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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Priscila Musumeci Suarez
Orientador
Profa. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
Dezembro/2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Infantil.
Por: . Priscila Musumeci Suarez.
3
AGRADECIMENTOS
Ao alcançar esta grande vitória, não poderia deixar de fazer alguns
agradecimentos especiais.
Aos meus pais, por terem me incentivado em mais uma pós.
A todas as crianças que convivo diariamente o meu maior incentivo nesta
caminhada.
5
RESUMO
A imagem de uma criança postada diante de um aparelho de TV já
serviu a todos os propósitos e ilustrou argumentos tanto a favor contra a
audiência infantil.
A pergunta que sempre se coloca é: Para que servem as programações
televisivas assistidas pelo público infantil ?
Essa colocação nos parece, no mínimo inocente, mas coerente com os
valores da sociedade ocidental moderna marcada pelo “energismo” finalista
com todo o seu poder moral de constrangimento.
Se não se pode responder afirmativamente que a televisão é sempre útil
para a educação infantil, e perante a inexorabilidade de sua presença na vida
da criança, no cotidiano, ela se mostra útil aos pais. Numa modernidade
carregada de mandos e exigências fora do círculo familiar, pais e mães
trabalhadores podem ter na televisão um recurso para “distrair” os filhos em
casa enquanto eles estão fora, ou quando retornam cansados de suas lutas do
dia-a-dia profissional. Assim, a TV passa a ser justificada como um meio
eficaz. Mas não faltam a muitos os discursos panfletários sobre o
maquiavelismo de tal uso, e as idéias persecutórias sobre o “mal” inerente à
TV.
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METODOLOGIA
Para problematizar as questões referente a Influencia da Mídia nas
Crianças, além da bibliografia citada sobre representações culturais em
produções dirigidas a infância, foram consultados outros materiais acerca da
relação Mídia-Infância e das pesquisas feitas nessa área. Um problema
freqüente neste tipo de estudo, segundo Tobin (2000), é que se incorra no
“paradigma dos efeitos da mídia”, pensando nas crianças como criaturas
indefesas e facilmente influenciáveis diante das mensagens que recebem
diariamente.
Buckingham (1991) adverte para o problema inverso: o de cairmos na
concepção romântica da criança sábia e liberada. Pois assim, “estaríamos
continuando a falar da ‘criança’ enquanto uma categoria universal, em vez de
falar sobre crianças específicas vivendo em contextos sociais e históricos
específicos” (p.228). A relação das crianças com a mídia, portanto deve ser
compreendida dentro do contexto sócio-cultural em que elas vivem. Procurei
estudos que tiveram a preocupação de conhecer esse contexto cultural das
crianças.
Depois do exame da bibliografia em diversos livros, passei à seleção
dos sites com matérias informativos sobre o assunto abordado.
7
SUMÁRIO
Introdução 08
I As Relações da Criança com a TV 11
1.1 O Imaginário Infantil 15
1.2 O Lúdico e Mágico Ser 16
II A Mídia 17
2.1 A Influência da Mídia no Imaginário Infantil 18
2.11 A Manipulação dos Desejos 21
2.1.2 A Determinação do Viver 22
III Televisão: Babá Eletrônica ? 25
3.1 Uma Televisão Só para Bebês 26
3.2 Desenhos animados podem ser prejudiciais aos seus filhos 27
CONCLUSÃO 30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31
ÍNDICE 33
FOLHA DE AVALIAÇÃO 34
8
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é refletir sobre o tema “Televisão e Criança”
que tem sido objeto de grandes controvérsias e carência de solução, exige
reflexão e pesquisa.
A televisão presta inúmeros serviços, ela permite que os pais “respirem”
enquanto os filhos se acalmam, por milagre na frente da telinha. No entanto,
existe um outro lado, quando as crianças têm que fazer os deveres preferem
os desenhos animados, quando são chamados para almoçar querem assistir
até o fim do programa e quando os pais decidem sair para dar uma volta os
filhos esperam até ver a palavra “FIM”. Segundo os autores Ifergan e Etiene
toda hora é uma quebra de braço, sem contar as inúmeras queixas dos pais
em relação à agressividade, excesso de palavrões e “lutinhas” espelhadas nos
desenhos animados.
O que as crianças pensam sobre isso? Eles acabam se perguntando o
que fizeram para merecer tanta perseguição dos pais: tem que ir para a mesa
justamente na hora em os inimigos atacam, deixar a telinha no melhor daquele
programa para fazer os deveres, sair para dar uma volta na casa dos avós, por
exemplo, justamente no dia daquele capítulo especial.
Se projetar num determinado personagem é para a criança ter as
mesmas forças ou características deste, encantadas pelos personagens,
muitas crianças acabam reproduzindo alguns gestos e falas nos amigos,
irmãos, animal de estimação, muitas vezes até sem saber o que significam.
O que os especialistas pensam sobre isso? Para os autores em epígrafe
não se têm dúvidas de que a televisão faz parte da vida dos filhos e presta
serviços reais aos pais. A cena da “babá televisiva” é clássica, depois de um
dia de trabalho começa a segunda maratona: corrida para a escola para pegar
os filhos, deveres, banho, janta e uma série de outros compromissos. A
9televisão permite que os pais “respirem” durante o tempo de realizarem outras
atividades que estão a sua espera.
A televisão não é tão ruim como se imagina, alguns estudos colocam
até que muitos pequenos telespectadores enriquecem o seu vocabulário
consideravelmente, que a visão de mundo se desenvolve em todos os
aspectos. Além do que a TV lhes oferece sonho, aventura, proeza, coragem e
encantamento. Conforme o autor Gilles Brougére, a mídia desempenha nas
sociedades ocidentais um papel considerável, tanto entre os adultos quanto
entre crianças. Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a televisão
fornece as crianças conteúdo para suas brincadeiras. Aliás, as crianças
projetam nessa caixa mágica toda uma parte de suas fantasias e do seu
imaginário e é aqui que devemos ficar atentos em relação à televisão: o que as
crianças assistem na TV? Quais são os horários? Há trocas do tipo: deixar de
brincar com amigos, ler, ouvir música, desenhar, andar de bicicleta para
assistir televisão? Se isso está acontecendo cuidado!
