precariedade, condições de trabalho, terceirização - trabalho completo (1)

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  • 8/12/2019 Precariedade, Condies de Trabalho, Terceirizao - Trabalho Completo (1)

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    CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADESNiteri RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN 2316-266X

    PRECARIEDADE, CONDIES DE TRABALHO,TERCEIRIZAO

    Luciana Maria Guimares Rabelo1

    Cristiane Diniz Barbosa2

    RESUMO

    Aborda a evoluo dos fenmenos econmicos a partir da sociedade primitiva;passando pela mudana da condio proletria a condio salarial; a crise do capital, suareestruturao e suas repercusses frente as condies de trabalho. Analisa a

    terceirizao enquanto estratgia de reestrutura do capital, ilustrando as vantagensadvindas deste implemento mercadolgico que encontra como alicerce a reduo doscustos atravs do menor esforo. Traa parmetros para constatar que a terceirizaoacarreta conseqncia nas condies de trabalho, e para tanto, examina as repercussesoriundas desta na identidade do trabalhador, bem como se efetivamente a terceirizao

    pode ser vista como fator desencadeante da precarizao das condies de trabalho ecomo a precarizao interfere no status social do indivduo, tonando-o vulnervel.

    Palavras chaves: Trabalho; precarizao, terceirizao.

    ABSTRACT

    Discusses the evolution of economic phenomena from the primitive society, through thechange of the proletarian condition to condition wage, the crisis of capital, itsrestructuring and its repercussions against working conditions. Analyzes outsourcing asa strategy for restructuring of capital, illustrating the advantages resulting from this toimplement marketing foundation is as a reduction in costs by slightest exertion. Moth

    parameters to verify that outsourcing leads to consequence in working conditions, andfor both, examines the repercussions resulting from this identity of the worker, as wellas effectively outsourcing can be seen as a trigger for precarious working conditions andhow precarious interferes with the individual's social status, tonando it vulnerable.

    Key words: "Work; casualization, outsourcing."

    1 Advogada, ps-graduada em Direito Pblico e Direito e Processo do Trabalho, mestranda emDesenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros. E-mail:[email protected].

    2 Mestranda em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros. Email:[email protected]

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    1 . INTRODUO

    A presso exercida pela capital pode interferir nas condies de trabalho e vida e

    no bem-estar social do indivduo, na medida que o trabalho impulsiona os fatores de

    identificao do indivduo, possuindo um valor moral.No a toa Castel(2010, p. 496)) proferiu a clebre frase que diz o trabalho

    mais que o trabalho e, portanto, o no trabalho mais que o desemprego.

    O mundo do trabalho vem sofrendo grandes transformaes nos ltimos dois

    sculos, e isso, nem sempre pode ser tido como vantajoso, considerando que a evoluo

    dos fenmenos econmicos, sempre pautada na supremacia do capital, ensejou uma

    enorme subservincia do trabalho, e conseguintemente, dos trabalhadores, s flutuaes

    do mercado.

    Enquanto que as empresas buscam egosticamente aumentar sua produtividade ecompetitividade, os trabalhadores podem ser tornar vulnerveis e at serem submetidos

    a condies precrias de trabalho.

    A precarizao aqui referendada pode ser tida como ausncia de diversos

    mecanismos que privam estes trabalhadores do acesso a direitos bsicos e necessrios,

    alm de perfilhar um perfil de trabalhadores inseridos em uma zona de tamanha

    vulnerabilidade capaz de tolhir a prpria dignidade do individuo.

    Ao empreender num exerccio de reflexo a cerca de algumas transformaes

    ocorridas no mundo do trabalho, afigura-se como um dos pressupostos, examinar em

    que proporo a terceirizao pode contribuir no s para a precarizao das condies

    de trabalho, mas tambm para uma possvel vulnerabilidade e, por fim, at mesmo a

    total desfiliao do individuo.

