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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM MARISOL PATRÍCIA SAUCEDO REVOLLO LAGE DO ASSISTENCIALISMO À INTERVENÇÃO SOCIAL: O VOLUNTARIADO NA CONSTRUÇÃO DE AGÊNCIAS São Paulo 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

MARISOL PATRÍCIA SAUCEDO REVOLLO LAGE

DO ASSISTENCIALISMO À INTERVENÇÃO SOCIAL:

O VOLUNTARIADO NA CONSTRUÇÃO DE AGÊNCIAS

São Paulo

2019

MARISOL PATRÍCIA SAUCEDO REVOLLO LAGE

DO ASSISTENCIALISMO À INTERVENÇÃO SOCIAL:

O VOLUNTARIADO NA CONSTRUÇÃO DE AGÊNCIAS

Dissertação a ser apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Orientadora: Professora Dra. Fernanda Coelho Liberali.

São Paulo

2019

FICHA CATALOGRÁFICA

LAGE, Marisol Patrícia Saucedo Revollo. Do assistencialismo à intervenção social: o

voluntariado na construção de agências, 249 fls, 2019.

Dissertação de Mestrado: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Área de concentração: Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

Orientadora: Profa. Dra. Fernanda Coelho Liberali

Palavras-chave: Intervenção social. Voluntariado. Agências. Escola bilíngue de elite.

Autorizo a reprodução e a divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer

meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

MARISOL PATRÍCIA SAUCEDO REVOLLO LAGE

DO ASSISTENCIALISMO À INTERVENÇÃO SOCIAL: O VOLUNTARIADO NA

CONSTRUÇÃO DE AGÊNCIAS

Dissertação a ser apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________ Profa. Dra. Fernanda Coelho Liberali – Orientadora Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ______________________________________________ Profa. Dra. Antonieta Heyden Megale Instituto Singularidades ______________________________________________ Profa. Dra. Angela Lessa Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ______________________________________________ Prof. Dr. Francisco Estefogo Universidade Unitau ______________________________________________ Profa. Dra. Maria Cecília Camargo Guimarães Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo, ________ de ___________ de 2019.

Dedico

A meu amado pai, Felipe Saucedo Gutierrez (Tití),

pelo exemplo de coragem, generosidade e ética.

A minha mãe, Marilú,

por todos os conselhos, incentivo e infinita ternura.

As minhas avós, Maria Luz e Elvira (In memorium),

pela inspiração.

Ao meu amor, João Paulo,

pela compreensão e pelo apoio incondicional nesta caminhada.

A meus filhos, Felipe e Eduardo,

por iluminarem a minha vida. Amo vocês!

A meus irmãos, Elvira, Gustavo, Norma, Cecilia, Tatiana e Galeano,

por estarem sempre ao meu lado.

Às irmãs da congregação Assunção, homenagem especial à Santa Madre Maria

Eugênia e Madre Marta (in memoriam),

pelo exemplo de luta e educação por justiça social.

"Devemos ser fortes e ter uma ação incisiva, mesmo em nossa pequena esfera"

Santa Madre Maria Eugênica

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

AGRADECIMENTOS

“De la abundancia del corazón habla la lengua.”

Miguel de Cervantes

E é com o coração transbordando de alegria que registro a minha profunda gratidão...

A Deus e Nossa Senhora em primeiro lugar.

À minha querida orientadora Fernanda Liberali, por ter acreditado, por ter me acolhido

na família LAEL, por ter me desafiado a dar o melhor de mim, pela paciência e por ter me

incentivado a levantar altos voos, até então inimagináveis e inatingíveis... Gratidão e amor!

À iluminada Antonieta Megale, a quem devo a coragem de ter dado o primeiro passo e

que me introduziu no caminho da pesquisa, obrigada pela generosidade imensurável em

compartilhar seu tempo e ensinamentos e ainda me dar a honra de ter a sua presença em

minha banca e na minha vida, amo você!

Ao meu amigo, querido Professor Dr. Francisco Estefogo, por ter dedicado seu tempo

na leitura tão crítica e cuidadosa da minha investigação e pelo afeto de sempre.

À Professora Dra. Ângela Lessa, pela gentileza e atenção de ter aceitado fazer parte da

minha banca.

À querida Professora Dra. Maria Cecília Magalhães, por todo o acolhimento,

ensinamentos, palavras de carinho e incentivo.

À escola onde desenvolvi a pesquisa, Colégio Miguel de Cervantes, em especial:

À professora Amélia Salazar, pelo apoio incondicional, pela valiosa contribuição na

minha vida pessoal, crescimento profissional, por ter me presenteado, acreditado e validado

cada etapa do projeto “Quixotes Solidários”. Gratidão eterna e admiração profunda!

À diretora Lourdes Ballesteros por permitir, incentivar, fomentar e ousar com projetos

que “atravessam os muros da escola” e fazem a diferença. ¡Gracias por la oportunidad, apoyo

y cariño!

Ao diretor Moises de Jesus Domingues, que, assim que entrou no colégio, abraçou

com interesse a ideia projeto do Quixotes solidários, obrigada pela consideração, apreço e

parceria.

Aos chefes de Estudos César Bardillo Ramos e Rafael Ruanovas, pela compreensão e

apoio.

À minha querida colega e hoje amiga Alexandra Onias (Leky), por toda a

cumplicidade, companheirismo e energia! Muito obrigada por ter aceitado a empreitada ao

meu lado.

Às educadoras Maria Aparecida Quartero Menezes (Cidinha), Eliane Reame, Nilsen

Maria Vivan de Oliveira, Cleide Terzi e Mª Teresa Aranda (Terry), por estarem sempre

presentes na minha matriz pedagógica e na minha história.

À Márcia Pereira de Carvalho, por não me deixar desistir, por me ensinar a persistir.

Você iluminou o meu caminho. Obrigada querida!

A todos os integrantes do grupo LACE, colegas, companheiros de viagens e de

apresentações, em especial: Susan Clemesha, Ligia Kremmer, Brenda Treco, Carla Sparano,

Viviane Carrijo, Jéssica Santos, Camila Santiago, Cristina Damianovic, Elias Paulino,

Elisangela Pereira de Jesus, Feliciana Amaral, Beatriz Amaral, Toni Silva Demambro,

Daniela Barttholo, Maria Regina Passos, Camila Dias, Clarissa Liberali, André Liberali,

Selma Patovilla, Cristina Maeney, Luilla Barroso, Afranio Telles, Fabricia Teles, Everton

Pêssoas, Fernanda Guidi, Elisangela Janon, Claudio da Rocha, Samanta Malta e Carla

H.Siqueira. Que sorte a minha ter conhecido vocês, pessoas especiais, conectividade e

cumplicidade desde o início.

À Maria Lúcia (Marilú), secretária do LAEL pela atenção e paciência,

Aos orientadores do colégio, em especial às amigas queridas Vivian Cristianini por me

acolher como parceira e me dar a oportunidade de aprender sempre com sua sensibilidade e

competência, à Valéria Ribeiro da Silva Graziano, por compartilhar o sonho de desenvolver

projetos de voluntariado e vibrar comigo a cada conquista, à Kátia Pupo, pelos conselhos

acadêmicos e a oportunidade de trabalhar com os alunos do Ensino Médio; à Ciça G. de

Marcilio e Denise grata por todo o apoio, carinho e amizade.

À minha companheira de trabalho Rocio de Simon Eiras, por me ensinar, a cada dia,

com seu exemplo de determinação e doçura.

Às idealizadoras do projeto, Tarcila Reis Ursini e Daniela Café, por tanta

sensibilidade, criatividade e reciprocidade.

À Tatiana de Paula por todo o carinho, amizade, afeto e sábios conselhos.

Aos meus queridos amigos que acompanharam a minha trajetória no mestrado dos

quais senti a energia, a preocupação, o carinho e nutro profunda admiração e respeito:

Ana Lúcia Ravagnani, Marilia Marques Bellintani, Marina D. Ribeiro Tiso, Talita

Cuellar, Suzana Cristinna G.B. Almeida, Lila Sturm, Maria Abadia, Elvira Aranha, Beatriz

Melfi, Martha Medeiros, Ana Maria Fioratti, Marizilda Roque, Maria Ignês Freitas, Andrezza

Conchette, Paula Sousa B, Marco Antonio Augusto, Simone Seifert, Fernanda Baruel,

Claudia Galván, André da Costa Cabral, Jorge Pedrosa, Lara Aziz, Ivanilda Mora, Viviane

Moreira, Karin Lellis, Karin Arriagada, Giovanna Landriscina, Lucinda Cavaleiro, Rose

Carone, Heloisa Muller, Marlei Ferrara, Déborah Ferrari, Pollyanna Cardoso, Luciene

Goettems, Sueli Vieira, Katia Sato, Ana Lúcia T Nunes, Renara Toscani, Beatriz Bordignon,

Roseli Lepique, Mário Ilde Velasco de Abreu Alves , Eliane Giordano, Grace Kelly, Carla

Abreu, Samira Diniz, Carlos Ribeiro Mousalli, Solange Mesquita, Lilia Sabença, Rafael

Mello, Ana Maria Premero, Amália Senise, Ivo Bonfiglioli e Ana Valéria Turbiani ,Cristina

Lage, Telma Ojima, Marcus Baldini, Anna Karolina Miranda, Marinês Marques, Claudia

Lemos, Conceição Ananias (Conchita), Claudia Funcia, Mônica Moutinho, Renata Araújo,

Dida Araújo, Isabel Assumpção, Isabel Bisignano, Marinês Marques, Elisabete Martins,

Vivian Ferri, Roberta Mendes, Daniel Mendes, Haleena Moya, Bruna Montoro, Ana Maria

Crispim, Dulce Stoll, Gina Machado, Angela Melo e à Irene M. Brasso que fez tantas revisões

para meus congressos com dedicação singular, à Silvia Russo e irmã Judite pelo material de

Madre Maria Eugênia.

Ao Cervantes Solidário, em especial, à Regina Elisa Bueno Galvão, pela receptividade

e amizade.

Ao departamento de Atividades Extracurriculares: Antonio Abello Rovai, Alessandra

Ruiz Fernandez e Giovanna Pegado Loschiavo, por organizarem com tanta dedicação a

logística dos “Quixotes Solidários” de maneira impecável.

Às famílias dos alunos que acreditaram, apoiaram e permitiram que eu realizasse a

minha pesquisa.

Às instituições visitadas: Cáritas e Lar Pentecoste, em especial, à Helena Naorny, por

ter permitido o desenvolvimento do trabalho.

Aos queridos Nedes da Silva, Marco Aurelio Senise, Nilton Alves do Santo, Hércules

Junio Monteiro e Euller T Amoras, Luciana Passos Martins, pelo companheirismo e

incentivo.

Aos professores de Arte e Teatro Fábio Nogueira e William Rosa, pelas perijvánie ao

longo das discussões sobre Stanilaviski, pelas reflexões filosóficas e pelo material de

pesquisa.

Às queridas Silvia Vinacur Kocinas e Lícia Verissimo, muito bom compartilhar os

novos desafios com vocês.

Às amigas insuperáveis, Clarisia Ramos, Rachel Furtado e Erika Rohrbacher.

À Helena, Isaac, a José Carlos Lage e à Márcia por todo o apoio e carinho de sempre.

Aos meus sobrinhos Maria Fernanda, Laura, Thais, Nicole, Felipe, Carmen, Sofia e Daniel.

À Betinha, por ter cuidado de tudo para que eu pudesse me ausentar.

Ao professor José Munoz Cabrera (Pepe), pela parceria e pelas lições sobre Don

Quijote de la Mancha.

Ao grande artista Canato, por permitir que eu ilustrasse esta pesquisa com as suas

obras.

Com todos vocês, queridos, divido a alegria desta experiência.

Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando sonhamos juntos é o começo da realidade.1

Don Quijote de La Mancha

1 Original: "Cuando sueñas solo es sólo un sueño. Cuando sueñas juntos es el principio de la realidad". Tradução livre.

Inevitável abrir esta dissertação sem mencionar “Don Quijote de La Mancha”, (El

Ingenioso Hidalgo Don Quixote de La Mancha, no original 1547-1616), personagem

conhecido e criado pelo renomado escritor espanhol Miguel de Cervantes. Sua obra é

considerada a maior obra da literatura espanhola e o segundo livro mais lido da história.

“La visión que tiene don Quijote del mundo es única, ya que él tiene su cabeza

en el mundo de los libros de caballería. Para nuestro personaje, la integridad se basa

en los ideales de la caballería. Su idea principal es que las personas tienen que

proteger a las mujeres y que todos los hombres, a los cuales él les atribuye ideales

morales, deben de gozar de libertad. Pero en la realidad este concepto de honradez

que tiene don Quijote no existe, y por eso en varias escenas del libro nuestro hidalgo

choca con esa realidad, la de la época que le tocó vivir”. Profesor José Munoz

Cabrera

É por meio das aventuras de Dom Quixote que Miguel de Cervantes faz críticas à

realidade política e social em uma época cujo regime absolutista do rei Felipe II causava

pobreza provocada pelos gastos militares e expansionistas.

Alonso Quijano, personagem mais conhecido como Don Quijote, era o cavaleiro

andante imortalizado pelos livros de cavalaria e que saiu pelo mundo, ao lado do seu fiel

escudeiro Sancho Panza e seu cavalo Rocinante, em busca da sua amada Dulcinéia. As

aventuras são marcadas pela loucura, realidade, fantasia e muitas lutas. No entanto, ao longo

da novela, a loucura de Dom Quixote vai transformando-se e, com isso, dá lucidez aos

personagens da história e aos leitores, pois é por meio de suas lutas e pelas sábias frases que

profere, no decurso das suas aventuras, que o cavalheiro andante revela sua ânsia por justiça

social com o objetivo de conscientizar a todos a não se acomodarem, tampouco ignorarem as

injustiças.

Para Miguel de Cervantes, Dom Quixote representa a liberdade de ser, pensar e viver.

Somada a essa razão, Dom Quixote ilustra a abertura das seções com frases que

relevam a inquietude do autor na obra e que, em meio aos delírios dos personagens, traz a

lucidez da realidade; necessidade tão latente nos dias de hoje.

RESUMO

LAGE, M. P. S. R. Do assistencialismo à intervenção social: o voluntariado na construção de agências. 2019. 249fls. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2019.

As escolas têm investido cada vez mais na formação dos alunos como forma de corresponder

à procura das famílias por excelência acadêmica a fim de preparar os filhos para um mercado

cada vez mais competitivo. No entanto percebe-se que esse investimento não é suficiente para

lidar com um mundo globalizado cada vez mais excludente. Para superar esse contexto, este

estudo teve como objetivo geral o de investigar o processo de construção da agência de alunos

participantes de um curso de voluntariado proposto no contraturno de uma escola bilíngue de

espanhol e de português na cidade de São Paulo. As propostas elaboradas foram

desenvolvidas com base na Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural – Atividade Social.

Este estudo pautou-se no caráter interdisciplinar da Linguística Aplicada por buscar reflexões

importantes quanto ao contexto e à prática social da linguagem no processo de ensino-

aprendizagem. Metodologicamente, o estudo apresenta-se como uma Pesquisa Crítica de

Colaboração, tendo como pressuposto a interferência no contexto, transcendendo o observar e

o descrever. As perguntas de pesquisa foram: 1) Que tipos de agência são construídos no

curso de voluntariado educativo? 2) Como são construídas essas agências? O corpus de

análise foi composto por gravações em vídeos e áudios, além de documentos escritos sobre as

tarefas elaboradas pelo grupo. Os dados foram analisados segundo as categorias enunciativas,

discursivas e multimodais e permitiram analisar as manifestações das contradições e das

tomadas de decisões vivenciadas pelos participantes envolvidos. A análise dos excertos

aponta que os encontros experienciados intensificaram as relações entre os integrantes e os

desafios alcançados permitiram ampliação de repertório na construção de agências: crítico-

colaborativa, relacional, desencapsulada e transformativa ativista. Desse modo, foi

possível analisar a construção de novos modos de agir que viabilizaram (re)significar a vida

da sociedade na escola e a escola na sociedade.

Palavras-chave: Intervenção social. Voluntariado. Agências. Escola bilíngue de elite.

ABSTRACT

Lage, M. P. S. R. From Assistanceness to social intervention: volunteering in the construction of agencies. 2019. 249f. Dissertation (Masters in Applied Linguistics and Language studies). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2019.

Schools have increasingly invested in repertoire, technologies and the provision of language

teaching as a way to meet families' quest for academic excellence in order to prepare their

children for an increasingly competitive market. However, it is perceived that what this

investment brings is not enough to deal with an increasingly excluding globalized world. To

overcome this context, this study had the general objective of investigating the process of

construction of the agency of students participating in a volunteer course proposed in the free

period of a bilingual Spanish and Portuguese school in the city of São Paulo. The elaborated

proposals were developed based on the Socio-Historical-Cultural Activity Theory- Social

Activity. This study is based on the interdisciplinary character of Applied Linguistics because

it seeks important reflections on the context and the social practice of language in the process

of teaching-learning. Methodologically, the study presents itself as a Collaborative Critical

Investigation. It has as assumption the interference in the context, transcending the

observation and the description. The research questions are: 1) What types of agencies are

built in the educational volunteer course? 2) How are they constructed? The analysis corpus

was composed of recordings of videos and audios, as well as written documents about the

tasks elaborated by the group. The data were analyzed according to the enunciative,

discursive, linguistic, and multimodal categories and allowed the analysis of the

manifestations of the contradictions and the decisions experienced by the participants

involved. The analysis of the excerpts shows that the experienced encounters intensified the

relations between the members, while the challenges achieved allowed the expansion of

repertoire in the construction of agencies: critical-collaborative, relational, decapsulation and

transformative activist. In this way, it was possible to analyze the construction of new ways of

acting that enabled to redefine the life of society in school and school in society.

Keywords: Social intervention. Volunteering. Agencies. Elite bilingual school.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O sistema de atividade humana proposto por: Engeström (1989, apud MEANEY,

2009) ................................................................................................................................... 43

Figura 2 - Organizador da coleta de dados ............................................................................ 77

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Dissertações e Teses sobre Voluntariado Educativo na Área da Linguística

Aplicada .............................................................................................................................. 27

Quadro 2 - Pesquisa relacionada ao tema central voluntariado educativo em revistas e

periódicos – totalizando 3 .................................................................................................... 30

Quadro 3 - Código de Transcrição ........................................................................................ 78

Quadro 4 - Registro das Atividades e Material Investigativo – 2017. .................................... 78

Quadro 5 - Material investigado e cronograma com tópicos abordados em cada encontro –

2018. .................................................................................................................................... 79

Quadro 6 - Aspectos enunciativos segundo Liberali (2013). ................................................. 83

Quadro 7 - Síntese para análise de dados: características discursivas .................................... 85

Quadro 8 - Análise das características linguísticas argumentativas ....................................... 88

Quadro 9 - Categorias para Análise – Gramática Visual ....................................................... 90

Quadro 10 - Tipos de agência e aspectos. ............................................................................. 92

Quadro 11 - Credibilidade da Pesquisa ................................................................................. 94

Quadro 12 - Cursos extras oferecidos aos alunos do colégio ............................................... 103

Quadro 13 - Participantes da Pesquisa ................................................................................ 106

Quadro 14 - Alunos do Cáritas ........................................................................................... 109

Quadro 15 - Participantes do Lar Pentecoste ...................................................................... 110

Quadro 16 - Tipos de agência e aspectos ............................................................................ 116

Quadro 17 - Residentes do asilo e formadores do Atelier de Pintura (Fotografia 1). ........... 119

Quadro 18 - Daniel e D. Joana (Fotografia 2) ..................................................................... 121

Quadro 19 - Idosa Joana ..................................................................................................... 122

Quadro 20 - Gisele, Alice e Zuleika (Fotografia 4). ............................................................ 123

Quadro 21 - Alunas Maria e Tatiana – idosa Mercedes ....................................................... 125

Quadro 22 - Avaliação do encontro .................................................................................... 128

Quadro 23 - Plano de ação no Lar Pentecoste ..................................................................... 139

Quadro 24 – Difusão do trabalho dos Quixotes Solidários .................................................. 146

Quadro 25 – Brincar Performático...................................................................................... 149

Quadro 26 - Atingindo desafios com restrições físicas e sensoriais ..................................... 151

Quadro 27 - Impressões sobre a primeira visita ao asilo. – Excerto 10 ................................ 154

Quadro 28 - Avaliação sobre as atividades realizadas no asilo. ........................................... 156

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

LACE Linguagem em Atividades no Contexto Escolar

TASCH Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural

LAEL Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

MNRI Movimiento Nacional Revolucionario de Izquierda

BNCC Base Nacional Comum Curricular

PCCOL Pesquisa Crítica de Colaboração

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

PEA Programa de Escolas Associadas

IB International Baccalaureate

DIGIT-M-ED Perspectivas Globais em Aprendizagem e Desenvolvimento por meio

de Mídia Digital

ONU Organização das Nações Unidas

OIT Organização Internacional do Trabalho

PCN's Parâmetros Curriculares Nacionais

IIDAC Instituto Internacional para o desenvolvimento da Cidadania

ONG Organização Não Governamental

QS Quixote Solidário

WWF World Wildlife Foundation

CAS Criatividade Ação e Serviço

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 20

1.1 OBJETIVO E PERGUNTA DE PESQUISA ............................................................ 25

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 37

2.1 GLOBALIZAÇÃO E SUPERDIVERSIDADE ......................................................... 37

2.2 VOLUNTARIADO NA PERSPECTIVA DA TEORIA DA ATIVIDADE SÓCIO-

HISTÓRICO-CULTURAL .................................................................................................. 41

2.2.1 Atividade Social nas aulas do curso do voluntariado educativo ........................... 44

2.2.2 História do voluntariado ........................................................................................ 45

2.2.3 Voluntariado no âmbito educativo ......................................................................... 47

2.3 DESENVOLVIMENTO DAS AGÊNCIAS NAS PRÁTICAS DE VOLUNTARIADO

................................................................................................................................. 52

2.3.1 O Conceito de agência e seus diferentes tipos ........................................................ 56

2.3.2 Agência na perspectiva vygotskiana TASHC ........................................................ 57

2.3.3 Relação entre de agência, Mobilidade e Repertório .............................................. 62

2.3.4 Desencapsulação/Ecologia dos saberes no curso de voluntariado ........................ 64

2.3.5 Multiletramentos .................................................................................................... 66

2.3.6 Performance ............................................................................................................ 71

3 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA .......................................................... 75

3.1 PARADIGMA E METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................... 75

3.2 PROCEDIMENTOS DE PRODUÇÃO E DE COLETA DE DADOS ....................... 77

3.3 PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ..

................................................................................................................................. 80

3.3.1 Procedimentos de análise ....................................................................................... 81

3.3.2 Categorias Enunciativas, Discursivas e Linguísticas ............................................. 82

3.3.3 Categorias enunciativas .......................................................................................... 82

3.3.4 Categorias Discursivas ........................................................................................... 83

3.3.5 Categorias Linguísticas .......................................................................................... 87

3.3.6 Categoria para análise de imagens (Linguagem visual) ........................................ 89

3.4 CREDIBILIDADE DA PESQUISA ......................................................................... 92

4 A ESCOLA: DESCRIÇÃO DO CONTEXTO ESPECÍFICO ............................ 101

4.1 O COLÉGIO .......................................................................................................... 101

4.2 O CURSO DE VOLUNTARIADO......................................................................... 102

4.3 PROPOSTA DO CURSO DE VOLUNTARIADO EDUCATIVO: QUIXOTE

SOLIDÁRIO...................................................................................................................... 104

4.4 PARTICIPANTES ................................................................................................. 104

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................... 114

5.1 TRABALHO VOLUNTARIADO REALIZADO NO LAR PENTECOSTES ......... 115

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 169

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 176

APÊNDICE A - PLANEJAMENTO DO CURSO DO QUIXOTE SOLIDÁRIO, NO

QUAL SE PÔDE OBSERVAR AS FASES DA PEDAGOGIA DOS

MULTILETRAMENTOS ............................................................................................... 186

APÊNDICE B - TRIÂNGULO TASCH - ATIVIDADE SOCIAL ................................. 193

APÊNDICE C - IMPRESSÕES PÓS VISITA ................................................................ 194

APÊNDICE D - ATIVIDADE SOCIAL – SHOW DE TALENTOS ............................. 195

APÊNDICE E - ATIVIDADE SOCIAL: PARTICIPAR DE UMA FESTA JUNINA .. 196

APÊNDICE F – ATIVIDADE SOCIAL – ATELIER DE PINTURA ........................... 197

APÊNDICE G - ATIVIDADE SOCIAL IR AO SÃO DE BELEZA .............................. 199

APÊNDICE H – CARTA ................................................................................................. 200

APÊNDICE I - VENDA DOS JOGOS-AMERICANOS NA FESTA JUNINA ............. 201

APÊNDICE J - ENTREGA DO CERTIFICADO DE ATUAÇÃO NO LAR

PENTECOSTE ................................................................................................................ 202

APÊNDICE K – DEPOIMENTOS.................................................................................. 203

APÊNDICE L – TRANSCRIÇÕES ................................................................................ 204

ANEXO A – APRESENTAÇÃO SOBRE O TRABALHO VOLUNTÁRIO –

PROFESSORA ROCIO EIRAS/2018 ............................................................................. 244

ANEXO B – PARECER COMITÊ DE ÉTICA – PLATAFORMA BRASIL ............... 245

20

1 INTRODUÇÃO

Este estudo teve como objetivo geral o de investigar o processo de construção da

agência de alunos participantes de um curso de voluntariado2 proposto no contraturno de uma

escola bilíngue de espanhol e de português, que foi oferecido para alunos do 4º ano ao Ensino

Médio como proposta de curso extracurricular.

Ao considerar que as discussões sobre Educação têm exigido reflexões profundas em

todos os âmbitos da sociedade, educadores e professores revelam preocupação e

responsabilidade na formação integral dos alunos. Educar para o século XXI abarca muito

mais do que conteúdos e disciplinas. A escola, por sua vez, tem o papel fundamental de

favorecer o desenvolvimento da consciência crítica no sentido de reconhecer que a realidade é

mutável e aberta a revisões. Nesse enquadre, Freire (2003) sugere promover a análise de

problemas de modo indagador e investigativo. Para isso é necessário também uma Educação

que valorize a reflexão e, desse modo, provoque ações transformadoras na sociedade (PÉREZ,

2001).

Em consonância, muitas famílias compartilham das expectativas sociais apresentadas

por Pérez (2001) ao discutir a importância de desenvolver alunos de consciência crítica, além

da busca pela excelência acadêmica e riqueza cultural. O investimento na educação bilíngue,

por exemplo, tem aumentado consideravelmente (MEGALE, 2017), seja pela mudança

ideológica, seja pela perspectiva da sociedade em relação às oportunidades que uma formação

multicultural possa propiciar.

Para Marcelino (2009), o cenário real e a procura por escolas bilíngues é uma

demanda mercadológica que causa a urgência de preparar os filhos, o mais cedo possível, para

competir no mercado de trabalho. Essa preocupação, segundo o autor, corrobora a procura

pela educação bilíngue cresça acentuadamente.

No entanto percebe-se que, além do investimento na formação acadêmica, é necessário

propiciar às pessoas, nesse caso, aos alunos, vivências nas quais os valores possam ser

questionados e refletidos à luz da reflexão crítica. Posto que a globalização oportuniza o

crescimento econômico, mas exclui e silencia grande parte da população, por meio de uma

2 O enfoque do curso de voluntariado educativo é sensibilizar os alunos quanto às necessidades do entorno de naturezas diferentes e promover ações de modo a possibilitar atuação social em lugares distintos, com isso, participando ativamente da comunidade. Dessa forma, integrando cidadania, solidariedade, dignidade e respeito por diferenças, que são valores fundamentais para a formação pessoal e social de um indivíduo, bem como desenvolver projetos filantrópicos e/ou beneficentes.

21

Educação mais crítica, os jovens podem construir ações e intervenções efetivas, no cenário

mundial, ao discutirem e agirem em seus contextos argumentando e compartilhando visões do

mundo.

De acordo com essa visão, acredita-se que é preciso promover na comunidade escolar

reflexões sobre o currículo desencapsulado (LIBERALI, 2015), isto é, promover a análise da

elaboração didática que tenha como força propulsora a desencapsulação do ensino-

aprendizagem. Ou seja, a construção dos saberes com base na "vida que se vive" (MARX;

ENGELS, 2006 [1845-46]) por meio dos multiletramentos, (RESNICK, 1987; TORRES

SANTOMÉ, 2003; ENGESTROM, 1987, 2014) e a inserção de atividades sociais

(LIBERALI, 2009, 2012, 2015) na prática pedagógica, a partir da Teoria da Atividade Sócio-

Histórico-Cultural (TASCH) (LEONTIEV, 1977; ENGESTRÖM, 1999; VYGOTSKY,

2001). Esse tipo de prática pode contribuir para formar os alunos não apenas para

compreender ou explicar o mundo, a sociedade ou política, mas também para intervir no

contexto.

Nessa perspectiva, o cerne deste estudo teve como escopo o trabalho de voluntariado

com proposição de intervenção social, pelo qual alunos e professores têm a oportunidade de

experienciar diferentes situações, da assistência a menores em situação de vulnerabilidade,

idosos em asilo ou até mesmo animais em situação de violência e abandono. Tais vivências,

neste estudo, foram vistas como possíveis experiências chamadas de eventos dramáticos.

Nessa concepção, cada sujeito tem a oportunidade de internalizar a experiência, o evento; que

Vygotsky (1934/2004) denomina perijivánie, para o teórico, essa vivência possibilita novas

formas de agência, isto é, intenções e ações para transformar (ENGESTRÖM, 1999;

VIRKUNEM, 2006), neste estudo, pressupõe ações que, além de intencionais e conscientes,

nascem de acordo com as necessidades e com os interesses coletivos, o que resulta em uma

premissa para o trabalho de voluntariado.

Nessa perspectiva, utiliza-se a performance (HOLZMAN; NEWMAN, 2011) como

ferramenta e possibilitadora da construção de repertório emocional, social e linguístico no

trabalho de voluntariado e intervenção social. Partindo de tal princípio, este estudo exalta

questionamentos no sentido de olhar a educação com preocupação e cautela, identificando o

que é imposto por interesses econômicos e o que, de alguma maneira, prepondera o

verdadeiro sentido da Educação: dar voz, refletir, transformar, olhar interesses coletivos, e

não individuais, não polarizar e, muito pelo contrário, abrir os olhos para o diferente, seja

global, seja local, sem perder de vista o inédito viável, que Freire (1987) preconiza como uma

crença no desejo, em um sonho possível de concretizar desde que se queira, e a partir de uma

22

práxis libertadora. Práxis que respeita as condições da vida real nas quais as pessoas estão

inseridas, pois, ao desrespeitar as condições reais do contexto, as pessoas remanescem em

suas próprias elucubrações e não avançam para uma visão concreta que contribua para tornar

ideias em possibilidades viáveis.

Percurso da pesquisadora

Conceber um trabalho com as questões sociais e refletir sobre a prática educativa no

tocante ao ensino-aprendizagem é uma experiência rica no âmbito pessoal e profissional. A

minha trajetória profissional teve início há 30 anos, 15 deles em escola bilíngue, como

docente de Matemática e Ciências em língua espanhola para alunos do 2º e 3º anos do

Fundamental I; e, nos últimos 4 anos, como psicopedagoga institucional e parte integrante da

Equipe UNESCO. Como professora no contexto de ensino bilíngue, observava e analisava as

especificidades na prática pedagógica, como planejamentos, reuniões e formações. Nesse

percurso, constatei a falta de materiais e teorias que pudessem elucidar o processo ensino-

aprendizagem na formação cidadã.

Alicerçada na minha vivência e nas indagações sobre o aprendizado de línguas, decidi

procurar cursos de pós-graduação como didática bilíngue em 2015, logo, o Mestrado. A

priori, o que almejava investigar era o ensino da língua adicional no contexto bilíngue. No

entanto, ao longo das aulas no Mestrado e com a vivência no projeto de extensão universitária

DIGITME-D, bem como as discussões das professoras doutoras Fernanda Liberali, Maria

Cecília Magalhães, Antonieta Megale, a convivência com os pesquisadores e alunos

participantes, presença nos planejamentos e as atividades do LACE3/DIGITMED4, decidi

pesquisar sobre práticas de voluntariado.

3 LACE ‒ Grupo de Pesquisa Linguagem em Atividades no Contexto Escolar (LACE) foi fundado em 2004, na PUC-SP, com a liderança de Cecília Magalhães e Fernanda Liberali. Atualmente, envolve os Programas de Pós-graduação em Linguística Aplicada e Estudo da Linguagem e de Educação: Formação de Professores, além de programas e departamentos de outras instituições tais como UEL, UNIFESP, UFPE, UFPI, entre outros. O grupo tem como focos principais a formação de educadores, gestores e alunos crítico-reflexivos e o desenvolvimento de pesquisas de intervenção crítico-colaborativas em contextos escolares multilíngues. Seus objetivos específicos envolvem: a) investigar os modos de constituição de sujeitos e comunidades, de produção de sentidos e significados e as formas de organização de Atividades no contexto escolar e b) desenvolver e aprofundar a discussão dos modos como a linguagem se materializa nesses contextos e o quadro teórico-metodológico para o trabalho de intervenção. A base teórico-metodológica do grupo está apoiada nas perspectivas do Monismo de Spinoza e do Materialismo Histórico-Dialético de Marx e Engels, que sustentam a Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural (VYGOTSKY, 1934; LEONTIEV, 1977; ENGESTRÖM, 1987). Nesse quadro, estudam-se as Atividades em que os sujeitos estão em interação com outros em contextos culturais determinados e historicamente dependentes. Esses sujeitos são entendidos como situados no mundo, agindo e fazendo história,

23

Meu interesse foi despertado pelo grupo de pesquisa e pelo projeto, assim como foram

resgatados o sentimento e o desejo que um dia nortearam minha escolha por trabalhar na área

da Educação, pois acredito que se pode criar, possibilitar, oportunizar momentos nos quais

seja possível legitimar o outro para o agir consciente, coletivo e transformador. Somando-se a

essa vivência, fui convidada para coordenar o curso de voluntariado educativo do colégio que

fora apresentado por duas mães de alunos à equipe diretiva da escola no mês de junho 2017.

A direção da escola, percebendo a consonância da proposta do curso com os valores e

objetivos educativos que permeiam as práticas pedagógicas, acolheu com prontidão e

viabilizou a concretude do curso. Desse modo, com base em todos os estudos e conceitos

estudados e vivência, esse projeto tomou força e mudou todo o meu enfoque e

questionamentos de pesquisa.

Acredito que tais desejos e anseios que um dia pesaram na escolha da minha profissão

estão nos exemplos e na polifonia daqueles que contribuíram e contribuem para a minha

constituição sócio-histórico-cultural, em especial, meus pais e avós.

Por esse motivo, retomo à história da minha família, que tem como cenário a Bolívia,

um país considerado subdesenvolvido, no qual mais da metade da população é indígena e que,

até os dias de hoje, apresenta questões políticas, econômicas e sociais preocupantes.

Em tal contexto, minha avó, Elvira Gutierrez Guerra, deixou marcas importantes na

cidade de Cobija-Pando. Foi casada com o meu avô, Aurélio Saucedo Jimenez, um dos

fundadores do Partido Revolucionário. Ele, com vida política bastante intensa, foi governador

da cidade de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, e lutou na guerra civil de 1949. Ela, professora

desde os 14 anos de idade, tinha por maior anseio sempre a justiça social e acreditava que a

em outras palavras, “na vida como ela é” (Marx; Engels, 1845-46/2006-26). Ademais, focaliza uma perspectiva dialógica da linguagem que tem como base sua compreensão como um fenômeno social, histórico e ideológico, ou seja, lugar de interação humana (BAKHTIN, 1929), constituída por diferentes forças que mostram significados e vozes, marcados linguisticamente no discurso de forma multimodal e argumentativa. Informação disponível em: <http://portal-lace.com/quemsomos.html>. Acesso em: 15 maio 2019. 4 DIGIT-M-ED/Brasil: No Brasil, o projeto de extensão e pesquisa, DIGIT – M-ED Brasil – Transformando o ensino-aprendizagem pelas múltiplas mídias, coordenado por Fernanda Liberali, foi realizado com crianças e jovens de escolas públicas, municipais e estaduais, do estado de São Paulo, e envolveu também seus professores. A proposta foi pensar não apenas nos usos das mídias feitos pelos jovens, mas também nas formas como esses usos podem ser apropriados pelos professores para que possam desenvolver propostas didáticas que incentivem a aprendizagem e o engajamento dos alunos com conhecimentos vários e com as necessidades de seus contextos. Implicou estabelecer um contato entre pesquisadores, educadores e alunos para o diálogo propiciador de debates e proposições de modos de agir dentro e fora da escola para a superação das condições imediatas. Portanto, pautou-se por uma pesquisa que se propõe crítica e colaborativa e que implicou que todos os participantes fossem envolvidos e engajados em contextos para aprender e se desenvolver no processo de pesquisar (PROLÍNGUA, 2015).

24

escola era o lugar mais importante para construção de significados e para despertar ações em

prol da comunidade e promover mudanças sociais.

O teatro e a música, também, eram investimentos culturais importantes para minha

avó, que incentivava, de maneira enfática, com valorização, envolvimento e investimento. Foi

Secretária da Educação e a responsável pela primeira escola de Ensino Médio na cidade de

Cobija-Pando, além de ter instituído a merenda infantil aos alunos e alavancado o papel e

valorização dos professores. Sempre envolvida com questões sociais e políticas (1950-55), foi

considerada uma das primeiras mulheres a inserir-se na política em seu país, liderou o

comando feminino pelo partido Movimiento Nacional Revolucionário, lutou para dar voz e

lugar às mulheres e teve a preocupação legítima da inclusão indígena na sociedade. Ambos

foram perseguidos políticos e exilados.

Minha avó viveu pouco, faleceu com 47 anos, vítima de um derrame. Como

homenagem e reconhecimento, há rua e colégio com seu nome, bem como um legado

importante, entre eles, meu pai, Felipe José Saucedo Gutierrez, médico e envolvido com

questões sociais e políticas. Suas bandeiras: saúde, educação e meio ambiente. Foi líder

estudantil, governador pela primeira vez aos 21 anos, no partido MNRI, depois, em 1983,

senador, onde propôs leis importantes sobre o meio ambiente, ética e fez a lei de proteção aos

animais. Mesmo fora do cargo público, fez campanhas importantes, como as relativas à

parasitose e à vacina contra malária e febre amarela, atuou de maneira autônoma e com

próprios meios financeiros em povoados afastados e seringais, atendeu aproximadamente

mais 12 mil crianças. Assim como os meus avôs, foi perseguido e, por duas vezes, em 1971 e

1976, preso político e exilado.

O olhar e a preocupação com as causas sociais, políticas e humanitárias sempre

estiveram presentes em minha família, seja pelas histórias vividas pelos meus avôs, seja por

aquelas dos meus pais, e elas nos impregnaram. Dessa maneira, eu e meus irmãos, sempre,

sentimo-nos incomodados com as situações injustas e incitados a agir frente às questões que

consideramos adversas. Acredito, assim como minha avó, que a escola ainda representa o

lugar de encontro de diferentes culturas, diversas histórias, múltiplas vozes e local fecundo

para (re)significar, construir repertórios, significar e transformar.

No esforço de construir e transformar nossa sociedade, em minha função de

psicopedagoga e integrante da Equipe UNESCO (Organização Das Nações Unidas para A

Educação, Ciência E Cultura), sou responsável por acompanhar os planejamentos de

professores e de projetos interdisciplinares, revisar, traduzir e enviar à organização PEA

(Programa de Escolas Associadas)/UNESCO. Os pilares propostos pela UNESCO estão

25

presentes e urgem pela preocupação com o planeta: ambiente, direitos humanos, educação,

justiça social.

Jacques Delors (2010), presidente da comissão, em um relatório apresentado em 2010

à UNESCO, aponta que uma das tensões a serem superadas é aquela entre o global e o local,

em outras palavras, tornar possível ser um cidadão do mundo sem perder as raízes pela

participação ativa do seu país, e ressalta a preocupação com a globalização no sentido de

anular o caráter, a vocação e a decisão do seu próprio destino.

Dessa maneira, investigar e analisar o curso de voluntariado educativo, ministrado em

2017 e 2018, em língua espanhola, foi o nicho escolhido, posto que a natureza do curso

permite intervenções e reflexões quanto ao desenvolvimento de agência, mobilidade e ação

social.

O contexto investigado chama-se Quixote Solidário. Trata-se de um curso de

voluntariado educativo formado por 20 alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I ao 9º ano

do Ensino Fundamental II, de uma escola privada e bilíngue de elite na cidade de São Paulo.

Os encontros são ministrados em língua espanhola e têm como escopo a elaboração

de planejamentos, construção de materiais e definições de ações a serem efetivadas nos

centros escolhidos, com os objetivos de trabalhar e desenvolver a língua adicional, propiciar

experiências e vivências que corroborem para as práticas sociais de maneira crítica e atuante.

1.1 OBJETIVO E PERGUNTA DE PESQUISA

Entende-se, neste estudo, a agência como a ação de um sujeito diretamente

correlacionada com as estruturas sociais nas quais está inserido. Nesse sentido, as ações

realizadas são intencionais e conscientes na relação com os outros e reverberam nas

transformações do sistema de atividade. Desse modo, a agência, nesta pesquisa, pressupõe

ações ‒ conscientes, que nascem de acordo com as necessidades e com os interesses coletivos.

Nessa perspectiva, Emisbayer e Mishe (1998, p.962) definem agência como

[...] um processo de engajamento social inserido temporariamente, informado pelo passado (em seu aspecto de “interação" ou hábito), mas também orientado para o futuro (como uma capacidade "projetiva" de imaginar possibilidades alternativas) e

26

para o presente (como uma "capacidade prático-avaliativa de contextualizar hábitos

passados e projetos futuros dentro das contingências do momento).5

Concebida agência desse modo, considerou-se importante, no contexto escolar,

investigar o que propulsiona os sujeitos a agirem de modo consciente e intencional em prol de

alterar, modificar o contexto. Portanto, este estudo foi desenvolvido com o objetivo geral de

investigar o processo de construção de agências de alunos participantes de curso de

voluntariado proposto no contraturno de uma escola bilíngue.

Para tanto, esta pesquisa responde às seguintes perguntas:

1) Que tipos de agências são construídos no curso de voluntariado educativo?

2) Como são construídas essas agências?

As etapas do estudo foram:

a) 33 encontros do grupo de 20 alunos e 2 professoras – gravações em áudio e

fotografias;

b) seleção do nicho a ser assistido;

c) planejamento da Atividade Social a ser desenvolvida por alunos e professoras –

gravação em áudio;

d) visita ao nicho escolhido (lugar de atuação) – gravações em vídeo e áudio

registro fotográfico;

e) avaliação coletiva da Atividade Social desenvolvida e realizada por alunos e

professoras ‒ gravações em áudio;

f) proposta de intervenção no local assistido organizada pelos participantes da

pesquisa.

Pautada na Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural (TASCH), o ensino a partir

da Atividade Social6 foi o eixo norteador para as propostas elaboradas e realizadas nos

contextos assistidos pelo grupo de alunas e professoras. Segundo Liberali (2016), o trabalho

desenvolvido a partir da Atividade Social alude conceber a matriz curricular por meio das

esferas vivenciadas socialmente, em que os alunos estão em interação com outros sujeitos.

5 Texto original: “Agency is a temporally embedded process of social engagement, informed by the past (in its "iterational" or habitual aspect) but also oriented toward the future (as a "projective" capacity to imagine alternative possibilities) and toward the present (as a "practical-evaluative" capacity to contextualize past habits and future projects within the contingencies of the moment).” 6 As Atividades Sociais são assim chamadas para discernir das atividades didáticas; proposta de trabalho por meio de "Atividade Social" sucede do conceito de atividade (VYGOTSKY, 1934; LEONTIEV, 1977) ou sistema de Atividade (ENGESTRÖM, 1991).Conforme discute Liberali (2014), uma organização curricular, organizada por Atividades Sociais, pressupõe brincar com os saberes de uma determinada área do conhecimento que não são tomados de forma isolada ou "encapsulada", aspecto que compõe a fundamentação teórica.

27

Liberali (2009) enfatiza que as atividades de diferentes esferas de circulação humana são

geradas por gêneros diversos e possibilitam a ação com o outro.

Para justificar a relevância e o diferencial desta pesquisa na área da Linguística

Aplicada, foi pesquisado, nos sites oficiais: Acervus (UNICAMP), Dedalus (USP), Lumem

(PUC/SP), Scielo e Portal de Periódicos CAPES, bem como em sites de revistas da área, o

tema central voluntariado educativo, com o mesmo objetivo são apresentadas duas teses de

doutorado do grupo LACE/PUC nas quais a agência é o escopo do estudo em ambas.

No quadro a seguir, lista-se as teses e dissertações que sintetizam os trabalhos que têm

o voluntariado-educativo como palavra-chave e, como supramencionado, as duas

investigações sobre agência:

Quadro 1 - Dissertações e Teses sobre Voluntariado Educativo na Área da Linguística Aplicada

SITES DISSERTAÇÃO/TESE UNICAMP X USP X PUC - SP

MOTTA, Marcela Moura. Multiculturalidade e voluntariado educativo: o que isso tem a ver? 2014. 225 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014. MORI, Katia Regina Gonçalves. A solidariedade como prática curricular educativa. 2013. 227 f. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.

UFJF LOPES, Mônica Jardim. Construindo O Projeto De Sociabilidade Neoliberal: O Voluntariado Como Componente Do Processo Educativo. Dissertação 90 f. Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), 2013.

UCB SILVA, Gisele Eduardo de Oliveira. O papel do educador social voluntário no processo de inclusão de estudantes com transtorno do espectro autista. 2018. 94 f. Dissertação (Programa Stricto Sensu em Educação) - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2018.

UFRJ AYRES, Bruno Ricardo Costa. Informação, voluntariado e redes digitais. 2003. 146 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, 2003.

UFP Recife NEPOMUCENO, Ana Gabriela Austregesilo. Voluntariado na escola pública: lendas e lições do caminho. 2004. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.

PUC- SP

TELES, F.A.R. Adolescentes agentes e dessilenciados? o movimento da argumentação no Digit-M-Ed Parnaíba – PI. 2018. 171 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018. PEREIRA, M. R.P. Agências de alunos cearenses do Ensino Médio: o “chamego” entre escola, comunidade e universidade. 2019, 167f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.

Fonte: Elaborado pela autora.

28

Foram encontradas seis dissertações nas quais o voluntariado educativo é o tema

investigado, sendo que quatro delas apresentam como cenário a escola. Nepomuceno (2004)

aborda as repercussões do voluntariado na escola pública e sua relação com a comunidade

escolar, fazendo uma reflexão acerca do fenômeno enquanto prática educativa que pode ou

não modificar a escola pública. Já Mori (2013) analisa se a solidariedade pode ser inerente às

práticas educativas, visando contribuir para o debate acerca da qualidade da educação, em que

conhecimento cognitivo e formação para a cidadania não sejam compreendidos de maneira

dicotomizada. O trabalho apresentado por Lopes (2013) amplia a discussão apresentando o

voluntariado como fenômeno expressivo dos anos de 1990 e que, como componente do

processo educativo, contribui para reafirmar a centralidade do projeto de sociabilidade

neoliberal no Brasil, questionando o processo de emancipação humana. Já em outra

perspectiva, mas ainda dentro do processo educativo, Silva (2018) faz uma reflexão sobre o

papel do Educador Social Voluntário em sala de aula, no processo de inclusão de estudante

com TEA, buscando entender se esse trabalho contribui para o êxito do desempenho escolar

ou corrobora uma exclusão não aparente.

Ayres (2003) traz à tona o papel da informação digital (internet) em prol das ações

voluntárias, abordando os modos de propagação de informações que aumentem a percepção

comum sobre a diversidade de significados e possibilidades da ação voluntária, mesmo

considerando a exclusão digital.

Quanto à dissertação que mais se aproxima às reflexões propostas neste estudo é a

investigação de Motta (2014), "Multiculturalidade e voluntariado educativo: o que isso tem a

ver?", pois seu trabalho investiga as ações de alunos de uma escola privada no curso de

voluntariado educativo com alunos da rede pública e analisa o desenvolvimento da

multiculturalidade e a sua expansão. Motta, em sua dissertação, sublinha importantes

contribuições, a pesquisadora investigou e analisou criticamente, na perspectiva Sócio-

Histórico-Cultural, como a multiculturalidade desenvolve-se na atividade do voluntariado

educativo, considerando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e tendo como cenário

uma escola da rede privada da cidade de São Paulo. A pesquisadora discute a possibilidade de

reconstrução dos sentidos nesse contexto e conclui que a multiculturalidade, como definida

neste estudo, nem sempre acontece devido à falta de articulação nas discussões e negociações.

Embora as matrizes teóricas sejam as mesmas, Motta dá ênfase na análise de dados à

visão multicultural construída entre os participantes com o viés de discutir a possibilidade de

reconstrução de sentidos; já no estudo apresentado aqui, justifica-se não só pela importância

que o curso de voluntariado educativo representa no âmbito educativo com o viés de

29

intervenção social a partir da construção de agências, mas ainda por situá-la na Linguística

Aplicada e contribuir por se tratar da vivência e intervenção social por meio de uma decisão

coletiva, na qual as contradições e a colaboração permitem a construção de agências.

As duas últimas teses apresentadas no quadro precedente (TELES, 2018; PEREIRA,

2019), apresentam como escopo da pesquisa o conceito de agência. E a pertinência de ambas

é pelo fato de estarem em consonância e aproximação com o trabalho aqui investigado no que

tange à construção de agências e estarem situadas na Linguística Aplicada. Os pesquisadores

analisam o desenvolvimento de agência no programa Digit-M-ED: Teles (2018), na Paraíba; e

Pereira (2019), no Ceará, ambas as pesquisas desenvolvidas em escolas públicas.

Teles (2018) revela, em seus estudos, que a argumentação tem papel fundamental na

constituição dos adolescentes e destaca que a colaboração dos integrantes é determinante para

evitar o silenciamento e, desse modo, oportunizar o desenvolvimento de agência. Por sua vez,

Pereira (2019), em sua tese de doutorado, "Agências de alunos cearenses do Ensino Médio: o

“chamego” entre escola, comunidade e universidade", investiga o desenvolvimento de agência

em adolescentes por meio das marcas linguísticas e discute ricamente os conceitos de

autonomia, protagonismo e agência. Seus achados permitem aferir transformações no agir dos

alunos participantes do Digit-M-Ed, Ceará, reveladas nas agências relacional, transformativa,

crítico-colaborativa e desencapsuladora.

As teses citadas trazem contribuições importantes no que concerne à construção de

agência a partir de propostas que permitem desencapsular o currículo. Como modo de

contemplar outras investigações acadêmicas, foram pesquisadas fontes e portais que publicam

artigos referentes ao voluntariado educativo. A saber: AILA REVIEW - Association

Internationale de Linguistique Appliqueé, REVISTA DA ANPOLL - Associação Nacional de

Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística, JOURNAL OF APPLIED

LINGUISTICS, RBLA - Revista Brasileira de Linguística Aplicada, THE ESPecialist -

Revista de Pesquisa em Línguas para fins específicos, DELTA - Revista de Documentação e

Estudos em Linguística Aplicada, REVISTA (CON)TEXTOS LINGUÍSTICOS,

BAKHTINIANA - Revista de Estudos do Discurso, ABRALIN - Revista da Associação

Brasileira de Linguística, INTERCÂMBIO - Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados

em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, SIGNUM - Revista de Estudos da

Linguagem e Cadernos de Estudos Linguísticos. Foram encontrados estes três artigos:

30

Quadro 2 - Pesquisa relacionada ao tema central voluntariado educativo em revistas e periódicos – totalizando 3

Revista/Periódico Artigo THE ESPecialist - Revista de Pesquisa em Línguas para fins específicos

LIBERALI, F.; LESSA, A.; FIDALGO, S. Educando para a Cidadania em Contextos de Transformação. Revista THE ESPecialist, v.27, n. 2, 2006. LIBERALI, F.; FUGA, V.; GONÇALVES, E. Produzir Cidadania como Significado Compartilhado. THE ESPecialist, v. 30, n. 1, 2009.

INTERCÂMBIO - Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

PICCARDI, T. O discurso do voluntariado como discurso da esfera do trabalho. Revista Intercâmbio, v. 17, 2008.

Fonte: Elaborado pela autora.

O estudo: "Educando para a Cidadania em Contextos de Transformação", de Fernanda

Coelho Liberali, Maria Cecília Camargo Magalhães, Ângela B. Cavenaghi T. Lessa e Sueli

Salles Fidalgo. O artigo baseia-se no trabalho desenvolvido em uma escola pública e tem

como foco o trabalho colaborativo em educação em conjunto com a PUC- SP. O artigo está

inserido na Linguística Aplicada, teve como objetivo discutir um programa educacional para a

formação de professores e alunos, ressaltando quatro bases teóricas: centralidade na e da

linguagem, a perspectiva de cidadania como condição legal e como atividade desejável, a

ação colaborativa como geradora da construção de conhecimento e de si e a formação dentro

de um paradigma crítico. Na mesma revista (THE ESPecialist), Liberali, Fuga e Gonçalves

(2009) discutem a "Cadeia Criativa para cidadania educação no “Projeto Ação Cidadã

(PAC)". O artigo aborda os conceitos de sentido, significado e responsabilização (BAKHTIN,

1992) como base para a cidadania, o projeto desenvolvido sugere que significados

compartilhados contribuem para a cidadania na cadeia criativa de atividades como uma

atitude desejável (KYMLICKA; NORMAN, 1997).

Salienta-se também o artigo sobre o discurso do voluntariado como discurso da esfera

do trabalho, no qual Piccardi (2008) discorre sobre o confronto polêmico entre vozes

institucionais e não institucionais no discurso em pauta, contribuindo para a discussão sobre

as relações de poder em formações discursivas dominantes. Esse estudo inscreve-se no âmbito

da Análise do Discurso de linha francesa, em especial, aquela representada pelos trabalhos

recentes de Maingueneau (2005; 2006) e abrange o âmbito macro da questão, e não

educacional.

Muitos trabalhos trazem contribuições importantes para a área ao focalizar o

desenvolvimento e justificativas para o trabalho voluntário, seja no âmbito social, mas,

31

também, educacional como experiência importante para o desenvolvimento crítico de

cidadania. Embora todos os aspectos citados sejam de fundamental relevância, em se tratando

da construção de agência no âmbito educacional e no contexto de voluntariado educativo, esta

ótica ainda carece de investigação. Por isso, este trabalho contribui no sentido de preencher a

lacuna de discussão sobre a possibilidade da construção de agência por meio do projeto

voluntariado, este executado a partir da Atividade Social na perspectiva dos multiletramentos,

e analisar as condições que tais fenômenos ocorrem.

Para justificar a pertinência da natureza do trabalho de voluntariado no âmbito

educativo, aqui, evocam-se as propostas da Base Nacional Curricular, bem como a

Constituição Federal de 1988, que, em seu Artigo 205:

[...] reconhece a educação como direito fundamental compartilhado entre Estado, família e sociedade ao determinar que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Assim como retomar a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional n.º

9394/1996, Artigo 1º, segundo a qual “a educação abrange os processos formativos que se

desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino

e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais". O §2º da mesma lei promulga que "a educação escolar deverá vincular-se ao

mundo do trabalho e a prática social".

Nesse percurso, o documento de caráter normativo que define o conjunto de

aprendizagens essenciais para todo o país, a Base Nacional Comum Curricular7 (BNCC)

reconhece que “a educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a

transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada

para a preservação da natureza” (BRASIL, 2013), mostrando-se ainda alinhada à Agenda

2030 da Organização das Nações Unidas (ONU, 2018).

Nessa esteira, o voluntariado educativo nasce como uma necessidade que vem

mobilizando educadores em muitos países para o desenvolvimento da formação integral.

Segundo Sberga (2002), instigados por essa inquietação, dois sociólogos italianos, G.

