maravilhosa graca - jose goncalves

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 José Gonçalves

Maravilhosa

Graça!O evangelho de Jesus Cristo

revelado na Carta aos Romanos

Ia edição

C90

R i o d e J a n e i r o

2016

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 Todos os direitos reservados. Copyright © 2016 para a língua portuguesa da Casa 

Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Preparação dos originais: Daniele Pereira 

Capa e projeto gráfico: Wagner de Almeida 

Editoração: Anderson Lopes

CDD: 220 —Comentário Bíblico 

ISBN: 978-85-263-1317-0

 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição 

de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos 

da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br.

SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373

Casa Publicadora das Assembleias de Deus 

 Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro - RJ 

CEP 21.852-002

Ia edição: 2016  

 Tiragem: 41.000

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 A   gradec imentos

 A g r a d e ç o a D e u s p e lo p r iv i lé g io q u e m e d e u d e e s c r e v e r u m

c o m e n t á r io à C a r ta a o s R o m a n o s . A s u a p r o v id e n t e g r a ç a , q u e p o r

m a is d e t r in t a a n o s m e te m p o s to e m c o n t a t o c o m o u n i v e r s o d a s

E s c r it u r a s , d a te o l o g i a , d a s l ín g u a s b í b l ic a s , d a h e r m e n ê u t ic a e d a

exegese , m e tornou fam ilia r izado com o pensam ento pau lino . Sem a sua

insp i r ação e força , j am ai s a lcan çar i a e s se fe ito . N a m inha m ente ecoam

suas pa lav r a s : “A m inha g r a ç a t e ba s t a” ( 2 C o 12 .9 ) . “P orque d e le , e

p o r e le , e p ara e l e são tod as as co i sas ; g ló r i a , po i s , a e l e e te rna m en te .

 A m é m !” (R m 1 1 .36 ).

 A m in h a e sp o sa , M a r ia R eg in a (M ará ), qu e o tem p o to d o m e d iz ia

p a l av r a s d e ân i m o d u r an t e o p e r í o d o e m q u e f i q u e i r e clu s o . O m e u

am o r e ad m ir a ç ão p o r v o c ê c r e s c e m a c ad a dia . M u i to o b r ig ad o . A ig re ja d e A g u a B ran ca , P iau í, p o r co m p reen d e r a m in h a au sên c ia

q u an d o p r e c is o d iv i d ir o p ú l p it o c o m a b ib l io t e c a . So u g r a t o a to d o s

os i rm ãos agu abr anquen se s po r sabe r em que os liv ro s tam bém exa lam

“ o b o m p e r f u m e d e C r i s to ” (2 C o 2 .1 5 ) .

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S umário

 A g ra d e c im e n to s -----------------------------------------------------------------------------------3

I n t r o d u ç ã o ---------------------------------------------------------—— — -— — 7

1. U m a C a r ta C h e ia d a G r a ç a ------------------------------------ ------ --------------- 11

2. G r a ça p ar a T o d o s ------------------------------------------------------------------------20

3. G r a ç a , u m F a v o r I m e r e c id o ---------------------------------------------------------- 32

4. A G r a ça e o P r o b le m a d a C u lp a -------------------------------------------------43

5. G raça , M arav i lho sa G raça !'---------------- ----------- ----------- -------------------59

6. A G r a ça e o D e s tr o n a m e n t o d o “ E u ” ------------------------

-----------------67

7. O E s p ír it o d a G r a ç a ------ — -— --------------------------------------------------78

8. A G r a ç a n a T e r r a S a n ta ----------------------------------------------------------------89

9. U m a V id a C h eia de G r a ça -— — —   --------------------------------------------104

10. A G raç a d a C id a d a n ia — -----------------------------------—   ------------------115

11. A T o l e râ n c ia d a G r a ç a ------------------------------------------------- --------

 — 125

12 . U m a G raça A lé m -M a r — -— ------------------------------------------------— 13 3

13. M e m ó r ia s d a G r a ç a ---------- — ------- — —    -------------------------- - — 142

R efe rênc i a s B ib l iog rá f ic a s ------------------- —  --------- — ---------- -------------- —151

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Introdução

 A C ar ta de P au lo aos R o m an o s é u m a das m a is b e las o b ras lite rá ria s

já e sc r it as. E u m a car t a d i fe renc iada . A in f luên c ia que e sse docum ento

c an ô n i c o c au s o u n a h i s t ó r i a d o p e n s ame n t o c r i s t ão é s i mp l e s me n t e

i m p r e s s i o n a n t e ! C o m e ç a n d o n o s é c u l o V c o m A g o s t i n h o , b i s p o d e

H ipona , que no in í c io d a Idade M éd i a fo i g r and em en te im pac t ado pe l a

le it u r a de Rom anos . Em bora não pos sam os en do s sa r t udo aqu i lo que

 A go stinho escreveu , todav ia é inegáve l a sua con tribu ição p ara a T eo lo g ia

e F ilo so f ia . N o s é cu lo X V I , e s s a c a r ta t am bém exe r c eu um a pode rosa

in f lu ê n c i a so b r e M ar t in h o L u t er o , o g r an d e r e f o r m ad o r ale m ão . F o i

f u n d ame n t ad o e m Ro m an o s q u e L u t e r o lan ç o u o le m a d a Re f o r ma : A

justi ficação pe la fé som ente! E m anos m ais recentes, K ar l B ar th , teó logo

su íço , t am bém t es tem unh ou a g r an deza de s s a c a r ta .

 A C a r ta ao s R o m an o s fo i e s c r ita p a r a a ig re ja . F o i e n d e r e ç a d a a

pessoas s imples , p rov en ien tes de todas as cam adas da pop u lação e sem

d i s tinç ão d e co r o u de r aça . N ão fo i end e r eç ada a teó logos , e rud i to s ,

n e m t am p o u c o a e s p e c i a lis t a s e m r e lig ião . A c a r t a f o i e s c r it a c o m o

pro pó s i to d e ed i f icar a igre ja , t ir ar dúvidas e esc larecer quest ion am entosque a nova f é e s tava p rovocando . J un t e - s e a i s so o de se jo do apó s to lo

e m c o n t a r c o m o ap o i o d o s ro m an o s n o e st ab e le c im e n t o d e u m a n o v a

base m iss ionár ia . R om anos , por tanto , é um a car ta escr ita para todos nós.

Sem dúv ida , a t emát i c a abordada po r Pau lo ne s s a c a r t a é uma das

m ais d ive rs if ic adas do N ovo Tes tam ento . Em bora não co ntem ple todas

as dou t r inas do N ovo Tes t amen to , abo rda a s p r inc ipa i s. A dou t r ina da

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j u s ti fi c ação pe la fé , indep end entem ente das obras , é o pr inc ipa l e ixo em

torno do q ua l a c a r t a se m ove . Som ente em R om anos o con f lit o en tr e

a “c a rn e” e o “E sp í r it o” apa r e ce de fo rm a t ão d r am át ic a . To do c r is tão

quan do lê Ro m anos s e i d en t if ic a com o “eu ” pau lino .O a p ó s to l o P a u lo e ra u m h o m e m d o u t o , t r e in a d o n a p r in c i p a l

i n s t it u i ç ão t e o l ó g i c a d e s e u s d ia s , t e n d o e s t u d ad o c o m G am a l ie l . O

após to lo e s tava con sc ien te d e que e sc reve r ia a um púb li co d ive r si fi cado ,

 v in d o de to d as as cam ad as so c ia is , e q u e o s a ssu n to s p o r e le tr a tad o s

e r am p r o f u n d o s e c o m p le x o s. U m a m e t o d o l o g i a e sp e c íf ic a , p o r t an to ,

dev er ia ser adotada. E fo i o qu e e le fez . N a sua car ta é poss íve l pe rceb er

q u e o a p ó s t o l o r e c o r r e c o m f r e q u ê n c i a a o m é t o d o d e diatribe   p a r a

a c la r a r o s s e u s a r g u me n t o s . E s s e m é t o d o c o n s is te e m u m d i á lo g o c o m

um in t e r locu to r im ag iná r io com quem se d i a loga , f azendo pe rgun t a s e

o fe r e cend o r e spos ta s . M as não é só is so . N a c a r t a é pos s í ve l enco n t r a r

r e f e r ê n c i a s à s re g r a s d e i n t e r p r e t a ç ão u s ad a s p e l a e s c o l a r ab í n i c a d e

H i llel. O uso de duas dessas regras aparece com c lareza na argum entação

do após to lo ; a qa l ivahomer  e a ge^erah shawah.  N a p r im e ir a re g r a , o q u e

se ap l ic a ao c a so m enos im po r t an t e c e r tam en te s e ap lic a r á tam bém ao

caso m ais im po rtante . N a segun da regra , a analog ia entre textos b íb l icos ,

inc lu ind o a s em ân t ic a das pa l av r a s com uns em am bos , é u s ada pa r a s e

e s t abe l e c e r a ve r ac idade de um fa to .

 A le itu ra d a c a r ta , p o r tan to , é p ra z e ro sa e ed ific an te . T o d av ia , n ão

podemos de i xa r de r eg i s t r a r aqu i o s embat e s t eo lóg i cos su rg idos po r

c o n t a d a s d if e r e n t e s le it u r a s q u e e s s a c a r t a p r o v o c o u . N ã o f o i m e u

p r o p ó s i to s er d o g m á t ic o e m a lg u m as q u e s t õ e s d e n a t u re z a p u r am e n t e

con fess ion a l , m as não de ixe i de r eg i s tr a r o m eu entend im ento d e ce r tas

pas s agens que , a m eu ve r, r e c ebe r am um a in t e rp r e t aç ão que d e s toa da

a r g u m e n t a ção ad o t ad a p o r P au lo n e s s a c a rta .

N ão po der ia de ixar de d izer que o m eu tex to n ão é pe r fe ito e que não

po ssu i lacunas . A prop ós i to , as lacunas e as im perfe ições fazem pa r te de

no s sa an t ig a he r ança , t ão bem r e tr a t adas em Ro m anos . Todav i a , d evo

d i ze r que e s te liv ro fo i e s c r ito com o p rop ós i to ún i co de g lo r i f ic a r a

D eus e de prom over a ed i ficação d o seu povo. Foi escr ito po r um pasto r

q u e , n o l ab o r d e s e u t r ab a l h o p a s t o r a l , e n c o n t r o u f o r ç a s n o Se n h o r

p a r a se la n ç a r e m tã o g r a n d e m is s ão — p r o d u z i r u m c o m e n t á rio d e

fácil en tend imen to , m as que fo s se t am bém t eo log i c am en te cons is ten te .

8 | M aravilhosa  G raça 

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Introdução  | 9

Por ú l t imo , as c i t ações que faço nes te l i v ro de vár i a s obras , mui t as

delas escr itas por teó logo s de d i ferentes con f issões d e fé , não s ign i f icam

que co nco rdo co m tudo o que e le s d iz em . N em t amp ouco s i gn if ic a que

co n co r d o co m s ua s c r en ça s e co n f i s s õ e s d e f é . C i t o - o s t o m a n d o p o rb a s e a v a l id a d e d e c a d a a r g um en t o d i to . F a ço m i n h a s a s p a l a v r a s d e

 T o m ás d e A q u in o , o g ên io in te le c tu a l d a e sc o lá sd ca : “ O s a rgu m en to s

n ã o d ev em s e r a c e it o s p e l a au t o r id a d e d e qu em d i z, m a s p e l a v a lid a d e

d o qu e s e d i z ” .

 José Gonçalves

 A g u a B ra n ca , P ia u í, d e z em b ro d e 201 5

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Capítulo

1U ma 

C arta   C heia  

da  Graça 

  omanos 1.1-6

Paulo, servo de Jesu s C risto, cham ado p ara apóstolo, separado p ara o

evangelho de Deus, o qua l antes havia prom etido pelos seus profetas

nas Santas Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descend ênciade Dav i segundo a carne, declarado F ilho de Deus em poder, segundo

o E spír ito de sant if icação , pe la ressurre ição dos m ortos , — Jesus

Cristo, nosso Senhor, pelo qual recebemos a graça e o apostolado,

para a obe diênc ia da fé entre todas as gentes pelo seu no m e, entre as

quais sois tam bém v ós cham ados p ara serdes de Jesu s Cristo.

Paulo, o Apóstolo da Graça“Paulo... ” (1.1). A C ar ta aos Ro m anos t em in íc io com a identi fi cação

do n om e de seu au tor , Pau lo . H á um a unan im idade en t re os in té rprete s

con servadores da autor ia paul ina de Rom anos. Stanley Clark, autor de um

exce len te com entár io sobre R om anos , ob se rva que “a car t a a f irm a que

seu autor é Pau lo o ap ósto lo (1 :1) . E sta afi rm ação tem s ido quest ionad a

seriamen te. A evidê ncia intern a (esti lo, conteúdo , circun stâncias do autor)

a conf i rma e tem s ido a convicção entre os crentes desde os pr imeiros

tem pos . C . H. D odd tem dec la rado que a au ten t ic idade d a E p ís to la aos

R om anos é um a ques tão j á r e so lv ida” .1

O n o m e P a u lo é u m a f o r m a la t in a d o h e b r a ic o S a u l. S a b em o s

a t r avé s do l i v ro de Atos dos após to lo s que e l e e r a na tu r a l d e Tar so ,

c id ade da C il ic i a , ho je t e r r it ó r io t u r co . P au lo nasceu em um l a r judeu

e h e r d o u p o r d i re i to d e n a s c im e n t o a c id ad an i a ro m an a E l e m e s mo

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i n fo rm a que s eu s pa i s e r am fa r is eu s (At 23 . 6 ) e po r i n f l u ên c i a de s te s

se to rn ou f a r is eu , e s tudan do n a E sco l a de G am a l ie l (A t 5 . 34 ; 22 . 3 ) .

I s so f ez c o m q u e o s e u z e lo p e l o ju d a ís m o a u m e n t a s s e e q u e se

t o r n a s s e u m f e rr e n h o d e f e n s o r d e s u a s tr ad iç õ e s . M o t iv ad o p o r e s se

z e lo , p a s s o u a f a z e r u m a p e r s e g u i ç ão s an g r e n t a ao s c r is t ão s , le v an d o

m u i to s d e l e s ao c á r ce r e e à m o r te . E e s s e h o m e m i m p l a c áv e l q u e s e

to rna pos t e r io rm en te o m a io r de fenso r e p ropag ado r do c r is tian i sm o .

F o i n o e n c o n tr o c o m J e s u s r e s s u s c it a d o n o c a m in h o d e D a m a sc o ,

c ap i t a l d a S í r ia , q u e P au lo t e v e s u a v i d a t o t a lm e n t e m u d ad a ( A t 9 .1 -

2 2 ). A g r a ç a d e D e u s s u p e r a b u n d o u e m s u a v id a ."... servo de Jesus Cristo, chamado pa ra apóstolo, separado para o evangelho de  

Deus” (1.1). D uas coisas Paulo diz acerca desse seu cham am ento: e le agora

era um “servo ” de Jesu s C r is to e que fo i “ separad o” para o evange lho.

 A p a lav ra “ se rv o ” trad uz o te rm o g re g o doulos , cu jo sent ido é “aque le

que per tence a outro” .2 A v ida de Pau lo não per tenc ia m ais a e le m esmo ,

m as a Jesus Cr is to , o Senho r ! Em segundo lugar , Pau lo , a lém de servo de

 Je su s C risto , fo i tam b ém “ sep arad o ” p a ra ser u m apósto lo . O p artic íp io

perfe ito pass ivo do v erbo grego aphorisçp ( separado) m ostra que e le havia

sido separado pa ra Deu s e continuava dentro dessa nov a fronteira que fora

dem arcada para seu chamam ento . Sua m issão ago ra e ra se r um env iado

de D eus pa ra onde E l e o m andas se . O t e rm o “ap ós to lo” a ssum e um a

cono tação teo lóg ica no N ovo T es tam ento , cu jo sen t ido é “env iar (para

fora) para serv i r a D eus com a própr ia autor idade de D eus” .3 S im, Pau lo

não e ra agora um m ero ze loso d a le i, mas um após to lo , um env iado pe lo

Senhor pa r a conqu i s ta r o m undo pa r a D eus .4

"... pelo qual recebemos a graça” (1.5).  A qu i apa re ce pe l a p r im e i ra vez

na car t a aos Romanos a pa l avra “graça” (g r . charis).  E s s a pa lav r a , que

sem dú v ida p r edom ina no pensam en to t eo lóg i co de Pau lo , oco r r e 164

 v ezes no te x to do N o v o T es tam en to g re g o , sen d o 23 v eze s so m en te

e m R o m a n o s .5 S e m e x a g e r o a l g u m , R o m a n o s é u m a c a rt a ch e i a d a

g r aç a ! A g r aç a se to rn a um t em a fund am en ta l na t eo log i a pau l ina . N a

 v erd ad e , o p r in c ip a l e ixo de sua teo lo g ia . P au lo se sen tia d ev ed o r d essa

g r a ç a ! Q u a l q u e r le i to r a t e n to o b s e r v a r á q u e a g r a ç a e s tá n o i n í c io e

no f im d as suas ob ras l it e r ár ias . Po r exem plo , em 1 C or ín t ios , Pau lo

m ost ra que a g raça im pede qu e o passado o m achuque . “Po rque eu sou

o m eno r dos após to lo s , que não sou d i gno de s er cham ado após to lo ,

po i s que per segu i a ig re j a de D eus M as pe la graça de D eus sou o que

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Uma  C arta  Cheia  da  G raça   | 13

sou” (1 Co 15 .9 ,10a) . Pau lo n ão neg ou o seu passad o e já sabem os que

seu pas s ad o não fo i nad a ag r adá ve l . T odav i a , e l e, to t a lm en te im e r so

na g r aç a de D eus , s ab ia que s eu pas s ado t inh a f i cado p a r a tr ás . M as a

g r aç a f ez m a is ! A g r aç a não pe rm i tiu que e le f ic a s se chor am ingan do

pe lo s c an tos , c a indo na iné r c ia po r s e s en t i r um “Zé N inguém ” . N ão ,

a g r a ç a n ão p e r m it iu q u e e le f ic a s s e in o p e r an t e . E l a o i m p u l sio n o u

para o tr aba lho . “E a sua g raç a para co m igo não fo i vã ; an te s , t raba lhe i

m u ito m a is do que todos e le s ; tod av i a , n ão eu , m as a g r a ç a de D eus ,

que e s tá com igo ” (1 Co 15 .10 ). Es sa m esm a g r aç a o a judo u a supe r a r

os obs tácu los e a con v ive r com as adver s idades . “E d i s se -m e : A m inhag r aç a t e bas t a , po rque o m eu po de r s e ape r f e içoa na f r aqueza . De bo a

 von tade, pois , m e g lo ria re i nas m inhas fraquezas, p ara que em m im hab ite

o po de r de C r i sto . Pe lo que s in to p r aze r n as f r aqu ezas , n as in jú r i a s ,

nas n ecess idade s , nas pe r seg u ições , nas an gús t ias , po r am or de Cr is to .

Porque , quan do es tou fraco , então , sou fo r te” (2 Co 12.9 ,10) . Q ue m ais

fez a g raça por e l e ? E la o sa lvou : “Porque pe la g raça so i s sa lvos , por

m e io da f é ; e is so não vem de vós ; é dom de D eus” (E f 2 . 8 ) ; f ez com

que fo s se um ven cedo r : “M as g r aç as a D eus , que nos d á a v i tó r i a po r

nosso S enho r J e sus C r is to” (1 C o 15 .57) e um em baixador do Re ino de

D eus : “E dou graças ao que m e tem co nfor tado , a Cr i s to J e su s , Senh or

nosso , porq ue m e teve po r fi el, po nd o-m e no m in i s té r io” (1 Tm 1 .12).

 T udo fe ito p e la g ra ça !

  omanos 1.7-15

 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça  

e paz de Deus, nosso Pai, e do Sen hor Jesus Cristo. Primeiramente, dou 

graças ao meu Deus, por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo 

o mundo é anunciada a vossa fé. Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, 

no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço 

menção de vós, pedindo sempre em minhas orações que, nalgum tempo, 

 pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco. Porque 

desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que 

sejais confortados, isto é, para que, juntamente convosco eu seja consolado 

 pela fé mútua, tanto vossa como minha. Não quero, porém, irmãos, que 

ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até agora tenho sido 

impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também entre os 

demais gentios. Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a 

sábios como a ignorantes. E assim, quanto está em mim, estou pronto para  

também vos anunciar o evangelho a vós que estais em Roma

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 Amados Romanos

“A todos os que estais em Roma... ” (1.7). Paulo não foi o fun dado r da igre ja

que e s t ava em R om a , mas po s su ía um de se jo a rden t e de v i sit á -l a . E lesab ia que seu aposto lado era para os gent ios e sab ia tam bém que a igre ja

de R om a e ra form ada predom inantem ente de gentios (Rm 1 .6 ). Todav ia,

ende r eç a sua c ar t a a “ todos o s c r en t e s” de Roma . W i ll iam M cD ona ld

ob serva que a expressão “todo s” deve ser enten dida no con texto de que

em R om a, cap it a l do im pér io , não h av ia apenas um loca l de cu l to , mas

 vário s, e Paulo queria que todos tom assem conhecim ento dessa carta.6 M as

se Paulo, que fun dou quase todas as igre jas d o N ovo T estamen to, não foiquem levou o evange lho para Rom a, quem foi en tão? N ão há e lem entos

que nos perm item ser dogm áticos nesse assunto, m as os intérpretes acham

indíc ios que perm item fazer deduções. Por ocasião do D ia de Pentecostes ,

entre os que receberam o bat i smo no Espír i to Santo es tavam “romanos

que aqu i r e s idem ” (At 2 .10 , A RA ) . Ter i am s ido e sses c ren tes rom anos

que se encont ravam em Je rusa lém , depo i s de se rem che ios do E sp ír ito

Santo , que vo l ta r am para R om a com a prec iosa sem ente do evangelho .

Ro m a, por tanto , e ra um a igre ja que nasceu do Pentecostes .

“... Chamados santos” (1.7).  C o mo c o s t u ma f a z e r e m o u t r a s c a r t a s ,

Pau lo s e d i r i g e ao s c r en t e s u s ando o ad j e t i vo “ s an tos” . “San to” ( g r .

hagios)  e r a aq u i l o q u e f o r a s e p a r ad o p a r a u m s e r v i ç o e s p e c i a l . A q u i

s ign i f ica dedicado a Deus, santo e sagrado7   Os c ren tes são san tos porque

fo r am separados p a r a pe r t ence r em a D eus. O conce i to de s an t if ic aç ão

po s ic iona i já aparece aqu i n essa expressão . E m C r is to tod os os c ren tes

s ão s a n t o s p o r q u e f o r a m c o m p r a d o s c o m s e u s a n g u e e , p o r ta n t o ,

per ten cem a Ele (1 C o 6 .19 ,20). O co nce i to de san t if icação pro gress iva ,

a q u e l a n a q u a l o c r e n t e t e m s u a p a r t i c i p a ç ã o e f e t i v a , a p a r e c e r á n a

a r g u m e n t a ç ã o d e P a u lo n o c a p ít u lo 8 d e s s a c a r t a . I n f e l iz m e n t e , o

conce i to de san t idade se encont ra de t a l fo rma re l a t iv izado que quase

não é m ai s po ss íve l se d i s t ing u i r o san to do pro fano . San t idad e t em a

 v e r co m o e s tab e le c im en to de lim ite s e a d ife re n ç a c la ra en tre o que

é ce r to e o que é e r r ado . O parâmet ro é sempre dado pe la pa l avra de

Deus . In fe l i zmente , quem es tá d i t ando os padrões para as i g re j as não

é m ai s a B íb l ia , e s im a cu l tu ra secu lar. E im press io na nte a fac i lidade

que t êm m u i to s c r en te s de s e m o lda r em po r aqu i lo qu e o m undo d it a.

Se o m undo p e rm it e s e d i vo r c i a r po r qua lque r mo t ivo , en tão m u i to s

c r e n t e s a c h am q u e d e v e m f az e r o me s mo Qu e m s e l e v an t a r c o n t r a

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é logo t axado de f a l so mora l i s t a ! Todav i a , a Esc r i t u r a chama i s so de

m u n d a n is m o ! M u n d a n is m o é p e c ad o .

"... em todo o mundo é anunciada a vossa f é ” (1.8). E sse vers ícu lo m ostra a

inf luênc ia que a igre ja de R om a exerc ia . Pau lo recon hece qu e a fé de les

já e ra not íc ia no m undo todo. Era um a igre ja que todo m undo sab ia que

e la ex is t ia . Talvez a t ragéd ia da igre ja hoje es te ja no fato de e la passar

desp ercebida na soc iedade . Poucos sabem da sua ex is tênc ia e os pouco s

que sabem não se sentem mudados por e la . Qual ser ia , po is , a razão da

pou ca in f luênc ia da i g re ja co ntem porânea? N ão po dem os se r sim pl is tas ,

m as evidentemente que existem causas para esse fenôm eno de esfr iam ento

das ig r e ja s . U m  pneumatismo anárquico,  q u e t em lan ç ad o a ig r e j a n u m a

 v e rd ad e ira co rr id a sen so ria l é u m a das razões. A b u sca d esen fread a p o r

rea l i zação , por praze r , t em t r ans formado a i g re j a em uma comunidade

de consum idores , e não de adorado res. A bu sca por ma is adrenal ina não

es tá acontecendo apenas em espo r te s r ad ica is , m as t am bém em m uitos

cultos . Infe l izm ente , as igre jas neo pen tecostais estão n a van gua rda dessa

nov a esp ir itua l idad e . P or outro lado, as ortodoxias engessantes  t amb ém são

noc ivas da m esm a form a. C u l tos f r ios , em que o r itua l não dá a m ín im a

lib e r d a d e p a r a o e x e r c íc io d o s d o n s e s p i ri tu a i s , é u m v e n e n o p a r a a

e sp i r itua l idad e da i g re ja . N ão devem os se r cont ra a l itu rg ia , po i s todo

cul to a D eus n ecess i ta possu ir um r itua l l itúrg ico . To davia , fo i o m esm o

Pau lo quem esbo çou os pr inc íp ios de um a li tu rg i a de um a ig re j a onde

o Esp íri to não es tá engessado. “Q ue fareis, po is , i rm ão s? Q uan do vos

a junta is , c ada um de vós t em sa lm o, tem do ut r ina , t em reve lação , teml íngu a, tem interpre tação . F aça-se tudo para ed i f icação ” (1 C o 14.26) .

incessantementefaço menção de vós,pedindo sempre em minhas orações" (1.9,10). 

U m a das m arcas da espir itualidade de P aulo é sua profun da p iedade cristã .

Pau lo era um hom em devotado à oração . M esm o não con hecendo a inda a

igreja de Rom a, ele se lançava em um trabalho de intercessão p or ela. A lguns

pensam que a oração ficou restrita aos m enos letrados, aos m ísticos. Todavia,

aqu i encontram os um hom em com um a profunda form ação teo lóg ica , um verdadeir o erud ito , que n ão n eg ligen ciava sua v id a devocio nal. O teó logo

ang licano A lan Jones obse rvou que quem pensa não ora e quem ora não

pensa! E ssa parece ser a lógica da espiritualidade d os clérigos do século X XI.

N ão é de adm irar que se encon trem tantos c lér igos vazios , m as cheios de

si m esmo s. A dev oção foi subst i tu ída pela busca da posição. Co m o disse

o f i lósofo A nton io C ruz, a carne sufocou o espír ito .8

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 para vos comunicar algum dom espiritual” (1.11-13).  A e x p r e s s ã o

“ d o m e s p i r i t u a l ” t r a d u z o g r e g o charisma pneumatikon.  O e x p o s it o r

b í b l i c o S t a n l e y C l a r k o b s e r v a t r ê s u s o s d e s s a p a l a v r a n o c o n t e x t o

d e R o m a n o s . P r i m e ir a m e n t e , e la é u s a d a e m r e f e r ê n c i a ao d o m d a

g r a ç a , C r is to J e s u s , q u e D e u s d e u a to d o s o s h o m e n s (Rm 5 .1 5 , 1 6 ).

Em segundo luga r , a re f e r ênc i a ao s dons que D eus ou to rgo u ao povo

de I s r ae l (Rm 11 .29 ). Em t e r c e iro l uga r , um a c apac idad e e sp ec i a l que

D e u s d eu a u m m e m b r o d a ig r e j a p a r a q u e s e ja u s ad o n o m in i s té r io

(Rm 12 .6 ) . E u m e jun to àqu e l e s que veem aqu i o te r c e i ro s en t ido . A

e x p r e s s ão charismapeneumatikon é   a m e s m a e n c o n t ra d a n o s c a p ít u lo s

12 a 14 da P r im e i r a C ar t a de Pau lo aos C or ín t io s , ond e a r e f e r ênc ia

é ao s dons e sp i ri tu a i s . N ão há d úv ida de que aqu i e s sa exp r e s s ão t em

signi f icação s im i lar ao encon trado a l i. M ui tos intérpre tes , qu and o leem

as car t as de Pau lo , as l eem com os ócu los da cu l tu ra onde v ivem . N ão

se d ão c o n t a d o c o n t e x t o e s p ir it u a l d a i g r e j a d o p r im e ir o s é cu lo . A

ig r e j a d e R o m a , c o m o f o ra m to d a s a s o u t ra s d o N o v o T e st am e n to ,

e r a f ilh a do Pen t e cos te s . E l a en t end i a a ling ua gem do a pó s to lo sob r e

o s c a r is m as d o E s p ír it o p o r q u e t am b é m o s v iv e n c i av a . P au lo q u e r ia

n aq u e l a v i s it a c o m p a r t ilh a r o s f r u to s d e s u a e x p e r i ê n c i a c o m D e u s

e d a me s ma f o r ma q u e r i a s e s e n t i r ab e n ç o ad o c o m aq u i l o q u e De u s

tam bém hav ia fe ito na v ida daqu e les crentes. H á mu ita gen te cr it icand o

exp e r i ênc i a s e sp i r i tu a i s s em n un ca a s te r v i v ido .

  omanos 1.16,17

Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus 

 para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. 

Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas 

o justo viverá da fé.

 A Graça que não Decepciona

“Porque não me envergonho do evangelho..." (1.16,17).  E m s e u c é l e b r ec o m e n t á r io d e R o m a n o s , o e x p o s it o r b íb l ic o C . E . B. C r a n f i e ld

o b s e r v a q u e a f o r m a “ n e g a t i v a e m q u e P a u lo se ex p r i m e d e v e s e r

e x p l ic a d a n ã o c o m o e x e m p l o d e a t e n u a ç ã o (s ig n i f ic a n d o q u e e le ,

Pau lo , es tá org u lhoso do eva ng e lho) , m as com o ref le t ind o o seu sóbr io

r e c o n h e c im e n t o d o f a to d e q u e o e v a n g e l h o é a lg o d e q u e , n e s t e

mundo , o s c r i s t ão s s e r ão cons t an t emen te t en t ados a enve rgonhar - s e .

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(Podem os c f. Mc 8 . 38 ; Lc 9 .26 ; 2 Tm 1 .8 .) A p r e sença d e s t a t en t aç ão

como ca r ac t e r í s t i c a cons t an t e da v ida c r i s t ã é i nev i t áve l , n ão só po r

c ausa da con t ínua ho s t ilid ad e do m undo p a r a com D eus , m as tam bém

p o r c a u s a d a n a t u r e 2 a d o p r ó p r i o e v a n g e l h o , o f a t o d e q u e D e u s(p o r q u e E le d e t e rm in o u d e i x a r es p a ç o a o s h o m e n s p a r a to m a r em

d e c i s ão p e s s o a l li v r e , e m v e z d e c o m p e li -lo s ) i n t e r v e i o n a h i s t ó r ia

p a r a a sa lv a ç ão d o s h o m e n s , n ão c o m p o d e r e m a je s tad e m an i fe s to s ,

mas d e man e i r a v e l ad a , e r a d e s t i n ad o a s e r v i s t o p e l o mu n d o c o mo

fr aqueza e i n s ensa t e z v i s ” . 9

E ssa , ev identem ente , é a graç a que não decepc iona. A gra ça de Deus

não é m otivo para vergonha nem tampouco envergonha ninguém. Todavia,

há a lgo p or a í se passando po r “graç a” que não tem graç a a lguma. E ssa

“g r aç a” , a l ém de enve rgonhar o evange lho , e s t á p roduz indo g r ande s

escândalos . To do t ipo de ab erração é t ica , teo lóg ica , co m po rtam enta l e

até m esm o esp ir itua l estão send o jus ti ficados p or essa supo sta graça . E

um a graça que não tem graça . Q uando a g raça pe rde a g raça , e la j á não

é mais graça , mas uma desgraça . A propós i to , a pa lavra grega t raduz ida

aqu i com o “env ergonh ar” é epaischynomai,  que é formada pe la junção da

prepos ição epi  e o verbo aiscbyno.w  A p a lavra com posta tem seu sen tido

intensificado, significando desonrado, desgraçado. E m outras palavras , refere-

se a a lguém que ca iu em desgraça ou que fo i desonrado . Ao co locar a

negat iva “não ” antes desse vocábulo, Paulo diz que se sente honrado pela

m ensagem que abraçou . E la não o decepc iona .

“... é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (1,16). O  evangelhoé m ot ivo de hon ra , e é m ui to m ais . O evan ge lho é o po der de D eus que

traz sa lvação a todo que crer . “P ode r” t raduz o term o greg o dynamis , de

onde p rovém o nosso vocáb ulo d inamite , E ssa palavra é usada 120 vezes

no N ovo T estam ento e s ign i f ica capacidade para executar.  E um a re fe rênc ia

à habi lidade de D eus no proce sso da sa lvação .

O p ropó s ito dessa “exp losão” do evange lho é sa lvação dos hom ens .

O s ign i ficado d a prepo s ição grega eis  (para) tem o sen t ido de “tendo em v is ta a ” , m o s tran d o o p ro p ó sito do evan ge lho . E le é de fato o p o d er de

D e u s, m as n ão é u m p o d e r q u e b u s c a o e n g r an d e c im e n t o d o h o m e m ,

m as a g ló r i a de D eus . In fe lizm en te m u i to s pa r e cem não s abe r d is so e

não s e de i xam usa r pe lo evange lho , mas em vez d i s so f azem uso do

po der do evange lho p ara se au toprom overem . B uscam as suas própr ias

g lór ias e rea l izações .

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 A o a f irm ar que o evan ge lh o é o p o d er de D eus, o ap ó sto lo tem em

m ente m ostrar a razão do envio de sua carta aos rom anos. J á tendo fe ito as

cordial idades costum eiras que eram com uns nesse tipo de correspo nd ência

pessoal , e le agora int roduz o assunto do qual passará a t ratar a segu ir .E le va i exp l icar com o a g raç a de D eus , ob je tivando a sa lvação de todos

os pecado res pe rd idos , se m an i fe stou de form a mai s que abun dante na

pessoa bend i ta de J e su s Cr is to . N o d ize r do poe ta :

 A g ra ç a de D eu s reve lada

E m Cr is to J e su s , m eu Senhor ,

 A o m u ndo p erd ido é dad a

Por Deus d’ inf inito favor .

G raça, g r aça ,

 A m im b asta a g r a ç a de D eus: Je su s;

G raça, g r aça ,

 A g raç a eu ach ei em Jesu s.

 A g ra ça de D eus é m ais doce,

Do que bens ter res t res daqui ;

Em gozo m eu choro to rnou - se

Cor r endo Sua g r aç a p ’r a m im .

M ais a l ta que n uvens ce les tes ,M a is funda que p ro fundo mar ,

 A fon te d a v id a fizeste ,

N a qua l nos podem os farta r.

 A g raç a de D eu s h o je p rova

 T u que v ives n a perd ição ,

Pois E le te salva, renov a,

 T am b ém lim p a teu co ração .111

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1 CL AR K, Stanley. Romanos — Comentário Bíblico Mundo Hispano. El Paso, 

 Texas: Editorial Mundo Hispano.

2 THAYER, Joseph H. Thayer’s Greek Lexicon o f the New Testament. Grand  

Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984.

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3KITELL, Gerhard. Theological Dictionary o f the New Testament. 10 volumes. 

Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing Company, 2006.

4 A palavra apóstolo tinha o sentido no grego clássico de um navio que saía numa 

missão comercial. Posteriormente, ganhou o sentido de “alguém que é enviado numa 

missão” (CHAMBERLAIN, William. Gramática Exegética do Novo Testamento  

Grego. São Paulo: Editora Cultura Cristã).

5PETTER, Hugo M. Concordância Greco-Espanola del Nuevo Testamento.,  

Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.

6MACDONALD, William. Comentário Bíblico Romanos. Barcelona, Espanha: 

Editorial CLIE.

7BAUER, Walter. A Greek English Lexicon o f the New Testament and Other Early 

Christian Literature. Chicago: The University o f Chicago Press.

8CRUZ, Antonio. La Postmodernidad. Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.

9CRAN FIELD, C. E. B. Romanos — Comentário Versículo por Versículo. São 

Paulo: Editora Vida Nova.

10STRONG, James. Exhaustive Concordance o f the Bible. Nashville, TN: Thomas 

Nelson, 1990.

11HARPA CRISTÃ. Rio de Janeiro: CPAD.

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Capítulo

2Graça 

para   T odo s

  omanos 1,18-22

Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos 

homens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode 

conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, 

 para que eles fiquem Inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não 

o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu, dizendo-se sábios, 

tornaram-se loucos.

 A Revelação Natural

“Porque do céu se manifesta a ira de Deus... ” (1.18a).  Parece paradoxal que

um tex to que é conhec ido com o o Ev ange lho da G raça com ece fa lando

sobre a i ra . D e fato , m uitos com entaris tas b íbl icos f icam ch ocad os co m o

tom forte com que Paulo in t rodu z essa seção de sua carta . F ica ev idente

que a expressão “ira de D eu s”, t radução do greg o orgé, carrega um peso de

s ignificado mu ito forte. Esse term o o corre 36 vezes no Nov o Testamen to

g reg o .1É o m esm o vocábu lo us ado p o r João B a tis ta p a ra d i z e r que o s

fariseus e saduceu s não escapariam da ira (orgé) v ind ou ra (M t 3.7) . É u sado

tam bém para se re fer ir à ir a (orgé)  do Corde i ro em Apoca l ip se 6 .16 . Na

 verdade, m uitos intérpretes que foram in flu encia dos pe la teologia lib eral do

século X IX, de cunho fortem ente hum anista , não conseguiam harm onizar

a im agem de um D eus am oroso com a de um D eus irado . M as a ir a d iv ina

aqui é totalm ente justi f icável à luz do cap ítulo 1 18 32 O pe nsam ento d o

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capacidade de escolha. O texto deixa claro que ele podia percebe r po r meio

da revelação natural de D eus que a ord em das coisas tem um Criador.4 M as

não fez isso. Em seu conceituado co m entár io sobre Rom anos, o expositor

G iuseppe Barbagl io observa que “o ju ízo divino de condenação nada m ais

é que a resposta ao intenc ional ‘nã o ’ po r par te do hom em . Pau lo não se

l im ita, porém , a esse aceno. A o con trário, desenvolve am plam ente o porquê  

da cólera divina (vv. 19-23).  D á por sab ido que os hom ens não só tive ram

a po ss ib i lidade de co nh ecer o Cr iador , mas de fato o con heceram . S im,

po rque E le se m an ifes tou a e les at ravés da cr iação . A ob ra reve la o seu

ar tíf ice . A inte ligênc ia , par t ind o do m undo , chega à sua causa . A e ternaforça e m ajestade divina, de s i invis íve is, tornam -se p erfe i tam ente vis íve is

aos o lhos da mente . N o p lano do conh ec im ento a d is tânc ia é superada, o

encon tro acontece . Con statação pos i tiva , sem dúvida , m as Pau lo logo a

t ransform a em acusação contra o m undo pagão. Por isso os acusados não

têm desculpas ou atenuantes. N um a palavra, são culpados. ‘Porque, embo ra

tendo conhec imento de D eus , não lhe renderam n em louvo r nem ação de

graça s ’ . O conh ec im ento não se conver teu em reconhec im ento . Teor ia epráxis foram violentam ente dissociadas” .5 D e form a aná loga, o expo sitor

b íb lico D ale Moody , in loco, subl inha esse fato, qua nd o a f irm a: “o pecado

distorce , mas não destrói a possibi l idade da percepção. A mente de fato

pode tornar -se réproba (1.28) , m as tam bém pode ser renovada (12 .2). A

m ente torna poss íve l a percepção” .6

 A o p o rtu n id ad e é d ad a a todos.

  omanos 1.23-32

E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem  

corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus 

os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o 

seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e 

serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém! 

Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres 

mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também  

os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade 

uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo  

em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles se não 

importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um 

sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; estando cheios

22 | M aravilhosa  G raça 

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Graça  para  Todos  | 23

de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja,  

homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, 

aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de 

males, desobedientes ao pai e à mãe; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição 

natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo a justiça de 

Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as 

fazem, mas também consentem aos que as fazem.

 A Lei da Semeadura e da Colheita

‘£ mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem  corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (1.23). O apósto lo cont inua

sua argum entação qu e justifica o julgam ento de D eus. Em vez d e glorificar

a Deus , o homem se a fas tou a inda mai s . Deus os en t regou à ido la t r i a

(v. 23 ) ; im o ra l idad e (v. 26 ) e an im os ida de (v. 30 ) . U m ab i sm o ch am a

outro ab ism o. C . M arvin Pate ob serva que “en tregar” (v. 24) aqu i tem o

sent ido de “deixar as pessoas so frerem as consequ ências de conseg uirem

o que dese j am. Em out ras pa l avras , nos tornamos seme lhantes aqu i lo

que ad oram os” .7 A o esc olher ado rar a c r ia tura em lug ar do C r iador , ser

o cent ro de s i mesmos em vez de t e rem Deus como cent ro de tudo , o

hom em m ergu lhou nas profund as tr evas do pecado .

‘Velo que Deus os abandonou às pa ixões infames... ” (1.26,27).  Pau lo passa

então a fa l a r de compor tamentos soc ia i s que , à luz das co i sas c r i adas ,

e ra m c o n s id e r a d o s c o m o a n t in a t u r a is . A h o m o s s e x u a l id a d e , ta n to

m ascu lina com o femin ina , é c it ada com o exem plo desse a fas tam ento da

ordem natu ra l (w . 26 ,27) . Pau lo , segu indo a t rad ição b íb l ica , repro va a

prá t ica h om ossexua l (Lv 18 .22). Por ou t ro l ado , a cu ltu ra g reco-rom ana

t inha com o n atura l o r e lac iona m ento en t re pessoas do m esm o sexo. A

pederas t i a , r e l ac ionamento de um adu l to com a lguém mais jovem, e r a

 v ista co m n o rm alid ad e tan to n a G réc ia an tig a co m o em R om a. A m aio r

p a r t e d o s C é s a re s e r a h o m o s s e x u a l . E c o n h e c id a a f r a se d o e s c r it o r

rom ano Sue tôn io d i zendo que o im pe r ador J ú l io C é sar “e ra o hom em

de toda m ulher e a m u lher de todo ho m em ”. Sue tôn io a inda fa la sobre

C é s a r c o m o s e n d o am an t e de N ic o m e d e s : “A r e p u ta ç ão d e s o d o m it a

 ve io -lhe u n icam en te de sua estad a jun to a N ico m ed es , m as isso b asto u

pa r a de son r á - lo p a r a s em pre e exp ô - lo aos u l tr a j e s de to do s” . 8 E s sa

prá t ica , con s ide rad a no rm al para cu l tu ra g reco-rom ana , e r a v i st a pe los

judeus com o um a perver são d a sexua lidade

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D epois da r evo lução sexua l dos anos se ssenta , o m ovim ento em pro l

da ho m ossexual idade gan ho u força no m undo inte iro. Grand e parte desse

fe ito é a tr ibu ído a A l fr ed C har le s K insey ( 1894 -1956 ) , con s ide r ado o

apóstolo da perversã o sexual. K insey po pu larizou seus ensinos distorcido s

sobre a sexual idade hum ana através de seu l ivro 0 Comportamento Sexual do 

 Macho.  Ap ós as pesquisas de Kinsey, que posteriorm ente ficou provado que

foram toda s m anipuladas , a sexual idad e gan ho u outro rum o.9 Passou-se

a ac red i ta r que o hom ossexua l ism o es tar ia fundam entado em verdades

c ien t í f i c as . A lguns t eó logos , que c reem que há pessoas que j á nascem

hom ossexua is , t en tam jus t if ic ar e sse tipo d e com por tam ento af i rm ando

que a B íb l ia con dena as re lações en t re he te rossexua i s e hom ossexua i s ,

e não a r e lação en t re um hom ossexua l e ou t ro hom ossexua l. O teó logo

ca tó li co Jo s é B or to l in i p a r t il h a d e s s e en t end im en to : “A c a r t a de s t ac a

a lgumas dessas r e l ações pe rve r t idas . A pr ime i r a é o homossexua l i smo

feminino e m asculino (1.26b,27). D e m odo geral, no m undo greco-rom ano

daque le t empo, a p rá t ic a hom ossexua l en t re pessoas he te rossexua i s e ra

es t im ulada e inc lus ive v is ta com o p erfeição . Pau lo cer tam ente não t inh a

o conhec imento que ho je se t em a r e spe i to de pessoas que j á nascem

com or ientação hom ossexual . Ele detec ta perversão entre heterossexuais

que s e ded i c am a p r á t ic a s h o m os sex ua i s” . 10 T a l e xp l ic aç ão , ado t ad a

inclusive p or m uitos m ov im entos ditos evang él icos, não res iste aos fatos

h is tór icos n em tam po uco a um a exegese do texto b íb l ico . Para Pau lo , o

hom ossexualism o era um a perversão sexual porque além de ser condenado

na E scr itu ra e r a tam bém ant ina tura l de acordo com R om anos 1 .26 ,27 .

  omanos 2.1-16

Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque 

te condenas a ti mesmo naquilo que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o  

mesmo. E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que 

tais coisas fazem. E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas 

que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? Ou desprezas tu as riquezas  

da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade  

de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração 

impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de 

Deus, o qual recompensará cada um segundo as suas obras, a saber: a vida 

eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e 

incorrupção; mas indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes 

à verdade e obedientes à iniquidade; tribulação e angústia sobre toda alma do

24 | M aravilhosa  G raça 

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homem que faz o mal, primeiramente do judeu e também do grego; glória,  

 porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem, primeiramente ao judeu e 

também ao grego; porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. Porque 

todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob 

a lei pecaram pela lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos  

diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, 

quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da 

lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei 

escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus  

 pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os, no dia em que Deus há 

de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.

