peca hc lucia

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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO PROCURADORIA REGIONAL DA UNIÃO DA 1ª REGIÃO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO Objeto: Habeas Corpus. Advogada da União. Procuradora-Chefe em Minas Gerais. Ameaça de constrangimento ilegal por determinação de Procurador da República. Inquérito instaurado por suposto descumprimento de decisão judicial de entrega de medicamento. Relatório da Polícia Federal pelo arquivamento do Inquérito. MPF determina novas diligências injustificadas. Trancamento do Inquérito. Atipicidade do fato. Ausência de justa causa. Inexistência de autoria. Ordem judicial que nunca foi endereçada à Procuradora-Chefe da União, mas à Administração Pública Federal. Atipicidade da conduta. AGU envidou todos os esforços, tempestivamente, para que a decisão seja cumprida. Não é o Advogado da União quem fornece medicamentos. Oitiva agendada para 30/07/2013. URGENTE

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HAbeas Corpus

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EXCELENTSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRGIO TRIBU

ADVOCACIA-GERAL DA UNIO

PROCURADORIA REGIONAL DA UNIO DA 1 REGIO

ADVOCACIA-GERAL DA UNIOPROCURADORIA REGIONAL DA UNIO DA 1 REGIO

EXCELENTSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL DO EGRGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1 REGIOObjeto: Habeas Corpus. Advogada da Unio. Procuradora-Chefe em Minas Gerais. Ameaa de constrangimento ilegal por determinao de Procurador da Repblica. Inqurito instaurado por suposto descumprimento de deciso judicial de entrega de medicamento. Relatrio da Polcia Federal pelo arquivamento do Inqurito. MPF determina novas diligncias injustificadas. Trancamento do Inqurito. Atipicidade do fato. Ausncia de justa causa. Inexistncia de autoria. Ordem judicial que nunca foi endereada Procuradora-Chefe da Unio, mas Administrao Pblica Federal. Atipicidade da conduta. AGU envidou todos os esforos, tempestivamente, para que a deciso seja cumprida. No o Advogado da Unio quem fornece medicamentos. Oitiva agendada para 30/07/2013.URGENTE

A ADVOCACIA-GERAL DA UNIO, por meio dos Advogados da Unio abaixo assinados, com endereo para intimaes na Procuradoria Regional da Unio da 1 Regio (SAS QD. 03, Lote 05/06, Ed. Sede I AGU, 5/ 6 Andar, CEP: 70070-030, Braslia-DF), vem perante Vossa Excelncia, impetrar

HABEAS CORPUS, com pedido de liminarem favor de LCIA APARECIDA LYRA DE ALMEIDA, Advogada da Unio, ocupante do cargo de Procuradora-Chefe da Unio no Estado de Minas Gerais, com endereo profissional na sede da Procuradoria da Unio no Estado de Minas Gerais, Rua Santa Catarina, n 480 16 ao 23 andares, Lourdes, Belo Horizonte/MG, nos termos que seguem.I - DA LEGITIMIDADE DA IMPETRANTE da lei que o Habeas Corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa (CPP, art. 614).II DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUSO art. 647 do CPP prev o cabimento de habeas corpus sempre que algum sofrer ou se achar na iminncia de sofrer violncia ou coao ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punio disciplinar.

Como se ver, a paciente est evidentemente figurando como investigada em Inqurito Policial, e isso sem qualquer fundamento legal ou ftico. Com efeito, mesmo aps o Relatrio da Autoridade Policial apontando a inexistncia de crime, a Procuradoria da Repblica houve por bem insistir na oitiva da paciente, para que esclarea os procedimentos que adotou para cumprir a deciso judicial proferida nos autos da ao n. 9232-97.2012.4.01.3800, a pretexto de investigar o descumprimento da referida deciso judicial.

Sabe-se que o trancamento de inqurito policial somente cabvel em hipteses excepcionais, quando esto evidentes a atipicidade do fato ou a inexistncia de autoria (STJ: HC 59591/RN). Essa, entretanto, a situao vivenciada nos autos: fato atpico e/ou comprovada inexistncia de autoria delitiva.Como se ver, a manuteno do referido Inqurito totalmente descabida, inexistindo justa causa para seu prosseguimento. Ademais, a ameaa liberdade da paciente evidente e prxima, merecendo urgente correo por parte deste d. Tribunal.III - DOS FATOSNa ao n 9232-97.2012.4.01.3800, em trmite na 19 Vara Federal da Seo Judiciria de Minas Gerais, foi deferida liminar no sentido de obrigar a Unio a fornecer medicamento ao autor da ao para tratamento de doena. A doena possui o seguinte dispositivo:

fl. 73 (numerao dos autos do inqurito policial), intimao da Unio, em 12/03/2012, da deciso liminar acima referida.s fls. 88/89, nova deciso judicial, da qual a Unio foi intimada em 26/04/12. Nessa deciso, o juiz federal Guilherme Mendona Doehler determinava nova intimao do ente pblico para comprovar o cumprimento da deciso no prazo de 48 horas, determinando, ainda, o envio de ofcio ao Ministrio Pblico Federal para representar criminalmente e administrativamente (improbidade) relativamente ao descumprimento injustificado da obrigao de fazer (fornecimento de medicamentos). Referido ofcio gerou no mbito do Ministrio Pblico Federal um procedimento administrativo, tendo o Procurador da Repblica Leonardo Augusto Santos Melo requerido a intimao da Procuradora-Chefe da Unio em Minas Gerais, ora paciente, para apresentar em 20 dias cpia do dossi de acompanhamento da ao judicial em questo, bem como indicar o nome da pessoa responsvel pelo cumprimento da deciso no mbito do Min. da Sade.

