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UNIVERSIDA DE CANDIDO MENDES PÓS-GRA DUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Priscila M usumeci Suarez Orientador Profa. Fabiane Muniz Rio de Janeiro Dezembro/2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Priscila Musumeci Suarez

Orientador

Profa. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

Dezembro/2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Infantil.

Por: . Priscila Musumeci Suarez.

3

AGRADECIMENTOS

Ao alcançar esta grande vitória, não poderia deixar de fazer alguns

agradecimentos especiais.

Aos meus pais, por terem me incentivado em mais uma pós.

A todas as crianças que convivo diariamente o meu maior incentivo nesta

caminhada.

4

DEDICATÓRIA

Dedico ao meu afilhado Christopher.

5

RESUMO

A imagem de uma criança postada diante de um aparelho de TV já

serviu a todos os propósitos e ilustrou argumentos tanto a favor contra a

audiência infantil.

A pergunta que sempre se coloca é: Para que servem as programações

televisivas assistidas pelo público infantil ?

Essa colocação nos parece, no mínimo inocente, mas coerente com os

valores da sociedade ocidental moderna marcada pelo “energismo” finalista

com todo o seu poder moral de constrangimento.

Se não se pode responder afirmativamente que a televisão é sempre útil

para a educação infantil, e perante a inexorabilidade de sua presença na vida

da criança, no cotidiano, ela se mostra útil aos pais. Numa modernidade

carregada de mandos e exigências fora do círculo familiar, pais e mães

trabalhadores podem ter na televisão um recurso para “distrair” os filhos em

casa enquanto eles estão fora, ou quando retornam cansados de suas lutas do

dia-a-dia profissional. Assim, a TV passa a ser justificada como um meio

eficaz. Mas não faltam a muitos os discursos panfletários sobre o

maquiavelismo de tal uso, e as idéias persecutórias sobre o “mal” inerente à

TV.

6

METODOLOGIA

Para problematizar as questões referente a Influencia da Mídia nas

Crianças, além da bibliografia citada sobre representações culturais em

produções dirigidas a infância, foram consultados outros materiais acerca da

relação Mídia-Infância e das pesquisas feitas nessa área. Um problema

freqüente neste tipo de estudo, segundo Tobin (2000), é que se incorra no

“paradigma dos efeitos da mídia”, pensando nas crianças como criaturas

indefesas e facilmente influenciáveis diante das mensagens que recebem

diariamente.

Buckingham (1991) adverte para o problema inverso: o de cairmos na

concepção romântica da criança sábia e liberada. Pois assim, “estaríamos

continuando a falar da ‘criança’ enquanto uma categoria universal, em vez de

falar sobre crianças específicas vivendo em contextos sociais e históricos

específicos” (p.228). A relação das crianças com a mídia, portanto deve ser

compreendida dentro do contexto sócio-cultural em que elas vivem. Procurei

estudos que tiveram a preocupação de conhecer esse contexto cultural das

crianças.

Depois do exame da bibliografia em diversos livros, passei à seleção

dos sites com matérias informativos sobre o assunto abordado.

7

SUMÁRIO

Introdução 08

I As Relações da Criança com a TV 11

1.1 O Imaginário Infantil 15

1.2 O Lúdico e Mágico Ser 16

II A Mídia 17

2.1 A Influência da Mídia no Imaginário Infantil 18

2.11 A Manipulação dos Desejos 21

2.1.2 A Determinação do Viver 22

III Televisão: Babá Eletrônica ? 25

3.1 Uma Televisão Só para Bebês 26

3.2 Desenhos animados podem ser prejudiciais aos seus filhos 27

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31

ÍNDICE 33

FOLHA DE AVALIAÇÃO 34

8

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é refletir sobre o tema “Televisão e Criança”

que tem sido objeto de grandes controvérsias e carência de solução, exige

reflexão e pesquisa.

A televisão presta inúmeros serviços, ela permite que os pais “respirem”

enquanto os filhos se acalmam, por milagre na frente da telinha. No entanto,

existe um outro lado, quando as crianças têm que fazer os deveres preferem

os desenhos animados, quando são chamados para almoçar querem assistir

até o fim do programa e quando os pais decidem sair para dar uma volta os

filhos esperam até ver a palavra “FIM”. Segundo os autores Ifergan e Etiene

toda hora é uma quebra de braço, sem contar as inúmeras queixas dos pais

em relação à agressividade, excesso de palavrões e “lutinhas” espelhadas nos

desenhos animados.

O que as crianças pensam sobre isso? Eles acabam se perguntando o

que fizeram para merecer tanta perseguição dos pais: tem que ir para a mesa

justamente na hora em os inimigos atacam, deixar a telinha no melhor daquele

programa para fazer os deveres, sair para dar uma volta na casa dos avós, por

exemplo, justamente no dia daquele capítulo especial.

Se projetar num determinado personagem é para a criança ter as

mesmas forças ou características deste, encantadas pelos personagens,

muitas crianças acabam reproduzindo alguns gestos e falas nos amigos,

irmãos, animal de estimação, muitas vezes até sem saber o que significam.

O que os especialistas pensam sobre isso? Para os autores em epígrafe

não se têm dúvidas de que a televisão faz parte da vida dos filhos e presta

serviços reais aos pais. A cena da “babá televisiva” é clássica, depois de um

dia de trabalho começa a segunda maratona: corrida para a escola para pegar

os filhos, deveres, banho, janta e uma série de outros compromissos. A

9televisão permite que os pais “respirem” durante o tempo de realizarem outras

atividades que estão a sua espera.

A televisão não é tão ruim como se imagina, alguns estudos colocam

até que muitos pequenos telespectadores enriquecem o seu vocabulário

consideravelmente, que a visão de mundo se desenvolve em todos os

aspectos. Além do que a TV lhes oferece sonho, aventura, proeza, coragem e

encantamento. Conforme o autor Gilles Brougére, a mídia desempenha nas

sociedades ocidentais um papel considerável, tanto entre os adultos quanto

entre crianças. Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a televisão

fornece as crianças conteúdo para suas brincadeiras. Aliás, as crianças

projetam nessa caixa mágica toda uma parte de suas fantasias e do seu

imaginário e é aqui que devemos ficar atentos em relação à televisão: o que as

crianças assistem na TV? Quais são os horários? Há trocas do tipo: deixar de

brincar com amigos, ler, ouvir música, desenhar, andar de bicicleta para

assistir televisão? Se isso está acontecendo cuidado!

