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DIEGO GOMES PINHEIRO UTILIZAÇÃO DE NÚCLEOS MULÍTICOS OBTIDOS POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA NA PRODUÇÃO DE MULITA PONTA GROSSA - PR 2010

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DIEGO GOMES PINHEIRO

UTILIZAÇÃO DE NÚCLEOS MULÍTICOS OBTIDOS POR MOAGEM DE ALTA

ENERGIA NA PRODUÇÃO DE MULITA

PONTA GROSSA - PR

2010

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Setor de Ciências Agrárias e de Tecnologia

Departamento de Engenharia de Materiais

UTILIZAÇÃO DE NÚCLEOS MULÍTICOS OBTIDOS POR MOAGEM DE ALTA

ENERGIA NA PRODUÇÃO DE MULITA

Diego Gomes Pinheiro

Orientadora: Profª. Drª. Adriana S. A. Chinelatto

Ponta Grossa - PR

2010

Trabalho apresentado como requisito parcial à conclusão do curso de Engenharia de Materiais.

TERMO DE APROVAÇÃO

DIEGO GOMES PINHEIRO

UTILIZAÇÃO DE NÚCLEOS MULÍTICOS OBTIDOS POR MOAGEM DE ALTA

ENERGIA NA PRODUÇÃO DE MULITA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial de graduação em

Engenharia e Ciência de Materiais, Setor de Ciências Agrárias e de Tecnologia da

Universidade Estadual de Ponta Grossa, pela seguinte banca examinadora:

Orientadora: ______________________________

Profª. Drª. Adriana Scotton Antônio Chinelatto

______________________________

Prof. Dr. Adilson Luiz Chinelatto

______________________________

Prof. Msc. Lucas Máximo Alves

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelas bênçãos que foram derramadas em minha vida.

Aos meus pais, que me deram a oportunidade de crescer profissionalmente, e que

tanto se sacrificaram para que chegasse aonde cheguei.

À minha irmã, que sempre me apoiou em tudo que fiz.

À professora Adriana, que tanto tem me ensinado durante toda a iniciação

científica, orientação e período acadêmico.

À Luana e Edenilson, que me aguentaram durante todo o período universitário.

Aos meus amigos (colegas de curso, mestres, retidos, veteranos e calouros), que

sempre estiveram comigo, compartilhando alegrias, tristezas, lutas e tardes de sextas-feiras.

Aos professores do Departamento de Materiais, pelo conhecimento despendido

durante o curso.

Aos funcionários e técnicos dos laboratórios do DEMA, por toda a atenção e

todos os ensaios realizados neste trabalho.

Àqueles que, direta ou indiretamente, me fizeram evoluir como pessoa,

profissional, humano e que deixaram sua marca.

Um pouco de ciência nos afasta

de Deus. Muito, nos aproxima.

- Louis Pasteur.

RESUMO

A mulita é uma fase do sistema sílica-alumina (3Al2O3.2SiO2) que existe

raramente na natureza, apenas sendo encontrada na Ilha de Mull. O mercado é cada vez

mais crescente em função de suas excelentes propriedades físicas, tais como resistência à

fluência a altas temperaturas, estabilidade química, baixa constante dielétrica, baixo

coeficiente de expansão e condutividade térmica, o que torna a síntese desse material a

partir de misturas de Al2O3 e SiO2 ou a partir de materiais que apresentem Al2O3 e SiO2

cada vez mais importantes tecnologicamente nas áreas de cerâmica tradicional e avançada.

A partir da mistura de Al2O3 e SiO2 na proporção estequiométrica 3:2 de alumina

e sílica respectivamente e através de minerais que apresentem esses óxidos, é possível a

obtenção de mulita através da sinterização a temperaturas entre 1400ºC e 1880ºC. Por

sinterização ou reação no estado sólido podem ser obtidas matérias-primas essencialmente

mulíticas a partir de diferentes misturas constituídas predominantemente de silicatos de

alumínio (argilas cauliníticas, cianita, andalusita e silimanita) e alumina calcinada. Isto

porque, estes silicatos de alumínio em temperaturas elevadas formam mulita com liberação

de sílica, que irá reagir com a alumina calcinada formando mulita.

Os pós de mulita são convencionalmente preparados via reação no estado sólido

utilizando óxidos como precursores. Devido às taxas de interdifusão do Si4+ e Al3+ dentro

da rede de mulita serem muito lentas, a cinética e o mecanismo de formação desta

dependem fortemente dos pós precursores e do grau de mistura entre a alumina e a sílica

nos grãos e a nível molecular. Assim, a temperatura de formação da fase mulita via reação

no estado sólido entre a alumina e a sílica pode atingir até temperaturas de 1600ºC. De

forma a abaixar a temperatura de síntese da mulita, muitas rotas químicas foram

desenvolvidas para preparar pós ultrafinos. Se partículas nanométricas de γ-Al2O3 são

usadas, a temperatura de mulitização pode diminuir para 1300ºC.

Alguns estudos têm mostrado que a moagem de alta energia pode ser usada para

promover reações em sistemas multicomponentes baixando significativamente a

temperatura de calcinação. A redução da temperatura de calcinação pode ser atribuída ao

refino dos grãos/partículas do material precursor, o qual permite ocorrer um maior número

de contato entre eles, aumentando a reatividade. Algumas vantagens do processo de

moagem são o baixo custo e a disponibilidade de um grande número de óxidos como

precursores, além da possibilidade de produzir pós com tamanho nanométrico.

Em sistemas cerâmicos onde a transformação é baseada em nucleação e

crescimento, uma forma de se controlar a evolução da microestrutura é a utilização de

núcleos (“seeds”) no material precursor. Esses núcleos agem como sítios para a nucleação

da fase desejada.

Esse trabalho teve como objetivo utilizar núcleos mulíticos na obtenção de mulita

em massa cerâmica de uma mistura alumina e sílica. Foi observado que a utilização dos

núcleos leva a um abaixamento da temperatura de formação da fase, bem como uma

alteração morfológica nas partículas de mulita obtidas.

Palavras-chave: Mulita, moagem de alta energia, nucleação, seeds, porcelana.

ABSTRACT

The mullite is a phase of the alumine-silic system (3Al2O3.2SiO2) that rarely

exists in nature, just being found in Mull Island. The growing market of this phase, based

on its excellent properties, as high mechanical and creep resistance, chemical stability, low

dielectric constant, low expansion and conductivity coefficients, which makes this material

synthesis from Al2O3 e SiO2 mixtures or from Al2O3 - SiO2 containing materials even

more technology important in traditional and advanced ceramic fields.