fl. 172, a Procuradoria da Repblica em Minas Gerais encaminha o Ofcio n. 7801/2012-PRM, de 14 de setembro de 2012, aps a resposta da AGU, para a Superintendncia Regional da Polcia Federal, requisitando a instaurao de Inqurito Policial.s fls. 182/184, Relatrio pelo arquivamento do Inqurito Policial, concluindo-se que os procedimentos administrativos necessrios para a aquisio do medicamento pleiteado, para o devido cumprimento da ordem judicial, foram realizados pelo Ministrio da Sade.s fls. 186/187, consta, em sua essncia, o ato ora impugnado. Trata-se de manifestao do Procurador da Repblica requerendo novas diligncias policiais, com a oitiva da Procuradora-Chefe da Unio em Minas Gerais, a Advogada da Unio Lucia Aparecida Lyra de Almeida, ora paciente, para prestar esclarecimentos e comprovar documentalmente o percurso da deciso judicial desde sua entrada na AGU. Segundo afirma o d. Membro do Ministrio Pblico, 8. Pelo exame do inqurito, nota-se que a primeira providncia documentada nos autos com vistas a cumprir a deciso data de 03/05/2012, com a realizao de licitao para aquisio do medicamento (fl. 136). Ou seja: mais de um ms aps o vencimento do prazo concedido pelo Magistrado. 9. Resta, ento, averiguar o que foi feito entre 12/03/2012, data da intimao da AGU, e 03/05/2012, data em que, segundo o que consta dos autos, foi iniciado o procedimento para aquisio do medicamento.Em verdade, em 12/03/2012, no mesmo dia em que recebeu a intimao, a Procuradoria da Unio em Minas Gerais expediu o Ofcio n. 187/GAB/3/GAPP/PU/MG/2012 Consultoria Jurdica do Ministrio da Sade, comunicando da deciso para seu imediato cumprimento, o que afasta qualquer possibilidade ou cogitao de responsabilidade da AGU por eventual, ainda que mnimo, atraso.V-se, portanto, que o Procurador da Repblica insiste na oitiva da Advogada da Unio Lcia A. Lyra de Almeida, designando data e hora para sua oitiva perante a Autoridade Policial, o que configura evidente constrangimento ilegal, haja vista a total desnecessidade de prosseguimento do inqurito policial em apreo, ainda mais ao se considerar que o objetivo da oitiva justamente o de atribuir responsabilizao criminal paciente, j que se pretende imputar, a ela, a culpa por eventual atraso no fornecimento do medicamento. Referida oitiva foi marcada para 30/07/2013, o que demonstra a urgncia na apreciao desta medida.V DO CONTEXTONo de hoje que alguns magistrados ederais da Seo Judiciria de Minas Gerais pretendem impor aos membros da Advocacia-Geral da Unio a responsabilidade pelo cumprimento de decises judiciais.

Tanto que a ora paciente j foi ameaada, de forma totalmente ilegal, de priso, tendo sido acusada de descumprir ordem judicial de fornecimento de medicamentos, em processo conduzido pelo mesmo juiz federal da 19 Vara Federal/MG que conduz o processo judicial mencionado no presente caso, de n 9232-97.2012.4.01.3800.

Nessa outra oportunidade, foi necessrio impetrar, perante este e. TRF-1 Regio, o Habeas Corpus Preventivo n 0039576-15.2012.4.01.0000/MG, obtendo provimento favorvel, com expedio de salvo conduto em favor da ora paciente, resguardando-a de injusta ordem de priso conforme deciso liminar anexa.Bem se v, portanto, os constrangimentos injustos que vm sendo impostos Advocacia Pblica, especialmente Advocacia-Geral da Unio, em Minas Gerais, sendo o caso veiculado neste Habeas Corpus exemplar no sentido de evitar que tal prtica se perpetue.VI - DOS FUNDAMENTOS

O presente Habeas Corpus est centrado no constrangimento ilegal suportado pela paciente, ante a ausncia de tipicidade, em tese, na conduta que se lhe imputa. Conforme ser demonstrado abaixo, no h justa causa para a persecuo penal, tendo em vista que:

a) No houve recusa no cumprimento da determinao judicial;b) A ordem judicial foi direcionada para o rgo pblico, e no para a paciente; desse modo, no se lhe pode imputar a prtica de crime de desobedincia;c) A paciente no era diretamente responsvel pelo cumprimento da deciso judicial (que foi direcionada Unio Federal e no AGU ou mesmo paciente. No caso, tomou ela todas as medidas ao seu alcance, tempestivamente, para dar cumprimento deciso judicial, o que afasta, de imediato, a tipicidade do crime de desobedincia.d) O CNJ j se pronunciou de forma totalmente contrria tentativa de responsabilizar Advogados Pblicos pelo suposto descumprimento de decises dirigidas Administrao Pblica;

e) Ainda que assim no se entenda, a simples demora no cumprimento de ordem no configura crime de desobedincia;

f) Ademais, mostra-se impossvel o cometimento de crime de desobedincia em se tratando de cumprimento de deciso judicial, ante a existncia de outras medidas coercitivas no penais (ultima ratio);g) Por fim, tem-se que o servidor pblico, no exerccio de suas funes, no comete crime de desobedincia, porque o tipo penal tem como sujeito ativo particulares.a) Atipicidade da conduta inexistncia do elemento subjetivo do tipo

O ncleo do tipo do artigo 330 do Cdigo Penal consiste em desobedecer (no acatar, no atender, no cumprir) uma ordem legal de funcionrio pblico. Essa recusa em obedecer deve ser expressa, ou seja, o sujeito deve ter o dolo (vontade livre e consciente) de no atender a determinao imposta pela autoridade.

Do apanhado ftico acima lanado bem se observa que a Procuradoria da Unio no Estado de Minas Gerais, chefiada pela paciente, sempre diligenciou tempestivamente para o cumprimento das ordens judiciais proferidas na ao acima identificada. Eventual demora no cumprimento da ordem judicial no decorre de ato praticado pela Procuradora-Chefe, mas, sim, por razes inerentes ao funcionamento da mquina administrativa, mais especificamente do Ministrio da Sade, sobre a qual no possui a paciente qualquer ingerncia ou controle.

