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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Pró-Reitoria de Graduação Pró-Reitoria de Extensão 4 6 7 Informativo do Curso de Ciências Econômicas Carta Econômica SEÇÕES Ano XVI, n o 3 - setembro de 2010 Inflação Inovação e mão de obra qualificada * Professor do Curso de Economia da Universidade Católica de Brasília – UCB. Mercado de trabalho Finanças públicas Comércio exterior Mercado financeiro Gílson Geraldino Silva Jr* As mudanças institucionais e tecnológicas ao longo do século XX provocaram alterações significativas no mundo do trabalho. Dado o caráter essencial do trabalho no mundo moderno, particularmente o de trabalhadores mais qualificados, a distribuição da mão de obra qualificada e dos talentos para inovação no Brasil preocupam formuladores de políticas públicas e tomadores de decisões privadas. Um dos principais desafios do Brasil como economia em desenvolvimento é ir além do trabalho barato. Brasil, Polônia, Portugal e Coréia do Sul – países de renda média como o México – têm o desafio de competir com a China, e a única alternativa é adicionar valor agregado aos seus produtos. Porém, passam a ter como concorrentes membros da OCDE. Corre-se o risco de ficar entre os países de baixo nível tecnológico e trabalho barato e os países de alto nível tecnológico e trabalho sofisticado. O México é um triste exemplo e um importante alerta para o Brasil. Ancorado pelo acordo de livre comércio da América do Norte (North America Free Trade Agreement Nafta), nos anos de 1990, o México competiu com os EUA nas atividades de “chão de fábrica”. A partir de 2000, quando a China emergiu para assumir esse posto, mais de 270 mil mexicanos perderam seus empregos, centenas de fábricas fecharam suas portas, e o déficit comercial do México em relação à China cresceu mais de US$ 5 bilhões. A etiqueta Made in China passou a ser vista em tudo, incluindo brinquedos, têxteis e até réplicas de Nossa Senhora de Guadalupe, simbolizando os desafios da globalização para países economicamente semelhantes ao México. A China está agindo rápido. “O Partido Comunista fez as contas e viu que parte da produção de brinquedos e têxteis era de baixo valor agregado, paga salários muito baixos e é muito poluidora. Então, os incentivos a essas áreas estão desaparecendo, a China quer outro tipo de indústria”, disse à Folha de S. Paulo, no final de outubro de 2008, o economista Andy Rothman, macroestrategista para a China do Banco de Investimentos CLSA, em Xangai. “É a terceira onda de reformas econômicas desde 1978, que começa agora. Haverá alguns setores sacrificados, mas, a longo prazo, faz sentido”. Além disso, a China vem investindo em setores de alta tecnologia, com destaque para a nanotecnologia, sugerindo que os chineses não pretendem ficar eternamente competindo via custos. O Brasil vem apresentando indicadores socio- conômicos razoáveis, mas não confortáveis, particular- mente a longo prazo. Questões macroeconômicas, como estabilidade dos preços, são ameaçadas pela qualidade da política fiscal. Questões microeconômicas, como competitividade, estão fora da agenda, particularmente eleitoral. Mais preocupante ainda é a ausência de reflexões sobre Inovação Tecnológica, em particular a oferta de mão de obra qualificada, para a qual demanda não falta.

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Informativo do Curso de Ciências EconômicasCarta Econômica

SEÇÕES

Ano XVI, no 3 - setembro de 2010

Inflação

Inovação e mão de obra qualificada

*ProfessordoCursodeEconomiadaUniversidadeCatólicadeBrasília–UCB.

Mercado de trabalho

Finanças públicas

Comércio exterior

Mercado financeiro

Gílson Geraldino Silva Jr*

As mudanças institucionais e tecnológicas ao longo do século XX provocaram alterações significativas no mundo do trabalho. Dado o caráter essencial do trabalho no mundo moderno, particularmente o de trabalhadores mais qualificados, a distribuição da mão de obra qualificada e dos talentos para inovação no Brasil preocupam formuladores de políticas públicas e tomadores de decisões privadas.

Um dos principais desafios do Brasil como economia em desenvolvimento é ir além do trabalho barato. Brasil, Polônia, Portugal e Coréia do Sul – países de renda média como o México – têm o desafio de competir com a China, e a única alternativa é adicionar valor agregado aos seus produtos. Porém, passam a ter como concorrentes membros da OCDE. Corre-se o risco de ficar entre os países de baixo nível tecnológico e trabalho barato e os países de alto nível tecnológico e trabalho sofisticado.

O México é um triste exemplo e um importante alerta para o Brasil. Ancorado pelo acordo de livre comércio da América do Norte (North America Free Trade Agreement – Nafta), nos anos de 1990, o México competiu com os EUA nas atividades de “chão de fábrica”. A partir de 2000, quando a China emergiu para assumir esse posto, mais de 270 mil mexicanos perderam seus empregos, centenas de fábricas fecharam suas portas, e o déficit comercial do México em relação à China cresceu mais de US$ 5 bilhões. A etiqueta Made in China passou a ser vista em tudo, incluindo brinquedos, têxteis e até réplicas de Nossa Senhora de Guadalupe, simbolizando os desafios da globalização para países economicamente semelhantes ao México.

A China está agindo rápido. “O Partido Comunista fez as contas e viu que parte da produção de brinquedos e têxteis era de baixo valor agregado, paga salários muito baixos e é muito poluidora. Então, os incentivos a essas áreas estão desaparecendo, a China quer outro tipo de indústria”, disse à Folha de S. Paulo, no final de outubro de 2008, o economista Andy Rothman, macroestrategista para a China do Banco de Investimentos CLSA, em Xangai. “É a terceira onda de reformas econômicas desde 1978, que começa agora. Haverá alguns setores sacrificados, mas, a longo prazo, faz sentido”.