Milanesi e G. de Nicolò criaram a proposta do voluntariado educativo. Para eles, o

7 A Base Nacional Curricular será retomada na seção 1. Voluntariado Educativo.

32

voluntariado possibilita espaços de educação sociopolítica que favorece o desenvolvimento do

senso crítico, solidário e generoso quanto às diferenças culturais. O foco principal dessa

proposta é o trabalho de caráter educativo. Sberga (2002) aponta como uma oportunidade para

promover valores como solidariedade e cidadania por meio de práticas socioeducativas. Em

São Paulo, por exemplo, algumas escolas8 já instituem ações voluntárias impulsionadas com a

formação integral e ação social.9

O trabalho de voluntariado tem despertado na sociedade interesse e relevância. Esse

fato deve-se, possivelmente, porque essas ações sejam vistas como um meio de sensibilização

e intervenção social, no entanto não há muitos estudos que investiguem as ações pedagógicas

e de formação que essa natureza de trabalho no âmbito educativo pode propiciar.

Com esta investigação, busca-se contribuir com os estudos sobre a transformação de

sujeitos e das comunidades a partir dos contextos escolares, para tanto, propondo reflexões

importantes acerca do ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a valorização dos conhecimentos

prévios favorece a formação de novos sentidos e significados, do mesmo modo, os saberes do

senso comum podem ser questionados à luz de conceitos construídos a partir do coletivo e

assim favorecer as condições de existência de todos os envolvidos e na construção do Inédito

Viável (FREIRE, 1987), em última instância, contribuir para o desenvolvimento da alteridade.

Essas premissas valorizam a investigação aqui proposta, uma vez que não há muitos trabalhos

que pesquisem nessa perspectiva.

Esta investigação suscita o olhar da Linguística Aplicada, concebida aqui como uma

área que permeia todas as práticas sociais em múltiplos contextos por meio de diferentes áreas

do conhecimento para observação e análise de como a linguagem materializa as ações,

conforme aponta Liberali (2006). Portanto, considera-se que esta investigação integra outras

pesquisas que objetivam estudos do papel da linguagem na relação entre sujeitos participantes

no contexto escolar. Nessa vertente, o grupo LACE10, do qual a autora deste estudo faz parte,

vem desenvolvendo uma conexão entre a ideia de desencapsular (LIBERALI, F. 2019) e a

organização do currículo pautado em Atividade Social. Para tanto, o grupo aproximou-se

também da pedagogia dos multiletramentos, pois esse enfoque considera que a vida humana

se modificou e as pessoas precisam de um ensino que as prepare para a vida.

8 Colégio Porto Seguro, Escola Pueri Domus, Escola Castanheiras, Santa Cruz, Avenue, Stance Dual, dentre outras. Apresentadas em sites das escolas. 9 Informações retiradas dos sites de cada uma das escolas citadas. 10 Elucidado em nota de rodapé nº3.

33

Para desenvolver este trabalho, a metodologia escolhida foi Pesquisa Crítica de

Colaboração – PCCOL (MAGALHÃES, 2010) por tratar-se de uma abordagem teórico-

metodológica ativista e de intervenção. Essa abordagem propicia ao pesquisador participar do

cotidiano e das práticas escolares e permite documentar o processo por meio da observação,

descrição das ações e representações dos atores sociais, além de possibilitar a reconstrução da

linguagem, as formas de comunicação e os significados criados, revelados e reconstruídos na

prática pedagógica e no ambiente escolar.

Nesse sentido, o estudo da prática escolar não pode se restringir a um mero retrato do

que ocorre no dia a dia, mas deve implicar um processo de reconstrução e, desse modo,

desvelar suas múltiplas dimensões, refazer o seu movimento e apontar contradições. O fato de

este trabalho estar compromissado em priorizar as relações colaborativas entre os agentes na

produção de conhecimento crítico e vislumbrar deslocamentos; a Pesquisa Crítica

Colaboração (MAGALHÃES, 2012, 2014) foi a metodologia de pesquisa considerada a mais

adequada para seu desenvolvimento.

Para concluir esta seção, a seguir, descreve-se a organização desta dissertação, que

está organizada em sete seções nas quais se sustentam conceitos relevantes sobre o panorama

educacional e voluntariado, além dos conceitos metodológicos, a produção e a análise dos

dados.

Nesta primeira seção, descreve-se o panorama da pesquisa, explicitando os conceitos

que a embasam, assim como a justificativa desta investigação no que tange ao processo de

construção de agência, por meio de um curso de voluntariado educativo em uma escola

bilíngue, bem como foram apresentados estudos correlatos.

Na segunda seção, encontra-se o arcabouço teórico, mediante o qual se ressaltam a

globalização (SANTOS, 2006) e a superdiversidade (VERTOVEC, 2007) como fenômenos

que foram analisados sob diversos pontos de vistas, bem como seu impacto e implicações

mundiais e educacionais na perspectiva de Santos (2006) e Supiot (2014), entre outros

autores. Discorre-se, também, sobre a história do voluntariado e a sua perspectiva no âmbito

escolar, considerando o cenário da globalização. Os conceitos de criticidade e justiça social

(FREIRE, 1968 [2010]; SANTOS, 2003) introduzem a perspectiva crítica da história do

voluntariado e a possível contribuição na reconstrução social na perspectiva de Pérez-Gomez

(1998, 2007). Na continuação, na mesma seção, são discutidas as contribuições de Vygotsky

(1934/1987, 1930), Leontiev (1977) Engeström (1987, 2006) para o desenvolvimento da

teoria da atividade TASHC no tocante às atividades propostas no voluntariado educativo.

34

Ainda nessa seção, abordam-se os conceitos de agência de Giddens (1984), Virkkunen

(2006), Stetsenko (2015) e Liberali (2017) como possibilidade de transformação pela visão de

mundo, baseada na vivência ou experiência na qual, conforme postulam alguns dos

pesquisadores mencionados, cada sujeito tem a capacidade de reagir ao ambiente, interpretá-

lo e agir sobre ele. Também, abordam-se os tipos de agência e a discussão sobre a

colaboração crítica. Na mesma seção, discute-se o conceito de protagonismo com o objetivo

de refletir em relação ao conceito de agência.

Na sequência dessa mesma seção, o conceito da desencapsulação com base na

ecologia dos saberes (SANTOS, 2006) é apresentado como uma possibilidade de articular a

escola com a vida e escola com a comunidade, valida-se, nesse contexto, a proposta de aula

por meio da atividade social e discorre-se sobre a pedagogia dos multiletramentos que parece

sustentar uma organização curricular baseada na Atividade Social que pressupõe a

desencapsulação curricular. Nessa mesma seção, o conceito de perijivanie (VYGOTSKY,

1934) é discutido como elemento importante nos eventos dramáticos vivenciados no curso,

sob a perspectiva do brincar/performar vygotskiano. Desse modo, vislumbrando a

possibilidade do desenvolvimento cultural e, na aprendizagem afeto-cognitiva, a ampliação de

repertório e mobilidade. Sendo assim, a performance (HOLZMAN; NEWMAN, 2011), como

conceito, é desenvolvida como possibilidade de construção de repertório social e linguístico

no trabalho de voluntariado e intervenção social, vistos, neste estudo, como conceitos

metodológicos para a construção de repertório (BUSCH, 2015) e de mobilidade

(BLOMMAERT, 2010).

Na terceira seção, apresenta-se a fundamentação teórico-metodológica, sendo descrita

a metodologia adotada neste trabalho ‒ a Pesquisa Crítica de Colaboração (PCCol) ‒ e os

procedimentos de produção de dados e os procedimentos de análise estabelecidos para seleção

e interpretação desses, do mesmo modo fez-se para as categorias enunciativas, discursivas e

linguísticas utilizadas para análise dos dados e credibilidade da pesquisa.

Na quarta seção, expõe-se o contexto da pesquisa. Para tanto, faz-se uma breve

descrição do colégio e da sua história, também, sobre o funcionamento do curso de

voluntariado, descreve-se o grupo de alunos participante, os nichos de trabalho assistidos e

retrata-se os participantes das instituições.

Na seção cinco, discriminam-se as aulas selecionadas do curso e coloca-se a análise

das falas a partir das transcrições feitas para responder às perguntas de pesquisa a partir das

categorias já mencionadas na terceira seção: enunciativas, discursivas e linguístico-

multimodais, apresentadas por Liberali (2013). As imagens ‒ fotografias, desenhos e

35

esculturas ‒ são analisadas com base na gramática visual proposta por Kress e Van Leeuwen

(2006). Nessa perspectiva, a linguagem visual tem três funções: a função de representação, a

função interacional e a função de composição.

Nas considerações finais, elencam-se os resultados obtidos conforme as aulas

propostas, ressalta-se a TASCH e as atividades na perspectiva dos multiletramentos, os

eventos dramáticos vivenciados a partir dos relatos e os registros analisados, também,

enfatizam-se possíveis agências construídas ao longo do trabalho; por fim, enunciam-se

reflexões sobre as propostas de ensino-aprendizagem a partir de ações em prol do

voluntariado mediante atividades sociais no currículo escolar. Por fim, nos apêndices,

encontram-se planejamentos, tarefas e transcrições produzidos ao longo dos encontros.

36

"No ames lo que eres, aino lo

que puedes llegar a ser"

Don Quijote de la Mancha

Fonte: Disponível em: <ttps://blog.estantevirtual.com.br/2016/09/29/cinco-livros-e-cinco-frases-de-miguel-de-cervantes/>

37

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção, as teorias e os conceitos que embasam o estudo são elencados.

Primeiramente, apresentam-se a globalização e a superdiversidade como fenômenos

determinantes para os impactos dos processos econômicos e sociais, pois propiciam novas

formas de culturas, discursos e ações. A partir dessa visão, tornou-se necessário analisar a

maneira como as práticas e as políticas educacionais têm-se estruturado e, nessa direção,

refletir sobre a concepção do voluntariado educativo e as possibilidades de ações

educativas/pedagógicas.

Em seguimento ao corpus teórico, discorre-se a respeito da historicidade do

voluntariado e sobre as concepções que perpassam as ações e os conceitos metodológicos que

foram selecionados para o desenvolvimento deste trabalho. Ainda, apresenta-se a concepção

da Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural (TASHC) adotada neste estudo.

2.1 GLOBALIZAÇÃO E SUPERDIVERSIDADE

O conceito de globalização (BLOMMAERT, 2010) em este estudo tem como objetivo

compreender o cenário global, os efeitos na sociedade, a relação com a educação e a proposta

de trabalho voluntariado nessa perspectiva. Do mesmo modo, o conceito de Superdiversidade

na visão de Vertovec (2007) convida a refletir sobre a “diversificação da diversidade”

presente no panorama atual. Embora esta investigação apresente um recorte micro pelo seu

contexto e realidade; convoca a olhar as possibilidades de mudanças a partir dos contextos

dos encontros diferentes e diversos.

É fato que o fenômeno da globalização é um dos elementos mais importantes da

contemporaneidade, pois determina a economia dos mercados mundiais; interfere no modo de

vida dos indivíduos, modifica e amplia práticas culturais e costumes. Para o sociolinguista

Blommaert (2010), as inovações tecnológicas, a velocidade das informações e as inovações

comunicativas intensificam a movimentação de capitais, bens, sujeitos e discursos no mundo.

Em sua análise, Blommaert (2010, p.13) define-a como “a intensificação dos fluxos de

capital, mundo afora, impulsionados pelas inovações tecnológicas, principalmente no campo

da mídia, da informação e da tecnologia de comunicação, resultando em novos padrões de

38

atividade global, de organização comunitária e de cultura”11 que intensificou e expandiu as

relações em muitos âmbitos da atividade humana, dissolvendo fronteiras, potencializando a

comunicação e provocando transformações seja no padrão linguístico ou nas línguas. Nessa

visão, os espaços, as fronteiras e o tempo são considerados conceitos permeáveis, pois

conceber uma sociedade globalizada é caracterizá-la como campo de realização e crescimento

de relações e âmbitos diversos, na economia, na sociedade e na cultura (MOITA LOPES,

2006; 2013; RAMPTON, 2006; BLOMMAERT, 2010).

A comunicação, inserida nesse contexto, é um elemento importante para o fomento da

globalização, e as conexões rápidas, praticamente em tempo real, realizam-se nos cronotopos,

nos quais tempo e espaço são valores prófugos e efêmeros (BAKHTIN, [1990-1993]).

Sob essa perspectiva, Vertovec (2007) propõe o termo Superdiversidade

‒“diversificação da diversidade” ‒ para evidenciar os efeitos e as novas configurações

relacionadas à diversidade cultural das cidades e dos países decorrentes das migrações. Para o

antropólogo, em consequência ao ir e vir, observa-se que as migrações, em constante

circulação alteram a demografia das cidades, principalmente das grandes metrópoles, e criam

o cenário de superdiversidade nas esferas sociais e linguísticas (VERTOVEC, 2007;

BLOMMAERT, 2010; BLOMMAERT; BACKUS, 2011; BLOMMAERT; RAMPTON,

2011). Também, reverberam de maneira considerável na produção de conhecimento e, mesmo

que local, quando colocado em rede, passa a uma esfera global (SANTOS, 2006;

VERTOVEC, 2007).

Dessa forma, a concepção da globalização e seu impacto mundial são vistos como um

fator importante e propulsor da economia, do conhecimento, da produção e da tecnologia. As

mudanças mais significativas ocorreram na organização da produção e quanto ao

conhecimento e à informação.

Segundo Burbules e Torres Santomé (2004) os impactos econômicos globais e o

surgimento de diferentes culturas e meios tecnológicos de comunicação criaram importantes

mudanças na estruturação da sociedade e, como consequência, no fazer pedagógico.

[...] na realidade, quanto mais complexa é uma sociedade, mais depressa evolui, menos reguladas está por normas estáveis e, em consequência, mais difícil resulta manter sua integração e seus equilíbrios. [...] a busca da competitividade é tão

11 Tradução livre do original: “[…] the intensified flows of capital, goods, people, images and discourses around the globe, driven by technological innovations mainly in the field of media and information and communication technology, and resulting in new patterns of global activity, community organization and culture”.

39

indispensável como a luta contra a exclusão. (TORANIE, 1994, apud PÉREZ, 2001, p. 97)

Para Castells (1994), a situação de desigualdade está acendendo inúmeros efeitos

perversos nos países subdesenvolvidos. Nesse sentido, por exemplo, a lógica do livre

mercado, conforme Pérez (2001), conjectura com a dissolução das barreiras em qualquer

âmbito: fronteiras, nacionais ou regionais, no entanto, supõe a imposição de poder econômico

sem a participação reflexiva e organizada, provocando, como consequência, a impossibilidade

e acomodação e, quiçá, o conformismo.

O lado preocupante da globalização diz respeito à democracia, pois, como discute

Pérez (2001), os governantes eleitos mostram-se impotentes quando há implicações

financeiras em decisões, o que impacta a autonomia local, nacional, regional, e muitas

decisões, sobrepondo-se ao bem e aos interesses comuns.

Nas palavras de Lyotard (1989, p.71), "o mundo fala de velocidade, prazer,

narcisismo, competitividade, sucesso, realização. O mundo fala sob a regra de intercâmbio

econômico generalizado a todos os aspectos da vida, incluindo os prazeres e afetos". Eis outra

polaridade perversa, o individualismo e a competitividade alimentados pelo consumismo e a

globalização sem qualquer reflexão que permeie as sociedades. Somando-se a isso, Pérez

(2001) enfatiza que a sensibilidade ecológica e a falta de consciência dos limites do

desenvolvimento impactam de maneira significativa o meio ambiente. Nesse enquadramento,

Beck (2018) aponta que os marginalizados da globalização não se tornam "móveis como o

mundo", no sentido de migrar, e correm o risco de ficar mais pobres e excluídos, invisíveis

socialmente.

A exclusão social no contexto da globalização é avaliada, por Santos (2003), como

decorrência da “tirania do dinheiro e da informação”, ou seja, é a consequência da nova

ordem capitalista e da concentração do poder nas mãos de poucos. O autor apresenta sua visão

da globalização sob três perspectivas distintas: como fábula (como ela nos é contada), como

perversidade (como ela realmente acontece) e como possibilidade (explorando a ideia de outra

globalização).

Dentre as invisibilidades, ele assinala as mudanças climáticas imbricadas ao poder

nuclear, a especulação financeira e a medicina reprodutiva e a nanotecnologia. As

características são elencadas devido à defasagem temporal, e a complexibilidade revela-se em

uma sociedade em que o ter prevalece ao ser, o consumo é desmedido, a economia

desenfreada, restando à deriva o bem-estar planetário.

40

Santos (2003) sugere uma leitura crítica e multidisciplinar do mundo contemporâneo.

Critica a globalização como emergência de ações e resultados a um mercado global. Para ele,

os territórios tendem a ser mais fragmentados em nome do "progresso", e o confronto

sociedade-meio ambiente é cada vez mais acirrado. O dinheiro, propulsor dessa dinâmica,

reorganiza a distribuição dos espaços geográficos em favor do capital. Segundo o autor, é um

funcionamento muito instantâneo, tão rápido e que poucos são os privilegiados a acompanhar

o ritmo e a usufruir dos "benefícios” dessa globalização presente.

Santos (2003), elucidando o tema, expõe visões da globalização como fábula, ou seja,

aquela que abre um universo de possibilidades e é imposta pelos meios de comunicação,

incentiva o consumo e padroniza os hábitos para ter-se a sensação de inserção social e acesso

global. Na globalização real e perversa, o autor apresenta os problemas sociais, o

analfabetismo digital e letrado, o desemprego, a pobreza ao mesmo passo que há exclusão e

invisibilidade de grande parte da população mundial.

Nesse sentido, perde-se a noção do bem público e da solidariedade, vive-se o

isolamento social. No entanto Santos (2003) apresenta outra globalização, uma mais humana

na qual o engajamento seja fundamentalmente social, e não econômico. Segundo a proposta

do estudioso, o capital internacional deveria servir a interesses sociais e políticos. Como

consequência, possibilitaria uma nova visão de mundo, uma nova globalização na qual

valores, gostos, credos e culturas legitimam e valorizam a existência das diferenças. Santos

(2003) enfatiza a urgência de atribuir novo sentido à existência no planeta, resgatar a essência

do ser humano e o seu papel no globo.

Nesse contexto mundial globalizado, as mudanças afetam as políticas, as práticas,

instituições educacionais (BURBULES; TORRES, 2004) e provocam desafios à educação.

Outrora a educação centrava-se no desenvolvimento do indivíduo com o intuito de inseri-lo

em um contexto definido próximo, homogêneo e preparava os alunos para uma realidade

previsível de oportunidades e desafios possíveis.

Em consonância com o exposto quanto à educação na globalização, ressalta-se o papel

político da escola e educadores, Vygotsky (1920-23/2001) discute a função do professor como

transmissor de conhecimento e compara-o à função do livro didático, na visão do teórico, o

professor e a escola desempenham papéis políticos inerentes aos movimentos de tensão,

conflito e superação das relações nos contextos sócio-histórico-culturais em relação à vida

real, possibilitando aprendizagem e desenvolvimento, com isso, o estudioso confere ao

professor relevância social; nas palavras de Vygotsky (1920-23/2001, p.152): "[...] Sobre o

professor recai um novo papel importante. Cabe-lhe tornar-se organizador de meio social, que

41

é o único fator educativo". Nessa perspectiva, a pedagogia dos multiletramentos pode ser um

caminho de trabalho pedagógico que pode alicerçar uma organização curricular baseada na

Atividade Social que pressupõe a desencapsulação curricular.

Hoje, no cenário global, as palavras do teórico supracitado tornam-se atuais; pois a

educação amplia os limites para além das comunidades e confrontam expectativas mutáveis e

imprevisíveis. Desse modo, os objetivos da educação devem promover a flexibilidade,

aprender a coexistir com o outro em espaços públicos diversos e alentar a apreciação e

tolerância de culturas diferentes, como enfatizam os autores Santos (2003) e Burbules e

Torres (2004).

Sob esse olhar, o voluntariado, no âmbito educativo, ganha força porque a premissa

para esse tipo de trabalho é analisar, de forma ampla, crítica e investigativa, os diversos

contextos sociais/ambientais que afetam o planeta com o intuito de promover encontros,

questionamentos, opiniões, posições que possam favorecer a constituição da cidadania crítica

e responsável (LIBERALI, 2012). Sendo assim, a perspectiva abordada no curso de

voluntariado tem como base a Teoria da Atividade sócio-Histórico-Cultural, pautada em

Vygotsky (1934/2004) e Engeström (1987, 1999) e que vislumbra as relações dialógicas e

dialéticas na produção do conhecimento; e os alunos, como participantes ativos, são

corresponsáveis em um contexto tempo-espaço com papéis determinados e em interação com

o mundo e com o outro.

De acordo com essa concepção, a Atividade Social e os multiletramentos foi a

proposta de trabalho aplicada no curso de voluntariado, como a seguir detalh-se.

2.2 VOLUNTARIADO NA PERSPECTIVA DA TEORIA DA ATIVIDADE SÓCIO-

HISTÓRICO-CULTURAL

A teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural (TASHC) está ancorada no

materialismo histórico-dialético (MARX; ENGELS, 1845), pois se embasa em toda atividade

prática como probabilidade do desenvolvimento nos aspectos históricos e sociais do ser

humano e como possibilidade de desenvolvimento. Foi iniciada por Lev Vygotsky (1978),

decênio de 1920 e início de 1930, e desenvolvida por seu colega e discípulo, Alex Leontiev

(1978, 1981) e, atualmente, estudada e aprofundada por Engeström.

O cerne da TASCH é o estudo da relação entre sujeitos em contextos sociais

determinados sócio-histórico e culturalmente e orientada por objetos diversos. Nessa

perspectiva, segundo Vygotsky (2001; 2003), o sujeito e o mundo são tratados conjuntamente.

42

Liberali (2009) ressalta que, nesse contexto, os sujeitos são mediadores da cultura por seus

pares. Todos refletem sobre determinado tema, discutem, argumentam, tomam consciência

dele e agem para transformar. Essa prática produz conceitos científicos na interação com os

conceitos cotidianos por meio de tarefas e objetivos propostos.

Nesse enquadramento, segundo Liberali (2009), os sujeitos assumem um compromisso

colaborativo com seu entorno e com o outro para atuar em diferentes situações sociais. Os

envolvidos aprendem a escutar o outro, verbalizar suas ideias, argumentar de maneira a

embasar seus pontos de vista e, dessa forma, amplia-se a possibilidade de transformação

interna e externa.

Nessa esteira, Liberali et al. (2012, p.7-8) enfatizam que a TASCH é: “Uma teoria das

práxis em que a reflexão, o desejo e a ação humana se ligam ao devir de cada um, em

conjunto com todos, em sociedade.". De acordo com essa ideia, pode-se conceber a

aprendizagem como processo individual e coletivo construído por meio de contextos que se

integram com cada um e na sociedade na qual se está inserido. Nesse tocante, a linguagem é

ativa e fundamental. Vygotsky (1930-35/1988) dá suporte a essa concepção quando afirma

que a linguagem é o instrumento para estabelecer relações. Para o cientista, a linguagem

medeia a atividade.

Nesse contexto, os sujeitos participantes das atividades nem sempre compartilham das

mesmas necessidades, mesmo que ajam coletivamente, pois são vários os sentidos atribuídos

ao mesmo objeto, e, quando o sujeito percebe que a sua necessidade pode ser complementada

pela ação colaborativa na atividade e pelo outro, no objeto compartilhado/coletivo, pode

compreender o impacto na comunidade.

A proposta de ensino-aprendizagem baseada na perspectiva da Teoria Sócio-Histórico-

Cultural, pautada em Vygotsky (1934/2004) e Engeström (1987, 1999), alude conceber os

alunos como participantes ativos, corresponsáveis em um contexto tempo-espaço com papéis

determinados e em interação com o mundo e com o outro. Em conformidade com essa

concepção, escolheu-se trabalhar esta investigação por meio da atividade social como

proposta de trabalho no curso de voluntariado.

Uma Atividade Social é constituída por sujeitos que detectam as necessidades e são

movidos por um propósito (objeto) que é mediado por artefatos (instrumentos) mediante

relação entre os envolvidos (comunidade), que se organizam por regras e divisão de trabalho.

43

Figura 1 - O sistema de atividade humana proposto por: Engeström (1989, apud MEANEY, 2009)

Fonte: Meaney (2009, p. 38)

Na figura supracolocada, o sujeito (individual) age em relação ao motivo-objeto ao

realizar uma atividade, dessa forma, ele (objeto) é transformado em resultado por meio dos

instrumentos. A comunidade é formada por aqueles que compartilham o objeto da atividade.

As regulamentações que regem a atividade são as regras. A divisão de trabalho são as

tarefas e funções de cada um do grupo e constituem a comunidade. Os instrumentos são

chamados também de artefatos ou ferramentas, pois são os meios para alcançar o objetivo.

Pode-se vislumbrar que uma atividade não é restrita a um conjunto de ações, mas que

as ações constituem uma atividade, há a necessidade de uma atuação coletiva, dessa forma,

além de realizarem o objeto-motivo, satisfazem as necessidades particulares (LIBERALI,

2009).

De acordo com Vygotsky (1930-35/1988), a linguagem é um dos instrumentos

utilizados por todos os participantes para estabelecer relações. Nessa dinâmica, quando o

sujeito entende que sua necessidade pode ser contemplada pela participação colaborativa na

atividade e que o objeto é compartilhado pelo coletivo, o sujeito compreende que a sua forma

de agir pode afetar o seu grupo e a comunidade.

Regras Divisão de Trabalho

Sentidos

Significado

Sujeitos

Artefatos mediadores: instrumentos e signos

Objeto

Resultado

Comunidade

44

2.2.1 Atividade Social nas aulas do curso do voluntariado educativo

De acordo ao precedentemente exposto, o curso de voluntariado proposto neste estudo

está apoiado nos conceitos da Teoria da Atividade. Dessa maneira, visa possibilitar a criação

da Zona de Desenvolvimento e proporciona práticas culturais em situações de sala de aula,

como postula Liberali (2010). Desse modo, as ações e as intervenções com as Atividades

Socias determinadas pelo grupo criam um contexto no qual os conceitos científicos são

construídos a partir das compreensões cotidianas do senso comum e sustentados pela

linguagem que está organizada na práxis e resulta em uma organização colaborativo-crítica de

todos os integrantes do curso de voluntariado.

O conceito de Atividade Social, no enfoque da Teoria da Atividade, permite

desenvolver um planejamento pelo grupo de alunos e professores. De acordo com a Atividade

Social proposta, os alunos dividem as tarefas, definem a comunidade, estabelecem as regras e

selecionam artefatos, instrumentos. Organizar um trabalho no enfoque sócio-histórico-

cultural, significa focalizar a participação nas Atividades Sociais como um motivo que move

a atividade de ensino-aprendizagem (LIBERALI, 2009).

O curso Quixotes Solidários (projeto social – voluntariado educativo) é um dos 33

cursos oferecidos como curso extra, portanto, opcional, no qual todos os alunos do 4º ano do

Ensino Médio podem inscrever-se e pagam mensalidade. O horário é no contraturno da

escola, vespertino. Os encontros coletivos do curso ocorrem uma vez por semana e têm

duração de duas horas. As três edições realizadas no curso (2017-2018), uma a cada semestre,

foram: assistência a crianças em situação de vulnerabilidade, visita e atividades no asilo e

proteção animal.

A primeira visita foi a inauguração do curso, portanto, já estava pré-escolhido o lugar

para efetuar o trabalho: CÁRITAS – assistência às crianças. Já o segundo e o terceiro trabalho

foram selecionados a partir de questionário no qual os alunos expuseram seus anseios e

fizeram propostas por ordem de desejo de atuação e os lugares nos quais gostariam de atuar.

Oitenta por cento dos alunos escolheram como primeira opção atividades no asilo.

As atividades propostas foram molas propulsoras para que todos os envolvidos (alunos

do curso e idosas do asilo) se organizassem guiados pelo motivo, no caso, a intervenção

social, em que as negociações de significado, exposição dos diversos pontos de vista,

argumentação e contra-argumentação legitimaram-se nessa perspectiva. A proposição dos

multiletramentos adere-se a esse bojo pela possibilidade de ampliar o conhecimento, no

sentido de favorecer o desenvolvimento de um sujeito crítico atento às diversidades e

45

necessidades locais e globais por meio dos três conceitos centrais que permeiam o trabalho: o

uso das múltiplas mídias, a multimodalidade e a multiculturalidade.

Para compreender melhor a amplitude e diferencial do trabalho voluntário

desenvolvido com base na TASCH, apresenta-se, na continuidade deste estudo, o

voluntariado em suas diversas visões históricas.

2.2.2 História do voluntariado

Segundo as investigações de Hudson (1999), não existem muitos registros sobre a

história do voluntariado, por isso, resulta difícil afirmar sua origem. Entretanto acredita-se que

a religião influenciou incentivando a prática do voluntariado como virtude e caridade. Hudson

(1999), um dos autores que identificam a Igreja como precursora do voluntariado, assegura

que as ações, nomeadas de caridade, coincidem com o crescimento das organizações

religiosas. Segundo o autor, os ensinamentos judeus disseminavam a ideia de que os pobres,

os menos favorecidos, tinham direitos, e que os ricos tinham deveres.

As primeiras igrejas cristãs criaram fundos para apoio às viúvas, órfãos, enfermos,

pobres, deficientes e prisioneiros. Esperava-se que os fiéis levassem donativos,

voluntariamente, que eram colocados na mesa do Senhor para que os necessitados pudessem

recebê-lo das mãos de Deus. Os primeiros legados foram autorizados pelo imperador

Constantino I, no ano de 231 d.C., possibilitando a doação de recursos para a caridade. No

mundo islâmico, a filantropia foi usada para montar grandes hospitais, quando pacientes

indigentes recebiam cinco peças de ouro assim que recebessem alta. (HUDSON, 199, p. 02).

Cunha (2010) propõe que a guerra sempre foi cenário de ações voluntárias, entretanto

o registro oficial partiu de Henry Dunant, que, no campo de batalha de Solferino, no norte da

Itália, ficou comovido quando visualizou milhares de soldados feridos e sem atendimento.

Ele, então, convocou a população para solicitar ajuda para todos os soldados.

Esse registro está no livro " Uma recordação de Solferino", lançado por ele, em 1862,

no qual há dois apelos: que fossem constituídas sociedades em tempo de paz, com

enfermeiros para tempos de guerra e que esses voluntários fossem reconhecidos e protegidos

por meio de acordos internacionais. Assim, surgiu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha

em 1863.

Outra iniciativa de abrangência internacional foi o escotismo. Essa prática surgiu na

Inglaterra, em 1907, fundada pelo oficial Robert Stephenson Smith Baden-Powell. O lema

46

fundamental é o mesmo ainda nos dias de hoje, "Sempre Alerta", e o princípio básico é ajudar

ao próximo em toda e qualquer ocasião.

Na década de 1930, foi criado o Estado de Bem-Estar Social ("Welfare State"), que

visava atender aos necessitados. A partir de 1930, o Estado transfere à sociedade civil essa

responsabilidade. Entre os movimentos e iniciativas estão a Anistia Internacional, o

Greenpeace, a Organização das Nações Unidas (ONU), a CARE, uma organização

humanitária internacional, o World Wildlife Fund. (WWF), que são organizações que

apoiam o voluntariado em todo o mundo.

Em Paris, no ano de 1990, foi aprovada a Declaração Universal do Voluntariado,

baseada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela International Association for

Volunteer Effort. O objetivo é promover a reflexão sobre a cidadania e a solidariedade como

valores indispensáveis para a melhoria do planeta.

Estima-se que, no Brasil, as primeiras iniciativas com registros de cunho voluntário

surgiram em 1543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia, na vila de Santos, que era

formada só por mulheres, mais conhecidas como Damas Caridosas. A Cruz Vermelha chegou

ao Brasil no ano de 1908, e o escotismo, em 1910, na cidade do Rio de Janeiro.

O presidente Getúlio Vargas, em 1942, criou A Legião Brasileira da Assistência

(LBA), com o propósito de ser presidida pelas primeiras-damas, porém teve seu fim na era

Collor, após os escândalos envolvendo a primeira-dama Roseana Collor. Na década de 1950,

surgem as primeiras associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs). Hoje, há mais

de 1.600 unidades no país, visto como o maior movimento social de caráter filantrópico

brasileiro.

Na década de 1960, o governo brasileiro criou o Projeto Rondon com o intuito de levar

universitários para prestarem assistência às comunidades carentes do interior do país. E, nos

anos de 1970, surgiram as primeiras Organizações Não Governamentais (ONGs) do Brasil,

conceituadas como organizações da sociedade civil de práticas voluntárias.

As formas mais modernas de atuação social começaram a formar-se na década de

1990. As ONGs passam a incorporar no seu gerenciamento os conceitos filosóficos e

procedimentos vindos do segundo setor, sem perder sua identidade e missão. O fato foi

relevante por ampliar o caráter assistencialista. Nessa década, 1990, a Fundação Abrinq,

Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (organização sem fins lucrativos que

tem como missão promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania de crianças e

adolescentes), juntamente com o Conselho Comunidade Solidária, criaram o "Programa de

Estímulo ao Trabalho Voluntariado no Brasil" para gerar o conceito e a prática no país, por

47

meio da criação dos primeiros "Centros de Voluntários no Brasil", com isso, gerando um

novo padrão de voluntariado. Vilela e Cruz (2004) vislumbram o voluntariado educativo

como os primeiros passos para a cidadania e a discussão sobre a educação escolar e a

valorização da sociedade brasileira. Atualmente, existem Centros de Voluntariados em quase

todas as capitais, com captação e capacitação de entidades e de voluntariados como agentes

sociais. No ano de 1998, foi promulgada a Lei n.º 9.608/98, conhecida como a Lei do

Voluntariado, que orienta as condições do exercício do serviço voluntário.

Segundo Vilela e Cruz (2004), o ano 2001 marca o Ano Internacional do

Voluntariado, o que, antes, ecoava de maneira modesta transformou-se em sinônimo de

cidadania ativa e de inclusão. Atualmente, o conceito de voluntariado representa o cidadão

que, mobilizado por seus valores e pela solidariedade, doa seu tempo, talento e trabalho de

maneira espontânea e não remunerada em prol de causas de interesse social e comunitário. O

voluntariado atual é baseado na escolha e na motivação pessoal de cada cidadão, motivado em

promover a cidadania, as formas de inclusão social e a esperança da construção de uma

sociedade mais justa, responsável e solidária, visando à transformação da comunidade.

Acredita-se que a educação tenha um papel muito importante na comunidade, pois é o

instrumento de promoção para a cidadania. A escola é o locus onde todos podem ter acesso

aos conhecimentos universais e básicos, assinalam as autoras, Namo e Vilela (1993).

Em consonância com a educadora Guiomar Namo de Mello (apud VILELA, 2004,

p.1993),

[...] diante deste cenário, a educação é convocada, talvez prioritariamente, para expressar uma nova relação entre desenvolvimento e democracia, como um dos fatores que podem contribuir para associar o crescimento econômico à melhoria da qualidade de vida e à consolidação dos valores democráticos.

2.2.3 Voluntariado no âmbito educativo

Com a preocupação da formação integral dos educadores, o voluntariado educativo

vem ganhando espaço no Brasil e em vários países. Conforme Villela (2004), a exemplo do

que sucede em outros países, no Brasil, cada vez mais os professores, educadores e gestores

educacionais desvendam, no voluntariado educativo, uma motivação do processo de ensino e

aprendizagem.

O voluntariado educativo contribui com o trabalho do professor em sala de aula, com

elementos enriquecedores para o desenvolvimento dos temas transversais e para a elaboração

48

de projetos interdisciplinares. O foco do voluntariado educativo não é o serviço a ser prestado,

mas, sim, a formação dos alunos, tanto pelo desempenho de sua atividade voluntária quanto

pelo desenvolvimento articulado dos saberes acadêmicos.

Ao conceber a ideia do voluntariado no âmbito educativo, a instituição elabora seus

projetos e introduz conceitos à prática do voluntariado na proposta pedagógica. Sem alterar os

objetivos essenciais na formação e na construção do conhecimento, o voluntariado educativo

exerce na escola uma função catalisadora e estimuladora para o exercício da cidadania, pois

prepara o aluno para a participação social e a política. “O conhecimento escolar passa a ser

valorizado pelo estudante e pela comunidade e reforça o papel primordial da escola”, enfatiza

a Vilela (2004, p.28).

O voluntariado educativo valoriza o papel da escola e propicia o exercício da

convivência democrática. Essa mobilização pode ocorrer quando se faz presente a liderança

dinâmica da direção e dos professores da escola. Mais eficaz, segundo a autora supracitada,

passa a ser a ação do jovem quando conta com o apoio e incentivo da comunidade local. O

programa Jovem Escola Solidária, por exemplo, é um dos canais que pode receber o

idealismo e a vontade dos jovens a mudar o mundo. As escolas solidárias preocupam-se com

a formação de cidadãos responsáveis, atuantes em causas sociais.

Engajados nessas ideias, em 2002, foi firmada uma parceria entre a organização Faça

Parte ‒ Instituto Brasil Voluntariado e o MEC ‒, o Conselho Nacional de Secretários de

Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação (Undime).

Entre outras ações, criaram o selo "Escola Solidária", e, já no início, mais de dez mil escolas

inscreveram-se. Essa participação mostrou um mapa do Brasil que até então era

desconhecido. Instituições que compartilham experiências socioeducativas e somam esforços

com o intuito de melhorar a qualidade de vida de comunidade.

Um exemplo de formação integral12 é o International Baccalaureate13, pois oferece

formação pluricultural e tem como base o desenvolvimento de valores humanísticos. O

programa é oferecido em 4.267 escolas, em 147 países diferentes. Há mais de 1.065.000

estudantes em todo o mundo, segundo a apresentação do site.

12 A formação integral é compreendida aqui como um processo educativo que propicie ao sujeito a ação política e social em momentos históricos e de sua própria história, ou seja, concebe-se a formação humana em uma perspectiva multidimensional, que evidencie valores respeitosos à diversidade e aos direitos de todas as pessoas do mundo, com ênfase à tolerância, à solidariedade, à valorização da diversidade, ao respeito aos direitos humanos, aos cuidados com o meio ambiente, e a ênfase à participação cidadã e democrática fortalecendo identidades e aprofundando relações humanas (FREIRE, 1987). 13 Tradução livre: Bacharelado Internacional.

49

Entre as disciplinas obrigatórias do programa, Criatividade Ação e Serviço (CAS) é

um fundamental diferencial, pois promove a ação voluntária, essencial para o

desenvolvimento integral dos alunos. O CAS promove o desenvolvimento pessoal e

interpessoal por meio da aprendizagem vivenciada. As três cadeias de CAS, muitas vezes

entrelaçadas com atividades específicas, são caracterizadas da seguinte forma:

Criatividade – artes e outras experiências que envolvem o pensamento criativo.

Atividade – esforço físico que contribui para um estilo de vida saudável,

complementando o trabalho acadêmico em outros lugares da DP.

Serviço – uma troca voluntária e não remunerada que tenha um benefício de

aprendizagem para o aluno. Os direitos, a dignidade e a autonomia de todos os

envolvidos são respeitados.

Constata-se que a educação desperta para a necessidade de contextualizar os

conhecimentos para a riqueza da diversidade cultural e para promoção de mudanças sociais,

políticas e econômicas e constitui-se em importante núcleo da transformação social.

Outro ponto a ser observado é a recente Base Nacional Comum Curricular, que traz,

entre suas dez competências, duas que podem alicerçar o voluntariado no âmbito educativo, a

saber:

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

De acordo com a BNCC, a escola é considerada um espaço de aprendizagem inclusiva

e aponta a empatia e compreensão como ferramentas para evitar e solucionar desavenças, bem

como promove o respeito e acolhimento às diferentes culturas, etnias, religiões, identidades,

idades ou necessidades especiais. Junte-se a essa perspectiva o compromisso da escola em

propiciar uma formação integral, balizada pelos direitos humanos e princípios democráticos.

Segundo o documento, deve-se compreender o aluno como um sujeito com histórias e

saberes construídos com base na relação com o outro, seja na esfera social próxima, seja na

digital. Nesse contexto, a escola coloca-se como lugar para desenvolver a cidadania crítica e

participativa, objetivos presentes em documentos anteriores de âmbitos nacional e

internacional, como LDB e UNESCO, por exemplo.

50

Esse foco revela uma perspectiva intercultural, que considera seus projetos educativos,

suas cosmologias, suas lógicas, seus valores e princípios pedagógicos próprios (em

concordância com a Constituição Federal, com as Diretrizes Internacionais da OIT –

Convenção 169 e com documentos da ONU e UNESCO sobre os direitos indígenas). Em

suma, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas

de autonomia e competência, congregarem propostas pedagógicas e currículo com temas

emergentes. Segundo a BNCC, trata-se daqueles temas que "afetam a vida humana em escala

local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora”. Em meio a tais

temas, destacam-se:

Direitos da criança e do adolescente (Lei n.º 8.069/199016)14;

Educação para o trânsito (Lei n.º 9.503/199717);

Educação ambiental (Lei n.º 9.795/1999, Parecer CNE/CP n.º 14/2012 e

Resolução CNE/CP n.º 2/201218);

Educação alimentar e nutricional (Lei n.º 11.947/200919);

Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso (Lei n.º

10.741/200320);

Educação em direitos humanos (Decreto n.º 7.037/2009, Parecer CNE/CP n.º

8/2012 e Resolução CNE/CP n.º 1/201221);

Educação das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro-

brasileira, africana e indígena (Leis n.º 10.639/2003 e 11.645/2008, Parecer

CNE/CP n.º 3/2004 e Resolução CNE/CP n.º 1/200422);

Saúde, vida familiar e social, educação para o consumo, educação financeira e

fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade cultural (Parecer CNE/CEB

n.º 11/2010 e Resolução CNE/CEB n.º 7/201023).

Na BNCC, essas temáticas são contempladas em habilidades dos componentes

curriculares, cabendo aos sistemas de ensino e escolas, de acordo com suas especificidades,

tratá-las de forma contextualizada.

Em consonância às competências da BNCC, as diretrizes da LDB, em seu segundo

parágrafo, indica que "a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática

social" (BRASIL, 1996). Os documentos supraelencados aludem à necessidade e à relevância

14 Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#introducao#competencias-gerais-da-base-nacional-comum-curricular>. Acesso em: 28 abr. 2018.

51

do trabalho pedagógico que conglobe experiências educacionais fora do âmbito escolar, como

o voluntariado educativo, por exemplo.

No entanto a BNCC não define os termos, tampouco os conceitua, com isso, abre-se

um leque de interpretações e ações. Neste estudo, o voluntariado educativo foi concebido

como um lugar de possibilidades no qual o grupo de alunos e professores podem construir

conhecimentos científicos e não científicos, conceituados, por Vygotsky (1934-1987), de

conhecimentos do dia a dia; e, nesse sentido, Santos (2006, p. 154) propõe a "ecologia de

saberes" ou uma ecologia de práticas de saberes como possibilidade de construir um modo

dialógico e articulado das estruturas dos saberes moderno/científico/ocidental a formações

nativas/locais/tradicionais de conhecimentos. Conceber a ecologia de saberes no currículo é

possibilitar propostas engajadoras entre a escola e a vida que se vive (MARX; ENGELS,

1845-1846/2006). Ou seja, retirar os conhecimentos das cápsulas impostas pela organização

dos currículos escolares (ENGESTRÖM, 1987).

Liberali (2015) discute o conceito de desencapsulação como alargamento do universo

de ação dos alunos; pois, o currículo escolar deveria ser idealizado a partir da realidade dos

alunos e dos professores, oportunizando propostas coletivas e criação da zona de

desenvolvimento proximal.

Nesse sentido, o estudo da prática escolar não pode se restringir a um mero retrato do

que ocorre no dia a dia, mas deve implicar um processo de sua reconstrução, desvelando suas

múltiplas dimensões, refazendo seu movimento e apontando contradições. Dessa forma é

possível contribuir para a formação integral que propõe, dentre outros aspectos, o despertar

para a ação política e social em uma perspectiva multidimensional que favoreça desde os

cuidados com o meio ambiente à participação cidadã e democrática, fortalecendo identidades

e aprofundando relações humanas, como postula Paulo Freire (1987). Pondera-se, também, a

proposta da BNCC entre as competências assinaladas: “Agir pessoal e coletivamente com

autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com

base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”.

Diante do exposto, a investigação do trabalho com o voluntariado na escola possibilita

reflexões sobre a possibilidade de desenvolver projetos dessa natureza no ensino regular; e,

uma vez que este trabalho está compromissado em priorizar as relações colaborativas entre os

agentes na produção de conhecimento crítico e vislumbrar deslocamentos, o conceito de

“agência”, torna-se relevante, pois, nesse contexto, pressupõe ações que, além de intencionais

e conscientes, nascem de acordo com as necessidades e com os interesses coletivos, o que

resulta em uma premissa para o trabalho de voluntariado.

52

Na continuação deste texto, discorre-se sobre o conceito de protagonismo para melhor

compreensão e justificativa do conceito de agência.

2.3 DESENVOLVIMENTO DAS AGÊNCIAS NAS PRÁTICAS DE VOLUNTARIADO

Nesta subseção, apresenta-se o conceito de agência, no entanto faz-se necessário

justificar a escolha de agência em detrimento do conceito de protagonismo nesta pesquisa.

Para tanto, cabe refletir e investigar a historicidade e as concepções que permeiam tais

conceitos.

Freeman (2016) retoma a etimologia da palavra protagonismo, que vem do grego

protos e significa principal, primeiro; e gonistes que vem a ser lutador, competidor. A

terminologia protagonista é muito utilizada no cinema, teatro e destina-se ao principal

personagem da obra, ou seja, é a pessoa que ocupa lugar de destaque, papel principal.

Freeman (2016) aponta que, na sociologia, protagonismo remete a fatores de ordem política,

sugerindo abordagem democrática nas ações sociais. Ela ressalta a importância de considerar

o protagonismo infantil como um movimento recente que alerta sobre a importância de

"olhar" à infância como uma fase na qual as crianças, de diferentes faixas etárias, de

condições socioeconômicas distintas, como membros da sociedade, e propõe reflexões sobre o

status social da infância e, com isso, a possibilidade da criação de espaços e oportunidades

para que as crianças possam expressar-se e desenvolver-se.

Desse modo, Freeman (2016) assinala que o protagonismo infantil vai transformando-

se à medida que os adultos intervêm no desenvolvimento; ela também indica que o

protagonismo tende a desaparecer quando os direcionamentos dos adultos não levam em

consideração a diversidade e as origens multiculturais. Para a autora, assentir com o

protagonismo infantil é garantir um espaço único no qual a criança é levada em consideração

e critica as situações nas quais os adultos impõem anseios e privam o infante de oportunidades

de expressão.

Por sua vez, Moura (2016) concebe o termo protagonista como similar a militante e

líder. O educador esclarece que, historicamente, o termo militante vem do latim militare

(verbo) e tem a mesma raiz de militar e milícia, todavia o termo militante não é utilizado no

universo militar. Em sua pesquisa, Moura explicita que o termo foi apropriado pela Igreja, nos

movimentos sociais, com o intuito de designar uma pessoa engajada, comprometida,

missionária das ideias de uma Igreja, de um partido/movimento. Militante, então, seria,

segundo a sua pesquisa, um sujeito despojado, dedicado, que se sacrifica e doa-se em prol de

53

uma ideia ou causa. O autor enfatiza que um militante cria uma linguagem ideológica,

algumas vezes, distante da base e confunde a verdade com a interpretação pessoal.

Já o termo líder, para Moura (2016), é oriundo da língua inglesa e utilizado, no Brasil,

também, no contexto do desenvolvimento industrial. O dicionário Aurélio define o líder como

o sujeito que chefia, comanda e/ou orienta em qualquer conjuntura. É visto como guia, chefe

condutor, aquele que ocupa a primeira posição.

Moura (2016, p. 27) assinala que, devido à influência da cultura inglesa e americana, o

termo foi adotado por empresas e movimentos e compara: "enquanto o termo militante refere-

se muito ao meio onde este vivia ‒ operário, campesinato, universitário, estudantil ‒, o termo

líder traz a ideia de equipe, do time, da empresa, do grupo. Daí a afinidade com chefia,

competição, liderança do ranking". Ainda de acordo com o autor, assim como ocorrido com o

conceito de militante, o de líder também passou a ser objeto de estudo, treinamento,

capacitação. O estudioso aponta que, em virtude da visão de liderança, criou-se uma

dependência das pessoas quanto à figura e empobreceu-se a autonomia.

Diante ao exposto por Moura (2016), que defende o conceito de protagonismo, assim

como Freeman (2016), identifica a aplicação do termo na linguagem teatral para identificar o

primeiro ator e nomeia o segundo ator de deutaragonista e o terceiro de tritagonista; no

entanto, assegura que não existe ainda uma literatura para o conceito, bem como não há

sistema de formação para preparar protagonistas. Ainda, segundo Moura (2016), a

justificativa para adoção e aceitação do termo protagonista no Serta15, na formação de

adolescentes engajados e focalizados nas mudanças pessoais e circunstanciais dos territórios

onde vivem e o professor, destaca as características do protagonismo e protagonista como:

Não se associa com o conceito de competição, mas sim de

solidariedade. Implica existência do segundo agonista ou ator, do

terceiro e assim sucessivamente.

A consciência do seu papel não permite deixar os outros na

dependência, na espera. Os outros não são bases, nem massas, nem

15 Fundado, em 1989, a partir da mobilização de um grupo de agricultores, técnicos e educadores que desenvolviam, em comunidades rurais, a melhoria da propriedade e da renda e o uso de tecnologias apropriadas, o Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA) é hoje uma escola que oferece Ensino Técnico de Formação Profissional em Agroecologia para 1.250 estudantes nas unidades de Glória do Goitá, na região da Zona da Mata, e Ibimirim, no Sertão do Moxotó, em Pernambuco. A escola tem como missão “formar jovens, técnicos, educadores e produtores familiares para atuarem na transformação das circunstâncias econômicas, sociais, ambientais, culturais, políticas e na promoção do desenvolvimento sustentável com foco no campo”. Com metodologia própria, a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads) está embasada nas noções gerais de sustentabilidade e nos princípios do desenvolvimento territorial. Disponível em: <http://escolastransformadoras.com.br/escola/serta-servico-de-tecnologia-alternativa/>. Acesso em: 7 set. 2018.

54

opositores. São atores em diversos papéis, ora de autores, ora de

agentes, sempre sujeitos, e não objetos da ação do protagonista.

O campo de atuação não é tanto o meio rural, estudantil ou operário,

mas sim o território. Não se é protagonista de uma categoria ou classe

social, mas em um território. Não se pensa um segmento isolado, e sim

os vários segmentos na sua unidade e diversidade.

Também não representa um segmento, um movimento social de um

grupo ou categoria. Não defende os interesses de pobres e oprimidos.

Pode contribuir com a defesa que esses fazem de si mesmos. Não atuam

para os demais, pobres ou necessitados, mas sim com eles.

Não ordena, nem obedece às direções de um chefe ou de um líder.

Forma equipe, grupos, constrói diretrizes, linhas de ação, avalia e

autoavalia. Dá testemunho e “exemplo, tempo e presença”, e não abusa

do discurso, do palavrório.

Tem a autodeterminação do líder e do militante e sabe esperar que as

pessoas andem com suas próprias pernas, falem com sua própria boca,

ajam com suas próprias mãos, vejam com seus próprios olhos.

Trabalha a partir das potencialidades, das capacidades das pessoas, da

natureza, do território, mas não sobre os problemas, as carências, as

necessidades sentidas. Transforma o problema em objeto de

investigação, análise e ação, portanto, apresentam mais soluções do que

problemas.

Apresenta propositivos, não se contentando somente em propor críticas.

Pretende sentir-se parte da solução dos problemas que analisam. Não

procura culpados e responsáveis pelas coisas que deixaram de ser feitas

ou foram feitas de modo insatisfatório. Deseja solucionar o problema.

É estimulado a olhar o mundo de forma holística, com sensibilidade

pelo todo em relação com as partes. Não olha somente para o seu

partido, sua igreja, seu problema, pois sabe que existem outros olhares,

outros partidos e outras igrejas.

Atua interdimensionalmente, sabe fazer pontes, concertações,

articulações entre realidades e coisas aparentemente sem nexo, como

trabalho e meio ambiente, cidadania e arte, política e técnica, educação

e desenvolvimento, direito e deveres. Cultua os valores espirituais,

ligados ou não a credos religiosos. Valoriza muito a autoestima, a

autoconfiança e o autoconceito como disposição para mudar. Sente-se

capaz de mudar e de contribuir com a mudança dos outros e das

circunstâncias que o cercam.

Sente necessidade de dominar instrumentos úteis e inteligentes para sua

intervenção – conhecimentos, tecnologias, leitura e escrita, cálculo e

informática – a serviço das mudanças nos territórios onde estão

inseridos.

55

Nessa esteira de concepções sobre o conceito de protagonista, Goulart (2016) é

enfática em conceber que protagonismo é poder. E justifica a sua concepção baseada no

movimento de ocupação das escolas pelos secundaristas, em setembro de 2015, e aborda o

termo protagonismo coletivo como um movimento de solidariedade orgânica. Em suas

palavras; "resultante de uma interdependência entre ações e atores que emana da sua

existência e lugar" (2017, p. 48), Goulart enxerga a força do protagonismo na/da escola como

dependente e influenciador na forma e organização. Ela ressalva que o protagonismo deve ser

coletivo e ir além da representação de um papel.

Pasquali (2016) sugere que o protagonismo infantojuvenil não é uma metodologia que

pode ser adotada e, logo, ignorada. Para a autora, o protagonismo seria o modus operandi,

uma espécie de banalizador da base para construção de relações, uma construção coletiva. A

autora ainda ressalta que o protagonismo não deve ser visto como uma ação solitária, pois, há

sempre um contexto. Explica ainda que, de acordo à situação, o outro acaba implicado e

colaborador da transformação coletiva.

Os estudos de Souza (2009) inferem que o termo protagonismo tomou força a partir da

concepção de ator social, no âmbito educacional, e identifica a matriz responsável do termo

protagonismo juvenil na concepção de sociedade como um conglomerado de indivíduos que

estabelecem relações uns com os outros em benefício próprio e coletivo ao longo das

atividades nas quais produzem. Tal atuação é designada de atuação social e realizada, por sua

vez, por atores sociais, dessa forma, na década de 1980, em meio aos discursos quanto ao

futuro da juventude se instituiu o termo protagonismo juvenil, no início, essencialmente no

terceiro setor; posteriormente, o termo foi associado aos princípios pedagógicos, designando o

aluno a ser protagonista, ou ser o ator principal no desenvolvimento da sua comunidade, país

e do seu processo.

No entanto, a partir dos estudos realizados por Souza (2009), o termo já constava em

1979, pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano destinado à juventude nomeado de

Ano Internacional da Juventude: Participação, Desenvolvimento e Paz, e, desde então, os

documentos que deram suporte, inclusive, nos anos de 1990 para todos os países, usaram o

termo.

No Brasil, destacou-se como pioneira na utilização do enunciado protagonismo juvenil

a Fundação Odebrecht, seguida pelo Instituto Ayrton Sena e pelo Instituto Internacional para

o desenvolvimento da Cidadania (IIDAC).

Posto isso, o termo protagonismo ganhou força e foi adotado com o intuito de dar

notoriedade e legitimar as ações dos alunos, para contemplar na prática educativa a escuta

56

quanto às proposições e às mobilizações dos educandos. No entanto percebe-se que o termo se

contradiz, pois, na sua etimologia e no seu entendimento, ainda traz consigo o papel de um, de

único, de destaque; o que de fato confunde pela ambiguidade do termo. A nomenclatura gera

desconforto e surge, então, protagonismo coletivo, na tentativa de vislumbrar envolvimento,

interesses no âmbito coletivo. Desse modo, traz-se, aqui, o conceito de agência como

contraponto ao protagonismo.