    Obviamente este no empreendimento simplrio. H de se analisar diversos

    fatores, os quais exigem um detalhamento mais apurado, entretanto, atravs do presente

    artigo foi compilado alguns dos pontos para se auferir quais as repercusses trazidas

    pela terceirizao em relao aos indicadores mais evidentes de precarizao nas

    condies de trabalho, eis o que passaremos a propor.

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    2. BREVES CONSIDERAES SOBRE A TRANSIO DA CONDIO

    PROLETRIA A CONDIO SALARIAL

    Com o fim do feudalismo, os fenmenos econmicos se pautaram em transaes

    como a reciprocidade, redistribuio e domesticidade3

    . Como nessas motivaes olucro no ocupava lugar proeminente, o trabalho era fundamentalmente um mecanismo

    de produo de bens de consumo, pautado em estratgias que visavam garantir a

    sobrevivncia.

    A diviso do trabalho origina-se de diferenas inerentes a fatos como sexo,geografia e capacidade individual e no da propenso do homem de

    barganhar, permutar e trocar uma coisa pela outra. (POLANYI, 2000. P. 61).

    O sistema social predominava de tal maneira no modo de vida da sociedade

    primitiva que o sistema econmico era absorvido por ele, fato este que, at ento,

    impedia que o trabalho e a terra, os bens bsicos de produo, se tornassem

    mercadorias.

    Com o surgimento do mercado nacional4as relaes que outrora se baseavam na

    produo de bens de consumo, a partir de ento, no eram mais sujeitas a interveno

    estatal ou aos costumes locais, mas sim, eram pautadas pela motivao do lucro.

    Com o advento da economia de mercado e a inveno das mquinas, segundo

    Polanyi (2000) acarretou a ampliao do mecanismo de mercado aos componentes da

    indstria e introduziu o sistema fabril numa sociedade comercial. Isso intensificou a

    explorao da mo de obra e fez com que o trabalho e o dinheiro se tornassem

    mercadorias, passando o trabalhador vender sua fora de trabalho a quem oferecesse

    mais.

    A inveno da maquinaria que economizaria trabalho no diminura, masaumentara a utilizao do trabalho humano, a introduo dos mercados livres,longe de abolir a necessidade de controle, regulamentao e interveno,

    3 Segundo o autor o princpio da reciprocidade diz respeito ao dar e receber baseado na premissa de que

    se oferece hoje para se ganhar amanh. Na Redistribuio parte do produto de uma atividade de umadeterminada famlia deve ser oferecida em benefcio da comunidade. Enquanto na domesticidade,tambm pautado no bem-estar comum, a produo visa satisfazer as necessidades prprias dedeterminado grupo.

    4Polanyi evidencia a natureza e o surgimento do mercado, momento em que a economia passa a serfundamental na vida de uma sociedade. Segundo o autor, o surgimento do sistema mercantilista

    possibilitou o nascimento de um mercado nacional, quando finalmente este sistema conseguiu acabar comos limites que separavam dois tipos de comrcio no competitivos existentes no perodo medieval, ocomrcio local e o comrcio externo.

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    tendncia a flexibilizao e desregulamentao do processo produtivo, dosmercados e da foras de trabalho. (Antunes, 2005: 29-30)

    Ou seja, a implementao de polticas neoliberais e, por conseguinte,

    desregulao estatal, vulnerabilidade das economias, passando de estagnao a

    instabilidade, novas exigncias tecnolgicas e econmicas, dentre outros, podem terimpulsionado a reestruturao no mundo produtivo, atingindo de forma bastante

    negativa as condies de trabalho.

    Isso foi sentido, provavelmente, nos pases que se encontravam fora dos

    capitalistas avanados7, que dispunham de recursos tecnolgicos escassos, e detinham

    grande dependncia com queles dominantes donos do capital produtivo e padro

    tecnolgico necessrio8.

