por que estamos falando sobre nossos cabelos ... · mudança de estilo de cabelo por resistência...

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X POR QUE ESTAMOS FALANDO SOBRE NOSSOS CABELOS? REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO TÉCNICO SOBRE A TRANSIÇÃO CAPILAR Shirlene Bemfica de Oliveira 1 Resumo: O racismo brasileiro impõe aos negros a inferioridade e a marca do racismo tem reflexos na cultura, na linguagem e no comportamento das pessoas apesar de não ser assumido. Nesse negacionismo, a escola, contexto para conscientização sobre a diversidade racial, pode ser um espaço de fossilização e perpetuação das desigualdades sociais (TRINDADE, 1994). Os padrões estéticos são fatores que podem causar sofrimento na escola, pois há uma ditadura determinada por grupos hegemônicos, que leva as pessoas a tratamentos estéticos que camuflam a identidade negra. Estes passam por tratamentos de alisamento e clareamento capilar para serem aceitos, como forma de ascensão ou por entenderem que assim não sofrerão violência. No ativismo antirracista, o cabelo crespo ganha espaço e é reconhecido como corpo social e como linguagem que expressa o conflito racial vivenciado (GOMES, 2002). Os que dantes alisavam e domavam os cabelos, passam pela transição capilar e abandonam a química pela liberdade e luta por igualdade de direitos. Nesta pesquisa de sala de aula discutem-se as Representações Sociais (JODELET, 1989) sobre o processo de transição capilar e os fatores que influenciam na reconstrução da identidade étnica, entendida como um processo de luta contra o racismo velado e vivenciado no contexto brasileiro (GOMES, 2002). Os resultados apontam para uma dicotomia entre o sofrimento e um movimento político de mudança de estilo de cabelo por resistência na luta pela valorização da identidade negra. Palavras-chave: Transição capilar. identidade étnica, representações sociais, ensino médio técnico. Introdução Pesquisadores nos âmbitos educacionais e linguísticos têm se dedicado em discutir e entender o racismo no contexto mundial (GOMES, 2005, 2012; BOTEZINI, 2014; FERREIRA, 2015; SILVA, BRAGA, 2015). Movimentos sociais têm contribuído há algumas décadas para a promoção de mudanças significativas nas políticas públicas antirracistas e no comportamento das pessoas. Esses movimentos, segundo Silva e Braga (2015), negavam o euro centrismo como único parâmetro de conhecimento promovendo a volta às origens africanas para fortalecer a identidade cultural e política. As autoras apontam os movimentos pelos direitos civis americanos na década de 1960 (Black Power, Black Panthers Party for Self Defense), em que os ativistas mantinham a estrutura da fibra capilar e o uso do pente ouriçador, como prática de luta política e promoviam a disseminação do slogan Black is Beautiful!. Além do Movimento Negro, o Movimento Negro Unificado e o Movimento Feminista, segundo Silva e Braga (2015), lutavam pelos direitos da mulher na sociedade e contra a tendência de 1 Doutora em Estudos Linguísticos FALE/UFMG, Professora de Língua Inglesa, IFMG Campus Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil. Apresentador do trabalho no 13º Mundo de Mulheres &Fazendo o Gênero 11.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

POR QUE ESTAMOS FALANDO SOBRE NOSSOS CABELOS?

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO TÉCNICO

SOBRE A TRANSIÇÃO CAPILAR

Shirlene Bemfica de Oliveira1

Resumo: O racismo brasileiro impõe aos negros a inferioridade e a marca do racismo tem reflexos

na cultura, na linguagem e no comportamento das pessoas apesar de não ser assumido. Nesse

negacionismo, a escola, contexto para conscientização sobre a diversidade racial, pode ser um espaço

de fossilização e perpetuação das desigualdades sociais (TRINDADE, 1994). Os padrões estéticos

são fatores que podem causar sofrimento na escola, pois há uma ditadura determinada por grupos

hegemônicos, que leva as pessoas a tratamentos estéticos que camuflam a identidade negra. Estes

passam por tratamentos de alisamento e clareamento capilar para serem aceitos, como forma de

ascensão ou por entenderem que assim não sofrerão violência. No ativismo antirracista, o cabelo

crespo ganha espaço e é reconhecido como corpo social e como linguagem que expressa o conflito

racial vivenciado (GOMES, 2002). Os que dantes alisavam e domavam os cabelos, passam pela

transição capilar e abandonam a química pela liberdade e luta por igualdade de direitos. Nesta

pesquisa de sala de aula discutem-se as Representações Sociais (JODELET, 1989) sobre o processo

de transição capilar e os fatores que influenciam na reconstrução da identidade étnica, entendida como

um processo de luta contra o racismo velado e vivenciado no contexto brasileiro (GOMES, 2002). Os

resultados apontam para uma dicotomia entre o sofrimento e um movimento político de mudança de

estilo de cabelo por resistência na luta pela valorização da identidade negra.

