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Dois médicos apanhados em fraude de 50 milhões com remédios Receitas falsas. Rede envolvia um médico e uma médica do mesmo centro de saúde e sete outras pes- soas. Medicamentos chegaram a faltar no mercado Dois médicos do Centro de Saúde de Cabeceiras de Bastos (Braga) , cinco delegados de informação médica, dois armazenistas e um elemento que seria o pivô entre todos foram ontem detidos na operação "Remédio Santo". São acusados de uma burla ao Estado através de receitas falsas: prescreviam medicamentos caros a doentes que não necessitavam deles. Depois, ou as farmácias apenas simulavam a ven- da, obtendo a comparticipação do Es- tado, ou vendiam os medicamentos, que eram depois reintroduzidos no mercado ou exportados. Os dez acusa- dos serão ouvidos hoje pelo juiz Carlos Alexandre. Foi apreendido umPorsche Panamera. ATUAL PÁGS. 4 E 5

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Page 1: Press Review page - ClipQuick · ceu que o esquema passava pela "emissão de receituário falso relativo a medicamen-tos com elevada comparticipação do Esta-do, em nome de utentes

Dois médicosapanhadosem fraudede 50 milhõescom remédiosReceitas falsas. Rede envolvia um médico e umamédica do mesmo centro de saúde e sete outras pes-soas. Medicamentos chegaram a faltar no mercado

Dois médicos do Centro de Saúde de

Cabeceiras de Bastos (Braga) , cincodelegados de informação médica,dois armazenistas e um elemento queseria o pivô entre todos foram ontemdetidos na operação "Remédio Santo".São acusados de uma burla ao Estadoatravés de receitas falsas: prescreviammedicamentos caros a doentes que

não necessitavam deles. Depois, ou as

farmácias apenas simulavam a ven-da, obtendo a comparticipação do Es-

tado, ou vendiam os medicamentos,que eram depois reintroduzidos nomercado ou exportados. Os dez acusa-dos serão ouvidos hoje pelo juiz CarlosAlexandre. Foi apreendido umPorschePanamera. ATUAL PÁGS. 4 E 5

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Dois médicosenvolvidos emrede acusada deburlar o Estadoem 50 milhõesInvestigação. Dez pessoas foram detidas e são hoje ouvi-das pelo juiz Carlos Alexandre. Em causa está um esque-ma de receitas falsas que terá provocado burla de milhões

Médicos acusados dão consultas no Centro de Saúde de Cabeceiras de Basto

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ANA MAIA e CARLOS RODRIGUES LIMA

Apesar do calor, o médico não conseguiuaproveitar o dia na Praia da Árvore, em Vilado Conde, onde tem casa. Às primeiras ho-ras da manhã de ontem, foi detido por ins-

petores da Unidade Nacional Contra a Cor-rupção (UNCC) da Polícia Judiciária e con-duzido para Lisboa. O mesmo aconteceu auma colega sua do Centro de Saúde de Ca-beceiras de Basto, no distrito de Braga. Am-bos, juntamente com cinco delegados deinformação médica, dois ar-mazenistas e um terceiro ele-mento, que faria a a ligação en-tre todos, são suspeitos de bur-lar o Estado através de umesquema de receitas falsas. As

primeiras contas apontam pa-ra 10 milhões, mas os investi-gadores da "Operação Remé-dio Santo" admitem que o va-lor possa atingir os 50 milhões de euros. APJ apreendeu ainda a um dos médicos umcarro topo de gama, com valor comercial de150 mil euros.

De acordo com informações recolhidaspelo DN durante o dia de ontem, o esque-ma em causa até era, aparentemente, sim-ples: com acesso às listas de doentes do Ser-

viço Nacional de Saúde, os médicos foramprescrevendo receitas de medicamentoscaros a doentes que não necessitavam de-les. Uma vez que estes são comparticipadospelo Estado quase na sua totalidade, segun-do fonte ligada à investigação, houve far-mácias que simulando a venda obtiverama comparticipação do Estado, mantendo o

medicamento em stocke outras que forne-ceram os medicamentos em causa. Nesteúltimo caso, as caixas seriam entregues aos

grossistas que voltavam a introduzir os re-médios no mercado interno ou reencami-nhavam-nos para a exportação.