É importante também ressaltar que a TV foi inventada em 1950 e que foi

ganhando espaço à medida que nós, telespectadores, lhe concedíamos poder.

Ou seja, se nós fomos responsáveis por seu atual status, somos

também capazes de controlar nossa relação com ela. Sabemos o quanto a

televisão é atraente, suas imagens em alta definição, sons, falas, efeitos

especiais e cenas ao vivo trazem com certeza o mundo para dentro de nossa

casa.

A questão que devemos colocar a respeito desse aparelho tão

fascinante é: qual o espaço que nós abrimos a esse universo eletrônico em

nossa vida? E o que permitimos que entre em nossa casa por meio dele?

O que os pais ou familiares poderão fazer? Se a família não cria o

hábito, antes dos três anos uma criança pede raramente pela TV. A televisão

também é um dos fatores que compõe a formação infantil e precisa ser tratada

com responsabilidade, os pais devem “sim” controlar o que está sendo

assistido do mesmo modo que conferem nota escolar, horário de banho,

alimentação, remédio... Não há medida ideal para exposição (tempo que a

criança fica assistindo TV), depende do que está sendo assistido, para qual

10fim, quais as informações e das outras atividades que acontecerão no restante

do dia. Conforme Mílada Gonçalves, Psicóloga do laboratório de pesquisa

sobre infância, imaginário e comunicação (USP), uma boa medida para os pais

ou familiares refletirem sobre o assunto é comparar durante uma semana, o

número de horas que a criança reserva para a TV e o número que dedica as

outras tarefas. Sugerir, perguntar, questionar sobre os programas é mais uma

forma de saber o que a criança está entendendo sobre determinados

desenhos e assuntos. A televisão é quase sempre acompanhada de uma

grade de programas, esse é um precioso instrumento de seleção. Proibir torna

o programa mais atraente, refletir com as crianças o processo de criação das

mensagens televisivas, mostrando sempre que elas podem ser construídas,

interpretadas e, inclusive, ficcionais, é sem dúvida um dos recursos mais

poderosos para diminuir sua possível má influência.

11

CAPÍTULO I

AS RELAÇÕES DA CRIANÇA COM A TV

“Demorou muito tempo até que

se desse conta de que as crianças não são homens

ou mulheres em dimensões reduzidas.

As crianças criam para si, brincando, o pequeno mundo próprio.”

Walter Benjamim

A inevitabilidade da televisão nas sociedades contemporâneas, sua

influência sobre as crianças e as desesperadas – e por vezes ingênuas! –

estratégias dos pais para protegê-las são com freqüência alvo das

preocupações de setores acadêmicos ou da imprensa.

Atribuindo à TV uma ascendência frequentemente totalitária sobre as

crianças, aqui e ali irão despontar análises de como as horas de exposição à

telinha tornam as crianças vulneráveis ao consumo, aos conteúdos violentos, a

uma formação emocional e sexual precoce e – mais grave – como, apontando

para criança, a TV está garantindo a perpetuação do sistema político e

econômico hegemônico.

Em grandes parte das famílias, são as crianças que ligam os aparelhos

de TV, definem a programação que será assistida e até sua localização no

espaço doméstico. Isso não significa, no entanto, que as pesquisas sobre

televisão e criança dêem conta desta relação tão rica. Analisa-se a TV sob a

perspectiva da vilania, mas as crianças, enquanto atores do processo

receptivo, e os jogos que fazem com a TV, ficam de fora.

Em geral, a lógica dos meios é reforçada pelo suposto caráter

eminentemente passivo da criança que, por ser criança, não teria ainda o

instrumental que lhe permitiria ser crítica, o que tornaria necessariamente

12favorável às mensagens televisivas, uma vez que “somente a partir de uma

postura crítica é possível absorvê-la com isenção e perceber suas sutilezas,

seus efeitos, suas possibilidades” (CASTRO. 1975 apud CRIPPA.1984:68).

Considerar a criança como criança, aqui não é torná-la em sua especificidade,

mas como uma miniatura do mundo adulto.

Existem autores para quem o simples fato de assistir televisão favorece,

na criança, uma “atividade mental passiva” (CRIPPA.1984:65). Deitada,

imóvel, a criança consome tudo que aparece e absorve como uma esponja os

conteúdos emitidos pela TV:

“Na realidade, podemos observar que as crianças vêem TV e nem discutem a

informação. Recebem passivamente as mensagens sem analisar

profundamente o que estão assistindo. Nem dizem se gostam ou não do que

estão vendo. Ninguém comenta o que assiste. Muitas vezes as crianças se

‘desligam’ do mundo real e entram para o mundo da TV... Estão absortas no

que a TV está ‘ordenando’... Esquecem o paladar como se a TV fosse um

anestésico” (ID.Ibid.: 66,g.n.)

Temos, em um primeiro momento, uma concepção de que a recepção

só se torna ativa se for analítica, no sentido de uma interpretação que

decomponha dados, relacione valores, e se considera que a criança tem

limitadas capacidades de análise e raciocínio e uma formação ainda imatura,

não se pode deixar de vê-la como um ser impotente diante de uma televisão

que abusa da criança naquilo que ela tem de frágil e vulnerável.

Por outro lado, devemos levar em consideração que algumas pesquisas

empíricas têm questionado a idéia de um receptor passivo demonstrando que

ao invés de uma atividade mental passiva, os receptores estão mental e

fisicamente ativos em sua interação com a TV. Já se mediu inclusive a

quantidade de esforço mental investido pelas crianças enquanto elas vêem

televisão, esforço que se dá em três níveis, atenção-percepção, assimilação-

compreensão e apropriação-significação, não necessariamente seqüenciais –

a atenção pode ser resultado da compreensão.

