresentar o local de pesquisa, obriga-se o entendimento de

como ele se concretiza como Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB).

Em 1986, alguns pais se encontravam em situação semelhante, com

diferenças que culminaram na união de esforços. Eles buscavam tratamento para o

câncer de seus filhos no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) – público - e,

mesmo conseguindo o tratamento, muitos deles, vindos de outros Estados, não

tinham condições financeiras para se manterem em Brasília durante todo o período

necessário ao tratamento.

O grupo de pais de Brasília em melhores condições financeiras, solidário aos

pais vindos dos outros Estados brasileiros, fundaram a Associação Brasileira de

Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias – Abrace,

para, sempre pela mobilização comunitária, “prestar assistência social a crianças e

adolescentes com câncer e hemopatias, e suas famílias, visando à qualidade de

vida e garantir o acesso a melhores condições de tratamento”. (ABRACE, Quem

Somos, 2014).

Alimentação, medicamentos, hospedagem, transporte, assistência

odontológica e palestras são as ações básicas oferecidas pela Abrace, mas algumas

necessidades acabaram se transformando em Programas:

Programa Acolhimento: Após encaminhamento da rede pública de saúde do DF, o

paciente é atendido por uma equipe técnica da Abrace para identificação das

necessidades psicossociais e informações sobre a doença.

Programa Encontro: Reuniões mensais para orientações sobre o diagnóstico e

prognóstico, com informações que proporcionam melhor qualidade de vida e

desenvolvimento social.

Programa Moradia: Reformas em residências que apresentam condições precárias

de moradia, de saneamento básico e que apresentam riscos para a saúde das

crianças assistidas. O Programa tem por objetivo contribuir para qualidade de vida e

saúde do assistido oferecendo um ambiente saudável que colabore positivamente no

processo de tratamento e expectativa de vida.

71

Programa Willian15

: Acompanhamento intensivo do paciente fora de possibilidade de

cura terapêutica e apoio à sua família, oferecendo os recursos necessários para

proporcionar qualidade de vida e preparação para enfrentamento do processo de

morte. O programa ainda realiza sonhos dos pacientes. (ABRACE, Quem Somos,

2014).

Todas as ações e programas são concretizados com recursos vindos

(...) das mensalidades dos contribuintes associados, de doações espontâneas da

comunidade, quer seja pessoa física ou jurídica, de subvenções de órgãos públicos,

de rendas provenientes de promoções e eventos especiais, das alienações de bens

da Abrace e dos resultados de aplicações financeiras e de convênios e parcerias com

instituições públicas ou privadas e de outras formas possíveis de angariação de

recursos. (ABRACE, Estatuto Social, 2014).

A Abrace constitui-se tão fortemente realizadora, que percebendo

a necessidade de ir além da assistência às famílias, moveu esforços e mobilizou a

sociedade civil para erguer um centro especializado, com recursos plenos e

gerenciamento eficiente para tratamento integrado e multiprofissional da criança e do

adolescente. Assim nasceu o projeto do Hospital da Criança de Brasília José de

Alencar (HCB), que foi doado à Secretaria de Saúde do Distrito Federal”. (HOSPITAL

DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR, 2 anos). [FOLHETO].

A sede da Abrace funciona na Casa de Apoio, no Guará II, cidade do entorno

de Brasília.

4.2 – HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR:

Onze anos após a criação da Abrace, em 1995, foi identificada a necessidade

de se construir um hospital próprio para tratamento de doenças onco-hematológicas.

Em 2003, a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) cedeu um

terreno localizado na região Noroeste de Brasília. Em maio de 2004,

foi celebrado referido convênio entre o GDF-Governo do Distrito Federal, por

intermédio da SES/DF-Secretaria de Saúde do Distrito Federal e a ABRACE para a

construção do Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada contendo, dentre

as responsabilidades da ABRACE: a) construir o hospital e disponibilizar o prédio à

SES; b) equipar a área de oncologia pediátrica; c) constituir uma organização social

para, em parceria com a SES, realizar a gestão do hospital. (HOSPITAL DA

CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR, Relatório de Gestão, 2011, p. 07).

Mas, somente em 2005, deu-se, então, início às obras de construção do HCB:

15

Willian é o nome do primeiro paciente que recebeu essa modalidade diferenciada de atendimento após o prognóstico como fora de possibilidade de cura de terapêutica.

72

O projeto foi planejado para ser construído em duas fases, sendo que o Bloco I, ao

custo de R$ 15 milhões arrecadados pela ABRACE junto à Comunidade, foi concluído

em dezembro de 2008, destinado a oferecer consultas, diagnóstico básico,

quimioterapia, diálise, cirurgias e procedimentos ambulatoriais sob sedação em

ambientes próprios para o público infanto-juvenil. O Bloco II compreenderá toda a

parte de internação, cirurgias, UTI e diagnóstico especializado. Quando totalmente

concluído, o hospital terá capacidade para mais de 300 mil atendimentos por ano.

(HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR, Relatório de Gestão,

2011, p. 07).

Conforme o Relatório de Gestão 2011, em 2009 a Abrace criou o Instituto do

Câncer Infantil e Pediatria Especializada – ICIPE – para a gestão administrativa do

hospital, bem como, disponibilizou à SES/DF a obra do Bloco I concluída.

Em 2011, a SES/DF celebrou a parceria com o ICIPE, por meio de Contrato

de Gestão (CG).

Finalmente, no dia 26 de setembro de 2011 foram realizadas as primeiras

consultas em onco-hematologia pediátrica no HCB. A inauguração aconteceu no dia

em 23 de novembro de 2011 – Dia Nacional de Combate ao Câncer Infanto-juvenil.

O Hospital da Criança de Brasília José de Alencar foi construído para todas as

crianças e adolescentes dos 29 dias de vida aos 18 anos, que precisam de atenção à

saúde especializada. Funciona de acordo com os princípios do Sistema Único de

Saúde – SUS e é um hospital público, terciário16

, que pertence à rede de assistência

da Secretaria de Saúde do Distrito Federal – SES-DF. Quando a criança ou

adolescente precisa de atendimento especializado, é encaminhada para o Hospital da

Criança de Brasília por um pediatra na rede pública de saúde. O agendamento da

primeira consulta é feito pela Central de Regulação da Secretaria de Saúde do

Distrito Federal – CMCE e são os médicos reguladores da SES-DF que ordenam o

acesso dos pacientes às vagas disponíveis o HCB, examinando a justificativa do

encaminhamento e a classificação de risco do paciente. Depois da primeira consulta,

o paciente recebe uma carteira de identificação e o agendamento das consultas

subsequentes passa a ser realizado no próprio Hospital da Criança de Brasília José

de Alencar. (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA, 2013). [Folheto].

16

O nível terciário concentra os equipamentos com alta incorporação tecnológica, aqueles de última geração e, portanto, mais caros (tais como Ressonância Magnética e PET Scan) e o pessoal que trabalha necessita de formação especializada mais intensiva, no caso dos médicos até em áreas superespecializadas (neurocirurgia, cirurgia de mão, nefrologia pediátrica, cancerologia, dentre outras) que demandam de três a cinco anos de Residência Médica para obter a capacitação. O nível terciário deve estar aparelhado para atender a situações que o nível secundário não conseguiu resolver e eventos mais raros ou aqueles que demandam assistência deste nível do sistema. (ELIAS, 2011).

73

O HCB possui sete mil metros quadrados de área construída, oferecendo

consultas em 22 especialidades pediátricas em 30 consultórios médicos, 22 leitos de

internação e duas brinquedotecas.

Ambientado pelos biomas do Brasil, o espaço prioriza a luminosidade e as

cores características das diferenças de fauna e flora de cada ecossistema.

Figura 4 - Estrutura Física do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar – Bloco I

Fonte: http://www.hcb.org.br/institucional/planta-dos-blocos/

01 – LITORAL: Centro Cirúrgico; Diálise peritoneal; Farmácia ambulatorial; Farmácia

de manipulação; Hemodiálise; Internação e Quimioterapia.

02 – AMAZÔNIA: Unidade de Terapia Endovenosa (UTE).

03 – MATA ATLÂNTICA: Bioimagem e Reabilitação.

04 – CERRADO: Agência transfusional e Laboratório

05 – SERTÃO: Administrativo; Almoxarifado; Descanso enfermagem; Farmácia

Hospitalar; Medicina do Trabalho; Refeitório e Serviço de Arquivo Médico e

Estatística (SAME).

74

06 – CENTRAL: Assistência Social; Psicologia; Ouvidoria; Recepção e Registro de

pacientes.

07 – PANTANAL: Consultórios médicos 13 a 30: Alergia; Cardiologia; Cirurgia

pediátrica; Dermatologia; Endocrinologia; Genética; Ginecologia; Hepatologia;

Homeopatia; Imunologia; Infectologia; Neurologia; Nutrologia; Ortopedia;

Pneumologia; Psiquiatria. Urodinâmica; Nutrição e Brinquedoteca.

08 – PAMPA: Consultórios médicos de 1 a 12: Gastroenterologia, Nefrologia, Onco-

hematologia, Reumatologia. Assistência social; Musicoterapia; Odontologia;

Psicologia; Nutrição; Sala de terapia de grupo para pais e Brinquedoteca.

Encontra-se em construção uma nova área do HCB, denominado Bloco II,

com 21 mil metros quadrados, dois pavimentos, para oferecer mais 204 leitos, sendo

167 para Internação Clínica, Cirúrgica, Oncológica, Cuidados Paliativos e Pós-

transplantes; 20 para Unidade de Tratamento Intensivo-UTI; e 15 leitos para Terapia

Semi-Intensiva; Centro Cirúrgico com quatro salas, Centro de Diagnóstico, Centro de

Ensino e Pesquisa, Hemodiálise, Hemoterapia, Quimioterapia e Serviço de Imagem.

A entrega do novo prédio estava prevista para o segundo semestre de 2016,

contudo, as obras de construção se intensificaram a partir de 09 de setembro de

2015 e a previsão de entrega passou para o segundo semestre de 2017.

Figura 5 - Desenho Computadorizado do Bloco II do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Fonte: http://www.hcb.org.br/institucional/planta-dos-blocos/

75

Uma visita técnica, realizada no dia 09 de janeiro de 2015, possibilitou o

conhecimento de algumas áreas do Hospital.

4.2.1 – Modelo de Gestão:

O Hospital da Criança de Brasília é um hospital terciário. Isso significa que as

especialidades ali tratadas são aquelas de maior complexidade, exigindo

instalações, pessoal e tecnologia em conformidade com a função a que se destina.

O ICIPE, Organização Social criada especificamente para gerir o hospital,

estabeleceu como princípios norteadores:

Construir um complexo médico-hospitalar de alta resolubilidade, com tônica na atenção multidisciplinar e ambulatorial, articulado ao Centro Diagnóstico e Terapêutico com tecnologia e capacitação operacional dirigido ao público-alvo pediátrico, integrado à rede pública de atendimento primário e secundário;

Promover a melhoria da infraestrutura tecnológica e aumento qualitativo e quantitativo da capacidade de atendimento e tratamento das crianças e adolescentes com câncer e outras patologias terciárias;

Contribuir para a redução da mortalidade por câncer infanto-juvenil; Integrar as subespecialidades pediátricas de forma articulada, otimizando recursos; Prover a rede pública de recursos diagnósticos e terapêuticos multidisciplinares e

criar polo formador de recursos humanos nas várias subespecialidades pediátricas; Atuar como centro de ensino e pesquisa.

Além do propósito de contemplar um modelo gerencial inovador, com princípios e

dispositivos da Política Nacional de Humanização, destaque para o desenvolvimento da

Gestão Descentralizada e Participativa, do Acesso Ampliado, do Cuidado Integral e

Resolutivo da Assistência organizada em Unidades de Produção, com Equipes

Multiprofissionais de Referência e Apoio Matricial para a organização dos processos de

trabalho e da lógica gerencia. (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE

ALENCAR, Revisão do Plano de Trabalho para a Organização, Implantação e Gestão

das Ações de Assistência à Saúde no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar,

p.07-08)

Esses princípios, para que possam ser cumpridos têm a participação de

grupos de trabalho que interagem para o processo decisório institucional:

- Colegiado Gestor: composto por três superintendentes: um Superintendente

Executivo, Renilson Rehem; um adjunto e um administrativo; seis diretorias técnicas:

CISEP, responsável pelo ensino e pesquisa; Estratégia e Inovação, responsável

76

pela Ouvidoria, Núcleo de Estatística e Controle, Gestão da Qualidade,

Gerenciamento de Riscos e Controle de Infecção; Diretoria Técnica, responsável

pela Assessoria Técnica, pelas coordenações do Corpo Clínico, Apoio Diagnóstico e

Terapêutico, Enfermagem e Atendimento e Agendamento; Diretoria de Custos,

orçamentos e Finanças, Diretoria de Recursos Humanos, responsável pela

Comissão de Biossegurança, pelo Desenvolvimento de pessoas, Administração de

Pessoal, Supervisão de Segurança e Medicina do Trabalho e Cargos, Salários e

Carreira e a Diretoria Administrativa, responsável pela Comissão de Gerenciamento

de Resíduos, Farmácia, Tecnologia da Informação, Hotelaria, Contratos,

Infraestrutura e Segurança Patrimonial, Suprimentos, Nutrição e Voluntariado.

- Grupo GHCB, grupo de gestores composto por membros do Colegiado Gestor e

por funcionários que ocupam função de gestão.

A atuação do HCB está centrada na assistência à Saúde, de média e alta

complexidade à população compreendida na faixa etária de 29 dias a 18 anos, 11

meses e 29 dias, oferecendo diagnóstico, tratamento, seguimento, ensino e

pesquisa, em três linhas de cuidado: Onco-Hematologia; Cirurgia e Clínica,

integrando todos os processos com as 18 especializações pediátricas oferecidas,

embasados pelos valores e diretrizes que os norteiam.

Missão: Assistir a população de 29 dias a 18 anos referenciada para atenção

especializada de média e alta complexidade, com integralidade e resolutividade

humanizada, promovendo ensino e pesquisa e inovações no modelo de gestão, em

parceria com o Governo do Distrito Federal (GDF).

Visão: Em 2030, ser reconhecido nacional e internacionalmente como um centro de

excelência em atenção pediátrica especializada e referência em ensino e pesquisa.

Focado na integralidade da assistência, tendo ainda responsabilidade de educar para

a saúde, valorizando o papel da família e envolvendo a comunidade, o Governo do

Distrito Federal (GDF) e demais parceiros, em especial a Associação Brasileira de

Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace). O

Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) dispõe de infraestrutura

adequada, apropriada tecnologia em saúde e constante capacitação do corpo técnico,

visando atender adequadamente a demanda quantitativa e qualitativa. É efetivo na

aplicação de recursos, transparente nas suas relações e modelo na gestão em saúde.

Valores: Ética, Comprometimento, Competência, Solidariedade, Trabalho em equipe

e Humildade. (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR, 2015).

77

Para ilustrar a circularidade que se pretende estabelecer no conjunto de

ações que se inter-relacionam, o ICIPE apresenta uma mandala denominada

Identidade Estratégica.

Cabe referenciar Morin, que, ao explanar sobre ideias, vai defini-las como

um sistema de conceitos associados de maneira solidária, cujo agenciamento é estabelecido por vínculos lógicos (ou com tal aparência), em virtude de axiomas, postulados e princípios de organização subjacentes; tal sistema produz o seu campo de competência, enunciados com valor de verdade e, eventualmente, previsões quanto a fatos e acontecimentos que deverão manifestar-se. (MORIN, 2011, p. 157).

A mandala demonstra, portanto, a realidade objetiva que se pretende alcançar

por essas inter-relações pensadas de forma organizada, estrategicamente.

Figura 6 - Identidade Estratégica do HCB

Fonte: Revisão do Plano de Trabalho para a Organização, Implantação e Gestão das Ações de Assistência à Saúde no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar, p. 8.

78

4.3 – COMO ESTÁ ESTRUTURADO O SETOR DE COMUNICAÇÃO NO HCB:

O Setor de Comunicação e Mobilização do HCB está subordinado à

Superintendência Executiva. Há uma coordenação que gerencia as funções de

Assessoria de Comunicação, incluídos aí a Assessoria de Imprensa e Produção de

Conteúdo; Publicidade e Marketing e Eventos e Mobilização, para um total de cinco

integrantes: três funcionários, um trainee e dois estagiários, que executam as ações

de edição e publicação de dois jornais impressos, o interno e o externo, HCB Notícia

e o HCB Informa, conteúdo do site, da intranet, assessoria de imprensa, promoção

de eventos, relacionamento interinstitucional e visitas guiadas.

79

Figura 7 - Organograma do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Fonte: Página institucional do HCB na internet

80

5. METODOLOGIA

Ao escolher um hospital de referência para ser o local da pesquisa,

vislumbrou-se a possibilidade de verificar, como objetivo geral, que atitudes

poderiam ser identificadas como Comunicação Terapêutica no conjunto de ações

estabelecidas como tratamento para as crianças.

A pesquisa não seguiu os procedimentos tradicionais de auditagem, que

geralmente seguem modelos quantitativos, com vistas à generalização (HANDBOOK

OF COMMUNICATION AUDITS FOR ORGANISATIONS, 2000), mas contempla

uma etapa diagnóstica qualitativa.

Os procedimentos qualitativos utilizados foram, em parte, definidos pela

natureza da organização hospitalar, aos critérios do CEP e a escolha dos sujeitos foi

determinada pela direção do hospital.

As estratégias metodológicas foram sendo construídas a partir da

concepção de que uma instituição hospitalar possui um a priori terapêutico dada a

sua natureza cuidadora, portanto, com potencial de espelhamento dos processos

comunicacionais terapêuticos.

O estudo no HCB é, portanto, um estudo exploratório e se caracteriza como

um projeto emergente, cujo progresso se deu na medida em que o contato com o

local e pesquisados foi acontecendo. “Isso significa que o plano inicial para a

pesquisa não pode ser rigidamente prescrito, e que todas as fases do processo

podem mudar ou se deslocar depois que o pesquisador entrar no campo e começar

a coletar os dados.” (CRESWELL, 2010, p. 209).

Encontramos em Creswell (2014, p. 49 e 50), também, o entendimento de que

a interpretação dos fenômenos da comunicação terapêutica e seus significados têm,

todavia, um caráter qualitativo, pois:

A pesquisa qualitativa começa com pressupostos e o uso de estruturas

interpretativas/teóricas que informam o estudo dos problemas da pesquisa,

abordando os significados que os indivíduos ou grupos atribuem a um problema

social ou humano. Para estudar esse problema, os pesquisadores qualitativos usam

uma abordagem qualitativa da investigação, a coleta de dados em um contexto

natural sensível às pessoas e aos lugares em estudo e a análise dos dados que é

tanto indutiva quanto dedutiva e estabelece padrões ou temas.

81

O caminho percorrido para diagnosticar tal proposta incluiu, primeiramente, a

providência da documentação necessária à realização de trabalho acadêmico no

Hospital da Criança de Brasília José de Alencar – HCB, sob a responsabilidade do

Centro Integrado e Sustentável de Ensino e Pesquisa – CISEP, daquela instituição,

conforme o Protocolo de Recebimento de Documentos (Anexos): Requerimento,

Carta do Orientador, Projeto, Resumo para o Colegiado Gestor, Roteiros de

Entrevistas, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Termo de Compromisso

de Utilização de Dados, entregues no dia 22 de abril de 2015. O Currículo Lattes

fora enviado por endereço eletrônico à equipe do CISEP.

No dia 19 de junho, às 12h30, no Auditório do HCB, foi feita apresentação oral

do projeto de pesquisa aberta a todos os interessados do hospital. No dia 22 de

junho, 30 dias após a revisão do projeto (22/05/2015) feita pela profissional indicada

do HCB, a psicóloga Dra. Sílvia Coutinho, foi expedido o Termo de Concordância

(Anexos) para a realização da pesquisa. Imediatamente, no dia 23 de junho, o

projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil para submissão ao Comitê de Ética e

Pesquisa da Secretaria de Estado do Distrito Federal/Fundação de Ensino e

Pesquisa em Ciências da Saúde – CEP/SES/Fepecs, cujo parecer consubstanciado

e aprovado (Anexos) foi dado em 03 de agosto de 2015.

5.1 – OBJETIVOS:

A questão que nortearia a pesquisa seria: os fluxos comunicacionais do HCB

são pensados para favorecer o tratamento das crianças a partir da comunicação

terapêutica?

No entanto, a entrada em campo mostrou que o HCB, por ser um hospital

ainda em construção, com apenas quatro anos em funcionamento, não apresenta

fluxos comunicacionais consolidados, pois sua estrutura organizacional vai se

desenhando na medida em que seus processos de gestão vão sendo definidos. A

partir de então, entendeu-se que o objeto a ser buscado seria a compreensão do

cenário comunicacional estabelecido e se ele aconteceria a partir dos pressupostos

da Comunicação Terapêutica.

Por este enfoque, manteve-se o objetivo geral, a seguir.

82

5.1.1.1 – Objetivo Geral:

Verificar que atitudes podem ser identificadas como Comunicação

Terapêutica no conjunto de ações estabelecidas como tratamento para as

crianças.

5.1.1.2 – Objetivos Específicos:

Identificar na política comunicacional estabelecida pelo HCB os possíveis

elementos de Comunicação Terapêutica.

