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1 UMA CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO MÉDICO HOSPITALAR EM UBERLÂNDIA Kássia Nunes da Silva 1 Universidade Federal de Uberlândia Av. João Naves de Ávila nº 2160, Santa Mônica, Bloco 1H [email protected] Julio Cesar de Lima Ramires 2 Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Resumo: O presente trabalho procura fazer uma análise da diversificação e da dinâmica existente no sistema dos serviços de saúde da cidade de Uberlândia-MG, bem como do papel polarizador dos hospitais que têm se constituído como um importante agente, no que tange, à concentração espacial/geográfica dos serviços de saúde, originando os clusters. Neste sentido, foi verificado, através de um levantamento de campo, uma aglomeração de firmas do setor, sobretudo, na zona central da cidade, buscando promover um desenvolvimento eficaz com maior produtividade através de uma ação conjunta e coordenada das empresas que desenvolvem atividades complementares. Palavras-Chave: Serviços de Saúde, Cluster, Aglomeração Produtiva. 1. INTRODUÇÃO O aumento da complexidade das atividades ligadas ao setor da saúde, especialmente os serviços de alta complexidade, tem uma materialização no espaço geográfico, expresso através dos sistemas de engenharia – os fixos e os fluxos – que reforçam antigas hierarquias urbanas e criam novas articulações não necessariamente hierárquicas. Verificam-se em muitas cidades médias um aumento do número e diversificação dos serviços de saúde além do aumento da densidade técnica em procedimentos e equipamentos sofisticados. A presença de hospitais universitários vinculados às Instituições de Ensino Superior, desenvolvendo atividades de ensino/pesquisa/atendimento, têm se constituído em importante fator de centralização de serviços de saúde e no seu papel polarizador em um determinado contexto regional. O maior dinamismo econômico de muitas cidades médias aliado a precarização dos serviços de saúde públicos têm levado o crescimento do setor privado, com clínicas particulares, cooperativas médicas, planos de saúde reforçando a importância do setor. 2. RESULTADOS 3. CARACTERIZAÇÃO DA REDE DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE UBERLÂNDIA O setor da saúde também se constitui como objeto da revolução técnico-científica e da reestruturação produtiva do capitalismo, sendo que o desenvolvimento da tecnificação da prática médica e dos serviços de saúde é uma das faces desse processo. Deve-se levar em conta que a prática médica e dos serviços de saúde se inserem numa lógica econômica de reestruturação do capitalismo, que tem no desenvolvimento tecnológico um dos seus principais pilares de extração da mais-valia. 1 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Rua Antônia Saltão de Almeida nº 167, Santa Mônica, Uberlândia, CEP: 38408-118. [email protected]. 2 Professor Doutor da Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Geografia. Coordenador do Projeto de Pesquisa. Av. João Naves de Ávila nº 2160, Santa Mônica, Bloco 1H. [email protected]. PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA

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UMA CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO MÉDICO HOSPITALAR EM UBERLÂNDIA

Kássia Nunes da Silva1 Univers idade Federa l de Uber lândia Av. João Naves de Ávila nº 2160, Santa Mônica, Bloco 1H [email protected] Julio Cesar de Lima Ramires2 Univers idade Federa l de Uber lândia ramires_jul [email protected]

Resumo: O presente trabalho procura fazer uma análise da diversificação e da dinâmica

existente no sistema dos serviços de saúde da cidade de Uberlândia-MG, bem como do papel

polarizador dos hospitais que têm se constituído como um importante agente, no que tange, à

concentração espacial/geográfica dos serviços de saúde, originando os clusters. Neste sentido, foi

verificado, através de um levantamento de campo, uma aglomeração de firmas do setor, sobretudo,

na zona central da cidade, buscando promover um desenvolvimento eficaz com maior

produtividade através de uma ação conjunta e coordenada das empresas que desenvolvem

atividades complementares.

Palavras-Chave: Serviços de Saúde, Cluster, Aglomeração Produtiva.

1. INTRODUÇÃO

O aumento da complexidade das atividades ligadas ao setor da saúde, especialmente os serviços de alta complexidade, tem uma materialização no espaço geográfico, expresso através dos sistemas de engenharia – os fixos e os fluxos – que reforçam antigas hierarquias urbanas e criam novas articulações não necessariamente hierárquicas. Verificam-se em muitas cidades médias um aumento do número e diversificação dos serviços de saúde além do aumento da densidade técnica em procedimentos e equipamentos sofisticados. A presença de hospitais universitários vinculados às Instituições de Ensino Superior, desenvolvendo atividades de ensino/pesquisa/atendimento, têm se constituído em importante fator de centralização de serviços de saúde e no seu papel polarizador em um determinado contexto regional. O maior dinamismo econômico de muitas cidades médias aliado a precarização dos serviços de saúde públicos têm levado o crescimento do setor privado, com clínicas particulares, cooperativas médicas, planos de saúde reforçando a importância do setor. 2. RESULTADOS

3. CARACTERIZAÇÃO DA REDE DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE UBERLÂNDIA

O setor da saúde também se constitui como objeto da revolução técnico-científica e da reestruturação produtiva do capitalismo, sendo que o desenvolvimento da tecnificação da prática médica e dos serviços de saúde é uma das faces desse processo. Deve-se levar em conta que a prática médica e dos serviços de saúde se inserem numa lógica econômica de reestruturação do capitalismo, que tem no desenvolvimento tecnológico um dos seus principais pilares de extração da mais-valia.