“O fato de que nenhum destes esforços cognitivos necessariamente

tenha que seguir uma seqüência linear, implica que sua articulação não é por

13lógica, senão por associação, e por definição as associações são produzidas,

supõe uma aprendizagem e portanto implicam uma atividade mental, ainda

que permaneçam automáticas” (OROZCO.1190:35).

Ainda em um segundo aspecto, tal concepção de que a TV favorece

uma recepção passiva também considera que o processo receptivo esgota-se

no momento mesmo em que se assiste televisão. É essa abordagem do

processo receptivo que fará com que alguns autores preocupem-se em

pesquisar como se dá esse contato imediato entre a criança e a TV e ofereçam

sugestões de como interferir nesse momento específico.

O problema continuará sendo o de estabelecer os meios de proteger o

receptor infantil. Tal estratégia, iria possibilitar que as crianças se ajudassem

mutuamente na decodificação das imagens e sons recebidos e, mais

importante, que elas discutissem a mensagem recebida. Por outro lado,

assistir televisão acompanhada por amigos evitaria que o tempo de exposição

à TV fosse um fator de isolamento social da criança, ao tempo que iria

minimizar os efeitos negativos da programação da televisão.

Os que as pesquisas de recepção mostram é que os companheiros

constituem, especialmente para a recepção infantil, um dos principais grupos

de referência, aqueles a partir dos quais se dá a interpretação e apropriação

dos significados das mensagens televisivas. As mensagens recebidas são

como que submetidas às diversas “comunidades de apropriação” às quais

pertence o receptor e é a partir delas que ganham sentido, gerando a produção

de significados. A questão é que essas comunidades de interpretação têm sua

influência no processo receptivo antes, durante e depois do momento em que

a emissão ocorre, quando o que se observa aqui é uma concepção de a

recepção esgota-se no momento mesmo em que se tem contato direto e físico

com as mensagens dos meios de comunicação. Já se admite, nas correntes

mais recentes dos estudos críticos da recepção, que ela começa bem antes e

acaba bem depois do momento mesmo em que se dá o contato direto com os

meios, ela o transcende e funde-se com as práticas cotidianas dos receptores,

lugar onde os significados e sentidos são negociados e se realiza sua

apropriação ou resistência.

14Para que um grupo de amigos ou a família contribuam na recepção

infantil não é necessário que eles estejam em contato nesse exato momento:

“Pertencer a uma comunidade de apropriação é compartilhar de uma mesma

maneira de produzir sentido, e o fato de o processo de recepção não se

restringir ao ato de ver TV faz com que o resultado final derive de apropriações

subseqüentes. Por exemplo, a apropriação que um adolescente faz dos

conteúdos massivos pode passar por diversos grupos a que pertença, como os

adolescentes da vizinhança, os colegas do colégio, a turma do clube,

resultando em confirmação de sua primeira apropriação ou em re-apropriações

sugeridas pelos diferentes grupos” (JACKS.1993:3:50, g.n.).

Portanto, não é apenas assistindo TV em grupo que as crianças irão se

ajudar na “decodificação” das imagens e sons.

Assistir às emissões televisivas acompanhadas por amigos seria

importante ainda, segundo Lucilene CURY, para uma melhor recepção infantil

em um aspecto que é recorrente em vários autores que tratam do assunto:

“É bastante comum o fato de que a criança costuma alternar os

momentos de atenção ao programa com momentos de devaneio, durante os

quais continua de olhos pregados no televisor como se experimentasse um

estudo de torpor, de adormecimento, que fatalmente será interrompido pela

presença de outra criança no momento em que essa fizer qualquer comentário,

ligado ou não ao programa” (CURY.1982:100).

Ao contrário do que alguns autores querem fazer crer, acreditamos que

esses momentos de alternância de concentração e dispersão, de devaneio da

criança diante da telinha, não denotam sua passividade, mas a forma como a

criança se afirma enquanto sujeito no processo comunicativo. Em uma

pesquisa de campo sobre a recepção televisiva infantil identificamos que a

criança tem uma recepção especialmente seletiva. Quando ela tem condições

seja por amadurecimento intelectual, seja por dispor de outras opções de lazer,

ela reage com a seleção da programação assistida. Quando não tem tais

condições, ela encontra outros refúgios: em algumas crianças a dispersão

aparece como uma forma muito especial de reagir à programação que não

corresponde às suas necessidades. Percebida através investigação do

15comportamento das crianças diante da TV, especificamente se elas

desenvolviam outras atividades, enquanto estavam com a TV ligada, a

dispersão apareceu como a reação possível para a maior parte das crianças

de classe social mais baixa. Isso nos evidenciou que a relação da criança com

a TV é muito mais complexa do que se imagina; a dispersão (considerada aqui

como uma atenção flutuante) é um elemento constitutivo do modo como as

crianças estabelecem uma interação com a TV.

1.1 O Imaginário Infantil

“Sempre, imaginar será mais do que viver”...

Gaston Bachelard

O imaginário faz parte de todo o ser humano, em todas as épocas e em

todos os lugares. Está presente em todas as nossas atividades. É por isso

que se diz que o homem é um ser simbólico.

Como um visitante recém chegado de universo desconhecido, a criança

é introduzida de maneira forte e sem cerimônias ao nosso mundo de imagens

multifacetadas, existências diversas e fantasias surreais. Aos poucos ela vai

abrindo os olhos para este novo estado de coisas que vão aparecendo na tela

da sua vida, compondo um cenário fantástico e incompreensível, moldando um

sem fim de fantasias que aos poucos vão se firmando em sua mente, e

moldando seu novo universo pelo qual ela irá participar como atora e autora

até a sua maior transformação como ser natural.

