ponto de colheita de milho - odair j. marques

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PONTO DE COLHEITA E SUAS IMPLICAÇÕES NA QUALIDADE DO MILHO 1 Odair José Marques 2 1. Introdução O milho, cereal amplamente difundido e produzido pelos mais diversos povos no mundo, se destaca pela sua diversidade de usos e aplicações, sobretudo na alimentação humana e animal, tendo importância sócio-econômica fundamental no Brasil, por estar presente em todos os níveis tecnológicos de nossa agricultura, variando dos extremos “agricultura de subsistência”, até imensas áreas cultivadas sob “agricultura de precisão” (SANTOS et al., 2002). O milho constitui parte essencial da base alimentar dos seres humanos, seja pelo seu consumo direto na forma de milho verde, milho em conserva, milho pipoca, fubá, farinha, amido e outros ou pelo consumo indireto como produtos de origem animal (SANTOS et al., 2002). Nesse fato reside a importância de que todos os “elos” da cadeia produtiva do milho trabalhem para que seja ofertado um produto de qualidade ao consumidor final. De nada adianta produzir bem no campo, se nas etapas seguintes o produto sofrer deteriorações que comprometam sua qualidade alimentícia. No caso específico do milho, a diminuição da qualidade do produto começa ainda no campo de produção, onde, por “conveniência econômica”, principalmente, o produto é secado na planta. A prática de secagem na planta é largamente utilizada pelos agricultores, porque a mesma requer o mínimo de investimento. Todavia, esta prática pode ser o início das grandes infestações de pragas de grãos armazenados e das atividades metabólicas de fungos (JOHNS e BROWN, 1941; MEJIA,1979; HALL, 1980). A alegação das unidades receptoras de produtos agrícolas (cooperativas e cerealistas) é de que milho com alto grau de umidade, em geral maior que 22%, gera alto custo e demora no processo de secagem, levando a redução da remuneração ao produtor. Por outro lado, segundo MARCOS FILHO (2005) a prática de secar o milho no campo leva a perda considerável de biomassa seca dos grãos por respiração, a partir da maturidade fisiológica. Consequentemente, o produtor deixa de comercializar aquilo que produziu na sua totalidade, uma vez que não explora de maneira contundente esse máximo acúmulo de biomassa seca. Segundo MARCOS FILHO (2005), o período entre a maturidade fisiológica e a colheita do milho é crítico, pois os grãos (sementes) permanecem presos à planta e expostos à ação de fatores bióticos e abióticos, de modo que a intensidade da deterioração depende do nível de adversidade enfrentado pelo grão e do período de exposição a essas condições. 1 Seminário apresentado na disciplina Produção de grandes culturas I – Programa de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá. Maringá, março, 2008. 2 Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, (0xx44) 9962-9046, [email protected] , Maringá – PR.

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PONTO DE COLHEITA E SUAS IMPLICAÇÕES NA QUALIDADE DO MILHO1 Odair José Marques2 1. Introdução O milho, cereal amplamente difundido e produzido pelos mais diversos povos no mundo, se destaca pela sua diversidade de usos e aplicações, sobretudo na alimentação humana e animal, tendo importância sócio-econômica fundamental no Brasil, por estar presente em todos os níveis tecnológicos de nossa agricultura, variando dos extremos “agricultura de subsistência”, até imensas áreas cultivadas sob “agricult

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Page 1: Ponto de Colheita de Milho - Odair J. Marques

PONTO DE COLHEITA E SUAS IMPLICAÇÕES NA QUALIDADE DO MILHO1

Odair José Marques2

1. Introdução

O milho, cereal amplamente difundido e produzido pelos mais diversos povos no

mundo, se destaca pela sua diversidade de usos e aplicações, sobretudo na alimentação

humana e animal, tendo importância sócio-econômica fundamental no Brasil, por estar

presente em todos os níveis tecnológicos de nossa agricultura, variando dos extremos

“agricultura de subsistência”, até imensas áreas cultivadas sob “agricultura de precisão”

(SANTOS et al., 2002).

