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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ USJ CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO E LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SIMARA MAGALLI FERREIRA DA LUZ A CURA NAS OBRAS DE ALLAN KARDEC São José/SC Junho/2012

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO E LICENCIATURA EM

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

SIMARA MAGALLI FERREIRA DA LUZ

A CURA NAS OBRAS DE ALLAN KARDEC

São José/SC

Junho/2012

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO E LICENCIATURA EM

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

SIMARA MAGALLI FERREIRA DA LUZ

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como

requisito parcial para obtenção do grau de

bacharel e licenciado em Ciências da Religião do

Centro Universitário Municipal de São José –

USJ.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira

São José

2012

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Para Fábio, com amor.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente à força que me move e move o universo. Chamado, também, de

Deus, YHWH, Javé, Olorum, Brâman, Alá, Monã... Foi por essa energia, que hoje estou

aqui...

Aos meus pais, que são minha base, a eles eu sei que posso recorrer;

Ao meu esposo, por querer fazer parte de minha vida, e ter paciência comigo;

À minha irmã pelo companheirismo de sempre, para tudo;

Ao meu cunhado pelo incentivo e pela champagne;

Aos meus sobrinhos, Vinícius, Nathália, Arthur e Maria Eduarda, por todas as

brincadeiras e diálogos transcendentais;

À Andreza pela amizade e por discutir comigo assuntos relevantes ao curso;

Ao meu irmão, por me ensinar a gostar de ler;

À professora Marivone Piana por tornar este curso possível;

Ao professor Evandro Oliveira Brito, por toda a ajuda recebida;

Ao professor Sérgio Luiz Ferreira pela orientação na elaboração deste trabalho;

À professora Isabel Christiani Susunday Berois por sua dedicação, e

sensibilidade;

Ao professor Élcio Cecchetti por sua luta e determinação;

Ao professor Adecir Pozzer pelo empenho;

A professora Gisélia Antunes pela atenção;

Ao professor Marcelo Oliveira que fazia os alunos não faltarem às sexta feiras;

À professora Mirrian Elpo pelas aulas impactantes;

À professora Clarice Bianchezzi, pelo comprometimento;

Ao professor Felipe Buttelli, pelo entendimento;

Ao Coordenador do Curso Diógenes Braga, pelas conquistas adquiridas em prol

do curso;

Aos meus amigos de curso Andréa, Antônio, Ângela, Edson e Rosi. Por serem

sempre presente;

Ao colega de curso Valter pela disposição em ser-me útil na elaboração deste

trabalho;

Aos demais professores e colegas de curso, por todos os debates, entendimentos

e desentendimentos, por que esses últimos se tornam às vezes necessários para o

crescimento.

A todos que de uma forma ou de outra contribuíram ou torceram pela

concretização deste momento. Cada um me ensinou, orientou-me, ajudou-me, instigou-

me, se fez de bom exemplo de uma ou diversas maneiras. Sendo importante para a

minha formação enquanto estudante e mais que isso, enquanto ser. A todos me sinto

grata.

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Permanentemente, preso ao presente

O homem na redoma de vidro

São raros instantes

De alívio e deleite

Ele descobre o véu

Que esconde o desconhecido,

O desconhecido

E é como uma tomada à distância

Uma grande angular

É como se nunca estivesse existido dúvida,

Existido dúvida

Evidentemente a mente é como um baú

E homem decide o que nele guardar

Mas a razão prevalece,

Impõe seus limites

E ele se permite esquecer de lembrar,

Esquecer de lembrar

É como se passasse a vida inteira

Eternizando a miragem

É como o capuz negro

Que cega o falcão selvagem,

O falcão selvagem

Se na cabeça do homem tem um porão

Onde moram o instinto e a repressão

(diz aí)

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

Se na cabeça do homem tem um porão

Onde moram o instinto e a repressão

(diz aí)

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

O que tem no sótão?

Olho de Peixe

Lenine

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RESUMO

Não é de hoje que se percebe no Brasil a dinâmica entre o Espiritismo Kardecista e a

busca de cura a males que atingem o ser humano. Males estes físico, emocional ou

espiritual. Os pacientes buscam na medicina alternativa ou complementar resultados não

obtidos na medicina convencional. Diante disto, o objetivo de meu estudo foi verificar

como o Espiritismo Kardecista concebe a cura, as enfermidades e seus correlacionados.

Quais as bases para esse entendimento, com citação nas passagens que legitimam este

entendimento. Para isso elaborei uma pesquisa bibliográfica através dos cinco livros

alicerce do Espiritismo Kardecista e um sexto atribuído a Allan Kardec após seu

falecimento. Os livros são: O Livro dos Espíritos - Princípios da Doutrina Espírita; O

Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores; O Evangelho Segundo o

Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o

Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida; O Céu e o Inferno

ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo; A Gênese, Os Milagres e as Predições

Segundo o Espiritismo; e por fim: Obras Póstumas. Desta forma li, analisei, tabulei e

refleti sobre a presença de passagens que se referem à cura e correlatos nos livros

Espiritas Kardecistas. O resultado demonstrou que desde aquela época (1857), data do

primeiro livro do Espiritismo Kardecista, já havia uma forte inclinação à essa dinâmica

entre a religião e a saúde. Fato esse que se tornou intenso no Brasil, possivelmente, por

diversos motivos dos quais os principais são: a carência financeira, carência do ser

enquanto pessoa em um momento de fragilidade humana, a crença nesse método

alternativo de cura, carência governamental que pouco olha para os seus cidadãos ou a

busca de uma saída, seja ela alternativa ou complementar (ou ambos) para a cura do que

lhe aflige. Desta forma conclui que o entendimento Kardecista em relação à cura,

enfermidades e relacionados se faz presente desde seus primórdios e por isso há uma

aproximação entre saúde e religião. Percebe-se essa aproximação nas passagens dos

livros obras base do Espiritismo Kardecista onde esta relação religião/saúde se legitima.

Palavras-chave: Kardecismo, Cura, Espiritismo, Kardec, Religião.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9

2 PALAVRAS INICIAIS SOBRE O ESPIRITISMO KARDECISTA ........................ 14

2.1 Manifestações Misteriosas na casa da Família Foxx.............................................14

2.2 Allan Kardec: o Codificador do Espiritismo ......................................................... 15

2.3 A Entrada do Espiritismo Kardecista no Brasil .................................................... 17

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 18

3.1 Concepção de Cura, Kardecismo: Ciência ou Religião ........................................ 18

3.2 O Espiritismo Kardecista e as Personalidades em seus Livros Base.....................26

3.3 Chico Xavier ......................................................................................................... 29

3.4 A Cura como Foco da Pesquisa............................................................................. 31

4 ANÁLISE POR LIVRO...............................................................................................37

4.1 Análise do livro: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita .............. 37

4.2 Análise do livro: O Livro dos Médiuns Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores 41

4.3 Análise do livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das

Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às

Diversas Circunstâncias da Vida. ............................................................................... 44

4.4 Análise do livro: O Céu e o Inferno ou a justiça Divina Segundo o Espiritismo .. 47

4.5 Análise do livro: A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo.. 50

4.6 Análise do livro: Obras Póstumas..........................................................................56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 62

REFERÊNCIAS .............................................................................................................64

ANEXO 01. .................................................................................................................... 67

ANEXO 02. .................................................................................................................... 68

ANEXO 03......................................................................................................................70

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1 INTRODUÇÃO

Procuro verificar neste trabalho a cura dentro da concepção Espírita, tendo em vista

que essa religião tem um lidar diferenciado em relação à questão da cura, enfermidades e

processos correlacionados.

Essa acepção, às dores da alma remetendo às dores do corpo, sempre me intrigou.

Principalmente quando ouvia relatos de pessoas1 que passaram por procedimentos em casas

de atendimento Kardecista. E muitas dessas pessoas descreviam maravilhas. Esta hora é um

momento de fragilidade do enfermo, e, não raro, faz com que ele busque alternativas de cura,

não aceita (ou quase não aceita) na medicina convencional. Como se fosse mais uma chance,

alternativa ou, muitas vezes, o complemento do tratamento da medicina convencional. Fiz,

inclusive, questão de conhecer uma dessas casas, procurando uma aproximação prática com o

fenômeno escolhido por mim como tema de conclusão de curso.

Desta forma, pesquisei como o Espiritismo Kardecista concebe a cura das

enfermidades e seus relacionados, pontuando o pensamento de Allan Kardec seu codificador.

Para isso, baseei-me em cinco obras basilares do Espiritismo Kardecista, que são O livro dos

Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos

Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo, com a Explicação das Máximas Morais do

Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da

Vida, O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo, A Gênese: Os Milagres e

as Predições Segundo o Espiritismo. E para finalizar o livro Obras Póstuma onde li, listei,

analisei, tabulei e refleti, buscando o entendimento do Espiritismo Kardecista sobre a cura,

dialogando com vários autores consagrados e outros entendidos neste tema.

Como utilizei tradução de livros de mesmo ano de edição, para melhor entendimento

classifiquei de acordo com a ordem dos surgimentos das primeiras edições França com as

letras a, b e c. Acrescidos na referência. Ficando assim:

Para os livros de edição de tradução de 1995.

- O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita (1857) = a.

- O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo (1865) = b

- A Gênese os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868) = c

Para os livros de edição de tradução de 1996.

- O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores (1861)= a

1 Alguns colegas de curso, vizinhos, conhecidos, familiares e amigos.

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- O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do

Cristo em Concordância com O Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da

Vida (1864) = b

O livro Obras Póstumas não foi necessário classificar tendo em vista que a edição

utilizada por mim foi do ano de 2005 como nenhum outro utilizado neste trabalho.

Na elaboração deste me deparei com constantes complicações. De início, o tema de

meu projeto foi A Cura através do Espiritismo Kardecista no qual tinha como objetivo

analisar a contribuição dos tratamentos alternativos/complementares de cura no Núcleo

Espírita Nosso Lar. Seria uma pesquisa de campo. Naquele momento, eu tinha como ideia ir a

campo por acreditar que essa modalidade tornaria meu TCC (Projeto de Conclusão de Curso)

mais rico e preciso em informações. Para isso escolhi um Centro Espírita conceituado,

localizado na Grande Florianópolis e conhecido nacionalmente que é o referido Núcleo

Espírita Nosso Lar com sede em Forquilhinha. Nesta instituição inicie algumas observações

exploratórias e primeiros contatos.

Minhas visitas foram realizadas aos sábados, onde descobri que o ideal seria em dia de

semana, inclusive, para conseguir autorização para a realização da pesquisa. Um primeiro

problema tendo em vista a minha falta de horário disponível. Desta forma, em 17 de agosto de

2011 mandei um e-mail (Anexo 01), solicitando informações e autorização aos dirigentes da

casa. Tentei dialogar por telefone, devido à minha falta de tempo. Mas, com educação e

determinação a secretaria da casa me orientou a procurá-los pessoalmente em dia de semana.

O e-mail não foi respondido. Retornei a mandar. Sem sucesso. Até que um colega meu, de

curso, comentou que tinha contatos na Direção do Núcleo. Ele Fez, então, a mediação inicial.

Segundo ele, os dirigentes do Núcleo estavam dispostos a me receber, mas, gostariam de ter

meu projeto de pesquisa em mãos para ficar a par de meus objetivos no Núcleo. Sendo assim,

tive que adiar, pois, estava, justamente, em fase de produção do projeto. Não tinha ele em

mãos para a análise da Casa. Adiar e não desistir. Isso já era final de novembro de 2011. Tinha

a intenção de iniciar as minhas pesquisas, de fato, no início de 2012 a fim de ter tempo hábil

para concluir e apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso. Meu orientador, desta forma,

passou-me como “deveres” de férias o fichamento das Obras basilares do Espiritismo

Kardecista de seu codificador Allan Kardec (os cinco livros base) e mais o Livro As

Variedades da Experiência Religiosa – Um Estudo sobre a Natureza Humana de Willian

James.

No início do mês de fevereiro, ainda durante as férias, recebi a notícia de que meu

orientador, Professor Dr. Evandro Oliveira Brito, tinha sofrido um ato de covardia (Anexo

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02), ficando impossibilitado de me orientar, tendo, inclusive, que se afastar por tempo

indeterminado de suas funções na faculdade.

Meu próximo orientador, professor Dr. Sérgio Luiz Ferreira, tendo assumido a

minha orientação, em primeira conversa, sugeriu-me que fizesse uma pesquisa

bibliográfica, tendo em vista o material (leituras e fichamentos) que eu já possuía. No que

aceitei com bastante satisfação, pois, tudo, antes, demonstrou que a pesquisa em campo,

embora me parecesse mais proveitosa, dependia da vontade e disposição de outros, e

demandava um tempo disponível (dia útil) que eu não contava e outros pormenores... Desta

forma, minha pesquisa de campo se tornou bibliográfica onde eu dispunha de uma

quantidade de material e uma flexibilidade de tempo ideal para o meu cotidiano.

Devo, também, descrever as diversas “dores de cabeça” que minha escolha de tema

me trouxe, conforme diz Foucault (2011, p. 9), em uma sociedade como a nossa

conhecemos, é certo, procedimentos de exclusão.

Muitos colegas meus de curso, adeptos da religião de Kardec, não concordavam em

vários aspectos que eu comentava em sala sobre o assunto. Como por exemplo, a

aproximação do Espiritismo com o Catolicismo, Espiritismo religião ou não, revelações que

Kardec afirma em seus livros, enfim... Talvez os olhos de meus colegas fossem olhos

apaixonados.

Há uma tremenda diferença emocional e prática entre aceitarmos o universo da

maneira insípida e descolorida da estoica resignação à necessidade e aceita-lo com a

apaixonada felicidade dos santos cristãos. A diferença é tão grande quanto a que

existe entre a passividade e a atividade, entre a disposição de ânimo defensiva e a

disposição de ânimo agressiva (JAMES, 1935, p. 37).

No meu entender, não falei nada de mais há, está escrito, mas, eles (meus colegas) não

viam desta forma. O que me causou, em princípio, um sentimento de defesa do meu ponto de

análise das obras. Afinal, não li as obras na intenção de falar mal desta ou de qualquer religião

e sim, simplesmente, analisá-las. Chegou-se a dizer em sala de aula que eu lia e não entendia,

acreditavam que era um problema meu de interpretação. Para mim não, estava escrito, era só

ler. Esta frase retirada do primeiro livro Espirita Kardecista, onde a primeira edição francesa

é datada de 1857, por exemplo:

O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença

apenas por algumas pessoas? Certamente que se tornará crença geral e marcará nova

era na história da humanidade porque está na Natureza e chegou o tempo em que

ocupará lugar entre os conhecimentos humanos (KARDEC, 1995, p. 372, a).

O que se pode interpretar desta, e de outras leituras, o que esta pergunta/reposta afirma

é que o Espiritismo como uma “verdade”, segundo esta religião, define-se como uma verdade

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universal. Desta forma, o Espiritismo, assim como outra e qualquer religião, toma para si um

status legitimador, acima de qualquer outra teoria religiosa. Ela se percebe como a evolução

da religião, que aconteceria de qualquer maneira, seria apenas uma questão de tempo. A

própria definição como terceira e final verdade humana2: sendo a primeira, Moisés; a

segunda, Jesus e a terceira, o Espiritismo. Cada uma, de acordo com a época própria da

humanidade.

Mas, ao explanar o meu entendimento, recebi diversas críticas. Diziam que eu não

tinha compreendido o conteúdo, tendo sido aconselhada, por meus colegas, a reler,

novamente, as obras. Talvez, os colegas quisessem que eu visse o que eles viam. Eu não vi

outra coisa, eu somente vi o que os meus olhos de análise me permitiam ver. Nada mais do

que está escrito. Willian James, em As Variedades da Experiência Religiosa: Um Estudo

sobre a Natureza Humana, já levantava esta questão do viver a experiência e do analisar a

obra de forma menos analítica, sem os olhos da paixão. Sem querer desmerecer, nem mesmo

exaltar, apenas analisar. Desta forma como escreveu James:

Combinando-o com o nosso juízo existencial, podemos, com efeito, deduzir outro

juízo espiritual sobre o valor da Bíblia. Destarte, se a nossa teoria do valor da

revelação afirmasse que qualquer livro, para possuí-la, há de ter sido composta,

automaticamente ou não, pelo livre capricho do autor, ou que não pode conter nenhum

erro científico e histórico nem expressar nenhuma paixão local ou pessoal, a Bíblia,

provavelmente, ver-se-ia em má situação em nossas mãos. Mas se, por outro lado,

nossa teoria permitir que um livro seja uma revelação, em que pese aos erros e paixões

e à deliberada composição humana, bastando que seja um registro verdadeiro das

experiências íntimas de grandes almas em luta com as crises do seu destino, o veredito

será muito mais favorável. Como vêem os senhores, os fatos existenciais, por si

mesmos, são insuficientes para determinar o valor; e os melhores adeptos da crítica

superior, nessa conformidade, jamais confundem o problema existencial com o

espiritual. Com as mesmas conclusões de fato diante deles, alguns perfilham uma

opinião, outros outra, sobre o valor da Bíblia como revelação, de acordo com as

diferenças do seu juízo espiritual quanto ao fundamento dos valores. (JAMES, 1935,

p. 17).

Percebi que analisar religião não é algo muito seguro, no final resolvi calar. Não quero

dizer que as experiências de meus colegas nada trazem de valor, não é isso! Concordo com

James, são maneiras diferenciadas de olhar o fenômeno. Mas ambos não podem ser

desprezados. O olhar científico e o olhar da experiência como fiel. Ambos existem e ambos

devem ter seu espaço. A legitimação de fé de meus colegas não pode ser expressada por mim.

Para mim o Kardecismo é instrumento de meu objeto de estudo que é a cura no Kardecismo

segundo seu codificador. Procuro a isenção, a não emissão de juízos de valor, de modo que

2 “A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, e a terceira não tem indivíduo

algum. As duas foram individuais, a terceira coletiva [...]. A terceira é o Espiritismo (KARDEC, 1995, 35,c).

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não haja prejuízos nos meus rumos e conclusões. A autoridade da instituição religiosa aqui

trabalhada, a mim não se aplica, pois meu foco é científico (JAMES, 1935, p.266).

Mais uma vez, portanto, repito que aos não místicos não corre nenhuma obrigação de

recorrer aos estados místicos a uma autoridade superior conferida a eles por uma natureza

intrínseca.

Desta forma, é nisto que se baseia a minha fundamentação e o meu entendimento,

procurando responder meu questionamento inicial. Perpassando por questões que eu

considerava relevante para entendimento do meu objetivo e outras pontuais que me chamaram

atenção. O capítulo 01 é de introdução à pesquisa e apresenta o tema, problemas, objetivos, os

procedimentos iniciais de pesquisa, os problemas enfrentados e a estrutura da pesquisa. No

capítulo 02 trago a introdução do Espiritismo desde seu início com as irmãs Foxx, Allan

Kardec e a chegada do Espiritismo no Brasil. No capítulo 03 pontuo questões que sempre me

chamaram atenção como a concepção de cura, Espiritismo: Ciência ou Religião, depoimentos

de personalidades nos livros Espiritas, Chico Xavier e meu foco de pesquisa que é a cura no

Kardecismo. No Capítulo 04 trabalho a descrição dos dados coletados na pesquisa

bibliográfica e uma breve análise desses e, finalmente, o capítulo 05 é de considerações finais.

Fiz desta forma, uma leitura não religiosa da crença, mas, científica. E isso é o que se segue

nas páginas seguintes...

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2 PALAVRAS INICIAIS SOBRE O ESPIRITISMO KARDECISTA

Tradicionalmente, os autores afirmam a forte característica entre o Espiritismo

Kardecista e as práticas de cura que se fez presente no cenário Brasileiro, diferentemente no

imaginado pelo seu codificador Hippolyte Léon Denizard Rivail 3.

Aqui no Brasil o Espiritismo Kardecista deixou de lado o seu enfoque cientificista

para abraçar, aos moldes adequados, às necessidades nacionais.

Em 1857, data do surgimento do Espiritismo na França, a distância cultural, social e

política desses dois países foram determinantes para entender como se processou os diferentes

enfoques entre sua pátria mãe e o Brasil, país considerado hoje como principal expoente

mundial do Espiritismo Kardecista (SANTOS, 2004, p.08).

A França em 1857, época do surgimento do Espiritismo Kardecista, já contava com

uma sociedade desenvolvida, influenciadora, experiente e pensante. Já tinha passado por

revoluções, guerras e ditava teorias filosóficas como o Positivismo de Auguste Comte, base

esta que o Espiritismo Kardecista tomou como princípio em sua fundamentação. A Europa,

em si, estava em processo de desenvolvimento capitalista, onde a cientificidade era a palavra

de ordem. Diferentemente do Brasil que, segundo alguns autores4, somente, começou a ter

ares de pátria com a chegada da Família Real Portuguesa ao país em 1808 que veio fugida das

tropas de Napoleão Bonaparte, coincidentemente, um imperador Francês.

O Brasil de 1857 contava com apenas 35 anos de sua independência e tinha como seu

produto principal a exportação do café, sua industrialização era resultante desse comércio.

Seus habitantes eram, em sua maioria, índios - primeiros proprietários da terra que não se

permitiram serem escravizados pelo homem branco - escravos negros vindos da África para

trabalhar como mão de obra escrava e, já nesta época, imigrantes trazidos para substituir a

mão de obra escrava que se tornava cada vez mais escassa devido à proibição do tráfico

negreiro. A grande massa populacional nacional brasileira não era estimulada ao pensamento

crítico. Havia uma educação precária e um povo carente. Em contraposição ao cientificismo

europeu contestador, arrisco-me a dizer que o Brasil era um país, praticamente, constituído

por analfabetos (não querendo parecer preconceituosa) A carência tendo reflexo na educação.

2.1 Manifestações Misteriosas na Casa da Família Foxx

3 Hippolyte Léon Denizard Rivail – Pedagogo francês conhecido como o pseudônimo de Allan Kardec.

Propagador do Espiritismo. 4 Com base no livro 1822 - Laurentino Gomes, 2010.

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A história do Espiritismo é anterior a Kardec, teve seu início em 1848, em Hydesville

nos Estados Unidos com as irmãs Foxx, Katherine e Margaretha e mais tarde Leah. Elas

afirmavam que na casa onde foram habitar em Hydesville aconteciam fenômenos

inexplicáveis como batidas, passos, arranhões... Logo, procurou-se estabelecer contato com os

sons inexplicáveis, atraindo pessoas curiosas, interessadas em desvendar os misteriosos

fenômenos ocorridos na casa.

Em dado momento, as irmãs Foxx foram acusadas de autoras dos sons. A explicação

que se deu aos fenômenos era a manifestação do espírito de um homem morto na casa, cujo

corpo se encontrava escondido na adega da casa antes das irmãs Foxx ali habitarem. Na

época, não se descobriu o esqueleto do homem, somente em 1904, encontrou-se o tal

esqueleto na parede da casa. A história das irmãs Foxx é controversa. Uma hora, as irmãs

afirmavam que os fenômenos eram reais, outra hora afirmavam que não passavam de fraude.

Colocavam-se, o tempo inteiro, em contradição. Pairava a incerteza sobre tais fenômenos.

Fenômenos como esses não eram relatados somente em Hydesville, mas, os de Hydesville

foram os mais famosos na história do espiritismo (HEERDT, 2008, p. 192).

2.2 Allan Kardec: o Codificador do Espiritismo

Hippolyte-Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec, o codificador

do Espiritismo, era francês nascido em Lyon em 03 de outubro de 1804, desencarnou (como

diz a sua crença) em 31 de março de 1869. De família católica, pedagogo, poliglota, casado,

sem filhos, pertencia a uma família de juízes e advogados. Rivail foi convidado por um amigo

a visitar às tais “mesas girantes e falantes” que se manifestavam e divertiam a burguesia

francesa do século XIX, começando assim a história do Espiritismo Kardecista.

A história do Espiritismo de Kardec teve início na França no decorrer dos anos de

1850, através dos fenômenos das “mesas girantes ou falantes”. Uma brincadeira surgida nos

salões franceses que atraía os nobres da sociedade francesa. Eram mesinhas redondas sobre as

quais pessoas colocavam as mãos e, instantaneamente, começavam a girar, saltar sem que

ninguém assumisse tais acontecimentos. Tudo parecia magnético, os fenômenos começaram a

ganhar proporções cada vez maiores.

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Em 1855, Hippolyte Rivail5 foi convidado a conhecer as tais “mesas”. De início

Hippolyte Rivail não acreditava nesses fenômenos, achava que todos os acontecimentos eram

produzidos pelas pessoas envolvidas na “brincadeira” e não uma possível intervenção

espiritual. Mas, logo os fenômenos começaram intrigá-lo. Notou que as respostas emitidas

através daqueles objetos inanimados fugiam do conhecimento cultural e social dos que faziam

parte do "espetáculo". Foi então, que ele recebeu uma mensagem de um espírito que se

identificava como Verdade que dizia que ele seria o codificador de uma nova doutrina

(HAMA, 2004, p. 20).

Aceitou assim, a tarefa que lhe foi incumbida6.

Ora, essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apoia-se sobre um

suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida por um compacto

conjunto de práticas como a pedagogia [...] (FOUCAULT, 2011, p. 17).

Rivail passa a estudar esses fenômenos. Ficou conhecido como Allan Kardec, o

codificador do Espiritismo.

Quando, pelo ano de 1855, as manifestações, novas na aparência, das mesas girantes,

das pancadas sem causa ostensiva, dos movimentos insólitos de objetos e móveis

começaram a prender a atenção pública, determinando mesmo, nos de imaginação

aventureira, uma espécie de febre devida à novidade de tais experiências, Allan

Kardec, estudando ao mesmo tempo o magnetismo e seus singulares efeitos,

acompanhou com maior paciência e clarividência judiciosa as experimentações e as

tentativas que então se faziam em Paris. Recolheu-se e pôs em ordem os resultados

conseguidos dessa observação e com eles compôs o corpo de doutrina que publicou

em 1857, na primeira edição de O Livro dos Espíritos. (KARDEC, 2005, p.27).

O Espiritismo tornou-se presença no Brasil, segundo Ortiz (1978), já no ano de 1853,

mas, somente, em 1865 com a formação de um grupo em Salvador, tornou-se,

verdadeiramente, uma religião.

5 Mais tarde passou a utilizar o pseudônimo de Allan Kardec, atribuído a um nome usado em sua encarnação

anterior como druida, como eram chamados os sacerdotes do povo Celta.(HAMA, 2004, p. 21). 6 Allan Kardec foi o codificador do Espiritismo e escritor dos cinco livros bases do Espiritismo. A forma que

escreveu os livros foi com o auxilio de seus irmãos que é como o espiritismo costuma classificar desencarnados

(mortos), principalmente, do espírito chamado verdade. A influência dos espíritos pode ser percebida nessa

passagem (e muitas outras) na página 26, ainda, na introdução do primeiro livro escrito do Espiritismo O Livro

dos Espíritos: “Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação. “Podem evocar-se todos os

Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os “das personagens mais ilustres, seja qual for a época em

que tenham vivido; os de nossos “parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou

verbais, “conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que “pensam a nosso

respeito, assim como, as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos. “Os Espíritos são atraídos na razão da

simpatia que lhes inspire a natureza moral do “meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas

reuniões sérias, onde “predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se

“instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, “encontram livre

acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou “impelidas unicamente pela curiosidade e

onde quer que existam maus instinto”. (KARDEC, 1995,26, a).

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17

2.3 A Entrada do Espiritismo Kardecista no Brasil

Segundo Ortiz (1978), a introdução do Espiritismo no Brasil se fez em 1853, mas,

somente, em 1865 nasceu um grupo em Salvador/BA. O primeiro movimento espírita

organizado (1873) foi a sociedade de Estudos Espíritas do grupo Confúcio, no Rio de Janeiro.

No Brasil, a presença do Catolicismo era maciça na sociedade, crença esta

estabelecida pela Primeira Constituição (1824) como religião oficial do país, a religião do

império. Em contrapartida, a mesma Constituição dava margem para outros credos desde que

se fizesse de forma discreta. Beneficiavam-se não somente os espíritas Kardecistas, mas,

também, os protestantes que chegaram ao Brasil como mão de obra trabalhadora.

Começa assim, a história do Espiritismo Kardecista do Brasil e suas diferenciações em

relação a seu berço, a França. José Luiz dos Santos (2004), antropólogo estudioso e escritor

do Livro Espiritismo uma religião Brasileira aponta que desde início, o Espiritismo brasileiro

já demonstrava essa ênfase curandeirista, assim como afirma, também, (GREENFILD, 1999).

No Brasil, além disso, com forte influência de tradições africanas, os espíritos dos

mortos se dizem capazes de retornar ao mundo material e interagir com os vivos, sem

se reencarnarem, mas apenas se apossando dos corpos dos médiuns. Os médiuns

especiais, que recebem espíritos que na vida passada praticavam curas como médicos,

cirurgiões ou outros agentes de saúde, são chamados de médiuns curadores.

(GREENFILD, 1999, p. 121).

Em seu livro, os relatos de tais práticas relacionadas à prática de cura ou busca dela

aliada ao Espiritismo Kardecista se faz presente em todo o trajeto da religião7 no país.