A reflexão sobre a produção cultural para infância induz, em primeiro

lugar, à compreensão do que seja uma criança: como ela pensa, como ela

sente, como ela percebe, como ela representa as coisas e os eventos do seu

cotidiano. Ter essa compreensão exige um suporte teórico que não se esgota

na psicologia, embora esta seja indispensável. É necessário conhecer o

desenvolvimento do ser humano em sua totalidade. Como evolui o

desenvolvimento do pensamento ? O que é desenvolvimento cognitivo ? O que

16são estruturas mentais ? Existe uma cronologia no desenvolvimento dos

esquemas mentais ? Como atuam os condicionantes socioculturais ?

1.2 O Lúdico E Mágico Ser

Paralelamente ao estudo do desenvolvimento humano, é necessário

observar como ocorre o desenvolvimento lúdico e qual o seu significado.

Como a criança utiliza o seu tempo livre e os espaços disponíveis. O lúdico é

uma expressão da cultura. Quais as preferências infantis em termos de jogos

e brincadeiras. A criança brinca sempre, mesmo quando realiza outras

atividades. A criança gosta de desenhar. Por que a criança é essencialmente

lúdica.

Responder a tais questões implica pesquisar e observar o

comportamento da criança em diferentes momentos de suas atividades, em

diferentes contextos sociais, no brinquedo individual e coletivo, no lar, na

escola e nas áreas de lazer. As atividades básicas necessárias ao ao

desenvolvimento infantil, como dormir, comer e beber, evidenciam uma

preponderância da atividade lúdica, pois por meio dela a criança recria uma

realidade particular que lhe é própria, no mundo do “como se”, o mundo não

real, o mundo da imaginação, onde predomina o artificialismo, o

antropomorfismo.

Com uma predisposição natural ao lúdico, a criança em sua inocência

absorve imagens e situações, processando-as com o objetivo de torná-las

alegre e divertidas, criando o brincar na sua mais primitiva e pura forma de

manifestar a alegria e satisfazer a necessidade de descarregar toda a energia

que o seu corpo começa a gerar.

A magia de sua existência ainda não conhece os limites necessários a

uma convivência partilhada, com seres tão diversos, cheios de regulamentos,

controles e limitações, tantas vezes muito importante na busca pacífica de um

mundo ideal.

17

CAPITULO II

A MIDIA

Os meios de comunicação hoje é uma coisa complexa profunda e sutil

que permeia a nossa vida desde a mais tenra idade, até a nossa mais senil e

frágil existência.

A sociedade globalizada em que vivemos praticamente bombardeia

nossas mentes a todo instante, com elementos que possam interferir em nosso

imaginário singular e pessoal, dimensionando-o para uma vida permeada de

símbolos e ações que formarão a nossa “personalidade” junto ao processo

civilizatório no qual estamos inseridos até o fim de nossas vidas.

Em 1950, a televisão chegou e, rapidamente se desenvolveu e se

estendeu a todos os lugares e regiões do país. Mudaram-se costumes, a

moda passou a orientar-se pelos astros da TV, o linguajar perdeu suas

características próprias, as crianças, pouco a pouco, foram deixando as

“rodinhas” e “peladas”, que lhes oferecia a oportunidade do contato com a

diversidade cultural, e foram se rendendo aos encantos da “telinha mágica”.

Tudo isso em função do “american way of life” que, sem pedir licença adentrou

as nossas casas pelo tubo eletrônico.

A partir da década de 60, em todos os países, a televisão comparece ao

tribunal para ser julgada. “Ela é o mais alienante dos meios de comunicação”,

dizem uns; “Ela é o melhor invento da sociedade contemporânea”, dizem

outros. Umberto Eco entra em cena com a obra “Apocalípticos e integrados”

tentando de certa forma equacionar a polêmica: “A televisão é um dos

fenômenos básicos de nossa civilização e é preciso portanto, não só encorajá-

la nas suas tendências mais válidas, como também estudá-la nas suas

manifestações” (1976:125).

Após tanto tempo decorrido, o debate entre “apocalípticos e integrados”

em torno da televisão continua acirrado. A televisão continua como peça

18principal da casa, ora como “babá eletrônica”, ora como pano de fundo para as

conversas entre amigos, ora como convidada assídua das refeições, ora como

convite ao silêncio familiar, mas sempre ligada: como se fora “o convidado

especial do dia” ou “o hóspede eterno”.

2.1 A Influência da Mídia no Imaginário Infantil

O imaginário infantil numa sociedade dependente da mídia, está sujeito

a manipulações que transformam os seus estágios naturais de formação e

crescimento e os direciona para uma existência servil e utilitária, num interesse

agressivo de perpetuação do “modus vivendum” até então estabelecido.

As dificuldades que existem para que a educação infantil se processe

dentro do seu contexto familiar e social controlado, faz com que as pessoas

busquem alternativas facilitadores, que deliberadamente lhes são colocados à

mão como paliativos imediatos, que logo se tornam soluções inquestionáveis e

acabam por determinar o rumo das coisas por definitivo.

Procuraremos nos manter a uma distância cautelosa tanto de uma

indignação de teor apocalíptico quanto de uma celebração das novidades

tecnológicas, até por entender que essas duas perspectivas extremadas

acabam se esquivando aos desafios da intervenção: a busca da transformação

das linguagens, dos conteúdos e dos contextos de recepção, assim, como a

busca de aprimoramento da nossa capacidade de compreender o que as

crianças pensam e sentem.

A televisão como representante máxima da “mídia”, tantas vezes

aparece como principal alternativa em substituição aos pais, amigos, babás ou

irmãos na educação de uma criança. Se analisarmos as condições em que

estamos vivendo, chegaremos à conclusão que muito pouco é feito para que

esta situação se modifique. Já que isto se apresenta de difícil solução,

acredito que poderíamos trabalhar no sentido de interagir neste processo e

procurar a sua evolução de uma maneira mais humana e civilizatória.

O meu objetivo não é de forma alguma hostilizar a televisão, o rádio, os

meios de comunicação, porém não me apetece sacralizá-los. Entendo que

19isso faz parte do processo evolutivo e que nos coloca numa condição que nos

permite encontrar soluções interativas que proporcionem não só influenciar no

desenvolvimento do imaginário infantil, mas também se deixar levar pôr ele,

absorvendo a sua magia natural que a todo o momento nos surpreende de

maneira extremamente profunda e feliz.

