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PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES Luciana Frutuoso de Oliveira Dissertação de Mestrado Salvador (Bahia), 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE, AMBIENTE E TRABALHO

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  • 1

    PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E

    FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES

    Luciana Frutuoso de Oliveira

    Dissertao de Mestrado

    Salvador (Bahia), 2013

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO

    EM SADE, AMBIENTE E TRABALHO

  • 2

    UFBA/SIBI/Bibliotheca Gonalo Moniz: Memria da Sade Brasileira

    Oliveira, Luciana Frutuoso de O48 Prevalncia de transtornos mentais comuns e fatores associados em professores/ Luciana Frutuoso de Oliveira. Salvador: 2013. 57 f. [tab. Anexos. Orientador: Prof. Dr. Lauro Antonio Porto.

    Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia, 2013. 1. Transtornos mentais - Docentes. 2. Epidemiologia. 3. Sade ocupacional. 4. Estudos transversais. I. Porto, Lauro Antonio. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Ttulo.

    CDU 616.89-008

  • 3

    Luciana Frutuoso de Oliveira, PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS

    COMUNS E FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES, 2013.

  • 4

    PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E

    FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES

    Luciana Frutuoso de Oliveira

    Professor-orientador: LAURO ANTONIO PORTO

    Dissertao apresentada ao Colegiado do Curso

    de Ps-graduao em Sade, Ambiente e

    Trabalho da Faculdade de Medicina da Bahia da

    Universidade Federal da Bahia, como pr-

    requisito obrigatrio para a obteno do grau de

    Mestre em Sade, Ambiente e Trabalho.

    Salvador (Bahia), 2013

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO

    EM SADE, AMBIENTE E TRABALHO

  • 5

    COMISSO EXAMINADORA

    Membros Titulares:

    I. Fernando Martins Carvalho, Professor Titular do Departamento de Medicina

    Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia, Professor do Programa

    de Ps-Graduao em Sade, Ambiente e Trabalho da Faculdade de Medicina da

    Bahia da Universidade Federal da Bahia.

    II. Snia Regina Pereira Fernandes, Professora Participante da Ps-Graduao em

    Psicologia, Instituto de Psicologia, Mestrado em Psicologia, Universidade

    Federal da Bahia.

    III. Lauro Antonio Porto (Professor-orientador), Professor Adjunto do Departamento

    de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia da

    Universidade Federal da Bahia.

  • 6

    FRONTISPCIO

    Se no existisse professor sua assinatura seria assim:

    (autor desconhecido)

  • 7

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a Deus por ter me

    proporcionado todas as coisas, minha famlia

    pela torcida, a alguns amigos que direta ou

    indiretamente estiveram comigo nesta empreitada.

  • 8

    FONTES DE FINANCIAMENTO

    CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior).

  • 9

    AGRADECIMENTOS

    - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    Faculdade de Medicina

    Programa de Ps-graduao em Sade, Ambiente e Trabalho

    - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

    Ncleo de Estudos em Sade da Populao

    - Ao professor orientador Lauro Antonio Porto pela orientao cabida,

    dedicao e pacincia, ensinando no de forma pronta, mas dentro de seu amplo

    saber, dando espao ao pensamento e a certo grau de liberdade do aluno em

    expressar e valorizar suas ideias e propostas, fazendo com que o pensamento crtico

    e o conhecimento sejam construdos ao longo do tempo de maneira muito tranquila.

    - Ao professor Fernando Martins Carvalho, por todo o apoio e instruo durante

    o perodo de pr-qualificao, sempre com sugestes oportunas para a

    implementao deste trabalho, bem como pela sugesto final do delineamento do

    objeto estudo.

    - A todos os professores do Programa do Mestrado em Sade, Ambiente e

    Trabalho pela contribuio direta ou indiretamente atravs de seus ensinamentos

    que foram de grande valia e amadurecimento de todas as etapas de construo desta

    proposta investigativa, bem como aos convidados que estiveram ligados ao meu

    tema de estudo.

    - professora Sonia Regina, pelas sugestes durante a qualificao que foram

    muito bem vindas em destaque ao uso de um dos questionrios aplicados.

    - Aos meus queridos amigos Jefferson Paixo Cardoso e Saulo Rocha Vasconcelos

    que foram os pioneiros em acreditar em mim, no incentivo, na ajuda, nas parcerias

    de trabalhos, de resumos e da minha introduo ao universo da pesquisa, este

    mestrado uma pontinha do investimento deles na minha pessoa. Em especial a

    Jefferson que abriu as portas do ncleo de pesquisa sob sua coordenao para que

    pudssemos trabalhar em parceria de uma maneira muito harmoniosa.

  • 10

    - equipe de trabalho, composta por estudantes de graduao de cursos diversos

    que atuou comigo durante a primeira e segunda fase de coleta e da digitao dos

    dados:

    Adriana Moura Maia, graduanda de Psicologia, FTC;

    Agatha Thais Serto, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Alexandre de Almeida Macedo, graduando de Psicologia, FTC;

    Alvaro Alves de Oliveira Junior, graduando de Psicologia, FTC;

    Ana Paulo Melo da Silva, graduanda de Psicologia, FTC;

    Ariane Lima Ribeiro, graduanda de Psicologia, FTC;

    Dhssica Thais Arajo de Almeida, graduanda de Psicologia, FTC;

    Diego Henrique Alves Santos, graduando de Enfermagem, FAPEC;

    Ester Goes Aguiar Neta, graduanda de Psicologia, FTC;

    Fernanda Paula Silva Santos, graduanda de Psicologia, FTC;

    Fernanda Piton Florncio, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Geisa Magalhes Silva, graduanda de Psicologia, FTC;

    Hozana Andrade Moreira, graduanda de Psicologia, FTC;

    Iara Ribeiro Sodr, graduanda Enfermagem. FAPEC;

    Islane Santos Vieira, graduanda de Psicologia, FTC;

    Joo Florencio Damasceno Neto, graduando de Psicologia, FTC ;

    Joise Souza Leal, graduanda de Enfermagem, FAPEC;

    Keila dos Santos Matos, graduanda de Psicologia, FTC;

    Leivila dos Santos Soares, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Lvia Bastos de Novaes, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Lorena Frana Carso, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Manfred Silva Santos Junior, graduando de Psicologia, FTC;

    Mara Jssica da Anunciao dos Santos Rocha, graduanda de Psicologia.

    FTC;

    Maria Silva Santos, graduanda de Psicologia, FTC;

    Marta Vanessa Ferreira Bertoso, Biomedicina, FAPEC;

    Michele Brito da Silva, graduanda de Psicologia, FTC;

    Mirella Lago Nascimento, Enfermeira, FTC/NESO/UESB;

    Mirelle Fontoura Carvalho, graduanda de Psicologia, FTC;

    Naiane de Paula Vieira, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Natalie de Almeida Barros, graduanda de Fisioterapia, NESP/UESB;

    Patrcia Almeida Lago, Enfermeira, FTC/NESP/UESB;

    Rosana Pereira de Carvalho, graduanda de Enfermagem, FAPEC;

  • 11

    Silvana Cardoso de Oliveira, graduanda de Psicologia, FTC;

    Simone Martins de Oliveira, graduanda de Psicologia, FTC;

    Taiara Silva Ferreira, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Tislei Cesar Matos, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Thadeu Henrique da Silva Aguiar, graduando de Psicologia, FTC;

    Vana Licia de Oliveira, graduanda de Psicologia, FTC;

    Vaneide Maria Rufino Sampaio, graduanda de Psicologia, FTC;

    Vanessa Cardoso Botelho, graduanda de Biomedicina, FAPEC;

    Yann Kevin Fontes Barros Bomfim, graduando de Enfermagem, FAPEC;

    - minha famlia que me apoiou durante todo o processo e durante toda a minha

    ausncia;

    - A todos os professores de forma geral, que alimentam o sonho e a esperana de

    proporcionar a educao digna e de qualidade em busca de tornar melhor nossa

    sociedade.

    - A DEUS, acima de todas as coisas.

  • 12

    NDICE

    LISTA DE TABELAS i

    LISTA DE SIGLAS ii

    RESUMO iii

    ABSTRACT iv

    I OBJETIVOS 18

    I.1 Objetivo geral 18

    I.2 Objetivos especficos 18

    II INTRODUO 19

    III FUNDAMENTAO TERICA 21

    III.1 O professor: conjuntura social e sofrimento psquico 21

    III.2 Epidemiologia dos transtornos mentais e impactos sociais 23

    III.3 Sade mental e ocupao

    III.4 Alguns aspectos do processo de trabalho dos professores da Educao

    Bsica

    25

    27

    IV MATERIAIS E MTODOS 30

    IV.1 Delineamento do estudo 30

    IV.2 Populao do estudo 30

    IV.3 Critrios de incluso e excluso 30

    IV.4 Definio das variveis 30

    IV.5 Instrumentos 32

    IV.6 Treinamento e preparao para a coleta 34

    IV.7 Equipe auxiliar 34

    IV.8 Coleta de dados e procedimentos 35

    IV.9 Construo do banco de dados 35

    IV.10 Anlise descritiva dos dados 35

    IV.11 Anlise de regresso logstica 36

    IV.12 Aspectos ticos da pesquisa 37

    V RESULTADOS GERAIS 38

    V.1 Informaes sociodemogrficas dos trabalhadores estudados 38

    V.2 Informaes sobre as caractersticas ocupacionais 39

    V.3 Prevalncia de transtornos mentais comuns e demais associaes 40

    V.4 Fatores associados 43

    V.4.1 Resultados 45

    VI DISCUSSO 48

  • 13

    VII CONCLUSO 53

    VIII REFERNCIAS 54

    IX. ARTIGO 59

    ANEXOS 79

    Anexo 1: Ofcio de aprovao da pesquisa pelo Comit de tica em Pesquisa

    (CEP) da Maternidade Climrio de Oliveira da UFBA (MCO/UFBA)

    79

    Anexo 2: Termo aditivo 81

    Anexo 3: Termo de consentimento livre e esclarecido 82

    Anexo 4: Questionrios 83

    Anexo 5: Normas para submisso do artigo Revista Brasileira de

    Epidemiologia.

    95

  • 14

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Caractersticas sociodemogrficas em professoras da rede

    municipal de ensino (variveis categricas), Jequi, Bahia,

    Brasil, 2012.

    38

    Tabela 2: Distribuio de professoras da rede municipal de ensino por

    caractersticas ocupacionais, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    39

    Tabela 3: Caractersticas sociodemogrficas e ocupacionais em professoras

    da rede municipal de ensino (variveis contnuas), Jequi, Bahia,

    Brasil, 2012.

    40

    Tabela 4: Prevalncia de transtornos mentais comuns em professoras da

    rede municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    40

    Tabela 5: Prevalncias de transtornos mentais comuns segundo aspectos

    sociodemogrficos e transtornos mentais comuns em professoras

    da rede municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    41

    Tabela 6: Prevalncias entre aspectos ocupacionais e transtornos mentais

    comuns em professoras da rede municipal de ensino, Jequi,

    Bahia, Brasil, 2012.