 A Revelação Especial

“Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem qUerque sejas, porque te  

condenas a ti mesmo naquilo que julgas a outro; pois tu, que julgas, fa%es 0  mesmo ”

(2.1).  H á c la r am en te um a m udança no pensam en to do apó s to lo a pa rd r

desse pon to . O a lvo ago ra não é m ais o m und o gent í li co , m as o judaico .N essa passagem , o após to lo m ost r ará que os judeus não e s tão d ian te de

D eus em m e lhor e s cond i çõe s do que o s gen tio s . D oug l a s M oo o bse rva

que o s j udeus pode r iam pensa r que pod iam peca r s em ser em pun idos

porque po ssu íam um a re lação pac tua i com Deus . Mas de acordo com os

 v e rs ícu lo s de 6 a 11, P au lo p arece ir um passo m a is ad ian te : O s judeus

não t êm nen hum d i r e ito de pen sa r que in t rin se c am en te o pac to lhe s

con cede um a s ituação m e lho r que os gent ios d ian te de D eus . "O após to lo most r a en tão as r azões por que os judeus não e s tavam

em s ituação m e lhor do que os gent ios .

1. Eles praticavam aquilo que consideravam errado no com portam ento

gen t íl ico (v. 1). A o ag ir ass im , acab avam assum indo um a at itude de

hipocr is ia diante da le i .

2 . A chavam que p or se rem os guard iões da Torá e s ta r iam i sen tos de

qu alque r ju lgam ento (v. 3).

3 . Abusavam da bondade de Deus (v . 4) .

4 . Po ssu íam u m coração im pen i ten te (v. 5).

5 . Ign orav am a le i da re t ribu ição (w . 6-10).

6 . Eram exc lus iv i s t as (v . l t ) .

7 . N ão c on segu iam viver as ex igênc ias da le i (w . 12-14).

Graça  para  Todos  | 25

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‘Torque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que  

sob a lei pecaram pela lei serão julgados” (2.12).  C om entando es s a pas s agem ,

Ch ar les Swindo l l argum enta sobre aque les que querem q uest ionar sobre

o que disse Paulo em R om anos 2 .12. Isso não parece justo, argum entar ia

a lguém. Se r i a ju s to pun i r a lguém por in f r ing i r r egras as qua i s e l e não

teve a opor tun idade de con hecer ? E ex atam ente is so que Pau lo de fende

aqu i. O f ato é que , em bora hou ve s se gen t io s que nu nca e s t ive r am na

P a l es tin a n e m t am p o u c o c h e g a r am a en t r a r e m c o n t ad o c o m o o p ov o

h e b r e u e n e m c o m s u a le i, é b o m le m b r a r q u e t o d o h o m e m c a r r e g a a

imagem de Deus . Sw indo l l en t ão d i z ac e r t adamen te que “par t e de s s a

im agem inc lu i um sent ido inato de que a lgum as ações são boas e outras

s ão más . No en t an to , i n c lu so ne s se pad r ão impe r fe i to , n inguém v ive

com just iç a . N inguém jam ais t em o bedec ido com per fe ição sua própr i a

con sc iênc ia . A cu lpa é um a reação un ive r sa l por faze r a lgo q ue a é ti c a

p e s s o a l d e a lg u é m o p r o íb e . N o f im d o s t e m p o s , q u an d o s e d i ta r o

 v e red ic to fin a l, se te rá p esad o as o b ras d e to d a p esso a e se rão ach ad as

f a l t a s . A i gnor ânc i a da Le i não é de scu lpa . Toda pe s soa s e r á j u l g adad e a c o r d o c o m s e u co n h e c im e n t o d o b e m e do m a l. E p o r q u a l q u e r

pad r ão , s e j a a l e i m osa i c a , s e ja a p ró pr i a co nsc i ênc i a do g en t io , tod a

pesso a se rá acha da cu lpad a” .12

  omanos 2.17-29

Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em 

Deus; e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos 

néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, 

 pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não 

se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, 

que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras  

a Deus pela transgressão da lei? Porque, como está escrito, o nome de Deus  

é blasfemado entre os gentios por causa de vós. Porque a circuncisão é, na 

 verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua 

circuncisão se torna em incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos 

da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como circuncisão? E a 

incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará, porventura, 

a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei? Porque não é judeu o que 

o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é 

judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não 

na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.

26 I M aravilhosa  G raça 

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Graça  para  Todos  [ 27

Espiritualidade sem Verniz

G osto da pa ráf r ase que F. F. B ruce , e rud i to em N ovo T es tam ento ,

fez dessa passagem . E la atua l iza o que o texto qu er d izer.

 Você tem o honroso nome de judeu. Sua posse da lei dá-lhe confiança, gloria- 

se de que é ao Deus verdadeiro que você cultua e de que conhece a vontade dEle. 

 Você aprova o caminho mais excelente, pois o aprendeu da lei. Considera-se mais 

instruído do que aqueles que são inferiores por não terem a lei. Considera-se guia 

de cegos e instrutor de tolos. Mas por que não dar uma sincera olhada em você 

mesmo? Você não tem defeitos? Você conhece a lei, mas a guarda? Você diz:  “Não roubarás”. Mas não rouba nunca? Você diz: “Não adulterarás”. Mas será que 

cumpre sempre esse mandamento? Você detesta ídolos, mas nunca rouba templos? 

 Você se gloria na lei, mas, de fato, sua desobediência à lei dá má fama entre os 

 pagãos, a você e ao Deus que cultua. Ser judeu aproveitará ao homem diante de 

Deus somente se cumprir a lei. O judeu que quebra à lei não é melhor do que o 

gentio. E inversamente, o gentio que cumpre as exigências da lei é tão bom à vista 

de Deus como qualquer judeu que permanece na lei. Na verdade, o gentio que  

guarda a lei de Deus condenará o judeu que a quebra, não importa quão versado nas 

Escrituras esse judeu seja, não importa quão canonicamente se tenha processado a 

sua circuncisão. Você vê, não é questão de descendência natural e de sinal externo  

como a circuncisão. A palavra “judeu” significa “louvor”, e o verdadeiro judeu é 

o homem cuja vida é digna de louvor pelos padrões de Deus, cujo coração é puro  

à vista de Deus, cuja circuncisão é a circuncisão interna, do coração. Este é judeu 

de verdade, digo eu — homem verdadeiramente digno de louvor — e seu louvor 

não é matéria de aplauso humano, mas da aprovação divina.13

‘Eis que tu, que tens p o r sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em  

Deus; e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído p or le i”  

(2.17).  P au lo a inda con t inua preparan do o t e rr eno p ara a expos ição da

do utr ina da jus t if icação pe la fé da q ual e le fa lará log o m ais . Os gen t iospo ssu íam a r eve lação n atura l, bem com o a l e i da con sc iênc ia ; todav ia,

foram incapazes de r eag i r pos i t ivamente d ian te de Deus . Agora Pau lo

passa rá a fa lar dos judeus , que foram escolh idos po r D eus e a quem fo i

dada, de forma espec ia l , a le i . Todavia , ass im como o pecado cegou os

que t inham receb ido a reve lação natura l, da m esm a form a cego u os que

t inh am recebido a reve lação espec ia l.

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P a u l o h a v ia d e m o n s tr a d o q u e o s g e n t io s e s t a v a m d e b a i x o d a s

densas nuvens do pecado . An tes que a l gum judeu le ga l i st a pude s se se

g lor i a r de sua pos ição pr iv i l eg i ada em re l ação aos gent ios , o após to lo

se ap r e ss a em d i z e r que e le s não pos su í am v an t agem nenh um a . Se o sgen t io s qu ebr a r am a le i n a tu r a l, o s judeus se dem on s tr a r am incapaze s

de cum pr i r a r eve lação e sp ec ia l, que lhes fora dada po r m e io da l e i no

S ina i. E ram , po r tan to , ind escu lpáve i s .

Es sa a t i t ude l e ga l i s t a , em que a r e l i g i ão é v i v ida apenas de fo rma

exterior , condu z à hipocr is ia re l ig iosa e é duram ente co m bat ida p or Paulo.

 A quele s que con fiavam na lei com o in strum en to de ju stificação com eçam

a perceber que as suas pos turas d i an te da l e i não os hav ia me lhoradoe m n ad a . P au l o q u e r f a z e r c o m q u e e l e s v e j am q u e e s s e mo d e l o d e

esp ir itua l idad e es tava fa l ido jus tam ente pe lo fato de terem e les fa lhado

em atend er as ex igênc ias do prece i to lega l.

O l ega l ism o fo i um a am eaça para o an t igo I s rae l; todav ia , cont inua

sendo um a am eaça hoje . A sa lvação pe las obras , i s to é , que depe nd e dos

feitos de quem as pratica, parece ser algo a traente par a muitos. A tentativa

de agradar a D eus por m e io d os seus própr ios m ér itos é um p er igo do

qual o cristão pre cisa se precaver. N essa seção d as Escrituras, ob servam os

Pau lo combatendo o mode lo de e sp i r i tua l idade que a tua somente por

fora e não p or dentro . Para e le , não e ra um judeu qu em apenas possu ía

as m arcas da c i rcunc isão n a sua carne , i sto é , externam ente , todavia não

se encon t r ava marc ado in t e rnamen te (Rm 2 .28 , 29 ) . Mu i to s põem um

 vern iz na sua esp iritualid ade e isso é tudo que conseguem v iver e m ostrar.

 V iv e r de ap a rên c ia s p a re ce ser a lg o n o rm a l d ian te d o s h o m en s , m as

não d iante de Deus . Deus não possu i uma v i t r ine , onde adorna os seus

f ilhos para um a s im ples expos ição . E le os co loca no cenár io d a v ida , na

rea lidade nu a e cru a do d ia a d ia , para qu e e les po ssam dep end er dEle e

ass im v ive r sem m ascaram entos .

  omanos 3.1-20

Qual é, logo, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita,  

em toda maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram  

confiadas. Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará 

a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma! Sempre seja Deus verdadeiro, e 

todo homem mentiroso, como está escrito: Para que sejas justificado em tuas 

 palavras e venças quando fores julgado. E, se a nossa injustiça fo r a causa da 

justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto, trazendo ira

28 | M aravilhosa   G raça 

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Graça  para  Todos  | 29

sobre nós? (Falo como homem.) De maneira nenhuma! Doutro modo, como  

julgará Deus o mundo? Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade  

de Deus para glória sua, por que sou eu ainda julgado também como pecador? 

E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem 

que dizemos): Façamos males, para que venham bens? A condenação desses 

é justa. Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma! Pois já 

dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do  

 pecado, como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém 

que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e 

juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.  

 A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; 

 peçonha de áspide está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição 

e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos 

há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor  

de Deus diante de seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos  

que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o 

mundo seja condenado diante de Deus. Por isso, nenhuma carne será justificada 

diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.

 Aliança Quebrada

“Q ual é, logo, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?” (3.1). 

Pau lo en ce r r a s eu a rgum en to m os t rando que j udeus, g en t io s e toda a

hum anidade estavam debaixo do pecado. Não havia sobrado nenhum justo.

 T an to gen t io s que v iv iam sem lei com o os judeus que v iv iam debaixo da

le i encont ravam -se na m esm a s i tuação e sp i r itua l — afas tados de D eus.

O expositor bíbl ico H enry M ahan ob serva que “no Antigo Testamentoos judeus t inham grand es vantagens sobre as nações gent ias . T inh am a

palavra de Deus . Este té rm ino se usa quatro vezes no N ovo Testamento .

Em A tos 7 .38 s ign i f ica le i de M oisés ; em H ebreus 5 .12 e 1 Pedro 4 .11

abarca as verda des do E vange lho. N este vers ícu lo es tão inc lu ídas todas

as E scr ituras do A nt igo Testam ento , espec ia lm ente as que se re ferem ao

M ess ias , J e sus Cr is to . E nquan to os gen t ios prec isavam descob r ir Deus

com o p od iam a t r avés da c r iação , consc iênc ia e p rov idên c ia , os judeustinh am as profecias da v inda do M essias, as figuras e t ipos de seu sacrifício

e expiação nas cer im ônias e a prom essa de redenção e perdão at ravés da

fé nEle . Em lugar de crerem nE le e confessar sua cu lpab i lidad e reve lada

através da le i e descansar na fé e na miser icórd ia de Deus e na jus t iça

im pu tada, tom aram a le i , a c ircuncisão e as cer im ônias e a heran ça judia e

es tabe leceram sua própr ia jus t iça baseada em um a im perfe i ta e h ipócr i ta

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30 | M aravilhosa  G raça 

ob ediência form al. Todas as le is , rituais , mo ralidad e, cerimô nias, Escrituras

e form a externa não são de va lor , m as ao con trár io são dev astadoras , se

não co ndu zem à pessoa de C r i sto” .14

1 ARCO, Sor de Juana. Concordância de la Biblia Griega. Bilbao, Espanha: Edicion 

Espanola.

2HODGE, Charles. Commentary on the Epistle to the Romans. Grand Rapids, 

Michigan: Eerdmans, 1953.

3SHEED, Russel P. Lei, Graça e Santificação. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012. 

Há um longo debate sobre o que será feito dos que nunca ouviram o evangelho, que o espaço não nos permite discutir aqui. Todavia, há uma excelente abordagem  

sobre o tema na obra: Que de los que no Han Oido? — Três Perspectivas sobre 

el Destino de los no Evangelizados (O que Será dos que nunca Ouviram? — Três 

Perspectivas sobre o Destino dos não Evangelizados. SANDERS, John. Illinois: 

Intervasty Press). Há também uma exposição sobre o assunto no comentário de 

Douglas Moo (Romanos — Del Texto Bíblico a una Aplicacion Contemporânea. 

Editorial Vida).

4 Agostinho (354-430 d.C.) acreditava que o pecado original to rnou o homem  

totalmente depravado ao ponto de impossibilitá-lo de reagir positivamente diante 

de Deus. Ele se opôs ao ensino de Pelágio (350-423), um monge britânico, “que 

ensinava que o homem possui a capacidade de dar os passos iniciais em direção à 

salvação mediante seus próprios esforços, à parte da graça especial” (Enciclopédia 

Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol 3). Pelágio, portanto, ensinava um tipo de 

salvação pelas obras. Ao contrário do que ensinava Pelágio, Jacó Armínio (1560-1609  

d.C.), que também cria na depravação humana sem, contudo, negar a liberdade de 

escolha dos homens (livre-arbítrio), situou totalmente na graça de Deus a iniciativa 

da salvação. Deus oferece aos homens a sua graça, favor imerecido, cabendo a eles 

aceitarem ou rejeitarem (Jo 1.12; A t 16.30-31).

5BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo II — Romanos. São Paulo: Edições 

Loyola, 1991.

6MOODY, Dale. Comentário Bíblico Broadman, Atos — I Corindos. Rio de 

 Janeiro: JUERP, 1987.

7PATE, C. Marvin. Romanos — Comentário Expositivo. São Paulo: Editora Vida Nova.

8TRANQUILO, Caio Suetônio. A Vida dos Doze Césares. Editora Gemape, 2003.

9GALLAGHER, Steve. E Foi assim que Perdemos a Inocência. São Paulo: Editora  

Propósito Eterno.

10BORTOLONI, José. Como Ler a Carta aos Romanos — O Evangelho É a Força 

de Deus que Salva. São Paulo: Editora Paulus, 2013.

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11 MOO, Douglas. Romanos — Del Texto Bíblico a una Aplicacion Contemporânea. 

Editorial Vida.

12 SWINDOLL, Charles R. Romanos — Comentário Swindoll Del Nuevo Testamento. 

Grand Rapids, Michigan: Zondervan. (tradução livre do autor)

13 BRUCE. E E Romanos — Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova.

14 MAHAN, Henry. Romanos —comentário breve a las epistolas. Alcazar de San  

 Juan, Espanha: Editorial Peregrino.

Graça  para  Todos  | 31

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Capítulo

3Graça , umF avor   Imerecido

  omanos 3.21-26

Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho 

da Lei e dos Profetas, isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para  

todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença. Porque todos 

 pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente  pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs 

 para propiciação pela fé no seu sangue, para dem onstrar a sua justiça pela 

remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para 

demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e 

justificador daquele que tem fé em Jesus.

Declarado Inocente!

"Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a ju stiça de Deus, tendo o testemunho da  Lei e dos Profetas” (3.21).  E ssa seção que co m eça em R om anos 3 .21 e se

e s tend e a t é 4 .25 ap re s en t a o r em éd io do d i agnós t ico que Pau lo t inha

dado an ter io rm ente para a ques tão do pecado em Ro m anos 1 .18— 3.20 .

 V im o s que P au lo p rim e iram en te ap resen to u o m u nd o p agão to ta lm en te

mergu lhado nas t revas do pecado . Por out ro l ado , a s i tuação dos seus

com pa t r io t a s judeu s não e r a d if e ren t e . E l es t am bém es t avam deba ixod o d o m í n i o d o m e s m o p e c a d o . É , p o i s , n e s s a s e ç ã o q ü e o a p ó s t o l o

apresen ta rá a so lução d e D eus para a rebe l ião do hom em — a jus t iça de

D eus im pu tada a todos p or C r is to Jesus .

 À p a r te d a le i, is to é , se m o c o n c u rso d a le i, a ju s t iç a d e D eu s se

m an i fes tou p ara reso lver o d i lem a hum ano . E ssa jus t iça d iv ina , que se

m anifes tar ia em Cris to Jesus , j á era tes tem un had a pe la p rópr ia le i e pe los

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Graça , um F avor  Imerecido  | 33

profe tas (v. 21 ). P r im e ir am ente , a im agem que P au lo t em em m ente aqu i

é de um t r ibuna l . A lguém que se encont ra como réu d ian te de um ju iz

e de quem espera o ve red ic to cond enatór io . Todav ia , em v ez de r eceber

um a conden ação , e le r ecebe a abso lv ição .

O e x p o s it o r b íb l ic o W ill ia m B a r c la y m o s t ra o p a n o d e f u n d o d a

d o u t r in a d a ju s t i fi c a ç ã o n e s s a p a s s a g e m . N e s s e e x e m p l o d e P a u lo ,

im ag ina -s e o ho m em d i an t e do t r ibun a l de D eus. B a r c lay de s tac a com

m ui ta prop r iedad e que a pa l avra g re ga t r aduz ida com o “ jus t if ic ar” vem

da m esm a ra iz de dikaiún  e que todos os ve rbos g rego s que t e rm inam em

ún  têm o sen t ido d e considerar alguém como algo e não 0  de fa^er algo a alguém. 

D essa form a, se a lguém que é ino cente se apresenta d ian te de um ju iz ,

o ju iz , ev identem ente , o dec la r ará inocen te . T odav ia , o caso m ost r ado

po r Pau lo aq u i é d ife ren te . A pessoa q ue se apresenta d i an te de D eus é

to ta lmente cu lpada , merecendo a pun ição do seu e r ro , porém, o ju s to

 J u iz , em u m a d e m o n str a ç ã o d e su a g r a ç a in f in ita , co n s id e ra -o co m o

se fo s se i nocen t e . I s so é o que s e en t ende do s i gn i f i c ado da pa l av r a

“ just if icação ” no co ntexto pau l ino . Q uan do Paulo d iz “D eus jus t if ica o

 ím p io ” , s ign if ic a , d en tro do co n tex to da ju stific ação , que D eu s tr a ta o

 ím p io co m o a lgu ém bom . E ev iden te que ta l rac io c ín io de ixo u os ju deus

to ta lm ente e scanda l izados . N a m ente dos judeus , apenas um ju iz in íquo

ag i ri a dessa form a, po i s ju s t if ic ar o ím pio é um a abom inação p ara Deus

(Pv 17.15) ; “não just if icare i o ím pio ” (Ex 23.7) . T oda via, a argum entação

de Pau lo m ost r a que é exa tam ente is so o que D eus fez .

N a m ente de Pau lo , ob se rva Barc lay , se a lguém dese jas se saber com o

D eus é , então dev er ia olhar para Jesus, pois E le revelou D eus aos hom ens.

O ve rbo en ca rnado de D eus ve io m os t ra r o g r ande am or de D eus pelo s

homens , mesmo e s t e s e s t ando mor to s em seu s de l i t o s e pecados (Ef

2 .1 ,2 ) . Barc l ay des taca que “quando descobr imos i s so e c remos , nossa

r e l aç ão com Deus muda r ad i c a lmen te . Es t amos consc i en t e s do nos so

pecado , m as não e s t am os a t e r ro r iz ado s ou d i st an t e s. Q uebr an t ado s ea r r epend idos , r e co r r emos a Deus como uma c r i ança t r i s t e s e chega a

sua m ãe e sabem os que o D eus a quem chegam os é amor . I s so é o que

s ign i f ica jus t i f icação pe la fé em Jesu s Cr isto . Isso s ign i f ica que es tam os

em re lac ionam ento cor re to com D eus porque ac red i tam os s inceram ente

que o qu e J e sus nos d i sse de D eus é a ve rdade . J á n ão som os e s t ranho s

que t êm medo de um Deus i r ado . Somos f i lhos , c r i anças e r r an te s que

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conf iam no am or do Pa i que os pe rdoará . E não pod íam os nun ca chegar

a e s se r e lac ionam ento com D eus , se J e sus não t ivesse v indo para v ive r e

m or r e r pa r a nos d iz e r com o m ar av ilhosam en te D eus nos am a” .1

Escravo Alforriado

“...pela redenção que há em Cristo Jesus” (3.24b). A palavra traduz ida com o

“r e d e n ç ão ” v e m d o g r e g o apolutrósis. D e aco rdo com o lé x ico g r ego de

G erhard K i tt e l, e s sa pa l avra tem o sen t ido de resgate  o u pagamento de um  

regaste, passando a ser um term o m uito im portante no N ovo T estam ento .2

 A h is tó r ia seg u in te a ju d a -n o s a e n te n d e r o seu re a l sen tid o .N o t em po da e s c rav idão , nos E s tados U n idos, num a m ov im en tada

rua de ce r t a c idade , um a m ul tidão de pessoas con cor reu para um a fe ir a

de esc ravos . A m ar rados de pés e mãos , aguardavam com pradores .

No meio dos escravos , es tava uma moça de o lhar cab isbaixo , t r i s te ,

p e n s an d o n a s u a c o n d i ç ão d e e s c r av a . U m c av a l h e i r o p a s s o u , o l h o u

para os e sc ravos e t eve profun da com paixão p or aqu e la e sc rava , que e ra

t ra t ada com o os dem ais e sc ravos , feito an imai s . N a ho ra dos l ances , o

cava lhe i ro ofe receu o dobro . O l e iloe iro ba teu o m ar te lo , e s t ava liv re ,

pod ia go zar de sua libe rdade .

So lt a r am a e sc r ava e o s eu li b e r t ador d i ss e -lhe : “A com pan he -m e” .

C om raiva, ela cuspiu na cara do seu benfeitor. E le t irou o lenço do bo lso,

l im pou a cusparada. Term inou a par te burocrát ica . Pegou os docum entos

e deu à jovem . E ra a carta de alforr ia . A escrava estava livre . Co m aqueles

papé is n inguém conseguir ia escravizá- la .

Co m os docum entos na m ão , d i z ia quase s em par a r : “O senh or m e

c o m p r o u p a r a m e lib e r t a r ? ” . E s tav a liv r e . A q u e le h o m e m c o m p r o u a

lib e r t a ç ão d a jo v e m e s c rav a . P o d e r i a g o z a r d e s u a lib e r d ad e . A n o s s a

escravidão , im po sta pe lo D iabo, é m ui to m ais grave do qu e a escravidão

daqu e la jovem n eg r a . Es t ávam os nos -g r ilhõe s do D iabo . Co m um ente ,

e l e nos l e vava pe lo c aminho do c i g a r ro , d as d rogas , d a p ros t i t u i ç ão ,do fu r to e do c r im e . E e s s e s peca do s s e re f l e ti am em no s sa f am í li a ,

nos sos f i l hos , nos so t r aba lho . No c ab r e s to do Diabo , e l e nos l e vava

po r es s es c am inh os de som bras , d e de s i lu s ão , de am argu r a , d e mo r te .

M a to u a e s p e r a n ç a e m n o s s o c o r a çã o . C o m o a q u e l e c a v a lh e i ro n o s

E s ta d o s U n i d o s p a g o u a lib e r t a ç ã o d a jo v e m , C r i sto p a g o u o p r eç o

d a n o s s a r e d e n ç ã o .3

34 | M aravilhosa  G raça 

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Graça , um F avor  Imerecido  | 35

O Preço de um Resgate

"... a qual Deus propôs pa ra propiciação pela f é no seu sangue... ” (3.25). O 

 vocábulo “p rop ic iação” (gr. hilastérion), co m enta E lvis C arbal losa, s ignif ica

sacr if ico exp iatór io . E sse sacr if íc io ex piatór io fo i a m orte de Cr is to em

lugar do pecador . A frase “no seu sangue” se re fere à morte de Cr is to .

 A m o rte de C risto fo i u m a rea lid ad e h is tó r ica .4

  omanos 3.27-31

Onde está, logo, a jactância? E excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas 

 pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as 

obras da lei. É, porventura, Deus somente dos judeus? E não o é também dos  

gentios? Também dos gentios, certamente. Se Deus é um só, que justifica, pela  

fé, a circuncisão e, por meio da fé, a incircuncisão, anulamos, pois, a lei pela  

fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei.

 Jesus e o Judaísmo Palestino

“Concluímos, pois, que0 

 homem éjustificado pe la fé, sem as obras da le i” (3.28). N esse ponto, dentro de nosso com entár io textual e exegético desse texto,

é prec iso faze r r e fe rênc ia a um grand e deb ate que nos ú l t im os anos t em

surg ido em torno d a teo log ia pa u l ina da graça .5 A lguns ex pos i tores têm

defend ido a tese de que Paulo não estaria com batend o o legal ism o judaico,

i sto é , a salvação pe las obras , m as em v ez d isso es tar ia se pos ic ion and o

apenas co nt ra o orgu lho juda ico de pe r tence r ao po vo d a a liança .

O s e s c ri to s do n or t e - am er ic an o E . P. San de r s revo luc ion ar am oses tudos sobre a t eo log ia pau l ina quando , em 1977 , pub l i cou seu l i v ro

Paulo e 0  Judaísmo Palestino.6 San ders par te do pr inc íp io de que o judaísm o

não e ra um a re li g ião l ega l is t a que p regava a sa lvação pe las obras. E sse

pensamen to de Sande r s , d enominado de  A. Nova Perspectiva sobre Paulo,

é rad ic a lm en te op os to àq ue l e da t r ad iç ão c r is t ã h i s tó r ic a . O l iv ro de

Sander s é uma ten ta t iva de provar que a t eo log ia sobre Pau lo , que os

reforma dores d efendiam, não era de fato de Paulo, m as de Agostinho, bispo

de El ipona. O e scr i tor W i ll iam S. Cam pb el l des taca que “é   percept íve l ,

pe la le itura de San ders , que um deb ate cr is tão interno po ster ior sobre a

graça e obras foi projetado no cr ist ianismo inic ia l, fazendo co m que nosso

entend im ento das or igens cr istãs, em re lação ao judaísm o, se tornasse um

tanto d is torc ido . E m cer to sent ido , esse é, na verda de , m ais um debate

sobre a graça dentro do cr is t ian ism o. E esc larecedor ob servar que foram

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os escri tos ant ipelagianos de A gost inh o o m ater ial que Lutero con siderou

m ais úteis. Para Lutero, A go stinho é sua autoridad e preferida, seu principal

a liado na lu ta con tra as tendênc ias pe lag ianas do escolas tici sm o. M as , em

deco r rênc ia d is so , os judeus são v i s tos p or Lu te ro com o representan tes

de um t ipo d e pe l ag ian i sm o e , com o t a l, in im igos d o E vange lho t an to

quan to a ig r e ja não r e fo rm ada” .7

Partindo, portanto, desse princípio, E. P. Sanders se opôs a essa visão dos

reform adores. A o co ntrário do que crê o crist ianism o tradiciona l, disse que

o judaísm o é um a re lig ião d a a l iança em que o status  de per tencer ao grupo

eleito, e não a obediência legal ista da lei , é a principal característ ica. Para

Sand ers , os judeu s não acreditavam que a o bed iência aos preceitos legais

lhes garan t ia salvação, m as apenas m antinha seu status  dentro do grup o da

al iança. N esse aspecto, em vez d e ser a causa da salvação, a obediência era

apenas a condição . E ssa nova perspect iva , Sanders den om inou de nomismo 

da aliança.  E m outras pa lavras , o er ro do s judeus era o de se orgu lhar de

per tencer ao povo e le ito de D eus , per tencer a a l iança que D eus fez com

Israe l e não querer agradá- lo po r m eio das obras .8

O utro autor que fez coro co m Sanders foi o britânico Jam es D. G. D unn

que tamb ém passou a defender a Nova Perspectiva sobre Paulo. Todavia , Dunn

fez críticas ao modelo de Sanders para implantar o seu próprio modelo. D unn

afirm a que “o Pau lo luterano foi subst i tu ído po r um P aulo id ioss incrát ico

que, de m aneira arbitrár ia e ir rac ional , volta-se con tra a g lór ia e a grand eza

da teo log ia pactuai do judaísm o e abando na o judaísm o s im plesm ente por

que ele não é cristianism o” .9 O teólogo presb iter iano Au gu stas N icodem usobserva qu e J . D. G. D unn nessa nova abo rdagem soc io lóg ica sobre Pau lo

“tem recebido vasta ace itação. Para e le , Paulo ataca as ‘obras da le i ’ não

porque e la s exp r e s s am a lgum de se jo de a l c ança r mé r i to p o r pa r t e dos

judeus, m as porqu e entend e que e las fazem um a dist inção entre os judeus,

o povo d e D eus da ant iga d ispensação , e os gent ios , a quem o evange lho

está sendo oferec ido. A s ‘obras da le i ’, que Paulo iden t if ica com o restr itas

à c ircuncisão, às le is sobre a l im entos puro s e im pu ros (  kashruí) e ao s dias

especiais do calendário judaico, são em blem as que caracterizam o judaísmo

e devem ser re je i tadas po rque en fat izam a separação en tre judeus e não

judeus, a q ua l Cristo veio ab olir”.10

D uas coisas precisam ser observadas aqui. Primeiro, a leitura de Rom anos

3.28 m ostra c laram ente que Pau lo não v ia o p roblem a da re je ição judaica

apenas como sendo um orgu lho de pe r tence r ao povo da a l i ança . Essa

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Graça , um F avor  Imerecido  | 37

E scr itu ra é c la r a o su f ic ien te para m ost r ar que a busca pe lo m ér ito po r

m eio das obras con st itu iu-se o pr incipal ob stáculo para um judeu legal is ta

aceitar a justificação som ente pela fé. Em segund o lugar, é um fato que não

apenas Lutero , mas ou t ros r e formad ores depo i s de le , beberam do poço

dou tr inár io de A gost inho, com o p or exemp lo, a crença no pecado o r ig inal

com a con sequente dout r ina da r egeneração b at ism al , e tc . Em bora ha ja

s imilar idade entre o legal ism o judaico e a dou tr ina da salvação pelas ob ras

de Pe lág io , não é corre to fazer a c rença lu terana na jus t i f icação pe la fé

depen der exclusivamente de Agost inho. N ão h á com o neg ar que Lutero foi

influenciado de fo rm a negativa por Ag ostinho , todavia, a própria história da

Reform a, com seu lem a “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17), revela a grand e

inf luênc ia que a C ar ta aos Rom anos t eve na v ida e obra do r e form ador

alem ão. Nã o é seguro, portanto, pelo m eno s neste caso, fazer a conv icção

t eo lóg i c a do r e fo rm ador a lem ão d epend e r som en te de Ago s tinho . Por

outro lado, é cer to e h is tor icamen te provado, com o dem on strou Sanders,

que L utero erro u ao o diar os judeu s ao p rojetar neles o erro pelagiano.

  omanos 4.1-25

Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, 

se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de  

Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado 

como justiça. Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão 

segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, porém  

crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. Assim  

também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas,  

e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não 

imputa o pecado. Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente 

ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos que a fé foi imputada  

como justiça a Abraão. Como lhe foi, pois, imputada? Estando na circuncisão 

ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na incircuncisão. E recebeu o  

sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para  

que fosse pai de todos os que creem (estando eles também na incircuncisão,  

a fim de que também a justiça lhes seja imputada), e fosse pai da circuncisão,  

daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas  

 pisadas daquela fé de Abraão, nosso pai, que tivera na incircuncisão. Porque 

a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a  

 Abraão ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé. Pois, se os que são da lei 

são os herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é aniquilada. Porque a lei opera 

a ira; porque onde não há lei também não há transgressão. Portanto, é pela

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fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a 

 posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé de Abraão, 

o qual é pai de todos nós, (como está escrito: Por pai de muitas nações te 

constituí.), perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos  

e chama as coisas que não são como se já fossem. O qual, em esperança,  

creu contra a esperança que seria feito pai de muitas nações, conforme o que  

lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E não enfraqueceu na fé, nem 

atentou para o seu próprio corpo já amortecido (pois era já de quase cem anos),  

nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da 

 promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória 

a Deus; e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era 

 poderoso para o fazer. Pelo que isso lhe foi também imputado como justiça. Ora, não só por causa dele está escrito que lhe fosse tomado em conta, mas  

também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que 

dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, o qual por nossos pecados foi 

entregue e ressuscitou para nossa justificação.

 A Jornada da Fé

 A p a r tir d e ssa seção , P au lo in t ro d u z a h is tó r ia d o p a tr ia rc a A b raãoc o m u m e x e m p l o d o s eu a r g u m e n t o d a ju s t if ic a ç ã o p e l a fé . P a u lo

a rgum en ta a pa r t ir d e G êne s is 15; t odav i a , a c red ito s e r op or tuno aqu i

 v e rm o s a lgu n s asp ec to s an te r io re s d a jo rn ad a d e sse g ig an te e sp ir itu a l.

 V o lt e m o -n o s , p o is , ao c a p ítu lo 13 d e G ê n e s is p a r a t r a ç a r m o s o

p e r c u r s o d e s s a j o rn ad a .

/. Umajornada para conviver com altares, e não com pirâmides.  “ Su biu, pois ,

 A b rão do E g ito [a te rra das p ir âm ides] [...] E fez as su as jo rn ad as

do Su l [N eguebe] até Bete i , até ao lug ar ond e, ao princípio, estivera

a sua tenda, entre Bete i e Ai ; até ao lugar do al tar que, dantes , a l i

t inh a fe i to ; e A brã o inv oco u al i o no m e do S en ho r” (G n 13 .1-4) .11

 A b raão sa iu do E g ito , on d e co n v iv eu co m as g ran d e s p irâm id es,

para vo l tar à Pales tina , te rra ond e c on stru í ra a ltares . D eus qu er o

f ie l con vivendo com al tares , e não com pirâm ides .2. Uma jornada onde a visão deve se r maior do que a ambição.  “ E h o u v e

con tenda en t r e o s pas to re s do gado de Abrão e o s pas to re s do

gad o de Ló [...] E d isse A brão a Ló: O ra , não haja con tend a entre

m im e t i e entre os m eus pastores e os teus pastores , po rque irmã os

som os” (G n 13 .7 ,8 ) . A am bição , o orgu lho e o dese jo de t e r são

agentes causado res da queb ra da unidad e fraternal , m as a bu sca da

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Graça , um F avor  Imerecido  | 39

koinonia   é o rem éd io para es se ma l . A lu t a po r espaço a r ranh ou o

re l ac ionam ento en t re os pas to res de A braão e Ló . E v iden tem ente

que i s so es t ava t endo consequênc ias en t re o t io e o sobr inho . E

m e lh o r a b r ir m ã o d e a l g u m a c o i s a d o q u e p e r m it ir q u e v e n h a aar ranha r a com unh ão f ra te rna l.

3. Uma jornada que não pode ser seduzida p o r uma imitação do Paraíso nem   pela s lembranças do Egito.  “E l evan tou L ó os seus o lhos e v iu toda a

cam p ina do Jo rdão , que e r a toda bem regada , an t es d e o Senh or

ter des t ru ído Sod om a e G om orra , e e ra com o o j ard im do Senhor ,

com o a t e r ra do Eg i to , quan do se en t ra em Z oar” (Gn 13 .10 ) . Lóse de ixou sed uz i r po r um a lem bran ça do Para íso , todav ia A braão

procurou viver a real idade n ua e crua d e um a vida de fé. As cam pinas

de S odo m a lem bravam o Paraíso, mas não eram o Paraíso. À s vezes ,

o c ren te se de ixa i lud i r pe l as aparênc ias e em vez de p rocurar o

caminho mais seguro , busca os a ta lhos .

4. Uma jornada que se aproxima de Canaã e se afasta de Sodoma.  “H ab itou

 A b rão n a te rra d e C an aã , e L ó h ab ito u nas c id ad es d a c am p in a ea rm ou a s sua s tendas a t é Sodo m a” (Gn 13 .12 ,13 ). En quan to Ló

se aprox im ava de Sodo m a, do pecado , A braão se d i st anc iava cada

 v ez m a is d e le . Im p u ls io n a d o p e lo s a tra t iv o s , L ó se ap ro x im av a

c a d a v e z m a i s d o s e n c a n t o s d e S o d o m a . F o i u m a s e d u ç ã o q u e ,

poster iorm ente, lhe custou m uito caro. Por que em ve z de se afastar

de Sodo m a m u ito s se ap rox im am cada vez m a is ?

5. Uma jornada onde a exclusividade determina a intimidade.  “ E d is s e o

Senh or a A brão , d epo is qu e Ló s e apa r tou de l e” (G n 13 .14 ). Às

 vezes p rec isam os nos separar d e d eterm inadas co isas, até m esm o de

pessoas , se querem os o uvir a voz do Senhor . N ão d á para conviver

c o m q u e m g o s t a d e S o d om a .

6. Uma jornada onde Deus mostra 0  futuro, mas é 0  homem quem constrói 0  

 presente.  “Levan ta , agora , o s teus o lhos e o lha desde o luga r ondeestás , pa ra a band a do n orte , e do su l , e do o r iente , e do ociden te ;

porq ue toda esta terra que vês te hei de dar a t i e à tua sem ente, para

sem pre . [...] Lev anta- te , pe rco rre essa terra , no seu c om prim ento e

na sua largura ; po rque a ti a dare i. E A brão arm ou as suas tendas , e

 ve io , e h ab itou nos carva lh a is de M anre , q ue estão ju n to a H ebrom ;

e ed i ficou ah um a l ta r ao Sen ho r” (G n 1 3 . 14 -18 ) . D eus r eve l a o

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futuro, m as som os nós qu em con struím os o presente. É p reciso haver

des locam en to . C om eça r e r ecom eça r s em pre. D eus f az p rom es sa s

e as cum pre , mas é p rec i so t e r pac iênc i a , encarar as inc er t ezas do

presen te para che gar às garan t ias d o fu turo .

7. Uma jornada onde pessoas são mais importantes do que coisas.  “ T am b é m

tom aram a Ló , que hab it ava em Sod om a, filho do i rm ão de Abrão ,

e a sua fazen da e foram -se. [ ...] não to m arei coisa a lgu m a de tudo o

que é teu; para qu e não digas : Eu enriquec i a A brã o” (Gn 14.12,23) .

 A b raão era r ico , m as n ão p u n h a n as r iq u ezas a su a co n fian ça . O

im por t an t e p a ra e le e r a a com unhão com o s eu Deus .8. Uma jo rnada onde A brão aprendeu que era grande, mas não o maior.  “E

M elquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote

do D eus A l t ís s im o . E ab ençoo u-o e d i sse : B end ito se j a A brão do

Deus Al t í s s imo, o Possuidor dos céus e da terra ; e bendi to se ja o

Deus A l t í s s imo , que en t regou os t eus in imigos nas tuas mãos . E

deu- lhe o d íz im o de tud o” (Gn 14.18 ,20 ; H b7.1-10) . M esm o sendo

u m h o m e m g r a n d e , A b r a ã o r e c o n h e c e u q u e h a v i a a l g u é m a i n d am a io r . M e l q u i s e d e q u e é u m t ip o d e C r is to , e o v e l h o p a t r ia r c a

ap rendeu desde s emp re a d ep ender d a f é nE l e.

Po i s bem , vo l tem os ao t ex to .

O t ex to d e R o m a n o s 4 . 1 -2 5 , c o m o v i m o s , t ra t a c o m e x c lu s iv id a d e

d a v id a d o v e lh o p a t ria r c a A b r a ão . A e x e g e s e f e it a p o r P a u l o n e s s ap a s s a g e m m o s t r a , a p a r t ir d o liv r o d e G ê n e s i s, q u e a ju s t if ic a ç ã o d e

 A b raão n ão se d eu em d e co rrên c ia d as o b ras , m as d a fé. N esse asp ecto

h á u m a s i m i l a r i d a d e e n t r e a f é d e A b r a ã o e a f é d o c r i s t ã o . Lu c i e n

C er f aux s in t e t izou bem es s a an a log ia u s ad a po r Pau lo . 12 D en t ro des s a

p a s s a g e m d e R o m a n o s é p o s s ív e l p e r c e b e r c o m c la r e z a P a u lo f az e n d o

a l igaç ão en t re a jus t iça de A braão , Cr i s to e a jus t i ça do cr is tão .

“Pois, que di% a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe fo i imputado como ju s ti ç a ” (Km 4.3).  P a u lo t o m a co m o p o n t o d e p a r t id a d e se u

a r g u m e n t o G ê n e s is 1 5 .6 , o n d e D e u s f ez a p r o m e s s a a A b r ã o d e lh e

d a r u m a p o s t e rid a d e n u m e r o sa . O ju d a ís m o a c re d it av a q u e A b r a ã o

h a v i a s id o j u s t if ic a d o e m c o n s e q u ê n c ia d o r it o d a c i r c u n c i s ã o , o q u e

P a u l o v a i n e g a r . P a u l o o b s e r v a q u e D e u s j u s t i f i c o u o p a t r i a r c a e m

c o n s e q u ê n c i a d a s u a fé , q u e a c o n t e c e u m u i to a n te s d a p r á t ic a d a

40 | M aravilhosa  G raça 

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Graça , um F avor  Imerecido  | 41

c ir cu n c is ã o . D e s s a fo r m a , c o m o m o s t ra R o m a n o s 4 .4 , A b r a ã o n ã o

po de r i a t e r sido jus t if icad o p e l as ob ras , m as pe l a fé . A sua jus t if icaçã o

f o i u m a d á d iv a , e n ã o u m a d í v id a .

O expo s itor Lu cien Cerfaux d es taca que “Paulo exa l ta a fé de A braão ,

em oldurando -a de man e i ra ma i s de term inad a com a fé dos c r is tãos , cu jo

objeto pr inc ipa l é a ressurre ição de Cr is to . Ab raão c rera em D eus ‘que dá

 v id a ao s m o rto s e, ch am an d o -as , faz ex is t ir as co isas q u e n ão e x ist iam ’

(Rm 4 .17 ). Pau lo exp l ica seu m od o d e pen sar : ‘E sem vac i la r na fé , não

con s iderou nem o seu corpo , já sem v i ta l idad e , por ser quase centenár io ,

nem a fa lta de v igo r do se io de Sara ; nem hes i tou po r fa lta de fé, perante

a p rom essa de D eus , an tes hau r iu fo rça na sua fé , dan do g lo r i a a D eu s ’

(Rm 4 .19 ) . N otem -se as expres sões ‘m orte ’ (o corpo de A braão , o se io

de Sa ra es tão m ortos) e ‘dar v ida ’ . É a ant í tese m orte-ressu rre ição . A fé

de A braão con s t itu i o p r im e i ro esbo ço d a fé c ris tã ; pe l a m ane i ra com a

qua l a fo rm ula , suspe i t a -se que P au lo a encara com o u m ‘t ipo ’ de fé na

m orte e ressurre ição de C r isto” .13

“Bem-aventurado 0  homem a quem 0  Senhor não imputa 0  pecado” (Rm 4.8). Segu indo u m dos p r in c íp io s he rm enêu t ico s (  Ge^erah Sahawah) d a esco la

rab ín ica de H i ll e l, faz um p ara l e lo en t re Sa lm os 32 .1 e G ênes i s 16 .6 . O

p r o p ó s i to d o a p ó s t o lo é i n te r p r e t a r G ê n e s is 1 5 a p a r t ir d o S a lm o 3 2.