Segundo se extrai do prprio inqurito policial, e da cpia dos autos judiciais que esto nele acostadas, bem como dos ofcios anexos, a Procuradora-Chefe da Unio em Minas Gerais diligenciou no sentido de comunicar ao rgo competente a necessidade de cumprimento imediato da deciso, sendo totalmente descabida qualquer ilao a respeito de prtica do crime previsto no art. 330 de sua parte.Em sntese, podem-se elencar os seguintes momentos relevantes nos autos processuais, que demonstram como se deu o cumprimento da deciso judicial:

1) 12/03/2012 - A Unio foi intimada (fl. 68), da deciso liminar que determinou a entrega do medicamento;

2) 12/03/2012 No mesmo dia em que recebeu a intimao, a Procuradoria da Unio em Minas Gerais expediu o Ofcio n. 187/GAB/3/GAPP/PU/MG/2012 Consultoria Jurdica do Ministrio da Sade, comunicando da deciso para seu imediato cumprimento;3) 26/04/2012 Novamente, a Procuradoria da Unio em Minas Gerais expediu Ofcio, de n. 302/GAB/3/GAPP/PU/MG/2012, Consultoria Jurdica do Ministrio da Sade, comunicando da nova deciso proferida pelo juzo (que afirmava haver descumprimento da deciso anterior), para seu imediato cumprimento;

4) 03/05/2012 O medicamento foi licitado no mbito do Ministrio da Sade, conforme se v s fls. 138.Diante da narrativa supra, conclui-se que em nenhum momento a paciente teve o dolo de desobedecer a determinao judicial. No caso em tela, somente houve demora no seu atendimento por terceiro no a paciente, membro da AGU, que expediu ofcio para cumprimento da deciso em 12/03/2012! em razo das formalidades que o servidor pblico deve obedecer. Destarte, constata-se que no houve o elemento subjetivo do tipo, tendo em vista que em nenhum momento o servidor se recusou a cumprir a ordem judicial.

O entendimento aqui esposado encontra ressonncia na Jurisprudncia desse E. TRF, conforme demonstra o seguinte julgado:

PROCESSUAL PENAL. CRIME DE DESOBEDIENCIA. AO PENAL. ELEMENTO SUBJETIVO. APRECIAO EM HABEAS CORPUS. POSSIBILIDADE.

1. O DOLO E ELEMENTO NECESSARIO PARA A CONFIGURAO DO CRIME DE DESOBEDIENCIA, INTEGRANDO O PROPRIO TIPO PENAL, DE ACORDO COM A MODERNA TEORIA DO FINALISMO.

2. SENDO EVIDENTE A AUSENCIA DO ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO, A AO PENAL PODE SER TRANCADA EM SEDE DE HABEAS CORPUS, PORQUE, NESSE CASO, O FATO E ATIPICO, NO HAVENDO, PORTANTO, JUSTA CAUSA PARA A PERSECUCIO CRIMINIS. 3. ORDEM CONCEDIDA. (HC 93.01.13704-6/DF, Rel. Juiz Eustquio Silveira, Quarta Turma,DJ p.37314 de 13/09/1993).

No STJ, a matria recebe idntico tratamento, admitindo trancamento da persecuo criminal sempre que ausente o dolo especfico. Observe-se:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE DESOBEDINCIA. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AO PENAL. DENNCIA. ATIPICIDADE MANIFESTA. DESCRIO DE CRIME CULPOSO. AUSNCIA DE IMPUTAO A TTULO DE DOLO. INPCIA. PRECEDENTE DO STJ.

1. O trancamento da ao penal por ausncia de justa causa uma medida excepcional, somente cabvel em situaes, nas quais, de plano, seja perceptvel o constrangimento ilegal.

2. Reputa-se inepta a denncia que no trata do elemento volitivo necessrio configurao do delito de desobedincia, qual seja, o dolo, limitando-se narrativa de uma conduta eminente culposa, decorrente de obstculos burocrticos, e da negligncia de funcionrios subordinados.

3. Ordem concedida.

(HC 82.589/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 09/10/2007, DJ 19/11/2007, p. 257).

Nesses termos, h de ser trancado o procedimento de persecuo criminal.b) Da necessidade de a ordem ser endereada a quem tem o dever legal de obedec-la

Para configurar o crime de desobedincia, a ordem legal emanada deve ser dirigida diretamente quem tem o dever legal de obedecer. No caso em tela, a ordem foi dirigida Unio, isto , ao ente federado, que no pode ser sujeito ativo de crime de desobedincia. Veja-se, novamente, o teor do dispositivo da deciso liminar cujo descumprimento se pretende investigar:

Ademais, ainda que no se considere isso, nunca seria a paciente Advogada da Unio a responsvel pelo cumprimento da deciso (entrega de medicamentos), j que no ela, enquanto representante judicial da Unio, quem detm o poder de efetivar o mandamento judicial.A ordem legal tem que ser expressa e o fato de ser endereada a um rgo pblico no pode ser presumida que seja direcionada para determinada pessoa. Desse modo, no h subsuno do tipo penal se no h o sujeito para o qual a ordem foi emanada. Veja-se o entendimento da jurisprudncia sobre o assunto:

STJ: O crime de desobedincia (CP, art.330) s se configura se a ordem legal endereada diretamente a quem tem o dever legal de cumpri-la (RT 726/600).

STJ: Desobedincia. Desconfigurao. Ordem legal endereada a quem no tem o dever legal de obedec-la. Constrangimento ilegal caracterizada. Ordem concedida. O crime de desobedincia (CP, art. 330) s se configura se a ordem legal e endereada diretamente a quem tem o dever legal de cumpri-la (RT 726/600)

TASP: Para os efeitos de interpretao do art. 330 do Cdigo Penal, a ordem deve ser expressa, real e atual, no podendo ser presumida em nenhum caso. (RT 370/269).