Verificar que pressupostos da Comunicação Terapêutica são utilizados no

tratamento das crianças no HCB e por quais categorias profissionais.

5.2 - QUESTÕES DE PESQUISA:

Pensar um tema de pesquisa cujo domínio não se faz em sua própria área de

estudo, parece um pouco ousado. A Comunicação Terapêutica é objeto de estudos

e de prática da área de Enfermagem, tem na Comunicação Interpessoal o seu

motor, mas sua concepção é oriunda da Psicologia Clínica, a psicoterapia.

Parafraseando, então, Winkin (1998, p. 129), “como se pode agarrar firme a

comunicação?” “Graças ao procedimento etnográfico”, responde ele.

De origem na Antropologia, a etnografia “consiste na inserção do pesquisador

no ambiente, no dia a dia do grupo investigado. Os dados são, então, coletados no

campo, em geral, por meio de observação participante e entrevistas, quase sempre

semi-estruturadas” (VERGARA, 2008, p. 73).

Verificou-se, então, que é pela Comunicação Organizacional Integrada que as

ações de comunicação são estrategicamente pensadas para as práticas cotidianas

de comunicação. Kunsh destaca que ela deve ocorrer considerando-se três

dimensões: “a humana, a instrumental e a estratégica.” (2008, p. 177).

Tendo em conta a permeabilidade da comunicação no existir de todas as

práticas humanas, ela também:

83

tem de ser entendida como parte inerente à natureza das organizações, (...) pois são formadas por pessoas que se comunicam entre si e que,por meio de processos interativos, viabilizam o sistema funcional para sobrevivência e consecução de diversidades e de transações complexas. (KUNSCH, 2008, p. 177).

Kunsch é categórica: “sem comunicação as organizações não existiriam.”

(2008, p. 177).

Contudo, uma organização é “uma modalidade de agrupamento de pessoas

que se associam intencionalmente para trabalhar, desempenhar funções e atingir

objetivos comuns, com vistas a satisfazer alguma necessidade da sociedade.”

(KUNSCH, 2003, p. 25).

A própria Kunsch refuta a ideia de que as organizações existam apenas “para

cumprir objetivos ou fins específicos, conforme apregoam autores funcionalistas

como Etzioni (1980), entre outros.” (KUNSCH, 2008, p. 178).

O fato de as organizações serem compostas por pessoas que possuem os mais diferentes universos cognitivos e as mais diversas culturas e visões de mundo implica, por si só, a complexidade que é pensar a comunicação nas organizações ou as organizações como comunicação. (KUNSCH, 2008, p. 178).

E, por isso, a necessidade de uma visão mais “interpretativa e crítica”

(KUNSCH, 2008, p. 179) da comunicação.

Assim, quando se fala em comunicação organizacional, temos que primeiramente pensar na comunicação humana e nas múltiplas perspectivas que permeiam o ato comunicativo no interior das organizações. (...) Em primeiro lugar temos que pensar a comunicação entre as pessoas e que os seres humanos não vivem sem comunicar. (KUNSCH, 2008, p. 179).

E se os seres humanos não vivem sem se comunicar, principalmente no

âmbito das organizações, é preciso voltar os olhos para o fenômeno da

comunicação interpessoal, quando as pessoas, empenhadas numa interação face a

face, favorecem o estabelecimento e a manutenção das relações.

Kunsch esclarece que a dimensão instrumental é aquela somente vista “como

um canal ou via de envio de informações”. (2008, p. 181).

Na dimensão estratégica, no entanto, a comunicação adquire a função

primordial de valor à organização, para além das questões meramente táticas, sem

conexão com a visão global da organização.

84

Como parte integrante da gestão estratégica, ela deverá auxiliar a organização a fazer a leitura das ameaças e das oportunidades presentes na dinâmica do ambiente global, avaliando a cultura organizacional, e pensar estrategicamente as ações comunicativas. (KUNSCH, 2008, p. 181).

Sob essa ótica vislumbrou-se a possibilidade da articulação dos processos

comunicacionais com potencial terapêutico inseridos numa comunicação

organizacional, cuja premissa é integradora.

A escolha do lócus de pesquisa se deu pela significação da realidade

encontrada com a natureza, a essência do que se propõe a Comunicação

Terapêutica. A primeira verificação para aproximação do local de pesquisa se deu

em entrevista informal com a presidente da Abrace, Ilda Peliz, que construiu o

Hospital da Criança de Brasília José de Alencar – HCB.

Após conhecimento das perspectivas de realização da pesquisa, concluiu-se

que o método etnográfico suportaria as condições de investigação acerca do

fenômeno a ser pesquisado: que elementos comunicacionais podem ser

identificados, qualitativamente, como comunicação terapêutica num ambiente que,

por sua natureza, pressupõe cuidado? Por meio da observação desses fenômenos,

apresentando os significados e as leituras do mundo observado.

A etnografia, uma “comunicação em ato”, como define Winkin, “é uma

disciplina que consiste em primeiro lugar em saber ver (...), em saber estar com e

(...) enfim, em retraduzir” o visto e o encontro. (1998, p. 132)

Portanto, para a realização do estudo empírico, procedeu-se a uma primeira

análise da organização estrutural por funções administrativas, que apontou um

provável cenário para a realização de entrevistas em profundidade.

Em seguida, tomou-se conhecimento dos Relatórios de Gestão disponíveis

em plataforma on-line, do qual se considerou apenas dois – o primeiro e o último

publicados - para análise documental, com vistas a extrair a rotina comunicacional já

estabelecida no local de pesquisa.

Os procedimentos para aprovação do projeto de pesquisa foram cumpridos,

segundo determinavam o Centro Integrado e Sustentável de Ensino e Pesquisa –

CISEP, bem como a submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da

85

Secretaria de Saúde do Estado do Distrito Federal – CEP/SES/DF, por meio da

Plataforma Brasil, on-line.

O roteiro semiestruturado para as entrevistas em profundidade foi elaborado

com foco nos públicos alvo, contemplando-se as questões que poderiam revelar as

práticas comunicacionais inerentes ao cargo exercido.

A indicação dos entrevistados foi feita a partir do conhecimento do CISEP,

que avaliou o projeto de pesquisa e determinou os sujeitos.

A entrada em campo previa a realização de dois estudos. Um com vistas a

entender o cotidiano comunicacional e, o outro, o cotidiano terapêutico do HCB.

Para o Estudo Um, a coleta de dados consistiu em pesquisa documental

(leitura, seleção e classificação), pesquisa na web, especificamente na página

institucional do HCB na internet (leitura, seleção e classificação), e entrevistas em

profundidade.

Os procedimentos de análise documental visavam apontar os acontecimentos

comunicacionais identificados nos Relatórios de Gestão. A análise da Missão, Visão

e Valores da organização visava a inter-relação de seus preceitos norteadores com

a comunicação terapêutica.

Para as entrevistas em profundidade, pela técnica de análise de conteúdo,

especificamente neste estudo, o universo a ser pesquisado contemplou as áreas de

Comunicação e Mobilização e de Estratégia e Inovação, uma vez que constituem a

face específica da comunicação estratégica da organização.

A análise de conteúdo é um método aceito de investigação textual. (...) Os pesquisadores estabelecem um conjunto de categorias e depois contam o número de vezes que eles incidem em cada categoria. A exigência crucial é que as categorias sejam suficientemente precisas para capacitar diferentes codificadores a chegar aos mesmos resultados. (...) Dessa maneira, a análise de conteúdo presta uma atenção particular à confiabilidade de suas medidas, garantindo que diferentes pesquisadores as utilizem da mesma maneira – e à validade de seus achados – por meio de contagens do uso da palavra. (SILVERMAN, 2009, p. 149).

As entrevistas foram realizadas com o consentimento livre e esclarecido dos

sujeitos, gravadas em meio digital, também com a concordância de todos, e

degravadas literalmente para o entendimento e inter-relação dos contextos.

86

Para o Estudo Dois, realizaram-se entrevistas em profundidade e

observação semiparticipante, subdividido em dois grupos de interesse. O primeiro,

com os profissionais que atuam sob a perspectiva do cuidado, e o segundo grupo,

sob a perspectiva de quem recebe o cuidado, representado por seu responsável.

Para as entrevistas em profundidade foi elaborado roteiro semiestruturado

que contemplava a verificação da percepção comunicacional no ambiente

organizacional, bem como a verificação de aplicação das potenciais atitudes

comunicacionais terapêuticas, por meio de perguntas formuladas com base nos

preceitos da Teoria de Ruesch.

Os procedimentos de análise das entrevistas implicavam na análise de

conteúdo por meio de categorias pré-estabelecidas pelas atitudes terapêuticas do

processo comunicacional específico. Procurou-se estabelecer a relação entre a

prática comunicacional terapêutica dos profissionais com a percepção dos

receptores dessa prática, no caso, mães das crianças.

O universo de profissionais foi constituído por sete sujeitos, mas somente

cinco apresentaram dados referentes ao objeto buscado. O universo de mães foi

constituído por três sujeitos.

Para a coleta de dados por observação in loco, a ideia primeira seria de que o

distanciamento espacial pudesse garantir uma isenção na interpretação dos

fenômenos observados, dando a isso o nome de observação não participante.

Contudo:

Goffman falou muitas vezes do envolvimento. Para ele, a partir do momento em que estamos em copresença física, sob o olhar possível de alguém, ou se pensarmos estar sob o olhar de alguém, sentimo-nos na obrigação de nos projetar no espaço constituído pela pessoa e por nós mesmos. E esse envolvimento vai fazer com que não tenhamos certos comportamentos de ordem privada e que tenhamos outros, julgados admissíveis em público. (WINKIN, 1998, p. 135).

Exatamente dessa forma, a observação não participante deu lugar a

semiparticipante, pois não havia a proposição de invadir os espaços de tratamento,

considerando-se o fato de se estar numa Unidade de Terapia de doenças crônicas,

para as quais os procedimentos medicamentosos são criteriosos.

87

Foram quatro inserções em campo, três manhãs e uma tarde, a fim de

identificar as atitudes comunicacionais com potencial terapêutico praticados nas

duas Unidades de Terapia Endovenosa.

Constituiu-se um diário de campo para o registro das observações. Segundo

Winkin, o diário de campo cumpre três funções: “catártica, empírica e reflexiva”.

(1998, p. 138-139).

Todas se cumpriram na observação. A função catártica revela a emoção do

observador. Impossível ficar inerte frente a crianças sofrendo.

A função empírica cumpre o dever de se “anotar tudo o que chamar a atenção

durante as observações, de maneira “descabelada””. (WINKIN, 1998, p. 138-139).

E, por fim, a função reflexiva e analítica do diário é aquela que apresentam as

estruturas de análise do fenômeno observado.

As entrevistas geraram 224 páginas de dados e o diário de campo, 40

páginas.

Além das UTEs foram observadas duas Brinquedotecas, mas os dados serão

analisados em estudos posteriores.

88

6. RESULTADOS PARCIAIS E DISCUSSÃO

6.1 – ESTUDOS EMPÍRICOS:

Os dois estudos que se seguem procuram evidenciar os significados

depreendidos sobre Comunicação e sobre Comunicação Terapêutica a partir da

análise de conteúdo das entrevistas e observações realizadas. Tal diagnóstico leva

em consideração o caráter estratégico da comunicação e a intrínseca

permeabilidade de sua natureza nos processos e ações destinados ao

estabelecimento de uma política integrada de gestão, ou seja, a maneira de agir

estruturada e estabelecida em cada processo de uma organização.

Estudo Um: O cotidiano comunicacional do HCB

Questão de Pesquisa:

Como se configura a Comunicação na prática organizacional e o que pode ser

caracterizado como Comunicação Terapêutica? Esta questão de pesquisa tem

suporte no objetivo específico: “identificar na política comunicacional

estabelecida pelo HCB os possíveis elementos de Comunicação Terapêutica”.

Procedimentos:

Identificar os acontecimentos comunicacionais nos Relatórios de Gestão,

correlacionar os pressupostos terapêuticos com a Missão, Visão e Valores do

HCB, verificar o entendimento do que seja Comunicação para o HCB e identificar

os pressupostos da Comunicação Terapêutica nas entrevistas.

Metodologia:

Pesquisa Documental:

Fonte de Dados:

Relatórios de Gestão 2011 e 2014 disponíveis na página do HCB na internet

(http://www.hcb.org.br/institucional/transparencia/) e Revisão do Plano de

Trabalho para a Organização, Implantação e Gestão das Ações de Assistência à

Saúde no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

(http://www.hcb.org.br/arquivos/downloads/8-PlanoTrabalhoHCB-2014-2019-

anexoCG0012014.pdf)

89

Pesquisa na Web:

Fonte de Dados:

Página do HCB na internet, aba Institucional, janela Missão, Visão e Valores

(http://www.hcb.org.br/institucional/visao-e-valores/).

Entrevistas em Profundidade

Procedimentos de Coleta:

Pesquisa Documental: leitura, seleção e classificação.

Pesquisa na Web: leitura, seleção e classificação.

Entrevistas em Profundidade: indicação dos entrevistados, agendamento da

entrevista, realização da entrevista, degravação, leitura, seleção e classificação.

Procedimentos de Análise:

Pesquisa Documental: apontar os acontecimentos comunicacionais identificados

nos Relatórios de Gestão e verificar como estão formulados a Missão, Visão e

Valores sob a ótica da Comunicação Terapêutica.

Pesquisa na Web: análise da Missão, Visão e Valores para verificação da

estratégia comunicacional proposta e sua relação da comunicação como

potencial terapêutico.

Entrevistas em Profundidade: análise de conteúdo por meio de categorizações

em grades aberta e fechada (categorias pré-estabelecidas de análise),

buscando-se o comportamento comunicacional das práticas e o que pode ser

apontado como comunicação terapêutica.

Estudo Dois: O cotidiano terapêutico do HCB

Questão de Pesquisa:

Quando a comunicação do HCB se revela com potencial terapêutico? Esta

questão de pesquisa tem suporte no segundo objetivo específico: “verificar que

pressupostos da Comunicação Terapêutica são utilizados no tratamento das

crianças no HCB e por quais categorias profissionais”.

90

Procedimentos:

Verificar que pressupostos da Comunicação Terapêutica são utilizados no

tratamento das crianças no HCB e por quais categorias profissionais.

Metodologia:

Entrevistas em Profundidade, por meio de roteiro semiestururado a partir das 11

atitudes terapêuticas estabelecidas por Ruesch.

Observação Semiparticipante, por meio de diário de campo.

Procedimentos de Coleta:

Entrevistas em Profundidade: indicação dos entrevistados, agendamento da

entrevista, realização da entrevista, degravação, leitura, seleção e classificação.

Observação Semiparticipante: agendamento das observações, ida a campo,

pedido de consentimento, registro simultâneo às observações em diário de

campo.

Procedimentos de Análise:

Entrevistas em Profundidade: análise de conteúdo por meio de categorizações

em grade fechada, buscando-se as respostas contrárias ao que se pressupõe

como comunicação com potencial terapêutico.

Observação Semiparticipante: identificação das atitudes com potencial

terapêutico nas situações observadas.

91

6.2 – ESTUDO EMPÍRICO UM: O COTIDIANO COMUNICACIONAL DO HCB:

6.2.1 – Pesquisa Documental: análise dos Relatórios de Gestão 2011 e 2014:

Relatório de Gestão, ou como denomina Chiavenato, “Relatório de

Desempenho”, é um instrumento de prestação de contas sobre “o desempenho no

cumprimento dos compromissos acordados no Contrato de Gestão.” (2006, p. 512)

Cumprindo o princípio da Transparência na Gestão Pública, regulamentado

pela Lei de Responsabilidade Fiscal, complementar ao inciso I do art. 163 da

Constituição Federal, (CRUZ, 2006, p. 188-189), encontramos na internet

(http://www.hcb.org.br/institucional/transparencia/) as informações sobre o

desempenho do ICIPE na gestão do HCB, bem como a função dos Relatórios de

Gestão:

Os relatórios de gestão apresentam as atividades desenvolvidas pelo Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (ICIPE) para organização das ações de assistência à saúde no Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). Neles é possível conhecer os convênios e parcerias firmados, ter acesso às metas quantitativas e qualitativas, além de saber a resultados de pesquisas de satisfação.

Escolheram-se para análise os Relatórios de Gestão 2011 e 2014, primeiro e

último disponíveis durante o período de coleta de dados. Como critério de análise,

procurou-se identificar os instrumentos informacionais utilizados para as tentativas

de comunicação presentes nas ações de construção, manutenção e existência do

HCB.

Os Relatórios por si configuram esses elementos informacionais. Cumprindo,

pois, o papel de dar a conhecer à população leiga os atos referentes à administração

do HCB pelo ICIPE, servidores, funcionários e terceirizados, o Relatório de Gestão

2011 foi publicado em 28 de fevereiro de 2012 e contém 68 páginas; e o Relatório

de Gestão 2014 foi publicado em 28 de fevereiro de 2015 e contém 77 páginas.

Constatam-se presentes os momentos/elementos comunicacionais

característicos da permeabilidade da comunicação. No Relatório de Gestão 2011: a

presença da logomarca do HCB em conjunto com a do Governo do Distrito Federal –

GDF; a realização de reuniões, encontros, eventos; a ampliação dos

relacionamentos entre a rede hospitalar do Distrito Federal no que tange à

92

transferência de Prontuários do Hospital de Base do Distrito Federal e do Hospital de

Apoio de Brasília; a contratação e o desligamento de pessoas; o Programa de

Ambientação do HCB; o Programa de Voluntariado; a sinalização lúdica dos

espaços; a inauguração do HCB (23 de novembro de 2011, às 9h), a política de

Satisfação do Cliente (Interno, colaboradores e Externo, pacientes) e o Serviço de

Atenção ao Usuário/Ouvidoria.

No Relatório de Gestão 2014: a presença das logomarcas do HCB e do

ICIPE e a ausência da logomarca do GDF; Auditoria da Secretaria de Transparência;

Palestra sobre Anemia Falciforme; a implantação do Projeto de Agendamento e

Atendimento por horário; Convênio com o Hospital de Câncer de Barretos; IV

Encontro de Gestão do HCB; Semana de Enfermagem; Pesquisa de Satisfação do

Usuário – aqui constatando uma nova terminologia para o Cliente Externo,

estabelecido no Relatório de Gestão 2011 –; o marco de um milhão de atendimentos

alcançado em julho de 2014; a visita de promotores do Ministério Público do Distrito

Federal e Territórios – MPDFT; a substituição da logomarca do GDF pela do SUS

em período eleitoral; o Termo de Cooperação estabelecido com o Hospital Sírio

Libanês; o V Encontro de Gestão do HCB; a participação de funcionários do HCB no

Mc Dia Feliz; a implantação do modelo de confirmação de consultas por SMS;

realização da III SIPAT; implantação do HCB Num na rede de acrílicos;

comemoração do terceiro aniversário do HCB; Campanha de Doação de Sangue;

XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica; confecção de cartazes, banners e

tela de computadores alusivos ao Natal e ao Ano Novo; recebimento do prêmio

Reconhece SES 2014; VI Encontro de Gestão do HCB; visitas domiciliares;

continuidade à implementação dos sistemas TrakCare e de um sistema de back

office; desenvolvimento de um novo sistema de inscrições às vagas de contratação

de pessoas pelo website do HCB; instalação de dispositivo para melhoria da

qualidade das ligações para celulares; implementação do sistema digital de Circuito

Fechado de Televisão com 83 câmeras de alta definição; Serviço de Atendimento ao

Cliente/Ouvidoria; gráficos numéricos sobre taxa de absenteísmo, controle de

infecção hospitalar, taxa de infecção de sítio cirúrgico, taxa de utilização de cateter

venoso central, taxa de incidência de infecção da corrente sanguínea associada a

cateter venoso central, dentre outros específicos da área hospitalar; atividades

relacionadas ao planejamento de concretização do Bloco II do HCB em parceria com

93

a Organização Mundial da Família – WFO-OMF; capacitação e desenvolvimento por

meio da participação em Congressos, Seminários, Cursos e Workshops; atividades

voltadas à Medicina do Trabalho, como vacinação contra a gripe Influenza, SIPAT,

Campanha de Prevenção do Câncer de Mama e Curso de Formação da CIPA;

Ambientação de Funcionários; socialização dos funcionários com a realização de

comemorações referentes aos aniversariantes do mês, momento de gratidão, Festa

Junina, churrasco pelo Dia do Trabalhador, entrega de kit natalino; atividades

relacionadas a Ensino e Pesquisa (CISEP), como capacitação de equipes,

cadastramento dos primeiros Grupos e Linhas de Pesquisa, no qual este projeto se

insere como Grupo de Pesquisa de Psicologia Pediátrica, na linha de pesquisa

Comunicação médico-paciente em pediatria, celebração de convênios de

cooperação técnico-científica com IES, dentre as quais a Universidade Católica de

Brasília se insere; estágios curriculares e residência médica; registros sistemáticos

de novos tumores no SisRHC – Sistema de informação do Registro Hospitalar do

Câncer; eventos para difusão das produções científicas; serviços de Biblioteca;

visitas técnicas monitoradas e o item 17 (p. 69), específico para Comunicação e

Eventos, que aborda as atividades relativas à imprensa, site, redes sociais, jornais

eletrônicos, folders e panfletos, cartazes, eventos para pacientes e família, eventos

culturais, eventos institucionais, eventos científicos, eventos de conscientização,

eventos comemorativos, visitas diplomáticas, visitas sociais e, o último item do

Relatório designado às atividades do Grupo de Voluntários.