    42

    Tabela 7: Prevalncias entre aspectos sociodemogrficos e ocupacionais

    em professoras da rede municipal de ensino e TMC (para

    variveis contnuas), Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    43

    Tabela 8: Razes de chances e razes de prevalncias de transtornos

    mentais comuns em professoras da rede municipal de ensino de

    Jequi, Bahia, 2012, segundo as variveis presentes no modelo

    final de anlise de regresso logstica mltipla.

    46

    i

  • 15

    LISTA DE SIGLAS

    BA Bahia

    TMC Transtornos mentais comuns

    OMS Organizao mundial de sade

    QSG Questionrio de sade geral

    PQSNordic Questionrio geral nrdico de psicologia social para o trabalho

    SPSS Pacote estatstica para cincias sociais

    DP Desvio padro

    RP Razo de prevalncia

    N Nmero total de sujeitos

    n Nmero parcial de sujeitos

    CONFL Conflito entre colegas

    PELE Cor da pele

    CONJ Situao conjugal

    CMD Common mental disorders

    ttap Tempo de trabalho como professor

    pele Cor da pele

    ssup Suporte social pelos supervisores

    confl Conflito entre colegas de trabalho

    ii

  • 16

    RESUMO

    PREVALNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E

    FATORES ASSOCIADOS EM PROFESSORES

    Introduo: O adoecimento psquico um dos dilemas da sade pblica, neste contexto

    destacam-se os TMC que so sintomas somticos tais como esquecimento, falta de

    concentrao, fadiga, depresso, irritabilidade, insnia e demais queixas aos quais os

    professores expem-se cotidianamente. Objetivo: Determinar a prevalncia de

    transtornos mentais comuns e fatores associados em professores da rede pblica

    municipal de ensino na cidade de Jequi-Bahia. Material e mtodos: Estudo de corte

    transversal realizado com 186 professoras efetivas da rede municipal de ensino da

    referida cidade entre maro a junho de 2012. A varivel dependente foi os transtornos

    mentais comuns, definida segundo o QSG-60 (Questionrio de Sade Geral) de

    Goldberg. A medida de associao foi a razo de prevalncia e a principal tcnica

    estatstica utilizada a anlise de regresso logstica. Resultados: A prevalncia de

    transtornos mentais comuns entre as professoras foi de 54,7%. As maiores prevalncias

    de TMC ocorreram em professoras com menor escolaridade; cor da pele preta e parda,

    separadas e vivas; com at 40 anos de idade, presena de filhos, menor tempo de

    atuao, carga horria alta e com relaes interpessoais no satisfatrias. Os fatores

    associados foram tempo de trabalho como professor, cor da pele, suporte social pelos

    supervisores e conflito entre colegas de trabalho. Concluses: Encontrou-se prevalncia

    elevada de transtornos mentais comuns nestas professoras com expressivas prevalncias

    em extratos de algumas caractersticas sociodemogrficas e ocupacionais. Estudos como

    estes so necessrios para levantar informaes, sugestes e propostas para reduzir os

    danos em sade mental dos seus envolvidos com vistas s polticas de proteo docente.

    Palavras-chave: 1.transtornos mentais; 2. docentes; 3. epidemiologia; 4. sade

    ocupacional; 5. estudos transversais; 6. prevalncia.

    iii

  • 17

    ABSTRACT

    PREVALENCE OF COMMON MENTAL DISORDERS AND

    ASSOCIATED FACTORS IN TEACHERS

    Introduction: The mental illness is one of the dilemmas of public health in this context

    we highlight the CMD that are somatic symptoms such as forgetfulness, lack of

    concentration, fatigue, depression, irritability, insomnia, and other complaints to which

    teachers are exposed daily . Objective: To determine the prevalence of common mental

    disorders and associated factors in municipal teachers of public schools in the city of

    Jequie-Bahia. Methods: Cross-sectional study conducted with 186 effective teachers of

    municipal schools of that city between April-June 2012. The dependent variable was the

    common mental disorders, defined according to the GHQ-60 (General Health

    Questionnaire) Goldberg. The measure of association was the prevalence ratio and the

    main statistical technique used logistic regression analysis. Results: The prevalence of

    common mental disorders among teachers was 54.7%. The highest prevalence of CMD

    occurred in teachers with less education, skin color of black and brown, separated and

    widowed, with up to 40 years of age, presence of children, shorter acting, high workload

    and unsatisfactory interpersonal relationships. The factors were associated working time

    as a teacher, skin color, social support by supervisors and conflict between colleagues.

    Conclusions: We found a high prevalence of common mental disorders in these teachers

    with significant prevalence in extracts of some sociodemographic and occupational.

    Studies like these are needed to gather information, suggestions and proposals to reduce

    damage mental health of its stakeholders with a view to protection policies teaching.

    Key-words: 1. mental disorders; 2. facult; 3. epidemiology; 4. occupational health; 5.

    cross-sectional studies; 6. prevalence.

    iv

  • 18

    I OBJETIVOS

    II.1 Objetivo geral

    Determinar a prevalncia de transtornos mentais comuns e identificar fatores

    associados em professores da rede pblica municipal de ensino na cidade de Jequi- BA.

    II.2 Objetivos especficos

    II.2.1 Estimar a prevalncia de transtornos mentais comuns em professores da rede

    municipal de ensino de Jequi-BA;

    II.2.2 Avaliar a associao entre fatores sociodemogrficos e do trabalho docente;

  • 19

    II INTRODUO

    Os transtornos mentais comuns so aqueles que se apresentam de forma sutil e

    que abrangem sintomas tais quais o esquecimento, falta de concentrao, fadiga,

    depresso, irritabilidade, insnia e queixas somticas (LUDERMIR & MELO FILHO,

    2002). Esta expresso foi proposta por Goldberg e Huxley (1992) e tem sido

    amplamente utilizada para descrever essas vrias sintomatologias (LLOYD, 2009). So

    comumente encontrados em ambientes coletivos, como o docente por exemplo,

    apresentando uma variedade de formas clnicas, podendo estes sintomas se tornar

    crnicos (SHANKAR, SARAVANAN & JACOB, 2006).

    Pela crescente significncia social e epidemiolgica, os TMC representam

    morbidade psquica com prevalncias significantes nas sociedades, independente da

    localizao territorial e faixa etria, correspondendo a um desafio sade pblica

    (ROCHA et al., 2010). So responsveis por estados incapacitantes em adultos e por

    absentesmos laborais em cerca de um tero dos dias de trabalho perdidos no mundo

    (WHO, 2001).

    Estudos realizados desde a dcada de 1990 apontam que os problemas com a

    sade mental constituem um dos grandes entraves para o bem-estar docente (ARAJO

    & CARVALHO, 2009). As interaes variadas que existem no ambiente e na dinmica

    do trabalho do professor podem ser influenciadoras de processos desencadeantes de

    TMC neste grupo especfico.

    Estudos realizados com docentes apontaram prevalncias elevadas de transtornos

    mentais comuns: 55,4% (REIS et al., 2006); 41,5% (DELCOR et al., 2004); 29,6%

    (CEBALLOS, 2009); 22.5% (SOUZA, 2008) - associados a fatores como o sexo

    (mulheres apresentam maior acometimento por TMC do que homens) e a algumas

    caractersticas ocupacionais, tais como o trabalho repetitivo, insatisfao do desempenho

    das atividades, desgastes nas relaes interpessoais com alunos, ambiente conflitante,

    falta de autonomia no planejamento das atividades, falta de materiais e equipamentos

    adequados (infra-estrutura oferecida), salas de aulas inadequadas e ritmo acelerado de

    trabalho (ARAJO & CARVALHO, 2009).

    comum tambm, nestas demandas das caractersticas ocupacionais do trabalho

    docente, os professores referirem duplos vnculos ou mais, carga horria semanal de

    trabalho elevada e diversas demandas psicolgicas e fsicas como a fiscalizao contnua

    do desempenho (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000), nvel elevado de

    rudo na sala de aula (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000), violncia

    contra o patrimnio e pessoal (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000),

  • 20

    insatisfao salarial (ARAJO et al., 1998; SILVANY-NETO et al., 2000), exigncia

    por concentrao por perodos longos de tempo (DELCOR, et al., 2004), tempo

    insuficiente para a realizao das tarefas e estudo (ARAJO & CARVALHO, 2009),

    ritmo acelerado do trabalho (DELCOR, et al., 2004), manuteno de posio inadequada

    para o corpo, principalmente cabea e pescoo (DELCOR, et al., 2004), dificuldade do

    trabalho disciplinar em sala de aula (SOUZA, 2008) e inexistncia de local para

    descanso dos professores (FARIAS, 2004).

    Dado o contexto problemtico vivenciado pelos docentes, este estudo busca

    determinar a prevalncia de transtornos mentais comuns e fatores associados em

    professoras da rede pblica municipal de ensino, numa cidade do interior baiano, por

    acreditar que este grupo populacional sofre as implicaes do sofrimento laboral com

    prejuzos do ato docente e repercusses fortes na sade mental e fsica destes sujeitos.

    Este estudo parte da justificativa ocasionada pelas experincias vividas pela autora

    dentro da sala de aula enquanto docente, o que criou a motivao para estudar aspectos

    voltados sade mental dos professores, uma vez que so muito correntes as queixas

    somticas e os prejuzos cumulativos ocasionados pela prtica docente que no podem

    passar em vo, simplesmente como se fosse um desvio do profissional por no dar

    conta do servio. Infelizmente muitos professores se veem nesta condio e por medo

    ou preconceito, no procuram por atendimento especializado, ou simplesmente vo

    deixando de lado, o que lhes traduz em adoecimento. Na prtica laboral diria, so

    nitidamente gritantes os fatores estressores ao qual lidam os professores, contudo, pouco

    ou nada feito para garantir que o trabalho seja realizado de maneira harmoniosa para o

    professor. Os professores so cobrados em relao aos alunos de diversas formas,

    contudo no h polticas por parte das escolas, que entendam o professor integralmente

    como sujeito que sofre as demandas dirias do seu trabalho que o coloca em situao de

    sofrimento que lhe adoece inclusive mentalmente.

    Apresentamos a seguir, no Captulo III a Fundamentao Terica do estudo com o

    que h de mais relevante dentro da proposta do contexto desta pesquisa: 1) O professor:

    conjuntura social e sofrimento psquico; 2) Epidemiologia dos transtornos mentais e

    impactos sociais; 3) Sade mental e ocupao e 4) Alguns aspectos do processo de

    trabalho dos professores da Rede Bsica. A seguir, no Captulo IV apresentamos os

    Materiais e Mtodos onde buscamos justificar e explicar todo o arcabouo de

    desenvolvimento da pesquisa; o Captulo V em seguida, com a apresentao dos

    Resultados Gerais; o Captulo VI com a Discusso dos achados e no por fim o Captulo

    VII com a Concluso do estudo. Ainda, apresentamos no Captulo IX o Artigo fruto

    desta investigao.

