livro ebook perdao a encarnacao da graca

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  • 7/31/2019 Livro eBook Perdao a Encarnacao Da Graca

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    PERDO:

    ENCARNAO DA GRAA

    CAIO FBIO DARAJO FILHO

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    NDICE

    Apresentao

    Prefcio

    Perdo: Encarnao da Graa...............................................13O Perdo na Igreja................................................................18O Perdo no Casamento.......................................................23Perdo nas Relaes em Geral.............................................28O Padro do Perdo.............................................................31O Processo do Perdo..........................................................39O Agente do Perdo.............................................................46Atitude Permanente.............................................................56Trs Lembranas Importantes.............................................57

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    APRESENTAO

    Este livro mais uma metamorfose literria: sons virando

    letras pelo esforo dos que transcreveram uma palestra matinal emAraras, a fim de fazerem-na em registro duradouro, um livro.

    Sabendo disso seja indulgente e no exija muito do materialque segue transcrito. possvel que o aceit-lo como est na suaincipincia e conciso j seja seu primeiro exerccio de perdo.

    Seja como for, ele filho de um corao engravidado notero de uma histria pessoal de trinta anos: a minha vida.

    Meu desejo que este livro lhe seja um poderoso agente decura divina para a alma.

    Rev. Caio Fbio

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    PREFCIO

    A histria do perdo se apresenta atravs da palavra mgica eda prpria experincia de vida do Rev. Caio Fbio com toda apaixo dos que aprenderam duramente no s a perdoar, comoassistir outros perdoando. Assistir no sentido de dar assistncia,curar, proteger o nascturo do perdo contra rfagas da violnciado antiperdo.

    Para mim foi pura emoo, no s ouvir o menino-homemFbio atravs de duas fitas eloqentes e repassadas da mais funda

    ternura, febre mstica e fulgor passional, como repassar o texto,dando pequenos toques numa linguagem por si mesmoeloqentemente forte, inteligente e bela.

    Allinges L. Cesar Mc NightBosque dos Esquilos, julho de 1985.

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    CAPTULO UM

    PERDO: ENCARNAO DA GRAA

    Se teu irmo pecar (contra ti), vai argu-lo entre ti e ele s.Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmo.

    Se, porm, no te ouvir, toma ainda contigo uma ou duaspessoas, para que, pelo depoimento de duas ou trs testemunhastoda palavra se estabelea.

    E, se ele no vos atender, dize-o a igreja; e, se recusar ouvirtambm a igreja, considera-o como gentio e publicano.

    Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, tersido ligado no cu, e tudo o que desligardes na terra, ter sidodesligado no cu.

    Em verdade tambm vos digo que, se dois entre vs, sobre aterra, concordarem a respeito de qualquer coisa que porventurapedirem, ser-lhe- concedida por meu pai que est nos cus.

    Porque onde estiverem dois ou trs reunidos em meu nome,ali estou no meio deles.

    Ento Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, atquantas vezes meu irmo pecar contra mim, que eu lhe perdoe?At sete vezes?

    Respondeu-lhe Jesus: No te digo que at sete vezes, mas atsetenta vezes sete.

    Por isso o reino do cu semelhante a um rei, que resolveuajustar contas com os servos. E passando a faz-lo, trouxeram-lheum que lhe devia dez mil talentos.

    No tendo ele, porm, com que pagar, ordenou o senhor quefosse vendido ele, a mulher, os filhos, e tudo quanto possua, e quea dvida fosse paga.

    Ento o servo, prostando-se reverente, rogou: S pacientecomigo e tudo te pagarei.

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    E o senhor daquele servo, compadecendo-se mandou-oembora, e perdoou-lhe a dvida.

    Saindo, porm aquele servo, encontrou um dos seusconservos que lhe devia cem denrios: e, agarrando-o, o sufocava,

    dizendo: Paga-me o que me deves.Ento o seu conservo, caindo-lhe aos ps, lhe implorava: S

    paciente comigo e te pagarei.Ele, entretando, no quis; antes, indo-se o lanou na priso

    at que saldasse a dvida.Vendo os seus companheiros o que se havia passado,

    entristeceram-se muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o queacontecera.

    Ento o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado,perdoei-te aquela dvida toda porque me suplicaste; no devias tu,igualmente, compadecer-te do teu conservo, como tambm eu mecompadec de ti?

    E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, atque lhe pagasse toda a dvida.

    Assim tambm meu pai celeste vos far, se do ntimo noperdoades cada um de seu irmo.

    E aconteceu que, concluindo Jesus estas palavras, deixou aGalilia e foi para o territrio da Judia, alm do Jordo.Seguiram-no muitas multides, e curou-as al.Vieram a ele alguns fariseus, e o experimentavam,

    perguntando: lcito ao marido repudiar a sua mulher por qualquermotivo?

    Ento respondeu ele: No tendes lido que o Criador desde oprincpio os fez homem e mulher; e que disse: Por esta caudadeixar o homem pai e me, e se unir a sua mulher, tornando-se

    os dois uma s carne?De modo que j no so mais dois, porm uma s carne.

    Porquanto, o que Deus ajuntou no o separe o homem.Replicaram-lhe: Por que mandou ento Moiss dar carta de

    divrcio e repudiar?

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    Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso corao que Moiss vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto,no foi assim desde o princpio.

    Eu porm, vos digo: Quem repudiar sua mulher, no sendo

    por causa de relaes sexuais ilcitas, e casar com outra, cometeadultrio ( e o que casar com a repudiada comete adultrio).

    Disseram-lhe os discpulos: Se essa a condio do homemrelativamente a sua mulher, no convm casar.

    Jesus, porm, lhes respondeu: Nem todos esto aptos parareceber este conceito, mas apenas a quem dado.

    Porque h eunucos de nascena; a outros a quem os homensfizeram tais; e a outros que a si mesmo se fizeram eunucos, por

    causa do reino dos cus. Quem apto para admitir, admita-o.Mateus 18:15 a 19: 12

    Setenta x Sete nada mais do que a numerologia do perdo,a matemtica do amor. Por isso lemos este texto de Mateuscaptulos 18 e 19 que falam a respeito do assunto. Vejamos o quediz os versculos 21 e 22 do captulo 18.

    Ento, Pedro, aproximou-se, lhe perguntou: Senhor, at

    quantas vezes meu irmo pecar contra mim, que eu lhe perdoe?At sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: No te digo que at setevezes, mas at setenta vezes sete .

    Introduzo este assunto como algo que julguei pertinente aomomento, em nvel de conceituao e definio, pelo menosquanto procura de entendimento a respeito do significado doperdo.

    Quando, na expectativa de descobrir aquilo que Deus queriaque fosse partilhado com o seu povo, comecei a estudar este texto,

    perguntei-me a mim mesmo: Senhor, o que falar de perdo?A resposta que me veio ao corao esta:Falar de perdo falar de Deus, falar da graa, falar da

    capacidade de oferecer aos outros uma memria apagada, semregistros, sem mgoas e sem as tatuagens do ressentimento.

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    Perdoar deixar o outro nascer de novo na nossa histria, sem asmemrias que fizeram dele uma desagradvel lembrana.

    Falar de perdo falar de um alto padro, falar de algo queo mundo no ensina, falar daquilo que a natureza cada do

    cosmos no criou, nem por seleo natural, nem por geraoespontnea, porque no se aprende as leis do perdo na natureza.

    Falar de perdo falar de vida, de sade, de paz e daverdadeira humanidade individual que se transforma nasemelhana de Deus, pois quem no perdoa, adoece e se deformacomo gente.

    Falar de perdo falar do sentimento essencial para se vivercom o corao descoberto neste mundo de agresses e de facas

    afiadas.Falar de perdo falar de Jesus e dos homens que com Elealmejam ficar parecidos. Falar de perdo falar da repetio davida de Jesus na nossa pobre, frgil e cada humanidade individual.

