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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLVIII, número 47 (2.491) Cidade do Vaticano quinta-feira 23 de novembro de 2017 y(7HB5G3*QLTKKS( +_!=!#!&!/! Celebrado o primeiro dia mundial dos pobres O grande pecado da indiferença Mensagem à Cop23 Lutar contra os efeitos da crise ambiental Renovado apelo de Francisco à colaboração e ao compromisso para contrastar os efeitos da crise ambiental. O convite está contido na mensagem papal enviada ao primeiro-ministro das Ilhas Fiji, que preside à 23ª sessão da Con- ferência dos Estados-Parte da Convenção-Quadro da Onu sobre as mudanças climáticas (Cop23), concluído em Bonn, Alemanha, até 17 de novembro. PÁGINA 12 Tratamentos e remédios acessíveis a todos Enfrentar as desigualdades globais em matéria de saúde Proximidade e proporcionalidade das terapias Curar sem obstinação «Sabendo que nem sempre podemos garantir a cura da doença, contudo da pessoa viva podemos e devemos cuidar sempre: sem abreviar nós mes- mos a sua vida, mas também sem nos obstinarmos inutilmente contra a sua morte». Recordou o Papa Francisco, frisando a importância da medi- cina paliativa, na mensagem enviada aos participantes no meeting regio- nal europeu da World medical association sobre as questões do fim da vida, que teve lugar de 16 a 17 de novembro na sala antiga do Sínodo. PÁGINA 5 Lalit Jain, «Dignidade humana» (2014) Mesmo se «aos olhos do mundo têm pouco valor», os pobres «abrem-nos a via do céu, são o nosso “passapor- te para o paraíso”», recordou o Papa Francisco durante a missa presidida na manhã de domingo, 19 de no- vembro, na basílica vaticana, na pre- sença de quase sete mil necessitados, pessoas menos abastadas e desabri- gados, além de numerosos voluntá- rios. Instituído pelo Pontífice em 2016 com a carta apostólica Misericordia et misera na conclusão do jubileu da misericórdia, o primeiro dia mundial dos pobres viveu em São Pedro o seu solene momento celebrativo. E prosseguiu no sinal da solidariedade na Sala Paulo VI, onde o Papa parti- lhou o almoço com cerca de mil e quinhentos indigentes de diversos países. Na homilia da missa, inspiran- do-se na parábola dos talentos, Francisco frisou que «a omissão é o grande pecado em relação aos po- bres». E torna-se verdadeira «indife- rença» quando nos viramos «para o outro lado no momento em que o ir- mão está em necessidade» ou igno- ramos «o mal sem nada fazer», es- quecendo-nos de que «nos pobres se manifesta a presença de Jesus», o qual «de rico se fez pobre». «Amar o pobre significa lutar contra todas as pobrezas espirituais e materiais», afirmou Francisco. Eis então os votos — formulados durante o Angelus recitado na praça de São Pedro depois da missa — para que «os pobres estejam no centro das nossas comunidades não só em mo- mentos como este mas sempre; por- que eles estão no coração do Evan- gelho, neles encontramos Jesus que nos fala e nos interpela através dos seus sofrimentos e necessidades». Deve ser interpretado neste sentido o sucessivo apelo lançado pelo Pon- tífice a favor das «populações que vivem uma pobreza dolorosa por causa da guerra e dos conflitos». À comunidade internacional o Papa pediu «que se façam todos os esfor- ços possíveis para favorecer a paz, em particular no Médio Oriente». E dirigiu «um pensamento especial ao querido povo libanês», invocando «a estabilidade do país, a fim de que possa continuar a ser uma “mensa- gem” de respeito e convivência para toda a região e para o mundo intei- ro». Francisco elevou também uma prece «por todos os homens da tri- pulação do submarino militar argen- tino, do qual se perderam os vestí- gios». PÁGINAS 8 E 9 As indústrias farmacêuticas devem garantir o direito ao acesso às tera- pias essenciais e necessárias sobretu- do os países menos desenvolvidos. Foi o apelo lançado pelo Papa Fran- cisco por ocasião da conferência in- ternacional sobre o tema «Enfrentar as desigualdades globais em matéria de saúde», realizado no Vaticano. Numa carta dirigida ao cardeal Turkson, presidente do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, que promoveu o encontro, o Pontífice recordou que «as estratégias no campo da saúde, que visam promover a justiça e o bem comum, devem ser sustentáveis sob o ponto de vista económico e ético». Citando a nova Carta dos agentes no campo da saúde, o Papa subli- nhou que «o direito fundamental à tutela da saúde diz respeito ao valor da justiça» e solicita «uma distribui- ção equitativa de estruturas sanitá- rias e de recursos financeiros». Isso significa — reafirmou — que «en- quanto não forem solucionados radi- calmente os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação fi- nanceira e combatendo com força as causas estruturais da iniquidade, não se resolverão os problemas do mun- do». Uma admoestação relançada também na véspera do primeiro Dia mundial dos pobres, celebrado a 19 de novembro. PÁGINA 7 À união apostólica do clero Espiritualidade diocesana PÁGINA 4 Ao Pontifício conselho para a cultura Compromisso a favor da humanidade PÁGINA 3

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLVIII, número 47 (2.491) Cidade do Vaticano quinta-feira 23 de novembro de 2017

y(7HB5G3*QLTKKS( +_!=!#!&!/!

Celebrado o primeiro dia mundial dos pobres

O grande pecado da indiferença

Mensagem à Cop23

Lutar contraos efeitos

da crise ambientalRenovado apelo de Francisco àcolaboração e ao compromissopara contrastar os efeitos da criseambiental. O convite está contidona mensagem papal enviada aoprimeiro-ministro das Ilhas Fiji,que preside à 23ª sessão da Con-ferência dos Estados-Parte daConvenção-Quadro da Onu sobreas mudanças climáticas (Cop23),concluído em Bonn, Alemanha,até 17 de novembro.

PÁGINA 12

Tratamentos e remédiosacessíveis a todos

Enfrentar as desigualdades globais em matéria de saúde

Proximidade e proporcionalidade das terapias

Curar sem obstinação«Sabendo que nem sempre podemos garantir a cura da doença, contudoda pessoa viva podemos e devemos cuidar sempre: sem abreviar nós mes-mos a sua vida, mas também sem nos obstinarmos inutilmente contra asua morte». Recordou o Papa Francisco, frisando a importância da medi-cina paliativa, na mensagem enviada aos participantes no meeting regio-nal europeu da World medical association sobre as questões do fim da vida,que teve lugar de 16 a 17 de novembro na sala antiga do Sínodo.

PÁGINA 5 Lalit Jain, «Dignidade humana» (2014)

Mesmo se «aos olhos do mundo têmpouco valor», os pobres «abrem-nosa via do céu, são o nosso “passap or-te para o paraíso”», recordou o PapaFrancisco durante a missa presididana manhã de domingo, 19 de no-vembro, na basílica vaticana, na pre-sença de quase sete mil necessitados,pessoas menos abastadas e desabri-gados, além de numerosos voluntá-rios.

Instituído pelo Pontífice em 2016com a carta apostólica Misericordia etm i s e ra na conclusão do jubileu damisericórdia, o primeiro dia mundialdos pobres viveu em São Pedro oseu solene momento celebrativo. Eprosseguiu no sinal da solidariedadena Sala Paulo VI, onde o Papa parti-lhou o almoço com cerca de mil equinhentos indigentes de diversospaíses.

Na homilia da missa, inspiran-do-se na parábola dos talentos,Francisco frisou que «a omissão é ogrande pecado em relação aos po-bres». E torna-se verdadeira «indife-rença» quando nos viramos «para ooutro lado no momento em que o ir-

mão está em necessidade» ou igno-ramos «o mal sem nada fazer», es-quecendo-nos de que «nos pobres semanifesta a presença de Jesus», oqual «de rico se fez pobre».

«Amar o pobre significa lutarcontra todas as pobrezas espirituaise materiais», afirmou Francisco. Eisentão os votos — formulados duranteo Angelus recitado na praça de São

Pedro depois da missa — para que«os pobres estejam no centro dasnossas comunidades não só em mo-mentos como este mas sempre; por-que eles estão no coração do Evan-gelho, neles encontramos Jesus quenos fala e nos interpela através dosseus sofrimentos e necessidades».Deve ser interpretado neste sentidoo sucessivo apelo lançado pelo Pon-tífice a favor das «populações quevivem uma pobreza dolorosa porcausa da guerra e dos conflitos». Àcomunidade internacional o Papapediu «que se façam todos os esfor-ços possíveis para favorecer a paz,em particular no Médio Oriente». Edirigiu «um pensamento especial aoquerido povo libanês», invocando«a estabilidade do país, a fim de quepossa continuar a ser uma “mensa-gem” de respeito e convivência paratoda a região e para o mundo intei-ro». Francisco elevou também umaprece «por todos os homens da tri-pulação do submarino militar argen-tino, do qual se perderam os vestí-gios».

PÁGINAS 8 E 9

As indústrias farmacêuticas devemgarantir o direito ao acesso às tera-pias essenciais e necessárias sobretu-do os países menos desenvolvidos.Foi o apelo lançado pelo Papa Fran-cisco por ocasião da conferência in-ternacional sobre o tema «Enfrentaras desigualdades globais em matériade saúde», realizado no Vaticano.

Numa carta dirigida ao cardealTurkson, presidente do Dicastériopara o serviço do desenvolvimentohumano integral, que promoveu oencontro, o Pontífice recordou que«as estratégias no campo da saúde,

que visam promover a justiça e obem comum, devem ser sustentáveissob o ponto de vista económico eético».

Citando a nova Carta dos agentesno campo da saúde, o Papa subli-nhou que «o direito fundamental àtutela da saúde diz respeito ao valorda justiça» e solicita «uma distribui-ção equitativa de estruturas sanitá-rias e de recursos financeiros». Issosignifica — reafirmou — que «en-quanto não forem solucionados radi-calmente os problemas dos pobres,renunciando à autonomia absoluta

dos mercados e da especulação fi-nanceira e combatendo com força ascausas estruturais da iniquidade, nãose resolverão os problemas do mun-do». Uma admoestação relançadatambém na véspera do primeiro Diamundial dos pobres, celebrado a 19de novembro.

PÁGINA 7

À união apostólica do clero

Espiritualidade diocesana

PÁGINA 4

Ao Pontifício conselho para a cultura

C o m p ro m i s s oa favor da humanidade

PÁGINA 3

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 23 de novembro de 2017, número 47

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Cidade do Vaticanoed.p [email protected]

w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a

GI O VA N N I MARIA VIANd i re t o r

Giuseppe Fiorentinov i c e - d i re t o r

Redaçãovia del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano

telefone +390669899420fax +390669883675

TIPO GRAFIA VAT I C A N A EDITRICEL’OS S E R VAT O R E ROMANO

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Para o Brasil: Impressão, Distribuição e Administração: Editora santuário, televendas: 0800-160004, fax: 00551231042036, e-mail: [email protected]

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Partilha harmoniosaFrancisco conferiu o Prémio Ratzinger de 2017

Amados irmãos e irmãs, sinto-me feliz por vos receber porocasião deste encontro anual

para conferir os Prémios às ilustrespersonalidades que me foram apre-sentadas pela Fundação Vaticana Jo-seph Ratzinger — Bento XVI e peloseu Comité Científico. Saúdo antesde mais os Premiados, os membros eos amigos da Fundação, e agradeçoao Cardeal Kurt Koch e ao PadreLombardi que nos introduziram nosignificado deste evento culminantedas vossas atividades, finalizadas àpromoção da pesquisa teológica e docompromisso cultural animado pelafé e pelo impulso da alma rumo aD eus.

Juntamente convosco dirijo umpensamento afetuoso e intenso aoPapa emérito Bento. A sua oração ea sua presença discreta e encorajado-

ra acompanham-nos no caminho co-mum; a sua obra e o seu magistériocontinuam a ser uma herança viva epreciosa para a Igreja e para o nossoserviço. Precisamente por isto convi-do a vossa Fundação a prosseguir ocompromisso, estudando e aprofun-dando esta herança e ao mesmotempo olhando em frente, a fim devalorizar a sua fecundidade quercom a exegese dos escritos de Jose-ph Ratzinger, quer para continuar —segundo o seu espírito — o estudo ea pesquisa teológica e cultural, en-trando também nos âmbitos novosnos quais a cultura atual solicita a féao diálogo. O espírito humano temsempre necessidade urgente e vitaldeste diálogo: precisa dele a fé, quese abstrai se não se encarnar no tem-po; tem necessidade dele a razão,que se desumaniza se não se elevar

ao Transcendente. Com efeito «a fée a razão — afirmava São João PauloII — constituem como que as duasasas pelas quais o espírito humanose eleva para a contemplação da ver-dade» (Carta enc. Fides et ratio, In-tro dução).

Joseph Ratzinger continua a serum mestre e um interlocutor amigopara todos os que exercem o domda razão para responder à vocaçãohumana da busca da verdade. Quan-

do o Beato Paulo VI o chamou paraassumir a responsabilidade de arce-bispo de München e Freising, ele es-colheu como lema “Cooperatores veri-tatis”, “Colaboradores da verdade”,palavras que extraiu da Terceira Car-ta de João (v. 8). Elas expressambem o inteiro sentido da sua obra edo seu ministério. Este mote sobres-sai nos diplomas dos Prémios que

Na próxima viagem papal a Myanmar e Bangladesh

Construir concórdia e cooperação

Arvo Pärt executa ao piano o seu «Vater Unser»com uma voz branca da Academia Nacional de Santa Cecília

CO N T I N UA NA PÁGINA 10

Por ocasião da próxima viagema Myanmar, programada de 26a 30 de novembro, o PapaFrancisco enviou à população dopaís asiático uma mensagemvídeo da qual publicamos otexto.

Queridos amigos!Enquanto me preparo para vi-sitar Myanmar, desejo trans-mitir uma palavra de sauda-ção e de amizade a todo o seupovo. Não vejo a hora de vose n c o n t r a r.

Vou para proclamar oEvangelho de Jesus Cristo,uma mensagem de reconcilia-ção, perdão e paz. A minhavisita quer confirmar a comunidade católica de Myanmar na sua fé emDeus e no seu testemunho do Evangelho, que ensina a dignidade de cadahomem e mulher, e exige que abramos os nossos corações aos outros, espe-cialmente aos pobres e necessitados.

Ao mesmo tempo, desejo visitar a Nação com espírito de respeito e en-corajamento por cada esforço que visa construir harmonia e cooperação noserviço ao bem comum. Nós vivemos numa época em que os crentes e oshomens de boa vontade sentem cada vez mais a necessidade de crescer nacompreensão e no respeito recíproco, e de se sustentarem uns aos outroscomo membros da única família humana. Porque todos somos filhos deD eus.

Sei que muitos em Myanmar estão a trabalhar intensamente para prepa-rar a minha visita, e agradeço-lhes. Peço a cada um para rezar a fim de queos dias em que estiver convosco possam ser fonte de esperança e encoraja-mento para todos. Sobre vós e as vossas famílias invoco as divinas bênçãosde alegria e de paz! Até logo!

Vivemos numa época em queos crentes e os homens de boavontade em toda a parte sãochamados a promover a com-preensão recíproca e o respei-to, a ajudar-se uns aos outroscomo membros da única famí-lia humana.

Sei que muitos no Bangla-desh trabalham ativamentepara preparar a minha visita, eagradeço-lhes. Peço a cada umque ore para que os dias emque eu estiver convosco pos-sam ser fonte de esperança eânimo para todos. Sobre vós evossas famílias, invoco as bên-çãos divinas da alegria e dapaz. Até breve!

Crentes e homens de boa vontade estão chamados a ser «membros da únicafamília humana», disse o Papa numa mensagem ao Bangladesh, onde estará de30 de novembro a 2 de dezembro.

Prezados amigos!Enquanto me preparo para visitar o Bangladesh daqui a poucos dias, desejotransmitir uma palavra de saudação e amizade a todo o seu povo. Não vejoa hora do momento em que poderemos estar juntos.

Vou como ministro do Evangelho de Jesus Cristo, para proclamar a suamensagem de reconciliação, perdão e paz. A minha visita tenciona confirmara comunidade católica do Bangladesh na sua fé e no seu testemunho doEvangelho, que ensina a dignidade de cada homem e mulher, e nos chama aabrir o coração ao próximo, particularmente aos mais pobres e necessitados.

Ao mesmo tempo, desejo encontrar-me com todo o povo. De modo espe-cial, não vejo a hora de me encontrar com os líderes religiosos em Ramna.

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número 47, quinta-feira 23 de novembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Não a um progresso científicoem benefício de poucos

O Santo Padre pediu que pesquisas e investimentos visem o bem comum

Anneke van Opstal, «Progresso»

Visita «ad limina»dos bispos da Hungria

Na manhã de segunda-feira, 20 denovembro, Francisco recebeu os prelados da

Conferência episcopal da Hungria emvisita «ad limina Apostolorum». Antes daaudiência na Sala Clementina o Pontíficebenzeu uma cruz de três metros de altura,

que pesa 60 quilos, a qual contém asrelíquias de 23 santos húngaros.

A cruz será levada em peregrinação atodas as dioceses do país em preparação

para o 52º congresso eucarísticointernacional programado em Budapeste

no ano de 2020

Com um firme não ao progressocientífico em benefício de poucos, oPapa Francisco pediu que a pesquisa eos investimentos visem o bem dahumanidade inteira. Recebendo namanhã de 18 de novembro, na sala doConsistório, os participantes naassembleia plenária do Pontifícioconselho para a cultura — que tinhacomeçado no dia 15 — o Pontíficepropôs uma reflexão sobre o tema dostrabalhos dedicados ao «Futuro dahumanidade: novos desafios àantropologia». Eis o texto do discursodo Santo Padre.