Para compreender a agência neste estudo, retoma-se o conceito de mobilidade agentiva

(BLOMMAERT, 2010) expandido por Liberali (2017). Nessa concepção, agência relaciona-

se à intenção e à ação voluntária e implica tomada de decisão das ações/discursos de acordo

ao que é aceitável ou adequado em determinados e diferentes contextos, portanto, a agência

pressupõe ações que, além de intencionais e conscientes, nascem de acordo com as

necessidades e com os interesses coletivos. Nesse tocante, a agência pressupõe ações que se

contrapõem à competitividade, ao destaque individual ou a um ator principal; as agências aqui

preconizadas revelam diferentes ações em diferentes contextos a partir das necessidades e

demandas coletivas definidas conforme a participação do sujeito em ação para atingir o

resultado/objeto.

2.3.1 O Conceito de agência e seus diferentes tipos

O conceito de agência tem ganhado espaço entre pesquisadores e estudiosos. Na

perspectiva Sócio-Histórico-Cultural, sob a olhar educacional, agência vivida pelos sujeitos

que pautam suas ações no passado, orientam-se pelo presente e buscam possibilidades para

viver o futuro (EMISBAYER; MISHE, 1988 apud VIRKUKUNEM, 2006a, p. 63). Partindo

dessa premissa, a agência precede do controle sobre as ações, como advoga Virkukunen

(2006a), e alude o comprometimento do indivíduo com o objeto e com o coletivo da

atividade. Esse controle estaria ligado à maneira como o sujeito manipula as ferramentas

práticas e conceituais conforme as regras sociais que regulam o ambiente no qual está inserida

a atividade.

Giddens (1984), a exemplo de Selznick (1992), revela uma noção diferente, pois

pontua que a agência está ligada à intencionalidade. O estudioso afirma que a intenção é algo

importante, porém não suficiente para elucidar o conceito de agência. Para ele, a agência não

versa unicamente a intenção que os sujeitos possuem de realizar as coisas, mas na capacidade

de tomar a decisão. Segundo o autor, implica poder (GIDDENS, 1984). Sob essa concepção,

agência possibilita intervenção, nem sempre oriunda de intenção. Para o pesquisador, agir é

57

significar e fazer a diferença (GIDDENS, 1984. p. 14). Nesse sentido, as estruturas, entre elas,

a memória, despontam, reproduzem e reconstroem-se em qualquer prática e atividade social

humana. Ele concebe a noção de indivíduo a partir de dois aspectos: agente e ator.

Giddens (2003) apresenta o conceito sob o enfoque estruturacionista, isto é, não parte

das estruturas invariáveis, mas da síntese entre estrutura e ação. Para entender melhor a teoria

do estudioso, faz-se necessário compreender alguns conceitos apresentados por esse autor.

Segundo Giddens (2003), a estrutura nesse enfoque é como um sistema constituído de regras,

limites e possibilidades. Nesse sentido, a estruturação é o processo de relações sociais. Do

mesmo modo, faz-se necessário apresentar os conceitos de agente e agência nessa perspectiva.

Agente, desse ponto de vista, é aquele que controla e regula o curso de suas atividades e

acompanha as questões físicas e sociais nos espaços que atua. Já a “agência” refere-se às

intenções que as pessoas têm ao fazer as coisas, a capacidade de realizá-las em primeiro lugar.

Agência, na visão de Giddens (2003), apresenta um sujeito livre.

2.3.2 Agência na perspectiva vygotskiana TASHC

Conforme Vygotsky (1934/1987) cunhou na teoria do desenvolvimento, que ressalta a

unidade dos processos afetivos e intelectuais, pautado em uma perspectiva marxista, que

concebe o indivíduo em atividade e guiado para o objetivo. Vygotsky (1934/1994) enfatiza e é

instigado pela perejivánie16 como a essência para compreensão do processo de

desenvolvimento; para ele, o drama e a colisão emocional são os cernes ao desenvolvimento

inter e intrapessoal.

Para o cientista, os eventos dramáticos vivenciados são experimentados

individualmente, e o sujeito internaliza a experiência, constrói diálogos internos nos quais há

possibilidade de questionamentos consigo mesmo e com o outro. Nesse movimento, Liberali e

Fuga (2018) visualizam possível desenvolvimento de agência.

Sob essa perspectiva, o conceito de agência proporciona base para pesquisar o

desenvolvimento de indivíduos no processo de transformação de atividades. Nesse contexto,

agência está imbricada a intenções e ações intencionais de acordo com o que Engeström

(2006) idealiza como processo de ruptura de padrões preestabelecidos de ação, nos papéis dos

16 Perejivánie será discutido na página 73.

58

atores sociais, no sentido de tomar decisões e iniciativas para transformar (ENGESTRÖM;

SANNINO; ENGESTRÖM, 2006; VIKKUNEN, 2006).

Kramsch (1993) refere-se a algo similar, quando propõe o conceito de "zona de

contato", para expor aspectos importantes quanto a aprendizagens e desenvolvimentos que

ocorrem quando sujeitos de culturas distintas e ideias se encontram, chocam-se e misturam-se.

Gutierrez, Rymes e Larson, (1995 apud ENGESTRÖM 2016) propõem o "terceiro

espaço" como propulsor por acontecimentos parecidos nos discursos e em salas de aula, que

se encontram, interagem e constroem novos significados. Nessa concepção, a construção de

agência assemelha-se ao ciclo expansivo, proposto por Engeström (2016), quando indivíduos

questionam a prática, expandem o ciclo como movimento coletivo.

Nesses enfoques, surgem vários tipos de “agências” definidos conforme a participação

do sujeito em ação para atingir o resultado/objeto. Os tipos de agência serão apresentados ao

longo desta seção e são eles: a) agência relacional (EDWARDS, 2007; 2011); b) agência

transformativa (ENGESTRÖM, 2007; 2011; STETSENKO, 2017); c) agência crítico-

colaborativa (MAGALHÃES; NININ, 2017); d) agência desencapsuladora (LIBERALI,

2017).

De acordo com o exposto anteriormente, as agências supracitadas diferenciam-se da

concepção estrutucionista de Giddens, pois, em cada uma das concepções, o sujeito toma

decisões de acordo ao contexto e a situação social, histórico e cultural.

a) Agência Relacional

Para Edwards (2007; 2011), a agência relacional invoca responsabilidade e

compromisso consciente com o outro. Abrange também apoio e compreensão recíprocos e

promove a capacidade de questionar com o intuito de dar suporte. Em suma, como a

habilidade dos sujeitos em trabalharem juntos propicia uns aos outros alicerces para expansão

do objeto. E, assim, todos os papéis são relevantes e destacam-se pelo ensejo da participação

de todos os envolvidos oriundos de lugares diferentes, com conhecimentos diversos e

distintos, com repertórios diferentes que provocam contradições e, com isso, maior

possibilidade de troca entre os envolvidos.

Magalhães e Ninin (2016) comungam da mesma concepção de Edwards. Para as

autoras, é relevante a disposição dos sujeitos no trabalho/ação desenvolvido, em ato conjunto

e colaborativo, mesmo com contradições. Segundo as autoras, as situações controversas na

agência relacional são partes e trabalhadas por meio de negociação e práticas dialéticas.

59

b) Agência crítico-colaborativa

Magalhães e Ninin (2016) consideram a agência crítico-colaborativa como expansão

crítica de papéis. Esse processo envolve todos os sujeitos em uma atividade e trabalham

juntos, ao colaborarem, uns com os outros, colaboram para a solução de problemas.

Magalhães (2011) alerta que, para provocar transformações voltadas à cidadania, é

necessário validar os saberes para a construção coletiva. Para a pesquisadora é essencial dar

voz aos estudantes de modo a favorecer o processo enunciativo-dialógico e propiciar

participação e negociação. Nesse panorama, todos os participantes devem ter a oportunidade

de participar das discussões. É por meio do discurso que os envolvidos em qualquer atividade

constroem, colaborativamente, as regras e definem os objetivos e as etapas (MAGALHÃES,

2004; LIBERALI, 2009; NININ, 2013; CUNHA JR, 2015).

Virkkunen (2006) contribui com essa visão quando explica que a agência colaborativa

acontece quando um grupo de pessoas articula-se para buscar, colaborativamente, novas

formas de engajar-se em atividades produtivas.

Com base na ação do sujeito, Ninin (2013) e Magalhães (2014) ressaltam alguns

elementos essenciais para o processo colaborativo suceder e desenvolver a agência crítico-

colaborativa:

Propiciar um ambiente de respeito no qual o sujeito possa expressar, sem

receio, seus pontos de vista, suas dúvidas, medos e emoções de modo que

possam sentir confiança e cumplicidade.

Acompanhar com responsabilidade e compromisso.

Expandir o próprio entendimento a partir do compartilhamento com outros

modos de pensar.

Criar intencionalmente oportunidade para que todos possam falar, questionar,

argumentar, discordar e explicar ideias.

Posto isso, a partir da concepção crítico-colaborativo, as autoras defendem a agência

como processo de contradições que propicia o ensejo de expansão. Dessa forma, constrói-se o

objeto a partir do confronto e da colaboração.

c) Agência Transformativa

A agência transformativa é construída a partir de trabalhos de colaboração em

situações nas quais os sujeitos têm de analisar, prever e redesenhar suas atividades e mobilizar

uma ação transformadora. Ela surge como uma ação intencional em resposta a situações

60

controversas. Dessa forma, rompe com quadros estabelecidos e gera mudanças, como o

próprio nome indica, gera transformações.

Para Engeström (2006), a agência transformativa é constituída por ações

desencadeadoras pelo coletivo. Essa agência nasce da contradição, dos conflitos que surgem a

partir dos sujeitos em contextos coletivos. As contradições, nesse contexto, surgem como

elementos importantes, pois possibilitam pensar de formas diferentes, ressignificar e assumir

novos padrões de atividades, ou seja, procuram alterar a atividade para criação de novas

possibilidades.

Para Stetsenko (2017), a agência transformativa relaciona-se aos processos ser-saber-

fazer, pois favorecem a criação de posturas ativistas com base em acordos para colaborar ao

futuro com valores acrescentados a esses processos. Isso implica o desejo por um mundo

compartilhado com outros, em que agência individual e a coletiva, assim como a

experimentação conjunta, permite a compreensão de empreendimento do ativismo e da

agência.

Para ser transformador e ousado, no sentido de Freire (1970) e Stetsenko (2017), é preciso que a formação ofereça oportunidade para que atividades de ensino-aprendizagem se tornem palco para a vivência e a reflexão de como os alunos se apropriam de múltiplos recursos para significar no processo de viver. (LIBERALI, 2018, p.19).

Stetsenko (2017), de uma perspectiva alternativa, inspirada em Vygotsky, sobre o

desenvolvimento humano e a partir de um trabalho colaborativo mediante as contribuições

individuais e autoritárias, somado com o ethos de justiça social e solidariedade, anuncia que o

caminho para a autonomia e liberdade não reside no desenvolvimento privatizado e

individualizado. Ela defende que o caminho para a autonomia e a liberdade está na

participação e contribuição cada vez maior da comunidade nas práticas sociais. Essa meta não

pode ser alcançada sem assumir uma posição ativista sobre as contradições e os conflitos

dentro dessas práticas, como as desigualdades sociais, mdiante uma busca global e uma busca

da justiça. Segundo a pesquisadora, até os mais jovens já estão no caminho de se tornarem

agentes sociais por meio de atividades compartilhadas, que interagem mutuamente com os

outros.

No entanto se a agência, como todo o desenvolvimento humano, é legitimada como

um trabalho contínuo em andamento e uma luta para a evolução, para a estudiosa, lutar por

uma contribuição única, para um mundo compartilhado com os outros, reconhecendo a

incompletude e a necessidade da aprendizagem coletiva, favorece o tornar-se agente ao longo

61

da vida. Para ela, o ator social precisa desenvolver-se e ser desenvolvido dentro de uma

comunidade solidária a partir dos elementos culturais e ferramentas de suas práticas sociais.

Essas práticas culturais coletivas consistem no potencial de abrir caminhos para o

desenvolvimento da agência humana.

Nessa esteira, Stetsenko (2017) propõe uma mudança de visão do mundo relacional

com base sociopolítica de adaptação por uma visão transformadora pautada na igualdade e

solidariedade com uma atitude ativista, expandindo o projeto vygotskiano revolucionário.

Segundo a pesquisadora, nesse foco, os sujeitos são agentes transformadores de suas histórias

e da sociedade, e refere-se ao processo ensino-aprendizagem como uma pedagogia da

ousadia.

Rancierè (2010) aporta à proposta de Stetsenko (2017) quando profere que não se

instrui um povo para aproximá-lo da igualdade, deve-se emancipar as inteligências, isto é,

propiciar a transformação social, tendo como base o desenvolvimento humano que engloba os

processos de ser, fazer e conhecer. Dessa maneira, refuta-se a adaptação. Isso provoca o

desejo por um mundo compartilhado com outros, em que a agência individual e a coletiva,

assim como a experimentação conjunta, permite a compreensão de empreendimento do

ativismo e da agência, postula Stetsenko (2017).

Dessa maneira, ressalta-se a relevância dos pontos supramencionados nesta pesquisa,

pois, segundo as reflexões, em um cenário social de desigualdades, balizado pela

superdiversidade e no qual as diferenças socioeconômicas são significativas, assim como a

violência é cada vez mais presente, vê-se a necessidade de transformação emergencial,

acreditando-se que o desenvolvimento emane das experiências vividas,

compartilhadas/refratadas, que poderiam contribuir para o processo de transformação, que

ampliaria a compreensão social e o compromisso com o coletivo. Segundo Liberali e Fuga

(2018), poderia efetivar a busca por justiça social.

d) Agência desencapsulada

Liberali (2017), na esteira da construção de agência, propõe a agência desencapsulada.

Desencapsulação, nesse contexto, refere-se aos processos de ensino-aprendizagem que

perpassam as estruturas organizacionais escolares, possibilitando a expansão de ações que

ultrapassam espaço-tempo. A pesquisadora sugere a construção do currículo desencapsulado,

transformador, que possibilite a ampliação da ação dos estudantes e a construção de novos

significados em diferentes contextos, bem como viabilize irromper com as estruturas de poder

62

que permeiam e reverberam na educação, como os valores capitalistas impostos, o

desmantelamento das ações sociais, o aumento da pobreza, entre outros problemas. Nessa

concepção, a agência desencapsulada provoca relações frequentemente negociadas e

produzidas por todos os envolvidos na atividade e, com isso, prediz oportunidades de

mudanças.

Para compreender melhor a agência desencapsulada é essencial explanar os conceitos

que a integram. É necessário observar como os sujeitos se desenvolvem quando estão em

atividade, é necessário evidenciar a intencionalidade das atitudes e das decisões feitas para a

transformação. Com tal perspectiva, a seguir, são abordados os conceitos de repertório e

mobilidade por estarem imbricados na construção e ampliação da agência desencapsulada,

pois a agência exercida permite compreender seu poder de transformação em contextos

diversos, a partir da mobilidade dos alunos em diferentes atividades, com foco na

transformação de repertórios.

Em suma, os indivíduos são chamados para desenvolver repertórios que lhes permitam

conquistar o poder de si mesmos, a compreensão do seu papel e a importância do outro e a

relevância de compartilhar com o outro, de forma a reconhecer no outro um suporte para si

mesmo.

No entanto, para entender a agência na perspectiva Vygotskyana, é necessário abordar

o conceito de mobilidade (BLOMMAERT, 2010), como propõe Liberali (2018), de tal modo

que, a seguir, discorrer-se-á sobre mobilidade e repertório na construção de agências.

2.3.3 Relação entre de agência, Mobilidade e Repertório

A mobilidade advém do intenso fluxo que tem como promotora a globalização. Para

Blommaert (2010), esse fluxo propicia novas atividades, novos encontros e novas

necessidades em todos os âmbitos: culturais, linguísticos, etc. Para o autor, não há mais

estabilidade, portanto, prevale a necessidade de ressignificar e construir repertórios, condição

sine qua non para possibilitar a construção, ampliação de experiências.

O repertório é compreendido, pelo autor Blommaert (2013), como conjunto de

recursos linguísticos, semióticos e socioculturais disponíveis utilizados pelas pessoas nas mais

diferentes comunidades que não se restringem à língua, propriamente, mas também a todos os

recursos possíveis: gestos, posturas, hábitos. Sendo assim, repertório pode ser entendido como

um registro das trajetórias vividas pelos sujeitos durante as suas vidas; com todas as

63

experiências vividas ou deixadas de viver; sejam elas as oportunidades, os ambientes de

aprendizagem, a exposição ou a privação de vivências.

Busch (2012) não concebe repertório como uma "caixa de ferramentas" e propõe,

inclusive, uma redefinição para o termo considerando a superdiversidade (VERTOVEC,

2007), nessa perspectiva, atribuindo ênfase em torno do multiculturalismo, dessa maneira,

ampliando a etnicidade como explicação de diversidade. Busch (2015) expande a discussão de

repertório concebendo-o como recurso construído a partir de processos intersubjetivos,

localizados na fronteira entre o "eu" e o "outro", para a pesquisadora, o repertório modifica-se

a partir das vivências e das inter-relações e justifica que a superdiversidade advinda dos

fluxos migratórios provoca rápidas mudanças, pois reúne pessoas com diferentes repertórios.

Somado a isso, Pennycook e Otsuji (2015) ampliam ao repertório a noção de tempo e

espaço. Para os estudiosos, o repertório é construído na interação das trajetórias individuais e

dos recursos de determinado lugar. Eles denominam de "repertório espacial" como a ligação

entre os repertórios individuais aos lugares.

Conforme o conceito de repertório adotado neste enfoque, parte-se do princípio que a

construção de repertório é constituída por um mistifório de recursos, habilidades e

competências aprendidas por um sujeito que, por ser móvel, está vulnerável às situações de

prática de línguas em situações formais e encontros informais (BLOMMAERT; BACKUS,

2013).

Desse modo, aborda-se, neste estudo, o conceito de repertório como um registro das

trajetórias vividas pelos sujeitos, com todas as experiências vividas ou deixadas de viver,;

sejam elas as oportunidades, os ambientes de aprendizagem, a exposição ou a privação de

vivências.

Ressalta-se a pertinência de repertório no contexto investigado do voluntariado

educativo, “Quixotes Solidários”, pela possibilidade da ampliação de recursos e repertórios,

sejam eles linguísticos, culturais e, inclusive, emocionais por meio da exposição e

experiências formais e informais que a natureza do curso oferece, possibilitando, por

conseguinte, a construção de novos repertórios e favorecendo a mobilidade. Dessa maneira, a

agência pode ser entendida a partir da mobilidade dos alunos em diferentes atividades, com

foco na ampliação de repertórios.

A seguir, apresentam-se os conceitos de desencapsulação e ecologia dos saberes para

promover a reflexão e discussão sobre os conteúdos presentes nos currículos, que, na maioria

das vezes, não dialogam com a vida real, tampouco legitimam os saberes trazidos dos alunos

como base para a construção do conhecimento.

64

2.3.4 Desencapsulação/Ecologia dos saberes no curso de voluntariado

O problema de definir o que é conteúdo do ensino e como chegar a decidi-lo é um dos aspectos mais conflituosos da história do pensamento educativo e da prática de ensino, condição que se reflete nos mais diversos enfoques, perspectivas e opções. O próprio conceito de conteúdo do currículo já é por si mesmo interpretável, e é sobretudo, porque responder à pergunta de que conteúdo deve tratar o tempo do ensino implica saber que função queremos que este se cumpra, em relação aos indivíduos, à cultura herdada, à sociedade na qual estamos e à qual aspiramos conseguir. Como frente a essas funções não existe uma única perspectiva, em torno da determinação dos conteúdos de se pode observar uma das controvérsias mais significativas da história da escolarização e do pensamento curricular. (SACRISTÁN, 2007. p. 149)

O pensamento de Sacristán que abre este tema convida a refletir sobre a verdadeira

função dos conteúdos escolares e entendê-los e/ou questioná-los como construção social e

elencados a partir do currículo escolar. O autor assinala que a palavra ensino é interpretada, na

maioria das vezes, como o ato de transmitir, de propor algo e, até mesmo, doutrinar os outros.

Dentre os vários conceitos sobre o ensino, encontram-se, também, atividades e agentes que

participam desse processo; ou ainda, Sacristán evoca Maria Moliner, dicionário de uso

espanhol, que dá o significado à palavra ensinar como "conjunto de meios, pessoal e atividade

dedicada ao ensino". Tais concepções são contraditórias, pois o ensino não é uma atividade

vazia. Segundo o educador; a atividade é o que primeiro se manifesta no ser, pois está ligada à

vivência e experiência e o conteúdo fica oculto, como se a experiência e a história pessoal

sobre o ensino não fossem importantes. Segundo o catedrático, ensino, atividade e conteúdos

remetem ao currículo.

Eisner (1979) assinala que o ensino é o conjunto de atividades que transforma o

currículo na prática para produzir aprendizagem. Os temas curriculares apresentam diferentes

níveis de generalidade. Segundo Sacristán (2007), o termo currículo provém da palavra latina

currere, que significa carreira, percurso que deve ser realizado. Visto dessa maneira, a

escolaridade é um percurso para os alunos. O currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de

seu progresso pela escolaridade.

Santos (2006) aponta que o conhecimento científico é oficialmente o saber legitimado,

essencial para a sociedade e inquestionável; no entanto o autor questiona tal conhecimento

quando esse não reverbera na sociedade e nos âmbitos tão importantes como os sociais, os

políticos e os culturais. Em sua afirmação, Santos (2006) confere a importância do saber

científico, todavia, critica a prerrogativa de fazer parte de pequena esfera da sociedade.

65

Santos (2006) acredita que é importante pensar e promover a pluralidade para além do

capitalismo e da globalização; para isso é essencial que a ciência moderna seja considerada e

aceita onde possa coexistir com práticas de saberes não científicos. A ecologia dos saberes,

para ele, exerce-se na busca de convergências entre os conhecimentos múltiplos. Essa

perspectiva oportuniza a expansão da aprendizagem (ENGESTRÖM, 2016) fora da cápsula e

promove o desenvolvimento humano de todos os envolvidos na comunidade.

Após essa reflexão, ressalta-se o curso de voluntariado Quixotes Solidários como

espaço para refletir e analisar a ecologia dos saberes por tratar-se de um grupo formado por

alunos com faixas etárias diferentes, estes oriundos de lugares diversos e que assistem e

vivenciam distintas realidades; conforme Santos (2006), o curso promove a ecologia de

saberes, pois, na sua concepção, os valores do conhecimento científico e não científico devem

ser considerados. Nesse curso, é possível aferir que os conhecimentos envolvem diferentes

saberes.

De acordo com essa visão, parte-se do pressuposto da importância da desencapsulação

(LIBERALI, 2015) da aprendizagem, que seria aproximar os conteúdos escolares da vida real;

e as experiências e vivências, dos conteúdos formais; de modo a “transpor os muros da

escola” (RESNICK, 1987; TORRES SANTOMÉ, 1998; ENGESTRÖM, 2002; LIBERALI,

2015). No entanto para desencapsular é preciso pensar em meios que permitam desenvolver

os conteúdos escolares para a vida das pessoas. Com esse enfoque, como já assinalado

anteriormente, o grupo LACE desenvolve uma conexão entre desencapsular e organizar o

currículo pautada em Atividade Social próxima aos multiletramentos, visto que concebe que a

vida humana se modifica, e os alunos/sujeitos necessitam de um ensino-aprendizagem que os

prepare para as demandas da vida.

Com base nessa concepção, a pedagogia dos multiletramentos (NEW LONDON

GROUP, 1996/2000), Cope e Kalantzis (2000), parece que se encaixa na propositura de

desencapsulação (RESNICK, 1987; TORRES SANTOMÉ, 1998; ENGESTRÖM, 2002;

LIBERALI, 2015); como desenvolve o grupo LACE no projeto DIGIT-M-ED Brasil, que

anseia a desencapsulação do currículo ( RESNICK, 1987; TORRES SANTOMÉ, 1998;

ENGESTRÖM, 2002; LIBERALI, 2015, 2019) a partir da participação dos sujeitos na

produção de propostas engajadoras, que possam romper com práticas que distanciam a escola

da “vida que se vive” (MARX; ENGELS, 1845-46/2006) com base nas discussões sobre

multiletramentos, propostas por pesquisadores do New London Group.

66

Para tanto, serão abordados dois conceitos fundamentais: os multiletramentos como e

a performance porque esses dois conceitos parecem sustentar uma organização curricular

baseada na Atividade Social que pressupõe a desencapsulação curricular.

2.3.5 Multiletramentos

O New London Group é um grupo constituído por dez acadêmicos que se reuniram em

New London, New Hampshire, nos Estados Unidos, em 1994. O objetivo do grupo era

desenvolver uma nova concepção de alfabetização, pois a existente, na visão deles, não

atendia às demandas. Os estudiosos almejavam uma pedagogia que propiciasse múltiplos

modos de fazer sentido e não mais uma perspectiva monolíngue e monocultural.

Para o New London Group (1996/2000), a pedagogia deveria propiciar acesso à vida;

no sentido de favorecer o desenvolvimento de um sujeito crítico atento às diversidades e às

necessidades locais e globais.

A concepção dos multiletramentos preconiza a necessidade do trabalho com

linguagens diversas como meio de promover o desenvolvimento metalinguístico,

metacognitivos e a reflexão crítica. Essa preocupação surge no bojo da virada social que

recupera ideias de Street (1984), Gee (1994) e Freire (1987, 1981).

Street (1984) aponta o descompasso entre as práticas pedagógicas e a vida, critica os

efeitos cognitivos do letramento e a concepção dicotômica entre a escrita e a fala. Para o

autor, essa visão reduz o letramento a um conjunto de capacidades cognitivas mensuráveis

nos indivíduos (nível de letramento). E esse modelo Street (1984) classifica-o como

“autônomo”. Nesse contexto, as instituições, o texto e os sujeitos são tratados como forma

uniforme, separados do contexto social. Em oposição a esse enfoque, o teórico propõe o

modelo ideológico, visto que as práticas letradas são produtos da cultura e dos discursos.

Assim como Street, outros autores juntam-se à concepção do ato de ler de Paulo Freire

(1981), que prega o letramento crítico. O linguista James Paul Gee (1994), por exemplo,

também considera a leitura como um procedimento que deve se manifestar da cultura.

Segundo o autor, os alunos que experienciam o processo de leitura na perspectiva cultural

ampliam a visão de mundo de forma crítica. Sendo assim, ler pressupõe relacionar com o

contexto de quem fala e de quem lê e escreve, ou seja, compreender a relação entre “leitura do

mundo e leitura da palavra” (FREIRE, 2008, p.21), isto é, entender também o contexto que

cria e sustenta os significados da leitura do mundo.

67

No cenário mundial atual, aprender a ler e a escrever não assegura mobilidade social

imediata, tampouco acesso a bens materiais ou inserção social (STREET, 2003). A relação

entre a concepção de alfabetização de Freire (1987, 1981) e de letramento de Street (1984,

2003) é notório. Os autores supracitados entendem que a promoção à cultura escrita via

processo da leitura não pode ocorrer separado da cultura e da realidade dos participantes. Para

eles, o ato de ler engloba muito mais do que dominar técnicas. Nessa vertente, Lessa e

Liberali (2012) elucidam

[...] a leitura crítica é transformada em uma forma de aprender a participar da sociedade com escolhas mais informadas disponíveis para a atuação. Os gêneros tornam-se meios para acessar e ampliar formas de aprender e agir no mundo. E a leitura se torna a ferramenta transcurricular na atividade de ensino-aprendizagem.

Desse modo, ler o mundo a partir dessa perspectiva permite desenvolver capacidades

de linguagem para agir criticamente na sociedade e reverbera em uma atitude mais político-

pedagógica. As autoras ainda afirmam que esse processo leva a uma maneira mais responsiva

e responsável de se ver no mundo.

Na esteira do modelo de letramento ideológico, Cope e Kalantzis (2000) consideram

que o contexto atual que apresenta um mundo conectado, no qual as informações são

transmitidas quase que simultaneamente, cujo fluxo de pessoas beira a centenas de milhares

diariamente e os saberes parecem efêmeros nesse contexto, faz-se necessário levar essa

realidade para a sala de aula e promover discussões pelas quais se apresentem e utilizem-se

mídias atuais, formas de visualização do mundo, a diversidade cultural, pois, para os autores

Cope e Kalantzis (2000), são elementos essenciais para a construção do conhecimento.

Ainda nesse tocante, conforme assinalam os autores, está-se inserido em um cenário

de novos hábitos e valores, por conseguinte, existem novas formas de interação que hoje se

estabelecem de forma real e virtual. Pautados nessas transformações, os pesquisadores

supracitados apresentam a teoria dos multiletramentos. Essa nomenclatura é produzida pela

concepção da multiplicidade de canais de comunicação e pela diversidade linguística que

compõe o mundo. Para os estudiosos, esse termo alberga os diferentes modos de

representação que divergem conforme o contexto cultural e que, para eles, situa-se além da

língua, está no modo de como se usa a linguagem, hoje, resultado de significados socialmente

construídos, ou seja, cada vez mais multimodal. Ainda, segundo os teóricos, “negociar

diferenças todos os dias, em nossas comunidades locais e em nossas vidas profissionais e

comunitárias cada vez mais globalmente interconectadas” (COPE; KALANTZIS, 2000, p. 6).

68

Os três conceitos centrais que permeiam o trabalho são: o uso das múltiplas mídias, a

multimodalidade e a multiculturalidade. Nessa visão, as múltiplas mídias são os artefatos que

organizam, guiam e materializam os conteúdos, exemplo: mídias digitais, lousa, cadernos, etc.

A multimodalidade é a integração de vários modos, sejam eles: visuais, auditivos, posturais ‒

que constroem significados. Jewitt (2009) assinala que a multimodalidade deve ser

compreendida a partir dos construtos sociais de repertório de determinada cultura e ou

comunidade. A multiculturalidade compõe a diversidade de modos de saberes científicos e

não científicos, locais e globais, tradicionais e alternativos que se relacionam.

Nessa visão, Santos (2006) afirma que é essencial conhecer o contexto no qual o

conhecimento está sendo produzido para medir e aumentar a diferença que ele pode trazer.

Para isso, é necessário conceber a pluralidade de saberes. No curso de voluntariado, por

exemplo, foi essencial considerar as diferentes concepções trazidas pelos alunos sobre a

terceira idade, pois, a partir da visão posta por cada um dos alunos, eles tiveram a

oportunidade de compartilhar vivências e saberes distintos. Isso norteou a seleção de materiais

que pudessem ampliar, enriquecer e organizar o conhecimento sobre o tema.

No tocante à pedagogia dos multiletramentos, o New London Group (2000) propõe

uma filosofia de ensino-aprendizagem e integra quatro fatores para a organização do trabalho

didático:

• Prática situada: nesta fase, o aprendiz é capaz de ocupar múltiplos e diferentes papéis

baseados em suas origens, experiências e repertório. As práticas significativas são o cerne

dessa parte da pedagogia proposta por ser considerada uma das etapas centrais, pois é a partir

dela que os sujeitos significam a aprendizagem e passam a olhar o seu lugar e os seus saberes.

Para Cope e Kalantzis (2000), os aprendizes precisam perceber que a sua bagagem e as

necessidades afetivas, sociais e culturais são consideradas, porque, dessa maneira, eles estarão

motivados. O foco da prática situada é a compreensão crítica, isto é, tornar observável e

consciente o conhecimento. Trata-se do momento em que o aluno é convidado a experienciar

e trazer à tona seu conhecimento prévio, compartilhando-o com seus pares.

Aqui, nota-se a importância da multiculturalidade em que os saberes são valorizados.

Nessa visão, a multiculturalidade é compreendida como uma diversidade de formas de

conhecimento; seja ele, científico ou do senso comum, global ou local, e que, ao serem

expostos, relacionam-se de forma a conceber novos saberes. Sendo assim, as possibilidades de

aprendizagem reverberam nos aspectos cognitivos, sociais e cognitivos, proporcionando

transformações no agir.

69

Para Liberali (2017), a multiculturalidade concerne à pluralidade de modos de

compreender as situações, de forma a ampliar os repertórios e possibilitar a criação de novos

saberes.

• Instrução evidente: neste segundo fator, são inseridas as tarefas para fundamentar a

concepção que traz e/ou defende. Nesta etapa, o aluno precisa ser capaz de cumprir tarefas

mais complexas de maneira colaborativa. Espera-se que o aluno tenha controle do

aprendizado na tentativa de conceituar, no entanto não de maneira mnemônica, e sim por

meio de intervenções significativas.

• Enquadramento crítico: o foco principal deste passo é ajudar o aprendiz a enquadrar

o domínio da prática e atingir a compreensão das relações históricas, sociais, culturais

encontradas em determinado conhecimento e prática social. De acordo com Cope e Kalantzis

(2000), é o momento que o aprendiz tem a possibilidade de distanciar-se das percepções

pessoais e da teoria e, assim, posicionar-se criticamente. Essa etapa propicia a evidência dos

objetivos, motivos, intenções e diferentes pontos de vista. O aluno tem a possibilidade de se

posicionar e questionar.

• Prática Transformada: segundo os autores supracitados, neste ponto, o aluno tem a

possibilidade de retomar o conhecimento/vivência da prática situada, no entanto, de forma

mais crítica e como resultado de reflexão com o foco de propor e aplicar de forma inovadora.

É o momento no qual o aluno pode demonstrar como cria, reflete e realiza novas práticas e

revela os objetivos e valores. Esse componente possibilita uma avaliação contextualizada e

situada do aprendiz e de seu processo de aprendizagem (LIBERALI; SANTIAGO, 2016).

Kalantzis e Cope (2008) defendem que a construção de repertórios de aprendizagem

vai além do conhecimento do senso comum, uma vez que abrange selecionar, misturar,

relacionar e testar diferentes meios para a construção de conhecimento. Para eles, a

capacidade mental é vazia se não for capaz de fazer algo, somado a isso, acrescentam os

autores que o conhecimento não é um processo individual, e sim social e de maneira ativa.

Conforme o arcabouço teórico que sustenta a proposta de atividades no voluntariado

educativo, foram adotados multiletramentos devido à natureza do curso e como meio de

demonstrar que há a necessidade de a escola pensar em novos letramentos que emergem da

sociedade contemporânea, seja pelo avanço das novas tecnologias, pela diversidade cultural

ou pelo mundo globalizado, como exposto em Rojo (2012).

Lerner (2002), também, engaja-se nessa visão quando expõe que o desafio inicial é

formar praticantes da leitura e da escrita, e não apenas sujeitos que possam “decifrar” o

sistema da escrita. É preciso formar leitores críticos, que saibam se posicionar criticamente

70

frente a textos e autores com os quais possam interagir. Nesse tocante, muitas instituições

escolares ainda se mostram ineficientes para a esfera social, uma vez que organizam os

currículos de modo rígido, selecionam, dividem e sequenciam os conteúdos de modo que não

favorecem o desenvolvimento linguístico-discursivo dos estudantes. Esse cenário, segundo

Kleiman (2007), não releva a bagagem cultural diversificada que cada sujeito possui, mesmo

antes de entrar na escola, pois, segundo a estudiosa, todos vivenciam atividades corriqueiras

de uma sociedade tecnologizada e letrada desde que nascem.

Em suma, a perspectiva dos multiletramentos (NEW LONDON GROUP, 2000)

concebe o conhecimento humano inserido em contextos sociais, culturais e materiais, dessa

forma, o conhecimento desenvolve-se como parte de um processo de influência mútua e

colaborativa com outros oriundos de culturas diversas, contextos e perspectivas de uma

comunidade, com isso, possibilitando a desencapsulação do currículo; ou seja, aproximar

questões e situações da vida real com a escola. Com isso, acredita-se, neste estudo, que se

possa propiciar “o desenvolvimento de agência na construção de sentidos a partir das

diferenças, inovações e mudanças, portanto, mostra-se mais produtiva, criativa com potencial

de transformar a vida" (COPE; KALANTZIS, 2013, p. 2).

Liberali et al. (2015) afirma que os multiletramentos são a possibilidade para a

construção e participação do sujeito na vida. Para a pesquisadora,

[...] as mudanças na geopolítica mundial têm gerado marcas fortes no papel da escola, criando uma diversidade cultural e linguística que leva a reflexões sobre a diversidade local e a conectividade global que exigem a constante negociação de diferenças. Lidar com diferenças culturais e linguísticas se tornou parte do dia a dia da vida profissional, cívica e particular com a qual a proposta de Multiletramentos se propõe a trabalhar. Nos Multiletramentos, haveria um potencial de construção de participação social plena e equitativa. (LIBERALI et al., 2015, p. 05).

Os autores enfatizam que os multiletramentos favoreçam a construção de significados

e ressaltam que, nessa perspectiva, a participação dos alunos ocorre de maneira ativa e

consciente.

O grupo de pesquisa LACE adere-se às propostas do New London Group como

possibilidade de desencapsulação dos conteúdos, visto que propõe práticas imbricadas à teoria

e favorecendo o rompimento de papéis predeterminados e, desse modo, possibilitando a

desencapsulação do currículo (LIBERALI, 2015, 2016, 2018).

Assim como os multiletramentos podem favorecer a desencapsulação do currículo; o

conceito de performance proferido pelos teóricos Newman e Holzman (2002/2009), com base

no conceito de brincar de Vygotsky (1935/2011), é apresentado, por eles, como oportunidade

71

para vivenciar e experimentar papéis que possibilitam a ampliação de repertório, como, a

seguir, discorre-se.

2.3.6 Performance

[...] brincar não é o aspecto predominante da infância, mas é um fator primordial no desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1998, p. 101)

A vivência intensa de uma experiência pode-se intensificar pela performance, uma

importante estratégia baseada no conceito vygotskiano do brincar (VYGOTSKY, 1998). Com

esse pressuposto, conforme defendem Liberali e Santiago (2009), consente-se aos alunos

trazerem a vida real para a sala de aula. Dessa forma, permite transformar o espaço de

aprender em um espaço de brincar. Na concepção de Vygotsky, esse brincar favorece a

superação dos limites, além de constituir e construir as regras ao longo da atividade.

Somando-se a esse ponto de vista, Liberali e Santiago (2016) enfatizam que o performar

provoca a contradição regra-imaginação e, com isso, enseja aos aprendizes agirem além de

suas possibilidades imediatas na construção de futuros possíveis, considerando as múltiplas

formas de conhecimento disponíveis à vida de todos os envolvidos e com criatividade.

Na mesma direção, Holzman (2009) apresenta o brincar como performance para

tornar-se um espaço no qual o sujeito pode ser o que ele não é, pois permite viver emoções e

experiências que não fazem parte do seu repertório atual e, por sua vez, permite a ampliação

dele. Nessa concepção, a performance, como forma de expressão, possibilita a formulação de

ideias e sentimentos de todos os envolvidos.

De acordo com o supramencionado, este estudo compreende a performance como

meio importante pelo qual se cria a oportunidade de entrar em contato com os sentimentos, as

opiniões, as vivências e emoções, idealiza-se espaço de construção e reconstrução de

repertórios.

Nessa vertente, a pesquisa aqui apresentada traz reflexões sobre a importância do

performar (HOLZMAN, 2009) como elemento fundamental para a construção de repertório e

o desenvolvimento de agências no curso de voluntariado educativo com vistas à intervenção

social. No tema desenvolvido nesta investigação, o recurso da performance foi utilizado em

diversas ocasiões e possibilitou discussões e compartilhamento de percepções e emoções

significativas; ressaltando-se a atividade como levantamento do conhecimento prévio sobre a

terceira idade e sobre o momento mais impactante e significativo do curso. Foi por meio do

72

brincar performático que os alunos tiveram a possibilidade de compreender a situação,

ampliá-la e externar receios.17

Conforme discutido por Liberali e Santiago (2016), nessa proposta, os professores têm

a oportunidade de favorecer aos alunos vivências de situações que estão fora dos muros da

escola, pois, por meio do brincar, performar nas atividades sociais propostas. Sendo assim, a

performance é preponderante para a formação no âmbito do Voluntariado Educativo como

possibilidade de experimentar vivências, nem sempre presentes nos contextos e realidades.

Para Vygotsky (1998), as emoções que emergem de uma performance condizem com

seu racionalismo espinosano, pois permitem também vivenciar perijivánie, experiências que

favorecem a transformação.

Para compreender a influência das experiências no âmbito educacional nos alunos,

cabe refletir o conceito de perejivánie, abordado por Vygotsky (1972), no livro "Psicologia

del Arte".) emprega o termo perejivánie e ao impacto dos eventos dramáticos vivenciados.

A relação dialética do desenvolvimento e de aprendizagem, sob a perspectiva dos

conceitos de Vygotsky, e o papel do professor como organizador e criador de possibilidades

de ensino-aprendizagem apresentam os objetivos de favorecer situações que possibilitem o

desenvolvimento da zona de desenvolvimento proximal perejivánie (VYGOTSKY, 1934).

Na concepção vygotskiana, o conceito de desenvolvimento toma outra dimensão em

que inclui um segundo nível chamado de “Zona de Desenvolvimento Proximal” (ZDP). Pela

ótica de Vygotsky (1930-34/2007), existem dois níveis de desenvolvimento. O primeiro

denominado nível de desenvolvimento real e diz respeito às funções mentais da criança, são

as informações que ela tem. O segundo corresponde ao desenvolvimento potencial, definido

pelas situações que exigem soluções e que o aluno consegue resolver com mediação. Além

desses níveis, Vygotsky assinala a existência da ZDP, que se refere à distância entre o nível

de desenvolvimento real ‒ determinado pela solução independente de mediação ‒ e o nível de

desenvolvimento potencial ‒ determinado pela solução por meio de mediação,

intervenção/ajuda. Nas palavras do pesquisador:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar por meio da solução independentemente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros. (VYGOSTY, 1930-34/2007, p.97).

17 A situação é evidenciada na seção de análise de dados.

73

Na perspectiva de Vygotsky (1930-1934), o indivíduo precisa agir sobre o meio,

precisa interagir. Para o autor, todos os sujeitos adquirem conhecimentos a partir de relações

interpessoais, de troca com o meio. O ser é resultado de suas relações interpessoais com o

outro, com o coletivo e de suas relações intrapessoais. Nesse movimento dialético, constrói-se

a internalização do conhecimento, ocorre pela linguagem, ou seja, a interação realiza-se por

meio da linguagem, que funciona como mediadora do sujeito com a cultura. Compreende-se,

assim, que as funções superiores são socialmente formadas e culturalmente mediadas pela

linguagem, e que a ZDP representa um espaço de potencialidade para vir a ser.

Segundo Hedegaard (1988), o teórico concebe a ZDP da seguinte maneira: a criança é

capaz de imitar uma série de ações que superam suas próprias competências, mas dentro de

um limite. Por meio da imitação, a criança é capaz de desempenhar melhor se acompanhada

ou guiada por um adulto do que sozinha. A diferença entre o nível de tarefas resolvidas que

podem ser exercidas com orientação e colaboração de adultos e o nível de tarefas resolvidas

de modo independente é a zona de desenvolvimento proximal.

De acordo a relevância do conceito de perejivánie, no desenvolvimento dos sujeitos

como agentes transformadores, como já explanado, assim como os tipos de agências, suas

inter-relações e implicações permeiam as concepções de ensino-aprendizagem para a

transformação das atividades.

Na próxima seção, descreve-se o desenvolvimento da pesquisa onde se especifica o

contexto da produção na qual a pesquisa foi executada e descrita, bem como os participantes.

74

“Sábete, Sancho, que no es un hombre más

que otro si no hace más que otro.”

Don Quijote de la Mancha

Fonte: Artista Canato – Mural do Colégio Miguel de Cervantes, 2019

75

3 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Nesta seção, são apresentadas e discutidas questões relacionadas à escolha

metodológica adotada nesta investigação. A seguir, descreve-se o contexto da produção no

qual a pesquisa foi realizada, bem como todos os envolvidos, os instrumentos de coleta e o

registro de dados, as categorias de análise e de interpretação. Finaliza-se a seção com

considerações a respeito da credibilidade e desenvolvimento da pesquisa.

3.1 PARADIGMA E METODOLOGIA DE PESQUISA

Situada na Linguística Aplicada, esta investigação apoia-se na metodologia da

Pesquisa Crítica de Colaboração (PCCol), discutida por Magalhães (1994, 1998a, 2004, 2009)

e Liberali (1999, 2007), trata-se de uma abordagem teórico-metodológica ativista e de

intervenção, concepção fundamental para pesquisas realizadas no contexto escolar.

A base desta metodologia está pautada no quadro teórico-metodológica de Marx

(1845), consequentemente, nos conceitos de colaboração e contradição desenvolvidos por

Vygotsky (1934). A relevância e diferencial de uma abordagem crítica colaborativa em

comparação a uma etnografia convencional, por exemplo, é a possibilidade de intervir no

contexto de modo intencional a partir da reflexão crítica e, assim, a oportunidade de

transformar: o contexto, os participantes e o pesquisador.

Uma das características e o objetivo principal da PCCol é acolher as emergências da

comunidade e a historicidade de cada sujeito. Desse ponto de vista, esta abordagem mostra-se

adequada e pertinente à proposta de investigação apresentada aqui. Para este estudo foram

usados os fundamentos deste enfoque na elaboração da prática, do planejamento e das

avaliações, pois a PCCOL preconiza papel ativo entre todos os participantes de modo a

construir o conhecimento.

No caso da investigação no âmbito do voluntariado educativo com intenção da

intervenção social, a participação de todos os envolvidos implica um espaço colaborativo em

que todos possam ser ouvidos e valorizados, desse modo, todos têm a possibilidade de ser

corresponsáveis pela tomada de decisões. A proposição da participação coletiva neste projeto

foi promovida na elaboração dos planejamentos, na decisão da Atividade Social, na divisão

das tarefas que eram deliberadas pelos participantes do grupo, assim e também durante a

76

avaliação dos encontros. Sob esse enfoque, o objeto de estudo desta pesquisa foi a construção

de agências a partir do curso de voluntariado educativo.

De acordo ao proposto para o desenvolvimento desta pesquisa e fundamentado no

arcabouço teórico da Teoria Sócio-Histórico-Cultural, a Atividade Social possibilita a

construção de agência a partir de um processo de colaboração crítica. Para isso, a PCCol, na

compreensão desta pesquisa, como enfatiza Magalhães (2009), contribui e propicia,

significativamente, a formação crítica, na possibilidade de uma transformação da realidade e

permite a todos os envolvidos exporem seus sentidos e favorece a construção de novos

significados mediante argumentação, participação e discussões.

Nessa direção, Stetsenko (2011) apresenta ideias que estão em conformidade com o

enfoque da PCCol, quando discute a história da natureza humana imbricada com as práticas

instrumentais e o contexto histórico-colaborativo, pois ambos propõem ativismo intencional

na organização de um espaço crítico. O conceito de colaboração desenvolvido por Magalhães

(2014) tem apoio nas contribuições filosóficas espinosanas e marxistas ao entrelaçar a ideia de

indivíduo livre, produtor de encontros felizes na constituição Sócio-Histórico-Cultural

(VYGOTSKY, 1934/2000). Um dos pontos relevantes da PCCol sugere discutir formações

sociais marcadas pela replicação de modelos e ideias inquestionáveis que se contrapõem à

emancipação e à justiça social. Dado o princípio que norteia a pesquisa, a formação crítica

mobiliza a compreensão de aspectos sociais, políticos e econômicos que reverberam as

relações e as escolhas na educação e despertam desejos de ações em prol de um agir coletivo,

com o objetivo de transformar "situações-limites" em "inédito-viável" (FREIRE, 1970/2011).

Nessa direção, a escolha da metodologia de pesquisa mais adequada para esta investigação foi

a PCCol, pois, de acordo com a proposição, esse tipo de pesquisa é instrumento e propicia

resultado num contexto de formação.

Desse modo, ao longo do desenvolvimento da investigação, como professora-

pesquisadora, a autora deste estudo escolheu a abordagem teórico-metodológica ativista e

intervencionista, apoiada também nas discussões de Teoria da Atividade Sócio-Histórico-

Cultural (TASHC), que lhe permitiram, como professora-pesquisadora, observar, registrar e

refletir de maneira colaborativo-crítica sobre o processo de ensino-aprendizagem, assim,

concebendo uma intervenção formativa.

Desse modo, foi possível vivenciar, ao longo das atividades propostas nos três

semestres, tanto com a professora do Cervantes Solidário como com os alunos integrantes do

curso, a colaboração no processo dinâmico das relações coletivas.

77

3.2 PROCEDIMENTOS DE PRODUÇÃO E DE COLETA DE DADOS

O processo de produção de dados ocorreu no segundo semestre de 2017 (entre os

meses de agosto e novembro) e no primeiro semestre de 2018 (entre os meses de março e

junho). Nesse processo, participaram duas professoras e os alunos do curso. Foram gravadas

12 aulas. As aulas aconteceram às quartas-feiras, das 13h30min às 15h30min.

Devido ao extenso material coletado: áudio/vídeo/fotografias, as transcrições dos

áudios foram parciais. Todos os dados foram armazenados no computador. A seguir, expõe-se

a organização e as informações sobre a coleta de dados:

Figura 2 - Organizador da coleta de dados

Fonte: Elaborado pela autora.

É importante relatar que algumas gravações de áudio ficaram inaudíveis em alguns

momentos pelos ruídos, o que prejudicou trechos e a compreensão das falas. Ressalta-se que,

por tratar-se de uma escola bilíngue, como indicado na introdução da dissertação, as

transcrições foram fiéis às práticas translíngues (espanhol/português e alguns momentos em

inglês) ocorridas ao longo dos encontros. As gravações em vídeo foram feitas pela

78

pesquisadora-autora, fato que não favoreceu alguns enquadramentos no ambiente. Segue o

código de transcrição.

Quadro 3 - Código de Transcrição

(nono) - hipótese do que se ouviu Pois é, (eu) já (#) inaudível Agora eu sei que (#), então ...pausa ou hesitação na fala Eu pensei...que...espera... (...) recorte efetuado pela pesquisadora Maria já tinha colocado a mesa. (...) e tudo ((nono)) explicação Eu coloquei na mão dela ((da idosa))

Fonte: Elaborado pela autora.

A seguir, apresenta-se o quadro com as datas dos encontros, os tópicos abordados e a

natureza dos registros.

Quadro 4 - Registro das Atividades e Material Investigativo – 2017.

Data Encontros Objetivo Registro

9/8/2017 1 Acolhida e formação do grupo Apresentação do grupo Levantamento prévio sobre o voluntariado

Fotografia Áudio

16/8/2017 2 Entrevista com pessoas que têm ações voluntárias

Fotografias

23/8/2017 3 Entrevista com o padre sobre o instituto Gravação áudio

30/8/2017 4 Entrevista com a protetora de animais Fotografias

06/9/2017 5 Saída com os alunos ao Instituto Cáritas Fotografias

13/9/2017 6 Avaliação da investigação no Instituto Cáritas Fotografias Áudio

20/9/2017 7 Elaboração do plano de ação no local. Áudio

27/9/2017 8 Organização dos grupos e preparação do material a ser executado no instituto

Áudio Fotografias

4/10/2017 9 Trabalho voluntário Fotografias

18/1/2017 10 Avaliação do encontro Fotografias

25/10/2017 11 Preparação do material em grupos Fotografias Áudio

01/11/2017 12 Trabalho voluntário Fotografias

08/11/2017 13 Preparação do encontro: festa de encerramento

Fotografias

22/11/2017 14 Visita ao instituto - festa de encerramento Fotografias

29/11/2017 15 Encerramento no colégio e entrega de certificado de trabalho voluntário.

Fotografias Vídeo

Fonte: Elaborado pela autora.

79

A seguir, está o cronograma com os tópicos trabalhados no 1º semestre de 2018 e que

culminou no trabalho desenvolvido no asilo: Lar Pentecostes.

Quadro 5 - Material investigado e cronograma com tópicos abordados em cada encontro – 2018.

Data Encontros Objetivo Registro

21/2/2018 1 Acolhida e formação do grupo. Apresentação do grupo Levantamento prévio sobre o voluntariado Sondagem do campo de atuação. Gráfico de preferência.

Fotografias

28/2/2018 2 Preparação para o encontro: performance: como é ser idoso no mundo - diferentes realidades

Fotografias Vídeo

7/3/2018 3 Brincar com restrições Visita ao campo de trabalho voluntário Asilo - entrevista com as moradoras e funcionárias.

Fotografias

14/3/2018 4 Avaliação do encontro. Quanto um idoso gasta em saúde? O que é aposentadoria? Qual o valor?

Fotografias Áudio

21/3/2018 5 Elaboração de um plano de ação. Atividade Social – Participar de um Atelier de pintura

Áudio

28/3/2018 6 Preparação do material/TASCH Áudio

4/4/2018 7 Encontro com as idosas: Atividade Social atelier de pintura

Áudio Fotografias

11/4/2018 8 Avaliação da atividade social: Atelier de Pintura Áudio Fotografias

20/4/2018 9 Reunião dos grupos Levantamento de propostas para o próximo encontro

Áudio Fotografias

2/5/2018 11 Continuação Áudio Fotografias

25/4/2018 10 Show de Talentos: gêneros: cartaz/convite/preparação do material e divisão de tarefas

Fotografias Filme

9/5/2018 12 Ensaio e preparação Fotografias e nota de campo

16/5/2018 13 Organização do material Fotografias e nota de campo

23/5/2018 14 Projetando empreendedorismo social - quadro das moradoras do asilo transformados em jogos-americanos.

Fotografias Áudio Vídeo

30/5/2018 15 Matemática - custos/organização da venda dos jogos-americanos /elaboração do cartaz e propaganda durante a festa. Divisão de tarefas

Áudio Fotografias

6/6/2018 16 Atividade Social: Festa Junina - divisão de tarefas/preparação do material

Fotografias

13/06/2018 17 Visita ao asilo - Festa Junina Fotografias

20/6/2018 18 Entrega dos certificados com a participação da comunidade escolar.

Fotografias Vídeo

27/06/2018 19 Não houve aula

Fonte: Elaborado pela autora.

80

3.3 PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Os dados foram analisados e selecionados de acordo a alguns critérios, a saber:

1º critério: seleção de dados que respondessem às questões de pesquisa, foram

selecionadas fotografias e gravações de áudio que contestassem as perguntas.

1) Que tipos de agência são construídos no curso de voluntariado educativo?

2) Como são construídas essas agências?

2º critério: descrição de todas as atividades com as quais esses dados estavam

correlacionados.

3º critério: seleção daqueles episódios vistos pelo grupo e pela professora-

pesquisadora como mais impactantes, considerados “eventos dramáticos”.

4º critério: foram seguidas todas as orientações e determinações do comitê de ética da

PUC/SP, após a autorização dos alunos envolvidos.18

De acordo ao exposto inicialmente, esta investigação insere-se na Linguística

Aplicada, pois se concentra na área da linguagem e, portanto, para a análise, foram escolhidas

as categorias enunciativa, discursiva e linguística (LIBERALI, 2013). A análise de dados,

apresentada a seguir, focalizou os tipos de agência desenvolvidos em um projeto de

voluntariado educativo e procurou analisar a construção de novos modos de agir que

possibilitassem (re)significar a vida da sociedade na escola e a escola na sociedade. Para

responder às duas primeiras perguntas da investigação foram selecionadas três aulas:

1ª) Atividade social de participar de uma aula de pintura ‒ este encontro tinha como

objetivo realizar a atividade social: Atelier de Pintura. Os alunos organizaram-se com

antecedência, dividiram as tarefas a serem realizadas com as idosas, porém a atividade não

saiu como planejada, e os alunos tiveram que reorganizar, tomar decisões considerando o

contexto, os objetivos do encontro e principalmente o outro.

2a) Avaliação da atividade social: participar de uma aula de pintura: Atelier de Pintura

‒ este encontro foi selecionado porque os alunos expuseram como vivenciaram a atividade

social e fizeram avaliação do encontro com propostas para os próximos encontros.