1 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Rua Antônia Saltão de Almeida nº 167, Santa Mônica, Uberlândia, CEP: 38408-118. [email protected]. 2 Professor Doutor da Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Geografia. Coordenador do Projeto de Pesquisa. Av. João Naves de Ávila nº 2160, Santa Mônica, Bloco 1H. [email protected].

PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA

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3.1. A rede pública de saúde

A atenção à saúde abrange todo e qualquer tipo de cuidado que se deve ter com a saúde, como a prevenção e a recuperação de doenças por meio do tratamento médico. A Atenção Primária é responsável pelo primeiro nível de atendimento à saúde do paciente, que, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia-MG, abarca diversas ações médicas como a promoção à saúde, a prevenção de doenças, o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação dos pacientes, através das especialidades básicas da Saúde representadas pela pediatria, clínica médica, obstetrícia, ginecologia, psicologia, odontologia, serviço social e enfermagem. A atenção primária é de extrema importância aos municípios, visto que, se possuir uma adequada capacidade de atendimento, a mesma resolve cerca de 80% dos casos de pacientes com problemas de saúde.

Em Uberlândia a Atenção Primária à Saúde está disponível nas Unidades Básicas de Saúde - UBS, Unidades do Programa Saúde da Família e nas Unidades de Atendimento Integrado - UAI.

Além dos serviços de atenção básica, o município de Uberlândia oferece também serviços de Média e Alta Complexidade. Os serviços de Média Complexidade são desenvolvidos por profissionais especializados através de recursos dotados de tecnologia. Os serviços de saúde que demandam média complexidade são oferecidos pelas UAIs, Centro de Reabilitação Municipal de Fisioterapia, Ambulatório de Oftalmologia, Ambulatório de DST/AIDS Herbet de Sousa, Centro de Atenção ao Diabético, Centro de Referência a Saúde do Trabalhador, Fonoaudiologia, Programa de Lesões Lábio-Palatais e Ambulatório Amélio Marques – UFU.

Os serviços de Alta Complexidade são assim desiguinados em função do elevado grau de tecnologia inserido nos equipamentos médicos e dos altos custos dos mesmos. Tais serviços são de extrema relevância na assistência médica, visto que oferecem maior qualidade de atendimento ao paciente e são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde – SUS nos Centros de Atenção Psico Social – CAPS, Hospital de Clínicas da UFU e Hospitais Privados conveniados ao SUS.

Deve-se levar em conta a importância do Hospital de Clínicas da UFU como único hospital público prestador de serviços de média e alta complexidade da região.

Os atendimentos de urgência e emergência são realizados no Pronto Socorro da UFU e Pronto Atendimento das UAIs; são caracterizados pela necessidade de atendimento rápido, em curto período de tempo. O paciente em caso de emergência deve ser atendido no Pronto Socorro da UFU, visto que são situações em que há risco de vida, por isso deve receber atendimento imediato. Os casos de urgência não se caracterizam necessariamente como riscos de vida. Os serviços de urgências estão disponíveis em todas as UAIs, tendo de ser prestados em no máximo duas horas após a chegada do paciente. Os demais casos, isto é, aqueles classificados como não-urgentes, recebem atendimento nas UBS ou nas Unidades Básicas de Saúde da Família.

Em relação aos atendimentos realizados pelos Ambulatórios das Unidades Básicas de Saúde no ano de 2006, tem-se um total de 823.036 pacientes assistidos, sendo que as UAIs Luizote e Tibery lideram o ranking dos atendimentos representando 13,7% e 12,6%, respectivamente.

No que tange ao número de pacientes que foram atendidos nos Pronto Atendimento das Unidades Básicas de Saúde no ano de 2006, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, observa-se um total de 955.222 pacientes. Com exceção da UAI Martins, as demais ultrapassaram a quantidade de 100.000 atendimentos, sendo que a UAI Planalto obteve destaque atingindo aproximadamente 18% do total dos atendimentos. Ao comparar os atendimentos realizados nos ambulatórios e nos pronto atendimentos, fica evidente que estes são muito superiores em quantidade do que aqueles, ou seja, há uma grande distorção no sistema de saúde o qual precisa ser alterado, visando a melhoria da saúde e do bem estar da população.

Na busca de maior eficiência na assistência médica da população, o município de Uberlândia foi dividido em cinco setores urbanos de atendimento, classificados em Leste, Oeste, Norte e Sul e um setor na zona rural.

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Figura 1: Uberlândia – Distritos Sanitários, 2004

3.2 . A rede privada de saúde

Com base em Oliveira (2008) a partir do ano de 1997 houve um desenvolvimento considerável em relação aos atendimentos voltados para o setor da saúde, sobretudo no que se refere ao crescimento no número de hospitais, clínicas médicas, bem como dos estabelecimentos voltados para a comercialização de equipamentos hospitalares. No período de 1997 até 2007 as clínicas médicas obtiveram um aumento de 87%, sendo mais freqüentes na área central. Oliveira (2008) afirma ainda que as clínicas médicas seguem um padrão espacial de desenvolvimento, visto que as mesmas se instalam próximo aos hospitais, os quais se localizam na sua maioria nos bairros centrais, produzindo assim “áreas especializadas no espaço da cidade”.

