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POR QUE CONTINUAM ENSINANDO QUE AS CANTIGAS DE AMIGO FORAM ESCRITAS POR HOMENS? Rafael Hofmeister de Aguiar (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul/ Universitate de Vigo) [email protected] [email protected] RESUMO Desde a tese de Ria Lemaire (1987), é notória a composição feminina das cantigas de amigo galego-portuguesas, como demonstram outros estudos da pesquisadora. No entanto, os materiais didáticos continuam ensinando três décadas depois de que essas cantigas foram composições de homens que “fingiram” o sentimento feminino. Desde esse paradoxo, estabeleceu-se, ainda no século XIX, o paradigma dos trovadores que eram capazes de encarnar o sentimento feminino. Todavia, esquece-se de que essas composições revelam elementos íntimos do feminino, como a sua latente sexualidade, o que seria impossível um homem tão bem exprimir. Nisso, há a necessidade de repensar não só o ensino da história da literatura como conteúdo da disciplina de Literatura, mas da História como ciência lecionada nos ensinos Fundamental, Médio e Superior, uma vez que recompõe o papel da mulher na Idade Média, revendo os aspectos cristãos e pagãos que permeavam o oeste e noroeste da Península Ibérica como aventou Freixedo (2017). Como principais aportes teóricos do trabalho, situam-se os trabalhos de Freixedo (2017) e Lemaire (1987, 2017). Este trabalho faz parte do projeto desenvolvido em estágio pós-doutoral na Universidade de Vigo (Galiza/Espanha) com financiamento via Edital de Capacitação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Brasil). Palavras-chave: Idade Média. Cantigas de amigo. Gênero. Historiografia. Historiografia da literatura. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A poesia em galego português desenvolveu-se entre o final do século XII e o século XIV (BERARDINELLI, 1953). Trata-se de uma poesia eminentemente lírica, sem arroubos épicos que se deram em outras literaturas europeias caso do El cantar del Cid (2010) da literatura espanhola, difundida sobretudo através da oralização, ocorrendo, inclusive, através do improviso (AGUIAR, 2020, no prelo). Essa produção pode ser agrupada em dois grandes grupos: a poesia profana, composta pela lírica propriamente dita e a sátira, e a poesi religiosa, abarcando os poemas reunidos a mando de Afonso X de Castela e Leão no cancioneiro

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  • POR QUE CONTINUAM ENSINANDO QUE AS CANTIGAS DE AMIGO FORAM

    ESCRITAS POR HOMENS?

    Rafael Hofmeister de Aguiar

    (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul/ Universitate de

    Vigo)

    [email protected]

    [email protected]

    RESUMO

    Desde a tese de Ria Lemaire (1987), é notória a composição feminina das cantigas de amigo

    galego-portuguesas, como demonstram outros estudos da pesquisadora. No entanto, os

    materiais didáticos continuam ensinando três décadas depois de que essas cantigas foram

    composições de homens que “fingiram” o sentimento feminino. Desde esse paradoxo,

    estabeleceu-se, ainda no século XIX, o paradigma dos trovadores que eram capazes de encarnar

    o sentimento feminino. Todavia, esquece-se de que essas composições revelam elementos

    íntimos do feminino, como a sua latente sexualidade, o que seria impossível um homem tão

    bem exprimir. Nisso, há a necessidade de repensar não só o ensino da história da literatura como

    conteúdo da disciplina de Literatura, mas da História como ciência lecionada nos ensinos

    Fundamental, Médio e Superior, uma vez que recompõe o papel da mulher na Idade Média,

    revendo os aspectos cristãos e pagãos que permeavam o oeste e noroeste da Península Ibérica

    como aventou Freixedo (2017). Como principais aportes teóricos do trabalho, situam-se os

    trabalhos de Freixedo (2017) e Lemaire (1987, 2017). Este trabalho faz parte do projeto

    desenvolvido em estágio pós-doutoral na Universidade de Vigo (Galiza/Espanha) com

    financiamento via Edital de Capacitação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e

    Tecnologia do Rio Grande do Sul (Brasil).

    Palavras-chave: Idade Média. Cantigas de amigo. Gênero. Historiografia. Historiografia da

    literatura.