O milho constitui parte essencial da base alimentar dos seres humanos, seja pelo seu

consumo direto na forma de milho verde, milho em conserva, milho pipoca, fubá, farinha,

amido e outros ou pelo consumo indireto como produtos de origem animal (SANTOS et al.,

2002). Nesse fato reside a importância de que todos os “elos” da cadeia produtiva do milho

trabalhem para que seja ofertado um produto de qualidade ao consumidor final. De nada

adianta produzir bem no campo, se nas etapas seguintes o produto sofrer deteriorações que

comprometam sua qualidade alimentícia.

No caso específico do milho, a diminuição da qualidade do produto começa ainda no

campo de produção, onde, por “conveniência econômica”, principalmente, o produto é secado

na planta. A prática de secagem na planta é largamente utilizada pelos agricultores, porque a

mesma requer o mínimo de investimento. Todavia, esta prática pode ser o início das grandes

infestações de pragas de grãos armazenados e das atividades metabólicas de fungos (JOHNS e

BROWN, 1941; MEJIA,1979; HALL, 1980).

A alegação das unidades receptoras de produtos agrícolas (cooperativas e cerealistas) é

de que milho com alto grau de umidade, em geral maior que 22%, gera alto custo e demora no

processo de secagem, levando a redução da remuneração ao produtor. Por outro lado, segundo

MARCOS FILHO (2005) a prática de secar o milho no campo leva a perda considerável de

biomassa seca dos grãos por respiração, a partir da maturidade fisiológica.

Consequentemente, o produtor deixa de comercializar aquilo que produziu na sua totalidade,

uma vez que não explora de maneira contundente esse máximo acúmulo de biomassa seca.

Segundo MARCOS FILHO (2005), o período entre a maturidade fisiológica e a

colheita do milho é crítico, pois os grãos (sementes) permanecem presos à planta e expostos à

ação de fatores bióticos e abióticos, de modo que a intensidade da deterioração depende do

nível de adversidade enfrentado pelo grão e do período de exposição a essas condições. 1 Seminário apresentado na disciplina Produção de grandes culturas I – Programa de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá. Maringá, março, 2008. 2 Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Agronomia, Universidade Estadual de Maringá, (0xx44) 9962-9046, [email protected], Maringá – PR.

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2. Ponto de colheita

É consenso entre diversos autores de que a umidade dos grãos, como característica

isolada, não serve para determinação do ponto de colheita devido a influências ambientais e

genéticas, sendo necessária a observação de outras características, tais como formação da

camada preta, linha de solidificação do endosperma e acúmulo de biomassa seca (BORBA et

al., 1994; SANTOS, 1998; MARCOS FILHO, 2005; ARAÚJO et al., 2006).

2.1. Maturidade fisiológica e acúmulo de biomassa seca

A maturidade fisiológica é caracterizada pelo máximo acúmulo de biomassa seca na

semente (DELOUCHE,1971; CHAMMA et al., 1990; TEKRONY e EGLI, 1997). Por sua

vez, CROOKSTON e HILL (1978), ELLIS e PIETA FILHO (1992), concordam que a

maturidade fisiológica é alcançada quando não mais ocorrem acréscimos significativos de

biomassa seca nas sementes.

Dessa maneira, a princípio, seria conveniente que a colheita se sucedesse logo após a

maturidade fisiológica. Todavia, nessa fase, os grãos apresentam alto grau de umidade, sendo

ainda, incompatíveis com a colheita mecanizada, devido às dificuldades de debulha em

função do excesso de partes verdes e úmidas das plantas, podendo causar severas de injúrias

mecânicas por amassamento dos grãos (MARCOS FILHO, 2005).