    Falar de perdo falar de Deus na minha e na sua vida.No texto de Mateus, 18 h uma ligao de assuntos que se

    combinam em relao ao perdo.Quem acaso ler apenas os versos bblicos acima e pensar que

    neles est inserida toda a mensagem do perdo, ilude-se. Notemque o texto tem incio dizendo: Ento Pedro, perguntou (...) . Istosignifica que o que tinha sido dito antes foi o que motivou Pedro afazer aquela pergunta. Ele foi tomado de uma extremaperplexidade diante das coisas que Jesus acabara de dizer arespeito de relaes interpessoais.

    Jesus tinha justamente acabado de ensinar, no contextoantecedente sobre perdo na igreja. Entre os versculos 15 e 19essa foi sua tecla, tema e assunto. Ao invs de ser o clssico texto

    sobre disciplina, esse o texto sobre o perdo.

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    CAPTULO DOIS

    O PERDO NA IGREJA

    O interessante que a disciplina nesse texto o resultado, aatitude in extremis , quando se tentou oferecer acima de tudo,apesar de tudo e alm de tudo, perdo a algum. Perdo que foirejeitado, que no foi assumido e ao qual se deu de mo: - Se oteu irmo pecar contra ti vai argi-lo entre ti e ele s, se ele teouvir tu ganhaste o teu irmo. Se ele no te ouvir, leva duas ou trstestemunhas. Se ele no te ouvir, ento leva-o Igreja. Se ele no

    ouvir a Igreja, ento, in extremis , disciplina-o , diz Jesus.No se est falando aqui de adultrio ou de pecados morais

    escrabosos. Jesus est falando de relaes interpessoais, de umirmo que feriu o outro. Quase sempre na igreja a gente pensa emdisciplina com relao a esse tipo de pecado. Mas Jesus diz queatitude ltima, extrema, de disciplina, comea na rusga da relaointerpessoal que no se acertou. sobretudo em funo disso quepode haver disciplina.

    Mas a atitude extrema, quando se andou mais do que umasegunda milha observa-se que trs passos foram dados, no apenasdois.

    Primeiro passo: vai tu, e confronta. No houvearrependimento? Volta com outro. No houve mudana? Leva-o aigreja. No houve acerto? A disciplina, ento, o 4 passo. Pareceque Jesus est ensinando que alm da segunda h, uma terceira euma quarta milhas na relao entre os irmos na comunidade.

    No entanto, Ele diz que essa disciplina, esse gestocomunitrio, in extremis quando algum no aceitou o perdooferecido, deve ser feito sem nenhum ressentimento e com umprofundo esprito de orao: - Tambm vos digo que, se dois devs concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem,isso lhes ser feito por meu Pai, que est nos cus .

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    A palavra que no grego corresponde a concordarem tem osentido de sinfonia. Algo lindo, no mesmo? Sinfonia, ou seja, aorquestra afinada, sem dissonncias, sem ningum fora da nota, nodiapaso do amor. Se dois entre vs estiverem em sinfonia na

    terra, a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhe- concedida por meu Pai que est nos cus , afirma Jesus. E acoisa concedida , antes de tudo, a do versculo 18: ligar oudesligar.

    Ligar o irmo que rompeu a comunho, que ficou meodiando ou a quem odiei. Lig-lo na comunho ou deslig-lo, casoseja recusado o perdo insistentemente oferecido no primeiro, nosegundo e no terceiro passo, numa relao unitria, secundria ou

    terciria, ou seja, de um, de dois ou da prpria comunidade. Sedepois disso tudo ele no quiser reconciliao, ento nos diz Jesusque se for recusasdo, a comunidade, sem ressentimento, no espritode orao, chegar concluso de que o perdo foi oferecidoabundantemente, e esse irmo o rejeitou, ento que ele sejadesligado.

    interessante observar como esse texto no fala tanto dedisciplina, mas principalmente de perdo. Fala da insistncia de

    ganhar o irmo, de traz-lo de volta. Fala de setenta x sete, damultiplicao de desejos, de reconquista, de disponibilidadeinterior para aceitao do irmo arredio.

    Jesus, portanto, repete o princpio de Mateus, 5:41: E, sequalquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas .

    Mas o Senhor Jesus promete mais ainda: que a sua presenana comunidade e nas relaes dos irmos depende de duas atitudesbsicas.,

    A primeira que deve haver perdo. O verso 18 usa essa

    palavra belssima, ligardes , que tem a ver com a idia de segeminar as pessoas, faz-las gmeas univitelinas.

    Jesus aconselha a ligar, perdoar, esquecer, oferecer umamemria limpa, e afirmar que se ns fizermos isso, Ele estarpresente. Quando dois concordam, quando se reconciliam sobre aterra, eu estou no meio deles , promete.

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    Em segundo lugar, Ele diz que deve haver consensocomunitrio. Se houver consenso comunitrio de que se procurouperdoar aquele que rejeitou ajuda e perdo, Ele tambm estar nomeio da comunidade. Nessa sinfonia da orao, nesse ajuntamento

    dos irmo, Jesus promete estar presente.A Igreja sem dvida um dos lugares tambm difcies de se

    estabelecerem relaes interpessoais, o que pode at parecerestranho. No trabalho, onde todos so duros, as faces comopederneiras e os rostos como diamante, onde a lei a frieza e ondeas intimidades se resguardam, parece que conseguimos passarindiferentes pela trajetria do outro, sem nos preocuparmos tantocom ele, com as suas coisas e a sua vida.

    Na comunidade dos irmos, no entanto, onde se deseja serfamlia, onde os coraes querem se despir, desnudar, onde osdireitos so igualitrios, onde o amor socializa as obrigaes e osprivilgios, onde as pessoas tiram as mscaras pela via do convvioe o poder da Palavra de Deus que expe a nossa verdadeira faceno somente a Deus, mas tambm aos outros aparecem as nossasdoenas, as nossas taras, as nossas rugas, as nossas malquerenas,as nossas incompreenses, as nossas distores de comportamento

    e as nossas patologias. Tambm ali que muito frequentementeum irmo fica ofendido contra outro irmo.E nesse esprito de insistncia de perdo, nessa pseudo

    importunao do perdo, nessa procura de dar, de conquistar, deandar a primeira, a segunda e a terceira milha, de fazer tudo paraganhar o irmo, que eu e voc devemos viver, existir e conviver narelao comunitria.

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    CAPTULO TRS

    O PERDO NO CASAMENTO

    Esse texto tambm nos fala do perdo no casamento. interessante notar que logo a seguir a esse assunto de perdo, ocaptulo 19 nos introduz o assunto de divrcio. E eu fico pensandoque se h realmente uma razo pela qual os divrcios acontecem,essa razo sem dvida a falta de perdo.

    Mateus coloca o divrcio s depois de haver falado emperdo. Fala de casamento s depois de haver falado em perdoar70 x 7. Ningum est preparado para casar, para uma relao a

    dois, sem antes haver passado pela aula do perdo. Achomaravilhoso que Mateus no tenha feito esse arranjo depropsito, j que foi o Esprito Santo quem o fez. Lies sobre ocasamento s aparecem depois das lies sobre o perdo, porqueningum consegue viver a dois se no tiver aprendido sincera eprofundamente a perdoar.

    Veja no texto de Mateus, 19 o que acontece no casamentoquando no h perdo. O versculo 3 diz que qualquer motivo torna

    uma coisa grande. Procuraram Jesus e perguntaram-lhe: lcitodeixar a mulher por qualquer motivo?Quando no h perdo, qualquer motivo razo para

    separao. Quando no h perdo, qualquer pequenina coisa seagiganta. As lentes com as quais se olha so as da hipermetropia:as coisas crescem. o perdo que pe nos olhos das pessoas adimenso certa. o perdo que consegue fazer de ns um poucomopes na relao familiar: Ver menos, enxergar menos! o amor

    que encobre, sem tapear, multides de defeitos e pecados.Mas quando no h esse esprito de perdo, motivos os maisinsignificantes podem desencadear o divrcio. o temperamentoincompatvel, o gnio difcil e agressivo de um ou do outro; aaltura, a feira, a gordura ou o mau hlito; a cultura, o maridoque fez um curso a mais e que agora acha que a mulher uma

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    ignorante, coitadinha, uma domstica, cujo direito, como diz ocentifolio dos machistas mineiros, esquentar a barriga no fogoe esfri-la no tanque de levar roupa .