  • 21

    III FUNDAMENTAO TERICA

    III.1 O professor: conjuntura social e sofrimento psquico

    Os professores so cada vez mais cobrados por alta produtividade, dadas as

    exigncias profissionais impostas pelas mudanas tcnicas e cientficas das ltimas

    dcadas (SCHEER, 2008). Neste contexto, o ambiente de trabalho do professor

    complexo e apresenta mltiplas interaes que repercutem na dinmica da vida e da

    sade fsica e psquica dos docentes, provocando tenses associadas a sentimentos e

    emoes negativas que constituem a base emprica do mal-estar docente, de forma a

    afetar a motivao e a implicao deste professor (ESTEVE,1995).

    Os professores, a exemplo dos docentes da rede bsica (municipal de ensino),

    apresentam no seu processo de trabalho, a necessidade da polivalncia (SOUZA &

    FONSECA, 2006; OLIVEIRA, 2003), de acolherem aos alunos, se fazerem pais,

    psiclogos, educadores e possurem capacidade de tomada de decises e da dinmica

    natural de suas tarefas dirias docentes, como a preparao e a correo de atividades, a

    proposio de tantas outras e a necessidade contnua de aperfeioamento. Ressalta-se

    ainda que so estes os profissionais que lidam diretamente com os alunos em fase de

    alfabetizao ou adolescentes e abarcam um leque de contribuies que extrapolam os

    limites de seus horrios de trabalho, sendo o ato docente transcendente realizao das

    aes em sala de aula.

    Assim, o acompanhamento contnuo, as sobrecargas de trabalho e sociais,

    dilemas enfrentados e a falta de condies saudveis para a execuo do ato docente

    decaem sobre estes profissionais, resultando em expectativas que os desgastam

    (GASPARINI, BARRETO & ASSUNO, 2006).

    Crticas e responsabilidades pelas falhas do sistema educacional so atribudas ao

    professor culminando em sofrimento psquico (SOUZA & FONSECA, 2006). Estes

    requerimentos da condio docente repercutem nas condies de trabalho, na imagem

    social do professor e no valor que a sociedade atribui prpria educao com efeitos

    importantes sobre a sade fsica e mental dos educadores (ARAJO et al., 2005, p.8).

    Uma ocorrncia importante que acompanha o trabalho docente a violncia

    cotidiana e do entorno dos estabelecimentos de ensino, uma vez que a escola deixa de

    ser ambiente protetor e seguro, incorporando fenmenos oriundos da excluso social e

    dos acontecimentos aos quais se inserem (GASPARINI, BARRETO & ASSUNO,

    2006). O professor, neste caso, se torna um mediador entre os conflitos que

  • 22

    intercambiam do ambiente escolar ao ambiente extramuros institucional, gerando

    estresse ocupacional contnuo.

    De forma geral, a escola como agncia educacional procura direcionar o

    comportamento humano s finalidades de carter social (MIZUKAMI, 1986, p.29),

    contextualizada segundo as condies histrico-sociais que a envolvem (SCHEER,

    2008), em que o professor influencia e influenciador. Desta maneira, ensinar uma

    atividade em geral altamente estressante, com repercusses evidentes na sade fsica,

    mental e no desempenho profissional dos professores (REIS et al., 2006).

    O professor, em seu contexto de trabalho, lida com vrios aspectos estressores,

    sejam eles fsicos, ambientais, e psquicos. Scheer (2008) afirma que o trabalho

    pedaggico, quando realizado em condies estressantes e por excesso de exigncias e

    presso, acomete a qualidade de vida do professor, na proporo em que seu organismo

    responde a essa sobrecarga.

    Quando o problema o sofrimento psquico, o professor, sujeito histrico e

    social, est no centro das exigncias enquanto cidado comum e enquanto profissional

    responsvel pela formao de outros tantos sujeitos, conforme demandas do mercado.

    Assim, as responsabilidades sociais decaem simultnea e respectivamente s Instituies

    Educacionais e ao corpo docente. Nesse sentido, a qualidade de vida dos sujeitos,

    compreendida como a sua cultura pessoal construda socialmente nos diferentes meios

    onde se relaciona, condicionada s circunstncias de seu trabalho (SCHEER, 2008).

    Em todos estes processos, os docentes se tornam alvo para enfermidades, uma

    vez que o sofrimento psquico ocupacional lhes causa o adoecimento cumulativo,

    processual, constituindo experincia incmoda, associada a sentimentos de hostilidade,

    tenso, ansiedade, frustrao e depresso. Nesta conjectura de desgaste emocional,

    situam-se os transtornos mentais comuns que so sintomas que se apresentam de forma

    sutil, cumulativos e que abrangem sintomas tais como o esquecimento, fadiga,

    depresso, irritabilidade, insnia, dificuldades de concentrao e demais queixas

    somticas.

    Lembremos que, doentes, alguns professores sem muitas alternativas de

    mudana, tendem a permanecer em atividade, gerando efeitos desgastantes. H muitos

    que tomam por caminho o abandono da profisso buscando desta forma, a melhoria das

    condies de trabalho e de sade em outras atividades ocupacionais, como o evidenciado

    por Esteve (1995) sobre as conseqncias do mal-estar docente: desajustamento; pedidos

    de transferncias; esquema de inibio; desejo manifesto de abandonar a docncia;

    absentesmo laboral; esgotamento; stress; autoculpabilizao; reaes neurticas;

  • 23

    depresses e ansiedade como estado permanente, associado em termos de causa-efeito a

    diagnsticos de sade mental (ESTEVE, 1995).

    As caractersticas ocupacionais docentes expem os professores a estressores

    cotidianos tais como o excesso de alunos nas salas de aula, a baixa remunerao, longa

    jornada de trabalho, polivinculao empregatcia, desvalorizao laboral, excesso de

    presses, avaliaes, cobrana intelectual, preparao de aulas, ameaas verbais e

    fsicas, peculiaridades de cada escola, baixa autoestima, descaso, ausncia de resultados

    percebidos entre outros que geram efeitos de adoecimento somatizado.

    Desta forma, as interaes entre sade e doena tambm so construdas no

    ambiente de trabalho pois neste espao se pode reafirmar a auto-estima, desenvolver as

    habilidades, expressar as emoes, a personalidade, tornando-se tambm espao de

    construo da histria individual e de identidade social (ARAJO et al., 2005, p.7).

    Portanto, compreendendo a relao do processo de trabalho e o contexto social

    em que os docentes se inserem, causando-lhes sofrimento mental, torna-se evidente que

    a melhoria da qualidade de vida do professor repercutir na sua maior satisfao e

    possibilidade de desenvolver e aplicar as habilidades pedaggicas. Assim, sade mental

    ocupacional precisa ser integrada aos objetivos institucionais, pressupondo que os

    resultados se refletem diretamente nos alunos, na prpria instituio e na sociedade

    (SCHEER, 2008).

    III.2 Epidemiologia dos transtornos mentais e impactos sociais

    Sabe-se que um dos atuais dilemas da sade pblica o adoecimento psquico,

    somatizado ou derivado de causas mltiplas, e que vem a comprometer a sade mental

    das populaes humanas representando portanto, nus aos cofres pblicos sem

    precedentes (ROCHA et al., 2010), alm de outros custos em termos humanos, sociais,

    prejuzos econmicos (OMS, 2002, p.15), incapacidades e sofrimento humano.

    Em termos globais, as perturbaes mentais representam 4 das 10 principais

    causas de incapacidade em todo o mundo, respondendo a 12% do peso mundial de

    doenas, embora os investimentos no mbito da sade mental sejam extremamente

    desproporcionais, correspondendo a menos de 1% dos gastos com sade.

    Cerca de 40% dos pases tem dficit de polticas em sade mental, sendo que em

    90% dos pases que a tais polticas, no incluem as crianas e nem os adolescentes; mais

    de 30% dos pases no tem programa algum direcionado para esta parcela. E, alm da

    escassez de acesso e servios especializados, os que pagam pelos planos de sade,

  • 24

    contam com o descaso de assistncia para esta especialidade, pois os planos no

    abordam as perturbaes mentais (OMS, 2002).

    Existem muitas barreiras para os portadores de transtornos mentais, como o

    estigma, a discriminao, a invisibilidade, a insuficincia dos servios e do atendimento

    especializado, que impedem que milhes de pessoas recebam tratamento adequado

    (OMS, 2002).

    O Relatrio Mundial da Sade Mental da OMS (2002, p.29) evidencia que a

    sade mental indispensvel para o bem geral dos indivduos, das sociedades e dos

    pases que, junto com a sade fsica e social, profundamente interligada e

    interdependente. Contudo, na maior parte do mundo, o que se evidencia a sade fsica

    e no a mental em si, de forma que no h muita importncia quando se trata da sade

    mental: seus portadores e as aes neste quesito so ignorados ou negligenciados,

    acarretando problemas crescentes pelo desnvel de tratamento. H que se estimar

    obviamente, que com o crescimento populacional e com o aumento da expectativa de

    vida em todo o mundo, haver aumento do nmero de acometidos por perturbaes

    mentais, dado o envelhecimento populacional, alm do agravamento dos problemas

    sociais e desestabilizao civil (OMS, 2002).

    importante que se tenha uma maior apreenso das doenas mentais nas

    populaes humanas e existe uma lacuna neste campo, lembrando que o que se conhece

    hoje tem uma contribuio importante para se avaliar quais as associaes da vida

    moderna e fatores desencadeantes de doenas mentais, dentre eles os transtornos mentais

    comuns, para que se possam avaliar aes de impacto neste mbito.

    Muito do que sabemos hoje sobre transtornos mentais devemos contribuio da

    epidemiologia que no campo psiquitrico colaborou notoriamente para fornecer dados

    sobre as limitaes dos casos clnicos que so atendidos nos servios especializados e

    fazendo relaes com a populao de onde estes provem, completando as informaes

    dos quadros clnicos de algumas incapacidades mentais, especialmente quando se trata

    de uma populao que mais necessite destes servios especializados. Assim, a

    epidemiologia como ferramenta possibilita termos informaes sobre a distribuio e

    frequncia dos agravos, bem como os fatores determinantes dos transtornos mentais,

    como parte importante do desenvolvimento da psicopatologia clnica. Com a utilizao

    de questionrios a obteno dos fatores de exposio foi largamente adotados por

    socilogos e psiclogos, como uma caracterstica de apreenso metodolgica de

    informaes. A utilizao destes instrumentos padronizados foi interessante para

    apreenso da epidemiologia em sade mental e a investigao clnica (BORGES,

    MEDINA-MORA, LPEZ-MORENO, 2004).