3ª) Discussão sobre o destino das telas e a idealização dos jogos-americanos – a

discussão que permeou este encontro resultou na ideia de transformar as telas pintadas pelas

18 A participação da professora e dos alunos foi voluntária. Os pais assinaram a permissão. Por determinação do comitê, todos serão mantidos no anonimato e não serão divulgados nomes.

81

idosas em jogos-americanos a serem vendidos nas festas do colégio e o dinheiro levado para o

asilo.

3.3.1 Procedimentos de análise

Na proposta desta investigação, adotou-se a perspectiva dialógica nas quais as

categorias não condizem de forma automática; mas analisadas à enunciação (BRAIT, 2006);

dessa forma, foram analisados e considerados os modos de agir. As ações centrais escolhidas,

(LIBERALI, 2013, p. 62) a saber:

observação e leitura de dados e situações: foco de conteúdo léxico-semântico e

paralinguístico;

descrição do contexto de atuação e circulação de forma ampla, para além do

momento específico de enunciação em desenvolvimento e análise;

análise e/ou avaliação do possível conteúdo por meio das escolhas lexicais mais

relevantes;

definição de diferentes categorias enunciativas, discursivas e linguísticas

específicas para cada situação específica.

No entanto, para análise de imagens e interpretação dos dados selecionados como

fotografias e desenhos, escolheu-se como base a gramática visual, oferecida por Kress e Van

Leeuwen (2006), pois, pelo fato de estar-se inserido em uma sociedade cada vez mais

multimodal, o conhecimento é construído também pelas linguagens em seus diferentes

modos, e não mais unicamente pela linguagem verbal (escrita ou oral), bem como porque,

entre os excertos selecionados que respondem às perguntas, havia desenhos e fotografias.

Nessa perspectiva, a Semiótica Social contribui valiosamente quando agrega o recurso

semiótico para descrever, interpretar e explicar como as pessoas produzem eventos

comunicativos. Dessa perspectiva, as imagens representam um conjunto de signos, portanto,

as opções de composição são frutos de escolhas de significados a serem compartilhados, ou

seja, há intencionalidade, pontos importantes no contexto da globalização (BLOMMAERT,

2010) e superdiversidade (VERTOTEC, 2007), nos quais os modos de comunicação, hoje,

estão além da linguagem verbal.

Nessa vertente, os recursos semióticos são vistos como um conjunto de signos

socialmente compartilhados e conduzidos com princípios e regularidades, como adverte

Nascimento (2011). De acordo a essa visão, Kress e van Leeuwen propõem a Teoria

Multimodal do Discurso, cuja base fundamentam na Gramática Design Visual (KRESS; VAN

LEEUWEN, 1996/2006). Cabe sublinhar que os princípios da teoria multimodal apresentados

82

pelos autores supracitados discutem a função ideacional representada por meio de imagens

(fotografiass, desenhos), sendo possível interpretar os processos interacionais por meio de

atores e circunstâncias.

3.3.2 Categorias Enunciativas, Discursivas e Linguísticas

Nesse enfoque, o trabalho com as categorias enunciativas, discursivas e linguísticas

abrange a abordagem de alguns aspectos da materialidade do texto considerados como

mecanismos de composição do discurso (LIBERALI, 2013, p. 74). Os aspectos linguísticos

foram a base para compreender a organização das ideias.

A relação dos aspectos enunciativo e discursivo-linguístico multimodais contribui para

compreender como a linguagem é utilizada para criar, analisar, compreender e interpretar o

contexto escolar, além de oferecer subsídios para a atividade nesse contexto (LIBERALI,

2013).

3.3.3 Categorias enunciativas

A escolha da categoria é essencial para localizar e focalizar e entender o

desenvolvimento dos encontros e aulas. Os elementos enunciativos referem-se ao contexto, à

dialética entre os objetivos, ao conteúdo e ao lugar. As características enunciativas focalizam

o contexto no qual o evento é concretizado, a dialética entre o local, momento, veículo,

participantes, objetivos e conteúdos abordados e seus modos de produção e realização,

segundo propõe Liberali (2013), a partir das discussões sobre os diferentes aspectos

enunciativos:

83

Quadro 6 - Aspectos enunciativos segundo Liberali (2013).

DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS ENUNCIATIVAS DE ANÁLISE Local e momento de produção, recepção e circulação

Segundo Liberali (2013, p. 63), com base em Bronckart (1997,1999), o lugar-tempo em contextos argumentativos é constituído como uma situação complexa em que conflitos de opiniões e de ideias estão em pauta. Para a constituição dessa situação, estabelece-se de forma implícita ou explícita um contrato de ações, a partir do qual os enunciados realizam suas ações.

Papel dos interlocutores (enunciadores)

Os papéis dos interlocutores dão-se de forma intercambiável. Podem atuar como produtores-oradores (se posicionam com relação à verdade de uma proposta existente) ou ouvintes-leitores (participam da enunciação na condição de sujeitos capazes de reagir de interagir diante das propostas e teses que lhe são apresentadas) (LIBERALI, 2013, p. 64).

Objetivos da interação/fim Ao participarem da enunciação com diferentes tomadas de posição, os interlocutores podem apresentar objetivos distintos que são fundamentais para entender o modo de exposição e organização do discurso (LIBERALI, 2013, p. 64).

Objeto/conteúdo temático São materializados nas posições assumidas pelos interlocutores. Esse objeto é imbuído de valores, o que gera uma tensividade retórica em que um feixe de possibilidades se oferece para a procura paradoxal e dialética de formulação que contêm uma parte de possibilidade de verdade na forma de perspectivas opostas e complementares. Podem também surgirem a partir de discordâncias, conflitos conceituais, choques semânticos, diferentes proposições de mundo, etc. (LIBERALI, 2013, p. 64).

Fonte: Retirado de Guidi (2017, p. 83).

3.3.4 Categorias Discursivas

Essa categoria refere-se à disposição do texto e aborda quatro aspectos: o plano

organizacional, a organização temática, o foco sequencial e a articulação entre as ideias

apresentadas. A estrutura foi elaborada a partir dos estudos dos autores pautados nos

contextos escolares Toulimin (1958/2001), Orsolini (2005), Leitão (2011), Faria (2002),

Pontecorvo (2005), Brookfield (1987/1995), Bronckart (1997/1999), Adam e Bonhomme

(1997), Meaney (2009), Charauddeau (2008), Reboul (2004), Aristóteles (350 a.C/2005)

Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958/2005), Liberali (2008a, 2008b).

84

Para o plano organizacional, foi possível relacionar com a proposta de Bronckart

(1997/1999 apud LIBERALI, 2013) quando assinala que há uma sequência dialogal: início

(abertura), desenvolvimento (conteúdo) e encerramento (fim da interação).

Na organização temática, invoca-se Pentecorvo (2005), pelo qual é possível analisar se

houve pertinência, desenvolvimento do tema, se ele foi fomentado ou repelido.

O foco sequencial remete à escolha da temática proposta, pode ser analisado quanto ao

conhecimento teórico e/ou cientifico, conforme Vygotsky (1934/2001 apud LIBERALI,

2013).

A articulação das ideias é refletir sobre como são apresentados os pontos de vista,

opiniões, posições, de que maneira são sustentadas as considerações, segundo Orsolini (2005,

apud LIBERALI, 2013).

No quadro que segue, discrimina-se a análise de dados das características discursivas:

85

Quadro 7 - Síntese para análise de dados: características discursivas Plano Organizacional Organização Foco sequencial Articulação

ABERTURA

regras sociocomunicativas

Pertinência Não pertinência

Utilitários Regras de:

agir avisos cobranças

Exórdio Abertura do tema ou a introdução

Pedido Apresentação de contra argumentação Solicitação ou apresentação de posição distinta da que está sendo discutida ou da proposta por outro interlocutor.

DESENVOLVIMENTO

conteúdo temático da interação é construído

Desenvolvimento: avançar e progredir coletivamente, a análise bem como a interpretação do objeto do discurso. Não desenvolvimento há bloqueio interrupção do processo de construção de ideias pelo enunciador ou grupo.

Enfoque

prático cotidiano

Questão controversa cria possibilidades de respostas com perspectivas diversas permite os interlocutores assumirem posicionamento

Discordância Contestação do ponto de vista apresentação de oposição ao ponto de vista expresso.

FECHAMENTO fim da interação

enfoque teórico científico

Apresentação ponto de vista tese posição

Concordância aceitação da ideia

86

MODO COMO OS INTERLOCUTORES SE ORGANIZAM PARA INICIAR AS DISCUSSÕES

apresentação de resultados

Espelhamento recolocação do que foi apresentado por outro interlocutor de forma parafraseada ou reproduzida, espelhamento com pedido de dis(cordância) espelhamento como forma de recolocação da questão controversa, porém com uso do posicionamento do outro.

Negação refutação de argumento não aceitação de suporte apresentado para ponto de vista, mesmo que o posicionamento do enunciador seja o mesmo daquele de quem nega o argumento.

Pedido apresentação de esclarecimento solicitação e/ou apresentação de maiores detalhes sobre o argumento de sustentação ponto de vista apresentado

Acordo tentativa de encontrar posição que aglutine diferentes posicionamentos a partir de concessões.

Pedido Apresentação sustentação como reprodução de uma voz de autoridade apelo emocional explicação coesão relação - necessária entre ideias

Questões para entrelaçamento de falas modos de questionar que contribuem para que os interlocutores percebam as relações entre suas falas e de outros participantes do evento

Fonte: Amorin (2016, p.78)

87

3.3.5 Categorias Linguísticas

Alguns aspectos da materialidade dos textos são interpretados a partir das

características linguísticas. Dessa maneira, foram considerados, como categorias de análise,

os mecanismos de composição do discurso (LIBERALI, 2013), conforme Kerbrat-Orecchioni

(2006), Bronckart (1987, 1997/1997), Toulimin (1958), Charaudeau (2008), Aristóteles (350

a.C/2005), Bernardo (2000), Halliday (1957), Pentecorvo (2005), Orsolini (2005), Dolz

(1996), Duarte (1998). A abordagem de determinados aspectos materiais do texto, chamados

de mecanismos de composição do discurso (LIBERALI, 2013), foram entendidos a partir das

características linguísticas. Assim, as características dão suporte à organização das ideias no

texto. Como explica o quadro a seguir:

88

Quadro 8 - Análise das características linguísticas argumentativas

Mecanismos de interrogação - Perguntas de sim/não; - Com pronomes interrogativos; - De escolha única ou múltipla escola. Essas perguntas podem permitir a compreensão de como favorecem o entrelaçamento do conhecimento.

Mecanismos não verbais

Podem ser compreendidos com base em signos cinéticos, signos estáticos e plano de imagem. Alguns signos cinéticos a serem considerados são distância/proxemia, atitudes, posturas, orientação do corpo, jogo de olhares, mímicas, gestos, aplausos, risos, movimento para concordar, movimento para discordar, expressão de descrença, expressão de desafio e mão levantada.

Mecanismos de proferição São mecanismos paraverbais relativos ao canal auditivo, tais como silêncio, entonação, pausas, timbre de voz, intensidade articulatória, ritmo de fala, altura da voz.

Mecanismos de valoração

Marcam a posição dos locutores frente aos temas, aos interlocutores, ao momento de enunciação, dentre outros. Podem ser expressões: por adjetivação; depreciativas; apreciativas; descritivas; atributivas; identificatórias. Esses usos tanto servem para marcar as posições, como para avaliar o modo de intervenção em foco.

Mecanismos de coesão nominal Estão ligados às formas de iniciar uma nova unidade de significação (introdutória) e de reformular a unidade nova (retomada). Designam as conexões de dependência entre os argumentos das propriedades referenciais causando efeito de estabilidade e de continuidade. O importante nesse mecanismo é o estabelecimento de relação entre falas e colocações dos diferentes interlocutores.

Mecanismos de troca de turnos Estão ligados à passagem de um turno para o outro, em que um enunciado. O turno pode ser compreendido como o tempo em que o enunciador está falando. A troca de turno está ligada ao conhecimento do momento de iniciar, finalizar, tomar, recuperar esse tempo e um discurso.

Mecanismos conversacionais

Incluem o uso de interrogação, pausa, elipse, repetição, complementação, permeabilidade, exclamação, que podem ser percebidos por suas marcas sintáticas ou morfológicas. Apontam os modos de participação dos sujeitos na interação e a interpenetração de suas vozes na apresentação de pontos de vista, sustentação e oposição.

Mecanismo de Distribuição de Vozes Referem-se ao posicionamento enunciativo, a escolha dos pronomes a serem usados, observa-se o discurso: direto ou indireto

Fonte: adaptado de Liberali (2013, p. 74-81) e Kremmer (2018, p. 84).

89

3.3.6 Categoria para análise de imagens (Linguagem visual)

Como já justificado na abertura da seção, entre alguns excertos selecionados, há

fotografias e desenhos, por isso, esses serão analisados com base gramática visual proposta

por Kress e Van Leeuwen (2006). Para os autores, a linguagem visual tem três funções: a

função de representação, a função interacional e a função de composição, como descritas na

continuação:

1) Função de Representação

A função de representação está relacionada com o registro de experiências e pode ser

estabelecida por meio de estruturas narrativas ou conceituais. Nessa perspectiva, as

representações narrativas retratam os participantes realizando ações. Já as representações

conceituais descrevem os participantes demonstrando as características individuais e

permitem percebê-los parte do grupo e de modo mais específico e detalhado.

A principal característica de uma representação narrativa é a ação em determinado

acontecimento. Algumas características são preponderantes, como presença de participantes

(humanos ou não), presença de vetores (orientação corporal, instrumentos que sugiram

movimento e linha do olhar) e a inclusão dos participantes em um pano de fundo que exponha

as circunstâncias – tempo e espaço.

Para isso, quatro processos embasaram as representações narrativas: processos de

ação, processos de reação, processos verbais e processos mentais. De acordo com a gramática

visual, os processos de ação podem ser transacionais quando envolve dois ou mais

participantes e há um vetor ou não transacional, ocorre quando envolve um participante e um

vetor. Os processos de reação caracterizam-se por um vetor que corresponde sempre à linha

do olhar de um ou mais participantes; assim como os processos de ação; os processos de

reação podem ser transacionais ou não transacionais. Já os processos mentais e verbais são

identificados por balões; balão do pensamento, nos processos mentais; e, nos processos

verbais, o balão do diálogo.

De acordo com a gramática visual, nas representações conceituais, que são distintas

das representações narrativas, o enfoque está nos atributos e identidades dos participantes

(humanos ou não), para isso, algumas características estão presentes como a disposição dos

integrantes da imagem em taxonomias, organizados por categorias; apresentação dos

participantes em uma relação parte/todo; ausência de vetores; menor ou até mesmo ausência

90

do pano de fundo. Essas representações são regidas por processos classificatórios, quando são

arranjados de maneira simétrica, em que se percebam as características comuns e possa-se

classificar de forma implícita ou explícita em categorias; os processos analíticos, que

representam elementos em uma relação parte/todo; e os processos simbólicos, quando ocorre

a presença de elementos que atribuam algum valor extra.

Para melhor compreensão, as estruturas estão elencadas no quadro abaixo:

Quadro 9 - Categorias para Análise – Gramática Visual

Funções de ESTRUTURAS/RECURSOS Representação capacidade de representar experiência

Estrutura Narrativa Estrutura Conceitual Retrata participantes realizando ações ou envolvidos em acontecimentos

Foco nos atributos e nas identidades dos participantes

Processos: de ação (transacionais e não transacionais), de reação e mentais ou verbais

Processos: classificatórios implícitos ou explícitos permanentes ou transitórios, analíticos e simbólicos.

Interação relações entre participantes e o leitor

Contato Atitude Distância Poder Pessoal – relação de demanda. Impessoal – relação de oferta

De frente De lado De costas

Plano Fechado Plano médio Plano aberto

Ângulo alto Nível do olhar Ângulo baixo

Composição organização dos elementos representados na imagem

Valor da Informação

Enquadramento

Saliência

Esquerda/direita Topo/base Centro/margem

Elementos interligados Elementos separados Elementos segregados

Tamanho dos elementos que compõem a imagem. Coordenação entre as cores utilizadas. O posicionamento desses itens em primeiro e segundo plano.

Fonte: Megale (2017, p. 104) - Adaptado de Kress e van Leeuwen (2006)

2) FUNÇÃO DE INTERAÇÃO

A função de Interação Kress e Van Leeuwen (2006, apud NASCIMENTO et al., 2011)

diz respeito à relação que se estabelece entre o leitor e os participantes representados na

imagem. Os autores elucidam que essas relações podem ser realizadas apoiadas em diferentes

recursos visuais: contato, distância social, atitude e poder.

CONTATO – pode ser estabelecido:

Por meio do contato com o olhar entre os participantes da imagem e o leitor

e pode ser pessoal ou impessoal.

91

DISTÂNCIA SOCIAL – pode ser estabelecida:

Pela visualização do participante representado como estando próximo ou

distante do leitor (distância social), distância do participante representado

como próximo ou distante – o leitor pode criar relação que varia de

intimidade, vínculo social de maior impessoalidade (close-up

íntimo/médium shot (social), plano aberto (long shot), impessoal.

ATITUDE – pode ser estabelecida:

Pelo ângulo formado entre o corpo do participante e o leitor no eixo

vertical (atitude), posicionamento do corpo do participante.

PODER – pode ser estabelecido por:

Pelo ângulo formado entre o corpo do participante e o leitor no eixo

horizontal (poder), o leitor observa a imagem do ponto de vista superior,

interpretado como maior poder. Nível do olhar, expressando igualdade

entre os participantes e leitor; ângulo baixo – evidenciando poder do

participante representado em relação ao leitor.

3) FUNÇÃO DA COMPOSIÇÃO

A terceira e última função apresentada por Kress e Van Leeuwen (2006),

COMPOSIÇÃO, propicia a descrição dos elementos representados na imagem de acordo com

o espaço ocupado. A composição, segundo os autores supracitados, pode ser analisada a partir

de três aspectos:

a) O valor da informação – diz respeito à disposição de um elemento segundo o

lugar situado: esquerda ou direita; topo ou base; centro ou margem – a

disposição, de acordo com Kress e Van Leeuwen (2006), sofre interferência

cultural no sentido de conferir valor.

b) O enquadramento – observa-se a presença e/ou ausência de moldura que

podem sugerir conexão ou não com outros elementos do texto.

c) Saliência: são as estratégias usadas para destacar elementos no texto visual,

podem ser quanto ao tamanho (desproporcional, inclusive), cores e

posicionamento.

Para investigar a possibilidade de construção de agências, foram destacadas ações que

poderiam sugerir a presença das diferentes agências. A seguir, estão listadas as ações

relevantes das agências apresentadas no referencial teórico.

92

Quadro 10 - Tipos de agência e aspectos.

AGÊNCIAS AÇÕES AGÊNCIA CRÍTICO -COLABORATIVA (MAGALHÃES; NININ, 2017)

Expressar sem receio pontos de vista, dúvidas, medos e emoções.

Acolher membros para sentimento de confiança e cumplicidade.

Acompanhar com responsabilidade e compromisso.

Expandir o próprio entendimento a partir do compartilhamento com outros modos de pensar.

Oportunizar momentos de fala, questionamento, argumentação, discordância, e explicação de ideias.

AGÊNCIA DESENCAPSULADA (LIBERALI, 2017)

Compreender seu poder de transformação em contextos diversos. Partir da mobilidade em diferentes atividades. Focalizar na transformação de repertórios. Superar papéis e espaços. Agir em diferentes atividades. Desencapsular papéis.

AGÊNCIA ATIVISTA TRANSFORMADORA (ENGESTRÖM, 2007; 2011; STETSENKO, 2017)

Agir com intencionalidade em situações controversas. Romper com quadros estabelecidos. Analisar o contexto. Prever situações. Transformar a prática e/ou contexto.

AGÊNCIA RELACIONAL (EDWARDS, 2007; 2011)

Responsabilizar-se com o outro. Comprometer-se de modo consciente com o outro. Questionar com o intuito de dar suporte. Negociar e práticas dialéticas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Os tipos de agência serão apresentados ao longo desta seção, são eles: a) agência

relacional; b) agência transformativa (ENGESTRÖM, 2007, 2011; STETSENKO, 2017); c)

agência crítico-colaborativa (MAGALHÃES; NININ, 2017); d) agência desencapsuladora

(LIBERALI, 2017).

3.4 CREDIBILIDADE DA PESQUISA

93

A credibilidade desta investigação científica foi construída ao longo de dois anos.

Durante todo o processo, a pesquisadora teve a oportunidade de refletir com os pesquisadores

do GP LACE e participar dos encontros de discussão do Programa Digitmed, dos encontros

individuais com a orientadora, de fóruns, em congressos nacionais e internacionais, de

apresentações de trabalhos, pôsteres e workshops, bem como de trabalhos e seminários nas

disciplinas cursadas.

Além do acompanhamento contínuo e da orientação da Profa. Dra. Fernanda Coelho

Liberali, durante a construção desta dissertação, a pesquisadora participou de

miniqualificações, nas quais o seu trabalho foi avaliado por convidados e colegas com leitura

crítica que ajudaram nas reflexões por mestrandos, doutores com pós-doc, a saber: Susan

Clemesha, Brenda Treco, Fernanda Guidi, Rodrigo Assis, Cristina Damianovic e Francisco

Estefogo. Na continuidade, estão listadas as atividades acadêmicas realizadas entre 2017 e

2018 para validar a credibilidade desta pesquisa.

94

Quadro 11 - Credibilidade da Pesquisa

Atividade acadêmica Tipo de apresentação Local Data Contribuição para a pesquisa Disciplina do Mestrado: Desenvolvimento afeto-cognitivo

Apresentação oral e escrito - ensaio

PUC/SP 1º semestre de 2017

O curso focalizou a abordagem sociocultural do tema desenvolvimento afeto-cognitivo a partir de releituras de Spinoza, Stanislaviski e Vygotsky. Nessa exposição, a pesquisadora apresentou um trabalho sobre expatriados, no qual discutimos o drama, perijivániea e análise das práticas pedagógicas com base em ensino-aprendizagem, situação social de desenvolvimento brincar/performance. Conceitos que embasam a teoria desta investigação.

Disciplina do Mestrado: Linguística Aplicada II - Ensino-aprendizagem de língua estrangeira para crianças

Apresentação oral PUC/SP 1º semestre de 2017

Apresentação feita abrangeu o desenvolvimento a partir do desenvolvimento na perspectiva vygotskyana.

Disciplina do Mestrado: Linguística Aplicada I- Panorama Histórico da Linguística Aplicada - Questões teóricas e metodológicas

Apresentação oral PUC/SP 1º semestre de 2017

Apresentação oral sobre a linguística na perspectiva educacional. Esta apresentação permitiu aprofundar e refletir criticamente o desenvolvimento da prática na perspectiva da LA.

Minicurso: atividade social como organizadora curricular

Apresentação oral PUC/SP 2º semestre de 2017

A apresentação de uma proposta didática permitiu a discussão sobre a abordagem sócio-histórica-cultural por meio de trabalho com Atividades Sociais. Também propiciou a reflexão sobre o currículo em perspectiva desencapsulada. Base do trabalho no curso de voluntariado educativo desta investigação.

Disciplina do Mestrado: Linguística Aplicada II: As discussões de Vygotsky com foco nos conceitos de

Apresentação escrita Educação bilíngue: Aprendizado afeto-cognitivo da língua

PUC/SP 2º semestre de 2017

A apresentação do trabalho escrito colaborou de maneira significativa para organizar e nortear a linha de pesquisa teórico-metodológica, assim como os conceitos de agência e colaboração crítica na

95

Atividade acadêmica Tipo de apresentação Local Data Contribuição para a pesquisa Linguagem, colaboração, contradição e agência

adicional por meio da Atividade Social - curso de voluntariado

perspectiva vygotskyana.

Seminário de Pesquisa: Multimodalidade, construção de sentido e formação social

Apresentação multimodal

PUC/SP 2º semestre de 2017

A apresentação feita teve como objetivo propiciar discussões teóricas-práticas sobre a importância da multimodalidade nos processos de ensino-aprendizagem no sentido de favorecer também a análise de dados. Essenciais para esta pesquisa.

Disciplina do Mestrado: linguística Aplicada II - Globalização, ensino-aprendizagem de línguas e práticas translíngue

Apresentação oral e escrita

PUC/SP 1º semestre de 2018

A apresentação do ensaio como e por que ensinar línguas na contemporaneidade? O espanhol no Brasil é relevante? Permitiu refletir sobre a situação mundial, os efeitos da globalização na educação, a valorização das línguas consideradas de elite e a reverberação social. A apresentação oral foi enriquecedora para refletir e elaborar práticas translíngues. Conceitos que permeiam a presente dissertação.

Disciplina do Mestrado: Teoria Linguística I: Questões teóricas e metodológicas das ciências

Apresentação oral e escrita

PUC/SP 1º semestre de 2018

A apresentação oral permitiu aprofundar conhecimentos sobre a linguística ao longo da história. O trabalho escrito permitiu refletir sobre a relevância da análise e construção linguística no contexto social no qual se desenvolve, isto quer dizer que as ideologias e valores permeiam o discurso. Nesta perspectiva, o sentido do discurso não é fixo, ele muda em função dos cenários histórico, social e político.

Linguística aplicada II: argumentação em atividades do contexto escolar

Ouvinte PUC/SP 2º semestre de 2018

Discussão do papel da argumentação na ação e formação de educadores. Especificamente, ofereceu aos participantes a oportunidade de discussão sobre as características da argumentação e suas implicações

96

Atividade acadêmica Tipo de apresentação Local Data Contribuição para a pesquisa nas ações em sala de aula e nas atividades de formação em geral. Além disso, permitiu a análise de situações reais que exemplifiquem a relação entre argumentação colaborativa, produção de significados e multiculturalidade.

Colóquio “Propuestas Educativas Interculturales para acompañar trayectorias bilingües/multilingües/ plurilingües. CO-construir la formación de docentes, un desafío del siglo XXI

Ouvinte Universidad Sorbonne Nouvelle - Paris 3/DILTEC y en Colombia (Universidad de los Andes/Facultad de Educación - CIFE y Facultad de Ciencias Sociales - Departamento de Lenguas y Cultura

2º semestre de 2017

O colóquio pemitiu compartilhar e debater os resultados da investigação sobre a aprendizagem nos contextos multilíngues.

XV fórum em ILCAE Exposição de pôster: Expatriados, refugiados e seus instrumentos de esperança

PUC/SP FLAFICA

2º semestre de 2017

Apresentação de pôster sobre o sentimento de pertença dos sujeitos (crianças) e acolhimento da comunidade às pessoas em situação de vulnerabilidade de imigração, refúgio ou expatriados. A base teórico-metodológica proposta foi Vygotsky (2002 [1933]), Holzman e Newman (2011, apud VYGOTSKY, 1934), brincar e performar como principal recurso para levar ao desenvolvimento emocional, cognitivo e físico.

V Fórum Iscar Brasil Londrina

Ouvinte UEL 1° semestre de 2017

Apresentação do grupo de pesquisa no qual tive a oportunidade de conhecer os conceitos aprofundados

97

Atividade acadêmica Tipo de apresentação Local Data Contribuição para a pesquisa pelo Grupo LACE.

SIAC Apresentação de pôster

O voluntariado e intervenção social

Congresso PEA UNESCO Ouvinte Foz de Iguaçu 2º semestre 2017

Oportunidade de vivenciar propostas interdisciplinares baseados nos pilares da UNESCO que abordam os temas emergenciais e o posicionamento da educação frente às demandas.

18TH AILA - world congress of applied Linguistics.

Ouvinte Rio de Janeiro/RJ

2º semestre de 2017

Participação no congresso Mundial de Linguística Aplicada: Inovação e Desafios Epistemológicos em Linguística Aplicada.

9º Simpósio Ação Cidadã Exposição - curso brincar

PUC/SP 2º semestre de 2017

Este minicurso teve como objetivo discutir o papel do brincar performático no processo de ensino-aprendizagem como alternativa para desenvolvimento de um currículo escolar interdisciplinar, conectado a diferentes contextos da vida real. Destinado a professores, gestores e alunos interessados em pensar formas de organização do currículo por meio do brincar. O minicurso também se propunha a discutir sobre a criação de propostas didáticas desencapsuladas (LIBERALI, 2018), pautadas na correlação entre os saberes escolares e os da vida social.

IV SEDIAr - Seminário Internacional de Estudios de Discurso y Argumentación

Apresentação oral - Propostas didáticas pautadas em atividade social e multiletramento

Universidad de Buenos Aires

1º semestre de 2018

Apresentação de pesquisa com objetivo de apresentar uma aula de matemática realizada por meio de uma Atividade Social (VYGOTSKY, 2009; LEONTIEV, 1977; ENGESTRÖM, 2016) no Digit-M-Ed-PUC-SP no ano de 2017, desde seu planejamento até sua execução.

98

Atividade acadêmica Tipo de apresentação Local Data Contribuição para a pesquisa Curso de extensão "”Práticas

translíngues: da teoria à prática”

Instituto Singularidades São Paulo

2º semestre de 2018

Este curso discute a tradução como um processo e uma ferramenta pedagógica. Seu objetivo foi mostrar estrategicamente como lidar com o fluxo dinâmico de práticas linguísticas de estudantes bilíngues a fim de capacitar os alunos a envolverem-se com conteúdo complexo e desenvolver práticas linguísticas dos alunos para contextos acadêmicos.

1º Simpósio Internacional sobre bilinguismo na contemporaneidade: práticas, desafios e tendências

Comunicação da prática -

Instituição Evangélica de Novo Hamburgo INAH Novo Ham burgo -Porto Alegre

2º semestre de 2018

Atividade social e multiletramentos: um projeto interdisciplinar de ensino voluntário de espanhol como língua adicional. Este encontro permitiu aprofundar a minha pesquisa.

PERFORMING THE WORLD (PTW)

Apresentação de trabalho Performativo Interventions in Schools: Resisting Expanding in Unsettled times

NY - 2º semestre de 2018

Intervenções Performativas nas Escolas: Resistindo à Expansão em Tempo Inabalável. Levando-se em conta “o viável inédito”, como discutido por Freire (1970, 1987), que em grande parte se refere à potencialidade que soluções viáveis desconhecidas podem trazer, e tendo em vista o fato de sermos agentes com força para transformar as circunstâncias vivas de nossas comunidades, este workshop abordou instâncias de situações sociais comuns do dia a dia em que os participantes agem em conjunto para separá-los e, como resultado, transformar suas condições de vida. O ponto-chave dessas performances depende da alteridade como um importante impulsionador importante para promover impulsos colaborativos em direção à transformação.

Fonte: Elaborado pela autora.

99

Esta pesquisa de cunho científico foi submetida e aprovada pelo Comitê de ética da

Plataforma Brasil19, sob número do Parecer: 2.693.564, o certificado de apresentação para

Apreciação Ética (CAAE) n.º 88886718.0.0000.5482, em que a pesquisadora-autora deste

estudo se responsabiliza por resguardar o nome dos participantes envolvidos: alunos e idosas,

para tanto, foram usados nomes fictícios, do mesmo modo foram aletradas as fotografias nas

quais aparecem os rostos. Os únicos nomes verídicos que constam no trabalho são o da

professora do Cervantes Solidário Alexandra (Leky), o da coordenadora do Lar Pentecoste,

Helena, e o da pesquisadora-autora.

O uso das produções gráficas, como desenhos, foram autorizados pelos responsáveis

como parte do estudo aqui apresentado, de caráter científico.

Na próxima seção, pormenoriza-se o contexto da investigação. Nesse sentido, tendo-se

como objetivo apresentar o colégio no qual os alunos inscritos estudavam e onde ocorreram

os encontros do grupo dos Quixotes Solidários. Ademais, faz-se uma descrição dos lugares

nos quais os alunos trabalharam como voluntários. Nessa seção, também, são mencionados

todos os participantes envolvidos: colégio, Cáritas e Lar Pentecoste.

19 Protocolo na seção de anexos.

100

“La libertad, Sancho, es uno de los más

preciosos dones que a los hombres dieron

los cielos; con ella no pueden igualarse los

tesoros que encierra la tierra ni el mar

encubre; por la libertad, así como por la

honra se puede y debe aventurar la vida, y,

por el contrario, el cautiverio es el mayor

mal que puede venir a los hombres”

Don Quijote de la Mancha

Fonte: Artista Canato JC – Mural do Colégio Miguel de Cervantes, 2019

101

4 A ESCOLA: DESCRIÇÃO DO CONTEXTO ESPECÍFICO

A descrição inicial é do contexto de investigação, apresentando-se breve história do

colégio e sobre o curso de voluntariado Quixotes Solidários. Logo em seguida são

apresentados todos os participantes do curso: professoras, alunos, senhoras do asilo e as

instituições visitas.

4.1 O COLÉGIO

O colégio foi planejado por um grupo de espanhóis radicados em São Paulo e, na

década de 1960, foi constituído com o objetivo de estabelecer um centro educacional e

cultural difusor da língua e cultura espanholas, aberto a todos aqueles que se interessassem

por seu projeto pedagógico, possibilitando a integração multicultural. Inaugurado em 1978, a

missão do colégio está centrada em um projeto educativo, interdisciplinar e globalizado, que

integra os currículos brasileiro e espanhol e propicia aos alunos formação integral,

diversificada e personalizada. O currículo com perspectiva multicultural, além da amplitude e

da integração de conhecimentos, inclui a formação em três idiomas (português, espanhol e

inglês).

A programação didática proporciona, além da base acadêmica, uma vivência cultural e

social ampla e diversificada, adquirida em diferentes momentos da vida escolar, tais como

viagens de estudo e culturais, estudos do meio, eventos socioculturais (Feira do livro, Festa

Junina, Hispanidad, Olimpíadas Esportivas, Mostra de Dança, Música e Arte, Seminários e

Congressos).

Ao término de sua escolaridade, os alunos têm a possibilidade de obter dois títulos

acadêmicos do sistema espanhol. O primeiro Graduado em Educación Secundária

Obligatória (ESO), concedido ao término do 1º ano do Ensino Médio. O segundo, Título de

Bachiller, outorgado na conclusão do Ensino Médio, habilita o aluno a realizar o exame de

selectividad para concorrer a uma vaga nas universidades da Espanha ou de outro país da

União Europeia que tenha convênio com a Espanha. As provas de acesso à universidade

espanhola são realizadas nas dependências do colégio. Desde 2016, os alunos do Ensino

Médio podem participar do IB – International Baccalaureate.

A equipe docente para cada turma da escola é composta de duas professoras, sendo

uma tutora e outra assistente, e de professores especialistas para música, psicomotricidade,

102

língua espanhola e língua inglesa. Os alunos têm aulas de espanhol diariamente com dois

professores, além das aulas de educação física e música na língua adicional.

O Ensino Médio é uma etapa fundamental da formação escolar, seja pela amplitude de

seus objetivos formativos ou pela peculiaridade dos seus estudantes. Além da formação

acadêmica, os alunos concluintes do Ensino Médio, tendo superado os estudos

correspondentes a Língua e Cultura Espanholas, obtêm o Título de Bachiller, porta de acesso

ao sistema universitário da União Europeia e ao mundo globalizado. O domínio da língua

espanhola, adquirido por meio da educação bilíngue, permite que o aluno obtenha o diploma

Espanhol como língua estrangeira (D.E.L.E) ‒ certificação de competência linguística

internacional. Há ainda ao grupo de alunos que fazem parte do Programa do Diploma -

International Baccalaureate IB.

4.2 O CURSO DE VOLUNTARIADO

Com o objetivo de formar pessoas que tenham a sensibilidade para envolver-se e

comprometer-se com causas que propiciem o bem-estar de todos, que tenham uma visão

crítica, colaborativa e concebam possibilidades de atuação diante dos desafios de um mundo

globalizado e multicultural, muitas ações nessa direção têm sido propostas e incentivadas.

Algumas delas já fazem parte em alguns segmentos da escola: o Cervantes Solidário,

inaugurado em 2009, por exemplo, é um projeto que tem como plano principal a ação social

da mantenedora e tem como objetivo promover atividades educacionais e culturais com

crianças e jovens em situação de vulnerabilidade e assiste algumas instituições no bairro.

No âmbito pedagógico, são desenvolvidos projetos interdisciplinares que contemplam

os temas propostos pela PEA-UNESCO, e baseiam-se no desenvolvimento global dos alunos

com o objetivo de estudar os problemas mundiais e provocar situações nas quais professores e

alunos discutam, reflitam e proponham mudanças e transformações. Ressalta-se a proposta

educativa de viagem à Espanha com os alunos do 9º ano, que tem como um dos objetivos

entrar em contato com a cultura e trabalhos sociais diferentes.

No Ensino Médio, além da disciplina Criatividade, Ação e Serviço (CAS), os alunos

participam de projetos que lhes permitem entrar em contato com o autoconhecimento e

diversas ações sociais, dessa forma, descobrindo suas habilidades por meio de experiências

reais.

Nessa perspectiva educacional e social, o projeto Quixote Solidário (QS) foi criado

com base na solicitação das mães dos alunos e acolhido prontamente em agosto de 2017, pela

103

direção da escola, cujo objetivo é impulsionar e acrescentar ações no curso de voluntariado

educativo, integrado, também, ao Cervantes Solidário.

Desse modo, o curso foi apresentado à comunidade como opcional, dentro das 33

atividades oferecidas como curso extracurriculares no contra turno da escola. São eles:

Quadro 12 - Cursos extras oferecidos aos alunos do colégio

ARTES Artes Plásticas Cerâmica Oficina de Artes (desenho e pintura) Oficina de colagem Teatro

ARTES MARCIAIS Capoeira Judô

DANÇAS Ballet clássico Dança Espanhola Jazz Zumba

DES. DO POTENCIAL COGNITIVO Yoga e Histórias

EMPREENDEDORISMO Junior Startup

ESPORTES Futebol de Campo Futebol Feminino Futsal Handebol Iniciação Esportiva Voleibol

GASTRONOMIA Culinária criativa

INGLÊS Inglês

MÚSICA Musicalização Violão

NOVAS TECNOLOGIAS Ciência e Tecnologia Aplicada (Robótica) Mundo Maker

PROJETO SOCIAL Quixotes Solidários

Fonte: Elaborado pela autora. Informações retiradas do site do colégio.

104

4.3 PROPOSTA DO CURSO DE VOLUNTARIADO EDUCATIVO: QUIXOTE

SOLIDÁRIO

A escola oferece o voluntariado educativo como curso extra para os alunos do colégio,

encontros nos quais podem trabalhar e desenvolver projetos de natureza filantrópica e

beneficente. O foco principal desse do curso é sensibilizar os alunos quanto às necessidades

do entorno de naturezas diferentes e promover ações de modo a possibilitar atuação social em

lugares diferentes.

O enfoque de voluntariado-educativo, neste contexto, baseia-se na ação

transformadora realizada por um grupo que, ao compartilhar seus objetivos e desafios com

seus pares, pode participar ativamente da comunidade, dessa forma, integrando cidadania,

solidariedade, dignidade e respeito por diferenças; valores fundamentais para a formação

pessoal e social de um indivíduo inserido em determinada cultura e em certo momento

histórico.

O grupo é formado por 23 alunos do 4º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Os

encontros acontecem uma vez por semana e têm duração de duas horas e meia. Os encontros

são ministrados em língua espanhola por duas professoras: professora-pesquisadora Marisol e

professora do Cervantes Solidário Alexandra Onias (Leky).

No final de cada processo/módulo, a comunidade é convidada para participar da

certificação dos alunos participantes, momento no qual os próprios alunos contam sobre o

processo vivenciado pelo grupo.

4.4 PARTICIPANTES

Todos os integrantes do projeto educativo de voluntariado autorizaram a nomeação e

exposição dos trabalhos, no entanto, mesmo com anuência dos responsáveis quanto à

participação, os nomes dos alunos do colégio, do Cáritas e das Senhoras do asilo foram

trocados para manter o anonimato e proteger a sua identidade.

Professoras do projeto:

Alexandra Onias

É pedagoga do Cervantes Solidário. Graduada em Magistério com especialização na

pré-escola, 1989, e em pedagogia, pela Universidade São Marcos, SP, em 2006. Trabalhou

como educadora na rede particular da educação infantil e do Ensino Fundamental, (Escola

105

Viva Vida, 1989/90/91 e Colégio Renovação, 2007/8/9) e como professora de espanhol no

SENAC-SP, 2000 a 2003 e na Instituição SOS Aldeias Infantis. Também é professora de

reforço escolar e arte-educação no Projeto Social Cervantes Solidário, Colégio Miguel de

Cervantes 2013/2018. Em 2017/8, atuava, então, como professora/facilitadora no curso

Quixotes Solidários (Empreendedorismo social).

Além disso, educadora e atriz realizou o curso de formação de ator no Centro Cultural

Saavedra, Bs As, em 1992/3 e no Teatro Pirandello, SP, em 1994. Fez o curso nomeado “Uma

voz em movimento”, coordenado por Madalena Bernardes, 1996, e integrou do Coral da

EMIA, 2009. Participou, durante dois anos, do curso de Butoh, na coordenação da professora

e atriz Flávia Pucci, que finalizou no espetáculo “Macbeth” de W. Shakespeare, 1995/6. Jazz,

dança-teatro, dança circular, foram algumas das modalidades de dança que cursou.

Atuou em várias peças de teatro e performances em Bs As e em São Paulo, como:

“Convivência Feminina” de Oscar Viale, com direção de Adolfo Valerga, 1992; “As

Troianas” de Eurípedes, com direção de Walter Portella, 1995/6; entre outras. Atuou e

manipulou bonecos em espetáculos infantis, como: “Los Títeres Del Mate”, 1993; foi

assistente de direção em obras de teatro, como: “Orquestra de Señoritas” de Jean

Anuilh,1992/3.

Atuante no grupo MUSICANTES sob coordenação de Carlos Kater; 2006 a 2012.

Com o grupo fez apresentações em escolas, hospitais, instituições, Casa das Rosas, SESCs,

parques e praças públicas, brinquedotecas e bibliotecas municipais, etc. Espetáculos: “Mão na

mão” e “O boi brasileiro”. Contadora de histórias desde 2010 e criadora da Cia Leque de

histórias. Desde agosto de 2017, trabalha também no curso de voluntariado no contraturno

com a pesquisadora.

Marisol P. S. Revollo Lage

Professora-pesquisadora ‒ psicopedagoga do Colégio Miguel de Cervantes. Mestranda

em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem LAEL/PUC-SP. Licenciada em Pedagogia:

habilitação em Administração e Supervisão Escolar, formação em Magistério, possuo

especialização em Didática Bilíngue pelo Instituto Singularidades. Especialização em

Orientação Profissional pelo Instituto Sedes Sapientiae e também em psicopedagogia e

alfabetização. Trabalhou no Colégio Assunção de 1993 a 2003. Já no Colégio bilíngue

espanhol/português desde 2004, iniciando como assistente, em 2006, passou a lecionar

Matemática e Ciências em Língua Espanhola e, desde 2014, trabalha na área de

psicopedagogia, também, é responsável pela política de inclusão e atenção à diversidade e

Integrante da Equipe PEA/UNESCO da Escola. Entre outras experiências de formação

106

contínua, participou de encontros de educadores e visitou escolas em Miami, Boston e New

York, Bolívia, Peru e fez workshop IB (International Baccalaureate) ‒ Liderança ‒ categoria

3. Como pesquisadora, é integrante do grupo de pesquisa Linguagem em Atividade no

Contexto Escolar (LACE), inscrito no CNPQ em 2014, que focaliza a formação de

educadores como agentes transformadores e alunos críticos-reflexivos e do Projeto de

Extensão Digit-M-Ed Hiperconectando Brasil. Foi convidada a coordenar o curso de

Voluntariado em junho de 2017, com início em agosto daquele mesmo ano e continua à frente

do projeto.

Alunos

3 alunas do 4º ano

3 alunos do 5° ano

3 alunos do 6º ano

3 alunos do 7º ano

5 alunos do 8º ano

6 alunas do 9º ano

Quadro 13 - Participantes da Pesquisa

Participantes Escolaridade Participação

1 Andrea 4º ano EFII ALUNOS – Os alunos têm participação ativa. As decisões são coletivas quanto: - Ao campo de atuação - Atividade social a ser realizada: divisão de tarefas e organização dos materiais.

2 André 5º ano EFII

3 Alice 4º ano EFII 4 Bernardo 5º ano EFII

5 Bárbara 6º ano EFII

6 Carolina 6º ano EFII

7 Carla 7º ano EFII 8 Daniel 7º ano EFII

9 Elvira 9º ano EFII

10 Gisele 9º ano EFII

11 Marcela 9º ano EFII

12 Maria 8º ano EFII

13 Marina 8º ano EFII

14 Maria Eduarda 8º ano EFII

15 Maria Laura 9º ano EFII 16 Nicole 8º ano EFII

17 Nina 8º ano EFII

18 Norma 7º ano EFII

19 Tatiana 4º ano EFII 20 Thais 5º ano EFII

21 Thaisse 6º ano EFII

22 Vanessa 9º ano EFII

23 Ximena 9º ano EFII Leky Professora do Cervantes Solidário

Marisol Psicopedagoga e pesquisadora Fonte: Elaborado pela autora.

107

Instituições visitadas

CÁRITAS SANTA SUZANA20

Essa instituição assistida pelos alunos do Quixote Solidário foi apresentada pelo

Cervantes Solidário e foi a primeira a ser visitada. A decisão deu-se pelo vínculo já

estabelecido, devido à proximidade da escola e à segurança. Nesse contexto, os alunos do

colégio propuseram atividades lúdicas e pedagógicas para as crianças do estabelecimento

visitado, como o ensino do espanhol por meio de dominó e jogos elaborados e confeccionados

por eles.

HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

A Cáritas Santa Suzana é uma das 70 unidades da Cáritas Diocesana de Campo

Limpo. Foi criada em 1999, por Dom Emílio Pignoli, então, bispo da Diocese, como fruto da

pastoral Social da Paróquia de Santa Suzana. Faz parte da Cáritas Brasileira, atuante no país

desde 1956, nascida pelas mãos de Dom Hélder Câmara.

Atua na área socioassistencial, com a educação de crianças e a capacitação profissional

de adolescentes, jovens e adultos, por meio de cursos, programas e projetos de apoio escolar,

desenvolvimento da cidadania, capacitação e colocação profissional. Atende cerca de 350

alunos por ano, em seus 14 programas regulares.

Os serviços oferecidos pela Cáritas Santa Suzana são totalmente gratuitos e suas

despesas são cobertas por doações de parceiros, paroquianos e vendas do bazar.

As atividades da Cáritas Santa Suzana são realizadas em instalações próprias. São

cerca de 480 m2 de área construída, em módulos de alvenaria ou de containers de transporte,

além de uma quadra de esportes coberta.

Em função do Projeto de Expansão, cujas obras foram iniciadas ao final de 2012, a

Cáritas vem atuando em instalações provisórias, adaptadas na quadra de esportes, o que levou

à interrupção de alguns projetos que não puderam ser alocados no espaço provisório, em

particular os técnicos (cozinha e cabeleireiro) e os esportivos.

Esses custos são cobertos por fontes permanentes de recursos. Os custos operacionais

da Cáritas Santa Suzana são reduzidos, em função do uso intensivo de colaboradores

voluntários.

20 Localização; Rua David Ben Gurion, 817 – Jd. Monte Kemel 05634-001 São Paulo – SP Brasil - [email protected] - Informações retiradas do site da instituição. Disponível em:<http://www.caritassantasuzana.org.br/quem-somos.php>.

108

Crianças e adolescentes

Os projetos realizados na Cáritas Santa Suzana, por meio da ação direta da própria

instituição e com o apoio de empresas, fundações e outras organizações sociais, recebem

crianças e adolescentes de seis a 18 anos, com atividades que se adaptam às diferentes faixas

etárias. Com o objetivo de desenvolver o conhecimento em diversas áreas, os jovens fazem

aulas de reforço escolar e língua estrangeira. São estimulados ao hábito da leitura e ao contato

com variadas expressões culturais.

A partir de palestras, cursos e outras ações educativas, visam contribuir para melhor

desempenho na escola e habilitam para estudar nas faculdades técnicas e universidades. Nos

últimos anos, mais de 30 jovens que participaram das atividades educacionais da Cáritas

Santa Suzana chegaram à universidade e capacitaram-se para cursar as faculdades de direito,

arquitetura, jornalismo, pedagogia, ciências da computação e contábeis, relações

internacionais, entre outras.

A promoção da prática esportiva também está entre os objetivos das parcerias

mantidas pela entidade, com crianças e adolescentes recebendo aulas de tênis e capoeira, além

de outras modalidades que estimulam o convívio social e o desenvolvimento físico e mental

dos alunos.

Os programas da Cáritas Santa Suzana têm sempre a preocupação de educar para a

cidadania, desenvolvendo competências de interação e participação social, possibilitando que

seus jovens se transformem em multiplicadores do conhecimento nas comunidades das quais

fazem parte.

Assistência às Famílias

O trabalho desenvolvido pela Cáritas Santas Suzana estende-se às famílias de crianças

e adolescentes atendidos nos seus diferentes programas com atuação na área de serviço e

assistência social.

Com a participação de assistentes sociais e o apoio de estagiários, as famílias em

situação de fragilidade são recebidas na sede da Cáritas Santa Suzana ou recebem visitas

domiciliares. De acordo com as circunstâncias identificadas no contato com a família, os

profissionais da Cáritas Santa Suzana encaminham as pessoas ao Conselho Tutelar, às

Unidades Básicas de Saúde e Educação ou ao mercado de trabalho.

Participantes do Cáritas

- 15 alunos entre 7 e 13 anos

109

Quadro 14 - Alunos do Cáritas

Nomes Idades Luiza 8 Maria 12 Wellington 15 Lucia 7 Marcos 9 Pedro 9 Felipe 12 Tatiana 14 Sofia 15 Luis 15 André 10 João 12 Elisabete 7 Grassinete 7 Jair 7

Fonte: Elaborado pela autora.

Lar Abrigo - Comunidade Pentecostes

Por sua vez, o lugar escolhido para o trabalho com idosos foi o Lar Abrigo21 -

Comunidade Pentecostes e as moradoras. O Lar Pentecoste é uma casa simples, com algumas

adaptações para as necessidades das idosas. A casa, que atualmente abriga onze senhoras, foi

fundada há 20 anos e sobrevive de doações da iniciativa privada e de voluntários.

Participantes Lar Pentecostes

O Lar é coordenado por Helena Naorny, no início, o lar era composto por uma

grande equipe. Hoje, no entanto, conta com penas três: ela e mais duas pessoas. Duas

funcionárias: uma cozinheira e uma enfermeira. Alguns voluntários oferecem

serviços de fisioterapia, arte, recreação, acompanhamento médico, entre outros.

Doze senhoras que vivem na casa com idades entre 70 e 95 anos.

21 Situado na Rua Jorge Alves Ferreira, 140 - Jardim Colombo, São Paulo - SP, 05625-100.

110

Quadro 15 - Participantes do Lar Pentecoste

Participantes Participação

1 Marlene Moradoras do asilo. As Sras. participaram das Atividades sociais elaboradas pelo grupo de alunos do projeto Quixote Solidários

2 Joana

3 Zuleika

4 Mercedes

5 Raquel

6 Gertrudes

7 Maria da Conceição

8 Luana

9 Benedita

10 Marta

11 Amanda

12 Karina

Helena Naorny – coordenadora do asilo Andreia – enfermeira Joelma - cozinheira

Fonte: Elaborado pela autora.

No próximo item, faz-se breve descrição de algumas tarefas do curso para explicar

como ocorreram as decisões sobre o lugar para desenvolver o trabalho voluntário.

Curso de Voluntariado Quixote Solidário

Funcionamento:

Os encontros do curso de voluntariado foram inicialmente organizados, planejados e

ministrados por mim junto a pedagoga do Cervantes Solidário, assim que teve início em

agosto de 2017 (1º módulo: Cáritas). Nesse primeiro módulo, os alunos exploraram os

campos possíveis de atuação, a escolha já havia sido feita pelas idealizadoras do curso que

levaram em conta a proximidade do colégio e a parceria que já existia entre o Cervantes

Solidário e a instituição.

As responsáveis (professoras do Cervantes Solidário e professora-pesquisadora do

Colégio Miguel de Cervantes) dispuseram de horário semanal para elaboração do

planejamento e discussão das atividades propostas e avaliação do processo. A partir do 2º

módulo, em fevereiro de 2018, os planejamentos foram elaborados com os alunos, assim

como as atividades a serem desenvolvidas e os locais de trabalho.

Os encontros tiveram como objetivo possibilitar a tomada de consciência das

necessidades sociais e planetárias, embasando-se em leituras e vídeos cuja intenção foi

propiciar a argumentação crítica e colaborativa e construir o conceito de voluntariado e,

coletivamente, definir e elencar as ações, os encontros ocorreram em língua espanhola pelo

caráter bilíngue da instituição.

111

Os encontros foram planejados com quatro etapas definidas, a saber:

1ª - Etapa: Levantamento do conhecimento prévio sobre voluntariado. Após a

apresentação dos integrantes do grupo Quixote Solidário, os alunos escreveram em papéis o

que significava para eles trabalho voluntário. Após a escrita, juntaram-se em duplas para

conversar sobre o trabalho voluntário, como saber se conhecem alguém que já faz algo

similar, saber mais sobre as expectativas, entender o que os levou a inscrever-se no curso, em

seguida, compartilharam com grupo.

Nesse encontro foi realizada uma apresentação sobre o voluntariado (Anexo A - Power

Point elaborado pela professora do CAS – IB). Esse material apresentou aos alunos os nichos

diferentes de atuação e algumas características sobre ser voluntário, trabalhar de maneira

voluntária.

2ª - Etapa: Investigação e pesquisa dos temas levantados pelos alunos nos dois

primeiros encontros: expectativas nos nichos a serem assistidos. Após a breve retomada sobre

o primeiro encontro, cada aluno escreveu o lugar que gostaria de atuar e explicou o porquê,

em seguida, todos em círculo, apresentaram propostas. A professora Alexandra conduziu o

grupo, e a professora-pesquisadora construiu um gráfico com as respostas.

3ª - Etapa: Apresentação do gráfico e plano de ação. Nesse encontro, o gráfico com as

expectativas de lugar para o trabalho voluntário foi apresentado. Em primeiro lugar foi a

atenção às pessoas idosas – visita a um asilo. Em segundo lugar, os alunos quiseram trabalhar

com proteção animal, em terceiro lugar, elaborar plano de ação e intervenção em escolas que

atendem crianças portadoras de deficiência. Como tarefa, professoras e alunos pesquisaram

asilos que pudessem ser visitados.

4ª Etapa: Visita à instituição escolhida e levantamento das necessidades observadas na

instituição e elaboração do plano de ação. De acordo com a tomada de decisão coletiva, o

primeiro trabalho voluntário foi no asilo “Lar Pentecoste”. A primeira visita teve como

objetivo principal conhecer as moradoras e colaboradoras do asilo, observar e entrevistar a

todas, na medida do possível. Para esse encontro os alunos levaram bolos, doces e salgados

para compartilhar e estabelecer relação.

A partir desse encontro, os alunos construíram planos de ação e intervenção. Dentre as

Atividades Sociais propostas, cabe ressaltar:

- Participar de um Show de Talentos

- Participar em Atelier de Pintura

- Ir ao Salão de beleza

- Ir a uma Festa Junina

112

Somado a isso, tendo como base a conexão entre a ideia de desencapsular e a

organização do currículo pautado na Atividade Social, foi adotado como recurso os

multiletramentos22 como proposta nas aulas no voluntariado educativo.

Portanto, a asserção da perspectiva dos multiletramentos norteou o trabalho a ser

desenvolvido no projeto, pois Cope e Kalantzis (2000) são consensuais ao argumentarem que

as mudanças sociais e as diferentes formas de comunicação desbravam novos caminhos para o

processo do ensino-aprendizagem. Nos encontros foram contemplados os três conceitos

centrais o uso das múltiplas mídias, a multimodalidade e a multiculturalidade e a integração

de quatro fatores para a organização do trabalho didático: prática situada, instrução evidente,

enquadramento crítico e prática transformada.