Em relação aos estabelecimentos que comercializam equipamentos hospitalares, apesar do pequeno aumento observado no período, de aproximadamente 22%, estes seguem os mesmos moldes das clínicas médicas, visto que, no mesmo período, houve um acréscimo maior destas na área central da cidade. No entanto, estes padrões caracterizam a lógica de espacialização do setor, visto que, a proximidade destes estabelecimentos com os hospitais e as clínicas são extremamente relevantes, pois visam atingir o maior e mais eficiente desenvolvimento do sistema de saúde. Esta proximidade facilita a reposição de equipamentos nos hospitais com maior rapidez e eficácia, promovendo a interação de vários agentes que se localizam a uma pequena distância uns dos outros. Sendo assim, Oliveira (2008) constatou que houve poucas mudanças no padrão espacial concentrado das Lojas de artigos e equipamentos hospitalares, bem como dos hospitais, na área central da cidade, especialmente nos bairros Centro e Martins.

Assim, pode-se considerar que os hospitais desenvolvem uma influência sobre as demais atividades relacionadas ao setor da saúde, visto que, estas atividades procuram instalar-se nas proximidades dos hospitais objetivando um desenvolvimento eficaz com maior produtividade através de uma ação conjunta e coordenada das empresas que desenvolvem atividades complementares.

Aliado aos demais serviços de saúde encontram-se os laboratórios que desenvolvem atividades especializadas e, assim como os outros serviços deste setor, se concentram próximos dos hospitais, colaborando para uma concentração espacial, sobretudo na região central, a qual comporta a maioria dos laboratórios. De acordo com Oliveira (2008), no ano de 1997 havia 50 unidades laboratoriais, regredindo para 26 unidades no ano de 2007. Essa redução ocorreu devido à

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concorrência existente entre as empresas deste setor, o que provocou o fechamento de uma quantidade significativa de laboratórios. 3.3. Os hospitais privados e público e sua importância na formação do pólo de saúde em Uberlândia

Uberlândia se destaca por ser uma cidade que assume a função de pólo prestador de serviços de saúde tanto em sua região quanto para sua área de influência. Isso pode ser evidenciado por meio das informações disponibilizadas pelo Hospital de Clínicas (HC) da UFU, relacionadas à origem dos pacientes que são atendidos pelo mesmo nas seguintes especificidades: ambulatório, internação e pronto socorro. Neste sentido, de acordo com informações do HC, de um total de 515.710 atendimentos realizados no ano de 2006 nas unidades ambulatoriais, 88% são de pacientes residentes no município de Uberlândia e os 12% restantes são de outras localidades. Do total de internações (21.795), 84% são de moradores locais e 16% são pessoas vindas de outras cidades. Já os atendimentos de pronto socorro, corresponderam por 96% de atendimentos de pacientes que residem na cidade e 4% de pacientes vindos das regiões de influência, de um total de 110.420. Com base nesses dados, pode-se afirmar que o HC de Uberlândia, atendeu no ano de 2006 um total aproximado de 12% de pacientes provenientes de outras localidades. Isso ocorre devido ao fato de Uberlândia caracterizar-se como uma cidade referência em saúde, sendo que o HC é o único hospital público que oferece atendimentos de média de alta complexidade, realizando uma média de 2.659 atendimentos diários, caracterizando também como o maior hospital que presta serviços pelo SUS no estado de Minas Gerais.

Em relação à força de trabalho disponível no HC para o ano de 2005, encontra-se um total de 3.404 trabalhadores, sendo que 57% deles possuem vínculo com a UFU, 39% são funcionários da Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia - FAEPU e 4% são terceirizados. Cabe enfatizar que dentre estes trabalhadores, existem o pessoal do nível de apoio (17,7%), os que possuem nível médio (57,2%), e os de nível superior (25,1%). No que tange à quantidade de médicos, o HC conta, em 2006, com um total de 514 médicos que atendem as seguintes especialidades: Cirurgia, Clínica Médica, Ginecologia/Obstetrícia, Pediatria, UTI Adulto, UTI Neonatal, UTI Pediátrica, dentre outras. Do total de médicos no hospital, 21,2% são docentes, 50,6% atuam na área administrativa e 28,2% são médicos residentes.

Uberlândia é considerada, portanto, uma cidade que detém quantidade significativa de unidades de atendimentos médicos, sobretudo, no que tange à rede privada de serviços. Em nível de assistência hospitalar - aquela que é oferecida nos hospitais e, em função da maior complexidade e gravidade do problema, faz-se necessário a internação do paciente - Uberlândia conta com quatro hospitais privados prestadores deste tipo de serviço (Hospital Santa Catarina, Hospital São Francisco, Casa de Saúde Santa Marta e Clínica Infantil Dom Bosco), que fazem atendimentos de média complexidade, exceto o Hospital Santa Catarina que possui assistência de alta complexidade. O HC, único hospital público da cidade, também atende em nível assistencial, todos os tipos de especialidades em média e alta complexidade.