    Quando no h esprito de perdo exatamente isso que

    acontece; os pequenos motivos tornam-se grandes razes, aspequenas desavenas transformam-se em guerras, as pequenasferidas se convertem em cnceres incurveis.

    Em segundo lugar, quando no h perdo no casamentodestri-se a unidade das almas, pois deixam de ser os dois uma scarne . Jesus conclui dizendo: Portanto, no separe o homem oque Deus uniu .

    Normalmente ns entendemos que quem separa o Juiz, ou o

    pastor, quando casa de novo algum. Entrentanto no se tratadisso.Quando um casamento acaba porque antes do fim j

    acabara o dilogo, j acabara o sexo, j acabara a vida em comum.Quem separa no o Juiz, mas o homem e a mulher implicadosnessa relao, dois que nunca aprenderam a perdoar. O casamentomorre quando morre o dilogo, quando morrem o respeito e oesprito de perdo.

    O Juiz existencial que separa ou que ajunta o casal pode ser:ou o amor ou o dio, o perdo ou o ressentimento,respectivamente.

    Se no houver perdo, ainda que continuem debaixo domesmo teto as almas se divorciam. Sem perdo dorme-se namesma cama mas no se tem uma cama comum para as mesmasalmas descansarem, para dormirem juntas no repouso psicolgico,espiritual e moral da orao. Sem perdo no h unidade quesobreviva numa relao familiar.

    Em terceiro lugar, sem perdo prevalece a lei da dureza decorao. Jesus disse: Moiss permitiu o divrcio por causa dadureza dos coraes que no aprenderam a perdoar .

    Divrcio o amargo remdio de Deus para aqueles que noaceitaram a terapia prpria no tempo prprio. Divrcio aamputao para os que no se deixaram tratar enquanto havia

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    tempo, enquanto a putrefao no tomava conta do corpo. Divrcioacontece por causa da natureza dos coraes.

    Mas se houver perdo, at aquilo que Jesus diz que podejustificar o divrcio que neste texto aqui expresso como

    adultrio, nica situao que Ele permite justificar uma separaopode ser sobranceiramente eliminado pela via do perdo. umconceito alto demais. Por isso Jesus conclui dizendo: Quemestiver apto para admitir, admita-o .

    Mas sem perdo s o que fica a lei seca . Sem perdo oque resta no casamento a lei da dureza do corao. Coraesemperdenidos, feitos da mais dura rocha.

    Certa vez sofr muito visitando um casal que estava

    estremecido e em vias de separar-se. Estive na casa deles tentantodissuadir o marido, porque ele era a parte desejosa de fraturar arelao familiar. Passei ali horas relembrando o que Jesus poderiafazer pelo casamento deles. E falei: Se voc quiser, se vocdesejar, pode haver um milagre . Ele me respondeu: No, pastor,as minhas razes so muito fortes para deixar a minha mulher .Perguntei-lhe: Quais so as suas razes? Ele repondeu:Primeiro, ela no est no mesmo nvel cultural que eu; segundo,

    sexualmente, j no cria em mim o mesmo tipo de alegria quecriou nos primeiros meses, no primeiro ano. E ainda mais, nssomos muito rspidos um com o outro . O que sobrara da relaodeles era apenas a lei da dureza do corao.

    Observem essa sequncia na vida do rapaz. Por qualquermotivo, a cultura j no satisfazia, inexistia a unidade de almas, aharmonia de mentes, e o que restava era a lei da dureza do corao.Ele a trara e ela o perdoara. Permaneceram entre eles algumasrugas e algumas desconfianas que transformaram essa rachadura

    num imenso abismo, um assustador talvez entre ambos. Choreicom eles, me humilhei diante daquele moo, implorei que nofizesse aquilo. A esposa estava l no quarto em prantos, grunindo.Pedi ao rapaz que lhe permitisse uma nova chance, para Deustrabalhar na vida deles, um tempo para Ele ensin-los a perdoar.

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    A ele me olhou e falou: Eu vou pensar no seu caso . Aesposa dele depois me contou que quando a porta se fechou apsmim ele entrou e avisou, seco: V fazer minhas malas que eu vouembora .

    Sem perdo no h nenhum casamento que sobreviva.

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    CAPTULO QUATRO

    PERDO NAS RELAES EM GERAL

    Jesus nos ensina o perdo nas relaes interpessoais. exatamente o texto que lemos, nos versculos 21 e 22. Pedro seaproxima de Jesus depois de ouvir falar desse padro elevadoacerca do perdo. Ele achou que era demais para qualquer serhumano normal. Inquiriu: Senhor, quantas vezes? At sete vezesnum dia? Jesus disse: Olhe, eu te digo que no s sete, massetenta vezes sete .

    Tenho certeza do que Pedro tinha em mente. Um dia no cuvou tirar essa dvida, vou chegar e perguntar: Irmo Pedro, o quevoc tinha em mente quando fez aquela pergunta? Acho que elevai me dizer: Voc tinha razo, era exatamente isso que eu tinhaem mente.

    Sabem o que penso? Que Pedro tinha em mente o texto deGnesis 4:15 O Senhor porm disse-lhe: Portanto qualquer quematar a Caim, sete vezes ser castigado. E ps o Senhor um sinal

    em Caim, para que o no ferisse qualquer que o achasse .Talvez Pedro tenha pensado assim: Deus o Deus de Caim.Deus quem vai vingar o homicida sete vezes. Deve ser por issoque Ele perdoar o irmo no mnimo sete vezes.

    Nesse ponto Jesus d uma resposta que extrapola tudo quantoPedro pode ter pensado. Jesus responde positivamente ao queLameque pronunciou negativamente. Veja o texto de Gnesis 4:23e 24 no qual chama as suas duas mulheres e lhes diz: Olhem,

    escutem essa estria do jornal de hoje. Eu matei um homem porqueele me pisou (no hebraico ele tropeou no meu p), e um meninoporque me feriu (no hebraico arranhou) . Uma pisadela e umarranho, por essa razo ele matou os dois.

    Pensou Lameque: Vingaram-se de Caim sete vezes? Ora, seeu fiz muito mais do que Caim que s matou uma pessoa

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    vingar-se mas sem me matar 70 x 7. Quer dizer, ele foi cnicono que fez.

    Hodiernamente quem nos ensina isto na realidade brasileira um rapaz de 23 anos chamado Wladimir Tomarevisk, que no dia

    31 de outubro de 1983, ao meio-dia, ouviu sua mulherzinha, com afilhinha de uma ano ao colo dizer: Meu amor, fique em casa, poisvoc est cansado. Enquanto isso eu vou ao banco pegar nossodinheiro. A comida est na mesa Ele ligou a televiso e comeoua comer assistindo ao Jornal. Enquanto isso sua esposa est noBanco, sacando o dinheiro na fila, quando entraram uns assaltantese trocaram tiros com guardas. Antes disso tinham posto o revlverna cabea da garotinha Talita, filha de Wladimir que chorava,

    dizendo me: Diga pr essa droga calar a boca, seno eu estouroos miolos dela .Mas quando a troca de tiros se iniciou, uma bala atingiu a

    me Laura e outra a criana Talita. O rapaz, com a comida na boca,em casa, v a televiso que interrompe o noticirio porque anotcia chegou primeiro TV do que a sua prpria casa comcenas e imagens do assalto do Banco. E ele ouve dizer que a suaesposa e a sua filhinha esposa que tinha deixado a comida no

    prato e que tinha ido ao Banco pegar um dinheirinho estavammortas.E quando a TV perguntou: Por que isso? O que falta nesse

    mundo? , ele respondeu: A violncia a ausncia de Cristo nocorao dos homens .