From a mixture of stochiometric composition 3:2 of Al2O3 and SiO2, respectively,

and by minerals containing these oxides, it is able to acquire mullite by sintering at

temperatures from 1400 to 1880°C. By sintering or solid state reaction, it is able to obtain

mullite from different compositions depending on the aluminosilicates (caulinitic clays,

cianite, andalusite and silimanite) and calcined alumina from different proportions. As

these aluminosilicates tend to form mullite with free silica at high temperatures, the latter

will form mullite with the alumina.

The mullite powders are conventionally prepared by solid state reaction, from

oxides starting materials. Due to the slow interdifusion rate of Si4+ and Al3+ in the mullite

network, the kinetics and formation mechanism are highly dependant on starting materials

and the mixing degree between alumina and silica in the grains and in a molecular level.

Thus, the formation temperature of mullite by solid state reaction, from an alumina/silica

composition, can reach 1600°C. In order to lower the mullite synthesis temperature, many

chemical routes have been developed to prepare ultra fine powders. If nanometric particles

of γ-Al2O3 are used, the mullitization temperature can be lowered down to 1300°C.

Some studies have showed that high energy milling can be used to promote

reactions in multicomponent systems, significantly lowering the calcination temperature.

The calcination temperature reduction can be assigned to the refine of particles in starting

materials, which leads to a major contact among them, improving reactivity. Some

advantages of high energy milling are the low cost and it allows producing nanometric

powders from uncountable available oxides.

In ceramics systems where the transformation is nucleation-growth based, one

way to control microstructure evolution is the employment of seeds in the starting

materials. These nuclei act as nucleation sites of the desired phase.

This work objective was to obtain mullite in a ceramic mixture of alumina and

silica, using mullite seeds. It has been showed that using seeds leads to a phase formation

at lower temperature, as well as morphological changes on the mullite generated.

Keywords: Mullite, high energy milling, nucleation, seeds, porcelain.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mulita natural. (a) Micrografia de seção transversal de lava do Vulcão Ben

More (Ilha de Mull, Escócia), onde mulita foi primeiramente descrita na natureza. Atentar

para as pequenas agulhas de mulita, crescidas a partir da plagioclase. (b) Microscopia

eletrônica de varredura de agulhas de mulita crescidas hidrotermicamente em pequenas

incrustrações de pedras vulcânicas da montanha Eifel (Alemanha) [1]. ................................4

Figura 2 - Peças mulíticas de nível técnico. (a) Mulita monocristalina. (b) Microestruturas

de mulitas completamente densificadas com diferentes composições de Al2O3 (acima:

≈72% em massa, abaixo: ≈78%), Atentar para a diferença de distribuição de mulita (região

escura) e grãos de α-alumina (região clara) [1]. ..................................................................5

Figura 3 - Algumas aplicações da mulita: (a) Blocos fundidos de mulita. Estes materiais

são altamente resistentes a corrosão e são frequentemente utilizados em tanques de fusão

de vidro. (b) Correia transportadora baseada em mulita sinterizada para fornos de

recozimento contínuo. (c) Mulita translúcida, para janelas de fornos [1].............................6

Figura 4 - Estrutura típica da porcelana comercial. A – alumina; Q – quartzo; R – fase

vítrea; P – mulita primária; S – mulita secundária [14]. ......................................................7

Figura 5 - Estrutura da silimanita na direção (a) do eixo c e (b) do eixo a. A estrutura

fornece um modelo simples de compreensão da estrutura da mulita [1]. .............................8

Figura 6 - Estrutura da mulita derivada da silimanita. Vistas com relação ao eixo c da (a)

silimanita e (b) da mulita. As flechas demonstram as modificações sofridas na mulita a

partir da estrutura da silimanita, gerando vacância de oxigênio. As flechas também indicam

os triclusters (oxigênios ligados a três cátions). (c) padrão de difração de elétrons da mulita

[1]......................................................................................................................................9

Figura 7 - Moinho de alta energia tipo SPEX [37] ............................................................16

Figura 8 - Variação da Energia Livre com o raio [38].......................................................17

Figura 9 - Região ampliada da difração de raios X, demonstrando a redução na intensidade

dos picos e seu alargamento .............................................................................................22

Figura 10 - Difração de Raios x para as amostras sinterizadas a 1100°C...........................23

Figura 11 - Difração de Raios x para as amostras sinterizadas a 1300°C...........................23

Figura 12 - Imagem de MEV da amostra moída por 10 horas, sinterizada a 1300°C .........24

Figura 13 - Difratogramas de raios x para amostras com 1% de núcleos...........................25

Figura 14 - Difratogramas de raios x para as amostras com 5% de núcleos.......................26

Figura 15 - Difratogramas de raios x para as amostras com 10% de núcleos.....................27

Figura 16 - Amostra com 10% de núcleos, sinterizada a 1200°C por 2 horas. Pode-se

observar distintamente as diferentes fases que constituem a amostra: A - Alumina; Q -

Quartzito e M - Mulita. ....................................................................................................29

Figura 17 - Imagens de MEV demonstrando a evolução da microestrutura para as amostras

com 10% de núcleos. a) 1200°C 2h; b) 1200°C 3h; c) 1300°C 2h; d) 1300°C 3h; e) 1400°C

2h; f) 1400°C 3h ..............................................................................................................30

Figura 18 - Imagens de MEV demonstrando a evolução da microestrutura com o aumento

da quantidade de núcleos, para as amostras sinterizadas em 1300 e 3 horas. a) 1%-5000x;

b) 1%-10000x; c) 5%-5000x; d) 5%-10000x; e) 10%-5000x; f) 10%-10000x...................31

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................4

2.1. Mulita ........................................................................................................................4

2.1.1. Características Gerais da Mulita ....................................................................4

2.1.2. Estrutura da Mulita........................................................................................7

2.1.3. Formas de apresentação da mulita ...............................................................10

2.1.4. Propriedades da Mulita................................................................................10

2.1.5. Processamento e obtenção de Mulita pelos métodos convencionais .............11

2.1.6. Obtenção de Mulita por rotas químicas........................................................12

2.1.7. Outros métodos de obtenção de mulita ........................................................13

2.2. Moagem de Alta Energia ........................................................................................14

2.3. Nucleação e Crescimento de Grão..........................................................................16

2.3.1. Nucleação....................................................................................................16

3. MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................19

3.1. Preparação da Matéria-Prima................................................................................19

3.2. Preparação dos Núcleos Mulíticos..........................................................................19

3.3. Preparação dos Corpos de Prova ...........................................................................19

3.4. Caracterização ........................................................................................................20

3.4.1. Caracterização das Matérias-Primas ............................................................20

3.4.2. Caracterização dos Pós Moídos ...................................................................20

3.4.3. Caracterização após a sinterização...............................................................20

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................22

4.1. Formação de Mulita por Moagem de Alta Energia ...............................................22

4.2. Nucleação de fase Mulita a partir de Núcleos Mulíticos........................................24

4.3. Análise morfológica e qualitativa ...........................................................................28

5. CONCLUSÃO.........................................................................................................33

2

1. INTRODUÇÃO

Grande desenvolvimento tem acontecido no desenvolvimento de novas técnicas

obtenção microestrutural em materiais cerâmicos. Diversos são os métodos empregados

para obter microestruturas de difícil aquisição, por exemplo, que requeiram elevadas

energias e/ou temperaturas de sinterização. Dentre os principais pode-se destacar estudos

da formação de fases via reações do estado sólido, emprego de dopantes, rotas químicas

(sol-gel, monofásicos e difásicos, gelcasting, dentre outros), além de novos processos

(pirólise, emprego de materiais nano estruturados, etc).