6.2.2.1 - Discussão:

Os processos estabelecidos pela Gestão do HCB para o seu funcionamento

demonstram a estrutura organizacional que se lhes ampara. Toda essa estrutura é

permeada pelos atos comunicacionais inerentes, seja por força de lei ou pela rede

formal que se lhes compete.

Segundo Grando (2008, p. 228), “a rede formal compõe-se de todos os canais

e meios de comunicação estabelecidos de forma consciente, deliberada e planejada

segundo a estrutura organizacional (...)”.

O próprio Relatório de Gestão é um produto dessa rede formal, revelando

uma cultura organizacional estabelecida, uma vez que, segundo Marchiori (2008, p.

94

77) “cultura e comunicação são aspectos indissociáveis de uma realidade

organizacional”.

Portanto, percebe-se que estão estabelecidos os instrumentos de informação

que se lhes amparam na condição de existência, de “a organização como sistema

de comunicação, um conjunto de comportamentos em interação” (DUTERME, 2002,

p. 09).

Tem-se, portanto, como alcançado o objetivo de apontar os acontecimentos

comunicacionais identificados nos Relatórios de Gestão, uma vez que “a

comunicação caminha em conjunto nesse processo de formação, por meio das

experiências, conhecimentos e relacionamentos que acabam por constituir a

histórias desses empreendimentos.” (MARCHIORI, 2008, p. 85).

6.2.2 - Pesquisa Documental e pesquisa na web : análise da Missão, Visão e

Valores:

Os esforços empreendidos para a sobrevivência de uma Organização

requerem, também, a compreensão de sua função na Sociedade. Os estudiosos de

Comunicação Mercadológica apresentam a perspectiva estratégica de sobrevivência

ao estabelecerem três premissas que devem orientar todos esses esforços: missão,

visão e valores.

Procedendo-se à leitura e análise da missão do HCB em três bases de dados,

encontrou-se:

Relatório de Gestão

2011

Assistir a população de 0 a 18 anos referenciada para atenção

especializada de média e alta complexidade, com integralidade e

resolutividade humanizada, promovendo ensino e pesquisa e

inovações no modelo de gestão, em parceria com o GDF.

Página do HCB na

internet, publicada em

10/05/2013.

Assistir a população de 29 dias a 18 anos referenciada para atenção

especializada de média e alta complexidade, com integralidade e

resolutividade humanizada, promovendo ensino e pesquisa e

inovações no modelo de gestão, em parceria com o Governo do

Distrito Federal (GDF).

95

Revisão do Plano de

Trabalho 2014-2019,

(p.9).

Assistir a população de 29 dias a 18 anos (18 anos, 11 meses e 29

dias) referenciada para atenção especializada de média e alta

complexidade, com integralidade e resolutividade humanizada,

promovendo ensino e pesquisa e inovações no modelo de gestão, em

parceria com o GDF.

Segundo Kotler (2000, p. 87) “as melhores declarações de missão são

aquelas guiadas por uma visão, uma espécie de “sonho impossível” que fornece à

empresa direcionamento para os 10 a 20 anos seguintes.” A visão declarada do

HCB é:

Relatório de Gestão

2011

Em 2.030 o Hospital da Criança de Brasília José Alencar é

reconhecido nacional e internacionalmente como um centro de

excelência em atenção pediátrica especializada e referência em ensino

e pesquisa. Focado na integralidade da assistência, tendo ainda

responsabilidade de educar para a saúde, valorizando o papel da

família e envolvendo a comunidade, o Governo do Distrito Federal e

demais parceiros, em especial a ABRACE- Associação Brasileira de

Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e

Hemopatias. O HCB dispõe de infraestrutura adequada, apropriada

tecnologia em saúde e constante capacitação do corpo técnico,

visando atender adequadamente a demanda quantitativa e qualitativa.

É efetivo na aplicação de recursos, transparente nas suas relações e

modelo na gestão em saúde.

Página do HCB na

internet, publicada em

10/05/2013.

Em 2030 ser reconhecido nacional e internacionalmente como um

centro de excelência em atenção pediátrica especializada e referência

em ensino e pesquisa. Focado na integralidade da assistência, tendo

ainda responsabilidade de educar para a saúde, valorizando o papel

da família e envolvendo a comunidade, o Governo do Distrito Federal

(GDF) e demais parceiros, em especial a Associação Brasileira de

Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e

Hemopatias (Abrace). O Hospital da Criança de Brasília José Alencar

(HCB) dispõe de infraestrutura adequada, apropriada tecnologia em

saúde e constante capacitação do corpo técnico, visando atender

adequadamente a demanda quantitativa e qualitativa. É efetivo na

aplicação de recursos, transparente nas suas relações e modelo na

gestão em saúde.

96

Revisão do Plano de

Trabalho 2014-2019,

(p.9).

Ser reconhecido nacional e internacionalmente como um centro de

excelência em atenção pediátrica especializada e referência em ensino

e pesquisa. Focado na integralidade da assistência, tendo ainda

responsabilidade de educar para a saúde, valorizando o papel da

família e envolvendo a comunidade, o Governo do Distrito Federal e

demais parceiros, em especial a ABRACE- Associação Brasileira de

Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e

Hemopatias. Dispor de infraestrutura adequada, apropriada tecnologia

em saúde e constante capacitação do corpo técnico, visando atender

adequadamente a demanda quantitativa e qualitativa. Ser efetivo na

aplicação de recursos, transparente nas suas relações e modelo na

gestão em saúde.

Ainda sob orientação de Kotler, ele aponta que “as declarações de missão

enfatizam as principais políticas e valores que a empresa pretende honrar.” (2000, p.

88):

Relatório de Gestão

2011

Ética,

Humanização

Comprometimento,

Competência Técnica,

Solidariedade,

Sustentabilidade

Trabalho em equipe,

Humildade.

Página do HCB na

internet, publicada em

10/05/2013.

Ética,

Comprometimento,

Competência,

Solidariedade,

Trabalho em equipe,

Humildade.

Revisão do Plano de

Trabalho 2014-2019,

(p.9).

Ética,

Comprometimento,

Competência Técnica,

Solidariedade,

Trabalho em equipe,

Humildade.

97

6.2.2.1 - Discussão:

O quadro comparativo da Missão sinaliza a evolução havida na compreensão

da especificidade de seu público alvo. A Revisão do Plano de Trabalho aponta o

limite etário que tal responsabilidade implica: “assistir a população de 29 dias a 18

anos (18 anos, 11 meses e 29 dias) (....)”.

A expressão “referenciada para atenção especializada de média e alta

complexidade” sinaliza o enquadramento de sua função nas Redes de Atenção à

Saúde, ou seja, que o HCB possui um “conjunto de procedimentos que envolve alta

tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços

qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à Saúde (atenção básica e

de média complexidade)”. (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE

ALENCAR, Revisão do Plano de Trabalho para a Organização, Implantação e

Gestão das Ações de Assistência à Saúde no Hospital da Criança de Brasília José

de Alencar, p. 32).

Observa-se, contudo, que a missão, por si só, não favorece o imediato

entendimento de que se trata de um serviço de saúde, de um hospital.

A expressão “com integralidade e resolutividade humanizada” refere-se aos

pressupostos estabelecidos pelo Sistema Único de Saúde. Mendes esclarece que a

integralidade consiste nas “ações de promoção da saúde, de prevenção das

condições de saúde e de gestão das condições de saúde estabelecidas por meio de

intervenções de cura, cuidado, reabilitação e paliação.” (2011, p. 86). A

resolutividade humanizada se ancora na Política Nacional de Humanização do SUS.

Ianhez esclarece:

A missão de uma organização estabelece claramente seu campo de atuação, de forma que fiquem totalmente visíveis as áreas em que ela atua e nas quais ela não atua. Em outras palavras, diz por quê e para quê ela existe. A formalização da missão deve ser tão clara e objetiva que qualquer elemento da organização poderá ter uma visão de orientação de quais seus nichos de mercado e, desta forma, saber em quais situações sua organização pode estar envolvida para o seu progresso e desenvolvimento e quais situações são restritivas para esse progresso. (2008, p. 103).

98

Sob essa perspectiva os significados depreendidos para “integralidade e

resolutividade humanizada” podem não traduzir o sentido alinhado, claro, conciso

que precisa provocar em todos os seus funcionários, considerando-se todos os

níveis, inclusive e, principalmente, os terceirizados, que também constroem

significados nas frequentes relações estabelecidas no ambiente interno da

organização.

“Promovendo ensino e pesquisa” sinaliza o posicionamento estratégico do

CISEP - Centro Integrado Sustentável de Ensino e Pesquisa:

Concebido para incorporar as ações de ensino – englobando as práticas de capacitação e desenvolvimento do profissional interno, bem como programas de capacitação externa (residências, cursos de especialização, estágios, etc) – e práticas de pesquisa (básica, translacional e clínica). O que possibilitará a estruturação de programas de residências próprios, com ampliação das áreas de atuação atualmente disponibilizadas. (HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSE DE ALENCAR, Revisão do Plano de Trabalho para a Organização, Implantação e Gestão das Ações de Assistência à Saúde no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar, p. 31).

E, por fim, “(...) e inovações no modelo de gestão, em parceria com o

Governo do Distrito Federal (GDF)” denota todo o esforço a empreender para que os

propósitos do HCB sejam alinhados e concretizados. Em 2014, o HCB realizou o IV,

V e VI Encontros de Gestão, demonstrando o esforço empreendido para tal.

Na análise da Visão, observou-se a supressão da meta temporal – 2030 – da

Revisão do Plano de Trabalho 2014-2019, contida no Relatório de Gestão 2011 e na

página na internet.

A identificação da instituição hospitalar na visão - Hospital da Criança de

Brasília José Alencar ou HCB – aparece tanto no Relatório de Gestão 2011, como

na página da internet, mas foi suprimida do documento Revisão do Plano de

Trabalho 2014-2019. Há ainda um deslocamento da identificação do Relatório de

Gestão 2011 em relação ao site. No primeiro, o nome do hospital aparece logo no

início da declaração de Visão e, no segundo, no meio do texto.

Há ainda a diferença de flexão verbal. Tanto no Relatório de Gestão como no

site, os verbos são articulados de forma afirmativa: “é efetivo”, “dispõe”. No

99

documento Revisão do Plano de Trabalho 2014-2019 os verbos figuram no modo

infinitivo: “Ser efetivo”, “dispor”.

O papel institucional da Abrace se confirma sem ressalvas nas três análises,

como o parceiro que gerou e gerencia a organização.

A visão do HCB contempla a ideia de superação de sua forma de atuar.

Ianhez explica que a visão faz com que a organização “encontre padrões maiores de

atuação em todas as suas áreas e relacionamentos.” (2008, p. 104).

Kotler (2008, p. 88) ensina que “as declarações de missão enfatizam as

principais políticas e valores que a empresa pretende honrar.” São oito os valores

instituídos para o HCB segundo o Relatório de Gestão 2011, diferindo do site e da

Revisão do Plano de Trabalho 2014-2019 no tocante a Humanização e

Sustentabilidade.

O documento Revisão do Plano de Trabalho 2014-2019 demonstra que eles

saem do status de Valor para assumir o de Diretrizes Estratégicas (p. 10). A diretriz

Humanização não alude à Política Nacional de Humanização instituída pelo Sistema

Único de Saúde. Na página 11, define: "Todas as nossas ações devem estar

imbuídas de humanização - desde o atendimento, aquisição de insumos, assistência

à administração - com o slogan: a nossa missão começa em gostar de gente, gostar

de gente com problemas".

A Política Nacional de Humanização tem lugar, porém, no site do HCB. Há

uma aba (http://www.hcb.org.br/humanizacao/atendimento-humanizado/)

denominada “Humanização” que explica o modo como o HCB aplica os princípios

instituídos pelo Sistema Único de Saúde.

Sob o foco da Comunicação Terapêutica, postula-se o argumento da

proposição assumida pelos serviços de saúde. Um hospital demanda e oferece

cuidado, tratamento, cura, medicação, paliação, orientação e, as mais evoluídas,

ensino, pesquisa e educação. Há, portanto, intrínseco nessa condição, o potencial

terapêutico e, com isso, imperativamente, a construção de um pensamento e de

ações comunicacionais terapêuticos.

100

A articulação da missão, visão e valores do HCB com a comunicação

terapêutica se justifica ao se considerar, por exemplo: que a Tolerância

Discriminada pode ser entendida como o conjunto de normas, regras e

procedimentos instituídos para o funcionamento da instituição; que é preciso debater

e discutir sobre tudo o que afeta a vida da organização, encaixando-se na ideia de

Verbalização de Temas Tabu; que a Disposição Expectante se realiza no

compromisso assumido na Visão de organização que o HCB deseja alcançar, uma

vez que há a consciência do compromisso de todos; que a Audição Catártica já se

concretiza pela existência da Ouvidoria, mas que ainda abre as possibilidades de

escuta de seus funcionários; que o Compromisso Condicional está explícito em

sua declaração de valores; que a Seletividade Construtiva está respaldada pelas

ações deliberadas, planejadas e avaliadas para a manutenção do hospital; que a

Atitude Direta Não Agressiva reflete a forma como se relaciona com seus vários

públicos, que o Desempenho Responsável é, para além de um compromisso, os

resultados que alcança; que Tomar as rédeas é identificar as novas rotas

necessárias frente às dificuldades; que a Linguagem do Paciente é a compreensão

de como se deve falar com cada público, e, finalmente, que a Responsividade

Incondicional é a resposta total dos serviços de saúde em alta complexidade

assumidos e oferecidos à Sociedade.

A exemplo de Marchiori, se oferece um novo paradigma para as instituições

de saúde considerando que a “comunicação forma a cultura organizacional por meio

da construção de significados.” (2008, p. 79).

6.2.3 - Pesquisa de Campo: entrevistas em profundidade para análise de

conteúdo

A. A Comunicação Organizacional:

Esse momento do estudo busca verificar, por meio de roteiro semiestruturado

para entrevista em profundidade, como o Núcleo de Estratégia e Inovação e o

Núcleo de Comunicação e Mobilização se articulam para que se processe a

comunicação entre os interagentes, pela finalidade do bom atendimento e da

humanização e como isso se traduz em Comunicação Terapêutica. Os critérios

101

estabelecidos para a análise são a) identificar como os entrevistados percebem os

processos comunicacionais estabelecidos no cotidiano do HCB e b) identificar como

os entrevistados percebem a comunicação como potencial terapêutico. A escolha

dos Núcleos de Estratégia e Inovação e de Comunicação e Mobilização se

fundamentam no papel estratégico e comunicacional que ambos têm de

desempenhar.

Foram realizadas três entrevistas, sendo duas com o Núcleo de Comunicação

e Mobilização e uma com o Núcleo de Estratégia e Inovação. Os entrevistados têm

em média três anos e meio de trabalho no HCB, entre 30-50 anos de idade e as

entrevistas duraram em torno de duas horas e meia. Todos leram, entenderam e

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Tomou-se o cuidado,

ainda, de pedir autorização dos entrevistados para a gravação das entrevistas.

Todos assentiram, tendo-se apenas o pedido de sigilo de um dos entrevistados num

determinado momento da entrevista.

O roteiro foi estruturado para abordar as questões inerentes às atividades

desenvolvidas pelos entrevistados e a visão que têm dos resultados que alcançam,

bem como aborda a Comunicação Terapêutica para a busca das atividades

correlatas. (Anexos).

Nesse caso de análise de conteúdo, as categorias de análise são em grade

aberta, uma vez que “identificam-se categorias de análise, conforme vão surgindo ao

pesquisador” (VERGARA, 2008, p. 17). Procedeu-se à leitura flutuante de todas as

entrevistas, estabelecendo-se as categorias por interpretação do conteúdo segundo

os princípios da pertinência: “quando está adaptada ao material de análise colhido e

quando pertence ao quadro teórico definido. (...) O sistema de categorias deve

refletir as intenções da investigação, as questões do analista e/ou corresponder às

características das mensagens” (BARDIN, 2011, p. 150) e o da homogeneidade:

“(...) quando um único princípio de classificação deve governar a sua organização”

(BARDIN, 2011, p. 150). A análise categorial temática, em princípio, apontou sete

categorias. No entanto, ao submetê-las ao juízo externo para verificação dos

princípios da objetividade e da fidelidade chegaram-se a duas categorias.

102

6.2.3.1 – Resultados:

Tabela 3 – Análise categorial temática: como os entrevistados percebem a comunicação no HCB – Categoria 1.

Categoria 1

A comunicação não é uma possibilidade só do setor, do Núcleo, do Departamento

de comunicação. Comunicação é algo que perpassa todo o trabalho do Hospital.

Definição dos temas encontrados nesta categoria:

Comunicação como responsabilidade de todos; Informação; Segurança do

Paciente; Paciente no centro do cuidado; Comunicação para adesão ao tratamento.

Verbalizações:

“A primeira importância da comunicação está justamente na questão da definição

do cuidado, do alinhamento do cuidado, da segurança e da qualidade da

assistência que a gente traduz num prontuário, num documento.”

“Comunicação em saúde deve ser feita por todos os profissionais vinculados, seja o

segurança, a moça da limpeza ou o médico, todos nós estamos comunicando

alguma coisa para o paciente, e não só comunicando, trocando com ele. Então se a

menina da limpeza dá uma dica de limpeza para essa mãe, ela vai salvar essa

vida.”

“Vamos abrir uma discussão bem grande do que significa o paciente estar no centro

do cuidado porque une estratégia, humanização e segurança. Não consigo vê-los

separados. Para que faça realmente sentido para as pessoas o que a gente está

fazendo aqui, porque falar que se está no centro é muito bonito.”

“Muito importante. Quando se entende o porquê do tratamento e a forma como se

faz, é muito mais fácil aderir.”

103

Tabela 4 – Análise categorial temática: como os entrevistados percebem a comunicação no HCB –

Categoria 2.

Categoria 2

“Nós só temos quatro anos e esse é um processo de construção e eu acho que nós

não temos ainda uma política constituída de comunicação no HCB.”

Definição dos temas encontrados nesta categoria:

Política de comunicação em construção; Proximidade com as instâncias mais altas

de gestão; Necessidade de empoderamento; Reflexão sobre a falta do caráter

estratégico diante dos desafios do Hospital; Comunicação como um balcão de

serviços; Dificuldade em cumprir o planejamento estabelecido; Ouvidoria dirigida;

Discurso institucional precisa ser alinhado; Comunicação para reforço da imagem

positiva do HCB; Internalização da identidade institucional.

Verbalizações:

“Estamos diretamente ligados ao Superintendente, é fundamental.”

“Acho que talvez seja uma das coisas mais importantes: o empoderamento da

comunicação no hospital.”

“Comunicação é sempre um desafio (...). Temos o eixo de comunicação com o

paciente: profissional-paciente, instituição-paciente; temos o eixo de comunicação

entre os profissionais e temos o eixo de comunicação instituição-sociedade. Então

tem o para fora, o entre nós e tem o para o paciente (...) . A discussão é: quão

estratégicos nós temos sido?”

“As pessoas perdem muito tempo e muita energia com essa coisa de querer fazer

camiseta, folder, cartaz, produtos de comunicação. Isso é duro, mas não é um

problema do hospital, isso é um problema da comunicação em si.”

“Nosso Planejamento de Comunicação é furado o tempo todo por todas as outras

áreas.”

“Eu quero ver se faço Ouvidoria específica para as crianças, porque hoje a gente

pergunta para os pais, mas eu quero fazer perguntas que as crianças possam

responder. Tem um mundo de ideias que a gente quer começar a discutir e dar

formato.”

“Conseguir levar para fora essa percepção positiva do Hospital da Criança, na

verdade, mobilizar a sociedade e deixá-la convencida de que é um orgulho ter o

Hospital da Criança nessa cidade.”

104

6.2.3.2 – Discussão:

As duas categorias encontradas apontam um cenário comunicacional em

construção. Embora as entrevistas tenham revelado que algumas áreas do HCB já

possuem protocolos de ação como Controle de Infecções definidos, percebe-se que

a comunicação de todo o processo inerente à gestão do HCB precisa ser

estabelecida, apresentada, discutida, corrigida, divulgada e/ou aferida.

Há um sentimento inequívoco nos entrevistados do quão vital a comunicação

é para que todos os processos fluam.

Para que todos os direcionamentos possam encontrar na Comunicação um

vigoroso aliado, há que se estabelecer uma Política de Comunicação robusta. É

nesse momento que Missão, Visão e Valores direcionam o universo relacional

pretendido em possibilidades estreitas, ou seja, com a definição dos parâmetros que

vão conduzir o comportamento comunicacional frente aos desafios que ocorrerão ao

longo da existência do HCB.

Sobretudo porque, segundo Ianhez:

As políticas são mutáveis, como tudo na organização, dependendo da evolução desta e do ambiente social no qual está inserida. Elas garantem a uniformidade de desempenho e orientam a administração no alcance de operações eficazes. As organizações devem ter políticas que orientem as ações de seus colaboradores nas ações de rotina. Ela deve implementar políticas pensadas que funcionem no dia a dia para superar problemas. Temos, então, políticas para todos os setores que compõem a organização, políticas de compras, fabricação, estruturação de serviços, recursos humanos, comunicação, marketing e assim por diante. (2008, p. 107).

