por que a saúde pública no brasil é tão ruim

Upload: wagner-damasceno

Post on 19-Jul-2015

271 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Por que a sade pblica no Brasil to ruim? A oferta de servios de sade pblica do Brasil tem se revelado de baixssima qualidade e em quantidade inadequada para atender a populao, notadamente, a populao pobre. Quantas vezes temos visto pela grande mdia relatos e imagens que nos deixam indignados e revoltados com falta de estrutura fsica e humana para atender as pessoas? Certamente, muitas vezes. Quem tem um plano de sade privado passa pelo mesmo problema? O Brasil gasta de forma adequada com a sade dos brasileiros? Os gastos com sade no Brasil so gigantescos, entretanto, a carncia de recursos mdicos ainda persiste, notadamente nas regies mais distante dos grandes centros e nas periferias das grandes cidades brasileiras. O Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas (IPEA) realizou um estudo no qual comparou os gastos com sade de diversos pases. No Brasil so gastos 7,6% do PIB por anos com sade, destes, 45,6% do setor pblico e o restante corresponde aos gastos do setor privado. Alis, no Brasil, o setor privado cobre, por meio de planos de sade, atendimentos avulsos, hospitais e outras formas, cerca de 48 milhes de pessoas, gerando uma receita anual de aproximadamente US$ 27,2 bilhes. Em comparao com outros pases, o Brasil est em uma posio intermediria. Os Estados Unidos gastam 15,2% do PIB, sendo 44,6% do setor pblico; na Alemanha so essas propores so 11,1% e 78,2%; no Canad so 9,9% e 69,9%; Mxico so 6,2% e 46,4%; Argentina so 8,9% e 48,6%; no Chile so 6,1% e 48,8%. A mdia do conjunto dos pases da Amrica Latina so de 6,7% do PIB com gastos com sade sendo que 54,4% deste gastos corresponde ao gasto pblico, na mdia dos pases considerados ricos tem-se 10,8% do PIB com gastos de sade com a participao do setor pblico sendo de 68,2%. Observa-se dos nmeros acima que nos pases mais ricos apesar de a renda mdia ser muito superior renda do Brasil gastam em termos percentuais com sade muito mais que o Brasil gasta. Alm disso mais da metade dos servios mdicos pago pelo setor privado, embora muitos desses gastos privados acabam se tornando do setor pblico em razo das isenes descontos no imposto de renda. O Brasil gasta mais do que a mdia dos pases da Amrica Latina, entretanto, a participao do setor pblico menor. Na comparao com os pases ricos, ento no Brasil temos consideravelmente menos gastos com sade (em termos do PIB e de valor absoluto) e muito menos participao do setor pblico nos gastos totais com sade. Isso tem levado ao programa pblico de sade, o Programa nico de Sade (SUS), a atender quase que exclusivamente as pessoas mais pobres, visto que at mesmo a grande maioria das pessoas que trabalham em fbricas e em empresas em geral esto cobertas por algum plano de sade privado. Ficam para serem atendidas pelo programa do governo as pessoas que no possuem nenhum plano privado, correspondendo geralmente as pessoas desempregadas, as subempregadas, os aposentados e as pessoas empregadas de pequenas empresas. Esse universo de pessoas apesar de constituir em uma grande quantidade tem muito pouca visibilidade e respeitabilidade entre os formadores de opinio e as autoridades responsveis pela oferta de sade pblica para que suas vozes de reclamos sejam ouvidas por esses. Esse o principal motivo pelo qual a sade pblica to catica em nosso pas, ou seja, as nossas autoridades brasileiras e a sociedade no do a ateno devida para as pessoas que precisam dos atendimentos mdicos do setor pblico. Quando as prprias pessoas que utilizam a sade pblica se organizarem de forma eficaz e sistemtica, criando um movimento firme e forte, ento os gastos com a sade iro aumentar significativamente e a qualidade e a quantidade dos servios de sade pblica no Brasil aumentaria bastante e as pessoas seriam atendidas com muito mais dignidade e respeito nos hospitais e postos de sade pblicos em todo o nosso pas.