STJ: HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO INSTAURADO PARA APURAR A SUPOSTA PRTICA DE CRIME DE DESOBEDINCIA. PEDIDO DE TRANCAMENTO. REQUERIMENTO DO MINISTRIO PBLICO PARA QUE FOSSEM FORNECIDOS DADOS CADASTRAIS DE USURIO DE TELEFONIA FIXA QUE EXPRESSAMENTE SOLICITOU A NO DIVULGAO DE TAIS INFORMAES. EXISTNCIA DE DVIDA SOBRE A LEGALIDADE DO PEDIDO MINISTERIAL. AUSNCIA DE DOLO. ATIPICIDADE MANIFESTA. CONSTRANGIMENTO EVIDENCIADO.

1. O trancamento de inqurito policial ou de ao penal medida excepcional, s admitida quando restar provada, de forma indubitvel, a ocorrncia de circunstncia extintiva da punibilidade, de ausncia de indcios de autoria ou de prova da materialidade do delito e, ainda, da atipicidade da conduta.

2. Para a configurao do crime de desobedincia, exige-se que a ordem, revestida de legalidade formal e material, seja dirigida expressamente a quem tem o dever de obedec-la, e que o agente voluntria e conscientemente a ela se oponha.

3. No caso dos autos, percebe-se a patente atipicidade da conduta atribuda ao paciente, uma vez que pairam dvidas sobre a legalidade da ordem emanada, inexistindo, ainda, o elemento subjetivo necessrio configurao do delito de desobedincia, qual seja, o dolo.

4. Quanto legalidade do requerimento formulado pelo Subcorregedor-Geral do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do Sul, o certo que embora poca dos fatos existissem decises judiciais proferidas nas instncias ordinrias que afirmavam a legitimidade do Parquet para requisitar informaes cadastrais de clientes do servio de telefonia fixa independentemente de autorizao judicial, a eficcia de tais provimentos jurisdicionais encontrava-se suspensa por fora de medidas cautelares concedidas pelo Tribunal Regional Federal da 4 Regio e pelo Supremo Tribunal Federal.

5. Assim, havendo dvidas acerca da prpria legalidade da requisio feita pelo Ministrio Pblico para que fossem enviados dados cadastrais de usurio de telefonia fixa que expressamente solicitou a no divulgao dessas informaes, no h que se falar em prtica do delito de desobedincia por funcionrio da empresa de telefonia que se julga impedido de fornec-las.

6. Ademais, no que se refere ao elemento subjetivo necessrio configurao do delito previsto no artigo 330 do Cdigo Penal, na hiptese vertente no se pode considerar que o paciente tenha deliberadamente se recusado a cumprir a determinao do Parquet, tampouco que tenha agido com inequvoca vontade de desobedecer, porquanto explicitou as razes jurdicas pelas quais entendia impossvel cumprir a solicitao formulada.

7. Ordem concedida para trancar o Termo Circunstanciado n. 001/2.07.007.2857-1, em trmite perante o 2 Juizado Especial Criminal do Foro Central de Porto Alegre/RS.

(HC 130.981/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/11/2010, DJe 14/02/2011) (grifou-se)

Ademais, e seguindo a linha ora esposada, a jurisprudncia dos Tribunais Regionais Federais, em harmonia com a do Superior Tribunal de Justia, unnime quanto ao no cabimento de crime de desobedincia em desfavor dos membros da Advocacia-Geral da Unio, como a paciente, pelas razes acima expostas. Confira-se:

PROCESSUAL. PENAL. HABEAS CORPUS. AMEAA DE PRISO POR DESCUMPRIMENTO DE DECISO JUDICIAL. MEMBRO DA ADVOCACIA GERAL DA UNIO. ORDEM CONCEDIDA.

1. Hiptese em que o impetrante e paciente adotou providncias para que se fizesse cumprir a deciso judicial.

2. O membro da Advocacia Geral da Unio detm atribuies de representao judicial e de consultoria, no podendo, portanto, ser compelido a agir fora dos limites de suas atribuies.

3. Habeas corpus concedido.

(TRF1, HC 2003.01.00.029515-5/MT, Rel. Desembargador Federal Italo Fioravanti Sabo Mendes, Quarta Turma,DJ p.63 de 12/02/2004)