Um processo que é muito empregado na obtenção de partículas nanométricas,

abaixamento de energia de formação, obtenção de novas estruturas, e desenvolvimento de

novos materiais é a moagem de alta energia. O processo consiste em fornecer ao sistema

energia na forma de redução do tamanho de partícula, inserção de defeitos e/ou tensões

internas no material, de forma que este sofra mudanças microestruturais, ou mesmo

reações químicas, necessitando de menores quantidades de energia do que um material que

não sofreu moagem energética.

No mundo das aplicações cerâmicas, um composto tem destaque especial: a

mulita. Esta estrutura, formada por alumina e sílica, de composição variável, apresenta um

conjunto de propriedades ímpar, o que leva ao emprego da mulita em diversos campos da

cerâmica. Das propriedades, pode-se citar a elevada resistência mecânica, tanto para

temperatura ambiente como a elevadas temperaturas, baixos coeficientes de expansão e

condutividade térmicas, alta resistência a fluência, é inerte quimicamente e extremamente

resistente ao choque térmico. De todas as aplicações deste material, destacam-se a presença

da mulita em porcelanas (responsável pela resistência mecânica destas), em materiais

refratários (revestimentos de fornos, panelas de fundição, mobília para fornos), em

dispositivos eletrônicos (como isolante), para aplicações ópticas (janelas para fornos),

como catalisador, e muitos outros.

A obtenção de mulita é um processo que requer elevada demanda energética,

tendo em vista a elevada temperatura de formação da fase (cerca de 1500°C). Rotas

alternativas, aplicadas a outros materiais cerâmicos, foram estudadas na obtenção de

mulita, a grande maioria com sucesso. As rotas químicas são de grande interesse, devido a

baixa temperatura necessária, a geração de partículas nanométricas e de alta pureza, e a

3

capacidade de controle da microestrutura. Infelizmente, este processo é encarecido pelos

reagentes relativamente caros, e pela pequena quantidade de material obtido.

A moagem de alta energia é um processo viável economicamente na obtenção de

fases multicomponentes, e foi aplicada satisfatoriamente na obtenção de mulita. Mesmo

que seja capaz de fornecer maiores quantidades de material em comparação com as rotas

químicas, este processo ainda não fornece quantidades suficientes para suprir as

necessidades de produção de mulita. Tendo em vista este fato, pode-se utilizar estas

partículas mulíticas como núcleos de cristalização da fase em massa cerâmica, que é o

objetivo deste trabalho. Neste trabalho buscou-se formar mulita em material alumino-

silicoso utilizando núcleos obtidos por moagem de alta energia.

4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Mulita

2.1.1. Características Gerais da Mulita

Devido a alta temperatura de formação, a mulita ocorre muito raramente na

natureza. Foram encontradas algumas inclusões da fase próximas a rochas magmáticas em

sedimentos superaquecidos ricos em Al2O3, na ilha de Mull (Escócia), de onde se originou

o nome da fase (Figura 1) [1].

Figura 1 – Mulita natural. (a) Micrografia de seção transversal de lava do Vulcão Ben More

(Ilha de Mull, Escócia), onde mulita foi primeiramente descrita na natureza. Atentar para as pequenas

agulhas de mulita, crescidas a partir da plagioclase. (b) Microscopia eletrônica de varredura de

agulhas de mulita crescidas hidrotermicamente em pequenas incrustrações de pedras vulcânicas da

montanha Eifel (Alemanha) [1].

A grande notoriedade desta estrutura tem levado a um estudo intensivo de suas

propriedades, estrutura e processamento, baseados na diversidade de aplicação e

versatilidade da mulita. A importância técnica e científica desta fase pode ser explicada

pelos seguintes fatores [1-6,8-10]:

• Sua estabilidade térmica, bem como propriedades favoráveis, como baixo

coeficiente de dilatação térmica e baixa condutividade, alta resistência a

fluência e inércia química, juntamente com resistência mecânica e

tenacidade a fratura consideráveis [1-33];

• O fato de os materiais precursores (α-Alumina e sílica, aluminosilicatos de

composição Al2SiO5 como silimanita, andalusita, e kianita, bauxita,

silicatos ricos em alumina e argilas) serem disponíveis em grande

5

quantidade na crosta terrestre. Matérias-primas como caulinita e materiais

argilosos ganharam destaque devido ao fácil processamento por diversas

técnicas (sinterização, colagem de barbotina, extrusão e massas plásticas),

permitindo a aquisição de inúmeras formas no material a verde

[1,5,9,10,11,13-15];

• A habilidade de formar cristais de diversas proporções de Al2O3/SiO2, além

da facilidade de incorporação de diversos cátions na estrutura

[2,3,9,18,20,34];

• O fato de a estrutura da mulita e suas características poderem ser aplicadas a

diversas fases que apresentem uma estrutura similar a mulita [1,18].

A mulita e cerâmicas mulíticas podem ser apresentadas de diversas maneiras,

dependendo da aplicação da peça. São fabricadas desde estruturas policristalinas, em união

com outros constituintes em peças polifásicas, ou mesmo na forma monocristalina (Figura

2) [1].

Figura 2 - Peças mulíticas de nível técnico. (a) Mulita monocristalina. (b) Microestruturas de

mulitas completamente densificadas com diferentes composições de Al2O3 (acima: ≈72% em massa,

abaixo: ≈78%), Atentar para a diferença de distribuição de mulita (região escura) e grãos de α-

alumina (região clara) [1].

Além disso, o grande emprego da mulita em refratários [23], além de cerâmicas

avançadas e para aplicações especiais (na fabricação de componentes elétricos e ópticos),

torna esta estrutura muito versátil [1].

6

Figura 3 - Algumas aplicações da mulita: (a) Blocos fundidos de mulita. Estes materiais são

altamente resistentes a corrosão e são frequentemente utilizados em tanques de fusão de vidro. (b)

Correia transportadora baseada em mulita sinterizada para fornos de recozimento contínuo. (c)

Mulita translúcida, para janelas de fornos [1].