    Como conseqncia da crise estrutural do capital, houve um forte empenho em

    procurar a retomada dos patamares de acumulao atravs de mecanismos queconferissem maior dinamismo ao processo produtivo, momento este que ocorreu a

    transio do taylorimo/fordismo9 que reinou praticamente durante todo o sculo XX

    para formas de acumulao flexveis.

    Foi nesse novo contexto que surgiu o novo modelo de produo chamado de

    Toyotismo10ou modelo Japons, pautado numa apologia sobre os atributos individuais

    do trabalhador, enquanto, detentor de uma maior qualificao, habilidade e

    multifuncionalidade, que tinha como finalidade precpua alavancar o processo de

    produo, com menores custo e menor tempo.

    O "trabalho polivalente", "multifuncional', qualificado, combinado comuma estrutura mais horizontalizada e integrada entre diversas empresas,inclusive nas empresas terceirizadas, tem como finalidade a reduo dotempo de trabalho. (Antunes, 2012, p. 2))

    7Pases de industrializao intermediria nos quais incluam-se os do terceiro mundo.8Encontravam-se no centro da dominao os EUA e Nafta, a Alemanha frente a Unio Europeia e oJapo liderando os pases asiticos.9Baseava-se na produo em massa de mercadorias, que se estruturava a partir de uma produo maishomogeneizada e enormemente verticalizada.

    10Ele se fundamenta numa organizao scio-tcnica do trabalho, resultado da introduo de tcnicas degesto da fora de trabalho prprias da fase informacional, bem como da introduo ampliada doscomputadores no processo produtivo e de servios. Desenvolve-se em uma estrutura produtiva maisflexvel, recorrendo freqentemente deslocalizao produtiva, terceirizao, dentro e fora dasempresas, etc.

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    Isso levou a Juan J. Castillo, sugestivamente, denominar como um processo de

    liofilizao organizativa, atravs da eliminao, transferncia, terceirizao e

    enxugamento de unidades produtivas. (Castillo, 1996 apudAntunes, 2012, p.2)

    A terceirizao pautada pela fragmentao dos setores de prestao de servios

    das empresas que passaram descrentralizar setores, transferindo-os a terceiros, que nahiptese ficam responsveis pela gesto de determinada atividade, bem como pela

    contratao e pagamento dos trabalhadores, provavelmente criou meio hbil de

    reestruturao do capital.

    5. A TERCEIRIZAO ENQUANTO MECANISMO DE REESTRUTURAODO CAPITAL

    O enxugamento das unidades produtivas fez com que algumas empresas

    buscando uma maior volatividade passassem a terceirizar tarefas e tercer redes com

    fornecedores e consumidores.

    Com o implemento de modelo de produo flexvel, a terceirizao aparece

    como mecanismo do aumento da acumulao de capital, focada, provavelmente, na

    valorizao do setor tercirio da economia, tendo como pressuposto central o aumento

    da produtividade e maior reduo dos custos.

    Segundo Nascimento, (1998: 161), terceirizao designa o processo de

    descentralizao das atividades da empresa, no sentido de desconcentr-las para que

    sejam desempenhadas em conjunto por diversos centros de prestao de servios e no

    mais de modo unificado por uma s instituio.

    Para Domingues, (2009, p.105 ), a terceirizao para o mercado interno, assim

    como incluindo pases distintos, com frequncia implica a contratao de firmas

    menores com trabalhadores empregados informalmente para realizar parte do processo

    de produo para firmas que operam no mercado formal.

    A terceirizao possivelmente sempre esteve presente no cotidiano dos

    trabalhadores, inclusive, desde quando a fora de trabalho passou a ser locada na Frana

    do sculo XIX.