    1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    A poesia em galego português desenvolveu-se entre o final do século XII e o século

    XIV (BERARDINELLI, 1953). Trata-se de uma poesia eminentemente lírica, sem arroubos

    épicos que se deram em outras literaturas europeias – caso do El cantar del Cid (2010) da

    literatura espanhola, difundida sobretudo através da oralização, ocorrendo, inclusive, através

    do improviso (AGUIAR, 2020, no prelo). Essa produção pode ser agrupada em dois grandes

    grupos: a poesia profana, composta pela lírica propriamente dita e a sátira, e a poesi religiosa,

    abarcando os poemas reunidos a mando de Afonso X de Castela e Leão no cancioneiro

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • conhecido como Cantigas de Santa Maria, que não tem sido o foco das pesquisas que tenho

    realizado. As cantigas líricas propriamente ditas manifestam-se, maiormente, em dois gêneros:

    a cantiga de amor, de origem provençal com um eu lírico masculino que canta o seu amor

    impossível por uma mulher nobre e idealizada, e a cantiga de amigo, de origem galega e popular

    com um eu lírico feminino que aborda o encontro ou desencontro amoroso com o amigo

    (namorado). As cantigas satíricas agrupam-se em dois gêneros principais: as cantigas de

    escárnio, uma crítica velada e indireta, e as cantigas de maldizer, uma crítica mordaz e direta.

    Toda essa poesia profana encontra-se registrada em três cancioneiros: Cancioneiro da Vaticana

    (V), Cancioneiro da Biblioteca Nacional – antigo Colocci-Brancuti (B) e Cancioneiro da

    Ajuda (A). Esses são cópias tardias de algum(ns) cancioneiro(s) anterior(es), sendo posteriores,

    no caso de B, quase dois séculos após o desaparecimento da escola trovadoresca (OLIVEIRA,

    1994), possuindo lacunas, falhas dos copistas, anotações posteriores à composição dos

    manuscritos, o que implica um labor filológico de crítica textual e edição a fim de se chegar

    próximo do que seria o texto original.

    Desses gêneros poéticos, do ponto de vista da disciplina de história, tem-se voltado

    para as cantigas de escárnio e maldizer, impressa nos trabalhos de Barros (2005, 2006a, 2006b,

    2006c), concepção referendada há um bom tempo por literatos, como Berardinelli (1953, p. 6)

    que assevera que esses dois gêneros sejam “a mais importante para o conhecimento da

    sociedade da época, de vez que revela os ridículos, os defeitos, os costumes em geral, numa

    linguagem incisiva, violenta, crua até a obscenidade”. Entretanto, as cantigas líricas

    propriamente ditas também podem contribuir para a compreensão da sociedade da época.

    Dessas, volto-me para as cantigas de amigo em uma perspectiva de repensar as relações de

    gênero em um duplo movimento que se volta, ao mesmo tempo, para uma revisão da

    historiografia da literatura, através da perspectiva da autoria, e da história como campo de

    conhecimento específico, do ponto de vista de um filólogo que se permite a propor conceber a

    Idade Média para além de esquemas reducionistas e estereotipados, o que, aliás, já tem sido

    realizado por historiadores de ofício como Le Goff (2014).

    Este trabalho, com o intuito de proporcionar uma inteligibilidade da reflexão, está

    divido em três partes. A primeira se volta para a perspectiva tradicional sobre as cantigas de

    amigo em livros didáticos e antologias. A segunda propõe uma outra concepção acerca das

    cantigas de amigo a partir da compreensão de Ria Lemaire (1987, 2017). A terceira, por fim,

    aborda a simbologia sexual presente nas cantigas de amigo com o intuito de contribuir para

  • reexaminar a imagem da mulher medieval. Vale ressaltar que, nas duas primeiras partes, volto-

    me, sobretudo, para a questão da autoria das cantigas.

    2 A PERSPECTIVA TRADICIONAL SOBRE AS CANTIGAS DE AMIGO: LIVROS

    DIDÁTICOS E ANTOLOGIAS

    Nas abordagens tradicionais das cantigas de amigo, a sua autoria é atribuída,

    geralmente de maneira acrítica, a homens que, em uma intuição e sensibilidade ímpares,

    expressam sentimentos femininos, assumindo, inclusive, mormente, a voz da mulher. É com

    esse o enfoque que esse gênero poético é abordado nos livros didáticos e nas antologias

    dedicadas aos estudantes dos ensinos médio e superior, seja no Brasil, em Portugal ou na Galiza.

    Para elucidar isso, faço um breve exame de dois livros didáticos brasileiros e três antologias –

    uma galega, uma brasileira e uma portuguesa.

