portugal them que ser uma nação start -up

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por CATARINA CARVALHO Diogo Vasconcelos fez da inovação a sua profissão. Director internacional da Cisco, vive em Londres mas viaja pelo mundo à procura de experiências social ou economicamente inovadoras. Eis as suas lições sobre inovação que, considera, será a pedra-de-toque para o futuro da economia portuguesa. . Hoje, com 42 anos, este licenciado em Direito, mas que nunca exerceu advocacia e parece ter encontrado na inovação a palavra-chave para a sua vida. Eis as lições, conselhos e visões de quem anda pelo mundo e acha que neste pequeno rectângulo ainda temos muito que aprender nesta área decisiva para a economia do futuro... e do presente. Há alguma fórmula, método ou forma de pensar que propicie o aparecimento de novas ideias? Em Where good ideas come from , Steve Johnson tenta encontrar essa resposta. E conclui que as boas ideias surgem quando diferentes intuições se confrontam. Como criar ambiente s propícios a que tal aconteça? Um bom método é criar espaços para que gente com formações diferentes se encontre. Em Copenhaga, três ministérios criaram o MindLab , em que ci dadãos são convidados a desenhar novos serviços públicos. A Google permite que os empregados usem vinte por cento do tempo a criar projectos além das suas funções - o Android nasceu assim . Ao contrário do que se ensina nas escolas de gestão, não é nas reuniões formais que se inova . A cafetaria da empresa é mil vezes mais importante do que a sala de reuniões.  Que conselhos daria aos empresários para terem sucesso?  Entrar num mercado em crescimento, onde seja possível fazer algo de verdadeiramente novo.  Saber explicar a novidade em poucos segundos.  Escolher uma boa equipa, começar pequeno, controlar bem os custos e a tesouraria.  Escolher clientes exigentes . Não é um sprint, é uma maratona. Encarar cada «não» como uma pergunta.  Ser flexível. O que define e como se mede uma inovação? Inovar é imaginar novos futuros possíveis . Quem inova é empreendedor e move-se pelo desejo de deixar uma marca. O economista austríaco Joseph Schumpeter foi o profeta da inovação. Destruição Criativa foi o nome dado a  este processo de alterar o statu quo.

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7/23/2019 Portugal Them Que Ser Uma Nação Start -Up

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por CATARINA CARVALHO

Diogo Vasconcelos fez da inovação a sua profissão. Director internacional da Cisco, vive em

Londres mas viaja pelo mundo à procura de experiências social ou economicamente inovadoras.

Eis as suas lições sobre inovação que, considera, será a pedra-de-toque para o futuro da

economia portuguesa. .

Hoje, com 42 anos, este licenciado em Direito, mas que nunca exerceu advocacia e parece ter

encontrado na inovação a palavra-chave para a sua vida. Eis as lições, conselhos e visões de quem

anda pelo mundo e acha que neste pequeno rectângulo ainda temos muito que aprender nesta

área decisiva para a economia do futuro... e do presente.

Há alguma fórmula, método ou forma de pensar que propicie o aparecimento de novas

ideias?

Em Where good ideas come from , Steve Johnson tenta encontrar essa resposta. E conclui que as

boas ideias surgem quando diferentes intuições se confrontam. Como criar ambientes propícios a

que tal aconteça? Um bom método é criar espaços para que gente com formações diferentes

se encontre. Em Copenhaga, três ministérios criaram o MindLab , em que cidadãos são convidados

a desenhar novos serviços públicos. A Google permite que os empregados usem vinte por cento

do tempo a criar projectos além das suas funções - o Android nasceu assim . Ao contrário do que

se ensina nas escolas de gestão, não é nas reuniões formais que se inova. A cafetaria da

empresa é mil vezes mais importante do que a sala de reuniões. 

Que conselhos daria aos empresários para terem sucesso? 

  Entrar num mercado em crescimento, onde seja possível fazer algo de verdadeiramente

novo.

