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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano LI, número 20 (2.647) Cidade do Vaticano terça-feira 19 de maio de 2020 Atualidade de um testemunho ANDREA TORNIELLI A 27 de outubro de 1986, num momento dramático da nossa his- tória recente, em que a perspetiva de uma guerra nuclear era concre- ta, São João Paulo II convocou corajosamente representantes das religiões do mundo a Assis, ven- cendo muitas resistências internas. «O encontro de tantos líderes reli- giosos para rezar — afirmou, — é em si um convite ao mundo de hoje para tomar consciência de que existe outra dimensão da paz e outra forma de a promover, que não é o resultado de negociações, compromissos políticos ou acordos económicos. Mas o resultado da oração, que, apesar da diversidade das religiões, exprime uma relação com um poder supremo que ultra- passa as nossas simples capacida- des humanas». «Estamos aqui — acrescentou o Papa Wojtyła — porque temos a certeza de que existe uma necessi- dade de oração intensa e humilde, de oração confiante, para que o mundo se torne finalmente um lu- gar de paz verdadeira e permanen- te». Neste 18 de maio celebrámos o centenário do nascimento do gran- de Pontífice que veio do além cor- tina de ferro, que no seu longo serviço petrino guiou a Igreja para o novo milénio, assistiu à queda do Muro que dividia a Europa em duas, esperava ver nascer uma no- va era de paz mas, em vez disso, teve de enfrentar — já idoso e doente — novas guerras e um ter- rorismo desestabilizador e impla- cável, que abusa do nome de Deus para semear morte e destruição. E para combater isto, em janeiro de 2002, voltou a convocar as reli- giões em Assis sem nunca ceder à ideologia do choque de civiliza- ções, centrando sempre tudo, até ao fim, no encontro entre povos, culturas, religiões. Ele testemu- nhou uma fé rochosa, uma ascese de grande místico, uma humanida- de transbordante. Falou a todos e nunca deixou de procurar evitar de todas as maneiras a eclosão de conflitos, para promover transições pacíficas, paz e justiça. Viajou por todo o globo, para abraçar os po- vos do mundo, anunciando o Evangelho. Lutou para defender a dignidade de toda a vida humana. Fez uma visita histórica à Sinago- ga de Roma. Foi o primeiro Papa da história que atravessou o limiar de uma mesquita. Navegou na ro- ta traçada pelo Concílio Vaticano II. Soube percorrer caminhos no- vos e inexplorados, declarando-se também disposto a discutir sobre a maneira de exercer o ministério de Pedro para promover a unidade dos cristãos. O seu testemunho é atual como nunca. Francisco celebrou a missa junto do túmulo do Pontífice polaco no centenário do nascimento Com João Paulo II Deus visitou o seu povo Mensagem para o Dia mundial do migrante e do refugiado O drama invisível dos deslocados internos exacerbado pela pandemia «Hoje recordamos a grande fé e o exemplo de #SanGiovanniPaoloII; ouçamos o seu apelo a abrir as por- tas a Cristo, a não termos medo». Com um tweet na conta @Pontifex, o Papa Francisco recordou também nas redes sociais o testemunho lumi- noso do seu predecessor polaco no centenário do seu nascimento. Era o dia 18 de maio de 1920 quando o se- gundo filho do casal Wojtyła veio à luz em Wadowice: 58 anos depois, a 16 de outubro, como cardeal arcebis- po de Cracóvia, Karol foi eleito à Sé de Pedro e guiou a Igreja para o no- vo milénio. Por isso, na segunda-fei- ra de manhã, o seu sucessor argenti- no quis reavivar a relevância da sua mensagem: «Caminhemos felizes», exortou, «pelas sendas do mundo, seguindo os passos dos gigantes que nos precederam: nunca estamos sós», garantiu. Mas foi sobretudo na missa come- morativa, celebrada de manhã na Basílica do Vaticano, junto do tú- mulo do Santo Pontífice e transmiti- da ao vivo nos cinco continentes, que Francisco desenhou um retrato extraordinário dele como pastor, através do qual — disse — Deus «vi- sitou o seu povo». Os convidados de honra eram algumas pessoas po- bres que recebem assistência nas es- truturas caritativas nas proximidades de São Pedro. Na homilia o Papa evocou os “traços” de bom pastor deixado pelo Papa Wojtyła no seu ministério. Francisco aprofundou em particular três: a oração, a proximidade ao po- vo e o amor à justiça. Em relação ao primeiro, explicou que ele rezava muito, pois «sabia que a primeira tarefa de um bispo é rezar». Quanto ao segundo, o Pontífice salientou que João Paulo II «foi visitar o po- vo; e percorreu o mundo inteiro, pa- ra se fazer próximo». Por fim, o tra- ço da «justiça plena»: ele «queria justiça social, a justiça do povo, a justiça que afasta as guerras» e por isso «era homem de misericórdia», pois «justiça e misericórdia cami- nham juntas». Publicamos nas páginas 4 e 5 a carta do Santo Padre ao reitor da Pontifícia universidade São Tomás de Aquino para a inauguração do Instituto de cultura São João Paulo II, a mensagem em vídeo aos jovens de Cracóvia e a homilia de Francis- co na missa celebrada junto do tú- mulo do Pontífice polaco no cente- nário do nascimento. «Quando se fala de migrantes e deslocados com muita frequên- cia, ficamos pelos números. Mas... trata-se de pessoas! ... e conhecendo as suas histórias... podemos compreender, por exemplo, que a precariedade que vivemos com o sofrimento devido à pandemia é um ele- mento constante na vida das pessoas deslocadas». Esta é uma das passagens mais signifi- cativas e atuais — porque está ligada à situação da crise pro- vocada pelo coronavírus — da mensagem do Papa Francisco para o próximo Dia mundial do migrante e do refugiado, que será celebrado no dia 27 de setembro, 26º domingo do tem- po comum. PÁGINAS 6 E 7 Uma mulher síria com o filho ao colo num campo de deslocados no nordeste do país (Afp)

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano LI, número 20 (2.647) Cidade do Vaticano terça-feira 19 de maio de 2020

Atualidadede um testemunho

ANDREA TORNIELLI

A 27 de outubro de 1986, nummomento dramático da nossa his-tória recente, em que a perspetivade uma guerra nuclear era concre-ta, São João Paulo II convo coucorajosamente representantes dasreligiões do mundo a Assis, ven-cendo muitas resistências internas.«O encontro de tantos líderes reli-giosos para rezar — afirmou, — éem si um convite ao mundo dehoje para tomar consciência deque existe outra dimensão da paze outra forma de a promover, quenão é o resultado de negociações,compromissos políticos ou acordoseconómicos. Mas o resultado daoração, que, apesar da diversidadedas religiões, exprime uma relaçãocom um poder supremo que ultra-passa as nossas simples capacida-des humanas».

«Estamos aqui — acrescentou oPapa Wojtyła — porque temos acerteza de que existe uma necessi-dade de oração intensa e humilde,de oração confiante, para que omundo se torne finalmente um lu-gar de paz verdadeira e permanen-te».

Neste 18 de maio celebrámos ocentenário do nascimento do gran-de Pontífice que veio do além cor-tina de ferro, que no seu longoserviço petrino guiou a Igreja parao novo milénio, assistiu à quedado Muro que dividia a Europa emduas, esperava ver nascer uma no-va era de paz mas, em vez disso,teve de enfrentar — já idoso edoente — novas guerras e um ter-rorismo desestabilizador e impla-cável, que abusa do nome de Deuspara semear morte e destruição. Epara combater isto, em janeiro de2002, voltou a convocar as reli-giões em Assis sem nunca ceder àideologia do choque de civiliza-ções, centrando sempre tudo, atéao fim, no encontro entre povos,culturas, religiões. Ele testemu-nhou uma fé rochosa, uma ascesede grande místico, uma humanida-de transbordante. Falou a todos enunca deixou de procurar evitarde todas as maneiras a eclosão deconflitos, para promover transiçõespacíficas, paz e justiça. Viajou portodo o globo, para abraçar os po-vos do mundo, anunciando oEvangelho. Lutou para defender adignidade de toda a vida humana.Fez uma visita histórica à Sinago-ga de Roma. Foi o primeiro Papada história que atravessou o limiarde uma mesquita. Navegou na ro-ta traçada pelo Concílio VaticanoII. Soube percorrer caminhos no-vos e inexplorados, declarando-setambém disposto a discutir sobrea maneira de exercer o ministériode Pedro para promover a unidadedos cristãos. O seu testemunho éatual como nunca.

Francisco celebrou a missa junto do túmulo do Pontífice polaco no centenário do nascimento

Com João Paulo IIDeus visitou o seu povo

Mensagem para o Dia mundial do migrante e do refugiado

O drama invisível dos deslocadosinternos exacerbado pela pandemia

«Hoje recordamos a grande fé e oexemplo de #SanGiovanniPaoloII;ouçamos o seu apelo a abrir as por-tas a Cristo, a não termos medo».Com um tweet na conta @Pontifex,o Papa Francisco recordou tambémnas redes sociais o testemunho lumi-noso do seu predecessor polaco nocentenário do seu nascimento. Era odia 18 de maio de 1920 quando o se-gundo filho do casal Wojtyła veio àluz em Wadowice: 58 anos depois, a16 de outubro, como cardeal arcebis-po de Cracóvia, Karol foi eleito à Séde Pedro e guiou a Igreja para o no-vo milénio. Por isso, na segunda-fei-ra de manhã, o seu sucessor argenti-no quis reavivar a relevância da suamensagem: «Caminhemos felizes»,exortou, «pelas sendas do mundo,seguindo os passos dos gigantes quenos precederam: nunca estamossós», garantiu.

Mas foi sobretudo na missa come-morativa, celebrada de manhã naBasílica do Vaticano, junto do tú-mulo do Santo Pontífice e transmiti-da ao vivo nos cinco continentes,que Francisco desenhou um retratoextraordinário dele como pastor,através do qual — disse — Deus «vi-sitou o seu povo». Os convidadosde honra eram algumas pessoas po-bres que recebem assistência nas es-truturas caritativas nas proximidadesde São Pedro.

Na homilia o Papa evocou os“traços” de bom pastor deixado peloPapa Wojtyła no seu ministério.Francisco aprofundou em particulartrês: a oração, a proximidade ao po-vo e o amor à justiça. Em relação aoprimeiro, explicou que ele rezavamuito, pois «sabia que a primeiratarefa de um bispo é rezar». Quanto

ao segundo, o Pontífice salientouque João Paulo II «foi visitar o po-vo; e percorreu o mundo inteiro, pa-ra se fazer próximo». Por fim, o tra-ço da «justiça plena»: ele «queriajustiça social, a justiça do povo, ajustiça que afasta as guerras» e porisso «era homem de misericórdia»,pois «justiça e misericórdia cami-nham juntas».

Publicamos nas páginas 4 e 5 acarta do Santo Padre ao reitor daPontifícia universidade São Tomásde Aquino para a inauguração doInstituto de cultura São João PauloII, a mensagem em vídeo aos jovensde Cracóvia e a homilia de Francis-co na missa celebrada junto do tú-mulo do Pontífice polaco no cente-nário do nascimento.

«Quando se fala de migrantes edeslocados com muita frequên-cia, ficamos pelos números.Mas... trata-se de pessoas! ... econhecendo as suas histórias...podemos compreender, porexemplo, que a precariedadeque vivemos com o sofrimentodevido à pandemia é um ele-mento constante na vida daspessoas deslocadas». Esta éuma das passagens mais signifi-cativas e atuais — porque estáligada à situação da crise pro-vocada pelo coronavírus — damensagem do Papa Franciscopara o próximo Dia mundialdo migrante e do refugiado,que será celebrado no dia 27 desetembro, 26º domingo do tem-po comum.

PÁGINAS 6 E 7Uma mulher síria com o filho ao colo num campo

de deslocados no nordeste do país (Afp)

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 19 de maio de 2020, número 20

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Cidade do Vaticanoredazione.p ortoghese.or@sp c.va

w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a

ANDREA MONDAd i re t o r

Giuseppe Fiorentinov i c e - d i re t o r

Redaçãovia del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano

telefone +390669899420fax +390669883675

TIPO GRAFIA VAT I C A N A EDITRICEL’OS S E R VAT O R E ROMANO

Serviço fotográficotelefone +390669884797

fax +390669884998p h o t o @ o s s ro m .v a

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Mensagem do Pontífice para o Dia internacional dedicado aos enfermeiros

Bons samaritanos que guardam e servem a vidaApelo a investir mais recursos na saúde, bem comum primário

Olga Bakhtina, «Bom samaritano» (2016)

Um apelo «aos Responsáveis das Nações de todo omundo, para que invistam na saúde como bemcomum primário» foi feito pelo Pontífice numamensagem difundida por ocasião do Diainternacional do enfermeiro, que se celebra a 12 demaio no contexto do Ano internacional dosenfermeiros e obstetras proclamado pelaOrganização mundial da saúde. A seguir, o textoda mensagem.

