prefÁcio · leva-me em ti. jamais serás sozinho, o meu destino é te fazer feliz. 11 paz de deus...

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1 PREFÁCIO

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PREFÁCIO

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SUMÁRIO

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AMILCAR

1. CONVICÇÃO

2. AMOR UNIVERSAL

3. RUMOS

4. PAZ DE DEUS

5. PRECISO TER CERTEZA

6. SONIA

7. LEMBRANDO

8. PAPARICO

9. BRINCADEIRINHAS

6

SELMA

1. DROGA DE VIDA 2. OS PONTEIROS DA VIDA 3. A ESPERANÇA 4. MEUS MEDOS 5. TEM GENTE 6. TRES DESTINOS 7. TRAÇO DE UNIÃO 8. LADO A LADO 9. VIDE BULA DA EXISTÊNCIA

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SERGIO

1. POR QUE?

2. DEPOIMENTO

3. DEZ ENCONTROS E

DESENCONTROS

4. MAMÃE

5. SUA IMGEM

6. UMA FALA MADURA

8

ANNA LETÍCIA

1. SAGRADA SOGRA

2. A MELHOR FESTA NO CÉU

3. AMOR DE MÃE

4. FESTA DE ARROMBA

5. MELHOR IDADE

6. TCHOLINHO, O CÃO TRIPÉ

7. UM CARA DO BEM

8. UM DIA O ENCONTRO

9

AMILCAR

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RUMOS

Amilcar.

05/10/90

E porque não, se a crença é dom divino, Esperança constante, apoio certo, Controla o sofrimento, o desatino, Conforta como Oasis num deserto. Sustenta o coração na desventura, Traz a alma feliz na dose certa, Rompendo a sensação que te amargura, Anula o desespero que te afeta. Quando tudo se acaba e a solidão pungente, Parece dominar a alma da gente, Ela surge reconfortante e diz: - Eu sou a Fé, conheço o teu caminho, Leva-me em ti. Jamais serás sozinho, O meu destino é te fazer feliz.

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PAZ DE DEUS

Ao sempre inesquecível Amilquinha1,

Que nos deixou tão cedo

VIVO NA PAZ DE DEUS. Sinto o infinito, Ouço da natureza o retumbante grito, Na exaltação do Eterno Criador. Tudo certinho, tudo se encaixando, A sombra, a luz, a dor, a alma vibrando, Desta harmonia toda resultando, Real confirmação do celeste esplendor. E o destino se faz: A alegria surgindo, a tristeza sumindo, O domínio do bem, o mal fugindo, O nascer, o morrer... A vida se resume, no mais certo e fiel entrosamento, Seguindo irreversíveis passos seus... E,sentindo a emoção que nos une e domina, Eu trilho com vocês o caminho que ensina, (e) VIVO NA PAZ DE DEUS...

1 Dedicado ao seu filho Amilcar, falecido em acidente aéreo aos 35 anos

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AMOR UNIVERSAL Se tudo o que eu fizer do roteiro sagrado, Que Teu filho indicou, terminando na cruz, Me fizer merecer um feliz resultado, Eu te peço Senhor, seja um pouco de luz. Ilumina o caminho que venho palmilhando, Não me deixes fugir da Tua direção, Destrói este egoísmo, este orgulho nefando, Que domina meu ser, me perturba a razão. Desenvolve em minh’alma toda a simplicidade Que é a força maior de um sereno viver, Mostrando quanto é bela a Tua meta final Não me tente a riqueza, o poder da maldade, Pulse em meu coração a sã felicidade, Que transcende de Ti... O amor universal

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PRECISO TER CERTEZA

21/07/1981

Olha forte pr’ a mim... mais forte ainda... Ponha força total, Preciso convencer-me, coisa linda, Que você é real. Preciso convencer-me que tanta formosura, Pode caber num corpo de mulher, E também ter certeza que a doçura, Que irradia o fulgor do teu olhar, Vem de dentro de ti, boneca pura, E espalha a mansidão desta ternura, Como em noite serena se desdobra, O encanto do luar. Preciso ter certeza que você é real, Preciso ter certeza que teu corpo, Não é miragem vã nem fantasia, De um artista qualquer. É de carne e que vibra e se extasia, Igual a outra mulher, Pois toda a natureza se esvazia, Se pensas em partir, Porque tua presença é a própria vida, Que tanto vibra em mim, Me enche de emoção...de ti querida, E venturas sem fim...