Palavras-chave: Transição capilar. identidade étnica, representações sociais, ensino médio técnico.

Introdução

Pesquisadores nos âmbitos educacionais e linguísticos têm se dedicado em discutir e entender

o racismo no contexto mundial (GOMES, 2005, 2012; BOTEZINI, 2014; FERREIRA, 2015; SILVA,

BRAGA, 2015). Movimentos sociais têm contribuído há algumas décadas para a promoção de

mudanças significativas nas políticas públicas antirracistas e no comportamento das pessoas. Esses

movimentos, segundo Silva e Braga (2015), negavam o euro centrismo como único parâmetro de

conhecimento promovendo a volta às origens africanas para fortalecer a identidade cultural e política.

As autoras apontam os movimentos pelos direitos civis americanos na década de 1960 (Black Power,

Black Panthers Party for Self Defense), em que os ativistas mantinham a estrutura da fibra capilar e

o uso do pente ouriçador, como prática de luta política e promoviam a disseminação do slogan Black

is Beautiful!. Além do Movimento Negro, o Movimento Negro Unificado e o Movimento Feminista,

segundo Silva e Braga (2015), lutavam pelos direitos da mulher na sociedade e contra a tendência de

1 Doutora em Estudos Linguísticos FALE/UFMG, Professora de Língua Inglesa, IFMG Campus Ouro Preto, Ouro Preto,

Brasil. Apresentador do trabalho no 13º Mundo de Mulheres &Fazendo o Gênero 11.

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transformação do corpo feminino em objeto de consumo, o que se mantem até os dias atuais. A partir

dessas manifestações, a “identidade negra se reafirma através dos movimentos sociais negros, com o

objetivo de solidificar esse orgulho repleto de significados, é a autoafirmação das africanidades e

todas suas ressonâncias” (SILVA; BRAGA, 2015, p. 3).

Todos esses manifestos que exaltam a cor negra e os cabelos afros como representações

sociais e marca identitária apresentaram êxito e grandes foram os avanços no que tangem “as ações

afirmativas, cotas nas universidades, estudos raciais críticos no contexto escolar, na mídia, nos

materiais didáticos e na formação de professores” (FERREIRA, 2015, p. 24). A Lei Federal

nº10.639/2003 que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana da

Educação básica nacional, pública e privada e a criação dos NEABS (Núcleos de Estudos Afro-

Brasileiros) tornaram as ações visíveis e também trouxeram a baila a discussão importante e

necessária do racismo no contexto escolar brasileiro. No entanto, mesmo com todo o processo de luta,

e conquistas mencionadas, o contexto brasileiro ainda impõe aos negros e pardos, condições de

inferioridade e a marca do racismo tem reflexos negativos explícitos e implícitos na cultura, na

linguagem e no comportamento das pessoas, apesar de não ser assumido.

Cabelo Afro e cor da pele, marcas da identidade negra, elementos de crucial importância na

construção da identidade negra, “na maneira como o negro se vê e é visto pelo outro, inclusive aquele

que consegue algum tipo de ascensão social” (GOMES, 2008). Para os jovens, no contexto escolar,

os padrões estéticos e a beleza são ‘dois’ fatores que podem causar sofrimento, pois há uma ditadura

de beleza determinada por grupos sociais hegemônicos, que implicitamente, leva as pessoas a

tratamentos estéticos que camuflam a identidade negra. Muitos homens e mulheres negras passam

por tratamentos de alisamento e clareamento dos cabelos para serem aceitos, como forma de ascensão

ou por entenderem que assim não sofrerão violência (GOMES, 2008; FERREIRA, 2015).