Além de todas estas aplicações (Figura 3), a presença de mulita em porcelanas é

extensivamente destacada na literatura, e sua importância na área é inegável [1,5,9,11]. É

considerado que a resistência mecânica de porcelanas se deve pela presença de agulhas de

mulita entrelaçadas (Figura 4). Novos estudos apontam, contudo, que além deste

mecanismo de aumento de resistência, as porcelanas são reforçadas pela presença de

tensões internas inerentes às transformações de fase, reações químicas e tensões térmicas

geradas durante a sinterização [5].

7

Figura 4 - Estrutura típica da porcelana comercial. A – alumina; Q – quartzo; R – fase

vítrea; P – mulita primária; S – mulita secundária [14].

2.1.2. Estrutura da Mulita

A mulita apresenta uma relação alumina/sílica variável, em razão da capacidade

de solução sólida da estrutura baseada no sistema Al4+2xSi2-2xO10-x, com x variando entre

0,2 e 0,9 (que corresponde a fração de alumina de 55 a 90% em mol) [1]. Vários tipos de

mulita, dependendo dos procedimentos de síntese, podem ser obtidos:

• Mulita sinterizada, produzida por tratamento térmico dos precursores,

essencialmente por reações via estado-sólido. Estas mulitas tendem a

apresentar composição estequiométrica (3Al2O3.2SiO2, que corresponde a

72% em massa de alumina, x = 0,25) [1,4,5-15];

• Mulita fundida, produzida pela cristalização de aluminosilicatos fundidos.

Estas mulitas tendem a serem ricas em alumina, com composição

aproximada de 2:1 (2Al2O3.SiO2, aproximadamente 78% em massa de

alumina, x = 0,4) [1];

• Mulitas químicas, produzidas por tratamentos térmicos de precursores

orgânicos e inorgânicos. A composição destas mulitas depende fortemente

dos precursores e da temperatura de calcinação. Compostos extremamente

ricos em alumina (mais de 90% de Al2O3, x = 0,8), foram identificados a

8

temperaturas de síntese abaixo de 1000°C [1,3,20-22,24-27,29-

30,32,34,35].

A estrutura da mulita pode ser analisada a partir de um composto de estrutura

semelhante, porém mais simples, chamada silimanita (composição Al2SiO5, x = 0,00). Na

silimanita, assim como outras estruturas tipo mulita, cadeias de octaedros de AlO6 ligadas

pelo vértice alinham-se paralelamente ao eixo cristalográfico c (Figura 5) [1,18].

Figura 5 - Estrutura da silimanita na direção (a) do eixo c e (b) do eixo a. A estrutura fornece

um modelo simples de compreensão da estrutura da mulita [1].

Na silimanita, estas cadeias de octaedros são ligadas perpendicularmente por

cadeias duplas em alternância de tetraedros de AlO4 e SiO4. A mulita deriva da estrutura da

silimanita através de substituição, descrita na fórmula [18]:

2 Si4+ + O2- � 2 Al3+ +

= Vacância de oxigênio.

Esta reação envolve a remoção de oxigênio da estrutura levando a uma vacância

do ânion e ao rearranjo e desordenação dos tetraedros de cátions. Estudos demonstram que

os átomos de oxigênio unindo dois poliedros na cadeia dupla de tetraedros na silimanita

(então chamados átomos O(C)), são removidos na mulita. Simultaneamente, os dois

cátions tetraédricos originalmente ligados por esse O(C) são realocados para posições

chamadas T*, e O(C) tornam-se triplamente coordenados por cátions formando grupos TO3

(chamados triclusters). Geralmente os triclusters são ocupados por átomos de Al. Assim, o

número de vacâncias presentes na estrutura está diretamente ligado ao valor de x da

9

equação. O parâmetro c na mulita é cerca de metade do da silimanita, devido aos vazios

gerados pelas vacâncias de oxigênio. Assim, a estrutura varia muito do normal, devido às

diversas possibilidades de vacâncias de oxigênio e combinação de tetraedros de Al e Si

[1,18].

Figura 6 - Estrutura da mulita derivada da silimanita. Vistas com relação ao eixo c da (a)

silimanita e (b) da mulita. As flechas demonstram as modificações sofridas na mulita a partir da

estrutura da silimanita, gerando vacância de oxigênio. As flechas também indicam os triclusters

(oxigênios ligados a três cátions). (c) padrão de difração de elétrons da mulita [1].

A mulita apresenta uma grande capacidade de incorporação de cátions em sua

estrutura. Este fato é controlado pelo raio do cátion e pelo estado de oxidação deste. Os

mais altos graus de incorporação foram conseguidos com V3+, Cr3+, Fe3+ seguido por Ti4+

[1].

Os íons incorporados tendem a ocupar os espaços do Al nos octaedros. Contudo,

para altas temperaturas, é observada a presença de Fe3+ ocupando as posições centrais dos

tetraedros, o que garante uma maior solubilidade deste na estrutura [1].

10

2.1.3. Formas de apresentação da mulita

Apesar da grande faixa de composição na qual se apresenta a mulita, duas são as

principais formas de apresentação da estrutura: a mulita primária e a mulita secundária

(Figura 4) [1,5,9,11]:

• Mulita Primária: apresenta composição estequiométrica 3:2

(3Al2O3.2SiO2). A morfologia deste tipo de mulita tende a uma forma

cubóide, ou mesmo equiaxial, e é formada a partir de aluminosilicatos

(argilas, geralmente cauliníticas), ou então de precursores óxidos, através

de reações no estado sólido.

• Mulita Secundária: este tipo de microestrutura geralmente apresenta-se na

forma de agulhas entrelaçadas, e a composição é mais rica em alumina

(2Al2O3.SiO2), ou seja, uma razão 2:1. Este tipo de mulita é gerada a partir

do feldspato na fase vítrea, atuando simultaneamente com a

dissolução/recristalização de quartzo no vidro.

2.1.4. Propriedades da Mulita

Como dito anteriormente, as ótimas propriedades da mulita tornam-na

amplamente empregada na indústria, tanto de cerâmica tradicional (presente em porcelana)

como em materiais de engenharia avançados [1-6,8-16,18-27].

As principais propriedades deste composto são a alta refratariedade, baixos

coeficientes de expansão e condutividade térmicas, alta resistência química, mesmo a

elevadas temperaturas, resistência ao choque térmico, resistência mecânica estável a

temperaturas relativamente altas, bem como seu emprego como isolante elétrico,

aplicações ópticas, e como reforço na forma de fibras e whiskers [1,3-11].