A assistência ambulatorial se caracteriza por promover a prestação de serviços relacionada a consultas médicas, exames, tratamentos e procedimentos ambulatoriais (incluindo pequenas cirurgias), porém sem ocorrer internação do usuário. Neste contexto, o município conta com três unidades públicas prestadoras deste serviço (Secretaria Municipal Saúde, Universidade Federal de Uberlândia e Hemocentro); três unidades de caráter filantrópico (Associação dos Pais Amigos Excepcionais - APAE, Associação de Assistência Criança Deficiente – AACD e Juventude Espírita de Uberlândia); e dezoito unidades da rede privada (Consultórios Reunidos, Laboratório Central, Laboratório Eduardo Maurício, Biolab, Check – UP, DIU-Saúde, Virchow Buffoni e Alves, Biogenetics Tecnol. Molecular, Laboratório de Imunologia e Transplante, Casa de Saúde Santa Marta, Hospital São Francisco, Hospital Santa Catarina, Instituto de Nefrologia, Instituto do Rim, Nefrologia do Triângulo, Sonodiagnose, Centro de Tratamento Cálculo Renal, ISO- Instituto de

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Saúde Ocular), sendo que em todos os tipos de prestadores, existem atendimentos em nível de média e alta complexidade, além da atenção básica que é oferecida pela rede pública de saúde. 4. UMA CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO INDUSTRIAL DA SAÚDE

A caracterização dos serviços de saúde em Uberlândia apresentado anteriormente indicou a importância desse setor para a população, mas deve ser reforçado também sua importância econômica, na medida em que produz produtos e serviços com grande valor agregado de ciência e tecnologia, empregando um grande contingente de trabalhadores com diferentes níveis de formação.

O complexo industrial da saúde está presente na cidade de Uberlândia, especialmente por meio dos serviços de saúde e atividades correlatas a eles, não contando com os segmentos típicos de um complexo industrial da saúde. Assim sendo, pode-se falar de um complexo médico-hospitalar ou de um cluster de serviços de saúde.

Conforme define Gadelha (2003), o complexo industrial da saúde é formado por três grandes grupos de atividades: as indústrias de base química e biotecnológica (fármacos e medicamentos, vacinas, hemoderivados e reagentes para diagnósticos); indústrias de base mecânica, eletrônica e de materiais (equipamentos mecânicos, eletroeletrônicos, próteses e órteses, materiais de consumo), e os setores prestadores de serviços. Os segmentos dos serviços é o setor motriz do complexo, já que para ele conflui toda a produção dos demais grupos.

Para Guimarães (1999) o complexo médico-industrial formado por uma rede de corporações privadas comprometidas com o negócio da oferta/consumo de serviços de saúde e com forte densidade tecnológica, nem sempre, promove alteração nos perfis de morbi-mortalidade dos países, ou seja, o uso dessas tecnologias implica um custo muito elevado em relação aos benefícios produzidos.

Para o referido autor, a complexidade crescente das tecnologias médicas elimina a possibilidade de sua produção no nível local, tendo em vista as exigências de altos investimentos e lucros por parte das grandes firmas. A modernização tecnológica tende a criar novas demandas, aumentando o espectro do mercado de serviços de saúde.

Atualmente, se tem destinado especial atenção para o desenvolvimento regional, visto que, acredita-se que o mesmo contribui significativamente para o crescimento nacional. A importância atribuída ao desenvolvimento particular das regiões surgiu, sobretudo devido à limitação do desenvolvimento nacional, em função, principalmente do aumento das aglomerações populacionais, originando as chamadas metrópoles, que geram uma elevada concentração geográfica, dificultando assim o crescimento econômico do país (TELLES, 2002).

O setor farmacêutico, por exemplo, detém um faturamento anual de R$28 bilhões e os produtos de uso médico movimentam cerca de R$8 bilhões por ano no país. Entretanto, a estrutura empresarial do Brasil ainda não está totalmente consolidada e, em função disso, as indústrias do setor não detêm um significativo poder de competição no mercado internacional, além de possuir uma dependência de outras localidades na importação de fármacos, vacinas, reagentes para diagnósticos, hemoderivados e equipamentos, sobretudo, eletrônicos e de alta complexidade do setor, o que produz uma fragilização do Sistema Único de Saúde.

Alguns autores têm procurado analisar a dinâmica econômica do setor da saúde a partir da incorporação da discussão teórico-conceitual dos clusters industriais, amplamente utilizados na ciência econômica. Os clusters se caracterizam como um sistema de produção local que contribuem para o desenvolvimento da economia regional de uma nação. Segundo Fernandes e Lima (2006), não há um conceito de cluster que seja aceito universalmente, tendo em vista que alguns autores o consideram como sendo uma aglomeração geográfica e setorial de firmas que se inter-relacionam, mantendo uma relação de cooperação entre si, e outros desconsideram a existência da relação entre as firmas, conceitualizando os clusters apenas como um agrupamento geográfico e setorial de empresas (Altenburg & Meyer-Stamer, 1999 apud Telles, 2002).

De acordo com Santos (2001) o conceito de cluster está relacionado com a proximidade de firmas que possuem atividades no mesmo setor, sendo assim, complementares entre si, atuando

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como cooperativas na busca de uma “eficiência coletiva”. No entanto, deve-se diferenciar o conceito de cluster com o de rede, visto que, aquele está relacionado com a distribuição espacial das empresas, enquanto este refere-se à relação existente entre tais empresas como a cooperação, por exemplo. A integração produtiva origina o desenvolvimento regional, bem como uma série de vantagens para as firmas aglomeradas, tanto no que tange ao desenvolvimento do processo produtivo, quanto no auxílio das inovações tecnológicas que permitem uma maior competitividade entre as mesmas. De acordo com Fernandes & Lima (2006, p. 16-17), desde Marshall, as principais vantagens dos clusters estão relacionadas principalmente com os seguintes aspectos:

• a redução de custos de transação decorrentes da intensificação da divisão de trabalho e do progresso técnico; • circulação de fatores e informações a curtas distâncias; • fácil substituição de fatores; • mão-de-obra especializada; • aperfeiçoamento contínuo dos métodos de trabalho e equipamentos.