7 Vale lembrar que se percebe em muitos discursos de adeptos Espíritas Kardecistas que o Espiritismo

Kardecista não é religião e sim uma doutrina. Segundo o dicionário On-line Michaelis em um de seus conceitos

Doutrina é conjunto de princípios em que se baseia um sistema religioso, político ou filosófico.Segundo o

mesmo dicionário em um de seus conceitos religião é a crença ou doutrina religiosa, sistema dogmático e moral.

Dicionário 0n-line Michaelis site: http://michaelis.uol.com.br/ disponível em: 24 de out. de 2011.

Kardec em seus livros afirma que mesmo demostrando o seu viés cientificista ele também acreditava que a

profissão de fé a sua crença era uma questão de tempo. Que logo mais, todos descobririam a verdadeira fé nos

Espíritos, fazendo do Espiritismo kardecista a verdadeira religião de Cristo. Para exemplificar: Na frase

constante no Livro A Gênese (1995 c ), páginas 45 e 136 respectivamente, “A moral que os espíritos ensinam é a

do Cristo, pela razão que não há outra melhor” “É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é

a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e

final da perfeição espiritual”.

No livro Obras Póstumas (2005 p. 444), A crença no Espiritismo já não será simples aquiescência, muitas vezes

parcial, a uma ideia vaga, porém uma adesão motivada, feita com conhecimento de causa e comprovada por um

título oficial, deferido ao aderente. Na frase do livro o Evangelho segundo o Espiritismo (1996, b) página 57: “A

Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a

outras as do mundo moral”, No livro Obras Póstumas (2005), página 338 “Deixará de haver religião e uma se

fará necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador” Enfim, em muitas outras citações encontradas

nos livros bases Kardecistas oque facilmente dariam um tema de trabalho de conclusão de curso.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Concepção de Cura, Kardecismo: Ciência ou Religião

Cura na perspectiva etimológica 8 quer dizer ação e efeito de cura, tratamento de

saúde, restabelecimento, melhora, regeneração... Essa significação pode ser entendida não,

somente, como a cura física. Aquela que se prova. Aquela que se vê. A palavra cura não se

desenvolve em um único sentido, mas, na plenitude do ser, tanto físico, quanto espiritual, e

emocional.

De acordo com a teoria Kardequiana, a cura segundo o livro A Gênese – Os Milagres e

as Predições Segundo o espiritismo se processa da seguinte maneira.

[...]o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispirito, que dele

não são se não transformações. Pela identidade de sua natureza, este fluido

condensado no perispirito, pode fornecer ao corpo os princípios reparadores. O agente

propulsor é o Espírito, encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado

uma parte da substância de seu involtório fluídico. A cura se opera pela substituição

de uma molécula sã a uma malsã. (KARDEC,1995, p.294-295 c) .

Essa presença “curandeirista” não perdeu foco. Pelo contrário se fortaleceu ao longo

dos anos. Tendo em vista que, atualmente, existem Centros Espíritas dedicados,

exclusivamente, a tais práticas, que atendem, inclusivamente, essa demanda de necessidade.

Com atendimento a pacientes que buscam apoio para o os diversos males, físico, emocional,

espiritual.

Ortiz (1978), mostra que no Brasil o Espiritismo tornou-se, verdadeiramente, uma

religião que se distancia, de certo modo, do pensamento racionalista de seu codificador Allan

Kardec. O primeiro movimento espírita organizado (1873), a sociedade de Estudos Espíritas

do Grupo Confúcio, no Rio de Janeiro, teve como palavra de ordem: Sem caridade não existe

Verdadeiros Espíritas. O que levava à prática da homeopatia e dos passes para doentes.

(ORTIZ, 1978).

8 Cura sf (lat cura) 1 Ação ou efeito de curar. 2 Tratamento da saúde. 3 Restabelecimento da saúde. 4 Emenda,

melhora, regeneração. 5 Processo de curar ou secar ao sol ou ao calor do fogo (queijo, chouriço etc.). 6 Constr

Molhadela repetida aplicada ao concreto, nas primeiras horas após o lançamento, para facilitar a pega.

Dicionário 0n-line Michaelis site: http://michaelis.uol.com.br/ disponível em: 10 de abril de 2012.

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19

Diante desta premissa, e a fim de uma aproximação com o meu objeto de pesquisa,

visitei alguns Centros Espíritas Kardecistas 9e percebi que esses centros recebem pessoas dos

mais variados credos e problemas de toda e qualquer enfermidade. Mas, o que faz tantas

pessoas a recorrer a esses locais? Tomei esta informação em um vídeo Institucional disponível

na internet do Núcleo Espírita Nosso Lar, no qual, a princípio, pretendia desenvolver este

trabalho. Onde, pessoalmente, estive em 17 de setembro de 2011, tendo retornado mais

algumas vezes naquele mês e no próximo.

Em Nosso Lar, nós trabalhamos deste paciente. Nós tratamos o espírito do paciente.

Aquela parte inteligente que ordena a mente e que ordena o corpo. Então os espíritos

atuam no corpo físico através desta percepção extra sensorial que nós chamamos de

mediunidade. Neste processo existe a captação de informação que o médium procura

passar ao paciente, através de passes, através de envolvimento de toques,

principalmente, com o seu próprio pensamento positivo, com a sua onda pensante,

com o seu magnetismo pessoal e, também, com o magnetismo espiritual, ele consegue

então, influenciar o ser doente para levá-lo a um estado de equilíbrio.

(INFORMAÇÃO VERBAL)10

Quando nós não conseguimos nos adaptar à realidade que temos, que somos, que

estamos vivendo, nós começamos a ter problemas na compreensão, no entendimento e

principalmente no ato de viver. Então começam aparecer certas avarias emocionais,

energéticas, espirituais, como depressão, estado alterado de consciência, psicose,

comportamento alterado em criança, em jovem em adultos e isto é tratado em Nosso

Lar (INFORMAÇÃO VERBAL)11

.

São doenças mentais de uma maneira geral, transtornos obsessivos compulsivos,

esquizofrenia, enfermidades tipo, Alzheimer, Parkinson e também algumas doenças.

Enfermidades consideradas leves, não críticas, físicas (INFORMAÇÃO VERBAL) 12

.

Para Renato Ortiz (1978), o médium Espírita Kardecista, antes de tudo, é um

curandeiro. O autor aponta que o principal critério para o recrutamento de novos adeptos

Espíritas Kardecistas se dá, justamente, no âmbito da busca pela cura. Sandra Jacqueline Stoll,

estudiosa do assunto, ainda, completa do seguinte modo:

[...] O Espiritismo se disseminou rapidamente entre os seguimentos populares. Para

isso contribuiu a constituição de “centros” espíritas, que hoje se encontram

espalhados por todo o país, e o desenvolvimento da atividade doutrinária associada a

práticas de cunho assistencial, como a distribuição de roupas e alimentos entre

famílias que vivem em favelas e nas ruas. Através destes, deu-se também a criação de

9 Centro Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, Centro Espírita Fé e Caridade ambos em Florianópolis e

principalmente Núcleo Espírita Nosso Lar situado em São José. Este último com reconhecimento e visibilidade

nacional. 10

José Álvaro Farias – Diretor do Núcleo Espírita Nosso Lar em vídeo disponível no endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I. Disponível ás 00:13 de 06 de maio de 2012. 11

José Álvaro Farias – Diretor do Núcleo Espírita Nosso Lar em vídeo disponível no endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I. Disponível ás 00:13 de 06 de maio de 2012.

12

Dr. Airson Stein – Neonatologista atendente do Núcleo Espírita Nosso Lar em disponível no endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I. Disponível ás 00:13 de 06 de maio de 2012.

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inúmeras instituições filantrópicas, cujas ações estão voltadas, principalmente ao

atendimento a doentes, idosos e crianças. Os espíritas também se destacam na prática

de cura. Além dos “passes” e da atividade receitista, as chamadas “cirurgias

espirituais” consistem uma das formas mais conhecida de divulgação doutrinária.

(STOLL, 2003, p. 51).

Mas será que essa ênfase na cura observada em solo brasileiro atendia às pretensões do

Espiritismo Francês idealizado pelo seu codificador Allan Kardec?

Habituando um inter-discurso marcado pela crença prometeica em uma ciência

redentora, o espiritismo reconhecia, evidenciando suas afinidades com o positivismo,

o papel de uma elite de sábios, capaz de dirigir os destinos da humanidade, acorde

com as leis da natureza, apreensíveis pelos cientistas. Daí o autor saudar ao mesmo

tempo, a “graciosa igualdade dos homens” e a existência de uma distinção “firmada

em seus reais merecimentos” (ISAIA, 2011, p.119).

Certo a preocupação de Kardec em se firmar como ciência. Todos os livros base

Kardecistas demonstram em diferenciados e constantes momentos. Para exemplificar, sem

parecer tedioso, apenas escolhi uma citação de cada livro base do Espiritismo partindo do

primeiro livro ao último.

O Livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita:

Se tal fenômeno se houvesse limitado ao movimento de objetos materiais, poderia

explicar-se por uma causa puramente física. Estamos longe de conhecer todos os

agentes ocultos da natureza, ou todas as propriedades dos que conhecemos: a

eletricidade multiplica diariamente os recursos que proporciona ao homem e parece

destinada a iluminar a Ciência como uma nova luz. (KARDEC, 1995, p.17 a).

O Livro dos Médiuns: Ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores:

Só com o tempo e o estudo se adquire o conhecimento de qualquer ciência. Ora, o

Espiritismo, que entende com as mais graves questões de filosofia, com todos os

ramos da ordem social, que abrange tanto o homem físico quanto o homem moral, é

em si mesmo, uma ciência, uma filosofia, que já não pode ser aprendidas em algumas

horas como nenhuma outra ciência. (KARDEC, 1996, p. 32, a).

O Evangelho Segundo o Espiritismo:

O Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e aprova

que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda a ciência com o

lhe mostrar a verdadeira causa de certas afecções, faculta-lhes os meios de as

combater. Quando a ciência levar em conta a ação do elemento espiritual na

economia, menos frequentes serão os seus maus êxitos. (KARDEC, 1996, p. 51, b).

O Céu e o Inferno – Ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo:

Os fenômenos espíritas de nossos dias, mais generalizados e mais bem observados à

luz da razão e com auxílio da ciência confirmaram, é certo, a intervenção de

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inteligência ocultas, porém agindo dentro de leis naturais e revelando por sua ação

uma nova força e leis até então desconhecidas. (KARDEC, 1995, p.135, b).

A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo:

Como meio de elaboração, o Espiritismo procede da mesma forma que as ciências

positivas aplicadas o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não

podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e,

remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois deduz–lhes as

consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria

preconcebida; assim não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos

espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da

doutrina; conclui pela existência dos espíritos, quando essa existência ressaltou

evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros

princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é

que veio, subsequentemente, explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente, exato

dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação.

As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam

sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método, também, só

era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas. (KARDEC,

1995, p. 20 c).

Obras Póstumas:

Não há milagres. Assistimos ao alvorecer de uma ciência desconhecida. Quem poderá

prever a que consequências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo

desta nova psicologia? (KARDEC, 2005, p. 30).

Como se pode observar em seus livros havia a preocupação em se firmar como

ciência. Talvez influenciado pela época em que vivia (positivismo) Kardec demonstrava uma

frequente preocupação de fazer do Espiritismo algo menos místico e mais palpável. Algo

provável!

Separação historicamente constituída, com certeza. Porque, ainda, nos poetas gregos

do século VI, o discurso verdadeiro no sentido forte e valorizado do termo – O

discurso verdadeiro pelo qual se tinha respeito e terror, aquele ao qual era preciso

submeter-se, porque ele reinava, era o discurso pronunciado por quem de direito e

conforme o ritual requerido; era o discurso que pronunciava a justiça e atribuía a cada

qual sua parte; era o discurso que, profetizava o futuro, não somente anunciava o que

ia passar, mas atribuía para a sua realização, suscitava a adesão dos homens e se

tramava assim com o destino. (FOUCAULT, 2011, p. 14-15).

Desta forma, seu discurso apenas vem legitimar a pessoa que fala. E a esta pessoa

(Allan Kardec) bastava para legitimar as suas ideias. Tem-se por hábito de ver na fecundidade

de um autor, na multiplicidade dos comentários, no desenvolvimento de uma disciplina, como

recursos infinitos para a criação dos discursos. (FOUCAULT , 2011, p.36).

A preocupação de Kardec em firmar o Espiritismo Kardecista como ciência, reflexo de

sua época, não como religião, não passa despercebida a autores estudiosos do Espiritismo.

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Assumindo uma visão evolucionista, o espiritismo pregava o aprimoramento do

destino humano. Tanto o homem individual tendia para o aperfeiçoamento contínuo,

como a sociedade encaminhando-se, naturalmente, nessa direção. A filiação aos

ideais iluministas e o reconhecimento de leis mantenedoras da ordem cósmica,

perfeitamente perceptíveis pelo homem, faziam com que o espiritismo encarasse a

pesquisa científica como aliada no afã de comprovar a veracidade da revelação

divina. Apresentando-se como “terceira revelação” sucessora da mosaica e da cristã, a

obra de codificação espírita defendia a pesquisa científica como caminho necessário

para o reconhecimento da divindade. (ISAIA, 2011, p. 113).

O século XIX é o período onde a crítica, o ceticismo e a experiência se fizeram base

para o firmamento de um conhecimento. Kardec é filho do século XIX, Assim como nós

somos reflexo de nosso tempo. A época de Kardec foi do secularismo13

, cientificismo, onde a

religião já não atendia às necessidades da época. Kardec buscava a libertação da religião. Isso

fica claro quando se define como ciência e não religião. Reflexo de seu século. Por isso, ainda

hoje, muitos de seus adeptos não conseguem responder, ou respondem, a princípio, de forma

negativa à pergunta se o Espiritismo Kardecista é religião ou não. Religião era tudo que

Kardec não queria que fosse, mas, algo provável e observável de acordo com seu momento.

No século XIX, o método científico sugerido por René Descartes (século XVII) que se

pautava na dúvida como método, surge revisado no positivismo de Augusto Comte, tendo o

Método Científico encontrado seu ápice nesse século. Para ser ciência era precioso não

somente crer, mais experimentar, fundamentar tendo a razão como norteadora. É neste século

que surgiram variadas ciências como sociologia, psicologia, antropologia... E as mais variadas

áreas de conhecimento. A partir do século XIX, em um saber sociológico, psicológico

médico, psiquiátrico: como se a própria palavra da lei não pudesse mais ser autorizada, em

nossa sociedade, senão por um discurso de verdade científica (FOUCAULT, 2011, p.19).

O século XIX foi, também, marcado pelo secularismo que é onde o Estado toma para

si a responsabilidade moralizadora e a religião parte para o campo privado. Onde a fé não é

mais determinante na vida e cotidiano do ser, mas, apenas parte de um todo.

A certeza do século XIX, como absoluto, somente começa a ser questionado com o

surgimento de outras possibilidades como a física quântica e a relatividade de Albert Einstein.

Pois a ciência é um mundo de transformação e não estagnação.

A relação de atribuição. O autor é, sem dúvida, aquele a quem se pode atribuir o que

foi dito ou escrito. Mas a atribuição – Mesmo quando de um autor conhecido – é o

resultado de operações complexas e raramente justificadas. A incerteza do opus.

(FOUCAULT 2001).

13

Época de afastamento da Igreja, nas esferas públicas, a separação entre Igreja e Estado.

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23

Voltando a Kardec e seu tempo entende-se que a preocupação científica experimental

toma peso de valor, assim como as determinações de seu século ele (Kardec) procura

fundamentar o Espiritismo nos parâmetros base de sua época.

O eixo evolucionista dava, então, grande atualidade à proposta Kardecista. De fato, o

evolucionismo era o chão comum das principais teorias científicas do século XIX.

Apresentava a vida e a humanidade numa sequência de fases e etapas que vinham

desde aquela que supunham a mais antiga. (SANTOS, 2004, p.12).

O viés positivista, reflexo de influencia de Auguste Comte. O espiritismo, eles

argumentam, é baseado na ciência do futuro, uma ciência que nós norte-americanos e

europeus ainda não reconhecemos (GREENFIEELD, 1999, p. 123).

No Brasil a aproximação mística de acordo com o seu contexto histórico, torna-se

evidente. Embora haja discurso de não religião e sim doutrinação. Mas, o que é religião?

O mesmo interesse e vitalidade que não se verifica na França, onde e Espiritismo teve

origem, mas começou a desaparecer alguns anos depois da morte de Allan Kardec.

Apesar disso é ainda à sombra do modelo francês que se pensa a história e as

características do Espiritismo no Brasil. As comparações habituais remetem às

origens: quando surgiu, em meados do século XIX, a doutrina de Allan Kardec se

definia como sendo “antes de tudo uma ciência, embora com consequências morais”.

Transladado o Atlântico, passou a predominar a feição mística, conforma análise dos

autores que trataram do tema [...] (STOLL, 2003, p.17).

O que se entende por ciência? Ciência é a teoria, o método e o objeto. A teoria e o

método o Kardecismo atende. A teoria são os livros alicerce do Kardecismo, o Método é a

sistematização, a observação dos fenômenos. E o objeto? Não seria a crença, a fé, a

experiência? A crença e a fé e a experiência, também, não seriam a mesma base de qualquer

instituição religiosa? Então, seria correto dizer que toda e qualquer instituição religiosa

poderia ser tomada como ciência. Tendo a crença, a fé e a experiência do fiel como

fundamento de sua cientificidade.

É utilizarmos de procedimentos que nos permitem conhecer a intencionalidade do ser.

Tudo que se manifesta, suas afirmações fundamentadas, a consciência vale como

dado e pode ser chamado como objeto. A fenomenologia fundamenta todas as suas

afirmações na experiência vivida (em dados). (ALEXANDRE, 2009, p.62).

O Espiritismo se declara como a terceira revelação, assim como, Isaia (2011, p. 114)

observou em seu texto A Imprevisibilidade do Discurso, essa auto proclamação descrita no

Livro Alicerce do Espiritismo a Gênese desta maneira:

A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, e a

terceira não tem em indivíduo algum. As duas primeiras foram individuais, a terceira

coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido

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de não ser feita ou dada como privilégio a pessoa alguma; ninguém por consequência,

pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por

sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais

baixa até a mais alta escala [...]. (KARDEC, 1995, p.35, c).

Nesta última citação Kardec afirma que o Espiritismo não escolhia idades,

classes... Declara-se detentor da verdade, que será abraçada por todos, seria apenas uma

questão de tempo. O início do Espiritismo Kardecista já começa elitizado. Em sua história há

indícios claros que a ele pertencia somente a classe dominante da sociedade Francesa. Pois era

“brincadeira constante em seus salões”.

As classes e nações dominantes interpretavam o evolucionismo, a sua maneira,

usando-o para justificar a dominação e o colonialismo. A noção de avanço e

superioridade, ao longo das escalas de evolução, era muito comum nas teorias sobre a

cultura e a sociedade; no espiritismo, então ela é fundamental. (SANTOS, 2004, p.

12).

O Espiritismo de Kardec ia ao encontro dos interesses da sociedade abastada Francesa

da época, a quem ele pertencia. Tendo em seu conformismo a legitimação de sua posição

perante os menos favorecidos. Ou seja, o Espiritismo tem como máxima que todo e qualquer

sujeito é responsável por tudo aquilo que produz, desde suas atitudes, riquezas, posições... A

situação de toda e qualquer pessoa é determinada por mérito próprio. Excluindo, assim, das

classes mais favorecidas da sociedade, a culpa e responsabilidade sobre as mazelas do outro.

E, confirmando, sua posição privilegiada perante os demais.

No Brasil, o seu início, também não foi diferente, tendo em vista que os livros alicerce

do Espiritismo Kardecista eram escritos em Francês. E quem tinha acesso a livros importados

escritos em francês no Brasil de 1857? Apenas a elite da sociedade Brasileira.

No Brasil, foi forte a influência de autores evolucionistas do século XIX, continuando

pelas primeiras décadas do século XX. É notória a presença, na formação da

República, dos seguidores do filósofo francês, Auguste Comte (1798-1857), criador

do Positivismo e tido como pai da Sociologia (SANTOS, 2004, p.13).

Renato Ortiz (1978) cita o “empretecimento”, usando suas palavras, derivado do viés

curandeirista do Brasil. O espiritismo adquire, pois, um caráter de consolo dos sofrimentos e

moléstias; é sob essa forma lenitiva que ele penetra, como vimos anteriormente, nas classes

baixas da sociedade, onde se associa a outras práticas mágicas (ORTIZ, 1978,p.37). Sendo

desta forma o país território fértil a religião de Kardec.

Stoll (2003), ainda, completa,

Outros atribuem á familiaridade da população brasileira com as práticas mediúnicas,

especialmente as de origem africana, a ênfase dada pelo Espiritismo ao aspecto

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taumatúrgico. É o caso de Silvia Damásio, quando afirma que “é compreensível que a

medicina mediúnica obtivesse sucesso nesse ambiente tradicionalmente impregnado

pela crença nos poderes psíquicos, e/ou sobrenaturais de cura”. O que leva a concluir!

O principal fator de expansão do Espiritismo [...] foi a prática da medicina mágica,

arraigada na cultura brasileira. (STOLL, 2003, p. 56).

Radicalizando um pouco mais, Sidney M. Greenfield, em seu livro: Cirurgias do

Além, pesquisa antropológicas sobre curas espirituais, define o Espiritismo Kardecista desta

maneira:

Quase que imediatamente, a crença na existência e na possibilidade da comunicação

com os espíritos dos mortos espalhou-se pela Europa, onde ainda em meados do

mesmo século foi codificada num sistema religioso e filosófico pelo professor francês

Hippolyte Leon Rivail, que publicou seu trabalho sob o pseudônimo de Alan Kardec.

No Brasil, depois da popularização dos escritos codificadores de Kardec, o sistema foi

codificado e adaptado para incluir a cura pelos espíritos por um médico, político e

empresário brasileiro, Adolfo Bezerra de Menezes.

[...]

No começo do século XX, quando as repúblicas sul-americanas entraram num

processo de urbanização, a variante espírita brasileira, também chamada Kardecismo

em homenagem a seu codificador, tornou-se popular entre as classes médias que

cresciam rapidamente dentro das cidades que se expandiram com a mesma

velocidade.

[...]

Graças a esta nova ênfase na cura, deixou de ser propriedade exclusiva dos ricos, e

tornou-se para a crescente população brasileira uma das tantas alternativas religiosa

ao catolicismo.

[...]

Os espíritas como observei aceitam a medicina moderna. Mas em sua visão ela é

limitada em sua capacidade de cura. Como é incapaz de entender, menos ainda de

tratar do espírito, a medicina, apesar das boas intenções, é muito limitada. Os

médicos, na melhor das hipóteses, são vistos como capazes de tratar dos sintomas que

se manifestam no corpo somático, não das causas dos sintomas oriundos do mundo

espiritual ou de problemas de inadequação entre os corpos somáticos e fluidos. Estes

tratamentos precisam de médiuns-curadores, os únicos capazes de conseguir ajuda do

mundo espiritual. (GREENFIELD, 1999, p.30, 31 e 36).

Assim, com base nesses autores define-se o Espiritismo Kardecista. Seus

entendimentos e aspectos relevantes á religião.

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26

3.2 O Espiritismo Kardecista e as Personalidades em seus Livros Base

Fato que também me chamou atenção nos livros Kardequianos foram os textos

(recebidos em forma de pneumatografia ou psicografia14

) atribuídos a grandes e diversas

personalidades tais como:

Citação 01.

Ora, esta exatamente a ideias que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo,

visto desejamos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma

dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio

de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora é que ditamos “O Livro

dos Espíritos” Santo Agostinho (KARDEC, 1995, p. 425, a).

Comentário:

Santo Agostinho foi um padre da Igreja Católica Apostólica Romana, e uma das

figuras mais importantes do Cristianismo. Intelectual que dedicou sua vida a propagação de

sua fé. Depois de morto escreveria Santo Agostinho para um livro de outra confissão

religiosa? Um problema, pois para responder a esta questão ter-se-ia que entrar em contato

com o pós-morte e descobrir os trâmites do além. De imediato, percebe-se que é mais uma

aproximação com a fé cristã, ou até uma disputa por espaço por se “utilizar” da fala de um

Doutor da Igreja Católica.

Vale lembrar que o Espiritismo não se considera não cristão. Pelo contrário, há todo

um cuidado para se legitimar como cristão e se declara, inclusive, continuação desta. Com

diferenciações consideráveis. Como por exemplo: a crença da reencarnação e não na

ressurreição. Cristo é um Espírito evoluído que pisou na terra, mas, como irmão e filho de

Deus como nós, Cristo é Deus filho para o Cristianismo. No Espiritismo não há propriamente

uma hierarquia e pouco ritualizado ao contrário do Cristianismo de modo geral. Essas são

apenas algumas diferenças entre o Kardecismo e o Cristianismo.

Citação 02.

Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente

necessária, para que alguém renuncie á sua personalidade em proveito dos outros, que

de ordinário, absolutamente lhe não agradecem. Fénelon. (KARDEC, 1995, p. 42, a).

Comentário:

Esta fala é atribuída a Fénelon, outro intelectual da Igreja Católica.

14

“A pneumatografia é a escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem intermediário algum; difere da

psicografia, por ser esta a transmissão do pensamento do Espírito, mediante a escrita feita com a mão do

médium. (KARDEC, 1996,192)”

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27

Citação 03.

Infelizmente, não é raro verem-se médiuns que, não contentes com os dons que

receberam, aspiram, por amor-próprio, ou ambição, a possuir faculdades

excepcionais, capazes de os tornarem notados. Essa pretensão lhe tira a qualidade

mais preciosa: a de médiuns seguros. Sócrates (KARDEC, 1996, p. 244, a)

Comentário:

Pensamento atribuído a Sócrates, pensador Grego considerado o pai do pensamento

Ocidental e divisor das águas na Filosofia, antes Sócrates e pós Sócrates. De uma coisa se

pode ter certeza, o método utilizado para a transmissão desse pensamento foi a psicografia,

pois vivo Sócrates nada escreveu, pelo menos naquela vida em que foi Sócrates.

Citação 04.

Humanidade! Humanidade! Não mergulhes mais os teus tristes olhares nas

profundezas da terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na

ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso essencialmente justo.

Platão (KARDEC, 1995, p. 467, a)

Comentário:

Fala atribuída a seu discípulo Platão.

Citação 05.

Assim resistireis aos ataques impotentes do mal, como o rochedo inabalável á vaga

furiosa. São Vicente de Paulo (KARDEC, 1996, p. 469, a)

Comentário:

São Vicente de Paulo, padre católico de grande influência, inclusive nas bases da

Igreja Católica. Considerado Santo da Igreja Católica.

Citação 06.

Espero que esta comunicação produza frutos e desejo que ela possa ajudar os médiuns

a se terem em guarda contra o escolho que os fariam naufragar. Esse escolho já o

disse, é o orgulho. Joana d’ Arc ( KARDEC, 1996, p. 462, a)

Comentário:

Joana d’ Arc, camponesa que se tornou soldada Francesa, afirmava ser guiada por

vozes. Foi atirada na fogueira, acusada de bruxaria. Joana dentro da Concepção Kardecista é

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que me parece que viveu mais próximo à teoria Kardecista. Sua história é cercada de

fenômenos inexplicáveis. É válido lembrar que Joana morreu cerca de 420 anos antes das

teorias de Kardec.

Citação 07.

Compadecei-vos dos que não ganharam o reino dos céus; ajudai-os com as vossas

preces, porquanto a prece aproxima do altíssimo o homem; é o traço de união entre o

céu e a terra: não o esqueçais. Uma rainha de França. (KARDEC, 1996, p. 69, b)

Comentário:

Uma rainha da França.

Citação 08.

Homens e irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também,

uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do pai, que está no

Céu: Senhor!... e poderei entrar no reino dos céus. O Espírito de Verdade. (KARDEC,

1996, p. 23, b)

Comentário:

Este último á atribuído ao espírito chamado Verdade, espírito este que se revelou a

Kardec, demonstrando que ele seria o codificador do espiritismo15

.

Chico Xavier que foi grande personalidade nacional espírita kardecista, responsável

pelo reconhecimento nacional do Espiritismo e por pautar sua vida em prol do próximo. Autor

de mais de 418 títulos e mais de 25 milhões de exemplares publicados. Enfrentou processo

iniciado em 1937, referente aos direitos autorais da esposa do jornalista, político e escritor

Humberto de Campos, que tinha falecido três anos antes, onde Chico Xavier atribuiu ter

“recebido” em forma psicografa16

. Trata-se das Crônicas de Além Túmulo, que devido ao

caso, passou a ter uma projeção de público além do esperado. O final foi favorável a Chico e

se deu em 1944, onde o veredito dizia que o Sr Campos não poderia ter adquirido direitos

autorias pelo livro, pois o mesmo já se encontrava falecido, sendo que à sua esposa e

sucessores nada Chico devia. Mesmo com veredito favorável, Chico passou assinar ás obras

de Humberto de Campos como Irmão X17

(SANTOS, 2004, p. 85).

Devo admitir que não posso e nem tenho pretensão de afirmar que estas frases

atribuídas a grandes personalidades não foram ditadas por elas, especialmente, para os livros

15

Detalhes, no Livro Obras Póstumas (2005, p. 331-332). 16

Ver nota de rodapé da página 26 deste trabalho. 17

Informações deste paragrafo <http://clotildes.tripod.com/chico_xavier.htm> Acessado em 27 de maio de 2012.