    Inicio o exame pelo livro Português: linguagens, de Cereja e Magalhães (2016), obra

    com excelente apresentação gráfica e abordagem progressista acerca da língua, mas de

    abordagem reducionista no que tange à lírica profana galego-portuguesa. Nele, são apresentadas

    duas cantigas de amigo: (1) Ondas do mar de Vigo e (2) Vaiamos, imãa, vaiamos dormir. Tanto

    (1) quanto (2) são exploradas, quase que unicamente, nos aspectos de construção formal,

    inclusive, no caso de (1), as perguntas orientam o aluno a identificar a diferença de voz poética

    entre as cantigas de amigo e de amor

    Considero essa abordagem um tanto reducionista, principalmente, levando em conta

    Ondas do mar de Vigo. Tal percepção se dá pelo completo silêncio acerca do ciclo de cantigas

    que enfocam a ria de Vigo e a condição social e artística dos poetas medievais da ria de Vigo –

    os três jograis João de Cangas, Martin Codax e Mendinho. Aliás, esse enquadramento pode

    proporcionar inferências importantes. Em primeiro lugar, ressalta-se a necessidade de o jogral

    satisfazer o público, uma vez que dele dependia o seu sustento (OLIVEIRA, 2000), ao mesmo

    tempo em que cumpria a função de “assegurar a manutenção das tradições culturais em

    comunidades onde, cada vez mais, o saber se transmitia de geração em geração através da fala

    e do canto” (OLIVEIRA, 2000, p. 339). Em segundo lugar, registra-se a presença da cantiga no

    Pergaminho de Vindel, em que constam sete cantigas de amigo atribuídas a Martin Codax, seis

    delas acompanhadas pelo registro das notações musicais (FERREIRA, 2000, p. 536). Em

    terceiro lugar, em um movimento de síntese, tendo em vista a latente valorização da lírica

  • popular nas cortes ibéricas, elucidada nas décadas de pesquisa de Marguit Frenk, sintetizadas

    em Poesía popular hispânica (2006), há de se cogitar que os jograis viguenses atendiam ao

    gosto do público, seja ele popular ou cortesão, executando as cantigas de amigo de raiz popular

    e feminina, inclusive – por sua dedicação “à parte instrumental” (OLIVEIRA, 2000, p. 340) –

    registrando a música em pergaminhos, como o de Vindel, como suporte para a memória.

    Após a abordagem reducionista, os autores apresentam um quadro comparativo entre

    as cantigas de amigo e as de amor. Nele, destaca-se como se sintetiza o assunto das cantigas de

    amigo: “lamento da moça cujo namorado partiu” (CEREJA, MAGALHÃES, 2016, p. 87).

    Nisso, há uma redução a um imaginado topoi que, como procurarei examinar na sequência deste

    trabalho, não corresponde à produção efetiva das cantigas de amigo.

    Cereja, junto com Vianna e Cadenhoto, possui outro livro didático: Português

    contemporâneo (2016). Nele, é apresentada a cantiga Levou-s’a louçana que, assim como na

    outra obra, é abordada através de um questionário centrado na oposição da voz feminina nas

    cantigas de amigo à voz masculina na cantiga de amor (nesse caso, a cantiga Quantos an gran

    coita d’amor) e aos aspectos formais da composição. Novamente, deixa-se de se explorar

    importantes elementos da cantiga, entre eles toda a simbologia sexual do ato de lavar os cabelos

    (vai lavar cabelos/ na fontana fria) que representa a realização do ato sexual por iniciativa da

    mulher (LEMAIRE, 1987, FREIXEDO, 2017).

    Ambos livros didáticos possuem uma perspectiva comum: a concepção da autoria

    masculina das cantigas de amigo. Essa é uma perspectiva tradicional acerca das cantigas de

    amigo que foi questionada por Lemaire (1987) e que me deterei no próximo item deste trabalho.

    Aliás, a atribuição da autoria masculina das cantigas de amigo encontra-se latente na

    Antoloxía da lírica galego-portuguesa (FREIXEDO, 2003). Ela tem por objetivo tornar a

    produção medieval acessível a um público amplo, almejando que “o lector poida ter unha visión

    global da producción poética trovadoresca e ó mesmo tempo coñeza as súas claves principais”

    (FREIXEDO, 2003, p. 8). Mesmo que o autor declare que a Introdução da antologia “non se

    trata polo tanto dun manual” (FREIXEDO, 2003, p. 9), ele faz um amplo estudo acerca das

    cantigas galego-portuguesa, utilizando-se de sólida fortuna crítica, e dá indícios de que a obra

  • se constitui em um material com possível uso didático1. Na referida introdução, pode-se ler o

    excerto abaixo.