Além disso, os clusters também promovem benefícios sociais, uma vez que, há o surgimento de vários serviços especializados que são fornecidos em escala local (BRITTO, 2000). Diante do exposto Sahid (2002, p. 32) acrescenta que:

A experiência de diversos clusters bem sucedidos, como o Slicon Valley, na Califórnia, e a Terceira Itália, demonstra que, geralmente, estes clusters têm surgido espontaneamente e que, à medida que os mesmos evoluem e se fortalecem, é comum o surgimento de instituições responsáveis pela estruturação de mecanismos de suporte e pela definição de diretrizes para o desenvolvimento comum das atividades. Isto, não diminui a importância do papel a ser desempenhado pelo governo na estruturação desses arranjos ou aglomeração, atuando como facilitador, na implementação da infra-estrutura e catalisador desse processo.

De acordo com Arantes (2001), estas novas formas de aglomeração produtiva estão mais

vinculadas à lógica empresarial do setor privado, pois caracteriza-se, sobretudo os ideais de competência, competição, presteza e avanço tecnológico. Assim, a clusterização está sendo cada vez mais aceita entre empresas, sobretudo pequenas e médias, pois as vantagens obtidas propiciam maior poder de competição, bem como redução dos custos de produção quando aliadas à colaboração existente entre as firmas. É a chamada “eficiência coletiva” apresentada por Schmitz (1997), a qual afirma que o trabalho em grupo entre as empresas promove melhores condições perante o mercado, visto que, a atuação grupal fortalece o poder junto aos fornecedores, além de facilitar o acesso a instituições públicas, como as universidades.

As teorias locacionais das empresas que operam no ramo da atividade econômica estão sempre atuando em prol da elevação dos lucros, por meio da redução de custos de serviços como transporte, matéria-prima e mercadorias.

A partir de seus estudos, Schmitz (1997) apud Telles (2002) avaliou que nos países subdesenvolvidos as empresas de pequeno porte dificilmente alcançariam um desenvolvimento expressivo. No entanto, a ação dos clusters tem beneficiado substancialmente no crescimento destas firmas, tanto nas que atuam diretamente nestas aglomerações, quanto naquelas que permanecem no exterior dos clusters.

Assim, o complexo industrial da saúde pode ser entendido como: (...) um conjunto selecionado de atividades produtivas que mantêm relações intersetoriais de compra e venda de bens e serviços (sendo captadas, por exemplo, nas matrizes de insumo-produto nas contas nacionais) e/ou de conhecimentos e tecnologias (...) (Gadelha apud Gadelha, 2006, p. 15).

A indústria farmacêutica tem por finalidade desenvolver medicamentos que atendam às

necessidades de serviço da população, sendo que sua produção perpassa por estágios como a pesquisa e o desenvolvimento de remédios, sua fabricação, a formulação e processamento final, bem como o comércio do produto. Estas indústrias atuam principalmente nos países desenvolvidos e nos emergentes, tanto em relação à concentração destas empresas nestes locais, quanto no que se refere à comercialização dos produtos, que são feitos na sua maioria com os países mais desenvolvidos economicamente. Em termos de desenvolvimento tecnológico, as indústrias

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farmacêuticas brasileiras, não promovem um investimento significativo neste setor, restringindo-se em grande parte a formular e embalar os remédios. É relevante enfatizar a alteração que está ocorrendo na estrutura da indústria farmacêutica devido à produção de medicamentos genéricos. Estes medicamentos têm proporcionado benefícios à população, sobretudo, a de baixa renda, visto que, são mais acessíveis, possibilitando assim sua aquisição. Em conseqüência, os gastos dos governos federal, estadual e municipal, diminuem, uma vez que a disponibilização de remédios do setor público reduz, em função do maior acesso que a população passa a ter sobre os mesmos.

No que tange à indústria de vacinas, assim como ocorre na indústria farmacêutica, há uma série de estágios os quais devem ser transcorridos até sua etapa final, como a pesquisa, produção de pequenos lotes, testes pré-clínicos realizados com animais, testes clínicos em seres humanos e acompanhamento após sua utilização (GADELHA, QUENTAL, FIALHO, 2003). Cabe ressaltar que a indústria de vacinas atingiu um desenvolvimento tecnológico expressivo após a década de 1960, sobretudo, devido ao intenso investimento realizado na área da biotecnologia, resultando assim em um aumento de produtores privados que adentraram neste campo industrial. No entanto, apesar da elevada participação das empresas privadas, à estas são cobrados valores maiores pelos produtos, visto que a compra realizada por este tipo de consumidor é feita de forma fragmentada. Em contrapartida, a compra de vacinas realizada pelos governos e órgãos internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por demandar grande quantidade de produtos, os mesmos são vendidos a preços bem menores a estes órgãos do que para as empresas particulares. Em 1974 foi criado pela Organização Mundial da Saúde o Programa Ampliado de Imunizações (PAI), cuja finalidade era incentivar a vacinação. Este programa em específico previa a vacinação contra as seguintes doenças: tétano, sarampo, difteria, coqueluche, tuberculose e poliomielite. Além disso, estes órgãos, por meio de programas, oferecem assistência para que países subdesenvolvidos consigam ter maior facilidade de acesso aos medicamentos. De acordo com estudos realizados por Gadelha & Temporão (1999), no que tange à indústria de vacinas, o Brasil destaca-se entre os países emergentes, visto que o mesmo detém uma infra-estrutura tecnológica desenvolvida e atende uma porcentagem acima de 90% do público infantil, através dos programas desempenhados pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), além das demais atuações que os mesmos realizam como a vacinação de gripe em idosos.

