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PRÁTICAS E FERRAMENTAS
FACILITADORAS DA GESTÃO DO
CONHECIMENTO: ESTUDO DE CASO
EM EMPRESA DE ALTA TECNOLOGIA
Christiano Cesa (UNISINOS)
Mateus Mota Gentilini (UFRGS)
Jose Luis Duarte Ribeiro (UFRGS)
Este artigo apresenta um estudo de caso numa empresa de alta
tecnologia que possui equipes estruturadas de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D). O objetivo principal do trabalho é identificar
as ferramentas e práticas mais adequadas para propicciar a gestão do
conhecimento nesse meio. Verificou-se quais das ferramentas e
métodos pesquisados na literatura são empregados na prática nesta
empresa, bem como se sugerem quais podem adicionalmente vir a ser
empregadas. Ao final do estudo concluiu-se que a empresa tem um
ambiente favorável à disseminação do conhecimento mesmo sem
possuir um grupo especificamente delegado para a função da gestão de
conhecimento. Perceberam-se muitas ferramentas de Tecnologia da
Informação sendo utilizadas com sucesso e sugeriram-se melhorias
para as áreas onde há carência de elementos facilitadores da gestão do
conhecimento, em especial, no departamento de Recursos Humanos.
Palavras-chaves: Gestão do Conhecimento, Pesquisa e
Desenvolvimento, Tecnologia da Informação, Políticas de Recursos
Humanos, Ambiente e Cultura Organizacional
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
Dentro de um contexto histórico, o tema da Gestão do Conhecimento tem recebido maior
atenção dentro das organizações. Os gestores têm percebido grande valor no ativo intangível
do conhecimento, assim como os estudiosos têm concentrado pesquisas no tema aprendizado
nas organizações. (YANG, 2005; BARRADAS e CAMPOS FILHO, 2008)
Segundo Davenport e Prusak (2003), a atenção se voltou para o conhecimento subjacente de
rotinas e práticas que a empresa transforma em produtos e serviços valiosos. Vários autores
destacam a importância do conhecimento na empresa, colocando-o como um diferencial que
proporciona a inovação, produtividade, continuidade, crescimento, favorecimento da empresa
num ambiente de competição e velocidade na comercialização.
Nonaka e Takeuchi (1997) focam seus estudos nas empresas japonesas, associando a
capacidade de inovação com a questão do conhecimento, defendendo que o diferencial para a
perenidade e recuperação das empresas japonesas em momentos de crise está na sua
capacidade de disseminar adequadamente o conhecimento dentro da organização, fazendo
com que este seja transferido para seus produtos.
Garvin (2000) aponta que o aprendizado e conhecimento são ativos chave para as corporações
que buscam ser competitivas, com produtividade e crescimento em mercados emergentes e
dinâmicos. O valor do aprendizado nas organizações é amplamente reconhecido e as boas
práticas devem ser disseminadas o mais rápido possível.
Davenport e Prusak (2003) defendem que a perenidade, produtividade e inovação das
organizações são favorecidas pela manutenção e contratação de funcionários experientes visto
que é neles em que está o conhecimento.
De acordo com Armbrecht (2001) é evidente a importância do aprendizado e do
conhecimento nas organizações como fonte de vantagem competitiva. As técnicas e
ferramentas que proporcionam este ambiente do conhecimento da organização que aprende
são denominadas como sendo a própria gestão do conhecimento.
Observa-se que gestão do conhecimento é elemento chave para o desenvolvimento das
organizações e que o conhecimento é requerido em maior ou menor grau em virtude do tipo
de atividade desenvolvida. Também é evidente a gestão tende a demonstrar maior necessidade
nas empresas que lidam com tecnologias avançadas e equipes de grande porte. Tais empresas
estão submetidas às pressões por inovação, diferenciação, rápido tempo de resposta ao
mercado e competição. Estas características são encontradas em empresas que possuem um
corpo de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) de produtos, apresentando resultados
expressivos com a aplicação da gestão de conhecimento na promoção do fluxo do
conhecimento interno e de informações externas na empresa.
Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho é apresentar as principais ferramentas de
gestão de conhecimento e, através de um estudo de caso, identificar quais destas ferramentas
ou práticas pesquisadas são utilizadas no departamento de P&D de uma empresa de
telecomunicações, além de realizar uma análise que revela oportunidades de melhoria na
disseminação do conhecimento dentro da organização.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: na segunda seção é apresentado um breve
embasamento teórico sobre o conhecimento, sua criação, modos de conversão e sua gestão
propriamente dita; a terceira seção apresenta uma caracterização da empresa estudada; a
quarta seção introduz a metodologia utilizada no trabalho; a quinta seção apresenta e analisa
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os dados quantitativos e qualitativos obtidos; a sexta seção detalha oportunidades de melhoria
no emprego de ferramentas da gestão do conhecimento e a seção sete traz as considerações
finais sobre o estudo.
2. Embasamento Teórico
2.1 Criação do conhecimento
Conforme definição de Polanyi (1966), existem dois tipos de conhecimento: tácito e explícito.
O conhecimento tácito ou informal é o conjunto de modelos mentais que as pessoas detêm
sobre algum tema. Segundo Johnson-Laird (1989), estes modelos mentais possuem elementos
técnicos de know-how, técnicas e habilidades e elementos cognitivos de analogias, esquemas,
paradigmas, crenças e pontos de vista.
Cruz (2007) define que o conhecimento tácito é aquele que todos acumulamos dentro de nós
mesmos, fruto do aprendizado, da educação, da cultura e da experiência de vida. Para
Davenport e Prusak (2003), o conhecimento explícito é todo aquele que pode ser
documentado, articulado, esquematizado, ensinado e utilizado. Cruz (2007) o defende como
sendo o conhecimento formal. O conhecimento explícito é mais fácil de ser compartilhado e
transmitido. Nas organizações, permite que os funcionários possam rapidamente adquirir
nivelamento, dando subsídios para que se busquem novos conhecimentos.
O termo criação do conhecimento é utilizado por Nonaka e Takeuchi (1997) para denominar
os processos de transformação de conhecimentos tácitos e explícitos que ocorrem nas
organizações. Num sentido restrito, apenas os indivíduos criam conhecimento. As
organizações apenas criam conhecimento devido à presença de indivíduos. O processo de
criação de conhecimento ocorre quando há a conversão entre os tipos de conhecimento.
Conhecimento tácito pode se converter em conhecimento explícito ou combinar-se para
formar novo conhecimento tácito. Conhecimento explícito pode se converter em tácito ou
também ser combinado para gerar novo conhecimento explícito. Para cada um dos quatro
tipos de transição, Nonaka e Takeuchi (1997) definem os modos de conversão do
conhecimento conforme a figura 1.
Figura 1 - Quatro modos de conversão do conhecimento. Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997), p.69
2.1.1 Socialização
Consiste na transformação tácito – tácito e é basicamente o processo de compartilhamento de
experiências entre indivíduos. Como em um treinamento prático, permite que o indivíduo que
está recebendo conhecimentos elabore seus próprios modelos mentais e construa o seu
conhecimento tácito. Exige muita interação, segundo Nonaka e Takeuchi (1997), sem alguma
forma de experiência compartilhada, é extremamente difícil para uma pessoa projetar-se no
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processo de raciocínio do outro indivíduo.
2.1.2 Externalização
Como o próprio nome sugere, é o processo em que se transfere conhecimento de dentro do
indivíduo para o meio, ou seja, do tácito para o explícito, expresso na forma de metáforas,
analogias conceitos, hipóteses ou modelos (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Nas
organizações, a externalização ocorre quando se elaboram analogias ou quando se constroem
modelos lógicos. Os modelos precisam ser claros e livres de contradições.
2.1.3 Combinação
A combinação é a transformação do explícito para o explícito. Os conhecimentos explícitos
são combinados, reorganizados e categorizados, gerando novos conhecimentos explícitos.
Documentos, normas e bancos de dados existentes podem ser reorganizados e filtrados para
gerarem novos conhecimentos. Uma compilação de conhecimentos de áreas diferentes é o
melhor exemplo e sua principal característica é que tal forma de conversão tende a ser
sistêmica e abrangente.
2.1.4 Internalização
Trata-se do processo de incorporação do explícito para o tácito, ou seja, o aprendizado
baseado na prática. Este tipo de aprendizado gera o chamado know-how. Processos de
treinamento, experimentação, leitura e análise de documentos permitem a interiorização dos
conteúdos e a elaboração dos modelos mentais construídos pelos próprios indivíduos.