 

Saber explicar a novidade em poucos segundos.  Escolher uma boa equipa, começar pequeno, controlar bem os custos e a tesouraria.

  Escolher clientes exigentes. Não é um sprint, é uma maratona. Encarar cada «não» como

uma pergunta.

  Ser flexível.

O que define e como se mede uma inovação? 

Inovar é imaginar novos futuros possíveis. Quem inova é empreendedor e move-se pelo desejo

de deixar uma marca. O economista austríaco Joseph Schumpeter foi o profeta da inovação.

Destruição Criativa foi o nome dado a este processo de alterar o statu quo.

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Uma inovação dá sempre dinheiro? 

Não, inovar implica incerteza. Muitas inovações chegam antes do seu tempo. O primeiro tablet

chamava-se Newton, foi lançado pela Apple em 1989 e foi um flop . Doze anos depois, o iPad

conquista o mundo.

Quais são os negócios de futuro em Portugal? 

Serviços e produtos a pensar no mercado dos seniores. Negócios na área do ambiente, da

eficiência energética e da reabilitação urbana. Creio que é daí que virão muitos dos novos

empregos.

Costumamos falar do desenrascanço português, desenrascar pode ser sinónimo de inovar? 

Os portugueses são criativos, trabalhadores e adaptam-se facilmente a novos contextos.

Desenrascar é uma mais-valia, mas cria excesso de confiança. Vale a pena planear. Os planos

quase nunca se cumprem, mas ajudam a arrumar ideias, a identificar pontos francos, erros e

objectivos.

Quando é que os portugueses foram mais inovadores? E o que é que nos faz falta agora? 

Quando se abriram. Quando, confrontados com desafios difíceis, souberam mudar. Temos hoje

gente mais qualificada e com mais mundo, empresas muito boas, cientistas de nível mundial e

infra-estruturas de comunicações ao nível as melhores do mundo. O que falta? Confiança e

capital social. Valorizar o conhecimento. Portugal tem um défice enorme de capital social, fraca

mobilidade social e uma enorme incapacidade de gerar consensos sobre o futuro. A Suécia é o

que é porque empresários e trabalhadores souberam construir em conjunto. Portugal não tem

uma elite comprometida com o seu país, com coragem de intervir na política. Falta valorizar

quem empreende, quem cria emprego.

Em que medida é que a inovação é mais crucial, por exemplo, para Portugal do que para aAlemanha? 

Para Portugal, a situação é de emergência. Vender mais e mais caro ao exterior implica

incorporar mais conhecimento e mais design  nos produtos, capitalizar as empresas, diminuir os

custos e redobrar os apoios em I&D. A Alemanha é a quarta economia mundial e vai liderar a

retoma europeia. Mas até a Alemanha está a mudar. Em Berlim e Munique, o que vemos? Um

ambiente multicultural fantástico, atracção de talento de todo o mundo, confiança no

futuro... Apesar dos cortes na despesa, a Alemanha vai fazer o maior aumento de sempre no

investimento em inovação: mais 16 mil milhões de euros para educação e inovação, um aumento

de dez por cento.

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É director na Cisco, em Londres, e a sua vida é viajar pelo mundo de um lado para o outro.

Que países estão a lidar melhor com os desafios do futuro e onde encontrou melhores

exemplos? 

Não é preciso ser grande nem central para inovar. Ninguém é demasiado pequeno ou periférico.

Os finlandeses, por exemplo, querem dominar no design . Não só industrial mas de serviços.

Fundiram três universidades - gestão, engenharia e design  - para criar a Alvar Aalto University,

que quer ser a primeira universidade de inovação no mundo. O design  será neste século o que o

marketing  foi no século xx. Quando falamos de design , falamos de envolver o cliente na criação

do produto. Os focus group   já não chegam. Se levarem a sério este desafio de criar com e não

para, as empresas vão precisar menos de MBA e mais de antropólogos . Israel é um outro exemplo.