“O fa to de A braã o t e r s ido co ns iderad o jus to , de t e r - lhe s ido a t r ibu ída

jus tiça d iante de D eus (Gn 15 .6), s ign i f ica que D eus não contou , a tr ibuiu

s eus pecados con t r a e l e ( S I 32 . 1 , 2 ) , com re f e rênc i a ao pe rdão d iv ino

dos pecad os de ad ul tér io e ho m ic íd io com et ido s po r D avi [cf. 2 Sm 11]. T u d o isso s ig n if ic a q u e A b ra ão fo i ju s t if ic ad o d ian te d e D e u s , p e la fé

e n ão p o r ob ras . D e f a to , A braão e r a um pec ado r cu ja ún i ca e spe rança

e ra a g r aç a de D eus r eceb ida p e l a f é” . 14

N a argum entação de Pau lo , f icam , por tan to , os fatos :

1. Quando Abraãofoi justificado, era ainda incircunciso. Isso significa que Abraão

ser ia o pa i de todos os q ue hav iam d e crer sem es tar c ircuncidados( incircunc isos), e ass im fosse cred itada a just iça tam bém a eles.

2. A circuncisão fo i dada após, como “sinal” (segundo Gn 17.1 Oss), isto é, como sinal  dajustiça da f é que ele havia recebido sendo ainda incircunciso.  Isso significa

qu e A braão ser ia o pai de todos circunc isos , is to é , daqueles qu e não

se l im i tam à c i rcuncisão , m as qu e, a lém d isso , seguem na es te ira da

fé qu e, a ind a incircun ciso, po ssuía no sso p ai A braão (Rm 4.11 ) .15

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42 I M aravilhosa  G raça 

1BARCLAY, William. Comentário a lNuevo Testamento — 'Romanos, 17  tomos.  Barcelona, 

Espanha: Editorial CLIE.

2 KITTEL, Gerhard. Compendio del Dicáonario Teológico D e l N uevo Testamento.  Grand 

Rapids, Michigan: Libros Desafio.

3 TO GN IN I, Enéas. Cristo Tiberta o Escravo.  Disponível em <http://www. 

batistadopovo.org.br>

4  CARBALLOSA, Elvis.  Romanos  — Una Orientation Expositivay Practica.  Grand 

Rapids, Michigan: Editorial Portavoz.

5 WESTERHOLM, Stephen. Justification Reconsidered: Rethinking a Pautine Theme.  Grand 

Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing, 2013.

6 SANDERS, E. P.  Paul and Palestinian Judaism.  Filadélfia: Fortress Press, 1977.

7  CAMPBELL, William.  Pa ulo e a Criação da Identidade Cristã.  São Paulo: Edições 

Loyola, 2011.

8  Em resposta às críticas que foram feitas à sua obra, E. P. Sanders escreveu o 

livro  Paulo, a L e i e o Povo Judeu.  Nessa obra, Sanders faz alguns ajustes nos pontos 

controversos, porém afirmando o que havia escrito em  Paulo e o Judaísmo Palestino.

9 DUNN, James D. G.  A Nova Perspectiva sobre Paulo.  São Paulo: Editora Academia 

Cristã/Loyola.

10LOPES, Augustus Nicodemus. A N ov a Perspectiva sobre Paulo  — Um Estudo sobre 

as “Obras da L e i” em Gálatas.  Disponível em <http://www.mackenzie.br/>. Acesso 

em 26/11/2015.

" Abrão esteve no Egito por volta de 2000 a.C. e as pirâmides foram construídas  

 pelo menos 600 anos antes de sua chegada lá.

12CERFAUX, Lucien. Cristo na Teologia de Paulo.  São Paulo: Editora Academia 

Cristã/Paulus.

13 Idem, p. 166, 167.

14 PATE, C. Mervin.  Romanos  — Comentário Expositivo.  São Paulo: Editora Vida 

Nova, 2015.

15  CERFAUX, Lucien. Cristo na Teologia de Paulo.  São Paulo: Editora Academia 

Cristã/Paulus.

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Capítulo

4 A G raça e o Problema  

da  Culpa 

  omanos 5.1-4

Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus 

Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos  

firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, 

mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz 

a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança.

Um Olhar em duas Direções

“Sendo, pois, justifica do s pe la fé.. . ” (5 .1a).  H á u m c o n s e n s o e n t r e o s

comen t a r i s t a s que a s eção que começa no cap í t u lo c in co de Romanosé u m a t ra n s iç ã o e n t re R o m a n o s 1 . 18 — 4 .2 5 e R o m a n o s 5 .1 — 8 .3 9 .

E l a é , po r t an to , o e lo que l i g a o que vem an t e s e o que vem depo i s .

Re trospect ivam ente, Rom anos 5.1 m ostra o fato do que seja a justi ficação

em C r is to J e sus . Po r ou tro lado , o lh and o p ro spec t i v am en te , Rom anos

5.1 t am bém enx erga aqu i lo qu e vem com o resu l tado dessa jus t if icação .

É u m o l h a r p a r a a f re n t e . S t a n l e y C l a r k d e s t a c a q u e “ a d i f e re n ç a d e

opinião a respeito de se assoc iar o capítulo 5 com os capítulos anter iores(3 .21— 4.25 ) ou dep o i s ( 6 .1— 8.39 ) suge re que s eu pap e l é tr an s i tó r io ;

is t o é, e s p e c ia l m e n t e v e r d a d e i r o p a r a os p r i m e i ro s 11 v e r s o s . E m

a lguns a spe c to s , R om anos 5 o lha p a ra tr á s, p a r a a g lo r io s a ve rdad e da

ju s ti fi c ação do h om em pe l a f é. N o en t an to , o s conce ito s ve r t ido s t êm

m a is em c o m u m c o m 6 . 1 — 8 .3 9 c o m 3 .2 1 — 4 .2 5 . O te m a d a s eç ã o

in t e ir a ( 5 .1— 8.39 ) que é ‘j u s tif icou a nov a v id a do ho m em ’” . 1

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 Temos Paz!

“.. temos pa% com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo ” (5.1b). O efeito imed iato

da jus t if icação é a paz com D eus . O s m anuscr itos gregos p er tencentes aotexto cr ít ico do N ovo Testam ento t razem a palavra “tenh am os” em lugar

de “ tem os” . Tod av ia , os e rud i tos em N ovo Tes tam ento ob se rvam que a

ev idênc ia in te rna do contexto d essa passagem ex ige o sen t ido presente

do verbo. N esse caso , a tradu ção “tem os” é prefer íve l .2

 A paz com D eus é, po rtan to , u m a realidade presente n a v ida do crente .

E la é a coroação ou resultado imed iato da justificação. Não é algo que vam os

ter som ente no futuro , m as é a lgo qu e o crente já desfruta agora . Toda aargum entação de Paulo apo nta na direção do aqui e agora na vida do crente.

 A n d rew M urray , an tigo exp os ito r b íb lico , co m en ta : “A p az co m D eus é

um a bênção coord enad a à justi ficação, que se realiza sob c ircunstâncias de

conden ação e de su je ição à i ra de D eus ; e a jus t if icação con tem pla nossa

aceitação diante de Deus, com o justos. E o pano de fundo é a nossa alienação

diante de D eus ; a paz com D eus contem pla nossa restauração ao favor e à

luz do rosto divino. O fato de que a paz co m D eus recebeu a preem inência

dentre as bênçãos pro venientes da justi f icação é coerente com o status  que

a jus t if icação nos assegura . ‘Paz com D eu s ’ den ota re lac ionam ento com

D eus. N ão se trata apenas de seren idade e tranqu i lidade de nossas m entes

e corações ; m as refere-se ao es tado de paz q ue f lu i da recon c il iação (w .

10,11) e ref lete-se , pr im eiram ente , sobre no ssa al ienação de D eus e nossa

res tauração ao favor d iv ino . A paz d a m ente e do co ração proced em da

‘paz co m D eus ’ , sendo o reflexo em no ssa consc iênc ia do re lac ionam ento

estabelec ido p ela just i f icação” .3

 A Porta da Graça!

‘pe lo qual também temos entrada pela f é a esta graça, na qual estamos firmes;  

e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (5.2).  A g r a ç a d e D e u s é o

co r aç ão da Car t a ao s Rom anos . Tu do g i r a em to rno de l a . O e xpo s ito r

b íb lico W i ll iam Barc lay , per i to em greg o neo tes tam entár io , captou m uito

bem o sent ido d esse texto no or ig ina l . A qu i o quad ro p intado p or Pau lo

m ost r a a g r ande p or ta que a ju s ti fi c ação pe la fé nos abr iu . Q uando essa

p o r ta s e ab re e e n tr am o s p o r ela , e n c o n t r am o - n o s c o m a g r a ç a . Não

c o m o ju lg am e n t o , r e c rim in aç ão o u c o n d e n aç ão , m as c o m a g l o r io s a

g r aç a de D eus .4 N os ú l tim os anos t em hav ido u m ve rdade i ro de spe r t a r

44  | M aravilhosa  G raça 

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 A Graça  e o Problema  da  C ulpa   | 45

da g r aç a . Mas é p r e c i so o lha r com cu idado pa r a e s s e de spe r t amen to .

N em tudo que se pas s a po r g r aç a t em r e a lm en te g raç a . N a ve rdade , há

u m a g r a ç a s e n d o p r e g ad a e e n s in ad a p o r a í q u e n ão te m g r a ç a a l gu m a !

 A g ra ç a q u e ju s tif ic a o p ecad o em v ez do p ecad o r , o b se rv o u D ie tr ich

B o n h o e f f e r, é u m a g r a ç a b a r a t a . 5 A g r a ç a d e D e u s é ju s t i fi c ad o r a e

p e r d o ad o r a , m as t am b é m é r es p o n s ab i liz ad o r a .

"... e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (5.2). O s com entar is t as

Sand ay e H eadlam destacam que “é a g lór ia da presença d iv ina (  Shekinah  )

que é com unicada aos hom ens (parc ialmen te aqui , m as) em plena med ida,

quando e le en t r a r po r com p leto na sua p r e sença ; en tão o hom em po r

inte iro será transf igurado po r Ele” .6 O apó sto lo v ia aqu i , com o d estacou

o expo sitor bíbl ico Frédér ic L. G ode t , o e levado sent im ento de segu rança

pe la a legr ia an tec ipad a do n osso t r iunfo .7 E ssa esperan ça , por tanto , tem

um a d im ensão e sca to lóg ica . O s c ren tes se r egoz i j am pe la e sperança de

um fu tu ro que , em bora a inda não d e s fru t ado em toda a sua p l en itude

aqu i , m as que j á e st á cons t ru ído p or Deus .

"... nos gloriamos nas tribulações” (5.3).  A i m a g e m q u e te m o s q u a n d olem os essas pa lavras de Pau lo nos dá a im pressão de que e le parece sub ir

degraus com seu argumento . Pr im e i ram ente e le fa la da g raça com o um a

gran de p or ta abe r ta que no s con duz até a presen ça da m ajes tade d iv ina .8

 A n o ssa cam in h ad a até lá é um an d ar m o v id o p e la esp eran ça . M as n esse

cam inho ex is tem pedras ! En frentam os lu tas , angú st ias , t r ibu lações . M as

não é m ot ivo p ara desânim o, po is isso é par te natura l desse cam inhar . O

sofr im ento o u tr ibu lações são usado s por D eus para m oldar nossa v ida .O  Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento  des taca que

o te rm o tblipsesin,  t r aduz ido aqu i com o “ t ribu lação” , quer d ize r pressão?  

N ada d i s so se rve de mo t ivo para o desân im o, nem m esm o as pressões,

porque e l as con duzem à pe r seve rança .

"... a tribulação produza paciência” (5.3). A t r ibu lação pro du z a paciência.

“N un ca poder í am os d esenvo lve r ‘pac iênc ia ’ se nossas v idas e s t ivessem

isentas de pro b lem as” , des taca W i ll iam M cd on a ld .10

“... e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança” (5.4).  P au lo

chega ago ra ao e s tág io em que o c r is tão , p rovado pe la forna lha da v ida ,

c r e sc e u e m m a t u rid ad e . A g o r a e le t e m e x p e r i ê n c ia n e s s a c am in h ad a .

Essa exper i ênc ia lhe dá a ce r teza de que a sua jo rnada é a l i c e rçada na

esperança da v ida do Re ino. N ão é um a esperança que o lha o vaz io , mas

um a esperan ça e sca to lóg ica , e t e rna , que se p len i fi c a em D eus.

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46 | M aravilhosa  G raça  

omanos 5.5-11

E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em 

nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado. Porque Cristo, estando nós 

ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá  por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus 

 prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda 

 pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos 

 por ele salvos da ira. Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com  

Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos 

salvos pela sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus 

 por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.

Ninguém nunca Fez isso!

 A nossa esperança, observa o apósto lo Paulo , não pode ser confund ida

porque s e fundamen ta na c e r t e z a . A c e r t e z a que vem com o amor de

D eus que é de r ram ado em nosso coração pe lo E sp ír ito Santo . Passamos

e n t ão a e x p e r im e n t a r o g r an d e am o r d e D e u s q u e o le v o u j u s t if ic a r

 ím p io s pecado res . O teó lo go su íço K ar l B a r th ass im se exp resso u sobreessa passagem : “G lor i am o-nos , po is , na e speran ça , porqu e e l a não e s tá

fundam entada em ação de nosso e sp ír ito de c r ia tu ras , m as no E sp ír ito

San t o q u e n o s fo i o u t o r g ad o , m e d i an t e o d e rr am am e n t o d o am o r de

Deus em nossos corações . O Espír i to Santo é a obra de Deus , na fé ; é

o poder c r i ador e r edentor do Re ino de Deus que e s t á próx imo e que ,

pe l a f é, tange o m und o dos hom ens e o f az r e s soa r com o o c r is t a l à s

 v ib raçõ es do d iapasão . O E sp ír it o San to é o e te rn o ‘S im ’ da fé que, v is ta

do lado hum ano , apenas pode s e r de sc r it a como negação e vácuo ; ele

é o m i lagre in ic ia l e c r ia t ivo desta fé . O E spír ito San to é igu al a D eus e

po r e le D eus t r ibu ta jus t iça ao que crer” .11

“Mas Deus prova o seu amorpara conosco em que Cristo morreu p or nós, sendo 

nós ainda pe cador es” (5.8).  M a r tin h o L u t e ro (1 4 8 3 - 1 5 4 6 ) , r e fo r m a d o r

a lemão , co locou em des taque o amor de Deus pe los pecadores quando

resum iu o cap í tu lo 5 em seu prefác io d a Car ta aos Rom anos . “N o quinto

capítulo, e le fala dos frutos e das obras da fé , quais se jam: paz, a legr ia ,

am or a D eus e a todos , a lém de seguran ça , conf iança , ân imo e esperança

em tr isteza e sofr ime nto. Pois , on de a fé for verd ade ira, tudo isso resulta

do bem supe r abundan te que Deus nos demons t r a em Cr i s to : de t ê - lo

feito m orre r por nós an tes m esm o de lho p od erm os ped i r quando a inda

éramo s in imigos . Tem os, por tanto , que a fé jus t if ica sem quaisquer o bras

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 A Graça  e o Problema  da  Culpa   | 47

e, m esm o ass im , não sucede daí que não se dever ia fazer bo a obra , e s im ,

que as obras justas não f icam a usen tes ; destas , po rém , os santos por nada

saberem [19] inven tam pa ra si m esm os obras própr i as , que não con têm

nem paz , nem a le g r ia , nem segu r ança , nem amor , nem e spe rança , nem

po rf ia , tam po uco qu alquer t ipo de ob ra e fé c r is tã d i re ta” .12

  omanos 5.12-21

Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a 

morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos 

 pecaram. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é 

imputado não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o 

qual é a figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como  

a ofensa; porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a graça  

de Deus e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou 

sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou; 

 porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o 

dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se, pela ofensa 

de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da 

graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim 

como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação,  

assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para 

justificação de vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos 

foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos. 

 Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, 

superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, também 

a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor.

 A Culpa não Foi só de Adão

“Pelo que, como p o r um homem entrou 0  pecado no mundo, e pelo pecado, a  

morte, assim tamhém a morte passou a todos os homens, p or isso que todos pecaram”  

(5.12).  Es t amos d i an t e de um dos t ex to s que c en t r a i s na dou t r ina da

jus t i f i c ação pe la fé . Todav ia , um dos mai s cont rover t idos dessa car t a .

C o m o o u t r a s p a s s a g e n s d e R o m a n o s , e s s a E s c r i t u r a e s t á s u j e i t a a

c a lo r o s o s d e b a t e s. H á p e lo m e n o s u m a m e ia d ú z i a d e in t e rp r e t a ç õ e s

sobre e s sa po rção da E sc r itu ra ; todav ia , o debate em torno d esse tex to

não é novo . E m par t e , e s se deb a t e tem s ido m ot ivado pe l a d i spu t a em

t o r n o d a e x p r e s s ão g r e g a eph’hoipantes hemarton , que aparece no f ina l

do ve r s í cu lo 12 do cap í tu lo 5 de R om an os .13

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C om o é de se esperar, as versões b íblicas não são unânim es na tradução

dessa passagem. P orém, as cont rovérs ia s com eçaram qu ando A gos t inho

(354-430 d .C . ), b ispo d e H ipona , que não era versado em gre go b íb l ico ,

seguiu a versão lat ina “in quo”, t raduz indo e rradam ente a prepos ição grega

epb’hoi  (porque) co m o sentido de “em quem”.u  A sentença grega “porquanto

to d o s p ec a r a m ” , o u “ p o r que to d o s p ec a r a m ” , n o t e x to d e A g o s t in h o

ganhou o sen t ido apenas de “em quem todos pe caram ”. 15 Iss o sig n ifica que

todos os hom ens es tão ligados sem inalm ente ao seu antepassado A dão .16

E ssa c rença do b ispo de H ipona cond uz iu-o a acred i ta r que “os hom ens

es t avam macu l ados pe lo pecado o r i g in a l , que l h es fo i t r an smi t i do de

ge raçã o em g e ração , e que po r i sso n ão m erec i am s e r s a lvo s” . 17 E s se

fato , s egund o A gos t inh o , levo u D eus a a rb i tra r a s a lvação p ara a lguns e

a con den ação para ou t ros .18

N a teo log ia do b ispo de H ipona, a faculdade hu m ana do l ivre-arb ít r io

tam bém fo i afetada . Ele não neg ou q ue o ho m em possuísse l ivre-arb ít r io

depois da Q ueda. Pelo contrár io , a té m esm o achou qu e se t ratava de um

bem necessár io . Tod avia , por causa do pecad o or ig ina l, e le acred i tava queo hom em ficou incap acitado de escolher aqui lo que é bom . Ne sse aspecto,

o m a l m ora l dev i a -se ao l iv re -arb ít rio hum ano . A gos t inho con f irm a sua

concep ção rad ica l do cativeiro do l ivre-arb ít r io q uand o escreve : “Q uando

o h om em peco u p or seu própr io l ivre-arb ít rio , nesse caso, tendo o pecado

sido vitorioso sobre ele, a l iberd ad e da sua vo ntad e foi perd ida” .19 E m ou tra

obra , o Livre-Arbítrio,  Agos t inho , escreveu : “Mas quanto a es se mesmo

l ivre-arb í tr io , o qua l es tam os co nven cidos de ter o po de r de n os levar a

pecar, pergu nto-m e se aquele que nos cr iou fez bem de no -lo ter dado. N a

 verdad e, p arece-m e que não pecaríam os se estiv éssem os privados d e le” .20

 A a r g u m e n t a ç ã o d e A g o s t in h o , c o m o fo i d e m o n s tr a d o , f ic o u

com prom et ida quan do se sabe que a exegese fe it a po r e le par t iu de um a

tr a d uçã o equ iv o ca d a d o t e x t o d e R o m a n o s . 21 O ex p o s i to r G iu s ep p e

Barbag lio co m en t a que “ a ve rs ão da V u lga ta — ‘no q ua l (Adão ) todos

p eca r a m ’ — n a qua l , p o r e x em p lo , S. A g o s t in h o s e a p o i o u , a d uz in d o

um a prova fác il dem ais da d ou tr ina do p ecado or ig ina l , deve ser exc lu ída ,

po rque é errad a”.22 Po r sua vez , o teólog o M illard J . E rickson d estaca que

 A g o stin h o en ten d ia que “a o ração fin al, no ve rs ícu lo 12, no sen tid o de

que nós es távam os rea lm ente “em A dã o” e , por t an to , o pecado de Adão

tamb ém era nosso . M as com o sua in terpretação b aseou-se num a t radução

inadeq uada , p rec is am os ana lis a r m e lho r a o ração g r am at ic a l. D evem os

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 A Graça  e o Problema  da  C ulpa   | 49

perg un tar o que s ign i f ica “tod os os ho m ens p ecara m ” .23 N ão s ign i f ica ,

ev identem ente , a cond enação de uns pa ra o céu e ou t ros pa ra o in fe rno ,

nem tam pou co a sup ressão do l iv re -arb ít r io hum ano . E r ickson d es taca ,

p o r e x em p lo , q u e o S e n h o r J e s u s n ã o c o n s id e r o u c o m o c o n d e n a d o s

aque le s que a inda não t inham at ing ido a idade da capac idade m ora l. “H á

 vár io s in d icad o res nas E scritu ras de que as pessoas n ão são m o ra lm en te

respon sáve is an te s de ce r to po nto , o que às vezes cham am os de ‘idade

da resp on sab i lidad e ’ (M t 18.3 ; 19 .14 ; 2 Sm 12.23; Is 7 .15 ; Jn 4 .11)” .24 E

conc lu i que f ica “o fato ev idente de que , antes de determ inado m om ento

n a v id a , n ão e x i s te r e s p o n s ab i li d ad e m o r a l , p o is n ão h á c o n s c iê n c i a

do c e r to e do e r r ad o ” .25 A go s t inh o , po r t an to , c r iou u m co nce i to de

depr avação no p ecado que va i m u i to a l ém daque l e que é mo s tr ado na

E s c r it u r a . U m a e x e g e s e m a is f ie l ao te x t o c o n f i r m a a c o r r u p ç ão d o

pecado e a consequen t e na tu r eza pecam inosa hum ana ; todav i a, n ão da

form a ex t rem ada com o ens inou Ago s t inh o .26

U m a com preensão adequada do t ex to de Rom anos 5 . 12 nos conduz

a j u n t a r u n i d a d e - u n i v e r s a l i d a d e . G i u s e p p e B a r b a g l i o c o m e n t a c o mm ui ta p r e c is ão q ue “não se tr a ta , po r ém , de um e squem a m ecân ico : a

so l idar iedade que es tá na base não tem mão única ; não envolve , fata l e

necessar i amente , todos os homens na e s fe ra de ação de um só . Pau lo ,

de f a to , s e d i s soc i a da concepção t í p i c a do mi to gnós t i co , que v i a a

human idade como uma mas sa de v í t imas inconsc i en t e s de um t r ág i co

even to o r i g iná r io . E le in t roduz no e squ em a um dec is ivo e lem en to de

l ibe rdade e de r e sponsab i l idade , a f i rmando que o in f luxo de um sobre

todos é cond ic ionado pe la adesão des te s . Por tan to , o des t ino humano

é requer ido , esco lh ido . N o vers ícu lo 12, de fato , à causa l idade de A dão

e le a c r e s c e n t a a d e c is ão n e g ad v a d e t o d o s o s h o m e n s : ‘p o r c au s a d e

u m só h o m e m o p e c ad o e n tr o u n o m u n d o ... porque todos pecaram. A 

hu m anidad e se fez so l idar i a com seu cabeça ao pecar . O apó s to lo não

está m ui to d is tante de um s ign if icat ivo texto judaico , que c heg a a d izer :

‘ Se o p r im e iro A dão , pecou e t rouxe a m or t e pa r a todos o s que a inda

não ex i s tiam , todos o s que de l e nasc e r am, todav i a , p r epa r a r am par a a

pró pr ia a lm a os sup l íc ios futuro s ; cada um esco lheu as g lór ias futuras ...

Po rque A dão não fo i a c au sa ún i c a , soz inho ; em r e laç ão a nós todos ,

cada um é , para s i m esmo, Adão. M as , d i ferentem ente d a teo log ia judaica ,

e le acen tua um fator subje tivo , a t r ibu indo à le i d iv ina um pa pe l at ivo n a

p ro liferaçã o do s pe ca d o s’ (cf. v. 2 0 )” .27

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 A id e ia de u m a cu lp a ap en as co m p u lsó r ia , que n ão lev a em co n ta as

l iberda des hum anas, com o cr ia A gost inho , deve ser re je itada. O exp ositor

 A d o lf P o h l co n f irm a e sse en ten d im en to q uan do d iz : “A am p litud e do

po der do pecado e da m orte som a-se sua profundidade. N ossa escravização

também é nu t r ida pelo próprio pecado cometido em atos:  porque todos pecaram

(Rrn 2 .12 ; 3 .23). Em ú l t im a aná l ise , a m isé r ia da hum an idade co ns i s te

em sua cu lpa . Sem es te adendo de fundam entação , nossas cond ições de

 v id a ser ia m en ten d id as com o um a fa ta lid ad e co m pu lsó r ia . P o rém , trata-

se de h i s tór ia pessoa l , na qua l as con d ições j am ais se rvem de descu lpa

par a o p rópr io f rac as so (Rm 1 .21 ). Tam bém fo r a do Par a íso con t inua

em v igor que : ‘a ti cum pre dom iná-lo (o pecad o) ! ’ (Gn 4 .7 ). A ind a que

não tenham os de nos r e spo nsab i l izar pe lo fa to de e s tarm os no m undo ,

tem os de fazê- lo em re lação aos no ssos peca dos d e fato” .28

Em um a be la e lon ga expo s ição sobre o pecado, a cu lpa e a l iberdade

d e e s c o l h a , o e x p o s i to r M i ll a rd J. E r ic k s o n , c o n c lu i : “ E m R o m an o s

5 , o p a r a l e l i s mo q u e P au l o t r a ç a e n t r e A d ão e C r i s t o e m t e r mo s d o

r e la c io n a m e n t o d e le s c o n o s co é im p r e s s io n a n t e . U m a d e c la r a ç ãosem e lhante é v i s t a em 1 C or ín t ios 15 .22 : ‘Po i s , as s im com o em A dão

t o d o s m o r r e m , d o m e s m o m o d o e m C r is to t o d o s s e rão v iv i f ic ad o s ’ .

E le a f irm a que , de form a para l e la , o que os do is f i ze ram tem in f luên c ia

sobre nós ( ass im com o o pecad o de A dão l eva à m or te , o a to de ju s ti ç a

d e C r is to c o n d u z à v id a ) . Q u e p a r a l e lo é e ss e ? S e a c o n d e n aç ão e a

c u lp a d e A d ão n o s s ão a t rib u í d a s s e m q u e t e n h am o s a l g u m a e s c o lh a

con sc iente do ato que e le prat icou , a m esm a lóg ica será necessar iam ente v á lid a p a ra a a tr ib u iç ão d a ju s tiç a de C r is to e de su a o b ra de red en ção .

M as s e rá q u e s u a m o r t e n o s j u s tif ic a s i m p l e sm e n t e p o r c au s a d e s u a

identif ic ação com a hum an idade por m e io da encarnação , sem dep ender

da ac e i taç ão pe s soa l e con sc ien t e de sua ob r a? E s e rá que a g r aç a de

Cr i s to é a t r ibu ída a todos o s s e r e s humanos a s s im com o pecado de

 A d ão é ig u a lm e n te a t r ib u íd o a to d o s ? A re sp o s ta m a is co m u m d o s

evangél icos é negat iva; há m uitos indíc ios da existência de duas categor ias

d e p e s s o a s : as p e r d i d a s e as s a lv a s , e d e q u e s o m e n t e a d e c i s ão d e

ace i t a r a obra de C r is to pod e torn á- l a e f ic az em no ssa v ida [...] todos

nós pa r t i c ipamos do pecado de Adão e , po r t an to , r e c ebemos t an to a

s u a n a t u r e z a c o r r u p t a ap ó s a Qu e d a q u an t o a c u l p a e a c o n d e n aç ão

 v in cu lad a s a seu p ecado . N o en tan to , na q u estão d a cu lp a , a ss im co m o

na atr ibu ição da just iça de C r isto, é prec iso haver um a decisão vo luntár ia

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e consc ien te de nossa par te . Enquanto i s so não ocor re , ex i s t e apenas

u m a a t rib u i ç ã o c o n d i c io n a l de c u lp a . P o r ta n t o , n ã o h á c o n d e n a ç ã o

antes da idade d a r e spo nsa b i l ida de ” .29

Evitando os Extremos

Q uando s e a f irm a que o hom em é m ora lm en te re sponsáve l po r suas

esco lhas , tend o l ivre-arb ítr io , não d evem os inc o rrer no erro p elagiano .30

Pe lág io d eu ênfase exage rada à respon sabi lidade m oral e seus resu l tados ,

to rnando a s an tid ade um m ero subprodu to do e s fo r ço humano . P a rt e

desse en tend im ento pe lag iano or ig inou -se da sua r evo lt a quando l eu asConfissões de Agostinho  e as acho u fata l is ta e derrot is ta . Ag ost inh o es tava

em um ext rem o e Pe lág io fo i para o ex t rem o opos to . O e r ro de Pe lág io ,

c o m o b e m o b s e r v o u D av id P aw s o n , f o i d e s e n v o lv e r u m a p e r sp e c tiv a

dem asiadam ente e levada da força de von tade humana. D essa form a, todos

pod em tom ar a decisão de fazer o bem e ser justos, independ entem ente do

concurso d a graça . A o assum ir essa pos ição , Pe lág io n ego u a doutr ina do

pecado o r ig ina l (herdado) de Ago s tinho . N ão hav ia , por tan to , nenh um ac o r r u p ç ão h e r d ad a n e m n e n h u m a in c l in a ç ão p a r a o ma l. C r ia q u e as

pessoas e r am ine rentem ente boas. Com o e le nego u a queda , não hav ia ,

po r tanto , necess idade d e expiação ou regen eração .31

Lem bro -m e de um a h i stó r ia que li h á a lgum t em po , que s e rve pa r a

i lu s t r ar o que e s t á expo s to em R om anos 5 .12 e que e st á sendo af irm ado

aqu i. Co nta-se que um v e lho l enh ado r t raba lhava em um a fazenda . Seu

t r aba lho e r a rach a r to r a s de m ad e i ra pa r a u so da f azend a . C e r to d i a,

enquanto passeava pe la fazenda, o propr ie tário escutou o ve lho lenhado r

se las t im ar da sor te . Ele d iz ia : “A dão , A dão , vo cê m e pa ga ” . V endo as

l amúr ias do ve lho l enhador , o fazende i ro se aprox imou e pe rguntou a

razão qu e o es tava levand o a se lam entar . Ele então d isse ao patrão que

 A d ão e ra o re sp o n sáv e l p o r aq u e la situação , po is , se n ão tivesse pecado ,

e le não e s t ar ia a li. Im ed ia tam ente o fazende i ro m and ou-o aban don ar o

seu m acha do e se d i r ig i r para a casa na fazenda.

C hegan do a li, o fazende iro d i s se : “A pa r t ir desse m om ento você não

precisará m ais rachar lenha. V ocê terá novas atr ibuições. Seu trabalho agora

é f icar na varan da d a casa fazendo o serv iço de v ig i lânc ia com o d i re ito

de beb er lim onad a na h ora que q u iser!” O v e lho lenha do r fo i às lágr im as .

Q uando a inda se re faz ia de suas em oções , o fazende iro con c lu iu : “Mas o

senhor não pod e ab r ir aque la ca ixa fechada que e s t á em c im a do p e itor il

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da casa” . O ve lho lenhado r balançou a cabeça af i rm at ivam ente . Pensando

com seus botões , e le achou suas novas a t r ibu ições um presen te de D eus .

O s d ia s p a s s a r a m e o v e l h o l e n h a d o r s e r e g o z i ja v a d e s u a n o v a

s i tuação . Não es tava mai s t r aba lhando de so l a so l , mas na sombra da

casa da fazenda . Passaram-se duas semanas e e l e cont inuava f i rme em

seu pro pó s i to de o bed ecer ao seu patrão e não tocar na ca ixa secre ta que

estava no pe i tor i l da casa . N a terce ira sem ana, ve io- lhe a cur ios idad e de

saber o que es tava den tro daq ue la ca ixa . Po r que e le não p od er ia tocá-la?

Reso lveu en tão tocar l evem ente na ca ixa . Fo i o su f i c ien te para o bse rvar

por um a abe r tu r a que hav ia a lgo den t ro da c a ixa — um pequeno pedaço

de pape l . To dos os seus ins t intos v ibraram ! O q ue po de r ia es tar escr ito

ne le? P assou , então a rac ion al izar : Por que ele não poderia abrir a caixa e ler  

o papel? O que havia de mal nisso ?  Pon de rou .

N a qua rta sem ana, o velho lenhado r não resistiu à tentação e abriu a caixa!

Q uando re tirou o p equeno pape l , o seu conteúdo d iz ia : “V e lho lenhador ,

a culpa não foi só de Ad ão. V olte já pa ra o cam po p ara rach ar lenh a” .32

Sim , a culpa não foi só de Adão. Ro m anos 5.12 tem um sentido solidário,e m q u e t o d o s n ó s p a r t ic ip am o s d a c u l p a d e A d ão , p o r q u e t o d o s n ó s

e st ávam os no lom bo de Adão . Todos nós t am bém som os r esponsáve is

ind iv idua lm en te po r nos sos pecado s e pe l a s e s co lhas qu e f azem os . O

expo s itor b íb l ico Jose ph A . F i t zm yer sub l inha e sse fa to q uand o af i rm a :

“N o versículo 12, Paulo atr ibui a m orte a duas causas, relacionad as en tre si:

a A dão e a todos os pecadores hu m ano s” .33 C om entando R om anos 5 .12 ,

o expo sitor J . D. G. D un n escreveu: “O que P aulo parece q uerer dizer é oseguinte: 1) Tod a hum anidade com parti lha um a servidão com um ao pecado

e à m or te . N ão se tr a ta apenas da carn a l idade n atura l, um a m or ta lidade

c r iad a . O p e c ad o e s t á l ig ad o c o m i s so , u m a n ão c o r r e s p o n d ê n c i a ao

m e lhor in t enc ionado po r D eus. A m or t e é o re su lt ado de um a rup tu r a

na cr iação . 2) H á dois lados nesse es tado de co isas , envo lvendo tanto o

pecado com o um dado do te c ido soc ia l d a soc iedade e o pecado com o

um a ação im pu táve l de respon sabi l idad e ind iv idua l” .34

 A lg uns intérpretes insis tem na sua fid elidade à in terpretação agostin iana,

não ace i tando o fa to de que o ho m em é um se r m ora lm ente liv re e que

pode s im decidir-se pelo bem ou pelo m al. A m eu ver , há mu ita t inta gasta,

sem sucesso , na t en ta tiva de provar , a pa r t ir de Ro m ano s 5 .12 ( som ados

com ou t ro s t ex to s b íb l ico s ) , que a c r ença na so l id a r i edade da r aç a na

q u e d a de A d ão j o g o u o h o m e m n u m a to t a l d e p r av ação p e c am in o s a a

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 A Graça  e o Problema  da  Culpa   | 53

ponto de exc luir a sua cap acidad e d a livre-escolha. P ara esses intérpretes ,

o hom em “m or to no pecad o” não p os su i nenhum tipo de s ensib i lid ade

esp ir itua l. A a f irm ação de R ob er t D. C u lve r , po r exem plo , no sen t ido

de que “as Esc r i tu r a s en s inam a au sênc i a completa de vida espiritual  nos

hom ens de caído s” , apenas p erpe tua o er ro ago st in iano .35 A tentat iva de

usar Efés ios 2 .1 com o texto prova, com o argum ento de que esse hom em

está m orto e não pode escolher nada, re flete m ais um a crença na t rad ição

teo lóg ica agos t in i ana do que o en tend im ento b íb li co desse t ex to . Esse

entend imento equ ivocado tem fe i to com que wes leyanos e a rmin ianos

s ejam ac u s ad o s p o r C u lv e r d e te n d e r e m a “ m in i m iz a r a in c ap ac i d ad e

to ta l dos i r r egenerados nas ques tões e sp i r i tua i s , r e l ac ionadas a Deus ,

para tan to m in im izando a força da linguag em b íb l ic a sobre e l a, d izendo

por exem plo que ‘m ortos em [...] t ransgressõ es e pecad os [E f 2 .1 ; c f. c l

2 .13 ] é apenas um a f igura de lingua gem ’ . O h om em , d izem e le s, ‘a inda

tem l ivre-arb í tr io ’ . M as P au lo não es tá usand o um a f igura” .36

O argum ento de C ulver é ma is dogm ático do q ue ortodoxo, e não reflete

o pensam ento b íb lico . E imp oss íve l não enx ergar um sent ido m etafór icona pa lav r a “m or to” quando obse rvam os que P au lo u sou de s se t ipo de

recurso l ingu ístico em outro s textos de suas cartas. “Lev anta-te de entre os

m ortos” (E f 5 .14) ; “ve jam -se com o m ortos para o pecado” (Rm 6.11) ; “o

qua l dá v ida aos m or tos” (Rm 4 .17); “ sem lei es tá m or to o pecado ” (Rm

7.8) ; “nós m orrem os para o pecado” (Rm 6.2); “ já mo rremo s com Cr isto”

(Rm 6.8); “vós estais m ortos p ara a lei” (Rm 7.4). Em todas essas passagens,

o apóstolo atr ibuiu um sent ido f igurado a palavra “m orto ”; então po r que

som ente em E fés ios 2 .1 e le lhe dar ia um sent ido l ite ra l? Parece-m e um a

apor ia d i f íc i l de ser superada. “M orto para o p ecado ”, por tanto , car rega

um a carga m etafór ica . E m palavras m ais s imples, a do utr ina da natureza

corro m pida é b íb l ica , m as af irm ar que e la de ixou os hom ens tota lm ente

imp oss ib i lit ados de e sco lhe rem o bem ou o m al não é .

 A d e p r a v a ç ã o n o p e c a d o e n s in a d a p e la s E s c r itu r a s a f ir m a su a

d im e n s ã o c o r p o r a t iv a , se m , c o n t u d o , n e g a r s u a d im e n s ã o m o r a l

e p e s s o a l . P o r t a n t o , a a f ir m a ç ã o d e C u lv e r de q u e o h o m e m n ã o

r egen e r ado é to t a lm en te i n sens í ve l pa r a a r e a li d ade e sp i r it u a l s e a ju s t a

ma i s ao p e n s ame n t o d e A g o s t i n h o d o q u e ao p e n s ame n t o d e P au l o .

N es se a spec to é p r e c iso d e s t ac a r que a exp r e s s ão “m or to e sp i ri tu a l ”

deve s e r en t end ida com o “ separ ado de D eus” , e não “ in sen s í ve l pa r a

a s r e a l i d ad e s e s p i r i t u a i s ” . O h o me m, me s mo s e p a r ad o d e De u s , n ão

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d e i x o u d e p o s s u i r a c a p a c i d a d e d e e s c o l h e r o b e m o u o m a l . P e l o

cont rár io , e l e pode s im ace i t a r ou r e s i s t i r a g r aça que lhe é o fe rec ida .

 A g ra ç a , p o r tan to , n ão é fa ta lis ta n em tam p o u co ir r e s is t ív e l. U m d o s

pr inc íp ios bás i cos da f i losof i a do d i r e i to é que onde não houver l i v re

e s c o lh a n ão h á tam b é m r e s p o n s ab i lid ad e m o r a l.

O segundo Adão

“Pois assim como p o r uma só ofensa veio o jut^o sobre todos os homens pa ra  

condenação, assim também por um só ato dejustiça veio a graça sobre todos os homens  

 para a ju stificaçã o de vida” (5.18).  O p r i me i r o A d ão c o l o c o u a r a ç a n a s

som bras do pecado . O quad ro r ea lm ente e r a desesperador . U m pecou ,

l o g o t o d o s p e c a r am ! U m d e s o b e d e c e u , l o g o s t o d o s d e s o b e d e c e r am .

Paulo não expl ica com o isso aconteceu , m as onde acon teceu — na queda

do p r ime i ro hom em . P as sam os a c a r r ega r conosco a na tu r eza adâm ica ,

todav ia sem de ixarm os de se r r e sponsáve i s pe los nossos a tos. A queda

depravo u a raça, m as n ão lhe t irou o l ivre-arbítr io. N ão há respon sabilidade

m oral sem l ivre esco lha .

O após to lo ago r a m os t ra r á que po r in t e rm éd io de um hom em , J e su s

C r i st o , o s e g u n d o A d ão , v e i o a g r a ç a s o b r e to d o s o s h o m e n s ! A d ão

d e r r u b o u o h o m e m . P o r o u tr o lad o , J e s u s v e i o le v an t a r e ss e h o m e m

caído: “Veio a gra ça sobre todos os hom ens” (5.18). E a vo ntade de D eus

sa lvar a todos (1 Tm 2.4). Stan ley Clark fez o segu inte para le lo entre o

p r im e iro e o s egundo A dão : o pecado en t rou por Adão , a v ida en t rou

po r Cr is to ; a m or te r e inou desde Ad ão a té M oisés , a v ida r e ina m ed ian te

 Je su s C risto ; a o fen sa de u m a lcan ço u a todos, a ju stiç a de u m a lcan ço u

a todos ; pe l a desobed iênc ia de um todos foram fe i tos pecadores , pe l a

ob ediênc ia de um m uitos serão con st itu ídos jus tos” .37

 A E le to da h o n ra e to d a g ló ria .

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1 CLARK, Stanley. R omanos  — Comentário Bíblico Mundo Hispano.  El Paso, Texas: 

Editorial Mundo Hispano, 2006.

2 “Bruce M. Metzger destaca em seu aparato crítico,  que representa o texto crítico  dos 

manuscritos mais aceitos, que “ainda que o subjuntivo exômen  conte com mais 

respaldo externo do que o indicativo exomen,  a maioria do Comitê julgou que, neste 

caso, a evidência interna deve ter precedência. Com esta passagem, Paulo parece não  

estar exortando, senão afirmando fatos concretos (a “paz” é possessão dos que já

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foram justificados), somente o indicativo co n co rd a«m o argumento do apóstolo. Posto que na época helenística praticamente não havia nenhuma diferença entre a 

 pronúncia do 0 e 0,  é possível que Paulo tenha ditado exomen e seu amanuense Tércio 

(16.22) haja escrito exómeri'   (METZGER, Bruce M. U n Comentário T extua l a lNuevo 

Testamento Griego.  Sociedade Bíblicas Unidas). Por outro lado, o term o “temos” em 

 vez de “tenhamos” aparece nos manuscritos do texto receptus.  Em muitos casos, 

como demonstrou G ilbert Pickering, doutor em linguística e PhD em manuscritos 

gregos, o texto receptus é preferível ao texto crítico  adotado acima por Metzger. Veja,  por exemplo, a redação de Lucas 4.44, onde o texto crítico  traz “sinagogas da Judeia” 

enquanto o texto receptus  traz “sinagogas da Galileia”. Evidentemente que há uma 

imprecisão na redação do texto crítico  aqui, já que Jesus foi pregar nas sinagogas da 

Galileia, e não da Judeia, como demonstra o texto receptus.  A nossa tradução (ARA), mesmo baseando-se no texto crítico,  preferiu seguir neste ponto o texto receptus.  (Veja a crítica mordaz que faz Gilbert Pickering ao texto crítico  na sua obra: Q u a l é 0 Texto

 

Original do Novo Testamento?).

3 MURRAY, Andrew.  Kom anos — Comentário Bíblico Fiel.  São José dos Campos, São 

Paulo: Editora FIEL, 2003.

4 BARCLAY, William.  Kom anos  — Comentário A l Nuevo Testamento Griego.  17 tomos. 

Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.5BONHOEFFER, Dietrich.  Discipulado.  Rio Grande do Sul: Editora Sinodal.

6 SANDAY, William & HEADLAM, Arthu r C. The International Critical Commentary 

on the Holy Scripture: A C ritical and Ex egetical Commentary on the Ep istle to the Komans. 

Edimburgo: T & T Clark: 1962.

7GODET, Frederic L. Commentary o f S t P a u l’ s Epistle of the Romans.  Nova York: 

Funk & Wagnalls, 1883.

8 Sanday e Headlam destacam que o quadro é o de um súdito entrando na presença  real. SANDAY, William & HEADLAM, Arthur C. The International Critical Commentary

 

on the H o f Scripture: A C ritical and Exeg etical Commentary on the Ep istle to the Komans. 

Edimburgo: T & T Clark, 1962.

9 COENEN, Lothar & BROWN, Colin.  Dicionário Internacional de Teologia do Antigo  

Testamento.  São Paulo: Edições Vida Nova.

10 M CDO NAL D, William.  Rom anos   — Comentário B íblico de W illiam M cDo nald. 

Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.

11BARTH, Karl. Carta aos Romanos.  São Paulo: Fonte Editorial, 2009.

12 LUTERO, Martinho. “Prefácio à Epístola de S. Paulo aos Romanos, 1546”. In: 

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas,  volume 8. Porto Alegre: Editora Sinodal, 

2003, p. 130.

13 The Greek New Testament.  United Bible Societies, 1994.

14 JE R Ô N IM O , São.  B íb lia Sacr a V u lg ata .  Stuttgart, Alemanha: Deutsche  

Bibelgesellchaft, 1983.