  • 25

    A epidemiologia tambm veio ao encontro para entendermos as associaes de

    transtornos mentais comuns e outras doenas mentais embora caream de abordagens

    que tragam outras realidades. Em estudos de base populacional, condies de moradia,

    estrutura ocupacional, escolaridade, renda, hbitos de vida e doenas crnicas estiveram

    associados aos TMC (LUDERMIR E MELO FILHO, 2002; ALMEIDA FILHO et al.,

    1997; ROCHA et al., 2010).

    Assim, em concordncia com Lloyd (2009, p. 342), a compreenso e o

    comportamento das prevalncias de TMC e suas mudanas ao longo do tempo so

    importantes para que se desenvolvam polticas pblicas tanto na clnica prtica quanto

    na pesquisa. Podemos evidenciar, de acordo com o apontado por Lima, Soares & Mari

    (1999), que o nmero de pesquisas epidemiolgicas conduzidas tem se acentuado. O

    aumento significativo de informaes no campo da sade mental permite descrever

    como se d a distribuio de tais agravos e como contorn-los, possibilitando atravs do

    conhecimento, que novas abordagens sejam pensadas e polticas pblicas desenvolvidas.

    III.3 Sade mental e ocupao

    A ocorrncia de transtornos mentais tem direta associao com a (estrutura

    ocupacional, escolaridade, condies de moradia e insero no processo produtivo e

    renda (LUDERMIR & MELO-FILHO, 2002).

    Pesquisas em pases desenvolvidos e em desenvolvimento tem mostrado que os

    transtornos mentais so mais comuns entre os mais socialmente desfavorecidos, pessoas

    que j tenham sido casadas e mulheres; e os fatores associados tem a ver com a

    educao, renda e classe social (ARAYA et al., 2001). Assim, dadas os fatores

    associados s caractersticas ocupacionais dos indivduos, necessrio enfatizar que a

    maioria das doenas mentais sofrem influncia de diversos fatores biolgicos,

    psicolgicos e sociais, que afetam todas as faixas etrias, causando sofrimento s

    famlias e comunidades e sobretudo, ao indivduo (OMS, 2002).

    Estudos indicam que parte considervel dos trabalhadores ocupados

    mundialmente apresentam algum tipo de transtorno mental, sendo que no Brasil, os

    distrbios psquicos (Gasparini, Barreto e Assuno, 2006) respondem como importante

    papel entre os benefcios concedidos pela previdncia como no caso de afastamento de

    trabalho por mais de 15 dias e auxlio doena por invalidez.

    Embora haja lacunas, estudos que abordem a sade mental e as implicaes do

    trabalho vem aumentando significantemente, principalmente pela deteco do aumento

    da prevalncia dos transtornos mentais, problemas emocionais de ordem somtica,

  • 26

    distrbios do comportamento e do que isto representa para a sade pblica

    (GASPARINI; BARRETO & ASSUNO, 2006).

    Em um outro aspecto, as modificaes ocorridas na dinmica do trabalho, como

    aspectos gerenciais, de novos mtodos e tcnicas organizacionais tal como evidenciam

    Gasparini; Barreto & Assuno (2006), produziu significativas conseqncias para a

    vida e sade dos trabalhadores em geral, a partir destas novas exigncias do mercado,

    reproduzindo um contexto de aumento de doenas mentais, psicossomticas,

    cardiovasculares entre outras.

    Os indivduos acometidos por transtornos mentais de forma geral so

    gerenciados quase que exclusivamente na ateno primria (LLOYD, 2009, p. 342).

    Conseqentemente a falta de acesso e tratamento adequados, o no conhecimento das

    procedncias cabveis e a descontinuidade do tratamento so quesitos preocupantes.

    Ainda, a subnotificao em sade mental prejudica os indicadores, repercutindo na falta

    de ateno e orientao do cuidado para estes indivduos.

    A falta de soluo para os casos de problemas de ordem psquica evidente nos

    primrdios da abordagem da epidemiologia psiquitrica, desta forma so raros os

    indivduos que dispem de ateno direcionada e a grande maioria dos casos permanece

    seguramente sem tratamento (BORGES, MEDINA-MORA & LPEZ-MORENO,

    2004). Ainda, segundo o Relatrio Mundial da Sade Mental da OMS (2002, p.27),

    uma pequena minoria das 450 milhes de pessoas que apresenta perturbaes mentais

    no mundo, recebem tratamento.

    A no notificao adequada prejudica a epidemiologia na obteno de dados

    fidedignos para atuar na preveno das manifestaes psiquitricas, nos desafios de suas

    associaes ao cotidiano, bem como no planejamento de recursos para a internao

    prolongada. Desta forma, a subnotificao das informaes sobre a situao de sade

    mental contribui para que os dados sejam insuficientes, e agrave ainda mais a ateno

    dispensada para esta parcela populacional especfica (ROCHA, et al., 2010).

    Com base na discrepncia que acomete as populaes humanas e as

    complexidades existentes em cada forma organizativa mundial, a Organizao Mundial

    da Sade, em seu Relatrio Mundial da Sade Mental oferece dez passos para que a

    prestao de cuidado adequada ao portador de perturbaes mentais possa ser

    apreendida. Na verdade, tratam-se de recomendaes de aes que possam ser seguidas

    e/ou direcionadas a partir de cada realidade: proporcionar tratamento em cuidados

    primrios; disponibilizar medicamentos psicotrpicos; proporcionar cuidados na

    comunidade; educar o pblico; envolver as comunidades, as famlias e os utentes

    (usurios); estabelecer polticas, programas e legislao nacionais; preparar recursos

  • 27

    humanos, estabelecer vnculos com outros setores; monitorizar a sade mental na

    comunidade e por finalmente o apoio s pesquisas (OMS, 2002).

    III.4 Alguns aspectos do processo de trabalho dos professores da Rede Bsica

    O Brasil possui atualmente, segundo o Censo Escolar de 2009, quase 2 milhes

    de docentes na Educao Bsica que so responsveis por lecionar para mais de 52

    milhes de alunos (BRASIL, 2009). Parte destes professores leciona em mais de uma

    etapa de ensino. Ainda segundo o Censo, a distribuio por nveis : professores que

    lecionam em creches 127.657; pr-escola 258.225; ensino fundamental I (at a quarta-

    srie) 721.513; ensino fundamental II (de quinta a nono ano) 783.194; e ensino mdio

    461.542 alunos. O perfil dos professores no Brasil de maioria mulheres 81,5%; 58%

    tem at 40 anos de idade; 23% dos docentes trabalham em mais de uma escola para

    complementar a renda familiar e o piso salarial de R$ 1.024,67.

    Em relao ao estado da Bahia, os maiores empregadores dos professores da

    Educao Bsica so os municpios, seguidos pelo estado e pela rede privada. Porm,

    este cenrio se modifica quando analisamos separadamente os diversos nveis de

    educao bsica, assim como quando nos referimos a cada cidade e, nestas, s zonas

    urbana e rural (FERREIRA; ARAJO & BATISTA; 2009, p. 21).

    Segundo a lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) Lei 9.394/96 a

    educao escolar bsica compreende trs nveis de ensino: a Educao Infantil, o Ensino

    Fundamental e o Ensino Mdio (BRASIL, 1996a).

    A Educao Infantil, primeira etapa da Educao Bsica, oferecida em creches

    ou entidades equivalentes para crianas de at trs anos de idade e em pr escolas para as

    crianas de quatro a cinco anos de idade; o Ensino Fundamental , obrigatrio e gratuito

    na escola pblica, antes com a durao de oito anos, aps a lei 11.274/96, passou a ser

    de nove anos (BRASIL, 2006), iniciando-se aos seis anos de idade, medida implantada

    em todo o Brasil desde 2010; e por ltimo o Ensino Mdio com durao mnima de trs

    anos (FERREIRA, ARAJO & BATISTA, 2009).

    A LDB (BRASIL, 1996a) preconiza ainda, a oferta das seguintes modalidades:

    Educao de Jovens e Adultos (EJA), destinada queles que no tiveram acesso ou

    continuidade de estudos nos Ensinos Fundamental e Mdio na idade apropriada;

    Educao Profissional integrada s diferentes formas de educao, ao trabalho, cincia

    e tecnologia; e Educao Especial, modalidade de educao escolar oferecida

    preferencialmente na rede regular de ensino para educandos portadores de necessidades

    especiais (FERREIRA, ARAJO & BATISTA, 2009).

  • 28

    No Ensino Fundamental, a grande maioria das funes docentes municipal. No

    estado da Bahia em 2007, segundo a Sinopse Estatstica do professor (BRASIL, 2007)

    havia 145.084 docentes na Educao bsica, deixando o estado em terceiro lugar no

    ranking nacional em relao ao nmero de docentes, atrs apenas dos estados de So

    Paulo e Minas Gerais.

    Esses professores estavam distribudos segundo as dependncias

    administrativas, ou seja, segundo quem os empregava. A grande parte dos professores

    trabalham em apenas uma rede de ensino, embora hajam outros que possuem outras

    atividades laborais para renda extra (FERREIRA, ARAJO & BATISTA, 2009).

    Muitos contextos vivenciados por professores traduzem de maneira bem

    profunda os desdobramentos de sua vida laboral que repercutem diretamente na sade

    mental, como a relao com o trabalho, o papel do professor, a necessidade de

    valorizao profissional, doenas e dissabores do trabalho.

    Em relao atividade e emprego, o professor sabe que sofre as influncias de

    mercado e toda a cobrana social, possuindo inmeras atividades que o afastam do

    convvio familiar, cultural e participativo. O papel do professor tambm mudou muito

    nas ltimas dcadas a partir no apenas das transformaes sociais e tecnolgicas mas

    bem como fortes transformaes polticas no sistema de ensino que reduziu a autonomia

    do professor.

    O alunado hoje no v mais o professor como um sinnimo de autoridade. Por

    vezes os alunos frequentam as escolas com objetivos diversos que o de estudar,

    comprometendo ainda mais o processo de trabalho do professor. No so poucas as

    ameaas verbais, fsicas, tratamentos hostis para com os docentes todos os dias assim o

    professor se v confuso entre qual realmente o seu papel, de educador, de mediador, de

    pai, de psiclogo, pois infelizmente o respeito para com este profissional e a indisciplina

    por parte do alunado tem se afastado demasiadamente do aceitvel.

    Contradies quanto ao papel do professor, tambm dizem respeito atribuio

    de muitas atividades no docentes transferidas aos professores ao longo do tempo, de

    forma que algumas aes ultrapassam as obrigaes docentes e o ato educacional.

    Esto sendo transferidas para o professor algumas responsabilidades na formao

    dos alunos que no so dos professores. A famlia transferiu para o professor uma

    demanda que no remunerada, que dificulta e avoluma seu trabalho e no de sua

    competncia, mas de competncia da famlia (FERREIRA, ARAJO & BATISTA

    2009, p.56).