Queridos irmãos e irmãs!Celebramos hoje o Dia Internacional da Enfer-magem, no contexto do Ano Internacional doEnfermeirp e da Obstetra, proclamado pela Or-ganização Mundial da Saúde. Neste mesmo dia,recordamos também o bicentenário do nasci-mento de Florence Nightingale, que deu inícioà enfermagem moderna.

Neste momento histórico, marcado pelaemergência de saúde mundial provocada pelapandemia do vírus Covid-19, redescobrimos opapel de importância fundamental que a pessoado enfermeiro, como também a da obstetra, de-sempenha. Diariamente assistimos ao testemu-nho de coragem e sacrifício dos profissionais desaúde, nomeadamente enfermeiras e enfermei-ros, que, com profissionalismo, abnegação, sen-tido de responsabilidade e amor ao próximo,prestam assistência às pessoas afetadas pelo ví-rus, com risco da própria saúde. Prova dissomesmo é o alto número de profissionais de saú-de que, infelizmente, morreram no fiel cumpri-mento do seu serviço. Rezo por eles — o Senhorconhece-os todos pelo nome — e por todas asvítimas desta epidemia. O Senhor ressuscitadoconceda a cada um a luz do Paraíso e, às suasfamílias, o conforto da fé.

Os enfermeiros sempre tiveram um papelcentral na assistência sanitária. No contacto diá-rio com os doentes, fazem experiência do trau-ma que o sofrimento provoca na vida dumapessoa. São homens e mulheres que optarampor dizer “sim” a uma vocação específica: serbons samaritanos que se ocupam da vida e dasferidas do próximo. Guardiões e servidores davida, ao mesmo tempo que ministram as tera-pias necessárias, infundem coragem, esperança econfiança (Cf. Nova Carta dos Profissionais deSaúde, nn. 1-8).

Queridas enfermeiras, queridos enfermeiros, aresponsabilidade moral guie o vosso profissiona-lismo, que não se há de limitar aos conhecimen-tos técnico-científicos, mas aparecer constante-mente iluminado pela relação humana e huma-nizadora com o doente. «Ocupando-vos de mu-lheres e homens, crianças e idosos, em cada faseda sua vida, do nascimento à morte, estais com-prometidos numa escuta contínua, destinada acompreender as exigências daquele doente, nafase que está a atravessar. Com efeito, diante dasingularidade de cada situação, nunca é sufi-ciente seguir um protocolo, mas é exigido umcontínuo — e cansativo! — esforço de discerni-mento e de atenção a cada pessoa» (Francisco,Discurso aos membros da Federação Italiana dasOrdens das Profissões de Enfermagem, 3/III/2018).

Vós, assim como as obstetras, estais junto dapessoa nos momentos cruciais da sua existência— o nascimento e a morte, a doença e a cura —,para a ajudar a superar as situações mais trau-máticas. Às vezes encontrais-vos ao lado dela

quando está a morrer, oferecendo-lhe conforto ealívio nos últimos momentos. Por esta vossa de-dicação, estais entre «os santos de ao pé da por-ta» (Francisco, Homilia na Missa da Ceia do Se-n h o r, 09/IV/2020). Sois imagem daquela Igreja«hospital de campanha» que dá continuidade àmissão de Jesus Cristo: Ele aproximou-Se e cu-rou pessoas que sofriam de todo o género demales e ajoelhou-Se a lavar os pés dos seus dis-cípulos. Obrigado por este vosso serviço à hu-manidade!

Em vários países, a pandemia fez vir à luztambém muitas carências a nível da assistênciasanitária. Por isso, apelo aos Responsáveis dasnações de todo o mundo para que invistam nes-te bem comum primário que é a saúde, refor-çando as estruturas e empregando mais enfer-meiros, para se garantir a todos um atendimen-to adequado, no respeito pela dignidade de ca-da pessoa. É importante reconhecer, com factos,o papel essencial que desempenha esta profissãono cuidado dos pacientes, nas atividades territo-riais de emergência, na prevenção das doenças,na promoção da saúde, na assistência aos seto-res familiar, comunitário e escolar.

Os enfermeiros e as enfermeiras, bem comoas obstetras, têm direito e merecem ser mais va-lorizados e coenvolvidos nos processos que di-zem respeito à saúde das pessoas e da comuni-dade. Está comprovado que investir neles me-lhora os resultados em termos de assistência esaúde geral. Portanto, é necessário elevar o seuperfil profissional, fornecendo instrumentos ade-quados para a sua formação a nível científico,humano, psicológico e espiritual, bem comomelhorar as suas condições de trabalho e garan-

tir os seus direitos, para que possam desempe-nhar com toda a dignidade o seu serviço.

Neste sentido, às Associações dos profissio-nais de saúde cabe uma função importante, asquais, além de oferecer uma formação orgânica,acompanham individualmente os respetivos ade-rentes, fazendo-os sentir-se parte dum únicocorpo e não os deixando desorientados e sozi-nhos perante os desafios éticos, económicos ehumanos que a profissão comporta.

Agora dirigindo-me de forma particular àsobstetras, que prestam assistência às mulheresgrávidas e as ajudam a dar à luz os seus filhos,digo: o vosso trabalho conta-se entre os maisnobres que existem, por estar consagrado comoestá diretamente ao serviço da vida e da mater-nidade. Na Bíblia, quase no início do livro doÊxodo (cf. 1, 15-21), ficaram imortalizados osnomes de duas parteiras heroicas: Chifra e Pua.Também hoje o Pai celeste olha para vós comgratidão.

Queridos enfermeiros, queridas enfermeiras eobstetras, que esta ocorrência coloque no centroa dignidade do vosso trabalho, em benefício dasaúde da sociedade inteira. Por vós, pelas vos-sas famílias e por quantos assistis e cuidais, as-seguro a minha oração e, de coração, concedo aBênção Apostólica.

Roma, em São João de Latrão,12 de maio de 2020.

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número 20, terça-feira 19 de maio de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Deus é como um paiao qual se pode pedir tudo

O Papa prosseguiu a reflexão sobre a oração

C AT E Q U E S E

Um pai ao qual se pode pedir tudo: foi esta a imagem terna de Deus escolhidapor Francisco para falar da oração na audiência geral de quarta-feira 13 demaio, realizada ainda na Biblioteca particular, sem a presença de fiéis devidoàs medidas de distanciamento social impostas pela pandemia de Covid-19.Retomando o ciclo de catequeses inaugurado na semana passada, o Pontíficecomentou a leitura bíblica do livro dos Salmos (63, 2-5.9) para aprofundar otema da oração do cristão.

no Jordão, no prodígio das bodasde Caná. O Evangelho de Joãoconclui o grande hino do Prólogocom esta afirmação sintética: «Nin-guém jamais viu a Deus: o Filhoúnico, que está no seio do Pai, foiquem o revelou» (1, 18). Foi Jesusquem nos revelou Deus.

A oração do cristão entra em re-lação com o Deus de rosto profun-damente terno, que não quer incu-tir medo algum aos homens. Esta éa primeira caraterística da prececristã. Se os homens desde sempreestavam habituados a aproximar-sede Deus com um pouco de timi-dez, um pouco apavorados diantedeste mistério fascinante e terrível,se se tinham habituado a adorá-locom uma atitude servil, semelhanteà de um servo que não quer desres-peitar o seu senhor, ao contrário oscristãos dirigem-se a Ele ousandochamá-lo de modo confidente, como nome de “Pa i ”. Na verdade, Je-sus usa outra palavra: “paizinho”.

O cristianismo eliminou do vín-culo com Deus todas as relações“feudais”. No património da nossafé não existem expressões como“subjugação”, “escravatura” ou“vassalagem”; mas sim palavras co-mo “aliança”, “amizade”, “p ro m e s -sa”, “comunhão”, “p ro x i m i d a d e ”.No seu longo discurso de despedi-da dos discípulos, Jesus diz assim:«Já não vos chamo servos, porqueo servo não sabe o que faz o seusenhor; mas chamei-vos amigos,porque vos dei a conhecer tudo oque ouvi de meu Pai. Não fostesvós que me escolhestes, mas foi Euque vos escolhi e vos constituí, pa-ra irdes e dardes fruto, e para queo vosso fruto permaneça; a fim deque tudo quanto pedirdes ao Paiem meu nome, Ele vo-lo conceda»(Jo 15, 15-16). Mas trata-se de umcheque em branco: “Tudo o quepedirdes ao meu Pai em meu no-me, Eu vo-lo concederei”!

Deus é o amigo, o aliado, o es-poso. Na oração pode-se estabele-cer uma relação de confiança comEle, a ponto que no “Pa i - N o s s o ”Jesus nos ensinou a dirigir-lhe umasérie de pedidos. A Deus podemos

pedir tudo, tudo; explicar tudo,contar tudo. Não importa se nonosso relacionamento com Deusnos sentimos em falta: não somosbons amigos, não somos filhosagradecidos, não somos espososfiéis. Ele continua a amar-nos. É oque Jesus demonstra definitivamen-te na Última Ceia, quando diz:«Este cálice é a nova aliança nomeu sangue, que é derramado porvós» (Lc 22, 20). Naquele gesto,Jesus antecipa no Cenáculo o mis-tério da Cruz. Deus é um aliadofiel: até quando os homens deixamde amar, Ele continua a amar, mes-mo que o amor o leve ao Calvário.Deus está sempre perto da portado nosso coração e espera que lheabramos. E às vezes bate à portado coração, mas não é indiscreto:espera. A paciência de Deus con-nosco é a paciência de um pai, dealguém que nos ama muito. Diriaque é a paciência de um pai e aomesmo tempo de uma mãe. Sem-pre perto do nosso coração, equando bate à porta, fá-lo com ter-nura e com muito amor.

Procuremos todos rezar assim,entrando no mistério da Aliança.Colocar-nos em oração nos braçosmisericordiosos de Deus, sentir-nosenvolvidos por esse mistério de fe-licidade que é a vida trinitária, sen-tir-nos como convidados que nãomereciam tanta honra. E, no as-sombro da oração, repetir a Deus:é possível que Tu só conheçasamor? Ele não conhece o ódio. Eleé odiado, mas não conhece o ódio.Só conhece o amor. Tal é o Deus aquem rezamos. Eis o núcleo incan-descente de toda a oração cristã. ODeus de amor, o nosso Pai que nosespera e nos acompanha.

No final da catequese, antes derecitar o Pai-Nosso e conceder abênção, o Pontífice saudou em váriaslínguas os fiéis que o seguiam atravésda mídia. Em particular, no dia deNossa Senhora de Fátima, recordou oatentado de 1981 a João Paulo II eo iminente centenário do seunascimento.

Saúdo os ouvintes de língua portu-guesa e, neste dia 13 de maio, a to-dos encorajo a conhecer e seguir oexemplo da Virgem Maria. Para is-to procuremos viver este mês comuma oração diária mais intensa efiel, em particular rezando o terço,como recomenda a Igreja, obede-cendo a um desejo repetidamenteexpresso em Fátima por Nossa Se-nhora. Sob a sua proteção, vereisque os sofrimentos e as aflições davida serão mais suportáveis. Hoje,gostaria de me abeirar, com o cora-ção, à diocese de Leiria-Fátima, aosantuário de Nossa Senhora. Saú-do todos os peregrinos que lá estãoem oração; saúdo o Cardeal Bispo,saúdo a todos. Todos unidos aNossa Senhora, para que nosacompanhe neste caminho de con-versão diária rumo a Jesus. QueDeus vos abençoe!

Dirijo um pensamento especialaos jovens, aos idosos, aos doentese aos recém-casados. Recorrei cons-tantemente à ajuda de Nossa Se-nhora; nela encontramos uma Mãecarinhosa e terna, refúgio seguronas adversidades.

Saúdo os fiéis de língua italiana.No aniversário da primeira Apari-ção aos pequenos videntes de Fáti-ma, convido-vos a invocar a Vir-gem Maria a fim de que cada umpersevere no amor a Deus e aopróximo. Concedo a minha bênçãoa todos!

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!Hoje damos o segundo passo nocaminho de catequeses sobre a ora-ção, iniciado na semana passada.

A oração pertence a todos: aoshomens de todas as religiões, eprovavelmente também àqueles quenão professam religião alguma. Aoração nasce no segredo de nósmesmos, naquele lugar interior aque muitas vezes os autores espiri-tuais chamam “coração” (cf. Cate-cismo da Igreja Católica, nn. 2.562-2.563). Portanto, o que reza em nósnão é algo periférico, nem umanossa faculdade secundária e mar-ginal, mas é o mistério mais íntimode nós mesmos. É este mistérioque reza. As emoções rezam, masnão se pode dizer que a oração éunicamente emoção. A inteligênciareza, mas rezar não é apenas umato intelectual. O corpo reza, maspode-se falar com Deus até na in-validez mais grave. Por conseguin-te, é o homem todo que ora, se oseu “coração” re z a .

