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i Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna Ximenez 1980), em uma Ilha Subtropical no Sul do Brasil Kelen Rodrigues da Veiga Orientadora: Profª. Drª. Ioni Gonçalves Colares Co-Orientador: Prof. Dr. Elton Pinto Colares Rio Grande 2013 Universidade Federal do Rio Grande Instituto de Ciências Biológicas Pós-graduação em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais

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Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna

Ximenez 1980), em uma Ilha Subtropical no

Sul do Brasil

Kelen Rodrigues da Veiga

Orientadora: Profª. Drª. Ioni Gonçalves Colares Co-Orientador: Prof. Dr. Elton Pinto Colares

Rio Grande 2013

Universidade Federal do Rio Grande Instituto de Ciências Biológicas Pós-graduação em Biologia de

Ambientes Aquáticos Continentais

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Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna Ximenez 1980),

em uma Ilha Subtropical no Sul do Brasil

Aluna: Kelen Rodrigues da Veiga

Orientadora: Profª. Drª. Ioni Gonçalves Colares

Co-Orientador: Prof. Dr. Elton Pinto Colares

Rio Grande 2013

Universidade Federal do Rio Grande Instituto de Ciências Biológicas

Pós-graduação em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Biologia de Ambientes

Aquáticos Continentais como requisito

parcial para a obtenção do título de Mestre

em Biologia de Ambientes Aquáticos

Continentais.

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“... se falo na natureza, não é porque saiba o que ela é,

mas porque a amo...”

Fernando Pessoa

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Rio Grande e PPG-BAC, pela oportunidade de

desenvolver este trabalho.

À Fundação de Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), pela concessão da bolsa de estudos.

À professora Ioni Gonçalves Colares, pela orientação, amizade e pelo

acompanhamento e ensinamentos, desde os tempos de graduação.

Ao professor Elton Pinto Colares, pela co-orientação e por ter me apresentado ao

estudo de dietas, que me encantou e encanta até hoje.

Aos professores Sonia Marisa Hefler e Alex Bager, pelo aceite do convite para

compor a banca avaliadora, além das considerações que farão ao manuscrito.

À professora Sonia Hefler e à técnica Caroline Igansi Duarte, pela amizade e

dedicação no auxílio para a identificação das plantas.

Ao professor Ubiratã Hepp e a Carol (Caroline Duarte), pelo auxílio nas análises

estatísticas.

Aos colegas de laboratório Bia (Bianca Barreto) e Penna (Fábio Penna), pelas trocas

de ideias e incentivo durante essa jornada. E em especial às queridas amigas Fran (Francini

Ramos da Rosa) e Mari (Marilia da Silva Costa), que me acompanharam desde a “Salinha 22”,

seja ajudando nos trabalhos de campo e laboratório, seja nos momentos de descontração, como

na pausa para o café e horário de almoço.

Às meninas Vivi, Jose, Michele, Drica, Simone e Edna, pelas conversas e companhia

no horário do almoço ou ao final do dia, quando restavam apenas algumas de nós no prédio da

Botânica.

Ao seu Abílio, dona Iara, Elisângela e Pedrinho, pelo acolhimento imediato e por

permitirem que eu desenvolvesse minha pesquisa nos seus “quintais”.

Aos meus pais, pelo amor, incentivo e compreensão nos momentos de ausência e até

pelo inusitado auxílio no trabalho de campo, em algumas ocasiões.

Ao meu irmão, pelo apoio e paciência de muitas vezes me esperar para a “hora da

carona”, no final da noite ao sair do laboratório.

Ao Ricardo, pelo amor, compreensão e apoio constantes. Pelas ideias, palavras de

incentivo e companheirismo, nas saídas de campo e nos momentos de escrita deste trabalho.

Aos demais técnicos de laboratório e professores, que, em algum momento ao longo

deste trabalho, estiveram presentes, sempre prestativos.

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RESUMO

O gênero Cavia pertence à família Caviidae. No Rio Grande do Sul são encontradas as espécies

C. aperea e C. magna, sendo a última ocorrente na Ilha dos Marinheiros, local onde foi

realizado este estudo. A disponibilidade de alimentos no ambiente é importante para o

desenvolvimento da espécie. Assim, o objetivo desse estudo foi determinar preferência

alimentar de Cavia magna, relacionando as espécies vegetais encontradas na dieta com suas

disponibilidades no ambiente. Foram realizadas sazonalmente, no período de um ano, coletas e

levantamento da vegetação, estimando a cobertura de cada espécie para posteriormente calcular

o Índice de valor de importância (IVI). Mensalmente, nesse mesmo período, foram coletadas

amostras de fezes dos preás, para análise micro-histológica, técnica esta amplamente utilizada

para determinação da dieta de herbívoros. Os dados foram coletados em dois transectos, um ao

Norte e outro ao Sul da Ilha em 30 unidades amostrais de 1m², cada. Testes MANOVA e de

Mantel foram realizados para determinar a relação entre a distribuição e abundância das

espécies vegetais no ambiente, e as espécies encontradas nas amostras fecais. No ambiente

foram registradas 96 espécies distribuídas em 44 famílias durante os períodos amostrados,

sendo Asteraceae, Poaceae e Cyperaceae as mais representativas. Juncus acutus apresentou

maior Índice de Valor de Importância (IVI) na área Norte nos quatro períodos estudados e no

verão e outono na área Sul. Cladium jamaicense e Plantago australis tiveram maior IVI nos

períodos de inverno e primavera, respectivamente. Nas amostras fecais foram identificadas 24

espécies vegetais pertencentes a 19 famílias. Poaceae foi a família com maior número de

espécies frequente na dieta para ambas as áreas. Na área Norte, Hypoxis decumbens e Juncus

acutus foram as espécies de maior frequência nas amostras de fezes, enquanto que na área Sul,

a espécie mais frequente foi Paspaum urvillei. Os testes MANOVA demonstraram

variabilidade de espécies tanto no ambiente quanto nas amostras de fezes, no que se refere às

estações do ano. O teste de Mantel mostrou influência significativa entre a disponibilidade da

vegetação e as espécies consumidas pelo preá, porém com baixa correlação. As espécies mais

consumidas foram buscadas por C. magna em maiores distâncias, ou selecionadas, mesmo

quando ofertadas em menores quantidades no ambiente, demonstrando seletividade e

preferência deste roedor por algumas espécies vegetais no presente estudo.

Palavras-chave: Caviidae; dieta; estuário; herbivoria; roedor;

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ABSTRACT

The Genus Cavia belongs to the family Caviidae. In Rio Grande do Sul are found the species

C. aperea and C. magna, the last occurring on the Marinheiros Island, where the study was

conducted. The availability of food in the environment is crucial for the development of the

species. The objective of this study was to determine the feeding preference of Cavia magna

listing the plant species found in the diet with their availability in the environment. Were

conducted seasonally, during one year, sampling and survey of vegetation, estimating the

coverage of each species to subsequently calculate the importance value index (IVI).

Monthly, during the same period, samples of cavies’s feces were collected for micro-

histological analysis, this technique is widely used to determine the diet of herbivores. Data

were collected in two transects, one North and the other South of the island in 30 sampling

units of 1m² each. MANOVA and Mantel’s Test was conducted to determine the relationship

between the abundance and distribution in the environment of the plant species and species

found in fecal samples. The environment has been recorded 96 species in 44 families in the

sample periods, and Asteraceae, Poaceae and Cyperaceae were the most representative. Juncus

acutus showed greater Importance Value Index (IVI) in the North area in the four periods and

during summer and autumn, in the South area. Cladium jamaicense and Plantago australis had

higher IVI during winter and spring, respectively. In fecal samples were identified 24 plant

species belonging to 19 families. Poaceae was the family with the highest number of species in

the diet for both areas. In the North, Hypoxis decumbens and Juncus acutus were the species

most frequently in stool samples, while in the South, the most frequent was Paspaum urvillei.

MANOVA tests demonstrate that there is both species variability in the environment and in the

feces sample, with respect to seasons. The Mantel test showed significant influence between

the availability of vegetation and species consumed by cavy, but with low correlation. The

most consumed species were sought by C. magna at greater distances, or selected, even when

offered in smaller quantities in the environment, demonstrating selectivity and preference of

this rodent by some vegetal species in this study.

Key-words Caviidae; dietary; estuary: herbivory; rodent;

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SUMÁRIO

Lista de figuras ............................................................................................................. viii

Lista de tabelas ............................................................................................................... ix

Introdução Geral ............................................................................................................ 10

Referências Bibliográficas ............................................................................................. 15

Artigo

Título, Autores e Resumo .................................................................................. 01

Introdução .......................................................................................................... 02

Material e Métodos ........................................................................................... 04

Resultados .......................................................................................................... 07

Discussão ........................................................................................................... 14

Agradecimentos ................................................................................................. 20

Referências ........................................................................................................ 21

Anexo 01: Normas para submissão à revista: Journal of Animal Ecology ................... 28

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Número médio de espécies ocorrentes na dieta de Cavia magna nos quatro

períodos analisados para as áreas Norte e Sul da Ilha dos Marinheiros........................................13

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Indicadores de diversidade das espécies vegetais nas áreas Norte e Sul da Ilha

dos Marinheiros. H’ = Diversidade de Shannon-Wiener; J’ = Equabilidade de Pielou. Os

valores foram calculados baseados na amostragem total para cada período, em cada

região. .......................................................................................................................................... 10

Tabela 02 – Espécies vegetais encontradas na Ilha dos Marinheiros e ocorrentes na dieta

de Cavia magna, nas áreas Norte e Sul e quatro estações do ano. Onde IVI (%) = Índice

de valor de importância das espécies amostradas no ambiente; A (%) = frequência de

ocorrência do item nas amostras de fezes; V = verão; O = outono; I = Inverno;

P = primavera. ............................................................................................................................ 11

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INTRODUÇÃO GERAL

Os roedores (Rodentia) apresentam mais de 2000 espécies distribuídas em

cerca de 35 famílias (Cherem, Olimpio & Ximenez 1999; IUCN 2013). De acordo com

Myers (2000), esse grupo corresponde a mais de 40% das espécies descritas de

mamíferos. Segundo Fontana, Bencke & Reis (2003), aproximadamente 25% das

famílias podem ser encontradas no Brasil, com 42 espécies no Rio Grande do Sul. Esse

grupo apresenta semelhanças morfológicas, como a presença de dois grandes dentes

incisivos superiores e dois inferiores cortantes e de crescimento contínuo (Silva 1994).

