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PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PÚBLICA – EFEITOS NAS CARREIRAS DE ESTADO Guilherme Guimarães Feliciano

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PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PÚBLICA

– EFEITOS NAS CARREIRAS DE ESTADO

Guilherme Guimarães Feliciano

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I

FUNPRESP: A ENTIDADE

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FUNPRESP – a entidade

→ Lei n. 12.618, de 30.04.2012. “Institui o regime de previdência complementar para os servidores públicos federais titulares de cargo efetivo, inclusive os membros dos órgãos que menciona, fixa o limite máximo para a concessão de aposentadorias e pensões pelo regime de previdência de que trata o art. 40 da Constituição, autoriza a criação de entidade fechada de previdência complementar denominada Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal — FUNPRESP, e dá outras providências”.

→ Inconstitucionalidades e inconsistências.

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FUNPRESP – a entidade

Art. 40, §§ 14 e 15: ““[o] regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida”. O que é natureza pública?

→ Dicotomia romana (Justiniano). Critério da utilidade da relação (= teorias do interesse: interesse geral vs. interesse particular).

→ G. JELLINEK: direito público ↔ «ius imperium» (= teorias das relações de dominação: relações de coordenação vs. relações de subordinação).

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FUNPRESP – a entidade

Significado prático:

(1) ser “público” implica suscitar interesse público e, portanto, responsabilidade pública dos entes com os quais o cidadão se relaciona em regime jurídico de subordinação (na hipótese, da entidade instituidora — a UNIÃO —, ao menos em parte); essa responsabilidade não foi regulada.

(2) Ser “público” implica reger-se por estatuto jurídico de direito público. I.e., um regime com derrogações do direito comum, que não se resume às suas contratações, mas à sua própria administração, à responsabilidade especial de seus agentes, à acumulação remunerada e à destinação de seu patrimônio (v., e.g., ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. pp.184-185). No plano existencial, ter personalidade jurídica de direito público.

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FUNPRESP : A ENTIDADE

→ No caso da FUNPRESP, nada disso se observou:

● as FUNPRESP´s (FUNPRESP-Jud, FUNPRESP-Exe, FUNPRESP-Leg) têm

personalidade jurídica de direito privado;

● a sua pretensa “natureza pública” resume-se à existência de concursos públicos

para a contratação de seu pessoal (celetista, i.e., em regime próprio de entidades

privadas), à licitação de seus gestores e à publicação de documentos contábeis,

elementos que podem perfeitamente ser identificados em entidades de natureza

privada;

● a própria gestão é privatizada, enquanto em entidades de autêntica natureza

pública “[...] a gestão desse patrimônio é da própria entidade, que é dotada de

personalidade jurídica, e as responsabilidades decorrentes são de seus agentes e

dirigentes, em regime similar ao dos bens públicos das ‘Fazendas’” (ARAÚJO,

op.cit., p.188).

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II

FUNPRESP: O REGIME

PREVIDENCIÁRIO

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FUNPRESP: O REGIME PREVIDENCIÁRIO

→ A lei cria um microssistema de previdência complementar baseado nas regras das Leis Complementares ns. 108/2001 e 109/2001, que regulamentam a previdência complementar privada, nos termos do art.202, caput, da CR:

“[...] regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social [...]”

● O art. 40 da CR, em seus §§ 14 e 15, pretendeu introduzir no sistema jurídico brasileiro uma nova figura, a saber, a previdência complementar de natureza pública, absolutamente desataviada da hipótese de conformação constitucional do art. 202 da Constituição.

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III

FUNPRESP E CARREIRAS

TÍPICAS DE ESTADO

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FUNPRESP E CARREIRAS TÍPICAS

► MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO. Os rigores do art. 93, caput, da Constituição. Previdência de Magistrados e membros do Ministério Público. Interpretação lógico-sistemática.