A oração é um impulso, uma in-vocação que vai além de nós pró-prios: algo que nasce no íntimo danossa pessoa e que se estende, poissente a nostalgia de um encontro.Aquela nostalgia que é mais doque uma carência, mais do queuma necessidade: é um caminho. Aoração é a voz de um “eu” que tro-peça, que procede às cegas, embusca de um “Tu ”. O encontro en-tre o “eu” e o “Tu ” não pode sercalculado: é um encontro humanoe, muitas vezes, procede-se às cegaspara encontrar o “Tu ” que o meu“eu” pro cura.

Ao contrário, a oração do cristãonasce de uma revelação: o “Tu ”não permaneceu envolvido no mis-tério, mas entrou em relação con-nosco. O cristianismo é a religiãoque celebra continuamente a “ma-nifestação” de Deus, ou seja, a suaepifania. As primeiras festas do anolitúrgico são a celebração desteDeus que não permanece escondi-do, mas que oferece a sua amizadeaos homens. Deus revela a sua gló-ria na pobreza de Belém, na con-templação dos Magos, no batismo

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página 4 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 19 de maio de 2020, número 20

Carta do Santo Padre ao reitor da Pontifícia universidade São Tomás de Aquino

Inaugurado no Angelicum o Instituto de culturaSão João Paulo II

Às 17 horas do dia 18 de maio, nocentenário do nascimento de KarolWo j t y ła, foi inaugurado na faculdadede filosofia da Pontifícia universidadeSão Tomás de Aquino em Roma oInstituto São João Paulo II. Para aocasião o Papa Francisco enviou aoreitor do Angelicum — instituto quecontou entre os seus alunos como jovemestudante o futuro Pontífice polaco — aseguinte carta.

Ao amado irmãoMichał Paluch, O.P.

Reitor da Pontifícia Universidadede S. Tomás de Aquino

No dia em que se celebra o cente-nário do nascimento de São JoãoPaulo II, o aluno mais ilustre destaUniversidade, inaugura-se no An g e l i -cum, na Faculdade de Filosofia, oInstituto de Cultura a ele intitulado.Desejo manifestar o meu apreço poresta iniciativa e dirigir uma cordialsaudação a toda a comunidade aca-démica e a quantos se reuniram parao evento, em particular aos represen-tantes das duas Fundações polacas,Futura Iuventa e Saint Nicholas, queapoiam o novo Instituto.

Ele tem como finalidade principala reflexão sobre a cultura contempo-rânea. Com este objetivo, os promo-tores tencionam valer-se da colabo-ração dos mais eminentes filósofos,

teólogos, homens e mulheres de cul-tura, na sua mais ampla expressão. Edesta obra São João Paulo II é mui-to inspirador como primeiro e maisimportante artífice, com a herança

rica e multiforme que deixou e, an-tes ainda, com o exemplo do seu es-pírito aberto e contemplativo, apai-xonado por Deus e pelo homem,pela criação, pela história e pela ar-te.

As suas várias experiências de vi-da, entre as quais nomeadamente osdramas epocais e os sofrimentos pes-soais, interpretados à luz do Espíri-to, levaram-no a desenvolver comsingular profundidade a reflexão so-bre o homem e as suas raízes cultu-rais, como referência imprescindívelpara todo o anúncio do Evangelho.Com efeito, na sua primeira Encícli-ca escreveu: «Aproximamo-nos tam-bém de todas as culturas, de todosos conceitos ideológicos e de todosos homens de boa vontade. E apro-ximamo-nos com aquela estima, res-peito e discernimento que, desde ostempos apostólicos, distinguiam aatitude missionária e do missionário.Basta-nos recordar São Paulo e, porexemplo, o seu discurso no Areópa-go de Atenas. A atitude missionáriacomeça sempre por um sentimentode profunda estima para com aquilo“que há em cada homem”, por aqui-lo que ele, no íntimo do seu espírito,elaborou quanto aos problemas maisprofundos e importantes; trata-se dorespeito para com aquilo que neleoperou o Espírito, que “sopra ondequer”» (Redemptor hominis, 12; cf.Discurso à Unesco, 2 de junho de1980).

Temos necessidade de manter vivaesta atitude, se quisermos ser Igrejaem saída, Igreja que não se contentacom preservar e administrar o que jáexiste, mas quer ser fiel à sua mis-são.

Estou muito feliz por esta iniciati-va se realizar na Universidade de S.Tomás de Aquino. Com efeito, oAn g e l i c u m hospeda uma comunidadeacadémica constituída por professo-res e estudantes do mundo inteiro eé um lugar adequado onde interpre-tar os importantes desafios das cul-turas de hoje. A tradição da OrdemDominicana, com o seu importantepapel que desempenha na reflexãoracional sobre a fé e o seu conteúdo,articulada de forma magistral peloDoutor Angélico, não pode deixarde favorecer este projeto, a fim deque se distinga pela coragem da ver-dade, pela liberdade de espírito epela honestidade intelectual (cf. SãoPaulo VI, Carta Apostólica LumenEcclesiae, 20 de novembro de 1974, n.8; São João Paulo II, Encíclia Fideset ratio, 43).

Com estes votos, estimado Irmão,renovo-lhe o meu encorajamento egratidão, assim como àqueles quederam vida ao novo Instituto. Aosprofessores, alunos e funcionários,desejo bom trabalho e concedo-lhesde coração a Bênção Apostólica.

Roma, São João de Latrão,18 de maio de 2020.

Mensagem em vídeo do Papa aos jovens de Cracóvia no centenário do nascimento de São João Paulo II

Caminhai corajosamente com Jesus

Por ocasião do centenário do nascimento de São JoãoPaulo II o Papa Francisco enviou aos jovens de Cracóvia(Polónia) a seguinte mensagem de vídeo.

Amados jovens!Este ano celebramos o centenário do nascimento deSão João Paulo II. É uma boa ocasião para me dirigira vós, jovens de Cracóvia, pensando em como ele ama-va os jovens, e recordando a visita que vos fez para aJMJ de 2016.

São João Paulo II foi um dom extraordinário deDeus para a Igreja e para a Polónia, vossa pátria. Asua peregrinação terrena, que começou a 18 de maio de1920 em Wadowice e terminou há 15 anos em Roma,foi marcada por uma paixão pela vida e um fascíniopelo mistério de Deus, do mundo e do homem.

Recordo-o como um gigante da misericórdia: pensona Encíclica Dives in Misericordia, na canonização deSanta Faustina e na instituição do Domingo da DivinaMisericórdia. À luz do amor misericordioso de Deus,ele compreendeu a especificidade e a beleza da voca-ção das mulheres e dos homens, compreendeu as ne-cessidades das crianças, dos jovens e dos adultos, con-siderando também os condicionamentos culturais e so-ciais. Todos puderam experimentá-lo. Hoje tambémvós podeis experimentá-lo, conhecendo a sua vida e osseus ensinamentos, disponíveis a todos inclusive graçasà internet.

Todos e cada um de vós, queridos rapazes e moças,tendes a marca da vossa família, com as suas alegrias etristezas. O amor e o cuidado pela família é um traçocaraterístico de João Paulo II. O seu ensinamento re-presenta um ponto de referência seguro a fim de en-contrar soluções concretas para as dificuldades e desa-fios que as famílias enfrentam nos nossos dias (cf.Mensagem ao Congresso “João Paulo II, o Papa da Famí-lia”, Roma, 30 de outubro de 2019).

Mas os problemas pessoais e familiares não consti-tuem um obstáculo no caminho da santidade e da feli-cidade. Nem o foram para o jovem Karol Wojtyła, quedesde a infância sofreu a perda da mãe, do irmão e dopai. Como estudante, experimentou as atrocidades donazismo, que o privou de tantos amigos. Após a guer-ra, como sacerdote e bispo, teve de enfrentar o comu-nismo ateu.

As dificuldades, também as duras, constituem umaprova de maturidade e de fé; uma prova que só podeser vencida confiando no poder de Cristo morto e res-suscitado. João Paulo II recordou-o à Igreja inteira des-de a sua primeira Encíclica, Redemptor hominis, na qualdiz: «O homem que quiser compreender-se a si mesmoprofundamente... deve, com a sua inquietude, incertezae também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vidae a sua morte, aproximar-se de Cristo. Deve, por assimdizer, entrar n’Ele com tudo o que é em si mesmo» (n.10).

Caros jovens, é o que desejo para cada um de vós:entrar em Cristo com toda a vossa vida. E espero queas celebrações do centenário do nascimento de SãoJoão Paulo II inspirem em vós o desejo de caminharcorajosamente com Jesus, que é «o Senhor do risco, oSenhor do sempre “mais além” [...] O Senhor, comono Pentecostes, quer realizar um dos maiores milagresque podemos experimentar: fazer com que as tuasmãos, as minhas mãos, as nossas mãos se transformemem sinais de reconciliação, de comunhão, de criação.Ele quer as tuas mãos — rapaz, moça, Ele quer as tuasmãos — para continuar a construir o mundo de hoje»(Discurso na Vigília da J M J, Cracóvia, 30 de julho de2016).

Confio todos vós à intercessão de São João Paulo IIe abençoo-vos de coração. E vós, por favor, não vos es-queçais de rezar por mim. Obrigado!

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número 20, terça-feira 19 de maio de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Homilia de Francisco na missa celebrada junto do túmulo do Pontífice polaco no centenário do nascimento

Com ele Deus visitou o seu povoNo centenário do nascimento de JoãoPaulo II, Francisco recordou-ocelebrando — na manhã de 18 de maio— a missa junto do túmulo do santoPontífice na Basílica de São Pedro. Aseguir, a homilia improvisada proferidapelo Papa:

Cantamos «o Senhor ama o seupovo» (Sl 149, 4), era o refrão docântico interlecional e também umaverdade que o povo de Israel repe-tia, gostava de repetir: «O Senhorama o seu povo», e nos maus mo-mentos, “o Senhor ama” sempre; de-vemos esperar como este amor se háde manifestar. Quando, por esteamor, o Senhor enviava um profeta,um homem de Deus, a reação dopovo era: «O Senhor visitou o seupovo» (cf. Êx 4, 31), porque o ama,“visitou-o”. E o mesmo dizia a multi-dão, que seguia Jesus vendo o queJesus fazia: “O Senhor visitou o seup ovo” (cf. Lc 7, 16).

E hoje aqui podemos dizer: hácem anos o Senhor visitou o seu po-vo. Enviou um homem, preparou-opara ser bispo e guiar a Igreja. Cele-brando a memória de São João Pau-lo II, retomemos isto: “O Senhorama o seu povo”, o Senhor visitou oseu povo, enviou um pastor. E quaissão, digamos assim, “os sinais” dobom pastor que podemos encontrarem São João Paulo II? Muitos! Masmencionemos apenas três. Dado quese afirma que os jesuítas dizem sem-pre as coisas de três em três... cite-mos três: a oração, a proximidade aopovo e o amor à justiça. São JoãoPaulo II era um homem de Deusporque re z a v a , e rezava muito. Mas

como é que um homem que temtanto para fazer, tanto trabalho paraguiar a Igreja... tem tanto tempo pa-ra rezar? Ele sabia bem que a pri-meira tarefa do bispo é rezar. E istonão o disse o Vaticano II, disse-oSão Pedro; quando fizeram os diáco-nos, disseram: «E a nós, bispos, aoração e a proclamação da Palavra»(cf. At 6, 4). A primeira tarefa dobispo é rezar, e ele sabia isto, e faziaassim. Modelo de bispo que reza, éa primeira tarefa. E ensinou-nos quequando o bispo faz o exame deconsciência à noite, se deve pergun-

tar: quantas horas rezei hoje? Ho-mem de oração.

Segundo sinal, homem de p ro x i m i -dade. Não era um homem desapega-do do povo, pelo contrário, foi visi-tar o povo e deu a volta ao mundointeiro, encontrando o seu povo,procurando o seu povo, aproximan-do-se. E a proximidade é um dostraços de Deus com o seu povo. Re-cordemos que ao povo de Israel oSenhor diz: «que povo há tão gran-de que tenha deuses como o Senhor,sempre pronto a atender-nos?» (cf.Dt 4, 7). Uma proximidade de Deus

com o povo, que depois se torna ín-tima em Jesus, se torna forte em Je-sus. O pastor está próximo do povo,pelo contrário, se não estiver, não épastor, é um hierarca, um adminis-trador, talvez bom, mas não é pas-tor. Proximidade ao povo. E SãoJoão Paulo II deu-nos o exemplodesta proximidade: próximo dosgrandes e dos pequeninos, dos vizi-nhos e dos distantes, sempre perto,a p ro x i m a v a - s e .