É importante também ressaltar que a TV foi inventada em 1950 e que foi
ganhando espaço à medida que nós, telespectadores, lhe concedíamos poder.
Ou seja, se nós fomos responsáveis por seu atual status, somos
também capazes de controlar nossa relação com ela. Sabemos o quanto a
televisão é atraente, suas imagens em alta definição, sons, falas, efeitos
especiais e cenas ao vivo trazem com certeza o mundo para dentro de nossa
casa.
A questão que devemos colocar a respeito desse aparelho tão
fascinante é: qual o espaço que nós abrimos a esse universo eletrônico em
nossa vida? E o que permitimos que entre em nossa casa por meio dele?
O que os pais ou familiares poderão fazer? Se a família não cria o
hábito, antes dos três anos uma criança pede raramente pela TV. A televisão
também é um dos fatores que compõe a formação infantil e precisa ser tratada
com responsabilidade, os pais devem “sim” controlar o que está sendo
assistido do mesmo modo que conferem nota escolar, horário de banho,
alimentação, remédio... Não há medida ideal para exposição (tempo que a
criança fica assistindo TV), depende do que está sendo assistido, para qual
10fim, quais as informações e das outras atividades que acontecerão no restante
do dia. Conforme Mílada Gonçalves, Psicóloga do laboratório de pesquisa
sobre infância, imaginário e comunicação (USP), uma boa medida para os pais
ou familiares refletirem sobre o assunto é comparar durante uma semana, o
número de horas que a criança reserva para a TV e o número que dedica as
outras tarefas. Sugerir, perguntar, questionar sobre os programas é mais uma
forma de saber o que a criança está entendendo sobre determinados
desenhos e assuntos. A televisão é quase sempre acompanhada de uma
grade de programas, esse é um precioso instrumento de seleção. Proibir torna
o programa mais atraente, refletir com as crianças o processo de criação das
mensagens televisivas, mostrando sempre que elas podem ser construídas,
interpretadas e, inclusive, ficcionais, é sem dúvida um dos recursos mais
poderosos para diminuir sua possível má influência.
11
CAPÍTULO I
AS RELAÇÕES DA CRIANÇA COM A TV
“Demorou muito tempo até que
se desse conta de que as crianças não são homens
ou mulheres em dimensões reduzidas.
As crianças criam para si, brincando, o pequeno mundo próprio.”
Walter Benjamim
A inevitabilidade da televisão nas sociedades contemporâneas, sua
influência sobre as crianças e as desesperadas – e por vezes ingênuas! –
estratégias dos pais para protegê-las são com freqüência alvo das
preocupações de setores acadêmicos ou da imprensa.
Atribuindo à TV uma ascendência frequentemente totalitária sobre as
crianças, aqui e ali irão despontar análises de como as horas de exposição à
telinha tornam as crianças vulneráveis ao consumo, aos conteúdos violentos, a
uma formação emocional e sexual precoce e – mais grave – como, apontando
para criança, a TV está garantindo a perpetuação do sistema político e
econômico hegemônico.
Em grandes parte das famílias, são as crianças que ligam os aparelhos
de TV, definem a programação que será assistida e até sua localização no
espaço doméstico. Isso não significa, no entanto, que as pesquisas sobre
televisão e criança dêem conta desta relação tão rica. Analisa-se a TV sob a
perspectiva da vilania, mas as crianças, enquanto atores do processo
receptivo, e os jogos que fazem com a TV, ficam de fora.
Em geral, a lógica dos meios é reforçada pelo suposto caráter
eminentemente passivo da criança que, por ser criança, não teria ainda o
instrumental que lhe permitiria ser crítica, o que tornaria necessariamente
12favorável às mensagens televisivas, uma vez que “somente a partir de uma
postura crítica é possível absorvê-la com isenção e perceber suas sutilezas,
seus efeitos, suas possibilidades” (CASTRO. 1975 apud CRIPPA.1984:68).
Considerar a criança como criança, aqui não é torná-la em sua especificidade,
mas como uma miniatura do mundo adulto.
Existem autores para quem o simples fato de assistir televisão favorece,
na criança, uma “atividade mental passiva” (CRIPPA.1984:65). Deitada,
imóvel, a criança consome tudo que aparece e absorve como uma esponja os
conteúdos emitidos pela TV:
“Na realidade, podemos observar que as crianças vêem TV e nem discutem a
informação. Recebem passivamente as mensagens sem analisar
profundamente o que estão assistindo. Nem dizem se gostam ou não do que
estão vendo. Ninguém comenta o que assiste. Muitas vezes as crianças se
‘desligam’ do mundo real e entram para o mundo da TV... Estão absortas no
que a TV está ‘ordenando’... Esquecem o paladar como se a TV fosse um
anestésico” (ID.Ibid.: 66,g.n.)
Temos, em um primeiro momento, uma concepção de que a recepção
só se torna ativa se for analítica, no sentido de uma interpretação que
decomponha dados, relacione valores, e se considera que a criança tem
limitadas capacidades de análise e raciocínio e uma formação ainda imatura,
não se pode deixar de vê-la como um ser impotente diante de uma televisão
que abusa da criança naquilo que ela tem de frágil e vulnerável.
Por outro lado, devemos levar em consideração que algumas pesquisas
empíricas têm questionado a idéia de um receptor passivo demonstrando que
ao invés de uma atividade mental passiva, os receptores estão mental e
fisicamente ativos em sua interação com a TV. Já se mediu inclusive a
quantidade de esforço mental investido pelas crianças enquanto elas vêem
televisão, esforço que se dá em três níveis, atenção-percepção, assimilação-
compreensão e apropriação-significação, não necessariamente seqüenciais –
a atenção pode ser resultado da compreensão.