Além disso, a China vem investindo em setores de alta tecnologia, com destaque para a nanotecnologia, sugerindo que os chineses não pretendem ficar eternamente competindo via custos.

O Brasil vem apresentando indicadores socio-conômicos razoáveis, mas não confortáveis, particular-mente a longo prazo. Questões macroeconômicas, como estabilidade dos preços, são ameaçadas pela qualidade da política fiscal. Questões microeconômicas, como competitividade, estão fora da agenda, particularmente eleitoral. Mais preocupante ainda é a ausência de reflexões sobre Inovação Tecnológica, em particular a oferta de mão de obra qualificada, para a qual demanda não falta.

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Carta Econômica – A

no XVI, nº 3 – Setembro de 2010

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA – encerrou o mês de agosto com a variação de 0,04%. Após a tendência de queda verificada desde o início do ano, a inflação começa a reagir no segundo semestre de 2010.

Gráfico1 - Índice Geral – IPCA – agosto/2010

0 0,040,01

0,43

0,570,52

0,780,75

jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

Das onze regiões que o IPCA-IBGE abrange, cinco fecharam o mês de agosto com variações negativas. A queda mais expressiva foi verificada em Recife (-0,54%), seguida por Belém (-0,29%), Salvador (-0,20%), Brasília (-0,16%) e Fortaleza (-0,01%). As altas registradas em Curitiba (0,64%), Porto Alegre (0,24%) e Belo Horizonte (0,04%) foram responsáveis pela estabilidade do indicador no respectivo mês. Rio de Janeiro (0,01%) e São Paulo (0,00%) encerraram o mês sem variações significativas. (Tabela 1)

Tabela 1 - Índice Geral – IPCA – por regiões metropolitanas agosto/2010

Regiões Índice geral

Brasil 0,04

Goiânia-GO 0,41

Brasília-DF -0,16

Belém-PA -0,29

Fortaleza-CE -0,01

Recife-PE -0,54

Salvador-BA -0,2

BeloHorizonte-MG 0,04

RiodeJaneiro-RJ 0,01

SãoPaulo-SP 0

Curitiba-PR 0,64

PortoAlegre-RS 0,24

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

Dos nove grupos que compõem o índice, quatro encerraram o mês com deflações. As maiores quedas foram detectadas nos grupos Artigos de Residência (-0,31%) e Alimentação e Bebidas (-0,24%), enquanto que as maiores altas foram nos grupos Educação (0,44%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,26%), e Habitação (0,23%). (Tabelas 2 e 3)

Tabela 2 - IPCA – Variações Nacionais Negativas – agosto/2010

Regiões Artigos deresidência

Alimentaçãoe bebidas Transportes Comunicação

Brasil -0,31 -0,24 -0,09 -0,03Goiânia - GO 0,74 0,29 0,95 -0,14Brasília - DF -0,48 -0,05 -1,3 0,19Belém - PA 0,39 -0,92 -2,36 -0,07Fortaleza - CE -1,01 -0,34 -0,7 -0,1Recife - PE -0,08 -2,32 0,02 0,13Salvador - BA -0,37 -1,09 -0,33 -0,12Belo Horizonte - MG 0,2 -0,02 -0,68 0,05Rio de Janeiro - RJ -0,73 0,17 -0,39 0,04São Paulo - SP -0,89 0,14 -0,16 -0,09Curitiba - PR 0,43 -0,21 1,75 -0,13Porto Alegre - RS 0,7 -0,37 0,81 0,14

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

A queda verificada no grupo Artigos de Residência (-0,31%) foi decorrente das deflações registradas nos Aparelhos eletroeletrônicos (-1,79%). Os grupos

Móveis e utensílios (0,61%) e Consertos e manutenção (0,76%), apesar de encerrarem o mês com variações positivas, não foram suficientes para conter a deflação do grupo.

Houve alta expressiva nos preços das Carnes (2,11%), dos Pescados (0,98%), das Aves e Ovos (0,45%) e do Sal e condimentos (2,19%). Por outro lado, as quedas nos preços do Feijão-carioca (-11,23%), Arroz (-1,01%), Açúcares e derivados (-0,60%), e Leite e derivados (-0,81%) acabaram por determinar a variação negativa registrada no grupo Alimentação e Bebidas. Cabe ressaltar que, apesar de outros itens apresentarem variações mais significativas, esses possuem um menor peso no cálculo do índice.

O grupo Transportes encerrou o mês de agosto com uma leve deflação, ocasionada pela queda nos preços do transporte público (-0,83%), entre eles avião (-10,32%) e ônibus interestadual (-2,04%). Houve alta no preço dos combustíveis (0,97%), em especial no item Álcool (4,12%).

Tabela 3 - IPCA – Variações Nacionais Positivas – agosto/2010

Regiões EducaçãoSaúde ecuidadospessoais

Habitação Vestuário Despesaspessoais

Brasil 0,44 0,26 0,23 0,17 0,2Goiânia - GO 1,16 0,27 0,16 0,04 -0,23Brasília - DF 0,17 0,04 0,35 0,51 0,1Belém - PA 0,55 -0,09 2,06 0,53 0,58Fortaleza - CE 0,44 0,17 0,32 1,33 0,29Recife - PE 1,4 0,15 -0,32 0,64 -0,46Salvador - BA 0,72 0,26 0,03 1,59 -0,74Belo Horizonte - MG 0,69 0,27 0,09 0,34 0,49Rio de Janeiro - RJ 0,41 0,27 0,26 -0,04 -0,16São Paulo - SP 0,13 0,19 0,24 -0,71 0,27Curitiba - PR 0,55 0,92 0,21 0,72 0,88Porto Alegre - RS 0,51 0,34 0,08 0,27 0,37

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

A alta verificada no grupo Educação foi impulsionada pelos itens ensino superior (0,48%), gastos com livros (0,37%) e pela educação fundamental (0,20%). No caso do grupo Saúde e Cuidados Pessoais, os gastos com planos de saúde e dentista aumentaram em 0,62% e 0,51%, respectivamente.