Brasil gasta com sade pblica metade do que investem pases como Alemanha e Canad

Pas injeta 3,6% do PIB no setor, enquanto europeus e canadenses usam ao menos 6%

A criao do SUS (Sistema nico de Sade), em 1988, e o crescimento econmico no foram suficientes para ampliar os recursos da sade no Brasil ao longo dos anos, segundo os especialistas consultados pelo R7. Os atuais gastos com a sade pblica no pas ficam muito abaixo do que investido por naes que tambm oferecem sade gratuita, como Reino Unido, Alemanha, Canad e Espanha. Governo precisa investir mais 60% para melhorar a sade Verba para sade no Brasil pode sair de novo imposto Leia mais notcias no R7 Segundo o Ministrio da Sade, o Brasil gastou 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto, ou a soma de todas as riquezas do pas) com a sade pblica, em dados de 2008 ltimo balano oficial contando Estados e municpios. O valor equivale a quase R$ 109 bilhes. De acordo com dados da OCDE (Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico), 56% do que investido em sade no Brasil vem de recursos pblicos. J os pases citados investem ao menos 6% de seu PIB no setor pblico de sade. Com isso, 60% a 70% do que gasto com sade responsabilidade dos governos, segundo relatrio da Opas (Organizao Pan Americana de Sade).Perfil de gastos mudou pouco em anos Segundo Aquilas Mendes, professor da Faculdade de Sade Pblica da USP (Universidade de So Paulo), isso mostra que o Brasil, mesmo tendo mudado seu perfil econmico, ainda est longe de ter o status de desenvolvimento no setor da sade.

- O Brasil gasta muito pouco com sade pblica. Em 2010, gastou 4% do PIB, uns R$ 127 bilhes. Ns teramos que chegar a gastar mais 2% [do PIB] para nos igualarmos a esses pases. Pelo menos tnhamos que investir mais R$ 83 bilhes. Somando o setor privado (planos de sade e gastos particulares), o total dos gastos com sade no Brasil chega a 8,4% do PIB. No entanto, isso representa metade do ndice investido pelos Estados Unidos (16%) e ainda abaixo da mdia dos pases da OCDE (Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico) que aplicam 9% de suas riquezas na rea (veja mais no infogrfico abaixo). Para Marcos Bosi Ferraz, professor do departamento de medicina da Unifesp (Universidade Federal de So Paulo) e presidente da CPES (Centro Paulista de Economia da Sade), o gasto brasileiro mostra uma defasagem de dcadas, por no ter sido muito alterado ao longo dos anos. - Quando a gente compara o que esses pases investem com o que a gente investe aqui, ns temos uma defasagem de 30 anos, relativamente. E quando a gente compara por nmeros absolutos, em PIB per capita, a nem se compara. Talvez ns estejamos com uma defasagem de 50 anos, e queremos ter tudo o que eles tm na rea da sade. A desigualdade fica ainda mais gritante quando indicadores de sade so comparados entre esses pases, segundo Ferraz. - Quando a gente olha indicadores de sade, como mortalidade infantil, expectativa de vida ao nascer e mortalidade materna, por exemplo, os nossos indicadores de sade so parecidos aos indicadores que esses pases tinham na dcada de 60. O que mostra um pouco o nosso desafio, a carga de problemas aqui ainda muito grande.Por que faltam investimentos? Para Lgia Bahia, diretora da Abrasco (Associao Brasileira de Sade Coletiva) e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os poucos recursos so resultados da falta de clareza no que deve ser investido no setor.

- importantssimo ter recursos para a sade. A maioria dos pases j considera isso h muito tempo. Por isso que, na maioria, mais de 70% do gasto pblico, no privado. Na

Inglaterra e na Frana mais de 80%. No Brasil isso no est claro para os governantes. Como se a gente pudesse ser um pas de primeiro mundo sem sade. Para a diretora da Abrasco, no a falta de dinheiro em si que causa essa desvantagem, mas a dificuldade de elencar prioridades nos gastos. - No estamos falando de dinheiro, mas de sade. Quais so os indicadores de sade que a gente quer alcanar? A gente a oitava economia do mundo e a 78 em mortalidade infantil. Mendes faz coro falta de prioridade em investimentos e atribui essa realidade falta de prioridade poltica. Segundo ele, enquanto os gastos do governo com os juros da dvida pblica custaram R$ 185 bilhes, os do Ministrio da Sade foram de R$ 65 bilhes no ltimo ano. - Isso tem a ver com a lgica de poltica econmica adotada desde a implantao do SUS em 1988. Desde l a poltica econmica no foi alterada e ela no prioriza gasto social. uma poltica de alta taxa de juros, de supervit, que leva ao corte de polticas sociais. A prioridade sobretudo buscar a reduo da inflao e do pagamento de juros da dvida.