“O fato de que nenhum destes esforços cognitivos necessariamente
tenha que seguir uma seqüência linear, implica que sua articulação não é por
13lógica, senão por associação, e por definição as associações são produzidas,
supõe uma aprendizagem e portanto implicam uma atividade mental, ainda
que permaneçam automáticas” (OROZCO.1190:35).
Ainda em um segundo aspecto, tal concepção de que a TV favorece
uma recepção passiva também considera que o processo receptivo esgota-se
no momento mesmo em que se assiste televisão. É essa abordagem do
processo receptivo que fará com que alguns autores preocupem-se em
pesquisar como se dá esse contato imediato entre a criança e a TV e ofereçam
sugestões de como interferir nesse momento específico.
O problema continuará sendo o de estabelecer os meios de proteger o
receptor infantil. Tal estratégia, iria possibilitar que as crianças se ajudassem
mutuamente na decodificação das imagens e sons recebidos e, mais
importante, que elas discutissem a mensagem recebida. Por outro lado,
assistir televisão acompanhada por amigos evitaria que o tempo de exposição
à TV fosse um fator de isolamento social da criança, ao tempo que iria
minimizar os efeitos negativos da programação da televisão.
Os que as pesquisas de recepção mostram é que os companheiros
constituem, especialmente para a recepção infantil, um dos principais grupos
de referência, aqueles a partir dos quais se dá a interpretação e apropriação
dos significados das mensagens televisivas. As mensagens recebidas são
como que submetidas às diversas “comunidades de apropriação” às quais
pertence o receptor e é a partir delas que ganham sentido, gerando a produção
de significados. A questão é que essas comunidades de interpretação têm sua
influência no processo receptivo antes, durante e depois do momento em que
a emissão ocorre, quando o que se observa aqui é uma concepção de a
recepção esgota-se no momento mesmo em que se tem contato direto e físico
com as mensagens dos meios de comunicação. Já se admite, nas correntes
mais recentes dos estudos críticos da recepção, que ela começa bem antes e
acaba bem depois do momento mesmo em que se dá o contato direto com os
meios, ela o transcende e funde-se com as práticas cotidianas dos receptores,
lugar onde os significados e sentidos são negociados e se realiza sua
apropriação ou resistência.
14Para que um grupo de amigos ou a família contribuam na recepção
infantil não é necessário que eles estejam em contato nesse exato momento:
“Pertencer a uma comunidade de apropriação é compartilhar de uma mesma
maneira de produzir sentido, e o fato de o processo de recepção não se
restringir ao ato de ver TV faz com que o resultado final derive de apropriações
subseqüentes. Por exemplo, a apropriação que um adolescente faz dos
conteúdos massivos pode passar por diversos grupos a que pertença, como os
adolescentes da vizinhança, os colegas do colégio, a turma do clube,
resultando em confirmação de sua primeira apropriação ou em re-apropriações
sugeridas pelos diferentes grupos” (JACKS.1993:3:50, g.n.).
Portanto, não é apenas assistindo TV em grupo que as crianças irão se
ajudar na “decodificação” das imagens e sons.
Assistir às emissões televisivas acompanhadas por amigos seria
importante ainda, segundo Lucilene CURY, para uma melhor recepção infantil
em um aspecto que é recorrente em vários autores que tratam do assunto:
“É bastante comum o fato de que a criança costuma alternar os
momentos de atenção ao programa com momentos de devaneio, durante os
quais continua de olhos pregados no televisor como se experimentasse um
estudo de torpor, de adormecimento, que fatalmente será interrompido pela
presença de outra criança no momento em que essa fizer qualquer comentário,
ligado ou não ao programa” (CURY.1982:100).
Ao contrário do que alguns autores querem fazer crer, acreditamos que
esses momentos de alternância de concentração e dispersão, de devaneio da
criança diante da telinha, não denotam sua passividade, mas a forma como a
criança se afirma enquanto sujeito no processo comunicativo. Em uma
pesquisa de campo sobre a recepção televisiva infantil identificamos que a
criança tem uma recepção especialmente seletiva. Quando ela tem condições
seja por amadurecimento intelectual, seja por dispor de outras opções de lazer,
ela reage com a seleção da programação assistida. Quando não tem tais
condições, ela encontra outros refúgios: em algumas crianças a dispersão
aparece como uma forma muito especial de reagir à programação que não
corresponde às suas necessidades. Percebida através investigação do
15comportamento das crianças diante da TV, especificamente se elas
desenvolviam outras atividades, enquanto estavam com a TV ligada, a
dispersão apareceu como a reação possível para a maior parte das crianças
de classe social mais baixa. Isso nos evidenciou que a relação da criança com
a TV é muito mais complexa do que se imagina; a dispersão (considerada aqui
como uma atenção flutuante) é um elemento constitutivo do modo como as
crianças estabelecem uma interação com a TV.
1.1 O Imaginário Infantil
“Sempre, imaginar será mais do que viver”...
Gaston Bachelard
O imaginário faz parte de todo o ser humano, em todas as épocas e em
todos os lugares. Está presente em todas as nossas atividades. É por isso
que se diz que o homem é um ser simbólico.
Como um visitante recém chegado de universo desconhecido, a criança
é introduzida de maneira forte e sem cerimônias ao nosso mundo de imagens
multifacetadas, existências diversas e fantasias surreais. Aos poucos ela vai
abrindo os olhos para este novo estado de coisas que vão aparecendo na tela
da sua vida, compondo um cenário fantástico e incompreensível, moldando um
sem fim de fantasias que aos poucos vão se firmando em sua mente, e
moldando seu novo universo pelo qual ela irá participar como atora e autora
até a sua maior transformação como ser natural.