No segmento da indústria de reagentes para diagnóstico, destaca-se que o Brasil vem sendo conduzido por empresas multinacionais que possuem alta tecnologia, restando para as empresas nacionais apenas o desenvolvimento da etapa final do processo. Cabe enfatizar ainda que os gastos despendidos para realizar a produção de reagentes são bem menores que os gastos com a fabricação de vacinas e medicamentos. Contudo, os reagentes para diagnóstico dependem de bastante investimento na área de P&D e marketing, que são os setores que geram maiores custos para esta indústria.

A partir da década de 1990 o IBGE passou a utilizar o termo aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos, englobando os grupos I, II e III, enquanto o grupo IV passou a fazer parte do setor farmacêutico, na classe denominada fabricação de materiais para usos médicos, hospitalares e odontológicos. A ABIMO - Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios - por sua vez, adota a seguinte classificação para este segmento do complexo da saúde: setor de implantes e material de consumo médico-hospitalar; setor de equipamentos médico-hospitalares; setor de odontologia; setor de radiologia e diagnóstico por imagem; setor de laboratórios.

Em relação ao setor de serviços de saúde, tem-se que no âmbito internacional (países de economia desenvolvida) os investimentos despendidos com a prestação de serviços à população se elevaram do período de 1960 a 1990, sobretudo devido ao envelhecimento populacional e a priorização em introduzir novos produtos no mercado em detrimento da utilização de tecnologias que reduzem custos.

No Brasil a situação dos serviços de saúde se configura de maneira distinta daquela predominante nos países de economia desenvolvida, visto que, enquanto estas nações empregam

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valor aproximado entre 6% a 13% de seu PIB no setor de prestação de serviços de saúde, o Brasil investe apenas cerca de 2% ao ano de sua arrecadação econômica na esfera da saúde. Entretanto, vale lembrar-se da implantação do Sistema Único de Saúde no Brasil que visa garantir à população o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde que são prestados tanto por organizações públicas quanto privadas.

Deve ser ressaltada ainda a grande importância que vem sendo alcançada pela rede de serviços privados, no qual, eleva-se cada vez mais o número de pessoas que se afiliam em planos de saúde, visando à garantia do bem-estar. Neste contexto, Gadelha (2002) afirma que aproximadamente 30% da população já estejam sendo atendidas pela rede privada de saúde, a qual possui uma arrecadação anual de cerca de R$16 bilhões.

Neste sentido, pode-se afirmar a intensa reestruturação pela qual está passando o sistema de saúde brasileiro, principalmente pela implantação do SUS e pelo aumento dos planos de saúde que promoveu modificações no papel do Estado, o qual passou a ser controlador de tal setor. Ainda, fica claro que nos países desenvolvidos há uma melhor dinâmica na atuação do setor de serviços de saúde que nas demais nações. Isso pode ser comprovado tanto nos investimentos demandados por aqueles países quanto no próprio sistema das indústrias do complexo que se mostram demasiadamente mais estruturadas e com melhor funcionamento que os clusters dos países de economias menos avançadas, que ainda se configuram como uma base bastante fraca, sobretudo em relação à área voltada para o desenvolvimento de C&T.

Segundo Gadelha (2006), com base em informações do órgão de Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica – PINTEC (2003), IBGE (2005), as indústrias de saúde não obtiveram significativo avanço, sobretudo nos seguimentos farmacêutico e de equipamentos médico-hospitalares. Mesmo que tais seguimentos possuem uma boa colocação comparada aos demais setores da indústria, os dados encontrados foram considerados como sendo um progresso pouco expressivo. Isso pode ser observado ao analisar os valores gastos com inovações que favoreceram o mercado nacional e as empresas de um modo geral. As indústrias farmacêuticas investiram exatos 0,53% de suas receitas líquidas, em pesquisas e desenvolvimentos (P&D) que beneficiaram o mercado nacional, enquanto que em seu desenvolvimento interno, ou seja, aquele investimento promovido apenas para o melhoramento da própria indústria, as empresas farmacêuticas tiveram uma taxa de inovação de 50,4%, entre os anos de 2001 a 2003. No mesmo período, as indústrias de equipamentos médicos investiram um valor de 1,22% nas inovações em P&D que contemplaram o mercado nacional e uma taxa de 45,4% de gastos com desenvolvimento industrial interno. 4.1. O Complexo médico-hospitalar em Uberlândia

O Complexo Industrial da Saúde, que consiste na concentração de indústrias especializadas, se constitui a partir de um conjunto de fatores que permitem e viabilizam este agrupamento de empresas. Caracterizam-se como alguns destes elementos facilitadores da concentração a presença de profissionais qualificados, pesquisa universitária, infra-estrutura adequada, além de uma demanda apropriada dos serviços produzidos, que proporcionam às empresas maior produtividade, poder competitivo e maior solidez no mercado, tornando-se capazes de solucionar questões que sozinhas não estariam aptas a resolver. No entanto, alguns autores defendem que nem todas as aglomerações de indústrias ocorrem de maneira planejada, podendo surgir aleatoriamente e assim criar as condições necessárias que proporcionam vantagens na formação do complexo.