Apresenta também diferenciações adaptativas, como por exemplo, as capivaras, onde os

olhos, orelhas e narinas estão dispostos em linha, mantendo apenas a parte superior da

cabeça fora d’água, quando está nadando ou fugindo de predadores (Cicco 2011).

A família Caviidae, inserida na ordem Rodentia, é composta por cinco gêneros

e quatorze espécies (Myers 2000). O gênero Cavia Pallas 1766 é formado por pequenos

roedores comumente denominados preás (Cherem, Olímpio & Ximenez 1999), e inclui

as espécies: C. aperea Erxleben, 1777; C. fulgida Wagler, 1831; C. magna Ximenez,

1980; C. intermedia Cherem et al., 1999; C. porcellus Linnaeus, 1758; C. nana

Thomas, 1917; C. anolaimae J. A. Allen, 1916; C. guianae Thomas, 1901; C. tschudii

Fitzinger, 1867; (Nowak, 1991; Cherem, Olímpio & Ximenez 1999). De acordo com

Bonvicino, Oliveira & D’Andrea (2008), deste total, as cinco primeiras espécies são

encontradas no Brasil.

Segundo Silva (1994), no Rio Grande do Sul são registradas apenas duas

espécies para o gênero São estas C. aperea e C. magna (Tagliani et aI. 2006; Gava,

Santos & Quintela 2011). Cherem, Olímpio & Ximenez (1999) diferenciam essas

espécies pelo número de almofadas subdigitais, duas em C. aperea e três em C. magna,

pela coloração dorsal, mais clara em C. aperea, e ainda e pela distinção no tamanho do

indivíduo, sendo C. magna maior que C. aperea. De acordo com Ximenes (1980), a

espécie C. magna apresenta a pelagem da região ventral amarela clara, e a pelagem

dorsal escura, com pelos negros e laranjas, escurecendo na parte superior da cabeça.

Além disso, possui um anel de pelos brancos ao redor dos olhos (Bonvicino, Oliveira &

D’Andrea 2008). Como em outras espécies do gênero, os machos são maiores que as

fêmeas (Ximenez 1980). Segundo Cherem, Olimpio & Ximenez (1999), os

representantes dessa espécie possuem o corpo alongado, medindo de 17 a 40 cm de

comprimento. Ainda, apresentam-se com membros locomotores curtos e cauda vestigial

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(Silva 1994). Os pés anteriores possuem quatro dedos e os posteriores três, com

membranas interdigitais. Dispõem de unhas longas, fortes e cortantes (Cherem, Olímpio

& Ximenez 1999).

De acordo com Ximenez (1980), os preás habitam ao longo da orla costeira,

sobre formações vegetais litorâneas que se encontram imediatamente atrás das dunas e

em zonas de restinga e de estuário, onde o solo é salino. Complementando, esses

animais podem ser encontrados na borda de matas em áreas de Mata Atlântica (Mares,

Braun & Gettinger 1989; Marinho-Filho, Rodrigues & Guimarães 1998), em áreas

úmidas (Acosta & Pafundi 2005; Trillmich, Sötemann & Clara 2007) e ainda em

vegetações baixas e fechadas, como capinzais, gravatás e capoeiras (Ximenez 1980).

Silva (1994) reporta que este é um animal que apresenta facilidade de se

adaptar aos ambientes com vegetação antropizada. Ximenez (1980) confirmou sua

adaptação à vida semiaquática, quando observou alguns animais que durante inundações

periódicas foram capazes de nadar mais de 250 metros. C. magna é normalmente um

animal solitário e com atividade nas primeiras e últimas horas de sol (Silva 1994; Kraus

et al. 2005). A vegetação e sua pelagem característica auxiliam na proteção contra

predadores (Cassini & Galante 1992). Apesar disso, são predados por diversos

mamíferos e aves carnívoras (Silva 1994). Como exemplo de predadores tem-se a cuíca-

de-cauda-grossa (Lutreolina crassicaudata), o gambá-de-orelha-branca (Didelphis

albiventris) e o ximango (Milvago chimango) (Ximenez 1980).

Segundo Begon, Townsend & Harper (2006), nos herbívoros vertebrados, o

ganho energético a partir dos recursos alimentares é determinado pela estrutura do

intestino. C. magna se alimenta de vegetais diversos (Silva 1994). É um herbívoro

monogástrico e depende da fermentação microbiana no intestino para obtenção

energética, de 30 a 40% de energia de manutenção (Engelhardt 1995). A microflora

intestinal produz ácidos graxos de cadeias curtas na porção final do intestino. Estes são

absorvidos pelo epitélio do animal, na porção final do intestino, sendo obtidos através

da fermentação de elementos não digeríveis pelo animal, como polissacarídeos de

plantas e muco (Tsukahara & Ushida 2000).

As fezes de C. magna são cilíndricas, pequenas e de coloração verde escuro,

com um muco viscoso quando frescas. Apesar de apresentar grande digestibilidade de

fibras e outros componentes alimentares, este roedor faz uso da coprofagia, a fim de

obter uma maior abundância nutricional através dos vegetais por eles ingeridos

(Sakaguchi & Nabata 1992). Segundo Bressan et al. (2005), a coprofagia faz com que

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haja uma segunda passagem da ingesta pelo intestino delgado, após a fermentação na

primeira passagem. Essa passagem possibilita uma suplementação dos requerimentos

diários de vitaminas (Banks 1992).

De acordo com Borges et al. (2008), a preferência alimentar pode ser atribuída

a variáveis ambientais, como, por exemplo, a influência da presença de predadores, a

oferta do alimento no ambiente e ainda períodos longos de alagamento ou de seca dos

ambientes de forrageio, que podem alterar a disponibilidade dessa oferta. Esta, quando

há abundância e possibilidade de escolha, pode influenciar a dinâmica da população

(Raut & Barker 2002). Ainda, pode potencializar os ganhos nutricionais, influenciar a

taxa de crescimento, a sobrevivência e a fecundidade, uma vez que a aquisição de

diferentes nutrientes resulta em indivíduos maiores em um curto espaço de tempo

(Fischer, Costa & Nering 2008).

Estudos com hábitos alimentares podem ser desenvolvidos seguindo diversos

procedimentos. Entre eles, pode-se salientar a observação dos animais em campo, tendo

percepção acerca do que está sendo consumido pelo animal, em um dado período

específico. Entre os estudos que desenvolvem essa técnica, tem-se Candia & Dalmasso

(1995), que analisaram a alimentação de guanacos (Lama guanicoe) na Argentina,

Barreto & Herrera (1998), que estudaram a dieta de capivaras (Hydrochaeris

hydrochaeris) na Venezuela, Miranda (2005), que verificou o consumo de itens

alimentares dos esquilos (Sciurus ingrami), no Paraná e Prigioni, Balestrieri & Remonti

(2005) que analisaram os hábitos alimentares do ratão do banhado (Myocastor coypus)

na Itália.

Um segundo procedimento de estudos de dieta seria a análise por meio do

estudo de conteúdo estomacal/intestinal. Com dessa técnica, os dados são obtidos a

partir de animais já mortos. Borges et al. (2008) utilizaram essa técnica para estudar o

hábito alimentar do peixe-boi marinho (Trichechus manatus) no nordeste brasileiro e

Castellarini, Dellafiori & Polop (2003), a de pequenos mamíferos na Argentina.

Ainda, é possível que se faça a identificação de itens alimentares por análise de

fezes, utilizando técnicas micro-histológicas (Abbas 1991), não invasivas ao animal.

Esse tipo de análise vem sendo bastante utilizada para definir a alimentação de diversas

espécies herbívoras, visto que as espécies vegetais apresentam estruturas não digeríveis

(Bozinovic, Novoa & Sabat 1997; Perazzolo et al., 2000), o que torna possível

identificar as espécies presentes na alimentação. Entre os estudos que usam essa técnica

tem-se o de guanacos (Lama guanicoe) por Puig et al. (2001) na Argentina, do peixe-

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boi (Trichechus inunguis), por Colares & Colares (2002) no Amazonas, da capivara

(Hydrochoerus hydrochaeris), por Borges & Colares (2007) no Rio Grande do Sul e do

ratão do banhado (Myocastor coypus), por Colares et al. (2010) no Rio Grande do Sul.

O uso dessa técnica tem maior aplicação pelo fato de não influenciar na rotina dos

animais. Além disso, torna-se possível coletar um ilimitado número de amostras,

proporcionando dessa forma uma maior abrangência na realização de estudos.

A análise da dieta possibilita uma maior compreensão acerca da interação entre

herbívoros e plantas no ambiente em que estão inseridos (Borges et al. 2008; Colares et

al. 2010). Segundo Begon, Townsend & Harper (2006), os efeitos em uma planta,

causados pela herbivoria, variam de acordo com o tempo de ataque do herbívoro em

relação ao desenvolvimento da mesma. As interações entre os herbívoros e as plantas

envolvem recursos renováveis, uma vez que as espécies vegetais constantemente se

regeneram no ambiente (Ricklefs 2010). De acordo com Leal, Tabarelli & Silva (2003),

mesmo que apenas parte da estrutura da planta seja removida no processo da herbivoria,

em alguns períodos, a perda pode ser completa, influenciando a diversidade da

vegetação no ambiente. Se ocorre uma redução na quantidade de espécies vegetais no

ambiente, os consumidores reduzem a taxa de renovação do próprio suprimento

alimentar (Ricklefs 2010). Essa diminuição de recursos pode influenciar

significativamente a sucessão ecológica do hábitat (Lowman 1985). A teoria do

forrageamento ótimo (TFO) expõe que no ambiente, o tempo para a obtenção de

nutrientes deve ser minimizado e a quantidade de energia e nutrientes ingeridas deve ser

potencializada (Torres-Contreras & Bozinovic, 1997). Os animais devem preferir locais

seguros no interior de florestas, à locais vulneráveis, como campos abertos, onde há um

maior o risco de predação (Begon, Townsend & Harper 2006).