É apresentado na sequência, um gráfico comparativo das principais propriedades

da mulita e outros importantes materiais cerâmicos.

11

Tabela 1 - Propriedades termomecânicas da mulita e outros materiais cerâmicos [1].

Composto Tieilita Cordierita Espinélio α-Alumina Zircônia Mulita

Composição Al 2O3.TiO2

2MgO.2Al2O3

.5SiO2 MgO.Al2O3 Al2O3 ZrO2 3Al2O3.2SiO2

Ponto de fusão (°C) 1860 1465 2135 2050 2600 1830

Densidade (g.cm-3) 3,68 2,2 3,56 3,96 5,60 3,2

Coef. De expansão linear

(x10-6. °C-1) 20 -1400 °C 1 0 9 8 10 4,5

Condutividade

Térmica

(kcal.m-1.h-1.

°C-1)

20 °C

1400 °C

1,5-2

2,5

10-15

-

13

4

26

4

1,5

2

6

3

Resistência Mecânica 30 120 180 500 200 200

Tenacidade à Fratura KIC

(MPa0,5) - 1,5 - 4,5 2,4 2,5

2.1.5. Processamento e obtenção de Mulita pelos métodos convencionais

Os métodos de processamento e obtenção de mulita, assim como para outros

materiais cerâmicos, dependem das características morfológicas e microestruturais que se

deseja obter, da aplicação do produto, bem como do custo-benefício que ele representa.

Os métodos convencionais baseiam-se no emprego de matérias-primas naturais,

ou mesmo na forma de óxidos [1,5,6,9-15].

Por exemplo, na fabricação de porcelana, os principais constituintes do material

são caulim, feldspato e quarto e/ou alumina (caracterizando o triaxial cerâmico). O

primeiro, geralmente uma argila caulinítica, é responsável pela resistência a verde da peça,

além de ser o formador de mulita primária durante a sinterização. O feldspato é

responsável pela formação de fase vítrea, levando a sinterização via fase líquida. Já o

quartzo e/ou alumina apresentam a propriedade de manter a forma da peça, além de

participarem das reações decorrentes da mudança de estrutura. As etapas que compõem a

evolução da microestrutura caulinítica, até a formação de mulita, são apresentadas a seguir:

• Inicialmente, a caulinita irá desidratar-se, perdendo quase todos os grupos

OH- dos octaedros de Al, em uma temperatura entre 500 e 600°C,

formando metacaulinita;

• Conforme se aumenta a temperatura, é observada a formação de uma fase

do tipo espinélio, formada a cerca de 900°C;

12

• A cerca de 1000°C, a estrutura do tipo espinélio ainda é mantida, e

pequenos núcleos de mulita são formados;

• Em 1200°C, a estrutura do espinélio é substituída pela mulita;

• Em 1300°C, a fase amorfa de sílica livre liberada durante o processo

converte-se em cristobalita, gerando a outra fase cristalina presente na

sinterização da argila [11].

Como dito anteriormente, a mulita gerada pela caulinita é a mulita primária.

Aquela oriunda da transformação do feldspato é secundária.

No processo onde os precursores são óxidos, o processo é dificultado, devido a

taxa de difusão dos íons Al3+ e Si4+ ser baixa. Assim, diferentemente do caulim, onde

ocorre a formação de mulita a cerca de 1000°C (pois os constituintes estão misturados a

nível atômico), a formação de mulita a partir dos óxidos ocorre apenas acima de 1500°C.

Além disso, o crescimento de grão dos constituintes óxidos ocorre a temperaturas mais

baixas do que aquela onde tem início a nucleação da fase mulita. Este fato acaba por

dificultar a nucleação, pois o crescimento dos reagentes insere tensões residuais na

estrutura, que deve ser vencida para que ocorra o rearranjo atômico [9].

Este processo pode ser facilitado empregando-se métodos onde a difusão ocorra

com maior facilidade. Uma delas é o aumento da temperatura, mas que acaba acarretando

despendimento muito grande de energia. Outra técnica é na redução de tamanho de

partículas, levando a um maior contato entre elas, e reduzindo o livre caminho médio

necessário a ser percorrido pelo íons. Outra técnica é a inserção de defeitos na estrutura,

que facilitarão o processo difusivo. A formação de fase líquida, através da inserção de

dopantes e/ou formadores de eutético, também aumentam a capacidade difusiva do

material [4,6,8,16,19,20,22,33].

2.1.6. Obtenção de Mulita por rotas químicas

Tem-se também as rotas químicas, que atualmente vem sendo largamente

estudadas. Estas constituem-se de técnicas onde empregam-se precursores orgânicos

(fornecedores de Al e Si) ou mesmo sais inorgânicos. Os métodos constituem basicamente

em misturar os constituintes em uma solução, suspensão, através da formação de géis,

espumas, ou mesmo sóis [3,21,22,24-27,29,30,32,34,35].

Classificam-se as rotas químicas em duas grandes categorias:

13

• Via géis difásicos (colóides) e misturas de sóis, onde a formação de mulita

ocorre a partir de γ-alumina, a temperaturas acima de 1200°C. O

mecanismo limitante do processo está na difusão da interface e difusão a

curto alcance, próximo da interface, limitando a liberação da alumina;

• Via géis poliméricos monofásicos, ou precursores amorfos, onde ocorre a

formação de mulita rica em alumina a cerca de 900-1000°C. O mecanismo

limitante do processo está na nucleação da fase mulítica.

Dentre os métodos empregados, tem-se géis monofásicos, géis difásicos, processo

de coprecipitação, mistura de sóis, géis híbridos, sol-gel, dentre outros.

As vantagens da utilização das rotas químicas residem na obtenção de compostos

de alta pureza, controle microestrutural e de tamanho de partícula, e a baixa energia

necessária (entenda-se, baixas temperaturas de formação).

Por outro lado, estes métodos são de grande dificuldade de concepção,

necessitando de alto controle composicional, além dos precursores extremamente caros e

da baixa quantidade gerada [3,21,22,24-27,29,30,32,34,35].

2.1.7. Outros métodos de obtenção de mulita

Além dos métodos tradicionais e das rotas químicas, outras técnicas tem sido

empregadas a nível acadêmico na obtenção de mulita.

Uma delas é o gelcasting, que consiste em elaborar um gel polimérico com

partículas cerâmicas dissolvidas no solvente que, durante a calcinação, gera uma estrutura

reticulada. Esta técnica é muito empregada na fabricação de catalisadores [32].

Outra técnica que foi empregada é a pirólise de spray. Neste método, uma

solução, gel, suspensão ou sol da cerâmica em questão é pulverizada na forma de aerossol

sobre um reator (forno) a elevadas temperaturas. Durante a pirólise, as gotas se convertem

a partículas microporosas ou densas, após sofrerem vários processos (evaporação do

solvente, precipitação, secagem, termólise e sinterização) simultâneos [36].