Assim como já foi mencionado anteriormente, o complexo industrial da saúde possui grande importância no setor, sobretudo no que tange ao segmento de serviços de saúde. Estes aglomerados promovem o desenvolvimento regional – devido à atração de novos investimentos – gerando assim melhorias de cunho social à população, em função dos serviços oferecidos e do poder competitivo adquirido pela junção das empresas.

Deve ser ressaltada aqui a importância do Pólo Médico de Recife, visto que, foi o primeiro cluster a ser analisado no país e sua formação foi facilitada em função do mesmo apresentar fatores propícios para seu desenvolvimento. Ao analisar a possibilidade de aplicação do conceito de cluster

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ao pólo médico do Recife, Fernandes e Lima (2006) identificaram um núcleo formado pelas atividades de atendimento hospitalar; atendimento de urgência e emergência; atenção ambulatorial; serviços de complementação diagnóstica ou terapêutica; atividades de outros profissionais de saúde e outras atividades relacionadas com a atenção à saúde. Esse núcleo estabelece elos com outras atividades tais como: a indústria farmacêutica; o comércio atacadista vinculado a medicamentos e equipamentos; o comércio varejista voltado para produtos farmacêuticos, artigos médicos e ortopédicos; financiadores e compradores de serviços (principalmente os planos de saúde); atividades de informática e produção de software; manutenção de equipamentos; atividades de formação de recursos humanos e de pesquisa; associações profissionais, empresariais e de classe.

Assim como ocorreu em Recife, pode-se considerar que a cidade de Uberlândia vem apresentando no setor de saúde uma tendência à concentração e aglomeração de empresas, sobretudo na área central, o que está convergindo para o desenvolvimento de um sistema de clusterização. Este maior agrupamento de empresas na área central apresenta relação direta com o surgimento dos primeiros hospitais, os quais foram instalados nesta região e nas suas proximidades. Os hospitais apresentam forte tendência à concentração, uma vez que eles atuam como uma força de atração dos demais serviços de saúde, ou seja, a presença de hospitais faz com que os outros serviços se localizem nas suas proximidades visando adquirir vantagens a partir da maior interação entre os diferentes agentes que estarão localizados próximos uns dos outros.

Neste contexto pode-se considerar a importância de alguns hospitais, sobretudo privados, que desencadearam a existência de uma centralidade em Uberlândia como, por exemplo, o Hospital Santa Catarina, o qual foi inaugurado em janeiro de 1958 e se localiza na Av. Getúlio Vargas, no Centro da cidade; o Hospital Santa Genoveva implantado em outubro de 1975, localizado na Av. Vasconcelos Costa, no bairro Martins, que se situa nas proximidades da zona central.

Como pode ser observado, os hospitais se localizam nas proximidades da parte central da cidade, os quais vão promover a atração dos demais serviços do setor, originando assim uma centralidade dos serviços de saúde.

Como já foi mencionado, a presença destes hospitais estabelece uma dinâmica de concentração de empresas ligadas ao setor. Sendo assim, esta tendência pôde ser confirmada a partir de um levantamento de campo que foi realizado nos bairros em que essa aglomeração se faz presente, constituindo o chamado sistema de clusterização. A área a qual foi realizada o mapeamento compreende o trecho entre a Rua Quintino Bocaiúva e a Rua Goiás; o segmento entre a Av. João Pinheiro e a Av. Vasconcelos Costa; e entre a Rua Arlindo Teixeira e a Av. Marcos de Freitas Costa, compreendendo os bairros Centro, Oswaldo Rezende e Martins. O mapa 2 apresenta a disposição espacial/geográfica dos tipos de serviços de saúde presentes na região em questão.

Como pode ser observado, há uma forte concentração dos estabelecimentos de saúde na região estudada, e isso ocorre em função do intenso potencial de atração de serviços relacionados à saúde que os hospitais, que se encontram neste zoneamento, detêm. Neste contexto, Powell e Smith-Doerr (1994) apud Fernandes e Lima (2006), colocam que “a posição de um agente na rede, seu

acesso a recursos e sua liberdade de ação estão diretamente relacionados a seu poder sobre o

conjunto [...]”. Sendo assim, verificou-se que na zona central de Uberlândia, há uma diversificada gama de

serviços de saúde compreendida por consultórios médicos, clínicas especializadas, consultórios odontológicos, serviços de diagnóstico e tratamento, equipamentos e produtos médico/odontológico/hospitalares, farmácias e drogarias, bem como os hospitais que se destacam como os principais agentes formadores de um sistema de aglomeração de empresas do setor. A tabela 8 apresenta a quantidade, em números absolutos, de cada tipo de serviço mencionado anteriormente, e como pode ser verificado, há uma grande presença das clínicas especializadas, representando 36% do total dos estabelecimentos, seguidas dos consultórios odontológicos que representam 20,3% dos mesmos, de um total de 261 estabelecimentos na área mapeada.

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Tabela 8 – Estabelecimentos Ligados à Área da Saúde – Zona Central/Uberlândia Estabelecimentos Número de Estabelecimentos

Hospitais 9 Consultório Médico 22 Clínica Especializada 94 Consultório Odontológico 53 Serviços de Diagnóstico e Tratamento 35 Equipamentos e Produtos Médico/Odontológico/Hospitalares 14 Farmácia 34 Total 261

Fonte: Levantamento de Campo. Org: SILVA, K. N. (2009).

Mapa 2 – Estabelecimentos ligados à área da saúde – Zona Central (Uberlândia)

Fonte: Levantamento de Campo. Org: SILVA, K. N. (2009).