Terceiro sinal, o amor à justiça.Mas à justiça plena! Um homemque queria a justiça, a justiça social,a justiça dos povos, a justiça queafasta as guerras. Mas justiça plena!Por isso, São João Paulo II era o ho-mem da misericórdia, porque justiçae misericórdia caminham juntas, nãose podem distinguir [no sentido deseparar], estão unidas: justiça é justi-ça, misericórdia é misericórdia, masuma não se encontra sem a outra. Efalando do homem de justiça e mise-ricórdia, pensemos no que São JoãoPaulo II fez para que as pessoascompreendessem a misericórdia deDeus. Pensemos no modo como elepromoveu a devoção a Santa Fausti-na [Kowalska] cuja memória litúrgi-ca, a partir de hoje, será para toda aIgreja. Ele sentiu que a justiça deDeus tinha este aspeto de misericór-dia, esta atitude de misericórdia. Eeste é um dom que ele nos deixou:j u s t i ç a - m i s e r i c ó rd i a e a m i s e r i c ó rd i ajusta. Peçamos-lhe hoje, que concedaa todos nós, especialmente aos pas-tores da Igreja, mas a todos, a graçada oração, a graça da proximidade ea graça da justiça-misericórdia, dam i s e r i c ó rd i a - j u s t i ç a .

Decreto da Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos

A celebração de Santa Faustina Kowalska no Calendário romano geralA memória facultativa será a 5 de outubro, dia do seu falecimento

CONGREGAÇÃO PA R A O CU LT O DIVINOE A DISCIPLINA D OS SACRAMENTOS

Prot. n.º 229/20

DECRETOSobre a inscrição da celebração de St.

Faustina Kowalska, virgem,no Calendário Romano Geral

«A sua misericórdia vai de geração em geraçãopara aqueles que o temem» (Lc 1, 50). O que aVirgem Maria cantou no Ma g n i f i c a t contemplandoa obra salvadora de Deus em benefício de todasas gerações humanas, refletiu-se na experiência es-piritual de Santa Faustina Kowalska que, atravésdo dom do Céu, viu no Senhor Jesus Cristo orosto misericordioso do Pai e se tornou sua anun-ciadora.

Nascida na aldeia de Głogowiec, perto de Łó dźna Polónia, em 1905, e falecida em Cracóvia em1938, Santa Faustina consumiu a sua jovem vidaentre as Irmãs da Santíssima Virgem Maria daMisericórdia, conformando-se generosamente coma vocação recebida de Deus e amadurecendo umavida espiritual intensa, rica de dons místicos e defiel correspondência a eles. A narração do que o

Senhor realizou nela em benefício de todos, elamesma o descreveu no Diário da sua alma, san-tuário do encontro com o Senhor Jesus: ouvindoAquele que é Amor e Misericórdia, ela compreen-deu que nenhuma miséria humana pode medir-secom a misericórdia que flui inexaurívelmente docoração de Cristo. Ela tornou-se assim a inspira-ção para um movimento destinado a proclamar eimplorar a misericórdia divina para todo o mun-do. Canonizada no ano 2000 por S. João Paulo

II, o nome de S. Faustina depressa se tornou co-nhecido no mundo inteiro, promovendo em todosos membros do povo de Deus, Pastores e fiéis lei-gos, a invocação da misericórdia divina e o seutestemunho credível na vida dos crentes. Portan-to, o Sumo Pontífice Francisco, aceitando as peti-ções e desejos de pastores, religiosas e religiosos,bem como de associações de fiéis, considerando ainfluência exercida pela espiritualidade de SantaFaustina em diferentes regiões do mundo, orde-nou que o nome de Santa Maria Faustina (Helen)Kowalska, virgem, fosse inscrito no CalendárioRomano Geral e que a sua memória facultativafosse celebrada por todos no dia 5 de outubro.Esta nova memória será incluída em todos os Ca-lendários e Livros Litúrgicos para a celebração daMissa e da Liturgia das Horas, adotando os tex-tos litúrgicos anexos a este decreto, que serão tra-duzidos, aprovados e, após a confirmação desteDicastério, publicados pelas Conferências Episco-pais.

Não obstante qualquer disposição contrária.Da Sé da Congregação para o Culto Divino e a

Disciplina dos Sacramentos, 18 de maio de 2020.Robert Card. Sarah

P re f e i t o

Arthur RocheArcebispo Secretário

A imagem da irmã Faustina na igreja romanade Santo Espírito in Sassia, onde a 19 de abril passado o Papa

celebrou a festa da Divina Misericórida

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número 20, terça-feira 19 de maio de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 6/7

O drama invisível dos deslocados internosexacerbado pela pandemia

Mensagem do Papa para o Dia mundial do migrante e do refugiado que se celebrará domingo 20 de setembro

Como Jesus Cristo, obrigados a fugir.Acolher, proteger, promover

e integrar os deslocados internos.No discurso que dirigi, nos primeirosdias deste ano, aos membros do CorpoDiplomático acreditado junto da SantaSé, mencionei entre os desafios domundo contemporâneo o drama dosdeslocados dentro da própria nação:«Os conflitos e as emergências humani-tárias, agravadas pelas convulsões cli-máticas, aumentam o número dos des-locados e repercutem-se sobre as pes-soas que já vivem em grave estado depobreza. Muitos dos países atingidospor estas situações carecem de estrutu-ras adequadas que permitam atender àsnecessidades daqueles que foram deslo-cados» (9/I/2020).

A Secção «Migrantes e Refugiados»do Dicastério para o Serviço do Desen-volvimento Humano Integral publicouas Orientações Pastorais sobre as PessoasDeslocadas Internamente (5/V/2020), umdocumento que visa inspirar e animaras ações pastorais da Igreja nesta áreaem particular.

Por tais razões, decidi dedicar estaMensagem ao drama dos deslocadosdentro da nação, um drama — muitasvezes invisível — que a crise mundialcausada pela pandemia do Covid-19exacerbou. De facto, esta crise, devidoà sua veemência, gravidade e extensãogeográfica, redimensionou tantas outrasemergências humanitárias que afligemmilhões de pessoas, relegando para umplano secundário, nas Agendas políti-cas nacionais, iniciativas e ajudas inter-nacionais, essenciais e urgentes parasalvar vidas. Mas, «este não é tempopara o esquecimento. A crise que esta-mos a enfrentar não nos faça esquecermuitas outras emergências que acarre-tam sofrimentos a tantas pessoas»(FR A N C I S C O, Mensagem Urbi et Orbi,12/IV/2020).

À luz dos acontecimentos dramáticosque têm marcado o ano de 2020 quero,nesta Mensagem dedicada às pessoasdeslocadas internamente, englobar to-dos aqueles que atravessaram e aindavivem experiências de precariedade,

abandono, marginalização e rejeiçãopor causa do vírus Covid-19.

E, como ponto de partida, gostariade tomar o mesmo ícone que inspirouo Papa Pio XII ao redigir a constituiçãoapostólica Exsul Familia (1/VIII/1952):na sua fuga para o Egito, o menino Je-sus experimenta, juntamente com seuspais, a dramática condição de desloca-do e refugiado «marcada por medo, in-certeza e dificuldades (cf. Mt 2, 13-15.19-23). Infelizmente, nos nossos dias,há milhões de famílias que se podemreconhecer nesta triste realidade. Quasetodos os dias, a televisão e os jornaisdão notícias de refugiados que fogemda fome, da guerra e doutros perigosgraves, em busca de segurança e dumavida digna para si e para as suas famí-lias» (FR A N C I S C O, An g e l u s , 29/XII/2013).Em cada um deles, está presente Jesus,forçado — como no tempo de Herodes— a fugir para Se salvar. Nos seus ros-tos, somos chamados a reconhecer orosto de Cristo faminto, sedento, nu,doente, forasteiro e encarcerado quenos interpela (cf. Mt 25, 31-46). Se Oreconhecermos, seremos nós a agrade-cer-Lhe por O termos podido encon-trar, amar e servir.

As pessoas deslocadas proporcionam-nos esta oportunidade de encontrar oSenhor, «mesmo que os nossos olhossintam dificuldade em O reconhecer:com as vestes rasgadas, com os pés su-jos, com o rosto desfigurado, o corpochagado, incapaz de falar a nossa lín-gua» (FR A N C I S C O, Homilia, 15/II/2019).É um desafio pastoral ao qual somoschamados a responder com os quatroverbos que indiquei na Mensagem paraeste mesmo Dia de 2018: acolher, prote-ger, promover e integrar. A eles, gosta-ria agora de acrescentar seis pares deverbos que traduzem ações muito con-cretas, interligadas numa relação decausa-efeito.

É preciso conhecer para c o m p re e n d e r.O conhecimento é um passo necessáriopara a compreensão do outro. Assimno-lo ensina o próprio Jesus no episó-dio dos discípulos de Emaús: «En-quanto [estes] conversavam e discu-tiam, aproximou-Se deles o próprio Je-sus e pôs-Se com eles a caminho; osseus olhos, porém, estavam impedidosde O reconhecer» (Lc 24, 15-16). Fre-quentemente, quando falamos de mi-grantes e deslocados, limitamo-nos àquestão do seu número. Mas não setrata de números; trata-se de pessoas!Se as encontrarmos, chegaremos a co-nhecê-las. E conhecendo as suas histó-rias, conseguiremos compreender. Po-deremos compreender, por exemplo,que a precariedade, que estamos dolo-rosamente a experimentar por causa da

pandemia, é um elemento constante navida dos deslocados.

É necessário a p ro x i m a r - s e para s e r v i r.Parece óbvio, mas muitas vezes não oé. «Um samaritano, que ia de viagem,chegou ao pé dele [do homem espanca-do e deixado meio-morto] e, vendo-o,encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelasazeite e vinho, colocou-o sobre a suaprópria montada, levou-o para uma es-talagem e cuidou dele» (Lc 10, 33-34).Os receios e os preconceitos — tantospreconceitos — mantêm-nos afastadosdos outros e, muitas vezes, impedem de«nos aproximarmos» deles para os servircom amor. Abeirar-se do próximo fre-quentemente significa estar dispostos acorrer riscos, como muitos médicos e en-fermeiros nos ensinaram nos últimosmeses. Aproximar-se para servir vai alémdo puro sentido do dever; o maiorexemplo disto, deixou-no-lo Jesus,quando lavou os pés dos seus discípu-los: tirou o manto, ajoelhou-Se e pôsmãos ao humilde serviço (cf. Jo 13, 1-15).

Para re c o n c i l i a r - s e é preciso e s c u t a r.No-lo ensina o próprio Deus que quisescutar o gemido da humanidade comouvidos humanos, enviando o seu Fi-lho ao mundo: «Tanto amou Deus omundo, que lhe entregou o seu FilhoUnigénito, (…) para que o mundo sejasalvo por Ele» (Jo 3, 16.17). O amor,que reconcilia e salva, começa pela escu-ta. No mundo de hoje, multiplicam-seas mensagens, mas vai-se perdendo aatitude de escutar. É somente através daescuta humilde e atenta que podemoschegar verdadeiramente a reconciliar-nos. Durante semanas neste ano de2020, reinou o silêncio nas nossas ruas;um silêncio dramático e inquietante,mas que nos deu ocasião para ouvir oclamor dos mais vulneráveis, dos deslo-

cados e do nosso planeta gravementeenfermo. E, escutando, temos a oportu-nidade de nos reconciliar com o próxi-mo, com tantas pessoas descartadas,connosco e com Deus, que nunca Secansa de nos oferecer a sua misericórdia.

Para c re s c e r é necessário p a r t i l h a r. Aprimeira comunidade cristã teve, napartilha, um dos seus elementos basila-res: «A multidão dos que haviam abra-çado a fé tinha um só coração e uma sóalma. Ninguém chamava seu ao quelhe pertencia, mas entre eles tudo eracomum» (At 4, 32). Deus não queriaque os recursos do nosso planeta bene-ficiassem apenas alguns. Não, o Senhornão queria isso! Devemos aprender apartilhar para crescermos juntos, semdeixar ninguém de fora. A pandemiaveio-nos recordar que estamos todos nomesmo barco. O facto de nos deparar-mos com preocupações e temores co-muns demonstrou-nos mais uma vezque ninguém se salva sozinho. Paracrescer verdadeiramente, devemos cres-cer juntos, partilhando o que temos,como aquele rapazito que ofereceu aJesus cinco pães de cevada e dois pei-xes (cf. Jo 6, 1-15); e foram suficientespara cinco mil pessoas...