Ao mesmo tempo, na luta antirracista, com o reconhecimento da identidade negra e da cultura

afro-brasileira, a revalorização extrapola o indivíduo e atinge o grupo étnico/racial a que se pertence

(GOMES, 2002). E nesse contexto, o cabelo cacheado e crespo ganham espaço e são reconhecidos

“como corpo social e como linguagem que expressa o conflito racial vivenciado por negros e brancos”

(GOMES, 2002). Os mesmos homens e mulheres que dantes alisavam e domavam os cabelos, passam

atualmente por um processo de transição capilar e de abandono da química em prol da liberdade e

pela luta por igualdade de direitos.

O objetivo deste trabalho é discutir as Representações Sociais (JODELET, 1989) levantadas

por alunos de língua inglesa sobre o processo de transição capilar e discutir os fatores que influenciam

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na reconstrução da identidade étnica, entendida como um processo de luta contra o racismo velado e

vivenciado no contexto brasileiro (GOMES, 2002). São discutidas as dicotomias entre o sofrimento

causado pelo racismo velado, pelo sofrimento infantil, pelo bullying e um movimento político de

mudança de estilo de cabelo por resistência de homens e mulheres na luta pela valorização da

identidade negra, pela busca do conceito de beautiful proposto por Langston Hughes em seu poema

I too e pela liberdade proposta por Nina Simone, textos que inspiraram este trabalho.

I, Too (Langston Hughes)

I, too, sing America.

I am the darker brother.

They send me to eat in the kitchen

When company comes,

But I laugh,

And eat well,

And grow strong.

Tomorrow,

I’ll be at the table

When company comes.

Nobody’ll dare

Say to me,

“Eat in the kitchen,"

Then.

Besides,

They’ll see how beautiful I am

And be ashamed—

I, too, am America.

Ain't Got No - I Got Life

Canção de Nina Simone

I ain't got no home, ain't got no shoes

Ain't got no money, ain't got no class

Ain't got no skirts, ain't got no

sweater

Ain't got no perfume, ain't got no bed

Ain't got no man

Ain't got no mother, ain't got no

culture

Ain't got no friends, ain't got no

schoolin'

Ain't got no love, ain't got no name

Ain't got no ticket, ain't got no token

Ain't got no god

Hey, what have I got?

Why am I alive , anyway?

Yeah, what have I got

Nobody can take away?

Got my hair, got my head

Got my brains, got my ears

Got my eyes, got my nose

Got my mouth, I got my smile

I got my tongue, got my chin

Got my neck, got my boobies

Got my heart, got my soul

Got my back, I got my sex

I got my arms, got my hands

Got my fingers, got my legs

Got my feet, got my toes

Got my liver, got my blood

I've got life, I've got my freedom

I've got life

I've got the life

And I'm going to keep it

I've got the life!

Este artigo está organizado da seguinte forma: a seção 1 aborda a fundamentação teórica com

ênfase no processo de transição capilar e nas representações sociais que impactam na (re)construção

das identidades; na seção 2, discorre-se sobre o escopo metodológico da pesquisa em que são

descritos o contexto da pesquisa, os instrumentos de coleta e as categorias de análise; já a seção 3

apresenta a análise de dados que discute a influência dos agentes socializadores na mudança dos

padrões estéticos dos adolescentes, os fatores implícitos na adoção dos padrões capilares

determinados ou impostos e as emoções e sentimentos desses jovens no momento de libertação; e por

fim, na seção 5 são apresentadas as considerações finais do artigo.

Transição Capilar – nappy hair movement

Na década dos anos 2000 nos Estados Unidos, um movimento inicialmente feminino incentiva

os afro descendentes a deixarem o uso de cremes alisantes e as chapinhas que eram moda para

manterem os cabelos naturais. Inicialmente, este movimento foi denominado pejorativamente com o

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termo nappy que significa fraldas, em referência ao comércio de escravos que trabalhavam na lavoura

de algodão (pequena bola de algodão dentro da planta foi chamada de soneca). A palavra fralda

nasceu porque se assemelhava à textura de cabelo afro-texturizado despreocupado. Este termo foi

retomado no movimento com uma conotação positiva significando natural e feliz. Com a

popularização da internet, o movimento ganhou adeptos no mundo e ganhou força política. A

transição capilar, que se caracteriza por um momento em que o indivíduo abandona o uso de químicas

para relaxamento ou alisamento transformando a estrutura do cabelo e usando-o em sua forma

“natural” passa a ser um ato de valorização da cultura e da etnia (MATOS, 2016, p.01). E nesse

contexto, o cabelo crespo, ganha espaço e é reconhecido como corpo social e como linguagem que

expressa o conflito racial vivenciado (GOMES, 2002).