    A indisciplina nas salas de aula alarmante, e o professor se esfora muito por

    demandar um tempo maior preparando atividades aos quais os alunos se mostram

  • 29

    desinteressados ou pouco participantes, gerando-lhe frustraes. Utiliza-se portanto,

    certos mecanismos ou tticas para prender ateno dos alunos. Outro fator que gera

    presso aos docentes o fato dos alunos possurem comportamentos diferentes a

    disciplinas diferentes.

    Os professores no so valorizados porque a educao tambm no passa por um

    processo de valorizao e so raras as aes realizadas na prtica.

    Todas as expectativas no alcanadas nos docentes em relao ao seu trabalho,

    culminam em algum tipo de angstia, ou sofrimento, ou desgaste, ou desmotivao

    chegando a extremos de abandono da profisso ou situaes de estresse acentuado e

    doenas no apenas de carter emocional mental mas fsicas tambm.

    Em estudos realizados na Bahia (SILVANY-NETO, 2000; REIS et. al, 2005;

    PARANHOS & ARAJO, 2008; SOUZA, 2008; FARIAS, 2009; DELCOR et. al, 2004;

    CEBALLOS, 2009 & ARAJO, 2008) as queixas de doenas mais relevantes entre

    docentes foram as relacionadas ao uso contnuo da voz (dor de garganta, rouquido),

    postura corporal (dor nas costas e pernas) e problemas psicoemocionais (cansao mental

    e nervosismo). Entre estes estudos, os que abordaram professores municipais (SOUZA,

    2008; CEBALLOS, 2009 & REIS et. al, 2005) relatou-se prevalncias de 22,8%; 30,7%

    e 56,8% respectivamente de transtornos mentais comuns.

    Outra questo enftica que os professores que mais apresentavam queixas de

    problemas gerais de sade foram justamente, os que mais apresentaram TMC em

    comparao aos que no apresentaram. Esta uma informao importante para que

    novas abordagens sejam levantadas e que culminem em polticas pblicas voltadas a esta

    parcela de trabalhadores.

  • 30

    IV MATERIAL E MTODOS

    IV.1 Delineamento do estudo

    Tratou-se de um estudo epidemiolgico de corte transversal realizado no

    primeiro semestre de 2012.

    IV.2 Populao do estudo

    O presente estudo constituiu um censo cuja populao foi composta por

    professoras efetivas, atuantes em 40 escolas da rede pblica municipal bsica de ensino

    em Jequi Bahia e que aceitaram participar do estudo. O nmero de professores totais

    segundo informaes das escolas de 530 docentes.

    IV.3 Critrios de incluso e excluso

    Incluram-se no estudo mulheres, que exerciam a funo de professora com

    vnculo empregatcio direto com a instituio pblica escolar e que estavam em efetivo

    exerccio profissional dentro da zona limtrofe urbana, mesmo as que se apresentavam

    sob licena.

    Excluram-se as professoras que lecionavam disciplinas diferentes das

    convencionais por acreditarmos que estas docentes tivessem caractersticas ocupacionais

    diferenciadas. Assim, foram excludas do estudo professoras de religio, educao fsica,

    artesanato, msica e capoeira bem como as que no exerciam sua funo de classe no

    momento de coleta (como coordenadoras e diretoras), pois as que se encontram nesta

    ltima situao, podem estar atuando em funes cujas demandas psicolgicas so

    diferentes do que a das profissionais que exercem funo propriamente ligada docncia

    apresentam. Os critrios de excluso justificam-se pelo fato destas outras profissionais

    embora tambm ligadas funo educativa, possuem caractersticas profissionais

    peculiares quanto carga horria, envolvimento e atividades docentes.

    IV.4 Definio das variveis

    Considerou-se como varivel dependente os transtornos mentais comuns e, como

    variveis independentes, aspectos sociodemogrficos, caractersticas ocupacionais e

  • 31

    apoio social descritos adiante. A medio da suspeio de transtornos mentais comuns se

    deu atravs do questionrio QSG - 60 Questionrio de Sade Geral.

    As variveis das condies sociodemogrficas foram: idade, situao conjugal

    (solteira, casada, unio estvel, separada, viva), escolaridade (ensino mdio, magistrio,

    superior incompleto, superior completo, mestrado/doutorado), cor da pele (branca, preta,

    amarela, parda ou indgena), filhos (sim/no), nmero de filhos, rendimento/ms aula

    (em reais), outra atividade remunerada (sim/no).

    As variveis sobre caractersticas ocupacionais analisadas foram: tempo de

    trabalho (anos/meses), nmero de vnculos, nmero de escolas em que atua, carga

    horria total semanal na rede municipal, trabalho fora da rede municipal (sim/no),

    trabalho docente fora da rede municipal (sim/no), duplo vnculo municipal docente (sim

    /no), turnos de trabalho (matutino, vespertino, noturno), nvel de ensino (creche,

    fundamental I, fundamental II, ensino mdio, outro), nmero de turmas, mdia do

    nmero de alunos/turma, proximidade do local de trabalho (sim/no) e relaes

    interpessoais.

    As variveis de aspectos sobre o estado de sade so aquelas contidas no

    questionrio QSG-60 (Questionrio de Sade Geral) de Goldberg na verso brasileira

    adaptada por Pasquali et al. (1996) que traz questes com variveis sobre tenso ou

    estresse psquico; desejo de morte, desempenho pessoal, distrbios do sono e

    psicossomticos (vide ANEXO 3).

    Por ltimo, as variveis sobre o trabalho do indivduo, numa perspectiva

    coletiva do apoio/suporte social com o questionrio QPSNordic. O suporte social

    apresenta tanto efeitos diretos na sade humana, com menor grau de sofrimento e de

    transtornos psquicos na medida em que seja mais elevado o nvel de apoio social,

    quanto efeitos indiretos, funcionando como moderador de fatores que influenciam

    negativamente o bem-estar (RODRIGUES & MADEIRA, 2009).

    Inicialmente, o QPSNordic foi elaborado por um Conselho de Pases Nrdicos

    (Finlndia, Noruega, Sucia, Dinamarca, Irlanda e Groenlndia). Tal instrumento

    designado para avaliao de condies psicolgicas, sociais e organizacionais do

    trabalho, fornecer uma base para a implementao do desenvolvimento organizacional e

    intervenes, para a documentao de mudanas nas condies de trabalho e para a

    investigao e ou pesquisas de associaes entre trabalho e sade. importante

    reconhecer que os fatores psicolgicos, sociais e organizacionais do ambiente de

    trabalho so potenciais contribuintes para a sade e bem-estar dos trabalhadores

    individuais, grupos de trabalho, e toda a organizao e tais fatores, contribuem para o

  • 32

    trabalho de aprendizagem, motivao organizacional e eficincia (LINDSTRM et al.,

    2000).

    IV.5 Instrumentos

    Foram utilizados instrumentos compartilhados com outra instituio universitria

    em forma de parceria, aproveitando o momento da coleta de dados para as mesmas.

    Para a presente pesquisa, utilizou-se instrumentos constitudos de cinco blocos de

    questes: o primeiro, referente condies sociodemogrficas; o segundo bloco sobre

    caractersticas ocupacionais, o terceiro sobre aspectos do estado de sade, o quarto sobre

    aspectos da sade mental e o quinto e ltimo bloco sobre o trabalho enfocando o apoio

    social.

    Bloco I Condies sociodemogrficas: Conteve este bloco questes sobre

    idade, situao conjugal, grau de escolaridade, cor da pele, filhos, rendimento ao ms

    por aulas e a realizao pelo professor de mais de uma atividade remunerada.

    Bloco II Caractersticas ocupacionais: Deste bloco constaram caractersticas

    voltadas ao mundo laboral do profissional, bem como sua relao com proximidade com

    o local de trabalho, nmero de vnculos, alunos por turma, carga horria e outros

    aspectos que poderiam influenciar as demandas laborais.

    Bloco III Aspectos sobre o estado de sade: Foi utilizado o Questionrio de

    Sade Geral de Goldberg (QSG-60). Trata-se de instrumento que objetiva fornecer uma

    perspectiva do estado de sade mental de sujeitos no-psicticos. Quanto validade, em

    estudos ambulatoriais apresentou sensibilidade de 87,1% e especificidade de 93,3%

    (Goldberg, 1972). um questionrio extenso, auto preenchido, composto por 60

    questes com 4 alternativas cada tipo escala likert. Estas alternativas se apresentam das

    formas 1) no absolutamente; 2) no mais do que de costume; 3) um pouco mais

    do que de costume at 4) muito mais do que de costume ou 1) melhor do que de

    costume; 2) como de costume; 3) pior do que de costume at 4) muito pior do que

    de costume, podendo variar a depender da pergunta para 1) mais do que de costume;

    2) como de costume; 3) um pouco menos do que de costume at 4) muito menos do

    que de costume. Estas escalas variam de acordo com a pergunta. Parte dos itens

    expressa sintomas e outra parte expressa comportamento normal, sendo, por vezes,

    necessrio inverter a pontuao da escala. O grau de severidade da ausncia de sade

    mental definido em relao a sintomas desviantes da populao. O fator geral (escore

    total) foi utilizado para se referir sade mental e, para sua interpretao, o autor

    considera que quanto maior for o escore maior ser o nvel de distrbios psiquitricos.

  • 33

    Alm do escore geral, os resultados do QSG originaram cinco fatores: a) tenso

    ou estresse psquico (experincias de tenso, irritao, impacincia, cansao e

    sobrecarga, tornando a vida uma luta constante, desgastante e infeliz); b) desejo de

    morte (vida sem sentido, intil e sem perspectivas); c) desconfiana no prprio

    desempenho (conscincia da capacidade de desempenhar ou realizar tarefas dirias de

    forma satisfatria escala invertida); d) distrbios do sono (insnia e pesadelos); e)

    distrbios psicossomticos (dores de cabea, fraqueza e calafrios) (SOUZA, BAPTISTA

    & ALVES, 2008).

    Bloco IV Aspectos da sade mental : Para este bloco foi utilizado o SRQ-20

    Self Reporting Questionnaire (OMS) teste auto aplicvel que avalia o sofrimento

    mental, largamente utilizado, com 20 questes relativas mal-estares psquicos,

    (BEUSENBERG & ORLEY, 1994, p.26), abordando itens relativos a ansiedade e

    depresso, sintomas somticos, humor e pensamentos depressivos, sendo quatro sobre

    sintomas fsicos e dezesseis sobre sintomas psicoemocionais (PINHEIRO, 2003). Este

    questionrio um teste que apresenta questes dicotmicas do tipo sim e no e identifica

    a suspeio de casos de TMC levando em conta o ms anterior realizao da entrevista.

    Em geral, tem-se adotado ponto de corte de 7/8 pontos no SRQ-20 baseado no estudo

    brasileiro de Mari & Willians (1986) como o mais prximo suspeio de TMC,

    oferecendo valores de sensibilidade e especificidade respectivamente de 83% a 80%. O

    SRQ-20 foi validado em estudos internacionais e nacionais com sensibilidade variando

    de 62,9% a 90% e especificidade de 44% a 95% (SILVA & MENEZES, 2008,p.923-4).