HABEAS CORPUS. PENAL. CRIMES DE DESOBEDINCIA E PREVARICAO. DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL DETERMINANDO O PAGAMENTO DE QUANTIA RELATIVA A REPASSE DO SUS A CLNICA CONVENIADA. ORDEM DIRIGIDA A QUEM NO TEM COMPETNCIA FUNCIONAL PARA DETERMINAR, DE FORMA DIRETA, O SEU CUMPRIMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. Via de regra, no se admite habeas corpus contra deciso proferida em sede liminar pelo relator da impetrao na instncia de origem, sob pena de indevida supresso de instncia. Verbete sumular n. 691 do STF. 2. No entanto, este Superior Tribunal de Justia e o prprio Supremo Tribunal Federal tm mitigado esse entendimento, de modo a admitir impetraes dessa natureza em situaes absolutamente excepcionais, onde restar claramente evidenciada a ilegalidade do ato coator, a exigir providncia imediata, o que se vislumbra na presente hiptese. 3. No possuindo o Paciente - Procurador Seccional da Unio em Marlia/SP - o poder funcional de, diretamente, proceder ao cumprimento da ordem legal, uma vez que somente poderia liberar os valores pleiteados judicialmente, em medida liminar, atravs de parecer favorvel da Consultoria Jurdica do Ministrio da Sade, no pode, dessa forma, ser responsabilizado criminalmente como prevaricador e desobediente. Precedentes do STJ. 4. Ordem concedida para, confirmando a liminar deferida, determinar, em definitivo, a expedio de salvo-conduto em favor do ora Paciente.(HC 200501676457, LAURITA VAZ, STJ - QUINTA TURMA, 17/12/2007)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS PREVENTIVO. PEDIDO PARA EXPEDIO DE SALVO CONDUTO. DESOBEDINCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1) Assiste razo ao impetrante, eis que, pelo prprio teor da deciso atacada, restou caracterizado que o paciente encontra-se na iminncia concreta de sofrer violncia ou coao ilegal na sua liberdade de locomoo. 2) Com efeito, a documentao que acompanhou a presente impetrao demonstra que o paciente foi ameaado de sanes criminais, no caso de descumprimento da ordem judicial, que a ilustre autoridade apontada como coatora quer ver atendida no prazo de cinco dias, o que, a meu ver, caracteriza coao ilegal, pois, na hiptese em exame, trata-se de diligncia a ser realizada por outra autoridade pblica e no pelo paciente, at porque no possui ele poderes para fazer suspender a aplicao de multa por infrao prevista na Consolidao das Leis do Trabalho - CLT, na condio de procurador federal. 3) Ordem concedida.(HC 200301000370849, DESEMBARGADOR FEDERAL PLAUTO RIBEIRO, TRF1 - TERCEIRA TURMA, 13/02/2004)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DETERMINAO JUDICIAL. PAGAMENTO DE BENEFCIO PREVIDENCIRIO. AGENTES LOCAIS SEM AUTONOMIA OU ATRIBUIO FUNCIONAL PARA ORDENAR DESPESAS. AMEAA DE PRISO EM CASO DE DESCUMPRIMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. ORDEM CONCEDIDA. 1) Os documentos juntados pelo impetrante demonstram, sem deixar dvida, que os pacientes foram ameaados de priso, no caso de descumprimento da ordem judicial, que a ilustre autoridade apontada como coatora quer ver atendida no curto prazo de vinte e quatro horas. 2) Contudo, o primeiro paciente, como Procurador Federal do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, no tem atribuio funcional para cumprir a providncia exigida pelo ilustre Juzo a quo, o que demonstra, a meu ver, a extravagncia do ato impugnado. 3) Da mesma forma, o segundo paciente, Gerente Executivo da aludida Autarquia Previdenciria em Feira de Santana - BA, por estar subordinado Superintendncia do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS no Estado da Bahia, igualmente, no tem poderes para cumprir a ordem judicial, o que descaracteriza eventual crime de desobedincia que se pretenda a ele imputar. 4) Assim sendo, a determinao judicial a agente local, para efetuar pagamento de benefcio previdencirio, que no tem autonomia ou atribuio funcional para ordenar despesa em nome da Autarquia Previdenciria, com ameaa de priso em caso de descumprimento, caracteriza inegvel constrangimento ilegal, a ensejar a concesso da ordem de habeas corpus para a expedio de salvo-conduto. 5) Ordem concedida.(HC 200201000296020, DESEMBARGADOR FEDERAL PLAUTO RIBEIRO, TRF1 - TERCEIRA TURMA, 22/11/2002)

HABEAS CORPUS. CRIME DE DESOBEDINCIA. PROCURADOR. INSS. NO CARACTERIZAO. -De acordo com expressa disposio legal e majoritria orientao jurisprudencial, o crime de desobedincia previsto no art. 330 do Cdigo Penal se caracteriza quando o agente ativo do delito for particular, no havendo falar em fato tpico praticado por Procurador no exerccio de suas funes junto Autarquia Federal.. -Ademais, o Eg. STJ j deixou assente que, para restar configurado o delito previsto no art. 330 do CP, a ordem legal h que ser endereada diretamente a quem tem o dever legal de obedec-la (HC 10.150/RN, Rel. Min. EDSON VIDIGAL, DJ 01/02/2000). -Ordem concedida para que seja determinando o recolhimento de qualquer mandado de priso expedido contra o paciente referente a crime de desobedincia apontado nos autos do Mandado de Segurana 001/97, feito ajuizado perante o Juzo de Direito da Vara dos Feitos da Fazenda Pblica, Registros Pblicos e Acidentes do Trabalho da Comarca de Colatina/ES.(HC 200102010338860, Desembargador Federal BENEDITO GONCALVES, TRF2 - QUARTA TURMA, 05/03/2002)