    A polcia matou 4 dos 5 assaltantes, 1 sobreviveu, e quandons entrevistamos o Wladimir Tomarevisk no nosso ProgramaPare e Pense , ele mandou um recado para o assaltante: Se voc

    estiver me vendo, se voc estiver me ouvindo, onde voc estiver,

    quero dizer de corao, sem mgoas, sem ressentimento, que euamo voc em nome de Jesus, que eu quero ser seu irmo, ondevoc estiver. Oua isso; eu no tenho mgoas. Doeu, ficou umasaudade imensa, mas eu quero oferecer perdo a voc . S sendoprofundamente cristo que se pode ter a reao desse serhumano. Esse o esprito do 70 x 7.

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    CAPTULO CINCO

    O PADRO DO PERDO

    Mas Mateus, 18:23 e 35 no s nos fala sobre perdo naIgreja, no casamento e nas relaes interpessoais (homem ahomem, face a face, cara a cara), mas inclusive sobre perdo doperdo. Quando Jesus acabou de responder a Pedro: Pedro, nos 7 vezes, mas at 70x7 , o verso 23 diz que Jesus, com aexpresso de transio iniciou uma parbola: Por isso o Reino dos

    Cus semelhante , ou seja, essa parbola a ilustrao do queJesus estava querendo ensinar sobre perdo. Vocs conhecem aparbola, no ?

    Ela fala daquele Rei que chamou seus servos para prestaremcontas. E veio um que lhe devia 10 mil talentos, e na tinha jeitonenhum como pagar. A ento o Rei ordenou: Vendam a ele comoescravo, a mulher, os filhos, a casa e tudo que ele tem .

    Quer dizer, ele devia tanto que nem ele mesmo com tudo que

    possua dava para pagar. Ele devia mais do que valia. Caiu entode joelhos, chorando: Eu suplico, pelo amor de Deus, no faaisso comigo . Ento o Rei, tocado, diz: Olhe, v embora, suadvida est paga, voc est perdoado .

    Ele saiu da presena do rei. No caminho encontrou umhomem que lhe devia 100 denrios. Quando encontrou o outro,saltou-lhe ao pescoo, sufucando-o, e sacudindo-o, disse-lhe:Pague-me o que me deves, paga-me o que me deves . O outro

    implorava: Eu suplico, por favor, eu no tenho como .Paga-me o que me deves dizia ele.Pelo amor de Deus, no! suplicava o outro.

    Ele ento disse: Lancem-no na cadeia! Ele s vai sair de lquando pagar o que me deve .

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    Mas seus companheiros observavam aquela sua atitude;sabiam o que o rei tinha indulgentemente feito por ele, a graa e ofavor imerecido que lhe dispensara. Viram tambm a maneiradimetralmente oposta como ele tratou o outro. Ento disseram ao

    rei e este o chamou e disse: Tu s malvado, eu te perdoei a tuadvida, por que no fizeste o mesmo com o outro? E diz o texto:Ento o rei , indignado, o entregou aos verdugos at que ele

    pagasse toda a dvida . E Jesus conclui: Assim tambm meu PaiCeleste vos far se do ntimo no perdoardes cada um a seuirmo . (35)

    O perdo na igreja, no casamento e nas relaes interpessoaistem um padro, e Jesus ensina qual esse padro.

    Quando ns nos confrotamos com a necessidade de perdoaralgum devemos ter em mente seis realidades sobre o padrodivino de perdoar.

    1. Devemos ter em mente que todos ns somos devedores.Todos devemos ao rei, todos devemos a Deus, todosdevemos mais do que valemos. Nossa capacidade de dever muito maior que a nossa capacidade de ser. O que somosno paga nem o que devemos. Somos eternos devedores:

    nosso pecado, nossa culpa, nossa condenao, nossadvida maior do que a nossa capacidade de pag-la.2. Voc e eu precisamos saber, sempre que estivermos

    confrontados com a necessidade de perdoar algum, quetodos ns recebemos graa (26,27). Quando nosajoelhamos, quando clamamos, quando suplicamos,quando dizemos Tem piedade de mim, Senhor , Ele jperdoou toda a dvida. A dvida est paga, est consumadano h mais o que pagar, Deus cancelou todo o dbito,

    usou de graa para comigo e para com voc.3. Tudo q uanto nosso prximo nos deve infinitamente

    menos do que aquilo que devemos a Deus. Quandoalgum houver feito alguma coisa contra voc, quandoalgum houver tomado emprestado e no tiver restitudo,quando algum o tiver magoado, iludido, trado,

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    esfaqueado psicolgica e moralmente, saiba que suadvida com Deus infinitamente maior do que a dvida doseu prximo para com voc. A dvida de qualquer pessoapara comigo infinitamente menor do que a minha dvida

    para com Deus.Vejam a comparao que a Bblia faz dos valores

    perante Deus. Ao rei, ele devia 10 mil talentos, 60milhes de denrios. J o outro ele devia 100 denrios.Observem a diferena de 60 milhes para 100. O que meuprximo deve a mim no se compara com o que eu devo aDeus.

    4. No perdoar ao prximo trat-lo como Deus no nostratou (28 e 30). jogar o meu prximo no crcerepsicolgico, existencial, moral e espiritual. lana-lo numinferno temporal. E Deus no nos lanou no infernoeterno.

    5. Todos os que recebem o perdo de Deus tm perante Ele ocompromisso perptuo de repetir o mesmo gesto com osoutros tantas vezes quantas sejam necessrias. Ento oseu Senhor, Chamou-o, disse: Servo malvado, perdoei-te

    aquela dvida toda, porque tu pediste, tu me suplicaste;no devias tu igualmente, ou como eu fiz contigo,compadecer-te do teu conservo, como tambm eu mecompadeci de ti? (32,25).

    Quem recebeu o perdo de Deus tem um compromissoperene, perptuo, definitivo, repetitvel tantas vezesquantas sejam necessrias de dar aos outros o mesmoperdo que Deus lhe deu.

    Voc recebeu graa? Voc recebeu perdo? Ento voc

    est eternamente comprometido a ser uma miniatura deDeus nas relaes com o seu prximo! Voc esteternamente obrigado a repetir o mesmo gesto na relaocom os outros. Sois deuses, como disse Jesus, nessapequena relao de indulgncia, de perdo, demisericrdia perptua para com o outro, para com o

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    prximo, na famlia, no trabalho, na igreja, na sociedadelugares onde diariamente esses reclamos nos so feitospela prpia realidade.

    6. Quem no perdoa coloca a si mesmo debaixo do juzo deDeus outra vez: Indignando-se o Senhor o entregou aosverdugos at que pagassem toda a dvida . E Jesus nobrinca, diz: Assim tambm da mesma maneira (sem tirarnem pr), meu Pai Celeste vos far, se no ntimo, (no sna fachada, no; na plasticidade do rosto, no faz-de-conta,mas no ntimo) no perdoardes cada um ao seu irmo(34, 35).

    H muitos verdugos psicolgicos, existenciais, emocionais e

    espirituais para nos punirem j nesta vida. Quem no perdoa noser punido apenas na eternidade, punido aqui. Quem no perdoaj est sob o poder dos verdugos aqui. Quem no perdoa fica comcancro na alma, envenena o corao e se autochicoteia peloverdugo da conscincia. Flagela-se, encarcera-se, tem suapenitenciria neste mundo.

    Conheo um homem que viu o genro matar o seu filho. Elesabia que, o genro matara o filho porque este queria matar a ele, o

    prprio pai. A partir disso desenvolveu-se um tringulo de dio:dio pelo filho que fora morto e que intentava mat-lo; dio pelogenro que matou o filho, e dio deste para com ele (porque tendomorto o cunhado em defesa do sogro, recebeu dele dio). Fechadonesta masmorra triangular ele se colocou com um verdugo naconscincia o dio que ele destinou a si mesmo: Um auto-desprezo, um auto-odiar-se.

    Quando o conhec esse homem estava h mais de um anosem conseguir pronunciar uma nica palavra. Ele no conseguia

    dizer: eu, gua, po.... nada. Mudo h um ano, estava sob o poderdos verdugos, no crcere da alma.