Há quarenta anos exportava laranjas e têxteis de baixo valor. Hoje, 53 por cento das exportações

são alta tecnologia. É o segundo país mais atraente para capital de risco, o maior investidormundial em I&D per capita, o primeiro não-americano com empresas no Nasdaq. Uma verdadeira

start up nation . Um dos grandes responsáveis por isso foi Yigal Erlich, chief cientist  nos anos 1990.

Lançou o Yozma que atraiu para Israel a nata do capital de risco mundial. Passou de três a oitenta

fundos de capital de risco e de 350 a 3500 start ups  tecnológicas. 

Na semana passada, esteve em Lisboa para uma reunião de investidores de capital de risco.

Será por aí o nosso caminho? 

Uma política de inovação mais ambiciosa e radical - um verdadeiro restart  - passa essencialmente

pela criação de espaço para os novos empreendedores e, em especial, para os mais radicais.Portugal tem de ser um paraíso para os empreendedores ambiciosos, pois só um surto de novas

iniciativas empresariais pode criar emprego e abrir perspectivas de futuro. Sem capacidade de se

financiarem no exterior e pouco capitalizadas, milhares de empresas podem asfixiar. A inovação

incremental destrói emprego, pois estamos a pedir às empresas para serem mais produtivas e isso

significa que uma parte da sua eficiência passará por menos gente. Só a inovação radical diminui

o desemprego: novas empresas, novos produtos, novos mercados. Todos os estudos evidenciam

que essas empresas criam mais emprego, mais qualificado e exportam mais. A nossa política

económica devia estar voltada para isso: fazer de Portugal uma start up nation . A actual crise

custou à Europa seis milhões de empregos e muitos desses postos de trabalho não vão voltar. É

indispensável estimular novas fontes de crescimento. A Europa tem um grande défice deempresas inovadoras, jovens e de crescimento rápido. Nos EUA, entre 1992 e 2005, 64 por cento

dos empregos foram criados por empresas com menos de cinco anos.

Como é que a Europa pode encurtar essa distância em relação aos Estados Unidos?  

Há dois tipos de inovação, a incremental e a radical. A primeira é fazer cada vez melhor, mais com

menos recursos. A Europa é boa nisso. A segunda, significa inventar o futuro. Aqui, os americanos

dominam. Veja-se os telemóveis: foram as universidades e as empresas europeias a desenvolver o

standard GSM e até há pouco a Europa era rainha e senhora neste mercado. Mas a Apple introduz

o iPhone e um mercado totalmente novo, de centenas de milhares de aplicações. A Google reage

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com o Android, hoje com mais adesões diárias. Em escassos anos, a liderança mundial deste

mercado passou para o outro lado do Atlântico, para a Califórnia, o lugar onde nada é impossível. 

E onde fica a Europa? 

Os programas de investigação europeus - cada vez mais burocráticos - favorecem as grandes

empresas de hoje e ignoram as grandes empresas de amanhã. A prioridade europeia devia ser

uma nova vaga empreendedora, capaz de criar um novo optimismo e um renascimento

económico e social. É vital reforçar o mercado interno, criar um mercado único europeu para a

inovação, acabando com a fragmentação actual. 

Como? 

Olhe, reduzindo drasticamente a complexidade e custos das patentes. Obter uma patente nos 27

países da União Europeia é 15 vezes mais caro do que nos EUA. E precisamos de aumentar o

investimento em capital de risco. Os bancos mostram-se relutantes em emprestar a empresas sem

colateral, pelo que o papel do capital de risco é decisivo para financiar as empresas. Ora, as

empresas com potencial para se internacionalizar têm acesso muito limitado, pois a maior parte

dos fundos de venture capital  na Europa são pequenos. 

Faz parte do grupo Innovation Union  (União da Inovação) - que funciona junto da Comissão

Europeia. Já conseguiu convencer Durão Barroso e a Comissão das vantagens de apoiar ideias

inovadoras em vez de auto-estradas? 