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SONIA Minha filha querida, nossa vida, É um problema deveras singular Estudemos os dados em seguida, Vamos a equação realizar.

Primeiro termo, amor mais amizade, Duas partes de um; o outro ao quadrado, Teremos que contrar felicidade- Pois este deve ser o resultado.

Elimine os fatores negativos, Inveja, falsidade, indiferença, Multiplique os atores positivos, No expoente maior da tua crença.

Não despreze as frações, seja sincera, Enfrente sem temos qualquer dilema, Assim encontrarás o que te espera, Resolvendo melhor o teu problema

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LEMBRANDO 12/04/1982

Saudade de você, saudade imensa, Que ultrapassa a razão e o próprio ser, Dor constante e cruel, maldade imensa, Perturbando a alegria de viver. Saudade de você, do seu sorriso, Do seu modo de andar, da sua voz, Do jeito de trazer o paraíso, Para dentro do quarto junto a nós. Saudade das conversas que tivemos, Das loucuras de amor que nós fizemos, Coisas bobas, gostosas de lembrar. Saudade enfim da vida que vivemos, Difícil de esquecer, que guardaremos, Como um sonho... e, tão lindo, sonhar...

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CONVICÇÃO 29/09/1990

Se alcançamos a meta programada, Não é fácil dizer. Nesta jornada que se chama vida, Quanto foi venturosa ou foi sofrida, É difícil saber. Se lutamos com ardor e conseguimos, A vitória final, Nos momentos difíceis, bem sentimos, Quanto vale um ideal. Completando os oitenta e recebendo Tanta demonstração de amor e de carinho, Bondade de vocês, logo se vê. É com justa emoção que então dizemos, Obrigado a vocês, e agradecemos, A DEUS... todos sabem porquê!!!

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BRINCADEIRINHAS 28/07/2988

Vamos brincar de amor, Eu finjo que te amo, Tu finges que me amas, E nos amamos, só na imaginação. BRINCADEIRINHAS Vamos brigar assim: Eu finjo que te odeio, Tu finges que me odeias E assim, nos odiamos, só na imaginação. BRINCADEIRINHAS Vamos parar agora, pois é tarde, brincadeira tem hora. E a hora já passou... Mas parar como? Se nessa brincadeira O brinquedo acabou. Mas, na verdade, a saudade ficou.

BRINCADEIRINHAS...

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PORFIA

Sim, tu pensas em mim, pois sinto ainda, Ao recordar de ti, que enternecido, Meu coração lamenta a tua ausência... Mesmo sentindo este romance findo, Já não duvido mais; estou convencido, Que nos solicitamos com frequência. Dávamos- nos tão bem, passavam os dias. Felizes, concentrados na alegria, Do amor correspondido mutuamente... Hoje tudo é cruel, a alma vazia Maltrata o coração e anda a porfia Com a obstinação desta tristeza

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FELICIDADE II 19/09/1993 O mistério da vida sobrepõe-se Aos avanços incríveis do progresso, E a ciência dos homens decompõe-se No pó original, líquido e certo. Nascemos sem saber de onde viemos, Num ciclo fisiológico real, Morremos sem saber para onde iremos, E o corpo volta à terra, é o natural. Resta então a pergunta incandescente, Se a matéria se vai, a alma da gente Fica solta, vagando por aí...? Feliz quem tem a crença abençoada, Não crê no fim, que a morte seja o nada, Volta pra Deus, no céu,...revive ali...

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SELMA

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A ESPERANÇA

E aquela esperança de tudo mudar, Que começa por dentro – onde mais começar? Mudar de lugar só ajuda a adiar, Ficar longe da angústia que está a rondar. É a esperança que nasce e que vem renovar, O desejo e a atitude de caminhos cruzar, Para quem em tanta luta se deixou levar, Driblando desatinos para em pé ficar. É quando se sente uma página virar, Na esperança de um dia, a esperança voltar, E levar tudo aquilo que veio machucar, Mas trazer o alento a que quer renovar.