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15  O teólogo Augustus Nicodemus destaca que “Agostinho, apesar da influência 

 platônica que sofreu, foi um mestre da exegese bíblica. E verdade que não conhecia 

nem o grego nem o hebraico, mas uma coisa o destaca: seu desejo de interpretar a 

Palavra em seu sentido óbvio, simples e evidente, mesmo que isso trouxesse algumas 

dificuldades” (NICODEMUS, Augustus.  A B íb lia e seus Intérpretes  — Uma Breve 

 H istória da Interpretação.  São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013, p. 147).

16 Salmos 51.5 também era usado por Agostinho para validar seu argumento do 

 pecado hereditário. O teólogo Oswald Bayer comenta: “Desde Agostinho, o texto 

do salmo e o termo ‘pecado hereditário’ associaram-se, na história da teologia e da  

 piedade, com concepções biologistas, que situam a transmissão do pecado hereditário 

exclusivamente no ato reprodutivo” (OSWALD, Bayer.  A Teologia de M ortinho Tutero. 

Editora Sinodal, 2007).

17  Champlin, Russel N. Enáckp éãa de Bíblia, Teologia e Filosofia.  São Paulo: Editora Candeia.

18 Essa concepção agostiniana passou a ser conhecida como predestinacionismo,  que 

quer dizer, Deus determina para o bem e para o mal as liberdades (GROSSI, V. in  

 Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs.  Editora Vozes / Paulus, 2002).

19 AGOSTINHO. The Enchiridion: O n Faith, H ope and hove.  Grand Rapids, Michigan: 

Baker Books, 1980. O escritor R. C. Sproul, um defensor da teologia agostiniana, tenta  

reinterpretar, a meu ver sem sucesso, essa afirmação do bispo de Hipona alegando 

que ele não quis dizer o que disse (SPROUL, R. C.  Sola Gratia  —  A Controvérsia sobre 

o Uvre-Arbítrio ao Longo da História da Igreja.  Editora Cultura Cristã, 2012).

20 AGOSTINHO. O  Livre-Arbítrio.   São Paulo: Editora Paulus, 1997. Norman Geisler 

acredita que as controvérsias que Agostinho teve com Pelágio o levaram a radicalizar 

sua compreensão do livre-arbítrio, confirmando teoricamente sua existência, todavia 

negando-o na prática. Percebi esse fato quando cursava Filosofia na Universidade  

Federal do Piauí. Na cadeira H istó ria da Filosofia I I (Agostinho e Tom ás de Aqm no), 

ficou perceptível para mim que aquilo que o bispo de Hipona tinha dado com uma  

mão (a liberdade de escolha) ele tomou com a outra (supressão dessa liberdade). 

Infelizmente a tradição protestante histórica se apegou a esse erro agostiniano.

21 Os teólogos Douglas Moo e John Stott seguem a tradução agostiniana levemente  

adaptada. Assim é que Moo traduz Romanos 5.12 como: “todos pecaram” significando 

“todos pecaram em e com  Adão” (MOO, Douglas.  Romanos  —  D el T exto Bíblico a una 

 ExpUcaáon Contemporânea.  Editorial Vida. Da mesma forma, Stott traduz como: “Todos 

morreram porque todos pecaram em e através de Adão, o representante ou cabeça da 

raça humana” (STOTT, John.  A Mensagem de Romanos.  São Paulo: Editora ABU, 2000).

22 BARBABLIO, Giuseppe.  Rom anos  —  A s Cartas de Paulo II .  São Paulo: Edições 

Loyola, 1991, p. 204, 205. Veja uma argumentação semelhante feita pelo expositor  

bíblico C. B. Cranfield: “A explanação mantida por Agostinho, que considerou o 

significado de Paulo como o de que todos os homens pecaram em Adão em virtude 

de sua identidade seminal com o seu antepassado está sujeita a séria objeção no 

sentido de que a palavra “homem” está demasiado distante para ser antecedente

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natural do pronome relativo” {Romanos  — Comentário Versículo por Versículo).  C. K. 

Barrett, erudito em Novo Testamento, também nega que haja base em Romanos 

5.12 para se estabelecer uma relação seminal com Adão. (BARRETT, C. K. The 

 E pistle to Rom ans —  B la ck ’s N ew Testam ent Commentary.  Londres: Continuum, 1991).

23 ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática.  São Paulo: Edições Vida Nova, 2 013.

24 Idem. O expositor Dale Moody também faz uma crítica a esse entendimento de 

 Agostinho: “Baseando-se nessa tradução errada [Agostinho], desenvolveu a sua doutrina 

do pecado original, entendido como culpa herdada, e o resultado foi um quadro 

lúgubre de crianças não batizadas no inferno”. (Comentário Bíblico Broadman.  JUERP)

25 ERICKSON, Millard J. op.cit.

26 Posteriormente, tanto Lutero como Calvino construíram seus sistemas doutrinários 

sobre a depravação no pecado a partir de Agostinho. Veja uma exposição completa 

sobre as teses de Lutero sobre o livre-arbítrio e a influência que sofreu de Agostinho 

na obra do escritor Oswald Bayer:  A Teologia de Martinho Tutero.  São Leopoldo, Rio 

Grande do Sul: Editora Sinodal, 2007. Por outro lado, a influência de Agostinho  

sobre Calvino pode ser vista na obra Contra 0  Calvinismo,  de autoria de Roger Olson, 

Editora Reflexão.

27 BARBAGLIO, Giuseppe.  Romanos  —  A s Cartas de Paulo II.   São Paulo: Editora 

Loyola, 1991.

28 POHL, Adolf. Carta aos Romanos — Comentário Esperança.  Curitiba, Paraná: Editora 

Evangélica Esperança, 1999.

29 ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática.  São Paulo: Editora Vida Nova, 2013.

30 Como bem mostrou Roger Olson, conceituado teólogo arminiano, a acusação 

feita a Armínio de que ele era pelagiano não resiste aos fatos históricos. Armínio,  

além de defender a doutrina da depravação no pecado, acreditava também que a 

salvação dependia da graça de Deus, independentemente das obras. Ele defendia que 

todo o processo da salvação tem origem na graça de Deus, e não no homem. O que 

 Armínio defendeu, com apoio bíblico incontestável, é que os homens podem aceitar 

ou rejeitar a graça oferecida. Muita coisa que é atribuída a Armínio na verdade não 

foi dita por ele, da mesma forma, como demonstrou Norman Geisler, muito que 

foi atribuído a Calvino não dito realmente por ele. Geisler, observa, por exemplo,  

que nesse aspecto nem Calvino foi calvinista. Veja uma exposição detalhada na  

obra de Roger Olson: Contra 0  Calvinismo  (Editora Reflexão) e  Eleitos, porém Eivres, 

de Norman Geisler (Editora Vida).

31 PAWSON, David. Una V e\ Salvo, Para Siempre Salvo?  — Un E stúdio sobre la Perseverando 

e la Herenda.  Grã-Bretanha: Anchor Recordings, 2015 . Um estudo exaustivo sobre 

esse assunto é encontrado na obra de 801 páginas de Daniel D. Corner: The Believer’ s 

Conditional Security  [A Doutrina da Segurança Condicional do Crente], Washington, 

PA: Evangelical Outreach, 2000).

32 LINDSAY, Hall.  A Viagem da Culpa.   Editora Mundo Cristão.

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33 FITZMYER, Joseph.  Rom anos   —  Nuevo Comentário Bíblico San Jeronimo.  Estella, 

Navarra: Editorial Verbo Divino.

34 DUNN, J. D. G.  A Teologia do A pósto lo Paulo.  São Paulo: Editora Paulus, 2003, p. 

130-133.35  CULVER, Robert. Teologia Sistemática  —  Bíblica e Histórica.  São Paulo: SHEDD 

Publicações, 2012.

36 Idem, p. 522. A tentativa de Culver de identificar a teologia arminiana como sendo 

de natureza semipelagiana baseia-se em fontes secundárias e não tem fundamentação 

histórica. É uma ilação que é contraditada pelas próprias obras de Armínio.

37 CLARK, Stanley.  Rom anos   — Comentário Bíblico Mundo Hispano.  El Paso, Texas: 

Editorial Mundo Hispano.

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Graça ,M  arav ilho sa   

G   r a ç a  !

  omanos 6.1-6

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais 

abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como  

 viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em 

 Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos  

 pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, 

se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também  

o seremos na da sua ressurreição; sabendo isto: que o nosso velho homem foi 

com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que  

não sirvamos mais ao pecado.

Licença para Pecar?

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a gra ça seja mais  

abundante?” (6.1).  O pregado r ing lês M art in L loyd-Jones des tacou que não

há teste m elhor para saber se a lguém está realmente pregan do o verdadeiro

evangelho de C r is to do que o bserv ar sua expos ição de Ro m anos 6. Jon es

des t aca que há pes soas que i n t e rp re t am e en t endem de m ane ir a e r rada

essa passagem e a tr ibue m - lhe o sen t ido qu e querem . E las im ag inam quese voc ê rea lm ente é sa lvo pe la graç a , então não im po rta o que você faz.

 V ocê p o d e co n tin u ar p ecand o , tan to q uan to go ste , p o rqu e p en sam que

tudo i sso va i r edun dar em m a is g r aça a inda . D es s a fo rma , Ro m anos 6

ser ia um a boa m ane i ra de ver if ica r se um a pessoa de fa to es t á p regando

o evange lho com autent ic idade. A prega ção pa ra ser verdad ei ra , sub l inha

Lloyd-Jones , precisa expo r esse m al-entend ido porqu e se ass im não o f izer

Capítulo

5

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forçosam ente não é o evange lho de J e su s C r is to . Essa fo rm a pr iva t iva

e eq u i v o c ad a d a p r e g aç ão só p o d e s e r e x p o s t a q u an d o a d o u t r in a d a

just if icação p e la fé for ap resen tada .1

O após to lo va l i a - se do método de diatribe  para fa2 e r en tend er a sua

argumen tação . O m étodo con s is t ia em u m d iá logo com um in te r locu tor

im ag in á r io . A q u i e le n o v am e n t e re c o r r e a e s s e m é to d o p a r a i n t e rag i r

com seu in te r locu tor . A sua expos ição an te r io r pod er ia t e r ge rado m al

entendidos . N o capí tu lo 5 , e le m ostrou com o a graça de D eus , na pessoa

ben d i t a de nos so S enh or e Sa l vad or J e su s C r is to , p r eva l e c eu sobr e a

conden ação do pecado . Pau lo des tacou qu e o pecad o de A dão a t ing iu a

r a ça c o m o u m to d o e t amb é m a c ad a p e ss o a d e f o r m a in d i v id u a l (Rm

6.23; 5 .12) . A dão ven deu a raça para o pecado. T odav ia , Jesu s Cr is to , o

segundo Adão, com prou-a para Deus . A g raça p revaleceu sobre o pecado.

 A d ed ução ló g ica d o b en ep lác ito d a g ra ç a p arec ia ser : n ão se r ia m e lh o r

peca r para que a g raç a se ja ma i s abu ndan te? O apó s to lo va i r e spon der a

e s sa ob je ç ão com um con tunden te “não” , “de je it o nenhu m ” .

“De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda  nele? (6.2). A exp r e ss ão g r ega me genoito  (de je ito nenhum ) m ost r a o g rau

de conv icção do após to lo a e s se r e spe ito . N ão , não po dem os n os va le r

da g raça para va l idar ações pecam inosas . A r azão é que nós m orrem os

para o pecado . T . S. W atchman N ee ob se rvou q ue não fo i o pecado que

m or r eu pa r a nós, mas nós que m or r em os pa r a o pecado !2 M or r e r pa ra

o pecado não s ign i f i c a de ixar de sen t i r sens ib i l idade a lguma quanto a

e le , m as se con sc ien t izar de que e le pe rd eu seu dom ín io sobre nós . Op e c ad o c o n t in u a r á s e n d o p e c ad o c o m t o d a a s u a ma l ig n id ad e . M as a

nossa postura quanto a e le não é m ais a m esm a que m arcava nossas v idas

antes de c re rm os em Jesus.

“Ou não sabeis que todos quantosfomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados  

na sua morte?” (6.3).  O ap ósto lo , então , ape la para o lado p rát ico da v ida

cr istã a f im de i lustrar o seu pensam ento. Por que não dev em os co nt inuar

no pecado? Porque nos ident if ic am os co m a m or te de J e sus po r me io do

bat ism o. Fom os, pois , bat izados na sua m orte . O expo sitor bíbl ico W arren

 W. W iersbe observa que o term o grego para batism o “tem dois signif icados:

(1 ) um l it e r a l — m ergu lha r ou subm erg ir ; e (2 ) e um f igura t ivo — se r

ident i f icado. Um exemplo do segundo caso é 1 Cor ínt ios 10 .2 : “Tendo

s ido bat izados , as s im na nuv em com o no m ar , com respe ito a M oisés” .

 A n ação de Israe l fo i id en tif ic ad a co m seu líd er , M o isés , q u an d o cru zo u

6o | M aravilhosa  G raça 

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G raça , M arav ilho sa  Graça ! | 61

0 m a r V e r m e lh o ” . W ie r sb e o b s e r v a a in d a q u e “ h á u m c o n s e n so e n tr e

os h i sto r iado res de qu e a fo rm a de ba t ism o u sada pe l a Ig re j a Pr im i tiva

era a imersão . O s cr i s tãos era m ‘sep ul tad os ’ na águ a e traz idos de vo l ta ,

re tra tando a m orte , s epu lt amen to e res sur re ição . O bat ism o p or im ersão(a i lus t ração que Pau lo u sa em R m 6) re t ra t a a iden t if icação do cr is t ão

com Cr i sto em sua mo r te , re s su r r e iç ão e s epu l tam en to . É u m s ím bo lo

ex ter io r de u m a exper i ênc i a in te r io r” .3

"... para que, como Cristo ressuscitou dos mortos p ela g ló ria do Pai, assim  andemos nós também em novidade de vida” (6.4).  Q uando C r is to m or reu , nó s

m orrem os jun to com Ele . Essa iden t if icação do cren te com C r is to é um a

do ut r ina c ru c i a l na t eo log ia pau l ina con form e m os t ra E fés ios cap í tu los

1 e 2 . Cr i s to morreu , fo i s epu l t ado , todav ia não f i cou no túmulo . E le

res susc i tou . D a m esm a form a , o c r is tão , agora iden t if icado com Cr is to ,

r e s su rg iu pa ra um a nova v id a . O após to lo r eba tia a s s im o pensam en to

a n t in o m ia n o q u e p r o c u r a r ia v e r n a g r a ç a d e D e u s u m a o p o r t u n id a d e

pa ra jus t if icar e va l idar açõ es erradas .

N ão há nada m a is i n cong rue n t e do que um c r is tão nas c ido de novo v iv en d o sob o d o m ín io do p ecad o . N o s ú lt im o s an o s, o n o m in a lism o

e v a n g é lic o c r e s c e u d e u m a f o r m a e x p o n e n c ia l. A u m e n t a a c ad a d i a o

núm ero de c r is tão s que não dão s in a l algum de que v ivem em nov idade

de vida. Para eles , é m ais con fortável se a justar ao m od elo secular de viver

d o q u e a o p a d r ã o e x ig id o p e la s Es c r itu r a s. C o r r o m p e m - se d a m e s m a

f o r m a q u e o m u n d o se c o r r o m p e ; d i v o rc ia m - se d a m e s m a fo r m a q u e

o mu ndo o faz. D ispu t am o poder d a m esm a fo rm a que , po l ít ico s s emnenh um pudor , d i spu t am . En f im , m a t am pa ra s e m an t e rem v ivo s.

“Sabendo isto: que o nosso velho homem fo i com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado” (6.6).  Es s e

tex to me faz l embrar meus d i as de acadêmico no Seminár io Bat i s t a . O

f ina l do s anos 80 e o in í c io dos anos 90 fo i um pe r íodo m arcado po r

a lgum as controvérs ias teo lóg icas . N a nossa turm a havia um a luno, mui to

ded i cado , que com eçou a ex po r a lgum as id e i a s que des toavam d aqu iloque e s t ávamos ap rendendo a l i . E l e p a s sou a a rgumen t a r que o c r en t e

nasc ido de novo n ão pecava mais! Lem bro-m e de que um dos seus textos

favori tos usado s com o prova era Rom anos 6.6. N esse texto, argum entava,

Pau lo d is s e r a que o “ co rpo do pe cado ” hav i a sido d es tru ído . Tem pos

d e p o i s, f ic a m o s s a b e n d o q u e a q u e l a i n t e rp r e t a ç ã o f o r a d e s e n v o l v id a

pr im e i ram ente nos E s tados U n idos e pos ter io rm ente chego u aqu i com o

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um enlatado. A l i e la foi bat izada com o no m e de d outr ina da “Sant if icação

P l ena ” . E s sa c rença a f irm ava que o c r en t e deba ixo da g r aç a não peca

mais. Is so ev identem ente provou um a reação em cade ia tan to po r par te

do co rpo do cen t e com o d i s c en t e daque l a academ ia . M eu p ro fe s so r de

g r ego e exege se b íb li c a p ro du z iu um t ex to ap o logé t ico m os t rand o a s

fa lhas teo lóg icas daque la argumentação .

Com o todos os e rros dout r inár ios , e s se t am bém se fundam entou em

um er ro de in te rpre tação da E sc r itu ra . N ão é is so que R om anos 6 .6 d iz .

Esse t ex to não d iz que o c ren te nasc ido de novo não peca mai s . Nem

tam pou co esse texto está af irm and o que o pecado não m ais existe porque

fo i des t ru ído . O ve rb o gre go katageo, t r aduz ido aqu i como “des t ru i r” ,

significa “tornar inefiàentê’, “impotente ,4 A ide ia é de um rei que é destronado .

Pau lo , em Romanos 6 .6 , ao se r e fe r i r à c ruc i f i c ação do ve lho homem,

usa e s s e ve rbo no t empo ao r i s to . Uma aç ão que acon te ceu , de fo rma

def in i t iva , no tem po p assado. O q ue o apósto lo qu is d izer com isso não

é que o pecado j á fo i “des t ru ído” ou “an iqu i l ado” e que , por tan to , o

c rente não t e r á mai s p rob lem a com e le . A n atureza pecam inosa cont inuaa inda fazendo p ar te da v ida do c r is tão . O Senh or des t ron ou a natureza

peca m inosa (Rm . 6 :6 ) , m as e s se de s t ron ar não s i gn i f ic a que nós não

 ven h am o s a te r p ro b lem as co m a v e lh a na tu reza . N ão é isso . O que o

Senh or fez fo i re t irar o seu po der e o dom ínio que e la exerc ia sobre nós .

S im, o pecado p erdeu o seu pos to de senh or sobre nossas v idas .

O ve rbo g r ego katargeo  (destru ir ) no tem po aor isto , com o sub l inh e i ,

s ign i fic a que a ação j á fo i com ple tada de u m a vez p or todas. E m out raspalavras , Pau lo es tá af i rm ando que , do pon to de v is ta de D eus , a questão

em re lação à an t iga natureza já foi resolvida — Ele a crucificou juntam ente

com Cristo. Katargeo (destru ir ) é a m esm a palavra usada em H ebreus 2 .14 ,

ond e se d iz que Cr is to , po r m eio de sua m orte , dest ru iu (gr. katargeo)  o

Diabo . Sa tanás fo i de fa to des t ru ído , no sen t ido de se r an iqu i l ado? A

resp osta é não, pois , o D iabo con t inu a exist ind o e tentan do (1 C o 7.5, 1

 Ts 3 .5 ; 1 Pe 5 .8 ).5 O que D eu s fez em C risto Je su s fo i destro n ar , an u lar

o poder do Diabo em re lação ao cr i s tão , i s to é , t i r ar o domínio que e le

t inh a sobre nós. O d om ínio de Satanás em re lação ao cren te fo i katargeo,

i s to é , anu lado. O Diabo não es tá mais no “trono” ( fo i dest ronado) de

nossas v idas . No entan to , o D iabo a inda não fo i “d es t ru ído” , po r is so

o c r en t e não deve lhe da r luga r (E f 4 . 27 ). D a m esm a fo rm a , o pecado

foi “d est ru ído ”, i s to é , dest ron ado de no ssas v idas . Em outras pa lavras ,

62 | M aravilhosa  G raça 

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Graça , M ara vilh osa  Graça ! | 63

o tex to e s tá d izendo que C r is to d es t ron ou o pecado na v ida do c ren te,

m as não d iz que e l e abo l iu no ssa natureza pecam inosa .

  omanos 6.7-14

Porque aquele que está morreu está justificado do pecado. Ora, se já morremos 

com Cristo, cremos que também com ele viveremos; sabendo que, havendo Cristo 

ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre  

ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto 

a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o 

 pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor. Não reine, portanto, 

o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; 

nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de 

iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos  

membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá 

domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.

Mudança de Atitude

“sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, j á não morre; a morte não 

mais terá domínio sobre ele" (6.9).  Os com entar is tas cham am a a tenção para

três verbo s usados p or Paulo no capítulo 6 de Rom anos. O pr im eiro deles

aparece em 6.6, que é “saber” . “Sa ben do q ue ” (v. 6) e “sab ed ores ” com o

um verbo s inônim o (v. 9, AR A) . Já v imos que na m ente de Deus o pecado

já é um assunto reso lv ido , m as isso só se torn a um a rea l idad e prát ica na

 v id a do cren te a p a r tir do m o m en to que ele se ap o d era d essa verdade. E ,

po r tanto , nec essár io um a m ud ança de at i tude . Ele prec isa saber , i s to é,tom ar consc iênc ia de que a sua r e lação co m o pecado n ão d eve se r m a is

do j eito que sua exper i ênc ia m ost r a , m as do j e ito que D eus r eve lou em

sua Palavra. Sem essa m udança de m enta lidade , a bata lha contra o pecado

es tá pe rd ida . A pa lavra t r aduz ida no ve r s ícu lo 6 com o “sab endo” de r iva

d o g r e g o ginosko, que é o term o u sado p ara se re fer i r ao conhecimento.  Por

outro lado, oida, que ocor re em Rom anos 6 .9 , no grego s ign i fic a t ambém

saber , todav ia m ostrand o m ais o seu lado m etafór ico .6 Q ual é, po r tanto ,

o p r im e i ro p as so que s e deve da r na lu t a con t r a o pecado? E s abe r o

que a cruz fez em re lação a ele . A cruz d erro tou o pecado, fez com que

e le pe rdesse o dom ín io em n ossa v ida . A nossa a t itude ago ra é andar de

acordo co m aqu i lo q ue a c ruz ex ige de nós .

“Assim também vós considerai-vos como mortos para 0  pecado, mas vivos para  

Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (6.11).  Em segundo lugar , Pau lo ens ina

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que o c r en t e deve “con s ide ra r - s e” m or to pa ra o pecado , m as v ivo pa ra

D eus . O t e rm o g r eg o logi^omai,  tr adu z ido aqu i com o cons ide ra r, t em o

sen tido t am bém de “ recon hece r” . E sse verbo es tá no m odo im pera tivo ,

s ig n i fic a n d o que e s s e “ co n s id e r a r ” e “ r e co n h ece r ” é um a o r d em . E m

s eg un d o l ug a r , o v e r b o e s t á n o tem p o p r e s en t e , o que s ig n i f ic a que

deve s e r um a p rá t ic a hab i tua l . E em t e rce iro l uga r , o ve rbo e s tá na voz

m é d i a , o q u e d e m o n s t ra q u e é u m a a ç ã o f e ita e m p r o l d e s i m e sm o .

U m a t ra d u ç ã o m a is p r ó x i m a d o o r i g in a l f ic a r ia a s sim : “ C o n s id e r e m

c o m o u m h á b i t o q u e v o c ê s e s t ã o m o r t o s p a r a o p e c a d o , m a s a g o r a

e stã o v iv e n d o p a r a D e u s ” .

M a is u m a v e z u m a m u d a n ç a d e p o s t u r a e at itu d e s ão e x i g id a s d o

cren te em Jesus . E prec i so o reco nh ec im ento do que s ign i f ica es sa nova

d im ensão d a fé na qu a l ele v ive . N e i l A nd erson d em on s t rou q ue a f a lt a

de s abe rm os de f a to quem som os em Cr i sto é um dos m a io re s en tr aves

para o cresc imento esp i r i tua l .7

“nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado p o r instrumentos de  

iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros  a Deus, como instrumentos deju stiça” (6.13). A pa l avra -chave nesse vers ícu lo

é “oferecer” , que t raduz o g rego paristemi.  E s sa p a la v r a e ra u s a d a co m

con otação m i lit ar , sign if icand o “co locar-se à d ispos ição de a lguém ”, i sto

é , “apresen tar -se” .8 Jose ph F it zm eyer ch am a a a t enção para a ap l icação

dessa palavra no con texto bíbl ico. “A exp ressão é um term o m ili tar , com o

ind ica t am bém a segunda par te do versícu lo . As a rm as d a re t idão a ludem

ao A T (I s 11 .5 ; 59 .17 ) . P resum e-se que os c r i s tãos são ins t rum en tos a

serv iço de D eus , não a serv i ço do m a l.”9

  omanos 6.15-23

Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? 

De modo nenhum! Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos  

 para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para 

a morte, ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes  

entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como  

homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes  

os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, 

assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a 

santificação. Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. 

E que fruto tínheis, então, das coisas de que agora vos envergonhais? Porque

64 | M aravilhosa  G raça 

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Graça , M aravilh osa  Graça : | 65

o fim delas é a morte. Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de 

Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. Porque  

o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, 

 por Cristo Jesus, nosso Senhor.

Servos da Justiça

“Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à  

 forma de doutrina a que fostes entregues’’ (6.17).  A n ova v id a do cr istão ex ige

um a m uda nça de senhorio. Paulo aqui agradec e a D eus pela receptividade

que o evange lho teve em R om a. E le s an te r io rm ente e r am esc rav izados ,

p o s s u ía m c o m o p a t rã o o p e c a d o . T o d a v i a, g r a ç a s à m e n s a g e m d o

evangelho, haviam sido libertos . Ag ora e les obedeciam a um a “nova forma

de do ut r ina ’” que lhes fo i en t regue . E in te re ssan te obse rva rm os que a

pa lavra “ fo rm a” tr aduz o g rego typos, que nesse con texto tem o sent ido

de “patrão” . O apósto lo v ia na Palavra de Deus , que lhes fo i entregue ,

um novo pat rão . E les não t inham m ais o pecado com o chefe ou patr ão

de suas v idas , m as a poderosa m ensag em do evangelho .

 A c r ise d a ig r e ja h o d ie rn a , e v id e n te m e n te , p o ssu i v á r io s fa to res .

 T o dav ia , n ão h á d ú v id a de que p r im e iram en te é um a cr ise teo lóg ica . E

um a cr ise gera da p or fa l ta de Bíb l ia . H á m uita co isa posta nos pú lp itos

das igre jas, mas essas co isas não são Bíb l ia . N ão é a Palavra de D eus que

es tá sendo p regada e ens inada . C on sequentem ente , o r e su lt ado o bt ido

são cr istãos fracos e doentes .

“E, libertados do pecado, fos tes fe itos servos da ju st iça” (6.18).  Os cr i s tãosromanos hav iam s ido l ibe r tos do pecado e fe i tos se rvos da ju s t i ç a . A

palavra “libertados” traduz o grego eleutheroó, que é o mesm o termo usado

po r Jesu s em Jo ão 8 .36 : “Se , pois, o F i lho v os libertar,  verd ad e iram en te ,

s e r e is li v r e s” . N o co n tex to joan ino , J e su s m os t r a que o s hom ens se

encon travam sob a servidão do pecado. N ão po diam se autolibertar . A qui,

o s romanos hav i am s idos l i b e r to s de s s e an t i go amo e t r an s fo rmados

agora em se rvos de Deus .

“Falo como homem, pela fraquesça da vossa carne;pois que, assim como apresentastes  

os vossos membros pa ra servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim  

apresentai agora os vossos membros para servirem àjustiça para a santificação ” (6.19). 

Stanley Clark destaca que os crentes devem apresentar seus membros à

justiça da m esm a form a que anter iorm ente haviam se dedicado ao pecado.

O fim em v ista é a sant if icação. A sant if icação é um processo inic iado por

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D eus e que exige do crente corresp on der àqui lo que o Espír ito real iza na

sua vida. O êxito, portan to, está na e ntreg a diár ia qu e o cristão faz de suas

capac idades a Deus. E isso que Pau lo lemb ra aos rom anos — só podem os

serv ir a um Senho r por vez . C lark o bserva que “antes de se conver terem,

os le i tores estavam totalm ente a serviço d o pecad o e não t inham qualquer

ob rigação n o que d iz respeito à justiça (v. 20). N ão significa que eles nunca

haviam fe ito nada d e bom , senão que estavam l ivres no que diz respeito ao

dever de fazer o qu e era certo. E ra um a liberdad e de caracter íst icas m uito

pobres , com dem onstra o apósto lo agora” .12345678910

O apósto lo con c lu i que o p ecado costum a recom pensar seus súditos

com a m orte, mas a graça os recom pensa com a vida eterna, em Cristo Jesus.

66  | M aravilhosa  G raça 

1LLOYD-JONES, Martin. 'Romans, an Expo sition o f Chapter 6.  Edimburgo: Banner 

o f Truth, 198 5, p. 8, 9.

2NEE, T. S. Watchman. O Homem Espiritual.  Venda Nova, Minas Gerais: Editora Betânia.

3 WIERSBE, Warren W Romanos — Comentário Bíblico Expositivo. 

São Paulo: Editora Geográfica, 2008.

4 BAUER, Walter.  A Greek   —  English Lexico n o f the N ew Testament and Other Early  

Christian Literature.  The University o f Chicago Press.

5 Veja uma exposição exegética sobre essa passagem em The Epistle to the Romans 

 —  A n Outlined Commentary.  HORNER, Barry E. North Brunswick, New Jersey.

6 Veja uma explanação detalhada em:  Exhaustive Concordance o f the Bible with Hebrew- 

 Ara m aic and G reek Dictionaries.  Helps Ministries, Inc.

7 ANDERSON, Neil. Viver Livre em Cristo.  São Paulo: Editora Unilit.

8REINECKER, Fritz. Chave Linguística do Novo Testamento Grego.  São Paulo: Editora 

 Vida Nova, 1995.

9FITZMEYER, Joseph A.  Romanos — Comentário Bíblico San Jeronimo.  Estella (Navarra), 

Espanha: Editorial Verbo Divino.

10CLARK, Stanley.  Romanos —  - Comentário M undo Hispano.  El Paso, Texas: Editorial 

Mundo Hispano.

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 a  Graça  e   oD estronamento  

do  “Eu”

  omanos 7.1-6

Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem  

domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? Porque a mulher que  

está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei, mas, morto  

o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei 

e assim não será adúltera se for doutro marido. Assim, meus irmãos, também  

 vós estais mortos para a lei pelo corp o de Cristo, para que sejais doutro, 

daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para 

Deus. Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são 

 pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas, 

agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos 

retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.

Luz sobre Roma

Os intérpre tes da Bíb l ia reconhecem que a interpre tação de Rom anos

7 deve ser anal i sada por mais de uma perspect iva teo lóg ica . E prec iso ,

p o r t a n to , t er m o s c o n h e c i m e n t o d o p a n o d e f u n d o d e s sa c a r t a p a r a

p o d e r m o s f a z e r u m a a n á l is e m a is p r e c i sa d a q u i lo q u e P a u lo e st av ae n s in an d o aq u i. D e g r an d e a j u d a s ão a s o b s e r v aç õ e s d o d o u t o r B o b

U t le y , p ro fe s so r de he rm en êu t i c a na U n ive r s id ad e B a t is t a do O es te ,

Es t ados Un idos da Amér i c a . U t l e y enumera a l guns pas sos , que acho

im po r tan te r e sum ir aqu i.

1. R om anos 7 deve ser interpretado à luz de Ro m anos 6, especialm ente

7 .12-14 ( tam bém 3 .20 ,21-31 ; 4 .13-16 ; 5 .20) .

Capítulo

6

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2 . E p r e c i s o t amb é m l e v a r e m c o n t a a t e n s ão n a i g r e j a d e Ro ma

entre os crentes judeus e os crentes gent ios , a qual é m ostrada em

R om anos 9— 11. A n atureza do prob lem a, com o o bse rva Utley, é

incer ta , mas p od e ter sido :

a . l ega l ism o b aseado na le i m osaica ;

b. ên fase jud aizante sobre M oisés em vez de C r is to ;

c. incom preen são de com o o evan ge lho se ap l ica aos judeus ;

d . incom preensão da re lação entre a An t iga e a N ova A l iança ;

e. c iúme po r parte dos crentes judeus d a liderança dos gentios depois

do edito im per ial expulsando os judeus de Rom a.

3. D eve ser observ ado que Rom anos 7.1-6 contém l inguag em figurada

de Ro m anos 6 acerca da re lação dos cr i s tãos co m a sua ve lha v ida .

 A s m etáfo ras usadas são :

a . m orte e l iber tação da escravidão pa ra per tence r a outro (Rm 6) ;

b . morte e l iber tação da obr igação matr imonia l (Rm 7) .

4 . De v e mo s o b s e r v a r t amb é m q u e Ro man o s 6 e 7 s ão l i t e r a t u r a s

para le las . R om anos 6 deta lha com o é a re lação d os crentes com o

pecado e Rom anos 7 com o é o relacionam ento dos crentes com a lei.

 A analog ia d a lib ertação da escrav idão da m o rte (6.1 2-23) é p ara le la

à analogia da l ibertação do mar ido que morreu (7.1-6) . Utley ainda

destaca o para le lo de a lguns termos e expressões ex is tentes entre

Rom anos 6 e Rom anos 7.

68 | M aravilhosa Graça

6.1 —“pecado” 7.1 - “ l e i”

6 .2 - “ m o r te ” 7.4 —“m orte d a le i”

6 .4 —“para que p ossam os serv i r

em n ov idade de v ida”

7.6 —“para que po ssam os serv i r

em nov idade do e sp í ri to”

6 .7 —“A que le que m orreu e s t á

liv re do pecad o”

7.6 - “m orremos para aqu ilo que

estávamos su je i tos”

6 . 1 8 — “ t e n d o s i d o l i v r e s d o

p e c ad o ”7.3 —“livres da le i”

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 A Graça  e o D estronamento do  “Eu” | 69

5. A le i com seus precei tos foi a senten ça de m orte. To dos os hom ens

es tavam condenados sob e l a (Rm 6 .14 ; 7 .4 ; G1 3 .13 ; Ef 2 .15 ; C l

2 .14 ). A l e i m osa ica se to rno u m ald ição !1

Nova Aliança, Novo Relacionamento

‘Não sabeis vós, irmãos (pois que fa lo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre 0 homem por todo 0 tempo que vivei (7.1). A lguns in térpre tes veem aqu i

um a r e f e rênc ia à le i rom ana , enquan to ou tro s enxe rgam a le i com o um

pr inc íp io u n iversa l . To dav ia , o con tex to parece de ixar c l a ro que P au lo

es t a ria s e re fer ind o à le i mo sa ica . A expressão “ fa lo aos q ue co nh ecema l e i” pode ser ap l i cada a toda a i g re j a romana , mas espec i a lmente os

j u d e u s . A d i s c u s s ã o f e i t a p e l o a p ó s t o l o e m R o m a n o s 6 p o d e r i a t e r

gerad o m al -entendidos sobre o pap el da le i em re lação aos cris tãos . N ão

devem os esqu ecer que P au lo hav ia en f ren tado , con form e m os t ra o liv ro

de A tos e espe cialm ente a Ep ístola aos G álatas , con fli tos com judeus q ue

o acusavam de es tar preg and o rebe l ião co ntra a lei.

N ão há dú vida de que o apósto lo sab ia que esse ma l -entend ido sobreo seu pen sam ento j á hav ia chegado a Rom a. A ide i a que perpassava e ra

que Pau lo e ra um an t ino m ist a , is to é , p regav a a não o bservaç ão da le i.

Esse equívoco dever ia ser esc larec ido para que o ens ino da jus t i f icação

pe la fé somente fosse compreend ido em toda a sua ex tensão . O e lo é

es tabelec ido en tre os cap ítu los 6 e 8 pe lo argu m ento do apósto lo .

R e c o r r e n d o n o v a m e n t e a o m é t o d o d e diatribe, Pau lo qu e r d es f az e r

es sa im agem negat iva que a lguns e s t a ri am fazendo sobre e le em re laçãoà l e i . Por que Pau lo se mos t rava t ão nega t ivo em re l ação à l e i ? Pau lo

m os t ra rá que , ao cont rár io do que m ui tos pensavam , ele t em um grande

apreço pe l a le i de D eus ; todav ia , não vê ne l a um ins t rum ento capaz de

produz i r s a lvação . E nesse ponto que percebemos que o conce i to das

duas a l ianças es t á bem presen te no pen sam ento do após to lo . N a A nt iga

 A lian ça , a le i teve u m a função p rin c ip a l, m esm o q ue fosse apen as p ara

apo ntar os pecado s e p ro du z i r a i ra d iv ina , porém na N ova A li ança es safunção não existe m ais . E po r que não ? Po rque a le i apon tava para Cristo ,

e Ele hav ia chegado !

É exa tamente aqu i que Pau lo fa rá a ana log ia do casamento . Era de

con hec im ento dos c ren tes rom anos que enqu anto o m ar ido fosse v ivo ,

a l e i p ro ib i a que a esposa cont ra í s se novas núpc ias . Se as s im f i zes se ,

es tar ia ca indo em adul tér io . Todavia , se o mar ido morresse , e la es tar ia

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l ivre para casar com quem quisesse . Paulo então m ostra que é exatam ente

isso o que oc orreu em re lação à le i. A qu i o crente m orre para a le i para

per ten cer a outro , Jesus Cr is to . “A ss im , m eus i rm ãos , tam bém vó s es tai s

mortos para a le i pe lo corpo de Cr is to , para que se ja i s doutro , daque le

que ressuscitou de entre os m ortos, a f im de que dem os fruto para D eus”

(Rm 7.4) .2 O exp os i tor b íb l ico F. F. B ruce destac a que “com o a m orte

de s f az o la ço que une m ar ido e mu lhe r , a s s im a m or t e — a m or t e do

crente com Cr i s to — des faz o l aço que o p rend ia ao jugo da l ei, e agora

está l ivre para entrar em u nião co m Cr isto . Sua a nter ior assoc iação co m

a le i não o a juda va a prod uz ir os frutos d a jus tiça , mas esses frutos são

prod uzidos co m ab un dân cia, ago ra que e le está unido a Cr isto. O pecado

e a mor te foram o r e su l t ado de sua as soc iação com a l e i ; a ju s t i ç a e a

 v id a são o p ro d u to de su a nova assoc iação ; p o is (com o Paulo o co loca

em outro luga r ) , ‘a le t ra m ata , m as o E spír ito v iv i f ica ’ (2 Co 3 .6)” .3 N ão

se t ra t ava , por tan to , de um ant inom ism o o u rebe l ião con t ra a l e i, mas

assum ir a nova pos ição que a N ova Al iança em Cr isto propo rc iono u. Os

cr is tãos são cham ados p ara pe r tence r a “o ut ro” , Cr is to , e dessa forma

frut if icarem pa ra Deus .

“Porque, quando estávamos na carne, as pa ixões dos pecados, que são pela  

lei, operavam em nossos membros pa ra darem fru to pa ra a morte” (7.5).  Pau lo

fundam enta seu com entário m ostrando a ant iga relação da le i com aque le

que a observ a . Pau lo já havia m ostrado no cap í tu lo 5 que o pecado não

é levado em con ta quando não há le i. A l i a t r ansgressão aparece com o a

quebra do m and am ento da le i. D eus deu en tão o cód igo do S ina i. Essale i dada a seu ant igo povo é jus ta e boa, mas em vez de produz ir v ida ,

t rouxe m or te . H av ia a lgum prob lem a com a le i? N ão , o prob lema estava

com os hom ens , cor rom pidos pe lo pecado , que se m ost r aram incapazes

de ob edece r aos prece i tos da le i. A l ei trouxe a con sc iênc ia do pecado

e e s s e pecado , a lim en t ado pe l a cob i ç a , fr u t if ico u p a r a a m or t e . Es se

argum ento r eceberá ênfase novam ente em R om anos 7 .7 .

“Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos  retidos;para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra” (7.6). 

 Jo ã o C alv ino , em seu co m en tár io d a E p ís to la aos R o m anos, d estaca que

Paulo “d á segu imen to a seu argum ento a par t i r de opostos. Se a co ib ição

da l e i su r t iu t ão pouco e fe i to em sub jugar a carne que nos desper tava

antes a pecar , então devem os nos d esven c i lhar da le i para qu e de ixemo s

de pecar . Se som os l iber tos d a serv idão da le i a f im d e pod erm os serv i r

70 | M aravilhosa  G raça 

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 A Graça  e o Destronamento do “Eu” | 71

a Deus [ l i v remente ] , então aque les que der ivam des te f a to sua l i cença

para pecar , e aqueles que nos ens inam qu e deve m os soltar as rédeas e nos

entregarm os a luxúr ia , t amb ém es tão equivocados . No te-se , pois , quand o

D eus nos l ivra de suas r íg idas ex igências e de sua m ald ição, dotand o-no s

com o E sp ír ito Santo a f im de t r ilha rm os seus santos cam inh os” .4

Paulo esboça aqui o que t ra tará em deta lhes no capí tu lo 8 . O crente

foi liber to da l e i pa ra v iver deba ixo de ou t ra l e i — a le i do E sp í r ito de

 vida. Sem dúvida esse é o sentid o de “serv ir em n o v id ade de v id a” . A n dar

de acordo com a le i, v ivendo na e ra do E sp ír ito , é um a anom al ia a qua l

o cr is tão nasc ido de novo não p od e m ais ace itar .

  omanos 7.7-13

Que diremos, pois? E a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci  

o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se 

a lei não dissesse: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo  

mandamento, despertou em mim toda a concupiscência; porquanto, sem a 

lei, estava morto o pecado. E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o 

mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; e o mandamento que era para  vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado, tomando ocasião 

 pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou. Assim, a lei é santa; e 

o mandamento, santo, justo e bom. Logo, tornou-se-me o bom em morte? 

De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em  

mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse 

excessivamente maligno.

De Volta ao Paraíso

“Que diremos, pois? E a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci 0  

 pecado senão pela lei;porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse:   Não cobiçarás” (7.7).  A pa r t i r de s s e ponto , Pau lo i n t roduz a f i gu r a do

“eu ” na sua a rgum en tação . Q uem ser ia , po r t anto , e s se “eu” ?5 A lgun s

in té rpre tes , a exem plo de D a le M oo dy e Leon M orr is , ac red i tam que e l e

estar ia fa lando de um a ex pe riência pré-c r is tã .6 Po r outro lado, intérpretescom o Joh n S tott e Char les Sw ind ol l põ em aqu i em des t aque os conf litos

in te rno s do c r is t ão .7 À p rop ós i to , Sw indo l l com enta : “Ro m ano s 7 é o

autor re t ra to d e P au lo , no qu a l e le u sa u t ili za o verbo na pr im e i ra pes soa

do s ingu la r 30 vezes . Per to do f ina l do au tor re t ra to e l e exc l ama : ‘ Sou

um pob re m iseráve l ’. A expres são ‘pobre m iseráve l ’ é a tr adução de um a

palavra gre ga q ue q ue r d izer ‘sofredo r , a f lig ido , m iseráve l” ’ .8

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72 I M aravilhosa  G raça 

N ão há dúv ida , po r tan to , d e que o “ eu” apa rece em Rom anos 7 com

um sen t ido ind iv idua l i z an t e . Todav i a , como obse rvou ace r t adamen te

G iuseppe Barbaglio, aqu i ele não se l im ita apen as a esse sentido. E le gan ha

t a m b é m u m s e n t i d o supraindividual.   Em out ras pa l avras , e l e possu i um

sent ido ind iv idua l iz an te , m as t am bém um sen t ido represen ta tivo . E sse

sen tido m a is un iversa l é usado p ara m os t ra r a v ida dos qu e v ivem sem

lei, dos que v ivem sob a le i e dos qu e estão l ivres d a le i. Ba rbag l io elenca

a lguns fa tos que cont r ibuem para es se en tend im ento :

1. P a u lo c o n t r a p õ e a b o n d a d e i n t r ín s e c a d a le i e d o m a n d a m e n t o

divino ao “eu ”, que dela fez um a experiência negat iva, encon trando

a í a m orte e t e rna (w . 7 -13).

2 . O “eu” é apresen tado co m o um su je ito que ca r rega um a h is tó r i a

d i v id id a n i t id a m en te em duas f a se s : aus ênc i a d a le i e “v ind a do

m and am ento (w . 9 ,10). No tem -se as sér ies dos verbos no passado ,

que caracter izam os vers ícu los 7-13 .

3 . No t recho de 14-25 , ao cont rár io , o s verbos são con jugados nopresente. Seria, portanto, errado d edu zir que Paulo deseje aí apresentar

a cond ição a tua l do “e u ’ , em an t ít ese ao passado d e perd ição . N a

rea l idad e , e le descreve o es tado d e d issociação ex is tenc ia l do “ eu”

com o resultado de sua história . Testem unh a-o o vers ículo 14: “mas

eu sou ‘carn al ’, fui vendido com o escravo ao pecad o” . A con firm ação

nos vem do g r it o conc lus ivo : “Pobre de m im ! Q uem m e poderá

l ibertar des te corpo de s tinado à m orte?” Pecado e m orte , portanto ,

são o âmbito em que o “eu” se acha encerrado , por efe i to de seu

passado d e subm issão .