O grupo Habitação, que apresentou taxa positiva de 0,23%, registrou aumento nos itens condomínio (0,42%), aluguel residencial (0,35%) e energia elétrica residencial (0,11%), enquanto que o grupo Vestuário encerrou com altas mais expressivas nos itens joias e bijuterias (1,25%), calçados e acessórios (0,46%) e roupa masculina (0,28%). No que concerne ao grupo Despesas Pessoais, as altas, em agosto, ficaram para os itens recreação (0,33%) e serviços pessoais (0,16%). (Tabela 3)

Nos oito primeiros meses de 2010, o indicador registrou uma variação positiva de 3,14%. Todos os grupos influenciaram na taxa verificada, porém o grupo Educação (5,99%) foi o único que encerrou o mês com variação acima de 5%. (Tabela 4)

As estimativas do IPCA para o acumulado em 12 meses registraram alta de 4,49%, valor próximo à meta de inflação estipulada pelo Banco Central (4,5% + 2 p.p.). As altas mais expressivas ocorreram nos grupos Despesas Pessoais (6,77%), Educação (6,22%) e Vestuário (6,06%). Os demais grupos apresentaram variações acumuladas menores que 6%. (Tabela 4)

Tabela 4 - IPCA – Variações Mensais e Acumuladas por grupos agosto/2010

No Ano Em 12 mesesÍndice geral 0,04 3,14 4,491.Alimentação e bebidas -0,24 3,49 4,102.Habitação 0,23 2,97 4,273.Artigos de residência -0,31 2,68 4,014.Vestuário 0,17 3,39 6,065.Transportes -0,09 1,49 3,716.Saúde e cuidados pessoais 0,26 3,63 4,767.Despesas pessoais 0,20 4,94 6,778.Educação 0,44 5,99 6,229.Comunicação -0,03 0,06 1,09

Acumulado (%)ago/2010(%)Grupos

Fonte: IBGE. Elaboração própria.

ReferênciasINSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 17 set. 2010.BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Disponível em: <http://www.bacen.gov.

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INFLAÇÃO Viviam Catarina de Oliveira*1 Rômulo Oliveira Bittencourt*1

Após forte desaceleração, inflação tenta reagir

*GraduandosdoCursodeCiênciasEconômicasdaUniversidadeCatólicadeBrasília–UCB.1OsautoresagradecemaoProf.JoséAntônioÂngelopelaleituracríticadotexto.

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Durante muito tempo se tem estudado a inserção da mulher no mercado de trabalho, em particular desde a industrialização, o que traz muitos questionamentos em relação às desigualdades de gênero que aparece por diversas razões para favorecer ou proteger a ambos, cada um em sua forma, especialmente no que tange às relações de emprego, com o objetivo de garantir que a remuneração percebida esteja protegida contra os abusos do empregador.

É sabido que, desde os primórdios, a mulher sempre cumpriu importante papel nas relações de produção, sendo esse, porém, visto como inferior ao do homem. Historicamente, esse fato se dá porque o homem é o provedor da família e o papel da mulher é estritamente doméstico, considerado suplementar àquele, fazendo do salário dela um mero complemento da renda familiar.

Desde então, é possível perceber a existência de vários obstáculos para que as mulheres ocupem o mesmo lugar que os homens no mercado de trabalho. A Constituição da República pugnou diretamente pela igualdade entre os sexos ao estabelecer que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Este inciso, juntamente com a proibição de se estabelecer salários diferenciados em função de sexo, idade, cor ou estado civil (Art. 7º, XXX, Constituição Federal), veio a informar toda a legislação trabalhista no que concerne à regulamentação do trabalho feminino, revogando grande parte dos dispositivos que o regulavam, de modo a estabelecer a igualdade preconizada. Além do mais, em seu art. 7º, inciso XX, nossa Carta Magna estabelece a “proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei”.

Com o passar do tempo e com base em dados, é possível perceber que com a implementação da Constituição de 1988, as mulheres têm-se capacitado mais que os homens no que tange à educação, sendo elas possuidoras de mais tempo de formação, o que possibilitou a elas uma inserção de forma quase igualitária no mercado de trabalho. A PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2009, nos traz importantes e atualizadas informações sobre o assunto. A Tabela 1 mostra o salário monetário de ambos os sexos em vários ramos de atividade e a diferença percentual que há entre o salário médio no Brasil recebido por homem e por mulher nessas atividades.

MERCADO DE TRABALhO Daniel Portela Prado*1 Mariana Marques Nonato*1

Desigualdade de gênero no mercado de trabalho brasileiro

Das 24 áreas analisadas, a mulher recebe um salário médio inferior ao de seus colegas do sexo masculino em 16 delas, com destaque na área da construção civil, em que a mulher ganha, em média, um salário 84% menor, ou seja, o homem ganha um salário 536%, em média, maior que a mulher. O que aparece de mais interessante, no entanto, é o fato de que nas áreas em que a mulher ganha mais que o homem a diferença chega a praticamente 590%, como observado em Alojamento e Alimentação, e mais de 400% em outras três áreas.

*GraduandosdoCursodeCiênciasEconômicasdaUniversidadeCatólicadeBrasília-UCB.1OsautoresagradecemaoProf.GilsonGeraldinoSilvaJr.pelaleituracríticadotextoesugestões.