A reflexão sobre a produção cultural para infância induz, em primeiro
lugar, à compreensão do que seja uma criança: como ela pensa, como ela
sente, como ela percebe, como ela representa as coisas e os eventos do seu
cotidiano. Ter essa compreensão exige um suporte teórico que não se esgota
na psicologia, embora esta seja indispensável. É necessário conhecer o
desenvolvimento do ser humano em sua totalidade. Como evolui o
desenvolvimento do pensamento ? O que é desenvolvimento cognitivo ? O que
16são estruturas mentais ? Existe uma cronologia no desenvolvimento dos
esquemas mentais ? Como atuam os condicionantes socioculturais ?
1.2 O Lúdico E Mágico Ser
Paralelamente ao estudo do desenvolvimento humano, é necessário
observar como ocorre o desenvolvimento lúdico e qual o seu significado.
Como a criança utiliza o seu tempo livre e os espaços disponíveis. O lúdico é
uma expressão da cultura. Quais as preferências infantis em termos de jogos
e brincadeiras. A criança brinca sempre, mesmo quando realiza outras
atividades. A criança gosta de desenhar. Por que a criança é essencialmente
lúdica.
Responder a tais questões implica pesquisar e observar o
comportamento da criança em diferentes momentos de suas atividades, em
diferentes contextos sociais, no brinquedo individual e coletivo, no lar, na
escola e nas áreas de lazer. As atividades básicas necessárias ao ao
desenvolvimento infantil, como dormir, comer e beber, evidenciam uma
preponderância da atividade lúdica, pois por meio dela a criança recria uma
realidade particular que lhe é própria, no mundo do “como se”, o mundo não
real, o mundo da imaginação, onde predomina o artificialismo, o
antropomorfismo.
Com uma predisposição natural ao lúdico, a criança em sua inocência
absorve imagens e situações, processando-as com o objetivo de torná-las
alegre e divertidas, criando o brincar na sua mais primitiva e pura forma de
manifestar a alegria e satisfazer a necessidade de descarregar toda a energia
que o seu corpo começa a gerar.
A magia de sua existência ainda não conhece os limites necessários a
uma convivência partilhada, com seres tão diversos, cheios de regulamentos,
controles e limitações, tantas vezes muito importante na busca pacífica de um
mundo ideal.
17
CAPITULO II
A MIDIA
Os meios de comunicação hoje é uma coisa complexa profunda e sutil
que permeia a nossa vida desde a mais tenra idade, até a nossa mais senil e
frágil existência.
A sociedade globalizada em que vivemos praticamente bombardeia
nossas mentes a todo instante, com elementos que possam interferir em nosso
imaginário singular e pessoal, dimensionando-o para uma vida permeada de
símbolos e ações que formarão a nossa “personalidade” junto ao processo
civilizatório no qual estamos inseridos até o fim de nossas vidas.
Em 1950, a televisão chegou e, rapidamente se desenvolveu e se
estendeu a todos os lugares e regiões do país. Mudaram-se costumes, a
moda passou a orientar-se pelos astros da TV, o linguajar perdeu suas
características próprias, as crianças, pouco a pouco, foram deixando as
“rodinhas” e “peladas”, que lhes oferecia a oportunidade do contato com a
diversidade cultural, e foram se rendendo aos encantos da “telinha mágica”.
Tudo isso em função do “american way of life” que, sem pedir licença adentrou
as nossas casas pelo tubo eletrônico.
A partir da década de 60, em todos os países, a televisão comparece ao
tribunal para ser julgada. “Ela é o mais alienante dos meios de comunicação”,
dizem uns; “Ela é o melhor invento da sociedade contemporânea”, dizem
outros. Umberto Eco entra em cena com a obra “Apocalípticos e integrados”
tentando de certa forma equacionar a polêmica: “A televisão é um dos
fenômenos básicos de nossa civilização e é preciso portanto, não só encorajá-
la nas suas tendências mais válidas, como também estudá-la nas suas
manifestações” (1976:125).
Após tanto tempo decorrido, o debate entre “apocalípticos e integrados”
em torno da televisão continua acirrado. A televisão continua como peça
18principal da casa, ora como “babá eletrônica”, ora como pano de fundo para as
conversas entre amigos, ora como convidada assídua das refeições, ora como
convite ao silêncio familiar, mas sempre ligada: como se fora “o convidado
especial do dia” ou “o hóspede eterno”.
2.1 A Influência da Mídia no Imaginário Infantil
O imaginário infantil numa sociedade dependente da mídia, está sujeito
a manipulações que transformam os seus estágios naturais de formação e
crescimento e os direciona para uma existência servil e utilitária, num interesse
agressivo de perpetuação do “modus vivendum” até então estabelecido.
As dificuldades que existem para que a educação infantil se processe
dentro do seu contexto familiar e social controlado, faz com que as pessoas
busquem alternativas facilitadores, que deliberadamente lhes são colocados à
mão como paliativos imediatos, que logo se tornam soluções inquestionáveis e
acabam por determinar o rumo das coisas por definitivo.
Procuraremos nos manter a uma distância cautelosa tanto de uma
indignação de teor apocalíptico quanto de uma celebração das novidades
tecnológicas, até por entender que essas duas perspectivas extremadas
acabam se esquivando aos desafios da intervenção: a busca da transformação
das linguagens, dos conteúdos e dos contextos de recepção, assim, como a
busca de aprimoramento da nossa capacidade de compreender o que as
crianças pensam e sentem.
A televisão como representante máxima da “mídia”, tantas vezes
aparece como principal alternativa em substituição aos pais, amigos, babás ou
irmãos na educação de uma criança. Se analisarmos as condições em que
estamos vivendo, chegaremos à conclusão que muito pouco é feito para que
esta situação se modifique. Já que isto se apresenta de difícil solução,
acredito que poderíamos trabalhar no sentido de interagir neste processo e
procurar a sua evolução de uma maneira mais humana e civilizatória.