    Quando a contratao foi deixada por iniciativa dos trabalhadores, a princpiolivres de irem aluga-se a seu grado esperteza de empregadores ou deempreiteiros, (o empreiteiro ou subempreiteiro pago pelo patro para aexecuo de uma obra e paga os trabalhadores que contrata diretamente)11.(Castel, 2010: 421)

    11Essa prtica pouco aceita entre os operrios foi abolida em 1848, e restaurada logo depois e defendidapelos liberais, como Leroy- Beualieu, que vem nela uma dupla vantagem: garantir uma vigilncia direta

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    Essa modalidade de descentralizao do trabalho se disseminou em diversos

    outros setores da economia, fato este j esperado, considerando que em artigo

    publicado na revista The Economist, em 21 de dezembro de 1989, sob o ttulo Os

    futuros que j aconteceram Peter Drucker, afirmou que

    at o final do sculo XX, as empresas passariam por umareestruturao cada vez mais radical, que seu tamanho ser uma decisoestratgica e que elas seguiriam duas novas regras: As atividades ou funesque no representarem a essncia da misso da empresa sero subcontratadase o trabalho ser levado aonde esto as pessoas, em vez de trazer pessoas aolocal de trabalho.(Peter Drucker, apund Pagnocelli,1993, p.4)

    No Brasil, especificamente, segundo Pagnoncelli, (1993), a terceirizao ganhou

    fora, a despeito de sua implementao atuante em pases como Estados Unidos, Japo

    e uma gama de pases do continente Europeu, atravs das multinacionais ligadas aosetor automobilstico e outras estrangeiras que aqui operavam.

    Como estratgia empresarial, a contratao de terceiros s veio ocorrer deforma sistemtica a partir da dcada de 50. Os empresrios americanos foramos pioneiros de sua utilizao. s voltas com a escasses de mo-de-obra

    provocada pela segunda guerra mundial, eles passaram a subcontrataratividades consideradas no essenciais. Com o desenvolvimento da indstria,o outsurcing ou subcontracting, como conhecido hoje nos Estados Unidos asubcontratao de atividades, consolidou-se como estratgia empresarial.(Pagnoncelli, 1993, p. 20)

    A partir de ento, possvel um aumento na proliferao da descentrao deatividade consideradas no essenciais em diversos setores da economia, ao passo que ao

    operar apenas atividades originais e vocacionais, terceirizado atividades no rentveis,

    as empresas almejavam tanto a reduo do quadro de pessoal quanto os custos de

    produo, enquanto que por outro lado, mantinham o padro de qualidade, bem como

    aumentavam a eficincia na prestao dos servios.

    6. POR QUE TERCEIRIZAR?

    A reestruturao do capital pode ter exigido dos meios de produo solues que

    trouxessem o maior crescimento como menor custo, Pagnoncelli (1993), enumera

    pontos como sendo necessrios empresa competitiva da dcada de 1990, dentre os

    pelos empreiteiros aos empregados e promover uma espcie de elite de pequenos empresrios a partir dacondio de assalariado. (Castel, 2010: 421)

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    7.1 Os atores da terceirizao

    Neste contexto, por um lado estariam as empresas denominadas tomadoras de

    servios detentoras do capital, situada em grande centros e com slida estabilidade

    econmica.

    Do outro lado, os denominados empreiteiros (pessoa fsica ou e jurdica),geralmente pequenos e micro-empresrios, alguns sem qualquer estabilidade financeira,

    contratados para executar os servios, o que inclua a contratao da mo de obra, e a

    responsabilidade pelos encargos ficais, previdencirio e trabalhistas inerentes da

    contratao.

    E por ltimo, os trabalhadores contratados pelos empreiteiros e sem vnculo

    empregatcio direto com as tomadoras de servios.

    7.2 Ausncia de legislao especfica no Brasil sobre terceirizao trabalhistaNo Brasil, existe uma manifesta carncia normativa a cerca dos direitos

    trabalhistas nas atividades terceirizadas, o tema da terceirizao, encontra-se

    normatizado por Enunciados12do Tribunal Superior do Trabalho.

    A terceirizao tratada pelo Enunciado n 33113do TST pois, alm de ser o

    mais recente a abordar o assunto, entra em especificaes antes no sofridas.