Além dos quadros modos de conversão do conhecimento, Nonaka e Takeuchi (1997)
apresentam outra importante definição que é chamada de espiral do conhecimento. Ela trata
da contínua conversão do conhecimento através dos quatro modos e inclui as dimensões
epistemológica e ontológica. Com a representação proposta, percebe-se que existe o aumento
de ambas as dimensões na medida em que a revolução da espiral do conhecimento ocorre.
Aumenta-se a quantidade do conhecimento tácito e explícito dominados, bem como o número
de indivíduos que possuem tais conhecimentos, conforme a Figura 2.
Figura 2 - Espiral de conhecimento organizacional. Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997), p.82
2.2 Gestão do Conhecimento
Segundo Cruz (2007), a gestão do conhecimento é uma abordagem que reúne tecnologias e
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metodologias que têm por objetivo ajudar às instituições de todos os tipos a se conhecerem e,
consequentemente, a reconhecerem o que elas sabem a fim de poder fazer uso efetivo desse
conhecimento.
Davenport e Prusak (2003) defendem que a gestão do conhecimento é um conjunto de ações,
práticas e ferramentas para identificar, capturar, compartilhar e gerenciar o ativo do
conhecimento de uma organização. Os mesmos autores sustentam que a gestão do
conhecimento envolve não apenas tecnologias da informação, mas também algumas práticas
gerenciais e de recursos humanos.
Nonaka e Takeuchi (1997) apresentam cinco condições capacitadoras da gestão do
conhecimento que devem ser fornecidas ou apoiadas pela direção das organizações, com a
finalidade de propiciar a criação do conhecimento na empresa, ou seja, fazer com que ela
ocorra, que são:
Intenção, que direciona a organização para suas metas e provê critérios para avaliação
crítica do valor dos conhecimentos através da estratégia da organização;
Autonomia, que amplia as chances de introduzir oportunidades inesperadas e ideias
criativas desde que respeitado o protocolo de intenções da empresa;
Flutuação e caos criativo, que estimulam a interação entre a organização e o ambiente
externo e que ao contrário do caos total, proporcionam espaço para novas ideias e formas
de pensar e agir;
Redundância, com uma superposição intencional de informações e responsabilidades, com
a finalidade de promover como que uma competição sadia entre as melhores ideias geradas
por grupos separados;
Variedade de requisitos, que estimula os membros da organização a buscarem e
combinarem informações em vários setores da empresa, com finalidade de responder às
demandas externas. Para que isto ocorra, os membros da organização devem ter acesso
facilitado às informações e setores diversos.
2.3 Práticas e Ferramentas da Gestão do Conhecimento
Nesta subseção apresentam-se as principais ferramentas e práticas da gestão do conhecimento
identificadas na bibliografia geral sobre este tema e utilizadas pelas organizações. Estas
ferramentas e práticas favorecem uma ou mais formas de geração do conhecimento e o uso de
cada método ou conjunto de métodos é mais adequado para determinado contexto de uma
organização.
Além disso, as ferramentas e práticas apresentadas são classificadas de duas maneiras. Na
primeira classificação, busca-se identificar em qual dos quatros modos de conversão do
conhecimento propostos por Nonaka e Takeuchi (1997) elas estão mais diretamente
relacionadas. Na segunda, classificam-se as práticas e ferramentas de acordo com o modelo de
organização do conhecimento proposto por Angeloni (1999).
Segundo Angeloni (1999), o conhecimento está organizado a partir de três dimensões
interagentes e interdependentes: Infra-Estrutura Organizacional, Pessoas e Tecnologia. As
ferramentas de tecnologia são aquelas que dependem da infra-estrutura de tecnologia da
informação para se criar, armazenar, pesquisar, reunir e distribuir conhecimentos. As
ferramentas de Infra-Estrutura Organizacional são aquelas que favorecem o compartilhamento
do conhecimento, bem como o ambiente e contexto da empresa em si, destacando os valores,
a organização e os modos de relacionamento dentro da empresa e desta com outras
instituições. As ferramentas de Pessoas são aquelas que tem a finalidade de descobrir talentos,
efetuar treinamentos, avaliar e remunerar competências, ou seja, gerenciar o capital humano
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da organização.