    Entre estas cantigas de amigo de ‘estilo cortés’ atópanse composicións nas que vemos

    á muller padecer as mesmas ou similares coitas ás que sofre o namorado das cantigas

    de amor. Son cantigas coma a 179 de Pero da Ponte na que é a muller a que recorre ó

    tópico da morte libertadora da coita producida pola separación. Tamém nunha cantiga

    coma a 34 de Vasco Fernandes Praga de Sandín é a muller, e non o poeta, quen declara

    que non hai nada no mundo que a libere do desexo del, cando non o pode ver; um

    tópico moi recorrente nas cantigas de amor (FREIXEDO, 2003, p. 88).

    Primeiramente, Freixedo (2003) divide as cantigas de amigo naquelas com “estilo

    popularizante” e noutras com “estilo cortês”, sendo estas a grande parte da produção nesse

    gênero. Fora a atribuição da autoria masculina das cantigas de amigo, o filólogo segue a

    concepção de Tavani (1986) de que esse gênero se constitui como um reverso preciso das

    cantigas de amor. Dessa forma, se nas cantigas de amor o homem é submisso à mulher, tendo

    os seus desejos e sentimentos contidos, segundo essa compreensão, a mulher também seria

    submissa ao homem e refrearia os seus desejos nas cantigas de amigo. Todavia, mesmo com

    sua perspectiva tradicional da autoria das cantigas de amigo, Freixedo, como eminente

    especialista da erótica na lírica medieval galego-portuguesa, ressalta o simbolismo sexual

    presentes nas cantigas de amigo, o que será retomado na terceira parte deste artigo.

    Na antologia Fremosos cantares, Mongelli (2009) apresenta um enfoque ainda mais

    tradicional na abordagem das cantigas de amigo. A estudiosa apoia-se na antiga disputa das

    teses acerca da origem da lírica galego-portuguesa – arábica, folclórica, médio-latinista e

    litúrgica/paralitúrgica (LAPA, 1970) – para, a partir disso, não só questionar as possíveis

    matrizes (e matizes) populares das cantigas de amigo como também para afirmar a sua autoria

    masculina. Reconhecendo que, nas cantigas de amigo, “no mínimo confluem as heranças latina,

    moçárabe e ocitânica” e aspectos da cultura popular ibérica, por outro lado, declara que,

    Contudo, esse magma de procedências diversas recebido da tradição e adaptado ao

    presente do medievo central é tratado esteticamente por poetas cultos, que estilizam

    motivos pré-trovadorescos segundo o instrumental erudito oferecido pelas disciplinas

    do trivium (Gramática/Retórica/Dialética).

    [...]

    1 Trabalhei com Freixedo na Universidade de Vigo que me relatou que a Introdução de sua antologia era utilizada

    por ele como material de estudo de seus alunos da disciplina de Literatura medieval na Faculdade de Filologia e

    Tradução.

  • A segunda questão que nos sugere rever o conceito de “popular” é o fato de as cantigas

    de amigo serem compostas por homens, que usam da esplêndida estratégia de se fazer

    passar por mulheres para revelar o que ocorre no íntimo da psique feminina

    (MONGELLI, 2009, pp. 94-95).

    No entendimento da medievalista, as cantigas de amigo foram compostas por poetas

    dotados, além de uma sensibilidade e de um profundo conhecimento da psicologia feminina, de

    uma erudição advindas do profundo domínio do trivium. Entretanto, um rápido exame na obra

    atribuída a Lourenço, jogral, “figura de relevo da jograria medieval” (TAVANI, 1993, p. 426),

    apresenta elementos que permitem questionar os argumentos da autora. Nesse sentido, ao

    mesmo tempo que a Lourenço é atribuída a autoria de seis cantigas de amigo (TAVANI, 1993),

    ele é acusado de nem dominar a escrita na tenção Rodrig'Eanes, queria saber, entre o jogral

    e Rodrigo Anes de Álvares. Este ataca Lourenço com os versos “Com'esso dizes, ar di ũa rem:/

    que és homem mui comprido de sem/ e bom meestr'[e] que sabes leer” (“Como isso dizes, me

    diz outra coisa:/ que és homem de muito bom senso/ e bom mestre e que sabes ler – AGUIAR,

    2020b, no prelo), insinuando o seu analfabetismo, o que não é contestado pelo jogral na sua

    resposta. Tais dados permitem não só questionar a concepção de trovadores homens providos

    de erudição a ponto de “revelar o que ocorre no íntimo da psique feminina” (MONGELLI,

    2009, pp. 94-95), mas também reforçar a hipótese que aventei acima de que os jograis

    executavam cantigas de amigo, alheias por serem canções populares de mulheres, a pedido do

    público que garantia o seu sustento.