Caros irmãos e irmãs!Dou-vos as boas-vindas e agradeçoao Cardeal Gianfranco Ravasi a suasaudação e introdução. Esta vossaAssembleia Plenária escolheu comotema a questão antropológica, pro-pondo-se compreender as linhas fu-turas de desenvolvimento da ciênciae da técnica. Entre os numerosospossíveis argumentos de debate, avossa atenção concentrou-se de ma-neira particular em três tópicos.

Em primeiro lugar, a medicina e agenética, que nos permitem olhar pa-ra dentro da estrutura mais íntimado ser humano e até intervir nelapara a modificar. Elas tornam-noscapazes de debelar doenças que atéhá pouco tempo eram consideradasincuráveis; mas abrem também apossibilidade de determinar os sereshumanos, “p ro g r a m a n d o ”, por assimdizer, algumas das suas qualidades.

Em segundo lugar, as neurociênciasoferecem cada vez mais informaçõessobre o funcionamento do cérebrohumano. Através delas, realidadesfundamentais da antropologia cristãcomo a alma, a consciência de si e aliberdade aparecem agora sob umaluz inédita e até podem ser postasseriamente em discussão por partede alguns.

Finalmente, os incríveis progressosdas máquinas autónomas e pensantes,que em parte já se tornaram compo-nentes da nossa vida quotidiana, le-vam-nos a meditar sobre aquilo que

é especificamente humano e nos tor-na diferentes das máquinas.

Todos estes desenvolvimentoscientíficos e técnicos induzem algu-mas pessoas a pensar que nos en-contramos num momento singularda história da humanidade, quase naalvorada de uma nova era e no sur-gimento de um novo ser humano,superior àquele que conhecemos atéagora.

Com efeito, são grandes e gravesas interrogações e as questões quedevemos enfrentar. Em parte, elasforam antecipadas pela literatura epelos filmes de ficção científica, quese fizeram eco de temores e de expe-tativas dos homens. Por isso a Igre-ja, que acompanha com atenção asalegrias e as esperanças, as angústiase os medos dos homens do nossotempo, deseja colocar a pessoa hu-mana e as questões que lhe dizemrespeito, no centro das próprias re-flexões.

A pergunta sobre o ser humano:«Que é o homem, para pensardesnele?» (Sl 8, 5) ressoa na Bíblia des-de as suas primeiras páginas e acom-panhou todo o caminho de Israel eda Igreja. A esta interrogação, a pró-pria Bíblia ofereceu uma respostaantropológica que já se delineia no

Génesis e percorre toda a Revelação,desenvolvendo-se em volta dos ele-mentos fundamentais da re l a ç ã o e dal i b e rd a d e . A relação ramifica-se se-gundo uma tríplice dimensão: rumoà matéria, à terra e aos animais; ru-mo à transcendência divina; rumoaos outros seres humanos. A liberda-de exprime-se na autonomia — natu-ralmente relativa — e nas opções mo-rais. Durante séculos esta estruturafundamental alicerçou o pensamentode grande parte da humanidade eainda hoje conserva a sua validade.Mas, ao mesmo tempo, hoje damo-nos conta de que os grandes princí-pios e os conceitos essenciais da an-tropologia são frequentemente pos-tos em questão, inclusive com basenum maior conhecimento sobre acomplexidade da condição humana,e exigem um ulterior aprofundamen-to.

A antropologia é o horizonte deautocompreensão em que todos nosmovemos e determina também anossa noção do mundo e as escolhasexistenciais e éticas. Nos dias de ho-je, ela tornou-se com frequência umhorizonte fluido e mutável, em virtu-de das mudanças socioeconómicas,dos deslocamentos de populações edos relativos confrontos intercultu-rais, mas também da propagação deuma cultura global e, sobretudo, dasincríveis descobertas da ciência e datécnica.

Como reagir a estes desafios? An-tes de tudo, devemos expressar anossa gratidão aos homens e às mu-lheres de ciência pelos seus esforçose pelo seu compromisso a favor dahumanidade. Este apreço pelas ciên-cias, que nem sempre soubemos ma-nifestar, encontra o seu fundamentoúltimo no desígnio de Deus, que«nos escolheu antes da criação domundo [...] No seu amor, Ele pre-destinou-nos para sermos seus filhosadotivos» (Ef 1, 3-5), confiando-noso cuidado da criação: «cultivar e sal-vaguardar» a terra (cf. Gn 2, 15).Precisamente porque o homem éimagem e semelhança de um Deusque criou o mundo por amor, o cui-dado de toda a criação deve seguir alógica da gratuidade e do amor, doserviço e não do domínio nem daprep otência.

A ciência e a tecnologia ajudaram-nos a aprofundar os confins do co-nhecimento da natureza e, em parti-cular, do ser humano. Mas elas sozi-nhas não são suficientes para dar to-das as respostas. Hoje compreende-mos cada vez mais que é necessáriohaurir dos tesouros de sabedoriaconservados nas tradições religiosasdo saber popular, da literatura e nasartes, que tocam profundamente omistério da existência humana, semesquecer, aliás voltando a descobrir,os tesouros contidos na filosofia e nateologia.

Como eu quis afirmar na Encícli-ca Laudato si’: «Torna-se atual a ne-cessidade imperiosa do humanismo,que faz apelo aos distintos saberes[...] para uma visão mais integral eintegradora» (n. 141), de maneira asuperar a trágica divisão entre as«duas culturas», a humanista-literá-ria-teológica e a científica, que leva aum empobrecimento recíproco, e aencorajar um diálogo mais profundotambém entre a Igreja, comunidadede crentes, e a comunidade científi-ca.

Por sua vez, a Igreja oferece al-guns grandes princípios para apoiareste diálogo. O primeiro é a centrali-dade da pessoa humana, que deve serconsiderada um fim e não um meio.Ela deve estar em relação harmonio-sa com a criação, portanto não des-pótica com a herança de Deus, masuma guardiã amorosa da obra doC r i a d o r.

O segundo princípio que é neces-sário recordar é aquele do destinouniversal dos bens, que diz respeitotambém aos do conhecimento e datecnologia. O progresso científico etecnológico serve para o bem da hu-manidade inteira e os seus benefíciosnão podem favorecer apenas poucaspessoas. Deste modo, evitar-se-á queo futuro acrescente novas desigual-dades baseadas no conhecimento,aumentando assim a discrepânciaentre ricos e pobres. As grandes de-cisões sobre a orientação da pesquisacientífica e sobre os investimentosnela devem ser tomadas pelo con-junto da sociedade e não ditadasapenas pelas regras do mercado oudo interesse de poucos.

Enfim, permanece sempre válidoo princípio segundo o qual nem tudoo que é tecnicamente possível ou reali-zável é por isso mesmo eticamente acei-tável. A ciência, como qualquer ou-tra atividade humana, sabe que temlimites a respeitar, para o bem daprópria humanidade, e precisa deum sentido de responsabilidade éti-ca. A verdadeira medida do progres-so, como recordava o Beato PauloVI, é aquela que visa o bem de todoo homem e do homem todo.

Estou grato a todos vós, Mem-bros, Consultores e Colaboradoresdo Pontifício Conselho para a Cul-tura, pelo precioso serviço que de-sempenhais. Invoco sobre vós aabundância das Bênçãos do Senhore peço-vos, por favor, que oreis pormim. Obrigado!

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página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 23 de novembro de 2017, número 47

O Papa recordou que bispos, sacerdotes e diáconos estão ao serviço da comunidade

Uma espiritualidade diocesanaA «espiritualidade diocesana» é a«chave hermenêutica» para definir opapel de bispos, sacerdotes e diáconosao serviço das Igrejas particulares,recordou o Papa Francisco no seguintediscurso que dirigiu aos participantesna assembleia internacional da Uniãoapostólica do clero, recebidos a 16 denovembro, na sala do Consistório.

Amados sacerdotesCaros irmãos e irmãs!«Oh, como é bom, como é agradá-vel que os irmãos vivam unidos!»(Sl 133, 1). Estes versículos do Salmoinserem-se bem depois das palavrasde Monsenhor Magrin, entusiastapresidente da Confederação Interna-cional da União Apostólica do Cle-ro. É verdadeiramente uma alegriaencontrarmo-nos e sentirmos a fra-ternidade que brota entre nós, cha-mados ao serviço do Evangelho aexemplo de Cristo, Bom Pastor. Di-rijo a minha cordial saudação a cadaum de vós, tornando-a extensiva aosrepresentantes da União Apostólicados Leigos.

Nesta Assembleia meditais sobre oministério ordenado “na, para e coma comunidade diocesana”. Em conti-nuidade com os encontros preceden-tes, tencionais de focalizar o papeldos pastores na Igreja particular; enesta releitura, a chave hermenêuticaconstitui a espiritualidade diocesana,que é espiritualidade de comunhão àmaneira da Comunhão trinitária.Monsenhor Magrin ressaltou estapalavra, “dio cesanidade”: trata-se deuma palavra-chave. Com efeito, omistério da Comunhão trinitária é oexcelso modelo de referência da co-munhão eclesial. Na Carta Apostóli-ca Novo millennio ineunte, São JoãoPaulo II recordava que «o grandedesafio que nos espera no milénioque começa» é precisamente este:«Fazer da Igreja a casa e a escola dacomunhão» (n. 43). Isto exige, emprimeiro lugar, que se «promovauma espiritualidade da comunhão»,a qual se torne um «princípio educa-tivo em todos os lugares onde seplasma o homem e o cristão» (ibid.).E hoje temos muita necessidade decomunhão, na Igreja e no mundo.

Tornamo-nos especialistas em es-piritualidade de comunhão, antes detudo graças à conversão a Cristo, àabertura dócil à ação do seu Espíritoe ao acolhimento dos irmãos. Comobem sabemos, a fecundidade doapostolado não depende unicamenteda atividade e dos esforços organiza-tivos, embora eles sejam necessários,mas em primeiro lugar da ação divi-na. Tanto hoje como no passado, ossantos são os evangelizadores maiseficazes, e todos os batizados sãochamados a tender para a medida al-ta da vida cristã, ou seja, para a san-tidade. Com maior razão, isto dizrespeito aos ministros ordenados.Penso na mundanidade, na tentaçãoda mundanidade espiritual, muitasvezes escondida na rigidez: umachama a outra, são “meias-irmãs”,uma chama a outra. O Dia mundialde oração pela santificação do clero,que se celebra todos os anos na festado Sagrado Coração de Jesus, cons-titui uma ocasião propícia para im-

plorar do Senhor o dom de minis-tros zelosos e santos para a sua Igre-ja. A fim de realizar este ideal desantidade, cada ministro ordenado échamado a seguir o exemplo doBom Pastor, que dá a vida pelassuas ovelhas. E de onde haurir estacaridade pastoral, a não ser do Cora-ção de Cristo? Nele, o Pai celestialencheu-nos de infinitos tesouros demisericórdia, ternura e amor: aquipodemos encontrar sempre a energiaespiritual indispensável para irradiarno mundo o seu amor e a sua ale-gria. E para Cristo nos conduz, to-dos os dias, inclusive a relação filialcom a nossa Mãe, Maria Santíssima,de modo especial na contemplaçãodos mistérios do Rosário.

Intimamente unido ao caminhoda espiritualidade está o compromis-so na ação pastoral ao serviço do po-vo de Deus, visível no hoje e na rea-lidade da Igreja local: os pastoressão chamados a ser “servos sábios efiéis” que imitam o Senhor, cingemaos rins o avental do serviço e se de-bruçam sobre a vida das próprias co-munidades, para compreender a suahistória e para viver as suas alegriase dores, expetativas e esperanças dagrei que lhe for confiada. Com efei-to, o Concílio Vaticano II ensinouque a maneira adequada para que osministros ordenados alcancem a san-tidade é «o exercício do seu ministé-rio, realizado sincera e infatigavel-mente no Espírito de Cristo»; «comefeito, eles são ordenados para aperfeição da vida, em virtude daspróprias ações sagradas, que eles de-sempenham diariamente, assim co-mo de todo o seu ministério» (De-creto Presbyterorum ordinis, 12-13).

Vós frisais precisamente que osministros ordenados adquirem umjusto estilo pastoral, cultivando tam-bém relacionamentos fraternos re c í p ro -cos e participando no caminho pasto-ral da sua Igreja diocesana, dos seusencontros, projetos e iniciativas quepõem em prática as linhas progra-máticas. Uma Igreja particular tem

um rosto, ritmos e escolhas concre-tas; deve ser servida cada dia comdedicação, dando testemunho dasintonia e da unidade que é vivida edesenvolvida com o bispo. O cami-nho pastoral da comunidade localtem como ponto de referência im-prescindível o plano pastoral da dio-cese, o qual deve ser anteposto aosprogramas das associações, dos mo-vimentos e de qualquer grupo parti-cular. E esta unidade pastoral, de to-dos ao redor do bispo, construirá aunidade na Igreja. E é muito tristequando num presbitério descobri-mos que esta unidade não existe, éaparente. E ali predominam as bisbi-lhotices; os mexericos destroem adiocese, aniquilam a unidade dospresbíteros, entre si mesmos e com obispo. Irmãos sacerdotes, recomen-do-vos, por favor: vemos sempre coi-

sas desagradáveis nos outros, sempre— porque este olho não tem catarata— os olhos estão prontos para ver ascoisas desagradáveis, mas recomen-do-vos que não cedais às bisbilhoti-ces. Se vejo coisas desagradáveis, re-zo ou, como irmão, falo. Não façocomo o “t e r ro r i s t a ”, porque os mexe-ricos são um terrorismo. As intrigassão como lançar uma bomba: des-truo o outro e vou-me embora tran-quilo. Por favor, nada de bisbilhoti-ces; elas são o caruncho que corrói otecido da Igreja, da Igreja diocesa-na, da unidade entre todos nós.

Além disso, a dedicação à Igrejaparticular deve manifestar-se semprecom maior alcance, que nos torneatentos à vida da Igreja inteira. A co-munhão e a missão são dinâmicascorrelativas. Tornamo-nos ministrospara servir a própria Igreja particular,na docilidade ao Espírito Santo e aopróprio bispo, e em colaboraçãocom os demais presbíteros, mas coma consciência de fazer parte da I g re j au n i v e rs a l , que ultrapassa os confinsda própria diocese e país. Com efei-to, se a missionariedade é uma pro-priedade essencial da Igreja, é-o so-bretudo aquele que, ordenado, échamado a exercer o ministério nu-ma comunidade por sua naturezamissionária, e a ser educador para amundialidade — não para a munda-nidade, para a mundialidade! Efeti-vamente, a missão não é uma opçãoindividual, devida à generosidadepessoal ou porventura a desilusõespastorais, mas é uma escolha daIgreja particular que se torna prota-gonista na comunicação do Evange-lho a todos os povos.

Estimados irmãos sacerdotes, rezopor cada um de vós e pelo vosso mi-nistério, assim como pelo serviço daUnião Apostólica do Clero. E orotambém por vós, caros irmãos e ir-mãs. Que a minha bênção vos acom-panhe. E recomendo-vos: não vosesqueçais de rezar inclusive pormim, porque também eu preciso deorações. Obrigado!

Visita «ad limina»do episcopado do Uruguai

Na manhã de quinta-feira 16 de novembro o Papa Francisco recebeu em audiência osprelados da Conferência episcopal do Uruguai, em visita «ad limina»

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número 47, quinta-feira 23 de novembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Curar sem encarniçamentoFrancisco recomendou proximidade e proporcionalidade das terapias

«Devemos sempre cuidar» do doente que vive afase terminal da sua existência, «sem abreviarnós mesmos a sua vida, mas também sem nosobstinarmos inutilmente contra a sua morte». Foiquanto recomendou o Pontífice na mensagemenviada aos participantes no encontro regionaleuropeu da World medical association sobre asquestões que dizem respeito ao fim da vida, queteve lugar nos dias 16 e 17 de novembro, naSala antiga do Sínodo.

É uma escolha que assume res-ponsavelmente o limite da condiçãohumana mortal, no momento emque constata que já não o pode con-trastar. «Não que assim se pretendadar a morte; simplesmente se aceitao facto de a não poder impedir»,como especifica o Catecismo da IgrejaCatólica (n. 2278). Esta diferença deperspetiva restitui humanidade aoacompanhamento do morrer, semabrir justificações para a supressãodo viver. Com efeito, vemos bemque o facto de não utilizar meiosdesproporcionados ou de suspendero seu uso, equivale a evitar o encar-niçamento terapêutico, ou seja, cum-prir uma ação que tem um significa-do ético completamente diferente daeutanásia, que permanece sempre ilí-cita, porque se propõe interromper avida, causando a morte.

Certamente, quando nos imergi-mos no aspeto concreto das conjun-turas dramáticas e na prática clínica,os fatores que entram em jogo sãomuitas vezes difíceis de avaliar. Paraestabelecer se uma intervenção médi-ca clinicamente apropriada seja defacto proporcionada não é suficienteaplicar de maneira mecânica uma re-gra geral. É necessário um discerni-mento atento, que considere o obje-to moral, as circunstâncias e as in-tenções dos sujeitos envolvidos. Adimensão pessoal e relacional da vi-da — e do próprio morrer, que con-tudo é sempre um momento extre-mo do viver — deve encontrar, nocuidado e no acompanhamento dodoente, um espaço adequado à dig-nidade do ser humano.

