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Prevenção de disparidades de prontidão escolar entre crianças de famílias de baixa renda em Boa Vista Alan Mendelsohn MD. Professor-Associado de Pediatria e Saúde, Escola de Medicina, Universidade de Nova Yorque (NYU)

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SLIDE 1

Prevenção de disparidades de prontidão escolar entre

crianças de famílias de baixa renda em Boa Vista

Alan MendelsohnMD. Professor-Associado de Pediatria e Saúde,

Escola de Medicina, Universidade de Nova Yorque (NYU)

SLIDE 2

Equipe da Pesquisa

Alan Mendelsohn, MD – NYU

Adriana Weisleder, PhD – NYU

João Batista Araujo e Oliveira, PhD – Presidente do IAB

Denise Rocha Mazzuchelli, MSc – IAB

Walfrido Duarte Neto – Psicólogo, IAB

Aline Sá, PhD – IAB

Rochele Paz Fonseca, PhD – PUC-RS

Hosana Alves Gonçalves, MSc – Instituição Evangélica de Novo Hamburgo

Slide 3

● O presente projeto de pesquisa é parte do Família que Acolhe – a política para Primeira Infância instituída pela Prefeita Teresa Surita em Boa Vista.

● O Instituto Alfa e Beto colabora com o Família que Acolhe em várias frentes, uma delas é a Universidade do Bebê, voltada para o desenvolvimento de interação eficazes entre pais e filhos, com ênfase na leitura.

● O objetivo maior de Políticas da Primeira Infância:

> Reduzir disparidades decorrentes de pobreza que afetam o desenvolvimento infantil, prontidão para entrar na escola e desempenho escolar.

Contexto

SLIDE 4

● Prontidão escolar: é desafio crítico em vários países

> Mais de 200 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade não alcançam o seu potencial devido a condições associadas à pobreza. (Grantham-McGregor et al., 2007)

> Prevenção primária deve começar na Primeira Infância ♦ Prever antes da aparecerem as disparidades. ♦ Efeitos adversos (epigenética e fatores neurológicos, psicológicos, de desenvol-

vimento) decorrentes de pobreza e estresse tóxico já estão presentes quando a criança chega à escola.

> Interações entre pais e filhos constituem um alvo para intervenção ♦ Parentalidade positiva constitui uma forte proteção contra o estresse tóxico. ♦ Identificar plataformas com escalabilidade para promover parentalidade positiva e

prontidão escolar. � Exemplos: Sistema de Saúde, Programas de Primeira Infância.

Princípios básicos

SLIDE 5

Hart & Riley, 1995

1200

1000

800

600

400

200

0

Child # Different Words Spoken

Age (yrs) 1 2 3

High Income

Working class

Poor

Número de diferentes palavras faladas

pela criança

Idade (anos)

Alto nível socioeconômico

Trabalhadores

Pobres

Disparidades associadas à pobreza começam muito cedo e em diferentes áreas do desenvolvimento

Slide 6

Oportunidades críticas para intervir: interações entre pais e filhos (a diferença de 30 milhões de palavras)

Hart e Risley, 1996

Brooks-Gun e Markman, 2005

Renda elevada

Trabalhadores

Pobres

75% de diferença em exposição a

palavras

50m

30m

40m

20m

10m

0 2412 36 48

Acumulado de palavras ouvidas até

o 3º ano (milhões)

Idade (anos)

Local da Pesquisa: Boa Vista

● Cidade de porte médio situada no Norte do Brasil, na fronteira com a Venezuela

● Capital do Estado de Roraima

Fatores sociodemográficos de Boa Vista

● População: 267.000 habitantes

● Maioria pobre, baixo nível de escolaridade

● 53.976 famílias inscritas no Cadastro único

● 25.010 famílias beneficiárias do Bolsa Família

Três famílias: todas correndo tremendos riscos

Três famílias: todas correndo tremendos riscos

Três famílias: todas correndo tremendos riscos

Contexto do Estudo

● Família que Acolhe é o nome da Política de Primeira Infância de Boa Vista

● O objetivo do programa é melhorar o nível de saúde e bem-estar da população, com foco no terço mais pobre.

● Família que Acolhe oferece um conjunto integrado de serviços de saúde, educação e assistência social para famílias desde o pré-natal até o final da educação infantil.