É preciso coenvolver para p ro m o v e r.Efetivamente, assim procedeu Jesuscom a mulher samaritana (cf. Jo 4, 1-30). O Senhor aproxima-Se, escuta-a,fala-lhe ao coração, para então a guiaraté à verdade e torná-la anunciadora daboa nova: «Vinde ver um homem queme disse tudo o que eu fiz! Não seráEle o Messias?» (4, 29). Por vezes, oímpeto de servir os outros impede-nosde ver a sua riqueza íntima. Se quere-mos verdadeiramente promover as pes-soas a quem oferecemos ajuda, deve-mos coenvolvê-las e torná-las protago-nistas da sua promoção. A pandemia

recordou-nos como é essencial a corres-ponsabilidade, pois só foi possível en-frentar a crise com a contribuição detodos, mesmo de categorias frequente-mente subestimadas. Devemos «encon-trar a coragem de abrir espaços ondetodos possam sentir-se chamados e per-mitir novas formas de hospitalidade, defraternidade e de solidariedade» (FRAN-C I S C O, Meditação na Praça de São Pe-d ro , 27/III/2020).

É necessário c o l a b o ra r para c o n s t r u i r.Isto mesmo recomenda o apóstolo Pau-lo à comunidade de Corinto: «Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso SenhorJesus Cristo, que estejais todos de acor-do e que não haja divisões entre vós;permanecei unidos num mesmo espíritoe num mesmo pensamento» (1 Cor 1,10). A construção do Reino de Deus éum compromisso comum a todos oscristãos e, para isso, é necessário queaprendamos a colaborar, sem nos dei-xarmos tentar por invejas, discórdias edivisões. No contexto atual, não possodeixar de reiterar que «este não é tem-po para egoísmos, pois o desafio queenfrentamos nos une a todos e não fazdistinção de pessoas» (FR A N C I S C O,Mensagem Urbi et Orbi, 12/IV/2020). Pa-ra salvaguardar a Casa Comum e torná-la cada vez mais parecida com o planooriginal de Deus, devemos empenhar-nos em garantir a cooperação interna-cional, a solidariedade global e o com-promisso local, sem deixar ninguém defora.

Quero concluir com uma oração ins-pirada no exemplo de São José, parti-cularmente quando foi forçado a fugirpara o Egito a fim de salvar o Menino:

«Pai, confiastes a São José o que tí-nheis de mais precioso: o Menino Jesus esua mãe, para os proteger de perigos eameaças dos malvados.

Concedei-nos, também a nós, a graça deexperimentar a sua proteção e ajuda. Ten-do ele provado o sofrimento de quem fogepor causa do ódio dos poderosos, fazei quepossa confortar e proteger todos os irmãose irmãs que, forçados por guerras, pobrezae carências, deixam a sua casa e a suaterra a fim de se lançarem ao caminho co-mo refugiados rumo a lugares mais segu-ro s .

Ajudai-os, pela sua intercessão, a teremforça para prosseguir, conforto na tristeza,coragem na provação.

Dai a quem os recebe um pouco da ter-nura deste pai justo e sábio, que amou Je-sus como um verdadeiro filho e amparouMaria ao longo do caminho.

Ele, que ganhou o pão com o trabalhodas suas mãos, possa prover àqueles aquem a vida tudo levou, dando-lhes adignidade dum trabalho e a serenidadeduma casa.

Nós Vo-lo pedimos por Jesus Cristo,vosso Filho, que São José salvou fugindopara o Egito, e por intercessão da VirgemMaria, a quem ele amou como esposo fielsegundo a vossa vontade. Amen».

Roma, em São João de Latrão, naMemória de Nossa Senhora de Fátima,

13 de maio de 2020.

A história de Inácio em fuga das violências

Uma família de deslocados filipinos em Mindanau (Ansa)

Um fotograma do vídeo projetado durante a conferência de imprensa para a apresentação da mensagem

«Quando se fala de migrantes e de refugiados com frequência ficamos pelos núm e ro s .Mas... trata-se de pessoas!... E conhecendo as suas histórias... podemos co m p re e n d e r,por exemplo, que aquela precariedade que experimentaram com sofrimento por causada pandemia é um elemento constante da vida dos refugiados». Esta é uma daspassagens mais significativas da mensagem do Papa Francisco para o próximo Diamundial do migrante e do refugiado que se celebrará a 20 de setembro, vigésimoquinto domingo do tempo comum. Dedicada ao tema dos deslocados internos —«milhões de famílias... que fogem da fome, da guerra, de outros perigos graves» — amensagem desenvolve-se em volta de seis pares de verbos que correspondem a açõesconcretas e conclui-se com uma oração a São José, exilado com Maria no Egito pa rasubtrair o filho à perseguição de Herodes.

Inácio é um jovem de Manágua,obrigado quando era criança a fugircom os pais da capital da Nicarágua,à mercê de agitação e violência, edeslocar-se de cidade em cidade “semlevar nada”. O seu dramático teste-munho, narrado em primeira pessoa,é o fio condutor do filme realizadopela secção Migrantes e Refugiadosdo Dicastério para o Serviço de De-senvolvimento Humano Integral, emcolaboração com Vatican Media. É aprimeira de uma campanha de comu-nicação em preparação para o DiaMundial do Migrante e do Refugia-do, apresentada na Sala de Imprensada Santa Sé a 15 de maio, juntamentecom a mensagem do Papa Franciscopara a 106ª edição do Dia.

Produzido e legendado em cincolínguas, o vídeo, que dura cerca detrês minutos, inicia com a imagem doPontífice que lê a introdução da men-sagem que consta de uma dedicaçãoaos deslocados internos e o título“Como Jesus Cristo, obrigados a fu-gir”. Depois, de chapéu azul e suéter,entra em cena Inácio, que em espa-nhol fala da sua história, descritatambém através de bandas desenha-das: desde a primeira fuga para Ma-saya, hospedado por um parente, atéàs seguintes, porque “até aquele lugarse tinha tornado inseguro” e “p erigo-so”. Com apenas “a roupa que conse-guiu levar” porque - conclui - nessascircunstâncias “só se pensa em salvara vida e nada mais”.

No encontro intervieram os doissubsecretários da Secção Migrantes eRefugiados do Departamento, o car-deal jesuíta Michael Czerny e o mis-sionário scalabriniano Fabio Baggio.O Cardeal Czerny ofereceu uma re-construção histórica dos Dias, inicia-dos em 1915 durante as convulsõescausadas pela primeira Guerra Mun-dial, recordando significativamente“nestes dias de coronavírus”, que emseguida eles viveram a pandemia pro-vocada pela gripe espanhola (1918-1919). A do Papa Francisco é a sétimamensagem para este acontecimento, aterceira sobre o tema das pessoas des-

locadas internamente: uma populaçãofrequentemente invisível de 50,8 mi-lhões: 45,7 milhões devido a conflitose violências e 5,1 milhões devido a ca-tástrofes. Eles, salientou o cardealCzerny, “abandonando as suas casas eo seu ambiente familiar, vivem desen-raizados” e com necessidades que“exigem atenção e responsabilidade”;mas - lamentou - todos parecem ter“outras prioridades”.

A seguir, o Padre Baggio explicoucomo, durante o próximo semestre, otema deste ano será elaborado emseis fases relativas a “um drama mui-tas vezes invisível” e “que a crisemundial provocada pela pandemiada Covid-19 apenas exacerbou”. Oscalabriniano assinalou que a mensa-gem pontifícia parte “da experiênciade Jesus Cristo deslocado e refugia-do com os seus pais, ícone muitasvezes utilizado no magistério univer-sal para reafirmar a importância darazão cristológica do acolhimentocristão”, e “continua então com umanova articulação dos quatro verboscom os quais Francisco quis sinteti-zar a pastoral migratória: acolher,proteger, promover e integrar”. Nodocumento papal esta articulação es-tá estruturada “em seis pares de ver-bos ligados por uma relação causal:conhecer para compreender, estarpróximo para servir, escutar para re-conciliar, partilhar para crescer, en-volver para promover, colaborar parac o n s t ru i r ”.

Em suma, comentou Baggio, nasua mensagem, Francisco “quis ofere-cer-nos vários pontos de reflexão paranos ajudar a contextualizar as suasrecomendações no cenário de criseem que nos encontramos por causada pandemia”. Ele convida-nos acompreender a nossa precariedadenestes dias como uma condição cons-tante na vida das pessoas deslocadas.Ele encoraja-nos a inspirarmo-nosnos médicos e enfermeiros que corre-ram riscos nos últimos meses paranos salvar e recomenda que aprovei-temos o silêncio das nossas ruas paraouvir melhor o grito dos mais vulne-

ráveis e do nosso planeta. Encoraja-nos a partilhar mais, recordando-nosque ninguém se salva sozinho e lem-bra-nos que só com o contributo detodos, mesmo dos mais pequenos, épossível superar a crise”. Em suma, oPontífice “reitera que hoje não pode-mos dar-nos ao luxo de ser egoístas,porque estamos perante um desafiocomum, que não conhece diferençaalguma”.

Tal como já aconteceu no passadodia 5 de maio, por ocasião da apre-sentação das Orientações Pastoraissobre pessoas deslocadas internamen-te, Amaya Valcárcel, coordenadora in-ternacional de Advocacy, explicou asatividades dos Serviço dos Jesuítaspara os refugiados (Jrs), que atuamem situações de conflito na Síria,Mianmar, Venezuela, Colômbia e Re-pública Democrática do Congo. Oseu testemunho pessoal sobre a suaamizade com um somali em fuga daguerra que conheceu em 1996 quandoprestava serviço como voluntária nacantina da comunidade de Santo Egí-dio em Roma, foi significativo. Esseencontro, de facto, fez com que elaamadurecesse a opção de dedicar assuas energias às pessoas que deixam asua pátria.

Por fim, o irmão Joseph Cassar,diretor dos Jrs em ligação de Erbil,Iraque, falou da tragédia dos iraquia-nos deslocados que sobreviveram aseis anos de conflito. Não só os cris-tãos, mas também os yazidis sobrevi-veram ao genocídio levado a cabopelo chamado Estado islâmico. EmDohuk, no Curdistão iraquiano, odesafio é enorme: quer sejam camposequipados ou campos informais, elesvivem em condições críticas. Os âni-mos estão exacerbadas e a sensaçãode “nenhum futuro” aumenta a taxade suicídios. E nem sequer entreaqueles que conseguiram regressar “acasa” as condições parecem sermelhores, também devido à pande-mia que impôs toda uma série de li-mitações. A crise a que isto deu ori-gem obrigou mais de quatro milhõesde iraquianos em estado de necessi-dade.

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página 8 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 19 de maio de 2020, número 20

Há dois meses a Organização mundial da saúde declarou o estado de pandemia do c o ro n a v í ru s

Somente juntos sairemos das crises globaisGIUSEPPE FIORENTINO

Entre as muitas imagens queacompanharão a memória des-ta pandemia no futuro, con-

tam-se certamente as pessoas em fila.Em fila para fazer as compras, paraentrar na farmácia, para aceder aosserviços postais ou bancários.

Mas outra imagem, da qual mui-tos tinham perdido a memória, mar-ca estes dias difíceis de uma formadolorosa: as pessoas, com máscaras,pacientemente à espera diante dascasas de penhores, onde esperamobter a quantia de que precisam pa-ra sobreviver durante alguns dias. Éuma “imagem” que nos faz compre-ender como, ao contrário do que al-guns sociólogos apressados previ-ram, o coronavírus não tem sido umgrande nivelador. Ao contrário, emtoda parte, o contágio aumentou ofosso socioeconómico, fazendo sentiros seus efeitos devastadores especial-mente nas camadas mais pobres da

população e, em particular, nos gru-pos sem qualquer proteção, como osimigrantes em situação irregular ouos trabalhadores não declarados. Es-ta situação é ainda mais grave nospaíses onde não vigora o estado so-cial e as pessoas não têm garantias,nem sequer do ponto de vista dasaúde.

Já passaram dois meses desde quea Organização mundial da saúde(Oms), a 11 de março, declarou apandemia do coronavírus. Naquelemomento, havia 118.000 casos e4.291 vítimas. Os números recentes,a 10 de maio, falam de 3.884.434 ca-sos oficiais e 272.859 mortos. Doismeses terríveis, em que a Covid-19,embora contida em algumas áreasgraças às políticas de distanciamentosocial, atingiu o mundo com uma vi-rulência devastadora, e talvez inespe-rada. Uma virulência que aumentouo fosso económico e social nos paí-ses ocidentais, e corre o risco de au-

mentar o fosso entre países ricos epaíses pobres.

O Ocidente, embora duramenteatingido, conseguiu de alguma for-ma combater a epidemia, porque es-tá globalmente mais bem preparadodo que os países com sistemas desaúde e sociais muito mais fracos. AOms e outras agências da Onu re-ceiam a expansão da doença na Áfri-ca e noutras regiões do Sul do mun-do, porque estão conscientes de quea propagação do vírus, por muitolenta que seja, não pode ser adequa-damente combatida. Isto deve-seprincipalmente à falta de recursoseconómicos.