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OS PONTEIROS DA VIDA

Na vida, só cada um, Pode aprender a viver, E ir descobrindo sozinho, O caminho para se conhecer. E esta descoberta não para, Os anos só a fazem crescer, É a bagagem que se carrega, Pela estrada a fortalecer. E quando, e onde começa? Ninguém pode responder, Será de manhã ou à noite? Na chuva ou no alvorecer? É sempre na hora certa, De cada um se acertar, Pois os ponteiros da vida, Não adianta atrasar

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TRÊS DESTINOS

Três mulheres, três histórias. Três anseios, três vitórias, Três mundos a caminhar. Procuram as três um sentido, De um sentimento perdido, Na busca do realizar. Casadas e as três com filhos, Têm o lar como um ninho, Procuram se completar. Unidas se sentem fortes, Lutam e são o suporte Tentam o voo alcançar

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AMIZADE

A vida é uma conta corrente O saldo é o que vai ficar, Credite na sua a amizade, E os juros não irão faltar. Se um dia ficar em débito, Pouco tempo irá durar, Pois seu crédito é muito forte, Para o saldo-médio abalar. Pode pedir bons empréstimos, E nem precisa pagar, Seu crédito é muito mais alto, Devendo é que não vai ficar. A quem creditou AMIZADE, Nem o “Leão“ vai pegar, Tem um superávit imenso, A conta não vai encerrar.

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DROGA DE VIDA

POR QUE fazer uma opção como esta, Passar a ver a vida por uma fresta, Trocando todo o prazer dos sentimentos, Por uma “viagem” de loucura desconexa? POR QUE seguir criando mundos imaginários, Cujos habitantes não passam de “usuários”, Da mesma força que circula em seu corpo, O combustível que lhe leva para o espaço? PARA QUE optar sempre sem sair dos “trilhos”, Alcançar voos, distorcer o paraíso, Mergulhar, olhos vendados, no precipício, Correr riscos sem saber o fim do início? Como passar a sua vida se esgueirando, Entre “vielas“, se arrastando, no mundo “tonto”, Quando pensa que acertou o passo firme, Nada mais foi que deslizou em terra íngreme.

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MEUS MEDOS

O que eu mais tenho medo na vida, É de não ver o meu filho crescer, E sentir cada dia que passa, A esperança se arrefecer. O que eu mais tenho medo na vida, É sentir a ferida sangrar, E não ter ao meu lado, bem perto, O remédio que ajuda a curar. O que eu mais tenho medo na vida, É saber que o dia vai chegar, Em que eu procurando seus olhos, Vou sentir que não vão me enxergar. O que eu mais tenho medo na vida, É sair procurando a saída, E depois de dar muitas voltas, Descobrir que o caminho é só ida.

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VIDE – BULA DA EXISTÊNCIA

A vida quando nos é dada, Não vem com fórmula especificada, Cada um tem seu “Vide- Bula” da existência, Diria- se que foi uma “poção” preparada. Mesmo que se procure s meios disponíveis, Para decifrar o caminho a ser seguido, O Mapa Astral... O Tarot....O Sensitivo... Nem sempre acertam o alvo perseguido. O Terapeuta... O Analista... O psicólogo... São elementos que indicam o lugar, Onde cavar para abrir o seu poço, Mas não garantem que a água vá jorrar. Tudo não passa afinal de experiências, Que se alternam numa nuvem de ciência, Ora é “química” ,ora é mesmo da existência, Os resultados das pesquisas com a vivência. É só viver, deixar correr, ir acrescentando, Os ingredientes e temperos, complementando o espaço vago, deixado pelo livre arbítrio, que nos faz crer que somos livres e criativos.

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TRAÇO DE UNIÃO

O seu talento, O seu alento O seu momento O seu acalanto O seu carinho Sempre constantes, Em nossos caminhos, Foi muito importante. Queremos dizer, Para lhe agradecer, Que você nos uniu, Que você conseguiu. Você conseguiu... Subir uma pipa, Sem deixar rabear. Esperar o presente, Que custa a chegar, E mais que de repente, Aparece ... está lá ... Soprar um moinho, Que não quer trabalhar. Tirar água do poço, Que teima em secar. Escavar a montanha, E o tesouro encontrar. Domar uma fera, Sem chicote usar. Pisar em ovos, Sem nenhum quebrar. Suar a camisa,

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Pro time ganhar. Pingar numa pedra, Até ela furar. Contar os grãos de areia, E depois recontar. Fazer a promessa, E com fé aguardar. Atirar no escuro, E o alvo acertar. Comprar um bilhete, E na Loto ganhar. Colher tempestade, E o amor semear. Estar no deserto, E uma fonte brotar. Esperar uma flor,