Segundo Morris & MacEachern (2010), os roedores demonstram potencial para

movimentações adaptativas, que influenciam a variabilidade ecológica de um hábitat e

ainda escolhem o habitat para alimentação, assim como os alimentos a serem ingeridos.

Os fatores determinantes da dieta animal dependem da qualidade e abundância do

alimento, assim como da escolha de onde ocorre a alimentação, avaliando-se o custo-

benefício para tal (Torres-Contreras & Bozinovic 1997). Como a composição da

comunidade de mamíferos pode ter um importante efeito na estrutura do habitat e

diversidade florística (Brown & Heske 1990; Asquith, Wright & Claus 1997), a

disponibilidade de alimento torna-se de extrema importância para o desenvolvimento

dessas espécies. Nesse sentido, um estudo da dieta de um animal pode auxiliar na sua

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conservação e manejo. Assim, considerando que a compreensão da diversidade e

estrutura da comunidade da vegetação presente na Ilha dos Marinheiros pode

representar uma importante ferramenta para a preservação do preá, o presente trabalho

teve por escopo relacionar os vegetais encontrados na dieta de Cavia magna com a

disponibilidade dessas espécies vegetais no ambiente, determinando, dessa forma, a sua

preferência alimentar.

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1

Preferência alimentar de Cavia magna em uma 1

Ilha Subtropical no Sul do Brasil 2

3

K. R. Veiga* a, E. P. Colares ª e I. G. Colares ª 4

a Instituto de Ciências Biológicas – ICB, Pós-Graduação em Biologia de Ambientes 5

Aquáticos Continentais - Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande, Brasil 6

7

* Autor para correspondência: [email protected] 8

Resumo 9

Cavia magna se alimenta de vegetais diversos. Conhecer sua dieta é um dos primeiros 10

passos para o entendimento de sua ecologia. Dada a importância de conhecer a dieta de 11

um animal, o estudo objetivou relacionar os vegetais encontrados na dieta de C. manga 12

e a disponibilidade dessas espécies no ambiente, determinando sua preferência 13

alimentar. Expedições de campo foram realizadas, sazonalmente, para coleta e 14

determinação da vegetação, ao longo de dois transectos, em 30 unidades amostrais de 15

1m², cada. A partir da estimativa da cobertura das espécies vegetais, foi determinado, 16

para cada uma, o seu índice de valor de importância (IVI). Simultaneamente, em 17

intervalos mensais, foram coletadas amostras de fezes de C. magna, para análise micro-18

histológica. Testes de MANOVA e Mantel foram realizados, para determinar a relação 19

entre a distribuição e abundância das espécies vegetais no ambiente e as espécies 20

encontradas nas amostras fecais. No ambiente foram registradas 96 espécies distribuídas 21

em 44 famílias, sendo Asteraceae, Poaceae e Cyperaceae as de maior 22

representatividade. Juncus acutus apresentou o maior IVI na área Norte nos quatro 23

períodos estudados e ainda nos períodos de verão e outono na área Sul, enquanto 24

Cladium jamaicense e Plantago australis tiveram os maiores IVI nos períodos de 25

inverno e primavera, respectivamente. Nas amostras de fezes foram identificadas 24 26

espécies vegetais pertencentes a 19 famílias. Poaceae foi a mais numerosa na dieta para 27

ambas as áreas. Na área Norte, Hypoxis decumbens e J. acutus foram as com maior 28

frequência nas amostras de fezes, já na área Sul, Paspaum urvillei foi a mais frequente. 29

O teste MANOVA demonstrou que há variabilidade de espécies tanto no ambiente 30

quanto nas amostras de fezes, no que se refere às estações do ano. O teste de Mantel 31

mostrou influência significativa entre a disponibilidade da vegetação e as espécies 32

consumidas pelo preá, porém com baixa correlação. As espécies mais consumidas 33

foram buscadas por C. magna em maiores distâncias, ou selecionadas, mesmo quando 34

ofertadas em menores quantidades no ambiente, demonstrando seletividade e 35

preferência deste roedor por algumas espécies vegetais no presente estudo. 36

37

Palavras-chave: Caviidae; estuário; herbivoria; roedor; 38

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2

Introdução 39

O gênero Cavia Pallas 1766, pertencente à ordem Rodentia, é formado por 40

pequenos roedores comumente denominados preás (Cherem, Olimpio & Ximenez 41

1999). No sul do Brasil são registradas apenas as espécies Cavia aperea Erxleben 1777 42

e Cavia magna Ximenez 1980 para esse gênero (Silva 1994; Tagliani et al. 2006; Gava, 43

Santos & Quintela 2011). C. magna é um herbívoro roedor que habita o litoral sul do 44

Brasil e ao longo do litoral leste do Uruguai (Gava, Santos & Quintela 2011; IUCN 45

2013). Segundo Ximenez (1980) essa espécie é frequentemente encontrada em 46

formações próximas a corpos d’água, em estuários e na periferia de lagunas, onde o solo 47

é salino. 48

De acordo com Sih & Christensen (2001), conhecer a dieta de um animal é um 49

dos primeiros passos para o entendimento da sua ecologia. Os fatores determinantes da 50

dieta dependem da qualidade e abundância do alimento no meio, assim como da escolha 51

do local em que ocorre a alimentação, avaliando-se o seu custo-benefício (Torres-52

Contreras & Bozinovic 1997). Segundo Fischer, Costa & Nering (2008), a 53

disponibilidade de alimento pode potencializar os ganhos nutricionais, influenciar a taxa 54

de crescimento, a sobrevivência e a fecundidade, uma vez que a aquisição de diferentes 55

nutrientes resulta em indivíduos maiores em um curto espaço de tempo. Nesse sentido, a 56

teoria do forrageamento, preconiza que o tempo gasto pelos animais para a obtenção de 57

nutrientes deve ser minimizado e a quantidade de energia e nutrientes ingeridas deve ser 58

potencializada (Torres-Contreras & Bozinovic 1997). E, ainda que os animais devam 59

preferir locais seguros no interior de florestas, aos locais vulneráveis, como campos 60

abertos, onde há um maior o risco de predação (Begon, Townsend & Harper 2006). 61

Segundo Begon, Townsend & Harper (2006), nos herbívoros vertebrados, o 62

ganho energético a partir dos recursos alimentares é determinado pela estrutura do 63

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intestino. A espécie C. magna, que se alimenta de vegetais diversos (Silva 1994), é um 64

herbívoro monogástrico e depende da fermentação microbiana no intestino, que pode 65

representar de 30 a 40% de sua energia de manutenção (Engelhardt 1995). Para uma 66

maior obtenção energética, C. magna faz ainda uso da coprofagia (Sakaguchi & Nabata 67

1992). A coprofagia implica em uma segunda passagem da ingesta pelo intestino 68

delgado, após a fermentação na primeira passagem (Bressan et al. 2005), 69

suplementando os requerimentos diários de vitaminas (Banks 1992). 70

Os hábitos alimentares podem ser estudados de diversas formas. Berchielli, 71

Oliveira & Garcia (2005), exemplificam como técnicas utilizadas em estudos de dieta, a 72

observação de animais em campo e a análise de conteúdo a partir de fístulas no esôfago. 73

Além destas, é possível realizar estudos de alimentação através da identificação de itens 74

alimentares por meio da análise micro-histológica de fezes (Abbas 1991). O uso dessa 75

técnica apresenta-se de forma positiva por não influenciar na rotina dos animais e ainda 76

pelo fato de as espécies vegetais apresentarem estruturas não digeríveis (Perazzolo et al. 77

2000), sendo possível identifica-las na alimentação. Esse tipo de análise tem sido 78

utilizada para definir a alimentação de diversas espécies herbívoras (Puig et al. 2001; 79

Borges & Colares 2007; López-Cortéz et al. 2007; Colares et al. 2010). 80

Dada a importância de conhecer a dieta de um animal e apesar de existirem 81

estudos de hábitos alimentares de diversos herbívoros, a maioria destes estudos não 82

quantifica a disponibilidade de espécies vegetais no local de forrageio. Como a 83

composição da comunidade de mamíferos pode ter um importante efeito na estrutura do 84

habitat e diversidade florística (Brown & Heske 1990; Asquith, Wright & Claus 1997), 85

conhecer a disponibilidade de alimento, assim como as preferências alimentares torna-86

se importante, visto que influencia o desenvolvimento dessas espécies. Um estudo 87

desse porte possibilita um maior conhecimento acerca dos hábitos alimentares do 88

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animal, além de auxiliar na sua conservação e manejo. Assim, o estudo teve por escopo 89

fazer uma relação entre os vegetais encontrados na dieta e a disponibilidade dessas 90

espécies no ambiente, determinando a preferência alimentar de Cavia magna. 91

92

Material e métodos 93

Área de estudo 94

Localizada no extremo sul do Brasil, a Ilha dos Marinheiros pertence ao 95

Município do Rio Grande e encontra-se à margem oeste da Laguna dos Patos, no centro 96

do seu estuário entre 052°05’O e 31°58’S e 052°12’O e 32°02’S. Apresenta uma área 97

de aproximadamente 40 km² com vegetação formada predominantemente por 98

gramíneas, ciperáceas e juncáceas, distribuídas em função dos gradientes de alagamento 99

e salinidade (Tagliani et al. 2006). Ainda, possui uma fauna silvestre diversificada, 100

abrangendo artrópodes, anfíbios, répteis, aves e alguns mamíferos, como morcegos e 101

roedores (Tagliani et al. 2006). O clima é temperado mesodérmico brando super-úmido. 102