O nosso espaço urbano já não nos permite o exercício lúdico do brincar,

é que a casa do bairro afastado foi substituída pelos apartamentos das zonas

urbanas, onde as crianças foram confinadas, nada lhes restando, a não ser a

“babá eletrônica”. Nas zonas urbanas, o brinquedo de rua acabou; não

existem mais praças nem árvores onde as crianças possam brincar; tudo foi

ocupado por edifícios e vias expressas. É o progresso! Não é de admirar que,

apenas na televisão, as crianças possam se encontrar com os animais,

acidentes geográficos e as mais variadas e agradáveis surpresas. O que resta

é o sonho (...), a fantasia (...). (Pacheco, Ano 1997).

Em pesquisas realizadas de dez anos pra cá a partir de uma ampla

bibliografia incluindo centenas de ensaios e pesquisas – da filosofia à

psicanálise, da psicologia à pedagogia – identificamos entre condições

favoráveis ao desenvolvimento da imaginação – entendida como espaço de

intervenção e exercício de possibilidades – o contato com a natureza, a

vivência artística, a mediação adulta, o tempo livre para brincadeira e o

estímulo narrativo. Todos esses fatores poderiam teoricamente estar

presentes na experiência da criança com a televisão: desde um fluxo de

programação que permitisse o contato intenso com a arte e com a

multiplicidade das imagens e histórias locais e universais, até um cotidiano em

que houvesse tempo e espaço para brincar, conversar, e assim recriar com

reverência ou paródia os enredos e representações apresentados, testando

identidades e trajetórias. Este será o horizonte que estabelecemos como

referência para uma ação crítica sobre a relação da imaginação infantil com a

televisão.

Outra conclusão daqueles estudos foi a importância de examinarmos de

forma integrada os diversos fatores que interagem durante a atividade

imaginativa da criança que vê televisão. O papel da televisão depende de

20como ela se encaixa na vida particular da criança, e da qualidade geral de seu

cotidiano. Os três fatores desse cotidiano que na maioria das pesquisas que

analisamos, particularmente no campo da psicologia cognitiva, consideram

mais importantes: a extensão do tempo que a criança passa assistindo

televisão; o tempo de mediação adulta; e o conteúdo da programação.

O tempo que a criança passa assistindo a televisão aparece como

fundamental na influência do meio sobre a imaginação infantil. Desde as

primeiras pesquisas empíricas na área, o risco de passividade cognitiva esteve

sempre associado à audiência intensiva, de muitas horas por dia. No caso de

padrões de audiência relativamente baixos, a mediação adulta aparece como o

grande diferencial na qualidade imaginativa da experiência da criança com a

televisão. A televisão pode mesmo nutrir a imaginação se a experiência for

guiada por um adulto que ajude a criança a contextualizá-la a assistir televisão

criticamente e a compreender a linguagem do meio, suas riquezas e

limitações. Embora o temor quanto à passividade cognitiva das crianças na

Internet não seja uma preocupação freqüente em razão do caráter interativo do

meio, é evidente que elas não devem ser abandonadas diante do computador

como se este fosse a velha “babá eletrônica”, agora upgraded.

Outro fator que apareceu como determinante aqui sintetizada é o

conteúdo do que a criança assiste. Nesse sentido, o maior fator limitante à

imaginação pareceu ser o excesso de violência realista. Enquanto temas

pesados ou dramáticos na forma de fantasia são facilmente incorporados ao

faz-de-conta, a violência realista parece dificultar a elaboração lúdica interior.

Enquanto a hipótese predominante na psicologia cognitiva do início dos

anos 80 era a de que assistir a televisão tomava o lugar da brincadeira

imaginativa, pesquisas mais recente mostraram, ao contrário, que o conteúdo

da televisão é incorporado à brincadeira, sendo os heróis, heroínas e

aventuras da televisão usados como matéria prima da vida de fantasia das

crianças. Isso acontece inclusive durante a própria experiência, já que as

crianças brincam e devaneiam com freqüência enquanto assistem televisão.

21

2.1.1 A Manipulação dos Desejos

A fragilidade do imaginário infantil o coloca numa condição que

possibilita a interferência de qualquer elemento que alcance o seu universo.

Quando podíamos expor nossas crianças à liberdade das ruas, ao

universo rico e deslumbrante das brincadeiras de roda, dos elementos da

natureza, do corre-corre, do pega-pega, do esconde-esconde, nossas crianças

estavam diante das coisas provando todas as diferenças e dificuldades,

vivendo sem medos, sem preconceitos.

Ao isolarmos crianças ou deixarmos em condições preestabelecidas

estaremos projetando nelas as limitações que as condicionam à uma forma

deturpada e preconceituosa de viver. Nas ruas a grande exposição às

diferenças, a criação de espaços coletivos, a troca de experiências no desejo

de brincar, as tornam mais tolerantes e sociáveis, suas diferenças não são

ampliadas, e a grande diversidade de tipos humanos ali apresentados são

fatores de desenvolvimento da sensibilidade nas relações pessoais e sociais,

exercitando a tolerância e o carinho amigo, projetando o respeito ao próximo,

exercitando a democracia, portanto, sendo cidadãs.

A rotina estabelecida a uma criança sob a influência da mídia, sugere

uma quantidade limitada de elementos que serão incorporados no imaginário

infantil, e exterioriza uma gama prevista de sintomas e reações necessárias

para o controle eficaz da manifestação infantil, e para a condução de seu

destino.

A mídia quando dominada por uma classe social, divulga uma visão

preconcebida, preconceituosa a às vezes até segregacionista quando, por

exemplo, estabelece um “modus vivendun” que a perpetue.

Nossos meios de comunicação já nos trazem modelos prontos e

acabados, não nos permite discutir ou alterar. A mídia traz tudo “certinho”,

como devemos ser, o que podemos querer, do que devemos temer.