Um processo que inicialmente era aplicado apenas a materiais metálicos, mas que

tem adquirido destaque junto aos outros materiais, é a moagem de alta energia. O processo

consiste em realizar uma cominuição severa sobre as partículas, de forma que haja uma

redução significativa no tamanho destas. A redução do tamanho de grão, além de aumentar

o contato entre as partículas, leva ao aumento da área superficial do sistema. Como a força

14

motriz da sinterização é a redução da área superficial, o aumento desta faz com que o

material tenha mais energia armazenada, facilitando o processo de sinterização e obtenção

de fases estáveis. Além disso, a moagem insere na estrutura defeitos e tensões internas. O

primeiro age de forma a facilitar os processos difusivos no interior da peça e o segundo é

uma forma de energia armazenada, atuando da mesma maneira que o aumento da área

superficial [4,7,8,16,17,19,32,31,33,37].

2.2. Moagem de Alta Energia

O processo de moagem de alta energia é uma técnica largamente empregada na

produção de materiais nanoestruturados, na produção de superligas, no estudo

composicional, na alteração de microestruturas, na obtenção de pós metálicos e, não menos

importante, na ativação mecânica [37].

A moagem de alta energia é assim chamada pois métodos cominuitivos

empregados tem a capacidade de reduzir ainda mais as partículas a um nível que as

técnicas de moagem convencionais não alcançariam. Durante o processo, tensões

cisalhantes, alta taxa de impacto e mesmo geração de calor podem, em alguns casos, serem

fontes energéticas que levam a ocorrência de reações químicas. Este processo reativo é

conhecido como ativação mecânica.

A ativação mecânica consiste em fornecer energia armazenando-a no sistema de

forma que esta possa levar ou facilitar reações químicas. Muitas vezes, a energia fornecida

é suficiente, levando a ocorrência da reação durante a moagem (moagem reativa). Já nos

casos onde a energia de ativação é mais alta, a reação, após passar por um processo de

moagem de alta energia, pode ocorrer cineticamente mais rápida, ou mesmo de forma

facilitada. No caso das reações que ocorrem com energia térmica, temperaturas mais baixas

são necessárias para que os precursores resultem nos produtos [37].

A moagem é influenciada por diversos fatores. Dentre eles podem-se enumerar os

seguintes parâmetros:

• Energia do moinho: a energia do moinho está diretamente ligada ao tempo

de moagem e ao tamanho de partícula final do sistema. Moinhos mais

energéticos necessitam de menos tempo de moagem, porém acabam sendo

limitados a pequenas quantidades de pó. Já moinhos menos energéticos

podem moer maiores quantidades, porém, para se obter resultados

semelhantes aos mais energéticos, necessitam de mais tempo;

15

• Poder de moagem: o poder de moagem representa a razão entre massa dos

corpos moedores sobre a massa de material a ser moído. Quanto maior o

poder de moagem, mais energético e menos tempo será necessário para se

obter os resultados esperados. Contudo, há um limite onde o aumento do

poder de moagem não traz melhorias ao processo;

• Material do frasco/corpos moedores: o frasco e os corpos moedores devem

ser de materiais mais duros do que aquele que será moído. Se isso não

acontecer, ocorrerá um desgaste excessivo dos itens, levando a alta

contaminação da amostra. Além disso, quanto mais duros forem, mais

efetiva será a moagem;

• Tempo de moagem: o tempo de moagem tem forte influência sobre os

resultados da moagem. Quanto maior o tempo, maior será o efeito da

moagem sobre o pó. Mais uma vez, o tempo alcança um limite de

moagem, onde a partir deste o material não é mais moído;

• Atmosfera: para certos materiais, uma atmosfera oxidante pode gerar

produtos diferentes daqueles obtidos em atmosfera redutora;

• Preenchimento do frasco: para um frasco muito cheio, não ocorrem

impactos suficientes entre as partículas e corpos moedores, não resultando

em uma moagem satisfatória. Já para material insuficiente, a moagem

perderá eficiência;

• Temperatura: a temperatura durante a moagem pode levar a ocorrência de

reações, de forma desejável, ou mesmo uma recristalização e/ou

crescimento de cristalitos que, dependendo da finalidade da moagem, pode

ser prejudicial ao estudo [37].

Um dos moinhos de alta energia, e considerado o mais energético, é o moinho

SPEX (Figura 7). O moinho consiste em um pequeno recipiente (o frasco), que contém os

corpos moedores e o material a ser moído. O moinho realiza movimentos vibracionais,

além de girar sobre si em várias direções diferentes [37].

16

Figura 7 - Moinho de alta energia tipo SPEX [37]

2.3. Nucleação e Crescimento de Grão

2.3.1. Nucleação

Quando uma nova fase aparece de uma fase homogênea devido a mudanças de

temperatura e pressão, pequenas regiões da nova fase são criadas por flutuações

composicionais para iniciar a transformação de fase. Quando uma nova fase estável

aparece de uma fase instável ou metaestável, é esperado que ocorra uma redução da

energia livre ∆Gv (<0) por unidade de volume, da mesma forma que ocorre um aumento

na energia livre, σ, por unidade de área devido a formação de interfaces ente a matriz e as

novas fases. Dependendo do tamanho da flutuação, a mudança na energia livre total pode

ou não ser negativa. Somado a isto, um aumento na energia livre devido às tensões deve

ser considerada para mudanças de fases com mudanças de volume [38].

Considerando a formação de uma nova fase a partir da matriz sem levar em

consideração a mudança na energia livre devido às tensões. Quando uma nova fase esférica

com raio r é formada a partir da matriz, a mudança na energia livre total pode ser dada pela

equação:

(1)

17

Figura 8 - Variação da Energia Livre com o raio [38]

Como indicado na figura 8, a energia livre total aumenta com o aumento de r até

que atinja um valor crítico r*, mas diminui abaixo de r*. Aqui, r* é chamado de raio crítico

para nucleação. Regiões de novas fases que apresentem raios menores que r* são chamadas

embriões: aquelas de raio igual ou maior a r* são chamadas núcleos. Partindo de

d∆G/dr=0,

(2)

(3)

Onde ∆gv=∆hv – T∆Sv. Como ∆hv e ∆Sv exibem pequena dependência na

temperatura para uma limitada faixa de temperaturas, o valor absoluto de ∆gv aumenta

com a diminuição da temperatura. Além disso, σ não apresenta dependência considerável

da temperatura. Entretanto, a partir das equações (2) e (3), ambos ∆G* e r* se tornam

menores com o aumento do super-resfriamento.