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base do Espiritismo Kardecista. Não há como saber. Minha intenção neste quesito não é

respondê-la, Não há meios palpáveis para isso. É questão de fé nesta crença. Ou se acredita,

ou não se acredita. Assim como não posso refutar, também, não posso ser impedida de

analisar, e acreditar ou não, conforme meu entendimento. Enfim, creio que essa vontade de

ser verdade, assim apoiada sobre um suporte e uma distribuição institucional, tende a exercer

alguma influencia sobre os outros discursos (FOUCAULT, 2011, p. 18).

O que de imediato se percebe é a utilização desses e de outros grandes nomes de

personalidades cristãs católicas. Não há frases de Lutero, por exemplo, ou Calvino em seus

livros (os seis estudados por mim) ou outro seguimento cristão, ou até mesmo não cristão.

Tendo em vista, Kardec ser de família Católica, seu enraizamento nesta religião é percebido

em seus textos. Quanto às outras personalidades como Sócrates, Platão, a adesão (ou

apropriação) desses, traria grande força para o movimento espírita.

Em todo caso, uma coisa ao menos deve ser sublinhada; a análise do discurso, assim

entendida, não desvenda a universalidade de um sentido; ela mostra à luz do dia o

jogo da rarefação imposta, com um poder fundamental de afirmação. (FOUCAULT,

2011, p. 26)

No mais, todas essas grandes personalidades citadas, tendo em vista haver muitas

outras citações nos livros base, não podem se pronunciar por motivo de falecimento.

3.3 Chico Xavier

Falar de Espiritismo Kardecista não se poderia deixar de falar de Chico Xavier. Como

Stoll (2003) o nomeou, o Best-Seller do Espiritismo. É interessante saber que Chico Xavier

tem sua aproximação com o Espiritismo Kardecista devido à pouca saúde de sua irmã. Stoll,

em seu Livro Espiritismo à Brasileira, narra que o primeiro contato que Chico Xavier teve

com o Espiritismo Kardecista foi justamente através da enfermidade de sua irmã Maria

Xavier18

. Ela não respondia ao tratamento da medicina convencional e fez com que seu pai,

um católico praticante, buscasse auxílio em um tratamento não convencional. Esse tratamento

era contrário, em muitos sentidos, aos ensinamentos de sua Igreja Católica Apostólica

Romana, que, no ano de 1927, era quase absoluta no cenário brasileiro. A partir deste

momento, Chico Xavier abraçou o Espiritismo Kardecista.

18

Maio 1927, Maria Xavier, uma de suas irmãs, ficou doente. Apresentando quadro de perturbações mentais. O

tratamento da medicina convencional não deu conta de atender. Seu pai João Candido, embora católico

fervoroso, busca tratamento para sua filha com um casal de “amigos espíritas”. Esses aplicam passes em Maria

Xavier que foi levada para um tratamento mais prolongado. Chico Xavier fica então fascinado com o que houve.

(STOLL, 2003).

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Sugerimos em outra parte desse trabalho que o ideal de santidade católica foi o

modelo de racionalização ética adotado pelo Espiritismo no Brasil. Modelo que por

meio de Chico Xavier se popularizou, consolidando o “estilo brasileiro” de ser

espírita. (STOLL, 2003, p. 271).

Chico Xavier não ficou famoso como curandeirista como outros médiuns19

, embora há

relatos que ele, também, exercia a essa função recebendo o médico Bezerra de Menezes, mas

sim, como expoente literário do Espiritismo Kardecista no Brasil e no mundo (SANTOS,

2004).

Chico nasceu e morreu pobre, dedicou sua vida à intensa atividade mediúnica. De vida

e atitudes incontestáveis, Chico atendia em Uberaba, Minas Gerais, a inúmeras pessoas que

vinham até ele em busca de auxílio para as suas aflições, principalmente no que se diz

respeito a perda de um ente querido. Consolava, e trazia esperança do “além” a quem buscava

por isso através da psicografia 20

.

Até 1989, eram contabilizados 327 títulos de livros do médium Francisco Xavier,

alcançando o total de 15 milhões entre os 50 milhões de exemplares de livros espíritas

que se calculava tivessem circulando no Brasil até então. Esse total de superava em 3

milhões o número de exemplares dos livros de Allan Kardec, editado no país. Quando

de seu falecimento em 2002, estimava-se em 418 o número de seus títulos e em 25

milhões o de exemplares publicados. (SANTOS, 2004, p. 85).

Chico Xavier, ícone espírita, hoje é tema de livros, filmes, documentários. Tendo sua

vida regida pela assistência ao próximo, conseguiu a simpatia de espíritas e não espíritas ao

longo de sua vida. Chico faleceu com 92 anos de parada cardíaca, cumprindo uma promessa

que só iria morrer no dia em que o Brasil, estivesse feliz. Morreu no dia 30 de junho de 2002,

dia que o Brasil, ganhou o Penta Campeonato de Futebol (SUPERINTERESSANTE, 2010).

19

Dentro desses médiuns Kardecistas famosos por suas práticas curandeiristas posso citar: Antônio Gonçalves

da Silva, o batuíra, pessoa humilde que se tornou abastada, que, posteriormente, descobriu o Espiritismo ao qual

dedicou seu tempo e seu dinheiro à causa Espirita (mais ou menos 1904) responsável pela divulgação tipográfica

Espirita Kardecista, algo muito caro em sua época. Bezerra de Menezes, (por volta de 1886) tido como o mais

importante espirita brasileiro, médico de profissão, mas, que afirmava receber através de sua mediunidade

auxílio dos espíritos, chegou a presidir a Federação Espirita Brasileira (FEB) causou grande impacto em sua

sociedade, pois era um homem de ciência, um médico que se declarou “místico”, assim pode-se dizer. Mirabelli

(por volta de 1906) de vida polêmica e cercado de fatos mirabolantes como a sua presença, em dois lugares ao

mesmo tempo a uma distância de 90 quilômetros de um lugar ao outro. José Pedro de Freitas, o Arigó ( por volta

de 1940) este com reconhecimento nacional, dizia que recebia o, então, médico alemão da primeira guerra

mundial Dr. Fritz. Domingos Filgueiras, comandante da guarda da alfândega do Rio de Janeiro, que chegou a

atender em uma sala da alfândega. (SANTOS, 2004). 20

Segundo os Espiritas Kardecistas, a psicografia é a faculdade mediúnica, que o médium possui de escrever

mensagens, livros e outros ditada por espíritos.

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3.4 A Cura como Foco da Pesquisa

No início de Janeiro de 2012, dei início às minhas leituras para a formação da base

teórica do meu Trabalho de Conclusão de Curso. As obras são: O Livro dos Espíritos

Princípios da Doutrina Espírita, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos

Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo, com a Explicação das Máximas Morais do

Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da

Vida, O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo, A Gênese Os Milagres e

as Predições Segundo o Espiritismo. E mais, As Variedades da Experiência Religiosa - Um

estudo sobre a natureza humana de Willian James. Somando um total de 2.601 páginas

(Obras Espíritas 2.262 + As Variedades da Experiência Religiosa = 339 páginas).

E por minha conta li, também, o Livro Obras Póstumas, atribuído a Allan Kardec. Em

um apanhado de anotações encontradas pós-morte, ou conforme o Espiritismo Kardecista

costuma declarar desencarne, somando mais 478 páginas. Terminando com um total de 3.079

páginas, sem contar outros livros, artigos de autores utilizados por mim. Li e fichei os livros

solicitados por meu orientador conforme combinado.

Devo admitir que os Livros espíritas não são de difícil entendimento, talvez, por

Kardec ser um pedagogo por formação e desta forma dominar a arte do ensinar, ele pensou

em um tipo de leitura que fosse acessível a diferenciados públicos. Tirando diversos assuntos

que ficam sem respostas. Esses assuntos, de acordo com minhas leituras, são devido ao fato

de a humanidade não estar preparada para receber.

Como poderá o homem ser levado a reformar as suas leis?

“Isso ocorre naturalmente, pela força mesma das coisas e da influência das pessoas

que o guiam na senda do progresso. Muitas já ele reformou e muitas outras reformará.

Espera!” (KARDEC, 1995, p.372, a).

(...) encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles

ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer,

hoje que estão aptos a compreendê-las (KARDEC, 1995, p.19, c).

Respostas essas que serão respondidas no futuro... As invenções, as descobertas e todo

e qualquer tipo de respostas que a humanidade não sabe hoje, está reservado saber, de acordo

com o seu desenvolvimento intelectual e moral. Respostas que irão se descortinar aos poucos

de tempos em tempos... No mais, os livros são formatados de modo que qualquer pessoa

consiga acompanhar o raciocínio do codificador.

Decidi pesquisar a frequência sobre a temática da cura nas obras base do

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32

Espiritismo Kardecista, sempre buscando dialogar com autores estudiosos do assunto como

Sandra Jacqueline Stoll, doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo.

Professora que, atualmente, trabalha na Universidade Federal do Paraná onde escreveu e

orientou diversos trabalhos sobre o Espiritismo Kardecista, tendo escrito o livro:

Espiritismo à Brasileira. José Luiz dos Santos, mestre pela Universidade de Capinas e

doutor pela Universidade de Londres, autor do livro Espiritismo: uma religião Brasileira.

Sidney M. Greenfield, americano, doutor pela Universidade de Colúmbia, pesquisador de

campo com diversas atuações no Brasil, autor de Cirurgias do Além. Perpassando por

outros autores consagrados como Renato Ortiz, Levi Strauss, Moacir Scliar e outros. E

mais as obras fichadas Espíritas Kardecistas (cinco livros alicerce do Espiritismo

Kardecista e mais Obras Póstumas). Ainda fiz a leitura de livros de Chico Xavier, peça

chave da literatura Espírita no Brasil. Com esta base e mais outros autores não menos

importantes permitiram-me firmar minhas conclusões com base sólida na teorização. O

Objetivo foi encontrar um resultado que possibilitou visualizar a temática da cura em suas

variadas formas encontradas nas Obras desta religião.

Como pesquisei? Primeiro lia a obra, que em média demorava uma semana, onde

dividia da seguinte forma: Por exemplo: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina

Espírita com 494 páginas. Dividia 494 por 7 dias = 70 páginas por dia. Como o livro não

tem um formato longo e sim curto. Eram quase 35 páginas por dia, algo possível mesmo

com leituras em horário das 19h às 23h. E assim, fiz com todos os livros, menos o livro As

Variedades da Experiência Religiosa.

Esse por ter uma escrita mais densa e páginas mais longas utilizei duas semanas. No

total fiz minhas leituras das obras de Kardec e de As Variedades da Experiência Religiosa –

Um estudo sobre a Natureza Humana, de Willian James (última obra de acordo com meu

primeiro orientador) em oito semanas. Ficando somente a fundamentação teórica para a

leitura posterior. Neste trabalho apenas utilizei algumas citações de cada livro. As citações

completas sobre cura de cada obra se encontra no Anexo 03.

As obras são formatadas de forma diferenciadas, ficando complicado inclusive a

catalogação das mesmas. Onde fiz por assunto. Tive o cuidado de não cortar pensamento.

Do início ao fim naquele assunto, considerei como apenas uma citação. Ficando assim:

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33

QUADRO: TABULAÇÃO DE DADOS NO QUE SE REFERE À CURA E CORRELATOS

NAS OBRAS KADEQUIANAS Obras Ano de

Publicação

Ano e

Edição

Nac.

utilizada

Número de Páginas

da tradução

pesquisada

Citações que se

referem a

temática da cura

na teoria

Kardequiana

Páginas das

citações

O Livro dos Espíritos

Princípios da Doutrina

Espírita

1857 1995

76ª

“a”

494 21 76-165-169-

230/231-251/252-

252-279- 279- 339-

341-342-344-

344/345-370-400-

421-435-447-469-

473-479

O Livro dos Médiuns

ou Guia dos Médiuns e

dos Evocadores

1861 1996

62ª

“a”

486 12 77/78-78-110-135-

172-172/173-

215/216-

217/218/219-232-

323-329-391

O Evangelho Segundo

o Espiritismo com A

explicação das

máximas morais do

Cristo em

concordância com o

Espiritismo e suas

aplicações ás diversas

circunstâncias da vida

1864 1996

112ª

“b”

435 18 51-99-101-106-

112-121-121-157-

301-306/307-363-

367-374-474-

430/431-431-432-

435

O Céu e o Inferno ou A

Justiça Divina

segundo o Espiritismo

1865 1995

40ª

“b”

425 8 141-146/147-205-

293-342-381-

388/389-423

A Gênese Os Milagres

e as Predições

Segundo o Espiritismo

1868 1995

36ª

“c”

422 23 33-199-266-287-

291-294/295/296-

304-305-305-307-

308-311-315/316-

317-318/319/320-

320 á 330

331 á 334

372-373

Obras Póstumas 1890 2005

37ª

478 13 57-81/82/83-83/84-

84-89/90-101/102-

114-119-152-153-

337-342-381

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Desta forma desenvolvi meu pensamento com base neste quadro. A fim de responder o

meu questionamento proposto. Vale a pena, citar que a primeira obra Espírita Kardecista

traduzida no Brasil foi parte da Obra: O Livro dos Espíritos - Princípios da Doutrina Espírita,

em 1866, por Teles de Menezes. E o primeiro periódico do Espiritismo no Brasil foi Eco de

Além-Túmulo, também por Teles de Menezes (SANTOS, 2004).

Entre 1873 e 1876, por tradução de Joaquim Carlos Travassos no Rio de janeiro, foi

completada a tradução das Obras: O Livros dos Espíritos - Princípios da Doutrina Espírita, O

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Livro dos Médiuns – Ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, O Evangelho Segundo o

Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o

Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida, O céu e o Inferno ou a

Justiça Divina Segundo o Espiritismo.

Atualmente, segundo informações da Federação Espírita Brasileira (FEB)21

, as obras

Kardequianas estão nas seguintes numerações de edições nacionais:

- O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita - 92 ª edição ano de 2011;

- O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores – 80ª edição ano de

2011;

- O Evangelho Segundo o Espiritismo com A explicação das máximas morais do

Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da

vida – 130ª edição ano de 2011;

- O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo - 60ª edição ano de

2012;

- A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo - 52ª edição ano de

2012;

E por fim:

- Obras Póstumas - 40ª edição ano de 2010.

A FEB salienta que além desta edição que eles chamam de 18 cm, que é a que eu usei

para a produção deste trabalho dita, como a edição oficial. Também há a produção de edições

de 16 e 21cm, além da edição 23 cm do O Livros do Espíritos Princípios da Doutrina

Espírita. Todas estas edições possuem numerações de edições próprias de acordo com o

tamanho do livro.

Isto, também, é um demonstrativo de crescimento da religião, levando em

consideração que O Evangelho Segundo o Espiritismo com A explicação das máximas morais

do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da

vida obra de maior expressão dentro do Kardecismo, sendo que atual é do ano de 2011 -

edição número 130ª. Já passou por 18 edições desde a obra trabalhada por mim aqui, a 112ª

edição ano de 1996. Talvez isso a ver com a atual legião de céticos, livre pensadores,

espiritualistas e afins e observada em nossos tempos. Embora a crença Cristã esteja

21

Inicialmente através de contato telefônico no número (61)2101-6161, e posterior encaminhamento para á

edição no número (21)2187-8278 E terminado por e-mail no endereço: [email protected] entre os dias 15

de maio á 01 de junho de 2012.

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preservada no nome desse livro por exemplo. Não perdendo de vista o discurso Kardecista de

não ser uma religião, mas, uma ciência ou filosofia.

Para o Espiritismo Kardecista, segundo Heerdt (2008), há três elementos fundamentais

na constituição da pessoa humana. São eles: o corpo, a alma e o perispírito. O corpo humano

é semelhante ao corpo do animal e ambos são animados pelo mesmo espírito vital. A Alma é

o espírito encarnado no corpo. Acaba sendo o local onde o espírito entra para a sua evolução.

O perispírito é o laço que une a alma e o corpo, uma espécie de invólucro semi-material.

Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que mais tarde falaremos, levaram a

consequências de que há no homem três componentes: 1º, a alma, ou espírito,

princípio inteligente onde tem sua sede e o senso moral; 2º, o corpo involucro

grosseiro, material, de que ele se revestiu temporariamente, em cumprimento de

certos desígnios providenciais, 3º, o perispírito, envoltório fluídico, semi material, que

serve de ligação entre a alma e o corpo. (KARDEC, 1996, p.77, a).

Segundo a concepção Kardecista, a morte destrói o corpo, mas não destrói o

perispírito, que acompanha a alma.

O homem, que procura nos excessos de todo o gênero o requinte do gozo, colocando-

se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade,

abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos,

tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza

espiritual. As doenças, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus.

(KARDEC, 1995, p. 341, a).

Assim, as enfermidades que afetam o homem/mulher podem não ser de todo o mal e

constituem um caminho de purificação para a alma. Desta forma, poderíamos nos perguntar

por que a busca e oferta de cura em muitos estabelecimentos Espíritas Kardecistas, pois essas

enfermidades seriam, muitas vezes, necessárias para a evolução ser humano? Chico Xavier

nos responde dizendo que “o homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance, em

favor do seu equilíbrio orgânico” (XAVIER, 1999). Para o Espiritismo Kardecista seria uma

negligência para com o corpo e para com a alma não cuidar de ambos, tendo em vista que as

enfermidades do corpo são um reflexo das enfermidades da alma.

Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contacto? A

força magnética pode até chegar até aí, quando secundada pela pureza dos

sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, por que então os bons Espíritos

lhe vêm em auxílio. (KARDEC, 1995, p. 279, a).

Os fenômenos de cura, ou métodos alternativos ou complementares como muitos

centros22

preferem enfatizar, são citados em todos os livros alicerce do Espiritismo

22

Em pesquisa em campo realizada por mim.

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Kardecista, mas nem perto com a proporção que tomou no Brasil. Será mesmo esta última

afirmação verdadeira?

Para saber até que ponto o Espiritismo Kardecista se ocupou da temática da cura

recorri aos cinco livros bases do Espiritismo Kardecista e a um sexto atribuído a Kardec

depois de seu falecimento. São eles:

- O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita - 1857;

- O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores -1861;

- O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do

Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da

Vida - 1864;

- O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo - 1865;

- A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo - 1868;

E por fim:

- Obras Póstumas - 1890.

Listei (Anexo 03.) e analisei a presença de passagens que se referem à cura e

correlatos propriamente dita nos livros alicerce do Espiritismo Kardecista e mais, o livro

Obras Póstumas. Por que propriamente dita? É que o tema enfermidade/saúde/cura é usado

constantemente como exemplo nos livros base Kardecistas.

Dá-se com Espírito o que verifica com a criança que por mais precoce que seja, tem

de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o

enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. (KARDEC,

1995, p. 130, a).

Mas que em nada dizem além de uma comparação para um melhor entendimento do

sentido que se quer explanar. Desta forma, preocupei-me em listar as passagens que abordam

o tema em si, e não uma comparação apenas.

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37

4 ANÁLISE POR LIVRO

4.1 Análise do livro: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita

O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita foi o primeiro livro escrito do

Allan Kardec e sua equipe no ano de 1857. É em formato de perguntas e respostas, de leitura

acessível a qualquer público, tendo como base responder a 1019 questionamentos referentes

ao Espiritismo Kardecista. Perguntas que vão desde a explanação sobre a existência de Deus,

formação do mundo, do homem, vida e morte, alma, corpo, justiça, reencarnação, inferno,

purgatório, paraíso, imortalidade da alma, pluralidade dos mundos, conhecimento de si

mesmo... Provavelmente inspirado no Catecismo da Igreja Católica (mais uma aproximação)

que é um compêndio sobre fé e moral de mesmo formato, assim apresentado até hoje, como

se fosse um manual de consulta rápida.

Este livro apresenta a parte filosófica da teoria Kardecista. Esses dois trechos extraídos

da introdução do livro deixa clara a intenção de Kardec na estreia da literatura Kardequiana.

Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos

transmitiram, a fim de mais facilmente respondermos a certas objeções. (KARDEC,

1995, p. 23, a).

Este Livro é repositório de seus ensinos. Foi escrito por ordem e mediante ditado de

Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta

dos preconceitos do espírito do sistema. (KARDEC, 1995, p. 49, a).

Como primeiro livro base do Espiritismo Kardecista, muitas perguntas haveriam de

povoar a mente de pessoas simpáticas à causa. Esta edição do livro de tradução brasileira nº

76/1995, possui 494 páginas. Seu tradutor foi Guillon Ribeiro, que segundo este livro e

outros23

foi diretor da Federação Espírita por 26 anos consecutivos. Informação não clara ao

se verificar o sítio eletrônico da Federação Espírita Brasileira (FEB). Há referência ao

trabalho de Gullion em vários anos, e até décadas, mas há pausa entre um mandato e outro.

Análise das passagens:

Passagem 01.

23

Em nota da editora na contracapa da apresentação dos Livros das edições pesquisadas por mim (todos de

tradução de Guillon Ribeiro – O único que não aparece referencia a Guillon é o livro O Céu e o Inferno de

tradução de Manuel Justiniano Quintão). Os livros são: O livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, O Evangelho

Segundo o espiritismo, A Gênese, Obras Póstumas.

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Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muitas vezes,

contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a

maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar.

Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua

ambição numa palavra: às suas paixões? (KARDEC, 1995, p.169, a).

Comentário:

Nesta passagem nada de fato quer dizer que não seja a realidade do homem/mulher.

Muitos sofrimentos (a maioria) dependem de nós mesmos de nossa própria força de vontade,

ou falta dela. Um exemplo disso é ficar esperando as coisas acontecerem sem nada fazer. É

esperar ser contemplado em um sorteio sem ao menos comprar o bilhete.

As atitudes em relação à saúde segue a mesma linha. Como esperar um coração

(órgão) bom, se nada se faz para tornar o funcionamento dele menos trabalhoso. Uma

alimentação adequada, a prática de exercícios físicos... Enfim medidas esta que toda e

qualquer pessoa tem conhecimento. Falta é, muitas vezes, atitude.

Passagem 02.

A prece é o meio eficiente para a cura da obsessão? “A prece é em tudo um poderoso

auxílio. Mas, crede que não basta que alguém murmure algumas palavras, para que

obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que limitam a pedir. É pois,

indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que torne necessário para destruir

em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.”(KARDEC, 1995, p. 251-252,

a).

Comentário:

A obsessão dentro do Espiritismo Kardecista é visto como uma enfermidade. A cura

para isso, dentro da concepção Espírita Kardecista, é a mudança intima de ações, atitudes e

pensamentos. A prece seria neste caso um remédio ao doente. Empregada no intuito de fazer

com que o “espírito” obsessor se afaste pelo motivo de um desalinhamento de vibração.

Tendo em vista que para o Espiritismo Kardecista a atração de uma alma (ser vivo) por um

espírito (ser morto ou em estado desprendido do corpo, ex. dormindo) só há devido à mesma

frequência de pensamentos e ações que se denomina de atração ou vibração.

Passagem 03.

Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato. A

força magnética pode chegar até ai, quando secundada pela pureza dos sentimentos e

por um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons espíritos lhe vêm em

auxílio. Cumpre, porém, desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas

muito crédulas e muito entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que

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há de mais simples e mais natural. Importa desconfiar também das narrativas

interesseiras, que costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade

alheia. (KARDEC, 1995, p. 279, a).

Comentário:

Aqui nesta passagem o Espiritismo não legitima somente a sua concepção. Ele não

afirma e nem descarta o alcance da cura através de um não espírita. Mas para que isso ocorra,

o Espiritismo Kardecista atribui à assistência de um espirito benfeitor que vem em auxílio da

pessoa curadora. Ou na sua concepção do médium curador. Ao final alerta as pessoas a quem

procurar dando desta forma margem para a sua própria legitimação.

Se os santos já não são capazes de fazer este serviço, talvez os espíritos esclarecidos

possam? Ou quem sabe, as divindades africanas? O Espirito Santo? Ou nos novos

sincréticos pretos velhos e caboclos? Ou outras entidades da umbanda? A variedade

de religiões (e de sistema de cura) competindo no mercado urbano brasileiro pode ser

vista como oferta de diferentes caminhos para Deus e seu poder absoluto através de

seus próprios intermediários cuja cooperação é a garantia por meio de suas práticas

rituais. (GREENFIELD, 1999, p. 87).

Passagem 04.

A higiene pública, elemento tão essencial da força e da saúde, a higiene pública, que

nossos pais não conheceram, é objeto de esclarecida solicitude. (KARDEC, 1995, p.

339, a)

Comentário:

Um conselho salutar, e não religioso, tendo em vista que a ausência de higiene é a

também causa de ausência de saúde.

O fato de haver um nome de autor, o fato que se possa dizer “isso foi escrito por tal

pessoa” ou “ tal pessoa é o autor disso” indica, que esse discurso não é uma palavra

cotidiana, indiferente, uma palavra que se afasta, que flutua e passa, uma palavra

imediatamente consumível, mas que se trata de uma palavra que se deve ser recebida

de uma certa maneira e que deve, em uma dada cultura, receber um certo status.

(FOUCAULT, 2001).

Passagem 05.

Por que de preferência não trabalham pelo bem de sues semelhantes? Vistam o

indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações

para o alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a

Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer

pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo. (KARDEC, 1995, p. 344-345, a).

Comentário:

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40

Aqui está mais uma vez exposta à aproximação como o Cristianismo que o

Kardecismo afirma ser continuação. Tomando como base seus preceitos. Posição esta

favorável. Levando em consideração a grande predominância cristã no século XIX na Europa

em seu nascimento. E consequentemente maior adesão.

Passagem 06.

Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz

consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa,

faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o

progresso moral. (KARDEC, 1995, p. 370, a).

Comentário:

Aqui a própria história do mundo. Sabe-se que doenças são muitas vezes reflexos da

época (higiene, por exemplo). O próprio avanço da ciência e suas descobertas na cura de

males que até pouco tempo dizimava populações. A sociedade burguesa que começava a se

firmar elaborava todo um discurso de higienização dos corpos, das casas e dos lugares

públicos nos séculos XVIII e XIX e cujo paradigma vem até a atualidade.

A epidemiologia utiliza métodos científicos para descrever padrões de saúde, de

doenças ou de mortalidade numa população, com base em características de pessoas

lugares ou épocas. (LEVIN, 2001, p. 22).

Passagem 07.

Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então

destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno

pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as

causas, mas não é impossível. Contudo só se obterá se o mal for atacado em sua raiz,

isto é, pela sua educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos,

mas pela que tende a fazer homens de bem. (KARDEC, 1995, p. 421, a).

Comentário:

Para o Espiritismo a cura é devida a uma mudança de atitude, ações e pensamentos.

Esta causa primordial dos males do homem e consequentemente de toda a sociedade. Da

célula menor para a maior.

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4.2 Análise do livro: O Livro dos Médiuns Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores

O Livro dos Médiuns: Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores é a parte prática da

teoria Kardecista. Ele abrange todo o gênero de manifestação com os espíritos, e ensina como,

segundo o Kardecismo, lidar com o mundo invisível. Foi o segundo livro escrito por Allan

Kardec, com data de 1861. O primeiro livro O Livro dos Espíritos cuida da parte filosófica,

enquanto o segundo livro: O Livro dos Médiuns cuida da parte prática. E o lidar com todas as

manifestações. Formando assim um a continuação do outro.

Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade

mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-

lhe o emprego de modo útil, quando ela exista. Esse porém, não constitui o fim único

a que propusemos. Ninguém, pois se surpreenda de encontrar nele instruções que, à

primeira vista, pareçam descabidas; a experiência lhe realçará a utilidade. Quem quer

que a estude cuidadosamente melhor compreenderá depois os fatos de que venham a

ser testemunha; menos estranha lhe parecerá a linguagem de alguns Espíritos.

[...]

[...] damos nesta obra a parte prática, para uso dos que queiram ocupar-se com as

manifestações, quer para fazerem pessoalmente, quer para se inteirarem dos

fenômenos que lhes sejam dados a observar.

[...]

O Livro dos Médiuns. Destina-se a guiar os que queiram entregar-se á prática das

manifestações, dando-lhes conhecimento dos meios próprios para se comunicarem

com os Espíritos. (KARDEC, 1996, p. 14,16 e 52, a).

Esta edição de tradução brasileira nº 62/1996, possui 486 páginas. Como o primeiro

livro, seu tradutor foi Guillon Ribeiro.

Análise das Passagens:

Passagem 01.

A morte é a destruição, ou, antes a desagregação do envoltório grosseiro, do invólucro

que a alma abandona. O outro se desliga deste e acompanha a lama que, assim fica

sempre com um envoltório. Este último, ainda que fluídico, etéreo, vaporoso,

invisível, para nós, em seu estado normal, não deixa de ser matéria, embora até o

presente não tenhamos podido assenhorear-nos dela e submetê-la á análise. Esse

segundo invólucro da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida corpórea; é o

intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e pelo qual transmite sua

vontade ao exterior e atua sobre os órgãos do corpo. Para nos servimos de uma

comparação material, diremos que é o fio elétrico condutor, que serve para a recepção

e a transmissão do pensamento; é, em suma, esse agente misterioso, imperceptível,

conhecido pelo nome de fluido nervoso, que desempenha tão grande papel na

economia orgânica e que ainda não se leva muito em conta nos fenômenos

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fisiológicos e patológicos. Tomando em consideração apenas o elemento material

ponderável, a medicina, na apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de

ação. Não cabe, aqui, porém, o exame desta questão. Somente faremos notar que no

conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis.