Por outro lado, o milho colhido com umidades inferiores a 18% perde biomassa seca

no campo por respiração, sofre maiores injúrias dos mecanismos de debulha, gerando fissuras

ou escarificações no pericarpo do grão ou mesmo a ruptura do endosperma, expondo seu

conteúdo à ação de insetos e de fungos com conseqüente formação de micotoxinas, gerando

reflexos negativos na potencialidade de armazenamento e na qualidade do produto (MARCOS

FILHO, 2005).

As características de grau de umidade e acúmulo de biomassa seca nos grãos de milho

são variáveis em função do genótipo e da época de semeadura, e determinam o ponto de

máxima qualidade fisiológica da semente de milho (RENCH e SHAW, 1971).

A qualidade física dos grãos de milho tem relação direta com a integridade do

pericarpo. Se houver danos mecânicos que comprometam a integridade do pericarpo, forma-

se uma porta de entrada para colonização e desenvolvimento de microorganismos,

principalmente fungos. Esses danos mecânicos podem estar relacionados aos processos de

colheita, transporte, secagem e armazenamento (NETTO et al., 1999; RUFFATO et al., 2001).

Por outro lado, a qualidade fisiológica dos grãos de milho se relaciona com a qualidade física

dos grãos, com a biomassa seca acumulada e com ausência de deteriorações promovidas por

insetos, fungos e bactérias (BORBA et al., 1994; ARAÚJO et al., 2006).

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O período de manutenção de níveis elevados de biomassa seca na semente depende

diretamente da influência do ambiente, pois condições menos favoráveis de umidade relativa

do ar, temperatura e a ação de insetos e microrganismos, em geral, contribuem para a

aceleração do processo respiratório e a conseqüente oxidação de substâncias de reserva, com

redução da massa da semente (MARCOS FILHO, 2005).

OLIVEIRA et al. (1997), trabalhando com efeitos dos processos de colheitas sobre a

qualidade física e fisiológica das sementes de milho, constataram que as sementes colhidas

mecanicamente apresentaram 96,6% de pureza, constando de impurezas fragmentos de

sementes resultantes do processo de colheita.

De acordo com SMITH e BERJAK (1995) e MARCOS FILHO (2005), os fungos são

capazes de infectar as sementes durante o seu desenvolvimento ou contaminá-las após o ponto

de maturidade fisiológica, durante o período que elas permanecem no campo, constituindo o

inóculo inicial. Entretanto, para que possam causar algum dano às sementes, esses fungos

terão que invadir e colonizar os tecidos internos das sementes, sendo favorecidos pelas

condições ambientais de alta umidade relativa do ar e alta temperatura e, principalmente, pela

presença de injúrias mecânicas no pericarpo das sementes.

2.2. Linha de solidificação do endosperma

A linha de solidificação do endosperma (Figura 1) ou “linha do leite” como os

agricultores a chamam, constitui um excelente indicador do ponto de colheita do milho e, é

visível na parte posterior do grão, isto é, a face voltada para a base da espiga. A linha de

solidificação do endosperma é dividida em 5 estágios (Figura 2), sendo:

•••• Estágio 1: o endosperma se encontra totalmente líquido, sem nenhum sinal

evidente de solidificação (ponto de pamonha);

•••• Estágio 2: 25% do endosperma se encontra endurecido no ápice do grão de milho,

sendo visível a linha divisória entre as fases líquida e sólida do endosperma;

•••• Estágio 3: 50% do endosperma se encontra endurecido e a linha de solidificação é

visível na porção mediana do grão;

•••• Estágio 4: 75% do endosperma endurecido e a linha de solidificação se aproxima

da base do grão; esse estágio, em geral, coincide com a maturidade fisiológica do

grão de milho;

•••• Estágio 5: 100% do endosperma endurecido, a linha de solidificação não é mais

visível.