O número de núcleos de raio crítico r* é proporcional ao fator de Boltzmann

. O núcleo crítico cresce devido à migração dos átomos da matriz e se

torna estável. A taxa de migração atômica depende também do fator de Boltzmann

, onde ∆Gm é a energia livre de ativação para a difusão e migração de

18

átomos. Assim, o número de núcleos formados na matriz em uma unidade de volume por

unidade de tempo (a taxa de nucleação) N pode ser dada por:

(4)

Com o aumento do super-resfriamento, ∆Gm se torna menor e então a taxa de

nucleação aumenta. Quando o sistema continua a ser resfriado, ∆Gm >> ∆G* e a taxa de

nucleação diminui.

O fenômeno de nucleação descrito acima é chamado homogêneo. Quando existem

regiões como defeitos pontuais, discordâncias, contornos de grão e superfícies, os quais

tendem a diminuir a energia livre interfacial entre a nova fase e a matriz, a energia de

ativação para nucleação diminui e então a nucleação é facilitada. Este tipo de nucleação é

chamado heterogênea. O fenômeno de nucleação nos sólidos é majoritariamente

heterogêneo. [38]

19

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Preparação da Matéria-Prima

A matéria-prima utilizada foi uma mistura de alumina e sílica, na proporção

estequiométrica 3:2. A alumina utilizada foi Alumina Reativa CT3000 SDP, da Almatis

(99,7% de pureza). A sílica foi adicionada na forma de Quartzito Pianaro, 89,18% de

pureza. O baixo grau de pureza do quartzito deve-se pela presença principalmente de

alumina, que foi considerada nos cálculos no momento da mistura:

3Al2O3 + 2SiO2 � 3Al2O3.2SiO2

Onde as porcentagens, em massa, para cada óxido foram de 67,3% de alumina e

32,7% de quartzito, já corrigidos.

Os pós foram misturados em moinho de bolas e meio aquoso, por 4 horas. Em

seguida a mistura foi seca em estufa por 24 horas e desaglomerada em peneira #80 mesh.

3.2. Preparação dos Núcleos Mulíticos

Para análise de formação de mulita por moagem de alta energia, uma alíquota da

mistura passou por etapas de moagem de alta energia, em moinho SPEX 8000, com poder

de moagem de 5:1, frasco e bolas de ferro, por 5, 10 e 15 horas. Em seguida esse pó foi

calcinado a 1100°C e 1300°C por 4 horas, para nucleação da fase mulita. A análise da

formação de fase mulítica se deu por difração de raios x e MEV. Os núcleos foram então

pulverizados e desaglomerados em peneira malha 325 mesh.

3.3. Preparação dos Corpos de Prova

Os corpos de prova foram preparados a partir de uma mistura dos núcleos

mulíticos e a matéria-prima inicial, em diferentes composições (Tabela 2). A mistura foi

feita em ultrassom, por 30 minutos, em meio alcoólico (álcool isopropílico) para uma boa

dispersão dos núcleos pela massa cerâmica. Em seguida o material foi seco em estufa por

24 horas. Os corpos de prova foram prensados em molde uniaxial, com aplicação de carga

de 350 MPa, gerando pastilhas de 1 grama.

20

As pastilhas foram então sinterizadas, por 2 e 3 horas, a 1200, 1300 e 1400°C.

Foram feitas duas pastilhas para cada parâmetro do processo.

A identificação dos corpos de prova foi utilizada de acordo com a tabela:

Tabela 2 - Identificação dos corpos de prova

1% de núcleos 5% de núcleos 10% de núcleos

1200°C 2h NAOS1122 NAOS5122 NAOS10122

1200°C 3h NAOS1123 NAOS5123 NAOS10123

1300°C 2h NAOS1132 NAOS5132 NAOS10132

1300°C 3h NAOS1133 NAOS5133 NAOS10133

1400°C 2h NAOS1142 NAOS5142 NAOS10142

1400°C 3h NAOS1143 NAOS5143 NAOS10143

3.4. Caracterização

3.4.1. Caracterização das Matérias-Primas

Inicialmente foi feita uma caracterização das matérias-primas. No caso da

alumina, por ser comercialmente pura e apresentar catálogo, os dados foram analisados

pelas informações fornecidas pelo fornecedor. O quartzito foi analisado por fluorescência

de raios-x Shimadzu.

3.4.2. Caracterização dos Pós Moídos

O pó moído no SPEX foi analisado por difração de raios x utilizando o

equipamento Shimadzu DRX 6000 e fluorescência (Shimadzu EDX 720/800HS), para

análise do grau de contaminação pelo processo. Após a sinterização, foi feita mais uma

análise por difratometria e também análise morfológica dos núcleos de mulita por

Microscopia Eletrônica de Varredura Shimadzu SSX-550.

3.4.3. Caracterização após a sinterização

Após a sinterização dos corpos de prova, que foram preparados em duplicidade,

uma das pastilhas foi pulverizada em almofariz e pistilo de ágata e desaglomerada em

peneira #325. O pó obtido foi analisado por difração de raios x, de 5 a 90°, velocidade de

21

varredura de 2° por minuto. A outra pastilha foi fraturada, e a superfície de fratura foi

analisada no MEV.

22

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Formação de Mulita por Moagem de Alta Energia

Analisando a difração de raios X para as amostras moídas, observa-se que ocorre

uma diminuição na intensidade dos picos, bem como um alargamento dos mesmos, o que

caracteriza uma redução no tamanho de grão das amostras (Figura 9).

Figura 9 - Região ampliada da difração de raios X, demonstrando a redução na intensidade

dos picos e seu alargamento

O difratograma de raios x das amostras moídas no SPEX e sinterizadas a 1100 e

1300°C são apresentadas a seguir:

23

Figura 10 - Difração de Raios x para as amostras sinterizadas a 1100°C

Figura 11 - Difração de Raios x para as amostras sinterizadas a 1300°C

Analisando os gráficos acima, pode-se observar que não foi formada mulita em

1100°C, sendo esta uma temperatura muito baixa para que ocorresse a reação em questão

(Figura 10). Já para as amostras sinterizadas a 1300°C, observou-se a formação de mulita,

mesmo para a amostra com 5 horas de moagem. O óxido de ferro, oriundo do processo de

24

moagem de alta energia, presente nas amostras sinterizadas a 1100°C continua aparente

mesmo após a sinterização. Já a 1300°C (Figura 11), com a formação de mulita, o

composto entra em solução sólida, devido a alta capacidade catiônica da mulita.

A microestrutura formada nas amostras moídas é demonstrada na Figura 12.

Observa-se a formação abundante de mulita dispersa na matriz, numerosa e em grande

quantidade. A morfologia apresentada é a da mulita primária, esférica, proveniente de

precursores óxidos.

