preparo e conservaÇÃo do solo, calagem e plantio · 2019. 4. 28. · etapa de aração, feita,em...

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PREPARO E CONSERVAÇÃO DO SOLO, CALAGEM E PLANTIO Frutas do Brasil, 33 PREPARO DO SOLO o melão (Cucumis me/o L.) pode ser cultivado em diferentes tipos de solos, entretanto aqueles que apresentam boa aeração são os mais recomendados. O solo deve ser preparado de forma a per- mitir boa drenagem e bom desenvolvi- mento radicular. O número de opera- ções de aração, gradagem e nivelamento dependerá de cada tipo de solo. Antes de iniciar as operações de preparo deve-se providenciar a análise do solo para determinar a necessidade de calagem e adubação. O preparo inicial do solo em áreas não utilizadas anteriormente com esta finalidade inclui a limpeza da área, por desmatamento, que poderá ser manual ou mecanizado, tendo-se o cuidado de evitar a retirada da camada superficial do solo, rica em matéria orgânica. Depois da limpeza da área, inicia-se a etapa de aração, feita, em geral, com arado de disco ou aiveca, a uma profundidade de 20 a 40 cm, com o objetivo de revolver a camada superficial do solo, incorporar o material orgânico existente na superfície, visando à melhoria das suas condições físicas. Em áreas já cultivadas, com exis- tência de ervas daninhas ou restos de cul- turas, a aração deve ser precedida de uma Melão Produção José Barbosa dos Anjos Paulo Roberto Coelho Lopes Clementino Marcos B, Pan'a Nivaldo Duarte Costa passada de roçadeira ou grade de discos para facilitar a sua incorporação ao solo, Em solos que apresentam camadas compactadas e/ou que sejam adensados, recomenda-se realizar uma subsolagem a profundidade superior às referidas cama- das endurecidas, com o objetivo de per- mitir maior aprofundamento das raízes, além de permitir maior infiltração e ar- mazenamento de água. A subsolagem deverá ser efetuada com o solo seco, a fim de propiciar maior rompimento da ca- mada endurecida, Em solo úmido, essa prática apresenta baixa eficiência. Para complementar a aração, costu- ma-se gradear a área a fim de reduzir o tamanho dos torrões existentes e nivelar a superfície do terreno facilitando as opera- ções subseqüentes e a implantação da cul- tura. Em muitas regiões, costuma-se usar a grade pesada ou aradora para a implanta- ção da cultura do melão. No entanto, esta não substitui satisfatoriamente a aração efetuada com arado de disco ou de aiveca. O preparo das linhas de plantio de- pende do sistema de irrigação a ser utiliza- do no cultivo. No caso de sistema de irrigação por sulcos, realiza-se o sulca- mento da área no espaçamento desejado, seguido da marcação e abertura das covas e adubação de fundação. Para outros sis- temas de irrigação, faz-se a marcação das

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Page 1: PREPARO E CONSERVAÇÃO DO SOLO, CALAGEM E PLANTIO · 2019. 4. 28. · etapa de aração, feita,em geral,com arado de disco ou aiveca,auma profundidade de 20 a 40 cm, com o objetivo

PREPARO ECONSERVAÇÃODO SOLO, CALAGEME PLANTIO

Frutas do Brasil, 33

PREPARO DO SOLO

o melão (Cucumis me/o L.) pode sercultivado em diferentes tipos de solos,entretanto aqueles que apresentam boaaeração são os mais recomendados. Osolo deve ser preparado de forma a per-mitir boa drenagem e bom desenvolvi-mento radicular. O número de opera-ções de aração, gradagem e nivelamentodependerá de cada tipo de solo.

Antes de iniciar as operações depreparo deve-se providenciar a análisedo solo para determinar a necessidade decalagem e adubação.

O preparo inicial do solo em áreasnão utilizadas anteriormente com estafinalidade inclui a limpeza da área, pordesmatamento, que poderá ser manualou mecanizado, tendo-se o cuidado deevitar a retirada da camada superficialdo solo, rica em matéria orgânica.