Numa confirmação dramática dainterligação que une o mundo, a cri-se que atingiu o Norte rico reverbe-rou-se violentamente no Sul. O flu-xo de remessas de centenas de mi-lhões de migrantes foi interrompido,subtraindo linfa vital aos países emvias de desenvolvimento, já obriga-dos a dedicar uma grande parte dosseus orçamentos ao pagamento dadívida externa. Um inquérito recentedo Washington Post mostrou que apobreza global aumentará este ano,pela primeira vez em mais de duasdécadas. O Banco Mundial previuque o coronavírus levará milhões depessoas à miséria na África subsaria-na e no Sul da Ásia. De acordo comalguns economistas, um súbito em-pobrecimento poderia atingir 8% dahumanidade (cerca de 500 milhõesde pessoas). Um empobrecimentoque significará fome.

Não se trata apenas de previsõessombrias. No mês passado, maisprecisamente a 21 de abril, o diretorexecutivo do Programa alimentarmundial (Pam), David Beasley, du-rante um briefing em vídeo com oConselho de segurança das Nações

Unidas, alertou para aquilo a quechamou “a pior catástrofe humanitá-ria depois da segunda guerra mun-dial”. Segundo Beasley, a pandemiavai duplicar o número de pessoas fa-mintas, atingindo tragicamente situa-ções locais já comprometidas pelaguerra, por fenómenos meteorológi-cos extremos e carestias. Aos 135 mi-lhões de pessoas que sofreram umagrave insegurança alimentar em 2019juntar-se-ão outros 130 milhões em2020, devido ao impacto económicoda Covid-19. Em 2020 haverá, por-tanto, cerca de 265 milhões de pes-soas em países de baixo e médiorendimento que sofrerão de grave in-segurança alimentar. A não ser quesejam tomadas medidas rápidas paracombater esta verdadeira pandemiada fome.

Uma crise global exigiria uma res-posta global para evitar que futurascrises locais e regionais tenham efei-tos muito prejudiciais a nível plane-tário. Mas, no momento, enquantoas grandes economias adotam, comrazão, medidas de incremento comnove zeros, apenas algumas migalhasestão a ser doadas aos países maispobres, que, vale a pena repetir, gas-tam mais para respeitar os compro-missos com os credores estrangeirosdo que para desenvolver os seus sis-temas de saúde ou redes de produ-ção alimentar. Também em abril pas-sado, os países do G-20 decidiramcongelar temporariamente o paga-mento da dívida externa de muitasnações pobres. Mas talvez, comomuitos esperavam, tenha chegado omomento de decidir cancelar a dívi-da, a fim de garantir maior solidezaos países em vias de desenvolvi-mento, de lhes proporcionar uma ca-pacidade de resposta adequada emsituações de emergência e, por con-seguinte, de proteger todo o mundodo perigo de novas crises.

Apoiar as economias mais frágeisdo mundo convém a todos, mas aténum momento como este, para al-guns, a solidariedade internacionalnão parece ser uma prioridade. Ine-vitavelmente, ao fazer certas esco-lhas, como a de atacar abertamentea Oms e outras organizações multi-laterais, entram em jogo avaliaçõespolíticas ligadas a um horizonte quepoderia ser definido “doméstico”.Um horizonte demasiado limitadopara responder a uma tragédia glo-bal. Também não está excluído o ris-co de que a pesquisa para descobrira vacina possa gerar concorrêncianuma tentativa de obter uma posi-ção dominante. O papel das organi-zações internacionais deveria ser pre-cisamente o de impedir que certastentações prossigam, o que talvezexplique as contínuas tentativas deas deslegitimar.

Estamos todos no mesmo barco,recordou o Papa Francisco no ex-traordinário momento de oração rea-lizado no dia 27 de março, numaPraça de São Pedro completamentevazia e fustigada pela chuva. Esta-mos “todos chamados a remar jun-tos”. Um forte apelo à corresponsa-bilidade e um aviso sempre atual.Porque da crise do coronavírus, co-mo de qualquer outra crise que en-volva toda a humanidade, só há umasaída. Juntos.

Um volume da Lev em formato digital

A vida depois da pandemia

Oito textos do Papa Francisco — escritos ou pronun-ciados entre 27 de março e 22 de abril — que podemser lidos como uma única e ampla reflexão sobre a cri-se que atingiu o mundo neste momento de emergênciae como uma mensagem urgente à humanidade: é Lavita dopo la pandemia [A vida depois da pandemia], onovo volume publicado pela Editora do Vaticano, dis-ponível gratuitamente em formato digital. As palavrasdo Papa recolhidas no livro oferecem um quadro arti-culado e completo do pensamento de Francisco, mani-festado várias vezes nos últimos meses e caracterizadopela vontade, indicando à família humana as linhas deum reinício que tem o sabor do renascimento.

O prefácio é assinado pelo cardeal jesuíta MichaelCzerny, subsecretário da Secção Migrantes e Refugia-dos do Dicastério para o Serviço do DesenvolvimentoHumano Integral. No texto introdutório, o cardealdestaca os dois objetivos desta coleção: «sugerir rumo,chaves de leitura e orientações para reconstruir ummundo melhor que possa surgir desta crise da humani-dade» (pág. 3) e semear a esperança no meio de tantosofrimento e perplexidade. Estes oito textos, escreve ocardeal, entre outras coisas, «mostram a abordagem ca-lorosa e inclusiva do Papa Francisco, que não reduz aspessoas a unidades a serem contadas, medidas e geri-das, mas engloba todos na comum humanidade e noespírito» (pág. 5). Desta coleção emerge a personalida-de de um Pontífice que desafia todos — dos que têm

responsabilidades internacionais e nacionais às pessoascomuns — a praticar o bem; um Papa que mostra a suagratidão àqueles que trabalham para garantir os servi-ços básicos necessários à coexistência civil e que, aomesmo tempo, escuta, olha e convida a olhar paraaqueles que hoje são de facto invisíveis e não têm voz.Para o Papa Francisco chegou o momento de olhar pa-ra um mundo pós-Covid e de se preparar para a mu-dança. Os textos recolhidos no volume destacam assuas reflexões sobre temas com os quais todos, à luz dapandemia, são diariamente chamados a lidar: poluiçãoglobal, economia, trabalho e valorização dos cuidadosde saúde. O Pontífice exorta-nos a pôr de lado os inte-resses individuais, empresariais e nacionais, a fim dedar origem a uma nova era de solidariedade na qualtodos os seres humanos tenham igual dignidade. «Uni-dos com visão de conjunto, empenho e ação — con-cluiu o Cardeal Czerny — Francisco mostrou como aoração é fundamental para reorientar o nosso olhar pa-ra a esperança, especialmente quando ela se torna té-nue e corre o risco de sucumbir» (pág. 15).

La vita dopo la pandemia já está disponível gratuita-mente em italiano e inglês. Nos próximos dias, serãotambém colocadas online versões em francês, espanhole português. Os textos podem ser baixados do site daLev www.libreriaeditricevaticana.va e através de VaticanNews https://www.vaticannews.va/it/lev.html.

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número 20, terça-feira 19 de maio de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 9

Entrevista à presidente da Comissão europeia sobre o pós-pandemia

Para ser fortea Europa permaneça unida e solidária

ALESSANDRO GISOTTI

O sonho de Robert Schuman e dosPais Fundadores da Europa continuavivo e pode ajudar os povos euro-peus a superar a crise provocada pe-la pandemia, reforçando os funda-mentos da solidariedade. Na vésperado Europa Day, a presidente da Co-missão Europeia, Ursula von derLeyen, falou a L’Osservatore Roma-no e a Vatican News sobre os princi-pais temas do momento, tais como ocompromisso para encontrar umavacina contra a Covid-19, e as medi-das para apoiar a economia conti-nental. Von der Leyen insistiu tam-bém sobre os apelos do Papa Fran-cisco pela unidade dos povos euro-peus contra os egoísmos nacionalis-tas e sobre o papel que a União Eu-ropeia poderá desempenhar a nívelinternacional após o fim da pande-mia.

Presidente Ursula von der Leyen, al-guns meses após a sua eleição comochefe da Comissão Europeia, a senhoradeve enfrentar uma crise sem preceden-tes para a Europa. Como vive, pessoal-mente, este momento difícil?

A crise atual coloca todos nós àprova, até ao extremo. Há já doismeses que passo a maior parte dotempo em Berlaymont, o edifícioque hospeda a Comissão em Bruxe-las. Devido ao risco de contágio,atualmente há apenas um pequenogrupo de doze funcionários que tra-balham ali. Embora estejamos nomesmo edifício, falo com os comis-sários todos os dias em ligação ví-deo. Procuro respirar um pouco dear fresco e ver o sol pelo menos umavez por dia. E às vezes consigo ircorrer nalgum lugar verde. É distoque a alma precisa. Além disso, to-das as noites falo em ligação vídeocom o meu marido e os meus filhosgrandes. Estou feliz por todos esta-rem bem. Penso também nas nume-rosas famílias que não são tão afor-tunadas e que devem preocupar-semuito com os seus entes queridos. Éisto que motiva o meu trabalho co-mo presidente da Comissão, paraajudar os países e as pessoas nomundo a enfrentar esta crise profun-da da melhor forma possível. Atual-mente, muitas pessoas são obrigadasa ficar em casa. Tenho a possibilida-de de fazer muitas coisas. Isto aju-da-me.

A 9 de maio celebramos o Dia europeu.Que significado pode ter hoje, para oscidadãos europeus, que enfrentam a cri-se mais grave depois da segunda guer-ra mundial?

A União Europeia melhorou odestino do nosso continente. Nasceudas cinzas de uma crise que assolouo continente. E é em tempos de cri-se como a atual que podemos apre-ciar o seu verdadeiro valor. Para osmeus pais, a Europa significava paz.Para a minha geração, significa liber-dade e Estado de direito. Para a ge-ração dos meus filhos, significa futu-

ro e abertura ao mundo. Às vezesconsideramos a Europa como garan-tida. Esquecemos que é um bemprecioso viver na prosperidade eco-nómica, na coesão social, no respeitopelos direitos humanos. Tal como nocaso da liberdade e da saúde, sóapreciamos o seu verdadeiro valorquando tememos perdê-los. A atualpandemia recorda-nos isto de mododoloroso. Como disse Alcide DeGasperi: «Só se estivermos unidosseremos fortes, só se formos fortesseremos livres». Devemos continuara trabalhar por uma Europa maispróxima e mais unida. Este ano aFesta da Europa foi um pouco dife-rente. Mas espero que, para todos oseuropeus, possa contudo ser um mo-mento de celebração da amizade,unidade e solidariedade entre paísese pessoas.

Neste momento de pandemia, o PapaFrancisco exortou várias vezes a Euro-pa a voltar ao sonho dos Pais Funda-dores, um sonho de solidariedade e depaz. É possível realizar este sonho? Co-mo podemos concretizá-lo?

A 9 de maio celebramos o 70º ani-versário da declaração de RobertSchuman, que depois se tornou oponto de partida do nosso caminhorumo à União Europeia. A declara-ção de Schuman mudou o destinodo nosso continente. As suas exigên-cias de uma Europa unida e solidá-ria são válidas como nunca. Hojenão vejo melhor homenagem às pa-lavras de Schuman do que a solida-riedade entre os países da União Eu-ropeia. Os médicos e enfermeiros ro-menos e noruegueses que foram aBergamo para assistir os doentes, aAlemanha que ofereceu as suas uni-dades de cuidados intensivos adoentes da Itália; a França, os PaísesBaixos e a República Checa que en-viaram máscaras à Espanha. O cho-que do coronavírus contém tambémuma mensagem saudável em sentidolato: quem olha só para si não vai

longe. Somente juntos podemos su-perar crises importantes, conflitos ereformas. Isto é válido também parao plano de recuperação ou para anossa União Europeia. Deve ser for-te e traçar com amplas pinceladas ocaminho da Europa rumo ao futuro.Luto por uma Europa fundamenta-da na solidariedade, que abrace comcoragem as oportunidades verdes edigitais e que esteja preparada maissolidamente para crises futuras.

A pandemia evidencia novos egoísmosnacionalistas. Também o Papa Francis-co lançou o alarme a tal respeito. A se-nhora receia que os povos europeus sepossam afastar das suas instituições anível continental? O que podem os líde-res europeus fazer para evitar que istoaconteça?