A Europa tem de passar das auto-estradas para as redes do futuro: banda larga e redes eléctricasinteligentes. Essas redes são a chave para novos empregos e novos mercados e para a redução de

custos. Mas sem novos serviços, a apetência por estas redes ficará muito aquém do seu potencial. 

O grande driver  do progresso terá de ser a criatividade de consumidores e empreendedores.

Assim serão criados novos modelos de negócio e estímulo a novos padrões de consumo. Nos

anos 1980 e 1990, a agenda da inovação esteve focada exclusivamente nas empresas. Hoje, a

Europa precisa de mobilizar a criatividade colectiva para melhorar a capacidade de inovação e

responder aos desafios sociais do nosso tempo: o envelhecimento, o desemprego juvenil e a

redução das emissões de carbono.

Como é que isso se faz, se temos cada vez menos orçamento e uma enorme pressão parareduzir o défice? 

Cortar nos desperdícios é fundamental, mas não chega: fazer mais com menos implica inovar

radicalmente. A forma mais fácil de reduzir o défice é cortar nos salários e eliminar e reduzir

serviços públicos. A forma mais inteligente é mobilizar a sociedade para criar novas soluções

para as questões sociais. Em vez de reduzirmos a of erta de serviços públicos, devemos reduzir a

procura. Como se faz? Prevenir o crime fica mais barato do que pôr mais polícias na rua. Se

melhorar a autonomia dos doentes com doenças crónicas, estes não precisam de ir

constantemente ao hospital. Um tempo de crise deve ser um tempo de criatividade social. E

teremos uma nova lógica - sociedade do bem estar (welfare society ) e não Estado de bem estar

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(welfare State ). Se se acreditar que o Estado não tem o monopólio do serviço público, pode

devolver-se o poder aos cidadãos. 

Acha que alguém consegue ter boas ideias neste ambiente deprimido?

Muitas das empresas de sucesso foram criadas em períodos de crise. E todas as grandes recessões

do passado foram seguidas por mudanças radicais na estrutura industrial. Na economia privada, o

crescimento terá de vir das exportações. Num mundo ligado, os cidadãos de todo o mundo são

clientes potenciais e recursos de alta qualidade podem ser encontrados em todo o mundo. Ou

seja: nenhum país é, à partida, demasiado pequeno ou periférico. Veja-se a Holanda, a Suécia, a

Dinamarca: são países pequenos mas abertos ao mundo, com empresas líderes em múltiplos

sectores, um ambiente favorável ao empreendedorismo e uma cultura de rigor, de aposta

permanente na ciência, na inovação e na criatividade.

Como é que podíamos estar a aproveitar esta crise do ponto de vista da inovação? 

Apostando nos sectores que vão criar mais empregos: ambiente, envelhecimento, reabilitação

urbana, indústrias criativas, manufactura flexível. Tornando o Estado um sistema aberto, para

permitir colaboração e a criação de novos mercados. Usando o poder aquisitivo Estado para

estimular a inovação. Na União Europeia, a contratação pública representa 2,155 mil milhões de

euros, o equivalente a 17 por cento do PIB europeu. Nos EUA, o programa de compras do

governo federal gera cerca de 1800 novos produtos anualmente, a maior parte dos quais

desenvolvidos por PME inovadoras. Sugeria ainda consagrar pelo menos um por cento doorçamento de cada ministério a fundos de inovação social, destinados a financiar as melhores

ideias para fazer mais com menos. Nos EUA, foi lançada uma série de fundos desse tipo pelo

governo, os quais têm mobilizado milhares de projectos e financiamento privado. Vale a pena,

pois, estudar os vários fundos de inovação social lançados em vários países. 

Sente que o mundo está, de facto, a mudar de paradigma? Para que paradigma? 