Neste percurso o paciente desem-penha o papel principal. Afirma-oclaramente o Catecismo da Igreja Ca-tólica: «As decisões devem ser toma-das pelo paciente se para isso tivercompetência e capacidade» (ibid.). Ésobretudo ele a ter o título, obvia-mente em diálogo com os médicos,para avaliar os tratamentos que lhesão propostos e julgar sobre a suaefetiva proporcionalidade na situa-ção concreta, tornando um dever asua renúncia no caso em que estaproporcionalidade fosse reconhecidaausente. É uma avaliação não fácilna atividade médica hodierna, em

que a relação terapêutica se torna ca-da vez mais fragmentada e o actomédico deve assumir múltiplas me-diações, exigidas pelo contexto tec-nológico e organizativo.

Além disso, deve ser salientado ofacto de que estes processos de ava-liação são submetidos ao condicio-namento da crescente desigualdadede oportunidades, favorecida pelaação combinada da força técnico-científica e dos interesses económi-cos. Tratamentos progressivamentemais sofisticados e custosos são aces-síveis a grupos cada vez mais restri-tos e privilegiados de pessoas e depopulações, suscitando perguntas sé-rias sobre a sustentabilidade dos ser-viços de saúde. Uma tendência porassim dizer sistémica ao incrementoda desigualdade terapêutica. Ela ébem visível a nível global, sobretudocomparando os diversos continentes.Mas está presente também no seiodos países mais ricos, onde o acessoaos cuidados corre o risco de depen-der mais da disponibilidade econó-mica das pessoas do que das efetivasexigências de tratamento.

Na complexidade determinada pe-la incidência destes diversos fatoressobre a prática clínica, mas inclusivesobre a cultura da medicina em ge-ral, é necessário portanto evidenciarabsolutamente o mandamento supre-mo da proximidade responsável, comose lê claramente na página evangéli-ca do Samaritano (cf. Lc 10, 25-37).Poderíamos dizer que o imperativocategórico consiste em nunca aban-donar o doente. A angústia da con-dição que nos leva à proximidade dolimite humano supremo, e as esco-lhas difíceis que é necessário assu-mir, expõem-nos à tentação de nossubtrairmos à relação. Mas este é olugar onde nos são pedidos amor eproximidade, mais do que qualqueroutra coisa, reconhecendo o limiteque todos temos em comum e tor-nando-nos solidários, precisamentenisto. Cada um dê amor do modoque lhe for próprio: como pai oumãe, filho ou filha, irmão ou irmã,médico ou enfermeiro. Mas que odê! E sabemos que nem sempre po-demos garantir a cura da doença,devemos e podemos sempre cuidar

da pessoa viva: sem abreviar nósmesmos a sua vida, mas tambémsem nos obstinarmos inutilmentecontra a sua morte. A medicina pa-liativa move-se nesta linha. Ela temuma grande importância também noplano cultural, comprometendo-se acombater tudo o que torna o ato demorrer mais angustiante e sofrido,ou seja, a dor e a solidão.

No seio das sociedades democráti-cas, temas delicados como estes de-vem ser tratados com pacatez: demaneira séria e reflexiva, e bem dis-postos a encontrar soluções — inclu-sive normativas — partilhadas o maispossível. Com efeito, por um lado, énecessário ter em conta a diversida-de das visões do mundo, das convic-ções éticas e das pertenças religiosas,num clima de escuta recíproca e aco-lhimento. Por outro, o Estado nãopode renunciar a tutelar todos os su-jeitos envolvidos, defendendo aigualdade fundamental devido àqual cada um é reconhecido peloDireito como ser humano que vivejuntamente com os outros na socie-dade. Uma atenção especial deve serprestada aos mais débeis, que nãoconseguem fazer valer sozinhos ospróprios interesses. Se este núcleode valores essenciais para a convi-vência vier a faltar, perde-se tambéma possibilidade de se entender sobreaquele reconhecimento do outro queé pressuposto de qualquer diálogo eda própria vida associada. Tambéma legislação no âmbito médico e sa-nitário exige esta ampla visão e umolhar abrangente sobre o que maispromove o bem comum nas situa-ções concretas.

Com a esperança de que estas re-flexões possam servir-vos de ajuda,faço votos de coração que o vossoencontro se realize num clima serenoe construtivo; que possais identificaros caminhos mais adequados paraenfrentar estas delicadas questões,em vista do bem de todos os queencontrais e com os quais colaboraisna vossa exigente profissão.

O Senhor vos abençoe e NossaSenhora vos proteja.

Vaticano, 7 de novembro de 2017

FRANCISCO

Younju Jung«The end of the life»

Ao Venerado IrmãoD. Vincenzo Paglia

Presidente da PontifíciaAcademia para a Vida

Envio a minha cordial saudação aVossa Excelência e a todos os parti-cipantes no Encontro Regional Eu-ropeu da World Medical Associationsobre as questões do chamado “fimda vida”, organizado no Vaticanojuntamente com a Pontifícia Acade-mia para a Vida.

O vosso encontro concentrar-se-ánas questões que dizem respeito aofim da vida terrena. São perguntasque sempre interpelaram a humani-dade, mas hoje adquirem formas no-vas devido à evolução dos conheci-mentos e dos instrumentos técnicosque se tornaram disponíveis graçasao engenho humano. Com efeito, amedicina desenvolveu uma capacida-de terapêutica cada vez maior, quepermitiu debelar numerosas doenças,melhorar a saúde e prolongar o tem-po de vida. Portanto, desempenhouum papel muito positivo. Por outrolado, hoje é também possível pro-longar a vida em condições que nopassado nem sequer se podiam ima-ginar. As intervenções no corpo hu-mano tornaram-se cada vez mais efi-cazes, mas nem sempre são resoluti-vas: podem sustentar funções bioló-gicas que se tornaram insuficientes,ou até substitui-las, mas isso nãoequivale a promover a saúde. Porconseguinte, é necessário um suple-mento de sabedoria, porque hoje émais insidiosa a tentação de insistircom tratamentos que produzem for-tes efeitos no corpo, mas por vezesnão beneficiam o bem integral dap essoa.

O Papa Pio XII, num discurso me-morável que dirigiu, há 60 anos, aanestesistas e reanimadores, afirmouque nem sempre é obrigatório em-pregar todos os meios terapêuticospotencialmente disponíveis e que,em determinados casos, é lícito abs-ter-se deles (cf. Acta Apostolicae SedisXLIX [1957], 1027-1033). Portanto, émoralmente lícito renunciar à aplica-ção de meios terapêuticos, ou sus-pendê-los, quando a sua utilizaçãonão corresponde àquele critério éticoe humanista que em seguida será de-finido “proporcionalidade dos trata-mentos” (cf. CONGREGAÇÃO PA R A AD OUTRINA DA FÉ, Declaração sobre aeutanásia, 5 de maio de 1980, I V: Ac t aApostolicae Sedis LXXII [1980], 542-552). O aspeto peculiar deste critérioé que toma em consideração «o re-sultado que se pode esperar, aten-dendo ao estado do doente e às suasforças físicas e morais» (ibid.). Por-tanto, permite chegar a uma decisãoque se qualifica moralmente comorenuncia ao “encarniçamento tera-pêutico”.

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página 6 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 23 de novembro de 2017, número 47

Garantir o direito à saúdeApelo do cardeal secretário de Estado

«As desigualdades globais em maté-ria de saúde representam uma situa-ção deplorável»: foi a denúncia an-gustiada do cardeal Pietro Parolin, oqual frisou que com muita frequên-cia em várias partes do mundo é«negado o direito fundamental aaceder a uma adequada assistênciamédica». Direito que, ao contrário,«deve ser garantido a todos, prescin-dindo da situação económica, socialou legal». Com o seu pronuncia-mento o secretário de Estado abriuoficialmente no Vaticano, a 16 denovembro, a conferência internacio-nal organizada pelo Dicastério parao serviço do desenvolvimento huma-no integral, com a colaboração doComité internacional das instituiçõesmédicas católicas (Ciisac), sobre otema «Enfrentar as desigualdadesglobais em matéria de saúde». Até18 de novembro, na sala nova do Sí-nodo, reuniram-se responsáveis dehospitais católicos dos cinco conti-nentes, delegados de organismos decaridade e organizações humanitá-rias engajadas na assistência médica,além de representantes do setor pri-vado.

No seu pronunciamento o purpu-rado recordou antes de tudo que ho-je, «através de numerosas institui-ções médicas em todo o mundo», aIgreja contribui «para o melhora-mento do acesso universal à saúde,especialmente nas comunidades po-bres de numerosos países e situadasem regiões difíceis de alcançar». Porisso convidou os congressistas a

apresentarem «soluções que promo-vam a assistência médica para todos,num espírito de justiça e solidarieda-de».

Depois, o secretário de Estadoanunciou a agenda dos trabalhos,desejando «que as conclusões pos-

sam ajudar a levar assistência» aquantos «hoje pedem auxílio na suadoença e enfermidade, especialmenteos mais vulneráveis». E a propósitoelogiou a obra das instituições médi-cas católicas «que foram e conti-nuam a ser um instrumento válido

da Igreja para oferecer assistência in-tegral a cada pessoa e a todas aspessoas, exprimindo uma atençãoparticular pelos marginalizados».Elas «constituem uma modalidadeespecífica» com a qual a comunida-de cristã «põe em prática o mandatode “cuidar dos doentes”». Portanto«a atividade destas instituições é degrande interesse para a Igreja, queas considera fundamentais e precio-sas para a sua missão no setor doscuidados médicos»; aliás, «devemser consideradas não só úteis masnecessárias para a missão da Igreja,porque dão consistência e continui-dade à ação caritativa e de promo-ção humana da comunidade cristã».

Por fim, o purpurado recordou acriação por parte do Papa Francisco,em dezembro de 2015, da Pontifíciacomissão para as atividades no cam-po da saúde das pessoas jurídicaspúblicas da Igreja, com a finalidadede estudar a sustentabilidade dossistemas e das instituições médicascatólicas, de propor soluções às si-tuações de crise e de pensar novosmodelos «em sintonia com o seu ca-risma original».

Eis por que, concluiu, «uniões deinstituições como as Catholic Heal-th-Care Associations (Cha) a nívelnacional e o Ciisac podem trabalharde maneira construtiva com o dicas-tério para o serviço do desenvolvi-mento humano integral e a Pontifí-cia comissão para promover uma du-radoura e eficaz ação da Igreja nesteâmbito».

Congresso no VaticanoO pronunciamento do secretário de Estado foi introduzido pelocardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastérioorganizador, que depois de ter celebrado a missa para os congressistasna basílica de São Pedro, deu-lhes as boas-vindas na Sala nova doSínodo, frisando que a exasperação das desigualdades gera «áreascrescentes de discriminação e de exclusão». E «num mundo desigual— advertiu — tudo se torna perigoso». Infelizmente — constatou —«existe uma enorme rutura que divide o mundo de hoje, a que separao atual um por cento de ricos do restante 99 por cento». De resto,«no mundo uma pessoa em cada três não tem acesso aos remédiosessenciais, metade das populações de África e Ásia. Mais de 100milhões de pessoas por ano tornam-se pobres porque têm queenfrentar os tratamentos médicos. A cura seria disponível mas muitosnão a podem pagar» denunciou, recordando que em 2007 nos EstadosUnidos as dívidas com as despesas médicas incidiram em 62 por centodas falências. «Todos os anos — prosseguiu — 100 milhões de pessoastornam-se pobres porque são obrigadas a pagar tratamentos médicosessenciais. Um terço da população mundial nem sequer tem acesso aeles» e «morre ainda por causa de doenças comuns porque muitascamadas da população mundial estão excluídas do acesso às vacinas».A ponto que «dois milhões de pessoas todos os anos morrem porcausa de doenças que poderiam ser evitadas com as vacinações». Porfim «dos 35,7 milhões de pessoas acometidas pelo vih, mais de 25milhões residem na África e os medicamentos indispensáveis para asobrevivência custam 18 vezes mais» por causa do monopólio «dasindústrias farmacêuticas que os patentearam».

O mosteiro budista de Ling Jiou

Um decálogo, para permitir que osseguidores de Buda e de Jesus Cris-to percorram juntos a via da não-violência, foi assinado na conclusãodo sexto colóquio budista-cristão,organizado em Taiwan pelo Pontifí-cio conselho para o diálogo inter-re-ligioso. O dicastério vaticano foi re-presentado pelo cardeal presidenteJean-Louis Tauran, pelo bispo secre-tário Miguel Ángel Ayuso Guixot epelo subsecretário monsenhor Indu-nil Kodithuwakku.

Mais de oitenta entre homens emulheres de ambas as religiões, emrepresentação de dezoito países, par-ticiparam nos três dias de trabalhos— de 13 a 15 de novembro no mostei-ro budista de Ling Jiou — e na ceri-mónia de encerramento no Museudas religiões do mundo em Taipei,tornando pública uma declaração fi-nal. O documento frisou o preciosocontributo oferecido para o melhora-mento da compreensão e do conhe-cimento recíproco, e para o fortaleci-mento das relações e da cooperaçãoorientadas a promover uma culturada paz e da não-violência com baseem valores partilhados. Depois deterem reconhecido que o século XXIse carateriza por conflitos fundadosinclusive em identificações étnicas,culturais e religiosas, e que em mui-tas regiões do mundo a diversidadecultural se tornou questão social e

política, os signatários denunciaramque muitas pessoas são discrimina-das, e por vezes até privadas de pro-teção e de direitos, sendo tratadascomo cidadãos de segunda classedentro dos próprios países.

Embora apreciando as várias ini-ciativas a nível local, regional, nacio-nal e internacional para promoveruma cultura do encontro e do res-peito, os participantes recordaramque ainda falta muito a fazer paragarantir justiça a todos os seres hu-manos e para preservar o meio am-biente.

Reunidos num momento crítico,no qual a violência já transtornoumuitos países, deixando às pessoasuma desesperada necessidade de cu-ra, justiça, perdão e reconciliação, osparticipantes no colóquio de Taiwanfrisaram que hoje os conflitos atra-vessam os confins e portanto os pro-blemas locais tornam-se regionais,nacionais e às vezes globais.

Consequentemente, com base nasrespetivas convicções religiosas, ex-pressaram a necessidade de levar no-va esperança ao mundo destruído,falando do amor de Jesus e da com-paixão de Buda. Isto é, falar em de-fesa dos impotentes e sem voz, repa-rar corações despedaçados e socieda-des polarizadas, afastar-se do secta-rismo e evitar a construção de murosque separam.

Declaração final do colóquio budista-cristão

Um decálogo para a não-violência

Por conseguinte, neste momentocrucial, encorajados pelo êxito posi-tivo do colóquio, elaboraram umaespécie de plano de ação em dezpontos: promover uma cultura dapaz e da não violência contra a cul-tura dominante da indiferença; frisara importância de ouvir o grito dasvítimas da violência nas suas múlti-plas formas, até condenando asameaças do nacionalismo desenfrea-do, do sexismo, do racismo e dofundamentalismo étnico, religioso ede casta; eliminar a pobreza, a injus-tiça, a desigualdade, a exploração ea discriminação; reconhecer o papelpositivo dos meios de comunicaçãoe combater o impacto negativo dasnotícias falsas (fake news); estimularações concretas orientadas a recupe-rar as sociedades polarizadas, atravésda reconciliação e do perdão, e pro-mover a igualdade e a dignidade dasmulheres a fim de prevenir a violên-cia e a discriminação em relação a

elas, em particular o flagelo da vio-lência doméstica; desenvolver rela-ções seguras, estáveis e afetuosas anível familiar e reafirmar a impor-tância da educação; promover a hos-pitalidade reconhecendo que «nós eos outros partilhamos» uma humani-dade comum apesar das diferenças;salvaguardar o meio ambiente evi-denciando a interconexão e a inter-dependência de todas as formas devida; promover a oração, o silêncio ea meditação para cultivar a liberdadeinterior, a pureza do coração, a com-paixão, a cura e o dom de si comocondições essenciais para a paz inte-rior do indivíduo e a social; reconhe-cer o importante papel que organi-zações religiosas, pessoas de boavontade, sociedade civil, organiza-ções governamentais e centros deeducação podem desempenhar aofavorecer o diálogo interconfessionale intercultural.

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número 47, quinta-feira 23 de novembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

Na vigília do dia mundial dos pobres

Tratamentos e remédios acessíveis a todos

Paulus Offman, «O bom samaritano»

Um renovado apelo a fim de quecuidados e medicamentos sejamacessíveis a todos foi lançado peloPapa na vigília do dia mundial dospobres. Com efeito, no sábado, 18 denovembro, Francisco enviou uma cartaaos participantes na conferênciainternacional sobre o tema «Enfrentaras desigualdades globais no respeitanteà saúde», realizada no Vaticano poriniciativa do Dicastério para o serviçodo desenvolvimento humano integral.

Ao Venerado Irmão CardealPeter Kudwo Appiah Turkson

Prefeito do Dicastériopara o Serviço do Desenvolvimento

Humano IntegralDesejo transmitir a minha cordialsaudação aos participantes na XXXIIConferência internacional sobre o te-ma Enfrentar as desigualdades globaisno respeitante à saúde. Agradeço decoração a quantos colaboraram parao evento, em particular ao Dicastériopara o Serviço do DesenvolvimentoHumano Integral e à ConfederaçãoInternacional das Instituições Católi-cas de Saúde.