Os excertos foram retirados da Atividade Social: participar de um “Atelier de Pintura”,

no entanto na seção de anexos há registros das outras Atividades Propostas no Lar Pentecoste.

22 Planejamento e organização ao final do material, nos apêndices.

113

“No puede impedirse el viento, pero hay

que saber hacer molinos”

Don Quijote de la Mancha

Fonte: disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Sancho_Panza#/media/File:Don_Quichotte_Honor%C3%A9_Daumier.jpg

114

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção, apresentam-se os dados selecionados. Como já abordado, os dados foram

escolhidos de acordo com os seguintes critérios:

1º critério: escolha de dados que respondessem às questões de pesquisa, foram

selecionadas fotografias e gravações de áudio que contestassem as perguntas.

2º critério: descrição todas as atividades com os quais esses dados estavam

correlacionados.

3º critério: seleção de episódios vistos pelo grupo e pela professora-pesquisadora

como mais impactantes – eventos dramáticos.

Nas subseções desta parte do texto, os dados selecionados para análise foram

discutidos a partir das seguintes premissas:

1. Descrição dos encontros considerando as categorias enunciativas.

2. Apresentação dos excertos relevantes: respostas, desenhos, transcrições,

imagens fotográficas, filmes e, na sequência, a análise a partir da pergunta de

investigação.

3. Análise dos aspectos multimodais e discursivos e linguísticos e com base na

gramática visual que respondem às perguntas de acordo à fundamentação

teórica apresentada.

Desse modo a apresentação dos dados e análises serão feitas na seguinte organização:

Na continuidade, serão descritos alguns encontros realizados no asilo e na escola e que

foram escolhidos como dados importantes a serem analisados para responder à primeira

pergunta: Que tipos de agência são construídos no curso de voluntariado educativo?

Para responder a essa questão, foram selecionados e analisados os seguintes encontros:

- Encontro n.º 7 Atividade Social: Participar de um Atelier de Pintura – na qual a

materialidade dos dados são imagens fotográficas com base na análise multimodal e da

gramática visual.

- Encontro n.º8 – Avaliação da Atividade Social Atelier de Pintura – na qual a

materialidade dos dados são as transcrições por meio da análise do discurso.

- Encontro n.º 9 – Venda das telas produzidas na Atividade Social: a materialidade

dos dados são as transcrições por meio da análise do discurso e imagens fotográficas com

base na análise multimodal e da gramática visual.

- Tarefa independente: Proposta de difusão do trabalho dos Quixotes Solidários –a

materialidade dos dados são as transcrições por meio da análise do discurso e imagens

fotográficas com base na análise multimodal e da gramática visual.

115

A partir das agências observadas nos excertos supraelencados, para responder à

primeira pergunta, investigou-se a materialidade de dados dos encontros, as transcrições das

discussões e as tarefas que poderiam ter propiciado a construção ou expansão das agências.

Com base nisso, foram selecionados três encontros e, dessa maneira, procurou-se responder à

segunda pergunta de pesquisa. Encontros selecionados para análise:

- Encontro n.º 2 – Atividade inserida na prática situada: Performance – imagens.

- Encontro n.º 3 – Brincar - Desafios com restrições – imagens.

- Encontro n.º 17 - Encerramento do módulo: Avaliação de todo o trabalho realizado -

atividades gráficas e multimodais.

5.1 TRABALHO VOLUNTARIADO REALIZADO NO LAR PENTECOSTES

Para responder à primeira pergunta da investigação foram selecionados três encontros.

O primeiro foi a atividade social de participar de uma aula de pintura – Atelier de Pintura.

Nesse encontro, os alunos levaram os materiais ao asilo e pintaram telas com as idosas. Esse

encontro foi escolhido porque foi gerador de avaliação, reflexão e propiciou algumas

possíveis agências.

A segunda atividade escolhida para analisar e interpretar foi a aula destinada a avaliar

a atividade social. A avaliação foi realizada por todos os alunos na sala de aula do colégio. A

relevância desse encontro foi a discussão e a tomada de decisão pelo grupo, quando foi

possível observar pontos de vistas diferentes, preocupações e contradições.

A terceira e última aula selecionada foi a aula na qual os alunos discutiram sobre o

futuro das telas pintadas pelas idosas e idealizaram a transformação das telas em jogos-

americanos para serem vendidos nas festas do colégio. Esse encontro escolhido para análise

propiciou o desenvolvimento de agências, tomada de decisão e ação de todos os envolvidos.

Para analisar os tipos de agências que foram construídos no curso de voluntariado nos

três encontros selecionados, estes foram investigados a partir da fundamentação teórica

organizada no quadro já apresentado nos procedimentos de seleção, análise e interpretação de

dados, a seguir, retomando-o para melhor compreensão:

116

Quadro 16 - Tipos de agência e aspectos

AGÊNCIAS AÇÕES AGÊNCIA CRÍTICO -COLABORATIVA (MAGALHÃES; NININ, 2017)

Expressar sem receio pontos de vista, dúvidas, medos e emoções

Acolher membros para sentimento de confiança e cumplicidade

Acompanhar com responsabilidade e compromisso

Expandir o próprio entendimento a partir do compartilhamento com outros modos de pensar

Oportunizar momentos de fala, questionamento, argumentação, discordância, e explicação de ideias

AGÊNCIA DESENCAPSULADA (LIBERALI, 2017)

Compreender seu poder de transformação em contextos diversos Partir da mobilidade em diferentes atividades Focalizar na transformação de repertórios Superar papéis e espaços Agir em diferentes atividades Desencapsular papéis

AGÊNCIA ATIVISTA TRANSFORMADORA (ENGESTRÖM, 2007; 2011; STETSENKO, 2017)

Agir com intencionalidade em situações controversas Romper com quadros estabelecidos Analisar o contexto Prever situações Transformar a prática e/ou contexto

AGÊNCIA RELACIONAL (EDWARDS, 2007; 2011);

Responsabilizar-se com o outro Comprometer-se de modo consciente com o outro Questionar com o intuito de dar suporte Negociar e práticas dialéticas

Fonte: Elaborado pela autora.

Em continuidade, na sequência, descreve-se a Atividade Social “Participar de um

atelier de pintura”, na qual os alunos do Quixotes Solidários propuseram a aula de pintura em

tela.

Encontro n.º 7 - Atividade Social: participar de uma aula de pintura - Atelier de Pintura em

4/4/2018

117

A Atividade Social participar de uma aula de pintura no Atelier de Pintura foi

realizada no asilo Lar Pentecoste. Os alunos idealizaram a aula de pintura a partir das

observações feitas no primeiro dia que foram conhecer o asilo, pois observaram que algumas

das idosas ficavam colorindo mandalas. A partir disso, os alunos elaboraram a atividade social

“Participar de um atelier de pintura” e desenvolveram uma aula de pintura em tela com o

objetivo de propiciar um momento no qual as residentes do asilo pudessem participar,

aprender, mas também ensinar aos alunos do Quixote Solidário uma atividade artística.

Para tanto, os alunos organizaram-se em grupos para levar os materiais e dividir as

tarefas. A decisão foi feita pelo grupo para otimizar o tempo. Os critérios de seleção dos

componentes do grupo foram feitos de acordo à preferência de tarefa e complexidade.

Participaram desse encontro: Andrea, André, Alice, Bernardo, Bárbara, Carolina, Carla,

Daniel, Elvira, Gisele, Marcela, Maria, Marina, Maria Eduarda, Maria Laura, Nicole, Nina,

Norma, Tatiana, Thais, Thaisse, Vanessa, Ximena; as professoras Alexandra e Marisol;

Marlene, Joana, Zuleika e Mercedes, residentes do asilo.

Acolhida:

Após saudar as idosas e funcionárias e assumir o papel de formadores da atividade, os

alunos anunciaram que haveria uma atividade muito interessante. Os formadores colocaram

os materiais em cima de uma mesa central que comporta dez pessoas e é utilizada para fazer

as refeições no dia a dia. Dentre os materiais disponibilizados para atividade, visualizavam-se:

cavaletes com as telas, tintas com cores diferentes espalhadas pela mesa e cinco godês. As

senhoras foram convidadas uma a uma para participarem da aula de pintura, no entanto só

duas aproximaram-se da mesa. O grupo, então, resolveu levar a tela e o godê com tintas para

cada uma delas, em diferentes espaços. Dessa maneira, a grande maioria das idosas começou

a interagir e a pintar.

O objetivo do encontro foi trabalhar a Atividade Social – Participar de uma aula de

pintura – Atelier de Pintura. Segundo Liberali (2013), o objetivo da Atividade proposta era

propiciar momentos agradáveis, aguçar a criatividade de todos os participantes. Os alunos

queriam provocar a adesão de todas as moradoras do asilo e, ao mesmo tempo, propiciar

experiências interessantes.

Desenvolvimento:

Assim que o convite foi feito, duas senhoras aproximaram-se e sentaram-se com o

intuito de acolher a atividade. Uma delas demonstrou proatividade, pois foi logo pegando o

pincel e pedia tintas, a outra demonstrava receio de errar e estragar a tela, mas manifestava

curiosidade e vontade. As alunas que estavam próximas às senhoras foram ajudando-as e

118

incentivando-as a pintarem. No entanto as outras idosas não demonstraram envolvimento no

início. Fato que exigiu reajustes e adaptações na execução da atividade.

Encerramento:

Assim que findou o tempo da permanência no asilo, os alunos organizaram os

materiais e limparam o lugar.

Carolina abraçou a Cida, uma das residentes, e parabenizou-a pelo trabalho realizado.

Concomitantemente os outros alunos começaram a fazer o mesmo. Nesse momento, Carolina

perguntou às professoras o que se ria feito com os trabalhos das senhoras. Foi então que

Marina, aluna do 8º ano, propôs levá-los ao colégio para enfeitar as paredes dos clusters

(agrupamento de salas). Assim que a aluna propôs o lugar para expor as telas, André

verbalizou que deveriam pedir permissão às idosas para levar os trabalhos e expô-los, a

professora Alexandra parabenizou pelo cuidado e zelo com os trabalhos alheios. Assim os

alunos foram pedindo a cada uma das idosas permissão para levar os trabalhos para a escola.

Assim que chegaram ao asilo, propuseram a Atividade Social: Participar de um Atelier

de Pintura, no entanto algumas idosas não atenderam ao chamado dos alunos. A aluna Nicole,

inconformada por só duas senhoras se sentaram para pintar, resolveu levar um dos cavaletes

para uma senhora que estava em outro cômodo, na sala. Prontamente, os outros alunos

fizeram o mesmo.

A aluna acomodou o cavalete em cima de uma mesa pequena, colocou a tela sobre a

mesa e o godê com tintas sob o cavalete. Assim que tudo foi organizado, D. Marlene começou

a pintar a tela. Pode-se aferir a tomada de decisão da aluna como agência relacional, pois,

segundo Edwards (2007; 2011), a agência relacional invoca responsabilidade, compromisso

consciente com o outro (LIBERALI, 2013). A aluna, quando tomou a decisão de levar o

material até a idosa, compreendeu que possivelmente havia alguma restrição motora e física

por parte de D. Marlene, e isso poderia ser empecilho para o trabalho; porém pode-se supor

que essa inciativa, que foi seguida por outros participantes, contemplou-se como

compromisso com a idosa e com o objetivo proposto (Fotografia 1- Excerto 1). Também é

possível visualizar a agência ativista transformadora, na qual alguns aspectos como situações

controversas nas quais é necessário analisar e redesenhar implicam em ações inovadoras.

Outro recorte selecionado ocorreu ao longo da mesma atividade, a questão era a

negação da Sra. Joana, que estava sentada à mesa, em participar da Atividade (Excerto 2 e

2a), porém o aluno Daniel logrou iniciar e finalizar a tela com a Sra. Ainda, na mesma

atividade, duas alunas, a exemplo de Nicole, aproximaram-se da idosa Zuleika, que apresenta

sérias restrições sensoriais e físicas, e interagiram de modo que também ela conseguisse

119

elaborar a pintura e realizar as atividades. Outra situação selecionada, no mesmo contexto,

ocorreu com as alunas Maria e Tatiana, quando se depararam com a idosa que fica acamada e

não interage com regularidade com as pessoas (Excerto 4).

Quadro 17 - Residentes do asilo e formadores do Atelier de Pintura (Fotografia 1).

FOTOGRAFIA 1 – Excerto 1

DESCRIÇÃO ANÁLISE DE IMAGENS

GRAMÁTICA FUNCIONAL A imagem do Excerto 1 apresenta a aluna Nicole e D. Marlene. Ambas estavam na sala de televisão. A aluna organizou o material para pintura sobre uma pequena mesa retangular de centro. Sobre a mesa, estavam o cavalete com uma tela e, sobre o cavalete, o godê com a tinta. A idosa aparece em primeiro plano, à sua frente está o cavalete e a tela. Logo abaixo o godê com tinta vermelha. Ao lado esquerdo da idosa, está a aluna Nicole. A aluna mantém o olhar na tela que está sendo elaborada pela idosa. Ambas estão olhando para tela, a idosa com o objetivo de pintar; e a aluna parece acompanhar com o olhar os traços do pincel na tela. Pode-se sugerir que a senhora desenha flores vermelhas.

Com base na gramática Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), a imagem acima representa uma narrativa, pois apresenta dois participantes (aluna e a idosa) e há a presença de vetores – as mãos levadas para cima com um instrumento, o pincel, e sugere a ação de pintar; Essa representação narrativa é realizada pelos processo de ação transacional, visto que a ação compreende dois participante e um vetor.

Fonte: Acervo do banco de dados da autora.

Os olhares da aluna e da idosa para a tela e as cabeças próximas supõem o

envolvimento e a cumplicidade para atingir o objetivo proposto. Ambas, aparentemente, estão

sorrindo. Isso pode levar à interpretação de engajamento pelo fato corresponder à expectativa

da aluna ao pintar o quadro. A proximidade das cabeças e a inclinação do corpo da aluna

sugerem aproximação e atenção com o trabalho da Sra. Marlene. A idosa, por sua vez,

apresenta tranquilidade e parece confortável para pintar a tela, uma vez que esboça um sorriso

que transmite prazer.

120

Desse encontro, pode-se aferir, de acordo com Vygotsky (1934), a possibilidade de a

aluna ter experienciado perejivánie, visto que se experimentou um evento dramático e, assim,

cada sujeito foi afetado e refrato da experiência. No excerto selecionado, pode-se aludir que o

encontro propiciou o desejo e culminou na realização da proposta, pois a finalizaram a

contento apesar de o início ter sido desafiador para ambas. O pesquisador supracitado destaca

a perijivánie como um prisma que refrata elementos externos, e isso pode significar que a

perijivánie pode estar relacionada ao modo como as pessoas se constituem e transformam-se

em agentes.

O aluno Daniel ficou com a Sra. Joana, que estava sentada junto à mesa, porém

negava-se a pintar, mostrava-se receosa para iniciar a pintura. O aluno apresentou as cores,

começou a mexê-las com o pincel, logo, colocou na mão dela, ele segurou a sua mão; outra

colega foi mostrando a ela como pintar com o pincel no canto da tela. Essa ação sugere

agência transformativa ‒ os alunos que estavam próximos e que se depararam com a situação

inusitada ‒ a negação da execução da proposta, tiveram que redesenhar a atividade proposta; e

essa agência, para Engeström (2006), surge da contradição, dos conflitos que afloram a partir

dos sujeitos em contextos coletivos (LIBERALI, 2013). Também, é possível elucubrar a

presença da agência relacional, pois a habilidade e a preocupação dos sujeitos de trabalharem

juntos propiciou um aos outros, alicerce para expansão do objeto (EDWARDS, 2007). A

senhora que, no início, mostrava-se resistente, começou a pintar (fotografias 2 e 3 – Excerto

2). Após a pintura da tela, a senhora ficou olhando a tela por alguns minutos e começou a

chamar os alunos que estavam próximos a ela para mostrar o que tinha feito. Segue o excerto.

A seguir, apresenta-se o Excerto 2, a imagem traz o aluno Daniel e a idosa Joana,

sendo possível aferir, após a análise, a possibilidade da agência desencapsulada.

121

Quadro 18 - Daniel e D. Joana (Fotografia 2)

FOTOGRAFIA 2 – EXCERTO 2

DESCRIÇÃO ANÁLISE DE IMAGENS GRAMÁTICA

FUNCIONAL D. Joana estava sentada na cabeceira da mesa. Está em primeiro plano, utiliza um gorro de lã laranja com detalhes verdes na borda. O aluno Daniel está em pé ao lado direito de sua aluna (idosa) Os participantes estão próximos e os dois dirigem o olhar e a ação para o trabalho de pintura. Sobre a mesa é possível visualizar a tela, uma caixa de tintas e tintas nas cores marrom, amarela e rosa. O estudante segura, com as suas duas mãos, a mão de D. Joana com o objetivo de colorir a tela. No canto superior direito, aparece o braço de uma aluna com o celular, provavelmente, fotografa a cena.

A imagem acima representa uma narrativa, pois apresenta dois participantes que são captados durante uma ação. O aluno (só aparece uma parte dele e da idosa) há a presença de vetores – as mãos estão sobrepostas e sugerem a ação transacional, com um instrumento o pincel e parte da tela. A função de interação estabelecida com o leitor é impessoal, no entanto a distância apresentada sugere um close-up – plano fechado na intenção de expor, dá ênfase à interação entre os participantes da imagem. A imagem é observada de um ponto de vista superior, fato que sugere maior poder ao leitor.

Fonte: Acervo do banco de dados da autora.

A disposição dos participantes (idosa e aluno) revela a interação deles e a

reciprocidade da idosa à inciativa do aluno para colorirem a tela juntos. O enquadramento da

fotografia capta as mãos segurando o pincel e o ângulo apresenta o aluno, os materiais e a

idosa. O gesto do aluno de segurar a mão da idosa para colorir a tela sugere apoio e incentivo

à senhora, parece encorajá-la a iniciar.

Pode-se sugerir que o momento propiciou desafio para os alunos que levaram a

proposta, pois a aluna que se encontra no canto superior direito teve a necessidade de registrar

o momento. Nessa situação, pode-se conferir a relevância do repertório conforme aponta

Blommaert (2013). O autor confere o repertório como conjunto de recursos disponíveis e

utilizados pelos sujeitos.

122

Nessa perspectiva, pode-se elucubrar que o repertório permite relacionar as histórias

vividas aos repertórios por meio de experiências pensadas para criação de eventos dramáticos,

nos quais a vivência emocional tem potencial intenso e pode ser experimentado

individualmente, mas, também, compartilhada, dessa maneira, construindo repertório e

propiciando mobilidade de pessoas transformadoras. Nessa esteira, pode-se pensar a presença

de agência desencapsulada, quando o aluno fez uso do seu repertório, ampliando-o e

favorecendo a ampliação do outro, propiciando mobilidade. No recorte selecionado, pode-se

aventar que o aluno recorreu a uma experiência vivida por ele como aluno, possivelmente em

experiência de aprendizagem e fez uso com a idosa: segurou-lhe a mão e incentivou-a a

iniciar e como consequência, expandiu o seu próprio repertório e o da idosa.

O Excerto (2A), a seguir, também é um registro de imagem, e mostra a sequência e

efeito fruto da intervenção feita pelo aluno para a realização da proposta da Atividade Social:

Atelier de Pintura.

Quadro 19 - Idosa Joana

FOTOGRAFIA 3 – EXCERTO 2A

DESCRIÇÃO ANÁLISE DE IMAGENS GRAMÁTICA

FUNCIONAL A imagem mostra a idosa Joana após a aula de pintura. À sua frente encontra-se a tela pintada por ela em parceria com alguns alunos. Em segundo plano, aparece um móvel branco e, próximo a ele, o andador da idosa. Apoiada com o braço direito no andador aparece uma aluna. Pode-se aferir que está observando a tela pintada pela idosa (a idosa chamava as pessoas para olharem a pintura).

A fotografia acima representa uma narrativa, pois apresenta dois participantes. Aparece uma parte da aluna e a idosa, - pois o vetor corresponde à linha do olhar da idosa e transacional, pois é possível identificar o vetor – aparece na imagem parte da tela, portanto é possível afirmar que a idosa está olhando para ele. Há pano de fundo na imagem e é possível observar as circunstâncias da fotografia (andador da idosa e o armário atrás).

Fonte: Acervo do banco de dados da autora.

O olhar da idosa para o quadro pintado por ela e aparentando um sorriso sugere

satisfação pelo trabalho finalizado e contentamento por ter conseguido, pois, no início, ela

123

estava receosa de pegar nos materiais e iniciar o trabalho. A idosa permaneceu alguns minutos

olhando a tela, observando os detalhes, em seguida começou a chamar as pessoas que

passavam por ela para mostrar o seu trabalho.

Se os afetos podem contribuir para criar momentos de constância e dissonância,

significa que o modo como os seres interagem é determinante para o potencial de ação dos

sujeitos. Na situação descrita, quando a idosa chama as pessoas que passam por perto para

olharem o seu trabalho, pode-se deduzir que o encontro aumentou o conatus e a potência de

existir.

O próximo excerto traz duas alunas e uma idosa. A imagem foi selecionada porque

retrata uma ação que possivelmente as propiciou agências desencapsulada e relacional.

Quadro 20 - Gisele, Alice e Zuleika (Fotografia 4).

FOTOGRAFIA 4 – EXCERTO 3

DESCRIÇÃO ANÁLISE DE IMAGENS

GRAMÁTICA FUNCIONAL Nessa imagem é possível ver as participantes no plano inferior. As três participantes: idosa Zuleika e as alunas Gisele e Alice. Nessa imagem, a aluna Gisele está sentada ao lado direito da idosa. A aluna, aparentemente, segura o cabelo com a mão direita; e a mão esquerda sobre a sua perna esquerda, cria espaço para a idosa, mas mantém proximidade. A aluna Alice mantém o pincel na mão direita e a idosa demonstra ter compreendido e faz traçados na tela. As três participantes mantêm o olhar sobre a tela, a aluna Gisele pinta juntamente com a idosa, a aluna Alice observa e acompanha o trabalho de ambas.

Com base na gramática Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), a imagem acima representa uma narrativa, pois constrói experiência como um evento em determinado tempo e espaço. Há presença de três participantes, duas alunas e uma idosa, há também vetores que indica ação, é possível identificar o braço da aluna no braço da idosa e ambas com instrumentos – pincéis – insinuando movimento. O processo de ação é transacional pelo fato pois há mais de um participante.

Fonte: Acervo do banco de dados da autora.

A aproximação das três participantes sugere cumplicidade com o trabalho efetuado. O

fato de a aluna ter pintado concomitantemente com a idosa pode-se supor que tentava dar

apoio e incentivo. O gesto e a postura da aluna Alice de acompanhar e observar demonstraram

atenção pelo trabalho que estava sendo realizado.

124

O ângulo da fotografia (vertical) possibilita observar a proximidade das três e observar

a compreensão da senhora Zuleika, que, apesar de todas as suas restrições, compreendeu a

tarefa e envolveu-se na execução.

A aluna Alice resolveu, junto com Gisele, seguir o exemplo do colega Daniel. As duas

meninas levaram todo o material necessário para Zuleika, de 94 anos, que apresentava sérias

restrições físicas e sensoriais (não enxerga e não escuta bem). Alice ajoelhou-se ao seu lado, e

Gisele explicou-lhe que fariam, juntas, uma pintura. Então, Gisele abraçou-a e foram

desenhando as três juntas (fotografias 4 e 5 - Excerto 3 ‒ analisados em dois ângulos e dois

momentos seguidos). Esse recorte assinala também a agência relacional, pois há a

preocupação do trabalho executado junto ao outro e a interação dos envolvidos para a

realização do objetivo proposto, conforme indica Edwards (2007, 2011). Do mesmo modo é

possível vislumbrar a agência desencapsulada (LIBERALI, 2017), pois há indícios de relações

frequentemente negociadas e produzidas por todos os envolvidos na atividade e, com isso,

prediz oportunidades de mudanças e a mobilidade e ampliação de repertório presente. O fato

de os papéis estarem em jogo, implica a compreensão do seu papel, a importância do outro e a

relevância de compartilhar com o outro, de forma a reconhecer no outro um suporte para si

mesmo.

Outra situação desafiadora ocorreu no mesmo dia e ao longo da mesma atividade,

Maria, uma das alunas do projeto, logo percebeu que a Sra. Mercedes, de 95 anos, que vive

acamada, não poderia participar. Segundo a aluna, não havia modo de acomodar o cavalete.

Maria, preocupada com o isolamento da Sra. Mercedes, resolveu ficar no quarto conversando

e propondo a fabricação de uma pulseira feita com lãs e linhas coloridas, pois seria uma

proposta de Atividade Social para um próximo encontro. Maria queria apresentar ao grupo

uma “Oficina de Pulseiras” e, portanto, contava com o material (fotografia 6 - Excerto 4).

A aluna dividiu-se nos espaços para acompanhar a senhora Mercedes e as outras

idosas que estavam nos outros cômodos: sala de jantar e sala de estar, e chamou a colega

Tatiana para ajudá-la, como segue no excerto a seguir.

125

Quadro 21 - Alunas Maria e Tatiana – idosa Mercedes

FOTOGRAFIA 5 – EXCERTO 4

DESCRIÇÃO ANÁLISE DE IMAGENS GRAMÁTICA FUNCIONAL

A imagem traz a aluna Maria e a idosa Mercedes. Em primeiro plano, aparece a aluna Maria em pé ao lado da colega Tatiana – da qual se consegue ver os braços segurando três rolos de linhas nas cores: vermelha, laranja e amarela. As duas alunas estão ao lado da cama onde se encontra a idosa Mercedes. A idosa dirige o seu olhar para as alunas, cabeça para o lado direito, tem a face em direção delas e o corpo para o lado esquerdo. É possível aferir, pela imagem, que a Sra. Mercedes interagiu com elas.

Com base na gramática Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), a imagem acima representa uma narrativa, pois retrata três participantes que realizam uma ação. O processo realizado é transacional visto há participação dos integrantes e a presença de vetores, que sugerem ação, a idosa, por exemplo, inclina o corpo em direção às alunas, em primeiro plano, aparece parte do corpo da aluna com instrumentos em suas mãos – são rolos de lã. Na imagem é possível observar o pano de fundo que anuncia o tempo e as circunstâncias da imagem. O processo de ação realizado é transacional, uma vez que a ação envolve mais de um participante. Aparece uma parte da aluna e a idosa, pois o vetor corresponde à linha do olhar da idosa e transacional, sendo possível identificar o vetor – aparece na imagem parte da tela, portanto é possível afirmar que a idosa está olhando para ele. Há pano de fundo na imagem e é possível observar as circunstâncias da foto (andador da idosa e o armário atrás).

Fonte: Acervo do banco de dados da autora.

O ângulo da fotografia permite ver a senhora Mercedes acamada e a aluna próxima a

ela. É possível observar os olhares recíprocos. O corpo da senhora está levemente inclinado

para o lado direito, no entanto, a cabeça e o olhar dirigem-se para a aluna. A posição permite

aventar que a idosa presta atenção ao que a aluna propõe, mostrando interação entre ambas.

Nesse recorte selecionado, pode-se sugerir a presença da agência transformadora. De

acordo com Stetsenko (2017), a agência transformadora é constituída de trabalhos de

colaboração em situações nas quais os sujeitos analisam e redesenham as atividades e desse

modo que mobilizam uma ação transformadora. De acordo com a autora citada, a ação

transformadora surge em resposta a situações controversas e geram mudanças. Nos excertos

126

selecionados e descritos, é possível observar que o grupo de alunos, quando elaborou a

atividade social, não previu que a restrição física e sensorial das participantes poderia

comprometer o andamento da atividade proposta. No entanto pode-se aludir que ativaram

processos que vislumbram agências: colaborativa e transformadora e também a agência

desencapsulada (LIBERALI, 2017), pois o fato de a aluna perceber que a atividade proposta

não poderia ser realizada por uma das idosas, intencionalmente, propondo, então, outra

atividade na qual a senhora poderia participar, fez uso da mobilidade e com isso ampliação de

repertório.

A partir dos dados expostos, pode-se sugerir a presença e o desenvolvimento de

agências, como já abordado, mas pode-se também considerar a ampliação de repertório na

perspectiva de Busch (2015), quando propõe a discussão de repertório, concebendo-o como

recursos construídos mediante processos intersubjetivos, localizados na fronteira entre o “eu”

e o “outro”. Para a pesquisadora, o repertório modifica-se a partir das vivências e das inter-

relações.

Nessa perspectiva, a Atividade Social “Participar de uma aula de pintura – Atelier de

Pintura” possibilitou a ampliação de recursos linguísticos, culturais, pois proporcionou

experiências e eventos dramáticos nos quais a vivência emocional foi intensa. Pode-se

detectar essa possibilidade pelo fato de os alunos terem se deparado com uma situação

inesperada que a dificuldade de levar a cabo a tarefa proposta didática ou de formação.

Acredita-se que foi vivida individualmente, mas também compartilhada no grupo propicia

mobilidade de pessoas transformadoras.

As agências observadas nos excertos analisados no encontro provavelmente podem ter

sido incitadas na proposta feita em um dos encontros do grupo, na qual os alunos tinham

como desafio participar de jogos com restrição física e sensorial. 23

A seguir, apresenta-se o segundo encontro selecionado para análise e discussão. Nele é

possível observar a interação dos participantes, os diferentes pontos de vista e as contradições.

O objeto era avaliar a Atividade Social efetivada no asilo.

Encontro n.º 8 – Avaliação pós-visita: Atividade Social Atelier de Pintura no Lar

Pentecostes

23 O excerto será discutido e analisado posteriormente.

127

Acolhida: No encontro que sucedeu à visita ao asilo, as professoras recepcionaram os

alunos na sala de aula com as carteiras posicionas de modo a formar um círculo. Como todo

encontro, a aula sempre teve início com um jogo em grupo. O jogo realizado nesse dia foi a

rede e a bola. Todos os alunos posicionaram-se formando um grande círculo, a seguir, um

aluno iniciou o jogo com um rolo de barbante em suas mãos, em seguida, disse o nome de

uma colega e passou o rolo para ela, mantendo o início do barbante em suas mãos, e assim

sucessivamente, desse modo, surgiu uma grande rede com o emaranhado do barbante no

centro do círculo. Nesse momento foi jogada uma bola. O objetivo do grupo era manter a bola

no centro sem deixar ela cair ou sair da rede formada por eles.

Após a dinâmica, com os alunos sentados em círculo, foi realizada a reflexão sobre o

objetivo do jogo, três alunos comentaram que era um jogo que exigia a responsabilidade e o

compromisso de todos. Após a dinâmica, os alunos sentaram-se nas mesas dispostas em um

grande círculo para o início da aula.

O objetivo do encontro era avaliar, com os alunos, a visita feita na semana anterior,

para tanto, foi retomado oralmente e com todo o grupo o último encontro, e a professora

solicitou o ponto de vista de cada um dos alunos de modo a avaliar e refletir sobre a dinâmica

realizada no encontro anterior.

Desenvolvimento: O primeiro momento foi individual. Cada aluno deveria pensar nas

seguintes questões, os alunos que preferissem poderiam anotar em um papel:

1) ¿Cómo ha sido la visita?

2) Evalúa la actividad y la participación de todos:

Já no segundo momento, os alunos expuseram seus pontos de vistas no grupo,

sentados em círculo. Após as perguntas da professora, vários levantaram a mão para

participar.

Encerramento: Após a discussão coletiva, os alunos sentaram-se em pequenos grupos

para planejar a próxima visita. No entanto, alguns pontos levantados pelo grupo não foram

resolvidos no mesmo dia.

Os participantes tinham como “objetivo avaliar criticamente” (LIBERALI, 2013, p.

65), o que fizeram na atividade de Atelier de Pintura. Os participantes organizaram suas falas

de forma que uns fossem capazes de reagir e interagir diante das propostas apresentadas

durante a aula (LIBERALI, 2013).

Todos os envolvidos avaliaram o encontro. Inicialmente, de modo individual, a seguir,

compartilharam em roda, no coletivo, as percepções do encontro. Segue o excerto com as

transcrições das respostas dadas:

128

Quadro 22 - Avaliação do encontro

Excerto 5 - Transcrição língua espanhola 0)Profesora: - Chicos y chicas en la última clase fuimos a visitar a señoras en la residencia de mayores, ¿recordáis?, ¿Como ha sido la actividad programada para el atelier? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

1) Vanessa: Todos los grupos han sido responsables por llevar y traer los materiales.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2) Ximena: Cuando íbamos a pintar las telas, arreglamos para pintar en las mesas, pero ninguna iba a la mesa.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3) Gisele: Solo creo que dos...

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4) André: Una ya estaba en la mesa.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5) Ximena: Y ninguna casi... no fue. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6) Nicole: No ha sido fácil al comienzo, pero yo no desistí, porque teníamos que hacer con que ellas probasen. Yo tuve la idea de llevar hasta su falda. Entonces empezó a pintar y le gustó mucho. ¿verdad profe? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------7) Elvira: Claro. Pero no… ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8) Daniel: Ha sido difícil. Tuvimos que llevarlos (caballetes) a cada una todo el material. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9) Alice: Yo pienso que no fue tan difícil, no usamos el caballete. Fue una idea por emergencia, ¿no? El (caballete) pero no hay problema no usar, eso no me pareció un problema, ¿no? Porque eso es interesante, que ustedes pudieron resolver también. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10) Profesora QS: ¿Algún otro percance? ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11) Norma: Porque unas y otras no. Algunas ayudaron y otras no, entonces...al fin y al cabo todas trabajaron…. (pausa). Pero una cosa yo creo que a ellas les gustó, que nosotros fuimos y ellas hicieron una cosa y nosotros hemos elogiado. Porque entonces ellas transformaron alguna cosa ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12) María: Pero es más difícil ellas hacer más cosas. Ah, creo que tenemos que... no sé cómo hablar, pero poner más cosas para Mercedes, porque se quedó apartada. ¿Qué podemos hacer? ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13) Thais: As veces las cosas no suceden como planeado. No habíamos pensado que haríamos con las telas pintadas… ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14) Bernardo: Eso SÍ que no estaba planeado... ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15) Daniel: Por ejemplo, cuando terminaron la pintura, unas se quedaron super felices. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 16) Marcela: Sí. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17) André: Ahora tenemos que resolver donde pondremos las obras de arte, porque es importante valorar el trabajo de ellas. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

129

Excerto 5 - Transcrição língua espanhola 18) Profesora: ¿Qué el grupo piensa sobre la exposición de las pinturas? ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19) Ximena: Super. ¿Entonces y si exponemos eso y les llevamos las fotografías para que vean dónde hemos expuesto? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------20) Bárbara: Sí. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21) Norma: Aquí en el colegio. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22) María Eduarda: Nosotros podemos poner en el centro de la escuela también. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23) Tatiana: Sí, sí vale escribir... ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 24) Gisele: Y abrimos el sitio y con ellas. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25) Nina: Y abrir el sitio con ellas, llevamos un ordenador, ¿no? ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26) Carla: Sí. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 27) Nina: Allá no deben tener internet, pero... ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 28) María: No, o abrimos aquí con 3G. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 29) André: Ya. Ahora vamos a hacer... entonces esa idea… ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 30) Thaisse: Pero ¿dónde vamos a exponer los trabajos? ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 31) Daniel: Del lado de afuera de la marquesina para que más alumnos del clúster puedan ver -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32) Norma: Pero es que algunas pinturas no están muy “guay”, están un poco extrañas... ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 33) Carolina: si, pero podríamos escribir quienes han pintado los cuadros. Así sabrán que han sido hechos por personas especiales. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 34) Andrea: Es verdad. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 35) Alice: A mi parece que es una buena idea exponer los trabajos em el colegio, pero siempre que exponen trabajos de los alumnos, devuelven después de un tempo ¿Qué haremos después?

Fonte: elaborada pela pesquisadora – base de dados

Por tratar-se da avaliação da visita, os alunos sentaram-se em roda junto às

professoras. A professora Leky solicitou silêncio do grupo e explicou que fazer uma retomada

do encontro, refletir sobre o acontecido seria muito importante, pois, a partir das observações,

acertos, erros, críticas, é que poder-se-ia programar os outros encontros. É um momento

relevante no projeto e todos deveriam contribuir. Desse modo, iniciou com a pergunta (0).

130

A fala da professora Leky (QS) após a acolhida e orientações foi uma frase

interrogativa que abriu espaço para diferentes pontos de vistas e ideias (0) “Chicos y chicas en

la última clase fuimos a visitar a señoras en la residencia de mayores, ¿recordáis? ¿Como ha

sido la actividad programada para el atelier?”. Em termos linguísticos, a professora iniciou

convocando a todos os alunos, para isso, recorreu aos mecanismos lexicais, referindo-se ao

gênero dos alunos e questionou inicialmente com mecanismo de coesão verbal, caracterizado

pelo processo mental quando pergumta ¿recordáis?(lembram?) A seguir, fez outro

questionamento com pronome interrogativo “como” que favorece o entrelaçamento de

percepções e para desencadear possibilidade de respostas com pontos de vistas diferentes.

Como mecanismo de proriferação, gesticulava, mudava o tom de voz e fazia gesto de

curiosidade.

A aluna Vanessa (fala 1) logo levanta a mão e, no plano discursivo, apresenta o seu

ponto de vista “Todos los grupos han sido responsables por llevar y traer los materiales”;

expõe a sua impressão positiva do encontro, no plano linguístico, a aluna faz uso da coesão

verbal de existencial e aspectualidade dos colegas de maneira positiva, adjetiva-os de

responsáveis e faz uso de conexão justificando o adjetivo “responsáveis”. Vanessa inicia

exaltando a participação e a responsabilidade dos colegas, demonstrando a

corresponsabilidade e seriedade de cada um para o êxito da atividade proposta.

Entretanto, os alunos que dão continuidade levantam outros aspectos que, para eles,

pode-se aventar que foi um incômodo e um desafio. Ximena, por exemplo, iniciou sua

percepção de modo queixoso e, no plano linguístico, de maneira multimodal, troca de tono,

com tom de voz mais baixo que o da aluna Vanessa, e com mecanismo de valoração

depreciativo (fala 2) “Cuando íbamos a pintar las telas, arreglamos para pintar en las mesas,

pero ninguna iba a la mesa”. No plano discursivo, apresentou questão controversa à da aluna

Vanessa, expondo outra percepção da mesma situação. No plano linguístico, observou-se a

distribuição de vozes quando ela utilizou o pronome nós (2º do plural), no momento em que

conjugou o verbo ir “íamos” – íamos – modo coletivo, envolvendo e generalizando o grupo.

Segundo a aluna, todos os alunos arrumaram as mesas com os cavaletes e ninguna idosa quis

participar – utiliza o “ninguna”. Do mesmo modo, o entrelaçamento de vozes que seguem

(falas (3) “Solo creo que dos.. “ e (4) “Una ya estaba en la mesa.”, mostram, no aspecto

discursivo, o espelhamento da fala e concordam e ampliam, sustentam a quantidade escassa

das senhoras se dispuseram a participar. Ximena (3) Cuando íbamos a pintar las telas,

arreglamos para pintar en las mesas, pero ninguna iba a la mesa.”, dá ênfase e utiliza o

mecanismo de proferição com voz alta e firme e finalizam concordando e recolocando o seu

131

ponto de vista corrigido, acrescentando o “quase nenhuma” casi ninguna” (fala 5),

concluindo e usando conexão sobre a quantidade insignificativa de senhoras na atividade

inicial.

Nicole (fala 6), ao proferir: “No ha sido fácil al comienzo, pero yo no desistí, porque

teníamos que hacer con que ellas probasen. Yo tuve la idea de llevar hasta su falda. Entonces

empezó a pintar y le gustó mucho. ¿verdad profe?, no plano discursivo, demonstra

concordância com as falas anteriores, mas tenta encontrar nova posição. No plano discursivo,

apresenta a questão controversa quando concorda com a situação explicitada pelos colegas e

inicia a sua fala espelhando e parafraseando a colega a fala 3 (aluna Ximena). Logo em

seguida, no plano multimodal, qualifica a situação de modo a mostrar que foi desafiador, mas

que ela não desistiu e atribuiu-lhe a solução da situação quando diz “yo no desistí”; “yo tuve

la idea” e terminou o seu depoimento contando que a idosa à qual ela levou a tela até o seu

colo gostou, começou a pintar e faz uso do mecanismo conversacional por meio da

interrogativa final “¿verdad profe?”, desse modo, convocou e procurou adesão da professora

para concordar com sua exposição.

Nicole (6), por sua vez, quando propôs alteração na “programação” (retirar os

cavaletes e as telas da mesa e levá-los até as idosas), fez uso da agência transformadora, pois,

nesse momento, apresentou uma ação intencional em resposta à situação controversa

apresentada no mecanismo de articulação discursiva de apresentação de ponto de vista: “No

ha sido fácil al comienzo, pero yo no desistí, porque teníamos que hacer con que ellas

probasen. Yo tuve la idea de llevar hasta su falda. Entonces empezó a pintar y le gustó

mucho”. O mecanismo de contraposição “no” sugere tal coisa em relação à teoria. Essa fala

remete ao Excerto 1 – Imagem da aluna Nicole e a idosa Marlene. Ambas estavam na sala de

televisão. A aluna organizou o material para pintura sobre uma pequena mesa retangular de

centro. Sobre a mesa, estavam o cavalete com uma tela e, sobre o cavalete, o godê com a tinta.

Para Stetsenko (2017), a agência transformativa é construída a partir de trabalhos de

colaboração, em situações que os sujeitos têm de analisar, prever e redesenhar suas atividades

e, como consequência, a proposta de uma ação transformadora, desse modo, a ação

transformadora surge como uma ação intencional em resposta a situações controversas, rompe

com quadros estabelecidos e gera mudanças e, como o próprio nome diz: transformações.

Nota-se que os alunos ficaram incomodados por que foram pegos de surpresa com a reação da

maioria das senhoras do asilo que não aderiu de início ao convite de participar do Atelier de

Pintura.

132

As falas 7: “Claro. Pero no…” e 8 “Com sido difícil. Tuvimos que llevarlos

(caballetes) a cada com todo el material”, dos alunos Elvira e Daniel, respectivamente,

expõem, no aspecto discursivo, a concordância com a aluna Nicole, no entanto, no aspecto

linguístico, pode-se supor que tentam dar sustentação à fala da aluna Ximena quando diz (fala

3: Cuando íbamos a pintar las telas, arreglamos para pintar com las mesas, pero ninguna iba

a la mesa.) quando modalizam a dificuldade.

Já aluna Alice (fala 9) não levantou a mão para falar e acresceu seu ponto de vista

pessoal: “Yo pienso que no fue tan difícil, no usamos el caballete. Fue una idea por

emergencia, ¿no? El (caballete) pero no hay problema no usar, eso no me pareció un

problema, ¿no? Porque eso es 132interessante, que ustedes pudieron resolver también”, sem

generalizar o grupo, no plano linguístico, verbalizou “yo pienso”, fazendo uso da distribuição

de vozes e abranda a dificuldade exposta pelos colegas e adenda que a ideia foi de caráter

emergencial. A aluna recorreu à interrogativa de modo a convocar a outros alunos a

concordarem com seu ponto de vista e prosseguiu com a sua argumentação (9) “eso no me

pareció com problema, ¿no?”, que isso não tinha sido problema e, para ela, foi interessante.

Como recurso, Alice utilizou o mecanismo de adjetivação apreciativa para ação dos colegas

(utiliza o pronome vocês) por terem resolvido também. “Porque eso es 132interessante, que

ustedes pudieron resolver también”.

Nesse momento, foi questionado ao grupo (pela professora-pesquisadora) se houve

algum outro contratempo “¿Algún com percance?” (fala 10), para essa pergunta, foi utilizada

uma frase interrogativa direcionada a pontos melhoráveis, a pergunta “¿Algún com

percance?”, no plano linguístico, concorda e sustenta a hipótese dos alunos de que o fato de

as idosas não terem acolhido, com prontidão, a iniciar a atividade foi realmente um

contratempo, pois o termo contratempo representa algo que não era esperado e que de algum

modo “atrapalhou” a atividade.

Na fala (11), a aluna Gisele, no plano multimodal, iniciou a sua fala inicialmente

olhando para as colegas, isto é, recorreu a mecanismos não verbais, e comentou “Porque unas

y otras no. Algunas ayudaron y otras no entonces ... al fin y al cabo todas trabajaron”; que

algumas colegas demoraram para levar as telas até as idosas que não aderiram de imediato à

atividade. Porém fez uso de proferição, quando pausa e prossegue retomando que no fim das

contas, todas trabalharam. Pode-se entender que, apesar da demora, o grupo de alunos seguiu

o exemplo da aluna Nicole. Essa fala transmite o uso de mecanismo de valoração apreciativa,

provavelmente para evitar qualquer desavença nesse momento de avaliação com as colegas

que tardaram para agir, pausa e logo diz (fala 11): “Pero una cosa yo creo que a ellas les

133

gustó, que nosotros fuimos y ellas hicieron una cosa y nosotros hemos elogiado. Porque

entonces ellas transformaron alguna cosa”; inicia utilizando no plano linguístico a coesão

nominal a palavra “mas” no sentido de apesar e dando continuidade a fala anterior, distribui

as vozes, primeiro individual, “eu acredito”, depois, no coletivo, quando utiliza a flexão dos

verbos na segunda pessoa do plural “ nós fomos”, e referindo-se às idosas “elas fizeram”,

pode-se deduzir que se o início faz referência às senhoras e à falta de adesão das participantes

e acrescenta que, no fim, eles gostaram. Segundo a aluna, o elogio feito pelos estudantes da

atividade após a finalização da pintura provavelmente deixou-as satisfeitas; a aluna utiliza a

palavra “transformaram”. No plano linguístico e multimodal, a aluna faz as suas colocações

gesticulando, faz uso do mecanismo de valoração quando enfatiza a transformação e finaliza

assinalando um dos quadros que estavam no chão.

Pode-se, aqui, levantar a hipótese de que a percepção dos alunos estava dividida, pois

retomavam, a cada turno de voz, à dificuldade e, na percepção deles, a negação inesperada das

idosas em participar de uma atividade que, para eles, era prazerosa; pode-se deduzir isso pelas

falas subsequentes: Maria retoma a palavra, com voz mais baixa e gestos de preocupação,

franze a testa e abre as mãos, utiliza o advérbio de intensidade “mais” a dificuldade (fala 12) “

Pero es más difícil ellas hacer más cosas”; nessa fala, pode-se interpretar também como

provável preocupação com as próximas atividades. Do ponto de vista de María (12), quando

diz: “Ah, creo que tenemos que… no sé cómo hablar, pero poner más cosas para Mercedes,

porque se quedó apartada. ¿Qué podemos hacer?”, a aluna demonstrou preocupação com o

fato da idosa Mercedes, acamada, não ter participado da atividade. Nesse sentido, a aluna

constitui a agência relacional na qual evoca responsabilidade, compromisso consciente com o

outro e manifesta questionamento com o intuito de dar suporte, como propõe Edwards (2007,

2011).

A hipótese do receio levantado na fala anterior (12) fica mais evidente quando a aluna

Thais (fala 13: “As veces las cosas no suceden como planeado. No habíamos pensado que

haríamos com las telas pintadas…”), expõe uma reflexão que no olhar desta investigação, no

plano discursivo é vista como questão controversa, pois possibilita o posicionamento dos

interlocutores. A aluna verbaliza que nem sempre as coisas ocorrem conforme o planejado,

pode-se conjecturar que ela se refere ao contratempo do início da atividade, mas também

exemplifica com outra preocupação que não estava prevista no planejamento, o que fariam

com as telas pintadas. É provável que a aluna se refira ao fato da dificuldade de convencer as

idosas para executar a pintura e ao fato de não terem programado o que fariam com as telas já

pintadas.

134

Thais (13), ao apresentar seu ponto de vista por meio do mecanismo discursivo: “As

veces las cosas no suceden como planeado.”; os mecanismos verbais existenciais “no

suceden” e mentais “no habiamos pensado”, “quisiesen” e “haríamos” evidencia o desejo da

participante de ter um repertório maior sobre a terceira idade para desenvolver uma interação

mais intensa com os idosos. Conforme o conceito de repertório adotado nesse enfoque, parte-

se do princípio que a construção de repertório é constituída por um mistifório de recursos,

habilidades e competências aprendidas por um sujeito que, por ser móvel, está vulnerável às

situações de prática de línguas em situações formais e encontros informais; Blommaert e

Backus (2013) e Busch (2015) advogam que o repertório é composto por duas dimensões: a

linguística pautada nas atitudes pessoais em relação à língua determinada pelo valor atribuído

a ela ou, a variedade dela, em espaço social e a extensão que abarca as experiências vividas da

língua, que são as experiências emocionais e corporais, eventos dramáticos fruto das

interações com o outro que constituem o repertório.

O aluno Bernardo (fala 14) toma o turno sem aviso e dá ênfase à colocação da colega

(fala 13), concorda no aspecto discursivo e sustenta a fala da amiga. O aluno expõe, em voz

alta, utilizando o mecanismo de proriferação no plano multimodal, dá ênfase na fala e exalta o

"sim" gesticulando: “Eso si que no estaba planeado...” (grifo da pesquisadora para dar

relevância ao “sim!”, feito pelo aluno em tom de voz mais firme), não finaliza a sua frase,

mas faz referência ao destino das telas pintadas, que ninguém havia pensado, possivelmente o

aluno faz uso da agência crítica colaborativa, assume responsabilidade e compromisso por

meio da preocupação externada.

A fala n.º 17, do aluno André “Ahora tenemos que resolver donde pondremos las

obras de arte, porque es importante valorar el trabajo de ellas”, no plano discursivo,

apresenta um enfoque diferente na sequência das falas. No plano linguístico, utiliza o

pronome e conjuga o verbo na primeira pessoa do plural, implicando, desse modo, todos do

grupo; utiliza o mecanismo de valoração com respeito ao trabalho executado pelas idosas.

Outro ponto a ser observado na fala de André, é quanto ao questionamento das professoras

sobre a decisão de expor os trabalhos das senhoras, ele (17) alerta sobre a valorização dos

trabalhos: “Ahora tenemos un problema que resolver: donde pondremos las obras de arte,

porque es importante valorar el trabajo de ellas.” O estudante expõe como um problema a ser

pensado e solucionado pelo grupo, provavelmente, faz uso da agência relacional também,

pois, segundo a concepção de Magalhães e Ninin (2016), é relevante a disposição dos sujeitos

no trabalho/ação desenvolvidos e o ato conjunto e colaborativo, mesmo com contradições.

135

Segundo as autoras, as situações controversas na agência relacional são partes e trabalhadas

por meio de negociação e práticas dialéticas.

A professora usa conexão (fala 18) a partir do problema levantado pelo aluno André

(fala 17) e convoca o grupo. No aspecto discursivo, por meio de uma questão para entrelaçar

as falas, pede opiniões e contribuições para participarem da tomada de decisão “¿Qué el

grupo piensa sobre la exposición de las pinturas?”, olha para todos do grupo, inclina o corpo

para frente e, com as mãos em movimento, representado e “então” e “agora”?

Então, a aluna Ximena prontificou-se em responder em tom de voz alto e com gestos

de aplausos – aspectos multimodais e utiliza o mecanismo de valoração com expressões

apreciativas (fala 19): “Super. ¿Entonces y si exponemos eso y les llevamos las fotografias

para que vean dónde hemos expuesto?”, ainda com recursos multimodais, faz uso da

proferição quando, em forma de questão, dá uma solução para que as idosas sintam-se

valorizadas, mostrando-lhes o local da exposição por meio de fotografias. O questionamento

favorece o entrelaçamento de falas.

Outro ponto a ser observado é quanto ao questionamento das professoras sobre a

decisão de expor os trabalhos das senhoras, o aluno André (17) alerta sobre a valorização dos

trabalhos “Ahora tenemos un problema que resolver: donde pondremos las obras de arte,

porque es importante valorar el trabajo de ellas.” O estudante expõe como um problema a ser

pensado e solucionado pelo grupo, provavelmente, faz uso da agência relacional também,

pois, segundo a concepção de Magalhães e Ninin (2016), é relevante a disposição dos sujeitos

no trabalho/ação desenvolvidos e o ato conjunto e colaborativo, mesmo com contradições.

Segundo as autoras, as situações controversas na agência relacional são partes e trabalhadas

por meio de negociação e práticas dialéticas.

De acordo com as colocações, as falas 20, 21, 22, 23, 24, 27, 28, 29 e 30, é possível

observar o entrelaçamento de vozes e a permeabilidade mostra a combinação de diferentes

falas e produz ideias coletivizadas, todos estão em busca de soluções, no plano discursivo de

concordância e expande com ideias e soluções. Os alunos aventam lugares para a exposição,

na fala 22, da aluna Maria Eduarda: “Nosotros podemos poner en el centro de la escuela

también”. No plano linguístico, ela propõe o lugar e utiliza o pronome nós, desse modo,

convocou a todos para a ideia e concordância. Porém as falas seguintes não respondem à fala,

não foram pertinentes e voltam-se em como mostrar as idosas que seus trabalhos foram

expostos. Por exemplo, as falas 27, 29 e 30 referem-se ao uso do computador e à viabilidade

de acesso à rede de internet.

136

Frente às colocações, a aluna Thaisse retoma a questão controversa inicial (fala 30),

possivelmente, espelha o problema colocado pelo colega André, na fala 17, e diz “Pero

¿dónde vamos a exponer los trabajos? Utiliza-se dos aspectos multimodais, aumenta o tom de

voz e gesticula com as mãos cortando a fala do André (29) “Ya. Ahora vamos a hacer...

entonces esa idea…”. O aluno Daniel, imediatamente, sem pedir a vez, concorda com “YA”

(tá) e propõe um lugar no qual as obras pudessem ser vistas por todos da escola (fala 31) “Del

lado de afuera de la marquesina para que más alumnos del clúster puedan ver”. No plano

linguístico, o aluno usa uma conexão com a fala anterior e atribui valoração apreciativa no

aspecto discurso, apresenta o enfoque prático e, do seu ponto de vista, pertinente.

A colocação da aluna Norma (fala 32) “Pero es que algunas pinturas no están muy

“guay”, están un poco extrañas...”, inicia com o “mas” possivelmente no sentido de oposição

e restrição no que tange à qualidade das pinturas “guay (legais), están un poco extrañas”

atribui linguisticamente o valor depreciativo aos trabalhos. Provavelmente, a aluna expunha

preocupação com os comentários e, talvez, incômodo quanto ao que outras pessoas, alheias ao

projeto, possam interpretar ou pensar sobre os trabalhos; contudo não se posiciona, não

finaliza o seu pensamento, faz uso da proferição: silencia no final da sua frase, talvez, à espera

da anuência dos colegas. É perceptível na fala da aluna Norma (32) a preocupação com a

“qualidade das pinturas” quando faz uso do mecanismo de valoração: “Pero es que algunas

pinturas no están muy guay, están un poco extrañas.”

A hipótese de que os alunos apresentem receios quanto à qualidade das pinturas

revela-se na solução da colega Carolina (fala 33) “sí, pero podríamos escribir quienes han

pintado los cuadros. Así sabrán que han sido hechos por personas especiales”. A aluna, no

plano discursivo, concorda e amplia com novos elementos. No aspecto linguístico, modaliza e

apresenta as condições para a exposição. A sua fala também apresenta coesão verbal

aspectualidade, realização de procedimentos. E acrescenta suporte de escrita e identificação

do projeto e dos atores envolvidos no processo. A observação de Carolina pode ser

interpretada como agência crítico-colaborativa pelo fato de expandir o próprio entendimento a

partir do ponto de vista do colega; ainda, sendo possível que o fato de compreender o poder

de transformação em contextos diversos observe à agência transformadora.

A aluna Andrea levanta a mão e concorda sem ampliar. Já Alice (fala 35) diz “A mi

parece que es una buena idea exponer los trabajos en el colegio, pero siempre que exponen

trabajos de los alumnos, devuelven después de un tempo ¿Qué haremos después?” No plano

discursivo, Alice parece concordar com as falas anteriores sobre exposição no colégio,

provavelmente, com a ideia da Carolina também, pois, no plano linguístico, valoriza quando

137

adjetiva de “boa ideia”, contudo apresenta outra preocupação e justifica a partir da sua

experiência de modo interrogativo e apresenta outra questão controversa (35) ... “siempre que

exponen trabajos de los alumnos, devuelven después de un tempo ¿Qué haremos después?