    Para finalizar esta seção do trabalho, refiro-me a uma antologia de mais de 30 anos

    atrás, mas não menos importante no percurso investigativo proposto: trata-se da Antologia da

    poesia trovadoresca galego-portuguesa, de Torres (1987), publicada em Coimbra. Nela,

    reafirma-se a abordagem tradicional da autoria masculina da cantiga de amigo.

    De que os trovadores galaico-portugueses não se puderam libertar foi, obviamente,

    dos maneirismos provençais. Por isso a cantiga de amor como forma culta, é de

    importação, indo opor-se às composições poéticas de raiz autóctone, as cantigas de

    amigo. Nestas, a donzela exprime os seus sentimentos pelo namorado, mas tal forma

    de lirismo é um travesti, no sentido em que o trovador coloca na boca da rapariga as

    palavras que exprimem os seus próprios sentimentos amorosos, operando-se uma

    inversão curiosa, seguindo linhas tradicionais muito antigas, vindas do fundo dos

    tempos, já que, desde sempre, os cantares de raiz popular sempre foram entoados por

    gargantas femininas, nas fainas da casa e do campo (TORRES, 1987, p. 10-11).

  • Apesar de reconhecer que as cantigas tradicionais são cantos de mulheres, Torres

    (1987) afirma que as cantigas de amigo foram compostas por homens que colocavam na boca

    das mulheres os seus sentimentos amorosos. Do discurso do estudioso português, deriva uma

    possível ambiguidade: as cantigas de amigo são uma versão em voz feminina das cantigas de

    amor (TAVANI, 1986) ou as cantigas de amigo constituem-se em uma composição masculina

    em que a mulher pronuncia o desejo sexual que o autor almejava que ela tivesse por ele. Ambas

    perspectivas são problemáticas e colocam o gênero feminino como subalterno ao homem, ou

    seja, sempre o desejo feminino está subordinado ao controle de uma sociedade patriarcal, sendo

    permitido ao homem fantasiar a sua sexualidade, enquanto à mulher lhe é interdito.

    Pelo que abordei até aqui, é imperativo cogitar uma outra concepção sobre essas

    cantigas de amigo. Isso não se constitui uma novidade, o que demonstram os estudos de Ria

    Lemaire que enfoco na próxima seção.

    3 POR UMA OUTRA CONCEPÇÃO DAS CANTIGAS DE AMIGO: SEGUINDO AS

    TRILHAS DE RIA LEMAIRE

    Em 1987, Ria Lemaire publicou a sua tese de doutorado Passions et positions:

    contribuition à une sémiotique du sujet dans la poésie lyrique médiévale em langues romanes

    que trazia uma nova visão acerca das cantigas de amigo. Nesse trabalho, a pesquisadora

    holandesa defendia não só a hipótese da autoria feminina dessas cantigas como também o

    caráter oral e performático das cantigas, constituindo-se as cantigas de amigo paralelísticas em

    cantos de trabalho femininos originados na sociedade rural galega. Aliás, dessa sociedade rural

    galega, erigiu o idioma literário de toda a Península Ibérica do período trovadoresco, sendo

    utilizado desde jograis populares a soberanos de Castela, Afonso X, e de Portugal, Dom Dinis.

    Em uma publicação mais recente, Lemaire parte da obra de Carolina Michaëlis de

    Vasconcelos, a “maior filóloga portuguesa da época da transição do século XIX para o século

    XX” (2017, p. 215), para reafirmar a sua tese de trinta anos antes. Entre os inúmeros préstimos

    de Michaëlis2, está a edição crítica do Cancioneiro da ajuda, composto apenas de cantigas de

    2 Não faço a referência pelo sobrenome Vasconcelos por dois motivos: a filóloga ter ficado conhecida pelo seu

    sobrenome alemão de família e para evitar a confusão com o seu esposo, o intelectual português João Antônio da

    Fonseca de Vasconcelos. Cabe nesta nota ressalvar que o conhecido Dicionário Michaëlis se deve ao esforço de

    sua irmã mais velha Henriette Michaëlis.

  • amor, onde anuncia o intuito de publicar um Cancioneiro das Donas, que nunca se conheceu.

    Entretanto, Lemaire possui uma perspectiva verossímil sobre o que seria a obra da filóloga.

    Já podemos imaginar o que seria a tese do Livro das Donas que Dona Carolina nunca

    publicou: essas cantigas de amigo, presentes nos cancioneiros medievais, são

    originalmente cantigas de uma tradição oral de “autoria” feminina, no sentido em que

    elas foram versadas e musicadas pelas próprias mulheres do mundo rural como

    cantigas de dança ou de trabalho. Transcritas nos cancioneiros medievais da nobreza

    e corte, elas foram atribuídas aos trovadores da época. Essas atribuições tardias foram

    utilizadas, pelos literatos dos séculos XIX e XX, como provas de autoria individual e

    masculina, no sentido moderno da palavra. Esse erro epistemológico – scriptocêntrico

    – inicial obrigava os eruditos a inventar um novo quadro interpretativo para essas

    cantigas: tratar-se-iam de poesias escritas pelos trovadores, poetas masculinos nobres,

    que, com uma sensibilidade e intuição geniais da alma feminina rural, as teriam posto

    na boca das mulheres. A graça e o encanto, que tanto admirava Dona Carolina nas

    vozes das mulheres cantadoras, transformaram-se, no papel da historiografia

    acadêmica do século XX, em tristeza e infelicidade de mulheres tristes, choronas,

    sempre à espera, passivamente, de namorados ausentes. Difícil imaginar tese mais

    ridícula, mas a triste verdade é que, não só na época de Dona Carolina, mas também

    hoje em dia, o ensino nas faculdades de Letras e, por conseguinte, nas escolas

    secundárias, divulga esse preconceito cegamente positivista, scripto e androcêntrico

    (LEMAIRE, 2017, p. 216).

    Da longa citação de Lemaire (2017), assinalo algumas contribuições importantes. Em

    primeiro lugar, salienta-se a questionável atribuição de autoria das cantigas não só as de amigo

    como também as de outros gêneros em cancioneiros posteriores ao fenômeno trovadoresco

    ibérico3. Em segundo lugar, emerge a urgência de pensar a literatura medieval como oral e não,

    propriamente, escrita – o que está bem versado na obra de Zumthor (1993, 2010). Em terceiro

    lugar, a construção da imagem de uma mulher submissa, “chorona”, que, destituída de poder

    de ação, lamenta a ausência do amigo (namorado), o que ainda perpassa o ensino de Literatura,

    como procurei elucidar anteriormente, e que pretendo lançar perspectivas de desconstrução no

    item seguinte deste trabalho.

    Aliás, considero necessário assinalar que toda a reflexão crítico-teórica da intelectual

    holandesa se encontra no escopo das renovações da crítica feminista. Sobre essa corrente de

    pensamento nos estudos literários, ainda em 1980, Jonathan Culler (1997, p. 36) assinala com

    propriedade que ela “teve o maior efeito sobre o cânone literário do que qualquer outro

    movimento crítico, e que comprovadamente foi uma das mais poderosas forças de renovação

    da crítica contemporânea”. A propósito, o trabalho de Lemaire (1987, 2017) centra-se sobretudo

    3 Na fortuna crítica sobre os cancioneiros, há inúmeros debates acerca da autoria de incontáveis cantigas de

    diferentes gêneros.

  • na reestruturação do cânone da literatura medieval galego-portuguesa sobre a ênfase nas

    questões de gênero (mulher) e de oralidade.

    4 A SIMBOLOGIA SEXUAL NAS CANTIGAS DE AMIGO: CONTRIBUIÇÕES SOBRE A

    IMAGEM DA MULHER MEDIEVAL

    Para operar um caminho de desconstrução de uma mulher submissa que chora e

    lamenta a ausência do amigo/namorado, parto da cantiga utilizada no livro didático Português

    contemporâneo (CEREJA, VIANNA, CONHETO, 2016). Transcrevo o texto na íntegra em

    galego-português.

    1. [Levou-s'aa alva], levou-s'a velida, 2. vai lavar cabelos na fontana fria; 3. leda dos amores, dos amores leda. 4. [Levou-s'aa alva], levou-s'a louçana, 5. vai lavar cabelos na fria fontana; 6. leda dos amores, dos amores leda. 7. Vai lavar cabelos na fontana fria, 8. passou seu amigo, que lhi bem queria; 9. leda dos amores, dos amores leda.

    10. Vai lavar cabelos na fria fontana, 11. passa seu amigo, que [a] muit'a[ma]va; 12. leda dos amores, dos amores leda. 13. Passa seu amigo, que lhi bem queria, 14. o cervo do monte a áugua volvia; 15. leda dos amores, dos amores leda. 16. Passa seu amigo que a muit'amava, 17. o cervo do monte volvia [a] áugua; 18. leda dos amores, dos amores leda (LOPES, FERREIRA, 2011a-).

