por onde anda a reserva extrativista do alto juruá? .ramos, tatiana figueira de melo. 1 prefÁcio
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Por onde anda a Reserva Extrativista do Alto Juru?
Uma avaliao feita pelos monitores do Projeto de Pesquisa e Monitoramento sobre as mudanas e desafios para o
futuro
Reserva Extrativista do Alto Juru Marechal Thaumaturgo, Acre
Organizao
Mariana Ciavatta Pantoja (coord.) Roberto Rezende Augusto Postigo
Colaborao
Eliza M. L. Costa Natlia de Oliveira Jung
Izonel Karrare
Srie Pesquisa e Monitoramento Participativo em reas de Conservao Gerenciadas por Populaes
Tradicionais Volume 5
Laboratrio de Antropologia e Ambiente LAA/CERES Departamento de Antropologia, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas Unicamp Caixa Postal 6110 CEP 13081-970, Campinas, So Paulo Ncleo de Pesquisa em Antropologia e Florestas AFLORA Centro de Filosofia e Cincias Humanas UFAC BR 364, km 5, Campus Universitrio Distrito Industrial CEP 69.915-900 - Rio Branco, Acre
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Ficha catalogrfica
ndices para catlogo sistemtico:
Srie Pesquisa e Monitoramento Participativo em reas de Conservao Gerenciadas por Populaes Tradicionais.
Coordenao da Srie: Mauro William Barbosa de Almeida Departamento de Antropologia, IFCH - Unicamp Keith Spalding Brown Junior, Museu de Histria Natural, IB Unicamp Coordenao do Projeto de Pesquisa: Mauro William Barbosa de Almeida (coordenador geral) Eliza Mara Lozano Costa (LAA/CERES, coordenadora adjunta) Augusto de Arruda Postigo (LAA/CERES, coordenador adjunto) Mariana Ciavatta Pantoja (AFLORA/CFCH/UFAC, coordenadora adjunta) Conselho editorial: Ado Jos Cardoso (in memorian), Andr Victor Lucci Freitas, Augusto de Arruda Postigo, Bruce Nelson, Carla de Jesus Dias, Cristina Scheibe Wolff, Eliza Mara Lozano Costa, Manuela Carneiro da Cunha, Moiss Barbosa de Souza, Rafael Lus Galdini Raimundo, Rossano Marchetti Ramos, Tatiana Figueira de Melo.
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PREFCIO GERAL
O projeto Pesquisa e Monitoramento da
Diversidade Biolgica e Cultural no Alto Juru para o
Desenvolvimento Regional foi proposto pela UFAC ao
PPBIO/MCT e comeou a ser executado em 2006.
Dentro desse grande projeto, do qual vrios
pesquisadores de diversas disciplinas e universidades
participaram, a equipe do Projeto de Pesquisa e
Monitoramento da Reserva Extrativista do Alto Juru
se fez presente. Esta equipe, composta por
pesquisadores da UNICAMP, da UFAC e por um grupo
de monitores socioambientais moradores da Reserva,
deu continuidade a atividades de pesquisa e
monitoramento dos ecossistemas e da qualidade de
vida que j vinham ocorrendo desde 1993.
O Projeto de Pesquisa e Monitoramento sempre
trabalhou com a seguinte compreenso: o
conhecimento sobre a Reserva vem de duas
nascentes: a dos moradores que possuem a cincia
tradicional da mata e sabem como trabalhar com ela,
e dos professores-pesquisadores que tm a cincia
das universidades. No Projeto de Pesquisa e
Monitoramento, essas duas cincias se uniram. Um
resultado muito importante desta unio tem sido a
publicao de livros, cartilhas e manuais, escritos por
cientistas, moradores da floresta e professores das
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universidades. Estas publicaes integram uma srie
batizada de Pesquisa e Monitoramento Participativos
em Unidades de Conservao Gerenciadas por
Populaes Tradicionais e que foi inaugurada por um
projeto de mesmo nome e financiado pela FINEP entre
1999 e 2003.
Este livro que o leitor agora tem em mos registra
um treinamento realizado no Centro Yorenka tame
(Marechal Thaumaturgo, Acre), entre os dias 29 de
maio e 2 de junho de 2007, do qual participaram
monitores da Reserva e pesquisadores. Tratou-se da
atividade final do projeto financiado pelo PPBIO/MCT.
Na ocasio foi realizada uma ampla avaliao das
mudanas na Reserva aps mais de 15 anos de sua
criao e quase 20 anos do incio da mobilizao e da
luta pela criao da rea. Os pesquisadores atuaram
principalmente na organizao do treinamento e no
apoio tcnico, sendo o debate realizado pelos
monitores, que deram provas de maturidade
intelectual e esprito investigativo. Tal como
verdadeiros cientistas da floresta que so,
expressaram suas reflexes apoiadas em anos de
observao e registro dos processos em curso na
Reserva.
A publicao deste pequeno livro da maior
importncia. Trata-se de uma contribuio para a
gesto verdadeiramente participativa da Reserva e
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que est sendo aqui oferecida por seus prprios
cientistas-moradores e seus parceiros nas
universidades, h 15 anos envolvidos num esforo
colaborativo de pesquisa. Poder ser visto que no
so poucos os desafios que a Reserva atualmente
enfrenta.