(KARDEC, 1996, p. 77-78, a).

Comentário:

Uma coisa interessante dentro da concepção Espírita Kardecista, é a preocupação de

descrever, passo a passo, como ocorrem os variados fenômenos existentes. Há uma clara

preocupação de Kardec com a linguagem utilizada para ser entendido. Percebe-se aqui o

pedagogo Kardec escrevendo. Nesta passagem há um reflexo dessa preocupação. Aqui

Kardec explica como ocorre o fenômeno da morte de maneira simples acessível a todos.

Passagem 02.

Tomando em consideração apenas o elemento material ponderável, a medicina, na

apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação. Não cabe aqui, porém,

o exame desta questão. (KARDEC, 1996, p. 78, a).

Comentário:

Para o Espiritismo Kardecista a medicina poderia se beneficiar em muito se tivesse o

conhecimento de suas bases teóricas.

A medicina moderna é clara, trabalha exclusivamente no nível do corpo físico. Os

espíritas respeitam isto e consultam o que chamam de “médicos convencionais”

quando sofrem de doenças causadas no plano material que ainda não afetaram o

espírito e o perispírito. Mas a medicina moderna, para os espíritas apesar da sua

qualidade e progresso constantes, nunca terá capacidade de obter uma cura global,

pelo menos até reconhecer o mundo espiritual, as enfermidades cujas causas ai

residem, e as técnicas que os espiritas kardecistas aprenderam e recomendam para seu

tratamento. (GREENFIELD, 1992, p. 141).

Passagem 03.

Por que razão certas visões ocorrem com mais frequência quando se está doente?

“Elas ocorrem do mesmo modo quando estais em perfeita saúde. Simplesmente, no

estado de doença, os laços materiais se afrouxam; a fraqueza do corpo permite maior

liberdade ao espírito, que, então, se põe mais facilmente em comunicação com os

outros Espíritos.” (KARDEC, 1996, p. 135, a).

Comentário:

Para o Espiritismo Kardecista, a pessoa quando está doente, está em um estado não

pleno do ser, como quando se está sonhando ou sonâmbulo. Os laços que nos prendem à

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materialidade ficam mais livres, soltos e desta forma mais sucessível a percepções antes não

alcançadas em estado normal ativo (acordado) do ser.

O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é a sua alma que, nos

momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos.

[...]

Médiuns Curadores: Os que tem o poder de curar ou de aliviar o doente, pela só

imposição das mãos, ou pela prece. (KARDEC, 1996, p. 215, 232, a).

Tratando o seu doente, o xamã oferece a seu auditório um espetáculo. Que

espetáculo? Com o risco de generalizar imprudentemente certas observações,

diríamos que esse espetáculo é sempre o de repetição pelo xamã, do “chamado”, isto

é, a crise inicial que lhe ofereceu a revelação de seu estado. Mas a expressão do

espetáculo não se deve enganar: o xamã não se contenta em reproduzir ou representar

mimicamente certos acontecimentos; ele os revive efetivamente em toda sua

vivacidade, originalidade e violência. E visto que ao termo da sessão, ele retorna ao

estado normal, podemos dizer, tomando emprestado da psicanálise em termo

essencial, que ele abrangeu. (STRAUSS, 1985, p. 209).

Passagem 04.

Médiuns receitistas: Têm a especialidade de servirem mais facilmente de interpretes

aos Espíritos para as prescrições médicas. Importa não os confundir com os médiuns

curadores, visto que absolutamente não fazem mais que transmitir o pensamento do

Espírito, sem exercerem por si mesmos influência alguma. Muito comuns.

(KARDEC, 1996, p. 239, a).

Comentário:

Médiuns curadores são diferentes de médiuns receitistas. O primeiro procede quase

como um médico convencional o segundo apenas como receitista. Mas ambos, médiuns

curadores e médiuns receitistas agem, concomitantemente, com espíritos que habitam outro

plano espiritual segundo a teoria Kardecista.

Conforme Santos (2004, p. 85), Chico Xavier foi também um médium receitista

deixando essa função em segundo plano em atendimento ao seu mentor Espírito Emmanuel,

colocando a literatura espírita como sua missão. Atendendo uma gama de estilos literários,

sempre com o intuito de fortalecer e embasar o Espiritismo Kardecista. Nos momentos de

médium receitista Chico era guiado pelo Espírito de Bezerra de Menezes.

O princípio de tudo é o Deus judaico-cristão, criador do mundo a partir do nada. A

oposição entre o espírito e a matéria, a primeira distinção, desdobra-se e funda o

movimento e o devir do mundo como os espíritas o concebem. Seres materiais

habitam o “Mundo Visível”, seres imateriais, o mundo Invisível”. (CAVALCANTI,

2004, p. 16).

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Passagem 05.

Poderia um médico, evocando os Espíritos de seus clientes que morreram, obter

esclarecimentos sobre o que lhes determinou a morte, sobre as faltas que haja

porventura cometido no tratamento deles e adquirir, assim, um acréscimo de

experiência? Pode e isso lhe seria muito útil, sobretudo se conseguisse a assistência de

Espíritos esclarecidos, que supririam a falta de conhecimentos de certos doentes. Mas,

para tal, fora mister que ele fizesse esse estudo de modo sério, assíduo, com um fim

humanitário e não como meio de adquirir, sem trabalho, saber e riqueza. (KARDEC,

1996, p. 391, a).

Comentário:

Aqui um conselho espírita para os médicos, de sua maneira, é uma profissão que

poderia em muito se utilizar dos conhecimentos do além túmulo. Desde que não seja de

interesse privado.

4.3 Análise do livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas

Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas

Circunstâncias da Vida.

O Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo a Explicação das Máximas Morais do

Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da

Vida. Este livro aproxima a teoria Kardecista da teoria cristã. Segundo Kardec, (1996, b) o

Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.

Até no nome, desse terceiro livro: O Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo A

Explicação das Máximas Morais do Cristo em CONCORDÂNCIA com o Espiritismo e suas

Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida. Já é indício de uma aproximação cristã.

Aproximação esta sempre presente em suas obras. Até pela razão do Espiritismo Kardecista

se declarar a continuação do Cristianismo, como já citado anteriormente.

Este livro explana sobre os princípios, moral e doutrina do Cristianismo e o

Espiritismo, citando passagens do livro cristão e, logo em seguida, fazendo um contraponto

com a teoria Kardecista. Fazendo ponte com os pensamentos de filósofos como Sócrates e

Platão, que ao meu ver, não parecem dizer muita coisa, tendo em vista que esses dois

pensadores em especial são mais ou menos quase cinco séculos antes do Cristianismo, o que

dirá do Espiritismo. Se alguma influência houve da filosofia socrático-platônica, ela incidiu

sobre ambas as religiões visto a anterioridade daquela sobre estas.

Escrito em 1864, esta edição de tradução brasileira é de nº 112/1996, possui 435

páginas, tradutor original Guillon Ribeiro.

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Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e

mais autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um polo a outro,

manifestando-se por toda a parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhe ouvir a

palavra. Um homem pode ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será

assim, quando milhões de criaturas vêem e ouvem a mesma coisa. (KARDEC, 1996,

p. 29, b).

Análise da Passagens:

Passagem 01.

Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam

do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado,

impossível é que uma parte dele passe bem. (KARDEC, 1996, p. 51, b).

Comentário:

A cura constituiria, pois em tornar pensável uma situação dada inicialmente em

termos afetivos, e aceitáveis para o espírito as dores que o corpo se recusa a tolerar.

Que a mitologia do xamã não corresponda uma realidade objetiva, não tem

importância: a doente acredita nela, e ela é membro de uma sociedade que acredita.

(STRAUSS, 1985, p. 208)

Aqui recorro a uma narração de Levi-Strauss, sobre uma paciente tratada por um

xamã. Nome este que pode ser utilizado aos médiuns curadores. Pois são pontes entre o

universo natural e o sobrenatural. O ideal espírita seria desta forma a aliança entre as duas

“ciências”, a medicina humana e a medicina espiritual. Dessa forma, se obteria um resultado

efetivo nos tratamentos de enfermidades. Pois para o espiritismo, a maior causa dos males são

de procedência espiritual.

Passagem 02.

Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos pois que serão consolados, Jesus

aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação leva o padecente a

bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura. (KARDEC, 1996, p. 106, b)

Comentário:

Mais uma passagem de aproximação com o cristianismo notoriamente com o

Catolicismo. De desapego ao material, como caminho para Deus.

Os livros de Kardec traziam uma aproximação com o cristianismo notadamente, com

os valores morais presentes nos Evangelhos. Isso se tornou bem marcado na obra O

Evangelho Segundo O espiritismo (SANTOS, 2004, p. 13).

Importante perceber a expressão “bem-aventurados”, expressão de uso comum entre

as doutrinas cristãs. O próprio nome deste livro faz uma importante ligação entre o

Kardecismo e o Cristianismo. O terceiro livro base Kardequiano se chama O Evangelho

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Segundo o Espiritismo com A Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância

com o Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida. Fazendo uma alusão

aos Evangelhos dos quatro evangelistas contidos no segundo testamento da Bíblia Cristã.

Evangelho Segundo Mateus, Evangelho Segundo Marcos, Evangelho Segundo Lucas,

Evangelho Segundo João.

Ainda nesta mesma passagem, Kardec demonstra a enfermidade como caminho para a

purificação da alma/espírito. Sendo a enfermidade desta forma a cura dos males do corpo e da

alma/espírito de todo o ser. E caminho para Deus.

Perguntais se é lícito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão equivale

a esta outra: é lícito, aquele que se afoga cuidar de salvar-se? Aquele em que um

espinho entrou retirá-lo? Ao que está doente, chamar o médico? As provas têm por

fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que

um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a

procurar meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem

murmurar, as consequências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar

na luta, em se não desesperar, se não é bem sucedido; nunca porém, numa negligência

que seria mais preguiça do que virtude (KARDEC, 1996, p. 121, b)

O Kardecismo vê a doença como possibilidade de purificação dos pecados, não caminho

exclusivo e prega a resignação diante dos infortúnios, nada de revolta ou revolução.

Para os seguidores da obra de Kardec, a saúde tinha um componente moral e estava

ligada à evolução dos espíritos. A doença, como outros sofrimentos, era entendida

como expiação de erros passados desta e de outras vidas, e também como provação,

oportunidade para a evolução espiritual (SANTOS, 2004, p. 26).

A doença/enfermidades é um dos meios de purificação dos pecados. O enfermo deve

aceitar a doença. Mas também deve buscar a sua cura ou melhora, diante as possibilidades

existentes. Não fazê-lo significa negligência com o corpo e sucessivamente com a alma.

Chico Xavier nos responde dizendo que “o homem deve mobilizar todos os recursos ao seu

alcance, em favor do seu equilíbrio orgânico” (XAVIER, 1999). Tendo em vista que as

enfermidades do corpo são um reflexo das enfermidades da alma.

Passagem 03.

A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se

há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais

absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos,

muitas vezes a custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido,

por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o

fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos,

ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam (KARDEC, 1996, p.

367, b).

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Comentário:

Nesta passagem se percebe o conselho espírita para o emprego da mediunidade

curativa. A alusão ao Cristianismo é clara. Também mostra como se processa a doação

fluídica curadora na concepção Kardequiana. Nesta passagem também aconselha a não

cobrança pela prática curativa, amplamente pregada pelos diferentes Espíritas e Centro

Espíritas brasileiros24

.

Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às leis de

Deus e que, se as observássemos pontualmente, seríamos inteiramente ditosos. Se não

ultrapassássemos, o limite do necessário, na satisfação das nossas necessidades, não

apanharíamos as enfermidades que resultam dos excessos, nem experimentaríamos as

vicissitudes que as doenças acarretam. Se puséssemos freio à nossa ambição, não

teríamos de temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não

teríamos de recear a queda; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do

orgulho abatido; se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem

invejosos, nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém

fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças, etc. (KARDEC, 1996, p. 374, b).

Essas ideias tem também outro alvo: o conceito espírita de caridade. O exercício do

“amor ao próximo” entendido como instrumento de evolução espiritual perde

totalmente sentido no discurso de “auto-ajuda” A eliminação da intermediação social

como fonte de relação com o sagrado resulta, como se viu na transformação do bem

estar do indivíduo no alvo fundamental desse tipo de discurso. Portanto, ao invés de

dirigida para o “outro”, a ação do sagrado volta-se para si: É assim que se faz a

evolução; não pelo que se faz ao próximo mas o bem que se faz para si” (STOLL,

2003, p. 265).

Aparece aqui a ideia do conselho da caridade, cobrança, doença e cura.

4.4 Análise do livro: O Céu e o Inferno ou a justiça Divina Segundo o Espiritismo

O Livro O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, como o próprio

título do livro afirma, é uma tentativa de explicar a justiça divina segundo o Espiritismo

Kardecista. Este livro é dividido em duas partes, a primeira parte se destina à explicação de

temas como anjos, demônios, temor da morte, o nada, o materialismo e toda gama ligada ao

não provável. A segunda parte é constituída de depoimentos que segundo o Espiritismo

Kardecista são de diversos espíritos que faleceram, ou como o Espiritismo Kardecista afirma

que já desencarnaram, suas experiências aqui na terra. Exemplos de espíritos sofredores a

24

Em visitas aos centros Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, Fé e Caridade e Nosso Lar, os dois primeiros

no Centro de Florianópolis e o último em Forquilhinhas, em São José não há cobranças. O que há é pedidos de

doação de mantimentos, produtos de higiene, limpeza, ajuda financeira sempre frisando a destinação que de

maneira geral é para o auxilio de despesas dos centros e doação á necessitados.

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espíritos felizes, de espíritos suicidas a espíritos em condições medianas, de criminosos,

sofredores, de toda e qualquer situação.

Vivemos, pensamos e operamos eis o que é positivo. E que morremos, não é menos

certo. Mas deixando a terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos

melhor ou pior? Existiremos ou não? Ser ou não ser, tal a alternativa para sempre ou

para nunca mais; ou tudo ou nada: Viveremos eternamente, ou tudo se aniquilará de

vez? É uma tese, essa que se impõem (KARDEC, 1995, p.11, b).

É o quarto livro da codificação Kardequiana. Escrito em 1865. Esta edição de tradução

brasileira é de nº 40/1995, possui 425 páginas, tradutor original foi Manuel Justiniano

Quintão.

Análise das passagens

Passagem 01.

Este não passou de um pobre israelita de Vilna, falecido em maio de 1865. Durante

30 anos mendigou com uma salva nas mãos. Por toda a cidade era bem conhecida

aquela voz que dizia: “Lembrai-vos dos pobres, das viúvas e dos órfãos!” Por essa

longa peregrinação Slizgol havia juntado 90.000 rublos, não guardando, porém para si

um só copeque. Aliviava e curava os enfermos; pagava o ensino de crianças pobres;

distribuía aos necessitados a comida que lhe davam (KARDEC, 1995, p. 381, b).

Comentário:

Uma narrativa de uma viva de doação ao próximo segundo os preceitos Kardecista, e

antes mesmo dele um princípio cristão. Vale lembrar que o Kardecismo se declara uma

continuação do Cristianismo. Em relação a Jesus Cristo, para os o Cristianismo é visto como

filho de Deus. Enquanto o Kardecismo vê Jesus Cristo, como um irmão muito evoluído para

os patrões da terra que nela veio para servir de bom exemplo.

Cristo foi um médium incomparável. Mandado por Deus à terra, veio ensinar-nos

como é que podemos nos aperfeiçoar. Cristo não é nosso salvador. O homem salva-se

a sim mesmo, seguindo o caminho de Cristo. Jesus morreu apenas para dar um

exemplo de conformidade à vontade divino (WILGES, 2008, p. 119).

A prática da cura, ou alívio dela, dentro da caridade é um caminho para a evolução do

espírito, Assim como a enfermidade. Neste caso para que ocorra a cura ou melhora do

enfermo o médium deve ter predisposição para o ato de curar e não alguma outra

mediunidade, como a psicografia por exemplo.

A natureza das comunicações guarda sempre relação com a natureza do Espírito e traz

o cunho da sua elevação, ou da sua inferioridade, de seu saber, ou de sua ignorância.

Mas em igualdade de merecimento, do ponto de vista hierárquico, há nela

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incontestavelmente uma propensão para se ocupar de uma coisa preferentemente a

outra (KARDEC, 1996, p. 227, a).

Passagem 02.

Os dois doentes que curaste são a prova do que te afirmo, pois, no estado em que

estavam, com remédios nada terias conseguido. Quando implorares permissão a Deus

para que os bons Espíritos te transmitam fluidos benéficos, se não sentires um

estremecimento involuntário, é que a tua prece não foi bastante fervorosa para ser

ouvida. É só nestas condições que a prece pode tornar-se valiosa. Nem outra coisa

resulta de dizer: “Deus Todo- Poderoso, Pai de bondade e misericórdia infinita,

permiti que os bons Espíritos me assistam na cura de.... Tende piedade dele, Senhor;

restitui-lhe a saúde, por que, sem vós, eu nada posso fazer. Seja feita a vossa

vontade.” Tens feito bem em não desdenhar os humildes; a voz daquele que sofreu

resignadamente as misérias desse mundo, é sempre ouvida, e nenhum serviço deixa

jamais de ser recompensado. Agora, uma palavra a meu respeito, confirmativa do que

acima te disse: O Espiritismo te explica a minha linguagem de Espírito, sem que aliás

me seja preciso entrar em minúcias a tal respeito. Outros sim julgo inútil falar-te da

minha existência anterior (KARDEC, 1995, p. 388-389, b).

Comentário:

A prática espírita convencional, desde o tempo de Kardec, manda que os médiuns-

curadores recebam os espíritos de médicos falecidos e, com os conhecimentos e

técnicas que eles trazem do mundo dos espíritos, ajudam a curar os vivos.

(GREENFIELD, 1999, p. 65).

Ou seja, segundo o Espiritismo Kardecista, pode existir apoio do mundo espiritual

desde que haja entrega nos procedimentos. Para ficar mais claro, extraí do Livro dos Médiuns:

Ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores a seguinte citação.

A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; no

caso que apreciamos, as coisas se passam de modo inteiramente diverso. Todos os

magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se

convenientemente, ao passo que os médiuns curadores a faculdade é espontânea e

alguns até possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de

uma potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, faz-se manifesta, em certas

circunstâncias, sobre tudo se considerarmos que a maioria das pessoas que podem,

com razão, ser qualificada de médiuns curadores recorre á prece, que é uma

verdadeira evocação (KARDEC, 1996, p. 217, a).

Passagem 03.

“Eu vo-lo digo: antes de tudo, importa dizer que era a segunda vez que eu expiava a

privação da vista. Na minha precedente existência, em princípios do último século,

fiquei cego aos 30 anos, em decorrência de excessos de todo o gênero que,

arruinando-me a saúde, enfraqueceram-me o organismo. Note-se que era já isso uma

punição por abuso dos dons providenciais de que fora largamente cumulado. Ao

invés, porém, de me atribuir a causa original dessa enfermidade, entendi de acusar a

Providência na qual, aliás, pouco cria. Anatematizei Deus, reneguei-o, acusei-o,

acrescentando que, se acaso existisse, devia ser injusto e mau, por deixar assim penar

as criaturas. Entretanto, eu deveria dar-me ainda por feliz, isento como estava de

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mendigar o pão, às feição de tantos outros míseros cegos como eu (KARDEC, 1995,

423, b).

Comentário:

O motor da trajetória espiritual é a relação que o mundo dos espíritos estabelece como

Mundo Visível ao longo de sucessivas encarnações. A encarnação, o Mundo Visível,

idealmente identificados à materialidade e a imperfeição, ocupam um lugar decisivo.

São a possibilidade de progresso do Espírito. Neles os Espíritos originalmente iguais

diferenciam-se, tornam-se mais ou menos imperfeitos, mais ou menos próximos da

perfeição. O mundo Visível é o lugar da produção de uma desigualdade justa, pois

que fundada no mérito (CAVALCANTI, 2008, p.29).

A encarnação é vista como necessária para a evolução do espírito. Como sendo um

estágio para o espírito, é o seu campo empírico, no qual não é facultada a passagem e onde

necessita a aprovação para ai sim, obter a evolução. Desta forma é o caminho e não um

caminho. Todos os espíritos passaram, estão passando ou passarão sem exceção até chegar em

um estado puro, através de encarnações sucessivas (de sucesso, mas não necessariamente uma

encarnação de sucesso após uma encarnação de sucesso, pode haver estagnação temporária

por exemplo). Tornando a criação mais próxima do criador. Nesta passagem sem o sentido da

visão foi a maneira dentro da concepção espírita de trazer o espírito para a conscientização de

seu papel enquanto criatura.

4.5 Análise do livro: A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo

O Livro A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo é dividido em

três partes, a primeira parte trata da existência de Deus, constituição formação da terra,

formação dos seres orgânicos e inorgânicos, constituição do universo, o princípio vital,

geração espontânea, cataclismos, etc... A Segunda parte apresenta questões relativas aos

milagres de toda ordem e os fluidos, citando os milagres atribuídos a Jesus Cristo, dado

seguida a explicação Kardequiana. A terceira e última parte são as narrativas do Evangelho

cristão com o olhar Kardequiano, assim com, a segunda parte, mas, com a diferença de não se

ater apenas aos milagres de Cristo, mas sim, trazer um desfecho a cinco obras bases do

Espiritismo Kardecista.

Hoje a humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar,

a fim de nutre-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia.

A geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos: a geração que surge,

retemperada em fonte mais pura, imbuída de ideias mais sãs, imprimirá ao mundo

ascensional movimento, no sentido do progresso moral que assinalará a nova fase da

evolução humana (KARDEC, 1995, p. 415, c).

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Neste livro devido às narrativas de milagres atribuídos a Jesus Cristo, o tema cura se

faz presente de forma significativa.

O paralítico se levantou imediatamente e foi para sua casa. Vendo aquele milagre, o

povo se encheu de temor e rendeu graças a Deus, por haver concebido tal poder aos

homens (KARDEC, 1995, p. 317, c).

É o quinto e último livro da codificação Kardequiana, foi escrito em 1868. Esta edição

de tradução brasileira é de nº 36/1995, possui 422 páginas, tradutor original foi Guillon

Ribeiro.

Análise das passagens

Passagem 01.

As Próprias curas instantâneas não são mais milagrosas, do que os outros efeitos,

dando que resultam da ação de um agente fluídico, que desempenha o papel de agente

terapêutico, cujas propriedades não deixam de ser naturais por terem sido ignoradas

até agora (KARDEC, 1995, p. 266, c).

Comentário:

Para que a cura ocorra é necessário do elemento primitivo fluido universal. Presente

no ser encarnado ou desencardo. É mediante a transformação que esse opera no períspirito,

que a cura se processa. O magnetismo é a produção do fluido do homem. (presente no ser

encarnado e descarnado), e de papel fundamental para que haja o processo da cura Por onde o

médium curador doa o seu fluido ao ser enfermo. Quanto mais reta for a vida do médium

curador, desligado da matéria e possuidor de boas intenções, melhor fluidos ele produzirá. E

melhor resultado terá. É importante citar que Médium receitista não é o mesmo que médium

curador.

Passagem 02.

Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas palavras,

enuncia-se uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo

fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral (KARDEC,

1995, p. 287, c)

Comentário:

O doente vê chegar o médico com maior satisfação do que aquele que está bem de

saúde; ora, os aflitos são os doentes e o consolador é o médico (KARDEC, 1995, p.

35, c).

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É sabido que trabalhar a autoestima, é fundamental para todo e qualquer ser, enfermo

ou não. O enfermo costuma ter uma melhor resposta no seu tratamento. Pode até não trazer a

cura, mas trabalha como um aliado, um complemento, aumentado a defesa do sistema

imunológico. Desta forma também:

As pessoas que assistem regularmente a serviços religiosos apresentam taxas mais

baixas de doenças e de mortalidade do que aquelas que não frequentam regularmente

esses serviços ou que não os assistem (LEVIN, 2001, p. 19).

A maioria das pessoas, em nossa sociedade, quando doentes, busca um médico

convencional que age com a medicina científica, oficialmente aceita, porém, cada vez é mais

frequente encontrar pacientes que usam da medicina alternativa como um aliado, aí, incluída,

a medicina espírita. Esses pacientes diferentes procuram a medicina convencional, muitas

vezes, em conjunto com as medicinas alternativas. Há um campo vasto de predileções. Dessa

forma, o paciente vai ao que melhor se identifica. Assim, remetendo ao médium, pastor, padre

ou benzedeira, a responsabilidade de seu processo de cura e não somente o médico

tradicional. Campo vasto ao Espiritismo Kardecista que desde seus primórdios já demostrava

inclinação às práticas de medicina alternativa. Esta é uma das passagens presente no primeiro

livro de Kardec, O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, datado de 1857,

marco do nascimento Espiritismo Kardequiano.

Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível.

Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não

por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer

homens de bem (KARDEC,1995, p. 421, a ).

Vale lembrar a dicotomia entre a ação moral ética que o espiritismo tem com a saúde.

Onde as enfermidades podem ter relação direta com as atitudes do ser. Pois, a cura perante o

Espiritismo Kardecista acontece em dois âmbitos, o corpo e o espírito. Se não for desta forma,

então, não houve a cura total, e sim, parcial. A cura que os médicos convencionais operam,

segundo a doutrina kardequiana, é apena da forma corporal e não da espiritual.

Passagem 03.

Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo

acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma

imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-

se uma força física: a uma causa moral preciso é que se contraponha uma força moral.

Para preservá-lo das enfermidades, fortificasse o corpo; para garanti-la contra a

obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de

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trabalhar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o

socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em

subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o

livre- arbítrio (KARDEC, 1995, p.305, c).

Comentário:

Assim se explica como ocorre a obsessão. Que são vistas pelos Kardecistas como

doenças mentais.

A tese apresenta o espiritismo, não apenas como uma doutrina consoladora, mas

também com uma “psicoterapia transcendente”, procurando um novo caminho

etiológico para a doença mental, fora do materialismo organicista. (ISAIA, 2005, p.

186)

Enfermidade esta que pode ser evitada. Tendo em vista que a causa da obsessão é do próprio

obsediado (por atração) que permite que o espírito obsessor mantenha o controle sobre si.

Pode-se evitar com vigília de ações, pensamentos e atitudes... O fortalecimento da moral do

ser, e consequentemente de suas ações sociais, fortificando-se indo de encontro à evolução.

Os doentes mentais, que até a idade média eram relativamente tolerados e encarados

com religioso respeito e temor pela população – quem ouvia vozes podia ser louco,

mas, também, podia ser uma pessoa santa, como Joana D’Arc -, agora são recolhidos

em hospícios: ninguém pode ficar fora do processo de produção. No início do

Renascimento, a Naus dos Insensatos (Nef. des Fous, Narranschiff) percorre rios

europeus, levando os loucos que são expulsos das cidades e dos quais os barqueiros

são encarregados de se livrar. No século XVII muda a percepção social da loucura.

Predomina agora a visão de Blaise Pascal (1623-1662): pode-se conceber um homem

sem as mãos, sem os pés, sem a cabeça até, mas, não sem a razão. O doente mental

tornou-se uma criatura exótica. Na Inglaterra, as pessoas visitavam o hospício de

Bedlam como quem vai ao zoológico; a entrada custava um penny e dava ao visitante

o direito de atiçar os loucos (SCLIAR, 2002, p. 56).

A loucura em seu passado era vista como algo indigno de um olhar humano, mas sim

acusador. Algo desprezado e até mesmo engraçado25

.

25

Lembro-me quando pequena descobri que uma vizinha minha na época tinha uma filha com síndrome de

Down. Popularmente na época tida como doença, hoje se tem consciência que a Síndrome de Down como

próprio nome indica é uma síndrome decorrente de distúrbio genético causado pelo cromossomo 21, extra, total

ou parcial. E não uma doença. Coisa que só descobri muito tempo depois de frequentar a casa dela para ir brincar

com seus outros filhos. Causou-me espanto a descoberta. A menina tinha um temperamento calmo e adorava

olhar as revistas de moda (eu deveria ter uns 8 anos e ela uns 15 anos) A menina beijava as revistas e dizia que o

“galã” da revista ia casar-se com ela. Ela acreditava mesmo em seus sonhos. Ela bem vaidosa e sempre cheirosa.

Uma mocinha! Minha vizinha, a mãe da menina não a escondia por maldade, mas, por uma convenção. Pessoas

nessas condições eram escondidas da sociedade isto, ainda, nos anos 80. Hoje há uma abertura e conscientização

maior e sabe-se que nem mesmo doença é, muitos trabalham, estudam, casam. Enfim, levam uma vida normal.

Mesmo havendo alguns preconceitos a serem quebrados. De minha vizinha não tive mais notícia, ela foi morar

em outro lugar muito tempo depois, mas, quando saiu da rua, já se percebia um assumir da menina. Não

amplamente, mas, parcialmente. Quem sabe hoje, a menina já tenha um papel ativo na sociedade.

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Durante o século XVIII as emoções eram vistas como expressão do lado animal do

ser humano; deviam ser, pois, dominadas. O tratamento dos doentes mentais era

verdadeiramente bárbaro: Cabeças raspadas, eles eram sistematicamente submetidos a

purga, à êmege, à sangria ou atirados sem aviso à água gelada, procedimentos que

tinham por objetivo “chocá-los”, trazendo-os de volta à razão. Na França essa

situação foi parcialmente revertida por Philippe Pinel (1745-1826), médico e escritor

que advogava uma conduta mais humana para com os loucos.