O imaginário infantil quando está exposto a um desenvolvimento natural

nada teme, nada pressupõe nada preconceituosa. Nas ruas, nos ambientes

22coletivos encontramos as crianças convivendo com seus desiguais de uma

maneira harmônica e carinhosa, suas relações exprimem o desejo democrático

de se equilibrar, a prática da solidariedade é clara.

As brincadeiras naturais e primitivas pressupõem igualdade,

fraternidade, não se criam ídolos, deuses nem demônios, o respeito ao mais

capaz, a admiração ao mais belo, a tolerância ao menos capacitado são

explicitadas nas relações do cotidiano da criança que não sofre a interferência

da mídia. Na mídia sempre encontramos manifestações clara de preconceitos

e intolerância, o belo estabelecido pela mídia é endeusado, levado à condição

de superioridade, os mais destacados são colocados na condição de heróis, os

mais simples, humildes e normais são colocados na condição de adoradores e

meros espectadores das ações de seus superiores, deuses e ídolos. Os que

fogem de alguma maneira a estes tipos preconcebidos quando são lembrados,

são colocados na condição de demônios, bruxos, anti-heróis. A exclusão é

clara e indiscutível.

Na televisão a imagem precede a fala e antecipa o sonho, corrompe o

imaginário criativo.

2.1.2 A Determinação do Viver

A criança como ser amável tende a adotar com carinho, aquilo que lhe

dá atenção, aquilo que se apresenta imediato e envolvente. Como bichinhos

de estimação, ela hoje adota os meios de comunicação como seus protegidos,

como seu protetor. Foi uma coisa trabalhada ao longo dos anos, e que se fez

necessária num contexto urbano onde os adultos já não têm mais tempo para

os seus filhos, e a preocupação crescente em querer manter-se empregado e

a se situar dentro dos limites de bom cidadão que a sociedade nos impõem.

A mídia se apresenta à criança corrompendo seus mais sutis

sentimentos, seduzindo seus mais sensíveis desejos, penetrando no seu

imaginário em formação.

Fala-se da televisão, critica-se a televisão, condena-se a televisão,

assiste-se à televisão! Não dá para demonizar a televisão, queiramos ou não,

23somos cidadãos televisivos. A imensa quantidade de pesquisas sobre

televisão, mostra que ainda existe reserva de senso crítico nas pessoas, existe

uma grande parcela que não é plasmável.

Mas ela não é o único meio de comunicação com o qual a criança

mantém os seus primeiros contatos quando ingressa em nosso mundo, ela

também encontra o rádio, e agora começa a ser inserida no mundo cibernético

do computador.

Pressupõe-se que o primeiro elemento que uma criança tem contato,

antes mesmo de nascer, seja o som, logo depois o ar, quando nasce é claro,

portanto a importância do som passa a ser algo determinante na condução dos

seus passos, na preparação de suas reações. O som é algo poderoso, ele

transcende a imagem quando consegue interromper um processo de equilíbrio,

ele é imprevisível quando consegue conduzir a um estado de agitação, ele é

mágico que nos faz viajar pelo mundo sutil da ilusão, do sonho e da fantasia.

A nossa mídia se tornou fantástica depois que aprendeu a trabalhar os

sons, e espetacular quando o associou definitivamente ao mundo das

imagens, inspirando-se numa técnica que graciosamente a natureza sempre se

utilizou.

Antes de interpretar um som, uma fala pode parecer música para uma

criança. O rádio cientificamente trabalhado, se travesti foneticamente de

criança e provoca o sentimento infantil, conduzindo-o para caminhos que

melhor lhe interessem. A reação da criança aos timbres que seu ouvido pode

suportar, a faz associar a melodia da fala suave e doce, ao que é bom, gostoso

e adorável, aquilo lhe soa gostoso. Aquilo é “bom”. O som forte e agressivo,

violento, agride os seus sentidos, aquilo lhe soa ruim, aquilo é “mau”.

Consegue-se manipular os sons para corromper as idéias, direcionar os

sentidos e conduzir as sensações do ser. Pelos ouvidos inocentes de uma

criança, a mídia falada conduz a imaginação e o sonho, o comportamento e

ação.

Nos programas infantis que ora temos a disposição, e que estão sendo

veiculados pelos nossos meios de comunicação mais populares, encontramos

uma inteligência fantástica por parte de seus criadores, no sentido de alienar e

24bestializar nossas crianças. Os aportes da violência gratuita a que eles

recorrem nos parece que só tem um objetivo claro e bem definido, que é o de

nos conduzir a uma destruição total. Transmite ao imaginário infantil a

sensação de medo e dependência, a solução grosseira e absurda pela

violência, a busca do salvador agressivo e protetor. Salvador do que?

A nossa civilização nos faz coitados, a mídia torna as crianças

insignificante, frágil, patética, dirige a sua vida desta forma, para isto ela

precisa de um salvador e crescemos assim, temendo a ver nossa

insignificância arranhada, toda nossa fragilidade exposta e a nossa vida

correndo riscos.

25

CAPITULO III

TELEVISÃO: BABÁ ELETRÔNICA ?

Na turminha da escola ou das brincadeiras, no grupo do condomínio ou

do clube não são necessários muitos detalhes do episódio visto na TV. Às

vezes, basta um nome, o do super-herói ou do desenho animado, para que a

comunicação baseada na cumplicidade da audiência se estabeleça. Mais do

que um grupo, essas crianças formam uma tribo, no sentido que Maffesoli

atribui ao termo, e espalha-se a proxemia, que é uma ocupação simbólica de

um tempo-espaço comum e efêmero.

Inegavelmente, a TV participa da construção de uma visão de mundo da

criança, mas tal construção (descontrução e recriação) não pode ser

apreendida como dissociada do meio social em que se situa a criança.

O telespectador infantil está mergulhado em sua ambiência, e o seu

vivido na família, na escola, no bairro e o que ele compartilha com os colegas é

determinante para sua visão de mundo.