Histria da sade pblica no Brasilpor Lus Indriunas

No incio, no havia nada. A sade no Brasil praticamente inexistiu nos tempos de colnia. O modelo exploratrio nem pensava nessas coisas. Opaj, com suas ervas e cantos, e os boticrios, que viajavam pelo Brasil Colnia, eram as nicas formas de assistncia sade. Para se ter uma idia, em 1789, havia no Rio de Janeiro, apenas quatro mdicos. Com a chegada da famlia real portuguesa em 1808, as necessidades da corte foraram a criao as duas primeiras escolas de medicina do pas: oColgio Mdico-Cirrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram essas as nicas medidas governamentais at a Repblica.

Enciclopdia Delta Universal

Charge sobre a revolta da vacina

Foi no primeiro governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que houve a primeira medida sanitarista no pas. O Rio de Janeiro no tinha nenhum saneamento bsico e, assim, vrias doenas graves como varola, malria, febre amarela e at a peste espalhavam-se

facilmente. O presidente ento nomeou o mdico Oswaldo Cruz para dar um jeito no problema. Numa ao policialesca, o sanitarista convocou 1.500 pessoas para aes que invadiam as casas, queimavam roupas e colches. Sem nenhum tipo de ao educativa, a populao foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituio de uma vacinao anti-varola. A populao saiu s ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz acabou afastado.

Enciclopdia Delta Universal

Oswaldo Cruz

Ningum aceitou a imposioA forma como foi feita a campanha da vacina, revoltou do mais simples ou mais intelectualizado. Veja o que Rui Barbosa disse sobre a imposio vacina: No tem nome, na categoria dos crimes do poder, a temeridade, a violncia, a tirania a que ele se aventura, expondo-se, voluntariamente, obstinadamente, a me envenenar, com a introduo no meu sangue, de um vrus sobre cuja influncia existem os mais bem fundados receios de que seja condutor da molstia ou da morte.

Apesar o fim conflituoso, o sanitarista conseguiu resolver parte dos problemas e colher muitas informaes que ajudaram seu sucessor, Carlos Chagas, a estruturar uma campanha rotineira de ao e educao sanitria.