● Um componente crítico desta iniciativa é expandir a cobertura das creches (Casas-mãe) e aumentar o seu impacto por meio de:

> Currículo robusto com foco em leitura e linguagem > Componente adicional de parentalidade positiva:

♦ Programa de empréstimo de livros (2 livros por semana) ♦ Sessões de treinamento para pais sobre como ler com os filhos

Sede do FQA

FQA

Casa mãe

Casa mãe

Casa mãe

O desenho experimental da pesquisa

Estudo envolveu um desenho experimental randomizado controlado por “cluster”, comparando dois grupos:

● Crianças nas Casas-mãe com o programa adicional de treinamento (UBB3)

● Crianças nas Casas-mãe sem o programa adicional de treinamento

A intervenção – UBB-3

Dois componentes:

● Programa de empréstimo de livros

● Treinamento para os pais

O programa de empréstimo de livros

● Empréstimo semanal de 2 livros que integram o Guia Leitura desde o Berço apropriados para crianças das respectivas faixas etárias

● A cada semana as famílias devolvem e pegam dois novos livrosos 600 livros que toda criança deve ler antes de entrar para a escola

GUIA IAB DE LEITURA

PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA

GU

IA IAB

DE L

EIT

UR

A PA

RA A P

RIM

EIR

A INF

ÂN

CIA

Há muitas razões para ler e para

ler desde cedo para as crianças

pequenas. Introduzir a criança

no mundo dos livros signifi ca

introduzir o mundo na vida

da criança.

Este guia não pretende ser uma

seleção dos 600 melhores livros

existentes no mercado – mas uma

indicação dos tipos de leitura, de

livros, de assuntos e gêneros que

devem constar da educação e da

formação intelectual de nossas

crianças. Portanto, será natural

que, em novas versões, revisões

signifi cativas da lista ocorram.

Esperamos que as crianças não

fi quem apenas nos 600 livros

que integram o guia. Esses são

600 livros que toda criança deve

ler, mas não são “os”, nem os

“únicos”, nem “apenas” os

600 livros.

João Batista Araujo e Oliveira

Presidente do IAB

O Guia IAB de Leitura para

Crianças: os 600 livros que

toda criança deve ler antes

de entrar para a escola tem

como objetivos:

• Identifi car e promover

um conjunto integrado e

consistente de leituras que

devem formar a base de

informações, conhecimentos

e valores da cultura brasileira

e universal que toda criança

deve adquirir.

• Identifi car e promover livros

de alta qualidade em aspectos

como conteúdo, ilustração,

pertinência de linguagem,

qualidade gráfi ca e facilidade

de manuseio.

• Estimular a produção

e a oferta de livros não

literários importantes para o

desenvolvimento da criança,

inclusive e especialmente os

informativos e descritivos.

• Facilitar a escolha e a

indicação de livros por pais,

professores e bibliotecários.

Treinamento para os pais

1. Sessões em grupo nas Casas-mãe

● Uma sessão a cada 3 semanas (9 ao todo durante o experimento), com 1 hora de duração ● Sessões coordenadas pelo staff do FQA ● Até 30 famílias por grupo, frequência superior a 70%

2. Componentes-chave

● Discussão das experiências/barreiras encontradas ao ler para os filhos em casa ● Famílias leem os livros com seus filhos ● Discussão da experiência acima e planos para fazer em casa

3. Atividades adicionais para apoiar a implementação do programa em casa:

● Agenda – o educador da Casa-mãe manda informações diárias sobre o progresso da criança e sugestões de atividades

● Livro viajante: pais e filhos relatam e registram suas experiências de leitura do Livro-viajante.

Sessão de treinamento

Sessão de treinamento: pais lendo com os filhos

Sessão de treinamento: pequenos gruposdiscutem barreiras e como superá-las

Agenda

Desenho do experimento

– dados sociodemográficos e de risco– engajamento em programas de parentalidade– interação pais-filhos– desenvolvimento da criança e prontidão escolar

Randomização Matrícula Avaliações

22 casas mãe

Intervenção:11 Casas Mãe

+ Programa de leitura

Controle:11 Casas Mãe

sem programa de leitura

310 famílias

305 famílias

1 ano mais tarde (final do ano escolar)

Linha de base (início do ano

escolar)

Avaliação: teste das crianças

Avaliação: entrevista com mães

Avaliação: observação de interações pais-filhos

UBB 3 – Principais resultados

● Aumento de interações entre pais e filhos

> Frequência de leitura > Qualidade da leitura

● Avanços no desenvolvimento

> Linguagem > Cognição > Sócio-emocional

UBB 3 50% de redução do número de famílias que NÃO leem:

11%  

23%  

0%  

5%  

10%  

15%  

20%  

25%  

Not  reading  to  child  

Baby  College  3  

Control  

P< .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos.