4 . O “eu” é um ser perd ido sem poss ib il idad e autônom a de libertação

(v. 24).

5 . O “eu” d i r ige um can to de ações de g raças a Deus , por m e io de

 Je su s C risto , no sso Senho r! P e la g ra ça , p o rtan to , ex p e r im en to u asalvação.

“A conc lus ão” , d i z Ba rbag l i o , “pa rece bas t an t e fundamen t ada . O

d iscurso de Pau lo reve l a uma es t ru tura de fundo de cará te r h i s tó r i co -

sa lv íf ico : abarca a cam inhada de toda a hum anidade a p art ir do jard im do

É den , evocado c laram ente n os vers ícu los 9 a 11 , até a in ic ia t iva sa lv íf ica

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 A G raça  e o Destronamento do  “Eu” | 73

de D eus, m ediada po r Jesus Cr isto. A sem elhança com 5.12-21 é inegável.

M as não se trata de um a descrição fe ita de fora, própr ia de um observad or

externo. E, ao contrár io, um a retrosp ect iva que env olve a e le próp r io e a

todo s os fiéis , que o lhand o pa ra trás avaliam à luz da fé a terr ível perd içãoda qu al escaparam . Por tanto , o ‘eu ’ de 7 .7-25 represen ta os cr is tãos , po r

aqu i lo que e ram , em es t re i ta so l idar iedade com a hu m an idade ad âm ica

pecadora , e agora não mai s o são , por g raça . O cap í tu lo desc reve sua

his tór ia passada, que se rad ica na pré-h is tór ia mais longínqua: ambas à

im agem de A dão , que cedeu à ten tação de ser com o D eus” .9

“... porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissessa: Não cobiçarás”  

(7.7).  N ão devem os lim it a r aqu i o te rm o “ cob i ç a” com o se fo s s e um

m ero s inônim o de dese jos sexuais . O expo s i tor b íb l ico M ark A. Se i fr id

obse rva que Pau lo f az uma de sc r i ç ão das ob r as da l e i em t e rmos de

um encont ro com a pro ib ição da cob iça , do dese jo l eg ít im o de possu i r

aqu i lo que p e r tence a ou t r a pessoa . D essa form a, Pau lo t em em m ente

a cob iça em seu sen t ido mai s amplo . O quadro de Gênes i s 3 .6 , onde

narra o dese jo de Eva, ev iden tem ente es tá presente na argum entação do

apóstolo. Se ifrid subl inha que “P aulo vê no encon tro do ser hum ano com

o m andam ento a recapi tu lação da t ransgressão de Adão. Ao contrár io da

s ituação da Q ueda , o pecado j á e s tá presente no se r hum ano que ouve

a L e i ; o man d ame n t o f o r n e c e ap e n a s a o p o r t u n i d ad e p a r a o p e c ad o

pro du zir ‘todo t ipo de co b iça’ (7.8)” .10

  omanos 7.14-25

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob 

o pecado. Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; 

mas o que aborreço, isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, 

que é boa. De maneira que, agora, já não sou eu faço isto, mas o pecado que  

habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita 

bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar e 

bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. 

Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em  mim. Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está 

comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas 

 vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento 

e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável  

homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus  

 por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, 

sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.

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O “Eu” Destronado

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o 

 pecado” (7.14). A natureza boa da le i em contras te com a natureza mal igna

do pecado é ap r e sen t ada aqu i po r Pau lo . A l e i apa r e ce aqu i com o um

espe lho que r e f le t e a im agem de quem o contem pla , m as aque le que é

contemp lado n ada pod e fazer pe la m elhor ia dessa im agem . Ele apenas se

torna con sc iente d iante desse espe lho dos seus inúm eros defe i tos . Joh n

 W esley, em 1754, co m en to u essa passagem : “E u sou c a rn a l— São Paulo ,

depois de ter com parado juntos o es tado passado e presente dos crentes ,

‘na carne ’ (Ro m anos 7.5) e ‘no espír ito’ (Rom anos 7.6), pro cura respon dera duas acusaçõ es (é então a le i peca do ? , Ro m ano s 7 .7 , e é a le i m orte? ,

R om anos 7 .13 ) e en t r e laç a todo o p roce s so do a r r azoam en to de um

hom em , lu tando e procurando escapar do es tado lega l para o evangé lico .

Isso ele faz em Rom ano s 7.7, até o fim n este cap ítulo” .11 Jo sep h A . Fitzm yer

des taca que “a exp l i cação de Pau lo não é a inda comple ta ; na presente

passagem t ra ta de e sc l a rece r a questão . C om o pô de o pecado usar a lgo

bom em si m esm o (a le i) para des t ru ir os se res hum anos? O prob lema

não está na le i, m as nos seres hum anos com o tais . A lei é espiritual. Devido

à sua or igem div ina e o seu prop ós i to de cond uzir os seres hum ano s até

Deus . Dessa form a, e la não p er tenc ia ao mu ndo da hum anidade ter rena,

natura l . Enquanto pneumáticos , e la per ten c ia à esfera de D eus ; se opõe ao

que é sarkinos, “ can al” , “per ten cen te à esfera da c arn e” .12

‘Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não fa ço ; mas o que  

aborreço, isso fa ço ” (7.15).  P au lo r e t r a t a aqu i o d i l em a não ap enas de le ,

m as de todo s os cr istãos. D esejar fazer o certo, todav ia real izand o o que

é e r r ado ! Antes de apresentar a exp l i cação para e s se fenômeno , Pau lo

m aximiza a sua argum entação nesse paradoxo — querer fazer o bem , mas

sendo levado a fazer o m al. A lguns intérpretes acreditam e, con cordo com

eles , que a lguns crentes rom anos , pr inc ipa lm ente os de o r igem judaica ,

a inda a l im entavam a esperan ça de con c i li a r a le i com a g raça . Po r quenão r e co r r e r a um a “a jud inha ” da l ei p a r a v ive r r e t am en te ? Pau lo vai

m ostrar então que i sso s implesm ente é imp oss íve l . O pro blem a, como já

havia subl inh ado em outro lugar , não es tava com a Le i , que em s i e ra de

or igem div ina e boa. A questão era outra . O pro blem a es tava dentro de

cada c ren te — um a natureza pecam inosa que em vez de se sen ti r f reada

pe la lei e ra es t im ulada a inda m ais p or e la .

74 | M aravilhosa G raça

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 A Graça  e o D estronamento do “Eu” | 75

E sse é um a rgum en to u s ado p or Pau lo pa ra co m bate r o le ga lism o .

N enhu m a p rá t ic a c r i st ã pode s er u s ada pa ra a j uda r a g r aç a . A g raç a é

suficiente! As discipl inas cristãs, com o oraçã o, je jum , prá tica de le itura da

B íb lia , e tc ., não dev em ser prat icadas , po rtanto , com o ob jet ivo de nostornar ace i táve is d iante de Deus . Deus nos ace i ta do je i to que somos.

Essas d isc ip l inas não devem ser prat icadas com o obje t ivo de produz ir

um sa lvo mais esp i r i tua l , mas para a jus tar o re lac ionamento com Deus

de quem já é sa lvo . Não é uma sa lvação pe las obras , mas é o resu l tado

de um fruto de quem já foi salvo para prat icar boas o bras (E f 2.8). Essas

prát icas não m udam a Deus, m as m udam a nós mesmos. Se são praticadas

com a at i tude corre ta , então e las com certeza agradam a Deus .

“Miserável homem que sou !Quem me livrará do corpo desta morte?” (7.24). 

Eis o gr i to angu st iante de P au lo n a lu ta co ntra o pecado! N este ponto , o

apósto lo , como todo cr i s tão , mostra-se consc iente da natureza humana

que possu i . A lu ta não é exterior , m as com e le m esmo. O can tor e poeta

Sérg io Lop es consegu iu exp ressar po r m eio da m ús ica Natureza Humana: 

N inguém é t ão pe r fei to que cons iga/

Fu gir dos o lhos v ivos do Senhor/

Q ue vê a l ém do m ais p rofundo ab i sm o/

E até segredos que eu nun ca fa le i/

Ele sabe cada um dos meus dese jos/

O que faço , ond e ando , quem procuro/

Co nhece o m eu passado e o m eu presente/E q uer fazer fe liz o m eu futuro/

Eu lu to é co nt ra a m inha próp r ia a lm a/

 A n atu reza h u m an a que há em m im /

Eu que ro s epu lt a r o ve lho hom em /

E andar em com unhão com Cr is to/

 V iv er, c an tar só para E le /

M orre r p ro m undo e rev ive r p ra D eus .13

Stan ley Clark com enta : “O g r i to d a pr im eira parte do vers ícu lo 24 e a

pergunta que o apósto lo faz em segu ida devem ser entendidas com o uma

expressão de angúst ia , e não de desespero . A referênc ia a l ibertação na

pergun ta pode ser um a expressão do ane lo fervente do que e le sabe com

segurança do que o aguard a (8 .23) . A expressão ‘e s te corpo de m orte ’

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 A Graça  e o D estronamento do “Eu” | 77

11 WESLEY, John.  Rom ans  —  Exp lan atory N ote <& Commentary.  Bristol Hot-Wells, 

january, 1754. Texto disponível em Kindle.

12 FITZMYER, Joseph A.  Rom anos —  Nuevo Comentário Bíblico San Jeronimo.  Estella, 

Navarra, Espanha: Editorial Verbo Divino.

13 LOPES, Sérgio. “Natureza Humana”. In: Vidas e Futuros.  Rio de Janeiro: Zekap 

Gospel, 2001.

14 CLARK, Stanley.  Rom anos — Comentário Bíblico Mundo Hispano.  El Paso, Texas.

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Capítulo

7O E spírito

d a   G raça 

  omanos 8.1-13

Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que 

não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Porque a lei do Espírito da 

 vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto, o que 

era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu 

Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo 

a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se  

 para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do 

Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é 

 vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é 

sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne 

não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito,  

se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito  

de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está  

morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o 

Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que 

dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo  

seu Espírito que em vós habita. De maneira que, irmãos, somos devedores, não à 

carne para viver segundo a carne, porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; 

mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.

O Elo que Faltava

“Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus"  

(8.1).  A nd er s N yg ren , an t igo e xpo s ito r b íb l ico sueco , d e s t aca que no

cap í tu lo 8 de R om anos , Pau lo t raz a ú l t im a conc lusão de seu t em a que

havia com eçado nos cap í tu los anteriores . E le m ostra agora que o cr is tão ,

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O Espírito da  Graça   | 79

justi ficado pela fé , viverá. A v ida cr istã é descr i ta não apenas com o sendo

l ivre da ira , do pe cado e da le i, m as tam bém com o sendo l ivre da m orte .

N ygren destaca que é im po rtante te r esse para le lo em m ente para que se

tenha um a corre ta com preensão do pensam ento do apósto lo no capítu lo8 e o que e le hav ia fa l ado nos cap í tu los an te r io re s . N ygren com enta :

“O para le lo po de se r v i s to com o re l a tivam ente casua l, m as se rve com o

indicação de sua con c lusão da segun da pa r te da ep ísto la . O para le lo es tá

presente def in i tivam ente no in íc io . Em cada um desses quatro cap í tu los

o assunto é a l iberd ade d o cr istão tratada de um a m an eira especial , tendo

com o referênc ia um a fonte par t icular de destruição. E m cada caso, Paulo

ass ina la a lgum a coisa espec ia l a t ravés d a qual a l iberd ade é e fe tuada.

1. O cr istão é l ivre da ira . Esse fato, Paulo fundamenta no amor de

D eus em C r is to Jesu s (cap. 5).

2. O cristão é l ivre do pecado. A qu i Paulo se refere ao batism o, através

do qua l nós fom os inco rpor ado s ao “co rpo de C r is to” , e que o

“corpo do pec ado ” po de ser dest ru ído (cap . 6).

3 . O cr istão é l ivre da le i. Aq ui Paulo se refere à m o rte de Cr isto. N o

‘corp o de C r is to ’ nós m orrem os p ara a le i (cap .7).

4. O cristão é l ivre da m orte. A qu i Paulo se refere ao Esp ír ito, pneumcr, 

o Espír i to de Cr isto é o poder que faz viver (cap. 8)”.

Conc lu indo, d iz Nygren : “Esse para le lo não é ac identa l . E evidente

que e sses quatro cap í tu los abordam a mesm a d i scussão” .1

 A n d ers N yg ren ace rto u em estab e lece r e ssa conexão , to d av ia p arece

bas t an t e óbv io que o c ap í tu lo 8 de Romanos chega como o áp i c e de

tudo que fo i d ito a pa r t ir do capí tu lo 1. Os cr is tãos rom ano s que le ram

essa carta , sem som bra de dúvida , lem braram -se do que Pau lo havia d i to

nos cap í tu los anter iores , em espec ia l naqui lo que o apósto lo escrevera

na segun da par te do cap ítu lo 7.

“Portanto, agora... ” (8.1). Os exp ositores bíblicos cham am a atenção paraa pa rtícula “ag ora ” que aparece n o início desse capítulo. E la é carregada de

signif icado, pois serve para con trastar o que foi d i to an ter iorm ente com o

que será a pa rt ir desse ponto. Com o já ficou dem on strado anter iorm ente ,

o que Pau lo d i rá de ag ora para f r en te t em re lação , em p r im e i ro p lano ,

com a expos ição do cap í tu lo 7 e em um segundo p lano com tudo o que

foi escr ito en tre os cap ítulos 7 e 8.2

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"... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (8.1). O cap ítulo

7 de ixou o hom em em um d i lem a — sabe que deve faze r o bem , mas

acaba por pra tic ar o mal. O hom em em A dão é um se r apr is ionado , não

tem com o se au to l ibe r ta r . A í vem o gr ito po r socorro : Q uem o poderá

l ibe r t a r de s s a p r is ão? P au lo r e spo nd e que C r is to J e su s é o li b e r tado r

porque nEle não ex i s t e ma i s p r i são a lguma. Esse sen t ido do tex to fo i

bem captado pe lo t eó logo lu te rano E . H. Gi f ford em seu comentár io

da Car ta aos Romanos . Gi f ford , comentando in loco,  d iz que “estar em

Cr is to” não s ign i f ica nos escr i tos de Pau lo “ser dependente de Cr is to”

(u so c l á s s i co comum) , não mer amen te ( como F r i t z s ch t en t a p rovar )

ser seu segu idor ou d isc ípu lo , como os p i tagór icos ou p latônicos eram

segu ido r e s de s eu mes t r e . Imp l i c a v i ve r em un i ão com Cr i s to como

Ele mesmo fez saber : “ . . . porque eu vivo, e vós vivere is . [ . . . ] estou em

m eu Pai , e vós , em m im, e eu , ne le” ( Jo 14.19,20 ; Jo 15.4-7) . Essa un ião

com Cr i sto é f requentem ente d esc rit a por Joã o com o “ es tar ne le” (1 Jo

2.5 ,6 ,24 ,28 ; 3 Jo 24; 5 .20)” .3

 A quele , portanto , que está em C ris to e C risto está nele não se encontra

m ais debaixo do jugo. N ão há m ais nenh um a cond enação (gr. katakrima) 

para e le. A conden ação, o jugo, a pr isão é desfe ita na vida d aquele qu e foi

jus ti ficado pe la fé . A gra ça o a lcanç ou t razendo l iberdade e v ida .

“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e  

da morte” (8.2). A qui es tá a chave da liber tação p ara a nova v ida em Cr is to

 — a le i do E sp ír ito de v ida . E essa le i que lib e rta da le i do p ecad o e da

m orte. A le i do pecado im pero u im piedosam ente sobre todos os hom ens. T odos ficaram deb aixo do seu jugo . M esm o aque les que p assaram a se

r ege r pe l a l e i mosa i c a t ambém não f i c a r am l i v r e s de s s a condenação .

Pe lo cont rár io , a l e i do S ina i se rv iu de e spe lho para r eve la r quão mal

e ra a na tu reza adâm ica . E s timu lada pe la pro ib ição do m andam ento , e la

desper tou todo t ipo de cob iça . Em purrou o devoto para um beco sem

sa ída . C . S. K eener des taca que “um a v ida go vernad a pe la carne é uma

 v ida dependente do esforço e recursos hum anos fin itos, um a v ida egoísta,d i fe ren te de um a v ida go vernad a pe lo E sp í rito de D eus” .4

O apóstolo m ostra agora que Deus na sua miser icórdia e graça proveu

l iber tação at ravés de o utra le i, essa sup er ior e m ui to m ais pod erosa — a

le i do E spír ito de vida. E sse E spír ito , eviden tem ente , é o Esp ír ito Santo,

enviado p or Jesu s p ara hab itar dentro do s crentes . A go ra o cr istão não se

rege m ais po r um a le i externa , mas p or um a le i in ter ior . O ve lho hom em

8o | M aravilhosa  G raça 

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O Espírito  da  Gr a ç a    | 81

foi destronado pela cruz e em seu lugar o novo ho m em assumiu seu posto.

“Para que a just iça da le i se cum prisse em nós, que não an dam os segundo

a carne , mas segundo o Esp í r i to” (Rm 8 .4 ) . As ex igênc ias ex te rnas da

le i ago ra pod em ser cum pr idas pe lo cr is tão porq ue o E spír ito de Cr istohab i ta ne le e dá- lhe co nd ições de v iver as ex igênc ias de D eus .

“Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que  

são segundo o Espírito,para as coisas do Espírito” (8.5). A dec laração de Pau lo

se estende até o vers ículo 12 e 13. E le ha via dito que o prec eito da le i se

cum pre nos cr i stãos que ago ra não es tão m ais na carne , m as no E spír ito

(v. 4) . O sent ido desse vers ículo, como os expositores têm observado, é

m uito am plo . E m pr inc íp io , Pau lo es tá se re fer indo às duas esferas nas

quais o cr is tão pod e se m ov er — a esfera de A dão e a esfera de Cr is to .

 T o d av ia , o ap ó sto lo n ão n e g a aq u i, co m o q u e r K een er , q u e e ssa lu ta

envolva duas n aturezas .5 O con f li to é , por tanto , entre o ve lho ho m em ,

cr iado em A dão , e o novo h om em , c riado em Cr is to . Essa “ inc l inação

da carne” em pur ra o hom em para o pecado , enquanto a “inc linação do

E spír ito” para um viver vi tor ioso. “Porque a inc l inação da carn e é m orte ;

m as a inc l ina ção do E spír i to é vid a e paz ” (v. 6) .

“De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a  

carne” (8.12). A qu i o após to lo par te do pr inc íp io de que o hom em A dão

é um hom em devedor . E le é deved or à carne , usa he rança pecam inosa .

P o s s u ía u m a c o n t a a p ag a r e n ão t in h a c omo . T o d av ia , o h o m e m e m

Cris to ag ora é um h om em livre. Ele não tem m ais contas a pagar porque

 Je su s já p ag o u em seu lugar . E ssa v e rd ad e é a f irm ad a p elo ap ó sto lo em

outra car ta que escreveu : “H aven do r i scado a cédu la que era contra nós

nas suas ordenanças , a qua l de a lguma mane i r a nos e r a cont rár i a , e a

t irou do m eio de nós, cravan do -a na cru z” (Cl 2.14) . O con texto cultural

d e s s e v e r s íc u l o e r a d e a lg u é m q u e d e v ia u m a c o n t a e q u e n ão p o d ia

pagar . O c redor anotava en tão a d ív ida em um docum ento , jun tam ente

com o o nom e do devedor , e p r egava nos p r inc ipa i s po n tos da c id ade.

 T o d o s qu e c ircu lav am p e la c id ad e f ic av am sab en d o d aq u e la d ív id a . Odevedor e r a expos to de form a ve rgonho sa e vexatór ia pe ran te a op in ião

púb li ca . Pau lo a f i rm a aqu i que e ssa d ív ida , c r iada pe lo pecado de A dão

e p o r n o s so s p e c ad o s p e s s o a is , ag o r a é p ag a n o m o m e n to e m q u e n o s

en t r egam os ao s enh or io de J e su s C r is to . O u t ro f a to é que a pa l av r a

gre ga t r adu z ida com o “r iscad o” no tex to or ig ina l si gn if ic a “apag ad o” .

 Je su s n ão ap en as r isco u a n o ssa d ív id a , de m o d o q u e a lgu ém que fo sse

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82 | M aravilhosa  G raça 

p a s s an d o p o d ia lê - la , m as e le ap ag o u t o t a lm e n t e d e f o r m a q u e n ão

f icou m a is nen hum ve s t íg io .6

“porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes  

as obras do corpo, vivereis” (8.13). V im os , po is , que a e sco lha de an dar emum a das e s fe ras é do c r is tão . A nd ar na carne (kata sarkd)  o u an d a r no

Espír i to (kata pneumà)  é um a esco lha que cada um deve faze r. A que le s

que e sco lhem andar no Esp í r i to contam com a a juda do Esp í r i to para

mor t i f i c ar os fe i tos do corpo . A san t i f i c ação é ins t rumenta l i zada pe la

ação do E spír ito San to .7 E ssa verd ade é destacad a po r Pau lo em outras

epístolas (Ef 4.22-24; G1 5.16,17; Cl 3.5) .

  omanos 8.14-17

Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de  

Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes 

em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: 

 Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos 

de Deus. E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros  

de Deus e co-herdeiros de Cristo; se e certo que com ele padecemos, para que 

também com ele sejamos glorificados.

“Porque todos os que são guiados pelo 'Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”  

(8.14). A prec io m ui to o com entár io que A . W. To zer fez sobre a pessoa e

ob ra do Esp ír ito Santo. T ozer destaca que o E spír ito San to é , sobretudo,

u m a chama moral.  E le é a própr ia sant idade , a som a e a essênc ia de tudo

o que é ind esc r it ive lm ente puro . To zer des taca que nen hu m a a legr ia é vá lid a , n en hum de le ite é leg ít im o quan do se pe rm ite que o p ecad o ex is ta

na v ida ou na conduta . Acer tadamente , e l e d iz que o idea l ve rdade i ro

do cr istão não é ser fe l iz , mas ser santo. Em segundo  lugar , o Espír i to é

u m a chama espiritual.  A qu i To ze r de s t ac a que o E sp í rit o nos con duz a

um a adoração ve rdade ir a . O Esp í r ito é t amb ém um a chama intelectual.  O

E sp ír ito usa nosso in te lec to para o se rv iço de D eus de form a que não

há inco m pat ib i lidade a lgum a ent re a m ente e o Esp í rito . O E sp í r ito édescr ito com o sendo chama volitiva.  E le op era na nossa vontade . Todavia ,

com o d estaca Tozer , é necessár io que h aja a lgum t ipo de en trega tota l da

 v o n tad e a C risto an tes que q u a lq u er o b ra d a g ra ça p o ssa ser rea lizada.

Por ú lt im o, To zer ob serva que o E spír ito que hab i ta em nós prod uz um a

chama emotiva. So m os razão e em oção. To zer com ple ta : “Um dos m aiores

f lagelos que o pecado trouxe sobre nós é a depravação de nossas em oções

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O Espírito  da  G raça   | 83

norm ais. R imos de coisas que não são divert idas , enco ntram os praze r em

atos q ue es tão aba ixo da d ign idad e hu m ana e nos a l eg ramo s em co isas

que não dever i am ter lugar em nossas em oçõ es” .8

O ap ósto lo des tacou que o E spír ito guia o cr is tão . “G uiar” traduz o

 verbo g reg o ago,  que tem o sent ido de “c on du z i r” , “or ien tar” . O temp o

presen te , m odo ind ica tivo e voz pass iva usados aqu i m antêm o sen t ido

no or ig ina l de “aquele se que d e ixa guiar con t inu am ente pe lo E spír ito” .

O Espír ito , portanto, condu z o cr istão. Ele nos guia pela Palavra de D eus

(E f 6 .17 ; M t 4 .4); E le nos guia pe lo tes tem un ho inter ior (Rm 8.16) ; E le

nos guia pe lo b om -senso (1 Ts 4 .9) ; E le nos guia por sáb ios conse lhos

(At 21 .17-26) ; E le nos guia pe los don s esp i r itua i s (A t 21 .10 ,11) ; E le nos

gu ia por sonh os (At 2 .17) ; E le nos gu ia por v i sões (At 16 .9 ; 18 .9 ,10).

  omanos 8.18-30

Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são  

 para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente 

expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação 

ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou,  

na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da 

corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que 

toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só  

ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em 

nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque, 

em esperança, somos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; porque 

o que alguém vê, como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com  paciência o esperamos. E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas 

fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o 

mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que 

examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito, e é ele que segundo Deus 

intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para 

o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. 

Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes  

à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses 

também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

Synantilambanetai  — o Espírito do outro Lado

“Porque para mim tenho p o r certo que as aflições deste tempo presente não são 

 para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (8.18).  Essa seção

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que com eça em 8 .18 de Rom anos e t e rm ina em 8 .30 , um a das m ais be las

e ap r e c iadas d e s s a c a rt a , é um a r e f e rênc i a à dem ons t r aç ão do g r and e

am or de D eus pe los seus f ilhos . O s com entar is tas cham am de seção dos

três gem ido s . O gem ido da cr iação ; o gem ido do cr i s tão ; e o gem ido do

Espíri to . A cr iação gem e po r conta do desequi l íbr io que o pec ado trouxe;

o c r is tão gem e por hab i ta r em um corpo cor rup t íve l ; e o Esp í rito gem e

po r conta das lim itaçõ es as quais o crente está subordinado. A p ropó sito,

o g ram át ico de g rego b íb lico Rob er to H anna com enta que em R om anos

8 .26 , 27 “o ve rbo compos to synantilambanetai  o s ign i f icado é obvio . O

E spír ito Santo aga rra nossas deb i lidades juntam ente conosco (syri)  e leva

sua parte da ca rga na no ssa frente (aníi), com o se dois hom ens est ivessem

levando um t ronco , um em cad a ex tr em o” .9

“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que  

amam a Deus, daqueles que são chamados p or seu decreto” (8.28). A. T. R ob ertson

des taca que é D eus quem faz com que “ todas as co isas coop erem ” em

nossas v idas p a r a o bem , o bem ú ltim o . R obe r t son de s t ac a a inda que

“Pau lo ace i ta com ple tam ente a liv re agênc ia do ho m em , m as po r tr ás detudo e através de tudo subjaz a sob erania de D eus aq u i e em sua face de

gra ça (9.11; 3.11, 2 Tm 1.9)”.10

 A Liberdade dos Eleitos

‘Forque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à  

imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (8.29). 

 A m a io r ia d o s au to re s co m en tan d o R o m an o s 8 .2 9 ,3 0 u sa o s te rm o s

 predestinação  e eleição de form a interca m biáv e l .11 D essa form a, o pro l í fico

escr itor H ernan des D ias Lo pes usa a expressão “e leição inco nd ic ion al” ,

s it u and o-a den t ro do co n tex to de Ro m anos 8 .30 . T odav i a , a pa l av r a

“ele ição” , que traduz o greg o eklogé, só ap arecerá de fato pela pr im eira vez

em R om anos 9.11. Lopes diz in loco que “a eleição é inc on dic ion al” .12 O q ue

Lo pes quis dizer não ficou claro. To davia, se entende rm os “inco nd icion al”

com o um te rmo cunhado pe la tr ad ição d e te rm in is t a , en tão e le s ign if ic a

que D eus e l egeu a lguns incon d ic iona lm ente para a v ida e te rna enquanto

des t inou out ros incond ic iona lmente para o tormento e te rno . Mas i s so

se ria um uso indev ido do te rm o grego , já que em R om anos 9 .11 (cap .

11.5,7,28 onde aparece o mesm o termo) essa incondicionalidade é usada em

re lação a povos , e não a ind iv íduos . Po r outro lado, em R om anos 8 .29 ,30

84 | M aravilhosa Graça

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3. Sinergismo evangélico — a f ir m a q u e D e u s s e ap r o x im a , lan ç a u m a

corda e gr ita : “Segurem na corda e puxem e juntos nós i rem os t irar

 vo cês d a í” . N in gu ém se m exe. E le s estão severam en te ferid os. N a

 v erd ade , p ara todo s os p ro p ó s ito s p rá tico s , e les estão “ m o r to s” ,po i s e s t ão comp le t amen te i nc apaze s . En t ão Deus de r r ama água

no poço e g r i ta : “ Re laxem e de ixem que a água os faça bo iar a té

que sa i am do p oço !” E m out ras pa lavras , “Bo iem ”. Tu do o que a

pessoa no p oço prec isa fazer para ser resgatada é de ixar que a água

o faça subir e sa ir do poço. A ação ex ige um a dec isão , m as não um

esforço. A águ a, é c laro, é a gra ça p rev en iente .16

Mui to embora Olson reconheça a imper fe i ção dessa i lu s t r ação , e l a

parece se ajustar m elho r ao contexto b íblico d a eleição e da predestinação.

Co m entando R om anos 8 .30 , na sua exaust iva obra de 801 pág inas , a qual

defende a e le ição condic ional do crente , o expos i tor b íb l ico Danie l D.

C orner ob serva que a af irm ação de que a e le ição é inco ndic ional “ ignora

os exem plos rea is encon trados na Escr i tura daque les que um a vez foram

 v erdad e iram en te ju stificado s, em segu ida , d ep o is se a fasta ram de D eus

(Lc 8.13; 1 T m 1.19; 2 Tm 2.1 8;C 11 .22,23 )”.17 V oltarem os a esse assunto

quando no c ap ítu lo 8 com en tarm os a s eç ão de Rom anos 9— 11.

O teó logo pen tecos ta l Van Joh nso n d es taca que “o p onto pr inc ipa l

destes vers ícu los é dar a segurança do futuro e terno do crente com base

na soberania de Deus . O que e le propôs ocorrerá . Para esse f im, Pau lo

apresen ta a ideia que desde o com eço era plano de D eus salvar os hom ens.

Para que não haja o pensam ento de que c ircunstâncias na terra frustrem o

plano de D eus , o apósto lo m ostra que D eus term inou es te curso de ação

antes que t ivéssem os a o po r tunidad e de resp on der” .18 Joh ns on destaca

que a “necess idade da respo sta hum ana é dada no vers ícu lo 28 — “todas

as coisas contr ibuem juntam ente para o bem daqueles que am am a D eus”.

  omanos 8.31-39

Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?  

 Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por 

todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará 

acusação contra os escolhidos de Deus? E Deus quem os justifica. Quem os  

condenará? Pois é Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre 

os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem  

nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição,

86 | M aravilhosa G raça

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O Espírito   da  G raça   | 87

ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor 

de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para 

o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por  

aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, 

nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem  

o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos 

 poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!

Quem Será Contra Nós?

“Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus ép o r nós, quem será contra nós?”  

(8.31).  Essa seção é o fechamento de tudo aqui lo que o apósto lo fa laraaté agora . A obra The Pulpit Commentary,  um dos me lhores comentár ios

de natureza homi lé t ica já publ icado, t raz um esboço sobre essa porção

d a s E s c r i t u r a s . 19 D i v id i d o e m t rê s p o n t o s , te m o s p r im e i r am e n t e O

Solilóquio do Crente.  Aqui o apósto lo , como se es t ivesse d ia logando com

sua p rópr i a a lma , f az uma r e t ro spec t i va de toda a sua a r gumen taç ão

anter ior . D o ca pítulo 1 ao 5, D eu s é po r nós. E le nos just i ficou p ela fé .

D o capi tu lo 6 ao 8 , D eus es tá em nós. Aq ui acon tece a sant i ficação po r

intermédio do Espír i to de Cr is to . Em segundo lugar , temos o Desafio do 

Crente.  A qui e le tem a base para defen der o seu d i re i to à sa lvação , como

resultado d a just i f icação pela fé . A just if icação é um ato de D eus. A base

dessa jus t if icação é a m orte de C r is to e a garan t ia d essa jus t if icação é a

ressurre ição de Jesus. Isso garan te ao cr istão vitór ia sobre seus inim igos.

Por ú lt im o, o crente es tá persuadido naqu i lo em que creu . N ad a é capaz

de demovê- lo dessa convicção . A morte não pode ; as co isas desta v ida

tamb ém não ; an jos , p r inc ipado s , po testades não po dem separá-lo desse

po de r sup r em o . As co i sa s do p r e sen t e , que ape l am par a o s s en t idos ,

tam bém se revelam incapazes de d em ovê-lo desse projeto divino. E o que

d ize r das co isas fu turas ou a lgum a out ra c r ia tu ra? Tam bém não po dem

separá-lo do am or de D eus que e s tá em Cr i sto J e sus .

 A E le toda h o n ra e to d a g ló ria . A m ém !

1NYGREN, Anders. Commentary on Romans.  Filadélfia: Muhlemberg Press, 1944.

2 Veja  Rom anos  — Comentário Bíblico Mundo Hispano.  El Paso, Texas.

3 GIFFORD, E. H. The Ep istle o f S t. P au l lo the Romans — W ith N otes and Introduction. 

Londres: John Murray, 1886.

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88 I M aravilhosa G raça

4 KEENER, Craig, S.  In Romanos: Comentário del Contexto Cultura l de la Bíblia   —  Novo 

Testamento.  El Paso Texas: Editorial Mundo Hispano.

5 KEENER, Craig, S.  In Romanos: Comentário del Contexto C ultura l de la Bíblia   —  Novo 

Testamento. 

El Paso, Texas: Editorial Mundo Hispano.6 Veja uma exposição completa em  Palavras-Chaves do N ovo Testamento  (BARCLAY, 

 William. Editora Vida Nova, São Paulo).

7 ROBERTSON, A. T. Comentário a l Texto Griego del Nuevo Testamento  — Obra Completa. 

Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.

8 TOZER, A. W. Verdadeiras Profecias para uma A lm a em Busca de Deus.  São Paulo: 

Editora dos Clássicos, 2003.

9 HANNA, Roberto.  A ju d a Gram atical para el Estúdio del Nuevo Testamento Griego.  El 

Paso, Texas: Editorial Mundo Hispano, 1993.

10 ROBERTSON, A. T. Comentário al Texto Griego del Nuevo Testamento.  Barcelona, 

Espanha: Editorial CLIE.

11 Roger Olson destaca que a “Eleição” é outra palavra bíblica para predestinação  

 para a salvação (ou serviço); elas são sinônimas. Todos os cristãos acreditam na 

eleição; os calvinistas acreditam nela de forma específica” (OLSON, Roger. Contra 

o Calvinismo.  Editora Reflexão, p. 69).

12  LOPES, Hernandes Dias.  Rom anos   — O  Evangelho segundo Paulo.  São Paulo: 

Editora Hagnos.

13  Em Romanos 8.29,30 encontramos o verbo grego  proegno,  que é o aoristo de 

 proginosko.  O sentido desse verbo é “saber antes”, “escolher de antemão”. A palavra 

ocorre 5 vezes no Novo Testamento e 2 vezes em Romanos. Outro verbo que  

aparece nesse texto é proõrisen,  que é o aoristo de proori^o.  Essa palavra tem o sentido 

de “predestinar”, “determinar os limites previamente”. O termo aparece 6 vezes no 

Novo Testamento, sendo 2 vezes em Romanos. Um terceiro verbo nessa passagem 

é ekalesen, aoristo de kaleo.  O sentido desse verbo é “chamar”. O termo aparece 147  

 vezes no Novo Testamento e 8 vezes em Romanos. (HUGO, M. Petter. Concordando 

Greco-Espanola d el Nuevo Testamento Griego.  Barcelona, Espanha: Editorial CLIE).

14 FITZMEYER, Joseph A.  Romanos  —  Novo Comentário B íblico São Jeronimo.  Editora 

 Academia Cristã/Paulus, 2015.

15  ROBERTSON, A. T. Comentário a l Texto Griego del N uevo Testamento.  Barcelona, 

Espanha: Editorial CLIE.

16 OLSON, Roger. Contra o Calvinismo.  Editora Reflexão.

17 CORNER, Daniel D. The Believer’ s Con ditional Security —  A Study on Perseverance and  

 Falling Aw ay.  Washington, PA: Evangelical Outreach, 2000, p. 380-382.

18 VAN, Johnson.  Romanos — Comentário Bíblico Pentecostal.  Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

19  The Pu lpit Commentary, vol. X V I I I   —  A c ts to Rom ans.  Peabody, Massachussetts: 

Hendrickson Publishers, 2011.

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Capítulo

8 A G raça 

n a   T e r r a    S a n t a 

  omanos 9.1-5

Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência 

no Espírito Santo): tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. Porque 

eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos,  

que são meus parentes segundo a carne; que são israelitas, dos quais é a adoção  de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais 

são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus  

bendito eternamente. Amém!

O Amor tudo Sofre...

“Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, p o r amor de meus  

irmãos, que são meus parentes segundo a carne” (9.3).  A fama que o após to lo

t inha de s e r a l guém que p r egava con t r a a s t r ad i çõe s j uda i c a s chegou

aos lugares mai s r emotos . Pau lo t eve que e sc l a rece r a lgumas das suas

po s ições com respe i to à le i de M oisés para não t ransp arecer que e le e ra

con tra a m esm a. E le expl icou que o pro blem a não es tava na le i, que era

de or igem div ina , m as naque les que buscavam just if icação p or m eio de la .

O u t r a c o is a p r e c i s a s e r a i n d a e s c la r e c id a : P a u l o n ã o e r a u m

an t is s e m i ta . E le n ão r e n e g o u s e u an t ig o p o v o. A q u i e le m o s t ra q u e

não só amava s eu povo como t ambém so f r i a pe l a s i t u aç ão e sp i r i t u a l

na qua l s e enco n t r avam seu s com pat r io t a s . N ão e r a um m a l se r judeu ;

pe lo con t rár io , co ns t i tu í a - se um gran de p r iv i lég io j á que fo i a e le s que

Deus con f iou s eu s o r ácu lo s . O que do í a no co r aç ão do após to lo e r a

a du r eza de co r aç ão que hav i a c egado s eu s i rmãos , imped indo -os de

enxe rga r o M ess ia s que lhe s fo r a p rom e tido .

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90 | M aravilhosa  G raça  

omanos 9.6-13

Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de 

Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; 

mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da  carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como 

descendência. Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara 

terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de 

um, de Isaque, nosso pai; porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo  

feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse 

firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a 

ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú.

Duas Crianças, Dois Povos

Essa s e ç ão de Romanos ap r e sen t a um dos t emas ma i s p ro fundos

das Escr i turas : a soberania de Deus e a l iberdade humana. No entanto ,

“é im por t an t e p e r c ebe r l ogo de in í c io” , de s t ac a Jo se ph A . F i tzm eye r,

“nesta pa r te de Ro m anos , que a perspect iva de Pau lo é co le t iva . E le não

está exp on do a respon sabi l idad e de ind iv íduos . A lém disso , e le não es tád i s cu t indo o p rob l ema mode rno da r e sponsab i l i d ade dos j udeus pe l a

m or te de J e sus . N enh um a dessas ques tões d ever ia se r im po r tada para a

interpre tação destes cap í tu los” .1

C o m e ss e e n te n d i m e n t o e m m e n t e , d e v e m o s p e r c e b e r q u e os

 versícu lo s 6 a 13 ap resen tam o argum ento de que a esco lh a de D eus po r

Israe l não se baseou nas obras , mas na fé . O pr imeiro exemplo dado é

o dos patr iarcas . No s vers ícu los 6 a 9 , tem os o caso de Ism ae l e Isaque ,am bos f ilhos de Ab raão . D eus , na sua soberania e graça , esco lheu Isaque

e s eu s de scenden te s pa r a a r e a l i z aç ão de s eu s p ropós i to s . P r evendo

que a lguém pudesse ob je tar que a r e j e i ção de I smae l se r i a to ta lmente

justi ficáve l po r não ser ele f ilho de A braão e Sara , o apósto lo apresenta

out ro exemp lo — E saú e J acó .2 A m bo s e ram f ilhos de I saque , todav ia

D eus , na sua soberan ia , esco lhera Jac ó e re je i tara a E saú . E ssa esco lha ,

que não foi um a escolha para a salvação, foi fe i ta qua nd o e les ainda eram

cr ianças p ara que p revalecesse a e le ição p e la graça e não pe las obras .

Eleição Corporativa

N o ve r s ícu lo 11 do c ap í tu lo 9 de Rom anos , com o fo i m os t r ado

no c ap í tu lo 7 d e s t e liv ro , o após to lo u sa pe l a p r im e i ra vez a pa l av r a

e le ição E ssa pa lavra com o fo i m ost r ado an te r io rm ente é eklogé Esse

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 A Graça  na  Terra   S anta   | 91

t e r m o a p a r e c e s e te v e z e s n o N o v o T e s ta m e n t o g r e go , s e n d o q u a t ro

delas n a seção qu e va i do c ap í tu lo 9 ao 11 de Ro m ano s .3 É , po rtanto ,

apropr iado t ratar do seu uso aqui . Nesse contexto , e la é def in ida como

sendo o p rop ós i to de D eus , em C r is to , para s a lvar a hu m an idad e .4 As

ou tras referên cias são A tos 9 .15 , 1 T essa lon icenses 1 .4 e 2 Ped ro 2 .10 .

 Á lu z do c o n te x to d essas p a ssa g en s , q u e nas e p ísto las são u sad as em

referênc ia à i g re j a , f i ca bas t an te ev iden te que es sa pa l avra possu i um

sen t ido co rpo ra t ivo . 5 C om o fo i d em on s t rado , e s s e sen t ido co l e t ivo

é c la r a m e n t e p e r c e b i d o q u a n d o o b s e r v a m o s q u e P a u l o in t e r p r e t a as

f igu ra s d e J acó e E saú em Ro m anos 9 à luz de M a laqu i a s 1 .2 -4 . Nes s aú l t im a passagem , E dom , out ro no m e de Esaú , é usado com o referênc ia

a um povo , os edom i tas , e não ao ind iv ídu o E saú . D a le M oo dy des t aca

que “em M a laqu i a s , J a có e Esaú não são ind iv íduos , mas g rupos , com o

c l a ra m e n t e in d ic a a id e n t if ic a ç ã o d e E s a ú c o m E d o m (M l 1 .4 ). J a c ó

e Es a ú h á m u i t o t e m p o e s t a v a m m o r t o s c o m o i n d i v í d u o s , d e f o r m a

que i s to é o que Dodd chamou de ‘ um todo co rpo ra t i vo ’ . Da mesma

form a Jacó é tom ado no seu sen t ido co le tivo , o povo de I s rae l, e não apesso a de Jac ó ” .6 A rgum ento sem elhan te é apresen tado pe lo exp os i to r

b íb l i co Haro ld L . Wi l lming ton . Wi l lming ton des taca que es se exemplo

“não se re fere aos do i s men inos , mas às nações que e l es fundaram, a

s abe r I s r ae l e Edom! Es s a c i t a ção não s e encon t r a em Gênes i s , mas

em M a l aqu i a s 1 .2 -5 . O p ro fe t a O bad i a s nos d iz , c l a ram en te , po r que

D e u s o d io u a E d o m ” .7

 A c re n ç a n o d e te rm in ism o te m le v ad o a lgu n s a a c re d ita re m queR om ano s 9 af i rm a a so beran ia d iv ina e n eg a o l ivre-arb í tr io .8 Para esses

intérpretes, essa passagem ensina que D eus escolhe arbitrariamente algumas

pes soas e d a m esm a fo rm a p re t e re ou t ra s . Com o j á fo i d em ons t rado ,

e s s e en t end imen to não r e f l e t e uma boa exeges e do t ex to . O e s c r i t o r

Roger Olson , conce i tuado t eó logo e h i s to r i ador da i g re j a , des t aca que

essa in te rpre tação equ ivocada sobre o cap í tu lo 9 de Romanos “ j ama i s

foi ou vida an tes de A go st inh o, e isso no século V. Toda a patr ís tica grega

interpretava Ro m anos 9 de m aneira d iferente” .9 O lson ainda observa com

m uita propriedad e q ue “um a interpretação alternativa perfeitam ente sensata

d iz que a p a s s agem de R om anos 9 não e s tá s e r e f e rindo a i nd iv íduos

ou à s a lvação pessoa l , m as a g rup os e ao serv iço . D eus é soberano em

esco lher I s rae l e então a igre ja gent ia para que cum pram seus respectivos

papé i s em seu p lano de red enç ão” 10

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 A m eu ver , h á a in d a o u tro e fe ito co la te ra l p ro d u z id o p e la c re n ç a

na e l e i ç ão i ncond i c iona l . E l a a f i rma que uma vez que uma pes soa fo i

s a lva cont inuará s a lva para s empre . Para s e manter de pé , e s se ens ino

prec isa a t r ibu i r um novo sent ido a determ inado s ens inos d as Escr ituras.É o caso , po r exem plo , do ens ino b íb l ico sobre a “apo s tas ia” , que ne s sa

con cep ção teológ ica pa ssa d a es fera rea l pa ra a h ipo tét ica .11 E sse é , po r

exem plo , o sent ido a t r ibu ído à pas sagem de H ebreus 6 .4 -6 . D e acordo

com esse entend im ento , o tex to não se re fe re a um acon tec im ento rea l,

m as apenas h ipo tético ou que expressa apenas um a poss ib i lidade . E ssa é,

po r exemplo, a pos ição defen dida pe lo exp os i tor b íb lico D on ald G uthr ie ,

que acre di ta que H eb reus 6 .4-6 t ra ta de um “caso h ipo tét ico ” .12 A pe sar

de es sa exegese se r a v i a m a is usad a na in t e rpre t ação des se t ex to , não é

a m a is con tex tua l izada . E ssa po s ição de G uthr ie é negad a , po r exem plo ,

pe lo b at is ta de conv icção ca lv in is ta M i ll ard J . Er ickson. E r ickson procu ra

u m m e io t e rm o r e c o n h e c e n d o q u e H e b r e u s 6 .4 -6 r e a lm e n t e a d m it e a

po s s ib i l ida de da qu eda n a f é . 13 Pa r a o e xp o s i to r W i ll iam L ane , e s s a s

pessoas [Hb 6 .4 -6 ] hav iam tes tem un had o “o fa to de qu e a s alvação e raa rea l idad e inq ues t ion áve l em suas v ida s” .14 U m dos m ais co nce i tuad os

e rud i tos em N ovo T es tam ento , I. H ow ard M ar sha l l, conc lu i a firman do

que : “Um es tudo das descr ições oferec idas aqu i em u m a sér ie de qua t ro

part icípios (aoristo grego ) sugere de mo do conclusivo que um a experiência

gen uína e s tá sendo de scr i ta” .15

  omanos 9.14-33

Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma! Pois 

diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia 

de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, 

nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura  

a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para  

que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-te 

de quem quer e endurece a quem quer. Dir-me-ás, então: Por que se queixa 

ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que o formou:  Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da 

mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se 

Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com  

muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição, para que também 

desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para 

glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não

92 | M aravilhosa Graça

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 A Graça  na  Terra  S anta   | 93

só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como também diz em 

Oseias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada, à que não  era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu  

 povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo. Também Isaías clamava acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, completando-a e abreviando-a. E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra. Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? 

Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei. Tropeçaram na pedra de tropeço, como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo; e todo aquele que crer nela não será confundido.

Coração de Pedra

N o s v e r s í c u l o s 1 4 a 3 3 , P au l o c i t a m a i s e x e m p l o s q u e i l u s t r am

como a graça de Deus se manifes ta dentro do seu propós i to soberano.

Pr im e iram ente t em os o exem plo de I s rae l e o Faraó do E g ito . A graçaamo le ceu a s e rv idão de I s r ae l ao mesmo t empo em que endu receu o

coração de faraó . O so l que derre te o ge lo é o mesmo que endurece o

concreto. A l ição trazida a qui po r Paulo, ob servam os intérpretes d a B íblia,

é que “da mesm a form a com o a pa lavra de Deus endureceu Faraó quando

e le resi st iu , e la end ureceu os de Israe l que não atenderam quand o foram

cham ado s (9.7; cf. SI 95.7,8; Hb 3.7,15; 4.7). A respo sta à qu estão da justiça

de D eus é que D eus é não ap enas justo: e le é m isericord ioso e justo” .16

D iz e r q u e D e u s “ e n d u r e c e u ” a F a r a ó , n ã o p e r m it in d o q u e o

gov e rnan t e e g ípc io n ão t i ves s e nen hum a e s co lha ne s se p roce s so , não

re f l e t e o a rgumento do t ex to . Esse t ex to não e s t á fa l ando no des t ino

eterno das pessoas , mas da manifes tação da soberania e graça de Deus

na co ncre t ização de seu propós ito . O com entar is ta Josep h A. F i tzm eyer

com entando a exp re s s ão “end u rece a quem qu e r” (Rm 9 .18 ), d e s tac aque: “N o AT, o end urecim ento do coração de faraó é , às vezes , atr ibuído

a Deus (Ex 4 .21 ; 7 .3 ; 9 .12) e , outras vezes ao própr io faraó (Êx 7 .14 ;

8 . 1 1 , 1 5 , 2 8 ) . O ‘ e n d u r e c i m e n t o d o c o r a ç ã o ’ p o r D e u s é u m a f o r m a

proto lógica de exp ressar a reação divina à obst inação h um ana pers istente

cont ra E le — um a se lagem de um a s ituação que E le não c r iou . Não é,

po r tan to , re su lt ado de a lgum a dec is ão a rb i tr á r ia ou m esm o p lane j ada

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por par te de D eus , m as o m odo com o o AT exp ressa o reconhec im ento

d iv ino de um a s i tuação que em ana de um a c r ia tu ra que re j e it a o conv i te

de D eus” .17 E ssa passag em , portanto , não serve com o fundam ento para

que se a f i rme que Deus , no seu grande amor , e sco lheu a lguns para o céuenq uanto pre ter iu a outros p ara o infern o.18

N o rm an G e is le r, ap o l o g is ta n o r te -am e r ic an o , c o m e n ta R o m an o s

9 .17 qu ando re spond e à pe rgun t a : Co m o po de r i a Fa raó e s t a r liv r e s e

D eus endureceu o coração de le? G e i sl e r re sponde :

Primeiro, em sua on i s c i ênc i a , Deus s ab i a de an t emão exa t amen te

com o o Faraó ir ia agir, e usou isso p ara real izar os seus prop ósitos . Deu spresc reveu os m e ios da ação liv re , porém te im osa , de Faraó , bem com o

o f im da libertação de Israel . E m Ê xodo 3 .19 , D eus d isse a M oisés : “Eu

se i , porém, que o re i do Eg i to não vos de ixará i r , nem a inda por uma

m ão fo rte” . Faraó re je i tou o ped ido de M oisés e som ente depo is de dez

pragas fo i que f ina lm ente de ixou o povo ir.

Segundo,  é im po rtan te notar que Faraó pr ime i ram ente endureceu o

seu própr io coração . No in íc io , quan do M oisés aprox im ou-se de F araó

com v is tas à libertação dos is rae li tas (Êx 5 .1), Faraó respo nd eu : “Q uem

é o Senhor , cu j a voz eu ouv i re i , para de ixar i r I s rae l ? Não conheço o

Senhor, nem tam pou co deixare i i r Israe l” (Êx 5.2). A passag em que Paulo

c i ta (em Rm 9.17) é Êxodo 9 .16 , a qual , no contexto , re fere -se à praga

das ú lceras , a sexta praga . M as Faraó en du recera o seu coração antes de

D eus af irm ar o que af irm ou. So m ente porqu e D eus levantou F araó , i ssonão q uer d ize r que Faraó n ão se ja re sponsáv e l po r suas ações .

Terceiro, D eus usa a injustiça dos hom ens p ara m ostrar a sua glória. Deus

a inda cons ide ra Faraó re sponsáve l, m as no p rocesso do end urec im ento

do seu coração o Senhor usou Faraó para man i fe s t a r a sua g randeza e

g lór ia . Deus às vezes faz uso de atos maus para obter bons resu l tados .

 A h is tó ria de Jo sé é um b o m exem p lo d is so . Jo sé fo i ven d id o p o r seus

irmã os, e m ais tarde to rnou -se o gov erna nte do E gito. Lá ele salvou m uitas v id as d u ran te o tem p o d e fom e. Q u an do m ais ta rde e le se reve lo u aos

seus i rmãos e os perdoou, d isse - lhes : “Vós bem intentas tes mal contra

m im , po rém D eus o to rnou em bem , pa ra f aze r com o se vê ne st e dia ,

para conse rvar em v ida a um povo gran de” (G n 50 .20). Deu s pode usar

atos perversos para m anifes tar a sua g lór ia (ve ja tam bém o que é exposto

sobre Ê xod o 4 .21 ) .19

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 A Graça  na  Terra  S an ta   | 95

Os Dois Vasos

 A m etáfora dos do is vasos em Rom anos 9 .19-24 parece ensinar um

determ inismo radical. M as fica apenas na aparência, pois o texto está longedisso.20 A l iteratura evan gélica registra que n os E stados U nidos u m gru po

que se autointitulava batistas Presdestinarianos das Duas Sementes  advogava que

esse texto com provava po r A + B que D eus havia fe ito um g rupo para a

salvação e outro pa ra a conden ação .21 E les fizeram seguidores. Algu m as

observa ções que refutam essa exegese devem ser levadas em conta:

1. N o texto de 2 Tim óteo 2.20,21, Paulo usa um a analogia sem elhante

quando se re fere a a lguns t ipos de vasos . Ele até usa as mesmas

pa l av r a s g r egas de R om anos 9 . 21 -23 , tr aduz idas com o honroso  e

desonroso.22 N a passagem de 2 T im óteo 2 .20 ,21 , f ica c laro que esses

 vasos, que rep resen tam pessoas, podem se co nsagrar ao verdadeiro

cu l to a Deus . A m etáfora , por tanto , não exc lu i a livre -escolha .

2. O t e rm o g r e g o u s a d o p o r “ p r e p a r a d o ” c it ad o n a e x p r e s sã o

“ p r e p a r a d o s p a r a a p e r d i ç ã o ” (R m 9 .2 2 ) é katertismena.  A. T.

R ober tson, um dos m ais conce i tuados gram át icos de grego b íb lico

de todos os tempo s, ob serva que esse verbo “é o part ic ípio perfe ito

pass ivo de katari^o,  o verb o q ue s ign if ica “eq uip ar” (ve ja M t 4.21

e 2 Co 13.11) , es tado de es tar preparado. P au lo não d iz aqu i que

Deus fez o que e les f izeram. Que e les são responsáve is pode-se

 v e r em 1 Ts 2 .1 5ss” .23 E m ou tras p a lav ras , D eus n ão fo i a cau sada con dição na qu al se encontravam esses vasos . O tempo perfeito

grego, que s ign i f ica um a ação fe ita no p assado com consequên c ias

no presente , m ostra que houve um a t ra je tór ia percorr ida po r esses

“vasos” até cheg ar aonde chegaram .24 D ale M oo dy d estaca que isso

indica q ue “ no ca m inho da perd ição, certo estágio foi alcan çad o” .25

I s so s i gn i f i c a t ambém que Deus fo i pac i en t e e mi s e r i co rd io so

com um povo r ebe lde e con tum az a té que chegou o m om ento de

execu tar a sua jus t iça . Jam es M offat , em sua c láss ica tradução do

N ovo Tes tam ento , cap tou bem o sen t ido desse tex to : “Q ue quer

d izer, se D eus , em bo ra dese joso de e x ib i r sua ira e m ostrar o seu

pod er , to lerou m ui pac ientem ente os ob je tos da sua ira , m aduros e

pron tos p ara serem destru ído s?”26 O enfoqu e reca i sobre a grand e

m iser icórd ia e pac iênc ia d iv ina .

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3 . O exegeta Josep h A . F i tzm eyer , ao com entar a pa l avra “querend o”

e m R o m a n o s 9 .2 2 , d e s ta c a q u e “ e m b o r a a lg u n s c o m e n t a ris ta s

(Jerônimo, Tom ás de A quino , Barret t , C ranf ie ld , M ichel ) entendam

o part ic íp io thelon   de fo rm a causa l , ‘porqu e qu i s ’, parec e m elhor ,

pe lo co n t ex to ( e spec ia lm en t e em v i st a d a exp res s ão ‘com m ui ta

pac iência’) , entendê-lo de form a concessiva, ‘em bo ra tenh a que rido’ ,

i.e.,  em bora sua ir a pudesse t ê - lo l evado a to rnar conhec ido o seu

poder , sua bondade amorosa o conteve . Deus deu a f a raó t empo

para que se arrependesse [,.i\ prontosparaperdição:  o part icípio perfeito

expressa o es tado no q ual esses “vaso s” se encon tram — ‘pro ntos ’

para o m onte de l ixo . Es te vers ícu lo exp ressa a incom pat ib i lidade

rad ica l d e D eus com os s e re s hum anos r ebe ldes e pecam inosos .

Ele contém, também , um a nuança da predestinação , e a form ulação

de Paulo é m ais gen ér ica do que o exem plo com o qua l e le in ic iou;

é por i s so que es t as pa l avras fo ram ut i l i z adas nas cont rovérs i a s

poster iores sobre a predest inação . Entretanto , não se devería perder  

de vista sua perspectiva coletiva”? 1 ( i tá l icos meus)

  omanos 10.1-21

Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua 

salvação. Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com 

entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando  

estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim  

da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Ora, Moisés descreve a 

justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá 

ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo)? Ou: Quem descerá ao abismo (isto 

é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)? Mas que diz? A palavra está 

junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, 

a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração,  

creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração 

se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a  

Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico 

 para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome 

do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram?  

E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há 

quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito:  

Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas 

boas! Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem

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 A Graça  na  Terra  S an ta   | 97

creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra 

de Deus. Mas digo: Porventura, não ouviram? Sim, por certo, pois por toda a 

terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo. Mas digo: 

Porventura, Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos meterei 

em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei 

à ira. E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que me não buscavam, fui  

manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas contra Israel diz: Todo 

o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.

O Eco da Palavra de Deus

Essa seção que se estende po r todo o capítulo 10 de Rom anos tem duas

divisões pr incipais. N a pr im eira delas o apó stolo desenvolve o argum ento

de que a re je ição de Israe l se deu po r con ta da busca da just if icação pelas

obras e não pe la fé. O ap ósto lo m ostra a im po ss ib i lidade d a jus t if icação

pe los m ér itos da le i pe la ra zã o d e qu e o f im d a le i é Cr isto (v. 4 ) .28 O

exp os i tor Cha r les C ou sar destaca o fato de o vers ícu lo 4 do capí tu lo 10

de Rom anos e s ta r tr aduzido n a ver s ão am er ic ana N R SV com o o “ f im”

ou “ térm ino ” da le i. “Pau lo h avia ins is t ido que a le i é santa , jus ta e boa

(Rm 7 .12) e que t e s temunha ace rca da ju s t i ç a de Deus que é r eceb ida

pe la fé (3 .21). E le t inha d i to que D eus a tuou na m or te de J e sus Cr i sto

para cumpr ir ‘o requ is i to da le i ’ (8 .4) , suger indo que a melhor t radução

é ‘m eta ’ ou ‘p ro pó s i to ’ . 0 que Pau lo e s t á a f irm ando nes ta le itu ra é que a

própr i a le i não t em out ra co i sa com o fundam ento senão C r is to com o a

base d a just iça pa ra todo s os que cre em (1 Tm 1.4)”.29

 A o ass im fazer, estav am b uscan d o a sua p ró p r ia ju stiç a em vez de

aceitarem a que lhes foi outorgad a por D eus em Cristo Jesus. E les tropeçaram

na le i. O segun do argum ento do apó stolo m ostra que essa re jeição não se

deu po r falta de testemun ho da parte de D eus (Rm 10.8-21). Pelo contrário,

as Escr i turas eram a prova documenta l das adver tênc ias que Deus lhes

f izera no passado. A qui os judeus t ropeçaram na palavra de D eus quando

se recusaram ou se fizeram de surdos para n ão ouv irem os ecos de sua voz.

  omanos 11.1-10

Digo, pois: porventura, rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum! Porque  

também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus 

não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura 

diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus 

 profetas e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? 

Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões, que não

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dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou 

um resto, segundo a eleição da graça. Mas, se é por graça, já não é pelas obras; 

de outra maneira, a graça já não é graça. Pois quê? O que Israel buscava não o 

alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono; olhos para não verem e 

ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua 

mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, por sua retribuição; escureçam- 

se-lhes os olhos para não verem, e encurvem-se-lhes continuamente as costas.

Deus Tem suas Reservas

Re c o r r e n d o n o v ame n t e ao mé t o d o d e diatribe,  Pau lo r e sponde às

possíve is objeções sobre a re je ição de Israe l . E ssa seção introdu z a f igura

do remanescente que deu cont inu idade ao propós i to e l e t ivo de Deus .

Se e r a um fa to que I s r ae l hav ia fa lhado com o d i sse ra Pau lo , en tão com o

f icar iam as prom essas que D eus f ize ra no pa ssado a seu povo? E las se

ext ingu i r am ? N ão hav ia m ais nad a que D eus pud esse tr a t a r com Is rae l?

O ap ó s t o l o mo s t r a q u e a g r an d e ma i o r i a d e I s r a e l h av i a r e j e i t ad o a

jus t iça que vem da fé em Cr isto , m as que essa re je ição não era tota l nem

def in i t iva . Em me io a e s se processo de r e j e i ção , Deus sempre contou

com um r em anescen te f ie l a quem e sco lheu . Com o em Ro m anos 9 . 11 ,

aq ui a eleição (gr . eklogé)  se deu inte iram ente pe la graça e não p e las obras

(Rm 11 .5 ,7 ) . A graça sem pre t em suas r ese rvas . Pau lo c i ta seu própr io

exem plo e do profe ta E l ias com o rem anescen te que foram f ié is a D eus .

  omanos 11.11-24

Digo, pois: porventura, tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum! 

Mas, pela sua queda, veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. 

E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos 

gentios, quanto mais a sua plenitude! Porque convosco falo, gentios, que, 

enquanto fo r apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério; para ver  

se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar  

alguns deles. Porque, se a sua:rfejeição é a reconciliação do mundo, qual será 

a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? E, se as primícias são santas, 

também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. E se alguns 

dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em  

lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories  

contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz,  

mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse  

enxertado. Está bem! Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em

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 A Graça  na  Terra  S anta   | 99

 pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou  

os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. Considera, pois, a 

bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, 

 para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem 

na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar 

a enxertar. Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a 

natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, 

serão enxertados na sua própria oliveira!

 A Oliveira e seu Enxerto

O expositor bíblico Law rence R ichards destaca que “a rejeição judaica

da just iça pela fé em D eus abr iu espaço para um núm ero m uito grande de

gentios a serem enxertados na árvore enraizada na antiga aliança de Deu s com

 A braão. E sta não deveria ser ob je to de orgulho gentio , m as de advertência .

N un ca aba ndo ne o princípio de salvação pela graça através da fé”.30

 A exortação de Paulo nessa porção das Escrituras é clara — os judeus,

i lu s t r ados pe lo exemplo da o l ive i r a ve rdade i r a , em razão de quere rem

cum prir a justiça divina através das ob ras, foram rejeitados. A oliveira não foi

arrancada, apenas teve seus galhos q uebrados e no lugar destes enxertados

os gent ios . N enh um gent io pod ia se glor iar desse fato porque, ass im com o

os ramo s natura is foram q uebrados , o enxer to da m esm a form a poder ia

ser arrancado. E ra, portanto, mo tivo de tem or e não d e exaltação.

Romanos 11.25-36Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais  

de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que haja a 

 plenitude dos gentios haja entrado. E, assim, todo o Israel será salvo, como está 

escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E este será  

o meu concerto com eles, quando eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto  

ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por 

causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. 

Porque assim como vós também, antigamente, fostes desobedientes a Deus, 

mas, agora, alcançastes misericórdia pela desobediência deles, assim também  

estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela 

misericórdia a vós demonstrada. Porque Deus encerrou a todos debaixo da 

desobediência, para com todos usar de misericórdia. O profundidade das riquezas, 

tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus 

juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o

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íoo | M aravilhosa  G raça 

intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro 

a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são  

todas as coisas; glória, pois, e ele eternamente. Amém!

 A Graça Restauradora

Q ualquer exegese que não contem pla um a res tauração em m assa que

acon tece rá com Is rae l no fu tu ro cont rad iz a a rgum entação de Pau lo em

Ro m anos 11.25-36. O escri tor O. Palmer Ro bertson gastou 200 páginas de

seu l ivro argum entand o qu e “todo o Israe l” c i tado p or Paulo não s ignif ica

“o todo Israe l” . Expl ico . Pa lmer fo i minuc ioso na sua exegese a f im deprovar que o pro je to d e D eus não é com o Israe l nação , m as com o Israe l

c r is tão . E m outras pa lavras , o pro je to d e D eus não é com o Israe l étn ico ,

m as som ente com o I s rae l ele ito . N o seu en tend imen to , o “ todo I s rae l”

que Pau lo c i tou não se re fe re à nação juda ica , mas a “ todos os judeus

e le itos em C ris to” . A referên c ia ser ia , po rtanto , aos jud eus m ess iân icos

que receberam a Cr i s to como Sa lvador . A exegese de Pa lmer en t ra em

rota de co l is ão com out ros in té rpre te s de renom e , com o p or exemplo ,Leon M orr is . A m eu ver , o argum ento de Palm er se torna frági l quando o

faz depen der quase que inte iram ente da tradução da con junção grega kai  

e do p ronom e outos  em Ro m anos 11 .26 . Segundo e l e , a t radução corre ta

dessa expressão é “dessa form a” , e não “e en tão” com o t raz a ma ior ia

das ve rsões da B íb l ia . Fu ndam entado nessa conv icção , e le com ple ta : “a

conc lusão a que se pode l eg it im am ente chega r é a de que “ todo I s rae l”

refere-se a todo s os judeu s e le itos . T odo s do v erdad e i ro Israe l de Deus ,

o eleito do P ai, serão salvo s” .31

 A te o r ia d e O. P a lm e r R o b e rtso n é b em c o n s tru íd a , m as n ão se

enqu adra naqui lo que Paulo procuro u m ostrar entre os capítu los 9 e 11 de

Rom anos. A pa lavra “todos” é entendida pela gran de m aioria dos intérpretes

com o sendo u m a referênc ia c lara ao Israe l é tn ico . E desse Israe l é tn ico

que Pau lo vem fa lando co m o sendo am ados po r causa dos pa t ri a rcas e

não apen as a “tod os” os israel itas eleitos (Rm 11.28). A exegese d e Palm er

ignora a exp ectativa escatológica c laram ente m ostrada pelo a póstolo nesse

cap ítu lo . N o entend im ento do apó s to lo , o M ess ias , que fora reje it ado ,

 vo lta rá n ovam en te com o L ib ertado r, e quan do e le v o ltar “apartará de Jacó  

as impiedade / ’ (Rm 11 .26) . Esse ve rs ícu lo só t em sent ido den t ro de um

contexto e sca to lóg ico fu tu ro . Esse fa to é c la ram ente dem onst rado po r

Pau lo qu ando e l e a f irm a que a v inda do M ess ias L ibe r tador acontece rá

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 A Graça  na  Terra  S anta   | 101

somente após haver se cumpr ido a p len i tude dos gent ios . “A té que haja  

entrado a plenitude dos gentios”   (Rm 11 .25) . I s so ev identemente a inda não

aconteceu . Ao con trário da tese de Palmer , em que “tod o Israe l” se lim i ta

apenas aos judeus m ess iân icos , o “todo Israe l” de Pau lo é um a referênc ia

ao Israe l é tn ico qu e se vo l tará em m assa qu and o o M ess ias vo l tar .32

 A g ra ç a q u e a lc an ç o u o s g e n t io s , a g r a ç a qu e a lc an ço u os ju d eu s

m essiânicos, é a m esm a graça que reservo u um futuro glor ioso p ara Israe l.

“O rai pela paz de Jerusa lém ! Prospe rarão aqueles que te am am ” (SI 122.6).

1FITZMEYER, Joseph A.  Romanos  —  Novo Comentário bíblico São Jerônimo.  Editora 

 Academia Cristã/Paulus, 2015.

2 RICHARDS, Lawrence. Guia do Leitor da Bíb lia — Uma A nálise de Gênesis a Apocalipse 

Cap ítulo por Capítulo.  9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

3  HUGO, M. Petter. Concordância Greco-Espanola de i N uevo Testamento.  Barcelona, 

Espanha: Editorial CLIE.

4 DALE, Dave.  Rom anos  — Comentário Bíblico Broadman.  Rio de Janeiro: JUERP.

5 Em Atos dos Apóstolos 9.15, encontramos a palavra “eleição” (gr. ekloge),  derivada 

de eklegomai , usada no Novo Testamento com sentido individual. Todavia, nessa 

 passagem, a exemplo das demais, a palavra “eleição” não é usada em relação à salvação 

individual, mas ao serviço cristão. Por sua vez, o termo grego eklegomai , traduzido 

como eleger, escolher, aparece 22 vezes no Novo Testamento grego. Em algumas 

referências, o seu sentido é simplesmente de escolher uma coisa dentre outras (Lc 

10.42; At 6.5). Em outras passagens, o termo possui conotação corporativa (Ef  

1.4: “Nos escolheu nele) ou serviçal (At 1.24: “Mostra-nos qual destes escolheu”). Outra palavra grega, eklektos,  derivada também de eklegomai   (escolher, eleger), e que 

também ocorre 22 vezes no texto grego do Novo Testamento é usada de forma 

semelhante. Nesses textos, também prevalece o sentido corporativo ou para o serviço  

(missão, propósito, etc.), e não de uma eleição individual para a salvação. Quando  

usado em relação a indivíduos, como, por exemplo, em Romanos 16.13, o sentido  

é serviçal, e não salvífico. O expositor Stanley Clark descarta o sentido de “eleição” 

 para a salvação em Romanos 16.13 e traduz como “cristão exemplar” (Comentário de 

 Romanos,  Mundo Hispano). Por outro lado, o termo grego  proorispi,  traduzido como 

“predestinação”, ocorre 6 vezes no Novo Testamento grego. Uma é aplicada em 

referência a Cristo (At 4.28) e as outras 5 vezes são de uso paulino nas epístolas (Rm 

8.29,30; 1 Co 2.7, aqui em referência à sabedoria divina; Ef 1.5,11). Assim como  

ekloge  (eleição), o termo grego proorispi  (predestinação) tem seu uso majoritariamente 

coorporativo. Veja uma análise exaustiva na obra  A n alitica l Concordance o f the Greek  

 N ew Testament, volume 1 <& 2   (Philip S. Clapp, Barbara Friberg and Timothy Friberg. 

Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1991).

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6 MOODY, Dale. Comentário bíblico Broadman.  Rio de Janeiro: JUERP.

7 WILLIMINGTON , Harold. Guia Willmingtonpara a Bíblia  — G uia completo.  Rio de 

 Janeiro: Editora Central Gospel.

8 Veja uma discussão aprofundada sobre o livre-arbítrio na obra de Norman Geisler: 

 Eleitos, mas Livres   (Editora Vida).

9 OLSON, Roger. Contra o Calvinismo.  São Paulo: Editora Reflexão.

10 Idem.

11 A apostasia é um fato documentado na Bíblia, mas está presente também ao longo 

da história da igreja. Tenho em mãos o livro Todos os Cam inhos Levam a Rom a,  escrito 

 por Scoth Hahn. Hahn foi um teólogo presbiteriano que se converteu ao catolicismo. 

No site da Wikipédia, lemos que ele é um “autor contemporâneo e teólogo católico. 

Famoso pastor presbiteriano, utilizava todas as suas forças para converter pessoas da 

Igreja Católica para a Evangélica, até que ele mesmo veio a converter-se ao catolicismo”. 

É lógico concluir que Hahn, na sua antiga condição de teólogo reformado, também  

acreditava na eleição incondicional e segurança eterna do crente. Por outro lado,  

também tenho em mãos o ] i v toA U T h in g sA reP o s s ib le  (Todas as Coisas São Possíveis), 

escrito pelo ex-pastor e teólogo pentecostal sueco Ulf Ekman. A exemplo de Hahn, 

Ekman também anunciou que deixou as fileiras do pentecostalismo para se converter 

ao catolicismo. As conversões desses dois teólogos são exibidas à exaustão como  

 verdadeiros troféus pela mídia católica. Casos como os de Scoth Hahn e U lf Ekman 

ilustram claramente a possibilidade do abandono da fé, que a eleição é condicional e que 

a segurança eterna é para quem permanece em Cristo, conforme mostra Hebreus 6.4-6.

12 GUTRHIE, Donald. Teologia do Novo Testamento.  São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

13 ERICKSON, Milard J. Teologia Sistemática.  São Paulo: Vida Nova, 2015 .

14

 LANE, William. Hebrem,

2vols. 

WBC, 1991. A principal dificuldade com a interpretação 

do “caso hipotético” nessa passagem, além daquela de natureza contextuai já mostrada,  

é também de natureza gramatical. O particípio grego de “caíram”, “desviar-se”, deve  

ser traduzido como “recaíram” ou “tendo caído”. A ideia aqui, portanto, é que caíram 

de fato. A tentativa de se suavizar o uso dos particípios, alegando que eles “podem” 

ser hipotéticos, é rejeitada por renomados gramáticos. William Barclay, por exemplo, 

 vê em Hebreus 6.4-6 um fato real com quem nega a Cristo em tempo de perseguição 

(BARCLAY, William.  Rom anos — Comentário a lN uev o Testamento.  Editorial CLIE). 

Por outro lado, A. T. Robertson destaca que todos os extremos mostrados aqui são 

apresentados como “verdadeiras experiências espirituais” e que este caso é semelhante 

ao narrado em Gálatas 5.4 onde se usa o mesmo tempo verbal. Robertson destaca 

ainda que o autor fala de quem outra vez estava crucificando o Filho de Deus e que  

“esta era a razão de que é impossível a renovação de tais apóstatas” (Robertson, A. T. 

Comentário ao Texto Griego delNuevo Testamento.  Editorial CLIE).

15 MARSHAL, I. Howard.  Kep t b j the Power o f God: A Study o f Perseverance and Falling 

 A w a j.  2. ed. Bethany House Pubublishers, 1975.

102 | M aravilhosa  G raça 

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 A Graça  na  Terra  S anta   | 103

16 MOODY, Dale.  Rom anos   — Comentário Bíblico Broadman.  Op.cit.

17 FITZMEYER, Joseph A .  Rom anos   —  N ovo Comentário B íblico São Jeronimo.  Editora 

 Academia Cristã/Paulus, 2015.

18 HUNT, Dave, (ju e A m o r E E s se?—  A F a ls a Representação de Deu s no Calvinismo.  São 

Paulo: Editora Reflexão. Disponível também no canal do YouTube.

19 GEISLER, Norman. M anual Popular —  Enciclopédia de Dúvidas, Enigmas e “Contradições”  

da Bíblia.  São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1999.

20 Joseph A. Fitzmyer destaca que a expressão “vasos de misericórdia” aparece em 

um contexto em que se fala de “povos”, isto é, a relação entre judeus e gentios (Rm 

9— 11). (Novo Comentário Bíblico São Jerônimo  —  Romanos,  p. 570).

21 MOODY, Dale.  Rom anos — Comentário B íblico Broadman.  Rio de Janeiro: JUERP.

22 As palavras gregas atimia,  traduzida como “desonra”, ocorre sete vezes no Novo  

 Testamento grego e duas vezes em Romanos. Por outro lado, a palavra grega timê, 

traduzida com “honroso”, ocorre 41 vezes no Novo Testamento grego, sendo quatro 

delas em Romanos.

23 ROBERTSON, A. T. Comentário A l Texto Griego del Nuevo Testamento  —  Romanos. 

Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.

24 Veja uma exposição detalhada sobre a sintaxe do tempo perfeito na obra A M anual  

Grammar o f the Greek N ew Testament,  dos escritores H. E. Dana e Julius R. Mantey 

(MacMillan Company, 1967).

25 MOODY, Dale. Op.cit. p. 272.

26 MOFFAT, James. M offa t New Testament, Remans 9.  Disponível em http://studybible. 

info/version/Moffatt.

27 FITZMEYER, Joseph A.  Rom anos  —  Novo Comentário B íblico São Jeronimo.  Editora 

 Academia Cristã/Paulus, 2015.

28 Veja uma exposição detalhada com respeito ao papel da lei em relação aos cristãos 

em L e i e Evangelho — Cinco Pontos de Vista.  GUNDRY, Stanley. São Paulo: Editora Vida.

29 COUSAR, Charles in  Rom an s — The New Interpreters Bible Commentary.  Nashville: 

 Abingdon Press, 2010.

30 RICHARDS,. Lawrence. G ttia do Leitor da Bíblia.  9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

31

 ROBERTSON, O. Palmer.O  Israel de Deus

 — Passado, Presente e Futuro. 

São Paulo: 

Editora Vida, 2000.

32 Da última vez que estive em Israel, tive contato com judeus messiânicos. Em  

conversa com eles, fui informado de que o seu número não deveria passar de dez  

mil. Um número expressivo, mas dificilmente expressa o que Paulo quis dizer em 

relação ao “todo Israel” citado em Romanos 11.

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Capítulo

9U m a  V  id a  

Cheia  de  GRAÇA 

  omanos 12.1,2

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo  

em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E 

não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação  

do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e  perfeita vontade de Deus.

 As Dimensões da Adoração Cristã

“Rogo-vos,pois, irmãos...” (12.1).  O após to lo começa o cap í tu lo 12 de

R o m a n o s c o m u m p e d i d o . A p a l a v r a “ r o g a r ” t r a d u z o t e r m o g r e g o

 parakalô,  fo rm ado pe l a p r epos i ção g r ega “para”   (ao lado, ao lado de) e

“kaleo” ( cham ar ). N o greg o c l ás s ico , e s sa pa l avra po ssu ía uso m i li ta r e

era usada quando um com andan te exor tava suas t ropas .1Aq ui o apósto lo

cham a os irm ãos p ara pe r to de le , para f ic arem ao lado de le a fim de que

po ssam receber as exor tações que lhes d ará em segu ida .

"... pela compaixão de Deus... ” (12.1).  A p a l av r a t rad u z i d a aq u i co m o

“m ise r icó rd i a” t raduz o g r ego oiktimos.  O c o r r e c i n c o v e z e s n o No v o

 T estam en to g rego , sendo que quatro vezes é de u so pau lin o . O ad jetivooiktimon , d e r iv a d o d e s s a p a l a v r a , é t ra d u z i d o e m L u c a s 6 . 3 6 c o m o

“vo sso Pa i é m ise r ico rd ioso ” .2 Pau lo , po r tan to , f az um rogo aos seus

i r mão s r o man o s , mas o f a z f u n d ame n t ad o n a m i s e r i c ó r d i a d e De u s .

E s sa m is e r icó rd i a d iv ina e s tá pe rm eada n a sua c a r t a de sde o p r ime i ro

capí tu lo até aqu i . Foi essa m iser icórd ia que acolheu a todo s e les quando

a inda e ram pecadores .

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Uma  V ida  Cheia  de Graça   | 105

"... que apresenteis... ” (12.1). P ara de ixar os crentes em p ront idão , Paulo

usou u m a pa lavra de cunho m i litar para exortá- los . A go ra , para co nvocá-

lo s à ado ração , e le u s a um t e rm o ex t r a ído do r i t ua l do cu l to lev í tico .

D entre os m ui tos sent idos assum idos po r esse vocáb ulo no grego ant igo ,

o lex i cóg ra fo W a lt e r B aue r d es taca s eu s en tido f igu rado na lingu agem

do sacr i f íc io com o o ferta .3 O ex po s i tor b íb l ico Fr i tz R ienec ker des taca

tam bém que “ap resen tar” (gr. paristemi  ) p o ssu i u m sen tid o técn ico pa ra

a apresen tação de um sacr i f í c io , s i gn i f i cando l i t e ra lmente “co locar de

l ado” para qu a lquer p ropó s ito .4

"...0 

 vosso corpo em sacrifício vivo...” (12.1).  N ã o h á d ú v i d a q u e P a u l ot inha em mente o s i s t ema de sacr i f í c io l ev í t i co quando escreveu es sas

r e c o m e n d a ç õ e s . A s s i m c o m o u m a n i m a l i n o c e n t e e r a o f e r t a d o e m

sacr if íc io na an t iga a l iança , da m esm a form a o cr is tão devia apresen tar o

seu corpo a D eus . A d i ferença era que lá a oferta era apresentad a m orta e

aqui a oferta é apresentada v iva . Ao co ntrár io do pen sam ento grego , que

 v ia o co rp o com o a p risão da a lm a, P au lo d á g ran d e im p o rtân c ia à no ssa

d im ensão corpó rea . D evem os ev i t a r o dua l ism o ps i co f ís ico in t rodu z idona cu l tura oc iden ta l pe lo f iló sofo R ené D escar tes . N a con cepção desse

pensado r f rancês , o hom em é fo rmad o p o r um a pa r t e pensan t e e ou tr a

f ís ica. I sso não de ixa de ser um a verdade, m as da form a com o é en tendida

no racional ism o ca rtes iano, fat ia o ho m em em partes d istintas e separadas

um a da ou tr a . A conseq uênc i a é a c r ia ção de um dua l ism o co rpo -a lm a

onde se p r iv i l eg i a a par t e rac iona l humana em det r imento do seu l ado

subjetivo . N o con texto b íb lico , o ho m em é um ser in tegra l , form ado p orespír i to , a lma e corpo (1 Ts 5.23; 1 Co 14.14) .5

“... santo e agradável a Deus” (12.1).  O sacrif ício deve ser apresen tado vivo,

m as t ambém de fo rm a san ta e ag radáve l. N o contex to neo test am entário ,

a p a l av ra “ s an to” que r d i z e r “ s epa rado ” . É um t e rm o m u ito com um na

Sep tuag in ta g re ga quand o se re fere ao T abernácu lo e aos seus u tens íl io s

usados no cu lto . A qu e le que q uer se rv i r a D eus d eve ser s eparado para

o seu serv iço . Prec isa , portanto , se consc ient izar de que há l imi tes que

devem ser respe i t ados . Não há dúv idas de que a f a l t a de v i t a l idade no

c r is tia n i s m o h o d ie r n o s e d á e m c o n s e q u ê n c i a d e s s a f ro u x i d ã o m o r a l,

con sequ ênc ia d e um conce i to equ ivocado da do u t r in a d a s an t if ic ação .

Quando o sacr i f í c io é apresen tado v ivo e de fo rma san ta , en tão e l e se

torna agradável a Deus. O com entaris ta am ericano R obert G un dry destaca

que o sacr i f íc io deve ser pr imeiramente “ . . . v ivo (no sent ido de ‘para ’ )

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D eu s” (com pare 6 ,13) ; em segundo lugar , “con sagrado para D eus em vez

de s e r dom inado pe lo pecado ” ( como os pagãos que deson ravam s eus

corpo s através das concu piscências , com o m ostra R m 1.24); e , portanto ,

a g r a d á v e l a D e u s ” ( c o m p a r a n d o c o m a d e s c r iç ã o d a q u e im a d e

sacr if íc ios de an ima i s com o o fer t a de “um che i ro ag rad áve l ao Senh or”

(Lv 1 .9 ,13 ,17) . Só que em R om ano s os sacr if íc ios es tão v ivos . A ss im , “o

serviço do culto é agradável” abrangen do a totalidade da co nd uta corporal

em vez de se l im i ta r a s cer im ôn ias ocas iona i s ou a té m esm o regu la res ,

com o n a o fer t a de sacr i fíc ios de an ima i s sob a l e i m osa ica .6

"... que é o vosso culto raàonal” (12.1).  R o b e r t G u n d r y o b s e r v a q u e aq u i

Pau lo con t rast a a adoração pa gã com a adoração cr i st ã . N aq ue la o cu lto

era ir rac ion a l , adorando a c r ia tura em luga r do Cr i ador . Por o ut ro lado ,

no cu l to c r i st ão , qu e acon t ece de fo rm a rac ion a l , o C r iado r , e n ão a

cr ia tura , se to rna o c en to d a adoração .7 E ssa recom end ação apo s tó li ca

e s tá em s in ton ia com aqu i lo que e l e e s c reveu ao s c r en t e s de Co r in to ,

r e co m en da n do - o s q u e f i z e s s em t u do co m “ decên c i a e o r dem ” ( 1 C o

14 .40). U m cu l to c r is tão que não t em h ora para com eçar nem tamp oucopara term inar ; que é desprovido de l iturg ia ; em que a p essoa não consegue

des l igar o ce lu lar; que prom ove o ex ib ic ion ism o hu m ano ; que é mo t ivado

po r gord os cachês , etc.; não é um a adoração racional , m uito m eno s cr is tã .

“E não vos conformeis com este mundo... ” (12.2).  A q u i o a p ó s t o lo u s a o

imp era t ivo p resen te com a nega t iva “n ão ” para a l e r ta r os c r is t ãos sobre

q u a l p o s tu r a d e v e m a s s u m ir n e s t e m u n d o . O te r m o schemati^esthai, 

t ra du z ido a q u i co m o “ co n f o r m a r ” , tem o sen t ido de “ m o l da r ” . E o

m esm o verbo usado pe lo após to lo Ped ro quand o escreve u aos c ris tãos :

“C om o f ilho s obe d i en t e s , n ão vos conformando  com a s con cup i scênc i a s

que antes havia em vo ssa igno rân cia” (1 Pe 1 .14). A ss im co m o o líqu ido

as sum e a fo rm a do r ec ip i en t e que ocupa , da m esm a fo rm a o cren t e , se

n ã o s e g u ia r p e l a P a la v r a de D eu s , p o de s e r m o l da do de a co r do co m a

cu l t u ra à sua vo lt a . Pa ra que i sso n ão aco n t eça , é p rec i so i n t e r rom pe r

u m a a ç ão q u e p o de e s ta r em cu r so , co m o s u g e re o tem p o p r e s en te do

t ex to g rego des s e ve r s í cu lo . O expos i to r su í ço Frédé r i c Lou i s Gode t

c o m e n ta q u e o “ te r m o esquema   d e n o ta a m a n e i ra d e s e c o m p o r t a r,

a t i tude , pose ; e.schemati%esthai , v e rbo de r i vado de l e , s ign i f ic a a ado ção

o u im it a ç ã o de s s a p o s e o u m o do r e c eb i do d e co n d u t a . O t e rm o (e ste )

m u n do p r e s en t e é u s a do n o s r a b i n o s p a r a d en o t a r t o do o e s t a do de

c o i sa s q u e a n t e c e d e a é p o c a d o M e s s ia s ; n o N o v o T e s ta m e n t o , e le

io6 | M aravilhosa  G raça 

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Uma  V ida  Cheia  de Graça   | 109

no N ovo T es tam en to , ao qu a l i n t it u lou de O Dom da Profecia. A t e se de

G r u d e m é q u e a p r o f e c i a n o N o v o T e s t a m e n t o n ã o e s t á n o m e s m o

patam ar daqu e la dos profe tas do A nt igo Testam ento . Ele argum enta que

essas profecias “e ram s im plesm ente um re la tór io b as tan te hum ano — e,

à s veze s , p a r c i a lm en te equ ivocado — do que o E sp í rit o San to t r az ia à

m ente de um a pessoa em espec ia l” .9 Para funda m entar sua tese , Grud em

c it a o c a so d e A g ab o , p r o f e t a d o N o v o T e s tam e n t o . P r im e ir am e n t e ,

ao f azer um a aná lis e de A tos 21 . 10 ,11 , G rudem acusa A gabo de ten t a r

f a la r com o os p ro fe t a s do A nt i go Te s t amen to : “ a f r as e in t rodu tó r ia de

 A gab o — “A ss im d iz o S en h o r” —- su g ere u m a ten ta tiv a de fa la r co m o

os profe tas do A T q ue d iz iam : “A ss im d iz o S enh or . .. ” .10 G ru d em va i

m a is lo n g e e m s eu a r g u m e n t o e te n t a a g o r a p ro v a r q u e A g ab o m e n t iu

e q u e , s e v i v e s s e n o s d i a s d o A n t i g o T e s t a m e n t o , s e r i a a p e d r e j a d o

como f a l so p ro fe t a . “Pe lo pad r ão do AT” , d i z e l e , “Agabo t e r i a s i do

c o n d e n a d o c o m o f a l s o p r o f e t a , p o r q u e e m A t o s 2 1 . 2 7 - 3 5 n e n h u m a

de suas p r ev isõe s é cum pr ida” . 11 D e aco rdo com G rudem , o p r im e iro

e r ro de A gab o t e ria s ido a sua p r ev is ão e r r ada de quem “am ar r a r i a” aPau lo . A gabo d i s s e r a que s e r iam os judeus , quan do na ve rdad e fo r am

os rom anos . O s egun do e r ro de A gabo , na aná lis e de G rudem , fo i t e r

se engan ado quan to ao fa to de t e r p red i to que os judeus “ ent reg ar i am ”

Pau lo nas m ãos dos gent ios qua ndo n a ve rdade as au tor idades rom anas

( gen tio s ) o t e r iam tom ado à fo r ç a das m ãos dos j udeus.

Po is bem , eu l am en to que W ayne G rudem , na sua aná lis e , chegue a

e s s a conc lu são to t a lm en te d ivo r c i ada do t ex to b íb l ico . A sua exege ses im p le sm en te não s e su s ten t a den t ro do con tex to da teo log i a l u c ana

reg is t rada em A tos . Em pr im eiro lugar , se A gabo , de fato , t ivesse er rado

ou m ent ido com o sugeriu G rudem , Lucas — que escreveu o livro de A tos

e acom pan hou Pau lo a pa r t ir d e A tos 16 .10 — t e ria s ido o p r im e iro a

dizer isso. Pelo contrário, não há n ad a na teologia lucan a que sugira isso. A

teolog ia car ism át ica de L ucas, com o dem onstrou R oger Stronstad , m ostra

que Agabo e s t á den t ro daqu i lo que fo i p ro fe t i z ado na e r a mes s i ân i c a

 — a re s tau ra ção d o E sp ír ito p ro fé tico n a e ra d a ig re ja .12 L u cas m o stra

 A g ab o , d e n tro d a n o v a e ra m e ss iâ n ic a , co m o u m v e rd ad e iro p ro fe ta

d o Se n h o r . A a c u s a ç ão d e q u e A g ab o s e c o n f u n d i u e e r r o u ao tr o c a r

“ judeus” por “rom ano s” , sim plesm ente não se sustenta. O profe ta previu

a c au sa do ap r i s ionamen to de Pau lo , o que e s t á c l a r amen te mos t r ado

em A tos 21 .27 -30 , que e le fo i m ot ivado pe los judeus . “Q uan do os se te

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d ias es t avam quase a t e rminar , o s judeus da Ás ia , vendo-o no t emplo ,

a lvo roça ram todo o povo e l ança ram m ão d e l e” (A t 21 .27 ) . Os j udeus

foram a causa do apr i s ionamento de Pau lo , e o Esp í r i to p rofé t i co que

es t ava sob re Ágabo v iu com an t ec ip ação e s s e f a to . Se um ju i z manda

prender um m arg ina l e o po li c ia l cump re a o rdem , n inguém va i d izer que

o po l ic i a l p ren de u o ban d ido , m as que o ju i z fez i sso . O ju iz fo i a causa

d a p ris ão . D a m e s m a f o r m a , q u e m c a u s o u o a p r is io n a m e n t o d e P a u lo

fo ram os j udeus , e n ão o s g en t io s . Grudem, que s e apega a m inúc i a s

do t ex to g rego , qu ando t en ta d es ac red i ta r o p ro fe t a Ágab o , d eve r i a te r

pe rceb ido que o t e rm o g rego “ aga r r a r am ” ( gr. epiballâ)  u s ado em Atos

21.27 ,30 , tem o sent ido d e “cap turar” , “ lan çar as mãos sob re” , e é usado

em re l ação aos judeu s , e não aos rom anos .