Enciclopdia Delta Universal

Carlos Chagas

Pouco foi feito em relao sade depois desse perodo, apenas com a chegada dos imigrantes europeus, que formaram a primeira massa de operrios do Brasil, comeou-se a discutir, obviamente com fortes formas de presso como greves e manifestaes, um modelo de assistncia mdica para a populao pobre. Assim, em 1923, surge a lei Eli Chaves, criando asCaixas de Aposentadoria e Penso. Essas instituies eram mantidas pelas empresas que passaram a oferecer esses servios aos seus funcionrios. A Unio no participava das caixas. A primeira delas foi a dos ferrovirios. Elas tinham entre suas atribuies, alm da assistncia mdica ao funcionrio e a famlia, concesso de preos especiais para os medicamentos, aposentadorias e penses para os herdeiros. Detalhe, essas caixas s valiam para os funcionrios urbanos. Esse modelo comea a mudar a partir da Revoluo de 1930, quando Getlio Vargas toma o poder. criado o Ministrio da Educao e Sade e as caixas so substitudas pelos Institutos de Aposentadoria e Penses (IAPs), que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, passam a ser dirigidos por entidades sindicais e no mais por empresas como as antigas caixas. Suas atribuies so muito semelhantes s das caixas, prevendo assistncia mdico. O primeiro IAP foi o dos martmos. A Unio continuou se eximindo do financiamento do modelo, que era gerido pela contribuio sindical, instituda no perodo getulista. Quanto ao ministrio, ele tomou medidas sanitaristas como a criao de rgos de combate a endemias e normativos para aes sanitaristas. Vinculando sade e educao, o ministrio acabou priorizando o ltimo item e a sade continuou com investimentos irrisrios. Dos anos 40 a 1964, incio da ditadura militar no Brasil, uma das discusses sobre sade pblica brasileira se baseou na unificao dos IAPs como forma de tornar o sistema mais abrangente. de 1960, a Lei Orgnica da Previdncia Social, que unificava os IAPs em um regime nico para todos os trabalhadores regidos pela Consolidao das Leis Trabalhistas (CLT), o que exclua trabalhadores rurais, empregados domsticos e funcionrios pblicos. a primeira vez que, alm da contribuio dos trabalhadores e das empresas, se definia efetivamente uma contribuio do Errio Pblico. Mas tais medidas foram ficando no papel. A efetivao dessas propostas s aconteceu em 1967 pelas mos dos militares com a unificao de IAPs e a conseqente criao do Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS). Surgiu ento uma demanda muito maior que a oferta. A soluo encontrado pelo governo foi pagar a rede privada pelos servios prestados populao. Mais complexo, a estrutura foi se modificando e acabou por criar o Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social (Inamps) em 1978, que ajudou nesse trabalho de intermediao dos repasses para iniciativa privada. Um poucos antes, em 1974, os militares j haviam criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), que ajudou a remodelar e ampliar a rede privada de hospitais, por meio de emprstimos com juros subsidiados. Toda essa poltica acabou proporcionando um verdadeiro boom na rede privada. De 1969 a 1984, o nmero de leitos privados cresceu cerca de 500%. De 74.543 em 1969 para 348.255 em 1984. Como pode se ver o modelo criado pelo regime militar era pautado pelo pensamento da medicina curativa. Poucas medidas de preveno e sanitaristas foram tomadas. A mais importante foi a criao da Superintendncia de Campanhas da Sade Pblica (Sucam). Durante a transio democrtica, finalmente a sade pblica passa a ter um fiscalizao da sociedade. Em 1981, ainda sob a gide dos militares, criado o Conselho Consultivo de Administrao da Sade Previdenciria (Conasp). Com o fim do regime militar, surgem outros rgos que incluem a participao da sociedade civil como o Conselho Nacional dos Secretrios Estaduais de Sade (Conass) e o Conselho Nacional dos Secretrios Municipais de Sade (Conasems). Se de um lado, a sociedade civil comeou a ser mais ouvida, do outro, o sistema privado de sade, que havia se beneficiado da poltica anterior, teve que arranjar outras alternativas. nesse perodo que se cria e se fortalece o subsistema de ateno mdico-suplementar. Em outras palavras comea a era dos convnios mdicos. Surgem cinco modalidades diferentes

de assistncia mdica suplementar: medicina de grupo, cooperativas mdicas, auto-gesto, seguro-sade e plano de administrao. A classe mdia, principal alvo destes grupos, adere rapidamente, respondendo contra as falhas da sade pblica. O crescimento dos planos vertiginoso. Em 1989, j contabilizam mais de 31 mil brasileiros, ou 22% da populao, faturando US$ 2,4 bilhes. Ao lado dessas mudanas, os constituintes da transio democrtica comearam a criar um novo sistema de sade, que mudou os parmetros da sade pblica no Brasil, o SUS, que ser detalhado em outro artigo.

No campo, fora dos hospitaisO trabalhador rural ficou por sculo excludo de qualquer auxlio sistemtico sade. Somente em 1963, foi criado o Fundo de Assistncia ao Trabalhador Rural (Funrural), que comea a prever aposentadoria e assistncia mdica. Tal negligncia historicamente explicado. Na criao das caixas de assistncia, a elite cafeicultora e canavieira pressionou para que a novidade fosse limitada aos centros urbanos. Alm disso, a mobilizao social no interior sempre sofreu revezes com a falta de articulao. Com a criao do SUS, eles foram finalmente includo como cidados no sistema de sade. Mas como voc poder ver na pgina sobre os problemas regionais do sistema, os trabalhadores rurais ainda recebem tratamento margem dos centros urbanos.