O meu objetivo não é de forma alguma hostilizar a televisão, o rádio, os
meios de comunicação, porém não me apetece sacralizá-los. Entendo que
19isso faz parte do processo evolutivo e que nos coloca numa condição que nos
permite encontrar soluções interativas que proporcionem não só influenciar no
desenvolvimento do imaginário infantil, mas também se deixar levar pôr ele,
absorvendo a sua magia natural que a todo o momento nos surpreende de
maneira extremamente profunda e feliz.
O nosso espaço urbano já não nos permite o exercício lúdico do brincar,
é que a casa do bairro afastado foi substituída pelos apartamentos das zonas
urbanas, onde as crianças foram confinadas, nada lhes restando, a não ser a
“babá eletrônica”. Nas zonas urbanas, o brinquedo de rua acabou; não
existem mais praças nem árvores onde as crianças possam brincar; tudo foi
ocupado por edifícios e vias expressas. É o progresso! Não é de admirar que,
apenas na televisão, as crianças possam se encontrar com os animais,
acidentes geográficos e as mais variadas e agradáveis surpresas. O que resta
é o sonho (...), a fantasia (...). (Pacheco, Ano 1997).
Em pesquisas realizadas de dez anos pra cá a partir de uma ampla
bibliografia incluindo centenas de ensaios e pesquisas – da filosofia à
psicanálise, da psicologia à pedagogia – identificamos entre condições
favoráveis ao desenvolvimento da imaginação – entendida como espaço de
intervenção e exercício de possibilidades – o contato com a natureza, a
vivência artística, a mediação adulta, o tempo livre para brincadeira e o
estímulo narrativo. Todos esses fatores poderiam teoricamente estar
presentes na experiência da criança com a televisão: desde um fluxo de
programação que permitisse o contato intenso com a arte e com a
multiplicidade das imagens e histórias locais e universais, até um cotidiano em
que houvesse tempo e espaço para brincar, conversar, e assim recriar com
reverência ou paródia os enredos e representações apresentados, testando
identidades e trajetórias. Este será o horizonte que estabelecemos como
referência para uma ação crítica sobre a relação da imaginação infantil com a
televisão.
Outra conclusão daqueles estudos foi a importância de examinarmos de
forma integrada os diversos fatores que interagem durante a atividade
imaginativa da criança que vê televisão. O papel da televisão depende de
20como ela se encaixa na vida particular da criança, e da qualidade geral de seu
cotidiano. Os três fatores desse cotidiano que na maioria das pesquisas que
analisamos, particularmente no campo da psicologia cognitiva, consideram
mais importantes: a extensão do tempo que a criança passa assistindo
televisão; o tempo de mediação adulta; e o conteúdo da programação.
O tempo que a criança passa assistindo a televisão aparece como
fundamental na influência do meio sobre a imaginação infantil. Desde as
primeiras pesquisas empíricas na área, o risco de passividade cognitiva esteve
sempre associado à audiência intensiva, de muitas horas por dia. No caso de
padrões de audiência relativamente baixos, a mediação adulta aparece como o
grande diferencial na qualidade imaginativa da experiência da criança com a
televisão. A televisão pode mesmo nutrir a imaginação se a experiência for
guiada por um adulto que ajude a criança a contextualizá-la a assistir televisão
criticamente e a compreender a linguagem do meio, suas riquezas e
limitações. Embora o temor quanto à passividade cognitiva das crianças na
Internet não seja uma preocupação freqüente em razão do caráter interativo do
meio, é evidente que elas não devem ser abandonadas diante do computador
como se este fosse a velha “babá eletrônica”, agora upgraded.
Outro fator que apareceu como determinante aqui sintetizada é o
conteúdo do que a criança assiste. Nesse sentido, o maior fator limitante à
imaginação pareceu ser o excesso de violência realista. Enquanto temas
pesados ou dramáticos na forma de fantasia são facilmente incorporados ao
faz-de-conta, a violência realista parece dificultar a elaboração lúdica interior.
Enquanto a hipótese predominante na psicologia cognitiva do início dos
anos 80 era a de que assistir a televisão tomava o lugar da brincadeira
imaginativa, pesquisas mais recente mostraram, ao contrário, que o conteúdo
da televisão é incorporado à brincadeira, sendo os heróis, heroínas e
aventuras da televisão usados como matéria prima da vida de fantasia das
crianças. Isso acontece inclusive durante a própria experiência, já que as
crianças brincam e devaneiam com freqüência enquanto assistem televisão.
21
2.1.1 A Manipulação dos Desejos
A fragilidade do imaginário infantil o coloca numa condição que
possibilita a interferência de qualquer elemento que alcance o seu universo.
Quando podíamos expor nossas crianças à liberdade das ruas, ao
universo rico e deslumbrante das brincadeiras de roda, dos elementos da
natureza, do corre-corre, do pega-pega, do esconde-esconde, nossas crianças
estavam diante das coisas provando todas as diferenças e dificuldades,
vivendo sem medos, sem preconceitos.
Ao isolarmos crianças ou deixarmos em condições preestabelecidas
estaremos projetando nelas as limitações que as condicionam à uma forma
deturpada e preconceituosa de viver. Nas ruas a grande exposição às
diferenças, a criação de espaços coletivos, a troca de experiências no desejo
de brincar, as tornam mais tolerantes e sociáveis, suas diferenças não são
ampliadas, e a grande diversidade de tipos humanos ali apresentados são
fatores de desenvolvimento da sensibilidade nas relações pessoais e sociais,
exercitando a tolerância e o carinho amigo, projetando o respeito ao próximo,
exercitando a democracia, portanto, sendo cidadãs.
A rotina estabelecida a uma criança sob a influência da mídia, sugere
uma quantidade limitada de elementos que serão incorporados no imaginário
infantil, e exterioriza uma gama prevista de sintomas e reações necessárias
para o controle eficaz da manifestação infantil, e para a condução de seu
destino.
A mídia quando dominada por uma classe social, divulga uma visão
preconcebida, preconceituosa a às vezes até segregacionista quando, por
exemplo, estabelece um “modus vivendun” que a perpetue.