O argumento encontrado de que o HCB é um hospital novo e, portanto, com

cultura sendo estabelecida para que se possa definir uma política comunicacional,

parece revelar a ideia de adiamento de decisão, visto que o momento se torna

ricamente oportuno porque não há vícios ou engessamentos de práticas,

favorecendo-se que tais políticas sejam discutidas e estabelecidas. Ainda mais

porque Missão, Visão e Valores existem, exatamente, para o norteamento das

decisões de gestão.

O comportamento de uma organização é orientado: antes de mais, é determinado, em boa parte, por uma cultura, uma missão, por finalidades, intenções e objetivos. É o que se quer dizer quando se escreve que uma organização tem um comportamento cultural. (VAZ-FREIXO, 2006, p. 204).

105

Analogamente à ideia de cultivo de uma horta, vê-se um agricultor em defesa

de sua plantação, valendo-se de seu conhecimento e dos recursos disponíveis para

que haja colheita. As intempéries são consideradas por ele.

Fica patente que a ideia de “troca” é a de compartilhamento de informações

para o qual há a criação de um novo comportamento a partir da informação. “A

comunicação só existe quando eu me volto a ela e a incorporo como algo para mim”,

diz Marcondes Filho. (2008, p. 16).

Tal entendimento amplia o êxito nas ações a empreender, uma vez que se

pretende estabelecer comportamentos ajustados à geração de atenção, prevenção,

e de educação para a Saúde por meio da Comunicação, necessários às

informações que garantam a Segurança ao Paciente, a sua adesão aos tratamentos

e a prática da Política Nacional de Humanização, demandada pelo SUS e que

também preceitua o paciente no centro do cuidado:

Assim, tomamos a Humanização como estratégia de interferência no processo de produção de saúde, levando-se em conta que sujeitos sociais, quando mobilizados, são capazes de transformar realidades transformando-se a si próprios nesse mesmo processo. Trata-se, então, de investir na produção de um novo tipo de interação entre os sujeitos que constituem os sistemas de saúde e deles usufruem, acolhendo tais atores e fomentando seu protagonismo. (BRASIL, Humaniza SUS, 2004, p. 08).

E, ainda como sintoma da ausência dessa política institucionalizada de

Comunicação, encontram-se os relatos de que a Comunicação é vista como balcão

de serviços, para a qual se resume em confecção de folders e cartazes. Essa visão

instrumental da comunicação aponta para:

A importância da comunicação organizacional integrada, porque ela permite que se estabeleça uma política global, em função de uma coerência maior entre os diversos programas comunicacionais, de uma linguagem comum de todos os setores e de um comportamento organizacional homogêneo. (KUNSCH, 2003, p. 180).

Duterme, advogando a função estratégica da comunicação, por conhecer que

as empresas a consideram muito mais pelo caráter técnico e pela visão utilitarista da

comunicação, aponta que “para além dos defensores do mito tecnicista”, há os que:

“se apercebem de que as coisas são mais complexas, pugnam pela completa inserção da comunicação no seio da estratégia da empresa e por uma ação integrativa da organização. A cultura da empresa é então a verdadeira aposta da Comunicação Interna, pois sob essa ótica, vão se aplicar a estratégia, o plano de comunicação e as técnicas disponíveis.” (2002, p. 120).

106

As percepções de necessidade de empoderamento, de necessidade de

planejamento efetivamente cumprido, de uma ouvidoria dirigida às crianças, de

manutenção e vínculo com a Sociedade da imagem positiva já construída pelo

Hospital, do estabelecimento de atenção estratégica específica para os eixos

relacionais profissional-paciente, instituição-paciente; profissionais-instituição e

instituição-sociedade, apontam o desafio que é pensar um modelo de comunicação

organizacional com atitudes terapêuticas de modo que ela responda a essas

necessidades nos seus diferentes públicos do HCB.

O que poderia levar a um entendimento maior pelo resgate desses elementos

fortes da cultura de cuidado ao paciente, que não pode ser restrita unicamente a

profissional-paciente.

Se isso ocorre conscientemente, adquire-se sentido, o entendimento de uma

razão de ser. Aí sim, toda mobilização feita pelo Núcleo de Comunicação e Núcleo

de Estratégia e Inovação produzem a adesão necessária para que o Hospital da

Criança alcance o patamar desejado em sua declaração de Visão.

B. A Comunicação Terapêutica:

Esse momento de análise permanece considerando-se as entrevistas em

profundidade realizadas com o Núcleo de Estratégia e Inovação e com o Núcleo de

Comunicação e Mobilização, conforme explicitado na abordagem inicial da pesquisa

de campo. Contudo, se difere no critério estabelecido, que é identificar como os

entrevistados percebem a comunicação como potencial terapêutico e no método das

unidades de análise do conteúdo coletado, uma vez que Ruesch (1980, p.118-129)

apresenta 11 atitudes que favorecem a Comunicação Terapêutica. Assumem,

portanto, o papel de categorias de análise em grade fechada as 11 atitudes. Foram

levantadas vinte situações, mas três, apenas, foram escolhidas para ilustrar com

base na substancialidade que apresentam. Difere também, na apresentação dos

resultados e imediata discussão, uma vez que cada entrevistado vai apontar a

realidade concreta identificada como comunicação terapêutica, favorecendo,

portanto, a interpretação para os resultados encontrados.

107

As categorias são:

Tabela 5 - Categorias de Atitudes Terapêuticas

# Código Categoria

01 Cat. TD Tolerância Discriminada

02 Cat. VT Verbalização de Temas Tabu

03 Cat. DE Disposição Expectante

04 Cat. AC Audição Catártica

05 Cat. CC Compromisso Condicional

06 Cat. SC Seletividade Construtiva

07 Cat. ADNA Atitude Direta Não Agressiva

08 Cat. DR Desempenho Responsável

09 Cat. TR Tomar as Rédeas

10 Cat. LP Linguagem do Paciente

11 Cat. RI Responsividade Incondicional

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Ruesch, 1980.

Como os entrevistados percebem a comunicação como potencial terapêutico:

Situação 1: Uma criança parou um amigo nosso que já teve câncer. E ele

perguntou para criança:

– Ah, é o seu cateter? Porque o meu cateter..., contando um pouco da sua história.

Aí a criança olhou para ele e falou:

– Mas você já teve câncer e (...) você cresceu? A criança achava que, pelo fato dele

ter câncer, ele ia parar ali, não ia crescer mais. A partir dessa conversa, eu percebi

que o depoimento de profissionais que já tiveram câncer, na Oncologia, é

importante. E temos uma Enfermeira do Grupo de Diabetes, que tem diabetes (...).

Então quando ela fala para o paciente, ela fala com causa, porque ela tem diabetes

desde pequena, e ela fala “olha, quando eu passava mal era por isso, por isso e por

isso... agora você tem que dar graças a Deus porque tem uma bombinha que coloca

de tempos em tempos...” (...) Então, isso tudo é comunicação, isso já acontece no

hospital. Eu preciso mostrar para essas crianças que elas podem sonhar com o

futuro, que elas podem querer ser o que elas quiserem. E como é que eu mostro

isso? Mostrando pessoas que venceram a doença e quem são hoje. (...) Eu nunca

falaria sobre cateter com uma criança, se eu não tivesse visto ele falando. Ele falou

que faz parte da realidade dela, se ela está com cateter, por que não falar? “Quando

ela está de fralda, não se fala da fralda? Fala-se. Depois ela vai tirar a fralda”. Então

108

tem que se falar naturalmente sobre isso, isso é um momento da vida dela que,

necessariamente, não vai ser eterno.

6.2.3.3 – Resultados:

Tabela 6 - Categorias encontradas na Situação 1, Estudo Um.

# Código Categoria

01 Cat. TD Tolerância Discriminada

02 Cat. VT Verbalização de Temas Tabu

03 Cat. DE Disposição Expectante

04 Cat. AC Audição Catártica

05 Cat. CC Compromisso Condicional

06 Cat. SC Seletividade Construtiva

08 Cat. DR Desempenho Responsável

10 Cat. LP Linguagem do Paciente

11 Cat. RI Responsividade Incondicional Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Ruesch, 1980.

6.2.3.4 – Discussão:

Tolerância Discriminada (TD) e Verbalização de Temas Tabu (VT): o senso de

oportunidade demonstrado ao se abordar uma criança para lhe falar realisticamente

sobre o que lhe afeta, considerando-se a própria experiência com o câncer, traduz o

entendimento, também, de que há um compromisso condicional (CC) na

totalidade dessa pessoa que se dispõe a ajudar. Há uma pessoa inteira que enxerga

outra pessoa inteira (Seletividade Construtiva – SC). Remen questiona: “será

possível que as pessoas que trabalham em circunstâncias tão tensas e difíceis

aprendem a encontrar maneiras de estar totalmente presentes em seu trabalho sem

que se sintam aflitas e dominadas pela dor, tristeza e perda que as rodeiam?” (1993,

p. 180). Sim, há. E, tamanha consciência se reflete na atitude de fazer uso de uma

linguagem compreensível à criança (Linguagem do Paciente – LP), sobretudo pela

condição empática que a situação lhes impõe e propicia. Quanto ao Entrevistado,

demonstra-se um desempenho responsável (DR) ao aproveitar o potencial do

relato feito, para, a partir de situações compartilhadas, possam-se criar outras

experiências de responsividade incondicional (RI): “Eu lhe presto atenção e

entendo suas necessidades” (RUESCH, 1980, p. 120) e, mais uma vez, de

desempenho responsável (DR). A elaboração de ações comunicacionais que

vislumbrem o compartilhamento de experiências semelhantes exige uma atitude de

audição catártica (AC), pois é entendendo o que aflige o paciente que se pode

109

oferecer mais e melhores condições de cuidado. Para tanto, e em conjunto, há que

se ter uma disposição (Disposição Expectante – DE) que demonstre “interesse e

curiosidade” (RUESCH, 1980, p. 120)

Situação 2: Nós usamos nossa habilidade em comunicação, tendo sensibilidade,

com um paciente (...) de uns treze anos de idade, eu acho. Em sua última

internação, tinham dado para ele uns quadros e (...) umas canetinhas para ele pintar

os quadros (...). Esse menino estava para morrer, estava em Cuidados Paliativos, já

tinha realizado o sonho dele que era ver uma partida de futebol. A Abrace já tinha

realizado esse sonho. Mas qual que era a história de vida dele? A mãe era uma

moça de uma empresa de limpeza, o pai tinha morrido atropelado, então só eram ele

e a mãe e eles tinham vindo de uma cidade do Nordeste. Quais eram as

preocupações desse menino? A sustentabilidade da mãe: como a mãe ia ficar

sozinha? Durante todo o tratamento, ele negava a possibilidade de morte, e falava

para a mãe:

– Não, semana que vem eu estou na escola! E não estava.

– Não, porque eu vou ficar melhor, mês que vem eu vou ajudar a senhora.

– Não, porque eu vou trabalhar e ajudar a senhora nos gastos.

Quando soubemos dessa história, resolvemos (...) fazer uma exposição dos

quadros desse menino, porque o fato de você se sentir realizado ou realizando

alguma coisa, pode ser um bom fechamento, né? Se você pensar num filme, qual é

o happy end? (...) Preparamos toda a exposição e no dia (...) ele teve uma recaída

brava. E na hora de decidir se haveria ou não a exposição eu (...) me posicionei:

– Dr. Renilson17 me desculpa, mas não estamos fazendo essa exposição para fazer

uma exposição de quadros. Estamos fazendo essa exposição para ele. Sem ele,

não tem o menor sentido. (...) Se o senhor mandar fazer eu vou fazer, mas eu acho

que não é esse o objetivo. Não fizemos esse esforço todo para ele não vir. Vamos

esperar ele ficar melhor.

– E se ele não ficar melhor?

– Vamos correr esse risco.

17

Superintende Executivo do HCB, Renilson Rehem.

110

(...) Um monte de gente me olhou com cara feia e tudo mais. Aí sabe quando você

tem a melhora da piora? Ele teve a melhora da piora. Fizemos a exposição de

quadros na semana seguinte. Eu morro de chorar com isso, porque acompanhei ele

e a mãe indo embora. Claro que teve envolvimento da Enfermagem, de médicos,

todo mundo se envolveu nesse negócio. A Abrace trouxe os cavaletes, a gente

conseguiu uma empresa que trouxe uns negócios lá, enfim... Cada quadro foi feito

para alguém: para um primo que ele sentia saudade, para a amiga da escola, para o

médico, para a enfermeira... E para a psicóloga dos Cuidados Paliativos, ele fez um

elefante, que é o símbolo dos cuidados paliativos. Temos uma regra que não se

vende nada no hospital. O espaço da lanchonete é explorado por uma empresa que

entrou no processo e tal, mas a gente não vende nada no hospital, e eu pedi licença

para o Dr. Renilson para vender:

– Nós vamos vender os quadros, por preços simbólicos, mas nós vamos vender,

porque essa é uma exposição mesmo! (...) Aí, claro, o médico comprou o que ele

tinha feito para o médico, a psicóloga comprou a borboletinha que ele fez para a

psicóloga - que ele falou que ela era uma borboletinha, era uma brincadeira entre os

dois. O pessoal também comprou o quadro do elefante, cada um comprou um e os

que não tinham sido comprados, demos um jeito de alguém comprar na última hora,

nós mesmos compramos. Era preço simbólico, cinquenta, vinte, tal. Quando esse

menino saiu com a mãe, ele vira para ela e fala:

– É, mãe, agora eu já posso ir.

Foi a primeira vez que ele falou de morte.

– Porque eu já realizei alguma coisa e porque eu consegui deixar a senhora com

dinheiro, bem.

Ou seja, na infantilidade dele, ele achava que aquele dinheiro ia ajudar a mãe por

um tempo. (...) Aconteceu mais: chamamos o Correio Braziliense e ele deu uma

entrevista linda. (...) Aí teve uma sensibilidade, porque eu chamei o repórter do

Correio e falei assim:

– Olha só, ele está muito mal. Ele vai te dar a entrevista, mas se ele pedir para

parar, pedir para tomar água, pedir qualquer coisa, a gente vai atender. Primeiro a

saúde dele. Tudo bem?

Aí o repórter (...) achou meio ruim eu estar falando isso, mas eu disse:

111

– Isso é importante, eu preciso fechar isso com você, porque se você não respeitar

essa condição, é melhor não ter entrevista, porque a médica não gostaria que ele

concedesse entrevista.

– Tudo bem, vou respeitar.

E aí ele fez uma entrevista linda, uma matéria linda, de pagina inteira, relatando os

sonhos do menino, que ele gostava de futebol... A felicidade desse menino quando

ele viu a matéria no Correio Braziliense no dia seguinte, a recordação que isso ficou

para a mãe, você imagina? “Meu filho era um artista!”. (...) Na semana seguinte, a

mãe veio ao Hospital, foi na minha sala, me deu um abraço, abraçou a enfermeira e

abraçou todo mundo. (...) Então, o que a gente fez na verdade? Usamos nossas

habilidades de comunicação para fazer um evento. Um evento que rompeu algumas

barreiras e regras do hospital, mas que foi útil para a vida dessa criança. Ele morreu.

Morreu. Mas ele foi feliz até o último momento, sentiu que estava realizando algo,

ele sentiu que estava deixando a mãe dele bem, talvez ele não tenha morrido antes

porque ele não se permitisse. E ele estava sofrendo muito, muito! Ele estava

tomando vários medicamentos para não sentir dor e, mesmo assim, ele sentia dor. E

quando a mãe veio e abraçou a gente na semana seguinte, primeiro eu achei isso

lindo da mãe, de uma generosidade absoluta porque se fosse eu, talvez nem tivesse

voltado aqui. (...) Mas ela veio agradecer e foi muito bonito isso, porque isso marcou

muito todos os funcionários e, principalmente, a nossa equipe. Vimos que é para

isso que a gente existe. Foi meio sem querer, foi acontecendo esse momento, mas

de alguma forma a gente pensou: como podemos usar nosso conhecimento para

fazer algo por esse menino?

6.2.3.5 – Resultados:

Tabela 7: Categorias encontradas na Situação 2, Estudo Um

# Código Categoria

01 Cat. TD Tolerância Discriminada

03 Cat. DE Disposição Expectante

04 Cat. AC Audição Catártica

05 Cat. CC Compromisso Condicional

06 Cat. SC Seletividade Construtiva

08 Cat. DR Desempenho Responsável

09 Cat. TR Tomar as Rédeas

10 Cat. LP Linguagem do Paciente

11 Cat. RI Responsividade Incondicional Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Ruesch, 1980.

112

6.2.3.6 – Discussão:

Tolerância discriminada (TD): há duas situações bastante ilustrativas para a

condição de tolerância discriminada. A primeira, quando o entrevistado aponta que

não se pode vender nada no hospital, mas que se flexibiliza uma regra pelo

benefício que se pode alcançar. A segunda, diz respeito à abordagem feita ao

repórter, enfatizando a necessidade de respeito à condição fragilizada do paciente.

Disposição Expectante (DE): há uma troca comunicativa com todos os envolvidos

na exposição: a expectativa de que se o paciente não morra para que possa

acontecer a exposição e a expectativa do paciente em realizar o desejo de deixar a

mãe em condições financeiras para se sustentar depois de sua morte. Há, inclusive,

uma disposição expectante do Superintendente, que concordou em flexibilizar uma

regra.

Audição Catártica (AC): ao tomar conhecimento do fato, o Entrevistado

empreendeu uma escuta pelo grito de socorro de um menino em Cuidados

Paliativos, que, ao se preocupar com a mãe, se negava a aceitar a própria condição.

Compromisso Condicional (CC): há um empenho bilateral nessa situação. Ora, se

um menino em cuidados paliativos pode ainda se preocupar com a mãe, como não

fazer nada por esse menino? “Como podemos usar nosso conhecimento para fazer

algo por esse menino?”

Seletividade Construtiva (SC): aproveitou-se a melhor condição construída para

que algo pudesse ser feito: o menino fez desenhos, então se aproveitaram os

desenhos para se fazer uma exposição.

Desempenho Responsável (DR): “Assumir responsabilidades significa assumir

poder, mas um desempenho responsável se caracteriza pela autoconsciência, a

consideração para um grupo e a orientação para uma meta. Quem se desempenha

de maneira responsável o faz com diligência, sabedoria, tolerância e habilidade.”

(RUESCH, 1980, p. 124)

Quando tomar as rédeas (TR): no momento em que o entrevistado se viu ante a

impossibilidade de presença do paciente, tomou para si o risco de decidir.

Compreensão da linguagem do paciente (LP): a expressão lúdica se configura

como uma linguagem com potencial terapêutico.

113

Responsividade Incondicional (RI): início do relato do Entrevistado já demonstra a

presença incondicional para oferecer um conforto à consciência do paciente: “Nós

usamos nossa habilidade em comunicação, tendo sensibilidade”.

Situação 3: A equipe de médicos radiologistas percebeu que as crianças gostam

da Galinha Pintadinha. Fizeram uma “vaquinha” e compraram uma maquininha para

DVD e dão o DVD para as crianças que vão fazer tomografia: elas ficam paradas

assistindo a Galinha Pintadinha. Eles conseguem fazer o exame sem usar

anestésico; isso é escuta, sabe? E eles conseguiram reduzir em 60% o número de

uso de anestésico nos exames de imagem por conta de uma escuta. Elas gostam da

Galinha Pintadinha? Gostam, maravilha, vamos fazer um teste? Vamos. Então isso

tem essa boa vontade, isso é bacana, isso é muito bonito. No hospital tem essa

garra assim de querer ajudar essas crianças e isso muda tudo, sabe, você saber que

o outro está querendo te escutar, se tem espaço para que eu fale, que alguém

escute, então, talvez eu possa me manifestar e ajudar na minha cura, ajudar no meu

processo de cura, então se a nutricionista vai lá e percebe que a criança gosta de,

sei lá, de canja, e faz canja para a criança, então cria um vínculo, você traz coisas

que são da própria criança.

6.2.3.7 – Resultados:

Tabela 8 - Categorias encontradas na Situação 3, Estudo Um

# Código Categoria

03 Cat. DE Disposição Expectante

04 Cat. AC Audição Catártica

05 Cat. CC Compromisso Condicional

06 Cat. SC Seletividade Construtiva

08 Cat. DR Desempenho Responsável

10 Cat. LP Linguagem do Paciente

11 Cat. RI Responsividade Incondicional Fonte: Elaborado pela autora, a partir de Ruesch, 1980.

6.2.3.8 – Discussão:

Disposição Expectante (DE): há nessa situação a disposição de espera dos

bons efeitos que a música ou o vídeo de algo que causa interesse nas crianças

114

podem causar. Embora, antes disso, tenham que ter ocorrido as atitudes de

Audição Catártica (AC), de Seletividade Construtiva (SC) e de compreensão da

Linguagem do Paciente (LP), com a sensibilidade de quem se propõe a uma

escuta ativa em busca de soluções, de amenizar a condição de dor e de

enfrentamento da doença, dadas as observações constantes do que seja o universo

infantil.