Depois da limpeza da área, inicia-se aetapa de aração, feita, em geral, com aradode disco ou aiveca, a uma profundidade de20 a 40 cm, com o objetivo de revolver acamada superficial do solo, incorporar omaterial orgânico existente na superfície,visando à melhoria das suas condiçõesfísicas. Em áreas já cultivadas, com exis-tência de ervas daninhas ou restos de cul-turas, a aração deve ser precedida de uma

Melão Produção

José Barbosa dos AnjosPaulo Roberto Coelho LopesClementino Marcos B, Pan'a

Nivaldo Duarte Costa

passada de roçadeira ou grade de discospara facilitar a sua incorporação ao solo,

Em solos que apresentam camadascompactadas e/ou que sejam adensados,recomenda-se realizar uma subsolagem aprofundidade superior às referidas cama-das endurecidas, com o objetivo de per-mitir maior aprofundamento das raízes,além de permitir maior infiltração e ar-mazenamento de água. A subsolagemdeverá ser efetuada com o solo seco, a fimde propiciar maior rompimento da ca-mada endurecida, Em solo úmido, essaprática apresenta baixa eficiência.

Para complementar a aração, costu-ma-se gradear a área a fim de reduzir otamanho dos torrões existentes e nivelar asuperfície do terreno facilitando as opera-ções subseqüentes e a implantação da cul-tura. Em muitas regiões, costuma-se usar agrade pesada ou aradora para a implanta-ção da cultura do melão. No entanto, estanão substitui satisfatoriamente a araçãoefetuada com arado de disco ou de aiveca.

O preparo das linhas de plantio de-pende do sistema de irrigação a ser utiliza-do no cultivo. No caso de sistema deirrigação por sulcos, realiza-se o sulca-mento da área no espaçamento desejado,seguido da marcação e abertura das covase adubação de fundação. Para outros sis-temas de irrigação, faz-se a marcação das

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Melão Produção

linhas no espaçamento desejado, segui-da da adubação de fundação nas faixas deplantio. Os adubos e corretivos podemser aplicados e incorporados manual-mente, com tração animal ou por meiode equipamentos motomecanizados.

CONSERVAÇÃO DO SOLO

Para o cultivo de melão, deve-se esco-lher áreas planas com declividade nãosuperior a 2%, de forma que as operaçõesde preparo sejam realizadas com base emcritérios conservacionistas. É preciso termuito cuidado no que diz respeito aosistema de irrigação por sulcos, de modoque não venha a causar erosão.

Por ser o melão uma cultura anual deciclo curto, as áreas cultivadas são mecani-zadas intensivamente, necessitando de cui- ~dados especiais quanto às operações de &preparo do solo. As práticas conservacio- ~nistas mais recomendadas no cultivo do o

melão são as que reduzem o risco de degra- !dação das características físicas do solo.O preparo do solo com teor de umidadeelevado aumenta o risco de compactação edificulta a infiltração da água no solo.Já o preparo do solo quando muito seco,resulta na formação de torrões grandes nasuperfície, que, para serem desfeitos, neces-sitam de maior número de gradagens, o quecausa a degradação da estrutura, a pulveri-zação do solo, a formação de crosta super-ficial, tomando-o, conseqüentemente, su-jeito à erosão.

O uso de implementos com dife-rentes tipos de corte (arado de disco e deaiveca) a diferentes profundidades é fun-damental na redução de riscos de forma-ção de camadas endurecidas no perfil, oque poderá reduzir a taxa de infiltraçãoda água no solo e aumentar os riscos desalinização.

Outra prática conservacionista re-comendável para o cultivo do melão é amanutenção de resíduos vegetais ou co-bertura morta sobre a superfície do solo,a qual tem a capacidade de evitar a forma-ção de crosta superficial, reduzir o es-

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coamento superficial da água e, conse-qüentemente, a erosão, aumentar a dis-ponibilidade de água no solo, e reduzira temperatura do solo, proporcionandocondições adequadas ao desenvolvimen-to do sistema radicular. Nesse caso, aenxada rotativa múltipla é o equipa-mento mais recomendado, pois, em umasó operação pode se preparar a linha deplantio, incorporar adubos, corretivose abrir sulcos, se o sistema de irrigaçãoadotado for por sulcos (Fig.1).

Fig.l. Conjunto de enxada rotativamúltipla acoplada com sulcador deabertura regulãvel.

CALAGEM

A calagem é processo que visacorrigir a acidez do solo, a fim de preve-nir os efeitos tóxicos, principalmentedo alumínio, ao desenvolvimento domeloeiro, sendo conhecida por meio daanálise de solo. O solo é consideradoácido quando contém íons de hidrogê-nio (H+) solúveis. Esses íons são avalia-dos pela determinação do pH, que édefinido pela fórmula: pH=log 1/H+,cujos valores variam de zero a quatorze.Quanto maior for a concentração dosíons H+, menor será o pH. Um valor depH igual a 7 é considerado neutro. Valo-res abaixo de 7 são ácidos e acima de 7,são básicos. Em solos, podem ser encon-trados valores de 3 a 9. Segundo Filguei-ra (2000), o pH ideal para a cultura domelão situa-se entre 6,4 a 7,2.