Na Conferência do ano passado,face a alguns dados positivos relati-vos à expetativa de vida média e àluta contra as doenças a nível glo-bal, tornou-se evidente a grande de-sigualdade entre países ricos e po-bres no acesso aos cuidados e aostratamentos médicos. Decidiu-seportanto enfrentar concretamente otema das desigualdades e dos fatoressociais, económicos, ambientais eculturais que as alimentam. A Igrejanão pode deixar de se interessar porelas, ciente de que a sua missão,orientada para o serviço do ser hu-mano criado à imagem de Deus, tema obrigação de se ocupar do cuidadoda sua dignidade e dos seus direitosinalienáveis.

Na Nova Carta dos Agentes nocampo da Saúde está escrito, a estepropósito, que «o direito fundamen-tal à tutela da saúde relaciona-secom o valor da justiça, segundo oqual não existem distinções de po-vos nem de nações, considerando assituações objetivas de vida e de de-senvolvimento dos mesmos, na bus-ca do bem comum, que é contempo-raneamente bem de todos e de cadaum» (n. 141). A Igreja sugere que aharmonização do direito à tutela dasaúde e do direito à justiça seja ga-rantida por uma distribuição equita-tiva de estruturas de saúde e de re-cursos financeiros, segundo os prin-cípios de solidariedade e subsidiarie-dade. Como recorda a Carta, «tam-bém os responsáveis pelas atividadesda saúde se devem deixar provocarde maneira forte e singular, cientesde que “enquanto os pobres domundo batem às portas da opulên-cia, o mundo rico corre o risco dedeixar de ouvir tais apelos à suaporta por causa de uma consciênciajá incapaz de reconhecer o huma-no”» (n. 91; Bento XVI, Carta, enc.Caritas in veritate, 75).

Tomo conhecimento com satisfa-ção de que a Conferência elaborouum projeto a fim de contribuir paraenfrentar concretamente estes desa-

fios: a instituição de uma plataformaativa de partilha e colaboração entre asinstituições católicas de saúde p re s e n -tes nos diversos contextos geográfi-cos e sociais. Encorajo de bom gra-do os promotores desse projeto aperseverar no engajamento, com aajuda de Deus. A isto estão chama-dos antes de tudo os agentes da saú-de e as suas associações profissio-nais, que se devem fazer promotoresde uma sensibilização cada vezmaior junto das instituições, das en-

uma mazela que a torna frágil e in-digna e que só poderá levá-la a no-vas crises. Os planos de assistência,que acorrem a determinadas emer-gências, deveriam considerar-se ape-nas como respostas provisórias. En-quanto não forem radicalmente solu-cionados os problemas dos pobres,renunciando à autonomia absolutados mercados e da especulação fi-nanceira e atacando as causas estru-turais da desigualdade social, não seresolverão os problemas do mundo

homem despojado e ferido. Não é sóuma compaixão sinónimo de penaou consternação, é algo mais: indicaa predisposição para entrar no pro-blema, na situação do outro. Mesmose o homem não pode igualar acompaixão de Deus, que entra nocoração do homem e habitando-o oregenera, pode contudo imitá-la “fa-zendo-se próximo”, “cuidando dele”(cf. Lc 10, 33-34). Uma organizaçãode saúde eficiente e capaz de enfren-tar as desigualdades não se pode es-quecer da sua nascente primária: acompaixão, do médico, do enfermei-ro, do agente, do voluntário, de to-dos os que por este caminho podemaliviar a dor da solidão e da angús-tia.

A compaixão é um caminho privi-legiado também para edificar a justi-ça, porque, colocarmo-nos na situa-ção do outro, não somente nos per-mite encontrar as suas fadigas, difi-culdades e receios, mas também des-cobrir, no âmbito da fragilidade queconota cada ser humano, a sua pre-ciosidade e valor único, numa pala-vra: a sua dignidade. Porque a dig-nidade humana é o fundamento dajustiça, enquanto a descoberta dovalor inestimável de cada homem é aforça que nos estimula a superar asdesigualdades com entusiasmo e ab-negação.

Por fim, desejo dirigir-me aos re-presentantes de algumas indústriasfarmacêuticas que foram convocadosaqui em Roma para falar acerca doproblema do acesso às terapias antir-retrovirais em idade pediátrica. Háum excerto da Nova Carta para osAgentes no campo da Saúde quegostaria de vos confiar: «Se é inegá-vel que o conhecimento científico ea pesquisa das empresas dos remé-dios têm leis próprias às quais seater, como, por exemplo, a tutela dapropriedade intelectual e um lucroequitativo como apoio à inovação,elas devem encontrar uma adequadacomposição com o direito ao acessoàs terapias essenciais e/ou necessá-rias principalmente nos países menosdesenvolvidos, ou seja, sobretudo nocaso das chamadas “doenças raras” e“negligenciadas”, as quais são acom-panhadas do conceito de “medica-mentos órfãos”. As estratégias dasaúde, destinadas à consecução dajustiça e do bem comum, devem sereconómica e eticamente sustentáveis.Com efeito, enquanto devem salva-guardar a sustentabilidade tanto dapesquisa como dos sistemas de saú-de, deveriam ao mesmo tempo tor-nar disponíveis fármacos essenciaisem quantidades adequadas, de for-mas farmacêuticas beneficiáveis e dequalidade garantida, acompanhadospor uma informação correta e a cus-tos acessíveis aos indivíduos e às co-munidades» (n. 92).

Agradeço-vos o generoso compro-misso com o qual exerceis a vossapreciosa missão. Concedo-vos a bên-ção apostólica e peço-vos que vos re-cordeis de mim na oração.

Vaticano, 18 de novembro de 2017

FRANCISCO

Recordemos na oraçãotodos aqueles que cuidam

das pessoas doentescom dedicação e espírito de sacrifício

(@Pontifex_pt)

tidades assistenciais e da indústriada saúde, a fim de que todos pos-sam beneficiar do direito à tutela dasaúde. Certamente ele não dependesomente da assistência médica, mastambém de complexos fatores eco-nómicos, sociais, culturais e decisó-rios. Por isso, «a necessidade de re-solver as causas estruturais da pobre-za não pode esperar; e não apenaspor uma exigência pragmática deobter resultados e ordenar a socieda-de, mas também para a curar de

ra prestar os cuidados devidos e ofe-recer a melhor atenção ao ser huma-no, é também necessário que nuncavenham a faltar, nos agentes nocampo da saúde, as dimensões daescuta, do acompanhamento e doapoio à pessoa. Jesus, na parábolado Bom Samaritano, oferece-nos asatitudes através das quais concretizaros cuidados em relação ao nossopróximo marcado pelo sofrimento.Antes de tudo, o Samaritano “vê”,apercebe-se e “sente compaixão” p elo

e, em definitivo, pro-blema algum. A desi-gualdade é a raiz dosmales sociais» (Exort.ap. Evangelii gaudium,202).

Gostaria de analisartambém uma questãoimprescindível, sobre-tudo para quem serveo Senhor dedicando-se à saúde dos irmãos.Se o aspeto organiza-tivo é fundamental pa-

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número 47, quinta-feira 23 de novembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 8/9

Celebrado o primeiro dia mundial dos pobres

O grande pecadoda indiferença

Paz no Médio OrienteNovo apelo do Pontífice

dá-lo; ora não é fiel a Deus quem sepreocupa apenas de conservar, de man-ter os tesouros do passado, mas, comodiz a parábola, aquele que junta novostalentos é que é verdadeiramente «fiel»(25, 21.23), porque tem a mesma menta-lidade de Deus e não fica imóvel: arris-ca por amor, joga a vida pelos outros,não aceita deixar tudo como está. Des-cuida só uma coisa: o próprio interesse.

agrado de quem a dá do que da pessoaque a recebe. Quando queremos ofere-cer algo ao Senhor, os seus gostos en-contramo-los no Evangelho. Logo a se-guir ao texto que ouvimos hoje, Elediz: «Sempre que fizestes isto a umdestes meus irmãos mais pequeninos, aMim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).Estes irmãos mais pequeninos, seusprediletos, são o faminto e o doente, oforasteiro e o recluso, o pobre e oabandonado, o doente sem ajuda e onecessitado descartado. Nos seus ros-

Um novo «urgente apelo a envidar todosos esforços possíveis para favorecer a paz,em particular no Médio Oriente» foidirigido pelo Pontífice à comunidadeinternacional no final do Angelusrecitado na praça de São Pedro depoisda missa de domingo 19 de novembro.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!Neste penúltimo domingo do ano li-túrgico, o Evangelho apresenta-nos aparábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30). Um homem, tendo que viajar, an-tes de partir confia aos seus servos al-guns bens, que naquele tempo erammoedas de grande valor: a um deucinco talentos, a outro dois e a outroum, segundo as suas capacidades. Oservo que recebeu cinco talentos eraempreendedor e fê-los frutificar, ga-nhando outros cinco. Do mesmo mo-do se comporta o servo que recebeudois, obtendo outros dois. Ao contrá-rio, o servo que recebeu um, escavaum buraco na terra e esconde a moedado seu senhor.

É precisamente este servo que,quando o dono regressa, lhe explica o

demos e devemos ter uma confiançaimensa n’Ele.

Jesus mostra-nos a generosidade e asolicitude do Pai de várias formas:com a sua palavra, com os seus gestos,com o seu acolhimento de todos, espe-cialmente dos pecadores, dos pequeni-nos e dos pobres — como nos recordahoje o primeiro Dia Mundial dos Po-bres —; mas inclusive com as suas ad-moestações, que revelam o seu interes-se a fim de que não desperdicemosinutilmente a nossa vida. Com efeito,é sinal que Deus tem grande estimapor nós: esta consciência ajuda-nos aser pessoas responsáveis em cada nos-sa ação. Por conseguinte, a parábolados talentos convida-nos a uma res-ponsabilidade pessoal e a uma fideli-dade que se torna inclusive capacidadede se pôr constantemente a caminhopercorrendo estradas novas, sem “en-terrar os talentos”, ou seja, os donsque Deus nos confiou, e dos quais nospedirá contas.

A Virgem Santa interceda por nós, afim de que permaneçamos fiéis à von-tade de Deus fazendo frutificar os ta-

Francisco Solano, sacerdote dos Fra-des Menores Capuchinhos. Discípulohumilde e fiel de Cristo, distinguiu-sepor um serviço incansável aos pobres.Possa o seu testemunho ajudar sacer-dotes, religiosos e leigos a viver comalegria o vínculo entre anúncio doEvangelho e amor pelos pobres.

Foi o que quisemos evocar com ohodierno Dia Mundial dos Pobres,que em Roma e nas dioceses do mun-do se exprime em numerosas iniciati-vas de oração e de partilha. Faço votosa fim de que os pobres estejam nocentro das nossas comunidades não sóem momentos como este, mas sempre;porque eles estão no coração do Evan-gelho, neles encontramos Jesus quenos fala e nos interpela através dosseus sofrimentos e das suas necessida-des.

Gostaria de recordar hoje de manei-ra especial as populações que vivemuma dolorosa pobreza por causa daguerra e dos conflitos. Portanto, reno-vo à comunidade internacional um ur-gente apelo a envidar todos os esfor-ços possíveis a fim de favorecer a paz,

Mesmo se «aos olhos do mundo têmpouco valor», os pobres «abrem-nos ocaminho para o céu», são o nosso“passaporte para o paraíso”», afirmou oSumo Pontífice na homilia da missacelebrada no domingo, 19 de novembro nabasílica de São Pedro, por ocasião doprimeiro dia mundial dos pobres.

Temos a alegria de repartir o pão daPalavra e, em breve, de repartir e rece-ber o Pão eucarístico, alimentos para ocaminho da vida. Deles precisamos to-dos nós, ninguém excluído, porque to-dos somos mendigos do essencial, doamor de Deus, que nos dá o sentido davida e uma vida sem fim. Por isso, tam-bém hoje, estendemos a mão para Ele afim de receber os seus dons.

E, precisamente de dons, nos fala aparábola do Evangelho. Diz-nos quesomos destinatários dos talentos deDeus, «cada qual conforme a sua capa-cidade» (Mt 25, 15). Antes de mais na-da, reconheçamos isto: temos talentos,somos «talentosos» aos olhos de Deus.Por isso ninguém pode considerar-seinútil, ninguém pode dizer-se tão pobreque não possua algo para dar aos ou-tros. Somos eleitos e abençoados porDeus, que deseja cumular-nos dos seusdons, mais do que um pai e uma mãe odesejam dar aos seus filhos. E Deus,aos olhos de Quem nenhum filho podeser descartado, confia uma missão a ca-da um.

De facto, como Pai amoroso e exi-gente que é, responsabiliza-nos. Vemos,na parábola, que a cada servo são da-dos talentos para os multiplicar. Masenquanto os dois primeiros realizam amissão, o terceiro servo não faz renderos talentos; restitui apenas o que rece-bera: «Com medo — diz ele — fui es-conder o teu talento na terra. Aqui estáo que te pertence» (25, 25). Como res-posta, este servo recebe palavras duras:«mau e preguiçoso» (25, 26). Nele, quedesagradou ao Senhor? Diria, numapalavra (talvez caída um pouco em de-suso mas muito atual), a omissão. O seumal foi o de não fazer o bem. Muitasvezes também nos parece não ter feitonada de mal e com isso nos contenta-

seus projetos (cf. 25, 14). E é triste,quando o Pai do amor não recebe umagenerosa resposta de amor dos filhos,que se limitam a respeitar as regras, acumprir os mandamentos, como jorna-leiros na casa do Pai (cf. Lc 15,17).

O servo mau, uma vez recebido o ta-lento do Senhor que gosta de partilhare multiplicar os dons, guardou-o zelo-samente, contentou-se com salvaguar-

Almoço amistosoNo início do almoço com os pobres, que teve lugar na sala Paulo VI, o Pontíficepronunciou as seguintes palavras de saudação.

Boas-vindas a todos!

Preparemo-nos para este momento juntos. Cada um de nós, com o coraçãocheio de boa vontade e de amizade pelo próximo, para compartilhar o almoço,formulando os melhores votos uns aos outros.

E agora oremos ao Senhor para que abençoe: abençoe esta refeição, abençoeaqueles que a prepararam, abençoe todos nós, abençoe os nossos corações, asnossas famílias, os nossos desejos e a nossa vida; e nos conceda saúde e força.Amém!

Uma bênção inclusive a todos aqueles que se encontram nos demais refeitó-rios espalhados por Roma, porque hoje Roma está repleta disto [deste evento].Daqui, dirijamos-lhes uma saudação e um aplauso!

«A parábola dos talentos»(igreja de Santo Eduardo mártir, Corfe Castle, Inglaterra)

Derrotar a cultura do desperdício«Vós tendes sempre convosco os po-bres e, quando quiserdes, podeis aju-dá-los», disse Jesus na casa de Simãoo leproso, em Betânia, dois dias antesda Páscoa. Ao longo da sua história aIgreja experimentou como isto é ver-dade. Os pobres fazem parte integran-te da comunidade cristã e uma porçãosignificativa desta realidade — quasesete mil necessitados, carenciados edesabrigados, além de numerosos vo-

luntários não só de Roma e do Lácio,mas de várias dioceses do mundo —reuniu-se na basílica de São Pedro namanhã de 19 de novembro, para a mis-sa presidida pelo Papa. Foi a solenecelebração do primeiro dia mundialdedicado aos pobres, instituído peloPontífice em 2016 com a carta apostó-lica Misericordia et misera, na conclu-são do jubileu da misericórdia.

Um dia vivido sob o signo da soli-

dariedade e da comunhão, que uniupessoas distantes entre si por etnia,classe social e cultura. Muitos vieramda Itália, mas havia também uma pre-sença notável de fiéis da França, Poló-nia, Bélgica, Luxemburgo e Espanha.Uns ao lado dos outros, todos esta-vam ao redor da mesa eucarística paracelebrar este dia que, segundo as in-tenções de Francisco, solicita os cren-tes a reagir «à cultura do descarte e

mos, presumindo que somos bons ejustos. Assim, porém, corremos o riscode nos comportar como o servo mau:também ele não fez nada de mal, nãoestragou o talento, antes guardou-obem na terra. Mas, não fazer nada demal, não basta. Porque Deus não é umcontrolador à procura de bilhetes nãotimbrados; é um Pai à procura de fi-lhos, a quem confiar os seus bens e os

Neste dia, convido toda a Igrejaa manter o olhar fixo

sobre aqueles que estendem suas mãospedindo a nossa solidariedade

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dignar-se com o mal mas sem fazer na-da. Deus, porém, não nos perguntaráse sentimos justa indignação, mas se fi-zemos o bem.

Como podemos então, concretamen-te, agradar a Deus? Quando se queragradar a uma pessoa querida, porexemplo dando-lhe uma prenda, é pre-ciso primeiro conhecer os seus gostos,para evitar que a prenda seja mais do

Esta é a única omissãojusta.

E a omissão é tambémo grande pecado contraos pobres. Aqui assumeum nome preciso: indife-re n ç a . Esta é dizer: «Nãome diz respeito, não éproblema meu, é culpada sociedade». É passarao largo quando o irmãoestá em necessidade, émudar de canal, logo queum problema sério nosindispõe, é também in-

tos, podemos imaginar impresso o ros-to d’Ele; nos seus lábios, mesmo se fe-chados pela dor, as palavras d’Ele: «Is-to é o meu corpo» (Mt 26, 26). No po-bre, Jesus bate à porta do nosso cora-ção e, sedento, pede-nos amor. Quandovencemos a indiferença e, em nome deJesus, nos gastamos pelos seus irmãosmais pequeninos, somos seus amigosbons e fiéis, com quem Ele gosta de Sedemorar. Deus tem em grande apreço,

do desperdício, fazendo própria a cul-tura do encontro», e a abrir-se «à parti-lha com os pobres em todas as formasde solidariedade, como sinal concretode fraternidade».