    Cheguei ali e falei de perdo. Insist no perdo e no amor deDeus. Com cerca de setenta anos, riqussimo, dizem quebilhardrio, um homem destrudo, alquebrado. Beijei-lhe a testa,acariciei seu rosto, falei do amor de Cristo. De repente duas

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    lgrimas comearam a rolar na sua face. Pedi-lhe que dissesseDeus . Ele queria falar e no podia. Impus as mos sobre ele e

    orei. Depois a esposa me chamou sala. Enquanto fui at lserviram-me um copo dgua e ela entrou no quarto. Foi ento que

    que ele a puxou pela mo e olhou para ela. A esposa, beijando-o natesta, o ouviu esttica dizer Deus . Estava comeando a sair docrcere, comeando a escapar do poder dos verdugos.

    Para quem no aprende a perdoar h verdugos nesta vida e naoutra. Ainda sobre o padro do perdo saibam o seguinte: o padrodo perdo no humano; seu padro divino.

    Na introduo eu afirmei que a natureza, o cosmos cado, nodesenvolveu essa atitude de perdo nem por via de seleo natural,

    nem por gerao espontnea. No h em nenhum lugar do cosmosesse padro. Os lees, cabritos, pombinhos e avestruzes no fazemisso. A Natureza no est organizada para essa lei do perdo. Se halgo estranho Natureza e ao homem vem de cima, vem de Deus, um padro celestial: Toda a boa ddiva e todo o dom perfeitovem do alto, descendo do Pai das Luzes, em quem no h mudananem sombra de variao. Segundo a sua vontade, ele nos geroupela palavra da verdade, para que fssemos como primcias das

    suas criaturas . (Tiago 1:17-18).Num dos livros de Dostoievsk o autor constri umpersonagem que se tornou ateu porque descobriu que na naturezano h nenhuma lei que equivalha a qualquer coisa parecida com ocristianismo. Logo o cristianismo no era possvel, no eraexeqvel debaixo do sol. Ao invs de ficar ateu com esseraciocnio, eu me tornei mais testa ainda. O cristianismo no deste mundo, desta ordem. Sou um E.T. debaixo desse sol, mascomprometido a viver esse padro celestial aqui e agora. O perdo

    do homem para o homem deve ser repetio, no nvel horizontal,do perdo de Deus ao homem. Os homens perdoados por Deus soeternamente devedores de perdo ao prximo.

    Recordo uma estria que ouvi e que me marcou para o restoda vida. Um certo beduno estava dentro da sua tenda ao sol daPalestina quando entrou correndo, um garoto adolescente, que se

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    refugiou atrs dele, chorando e grunhindo. Logo em seguidachegou uma turba alvoraada, empunhando cacetes e facas.Abriram a portinhola da tenda e disseram ao beduno: D-nos estemenino porque ele um assassino . O beduno respondeu: Mas

    h uma lei entre ns que diz que quando um assassino se refugianuma tenda e o dono da tenda lhe d abrigo e guarida, ele estabsolvido.

    Eu me compadec deste garoto, quero perdoar-lhe . E ogaroto tremia..... Mas eles disseram: Voc lhe quer perdoarporque no sabe o que ele fez e nem a quem matou. O bedunofalou: No importa, eu quero perdoar a ele . Os homens entoafirmaram: ele matou seu filho. V ver o corpo dele sangrando na

    areia al fora . O beduno caiu num profundo silncio, depois,enxugando as lgrimas, disse: Ento eu vou cri-lo como se fosseo meu filho a quem ele matou .

    Esse o padro do perdo divino. Deus no fez isso por ns?Jesus fez muito por ns na cruz. Est consumado e Hoje mesmoestars comigo no paraso , so ofertas irrevogveis de perdo queEle nos faz. Escondidos atrs da Cruz temos acesso Tenda doperdo. E no apenas esse o padro divino, mas o padro para o

    qual Deus nos desafia.

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    CAPTULO SEIS

    O PROCESSO DO PERDO

    Vamos agora estudar o processo do perdo: como eleacontece e quais so os passos psicolgicos, comportamentais eespirituais que eu e voc temos que dar nesse caminho do 70x7.

    1 Passo: Jesus inicia dizendo que o 1 passo que eu precisodar quando penso em perdoar a algum o da cautela. Ele diz:

    acautelai-vos (Lc. 17:3).Cautela para no ser injusto, para no ser duro, para no ser

    motivo de tropeo (Lc.17:1,2). Pois s vezes, no desejo deconsertar relaes, ns esbagaamos as pessoas com a nossa faltade cautela, com a nossa falta de senso de justia e de equilbrio.Julgamos conforme o nosso ouvido escutou, segundo a aparncia,sem auscultar o corao da pessoa, sem saber como as coisas defato so. Julgamos sem critrio de justia e verdade (I Co 4:5).

    Por isso quando voc partir para o caminho da reconciliao,cautela. Cautela para ouvir mais e falar menos, cautela pararealmente desenvolver um senso de justia, caso contrrio ao invsde consertar a relao voc vir a esbagaar, estraalhar o coraode seu irmo pr sempre, ou faz-lo vacilar, tropear. (Lc. 17:1,2).

    2 Passo: Deve haver confrontao. Se o teu irmo pecarcontra ti (...) , que aconselha Jesus? Repreende-o (Lc. 17:3).Jesus nega aqui trs idias mentirosas que correm em nosso meio.

    A primeira a de que o silncio a voz do perdo. mentira, no entanto, exatamente isso que a gente aprende: que osilncio a voz do perdo! Asseveramos: No disse nada porqueest resolvido, est perdoado . mentira! O silncio no a vozdo perdo, o silncio da raiz da amargura . O silncio a voz

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    maligna da acusao profunda, muitas vezes a voz sem som deum corao cheio de autopiedade.

    Outra idia falsa que Jesus desmistifica e destri a de que otempo um santo remdio para curar as relaes. Quantas pessoas

    esto ruminando um atrito dez, quize anos? Nas vidas de quantaspessoas a ruptura comeou apenas com uma ferida, hojetransformada em carne viva? O tempo no um santo remdio.Talvez o tempo aja com respeito s rejeies interpessoais nocuradas tanto quanto um cncer no tratado age no corpo humano.Ao invs de o debelar, produz metstase em todos os rgos.

    Jesus tambm acaba com a idia de que sentir-se ofendido perder a razo. Isto porque ele admite que o irmo pecou contra

    voc e que voc sentiu ofendido com o que o irmo falou. Ele nonega a humanidade de ningum, no furta o amor-prprio deningum, no arranca a dignidade inerente a ningum, notransforma ningum num amorfo, um indivduo sem sentimentos,num bambu. Jesus no budista, Ele o Cristo, o Senhor doCristianismo. O Budismo que diz que voc se torna maior namedida em deixa de ser pessoa, na medida em que mata a suapersonalidade. Dizem os budistas que voc feliz no pelo

    acrscimo de felicidade, mas pela ausncia de dor. Jesus noensina isso. Ele diz que voc pode admitir o fato da ofensa,tambm a realidade de que aquilo que fizeram a voc doeu, quevoc ficou magoado, que voc se sentiu mal. Em Cristo voc podedizer ao seu irmo: O que voc fez contra mim me humilhou .Ele no nega este fato da sua humanidade. Ele foi um homemtrado, no foi um trado glacial. Disse ao seu traidor: Judas, setens que fazer, faze-o logo porque para mim est sendo difcilconviver com essa morosidade da traio . Diz tambm: Vem,

    Judas, beija-me . Aps isso Ele afirma: Com um beijo t trais oFilho do Homem . Ele gente, Deus feito gente. Desse modo acabamos com essa idia de que se sentirofendido perder a razo. Perder a razo no se sentir ofendidomas achar que os fins justificam os meios e agir com os meioscarnais.

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    Mas ateno! este confronto, deve ser cauteloso, manso,educado e sincero. Jesus instrui o confronto, mas esse repreende-o no inclui a falsa dialtica de que os fins justificam os meios.Repreende-o com brandura, o que o Novo Testamento manda,

    o que o livro de Provrbios ensina. Em Romanos 12 h exortaes repreenso branda (Rm. 12:19 a 21). II Timteo 2:25 aconselhaque o pastor repreenda a ovelha com brandura. Repreenso podeser branda, mas deve ser confrontao.