Apresenta verões quentes e secos, com média de 24°C e invernos frios e chuvosos, em 103

média de 13°C. A pluviosidade média anual é de 1.225 mm (Nimer 1989). 104

Coleta de dados 105

A coleta dos dados foi efetuada em dois transectos, um na região Norte da Ilha 106

(entre 32°00’221’’S e 52°11’680’’O e 32°00’473’’S e 52°11’513’’O), totalizando 290 107

metros de extensão e outro na região Sul (entre 32°01’546’’S e 52°09’747’’O e 108

32°54’240’’S e 52°48’502’’O), com 160 metros de extensão. Os transectos foram 109

dispostos perpendiculares à estrada que adorna a ilha, partindo desta em direção à sua 110

margem. Foram demarcados, a cada 29 metros na área Norte e a cada 16 metros na área 111

Sul, 10 pontos amostrais em cada transecto. Em cada ponto amostral foram dispostos 112

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perpendicularmente ao transecto três quadrantes, de 1m² cada, contíguos lateralmente, 113

proporcionando um total de 30 unidades amostrais (UAs) para cada área estudada. 114

Sazonalmente, em cada UA, a cobertura da vegetação foi determinada 115

visualmente através da superfície ocupada pela projeção horizontal da parte aérea de 116

cada espécie (Garcia & Boldrini 1999). Os dados foram baseados na escala combinada 117

de abundância-cobertura de Domin-Krajina de Braun-Blanquet, modificada por Garcia 118

& Boldrini (1999). Exemplares da vegetação foram coletados, conservados em álcool à 119

70% e utilizados na confecção de um laminário-referência de epidermes foliares das 120

espécies da região. Outra subamostra foi empregada na confecção de exsicatas, 121

incorporadas ao acervo do Herbário da Universidade do Rio Grande (HURG). 122

Mensalmente, nas 30 UAs, foram coletadas amostras de fezes, durante o 123

período de um ano. As amostras foram conservadas em FAA (85% álcool, 10% formol 124

a 10% e 5% de ácido acético), para posterior análise. 125

Análise de dados 126

As espécies vegetais coletadas foram identificadas através de consultas à 127

bibliografia especializada, chaves de identificação e auxílio de especialistas. As famílias 128

foram determinadas seguindo Smith et al. (2006) para as pteridófitas e Angiosperm 129

Phylogeny Group - A.P.G III (2009) para angiospermas. 130

A partir da estimativa das espécies vegetais presentes em ambos os transectos, 131

foram determinados os índices de valor de importância (IVI), de acordo com a fórmula: 132

IVI (%) = (C.R. + F.R.) /2, sendo C.R, os valores atribuídos à cobertura relativa e F.R, 133

os valores atribuídos à frequência relativa de cada espécie vegetal amostrada. O IVI foi 134

calculado a fim de expressar numericamente a importância de cada espécie dentro da 135

comunidade vegetal. Também foram determinados o índice de diversidade de Shannon-136

Wiener (H’), determinando a variabilidade no número de espécies no ambiente e o 137

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índice de equabilidade de Pielou (J’), para determinar se as espécies presentes no estudo 138

possuíram abundância semelhante ou divergente. 139

Para a análise do conteúdo fecal, foi utilizada a técnica desenvolvida por 140

Baumgartner & Martin (1939), que consiste na comparação entre os fragmentos de 141

epiderme vegetal encontrados nas lâminas preparadas com as amostras fecais e as do 142

laminário-referência, confeccionada com as epidermes da vegetação local. As lâminas 143

com conteúdo fecal foram examinadas em toda sua extensão no microscópio Olympus 144

modelo CX41, no aumento de 20x, anotando-se o tipo de fragmento de epiderme 145

encontrado e o número de aparições destes. Foram considerados para a identificação das 146

espécies vegetais presentes nas fezes do animal, características anatômicas, como: 147

tamanho, tipo e forma das células da epiderme; distribuição e formato de estômatos; 148

pilosidades. 149

A frequência de cada item alimentar encontrado nas fezes de C. magna foi 150

calculada de acordo com a fórmula: A (%) = (nº de fragmentos de item i / nº de 151

fragmentos observados) x 100 (Abbas 1991). Após, esses valores foram agrupados 152

sazonalmente, padronizando as amostras. 153

Foram elaboradas duas matrizes, a primeira contendo a relação da cobertura 154

das espécies vegetais presentes na Ilha dos Marinheiros em cada uma das 30 UAs e em 155

cada área estudada (Norte e Sul). A segunda matriz foi montada contendo a relação das 156

espécies vegetais presentes nas amostras fecais de C. magna, também para cada uma 157

das 30 UAs e áreas analisadas. A partir dessas foi possível determinar se houve 158

variabilidade na composição da vegetação entre as duas áreas estudadas, bem como se 159

houve variabilidade na ocorrência e cobertura da vegetação entre as estações do ano, 160

utilizando análises multivariadas de variância (MANOVA). O mesmo teste foi utilizado 161

para verificar se houve variabilidade entre os fragmentos de espécies vegetais 162

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encontrados nas amostras de fezes entre as duas áreas estudadas e ainda se houve 163

variação nas espécies consumidas entre as estações do ano. Em todas as análises, foi 164

considerado como nível de significância p≤0,05. 165

A correlação de similaridade entre as espécies vegetais ofertadas no ambiente e 166

as espécies de vegetais encontradas nas amostras de fezes de C. magna, entre as áreas e 167

períodos analisados, foi obtida pelo teste de Mantel (999 permutações), utilizando o 168

índice de correlação de Pearson para comparar as matrizes entre si. Todos os testes 169

foram efetuados utilizando o software R, versão 2.13.1. 170

171

Resultados 172

No total foram identificadas 96 espécies vegetais, distribuídas em 44 famílias, 173

durante os quatro períodos amostrados em ambas as áreas de estudo. As famílias com 174

maior representatividade em termos de espécies foram Asteraceae (13 espécies), 175

Poaceae (12 espécies), e Cyperaceae (05 espécies), respectivamente. Dentre as espécies 176

amostradas, 37,5% estiveram presentes em ambos os locais analisados. A espécie 177

Juncus acutus foi a de maior IVI nos quatro períodos estudados na área Sul e nas 178

estações verão e outono, na área Norte. Por outro lado, durante os períodos de inverno e 179

primavera, na área Norte, as espécies que se apresentaram com os maiores índices para 180

esse mesmo parâmetro foram Cladium jamaicense e Plantago australis, 181

respectivamente. Os maiores valores para os índices de Diversidade (H’) e de 182

Equabilidade (J’) ocorreram no período da primavera para ambas as áreas (Tabela 01). 183

Foram quantificados, para ambas as áreas de estudo, o total de 26.738 184

fragmentos de epiderme vegetal, encontrados em 660 amostras de fezes de Cavia 185

magna. Não foram encontradas amostras de fezes em todas as 30 UAs. A partir destes 186

exemplares fecais, foram identificadas 24 espécies vegetais pertencentes a 19 famílias. 187

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Dentre essas, 14 espécies são comuns a ambos os locais estudados, sete são exclusivas 188

da área Norte e três encontradas somente na área Sul da Ilha dos Marinheiros (Tabela 189

02). Houve pouca variabilidade no número de espécies vegetais encontrados na dieta ao 190

longo dos períodos analisados, para ambas as áreas (Figura 01), sendo que 55% das 191

espécies ingeridas apresentaram baixo consumo, com frequência de ocorrência nas fezes 192

inferior a 1% (Tabela 02). 193

Poaceae apresentou o maior número de espécies consumidas, correspondendo à 194

23,5% do total de espécies em ambas as áreas (Tabela 02). Entretanto, Hypoxidaceae e 195

Juncaceae foram as mais consumidas, correspondendo a mais de 66% do total de 196

fragmentos encontrados na dieta para a área Norte. Juntas, essas duas famílias 197

corresponderam a 5,95% e 11,90% de IVI, ofertados no ambiente. Para a área Sul, 46% 198

do total consumido correspondeu a Hypoxidaceae e Poaceae, correspondentes a 6,21% e 199

13,60% de IVI no ambiente. 200

Na área Sul, Paspalum urvillei foi a espécie com maior frequência de 201

ocorrência na dieta nos quatro períodos analisados. Já para a área Norte, Hypoxis 202

decumbens, foi a de maior frequência nas amostras de fezes nos períodos do verão, 203

outono e primavera. No inverno, Juncus acutus (Juncaceae) foi a mais consumida, 204

sendo a segunda espécie mais frequente na dieta na mesma área, para os demais 205

períodos (Tabela 02). 206

Com relação à composição da cobertura das espécies vegetais no ambiente, 207

não foram encontradas diferenças significativas (p>0,05) entre as áreas Norte e Sul da 208

Ilha dos Marinheiros. Porém, houve diferença significativa entre as estações do ano para 209

o percentual de cobertura dessas mesmas espécies vegetais no ambiente (p=0,005; R²= 210

0,07). Também não foram encontradas diferenças significativas na composição das 211

espécies vegetais presentes nas fezes de C. magna, (p>0,05) entre as áreas Norte e Sul, 212

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embora a composição da vegetação nas fezes tenha variado significativamente entre as 213

estações do ano (p=0,001; R2 = 0,09). Os resultados do teste de Mantel evidenciaram 214

uma associação positiva e significativa (p = 0,001), com baixa correlação (r=0,3), entre 215

a composição das espécies vegetais encontradas nas amostras de fezes e a composição 216

da cobertura das espécies encontradas nos ambientes estudados. 217

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Tabela 01 – Indicadores de diversidade das espécies vegetais nas áreas Norte e Sul da Ilha dos

Marinheiros. H’ = Diversidade de Shannon-Wiener; J’ = Equabilidade de Pielou. Os valores foram

calculados baseados na amostragem total para cada período, em cada região.