“...sempre que os trabalhos dos alunos são expostos, os devolvem depois de um tempo. O que

faremos depois?". O aluno refere-se aos trabalhos das idosas. Provavelmente, a aluna Carolina

(35) também concordou com a percepção e preocupação com a colega (32) e propôs uma

solução quando alude a possibilidade de uma explicação dos artistas; “Si, pero podríamos

escribir quienes han pintado los cuadros. Así sabrán que han sido hechos por personas

especiales”. Carolina concorda, no entanto, faz uso de mecanismo de distribuição das vozes

implicando a todos quando faz uso da primeira pessoa do plural e estabelece um acordo na

tentativa que aglutine diferentes considerações.

A partir da análise exposta, é possível presumir a o uso da agência crítico-colaborativa

pelo fato de que os alunos terem discutido a exposição das telas e o lugar para fazê-la e o

cuidado de explicar quem as fez e as circunstâncias. Além disso, ou como consequência da

situação, sugere-se a ampliação de repertório e a mobilidade, como postula Blommaert (2013)

ao referir-se ao repertório como conjunto de recursos linguísticos, semióticos e socioculturais

disponíveis utilizados pelas pessoas.

A partir do excerto selecionado, pode-se aludir que, nos planos discursivo e

linguístico-modal, o grupo demonstrou alternância nas falas, do mesmo modo, foi possível

vislumbrar interação dos alunos, pertinência no desenvolvimento das ideias; também fizeram

uso dos recursos argumentativos não verbais. Vale ressaltar que, apesar de alguns alunos

tomarem o turno sem pedir, nem todos os alunos participaram. Em alguns momentos, as

professoras poderiam ter tomado o turno e convocado os alunos que não expuseram os seus

pontos de vista com perguntas “E você, o que pensa ou sugere sobre o problema?"; ou "qual a

sua opinião sobre esse ponto?". Também poderiam ter solicitado explicação de algumas

sugestões, por exemplo, na fala 34, na qual a aluna Norma mostrava-se preocupada com a

qualidade das obras a serem expostas, teria sido interessante questionar o que de fato estava

preocupando-a.

A partir das respostas dadas pelos alunos, na avaliação do encontro, foi possível

perceber o compromisso dos alunos com as atividades propostas e planejadas por todos.

Atribuindo-se o engajamento dos alunos ao fato de terem planejado a Atividade Social

coletivamente. Essa dinâmica pode ter provocado a análise do contexto, a superação de papéis

e espaços; aspectos que caracterizam as agências.

138

Na continuidade, apresenta-se o excerto no qual os alunos idealizaram a confecção dos

jogos-americanos a partir das telas pintadas durante a Atividade Social: Participar de um

Atelier de Pintura.

Encontro n.º 9 – Ações a partir do trabalho no asilo: venda das telas produzidas

na atividade social – Atelier de pintura

Acolhida: Na sala aula do colégio, estavam todos os alunos do grupo QS e as

professoras. Os alunos e as professoras encontravam-se sentados em círculo e as telas

expostas no centro, ao chão. A professora do Quixote Solidário, Leky, após fazer a chamada

de presença, retomou a conversa da aula passada e perguntou ao grupo sobre o planejamento

do próximo encontro e sobre ideias de trabalhos, o plano de ação a ser planejado para o Lar

Pentecostes.

Desenvolvimento: A sala foi dividia em cinco grupos com quatro alunos e um grupo

com três para discutirem sobre a formação/vivência/aula no asilo. Após 15 minutos, os alunos

foram solicitados a sentarem-se em círculos novamente para apresentar as ideias e suas

opiniões. O grupo do aluno André idealizou um leilão dos quadros para arrecadar dinheiro

para comprar as fraldas para as senhoras. A grande maioria do grupo aprovou a ideia, e Daniel

simulou um leilão de quadro. No entanto, Norma, novamente, mostrou-se desconfortável pela

qualidade dos quadros e insinuou que, talvez, não haveria ninguém para dar lance, além do

mais, questionou sobre o lugar e a data para fazer o leilão e aventou ainda a possibilidade de

ninguém comparecer ao evento. Nesse momento, outros alunos concordaram com ela. Após

alguns burburinhos, Thaisse levantou a mão e quis expressar a sua opinião. Segundo ela, a

ideia de expor os trabalhos era muito bacana, pois, as senhoras ficariam muito felizes, mas,

por quanto tempo poderiam ficar? Na escola, os trabalhos ficam expostos por um tempo,

depois, são devolvidos aos alunos. Andrea prosseguiu e validou o fato de que os quadros

deveriam ser vendidos e o dinheiro levado ao Lar Pentecoste, o aluno André balançou a

cabeça concordando com a ideia, mas comentou que ele poderia fazer uma campanha para

arrecadar fraldas no condomínio dele. A professora-pesquisadora lançou uma pergunta ao

grupo de quantas arrecadações teriam de fazer ao longo do ano para ajudar as idosas. Vanessa,

a aluna que estava mais próxima, sem levantar a mão, verbalizou que seria uma ação para

sempre.

A professora Leky, então, perguntou ao grupo: será que para elas é a mesma coisa

receber doação ou ganhar o dinheiro para comprar o que precisarem?

139

Maria comentou que as senhoras do asilo sentir-se-iam mais contentes se elas

pudessem comprar as suas próprias fraldas, mas justificou que elas não têm dinheiro

suficiente para isso. A partir dessa colocação, Bernardo retomou a ideia de vender os quadros

por um valor alto. Daniel toma a colocação da pesquisadora feita anteriormente e adverte o

que farão depois que acabar o dinheiro. Bárbara agita as mãos e, mesmo sem ser chamada,

lança a ideia de fotocopiar a pintura dos quadros e vender vários. Elvira, nesse momento,

sugere então plastificar e acrescenta que podem usar como jogos-americanos e vender a todos

da comunidade. Para isso, a aluna Gisele propõe escrever, junto com seu grupo, uma carta

para pedir autorização para vender os jogos-americanos.

Fechamento: O grupo gostou e acolheu a ideia com prontidão. As professoras, então,

pediram para trabalhar em pequenos grupos para elaborar um planejamento sobre a sugestão

dada por Elvira ou até mesmo propor outras. Nesse momento, Norma retoma a qualidade das

pinturas e o receio de não agradar a todos. Eis que a aluna Maria Laura sugere ao grupo a

escrita de um pequeno relato sobre cada uma das artistas, no caso, as idosas e colocá-las ao

lado da pintura.

A seguir, elencam-se as ideias dadas à pergunta inicial feita pela professora (38):

“Entonces, la próxima semana nos tacará regresar a la residencia de las ((personas)) mayores.

¿Alguien ya ha pensado en algo para que hagamos por allá? ¿Como vamos a ayudar?”

Quadro 23 - Plano de ação no Lar Pentecoste

Excerto 6 38) Profesora QS: Entonces, la próxima semana nos tacará regresar a la residencia de las ((personas)) mayores. ¿Alguien ya ha pensado en algo para que hagamos por allá? ¿Como vamos a ayudar? -------------------------------------------------------------------------------------------------- 39) André: ya sé podemos hacer una subasta y con el dinero comprar pañales. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 40) María: ¿pero ¿cómo podríamos hacer? ¿a quién llamaríamos para hacer la subasta? ¿será que alguien daría buen dinero por estas pinturas? -------------------------------------------------------------------------------------------------- 41) Norma: ¿Será que arrematarían los cuadros? ¡Es que no están tan, tan guays! ¿Y dónde seria? ¿Cuándo? ¿Y si ninguém24 venir? -------------------------------------------------------------------------------------------------- 42) Thaisse eu allo25 que es una buena idea exponer los trabajos en el colegio, pero alguien aquí recordó que después cada uno se lleva el suyo a casa. ¿Ahí le llevamos de vuelta a las viejitas?

24 A transcrição das falas tentou ser fiel, portanto há falas alternadas espanhol português. 25 A transcrição das falas tentou ser fiel, portanto há falas alternadas espanhol português.

140

Excerto 6 -------------------------------------------------------------------------------------------------- 43) Andrea Por eso, creo que los cuadros deberían ser vendidos y el dinero mandamos a la residencia de mayores. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 44) Profesora Leky: ¿Será que para ellas es lo mismo recibir como donación o recibir dinero que así compran lo que necesitan? -------------------------------------------------------------------------------------------------- 45) André: yo puedo pedir en mi condominio que regalen. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 51) Marisol (professora Investigadora): y cuando se acaben los pañales, habrá que pedir donación de nuevo, y después de nuevo. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 52) Profesora: ¿Será que para ellas es lo mismo recibir como donación o recibir dinero que así compran lo que necesitan? -------------------------------------------------------------------------------------------------- 53) María: yo hallo que para ellas sería mucho más chévere si ellas pudiesen comprar sus pañales, con el dinero del trabajo de ellas. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 54) Bernardo: Por eso debemos vender o podemos hacer una subasta y con el dinero comprar pañales. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 62) Elvira: una cosa que... saben que tienen buenas ideas. Cuando has dicho, es que me quedé pensando en lo que has dicho, que, si las señoras de allá hicieran algo que se sientan útiles, etc. y tal. Yo estaba pensando, si nosotros tuviésemos un talento para enseñarles a ellas, colorear mándalas, por ejemplo, que ella pinta tan bonito, ¿podríamos transformar en.… cómo se llama? Cuando uno come que se pone un tapetito...salvamanteles. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 67) Elvira: Exacto. Si, de repente, fotocopiamos el cuadro de ella, plastificamos y, de repente, hacemos bingo, o vendemos. Porque ellas necesitan de pañales. ¿Por qué no les estamos regalando pañales? Ellas van a sentir que el trabajo que están haciendo, de alguna manera... Norma 68) Pero es que... las pinturas no están muy atractivas. ¿Y si la gente no compra? ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 69) María Laura: Es que vamos a escribir la historia de cada una de las artistas., vamos a escribir todo del proyecto, ( ) así van a entender y comprar.

Fonte: elaborado pela autora.

A partir das ideias dadas pelos alunos, que, a priori, deveriam ser por grupos, foi

possível perceber o envolvimento deles e a relevância que a atividade social “Atelier de

Pintura” foi ganhando ao longo do processo. É importante destacar que nessa Atividade

Social, concebida nessa perspectiva, segundo Vygotsky (2003; 2001), o sujeito e o mundo são

tratados conjuntamente. Isso significa que, nesse contexto, os sujeitos são mediadores da

cultura por seus pares. Todos refletem sobre determinado tema, discutem, argumentam;

tomam consciência dele e agem para transformá-lo. Essa prática contribui para a produção de

141

conceitos científicos na interação com os conceitos cotidianos por meio de tarefas e objetivos

propostos, como ressalta Liberali (2009).

Acredita-se que pelo fato de os alunos terem proposto uma atividade na qual as idosas

pudessem participar ativamente e junto com os alunos, possivelmente, seja promotora para a

mudança de objetivos e responsabilidade com o produto da atividade, que foram os quadros

pintados por elas, pois, apesar de a professora ter iniciado a aula solicitando planejamento

para o próximo encontro, os alunos retomavam, seguidamente, o tema da exposição das telas

pintadas.

Na sequência, a professora-pesquisadora (38) inicia a discussão sobre o próximo

encontro com questão aberta com a intenção de convocar a participação dos alunos:

“Entonces, la próxima semana nos tacará regresar a la residencia de las (personas)

mayores. ¿Alguien ya ha pensado en algo para que hagamos por allá? ¿Como vamos a

ayudar?”; do aspecto discursivo, apresenta questão esperando entrelaçamento de vozes, do

aspecto linguístico e multimodal, insinuou gestos de preocupação e olhou para todos do grupo

com intenção de convocação e solicitação de participação. O aluno André (39),

simultaneamente, levanta a mão para solicitar o turno e fala; “ ya sé podemos hacer una

subasta y con el dinero comprar pañales” do aspecto discursivo, André apresenta sua ideia

pertinente à pergunta feita. Linguisticamente apresenta escolha lexical “subasta”, conceitua

uma prática real, faz uso de distribuição de vozes, inicia posicionando-se, verbo na primeira

pessoa do plural e, logo, utilizando “nós”, convocando a todos dos recursos multimodais, fala

olhando para todos. Na proposta do aluno André, quando sugeriu fazer um leilão com as telas

das idosas e com o dinheiro arrecadado comprar fraldas, ao dizer: “ya sé podemos hacer una

subasta y con el dinero comprar pañales”, pode-se perceber a agência do aluno; segundo

Engeström (2005), que advoga que os seres humanos fazem muito mais que reagir ao

ambiente, eles interpretam, qualquer situação e agem sobre ela, de acordo com uma lógica

própria e definida pelas atividades vivenciadas por cada indivíduo.

Maria (40), sem pedir o turno, questiona: “¿pero ¿cómo podríamos hacer? ¿a quién

llamaríamos para hacer la subasta? ¿será que alguien daría buen dinero por estas pinturas?”.

Discursivamente, a aluna apresenta questões e solicita esclarecimentos pertinentes à proposta

do colega. Linguisticamente, a aluna interroga e faz uso de nós, ou seja, no sentido de chamar,

convocar a todos do grupo. Quando o grupo inicia discussão, dá-se o levantamento de ideias,

e contradições; como na fala de Maria: “¿pero ¿cómo podríamos hacer? ¿a quién llamaríamos

para hacer la subasta? ¿será que alguien daría buen dinero por estas pinturas? Na preocupação

de Norma, “¿Será que arrematarían los cuadros? ¡Es que no están tan, tan guays! ¿Y dónde

142

seria? ¿Cuándo? ¿Y si ninguém venir? Sugere a presença da agência colaborativa pois no

entrelaçamento de vozes as alunas expressam a preocupação e formulam ideias para

solucionar o problema. Virkkunen (2006) explica que a agência colaborativa acontece quando

um grupo de pessoas se articula para buscar, colaborativamente, novas formas de engajar-se

em atividades produtivas.

A aluna Norma (41): ¿Será que arrematarían los cuadros? ¡Es que no están tan, tan

guays! ¿Y dónde seria? ¿Cuándo? ¿Y si ninguém venir?, espelha as questões ampliando e, no

plano linguístico, fazendo uso da valoração das obras. Multimodalmente faz uso de

exclamação, faz uso da proriferação aumentando o tom de voz e gesticula com as mãos. A

aluna Thaisse, sem solicitar o turno, apresenta seu ponto de vista sem pertinência com as

questões colocadas pelas colegas, “eu allo que es una buena idea exponer los trabajos en el

colegio, pero alguien aquí recordó que después cada uno se lleva el suyo a casa. ¿Ahí le

llevamos de vuelta a las viejitas?”. Apresenta o seu ponto de vista alheio à proposta feita.

Linguisticamente, posiciona-se utilizando “yo” (eu) e, discursivamente, coloca uma questão

controversa. Nesse momento, Thaisse parece não perceber a proposta do colega, pois está

preocupada com a exposição, no entanto, nenhum colega parece dar importância à

preocupação da aluna, pois, logo, voltam ao tema.

A aluna Andrea (43), então, toma o turno e opina: "Por eso, creo que los cuadros

deberían ser vendidos y el dinero mandamos a la residencia de mayores.” A aluna retoma a

proposta de negociar os quadros, no entanto não faz referência ao leilão proposto pelo colega,

discursivamente, apresenta a sua opinião, faz uso do verbo na primeira pessoa do singular,

posicionando-se na ideias, todavia utiliza o nós convocando a todos.

A professora Leky apresenta questão controversa (44): ¿Será que para ellas es lo

mismo recibir como donación o recibir dinero que así compran lo que necesitan? A questão

tem como objetivo provocar reflexões; no aspecto linguístico multimodal, apresenta

proriferação, olha para todos e muda o tom de voz, a seguir, fica em silencio. O aluno André

(45) prontamente responde “yo puedo pedir en mi condominio que regalen”.

Discursivamente, revela uma ideia, um pedido, mostra pertinência à pergunta feita pela

professora e, linguisticamente, posiciona-se na ideia e ação. Então, a professora-pesquisadora

(51) apresenta, discursivamente, uma frase sem finalizá-la, linguísticamente e, modalizando,

gesticula com as mãos como algo infindável “y cuando se acaben los pañales, habrá que

pedir donación de nuevo, y después de nuevo…”, e continua apresentando uma questão

controversa, e retoma a pergunta anterior: "¿Será que para ellas es lo mismo recibir como

donación o recibir dinero que así compran lo que necesitan?". A aluna Maria (53) levanta a

143

mão para pedir turno e "yo hallo que para ellas sería mucho más chévere si ellas pudiesen

comprar sus pañales, con el dinero del trabajo de ellas” A aluna apresenta, discursivamente,

a sua opinião. Linguisticamente, faz uso da valoração e argumenta a sua opinião. A aluna faz

uso de gestos e coesão verbal. Também faz uso da distribuição de vozes, eu - elas- delas.

Quando o aluno André (45) sugeriu pedir doação de fraldas em seu condomínio; “ yo

puedo pedir en mi condomínio que regalen pañales”, e a aluna Maria (53) coloca-se dizendo

que para as idosas seria muito mais “bacana” comprar suas fraldas com o dinheiro fruto do

trabalhos delas (idosas) “yo hallo que para ellas sería mucho más chévere si ellas pudiesen

comprar sus pañales, con el dinero del trabajo de ellas”, supõe-se que as ideias ganharam

uma visão colaborativa e, possivelmente, a desconstrução do voluntariado assistencialista.

Nesse recorte, alude-se a construção de agência relacional; conforme Edwards (2007), a

agência relacional proporciona compreensão das negociações e tarefas, permitindo, desse

modo, a expansão da aprendizagem individual de alcançar ações coletivas.

Quando a professora problematiza a sugestão de doação de fraldas dada pelo aluno,

André e verbaliza “y cuando se acaben los pañales, habrá que pedir donación de nuevo, y

después de nuevo.”, possibilita a agência crítico-colaborativa, a intervenção na fala do outro e

permite deslocamento no ponto de vista.

O aluno Bernando (54) mostra pertinência com a colocação da colega "Por eso

debemos vender o podemos hacer una subasta y con el dinero comprar pañales”.expressa a

sua opinião e retoma sintetizando as ideias aportadas, linguisticamente conclui o destino do

dinheiro.

A aluna Elvira (62) manifesta-se “...una cosa que... saben que tienen buenas ideas

(Cuando has dicho, es que me quedé pensando en lo que has dicho, que, si las señoras de allá

hicieran algo que se sientan útiles, etc. y tal. Yo estaba pensando, si nosotros tuviésemos un

talento para enseñarles a ellas, colorear mándalas, por ejemplo, que ella pinta tan bonito,

¿podríamos transformar en.… cómo se llama? Cuando uno come que se pone un

tapetito...salvamanteles”, discursivamente, apresenta pertinência as ideias levantadas, no

aspecto linguístico e multimodal inicia o seu turno de maneira pausada, ritmo da fala sendo

elaborada, faz gestos com as mãos e olha para cima evocando palavras, finaliza fazendo um

desenho na lousa para explicar a sua ideia e pergunta ao grupo.

Maria (65) prontamente responde com uma pergunta, discursivamente, pedindo

confirmação da pertinência da ideia apresentada ao dizer “ ¿Cuándo uno come que se pone un

tapetito?... ¡salvamanteles!”, e finaliza, linguisticamente, fazendo uso da proferição, aumenta

o tom de voz e a intensidade.

144

Elvira (67) completa a sua ideia:” Exacto. Si, de repente, fotocopiamos el cuadro de

ellas, plastificamos y, de repente, hacemos bingo, o vendemos. Porque ellas necesitan de

pañales. ¿Por qué no les estamos regalando pañales? Ellas van a sentir que el trabajo que están

haciendo, de alguna manera...”. Discursivamente, apresenta concordância e amplia, nos

aspectos linguísticos e multimodais, modaliza explicando a lógica do sua ideia e amplia,

conforme argumenta, gesticula com as mãos, faz uso da distribuição de vozes, utiliza "elas",

flexiona os verbos na primeira pessoa do plural convocando a todos.

Norma (68) apresenta seu ponto de vista “ Pero es que... las pinturas no están muy

atractivas. ¿Y si la gente no compra?” e apresenta uma questão. Linguisticamente, aponta

uma probabilidade e valoração depreciativa dos quadros pintados pelas idosas. Em seguida, a

aluna Maria Laura (69) exibe uma solução “Es que vamos a escribir la historia de cada una

de las artistas., vamos a escribir todo del proyecto, ( ) así van a entender y comprar”, a aluna

mostra pertinência com a questão apresentada, faz uso distribuição de vozes referenciando-se

a todos do grupo, também apresenta encadeamento de ideias e explicação.

Elvira (62 e 67), quando sugere incialmente ensinar “algum talento” para as idosas,

como colorir mandalas para transformar em jogos-americanos; a seguir, acrescenta que

poderiam fotocopiar as telas e transformar em jogos-americanos e vendê-los, desse modo,

seria um dinheiro do fruto do trabalho delas: (62) “una cosa que... saben que tienen buenas

ideas (Cuando has dicho, es que me quedé pensando en lo que has dicho, que, si las señoras

de allá hicieran algo que se sientan útiles, etc. y tal. Yo estaba pensando, si nosotros

tuviésemos un talento para enseñarles a ellas, colorear mándalas, por ejemplo, que ella pinta

tan bonito, ¿podríamos transformar en.… cómo se llama? Cuando uno come que se pone un

tapetito...salvamanteles.” (67) “Exacto. Si, de repente, fotocopiamos el cuadro de ella,

plastificamos y, de repente, hacemos bingo, o vendemos. Porque ellas necesitan de pañales.

¿Por qué no les estamos regalando pañales? Ellas van a sentir que el trabajo que están

haciendo, de alguna manera...”

Em seguida, uma aluna, novamente reporta a preocupação com a qualidade das

pinturas e a aluna Maria Laura propõe escrever a história da “artista” e um relato sobre o

projeto, garantindo desse modo a venda dos jogos-americanos . (69) “Es que vamos a escribir

la historia de cada una de las artistas., vamos a escribir todo del proyecto, () así van a

entender y comprar.” (Excerto 2) Nessa situação, é perceptível a presença da agência

desencapsulada, pois, como Fuga e Liberali (2018) apontam, é a possibilidade de tomada de

decisão que propicia a oportunidade de transformação dos envolvidos por meio de ruptura de

papéis, com isso, provoca-se a transformação. No curso do voluntariado, a agência

145

desencapsulada pode ser interpretada na ação das alunas ao elaborarem uma carta bilíngue26

às diretoras da escola, contando sobre o projeto e pedindo autorização para vender os produtos

em prol das idosas.

Como já mencionado no Excerto 1, é importante retomar a discussão da agência

transformativa proposta por Stetsenko (2017), pois vislumbra sujeitos ativos, com potencial

para criticar, oferecer possibilidades e pensar de maneira diferente e criativa. Sob essa ótica,

as falas das alunas Elvira (67) e Maria Laura (68) revelam a possibilidade da construção da

agência ativista transformadora, visto que a proposta surge intencionalmente de uma

experiência conjunta é possibilitadora de mudanças e transformações além de expandir para o

empreendimento ativista.

A seguir, coloca-se o último excerto selecionado que pode responder à primeira

pergunta de pesquisa. Os dados desse excerto foram produzidos por duas alunas que, durante

o horário regular de aula, na qual a professora de Língua Portuguesa apresentava o Prezi

como ferramenta de apresentação, resolveram construir uma apresentação pela qual pudessem

expor o projeto à comunidade com o objetivo de convidar e informar a toda comunidade

escolar sobre o projeto em desenvolvimento.

26 Carta está na seção de anexos.

146

Quadro 24 – Difusão do trabalho dos Quixotes Solidários

Tarefa independente: Proposta de difusão do trabalho dos Quixotes Solidários

Apresentação do Prezi - - Excerto 7

No encontro seguinte, Maria e Luna apresentaram um prezi27 elaborado na aula de Português, na qual estavam aprendendo sobre o software, horário regular da aula, e as duas alunas resolveram elaborar a apresentação contando o percurso do grupo Quixotes Solidários como proposta de difusão do trabalho nas salas de aula do todo o colégio, finalizando o trabalho com os dizeres de que todos estão convidados para ajudar na venda, assim como para colaborar com a organização. Fotografia 6. Sala de aula – alunos assitem

aà apresentação do Prezzi Fotografia 7 Apresentação do Prezi pelas

alunas Nicole e Maria Laura

ANÁLISE DE IMAGENS GRAMÁTICA

FUNCIONAL – Fotografia 6 ANÁLISE DE IMAGENS GRAMÁTICA

FUNCIONAL – Fotografia 7 Com base na Gramática Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), a imagem acima representa uma narrativa porque apresenta vários participantes que são captados durante uma ação. A ação apresenta-se transacional, pois há vetores que indicam ação.

Segundo kress e Van Leeuwen (2006), a análise da imagem sugere uma narrativa na qual há reação não transacional entre os participantes, dado que não é possível identificar na imagem o objeto do olhar delas. A imagem mostra o pano de fundo, fato que possibilita identificar o contexto e as circunstâncias – sala de aula – provavelmente exposição de um trabalho.

Fonte: elaborado pela autora

Após pedir permissão à professora presente, as alunas Maria e Luna entram nas salas

de aula inserem o pen drive e posicionam-se uma em cada canto da lousa. A seguir, com o

controle remoto em mãos, apresentam o projeto aos alunos em espanhol. A primeira imagem

27 O Prezi é um software, na modalidade computação em nuvem, feito em HTML5 utilizado para a criação de apresentações não lineares. No lugar, tudo é criado em uma estrutura única, parecida com uma palheta de designer real. A plataforma disponibiliza uma versão gratuita que roda a partir do navegador. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Prezi>. Acesso em: 05 fev. 2019.

147

é o nome do projeto no qual enfeitaram com flores, a seguir, o nome do curso, os objetivos e

as ações programadas.

Buenos días, nosostras somos alumnas del curso de Quijote Solidarios, este semestre

estamos trabajando em la residencia de mayores donde hemos encontrado a 13 señoras muy

viejitas y que necesitan de algunas cosas. El otro dia hemos pintado cuadros junto con elaas,

ahora hemos transformado los cuadros en salvamanteles y os vamos a vender en la fiesta

junina.

Luana explica que, na Festa Junina, serão vendidos jogos-americanos elaborados a

partir da tela pintada por elas e convida a todos os alunos a colaborarem; “ustedes pueden

ayudar vendiendo, llamando a la gente, contando sobre el proyecto y tambien comprando”.

A aluna gesticula e olha um por um dos alunos do 6º ano, que estão sentados em círculo.

Maria complementa a fala da colega dizendo: “tenemos que ayudar a las señoras, ellas

necesitam pañales y vasos plásticos nuevos”.

Maria e Luna terem tido a iniciativa própria de elaborar um prezi que conta todo o

trabalho desenvolvido pode configurar-se em agência desencapsulada, visto que a ação das

meninas indica mudança de papel, assumem um padrão de fala. Pode-se analisar ainda a

desencapsulação do papel das alunas, desenvolvendo mobilidade para atuar em atividades

diferentes, segundo Liberali (2017), as alunas superam as fronteiras do espaço e dos papéis

cristalizados, também se afere ao uso de agência transformativa, posto que convocam a

comunidade e abrem possibilidades de participação; ““ustedes pueden ayudar vendiendo,

llamando a la gente, contando sobre el proyecto y tambien comprando”.

Stetsenko (2017) postula que a agência transformativa ativista contribui para as

práticas colaborativas e vislumbra posturas ativistas, inovadoras e cria zonas de

desenvolvimento proximal; discursivamente, a aluna convoca todos quando expressa “ustedes

puden” (vocês podem), do mesmo modo quando diz, na primeira pessoa do plural, incluindo-

se na proposta e engajamento.: “tenemos que ayudar a las señoras, ellas necesitam pañales y

vasos plásticos nuevos”.

As agências observadas nos Excertos 6 e 7 (supratranscritos) foram possivelmente

propiciadas ao longo dos encontros nos quais os participantes, por meio do enquadramento

crítico, tiveram acesso às diferentes situações do idoso em depoimentos e documentários em

lugares diversos do mundo e, desse modo, a prática transformada constitui-se nas agências, no

excertos supratrascritos, especificamente, ativista transformadora.

Como citado no início da seção, após se ter evidenciado as agências presentes nos

encontros selecionados, foram investigadas as tarefas, os planejamentos, que pudessem

148

mostrar como as agências observadas podem ter sido provocadas/expandidas e, de algum

modo, ter propiciado repertórios que permitiram a tomada de decisão e ação em diferentes

situações. Retomando-se a segunda questão: Como são construídas essas agênciaa?, aqui,

elencam-se os encontros que foram selecionados para tal análise:

- Encontro n.º 2 – Brincar Performático – Prática Situada

- Encontro n.º 3 – Brincar com restrições físicas e sensoriais (aquecimento)

- Encontro n.º 17 - Encerramento do módulo: Avaliação de todo o trabalho realizado

Pautada nos encontros relatados e dados selecionados, afere-se que a construção das

agências foi favorecida pelas propostas inseridas nas Atividades Sociais que contemplaram

experiências e que, por sua vez, possibilitaram espaços para o desenvolvimento de

perejivánie.

O fato de as professoras terem incentivado as reflexões e avaliações coletivamente,

também, favoreceu a expansão da aprendizagem por meio da argumentação: escuta e

exposição de pontos de vistas e opiniões diferentes.

Na continuidade, relata-se os contextos que contêm os excertos que provavelmente

propiciaram a construção de agências.

Encontro n.º 2 – Brincar Performático – Prática Situada

Assim que foi definido o campo de atuação dos alunos do Quixote Solidário, no dia

28/2/2018, no segundo encontro, os alunos fizeram atividades inseridas na perspectiva da

prática situada (Apêndice A – planejamento). Nessa ocasião, os alunos viveram, por meio de

performance, desenhos e depoimentos do conhecimento sobre a terceira idade e a situação dos

idosos. Ademais, trouxeram informações sobre a mobilidade restrita das pessoas mais idosas e

sobre a fragilidade econômica referente ao valor da aposentadoria e à qualidade de vida de um

idoso no Brasil.

Acolhida: Os alunos foram recebidos pelas professoras na sala de aula do colégio. A

proposta do encontro era apresentar o primeiro foco de trabalho que foi resultado da pesquisa

sobre os focos de atuação feita entre eles: Visitar asilos foi o mais pedido.

Desenvolvimento: Após a comunicação coletiva, os alunos foram divididos em quatro

grupos. A escolha dos colegas para formar o grupo foi livre. Cada grupo deveria “performar”

uma situação na qual idosos fizessem parte. Os alunos acolheram com prontidão,

organizaram-se rapidamente. O tempo foi dividido de modo a contemplar o planejamento (15

minutos), o ensaio (15 minutos) e a discussão sobre a apresentação performática (30 minutos).

149

Fechamento: Após a apresentação de cada grupo, fez-se um círculo com todos os

participantes sentados no chão, e cada grupo explicou sobre a performance apresentada e

como fora elaborada. Como sequência foram apresentados trechos de documentários,

depoimentos de idosos em diferentes contextos de países e diferentes situações: atletas,

dançarinos, acamados, saudáveis, esperançosos, mas também depoimentos de alguns que se

consideram esquecidos pela família e pela sociedade. A seguir o excerto sobre a performance.

Quadro 25 – Brincar Performático

Brincar Performático- Situação com idosos – Excerto 8

Descrição Análise de imagens gramática funcional

Na imagem há duas alunas. Ambas estão na sala de aula. A aluna que está à direita está sentada, as mãos estão torcidas, simula dificuldade para abri-las, de mesmo jeito estão os seus olhos, semifechados e dificuldade para abri-los. A aluna da esquerda parece se aproximar, ela mantém o corpo encurvado e projeta-se em direção à colega como se fizesse esforço para vê-la.

A imagem acima representa uma narrativa, participantes estão representados durante uma ação. Há vetores que indicam ação transacional, visto que os instrumentos e a posição dos corpos indicam movimento. O pano de fundo possibilita identificar o âmbito no qual ocorre a ação, a sala de aula, segundo kress e Van Leeuwen (2006).

Fonte: elaborado pela autora

A fotografia a) retrata a performance na qual o comando era “Encene uma situação na

qual há idosos”. As alunas performam duas idosas que apresentam dificuldades para interagir,

na representação, explicitam as dificuldades sensoriais e físicas. Possivelmente, expressam

informações do senso comum e/ou experiências com pessoas da terceira idade. Na visão de

Liberali e Santiago (2016), o performar provoca a contradição regra-imaginação e, com isso,

enseja aos aprendizes agirem além de suas possibilidades imediatas na construção de futuros

possíveis, considerando as múltiplas formas de conhecimentos disponíveis à vida de todos os

envolvidos e com criatividade. Conforme as pesquisadoras, nessa proposta, os professores

têm a oportunidade de favorecer aos alunos vivências de situações que estão fora dos muros

150

da escola por meio do brincar performático nas atividades sociais propostas. Na mesma

direção, Holzman (2009) apresenta o brincar como performance para tornar-se um espaço no

qual o sujeito pode ser o que ele não é, pois permite viver emoções e experiências que não

fazem parte do seu repertório atual e, por sua vez, permite a ampliação dele. Nessa concepção,

a performance, como forma de expressão, possibilita a formulação de ideias e sentimentos de

todos os envolvidos. No brincar performático sobre a terceira idade foi possível observar as

concepções dos alunos sobre o tema.

Essa proposta estava inserida no planejamento na perspectiva dos multiletramentos

especificamente. Sendo assim, vista dessa perspectiva e baseada na prática situada na qual o

foco é a compreensão crítica, isto é, tornar observável e consciente o conhecimento, um

momento no qual o aluno tem a possibilidade de experienciar e trazer à tona seu

conhecimento prévio, compartilhando-o com seus pares. Ainda nessa concepção de ensino-

aprendizagem, nota-se a multiculturalidade, conforme Cope e Kalantzis (2000), compreendida

como uma diversidade de formas de conhecimento; seja ele, científico ou do senso comum,

global ou local, e que, ao ser exposto, relaciona-se de forma a conceber novos saberes. Sendo

assim, as possibilidades de aprendizagem reverberam nos aspectos sociais e cognitivos,

proporcionando transformações no agir e ampliação de repertório.

Em tal convergência, a performance é preponderante para a formação no âmbito do

Voluntariado Educativo como possibilidade de experimentar vivências, nem sempre presentes

nos contextos e realidades. A performance possivelmente corroborou para construção e

ampliação de repertório, favoreceu a vivência de situações que estão fora da escola, do

mesmo modo quando foram apresentados vídeos, documentários de diferentes situações do

idoso que seguramente propiciaram o enquadramento crítico, que, neste estudo, é a base para

permitir que os educandos desenvolvam posicionamentos críticos frente à realidade

(LIBERALI, 2017), um dos elementos importantes dos multiletramentos, em consonância

com Cope e Kalantzis (2000), que permeia os modos de compreender as situações, partindo-

se do conhecimento que já se traz sobre o assunto e compartilhando com os pares educativos e

abrindo a possibilidade de criar saberes, como propõe Liberali (2017).

A seguir, descreve-se um encontro mediante o qual torna-se possível pensar que esse

possa ter contribuído para a construção de agência:

Encontro n.º 3 – Brincar com restrições físicas e sensoriais (aquecimento)

151

Acolhida: Como maneira de acolher os alunos, foi solicitado que escolhessem um tipo

de jogo: Twister28, Pega Varetas29 e Siga o Mestre30. Os alunos agruparam-se conforme a

preferência de jogo. No entanto os participantes tiveram que utilizar acessórios que de algum

modo causasse restrição para o desempenho: óculos de natação, nadadeiras e luvas de boxe.

Desenvolvimento: Os alunos, após o agrupamento, estabeleceram as regras de cada

jogo e iniciaram a brincadeira.

Fechamento: Após o jogo, todos sentaram-se no chão, em círculo, e teceram

comentários sobre as dificuldades, os desafios observados e vivenciados por cada grupo e

avaliaram o desempenho.

Na sequência, expõem-se os excertos:

Quadro 26 - Atingindo desafios com restrições físicas e sensoriais

Atingindo desafios com restrições físicas e sensoriais (Fotografia 8) Excerto 9

Descrição Análise de imagens gramática funcional

A fotografia traz a aluna no centro da sala. A aluna do 8º ano tem, nos pês, nadadeiras e, nos olhos, leva óculos de natação escuros. A posição da aluna com os braços abertos possivelmente representando “e agora”. Atrás da aluna, há uma colega que aparentemente percebeu a dificuldade da amiga, que supostamente não sabe como fazer e para onde ir.

Com base na Gramática Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), a imagem dessa atividade representa uma narrativa, apresenta mais de um participante que são captados durante uma ação. A ação apresenta-se transacional, pois há vetores que indicam ação. O pano de fundo permite identificar as circunstâncias da ação, sala de aula e no plano secundário aparecem alguns alunos

Fonte: elaborado pela autora

28 Twister é um jogo de habilidade física produzido pela Hasbro. O Twister é jogado em um tapete de plástico de grandes dimensões que se espalha sobre o solo. O tapete é como um jogo de tabuleiro. Disponível em: <https://www.ludopedia.com.br/jogo/twister>. Acesso em: 5 ago. 2018. 29 O Pega Varetas é um jogo de perícia que se baseia na capacidade para controlar o movimento da mão e coordenação entre olho e mão, por conseguinte, ajuda no desenvolvimento motor. Disponúvel em: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/esportes/pega-varetas>. Acesso em: 5 ago. 2018. 30 Participantes devem seguir exatamente a ação que o "mestre" mandar.

152

A brincadeira proposta, como aquecimento para o início das tarefas, possibilitou a

vivência de desafios propostos nos quais havia restrição sensorial e física. Para tanto, os

alunos foram divididos em grupos, um grupo tinha dejogar usando nadadeiras nos pés. Outro

grupo portava óculos de natação e luvas de boxe e tinham como desafio jogar “Pega varetas”.

O terceiro grupo deveria chegar a um ponto com barreiras no percurso fazendo uso das

nadadeiras, óculos de natação e luvas.

Uma aluna leva nos pés nadadeiras e, sobre os olhos, óculos de natação. A aluna abre

os braços gesticulando, provavelmente expressando “e agora”, porque, certamente, sente

dificuldade para movimentar-se, para enxergar e tendo a responsabilidade de atingir um

desafio proposto. Nessa perspectiva, segundo Vygotsky (1930-1934), esse brincar favorece a

superação dos limites, além de constituir e construir as regras ao longo da brincadeira.

Ainda na concepção de Vygotsky (1930-1934), o indivíduo precisa agir sobre o meio,

precisa interagir. Para o autor, todos os sujeitos adquirem conhecimentos a partir de relações

interpessoais de troca com o meio. O ser é resultado de suas relações interpessoais com o

outro, com o coletivo e de suas relações intrapessoais. Nesse tocante, o brincar, como

proposto no encontro, pode ter favorecido a compreensão mais profunda sobre as idosas que

em alguns momentos não correspondiam com prontidão às tarefas propostas durante as

Atividades Sociais planejadas; e, com isso, os alunos tiveram que tomar decisões conscientes

e modificar tarefas, ou seja, presença de agências.

A seguir, narra-se sobre o terceiro encontro, que teve como objetivo responder à

pergunta de como são construídas as agências. Os dados foram produzidos a partir da

avaliação final do módulo dos alunos no asilo.

Encontro n.º 17 – Encerramento do módulo

- O que você aprendeu ao longo do trabalho no asilo?

- Qual a atividade você achou mais interessante?

Acolhida: A aula ocorreu no colégio. A sala estava organizada com as mesas em

círculo e, no centro, vários materiais, entre eles: massinha para modelar, lápis de cor, canetas

hidrocor, giz de cera e folhas de tamanhos diferentes.

Os alunos foram aguardados pelas duas professoras na sala de aula. A professora Leky

propôs uma atividade na qual os alunos, dispostos em círculo, deveriam iniciar um desenho e,

depois de algum tempo, deveriam passá-lo ao colega da sua direita e assim sucessivamente. O

153

objetivo do jogo era, além de descontrair, discutir a presença e a marca do outro em alguma

ação ou ideia.

Desenvolvimento: Os alunos finalizaram e refletiram o cuidado que alguns colegas

tiveram de intervir no seu desenho e o descompromisso do outro em modificar totalmente a

ideia inicial. A partir das colocações; a professora Leky retomou, na lousa, as aulas e as

Atividades Sociais, como uma linha do tempo feitas no asilo e o trabalho em sala de aula. Na

sequência, solicitou que respondessem a duas perguntas.

Os alunos poderiam expressar suas percepções do modo que preferissem utilizando

todo o material disposto, oral, escrito e até mesmo por meio de performance e massa de

modelar. Foi entregue para cada estudante uma folha com duas perguntas:

1) ¿Qué habéis aprendido a lo largo de nuestra labor en la residencia de las señoras?

2) ¿Cuál actividad te ha parecido más interesante?

Encerramento: Os alunos pensaram e registaram as respostas em 20 minutos, a

seguir, em roda, com todo o grupo, compartilharam as suas percepções. Alguns alunos

escreveram na folha; outros desenharam; outros ainda preferiram responder por meio de

esculturas com massinha. Na sequência, o excerto com as respostas dadas:

154 Quadro 27 - Impressões sobre a primeira visita ao asilo. – Excerto 10

¿Cuáles han sido las impresiones sobre la 1a visita a la residencia de mayores? ALUNA RESPOSTA DESCRIÇÃO ANÁLISE VISUAL - kress, e Van Leeuwen

(2006) Carolina

Representou a idosa que fica acamada. A aluna utilizou massa e fez esculturas e escolheu uma situação vivenciada no Lar de idosos durante a apresentação a aluna verbalizou que essa situação a deixou muito pensativa e angustiada. A aluna construiu com a massa de modelar três pessoas e uma cama, todos tridimensionais. Duas estão em pé, a da direita, feita com a cor verde e cabelo laranja representa a colega Maria e da direita é a própria aluna Carolina. Ambas estão em pé ao lado da cama feita com massinha marrom, sobre a cama encontra-se a idosa Zuleika que fica acamada. A senhora é representada nas cores branca, com um lenço, feito de massinha e um gorro na mesma cor e aparece em primeiro plano.

A aluna fez uso de uma estrutura uma narrativa, pois representa o ocorrido em determinado tempo e espaço. Há presença de três participantes, duas alunas e uma idosa, há também vetores que indicam ação, é possível observar a mão da aluna com as mãos em cima da mão da idosa, portanto, sugere que a ação é transacional.

Bernardo

Do mesmo modo, o aluno Bernardo fez uso da massa de modelar e retratou a idosa acamada. O aluno apresentou o trabalho dizendo que era uma situação muito ruim não poder levantar da cama para nada. O aluno representou a cama a partir de um cilindro branco, construiu o corpo da idosa com massinha marrom, olhos azuis e cabelos brancos. Os elementos estão em primeiro plano, em cima da folha de papel, modo bidimensional.

Bernardo fez uso de uma estrutura conceitual de representação não transacional para responder à questão. Em sua apresentação, há um participante, apenas um vetor representado pela orientação corporal da idosa e pela cama, que na representação é o instrumento mediador.

155

María

Maria representou as idosas sentadas durante as entrevistas feitas com elas. Trouxe a informação de que a maioria não recebe visitas de familiares e raramente conseguem sair para passear. A aluna Maria utilizou cinco cores diferentes para representar a situação. A sua apresentação é tridimensional. A aluna representou duas pessoas a da direita na cor verde e a da esquerda na cor laranja, ambas com a cor branca na cabeça, dispostas em segundo plano, a aluna construí um sofá marrom e sobre o sofá as duas idosas, a da direita na cor amarela e a da esquerda na cor azul, ambas também com massinha branca na cabeça, pode-se sugerir que as quatro personagens representam as idosas.

Maria utilizou a estrutura conceitual de representação para responder à questão proposta. O fato de representar a identidade das participantes pode-se constatar que o recurso presente é classificatório implícito, visto que o foco da representação são as características permanentes dos participantes, no caso os cabelos brancos. Não apresenta pano de fundo e, desse modo, o foco está nos praticantes.

¿Cuáles han sido las impresiones sobre la 1a visita a la residencia de mayores? ALUNA RESPOSTA DESCRIÇÃO

Alice

A aluna Alice escreveu que precisa entender o problema, que é necessário ter paixão e empatia e propõe tentativas para dar melhores condições e evitar que elas se sintam sozinhas. Finaliza dizendo que a visita a inspirou a refletir de como pode ajudá-las independe da idade e condição.

Fonte: dados da pesquisa

156

De acordo as respostas dadas, pêde-se compreender a preocupação e o incômodo dos

alunos com a situação física e emocional das idosas, por exemplo, nas falas e representações

feitas pelos alunos Carolina, Bernardo e Alice (Excerto 10). Possivelmente, esse primeiro

contato propiciou espaço para o desenvolvimento da perejivánie, uma vez que se observou

integração de elementos cognitivos e afetivos, os quais pressupõem a presença de emoções,

por exemplo, a explicação da aluna “que a maioria não recebe visitas de familiares e

raramente conseguem sair para passear” pode ter sido uma experiência emocional intensa e

também uma possibilidade de construção de repertórios.

Para Delari e Passos (2009), Vygotsky concebia perijivánie como a agregação de

elementos cognitivos e afetivos, que pressupõem a presença de emoções. Cabe ressaltar que

cada perejivánie é única, uma mesma situação vivenciada por várias pessoas não

necessariamente resultará em perejivánie.

De acordo a relevância do conceito de perejivánie, no desenvolvimento dos sujeitos

como agentes transformadores, como já explanado, assim como os tipos de agências, suas

inter-relações e implicações permeiam as concepções de ensino-aprendizagem para a

transformação das atividades.

Quadro 28 - Avaliação sobre as atividades realizadas no asilo.

Excerto 11 (909) Profesora Leky: ¿Qué habéis aprendido a lo largo de nuestra labor en la residencia de las señoras? ------------------------------------------------------------------------------------------------------ (910) Nicole: Es muy triste la situación de las personas mayores. No ganan casi nada y todo es más caro, los pañales de crianças31 son más baratos que de viejitos. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (911) Andrea: Que la jubilación debería ser más, porque no consiguen pagar todo lo que precisan. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (912) Que la jubilación debería ser más, porque no consiguen pagar todo lo que necesitan. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (913) sim. ------------------------------------------------------------------------------------------------------ (914) Daniel: Que es importante cuidarse. Después de una edad las personas pueden quedarse como la señora acamada, Mariana. Cuando jugamos en la primera clase de hacer actividades sencillas con aparatos que daban dificultad para hacer, yo me quede muy preocupado. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (915) ¿alguien más quiere aportar?

31 As respostas foram anotadas pela professora-pesquisadora, que tentou ser fiel às palavras ditas pelos alunos, respeitando a translinguagem.

157

Excerto 11 ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (916) Norma: Que hay que pensar en actividades que ellas puedan divertirse. Pienso que fue buena idea el show de talentos. Porque ellas no pueden salir de allá. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (917) Alice ¡Yo quiero hablar! ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (918) Espera Alice, tu compañera pidió la palabra antes de ti. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (919) María Laura: Que hay personas que precisan de ayuda de otros. Nosotros conseguimos ayudar un poco, pero si continuamos a vender los “jogos-americanos” en las fiestas del cole, ellas pueden recibir como salario. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (920) Profesora Leky: ahora tú. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (921) Iba decir lo mismo que María Laura, que los salvamanteles han sido importantes ------------------------------------------------------------------------------------------------------ (922) Elvira: Show de Talentos – A mí me gustó mucho porque ellas se divirtieron mucho y la señora que solo emite sonidos canto “parabéns”. La otra señora que no quería comprar la entrada canto “Fuscão Preto” y al final ellas bailaron. Y yo canté remedando Elis Regina. Daniel fue Faustão ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (923) Profesora Marisol ¿Alguien más quiere hablar? ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (924) Marcelo: Los teatros que hacíamos aquí y luego allá. Recuerdo que en la primera clase simulamos situaciones de personas viejitas, y cuando llegamos allá vimos cosas parecidas. Gisele sabia más porque vive con su abuelita. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (925) Vanessa: Atelier de Pintura: Esa actividad yo creo que mudou la vida de ellas. Porque ahora pueden comprar lo que necesitan. Pero no vasos de vidrio, pero pueden comprar vasos nuevos de plástico o ir al médico. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (926) María: Atelier de Pintura porque fue la actividad que más nos costó y la que cambio la vida de las señoras. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (927) ¿Por qué costó? ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (928) María: porque ellas no querían hacer. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- (929) Carolina: Salón de belleza, porque no importa la edad, es importante que las personas se sientan valoradas. A todas las mujeres les gusta estar arrumadas. Até mesmo a Mariana. Yo fui peluquera. ------------------------------------------------------------------------------------------------------

Fonte: dados da pesquisa

A partir das respostas dadas pelos alunos é possível ponderar que situações

vivenciadas por eles despertaram preocupação social e econômica de parte da população,

nesse caso, dos idosos.

158

As falas da aluna Nicole (910): "Es muy triste la situación de las personas mayores.

No ganan casi nada y todo es más caro, los pañales de crianças32 son más baratos que de

viejitos.” e da aluna Andrea (911) Que la jubilación debería ser más, porque no consiguen

pagar todo lo que precisam”, provavelmente, referem-se ao que Daniel (914) disse: “Que es

importante cuidarse. Después de una edad las personas pueden quedarse como la señora

acamada, Mariana. Cuando jugamos en la primera clase de hacer actividades sencillas con

aparatos que daban dificultad para hacer, yo me quede muy preocupado, e Norma quando

acrescenta (916) “Que hay que pensar en actividades que ellas puedan divertirse. Pienso que

fue buena idea el show de talentos. Porque ellas no pueden salir de allá.”, sendo possível que

os alunos estivessem lembrando da idealização da atividade social: Ir ao Show de Talentos,

pois, a priori, a ideia era levá-las ao teatro, mas devido à restrição física, idealizaram a

atividade social no próprio asilo. Já o aluno Daniel fez menção à senhora Mariana (914), a

senhora acamada que, na primeira visita, causou impacto em alguns alunos pelo fato de não se

comunicar e ficar deitada todo o tempo. Possivelmente o aluno vivenciou uma perijivanie.

As respostas dadas à segunda pergunta permitem vislumbrar que as atividades sociais

propostas Show de Talentos, Atelier de Pintura foram as mais importantes33.

Vanessa e Maria nomeiam o Atelier de Pintura porque provavelmente mobilizaram a

todos. Vanessa verbalizou (925) “Atelier de Pintura: Esa actividad yo creo que mudou la vida

de ellas. Porque ahora pueden comprar lo que necesitan. Pero no vasos de vidrio, pero pueden

comprar vasos nuevos de plástico o ir al médico” María também selecionou a atividade

justificando o motivo (926) “Atelier de Pintura porque fue la actividad que más nos costó y la

que cambio la vida de las señoras.”

Elvira ressalta a participação das senhoras na performance “Show de Talentos”

programada, na qual, ela, Elvira, representava uma cantora e as idosas participaram

ativamente da Atividade. Elvira, a aluna, referencia-se a senhora portadora de Alzheimer que

ficava sentada emitindo sons e que, naquela ocasião, começou a cantar parabéns após uma

aluna ter iniciado ao seu lado e no final do show, a mesma idosa dançou com a funcionária do

32 As respostas foram anotadas pela professora-pesquisadora, que tentou ser fiel às palavras ditas pelos alunos, respeitando a translinguagem. 33 As Atividades Sociais citadas pelos alunos foram elaboradas e preparadas pelo grupo do voluntariado. A princípio os, alunos queriam levar todas as idosas ao colégio para apresentar-lhes uma peça de teatro, no entanto a dificuldade física de muitas das idosas fez com que o grupo de alunos decidisse levar ao asilo a peça, partir dessa decisão, elaboraram como Atividade Social: Ir ao Show de Talentos A Atividade Social Aula de Pintura; Atelier de Pintura foi idealizada e organizada pelo grupo de alunos, do mesmo modo a Atividade Social: Ir ao Salão de Beleza.

159

asilo. Esse episódio foi relatado várias vezes por outros alunos (Excerto 9) possivelmente

impactou a grande maioria, a aluna disse (922) “ Show de Talentos – A mi me gustó mucho

porque ellas se divirtieron mucho y la señora que solo emite sonidos canto “parabéns”. La

otra señora que no quería comprar la entrada canto “Fuscão Preto” y al final ellas bailaron.

Y yo canté remedando Elis Regina. Daniel fue Faustão. A aluna expressa o trabalho

colaborativo de todos

A aluna Carolina ressalta a Atividade Social: ‘Salão de beleza”, ao dizer (929), “Salón

de belleza, porque no importa la edad, es importante que las personas se sientan valoradas. A

todas las mujeres les gusta estar arrumadas. Até mesmo a Mariana. Yo fui peluquera”.

Nomeia novamente a Sra. Mariana, acamada, o que supõe que a preocupação com a

participação da idosa nas atividades programadas gerou preocupação no grupo, e que, nesse

dia, as alunas pintaram as unhas dela e construíram uma pulseira; mais adiante, apresentam-se

os Excertos 8 e 9 nos quais os alunos debatem a situação da idosa e participação.

De acordo com as respostas dadas, é possível refletir que o trabalho com Atividade

Social (LIBERALI, 2009), na perspectiva dos multiletramentos, proposta por Cope e

Kalantzis (2000), desbravam novos caminhos para o processo do ensino-aprendizagem

propiciaram reflexões; e as ações possibilitaram momentos de discussão e reflexão crítica, no

caso aqui, com a situação dos idosos no mundo e especificamente no Brasil.

Pode-se ilustrar tal aspecto com a fala da aluna Vanessa “Atelier de Pintura (925):

“Esa actividad yo creo que mudou la vida de ellas. Porque ahora pueden comprar lo que

necesitan. Pero, no vasos de vidrio, pero pueden comprar vasos nuevos de plástico o ir al

médico”; pode-se refletir a partir do excerto que o ser humano está inserido em contextos

sociais, culturais e materiais. Dessa forma, o conhecimento desenvolve-se como parte de um

processo de influência mútua e colaborativa com outros, oriundos de outras culturas diversas,

contextos e perspectivas de uma comunidade, como postulam os teóricos Cope e Kalantzis

(2000).

Nesse contexto, a instrução evidente e o enquadramento crítico produziram

deslocamentos (Excerto 11) nos alunos, quando tiveram a oportunidade de confrontar

diferentes realidades e saberes sobre um mesmo tema e a possibilidade de ampliar e expandir,

provavelmente referenciam-se às condições de saúde e econômicas apresentadas e discutidas.

Essas reflexões potencializaram a prática transformada que foi a idealização dos jogos-

americanos a partir das telas pintadas pelas idosas e que foram vendidos na Festa Junina.

Desse modo, pêde-se observar que os alunos propuseram e aplicaram formas inovadoras, o

que muito provavelmente propiciou o desenvolvimento de agências, como verbaliza a aluna

160

Maria Laura (925): “Que hay personas que precisan de ayuda de otros. Nosotros

conseguimos ayudar un poco, pero si continuamos a vender los “jogos-americanos” en las

fiestas del cole, ellas pueden recibir como salario”. Fato que, neste estudo, pode ter sido

oriundo da prática transformada que, para Liberali (2017), relaciona-se às tarefas nas quais os

estudantes podem assumir papéis que provoquem mudanças nas práticas. Segundo a autora,

esse movimento implica a realização de algo de maneira intencional, criativa e que reverbera

em intervenção por meio de propostas, dessa forma, implicando em novo modo de agir e ver o

mundo.

Outro elemento a ser ressaltado pela importância na construção de agências no curso

de voluntariado foi a performance, pois foi possível vislumbrar a relevância na fala do aluno

Daniel, quando retoma a atividade feita, no segundo encontro do módulo (fotografia 5), “...