Tabela 1 - Salários Médios por Área de Atuação (R$) e Diferença entre o Salário Masculino e Feminino (%)

Masculino Feminino Diferença(%)

Aposentadoria 1.109,87 888,03 -19,99

Militar 2.139,81 3.893,80 81,97Funcionário público estatutário 2.534,44 1.746,44 -31,09Outro empregado sem carteira de trabalho assinada 6.860,00 6.546,00 -4,58Trabalhador doméstico com carteira de trabalho assinada 7.307,00 5.724,00 -21,67Trabalhador doméstico sem carteira de trabalho assinada 4.574,00 3.320,00 -27,41

Conta própria 9.825,00 6.468,00 -34,16

Empregador 3.481,61 2.837,39 -18,50

Não remunerado 3.619,00 2.291,00 -36,70Trabalhador na produção para o próprio consumo 2.948,00 987,00 -66,53

Agrícola 6.639,00 4.399,00 -33,73

Outras atividades industriais 1.993,19 1.938,67 -2,74

Indústria de transformação 1.279,00 7.214,00 464,00

Construção 8.704,00 1.368,39 -84,28

Comércio e reparação 1.151,46 7.667,00 565,81

Alojamento e alimentação 1.012,67 6.927,00 584,06Transporte, armazenagem e comunicação 1.332,32 1.503,74 12,87

Administração pública 2.201,21 1.777,62 -19,24Educação, saúde e serviços sociais 2.393,65 1.317,14 -44,97

Serviços domésticos 5.778,00 3.943,00 -31,76Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 1.236,80 7.881,00 537,20

Outras atividades 1.995,55 1.339,62 -32,87

Atividades maldefinidas 3.624,00 4.033,00 11,28

Fonte: PNAD 2009. Elaboração Própria

Quando o assunto é onde a mulher está trabalhando em comparação ao homem, podemos observar (Gráfico 1) que a mulher, relativamente à participação, ainda predomina nos serviços domésticos, bem como no número de trabalhadores domésticos com e sem carteira assinada, respectivamente com 93%, 89% e 95% do total de trabalhadores nessa área. Além disso, a mulher vem conseguindo, apesar de lentamente, seu lugar em áreas dominadas pelos homens, a exemplo do funcionalismo público (estatutário), em que as mulheres já representam 60% do contingente, apesar de, no serviço militar e construção, o homem ainda ter mais de 90% de participação.

Fonte: PNAD 2009. Elaboração Própria

Mas, de todas a informações empíricas que podem ser analisadas, a que mais ilustra que a mulher vem lutando pelo seu lugar no mercado de trabalho, e especialmente nos ramos em que se exigem mais instrução, são as contidas no Gráfico 2, que apresenta a participação percentual de homens e mulheres conforme os níveis de instrução. Nota-se que, a partir da 7ª série do Ensino Fudamental, a mulher já começa a constituir maioria, chegando ao Ensino Superior, inclusive nos níveis de mestrado e doutorado, com 57% do total de pessoas com esse nível de instrução.

Fonte: PNAD 2009. Elaboração Própria.

O que leva ao questionamento da desigualdade, partindo do pressuposto de que as mulheres possuem mais formação que os homens, é que o salário delas continua inferior ao deles. Isso pode ser explicado pelo fato de que os direitos conferidos às mulheres geram um custo

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Perfil da receita corrente dos municípios brasileiros

FINANÇAS PúBLICAS José Kleber Duarte Macambira Filho*

O Brasil é um país de dimensões continentais, o quinto maior do mundo, com cerca de 8,5 milhões de km2. Seu vasto território é dotado de significativa heterogeneidade quanto à renda, condições de vida, grau de urbanização, densidade populacional e tamanho dos estados e municípios.

É fácil perceber que tal heterogeneidade e amplitude geográfica induzem a diferentes níveis de capacidade de administração de cada governo municipal, assim como a diferentes perfis de demanda por bens públicos.

Trata-se, portanto, de uma situação na qual um sistema federativo teria muito a oferecer, visto que permitiria à administração pública adaptar-se às necessidades e idiossincrasias locais.

A partir da promulgação da Constituição de 1988, pode-se observar um significativo aumento do número de municípios no país. Esse crescimento, porém, não foi linear no período, tendo-se concentrado em alguns anos específicos, conforme ilustra o Gráfico 1.

Gráfico 1 - Evolução do número de municípios no Brasil – 1980 a 2008.

Fonte: IBGE

Para se compreender as circunstâncias de criação desses novos municípios desde os anos de 1980, devem-se contextualizar as mudanças institucionais e políticas ocorridas a partir daqueles anos.

O período que coincidiu com a democratização veio junto com a promulgação da Constituição de 1988 e o restabelecimento de um novo pacto federativo no país. O resultado dessa mudança foi uma maior descentralização do poder político, o que, consequentemente, estimulou a emancipação de novos estados e, principalmente, novos municípios.

Além disso, a possibilidade de compartilhamento dos fundos de participação entre as unidades novas e as antigas contribuiu para a criação de novos municípios1, uma vez que os interesses de grupos rivais eram acomodados por acordos políticos locais, resultando no compartilhamento do poder político-administrativo.

De acordo com Biderman (2005), há dois problemas centrais no federalismo brasileiro: o uso excessivo de transferências intergovernamentais e a existência de um grande número de municípios pequenos, sem escala suficiente para a produção de bens públicos.

A Tabela 1 mostra que quase a metade dos municípios brasileiros tem menos de dez mil habitantes, evidenciando a falta de escala para que serviços públicos mais complexos fiquem a cargo dos governos municipais.