Irmandade expressa durante a litur-gia, quando se rezou em polaco pelaIgreja, em espanhol pelo Papa, os bis-pos e os sacerdotes, em croata pelos in-digentes, em português pelos governan-tes e em chinês pela conversão dos pe-cadores. Prestaram serviço litúrgico co-mo ministrantes alguns colaboradoresdo Pontifício conselho para a promo-ção da nova evangelização, e os cantosforam executados pela Capela Sistina.

Concelebraram com o Papa 32 car-deais, entre os quais o decano Sodano;39 prelados, entre os quais os arcebis-pos Gallagher, secretário para as rela-ções com os Estados, e Fisichella, presi-dente do Dicastério para a nova evan-gelização, com D. Tebartz-Van Elst, de-legado para a catequese; mais de 200sacerdotes, entre os quais mons. Camil-leri, subsecretário para as relações comos Estados.

«Deus ama os pobres e, por conse-guinte, ama quantos amam os pobres»,escrevia São Vicente de Paulo aos seuscolaboradores. Para que a caridade não

lentos que nos doou. Assim seremosúteis aos outros e, no último dia, sere-mos acolhidos pelo Senhor, que nosconvidará a participar na sua alegria.

No final da prece mariana, O Papadirigiu aos fiéis presentes as seguintesp a l a v ra s .

Caros irmãos e irmãs!Ontem, em Detroit, nos Estados Uni-dos de América, foi proclamado Beato

lováquia) em Roma; e a comunidadeequatoriana residente em Roma, quefesteja a Virgen del Quinche. Saúdo afraternidade da Ordem secular Trinitá-rio Italiano, os fiéis de CivitanovaMarche, Sanzeno, Termoli, Capua eNola, e os jovens crismandos de Mes-trino (Pádua).

A todos vós desejo um bom domin-go. E por favor, não vos esqueçais derezar por mim. Bom almoço e até àvista!

em particular no MédioOriente. Dirijo um pen-samento especial ao que-rido povo libanês e rezopela estabilidade do país,a fim de que possa conti-nuar a ser uma “mensa-gem” de respeito e convi-vência para toda a Re-gião e para o mundo in-t e i ro .

Rezo também pelostripulantes do submarinomilitar argentino do qualse perdeu o rasto.

Hoje comemora-setambém o Dia em me-mória das vítimas da es-trada, instituído pelaOnu. Encorajo as insti-tuições públicas a com-prometer-se no âmbitoda prevenção e exorto oscondutores à prudência eao respeito das normas,como primeira forma detutela de si mesmos e doso u t ro s .

E saúdo todos vós, fa-mílias, paróquias, asso-ciações e cada fiel, queviestes da Itália e demuitas partes do mundo.Em particular, saúdo osperegrinos da RepúblicaDominicana; os partici-pantes na corrida de soli-dariedade de Košice (Es-

motivo do seu gesto, di-zendo: «Senhor, sei queés um homem duro, quecolhes onde não semeastee recolhes onde não es-palhaste. Por isso, tivemedo e fui esconder oteu talento na terra» (vv.24-25). Este servo nãotem uma relação de con-fiança com o seu patrão,mas medo, e isso parali-sa-o. O temor imobilizasempre e, muitas vezes,leva a tomar decisões er-radas. O medo dissuadede tomar iniciativa, induza refugiar-se em soluçõesseguras e garantidas, eassim se acaba por nãorealizar nada de bom.Para ir em frente e cres-cer no caminho da vida,não se deve ter medo, énecessário ter confiança.

Esta parábola faz-noscompreender quanto éimportante ter uma ideiaverdadeira de Deus. Nãodevemos pensar que Eleé um senhor inclemente,duro e severo que quercastigar-nos. Se dentrode nós houver esta ima-gem errada de Deus, en-tão a nossa vida não po-derá ser fecunda, porqueviveremos com o medo eisso não nos levará a na-da construtivo, aliás, o medo paralisa-nos, autodestrói-nos. Somos chamadosa refletir para descobrir qual é real-mente a nossa ideia de Deus. Já noAntigo Testamento Ele se revelou co-mo «Deus compassivo e misericordio-so, lento para a cólera, rico em bonda-de e em fidelidade» (Êx 34, 6). E Je-sus sempre nos mostrou que Deus nãoé um patrão severo e intolerante, masum pai cheio de amor, de ternura, umpai repleto de bondade. Portanto, po-

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Visita do Pontífice ao posto de saúde para os pobres

Não amar só com palavrasDepararam-se cara a cara com o Pa-pa Francisco enquanto prestavam as-sistência a quatro desabrigados edois migrantes. Para os vinte e umvoluntários das Misericórdias — quedesde o dia 13 de novembro estão atrabalhar no centro de saúde solidá-rio na praça Pio XII — a visita sur-presa do Pontífice, no início da tar-de de quinta-feira 16, «serviu de en-corajamento para não amar só compalavras, mas sobretudo com factos,

como nos recorda o slogan do pri-meiro dia mundial dos pobres».

Francisco, ao chegar da casa SantaMarta, não deixou de agradecer aosvoluntários pelo serviço prestado.Em seguida, saudou pessoalmente osseis pobres que estavam a receber as-sistência médica gratuita e, precisa-mente a fim de falar face a face comeles entrou, acompanhado pelos vo-luntários, numa das tendas instaladasque serve como consultório.

Juntamente com o arcebispo RinoFisichella, presidente do Pontifícioconselho para a promoção da novaevangelização, o Pontífice quis fazeruma visita no âmbito das iniciativasconcretas para o dia dos pobres. Emparticular, Francisco informou-se so-bre o funcionamento do posto médi-co, falando diretamente com as en-fermeiras voluntárias da Cruz verme-lha italiana e com os médicos espe-cializados em análises clínicas, car-

diologia, dermatologia, infecciologia,ginecologia e andrologia, que todosos dias trabalham das 9 às 16. Elescontinuarão a estar presentes duran-te a próxima semana, nos pequenosambulatórios médicos.

Para os voluntários das Misericór-dias uma única preocupação: «emo-cionados pela alegria da visita ines-perada do Papa», confidenciam, «es-quecemo-nos de lhe oferecer um caféno nosso pequeno serviço de restau-ração, que está sempre aberto paragarantir uma bebida quente aos maispobres». Mas, acrescentaram anima-dos, «estávamos tão entusiasmadosque nos esquecemos disso, contudoFrancisco despediu-se com um sorri-so: sinal que estava feliz» por este«posto de saúde» a dois passos dapraça de São Pedro.

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Derrotar a cultura do desperdício

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conferi, para significar que tam-bém os Premiados dedicaram asua vida à altíssima missão de ser-vir a verdade, à diaconia da ver-dade.

Alegro-me pelo facto de que asilustres personalidades hoje dis-tinguidas com o Prémio provêmde três confissões cristãs, entre asquais também a luterana, com aqual este ano vivemos momentosparticularmente importantes deencontro e de caminho comum. Averdade de Cristo não é para so-listas, mas é sinfónica: requer co-laboração dócil, partilha harmo-niosa. Procurá-la, estudá-la, con-templá-la e traduzi-la em práticajuntos, na caridade, atrai-nos comvigor para a plena união entrenós: assim a verdade torna-seuma nascente viva de vínculos deamor cada vez mais estreitos.

Aceitei com alegria a ideia deampliar o horizonte do Prémiopara incluir nele também as artes,além da teologia e das ciênciasnaturalmente com ela relaciona-das. É um alargamento que cor-responde bem à visão de BentoXVI, que tantas vezes nos falou demaneira comovedora da belezacomo via privilegiada para nosabrirmos à transcendência e en-contrar Deus. Em particular, ad-mirámos a sua sensibilidade musi-cal e a sua prática desta arte co-mo caminho para a serenidade epara a elevação do espírito.

Por conseguinte, congratulo-mecom os ilustres Premiados: o Pro-fessor Theodor Dieter, o Profes-sor Karl-Heinz Menke e o MestreArvo Pärt; e o meu encorajamen-to à vossa Fundação e a todos osseus amigos, para que se conti-nuem a percorrer caminhos novose cada vez mais amplos a fim decolaborar na pesquisa, no diálogoe no conhecimento da verdade.Uma verdade que, como o PapaBento não se cansa de nos recor-dar, é em Deus, ao mesmo tempologos e agape, sabedoria e amor,encarnados na pessoa de Jesus.

Prémio Ratzinger

seja só uma teoria, mas se transfor-me em gestos concretos, no final doAngelus o Papa almoçou na salaPaulo VI com cerca de 1.500 pobres.O momento convivial foi acompa-nhado pelas músicas da banda daGendarmaria vaticana e pelos cantosdo coro “Le dolci note”, compostopor crianças de 5 a 14 anos. Promo-veu a iniciativa, o Dicastério para anova evangelização, em colaboraçãocom a Cáritas, a comunidade deSanto Egídio, a Ordem de Malta, acomunidade Novos horizontes, a co-munidade João XXIII, a associaçãoIrmão 2016, as obras antonianas deRoma, as associações cristãs de tra-balhadores italianos (Acli), os gru-pos vicentinos de voluntariado e osvários organismos ativos nas paró-quias. Os pobres foram servidos por40 diáconos da diocese de Roma epor cerca de 150 voluntários das pa-róquias de outras dioceses. O menu,servido pelo restaurante “Al Pioppe-to” de Sergio Dussin, foi o seguinte:gnocchetti da Sardenha preparadoscom molho de tomate, azeitonas equeijo Collina veneta, carne guisadacom verduras, polenta e brócolos deBassano, tiramisù à véneta, água, la-ranjada e café. Outros 2.500 pobresforam recebidos nos refeitórios, semi-nários e colégios católicos da Urbe.

Entre as iniciativas organizadasem preparação para este dia, há querecordar o posto de saúde solidário,em serviço na praça Pio XII nos dias13-19 de novembro e visitado peloPapa na tarde do dia 16. Nesta área

médica foram feitas gratuitamenteanálises clínicas e consultas médicasespecializadas. Além disso, na tardede 18, na basílica de São Lourençofora dos Muros, celebrou-se uma vi-gília de oração pelo mundo do vo-

luntariado. Em preparação para estedia foi realizado um subsídio pasto-ral intitulado Não amemos com pala-vras mas com ações, traduzido em seislínguas e, na Itália, publicado pelasedições paulinas. (nicola gori)

Ele aprecia o comportamento queouvimos na primeira Leitura: o da«mulher forte» que «estende osbraços ao infeliz, e abre a mão aoindigente» (Pv 31, 10.20). Esta é averdadeira fortaleza: não punhoscerrados e braços cruzados, masmãos operosas e estendidas aos po-bres, à carne ferida do Senhor.

Lá, nos pobres, manifesta-se apresença de Jesus, que, sendo rico,Se fez pobre (cf. 2 Cor 8, 9). Porisso neles, na sua fragilidade, háuma «força salvífica». E, se aosolhos do mundo têm pouco valor,são eles que nos abrem o caminhopara o Céu, são o nosso «passapor-te para o paraíso». Para nós, é umdever evangélico cuidar deles, quesão a nossa verdadeira riqueza; efazê-lo não só dando pão, mastambém repartindo com eles o pãoda Palavra, do qual são os destina-tários mais naturais. Amar o pobresignifica lutar contra todas as po-brezas espirituais e materiais.

E isto far-nos-á bem: abeirar-nosde quem é mais pobre do que nós,tocará a nossa vida. Lembrar-nos-áaquilo que conta verdadeiramente:amar a Deus e ao próximo. Só istodura para sempre, todo o restopassa; por isso, o que investimosem amor permanece, o resto desa-parece. Hoje podemos perguntar-nos: «Para mim, o que conta na vi-da? Onde invisto?». Na riquezaque passa, da qual o mundo nuncase sacia, ou na riqueza de Deus,que dá a vida eterna? Diante denós, está esta escolha: viver parater na terra ou dar para ganhar oCéu. Com efeito, para o Céu, nãovale o que se tem, mas o que se dá,e «quem amontoa para si não é ri-co em relação a Deus» (cf. Lc 12,21). Então não busquemos o supér-fluo para nós, mas o bem para osoutros, e nada de precioso nos fal-tará. O Senhor, que tem compai-xão das nossas pobrezas e nos re-veste dos seus talentos, nos conce-da a sabedoria de procurar o queconta e a coragem de amar, nãocom palavras, mas com obras.

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Missas matutinas em Santa MartaQuinta-feira16 de novembro

O reino escondidoUma pergunta recorrente nas medi-tações do Papa, durante as missascelebradas em Santa Marta, é o con-vite a um exame de consciência:«Como está a minha relação com oEspírito Santo?». Também na homi-lia de 16 de novembro o Pontíficevoltou a propor esta interrogaçãocom uma particular declinação:«Creio deveras que o Espírito fazcrescer em mim o reino de Deus?».

Com efeito, o reino de Deus foi otema da sua reflexão, inspirada notrecho do Evangelho de Lucas (17,20-25) no qual os doutores da leiperguntam a Jesus: «Tu pregas o rei-no de Deus, mas quando virá o rei-no de Deus?». Era uma interroga-ção, explicou, que derivava tambémda «curiosidade de muitas pessoas»,uma pergunta «simples que brota deum coração bom, um coração dediscípulo». Não é por acaso que setrata de uma pergunta recorrente noEvangelho: por exemplo, sugeriu oPapa, naquele momento «tão difícil,obscuro» em que João Batista — queestava na escuridão do cárcere e«não entendia nada, angustiado» —enviou os seus discípulos interrogaro Senhor: «Diz-me: és tu, ou deve-mos esperar outro? Chegou o reinode Deus, ou será outro?».

Reaparece com frequência a dúvi-da sobre «quando», como aconteceno «pedido descarado, soberbo emau» do ladrão: «Se és tu, desce dacruz», que exprime a «curiosidade»acerca de «quando há de vir o reinode Deus». A resposta de Jesus é:«Mas o reino de Deus está no meiode vós». Assim, por exemplo, «o rei-no de Deus foi anunciado na sina-goga de Nazaré, a boa nova quandoJesus lê o trecho de Isaías e termina,dizendo: “Hoje cumpriu-se esta es-critura no meio de vós”». Um anún-cio bom e sobretudo «simples».Com efeito, «o reino de Deus cresceàs escondidas», e é o próprio Jesusque o explica com a parábola da se-mente: «ninguém sabe como», masDeus fá-la crescer. É um reino que«cresce dentro, de modo oculto, ouestá escondido como a gema ou otesouro, mas sempre na humildade».

Aqui o Papa inseriu a passagem-chave da sua meditação: «Quem fazcrescer aquela semente, quem a fazgerminar? Deus, o Espírito Santoque está em nós». Uma considera-ção que explica a vinda do reinocom o modo de agir do Paráclito,que «é espírito de mansidão, de hu-mildade, de obediência e de simpli-cidade». E é o Espírito, acrescentouo Papa, «que faz crescer dentro oreino de Deus, não são os planospastorais, as grandes coisas...».

Trata-se, disse, de uma ação es-condida. O Espírito «faz crescer equando chega o momento aparece ofruto». Uma ação que escapa à ple-na compreensão: «Quem — i n t e r ro -gou-se o Papa — lançou a sementedo reino de Deus no coração dobom ladrão? Talvez a mãe, quandolhe ensinou a rezar... Talvez um ra-bino, quando lhe explicava a lei...».

do Espírito Santo que está «dentrode nós»: é ele «quem faz crescer egerminar a semente, até dar fruto».E todos nós somos chamados a per-correr este caminho: «é uma voca-ção, uma graça, um dom gratuito,não se compra, é uma graça deD eus».

Eis por que razão, concluiu, ébom que «todos nós, batizados»,que «temos dentro o Espírito San-to», nos perguntemos: «Como está aminha relação com o Espírito Santo,que faz crescer em mim o reino deDeus?». Com efeito, é preciso enten-der: «Creio deveras que o reino deDeus está no meio de nós, escondi-do, ou gosto mais do espetáculo?».É necessário rezar ao «Espírito queestá em nós e pedir a graça «de fa-zer germinar com força, em nós e naIgreja, a semente do reino de Deus,para que se torne grande, dê refúgioa muita gente e produza frutos desantidade».

Sexta-feira17 de novembro

Pensamento da morte«Pensar na nossa morte não é umafantasia negativa»; aliás, viver bemtodos os dias como se fosse «o últi-mo», e não como se esta vida fosse«uma normalidade» que nunca aca-ba, poderá ajudar a encontrar-se de-veras prontos quando o Senhor cha-mar. Na missa, o Papa convidou areconhecer serenamente a verdadeessencial da nossa existência.

«Nestas duas últimas semanas doano litúrgico — fez presente — nasleituras, na missa, a Igreja faz-nosrefletir acerca do fim». Certamente,por um lado, «o fim do mundo,porque o mundo acabará, será trans-formado» e haverá «a vinda de Je-sus, no final». Mas, por outro, aIgreja fala também do «fim de cadaum de nós, porque cada um de nós,morrerá: a Igreja, como mãe, mestra,deseja que cada um de nós pense naprópria morte».