---------- H’ ----------- ----------- J’ -----------

Norte Sul Norte Sul

Verão 2,770 2,287 0,792 0,757

Outono 2,851 2,246 0,812 0,689

Inverno 2,881 2,086 0,810 0,648

Primavera 3,287 2,675 0,815 0,758

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Tabela 02 – Espécies vegetais encontradas na Ilha dos Marinheiros e ocorrentes na dieta de Cavia magna, nas áreas Norte e Sul e quatro estações do ano. Onde IVI (%) =

Índice de valor de importância das espécies amostradas no ambiente; A (%) = frequência de ocorrência do item nas amostras de fezes; V = verão; O = outono; I = Inverno;

P = primavera.

Família Espécie Parâmetros ---------- Norte ---------- ------------ Sul ------------

V O I P V O I P

Aquifoliaceae Ilex theizans Mart. ex Reissek IVI 3,3 3,3 --- 1,7 1,3 --- --- ---

A 1,02 0,84 --- --- --- --- --- ---

Asteraceae Conyza canadensis (L.) Cronquist IVI 1,8 --- 1,3 1,1 1,8 2,1 3,0 3,9

A 1,27 --- 0,08 0,22 0,52 1,90 2,24 0,99

Asteraceae Hypochaeris brasiliensis (Less.) Benth. & Hook. f. ex

Griseb.

IVI --- --- --- --- --- --- 3,8 0,5

A --- --- --- --- --- --- 0,28 ---

Caprifoliaceae Lonicera japonica Thunb. IVI 3,0 --- --- 0,8 --- --- --- ---

A 0,68 --- --- 0,19 --- --- --- ---

Commelinaceae Commelina erecta L. IVI 0,7 --- 0,4 0,3 --- --- --- ---

A 0,34 --- 0,10 --- --- --- 0,09 ---

Convolvulaceae Ipomoea grandifolia (Dammer) O'Donell IVI --- --- --- --- 1,3 0,8 --- 1,0

A --- --- --- --- 0,22 --- --- 0,19

Cyperaceae Cladium jamaicense Crantz IVI 4,5 7,6 10,8 6,3 4,6 8,3 13,0 8,4

A 4,83 1,6 1,53 0,46 1,19 0,80 0,26 0,42

Euphorbiaceae Sapium glandulatum (Vell.) Pax IVI --- 3,5 2,5 0,8 1,7 --- --- ---

A --- 5,51 1,63 0,11 --- --- --- ---

Hypoxidaceae Hypoxis decumbens L. IVI 6,8 4,8 6,2 6,0 7,1 5,6 4,9 7,2

A 36,60 33,07 31,68 42,71 20,33 13,22 5,07 16,74

Juncaceae Juncus acutus L. IVI 17,8 13,2 8,5 7,8 28,0 25,1 22,1 12,7

A 27,90 22,71 35,24 36,69 4,72 3,06 7,69 7,47

Myrtaceae Psidium cattleyanum Sabine IVI 1,9 --- --- 1,4 4,1 1,2 --- 0,5

A 1,27 --- --- 0,51 0,41 1,90 --- 0,53

Plantaginaceae Plantago australis Lam IVI 8,6 9,2 9,8 8,6 --- --- 0,7 1,6

A --- --- 0,81 0,22 --- --- --- 0,47

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242

Cont. Tabela 02

Poaceae

Cynodon dactylon (L.) Pers.

IVI

2,6

3,8

3,6

1,5

---

---

---

4,2

A 2,71 0,8 8,38 3,10 0,16 --- 2,05 ---

Poaceae Dichanthelium dichotomum (L.) Gould IVI --- --- 3,3 1,1 2,7 0,8 3,0 0,5

A --- --- 0,18 0,24 2,44 0,62 0,35 ---

Poaceae Paspalum notatum Alain ex Flüggé IVI --- --- --- 2,1 --- 0,7 --- ---

A --- --- --- 1,29 --- --- --- ---

Poaceae Paspalum urvillei Steud. IVI 3,1 2,9 0,4 --- 12,5 4,3 13,9 3,3

A 3,48 4,89 --- --- 30,68 30,81 29,18 29,71

Poaceae Polypogon monspeliensis (L.) Desf. IVI --- 1,3 --- 7,1 --- --- --- 0,6

A --- 0,36 --- 0,70 --- --- --- 0,72

Primulaceae Myrsine parvifolia A. DC. IVI 7,3 7,3 7,6 1,9 6,8 11,1 5,0 6,0

A 2,60 0,93 4,91 0,86 5,97 5,53 3,57 2,59

Pteridaceae Acrostichum danaeifolium Langsd. & Fisch. IVI --- --- --- --- --- 1,9 2,3 ---

A --- --- --- --- --- --- 0,29 ---

Rubiaceae Galium hypocarpium (L.) Endl. ex Griseb. IVI --- 0,5 4,3 2,0 --- --- --- ---

A --- 2,13 0,08 --- --- --- --- ---

Smilacaceae Smilax campestris Griseb. IVI 0,7 2,3 --- 1,6 1,7 0,8 2,3 1,0

A --- --- 0,15 --- --- 0,30 --- ---

Thelypteridaceae Thelypteris dentata (Forssk.) E.P. St. John IVI 1,3 3,3 --- 0,3 --- --- --- ---

A 0,14 --- --- 0,75 --- --- --- ---

Tropaeolaceae Tropaeolum pentaphyllum Lam. IVI 1,5 0,6 0,9 0,3 --- --- 2,3 1,7

A 0,65 1,11 0,74 --- --- --- 1,94 2,48

Vitaceae Vitis sp. L. IVI --- 1,1 1,0 2,4 --- --- --- ---

A --- --- 0,08 --- --- --- --- ---

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243

Figura 01 – Número médio de espécies ocorrentes na dieta de C. magna nos quatro períodos analisados 244

para as áreas Norte e Sul da Ilha dos Marinheiros. 245

246

247

248

249

250

251

252

253

254

255

256

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258

259

260

261

0

2

4

6

8

10

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Verão Outono Inverno Primavera

Norte

Sul

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Discussão 262

A maior representatividade no número de espécies, ao longo das estações do 263

ano, pertencentes às famílias Asteraceae, Poaceae, Cyperaceae, assim como a maior 264

abundância de Juncus acutus (Juncaceae) e Plantago australis (Plantaginaceae) nas 265

duas áreas da Ilha dos Marinheiros pode ser explicada pela boa adaptabilidade destas ao 266

ambiente estuarino (Costa et al. 2000; Seeliger & Odebrecht 2010), correspondente à 267

localização do presente estudo. De maneira geral, a composição de espécies vegetais 268

não apresentou variações significativas indicando um ambiente homogêneo entre a área 269

Norte e Sul da Ilha dos Marinheiros, porém, ao comparar a abundância das mesmas 270

entre as estações do ano, estas apresentaram diferenciações, evidenciadas pelos valores 271

de índice H’ e J’. 272

Algumas espécies apresentaram um IVI maior em alguns períodos do que em 273

outros, como Cladium jamaicenese (4,5% no verão e 10,8% no outono, para a área 274

Norte) e Myrsini parvifolia (5,0% no inverno e 11,1% no outono, para a área Sul), ou 275

até mesmo não se fizeram presentes em algumas estações, como, por exemplo, 276

Paspalum notatum e Commelina erecta, resultando em uma significativa variabilidade 277

entre as estações do ano para a cobertura de espécies no ambiente. 278

Apesar da ampla oferta de espécies vegetais na Ilha dos Marinheiros, somente 279

24 espécies foram identificadas nas amostras de fezes de C. magna. Além de um menor 280

consumo no número de espécies do que a oferta no ambiente, parte das espécies foram 281

encontradas com frequência de ocorrência baixa (1%) nas amostras de fezes. Borges & 282

Colares (2007), ao estudarem a dieta de capivaras, afirmam que as plantas encontradas 283

nas amostras de fezes, com índices de frequência baixos (1%), foram ingeridas 284

acidentalmente, ou foram consumidas ao acaso. Porém, no presente estudo, a 285

quantificação das espécies vegetais, juntamente com sua localização ao longo dos 286

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transectos no ambiente, permitiu evidenciar que houve oferta dessa vegetação, embora o 287

consumo tenha sido baixo. Essa situação pode indicar uma busca por diversificação no 288

número de itens alimentares pelo preá, e não uma ingestão casual, ao contrário do 289

proposto por aqueles autores. 290

As espécies Schinus terebinthifolius e Plantago australis apresentaram em 291

média um IVI de 6,3% e 9,5%, respectivamente, na área Norte. Entretanto, a primeira 292

não foi registrada e P. australis foi apenas a antepenúltima em frequência nas amostras 293

de fezes de C. magna para esta área, apesar da corriqueira presença de espécies do 294

gênero em dieta de herbívoros (Menhusem 1963; Castellaro et al. 1998; Puig et al. 295

2001). Segundo Santos et al. (2010), S. terebinthifolius é rica em taninos e óleos 296

essenciais, que atuam na proteção contra predadores. Além disso, essa é uma espécie 297

arbórea e como C. magna é um pequeno mamífero, pode não ter acesso às suas folhas, 298

inibindo dessa forma seu consumo. 299

De acordo com Prigioni, Balestrieri & Remonti (2005), a seletividade de dieta 300

de um animal varia de acordo com as características do ambiente e peculiaridades de 301

cada região. Acreditamos que por esse motivo, não houve uma ampla variabilidade no 302

número de espécies presentes na dieta de C. magna ao longo das estações analisadas. 303