Cuando jugamos en la primera clase de hacer actividades sencillas con aparatos que daban

dificultad para hacer, yo me quede muy preocupado.” No conceito vygotskiano, o brincar é

um recurso importante na constituição do sujeito. Segundo o cientista, permite relacionar

aprendizagem e desenvolvimento; Holzman (2009-2014) define a atividade como

revolucionária.

Para Vygotsky, toda brincadeira é caracterizada pela criação de uma situação

imaginária e ao brincar, o sujeito tem a possibilidade de libertar-se das restrições atribuídas

pelas situações reais. Nesse enfoque, o brincar cria a ZDP, permitindo que expanda o

comportamento habitual. É nesse contexto que a criança tem a oportunidade de ocupar

diferentes papéis, incorporar práticas sociais e, desse modo, cria zonas de possibilidades

futuras.

Para Holzman (2009), o brincar livre, o jogo regrado e as brincadeiras teatrais são

extremamente importantes no desenvolvimento. Destaca-se, neste estudo, as brincadeiras

teatrais, nomeadas de performance, que, na perspectiva do curso, foram importantes, como

verbalizou a o aluno Marcelo, quando relata a primeira atividade na qual simularam situações

com idosos (924): “Los teatros que hacíamos aquí y luego allá. Recuerdo que en la primera

clase simulamos situaciones de personas viejitas, y cuando llegamos allá vimos cosas

parecidas. Gisele sabia más porque vive con su abuelita”. É provável que ele não tenha

contato com pessoas dessa idade, pois verbalizou surpreso que lá no asilo encontrou situações

similares com as performances feitas em sala de aula (encontro 3).

Nesse tocante, Liberali (2009) advoga que o conceito de performance fundamenta o

trabalho com Atividades Sociais; de acordo com esse enfoque, vivenciar certas práticas

sociais permite ao indivíduo a reconstrução da sua identidade. A performance, nesse sentido,

161

torna-se um espaço no qual o sujeito pode ser o que ele não é, pois permite viver emoções e

experiências que não fazem parte do seu repertório atual e, por sua vez, permite a ampliação

dele.

Nessa concepção, a performance, como forma de expressão, possibilita a formulação

de ideias e sentimentos de todos os envolvidos. Para Vygotsky (1934), as emoções que

emergem em uma performance condizem com seu racionalismo espinosano, pois permite

vivenciar perijivánia, experiências cognitivas emocionais que favorecem transformação.

A fala da aluna Maria (926), “Atelier de Pintura porque fue la actividad que más nos

costó y la que cambio la vida de las señoras”, supõe ter vivenciado uma perejivánie quando

verbaliza que o Atelier de Pintura foi a atividade mais desafiadora. Provavelmente, ela se

refere ao episódio no qual as senhoras não aderiram com prontidão à proposta (Excerto 5), o

que causou estranhamento ao grupo, pois se sentiram afetados com a negação, porém a aluna

finaliza que a mesma atividade mudou a vida das senhoras, referindo-se à venda dos produtos

delas (Excerto 9).

A pregunta apresentada pela professora Leky “¿Qué habéis aprendido a lo largo de

nuestra labor en la residencia de las señoras?”, no início da aula, abriu espaço para as

diferentes opiniões e convocou todos, pois, no aspecto multimodal, questionou com o corpo,

projetado para frente e passando o olhar em cada um dos alunos sentados na roda.

Nicole (910) apresenta, então, sua opinião: "Es muy triste la situación de las personas

mayores. No ganan casi nada y todo es más caro, los pañales de crianças34 son más baratos

que de viejitos.”; e da aluna Andrea (911): "Que la jubilación debería ser más, porque no

consiguen pagar todo lo que precisam”. No aspecto discursivo foi possível observar, na fala

da aluna Nicole (910), a apresentação do ponto de vista e a sustentação quando faz referência

ao preço das fraldas.

A aluna Andrea (911) apresenta sua percepção concordando e ampliando “Que la

jubilación debería ser más, porque no consiguen pagar todo lo que precisan", no aspecto

linguístico, a aluna faz uso da conexão e f da palavra “jubilación”, aposentadoria,

demonstrando o conhecimento do conceito.

A profesora-pesquisadora (912), espelhando a fala da aluna, trocou a palavra

“precisam” por “necessitam”; “Has dicho que la jubilación debería ser más, porque las

personas mayores no consiguen pagar todo lo que necesitan? Chicos han entendido?

34 As respostas foram anotadas pela professora-pesquisadora, que tentou ser fiel às palavras ditas pelos alunos, respeitando a translinguagem.

162

Provavelmente preocupada com o espanhol, no entanto, no aspecto multimodal, olhou para

todo o grupo enquanto repetia a colocação da aluna e questionou o grupo se haviam

compreendido o fato da aluna ter utilizado a palavra “jubilación” (aposentadoria), conceito

importante no contexto da terceira idade, com o objetivo de propiciar o entrelaçamento de

vozes. A pergunta foi, então, cortada por vozes (913) que responderam sim.

A observação da aluna (911) quanto à aposentadoria, provavelmente foi oriunda do

encontro no qual foi planejado o enquadramento crítico, nesse momento a aluna teve a

oportunidade de enquadrar o domínio da prática e atingir a compreensão das relações

históricas, sociais, culturais encontradas em determinado conhecimento e prática social. De

acordo com Cope e Kalantzis (2000), é o momento que o aprendiz tem a oportunidade de

distanciar-se das percepções pessoais e da teoria e, assim, posicionar-se criticamente. Essa

etapa propicia a evidência dos objetivos, motivos, intenções e diferentes pontos de vista. O

aluno tem a possibilidade de se posicionar e questionar.

O fato de os alunos argumentarem sobre as condições dos idosos, tecerem observações

consistentes pautadas na aposentadoria e no custo de vida, provavelmente, os temas debatidos

e apresentados nos encontros, por meio de depoimentos, documentários e discussões,

beneficiaram a qualidade da argumentação e ampliou a visão social e econômica dos idosos,

pois desses discursos detectou-se crítica e preocupação social.

O aluno Daniel (914) disse: “Que es importante cuidarse. Después de una edad las

personas pueden quedarse como la señora acamada, Mariana. Cuando jugamos en la

primera clase de hacer actividades sencillas con aparatos que daban dificultad para hacer,

yo me quede muy preocupado”, com isso, apresentando sua inquietude no aspecto discursivo,

exprimindo seu ponto de vista, aludindo a prevenção da saúde e sustentando a sua fala com a

situação da idosa. No aspecto linguístico e multimodal foi possível observar a coesão verbal,

referindo-se à performance vivenciada no início do projeto, utilizando proriferação quando

fez caretas e alternando o tem da voz (grave) ao lembrar das dificuldades que teve durante o

jogo pela restrição física e sensorial.

A seguir, a professora Leky (915) toma o turno e novamente convoca outros

participantes a colocarem-se: “¿Alguien más quiere aportar?”. A aluna Norma (916), sem

pedir a palavra, toma turno e inicia: Que hay que pensar en actividades que ellas puedan

divertirse. Pienso que fue buena idea el show de talentos. Porque ellas no pueden salir de

allá". Ela revela concordância com o colega, inicia, no plano discursivo, pedido direcionado

ao grupo, continua posicionando-se quando diz “Pienso” e amplia valorizando a tomada de

163

decisão do grupo em fazer a Atividade Social no asilo, a aluna, no plano linguístico, mostra

valoração apreciativa da ideia de apresentar no asilo “buena ideia ”.

A seguir a aluna Alice (917) corta a colega, sem solicitar o turno, "¡Yo quiero hablar!"

No aspecto discursivo, apresenta um pedido, no aspecto multimodal, lança as duas mãos para

cima e faz uso da proriferação, aumentando o tom de voz.

A professora Leky (918), aspecto multimodal, utiliza a mão direita sinalizando

“aguarde” e, com a mão esquerda, aponta a colega Alice: “Espera Alice, tu compañera pidió

la palavra antes de ti” e justifica no plano discursivo a solicitação de espera, nomeando a

colega Maria Laura que aguardava com braço direito erguido aguardando o seu turno. A

aluna então inicia “Que hay personas que precisan de ayuda de otros. Nosotros conseguimos

ayudar un poco, pero si continuamos a vender los “jogos-americanos” en las fiestas del cole,

ellas pueden recibir como salario”.

A aluna, no plano discursivo, apresentou o seu ponto de vista sem retomar a fala

anterior à sua e apresenta a sua reflexão sobre a colaboração. A aluna refere-se à questão

financeira feita anteriormente pela colega Andrea (911). No aspecto linguístico, a aluna fez a

escolha lexical de “salário”, ou seja, ampliou e propôs colaboração para venda, no entanto

com a produção das senhoras, como acréscimo a renda: aposentadoria.

A professora Leky (920), “ Buena observación, Maria Laura, ahora tú, Alice, te

toca”, no plano linguístico, fez valoração apreciativa, no entanto não amplia, passa o turno

para a aluna Alice, que o havia solicitado anteriormente. No aspecto multimodal, a aluna

(921) faz uma face de decepção e, com a voz mais baixa, responde: “Iba decir lo mismo que

María Laura, que los salvamanteles han sido importantes”, no aspecto linguístico, Alice

concorda com o ponto de vista da colega Maria Laura, espelha a opinião da amiga sobre os

jogos-americanos.

A decisão do grupo pode ser analisada como uma tomada de decisão a partir da

proposta inserida nos multiletramentos: prática transformada, conforme Kalantzis e Cope

(2008), pois o objetivo é proporcionar a possibilidade de retomar o conhecimento/vivência da

prática situada, no entanto, de forma mais crítica e como resultado de reflexão de propor e

aplicar de forma inovadora. É o momento no qual o aluno pode demonstrar como cria, reflete

e realiza novas práticas e revela os objetivos e valores. Esse componente possibilita uma

avaliação contextualizada e situada do aprendiz e de seu processo de aprendizagem

(LIBERALI; SANTIAGO, 2016).

A aluna Elvira (922) solicita a vez e expõe “Show de Talentos – A mí me gustó mucho

porque ellas se divirtieron mucho y la señora que solo emite sonidos canto “parabéns”. La

164

otra señora que no quería comprar la entrada canto “Fuscão Preto” y al final ellas bailaron. Y

yo canté remedando Elis Regina. Daniel fue Faustão”. No plano discursivo, a aluna

apresentou seu ponto de vista sem pertinência com o anterior, justificando a vivência, a aluna

ressalta a participação de uma das idosas portadora de Alzheimer, no aspecto multimodal, a

aluna sorriu, fez uso de proriferação, o tom de voz foi aumentando enquanto rememorava o

Show de Talentos. Em seguida, a professora-pesquisadora (923) questionou e solicitou mais

opiniões “¿Alguien más quiere hablar?”; no aspecto discursivo, havia intenção de

entrelaçamento de vozes, no aspecto multimodal, olhou para os alunos que ainda não tinham

se pronunciado.

O aluno Marcelo (924), sem levantar a mão, mas, pelo olhar, inicia o seu turno: “Los

teatros que hacíamos aquí y luego allá. Recuerdo que en la primera clase simulamos

situaciones de personas viejitas, y cuando llegamos allá vimos cosas parecidas. Gisele sabia

más porque vive con su abuelita”. No aspecto discursivo, o aluno declarou seu ponto de vista,

o aluno fez referência à performance feita no segundo dia de curso, iniciou seu turno dando

continuidade da colocação anterior da colega, pois retomou a Atividade Social; nos aspectos

linguísticos e multimodais, o aluno fez valoração do desempenho da colega quanto ao seu

conhecimento e familiaridade com o tema.

Após Marcelo, a colega Vanessa (925) colocou suas observações: “Atelier de Pintura:

Esa actividad yo creo que mudou la vida de ellas. Porque ahora pueden comprar lo que

necesitan. Pero no vasos de vidrio, pero pueden comprar vasos nuevos de plástico o ir al

médico. A aluna, no aspecto discursivo, expôs seu ponto de vista e sintetizou, no entanto,

como os dois colegas anteriores, não guardou pertinência com a pergunta inicial. A aluna fez

referência aos jogos-americanos elaborados a partir das pinturas. Nos aspectos linguísticos

multimodais, manifestou valoração apreciativa do trabalho, utilizando como suporte os jogos-

americanos nas suas mãos e evidenciou causa e efeito.

Maria, então, tomou o turno e acrescentou: (926) “Atelier de Pintura porque fue la

actividad que más nos costó y la que cambio la vida de las señoras”; a aluna apresentou

concordância com a fala anterior, na primeira frase, espelhandoo que fora dito do aspecto

discursivo e sustentou, justificando, no aspecto linguístico não verbal, insinuou cansaço e

satisfação. A professora Leky (927), por sua vez, questionou e solicitou explicação: "¿Por qué

costó?". No aspecto linguístico multimodal, a professora mudou o tom de voz e gesticulou

com as mãos. A aluna Maria (928) respondeu imediatamente: “ porque ellas no querían

hacer”.

165

Do ponto de vista enunciativo, os integrantes do curso tiveram papéis, a grande

maioria dos participantes expôs e compartilhou suas opiniões.

Os excertos selecionados para análise de dados conferem a possibilidade de o curso de

voluntariado permitir a construção de agências, entre elas: relacional, transformativa,

colaborativa e desencapsulada.

No Excerto 1, que foi retirado da avaliação do encontro, é possível visualizar, pelo

discurso, que, devido a um contratempo, o fato de as senhoras idosas não terem aceitado com

prontidão a atividade planejada, causou desconforto, contudo esse fato pode ter provocado

solução rápida e, com isso, o uso da agência relacional no grupo, pois, segundo Edwards

(2005), invoca responsabilidade, compromisso consciente com o outro, abrange também

apoio e compreensão recíprocos, promove a capacidade de questionar com o intuito de dar

suporte, cada indivíduo deve considerar o que traz para a situação, como ele(ela) pode ajudar

a solucionar questões, o que o outro traz para a situação e como pode ajudar com as soluções

necessárias, compreensão das negociações e reconfigurações de tarefas necessárias,

expandindo a aprendizagem individual e, ao mesmo tempo, permitindo mudanças sistêmicas

ao todo.

É possível conferir ao discurso da aluna Nicole, “No ha sido fácil al comienzo, pero yo

no desistí, porque teníamos que hacer con que ellas probasen. Yo tuve la idea de llevar hasta

su falda. Entonces empezó a pintar y le gustó mucho.”, que o imprevisto foi solucionado

positivamente.

Nesse sentido, o modo como solucionaram o problema vislumbra a agência

colaborativa que permite a participação de todos, seja no planejamento, no desenvolvimento e

na avaliação, as críticas nesse contexto são propulsoras para significar e ressignificar as

situações.

O Excerto 2 apresenta a tomada de decisão para a elaboração do plano de ação. A

situação exposta traz a agência transformativa proposta por Stetsenko (2017), que postula que

a agência transformativa ativista contribui para as práticas colaborativas e vislumbra posturas

ativista, inova e cria zonas de desenvolvimento proximal. É plausível aventar, na fala da aluna

Elvira, Excerto 6 (67) “Si, de repente, fotocopiamos el cuadro de ella, plastificamos y, de

repente, hacemos bingo, o vendemos. Porque ellas necesitan de pañales. ¿Por qué no les

estamos regalando pañales? Ellas van a sentir que el trabajo que están haciendo, de alguna

manera...”, a agência transformativa quando propõe a transformação das telas em jogos-

americanos. Também é possível visualizar, no excerto, a argumentação e na ação a agência

transformativa – na qual os sujeitos são ativos, capazes de resistir, criticar, oferecer outras

166

possibilidades, pensar de forma diferente, modelar e assumir novos padrões de atividades

(ENGESTRÖM; SANINO, 2010; VIRKKUNEN, 2014).

A agência desencapsulada, postulada por Liberali e Fuga (2018), fez-se presente no

curso de voluntariado nas ações e soluções, a criação do prezi (Excerto 3) e a organização de

horários para apresentação, em todas as salas de aula da escola, revelaram expansão de ações

e a ruptura de papéis predeterminados nas estruturas escolares. Do mesmo modo, a

idealização e a elaboração para as diretoras da escola revelaram possibilidades de tomada de

decisões e oportunidades de transformação dos sujeitos (VIRKKUNEN, 2006; ENGESTRÖM

2006, 2011; LIBERALI; FUGA; 2018).

1) De acordo ao exposto e após a análise dos dados ao longo do curso é plausível

constatar que o curso favoreceu a construção/desenvolvimento de agências.

2) As agências encontradas neste contexto foram:

Agência relacional

Agência crítico-colaborativa

Agência ativista transformadora

Agência desencapsulada

De acordo com a análise dos excertos é possível entender que provavelmente os

eventos dramáticos, a partir das performances vivenciadas, da instrução evidente e do

enquadramento crítico, possibilitaram perejivánia; e, provavelmente, ao elaborar e agir na

prática transformada a presença das agências.

Por meio dos excertos que ressaltam os episódios marcantes ao longo do módulo foi

possível resgatar e refletir sobre os possíveis disparadores para a construção de agências e/ou

ampliação das mesmas, também os dados colaboram para analisar as propostas que

permitiram a ampliação de repertórios e, com isso, o desenvolvimento de mobilidade.

Nas respostas dadas, detectou-se claramente a referência às Atividades Sociais

planejadas e trabalhadas. Nessa perspectiva, o curso de voluntariado educativo Quixotes

Solidários foi concebido como um lugar de possibilidades, no qual alunos e professores

tomaram as decisões coletivamente.

Nesse ponto, é importante pautar a organização do curso com base na Atividade

Social, pois, ao longo da construção e idealização coletiva, os sujeitos assumiram um

compromisso colaborativo com seu entorno e com o outro para atuar em diferentes situações

sociais. Nesse contexto, os envolvidos aprenderam a escutar o outro, verbalizar suas ideias,

argumentar de maneira a embasar seus pontos de vista e, dessa forma, ampliando-se a

possibilidade de transformação interna e externa, como expõe Liberali (2009); e, de acordo

com essa ideia, pode-se conceber a aprendizagem como processo individual e coletivo

167

construído por meio de contextos que se integram com cada um e na sociedade na qual se está

inserido.

Os alunos também fizeram alusão a saberes discutidos sobre as condições financeiras e

físicas dos idosos no Brasil, a partir dos conteúdos apresentados na perspectiva do

enquadramento crítico, na qual tiveram a oportunidade de entrar em contato com realidades

diferentes, multimídias diversas e, com isso, significar coletivamente o tema em debate.

Possivelmente, essas reflexões provocaram as propostas de transformação (prática

transformada) que, no grupo, resultaram nos jogos-americanos produzidos a partir da pintura

das idosas e vendidos nas festas do colégio.

168

“Sonhar mais um sonho impossível

Lutar quando a regra é ceder

Vencer o inimigo invencível

Voar num limite improvável

Romper a incabível prisão”

Fonte: Artista Canato JC – Mural do Colégio Miguel de Cervantes, 2019

169

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vida se revela como um sistema de criação, de permanente tensão, de superação, de constante criação e combinação de novas formas de comportamento. Assim, cada ideia, cada movimento e cada vivência são uma aspiração de criar uma nova realidade, um ímpeto no sentido de alguma coisa nova. [...] A vida só se tornará criação, quando libertar-se definitivamente das formas sociais que a mutilam e deformam. (VYGOTSKY, 1920-21, p.462)

A citação de Vygotsky que abre esta seção expõe o papel do professor e da escola no

que tange a apresentar um currículo desencapsulado. Esse tipo de currículo organiza-se pelas

relações estabelecidas entre os contextos sócio-histórico-culturais em sua interconexão com a

vida real. Todas essas conexões propiciam aprendizagens e desenvolvimento na construção da

cidadania crítica e responsável.

Ao término deste estudo, ainda estão inacabadas as reflexões que foram sendo

alimentadas ao longo do trabalho, que teve inicialmente o voluntariado como escopo, porém

as discussões e análises permitiram avançar nos enfoques e questionamentos pertinentes ao

ensino-aprendizagem que primam nos dias de hoje. Desse modo, uma das questões que

precisam ser consideradas é o cenário de superdiversidade nas esferas sociais e linguísticas.

Esse cenário pode ser contemplado intencionalmente nas escolas, pois reverberam

consideravelmente na produção de conhecimento.

Com base no cenário superdiverso e globalizado, foi possível investigar o processo de

construção das agências, ou seja, as ações intencionais e conscientes, na relação com o outro,

oriundas das necessidades e dos interesses coletivos concernentes às estruturas sociais nas

quais se inseriam os alunos deste estudo. Desse modo, o escopo foi o curso de voluntariado

inaugurado no 2º semestre de 2017.

O primeiro trabalho desenvolvido pelo grupo foi na instituição Cáritas que recebe

crianças e adolescentes de seis a 18 anos em situação de vulnerabilidade. A escolha foi devido

à proximidade da escola, à segurança e ao vínculo já estabelecido com o Cervantes Solidário.

170

Nessa ocasião, os integrantes do grupo Quixotes Solidários produziram material para

dar aulas de espanhol às crianças da instituição, como jogo da memória, e de percurso em

língua espanhola com o objetivo de ensinar um pouco do idioma. Em contrapartida, as

crianças do Cáritas ensinaram os alunos do QS a andar de skate. Essa vivência foi pertinente e

interessante, mas, como professora-pesquisadora mobilizada pelas questões sociais e com

visão de voluntariado, focalizava-se a intervenção e não o viés assistencialista.

Com perspectiva na metodologia de pesquisa PCCol, que busca promover ações para

o empoderamento de todos os participantes e tendo como norte a intervenção social,

vislumbrava-se ir muito mais além. Assim, era necessário provocar questionamentos que

permitissem enxergar o "poder" do trabalho coletivo para alcançar alguma causa, deixar

marcas, fazer a diferença, propiciar e legitimar o outro a encontrar um lugar na sociedade com

base no respeito e dignidade e, ao mesmo tempo, construir uma humanidade sustentada pelo

espírito de solidariedade e igualdade, como aporta Stetsenko (2016).

Foi com essa intencionalidade que se vislumbrou o projeto em uma oportunidade

promissor, um terreno fértil para trabalhar conteúdos desencapsulados, promover a

transformação e construir agências. Para tanto, foram elaboradas as duas perguntas de

pesquisa: 1) Que tipos de agência são construídos no curso de voluntariado educativo? 2)

Como são construídas essas agências?

Diante dessas reflexões críticas e após a avaliação da primeira edição do curso Cáritas-

agosto 2017 e com foco na investigação sobre a construção de agência, o segundo módulo do

curso, iniciado no 1º semestre de 2018 (Lar Pentecoste), foi sendo planejado de modo a

legitimar todos os participantes no processo de elaboração do curso, pois todos passaram a

elaborar, juntos, os planos. Por conseguinte, as decisões pedagógicas e ações didáticas foram

direcionadas com enfoque na pedagogia dos multiletramentos, e as propostas de Atividades

Sociais elaboradas coletivamente tendo as professoras como facilitadoras.

De fato, conforme os resultados da análise, é possível sugerir que os encontros de

formação para o voluntariado provavelmente possibilitaram agências e, de acordo aos

excertos selecionados e analisados, pôde-se vislumbrar as agências: relacional, colaborativa,

transformativa, transformativa ativista e desencapsulada. O fato de as alunas terem elaborado

a apresentação para convidar e convocar a comunidade, como ilustra a fala da aluna: “ustedes

pueden ayudar vendiendo, llamando a la gente, contando sobre el proyecto y tambien

comprando”, exemplifica as agências presentes; a ação das meninas indica mudança de

papéis, o que implicou na tomada de decisão e propiciou a oportunidade de transformação.

171

As reflexões, a partir das análises, permitem validar que o ensino com base na

Atividade Social (LIBERALI, 2009, 2016) agiu como estruturante e permitiu o

desenvolvimento de ensino-aprendizagem para a inclusão em diferentes esferas da vida.

Nesse tocante, foi possível observar o desenvolvimento da relação dos participantes do curso

nos contextos sociais e os papéis assumidos pelo coletivo, mas também individualmente,

frutos de discussão e argumentação.

Do mesmo modo, é importante retomar a escolha da Pedagogia dos Multiletramentos

como enfoque de ensino-aprendizagem. Tal perspectiva, como já discutido no referencial

teórico, favoreceu o trabalho contemplando elementos importantes e centrais: a

multiculturalidade, o uso de múltiplas mídias e a multimodalidade.

A intencionalidade de acolher e favorecer a multiculturalidade "no" e "do" grupo

propiciou a participação dos alunos de modo que a maioria se sentia valorizado pelos saberes

compartilhados mediante as experiências vividas e percepções, consideradas neste estudo

fundamentais para a construção de novos saberes.

A importância do uso das múltiplas mídias, outro aspecto relevante nessa perspectiva,

valorizou a diversidade das formas de conhecimento, reelaborando modos de participação por

meio de diversos artefatos.

A multimodalidade foi outro fator importante que contribuiu no contexto, dado o fato

da considerado bilíngue (espanhol e português), pois integrou os vários modos semióticos de

construir significados por meio das expressões artística, performática, gráfica e tecnológica,

bem como favoreceu a comunicação entre todos os participantes, ora entre os pares

educativos, ora entre os alunos e idosos.

Vale ressaltar, após a análise de dados, que as propostas didáticas desenvolvidas a

partir do enfoque dos Multiletramentos, dos movimentos pedagógicos da prática situada, da

instrução evidente e do enquadramento crítico propiciaram a prática transformada.

Conforme observado, a prática situada, que tinha como objetivo a imersão,

possibilitou aos participantes experienciarem vivências a partir dos saberes do senso comum e

conhecimentos prévios trazidos por eles.

Na instrução evidente, para conhecimentos científicos construídos acerca do tema

sobre terceira idade ao longo da história, os alunos tiveram acesso ao Estatuto do Idoso e

compartilharam a situação destes em diversos países nos âmbitos social, econômico e de

saúde. Nesse movimento pedagógico, os saberes das disciplinas mais específicas e diversos

gêneros puderam ser apresentados e trabalhados em pares e grupos.

172

No aspecto do enquadramento crítico, os diversos pontos de vistas, opiniões,

depoimentos e documentários aludiram à análise sobre a prática situada, nessa ocasião, os

alunos tiveram a possibilidade de confrontar suas concepções com a compreensão das

questões da instrução evidente. Esse momento possibilitou questionamentos, posicionamentos

críticos frente a todos os dados, informações e conhecimentos construídos ‒ as discussões

sobre aposentadoria e atenção à saúde foram alguns dos temas discutidos, por exemplo. Foi

possível verificar, no excerto 11, no qual alguns alunos fazem referência aos temas

supracitados, portanto, as tarefas propostas foram impulsoras da prática transformada e

construção de agência, pois se afere que, a partir de todas as vivências, reflexões, trocas,

discussões, os alunos tiveram a possibilidade de criar e propor transformações na situação

real, com isso, resultando na prática transformada.

Nessa vertente, Lessa e Liberali (2012) elucidam

[...] a leitura crítica é transformada em uma forma de aprender a participar da sociedade com escolhas mais informadas disponíveis para a atuação. Os gêneros tornam-se meios para acessar e ampliar formas de aprender e agir no mundo. E a leitura se torna a ferramenta transcurricular na atividade de ensino-aprendizagem.

Desse modo, ler o mundo a partir dessa perspectiva permite desenvolver capacidades

de linguagem para agir criticamente na sociedade e reverbera em uma atitude mais político-

pedagógica. As autoras ainda afirmam que esse processo leva a uma maneira mais responsiva

e responsável de se ver no mundo, no caso do voluntariado no asilo, os alunos propuseram

transformar o produto da Atividade Social "Atelier de Pintura” em jogos-americanos e vendê-

los na Festa Junina da escola em prol do asilo visitado, por iniciativa própria construíram

Prezi para convidar e envolver a comunidade.

No entanto, imbricado aos movimentos pedagógicos propostos intencionalmente ao

longo das tarefas, cabe ressaltar a relevância da performance, visto que foi eixo, a ferramenta

condutora, em algumas situações, a primeira delas foi com caráter de saber o conhecimento

prévio dos alunos sobre a terceira idade. A vivência por meio de performance, na ocasião

sobre idosos, possivelmente provocou perejivania, uma vez que mostrou a dialética entre o

social e o individual. Essa vivência trouxe à tona os conhecimentos oriundos dos repertórios

nas diferentes atividades, interpretando as experiências e favorecendo a ampliação e

ressignificação do próprio repertório e a dos outros participantes, essa vivência também os

preparou para a visita.

173

Desse modo, e ainda nessa vertente, os alunos puderam criar situações nas quais

lograram, de alguma maneira, colocar-se no lugar do outro (no caso, idosos). O brincar

performático possibilitou deslocar o pensamento e elaborar, de maneira diferente, sob os

vários pontos de vista de um idoso. Conforme sugere Holzman (2009), esse brincar,

compreendido aqui como performance, tornou-se um espaço no qual cada aluno teve a

possibilidade de ser o que não é, possibilitou o tornar-se alguém além do que era, ou seja,

criar repertório da condição de um idoso. Foi possível observar em alguns alunos o resultado

da vivência nas ações e na compreensão da dificuldade física e cognitiva dos idosos na

primeira visita ao asilo; pode-se aventar, portanto, o despertar de elementos cognitivos e

afetivos, que pressupõem a presença de emoções que Vygotsky concebia perejivánie e

favorecerem a transformação. Desse modo, pode-se aventar que as experiências dramáticas

vividas puderam tornar-se experiências vividas de modo individual.

Nesse sentido, brincadeiras e performances podem e devem ser intencionalmente

planejadas com o objetivo de vivenciar eventos dramáticos e, assim, criar possibilidades com

diferentes modos de agir, sentimentos e possibilidades de construir e ampliar repertórios

(LIBERALI, 2019).

Portanto, os eventos dramáticos passam a ser essenciais para o desenvolvimento de

mobilidade e, possivelmente, meios para a transformação agentiva dos sujeitos, como

reforçam Liberali e Fuga (2018). Assim, é provável entender que tais eventos dramáticos nos

ambientes educativos possibilitam aos sujeitos desenvolverem mobilidade, ampliarem seus

repertórios e serem agentes de transformação. Segundo as autoras supracitadas, as

experiências dos alunos em sociedade são refratadas para cada um a partir das próprias

vivências. O processo de transformação coletiviza-se e a compreensão da dinâmica social para

a transformação dos sujeitos assume caráter colaborativo e cria base para desenvolver

mobilidade em diversas situações ao longo da vida.

Pode-se avaliar que as experiências de aprendizagem vividas pelo grupo

oportunizaram o desenvolvimento de agências. Acredita-se também que as agências

desenvolvidas foram essenciais para as ações/propostas do terceiro módulo do curso de

voluntariado destinado à proteção animal.35 É oportuno mencionar o envolvimento de grande

35 Os alunos promoveram feira de adoção de cachorros e gatos durante um grande evento escolar. Construíram chaveiros com biscuit e os venderam e o dinheiro arrecadado foi doado a uma protetora independente. Além de criar campanhas para conscientizar à comunidade sobre a comprar e criadouros clandestinos, apesar das visitas ao nicho de atenção terem sido restritas devido à distância das ONGs, os alunos mostraram-se engajados e em prol da causa animal.

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parte da comunidade escolar, um deles, é a inserção no currículo do Ensino Médio como um

dos projetos de ação social e o enfoque na proposição de Atividade Social, neste estudo

ressalto: Atelier de Pintura. Nessa vertente, há a necessidade de um currículo desencapsulado

(LIBERALI, 2015).

A relevância dessas reflexões permite sugerir que o desenvolvimento de agências,

provoca transformações coletivas no sentido de desenvolver posturas ativistas como aporta

Stetsenko (2017) e implica a participação colaborativa, na qual, contradições e

questionamentos são relevantes. Entre elas, a agência desencapsulada pode ser construída a

partir de um currículo no qual as mudanças sociais evoquem ações nas instituições escolares.

Nesse tocante, Liberali (2017) sugere a construção do currículo desencapsulado,

transformador, que possibilite a ampliação da ação dos estudantes e a construção de novos

significados em diferentes contextos, bem como a ruptura com as estruturas de poder que

permeiam e reverberam na educação, como os valores capitalistas impostos, o

desmantelamento das ações sociais, o aumento da pobreza, entre outros problemas, dessa

maneira, é fundamental expandir o repertório dos alunos para que tenham mobilidade neste

mundo globalizado e em muitos momentos perversos.

O fato de tratar-se de um curso extracurricular, fora do horário regular, prejudicou

alguns alunos em determinados encontros, pois os horários para reposição de avalições, jogos

e recuperações propiciaram ausência em determinada época do ano. Nesse sentido, também é

possível refletir a partir desta investigação sobre o desenvolvimento humano na perspectiva

de educação integral para ir além dos conteúdos, com foco na formação humana. Essa

formação pode ser vista como um processo educativo que potencializa o sujeito a partir de

uma perspectiva multidimensional que ressalte valores respeitosos à diversidade e aos

direitos. Ou seja, que abarquem muito mais, que possam dar ênfase à participação cidadã e

democrática, por conseguinte, fortalecendo identidades e aprofundando relações humanas

(FREIRE, 1987). Nesse tocante, acredita-se que a investigação aqui apresentada contribua

para reflexões e elaboração de currículo que vislumbrem educação integral sob essa

perspectiva.

Outro ponto a ser considerado é a BNCC em razão das temáticas sugeridas às escolas,

pois, de acordo com os temas emergentes citados no documento (BNCC36), o trabalho de

voluntariado educativo poderia ser inserido no horário regular e com isso envolver mais

36 Alguns deles citados na p. 43.

175

alunos. Sendo assim, ainda há estrada para investigar, as perguntas não se esgotam, surgem

outras. Outrossim, ainda considerando as proposições da BNCC, é importante refletir sobre

que tipo de trabalho, que natureza de voluntariado pode ser realizado e expandido para outras

escolas para além das escolas bilíngues de elite.

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186

APÊNDICE A - PLANEJAMENTO DO CURSO DO QUIXOTE SOLIDÁRIO, NO

QUAL SE PÔDE OBSERVAR AS FASES DA PEDAGOGIA DOS

MULTILETRAMENTOS

CONCEITOS CENTRAIS:

✓ Esferas/Atividades Humanas ou Práticas Sociais

Esferas Comunidade

✓ Componentes da Atividade realizada na escola:

Sujeitos Alunos, professores integrantes do asilo Objetos Conscientizar a comunidade escolar a respeito da situação

dos idosos no Brasil e no Mundo e promover valores humanitários

Comunidade Escolar, participantes do Asilo

Instrumentos Computadores, vídeos, aplicativos Divisão de Trabalho Participantes do Quixote Solidario elaboram a atividade

social a ser aplicada no asilo. Professoras: avisam ao Departamento de atividades extracurriculares. Alunos: providenciam os materiais que serão utilizados no asilo "Atelier de Pintura" Coordenação: autoriza a utilização do espaço e providencia computadores e outros recursos.

Regras Comparecer pontualmente aos encontros. Usar uniforme completo.

✓ Linguagem:

Gêneros orais e escritos

Aspectos Enunciativos (contexto e conteúdo temático) -

Aspectos Discursivos (Organização textual)

Aspectos Multimodais (materialidade verbo-visual)

Práticas translíngue

- Interpretação textos, opinião e argumentação nas aulas. - Gênero cartaz para apresentação

Os alunos propuseram a atividade como uma intervenção social com a idosa do asilo. Participaram tanto alunos e

- Análise e reconhecimento de manchete, com foco na exposição. - Comparação de notícias nacionais e

- Cartazes - Performance - Trabalhos artísticos - Vídeos de apresentação do trabalho.

- Uso de dicionário - Uso de tradutores - Gestos - Língua espanhola - Língua portuguesa - Desenhos - Uso da tecnologia - Legendas em

187

do projeto - Gênero propaganda dos jogos-americanos . cartazes explicativos cartazes - Performance - Vídeos de apresentação dos trabalhos. - Carta de solicitação - Apresentação à comunidade

professores, funcionários da escola e comunidade escolar.

internacionais - Biografia das idosas na barraca para venda dos produtos

espanhol - áudio em LP Legenda em LP - áudio em espanhol Vídeo em espanhol e legenda em espanhol Vídeo em inglês e legenda em espanhol Banco de palavras

✓ Ecologia de Saberes:

Área Conteúdos abordados: Fontes Consultadas: Ciências humanas Matemática humanas

-Discussões(lp/esp), - Leitura e discussão de textos (lp e esp)) - Situação do idoso no Brasil e em outros países. (sociologia)

Consejo de un hombre de 112 años a un recién nacido: https://www.youtube.com/watch?v=jIXN27qt0t8 Jóvenes y gente mayor: https://www.youtube.com/watch?v=1xicsr-vPOo La importancia de un anciano: https://www.youtube.com/watch?v=aR7RFL2YzHo Idoso na tribo indígena – http://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/envelhecimento/texto/env06.htm Estatuto do idoso: http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/legislacao/estatuto-do-idoso Lei 80 anos: http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI261937,11049-Lei+altera+Estatuto+do+Idoso+e+da+prioridades+aos+maiores+de+80+anos La vejez en Suecia https://www.informationsverige.se/Spanska/Samhalle/Samhallsorientering/Paginas/Att-bli-%C3%A4ldre.aspx Expectativa de vida Brasil https://www.google.com.br/search?safe=strict&biw=1360&bih=662&ei=t4OPWoQPhqHABPr_pcgC&q=

188

expectativa+de+vida+no+brasil+por+regi%C3%A3o&oq=expectativa+de+vida&gs_l=psy-ab.1.0.35i39k1l2j0i131k1j0l7.4210.12246.0.14878.35.22.7.0.0.0.367.2358.5j8j2j1.17.0....0...1.1.64.psy-ab..11.24.2506.6..0i67k1j0i10k1.96.Ys7hNOxqqvM cuando ya no pueda https://www.youtube.com/watch?v=mXwX48hVSy El día que me volví invisible: https://www.youtube.com/watch?v=sL_fAbyrvyM

✓ Multiletramentos/Práticas Translíngues:

O quê? Apresentações de imagens, pesquisas, entrevistas, vídeos, reportagens, cartazes, painel informativo dos participantes, propaganda do projeto e venda dos produtos.

Multiculturalidade Apresentação de posicionamentos sobre a velhice na sociedade, reportagens de diferentes países e contextos.

Multimídia Uso de vídeos, textos, fotografias , performances, aplicativos e programas

Multimodalidade Imagens estáticas e em movimento, textos verbais, expressões faciais, gestos, voz, língua a ser usada, vocabulário ... etc.

Como? Os modos a serem utilizados são decisões feitas a partir do lugar e da situação. Por exemplo: algumas idosas não escutam direito, a voz deve ser elevada, os recursos de gestos, figuras, são relevantes para compreensão do significado: na sala de aula e fora dela (no asilo)

Prática situada Performar: qualquer situação com idoso. discussão coletiva sobre as situações apresentadas. Discussão das performances. Registro coletivo em espanhol. Visita ao asilo - observação- entrevistas Discussão das vivências

Instrução evidente Língua espanhola: análise de textos, discussão, e leitura e vídeos com reportagens e entrevistas. vídeos com legenda em português e áudio em espanhol e vice-versa.

Enquadramento crítico Leitura do estatuto do idoso, textos idosos, site direcionados à terceira idade para explorar o tema e criar tópicos de discussão, vídeos e perguntas para adentrar com o tema e considerar os conhecimentos prévios, stand para apresentar o trabalho. Valor da aposentadoria e dos planos de saúde. É possível pagar as contas com a aposentadoria? A cidade está preparada para as pessoas com restrição física?

189

Prática transformada Valorizar o papel do idoso na sociedade. O caráter do voluntariado - elaborar uma intervenção social na qual não seja de natureza assistencialista Dar um papel e importância social às idosas moradoras do asilo. Atividade social em grupos: Atelier de Pintura Os quadros pintados pelas idosas transformados em jogos-americanos

✓ Brincar/Performar:

Regras:

✓ Argumentação:

Questões controversas: Como é envelhecer no Brasil? Como ocorre em outros países? Qual a idade para ser considerado idoso? Como eles vivem se não trabalham mais? A cidade está preparada para o idoso? Mulheres não podem ter as mesmas profissões que homens? Por que mulheres geralmente ganham menos que homens nas mesmas profissões? Mulheres tem que seguir padrões de beleza?

Pontos de vistas possíveis:

-Legal - aposentadoria -Seguro de saúde - Senso comum -Mulheres -Homens -Senso comum -Demais profissionais (médicos)

Possíveis fontes para suportes:

Consejo de un hombre de 112 años a un recién nacido: https://www.youtube.com/watch?v=jIXN27qt0t8 Jóvenes y gente mayor: https://www.youtube.com/watch?v=1xicsr-vPOo La importancia de un anciano: https://www.youtube.com/watch?v=aR7RFL2YzHo Idoso na tribo indígena –

Sociais (como interagir) Estereótipos e intervenção social Técnicas (como usar os artefatos) Meios para promover a valorização de todos na

sociedade, nesse contexto, o idoso. Conceituais (que conceitos dão suporte) Cidadania Estratégicas (que processos utilizar) Brincadeiras, discussões e exercícios para propagar

o tema e sua compreensão

190

http://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/envelhecimento/texto/env06.htm Estatuto do idoso: http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/legislacao/estatuto-do-idoso Lei 80 anos: http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI261937,11049-Lei+altera+Estatuto+do+Idoso+e+da+prioridades+aos+maiores+de+80+anos Los mayores, hoy viven más: http://www.telefonodelaesperanza.org/noticias/view/4212/los-mayores-de-hoy-viven-mas-anos%2C-tienen-mejor-salud-y-son-mas-activos Abandono en México: http://www.excelsior.com.mx/nacional/2017/06/28/1172441 La vejez en Suecia https://www.informationsverige.se/Spanska/Samhalle/Samhallsorientering/Paginas/Att-bli-%C3%A4ldre.aspx Expectativa de vida Brasil https://www.google.com.br/search?safe=strict&biw=1360&bih=662&ei=t4OPWoQPhqHABPr_pcgC&q=expectativa+de+vida+no+brasil+por+regi%C3%A3o&oq=expectativa+de+vida&gs_l=psy-ab.1.0.35i39k1l2j0i131k1j0l7.4210.12246.0.14878.35.22.7.0.0.0.367.2358.5j8j2j1.17.0....0...1.1.64.psy-ab..11.24.2506.6..0i67k1j0i10k1.96.Ys7hNOxqqvM cuando ya no pueda https://www.youtube.com/watch?v=mXwX48hVSy El día que me volví invisible: https://www.youtube.com/watch?v=sL_fAbyrvyM

DESCRIÇÃO DAS TAREFAS:

Aula 1

Descrição da

Atividade

No primeiro encontro as professoras levam um barbante e uma

bola para o início da aula. Os alunos devem fazer um círculo,

após a apresentação, um carretel de barbante é dado a um aluno

(aleatoriamente) esse aluno deve que falar o nome de um

integrante e jogar o carretel de barbante para ele e assim

sucessivamente até todos os alunos terem recebido e jogado o

carretel para um colega. No final de esta parte do jogo forma-se

uma grande rede, que lembra uma grande teia na qual é jogada

uma bola no centro. O desafio consiste em não permitir que a

bola caia no chão.

191

Em seguida, os alunos sentados no chão conversam sobre as

expectativas e o que os levou a participar do curso de

voluntariado.

Na etapa seguinte os alunos escrevem em cartões coloridos o que

para eles significa o trabalho voluntário e dúvidas e/ou

curiosidades, também escreveram os lugares que gostariam de

atuar em ordem de preferência.

Objetivos

- Constituir o grupo

- Apresentar os integrantes

- Construir metas comuns

- Definir objetivo comum

- Levantar conhecimentos prévios

- Promover reflexão

- Construir em conjunto o conceito de voluntariado

- Construir novos saberes sobre trabalho voluntário

Reflexão Crítica - O que os alunos como agentes podem fazer?

- Há algo que posso mudar?

- Que situações sociais, planetárias que incomodam?

- Qual a concepção que permeia o grupo: assistencialista ou

colaborativa/transformadora?

Materiais

Utilizados

- Barbante grosso

- Bola

- Folhas de sulfite

- Carões coloridos

- Canetas coloridas

- Power point sobre voluntariado

- Vídeos

- Tradutor

- Dicionário

Aspectos

linguísticos

Estruturas presentes nas discussões:

Yo estoy aqui porque

A mí me gusta

Me encantaría saber más sobre niños discapacitados,

192

Sobre ancianos/asilo/casa de/residencia/jubilados/personas

mayores/niños en riego

- perros callejeros/maltrato de animales/refugio de animales

- hospital - personas enfermas

193

APÊNDICE B - TRIÂNGULO TASCH - ATIVIDADE SOCIAL

194

APÊNDICE C - IMPRESSÕES PÓS VISITA

195

APÊNDICE D - ATIVIDADE SOCIAL – SHOW DE TALENTOS

196

APÊNDICE E - ATIVIDADE SOCIAL: PARTICIPAR DE UMA FESTA JUNINA

197

APÊNDICE F – ATIVIDADE SOCIAL – ATELIER DE PINTURA

198

199

APÊNDICE G - ATIVIDADE SOCIAL IR AO SÃO DE BELEZA

200

APÊNDICE H – CARTA

São Paulo, 23 de mayo de 2018

Hola Antonio, ¡buenos días!

A nosotros del Quijotes Solidarios nos gustaría vender los juegos de mesa hechos por

las señoras del “Lar novo Pentecostes” en la fiesta junina, con ese dinero, iremos comprar

pañales para adultos y cosas que ellas necesiten

Muchas gracias,

Grupo Quijotes Solidários

201

APÊNDICE I - VENDA DOS JOGOS-AMERICANOS NA FESTA JUNINA

202

APÊNDICE J - ENTREGA DO CERTIFICADO DE ATUAÇÃO NO LAR

PENTECOSTE

– Alunos explicam a pais e professores sobre a Atividade Social e Multiletramentos

203

APÊNDICE K – DEPOIMENTOS

O recorte selecionado para este excerto ocorre na apresentação do projeto realizado ao

longo do 1º semestre de 2018 para a entrega do certificado de voluntário no asilo Pentecoste.

Depoimento da aluna Elvira

FILME - Descrição do contexto Transcrição

Todos as mesas estão dispostas em círculos, os pais estão sentados nelas, em pé atrás das mesas, os professores e convidados. No centro, frente as mesas todos os alunos participantes do Quixote solidário. O evento já estava praticamente finalizado quando a aluna Sofia, levanta a mãe e diz para todos, eu gostaria de falar. Fica em pé e dirige-se aos espectadores proferindo as seguintes palavras:

... estar com elas, (gesticula os braços) faz bem para as alunas também (aponta para os participantes do grupo), foi uma das melhores experiência da minha vida (voz embargada e leva a mão ao peito), e eu vou sentir muita falta de tudo isso. (começa a chorar)

CARTA DA DIRETORA PEDAGÓGICA AMÉLIA SALAZAR - Querida Marisol, hoje foi um dia muito especial e um dos mais emotivos de minha vivência profissional. E, certamente, você tem um peso importante nesse sentimento. Tenho convicção absoluta que sua liderança no Quixotes Solidários é que levou os alunos ao alcance do significado do valor da ajuda, da solidariedade, da empatia. Foi lindo ouvir os depoimentos de crianças e adolescentes de diferentes idades expressarem não somente seus sentimentos mas os seus entendimentos de suas vivências. Muito tocante! Obrigada por você existir em nossa equipe e por compartilhar de forma humilde e generosa o seu conhecimento cognitivo e emocional. Boa noite e grande beijo. Enviado do meu iPhone

204

APÊNDICE L – TRANSCRIÇÕES

Profesora: - Chicos y chicas en la última clase fuimos a visitar a señoras en la

residencia de mayores, ¿recordáis?, ¿Como ha sido la actividad programada para el atelier?

1) Vanessa: Todos los grupos han sido responsables por llevar y traer los materiales.

2) Ximena: Cuando íbamos a pintar las telas, arreglamos para pintar en las mesas, pero

ninguna iba a la mesa.

3) Gisele: Solo creo que dos...

4) André: Una ya estaba en la mesa.

5) Ximena: Y ninguna casi... no fue.

6) Nicole: No ha sido fácil al comienzo, pero yo no desistí, porque teníamos que hacer

con que ellas probasen. Yo tuve la idea de llevar hasta su falda. Entonces empezó a

pintar y le gustó mucho. ¿verdad profe?

7) Elvira: Claro. Pero no…

8) Daniel: Ha sido difícil. Tuvimos que llevarlos (caballetes) a cada una todo el material.

9) emergencia, ¿no? El (caballete) pero no hay problema no usar, eso no me pareció un

problema, ¿no? Porque eso es interesante, que ustedes pudieron resolver también.

10) Profesora QS: ¿Algún otro percance?

11) Norma: Porque unas y otras no. Algunas ayudaron y otras no, entonces...al fin y al

cabo todas trabajaron.Pero una cosa yo creo que a ellas les gustó, que nosotros fuimos

y ellas hicieron una cosa y nosotros hemos elogiado. Porque entonces ellas

transformaron alguna cosa

12) María: Pero es más difícil ellas hacer más cosas. Ah, creo que tenemos que... no sé

cómo hablar, pero poner más cosas para Mercedes, porque se quedó apartada. ¿Qué

podemos hacer?

13) Thais: As veces las cosas no suceden como planeado. No habíamos pensado que

haríamos con las telas pintadas…

14) Bernardo: Eso SÍ que no estaba planeado...

15) Daniel: Por ejemplo, cuando terminaron la pintura, unas se quedaron super felices.

16) Marcela: Sí.

17) André: Ahora tenemos que resolver donde pondremos las obras de arte, porque es

importante valorar el trabajo de ellas.

18) Profesora: ¿Qué el grupo piensa sobre la exposición de las pinturas?

19) Ximena: Super. ¿Entonces y si exponemos eso y les llevamos las fotografías para que

vean dónde hemos expuesto?

20) Bárbara: Sí.

21) Norma: Aquí en el colegio.

22) María Eduarda: Nosotros podemos poner en el centro de la escuela también.

23) Tatiana: Sí, sí vale escribir...

24) Gisele: Y abrimos el sitio y con ellas.

25) Nina: Y abrir el sitio con ellas, llevamos un ordenador, ¿no?

26) Carla: Sí.

27) Nina: Allá no deben tener internet, pero...

205

28) María: No, o abrimos aquí con 3G.

29) André: Ya. Ahora vamos a hacer... entonces esa idea…

30) Thaisse: Pero ¿dónde vamos a exponer los trabajos?

31) Daniel: Del lado de afuera de la marquesina para que más alumnos del clúster puedan

ver

32) Norma: Pero es que algunas pinturas no están muy “guay”, están un poco extrañas...

33) Carolina: si, pero podríamos escribir quienes han pintado los cuadros. Así sabrán que

han sido hechos por personas especiales.

34) Carolina: si, pero podríamos escribir quienes han pintado los cuadros. Así sabrán que

han sido hechos por personas especiales.

35) Andrea: Es verdad.

36) Alice: A mi parece que es una buena idea exponer los trabajos em el colegio,

pero siempre que exponen trabajos de los alumnos, devuelven después de un tempo ¿Qué

haremos después?

37)

38) Profesora QS: Entonces, la próxima semana nos tacará regresar a la residencia de

las ((personas)) mayores. ¿Alguien ya ha pensado en algo para que hagamos por allá? ¿Como

vamos a ayudar?

39) André: ya sé podemos hacer una subasta y con el dinero comprar pañales.

40) María: ¿pero ¿cómo podríamos hacer? ¿a quién llamaríamos para hacer la

subasta? ¿será que alguien daría buen dinero por estas pinturas?

41) Norma: ¿Será que arrematarían los cuadros? ¡Es que no están tan, tan guays! ¿Y

dónde seria? ¿Cuándo? ¿Y si ninguém venir?

42) Thaisse eu allo que es una buena idea exponer los trabajos en el colegio, pero

alguien aquí recordó que después cada uno se lleva el suyo a casa. ¿Ahí le llevamos de vuelta

a las viejitas?

43) Andrea Por eso, creo que los cuadros deberían ser vendidos y el dinero

mandamos a la residencia de mayores.

44) Profesora: ¿Será que para ellas es lo mismo recibir como donación o recibir dinero

que así compran lo que necesitan?

45) André: yo puedo pedir en mi condominio que regalen.

46) Alice: ¿quién quiere este precioso cuadro, tiene flores y colores... quien? a la una...

47) ((yo)) pienso (nono)

48) Voces diferentes: ¡eso es guay!

49) F2: yo también estoy de acuerdo que se vendan y llevamos el dinero a la casa

de retiro.

206

50) (#) ¡¡donen!!

51) Profesora investigadora: y cuando se acaben los pañales, habrá que pedir donación

de nuevo, y después de nuevo.

52) Profesora: ¿Será que para ellas es lo mismo recibir como donación o recibir dinero

que así compran lo que necesitan?

53) María: yo hallo que para ellas sería mucho más chévere si ellas pudiesen comprar

sus pañales, con el dinero del trabajo de ellas.

54) Bernardo: Por eso debemos vender o podemos hacer una subasta y con el dinero

comprar pañales.

55) Vanessa:

56)

57)

58)

59)

60)

61)

62) Elvira: una cosa que... saben que tienen buenas ideas. Cuando has dicho, es que

me quedé pensando en lo que has dicho, que, si las señoras de allá hicieran algo que se sientan

útiles, etc. y tal. Yo estaba pensando, si nosotros tuviésemos un talento para enseñarles a ellas,

colorear mándalas, por ejemplo, que ella pinta tan bonito, ¿podríamos transformar en.… cómo

se llama?

Cuando uno come que se pone un tapetito...salvamanteles.

63) (nono) como así?

64) Maria Laura: já sé!

65) Maria: algo así

66) Norma: como jogo americano, mi madre tiene.

67) Elvira: Exacto. Si, de repente, fotocopiamos el cuadro de ella, plastificamos y, de

repente, hacemos bingo, o vendemos. Porque ellas necesitan de pañales. ¿Por qué no les

estamos regalando pañales? Ellas van a sentir que el trabajo que están haciendo, de alguna

manera...

68) Norm:a Pero es que... las pinturas no están muy atractivas. ¿Y si la gente no

compra?

69) María Laura: Es que vamos a escribir la historia de cada una de las artistas., vamos

a escribir todo del proyecto, ( ) así van a entender y comprar.

207

1) F1: Pero aquí en el colegio no podemos vender nada, yo no podría venir

mañana y decir... ofrecer a las profesoras, a las mamás, eso no se puede hacer, pero vamos a

pensar...

2) F: ¿En la feria del libro?

3) F1: En la feria del libro...

4) F: (inint) [00:45:05]

5) F2: Es que hay un problema. El noveno y el tercero también hacen eso.

6) F1: Pero, mira...

7) F3: Pero ellos venden negritos.

8) F1: Pero pude ser una cosa... si (inint) [00:45:20] que eso es una buena salida,

escribimos una carta a la dirección del colegio, diciendo: "quisiéramos en esas fiestas llevar el

trabajo que hacen las señoras de este lugar, porque ellas necesitan comprarse pañales, ellas

están haciendo esto y quisiéramos saber..."

9) F: (inint) [00:45:37] y dejar allá para ellas poderen ver que ellas hicieron...

10) F1: Fotos.

11) F: Fotos, mas também (inint) [00:45:47] que hicieron una cosa que ellas están

usando y es útil para las personas y para ellas.

12) F1: Porque, miren, un plato americano que se hiciera así, ¿no? O sea, de

mandala, podemos fabricar mandalas y las colorean, hacemos así, fotocopiamos y un (inint)

[00:46:06], que sea poquito, pero es algún dinerito que se va a ellas, que ellas compran

pañales, vasos nuevos, (inint) [00:46:14] de basura.

13) F: La que hizo el árbol de la vida, podría ser varias.

14) F3: Adélia. La portuguesa.

15) F: Verdade. O ellas también podrían hacer otras cosas (além de mandalas)

[00:46:28].

16) F3: Ella no sabía que estaba haciendo el árbol de la vida, ¿vistes? Esto me

encantó. Cuando la vi, dije: "guau, eso es el árbol de la vida".

17) F1: Podemos fotocopiar los cuadros que han hecho, en la fotocopiadora.

18) F3: Estaba lindo, ¿no? (inint) [00:46:43] Después te muestro.

19) F1: Yo compraría para poner en mi casa, un trabajo hecho por ellas.