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TEM GENTE

Tem gente que vive brava,

Vive arrancando os cabelos,

Pensa que só ela no mundo,

Tem problemas e direitos,

Até parece que tudo,

Amor, lazer, e tristeza,

Têm que ser enfrentado,

Botando os outros na “imprensa”,

E cobra e bufa e lastima,

De ser o único que pensa,

É que os outros não entendem,

Nunca, a sua linguagem,

Pois por ironia da vida,

Também estão na estrada,

E têm também seus problemas,

Só que não sabem bufar,

Preferem com paciência,

A solução encontrar,

E sabem que tudo o que querem,

Nem sempre vão conseguir,

Mas sabem que se Deus quiser,

Uma porta há de se abrir,

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Mas não será acusando,

Nem cobrando dos irmãos,

Que irá encontrar a paz,

Necessária à solução,

Do dia a dia da vida,

Quer seja sério ou não,

O motivo da preocupação

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Em fruto virar.

O FRACASSO

Todos nós já fracassamos nesta vida, O mais difícil é saber localizar, O momento exato, o ponto certo, a linha viva, Em que sentimos que não dá para voltar. Joga todas nossas esperanças, Tudo aquilo que nos fez acreditar, “Tira o tapete” de uma vez com tal pujança, Que é difícil, possível, equilibrar. Quantas vezes o fracasso bate forte, E a gente não consegue acreditar, Nega logo... não enxerga... não aceita... E não consegue nem o erro encontrar. É assim que eu me sinto nesta hora, Só que quero pelo menos amenizar, Esta dor... Esta fossa... Este buraco... Em que eu, sem sentir, fui habitar. Aqui tudo é muito negro e confuso, É um buraco sem tamanho e sem parede, Pode ser que eu consiga olhar pra frente, E um dia conseguir vislumbrar,

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SERGIO

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POR QUE?

Por que vem essa onda que estonteia, E abala os alicerces sem aviso? Por que, ao sentir algo que medeia, Entre a loucura do olhar e o seu riso? Por que o sentimento forte abala tanto? A alma emergente sem guarida, Impulso sem retorno a procurar seu canto, Pressão estonteante a dar sinal de vida?

Por que?

É a natureza?

Ou, é pecado se for casado?

Só ao solteiro, o mundo inteiro?

Que mecanismo livre, é bem travado?

Eu fico imaginando o ser vivente,

Por que, que sendo livre para o amor,

Sufoca a sua entranha em pranto e dor.

Por que ?

Por que abala assim a alma ardente?

A alma que, ardente, está em chamas?

Será que teme ouvir o que não quer?

Por que temer voz e o som de uma mulher?

Aquela, justamente que se ama.

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Por que?

E mais,

Por que o tempo passa de mansinho,?

Inexorável, firme, transformador?

Mudando tanto a mera feição externa,

E mantendo tanto a afeição do amor?

Talvez isso não seja bom, talvez, ruim

Então,... por que a natureza se fez assim?

Ela, que é tão bela quanto uma mulher,

Criou jardins de tão variadas flores,

Do mal –me -quer ao bem- me -quer.

De que lado estão vocês benditas flores?

Pergunto assim ao jasmim, quando há amor,

Existe em vocês... as dores?

Por que a natureza se fez assim?

Há indiferença em ser bom ou ser ruim?

Por que, me diga então,

Se diversos os caminhos,

É o mesmo, o resultado final?

Isso é próprio da natureza? , é isso natural?

Por que florir com bem-me-quer?

Por que também florir com mal- me -quer?

Será que em uma flor se comemora a

fusão?...

E a outra flor? Procura enfeitar-se de ilusão? Mas, são as duas, a mesma flor!...

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O que se dá então?

Por que?

Oh Bendita vida !

Qual o porquê dessa onda que estonteia?

Quando um louco olhar se cruza num sorriso?

O que se faz do seu impulso original?

Deixa-se criar novo caminho?

Se natural, chegará ao paraíso?

Mas se não for, dará morte a seu juízo?

Não sei, mas...

De qualquer forma será florido.

Por que?

Porque, no jogo da vida, Também incerto é o resultado final. Como é bom quando se ama uma mulher, Como é bom em se tomando de uma flor, Ou mesmo, com amor, se envia uma missiva, E aguarda como natural, a contagem regressiva: Se ela responde com seu amor, O resultado da flor é bem-me-quer.