Esse processo, segundo Matos (2016), não ocorre sem conflitos, dilemas e reconfigurações

que desemboca em uma transformação na auto percepção, na luta pela aceitação da estética negra,

tendo como símbolo os cabelos crespos e cacheados (MATOS, 2016, p. 01). Mas, Blogs, Grupos em

redes sociais se organizam e dão força ao movimento estimulando o abandono da química e ensinam

técnicas para amenizar o sofrimento: big shops (grande corte), dreadlocks (rastafári), Nó Bantu

(cabelos torcidos em pequenos pãezinhos), penteado protetor (tranças, extensões, perucas e tecidos),

fitagem, etc.

Representações Sociais

As representações são sistemas de crenças, valores, ideias e práticas que estabelecem uma

ordem que possibilita as pessoas a orientarem-se em seu mundo material e social e terem controle

sobre eles (MOSCOVICI, 2003, p. 21). Elas representam a leitura que fazemos dos outros pela nossa

visão, estão inseridas e são investigadas no campo da Psicologia Social que tem por objetivo estudar

a forma como os sentidos são construídos na coletividade para o “estar-no-mundo” (JODELET,

1989). As representações sociais podem ser entendidas sob três perspectivas: da sociogênese, que é a

transformação do meio em que vivemos ao longo do tempo; da ontogênese: entendida pelo

desenvolvimento do ser individual ao longo da vida e, por fim, da microgênese, que são as interações

em grupo. Essa última teve uma atenção maior por abranger, também, estudos de outras áreas do

conhecimento e por tratar dos sentidos produzidos em grupo, em sociedade, e entendidos como

conhecimento. Os sentidos são construídos pelos indivíduos ao longo da vida, com influências dos

discursos, na transformação do meio em que vivemos e por meio das interações em grupo (SPINK;

GIMENES, 1994). Nesta ótica da produção de sentido, implica em posicionar-se perante os dados,

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as teorias, e os outros. Em relação a tal posicionamento, encontramos três premissas distintas em que

se insere o “dar sentido”:

“Dar sentido é sempre um processo que passa pelo nosso crivo pessoal, desenvolvido a partir

das nossas experiências (tempo vivido) e daquilo que nunca presenciamos, mas temos certo

conhecimento (tempo histórico). Dar sentido consiste, também, em assumir posicionamentos

dentro de relações por meio da intersubjetividade, no tempo presente, ou seja, é criar novos

sentidos, rompendo com alguns antigos. Por fim, dar sentido implica em assumir uma

identidade própria, posicionar-se em meio a tantas transformações, sem perder aquilo que o

caracteriza” (SPINK; GIMENES, 1994, p.xx).

Do ponto de vista da discussão no contexto brasileiro, com base nessas premissas, o construto

‘racismo’ e as ‘práticas de preconceito racial’ ainda são sustentadas, pela história primeiramente do

período de escravidão e posteriormente de segregação e desigualdade, vivenciada pelos indivíduos,

que possuem suas memórias afetivas e sua formação intersubjetiva ou dos discursos inseridos em sua

cultura, ou seja, diferentes narrativas para essa mesma história, que vem se repetindo ao longo dos

anos. Botezini (2014) afirma que é uma história marcada pela vergonha e pela corporalidade e

inferioridade “desde muito antes das evocações das teorias do evolucionismo cultural”. A violência

estrutural e o sofrimento social são também apontados por Botezini (2014, p. 3) como fatores que

levam os indivíduos a adequação e modificação corporal, e essas experiências individuais passam a

ser uma expressão da dimensão social da problemática: as ações de mudança estética deixam de ser

do indivíduo e passam a ser do grupo (SILVA; BRAGA, 2015).

Contexto da pesquisa

Esta pesquisa de sala de aula foi desenvolvida em um Instituto Federal no Estado de Minas

Gerais, por um grupo de alunos de uma turma de primeiro ano de língua inglesa do Ensino Médio

Técnico de Edificações (nível básico de Língua Inglesa). Durante o bimestre escolar, os alunos leram

e discutiram os poemas I, too de Langston Hughes, e Exportation Mulata de Elisa Lucinda. Com base

nesses poemas, eles escreveram poemas em língua inglesa com temáticas que abrangeram a

valorização da cultura afro, racismo, a mulher, LGBT, corrupção, relações de trabalho, e condições

de vida no Brasil. Como projeto final, os alunos em grupos, deveriam escolher uma temática para ser

apresentada na X Semana de Cultura Afro Brasileira. O grupo de alunos, autores deste trabalho,

entrevistaram 5 colegas acerca da transição capilar, fizeram a apresentação oral dos relatos e fecharam

a apresentação com Nina Simone “Ain’t got no / I got life”.