Porém, ao comparar as áreas, foi possível perceber que algumas espécies apresentaram 304

um acréscimo de consumo em algumas estações, como por exemplo, Cynodon dactylon, 305

três vezes mais consumida no período de inverno, quando comparado às outras 306

estações, para a área Norte. Ainda, algumas espécies apareceram nas amostras de fezes 307

em apenas um dos períodos amostrados, como Vitis sp. e Smilax campestris, mesmo 308

estando presentes em outros períodos no ambiente, o que pode explicar a variabilidade 309

observada entre as estações do ano para a ocorrência de espécies vegetais nas amostras 310

de fezes, neste estudo. 311

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Polypogon monspeliensis, apresentou um maior IVI no período da primavera 312

para a área Norte, quando comparada ao outono e, mesmo assim, apresentou redução no 313

consumo, para o mesmo local, neste mesmo período. A redução no consumo dessa 314

espécie na primavera, provavelmente ocorreu em função da maior oferta de diferentes 315

espécies de plantas, o que levou C. magna a diversificar sua dieta, buscando outras 316

espécies, substituindo sua alimentação. Como no período da primavera a maioria da 317

vegetação encontra-se em fase de crescimento, as espécies apresentam brotos mais 318

palatáveis e folhas com melhores teores de nutrientes (Colares et al. 2010), 319

corroborando essa substituição em nosso estudo. 320

Conforme o princípio da Teoria do Forrageamento Ótimo (TFO), que propõe 321

que os itens alimentares selecionados devam possuir um alto teor energético (Chaves & 322

Alves 2010), é possível afirmar que, no presente estudo, C. magna, ao longo dos 323

períodos analisados, substituiu espécies com menores aportes nutricionais por outras 324

mais tenras e de melhor teor energético. O comportamento de elencar algumas espécies 325

para consumo, mesmo com ampla oferta, também é observado em outros estudos de 326

roedores herbívoros (Barreto & Herrera 1998; Borges & Colares 2007; Rickli & Reis 327

2008; Colares et al. 2010), demonstrando um desempenho semelhante entre os animais 328

estudados por esses autores e Cavia magna. 329

O maior número de espécies de Poaceae em análises de dieta também foi 330

reportado por outros autores (Forero-Montaña, Betancur & Cavelier 2003 e Colares et 331

al. 2010). Esses autores atribuíram o maior número de espécies de Poaceae na dieta de 332

herbívoros, à sua qualidade nutricional e disponibilidade no ambiente, mesmo que não 333

tenha sido realizada uma análise de quantificação e distribuição da vegetação, para o 334

estabelecimento dessa relação em seus trabalhos. No presente estudo, foi evidenciada, 335

por meio da quantificação da vegetação, a maior abundância de espécies de Poaceae 336

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para a área Norte e Juncaceae para a área Sul. No entanto, Poaceae esteve distribuída 337

constantemente ao longo de ambas as áreas analisadas e foi a segunda com maior IVI 338

para a área Sul. Segundo Begon, Townsend & Harper (2006), espécies pertencentes a 339

essa família apresentam uma rebrota eficiente, o que facilita sua presença contínua nas 340

áreas estudadas, confirmando a maior variabilidade no número de espécies encontradas 341

na dieta do preá no presente estudo. 342

O gênero Paspalum apresenta-se com várias espécies presentes em dieta de 343

herbívoros (Desbiez et al. 2010). Segundo Pozzobon & Valls (1997), na região Sul do 344

Brasil, espécies desse gênero apresentam-se com destaque de qualidade no uso como 345

forrageira, quando comparada às outras gramíneas. Borges & Colares (2007), Rickli & 346

Reis (2008) e Colares et al. (2010) encontraram em seus estudos de dieta de roedores, 347

espécies do gênero Paspalum como a mais consumida em pelo menos um período 348

analisado, indo ao encontro da abundância de fragmentos de P. urvillei para C. magna 349

encontrada em nosso estudo. Estudos bromatológicos indicam que algumas espécies do 350

gênero Paspalum apresentam grande produção de matéria seca (Almeida et al. 2006; 351

Rodrigues, Andrade & Magalhães 2011), contribuindo para um maior aporte nutricional 352

para o animal que a consome. P. urvillei além de proporcionar alto teor nutricional, 353

quando jovem, apresenta grande palatabilidade e pouco teor de fibras (Burkart 1969), 354

sendo mais facilmente digerida. 355

Paspalum urvillei teve distribuição espaçada ao longo das áreas estudadas. 356

Porém na área Sul, mesmo apresentando uma distribuição descontínua, P. urvillei 357

ocorreu em grande abundância. Cassini (1991) afirma que, apesar de normalmente os 358

animais se alimentarem em zonas próximas, é possível o deslocamento às zonas mais 359

distantes, aumentando o tempo de consumo em relação ao tempo despendido para tal. 360

Sendo assim, pode-se dizer que o a presença de P. urvillei na dieta de C. magna ocorreu 361

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por escolha e que o animal buscou esse item alimentar ao longo da área Sul. Segundo 362

Begon, Townsend & Harper (2006), o maior gasto de tempo no consumo de espécies é 363

vantajoso, quando há abundância das mesmas no local de forrageio, concordando com o 364

comportamento estabelecido pelo preá para a área Sul. 365

Na área Norte, Hypoxis decumbens e Juncus acutus foram as espécies mais 366

frequentes nas amostras de fezes de C. magna. A família Hypoxidaceae não havia sido 367

reportada até o momento em estudos de dieta de herbívoros. H. decumbens esteve 368

presente ao longo de ambas as áreas, para todas as estações, porém em baixas 369

quantidades. Algumas espécies do gênero Hypoxis apresentam grande quantidade de 370

carboidratos e ácidos linoleicos em suas folhas (Nicoletti et al. 1992), além disso, Kinupp 371

& Barros (2008) constataram que a porção rizomatosa de H. decumbens apresenta um alto 372

teor de proteínas, fósforo e zinco, sendo estes, elementos necessários ao metabolismo dos 373

roedores (Benevenga et al. 1995). Sendo assim, a maior procura por essa espécie pode 374

indicar a necessidade de suplementação alimentar, ou ainda uma preferência do preá por 375

esse vegetal. 376

A grande frequência de J. acutus nas amostras de fezes de C. magna ocorreu ao 377

longo de toda a área Norte e não apenas onde a espécie foi mais abundante, na sua 378

porção próxima da Lagoa dos Patos, indicando que houve um deslocamento do animal 379

para que ele utilizasse esse vegetal na sua alimentação. Esse deslocamento está de 380

acordo com a TFO, já que um tempo de viagem mais longo acarreta em menos viagens 381

na busca pelo alimento e o gasto energético na busca é compensado pelo teor do item 382

ingerido (Chaves & Alves 2010; Ricklefs 2010). Estudos anteriores também registraram 383

a presença de espécies da família Juncaceae na dieta de quatro roedores (Menhusen 384

1963). 385

Parsons & De La Cruz (1980) encontraram em seu estudo uma grande 386

quantidade de potássio na porção basal de uma espécie de Juncus. Esses autores 387

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também encontraram significativa presença de cálcio, magnésio e aminoácidos, como 388

ácido glutâmico e prolina, essenciais para roedores (Benevenga et al. 1995), aumentando 389

ao longo das folhas, o que também pode explicar o seu amplo consumo pelos preá na 390

área norte da ilha dos Marinheiros. Além disso, Chu, Aspinall & Paleg (1974) 391

constataram em seu estudo que há um aumento de concentração de prolina nas plantas, 392

quando em baixas temperaturas, podendo ser a causa do aumento no consumo de J. 393

acutus por C. magna na área Norte durante o período do inverno. 394

A preferência de C. magna por algumas espécies vegetais foi confirmada com 395

os resultados obtidos pelo teste de Mantel. Apesar de apresentar uma influência 396

significativa entre a vegetação ofertada e consumida por essa espécie, houve uma baixa 397

correlação. Em geral, algumas espécies ofertadas em pouca quantidade em ambas as 398

áreas, foram consumidas naquele mesmo local, porém as espécies que apresentaram 399

maior consumo nos locais estudados foram procuradas pelo preá em distâncias maiores, 400

como ocorreu com J. acutus e P. urvillei, ou ainda através de escolha, onde mesmo 401

havendo pouca oferta, ocorreu um massivo consumo da espécie, como no caso de H. 402

decumbens, demonstrando a seletividade e preferência deste roedor para o consumo de 403

algumas espécies vegetais na Ilha dos Marinheiros. 404

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Agradecimentos 413

Agradecemos à Fundação de Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 414

(CAPES), pelo financiamento deste projeto. Também gostaríamos de agradecer a 415

Universidade Federal do Rio Grande e em especial o Laboratório de Fisiologia Vegetal pelo 416

espaço e equipamento cedido para tornar esse trabalho possível. E ainda, à profª. Sônia 417

Hefler e a técnica Caroline Igansi, pelo auxílio na identificação das espécies vegetais deste 418

estudo e à acadêmica Marília Costa, pelo auxilio nas atividades de campo e laboratório. 419

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Chaves, F. G. & Alves, M. A. S. (2010) Teoria do Forrageamento Ótimo: Premissas e 485

Críticas em Estudos com Aves. Oecologia Australis, 14(2): 369-380. 486

Cherem, J., Olimpio, J. & Ximenez, A. (1999) Descrição de uma nova espécie do 487

gênero Cavia Pallas, 1766 (Mammalia – Caviidae) das Ilhas dos Moleques do Sul, 488

Santa Catarina, Sul do Brasil. Biotemas, 12(1): 95-117. 489

Chu, T. M., Aspinall, D. & Paleg, L. G. (1974) Stress Metabolism. VI.* Temperature 490

Stress and the Accumulation of Proline in Barley and Radish Aust. Journal of Plant 491

Physiology, 1, 87-97. 492

Colares, I., Oliveira, R., Oliveira, R. & Colares, E. (2010) Feeding habits of coypu 493

(Myocastor coypus Molina 1978) in the wetlands of the Southern region of Brazil. 494

Anais da Academia Brasileira de Ciências, 82(3): 671-678. 495

Costa, J. C., Iousã, M., Capelo, J. Santo, M. D. E, Sevilliano, J. I. & Arsénio, P. (2000) 496

The Coastal Vegetation Of The Portuguese Divisory Sector: Dunes Cliffs and Low-497

Scrub Communities. Finisterra, XXXV, 69, p. 69 – 93. 498

Desbiez, A.L.J., Alvarez, J.M., Santos, S.A. & Cavalcanti, M.J. (2010) DELTADIET: 499