    Em Colossenses, 1:28 usa-se a palavra grega nautetesispara a palavra advertindo , que significa ficar cara a cara. Paulodiz: Eu fico cara a cara com cada homem, confrontando cadahomem, tentando levar cada homem a se tornar perfeito em Cristo

    Jesus .Ento no fujas do face a face, do rosto no rosto, no se furtea fazer como Eliseu fez com o menino (II Reis 4:34). Nessaressurreio do irmo morto tem que haver esse cara a cara, essecorpo a corpo. No fujas disso.

    Muitas vezes a gente adia sine die esse enfrentamento doamor. Mas quanto antes ele puder acontecer em brandura, em amore mansido, tanto mais cedo vir a cura.

    3 passo: Deve haver arrependimento (Lc. 17:3).Jesus diz que se o irmo se arrepender, timo. Deve haveruma mudana de mente. No apenas um vamos conversar ,quando cada um diz ao outro um punhado de malquerenas.Depois samos ousadamente dizendo aos outros: Ns somostransparentes. Conosco a coisa resolvida assim. Ele me dizdesaforo eu digo tambm, e acabou . No assim, mas aocontrrio: o seu irmo deve se arrepender, ou voc deve searrepender, ou os dois devem se arrepender. Arrependimento tem

    que ser o grand finale dessa tentativa de fazer a orquestra tocaressa harmonia (Mt. 18:19). Tem que haver mudana de mente e deatitude, e na medida do possvel de forma verbalizada, compalavras, com a lngua que feriu, que magoou e que destruiu. Deveser a mesma lngua que feriu a que passa o blsamo de Gileade naferida do irmo.

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    S que h alguns que tm uma dificuldade tumular paraabrirem a boca. So pscolgicamente uns sarcfagos faranicos.Gente fechada e que desde criana em casa aprendeu a receber operdo do pai apenas com uma passada de mo na cabea. Tem pai

    que quando perdoa faz assim, passa a mo na cabea. H pessoasque aprenderam a se reconciliar com o irmo dizendosuscintamente: Voc quer jogar o meu jogo agora? Mas houtros que aprenderam com o pai a fazer diferente. O pai ensinoucom gestos e palavras o seguinte: Filho, eu bati em vocinjustamente. Perdo, filho . Ou ento: Olhe, a gente sedesentendeu, mas vamos nos entender agora? . Ajoelham-se juntose ele diz: Pai, perdo .

    Mas infelizmente nem todas as famlias so assim. Algumascriam as pessoas como um parque aberto, outras as criam como umsarcfago fechado. Mas eu no devo estuprar o meu irmo. Se omeu irmo pode verbalizar isso em termos de um perdo compalavras, timo. Mas eu devo ser suficientemente sensvel para leras atitudes do meu irmo, para ler os olhos, a face ou a mo, semser cigano. fcil ler a mo sem ser cigano. Quando a mosuspende e o cado pega com carinho o rosto do irmo. s vezes

    no se sabe pedir desculpa, mas t na cara , ou na mo.4 Passo: Deve haver perdo. (Lc. 17:3,4). At a no houveperdo. Primeiro vem a cautela, depois a confrontao, em seguidao arrependimento. Mas agora entra essa palavra divina na histria

    na histria de dois homens, de um homem e uma mulher apalavra perdo. Perdo que na minha pobre definio, ooferecimento de uma mente sem memria, o resultado da amnsiado amor.

    Uma vez eu estava num programa de televiso em Manaus e

    o entrevistador me pegou de chofre, pois virou-se para mim efalou: O que perdo? . Eu tomei um susto, pois no dava tempode elaborar uma resposta. Mas falei baixinho: Socorro, Jesus . Eme veio a seguinte idia: Perdo uma mente sem memria, darchance para o irmo nascer de novo na minha histria, como se ele

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    no tivesse histria nenhuma. deixar ele brotar aqui no corao, oferecer a ele um porto na minha vida. Perdo esquecer .

    Entendam o que eu vou tentar dizer: Perdoar ser um poucoDeus, na relao horizontal entre homem e homem. Lembram-se

    de que o padro desse perdo divino? Deus no aquele queesquece os nossos pecados? Hebreus, 10:17 diz: Dos teus pecadoseu j no me lembro mais . O amor encobre multido de pecados.Deus sepulta os nossos pecados no Oceano Pacfico a 11.000metros de profundidade. No fundo dos mares, no isso que oprofeta diz? Ele afasta as nossas transgresses como o oriente estafastado do ocidente. Deus nos oferece uma mente sem memria.Isso perdo.

    Perdo que daqui a 5 anos repete tudo que foi feito contra nsa 6 anos no perdo, iluso, tapeao. Perdo s trata dodaqui pr frente, esquece o ontem, no tem passado, no temhistria, futurista, otimista, s v alm. Como o padro doperdo o padro divino, ento devemos ser capazes de perdoarat as pessoas no arrependidas. Quando h arrependimento existecura nas relaes, mas ainda que o irmo no se arrependa eutenho que perdoar-lhe, porque o padro do meu perdo o padro

    do perdo de Cristo. E o que Cristo disse? Pai, perdoa-lhes,porque eles no sabem o que fazem . Perdoa at os noarrependidos, perdoa at aos ignorantes, foi o Ele pediu ao Pai.

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    CAPTULO SETE

    O AGENTE DO PERDO

    Jesus agora nos ensina sobre o agente do perdo. Lc.17:5-6Disseram ento os apstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a f. E

    disse o Senhor: Se tivesseis f como um gro de mostarda, direis aesta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vosobedeceria . Quando Jesus acabou de dizer isso, Pedro se meteu nahistria como acontecia muito frequentemente tomou a palavrae pediu: Senhor, aumenta-nos a f . Quando leio isso eu digo aoSenhor tambm: aumenta a minha f . Aumenta, porque esse um padro elevado demais para a velha, cada e desestruturadanatureza humana. Na realidade todos ns quando somosconfrontados com to elevado padro dizemos o mesmo quedisseram os apstolos: Aumenta-nos a f . E com esse pedidoaprendemos trs coisas sobre o agente do perdo.

    A primeira que todos ns estamos abaixo do padro.Aumenta-nos significa que estamos muito abaixo. Nenhum de

    ns est nesse nvel, ningum em parte alguma deste planeta est

    naturalmente nesse piso, natureza humana nenhuma vive sossegadanesse andar. Esse andar da vida um andar de extremo auto-sacrifcio o andar da cruz, do morrer, do segue-me , do crescer. o piso do humilhado, do carente, do que sabe que no tem, doque reconhece que sozinho no pode.

    A segunda coisa que esse aumenta-nos a f nos ensina que o Senhor o nico que pode nos ajudar nesse caminho deelevao da nossa f. lindo o que Pedro e os apstolos nos

    dizem. Eles no dizem Senhor, aumentaremos a f , mas pedem:Senhor, aumenta-nos a f . Por trs desse pedido eles estoconfessando: S tu, s o teu trabalho em nossa vida, Senhor, podeerguer-nos. Se no houver uma interveno tua, do teu Esprito emns, no saremos nunca do teor tateante do p. Aumenta-nos a f .