    Essa cantiga apresenta uma mulher ativa que vai até a “fontana fria”, “lugar propicio

    para o encontro amoroso” (FREIXEDO, 2003, p. 792), para lavar os cabelos, ação recoberta de

    conotações eróticas. Entretanto, “hai outro elemento simbólico de marcadas connotacións

    sexuais: o cervo do monte, símbolo da sexualidade masculina, que avolve a auga, é unha clara

    alusión simbólica para referir as relacións sexuais” (FREIXEDO, 2003, p. 792). Dessa forma,

    a mulher chorona e passiva que lamenta a ausência do amigo/namorado não é a que está

    representada nessa cantiga. Também, não é a passividade feminina que permeia as cantigas de

    amigo, uma vez que nelas “si se explora de maneira notábel a sensualidade erótica feminina.

  • Con frecuencia as mulleres protagonistas das cantigas de amigo son conscientes de seu poder

    erótico e toman a iniciativa sexual” (FREIXEDO, 2017, p. 31).

    Apesar de Freixedo (2017) seguir, por um lado, o caminho tradicional através da

    atribuição da autoria masculina às cantigas de amigo, por outro, reconhece o papel ativo da

    mulher, como é perceptível no excerto abaixo.

    Nunha cantiga do clérigo Roi Fernandiz de Santiago (B 972, V 515 [142, 7], unha

    rapariga pídelle permiso a súa nai para poder ir encontrarse co seu amigo, coitado,

    que xa está esperando só, ‘no monte’. Para nós resulta difícil percíbir se a moza se fai

    de inocente – tanto como para pedirlle á propia nai un encontro a soas co namorado,

    nada menos que no monte –, ou se temos que ver nesa petición unha mostra de que as

    relacións dese tipo serían plenamente aceptadas na época, tal como eran na nosa

    sociedade rural galega até non hai moitos anos (FREIXEDO, 2017, p. 31).

    É difícil conceber que um clérigo assuma a voz feminina para cantar o desejo da moça

    de se encontrar com o namorado sozinha no monte, inclusive, pedindo permissão a sua mãe

    (nai em galego contemporâneo), o que reforça a hipótese da autoria feminina e posterior

    atribuição a poetas homens (LEMAIRE, 1987, 2017). Mesmo que Roi Fernandiz de Santiago

    tenha composto os versos ou não, essa cantiga permite aventar uma outra concepção sobre a

    mulher medieval, ao menos nas comunidades galegas, em que subjaz uma liberdade sexual

    aquém da moralidade cristã, geralmente usada como parâmetro universal para se definir a Idade

    Média, que é mais ampla do que se pensa e se tenta aprisionar em topoi.

    Acerca dessa não homogeneidade da moral cristã na Península Ibérica, Freixedo

    assinala:

    Hai que ter presente, por outra parte, que na Península Ibérica existían tres culturas

    con tres relixións diferentes que, ainda que coincidan em darlle á muller un papel

    secundario e dependente em relación ao home, teñen un concepto moi diferente do

    pracer sexual. No mundo musulmán e tamén no xudeu o pracer sexual é visto como

    algo positivo. Do Oriente proceden libros que exolican as múltiples formas de gozar

    coas relacións sexuais e que, en última instancia, se remotan ao Kama Sutra. Mentres,

    no Occidente católico ortodoxo un autor como santo Alberte o Magno, entre outros,

    escribe sobre posturas sexuais, mais para condenalas todas menos unha e sempre,

    claro, que se trate do sexo marital con fins reprodutivos. Mais tamén hai que

    considerar que nos territorios teoricamente cristianizados ainda pervivían entre a

    poboación restos de antigos ritos pagáns nos que a compoñente sexual era

    fundamental (FREIXEDO, 2017, p. 23).

    Correndo por fora das impregnações morais das três religiões abraâmicas, o paganismo

    de vários matizes subsiste na Galiza, vindo a ser perseguido pela Inquisição na Península Ibérica

  • somente no século XV. Nesse sentido, há de se pensar o extremo esforço de cristianização da

    Galiza, representado de forma exemplar pelo mito dos restos mortais de São Tiago Apóstolo

    em Compostela e a construção de sua catedral. Embora tal esforço,

    En ocasións a moza proponlle ao amigo verse a soas nun lugar apartado, que adoita a

    contorna dun santuario. Cómpre lembrar que moitos santuarios foron construídos para

    tentar cristianizar antigos lugares de culto pagán onde se celebran ritos de fecundidade

    e fertilidade nos que a sexualidade era elemento fundamental. É nunha ermida illada

    onde a moza namorada da cantiga de Meendinho (B 852, V 438, [98, 1]) está a piques

    de afogar nas ondas do mar maior da paixón amorosa insatisfeita, pois o amigo

    desexado non chega (FREIXEDO, 2017, p. 31).