    Bloco V Sobre seu trabalho: Para este ltimo bloco foram enfocadas questes

    sobre apoio e/ou suporte social onde se utilizou a parte do questionrio QPSNordic

    (General Nordic Questionnaire for Psychological and Social at Work) de Lindstrm et

    al (2000) que se refere a Social Interactions, apresentando nove itens em escala likert

    de cinco pontos variando entre: 1) muito pouco, de modo nenhum ou nada; 2) pouco; 3)

    um pouco; 4) bastante e 5) muito. O questionrio QPS Nordic possui 123 perguntas de

    mltipla escolha enfocando 14 dimenses psicolgicas e sociais no trabalho:

    antecedentes pessoais, demandas do trabalho, expectativas da funo no trabalho,

    controle no trabalho, previsibilidade no trabalho, domnio de trabalho, interaes sociais,

    liderana, cultura organizacional, interao entre o trabalho e a vida privada,

    centralidade do trabalho, compromisso organizacional, trabalho em grupo e motivos

    trabalho.

    Foi utilizada parte do questionrio - QPSNordic (General Nordic Questionnaire

    for Psychological and Social Factors at Work) de Lindstrm et al., (2000) que traz as

    variveis respectivas dimenso Social Interactions com nove questes sobre apoio

  • 34

    social: se a pessoa possui apoio ou ajuda dos colegas de trabalho, ajuda do superior

    imediato no trabalho, se o superior est disposto a ouvir os seus problemas relacionados

    ao trabalho, se a pessoa tem possibilidade de conversar sobre os problemas com

    companheiro(a) ou algum prximo sobre os problemas de trabalho , se h valorao das

    aes desempenhadas no trabalho, se h algum conflito entre os colegas de trabalho e se

    o trabalhador se sente amparado por amigos ou familiares em relao aos problemas no

    trabalho.

    IV.6 Treinamento e preparao para a coleta

    Para a aplicao dos questionrios coleta de dados, de forma que fossem

    reduzidos possveis vieses de entrevista e de coleta, contamos com o auxlio do manual

    do aplicador que trouxe informaes relevantes sobre como se proceder durante a fase de

    coleta. O manual apresentou informaes pertinentes aos aplicadores com o intuito de

    buscar um padro nas entrevistas para contornar possveis situaes que impedissem ou

    prejudicassem a qualidade das informaes colhidas. Nesta etapa, tambm foram

    discutidos os aspectos referentes carta-convite e ao termo de consentimento livre e

    esclarecido. Os aplicadores passaram por treinamento durante o perodo de uma semana,

    para apresentao da pesquisa, os objetivos, aspectos metodolgicos, leitura do manual

    do aplicador, apresentao do questionrio, discusso, explanao de possveis dvidas,

    os detalhes do preenchimento dos questionrios contidos em cada bloco e demais

    explicaes que se fizessem pertinentes. Ressalta-se que, em perodo anterior fase de

    campo, as escolas que compuseram os locais de coleta foram previamente avisadas sobre

    o que seria realizado tanto por meio telefnico quando pelo envio da carta convite.

    Durante o treinamento, ao aplicador tambm foi enfatizado como proceder

    chegada s escolas e abordagem aos professores, da necessidade de identificao e

    solicitao de permisso.

    IV.7 Equipe auxiliar

    Foi composta equipe para participao na coleta de dados e digitao dos dados

    ps-coleta. Houve recrutamento de estudantes da graduao nos cursos de Biomedicina,

    Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia de duas faculdades locais de realizao da

    pesquisa, totalizando na primeira fase 25 estudantes e na segunda fase totalizando 42

    estudantes, sendo a fase de digitao dos dados contamos com 23 alunos voluntrios que

    se revezavam em duplas, onde um ditava as respostas e o outro digitava.

  • 35

    IV.8 Coleta de dados e procedimentos

    A coleta de dados ocorreu entre maro a maio de 2012 e se realizou a partir do

    preenchimento e recolhimento dos questionrios pelos docentes. Os questionrios foram

    entregues na forma de folheto devidamente identificado constando de 10 laudas, sendo

    uma delas o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que se destinou ao controle da

    pesquisa e uma folha avulsa com o mesmo contedo que se destinava ao professor.

    Os questionrios foram entregues s professoras em cada uma das escolas e em

    seus respectivos turnos (matutino, vespertino ou noturno) de forma a tentar abordar

    todos as docentes possveis. Coube aos sujeitos da pesquisa responder o questionrio ou

    enquanto este estivesse na escola, ou em perodo posterior sendo combinado o dia da

    entrega. Foi deixada em cada escola uma caixa coletora devidamente identificada.

    IV.9 Construo do banco de dados

    Aps findado o perodo de coleta, os dados dos questionrios foram digitados.

    Para isto foi utilizado o software Epidata verso 3.1 que um aplicativo simples,

    utilizado para a informatizao de dados que j foram coletados e que sero submetidos

    a exploraes, tabulaes e anlises (BRASIL, ANDRADE & OLIVEIRA, 2007, p.3),

    com arquivos de sada com vrias opes de formatos para exportao de dados.

    Primeiramente, foram treinados digitadores para digitao dos 186 questionrios

    vlidos em duas mquinas de forma independente, sendo controladas com pasta controle

    de digitao. Aps o fim da digitao, foram comparados os bancos, corregidos os dados

    e estes, exportados para software de anlise.

    Aps a construo e estruturao do banco optamos em no utilizar o

    instrumento SRQ-20 por no apresentar a mesma robustez do QSG-60.

    IV.10 Anlise descritiva dos dados

    As anlises descritivas foram calculadas pelo software SPSS verso 13

    (Statistical Package for the Social Science). Foram utilizadas para as variveis contnuas

    a mdia e o desvio-padro e, para as variveis categricas, a proporo.

  • 36

    IV.11 Anlise de regresso logstica

    A seleo das variveis independentes para a composio do modelo de anlise

    de regresso logstica foi feita por meio da anlise univarivel, tendo como critrio de

    incluso o valor p 0,25 no Teste de Wald. As variveis qualitativas politmicas foram

    representadas por variveis indicadoras.

    O modelo inicial de regresso logstica multivarivel com todas as variveis

    selecionadas na etapa anterior (modelo completo) foi executado e as variveis que

    alcanaram um valor p 0,20 permaneceram no modelo. Houve uma reavaliao das

    variveis qualitativas politmicas visando uma categorizao mais adequada dos dados

    do estudo.

    A comparao do modelo completo com modelos reduzidos (pela excluso das

    variveis com valor p > 0,20) foi feita por meio do Teste da Razo de Verossimilhana

    para verificar a equivalncia dos modelos em relao a sua capacidade explicativa do

    evento resposta. Consideraram-se como modelos equivalentes aqueles que apresentaram

    resultados do teste de razo de verossimilhana com valor p > 0,05. Nesta situao,

    optou-se pelo modelo mais parcimonioso, ou seja, com menor nmero de variveis.

    Definido o modelo de efeitos principais foi analisada a presena de modificao

    de efeito com uso do teste de razo de verossimilhana entre este modelo e o modelo

    contendo termos de interao (produto de duas variveis), considerando-se o nvel de

    significncia de 0,05.

    A medida da associao possibilitada pela anlise de regresso logstica a razo

    de chances. Com prevalncias elevadas nas respostas, a razo de chances superestima a

    associao real, devendo ser substituda pela razo de prevalncia. Considerou-se a

    prevalncia elevada acima de 10%. Para a anlise de regresso logstica foi usado o

    software STATA 12.0.

    IV.12 Aspectos ticos da pesquisa

    Este estudo observou, durante todas as etapas de sua realizao, as

    recomendaes previstas na Resoluo 196/96 da Legislao Brasileira editada pelo

    Ministrio da Sade (BRASIL, 1996) que regulamenta pesquisas envolvendo seres

    humanos. Desta maneira, buscou-se respeitar a autonomia, a justia, a beneficncia e a

    no maleficncia de cada participante. A pesquisa foi submetida aprovao do Comit

    de tica em Pesquisa da Maternidade Climrio de Oliveira da Universidade Federal da

    Bahia (UFBA) sob o protocolo 003/12 (ANEXO 1) e parecer positivo quanto sua

  • 37

    realizao mediante Parecer/Resoluo aditiva 026/2012 (ANEXO 2). Os indivduos

    participantes foram devidamente informados sobre os possveis riscos e benefcios da

    pesquisa e concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    (ANEXO 3) que consta de convite participao voluntria, objetivos da pesquisa,

    informaes de que no haveria nus para o participante, conduta de arquivamento e

    confidencialidade dos dados, justificativa, e contatos dos responsveis pelo estudo.

  • 38

    V RESULTADOS GERAIS

    Investigaram-se 210 professores, sendo 186 vlidos para compor o banco de dados

    utilizado por esta pesquisa. No foi possvel calcular as perdas, visto que o espao

    amostral foi inconclusivo.

    V.1 Informaes sociodemogrficas dos trabalhadores estudados

    Com base nos dados obtidos referentes s variveis correspondentes ao Bloco 1:

    Informaes sociodemogrficas, observou-se que 61,3% das professoras investigadas

    so casadas; 93,5% apresentam ensino superior completo; cor da pele predominante a

    parda com 61,8%; 85,5% possuem filhos e a quase totalidade 91,9% no possuem outra

    atividade remunerada que no seja a docente (Tabela 1).

    Tabela 1. Caractersticas sociodemogrficas em professoras da rede municipal de ensino

    (variveis categricas), Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    Varivel de exposio n %

    Situao conjugal Solteira 26 14

    Casada 114 61,3

    Unio estvel 15 8,1

    Separada 26 14

    Viva 5 2,7

    Escolaridade

    Ensino mdio 1 0,5

    Magistrio 4 2,2

    Superior incompleto 4 2,2

    Superior completo 174 93,5

    Mestrado/Doutorado 3 1,6

    Cor da pele

    Branca 39 21

    Preta 28 15,1

    Amarela 4 2,2

    Parda 115 61,8

    Filhos

    Sim 159 85,5

    No 27 14,5

    Outra atividade remunerada

    Sim 15 8,1

    No 171 91,9

  • 39

    V.2 Informaes sobre as caractersticas ocupacionais

    J com relao ao Bloco 2: caractersticas ocupacionais, observou-se que 87,6%

    das professoras possuem um nico vnculo empregatcio, atuam em apenas uma nica

    escola 72%; principalmente no Ensino Fundamental I (at a quarta srie) 51,6%;

    lecionando em grande parte em at 5 turmas 79,6%; com relaes interpessoais no

    ambiente de trabalho entre boa a tima respectivamente 54,3% e 34,4% (Tabela 2).