Devemos ser vigilantes. Mas comovemos, os governos nacionalistas domundo não têm respostas a dar auma pandemia que não conhececonfins, religiões nem cor da pele.No início da crise, alguns Estados-Membros da União Europeia senti-ram o instinto de se fechar e de to-mar medidas de modo isolado. Masno final tudo isto não foi eficaz ecriou problemas. Assim, os governosconcluíram depressa que só pode-mos proteger os nossos cidadãos setrabalharmos em conjunto, se nosajudarmos uns aos outros e se com-partilharmos. Na União Europeia,juntos adotamos centenas de medi-das para assegurar que os hospitaisna Itália ou na Espanha pudessemdispor dos equipamentos de queprecisavam, que os bens essenciais,como medicamentos ou alimentos,chegassem rapidamente às farmáciasou lojas, que os trabalhadores dasregiões fronteiriças pudessem atra-vessar o confim para chegar ao lugarde trabalho e que as pessoas manti-vessem o seu emprego. Agir concre-tamente para proteger a saúde e oslugares de trabalho das pessoas: é is-to que devemos continuar a fazer.

Durante a crise financeira de 2012,Mario Draghi, nessa época presidentedo Banco Central Europeu, afirmouque o euro deve ser preservado a qual-quer preço. “Whatever it takes” (Custeo que custar), disse. Na sua opinião,está hoje a União Europeia disposta,“custe o que custar” a salvar a econo-mia do continente?

Faremos tudo o que estiver aonosso alcance para manter os lugaresde trabalho das pessoas e paraapoiar as empresas ameaçadas pelocolapso da atividade económica. Jáadotamos muitas medidas de apoio.Modificamos as normas sobre asajudas estatais para permitir que osgovernos auxiliem as empresas quese encontram em dificuldades porcausa da crise. Recorremos à plenaflexibilidade das nossas regras orça-mentais para permitir que os gover-nos contrastem a crise. Até agora, aUnião Europeia mobilizou mais detrês mil biliões de euros para ajudaras pessoas, as empresas e a econo-mia nos nossos Estados-Membros. Éa resposta económica mais imponen-te do mundo. Só para citar umexemplo tangível: a União Europeiaajudará as pessoas a manter o em-prego, apoiando o trabalho a tempoparcial. Disponibilizamos cem bi-liões de euros para este modelo, se-melhante ao subsídio de desempre-go. Agora devemos elaborar um pla-no de recuperação, construído sobreum orçamento europeu sólido, quepermita a recuperação das nossaseconomias. Estou certa de que todosos governos da União Europeia en-tendem a dimensão do desafio e queestaremos à altura da tarefa.

Depois desta crise, que papel poderádesempenhar a Europa a nível interna-cional? Na sua opinião, que aspeto teráo multilateralismo após a crise atual?

Este vírus demonstra como omundo está interligado. Estamos pe-rante uma pandemia global e a úni-ca forma de derrotar o vírus é atra-vés da cooperação internacional e dasolidariedade.

Tal foi o objetivo do evento paraa angariação de fundos “C o ro n a v i ru sGlobal Response”, que convoquei a4 de maio, juntamente com numero-sos governos da União Europeia ede outros parceiros. Mais de cin-quenta chefes de Estado e de gover-no, organizações de saúde e empre-sários do mundo inteiro uniram-se anós para angariar fundos e dar inícioa um trabalho sem precedentes emmatéria de vacinas e tratamentoscontra o coronavírus. Angariamos7,4 biliões de euros, mais de metadeprovenientes da União Europeia edos seus governos. E reunimos sob omesmo teto organizações globaisque trabalham para desenvolver va-cinas, tratamentos e meios diagnósti-cos, e para os tornar disponíveis, apreços acessíveis, no mundo inteiro.O bom êxito deste evento demons-trou-nos, mais uma vez, a força dotrabalho conjunto.

A presidente Ursula von der Leyen durante uma conferência em vídeo (Afp)

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página 10 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 19 de maio de 2020, número 20

Foi bispo de Novara e vice-presidente da Conferência episcopal italiana

Faleceu o cardeal Renato CortiAos 84 anos de idade, o cardeal italiano Renato Corti, bispo emérito de No-vara, faleceu em Milão na terça-feira, 12 de maio. O saudoso purpurado nas-ceu em Galbiate, na arquidiocese de Milão, a 1 de março de 1936, e foi orde-nado sacerdote a 28 de junho de 1959. Nomeado auxiliar de Milão a 30 deabril de 1981, e simultaneamente eleito bispo titular de Zallata, recebeu a or-denação episcopal no dia 6 de junho seguinte. Transferido para a sede resi-dencial de Novara a 19 de dezembro de 1990, renunciou ao governo pastoralda diocese a 24 de novembro de 2011. O Papa Francisco no consistório de 19de novembro de 2016 criou-o cardeal do título de São João na Porta Latina.

Pesar do Santo Padre

O cardeal Renato Corti com o Papa Francisco no Consistório de 2016

Em fevereiro de 2005, São JoãoPaulo II — apenas dois meses antesda sua morte — chamou-o parapregar os exercícios espirituaisquaresmais para a Cúria Romana;e dez anos mais tarde, em 2015, foiFrancisco quem lhe confiou a tare-fa de escrever as meditações para aVia-Sacra no Coliseu, na Sexta-fei-ra Santa. Em ambos os casos, Re-nato Corti tinha posto ao serviçodos Pontífices toda a sua expe-riência como bispo particularmen-te apreciada na formação e guiaespiritual dos sacerdotes. Colabo-rador próximo de Carlo MariaMartini em Milão, pastor estima-do em Novara, vice-presidente daConferência Episcopal, foi durantemuito tempo uma figura eminentena vida da Igreja italiana. A púr-pura que o Papa Bergoglio lheconferiu em 2016 foi o reconheci-mento do seu incansável serviçocom grande paixão e zelo. Nasci-do na então província de Como,hoje Lecco, território da arquidio-cese de Milão, depois da escolaprimária, em outubro de 1947 en-trou no seminário menor de Milãocom onze anos de idade, passandopor todo o processo de formaçãoaté à ordenação sacerdotal recebi-da aos vinte e três anos das mãosdo arcebispo Giovanni BattistaMontini, futuro Paulo VI. Inicial-mente exerceu o ministério de vi-gário paroquial no oratório de Ca-ronno Pertusella até 1967, ano emque iniciou a sua atividade comoeducador na escola católica Colle-gio Rotondi em Gorla Minore, naprovíncia de Varese. Em 1969 tor-nou-se padre espiritual no seminá-rio teológico de Milão, sede deSaronno, e em 1978 reitor do bié-nio teológico e do ano propedêuti-

co. Com a nomeação de surpresa— dada a sua jovem idade — comovigário-geral da Arquidiocese deMilão, em setembro de 1980 ini-ciou a sua colaboração de dezanos com o arcebispo jesuíta Mar-tini. Uma contribuição, depoisconsolidada pelo cargo de auxiliarde Milão, nomeado a 30 de abrilde 1981 pelo Papa Wojtyła, e si-multaneamente eleito bispo titularde Zallata. No dia 6 de junho se-guinte, D. Corti recebeu a ordena-ção episcopal do próprio arcebis-po Martini. Como lema, o novobispo escolheu «Cor ad cor loqui-tur», o mesmo do cardeal JohnHenry Newman, uma das figurasprincipais da sua profunda espiri-tualidade, juntamente com SantoAmbrósio e Santo Agostinho, amística francesa Madaleine Del-brêl e o Beato Antonio Rosmini,cuja causa de beatificação D. Cortipromoveu durante o seu ministé-rio episcopal em Novara. Comefeito, a 19 de dezembro de 1990,foi transferido como ordinário pa-ra essa sede residencial, na qualentrou a 3 de março de 1991. A suaprimeira homilia tinha como argu-mento um ditado de Paulo: «Gos-taria de despertar em vós o desejode caminhar pela senda do Evan-gelho». Durante o período do seuministério na diocese de San Gau-denzio — que, sob a sua guia, cele-brara em 1998 o décimo sexto cen-tenário da instituição —, fizera, en-tre outras, uma visita pastoral em1993, no final da qual realizarauma segunda, articulada de acor-do com as novas unidades pasto-rais. Não deixou de seguir os sa-cerdotes de Novara empenhadoscomo fidei donum em África (Bu-rundi e Chade) e na América Lati-

na (Brasil e Uruguai) e viajou pa-ra conhecer essas Igrejas e levarajuda e encorajamento. Sempreatento, como sábio mestre de vidaespiritual, à formação dos jovens,seminaristas e clero, mostrou-setambém próximo dos consagradose das consagradas, especialmentepresidindo às profissões religiosas.Particularmente sensível às pessoasmarginalizadas ia anualmente aoscárceres para preparar e depois ce-lebrar o Natal e a Páscoa com osp re s o s .

Entretanto, o seu prestígio tinhatambém aumentado no seio daCEI, onde, após ter presidido du-rante cinco anos à comissão de co-operação entre as Igrejas e à co-missão para o clero e diáconospermanentes e a vida consagrada,foi chamado para o cargo de vice-presidente. Membro da Congrega-ção para a Evangelização dos Po-vos, foi também vice-presidente daConferência episcopal regional doPiemonte. Neste sentido, a década

que precedeu a criação dos car-deais foi para ele particularmentesignificativa, de 2005 a 2015, queiniciou e se encerrou com as duasexperiências espirituais ao serviçodos sucessores de Pedro. NosExercícios Espirituais do Ano daEucaristia para São João Paulo II,que, gravemente doente, os seguiuda sua capela particular, escolheuo tema da «Igreja ao serviço danova e eterna aliança». Dez anosmais tarde, para a Via-Sacra doPapa Francisco, na Sexta-feiraSanta, inspirou-se na homilia pro-nunciada por Francisco a 19 demarço de 2013, por ocasião do iní-cio do seu ministério como suces-sor de Pedro: «A cruz é o sinalmais alto do amor de Deus quenos protege». Depois, a 24 de no-vembro de 2011, renunciou ao go-verno pastoral de Novara, por li-mite de idade. E, a partir de 7 defevereiro de 2012, retirou-se para osantuário de Rho, em Milão, ofi-ciado pelos padres oblatos dosSantos Carlos e Ambrósio. Masnem sequer depois de ter recebidoa púrpura, no consistório de finaisde 2016, interrompera a sua ativi-dade como formador, especialmen-te em benefício dos novos bisposque participam nos cursos deatualização promovidos por algu-mas congregações do Vaticano emRoma. Em particular, nos últimosanos, fora animador dos dias deNemi, uma iniciativa organizadapelo dicastério para bispos e reali-zada com pequenos grupos deprelados de várias nações. A 25 demarço de 2017, foi um dos conce-lebrantes da missa de rito ambro-siano presidida pelo Papa Francis-co no parque de Monza. E no dia14 de maio seguinte tomou possedo título de São João na PortaLatina, igreja dirigida pelos padresdo Instituto da Caridade, fundadapelo Beato António Rosmini.

Ao tomar conhecimento da notícia da morte do cardealitaliano Renato Corti na manhã de terça-feira, 12 demaio, o Papa Francisco enviou a D. Franco GiulioBrambilla, sucessor do cardeal como bispo de Novara, oseguinte telegrama de pêsames.

Ao tomar conhecimento da notícia da morte do queri-do Cardeal Renato Corti, desejo expressar a si e a to-da a comunidade diocesana, bem como aos familiaresdo saudoso Cardeal e àqueles que o conheceram e esti-maram, a minha proximidade, pensando com afeto eadmiração neste irmão que serviu o Senhor Jesus e aIgreja com exemplar dedicação e delicadeza de espíri-to. Penso com gratidão no intenso ministério espirituale pastoral que dedicou sem se poupar, consumindo-sepelo Evangelho, primeiro na sua arquidiocese natal de

Milão, em particular na formação de seminaristas e sa-cerdotes e como Vigário-Geral, e depois durante mui-tos anos como pastor manso e sábio desta Igreja deNovara. Penso também no seu amor genuíno pela mis-são e pelo ministério de pregação que exerceu comgrande generosidade, em tudo animado por um desejoapaixonado de comunicar o Evangelho de Cristo. Ele-vo a minha oração ao Senhor para que, por intercessãoda Santíssima Virgem Maria, acolha este fiel servo edistinto pastor na Jerusalém celeste, e concedo de co-ração a bênção apostólica àqueles que choram o seudesprendimento terreno, com um pensamento especialpara quantos o ajudaram e acompanharam amorosa-mente nos últimos tempos.

FRANCISCUS P P.

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número 20, terça-feira 19 de maio de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

INFORMAÇÕES

Face à grave crise do país financiadas 400 bolsas de estudo

Ajuda extraordinária do Pontífice para o Líbano

AudiênciasO Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

No dia 9 de maioO Senhor Cardeal Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBisp os.Suas Ex.cias os Senhores Amal Mus-sa Hussain Al-Rubaye e AntoniusAgus Sriyono, respetivamente Em-baixadora do Iraque e Embaixadorda Indonésia, ambos em visita dedesp edida.