Nossos meios de comunicação já nos trazem modelos prontos e
acabados, não nos permite discutir ou alterar. A mídia traz tudo “certinho”,
como devemos ser, o que podemos querer, do que devemos temer.
O imaginário infantil quando está exposto a um desenvolvimento natural
nada teme, nada pressupõe nada preconceituosa. Nas ruas, nos ambientes
22coletivos encontramos as crianças convivendo com seus desiguais de uma
maneira harmônica e carinhosa, suas relações exprimem o desejo democrático
de se equilibrar, a prática da solidariedade é clara.
As brincadeiras naturais e primitivas pressupõem igualdade,
fraternidade, não se criam ídolos, deuses nem demônios, o respeito ao mais
capaz, a admiração ao mais belo, a tolerância ao menos capacitado são
explicitadas nas relações do cotidiano da criança que não sofre a interferência
da mídia. Na mídia sempre encontramos manifestações clara de preconceitos
e intolerância, o belo estabelecido pela mídia é endeusado, levado à condição
de superioridade, os mais destacados são colocados na condição de heróis, os
mais simples, humildes e normais são colocados na condição de adoradores e
meros espectadores das ações de seus superiores, deuses e ídolos. Os que
fogem de alguma maneira a estes tipos preconcebidos quando são lembrados,
são colocados na condição de demônios, bruxos, anti-heróis. A exclusão é
clara e indiscutível.
Na televisão a imagem precede a fala e antecipa o sonho, corrompe o
imaginário criativo.
2.1.2 A Determinação do Viver
A criança como ser amável tende a adotar com carinho, aquilo que lhe
dá atenção, aquilo que se apresenta imediato e envolvente. Como bichinhos
de estimação, ela hoje adota os meios de comunicação como seus protegidos,
como seu protetor. Foi uma coisa trabalhada ao longo dos anos, e que se fez
necessária num contexto urbano onde os adultos já não têm mais tempo para
os seus filhos, e a preocupação crescente em querer manter-se empregado e
a se situar dentro dos limites de bom cidadão que a sociedade nos impõem.
A mídia se apresenta à criança corrompendo seus mais sutis
sentimentos, seduzindo seus mais sensíveis desejos, penetrando no seu
imaginário em formação.
Fala-se da televisão, critica-se a televisão, condena-se a televisão,
assiste-se à televisão! Não dá para demonizar a televisão, queiramos ou não,
23somos cidadãos televisivos. A imensa quantidade de pesquisas sobre
televisão, mostra que ainda existe reserva de senso crítico nas pessoas, existe
uma grande parcela que não é plasmável.
Mas ela não é o único meio de comunicação com o qual a criança
mantém os seus primeiros contatos quando ingressa em nosso mundo, ela
também encontra o rádio, e agora começa a ser inserida no mundo cibernético
do computador.
Pressupõe-se que o primeiro elemento que uma criança tem contato,
antes mesmo de nascer, seja o som, logo depois o ar, quando nasce é claro,
portanto a importância do som passa a ser algo determinante na condução dos
seus passos, na preparação de suas reações. O som é algo poderoso, ele
transcende a imagem quando consegue interromper um processo de equilíbrio,
ele é imprevisível quando consegue conduzir a um estado de agitação, ele é
mágico que nos faz viajar pelo mundo sutil da ilusão, do sonho e da fantasia.
A nossa mídia se tornou fantástica depois que aprendeu a trabalhar os
sons, e espetacular quando o associou definitivamente ao mundo das
imagens, inspirando-se numa técnica que graciosamente a natureza sempre se
utilizou.
Antes de interpretar um som, uma fala pode parecer música para uma
criança. O rádio cientificamente trabalhado, se travesti foneticamente de
criança e provoca o sentimento infantil, conduzindo-o para caminhos que
melhor lhe interessem. A reação da criança aos timbres que seu ouvido pode
suportar, a faz associar a melodia da fala suave e doce, ao que é bom, gostoso
e adorável, aquilo lhe soa gostoso. Aquilo é “bom”. O som forte e agressivo,
violento, agride os seus sentidos, aquilo lhe soa ruim, aquilo é “mau”.
Consegue-se manipular os sons para corromper as idéias, direcionar os
sentidos e conduzir as sensações do ser. Pelos ouvidos inocentes de uma
criança, a mídia falada conduz a imaginação e o sonho, o comportamento e
ação.
Nos programas infantis que ora temos a disposição, e que estão sendo
veiculados pelos nossos meios de comunicação mais populares, encontramos
uma inteligência fantástica por parte de seus criadores, no sentido de alienar e
24bestializar nossas crianças. Os aportes da violência gratuita a que eles
recorrem nos parece que só tem um objetivo claro e bem definido, que é o de
nos conduzir a uma destruição total. Transmite ao imaginário infantil a
sensação de medo e dependência, a solução grosseira e absurda pela
violência, a busca do salvador agressivo e protetor. Salvador do que?
A nossa civilização nos faz coitados, a mídia torna as crianças
insignificante, frágil, patética, dirige a sua vida desta forma, para isto ela
precisa de um salvador e crescemos assim, temendo a ver nossa
insignificância arranhada, toda nossa fragilidade exposta e a nossa vida
correndo riscos.
25
CAPITULO III
TELEVISÃO: BABÁ ELETRÔNICA ?
Na turminha da escola ou das brincadeiras, no grupo do condomínio ou
do clube não são necessários muitos detalhes do episódio visto na TV. Às
vezes, basta um nome, o do super-herói ou do desenho animado, para que a
comunicação baseada na cumplicidade da audiência se estabeleça. Mais do
que um grupo, essas crianças formam uma tribo, no sentido que Maffesoli
atribui ao termo, e espalha-se a proxemia, que é uma ocupação simbólica de
um tempo-espaço comum e efêmero.