As descobertas da exploração da natureza humana têm o potencial não apenas de modificar a concepção contemporânea de saúde, mas também de afetar profundamente a prática diária dos cuidados com a saúde, alterando a distribuição da responsabilidade pela saúde pessoal e a valorização dos recursos disponíveis para favorecê-la. Ela promete modificar as expectativas mútuas das pessoas que oferecem cuidados e daquelas que os procuram, ampliando e intensificando os objetivos e relacionamentos terapêuticos. (REMEN, 1993, p. 46).

A atitude de Compromisso Condicional (CC) é revelada na perspectiva do

profissional que se vê ante a condição de fazer valer o seu esforço pela melhor

situação de tratamento do paciente, bem como, revela, de ambos os interagentes –

cuidador e paciente - um Desempenho Responsável (DR) na assimilação da nova

proposta terapêutica. E, por fim, todas as atitudes somadas revelam a capacidade

de se prestar atenção no paciente, revelando a atitude de Responsividade

Incondicional (RI).

115

6.3 – ESTUDO EMPÍRICO DOIS: O COTIDIANO TERAPÊUTICO DO HCB

6.3.1 – Pesquisa de Campo: entrevistas em profundidade para análise de

conteúdo:

O objetivo deste momento do estudo é verificar que pressupostos da

Comunicação Terapêutica são praticados no tratamento das crianças.

Ele se divide em dois grupos: o grupo de Profissionais e o grupo de Mães.

Para o grupo de profissionais foram indicados para entrevista, pelo CISEP, sete

funcionários, mas somente cinco forneceram dados significativos para a pesquisa.

As três Mães que compõem o segundo grupo foram indicadas por profissional

da Enfermagem da Unidade de Internação, sem se dar o conhecimento prévio de

quem participaria.

Pelo caráter qualitativo da pesquisa, o universo pesquisado se consolida

como uma amostra de conveniência, não demandando um N quantitativo.

Os cinco entrevistados do grupo de Profissionais são médico (1), psicólogo

(1), enfermeira (2) e terapeuta (1), têm em média 3 anos e meio de trabalho no HCB,

entre 30-55 anos de idade e as entrevistas duraram em torno de uma hora e meia.

Todos leram, entenderam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido. As gravações não foram feitas sem a concordância dos entrevistados.

As Mães têm entre 30-45 anos de idade e formação entre Ensino Médio e

Ensino Superior. Os três casos de enfermidade estão na linha do cuidado da Equipe

de Onco-Hemato Pediatria.

A formulação das perguntas teve por base os pressupostos da Comunicação

Terapêutica, a partir das definições e comentários feitos por Ruesch, e requeriam

SIM, NÃO, NÃO SE APLICA como resposta e espaço para o comentário que o

entrevistado julgasse procedente, para a verificação sob a ótica da prática dos

profissionais de Saúde. A resposta PARCIAL indica que a situação apresenta a

condição do SIM para algum aspecto e NÃO para outro.

116

Prosseguiu-se ao esclarecimento de dúvidas todas as vezes que o

entrevistado não entendeu a proposição, apresentando-se a base que a formulou,

ou seja, a atitude terapêutica classificada como categoria.

As perguntas formuladas para o grupo de Mães são as mesmas dirigidas ao

grupo de Profissionais, mas com o enfoque da visão da mãe/responsável do

paciente, mas sem relação com o grupo de profissionais entrevistados.

Tomou-se o cuidado de, a todo o momento, se perguntar à mãe entrevistada

se desejava voltar ao quarto de internação para acompanhamento do filho em

tratamento, bem como, a condição de que se perguntasse sobre quaisquer dúvidas

que as perguntas pudessem suscitar.

Com a intenção de provocar maior proximidade com a situação questionada,

substituíram-se as condições impessoais das proposições pelo nome dos filhos das

entrevistadas.

6.3.1.1 – Grupo de Profissionais: resultados e discussão:

A orientação dada por Ruesch na atitude de Tolerância Discriminada é a de

que é necessário respeitar um limite na relação que se precisa estabelecer em

busca de um tratamento. Saindo da esfera da Clínica Psicológica e postulando-se

que a Comunicação Terapêutica pode ser assumida a partir do compromisso de

uma consciência comunicativa onde todos são corresponsáveis na relação

estabelecida, a pergunta (1.TD) 1. Conheço os direitos do paciente, apontou

apenas três profissionais com clareza nesse sentido. A resposta PARCIAL de P5

refere-se ao fato de que conhece somente as obrigatórias, mas afirma a

necessidade de se aprofundar.

Mas quais seriam os direitos do paciente? Aqueles relacionados às questões

deontológicas esperadas pelos profissionais que lhes oferecem tratamento?

O SUS publicou, em 2006, a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde:

O documento, que tem como base seis princípios básicos de cidadania, caracteriza-se como uma importante ferramenta para que o cidadão conheça seus direitos e deveres no momento de procurar atendimento de saúde, tanto público como privado.

117

(...) Foi elaborado de acordo com seis princípios basilares que, juntos, asseguram ao cidadão o direito básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados. 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde. 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema. 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação. 4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos. 5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada. 6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos. (BRASIL, Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, 2006).

Mas quem conhece essa Carta? E o fato de conhecê-la, garante os direitos

declarados? Se a Constituição Federal do País não tem força de lei, o que dirá um

tratado? Esses questionamentos obrigariam a uma discussão que foge à proposta

do estudo nesse momento, mas revela o desconforto das dissonâncias provocadas

pela insustentabilidade das condições de saúde no país: malversação do erário,

sucateamento dos hospitais públicos e abuso na administração dos planos privados

de saúde.

Como a realidade estudada difere bastante das outras de que se têm notícias,

volta-se o foco para o HCB, considerando-se que no universo pesquisado, três

entrevistados afirmam conhecer os direitos dos pacientes, um afirma não conhecer e

o outro, conhece parcialmente.

Ainda nesta atitude (1.TD), em relação à proposição 3.”Deixo claro o que o

paciente precisa fazer para que o tratamento alcance resultados, percebe-se que um

profissional (P1) se posiciona parcialmente frente à questão, pois menciona que

entende que sua relação com o prontuário é uma área em que ele começa a se

adaptar, dada à atividade que exerce no contexto do cuidado.

A proposição 4 inerente ainda à atitude de Tolerância Discriminada, revela

que somente um profissional identifica parcialmente a habilidade.

No tocante à Verbalização de Temas Tabu, três profissionais apresentam

dificuldades para falar sobre qualquer coisa com seus pacientes. O entrevistado P3

indica que, nessa condição, “usa o bom senso e entende que há no HCB os

profissionais certos para lidar com o que ele não alcança”.

118

Na Disposição Expectante, P4 aponta uma parcialidade para a questão,

dizendo que “a gente respeita o tempo de aceitação, mas o tratamento tem de ser

feito, é imediato. Não posso dar um tempo para o paciente entender o que é um

tratamento, senão ele morre.”

Em Compromisso Condicional, P5 argumenta o fato de a equipe de Onco-

hematologia Pediátrica atuar de forma multidisciplinar, favorecendo a interação de

todos na questão. Sua postura parcial se dá quando distingue que algo ficou

incompreendido pela equipe ou que alguma informação não tenha sido devidamente

elucidada ao paciente.

Em Seletividade Construtiva, na proposição 2, “sei como proceder com meu

paciente”, dois profissionais posicionam-se parcialmente ante a questão, pois

entendem que “precisam da ajuda de outras pessoas da equipe”, em algumas

circunstâncias.

Em Atitude Direta Não Destrutiva, um profissional afirma que pode fazer sim

o uso de palavras rudes (proposição 1) e, os demais, afirmam que não.

Ruesch não orienta a ser rude. Ele orienta que: “com este tipo de paciente, o

terapeuta deve ser direto. Tem que deixar de lado todos os enfeites, delicadezas,

racionalizações e ressentimentos. Deverá usar palavras que façam o impacto

adequado sobre o estado emocional do paciente.” (1980, p. 123-124).

Para (8.ADND) a proposição 2. “sou direto em minhas explicações, não faço

rodeios”, P4 parece apontar uma incoerência, porque na Atitude Direta Não

Destrutiva, ela afirma: “a gente respeita o tempo de aceitação, mas o tratamento

tem de ser feito, é imediato”, mas na de Disposição Expectante: “Não posso dar

um tempo para o paciente entender o que é um tratamento, senão ele morre.”

Para a compreensão da Linguagem do Paciente, P5 apontou que sua

dificuldade está entre os colegas de trabalho, mas que se faz entender com os

pacientes.

E, finalmente, na atitude de Responsividade Incondicional, dois

profissionais se posicionam com a resposta não, mas com o caráter da atitude de

119

desempenho responsável: P3: “Nem que seja para dizer: eu não sei.” E P4: “Não

tenho resposta para tudo”.

6.3.1.2 – Grupo de Mães: resultados e discussão:

Os resultados encontrados no grupo de Mães foram:

A pergunta (1.TD) proposição 2: “percebo que não há preconceito nessa

relação”, direcionada somente às mães, busca aferir não só a Tolerância

Discriminada inerente à atitude, mas abarca a Política Nacional de Humanização

quanto às Diretrizes Gerais para implementação da PNH nos diferentes níveis de

atenção: “sensibilizar as equipes de saúde em relação ao problema da violência

intrafamiliar (criança, mulher e idoso) e quanto à questão dos preconceitos (sexual,

racial, religioso e outros) na hora da recepção e dos encaminhamentos.” (BRASIL,

Humaniza SUS, 2004, p. 13).

Ainda em (1.TD), mas proposição 3: “fica claro o que preciso fazer para que o

tratamento alcance bons resultados”, M3 esbarra na dificuldade de entender o que

se passa com a filha:

Mais ou menos. A gente pergunta: “Doutor, o que é exatamente o osteosarcoma”? Ele não esclarece o que é exatamente. Só fala assim: “Vamos fazer o tratamento, começar com a quimioterapia, depois a cirurgia, aí vão surgindo os resultados”, mas esclarecer assim, exatamente, o que é mesmo, ele não esclareceu.

Na proposição 4 de (1.TD): “percebo que sabem distinguir que o momento

exige severidade ou que exige um estímulo amigável na condução do tratamento do

meu filho”, M3 apresenta um desconforto com a forma pela qual o médico verbaliza

a situação: “Não, ele é mais severo. Joga na realidade mesmo, porque às vezes a

gente quer ouvir uma coisa, mas eles tocam mesmo no ponto da doença que está

acontecendo.”

Em Verbalização de Temas Tabu, M3 aponta que percebe que a equipe de

Oncologia se mostra mais preparada para lidar com a situação, mas que o

ortopedista que atende a filha, não.

120

Eu diria que com o ortopedista, não. Com a oncologista, sim. Ela já é mais de conversar, explicar as coisas, mas o ortopedista não. (...) Ele não é de falar. Ele é de escrever e falar para a gente fazer as coisas e pronto. A oncologista, não, é de pouca escrita e de mais conversa. Ela senta com a gente, esclarece, pergunta se a gente tem alguma dúvida, essa é a diferença.

Na proposição 1 da atitude de Audição Catártica: “sinto que o médico ouve

atentamente os relatos que faço sobre o estado de saúde do meu filho”, M3

apresenta uma certa compreensão em relação ao reivindicado por ela nas atitudes

de Tolerância Discriminada e de Verbalização de Temas Tabu:

O ortopedista não. A oncologista, sim. Eu acho que é porque ele é só ortopedista, no caso dele, é mais a cirurgia, então, como a doença dela é tratada mais com oncologista, eu até entendo o lado dele, porque é assim, fica mais na parte de ver os resultados do exame e na parte da cirurgia. E ela já é mais na base da conversa.

A diferença de postura do médico ortopedista em relação à da oncologista

parece ficar mais patente quando a proposição “faz perguntas sobre o estado de

saúde de meu filho quando não entende algum ponto do meu relato” (4.AC), M3,

com sibilância negativa, também verbaliza que o ortopedista não faz perguntas, mas

que a oncologista sim.

A resposta de M3 para a questão formulada para a atitude Compromisso

Condicional: “explicam o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o

tratamento” parece revelar uma incoerência dos argumentos anteriores, pois afirma

que nenhum dos dois médicos explica o que cada pessoa envolvida deve fazer

durante o tratamento.

Em Seletividade Construtiva, M3 identifica apenas o cumprimento da

anamnese protocolar de início de atendimento: “Não, não teve, foi só sobre a

doença, não sobre ela. Porque eles fizeram tipo uma biografia dela, desde que

começou a doença até agora, mas só sobre a doença De como a gente chegou

aqui, de como aconteceu. Só sobre isso aí.”

Em Desempenho Responsável, M2 se manifesta com relação a Técnicos e

Enfermeiros:

121

“Mais ou menos. Têm uns que chegam novos aqui que estão em treinamento e a gente confia nos mais antigos. Nos mais novos eu já peguei erro de colocar uma coisa de um paciente para outro, se a gente não estiver atenta, né? Eu falei: olha esse remédio não é dele não!, mas eu acho que é por causa de treinamento mesmo.”

A proposição feita em quando Tomar as Rédeas: “sabem tomar as ações

preventivas para o tratamento do meu filho”, M2 aponta que, com relação aos

enfermeiros, eles ficam na dependência dos médicos: “Enfermeiro não faz isso não.

Eles ficam dependendo totalmente do médico.”

Em relação à proposição “compreendo tudo o que me falam”, da atitude de

compreensão da Linguagem do Paciente, M2 e M3 apontam um dado significativo

com relação a enfermeiros/técnicos e médicos, respectivamente:

M2: “Nem sempre. Quando eles têm muita criança, às vezes, não dão conta. Uma vez meu filho ficou 40 minutos com o cateter sem medicamento, porque eles estavam muito ocupados com as outras crianças. Briguei com eles, porque eles mesmos me orientaram a não deixar sem soro na veia, depois que acabasse o medicamento, porque senão entope o cateter e é mais uma cirurgia de retirada e recolocação em outro lugar. Não compreendi porque eles me orientaram a pedir que lhes avisassem sobre o fato, se não atenderam conforme eles orientaram. A enfermeira chefe me deu razão, mas a técnica não gostou de eu ter brigado. Me chamou de estressada.”

M3: Nem sempre. Às vezes, tenho que fazer a mesma pergunta duas ou três vezes para eu entender.

Contudo, de uma maneira geral, os relatos livres revelaram satisfação com o

atendimento oferecido pelo HCB:

Olha, eu sou fã desse hospital. Eu acho que é importante a forma humana dos funcionários, a forma como eles interagem. Os enfermeiros, quando vão trocar de turno, passam de salinha em salinha para informar como cada paciente está, falam sobre o remédio, falam se a criança está triste, se a mãe saiu, se o pai ficou, para que a enfermeira do próximo turno saiba como está deixando o paciente. A gente não é só um número aqui.

Aqui, sofrimento não tem. Se todo hospital usasse o HCB como exemplo, a saúde pública seria totalmente diferente, porque desde a entrada até a internação, tudo aqui dentro, os profissionais, tudo é excelente. Desde os seguranças, lá na portaria, os vigilantes. Esse hospital aqui é excelente, excelente. Eu dou graças a Deus de a

minha filha ter entrado aqui dentro, porque foi ótimo, excelente.

A seguir, é possível uma visualização panorâmica de todas as respostas

obtidas:

122

Tabela 9 - Resultados do Estudo Dois

Perguntas conforme a Atitude Terapêutica

GRUPO PROFISSIONAIS (N=5) GRUPO MÃES (N=3)

SIM NÃO Ñ SE

APLICA PARC. SIM NÃO PARCIAL

1.

TD

1. Conheço os direitos do paciente/ Percebo que meu filho é respeitado.

P1/P2/P4 P3 P5 M1/M2/M3

2. Percebo que não há preconceito nessa relação. (Mães)

M1/M2/M3

3. Deixo claro o que o paciente precisa fazer para que o tratamento alcance resultados/ Fica claro o que preciso fazer para que o

tratamento alcance bons resultados.

P2/P4/P5 P1 P3 M1/M2 M3

4. Sou capaz de distinguir quando o momento exige severidade ou quando exige

um estímulo amigável na condução do tratamento/ Percebo que sabem distinguir que o momento exige severidade ou que

exige um estímulo amigável na condução do tratamento do meu filho.

P2/P3/P4 P1 P5 M1/M2 M3

2.

VT:

Posso falar sobre tudo com meu paciente, sem receio, sem vergonha/ Posso falar sobre

tudo sobre meu filho, sem receio, sem vergonha.

P1/P2/P4 P3 P5 M1/M2 M3

3. D

E:

Respeito o tempo necessário ao meu paciente para que compreenda as

implicações de seu tratamento/ Sinto que respeitam o tempo necessário que tenho

para compreender o que se passa no tratamento do meu filho.

P1/P2/P3 P4/P5

M1/M2/M3

4.

AC

:

1. Ouço atentamente os relatos sobre o estado de saúde do meu paciente/1. Sinto

que o médico ouvem atentamente os relatos que faço sobre o estado de saúde do

meu filho

P1/P2/P3 P4/P5

M1/M2 M3

2. Faço perguntas sobre o estado de saúde de meu paciente, quando não entendo

algum ponto do seu relato ou do relato de seu responsável/ 2. Fazem perguntas sobre o

estado de saúde de meu filho, quando não entende algum ponto do meu relato.

P1/P2/P3 P4/P5

M1/M2 M3

5. C

C:

Explico o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento/ Explicam o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o

tratamento.

P2/P3/P4 P1 P5 M1/M2 M3

6. S

C:

1. Interesso-me em conhecer mais meu paciente/ 1. Interessam-se em conhecer

melhor o meu filho.

P1/P2/P3 P4/P5

M1/M2 M3

2. Sei como proceder com meu paciente/2. Sabem como proceder com meu filho.

P2/P3/P4 P1/P5 M1/M2/M3

7.

AD

ND

:

1. Posso fazer uso de palavras rudes em alguns momentos/ 1. Nunca fizeram uso de

palavras rudes P2

P1/P3/P4 P5

M1/M2/M3

2. Sou direto em minhas explicações, não faço rodeios/ 2. São diretos em suas

explicações, não fazem rodeios. P3 P1/P2/P4 P5 M1/M2/M3

8.

DR

: Sinto que meu modo de agir com os pacientes gera confiança/ Confio totalmente

em quem trata meu filho

P1/P2/P3 P4/P5

M1/M3 M2

9. T

R:

Sei tomar as ações preventivas para o tratamento de meu paciente/ Sabem tomar as ações preventivas para o tratamento do

meu filho

P1/P2/P3 P4

P5 M1/M3 M2

10.

LP:

1. Faço-me compreender em minhas interações./ 1. Compreendo tudo o que me

falam.

P1/P2/P3 P4

P5 M2/M3

2. Percebo quando meu paciente ou seu responsável não entendeu alguma

explicação dada./ 2. Pergunto algo que não compreendo

P1/P2/P3 P4/P5

M1/M2/M3

11.

RI:

Nunca deixo meu paciente ou seu responsável sem uma resposta./ Nunca me

deixam sem uma resposta P1/P2/P5 P3/P4 M1/M2/M3

Fonte: Elaborado pela autora. Compilação dos dados aferidos nas entrevistas com Profissionais (N=5) e Mães

(N=3)

123

6.3.1.3 – Considerações Gerais:

Algumas respostas podem indicar que há uma postura de desejabilidade

social, de um caráter moral projetado, ou seja, o profissional responde conforme o

que se espera dele naquele contexto, não refletindo exatamente o que vivencia na

prática. Goffman explica:

A sociedade está organizada tendo por base o princípio de que qualquer indivíduo que possua certas características sociais tem o direito moral de esperar que os outros o valorizem e o tratem de maneira adequada. Ligado a este princípio, há um segundo, ou seja, de que um indivíduo que implícita ou explicitamente dê a entender que possui certas características sociais deve de fato ser o que pretende que é. Consequentemente, quando um indivíduo projeta uma definição da situação e com isso pretende, implícita ou explicitamente, ser uma pessoa de determinado tipo, automaticamente exerce uma exigência moral sobre os outros, obrigando-os a valorizá-lo e a tratá-lo de acordo com o que as pessoas de seu tipo têm o direito de esperar. (1985, p. 21).

Há ainda o indivíduo que acha que se comunica ou que entende de

comunicação. Haja vista o fenômeno identificado no Estudo 1, que apontou a

demanda por folders e cartazes, revelando a “noção de entendimento” de uma

pretensa eficácia da comunicação.

Por outro lado, a equipe de Onco-hematologia Pediátrica é preparada para a

técnica “comunicação de notícias ruins” e “comunicação médico-paciente”

proveniente de um estudo realizado em nível de doutorado por um dos profissionais

do HCB, para atender a demanda identificada pelas equipes iniciais do Hospital de

Base/Hospital de Apoio, que foram cedidos para o Hospital da Criança:

“(...) Começou a surgir dentro da equipe mãe falando “eu não sei nada”, “eu não sei, o

médico não me explicou o que meu filho tem”, sendo que a gente tinha falado. Daí

começaram as nossas angústias sobre “como é que se está fazendo essa

comunicação?”. Então a comunicação não é só falar, tem que ter uma compreensão.