AFUAKWA e CROOKSTON (1984) sugeriram algumas vantagens para a utilização

da linha de solidificação do endosperma como método confiável para a estimativa da

maturidade fisiológica do grão de milho:

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•••• A linha de solidificação do endosperma pode ser visivelmente detectada, ao

contrário do desenvolvimento da camada preta a qual surge no final do processo;

•••• O movimento da linha de solidificação do endosperma pode ser acompanhado

durante todo o processo de maturação;

•••• Não são necessários instrumentos para a determinação da posição da linha de

solidificação do endosperma, assim como não são necessários registros para que se

possa determinar a posição dessa linha.

Figura 1 – Linha de solidificação do endosperma em grãos de milho. Fonte: Embrapa, 2002.

(a) (b) (c) (d) (e)

Figura 2 – Representação esquemática dos cinco estádios da linha de solidificação do endosperma do grão de

milho, (a) 0%, (b) 25%, (c) 50%, (d) 75% e (e) 100% de solidificação.

2.3. Camada preta

Outra característica da cultura do milho que pode ser utilizada como indicativo do

ponto de colheita é a presença da camada preta (Figura 3) na base do grão.

A camada preta se forma em um período aproximado de três dias num grão individual.

Considera-se que as sementes atingiram a maturação fisiológica quando 75% das espigas

apresentam as sementes da parte central da espiga com a camada preta bem formada

(PIONNER HI-BRED CORN COMPANY, 1971).

DAYNARD e DUNCAN (1969) descreveram que as células embrionárias existentes

na base das sementes (Figura 4), na região de inserção com o sabugo, abaixo do tegumento, se

tornam comprimidas e formam a camada preta e consideraram que tal evento é um meio

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conveniente para determinação do ponto de máximo acúmulo de biomassa seca nos grãos de

milho e, relacionaram algumas vantagens do uso dessa técnica:

•••• Sua presença ou ausência pode ser facilmente detectada;

•••• Seu desenvolvimento é relativamente rápido, ocorrendo no final da fase de

enchimento dos grãos;

•••• Seu ponto final se relaciona com o acúmulo máximo de biomassa seca;

•••• A camada preta está presente na maioria dos híbridos.

Figura 3 – Camada preta em grãos de milho. Fonte: Marques, 2008.

Figura 4 – Formação da camada preta em grãos de milho. Fonte: Embrapa, 2003.

BORBA et al. (1994) trabalhando com híbridos simples de BR-201 fêmea concluíram,

com base no acúmulo máximo de biomassa seca (Figura 5), que o ponto de máxima qualidade

fisiológica ocorreu aos 65 dias após a floração e que, para obtenção de sementes de alta

qualidade, a colheita poderia ser iniciada a partir do 55º dia após a floração, quando as

sementes apresentavam 87% de germinação e 82% de vigor, com 95% das sementes

apresentando a camada preta (Figura 6).

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Figura 5 – Acúmulo de biomassa seca em sementes de milho híbrido BR-201. Fonte: Borba et al., 1994.

Figura 6 – Presença da camada preta em sementes de milho híbrido BR-201. Fonte: Borba et al., 1994.

3. Massa específica e porosidade

Segundo MOREIRA et al. 1985, o conhecimento da massa específica (ρap) de

produtos agrícolas é de aplicação direta em problemas de secagem, aeração, armazenamento e

empacotamento desses materiais, sendo, portanto, juntamente com outras propriedades físicas,

é um fator importante na separação e classificação de grãos e sementes.

A massa específica aparente de um sólido poroso, como os grãos de culturas agrícolas,

é definida como a relação entre a sua massa e o seu volume, incluindo os espaços vazios

(porosidade inter-granular). Já a massa específica real (ρr) não inclui a porosidade, sendo, por

sua vez, superior a massa específica aparente. Do ponto de vista prático, apenas a massa

específica aparente e a porosidade são importantes no armazenamento e na conservação dos

produtos agrícolas.

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A forma e tamanho dos grãos influenciam na massa específica, bem como, o tipo do

grão de milho, duro, dentado, semiduro, etc.