Para além dos mandados de detençãodos 10 suspeitos - que hoje começarão a ser

interrogados no Tribunal Central de Instru-ção Criminal pelo juiz Carlos Alexandre - os

inspetores da UNCC começaram o dia deontem munidos de mandados de buscas.Estas terão sido realizadas às

casas e consultórios dos médi-cos, assim como aos escritó-rios do laboratório Bial, paraquem trabalhavam quatro de-

legados de informação médi-ca, tal como a empresa admi-tiu em comunicado. Ressal-vando, porém, que as açõesdos seus colaboradores foram"cometidas a título individual numa situa-ção de fraude com mais de uma dezena demedicamentos, dois dos quais comerciali-zados pela BIAL, e que parece envolver al-guns médicos, farmacêuticos, delegados de

informação médica e outros profissionaisdo setor".

Alguns dos medicamentos em causa são,

normalmente, prescritos para doentes comParkinson. Ainda no passado mês de Maio,José Vieira, elemento de uma associação dedoentes com Parkinson, alertou publica-mente para a escassez no mercado de ummedicamento essencial ao tratamentos dosdoentes. Ora, segundo soube o DN, este re-médio também foi utilizado no alegado es-

quema de burla ao Estado.Para além das buscas e apreensão de do-

cumentos, a Judiciária apreendeu aindaum Porsche Panemera a um dos médicosdetidos. Com um valor de mercado a ron-dar os 150 mil euros, o carro foi considera-do como um "provento" do crime, por issovai ficar apreendido à ordem do processo.Esta investigação nasceu do cruzamento de

informações entre quatro entidades: a Cen-tral de Conferência de Faturas do Ministé-rio da Saúde, o Infarmed e a Inspeção Geralda Saúde e a PJ. O inquérito foi aberto noDepartamento Central de Investigação e

Ação Penal (DCIAP). Hoje, uma procurado-ra deste departamento do Ministério Públi-co estará presente no interrogatório dos ar-guidos. Até à hora de fecho desta edição,não foi possível apurar se o magistrado doMP vai requerer a prisão preventiva para al-

guns dos arguidos. Fonte ligada à investiga-ção adiantou ao DN que entre os 10 detidoshá casos em que se justifica a prisão pre-ventiva.

A investigação, que recebeu o nome de"Operação Remédio Santo", visa apurar aexistência de crimes de falsificação de docu-

mentos, burla qualificada e corrupção. Todaa documentação apreendida pela Judiciáriaserá alvo de análise nos próximos meses, deforma a se apurar o montante total.

PJ apreendeu aum dos suspeitos

um 'PorschePanamera'

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MEDIDAS PARA TRAVAR FRAUDE

Central de conferência de faturas

> Começou a funcionar a 1 de março de 20 1 0 e desde então éeste organismo, instalado no Porto, que faz a verificação detodas as receitas prescritas. Com a obrigação da receita eletró-nica, tornou-se mais fácil à central verificar o tipo de prescri-ção dos centros de saúde, o que receitam os médicos e quais asfarmácias onde os medicamentos são aviados. Desta forma,sempre que alguma situação foge do normal pode ser dado oalerta de suspeita de ilegalidade. Também as prescrições deexames e análises passaram a ser verificadas pela central.

Investigações às farmácias

> Cabe àAutoridade Nacional do Medicamento (Infarmed)inspecionar as farmácias e o restante circuito do medicamen-to. A exportação paralela é um dos alvos da investigação, so-bretudo em casos em que exista falta de remédios nas farmá-cias sem que se justifique. No último ano, o Infarmed instau-rou 68 processos de contraordenação a 67 entidades envolvi-das na exportação de remédios, que estariam a colocar emcausa a acessibilidade dos doentes aos mesmos em Portugal.As coimas aplicadas ascenderam a 650 mil euros.