Como professora da classe, sugeri que o corpus de relatos fosse ampliado e que análises

fossem feitas para que o processo de transição capilar fosse interpretado. A segunda fase de coleta

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contou com a participação de 32 alunos e ex-alunos do Instituto Federal, incluindo os 5 alunos já

entrevistados, sendo 30 mulheres e 2 homens. O survey foi feito pelos alunos do grupo e pela

professora por meio de entrevista escrita presencial e / ou pelo Facebook.

As análises foram feitas com base nos pressupostos teóricos da (des)(re)construção das

identidades culturais (HALL, 2006), de reconhecimento e de valorização da identidade negra.

Análise e discussão dos dados

As análises foram feitas com base nos 32 relatos dos participantes demonstram que a maioria dos

participantes passou pelo movimento de transição capilar. Eles vivenciaram conflitos e imposições

de diversos agentes sociais. Três participantes não passaram pelo processo de transição e sempre

usaram o cabelo cacheado. Estes participantes relatam que não sofreram nenhuma imposição externa

para mudarem e que sempre mantiveram os cabelos naturais. Os dados não são representativos

estatisticamente, mas apontam para uma maioria oprimida e levada a manter os cabelos sob controle.

“Nn, boa relação com os cachinhos” (KS)

“Eu não passei por essa fase de transição, pois eu sempre mantive meu cabelo cacheado”

(EB).

“Eu sempre mantive meu cabelo cacheado (LL).

Apesar de existirem movimentos sociais e de luta contra o racismo e o preconceito, ainda há

uma dicotomia entre os agentes sociais que interferem na tomada de decisões para o uso dos cabelos

cacheados ou alisados e com química. Os negros e pardos vivem sob pressão e sentem o dilema dos

mesmos grupos sociais tentando ditar as maneiras e formas de usarem seus cabelos impedindo de

exercerem os seus direitos de decisão. Os dados deste estudo apontam que, atualmente, os agentes

sociais que influenciam e incentivam o uso dos cabelos naturais estão na família, na escola, nos grupos

de amigos, nas redes e mídias sociais e no mercado de cosméticos. Esses mesmos agentes ora

fortalecem o movimento de lutas, mas também corroboram práticas preconceituosas.

(...) mas minha mãe não deixava eu alisar o cabelo de jeito nenhum, falando que eles iam

perder os cachos e que só ia deixar eu falar chapinha quando ficasse mais velha (MO)

Mudei por incentivo de amigos e por querer mudar algo na vida rsrs (TC)

Eu incentivo principalmente crianças que eu acho que são as que mais sofrem, e não tem

direito de escolha sobre como querem usar o cabelo (IC)

(...) o que ajudou foram vídeos no YouTube que ensinavam como cuidar. o mercado cheio

de boas opções...

Com o passar do tempo e depois que eu comecei a estudar no IFMG minha visão expandiu

bastante. Enxergar beleza no diferente, tentar me sentir bem comigo mesma (ALM).

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(...) mas resisti aos comentários e continuei buscando informações de como cuidar do meu

cabelo na internet (RC).

Conheci um grupo do facebook chamado "cacheadas em transição", nele aprendi muitas

formas de cuidar dos cachos.

Eu decidir mudar através da influência de uma amiga, a SP (que também foi sua aluna), ela

conheceu a transição na internet e me incentivou. Hoje ela tbm se libertou.(GB)

Nesse tempo que eu escolhi passar pela transição eu acabei assistindo um vídeo da Raiza

Nicacio sobre cabelos cacheados.

Para os participantes, usar o cabelo natural não foi a primeira escolha. A transição capilar

evoca o sentimento de libertação, aumenta a autonomia e eleva a autoestima, uma vez que eles se

enxergam e se conscientizam da beleza negra que têm. A escola é colocada como um dos espaços de

conscientização, de amadurecimento e de mudança. Pelos relatos, observa-se que a questão de deixar

o cabelo natural deixa de ser uma inquietude do indivíduo e passa ser uma demanda do grupo, no

caso dos adolescentes.