Um mundo mais com e menos para. De organizações como hierarquias a organizações como

redes. De uma autoridade do topo para baixo a uma autoridade que se ganha pelo respeito entre

os pares. De um mundo onde o valor nasce apenas da transacção ao mundo onde se cria valorpela relação. De políticos que falam para nós, para um mundo em que a política é uma

conversação. Esta mudança significa que o futuro pertence às marcas, organizações e líderes que

se assumirem como plataformas abertas, em que possamos participar na criação do futuro. 

Os últimos acontecimentos no Médio Oriente enquadram-se nesse novo paradigma? 

Sim. A informação está acessível, a expectativa de participação cresce sobretudo por parte de uma

nova geração que não se resigna perante a corrupção e o nepotismo. Tenho andado pelo

Médio Oriente e constato que a cultura ocidental é bem mais presente lá do que se imagina. Um

dia veremos esta vaga inundar África. 

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Isto da inovação é uma paixão. Como é que apareceu na sua vida? 

O Rui Marques convidou-me para director adjunto da Forum Estudante, estava a terminar o curso

de Direito. Tinha a paixão pelo jornalismo e não hesitei. Pouco depois, a Media Capital decidiu

vender a revista e resolvemos assumir nós o projecto. A partir daí, aprendemos a inovar para

sobreviver. Não tínhamos estudos sobre o assunto nem a inovação estava «na agenda». Se

fizéssemos diferente podíamos competir com quem tinha escala. Assim fizemos, na área do

múltimedia e da internet. Mais tarde, lancei a Ideias & Negócios para mostrar um Portugal

inovador que não tinha lugar nas revistas económicas e iniciar uma pequena revolução cultural. A

revista do «Despeça-se já!» mostrava um Portugal de novos empreendedores, gente com brilho

nos olhos, grandes sonhos e ambições. Na ANJE, lancei a Academia dos Empreendedores para

aproximar a universidade deste mundo.

«O direito ao emprego não existe» 

Está a par da geração Deolinda e do movimento dos precários? O que lhe parece? 

Compreendo a insatisfação e a revolta perante um sistema feito para proteger quem está. Mas, ao

contrário do que diz a letra, quem estuda não é parvo, é inteligente. Estudar não é uma forma de

obter emprego , é uma actividade indispensável e uma atitude permanente numa sociedade do

conhecimento. Ainda mais em Portugal, onde quem tem licenciatura tem ganhos enormes face a

quem não é qualificado. O emprego precário cresce porque se teima em manter uma enorme

desigualdade entre quem está fora e quem está dentro do sistema.

Do ponto de vista da inovação não há direito ao emprego. Pois não?

Não tenho direito a emprego nem ele é para toda a vida. Se não está disponível, devo poder

criar o meu emprego. Quanto ao governo, o que tem feito é piorar a situação: massacra os

recibos verdes com impostos, regulamenta até ao limite os estágios, não facilita a

contratação nem reduz os custos do emprego para as empresas. Sem perspectivas de

emprego, ou os desempregados criam o seu emprego ou emigram. A opção mais fácil para os

mais qualificados e mais jovens é emigrar. Aqui em Londres nunca se viram tantos portugueses,

cada vez mais jovens e mais qualificados. O mundo está cheio de oportunidades.

Qual seria a sua bandeira se fizesse hoje uma manifestação? 

Há dois anos, lancei com Geoff Mulgan e outros amigos um manifesto intitulado Fixing the Future .

Mantém-se actual. Não basta corrigir o passado, é preciso preparar o futuro. Isso significa

promover a inovação social, fomentar o empreendedorismo e focar os recursos escassos nas

actividades que irão criar mais empregos. Tudo isso implica uma ruptura com a lógica actual. A

dicotomia Estado/mercado está ultrapassada. Precisamos de reforçar as capacidades da sociedade

encontrar novas respostas. É possível criar emprego e simultaneamente dar resposta a

necessidades sociais.