Figura 12 - Imagem de MEV da amostra moída por 10 horas, sinterizada a 1300°C

4.2. Nucleação de fase Mulita a partir de Núcleos Mulíticos

Pode-se observar, nas Figuras 13, 14 e 15, as amostras sinterizadas a partir de

1200°C até 1400°C, pelos tempos de 2h e 3h.

25

Figura 13 - Difratogramas de raios x para amostras com 1% de núcleos

1200° 2h

1200° 3h

1300° 2h

1300° 3h

1400° 2h

Quartzo

Alumina

Mulita

26

Figura 14 - Difratogramas de raios x para as amostras com 5% de núcleos

1200° 2h

1200° 3h

1300° 2h

1300° 3h

1400° 2h

Quartzo

Alumina

Mulita

27

Figura 15 - Difratogramas de raios x para as amostras com 10% de núcleos

1200° 2h

1200° 3h

1300° 2h

1300° 3h

1400° 2h

Quartzo

Alumina

Mulita

28

De acordo com as Figuras 13, 14 e 15, pode-se observar que os picos de mulita,

inicialmente não aparecem para temperaturas mais baixas e tempos mais curtos, com o

aumento da carga energética fornecida ao sistema (entenda-se, aumento de temperatura e

tempo de sinterização), esses picos vão se intensificando. O aumento dos picos de mulita

cresce com o aumento da temperatura, para um mesmo tempo, e com o tempo, para uma

mesma temperatura. Por exemplo, o pico da mulita em 16° não aparece nas amostras com

1% de núcleos, a não ser quando sinterizado a 1400°C. Para as amostras com 5% de

núcleos, o pico se intensifica em 1300°, enquanto que para as amostras com 10% de

núcleos, o pico se forma desde as temperaturas mais baixas, podendo ser oriundo dos

próprios núcleos. Picos que demonstram facilmente a evolução da mulita nas amostras são

os picos principais da fase, a 25 e 26°. Observa-se que estes picos aumentam de

intensidade em detrimento dos picos principais de quartzo e alumina (27 e 24°,

respectivamente).

Conseqüentemente, os picos de alumina e sílica presentes no início do processo,

vão perdendo intensidade em detrimento dos picos de mulita. Isto se deve pelo fato de

ocorrer a transformação dos óxidos precursores na fase desejada.

4.3. Análise morfológica e qualitativa

A morfologia dos núcleos utilizados nas amostras pode ser observada na Figura

16. Os núcleos presentes nas amostras, apesar de desaglomerados em peneira fina (#325),

apresentam-se na forma de pequenos aglomerados. A alumina e a sílica, por outro lado,

sofrem crescimento de grão nestas temperaturas, formando grãos maiores, como observado

na figura.

29

Figura 16 - Amostra com 10% de núcleos, sinterizada a 1200°C por 2 horas. Pode-se

observar distintamente as diferentes fases que constituem a amostra: A - Alumina; Q - Quartzito e M -

Mulita.

Observando a Figura 17, pode-se analisar a evolução da microestrutura com o

aumento do aporte térmico (maior inserção de energia ao sistema). Na Figura 17 a),

observa-se o sistema todo particulado, onde a sinterização foi pobre. Na Figura 17 b),

pode-se identificar as fases constituintes (quartzito, alumina e mulita) de forma clara. As

imagens c), d) e e) mostram o processo de sinterização, onde ocorre o coalescimento das

partículas, culminando na imagem f), onde as partículas se apresentam altamente

sinterizadas e unidas. O aumento da quantidade de mulita mostrado nas difrações é

visualizado nas imagens, onde a fase se mostra com grãos maiores. A imagem comprova o

que foi dito sobre as difrações, onde os picos de mulita aumentam em função do aumento

da temperatura e/ou do tempo de sinterização.

A

Q

M

30

Figura 17 - Imagens de MEV demonstrando a evolução da microestrutura para as amostras

com 10% de núcleos. a) 1200°C 2h; b) 1200°C 3h; c) 1300°C 2h; d) 1300°C 3h; e) 1400°C 2h; f) 1400°C

3h

Já a Figura 18 mostra como ocorreu a mudança na microestrutura das amostras

com o aumento da quantidade de núcleos. A morfologia das fases constituintes é a mesma

observada na Figura 17, ou seja, maior sinterização com o aumento da temperatura.

Contudo, como demonstrado na imagem a seguir, a quantidade de mulita aumentou com o

aumento de núcleos adicionados. Isso também gera maior intensidade nos picos de mulita

nos raios X.

a) b)

c) d)

e) f)

31

Figura 18 - Imagens de MEV demonstrando a evolução da microestrutura com o aumento da

quantidade de núcleos, para as amostras sinterizadas em 1300 e 3 horas. a) 1%-5000x; b) 1%-10000x;

c) 5%-5000x; d) 5%-10000x; e) 10%-5000x; f) 10%-10000x

As imagens de MEV confirmam o comportamento das difrações de raios X. Tanto

o aumento da fase mulita, como a presença dos constituintes mesmo a temperaturas mais

baixas, é justificado tanto nas imagens quanto nos picos destes nos raios X. Isto pode ser

explicado pelo fato de mesmo adicionando os núcleos de cristalização, a cinética ainda não

permite uma transição total para a fase mais estável. Contudo, a temperaturas tão baixas,

ou com tempos curtos como os empregados, seria inviável a formação de mulita, ou talvez

uma formação reduzida se comparada com a ocorrida neste trabalho.

a) b)

c) d)

e) f)

32

33

5. CONCLUSÃO

Analisando todos os resultados e discussões levantadas acerca destes, pode-se

concluir que:

• É possível formar mulita a temperaturas mais baixas que a apresentada na

literatura através da aplicação de moagem de alta energia como etapa

intermediária no processo de formação da fase;

• Mulita obtida por moagem de alta energia e posterior sinterização pode ser

empregada na forma de núcleos de cristalização em massa cerâmica

alumino-silicosa;

• O aumento da temperatura de sinterização é favorável para a maior

formação e desenvolvimento da fase mulita na matéria-prima;

• Maiores tempos de sinterização levam a uma maior quantidade de mulita

formada, além de promover a sinterização das partículas;

• O aumento na quantidade de núcleos múliticos gerou uma maior formação

da fase na mistura;

• Uma distribuição homogênea dos núcleos facilita o processo de nucleação,

gerando mais sítios de crescimento de fase.

• O emprego de núcleos de cristalização é um processo efetivo e barato de

geração de uma fase onde a demanda energética seja demais dispendiosa

ou inviável. Além disso, pode-se agregar valor ao produto conferindo-lhe

melhores propriedades.

34

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