No entanto, em alguns casos, esses mesmos agentes sociais que incentivam, forçam, na

maioria das vezes, as mulheres ainda crianças a passarem por tratamentos capilares para alisar, domar,

controlar os cabelos como se fossem “bichos soltos”. A pressão social faz com que o adolescente não

se aceite e não se reconheça enquanto negro ou pardo. Como o cabelo crespo é tido como ruim, os

adolescentes se submetem aos tratamentos para serem valorizados. No contexto familiar, a mãe é a

que exerce maior influência na tomada de decisões e geralmente os motivos são atribuídos à

higienização, a comodidade e a falta de habilidade em cuidar dos cabelos crespos.

“Eu era doida para sumir com os cachos, minha mãe que não deixava. Não gostava do meu

cabelo, tinha que passar muito creme, ele não dava muito volume e tinha sempre a mesma

forma” (LO).

“Mas eu vivia fazendo escova e chapinha, pois morria de vergonha dos meus cachos. Todo

mundo me preferia assim (...) eu negava para mim mesma a textura do meu cabelo”(RC).

“Eu alisava os cabelos desde os meus 5 anos, porque minha mãe não sabia cuidar” (GB).

(...) “porque muitas mães preferem alisar o cabelo por comodidade, dizendo que fica "mais

fácil" para pentear!” (IC)

“Durante esse tempo de transição eu sentia revolta com meu cabelo e com meu pai que me

fez fazer o primeiro relaxamento” (TC).

“Mas usá-lo assim (com duas texturas) gerou muito preconceito, até mesmo dos professores

da escola. O preconceito foi tão grande que pessoas pararam de conversar comigo, mas

eu não desisti” (AC).

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Os significados e sentimentos atribuídos aos cabelos alisados são diversos e na maioria das

vezes relacionados ao sofrimento. Os participantes vivem o conflito de deixar os cachos ou usar os

cabelos lisos. Os dados apontam fatores implícitos para a escolha do “big chop”, ou o corte dos

cabelos alterados pela química é o rito de passagem, de exercício do direito e da autonomia, de

libertação e de empoderamento. São apontados o sofrimento, a necessidade de controle, a comodidade

ou a saúde do cabelo, marcador de identidade negra, ferramenta para a luta e mobilidade social,

conforme mostram os exemplos abaixo:

SOFRIMENTO

arrependimento, pois via meu cabelo caindo gradativamente e queria meu cabelo de volta.

Não queria ser mais refém de produto nenhum e nem de chapinha E nem* (LF)

não é nada fácil. Eu decidi mudar porque a química danificava meu cabelo muito e eu tinha

preconceito com meu próprio cabelo. (TC)

Quando eu cortei tudo, foi um impacto enorme, na fisionomia e também psicológico, eu

chegava na escola, passava na rua, e as pessoas comentavam, olhavam meio torto, teve

bastante preconceito, piadas, sendo que a maioria deles vinha de pessoas próximas, da

família, (e por incrível que pareça, tem preconceito até hoje)! (IC)

é um processo bastante doloroso e demorado, principalmente de aceitação, não apenas

aceitação das pessoas, mas a nossa própria aceitação, medo e não gostar do que ia ver no

espelho, de não se sentir bem ou de não combinar comigo (NDS)

NECESSIDADE DE CONTROLE

à princípio a desculpa para alisarem meu cabelo era a falta de tempo pra cuidar dele e a

necessidade de tentar o controlar uma vez que ele era muito volumoso, e não era sempre

que tinha alguém comigo que pudesse me ajudar a pentear ou coisa do tipo (KF)

não tem mais aquela paranoia de tentar manter ele certinho. (KF)

COMODIDADE / SAÚDE DO CABELO

Eu escolhi alisar o cabelo porque parecia mais fácil, sabe? Foi exatamente pra tentar me

encaixar no padrão e aí eu simplesmente não conseguia sair de casa sem o cabelo escovado

(ALM).

Eu gostava dele cacheado, mas achava o liso mais prático (LG)

Mais meus cabelos caíam muito, ficaram fracos e finos, sem volume (DP).

HIGIENIZAÇÃO

Ouvi um dia de uma amiga que disse para eu escovar o cabelo pra ir em tal festa, porque

assim ele estaria arrumado. E isso me marcou (GB).