    Tabela 2. Distribuio de professoras da rede municipal de ensino por caractersticas

    ocupacionais, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    Varivel de exposio n %

    Quantidade de vnculos empregatcios

    Um

    163 87,6

    Dois 22 11,8

    Trs

    1 0,5

    Nmero de escolas em que atua

    Uma 134 72

    Duas 52 28

    Trs

    Nvel das turmas em que ensina

    Creche 46 24,7

    Fundamental I (at 4 srie) 96 51,6

    Fundamental II (at 8 srie) 36 19,4

    Outros

    8 4,3

    Quantidade de turmas que ensina

    At 5 turmas 148 79,6

    De 6 a 10 turmas 25 13,5

    Mais de 10 turmas

    13 6,8

    Relaes Interpessoais no trabalho

    tima 64 34,4

    Boa 101 54,3

    Regular 20 10,8

    Pssima 1 0,5

    Observou-se nas professoras estudadas mdia de idade de 42 anos (DP = 6,6);

    tempo de atuao mdio de 20 anos (DP = 6,3); carga horria mdia de 37,9 horas

    semanais (DP = 6,5) o que podemos configurar como regime de 40 horas semanais,

    atuando em mdia em 4 turmas (DP = 4,1), em geral tendo 25 alunos por turma (DP =

    5,9) e renda mensal de R$ 2.571,20 (DP = 682,4) (Tabela 3).

  • 40

    Tabela 3. Caractersticas sociodemogrficas e ocupacionais em professoras da rede

    municipal de ensino (variveis contnuas), Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    Varivel N Extremos Mdia Desvio-padro

    Idade (anos) 146 31 67 42,8 6,6

    tempo de atuao (anos) 184 10 49 20 6,3

    carga horria semanal 179 20 60 37,9 6,5

    mdia de turmas 186 1 22 4 4,1

    mdia de alunos por turma 186 10 58 25,4 5,9

    renda (ganho mensal) (R$) 186 870 5800 2571,2 682,4

    V.3 Prevalncia de transtornos mentais comuns e demais associaes

    No Bloco 3: aspectos da sade mental, enfatizou-se o estado de sade mental

    para transtornos mentais comuns (TMC) no qual foi encontrada a prevalncia bruta de

    TMC de 54,7% entre as docentes (Tabela 4).

    A prevalncia entre as professoras com ensino superior completo foi de 54,4%;

    quanto cor da pele, algo marcante foi o valor alto de suspeio de TMC para

    professoras declaradas de cor de pele preta e parda respectivamente 63,2% e 60,3%. A

    prevalncia em relao situao conjugal foi de 60% para separadas e vivas, 56,8%

    em casadas, e 40% em solteiras; e as professoras que possuem filhos apresentaram

    56,2% (Tabela 5).

    Tabela 4. Prevalncia de transtornos mentais comuns em professoras da rede

    municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    Transtornos Mentais Comuns Frequncias

    Absolutas

    Frequncias Relativas

    Presentes 98 54,7%

    Ausentes 81 45,3%

    Total 179 100%

  • 41

    Tabela 5. Prevalncias de transtornos mentais comuns segundo aspectos

    sociodemogrficos e transtornos mentais comuns em professoras da rede municipal de

    ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    Varivel N Suspeitos RP

    179 (n/%)

    Escolaridade

    Ensino mdio 1 1 (100%) 4,0

    Magistrio 4 1 (25%) Superior incompleto 4 3 (75%) 3,0

    Superior completo 167 91 (54,4%) 2,17

    Mestrado ou doutorado 3 2 (66,6%) 2,6

    Cor de pele

    Branca 39 16 (41%)

    Preta 25 15 (63,2%) 1,67

    Amarela 4 0 (0%)

    Parda 111 67 (60,3%) 1,5

    Situao conjugal

    Solteira 25 10 (40%)

    Casada 109 62 (56,8%) 1,42

    unio estvel 15 8 (53,3%) 1,33

    Separada 25 15 (60%) 1,5

    viva 5 3 (60%) 1,5

    Filhos

    Sim 153 86 (56,2%) 1,21

    No 26 12 (46,1%)

    Em relao a aspectos ocupacionais e suspeio de TMC, na varivel vnculos

    empregatcios, as professoras com um nico vnculo apresentaram prevalncia de 56,4%

    de TMC e com dois vnculos 40,9%; a prevalncia em relao a atuar em uma ou duas

    escolas ficou em torno de 54%. Professoras que lecionam no ensino fundamental I e

    creches apresentaram prevalncia de 56,6% e 55,5% respectivamente. Professoras que

    no possuem outra atividade remunerada apresentaram prevalncia de 56,7% e quanto s

    relaes interpessoais, destacam-se as docentes que consideram tais relaes regulares

    com 66,6% (Tabela 6).

  • 42

    Tabela 6. Prevalncias entre aspectos ocupacionais e transtornos mentais comuns em

    professoras da rede municipal de ensino, Jequi, Bahia, Brasil, 2012.

    Varivel N Suspeitos RP

    (n/%)

    Vnculos empregatcios

    Um 156 88 (56,4%) 1,37

    Dois 22 9 (40,9%)

    Trs 1 1 (100%) 2,44

    Nmero de escolas em que atua

    Um 128 70 (54,6%)

    Dois 51 28 (54,9%) 1,0

    Nivel de ensino

    Creche 45 25 (55,5%) 1,33

    fundamental I 90 51 (56,6%) 1,36

    fundamental II 36 15 (41,6%)

    ensino mdio 8 7 (87,5%) 2,10

    Outra atividade remunerada

    Sim 15 5 (33,3%)

    No 164 93 (56,7%) 1,70

    Relaes interpessoais

    timas 62 29 (46,7%)

    Boas 98 56 (57,1%) 1,22

    Regulares 18 12 (66,6%) 1,42

    Pssimas 1 1 (100%) 2,14

    Na tabela abaixo apresentamos valores das prevalncias entre aspectos

    sociodemogrficos e ocupacionais, onde para a varivel idade, prevalncia maior foi

    encontrada em professoras com at 40 anos com 67,8%; tempo de atuao de at 14 anos

    com 70%; as que apresentavam carga horria de trabalho de 40 horas ou mais com

    57,8% e que lecionam em duas turmas com 61,8% ou com 6 ou mais turmas com 54%.

    Destacam-se ainda as prevalncias em professoras que possuem 20 a 29 alunos

    por turma com 57,8% e que possuem uma renda mensal na faixa intermediria de R$

    2001,00 a R$ 3000,00 (Tabela 7).

  • 43

    Tabela 7. Prevalncias entre aspectos sociodemogrficos e ocupacionais em professoras

    da rede municipal de ensino e TMC (para variveis contnuas), Jequi, Bahia, Brasil,

    2012.

    Varivel N Suspeitos RP

    (n/%)

    Idade (em anos)

    At 40 56 38 (67,8%) 1,61

    41 a 50 67 34 (50,7%) 1,2

    + de 50 19 8 (42,1%)

    Tempo de atuao (em anos)

    At 14 anos 40 28 (70%) 1,5

    15-19 anos 41 22 (53,6%) 1,22

    20-24 55 30 (54,5%) 1,24

    25 ou mais 41 18 (43,9%)

    Carga horria semanal

    20 20 8 (40%)

    40 ou + 152 88 (57,8%) 1,44

    Quantidade de turmas

    1 34 15 (44,1%)

    2 76 47 (61,8%) 1,4

    3-5 32 16 (50%) 1,13

    6 ou + 37 20 (54%) 1,22

    Alunos por turma

    At 19 16 7 (43,7%)

    20-29 114 66 (57,8%) 1,32

    30 ou + 49 25 (51%) 1,16

    Renda mensal (R$)

    870,00-2000,00 40 21 (52,5%) 1,0

    2001,00- 3000,00 114 65 (57%) 1,18

    3001,00 ou mais 25 12 (48%)

    V.4 Fatores associados

    Para avaliao da associao entre mltiplas variveis, utilizou-se a anlise de

    regresso logstica. Adotou-se a estratgia proposta por Hosmer, Lemeshow &

    Sturdivant (2013), para a definio do modelo de regresso logstica com resposta

    binria:

    1. Avaliao individual cuidadosa de cada varivel independente, selecionando-

    se aquelas cujo teste univarivel tenha tido um valor p < 0,25 pela estatstica de Wald

    para serem includas no primeiro modelo multivarivel, juntamente com todas as

    variveis de reconhecida importncia clnica e/ou epidemiolgica;

  • 44

    2. Ajuste do modelo multivarivel contendo todas as covariveis selecionadas no

    passo 1, eliminando-se, ao longo desta etapa, as que no apresentaram contribuio em

    nveis tradicionais de significncia estatstica;

    3. Comparao dos valores dos coeficientes estimados no modelo reduzido (com

    eliminao de parte das covariveis do passo 2 com os respectivos valores no modelo

    completo (todas as covariveis selecionadas no passo 1);

    4. Definio do modelo preliminar de efeitos principais: reincluso, uma a uma,

    das covariveis no selecionadas no passo 1, e avaliao de sua significncia pelo valor

    p da estatstica de Wald;

    5. Definio do modelo de efeitos principais: exame das covariveis presentes no

    modelo, em particular quanto ao atendimento do pressuposto de aumento ou reduo

    linear do logito em funo de cada covarivel contnua; para tanto, utilizou-se o grfico

    da varivel tempo de trabalho como professor com o logito suavizado da regresso

    robusta dos mnimos quadrados localmente ponderados (robust locally weighted least

    squares regression - lowess) da varivel resposta (transtorno mental comum), grfico

    dos coeficientes de regresso dos quartis do tempo de trabalho e de categoria do tempo

    de trabalho propores mdias de transtorno mental comum por categoria do tempo de

    trabalho; ajuste de modelo multivarivel em que a varivel contnua tempo de trabalho

    foi substituda por variveis indicadoras com base em seus quartis, tomando-se como

    grupo de referncia o quartil inferior; grfico dos coeficientes de regresso estimados

    por esse modelo para as variveis indicadoras versus os pontos mdios dos quartis do

    tempo de trabalho; mtodo dos polinmios fracionrios para determinar o melhor

    modelo para a covarivel contnua;

    6. Verificao da presena de interao entre as variveis do modelo tomando-se

    como referncia o nvel de significncia estatstica de 0,05 definio do modelo

    preliminar final.

    No foi avaliada a adequao do modelo nem verificado seu ajustamento, stimo

    passo proposto por Hosmer, Lemeshow & Sturdivant (2013), para a definio do modelo

    de regresso logstica com resposta binria.

    Na explorao inicial, as variveis categricas cor da pele, situao conjugal e

    carga horria semanal de trabalho foram recodificadas para que categorias mais

    apropriadas fossem obtidas para represent-las, chegando-se a sua dicotomizao.

    No ajuste do modelo multivarivel, procedeu-se imputao dos valores

    ausentes para que a comparao dos modelos completo e reduzidos fosse feita entre

    modelos com o mesmo nmero de observaes. A imputao sequencial dos dados

  • 45

    ausentes em mltiplas variveis foi feita por meio de equaes em cadeia de imputao

    (HOSMER, LEMESHOW & STURDIVANT, 2013, p. 91-397).