O s e g u n d o s u p o s t o e r r o d e Á g a b o , n a a n á l i s e d e G r u d e m , e s t á

n o s d e t a lh e s d o c u m p r im e n t o d a p r o f e c ia . E m v e z d e P a u l o te r s id o

“en t r egue” , n a ve rd ade e le t e r ia s ido “ tom ado ” à fo rça pe lo s g en t io s .

I s so é con fund i r s e i s com me i a dúz i a . Grudem aqu i g a s t a mu i t a t i n t a

f a ze n d o c r u z a m e n t o d e r e f e rê n c i a s p a r a m o s t ra r q u e , le v a n d o - s e e mc o n t a e s s e s d e t a l h e s , Á g a b o e r r o u r e d o n d a m e n t e . U m e x e m p l o d a

p ro fec ia do A n t i go Tes t am en to r e so lve e s sa qu es tão d os d e t a lhes que

acom panh am aqui lo que o cronista registra em pronu nciam ento profético.

 A p ro fe c ia p o ssu i u m a e ssên c ia , u m a m e n sag e m p r in c ip a l, sen d o q ue

os de ta lhes não a cont rad izem . V e jamo s o li v ro de 2 Re i s 9 .1 -10 . N esse

t ex to , o p ro fe t a E l i s eu chama um dos f i l ho s dos p ro fe t a s e manda -o

en t rega r um a p ro fec i a a J eú , com and an t e d a s fo rça s d e I s r ae l. E lis eudeu ins truções de ta lhadas ao seu d i sc ípu lo d izendo que dever i a l evar um

 v aso d e aze ite e, lá ch egan d o , p ro fe tiza r : “A ss im d iz o S en h o r: U n g i-te

re i sobre I s rae l . Então , abre a por ta , e foge , e não t e de tenhas” (2 Rs

9 .3 ) . E ra só i sso q ue o p ro fe ta m and ou d izer . M as ve j a os de ta lhes que

são acrescen tados na en t rega da p rofec i a nos vers í cu los 6 a 10: “Então ,

se l evan tou , e en t rou n a casa , e der ram ou o aze i te sobre a sua cabeça , e

lhe d i sse : A ss im d iz o S enhor , De us de I s rae l : U ng i - t e re i sobre o povo

do S enhor , sobre I s rae l. E fe r irás a casa de A cab e , teu sen hor , para que

eu v ingu e o sang ue de m eus servos , o s p rofe tas , e o sangue d e todos os

s e rvos do Senh or d a m ão de J ez ab e l . E toda a c a s a d e Aca be p e rece rá ;

e d es t ru i r e i d e Acabe todo va rão , t an to o ence r r ado como o l i v r e em

Is rae l. Po rque à c a s a d e A cabe h e i d e f az e r com o à ca s a de J e roboão ,

f ilho de N ebate, e com o à casa de Ba asa, f ilho de Aías . E os cães com erão

n o | M aravilhosa  G raça 

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a J e zab e l no pedaço de c am po de J e z r e e l ; n ão have r á quem a en te rr e.

E ntão ab r iu a po r ta e fug iu” (2 Rs 9 .6 -10).

Se Paulo foi “entregue” ou “tom ado à força” em n ada m uda a essência

da p ro fe cia de A gabo da m esm a fo rm a que o s de t alhe s da p ro fe c ia do

d i sc ípu lo dos p rofe tas em nada des toou da profec i a or ig ina l que lhe foi

entregue p or E l iseu . A essên c ia da profec ia e ra c lara (Pau lo será preso) ,

com o e r a c la r a a p ro fe c ia de E li seu (Deus un g iu a J eú r e i) . Am bas se

cum pr ir am na ín teg r a !

Os Melhores Dons I

C a b e a i n d a o b s e r v a r s o b r e o s d o n s n o c o n t e x t o p a u l i n o q u e o s

m e lhores d ons e ram aque le s qu e m aior ed i fic ação t r azem à ig re ja . V i s to

que a profec ia , um a fa la insp irada pe lo E spírito Santo , a lcançava o m aior

núm ero de p essoas, Paulo a via com o o m ais úti l. O cr itério a ser adotado,

po rtanto, no u so do s don s espir i tuais é a ed if icaç ão .13

“Se éministério, seja em ministrar...” (12.7).  A pa lavra “min i s té r io” é a

t rad u ç ão d o g re g o diakonia,  e aqu i s i gn i f i c a “se rv iço” . Pau lo e sc rev ia

pa r a uma i g r e j a j ovem, fo rmada por l e i gos , po r t an to , e s s e t e rmo não

possu ía a conotação de “minis t ro” que lhe é at r ibu ída hoje . Todavia , o

“m inis t ro” com o um a função, e não com o um of íc io , pod e ser v is to aqu i

da m esm a form a que Pau lo se re fere à função dos qu e “ens inam ”, i s to é ,

os mestres , nesse m esm o versículo. D evem os, no entanto, obse rvar que o

clericalismo rígido com o o conhecem os ho je só aparece no segundo séculoda igre ja c ri stã . I sso não qu er d izer que a o rganização ou inst itu ição não

são im po rtantes . São, m as não p od em se sobressair à igre ja . A inst itu ição

está con t ida n a igre ja , e não o con trár io .

"... se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (12.7).  P au l o p a s s a e n t ão a

se d i r ig i r aos m estres (gr . didaskalos).  Os mes t r e s e s t ão l i s t ados como

um dos do ns qu ín tup los do m in is tér io , ao lado de apó s to los , p rofetas,

evan ge l is t as e pas tores (E f 4 .11) . E le s são im po r tan te s po rque a t ravés

da ins t rução a judam na form ação e sp i ri tua l da ig re ja . Lu cas os c i ta em

 A to s 13.1 , quan do a ig re ja env io u p e la p rim eira vez os seus m issionário s.

Uma ig re j a sem ins t rução não c re sce , apenas incha . E por i s so que os

m estres prec isam ser di l igen tes e esm erar-se no exerc íc io de seus ofíc ios .

O utros don s l is tado s p or Pau lo são os de exo r tar , con tr ibu ir, pres id i r e

exe rcer m iser icó rd ia (v. 8).

Uma  V ida  Cheia  de Graça   | m

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112 | M ar av ilhosa  G raça 

  omanos 12.9-21

O amor seja não fingido. Aborrece i o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos  

cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra 

uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, 

 perseverai na oração; comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a 

hospitalidade; abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis.  

 Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. Sede unânimes 

entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não 

sejais sábios em vós mesmos. A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas 

honestas perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende  

 paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai 

lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o  

Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, 

dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua 

cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.

Fervendo no Espírito

E sta seção que se es tende do vers ícu lo 9 ao 21 de Ro m anos 12 reúne

diversos con se lhos de Pau lo . V ou re lac ioná - los aqu i;

•  Evita r o fingim ento   (1 2 .9 ) — o s re la c i o n a m e n t o s p r e c is a m s er

a u t ê n t i c o s . N ã o p o d e m o s e x p r e s s a r a koinonia   c r is tã c o m u m

coração h ipócr i ta .

•  Evitarflertar com o mal  (12.9) — o con selho de P aulo é que os crentesdevem de tes tar o m al. N o or ig ina l , a ide ia é a de repulsa pe lo m al.

•  Evitar a prim aria   ( 12 .10) — esse pro b lem a se rá r e so lv ido quando

o outro , e não nó s , oc up ar o pr im eiro lu tar . O eg oísm o é um a das

pr inc ipa is e p iores formas de pecado.

•  Evitarafrieza espiritual (12.11) — a ideia do texto no original é que os

crentes devem “ferver no E spíri to San to” . Fervo r não é s inônim o

de fanat ism o n em tam pou co de baru lho. Fervor s ign if ica o cri stão

te r um coração incend iado p e lo E sp í ri to Santo .

• Saber esperar  (12 .12) — a e sperança do c r i st ão é funda m entada na

justi ficação p e la fé . E la se a licerça nas pro m essas d e D eus . Pau lo

fa lou da e sperança c r i st ã em R om anos 5.

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Uma  V ida  Cheia  de Graça   | 113

Saber ser resignado  (12.12) — não é fác i l ser pac iente no sofr im ento.

 T o d av ia , as tr ib u laç õ e s n o ev an g e lh o de P au lo fazem p a r te do

cresc imento na fé .

Saber orar   ( 1 2 .1 2 ) — s ó v e n c e n a o r a ç ã o q u e m s a b e e s p e ra r .

P e r s e v e r a r n a o r a ç ã o é u m d o s m a i s r e p e t i d o s m a n d a m e n t o s

bíb licos. P rec isam os ser persev erantes na oração .

 A prender a comparti lhar   (1 2 .1 3 ) — P a u lo s e m p r e d e m o n s tr o u

preocu pação com a v ida soc ia l da ig re ja . Sem pre procurou a judar

os mais necessi tados. Resgatou um m and am ento de Jesus que havia

s ido e squec ido , o qua l nem mesmo os Evange lhos r eg i s t r a r am:

“M ais bem -aventurada co i sa é dar do que r eceb er” (At 20 .35) .

 Aprender a acolher  ( 12 .13) — se r hosp i ta l e iro é um a v i r tud e qu e o

cristão nascido de novo precisa exercitar . Quem é hospitaleiro sabe

d iv id i r com o out ro par te de sua v ida . E um exce len te an t ídoto

cont ra o venen o do ego í sm o.

 A prender a abençoar   ( 1 2 .1 4 ) — am a l d i ç o a r é m a is f á c il d o q u e

abençoar . Mas Pau lo exor ta os crentes a abençoar seus in imigos .

 A cred ito que o sen tim ento de v ingança é a causa da prisão esp ir itual

de m ui tos cr i stãos .

 Aprender a se identificar com 0  próximo  ( 12 .15) — devem os e s tar nas

fe s t as bem como nos ve lór ios . E fác i l s e a l egrar com quem es tá

a l egre , m as não é fác il chorar com quem chora . Para v ive r a v ida

cr i s tã p lena, um a coisa não po de ser fe ita sem a outra .

 Aprender a se humilhar  (12 .16) — estar em evidên c ia é um a tentação

que assedia todo cr istão. N inguém quer f icar po r baixo, mas sempre

no topo . A ten tação de e s t ar na v it rine o t em po todo é um a das

arm as m ai s le ta is do D iabo .

 Aprender aperdoar  (12.17-20) — um a das razões que a B íblia dá para

D eus ter se agradad o d a oração de Salom ão foi que ele não desejou a

m orte de seus inim igos (1 Rs 3.11) . Se quiserm os o rar com eficác ia ,

devem os esvaz iar o coração de todo sent im ento de v ingança.

 Aprender a lutar  (1 2 .2 1 ) — v e n c e r o m a l c o m o b e m é u m a a r ma

ef icaz no co m bate cr is tão .

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i i 4  I M aravilhosa  G raça 

1BARCLAY, William.  Rom anos — Comentário a lN uevo Testamento.  Barcelona, Espanha: 

Editorial CLIE.

2 HUGO, M. Petter. Concordância Greco-espafiola d el N uev o Testamento.  Barcelona, Espanha: Editorial CLIE.

3 BAUER, Walter. A Greek-English L exicon o f the New Testament and Other Early Christian 

 Literature.  The University o f Chicago Press, 1979.

4  RIENECKER, Fritz. Chave Linguística do Novo Testamento Grego.  São Paulo: 

Edições Vida Nova.

5 GONÇALVES, José.  Sábios Con selh os para um V iv er Vitorioso.  Rio de Janeiro:  

CPAD, 2013.

6 GUNDRY, Robert H. Commentary on "Romans. Grand Rapids, MI.: Baker Academic, 2010.

7 GUNDRY, R obert H. idem, op.cit.

8 GODET, Frédéric, Louis. Commentary on Romans.  Grand Rapids, MI.: Zondervan, 1956.

9 GRUDEM, Wayne. O Dom da Profecia  —  D o Novo Testamento aos D ia s A tu ais.  São 

Paulo: Editora Vida, 2004.

10 GRUDEM, Wayne. Idem. p. 95.

11 GRUDEM, Wayne, Idem. p. 96.

12  STRONSTARD, Roger. The Prophethood o f A l l Relievers  —  A Stu dy in L u k e ’s 

Charismatic Theology.  Cleveland: CPT Press, 2010.

13 Deve ser observado que a profecia não é sinônimo de pregação. Há mensagens  

 proféticas, isto é, elas têm um elemento inspirador, mas nem todas as mensagens se 

enquadram nesse modelo. No Novo Testamento, a profecia era uma fala inspirada 

que o Espírito dava de forma espontânea ao crente.

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se subo rdinar à autoridad e civil . Foi isso que forçou a exp ulsão do s judeus

de R om a (At 18 .2 ). N a t eo log ia pau l ina , o s c r is tãos , tan to gen t ios com o

judeus conver t idos , d ever i am ser o rde iros , subm etendo-se à l e i e st at al.

O e x p o s it o r b í b l ic o W i llia m H e n d r i k s e n a l is t a o u t ra s r a z õ e s q u ejus ti ficam a expos ição de Pau lo em Ro m anos 13.

1. O s cr is tãos dever i am se re l ac ion ar bem com D eus (Rm 12 .1 ,2 ) ; o s

cris tãos dev eriam se relacionar bem entre s i (Rm 12.3,4) ; os cr istãos

deveriam se relacionar bem c om os de fora (Rm 12.14-21); os cristãos

dever i am se re l ac ion ar bem com as autor idad es c iv is (Rm 13 .1 -7 ).

2. P a u l o q u e r i a e v i ta r q u e o im p é r io v i s s e o c r is t ia n is m o c o m oineren temente an tagôn ico ao governo .

3 . Pau lo quer i a l embrar aos c r i s t ãos romanos que o p rópr io Cr i s to

ens inou es ses p r inc íp ios .1

R o m a n o s 1 3 f o r n e c e d i r e tr iz e s a p o s t ó l ic a s s o b r e a n e c e s s id a d e

d e o c r i s t ã o s a b e r s e c o m p o r t a r e m u m a s o c i e d a d e c i v i l o r g a n i z a d a .

Q u a n d o P a u lo e s c re v e u a c a r ta à ig r e j a d e R o m a , o I m p é r io R o m a n odom inava boa par te do m undo de en tão . E ra um a soc iedade o rgan izada

com um g ov erno c iv i l cen t ra l iz ado na pessoa do im perador . H av ia l eis ,

r e g r a s e n o r m a s a s e r e m o b s e r v a d a s p o r t o d o s o s c i d a d ã o s . H a v i a ,

p o r ta n t o , o q u e h o j e c o m u m e n t e se d e n o m in a E s ta d o d e D ir e it o . O s

c r is t ão s , m esm o com o c id adão d os céus , n ão e s t avam fo ra do a l c ance

des s e poder c i v i l .

E ntre os séculos XV I e X V II , o debate em torno da or igem e naturezado es t ado dominou o cont inen te europeu . É nesse contex to que surge

a teor i a de um contrato soáal.  Os f i ló sofos que se debruçaram a exp l i ca r

o s p r in c íp io s que r eg i am es s e con t r a to soc i a l fo r am denominados de

contratualistas}  E le s advogavam a neces s id ade de um “con t r a to soc ia l ”

que regulasse as re lações entre os hom ens . Para esses pen sado res , o que

ge rou a neces s id ad e des s e “ co n t r a to soc i a l” — po r tan to , a c ria ção do

E stado d e D i re i to — fo i a necess idade de sa ir do “es tado d e na tureza”

pa ra s e o rgan i z a rem em soc i edade . No e s t ado de na tu rez a , ob se rvam

o s c o n t r a tu a l is ta s , p r e v a l e c ia o in t e r e s s e p r iv a d o d e c a d a u m , o q u e

ocas ionava a d isputa , a v io lência e o m edo. N esse es tado de co isas faz-se

necessár io a cr iação de um con trato q ue regu le as re lações in terpessoa is.

O s pr inc ipa i s f i ló sofos represen tan tes desse con t ra to soc ia l fo ram Joh n

Lo c k e , T h o m a s H o b b e s e J e a n - Ja c q u e s R o u s se a u . M e s m o d iv e rg in d o

n 6   | M aravilhosa  G raça 

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q u an t o à f o r m a e n a tu r e z a d e s se E s tad o , e ss e s p e n s ad o r e s p o s s u í am

ide ias semelhantes quanto à sua necess idade .

N a verdade, os f i lósofos contratualistas procuraram fornecer diretr izes

m ais especificas sobre a atuação dessas d uas instituições, a igre ja e o estado.

 A o ass im p ro ceder , e les q u er iam d e lim ita r a esfe ra de a tuação de cad a

um a delas . Q ual era a com petência da igre ja e qual era o pa pel do E stado?

G rosso m odo , a v i são que preva lec ia e r a que o E s tado dev ia cu idar do

lado secular da sociedad e e a igre ja do seu lado espir itual . D eve ser levado

em conta nesse contexto que a Euro pa v iv ia um conf l ito eno rm e ent re

o pod er do Papa e o po der dos r e is . E m m ui tos pa í se s, p r inc ipa lm ente

an t e s da Re fo rm a P ro t e s tan t e do s é cu lo X V I , p r eva l e c ia a au to r idade

pap a l sobre a au tor idade e s ta ta l. Os pap as m andav am nos r e is . N o ano

de 494 d .C , o b ispo G e lás io I c r iou a dou t r ina das duas e spadas . E sse

documento a f i rmava : “Há do i s pode r e s p r inc ipa i s med i an t e o s qua i s

e s te m undo é governado : a au tor idad e sagrada dos p apas e o po der r ea l.

Des te s do i s , o poder sace rdota l é mu i to mai s impor tan te , porque t em

de prestar contas no t r ibunal d iv ino , até m esm o pe los re i s do s hom ens .[...] Sab e i s que deve is , nas q ues tões con cern entes ao r eceb im ento e à

admin i s t r ação r e fe ren te dos sac ramentos , se r obed ien tes à au tor idade

ecles iást ica, ao invés de controlá- la”.3

D urante toda a Idade M éd ia (500-15 00 d .C . ) , p reva leceu o conce i to

d a s d u a s e s fe r a s — o E s t ad o c o m o u m a in s t it u iç ão t e m p o r a l e , p o r

ou t ro l ado , a i g r e j a como uma in s t i t u i ç ão e sp i r i t u a l . Com o adven to

d a R e f o r m a lu t e ran a e m 1 5 1 7 , e s sa c o s m o v i são s o f re r á u m a r u p tu r a ,

e a s e s f e r a s t e m p o r a l e e s p i r it u a l f ic a r am c ad a v e z m a is d e f in i d a s .

 T o d av ia , o re fo rm ad o r a lem ão não fo i tão rad ica l n a su a p ro p o sta , po is

ac red i tava que hav ia a lgum as com petênc ias ec l e si ás tic as , que pod er iam

per fe i tam ente se r adm in is t radas pe lo Es tado . E sse mo do de in te rpre tar

as esferas de atuação dessas duas ins t i tu ições será duram ente com bat ida

pe los ana bat i s tas , um gru po da a la rad ica l da Reform a. Para e les a Igre ja

e o E s tado deve r iam se r com p le tam en te s epa rados .

N os E s tados U nidos da A m ér ica , a par t i r dos sécu los XV II e XV III,

g r aç as à i n f l u ênc i a p ro t e s t an t e , a s e s f e r a s de a tuação da I g r e j a e do

E stado foram b em defin idas . E i sso f icou bem de l ineado n a conhec ida

primeira em enda const ituc ional : “ O Congresso não p rom ulgará nenhum a

le ia a respe i to da of ic ia l ização de a lguma re l ig ião , nem da pro ib ição de

seu l ivre ex erc íc io” .4 E ssa sem dú vida fo i um a gran de con quis ta pa ra os

 A Graça  da  C idadania   | 117

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idea l is tas c r i stãos e para as m inor ias re lig iosas . To davia , com o aum ento

do p lura l ism o cu l tura l e re lig ioso , a le t ra dessa le i tem s ido desaf iada .

O s l eg i s la d o r e s a m e r ic a n o s tê m in v o c a d o a r e d a ç ã o d a p r im e ir a

em enda pa r a le ga l iz a r , po r exem p lo , a un i ão en t re pe s soas do m esmo

se xo . A lg u n s e st a d o s a m e r ic a n o s c o m p o p u la ç ã o m a j o r it a r ia m e n t e

c r is t ã e q u e p o s s u í a m le is e s p e c if ic a s c o n t r a a u n iã o h o m o s s e x u a l,

t ive r am suas l eis r evo gadas p o r dec i s ão da Su pr em a C or t e . Os j u íz e s

entenderam que e ssa r e s t r i ç ão dos d i r e i tos c iv i s e r a uma in te r fe rênc ia

da re lig ião so bre o E stado. O efe i to co latera l dessa dec isão d a Suprem a

C orte fo i a vo l ta de um deba te aca lorado no vam ente sobre as esferas de

a tuação dessas duas ins t i tu i ções . Até que ponto o Es tado democrá t i co

pod e in te r fe ri r sobre os in te re sses , c r enças e dese jos de u m a pop u lação

m a jo r it a r iam en te c r is tã ?

Esse conf l i to não f i cou r e s t r ing ido à ou t r a Amér ica ; r ecentemente

chego u t am bém ao Bras il. Todos têm conh ec im ento , po i s fo i d ivu lgada

com eno rm e destaque pe la m íd ia , a dec isão do Suprem o T r ibunal Federa l

no sen tido de obr igar os car tór ios a casarem hom ossexua is . O Suprem oleg i s lou , que não é competênc ia sua , por conta do vaz io na l eg i s l ação

brasi le ira sobre esse assunto. Em um país m ajoritar iam ente “cristão” com o

o Brasi l, essa decisão da S up rem a C orte bras i le ira teve en orm e eco social.

 A q u i, co m o n os E stado s U n ido s, o qu estio n am en to da in te rfe rên c ia do

E stado sob re questões m orais e re l ig iosas se tornou o foco pr inc ipa l dos

debates . A ban cada evangé l ica no C ongresso , juntam ente com a bancada

c a t ó lic a , te m p r o c u r ad o m e c an i s m o s q u e f a ç am p r e v a l e c e r o s id e a iscr is tãos esposad os na Bíb l ia . N esses ú l t im os an os a lu ta tem se ac ir rado.

Pois bem , que princ íp ios pod em ser adotados em re lação ao dual ism o

ig r e j a - e s ta d o , a f im d e q u e se e s t a b e l e ç a u m a c o s m o v is ã o c r i st ã ?

 A cred ito que as id e ias do teó lo go W ayne G ru dem a judem n esse assunto .

Pr im e ir am ente , G rudem fa la do que deno m ina Cinco Visões Equivocadas a  

Respeito de Cristianismo e Governo.5 V ou ap enas sintetizar as ideias d e G rudem .

1. O gov erno deve im po r a re lig ião .

a. J e su s f ez d i s ti nç ão en t r e o Re ino de D eus e o de C é sa r (M t

22 .20 ,21).

b. Jesu s não tentou ob r igar as pessoas a c rer nE le (Lc 9 .52-54) .

c. N ão há com o im po r a fé au tên t ica (M t 11 .28-30 ; A t 28 .23 ; Rm

10.9 ,10 ; Ap 22.17) .

n   8  | M aravilhosa Graça

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 A Graça  da  C idadania   | 119

2. O g ov ern o dev e exc lu i r a re lig ião .

a. O equívoco está em fazer distinção entre um a lei e o conteúdo d a lei.

b. O equ ívoco es tá em não levar em co nta a von tade do povo .c. O e quívoco es tá em t ransform ar l iberda de re lig iosa em au sência

de rel ig ião.

d. O equívoco se dá em restringir indevidam ente a l iberd ade rel igiosa

e a l ibe rda de de expressão .

e. O equ ívoco es tá no a fast ame nto do gov erno dos ens inam entos

de D eus sob re o bem e o ma l.

3 . Tod os os governo s são perversos e dem on íacos .

a. É fundam en t ada num a v is ão equ ivocada de Lucas 4 .6 .

b. E sse entendim ento acaba po r cr iar um a equiva lência mo ra l entre

bons e m aus gove rnos .

c. Re je i ta o po der im pos to com o a lgo m undano .

4 . A igre ja deve se de d icar ao ev angelho , e não a po l ít ica .

a. Fun dam enta-se num a visão muito limitada do que seja “evangelho”

e Re ino de Deus .

b. N ã o le v a e m c o n ta q u e o “ e v a n g e l h o t o d o ” in c l u i u m a

t rans formação da soc iedade .

c. N ão leva em con t a que t an to a i g r e j a com o o gove rno fo ram

ins ti tu ídos p or D eus p ara re f rear o m a l (Rm 13 .1 -7 ) .

d . N ão leva em con ta a inf luência pos it iva sobre gove rnos ex erc ida

po r c r is tãos ao longo da h i s tó r ia .

5 . A igre ja dev e se ded icar à po l ít ica , e não ao evan gel i sm o

a . B usca ap enas a m ud ança cu l tura l neg l igenc iando a esp ir itua l.

b. C r ia a p e n a s u m e v a n g e l h o s o c i al , p r e o c u p a d o c o m a fo m e ,pobreza , d i scr iminação e outros males soc ia i s .

c. N ão leva em co n t a que m udan ças au t ên t ic a s e durad oura s só

ocorrerão :

• Se o coração das pessoas m udar , para que p rocu rem fazer o

bem e não o mal . Isso se dá por m eio d o evangel ismo pessoal

e do p od er do e vange lho de Jesus Cr is to

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120 | M aravilhosa G raça

• Se a m ente das pessoas mudar, para que suas convicções m orais

se a linhem de m odo m a is p róx im o aos pad rõe s mo ra is de

D eus descr i tos na B íb lia . I sso se dá po r m eio da conv ersa e

ens ino pess oa l e do d iá log o e deb ate púb l icos .

• Se a s l eia s m ud ar em , pa r a que incen t ivem de m odo m a is

p leno a boa co nd uta e cast iguem a condu ta e r rada . I s so se

dá po r m e io d o en vo lv im ento p o l ít ico dos c r is tãos .

 V o ltem os ao texto .

“ . . . porque não há autoridade que não venha de Deus" (13.1).  Nos d ias dePaulo , o es tado de d i re ito já ex ist ia — era o g igantesco Im pér io R omano.

O te ísm o de Pau lo o leva a c rer que o es tado quan to à sua naturez a é de

origem divina. Isso quer dizer que o ap óstolo c ria que o princípio de pod er

exerc ido pe los governan tes t em sua or igem em D eus. “Toda au tor idade

é cons t itu ída por D eus” (Rm 13 .1 ). Ev identem ente que Pau lo aqu i não

se r e fere às form as de govern os que se revezam ao lon go dos sécu los ,

m as ao pr inc íp io de autor idade po r trás desses governos . N ão h á base notexto para a legar que Pau lo es tá leg i t imando os governos autor i tár ios e

despót icos . T odavia , está m ostrand o qu e D eus , na sua so beran ia , exerce

o seu po der por in te rm éd io dos gov ernan tes t er renos .

 A d ecla ração do ap ósto lo que “n ão h á au to r idade que não ven h a de

D eus” (13.1) tem val idação universal. Todos os gov erno s do m und o estão

debaixo da sua autoridade e dom ínio. A própr ia histór ia bíblica mo stra que

D eus usou governan tes pagãos para executar os seus propósitos , com o po r

exemplo , os monarcas dos impér ios medo-persa e babi lónico . Ao re i da

Pérs ia , C iro , o Sen ho r o cham ou de “m eu un gido” : “A ss im d iz o Senho r

ao seu ungido, a C iro , a quem tom o p e la sua m ão d i re ita , para abater as

nações diante de sua face; eu soltare i os lom bos dos re is , para abr ir d iante

dele as portas , e as po rtas não se fecharão ” (Is 45.1) . A N abu cod on oso r ,

im perado r bab ilón ico , D eus o cham ou de m eu se rvo : “E u f iz a t e rr a , o

hom em e os anim ais que estão sobre a face da terra, pelo m eu grande p ode r

e com o m eu braço es tendido, e os dou a quem m e agrada. E, agora , eu

entreguei todas estas terras nas mão s de N abu codo nosor , rei da Babi lônia,

m eu servo, e até os animais do cam po lhe dei, pa ra que o sirvam ” (Jr 27.5,6).

E s s a s E s c r i t u r a s mo s t r am a s o b e r an i a d i v i n a e c o mo E l e e s t á n o

controle de todas as coisas, con trariam ente ao que ensina o novo m odism o

teo lóg ico deno m inado de “Te ísm o A be r to” .6

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122 | M aravilhosa G raça

responsab ilidades co m justiça e imp arcialidad e, segundo os princípios

de D eus para o governo .

7 . A s au tor idades governa m enta i s execu tam a i ra de D eus sobre osm al fe ito res e , desse m odo , ap l ic am a punição,  com o f i ca ev idente

na declaração de P aulo de que “n ão é sem razão que [a autor idade]

t raz a espa da” .7

  omanos 13.8-10

 A  ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos  

outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há  

algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo 

como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento  

da lei é o amor. E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos 

do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando  

aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras 

das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de 

dia, não em glutonarias, nem bebedeiras, nem em desonestidades, nem em 

dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo  

e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.

Deveres Sociais, Morais e Espirituais — Mandamentos Verticalizados 

e Horizontalizados

“A. ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos  outros;porque quem ama aos outros cumpriu a lei” (13.8).  Tendo t ratado dos

deveres de natu reza c iv i l, o apósto lo p assa ag ora a t ratar do s deveres de

ordem social . Em um pr im eiro plano, Paulo m ostra que o cr istão deve ser

um exemplo em h onrar qua lquer com prom isso assum ido . Lemb ro-me de

que há m ais de t r in ta anos eu v ia java em um ôn ibus in te rm unic ipa l . N a

m etade do percurso , ob serve i que bem p er to de m im o cobrado r daque le

ônibus d iscut ia com um passage i ro . Aq ue le passage i ro se recusava pag ara passagem porque d iz ia se r um se rvo de Deus . O cobrado r , um ve lho

c o n h e c i d o me u , d i r i g i u - s e a m i m e p e r g u n t o u - me s e e r a c o r r e t o u m

“crente ’ viajar sem pa gar a sua passagem . Im ediatam ente veio-m e à mente

este vers ícu lo de Ro m ano s 13.8 : “A n ing uém devais co isa a lgum a, a não

se r o am or” . A que le i rm ão f icou ex t r em am ente chateado com o que eu

acab ara de fa lar. Poster iorm ente , enco ntre i aque le cobrad or outra vez e

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 A Graça  da  C idadania   | 123

e le m e d is se que já e ra um a prá t ica d aque le c idadão and ar nos ôn ibus e

não querer pag ar a legand o ser um servo de Deus .

P o is b e m , a le i m á x im a q u e d e v e r e g u l a r o s r e la c i o n a m e n t o s

ho r izonta l izado s , is to é , entre pesso as , é a le i do am or. N ão se t ra ta deum poder coerc it ivo ex terno , m as a l e i que b ro ta do coração regenerado

po r Deus . É ev idente que Paulo não t inha em m ente l im i tar o créd ito do

cristão perante credores, m as m ostrar-lhes que a dívida que todo s deveriam

ter sempre era a de am ar uns aos outros. Alguns intérpretes d estacam o fato

de que Pau lo c i ta aqu i a s egund a t ábua da l e i, que c ont inha os p rece itos

regu ladores dos re lac ionam entos h um anos . Todo s es ses p rece i tos serão

observados na ín teg ra se a le i do am or fo r po s ta em prá tica .

“E isto digo, conhecendo 0  tempo, que é já hora de despertarmos do sono;porque a  nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a f é ” (13.11). Os vers ícu los 11 ao 14 fazem um apelo à sant idade cr i s tã . Paulo havia

fa lado sobre os deveres do crente em re lação ao es tado . E sse cr is tão não

dev ia esqu ecer que possu ía d irei tos e deveres em relação à sociedade civil .

 A go ra d everia lem b rar-se tam bém de que ou tro aspecto d e su a c id ad an iaera a ce les tia l . O cr i s tão , ac im a de tudo , é um c idad ão d os céus e com o

ta l deve and ar de acordo co m os padrões d esse Re ino .

1 HENDRIKSEN, William.  Romanos   — Comentário Novo Testamento.  São Paulo: 

Editora Cultura Cristã, 2011 .

2 REALI, Geovani.  H istória da Filosofia.  3 vol. Editora Paulus.3 ELWELL, Walter.  Enciclopédia H istórico   — Teológica da Igreja Cristã.  São Paulo: 

Editora Vida Nova, 1992.

4 Idem. p. 301.

5 GRUDEM, Wayne.  Política segundo a Bíblia   —  Princípios que todo C ristão Deve Conhecer. 

São Paulo: Vida Nova, 2014 .

6 Bruce A. Ware explica que o teísmo aberto “é assim denominado pelo fato de seus 

adeptos verem grande parte do futuro como algo que está em ‘aberto , e não fechado, mesmo para Deus. Boa parte do futuro está ainda indefinida e, consequentemente, 

Deus o desconhece. Deus conhece tudo o que pode ser conhecido, asseguram-  

nos os teístas abertos. Mas livres escolhas e ações futuras, por não terem ocorrido  

ainda, não existem e, desse modo, Deus (até mesmo Deus) não pode conhecê-las. 

Deus não conhece o que não existe — afirmam eles — e, uma vez que o futuro 

não existe, Deus não pode conhecê-lo agora. Mais especificamente, Ele não pode  

conhecer, de antemão, uma grande parte do futuro que virá à tona à medida que

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i24 I M aravilhosa  G raça 

criaturas livres decidirem e fizerem tudo segundo lhes aprouver. Em conformidade  

com isso, momento após momento Deus aprende o que fazemos, e seus planos  

devem constantemente se ajustar ao que acontece de fato, na medida em que isso  

for diferente do que Ele previu” (WARE, Bruce A. Teísmo A be rto— A Teologia de um 

 D eu s Lim itado.  São Paulo: Editora Vida Nova, 2010, p. 14, 15). Nessa perspectiva, 

Deus é limitado e não está no controle de tudo.

7 GRUDEM, Wayne.  Política segundo a B íb lia —  Princípios que todo Cristão Deve Conhecer. 

São Paulo: Editora Vida Nova, 2014.

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Capítulo

l i A T olerância   da 

Graça 

  omanos 14.1-12

Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre  

dúvidas. Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come 

legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come não  

julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu que julgas o  servo alheio? Para o seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará em 

firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e  

dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro 

em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O  

que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come  

 para o Senhor não come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para 

si e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se 

morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi para isto que morreu Cristo e tornou a viver; para ser 

Senhor tanto dos mortos como dos vivos. Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou 

tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer 

ante o tribunal de Cristo. Porque está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, 

todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus. De 

maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.

Buscando a Maturidade

“Ora, quanto ao que está enfermo na fé , recebei-o, não em contendas sobre  

dúvidas” (14.1).  O a p ó s t o lo i n tr o d u z a q u i u m a n o v a d is c u s s ã o — o

re l ac ionamento ent re c rentes maduros e imaturos . Essa seção r eve la r á

como deve se r o conv ív io en t re os “ f r acos” e os “ for te s” na fé . Essa

não é um a pecu li a ridad e da ig re j a de Rom a. N enh um a ig re j a é n ive lada ,

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po ssuindo som ente crentes fortes ou som ente crentes f racos . E ssas duas

m od a l idad es de c ren tes est ão p resen tes em qu a lquer d i sc ipu lado cr is tão .

 A s vezes in c o rrem o s no erro d e ach ar q u e a ig re ja d eve te r so m en te os

“fortes”, e acabam os relegand o os débeis na fé para segu ndo plano. Diantede D eus todos são im portan tes . O q ue p rec i sam os t e r é am or e pac iênc ia

para d escer a té ao n íve l do i rm ão m a is f raco para a judá- lo a c rescer .

O c r is tã o “ d é b i l” , tr a d u ç ã o d o g r e g o astheneo,  po s su i o s en t ido de

“f raco” , “do ente” . E sse t e rmo era usado tan to para en ferm idades f ís icas

como esp i r i t ua i s (Lc 5 . 15 ; 1 Co 11 . 30 ) . Gode t d es t aca que o s en t ido

ness e t ex to é d e a lguém que en f r aquece num dado m om en to e num caso

e s p e c ia l .1J á d e s ta c a m o s q u e a ig r e ja d e R o m a e r a f o r m a d a p o r ju d e u s

e em g rande m a io r ia po r g en t io s . O p rob l em a não e r a com os g en t io s

adotando prá t icas pagãs, po i s não vem os aqu i a s m esm as recom endações

que Pau lo deu à ig re j a gen t í li ca de C or in to (1 C o 8 ). Os judeus — com

suas tradições m ilenares , com o po r exem plo, a ob serv ânc ia de vários r itos

ce rim on i a is — e ram m a is p ropensos a en t r a r em choque com a nova fé.

 T o d a e s sa c a rg a cu ltu ra l v in h a ju n to q u an d o u m d e les se c o n v e r tia aoevange lho . C om o co nc i li a r a trad ição com os p r inc íp ios do evang e lho?

E v iden t em en te que e s s a fo i s em d úv ida um a fon te de t en s ão na ig r e j a

de Rom a . N ão s e t ra t ava de um a p rá t i c a jud a iz an t e , po i s n ão vem os o

apósto lo enfat izand o isso em seu d iscurso com o fez , po r exem plo , com a

ig re j a da G a lác ia . A re ferênc i a à gua rda de d i as espec ia is e a observân c ia

a reg ras a l im entares se a jus ta m e lhor com a cu l tura juda ica .

Es s e con f l i t o e s t ava g e r ando deba t e s a ca lo rados na i g r e j a , e e s s a s“opin iões” (gr . dialogismos)  e s ta v a m g e r a n d o m u i to s q u e s t io n a m e n t o s .

E m qu a lquer i g re j a v iva , onde há a p resen ça de novos m an i fes tos , e s ses

ques t ionam entos aparecem . A or ien tação apo s tó li ca é no sen t ido de que

i sso não venh a a causar t ropeço naq ue le qu e é m a is f raco . À propós i to ,

le m b r o - m e d e q u e q u a n d o e u e m in h a f a m ília r e c e b e m o s J e s u s c o m o

Salvador nos anos 80, um am igo nosso tam bém se converteu. Ele era mu ito

d inâm ico e possuía o háb i to de tudo quest ionar . E le não q uest iona va por

ques t ionar , mas po r quer ia s aber de tud o de fo rm a m ui to ráp ida . N esse

prop ós i to e le se deb ruço u na le itura da B íb l ia . C erta no i te , e le chegou em

nossa casa com um a pergunta . D irig ind o-se a m eu irm ão, perguntou: “D e

ond e veio D eu s?” M eu irm ão, que havia se conv ert ido alguns me ses antes ,

respond eu q ue D eus não t inh a o r igem , v i sto qu e e ra is so o que a B íb lia

a f irm ava em Sa lm os 90 . 2: “A n tes que o s m on tes n a s ce s s em , ou que tu

126 | M aravilhosa G raça

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que o pro sél ito t inh a por hábito con siderar sagrado alguns dias , com o por

exemp lo , o D ia da Exp iação . E v identem ente que i s so e s t ava f ixo de t a l

form a em sua m ente que a não o bse rvân c ia e r a um m ot ivo de e scândalo .

 T odav ia , um novo co n vertido v in d o do p agan ism o re je itav a essa p rá tic apo r não ach á- la m a i s necessá r ia .3 E lv i s C arba l losa , em seu com entár io

de R om anos , obse rva que a ide ia aqu i é a de que q ua lquer prá t ic a c r is tã

deve v isar à g lór ia de D eus .4 E viden tem ente que aqu i não es tá em foco

a gua rda do s ábado com o f azem de t e rm inado s g rup os he te rodoxos em

nossos d ias , po i s Pau lo t inha conv icção de que e ssa prá t i c a e r a apenas

um a som bra que se cum pr iu em Cr i s to (C l 2 .16) .

“Mas tu, p or que ju lgas teu irmão? Ou tu, também,por que desprezas teu irmão?  Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo” (14.10).  Há a lgumas

co i sas que são cent r a i s na fé c r i s t ã enquanto ou t r as são pe r i fé r i cas . A

m a i o r ia d a s c o n t r o v é r s ia s e n t r e ir m ão s e m C r is to se d á p o r c o n t a d e

coisas não essenciais . Muitos debates se fundamentam em fut i l idades sem

fundam entação b íb l ic a . O grande hum an is t a do sécu lo X V I , E rasmo de

R oterdã, em sua avassaladora sát ira ao catol ic ism o m edieval , m ostrou esse

fa to co m um a re tór i ca im pecáve l : “E scu te i ou tro igu a lm ente d ive r tido :

era um ve lho octogenár io , teó logo da cabeç a aos pés, e tão teó logo que o

teriam tom ado p o r Scotus ressusc itado. E xpl icando um dia o m istério do

nom e de J e sus , e le dem onst rou com m arav i lhosa su t i leza que tudo o que

se po de d izer do d iv ino Salvado r es tá ocu l to n as le t ras do seu nom e: ‘D e

fato, d iz ia , o no m e de Jesu s em latim tem apenas três casos, o que d esigna

c laram ente as três pessoas da S ant í ss im a T r indad e . O bserv ai , a lém d isso ,

que o nom inativo term ina em S, JesuS, o acusativo em M, JesuM, e o ablativo

em UJesU.  O ra , essas três te rm inações , S, M, U, en ce r ram um m is té rio

inefável ; pois , sendo as pr imeiras le tras das três palavras lat inas Summum  

(zénite), Médium   (centro) e UItimum  (nadir) , e las s ignif icam claram ente que

 Je su s é o p rincíp io , o cen tro e o fim de todas as co isas ’. R estava a in da um

mistér io bem mais d i f íc i l de expl icar que todos esses , mas nosso doutor

encont rou uma so lução in te i r amente matemát i ca . E le d iv id iu a pa l avra Je su s em d uas p a r te s igu a is , d e m an e ira que a le tra S   f icou soz inha no

meio . ‘E ssa le t ra T, d isse em segu ida , que sup r im im os do n om e de Jesus ,

chama-se Sjn  entre os heb reus; ora, Sjn  é um a palavra escocesa que, ao que

eu saiba, signif ica pecado. Isso nos m ostra então c laram ente qu e foi Jesu s

que t irou o pecado do m un do ’ . Todos o s ouv intes , sobretudo os teólogos,

atentos a um exórd io tão m aravilhoso , es tavam para l isados de adm iração ;

128 | M aravilhosa G raça

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 A Tolerância  da  Graça   | 129

por pouco não t e riam se t ran s fo rm ado em p ed r a com o ou t ro r a Níobe ,

dep ois que A po io m atou seus f ilhos. [...] M as n osso s sáb ios do utore s [...]

j u l g am que e s s e s p r e âmbu los , como os chamam, s ão obr as -p r imas de

e loqu ênc ia quando ne les nada se po de pe rceb er que os l igue ao res to dodiscurso , e quando o ouvinte , che io de espanto e admiração , pergunta a

s i próp r io : ‘O nde e le qu er cheg ar? ’” .5

  omanos 14.13-23

 Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito 

não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, 

que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, 

já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele 

 por quem Cristo morreu. Não seja, pois, blasfemado o vosso bem; porque o 

Reino de Deus não é comida nem bebida, mas jusdça, e paz, e alegria no Espírito  

Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens. 

Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para  

com os outros. Não destruas por causa da comida a obra de Deus. E verdade 

que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. Bom é 

não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão  

tropece, ou se escandalize, ou enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo  

diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo  

que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não  

come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.

Desmamando a Criança

“Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja 0  vosso propósito não 

 p ôr tropeço ou escândalo ao irmão” (14.13).  Essa seção de Romanos 14.13-23

m ostra que to lerânc ia , c resc im ento e con hec im ento d evem and ar juntos .

Paulo já deixo u claro qu e a respon sabil idade de m anter a fraternidade cristã

é respon sabilidade tanto do crente “fraco” com o do “ forte”. A passagem de

G ênesis 21.8 serve com o m etáfora que i lustra a necessidade do crescim ento.

