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PÓS–GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O ENSINO DA ARTE E A ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL Por Ana Lúcia Gonçalves Paraizo Borges Orientador Prof. Marco Antônio Chaves Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001

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PÓS–GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O ENSINO DA ARTE E A ESCOLINHA DE ARTE

DO BRASIL

Por

Ana Lúcia Gonçalves Paraizo Borges

Orientador Prof. Marco Antônio Chaves

Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001

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PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O ENSINO DA ARTE E A ESCOLINHA DE ARTE

DO BRASIL

Por Ana Lúcia Gonçalves Paraizo Borges

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Docência do Ensino Ensino Fundamental e do Grau Médio.

Rio de Janeiro, RJ,agosto/2001

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Dedicatória:

Dedico esse trabalho ao meu marido Márcio e aos meus filhos Mariana e Vinícius.

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Agradecimentos:

Agradeço às minhas amigas Rita e Kathia por me apoiarem e incentivarem a conclusão desse curso, pois sem elas, essa seria uma tarefa muito difícil de ser executada.

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“Um adulto equilibrado, que seja capaz de resolver satisfatoriamente os

problemas que a vida lhe apresenta, necessita não apenas do pensamento lógico, mas também da intuição e da imaginação.”

Regina Machado

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SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................................6 INTRODUÇÃO...................................................................................................................7

CAPÍTULO I – História do ensino da Arte no Brasil – do período colonial à

semana de arte moderna...............................................................................................8

CAPÍTULO II – Concepções ideológicas e filosóficas que influenciam as

práticas no ensino escolar de Arte..........................................................................10

CAPÍTULO III – Movimento Escolinha de Arte do Brasil....................................16

III.1 – Formação.............................................................................................................16 III.2 – Princípios e conceitos......................................................................................22 CONCLUSÕES ..............................................................................................................27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................29 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.................................................................................30 ANEXOS

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RESUMO

Este estudo tem por objetivo abordar a evolução do ensino da arte no

Brasil e entender as relações com as ideologias que as influenciaram. Um breve

histórico das tendências teóricas da educação escolar sob os aspectos

pedagógicos, ideológicos e filosóficos pode ajudar a compreender as raízes das

ações dos educandos. Dando ênfase aos conceitos do movimento escolinha de

arte do Brasil, datada da época de 1948, onde se assiste a participação de

artistas, intelectuais e educadores liderados por Augusto Rodrigues, veremos

sua importância nesse processo onde se desenvolveu uma proposta educacional

influenciada pelos conceitos da pedagogia esconanovista. A idéia-matriz da

Escolinha é unir arte e educação em um mesmo movimento, garantir respeito

integral à expressão artística das crianças e neste processo transformar

professores e a própria educação.

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2.Introdução

A História da educação da arte no Brasil, assim como toda a educação,

vem se submetendo a uma constante deficiência de qualidade. E para se

construir uma nova história é preciso saber como a arte vem sendo ensinada,

suas relações com a educação escolar e com o processo histórico-social.

Analisar as teorias pedagógicas e seu relacionamento com as práticas

contribui para um estudo mais aprofundado da arte-educação.

O movimento Escolinha de Arte pode ser considerado uma importante e

inovadora experiência pedagógica do país. Essa proposta de trabalho de

educação através da arte frutificou e, neste contínuo processo de integração e

cultura, orientou profissionais. Foram pesquisados a filosofia, metodologia e

diferentes fatores que influíram na criação da escolinha de Arte do Brasil. Ela

tem como característica uma tendência idealista, que incentiva a criatividade, a

livre expressão e veio para quebrar as cópias e as reproduções de modelos.

De acordo com a arte-educadora professora Ana Mãe Barbosa, “arte não

é apenas básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve.

Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da

palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é conteúdo. Como

conteúdo, arte representa o melhor trabalho da ser humano.”

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3. Capítulo I

História do ensino da arte no Brasil - do período colonial a semana de arte

moderna

Nos primórdios do ensino da arte no Brasil, não existia qualquer espécie

de programa de Arte para as crianças, com exceção do Seminário de Olinda de

Azevedo Coutinho (1800), que tinha em seu programa para meninos o desenho,

além do geométrico.

Dom João, ao trazer para o Brasil em 1816 a Missão Francesa,

proporcionou a iniciação de um ensino artístico, que dez anos mais tarde deu

origem à Academia Imperial de Belas Artes. Sua contribuição para o acesso de

leigos à arte foi importante, mas os aristocratas apenas apreciavam e

compravam as obras, sendo o monopólio da criação dos artistas estrangeiros e

alguns poucos artistas nativos.

Naquele tempo, a arte era vista como vocação para artistas e havia um

pensamento que as experiências em arte eram um luxo dispensável e que

poderiam despertar perigosos impulsos para o efeminamento e a boemia. Por

outro lado, firmou-se também no Brasil na segunda metade do século XIX o

conceito de ensino da arte como adorno, algo não usável em si mesmo, fora do

currículo, nas escolas católicas femininas de elite.

Com a República, novas leis incluíram o desenho geométrico no currículo,

não com a finalidade de ser aplicado na indústria, como chegara a propor Rui

Barbosa, mas com o objetivo de desenvolver a racionalidade. A partir de 1920,

com as tentativas de reforma de Sampaio Dória, depois reforçadas pela Escola

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Nova, começou no Brasil um movimento de inclusão na escola primária como

uma atividade integrativa, uma espécie de segunda linguagem, para expressar

ou para fixar o que tinha aprendido nas aulas de geografia e estudos sociais. Os

métodos, contudo, continuariam os mesmos e na maioria das vezes as crianças

desenhavam, copiando.

A primeira grande revolução metodológica no campo da Arte-Educação se

deve ao movimento de Arte Moderna de 1922.No Brasil, como já havia

acontecido na Áustria com Cizek em 1885, o interesse pelas teorias

expressionistas e pelos escritos de Freud, levou a uma valorização da arte

infantil. Mário de Andrade e Anita Malfatti foram os introdutores das idéias de

livre-expressão para a criança no Brasil. Anita, orientando classes para jovens e

crianças em São Paulo e Mário promovendo programas e pesquisas na

Biblioteca Municipal de São Paulo, escrevendo artigos a respeito em jornais e

introduzindo no seu curso de História da Arte na Universidade do Rio de Janeiro,

estudos sobre a arte da criança.

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4. Capítulo II

Concepções ideológicas e filosóficas que influenciaram as práticas no

ensino escolar de Arte

A educação escolar e o meio social exercem ação recíproca um sobre o

outro. Analisando o processo histórico-social veremos que existem dois grupos

que seguem posicionamento opostos. Para os educadores mais otimistas, os

idealistas, acreditam que a escola é capaz sozinha de garantir a construção de

uma sociedade mais igualitária, democrática e inclusive resolver os problemas

sociais. Outro grupo, os realistas, acredita ser a sociedade com suas práticas

que determina totalmente a educação escolar, a qual, por sua vez, é

considerada reprodutora dessa sociedade, sendo incapaz de muda-la.

Fazem parte da tendência idealista as seguintes pedagogias:

Tradicional; Nova; Tecnicista.

A pedagogia tradicional tem suas raízes no século XIX e percorre todo o

século XX. As concepções ideológicas desta pedagogia são que os indivíduos

são libertados pelo conhecimento adquirido na escola. Nas aulas de arte, a

tendência Tradicional predomina, é utilizada uma teoria ligada às cópias do

“natural” e com a apresentação de modelos para alunos imitarem, criando

padrões de beleza.

No Brasil do século XIX e nas primeiras décadas do século XX

relaciona-se o desenho com o progresso industrial ao preparo técnico de

indivíduo para o trabalho, tanto para as fábricas quanto para o trabalho

artesanal, fazendo uma analogia do desenho com o trabalho.

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Conforme os textos da época, os objetivos dos professores eram

exercitar através da repetição a destreza motora, a inteligência, am imaginação

(memória e novas composições), o gosto e o senso moral. Abrangendo também

proporções, composições, teoria da luz e sombra, texturas e perspectiva. Os

autores que propõem esta metodologia são João Amós Comenius (Didática

Magna – 1627) e Felisberto de Carvalho (Tratado de Metodologia).

Na pedagogia Tradicional se mantém a divisão de classes que existe na

sociedade, pois ela se interessa em um fazer técnico e científico, de conteúdo

reprodutivista, fazendo assim os alunos aplicarem esse conhecimento no

trabalho. Seu foco de atenção é no produto do trabalho.

Pedagogia Renovada

Esta teoria se contrapõe à educação tradicional, pois se interessa em

uma democratização da sociedade, onde os estudantes se adequassem mais ao

seu ambiente e as relações entre as pessoas fossem mais justas. E para

alcançar essa finalidade se propõe experiências cognitivas que devam ocorrer

progressivamente, ativamente, levando em consideração interesses, motivações,

iniciativas e as necessidades individuais dos alunos. Os seguidores do filósofo

americano John Dewey (1859-1952) procuraram se aprofundar em suas idéias,

vendo o interesse dos alunos e desenvolve-los no “aprender fazendo”.

Os professores que seguiam essa tendência se apresentavam numa

ruptura às cópias de modelos e valorizavam os estados psicológicos das

pessoas. A concepção estética provinha de uma experiência individual de

percepção; expressão e revelação e emoções, de insights, de desejos, de

motivação experimentadas interiormente pelos indivíduos. Esta teoria, com base

na psicologia e centrada no aluno produtor dos trabalhos artísticos, vem sendo

até início dos anos noventa a mais enfatizada na educação escolar brasileira em

arte.

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O que marca a tendência escolanovista são os pressupostos estéticos e

educacionais expressionistas.

Podemos dizer que o eixo foi deslocado do intelecto para o sentimento;

do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a

espontaneidade; da ciência da lógica para a ciência experimental; da

quantidade para a qualidade.

O Brasil, entre os anos trinta e quarenta, encontrava-se num momento

de crise de modelo agrário-comercial, exportador e dependente, e no início de

um modelo nacional desenvolvimentista, industrializado. Foi uma época com

várias lutas políticas, econômicas, culturais em prol de uma educação pública

básica. Houve um lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em

1932, onde entre os principais líderes encontraremos Anísio S. Teixeira, Cecília

Meirelles e outros.

Nesta época aconteceu no campo artístico a Semana de Arte Moderna

de 1922. Outro evento significativo marcou o interesse pela Arte espontânea

das crianças: a exposição no Clube dos Artistas Modernos (CAM), datada de

1944 e denominada Semana dos Loucos e das Crianças, que teve muita

repercussão, inclusive no Rio de Janeiro.

Além do novo posicionamento pedagógico, houve um interesse pela

produção artística de crianças, bem como seus processos mentais, mundo

imaginativo.

Autores como Lowenfeld mostrou-se também a favor da pedagogia

escolanovista escrevendo o livro “O significado da Arte para a Educação”. Onde

se enfatizava que a aprendizagem que desenvolve indivíduos bem-ajustados e

que contribuem de forma criadora para a sociedade precisam de diferentes

métodos de ensino, usando auto-expressão de forma livre e flexível e não só o

seu desenvolvimento pelos aspectos intelectuais.

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Outro autor que assumiu a base psicológica da pedagogia e influir no

pensamento dos professores de arte foi Herbert Read (1893-1968), que se

dedicou à análise de expressões artísticas de crianças e adolescentes. Este

admirador do médico e psicanalista alemão Carl Gustav Jung, procurou

demonstrar a presença dos arquétipos e símbolos na arte infantil.

No Brasil, foi Augusto Rodrigues que iniciou o movimento da escolinha

de Arte do Brasil depois de manter contato com Herbert Read e, difundiu a

concepção da arte baseada na expressão e na liberdade criadora. Para que isso

ocorresse foi necessária a total independência da criança ou do jovem que

deveriam produzir seus trabalhos artísticos sem intervenção do adulto.

Pedagogia Tecnicista

Esta teoria foi introduzida no Brasil entre 1960 e 1970 e atendeu ao

mundo tecnológico em expansão. Ela foi desenvolvida da segunda metade do

século XX, principalmente nos Estados Unidos. Essa nova modalidade de

pensar objetivava a preparação de indivíduos mais “competentes” e produtivos

para o mercado de trabalho em sintonia com os interesses da sociedade

industrial. O professor passa a ser considerado um técnico a executar o plano

escolar. O que se valoriza é a organização racional e mecânica.

Nesta época, no início dos anos setenta, foi assinada a Lei de Diretrizes

e Bases da educação Nacional (n° 5692/71) que introduziu a Educação Artística

no currículo escolar de primeiro e segundo graus. Porém, esta foi colocada de

uma maneira indefinida conforme diz no texto: “não é uma matéria mas uma

área bastante generosa e sem contorna fixo, flutuando ao sabor das tendências

e dos interesses”. Deveria estar mais claro e organizado.

Conseqüentemente, observa-se que nesse período os professores de

artes mostravam-se inseguros e despreparados por falta de um planejamento de

educação em arte mais consistente e de condições de trabalho.

Por volta da década de oitenta aconteceram movimentos de

organização de professores da arte em diferentes estados e regiões do país,

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onde se discutiram questões referentes aos cursos de Artes da pré-escola à

universidade. O que se constatou foi que havia uma fragilidade metodológica,

ora enfatizando um saber “construir”artístico, ora um saber “exprimir-se”.

Hoje, as aulas de artes sofrem na prática a influência das três

pedagogias em maio ou menor grau.

A partir dos anos sessenta, houve uma preocupação com as propostas

pedagógicas no sentido de serem mais realistas, conscientizadoras do povo. Um

projeto tem por finalidade dar um redimensionamento histórico do trabalho

escolar público, democrático e de toda a população. Surgem, então, novas

teorias para explicar a superação do pensamento liberal na busca de um projeto

pedagógico progressista. São essas as pedagogias: Libertadora; Libertária;

Histórico-crítica ou Crítico-social dos conteúdos ou sócio-política.

A pedagogia Libertadora é uma proposta de Paulo Freire que visas

conscientizar o povo para fatos vividos, desafiando-os a situações-problemas

para compreender e solucionar. Ele trabalha com a alfabetização de adultos e

coloca aluno e professor em diálogo, em condições de igualdade.

A pedagogia Libertária, representada por Michel Lobrot, Celestine

Freinet, Maurício Tragtenberg, Miguel González Arrojo entre outros, acredita na

independência teórica e metodológica, livres de amarras sociais. Uma autonomia

vivenciada por grupos de alunos e seus professores.

Um outro grupo surge nos fins dos anos setenta que busca um caminho

para educação escolar pública. Este se propõe a substituição dos conteúdos

tradicionais (concepção produtivista) de ensino nas aulas, por discursos políticos

(concepção realista), já que o ensino-aprendizagem se encontra em baixa

qualidade. São então refletidos e discutidos dois aspectos básicos:

1° A escola pública competente é direito de todos os cidadãos e é um ato político

que precisa ser executado.

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2° A escola não é a única responsável pela melhoria de vida na sociedade

(concepção idealista) e nem a torna exclusivamente reprodutora das relações

sociais. A escola é influenciada por determinantes sociais e históricos e é capaz

de intervir para que se melhore e se transforme a sociedade.

A partir daí surge uma nova proposta pedagógica, histórico-crítica, ou crítico-

social dos conteúdos que tende a ser mais “realista-crítica”.

Ela objetiva a dar ao educando o instrumental necessário para que se exerça

uma cidadania consciente, crítica participante e transformadora. Estará

interessada em métodos de ensino eficazes. Métodos que estimulem a atividade

e iniciativa dos alunos e dos professores. Favoreça o diálogo entre os alunos,

com o professor, e com a cultura acumulada historicamente.

A diferença desta pedagogia da Tradicional (onde é feita a “preparação”

dos alunos, iniciativa do professor) e da nova (onde a atividade é iniciativa dos

alunos) é a prática social problematizada através de questões que se desdobram

em conhecimentos a serem dominados, complementados com suportes teóricos

e culturais. Conduz-se então a uma nova compreensão da sociedade.

Esta proposta pedagógica se possibilita outros conceitos

transformadores que se faz necessário um trabalho de pesquisa mais profundo.

Porém, este capítulo é para se compreender e posicionar o processo do ensino

da arte e sua história.

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5.Capítulo III

Movimento Escolinha de Arte do Brasil (EAB)

III.1 - Formação

Foi Augusto Rodrigues quem iniciou a divulgação do movimento

Educação através da Arte depois de manter contato com Herbert Read 1 e criar

no Rio de Janeiro, em 1948, a Escolinha de Arte do Brasil. Com a criação da

Escolinha, novos horizontes se abriram,contribuindo para uma mudança na área

do ensino da arte. Sua concepção básica de educação através da arte, que se

diferenciava das experiências anteriores, recupera a valorização da arte infantil e

a concepção de arte baseada na expressão e na liberdade criadora.

Para Augusto Rodrigues, a criação da Escolinha começou pelo processo

de encantamento e reencontro da criança que nele existia e sempre existiu,

representando o ingresso numa espécie de santuário que lhe havia sido

interditado.

Logo depois de chegar ao Rio de Janeiro em 1935, Augusto Rodrigues

articula um grupo informal de artistas e educadores, que se reunia para longas

discussões sobre a questão da arte na formação e desenvolvimento da criança,

isto bem antes de ocorrer qualquer fato dentro da arte-educação. Dele faziam

parte, entre outros, Lúcia Alencastro Valentim, Margareth Spencer, Poty e Darel

Valença.

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1 Herbert Read (1893-1968) foi filósofo inglês que assumiu a base psicológica da pedagogia, exercendo grande influência no pensamento dos professores de arte. Formulou sua teoria em Educação Através da Arte, obra publicada pela primeira vez em 1943.

Em 1941, em plena 2a Guerra Mundial, um acontecimento marcante

mobilizou este grupo: a realização no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro

da exposição itinerante de desenhos e pinturas de crianças inglesas, promovida

pelo British Council, com texto de apresentação de Hebert Read, com a

finalidade de levar uma mensagem de paz a todos os países em que pudesse

ser vista. A força expressiva contida naqueles trabalhos emocionou a todos e

surgiu o pensamento que os novos métodos e idéias relacionados à arte e

educação desenvolvidos por professores na Inglaterra deveriam ser mais

pesquisados e analisados no Brasil.

Existem outros fatos ocorridos neste período, que contribuíram para traçar

o perfil das pessoas neles envolvidos. Uma delas, Javier Villafañe, chegou ao

Rio no começo dos anos 40, vindo de andanças pela América Latina. Poeta,

fazedor de bonecos e montador de fantoches, este titereiro contava histórias

com seus bonecos em qualquer lugar onde havia crianças dispostas a ouvi-lo.

Às vezes, pedia às crianças que desenhassem o que tinham visto na pecinha ou

qualquer outro assunto. Guardava os desenhos e seguia viagem. Augusto

Rodrigues encontrou com este poeta errante e foi junto com ele em algumas de

suas andanças.

Também conta com a aproximação de Lúcia Alencastro Valentim, que

começou a estudar desenho em criança com Alberto da Veiga Guinard na

Fundação Osório – instituição para órfãs de militares situada numa encosta de

montanha no Rio de Janeiro – que a levou a descobrir o sentido da arte em

educação numa perspectiva inovadora, graças ao entusiasmo do mestre

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ensinando desenho a 200 meninas, de maneira não formal, em meados dos

anos 30. Depois de formada pela Escola Nacional de Belas Artes, volta à

Fundação em 1944, como professora, para substituir Guinard. Este grande

artista brasileiro, consciente do espaço moderno, capaz de criar também em

educação, fora convidado por Juscelino Kubitscheck para trabalhar no Curso

Livre de Desenho e Pintura no recém-criado Instituto de Belas Artes de Belo

Horizonte,hoje Escola Guignard.

Margareth Spencer, pintora e ceramista americana também interessada

em música, contribuiu muito com sua experiência de trabalho de arte com

crianças nos Estados Unidos, para concretização da experiência EAB.

Outra personalidade importante foi Helena Antipoff, que em 1945 chamou

Augusto Rodrigues para ensinar aos professores da Sociedade Pestalozzi em

Minas Gerais, a trabalhar com arte, com as crianças desta instituição. Helena

Antipoff, educadora, nascida na Rússia, formada em medicina e psicologia em

Paris, ex-assistente do neurologista Claparéde na Suíça, é convidada em 1929

para vir ao Brasil pelo Secretário de Educação de Minas Gerais para organizar o

Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento. Seu trabalho se

ramificou e se fazendo brasileira, orientou sua vida para o atendimento do menor

abandonado, do excepcional e dos bem-dotados, articulando a Sociedade

Pestalozzi. Assim marcou profundamente a educação, a ciência e a arte no

Brasil. Em 1946 a Sociedade Pestalozzi começou a funcionar no Rio de Janeiro

e D. Helena se tornaria uma das principais defensoras do projeto Escolinha, já

que acreditava que a arte era um meio de educação por excelência e que o

artista tinha um papel fundamental na educação – maior que os pedagogos e

psicólogos.

O encontro de Augusto Rodrigues com estes artistas e educadores fez

germinar a idéia da criação de uma escolinha de arte.

A EAB não nasceu planejada no papel, não teve fundação festiva com

solenidade e discursos, não teve anúncios nem chamou muito a atenção. Pode-

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se dizer que artistas, educadores, psicólogos, entre outros interessados por arte

e educação, fizeram a EAB. Ë uma forma de enfatizar a indispensável

contribuição de muitos na continuidade dessa Escolinha e na repercussão

gradativa de suas idéias e práticas. Mas, em seu começo, no trabalho cotidiano,

a luta contra incompreensões e a busca para dar continuidade à experiência

recém-inaugurada, ficaram concentradas nas mãos dos três artistas fundadores -

Augusto Rodrigues, Lúcia Alencastro Valentim e Margareth Spencer.

A princípio a escola de arte não tinha nome. As crianças a chamavam de

Escolinha, para diferencia-la das outras escolas. O nome Escolinha no entanto,

se firmou. No início não havia matrícula nem inscrição. As crianças iam uma vez

com os pais e ficavam, sem pagar nada, só os professores.Eles não tinham

salário nem verba e ainda compravam com seu próprio dinheiro o material que

as crianças usavam. Estavam numa cruzada e o objetivo era provar a utilidade

da Escolinha.

Ela foi crescendo pouco a pouco. Começou apenas com desenho, pintura

e modelagem. As atividades novas iam sendo incorporadas a ela na medida das

necessidades reveladas pelas crianças, sempre com respeito à sua

individualidade, estimulando sua auto-expressão e desenvolvendo, num

ambiente de recreação sadio, as faculdades criadoras das crianças em todos os

seus aspectos artísticos. Nos anos seguintes desenvolveu-se o teatro de

fantoches e máscaras, recortes e colagem, gravuras em linóleo e em chapas de

cobre, tecelagem, iniciação musical e bandinha rítmica.

Em 1949 e 1950 a Escolinha organizou Exposições de Arte Infantil, na

semana da criança, participando também da Exposição Internacional de Arte

Infantil em Londres, com a finalidade de divulgar os resultados do seu método de

ensino de arte infantil. Em 1951,organizou a I Exposição Nacional de Arte Infantil

no prédio do Instituto da Previdência dos Servidores do Estado, com patrocínio

do Ministério de Educação e Cultura, mostrando 1500 trabalhos provenientes de

todo o país.

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Heitor dos Prazeres, compositor e pintor, era presença constante nos

almoços, nas atividades e nas festas. Em certas ocasiões ele levava pastoras e

passistas, que esquentavam as salas da Escolinha, ao som do samba.

A música popular sempre esteve presente. Silvio Caldas, Marília Batista e

Vanja Orico, por exemplo, deram vários recitais para as crianças e convidados.

Foram realizadas várias exposições de artesanato popular. O intercâmbio com a

Fazenda Rosário de D.Helena Antipoff – uma grande incentivadora do

artesanato – levava pessoas da Escolinha para Minas Gerais a fim de observar

no local o trabalho dos artistas populares, levando também artesãos para o Rio

de Janeiro.

Em 1952 foi realizada a Assembléia de fundação da sociedade civil

denominada de Escolinha de Arte do Brasil.

Em 1957 já fazia parte do corpo docente, figuras destacadas do mundo

artístico com Lívio Abramo e Vera Tormenta, responsáveis pelos cursos de

xilogravura e linoleogravura e Abelardo Zaluar pelo de desenho. Os cursos

sempre se destinavam às crianças e agora também àquelas que se tornaram

adolescentes. Todos os anos eram realizadas exposições de arte infantil e

infanto-juvenil, organizadas pela Escolinha em nível nacional e em vários países

da América Latina, Inglaterra e França. Estas mostras de arte infantil brasileira

consolidaram-se principalmente a partir de 1954, quando Augusto Rodrigues

participou como sócio-fundador representante da América Latina, da fundação

da International Society For Education Through Art (INSEA) – uma associação

de professores e educadores da Grã-Bretanha que adotou o programa de ação

chamado educação através da arte criado por Herbert Read – e que passou a se

constituir sob os auspícios da UNESCO, em um dos seus órgão consultivos.

Esta sociedade tem hoje várias sucursais e correspondentes no mundo.

As idéias pioneiras se disseminam com a abertura de novas Escolinhas

por todo o país e também no exterior. De 1950 a 1975 já se pode contar 62

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Escolinhas espalhadas pelo Brasil, além de duas no Paraguai, uma na Argentina

e uma em Portugal.

São promovidos seminários para análise do processo de educação

artística, com a presença dos professores e educadores de todas as Escolinhas.

Um dos principais pontos para que a experiência EAB frutificasse foi a

criação do Curso Intensivo de Arte na Educação – CIAE em 1961, sob a direção

técnica de Noêmia Varela.

O CIAE constituiu-se desde 1961 até a Lei 5692/71 de Diretrizes e Bases

da Educação, no único curso de especialização para professores em educação

através da arte. Somente a partir dessa lei, começou a ser ministrada essa

especialização oficialmente em outras escolas, com a criação dos cursos de

Educação Artística. Esta lei federal que tornou obrigatório o ensino das artes nas

escolas, não pôde, entretanto, assimilar como professores de arte, os artistas

que tinham sido preparados pelas Escolinhas, porque a partir da 5a série exigia-

se o grau universitário.

A fonte de renovação e transformação deste curso se baseava na

heterogeneidade do grupo de alunos bem como na diversidade de formação dos

professores, aparentemente paradoxal. Pretendia-se provocar o uso da

imaginação e da invenção na meta da organização de experiências construtivas.

É um aprender fazendo – lema da Escolinha – que se fundamenta em estudos

sobre Arte, Educação e Psicologia e no enfoque dos princípios filosóficos

básicos para melhor compreensão de como educar pela arte.

O CIAE não pretendia formar o professor especializado em arte, mas

indicar ao educador o caminho para mudança, a fim de descobrir, se lhe

conviesse, a especialização. Considera-se que o educador não é apenas aquele

ligado a uma instituição educacional, mas sim aquele que lida no seu dia-a-dia

com a vida.

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Apesar do país se encontrar a partir de 1964 numa fase de censura, a

Escolinha continuava a ter um ambiente cultural marcante – embora controlado.

Por se constituir como um projeto coletivo, não burocrático, sem regras rígidas,

autonomista, podia ser abraçado com entusiasmo por todos que embarcavam na

sua proposta. Ela era portanto movida por uma máquina exatamente oposta à

que rege o sistema educacional brasileiro, máquina do Estado, com todos os

obstáculos de suas regulamentações e hierarquias, tolhendo a criatividade e o

entusiasmo dos que dela participavam.

III.2 – Princípios e conceitos

O projeto de educação criadora desenvolvido na Escolinha de Arte do

Brasil desde 1948, visava desenvolver principalmente a auto-expressão da

criança e do adolescente e de seu potencial criador.

Opondo-se ao pensamento que norteava o ensino da arte da época, que

pouco incentivava a criatividade, promovendo principalmente a cópia de modelos

dentro dos padrões estabelecidos, a EAB decide empregar um novo termo,

educação através da arte, para diferenciar sua metodologia das outras vigentes.

Outro fator importante que diferenciava os dois conceitos, era que o

ensino da arte valorizava principalmente o produto final, enquanto que a

educação através da arte se preocupava com o processo de experiência,

processo esse que trazia naturalmente a descoberta prazeroza do fazer artístico,

a curiosidade, e conseqüente encontro com a técnica de maneira mais

espontânea e sem a interferência direta do professor.

A grande meta da proposta da EAB era a formação integral de um

indivíduo, pleno de realizações criativas, tendo a oportunidade de descobrir na

infância e adolescência, suas inúmeras capacidades interiores e exteriores.

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Tendo a chance de testa-las e amplia-las, transformava a criança em futuro

cidadão consciente e participante.

Constata-se que as idéias que marcaram definitivamente e ainda hoje

permeiam a filosofia educacional da Escolinha de Arte do Brasil e o Movimento

Escolinha de Arte nela gerado, inspirada principalmente na obra de Herbert

Read, já que havia na época um clima de abertura tendente à busca de uma

nova ordenação para a educação artística, que se desejava, de modo

metafórico, revolucionar em uma educação pela arte.

O ideal de Herbert Read é o homem que desenvolve suas

potencialidades, por mais variadas que sejam, e as reúne numa unidade

específica. Pó isso o encontro de Herbert Read com a psicologia junguiana foi

tão importante, decisivo mesmo, para o desenvolvimento de suas idéias. Em

Jung 2, Read encontrou aquela concepção de totalidade que vislumbrara desde

jovem quando lera Platão 3 e que agora via apresentada em termos científicos,

por um sábio contemporâneo.

Read inspirou-se muito em Platão que determinava para os habitantes da

República que no primeiro ciclo da educação se ensinará harmonia e ritmo por

meio da música, dança, canto, e ginástica, e somente no segundo ciclo o jovem

abordará as ciências que exigem esforço do pensamento abstrato. A educação

será iniciada com as artes, pois estas possuem no mais alto grau o poder de

penetrar na alma, trazendo consigo harmonia e transmitindo-a. Esta harmonia e

ritmo não estão apenas presentes na música, dança e canto, mas em todos os

trabalhos dos artesãos, pois o fundamento da educação dos habitantes da

República foi conduzi-los ao mais íntimo da alma da criança, para que daí de

dentro possam reger suas opções e plasmar suas obras.

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2 Jung (1875-1961), psiquiatra suíço autor de “Psicologia do inconsciente”, 3 Platão (429 a 347 a.c.), filósofo grego autor de “A República” – Rio de Janeiro, Hemus, 1978. .

No campo da educação, Read levantou-se contra o unilateralismo de

nossos sistemas pedagógicos que cultivavam quase exclusivamente as funções

intelectuais, treinando o pensamento que analisa, divide e classifica. As

emoções, os sentimentos não constituíam objeto de atenção dos educadores,

nem o aprimoramento da percepção das sensações. Logo, as emoções que não

aprendemos a exprimir, manifestam-se quase sempre distorcidas. Read afirma

que a educação deveria fluir através dos sentidos, dos membros e músculos e

não em primeiro lugar através das faculdades de abstração.

Read está entre os primeiros que assinalaram a presença de imagens

arquetípicas na pintura das crianças, dizendo que assim se pode entender a

noção de inconsciente coletivo que Jung desenvolveu.

Na obra de Read fica também claro que o educador tanto visa o

desenvolvimento do indivíduo como também, e simultaneamente, sua integração

na sociedade. Mais uma vez Read se encontra de acordo com a psicologia

junguiana, pois segundo Jung, quem verdadeiramente se educa, é quem realiza

a aproximação entre o consciente e inconsciente, com seus conteúdos comuns a

todos os homens, considerando o processo de Individuação. Por ter se

individuado, ele estará mais apto do que qualquer outropara uma solidariedade

coletiva e ampla.

O perigo está em que o indivíduo seja devorado pela sociedade e se

dissolva na massa, principalmente em nossos dias. Assim, a arte representa

para Read o meio mais eficiente para se combater esse perigo. A arte como

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expressão do inconsciente, sendo eternamente importuna e permanentemente

revolucionária, é indispensável ao processo educativo, sendo assim capaz de

afastar os seres humanos da alienação.

Dentro das concepções de arte e ensino da arte adotadas pela Escolinha

dentro da ótica Readiana, que vê o artista autêntico como aquele capaz de

simbolizar sentimentos arquetípicos e intuições em formas jamais vistas,

confirma o espaço conquistado pelo artista dentro da Escolinha no campo da

educação. Ele se tornara um indicador de caminhos ainda não experimentados,

uma presença necessária. Por não ser um cientista, um psicólogo ou historiador,

mas sim, um criador de imagens, é impelido a faze-lo pelo seu senso de

percepção das formas que são vitais à humanidade.

Pelas concepções de Read também passa a ser dada pela Escolinha,

importância muito mais significativa ao universo simbólico de base junguiana,

numa visão de mundo contemporânea.

A forma como Herbert Read sumarizou sua compreensão do sentido do

universo simbólico em educação, a partir de suas múltiplas manifestações e não

apenas através do sistema simbólico da arte, ecoou de modo favorável em

estudos conseqüentes. Foram realizados cursos, estudos, estágios, pesquisas e

outras atividades básicas à formação de novos recursos humanos na meta de

uma educação através da arte, articulados com esta concepção.

Read influiu para que a experiência Escolinha de Arte do Brasil fosse

encenada, aprofundada e divulgada como um Movimento. Os pressupostos

deste Movimento começaram a ser esboçados e elaborados em função da

criança, da arte infantil, colocando-se a liberdade de expressão como

importância fundamental na formação de sua personalidade, de seu ser como

futuro indivíduo pleno, criativo, consciente, cidadão. Os aspectos lúdicos sempre

foram enfatizados, enquanto objetivo processual do seu trabalho, porque o via

como parte fundamental ao equilíbrio psíquico da criança.

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Nas concepções do ensino da arte para crianças várias teorias,

experiências e vivências foram colocadas em discussão e prática neste

verdadeiro laboratório chamado Escolinha de Arte do Brasil.

Princípios e práticas de vários teóricos e poéticos construtores da arte-

educação além de Herbert Read, foram integrados desde o início ao Movimento

no que tinham em comum, como a valorização da arte da criança, ênfase na

auto-expressão, liberdade criadora e desenvolvimento da capacidade criadora:

Franz Cisek, Marion Richardson, Barclay-Russel, Celestin Freinet, Arno Stern, P.

Luquet, Viktor Lowenfeld, John Dewey, e Rudolf Arnheim.

Destaca-se também a influência do educador Anísio Teixeira e os

princípios da Escola Nova, com suas idéias e proposições concretizadas através

do seu projeto Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Salvador) que inspiraram

Augusto Rodrigues e todos os artistas e intelectuais envolvidos no Movimento

Escolinha de Arte.

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6. CONCLUSÕES

Após se tomar conhecimento da construção histórica da educação de

arte e a investigação do movimento Escolinha de Arte no Brasil se esclarece e

se valoriza a necessidade da Arte no desenvolvimento de uma sociedade

democrática.

Segundo Ana Mae Barbosa, “Se pretendemos uma educação não

apenas intelectual, mas principalmente humanizadora, a necessidade da arte é

ainda mais crucial para desenvolver a percepção e a imaginação.”

Como idealizador da Escolinha, Augusto Rodrigues buscou soluções

criativas para se estabelecer tanto nos espaços físicos como na sua integração,

em vista a complexidade em que se passava o Brasil. Juntaram-se para sua

criação intelectuais e educadores interessados em promover a capacidade

criadora da criança assegurando-lhe o direito de se exprimir livremente.

Todos aqueles que estiveram envolvidos na criação da Escolinha de

Artes, cidadãos preocupados com a formação das crianças, através de uma

proposta de arte-educação, um movimento educativo e cultural buscavam a

constituição de um ser humano completo, dentro dos moldes do pensamento

idealista e democrático. Procuraram despertar uma consciência individual na

liberdade de se expressar apoiada na Psicanálise.

Baseados neste sistema, os criadores da Escolinha tiveram a

oportunidade de estabelecer uma outra visão da Arte como processo

educacional de crescimento, e uma visão de educação como processo artístico

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de auto-criação, resultando ambas em vivências integradas na possibilidade da

criação de novos valores necessários à constante transformação e renovação

dos atuais sistemas educacionais.

A Arte-educação desenvolvida na EAB deve ser vista como integradora

do processo formal e o não formal de educação, com o educador exercendo um

papel de agente transformador na escola e na sociedade. No percurso da

história observou-se a influência da Escolinha na prática de inúmeros

educadores e artistas gerando um movimento desencadeador formando núcleos

de educação criativa em outras regiões do Brasil e fora do país.

Pesquisar a história do ensino da Arte é um incentivo quanto ao que se

fez e ainda se tem por fazer para continuar a luta política e conceitual de Arte-

educação.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte. 4a. Ed. SP: Perspectiva,

1999.

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8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil. SP: Perspectiva, 1995.

FUSARI, Maria Rezende e FERRAZ, Maria Heloísa C. T.. Arte na educação

Escolar. SP: Cortez,1993.

READ, Herbert. O sentido da Arte. SP: Ibrasa, 1978.

SÉRIE ESTUDOS E PESQUISAS. Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP, v 6, 1980. 128p.

TEIXEIRA, Anísio. A Educação Comum do Homem Moderno. Jornal Arte &

Educação, RJ, Mar. 1971. n.3, p.13.

VARELA, Noêmia. Movimento Escolinhas de Arte. Fazendo Artes. RJ, 1988,

p.2-7.

VEL ZOLADZ, Rosa W. Augusto Rodrigues: o artista e a arte, poeticamente. RJ:

Civilização Brasileira, 1990.

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ANEXOS