«Chama a minha atenção — confi-denciou o Pontífice, fazendo referên-cia ao excerto evangélico de Lucas(17, 26-37) — aquilo que Jesus dizneste trecho que lemos». Em parti-cular a sua resposta «quando per-guntam como será o fim do mun-do». Mas entretanto, relançou o Pa-pa seguindo as palavras do Senhor,«pensemos em como será o meufim». No Evangelho Jesus usa as ex-pressões «como aconteceu tambémnos dias de Noé» e «como se verifi-cou ainda nos dias de Ló». Para di-zer, explicou, que os homens «co-miam, bebiam, casavam, e davam-seem casamento, até ao dia em queNoé entrou na arca». E, ainda, «co-mo aconteceu também nos dias deLó: comiam, bebiam, compravam,vendiam, plantavam, construíam».

Mas eis que, continuou Francisco,chega «o dia em que o Senhor fazcair do céu fogo e enxofre». Em su-ma, «há a normalidade, a vida énormal — observou o Papa — e nósestamos habituados a esta normali-dade: levanto-me às seis, às sete, fa-ço isto, este trabalho, amanhã vouvisitar alguém, domingo é festa, façoaquilo». E «assim estamos habitua-dos a viver uma normalidade de vi-da e pensamos que será sempre as-sim». Mas sê-lo-á «até ao dia emque Noé entrar na arca, até ao diaem que o Senhor fizer cair do céufogo e enxofre».

Porque certamente «chegará o diaem que o Senhor dirá a cada um denós: “vem”», recordou o Pontífice. E«a chamada para alguns será repen-tina, para outros será depois de umadoença, num desastre: não sabe-mos». Mas «haverá a chamada e se-rá uma surpresa: não a última sur-presa de Deus, depois desta haveráoutra — a surpresa da eternidade —mas será a surpresa de Deus para ca-da um de nós».

A propósito do fim, prosseguiu,«Jesus disse uma frase, lemo-la on-tem na missa: assim “como o relâm-pago ilumina desde uma extremida-de inferior do céu até à outra extre-midade, assim será também o Filho

do homem no seu dia”, o dia emque bater à porta da nossa vida».

«Nós estamos habituados a estanormalidade da vida e pensamosque será sempre assim». Mas «o Se-nhor, e a Igreja, diz-nos nestes dias:reflete um pouco, reflete, nem sem-pre será assim, um dia não será as-sim, um dia tu serás tomado e o queestá ao teu lado será deixado».

«Senhor, quando chegará o diaem que serei tomado?»: precisamen-te «esta é a pergunta que a Igrejaconvida a fazer-nos hoje dizendo: re-flete um pouco acerca da tua mor-te». Eis o significado da frase citadapor Francisco, colocada na entrada«de um cemitério, no norte da Itá-lia: “Peregrino, tu que passas, pensados teus passos, o último passo”».Porque «haverá o último» passo.«Este viver a normalidade da vidacomo se fosse uma coisa eterna, umaeternidade — explicou o Papa — vê-se também nas vigílias fúnebres, nascerimónias, nas honorificências fúne-bres: muitas vezes as pessoas que es-tão deveras relacionadas com aquelapessoa morta, pela qual rezamos, sãopoucas». E assim «uma vigília fúne-bre transformou-se com normalidadenum facto social: “Onde vais hoje?”— “Hoje tenho que ir fazer isto, istoe isto, depois ao cemitério porquehá a cerimónia”». Torna-se assim«um facto a mais e ali encontramosos amigos, falamos: o falecido estáali mas nós falamos: normal». Assim«também aquele momento transcen-dente, devido ao andamento da vidahabitual, torna-se um facto social».E «eu vi isto — confidenciou aindaFrancisco — na minha pátria: nalgu-mas vigílias fúnebres há um serviçode receção, come-se, bebe-se, o mor-to está ali: mas nós aqui fazemos umpouco, não digo “festa”, mas fala-mos, mundanamente; é mais umareunião, para não pensar».

«Hoje — afirmou Francisco — aIgreja, o Senhor, com aquela suabondade, diz a cada um de nós: re-flete, nem todos os dias serão assim;não te habitues como se esta fosse aeternidade; chegará o dia em que se-rás tomado, o outro deixado, tu se-rás tomado». Em síntese, «assim éestar com o Senhor, pensar que anossa vida terá fim, e isto faz bemporque o podemos pensar no iníciodo trabalho: talvez hoje seja o últi-mo dia, não sei, mas farei bem o tra-balho». E «farei» bem também «nasrelações em casa, com quem me cir-cunda, com a família: comportar-sebem, talvez seja o último dia, nãosei». Devemos pensar o mesmo«também quando vamos a uma con-sulta médica: ela será mais uma ouserá o início das últimas visitas?».

«Pensar na morte não é uma máfantasia, é uma realidade», insistiu oPontífice, explicando: «Se é má ounão depende de mim, como eu pen-so nela, mas acontecerá e tratar-se-ádo encontro com o Senhor: será esteo aspeto positivo da morte, o encon-tro com o Senhor, será ele que vemao encontro, será ele a dizer “vem,vem, bendito de meu Pai, vem comi-go”». De nada serve dizer: «Mas,Senhor, espera que tenho que resol-ver isto e aquilo». Porque «não sepode resolver nada: naquele diaquem estiver no terraço e tiver dei-

«O reino de Deus é como o fermento»(vitral da igreja de Nossa Senhora Rainha

dos Apóstolos, Hamtramck, Michigan)

Sem dúvida, não obstante na vidaele se tenha esquecido dela, numcerto momento aquela semente es-condida foi feita crescer. Tudo istoacontece porque «o reino de Deus ésempre uma surpresa que vem» co-mo «dom do Senhor».

No diálogo com os doutores dalei, Jesus medita sobre a caraterísticadesta ação silenciosa: «Quando oreino de Deus vem, não chama aatenção e ninguém dirá: “Ei-lo aqui,ei-lo ali”». Com efeito, acrescentou,«o reino de Deus não é um espetá-culo» nem «um carnaval». Não semostra «com a soberba, o orgulho,não gosta de publicidade», mas «éhumilde, escondido e assim cresce».

Um exemplo evidente vem deMaria. Quando as pessoas a viamseguir Jesus, mal a reconheciam(«Ah, ela é a mãe...»). Ela era «amulher mais santa», mas dado quevivia «escondida», ninguém enten-dia «o mistério do reino de Deus, asantidade do reino de Deus». E as-sim, «quando estava próxima dacruz do filho, as pessoas diziam:“Pobre mulher, com este filho crimi-noso, pobre mulher...». Ninguémentendia, «ninguém sabia».

A caraterística do escondimento,explicou o Papa, deriva precisamente

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 23 de novembro de 2017, número 47

Lutar contra os efeitos da crise ambientalO Pontífice convidou a fortalecer o consenso alcançado com o Acordo de Paris

Contrastar as mudanças climáticas e a elevação do nível dos mares

Uma estratégia global

Sobre a crise ambiental é preciso evitaratitudes de «negação» ou de«indiferença» mas também de«resignação» ou de «confiança emsoluções inadequadas», escreveu oPapa Francisco na mensagem queenviou ao presidente da conferênciainternacional Cop23 promovida pelaOnu, realizada em Bonn.

A Sua Excelênciao Senhor Frank Bainimarama

Primeiro-Ministro das Ilhas FijiPresidente da 23ª sessão

da Conferência dos Estados-Partena Convenção-Quadro

das Nações Unidas sobreas Mudanças Climáticas (COP23)

(Bonn, 6-17 de novembro de 2017)

Excelência!Há pouco menos de dois anos a

comunidade internacional reuniu-seno âmbito deste foro da UNFCCC,com grande parte dos seus máximosrepresentantes governamentais, e de-pois de um longo e complexo deba-te chegou à adoção do históricoAcordo de Paris. Ele alcançou umconsenso sobre a necessidade de ini-ciar uma estratégia partilhada paracontrastar um dos fenómenos maispreocupantes que a nossa humanida-de está a viver: a mudança climática.

A vontade de dar continuidade aeste consenso foi depois realçada pe-

la velocidade com a qual o mesmoAcordo de Paris entrou em vigor,depois de menos de um ano da suaadoção.

O Acordo indica um claro percur-so de transição rumo a um modelode desenvolvimento económico comum consumo de carbono baixo ounulo, encorajando à solidariedade erecorrendo aos vínculos fortes queexistem entre a luta contra a mudan-ça climática e a pobreza. Esta transi-ção é depois ulteriormente solicitada

pela urgência climática que requermaior engajamento da parte dos paí-ses, alguns dos quais deverão procu-rar assumir o papel de guia destatransição, preocupando-se com asnecessidades das populações maisvulneráveis.

Nestes dias estais reunidos emBonn, a fim de levar por diante ou-tra fase importante do Acordo deParis: o processo de definição econstrução de linhas-guia, regras emecanismos institucionais para que

ele seja realmente eficaz e capaz decontribuir para a consecução dos ob-jetivos complexos que se propõe.Num percurso como este, é necessá-rio manter alta a vontade de colabo-ração.

Nesta perspetiva, desejo reafirmaro meu «convite urgente a renovar odiálogo sobre a maneira como esta-mos a construir o futuro do planeta.Precisamos de um debate que nosuna a todos, porque o desafio am-biental, que vivemos, e as suas raízeshumanas dizem respeito e têm im-pacto sobre todos nós. [...] Infeliz-mente, muitos esforços na busca desoluções concretas para a crise am-biental acabam, com frequência,frustrados [por vários motivos que]vão da negação do problema à indi-ferença, à resignação acomodada ouà confiança cega nas soluções técni-cas» (cf. Enc. Laudato si’, 14). Deve-ríamos evitar cair nestas quatro atitu-des iníquas, que certamente não aju-dam a busca honesta nem o diálogosincero e produtivo sobre a constru-ção do futuro do nosso planeta: ne-gação, indiferença, resignação e con-fiança em soluções inadequadas.

Por outro lado, não podemos li-mitar-nos unicamente à dimensãoeconómica e tecnológica: as soluçõestécnicas são necessárias mas insufi-

«Uma tomada de consciênciamundial» e «uma estratégiacompartilhada» para enfrentar adegradação do meio ambiente: eisquanto invocou o Papa Francisco aoreceber em audiência na manhã de 11de novembro na sala Clementina, oslíderes do Pacific Islands Forum.Publicamos o discurso de saudação doPontífice.

Excelências, Distintas SenhorasIlustres Senhores e Senhoras!Estou grato a todos vós, Líderes doPacific Islands Forum que, mediantea vossa presença, manifestais as dife-rentes realidades existentes numaRegião como a do Oceano Pacífico,tão rica de belezas culturais e natu-rais.

Infelizmente, essa Região suscitatambém profundas preocupações emtodos nós e, de maneira particular,nas populações ali residentes, bas-tante vulneráveis a fenómenos am-bientais e climáticos extremos, cadavez mais frequentes e intensos. Con-tudo, penso inclusive nos impactosdo grave problema da elevação donível dos mares, assim como do do-loroso e contínuo declínio de quecontinuam a sofrer os recifes de co-ral, ecossistema marinho de grandeimportância. A tal propósito, recor-do a alarmante interrogação feita háquase trinta anos pelos Bispos dasFilipinas: «Quem transformou o ma-

ravilhoso mundo marinho em cemi-térios subaquáticos, despojados devida e de cor?».1 São numerosas ascausas que levaram a esta degrada-ção ambiental e, infelizmente, mui-tas delas devem ser imputadas a umcomportamento humano imprevi-dente, ligado a formas de exploraçãodos recursos naturais e humanos, cu-jo impacto chega até ao fundo doso ceanos.2

Além disso, quando falamos deelevação do nível do mar, que «atin-ge principalmente as populaçõescosteiras mais pobres, que não têmpara onde se transferir»,3 p ensamosna problemática do aquecimentoglobal, que é amplamente abordadoem numerosos fóruns e debates in-ternacionais. Nestes dias está a reali-zar-se em Bonn a COP-23, a vigésimaterceira sessão da Conferência dasPartes da Convenção-Quadro daONU sobre a mudança climática, queeste ano terá lugar sob a Presidênciade um dos países por vós representa-dos, as Ilhas Fiji. Faço votos a fimde que os trabalhos da COP-23, bemcomo aqueles que se lhes seguirão,consigam ter sempre presente aquela“Terra sem confins, onde a atmosfe-ra é extremamente fina e fugaz”, co-mo a descreveu um dos astronautasatualmente em órbita na Estação Es-pacial Internacional, com os quaisrecentemente tive um interessantediálogo.

Vós provindes de países que, emrelação a Roma, se encontram nasantípodas; mas esta visão de uma“Terra sem confins” anula as distân-cias geográficas, evocando a necessi-dade de uma tomada de consciênciamundial, de uma colaboração e deuma solidariedade internacionais, deuma estratégia compartilhada, quenão permitem permanecer indiferen-tes perante problemas graves como adegradação do meio ambiente natu-ral e da saúde dos oceanos, ligada àdegradação humana e social que ahumanidade de hoje vive.

De resto, não apenas as distânciasgeográficas e territoriais, mas tam-bém as temporais são anuladas pelaconsciência de que no mundo tudoestá intimamente ligado:4 quase trin-ta anos depois do apelo dos Bispos

filipinos, e não se pode dizer que asituação dos oceanos e do ecossiste-ma marinho melhorou, face aos nu-merosos problemas que interpelam,por exemplo, a gestão dos recursosictíicos, as atividades em superfícieou nas profundidades, a situação dascomunidades costeiras e das famíliasde pescadores, a poluição devido àacumulação de plástico e microplás-tico. «Que tipo de mundo queremosdeixar a quem nos vai suceder, àscrianças que hoje crescem? Esta per-gunta não diz respeito unicamenteao meio ambiente de maneira isola-da [...]. Quando nos interrogamosacerca do mundo que queremos dei-xar, referimo-nos sobretudo à suaorientação geral, ao seu sentido, aosseus valores».5

Estou-vos grato por esta agradávelvisita; abençoo-vos de coração, tantoa vós como às vossas Nações.

O brigado!

1 Cf. CONFERÊNCIA D OS BISPOS CA-TÓLICOS DAS FILIPINAS, Carta pasto-ral What is Happening to our Beauti-ful Land?, 29 de janeiro de 1988, cit.in Carta Encíclica Laudato si’, 41.2 Cf. Carta Encíclica Laudato si’, 41.3 Cf. ibid., n. 48.4 Cf. ibid., n. 16.5 Ibid., n. 160.

Um atol das Ilhas Cook

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«Nadi inundada. Ilhas Fiji»(do concurso fotográfico sobre a mundança climática organizado à margem da Cop23)

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número 47, quinta-feira 23 de novembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

Exortação do Papa aos escolápios

Reconstruir o pacto educativoO convite a esforçar-se para «reconstruir o pactoeducativo» entre escola, família e jovens foi dirigidopelo Papa a um grupo de clérigos regulares pobresda Mãe de Deus das escolas pias (escolápios),recebidos em audiência no final da manhã de 10 denovembro, na Sala Clementina. A seguir, o discursoimprovisado pelo Santo Padre.

Bom dia e obrigado, Padre-Geralpelas suas palavras.Pensáveis que, depois de vos entregar este docu-mento [Mensagem por ocasião do Ano Jubilar Cala-sanziano, 27 de novembro de 2016], eu não teriapronunciado um discurso. Então perguntei ao Pa-dre em que língua poderia falar, se em espanholou em italiano, e ele respondeu-me: “Quase todosentendem o espanhol”.

Obrigado por terdes vindo e trazido a família...— as Montales, que ficam atrás do Colégio El Sal-vador, conheço-as bem — a família. Isto é bom,uma congregação religiosa que tem uma famíliaque a circunda, pessoas que trabalham, leigos, to-dos... A família é um sinal de fecundidade e dehumanidade. Obrigado por terdes vindo.

Três aspetos, três palavras que escrevi na men-sagem e agora retomo para as comentar, saudan-do-vos. Educar, anunciar e t ra n s f o r m a r.

Detenho-me na primeira: e d u c a r. Educar nestemomento é algo muito sério. É um grande desafioporque o pacto educativo em geral se rompeu. Opacto educativo — sou muito influenciado pelaminha pátria, mas vejo que em todo o lugar acon-tece mais ou menos o mesmo — o pacto entre es-cola, família e jovens rompeu-se. Então é precisoreconstruir este pacto educativo, como for possí-vel, mas é fundamental. E educar reconstruindo opacto educativo, o que envolve necessariamente afamília; hoje na educação a família, seja como for,não pode estar ausente. É verdade que há famíliasdestruídas, mas nos jovens podem-se recompormuitas coisas. Portanto é preciso procurar restabe-lecer o pacto educativo e contribuir para o reco-nhecimento dos professores, que dão a vida e emmuitos países são os que ganham menos. Há pro-fessores que devem fazer turno duplo para poderreceber um salário digno. Esses professores quan-do chegam a casa, como fazem para encontrartempo para preparar as aulas, pensar... O diálogoentre a família e os docentes, entre a família, a es-

cola e os jovens, este diálogo triplo. E depois, queo jovem seja ativo na educação. Por conseguinte,tudo isto para reconstruir o pacto educativo. E es-ta é uma missão muito séria que deveis assumir:re c o n s t ru í - l o .