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Por outro lado, o abandono dos cabelos alisados “pode também representar um processo de

reconhecimento das raízes africanas assim como de reação, resistência e denúncia contra o racismo.

E ainda pode expressar um estilo de vida”. (GOMES, 2002, p. 8). Usar os cabelos naturais para os

adolescentes é voltar às origens, é se olhar no espelho e se reconhecer verdadeiro, e com um

sentimento de orgulho da raça.

MARCA DA IDENTIDADE

Decidi mudar, para mim ser cacheada expressa a minha verdadeira identidade, foi assim

que Deus me fez, eu gosto de ser assim, e não devo esconder isso porque as pessoas não

gostam. Antes de assumir os cachos me sentia estranha com eles, por isso fazia escova.

Durante a transição foi um período de me ver de uma forma diferente. E agora me sinto muito

bem e livre ( posso até tomar chuva Kk) E agora não largo meus cachos por nada!! Obrigada

pela oportunidade! (DD)

Me sentia escondendo minha personalidade. Me sentia presa pelos "padrões" de beleza

ditos pela sociedade. Decidi mudar a partir do momento em que decidir ser livre de padrões

pré-ditados e resolvi assumir minha natureza. Minha* (AF)

Eu decidi mudar porque aquela pessoa que fazia chapinha não era eu sabe, eu ficava

tentando me colocar em padrões sociais que não me faziam bem! (IC)

Foi um momento único, chorei ao me ver no espelho e abandonar a imagem que na verdade

não era minha (uma negra com o cabelo alisado porque a sociedade queria que eu fosse

assim) (GB).

Eu tinha um cabelo lindo que homenageava minha raça e minha cor, só que quando eu

tinha uns 8 anos e aquele cabelo era considerado de outro mundo, todo mundo tinha cabelo

liso então eu resolvi mudar também e andar de acordo com a moda kkkk, hoje eu passei pela

transição capilar e me aceito muito mais que antigamente, sou uma pessoa renovada e linda

(MCL)

LUTA SOCIAL

Consigo sorrir sem medo e ser quem eu sou. E penso que nem todas as alisadas devem passar

pela transição, porque não podemos impor outra ditadura nas mulheres, a de se aceitar

pq sua imagem é de mentira! Devemos ser quem quisermos ser. Ah, nas aulas eu

admirava tanto seu cachos rsrs (GB)

Mas a maior razão de resistência foi para mostrar que o homem negro não precisa alisar o

seu cabelo para deixá-lo longo, ele pode aceitar suas origens criando seu próprio estilo

(MV)

Decidi mudar porque o uso de cabelo liso não é só uma questão de gosto ou preferência, a

própria preferência é resultado de todo um histórico *é resultado de todo um histórico de

discriminação racial e social, muito evidente ainda no Brasil, que possui uma grande

diversidade cultural/étnica/racial (... ) A transição capilar é algo muito distante de um

movimento estético: é justamente um movimento de luta e aceitação da diversidade (LF).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Os participantes que passaram pela transição capilar afirmam que os cabelos como corpos lutaram

pela libertação e são estes os sentimentos de renovação, de liberdade, de vitória pessoal e social que

perpassam os discursos.

LIBERTAÇÃO

Me sinto mais leve, acho que é essa a melhor definição. (TC)

Me sinto livre ultimamente. Eu não consigo descrever como me sentia, não era bom... Hoje

é diferente, a minha auto estima, é algo tipo auto aceitação! Muitas pessoas elogiam, eu me

sinto maravilhosa, o meu cabelo é lindo, a cor da minha pele é linda, e não procuro agradar

a ninguém!

Hoje tenho orgulho em falar que não tenho química alguma no meu cabelo, me sinto muito

melhor sabendo que não tem nenhum agente externo agindo pra mudar ele, danificando ou

coisa do tipo (KF)

hoje me sinto muito melhor com meus cachinhos (TC)

Hoje em dia posso dizer que amo ser cacheada (E ainda bem que minha mãe não me

deixou mexer no cabelo quando era mais nova kkkkkkk)

Hoje em dia me sinto bem melhor com meus cachos, aprendi a dar vida ao meu cabelo e

me sinto muito, muito bem assim do jeito que sou (LO).