HABEAS CORPUS - INSTAURAO DE INQURITO POLICIAL POR CRIME DE DESOBEDINCIA - ORDEM JUDICIAL DIRIGIDA A PROCURADOR AUTRQUICO NO OBRIGADO POR LEI A APRESENTAR CLCULO DE LIQUIDAO - CONDUTA ATPICA - ORDEM CONCEDIDA. 1. Para que se configure o crime de desobedincia, o destinatrio da ordem deve ter o dever legal de agir ou de no agir. 2. Nos termos do art. 604 do C.P.C., cabe ao exequente, e no ao executado, apresentar o clculo de liquidao da sentena em fase de execuo. 3. No configurando desobedincia a negativa do Procurador Autrquico em proceder execuo da sentena que fora adversa ao INSS, no h justa causa para a instaurao de inqurito policial. 4. Ordem concedida.(HC 200203000007906, JUIZA SYLVIA STEINER, TRF3 - SEGUNDA TURMA, 11/09/2002)CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CHEFE DE AGNCIA DO INSS. NO CUMPRIMENTO DE DECISO JUDICIAL. CRIME DE DESOBEDINCIA. ART. 330 DO CP. FEITO QUE TRAMITA NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE CAJAZEIRAS - PB. CONHECIMENTO DO WRIT. ART. 109, PARGRAFO 3, DA CONSTITUIO FEDERAL. DELEGAO DE COMPETNCIA JUSTIA ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. NULIDADE DOS ATOS QUE SE REJEITA, EM FACE DA ECONOMIA PROCESSUAL. SERVIDOR PBLICO. SUJEITO ATIVO. IMPOSSIBILIDADE DA PRTICA DE CRIME DE DESOBEDINCIA. ORDEM DESCUMPRIDA, EM TESE, QUE GUARDA RELAO COM AS ATRIBUIES DO CARGO. MATERIALIDADE DO DELITO NO COMPROVADA. TRANCAMENTO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL. CONCESSO DA ORDEM. I - Procedimento criminal instaurado no Juizado Especial da Comarca de Cajazeiras - PB, para apurar a prtica, em tese, de delito de desobedincia por parte de servidor do INSS. II - A competncia para apreciar habeas corpus impetrado contra deciso de Juizado Especial Criminal, em princpio, da Turma Recursal respectiva. Precedentes. III - In casu, sendo o acusado servidor federal do INSS, a matria refoge alada do Juizado Especial Criminal da Comarca de Cajazeiras, rgo do Poder Judicirio do Estado da Paraba, devendo ser apreciada pela Justia Federal. Em razo desta circunstncia, deve ser conhecido o presente writ. IV - Consoante o art. 109, pargrafo 3, da Constituio Federal, nas Comarcas que no sejam sede de Vara da Justia Federal, facultado ao autor de ao previdenciria prop-la na Justia Federal a que pertence seu domiclio, ou na Justia Estadual. Possibilidade de haver, no mbito infraconstitucional, delegao daquela competncia, inclusive em matria criminal. Precedentes. V - No caso concreto, inexiste lei que delegue competncia Justia Estadual para apurar eventual prtica do crime de desobedincia por servidor federal. VI - Incompetncia do Juizado Especial Criminal da Comarca de Cajazeiras, rgo da Justia Estadual da Paraba, para o processamento e julgamento do feito. VII - Nulidade dos atos pertinentes ao procedimento criminal instaurado, que se rejeita, em face da economia processual. VIII - O servidor pblico, no exerccio de suas funes, no pode cometer crime prprio de particular contra a Administrao. Destarte, s h de se falar em crime de desobedincia praticado por agente pblico se a ordem que deixou de ser cumprida no guardar relao com as suas atribuies, ou seja, se o sujeito ativo agiu como particular. Precedentes. IX - Materialidade do delito no comprovada. Paciente tomou todas as providncias que estavam a seu alcance, visando ao cumprimento da sentena que condenou o INSS concesso de penso por morte. X - Impossibilidade de a conduta atribuda ao paciente configurar o crime de desobedincia. XI - Concesso da ordem de habeas corpus, para determinar o trancamento do procedimento criminal n 013.2007.00.968-4, em trmite no Juizado Especial da Comarca de Cajazeiras - PB.

(TRF5, PROCESSO: 200705990023184, HC3081/PB, RELATORA: DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI, Quarta Turma, JULGAMENTO: 26/02/2008, PUBLICAO: DJ 02/04/2008 - Pgina 861)c) Julgamento pelo CNJ do Pedido de Providncia n. 749-61.2011.2.00.0000, a respeito da impossibilidade de responsabilizao de Advogados Pblicos pelo cumprimento de decises judiciais direcionadas Administrao PblicaEm 30 de agosto de 2011, o Conselho Nacional de Justia CNJ decidiu em prol dos membros da Advocacia-Geral da Unio, coagidos com imposio de multa e priso, como na deciso prolatada pelo juzo da 19 Vara Federal/MG.

Com efeito, o Conselho decidiu, nos autos do Pedido de Providncia n. 749-61.2011.2.00.0000/MG, expedir comunicado aos Presidentes e Corregedores dos Tribunais, informando-os de que no se pode exigir do Advogado Pblico que se responsabilize pelos atos do destinatrio de deciso judicial:

O Conselho, por maioria, decidiu oficiar aos Presidentes e Corregedores dos Tribunais para que transmitam aos magistrados a preocupao quanto a eventual punio de patronos de agentes da administrao pblica, nos termos do voto do Relator. Vencido o Conselheiro Vasi Werner, que no conhecia do pedido. Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso. Plenrio, 30 de agosto de 2011.

No voto do relator, Conselheiro Jorge Hlio Chaves de Oliveira, colhe-se o seguinte:

Outrossim, do exerccio regular de sua profisso no segue a responsabilidade do advogado pelo descumprimento de comandos judiciais nem que ele deixou de comunic-los ao seu destinatrio. O advogado pblico mero coadjuvante nesse cenrio, a quem incumbe, verdade, o dever de comunicar a deciso judicial ao responsvel por seu cumprimento, e no ele prprio efetiv-la. Ele no tem competncia para cumprir as decises judiciais e no destinatrio dos comandos judiciais porque no gestor encarregado dos bens e servios pblicos objeto das aes judiciais. Ao advogado pblico compete levar o contedo da deciso judicial ao conhecimento do agente pblico destinatrio do comando judicial, para que o responsvel por seu cumprimento efetive-o.

Ademais, importa esclarecer que no h relao hierrquica entre o advogado pblico e os agentes pblicos responsveis pela efetivao dos comandos jurisdicionais. No h subordinao entre eles, razo pela qual no se pode exigir do advogado pblico que se responsabilize pelos atos do destinatrio da deciso.Fica evidente, portanto, que o constrangimento ilegal que sofre a paciente, Procuradora Chefe da Unio em Minas Gerais, vai totalmente de encontro deciso do CNJ no citado Pedido de Providncia n. 749-61.2011.2.00.0000/MG

d) Eventual demora no cumprimento de deciso no configura crime de desobedinciaO cumprimento de decises judiciais que determinam a entrega de medicamentos exigem a comunicao prvia das Procuradorias da Unio (no caso dos autos, da Procuradoria da Unio em Minas Gerais) Consultoria Jurdica do Ministrio da Sade, atravs de ofcio.