Segundo: uma educação completa. Sair da heran-ça que nos deixou o Iluminismo, isto é, que edu-car significa encher a cabeça de conceitos, não éassim? e quanto mais se sabe aqui [indica a cabe-ça], melhor é a educação. Educar é fazer com quea pessoa amadureça mediante as três linguagens:das ideias, do coração e das mãos. Ou seja, deveexistir harmonia entre elas, os nossos estudantesdevem sentir o que pensam e fazer o que pensame sentem. A harmonia da pessoa, educar a pessoa.Penso que se não educarmos deste modo é inútil.Alguns pedagogos exprimem isto noutros termosmas é a mesma coisa: educar nos conteúdos, noshábitos e nos valores, é o mesmo, é a mesma edu-cação. Acrescentaria — o que é fundamental hoje— que a juventude deve ser educada em movimen-to: hoje a juventude estática não existe e se não apusermos em movimento nós, outras mil situaçõeso farão, sobretudo os sistemas digitais, nesta “ve-locidade líquida e gasosa” da nossa civilização —e é o terceiro ponto que gostaria de comentar —que correm o risco de eliminar as raízes dos jo-vens.

Os jovens hoje crescem sem raízes; não têm raí-zes porque não têm tempo de enraizar; ou melhortêm-nas mas não as fazem próprias porque nãotêm tempo, não as deixam crescer, não as deixamconsolidar, porque vivem continuamente nesta “li-quidez” de cultura, não é assim? É preciso refor-çar as raízes. Jovens sem raízes é o que vemosagora. Então o que fazemos? Enxertos de raízes.Vejo sempre que é muito importante, e com fre-quência me vem à mente, e sobretudo de modoinspirado — digo-o com simplicidade — enquantorezo, a palavra do profeta Joel quando diz: “Osvelhos sonharão e os jovens profetizarão”. Hojeos jovens precisam de falar com os idosos, é oúnico modo que possuem para reencontrar aspróprias raízes. Falar com os pais, sim, é funda-mental, mas sobretudo hoje é necessário que seencontrem com os idosos, porque os pais já fazemparte desta sociedade líquida; que se encontremcom os idosos! Por favor, procurai promover odiálogo entre avós e netos. Não digais: “Não, masos jovens...”. Não. Eu tive tantas experiências e

aconselharam-me também outras pessoas: colocaios jovens em movimento. Dizei-lhes: “O queachas? Vamos tocar violão naquela casa de repou-so?”. Dizem “sim”, “não”... e depois vão e já nãoquerem ir embora porque os idosos dizem: “Co-nheces esta canção?”, e começam a contar histó-rias e os jovens ficam encantados, e os idosos ini-ciam a despertar e dão-se conta de que ainda po-dem sonhar. Por favor, confio-vos esta missão:procurai promover — enquanto há tempo, antesque os idosos nos deixem — o diálogo entre os jo-vens e os anciãos. Procurai as mil maneiras, osmil modos para o fazer... mas sempre em movi-mento, porque os jovens estáticos não funcionam.Este é outro critério que devemos considerar naeducação e em tudo: os jovens estáticos estão nasenciclopédias; na realidade, se quiserdes que osjovens recebam algo vosso, deveis mantê-los emmovimento.

Pois bem. Se educarmos deste modo então po-demos anunciar e transformar, mas paro no edu-car, com tudo o que vos disse. Por isso permanecisentado, porque não li o discurso, queria que fos-se mais espontâneo.

Obrigado, e agora convido-vos a rezar umaAve-Maria à Virgem; e pedir também a proteçãode São Faustino. Gostei do modo como lhe pediuo milagre o pai da criança recém-nascida, aquelechileno: “faz alguma coisa, Carequinha!”.

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Mensagem à Cop23Audiência ao presidenteda República da Áustria

Durante os colóquios cordiais foram evocadas as boas relações e a cola-boração frutuosa que intercorrem entre a Santa Sé e a Áustria. Em segui-da, abordaram-se as questões de interesse recíproco, como a defesa da dig-nidade inviolável da pessoa humana, a promoção de uma cultura do en-contro e a solicitude pelo cuidado da criação.

Por fim, foi realçado o papel da comunidade internacional na busca desoluções pacíficas para os conflitos em curso em várias regiões do mundo,reafirmando também o compromisso comum por um mundo sem armasn u c l e a re s .

Na manhã de quinta-feira, 16 de novembro,o Papa Francisco rece-beu em audiência, noPalácio apostólico doVaticano, o presidenteda República da Áus-tria, Alexander Van derBellen, o qual sucessi-vamente se encontroucom o cardeal PietroParolin, secretário deEstado, acompanhadopelo arcebispo Paul Ri-chard Gallagher, secre-tário para as Relaçõescom os Estados.

cientes; é essencial e obrigatório teratentamente em consideração tam-bém os aspetos e os impactos éticose sociais do novo paradigma de de-senvolvimento e de progresso a cur-to, médio e longo prazo.

Nesta perspetiva, torna-se neces-sário prestar cada vez mais atençãoà educação e aos estilos de vida ca-raterizados por uma ecologia inte-gral, capaz de assumir uma visão debusca honesta e de diálogo abertono qual se entrelacem as várias di-mensões do Acordo de Paris. Ele, ébom recordá-lo, «chama-nos para agrave responsabilidade [...] de agirsem demora, de maneira mais livrepossível de pressões políticas e eco-nómicas, superando interesses ecomportamentos particularistas»(cf. Mensagem à COP22). Trata-se,concretamente, de fazer propagaruma “consciência responsável” emrelação à nossa casa comum (cf.Enc. Laudato si’, 202-231) através dacontribuição de todos, na explicita-

ção das diferentes formas de ação ede parceria entre os vários stakehol-d e rs , algumas das quais não deixamde evidenciar o engenho do ser hu-mano a favor do bem comum.

Ao transmitir a minha saudação aVossa Excelência, Senhor Presiden-te, e a todos os participantes nestaConferência, faço votos de que,com a sua influente guia e a dasIlhas Fiji, os trabalhos destes diassejam animados pelo mesmo espíri-to colaborativo e propositivo mani-festado durante a COP21. Isto per-mitirá acelerar a tomada de cons-ciência e consolidar a vontade deadotar decisões realmente eficazespara contrastar o fenómeno das mu-danças climáticas e, contextualmen-te, combater a pobreza e promoverum verdadeiro desenvolvimento hu-mano integral. Neste compromissovos ampare a sábia providência doAltíssimo.

Vaticano, 7 de novembro de 2017

FRANCISCO

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página 14 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 23 de novembro de 2017, número 47

As exéquias do cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo

Expetativa perseveranteAs exéquias do cardeal Andrea CorderoLanza di Montezemolo, falecido a 19de novembro, foram celebradas na ma-nhã do dia 21, no altar da Cátedrada basílica de São Pedro. O rito foipresidido pelo vice-decano do colégiocardinalício, que proferiu esta homilia.

GI O VA N N I BAT T I S TA RE

«A alma dos justos — disse-nos aprimeira leitura — está nas mãos deDeus». Agora o cardeal Andrea Cor-dero Lanza di Montezemolo, após92 anos de vida inteiramente trans-corrida ao serviço do Papa e daIgreja, está nas mãos de Deus. Com

Depois de se formar em arquitetu-ra, com 24 anos, e de se dedicar bre-vemente à prática da profissão, An-drea di Montezemolo decidiu consa-grar a sua vida completamente aDeus. Entrou no colégio Caprânicae começou a estudar filosofia e teo-logia na pontifícia universidade Gre-goriana. Foi ordenado sacerdote dadiocese de Roma em março de 1954.

Obteve a licenciatura em direitocanónico e com 34 anos entrou noserviço diplomático da Santa Sé.Após vários anos de serviço em trêsnunciatura, foi chamado à Secretariade Estado, na secção que então sechamava Conselho para os assuntos

Guiné e delegado apostólico nasIlhas Salomão. Nos países para osquais foi enviado desempenhou comgrande afinco e dedicação a tarefade núncio apostólico, acompanhan-do o episcopado local nas iniciativaseclesiais e cuidando das relaçõescom as autoridades civis.

Nos anos que passou como dele-gado apostólico para Jerusalém e aPalestina na Terra Santa, D. Andreadi Montezemolo foi artífice das ne-gociações que levaram à assinaturado célebre «Acordo fundamental»da Santa Sé com as autoridades is-raelitas, no qual se reconheceu a na-tureza singular das relações entre aIgreja católica e o povo judeu, lan-çando as bases para a diplomaciaentre a Santa Sé e o Estado de Is-rael. Tornou-se assim o primeironúncio apostólico em Israel.

Sucessivamente, Andrea di Mon-tezemolo foi transferido para a nun-ciatura apostólica na Itália; em maiode 2005, nomeado arcipreste da basí-lica de São Paulo fora dos Muros; eem seguida, criado cardeal.

Ocupou-se com grande alegria dabasílica que se eleva sobre o sepul-cro do apóstolo Paulo. Neste cargo,trabalhou com dedicação incansávelpela boa realização do Ano paulino,inaugurado pelo Santo Padre em ju-nho de 2008. A competência por eleadquirida nos anos juvenis em arqui-tetura foi-lhe útil nos restauros quepromoveu em vários pontos da basí-lica Ostiense. Em particular, quisque fosse renovado o acesso ao tú-mulo de São Paulo e promoveu umapesquisa científica no sarcófago tra-dicionalmente considerado de SãoPaulo, cujo exame minucioso confir-

mou que se trata realmente do se-pulcro do apóstolo das nações. Alémdisso, o cardeal mandou examinarcom o método do «carbono 14» osrestos mortais encontrados no sarcó-fago, obtendo assim a confirmaçãode que pertencem ao apóstolo Pau-lo, ali sepultado depois de ter sofri-do o martírio junto das Três Fontes.

Por ocasião destes trabalhos, naescavação do lado setentrional dabasílica, foram descobertas as ruínasde um mosteiro dos séculos VII-VIII.

O cardeal distinguiu-se pela pai-xão e competência pela heráldicaeclesiástica e pelos numerosos bra-sões episcopais dos quais foi autor.

Enquanto na oração confiamos aDeus a alma do cardeal di Monteze-molo, a liturgia convida-nos a elevaro olhar além das fronteiras da morte,impelindo-nos a ir com o pensamen-to rumo àquele mundo no qual opurpurado entrou e que um dia serátambém nosso.

Confortam-nos as palavras deCristo, que ressoaram na página doEvangelho: «Eu sou a ressurreição ea vida. Aquele que crê em mim, ain-da que morra, viverá. E quem vive ecrê em mim, nunca morrerá!».

Eram palavras conhecidas pelocardeal di Montezemolo, que nelasacreditou e esperou, e na sua vidaprocurou orientar para Cristo quan-tos encontrou pelo caminho.

Sobre os profundos sentimentosreligiosos do defunto, é iluminadoraa seguinte prece que, quando era ar-cipreste da basílica de São Paulo,acrescentou como apêndice ao seutestamento: «Ó Senhor, peço-te que

Pesar do Santo PadreAo tomar conhecimento da morte do cardeal Andrea Cordero Lanza di Monte-zemolo, o Pontífice enviou à irmã do purpurado, Adriana, o seguinte telegrama.

O falecimento do seu querido irmão, o venerado Cardeal Andrea CorderoLanza di Montezemolo, suscita no meu coração sentimentos de sinceraadmiração por um estimado homem de Igreja que viveu com fidelidade oseu longo e fecundo sacerdócio e episcopado ao serviço do Evangelho eda Santa Sé. Recordo com gratidão a sua generosa obra nas Representa-ções pontifícias de diversos países, especialmente em Papua-Nova Guiné,Nicarágua, Honduras, Uruguai, Israel e Itália, nas quais se dedicou comsabedoria ao bem dessas populações. Destinado como arcipreste da basí-lica papal de São Paulo Extramuros deu testemunho de um compromissoparticularmente intenso e competente quer sob o ponto de vista pastoralquer organizativo e artístico-cultural, destinado a restituir vitalidade espi-ritual ao inteiro complexo e novo impulso à vocação ecuménica daquelelugar de culto. Elevo fervorosas preces de sufrágio a fim de que, por in-tercessão da Virgem Maria e do Apóstolo das nações, o Senhor receba osaudoso Purpurado no júbilo e na paz eterna, e concedo a bênção apos-tólica à Senhora e aos demais familiares, assim como a quantos partilhama dor pela perda de tão zeloso pastor.

FRANCISCO P P.

fases alternadas, a longa doença pre-parou-o para este supremo encontro.

Quando fui visitá-lo, depois quetinha voltado para o seu apartamen-to, a seguir a uma prolongada hospi-talização, impressionou-me a sereni-dade com que esperava a últimachamada do Senhor. Alicerçava-o aconsciência de que o crepúsculo docenário deste mundo coincide com aentrada na alegria eterna do Senhor.Ele esforçou-se por lhe consagrar to-da a sua existência.

Pertencia a uma antiga famíliaaristocrata piemontesa, por geraçõesao serviço dos Saboia. Andrea diMontezemolo nasceu em Turim, fi-lho do coronel medalha de ouroGiuseppe Cordero Lanza di Monte-zemolo, fuzilado aqui em Roma nasFossas ardeatinas a 24 de março de1944, na desumana represália nazistapelo atentado da via Rasella.

Por algumas semanas o coronelGiuseppe di Montezemolo foi presopelas SS alemãs, porque era o chefeda Frente militar clandestina de Ro-ma, e encerrado no cárcere da viaTasso. O cardeal tinha 19 anos quan-do esta enorme tragédia o atingiu,bem como a sua família, a qual sórecebeu a dramática notícia váriassemanas mais tarde.

A sua mãe, Amalia Dematteis, foiauditora leiga durante o Vaticano II.

públicos, e depois foi nomeado se-cretário da Pontifícia comissão «Ius-titia et Pax».

Ordenado arcebispo titular em1977, foi representante do Papa emvárias nações, começando como pró-núncio apostólico na Papua-Nova

Constituída a terceira Secçãoda Secretaria de Estado

O Papa Francisco constituiu a terceira Secção da Se-cretaria de Estado com a denominação de Secção parao pessoal com função diplomática da Santa Sé, refor-çando o atual departamento do delegado para as Re-presentações pontifícias. A notícia foi comunicada pelamesma Secretaria de Estado na manhã de 21 de no-v e m b ro .

A Secção, que dependerá do secretário de Estado,será presidida pelo delegado para as Representaçõespontifícias, atualmente o arcebispo Jan RomeoPa w łowski. Terá a finalidade de demonstrar a atenção ea proximidade do Pontífice e dos superiores da Secre-taria de Estado aos funcionários diplomáticos. Para talfinalidade o delegado para as Representações pontifí-cias poderá prever visitas às sedes das representaçõespontifícias com regularidade.

A terceira Secção ocupar-se-á exclusivamente dasquestões atinentes às pessoas que trabalham no serviçodiplomático da Santa Sé ou que se preparam para isto,como por exemplo a seleção, a formação inicial e per-

manente, as condições de vida e de serviço, as promo-ções, as autorizações.

No exercício destas funções gozará da justa autono-mia e, ao mesmo tempo, procurará estabelecer uma es-treita colaboração com a Secção para os Assuntos ge-rais, que continuará a ocupar-se das questões gerais dasrepresentações pontifícias e com a Secção para as Rela-ções com os Estados, que se ocupará dos aspetos polí-ticos do trabalho das representações pontifícias. Nestesentido, o delegado para as Representações pontifíciasparticipará, juntamente com o substituto para os As-suntos gerais e o secretário para as Relações com osEstados, nas reuniões semanais de coordenação presidi-das pelo secretário de Estado. Além disso, ele convoca-rá e presidirá às reuniões ad hoc para a preparação dasnomeações dos representantes pontifícios. Por fim, seráresponsável, juntamente com o presidente da Pontifíciaacademia eclesiástica, no que diz respeito à seleção e àformação dos candidatos.

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Page 14: Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 OL’ S S E RVATOR E ROMANO · te para o paraíso”», recordou o Papa Francisco durante a missa presidida na manhã de domingo, 19 de

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xado as suas coisas em casa quenão desça: onde estiveres te toma-rão, tomar-te-ão no terraço e tudeixarás tudo».

Contudo, «teremos o Senhor,esta é a beleza do encontro»,tranquilizou o Papa. «Há dias —acrescentou — encontrei um sacer-dote, com cerca de sessenta e cin-co anos: não se sentia bem, foi aomédico» o qual «depois da con-sulta» lhe «disse: “O senhor temeste problema, é uma coisa nega-tiva, mas talvez estejamos a tem-po para o curar, faremos isto; senão resultar faremos esta outracoisa e se não se resolver começa-remos a caminhar e eu o acompa-nharei até ao fim”». Portanto, co-mentou Francisco, «aquele médi-co era bom! Com quanta ternuradisse a verdade; acompanhemo-nos nós também neste caminho,vamos juntos, trabalhemos, faça-mos o bem e tudo, mas sempreolhando para lá».

«Hoje façamos isto» concluiu oPapa, porque «será bom para to-dos parar um pouco e refletiracerca do dia em que o Senhorme vier visitar, me vier tomar pa-ra ir com Ele».