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Inspeções nos hospitais

> Um dos pontos prioritários da Inspeção Geral da Saúde(IGAS) , em termos disciplinares, está relacionada com casosde fraude ou corrupção, que possam por exemplo envolver aprescrição de medicamentos, feita por dirigentes ou médicos.Entre as ações de inspeção previstas para o ano passado esta-vam a prevenção da apropriação indevida de bens de consu-mo hospitalar. Perante a suspeita, a norma dita que se abrauma investigação e inquérito para apurar a veracidade dosfactos. Caso se confirme a culpa são sugeridas sanções.

Acordo com Ministério das Finanças

> No início do ano, os ministérios da Saúde e das Finanças fize-ram uma conferência conjunta para dizer que o combate àfraude na área da saúde é uma das prioridades do Governo.Todos os casos suspeitos detetados vão ser prioritários para aPolícia Judiciário e Ministério Público, já que os valores emcausa são elevados. As fraudes mais frequentes na saúde,adiantou na altura o ministro Paulo Macedo, serão prescri-ções indevidas, obtenção de vantagens em processos de aqui-sição em nome do Estado e apropriação de bens públicos.

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Paulo Macedo satisfeito com resultado da investigaçãogoverno O ministro da saúde deu ontem os

parabéns às autoridades policiais depois dea Polícia Judiciária, através de comunicado,ter dado conta da detenção de dez pessoasrelacionadas com uma fraude com medica-mentos que pode ter lesado o Estado em 50milhões de euros. Em causa, disse PauloMacedo, estavam medicamentos que nãoestavam a chegar aos doentes portugueses.

"Esta operação resultou de inquéritosrealizados pela Unidade Nacional de Com-bate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judi-ciária e pelo Departamento Central de In-vestigação e Ação Penal (DCIAP) , a quemdou as minhas felicitações. Em poucos me-ses esta é a segunda operação de grande en-vergadura relativa a fraudes no SNS. A inves-

tigação decorreu no âmbito de vários in-quéritos que estão a decorrer e cujaimplicação são dezenas de milhões de eu-ros em que o SNS foi lesado", disse PauloMacedo, no Parlamento.

"Estamos a falar de pôr termo a uma frau-de contra o SNS e o delapidar de dinheirospúblicos. Mas também, neste caso concre-to, de uma fraude com medicamentos quenão estavam a chegar aos pacientes portu-gueses", salientou o ministro, acrescentan-do que a fraude com recurso a receitas mé-dicas é recorrente. "As autoridades policiaise o Ministério da Saúde estão atentos e comsucesso a pôr termo a este flagelo", reforçouPaulo Macedo, sem dar pormenores da in-

vestigação. "O sucesso destas ações decor-re também da própria prioridade que a PJ e

o Ministério Público têm dado aos inquéri-tos no âmbito de fraudes contra o SNS", afir-mou o ministro da saúde.

Num comunicado, o ministério esclare-ceu que o esquema passava pela "emissãode receituário falso relativo a medicamen-tos com elevada comparticipação do Esta-do, em nome de utentes que deles não care-cem ou cuja prescrição desconhecem".

Último esquemaenvolvia comprade farmáciasprejuízo Uma investigaçãoteve como alvo a comprade 30 farmácias por um só

dono. Fraudes na saúde

podem ser de 500 milhões

Perto de 500 milhões de euros. Éeste o valor total em fraudes ao

Serviço Nacional de Saúde. A esti-mativa foi apresentada pelo mi-nistro da Saúde em várias ocasiões

e tem por base os dados divulga-dos pela Organização Mundial deSaúde (OMS) a nível internacio-

nal. No espaço de três meses esta éa segunda grande suspeita de frau-de investigada pela Polícia Judiciá-ria. A última dizia respeito a um es-

quema de compra de farmácias evenda de medicamentos para ou-tros países.