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    interessante observar que esse texto ensina que f no coisa para se crer, f coisa para se ser. Ns s damos nfase fcomo algo para se crer, mas f aqui como algo para se crer, masf aqui algo para se ser. Subjaz o seguinte pensamento:

    Aumenta-nos a f para sermos esse tipo de pessoa: no apenasaquele que cr, mas aquela que . O Novo Testamento ensinavrias diferenas de f; f que cr no impossvel, mas tambm fdo ser: Quem no ama os da sua casa pior do que os descrentes,tem negado a f . Esse o lado existencial e comportamental da f, o lado pscolgico da f, o lado do carter da f, porque a raizgrega da palavra fidelidade de onde deriva a palavra f tem a vercom ser, com carter, com existir, com integridade do nosso eu e

    da nossa pessoa.A orao que se tem que fazer nessa hora esta: Senhor,aumenta-nos! No aumenta apenas a nossa capacidade de crer, masaumenta a nossa capacidade de ser. Somos uns meros pigmeus naf, somos uns duendes sem mgica. Mas aumenta-nos, Senhor!Desenvolve-nos e d-nos a estatura de um cristo, para que opadro do perdo seja alcanado, no seja apenas como um frutodesejado numa rvora alta. Senhor, d-me o pescoo da girafa,

    para comer desse fruto. Desenvolve a minha vida, aumenta aminha f .Jesus tambm nos ensina que do resduo da nossa f Deus

    pode operar esse milagre. Isso confortador. Tenho impresso queJesus tinha ali na mo uma sementinha de mostarda, pois notemoso que ele diz: Se tiverdes f como um gro de mostarda, direis aesta amoreira (com certeza ele tinha ali do lado uma amoreira,estava bem al os discpulos ficaram olhando): Arranca-te etransplanta-te no mar (Lucas 17:6). E a amoreira ganharia pernas

    e iria se plantar na areia fofa e salgada. Nada vos ser impossvelse tiverdes f . Jesus estava ensinando que ele pode desenraizar asamoreiras do dio, da amargura dos coraes e jog-las muitolonge, se ns tivermos f. Se tivermos dupla f: f que nopodemos e f que ele pode. Se voc tiver essa f e der uma ordemagora, a raiz maligna sair: Raiz de amargura, sai! dio, retira-te!

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    No h terreno no meu corao para t floresceres. Cacto,espinheiro, vai para o deserto, pois minha alma um jardimregado, no h lugar para ti aqui . D ordens! D ordem mente, memria, ao corao: arranca-te! . Diga isso s uma vez. No

    diga muitas vezes, seno vira obsesso, e ao invs de curar, fazadoecer.

    Eu me lembro do drama de cada um dos meus pais, vivido hmuitos anos. Quando papai comeou a progredir na vida, a porvolta dos anos 57,58, foi ganhando dinheiro rapidamente,tornando-se bem de situao, com uma banca advocacional muitorica, diziam que a maior e a mais rentvel da cidade.

    A envolveu-se com indstrias, minerao de ouro e em 63

    comprou um canal de televiso no Amazonas, adquirindo tambmtodo o equipamento para a instalao da emissora. Mas, nessecaminho de sucesso profissional houve paralelamente em sua vidaum trajeto de desgraa moral.

    medida que comeou a profissionalmente crescer,moralmente se abissou, foi para o fundo de um talvegue, o meio deum sorvedouro, uma vertigem, uma voragem: mulheres. Mas navariedade ele encontrou uma pela qual se apaixonou. Ela era muito

    bonita: loura, esbelta, delgada, insinuante, adtringente, tipoMarylin Monroe, bustos crescidos, falante, toda extroverso. Eume recordo que quando tinha 7 anos de idade e v aquela mulherpela primeira vez prometi a mim mesmo que quando crescesse iriamat-la. Mame chorava muito, desabafando as lgrimas com ame e comigo. E eu ouvia tudo aquilo: as dores e humilhaespelas quais ela passava. No silncio da casa era o pombo-correio.Eles ficavam dias e dias, meses inteiros sem se falar. Era eutambm que pedia dinheiro de um, levava dinheiro pro outro,

    recada pr um, recado pro outro.Era uma coisa horrvel. E eu odieiaquela mulher mesmo!

    Mame chorava todo dia, papai foi ficando cnico. Melembro que uma manh mame, mesmo sabendo o que ia ver nose controlou, me ps no carro e fomos casa da referida mulher.Quando chegamos l, vimos meu pai abraado com ela. Tornei-me

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    muito agitado, muito nervoso e cheio de tiques. A veio aRevoluo de 64 e papai perdeu quase tudo, ou seja mais de 80%

    do que tinha. Fomos morar no Rio de Janeiro, em Copacabana. Leu esperava papai vir num caixo para casa, todo dia, porque ele

    andava armado para matar 8 pessoas que por sua vez o queriammatar. Na minha mente infantil eu conjecturava: ele morrequalquer hora dessas...

    Foi um tempo que ningum pode imaginar. Papai e mamecomearam a ficar preocupados comigo e com meus irmos,porque ns ficamos cheios de tiques nervosos: um piscava demais,apertava os olhos, se sacudia todo; o outro engordavaexcessivamente e minha irm ficava fechada num caramujo de

    complexos. Mame estava aflita e papai achando que nos estavaestraalhando.Quando o dinheiro acabou, acabou tambm a paixo da

    mulher pelo meu pai. Ela ento o traiu. Papai ficou reduzido azero, a nada. Mame, por sua vez, estava cheia de mgoas. No erafcil esquecer. Afinal, ele lhe tinha dito muitas coisas horrveis ehumilhantes. A questo no era s ele deixar a outra; havia algomuito srio a ser feito.

    Nessa altura papai resolveu mudar-se para Niteri, em buscade mais espao para a famlia. Ficamos uns 3 ou 4 meses semigreja, mas s o fato da mudana para perto dos meus tios e oafastamento daquela mulher trouxe grande alvio.

    Eles me matricularam na natao, meus controles emocionaiscomearam a se coordenar, minha piscadeira foi diminuindo, tudoaquilo foi se apaziguando, a alma se aquientando. Logo depoiscomeamos a ir igreja. Papai comeou a ler a Bblia e dentro dealguns dias de leitura da Palavra de Deus ele estava convertido,

    transformado. O Esprito Santo lavou a alma da minha metambm, encheu-a. Papai diz que s depois de aproximadamente16 ou 17 anos de casados que ele foi viver uma lua de mel comprazer. Os dois se perdoaram, se alentaram, conseguiramredescobrir o respeito de um pelo outro, a dignidade um do outro.

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    Mas existia o fantasma daquela mulher. Os anos se passarame eu dei de cabea pela vida 4 anos e meio, quase me destruindotodo. Mas aos 18 anos de idade encontrei Cristo, e as coisasmudaram radicalmente. No muito tempo depois, talvez uns 3 anos

    aps a minha converso, aos 21 e meio de idade, eu j era pastorordenado.

    Certo dia eu ia fazer uma visita pastoral, quando me lembreidaquela mulher. A imagem dela vinha minha mente forte, viva.Eu me lembrava dela bonita e dizia a mim mesmo: j tantos anosse passaram, quase vinte anos, como estar ela agora? Eu no avejo h tanto tempo, ser que ela bonita ainda? Ser que ela feliz? Ser que encontrou algum? Como ser que ela ?

    Continuei dirigindo o carro, quando passei em frente ao salode beleza que ela havia montado. Ao passar em frente, sent aquelavoz retumbar no meu corao: Volta, reconcilia-te com ela .Falei: Ah, Deus, ser no podias mandar um outro homem pregaro evangelho para essa mulher? A ferida ainda est aberta emmim... Mas aquela voz perturbadora continuava: Volta ereconcilia-te com ela. Trata-a como se fosse tua me .

    Eu parei o carro, orei, chorei e falei: Senhor, eu vou Fiz

    ento a volta e parei na frente do salo. Quando botei o p naquelaporta grande, ela estava l no fundo. Ainda era bonita, j com osseus 50 anos, mas com uma fisionomia bela e atraente. Quando elame viu logo me reconheceu, pois vinha assistindo ao nossoprograma na televiso de Manaus. Ficou em p, plida, enquantoeu marchava em sua direo. Quando me aproximei ela perguntou:Voc filho do Dr. Caio Fbio? Sou sim, Senhora respondi.Voc o pastor que faz aquele programa na TV? Falei: Sou eu

    minha senhora . Ento voc deve me odiar imensamente!

    exclamou ela. Disse-lhe ento: Ao contrrio, eu vim aqui para lhedizer que eu quero amar a senhora, quero respeit-la como respeitominha me . A ela comeou a chorar e eu tambm. Ns nosabraamos e ela me levou para uma sala atrs do salo. A falou:A minha vida uma desgraa. Eu passei a vida toda destruindo

    casamentos, estragando vrias famlias, alm da sua. Minha vida

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    um inferno. Hoje eu estou sozinha, ningum me quer. Noconsegu me fazer respeitar por ningum......