O fato curioso é que são justamente esses os municípios mais privilegiados na partilha dos recursos da principal transferência federal, o Fundo de Participação dos Municípios2, ou seja, enviam-se mais os recursos públicos justamente para os municípios com menores condições para prover serviços públicos com eficiência.

Tabela 1 - Distribuição dos municípios por população.

(Mil habitantes) Frequência relativa

Frequência acumulada

Até 3 9% 9%3 a 5 15% 24%5 a 10 23% 47%10 a 20 25% 72%20 a 50 18% 90%50 a 100 6% 95%100 a 300 3% 99%Mais de 300 1% 100%

Fonte: IBGE. Tabulação do autor.

1Oritmodecriaçãodemunicípiosnãofoihomogêneoemtermosregionais.2Paramaisdetalhes,verMendes(2005).

*GraduandodoCursodeCiênciasEconômicasdaUCBebolsistaPIBIC/UCB/CNPQ

maior ao empregador. Esses direitos são os constantes da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que contém uma seção com 10 artigos, no capítulo III, Título III, relativa às “normas especiais de tutela do trabalho”. No artigo 391 dessa lei, casar ou engravidar não configuram motivo para rescisão contratual ou restrições ao direito da mulher ao emprego. Se isso acontecer, são aplicadas multas pela autoridade do Ministério do Trabalho. Conforme o título informa, são normas específicas encontradas na CLT. Ademais, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, inciso XVIII, protege a gestante contra demissão arbitrária ou sem justa causa e dá a ela o direito essencial da mulher grávida que trabalha: o direito à licença maternidade, com duração de 180 dias, vigentes a partir de 2010, sem prejuízo de emprego ou de salário.

A estabilidade provisória prolonga-se da confirmação da gravidez (que compete à empregada junto ao empregador) até cinco meses após o parto, o que permite a proteção do emprego e dos salários até mesmo no prazo de doze ou treze meses, uma vez provada a gravidez de imediato. Se ocorrer demissão sem justa causa ou arbitrária durante esse período, a gestante terá direito à reintegração ou ao pagamento dos salários relativos ao prazo legal que lhe é garantido. Os direitos guarnecidos à empregada gestante encontram-se previamente determinados na CLT, a exemplo do auxílio-maternidade e do aborto não criminoso.

As estatísticas descritivas com o nível de agregação aqui apresentado sugerem que a desigualdade salarial é significativa. Como não podemos concluir que isso seja consequência de diferenças no nível de instrução ou do fato de só agora as mulheres estarem ingressando no mercado de trabalho, uma possível explicação seria o maior custo por se contratar uma mulher. Entre esses custos, estão os decorrentes dos benefícios, como a licença-maternidade, ou ao fato de a empresa ter que se adaptar aos períodos de amamentação dos filhos das trabalhadoras. Afirmar com segurança que esse tratamento desigual é o responsável pelas diferenças salariais, porém, depende de pesquisas ulteriores.

ReferênciasALVES, Bruno Franco; GUIMARÃES, Marina Oliveira. A Inserção da mulher no mercado de trabalho brasileiro: direitos, desigualdades e perspectivas. Revista Augustus, n. 28, v. 14. Rio de Janeiro ago. 2009.BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Senado. Brasília-DF,1988.BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. 1943.PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. 2009.

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É coerente que boa parte da arrecadação tributária seja de responsabilidade da União, uma vez que o governo central tem maior capacidade para lidar com as externalidades, com a mobilidade da base tributária e com as economias de escala envolvidas na arrecadação tributária.

Como é usual na maioria dos países, também no Brasil os municípios são responsáveis por uma parcela relativamente pequena da arrecadação. A Tabela 2 mostra que 90% dos municípios brasileiros têm nas transferências recebidas (da União e dos Estados) pelo menos 3/4 (três quartos) de sua receita corrente.

Tabela 2 – Distribuição do número de municípios por participação das transferências na receita corrente (2007).

Participação das transferências na receita

corrente

Frequência relativa

Frequência acumulada

Maior ou igual a 95% 28% 28%90% a 95% 29% 58%85% a 90% 16% 74%75% a 85% 16% 90%Menor ou igual a 75% 10% 100%

Fonte: IBGE. Tabulação do autor.

Segundo a teoria desenvolvida por Oates33, esse perfil de financiamento é indesejável, por não estimular o cidadão a fiscalizar a ação do governo, por não estimular os governos locais a cobrar pela prestação de serviços públicos divisíveis e também estimular um comportamento free rider, com cada um dos governos locais pressionando o governo central para obter transferências adicionais.

O Gráfico 2 mostra que as transferências caem com o “tamanho” do município. Isso mostra a forte dependência dos municípios em relação às transferências como única fonte de financiamento dos seus gastos, o que torna a relação com a União ainda mais complicada e sujeita a todos os problemas políticos.

Gráfico 2 - Porcentagem das transferências e da receita tributária em relação às receitas correntes para os municípios brasileiros em função

do número de domicílios (2

007).

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Logarítimo do número de domicílios particulares permanentes

% transferências % receita tributáriaLog. (% transferências) Log. (% receita tributária)

Fonte: IBGE e STN. Elaboração do autor.

Observa-se que quanto maior ou mais rico o município menos dependente é da União. O comportamento inverso também pode ser verificado para as receitas tributárias (Gráfico

��Cf.Biderman(2005,p.447).

3). Esses resultados são esperados e revelam alguma forma de economia de escala na arrecadação municipal.

Gráfico 3 – Receita corrente tributária por domicílio por municípios brasileiros em função do número de domicílios (2007).

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Logarítimo do número de domicílios particulares permanentes

ln(r. corrente/domicílios) ln(r. tributária/domicílios)Log. (ln(r. corrente/domicílios)) Log. (ln(r. tributária/domicílios))

Fonte: IBGE e STN. Elaboração do autor.