Inegavelmente, a TV participa da construção de uma visão de mundo da
criança, mas tal construção (descontrução e recriação) não pode ser
apreendida como dissociada do meio social em que se situa a criança.
O telespectador infantil está mergulhado em sua ambiência, e o seu
vivido na família, na escola, no bairro e o que ele compartilha com os colegas é
determinante para sua visão de mundo.
As crianças socialmente mais favorecidas, cujas famílias podem
proporcionar lazer e estímulos variados, têm na TV uma fonte a mais de
entretenimento e informações. Certamente, essas crianças têm mais
oportunidades de comentar e discutir as mensagens televisivas. Não
necessariamente são as mais inteligentes. O que ocorre é que elas dominam
com maior facilidade o código lingüístico culto, têm percepção mais apurada,
pela familiaridade com variados estímulos e experiências diversificadas. A TV
é, sem sombra de dúvida, atraente, mas elas dispõem de outras oportunidades
competidoras de lazer.
O mesmo não se pode dizer das crianças que não têm outra opção além
da companhia da TV. Crianças que ficam só grande parte do dia, sem amigos,
com brinquedos que já não oferecem mais desafios.
26As programações televisivas, em geral, podem oferecer estímulos à
verbalização. Crianças encorajadas a relatar episódios de programas, as
notícias que mais lhe chamaram atenção ou um novo comercial, podem
interpretá-los em suas brincadeiras, exercitar oportunidades sociais de
observação de similitudes e diferenças e verbalizar o que assistiram na TV,
fazendo pontes com sua vida cotidiana.
Nessa ótica, a televisão deixa de ser o produto de análises finalistas,
visto e explicado como alienação, como perda de tempo a ser utilizado no
progresso, no processo de conscientização.
3.1 Uma Televisão só para Bebês
Uma das grandes novidades da televisão americana por assinatura é o
Baby First TV, um canal 24 horas destinado exclusivamente a crianças de 6
meses a 3 anos de idade. Ele reproduz a idéia da BabyTV, emissora criada
em Israel três anos atrás e já presente na Europa, Ásia, Oriente Médio e
Canadá. Alguns especialistas temem que este tipo de iniciativa faça com que
muitos pais se sintam à vontade para deixar os filhos horas a fio diante da
televisão – e conseqüentemente, leve as crianças a adquirir desde muito cedo
o hábito de ver televisão dia e noite.
“O canal foi criado para oferecer uma programação mais adequada a
esta faixa etária”, segundo disse Sharon Rechter, vice-presidente executiva de
desenvolvimento de negócios da Baby First TV.
Dentro desta mesma linha de raciocino observamos o mercado
audiovisual para bebês que têm se revelado um filão e tanto mundo afora. No
Brasil, as vendas de DVDs direcionados a crianças pequenas, como os das
coleções Bebê Mais e Baby Einstein, cresceram cerca de 120% nos últimos
dois anos, segundo informações da Revista Veja. Os programas para bebês
têm o objetivo declarado de estimular habilidades motoras, a memória o
raciocínio e o desenvolvimento da linguagem (o não declarado, mas também
legítimo até certo ponto, é funcionar como uma espécie de “babá eletrônica”).
Sob a orientação de psicólogos, pedagogos e neurologistas infantis, as
27emissoras seguem uma fórmula para segurar a atenção dos pequenos.
Quando há enredo, ele é bastante simples, já que crianças muito pequenas
não conseguem acompanhar histórias elaboradas. Outro recurso é a utilização
de elementos comuns ao universo infantil, como brinquedos e outros bebês.
A maioria das críticas contra a televisão para bebês é mais direcionada
ao uso que os pais podem fazer dela do que ao conteúdo exibido. O maior
risco é justamente o de transformá-la na tal “babá eletrônica” ligada
diuturnamente. “Há pais que lançam mão da TV e dos DVDs para substituir a
atenção e os cuidados que eles deveriam dispensar aos filhos”, diz o
neurologista infantil Mauro Muszakat, professor da Universidade Federal de
São Paulo. “Essas tecnologias podem ser ferramentas bastante úteis para o
desenvolvimento dos bebês, mas o cérebro da criança só processa
informações mediadas por quem elas têm alguma afeição”. Ou seja, a
companhia e a participação dos pais são essenciais. “Os adultos devem estar
perto da criança durante a exibição do programa para interagir com ela. Isso
estreita a relação e ajuda no processo de aprendizagem”, diz a pedagoga
Maria Lucia Suzigan, de São Paulo. Outra recomendação: o tempo máximo
em frente à televisão não deve ultrapassar uma hora diária. “ O excesso de
estimulação visual pode aumentar os riscos de insônia, agitação e
irritabilidade”, diz o neurologista Muszkat.
3.2 Desenhos Animados podem ser Prejudiciais aos seus
Filhos
Pode um filme como o Rei Leão trazer uma mensagem de violência
para as crianças? A exposição de crianças à violência nos meios de
comunicação (principalmente televisão, cinema e agora web) é uma
preocupação para todos os responsáveis. Os defensores dos chamados
“filmes de ação e de terror” perguntaram: quem surgiu primeiro o ovo ou a
galinha? Eles argumentam que na realidade o cinema não induz à violência, e
sim imita a vida, que por sua natureza, é violenta desde que o homem surgiu
na face da Terra, segundo eles.
28Entretanto, estudos clínicos recentes demonstram que pessoas
expostas a filmes nos quais existam cenas de violência realizadas de maneira
gratuita podem levar aos espectadores a apresentarem comportamentos
hostis, e, entre alguns deles, ocorrer uma aceitação maior da violência como
uma maneira de resolver situações de conflito.
As crianças na televisão, a exposição delas à violência as afeta de modo
negativo. Os principais efeitos de ver cenas violentas na televisão são: as
crianças podem se tornar mais temerosas do mundo que as cerca; e podem se
tornar mais agressivas. Nos Estados Unidos, os programas de televisão
exibidos para crianças apresentam cerca de 20 atos de violência por hora.