As crianças socialmente mais favorecidas, cujas famílias podem

proporcionar lazer e estímulos variados, têm na TV uma fonte a mais de

entretenimento e informações. Certamente, essas crianças têm mais

oportunidades de comentar e discutir as mensagens televisivas. Não

necessariamente são as mais inteligentes. O que ocorre é que elas dominam

com maior facilidade o código lingüístico culto, têm percepção mais apurada,

pela familiaridade com variados estímulos e experiências diversificadas. A TV

é, sem sombra de dúvida, atraente, mas elas dispõem de outras oportunidades

competidoras de lazer.

O mesmo não se pode dizer das crianças que não têm outra opção além

da companhia da TV. Crianças que ficam só grande parte do dia, sem amigos,

com brinquedos que já não oferecem mais desafios.

26As programações televisivas, em geral, podem oferecer estímulos à

verbalização. Crianças encorajadas a relatar episódios de programas, as

notícias que mais lhe chamaram atenção ou um novo comercial, podem

interpretá-los em suas brincadeiras, exercitar oportunidades sociais de

observação de similitudes e diferenças e verbalizar o que assistiram na TV,

fazendo pontes com sua vida cotidiana.

Nessa ótica, a televisão deixa de ser o produto de análises finalistas,

visto e explicado como alienação, como perda de tempo a ser utilizado no

progresso, no processo de conscientização.

3.1 Uma Televisão só para Bebês

Uma das grandes novidades da televisão americana por assinatura é o

Baby First TV, um canal 24 horas destinado exclusivamente a crianças de 6

meses a 3 anos de idade. Ele reproduz a idéia da BabyTV, emissora criada

em Israel três anos atrás e já presente na Europa, Ásia, Oriente Médio e

Canadá. Alguns especialistas temem que este tipo de iniciativa faça com que

muitos pais se sintam à vontade para deixar os filhos horas a fio diante da

televisão – e conseqüentemente, leve as crianças a adquirir desde muito cedo

o hábito de ver televisão dia e noite.

“O canal foi criado para oferecer uma programação mais adequada a

esta faixa etária”, segundo disse Sharon Rechter, vice-presidente executiva de

desenvolvimento de negócios da Baby First TV.

Dentro desta mesma linha de raciocino observamos o mercado

audiovisual para bebês que têm se revelado um filão e tanto mundo afora. No

Brasil, as vendas de DVDs direcionados a crianças pequenas, como os das

coleções Bebê Mais e Baby Einstein, cresceram cerca de 120% nos últimos

dois anos, segundo informações da Revista Veja. Os programas para bebês

têm o objetivo declarado de estimular habilidades motoras, a memória o

raciocínio e o desenvolvimento da linguagem (o não declarado, mas também

legítimo até certo ponto, é funcionar como uma espécie de “babá eletrônica”).

Sob a orientação de psicólogos, pedagogos e neurologistas infantis, as

27emissoras seguem uma fórmula para segurar a atenção dos pequenos.

Quando há enredo, ele é bastante simples, já que crianças muito pequenas

não conseguem acompanhar histórias elaboradas. Outro recurso é a utilização

de elementos comuns ao universo infantil, como brinquedos e outros bebês.

A maioria das críticas contra a televisão para bebês é mais direcionada

ao uso que os pais podem fazer dela do que ao conteúdo exibido. O maior

risco é justamente o de transformá-la na tal “babá eletrônica” ligada

diuturnamente. “Há pais que lançam mão da TV e dos DVDs para substituir a

atenção e os cuidados que eles deveriam dispensar aos filhos”, diz o

neurologista infantil Mauro Muszakat, professor da Universidade Federal de

São Paulo. “Essas tecnologias podem ser ferramentas bastante úteis para o

desenvolvimento dos bebês, mas o cérebro da criança só processa

informações mediadas por quem elas têm alguma afeição”. Ou seja, a

companhia e a participação dos pais são essenciais. “Os adultos devem estar

perto da criança durante a exibição do programa para interagir com ela. Isso

estreita a relação e ajuda no processo de aprendizagem”, diz a pedagoga

Maria Lucia Suzigan, de São Paulo. Outra recomendação: o tempo máximo

em frente à televisão não deve ultrapassar uma hora diária. “ O excesso de

estimulação visual pode aumentar os riscos de insônia, agitação e

irritabilidade”, diz o neurologista Muszkat.

3.2 Desenhos Animados podem ser Prejudiciais aos seus

Filhos

Pode um filme como o Rei Leão trazer uma mensagem de violência

para as crianças? A exposição de crianças à violência nos meios de

comunicação (principalmente televisão, cinema e agora web) é uma

preocupação para todos os responsáveis. Os defensores dos chamados

“filmes de ação e de terror” perguntaram: quem surgiu primeiro o ovo ou a

galinha? Eles argumentam que na realidade o cinema não induz à violência, e

sim imita a vida, que por sua natureza, é violenta desde que o homem surgiu

na face da Terra, segundo eles.

28Entretanto, estudos clínicos recentes demonstram que pessoas

expostas a filmes nos quais existam cenas de violência realizadas de maneira

gratuita podem levar aos espectadores a apresentarem comportamentos

hostis, e, entre alguns deles, ocorrer uma aceitação maior da violência como

uma maneira de resolver situações de conflito.

As crianças na televisão, a exposição delas à violência as afeta de modo

negativo. Os principais efeitos de ver cenas violentas na televisão são: as

crianças podem se tornar mais temerosas do mundo que as cerca; e podem se

tornar mais agressivas. Nos Estados Unidos, os programas de televisão

exibidos para crianças apresentam cerca de 20 atos de violência por hora.

O videocassete e agora o DVD são fontes importantes de

entretenimento. Estima-se que 96% de crianças pequenas, com idades entre

2 e 7 anos, morem em residências nas quais existam pelo menos um aparelho

de videocassete ou DVD.

Pesquisas anteriores demonstram que crianças nessa idade passam ao

redor de 2 horas por assistindo à programas de televisão, e entre 30 e 90

minutos diários vendo filmes em videocassete ou DVD.