No foi possvel reproduzir aqui tudo o que foi dito
e pensado durante o treinamento. O leitor no espere
encontrar aqui respostas prontas, mas sim
inquietaes, perguntas, anlises e sugestes. Esta
publicao tem a inteno de convidar a um debate
amplo e participativo sobre o futuro da Reserva.
Agradecemos a todos os monitores e monitoras
que tm se empenhado com invejvel dedicao ao
esforo que a atividade de pesquisa requer, em
especial quando realizada dentro da floresta e sem as
condies ideais que muitas vezes a academia
oferece. Agradecemos aos cientistas que se
devotaram ao projeto movidos apenas pelo ideal de
colocar seu saber a servio do povo. A Antonio
Barbosa de Melo, o Roxo, e Raimundo Farias Ramos, o
Cabor, pela parceria de trabalho ao longo de todo o
projeto. Agradecemos equipe do Centro Yorenka
tame e tambm Associao Apiwtxa pelo apoio e
hospitalidade. Finalmente, agradecemos a Antonio
Batista de Macedo e Chico Gin, lderes da criao da
Reserva Extrativista do Alto Juru, e a Manuela
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Carneiro da Cunha, que viabilizou o primeiro projeto
de pesquisa.
Mariana Ciavatta Pantoja - UFAC Mauro W. B. de Almeida UNICAMP
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NDICE
ABERTURA DO TREINAMENTO ................. 7
O QUE O CENTRO YORENKA TAME SABER DA FLORESTA? ........................... 10
O QUE PESQUISA E MONITORAMENTO? .................................................................. 13
POR ONDE ANDA A RESERVA EXTRATIVISTA DO ALTO JURU? - UMA AVALIAO FEITA PELOS MONITORES DO PROJETO DE PESQUISA E MONITORAMENTO SOBRE AS MUDANAS E DESAFIOS PARA O FUTURO ................ 15
1. NATUREZA............................................ 15
2. PRODUO .......................................... 26
3. ALIMENTAO ..................................... 32
4. CONDIES DE VIDA ........................... 34
5. GOVERNO E LEIS ................................. 45
PROGRAMAO DO TREINAMENTO ...... 51
PARTICIPANTES DO TREINAMENTO ...... 56
RESULTADO TRANSCRITO EM CARTAZES PELOS GRUPOS DE TRABALHO ............. 59
GRUPO ALTO TEJO (acima da Restaurao) ...... 59 GRUPO AMNIA-ARARA ................................... 61 GRUPO BAG .................................................... 64 GRUPO JURU .................................................. 68 GRUPO TEJO (Abaixo da Restaurao) ............... 70 GRUPO VILA RESTAURAO............................ 73
PLANO DE UTILIZAO DA RESERVA EXTRATIVISTA DO ALTO JURU ............ 76
SNUC SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAO ............... 85
ABERTURA DO TREINAMENTO
Mauro Almeida, professor da Unicamp e pesquisador da regio desde 1982
Eu estou falando nesta abertura em nome da coordenao
desse projeto, e quero fazer alguns agradecimentos. Eu acho que
uma ocasio muito interessante. Eu queria j comear
agradecendo ao Benki por este espao maravilhoso do Centro
Yorenka tame, por esta demonstrao de organizao, de
inteligncia e de criatividade da comunidade Ashaninka em
produzir este espao maravilhoso e o oferecer para este
treinamento. Agora comeo de uma nova aliana para trabalhar
junto, e eu espero muitas outras coisas no futuro. Agradecer
tambm quem trabalhou para tornar possvel este treinamento
aqui: a Mariana, em Rio Branco, o Augusto e o Roberto, em
Campinas, o Roxo, em Cruzeiro do Sul, pessoas que no esto
morando aqui dentro, mas que de fora da Reserva possibilitaram
ns estarmos hoje aqui reunidos.
E agradecer a todos vocs, os monitores e as monitoras da
Reserva j de tanto tempo, e aqueles seringueiros e amigos
veteranos, que esto aqui dentro mostrando que ainda esto
empenhados no sonho da Reserva Extrativista. Todos vocs so
pessoas que representam uma coisa que deve ser motivo de muito
orgulho: que isso aqui no um lugar sem dono porque tem
aquelas pessoas responsveis, aqueles antigos que tm
conscincia e tm muito interesse em que o sonho da Reserva,
que o sonho da floresta ser do seringueiro que mora nela, que isto
v para frente, seja um exemplo. Ento um agradecimento por
vocs estarem aqui. E no s os antigos, mas tambm os novos,
os que no eram nem nascidos quando a Reserva foi criada.
Vocs sabem que o decreto de criao da Reserva Extrativista
do Alto Juru de janeiro de 1990, e naquela data havia uma
reunio num espao maior do que este aqui, construdo na boca do
rio Bag, que era o primeiro smbolo da organizao dos
seringueiros. Era um armazm da cooperativa dos seringueiros, e
foi construdo em 1989. Ento, em 1990, a gente estava
co