    O enunciado dispe que para que a terceirizao seja plenamente vlida no

    mbito empresarial, no podem existir elementos pertinentes relao de emprego no

    trabalho do terceirizado, principalmente o elemento subordinao.

    O tomador de servios no poder ser considerado como superior hierrquico do

    empregados da empreiteira, no poder haver controle de horrio e o trabalho no

    poder ser pessoal, do prprio trabalhador terceirizado, mas por intermdio da

    12 Os enunciados, nada mais so do que a jurisprudncia reiterada do TST

    13 "I - a contratao de trabalhadores por empresa interposta ilegal, formando-se o vnculo diretamentecom o tomador dos servios, salvo no caso de trabalho temporrio (Lei n 6.019, de 03.01.1974); II - acontratao irregular de trabalhador, atravs de empresa interposta, no gera vnculo de emprego com osrgos da Administrao Pblica Direta, Indireta e Fundacional (art. 37, II, da Constituio da epblica);

    III - no forma vnculo de emprego com o tomador a contratao de servios de vigilncia (Lei n 7.102,de 20.06.1983), de conservao e limpeza, bem como a de servios especializados ligados atividade- eiodo tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinao direta;

    IV - o inadimplemento das obriga es trabalhistas, por parte do empregador, implica

    a responsabilidade subsidiria do tomador dos servios quanto quelas obrigaes,

    desde que tenha participado da relao processual e conste tambm do ttulo

    executivo judicial."

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    empreiteira. Deve haver total autonomia da empreiteira, ou seja, independncia,

    principalmente quanto aos seus empregados.

    Na verdade, a terceirizao implica a parceria entre empresas, com diviso de

    servios e assuno de responsabilidades prprias de cada parte.

    Da mesma forma, os empregados da empresa terceirizada no devero terqualquer subordinao com a empreiteira, nem podero estar sujeitos ao poder de

    direo da ltima.

    7.2 A terceirizao como mecanismo propulsor de informalidade do trabalho

    A informalidade no Brasil, para Antunes (2007 ) chegou na casa de 50% no ano

    de 2007, atravs de trabalhadores obrigados a se adaptarem as flutuaes do mercado,

    saem do trabalho formal, garantidor dos direitos sociais e trabalhistas, bem como do

    componente de identificao social, e so inseridos dentro do trabalho terceirizado einformal.

    A terceirizao pode acarretar a informalidade do trabalho, ao passo que

    dificulta o acesso do trabalhador aos direitos sociais trabalhistas, inclusive ao registro

    formal do contrato de trabalho, pois, embora as grandes empresas sejam as maiores

    beneficiadas com a prestao de servios, estas no participam da contratao e

    provavelmente, no fiscalizam a dinmica do contrato de trabalho.

    7.3 Terceirizao e a precariedade das condies de trabalho

    E justamente os fatores que impedem a relao de emprego entre as tomados

    de servio e os trabalhadores contratados pela empreiteira que podem contribuir para o

    aumento da precarizao nas condies de trabalho e imediatamente a vulnerabilidade

    social do cidado, em um segundo momento acarreta o desemprego e por fim, a

    desfiliao.

    A relao jurdica instada entre o empreiteiro e a empresa tomadora de servios,

    pode ter como objetivo primordial burlar a legislao trabalhista e previdenciria, e

    alguns casos, inclusive chega-se a praticar a tercerizao ilcita14, em que se utiliza a

    14Excludas as hipteses de trabalho temporrio, atividades de vigilncia, atividades de conservao elimpeza e servios especializados ligados a atividade meio do tomador, que ensejam a tercerizao lcitado Direito brasileiro, no h na ordem jurdica do pais preceito legal a dar validade trabalhista a contratosmediante os quais uma pessoa fsica preste servios no-eventuais, onerosos, pessoais e subordinados aoutrem, sem que esse tomador responda, juridicamente, pela relao laboral estabelecida

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    8. CONSIDERAES FINAIS

    Conforme Castel, (2010, p. 478), as transformaes recentes denunciam que a

    identidade pelo trabalho est perdida. Consequentemente, a identidade em termos de

    comunidade de moradia e de modo de vida est sendo ameaada.Na evoluo do mercado econmico, calcado no sistema capitalista, durante os

    dois ltimos sculos, predominou a busca incessante por parte dos trabalhadores em

    adquirir um status social diverso daquele da mais valia, e para tanto, perseguiram com

    afinco condies de trabalho dignas, direitos bsicos, alm de uma integrao ao todo

    social.