    Diante de tal paganismo, da utilização dos templos para práticas sexuais próprias do

    mundo medieval galego, Afonso X encomenda a reunião das cantigas em louvor a Santa Maria

    em um ou mais cancioneiros, provavelmente os conservados na Biblioteca de El Escorial

    (códices J. b. 1 e J. b. 2). Isso revela-se como um esforço de cristianizar a língua literária de

    toda Ibéria medieval – o galego ou galego-português, permeada por motivos sexuais nas

    cantigas de amigo que depunham contra a moral sexual cristã, como é o caso da cantiga que

    apresento abaixo.

    1. Bailemos nós já todas três, ai amigas, 2. sô aquestas avelaneiras frolidas, 3. e quem for velida, como nós, velidas, 4. se amigo amar, 5. sô aquestas avelaneiras frolidas 6. verrá bailar.

    7. Bailemos nós já todas três, ai irmanas, 8. sô aqueste ramo destas avelanas, 9. e quem for louçana, como nós, louçanas, 10. se amigo amar, 11. sô aqueste ramo destas avelanas 12. verrá bailar.

    13. Por Deus, ai amigas, mentr'al nom fazemos 14. sô aqueste ramo frolido bailemos, 15. e quem bem parecer, como nós parecemos, 16. se amigo amar, 17. sô aqueste ramo, sol que nós bailemos, 18. verrá bailar (LOPES, FERREIRA, 2011b-).

    Nessa cantiga, não só temos uma mulher ativa como também uma que incita outras a

    atividade (“Bailemos nós já todas três”). Essa atividade se perfaz no encontro com outros

    homens (talvez, amigos/namorados) para a realização do desejo sexual, uma vez que o “ramo

  • destas avelanas” é uma referência clara ao órgão sexual masculino. Em outros termos, a moça

    convida as irmãs para irem até o verede de avelãs para encontrarem amigos e com eles terem a

    coita, estendendo essa possibilidade de realização do ato erótico a todas as jovens belas: “e

    quem for velida, como nós, velidas,/ se amigo amar,/ sô aquestas avelaneiras frolidas/ verrá

    bailar”. De certa forma, situada no ambiente rural, essa cantiga retoma certos aspectos daquela

    atribuída a Roi Fernandiz de Santiago a que se refere Freixedo (2017), imprimindo uma

    liberdade sexual feminina nos espaços rurais da Galiza da Idade Média.

    Em suma, como tentei fazer notar, as cantigas de amigo são permeadas por uma alta

    carga simbólica erótica. Esses dados permitem não só repensar as relações de gênero na Ibéria

    medieval como também rever o escopo da moralidade cristã na medievalidade rural nesse

    território, em que aspectos pagãos, advindos de diversos povos, tal como os celtas, ainda se

    faziam presentes no tempo das cantigas de amigo.

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Ao finalizar este artigo, é possível traçar algumas propostas para repensar a

    historiografia da literatura no que tange às cantigas trovadorescas galego-portuguesas e a

    historiografia acerca das relações de gênero e sobre a moralidade religiosa e sexual na Idade

    Média. Proponho, então:

    • reconsiderar a questão da autoria nas cantigas de amigo, reconhecendo o papel artístico

    das mulheres no período medieval;

    • proporcionar uma abordagem das cantigas de amigo em todas as suas potencialidades

    simbólicas em uma perspectiva nem moralista nem moralizante que não feche os olhos

    para a natureza erótica dessa produção;

    • fugir das generalizações acerca de uma cristianização homogênea e de um domínio

    absoluto da moral cristã no período medieval;

    • reconhecer o papel ativo da mulher durante a Idade Média; e

    • possibilitar que o estudante tenha contato com os aspectos contraditórios do período

    medieval, repensando o rótulo redutor Idade das trevas.

    Essas proposições voltam-se, sobretudo, ao ensino de Literatura e à pesquisa nesse

    campo do saber. Entretanto, traz contribuições mais vastas que podem não só atingir o ensino

  • de História como ciência específica como colaborar para se pensar em uma antropologia

    cultural da Idade Média, principalmente, no que se refere às relações de gênero.

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