[...]

Uma verdadeira revolução psiquiátrica só viria a ocorrer no século XX, com a

psicanálise, os novos medicamentos e a instituição do tratamento ambulatorial da

doença mental. Quando Sigmud Freud (1856-1939) mostrou que a repressão das

emoções, e especificamente das emoções sexuais, pode ser um fator causador da

doença mental, estava de fato revertendo as expectativas negativas em relação ao

emocional, criadas pelo racionalismo dos séculos XVII e XVIII. (SCLIAR, 2002,

p.56, 57)

Episódios de obsessão tem por vezes tirar o juízo do obsediado. Causa delicada que

exige muito cuidado por se tratar do desequilíbrio do ser. E não somente o ser encarnado, mas

também, do ser desencarnado. O ideal é tratar ambos os seres, aconselhado-os para que ambos

prossigam no caminho do bem, pois, ambos têm responsabilidade sobre a enfermidade

(obsessão). O Kardecismo considera esse problema como (provável) decorrente de

circunstâncias de encarnações passadas. Dessa forma, estagnam-se os dois em seu caminho

para a evolução. O perdão mútuo, do obsessor ao obsidiado e vice versa, faz-se necessário.

O espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e,

assim, menos livre, para mais, facilmente, o atormentar, ferir nos seus interesses, ou

nas suas mais caras afeições. Neste fato reside a causa da maioria dos casos de

obsessão, sobretudo, dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e

possessão. O obsediado e o possesso são pois quase sempre vítimas de uma vingança

cujo motivo se encontra em existência anterior e a qual o que a sofre deu lugar pelo

seu proceder (KARDEC, 1996, p. 171, b).

Passagem 04.

São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são

epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é

como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o

número dos indivíduos atacados (KARDEC, 1995, p. 308, c).

Comentário:

Nesta passagem o Espiritismo aponta a obsessão e a possessão como causa de males

que não apenas atinge o indivíduo, mas uma localidade por exemplo. Poderia usar como

exemplo Sodoma e Gomorra com a diferença que os atos essas cidades não seriam feitos por

Deus como na Bíblia Judaico-Cristã. Mas sim por espíritos atraídos pela atmosfera negativa

da localidade. Causando ainda mais problemas (como doenças) a população que lá habita.

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Passagem 05.

Apresentam então um possesso cego e mudo e ele o curou, de modo que o possesso

começou a falar e a ver: todo o povo ficou admirado preso de admiração e dizia: Não

é esse o filho de David? Mas os fariseus, isso ouvindo, diziam: Este homem expulsa

os demônios com o auxílio de Belzebu, príncipe dos demônios. Jesus, conhecendo os

pensamentos, disse-lhes: Todo reino que se dividir contra si mesmo será arruinado e

toda cidade ou casa que se divide contra si mesma não pode subsistir. - Se Satanás

expulsa a Satanás, ele está dividido contra si mesmo, como, pois, o seu reino poderá

subsistir? E, se é por Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsarão

vossos filhos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes. - Se eu expulso os

demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós (KARDEC, 1995,

p. 329, c).

Comentário:

Para o Espiritismo a faculdade de cura, bem como todas as outras, não são privilégio

dos médiuns que agem de boa fé. É presente no médium de ideias não tão elevadas. Isso se

explica devido ao livre arbítrio do ser. Seus atos serão medidos conforme a sua atuação dentro

do que lhe foi dado. Tomando para o ser a responsabilidade sobre os seus atos.

1ª O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral

do médiuns? “Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe

do moral. O mesmo, porém não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau,

conforme as qualidades do médium. (KARDEC, 1996, P. 283, a).

Passagem 06.

A ressurreição de Lázaro, digam o que disserem, de nenhum modo ínfima este

princípio. Ele estava, dizem, havia quatro dias no sepulcro; sabe-se porém, que há

letargias que duram oito dias e até mais. Acrescentam que já cheirava mal, o que é

sinal de decomposição. Esta alegação também nada prova, dado que em certos

indivíduos He decomposição parcial do corpo, mesmo antes da morte, havendo em tal

caso cheiro de podridão. A morte só se verifica quando são atacados os órgãos

essenciais à vida. E quem podia saber que Lázaro já cheirava mal: Foi sua irmã Maria

quem o disse. Mas como o sabia ela? Por haver já quatro dias que Lázaro fora

enterrado, ela o supunha; nenhuma certeza, entretanto, podia ter. (KARDEC, 1995, p.

334, c).

Comentário:

Fato interessante é de se notar que mesmo o Kardecismo procura uma legitimação

cristã. Salvo em alguns aspectos como, por exemplo, a crença na reencarnação e não na

ressurreição. O papel de Jesus Cristo e outros (WILGES, 2008).

Para o Espiritismo os milagres atribuídos a Jesus Cristo no que diz respeito à

ressurreição nas parábolas presentes do Novo Testamento são passam de apenas uma má

interpretação da situação real do ser tido como morto. Para ele (Espiritismo Kardecista) Jesus

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não ressuscitou nem a outro fez. A ressurreição de Jesus Cristo, o seu corpo ressuscitado não

era o seu corpo carnal, mas sim, o seu perispírito. Este estado seria vivenciado pela pessoa

depois da morte. Não negam Jesus Cristo como um espírito de missão que veio a terra para

ensinar a filosofia de amor ao homem, servindo desta forma como bom exemplo. Mas,

enquanto corpo carnal/matéria era como qualquer pessoa. Justifica desta forma (KARDEC,

1995):

Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não

teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja

sido tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como por

exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparentemente, todos os atos de sua vida, a

reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a

Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia,

tudo, até ao último brando no momento de entregar o Espírito, não teria passado de

vão simulacro, para enganar com relação á sua natureza e fazer crer num sacrifício

ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto,

indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior (KARDEC, 1995, p.

353-354, c).

Em relação à ressurreição, utiliza-se a parábola de Lázaro. Segundo, o Espiritismo

Kardecista não ocorreu ressurreição em Lázaro, nem a qualquer outro ressuscitado, não

ocorreu nem mesmo a morte deste. Lázaro estava em um estado de letargia26

que foi desperto

por Jesus Cristo que, como tinha o “dom” da cura, facilmente, operou em Lázaro. Quanto à

decomposição, esta ocorre em vida de acordo com a circunstância do ser, a necrose por

exemplo. Ainda, nesta passagem, a preocupação em desmitificar os milagres atribuídos a

Jesus. Há aqui a busca de Kardec de tornar o Espiritismo Kardecista ciência e não religião.

4.6 Análise do livro: Obras Póstumas

O Livro Obras Póstumas foi publicado após o falecimento de Allan Kardec, ou o

desencarne como a teoria Espirita Kardecista denomina a morte do ser. Começando com um

discurso lido em seu sepultamento.

26 sf (gr lethargía) 1 Med Sonolência mórbida. 2 Estado de sono profundo que se observa em várias doenças

mentais e principalmente na doença do sono. 3 Estado de vida latente em que caem certos animais, relacionado

com as estações ou em conseqüência de uma forte dissecação. 4 Estado de inércia ou indiferença; apatia. 5

Indolência, preguiça. 6 Estado de insensibilidade que constitui um dos passos do chamado transe mediúnico. L.

africana ou l. dos negros: doença do sono. Fonte: Dicionário Michaelis disponível no endereço:

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=letargia

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É ainda sob guante dor profunda que nos causou a prematura partida do fundador da

Doutrina Espirita, que nos abalançamos a uma tarefa, simples e fácil para suas mãos

sábias e experientes, mas, cujo peso e gravidade nos esmagariam, se não contássemos

com o auxílio eficaz dos bons Espíritos e com a indulgência dos nossos leitores

(KARDEC, 2005, p. 415).

Embora atribuído a Kardec o livro não monstra claramente a sua participação ativa27

, o

que se tem são relatos, escritos, e dados que Kardec deixou. Este livro não faz parte da

codificação Espirita Kardecista que são os cinco livros analisados, anteriormente, neste

trabalho. Fiz a leitura desta obra com o objetivo de entender toda a concepção kardequiana.

Ele está dividido em duas partes, a primeira com temas complementares ao Espiritismo

Kardecista, como expiações coletivas, música, manifestações. A segunda parte é destinada a

questões mais práticas como a iniciação de Allan Kardec no Espiritismo, constituição da

sociedade Espirita, as finanças da sociedade28

, estatutos, enfim toda a trajetória dos

primórdios do Espiritismo Kardecista.

A comissão terá por um de seus primeiros cuidados ocupar-se com as publicações,

desde que seja possível, sem esperar que o possa fazer auxílio das rendas. Os fundos a

isso destinados não serão, em realidade, mais que um adiantamento, pois que voltarão

à caixa, em virtude da venda das obras, cujo produto reverterá ao capital comum. É

um negócio de administração (KARDEC, 2005, p. 451).

É o sexto livro do Espiritismo Kardecista, foi escrito em 1890. Esta edição de tradução

brasileira é de nº 33/2005, possui 478 páginas, o tradutor original foi Guillon Ribeiro.

Análise das passagens

Passagem 01.

É assim que nas curas por imposição das mãos, o Espírito do médium pode atuar por

si só, ou com a assistência de outro Espírito; que a inspiração poética ou artística pode

ter dupla origem. Mas, do fato de ser difícil fazer-se uma distinção como essa não se

segue seja ela impossível. Não raro, a dualidade é evidente e, em todos os casos,

quase sempre ressalta de atenta observação (KARDEC, 2005, p. 14).

Comentário:

Aqui a explicação da participação do espírito do médium que às vezes atuam não

somente o corpo como instrumento, mas uma participação efetiva em todo o âmbito.

27

Tendo em vista, que a teoria Kardecista, se baseia na comunicação entre vivos e mortos. 28

No livro Obras Póstumas (2005, p.451) há uma defesa de Kardec, respondendo a críticas ao uso do dinheiro

da sociedade Espirita de Paris. Não estou de defendendo ou não Kardec, mas, acho desnecessária tal explanação

a cerca de assunto como este em um livro de doutrinação. Deselegante talvez. Hora, as pessoas adeptas do

Espiritismo veem os livros de Kardec, como livro sagrado. Para essas pessoas, os livros de Kardec, são como a

Bíblia cristã. Não cabendo ali tais explicações.

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Passagem 02.

A ação fluídica, ao demais, é poderosamente secundada pela confiança do doente, e

Deus quase sempre lhe recompensa a fé, concedendo-lhe o bom êxito. 54. Somente a

superstição pode emprestar qualquer virtude a certas palavras e unicamente Espíritos

ignorantes ou mentirosos podem alimentar semelhantes ideias, prescrevendo

fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, para pessoas pouco esclarecidas e

incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de uma fórmula de

prece ou de determinada prática contribua a lhes infundir confiança. Nesse caso,

porém, não é na fórmula que está à eficácia e sim na fé que aumentou com a ideia

ligada ao emprego da fórmula (KARDEC, 2005, p. 83).

Comentário:

Aqui nesta passagem, responsabiliza-se a fé do paciente ao resultado do procedimento.

É também uma forma simples de se isentar de resultados não esperados ou até mesmo de um

não resultado. A crença é fundamental para o sucesso do procedimento de cura.

Para a maior parte das doenças sempre foi difícil estabelecer relações de causa e

efeito; é um tipo de raciocínio que depende do grau de desenvolvimento da ciência e

da tecnologia. Privados desses recursos, os povos primitivos explicavam a doença

dentro de uma concepção mágica do mundo: o doente é vítima de demônios e

espíritos malignos, mobilizado talvez por um inimigo, ou seja, e a patologia como

faceta da mitologia (SCLIAR, 2002, p. 14).

E se a pessoa tratada no Centro Espírita não tiver fé? Não será digno de alcançar a cura

por meio de um tratamento alternativo/complementar ofertado em um Centro Espírita

Kardequiano? Seria excluir uma pessoa sem fé? Deste caso, será que o percentual de pessoas

que conquistaram a cura é formado por pessoas sem, com pouca fé ou muita fé? A cura desta

maneira dependeria mais do paciente do que do médium, do centro ou da técnica empregada?

Para o Espírita Kardecista (KARDEC, 1995) Deus não abandona um filho seu. Mas, o

caminho neste caso pode tornar-se longo. Quanto à cura, até poderá curar-se sem fé, mas, de

maneira geral, como no caso acima, não brevemente. Pois, no caso, o enfermo trabalharia em

sentido oposto a vontade de curar-se.

Passagem 03.

Todos os efeitos do magnetismo, do sonambulismo, do êxtase, da dupla vista, do

hipnotismo, da catalepsia, da anestesia, da transmissão do pensamento, a presciência,

as curas instantâneas, as possessões, as obsessões, as aparições e transfigurações, etc.,

que formam a quase totalidade dos milagres do Evangelho, pertencem àquela

categoria de fenômenos (KARDEC, 2005, p. 152).

Comentário:

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59

Como se pôde observar na passagem acima, alguns estados do ser que para o

conhecimento geral nada tem a ver com fenômenos transcendental, como o sonambulismo,

ganha toda uma ressignificação dentro da concepção Espírita Kardecista.

Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou,

melhor, são duas ordens de fenômenos que, frequentemente, se acham reunidos. O

sonâmbulo age sob influência do seu próprio Espírito; é a sua alma que, nos

momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que

ele externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado

normal, seus conhecimentos mais dilatados, por que tem livre a alma. Numa palavra,

ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos (KARDEC, 1996, p. 215, a).

Aqui é atribuído algo mágico a um estado do ser, definindo o sonambulismo29

como algo

especial. Ou alguém que tem maior facilidade de se comunicar com pessoas já falecidas.

Passagem 04.

Então, o círculo vicioso em que se metem os mestres da vã filosofia mostrar-se-á

completamente, porquanto os novos campeões levam consigo não só um facho, que é

a inteligência desimpedida dos véus grosseiros, senão também muitos dentre eles

gozarão desse estado particular, que é privilégio das grandes almas, como Jesus, e que

dá o poder de curar e de operar essas maravilhas chamadas milagres (KARDEC,

2005, p. 381).

Comentário:

Segundo KARDEC (1996), os espíritas acreditam ter um conhecimento além da

medicina convencional. Eles acreditam ser privilegiados porque dentro da sua concepção,

enxergam o enfermo em outras dimensões. E os médicos de formação e não adeptos do

espiritismo Kardecista?

Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e

curarão mais doentes do que com as duchas. (KARDEC, 1996, p. 323, a).

Se os médicos são mal sucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam

do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado,

impossível é que uma parte dele passe bem. (KARDEC, 1996, p. 51, b).

Por isso é que dizemos que estes estudos requerem atenção demorada, observação

profunda e, sobretudo, como, aliás, o exigem todas as ciências humanas, continuidade

29 Sonambulismo: 1 Estado ou doença dos sonâmbulos. 2 Fisiol Estado caracterizado pela facilidade de andar e

de repetir durante o sono certos movimentos contraídos pelo hábito, sem que de tal fique a menor lembrança ao

despertar. S. artificial ou s. magnético ou s. provocado: estado semelhante ao sonambulismo natural, mas devido

à ação do hipnotismo e caracterizado por insensibilidade exterior e, às vezes, pela exaltação de certas

faculdades.Fonte: Dicionário Michaelis, 2012.

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e perseverança. Anos são precisos para forma-se um médico medíocre e três quartas

partes de vida para chegar-se a ser sábio (KARDEC, 1995, p. 38, a).

A oposição da medicina e da psiquiatria nunca levava em consideração as teorias

espíritas, mas, somente suas práticas. Para os psiquiatras, de fato eram criticáveis suas

sessões religiosas, em geral, associadas ou não a propósitos de cura (SANTOS, 2004,

p. 61).

Salvo os médicos adeptos ao espiritismo Kardecista (SANTOS, 2004), Bezerra de

Menezes30

, por exemplo - que inclusive presidiu a Federação Espírita Brasileira por volta de

1886, o que causou grande alvoroço na época - um médico, um homem de ciência, se deixar

acreditar em crenças sobrenaturais de um além comunicativo, era algo inusitado.

A controvérsia entre médicos e espíritas no Brasil foi estudada entre outros, por

Emerson Giumelli, que salienta a forma substantiva da condenação médica ao

espiritismo e também uma outra posição, típica do saber jurídico do século XX,

Apenas “baixo” espiritismo era criminalizado, enquanto o “alto” espiritismo,

praticado por uma elite letrada e familiarizada com o exercício do poder, era tolerado.

(ISAIA, 2005, p. 176).

Essa visão de “baixo” espiritismo31

ainda, faz-se presente. Não é raro escutarmos

pessoas se declarando espírita, mas em seguida, justificando-se que o seu é de Kardec, ou até

mesmo de Chico Xavier.

No Livro Obras Póstumas (atribuído a Kardec) há menção à necessidade de um

médico de formação, auxiliando os serviços sociais que o Espiritismo almejava desde aquela

época.

3º Um dispensário destinado às consultas médicas gratuitas e ao tratamento de certas

afecções, sob a direção de um médico diplomado;

4º Uma caixa de socorros e de previdência em condições práticas;

5º Um asilo; (KARDEC, 2005, p. 434).

Este ideal foi alcançado, pelo menos aqui no Brasil. Atualmente, o Espiritismo conta

com renomados médicos e instituições famosas por proporcionarem tratamento

alternativo/complementar a uma gama de pacientes, inclusive de outras concepções religiosas.

Ali atuam médicos de formação e, também, pessoas que possuem o “dom” da cura por

encarnações anteriores segundo o Espiritismo. Desta forma, esta cura se dá por conhecimento

de encarnações anteriores.

30 Mais tarde segundo SANTOS (2004) Ele foi um dos três mentores (André Luiz, Emmanuel e Bezerra de

Menezes) de Chico Xavier sob a influência de Bezerra de Menezes Chico Xavier atuava como médium

receitista, antes da adesão total de Chico a literatura Espirita Kardecista. Bezerra de Menezes vale lembrar

também em vida foi um político, médico e empresário influente do sec. XIX no Brasil. Sua adesão causou

grande alvoroço em seu meio, o meio da ciência (medicina). 31

Informação verbal de pessoas adeptas do Espiritismo Kardecista, onde ao se declarar Espirita, fazem questão

de frisar que é de Allan Kardec, não raro Espiritismo de Chico Xavier, ou, como já ouvi da escritora Espírita,

sucesso de vendas em livros de auto ajuda, Zíbia Gaspareto.

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61

Quanto aos que tem uma aptidão especial para comunicações científicas, históricas,

médicas e outras, fora do alcance de suas especialidades atuais, possuíram, em

anterior existência esses conhecimentos, que permanecem neles em estado latente,

fazendo parte dos materiais cerebrais de que necessita o espírito que se manifesta; são

os elementos que a este abrem caminho para a transmissão de ideias que lhe são

próprias, portanto, em tais médiuns encontra ele instrumentos mais inteligentes do

que num ignaro (KARDEC, 1996, p. 239, a).

É, para estes, uma lembrança retrospectiva do que viram e souberam, quer na

erraticidade quer em suas existências anteriores, como alguns têm a intuição das

línguas e das ciências de que já foram conhecedores (KARDEC, 1995, p. 363, c).

Desta forma, o espiritismo segue hoje com mais variadas obras assistenciais como

asilos, hospitais e as mais variadas obras assistenciais. Fortalecendo o desejo de seu codificar

e fomentando o interesse e crença de seus adeptos e simpatizantes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O modo de conceber a doença e a cura é visto no Kardecismo como um meio para a

evolução do espírito. A doença não é, simplesmente, uma doença do corpo, mas, há toda uma

diferenciação permeada por questões éticas e morais evolucionistas, tal como aponta a

cosmovisão espírita.

Desta maneira, a forma de tratamento, também, é diferenciada. Busca-se tratar a

causa da doença na esfera, também, espiritual, tendo em vista que, para os Kardequianos, os

males do corpo são reflexos dos males da alma. Mediante esta concepção contam com ajuda

de “espíritos protetores” que atendem nos centros espíritas e em Casas de assistência como as

visitadas por mim para a complementação da elaboração deste trabalho. Lá tive a

oportunidade de me familiarizar com termos, técnicas e vivencias indispensáveis para um

conhecimento abrangente do tema desta pesquisa.

Fiz uma análise dos cinco livros alicerce do espiritismo Kardecista: O Livro dos

Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos

Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do

Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da

Vida, O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo, A Gênese Os Milagres e

as Predições Segundo o Espiritismo. E mais, Obras Póstumas.

Com as leituras, fichamentos, e observações, conclui que o que eu pensava sobre o

assunto antes da pesquisa não se confirmou. Os discursos, semelhantes ao meu, de muitos

adeptos e não adeptos do espiritismo kardecista, acreditavam que este viés curandeirista

somente havia se tornado forte no Brasil, sem fundamentação teórica nas obras de Kardec que

embasasse tal crença. Pude perceber que estava errada. Essa aproximação assistencial de

cura/enfermidades saúde e correlatos já é presença desde 1857, percebida desde o primeiro

livro de Kardec, O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, com nada menos que

21 citações, seguindo de maneira variada conforme quadro32

de análise desde trabalho. Nestes

trechos de Kardec são apresentadas a sua concepção, relações, causas e soluções aos males do

corpo e aos males da alma.

É Verdadeira a afirmação que diversos fatores próprios do país, como falta de

condição financeira, falha no Sistema Nacional de Saúde, falta de perspectiva na medicina

convencional, carência emocional ou mesmo por crença, favoreceram que o Brasil desse

ênfase à cura e seus correlatos. Mas, Kardec, desde o primeiro ao último livro base da

32

Página de número 33 desde trabalho.

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literatura Kardequiana, deixa clara a intenção desta nova concepção de cura e relacionados.

Isto não é e nem foi uma “invenção tupiniquim”. Adeptos usam e tomam como base obras

alicerces Kardequianas, legitimam-se, atribuem saberes e práticas à cura que se distingue da

concepção convencional.

Para Foucault (2011) essa legitimação já se dá pelo nome do autor, no caso aqui, Allan

Kardec. Isso, por si só, já basta para legitimar as suas ideias e formar base teórica do

Espiritismo Kardecista. É como em uma escolha de um livro, pelo nome do autor já se atribui

juízo de valor à obra. Onde o nome do autor tem destaque, muitas vezes, na própria capa da

obra, onde, nem sempre, se lê o título da obra, mas sim, quem o escreveu. Esta realidade

acontece com as obras de Allan Kardec, Chico Xavier e tantos outros escritores espíritas

famosos.

Voltemos ao tema principal, a temática da cura nas obras de Kardec. Ela se fez

presente em todos os livros base do Espiritismo Kardecista, merecendo o devido destaque o

livro A Gênese Os Milagres e as predições Segundo o Espiritismo. Nesta obra se encontram

o maior número de citações relativas ao assunto, mesmo que essas páginas no caso, sejam

narrativas dos milagres de Jesus Cristo descritas na Bíblia Cristã. Em seguida se explicita a

explicação dada pelo entendimento Kardecista. Para os Espíritas Kardecistas as curas

realizadas por Jesus Cristo são passes33

. Jesus Cristo, apenas, estendia suas mãos ao enfermo

e com a força de seu espírito, sua fé e determinação curava os enfermos. Para o Espiritismo

eram passes esses procedimentos tomados por Cristo. Como vimos, durante o percurso deste

trabalho, aconteceu uma aproximação entre Kardec e a Igreja Católica Apostólica Romana,

crença de sua infância. Essa influência foi tão forte a ponto de Kardec afirmar que o

Espiritismo era a continuação do Cristianismo, como se pode perceber em várias passagens

neste trabalho.

Por fim, devo admitir que a pesquisa tomou um rumo inesperado desde de seu início.

Inclusive nos resultados finais. Espero ter correspondido com o esperado para um trabalho de

Conclusão de Curso. A falta de tempo, infelizmente, fez-me recuar de assuntos por mim

pensados antes, durante e depois deste trabalho34

. Desta forma, dou por encerrado este

trabalho.

33

Segundo Xavier (1999) o passe é uma transfusão de energias psíquicas, essa transfusão pode ser utilizada no

tratamento de enfermos, ou ser transmitido para pessoas que se dispostas recebê-lo, mesmo estando saudável.

Simplificando o passe é uma transmissão fluídica/magnética. 34

O médium João de Deus. Atual médium curador de renome internacional que atua na casa Dom Inácio de

Loyola praticando curas espetaculares ao vivo.

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Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro; Federação Espírita Brasileira. 76 ª Edição. 1995, a.

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KARDEC Allan. O Livro dos Médiuns: Ou Guia e dos Médiuns e dos Evocadores:

Tradução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro; Federação Espírita Brasileira. 62 ª Edição. 1996,

b.

KARDEC Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas

morais do Cristo em Concordância com o espiritismo e suas aplicações ás diversas

circunstâncias da vida. Tradução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro; Federação Espírita

Brasileira. 112 ª Edição. 1996, b.

KARDEC Allan. O céu e o inferno ou a justiça Divina segundo o espiritismo. Tradução de

Manuel Justiniano Quintão. Rio de Janeiro; Federação Espírita Brasileira. 40 ª Edição. 1995,

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Eginardo Pires. Rio de Janeiro. Revisão Júlio Cezar Melatti. Tempo Brasileiro. 1985.

SUPERINTERESSANTE. São Paulo. Abril. nº 277. Abril. 2010.

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SUPERINTERESSANTE. Revista das Religiões edição Especial – o Mundo da Fé. Edição

15. Novembro de 2004.

Vídeo Institucional Nosso Lar Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I> Acesso em: 06 de maio de 2012.

XAVIER, Francisco Candido. O Consolador. 20ª Edição. Rio de Janeiro: Federação Espírita

Brasileira, 1999.

XAVIER, Chico. Chico Xavier – A vida e suas Obras. Disponível em:

<http://clotildes.tripod.com/chico_xavier.html > Acesso em: 27 maio. 2012.

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ANEXO 01.

Bom dia, meu nome é Simara e sou do curso de Ciências da Religião – USJ. Estou

desenvolvendo o meu TCC em cima da temática cura espiritual. E como o Centro de vocês é

referência no assunto gostaria de perguntar se tem há possibilidade de eu desenvolver o meu

trabalho TCC junto a sua casa? Se puderem me receber, agradeço muito! Respeitosamente,

Simara M. F. Luz

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ANEXO 02.

Notícia vinculada no site: http://waves.terra.com.br/surf/noticia/violencia-gratuita-na-

ferrugem-(sc)/51276 em: 05 de fevereiro de 2012. Reportagem segue na íntegra.

Violência gratuita na Ferrugem (SC)

A madrugada da última quinta-feira quase terminou em tragédia para o professor universitário

Evandro de Brito, 41, e o amigo Érick Casarini, 39. Moradores da capital catarinense

Florianópolis, os dois saíam de uma casa noturna na praia da Ferrugem, Garopaba (SC),

quando foram espancados por três rapazes. Amigo de umas das vítimas, o fotógrafo Eduardo

Dutra envia um relato com detalhes absolutamente lamentáveis sobre o episódio absurdo

daquela noite. Infelizmente somos obrigados a divulgar uma notícia como esta, retrato da

pura violência, racismo e descaso com a vida. O episódio aconteceu na noite da última quarta-

feira, por volta das 5 horas da manhã. Ao que se sabe, Evandro de Brito, doutor em Filosofia

pela Universidade Federal de Santa Catarina, uma pessoa de bem, estava apenas se divertindo

na praia da Ferrugem. Evandro, que é negro, comia batatas fritas quando um dos agressores

chegou e meteu a mão no alimento dele, já com a pretensão de arrumar confusão. Foi o que

acabou acontecendo. Amigo de Evandro, Erick Casarin, músico de Florianópolis, outra vítima

desta tragédia, chegou para tentar separar o amigo da confusão. Erick começou a apanhar

também. Ele comentou depois que apagou já no terceiro golpe e os dois foram espancados ali

mesmo e largados no chão. Quando se recuperaram, saíram correndo em direção à Vila da

Ferrugem, quando os agressores, não contentes com o que já haviam feito, voltaram de carro

para finalizar a história, armados de chaves de rodas e desferiram vários golpes na cabeça e

corpos dos dois que já estavam imóveis neste momento. A intenção parecia ser de matar, em

um ato de absurda covardia e maldade pura. Largaram os dois desmaiados, que foram

encontrados no mesmo local, com vida. Foram hospitalizados em estado grave, mas sem risco

de morte. Já se sabe os nomes de dois dos agressores, caras que pegam onda na região. O

dono do carro é um tal Edinho, possui um Celta prata, placa de Cidreira (RS). Ele teria levado

no veículo os outros dois até o local da agressão. O segundo é conhecido pelos apelidos de

Rasta / Natural, tem cabelo rastafari. O terceiro agressor ainda é desconhecido e todos estão

foragidos de Garopaba. Foi instaurado inquérito policial na delegacia de Garopaba e o IML

(Instituto Médico Legal) fez exame de corpo de delito nos dois para registrar os danos

causados. Seguem aqui os telefones das delegacias de Garopaba e Cidreira para eventuais

contatos. Delegacia de Garopaba - A/C ALEX - (0xx48) 3254-3190 e Policia Civil de

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Cidreira (RS) - (0xx51) 3681-1166. Qualquer informação ou fotos dos agressores, por favor

entrem em contato com as delegacias, Facebook, meios de comunicação. A princípio, o caso

está sendo investigado na delegacia de Garopaba. Agradecemos por todas as orações e

pensamentos positivos dedicados aos nossos irmãos, são pessoas de bem, vitimas de agressão,

tentativa de homicídio e racismo.