A profissional, vendo a demanda do serviço se dispôs a estudar mais a fundo, porque

envolve comunicação de má notícia com muito maior frequência do que numa

consulta pediátrica normal, exigindo um preparo da equipe, um preparo pessoal. A

partir daí, nos dedicamos ao estudo da comunicação: comunicação de má noticia e o

Cuidando do Cuidador, porque é uma coisa pesada para a equipe como um todo.”

No entanto, essa postura se restringe unicamente à equipe de Onco-

hematologia do HCB.

124

Uma comunicação organizacional integrada demanda a internalização por

todos da incumbência de uma comunicação que se faça terapêutica, em todos os

níveis de interação e circunstâncias, não se restringindo às ações clínico-

hospitalares.

A Comunicação Organizacional Integrada é a resposta que passa a ser uma

exigência de consolidação abrangente dessa comunicação terapêutica.

Marchiori advoga:

Ao pensarmos nas organizações de hoje, surge naturalmente a preocupação com a gestão estratégica da comunicação. (...) Significa orientar, criar e cultivar relacionamentos, por meio da interação social. (...) A nova exigência é olhar para além das estruturas, tendo o foco na análise dos processos. Neste sentido, considerar o contexto de cada organização é uma postura fundamental. Trabalhar sua dimensão comunicativa é oportunizar o desenvolvimento e a sustentabilidade das organizações. (2008, p. 28).

Quanto aos fluxos comunicacionais, observou-se uma falha na comunicação

entre equipes: relatou-se um caso em que uma criança estava internada para

procedimentos de quimioterapia e a central de consultas ligou para a mãe da criança

a fim de saber o motivo pelo qual a criança não comparecera à consulta médica.

Noutro caso, uma médica prescreveu a internação para a criança, mas a equipe de

recepção da Internação alegou leito insuficiente, tendo de voltar atrás porque a

médica sabia da existência do leito para a criança ser internada.

Kunsch aponta a dificuldade de se conseguir estabelecer uma linearidade

nesses fluxos que se estabelece nas intrincadas redes relacionais da organização:

(...) Trata-se de uma rede relacional entre indivíduos, departamentos, unidades e organizações. Se analisarmos profundamente esse aspecto relacional da comunicação do dia a dia nas organizações, interna e externamente, perceberemos que elas sofrem interferências e relacionamentos variados, dentro de uma complexidade difícil até de ser diagnosticada, dado o volume e os diferentes tipos de comunicações existentes, que atuam em distintos contextos sociais. (2003, p. 71).

(...) Vale também acrescentar que não é pelo fato de existir uma comunicação formalizada ou sistematizada que todos os problemas de uma organização estão ou serão resolvidos. (2003, p. 73).

A perspectiva, porém, do Modelo Relacional de Schramm, parece coadunar

com a perspectiva da Comunicação Integrada, uma vez que o “campo de

125

experiências” definida por ele é o mesmo que se estabelece nas relações

interpessoais e intergrupais do fazer das organizações e dos contextos sociais e

econômicos em que se inserem. Quantos mais inseridos estiverem os interagentes

nesses “campos de experiências”, maior a possibilidade de minimização dos

desencontros de fluxos.

Schramm entendia a comunicação como uma relação interativa, que se constrói através da troca de informações. Todos participam ativamente desse processo. (...) Fonte e destino estão inseridos num campo de experiências e o papel da mensagem é ligar os dois campos, impondo um feedback pela bilateralidade instituída na interação. (...) A eficiência da comunicação vai depender do grau de intersecção dos “campos de experiência”. Quanto maior o conjunto de experiências compartilhadas entre o comunicador e o receptor, mais fácil será codificar e decodificar a mensagem. (DIAS, p. 59-64 In: PENA, 2012).

Infere-se ainda, que os relatos apresentados por M3 acerca do modo distante

de atendimento do ortopedista em relação ao da oncologista, longe de serem

negligenciados, precisam considerar o dado temporal de tratamento, que pode ter

influenciado na dificuldade de interação com o ortopedista. A filha estava em

tratamento havia apenas um mês. A M1 há cinco meses e M2, com uma recidiva,

depois de dois anos e meio de tratamento no HCB.

A análise feita desenha a perspectiva de uma comunicação organizacional

integrada pela filosofia de uma comunicação terapêutica, pois indica nas entrevistas

colhidas, possibilidades férteis para a construção desse paradigma.

6.3.2 – Observação Semiparticipante:

A observação semiparticipante foi realizada na Unidade de Terapia

Endovenosa – UTE, previamente definido no projeto de pesquisa, em função da

fragilidade das comunicações interpessoais que poderiam ali ser reveladas.

A inserção no campo se deu de forma programada, com esclarecimentos da

Coordenadora da UTE, que relatou os tratamentos oferecidos em cada dia da

semana, sem quaisquer direcionamentos sobre qual o melhor dia a ser observado.

Houve apenas o comentário do ciclo de aplicação da quimioterapia, que poderia

resultar em dias mais “tumultuados” de observação, em razão do volume de crianças

em tratamento. Foram quatro entradas em campo: a manhã de uma terça-feira ,

126

onde foram observados os casos de transfusão sanguínea e de aplicação de

imunoglobulina (UTE2); a tarde de uma quarta-feira, para a quimioterapia (UTE1); a

manhã de uma sexta-feira, para as crianças que controlam curva hormonal (UTE1) e

a manhã de uma segunda-feira, para os casos de crianças com deficiência MPS –

mucopolissacaridose (UTE2).

O objetivo da observação era identificar se as interações comunicacionais ali

estabelecidas possuíam algum caráter terapêutico.

As situações foram observadas com a concordância dos pacientes e de seus

acompanhantes, que assinaram o Termo de Assentimento (Anexos), depois de lido

e esclarecidos quaisquer questionamentos inerentes à pesquisa.

Os relatos serão reproduzidos sob a ótica da pesquisadora, em primeira

pessoa, a fim de preservar as significações apreendidas.

Serão apresentados apenas quatro relatos em cada categoria, entendidos

como mais representativos sobre:

1. Ambiência: dados e impressões acerca do local observado;

2. Procedimentos: dados observados acerca dos procedimentos ali

estabelecidos;

3. Pessoas: interações sociais ocorridas e

4. Comunicação Terapêutica: atitudes observadas de comunicação com

potencial terapêutico.

A dissecação que se apresenta proporcionará a intercomplementaridade de

sentidos. Um procedimento relatado irá retratar, por exemplo, alguma ambiência, e

assim por diante, na sucessão das observações.

6.3.2.1 – Ambiência: resultados:

Observo as placas de acrílico situadas no lado direito da porta de acesso à

UTE 1 com os nomes das crianças em tratamento. As poltronas também são

identificadas. São 10 ao todo. Há duas cadeiras desocupadas.

127

Saio à varanda e observo um cartaz advertindo que a porta de vidro não pode

ser aberta, para evitar que insetos entrem no recinto. Em toda a comunicação

observada há o logotipo do Hospital da Criança e do SUS, lado a lado.

Hoje é aniversário do HCB e há um cartaz na rede de acrílicos mostrando

que, durante toda a semana, haverá comemorações, a começar com uma

apresentação musical no hall do hospital, apresentação de eventos científicos

e apresentação da Orquestra Sinfônica na Abrace.

Há três displays de antisséptico para mãos e um com sabonete líquido. Um

dos displays é móvel. Os outros dois são fixos na parede da bancada central

da UTE. Há duas pias para lavagem de mãos. O banheiro é de uso comum.

6.3.2.2 – Ambiência: discussão:

O Hospital da Criança de Brasília tem como uma das premissas de

Humanização a ambiência. Os biomas do Brasil retratados pelas alas do Hospital

também estão representados nas UTEs, mas o que chama a atenção são as

particularidades do momento. O período observado contemplava a introdução do

espírito natalino, por meio de objetos que o representam: meias, carinhas de Papai

Noel, bolas, guirlandas, harmoniosamente distribuídos.

Outros elementos, os que precisam efetivamente constituir a Unidade,

aparecem na observação de campo: pias, diplays com antisséptico para as mãos,

cadeiras, bombas de infusão, bancada central para gerenciamento dos

procedimentos, lanche, banheiro, acontecimentos em paralelo e, claro, as pessoas

que traduzem a atmosfera psicológica da UTE com suas vivências emocionais e

racionais.

Os elementos comunicacionais que devem cumprir o papel de informar aos

vários públicos a dinâmica do ambiente, também se fazem presentes.

Tais elementos contribuem para o estabelecimento da cultura própria do

ambiente, gerando, pela ótica da comunicação terapêutica:

Tolerância Discriminada: fica estabelecido que os dispositivos de higiene e

de controle de infecção naquele ambiente precisam cumprir a sua função.

128

Disposição Expectante: porque os profissionais de saúde esperam que o

funcionamento do ambiente aconteça a partir do domínio do significado de cada

elemento do contexto da UTE;

Compromisso Condicional: porque é uma relação de consciências imersas

num problema comum. Ambos, paciente e profissional, sabem da interdependência

de suas ações para que se estabeleça o tratamento.

Desempenho Responsável: quando ambos concretizam o que se lhes

cabem.

Nesse sentido, ajuíza Kunsch:

quando se fala em comunicação organizacional, temos que primeiramente pensar na comunicação humana e nas múltiplas perspectivas que permeiam o ato comunicativo no interior das organizações. Esse é a nosso ver o ponto de partida. (...) Temos que pensar na comunicação entre as pessoas e que os seres humanos não vivem sem se comunicar. (2008, p. 179)

6.3.2.3 – Procedimentos: resultados:

Observo uma enfermeira digitando em Evoluções algo sobre o procedimento

aplicado a uma das crianças. Parece padrão porque ela copia um pedaço de

um arquivo e cola numa janela, alterando horário e medicamento. Há

observação sobre a verificação dos sinais vitais.

Observo outro atendimento: a enfermeira conversa com a menina,

perguntando como ela está. Enquanto isso, prepara o material para achar a

veia da menina. O contar até três é o procedimento de acordo entre as partes:

o três representa que a agulha vai entrar na veia. A menina observa,

conversa com a mãe e acalma a mãe. Depois diz que não doeu a entrada da

agulha, que o que dói é quando a enfermeira precisa ajustar o mecanismo na

mãozinha dela. Ela diz que também tem medo que a enfermeira perca a veia.

Mas a mãe logo lhe diz que isso não aconteceu.

A enfermeira me explica a presença das colegas de uniforme cinza, dizendo

que vêm do Hemonúcleo especialmente para puncionar as crianças. Explica

que se houver medicação a ser tomada antes do sangue, as enfermeiras do

HCB preparam o paciente, para, só então, depois, receberem o sangue. Se

129

não houver medicamento antes do sangue, elas monitoram os sinais vitais e

acompanham o paciente.

Uma mãe comenta que, de três em três meses, o HCB telefona para ela para

saber sobre o atendimento que recebeu dos funcionários do HCB. De todos.

Digo que quem faz isso é a Ouvidoria e ela confirma quando ouve a palavra.

6.3.2.4 – Procedimentos: discussão:

Observou-se que as enfermeiras da UTE não precisam falar alto para serem

ouvidas entre si. Isso colabora com o item anterior – ambiência -, pois os aparelhos

apitam, as crianças choram ou cantam, os televisores estão ligados, mas não

concorrem para que os procedimentos sejam negligenciados. Há comportamentos

estabelecidos pela vivência da necessidade, como a mãe que auxilia a enfermeira a

controlar o tempo de medicamento aplicado ou ainda de avisar que a bolsa de soro

completou seu ciclo.

Outro cuidado de destaque é o papel desempenhado por cada profissional no

conjunto dinâmico de ações, incluindo-se aí, o papel do voluntário, que frequenta a

UTE e distrai as crianças contando estórias, propondo jogos ou somente

conversando com crianças e seus responsáveis. Mas as pessoas circulam

livremente pela UTE para que cada coisa aconteça como se espera dos

procedimentos inerentes, quer seja médico, enfermeiro ou pessoal da limpeza.

O médico se apresenta como o verificador das práticas: lê prontuários, revisa

as anotações feitas pela Enfermagem e estabelece algumas interações com os

pacientes.

Os mecanismos formais de comunicação estão presentes: prontuários são

atualizados a cada novo movimento necessário ao tratamento.

Confirmou-se, por relato espontâneo, o procedimento de verificação das

práticas por meio da Ouvidoria ativa, quando, por meio de telefonemas, os

responsáveis respondem perguntas verificadoras.

130

6.3.2.5 – Pessoas: resultados:

Duas enfermeiras conversam sobre uma prova que uma delas fez no Curso

de Enfermagem ontem e que não caiu o que estudou: Humaniza SUS. Ela

informa que caiu sobre violência de idoso, da criança e que não foi cobrado

nada sobre classificação de risco, que ela também estudou. A outra comenta

que a prova dela estava super fácil.

Um voluntário se aproxima de um menino de uns 8 anos e estende a mão

para um cumprimento desses em que se batem as mãos no ar, fecham-se os

punhos e se chocam novamente num encontro. O menino ri com o

cumprimento.

Uma encarregada da limpeza observa que um menino está “fortinho” e

conversa com o pai. O pai diz que é o medicamento que o deixa inchado. Ela

conta que se lembra dele, menor, tomando medicamento na outra sala e

pedindo para comer pizza. A enfermeira chega para verificar os sinais vitais

do menino fortinho e ele relama que quer ir com a mãe, pois sabe que a mãe

está próxima de onde está o pula-pula inflável, que ele tanto quer ir. Ele

continua dizendo que quer ir ficar com a mãe. O enfermeiro novo se aproxima

para observar. O menino declara:

- Eu vou dar um perdido no senhor, Pai! Todos riem. A mãe chega e ele abre

um sorriso:

- Mãe, eu te amo! A enfermeira relata o perdido que o menino quer dar no pai

e pergunta para a mãe se ela já sabe o que o menino quer. A mãe pergunta:

- O que você está querendo? Pergunta, abraçando o filho. Ele responde:

- Enroladinho com salsicha!

Uma menina aparentando ter uns 14 anos está de batom rosa e todos a

elogiam. Ela comenta sobre um procedimento que fez hoje, acordada, sem

sedação. O assunto agora é batom vermelho.

6.3.2.6 – Pessoas: discussão:

A vida acontece a despeito do que impõe a doença. Os cumprimentos ou a

falta deles revelam os ânimos; mães interagem com outras mães, quer seja para

131

saber sobre o que se passa com outra criança, quer seja para saber como se tinge o

cabelo de rosa. Há enfermeiras mais solícitas, há enfermeiras mais dedicadas, mas

em nenhuma delas pareceu ausente o compromisso e a competência técnica que se

propuseram a oferecer. Haja vista a condição de verificação de aprendizagem ainda

em curso de duas delas. A encarregada pela limpeza estabelece a linha cronológica

que sua memória reserva sobre um dos pacientes. O batom rosa continua

enfeitando a boca da menina.

Silva (1996, p. 84) relata que “as diferenças no ambiente geram diferentes

reações emocionais”. Assim, o ambiente formal em relação ao informal, vai gerar

“uma relação mais superficial em comparação ao informal”; o ambiente quente é

mais acolhedor e, portanto, “tendemos a permanecer no ambiente quente”.

Mantenhamos as distâncias nos espaços públicos, “ao contrário do que acontece no

privado”

E, com relação à distância e proximidade, ela descreve:

Quando estamos num lugar pequeno por necessidade, como um elevador, aumentamos a distância psicológica do que acontece à nossa volta. Inconscientemente, desumanizamos, olhamos menos, diminuímos os movimentos

corporais e falamos pouco. (SILVA, 1996, p. 84).

Ao apontar essas condições e relacioná-las ao ambiente hospitalar, Silva

(idem) menciona o centro cirúrgico como “frio, fechado, formal, não familiar ao

paciente e, muitas vezes, exige uma proximidade forçada”. E refere-se à Unidade de

Terapia Intensiva (UTI) “como lugar que eleva o nível de tensão das pessoas que ali

se encontram e trabalham.”

Contrário a toda essa relação de efeito do ambiente sobre as pessoas,

observou-se que as interações que se estabelecem na dinâmica da UTE criam

proximidades até mesmo familiares: “Ela (a enfermeira) conta que se lembra dele,

menor, tomando medicamento na outra sala e pedindo para comer pizza”.

O frio dá lugar ao calor: “- Mãe, eu te amo!” ou “Um voluntário se aproxima de

um menino de uns oito anos e estende a mão para um cumprimento desses em que

se batem as mãos no ar, fecham-se os punhos e se chocam novamente num

encontro. O menino ri com o cumprimento.”

O ambiente formal dá lugar ao informal. Grando explica por que:

132

É necessário que compreendamos que os processos de comunicação informal são fato natural em toda e qualquer organização dita sadia. A morte deste sistema tornaria impraticável o desenvolvimento do espírito de equipe, das motivações e da identificação do pessoal com a empresa, pois como argumenta Balcão e Cordeiro (1979, p. 258), algumas autoridades no assunto chegam até a sugerir que as organizações pereceriam, não fosse a rede informal a preencher as lacunas deixadas pela rede formal. (...) A rede informal (...) se dá em grande parte por palavras e observações. Isto quer dizer que, se há contato entre as pessoas, possivelmente ter-se-á uma rede ativa, em plena cooperação, que estará buscando satisfazer as necessidades pessoais como a de interagir com os outros e contrabalançar os efeitos do tédio ou da monotonia, tentar influenciar o comportamento dos outros e ser uma fonte de informação relacionada ao trabalho, que não está disponível pelos canais formais. (GRANDO, 2008, p. 230-232).

6.3.2.7 – Comunicação Terapêutica: resultados:

Qual seria o ponto de saturação da pesquisa ao se chegar nesse momento?

Situações foram descritas e esquadrinhadas com o objetivo claro de se identificar

como a comunicação terapêutica é possível nas realidades de frágeis cuidados ao

Ser Humano adoecido.

As observações revelam a particularidade de um canto destinado a terapias

medicamentosas para doenças crônicas. Mas, que substâncias outras podem

integrar esses medicamentos para que a dor física ou psicológica possa ser

suavizada?

Algumas situações revelaram o potencial terapêutico que se pode estabelecer

nas interações comunicacionais. De todas experienciadas, uma foi escolhida para

ilustrar a essência da Comunicação Terapêutica:

O Pai Solteiro

Um menino de sete anos encontra-se confortavelmente ajustado à cadeira,

esperando que o procedimento de tratamento com imunoglobulina comece. Ora

levanta a cabeça para ver o que passa na TV, ora olha para a mãe que está ao seu

lado. Ele é quieto.

Bem encostado ao menino, encontra-se Ted, um urso de pelúcia a quem ele

chama de filho.

Peço permissão à mãe para acompanhar o procedimento. Ela assente.

133

No entanto, o procedimento não começa com o menino. A enfermeira,

cuidadosamente, simula a aplicação de medicamento no bracinho do urso. O

menino diz ao boneco:

- Isso, filho, igual ao papai.

A enfermeira pergunta agora se pode aplicar na outra ponta do gatilho de

mangueiras. Ela coloca a agulha no bracinho do urso e o menino continua

estimulando o “filho”.

A enfermeira, então, pergunta ao menino se ele deseja continuar aplicando o

medicamento no Ted. Ele diz sim e ela entrega-lhe uma seringa sem agulha. Ato

contínuo, a enfermeira avisa à enfermeira-chefe que Ted já está puncionado.

Aproximo-me do menino e ele continua brincando de aplicar injeção no gatilho

do braço do ursinho de pelúcia. O menino beija o boneco. Sua mãe dialoga,

animada, com a mãe da cadeira vizinha:

- Ele é pai solteiro! E o menino confirma:

- Sou pai solteiro!

A enfermeira lhe pergunta se não é trabalhoso ser pai solteiro e ele diz que

não. Ele conversa o tempo todo com Ted, inteiro na fantasia de ser o pai do ursinho

de pelúcia.

A fome, então, lhe desvia a atenção de Ted e a mãe lhe oferece iogurte. A

enfermeira empresta seu chaveiro de urso com uma luzinha acesa. O menino olha e

mostra o chaveiro ao filho, como se lhe oferecesse um brinquedo.

Começa, enfim, o procedimento do pai, mas ele tem Ted ao seu lado.

6.2.3.8 – Comunicação Terapêutica: discussão:

A disposição expectante criada pelo menino para seu filho parece apontar a

forma como ele deseja enfrentar o que lhe espera. A força que ele dá a Ted é a

força que ele mesmo busca ter.

A enfermeira, em seu desempenho responsável, sabe que a simulação de

aplicação de remédio na “veia” do urso de pelúcia, transfere ao menino a condição

de cumplicidade, de espelho.

134

A confirmação de que Ted está puncionado, revela a disposição expectante

que ela também cria para que o menino consiga receber o medicamento sem medo,

sem ansiedade, sem muito sofrimento.

Ramos explica que “um estudo evidencia que o paciente, ao compreender

seu processo individual e atribuir-lhe um significado simbólico, sente-se aliviado e

apresenta mudanças favoráveis tanto em seu estado de humor como em sua

capacidade de resiliência”. (2006, p. 18)

“Isso filho, igual ao papai” evidencia a audição catártica necessária à

aceitação de sua própria condição, bem como a responsividade incondicional de

ambas as companhias: pai e “filho”, na cumplicidade da mesma circunstância, ainda

que uma seja imaginária.

A UTE não é apenas o local onde se aplicam as quimioterapias, as

imunoglobulinas, as injeções e trocas de sangue. Ela se mostra como um centro de

cura, de auxílio e de apoio.