► A CISÃO DAS CARREIRAS TÍPICAS DE ESTADO. Duas carreiras, uma “subclasse”. Reflexos em estruturas burocráticas profissionalizadas (quadros técnicos).

► FUNPRESP E INTERESSE ECONÔMICO. VIABILIDADE ATUARIAL. Dessegmentação. Art. 18, §2º, da LC 109/2001:

“Observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, o cálculo das reservas técnicas atenderá às peculiaridades de cada plano de benefícios e deverá estar expresso em nota técnica atuarial, de apresentação obrigatória, incluindo as hipóteses utilizadas, que deverão guardar relação com as características da massa e da atividade desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor” (g.n.).

O caso argentino: esperava-se um público de seis milhões de pessoas a serem incorporadas no novo regime. No entanto, por temor dos segurados e falta de interesse das seguradoras, o contingente abrangido não chegou sequer a alcançar o número de dois milhões de pessoas (M. ORIONE).

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FUNPRESP- JUD: A RESOLUÇÃO n. 496/2012

► Resolução n. 496, de 26.10.2012: “Cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário – Funpresp-Jud, dispõe sobre sua vinculação ao STF e dá outras providências”

► Poderão celebrar convênios de adesão: (a) o MPU e o CNMP; (b) a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Tribunal de Contas da União

► Estatuto aprovado em 17.12.2012, sem qualquer participação das associações de magistrados (AMB, Anamatra, Ajufe). Aprovado pelo Ministério da Previdência Social em 14.02.2012, pela Portaria MPS/PREVIC/DITEC n. 71/2013.

► Integrantes dos conselhos deliberativo e fiscal nomeados em 15.04.2013.

►Quem pode participar dos conselhos? Art. 35 da LC n.109/2001:

“As entidades fechadas deverão manter estrutura mínima composta por conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva. [...] § 1o O estatuto deverá prever representação dos participantes e assistidos nos conselhos deliberativo e fiscal, assegurado a eles no mínimo um terço das vagas. [...] § 3o Os membros do conselho deliberativo ou do conselho fiscal deverão atender aos seguintes requisitos mínimos: I - comprovada experiência no exercício de atividades nas áreas financeira, administrativa, contábil, jurídica, de fiscalização ou de auditoria; II - não ter sofrido condenação criminal transitada em julgado; e III - não ter sofrido penalidade administrativa por infração da legislação da seguridade social ou como servidor público”.

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IV

CONCLUSÕES

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conclusões

► Judicialização da matéria, pelos vícios constitucionais decorrentes da inobservância do próprio modelo de previdência complementar pública adotado pela EC n. 41 (sem prejuízo do questionamento da constitucionalidade das próprias reformas previdenciárias dos governos Lula e FHC — ADI´s ns. 2883 e 3308). ANAMATRA/AMB: ADI n . 4885 (2013)

► Quebra do pacto histórico de valorização do servidor público, em detrimento das

recomendações da própria OCDE (necessidade de conferir tratamento diferenciado entre

servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada, em especial no campo

previdenciário).

► Perda de competitividade em relação aos segmentos privados, o que deverá implicar

(a) maior rotatividade nos cargos e funções públicas, com migrações constantes para a

iniciativa privada; (b) queda da qualidade técnica do servidor público médio; (c)

resistência maior à aposentadoria e estratégias judiciárias de resistência hoje

incomuns no serviço público (e.g., ações de desaposentação); (d) a médio e longo

prazos, sucateamento parcial dos quadros públicos, sem a esperada contrapartida de

equilíbrio das contas da previdência pública (a se manterem os benefícios públicos sem

contrapartida atuarial, como no caso das previdências militares e do Distrito Federal).

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“TraTar a humanidade, seja em minha pessoa ou na do outro, sempre como um fim, e nunca apenas como um meio”

(E. KANT)

O agente de Estado deve ser meio para o

equilíbrio das contas públicas?

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...OBRIGADO!