    Certamente, grandes avanos podem ser sentidos, principalmente no que tange a

    mudana da condio proletria para salarial que permitiu que os trabalhadores tivessem

    acesso a bens de consumo o que a princpio criava-lhes uma identidade social.A figura do Estado enquanto interventor e regulador na aquisio e normatizao

    de direitos trabalhistas restringida pela incessante busca de reestruturao do capital.

    Novas polticas econmicas surgem para alavancar o crescimento econmico

    pautado no aumento do lucro atravs do menor esforo.

    As empresas, levadas por necessidades mercadolgicas se utilizam de

    mecanismos hbeis a impulsionar o crescimento, dentre os quais, surge na dcada de 50,

    a terceirizao das atividades no diretamente ligadas a essncia do negcio.

    Motivadas pelo af de aumentar a produtividade e a competitividade que geram

    o lucro em maior medida, as empresas passam a terceirizar muito, fragmentam a

    prestao dos servios, que a partir de ento passa a ser disseminada por um grande

    nmero de pequenas empresas.

    Como conseqncia, os trabalhadores dos setores terceirizados, longe dos

    aglomerados industriais e das empresas de grande porte, detentores do capital, ficam

    expostos a fatores que acarretam a vulnerabilidade quanto ao acesso aos comezinhos

    direitos sociais e trabalhistas.

    Na terceirizao, a informalidade aparece em larga escala, na medida que os

    trabalhadores por no ter Carteira de trabalho assinada ou qualquer vnculo trabalhista

    formal com as grandes empresas beneficirias da prestao de servios, so afastados

    dos benefcios previdencirios, como a aposentadoria, auxlios doena e acidentrio,

    dentre outros.

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    E mesmo quando exercem o trabalho, em tese, formal, considerando a ausncia

    de fiscalizao por parte das grandes empresas, ficam expostas a outros mecanismos de

    precarizao do trabalho, como baixos salrios, ambiente laboral inspito, ausncia de

    regulamentao das medidas protetivas de medicina e preveno contra acidentes de

    trabalho, inadimplemento das obrigaes trabalhistas, etc.Considerando o que diz Castel, (2005) quanto a anlise da identificao e uma

    correlao profunda entre o lugar ocupado pelo indivduo na diviso social do trabalho e

    a participao nas redes de sociabilidade e nos sistemas de proteo, a terceirizao leva

    os trabalhadores a sair da zona de integrao que detinham caso exercessem a prestao

    dos servios diretamente s empresas tomadoras. Entram na zona intermediria,

    correspondente a uma vulnerabilidade social, considerando que o trabalho prestado nos

    setores terceirizados tende a ser precrio diante dos fatores acima expostos. E, e por fim,

    caem na zona de excluso, (desfiliao), que pode corresponder at a uma ausncia departicipao em qualquer atividade produtiva, j que por vezes a informalidade e a

    precariedade em determinadas atividades terceirizadas no permite aos trabalhadores o

    acesso a direitos sociais e trabalhistas em caso de invalidez proveniente de doena

    profissional ou acidente de trabalho.

    Portanto, a terceirizao provoca no s a precarizao nas condies de

    trabalho como tambm acarreta a perda do status social do trabalhador, tornando-o

    vulnervel em todos os aspectos vitais, corre-se o risco da desfiliao e da perda da

    identidade.

    BIBLIOGRAFIA

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