A porosidade é uma propriedade física que está diretamente ligada à massa específica

aparente. Quanto maior for a porosidade inter-granular, maior será a eficiência e a velocidade

de secagem do produto agrícola, devido a menor resistência à passagem do ar de secagem,

resultando em menor pressão estática.

4. Classificação comercial do milho

A classificação do milho, conforme a Portaria nº. 845 de 08/11/1976 do Ministério da

Agricultura é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 – Classificação do milho, conforme a Portaria nº. 845 de 08/11/1976 do MA.

Avariados2 (%) Tipo Umidade (%) Impurezas

1 (%)

Total2 (%) Ardidos

3 (%)

1 14,5 1,5 11,0 3,0 2 14,5 2,0 18,0 6,0 3 14,5 3,0 27,0 10,0

1Impurezas constituídas de matérias estranhas, fragmentos de milho insetos ou de plantas, inclusive do milho, sabugos, palhas, terra, pó. 2Grãos quebrados, ou fragmentos de grãos que ficaram retidos na peneira com orifício circular de 5 mm, grãos chochos, grãos imaturos, bem como grãos ardidos e brotados ou danificados por insetos. 3Grãos ardidos e brotados

Segundo MARTINEZ e BONZATTI (2002), na comercialização do milho as

empresas compradora adotam a seguinte classificação, em função do destino do milho para

industrialização:

•••• Para ração animal:

o Umidade até 14,0%;

o Impurezas até 1,0% na peneira de 3mm; às vezes até 3,0% na peneira de

5mm;

o Ardidos até 6,0%, na maioria das vezes, para evitar fungos e micotoxinas.

•••• Para consumo humano:

o Umidade até 14,5%;

o Impurezas até 3,0% na peneira de 5mm;

o Ardidos até 10,0%, na maioria das vezes, para evitar fungos e micotoxinas.

o Trincas, o mínimo possível.

5. Fungos e micotoxinas

Os fungos exercem uma forte influência sobre a cadeia produtiva de grãos, sobretudo,

na produção de milho. A qualidade sanitária dos grãos de milho está relacionada com o nível

de contaminação por fungos e micotoxinas produzidas por esses fungos (LAZZARI, 1997).

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As micotoxinas, entre elas as aflatoxinas, ocratoxinas, tricotecenos, zearalenona,

fumonisinas e os alcalóides de ergots, são de grande significância na saúde pública e na

agropecuária, sendo responsáveis por prejuízos de milhões de dólares anuais em saúde

humana, animal e produtos agrícolas (HUSSEIN e BRASEL, 2001).

Os fungos produtores de micotoxinas são saprófitos habituais do solo, ar e quando o

meio ambiente é propício, colonizam diversos substratos (FREITAS e BADOLATO, 1992) e,

dando-se condições necessárias para o crescimento fúngico e produção de micotoxinas, os

produtos agrícolas podem ser contaminados no campo (Figura 1), após a colheita, no

transporte e armazenamento (LAZZARI, 1997; CÔRREA, 2000).

Figura 6 – Ciclo fúngico no campo. Fonte: Freitas e Badolato, 1992.

Segundo TANAKA (2001), vários fungos podem permanecer associados às sementes

de milho durante o armazenamento, causando deterioração ou se mantendo viáveis. As

toxinas já produzidas podem permanecer no alimento mesmo após a morte do fungo, e se

apresenta em alimentos onde não são verificadas alterações visíveis (LAZZARI, 1997;

SILVA, 2005).

Através de estudo de prevalência, a contaminação de grãos por fungos aflatoxigênicos

por A. flavus (Figura 8 e 9) é predominante sobre o A. parasiticus e sua produção é favorecida

por temperaturas entre 23-26ºC e umidade relativa do ar acima de 75%, sendo que a umidade

relativa do ar acima de 85% e temperatura em torno de 27º C favorece o crescimento e a

produção de aflatoxinas (PRADO et al., 1989; LAZZARI, 1997).