Isaque cresceu e foi desmam ado. Todos nascem os com o bebês em Cristo, e

nessa fase de nossa vida adotam os alguns com portam entos que são peculiares

a essa faixa-etária . N ão há n ada errado com isso. Tod avia, chegará o dia em

que prec isarem os ser desm am ados ! A. W. To zer mo strou que p rec isam os

sair da infân cia espir itual e crescer. O cristão q ue n ão cre sce é carnal . Tozer

m ostra algum as características do crente carnal: egocên trico, tem peram ental,

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dep end ente de fatores externos, carente de propósitos, im prod utivo, alheio

as próp r ias falhas e al im enta-se com restrição.6

E prec iso , por tan to , ti ra r a m am ade i r a do c ren te . W ar ren W. W ier sbe

com entou com m u i ta p ropr iedad e : “Tan to o c ris tão m a is fo r t e quan to

o m ai s f raco prec i sam c resce r . O m ai s for te prec i sa c re sce r em am or ,

e n q u a n t o o m a is f ra c o p r e c is a c r e sc e r em c o n h e c im e n t o . E n q u a n t o

u m ir m ão f o r d é b i l n a f é, d e v e m o s t r a tá - lo c o m am o r em m e io a s u a

im a t u r id a d e . N o e n t a n to , se r e a lm e n t e o a m a r m o s , o a ju d a r e m o s a

c r es c er . E e r rad o u m c r is tão p e r m an e c e r im a t u r o e c o m c o n s c i ê n c ia

h ipersens íve l [ . . . ] Os cr i s tãos recém-conver t idos prec isam de comunhão

que o s p ro t e j a e e s tim u l e s eu c re s c im en to . N o en t an to , não p odem os

t r a tá - los com o ‘beb ês ’ a v ida toda ! Os c r i st ãos m ai s ve lhos dev em usar

de am or e pac iênc ia e cu idar para não fazê - los t ropeçar. Tod av ia , e s ses

cr is tãos m ais novos devem crescer na gra ça e no con hec im ento de nosso

Senh or e Sa l vado r J e su s C r is to (2 Pe 3 . 18 )” .7

  omanos 15.1-13

Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar 

a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom 

 para edificação. Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está 

escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam. Porque tudo que dantes 

foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação  

das Escrituras, tenhamos esperança. Ora, o Deus da paciência e consolação vos 

conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para 

que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus  Cristo. Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu 

 para glória de Deus. Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por  

causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais; e 

 para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: 

Portanto, eu te louvarei entre os gentios e cantarei ao teu nome. E outra vez diz:  

 Alegrai-vos, gentios, com o seu povo. E outra vez: Louvai ao Senhor, todos os 

gentios, e celebrai-o todos os povos. E outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé  

haverá, e, naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão. 

Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que 

abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.

Cristãos Amadurecidos

“Mas nós que somosfortes devemos suportarasfraquejas dosfracos e não agradar  

a nós mesmos” (15.1).  O c o n t e x to d e R o m a n o s 1 4 m o s t ra o a p ó s to l o

i3o | M aravilhosa Graça

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 A Tolerância  da  Graça   | 131

fa lando sobre os “fracos” em contras te com os “for tes” . Somente aqu i

em R om ano s 15.1 apa rece pe la pr im eira vez nessa seção a palavra “forte”

em referên c ia aos cr is tãos m ais m aduro s na fé. A p alavra “for te” traduz

o te rm o g r e g o dynatos,  que ne s s e con t ex to t em o s en t ido de c r i s t ão sm ais f irm es o u am adu rec idos .8 O contexto reve la que esses crentes mais

“for tes ’ , entre os quais o apósto lo se inc lu iu , e ram aque les que haviam

com preend ido o senüdo da N ova A li ança em Cr is to . Para e sse s c ris tãos ,

o s r ud imen tos do an t i go pac to j á hav i am pas s ado , não s endo ex i g ido

de le s nen hum a o bse rvân c ia quanto aos seus prece itos . Para os c ren tes

m ais “ f r acos” , fo rm ado por judeus v indos do juda ísm o e conver tidos ao

cr ist ianismo, o desapego a essas tradições não era tão fác i l ass im.

N essa situação, aqueles crentes que já possuíam um m aior discernim ento

d a fé c r is t ã d e v e r ia m d e m o n s tr a r a m o r e p a c i ê n c i a p a r a c o m e ss e s

crentes m ais lentos n a fé . E les dever iam sup ortar as f raquezas dos m ais

f racos . Pau lo j á hav ia e sc r ito sob re e s se as sunto n a C ar ta aos G ála tas ,

quan do exo r tou os c ren tes da G alác ia : “Leva i as cargas uns do s ou tros

e as s im cu m pr i r e is a le i de C r i s to” (G1 6 .2 ) . Há um m om ento n a nossa

c am inha da c r i s t ã em que p r e c i s am os l eva r o ou t ro n as cos ta s , t a lvez

não po r mu ito tem po , m as enquan to fo r nece s sá r io .

'Torque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim  

caíram as injúrias dos que te injuriavam” (15.3). P au lo m ost r a que o exem plo

m áxim o d e tolerância ve io do Sen ho r Jesu s Cr isto. Essa l ição já havia s ido

m ost r ada pe lo apó s to lo em R om anos 5 .8 : “Mas D eus prova o seu amor

para cono sco em que Cristo m orreu po r nós, sendo nós ainda pecado res”.O ra, se Cr isto nos am ou na co ndição de pecadores , tota lm ente rebe lados

cont ra D eus , en tão p or que não dever íam os supo r tar as deb i lidades dos

m ais f racos? To dos nós co nhecem os a lgum a h is tór ia envolvendo cr i stãos

que no iníc io d a fé dem on straram lent idão no seu cresc im ento esp iri tual e

com o a pac iênc ia e o am or de quem o d isc ipu lou a judou n esse processo .

“Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para  

 glória de Deus” (15.7).  Pau lo se d i r ige d i re tamente aos cr i s tãos de or igemgent í l i c a . E le pede que e l e s o lhem para sua própr i a h i s tór i a . E le s não

faz iam par te da o live ir a ve rdade i r a , com o já hav ia s ido d em onst r ado em

Rom anos 9— 11, m as graças à misericórdia e bon dade de Deus, haviam sido

enxer tados . A go ra es tavam produ z indo frutos pa ra a v ida e terna . Por que

não e sperar pe los seus irm ãos q ue dem onst r avam um pou co de len t idão

na com preensão das ve rdades e sp i ri tua i s? E le s dever iam aprend er com

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i32 | M aravilhosa Graça

a p rópr i a Escr i tura que m os t rava com o a m iser icórd ia de D eus o l evou

a aco lhê- los no p lan o d a salvação . Era um a lição para não ser esquecida .

1RIENECKER, Fritz. Chave Unguística do Novo Testamento Grego.  São Paulo: Editora 

 Vida Nova.

2  Vejo o futebol como uma manifestação cultural como tantas outras. Todavia, é

inegável que hoje há um culto ao desporto e o futebol está inserido nesse contexto. 

E lamentável vermos estádios, verdadeiros templos do esporte, lotados, e templos  

cristãos vazios. Isso é mais visível na Europa, onde há um culto ao esporte. Esse fato  

é demonstrado com precisão no livro  L a Postmodernidad,  do escritor Antonio Cruz.3 ALLEN, Leslie C.  Romanos — Comentário Bíblico N V I.   São Paulo: Editora Vida, 2009.

4 CARBALLOSA, Elvis L.  Rom anos  — Una Orientacion Lxpositivay Practica.  Grand 

Rapids, Michigan: Editorial Porta Voz.

5 ROTERDÃ, Erasmo.  Elogio da Loucura.  São Paulo: Editora Martins Fontes.

6 TOZER, A. W.  Recuperando o Cristianism o   — O  Resgate da Verdadeira Fé.   Rio de 

 Janeiro: Graça Editorial, 2014.

7 WIERSBE, W Warren.  Rom anos  — Comentário Bíblico Expositivo.  Rio de Janeiro: Editora Geográfica, 2008.

8  LIDDELL, H. G. & SCOTT, R. Greek-English Lexicon.  Oxford: Claredon Press, 1996.

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Capítulo

12Uma  Graça  A lém-M ar 

  omanos 15.14-21

Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais 

cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos 

uns aos outros. Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como 

 para vos trazer outra vez isto à mem ória, pela graça que por Deus me foi 

dada, que eu seja ministro de Jesus Cristo entre os gentios, ministrando o  

evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada 

 pelo Espírito Santo. De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que 

 pertencem a Deus. Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por 

mim não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras; 

 pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira 

que, desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho  de Jesus Cristo. E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não 

onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento  

alheio; antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado o verão, 

e os que não ouviram o entenderão.

Cosmovisão Missionária

“Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais  cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos  

outros” (15.14).  E m R om anos 1 .8 , o após to lo hav ia reconhec ido o va lor

d a f é d o s c r en t e s d e R o m a . A q u i n o v a m e n t e e le o s t ra t a co m a f eto ,

chamando-os de “ i rmãos” ao mesmo t empo em que r e conhece s e rem

eles possuidores das virtude s cr is tãs . Eles estavam possuídos de bon dade,

che ios de conhec im ento e ap tos para se exor ta rem m utuamente .

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134 | M aravilhosa G raça

‘Porque não ousaria di^er coisa alguma, que Cristo p o r mim não tenhafeito, para  obediência dos gentios, por palavra e p o r obras” (15.18).  A pa r t ir des se ponto ,

P a u l o a c h a o p o r t u n o m o s t r a r a d i m e n s ã o m i s s i o n á r i a d o s e u p r o j e t o

evangel í s t ico . Esse pro jeto havia a lcançado os pontos mais ext remos dabacia med i terrânea . Lucas reg is trou em deta lhes com o se deu esse avanço

evan gel í st ico ao reg is trar as t rês v iagen s m iss ion ár ias de Paulo . V ejam os

um esboço d es s a g i g an te s ca ob ra:

1. A primeira viagem missionária

1.1 . U so da Palavra de Deu s com o ins t rum ento de evangel ização —“E , chegad os a Sa lam ina , anunciavam a pa lavra de D eu s” (At 13 .5).

1 .2 . Co nsc iênc i a da rea l idad e do m a l — “Ó f ilho do d i abo , che io

de todo o engano. . .” (At 13.10) .

1 .3 . R e c o n h e c i m e n t o d a n e c e s s id a d e d o p r e p a r o m is s io n á r io —

“M as João , apar t ando -se de les, vo l tou p ara Je ru sa l ém ” (At 13 .13 ).

1 .3 .1 . O E spír ito recep cionad o (At 13 .52) .

1 .3 .2 . O E spír ito dem on strado (At 14 .3).

1.3.3. Reconh ecimento da dim ensão hu m ana da m issão (At 14.6).

1 .3 .4 . Co nst i tu ição de líderes autóc tones (At 14 .21-23) .

1 .3 .5 . O pe r igo da f ragm entação (At 15 .1).

1 .3 .6 . A bu sca pe l a pad ron ização (At 15 .28 ,29 ) .

2. A segunda viagem missionária

2.1 . O cuidado com o d isc ipulado (At 15 .36) .

2 .2 . Fundamentação doutr inár ia dos convert idos (At 16 .4 ,5) .

2 .3 . Bu scando os povos não a lcançados (At 16 .6-9) .

2 .4 . Z elando p ela v id a devo ciona l (A t 16 .13) .

2 .5 . L im ites na co ntextua l ização (At 16 .21) .

2 .6 . D efen de nd o os seus d i re i tos c iv is (At 16 .37).

2 .7 . Alcan çan do d i ferentes c lasses soc ia is (At 17 .12).

2 .8 . D efend end o a re l evânc ia cu l tura l do evan ge lho (At 17 .16-31).

2 .9 . G astand o-se por m issões (A t 18 .11).

3. A terceira viagem missionária

3 .1 . A busca pe lo t raba lho em equ ipe (At 18 .24-28).

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Uma  Graça  A lém-M ar   | 135

3.2 . Manutenção dos s ímbolos pentecosta is (At 19 .1-6) .

3 .3 . M ostrar o caráter ped agó gico do eva nge lho (At 19 .9) .

3 .4 . V ive r um evange lho sem engessam ento (At 19.12).

3 .5 . Possu ir um coração m iss ion ár io (At 20 .17-35) .

3 .6 . O asp ecto não c le r ica l do ev ange lho (At 21 .9-11) .

3 .7 . Desfrutando do fruto do d isc ipu lado (At 21 .16) .

No Poder do Espírito

“pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, 

desde Jerusalém e arredores até ao llírico, tenho pregado 0  evangelho de Jesus Cristo”  (15.19). U m a das caracterí st icas m ais m arcantes no apósto lo Pau lo é a sua

depend ênc ia de D eus na rea lização de seu serviço . Em nenh um m om ento

ele credita o seu êxito ao m ér ito própr io. Tudo era fruto d a graça de Deus.

Pau lo d i s sera aos c ren tes de C or in to que h av ia tr aba lhado m ais do que

todos os após to los , mas r econhece que i s so só fo i poss íve l por conta

da g raç a de D eus de r r am ada em sua v ida (1 Co 15 .10) . N ovam ente ele

reconhece que chegou às regiões mais remo tas graças ao po der do E spír ito

San to que e s tava em sua v ida . A incu r s ão m is s ion ár ia de Pau lo não se

deu ap enas em palavras , m as , sobretudo, po r m eio de s ina is e prodíg ios ,

e pe lo po der do E sp ír ito Santo. N enh um a ob ra m iss ion ár ia te r á êx i to se

não for acom pan hada pe la ação soberan a do Esp í r ito Santo .

O avanço do p entecos ta l ism o c lás s ico pe lo m undo afora fo i m arcado

pe l a pode ro sa aç ão do E sp í rit o San to. B as t a c it a rm os o s m is s ion ár io s

D a n i e l B e r g e G u n n a r V in g r e n , q ue t r o u x e r a m as A s se m b l e ia s d e

D eus pa r a o Br as i l, p a r a con s t a ta rm os e s se f ato . O D iá rio de V ing r en

contém re l a tos de s ina i s e p rod íg ios que o Esp í r i to Santo r ea l i zou por

seu in te rm éd io . O p rópr io env io sobr ena tu r a l, a pa r t ir d e um a pa lav r a

p r o f é ti c a q u e o s a ju d o u a lo c a l iz a r n o m ap a - m ú n d i a p a l av r a “ P a r á”

com o um loca l situado no N or te do Bras il , com prova is so .1M as não são

som ente os fatos re lacionados à cham ada dos m issioná r ios suecos para o

B ras i l que ates tam a operação do E spíri to do S enh or no pentecosta li sm o

brasil eiro . A no ssa h i s tór i a e s tá p e rm eada de in te rven ções sobrenatura is

operac iona l i zadas pe lo Esp í r i to Santo .2

  omanos 15.22-29

Pelo que também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco. Mas, agora,

que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo

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136 | M aravilhosa G raça

de ir ter convosco, quando partir para a Espanha, irei ter convosco; pois espero 

que, de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter 

gozado um pouco da vossa companhia. Mas, agora, vou a Jerusalém para ministrar 

aos santos. Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para  

os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como 

devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos 

seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais. Assim, que, 

concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós,  irei à Espanha. E bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude da bênção do evangelho de Cristo.

Planejamento Missionário

“Mas, agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo j á há muitos anos   grande desejo de ir ter convosco, quando partirpara a Espanha, irei ter convosco; pois  espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado p o r vós, depois de  ter gomado um pouco da vossa companhia” (15.23,24).  Os in térpretes da Bíb l ia

es tão conv enc idos de que u m a das razões que levou Pau lo a escrever sua

car t a e ra o seu dese jo de fazer de Roma uma base mis s ionár i a . Dent ro

des s e p ropós i to , Pau lo t r a tou de mu i to s t emas t eo lóg i co s de ex t r ema

r e le v â n c i a p a r a o s c r is tã o s r o m a n o s . C h e g a r a o m o m e n t o d e e x p o r o

dese jo que in f lam ava seu coração — levar à f ren te a ob ra m iss ion ár ia e

cheg ar com e la a té a Espanha .

O a p ó s t o l o p o s s u í a u m c o r a ç ã o v o l t a d o p a r a m i s s õ e s . Q u a n d o o

E spír ito Santo esco lheu os pr im eiros m iss ionár ios na igre ja de A nt ioqu ia ,

Paulo estava entre eles . N a verdade, fo i po r interm éd io dele que o E spíri todo S enho r deu in íc io ao m ovim ento m is s ion ár io d a ig re ja . A cred i to ser

opo r tuno ver i fi ca rm os a lguns p r inc íp ios m iss ionár ios que enco nt ramo s

no envio de Paulo e Barn abé a part i r de A nt ioquia .

O cap í t u lo 13 do l i v ro de A to s dos Após to lo s é emb lemát i co po r

 vá r ia s razões. É n esse cap ítu lo q u e a ig re ja , d e u m a fo rm a o rg an izad a ,

envia seus pr imeiros miss ionár ios (At 13 .1-13) . É verdade que antes de

 A n tio q u ia h o u v e in v es tid a s m iss io n ár ia s , co m o p o r exem p lo , a id a deFi l ipe à c idade de Samar ia (At 8 .5) . Contudo, a ida de Fi l ipe à terra dos

samar it anos não aconteceu em deco rrênc ia de um a m ob i li zação d a ig re ja

com o acon t eceu em An t ioqu i a.

Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber:  

Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, Manaém, que fora criado

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138 | M aravilhosa G raça

qu em p rofetiza edifica-a igreja (1 C o l4.3 ) . Foi nesse con texto de inspiração

d i v i n a q u e o Es p í r i t o S a n t o c o m i s s i o n o u o s p r i m e i r o s m i s s i o n á r i o s .

Sem in sp i r ação n ão há m is são . Q ua lque r ig r e j a que faz m is sões s em a

part ic ipaç ão d i reta do E spír ito Santo es tá fadad a ao fracasso ! N ão tenhodúv ida a l guma de que em A n t ioqu ia a p ro fec ia , com o o f ic io e tam bém

com o do m , estava em operação. Foi essa capacitação pro fética que perm itiu

a esco lha dos p r im e i ros m iss ionár ios — Pau lo e Barnabé .

 Em terceiro lugar, missões éfeita com instrução — “H av ia na i g re ja m es tres” .

 A pa lav ra “m estres” (gr. didaskalos) vem da m esm a ra iz da pa l avra ãdaquê, ensino ou instrução. Se a inspiração é im po rtante para as missões, a instrução da

m esm a forma. Sem ensino, e ensino bíblico sob a direção do E spírito Santo,

não há m issões de verdade. Tenho observado m ui tas pessoas querendo os

dons do E spír ito e re iv ind icando-os para o m ovim ento m iss ionár io , m as

neg l i genc iando a in s t rução que vem pe la Pa l avra de Deus . O resu l t ado

d i sso são mo vimentos com m ui to “peneum at ism os” , m as sem nenhum a

fund am entação teo lógica consistente. O resu ltado disso é o fracasso.

 Em quarto lugar, missões é fe i ta com adoração  — “ E s e r v in d o e le s ao

Sen ho r . Se rv indo e a t radução do g reg o leitougeo,  d e o n d e p r o c e d e

a pa l av ra po r tugues a “ l i t u rg i a” . É um t e rmo us ado pa ra s e r e f e r i r ao

cu l to o u s e rv iço c r is tão . N es s e con t ex to s i gn if ic a , s em dú v ida a l gum a ,

adoração. Eles estavam adorando quando o Espír ito Santo os com iss ionou

p a r a f a z e r m is s õ e s. É n o c o n t e x t o d a a d o r a ç ã o c r i st ã q u e a c o n t e c e m

os despe r t am en to s m i ss ioná r io s . Fo i a s s im com o env io dos p r im e i ro s

m i ss ioná r io s o r iund os do av i vam en to da R ua A zu sa e fo i a s s im com oenv io dos suecos Dan i e l Be rg e Gunnar V ing ren pa ra o Bra s i l . Es s e s

últimos estavam adorando a Deus qu ando o E spír ito Santo os comiss ionou

a v i a j a r em pa ra o Bra s i l . Ho j e nós t emos mu i t a mús i ca , mu i to show ,

m a s p o u c a a d o r a ç ão . Q u a l é a c o n s e q u ê n c ia d i ss o ? U m e s v a z ia m e n t o

do mov imen to m i s s ioná r io .

 Em quinto lugar, missões éfeita com consagração — “E j e juand o” . E m todo

m ov im en to de av ivam en to , que des agu ou em m is sões, e st ão p re s en t e sum a vo l t a à Pa l avra de D eus e à s an tidade . O q ue se depreen de de um a

le i tura dos A tos dos Apó s to los é que o je jum era um a prá tica com um na

igre ja apo stó l ica (A t 13 .1-4 ; A t 14 .23). O je jum b íb l ico es tava associado

à prát ica da oração , e a oração c on du z a um a v ida santa . N ão se tra ta de

um a ques tão l ega l is t a ou s im p lesm ente um r igor i sm o ascé tico . U m a v ida

p iedosa , onde os l imi t es en t re o sag rado e o p rofano são respe i t ados ,

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invari ave lm ente tem com o resu l tado um c r is t ian i sm o con tag ian te . Não

há dúvidas de que a igre ja hod ierna perdeu m uito da sua p iedade pessoal,

enveredand o po r um inst itu ic ion al ism o foss il izado. N ão h á m ais espaço

para prát icas piedosas , com o po r exemplo, o je jum . A s con sequên cias são

sent idas nas tentat ivas frustradas de fazer missões.

 Em sexto lugar, missões éfe ita com vocação — “ S e p a r a i- m e a B a r n a b é e

Sau lo” . E v identem ente que aqu i fo i o próp r io E sp í r ito que vocac ionou

e s e le c io n o u B a r n a b é e P a u l o p a r a a o b r a m is s io n á r ia . J á d i s se n o

liv r o d e m in h a a u t o r i a  A s Ovelhas Também Gemem   q u e a v o c a ç ã o é

o p i la r sob r e o q ua l se a l ic e r ç a tod a a v ida m in i s t e r i a l .3 T od av i a , ela

 v em sem p re a co m p an h ad a d e su a ir m ã g ê m e a — a p re p a ra ç ão , que

t a m b é m d e n o m i n o d e l a p i d a ç ã o . D e u s n o s v o c a c i o n a , m a s s o m o s

n ó s q u e p r e c is a m o s n o s p r e p a r a r , b í b l ic a o u t e o l o g ic a m e n t e , p a r a

m e lh o r se r v ir m o s a o n o s s o D e u s. J á c o n h e c i d iv e r s o s m o v i m e n to s

m i ss ion ár io s , a l guns d e le s fo r a do B r as i l, e o s v i so f r e r po r co n t a de

o b r e i r o s ma l p r e p a r ad o s e ma l t r e i n ad o s . F o r am v o c ac i o n ad o s , mas

n ão f o ram lap id ad o s . A lg u n s s e e n v o lv e r am c o m m u l h e re s , e n q u an t oo u t r o s f o r am c o r r o m p i d o s p e l o d i n h e ir o . N ã o h á d ú v id a s d e q u e a

i g r e j a d e v e in v e s t ir n o p r e p a r o e s p i ri tu a l d e s eu s m is s io n á r io s , mas

o m e s m o p o d e s e r d it o d o p r e p a r o m o r a l . A p r á t ic a d e u m a v id a

d i s c ip l in a da ev i ta r i a m u i to s ac iden t e s (1 Tm 4 .7 ) .

 Em sétimo lugar, missões é feita com adoção — “E im pon do- lhes as m ãos .

 A im p o sição de m ão im p li cava cu idado , resp o n sab ilid ad e p e lo envio . A o

im po r as m ãos no s m iss ion ár ios , a igre ja se com pro m eda a cu idar deles.

 A lg uém já disse que quando um a pessoa desce para dentro do poço, alguém

prec isa segurar a corda! Infe l izmente a igre ja não tem segurado a corda

daque les que têm s ido enviados ao cam po m iss ionár io . E lam entáve l que

o núm ero de pat roc inadores da o bra m iss ionár i a d im inu i ou a té m esm o

de ixa de ex i s t i r à med ida que o s r e su l t ados demoram a apa r e ce r . Há

m iss ion ár ios que t rabalham sob pressão , a lguns são tentados até mesm o

a maquiar re latór ios para apresentarem nas suas agênc ias . A igre ja deve

dar todo apoio espir itual e ma ter ial a f im de que o m iss ioná r io po ssa fazer

com alegr ia a obra para a qua l fo i com iss ionad o.

  omanos 15.30-33

E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, 

que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus, para que seja livre

Uma  Graça  A lém-M ar   | 139

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Uma  Graça  A lém-M ar   | 141

para parar com essa beste i ra !” D essa vez o pastor respondeu d izendo que

não es tava fa lando b este ira , mas a Palavra de Deus .

I n c o m o d a d o , o ja g u n ç o l e v a n t o u - s e d iz e n d o q u e ia p r o v a r q u e

tudo aqu i lo e r a bobagem. Puxando uma f ac a da c in tu r a , o j agunço s ed i rig i u em d i r e ç ão ao pas to r . M esm o à d i st ânc i a , o pas to r l e van tou a

m ão e g r i tou : “Sa t anás , eu t e r ep r e end o no nom e de J e su s” . N aqu e le

m om ento o hom em fo i a t ir ado ao chão à v is t a de todos . O im pac to da

qued a fora g ran de , e el e não con segu iu m ai s se levantar . E ra o bo i que

o pas to r tinh a v i s to na v is ão que p rocu r a r i a a tac á -lo . O D iabo c a iu po r

te r r a . O nome do Senhor fo i g lo r i f i c ado . Eu fu i pas tor naque la r eg i ão

e t es te m u n h e i o g r a n d e c r e sc im e n t o d a o b r a d e D e u s a li. M a s t ud o

c o m e ç o u c o m o p o d e r d a o ra ção .

1 A tese do “mito fundante” defendida por Gedeon Alencar em seu prestigiado livro 

 M atri^ Pentecostal,  para explicar a vinda dos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar 

 Vingren para o Brasil, não me pareceu muito convincente. (ALENCAR, Gedeon E 

 M atri^Pentecostal Brasileira —  Assem bleia de Deus, 19 11-2 0 11.  Editora Novos Diálogos)

2 Veja um desses testemunhos marcantes em meu livro  L ucas — O  Evangelho de Jesus, 

0 Homem Perfeito.  Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

3 GON ÇALVES, José. A s Ovelhas Também Gemem.  Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

4 HAUBECK, Wilfrid & SIEBENTHAL, Heinrich Von. Nova Chave lin guística do Novo  

Testamento Grego  —  M ateus/Apocalipse.  São Paulo: Editora Targumim/Hagnos, 2009.

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Capítulo

13M emórias

d a  Graça 

  omanos 16.1,2

Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em  

Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis 

em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, 

como também a mim mesmo.

Um Documento Preciosíssimo!

“Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em  

Cencreia” (16.1).  C hego u o mo m ento e spec i a l d e Pau lo t e rm inar a c ar ta

e ap r e sen t a r quem a l e va r ia a té Rom a : um a c r is tã a quem Pau lo cham a

apenas de Febe . W ar ren W. W ie rsbe d e s t ac a que e s s a fo i a encom endama i s p r e c i o s a q u e F e b e t e v e a o p o r t u n i d ad e d e l e v a r . F e b e e r a d e

Cencre i a , um por to de Cor in to . Os in té rpre te s ac red i t am que Febe se

con ve r t eu du r an t e a e s tad i a de Pau lo em Co r in to , que du ro u d ezo i to

m eses . E la e r a um a pessoa de conf i ança e que a judava na ob ra de Deus .

Pau lo d i z que e la “ s e rv i a” à i g r e j a de C enc r e ia . A p a l av r a g r eg a pa r a

“se rv i r” é a t r adução do greg o diakonos, que t em o sen t ido de “ se rv i r” .

Febe auxi l i ava e a judava a sustentar a obra a l i .

“para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer  

coisa que de vós necessitar;porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo”  

(16.2). P au lo destaca que Febe era um a “prote tora” de m ui tos e tamb ém

dele . O sent ido aqui , como destacam os lex icógrafos , é de uma pessoa

que não m ede esforços para ajuda r alguém . Febe, po rtanto, foi um apoio

espiri tual , m oral e f inanceiro p ara o ap óstolo em seu projeto m iss ionár io.

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M e m ó r i a s  d a  G r a ç a    | 143

E stou convenc ido , e a p rá t ica pas to ra l me dá es se conven c im ento , de

que m ui to m a is pod er i a se r fei to pe l a obra de D eus se m ui tas pessoas a

quem D eus d eu con dições pr iv ileg iadas se d ispusessem a a judar . Todavia ,

o que se observa é que q uem de fa to m a i s a juda a ig re j a s ão aqu e les quepou co tem . São os apo sentado s, as pension istas , o trabalha do r braçal , etc .

Não é a r eg ra , mas há g r andes empres á r io s que não s e envo lvem com

nada da ig re ja que dem anda gastos. F icam o lhando de longe. M ui tos nem

diz im is t as consegu em ser. A nd am na cont ramão de Febe .

  omanos 16.3-16

Saudai a Priscila e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais  pela minha vida expuseram a sua cabeça; o que não só eu lhes agradeço, mas 

também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que está em  

sua casa. Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Ásia em 

Cristo. Saudai a Maria, que trabalhou muito por nós. Saudai a Andrônico e a 

 Júnia, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram 

entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo. Saudai a Amplíato,  

meu amado no Senhor. Saudai a Urbano, nosso cooperador em Cristo, e a 

Estáquis, meu amado. Saudai a Apeles, aprovado em Cristo. Saudai aos da família de Aristóbulo. Saudai a Herodião, meu parente. Saudai aos da  

família de Narciso, os que estão no Senhor. Saudai a Trifena e a Trifosa, as 

quais trabalham no Senhor. Saudai à amada Pérside, a qual muito trabalhou  

no Senhor. Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha. Saudai a 

 Asíncrito, a Flegonte, a Hermas, a Pátrobas, a Hermes, e aos irmãos que estão 

com eles. Saudai a Filólogo e a Júlia, a Nereu e a sua irmã, e a Olimpas, e a 

todos os santos que com eles estão. Saudai-vos uns aos outros com santo 

ósculo. As igrejas de Cristo vos saúdam.

Uma Igreja sem Estrelas

“Saudai... ” (16.3).  O apó sto lo es tava chegand o ao f ina l de sua carta . A

saudade ba t i a no pe ito . C hegara o m om ento de env iar congra tu l ações às

pessoas qu e e le tanto es t im ava. E ram todas pessoas qu er idas , do convív io

apos tó lico , e is so e l e d em ons t r a quando lem bra no m ina lm en te de cadaum . Eu gene P eterson d iz que nu nca quis pas torear um a igre ja que t ivesse

m ais do qu e trezentos me m bros po rque isso o im possibi li tar ia de conhecer

todos os membros . E le gos ta de conhecer as ove lhas e chamá- l as pe lo

nom e. V em os es se m esm o pr inc íp io ap l icado na v ida de Pau lo .

Co m o todas essas pessoas que P aulo conhecia estariam naquele mom ento

em Ro m a? É um a pergunta que tem int r igado os comentar is tas . Todavia,

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Memórias da  Graça   | 145

um a d ív ida de g ra t idão com esse casa l porqu e e l es a r r i s caram a v ida pe lo

após to lo . É in teres san te no tar que o nome Pr i sc i l a aparece sempre em

prim eiro lug ar qua ndo o casa l é c itado . O s in térpretes acred i tam qu e e la

era a pessoa que m a is s e des t acava . Q uem não con hece um casa l em que

a m ulher se des taca mais do que o hom em ? E u po der ia c itar m ui tos casos .

Paulo reconhece que tem um a dívida com esse casal — eles haviam arriscado

a v ida por e le (v. 5 ). C om o n aqu eles d ias as igre jas eram do m ést icas , esse

casa l hosped ava um a par te da i g re ja n a casa de les .1

“... Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Asia em Cristo. Saudai  

a Maria, que trabalhou muito po r nós. Saudai aAndrônico e a Júnia, meus parentes  e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que   fo ram antes de mim em Cristo” (16.5,6,7). A o l ado das s aud ações , o após to lo

sem pre põe em destaque o que o faz ia lem brar-se desses i rm ãos. U m deles

fora as pr im íc ias do seu labo r m iss ionár io ; outras t raba lharam m uito p e la

igre ja , enq uan to outros se tornaram no táveis entre os apósto los . O utros

hav iam se con vert ido antes de Paulo . I sso de ver ia serv i r de exem plo para

m uitos novatos que q uerem de sprezar o legado deixado pelos m ais velhos.N ão ad ian ta qu erer pas sar po r c im a da h i stó r ia quan do se deu apenas os

pr im e i ros passos . É p rec iso ap rende r com a h is tó r ia .

 T o do s esses fa to s n arrad o s m arca ram a m e m ó ria do apó sto lo . E les

t a m b é m n o s m a r c am . U m n o m e a q u i se d e s ta c a d o s d e m a is , M a r ia , a

q u e m P a u l o a c r e s c e n t a q u e “ m u it o t r a b a l h o u ” p e l a ig r e ja . E x p r e s sã o

“ t r aba lhou mu i to” t r aduz o t e rmo g rego kopiao,  que t em o sen t ido de

“es forçar - se” , “ t raba lhar duramente” . O sen t ido no g rego é que e l a s esacrif icou, derram ou m uito suor, gastou tudo o que t inha para que pud esse

a judar seus i rmãos na fé . E o fato é que se t ra tava de uma mulher . I sso

m o s t r a c o m o n a s Es c r i t u r a s a s m u l h e r e s t ê m u m p a p e l d e d e s t a q u e .

In fe l i zmen te , ho j e que remos um c r i s t i an i smo s em cus to , s em gas to e

sem e sforço . T alvez se ja po r i sso qu e a fé tenh a perd ido aquele po de r de

co ntag iar com o faz ia antes .

“Saudai aAmplíato, meu amado no Senhor. Saudai a Urbano, nosso cooperador  em Cristo, e a Estáquis, meu amado. Saudai a Apeles, aprovado em Cristo. Saudai  aos dafamília de Aristóbulo. Saudai a Herodião, meu parente. Saudai aos dafamília de  

 Narciso, os que estão no Senhor” (16.8-11). A lgum as pa lavras usadas aqui pelo

apóstolo se destacam: “amigo” (v. 8 , ARA); “amado” (v. 9) e “aprovado”

(v. 10). Essas pa lavras m ostram o grau de com un hão que hav ia na Igre ja

Pr imit iva Eles eram amigos amados e aprovados

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146 | M aravilhosa  G raça 

N o l iv ro de m inha au to r ia  As Ovelhas Também Gemem , escrev i sobre

a n e c e s s id a d e d a koinonia   c r i s t ã . Sem dúv ida , uma das dou t r in a s ma i s

exa l tadas nas pág inas da Bíb l ia é a da un idade cr i s tã . A fa l ta de un idade

fo i uma das p r inc ipa i s razões que l evou o após to lo Pau lo a escrever asua Pr im eira C arta aos Cor indos . E screvend o àq uela igre ja e le d isse es tar

inform ado de que ha via con tenda s entre e les (1 Co 1 .11) . A os efés ios , o

m esm o após to lo aconse lhou a que s e e s fo rça s sem d i li g en t em en te pa ra

“gua rda r a un idade do Esp í r i t o” (Ef 4 . 3 ) ; a do i s c r en t e s f i l i p en ses o

após to lo dos gen t ios recom endou: “pen sem concordem ente , no Sen hor”

(Fp 4 .2 , ARA) . E inegáve l o va lo r da un idade cr i s t ã . A un idade t raz a

comunhão . E bo m lem bra r que um dos s eg redos do g r and e e exp lo s ivocrescimen to da Igreja Prim itiva era justam ente a com unh ão existente entre

os crentes . No l ivro d a h is tór ia da igre ja , Atos dos A pó sto los , l em os : “E

perseveravam n a do ut r ina dos após to los , e na com unhão , e no p ar t ir do

pão , e n a s o rações” (A t 2 . 42 ) . A pa l av ra “ comunhão” t r aduz o t e rmo

g r e g o koinonia. W. E. V ine ob serva que a koinonia  é “u m t er e m c o m u m ,

com panhe i rism o , com unh ão” e denota “a par t e que um tem em q ua lquer

co i sa , um a par tic ipação , um com panh e i ri sm o recon hec ido , e se usa das

exp eriências e interesses com uns dos cr is tãos”.2 É op ortun o ob servarm os

o uso des s e t e rmo na l i t e r a tu ra g r ega , i n c lu indo o Novo Tes t amen to .

 W illiam B arc lay nos d á u m a exce len te v isão p an o râm ica d esse te rm o na

l it e ra tura g reg a , inc lu ind o o N ovo T es tam ento :123456

1. N a vida cristã há umakoinonia 

 que significa um “compartilhar de am izade”e um a perm anên cia no convívio dos outros (At 2.42; 2 Co 6.14).

2 . N a v ida c r i s tã há um a koinonia   que s ign i f ica uma “d iv isão prát ica”

com os que são m enos afortunados . A com unhão cr is tã é um a co isa

prát ica (Rm 15.26 ; 2 C o 8 .4 ; 9 .13) .

3 . N a v ida c r is tã há um a koinonia  que é um a “cooperação na ob ra de

Cristo” (Fp 1.5) .

4 . N a vida cr is tã há um a koinonia  “na fé” . O cristão n unca é um a unidade

i so l ada ; é m em bro de um conv ív io da fé (E f 3 .9 ).

5. N a v id a c r is tã h á u m a “ c o m u n h ã o (  koinonia  ) no E sp ír ito ” (2 C o

13.14; Fp 2.1).

6. N a vida cristã há um a koinonia  “com C risto”. Os cristãos são chamad os

para a koinonia  de Jesu s C r is to , o F i lho de D eus (1 C o 1 .9).

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Memórias da  Graça   | 147

7 . N a v i d a c r is t ã h á a koinonia   “c o m D e u s ” (1 J o 1 .3 ) . M a s d e v e

s e r n o t a d o q u e a q u e l a c o m u n h ã o t e m c o n d i ç õ e s é t i c a s , p o r q u e

não é p a ra aque l e s que e s co lhe ram and a r n a s t r eva s (1 Jo 1 .6 ). A

koinonia   c r i s t ã é aque le v íncu lo que l i ga os c r i s t ãos aos out ros , a

C r is to e a D eus . 3

Princípios Bíblicos para um Bom Relacionamento

Seguem a lguns pr inc íp ios b íb l icos que extra í do l ivro de Provérb ios ,

que no s a judarão a nos re lac ionar bem uns com os out ros :

1. Saiba ouvir (Pv 18.13).

U m dos g randes p rob lem as em nos re lac ionar bem uns com os outros

su rge po r con t a d a nos s a f a lh a em ouv ir . Ou v im os , m as ouv im os m a l.

O u a inda : ouv im os m a is do q ue fo i d ito . Prec is am os ap rend er a ouv ir .

2. Não se apresse pa ra fa la r (Pv 19.2; 17.28).

 A precip itação em fala r é outro grande problem a. Je sus m esm o condenou

o ju í zo t em erá rio . I sto é , f a la r ap re s sadam en te s em um con hec im en tototal do s fatos .

3. Fale pouco (Pv 10.19; 13.3; 12.18).

 A q u i t a lv e z e s t e ja u m d o s m a io r e s f a to r e s d e d e s a ju s t e n o s

r e l a c i o n a m e n t o s . É u m c o m e n t á r i o i n o p o r t u n o q u e f a z e m o s . U m a

pa lavra a ma i s , que aparen temente não t em a in tenção de o fender , mas

que vem sub lim ada .

4. Fale coisas boas das pessoas (Pv 16.24; 16.28; 20.19).

 A tend ên c ia d e só en x e rgar co isas ru in s nos ou tro s é u m a h e ran ça da

nossa velha natureza adâm ica. D if ic i lm ente falamo s de alguém para exal tar

suas v i rtudes . N ecess i tam os enx ergar a lgo de bom no nosso sem elhan te

se querem os nos re l ac ion ar bem.

5. Não atice (fomente) conversas (Pv 30.33; 26.20,21). A cred ito q u e se n ão p assássem o s à fren te as fo focas q u e ch egam até

nós m ui tas in t r igas ser iam evi tadas .

6. Fale pouco de si mesmo (Pv 27.2).

 A  a t i t u d e d e f a l a r d e s i m e s m o , a l é m d e r e v e l a r u m c o m p l e x o d e

inferioridade, acaba também po r arranhar os relacionam entos. Isso por u m a

razão s im ples : é d if íc i l louvar a s i m esm o sem dim inuir o outro.4

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148 | M ar av ilhos a   G raça  

omanos 16.17-20

E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra 

a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso 

Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam 

o coração dos símplices. Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. 

Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas símplices  

no mal. E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A  

graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém!

Uma Palavra de Advertência

“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a  doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (16.17). O s versículos 17 a 20 aparecem

com o u m a intersecção entre os versículos 16 e 21. N o m eio das saudações,

o apóstolo lem brou que havia aqueles que trabalhavam contra a unidade da

igreja. E ra preciso alertar a igreja de R om a nesse ponto. De po is ele voltar ia

às saudações . Esses “c r i s t ãos” e r am agentes de Sa tanás e t r aba lhavam

contra a paz na igre ja (v. 20) . Eram agen tes sem eadores de co ntenda s; po r

isso, a melhor forma de neutral izar suas ações era afastar-se deles. Muitosintérpretes acreditam que o ferm ento gnó st ico está presente na ação dessas

pessoas , pois a forma escandalosa como se por tavam é aqu i denunc iada

por Pau lo . O que e les faz iam estava em desacordo com o ens ino que os

crentes rom anos h aviam recebido. A igre ja possui um a padronização, e os

seus mem bros precisam se ajustar a ela .

  omanos 16.21-23

Saudação da minha própria mão, de Paulo. Se alguém não ama o Senhor Jesus 

Cristo, seja anátema; maranata! A graça do Senhor Jesus Cristo seja convosco.

Lembrança dos Amigos

O expos i tor W arren W W iersbe com enta com m aestr ia essa porção das

E scritu ras : “Q ue l is ta de he ró is ! T im óteo é m enc ionado com f requênc ia

no l iv ro de Atos e nas Ep ís to las . Era um dos ‘ f i lhos na fé ’ de Pau lo e

trabalhou com o apóstolo em vários lugares difíceis (ver Fp 2.19-24). Lúcio

e ra um com pat rio ta judeu , com o tamb ém o e ram Jasom e Sosípatro . Não

há evidênc ia a lgum a de que fo i esse m esmo Jaso m que protegeu Pau lo em

 T essa lô n ica (A t 17 .1-9). E bem p rováve l que esse J a so m fosse um gentio .

 T érc io foi o secre tário que escreveu a carta enquan to Paulo a d itava. G aio

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Memórias da  Graça   | 149

fo i o hom em que abr iu a casa para ho spedar Pau lo , enquanto o após to lo

e s t ava em C or in to . 1 C or indo s 1 . 14 r e l a t a com o Pau lo ganh ou G a io

para C r is to e o badzo u qu ando fundou a ig re j a de Cor in to . Tudo ind ica

que hav ia um a cong regação de cr i s tãos se reunindo na casa de le . Erasto

ocupava um cargo impor tan te na c idade , p rovave lmente de t e soure i ro .

O evange lho a lcançou tanto os mais a l tos esca lões de Cor into quanto o

povo m ais hum i lde (1 Co 1 .26-31; 6 .9-11)” .5

  omanos 16.24-27

 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém! Ora, àquele 

que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos 

esteve oculto, mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras 

dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para 

obediência da fé, ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para 

todo o sempre. Amém!

Graça para todos“Ora, àquele que ép oderoso pa ra vos confirmar segundo 0  meu evangelho e a  

 pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos  

esteve oculto” (16.25). N ão hav ia um a m ane i ra ma i s adequada de te rm inar

essa mag i s t r a l c ar t a senão com um profundo sent imento de g ra t idão a

Deus . Foi e le quem reve lou os mis tér ios ocu l tos noutros tempos e que

ago ra se to rnaram m an i fe s tos p or m e io de J e su s Cr i sto , no sso Senhor .

Pau lo j á hav ia d i to em Romanos 11 .36 que “Porque de le , e por e l e , e

para e le são todas as co isas ; g lór ia , po is , a e le e ternam ente . A m ém !” . A

esse D eus , e ternam ente sáb io , que no s jus t if icou pe la sua inf in i ta graç a ,

per tence tod a ho nra e g lór ia pe los sécu los dos sécu los . A m ém !

1 Nos primeiros anos do cristianismo, as igrejas eram domésticas. Nesse período  

o termo “igreja” era sinônimo de “crentes”. Todavia, somente no segundo século,  

com o aparecimento das estruturas arquitetônicas, o termo “templo” passou a ter o  

sentido de “igreja” (SNYDER, Howard. Vinho Novo, Odres Novos — VidaN ovap ara  

a Igreja.  São Paulo: ABU Editora).

2 VINE, W. E. Diccionario Expositivo de Palabras D el Nuevo Testamento.  Vol. 1. Barcelona, 

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3 BARCLAY, William.  Palavras-Chaves do Novo Testamento.  São Paulo: Vida Nova, p. 123.

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4 GONÇA LVES, José. A s O velh as T am bém G emem . Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

5 WIERSBE, Warren W. Com entário Bíb l ico Tx pos i t i vo  —  N ovo Testam en to .  São Paulo: 

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150 | M aravilhosa Graça

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Marav i lhosa

GRAÇA A Carta aos Romanos foi escrita para a igreja, foiendereçada a pessoas simples, provenientes detodas as cam adas da população e se m distinçãode cor ou de raça. Não foi endereçada a teólogos,eruditos, nem tampouco a especialistas em religião.

Esse manuscrito tinha o propósito de edificar a igreja,tirar dúvidas e esclarecer guestionamentos quea nova fé estava provocando na época e é umareferência para nós hoje.