    A anlise estatstica foi realizada no programa STATA 12.0.

    Uma vez que a varivel resposta teve uma prevalncia elevada, a razo de

    chances pode superestimar fortemente a razo de prevalncias. Por isto, razes de

    prevalncias de transtornos mentais comuns foram estimadas pela regresso de Poisson

    com um estimador robusto da varincia para corrigir os erros-padro (BARROS &

    HIRAKATA, 2003; CUMMINGS, 2009).

    Como a amplitude do tempo de trabalho como professor situou-se entre 10 e 49

    anos, as razes de prevalncias foram estimadas para incrementos de cinco anos no

    tempo de trabalho.

    V.4.1 Resultados

    As variveis selecionadas na avaliao individual por meio de regresso logstica

    foram: idade, tempo de trabalho como professor, outra atividade remunerada, alm de

    professor (sim ou no), relaes interpessoais com outros docentes (timas, boas,

    regulares, ruins, pssimas), cor da pele (branca ou amarela versus preta ou parda),

    situao conjugal (solteiro versus no solteiro), suporte social pelos supervisores

    (frequente/sempre versus ocasional/raro/nunca), conflito entre colegas de trabalho

    (ocasional/raro/nunca versus frequente/sempre), carga horria semanal de trabalho na

    rede municipal de ensino (menos de 40 horas versus 40 horas ou mais).

    Com a excluso das covariveis com valor p superior a 0,10 pela estatstica de

    Wald, permaneceram no modelo de anlise para a presena de transtornos mentais

    comuns (tmc): tempo de trabalho como professor (ttap), cor da pele (pele), suporte social

    pelos supervisores (ssup) e conflito entre colegas de trabalho (confl). Estas variveis

    compuseram o modelo de efeitos principais, uma vez que nenhuma das no selecionadas

    anteriormente apresentou significncia ao ser reincluda no modelo e a varivel tempo de

    trabalho como professor suportou o exame do atendimento do pressuposto da linearidade

    do logito em funo de sua presena como varivel contnua.

    No se verificou presena de interao entre as variveis do modelo.

    Portanto, o modelo final foi: tmc = 0,26 - 0,06 (ttap) + 1,00 (pele) + 0,90 (ssup) + 1,19

    (confl).

    As razes de prevalncias de transtornos mentais comuns associados a cada

    uma dessas variveis e ajustando-se pela demais covariveis (Tabela 8).

  • 46

    Tabela 8. Razes de chances e razes de prevalncias de transtornos mentais comuns

    em professoras da rede municipal de ensino de Jequi, Bahia, 2012, segundo as

    variveis presentes no modelo final de anlise de regresso logstica mltipla.

    varivel de exposio categorias

    razo de

    chances

    bruta

    razo de

    chances

    ajustada

    razo de

    prevalncias

    estimadas

    tempo de trabalho

    como professor

    por ano a mais de

    trabalho 0,95 0,95 0,98

    tempo de trabalho

    como professor

    para cada cinco anos a

    mais de trabalho 0,76 0,57 0,89

    cor da pele

    preta ou parda em

    relao a branca ou

    amarela

    2,77 2,72 1,59

    suporte social pelos

    supervisores

    frequente/continuado

    em relao a

    ocasional/raro/nunca

    2,23 2,46 1,33

    conflito entre colegas

    de trabalho

    conflito frequente em

    relao a conflito

    ocasional

    3,08 3,29 1,44

    Razo de chances bruta (no ajustada): obtida em anlise de regresso logstica

    univarivel.

    Razo de chances ajustada: obtida em anlise de regresso logstica

    multivarivel, ajustada pelas outras covariveis.

    Razo de prevalncias estimadas: obtida em anlise de regresso de Poisson

    robusta multivarivel, ajustada pelas outras covariveis.

    As razes de chances brutas e ajustadas tm valores prximos para tempo de

    trabalho como professor em escala anual e cor da pele, e nem to semelhantes para

    suporte social pelos supervisores e conflito entre colegas de trabalho. Para incrementos

    de cinco anos no tempo de trabalho os valores so bem distintos. O que mais relevante,

    contudo, que as razes de prevalncias estimadas so bastante diferentes das razes de

    chances, em consonncia com a assero de que quanto mais frequente for um desfecho,

    mais a razo de chances superestimar a razo de prevalncias maior que 1 e

    subestimar a razo de prevalncias menor que 1 (Zhang & Yu, 1998).

    No grupo estudado de professoras, para cada incremento de cinco anos no tempo

    de trabalho h uma reduo de 11% na prevalncia de transtornos mentais comuns,

    ajustada pela presena das demais covariveis; as professoras de pele preta ou parda tm

    prevalncia de transtornos mentais comuns 1,6 vezes maior que as de pele branca ou

    amarela; as professoras que recebem suporte ocasional, raro ou completamente ausente

    de seus supervisores apresentam prevalncia de transtornos mentais comuns 1,3 vezes

  • 47

    maior que as que tm suporte frequente ou continuado; e aquelas que vivenciam conflito

    frequente entre colegas de trabalho apresentam prevalncia de transtornos mentais

    comuns 1,4 vezes maior em relao as que experimentam conflito ocasional.

  • 48

    VI DISCUSSO

    Em relao aos aspectos sociodemogrficos, optamos por abordar neste estudo

    apenas mulheres, pois so predominantes na distribuio por gnero neste grupo

    ocupacional, em consonncia a outros estudos realizados tambm com professores no

    estado da Bahia (SILVANY-NETO et al, 2000; DELCOR et al, 2004; REIS et al, 2005;

    SOUZA, 2008; CEBALLOS, 2009; FARIAS, 2004 & PORTO et al., 2004) bem como a

    situao conjugal como casadas (FARIAS, 2004; REIS et al., 2005 & DELCOR et al,

    2004).

    escolaridade as professores possuem ensino superior completo, tal qual o

    exigido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao (1996). O nvel de escolaridade com

    predominncia do ensino superior tambm foi averiguado por outros estudos na Bahia,

    Souza (2008), Delcor et al., (2004) e Arajo et al (1998) variando entre 71,9% a 80,3%.

    Quanto ocupao destas professoras, grande parte referiu no ter outra

    atividade remunerada que no docente - dado equivalente ao apresentado em outros

    estudos na literatura, onde poucos docentes optaram por atividades extra muros da

    instituio (REIS et al., 2005; SOUZA, 2008; PORTO et al., 2004; DELCOR et al,

    2004; FARIAS, 2004 & SILVANY-NETO et al, 2000). Em geral, trabalham em um

    nico vnculo empregatcio, com poucas atuando paralelamente em outra rede de ensino,

    embora haja algumas que ensinem em mais de uma escola municipal (SILVANY NETO

    et al, 2000 & SOUZA 2008).

    Em relao ao nvel das turmas, um pouco mais da metade das professoras

    investigadas lecionam para o Ensino fundamental I (at a quarta srie, tambm chamada

    de educao infantil), o que indica que o perfil do alunado so crianas e pr-

    adolescentes. Esta informao contrasta completamente com os dados encontrados em

    estudo realizado na rede estadual de ensino no mesmo municpio em 2010*, onde a

    proporo dos alunos do ensino Fundamental I foi de apenas 10,2% e o predominante

    foi o Ensino Fundamental II (quinta srie a oitava srie agora chamado nono ano) com

    51,3%. Isto implica que o forte da rede estadual abordar as sries mais avanadas do

    ensino bsico neste municpio. O ensino fundamental I se destaca na literatura como o

    mais frequente das escolas municipais (CEBALLOS, 2009; REIS et al., 2005; SOUZA,

    2008).

    _________________________

    * Cardoso, J.P. Sade na escola: o cuidado com professores. [Projeto de pesquisa no publicado].

    Condies de trabalho e sade de professores da rede estadual de ensino de Jequi-Ba. Ncleo de

    estudos em sade da populao. Ncleo de estudos em atividade fsica e sade. Laboratrio de Sade

    Coletiva. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia [Jequi], Bahia, 2010.

  • 49

    Dado destoante foi que o nmero de turmas que os docentes lecionam se mostrou

    o dobro em relao a outros estudos realizados com docentes municipais tambm na

    Bahia (REIS et al., 2005 & SOUZA, 2008) e que a mdia de tempo de atuao na

    docncia foi de 20 anos variando entre 10 a 49 anos - mdia maior do que encontrada em

    demais estudos (REIS et al., 2005; CEBALLOS, 2009 & SOUZA, 2008).

    Quanto s prevalncias, este estudo concorda com a literatura, j que sabido

    que TMC em mulheres so mais prevalentes do que em homens (SANTOS &

    SIQUEIRA, 2010; ROCHA et al., 2010).

    Observou-se que quanto maior a idade do professor e o tempo de sua atuao

    profissional menores foram as prevalncias de TMC resultado inverso ao encontrado

    por Reis et al., (2005) em relao a tempo de atuao profissional onde a relao foi de

    quanto maior esse tempo, maior a prevalncia de TMC. Outros achados destoantes

    foram prevalncias acentuadas em docentes com um nico vnculo empregatcio 56,4%

    e em professoras que no possuem outra atividade remunerada com 56,7%. As

    professoras que atuam em duas escolas apresentaram 54,9% de suspeio de TMC, uma

    prevalncia alta como a observada por Gasparini, Barreto & Assuno (2006) que

    encontraram para esta mesma varivel o valor de 46,7% em professores da rede

    municipal de Belo Horizonte MG.

    Quanto s relaes interpessoais dos professores no trabalho, quanto melhores

    foram estas relaes menores as prevalncias de TMC encontradas. Uma boa relao

    interpessoal no trabalho, predispe o trabalhador a experimentar menos situaes

    conflitantes (LINDSTRM et al., 2000).

    Professores com idade entre at 40 anos apresentaram maior prevalncia de TMC

    em relao aos demais, concordando com a mesma faixa etria observada por Gasparini,

    Barreto & Assuno (2006). Os que apresentam carga horria semanal igual ou acima de

    40 horas tambm se mostraram com valor acentuado para TMC, em concordncia com

    Reis et al., (2005), com resultados bem equivalentes.

    Em relao aos fatores associados, no modelo final de regresso logstica

    mltipla, as variveis que permaneceram no modelo foram tempo de trabalho como

    professor, cor da pele, suporte social pelos supervisores e conflito entre colegas de

    trabalho.

    O tempo de trabalho como professor se mostrou como fator associado, ao passo

    que os docentes para cada ano trabalhado, ou conjunto de cada cinco anos a mais de

    trabalho h uma progressiva reduo da chance de acometimento por TMC.

    J para a varivel cor da pele como fator associado, professoras cuja cor de pele

    seja preta ou parda, apresentam prevalncia de transtornos mentais comuns 1,5