Guia para Identificação da Dieta de Herbívoros Usando o Sistema DELTA. Corumbá: 500

Embrapa Pantanal. 1 CD-ROM. 501

Page 43: Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna · i Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna Ximenez 1980), em uma Ilha Subtropical no Sul do Brasil Kelen Rodrigues da Veiga Orientadora:

24

Engelhardt, W. (1995): Absorption of short-chain fatty acids from the large intestine. In: 502

Cummings, J.H., Rombeau, J.L., Sakata, T. (Eds.), Physiological and Clinical Aspects 503

of Short-Chain Fatty Acids. Cambridge University Press, Cambridge, pp. 149–170. 504

Fischer, M., Costa, L. & Nering, I. (2008) Utilização de recursos alimentares presentes 505

no ambiente antrópico pelo caramujo gigante africano Achatina fulica Bowdich, 1822: 506

subsídios para o manejo. Bioikos, Campinas, 22(2): 91-100. 507

Forero-Montaña, J., Betancur, J. & Cavelier, J. (2003) Dieta del capibara Hydrochaeris 508

hydrochaeris (Rodentia: Hydrochaeridae) en Caño Limón, Arauca, Colombia. Revista 509

de Biologia Tropical, Vol. 51 (2). 510

Garcia, E. & Boldrini, I. (1999) Fitossociologia de um campo modificado da Depressão 511

Central do RS. Iheringia. 512

Gava, A., Santos, M. & Quintela, F. (2011) A new karyotype for Cavia magna 513

(Rodentia: Caviidae) from an estuarine island and C. aperea from adjacent mainland. 514

Acta Theriologica, 6p. 515

IUCN (2013) IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.1 Disponível em: 516

<www.iucnredlist.org>. Acessado em maio 2013. 517

Kinupp, V. F. & Barros, I. B. I. (2008) Teores de proteína e minerais de espécies 518

nativas, potenciais hortaliças e frutas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, 519

28(4): 846-857. 520

López-Cortéz, F., Cortés, A., Miranda, E. & Raul, J. R. (2007) Feeding habits of 521

Abrothrix andinus, Phyllotis xanthopygus (Rodentia) and Lepus europaeus 522

Page 44: Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna · i Preferência Alimentar do Preá (Cavia magna Ximenez 1980), em uma Ilha Subtropical no Sul do Brasil Kelen Rodrigues da Veiga Orientadora:

25

(Lagomorpha) in an Andean environment of Chile. Revista Chilena de História Natural 523

v.80 (1): 3 – 12. 524

Menhusen, B. R. (1963) An Investigation on The Food Habits of Four Species of 525

Rodents in Captivity. Transductions of the Kansas Academy of Science, vol 66 n. 01. 526

Nicoletti, M., Galeffi, C., Messana, L. & Marini-Bettolo, G. B. (1992) Hypoxidaceae. 527

Medicinal uses and the norlignan constituents. Journal of Ethnopharmacology, 36: 95-528

101. 529

Nimer, E. (1989) Climatologia do Brasil. (2 ed.). Secretaria de Planejamento e 530

Coordenação da Presidência da República, IBGE/DGC/DERNA, Rio de Janeiro – RJ, 531

422 p. 532

Parsons, K. A. & De La Cruz, A. A, (1980) Energy Flow and Grazing Behavior of 533

Conocephaline Grasshoppers in a Juncus roemerianus marsh. Ecology 61(5), p. 1045-534

1050. 535

Perazzolo, M., Pastorini, L., Pereira, C. M. P. &Görgen, A. U. G. (2000): Identificação 536

de Halófitas Secretoras Presentes na Dieta de Herbívoros de uma Marisma da Lagoa dos 537

Patos – RS. Biotemas, 13 (2): 7 – 22. 538

Pozzobon, M. T. & Valls, F. M (1997) Chromosome Number in Germplasm Accessions 539

of Paspalum notatum (Gramineae). Brazilian Journal of Genetics vol. 20 no. 1. 540

Prigioni, C., Balestrieri, A. & Remonti, L. (2005) Food habits of the coypu, Myocastor 541

coypus, and its impact on aquatic vegetation in a freshwater habitat of NW Italy. Folia 542

Zoologica, 54(3): 269–277. 543

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26

Puig, S., Videla, F., Cona, M. I. & Monge, S. A. (2001) Use of food availability by 544

guanacos (Lama guanicoe) and livestock in Northern Patagonia (Mendoza, Argentina). 545

Journal of Arid Environments, 47: 291-308. 546

R Development Core Team (2011). R: A language and environment for statistical 547

computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-548

07-0, URL http://www.R-project.org/. 549

Ricklefs, R.E. (2010): A Economia da Natureza. 6ª Edição. Editora Guanabara Koogan, 550

Rio de Janeiro – RJ. 570p. 551

Rickli, R. I. & Reis, N. R. (2008) Dieta de “capivaras” – Hydrochoerus hydrochaeris 552

(Linnaeus, 1766) (Mammalia, Rodentia, Caviidae) – em um fragmento florestal em 553

Londrina, PR, Brasil. p 113 – 122. In Reis, N. R.; Peracchi, A. L.; Santos, G. A. S. D. 554

(2008) Ecologia de Mamíferos. Technical Books, Londrina – PR. 167p. 555

Rodrigues, B. H. N., Andrade, A. C. & Magalhães, J. A. (2011) Teores de proteína 556

bruta, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido de cinco gramíneas 557

tropicais irrigadas e adubadas em Parnaíba, Piauí. Boletim de Pesquisa e 558

Desenvolvimento Embrapa Meio-Norte. 20p. 559

Sakaguchi, E. & Nabata, A. (1992) Comparison of fibre digestion and digesta retention 560

time between nutrias (Myocaster coypus) and guinea-pigs (Cavia porcellus). 561

Comparative Biochemistry and Physiology, 3: 601-604. 562

Santos, A. C. A., Rossato, M., Serafini, L. A., Bueno,M., Crippa, L. B., Sartori, V. C., 563

Dellacassa, E. & Moyna, P. (2010) Efeito fungicida dos óleos essenciais de Schinus 564

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27

molle L. e Schinus terebinthifolius Raddi, Anacardiaceae, do Rio Grande do Sul. 565

Brazilian Journal of Pharmacognosy 20(2): 154-159. 566

Seeliger, U. & Odebrecht, C. (2010) O Estuário da Lagoa dos Patos – Um Século de 567

Transformações. Rio Grande – RS. FURG. 180p. 568

Sih, A. & Christensen, B. (2001) Optimal diet theory: when does it work, and when and 569

why does it fail? Animal Behaviour, 61: 379 – 390. 570

Silva, F. (1994) Mamíferos Silvestres do Rio Grande do Sul. 2ª ed. Fundação 571

Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS. 246p. 572

Smith, A.R., Pryer, K.M., Schuettpelz, E., Korall, P., Schneider H. & Wolf, P.G. (2006) 573

A classification for extant ferns. Taxon 55(3): 705-731. 574

Tagliani, C., Tagliani, P., Costa, A., Polette, M., Salas, E., Asmus, M., Oliveira, R., 575

Chaves, D. & Leitzke, C. (2006) Proposta de Plano de Manejo Ambiental da Ilha dos 576

Marinheiros - Rio Grande – RS. 43p. 577

Torres-Contreras, H. & Bozinovic, F. (1997) Food Selection in an Herbivorous Rodent: 578

Balancing Nutrition with Thermoregulation. Ecology, 78(7), p. 2230–2237. 579

Ximenez, A. (1980): Notas sobre el género Cavia Pallas con la descripción de Cavia 580

magna sp. n. (Mammalia – Caviidae). Rev. Nordesst. Biol., 3 (especial): 145 – 179. 581

582

583

584

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Anexo I: Instruções para publicação 585

Manuscrito a ser submetido para a revista Ecology. 586

Disponível em: 587

http://www.journalofanimalecology.org/view/0/authorGuideline.html#Specifications 588

589

Typescripts 590

Papers are expected to be no more than 10 published pages in length (8500 words maximum), 591

unless otherwise agreed or invited by the editor 592

Manuscripts must be in English and spelling should conform to the Concise Oxford Dictionary 593

of Current English. 594

Lines must be numbered, preferably within pages. 595

Manuscripts should be in double-spacing. 596

Use the 'cover letter' section to highlight anything about your paper that needs to be drawn 597

to the attention of the Editors or the Editorial Office. 598

Editors reserve the right to modify manuscripts that do not conform to scientific, technical, 599

stylistic or grammatical standards. 600

The typescript should be arranged as follows, with each section starting on a separate page. 601

602

Title page. This should contain: 603

1. A concise and informative title (as short as possible). Do not include the authorities for 604

taxonomic names in the title. Titles with numerical series designations (I, II, III, etc.) 605

are acceptable provided the editors agreement is sought and that at least Part II of the 606

series has been submitted and accepted before Part I is sent to the printer. Such series 607

must begin in one of the journals of the BES. 608

2. A list of authors' names with names and addresses of Institutions. 609

3. The name, address and e-mail address of the correspondence author to whom proofs 610

will be sent. 611

4. A running headline of not more than 45 characters. 612

613

Summary/Abstract. This should summarise the main results and conclusions of the paper using 614

simple, factual, numbered statements. It must not exceed 350 words. 615

Summaries/abstracts are key to getting people to read your article. 616

Summaries should be understandable in isolation from your article. 617

Summaries should have 5 points, ideally, listing; (1) the background, (2)the goal of the 618

study, (3) what was done in the study, (4) what was found and (5) what this means. 619

Advice for optimising your Summary/Abstract (and Title) so that your paper is more likely 620

to be found in online searches is provided at: authorservices.wiley.com/bauthor/seo.asp 621