Como traduz Remen:

essa colaboração flexível é um relacionamento que reconhece as forças individuais e que está atenta à direção individual. Nesse relacionamento, os profissionais tratam honesta e deliberadamente por meios que reconheçam a total humanidade do paciente, assim como a sua própria; meios que admitam o potencial dos outros e favoreçam sua integridade, autonomia e crescimento. (REMEN, 1993, p. 216).

Assim, a entrada em campo, durante o período observado, a despeito de toda

fragilidade inerente à função que se destina, confirma que o ambiente é construído

por relações comunicacionais com potencial terapêutico.

Até mesmo porque há uma interatividade das demais áreas do HCB para que

o fluxo planejado de funcionamento se cumpra.

135

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo primeiro, de se mapear os fluxos comunicacionais do HCB com

vistas à comunicação terapêutica, deu lugar à verificação do campo comunicacional

ali vivenciado, para que se pudesse, então, identificar as atitudes comunicacionais

terapêuticas no conjunto de ações estabelecidas como tratamento para as crianças.

A mudança decorreu da constatação de que os comportamentos comunicacionais

estão, ainda, em processo de estabelecimento, de planificação de práticas e, não

justificando, portanto, uma insistência na questão, pois não permitiria um retrato

fidedigno da realidade. Os passos a trilhar passaram a ser, então, identificar o

cenário comunicacional e verificar se os pressupostos da comunicação terapêutica

já se faziam ali inerentes.

O retrato 3X4 que se apresenta nessa dissertação elimina as paisagens do

campo pesquisado, mas guarda o potencial de outras revelações. Nos dois estudos

realizados buscou-se esquadrinhar objetivamente as questões de pesquisa

propostas em cada um.

O Estudo Um demonstra, essencialmente, a percepção de que a

Comunicação é compreendida e assumida pelos setores que têm a incumbência de

pensá-la globalmente, como processo que permeia a todas as ações cotidianas do

HCB, afetando a todos e, por isso, exigindo que se estabeleçam logo linhas

estratégicas de ação para as funções assumidas por todo o organograma

institucional.

Ainda dentro do Estudo Um, as análises documentais, as entrevistas em

profundidade e a análise sobre Visão, Missão e Valores do HCB revelaram que

alguns funcionários estão imbuídos do a priori definidor da natureza do HCB: uma

organização hospitalar, que busca oferecer saúde de excelência em atenção

pediátrica especializada e, transpondo, muitas vezes, suas funções burocráticas ou

funcionais para favorecer comportamentos terapêuticos.

Isso é possível a partir da formulação de uma consciência comunicativa,

percebida pela realidade que ali se impõe: a de se constituir um local de

relacionamentos saudáveis, uma vez que “o ato de perceber um mundo direciona a

consciência”. (MERLEAU-PONTY apud DUARTE, p. 47).

136

As atitudes terapêuticas apontadas nos relatos das práticas analisadas no

Estudo Um podem ser questionadas sob o pretexto de serem prescritivas, indicando

que todo comportamento pode abarcar uma comunicação com potencial terapêutico.

Sim, pode. Afinal, as relações interpessoais são repletas de possibilidades

interacionais e o campo de experiências compartilhado pode conformar uma

mentalidade que se proponha terapêutica, pois o processo comunicacional que se

pretende exitoso, exige uma corresponsabilidade por essa efetividade, envolvendo

aí, para além dos mecanismos de transmissão, as variáveis humanas de humor, de

reflexão, de compreensão, de resiliência, de perdão, de esforço contínuo para que

ela se estabeleça, porque, essencialmente é uma inter-relação de consciências, que

gera corresponsabilidade em sua dinâmica de compartilhamento. E, porque, a partir

da compreensão e internalização de que cada pressuposto terapêutico tem o

potencial de relação comunicacional terapêutica, cria-se um círculo de favoráveis

relacionamentos.

O Estudo Dois tinha a perspectiva de entender quando a comunicação do

HCB se revelaria com potencial terapêutico e, para isso, os profissionais foram

abordados para verificação de como se processa a relação comunicacional HCB-

paciente-HCB, com base em questões formuladas a partir das interpretações feitas,

pela autora, sobre os comportamentos esperados em cada atitude terapêutica

desenvolvida por Ruesch. Os resultados indicaram que há comportamentos

comunicacionais conscientes, sobretudo aqueles que, para além do SIM ou do NÃO

como resposta, vinham acompanhados espontaneamente de um exemplo da

prática.

O Estudo apontou também o esforço em se ter na equipe de Onco-

Hematologia Pediátrica um comportamento comunicacional com potencial

terapêutico, devido aos estudos realizados em nível de doutorado de um elemento

da equipe, que passou a compartilhar o conhecimento adquirido, mas que não

atingiu, ainda, a todas as outras especialidades médicas oferecidas.

Do lado paciente-HCB, representado legalmente por suas mães, houve a

indicação das possíveis vicissitudes inerentes às relações humanas, mas, apesar

delas, o reconhecimento de que o HCB é um hospital excelente.

A experiência em campo para observação semiparticipante, do Estudo Dois,

confirmou todos os prognósticos. As equipes que ali estão para aplicar os

tratamentos inerentes a uma Unidade de Terapia Endovenosa não possuem

137

conhecimentos sobre comunicação terapêutica, mas produzem um ambiente de

compartilhamentos de experiências, para as quais há a predisposição de que sejam

integradamente terapêuticas, incluídas aí as relações que se estabelecem, o

ambiente propício, os procedimentos de cuidado atento e, claro, a consequente

aplicação das substâncias medicamentosas.

O desafio assumido para a verificação de uma comunicação que se faça

terapêutica esbarrou na dificuldade de encontrar os referenciais teóricos que

indicariam as mesmas condições propostas para a pesquisa. Os estudos obtidos

revelavam, na área de Enfermagem, as práticas de comunicação interpessoal

terapêutica baseadas no entendimento de como se dão pelas variáveis verbais e

não verbais, mas não a partir, especificamente, das atitudes terapêuticas instituídas

por Ruesch. O direcionamento dos estudos embasavam-se na criação de uma

definição sintetizada por uma única pesquisadora e reproduzida pelos demais

estudiosos.

Outro desafio que se impôs refere-se aos poucos estudos realizados por

pesquisadores da área de Comunicação, com foco na comunicação organizacional

hospitalar integrando Comunicação e Saúde. O próprio programa de Mestrado da

Universidade Católica de Brasília apresenta um único estudo de comunicação

organizacional com foco em Saúde, mas sem a perspectiva da comunicação

organizacional integrada.

Considerando o último objetivo da pesquisa “Apresentar proposta de

integração da comunicação terapêutica à política de comunicação do Hospital da

Criança de Brasília José de Alencar”, vislumbra-se, por fim e ainda, o desafio de

continuar os estudos para uma operacionalização entre o amplo conceito de

comunicação terapêutica e sua articulação com uma comunicação organizacional

integrada, na perspectiva de um modelo de comunicação organizacional integrada

com potencial terapêutico para os serviços de saúde, não alcançado nesta proposta,

mas apoiado por uma intuição sensível dos fatos observados e em busca dos

aprofundamentos necessários e possíveis com a visão inter e multidisciplinar das

áreas de Saúde, fazendo-se cumprir, também, esse caráter da Comunicação.

138

A proposta é:

Figura 8 - Proposta de Comunicação Organizacional Hospitalar, pelo foco da Comunicação

Terapêutica

Fonte: Elaborado pela autora.

A dinâmica consiste em que, sendo a Comunicação Terapêutica um conjunto

de atitudes que favorecem o ajuste do Ser Humano em suas interações em

multiníveis - intrapessoal, interpessoal, intragrupal, intergrupal, vertical e

horizontalmente – e que a Comunicação Interna é a que viabiliza a interação entre a

organização e seus empregados integrando toda a comunicação organizacional,

tem-se como resultado, uma Comunicação Organizacional Hospitalar específica, um

novo modelo comunicacional de atenção à saúde, radiado pela Comunicação

Terapêutica; demandando, portanto, estudos e trabalhos específicos que viabilizem

a construção de uma nova consciência comunicacional.

Comunicação Organizacional

Hospitalar

Comunicação Organizacional

Integrada

Comunicação Interna

Comunicação Terapêutica

139

REFERÊNCIAS

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140

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147

GLOSSÁRIO

A

Ambulatório: local onde se presta assistência a pacientes, sem regime de

internação.

Assistência ambulatorial: assistência prestada pelo pessoal de saúde a pacientes,

sem regime de internação.

Assistência hospitalar: conjunto de ações, métodos e processos de ciências da

saúde, empregado na promoção, proteção, recuperação e reabilitação de pessoas,

em regime de internação, em estabelecimentos hospitalares, e prestado pela equipe

de saúde.

Astrocitoma: tumor que ataca, mais comumente, o cerebelo e o nervo óptico de

crianças.

Atenção terciária: ponto de atenção à Saúde em alta complexidade.

B

Back Office: é o conjunto de sistemas que integram os processos de gestão interna

de uma organização, tornando ágeis os procedimentos administrativos. São eles os

responsáveis pela automatização de processos manuais, gerenciamento de

recursos, integração de dados, ou seja, por toda a “retaguarda” de uma companhia,

sendo, portanto, invisíveis aos olhos do consumidor, cliente ou utilizador.

Bomba de Insulina: é um aparelho com comando eletrônico, pequeno, com peso

de aproximadamente de 100g, que envia microdoses de insulina continuamente

durante as 24 horas do dia de forma precisa e pré-programada para manter o

controle glicêmico entre as refeições e ao longo da noite.

148

C

Cirurgia Limpa: são realizadas em tecidos estéreis ou passíveis de

descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Consideram-se limpas

as cirurgias realizadas na epiderme, tecido celular subcutâneo, sistemas músculo-

esquelético, nervoso e cardiovascular.

Cuidados Paliativos: cuidado ativo e total dos pacientes cuja enfermidade não

responde mais aos tratamentos curativos. O controle da dor e de outros sintomas,

entre outros problemas sociais e espirituais, é da maior importância. O objetivo dos

cuidados paliativos é atingir a melhor qualidade de vida possível para os pacientes e

suas famílias. (Organização Mundial de Saúde)

E

Esteatose hepática: caracteriza-se por acúmulo de gordura no fígado. Chamado

também de "fígado gorduroso".

I

Intuição sensível: Segundo Marcondes Filho, é o conhecimento que é apreendido

de uma só vez e sem conceitos; é a apreensão de uma “verdade evidente”, que é

utilizada depois como base para o raciocínio discursivo (Arthur Schopenhauer). É o

ato instantâneo de apreender um objeto de pensamento diretamente em sua

realidade individual (...).

M

Medicamento: é toda substância ou associação de substâncias utilizadas para

modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estado patológico, para o benefício do

receptor.

149

Medicamento termolábel: é aquele que não pode sofrer variações excessivas de

temperatura.

Medicina Translacional: visão mais emergente da prática médica que se apresenta

como um processo de soluções sustentáveis.

Mucopolissacaridoses (MPS): são doenças metabólicas hereditárias causadas por

erros inatos do metabolismo que levam à falta de funcionamento adequado de

determinadas enzimas, que são substâncias que participam de muitas reações

químicas no nosso organismo mantendo-nos vivos e vom saúde. As MPS fazem

parte de um grupo chamado Doenças de Depósito Lisossomal.

O

Ostomia: é uma cirurgia para construção de um novo trajeto para saída de fezes e

urina.

Osterosarcoma: ou sarcoma osteogênico é o tipo mais comum de câncer que se

desenvolve nos ossos.

R

Redes de Atenção à Saúde (RASs): estruturam-se para enfrentar uma condição de

saúde específica, por meio de um ciclo completo de atendimento (PORTER e

TEISBERG, 2007), o que implica a continuidade da atenção à saúde (atenção

primária, atenção secundária e atenção terciária à saúde) e a integralidade da

atenção à saúde (ações de promoção da saúde, de prevenção das condições de

saúde e de gestão das condições de saúde estabelecidas por meio de intervenções

de cura, cuidado, reabilitação e paliação).

150

S

Saúde: estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a

ausência de doença ou enfermidade.

T

TrakCare: sistema unificado de informação de saúde que permite atendimento

coordenado dentro de um hospital ou em centros de atendimento.

151

APÊNDICE

152

APÊNDICE A: Roteiro Semi-Estruturado para Entrevistas no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Grupo de Respondentes 1 (até dois respondentes neste grupo)

Profissionais do Núcleo de Estratégia e Inovação (responsável pela Qualidade,

Humanização e Ouvidoria)

Abordagem:

Olá!

Esta entrevista busca entender os fluxos comunicacionais do Hospital da Criança

de Brasília José de Alencar sob a perspectiva da comunicação terapêutica, pesquisa

que está sendo desenvolvida no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação da Universidade Católica de Brasília, sob a orientação da professora Dra.

Luiza Mônica Assis da Silva e cujo objeto é o fenômeno da comunicação terapêutica.

O objetivo é identificar na política comunicacional estabelecida no HCB os possíveis

elementos de comunicação terapêutica.

Por favor, se uma pergunta não estiver devidamente clara para sua compreensão,

peço que informe, a fim de que, melhor esclarecendo, possa respondê-la conscientemente.

Caso eu também não entenda alguma resposta dada, farei outras perguntas a

respeito.

Agradecemos todo o esforço empenhado para a consecução da entrevista.

Vânia M. V. Balbino de Souza

Pesquisadora

Entrevista:

01) Idade: 02) Sexo: 03) Cargo que ocupa dentro do HCB: 04) Função(ões) que desempenha: 05) Ano de admissão no HCB 06) Pode descrever o que realiza o Núcleo de Estratégia e Inovação do HCB? 07) Vou dizer oito palavras e gostaria que você as associasse à sua rotina de trabalho,

descrevendo como se concretiza a palavra mencionada:

Ética: Humanização: Comprometimento: Competência Técnica: Solidariedade: Sustentabilidade: Trabalho em Equipe: Humildade:

08) Defina o atendimento do HCB: 09) De modo geral, como percebe a comunicação do HCB? 10) Pode descrever como acontece a comunicação entre os funcionários do HCB?

153

11) Pode descrever como acontece a comunicação entre o HCB e os pacientes (médicos, enfermeiros, técnicos e terapeutas)?

12) Considera que a comunicação é importante para o tratamento dos pacientes? Por quê?

13) De que forma ela se torna eficaz para o tratamento? 14) O conceito de Comunicação Terapêutica é a “habilidade do profissional em usar seu

conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão temporária, a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado e a superar bloqueios à autorrealização para enfrentar seus problemas.

Considerando este conceito, saberia relatar pelo menos duas situações de sua vivência profissional no HCB nas quais tal habilidade ficou evidenciada?

15) O que é feito para garantir o bom atendimento no HCB? Quais instrumentos são

utilizados? 16) Como se aplica o Programa Nacional de Humanização do SUS no HCB? 17) Na função que desempenha, tem contato direto com:

( ) Outros funcionários do HCB: indicar setor(es): _______________________ ( ) Familiares ou Responsáveis pelos pacientes ( ) Pacientes

18) Gostaria de acrescentar alguma informação?

154

APÊNDICE B: Roteiro Semi-Estruturado para Entrevistas no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Grupo de Respondentes 2 (até dois respondentes neste grupo)

Profissionais do Núcleo de Comunicação e Mobilização.

Abordagem:

Olá!

Esta entrevista busca entender os fluxos comunicacionais do Hospital da Criança

de Brasília José de Alencar sob a perspectiva da comunicação terapêutica, pesquisa

que está sendo desenvolvida no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação da Universidade Católica de Brasília, sob a orientação da professora Dra.

Luiza Mônica Assis da Silva e cujo objeto é o fenômeno da comunicação terapêutica.

O objetivo é identificar na política comunicacional estabelecida no HCB os possíveis

elementos de comunicação terapêutica.

Por favor, se uma pergunta não estiver devidamente clara para sua compreensão,

peço que informe, a fim de que, melhor esclarecendo, possa respondê-la conscientemente.

Caso eu também não entenda alguma resposta dada, farei outras perguntas a

respeito.

Agradecemos todo o esforço empenhado para a consecução da entrevista.

Vânia M. V. Balbino de Souza

Pesquisadora

Entrevista:

01) Idade: 02) Sexo: 03) Cargo que ocupa dentro do HCB: 04) Função(ões) que desempenha: 05) Data de admissão no HCB 06) Pode descrever o que realiza o Núcleo de Comunicação e Mobilização do HCB? 07) Vou dizer oito palavras e gostaria que você as associasse à sua rotina de trabalho,

descrevendo como se concretiza a palavra mencionada:

Ética: Humanização: Comprometimento: Competência Técnica: Solidariedade: Sustentabilidade: Trabalho em Equipe: Humildade: Comunicação:

08) Defina a política de comunicação do HCB: 09) De modo geral, como percebe a comunicação do HCB? 10) Pode descrever como acontece a comunicação entre os funcionários do HCB? 11) Pode descrever como acontece a comunicação entre o HCB e os pacientes

(médicos, enfermeiros, técnicos e terapeutas)?

155

12) Considera que a comunicação é importante para o tratamento dos pacientes? Por quê?

13) De que forma ela se torna eficaz para o tratamento? 14) O conceito de Comunicação Terapêutica é a “habilidade do profissional em usar seu

conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão temporária, a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado e a superar bloqueios à autorrealização para enfrentar seus problemas.

Considerando este conceito, saberia relatar pelo menos duas situações de sua vivência profissional no HCB nas quais tal habilidade ficou evidenciada?

15) O que é feito para garantir o bom atendimento no HCB? 16) Este setor tem conhecimento do Programa Nacional de Humanização do SUS? 17) Em que momento do desempenho das funções do Núcleo de Comunicação e

Mobilização tem contato direto com: ( ) Outros funcionários do HCB: indicar setor(es): _______________________ ( ) Familiares ou Responsáveis pelos pacientes ( ) Pacientes

18) Por que tem contato com as pessoas descritas? 19) Gostaria de acrescentar alguma informação?

156

APÊNDICE C: Roteiro Semi-Estruturado para Entrevistas no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Grupo de Respondentes 3 (um respondente neste grupo)

Médico

Abordagem:

Olá!

Esta entrevista busca entender os fluxos comunicacionais do Hospital da Criança de

Brasília José de Alencar sob a perspectiva da comunicação terapêutica, pesquisa que está

sendo desenvolvida no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da

Universidade Católica de Brasília, sob a orientação da professora Dra. Luiza Mônica Assis

da Silva e cujo objeto é o fenômeno da comunicação terapêutica. O objetivo da entrevista é

verificar como se caracterizam as interações estabelecidas entre o médico e os demais

interagentes, a partir dos pressupostos da comunicação terapêutica.

Por favor, se uma pergunta não estiver devidamente clara para sua compreensão,

peço que informe, a fim de que, melhor esclarecendo, possa respondê-la conscientemente.

Caso eu também não entenda alguma resposta dada, farei outras perguntas a

respeito.

Agradeço todo o esforço empenhado para a consecução da entrevista.

Vânia M. V. Balbino de Souza

Pesquisadora

Entrevista:

01) Idade: 02) Sexo: 03) Especialidade: 04) Ano de admissão no HCB: 05) Já ouviu falar em comunicação terapêutica? Se sim, em que contexto? 06) Se sim, o que entende por comunicação terapêutica? 07) Vou dizer oito palavras e gostaria que você as associasse à sua rotina de trabalho:

Ética: Humanização: Comprometimento: Competência Técnica: Solidariedade: Sustentabilidade: Trabalho em Equipe: Humildade:

08) O conceito de Comunicação Terapêutica é a “habilidade do profissional em usar seu conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão temporária, a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado e a superar bloqueios à autorrealização para enfrentar seus problemas.

157

Considerando este conceito, saberia relatar pelo menos duas situações de sua vivência profissional no HCB nas quais tal habilidade ficou evidenciada?

09) Vou apresentar algumas situações para que reflita sobre quando elas acontecem e quando elas não acontecem no tratamento oferecido pelo HCB. Sua resposta deverá ser SIM ou NÃO. Caso não tenha compreendido a pergunta, antes de responder, poderá perguntar a respeito, caso não tenha compreendido a pergunta. E, quando não tiver vivido a situação mencionada, basta responder NÃO SE APLICA.

1(ID: TD) Conheço os direitos do paciente. ( ) SIM ( ) NÃO Deixo claro o que o paciente precisa fazer para que o tratamento alcance bons resultados. ( ) SIM ( ) NÃO Sou capaz de distinguir quando o momento exige severidade ou quando exige um estímulo amigável na condução do tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

2(ID: VT) Posso falar sobre tudo com meu paciente, sem receio, sem vergonha. ( ) SIM ( ) NÃO

3(ID:DE) Respeito o tempo necessário ao meu paciente para que compreenda as implicações de seu tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

4(ID: AC) Ouço atentamente os relatos sobre o estado de saúde do meu paciente. ( ) SIM ( ) NÃO Faço perguntas sobre o estado de saúde de meu paciente, quando não entendo algum ponto do seu relato ou do relato de seu responsável. ( ) SIM ( ) NÃO

5(ID: CC) Explico o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento.