Linha de base: leitura

Não lê para a criança

UBB-3

Controle

UBB 3 50% de aumento do número de famílias que leem 3 dias ou mais por semana

Leitura 3 dias ou mais por semana

UBB-3

Controle

48%  

32%  

0%  

10%  

20%  

30%  

40%  

50%  

60%  

Reads  3+  days/week  

Baby  College  3  

Control  

P< .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos.

Linha de base: leitura

UBB 3 50% de aumento de leitura interativa

Escore no teste de Observação de Leitura Interativa (ACIRI)

UBB-3

Controle

P< .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos.

Linha de base: leitura

5  

3,4  

0  

1  

2  

3  

4  

5  

6  

Observed  Interac6ve  Reading  Score  (ACIRI)  

Baby  College  3  

Control  

A diferença representa 2/3 de um DP, em termos estatísticos isso representa um efeito grande.

UBB 3 14% de aumento no vocabulário

Diferença representa um aumento de .2 DP

Avaliação do Vocabulário da Criança

UBB-3

Controle

P< .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos.

Linha de base: vocabulário

14,7  

12,9  

0  

2  

4  

6  

8  

10  

12  

14  

16  

Child  Vocabulary  Assessment  

Baby  College  3  

Control  

p<.05  by  mul,level  model  adjus,ng  for  Casa  Mae,    sociodemographics,  baseline  vocabulary      

Difference  represents  .2  SD  increase.    

UBB 3 27% de aumento na memória de Trabalho/QI

Diferença representa aumento de .4 DP

Memória de trabalho observada – Nota de QI (TIMT)

UBB-3

Controle

P< .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos.

Linha de base: memória de trabalho

9,3  

7,3  

0  1  2  3  4  5  6  7  8  9  

10  

Observed  Working  Memory  /  IQ  Score  (TIMT)  

Baby  College  3  

Control  

p<.05  by  mul,level  model  adjus,ng  for  Casa  Mae,    sociodemographics,  baseline  working  memory      

Difference  represents  .4  SD  increase.    

UBB 3 25% de aumento de crianças SEM problemas de comportamento

Crianças sem problemas de comportamento (CBCL – externalização)

UBB-3

Controle

P< .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos

Linha de base: problemas de comportamento

30%  

24%  

0%  

5%  

10%  

15%  

20%  

25%  

30%  

35%  

No  behavior  problems  (CBCL  externalizing)  

Baby  College  3  

Control  

p<.05  by  mul,level  model  adjus,ng  for  Casa  Mae,    sociodemographics,  baseline  behavior  problems      

UBB 3 – Resultados adicionais

● Aumento geral de estimulação cognitiva nas casas

● Redução de punição física

● Aumento de processamento fonológico (memória fonológica)

Todos p < .05 usando modelo de ajustamento multinível para Casas-mãe, dados sociodemográficos, linha de base: medida de construção

UBB 3 – Conclusões

● UBB-3 provocou aumentos grandes e consistentes tanto nas interações entre pais-filhos quando no desenvolvimento das crianças.

● Efeitos notáveis tendo em vista que o programa consiste apenas no empréstimo de livros e de sessões de treinamento dos pais.

● Enorme oportunidade de escalabilidade

● Oportunidade significativa de adaptação para outros lugares, no Brasil e fora.

Agradecimentos

● Cooperação do Município de Boa Vista para a realização da pesquisa, especialmente da Prefeita Teresa Surita, do pessoal do FQA e das famílias

● Apoio para a pesquisa: IDados/Instituto Alfa e Beto

Obrigado!

Contato:

Alan Mendelsohn, [email protected]

Instituto Alfa e [email protected]

Prefeitura Municipal de Boa [email protected]