Se, no entanto, de um mal – me – quer E junto a ele vier o pranto... O jogo não está perdido: O caminho percorrido.. .Também seguiu florido.

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1

DEZ ENCONTROS E DESENCONTROS

Nosso primeiro encontro foi banal,

Coisas comuns do dia a dia,

Houve um primeiro impacto, natural,

Porém, eu chegava e você saía...

Nosso segundo encontro foi na sala,

Em assentos próximos, você sorria,

Houve um segundo impacto, sua fala,

Porém falava o que eu não queria.

Nosso terceiro encontro foi assim:

Você chegou tão próximo de mim,

Que derrepente quase em mim bateu.

Então desta vez quem saiu fui eu.

Nosso quarto encontro trouxe algo,

Seu rosto e seus olhares me falaram,

Pelos pés no papel,

Alguém transando, percebi.

Papel igual àquele, nunca mais vi.

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Nosso quinto encontro foi para almoçar

Nervosa e inquieta, você me esperava,

Apressei meus passos, algo me aguardava..

Mas, o lugar comum, em tudo atrapalhava.

Nosso sexto encontro foi bem melhor,

Em outro restaurante, pudemos conversar,

O prato dividido, o peixe em dois, partido,

Mas a hora do trabalho chegou pra terminar.

Nosso sétimo encontro, em muito me

enobreceu,

Com enorme alegria, em gesto de algum

instante,

Ainda no restaurante: você agindo, em fugaz

momento,

Recebo um passe de estacionamento.

Encontro selado, em base de confiança,

Mais tarde apagado em triste lembrança.

Nosso oitavo encontro aconteceu,

No que eu cheguei, para a aula começar, Pensava em um momento ainda meu, Porém senti a raiva em seu olhar.

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Nosso nono encontro assim descrevo:

Tomado de contraste e emoção,

Exponho a questão com muito enlevo,

Mas, surpreso, desconheço a razão.

Nosso décimo encontro foi sofrido,

Por ele eu avalio a extensão:

Eu sei que um desencontro é dolorido,

E destroem os dez encontros de emoção.

Rio, Junho / 00

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DEPOIMENTO

Meu pai foi para mim uma pessoa singular, muito especial. Lembro-me quando ainda bem pequeno, por volta dos meus 6 a 7 anos, o apreciava muito. Praticamente todo o dia, quando morávamos na Tijuca, ia para uma casinha de medidor de água, colocada no jardim, e de lá, o acompanhava quando saia para o trabalho. Na esquina com a outra rua, sabendo que ele ia dobrar, gritava, e quando ele voltava-se, eu acenava alegre. Ele então respondia, dobrava a esquina e eu sabia que ele voltava à noitinha. Ficava então aguardando. Papai era uma pessoa realmente especial. Num dos meus aniversários, ganhei uma quantidade enorme de carrinhos, e com eles brincava de várias maneiras. Uma ocasião, no entanto, em um dos aniversários, ele me deu um carro vermelho, daqueles de entrar e pedalar. Estava novinho e era bonito. Fiquei muito alegre, mas aí aconteceu o que eu mesmo não esperava:

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Havia muito próximo da nossa casa, na

Rua Leite de Abreu, uma garagem de ônibus

que fazia o trajeto da Muda para o Centro.

Por coincidência ou não, os ônibus eram

vermelhos, e eu passava com frequência

pela porta da garagem e sempre ouvia uma

bateção, uma barulhada danada.

Não pensei duas vezes ao ganhar o carro.

Depois de dar umas voltinhas ao redor da

casa, parei e concluí:

- Ele agora já andou bastante e está precisando de conserto. Ato contínuo, peguei um martelo que surgiu não sei da onde, e "sentei" o dito no carrinho. O capô ficou com um enorme amassado, a

tinta rachou e lascou.

Sabe o que aconteceu quando papai chegou

em casa e viu o estrago?

Não?

Pois não aconteceu nada.

Papai percebeu todo o processo de pura

imitação do que eu acostumara a

presenciar, e entendeu que estava apenas

"consertando” o carro.

Como isso foi importante para mim.

Compromisso, necessidade ou dever, para

ele era sagrado. Quando deitava, era

porque a coisa estava "preta" mesmo. Mas

era raro.

Uma ocasião, já rapaz feito lá pelos meus 18

anos tomei um porre num fim de semana.