Em março, a Polícia Judiciáriafez buscas à casa e escritórios deNuno Guerreiro e Bruno Louren-ço, ambos farmacêuticos e consti-tuídos arguidos. Em causa estariaum esquema de compra de farmá-cias feito pelo primeiro e que terá

resultado na aquisição de mais de30 espaços, quando a lei apenaspermite que cada pessoa seja pro-prietária de quatro farmácias.

A compra foi feita com recursoa empréstimos bancários e a umalegado esquema de encomendade medicamentos a alguns distri-buidores, que não eram pagos, e

posteriormente seriam entreguesa outros armazenistas que os ven-diam para fora do país.

Um esquema diferente do ago-

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ra detetado pela PJ, mas tambémeste não é novo. Já em anos ante-riores, médicos e farmacêuticosforam investigados pelas autori-dades policiais, por se suspeitarque estavam a ser passadas recei-tas com recurso a vinhetas falsas,

prescrição de medicamentos autentes que não precisavam dosmesmos e nem sabiam de receitasem seu nome. Em 2010, a Inspe-ção Geral da Saúde investigou umesquema que envolvia medica-mentos comparticipados pelo Es-tado na totalidade. Em causa esta-riam 10 milhões de euros.

De acordo com o ministro daSaúde, a fraude em Portugal pode-rá chegar aos 500 milhões de eu-ros. "Os dados da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS) respon-sabilizam a fraude e o erro por 6%dos gastos em saúde. A fraude as-sociada às compras será de 10%,no mínimo", acrescentou PauloMacedo, no início deste ano,quando anunciou juntamentecomo ministério da Justiça que ocombate à ilegalidade ia ser umadas prioridades do Governo.

Já em 2010, uma auditoria da

Inspeção Geral das Finanças, cita-da pelo "Diário Económico", refe-ria que do total das despesas doEstado com a comparticipação demedicamentos, 40% seria poten-cial fraude. "Para um valor de com-participação do SNS de três mi-lhões de euros, cerca de 1,2 mi-lhões de euros foi identificadocomo potencialmente irregular",referia o relatório.

4 PERGUNTAS A...

"As penaspoderão chegarà expulsão"

A Ordem tinha algum conhe-cimento destes casos de frau-de com medicamentos, envol-vendo dois médicos da zonade Vila do Conde?Claro que não tinha conheci-mento. Se tivesse tinham sidocomunicados às autoridades.Também não fomos contac-tados durante a fase de inqué-rito desses casos. Ficámossurpreendidos com o anún-cio dessa situação. O que lhe

posso dizer é que entristece-nos a notícia mas, por outrolado, regozijamo-nos com o

facto de terem sido apanha-dos os infratores. Tambémnão temos dúvidas de quenão ficarão por aqui os abu-sos ao Serviço Nacional deSaúde em matéria deMedicamentos...Há outros médicos a sereminvestigados pelos órgãos dis-

ciplinares da Ordem? Estescasos acontecem com algumafreauência?

Felizmente é raro aconteceremestes casos. Tenho ideia de quehá alguma coisa a decorrer noConselho Disciplinar daOrdem, que tem a ver com coi-sas que já foram comunicadaspelas autoridades.Se há mais casos de abusos massão raros os que envolvem mé-dicos, isso significa que está aexcluir estes últimos destas prá-ticas fraudulentas? Não costu-mam estar envolvidos?Não. Não excluímos nenhumprofissional de saúde, nem afas-

tamos a hipótese de haver maismédicos envolvidos. O queposso dizer é que, caso se venhaa verificar uma situação defrau-de com a participação ativa demédicos - porque não pode-mos, nesta fase, excluir a pos-sibilidade de as suas assinatu-ras terem sido falsificadas- es-tamos empenhados em que as

penalizações sejam duras.

Que tipo de penalização estaráem causa nessa situação?Como disse, se se provar, esta-mos empenhados em que as

penalizações sejam duras e po-derão mesmo chegar à sua ex-pulsão da Ordem. A fraude commedicamentos é uma atuaçãoinaceitável, não só em médicoscomo em qualquer profissio-nal de saúde.