As transferências entre os entes federados representam um mecanismo fundamental para amenizar as desigualdades regionais, garantindo que municípios pobres tenham arrecadação próxima dos municípios ricos. Mas, na realidade, as transferências não são suficientes para garantir igualdade perfeita entre a receita por domicílio dos municípios em função da renda. Isso ocorre pela característica progressiva das transferências, ou seja, o crescimento da receita tributária per capita é muito mais rápido do que o da receita corrente. Observe que a receita corrente é decrescente em função do número de domicílios.

Por outro lado, a receita tributária per capita é crescente em função do número de domicílios, reforçando a hipótese da existência de economia de escala na arrecadação. Logo, para que a receita caia com o tamanho do município, é necessário que as transferências sejam mais que compensatórias.

Essa característica da estrutura das transferências tem, portanto, um efeito perverso ao incentivar a criação de municípios, o que significa repassar o custo dos serviços públicos para o resto do país.

ReferênciasSECRETARIA DO TESOURO NACIONAL. Disponível em: < http://www.tesouro.fazenda.gov.br/> Acesso em : 23 ago. 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <htpp://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 13 ago. 2010.

BIDERMAN, C.;ARVATE, P. Economia do Setor Público no Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005.

REZENDE, F. Finanças Públicas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MENDES, M. Federalismo Fiscal. In: BIDERMAN, C.;ARVATE, P. Economia do Setor Público no Brasil. 6.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005.

SHIKIDA, C. D.. A Economia Política da Emancipação de Municípios em Minas Gerais. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

PESSOA, Eneuton et al. Emprego Público no Brasil: Comparação Internacional e Evolução Recente. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 19° Comunicado da Presidência do IPEA, 2009.

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COMÉRCIO EXTERIOR Bruno de Paula Moraes*1

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Missões no exterior promovem o comércio brasileiro

Em busca da facilitação de comércio e da ampliação do intercâmbio comercial, o Governo Brasileiro, com a participação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ministério das Relações Exteriores (MRE) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-BRASIL), realizou n mês de setembro diversas missões empresariais e comerciais em determinados países. Os principais alvos foram Argélia, Canadá, Coréia do Sul, Japão e Omã.

Apesar da aparente irrelevância desses países em termos de comércio com o Brasil, juntos, nos oito primeiros meses de 2010, somam uma participação de 6,56% nas exportações brasileiras e mais de 11,5% nas importações, resultando em um total de 21,7 bilhões de dólares em corrente de comércio.(Veja tabela abaixo.)

*Dados acumulados de janeiro a agosto.

2009 2010 Var % 2009 2010 Var % 2009 2010 Var %Argélia 469,07 458,76 -2,20 947,30 1.726,37 82,24 1.416,36 2.185,13 54,28Canadá 1.039,88 1.350,82 29,90 1.003,49 1.713,56 70,76 2.043,37 3.064,38 49,97Coréia do Sul 1.811,82 2.169,41 19,74 2.709,40 5.609,98 107,06 4.521,22 7.779,39 72,06Japão 2.648,25 4.207,61 58,88 3.578,73 4.404,38 23,07 6.226,98 8.611,99 38,30Omã 74,10 82,24 11,00 0,06 2,76 4861,03 74,15 85,01 14,64Total 6.043,12 8.268,84 36,83 8.238,97 13.457,05 63,33 14.282,09 21.725,89 52,12

Exportação Importação Corrente de comércioIntercâmbio Comercial

Fonte: Secex/MDIC. Elaboração Própria US$ Milhões

Esses países, além de mostrarem um desempenho crescente em suas economias, procuram também diminuir a dependência do mercado americano, tornando-os assim destinos potenciais para produtos brasileiros. Dados mostram que, no período de janeiro a agosto, as exportações do Brasil para esses países cresceram 36,83%, se comparado ao mesmo período de 2009. Esse crescimento foi puxado principalmente pelo Japão e Canadá que, respectivamente, compraram 58,8% e 29,9% a mais de produtos brasileiros neste ano de 2010.

Esses mercados não são somente potenciais para o comércio brasileiro, mas também para investimentos no Brasil. Empresários

desses países, principalmente Japão e Canadá, demonstraram interesse em investir no Brasil nos próximos anos. Pretendem investir nas áreas de infraestrutura e transporte, de forma que possam aproveitar os grandes eventos esportivos de 2014 e 2016, que serão sediados pelo Brasil.

ReferênciaBRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: <www.mdic.gov.br>. Acesso em: 24 set. 2010.

*GraduandodoCursodeCiênciasEconômicasdaUCB.1OautoragradeceaoProf.TitoBelchiorS.Moreirapelaleituracríticadotextoesugestões.

Parceria Brasil-ChinaA China, um dos países de maior crescimento econômico, está

cada vez mais presente no comércio do Brasil, tanto na exportação como na importação. O comércio bilateral entre brasileiros e chineses vem aumentando ano a ano, não somente em valor , mas também em participação percentual em relação ao total comercializado.

Somente até agosto deste ano, a corrente de comércio entre esses dois países praticamente se igualou ao valor atingido em todo o ano de 2009. As exportações brasileiras para a china, nesse mesmo período, cresceram mais de 29% e as importações mais de 60% em relação ao ano passado.