No caso em comento, a Advocacia Geral da Unio, por intermdio da Procuradoria da Unio no Estado de Minas Gerais, comunicou o Ministrio da Sade (Ofcio n. 187/GAB/3/GAPP/PU/MG/2012, de 12 de maro de 2012), de modo a que se d cumprimento ordem judicial de fornecimento de medicamentos, isso logo aps a prolao da primeira deciso. Aps a prolao da segunda deciso judicial, foi novamente comunicado o Ministrio da Sade (Ofcio n. 302/GAB/3/GAPP/PU/MG/2012, de 26 de abril de 2012). Assim, todas as providncias sob sua competncia foram adotadas.

Em sntese, o que se quer demonstrar que a paciente praticou todos os atos que lhe competiam para dar cumprimento da ordem judicial que determinou a entrega de medicamentos.O ncleo do tipo do artigo 330 do Cdigo Penal consiste em desobedecer (no acatar, no atender, no cumprir) uma ordem legal de funcionrio pblico. Essa recusa em obedecer deve ser expressa, ou seja, o sujeito deve ter o dolo (vontade livre e consciente) de no atender a determinao imposta pela autoridade, o que, evidncia, no ocorreu.

Ainda que assim no fosse, demonstrada a impossibilidade ftica de cumprir a obrigao como determinado, ou seja, no prazo estipulado, faz-se necessria a anulao de qualquer sano imposta pelo descumprimento da deciso, uma vez que a ordem jurdica, includa a as determinaes judiciais, s podem obrigar a um dever de conduta possvel; se assim no o fazem, tais deveres so, antes de tudo, inexeqveis faticamente e, portanto, injurdicos, tendo como conseqncia inelutvel a violao do prprio ordenamento jurdico.

Logo, comprovada, pelos documentos acostados ao presente HC, a inexistncia de recalcitrncia para o cumprimento da determinao judicial, impossvel o cometimento de crime de desobedincia, como j decidiu o STJ:

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. CRIME DE DESOBEDINCIA COMETIDO POR DIRETOR ADMINISTRATIVO DA ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESPRITO SANTO. RECALCITRNCIA AO CHAMAMENTO DE AUTORIDADE POLICIAL. INOCORRNCIA. ATIPICIDADE. INDICIADO ACOBERTADO PELO PRINCPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. PRERROGATIVA DE NO PRODUZIR PROVA CONTRA SI. TRANCAMENTO DA AO PENAL.

1. Consoante entendimento sufragado na jurisprudncia desta Corte Federal Superior, o trancamento da ao penal na via angusta do habeas corpus, medida excepcional que , somente cabe nas hipteses em que se demonstrar, na luz da evidncia, primus ictus oculi, a inocncia do acusado, a atipicidade da conduta ou a extino da punibilidade.

2. Para a configurao do delito de desobedincia, imprescindvel se faz a cumulao de trs requisitos, quais sejam, desatendimento de uma ordem, que essa ordem seja legal, e que emane de funcionrio pblico.

3. Em inexistindo recalcitrncia do acusado ao cumprimento de ordem legal, no h falar em crime de desobedincia.4. Inerente ao princpio constitucional da ampla defesa est a prerrogativa de o acusado no produzir prova contra si, que compreende, induvidosamente, o direito de permanecer em silncio, seja na fase inquisitorial, seja na judicial. 5. Ordem concedida para trancar a ao penal.

(HC 17.121/ES, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 04/09/2001, DJ 04/02/2002 p. 566)

Por fim, e para esgotar qualquer celeuma acerca da ilegalidade da ordem de priso de priso expedida, deve-se ressaltar que o entendimento do STJ no sentido de que A SIMPLES DEMORA NO CUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL NO CARACTERIZA O CRIME TIPIFICADO NO ART.330 DO CDIGO PENAL:

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. DESOBEDINCIA. FUNCIONRIO PBLICO. AUSNCIA DE JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE SUBJETIVA. CARACTERIZAO.

1. A simples demora, que em nada se identifica com a oposio ordem legal, no caracteriza o crime tipificado no artigo 330 do Cdigo Penal.

2. Ordem concedida. (HC 27.064/PE, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 16/12/2004, DJe 04/08/2008)

e) Atipicidade da conduta. Impossibilidade de cometimento de crime de desobedincia em se tratando de cumprimento de deciso judicial. Existncia de outras medidas coercitivas.Cumpre anotar que, quando a lei extrapenal comina sano outra, civil ou administrativa, sem ressalva da cumulao com a norma penal em comento, no h falar em crime de desobedincia. E isso se d em nome da ideia de subsidiariedade, nsita ao Direito Penal, que exclui a sua interveno quando outros ramos do direito so aptos a proteger o bem jurdico de maneira menos gravosa, reservando-o o papel de ultima ratio da poltica social. Ressalte-se que a eficcia com que os demais ramos jurdicos protegem o bem h de ser analisada em abstrato, por obra do legislador ordinrio, no se podendo pretender uma atuao penal devido ineficcia em concreto das normas civis ou administrativas, sob pena de afronta ao princpio da estrita legalidade, sob cuja gide firma-se o Estado democrtico direito.

A sano especfica para o descumprimento de deciso judicial encontra-se na legislao processual civil, seja a cominao de astreintes ou a condenao por litigncia de m-f, que foram inclusive aplicadas no caso em comento.

A preocupao em criar ferramentas legais que dotem as decises judiciais de efetivo poder coercitivo est no centro das recentes reformas na legislao processual, que garantiram a tutela especfica das obrigaes por meio de sentenas mandamentais, encerrando uma ordem a ser efetivada na mesma relao processual, dispensando processo de execuo autnomo. Assim que dispe o art. 461, 5, do CPC:

Para a efetivao da tutela especfica ou a obteno do resultado prtico equivalente, poder o juiz, de ofcio ou a requerimento, determinar as medidas necessrias, tais como a imposio de multa por tempo de atraso, busca e apreenso, remoo de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessrio com requisio de fora policial (Redao dada ao pargrafo pela Lei n 10.444, de 07.05.2002).