O videocassete e agora o DVD são fontes importantes de
entretenimento. Estima-se que 96% de crianças pequenas, com idades entre
2 e 7 anos, morem em residências nas quais existam pelo menos um aparelho
de videocassete ou DVD.
Pesquisas anteriores demonstram que crianças nessa idade passam ao
redor de 2 horas por assistindo à programas de televisão, e entre 30 e 90
minutos diários vendo filmes em videocassete ou DVD.
No ano de 1998, cinco entre os dez vídeos mais vendidos nos Estados
Unidos foram desenhos animados, classificados na censura como G (livre para
todas as audiências) pelo Motion Picture Associatio of América. Entretanto,
até o momento, a violência existente em desenhos animados não havia sido
quantificada.
Um novo estudo com a finalidade de quantificar e caracterizar a
violência em filmes de desenho animado de sucesso, 74 destes filmes,
considerados como censura livre, exibidos em cinemas e disponíveis em DVD
foram avaliados em busca de se quantificar cenas de violência em seu
conteúdo.
Este novo estudo conduzido por pesquisadores da Harvard School of
Public Health em Boston, e publicado no número 24 de maio de 2000 no
Journal of the American Medical Association. Para o estudo, os pesquisadores
definiram a violência como sendo atos intencionais com o objetivo de causar
29dano físico, para o coração, ou por puro divertimento; ou o agressor tenha
algum tipo de contato físico com o objetivo de ferir a vítima.
Os filmes avaliados apresentavam uma média de nove e meio minutos
de violência por filme; pelo menos um personagem morria assassinado em
metade dos filmes, e pelo menos um dos personagens era ferido em 46 dos
filmes.
Na maioria dos filmes, a principal arma usada foi o próprio corpo. Por
exemplo, no filme “Aladin”, o personagem termina por derrotar o vilão Jafar,
prendendo o em uma lâmpada mágica, mas não sem antes tentar derrota-lo
usando a força física. No filme “O Rei Leão”, “Simba” luta contra o vilão (seu
tio) recusa-se a matá-lo, mas não faz nada para prevenir a sua morte,
assassinado pelas hienas no final.
A violência entre os personagens de desenhos animados pode passar
desapercebida pelos adultos, ou ser considerada inofensiva, mas os
estudiosos dizem que não é clara qual seria a influência entre as crianças.
Cenas violentas poderiam tornar as crianças habituadas à violência, e para
elas isto passaria a ser algo normal. Além do mais, é possível que as crianças
poderiam tentar imitar a violência dos personagens, porque muitas vezes as
cenas são consideradas como engraçadas e sem conseqüências mais sérias.
Um exemplo disso seriam as cenas em que envolvem o Papa Léguas e
o Coiote – muitas cenas mostram o Coiote caindo em um precipício ou sendo
esmagado por uma imensa pedra, mas ele sobrevive sempre ao final de cada
episódio.
Os pais deveriam ter o controle, segundo os autores, do que os seus
filhos assistem. No caso dos desenhos animados em fita, uma avaliação
prévia do filme por seus pais deveria ser recomendável.
30
CONCLUSÃO
A televisão enquanto meio por si ó não é prejudicial à imaginação da
criança. Seus efeitos perniciosos ou benéficos dependem de seus conteúdos
e linguagens, do contexto da recepção e da qualidade geral da vida da criança
– física, afetiva e poética – não podendo ser isolados dos demais processos
sócio-culturais. Vimos ainda que em situações adequadas as crianças
imaginam enquanto vêem televisão, e depois ainda recriam as imagens da
televisão no seu faz de conta, elaborando-as e fazendo as suas.
Independente do conteúdo veiculado, já é um consenso que a presença da
televisão na infância é reconhecida como uma atividade de lazer chega a
concorrer com as brincadeiras próprias à idade e, para muitos, tornou-se a
única forma de entretenimento. Porém esta mesma fonte de diversão é capaz
de exercer efeitos negativos sobre qualquer indivíduo se usada como a
principal ponte para o mundo, desestimulando-o a vivenciar as próprias
experiências, tornando-o mero viajante, e fechando seus olhos a outras
alternativas de entretenimento e informação. No entanto sobre crianças, que
antes do sete anos mal distinguem realidade de fantasia a exagerada
exposição à televisão é especialmente nociva.
Certamente uma das razões da superexposição é uma falha em nosso
sistema educacional: em média, os alunos passam apenas quatro horas por
dia na escola e o restante do tempo é preenchido pela televisão.
Outra razão para a overdose de televisão está no fato dos pais não
terem muito tempo ou recursos para dedicar se aos filhos, sobretudo nas
classes mais baixas, que usam a televisão como “babá eletrônica”. Poucos
avaliam a influência da televisão na formação da criança.
A televisão, o DVD, o computador e o videogame são recursos
tecnológicos que a sociedade possui, de forma que suas implicações positivas
ou negativas serão produto do modo que estes serão utilizados. Compete a
31sociedade saber aproveitar os recursos positivos destas tecnologias e, se
possível, abreviar seus efeitos negativos.
32
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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PADUAN, R. Brincadeira na tela. Encarte: “Vida digital” . REVISTA VEJA n. 3,ago/2000.
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VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 5. ed. São Paulo:Martins Fontes, 1994.
33
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
As Relações da Criança com a TV 11
1.1 – O Imaginário Infantil 15
1.2 – O Lúdico e Mágico de Ser 16
CAPÍTULO II
A Mídia 17
2.1 – A Influência da Mídia no Imaginário Infantil 18
2.1.1 – A Manipulação dos Desejos 21
2.1.2 – A Determinação do Viver 22
CAPÍTULO III
Televisão: Babá Eletrônica 25
3.1 – Uma Televisão Só para Bebês 26
3.2 – Desenhos Animados Prejudiciais aos seus Filhos 27
CONCLUSÃO 30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 32
ÍNDICE 33