Ano Exportação Var% Importação Var% Saldo Corrente decomércio

2002 2.521 32,54 1.554 16,98 967 4.0752003 4.533 79,83 2.148 38,21 2.386 6.6812004 5.441 20,03 3.710 72,76 1.731 9.1522005 6.835 25,61 5.355 44,31 1.480 12.1902006 8.402 22,93 7.990 49,23 412 16.3932007 10.749 27,93 12.621 57,95 -1.872 23.3702008 16.442 52,96 20.044 58,81 -3.603 36.4862009 21.004 27,75 15.911 -20,62 5.093 36.9152010* 19.914 29,46 15.482 63,9 4.432 35.397

Intercâmbio Comercial Brasil - China

Fonte: Secex / MDIC. Elaboração própria. US$ Milhões FOB* Até agosto/2010

Mesmo com a crise global em 2009, as exportações brasileiras para a china continuaram crescendo em torno de 27% em relação a 2008. Porém, as importações tiveram uma forte queda, de mais de 20%. Mesmo com a forte queda na importação, a corrente de comércio manteve-se estável, com um leve crescimento de 1,2%.

Fonte: Secex / MDIC. Elaboração própria . US$ Milhões FOB * Até agosto/2010

Observando somente o crescimento da corrente de comércio, percebe-se um grande aumento na relação bilateral entre Brasil e China, tornando-os grandes parceiros comerciais. Essa parceria vai ficando mais clara ao longo do tempo, sendo que a China, aos poucos, foi aumentando sua participação no total exportado pelos brasileiros.

Fonte: WTA – World Trade Atlas . Elaboração própria . * Até agosto/2010

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Bovespa se torna a segunda maior bolsa de valores do mundoMERCADO FINANCEIRO Diego Cezar Gomes Magalhães*1

O primeiro semestre do ano de 2010 representou um grande susto para analistas e investidores: após o Índice Bovespa se aproximar de seu topo histórico na casa de 71 mil pontos em abril, tudo foi perdido bruscamente com o agravamento da crise fiscal na Europa e a necessidade de aperto monetário do Banco Central, de tal modo que, em menos de dois meses, os investidores amargavam um fundo na casa dos 58 mil pontos (Gráfico 1). Em contrapartida, o mercado acionário brasileiro tem-se revelado muito menos hostil no segundo semestre e, ao final de setembro, o Ibovespa chega novamente à ordem dos 70 mil pontos. No mesmo mês, a Bovespa atinge um novo marco e se torna a segunda maior bolsa de valores do mundo.

GRÁFICO 1 (30/09/2010): Desenvolvimento do Ibovespa nos últimos seis meses, desde o topo alcançado em abril, passando pela crise no mês seguinte, até a recuperação nos últimos meses. A reta mostra uma tendência altista com fundos e topos ascendentes. Fonte: ADVFN

A China vem aumentando sua participação no comércio brasileiro constantemente, desde 2003, sendo que, após uma leve queda, retomou suas taxas de crescimento até chegar ao patamar de principal parceiro nas exportações brasileiras em 2009, ultrapassando até os Estados Unidos que, durante mais de 80 anos, foram o país que mais importava produtos do Brasil.

A participação dos norte-americanos vem perdendo espaço. Suas taxas de crescimento de participação nas exportações do Brasil são negativas desde 2003, em contraste com a China, que embalou um forte crescimento.

Fonte: WTA – World Trade Atlas . Elaboração própria * Até agosto/2010

Em 2010, somente até agosto, a China já supera a participação atingida em todo ano de 2009, sendo o principal destino das exportações brasileiras. Neste ano, aproximadamente 55,6% das exportações brasileiras foram destinadas a 10 principais países, a saber: China, EUA, Argentina, Holanda, Alemanha, Japão, Rússia, Reino Unido, Itália e Espanha.

Fonte: WTA – World Trade Atlas . Elaboração própria . * Até agosto/2010

Em relação ao total que é exportado para esses 10 principais destinos, 28% são remetidos somente para a China, que fica na frente de grandes países que têm tradição de negócios com o Brasil.

Fonte: WTA – World Trade Atlas . Elaboração própria . * Até agosto/2010

Todos esses dados mostram o quanto a China se tornou um país com grande potencial de negócio para os produtos brasileiros. Nesse contexto, considerando-se as expectativas de elevadas taxas de crescimento daquele país nos anos vindouros, espera-se que o comércio entre brasileiros e chineses se intensifique e que surjam novas oportunidades de negócios.

Referências

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: <www.mdic.gov.br>. Acesso em: 29 out. 2010.VALOR ECONÔMICO. Disponível em: <www.valoronine.com.br>. Acesso em: 29 set. 2010.WORLD TRADE ATLAS. Disponível em: <www.gtis.com/gta>. Acesso em: 29 set. 2010.CNI. Disponível em: <www.cni.org.br>. Acesso em: 29 set. 2010.

*GraduandodoCursodeCiênciasEconômicasdaUCB.1OautoragradeceaoProf.RogérioBoueriMirandapelaleituracríticadotexto.

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Informativo do Curso de Ciências EconômicasCarta Econômica

SEÇÕES

A Carta econômica é um boletim trimestral com tiragem de quinhentos exemplares, produzido pelo Curso de Ciências Econômicas (graduação, mestrado e doutorado em Economia de Empresas).Ano XVI, no 3 – setembro de 2010

Prof. MSc. Amairte Benevenuto ([email protected])Editor da Carta econômica do DFCoordenador da Seção de Finanças PúblicasProf. Dr. Gilson Geraldino Silva Jr. ([email protected])Coordenador da Seção do Mercado de TrabalhoProf. Dr. José Angelo Divino ([email protected])Coordenador da Seção de InflaçãoProf. Dr. Tito Belchior S. Moreira ([email protected])Coordenador da Seção de Comércio Exterior DFProf. Dr. Rogério Boueri Miranda ([email protected])Prof. Dr. Benjamin Miranda Tabak ([email protected])Coordenadores da Seção de Mercado FinanceiroDiagramação: Adriano da Silva Pereira/Editora Universa – UCBRevisão: Ivonilda Machado de Oliveira/Editora Universa – UCB