No que tange aos principais equipamentos de uso médico, isto é, aqueles que demandam maior tecnologia de complexidade, o município de Uberlândia dispõe de alguns equipamentos como Mamógrafo, Raio X, Tomógrafo Computadorizado, Ressonância Magnética, Ultrassom e Equipo Odontológico Completo, totalizando 910 aparelhos existentes, 904 sendo utilizados e 156 disponíveis para uso do SUS.

Tipos de Serviços de Saúde

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema de clusterização de empresas está cada vez mais presente nas principais cidades do país, o qual teve início com o Pólo Médico de Recife e atualmente se mostra presente também na cidade de Uberlândia.

A clusterização dos serviços de saúde deve ser encarada como um sistema proporcionador de vantagens específicas para as empresas que o compõe, ou seja, é necessário que a competição que predomina entre as firmas faça com que as mesmas se beneficiem desta aglomeração, no que tange sua estrutura de produção de bens e serviços. Neste sentido, haverá conseqüências positivas, caso as empresas utilizem a vantagem da concentração na busca de inovações tecnológicas, bem como na eficiência da prestação dos serviços. Em contrapartida, se a competição for encarada de forma predatória, as firmas não conquistarão a finalidade do cluster, caminhando assim para a fragilidade do sistema em questão.

O agrupamento de empresas do mesmo setor caracteriza como um processo relevante para o desenvolvimento da região em função dos benefícios que este pode originar. No caso de Uberlândia, a formação do cluster tem apresentado resultados positivos, visto que, está promovendo o crescimento destas firmas e possibilitando maior poder competitivo entre as mesmas, o que permite a ocorrência de uma dinâmica econômica favorável para a região.

É proeminente ressaltar que o setor de serviços de saúde está alcançando importância cada vez maior na cidade de Uberlândia, entretanto, a oferta de serviços privados são as mais ascendentes. O crescimento destes serviços faz com que eleve a procura por cursos nesta área que se mostra bastante promissora e, sendo assim, a Universidade Federal de Uberlândia que já oferecia alguns cursos de nível superior na área da saúde, como Enfermagem, Medicina, Odontologia e Psicologia, abriu novos cursos nesta área, como Biomedicina, Fisioterapia, Nutrição e Engenharia Biomédica. Além destes, a UFU oferece ainda cursos de nível técnico como Prótese Dentária, Patologia Clínica, Higiene Dental e Enfermagem que complementam o campo da ciência da saúde.

Assim sendo, é possível afirmar que o sistema de clusterização, a partir da concentração de firmas, gerou uma diversidade na oferta de serviços de saúde na zona central da cidade de Uberlândia, merecendo destaque a importância produzida pelos hospitais neste sistema, que se caracterizam como agentes atrativos dos demais serviços de saúde. 6. REFERÊNCIAS ALTENBURG, T. & MEYER-STAMER, J. (1999). How to Promote Clusters: Policy Experiences from Latin America. In Clusters e Sistemas Locais de Inovação: Estudos de Casos e Avaliação da Região de Campinas. IE/UNICAMP, setembro, 1999. ARANTES, Paulo Tadeu. Gestão Local: Novas Práticas, Novos Desafios, São Paulo: UFV, 2001. BRITTO, J. Características dos Clusters na economia Brasileira. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 2000. FERNADES, A. C., LIMA, J. P. R. Cluster de serviços: contribuições conceituais com base em evidências do pólo médico do Recife. Nova Economia. V. 16, n. 1, p. 11 – 47. Belo Horizonte, 2006. GADELHA, C. A. G. Complexo da Saúde: Estrutura, Dinâmica e Articulação da Política Industrial e Tecnológica com a Política de Saúde. Estudo por competitividade por cadeias integradas no Brasil: impactos das zonas de livre comércio. Campinas, dez. 2002. _____. Desenvolvimento, complexo industrial da saúde e política industrial. Revista de Saúde Pública. V. 40, n. especial. São Paulo, ago. 2006. GADELHA, C. A. G. & TEMPORÃO, J. G. A Indústria de Vacinas no Brasil: Desafios e Perspectivas. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Rio de Janeiro, 1999. GADELHA, C. A. G., QUENTAL, C. FIALHO, B. C. Saúde e inovação: uma abordagem sistêmica das indústrias da saúde. Cadernos de Saúde Pública. V.19, n.1. Rio de Janeiro, jan/fev. 2003.

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A CHARACTERIZATION OF COMPLEX MEDICAL HOSPITAL UBERLÂNDIA

Kássia Nunes da Silva Federal University of Uberlandia Av João Naves de Ávila n º 2160, Santa Monica, Block 1H [email protected] Julio Cesar de Lima Ramires3 Federal University of Uberlandia ramires_jul [email protected] ABSTRACT: This work attempts to analyze the diversity and dynamics in the system of health

services in the city of Uberlândia-MG, and the polarizing role of hospitals that have been

established as an important agent in terms of concentration spatial /geographical of health

services, causing the clusters.In this sense, was found by a survey of the field, an agglomeration of

firms in the industry, especially in the central area of the city, seeking to promote the efficient

development with higher productivity through a joint and coordinated action of companies

developing complementary activities.

Key Words: Health Services, Cluster, Productive Agglomeration.

3 Professor Doutor da Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Geografia. Coordenador do Projeto de Pesquisa. Av. João Naves de Ávila nº 2160, Santa Mônica, Bloco 1H. [email protected].