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o alumínio (AI) também age comoum elemento acidificante, ativando oíon H+, e é o principal fator responsávelpelos efeitos desfavoráveis da acidez dosolo sobre os vegetais, inibindo o crescimen-to das raízes e o desenvolvimento de todaplanta. Em condições de acidez elevada dossolos, outros elementos, como o manganêse o ferro, tomam-se muito solúveis, poden-do, também, ser tóxicos quando absorvidosem grande quantidade pelas plantas.

O corretivo mais comumente utili-zado na calagem é o calcário, que temcomposição química de um carbonatoduplo de cálcio e magnésio, representa-do pela fórmula CaMg (CO:Jz. Confor-me os teores de magnésio, os calcáriossão classificados em calcítico, quandocontêm menos que 5% de MgO (óxidode magnésio), calcário magnesiano, de5% a 12% de MgO, e calcário dolomítico,mais que 12% de MgO (Comissão deFertilidade do Solo do Estado de MinasGerais, 1999). Em qualquer um dessescalcários, o conteúdo de CaO (óxido decálcio) é sempre superior ao de MgO.

Além da composição química docalcário, o tamanho de suas partículas,conhecido como granulometria, é ou-tra característica que deve ser levada emconsideração na qualidade do corretivo.Quanto mais fina for a granulometria,menos demorada é a reação do calcáriocom o solo. Conhecendo-se os valoresda composição química e da granulome-tria, obtém-se o poder relativo de neu-tralização total - PRNT -, cujos valoressão expressos em percentagem e quedefinem a qualidade final do calcário. Ocalcário de boa qualidade deve possuirum PRNT igualou superior a 80%.

A reação química que se processano solo, com a aplicação do calcáriopara corngll: a acidez, é ilustrada a se-gUlr:

Melão Produção

Observa-se que o calcário, depoisde solubilizar-se com a água (HzO) con-tida no solo, libera os íons de Ca+eMg+que vão deslocar os de Al"e H quese encontravam adsorvidos nas partícu-las do solo, em forma ativa, para formaro hidróxido de alumínio, AI (OH)3' pre-cipitando-se em forma neutra (não ati-va), com formação do gás carbônico(CO), que é eliminado para atmosfera.

Além da correção da acidez, muitasvezes, a calagem tem o objetivo de forne-cer os nutrientes cálcio e magnésio, quan-do os teores deles são baixos no solo.A calagem também aumenta a disponibi-lidade do fósforo e molibdênio, tem efei-to na microflora do solo, inclusive nasbactérias fixadoras de nitrogênio, favore-ce a melhoria nas propriedades físicas dosolo, tornando-o mais poroso, e promo-ve maior desenvolvimento radicular dasplantas, ampliando sua capacidade emobter água e nutrientes do solo (Raij,1991).

Como efeito desfavorável, a cala-gem diminui a disponibilidade dos nu-trientes potássio, ferro, zinco, manga-nês, boro e cobre. Quando em excesso,a calagem diminui a disponibilidade,também, do fósforo. Contudo, os efei-tos positivos são muito superiores aosefeitos negativos quando a calagem éfeita fundamentada em critérios técni-co-científicos.

A necessidade de calagem - NC - queexprime a quantidade de corretivo emt/ha necessária para neutralizar a acidezdo solo é determinada pelo uso das fór-mulas apresentadas a seguir:

Os valores de Ca, Mg e T sãoexpressos em cmolj dm ' e os de V em%, obtidos na análise de solo. Os doPRNT são fornecidos pela análise docalcário, que, geralmente, está impres-sa na embalagem do produto.

E]AI

H+ AI(OH)3 + 2C02

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Melão Produção Frutas do Brasil, 33

Métodos para o cálculo da necessidade de calcário (NC)

Com base nos teores de cálcio e magnésio:

100NC= [3 - (Ca+Mg)]x--

PRNT

Com base na saturação de bases (V):

T(V2-V,)NC=

PRNT

Em que:

T = capacidade de troca de cátions.

V2= saturação de base desejada.

V, = saturação de base atual.

PRNT = poder relativo de neutralização total.