RenúnciasO Sumo Pontífice aceitou a renúncia:

A 8 de maioDo Senhor Cardeal Angelo Bagnas-co, ao governo pastoral da Arquidio-cese Metropolitana de Génova (Itá-lia).De D. Marcelo Raúl Martorell, aogoverno pastoral da Diocese dePuerto Iguazú (Argentina).

A 9 de maioDe D. Alvaro Corrada del Río, S.J.,ao governo pastoral da Diocese deMayagüez (Porto Rico).

A 13 de maioDe D. Louis Chamniern Santisukn-riran, ao governo pastoral da Arqui-diocese Metropolitana de Tharé andNonseng (Tailândia).

NomeaçõesO Santo Padre nomeou:

No dia 8 de maioArcebispo Metropolitano da Arqui-diocese de Génova, na Itália, oRev.do Pe. Marco Tasca, O.F.M.conv., ex-Ministro-Geral da Ordemdos Franciscanos Menores Conven-tuais.

D. Marco Tasca, O.F.M. Conv., nas-ceu em Sant’Angelo di Piove di Sacco,

Pádua (Itália), no dia 9 de junho de1957, e recebeu a Ordenação sacerdotala 19 de março de 1983.

Bispo de Puerto Iguazú (Argentina),D. Nicolás Baisi, até agora Bispo Au-xiliar da Arquidiocese de La Plata.

No dia 9 de maioBispo de Mayagüez, em Porto Rico,o Rev.do Pe. Ángel Luis Río Matos,do clero da mesma Sede, até estadata Vigário Judicial local e Párocode “San Sebastián Mártir”.

D. Ángel Luis Río Matos nasceu emAguada (Porto Rico), a 5 de outubrode 1956 e foi ordenado Presbítero em11 de janeiro de 1985.

No dia 11 de maioBispo Coadjutor de Peoria (EstadosUnidos da América), o Rev.do Pe .Louis Tylka, do clero da Arquidioce-se de Chicago, até hoje Pároco da“Saint Julie Billiart Parish” em Tin-ley Park e Presidente do Conselhopresbiteral da mesma Sede (Illinois).

D. Louis Tylka nasceu no dia 26 demaio de 1970, em Harvey, Chicago,nos Estados Unidos da América, e re-cebeu a Ordenação sacerdotal a 18 demaio de 1996.

No dia 12 de maioBispo de Rapid City (Estados Uni-dos da América), o Rev.do Pe. PeterMichael Muhich, do clero da Dioce-se de Duluth, Minnesota, até à pre-sente data Reitor da Catedral “O urLady of the Rosary” na mesma Se-de.

Peter Michael Muhich nasceu a 13de maio de 1961, em Eveleth, Duluth,nos Estados Unidos da América, e foiordenado Presbítero em 29 de setembrode 1989.

No dia 13 de maio

Arcebispo da Sede Metropolitana deTharé and Nonseng (Tailândia), oR e v. mo Mons. Anthony WeradetChaiseri, do clero de Tharé andNonseng, até agora Vigário-Geral damesma Arquidiocese.

D. Anthony Weradet Chaiseri nasceuno dia 26 de junho de 1963, em Tha-ré, na Tailândia, e recebeu a Ordena-ção sacerdotal a 21 de março de 1992.

Bispo de Bafia (Camarões), D. Em-manuel Dassi Youfang, até hoje Bis-po Auxiliar da Diocese de Bafous-sam.Bispo de Mpanda (Tanzânia), D.Eusebius Alfred Nzigilwa, até estadata Bispo Auxiliar da Arquidiocesede Dar-es-Salaam.

Prelados falecidosAdormeceu no Senhor:

A 7 de maioD. Eugenio Ravignani, Bispo Eméri-to de Trieste, na Itália.

O venerando Prelado nasceu em Pu-la (hoje Croácia), no dia 30 de dezem-bro de 1932. Foi ordenado Sacerdoteem 3 de julho de 1955 e recebeu a Or-denação episcopal a 24 de abril de1983.

O Papa Francisco dispôs uma ajudaextraordinária para o Líbano, atingi-do por uma grave crise, doando200.000 dólares americanos destina-dos a 400 bolsas de estudo. A notí-cia foi divulgada a 14 de maio, comum comunicado da Sala de imprensada Santa Sé, recordando a «solicitu-de paternal» com que o Pontífice«continuou a acompanhar nestesmeses a situação» da amada nação,definida por São João Paulo II“país-mensagem”, onde Bento XVIpromulgou a exortação pós-sinodalEcclesia in Medio Oriente, desde sem-pre exemplo da coexistência e ir-mandade que o Documento para aFraternidade Humana, assinado emAbu Dhabi no dia 4 de fevereiro de2019 pelo Papa Bergoglio e peloGrão-Imã de Al Azhar, «quis ofere-cer ao mundo inteiro».

«O país dos cedros, neste anocentenário do “Grande Líbano” —prossegue o comunicado — encontra-se numa grave crise que gera sofri-mento e pobreza, e corre o risco de“roubar a esperança”, especialmenteàs gerações mais jovens, que veem oseu presente difícil e o seu futuro in-certo». E, neste contexto, «torna-secada vez mais difícil assegurar aos fi-

lhos e às filhas do povo libanês oacesso à educação que, sobretudonos pequenos centros, foi sempre ga-rantido pelas instituições eclesiásti-cas». Assim, «como sinal tangível deproximidade, o Santo Padre, atravésda Secretaria de Estado e da Con-gregação para as Igrejas Orientais,decidiu enviar à nunciatura apostóli-ca» a quantia destinada às bolsas de

estudo, «na esperança de que sepossa alcançar uma aliança de soli-dariedade, e com a esperança de quetodos os atores nacionais e interna-cionais persigam responsavelmente abusca do bem comum, superandotodas as divisões ou interesses parti-dários».

Assim, a iniciativa do Pontíficeune-se à contribuição oferecida nes-

tes dias pelo “Fundo de emergênciada CIO (Congregação para as IgrejasO rientais)”, instituído com a finali-dade de debelar a pandemia de Co-vid-19. «A Mãe de Deus, que damontanha de Harissa vela sobre oLíbano, proteja o povo libanês -conclui o comunicado — com os san-tos do querido país dos cedros».

Page 11: Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 OL’ S S E RVATOR E ROMANO€¦ · Guardiões e servidores da vida, ao mesmo tempo que ministram as tera-pias necessárias, infundem coragem,

página 12 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 19 de maio de 2020, número 20

Continue a intercederpela paz no mundo

Francisco recordou São João Paulo II

REGINA CAELI

«Do Céu ele continue a intercederpelo Povo de Deus e pela paz nomundo»: na vigília do centenário donascimento de São João Paulo II,Francisco recordou o seu predecessorno final do Regina caeli, recitado a17 de maio na Biblioteca particulardo Palácio apostólico do Vaticano.Anteriormente, comentando oEvangelho do domingo (João 14, 15-21), o Pontífice falou da observânciados mandamentos e da promessa doEspírito Santo.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!O Evangelho deste domingo (cf.Jo 14,15-21) apresenta duas mensa-gens: a observância dos manda-mentos e a promessa do EspíritoSanto.

Jesus une o amor a Ele à obser-vância dos mandamentos, e sobre is-to insiste no seu discurso de despe-dida: «Se Me amardes, guardareisos meus mandamentos» (v. 15);«Aquele que tem os meus manda-mentos e os guarda, esse é que Meama» (v. 21). Jesus pede-nos paraO amar, mas Ele explica: este amornão termina num desejo d’Ele, ounum sentimento, não, requer avontade de seguir o Seu caminho,ou seja, a vontade do Pai. E istoresume-se no mandamento doamor recíproco — o primeiro amor[na concretização] — dado pelopróprio Jesus: «Assim como eu vosamei, vós também vos deveis amaruns aos outros» (Jo 13, 34). Ele nãodisse: «Amai-me como eu vosamei», mas «amai-vos uns aos ou-tros como eu vos amei». Ele ama-nos sem nos pedir nada em troca.O amor de Jesus é gratuito, elenunca nos pede recompensa. E elequer que este seu amor gratuito setorne a forma concreta de vida en-tre nós: esta é a sua vontade.

Para ajudar os discípulos a per-correr este caminho, Jesus prometeque vai rezar ao Pai para enviar«outro Paráclito» (v. 16), ou seja,um Consolador, um Defensor quetomará o Seu lugar e lhes dará ainteligência para ouvir e a coragempara observar as Suas palavras. Es-te é o Espírito Santo, que é o domdo amor de Deus que desce ao co-ração do cristão. Depois que Jesusmorreu e ressuscitou, o Seu amor édado àqueles que creem n’Ele e sãobatizados em nome do Pai e do Fi-lho e do Espírito Santo. O próprioEspírito os guia, os ilumina, os for-talece, para que cada um possa ca-minhar na vida, mesmo através da

adversidade e da dificuldade, nasalegrias e nas tristezas, permane-cendo no caminho de Jesus. Isto épossível unicamente se nos manti-vermos dóceis ao Espírito Santo,para que, através da sua presençaativa, possa não só consolar mastambém transformar os corações,abrindo-os à verdade e ao amor.

Perante a experiência do erro edo pecado — que todos nós come-temos — o Espírito Santo ajuda-nosa não sucumbir e faz-nos compre-ender e viver plenamente o sentidodas palavras de Jesus: «Se meamardes, guardareis os meus man-damentos» (v. 15). Os mandamen-tos não nos são dados como umaespécie de espelho no qual ver re-fletidas as nossas misérias, as nos-sas, e incoerências. Não, não é as-sim. A Palavra de Deus é-nos dadacomo a Palavra de vida, que trans-forma o coração, a vida, que se re-nova, que não julga para condenar,mas cura e tem como fim o per-dão. A misericórdia de Deus é as-sim. Uma palavra que é luz paraos nossos passos. E tudo isto éobra do Espírito Santo! Ele é oDom de Deus, ele mesmo é Deus,que nos ajuda a sermos pessoas li-vres, pessoas que querem e sabemamar, pessoas que compreenderamque a vida é uma missão para pro-clamar as maravilhas que o Senhorrealiza naqueles que confiam Nele.

Que a Virgem Maria, modelo daIgreja que sabe escutar a Palavrade Deus e acolher o dom do Espí-

rito Santo, nos ajude a viver comalegria o Evangelho, sabendo quesomos sustentados pelo Espírito,fogo divino que aquece os nossoscorações e ilumina os nossos pas-sos.

No final do Regina caeli, antes de irà janela para conceder a bênção sobrea praça de São Pedro ainda vazia, oPapa recordou Wojtyła. Em seguidafalou do recomeço, a partir do dia18, das missas em Itália e dirigiuum pensamento às crianças quedeveriam receber a Primeiracomunhão mas por causa dapandemia tiveram que adiar oencontro com Jesus na Eucaristia.Por fim recordou o início da«Semana Laudato si'» paracomemorar o quinto aniversário daencíclica sobre o Cuidado da casacomum.

Amados irmãos e irmãs!Amanhã celebra-se o centenário donascimento de São João Paulo II,em Wadowice, na Polónia. Recor-

damo-lo com muito carinho e gra-tidão. Amanhã, pelas 7 horas, cele-brarei a Santa Missa, que serátransmitida em todo o mundo, noaltar onde repousam os seus despo-jos mortais. Do Céu ele continuaráa interceder pelo Povo de Deus epela paz no mundo.

Em alguns países retomaram-seas celebrações litúrgicas com osfiéis; noutros está a ser avaliada apossibilidade; em Itália, a partir deamanhã será possível celebrar aSanta Missa com o povo; mas, porfavor, continuemos a respeitar asnormas, as prescrições que nosdão, de modo a salvaguardar asaúde de cada um e do povo.

No mês de maio, é tradicionalem muitas paróquias celebrar asMissas da Primeira Comunhão. Éevidente que, devido à pandemia,este belo momento de fé e de cele-bração foi adiado. Por conseguinte,desejo enviar um pensamento afe-tuoso aos meninos e meninas quedeveriam ter recebido a Eucaristiapela primeira vez. Caros amigos,convido-vos a viver este tempo deespera como uma oportunidade pa-ra vos preparardes melhor: rezar,ler o livro do Catecismo para apro-fundar o conhecimento de Jesus,para crescer na bondade e no servi-ço aos outros. Desejo-vos bom ca-minho!

Hoje começa a Semana da Lau-dato si’, que terminará no próximodomingo, comemorando o quintoaniversário da publicação da Encí-clica. Nestes tempos de pandemia,em que estamos mais conscientesda importância de cuidar da nossacasa comum, espero que toda anossa reflexão e empenho comunsajudem a criar e reforçar atitudesconstrutivas para o cuidado dacriação.

E desejo-vos a todos bom do-mingo. Por favor, não vos esque-çais de rezar por mim. Bom almo-ço e até à vista.