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ANEXO 03.

Relação de passagens que se refere a cura/doenças e correlatos no

O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita

Data da Primeira Edição: 1857

Classificação adotada : a

Posição: 1º Livro

Edição traduzida para o português utilizada neste trabalho: nº 76

Ano: 1995

Tradutor: Guillon Ribeiro

Número de páginas desta edição: 494

Edição atual: 92ª/2011

Número de Citações: 21

Poder-se-ia comparar a morte à cessação do movimento de uma máquina

desorganizada? ―Sim; se a máquina está mal montada, cessa o movimento;

se o corpo está enfermo, a vida se extingue.‖

(KARDEC, 1995, p. 76, a).

O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo

menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o

efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas

não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de

desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de

queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal

físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até

causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro

costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede,

ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro

guardou desta a impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga

ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. (KARDEC, 1995, p.165, a).

Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muito mais

vezes, contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem

deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que

lhe teria sido possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve

o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra: às suas paixões?

(KARDEC, 1995, p. 169, a).

Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a

se desfazerem e restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria se não

fosse socorrido? ―Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O

magnetismo, em tais casos, constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação,

porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o

funcionamento dos órgãos.‖ A letargia e a catalepsia derivam do mesmo

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princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por

uma causa fisiológica ainda inexplicada. Diferem uma da outra em que, na

letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as

aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte

mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se

manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é

sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética.(KARDEC, 1995, p. 230-

231, a).

A prece é meio eficiente para a cura da obsessão?

―A prece é em tudo um poderoso auxílio. Mas, crede que não basta que

alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus

assiste os que obram, não os que se limitam a pedir. É, pois, indispensável

que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em

si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.‖ (KARDEC, 1995, p. 251-

252,a).

Depende da interpretação que se lhe dê. Se chamais demônio ao mau Espírito

que subjugue um indivíduo, desde que se lhe destrua a influência, ele terá

sido verdadeiramente expulso. Se ao demônio atribuirdes a causa de uma

enfermidade, quando a houverdes curado direis com acerto que expulsastes o

demônio. (KARDEC, 1995, p.252, a).

Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples

contacto? ―A força magnética pode chegar até aí, quando secundada pela

pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, porque então

os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. Cumpre, porém, desconfiar da maneira

pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito entusiastas,

sempre dispostas a considerar maravilhoso o que há de mais simples e mais

natural. Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que

costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.‖

(KARDEC, 1995, p. 279, a).

Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?

―Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas que, quando de boa-fé,

gozam de certas faculdades, como sejam a força magnética ou a dupla vista.

Então, como fazem coisas geralmente incompreensíveis, são tidas por

dotadas de um poder sobrenatural. Os vossos sábios não têm passado muitas

vezes por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?‖ O Espiritismo e o

magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os

quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se

apresentam exagerados pela imaginação.

(KARDEC, 1995, p. 279, a).

A higiene pública, elemento tão essencial da força e da saúde, a higiene

pública, que nossos pais não conheceram, é objeto de esclarecida solicitude.

(KARDEC, 1995, p. 339, a).

O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo,

coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua

necessidade, Abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores

forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza

animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, são, ao mesmo tempo, o

castigo à transgressão da lei de Deus. (KARDEC, 1995, p. 341, a).

A lei de conservação obriga o homem a prover às necessidades do corpo?

―Sim, porque, sem força e saúde, impossível é o trabalho.‖ (KARDEC, 1995,

p. 342, a).

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―Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o

homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que

mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois,

tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização.‖ (KARDEC,

1995, p. 344, a).

Por que de preferência não trabalham pelo bem de seus semelhantes? Vistam

o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram

privações para alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto,

agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio

bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo.‖

(KARDEC, 1995, p. 344-345, a).

Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário,

que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização

se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que

desaparecerão todos com o progresso moral. (KARDEC, 1995, p. 370, a).

No que concerne à morte é que o homem se acha submetido, em absoluto, à

inexorável lei da fatalidade, por isso que não pode escapar à sentença que lhe

marca o termo da existência, nem ao gênero de morte que haja de cortar a

esta o fio. (KARDEC, 1995, p. 400, a).

Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará

então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e

o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque

numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se

o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação

que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de

bem. (KARDEC, 1995, p. 421, a).

Impacientemente suportamos as tribulações da vida. Tão intoleráveis nos

parecem, que não compreendemos possamos sofrê-las. Entretanto, se as

tivermos suportado corajosamente, se soubermos impor silêncio às nossas

murmurações, felicitar-nos-emos, quando fora desta prisão terrena, como o

doente que sofre se felicita, quando curado, por se haver submetido a um

tratamento doloroso. (KARDEC, 1995, p.435, a).

Ele traçou um limite; as enfermidades e muitas vezes a morte são a

consequência dos excessos. Eis aí a punição; é o resultado da infração da lei.

Assim em tudo.‖ (KARDEC, 1995, p. 447, a).

Quando sofremos de uma enfermidade duradoura, dizemos que o nosso mal é

eterno. Que há, pois, de admirar em que Espíritos que sofrem há anos, há

séculos, há milênios mesmo, assim também se exprimam? (KARDEC, 1995,

p. 469, a).

Que se deve entender por purgatório? ―Dores físicas e morais: o tempo da

expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus

vos obriga a expiar as vossas faltas.‖ (KARDEC, 1995, p. 473, a).

Todos os fenômenos espíritas, sem exceção, resultam de leis gerais.

Revelam-nos uma das forças da Natureza, força desconhecida, ou, por

melhor dizer, incompreendida até agora, mas que a observação demonstra

estar na ordem das coisas. Assim, pois, o Espiritismo se apóia menos no

maravilhoso e no sobrenatural do que a própria religião. Conseguintemente,

os que o atacam por esse lado mostram que o não conhecem e, ainda quando

fossem os maiores sábios, lhes diríamos: se a vossa ciência, que vos instruiu

em tantas coisas, não vos ensinou que o domínio da Natureza é infinito, sois

apenas meio sábios. (KARDEC, 1995, p. 479, a).

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Relação de passagens que se refere à cura/doenças e correlatos no

O Livro dos Médiuns: Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores

Data da Primeira Edição: 1861

Classificação adotada : a

Posição: 2º Livro

Edição traduzida para o português utilizada neste trabalho: nº62

Ano: 1996

Tradutor: Guillon Ribeiro

Número de páginas desta edição: 486

Edição atual: 80ª/2011

Número de Citações:12

A morte é a destruição, ou, antes, a desagregação do envoltório grosseiro, do

invólucro que a alma abandona. O outro se desliga deste e acompanha a alma

que, assim, fica sempre com um envoltório. Este último, ainda que fluídico,

etéreo, vaporoso, invisível, para nós, em seu estado normal, não deixa de ser

matéria, embora até ao presente não tenhamos podido assenhorear-nos dela e

submetê-la à análise.

Esse segundo invólucro da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida

corpórea; é o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e

pelo qual transmite sua vontade ao exterior e atua sobre os órgãos do corpo.

Para nos servirmos de uma comparação material, diremos que é o fio elétrico

condutor, que serve para a recepção e a transmissão do pensamento; é, em

suma, esse agente misterioso, imperceptível, conhecido pelo nome de fluido

nervoso, que desempenha tão grande papel na economia orgânica e que ainda

não se leva muito em conta nos fenômenos fisiológicos e patológicos.

Tomando em consideração apenas o elemento material ponderável, a

Medicina, na apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação.

Não cabe, aqui, porém, o exame desta questão. Somente faremos notar que

no conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje

insolúveis. (KARDEC, 1996, p. 77-78, a).

Tomando em consideração apenas o elemento material ponderável, a

Medicina, na apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação.

Não cabe, aqui, porém, o exame desta questão. (KARDEC, 1996, p.78, a).

A Medicina não pode compreender estas coisas, por não admitir, entre as

causas que as determinam, senão o elemento material; donde, erros

freqüentemente funestos. A história descreverá um dia certos tratamentos em

uso no século dezenove, como se narram hoje certos processos de cura da

Idade Média. (KARDEC, 1996, p.110, a).

Por que razão certas visões ocorrem com mais freqüência quando se está

doente? "Elas ocorrem do mesmo modo quando estais de perfeita saúde.

Simplesmente, no estado de doença, os laços materiais se afrouxam; a

fraqueza do corpo permite maior liberdade ao Espírito, que, então, se põe

mais facilmente em comunicação com os outros Espíritos." (KARDEC, 1996,

p. 135, a).

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Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo,

mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra

da vontade. O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido

por outro Espírito. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético

que, como atrás dissemos, e a substância que mais se aproxima da matéria

cósmica, ou elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma

modificação nas propriedades da água, pode também produzir um fenômeno

análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação

magnética, convenientemente dirigida. (KARDEC, 1996, p. 172, a).

Obs: A explicação do magnetismo, tipo como meio para a obtenção da cura

Kardecista.

Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito

encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão

direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a

matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro

de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela

imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais

ou menos elevado. (KARDEC, 1996, p. 172-173, a).

Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de

inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa. Entretanto, no

estado de sonambulismo, deu provas de lucidez extraordinária e de grande

perspicácia. Excedia, sobretudo, no tratamento das enfermidades e operou

grande número de curas consideradas impossíveis. Certo dia, dando consulta

a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão. Não basta,

disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu,

meu anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo doutor de quem falas? - O

que dita os remédios. - Não és tu, então, que vês os remédios? - Oh! não;

estou a dizer que é o meu anjo doutor quem dita.

Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que,

para isso, não precisava de assistência alguma; a indicação, porém, dos

remédios lhe era dada por outro. Não estando presente esse outro, ele nada

podia dizer. Quando só, era apenas sonâmbulo; assistido por aquele a quem

chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium. (KARDEC, 1996, p. 215-

216, a).

Unicamente para não deixar de mencioná-la, falaremos aqui desta espécie de

médiuns, porquanto o assunto exigiria desenvolvimento excessivo para os

limites em que precisamos ater-nos. Sabemos, ao demais, que um de nossos

amigos, médico, se propõe a tratá-lo em obra especial sobre a medicina

intuitiva. Diremos apenas que este gênero de mediunidade consiste,

principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples

toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer

medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é do que magnetismo.

Evidentemente, o fluido magnético desempenha aí importante papel; porém,

quem examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que

há mais alguma coisa. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento

seguido, regular e metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de

modo inteiramente diverso.

Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam

conduzir-se convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a

faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar

de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que é o que constitui

a mediunidade, se faz manifesta, em certas circunstâncias, sobretudo se

considerarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser

qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é uma verdadeira

evocação.

Eis aqui as respostas que nos deram os Espíritos às perguntas que lhes

dirigimos sobre este assunto:

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1ª a Podem considerar-se as pessoas dotadas de força magnética como

formando uma variedade de médiuns?

"Não há que duvidar."

2ª Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem;

ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não

parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha.

"É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é

aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxilio. Se

magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom

Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a

tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias."

3ª Há, entretanto, bons magnetizadores que não crêem nos Espíritos?

"Pensas então que os Espíritos só atuam nos que crêem neles? Os que

magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que

nutre o desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo

desejo do mal e pelas más intenções, chama os maus."

4ª Agiria com maior eficácia aquele que, tendo a força magnética, acreditasse

na intervenção dos Espíritos?

"Faria coisas que consideraríeis milagre."

5ª Há pessoas que verdadeiramente possuem o dom de curar pelo simples

contacto, sem o emprego dos passes magnéticos?

"Certamente; não tens disso múltiplos exemplos?"

6ª Nesse caso, há também ação magnética, ou apenas influência dos

Espíritos?

"Uma e outra coisa. Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam

sob a influência dos Espíritos; isso, porém, não quer dizer que sejam quais

médiuns curadores, conforme o entendes."

7ª Pode transmitir-se esse poder?

"O poder, não; mas o conhecimento de que necessita, para exercê-lo, quem o

possua. Não falta quem não suspeite sequer de que tem esse poder, se não

acreditar que lhe foi transmitido."

8ª Podem obter-se curas unicamente por meio da prece?

"Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no entanto, que o bem do

doente esteja em sofrer por mais tempo e então julgais que a vossa prece não

foi ouvida."

9ª Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?

"Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e

somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes

idéias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se

tratando de pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas

puramente espirituais, o uso de determinada fórmula contribua para lhes

infundir confiança. Neste caso, porém, não é na fórmula que está a eficácia,

mas na fé, que aumenta por efeito da idéia ligada ao uso da fórmula."

(KARDEC, 1996, p. 217-218-219, a).

Médiuns curadores: os que têm o poder de curar ou de aliviar o doente, pela

só imposição das mãos, ou pela prece. (KARDEC, 1996, p. 232, a).

"Pode, a uma espécie de loucura cuja causa o mundo desconhece, mas que

não tem relação alguma com a loucura ordinária. Entre os que são tidos por

loucos, muitos há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento

moral, enquanto que com os tratamentos corporais os tornamos verdadeiros

loucos. Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer

essa distinção e curarão mais doentes do que com as duchas. (KARDEC,

1996, p. 323, a).

Médiuns receitistas: têm a especialidade de servirem mais facilmente de

intérpretes aos Espíritos para as prescrições médicas. Importa não os

confundir com os médiuns curadores, visto que absolutamente não fazem

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mais do que transmitir o pensamento do Espírito, sem exercerem por si

mesmos influência alguma. Muito comuns. (KARDEC, 1996, p. 329, a).

Poderia um médico, evocando os Espíritos de seus clientes que morreram,

obter esclarecimentos sobre o que lhes determinou a morte, sobre as faltas

que haja porventura cometido no tratamento deles e adquirir assim um

acréscimo de experiência? "Pode e isso lhe seria muito útil, sobretudo se

conseguisse a assistência de Espíritos esclarecidos, que supririam a falta de

conhecimentos de certos doentes. Mas, para tal, fora mister que ele fizesse

esse estudo de modo sério, assíduo, com um fim humanitário e não como

meio de adquirir, sem trabalho, saber e riqueza. (KARDEC, 1996, p. 391, a).

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Relação de passagens que se refere à cura/doenças e correlatos no

Análise do O Evangelho Segundo o Espiritismo com A explicação das máximas morais do Cristo

em concordância com o Espiritismo e suas aplicações ás diversas circunstâncias da vida.

Data da Primeira Edição: 1864

Classificação adotada : b

Posição: 3º Livro

Edição traduzida para o português utilizada neste trabalho: nº112

Ano: 1996

Tradutor: Guillon Ribeiro

Número de páginas desta edição: 435

Edição atual: 130/2011

Número de Citações:18

Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que

tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom

estado, impossível é que uma parte dele passe bem. (KARDEC, 1996, p. 51,

b).

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos

de todo gênero! (KARDEC, 1996, p. 99, b).

Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há

também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e

que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de

entes queridos e a dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes

que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram

todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as

enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios

de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.

(KARDEC, 1996, p. 101, b).

Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados,

Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que

leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.

(KARDEC, 1996, p. 106, b).

Que remédio, então, prescrever aos atacados de obsessões cruéis e de

cruciantes males? Só um é infalível: a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior

acerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à

vossa cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que

um dia ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os

horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do

presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera

ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que

crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua

eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias

da aflição. (KARDEC, 1996, p. 112, b).

Perguntais se é licito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão

eqüivale a esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de salvar-se?

Aquele em quem um espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente, chamar o

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médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a

paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição

penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de

vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as

conseqüências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na

luta, em se não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca, porém, numa

negligência que seria mais preguiça do que virtude. (KARDEC, 1996, p. 121,

b).

Não enfraqueçais o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem

objetivo, pois que necessitais de todas as vossas forças para cumprirdes a

vossa missão de trabalhar na Terra. Torturar e martirizar voluntariamente o

vosso corpo é coutravir a lei de Deus, que vos dá meios de o sustentar e

fortalecer. Enfraquece-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai,

mas não abuseis,tal a lei. (KARDEC, 1996, p. 121, b).

Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha

as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! que sofrimento,

bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore

e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas

que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão

àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o

céu o olhar e dizei do fundo do coração: "Meu Pai, cura-me, mas faze que

minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja

castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a

brancura que possuía quando a criaste." Após essa prece, meus amigos, que o

bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá,

também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa

abnegação. (KARDEC, 1996, p.157, b).

O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética;

por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-

lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí

decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé,

pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses

singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas

que não passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse

a seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé. (KARDEC,

1996, p. 301, b).

O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e

nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o

espera,a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de

devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se

não chegue a vencer. O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da

fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares,

qualificados outrora de milagres. Repito: a fé é humana e divina. Se todos os

encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se

quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a

que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um

desenvolvimento das faculdades humanas. (KARDEC, 1996, p. 306-307, b).

―Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido‖, diz Jesus a seus

discípulos. Com essa recomendação, prescreve que ninguém se faça pagar

daquilo por que nada pagou. Ora, o que eles haviam recebido gratuitamente

era a faculdade de curar os doentes e de expulsar os demônios, isto é, os

maus Espíritos. Esse dom Deus lhes dera gratuitamente, para alívio dos que

sofrem e como meio de propagação da fé; Jesus, pois, recomendava-lhes que

não fizessem dele objeto de comércio, nem de especulação, nem meio de

vida. (KARDEC, 1996, p. 363, b).

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A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente,

religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição

de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto

de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O

magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-

lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos;

não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada

cobravam pelas curas que operavam. (KARDEC, 1996, p. 367, b).

Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às

leis de Deus e que, se as observássemos pontualmente, seríamos inteiramente

ditosos. Se não ultrapassássemos o limite do necessário, na satisfação das

nossas necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos

excessos, nem experimentaríamos as vicissitudes que as doenças acarretam.

Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de temer a ruína; se não

quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos de recear a queda;

se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; se

praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos,

nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém

fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças, etc. (KARDEC, 1996, p.

374, b).

Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a

sustentálo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe idéias sãs. Ele adquire,

desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao

caminho reto, se deste se afastou. Por esse meio, pode também desviar de si

os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê

arruinada a sua saúde, em consequência de excessos a que se entregou, e

arrasta, até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o direito de

queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois que houvera podido

encontrar na prece a força de resistir às tentações. (KARDEC, 1996, p.474,

b).

PREFÁCIO. As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida

terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade

do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda ordem semeiam

em nós germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais

adiantados, física ou moralmente, o organismo humano, mais depurado e

menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é

minado surdamente pelo corrosivo das paixões.

Temos, assim, de nos resignar às conseqüências do meio onde nos coloca a

nossa inferioridade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é

de molde a impedir que, esperando tal se dê, façamos o que de nós depende

para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, mau grado aos nossos

esforços, não o conseguirmos, o Espiritismo nos ensina a suportar com

resignação os nossos passageiros males.

Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se dissipassem

ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso alcance meios

de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em conformidade com o instinto de

conservação, indica que é dever nosso procurar esses meios e aplicá-los.

A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá a

conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra força

poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Ver, no Cap.

XXVI, a notícia sobre a mediunidade curadora.)

78. Prece. (Para ser dita pelo doente.) - Senhor, pois que és todo justiça, a

enfermidade que te aprouve mandar-me necessariamente eu a merecia, visto

que nunca impões sofrimento algum sem causa. Confio-me, para minha cura,

à tua infinita misericórdia.

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Se for do teu agrado restituir-me a saúde, bendito seja o teu santo nome. Se,

ao contrário, me cumpre sofrer mais, bendito seja ele do mesmo modo.

Submeto-me, sem queixas, aos teus sábios desígnios, porquanto o que fazes

só pode ter por fim o bem das tuas criaturas.

Dá, ó meu Deus, que esta enfermidade seja para mim um aviso salutar e me

leve a refletir sobre a minha conduta. Aceito-a como uma expiação do

passado e como uma prova para a minha fé e a minha submissão à tua santa

vontade. (Veja-se a prece n° 40.) 79. Prece. (Pelo doente.) - Meu Deus, são

impenetráveis os teus desígnios e na tua sabedoria entendeste de afligir a N...

pela enfermidade. Lança, eu te suplico, um olhar de compaixão sobre os seus

sofrimentos e digna-te de pôr-lhes termo.

Bons Espíritos, ministros do Onipotente, secundai, eu vos peço, o meu desejo

de aliviá-lo; encaminhai o meu pensamento, a fim de que vá derramar um

bálsamo salutar em seu corpo e a consolação em sua alma.

Inspirai-lhe a paciência e a submissão à vontade de Deus; dai-lhe a força de

suportar suas dores com resignação cristã, a fim de que não perca o fruto

desta prova. (Veja-se a prece n° 57.)

80. Prece. (Para ser dita pelo médium curador.) -Meu Deus, se te dignas

servir-te de mim, indigno como sou, poderei curar esta enfermidade, se assim

o quiseres, porque em ti deposito fé. Mas, sem ti, nada posso. Permite que os

bons Espíritos me cumulem de seus fluidos benéficos, a fim de que eu os

transmita a esse doente, e livra-me de toda idéia de orgulho e de egoísmo que

lhes pudesse alterar a pureza. (KARDEC, 1996, p. 430-431, b).

A obsessão, como as enfermidades e todas as tribulações da vida, deve ser

considerada prova ou expiação e como tal aceita. (KARDEC, 1996, p. 431,

b).

Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que

tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é

sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito

mau. A causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de

opor uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o

corpo; para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que

necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que

as mais das vezes basta para o livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O

auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em

subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o

livre-arbítrio.

Quase sempre, a obsessão exprime a vingança que um Espírito tira e que com

freqüência se radica nas relações que o obsidiado manteve com ele em

precedente existência. (Veja-se: Cap. X, n° 6; cap. XII, n° 5 e n° 6.)

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e

impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos

salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um

fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação

idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o

fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o

efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário,

sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente, ao qual importa se possa falar

com autoridade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for

esta, tanto maior será igualmente a autoridade.

E não é tudo: para garantir-se a libertação, cumpre induzir o Espírito perverso

a renunciar aos seus maus desígnios; fazer que nele despontem o

arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções habilmente

ministradas, em evocações particulares, objetivando a sua educação moral.

Pode-se então lograr a dupla satisfação de libertar um encarnado e de

converter um Espírito imperfeito.

A tarefa se apresenta mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua

situação, presta o concurso da sua vontade e da sua prece. O mesmo não se

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dá, quando, seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se ilude no tocante às

qualidades daquele que o domina e se compraz no erro em que este último o

lança, visto que, então, longe de secundar, repele toda assistência, É o caso da

fascinação, infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (O

Livro aos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar de quem

haja de atuar sobre o Espírito obsessor. (KARDEC, 1996, p. 432, b).

Observação. - A cura das obsessões graves requer muita paciência,

perseverança e devotamento. Exige também tato e habilidade, a fim de

encaminhar para o bem Espíritos muitas vezes perversos, endurecidos e

astuciosos, porquanto há-os rebeldes ao extremo. Na maioria dos casos,

temos de nos guiar pelas circunstâncias. Qualquer que seja, porém, o caráter

do Espírito, nada se obtém, é isto um fato incontestável pelo constrangimento

ou pela ameaça. Toda influência reside no ascendente moral. Outra verdade

igualmente comprovada pela experiência tanto quanto pela lógica, é a

completa ineficácia dos exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais,

amuletos, talismãs, práticas exteriores, ou quaisquer sinais materiais.

A obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens patológicas e

reclama, por vezes, tratamento simultâneo ou consecutivo, quer magnético,

quer médico, para restabelecer a saúde do organismo. Destruída a causa, resta

combater os efeitos. (Veja-se: O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII -

"Da obsessão". - Revue Spirite, fevereiro e março de 1864; abril de 1865:

exemplos de curas de obsessões.) (KARDEC, 1996, p. 435, b).

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Relação de passagens que se refere à cura/doenças e correlatos no

Análise do livro O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo

Data da Primeira Edição: 1865

Classificação adotada : b

Posição: 4º Livro

Edição traduzida para o português utilizada neste trabalho: nº 40

Ano: 1995

Tradutor: Manuel Justiniano Quintão

Número de páginas desta edição: 425

Edição atual: 60ª/2012

Número de Citações: 8

―Por meio das operações da moderna magia vemos reproduzirem-se no

presente as evocações, as consultas, as curas e os sortilégios que ilustraram os

templos dos ídolos e os antros das sibilas."

(KARDEC, 1995, p. 141, b).

Quanto às curas, reconhecidas como reais na pastoral precitada, o exemplo

está mal selecionado como meio de evitar relações com os Espíritos.

Efetivamente, essas curas são outros tantos benefícios que levam à gratidão e

que todos podem experimentar. Pouca gente estará disposta a renunciar a

elas, mormente depois de haver esgotado outros recursos antes de recorrer ao

diabo. Depois, se o diabo cura, força é confessar que faz uma boa e meritória

ação.

"Quais são os agentes secretos de tais fenômenos, os verdadeiros autores

dessas cenas inexplicáveis? Os anjos, esses não aceitariam papéis indignos,

como também não se prestariam aos caprichos todos da curiosidade." O autor

quer falar das manifestações físicas dos Espíritos, no número das quais

algumas há evidentemente pouco dignas de Espíritos superiores. pois que

assim teremos exatamente o que diz o Espiritismo. Indignas, porém, dos bons

Espíritos, não se pode considerar uma multidão de comunicações dadas pela

escrita, pela palavra, pela audição, etc., pois que tais comunicações seriam e

são dignas dos homens mais eminentes da Terra. O mesmo poderemos dizer

quanto às curas, aparições e um sem-número de fatos que os livros santos

citam em profusão como obra de anjos ou de santos. Se, pois, os anjos e os

santos produziram outrora fenômenos semelhantes, por que não os

produzirão hoje? Por que serem idênticos fatos julgados bruxaria nas mãos de

uns, enquanto nas mãos de outros se reputam santos milagres? Sustentar

semelhante tese é abdicar toda a lógica.

O autor da Pastoral labora em erro quando afirma que tais fenômenos são

inexplicáveis. O que se dá é justamente o contrário, isto é, hoje esses

fenômenos são perfeitamente explicados, tanto que se não consideram mais

como maravilhosos e sobrenaturais. Dado, porém, de barato que assim não

fora, tão lógico seria atribuí-los ao diabo, quanto era lógico noutros tempos

dar a este as honras de todos os fenômenos naturais, cuja causa então se

desconhecia.

Por papéis indignos devemos entender os que visam o mal e o ridículo, a

menos que queiramos qualificar de tal a obra salutar dos bons Espíritos, que

promovem o bem, encaminhando os homens para Deus, pela virtude.

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(KARDEC, 1995, p. 146-147, b).

Nota - Ainda de uma carta de Montauban extraímos a narrativa seguinte:

"Tínhamos ocultado à Sra. G..., médium sonambúlico e vidente muito lúcido

– a morte do Dr. Demeure, em atenção à sua extrema sensibilidade. Sem

dúvida, secundando o nosso intuito, o bom médico também evitou

manifestar-se-lhe. A 10 de fevereiro reunimo-nos a convite dos guias, que

diziam querer aliviar a Sra. G... de uma luxação, em conseqüência da qual

muito sofria desde a véspera. Nada mais sabíamos, e longe estávamos de

pensar na surpresa que nos aguardava. Logo que essa senhora se mediunizou,

começou a soltar gritos lancinantes, mostrando o pé. Eis o que se passava: "A

Sra. G... via um Espírito curvado a seus pés com a fisionomia oculta, a fazer-

lhe fricções e massagens, exercendo de vez em quando uma tração

longitudinal sobre a parte luxada, exatamente como faria qualquer médico. A

operação era tão dolorosa, que a paciente vociferava empregando

movimentos desordenados.

"No entanto, a crise não foi longa e ao fim de uns dez minutos desapareciam

a inflamação e os traços da luxação, retomando o pé a sua aparência normal.

A Sra. G... estava curada! (KARDEC, 1995, p. 205, b).

Pergunta (a S. Luís). Qual a causa de a educação moral dos desencarnados

ser mais fácil que a dos encarnados? As relações pelo Espiritismo

estabelecidas entre homens e Espíritos dão azo a que estes últimos se

corrijam mais rapidamente sob a influência dos conselhos salutares, mais do

que acontece em relação aos encarnados, como se vê na cura das obsessões.

Resposta (Sociedade de Paris) . - O encarnado, em virtude da própria

natureza, está numa luta incessante devido aos elementos contrários de que se

compõe e que devem conduzi-lo ao seu fim providencial, reagindo um sobre

o outro.A matéria facilmente sofre o predomínio de um fluido exterior; se a

alma, com todo o poder moral de que é capaz, não reagir, deixar-se-á

dominar pelo intermediário do seu corpo, seguindo o impulso das influências

perversas que o rodeiam, e isso com facilidade tanto maior quanto os

invisíveis, que a subjugavam, atacam de preferência os pontos mais

vulneráveis, as tendências para a paixão dominante. (KARDEC, 1995, p.293,

b).

Vendo-se um Espírito insensível à ação da prece, será motivo para que se

deixe de orar por ele? - R. Não, porquanto, cedo ou tarde, a prece poderá

triunfar do seu endurecimento, sugerindo-lhe benéficos pensamentos. O

mesmo sucede com certos doentes nos quais a ação medicamentosa só se

torna sensível depois de muito tempo, e vice-versa. Compenetrando-nos bem

de que todos os Espíritos são suscetíveis de progresso, e que nenhum é fatal e

eternamente condenado, fácil nos será compreender a eficácia da prece em

quaisquer circunstâncias. Por mais ineficaz que ela possa parecer-nos à

primeira vista, o certo é que contém germens em si mesma, bastante

benéficos, para bem predisporem o Espírito, quando o não afetem

imediatamente. Erro seria, pois, desanimarmos por não colher dela imediato

resultado. (KARDEC, 1995, p. 342, b).

Este não passou de um pobre israelita de Vilna, falecido em maio de 1865.

Durante 30 anos mendigou com uma salva nas mãos. Por toda a cidade era

bem conhecida aquela voz que dizia: "Lembrai-vos dos pobres, das viúvas e

dos órfãos!" Por essa longa peregrinação Slizgol havia juntado 90.000 rublos,

não guardando, porém, para si um só copeque. Aliviava e curava os

enfermos; pagava o ensino de crianças pobres; distribuía aos necessitados a

comida que lhe davam. (KARDEC, 1995, p. 381, b).

Os dois doentes que curaste são a prova do que te afirmo, pois, no estado em

que estavam, só com remédios nada terias conseguido. Quando implorares

permissão a Deus para que os bons Espíritos te transmitam fluidos benéficos,

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se não sentires um estremecimento involuntário, é que a tua prece não foi

bastante fervorosa para ser ouvida. É só nestas condições que a prece pode

tornar-se valiosa. Nem outra coisa resulta de dizer: "Deus Todo-Poderoso,

Pai de bondade e misericórdia infinita, permiti que os bons Espíritos me

assistam na cura de... Tende piedade dele, Senhor; restitui-lhe a saúde,

porque, sem vós, eu nada posso fazer. Seja feita a vossa vontade." Tens feito

bem em não desdenhar os humildes; a voz daquele que sofreu

resignadamente as misérias desse mundo, é sempre ouvida, e nenhum serviço

deixa jamais de ser recompensado. Agora, uma palavra a meu respeito,

confirmativa do que acima te disse: O Espiritismo te explica a minha

linguagem de Espírito, sem que aliás me seja preciso entrar em minúcias a tal

respeito. Outrossim, julgo inútil falar-te da minha existência anterior.

(KARDEC, 1995, p. 388-389, b).

"Eu vo-lo digo: Antes de tudo, importa dizer que era a segunda vez que eu

expiava a privação da vista. Na minha precedente existência, em princípios

do último século, fiquei cego aos 30 anos, em decorrência de excessos de

todo o gênero que, arruinando-me a saúde, me enfraqueceram o organismo.

Note-se que era já isso uma punição por abuso dos dons providenciais de que

fora largamente cumulado. Ao invés, porém, de me atribuir a causa original

dessa enfermidade, entendi de acusar a Providência, na qual, aliás, pouco

cria. Anatematizei Deus, reneguei-o, acusei-o, acrescentando que, se acaso

existisse, devia ser injusto e mau, por deixar assim penar as criaturas.

Entretanto, eu deveria dar-me ainda por feliz, isento como estava de

mendigar o pão, à feição de tantos outros míseros cegos como eu.

(KARDEC, 1995, p. 423, b).

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Relação de passagens que se refere à cura/doenças e correlatos no

Análise do livro A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo

Data da Primeira Edição: 1868

Classificação adotada : c

Posição: 5º Livro

Edição traduzida para o português utilizada neste trabalho: nº 36

Ano: 1995

Tradutor: Guillon Ribeiro

Número de páginas desta edição: 422

Edição atual: 52ª/2012

Número de Citações: 23

Tais são, entre muitos, os fenômenos da vista dupla, da visão a distância, do

sonambulismo natural e artificial, dos efeitos psíquicos da catalepsia e da

letargia, da presciência, dos pressentimentos, das aparições, das

transfigurações, da transmissão do pensamento, da fascinação, das curas

instantâneas, das obsessões e possessões, etc. Demonstrando que esses

fenômenos repousam em leis naturais, como os fenômenos elétricos, e em

que condições normais se podem reproduzir, o Espiritismo derroca o império

do maravilhoso e do sobrenatural e, conseguintemente, a fonte da maior parte

das superstições. Se faz se creia na possibilidade de certas coisas

consideradas por alguns como quiméricas, também impede que se creia em

muitas outras, das quais ele demonstra a impossibilidade e a irracionalidade.

(KARDEC, 1995, p. 33, c).

Segundo essa maneira de ver, o princípio vital não seria mais do que uma

espécie particular de eletricidade, denominada eletricidade animal, que

durante a vida se desprende pela ação dos órgãos e cuja produção cessa,

quando da morte, por se extinguir tal ação. (KARDEC, 1995, p. 199, c).

As próprias curas instantâneas não são mais milagrosas, do que os outros

efeitos, dado que resultam da ação de um agente fluídico, que desempenha o

papel de agente terapêutico, cujas propriedades não deixam de ser naturais

por terem sido ignoradas até agora. (KARDEC, 1995, p. 266, c).

Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas

palavras, enuncia-se uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso

traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre

o moral. (KARDEC, 1995, p. 287, c).

Manifesta-se em diferentes graus, nos Espíritos encarnados, pelo fenômeno

da segunda vista, tanto no sonambulismo natural ou magnético, quanto no

estado de vigília. Conforme o grau de poder da faculdade, diz-se que a

lucidez é maior ou menor. Com o auxílio dessa faculdade é que certas

pessoas vêem o interior do organismo humano e descrevem as causas das

enfermidades. (KARDEC, 1995, p. 291, c).

Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e

do perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da

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sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios

reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente

propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu

envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma molécula

malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, na razão direta da

pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade

que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e

tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções

daquele que deseje realizar a cura, seja homem ou Espírito. Os fluidos que

emanam de uma fonte impura são quais substâncias medicamentosas

alteradas.

32. - São extremamente variados os efeitos da ação fluídica sobre os doentes,

de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e reclama tratamento

prolongado, como no magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida, como

uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que operam curas

instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da imposição das mãos, ou,

até, exclusivamente por ato da vontade Entre os dois pólos extremos dessa

faculdade, há infinitos matizes. Todas as curas desse gênero são variedades

do magnetismo e só diferem pela intensidade e pela rapidez da ação. O

princípio é sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente

terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à sua qualidade e a

circunstâncias especiais.

33. - A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras: 1º pelo próprio

fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo

humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do

fluido;

2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre

um encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para

provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo

uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja

qualidade está na razão direta das qualidades do Espírito; (1) 3º pelos fluidos

que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para

esse derramamento. É o magnetismo misto, semiespiritual, ou, se o

preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido

espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o

concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes,

provocado por um apelo do magnetizador.

34. - É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode

desenvolver-se por meio do exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela

imposição das mãos, essa é mais rara e o seu grau máximo se deve considerar

excepcional. No entanto, em épocas diversas e no seio de quase todos os

povos, surgiram indivíduos que a possuíam em grau eminente. Nestes últimos

tempos, apareceram muitos exemplos notáveis, cuja autenticidade não sofre

contestação. Uma vez que as curas desse gênero assentam num princípio

natural e que o poder de operá-las não constitui privilégio, o que se segue é

que elas não se operam fora da Natureza e que só são miraculosas na

aparência. (KARDEC, 1995, p. 294-295-296, c).

A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e

todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou

expiação e aceita com esse caráter. (KARDEC, 1995, p. 304, c).

Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o

corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre

sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau, A

uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se

contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortificasse

o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma;

donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si

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próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o

socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão

degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não

raro perde a vontade e o livre-arbítrio. (KARDEC, 1995, p. 305, c).

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e

impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos

salutares e os repele. É daquele fluido que importa desembaraçá-lo, Ora, um

fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de

ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz

expelir um fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.

Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar

sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com

autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral,

Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela. (KARDEC, 1995, p.

305, c).

São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e

não derivam de outra causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também

desordens patológicas, que são meras conseqüências e contra as quais nada

adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária.

Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas,

o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que,

sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência.

(KARDEC, 1995, p. 307, c).

São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são

epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus

Espíritos, é como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito

considerável o número dos indivíduos atacados. (KARDEC, 1995, p. 308, c).

Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo

poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário,

um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não

precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros. Agia por si

mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos

casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais,

ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os

transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia

vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.

(KARDEC, 1995, p. 311, c).

Então, uma mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia; - que

sofrera muito nas mãos dos médicos e que, tendo gasto todos os seus haveres,

nenhum alívio conseguira, - como ouvisse falar de Jesus, veio com a

multidão atrás dele e lhe tocou as vestes, porquanto, dizia: Se eu conseguir ao

menos lhe tocar nas vestes, ficarei curada. - No mesmo instante o fluxo

sangüíneo lhe cessou e ela sentiu em seu corpo que estava curada daquela

enfermidade. Logo, Jesus, conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra,

se voltou no meio da multidão e disse: Quem me tocou as vestes? - Seus

discípulos lhe disseram: Vês que a multidão te aperta de todos os lados e

perguntas quem te tocou? – Ele olhava em torno de si à procura daquela que

o tocara.

A mulher, que sabia o que se passara em si, tomada de medo e pavor, veio

lançar-se-lhe aos pés e lhe declarou toda a verdade. - Disse-lhe Jesus: Minha

filha, tua fé te salvou; vai em paz e fica curada da tua enfermidade. (S.

Marcos, cap. V, vv. 25 a 34.)

Estas palavras: conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, são

significativas. Exprimem o movimento fluídico que se operara de Jesus para

a doente; ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É de

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notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus;

não houve magnetização, nem imposição das mãos. Bastou a irradiação

fluídica normal para realizar a cura.

Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outras

pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão?

É bem simples a razão. Considerado como matéria terapêutica, o fluido tem

que atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido

sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela

confiança, numa palavra: pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica,

o primeiro age como uma bomba calcante e o segundo como uma bomba

aspirante. Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações;

doutras, basta uma só. O segundo caso foi o que ocorreu na circunstância de

que tratamos.

Razão, pois, tinha Jesus para dizer: «Tua fé te salvou.» Compreende-se que a

fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem, muitas

pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a

possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma

força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, também, se compreende

que, apresentando-se ao curador dois doentes da mesma enfermidade, possa

um ser curado e outro não. É este um dos mais importantes princípios da

mediunidade curadora e que explica certas anomalias aparentes, apontando

lhes uma causa muito natural. (KARDEC, 1995, p. 315-316, c).

Tendo chegado a Betsaida, trouxeram-lhe um cego e lhe pediam que o

tocasse. Tomando o cego pela mão, ele o levou para fora do burgo, passou-

lhe saliva nos olhos e, havendo-lhe imposto as mãos, lhe perguntou se via

alguma coisa. – O homem, olhando; disse: Vejo a andar homens que me

parecem árvores. - Jesus lhe colocou de novo as mãos sobre os olhos e ele

começou a ver melhor. Afinal, ficou tão perfeitamente curado, que via

distintamente todas as coisas. - Ele o mandou para casa, dizendo-lhe: Vai

para tua casa; se entrares no burgo, a ninguém digas o que se deu contigo. (S.

Marcos, cap. VIII, vv. 22 a 26.)

Aqui, é evidente o efeito magnético; a cura não foi instantânea, porém

gradual e conseqüente a uma ação prolongada e reiterada, se bem que mais

rápida do que na magnetização ordinária. A primeira sensação que o homem

teve foi exatamente a que experimentam os cegos ao recobrarem a vista. Por

um efeito de óptica, os objetos lhes parecem de tamanho exagerado.

Tendo subido para uma barca, Jesus atravessou o lago e veio à sua cidade

(Cafarnaum). - Como lhe apresentassem um paralítico deitado em seu leito,

Jesus, notando-lhe a fé, disse ao paralítico: Meu filho, tem confiança;

perdoados te são os teus pecados.

Logo alguns escribas disseram entre si: Este homem blasfema. - Jesus, tendo

percebido o que eles pensavam, perguntou-lhes: Por que alimentais maus

pensamentos em vossos corações? - Pois, que é mais fácil dizer: - Teus

pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais

que o Filho do homem tem na Terra o poder de remitir os pecados: Levanta-

te, disse então ao paralítico, toma o teu leito e vai para tua casa.

O paralítico se levantou imediatamente e foi para sua casa. Vendo aquele

milagre, o povo se encheu de temor e rendeu graças a Deus, por haver

concedido tal poder aos homens.

Que significariam aquelas palavras: «Teus pecados te são remitidos» e em

que podiam elas influir para a cura? O Espiritismo lhes dá a explicação, como

a uma infinidade de outras palavras incompreendidas até hoje. Por meio da

pluralidade das existências, ele ensina que os males e aflições da vida são

muitas vezes expiações do passado, bem como que sofremos na vida presente

as conseqüências das faltas que cometemos em existência anterior e, assim,

até que tenhamos pago a dívida de nossas imperfeições, pois que as

existências são solidárias umas com as outras. Se, portanto, a enfermidade

daquele homem era uma expiação do mal que ele praticara, o dizer-lhe Jesus:

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«Teus pecados te são remitidos» equivalia a dizer-lhe: «Pagaste a tua dívida;

a fé que agora possuís elidiu a causa da tua enfermidade; conseguintemente,

mereces ficar livre dela.» Daí o haver dito aos escribas: «Tão fácil é dizer:

Teus pecados te são perdoados, como: Levanta-te e anda.» Cessada a causa, o

efeito tem que cessar. É precisamente o caso do encarcerado a quem se

declara: «Teu crime está expiado e perdoado», o que eqüivaleria a se lhe

dizer: «Podes sair da prisão.»

Um dia, indo ele para Jerusalém, passava pelos confins da Samaria e da

Galiléia - e, estando prestes a entrar numa aldeia, dez leprosos vieram ao seu

encontro e, conservando-se afastados, clamaram em altas vozes: Jesus,

Senhor nosso, tem piedade de nós. - Dando com eles, disse-lhes Jesus: Ide

mostrar-vos aos sacerdotes.

Quando iam a caminho, ficaram curados.

Um deles, vendo-se curado, voltou sobre seus passos, glorificando a Deus em

altas vozes; - e foi lançar-se aos pés de Jesus, com o rosto em terra, a lhe

render graças. Esse era samaritano.

Disse então Jesus: Não foram curados todos dez? Onde estão os outros nove?

- Nenhum deles houve que voltasse e glorificasse a Deus, a não ser este

estrangeiro? -

E disse a esse: Levanta-te; vai; tua fé te salvou. (S. Lucas, capítulo XVII, vv.

11 a 19.)

Os samaritanos eram cismáticos, mais ou menos como os protestantes com

relação aos católicos, e os judeus os tinham em desprezo, como heréticos.

Curando indistintamente os judeus e os samaritanos, dava Jesus, ao mesmo

tempo, uma lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que só o

samaritano voltara a glorificar a Deus, mostrava que havia nele maior soma

de verdadeira fé e de reconhecimento, do que nos que se diziam ortodoxos.

Acrescentando: «Tua fé te salvou», fez ver que Deus considera o que há no

âmago do coração e não a forma exterior da adoração. Entretanto, também os

outros tinham sido curados. Fora mister que tal se verificasse, para que ele

pudesse dar a lição que tinha em vista e tornar-lhes evidente a ingratidão.

Quem sabe, porém, o que daí lhes haja resultado; quem sabe se eles terão se

beneficiado da graça que lhes foi concedida? Dizendo ao samaritano: «Tua fé

te salvou», dá Jesus a entender que o mesmo não aconteceu aos outros.

Doutra vez entrou Jesus no templo e aí encontrou um homem que tinha seca

uma das mãos. - E eles o observavam para ver se ele o curaria em dia de

sábado, para terem um motivo de o acusar. - Então, disse ele ao homem que

tinha a mão seca:

Levanta-te e coloca-te ali no meio. - Depois, disse-lhes: É permitido em dia

de sábado fazer o bem ou mal, salvar a vida ou tirá-la? Eles permaneceram

em silêncio. - Ele, porém, encarando-os com indignação, tanto o afligia a

dureza de seus corações, disse

ao homem: Estende a tua mão. Ele a estendeu e ela se tornou sã.

Logo os fariseus saíram e se reuniram contra ele em conciliábulo com os

herodianos, sobre o meio de o perderem. - Mas, Jesus se retirou com seus

discípulos para o mar, acompanhando-o grande multidão de povo da Galiléia

e da Judéia – de Jerusalém, da Iduméia e de além Jordão; e os das cercanias

de Tiro e de Sídon, tendo ouvido falar das coisas que ele fazia, vieram em

grande número ao seu encontro. (S. Marcos, cap. III, vv. 1 a 8.)

(KARDEC, 1995, p. 318-319-320, c).

Todos os dias de sábado Jesus ensinava numa sinagoga. - Um dia, viu ali uma

mulher possuída de um Espírito que a punha doente, havia dezoito anos; era

tão curvada, que não podia olhar para cima. - Vendo-a, Jesus a chamou e lhe

disse: Mulher, estás livre da tua enfermidade. - Impôs-lhe ao mesmo tempo

as mãos e ela, endireitando-se, rendeu graças a Deus.

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Mas, o chefe da sinagoga, indignado por haver Jesus feito uma cura em dia

de sábado, disse ao povo: Há seis dias destinados ao trabalho; vinde nesses

dias para serdes curados e não nos dias de sábado.

O Senhor, tomando a palavra, disse-lhe: Hipócrita, qual de vós não solta da

carga o seu boi ou seu jumento em dia de sábado e não o leva a beber? - Por

que então não se deveria libertar, em dia de sábado, dos laços que a

prendiam, esta filha de Abraão, que Satanás conservara atada durante dezoito

anos?

A estas palavras, todos os seus adversários ficaram confusos e todo o povo

encantado de vê-lo praticar tantas ações gloriosas. (S. Lucas, cap. XIII, vv. 10

a 17.) Este fato prova que naquela época a maior parte das enfermidades era

atribuída ao demônio e que todos confundiam, como ainda hoje, os possessos

com os doentes, mas em sentido inverso, isto é, hoje, os que não acreditam

nos maus Espíritos confundem as obsessões com as moléstias patológicas.

Depois disso, tendo chegado a festa dos judeus, Jesus foi a Jerusalém. - Ora,

havia em Jerusalém a piscina das ovelhas, que se chama em hebreu Betesda,

a qual tinha cinco galerias - onde, em grande número, se achavam deitados

doentes, cegos, coxos e os que tinham ressecados os membros, todos à espera

de que as águas fossem agitadas - Porque, o anjo do Senhor, em certa época,

descia àquela piscina e lhe movimentava a água e aquele que fosse o primeiro

a entrar nela, depois de ter sido movimentada a água, ficava curado, qualquer

que fosse a sua doença.

Ora, estava lá um homem que se achava doente havia trinta e oito anos. -

Jesus, tendo-o visto deitado e sabendo-o doente desde longo tempo,

perguntou-lhe: Queres ficar curado? - O doente respondeu: Senhor, não tenho

ninguém que me lance na piscina depois que a água for movimentada; e,

durante o tempo que levo para chegar lá, outro desce antes de mim. - Disse-

lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e vai-te. - No mesmo instante o homem

se achou curado e, tomando de seu leito, pôs-se a andar. Ora, aquele dia era

um sábado.

Disseram então os judeus ao que fora curado: Não te é permitido levares o

teu leito. - Respondeu o homem: Aquele que me curou disse: Toma o teu

leito e anda. - Perguntaram-lhe eles então: Quem foi esse que te disse: Toma

o teu leito e anda? - Mas, nem mesmo o que fora curado sabia quem o curara,

porquanto Jesus se retirara

do meio da multidão que lá estava.

Depois, encontrando aquele homem no templo, Jesus lhe disse: Vês que foste

curado; não tornes de futuro a pecar, para que te não aconteça coisa pior.

O homem foi ter com os judeus e lhes disse que fora Jesus quem o curara. –

Era por isso que os judeus perseguiam a Jesus, porque ele fazia essas coisas

em dia de sábado. - Então, Jesus lhes disse: Meu Pai não cessa de obrar até ao

presente e eu também obro incessantemente. (S. João, cap. V, vv. 1 a 17.)

«Piscina» (da palavra latina piscis, peixe), entre os romanos, eram chamados

os reservatórios ou viveiros onde se criavam peixes. Mais tarde, o termo se

tornou extensivo aos tanques destinados a banhos em comum. A piscina de

Betesda, em Jerusalém, era uma cisterna, próxima ao Templo, alimentada por

uma fonte natural, cuja água parece ter tido propriedades curativas. Era, sem

dúvida, uma fonte intermitente que, em certas épocas, jorrava com força,

agitando a água. Segundo a crença vulgar, esse era o momento mais propício

às curas. Talvez que, na realidade, ao brotar da fonte a água, mais ativas

fossem as suas propriedades, ou que a agitação que o jorro produzia na água

fizesse vir à tona a vasa salutar para algumas moléstias. Tais efeitos são

muito naturais e perfeitamente conhecidos hoje; mas, então, as ciências

estavam pouco adiantadas e à maioria dos fenômenos incompreendidos se

atribuíam uma causa sobrenatural. Os judeus, pois, tinham a agitação da água

como devida à presença de um anjo e tanto mais fundadas lhes pareciam

essas crenças, quanto viam que, naquelas ocasiões, mais curativa se mostrava

a água.

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Depois de haver curado aquele paralítico, disse-lhe Jesus: «Para o futuro não

tornes a pecar, a fim de que não te aconteça coisa pior.» Por essas palavras,

deu-lhe a entender que a sua doença era uma punição e que, se ele não se

melhorasse, poderia vir a ser de novo punido e com mais rigor, doutrina essa

inteiramente conforme à do Espiritismo.

Jesus como que fazia questão de operar suas curas em dia de sábado, para ter

ensejo de protestar contra o rigorismo dos fariseus no tocante à guarda desse

dia. Queria mostrar-lhes que a verdadeira piedade não consiste na

observância das práticas exteriores e das formalidades; que a piedade está nos

sentimentos do coração. Justificava-se, declarando: «Meu Pai não cessa de

obrar até ao presente e eu também obro incessantemente.» Quer dizer: Deus

não interrompe suas obras, nem sua ação sobre as coisas da Natureza, em dia

de sábado. Ele não deixa de fazer que se produza tudo quanto é necessário à

vossa alimentação e à vossa saúde; eu lhe sigo o exemplo.

Ao passar, viu Jesus um homem que era cego desde que nascera; - e seus

discípulos lhe fizeram esta pergunta: Mestre, foi pecado desse homem, ou

dos que o puseram no mundo, que deu causa a que ele nascesse cego? - Jesus

lhes respondeu:

Não é por pecado dele, nem dos que o puseram no mundo; mas, para que nele

se patenteiem as obras do poder de Deus. É preciso que eu faça as obras

daquele que me enviou, enquanto é dia; vem depois a noite, na qual ninguém

pode fazer obras. – Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.

Tendo dito isso, cuspiu no chão e, havendo feito lama com a sua saliva, ungiu

com essa lama os olhos do cego - e lhe disse: Vai lavar-te na piscina de Siloé,

que significa Enviado. Ele foi, lavou-se e voltou vendo claro.

Seus vizinhos e os que o viam antes a pedir esmolas diziam: Não é este o que

estava assentado e pedia esmola? Uns respondiam: É ele; outros diziam: Não,

é um que se parece com ele. O homem, porém, lhes dizia: Sou eu mesmo. -

Perguntaram-lhe então: Como se te abriram os olhos? - Ele respondeu:

Aquele homem que se chama Jesus fez um pouco de lama e passou nos meus

olhos, dizendo: Vai à piscina de Siloé

e lava-te. Fui, lavei-me e vejo. - Disseram--lhe: Onde está ele? Respondeu o

homem: Não sei. Levaram então aos fariseus o homem que estivera cego. -

Ora, fora num dia de sábado que Jesus fizera aquela lama e lhe abrira os

olhos.

Também os fariseus o interrogaram para saber como recobrara a vista. Ele

lhes disse: Ele me pôs lama nos olhos, eu me lavei e vejo. - Ao que alguns

fariseus retrucaram: Esse homem não é enviado de Deus, pois que não guarda

o sábado. Outros, porém, diziam: Como poderia um homem mau fazer

prodígios tais? Havia, a propósito, dissensão entre eles. Disseram de novo ao

que fora cego: E tu, que dizes desse homem que te abriu os olhos? Ele

respondeu: Digo que é um profeta. - Mas, os judeus não acreditaram que

aquele homem houvesse estado cego e que houvesse recobrado a vista,

enquanto não fizeram vir o pai e a mãe dele - e os interrogaram assim: É este

o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora vê? - O pai

e a mãe responderam: Sabemos que esse é nosso filho e que nasceu cego; -

não sabemos, porém, como agora vê e tampouco sabemos quem lhe abriu os

olhos. Interrogai-o; ele já tem idade, que responda por si mesmo. Seu pai e

sua mãe falavam desse modo, porque temiam os judeus, visto que estes já

haviam resolvido em comum que quem quer que reconhecesse a Jesus como

sendo o Cristo seria expulso da sinagoga. - Foi o que obrigou o pai e a mãe

do rapaz a responderem: Ele já tem idade; interrogai-o. Chamaram segunda

vez o homem que estivera cego e lhe disseram: Glorifica a Deus; sabemos

que esse homem é um pecador. Ele lhes respondeu: Se é um pecador, não sei,

tudo o que sei é que estava cego e agora vejo. - Tornaram a perguntar-lhe:

Que te fez ele e como te abriu os olhos? - Respondeu o homem: Já vo-lo

disse e bem o ouvistes; por que quereis ouvi-lo segunda vez? Será que

queirais tornar-vos seus discípulos? - Ao que eles o carregaram de injúrias e

lhe disseram: Sê tu seu discípulo; quanto a nós, somos discípulos de Moisés.

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- Sabemos que Deus falou a Moisés, ao passo que este não sabemos donde

saiu.

O homem lhes respondeu: É de espantar que não saibais donde ele é e que ele

me tenha aberto os olhos. - Ora, sabemos que Deus não exalça os pecadores;

mas, àquele que o honre e faça a sua vontade, a esse Deus exalça. - Desde

que o mundo existe, jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a

um cego de nascença.

- Se esse homem não fosse um enviado de Deus, nada poderia fazer de tudo o

que tem feito.

Disseram-lhe os fariseus: Tu és todo pecado, desde o ventre de tua mãe, e

queres ensinar-nos a nós? E o expulsaram. (S. João, cap. IX, vv. 1 a 34.) 25. -

Esta narrativa, tão simples e singela, traz em si evidente o cunho da

veracidade. Nada aí há de fantasista, nem de maravilhoso. É um cena da vida

real apanhada em flagrante. A linguagem do cego é exatamente a desses

homens simples, nos quais o bom-senso supre a falta de saber e que retrucam

com bonomia aos argumentos de seus adversários, expendendo razões a que

não faltam justeza, nem oportunidade. O tom dos fariseus, por outro lado, é o

dos orgulhosos que nada admitem acima de suas inteligências e que se

enchem de indignação à só idéia de que um homem do povo lhes possa fazer

observações. Afora a cor local dos nomes, dir-se-ia ser do nosso tempo o

fato.

Ser expulso da sinagoga eqüivalia a ser posto fora da Igreja. Era uma espécie

de excomunhão. Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo de acordo com o

progresso das luzes atuais, são tratados como os judeus que reconheciam em

Jesus o Messias. Excomungando-os, a Igreja os põe fora de seu seio, como

fizeram os escribas e os fariseus com os seguidores do Cristo. Assim, aí está

um homem que é expulso porque não pode admitir seja um possesso do

demônio aquele que o curara e porque rende graças a Deus pela sua cura!

Não é o que fazem com os espíritas? Obter dos Espíritos salutares conselhos,

a reconciliação com Deus e com o bem, curas, tudo isso é obra do diabo e

sobre os que isso conseguem lança-se anátema. Não se têm visto padres

declararem, do alto do púlpito, que é melhor uma pessoa conservar-se

incrédula do que recobrar a fé por meio do Espiritismo? Não há os que dizem

a doentes que estes não deviam ter procurado curar-se com os espíritas que

possuem esse dom, porque esse dom é satânico? Não há os que pregam que

os necessitados não devem aceitar o pão que os espíritas distribuem, por ser

do diabo esse pão? Que outra coisa diziam ou faziam os padres judeus e os

fariseus? Aliás, fomos avisados de que tudo hoje tem que se passar como ao

tempo do Cristo.

A pergunta dos discípulos: Foi algum pecado deste homem que deu causa a

que ele nascesse cego? revela que eles tinham a intuição de uma existência

anterior, pois, do contrário, ela careceria de sentido, visto que um pecado

somente pode ser causa de uma enfermidade de nascença, se cometido antes

do nascimento, portanto, numa existência anterior. Se Jesus considerasse

falsa semelhante idéia, ter-lhes-ia dito: «Como houvera este homem podido

pecar antes de ter nascido?» Em vez disso, porém, diz que aquele homem

estava cego, não por ter pecado, mas para que nele se patenteasse o poder de

Deus, isto é, para que servisse de instrumento a uma manifestação do poder

de Deus. Se não era uma expiação do passado, era uma provação apropriada

ao progresso daquele Espírito, porquanto Deus, que é justo, não lhe imporia

um sofrimento sem utilidade.