As aflatoxinas têm ponto de fusão alto, são estáveis ao calor sendo decompostas à

temperatura de cerca de 220 ºC (SCUSSEL, 1984), ou seja, em muitos casos apenas o

cozimento dos alimentos não elimina possíveis contaminações por aflatoxinas.

Os tipos de aflatoxinas (primárias) que existem são B1, B2, G1, G2 e são distinguíveis

cromatograficamente por suas fluorescências azuis (B de “Blue”) para aflatoxinas B1 e B2 e

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verdes (G de“Green”) para aflatoxinas G1 e G2 quando observados sob luz ultravioleta a 365

nm (LAZZARI, 1997).

a b Figura 8 – Aspergillus flavus, (a) em espiga de milho e (b) em amendoim. Fonte: Lazzari, 2001.

O consumo de rações contendo farelo de amendoim, milho ou qualquer outro alimento

contaminado com aflatoxinas pode causar a morte de animais ou diminuir seu desempenho,

desenvolvimento e produção de maneira que só será percebida quando o prejuízo já ocorreu,

além de provocar câncer no fígado de várias espécies (ANDRADE, 2004). Níveis máximos

permitidos de aflatoxinas em alimentos para consumo humano em alguns países são

apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Níveis máximos permitidos de aflatoxinas em alimentos para

consumo humano. País Nível máximo (mg.kg

-1) Alimento

União Européia 2 (B1); 4 (total) Cereais e produtos processados Austrália 5 (total) Todos os alimentos Brasil 20 (total) Amendoim e milho Índia 30 (total) Todos os alimentos Japão 10 (total) Todos os alimentos Singapura 0 Todos os alimentos África do Sul 5 (B1); 10 (total) Todos os alimentos Suécia 5 (total) Todos os alimentos Alemanha 2 (B1); 4 (total) Todos os alimentos 0,05 (total) Alimentos infantis

Fonte: Fonseca, 2007

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A Tabela 3 apresenta alguns dados sobre as principais micotoxinas encontrada nos

alimentos.

Tabela 3 – Principais micotoxinas.

Fonte: Fonseca, 2007 De acordo com LAZZARI e LAZZARI (2001), os impactos negativos (Tabela 4)

causados pela má qualidade do milho em função da ação de insetos, fungos e bactérias, bem

como, de intempéries climáticas como ventos, excesso de chuva na fase final de maturação e

geada, no caso de milho de safrinha, afetam todos os elos da cadeia produtiva do milho.

Tabela 4 – Impactos da má qualidade do grãos de milho nos principais elos da sua cadeia

produtiva. Elo da Cadeia Impactos

Produtor Rejeição de cargas, custos para comercializar, descontos e preço baixo. Armazenista Aumento de custos de recebimento, de segregação de cargas, de

secagem, riscos contaminação de outros lotes durante o armazenamento, custos para diluição e comercialização.

Processador Redução no rendimento, rejeição de lotes, riscos de contaminação do alimento, custos de análise e vigilância sanitária.

Produção animal Interferência no desenvolvimento dos animais domésticos, micotoxicoses, descartes de carcaças no abatedouro.

Exportador Restrições contratuais e barreiras extra-tarifárias para grãos, carnes, leite e derivados desses produtos e devolução de mercadorias.

Consumidor Segurança alimentar, riscos de consumo de alimentos contaminados, gastos com hospitais e medicamentos.

Governo Perda de reputação, perda de mercados, custos com vigilância sanitária, com saúde pública e com barreiras extra-tarifárias.

Fonte: Adaptado de Lazzari e Lazzari, 2001

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6. Conclusões

Colher bem aquilo que se produz é tão importante quanto produzir. A etapa de colheita

dos produtos agrícolas deve ser encarada como de fundamental importância para a

manutenção da qualidade desses produtos na pós-colheita.

Na cultura do milho, a colheita antecipada pode contribuir para obtenção de um

produto de melhor qualidade física e sanitária, permitindo ao agricultor um maior retorno do

investimento realizado na cultura.

7. Referências bibliográficas

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