    Quando sa dal fui para casa de meus pais. Procurei mame epapai no quarto deles e lembrei-lhes que Deus entrara em nossas

    vidas mudando tanto as nossas existncias individuais como onosso destino familiar. Ambos reconheceram o fato alegremente.Ento eu acrescentei: Mas existe aquela mulher. Aquela mulher uma desgraada, ns somos felizes, mas.......e ela? Mameinterrompeu: No, eu oro por ela todo dia. Eu quero que ela sejasalva . Continuei: Ento acho que a senhora deve ir l pregar oevangelho para ela. Mame objetou: meu filho, eu peo a Deusque use algum, porque para mim difcil, muito, muito. Ela

    roubou minha vida, ela me matou anos, ela me assassinou,ela......Eu no tenho dio, mas tambm no consigo am-la comodevia. Por isso peo que Jesus envie algum . Foi a que eu disse:Ento Deus ouviu sua orao, porque eu fui l e disse quela

    mulher que eu quero am-la como amo minha me, como amo asenhora. Ela disse que tem vergonha da senhora . Eu a convideipara ir igreja e ela disse que no vai porque tem vergonha dasenhora . Acrescentei: Mame, agora a porta est quase aberta,

    falta s a senhora ir e abrir . Mas ela me disse: demais paramim, meu filho. um padro elevado demais .Eu no disse nada, fiquei indo casa daquela senhora quase

    todo dia. Orando e lendo a Bblia com ela. Dois meses se passarame chegou o Natal. O Natal tem sido uma data muito forte l emcasa, pois uma semana antes do Natal papai se converteu. Agoraera a noite de um outro Natal. Estvamos Alda, Ciro, eu, Suely,minha irm recm-casada, Luis, meu irmo ainda vivo, e a Aninha,minha irm caula, ainda garota. Falei mame: Olhe, mame,

    ser que hoje a gente pode fazer um coral da famlia, e cantar paraaquela mulher meia-noite? A mame pensou e falou:Podemos .

    Ensaiamos trs hinos. Ento a Suely levou o violo eparamos o carro na porta dela. Estava bem escuro quandocomeamos a cantar. A grade do porto nos separava do resto da

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    casa. Nas estrelas vejo a sua mo, Deus no vive longe l no cu,Ele vive aqui dizia a letra da msica. De repente, reparei que a

    janela se abria, rangeu. Estava escuro demais dentro, mas eu sabiaque ela estava al naquela escurido, olhando. A a luz se acendeu

    l dentro, na sala. C fora estava escuro. Quando ela abriu umanesga, uma frestinha da porta, veio aquele espectro, aquele fachode luz e deu para ver o rosto dela, a silhueta do rosto da mulher, ldentro. A ento mame deu um passo, ela deu outro, e ambasestavam de repente frente a frente, chorando.

    Enquanto isso a gente continuava cantando, cantando. Elas eencontraram no meio daquele corredor e a se abraaram, sebeijaram, se perdoaram. Papai a beijou, e abraou.....Hoje em dia,

    muitas vezes, quando ela est com problemas na famlia, nosnegcios, numa coisa ou outra, ela corre l em casa e diz: Lacy,me ajude, ora comigo. Vamos, diga-me: como que eu fao? Meajude a resolver .

    Meus companheiros, s Jesus faz isso, s Jesus. Quando agente diz: aumenta a minha f. Aumenta porque eu no tenho essaaltura, no tenho esse tamanho, no tenho essa grandeza. Masajuda-me no apenas a crer, mas a ser . O Senhor faz isso.

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    CAPTULO OITO

    ATITUDE PERMANENTE

    Concluindo, aprendemos com Jesus qual a atitudepermanente frente ao dever de perdoar.

    Jesus de uma sabedoria incomparvel, porque no deixanada por se completar. Ele conclui com a concluso. Conclui coma lgica psicolgica e espiritual do assunto. Ele ensina qual aatitude permanente do cristo frente ao dever de perdoar. A atitudeconstante, ininterrupta, permanente. Como que se deve reagir aessa situao, no dia-a-dia. Jesus ensina isso atravs da parbola.Vejam s: Qual de vs, tendo um servo ocupado na lavoura ou emguardar o gado, lhe dir quando ele voltar do campo: Vem j epe-te mesa? E que antes no lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comers t ebebers. Porventura ter de agradecer ao servo por ter este feito o

    que lhe havia ordenado? Assim tambm vs, depois de haverdesfeito tudo quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inteis,porque fizemos apenas o que devamos fazer . (Lc. 17:7-10).

    Jesus contou essa parbola porque normalmente o cristo acometido por uma imensa autopiedade quando levado a praticaresses atos de obedincia, de altrusmo e de perdo com muitafrequncia. O comum a gente ficar com uma pena enorme de simesmo: Puxa, eu estou passando pela vida s perdoando, s

    perdoando. Sou uma mquina de perdoar, de dar, de dar, de dar.Puxa vida! pensamos cheios de auto-comiserao. Cria-se umaterrvel autopiedade. Vocs j sentiram isso? Eu j sent algumasvezes. E quando isso acontece desenvolve-se essa autopiedade emns. como pensar, sem ter coragem de dizer: Olhem, eu estou

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    passando dos limites . Ou ento: Deus tem que me agradecer poreu ser um cristo assim to perdoador .Ah.....no entanto, Jesus nos lembra trs coisas.

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    CAPTULO NOVE

    TRS LEMBRANAS IMPORTANTES

    Primeira lembrana: Somos apenas diconos da vida. O textodiz que somos servos. Somos servos do dono da fazenda, domundo. Somos trabalhadores. Estamos a para isso mesmo. Somosdoulos , escravos de orelha furada, sem direito a coisa nenhuma,

    s a servir. O nico direito do cristo o direito de servir. o que tambm ensina Paulo: Por que no sofreis o dano?

    Por que no sofreis a injustia? Esse o padro elevado (1 Co.6:7).

    Segunda lembrana: Fazer a vontade do Senhor a coisamais natural e nomal para o servo. Cristo pergunta: Se o servo vemdo campo, o que voc diz primeiro? Voc diz: Pe a mesa paramim porque eu vou comer e depois que eu acabar de comer, vocpe a mesa para voc e come. Depois que ele colocar a mesa para

    voc, voc vai agradecer a ele? Jesus diz no, ele o servo. Euno tenho que agradecer. Ele no faz mais que a obrigao. natural para ele chegar do campo, lavar as mos, fazer a comidinhae dizer: Patro, coma . No fez mais que a obrigao dele. Ele servo. Quando voc estiver perdoando, perdoando, perdoando,saiba que voc est apenas fazendo o ordinrio, voc no estfazendo nada de extraordinrio. O ordinrio dos pagos saudar osque os sadam, beijar os que os beijam, tratar bem os que o tratam

    bem (Mt.5). Em relao ao mundo, a vida do cristo umextraordinrio, mas em relao a Deus o nosso extraordinrio nopassa de um mero ordinrio. natural que eu e voc nossubmetamos a vida inteira a Deus.

    Terceira lembrana: O Senhor no tem que nos agradecer portermos feito o que Ele nos mandou (Lc 17:9). No tem que

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    agradecer a voc por ter feito o que Ele ordenou. Est ordenado evoc tem que alegremente atender. E isso inclui o dever de perdoarsempre, desde o ntimo.

    Concluindo, quero lhes dizer que somente quando ns nos

    vemos como servos inteis que somos capazes de viver a vidatoda nesse padro de perdo e de renncia sem nos deixar possuirde orgulho por estarmos sendo extremamente perdoadores. E nemnos deixarmos possuir de cansao por estarmos sempre tendo queperdoar. Ou de autopiedade, por estarmos freqentementeperdoando.

    Assim tambm vs, depois de haverdes feito tudo quandovos foi ordenado, dizei: Somos apenas servos inteis, pois fizemos

    apenas o que devamos fazer. Amigo leitor, minha orao quenesse momento voc j tenha se disposto a resolver todas aquelassituaes de conflitos interpessoais que o tm atormentado. Talvezvoc no consiga resolver todos os problemas. Mas no seesquea: Quando depender de vs, tende paz com todos oshomens (Rom 12).