( ) SIM ( ) NÃO

6(ID:SC) Interesso-me em conhecer mais meu paciente. ( ) SIM ( ) NÃO Sei como proceder com meu paciente. . ( ) SIM ( ) NÃO

7(ID: ADND) Posso fazer uso de palavras rudes em alguns momentos. ( ) SIM ( ) NÃO Sou direto em minhas explicações, não faço rodeios. ( ) SIM ( ) NÃO

8(ID:DR) Sinto que meu modo de agir com os pacientes gera confiança. . ( ) SIM ( ) NÃO

9(ID:TR) Sei tomar as ações preventivas para o tratamento de meu paciente. ( ) SIM ( ) NÃO

10(ID:LP)

158

Faço-me compreender em minhas interações. ( ) SIM ( ) NÃO Percebo quando meu paciente ou seu responsável não entendeu alguma explicação dada. . ( ) SIM ( ) NÃO

11(ID:RI) Nunca deixo meu paciente ou seu responsável sem uma resposta.

( ) SIM ( ) NÃO

Em qual dessas situações apresentadas poderia fazer um relato sobre a sua experiência como médico do HCB?

Relato do entrevistado.

10) Aponte uma habilidade comunicacional que possua: 11) Aponte uma inabilidade comunicacional que possua: 12) Gostaria de acrescentar alguma informação?

159

APÊNDICE D: Roteiro para entrevistas no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Respondentes 4:

Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem (2 respondentes neste grupo)

Abordagem:

Olá!

Esta entrevista busca entender os fluxos comunicacionais do Hospital da Criança de

Brasília José de Alencar sob a perspectiva da comunicação terapêutica, pesquisa que está

sendo desenvolvida no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da

Universidade Católica de Brasília, sob a orientação da professora Dra. Luiza Mônica Assis

da Silva e cujo objeto é o fenômeno da comunicação terapêutica. O objetivo da entrevista é

verificar como se caracteriza a interação estabelecida entre enfermeiro/técnico de

enfermagem e os demais interagentes, a partir dos pressupostos da comunicação

terapêutica.

Por favor, se uma pergunta não estiver devidamente clara para sua compreensão,

peço que informe, a fim de que, melhor esclarecendo, possa respondê-la conscientemente.

Caso eu também não entenda alguma resposta dada, farei outras perguntas a

respeito.

Agradeço todo o esforço empenhado para a consecução da entrevista.

Vânia M. V. Balbino de Souza

Pesquisadora

Entrevista:

01) Idade: 02) Sexo: 03) Cargo: 04) Data de admissão no HCB 06) Já ouviu falar em comunicação terapêutica? Se sim, quando? 07) Se sim, pode descrever o que entende por comunicação terapêutica? 08) Vou dizer oito palavras e gostaria que você as associasse à sua rotina de trabalho:

Ética: Humanização: Comprometimento: Competência Técnica: Solidariedade: Sustentabilidade: Trabalho em Equipe: Humildade:

08) O conceito de Comunicação Terapêutica é a “habilidade do profissional em usar seu conhecimento sobre comunicação para ajudar a pessoa com tensão temporária, a conviver com outras pessoas e ajustar-se ao que não pode ser mudado e a superar bloqueios à autorrealização para enfrentar seus problemas.

160

Considerando este conceito, saberia relatar pelo menos duas situações de sua vivência profissional no HCB nas quais tal habilidade ficou evidenciada?

09) Vou apresentar algumas situações para que reflita sobre quando elas acontecem e quando elas não acontecem no tratamento oferecido pelo HCB. Sua resposta deverá ser SIM ou NÃO. Caso não tenha compreendido a pergunta, antes de responder, poderá perguntar a respeito, caso não tenha compreendido a pergunta. E, quando não tiver vivido a situação mencionada, basta responder NÃO SE APLICA.

1(ID: TD) Conheço os direitos do paciente. ( ) SIM ( ) NÃO Deixo claro o que o paciente precisa fazer para que o tratamento alcance bons resultados. ( ) SIM ( ) NÃO Sou capaz de distinguir quando o momento exige severidade ou quando exige um estímulo amigável na condução do tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

2(ID: VT) Posso falar sobre tudo com meu paciente, sem receio, sem vergonha. ( ) SIM ( ) NÃO

3(ID:DE) Respeito o tempo necessário ao meu paciente para que compreenda as implicações de seu tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

4(ID: AC) Ouço atentamente os relatos sobre o estado de saúde do meu paciente. ( ) SIM ( ) NÃO Faço perguntas sobre o estado de saúde de meu paciente, quando não entendo algum ponto do seu relato ou do relato de seu responsável. ( ) SIM ( ) NÃO

5(ID: CC) Explico o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento.

( ) SIM ( ) NÃO

6(ID:SC) Interesso-me em conhecer mais meu paciente. ( ) SIM ( ) NÃO Sei como proceder com meu paciente. . ( ) SIM ( ) NÃO

7(ID: ADND) Posso fazer uso de palavras rudes em alguns momentos. ( ) SIM ( ) NÃO Sou direto em minhas explicações, não faço rodeios. ( ) SIM ( ) NÃO

8(ID:DR) Sinto que meu modo de agir com os pacientes gera confiança. . ( ) SIM ( ) NÃO

9(ID:TR)

161

Sei tomar as ações preventivas para o tratamento de meu paciente. ( ) SIM ( ) NÃO

10(ID:LP) Faço-me compreender em minhas interações. ( ) SIM ( ) NÃO Percebo quando meu paciente ou seu responsável não entendeu alguma explicação dada. . ( ) SIM ( ) NÃO

11(ID:RI) Nunca deixo meu paciente ou seu responsável sem uma resposta.

( ) SIM ( ) NÃO

Em qual dessas situações apresentadas poderia fazer um relato sobre a sua experiência com os enfermeiros/técnicos de enfermagem do HCB?

Relato do entrevistado.

10) Aponte uma habilidade comunicacional que possua: 11) Aponte uma inabilidade comunicacional que possua: 12) Gostaria de acrescentar alguma informação?

162

APÊNDICE E: Roteiro para entrevistas no

Hospital da Criança de Brasília José de Alencar

Respondentes 6 (até três respondentes neste grupo)

Familiar ou Responsável pelo Paciente

Abordagem:

Olá!

Esta entrevista busca entender os fluxos comunicacionais do Hospital da Criança de

Brasília José de Alencar sob a perspectiva da comunicação terapêutica, pesquisa que está

sendo desenvolvida no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da

Universidade Católica de Brasília, sob a orientação da professora Dra. Luiza Mônica Assis

da Silva e cujo objeto é o fenômeno da comunicação terapêutica. O objetivo da entrevista é

verificar como se caracteriza a interação estabelecida entre familiares ou responsáveis pelas

crianças em tratamento no HCB com os demais profissionais do HCB.

Por favor, se uma pergunta não estiver devidamente clara para sua compreensão,

peço que informe, a fim de que, melhor esclarecendo, possa respondê-la conscientemente.

Caso eu também não entenda alguma resposta dada, farei outras perguntas a

respeito.

Muito obrigada por contribuir com esta pesquisa!

Vânia M. V. Balbino de Souza

Pesquisadora

Entrevista:

01) Idade do respondente: 02) Sexo: 03) Pai/Mãe ou Responsável: 04) Escolaridade do respondente: 05) Idade da criança em tratamento: 06) Enfermidade: 07) Atendimento feito no HCB (exame, consulta, internação, quimioterapia, regime de

hospital-dia, outro): 08) Vou apresentar algumas situações para que reflita sobre quando elas acontecem e

quando elas não acontecem no tratamento oferecido pelo HCB, em relação aos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, terapeutas complementares e pessoal administrativo. Sua resposta deverá ser SIM ou NÃO. No caso em que a situação mencionada não tenha sido vivida, a resposta deverá ser NÃO SE APLICA. Lembrando que, antes de responder, poderá perguntar a respeito, caso não tenha compreendido a pergunta:

Com relação ao médico que atende a criança:

1(ID: TD) Percebo que meu filho é respeitado pelo médico do HCB. ( ) SIM ( ) NÃO

163

Percebo que não há preconceito nessa relação. ( ) SIM ( ) NÃO O médico deixa claro o que preciso fazer para que o tratamento alcance bons resultados. ( ) SIM ( ) NÃO Percebo que o médico é capaz de distinguir que o momento exige severidade ou que exige um estímulo amigável na condução do tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

2(ID: VT) Posso falar sobre tudo com o médico sem receio, sem vergonha. ( ) SIM ( ) NÃO

3(ID:DE) Sinto que o médico respeita o tempo necessário que tenho para compreender o que se passa no tratamento do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

4(ID: AC) Sinto que o médico ouve atentamente os relatos que faço sobre o estado de saúde do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO O médico faz perguntas sobre o estado de saúde de meu filho, quando não entende algum ponto do meu relato. ( ) SIM ( ) NÃO

5(ID: CC) O médico explica o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento.

( ) SIM ( ) NÃO

6(ID:SC) Sinto que o médico se interessa em conhecer melhor meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO Sinto que o médico sabe como proceder com meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

7(ID: ADND) O médico nunca fez uso de palavras rudes ( ) SIM ( ) NÃO O médico é direto em suas explicações, não faz rodeios. ( ) SIM ( ) NÃO

8(ID:DR) Confio totalmente no médico que trata meu filho ( ) SIM ( ) NÃO

9(ID:TR) Sinto que o médico sabe tomar as ações preventivas para o tratamento de meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

10(ID:LP) Compreendo tudo o que o médico me fala. ( ) SIM ( ) NÃO Pergunto ao médico algo que não compreendo. ( ) SIM ( ) NÃO

11(ID:RI) O médico nunca me deixa sem uma resposta. ( ) SIM ( ) NÃO

164

Em qual dessas situações apresentadas poderia fazer um relato sobre a sua experiência com o médico do HCB?

Relato do entrevistado.

Agora, farei as mesmas perguntas com relação aos enfermeiros/técnicos de enfermagem que atendem a criança. Caso haja alguma discordância da situação mencionada, peço responder NÃO SE APLICA. Nestes casos, caberá a pergunta POR QUÊ?

1(ID: TD) Sinto que meu filho é respeitado por esses profissionais no HCB:

( ) SIM ( ) NÃO Sinto que não há preconceito nessa relação: ( ) SIM ( ) NÃO Enfermeiros e técnicos deixam claro o que preciso fazer para que o tratamento alcance bons resultados ( ) SIM ( ) NÃO Percebo que enfermeiros e técnicos são capazes de distinguir quando um momento exige severidade ou quando exige um estímulo amigável na condução do tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

2(ID: VT) Posso falar sobre tudo com os enfermeiros/técnicos sem receio, sem vergonha. ( ) SIM ( ) NÃO

3(ID:DE) Sinto que enfermeiros e técnicos respeitam o tempo necessário que tenho para compreender o que se passa no tratamento do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

4(ID: AC) Sinto que enfermeiros e técnicos ouvem atentamente os relatos que faço sobre o estado de saúde do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO Enfermeiros e técnicos fazem perguntas sobre o estado de saúde de meu filho, quando não entendem algum ponto do meu relato. ( ) SIM ( ) NÃO

5(ID: CC) Enfermeiros e técnicos explicam o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento.

( ) SIM ( ) NÃO

6(ID:SC) Sinto que enfermeiros e técnicos se interessam em conhecer melhor o meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO Sinto que enfermeiros e técnicos sabem como proceder com o meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

7(ID: ADND) Enfermeiros e técnicos nunca fazem uso de palavras rudes. ( ) SIM ( ) NÃO

165

Enfermeiros e técnicos são diretos em suas explicações, não fazem rodeios. ( ) SIM ( ) NÃO

8(ID:DR) Confio totalmente nos enfermeiros e técnicos que tratam meu filho.

( ) SIM ( ) NÃO 9(ID:TR)

Sinto que enfermeiros e técnicos sabem tomar as ações preventivas para o tratamento de meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

10(ID:LP) Compreendo tudo o que enfermeiros e técnicos me falam. ( ) SIM ( ) NÃO Pergunto aos enfermeiros e técnicos algo que não compreendo. ( ) SIM ( ) NÃO

11(ID:RI) Enfermeiros e técnicos nunca me deixam sem uma resposta.

( ) SIM ( ) NÃO

Em qual dessas situações apresentadas poderia fazer um relato sobre a sua experiência com os enfermeiros/técnicos do HCB?

Relato do entrevistado.

Farei as mesmas perguntas com relação aos terapeutas complementares (fisioterapeutas, hemoterapeutas, quimioterapeutas, radioterapeutas, outros) que atendem a criança. Escolha um desses profissionais para responder a entrevista. Caso haja alguma discordância da situação mencionada, peço responder NÃO SE APLICA. Nestes casos, caberá a pergunta POR QUÊ?

1(ID: TD) Sinto que meu filho é respeitado por esse profissional no HCB:

( ) SIM ( ) NÃO Sinto que não há preconceito nessa relação: ( ) SIM ( ) NÃO O terapeuta deixa claro o que preciso fazer para que o tratamento alcance bons resultados. ( ) SIM ( ) NÃO

Percebo que o terapeuta é capaz de distinguir quando um momento exige severidade ou quando exige um estímulo amigável na condução do tratamento.

( ) SIM ( ) NÃO 2(ID: VT)

Posso falar sobre tudo com o terapeuta sem receio, sem vergonha. ( ) SIM ( ) NÃO

3(ID:DE)

166

Sinto que o terapeuta respeita o tempo necessário que tenho para compreender o que se passa no tratamento do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

4(ID: AC) Sinto que o terapeuta ouve atentamente os relatos que faço sobre o estado de saúde do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO O terapeuta faz perguntas sobre o estado de saúde de meu filho, quando não entendem algum ponto do meu relato. ( ) SIM ( ) NÃO

5(ID: CC) O terapeuta explica o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

6(ID:SC) Sinto que o terapeuta se interessa em conhecer melhor o meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO Sinto que o terapeuta sabe como proceder com o meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

7(ID: ADND) O terapeuta nunca faz uso de palavras rudes. ( ) SIM ( ) NÃO O terapeuta é direto em suas explicações, não faz rodeios. ( ) SIM ( ) NÃO

8(ID:DR) Confio totalmente no terapeuta que trata meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

9(ID:TR) Sinto que o terapeuta sabe tomar as ações preventivas para o tratamento de meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

10(ID:LP) Compreendo tudo o que o terapeuta me fala. ( ) SIM ( ) NÃO Pergunto ao terapeuta algo que não compreendo. ( ) SIM ( ) NÃO

11(ID:RI) O terapeuta nunca me deixa sem uma resposta.

( ) SIM ( ) NÃO

Em qual dessas situações apresentadas poderia fazer um relato sobre a sua experiência com os enfermeiros/técnicos do HCB?

Relato do entrevistado.

Agora, preciso que pense no atendimento oferecido pelos outros profissionais do Hospital, excluindo, portanto, médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e

167

terapeutas complementares. Para cada pergunta, você poderá responder SIM ou NÃO. Terá a liberdade de mencionar algum profissional (atendente, recepcionista, vigilante, porteiro, copeira, outros) envolvido na situação. Quando não tiver vivido a situação mencionada, basta responder NÃO SE APLICA.

1(ID: TD) Sinto que meu filho é sempre respeitado no HCB: ( ) SIM ( ) NÃO Sinto que não há preconceito no HCB: ( ) SIM ( ) NÃO O HCB apresenta outros jeitos de me fazer entender o que preciso fazer para que o tratamento alcance bons resultados. ( ) SIM ( ) NÃO Percebo que o HCB é capaz de distinguir quando um momento exige severidade ou quando exige um estímulo amigável na condução do tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

2(ID: VT) Posso falar sobre tudo no HCB sem receio, sem vergonha. ( ) SIM ( ) NÃO

3(ID:DE) Sinto que o HCB respeita o tempo necessário que preciso para compreender o que se passa no tratamento do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

4(ID: AC) Sinto que o HCB ouve atentamente os relatos que faço sobre o estado de saúde do meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO O HCB faz perguntas sobre o estado de saúde de meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

5(ID: CC) O HCB explica o que cada pessoa envolvida deve fazer durante o tratamento. ( ) SIM ( ) NÃO

6(ID:SC) Sinto que o HCB se interessa em conhecer melhor o meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO Sinto que o HCB sabe como proceder com o meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

7(ID: ADND) O HCB nunca faz uso de palavras rudes. ( ) SIM ( ) NÃO O HCB é direto em suas explicações, não faz rodeios. ( ) SIM ( ) NÃO

8(ID:DR) Confio totalmente no HCB. ( ) SIM ( ) NÃO

9(ID:TR) Sinto que o HCB sabe tomar as ações preventivas para o tratamento de meu filho. ( ) SIM ( ) NÃO

10(ID:LP) Compreendo tudo o que acontece dentro do HCB. ( ) SIM ( ) NÃO

168

Quando não compreendo, pergunto a alguém. ( ) SIM ( ) NÃO

11(ID:RI) O HCB nunca me deixa sem uma resposta. ( ) SIM ( ) NÃO

Em qual dessas situações apresentadas poderia fazer um relato sobre a sua experiência no HCB?

Relato do entrevistado.

169

ANEXOS

170

ANEXO A: PROTOCOLO DE RECEBIMENTO DE DOCUMENTOS CENTRO INTEGRADO E SUSTENTÁVEL DE ENSINO E PESQUISA/HCB-22/04/2015

171

ANEXO B: TERMO DE CONCORDÂNCIA

HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA JOSÉ DE ALENCAR - 22/06/2015

172

ANEXO C: FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES

HUMANOS - PLATAFORMA BRASIL – MS/CNS/CONEP – 23/06/2015

173

ANEXO D: PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP – 03/08/2015

174

175

ANEXO E: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (A) Senhor (A) :

Você está sendo convidado como voluntário a participar da pesquisa: Os fluxos

comunicacionais do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar sob a

perspectiva da comunicação terapêutica.

O motivo que nos leva a estudar a comunicação terapêutica é verificar se ela se

traduz num processo eficiente e benéfico para o tratamento dos pacientes. A pesquisa se

justifica porque acreditamos que, quando a comunicação deixa de ser um processo

automático das ações inerentes ao ambiente hospitalar, traduzindo-se em ações

conscientemente assumidas, pode trazer benefícios para a manutenção do bem estar físico,

mental e social.

O objetivo desse projeto é, portanto, entender se a comunicação que se pratica no

Hospital da Criança de Brasília José de Alencar é pensada para favorecer o tratamento das

crianças.

O(os) procedimento(s) de coleta de dados se dará por meio de entrevista,

observação semiparticipante e análise dos documentos (relatórios de gestão e seus anexos,

bem como, às normas e procedimentos internos do Núcleo de Estratégia e Inovação e do

Núcleo de Comunicação e Mobilização).

Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sob a guarda e a

responsabilidade do pesquisador.

Os resultados da pesquisa serão divulgados no Hospital da Criança de Brasília José

Alencar, em eventos científicos e poderão ser publicados em revistas científicas

especializadas posteriormente.

O desconforto mínimo existente na coleta de dados é a disponibilização do seu

tempo para a participação da entrevista.

Você será esclarecido sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você é

livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a

qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar

qualquer penalidade ou perda de benefícios.

A pesquisadora irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os

resultados serão entregues para você e permanecerão confidenciais.

Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua

permissão.

Você não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo.

Este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é assinado em três vias de igual

teor: uma cópia deste consentimento informado será arquivada no Centro Integrado e

176

Sustentável de Ensino e Pesquisa do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, uma via

será fornecida a você e a outra via ficará para efeitos de comprovação da pesquisadora.

A participação no estudo não acarretará custos para você e não será disponível

nenhuma compensação financeira adicional.

1

Eu, ________________________________, fui informado dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e motivar minha decisão, se assim o desejar. A pesquisadora Vânia Mara Vasques Balbino de Souza certificou-me de que todos os dados desta pesquisa serão confidenciais. Também sei que caso existam gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da pesquisa. Em caso de dúvida, poderei chamar a pesquisadora Vânia M.V. Balbino de Souza no telefone (61) 9641-1551. Estou ciente que também poderei consultar, a qualquer momento, o Comitê de Ética em Pesquisa da FEPECS SES-DF no endereço SMHN Quadra 03, conjunto A, Bloco 1 Edifício Fepecs, pelo telefone (61)3325 4956 ou pelo e-mail [email protected] e a CONEP no endereço SEPN 510 Norte, Bloco A, 3º Andar, Edifício Ex-INAN - Unidade II do Ministério da Saúde, e telefone (61) 3315-5878.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de

consentimento livre e esclarecido, feito em três vias de igual teor e assinadas, e me

foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

1) Pesquisadora:

Vânia Mara Vasques Balbino de Souza - RG 07453027-0/SSP-RJ/CPF 917.462.307-97

____________________________________________________________________________

Assinatura:

2) Participante:

RG:___________________________________________CPF:__________________________

____________________________________________________________________________

Assinatura:

3) Testemunha:

Nome: ______________________________________________________________________

RG:___________________________________________CPF:__________________________

____________________________________________________________________________

Assinatura:

Sistema Único de Saúde – SES/DF Hospital da Criança de Brasília José Alencar - HCB

SAIN-Setor de Áreas Isoladas Norte Lote 4 B – Asa Norte – CEP 70.071-900 – Brasília-DF www.hcb.org.br

DE

CL

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:

177

ANEXO F: TERMO DE ASSENTIMENTO

178

179