No ano de 1998, cinco entre os dez vídeos mais vendidos nos Estados

Unidos foram desenhos animados, classificados na censura como G (livre para

todas as audiências) pelo Motion Picture Associatio of América. Entretanto,

até o momento, a violência existente em desenhos animados não havia sido

quantificada.

Um novo estudo com a finalidade de quantificar e caracterizar a

violência em filmes de desenho animado de sucesso, 74 destes filmes,

considerados como censura livre, exibidos em cinemas e disponíveis em DVD

foram avaliados em busca de se quantificar cenas de violência em seu

conteúdo.

Este novo estudo conduzido por pesquisadores da Harvard School of

Public Health em Boston, e publicado no número 24 de maio de 2000 no

Journal of the American Medical Association. Para o estudo, os pesquisadores

definiram a violência como sendo atos intencionais com o objetivo de causar

29dano físico, para o coração, ou por puro divertimento; ou o agressor tenha

algum tipo de contato físico com o objetivo de ferir a vítima.

Os filmes avaliados apresentavam uma média de nove e meio minutos

de violência por filme; pelo menos um personagem morria assassinado em

metade dos filmes, e pelo menos um dos personagens era ferido em 46 dos

filmes.

Na maioria dos filmes, a principal arma usada foi o próprio corpo. Por

exemplo, no filme “Aladin”, o personagem termina por derrotar o vilão Jafar,

prendendo o em uma lâmpada mágica, mas não sem antes tentar derrota-lo

usando a força física. No filme “O Rei Leão”, “Simba” luta contra o vilão (seu

tio) recusa-se a matá-lo, mas não faz nada para prevenir a sua morte,

assassinado pelas hienas no final.

A violência entre os personagens de desenhos animados pode passar

desapercebida pelos adultos, ou ser considerada inofensiva, mas os

estudiosos dizem que não é clara qual seria a influência entre as crianças.

Cenas violentas poderiam tornar as crianças habituadas à violência, e para

elas isto passaria a ser algo normal. Além do mais, é possível que as crianças

poderiam tentar imitar a violência dos personagens, porque muitas vezes as

cenas são consideradas como engraçadas e sem conseqüências mais sérias.

Um exemplo disso seriam as cenas em que envolvem o Papa Léguas e

o Coiote – muitas cenas mostram o Coiote caindo em um precipício ou sendo

esmagado por uma imensa pedra, mas ele sobrevive sempre ao final de cada

episódio.

Os pais deveriam ter o controle, segundo os autores, do que os seus

filhos assistem. No caso dos desenhos animados em fita, uma avaliação

prévia do filme por seus pais deveria ser recomendável.

30

CONCLUSÃO

A televisão enquanto meio por si ó não é prejudicial à imaginação da

criança. Seus efeitos perniciosos ou benéficos dependem de seus conteúdos

e linguagens, do contexto da recepção e da qualidade geral da vida da criança

– física, afetiva e poética – não podendo ser isolados dos demais processos

sócio-culturais. Vimos ainda que em situações adequadas as crianças

imaginam enquanto vêem televisão, e depois ainda recriam as imagens da

televisão no seu faz de conta, elaborando-as e fazendo as suas.

Independente do conteúdo veiculado, já é um consenso que a presença da

televisão na infância é reconhecida como uma atividade de lazer chega a

concorrer com as brincadeiras próprias à idade e, para muitos, tornou-se a

única forma de entretenimento. Porém esta mesma fonte de diversão é capaz

de exercer efeitos negativos sobre qualquer indivíduo se usada como a

principal ponte para o mundo, desestimulando-o a vivenciar as próprias

experiências, tornando-o mero viajante, e fechando seus olhos a outras

alternativas de entretenimento e informação. No entanto sobre crianças, que

antes do sete anos mal distinguem realidade de fantasia a exagerada

exposição à televisão é especialmente nociva.

Certamente uma das razões da superexposição é uma falha em nosso

sistema educacional: em média, os alunos passam apenas quatro horas por

dia na escola e o restante do tempo é preenchido pela televisão.

Outra razão para a overdose de televisão está no fato dos pais não

terem muito tempo ou recursos para dedicar se aos filhos, sobretudo nas

classes mais baixas, que usam a televisão como “babá eletrônica”. Poucos

avaliam a influência da televisão na formação da criança.

A televisão, o DVD, o computador e o videogame são recursos

tecnológicos que a sociedade possui, de forma que suas implicações positivas

ou negativas serão produto do modo que estes serão utilizados. Compete a

31sociedade saber aproveitar os recursos positivos destas tecnologias e, se

possível, abreviar seus efeitos negativos.

32

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CONSOLNI, Adelaide. A influência da mídia no imaginário infantil. Disponível emhttp://www.terravista.pt/BaiaGatas/2932/Texto Mídia e imaginário infantil. Acesso em20 de julho de 2001)

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LÈVY, Pierre. As tecnologias da inteligência - o futuro do pensamento na era dainformática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

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PADUAN, R. Brincadeira na tela. Encarte: “Vida digital” . REVISTA VEJA n. 3,ago/2000.

REVISTA GALILEU. O papel da TV e dos games. Ano 9 – n. 109, ago/2000.

TAPSCOTT, D. Geração Digital: a crescente e irreversível ascensão da geraçãoNet. São Paulo: Makron Books, 1999.

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THOMPSON, John B. A Mídia e a Modernidade. Uma teoria social da mídia.Petrópolis: Vozes, 1998.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 5. ed. São Paulo:Martins Fontes, 1994.

33

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

As Relações da Criança com a TV 11

1.1 – O Imaginário Infantil 15

1.2 – O Lúdico e Mágico de Ser 16

CAPÍTULO II

A Mídia 17

2.1 – A Influência da Mídia no Imaginário Infantil 18

2.1.1 – A Manipulação dos Desejos 21

2.1.2 – A Determinação do Viver 22

CAPÍTULO III

Televisão: Babá Eletrônica 25

3.1 – Uma Televisão Só para Bebês 26

3.2 – Desenhos Animados Prejudiciais aos seus Filhos 27

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32

ÍNDICE 33

34

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: