prefeitura do municÍpio de piracicaba secretaria ... · 3/7/2005 · de trabalho no momento do...

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1 ANÁLISE DE ACIDENTE DO TRABALHO 1: Apresentação O acidente foi investigado utilizando-se de ‘roteiro desenvolvido pelo Projeto de Pesquisa “Ações interinstitucionais para o diagnóstico e prevenção de acidentes do trabalho: aprimoramento de uma proposta para a Região de Piracicaba”, que foi elaborado com a participação do CEREST Piracicaba, do Ministério do Trabalho e Emprego, da UNIMEP e da UNESP Botucatu. O roteiro utiliza a investigação das falhas e mudanças ocorridas na situação de trabalho (Indivíduo, Tarefa, Ambiente e organização do trabalho, pressão temporal, meios de trabalho). Compreende ainda a investigação e análise do funcionamento das barreiras existentes para a proteção dos riscos existentes na operação. Busca-se reconstituir a situação de trabalho no momento do acidente a partir de informações que são obtidas a partir de entrevistas com o acidentado, análise de documentos, vistorias e registros fotográficos. 1.1 Objetivos Prevenir a ocorrência de novos acidentes do trabalho a partir da identificação de fatores potenciais de AT identificados no presente caso; Incentivar a utilização de concepção pluricausal de acidente do trabalho, fenômeno resultante de rede de fatores em interação, superando a visão dicotômica (atos/ condições inseguras); 1.2 Metodologia Adoção de modelo de análise que descreva componentes do sistema e permita verificar a rede de múltiplos fatores causais em interação que levou ao evento; Inspeções no local do acidente, com coleta de informações (croquis e fotografias, entrevistas com trabalhadores e supervisores direta ou indiretamente envolvidos com o sistema operacional e o acidente); Análise de documentos; Sistematização das informações obtidas, visando a compreensão de como o acidente ocorreu; Identificação de fatores de acidentes, sobretudo os mais à montante da lesão, especialmente os aspectos organizacionais e gerenciais; Emissão de parecer conclusivo indicando as necessidades de intervenção de caráter preventivo embasando a adoção de medidas administrativas conforme prevê a legislação vigente. 2. Identificação geral 2.1. Informações da Empresa Contratante Razão Social: Nº de funcionários: 210 PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PIRACICABA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE Centro de Referência de Saúde do Trabalhador CEREST Piracicaba - SUS

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1

ANÁLISE DE ACIDENTE DO TRABALHO

1: Apresentação

O acidente foi investigado utilizando-se de ‘roteiro desenvolvido pelo Projeto de Pesquisa

“Ações interinstitucionais para o diagnóstico e prevenção de acidentes do trabalho:

aprimoramento de uma proposta para a Região de Piracicaba”, que foi elaborado com a

participação do CEREST Piracicaba, do Ministério do Trabalho e Emprego, da UNIMEP e da

UNESP Botucatu. O roteiro utiliza a investigação das falhas e mudanças ocorridas na situação

de trabalho (Indivíduo, Tarefa, Ambiente e organização do trabalho, pressão temporal, meios

de trabalho). Compreende ainda a investigação e análise do funcionamento das barreiras

existentes para a proteção dos riscos existentes na operação. Busca-se reconstituir a situação

de trabalho no momento do acidente a partir de informações que são obtidas a partir de

entrevistas com o acidentado, análise de documentos, vistorias e registros fotográficos.

1.1 Objetivos

Prevenir a ocorrência de novos acidentes do trabalho a partir da identificação de fatores

potenciais de AT identificados no presente caso;

Incentivar a utilização de concepção pluricausal de acidente do trabalho, fenômeno

resultante de rede de fatores em interação, superando a visão dicotômica (atos/ condições

inseguras);

1.2 Metodologia

Adoção de modelo de análise que descreva componentes do sistema e permita verificar a

rede de múltiplos fatores causais em interação que levou ao evento;

Inspeções no local do acidente, com coleta de informações (croquis e fotografias,

entrevistas com trabalhadores e supervisores direta ou indiretamente envolvidos com o

sistema operacional e o acidente);

Análise de documentos;

Sistematização das informações obtidas, visando a compreensão de como o acidente

ocorreu;

Identificação de fatores de acidentes, sobretudo os mais à montante da lesão,

especialmente os aspectos organizacionais e gerenciais;

Emissão de parecer conclusivo indicando as necessidades de intervenção de caráter

preventivo embasando a adoção de medidas administrativas conforme prevê a legislação

vigente.

2. Identificação geral

2.1. Informações da Empresa Contratante

Razão Social: Nº de funcionários: 210

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE PIRACICABA

SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE

Centro de Referência de Saúde do Trabalhador

CEREST Piracicaba - SUS

2

CNPJ/MF: Grau de Risco: 3

CNAE1: 34495

End: Rua Nº:

Bairro: Distrito Ind. Unileste Município: Piracicaba UF: SP

2.2. Informações Preliminares sobre o Acidente de Trabalho em Análise

Nº de trabalhadores acidentados: 1

Data do Acidente: 24/01/2008 Hora aproximada: 6:00 h

Local do Acidente: setor de estamparia da empresa

Tipo de Acidente: Acidente típico

Entrevistados que contribuíram para a análise: Sr X01 – Acidentado

Técnico de Segurança do Trabalho: Sr. Y01.

Encarregado da manutenção: ZO1

Eletricista: Sr. W01

2.3. Informações sobre o(s) Acidentado(s)

Nome do Acidentado: Sr X 01 Sexo: M

Doc. de Identidade nº: org. exp01 UF SP Data de Nasc.: 27/10/1988 – 19 anos

Estado Civil: Solteiro Escolaridade: 2º grau completo

Endereço: Rua

Bairro: Jardim Município: Piracicaba

UF: SP CEP:

Ocupação: Operador de máquina CBO: 7212-10

Data de Admissão/ início atividade: 01/07/2007 Tempo na Função: 4 meses

Situação quanto à relação de trabalho: empregado registrado CLT

Horas após início da jornada de trabalho: 07:40 h

Horário de trabalho: 22:20 h às 6:20 h com 1 hora para almoço

Parte(s) do corpo atingida(s): Amputação de dois dedos da mão esquerda

2.4. Equipe de análise:

- Alessandro José Nunes da Silva – Técnico de Segurança – CEREST Piracicaba

- Rodolfo AG Vilela – Engº Segurança Coordenador do Programa Municipal de

Saúde do Trabalhador/ CEREST Piracicaba.

- Marcos Hister – Técnico de Segurança – CEREST Piracicaba.

- Priscila Gomes da Silva Rodrigues – Técnica de Segurança – Estagiaria do CEREST

Piracicaba

- Antenor Jesus Varolla – Engº Auditor Fiscal, Gerente Regional do Min. Do Trabalho Emprego

em Piracicaba.

- Donald Willian Souza Silva - Auditor Fiscal da Gerencia Regional do Min. Do Trabalho

Emprego.

3. Investigação da situação de trabalho

3.1 Reconstituição da situação de trabalho

3

O Sr. X trabalha na empresa OK do Brasil, situada no Distrito industrial Unileste no

município de Piracicaba. Há 8 meses como operador de máquina, entra para trabalhar às

22:20hs, e segue para a prensa que trabalha frequentemente (Prensa Hidráulica – 160

toneladas, ano de fabricação de 1992) no setor Chapa Defletora de Calor. A empresa possui três turnos: 1º das 6:00 h às 14:20 h, 2º das 14:20 h às 22:40 h e o 3º das 22:40 às

6:00 h.

O Sr. X trabalhou quatro meses no setor de recorte. Com a chegada de uma prensa nova no

Setor de Chapa defletora foi deslocado para este local para substituir operador mais experiente

que se deslocou para a prensa recém adquirida. Sempre na troca de turno o funcionário que

está trabalhando passa informações verbalmente sobre o trabalho que está executando tais

como: tipo de peça que está sendo feita, quantas peças faltam para concluir o pedido definido

na ordem de produção e informações sobre a máquina. Se o turno anterior não conseguir

concluir a quantia de peças estipulada no plano de produção, o próximo turno fica responsável

em terminar o serviço. Se o turno conseguir acabar a tarefa é passado um novo plano de

produção, no qual constam informações do material, quantidade de fabricação, tempo

aproximado por peça, e outras informações referentes à produção.

Se houver necessidade de troca de ferramenta ou troca da bobina, o operador comunica o líder

para entrar em contato com o operador de empilhadeira para buscar a ferramenta adequada e o

próprio operador faz a troca e o ajuste da mesma. Nesta operação o operador da prensa pode

solicitar o auxílio de um mecânico ou do operador de empilhadeira. Esta ajuda vai depender

da disponibilidade destes profissionais no momento da solicitação.

Depois da troca e ajuste da ferramenta o operador começa a estampar as peças programadas.

O Sr. X trabalhava sozinho na prensa hidráulica e, antes de dar a partida na máquina, no início

do turno, faz a checagem da cortina de luz colocando os membros superiores na direção da

cortina para verificar o funcionamento do sistema de parada de martelo e preenche check list

de segurança que existe para apontar possíveis falhas. Os casos de manutenção da máquina

são normalmente registrados no MAP (Mapeamento da Produção) que é um programa

existente na própria máquina, que registra os pedidos de manutenção.

No dia do acidente a prensa estava com atuação automática com alimentação do material por

meio de desbobinadeira (chapa de aço que vem em forma de bobina). No dia do acidente a

peça produzida era o “tênico” (peça do corsa). O Sr. X começou a trabalhar, dando

continuidade ao serviço do turno anterior. As informações foram passadas verbalmente pelo

operador do turno anterior. No inicio da tarefa o Sr. X preencheu o check list de Segurança

não sendo constatada nenhuma anomalia.

3.2) Descrição do local do acidente

O setor se chama Chapa Defletora de Calor.

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A área de trabalho compreende, além da Prensa Hidráulica, o espaço e os equipamentos usados para a

alimentação e extração do material, no caso alimentador automático com desbobinador (foto 1), mesa

plana (foto 2), mesa para colocar peças prontas e pallets para armazenagem de sobra de material (foto

3).

Foto 3 – Pallet com talhos de material

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Detalhes do sistema de segurança da prensa:

A seta amarela indica a Cortina de luz de categoria 4, mas comandado

por um relé de segurança de categoria 3, em desacordo com NT 16.

A seta azul indica o trilho de movimentação da cortina de luz, deixando vão livre

para acesso não monitorado à zona de prensagem. A cortina é deslocada em trilho

para cima e para baixo pelo próprio operador. Tal situação introduz um componente

de fragilidade no sistema de segurança.

A seta branca indica área de acesso de membros superiores não monitorada

pela cortina de luz ou por proteção fixa. Neste espaço o operador consegue alcançar

a zona de prensagem com as mãos, em desacordo NT 16.

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3.4) DESCRIÇÃO DO ACIDENTE

No dia 24 de Janeiro de 2008 o Sr. X operava uma Prensa Hidráulica marca Hidrap

Pressen – 160 toneladas, ano de fabricação de 1992. A prensa estava com programação no

modo automático, com molde para fabricação de Tênico (peça corsa).

O Sr. X começou a trabalhar, após a passagem do serviço pelo operador do turno

anterior na produção de peças contínuas. A troca da ferramenta foi feita pelo turno anterior.

No início da tarefa o Sr. X preencheu o check list de Segurança estando em conformidade

com o esperado. Começou o trabalho e no decorrer do mesmo notou que a peça apresentou

um primeiro defeito que foi a marcação irregular na peça pronta. O Sr. X consertou o defeito

esticando manualmente a matéria-prima no momento da prensagem. Mas o defeito se repetiu

pela segunda vez, depois de certo tempo. Por volta de 5h58min o Sr. X notou novamente a

deformação na peça (terceira vez). Após duas vezes consertando, o Sr. X foi verificar o

problema na ferramenta. Constatou que o defeito era causado pela exposição de saliência na

As setas azuis estão indicando os botões de acionamento bimanual.

O bimanual instalado é comandado por relê sem especificação de categoria de

segurança.

A seta amarela indica o botão de parada de emergência: com um toque no botão o

martelo pára de descer. O sistema é comandado por relê de segurança de categoria 3 em

desacordo com NT 16.

A seta verde indica o botão que modifica a atuação da máquina, passando de controle

bimanual para controle automático (contínuo) ou vice – versa.

Com a programação em modo automático a prensa volta a operar, após a parada do

martelo com acionamento pela cortina de luz, sem a necessidade de acionamento pelo

bimanual, em desacordo com a NT 16.

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parte superior da matriz. Esta saliência era habitualmente corrigida colocando um tampão na

mesma. Este tampão é móvel e é colocado no momento de preparação e instalação do molde.

Não fica claro o motivo da saída do tampão, que pode ter caído durante as

estampagens anteriores. Segundo o trabalhador para checar se o tampão encontrava-se no

local o Sr. X segurou a cortina de luz com a mão direita, e com a mão esquerda adentrou na

zona de prensagem, e com o tato dos dedos tentou encontrar o tampão que protege a saliência

da ferramenta. O tampão não foi encontrado. Ao fazer esta inspeção, ainda segurando a

cortina de luz com a mão direita, o martelo desceu atingindo dois dedos da mão esquerda.

Ocorreu amputação dos dedos. O acidente ocorreu às 6:00 hs. O Trabalhador foi

levado para o hospital Sta. Casa de Piracicaba. O trabalhador sofreu amputação dos dedos da

mão esquerda, sendo posteriormente deslocado para o Hospital São Luiz – SP onde foram

feitas cirurgias para tentar o re-implante de 2 dedos, o reimplante não foi possível pela pouca

circulação sanguínea nos locais afetados, permanecendo a lesão (amputação).

3.5) Análise de mudanças

Mesmo possuindo os dispositivos formais de segurança (Bimanual, cortina de luz e válvula),

a Prensa movimenta-se durante a intervenção do trabalhador quando este ingressou na zona de

prensagem para verificação da causa da deformidade da peça.

Para o trabalhador acidentado o trabalho realizado era:

Conhecido, feito com freqüência

Na situação do acidente havia alguma mudança em componentes do sistema?

Indivíduo Amputação

Material Martelo desce com mão do operador na ZO

Marcação irregular em peça pronta (deformação),

Trabalhador faz intervenção manual na ferramenta para localizar a

existência de tampão de proteção com o dedo. A peça pronta fica com

defeito

Meio de trabalho Falha em cortina de luz não é registrada e nem explorada

Segundo informação do trabalhador, cerca de 20 dias antes do Acidente ocorreu falha na

cortina. O trabalhador alega que ao testar a cortina no inicio de sua atividade, seguindo o

check- list da empresa, aconteceu a falha que foi registrada no referido formulário (check list).

O trabalhador alega que o martelo desceu mesmo com o acionamento da cortina de luza feita

pelos membros superiores do operador.

3.6 - Hipóteses surgidas na investigação:

3.6.1 A primeira hipótese explicativa levantada pela equipe foi o funcionamento inadequado

do sistema elétrico provocando o acionamento involuntário e eventual do pistão a partir de

falhas elétricas que podem se explicar pela inexistência/desconformidade de na

especificação de alguns componentes do sistema de segurança.

Verificando as ligações entre componentes visíveis à inspeção externa (bimanual, cortina de

luz) e os componentes a que estavam ligados internamente no corpo da prensa, foi constatado

que os componentes destinados à função de segurança utilizados no sistema elétrico, apesar

de aparentarem conformidade com as normas técnicas, não apresentavam características de

segurança:

Cortina de luz categoria 4 comandada por relê de segurança categoria 3 em desacordo

com o item 5.3 da NT 16.

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Comando bimanual gerenciado por relé sem especificação de categoria de risco em

desacordo com o item 5.3 da NT 16.

3.6.2 Uma segunda hipótese está no acionamento voluntário do pistão a partir de falhas no

sistema de barreira.

Nesta hipótese o operador paralisou o martelo ao acionar a cortina colocando (segurando

segundo o operador) a mão direita junto ao feixe de luz, mas ao fazer a inspeção com a

introdução da mão esquerda no corpo da matriz, sua mão direita pode ter deslizado para fora

do campo de atuação do feixe da cortina de luz, enquanto sua mão esquerda ainda se

encontrava no interior da zona de prensagem fazendo a verificação do defeito na matriz. O

trabalhador ao retirar a mão do campo de atuação da cortina de luz, estando a máquina

programada em sistema automático (bypassando o comando bi-manual) pode ter provocado o

acionamento imediato do pistão, que desce atingido a mão do trabalhador. O sistema de

barreiras apresenta-se neste caso com duas falhas graves: zona de prensagem parcialmente

aberta sem monitoramento pela cortina de luz e acionamento no modo automático

dispensando o uso do comando bi-manual, ambos em desacordo com a NT 16 e Convenção

Coletiva, conforme detalhado abaixo:

Zona de prensagem parcialmente aberta não monitorada pela cortina de luz ou

proteção fixa em desacordo com o item 5.2 da NT 16.

Cortina de luz subdimensionada deixando folga de 18 cm para acesso de membros

superiores. O fato é agravado pela existência de trilho que possibilita o

reposicionamento fácil da altura da cortina, que pode ser efetuada pelo operador sem

um gerenciamento adequado do ponto de vista da segurança, em desacordo com o

item 5.2 da NT 16.

Sistema de acionamento automático não requer o re-start através do bi-manual, em

desacordo com o item 8.1 da NT 16.

Argüida sobre o motivo desta programação em automático, representante da empresa

alega que o motivo é o aumento da produção (torna a máquina mais rápida). Segundo

depoimento colhido em algumas peças não dá para deixar neste modo de programação, mas

há outras em que é viável (interessante); portanto a maquina possuía os dois sistemas (manual

e automático). Esta mudança de programação é feita pelo programador, que não é profissional

habilitado, sem um posicionamento (liberação) dos profissionais de segurança.

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3.7 - Análise de Barreiras

Quadro 1. Análise de barreiras: Identificação de perigos e barreiras presentes ou inexistentes.

Energia,

condição ou

evento com

potencial

nocivo.

Barreiras2 Observações3 (Agiu ou Falhou)

Presentes Indicadas /ausentes

Mecânica

(corte,

prensagem,

punção com

partes que se

movem de qq

modo, etc).

Cortina de luz cat 4 comandada por relê de segurança

categoria 3 (ASSEMBLY).

Cortina de luz categoria 4 comandada por relê

de segurança categoria 4 ou CLP de segurança.

Relê tipo 3 apresenta falhas intermitentes

em monitoramento do sistema. Essa falha

no sistema de segurança elétrico

provavelmente participou da rede de falhas

que levou ao AT

Zona de prensagem parcialmente aberta não monitorada

pela cortina de luz ou proteção fixa.

Zona de prensagem deve ser totalmente

monitorada pela cortina de luz ou totalmente

fechada com proteção fixa, conforme consta do

item 5.3 da NT 16.

Provavelmente participou da rede de falhas

que levou ao AT

Comando bimanual gerenciado por relé sem especificação

de categoria de risco (material importado Preventa). Neste

caso foi solicitado o certificado onde consta a classificação

do relé e a empresa não apresentou.

O relé não atende especificação de segurança

definido na NT 16 do MTE

Provavelmente não interferiu no AT

Cortina de luz subdimensionada deixando folga de 18 cm

para acesso de membros superiores. O fato é agravado pela

existência de trilho que possibilita o reposicionamento

fácil da altura da cortina, que pode ser efetuada pelo

operador sem um gerenciamento adequado do ponto de

vista da segurança.

A zona de prensagem deve ser monitorada

completamente pela cortina de luz ou através

de proteção fixa ou móvel dotada de

intertravamento conforme prevê o item 5.1 da

NT 16

Provavelmente participou da rede de falhas

que levou ao AT

Sistema de acionamento automático não requer o re-start

através do bimanual.

NT 16 define que o ré-acionamento só pode

ser feito pelo bimanual.

Provavelmente interferiu no AT

Aterramento de fonte de alimentação presente.

Presente atendendo o NT 16

Provavelmente não interferiu no AT

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Programa de prevenção de riscos em prensas e similares

(PPRPS) realizado de modo protocolar não realiza

avaliação (checagem real) da conformidade com as normas

vigentes.

As inspeções de segurança se baseiam em check list

elementar que não avalia a efetividade dos dispositivos de

segurança e sua conformidade com as normas vigentes em

desacordo com item 35 e 35.1 da Convenção Coletiva

(PPRPS)

Conforme consta no PPRPS, o mesmo

encontra-se desatualizado e no PPRPS

anterior, não foi identificada falha no

sistema de segurança existente.

Portanto a ausência de checagem periódica

e de gerenciamento da exposição dos

trabalhadores pode ter contribuído para o

aumento dos riscos.

O mapeamento existente indicava que a

máquina possuía sistema de proteção

adequada, sem necessidade de medidas

complementares.

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4. Medidas Adotadas pela Empresa após o acidente: A CIPA, em reunião extraordinária realizada no dia 27/01/2008, analisa a ocorrência

não emitindo opinião sobre suas causas. Em sua análise, a CIPA remete à leitura da

Investigação do acidente do SESMT, na qual o SESMT solicitou maior atenção dos

trabalhadores sobre a cortina de luz, que se identificadas irregularidades devem

paralisar de imediato a máquina e solicitar a presença da segurança do trabalho.

O SESMT da empresa em sua análise do acidente constatou as irregularidades:

1. Operador tinha acesso a uma área que não chegava ao alcance da cortina de

luz;

2. A área de possível acesso à área da estampagem não havia nenhuma proteção

para impedir o acesso.

3. O Operador não seguiu o procedimento de Segurança que solicita o

desligamento da máquina pelo botão de emergência.

4. A máquina, quando da sua paralisação através da cortina de luz, o re-start da

máquina não há necessidade de acionamento pelo bi-manual.

Sugere o cronograma de ação:

1. Proteção de acrílico na área sobre qual a cortina não protege e sistema de

intertravamento da proteção deverá ser por chave de segurança. 2. Orientar novamente os operadores das máquinas em forma de Diálogo

Semanal de segurança (DSS), sobre a paralisação da máquina ser realizada

pelo botão de emergência. 3. Realizar programação no PLC de modo que re-start da máquina seja realizado

no bi-manual.

5. Conduta da vigilância em Relação ao Acidente: Máquina foi interditada pelo Ministério do Trabalho e Emprego através do Termo de

Interdição datado de 29/01/2008 até a reconstrução e re-projeto do sistema de

segurança. O re-projeto incluiu a troca ou regularização de alguns componentes do

sistema de segurança (relê de segurança; válvula de segurança; portas móveis,

válvula de retenção, enclausuramento da zona de prensagem) e respectivo

monitoramento com chaves de segurança monitoradas por relê de segurança categoria

4 de forma a adequar o sistema de segurança à NT 16 e PPRPS.

A prensa foi liberada através do termo de suspensão de interdição datado de

30/01/2008.

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6. CONCLUSÃO SOBRE O AT

Constata-se pela investigação do acidente, que a amputação/esmagamento de

dois dedos da mão esquerda do Sr. X está associada à verificação manual de defeito,

constatado no martelo devido à falta de um tampão na matriz superior, onde o martelo

desceu atingindo dois dedos da mão esquerda. Quando o trabalhador estava

investigando a origem do defeito na ferramenta, segundo alega, segurando a cortina de

luz, ocorre falha no sistema de segurança, com acionamento acidental do martelo, sem

que o trabalhador tocasse no bi-manual. A descida do martelo durante a permanência

das mãos do trabalhador na zona de prensagem provoca a amputação.

Pelas observações e entrevistas realizadas constata-se que o acidente ocorreu

devido a uma conjugação de vários fatores ligados à falhas no sistema de barreiras de

segurança instalados na máquina. A falta de consistência no sistema de segurança, que

possuía alguns componentes previstos em norma, dava uma impressão de tratar-se de

uma máquina segura, que veio se revelar inconsistente após a ocorrência e a

investigação de seu real funcionamento.

Foram levantadas duas hipóteses explicativas para a ocorrência da falha que

levou à descida do martelo. Uma primeira hipótese é que o sistema elétrico por suas

inconsistências de projeto pode ter gerado a falha, qual seja um acionamento acidental

do martelo, mesmo com a cortina de luz estando acionada conforme alega o trabalhador

acidentado. Esta falha teria a ver com o fato do relê que monitora a cortina ser de

categoria 3, ou seja o componente não é a prova de falhas, que pode ter provocado a

descida do martelo - contrariando a NT 16.

Outra hipótese explicativa da descida do martelo é o mau dimensionamento da

cortina de luz que deixava vão livre para acesso à zona de prensagem. O trabalhador ao

se posicionar para verificar o defeito pode, sem perceber ter deixado de segurar no

campo de atuação da cortina (pode sem perceber ter deslizado sua mão do campo de

atuação do feixe de luz). Estando programada em sistema automático, que by passa o

acionamento pelo comando bi-manual, a máquina volta a funcionar imediatamente

provocando a descida do martelo e a lesão. Ressalte-se que a Norma Vigente veda a

programação em automático que dispensa a autuação sem o comando bi-manual.

Contatou-se ainda que a programação e adaptação da máquina têm seguido à

lógica de automação para obter maior rendimento e mais eficácia de produção, sem

levar em conta as exigências de segurança (PPRPS e NT 16). Estas adaptações tem sido

feitas na empresa por profissional não habilitado, ou seja, sem recolhimento de anotação

de responsabilidade técnica e sem um consentimento/supervisão dos profissionais de

segurança.

Fica também evidenciado que o sistema de gestão de segurança adotado pela

empresa através do PPRPS não identificou as falhas de projeto, ou seja, a checagem

executada pelo SESMT da empresa reforçava a idéia de que a máquina atendia as

normas de segurança vigentes.

O SESMT da empresa afirma na sua investigação que o trabalhador teria

participação no acidente ao deixar de cumprir normas de segurança adentrando na zona

de prensagem sem apertar o botão de emergência. A investigação conduzida pelo

CEREST observou que este fato não foi relevante para o acionamento da máquina uma

vez que a interrupção da barreira de luz deveria garantir a paralisação do martelo como

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ocorria habitualmente, quando o operador adentra na zona de operação da máquina para

extrair peças prontas.

Como desdobramento do caso o CEREST Piracicaba elaborou check list para

verificação de todas prensas e similares, que servirá de base para ações mais efetivas e

estabelecimento de cronograma de correção com prioridade à eliminação das situações

de risco grave e iminente.

Reforça-se com este caso a necessidade de aprimoramento da NT 16 no tocante

à explicitar a exigência de que todas inovações e adaptações de segurança nas Prensas e

similares sejam realizados por profissionais habilitados com o respectivo recolhimento

da responsabilidade técnica. A NT 16 só exige esta ART nos casos de “retrofitting”, ou

seja, em casos de mudanças substanciais no equipamento.

Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela

Eng. de Seg. do Trabalho - NF 12415-1

PhD CREA 81.161/D – Coord. Progr.

Mun. Saúde do Trabalhador

Alessandro José Nunes da Silva

Técnico de Segurança do Trabalho

CEREST Piracicaba

CEREST PIRACICABA

RUA: SÃO FRANCISCO DE ASSIS 983, CENTRO – PIRACICABA – SP

CEP 13.400-590 – FONE /FAX - (19) 3434-6337 – 3435-3505

E-MAIL: [email protected]

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Referências

NT Nº 16/ DSST – 07/03/2005 – Norma técnica do Ministério do Trabalho e

Emprego.

NBR 13929 – Segurança em Máquinas – Dispositivos de intertravamento

associados a proteções – principio de projeto e seleção.

NBR–NM–ISO 13852 – Segurança em Máquinas – Distancias de Segurança

para impedir acesso a zonas de perigo pelos membros superiores.

Convenção Coletiva de melhoria das condições de trabalho em prensas e

equipamentos similares, injetoras de plástico e tratamento galvânico de

superfícies nas indústrias metalúrgicas no estado de São Paulo – 20/04/2006.