622

Key-words. Listed in alphabetical order, the key-words should not exceed 10 words or short 623

phrases. Please pay attention to the keywords you select: they should not already appear in the 624

title or abstract. Rather, they should be selected to draw in readers from wider areas that might 625

not otherwise pick up your paper when they are using search engines. 626

627

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29

Introduction. This should state the reason for doing the work, the nature of the hypothesis or 628

hypotheses under consideration, and should outline the essential background. 629

630

Materials and methods. This should provide sufficient details of the techniques to enable the 631

work to be repeated. Do not describe or refer to commonplace statistical tests in Methods but 632

allude to them briefly in Results. 633

634

Results. This should state the results, drawing attention in the text to important details shown in 635

tables and figures. 636

637

Discussion. This should point out the significance of the results in relation to the reasons for 638

doing the work, and place them in the context of other work. 639

640

Acknowledgements. In addition to acknowledging collaborators and research assistants, include 641

relevant permit numbers (including institutional animal use permits), acknowledgment of 642

funding sources, and give recognition to nature reserves or other organizations that made this 643

work possible. Do not acknowledge Editors by name. 644

Data Accessibility. To enable readers to locate archived data from papers, we require that 645

authors list the database and the respective accession numbers or DOIs for all data from the 646

manuscript that has been made publicly available. See below or Data Archiving, 2013 for more 647

details on the layout. 648

649

Figures 650

The publishers would like to receive your artwork in electronic form. Please save vector 651

graphics (e.g. line artwork) in Encapsulated Postscript Format (EPS), and bitmap files (e.g. half-652

tones) in Tagged Image File Format (TIFF). Ideally, vector graphics that have been saved in a 653

metafile (.WMF) or pict (.PCT) format should be embedded within the body of the text file. 654

Detailed information on the Wiley-Blackwell digital illustration standards is available 655

at: authorservices.wiley.com/bauthor/illustration.asp 656

Figures should not be boxed (superfluous bounding axes) and tick marks must be on the 657

inside of the axes. Where possible, figures should fit on a single page in the submitted paper. In 658

a final version they will generally be reduced in size by about 50% during production. Wherever 659

possible, they should be sized to fit into a single column width (c. 70mm final size). To make 660

best use of space, you may need to rearrange parts of figures (e.g. so that they appear side by 661

side). Please ensure that symbols, labels, etc. are large enough to allow reduction to a final size 662

of c. 8 point, i.e. capital letters will be about 2 mm tall. Lettering should use a sans serif font 663

(e.g. Helvetica and Arial) withcapitals used for the initial letter of the first word only. Bold 664

lettering should not be used. Units of axes should appear in parentheses after the axis name. 665

Please note that line figures should be at least 600 dpi and half-tones (photos) should be at least 666

300 dpi. 667

Images in the printed version of the Journal of Animal Ecology are in black and white as it is the 668

policy of the Journal of Animal Ecology for authors to pay the full cost for colour paper print 669

reproduction (currently £150 for the first figure, £50 thereafter). Free colour reproduction is 670

available for the on line version: if authors require this, they should write their figure legend to 671

accommodate both versions of the figure, and indicate their colour requirements on the Colour 672

Work Agreement Form. This form should be completed in all instances where authors require 673

colour, whether in print or online. Therefore, at acceptance, please download the form and 674

return it to the Production Editor (Penny Baker, Wiley-Blackwell, John Wiley & Sons, 9600 675

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30

Garsington Road, Oxford OX4 2DQ, UK. Please note that the ORIGINAL HARDCOPY form 676

must be returned in all instances (a faxed or scanned version cannot be accepted). Please note 677

that if you require colour content your paper cannot be published until this form is received. 678

679

Figure Legends 680

Please include enough detail so that the figure can be understood without reference to the text. 681

In the full-text online edition of the journal, figure legends may be truncated in abbreviated 682

links to the full screen version. Therefore, the first 100 characters of any legend should inform 683

the reader of key aspects of the figure. Figures should be referred to in the text as Fig. 1, etc. 684

(note Figs 1 and 2 with no period). 685

686

Tables 687

Each table should be on a separate page, numbered and accompanied by a title at the top. These 688

should be referred to in the text as Table 1, etc. Please do not present the same data in both 689

figure and table form. 690

691

Data Accessibility 692

A list of databases with relevant accession numbers or DOIs for all data from the manuscript 693

that has been made publicly available should be included in this section. For example: 694

Data Accessibility 695

- Species descriptions: uploaded as online supporting information 696

- Phylogenetic data: TreeBASE Study accession no. Sxxxx 697

- R scripts: uploaded as online supporting information 698

- Sample locations, IMa2 input files and microsatellite data: DRYAD entry doi: 699

xx.xxxx/dryad.xxxx 700

701

Supporting Information 702

Journal of Animal Ecology does not publish Appendices in the printed version. However, 703

Supporting Information that is referred to in the text may be made available in the online 704

version of the article. Guidelines for the preparation of Supporting Information are 705

available here. 706

For the printed version, any Appendices should be listed under 'Supporting Information', and 707

added after the References, with the opening statement: 'The following Supporting Information 708

is available for this article online' followed by brief captions for the Appendices/Figs/Tables to 709

be included. These should be numbered Appendix S1, Fig. S1, Table S1, etc. 710

Any literature referred to in the Appendix or online Supporting Information should also be 711

referenced in the Appendix or online Supporting Information so that it is a self-contained piece 712

of work. This may mean duplicating references if any literature is cited in both the main text and 713

the Supporting Information. 714

All Supporting Information should be submitted online as part of the main manuscript. Please 715

name your online supporting files as ‘online supporting information' and upload them with the 716

main document. This allows the submission web site to combine all the relevant files together 717

but keep them separate when it comes to publication stage. 718

719

References 720

References in the text to work by up to three authors should be in full, e.g. (Johnson, Myers & 721

James 2006). If there are more than three authors, they should always be abbreviated thus: 722

(Nilsen et al. 2009). When different groups of authors with the same first author and date occur, 723

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they should be cited thus: (Jonsen, Myers & James 2006a; Jonsen, James & Myers 2006b), then 724

subsequently abbreviated to (Jonsen et al. 2006a, b). The references in the list should be in 725

alphabetical order with the journal name in full. The format for papers, entire books, chapters in 726

books, and PhD theses is as follows. 727

728

Underwood, N. (2009) Effect of genetic variance in plant quality on the population dynamics of 729

a herbivorous insect. Journal of Animal Ecology, 78, 839–847. 730

731

Jonsen, I.D., Myers, R.A. & James, M.C. (2006) Robust hierarchical state–space models reveal 732

diel variation in travel rates of migrating leatherback turtles. Journal of Animal Ecology, 75, 733

1046–1057. 734

735

Nilsen, E.B., Linnell, J.D.C., Odden, J. & Anderson, R. (2009) Climate, season, and social 736

status modulate the functional response of an efficient stalking predator: the Eurasian 737

lynx. Journal of Animal Ecology, 78, 741–751. 738

739

Otto, S.P. & Day, T. (2007) A Biologist's Guide to Mathematical Modeling in Ecology and 740

Evolution. Princeton University Press, Princeton, New Jersey, USA.. 741

742

Conway. G. (2007) A Doubly Green Revolution: ecology and food production. Theoretical 743

Ecology: Principles and Applications, 3rd edn (eds R. May & A. McLean), pp. 158–171. 744

Oxford University Press, Oxford. 745

746

Stevenson, I.R. (1994) Male-biased mortality in Soay sheep. PhD thesis, University of 747

Cambridge, Cambridge. 748

749

References should only be cited as 'in press' if the paper has been accepted for publication. 750

Other references should be cited as 'unpublished' and not included in the list. Work not 751

yet accepted for publication may be cited in the text and attributed to its author as: author name 752

(including initials), unpublished data. Where the authorship of an 'in press' article overlaps with 753

the authorship of the submitted paper the 'in press' article should be uploaded with the 754

manuscript as a ‘supplementary file for review’. 755

756

Citations from the World Wide Web 757

Citations from the world-wide-web are only allowed when alternative hard literature sources do 758

not exist for the cited information. Authors are asked to ensure that: 759

Fully authenticated addresses are included in the reference list, along with titles, years and 760

authors of the sources being cited. 761

The sites or information sources have sufficient longevity and ease of access for others to 762

follow up the citation. 763

The information is of a scientific quality at least equal to that of peer reviewed information 764

available in learned scientific journals. 765

766

Units, symbols and abbreviations 767

Authors are requested to use the International System of Units (SI, Système International 768

d'Unités) where possible for all measurements (see Quantities, Units and Symbols, 2nd edn 769

(1975) The Royal Society, London). Note that mathematical expressions should contain 770

symbols not abbreviations. If the paper contains many symbols, it is recommended that they 771

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should be defined as early in the text as possible, or within a subsection of the Materials and 772

methods section. 773

774

Scientific names 775

Give the Latin names of each species in full, together with the authority for its name, at first 776

mention in the main text. If they appear in the Summary/Abstract, use the common and Latin 777

name only in the first instance, then the Latin or common name thereafter. If there are many 778

species, cite a Flora or checklist which may be consulted for authorities instead of listing them 779

in the text. Do not give authorities for species cited from published references. Give priority to 780

scientific names in the text (with colloquial names in parentheses, if desired). 781

782

Makers' names 783

When a special piece of equipment has been used it should be described so that the reader can 784

trace its specifications by writing to the manufacturer; thus: 'Data were collected using a solid-785

state data logger (CR21X, Campbell Scientific, Utah, USA)'. 786

787

Mathematical material 788

Mathematical expressions should be carefully represented. Suffixes and operators such as d, log, 789

ln and exp will be set in Roman type; matrices and vectors will be set in bold type; other 790

algebraic symbols will be set in italic. Make sure that there is no confusion between similar 791

characters like 'l' (ell) and '1' (one). Also make sure that expressions are spaced as you would 792

like them to appear, and if there are several equations they should be identified by eqn 1, etc. 793

794

Numbers in tables 795

Do not use an excessive number of digits when writing a decimal number to represent the mean 796

of a set of measurements (the number of digits should reflect the precision of the measurement). 797

798

Numbers in text 799

Numbers from one to nine should be spelled out except when used with units; e.g. two eyes but 800

10 stomata and 5°C. 801