Missaem Santa Marta

INFORMAÇÕESAudiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

No dia 16 de novembroSua Ex.cia o Senhor Alexander Vander Bellen, Presidente da Repúblicada Áustria, com a Ex.ma Esposa e oSéquito.Os seguintes Prelados da Conferên-cia Episcopal do Uruguai, em visita«ad limina Apostolorum»: CardealDaniel Fernando Sturla Berhouet,Arcebispo de Montevidéu, com oAuxiliar D. Milton Luis Tróccoli Ce-bedio, e o Arcebispo Emérito D. Ni-colás Cotugno Fanizzi; D. AlbertoFrancisco María Sanguinetti Monte-ro, Bispo de Canelones, com o Au-xiliar D. Leopoldo Hermes GarínBruzzone, e com o Bispo EméritoD. Orlando Romero Cabrera; D.Martín Fabio Pérez Scremini, Bispode Florida, com o Bispo Emérito D.Raúl Horacio Scarrone Carrero; D.Rodolfo Pedro Wirz Kraemer, Bispode Maldonado Punta del Este; D.Heriberto Andrés Bodeant Fernán-dez, Bispo de Melo; D. Carlos Ma-ría Collazzi Irazábal, Bispo de Mer-cedes; D. Jaime Rafael Fuentes Mar-tín, Bispo de Minas; D. Pablo JaimeGalimberti di Vietri, Bispo de Salto;D. Arturo Eduardo Fajardo Busta-mante, Bispo de San José de Mayo;e o Rev.mo Mons. Edgar ArambilleteUhalde, Administrador Diocesanode Tacuarembó.

No dia 18 de novembroOs Senhores Cardeais Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBispos; Charles Maung Bo, Arcebis-po de Yangon (Myanmar); e JaimeLucas Ortega y Alamino, ArcebispoEmérito de San Cristóbal de La Ha-bana (Cuba).Sua Ex.cia o Senhor Lelio Marmora,Diretor Executivo da UN I TA I D.

No dia 20 de novembroOs Senhores Cardeais Luis AntonioG. Tagle, Arcebispo de Manila (Fili-pinas); e Gérald Cyprien Lacroix,Arcebispo de Quebec (Canadá); e os

seguintes Prelados da ConferênciaEpiscopal da Hungria, em visita «adlimina Apostolorum»: Cardeal PéterE rd ő, Arcebispo de Esztergom-Bu-dapeste, com o Auxiliar D. FerencCserháti; D. Fülöp Kocsis, Arcebis-po da Igreja Metropolitana «sui iu-ris» de Hajdúdorog para os católicosde rito bizantino; D. Imre AsztrikVárszegi, Arquiabade Ordinário dePannonhalma; D. Csaba Ternyák,Arcebispo de Eger; D. Ferenc Palán-ki, Bispo de Debrecen-Nyíregyháza;D. Miklos Beer, Bispo de Vác, como Auxiliar D. Lajos Varga; D. An-drás Veres, Bispo de Győr; D. AntalSpányi, Bispo de Székesfehérvár; D.Atanáz Orosz, Bispo de Miskolc pa-ra os católicos de rito bizantino; oR e v. do Pe. Ábel Szocska, O.S.B.M.,Administrador Apostólico «sede va-cante» de Nyíregyháza para os cató-licos de rito bizantino; D. Balász Bá-bel, Arcebispo de Kalocsa-Kecske-mét; D. Győrgy Udvardy, Bispo dePécs; D. László Kiss-Rigó, Bispo deSzeged-Csanád; D. Gyula Márfi, Ar-cebispo de Veszprém; D. László Var-ga, Bispo de Kaposvár; D. JánosSzékely, Bispo de Szombathely; e D.László Bíró, Bispo Ordinário Militarpara a Hungria.

No dia 22 de novembroNo Estúdio da Sala Paulo VI, SuaEx.cia o Doutor Abdullah bin FahadAllaidan, Conselheiro do Ministrodos Assuntos Islâmicos da Convoca-ção e da Guia, do Reino da ArábiaSaudita.

Ereção de Dioceses

Sua Santidade erigiu:

A 22 de novembroA Diocese de Cruz das Almas (Bra-sil), com território desmembrado daArquidiocese de São Salvador daBahia, tornando-a sufragânea damesma Sede.

Renúncias

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 16 de novembroDe D. William J. Justice, ao cargode Auxiliar da Arquidiocese de SãoFrancisco (E UA ).

No dia 18 de novembroDe D. André Rivest, ao governopastoral da Diocese de Chicoutimi(Canadá).

No dia 21 de novembroDe D. John R. Gaydos, ao governopastoral da Diocese de Jefferson Ci-ty (E UA ).

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

A 18 de novembroPara a XV Assembleia Geral Ordiná-ria do Sínodo dos Bispos, sobre otema Os jovens, a fé e o discernimentovocacional, que terá início no dia 3de outubro de 2018 e se concluíra a28 do mesmo mês:

R e l a t o r - G e ra l : o Senhor Cardeal Sér-gio da Rocha, Arcebispo de Brasíliae Presidente da CNBB; eSecretários especiais: os Rev.dos Pa -dres Giacomo Costa, S.I., e RossanoSala, S.D.B.Bispo de Chicoutimi (Canadá), oR e v. do Pe. René Guay, do clero damesma Sede, até hoje Capelão dasEstruturas de detenção de Quebec.

D. René Guay nasceu a 4 de setem-bro de 1950, em Saint-Thomas-Didyme(Canadá). Foi ordenado Sacerdote nodia 13 de julho de 1975.

Coadjutor de Caroline Islands (Mi-cronésia), o Rev.do Pe. Julio Angkel,do clero da mesma Diocese, até hojePároco da Holy Family Parish, Dire-tor do departamento para as voca-ções e a formação, e Diretor daSaint John Vianney Formation Hou-se.

D. Julio Angkel nasceu a 12 deabril de 1954, na ilha de Parem (Mi-cronésia). Recebeu a Ordenação sacer-dotal no dia 3 de dezembro de 1983.

Auxiliar de Gliwice (Polónia), oR e v. mo Mons. Andrzej Iwanecki, atéagora Pároco da paróquia de SãoFrancisco de Assis em Zabrze, simul-taneamente eleito Bispo Titular deA rc a v i c a .

D. Andrzej Iwanecki nasceu a 3 denovembro de 1960, em SiemianowiceŚląskie (Polónia). Foi ordenado Sacer-dote no dia 27 de março de 1986.

A 20 de novembroAuxiliar de Buenos Aires (Argenti-na), o Rev.do Pe. Gustavo OscarCarrara, até agora Vigário Episcopalpara as «Villas de emergencia» e Pá-roco da Paróquia Santa María, Ma-dre del Pueblo em Buenos Aires, si-multaneamente eleito Bispo Titularde Tasbalta.

D. Gustavo Oscar Carrara nasceu a24 de maio de 1973, em Buenos Aires(Argentina). Recebeu a Ordenação sa-cerdotal no dia 24 de outubro de1998.

Auxiliar de Lomas de Zamora (Ar-gentina), o Rev.do Pe. Jorge IgnacioGarcía Cuerva, do clero da Diocesede San Isidro, até esta data Párocoda Paróquia Nuestra Señora de laCava a Beccar, simultaneamente elei-to Bispo Titular de Lacubaza.

D. Jorge Ignacio García Cuervanasceu na província de Santa Cruz(Argentina), no dia 12 de abril de1968. Foi ordenado Sacerdote a 24 deoutubro de 1997.

A 21 de novembroBispo de Jefferson City (E UA ), oR e v. do Pe. W. Shawn McKnight, doclero da Diocese de Wichita, atéagora Pároco da «Church of theMagdalen Parish» em Wichita.

D. W. Shawn McKnight nasceu a26 de junho de 1968, em Wichita(EUA). Recebeu a Ordenação sacerdo-tal no dia 28 de maio de 1994.

Bispo de Nashville (E UA ), o Rev.mo

Mons. J. Mark Spalding, do cleroda Arquidiocese de Louisville, até àpresente data Vigário-Geral e Párocoda «Holy Trinity Parish» e da «Ho-ly Name Parish», em Louisville.

D. J. Mark Spalding nasceu a 13de janeiro de 1965, em Lebanon(EUA). Foi ordenado Sacerdote no dia3 de agosto de 1991.

A 22 de novembro

Primeiro Bispo da Diocese de Cruzdas Almas (Brasil), D. Antônio Tou-rinho Neto, até hoje Auxiliar da Ar-quidiocese de Olinda e Recife.

Bispo de Mannar (Sri Lanka), D.Fidelis Lionel Emmanuel Fernando,até agora Auxiliar de Colombo..

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Exp etativap erseverante

me concedas: / uma graça gene-rosa que me guie, / uma vontadeforte que te procure, / uma sabe-doria humilde que te conheça, /uma fé profunda que te adore, /uma gratidão sincera que te lou-ve, / uma esperança confiante queme conforte, / uma caridade ar-dente que me consuma, / umaconduta honesta que me corrobo-re, / uma penitência viva que mepurifique, / uma expetativa hu-milde que me perdoe, / uma per-severança paciente que te aguar-de, / uma confiança segura que tealcance. / Amém!».

Agora esta sua «perseverançana espera da vinda de Cristo,com a qual se conclui esta oração,encontrou o seu cumprimento noencontro com Deus, na imensida-de do seu amor e da sua miseri-c ó rd i a .

Comunicado doSínodo dos bisposNa conclusão do conselho de se-cretaria do Sínodo dos bispos,que teve lugar nos dias 16 e 17 denovembro, o Pontífice anunciou anomeação do relator-geral na pes-soa do cardeal Sérgio da Rocha,arcebispo de Brasília e presidenteda CNBB; e dos secretários espe-ciais nas pessoas dos Rev.dos pa-dres Giacomo Costa, jesuíta, eRossano Sala, salesiano, para apróxima assembleia geral ordiná-ria do Sínodo dos bispos, que te-rá lugar no Vaticano de 3 a 28 deoutubro de 2018. A nomeação dedois secretários especiais está emconformidade com o artigo 14 § 3do Ordo Synodi Episcoporum (cf.cânone 348 § 2 do c.i.c.). Tal fun-ção pode ser confiada a eclesiásti-cos não bispos, como já aconte-ceu no passado em diversas as-sembleias sinodais.

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Arrastados pelo ressuscitadopara a vitória

Na audiência geral o Pontífice prosseguiu as reflexões sobre a importância da missaNa missa «Jesus arrasta também anós para fazer a Páscoa com Ele».Continuando as reflexões sobre aimportância da celebração eucarística, oPapa Francisco, durante a audiênciageral de quarta-feira, 22 de novembro,na praça de São Pedro, explicou osignificado da palavra «memorial» edisse que a missa «não é apenas umarecordação, é mais do que isso:significa lembrar o que aconteceu hávinte séculos».

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!Prosseguindo as Catequeses sobre aMissa, podemos questionar-nos: oque é essencialmente a Missa? AMissa é o memorial do Mistério pascalde Cristo. Ela torna-nos partícipes dasua vitória sobre o pecado e a morte,e confere pleno significado à nossavida.

Por esta razão, a fim de compre-ender o valor da Missa devemos en-tão entender em primeiro lugar osignificado bíblico do “memorial”.Ele «não é somente a lembrança dosacontecimentos do passado, mas...tornam-se de certo modo presentes eactuais. É assim que Israel entende asua libertação do Egito: sempre quese celebrar a Páscoa, os aconteci-mentos do Êxodo tornam-se presen-tes à memória dos crentes, para queconformem com eles a sua vida»(Catecismo da Igreja Católica, 1363).Jesus Cristo, com a sua paixão, mor-te, ressurreição e ascensão ao céu le-vou a cumprimento a Páscoa. E aMissa é o memorial da sua Páscoa,do seu “êxo do”, que cumpriu pornós, para nos fazer sair da escravi-dão e nos introduzir na terra prome-tida da vida eterna. Não é somenteuma lembrança, não, é mais do queisso: significa evocar o que aconte-ceu há vinte séculos.

A Eucaristia leva-nos sempre aoápice da ação de salvação de Deus:o Senhor Jesus, tornando-se pãopartido para nós, derrama sobre nóstoda a sua misericórdia e o seuamor, como fez na cruz, de modo arenovar o nosso coração, a nossaexistência e a nossa forma de nos re-lacionarmos com Ele e com os ir-mãos. O Concílio Vaticano II afirma:«Sempre que no altar se celebra osacrifício da cruz, na qual Cristo,nossa Páscoa, foi imolado, realiza-setambém a obra da nossa redenção»(Cost. dogm. Lumen gentium, 3).

Cada celebração da Eucaristia éum raio daquele sol sem ocaso que éJesus ressuscitado. Participar naMissa, em particular aos domingos,significa entrar na vitória do Ressus-citado, ser iluminados pela sua luz,abrasados pelo seu calor. Através dacelebração eucarística o EspíritoSanto torna-nos partícipes da vidadivina que é capaz de transfigurartodo o nosso ser mortal. E na suapassagem da morte para a vida, dotempo para a eternidade, o SenhorJesus arrasta também a nós com Elepara fazer a Páscoa. Na Missa faz-sea Pascoa. Nós, na Missa, estamoscom Jesus, morto e ressuscitado eEle arrasta-nos em frente, para a vi-da eterna. Na Missa unimo-nos a

nos afastam de algo tão bonito queé a Missa, o triunfo de Jesus.

Penso que agora é mais claro quea Páscoa se torna presente e ativa to-das as vezes que celebramos a Missa,ou seja, o sentido do memorial. Aparticipação na Eucaristia faz-nosentrar no mistério pascal de Cristo,concedendo-nos a oportunidade depassar com Ele da morte para a vi-da, ou seja, no calvário. A Missa sig-nifica repercorrer o calvário, não éum espetáculo.

No final da audiência, o Santo Padrerecordou a coleta organizada, parasábado próximo, pela Fundação Bancoalimentar, realçando que esta iniciativadá continuidade ao dia mundial dospobres celebrado no domingo passado.Por fim, saudou os vários gruposlinguísticos presentes, dirigindo aos deexpressão portuguesa as seguintesp a l a v ra s .

Amados peregrinos de língua portu-guesa, cordiais saudações a todosvós, de modo particular ao grupo deNova Suíça, Belo Horizonte: convi-do-vos a olhar com confiança o vos-so futuro em Deus, levando o fogodo seu amor ao mundo. É a graçada Páscoa que frutifica na Eucaristiae que desejo abundante nas vossasvidas, famílias e comunidades. Debom grado abençoo a vós e aos vos-sos entes queridos!

Dirijo um pensamento especialtambém aos jovens, aos doentes eaos recém casados. Hoje celebramosa memória de Santa Cecília. Queri-dos jovens, seguindo o seu exemplo,crescei na fé e na dedicação ao pró-ximo; queridos doentes, no sofri-mento experimentai a ajuda de Cris-to que está sempre ao lado de quemvive a provação; e vós, queridos re-cém-casados, tende o mesmo olharde amor puro que teve Santa Cecí-lia, para aprender a amar incondicio-nalmente. E rezemos a todos SantaCecília: que nos ensine a cantar como coração, que nos ensine o júbilode ser salvos.

Ele. Aliás, Cristo vive em nós e nósvivemos n’Ele: «Estou crucificadocom Cristo — diz Paulo — , já nãosou eu que vivo, mas é Cristo quevive em mim. A minha vida presen-te, na carne, eu a vivo na fé no Fi-lho de Deus, que me amou e se en-tregou por mim» (Gl 2, 19-20). Pau-lo pensava desta forma.

Com efeito, o seu sangue liberta-nos da morte e do medo da morte.Liberta-nos não só do domínio damorte física, mas da morte espiritualque é o mal, o pecado, que se apo-dera de nós todas as vezes que so-mos vítimas do pecado nosso ealheio. E então a nossa vida é conta-minada, perde beleza, perde signifi-cado, desflorece.

Ao contrário, Cristo restitui-nos avida; Cristo é a plenitude da vida, equando enfrentou a morte aniqui-lou-a para sempre: «ressuscitandodos mortos, venceu a morte e reno-vou vida», confessa a Igreja cele-brando a Eucaristia (Oração eucarís-tica IV). A Páscoa de Cristo é a vitó-ria definitiva sobre a morte, porqueEle transformou a sua morte em atosupremo de amor. Morreu por amor!E na Eucaristia, Ele quer comunicar-nos este seu amor pascal, vitorioso.Se o recebermos com fé, tambémnós podemos amar verdadeiramentea Deus e ao próximo, podemosamar como Ele nos amou, oferecen-do a vida.

Se o amor de Cristo estiver emmim, posso doar-me plenamente aooutro, na certeza interior que mesmose o outro me ferir eu não morrerei;caso contrário, teria que me defen-der. Os mártires ofereceram a pró-pria vida devido a esta certeza da vi-tória de Cristo sobre a morte. Só seexperimentarmos este poder de Cris-to, o poder do seu amor, seremosrealmente livres de nos doarmos sem

medo. É este o significado da Missa:entrar nesta paixão, morte, ressurrei-ção, ascensão de Jesus; quando va-mos à Missa é como se fôssemos aocalvário, a mesma coisa. Mas pensai:no momento da Missa vamos ao cal-vário — usemos a imaginação — e sa-bemos que aquele homem ali é Je-sus. Mas, será que nos permitiríamosconversar, tirar fotografias, dar umpouco de espetáculo? Não! Porque éJesus! Certamente estaríamos em si-lêncio, no pranto e também na ale-gria de sermos salvos. Quando en-tramos na Igreja para celebrar aMissa pensemos nisto: entro no cal-vário, onde Jesus oferece a sua vidapor mim. E assim desaparece o espe-táculo, desaparecem as tagarelices,os comentários e estas coisas que

Millie Gift Smith, «He is Risen»

Antes da audiência geral, o Papa recebeu, no gabinete da Sala Paulo VI,o doutor Abdullah bin Fahad Allaidan, conselheiro do ministro

dos Assuntos islâmicos da convocação e da guia do reino da Arábia Saudita,na chefia da delegação composta por outras personalidades sauditas