A figura 3 apresenta a classificação assim como uma breve descrição de cada ferramenta ou
prática.
Figura 3 - Principais Práticas e Ferramentas da Gestão do Conhecimento
3. Caracterização da empresa
A empresa pesquisada atua na área de equipamentos de telecomunicações de grande porte, um
mercado altamente competitivo. Seus principais clientes são as grandes operadoras de
telecomunicações que adquirem tais equipamentos para compor suas redes. Os concorrentes
são empresas de classe mundial e grande porte. Embora as tecnologias e produtos
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desenvolvidos sejam normatizados, obtém-se o diferencial competitivo ao se oferecer
soluções completas e com tecnologias integradas aos clientes.
Trata-se de uma empresa jovem, com doze anos desde a sua fundação e que atualmente possui
cerca de 550 funcionários, sendo que destes, 280 fazem parte do corpo de P&D. Existem três
centros de P&D espalhados pelo país, sendo que o principal fica localizado na matriz.
Existem três linhas de produtos e mais um software de monitoramento e configuração dos
produtos. Essas linhas de produto estão sob a gerência de três gestores de tecnologia.
As equipes de desenvolvimento são divididas por linha de produtos e plataforma.
Considerando o tipo de produto desenvolvido, existe uma clara divisão das atividades em três
áreas que são: Desenvolvimento de Hardware, Desenvolvimento de Lógica Programável e
Desenvolvimento de Software.
4. Metodologia
Baseado em Yin (2000), este artigo apresenta um estudo de caso em que se examina um
fenômeno em seu meio natural, a partir de múltiplas fontes de evidências (indivíduos, grupos,
organizações) empregando vários métodos de coleta e análise de dados (entrevistas,
questionários, documentos).
Para realização deste trabalho foi utilizado tanto uma abordagem qualitativa como
quantitativa. A abordagem qualitativa deu-se na fase de levantamento das ferramentas e
práticas da organização, em que foram realizadas entrevistas individuais através de
questionário aberto e análise dos sistemas de tecnologia da informação da organização. A
abordagem quantitativa ocorreu na medida em que as ferramentas foram identificadas e as
informações foram organizadas e sistematizadas, obedecendo uma categorização conforme as
três dimensões do conhecimento propostas por Angeloni (1999).
4.1 Delineamento do Estudo de Caso
4.1.1 Identificação de Oportunidade
Na empresa estudada, em média, cerca de 40 projetos ocorrem simultaneamente. Alguns
projetos possuem grandes semelhanças e algumas das tecnologias envolvidas se repetem com
frequência, mas as equipes não costumam trafegar entre os projetos, porque estão associados à
determinada plataforma. Com isso, é comum a repetição de problemas e o estudo de soluções
de forma desconexa entre as equipes, o que causa perda de tempo em todo o processo de
investigação e análise, bem como a perda da oportunidade de compartilhamento de
experiências e soluções encontradas pelo isolamento entre equipes. Dessa forma, um estudo
da situação atual se faz necessário para compreender o cenário corrente.
4.1.2 Objetivos e Questões de Estudo
O objetivo do estudo é a identificação das ferramentas e práticas da gestão de conhecimento
que são empregadas na empresa, caracterizando-as com relação aos quatro modos de
conversão do conhecimento e com as dimensões de Tecnologia, Infra-Estrutura
Organizacional e Pessoas.
Os principais questionamentos a serem respondidos e entendidos estão relacionados à (i)
quais as ferramentas e práticas adotadas, (ii) como estas estão distribuídas de acordo com os
modos de conversão do conhecimento, (iii) como estão distribuídas dentro das dimensões do
conhecimento, (iv) quais os pontos positivos e negativos das ferramentas ou práticas
empregadas e (v) como a gestão do conhecimento está disseminada pela organização.
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4.1.3 Fontes de Dados, Tamanho de Amostra e Processo de Amostragem
Como fontes primárias, através da aplicação de um questionário aberto, foram consultados
colaboradores de diversas áreas do P&D. A fonte secundária de dados deu-se através do
levantamento das principais ferramentas de TI existentes na empresa.
Para a definição da amostra, selecionou-se para participar da entrevista um grupo de cinco
colaboradores do departamento de P&D da empresa. O motivo da escolha deste tamanho de
amostra deveu-se ao tempo disponível para a execução de todas as entrevistas. Os cinco
colaboradores foram selecionados considerando questões de acessibilidade, disponibilidade e
relevância de suas posições. Foram entrevistados colaboradores das seguintes funções:
gerente de projetos, desenvolvedor de hardware, desenvolvedor de projetos mecânicos,
desenvolvedor de lógica programável e desenvolvedor de software.
4.1.4 Elaboração do questionário
O questionário foi elaborado a partir das questões de estudo já explicitadas. Essas questões
foram desdobradas visando que as suas respostas pudessem retratar com a maior integridade
possível as informações existentes na organização. Além disso, o questionário foi elaborado
com perguntas orientadas a três áreas principais: Ferramentas de Tecnologia da Informação,
Ambiente e Cultura organizacional e Políticas de Recursos Humanos. Esta divisão visou
facilitar o trabalho de classificação e agrupamento das ferramentas utilizadas, além de
assemelhar-se muito ao modelo de organização do conhecimento proposto por Angeloni
(1999).
A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista presencial e de forma semi-
estruturada, onde as perguntas do roteiro foram feitas ao entrevistado, existindo liberdade, ao
longo da conversa, para incluir novos questionamentos.
4.1.5 Tabulação dos dados do questionário
Na apreciação dos dados foi realizada uma análise qualitativa e de profundidade das
informações coletadas. Procurou-se observar padrões de repetição nas respostas e aplicou-se a
simplificação, abstração e transformação para se obter uma redução no montante de
informações obtidas e conduzir às interpretações e conclusões.
As principais ferramentas e práticas pesquisadas foram organizadas de acordo com suas
categorias propostas no questionário. Adicionalmente, elaborou-se a correspondência de cada
um dos itens com as quatro formas de geração do conhecimento com que mais possuem
relação. A finalidade desta segunda associação foi prover uma base para análise da pesquisa
de forma a verificar se a empresa estudada possui os elementos mínimos de práticas e
ferramentas para: (i) promover todas as formas de criação do conhecimento e (ii) fazer com
que ocorra a espiral do conhecimento, conforme definido por Nonaka em Takeuchi (1997).
5. Apresentação e Análise dos Dados
A partir da análise da pesquisa realizada e demais fontes de informação, identificou-se a
existência de diversas ferramentas e práticas de gestão de conhecimento sendo aplicadas pela
empresa.
5.1 Políticas de Recursos Humanos
Na tabela 1 agrupam-se as políticas e práticas relacionadas a recursos humanos existentes na
empresa. Relacionam-se cada uma às formas de criação do conhecimento preponderantes.
Ferramenta ou Prática Externalização Combinação Internalização Socialização
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Sistemas de Avaliação √
Responsável direto √
Tabela 1 - Políticas relacionadas a Recursos Humanos encontrados na empresa
Percebe-se uma quantidade pequena de elementos de Recursos Humanos relacionados à
gestão do conhecimento, comparado com o que foi encontrado na bibliografia pesquisada e
com a quantidade de elementos existentes em outras categorias na empresa.
5.2 Ferramentas de Tecnologia da Informação
Na tabela 2 agrupam-se as ferramentas de tecnologias da informação facilitadoras da gestão
do conhecimento usadas na empresa. Relacionam-se cada uma às formas de criação do
conhecimento preponderantes.
Ferramenta ou Prática Externalização Combinação Internalização Socialização
Portais corporativos (intranet) √ √
Fóruns de discussão (Bugzilla e EPM) √ √
Páginas amarelas √
Sistema ERP √ √
Sistema de pedido de alteração – PA √
Client Maangement Relationship √ √ √
Sistema de correio eletrônico √ √ √
Repositórios de códigos de LP √ √
Pastas de projeto no servidor √ √
Mensagens instantâneas √
Áudio e videoconferência √
Sistema de Chamados √
Enterprise Project Management √ √ √
Wikipedia interno √ √ √
Tabela 2 - Ferramentas da Tecnologia da Informação encontradas na empresa.
Percebe-se uma grande quantidade de elementos relacionados nessa categoria e uma
abrangência completa e homogênea em todas as quatro formas de conversão do
conhecimento.
5.3 Ambiente e Cultura Organizacional
Na tabela 3 agrupam-se as ferramentas e práticas facilitadoras da gestão do conhecimento
relacionadas ao ambiente e cultura organizacional existentes na empresa. Relacionam-se cada
uma às formas de criação do conhecimento preponderantes.
Ferramenta ou Prática Externalização Combinação Internalização Socialização
Recomendações Internas √ √
Procedimentos organizacionais e
normas internas √ √
Comunidade de Prática √ √ √
Ambiente de colaboração e confiança √
Brainstorming √
Benchmarking √ √
Processos de sugestões √
Relacionamento com universidades √ √
Organização do espaço físico √
Tabela 3 - Ferramentas e práticas relacionados ao Ambiente e Cultura Organizacional encontrados na empresa
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Percebe-se uma quantidade grande de elementos listados nessa categoria e uma abrangência
completa e homogênea em todas as quatro formas de conversão do conhecimento. Especial
destaque deve ser dado para o ambiente de colaboração e confiança existente, devido à sua
importância em viabilizar o bom funcionamento dos demais.
5.4 Síntese das Entrevistas Realizadas
Embora se identifiquem diversas ferramentas e práticas utilizadas com sucesso, algumas
ferramentas são desconexas e em alguns casos até concorrentes. A empresa pesquisada não
possui nenhum grupo responsável pela gestão de conhecimento, embora reconheça e valorize
o compartilhamento do conhecimento, uma vez que um dos nove itens do processo de
avaliação de desempenho dos funcionários é a divulgação do conhecimento e trabalho
colaborativo.
De acordo com os entrevistados, percebeu-se a existência de um ambiente favorável à criação
do conhecimento em função do elevado grau de confiança e reciprocidade existente entre os
colegas, porém tal abertura parece ser mais aproveitada na resolução de problemas, mas
pouco na discussão de novos produtos. Com isto, segundo alguns, causam-se erros que
resultam na necessidade de retrabalhos que poderiam ter sido evitados nos projetos.
A grande maioria dos entrevistados cita a existência de uma rede informal auto-organizada e
descentralizada de indicação e recomendação de contatos internos para ajudar na solução de
dúvidas ou problemas que é mais eficiente do que o sistema de páginas amarelas na
identificação de contatos.
Apontou-se a existência de uma política de controle de informações determinada pela alta
direção com o intuito de prevenir vazamento de informações estratégicas e proteger a
exposição dos dados, informações e conhecimentos da empresa. Esta política restringe, em
todos os setores, o controle de acesso às informações de outros setores e em especial no P&D,
restringindo o acesso a informações de projeto por desenvolvedores de fora do projeto. Existe
um contrato específico assinado na admissão que trata da política de sigilo.
6. Oportunidades de Melhoria
Conforme o estudo de caso realizado, percebeu-se que a gestão do conhecimento na empresa
estudada está razoavelmente desenvolvida, pois a mesma possui ferramentas e práticas em
funcionamento e um ambiente favorável ao compartilhamento e geração do conhecimento,
apesar de não existir um grupo especificamente designado para isso.
Entretanto, diversas melhorias foram levantadas para complementar e aumentar a geração de
resultados, apoiada na existência de uma gestão de conhecimento formalizada. Tais
melhorias e esforços sugeridos são enumerados a seguir:
Unificação de ambientes e sistemas: existe grande número de ambientes, ferramentas e
sistemas. Deve-se evitar a introdução de mais ferramentas de TI, mas sim explorar melhor os
recursos existentes. A ocorrência de ferramentas concorrentes como o fórum do EPM/PWA e
o Bugzilla diminui a adesão a um ou outro sistema;
Instalação de uma ferramenta de busca no conteúdo da empresa: trata-se de um complemento
à intranet que facilitaria a busca de documentos e informações da empresa. A intranet agrupa
todos os documentos, normas, recomendações e links para outros sistemas de tecnologia da
informação, porém não possui uma ferramenta de busca objetiva para encontrar as
informações desejadas de forma ágil e precisa dentro dos documentos, normas;
Desenvolvimento de novas políticas de recursos humanos: mapeamento de competências e
retenção de talentos seriam dois esforços importantes para complementar a gestão do
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conhecimento na empresa. Exceto pela rede informal e experiência dos gestores, não se
conhece onde estão exatamente as competências e se estão sendo bem utilizadas. Levando-se
em consideração apenas a dimensão do número de colaboradores de P&D, fica evidente que é
uma tarefa difícil apenas para os gestores determinarem as competências e talentos existentes
dentro de suas equipes, descobrir pontos fortes e reconhecer as lacunas de conhecimento que
devem ser preenchidas;
Processos de seleção, contratação e treinamento de novos colaboradores: atualmente existe a
seleção de novos colaboradores pelo responsável direto e encaminhamento para teste
psicotécnico terceirizado, caso identifique-se no candidato o perfil e competências
procurados. O departamento de Recursos Humanos apenas se envolve com questões
burocráticas de documentação. Candidatos não selecionados para uma determinada vaga
podem possuir competências necessárias para outras vagas, mas são descartados nesse
processo;
Melhoria nas páginas amarelas: satisfeito o mapeamento de competências, ficaria fácil
completar a principal informação faltante no sistema de páginas amarelas existente que é a
questão dos conhecimentos e competências de cada colaborador. Com este sistema completo,
facilitaria se as buscas por pessoas de referência em determinados assuntos;
Treinamentos: dependendo da função do colaborador na empresa existem diversos
treinamentos e leitura obrigatória como normas, procedimentos ou recomendações que devem
ser realizados e aprendidos. Nem sempre tais treinamentos ou leituras são realizados. Um
maior controle nesse sentido e a execução de treinamentos e reciclagem seriam interessantes;
Melhorar a interação e padronização das equipes da empresa: conforme verificado pela
entrevista, existe uma falta de padronização entre os diversos setores e equipes de projeto na
empresa. As práticas e padrões que uma equipe segue às vezes são completamente diferentes
daquelas entendidas e seguidas por outras equipes.
7. Considerações Finais
O presente trabalho teve o objetivo de pesquisar os conceitos básicos e as práticas e
ferramentas facilitadoras da gestão do conhecimento. Também objetivou apresentar um
estudo de caso em uma empresa de P&D, revelando quais as ferramentas atualmente são
utilizadas e sugerindo o aumento e aproveitamento do escopo da gestão através da
implementação de elementos adicionais.
Elaborou-se uma pesquisa bibliográfica apresentando a criação do conhecimento, suas formas
de conversão, a espiral do conhecimento e, além disso, as principais ferramentas e práticas
encontradas na literatura foram apresentadas e classificas.
Através de um estudo de caso baseado em uma entrevista semi-estruturada, foram
identificadas as principais ferramentas e práticas utilizadas pela empresa estudada. A seguir,
as ferramentas e práticas encontradas tanto na bibliografia consultada quanto no estudo de
caso foram associadas às quatro formas de conversão do conhecimento e ao modelo de
organização do conhecimento proposto por Angeloni (1999).
Com base neste estudo, verificou-se que a empresa pesquisada possui vários elementos
próprios da gestão de conhecimento. Esses elementos se concentram nas áreas de TI e
ambiente e cultura; Porém, há poucos elementos na área de recursos humanos, comparado ao
que foi pesquisado, indicando uma lacuna a ser preenchida. Nas áreas de forte presença de
ferramentas e práticas, verificou-se uma ampla cobertura das formas de conversão do
conhecimento, demonstrando a possibilidade de revolução da espiral do conhecimento.
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De posse desta análise várias propostas de melhorias foram levantadas, visando
principalmente o desenvolvimento de novas ferramentas e práticas de recursos humanos,
assim como uma consolidação e aprimoramento de algumas ferramentas de TI que se
demonstraram concorrentes.
Como consideração final, aponta-se o aspecto positivo deste trabalho em identificar as
principais ferramentas utilizadas pela empresa, representando um diagnóstico atual do
desenvolvimento da gestão do conhecimento dentro da organização. Destacam-se como
possibilidade de trabalhos futuros a implementação de novas ferramentas de recursos
humanos e uma análise mais profunda sobre a concentração dos modos de geração do
conhecimento e sua influência no desenvolvimento de projetos.
Referências Bibliográficas
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Pós-Graduação de Administração, 1999
ARMBRECHT, F. M. R. Knowledge management in research and development. Research-Technology
Management, Virginia, p.28-48, jul. 2001.
BARRADAS, J. S.; CAMPOS FILHO, L. A. N. Gestão do Conhecimento: a produção científica em
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