Existe correlação entre os valoresde V com os de pH. Quanto menor foro pH, menor também será a saturaçãode bases. Quando a saturação de basesencontra-se em valor desejado (75% a80%), o pH está próximo de 7 e não hámais acidez prejudicial às plantas. Érecomendável o uso de calagem sempreque o índice de saturação por bases forinferior a 60% (Brandão Filho & Vas-concellos 1998).

Na região do Submédio do Vale doSão Francisco, dificilmente ocorremsolos com problemas graves de acidez(PH inferior a 5 e saturação de AI acimade 20%), mas existem solos deficientesem cálcio e magnésio. Por esse motivo,as recomendações de calagem para essaregião têm a finalidade principal de ele-var os teores desses dois nutrientes nosolo. Considerando, ainda, a influênciapositiva que o cálcio exerce na qualida-de dos frutos (Pooviah et al., 1988),estabeleceu-se o uso do primeiro méto-do para calcular a necessidade de cala-gemo

O calcário deve ser aplicado a lançoe incorporado ao solo por meio de umagradagem profunda, com uma antece-dência mínima de 2 meses antes do plan-

tio da cultura. Durante esse período,deve-se manter o solo úmido para favo-recer a solubilização do calcário. A apli-cação do calcário deve ser feita pormáquinas próprias de distribuição dessecorretivo. Em áreas pequenas, não sedispondo dessas máquinas, a aplicaçãopode ser feita manualmente.

PLANTIO

A semeadura direta é a forma deplantio mais utilizada para o cultivo domelão, gastando-se, em média, 0,8 a1,5 kg de sementes por hectare, depen-dendo do espaçamento adotado, do po-der germinativo e do tamanho das se-mentes da cultivar escolhida. Em geral,semeia-se uma a duas sementes por cova,a uma profundidade de 2 a 3 cm. Nor-malmente, quando a semente é híbrida,utiliza-se apenas uma semente/cova emfunção do elevado custo e do alto per-centual de germinação.

Em pequenas áreas, pode ser usadaa adubação de fundação em sistema decovas, que devem ser abertas com enxa-das, nas dimensões de 30 x 30 x 30 em(comprimento x largura x profundida-de). No caso de grandes áreas, que utili-

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zam irrigação localizada, a adubação defundação é feita no fundo do sulco. En-tretanto, para os produtores que utili-zam irrigação por sulco, o fertilizantedeve ser colocado na parte lateral dosulco e coberto com terra. A seguir,abre-se uma pequena cova para o plan-tio das sementes na parte superior dosulco. É recomendável a aplicação deuma lâmina de água, antes do plantio,para deixar o solo bem umedecido.

Outra forma de plantio do melão épor meio de mudas, principalmente, nocaso de híbridos, pelo elevado custo dassementes. As mudas poderão ser produ-zidas em bandejas de isopor, sacos plás-ticos ou copinhos de jornal. As cucurbi-táceas, em geral, não toleram a forma-ção de mudas de "raizes nuas". É neces-sário ter cuidado para não passar daépoca do transplantio, que não deveexceder o período da emissão da primei-ra folha definitiva. Vale salientar que osemeio direto no campo antecipa o ci-clo da cultura em relação ao transplan-tio de mudas, o que é um dado importan-te, uma vez que diminui consideravel-mente o custo final de produção da

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cultura, sobretudo, porque as plantasficam menos tempo expostas ao ataquede pragas e doenças.

O espaçamento ideal para a culturado melão dependerá da característicagenética da cultivar, do nível de tecnolo-gia empregado pelo produtor e, princi-palmente, da exigência do mercado comrelação ao tamanho dos frutos. Em pe-quenas áreas, geralmente, usa-se o espa-çamento de 2 metros entre fileiras e 0,3a 0,5 metro entre plantas (10.000 a 16.666plantas/ha).

Os produtores que cultivam áreasextensas, com alto nível de tecnologia,têm adotado espaçamento de 2,0 a 3,0 mentre fileiras e de 0,12 a 0,5 m dentro dasfileiras (duas a oito plantas/m linear),deixando, normalmente, uma planta porcova. No caso de produção para expor-tação, quando se desejam frutos meno-res, é possível fazer o plantio em fileirasduplas, deixando uma planta em cadalado do gotejador ou sulco de irrigação.Isso permite uma maior competiçãoentre plantas, que produzem maior nú-mero de frutos de tamanho menor (Pe-drosa,1994).