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Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCBPara mais informações, acesse a home page do curso: www.economia.ucb.brEndereço: Campus I – QS 7 lote 1 EPCTCEP 91.966-700 – Águas Claras – Taguatinga – DFFone: (61) 3356-9185 Fax: (61) 3356-3010

Mestrado e doutorado em Economia de Empresas da Universidade Católica de BrasíliaPara mais informações, acesse a home page do curso www.ucb.br/economia.Endereço: Campus II – SGAN 916, Módulo B, Asa NorteCEP 70.790-160 – Brasília – DFFone: (61) 3448-7127 Fax: (61) 3347-4797

Como se verifica no Gráfico 2, o retorno da Bovespa acumulado em 2010 continua pífio se comparado ao ano anterior e não chega a superar mesmo o retorno da renda fixa. Porém, o Ibovespa partira de uma base muito inferior em 2009, enquanto começou 2010 próximo a seu topo histórico e com uma conjuntura externa muito desfavorável. Além disso, pelo Gráfico 2 também já se pode notar, finalmente, que os problemas de 2010 não se comparam aos de 2008, em termos de poder destrutivo sobre o mercado financeiro. Quanto ao volume financeiro da Bovespa, conforme exposto no Gráfico 3, também observa-se superação em 2010. Ao final do oitavo mês, já ultrapassa 1 trilhão de reais o volume financeiro de transações na Bovespa em 2010, superando os valores anteriores à crise financeira de 2008.

GRÁFICO 2: Comparação do retorno acumulado na Bovespa em cada mês até o momento, nos últimos anos. Fonte: Economática (elaboração própria).

GRÁFICO 3: O volume total movimentado na Bovespa em 2010 já supera os valores pré-crise de 2008. Fonte: BMF&BOVESPA (elaboração própria).

O bom humor dos investidores brasileiros e estrangeiros deve-se, aparentemente, ao sucesso do país em ajustar seu ambiente macroeconômico. A crescente pressão inflacionária, que tomara a atenção da autoridade monetária no primeiro semestre, foi finalmente contida a partir de junho, com um IPCA registrado em níveis aceitáveis desde então. Começando o mês de setembro, o Copom mantém a meta para a taxa Selic em 10,75% a.a., interrompendo seu ciclo de aperto monetário após três aumentos consecutivos desde abril. As expectativas do mercado, conforme relatado pelo Boletim Focus do Banco Central, antecipam há semanas que o Brasil terá crescimento econômico na ordem de 7% ao fim de 2010, com inflação pouco acima de 5%. Nesse mesmo contexto, a taxa de câmbio também volta a registrar valorização da moeda brasileira, com o dólar sendo cotado abaixo de R$ 1,70 no final de setembro.

GRÁFICO 4: Dólar X Real - A súbita valorização do real ante o dólar evidencia a credibilidade externa que o país recuperou. Fonte: ADVFN

Contudo, o evento mais marcante desse mês foi a capitalização da Petrobrás, que veio a elevar a Bovespa à ordem de segunda maior bolsa de valores do mundo em valor de mercado, atingindo R$ 30,4 bilhões no fechamento do pregão em 24 de setembro. Segundo Edemir Pinto, presidente da BMF&Bovespa, o valor de mercado da bolsa paulistana já supera em 25% a soma das bolsas de Nova York, Londres e Nasdaq, estando abaixo apenas da bolsa de Hong Kong. Quanto à Petrobrás, a empresa elevou o seu valor de mercado para US$ 220 bilhões e oficializou a emissão de 2,294 bilhões em ações ordinárias e 1,78 bilhão de ações preferenciais. Segundo Mantega: “É a maior capitalização já feita na história do capitalismo. Acontece no momento mais difícil da recuperação do mundo, quando ainda há muitos problemas financeiros, e a dez dias da eleição no Brasil. Diria que é um feito importante”.

A análise de desempenho do mercado acionário brasileiro também oferece resultados interessantes se for decomposta em setores, pois, muito embora o Ibovespa tenha apresentado retorno negativo na maior parte do ano, os índices setoriais mais conhecidos vão em direção oposta. Os setores de consumo (ICON), financeiro (IFNC) e imobiliário (IMOB) apresentam as maiores altas: 15,06%, 12,17% e 10,02% até 30 de setembro. Os setores de indústria (INDX) e energia (IEE) oferecem retornos mais modestos, de 6% e 4,81%, até o momento, mas significativos num contexto de retração no mercado. Apenas o ITEL, do setor de telecomunicações, mostra um desempenho expressamente negativo, com uma queda de 12,63% no período.

GRÁFICO 5: Desempenho dos principais índices setoriais em comparação ao Ibovespa desde o início do ano até 30/09. Fonte: Economática (elaboração própria).

Parece evidente que o endividamento público na Europa e o esfriamento da atividade econômica nos Estados Unidos tornam-se problemas crônicos e intrínsecos à atual conjuntura macroeconômica internacional, sem maiores perspectivas de mudança num futuro próximo, com os quais os investidores terão que conviver daqui em diante. Todavia, também está claro que a economia brasileira mais uma vez demonstra solidez ante aos novos desafios e isso é refletido no mercado de capitais. Em que pesem os problemas no cenário externo e as tentações populistas do período eleitoral, os investidores retomam sua confiança na Bovespa e no Brasil como um porto seguro, mesmo em tempos turbulentos.

ReferênciasADVFN Brasil. Disponível em: <http://br.advfn.com/>. Acesso em: 1º out. 2010.BMF&Bovespa. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/>. Acesso em: 1º out. 2010. ECONOMÁTICA. 1º out. 2010.YAHOO FINANÇAS. Disponível em: <http://br.finance.yahoo.com/>. Acesso em: 1º out. 2010.