Quanto ao meio empregado para a sua cura, evidentemente aquela espécie de

lama feita de saliva e terra nenhuma virtude podia encerrar, a não ser pela

ação do fluido curativo de que fora impregnada. É assim que as mais

insignificantes substâncias, como a água, por exemplo, podem adquirir

qualidades poderosas e efetivas, sob a ação do fluido espiritual ou magnético,

ao qual elas servem de veículo, ou, se quiserem, de reservatório.

Jesus ia por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho

do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio do

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povo. - Tendo-se a sua reputação espalhado por toda a Síria; traziam-lhe os

que estavam doentes e afligidos por dores e males diversos, os possessos, os

lunáticos, os paralíticos e ele a todos curava. - Acompanhava-o grande

multidão de povo da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de

além Jordão. (S. Mateus, cap. IV, vv. 23, 24, 25.)

De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos

são, não há contestar, as curas. Queria ele provar dessa forma que o

verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e

não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas

extraordinárias.

Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia

prosélitos mais numerosos e sinceros, do que se apenas os maravilhasse com

espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se amado, ao passo que se se

limitasse a produzir surpreendentes fatos materiais, conforme os fariseus

reclamavam, a maioria das pessoas não teria visto nele senão um feiticeiro,

ou um mágico hábil, que os desocupados iriam apreciar para se distraírem.

Assim, quando João Batista manda, por seus discípulos, perguntar-lhe se ele

era o Cristo, a sua resposta não foi: «Eu o sou», como qualquer impostor

houvera podido dizer. Tampouco lhes fala de prodígios, nem de coisas

maravilhosas; responde-lhes simplesmente: «Ide dizer a João: os cegos vêem,

os doentes são curados, os surdos ouvem, o Evangelho é anunciado aos

pobres.» O mesmo era que dizer: «Reconhecei-me pelas minhas obras; julgai

da árvore pelo fruto», porquanto era esse o verdadeiro caráter da sua missão

divina.

O Espiritismo, igualmente, pelo bem que faz é que prova a sua missão

providencial. Ele cura os males físicos, mas cura, sobretudo, as doenças

morais e são esses os maiores prodígios que lhe atestam a procedência. Seus

mais sinceros adeptos não são os que se sentem tocados pela observação de

fenômenos extraordinários, mas os que dele recebem a consolação para suas

almas; os a quem liberta das torturas da dúvida; aqueles a quem levantou o

ânimo na aflição, que hauriram forças na certeza, que lhes trouxe, acerca do

futuro, no conhecimento do seu ser espiritual e de seus destinos. Esses os de

fé inabalável, porque sentem e compreendem.

Os que no Espiritismo unicamente procuram efeitos materiais, não lhe podem

compreender a força moral. Daí vem que os incrédulos, que apenas o

conhecem através de fenômenos cuja causa primária não admitem,

consideram os espírita". meros prestidigitadores e charlatães. Não será, pois,

por meio de prodígios que o Espiritismo triunfará da incredulidade será pela

multiplicação dos seus benefícios morais, porquanto, se é certo que os

incrédulos não admitem os prodígios, não menos certo é que conhecem,

como toda gente, o sofrimento e as aflições e ninguém recusa alívio e

consolação.

Vieram em seguida a Cafarnaum e Jesus, entrando primeiramente, em dia de

sábado, na sinagoga, os instruía. - Admiravam-se da sua doutrina, porque ele

os instruía como tendo autoridade e não como os escribas.

Ora, achava-se na sinagoga um homem possesso de um Espírito impuro, que

exclamou: - Que há entre ti e nós, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder?

Sei quem és: és o santo de Deus. - Jesus, porém, falando-lhe

ameaçadoramente, disse: Cala-te e sai desse homem. - Então, o Espírito

impuro, agitando o homem em violentas convulsões, saiu dele.

Ficaram todos tão surpreendidos que uns aos outros perguntavam: Que é

isto? Que nova doutrina é esta? Ele dá ordem com império, até aos Espíritos

impuros, e estes lhe obedecem. (S. Marcos, cap. I, vv. 21 a 27.) 30. - Tendo

eles saído, apresentaram-lhe um homem mudo, possesso do demônio. -

Expulso o demônio o mudo falou e o povo, tomado de admiração, dizia:

Jamais se viu coisa semelhante em Israel.

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Mas os fariseus, ao contrário, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele

expele os demônios. (S. Mateus, capítulo IX, vv. 32 a 34.)

Quando ele foi vindo ao lugar onde estavam os outros discípulos, viu em

torno destes uma grande multidão de pessoas e muitos escribas que com eles

disputavam. - Logo que deu com Jesus, todo o povo se tomou de espanto e

temor e correram todos a saudá-lo.

Perguntou ele então: Sobre que disputáveis em assembléia? - Um homem, do

meio do povo, tomando a palavra, disse: Mestre, trouxe-te meu filho, que está

possesso de um Espírito mudo; - em todo lugar onde dele se apossa, atira-o

por terra e o menino espuma, rilha os dentes e se torna todo seco. Pedi a teus

discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.

Disse-lhes Jesus: Oh! gente incrédula, até quando estarei convosco? Até

quando vos suportarei? Trazei-mo. - Trouxeram-lho e ainda não havia ele

posto os olhos em Jesus, e o Espírito entrou a agitá-lo violentamente; ele caiu

no chão e se pôs a rolar espumando.

Jesus perguntou ao pai do menino: Desde quando isto lhe sucede? – Desde

pequenino, diz o pai. - E o Espírito o tem lançado, muitas vezes, ora à água,

ora ao fogo, para fazê-lo perecer; se alguma coisa puderes, tem compaixão de

nós e socorrenos.

Respondeu-lhe Jesus: Se puderes crer, tudo é possível àquele que crê. – Logo

exclamou o pai do menino, banhado em lágrimas: Senhor, creio, ajuda-me na

minha incredulidade.

Jesus, vendo que o povo acorria em multidão, falou em tom de ameaça ao

Espírito impuro, dizendo-lhe: Espírito surdo e mudo sai desse menino e não

entres mais nele. – Então, o Espírito, soltando grande grito e agitando o

menino em violentas convulsões, saiu, ficando como morto o menino, de

sorte que muitos diziam que ele morrera. – Mas Jesus, tomando-lhe as mãos e

amparando-o, fê-lo levantar-se. Quando Jesus voltou para casa, seus

discípulos lhe perguntaram, em particular: Por que não pudemos nós expulsar

esse demônio? - Ele respondeu: Os demônios desta espécie não podem ser

expulsos senão pela prece e pelo jejum. (S. Marcos, cap. IX, vv. 13 a 28.)

Apresentaram-lhe então um possesso cego e mudo e ele o curou, de modo

que o possesso começou a falar e a ver: - Todo o povo ficou presa de

admiração e dizia: Não é esse o filho de David?

Mas os fariseus, isso ouvindo, diziam: Este homem expulsa os demônios com

o auxílio de Belzebu, príncipe dos demônios.

Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino que se dividir

contra si mesmo será arruinado e toda cidade ou casa que se divide contra si

mesma não pode subsistir. - Se Satanás expulsa a Satanás, ele está dividido

contra si mesmo, como, pois, o seu reino poderá subsistir? - E, se é por

Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsarão vossos filhos?

Por isso, eles próprios serão os vossos juizes. - Se eu expulso os demônios

pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós. (S. Mateus, cap.

XII, 22 a 28.)

Com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais numerosos

atos de Jesus. Alguns há, entre os fatos dessa natureza, como os acima

narrados, no nº 30, em que a possessão não é evidente. Provavelmente,

naquela época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos

demônios todas as enfermidades cuja causa se não conhecia, principalmente a

mudez, a epilepsia e a catalepsia. Outros há, todavia, em que nada tem de

duvidosa a ação dos maus Espíritos, casos esses que guardam com os de que

somos testemunhas tão frisante analogia, que neles se reconhecem todos os

sintomas de tal gênero de afecção. A prova da participação de uma

inteligência oculta, em tal caso, ressalta de um fato material: são as múltiplas

curas radicais obtidas, nalguns centros espíritas, pela só evocação e

doutrinação dos Espíritos obsessores, sem magnetização, nem medicamentos

e, muitas vezes, na ausência do paciente e a grande distância deste. A imensa

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superioridade do Cristo lhe dava tal autoridade sobre os Espíritos imperfeitos,

chamados então demônios, que lhe bastava ordenar se retirassem para que

não pudessem resistir a essa injunção. (Cap. XIV, nº 46.)

O fato de serem alguns maus Espíritos mandados meter-se em corpos de

porcos é o que pode haver de menos provável. Aliás, seria difícil explicar a

existência de tão numeroso rebanho de porcos num país onde esse animal era

tido em horror e nenhuma utilidade oferecia para a alimentação. Um Espírito,

porque mau, não deixa de ser um Espírito humano, embora tão imperfeito

que continue a fazer mal, depois de desencarnar, como o fazia antes, e é

contra todas as leis da Natureza que lhe seja possível fazer morada no corpo

de um animal. No fato, pois, a que nos referimos, temos que reconhecer a

existência de uma dessas ampliações tão comuns nos tempos de ignorância e

de superstição; ou, então, será uma alegoria destinada a caracterizar os

pendores imundos de certos Espíritos.

35. - Parece que, ao tempo de Jesus, eram em grande número, na Judéia, os

obsidiados e os possessos, donde a oportunidade que ele teve de curar a

muitos. Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e

causado uma epidemia de possessões. (Cap. XlV, nº 49.) Sem apresentarem

caráter epidêmico, as obsessões individuais são muitíssimo freqüentes e se

apresentam sob os mais variados aspectos que, entretanto, por um

conhecimento amplo do Espiritismo, facilmente se descobrem. Podem, não

raro, trazer conseqüências danosas à saúde, seja agravando afecções

orgânicas já existentes, seja ocasionando-as. Um dia, virão a ser,

incontestavelmente, arroladas entre as causas patológicas que requerem pela

sua natureza especial, especiais meios de tratamento. Revelando a causa do

mal, o Espiritismo rasga nova senda à arte de curar e fornece à Ciência eio de

alcançar êxito onde até hoje quase sempre vê malogrados seus esforços, pela

razão de não atender à primordial causa do mal. (O Livro dos Médiuns, 2ª

Parte, cap. XXIII.)

Os fariseus diziam que por influência dos demônios é que Jesus expulsava os

demônios; segundo eles, o bem que Jesus fazia era obra de Satanás; não

refletiam que, se Satanás expulsasse a si mesmo, praticaria rematada

insensatez. É de notar-se que os fariseus daquele tempo já pretendessem que

toda faculdade transcendente e, por esse motivo, reputada sobrenatural, era

obra do demônio, pois que, na opinião deles, era do demônio que Jesus

recebia o poder de que dispunha. É esse mais um ponto de semelhança

daquela com a época atual e tal doutrina é ainda a que a Igreja procura fazer

que prevaleça hoje, contra as manifestações espíritas.

(KARDEC, 1995, p. 320á 330, c).

Tendo Jesus passado novamente, de barca, para a outra margem, logo que

desembarcou, grande multidão se lhe apinhou ao derredor. Então, um chefe

de sinagoga, chamado Jairo, veio ao seu encontro e, ao aproximar-se dele, se

lhe lançou aos pés, - a suplicar com grande instância, dizendo: Tenho urna

filha que está no momento extremo; vem impor-lhe as mãos para a curar e lhe

salvar a vida.

Jesus foi com ele, acompanhado de grande multidão, que o comprimia.

Quando Jairo ainda falava, vieram pessoas que lhe eram subordinadas e lhe

disseram: Tua filha está morta; por que hás de dar ao Mestre o incômodo de

ir mais longe? - Jesus, porém, ouvindo isso, disse ao chefe da sinagoga: Não

te aflijas, crê apenas. - E a ninguém permitiu que o acompanhasse, senão a

Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.

Chegando a casa do chefe da sinagoga, viu ele uma aglomeração confusa de

pessoas que choravam e soltavam grandes gritos. - Entrando, disse-lhes ele:

Por que fazeis tanto alarido e por que chorais? Esta menina não está morta,

está apenas adormecida. - Zombavam dele. Tendo feito que toda a gente

saísse, chamou o pai emãe da menina e os que tinham vindo em sua

companhia e entrou no lugar onde a menina se achava deitada. - Tomou-lhe a

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mão e disse: Talitha cumi, isto é: Minha filha, levanta-te, eu to ordeno. - No

mesmo instante a menina se levantou e se pôs a andar, pois contava doze

anos, e ficaram todos maravilhados e espantados. (S. Marcos, cap. V, vv. 21 a

43.)

No dia seguinte, dirigiu-se Jesus para uma cidade chamada Naim;

acompanhavam-no seus discípulos e grande multidão de povo. - Quando

estava perto

da porta da cidade, aconteceu que levavam a sepultar um morto, que era filho

único de sua mãe e essa mulher era viúva; estava com ela grande número de

pessoas da cidade. - Tendo-a visto, o Senhor se tomou de compaixão para

com ela e lhe disse: Não chores. - Depois, aproximando-se, tocou o esquife e

os que o conduziam pararam. Então, disse ele: Mancebo, levanta-te, eu o

ordeno. - Imediatamente, o moço se sentou e começou a falar. E Jesus o

restituiu à sua mãe. Todos os que estavam presentes ficaram tomados de

espanto e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta surgiu entre nós

e Deus visitou o seu povo. – O rumor desse milagre que ele fizera se

espalhou por toda a Judéia e por todas as regiões circunvizinhas. (S. Lucas,

cap. VII, vv. 11 a 17.)

Contrário seria às leis da Natureza e, portanto, milagroso, o fato de voltar à

vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto. Ora, não há

mister se recorra a essa ordem de fatos, para ter-se a explicação das

ressurreições que Jesus operou.

Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam por vezes os profissionais,

quão mais freqüentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num

país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde o sepultamento

era imediato (1). É, pois, de todo ponto provável que, nos dois casos acima,

apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara positivamente,

com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse ele, não está morta, está

apenas adormecida. Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso

há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja

reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o

Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda se não

rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam

morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos

tais; mas, o que na realidade havia era rara e não ressurreição, na acepção

legítima do termo.

A ressurreição de Lázaro, digam o que disserem, de nenhum modo infirma

este princípio. Ele estava, dizem, havia quatro dias no sepulcro; sabe-se,

porém, que há letargias que duram oito dias e até mais. Acrescentam que já

cheirava mal, o que é sinal de decomposição. Esta alegação também nada

prova, dado que em certos indivíduos há decomposição parcial do corpo,

mesmo antes da morte, havendo em tal caso cheiro de podridão. A morte só

se verifica quando são atacados os órgãos essenciais à vida. E quem podia

saber que Lázaro já cheirava mal? Foi sua irmã Maria quem o disse. Mas,

como o sabia ela? Por haver já quatro dias que Lázaro fora enterrado, ela o

supunha; nenhuma certeza, entretanto, podia ter. (Cap. XlV, nº 29.) (1)

(KARDEC, 1995, p. 331 à 334, c).

3. - (Após a cura do lunático) - Todos ficaram admirados do grande poder de

Deus. E, estando todos presa de admiração pelo que Jesus fazia, disse ele a

seus discípulos: Guardai bem nos vossos corações o que vos vou dizer. O

Filho do homem tem que ser entregue às mãos dos homens. - Eles, porém,

não entendiam essa linguagem; ela lhes era de tal modo oculta que nada

compreendiam daquilo e temiam mesmo interrogá-lo a respeito. (S. Lucas,

cap. IX, vv. 44 e 45.) 4. - A partir de então, começou Jesus a revelar a seus

discípulos que tinha de ir a Jerusalém; que aí tinha de sofrer muito da parte

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dos senadores, dos escribas e dos príncipes dos sacerdotes; que tinha de ser

morto e de ressuscitar ao terceiro dia. (S. Mateus, cap. XVI, v. 21.)

5. - Estando na Galiléia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem tem que ser

entregue às mãos dos homens; - estes lhe darão morte e ele ressuscitará ao

terceiro dia, o que os afligiu extremamente. (S. Mateus, cap. XVIl, vv. 21 e

22.) (KARDEC, 1995, p. 372, c).

No mesmo dia, alguns fariseus vieram dizer-lhe: Vai-te, sai deste lugar, pois

Herodes quer dar-te à morte. Ele respondeu: Ide dizer a essa raposa: Ainda

tenho que expulsar os demônios e restituir a saúde aos doentes, hoje e

amanhã; no terceiro dia, serei consumado. (S. Lucas, capítulo XIII, vv. 31 e

32.) (KARDEC, 1995, p. 373, c).

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Relação de passagens que se refere à cura/doenças e correlatos no

Análise do livro Obras Póstumas

Data da Primeira Edição: 1890

Classificação adotada : não necessário, única obra Kardequiana de edição 2005.

Posição: 6º Livro

Edição traduzida para o português utilizada neste trabalho: nº 37

Ano: 2005

Tradutor: Guillon Ribeiro

Número de páginas desta edição: 478

Edição atual: 40ª/2010

Número de Citações: 13

Sendo um dos elementos constitutivos do homem, o perispírito desempenha

importante papel em todos os fenômenos psicológicos e, até certo ponto, nos

fenômenos fisiológicos e patológicos. Quando as ciências médicas tiverem na

devida conta o elemento espiritual na economia do ser, terão dado grande

passo e horizontes inteiramente novos se lhes patentearão. As causas de

muitas moléstias serão a esse tempo descobertas e encontrados poderosos

meios de combatê-las. (KARDEC, 2005, p. 57).

Médiuns curadores — Consiste a mediunidade desta espécie na faculdade

que certas pessoas possuem de curar pelo simples contacto, pela imposição

das mãos, pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o concurso de qualquer

medicamento. Semelhante faculdade incontestavelmente tem o seu princípio

na força magnética; difere desta, entretanto, pela energia e instantaneidade da

ação ao passo que as curas magnéticas exigem um tratamento metódico, mais

ou menos longo. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar,

se sabem proceder convenientemente; dispõem da ciência que adquiriram.

Nos médiuns curadores, a faculdade é espontânea e alguns a possuem sem

nunca ter ouvido falar de magnetismo. A faculdade de curar pela imposição

das mãos deriva evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas

diversas causas concorrem para aumentá-la, entre as quais são de colocar-se,

na primeira linha: a pureza dos sentimentos, o desinteresse, a benevolência, o

desejo ardente de proporcionar alívio, a prece fervorosa e a confiança em

Deus; numa palavra: todas as qualidades morais. A força magnética é

puramente orgânica; pode, como a força muscular, ser partilha de toda gente,

mesmo do homem perverso; mas, só o homem de bem se serve dela

exclusivamente para o bem, sem idéias ocultas de interesse pessoal, nem de

satisfação de orgulho ou de vaidade. Mais depurado, o seu fluido possui

propriedades benfazejas e reparadoras, que não pode ter o do homem vicioso

ou interesseiro. Todo efeito mediúnico, como já foi dito, resulta da

combinação dos fluidos que emitem um Espírito e um médium. Pela sua

conjugação esses fluidos adquirem propriedades novas, que separadamente

não teriam, ou, pelo menos, não teriam no mesmo grau. A prece, que é uma

verdadeira evocação, atrai os bons Espíritos sempre solícitos em secundar os

esforços do homem bem-intencionado; o fluido benéfico dos primeiros se

casa facilmente com o do segundo, ao passo que o do homem vicioso se junta

ao dos maus Espíritos que o cercam. O homem de bem, que não dispusesse

da força fluídica, pouca coisa conseguiria fazer por si mesmo, só lhe restando

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apelar para a assistência dos Espíritos bons, pois quase nula seria a sua ação

pessoal; uma grande força fluídica, aliada à maior soma possível de

qualidades morais, pode operar, em matéria de curas, verdadeiros prodígios.

A ação fluídica, ao demais, é poderosamente secundada pela confiança do

doente, e Deus quase sempre lhe recompensa a fé, concedendo-lhe o bom

êxito. 54. Somente a superstição pode emprestar qualquer virtude a certas

palavras e unicamente Espíritos ignorantes ou mentirosos podem alimentar

semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que,

para pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas

puramente espirituais, o uso de uma fórmula de prece ou de determinada

prática contribua a lhes infundir confiança. Nesse caso, porém, não é na

fórmula que está a eficácia e sim na fé que aumentou com a idéia ligada ao

emprego da fórmula. (KARDEC, 2005, p. 81-82-83).

Não se devem confundir os médiuns curadores com os médiuns receitistas,

que são simples médiuns escreventes, cuja especialidade consiste em

servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos para as prescrições

médicas;absolutamente mais não fazem que transmitir o pensamento do

Espírito, sem exercerem, de si mesmos, nenhuma influência. (KARDEC,

2005, p. 83-84).

A obsessão consiste no domínio que os maus Espíritos assumem sobre certas

pessoas, com o objetivo de as escravizar e submeter à vontade deles, pelo

prazer que experimentam em fazer o mal. Quando um Espírito, bom ou mau,

quer atuar sobre um indivíduo, envolve-o, por assim dizer, no seu perispírito,

como se fora um manto. Interpenetrando-se os fluidos, os pensamentos e as

vontades dos dois se confundem e o Espírito, então, se serve do corpo do

indivíduo, como se fosse seu, fazendo-o agir à sua vontade, falar, escrever,

desenhar, quais os médiuns. Se o Espírito é bom, sua atuação é suave,

benfazeja, não impele o indivíduo senão à prática de atos bons; se é mau,

força-o a ações más. Se é perverso e malfazejo, aperta-o como numa teia,

paralisa-lhe até a vontade e mesmo o juízo, que ele abafa com o seu fluido,

como se abafa o fogo sob uma camada d’água. Fá-lo pensar, falar, agir em

seu lugar, impele-o, a seu mau grado, a atos extravagantes ou ridículos;

magnetiza-o, em suma, lança-o num estado de catalepsia moral e o indivíduo

se torna um instrumento da sua vontade. Tal a origem da obsessão, da

fascinação e da subjugação que se produzem em graus muito diversos de

integridade. (KARDEC, 2005, p. 84).

A ação magnética, no caso, tem por efeito introduzir no fluido do obsidiado

um fluido melhor e eliminar o do mau Espírito. Ao operar, deve o

magnetizador objetivar duplo fim: o de opor a uma força moral outra força

moral e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química, para nos

servirmos de uma comparação material, expelindo um fluido com o auxílio

de outro fluido. Dessa forma, não só opera um desprendimento salutar, como

igualmente fortalece os órgãos enfraquecidos por longa e vigorosa constrição.

Compreende-se, em suma, que o poder da ação fluídica está na razão direta

não somente da energia da vontade, mas, sobretudo, da qualidade do fluido

introduzido e, segundo o que deixamos dito, que essa qualidade depende da

instrução e das qualidades morais do magnetizador. Daí se segue que um

magnetizador ordinário, que atuasse maquinalmente, apenas por magnetizar,

fraco ou nenhum efeito produziria. É de toda a necessidade um magnetizador

espírita, que atue com conhecimento de causa, com a intenção de obter, não o

sonambulismo ou uma cura orgânica, porém, os resultados que vimos de

descrever. É, além disso, evidente que uma ação magnética dirigida neste

sentido não pode deixar de ser muito proveitosa nos casos de obsessão

ordinária, porque, então, se o magnetizador tem a auxiliá-lo a vontade do

obsidiado, o Espírito se vê combatido por dois adversários em lugar de um.

Faz-se mister uma prece ardente, que seja ao mesmo tempo uma como

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magnetização mental. Pelo pensamento, pode-se encaminhar para o paciente

uma corrente fluídica salutar, cuja potência guarda relação com a intenção. A

prece, pois, não tem apenas por efeito invocar um auxílio estranho, mas

exercer uma ação fluídica. O que uma pessoa, só, não pode fazer, podem-no,

quase sempre, muitas pessoas unidas pela intenção numa prece coletiva e

reiterada, visto que o número aumenta a potencialidade da ação. (KARDEC,

2005, p. 89-90).

A faculdade de expansão dos fluidos perispiríticos já está sobejamente

demonstrada pelas mais dolorosas operações cirúrgicas realizadas em doentes

adormecidos, quer pelo clorofórmio e o éter, quer pelo magnetismo animal.

Não raro, com efeito, estes últimos conversam de coisas agradáveis com os

assistentes, ou se transportam para longe, em Espírito, enquanto o corpo se

retorce com todas as aparências de estar experimentando as mais horríveis

torturas. A máquina humana, imobilizada no todo ou em parte, é retalhada

pelo escalpelo brutal do cirurgião, os músculos se agitam, crispam-se os

nervos e transmitem a sensação ao aparelho cérebro-espinhal; mas, a alma,

que é quem, no estado normal, sente a dor e a manifesta exteriormente,

afastada, por alguns momentos, do corpo sujeito à operação, dominada por

outras idéias, por outras ações, só muito surdamente é avisada do que se

passa no seu envoltório mortal e se conserva perfeitamente insensível.

Quantas vezes não se têm visto soldados gravemente feridos, absorvidos pelo

ardor do combate, a perder sangue e forças, combaterem por muito tempo

ainda, sem se aperceberem de seus ferimentos? Um homem vivamente

preocupado, recebe um golpe violento sem sentir coisa alguma, e só quando

cessa a abstração da sua inteligência, reconhece tê-lo atingido a sensação

dolorosa que experimenta. A quem não aconteceu ainda, durante uma

profunda contenção do Espírito, passar pelo meio de uma multidão

tumultuosa e ululante, sem nada ver, nem ouvir, embora o nervo óptico e o

aparelho auditivo hajam percebido e transmitido à alma as sensações? Pelos

casos que precedem e por uma imensidade de fatos que seria ocioso

reproduzir aqui, mas que a todos é possível conhecer e apreciar, torna-se fora

de dúvida que o corpo pode desempenhar suas funções orgânicas, estando

longe o Espírito, levado por preocupações de outra ordem. Indefinidamente

expansível, conservando ao corpo a elasticidade e a atividade necessárias à

sua existência, o perispírito acompanha constantemente o Espírito durante a

sua prolongada viagem pelo mundo ideal. (KARDEC, 2005, p. 101-102).

É assim que nas curas por imposição das mãos, o Espírito do médium pode

atuar por si só, ou com a assistência de outro Espírito; que a inspiração

poética ou artística pode ter dupla origem. Mas, do fato de ser difícil fazer-se

uma distinção como essa não se segue seja ela impossível. Não raro, a

dualidade é evidente e, em todos os casos, quase sempre ressalta de atenta

observação. (KARDEC, 2005, p. 114).

Esta se acha presa ao corpo por laços misteriosos que não nos fora dado

conhecer antes que o Espiritismo ouvesse demonstrado a existência e o papel

do perispírito. Tendo sido esta questão tratada de modo especial na Revista

Espírita e nas obras fundamentais da doutrina, não nos estenderemos aqui

sobre ela, limitando-nos a dizer que é pelos nossos órgãos materiais que a

alma se manifesta ao exterior. (KARDEC, 2005, p. 119).

Todos os efeitos do magnetismo, do sonambulismo, do êxtase, da dupla vista,

do hipnotismo, da catalepsia, da anestesia, da transmissão do pensamento, a

presciência, as curas instantâneas, as possessões, as obsessões, as aparições e

transfigurações, etc., que formam a quase totalidade dos milagres do

Evangelho, pertencem àquela categoria de fenômenos. (KARDEC, 2005, p.

152).

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considerados sobrenaturais pela mesma razão que todos aqueles cuja causa

não se percebia. Isto explica por que todas as religiões tiveram seus milagres,

que mais não são que fatos naturais, quase sempre, orém, ampliados até ao

absurdo pela credulidade e reduzidos agora ao seu justo valor pelos

conhecimentos atuais, que permitem se destaque deles a parte devida à lenda.

A possibilidade da maioria dos fatos que o Evangelho cita como operados por

Jesus se acha hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo

Espiritismo, como fenômenos naturais. Pois que eles se produzem às nossas

vistas, quer espontaneamente, quer quando provocados, nada há de anormal

em que Jesus possuísse faculdades idênticas às dos nossos magnetizadores,

curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc. Do momento em que essas

mesmas faculdades se encontram, em diferentes graus, numa multidão de

indivíduos que nada têm de divino, até em heréticos e idólatras, elas não

implicam, de maneira alguma, a existência de uma natureza sobre-humana.

(KARDEC, 2005, p. 153)

―Quando o bordão soar, abandoná-lo-eis; apenas aliviareis o vosso

semelhante; individualmente o magnetizareis, a fim de curá-lo. Depois, cada

um no posto que lhe foi preparado, porque de tudo se fará mister, pois que

tudo será destruído, ao menos temporariamente. (KARDEC, 2005, p. 337).

NOTA — B..., bem moço, era um médium escrevente muito maleável, mas

assistido por um Espírito muito orgulhoso e arrogante, que dava o nome de

Aristo e que lhe lisonjeava o amor-próprio. As previsões de Hahnemann se

realizaram. O moço, julgando ter na sua faculdade um meio de enriquecer, já

atendendo a consultas médicas, já realizando inventos e descobertas

produtivas, somente colheu decepções e mistificações. Passado algum tempo,

ninguém mais ouviu falar dele. (KARDEC, 2005, p. 342).

Então, o círculo vicioso em que se metem os mestres da vã filosofia mostrar-

se-á completamente, porquanto os novos campeões levam consigo não só um

facho, que é a inteligência desimpedida dos véus grosseiros, senão também

muitos dentre eles gozarão desse estado particular, que é privilégio das

grandes almas, como Jesus, e que dá o poder de curar e de operar essas

maravilhas chamadas milagres. (KARDEC, 2005, p.381).