A transição capilar é só um reflexo dessa busca infinita do autoconhecimento e amor

próprio. Além de aceitar o cabelo cacheado o mais difícil é aceitar o seu cacho do jeito que

ele é. (ALM)

Agora me sinto mais feliz, amo meus cachos, a definição que ganho do meu rosto, a

liberdade de não ter que ir ao salão de beleza mensalmente. (DP)

O medo da tesoura foi embora e o fascínio por cabelo liso também (GO)

E pra mim é bem libertador, porque a escova acabava me limitando em certas atividades, o

que agora não sofro mais (JS).

A sensação de poder pegar chuva é maravilhosa, de poder lavar o cabelo quando quiser, de

molhar o cabelo sem medo. Eu me sinto muito mais confiante, me sinto mais orgulhosa das

minhas origens e do jeito como nasci, quando olho no espelho fico muito mais feliz (AC)

Os participantes que passaram pela transição capilar afirmam que os cabelos como corpos

lutaram pela libertação e são estes os sentimentos de renovação, de liberdade, de vitória pessoal e

social que perpassam os discursos. O cabelo crespo também passa a ser um marcador de opressão

racial sentimentos e emoções novas.

Considerações finais

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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Os resultados apontam para uma dicotomia entre o sofrimento e um movimento político de

mudança de estilo de cabelo marcado por resistência na luta pela valorização da identidade negra. Os

agentes socializadores que perpetuam as práticas de preconceito e de controle do cabelo (corpo social)

nos dados deste estudo estão nas instituições familiares, escolares e sociais. Os agentes socializadores

que influenciam no uso de um cabelo afro livre de química nos dados deste estudo são os amigos, a

internet, redes sociais, e o IFMG mostrado como espaço para a reflexão e valorização das diferenças.

Os fatores implícitos ao alisamento dos cabelos estão relacionados ao padrão imposto por grupos

hegemônicos, ao controle, ao sofrimento, ao preconceito, a higienização e a comodidade. Os fatores

implícitos a transição capilar estão relacionados a saúde do cabelo e do indivíduo, a valorização de

identidade negra, a uma luta social que se dá por meio de resistência, da autoaceitação, da aceitação

das origens e da diversidade.

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breve discussão. SILVÉRIO, V. Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei Federal nº

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Técnica: Alda Judith Alves-Mazzotti. UFRJ- Faculdade de Educação, dez. 1993. Uso escolar,

proibida a reprodução.

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IO=31 acesso em 21/02/2017.

My Nappy ROOTS connecting the world through Black

hairitagehttps://www.youtube.com/watch?v=-fZaDf15O-8

SILVA, P. C. S.; BRAGA, Â. M. S. Transição Capilar: O cabelo como instrumento de política e

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na Região Sudeste, Uberlândia, MG, 19 a 21 de junho de 2015. Anais ... Intercom – Sociedade

Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Disponível em:

http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2015/resumos/R48-0059-1.pdf acesso em

21/02/2017.

TITLE: WHY ARE WE TALKING ABOUT OUR HAIR? SOCIAL REPRESENTATIONS

OF TECHNICAL HIGH SCHOOL STUDENTS ABOUT HAIR TRANSITIONING

Astract: Brazilian racism imposes on black people the inferiority and the mark of racism has reflexes

in culture, language and in the behavior of the people although it is not assumed. In this negationism,

the school, context for raising awareness about racial diversity can be a space for fossilization and

perpetuation of social inequalities (TRINDADE, 1994). Aesthetic standards are factors that can cause

suffering in school, because there is a dictatorship determined by hegemonic groups, which leads

people to aesthetic treatments that camouflage the black identity. They undergo hair straightening

and whitening treatments to be accepted, as a way of ascension or because they understand that they

will not suffer violence. In anti-racist activism, curly hair gains space and is recognized as a social

body and as a language that expresses the lived racial conflict (Gomes, 2002). Those who once

smoothed and tame the hair, go through the hair transition and abandon chemistry for freedom and

struggle for equal rights. In this classroom research, the social representations (JODELET, 1989)

about the process of hair transitioning are discussed and the factors that influence the reconstruction

of ethnic identity, understood as a process of struggle against veiled and experienced racism in the

Brazilian context (GOMES, 2002). The results point to a dichotomy between suffering and a political

movement to change hair style by resistance in the struggle for the valorization of black identity.

Keywords: hair transitioning. ethnic identity. social representations. technical high school teaching.

English language.