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Era domingo à noite e costumávamos,

desde a parte da tarde, ir para a casa da vó

Ziata no Posto Seis em Copacabana.

Não sei como foram avisar papai, e mesmo

já estava na hora de voltarmos para casa.

Estava sentado, meio zonzo, numa pequena

mureta em frente a um edifício chamado

Ypiranga, na Av. Atlântica.

Papai aproximou-se muito lentamente,

como que "rodeando”, como quem quer ter

cautela porque não sabe o que vai ter pela

frente.

Quando chegou, o fez de mansinho, e

perguntou:

-"Tudo bem, moleque"? Era como ele

sempre, carinhosamente, me chamou, sem

qualquer conteúdo pejorativo.

Respondi que sim, que era apenas um

porre. Levantei-me e fomos para casa.

Papai teve e continua tendo uma influência

enorme sobre a minha pessoa.

Atravessamos períodos difíceis em razão do

seu comportamento. No entanto, comigo,

propriamente, nunca tivemos atritos e ele

nunca foi, efetivamente, agressivo.

Eu sentia que ele tinha uma confiança

absoluta em mim, e era uma confiança

recíproca.

Contávamos um com o outro.

Na véspera do seu falecimento, fui, à noite,

no hospital. Quando lá cheguei, havia um

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médico de cada lado da sua cama. Ele me

olhou e logo foi dizendo:

- " Você chegou em má hora ".

Ele estava passando por arritmias cardíacas,

porém, pronunciou aquelas palavras de

uma maneira muito natural, como se

estivesse conversando.

Era mais uma das suas qualidades: a

naturalidade.

Papai era "um só”, o que a natureza, que

ele tanto apreciava, produziu.

Ainda há muitas coisas para contar sobre

ele.

Suas mãos, benditas, fizeram muito.

Por isso, me vi impelido a testemunhar, com

esse depoimento, o que escrevi poucos dias

após ele nos deixar.

Com orgulho e satisfação, o faço

novamente:

AS MÃOS MARAVILHOSAS DE MEU PAI

Pai, estamos a sós aqui nesta Capela. São

algumas horas, últimas que passaremos

juntos...

E... olho o seu semblante.

Passo a mão em seu peito. Detenho-a em

seu coração.

A camisa, branca, com a gola aberta,

Uma fazenda fina dá o contorno do seu

tronco...

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Ele ainda é forte. Sempre foi...

OLHO ENTÃO PARA AS SUAS MÃOS

Eu mesmo as ajeitei horas antes, quando

ajudava a vesti-lo,

Ainda no hospital.

Fiz questão de colocá-las de uma maneira

particular,

Muito especial.

Exigi que elas não ficassem arrumadinhas

no seu peito,

Como mãozinhas de defunto... de

defuntinho.....

Igualzinho a milhões de criaturas.

Coloquei-as superpostas, em posição de

descanso,

Mais abaixo... no seu estômago,

E assim deixei-as ficar.

A mão esquerda sobre a direita. Você

nasceu canhoto.

Então, observei mais as suas mãos.

AQUELE PAR DE MÃOS...

Elas começaram a se comunicar:

Lembrei-me... quando garoto pequeno, elas

me levantavam,

Para o seu peito forte...

Seguras e ágeis me colocavam no alto,

Eu sentia a sua força. Era bom.

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Interessante... Uma vez no colo, estava

sempre virado para a esquerda,

Junto do seu coração.

Essas mãos, mais tarde, pude observar,

conduziam com habilidade e segurança,

aquela moto por sobre a calha de madeira

que você construiu para galgar aquela

escada de pedra da nossa casa lá na Rua 18

de Outubro, na Tijuca.

Era uma diferença de nível grande, e você

acelerava com cuidado, ao lado da moto, de

forma a fazê-la subir ao tempo em que

você, ao seu lado, também subia a pé pelos

mesmos degraus.

A motinha tinha um cheirinho gostoso.

Era mistura de óleo com gasolina.

O barulhinho dela, levarei comigo onde eu

estiver.

Eu me lembro, porque subia junto também.

Pai, mais tarde eu vi que as suas mãos não

eram só aquilo, não.

O tempo passou, e eu verifiquei muita

coisa...

TORNEI A OBSERVAR MELHOR AS SUAS

MÃOS

E elas continuaram a me comunicar