No entanto, no se pode pretender que por medida necessria se compreenda a possibilidade de responsabilizao criminal por delito de desobedincia, sob pena transformar o Direito Penal em novo instrumento processual de cumprimento de sentena. Do contrrio, seria letra morta a proibio de priso civil por dvida, constante da Carta Poltica de 1988 e da Conveno Americana sobre Direitos Humanos, pois bastaria o magistrado determinar a observncia da deciso sob pena de responsabilidade criminal para retrocedermos poca em que o corpo e a liberdade do devedor respondiam pela execuo da obrigao.

Nesse sentido:

CRIMINAL. DESOBEDINCIA. ORDEM JUDICIAL. PENA DE MULTA PREVISTA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. RECURSO DESPROVIDO. I. Para a configurao do delito de desobedincia, no basta apenas o no cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensvel que inexista a previso de sano especfica em caso de seu descumprimento. Precedentes. II. Recurso desprovido. (STJ. Resp 686471/PR; Recurso Especial 2004/0117013-6. rgo Julgador: T5- 5 Turma. Relator: Ministro Gilson Dipp. Deciso de 17/05/2005. DJU de 06.06.2005 p. 366)

PENAL. CRIME DE DESOBEDINCIA. DETERMINAO JUDICIAL ASSEGURADA POR MULTA DIRIA DE NATUREZA CIVIL (ASTREINTES). ATIPICIDADE DA CONDUTA. Para a configurao do delito de desobedincia, salvo se a lei ressalvar expressamente a possibilidade de cumulao da sano de natureza civil ou administrativa com a de natureza penal, no basta apenas o no cumprimento de ordem legal, sendo indispensvel que, alm de legal a ordem, no haja sano determinada em lei especfica no caso de descumprimento. (Precedentes). Habeas corpus concedido, ratificando os termos da liminar anteriormente concedida . (STJ. HC 22721 / SP ; Habeas Corpus 2002/0065354-0. rgo Julgador: T5- 5 Turma. Relator: Ministro Felix Fischer. Deciso de 27/05/2003. DJU de 30.06.2003 p. 271)"Dessa forma, resta evidente a atipicidade do fato.f) Atipicidade da conduta: no caracterizao de crime de desobedincia por funcionrio pblico no exerccio das funes

Conforme se verifica, a autoridade coatora entende que, em tese, houve crime de desobedincia.No entanto, a conduta atpica, tendo em vista que o sujeito ativo da ao um servidor pblico e o delito que lhe est sendo imputado somente cometido por particulares, pois o artigo 330 do Cdigo Penal encontra-se inserido no Captulo II, que diz respeito aos crimes praticados por particular contra a administrao em geral. Nesse sentido j decidiu o Superior Tribunal de Justia:RHC. Delegado de polcia. Crime de desobedincia. Atipicidade. Emendatio libelli. Impossibilidade. Impossvel Delegado de Polcia cometer crime de desobedincia art. 330 do CP que somente ocorre quando praticado por particular contra a Administrao Pblica. (RHC, 5 Turma, Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, publicado no DJ em 5/6/95, p.16.675). STJ: Desobedincia. Servidor pblico que desrespeita ordem no exerccio de suas funes. Atipicidade. Trancamento da ao penal. S ocorre o crime de desobedincia quando o servidor pblico desrespeita ordem que no seja referente s suas funes (RT 738/574).

A jurisprudncia recente desse E. TRF tambm se guia no mesmo sentido:PENAL E PROCESSUAL PENAL. TERMO CIRCUNSTANCIONADO POR CRIME DE DESOBEDINCIA. PROCURADOR FEDERAL. DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL. AUSNCIA DE COMPETNCIA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. TRANCAMENTO.

1. O crime de desobedincia, previsto no art. 330 do CP, tem por sujeito ativo o particular, e no o servidor pblico no exerccio de suas funes legais.

2. No atribuio de Procurador Federal o cumprimento de ordem judicial direcionada ao pagamento de dbitos previdencirios, eis que sua competncia se limita representao judicial do INSS.

3. Ordem de habeas corpus concedida.

(HC 0032257-64.2010.4.01.0000/GO, Rel. Juiz Tourinho Neto, Conv. Juiz federal Roberto Carvalho Veloso (conv.), Terceira Turma,e-DJF1 p.52 de 30/07/2010).

VII DA CONCLUSODiante da clara atipicidade da conduta, e mesmo de comprovada ausncia de indcios mnimos de autoria e de materialidade, afigura-se correto o manejo deste habeas corpus para que se tranque o Inqurito Policial em referncia, evitando-se a oitiva da paciente perante a Polcia marcada para o dia 30/07/2013.VIII DO PEDIDO

Diante do exposto, a Advocacia-Geral da Unio requer:a) seja concedida medida liminar, a fim determinar de plano o trancamento do Inqurito Policial em questo;

b) Caso assim no se entenda, seja determinada, ao menos, a suspenso da oitiva designada para o dia 30/07/2013, at julgamento meritrio;c) ao final, o reconhecimento da atipicidade da conduta, com o consequente trancamento do Inqurito em curso ou de eventuais atos subsequentes dele decorrentes;

d) a intimao pessoal dos atos processuais doravante praticados, por meio da Procuradoria Regional da 1 Regio.Braslia (DF), 02 de julho de 2013.

Jos Roberto Machado FariasAdvogado da Unio

Procurador-Regional da Unio - 1 Regio

Carlos Henrique Costa Leite

Advogado da Unio

Coordenador-Geral de Aes Estratgicas - 1 Regio15

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