20) F: (inint) [00:46:49] sabía que ellas... que fue feito por personas que...

21) F3: ¿Pero plastificaríamos, dices?

22) F: Sí.

23) F1: Sí. Casi nos come (inint) [00:47:01].

208

24) F: A minha mãe conhece um lugar que dá para (inint) [00:47:04] plástico,

várias coisas e dá para plastificar papel.

25) F1: ¿Y también saben qué? Ay, chicos, eso es muy (inint) [00:47:16], porque

podemos también hacer para...

26) F3: ¿Por qué no apuntas eso? O yo apunto.

27) F1: En tejido. En tejido se puede hacer también. ¿Cómo se llama? Mantel.

¿Sabes qué es mantel en portugués?

28) F: No.

29) F1: Por ejemplo, vamos a almorzar, voy a poner un mantel bonito...

30) F2: Toalha de mesa?

31) F: Tolha de mesa.

32) F1: Eso, muy bien.

33) F: Podemos también tener (inint) [00:47:39], porque es muy difícil... ¿cuándo

vamos a hacer el trabajo de Diego?

34) F3: Eso. ¿Vamos a ser un poco prácticos?

35) F1: Vamos a escoger una... pero esas ideas yo quiero que...

36) F3: Sí, por eso que (inint) [00:47:53].

37) F1: Mira, si al semestre que viene vamos a cuidar de animales y ver la

situación, ya tengo un lugar, ya tengo un lugar...

38) F3: No vamos desfocar. Bueno, déjame para... chicos.

39) F1: No me deja hablar, me prohibió.

40) F3: No. Voy a prohibir.

41) F1: Pero sí, si el semestre que viene vamos a pasar a otro tema, vamos a dejar

nuestra marca allá.

42) F: Mas como vamos deixar nuestra marca?

43) F1: Por ejemplo, diciéndoles a ellas: estas mandalas nosotros recogemos,

hacemos, exponemos aquí para vender. De repente, ay, mi tía va a una feria y vende no sé

qué.

44) F2: Podemos exponer en la feria del libro.

45) F1: En la feria del libro.

46) F: Podemos tomar una fotografia todos juntos.

47) F1: Exacto. Hacer propagandas. Que vengan en la feria del libro, o en la

hispanidad, que vengan las familias y (inint) [00:48:45] hemos hecho un trabajo, ese, la

209

institución necesita de pañales, ellas han hecho eso, nos ayudan porque ese dinero va a ir para

ellas, para comprar pañales.

48) F3: Pero, chicos, disculpa, quiero ser práctica. Por eso (inint) [00:49:00]. Si la

feria del libro es de 19 de mayo, esto tendríamos que hacerlo ya.

49) F1: Ya.

50) F: Ya.

51) F1: ¿Vamos a dividir tareas, unos hacen la de Diego, unos hacen la carta para

la dirección?

52) F3: Sí. Quién va a hacer... es que son pocos.

53) F1: Somos pocos, pero fuertes.

54) F3: Bueno...

55) F: Melhor que só um.

56) F3: No, claro. Estás increíble hoy. Los que van a hacer el tema de Diego, por lo

menos vamos a hacer la idea. Y tú haces la carta con los otros.

57) F1: ¿Hagamos aquí, quien va a hacer la carta?

58) F: Yo.

59) F: ¿Qué carta?

60) F: ¿Qué carta?

61) F1: A la dirección. Señoras directoras... ahí hay que contar un poco, estamos

yendo a tal lugar, y hemos visto qué necesitan, pero hemos visto que tienen el don de la

pintura...

62) F3: No quieres hacer en un (inint) [00:49:51]. Para no gastar eso.

63) F: (inint) [00:49:53]

64) F3: Yo tengo.

65) F: (inint) [00:49:59]

66) F3: Ah, pero ustedes justos eran los que estaban acá. Semana que viene voy a

traer de nuevo, para ellas vean.

67) F: Sí.

68) F: Marisol, Diego hizo una marca para (inint) [00:50:13].

69) F1: ¿Quién empieza este proyecto? ¿Quién tiene buenas ideas?

70) F: Eu não tenho.

71) F3: En realidad, mi hijo (inint) [00:50:18] es que...

72) F1: Es contar.

73) F3: Tendríamos que hacer uno (inint) [00:50:22].

210

74) F: Mas a gente conta em espanhol ou em português?

75) F1: ¿Cómo que ves? Somos una escuela bilingue.

76) F: Trilingue.

77) F1: Trilingüe. Yo no me animo al inglés todavía. Todavia.

78) F: É porque eu perguntei (inint) [00:50:39].

79) F3: Te estoy escuchando.

80) F: Eu perguntei para ele, porque (inint) [00:50:42] a gente vai passar por uma

[00:50:44].

81) F3: Sí, porque él tiene que pedir (inint) [00:50:46].

82) F: Sí. Quando ele for passar (inint) [00:50:49]. Mesmo o tamanho da madeira

que ele já (inint) [00:50:54].

83) F3: ¿Pero (inint) [00:50:55] así? ¿O es un poco menos?

84) F: Não, ele tinha marcado.

Discusion sobre precio de pañales

85) F: Oito unidades. Tem que ter tamanho também.

86) F: (inint) [00:00:05] o tamanho.

87) M: Que tamanho?

88) F: É, a festa junina tem muita coisa. Eu acho que (não é seguro) [00:00:13].

89) F: Después (inint) [00:00:15] para ver.

90) M: (inint) [00:00:16] gigantes lá do...

91) (inint) [00:00:18]

92) F: Quanto? 15 reais.

93) F: Pampers aonde, querida? Aqui é (Panvel) [00:00:26].

94) F: Pampers.

95) F: É G, mas é para criança.

96) F: É geriatra, gente.

97) F: A gente sabe.

98) F: Vida plena.

99) F: Vida plena.

100) F: (inint) [00:00:32] de adulto e de criança.

101) F: Não, a gente está vendo de adulto.

102) F: Aqui, 46.

103) F: Quantas?

104) F: 18.

211

105) F: 18.

106) F: Gente, acho que vocês querem comprar (inint) [00:00:40], deve ser muito

ruim.

107) F: Está 18, são 46, 50 são...

108) F: Nossa, sim, eu amo muito.

109) F: Não, é nove, nove.

110) F: Não, é dez, dez.

111) F: Faz à mão.

112) F: Não, não vou perder meu tempo.

113) F: Então, o de cima era quanto?

114) F: Ficamos pobres.

115) F: Deu 27.

116) F: Reais?

117) F: Mas galera, eu acho que essa marca que vocês estão vendo é bem ruim, para

ser 50...

118) F: Sim, 50 fraldas, daí são...

119) F: Procura mais.

120) F: Eu acho que aquela de 97 parecia ser, tipo, mais decente.

121) F: Não, essa vem 50 (inint) [00:01:15].

122) F: Essa é Confort, Confort deve ser boa.

123) F: Confort é maior caro.

124) F: Não, (inint) [00:01:19].

125) F: Mas é caro, era 30 por 45. 45, 80, 17 e 30. 17 e 40 (inint) [00:01:31].

126) F: Essa?

127) F: Não, a do lado.

128) F: Não, mas essa aqui (inint) [00:01:34] são dez.

129) F: Dez.

130) F: (inint) [00:01:39]

131) F: 17 vírgula 49, (inint) [00:01:44] 50...

132) F: Gente, dá para o gasto.

133) F: Esses?

134) F: (inint) [00:01:49]

135) F: Pode ser em espanhol?

136) F: Olha, 50 da Confort sai 66...

212

137) F: Dá 87 contos.

138) F: Dá 87.

139) F: O que? 50?

140) F: A gente comprar cinco pacotes.

141) F: Não, menina, essa aqui vale mais, essa aqui da Confort.

142) F: (inint) [00:02:03] unidades.

143) F: Mas a gente estaria comprando 50 unidades. (inint) [00:02:08]

144) F: 87 menos 45 virgula 30, é igual a (inint) [00:02:19].

145) F: Pode comprar (inint) [00:02:22].

146) F: Procura essa aqui, Tena Confort.

147) F: Tá.

148) F: Que está 30, sai 45. 50.

149) F: Sai 75.

150) F: Confort é uma marca melhor que a outra lá.

151) F: É essa?

152) F: (inint) [00:02:36]

153) F: Por que está aí?

154) F: Não é isso, não é geriátrica. O que você procura?

155) F: Fralda geriátrica.

156) F: Vamos gente, o tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus

continua...

157) F: Falta meia hora.

158) F: (inint) [00:02:49]

159) F: Chicas, ¿qué hacen?

160) F: Eu estou esperando secar para a gente fazer o...

161) F: E as bandeirinhas que eu pedi?

162) F: Essa?

163) F: Não, é 30. É uma dessas, calma.

164) F: (inint) [00:03:00] a lição de casa?

165) M: Eu sei porque elas marcaram o gato na (inint) [00:03:03].

166) F: Oh, é boa, (inint) [00:03:04]?

167) F: Rocha.

168) F: É boa?

169) F: 45 e 30. Essa vale mais a pena. Se a gente comprar 50...

213

170) F: Escreve o nome inteiro dela.

171) F: Eita, não dá para comprar 50, porque um pacote 30, a gente teria que

comprar 60.

172) F: Então, compra de 20.

173) F: Verdade.

174) F: A gente cogitaria a compra.

175) F: Mas para quantos dias?

176) F: Compra uma de 20 e uma de 30.

177) F: Meu Deus, que absurdo.

178) F: A diferença é de quatro reais.

179) F: Secou, está bom? Ele seca.

180) F: E essa é tamanho G, aquela é tamanho P.

181) F: Mari, (inint) [00:03:36].

182) F: Mais menor fica mais (suave) [00:03:41].

183) (inint) [00:03:42]

184) F: Nossa, poderia experimentar para ver.

185) F: Tem um Pão de Açúcar (bem) [00:03:48].

186) F: Como é que a gente sabe o tamanho?

187) ((...))

188) F: Muito bom.

189) F: Só não pode tipo, duas (filas) [00:04:00], né?

190) F: É, não.

191) F: Essa aqui é de quanto?

192) F: Mas tem que pensar para quantos dias a gente vai comprar fraldas para o...

193) F: Ah, para poucos, não é? A gente não vai comprar para a vida inteira dela.

194) F: (inint) [00:04:10] um mês. Quando a gente acabar com esse negócio (inint)

[00:04:13].

195) F: Então, tem que durar para um mês, pronto.

196) F: (inint) [00:04:18] a gente não vai mais lá, e aí? Ninguém vai doar para ela.

197) F: Lógico que vai, tem mais (escolas que vão) [00:04:24] lá.

198) F: Tem?

199) F: Ela não tinha dito que tinha (mais escolas que estão lá) [00:04:28]?

200) M: Ah, tinha uma, que era acho 180 reais, acho quer era 12 pacotes de (inint)

[00:04:35] unidades.

214

201) F: É que, gente, a gente vai ter que vender muito para conseguir pagar essa de

cento e poucos reais.

202) F: Ou muitos de nós teria consciência e doar.

203) F: (inint) [00:04:45]

204) M: Dez.

205) F: 12.

206) F: Que é 120, 12, (inint) [00:04:52].

207) F: (inint) [00:04:52]

208) M: Ah, então é 18.

209) F: Não é onde a gente vai?

210) F: Gente, (inint) [00:05:03]. Quem faz aqui para mim?

211) M: (inint) [00:05:09]

212) F: Eu colo. Onde tem tesoura?

213) F: E aí? Hein? Ai, não. Ay, no.

214) F: A gente está pesquisando fralda. A gente já achou fralda.

215) F: Personas, gente. Nós, lá em cima, se subimos, decidimos fazer dos 11

quadros, oito deles, que são os mais legais na nossa opinião, nós fizemos dez de cada quadro.

E dos outros três, dois. Vão sair 86 individuais.

216) F: ¿A cuánto vendemos? Van a salir 86 individuales.

217) F: Dez... dez...

218) F: Cada um?

219) F: Sim.

220) F: Não, (inint) [00:05:54].

221) F: Mas a gente não vai arrecadar...

222) F: É que ninguém vai comprar se for mais caro que dez reais.

223) F: É, eu acho que a gente... 87 quadros?

224) F: Mas é o que ela explicou para a gente, é que vocês não estavam, que não é o

dinheiro da mercadoria, é, tipo, a ação, sabe? As pessoas não vão pagar porque está bonito,

elas vão pagar porque elas vão ficar comovidas com a história do asilo.

225) F: Vão doar.

226) F: Elas (querem doar) [00:06:12].

227) F: Eu vou explicar melhor. A venda, vocês não estão vendendo um produto,

vocês estão vendendo uma ideia, vocês estão vendendo uma história.

228) F: Mas o produto tem que ser bom também.

215

229) F: Pessoas que doam não recebem nada em produto de volta. O produto está

sendo simplesmente para valorizar algo que elas fizeram.

230) F: Não, sim, eu acho que vai vender, assim, (inint) [00:06:35].

231) F: Vocês não têm que falar: "olha, isso é super legal para você pôr na sua mesa,

você vai comer, vai babar e nem vai sujar a mesa", não.

232) F: A gente vai falar da história.

233) F: A gente vai falar: "isso daqui é uma história de vida, você está comprando,

está ajudando uma história de vida. Você é uma pessoa incrível".

234) (inint) [00:06:54]

235) F: (Na casa) [00:06:59] ela pode deixar o dinheiro, se ela não quiser comprar.

É, ué, ela tem dinheiro. Elas decidiram dez pacotes e se tiver 34, se fizer o kit, 35.

236) F: (inint) [00:07:14] leva quatro...

237) F: Mas o meu está mais bonito, (inint) [00:07:15].

238) F: É que assim, (inint) [00:07:17], a gente achou (inint) [00:07:19].

239) (inint) [00:07:19]

240) F: (inint) [00:07:22] dá para comprar?

241) F: (inint) [00:07:23] falou? Que é de 60...

242) F: A gente mudou.

243) F: A gente mudou, (inint) [00:07:27] mais confiável.

244) F: Mas aquele valor é legal.

245) F: Não, é porque...

246) F: A gente achou uma de 30 e de 45.

247) F: Eu acho que fica muito legal assim.

248) F: É, foi esse eu (vi também) [00:07:33].

249) (inint) [00:07:34]

250) F: É porque essa (inint) [00:07:38].

251) F: É porque na verdade, não adianta também comprar uma fralda muito ruim

porque ela desfaz. A pessoa, quando usa fralda, usa (inint) [00:07:46] em criança, nunca

(inint) [00:07:48], eu tive filho...

252) F: (inint) [00:07:49]

253) F: Esse eu não sei, deixa, vamos ver como (inint) [00:07:55].

254) F: O que você come? (inint) [00:07:55] vou escrever (inint) [00:07:56].

255) F: A gente já decidiu a fralda, mas só que porque é um pouco mais cara que a

outra só que a outra não é tão confiável.

216

256) F: Não, é mais barata porque são menos.

257) F: É.

258) F: É.

259) F: É.

260) F: ¿Se vendemos las 87 a diez, ¿cuánto vendemos?

261) F: 870.

262) F: 870.

263) F: ¿Cuánto vamos a tener que pagar a (a la gráfica) [00:08:21]?

264) M: Então, eu estava...

265) F: Tem mais outra ali, ali está o tamanho P, que é 45.

266) F: Pagar para a gráfica? Mas a gráfica não é da escola?

267) F: (inint) [00:08:29]

268) F: No, aquí es da escuela, pero la escuela tiene un gasto.

269) F: Dois pacotes.

270) F: Tem uma gráfica aqui, então? A gente pode usar?

271) F: Es una fotocopia y (inint) [00:08:44].

272) M: Marisol, a gente...

273) F: Mas a gente tem que pagar? Não é a escola que banca tudo?

274) F: (inint) [00:08:51] esse negócio está incluído?

275) (inint) [00:08:55]

276) F: Mas é que a fralda não era boa.

277) F: Mas acho que tem pequeno? Põe o M pelo menos.

278) F: Oh, o M...

279) F: Depende, no sabemos.

280) F: Vê o M e o G.

281) F: O M, eu acho.

282) F: Que algumas são (inint) [00:09:10].

283) F: Galerinha, presta atenção, porque se você colar muito tem que ser bem

justinho, ou (inint) [00:09:16] um pouco mais.

284) F: (inint) [00:09:17] um preço maior, se o menor é mais caro...

285) F: O quizás este, (inint) [00:09:23] a personas así...

286) F: É, pode ser.

287) F: Ou alguns, tipo aquele.

288) F: Podemos (inint) [00:09:30].

217

289) F: Aquele, sim, esse do lado.

290) F: Fica melhor assim.

291) F: Mari, Mari, (inint) [00:09:36].

292) F: Porque (inint) [00:09:39].

293) F: É, então.

294) F: (inint) [00:09:42]

295) F: Você acha melhor a gente (inint) [00:09:44]?

296) F: Tinha mais um quadro, é isso que eu não estou encontrando. Não, um

quadro, não é uma (inint) [00:09:51]. Meninas...

297) F: Não é aqui.

298) F: Eu acho que é.

299) F: Tem um quadro que tinha, que está faltando.

300) F: Que quadro?

301) (inint) [00:10:01]

302) F: Ah, mas eles tinham que se...

303) F: (inint) [00:10:22]

304) F: Cida. Tem uma fotografia da Cida, é gigante, vai ter que cortar.

305) F: A gente tem que pensar no (inint) [00:10:27].

306) F: No, hay otra.

307) F: Não, meu amor, é aqui.

308) F: Hay otra pequeña.

309) (inint) [00:10:33]

310) F: Trabajar en una gráfica y (inint) [00:10:41].

311) F: Dame que la chica corta (inint) [00:10:50].

312) F: (inint) [00:10:58] cortar aí.

313) M: Primeiro fala uma cor que não seja vermelho, amarelo, rosa ou verde.

314) F: Pega o vermelho para fazer o (inint) [00:11:07].

315) F: Laranja.

316) F: Azul.

317) F: (inint) [00:11:08]

318) M: Azul também eu ia falar.

319) F: Mas você tem que diminuir a fotografia aqui, está bom?

320) F: Laranja. Não pode ser laranja?

321) F: Aqui? Amarelo?

218

322) F: Não, é porque senão vai ficar muito grande.

323) F: Preto. Preto.

324) F: Branco.

325) F: Preto. Branco.

[00:11:18] ORGANIZAÇÃO DOS QUADROS DS

326) F1: Vamos a intentar hacer la idea de las luces, pero si no hay como hacerlas,

vamos a dibujar y tuvimos la idea de hacer los ancianos abajo y poner corazón como que

trajéramos alegría a ellos, porque nuestro proyecto es ayudar a animarlos, a traer diversión a

ellos.

327) F2: Explica o que é isso.

328) F3: Que ellos se sientan útiles también, ¿no?

329) F1: Sí.

330) F2: Explica isso daqui.

331) F: (Yo intentaba) [00:00:45] dibujar un (inint) [00:00:48], yo pensé en retratar

llevando alegría y diversión a los ancianos.

332) F2: Como flechas, (inint) [00:00:58], como que aquí ponerlas antes que están

haciendo, como van a llevar al show de calouros, ¿no? Es como llamamos nosotros. Entonces

poner de alguna forma eso que están haciendo, otra aquí, la comida que está llevando. Cosas

que ellos, como Quijotes Solidarios están haciendo. Flechas a la salud, porque también (inint)

[00:01:22] de la alegría dando salud a los ancianos.

333) F: Bueno, pero también vale la pena apuntar que en el día de la belleza, una me

pintó la uña a mí, que ellas pintaron, verdad? Que podemos presentar esto cerca de lo que van

a vender, ¿no? Que ahí es la propaganda.

334) F: Podemos colocar esto, de cuando...

335) F: Sí. Y yo tengo las fotos de ellas pintando.

336) F2: Hay que imprimirlas, ¿no? Algunas.

337) F: Imprimirlas.

338) F2: Una de ellas pintando, otra ellas...

339) F: Encontrar las fotos que tú las ha sacado, mejor que las mías.

340) F2: ¿En serio?

341) F: Sí, sí.

342) F2: Disculpa, es que yo siempre hago cosas mejores que vos.

343) F: Me encantó porque (inint) [00:02:08].

344) F2: Vai editar, você acha que não vai editar?

219

345) F: (É só cortar) [00:02:12].

346) F: (inint) [00:02:15] pessoas que precisam de comida e têm fome e (inint)

[00:02:25].

347) F: No puede. Voy a hacer el reporte.

348) F2: ¿Entendiste?

349) F3: ¿Y qué les parece?

Aposentadoria

350) F2: Ah, creo que tenemos que... no sé cómo hablar, pero poner más cosas para

Mariana, porque se quedó isolada en muchas partes del proyecto.

351) F3: ¿Qué tipo de cosas podría hacer Mariana, chicas?

352) F2: Es que ese es el problema, no pensamos.

353) F: Ela ficava sola.

354) F1: Sí, se quedaba sola.

355) F: Fui allá y ella estaba sola.

356) F: Los dulces también no daría para hacer con Mariana, porque ella estaría en

el cuarto y tendríamos que dividir a las personas para unas estaren con Mariana y otras ayudar

en los dulces.

357) F3: La chica que cuida de ellas, que yo no me acuerdo el nombre, una morena,

(negra) [00:08:40], me ha dicho que cuando comentamos del tema del bingo, super se animó y

dijo: "no, sí, cuando vengan la próxima vez, vamos a sacar la Mariana con la cama y vamos a

llevarla al living para jugar al bingo". Fue lo que ella ha dicho. Pero no sé si se puede de

verdad, o si solo fue un entusiasmo.

358) F1: No, pero, por ejemplo, para el bingo, quizás ella no... pero para hacer el

dulce...

359) F3: Pero una cosa es estar al lado y decir: "ay, mira, (inint) [00:09:15]", o sea,

ella va a participar de su manera, de la manera que consiga.

360) F1: También.

361) F: Podríamos tocar o cantar alguna cosa para ella, porque ella también puede

hacer muchas cosas. Porque muchos aquí tocan instrumentos.

362) F1: Sí. Es verdad. En ese mismo show de talentos, podrían llevar las flautas y

hacer una presentación.

363) F3: (¿Quién toca qué?) [00:09:45]

364) F: Yo toco piano.

365) F3: Pero tienes el piano...

220

366) F: Teclado.

367) F3: ¿Teclado?

368) F: Yo tengo piano, piano.

369) F3: Yo tengo un piano electrónico. Pero es bastante grande, sí. ¿Será que

consigo llevarlo? Porque...

370) F1: Todo se consigue, cariño.

371) F3: Claro. Porque vengo con dos hijas en una bola. Mi coche. Cambié de

coche, ahora es una bola. Es un Citroën C3, que no entra nada.

372) F: Mas também, con Mariana podríamos preguntar para ella qué cantor, qué

música le gusta y hacer...

373) F: En su cuarto.

374) F: En su cuarto.

375) F3: La chica dijo que da para sacar la cama, de repente, conseguimos que ella

venga.

376) F1: Entonces tenemos plan A y plan B. Si da, OK, y si no, es una buena

solución.

377) F3: Porque, mira, (inint) [00:10:42] vamos solo acordar, Jorgina puede

levantarse y sentarse en el living, en el salón. Mariana no. Cida...

378) F2: Consegue, mas...

379) F: ¿Cida es cuál?

380) F3: Cida es la que no le gusta mucha, pero si decimos que es con música, tal

vez venga.

381) F1: Ah, sí, ahí saldrá de su cuarto.

382) F: Aquela que fica cantando?

383) F3: Sí. Y si hay comida, viene.

384) F1: No, ella tiene su cuarto ahí atrás. Si hay comida, viene.

385) F3: Tiene que estar con comida.

386) F1: Música y comida (inint) [00:11:09].

387) F3: Dice que con comida viene. Herminia es la chiquitita, ¿no?

388) F: Sí, sí.

389) F3: ¿Cuál es? Ah, no, es la negra que pone cara brava.

390) F1: Que no quería pintar, quería chocolate para colaborar.

391) F3: Sí. Que (inint) [00:11:26]. Esta también camina hasta el living. Asunción

es la que queda doblada.

221

392) F: Ah, eu acho que...

393) F: Ela vai ficar na sala.

394) F3: Pero va a estar ahí, viendo.

395) F1: Va a estar ahí.

396) F3: Pensáis que (inint) [00:11:38] sea más fuerte, porque en el momento estaba

enojadísima, porque quería ir al baño, ¿se dieron cuenta? Y nadie la llevaba, "nadie me

escucha", decía. ¿Tú la viste? Buenísimo. Bravísima.

397) F: Lo vamos a hacer, si no da cierto (inint) [00:11:54] con todas las señoras en

la sala, tenemos que hacer en el cuarto de Mariana. ¿Pero si no conseguimos por causa del

espacio?

398) F: ¿No, pero el cuarto (inint) [00:12:09]?

399) F: Ou a gente faz em outra...

400) F2: ¿Y si hiciéramos una presentación solamente en el cuarto de Mariana para

ella?

401) F: Sí.

402) F: Sí.

403) F3: Pero no entran todos.

404) F: (inint) [00:12:19]

405) F3: Una presentación, somos 20...

406) F: En cuanto hacemos en el cuarto de Mariana, los grupos hacen (inint)

[00:12:29].

407) F: Sí.

408) F: Então a gente ia ter que dividir, mas a menor parte teria que ir para qual... ou

vai ter a quantidade de pessoas?

409) F: Deve ser mais ou menos umas seis pessoas, eu acho.

410) F1: Entonces espera, vamos a ver. ¿De aquí quién se presentaría?

411) F: ¿Quién?

412) F3: (inint) [00:12:51] el teclado. Yo voy a ver si consigo...

413) F1: Entonces espera. Vamos a hacer una planificación que es para actividad

social. Entonces vamos a hacer, recapitulando, vamos a montar allá un show, ¿no? Entonces

el objeto es un show. ¿Pero es cualquier show? ¿Circo de Soleil? ¿No sé qué?

414) F3: Circo de Soleil, Angelina va a ser...

415) F: Ai, eu já fui no Circo de Soleil, é muito engraçado.

416) F: Tal vez si le gusta las músicas, podría ser una lista (inint) [00:13:20].

222

417) F: Podemos ver cuáles músicas le gusta y podemos... tirar.

418) F1: Ya. Ahora, pensando en lo que tú has dicho, que si ellas hicieras algo para

sentirse que son (inint) [00:13:33] mucho, ¿qué ellas podrían hacer?

419) F: Ellas podrían entrar y cantar.

420) F1: Y cantar, las podemos invitar.

421) F: Las que quieran.

422) F: Las que quieran.

423) F1: Las que quieran. O bailar, ¿no? Porque, de repente, está Sidney Magal

cantando y una se levanta y baila, como su bailarina.

424) F3: Su Magalete.

425) F1: Su Magalete.

426) F3: No? Tem Paniquete, tem Magalete.

427) F2: Podemos poner una música llamada (Estúpido Cupido) [00:14:00].

428) F1: Ah, sí.

429) F3: Muy buena, me encanta.

430) F1: ¿Entonces alguien sabe de qué año serán las músicas que les gustan a ellas?

Por ejemplo, década de 60...

431) F2: 70...

432) F1: Roberto Carlos, ¿qué más?

433) F: Elvis Presley.

434) F1: Elvis.

435) F: Sidney Magal. Qual aquela...

436) F2: Es que no creo que Hebe tiene músicas propias, creo que canta.

437) F1: Ah, Hebe Camargo es una presentadora. Ay, ¿quién va a presentar?

438) F2: Ahí puede ser Hebe Camargo.

439) F: Ai, eu podia apresentar. Eu.

440) F1: ¿Sí? Ya, entones denme el nombre. Entonces aquí, división de tareas.

Presentadora, ¿quién va a ser?

441) F: Yo.

442) F1: ¿Nombre?

443) F: Sofia.

444) F1: Sofia.

445) F3: Apellido.

446) F: (Solan) [00:14:49].

223

447) F1: (Solan) [00:14:50]. Van a estar cantores. ¿Quién puede?

448) F: Oi?

449) F2: ¿Cantores?

450) F1: Y cantoras.

451) F2: Pero tengo una pregunta, ¿es para hacer play back?

452) F1: Sí.

453) F2: Entonces puedo ir.

454) F1: ¿Puedes, Letícia?

455) F3: ¿Por qué?

456) F2: Es porque a mí no me gusta...

457) F3: Pero no entendí por qué...

458) F2: Es que a mí no me gusta cantar en voz alta.

459) F3: ¿Delante a la gente?

460) F2: Sí.

461) F1: Tiene que ser play back por lo que no tenemos músicos.

462) F3: ¿Como no?

463) F: Mas algumas pessoas (inint) [00:15:20].

464) F1: Ah, pero algunas sí, pueden cantar.

465) F: Mi hermano hace facultad de música.

466) F1: Ah, ¿sí?

467) F3: ¿Pero él vendría?

468) F: No sé, creo que si...

469) F1: ¿Qué toca él? ¿Batería?

470) F: No, toca...

471) F: Baixo.

472) F: Baixo, guitarra, piano...

473) F: Seu irmão?

474) F1: Ah, ¿verdad?

475) F3: Y conoce mucho la música brasileña, así como para decir: "quiero Roberto

Carlos", y él la saca ahí?

476) F: Mas também pode ser Garota de Ipanema.

477) F: Creo que no.

478) F1: Ah, Tom... ¿quién canta esa?

479) F: Tom Jobim.

224

480) F1: Tom Jobim. Entonces voy a poner aquí Sidney Magal, Tom Jobim, ¿qué

más?

481) F3: (inint) [00:15:53]

482) F: Chico Buarque.

483) F: Mas só que não dá para a gente ir lá cantar, porque elas vão saber. Elas vão

saber (inint) [00:15:58].

484) F1: Ah, ¿cómo así? ¿Llamar cantor?

485) F3: Voy a buscar.

486) F1: Chico Buarque es una buena. ¿De Fuscão Preto?

487) F: (inint) [00:16:04] ¿no sería una buena idea, ellas no saben que vamos a

presentar y llegar de sorpresa e a gente a presentar?

488) F1: Pero vamos a pedir a la señora que avise que va a haber un show, que ellas

se alisten, ¿no? Que vamos a llevar personalidades como Sidney Magal. Y tenemos que...

489) F: Mas não fala o cantor.

490) F: Sí.

491) F1: No cantamos. Shows con cantores famosos.

492) F: Porque senão vai perder a graça, elas vão achar (inint) [00:16:30].

493) F: E é legal (inint) [00:16:30] da nossa época?

494) F: Tem um também... James Brown, não?

495) F3: James Brown. Hacer el show con la... él usa, ¿no? Una capa así

496) F1: Entonces, división de tareas. Ahora vamos a dividir las tareas.

497) F3: Almir Rogério.

498) F1: Almir Rogério. Tenemos que dividir tareas. Tenemos cantores, tenemos

presentadora, ¿tenemos qué más?

499) F: Apresentadora é o que...

500) F: Apresenta.

501) F: Não, eu esqueci o nome do negócio.

502) F3: Presentadora es Hebe Camargo, que ellas conocen.

503) F1: Bailarinas. Ahí tenemos varias.

504) F: Alguém aqui conhece a (Cátia Kiss) [00:17:11]?

505) F1: No.

506) F: Não.

507) F: Ah, então (inint) [00:17:14].

508) F1: No, bailarinas, ¿qué más?

225

509) F3: Yo conozco Cássia Kiss.

510) F: Isso.

511) F3: Ah, actriz.

512) F1: Entonces, y tenemos director. ¿Qué más? Vayan diciendo todo que puede...

513) F: Diretor, figurinista.

514) F: Atriz, ator.

515) F: Maquiador.

516) F3: Figurinista es importantísimo.

517) F1: Ah, figurinista, maquiador.

518) F2: Es de qué época, para pesquisar más?

519) F1: Qué época, chicas?

520) F2: Es porque hay que poner chicas, porque solo hay...

521) F: É narradora, não é? Presentadora.

522) F3: No, presentadora es una cosa, narradora es otra.

523) F1: Narrador es de una historia.

524) F3: Es como Faustão, ¿tú conoces este hombre?

525) F: Ai, quem não conhece Faustão?

526) F3: Bueno, yo no lo veo, conozco porque soy grande y lo conocí...

527) F: Nossa, detesto Faustão, ele é horrível de ver.

528) F: Eu também.

529) F1: Atropella a todos, no?

530) F3: Perdidos na noite.

531) F1: Bueno, entonces tenemos todo... miren, a quién no le gusta cantar, puede

encontrarse en otro lugar. Figurinista.

532) F: Figurinista é importante.

533) F1: Es importante y necesita mucho de ayuda. ¿Por ejemplo, qué yo tengo en

mi casa que puedo traer y tengo que traer? Peluca, de repente, una ropa, una diadema con

brillos. Entonces todo mundo tiene que dar, porque nadie va a tener todo, ¿no? De Elvis

Presley.

534) F: Elvis Presley é uma perucona. Porque ele tem cabelo preto.

535) F: No, es un (inint) [00:18:36] y una calça brilhante.

536) F1: Exacto.

537) F: Calça branca também. Sapato branco.

538) F3: Sí, él tiene una ropa toda blanca, que es muy conocida.

226

539) F1: Llena de brillos...

540) F: Eu tenho calça branca.

541) F: (inint) [00:18:46]

542) F: E ele tinha um negocinho (inint) [00:18:48].

543) F1: ¿Alguien aquí sabe bailar flamenco?

544) F: Mi hermana.

545) F: Eu fazia, eu fazia. Mas eu não sei nada.

546) F: Mi hermana.

547) F1: Pero ni puede...

548) F3: ¿Tú tienes ropa?

549) F: É de espanhola.

550) F3: Sí.

551) F: De espanhola é a mesma coisa, não é?

552) F3: Sí.

553) F1: Sí.

554) F: Eu acho que eu tenho um sapato...

555) F: (inint) [00:19:04]

556) F3: Pero no importa, es un poco, no hace falta que hagas (inint) [00:19:10].

557) F1: Un minuto.

558) F: La ropa de James Brown es una capa, ¿no?

559) F3: ¿James Brown? Él usaba como un rey y era así...

560) F2: ¿Es años 70?

561) F3: James Brown es años 70, Elvis también. 60, 70.

562) F1: Porque también les iba gustar una presentación de danza española.

563) F: É, mas eu não sei dançar direito.

564) F1: ¿Será que la invito a Tábata?

565) F: Sí, (inint) [00:19:34].

566) F3: Pero Tábata da curso agora.

567) F: Eu tenho uma amiga.

568) F3: En la tarde. De danza española. Podría ir con nosotros y con las alumnas,

pero...

569) F: La Tábata pequeña também dança, não dança?

570) F1: Ah, sí.

571) F3: ¿Se llama Tábata la hija de Tábata?

227

572) F1: No.

573) F: No.

574) F3: Tú la llama así.

575) F: A Tábata do nosso.

576) F3: Ah, yo creo que sí, yo ya le he visto, sí.

577) F1: Entonces, miren, tenemos esto para pensar, para ensayar.

578) F3: (inint) [00:20:00] con una ropa... (¿ninguna?) [00:20:05].

579) F2: No sé qué quiero hacer.

580) F1: Tenemos tiempo para pensar.

581) F: No sé qué quiero hacer.

582) F1: Reglas. Combinados. ¿Qué no se puede de manera alguna?

583) F: Rir?

584) F: Rir?

585) F1: La primera, que quién se compromete...

586) F: Yo puedo.

587) F: Puedo ir. ¿Qué día? ¿Cuál es la próxima visita?

588) F1: Esto creo que no va a ser en la próxima, porque...

589) F3: En mayo es, pero...

590) F1: Primer miércoles de mayo.

591) F: Ah, eu vou poder.

592) F3: ¿Primer miércoles?

593) F: Que dia que é isso?

594) F1: (inint) [00:20:35] eso, ¿no? O puede ser el segundo.

595) F: ¿Pero qué día que es?

596) F1: Dos de mayo.

597) F: ¿Dos de mayo?

598) F1: (inint) [00:20:44]

599) F3: (inint) [00:20:44] tiene que ser el nueve, que es la semana de...

600) F1: Ah, 09 de mayo. 09 de mayo.

601) F: Es porque yo no puedo día 04.

602) F1: ¿Por?

603) F: Es mi cumple.

604) F1: Ay, el de mi hijo es día 03.

605) F3: ¿Tú eres taurino?

228

606) F1: Entonces, chicos, 09 de mayo. Tenemos tiempo para hacer, para

programar.

607) F: ¿Van a ser cuántas personas?

608) F: Para ensayar un poco.

609) F1: Entonces, miren lo que tenemos. Presentadora, cantor, bailarina, director,

figurinista, maquilador... ah, y quién va a vender las entradas.

610) F: Ay, sí, sí, sí, yo.

611) F: Yo.

612) F: Yo, eu já falei tem muito tempo.

613) F3: ¿Están huyendo de la cosa, ahn?

614) F: No, puedo ser otra cosa también.

615) F1: ¿Qué? Ya. Sí, la entrada ella vende. Y después necesitamos quién pueda

vender...

616) F: Quem é uma coisa pode ser outra coisa?

617) F1: Si no quiere...

618) F3: (inint) [00:21:41]

619) F: Si más de una persona quiere hacer la billetería, también podemos hacer un

banco para coger el dinero.

620) F: Ah, pode ter aquelas cabininhas, sabe?

621) F1: Entonces vos tenéis que dividir para hacer tareas.

622) F: (inint) [00:21:55] quando a gente coloca na carteirinha, sabe? Então, meio

que isso.

623) F1: Ahora, chicos, yo estaba pensando en el logo de nuestro dinero.

624) F3: ¿Y tenemos que elegir entre uno de estos logos?

625) F1: Y tenemos aquí los que han hecho dibujos...

626) F: A gente vai falar em português, né?

627) F3: Sí.

628) F1: Ah, sí.

629) F: Creo que este.

630) F1: ¿Qué está escrito ahí? Mande lembranças... este, visitando el pasado.

631) F: Gostei desse.

632) F: Sí, este es bueno. Visitando el pasado.

633) F: Gostei desse.

229

634) F1: Ah, puede ser... ¿no ve que el dinero de un lado tiene una cosa y del otro,

otra?

635) F: Sí. Puede ser el símbolo del colegio.

636) F1: También.

637) F: Pode ser o símbolo do colégio, o novo logo e embaixo que tem...

638) F: (inint) [00:22:53]

639) F: Ah, eu gostei.

640) F: Achei horroroso. Ficou muito bebezão, era tão legal antes.

641) F2: Sí, el nuevo, a mí no me gustó el nuevo.

642) F3: A mí sí. Me parece el otro más artístico, obvio.

643) F: Sí, sí, sí.

644) F3: Mucho más. Pero este es moderno.

645) F2: Mucho más elegante, (inint) [00:23:09].

646) F: Eu gostei.

647) F: Dá para ver que (inint) [00:23:12].

648) F3: 09 de mayo.

649) F1: 09 de mayo. Y el otro...

650) F3: 12 de junio, creo que era, ¿no?

651) F1: Queridas, entonces miren, tenemos más dos visitas.

652) F: Ou a gente pode pegar o do colégio e escrever embaixo o nome que a gente

pode dar para...

653) F: Cada dinheiro pode der um desenho.

654) F3: 09 de mayo y 13 de junio.

655) F1: Y para ellas es importante que miren en recibir un dinero de 20 cervantes,

20 Quijotes, que se llamen.

656) F3: Quijotes, porque es Quijotes Solidarios.

657) F1: 20 Quijotes, que se llamen 20 Quijotes y la entrada cuesta 15. Entonces yo

quiero que ellas también tengan que pensar: ¿tienes cambio? ¿No tienes cambio? Porque

también hay que ayudarlas en la memoria, entrenar, ¿no? Entonces ya sabemos, la moneda se

va a llamar...

658) F: 20 Quixotinhos.

659) F1: ¿El dibujo va a ser este con este? ¿Este con este? Bueno, vamos a escoger.

660) F3: Tal vez si no hay uno aquí escogido.

661) F: Eu gostei de todos, mas eu escolheria esse, esse e esse.

230

662) F3: ¿Ese?

663) F: Ai, eu gostei desse.

664) F3: Bueno, en realidad, no sé, es una opinión mía. Todo bien que ellos están

punta firme aquí, pero creo que somos 20, ¿no? Como para elegir hoy eso.

665) F1: Pueden ir pensando. Hasta decimos, parte del grupo escogió estos dos.

Porque también el no estar es (asumir) [00:24:47]...

666) F3: Quita, claro. Perfecto.

667) F1: Que hemos pensado.

668) F: Sí.

669) F1: Y aquí nos podemos dividir ahora, pero tenemos una tarea.

670) F: ¿Cuál?

671) F: Ah, isso aí (inint) [00:24:58].

672) F3: Tenemos una tarea para...

673) F: ¿Cuál es la tarea? ¿Cuál es la tarea?

674) F3: Tenemos la tarea de Diego.

675) F1: (inint) [00:25:04]. De Diego.

676) F: ¿Quién es Diego?

677) F3: ¿Mira, entonces cuáles son las que eligieron ustedes?

678) F: Uno, dos, tres y 16.

679) F3: No, mi amor, guardamos un segundo acá.

680) F: Ah, tá.

681) F3: ¿Cuál dibujo ustedes, este grupo, decidió?

682) F: Yo quiero...

683) F: Eu gostei deste.

684) F1: Un voto aquí. ¿Este voto aquí está escrito? ¿Cómo sería esto en español?

685) F: Una (inint) [00:25:33], no sé.

686) F3: Un mar...

687) F: Un mar de recuerdos.

688) F1: Recuerdos. Un mar de recuerdos. De pronto, podemos hacer en español. ¿Y

aquí?

689) F3: ¿Este? ¿Este? Pero puede ser un logo y otro nombre.

690) F1: Puede.

691) F: Mas, tipo, a gente vai ter várias... para que? Mas a gente vai desenhar um

logo, a gente pode juntar os logos.

231

692) F1: Puede ser. Visitando el pasado puede ser un Quijote más (inint) [00:26:06].

Como rocinante (inint) [00:26:09].

693) F3: Bueno. Vai.

694) F1: Ahora, ¿qué tiene que ver la tarea de Diego? La tarea de Diego tiene que

ver mucho con lo que hacemos aquí. Es trabajar con las O-D-S. O-D-S.

695) F3: ¿Saben qué es? (inint) [00:26:27] de D, desarrollo, sostenible. Son

objetivos para un desarrollo sostenible.

696) F: ODS.

697) F3: Son 17, pero nosotros el otro día, que no estabas, hemos elegido cuatro.

698) F: Sí. Uno, dos, tres y 16.

699) F3: Sí. Fome cero, hambre cero.

700) F: Hambre cero, justicia y paz...

701) F3: (inint) [00:26:59] de pobreza...

702) F: Saúde e...

703) F3: Salud y (inint) [00:27:03].

704) F: O que é isso?

705) F1: Vamos a explicar. Existe una organización...

706) F3: (inint) [00:27:06] Disculpe, es solo porque ella está interesada, pero tiene

que...

707) F: Alguém me fala...

708) F3: ¿Alguien después pasa para (Angel) [00:27:17]?

709) F1: Ya.

710) F: Obrigada.

711) F1: ¿Entonces, quien ha escuchado hablar de la ONU?

712) F: ONU, Organização das Nações Unidas.

713) F3: Exactamente.

714) F1: La ONU es una organización muy grande, que tiene unos objetivos muy

claros. Pero eran objetivos de toda naturaleza, a pensar en infancia, a pensar en la pobreza, a

pensar en el hambre. Entonces imagínense la ONU como un árbol y ramas. Una de las ramas

se llama Unicef, otra se llama Unesco. Entonces cada una de esas se programa y estudia qué

pasa en el planeta y cómo podemos ayudar. Esa escuela hace parte de la (PEA) [00:27:57]

Unesco. Que tiene que ver así, ¿qué es importante que los niños en infancia trabajen para

mejorar el mundo? Entonces qué las escuelas pueden decir: "uy, eso es importante, con eso

quiero trabajar con mi alumno"? ¿Entonces qué hemos pensado? Primero, en la tierra, en el

232

agua, en los cambios climáticos. ¿Qué estamos haciendo? ¿Qué la humanidad hace que

interfiere en eso?

715) F3: Energía.

716) F1: Entonces cuando vean así, y se van a dar cuenta ahora en la feria del libro

(espanidad) [00:28:28] que siempre intentamos pensar en contenidos históricos que tenemos

que aprender, pero también pensando en sostenibilidad del planeta. Esas ODS son objetivos

de desarrollos sostenible. Y tienen 17. Hay más, pero los principales son esos, tratar del

hambre, de tener un...

717) F3: Erradicación de la pobreza, energía sustentable. ¿Ustedes saben qué es

desarrollo sustentable? Sostenible. ¿No? ¿Ninguno? ¿Qué se imaginan que es? ¿Saben qué es

desarrollo?

718) F: Sí.

719) F: Sí.

720) F3: ¿Saben qué es sostenible? ¿Sustentable? ¿Entonces qué se imagina que es

desarrollo sustentable?

721) F2: Que es un desarrollo para ser sostenible, no sé. Como se fuera un camino,

como se fuera una cosa de poco a poco para ayudar al sostenible. Por ejemplo, reciclar y

después... no sé, tal vez... no sé cómo explicar.

722) F3: Está bien. ¿Alguien más quiere intentar algo?

723) F1: (Ariesguense) [00:29:48], piensen alto.

724) F: Agora eu entendi o que é isso.

725) F: Tuvimos unas ideas, ¿no?

726) F3: Sí. Desarrollo, cuando ustedes piensan, ¿Brasil es un país desarrollado?

727) F: Não.

728) F: Mais ou menos.

729) F: Desenvolvido.

730) F1: Desenvolvido.

731) F: Mais ou menos.

732) F2: É subdesenvolvido.

733) F3: Subdesarrollado, no?

734) F1: En algunas cosas, en otras no.

735) F3: Sí. Un país desarrollado es un país que...

736) F: Que é mais desenvolvido.

233

737) F1: Económicamente, políticamente. Pero no adelanta tener un país rico y que

digan: "ay, que extraño, en este país los niños mueren pequeños. ¿Por qué será?". Porque no

tienen vacuna, porque la mamá durante su embarazo no es asistida, no se cuida. ¿Porque

saben que una mujer, cuando se embaraza, tiene que hacer prenatal? Para saber cómo está su

tensión, para saber si el bebé se está desarrollando. Hay lugares en que no hay eso. Entonces

cuando dicen desarrollo... voy a dar un ejemplo básico. La invención del coche. Guau, cambió

la humanidad.

738) F3: Pero... solo para volver acá. No puedes tener esas invenciones, o este

desarrollo sin pensar en que sea sustentable.

739) F1: El impacto con el ambiente.

740) F3: Porque si el ambiente se destruye totalmente, nosotros somos medio

ambiente. Somos naturaleza. Morimos juntos. Entonces desarrollo sustentable es eso, es que

podamos fabricar coches pensando si puedo fabricar diez o si puedo fabricar 100. Porque si

fabrico 100, ¿qué cosas en mi país van a perder para tener esos coches?

741) F: Ah, é o caso dos Estados Unidos.

742) F1: Exacto. El coche es bueno, pero está contaminando el aire de una manera.

Ah, pero es bueno que todo el mundo tiene. Entonces hay que decir no, tengo que seguir, eso

es importante, pero ¿cómo no tener impacto en el planeta? Y ahí tenemos algunos, que cada

uno piensa esos 17, por ejemplo, erradicar la pobreza, ¿será que hay lugar en el mundo en que

todavía hay pobreza?

743) F: Sí.

744) F: Sí.

745) F: Sí, todo lugar tem, menos em Dubai.

746) F1: Será?

747) F3: No sé, no conozco a Dubái.

748) F1: ¿Será que todos los países tienen calidad de vida saludable?

749) F: No.

750) F: No.

751) F1: ¿Será que hay lugares en el mundo que ya no existe hambre?

752) F: No.

753) F1: No. ¿Será que en todo lugar hay paz?

754) F: Não. Síria.

755) F3: Pero hay lugares que son más desarrollados y, es más, (de una manera)

[00:32:22] sustentable.

234

756) F2: Noruega, por ejemplo.

757) F3: Como Noruega, como Finlandia, ¿no? Hay lugares como Estados Unidos

que es desarrollado, pero no sustentable. Y hay países como el nuestro que no es desarrollado

ni sustentable. Pero está en las manos de nosotros que eso cambie, ¿no?

758) F1: Y el profesor de Ciencias nos ha pedido que hagamos un dibujo escogiendo

uno de esos, pero también presentando nuestro trabajo.

759) F3: Dibujo o intervención, ¿no?

760) F1: O intervención. Entonces tenemos que escoger.

761) F: Mas também, voltando no assunto, se uma pessoa tenta ser solidária, não vai

conseguir ajudar muitas pessoas, porque tem várias pessoas que não têm saúde, passa fome,

tem vários. Então se uma pessoa tentar ajudar não vai dar certo, tem que ajudar todo mundo,

conseguir ajudar.

762) F3: Sí.

763) F: Mas (inint) [00:33:25] para começar.

764) F3: Para que haya muchos hace falta que haya uno, uno, uno, uno, uno.

Entonces no podemos tener esa idea. Porque es la misma cuestión de la basura. Si yo tiro

(inint) [00:33:39] basura en el piso, no va a pasar nada. Pero si yo tiro, tú tiras, ella tira, ella

tira...

765) F1: Pero tienes razón, a veces uno tiene que empezar a incomodar para el otro

se mueva. Pensando en lo que hablamos del seguro salud de las personas que son mayores,

del precio de un...

766) F: Eu acho que devia mudar, porque eu acho que os mais velhos vão ter um

preço mais baixo e... não, tudo devia ser o mesmo preço. Não acho que devia mudar. Porque,

por exemplo, se você pode se aposentar e depois você não ter muito dinheiro para conseguir

pagar o seguro de saúde, vai ter que parar.

767) F1: ¿Chicos, de dónde viene la jubilación? La aposentaduría. ¿Cómo es?

768) F: Cada uno, cuando tú recibes tu salario, tú puedes depositar un poco su

aposentaduría, ¿no?

769) F3: Esa es una jubilación privada. Pero hay otra jubilación.

770) F: O governo dá, não é?

771) F3: No.

772) F: (inint) [00:34:40] y el gobierno da un dinero, pero de acuerdo con su trabajo.

773) F1: ¿Será que los gobiernos nos regalan esta jubilación?

774) F: Sí.

235

775) F: No.

776) F: No.

777) F3: ¿No, regalar? ¿El gobierno? No.

778) F1: Debería pagar las personas, por ejemplo, que... vamos a pensar en un...

¿sabían que se jubila por invalidez también? Sí. ¿Cuándo una persona se jubila? ¿Se

aposenta? ¿Cuándo?

779) F3: Yo trabajo con clases, ¿no? Doy clases. No tengo voz hace una semana. Si

yo sigo con eso durante seis meses y el médico me dice: "tú no puedes más ser profesora".

¿Qué pasa?

780) F: Você tem que fazer um adiantado, você tem que se aposentar adiantado.

781) F3: Jubilación por invalidez.

782) F1: Por invalidez, que ahí no puedo trabajar. Que es mi instrumento de trabajo

es ese y yo no puedo. ¿Entonces las personas se jubilan en este caso y cuál más?

783) F: 60 anos é o máximo.

784) F3: Por edad.

785) F1: Por edad.

786) F: Si cumple determinados años de trabajo.

787) F1: De trabajo.

788) F3: ¿Por tiempo de trabajo, esto dijiste? No, no fue lo que dijiste.

789) F: No, es por condiciones.

790) F1: Sí.

791) F: Físicas.

792) F1: Ahí es invalidez.

793) F3: Que termina en invalidez.

794) F1: Invalidez. Entonces, pero para que ocurra eso tiene que ir a un médico y

decir: "verdad, no puede más trabajar", ahí sí, el gobierno, con lo que tiene o... de dónde sale

este dinero?

795) F: De los impuestos.

796) F1: De los impuestos. ¿Quién paga impuesto, de qué pagamos impuesto?

¿Alguien sabe?

797) F: Todo mundo paga imposto. E tudo o que você compra até você comprar

uma bala tem imposto. Tudo tem imposto.

798) F3: Cuando nosotros recibimos nuestro sueldo, todas las personas tenemos que

aportar, digamos así al gobierno.

236

799) F1: Ya sale, ya sale. O sea, cuando...

800) F3: Sí, es automático. Se llama INSS.

801) F1: (Vamos a hacer de cuenta) [00:36:48] que yo gano mil reales, hacemos de

cuenta que yo gano mil reales, cuando me va a pagar, yo me gano 900, porque 100 se fue en

el INSS, que será para mi jubilación.

802) F: Pero seria bom a gente dar...

803) F3: Tenemos que pagar impuesto.

804) F: Se tem gente que rouba imposto das pessoas, que podia ser usado em

comida, escola pública, melhorar a educação, saúde, podia ser melhor o mundo, mais gente

poderia ter mais chance de ter moradias boas, saúde.

805) F2: Sí, es porque, también una cuestión muy importante que es una de las

principales bases para un país tener desenvolvimiento es la educación. Porque personas con

baja educación, que a veces son obligadas a salir de las escuelas y dejar sus estudios porque

tienen que ayudar a la familia a trabajar, pagar cuentas. En el futuro no es muy bueno, porque

cuando quieren conseguir un empleo de buena calidad, por tener baja escolaridad, no van a

conseguir un empleo de buena calidad y no van a tener un salario muy bueno.

806) F3: Educación es otro de ese y empleo es otro de ese.

807) F: Cuando tú se jubila, tú ganas un dinero, ¿no? Pero si tú no dio ningún dinero

para guardar (inint) [00:38:30], ¿tú ganas dinero?

808) F1: No.

809) F: ¿Y tiene un mínimo o máximo?

810) F1: Buena tu pregunta. Existe un salario mínimo. No puedo contratar una

persona y decir: "ah, te voy a pagar 100". No. Tiene que tener un salario mínimo para pagar.

Yo no sé cuánto está.

811) F: 800...

812) F3: ¿Sueldo mínimo?

813) F: Sí, porque...

814) F3: Depende, hay el estatal y el nacional. El nacional es un poco más bajo.

¿Por qué? Porque el estatal, São Paulo es la ciudad más rica, entonces es un poquitito más

mayor. Yo creo que está, este año, porque ya en enero cambia siempre, creo que está 1.050,

algo así.

815) F: Pero eso no da para pagar ningún plan de salud.

816) F3: ¿De salud? No.

237

817) F1: Primero que para recibir este salario mínimo tienes que trabajar en algo. Y

han visto que a veces esas señoras en esa edad no pueden.

818) F: Si tú ganas tu dinero de jubilación y gastó, ¿que tú haces?

819) F3: ¿Cómo así? No entendí tu pregunta.

820) F: Tú ganas 1.050 reales, tú gastaste en luz de casa, casa, comida y tal. ¿Qué tú

haces?

821) F3: Yo te voy a decir, la mayoría de la población brasileña cobra entre mil, 2

mil y vive con eso.

822) F1: Y muchas veces no le da para pagar un buen plan de salud.

823) F3: Ustedes no saben qué es eso, porque son de familias más... ¿cómo diría?

824) F: Por eso que (inint) [00:40:11] que pensar. Cuando estás muy buena, estás

consiguiendo comer, no estás con fome, tienes que pensar en las personas que están en

condiciones, están sentindo fome, no están consiguiendo se divertir, hay que trabajar, no

tienen tiempo de descanso, solo para conseguir sustentar la familia y por eso que las personas

son solidarias, para poder ayudar. Mas se todo el mundo hace su parte, vamos a conseguir

ayudar más personas y no vas a tener tanto eso en nuestro país, porque vamos a ayudar. É

isso.

825) F1: Sofia, tienes muy buenas ideas. Muy buenos pensamientos, reflexiones.

Chichos, todo eso es verdad, pero también les tengo que decir que es verdad que pagamos

muchos impuestos y que, si de hecho este dinero lo utilizaran de la mejor manera, este país

sería muy bueno. Mira, la (chacha) [00:41:19] que trabaja en casa, ella se hizo un examen y

tiene que hacerse un...

826) F3: Es la empleada familiar, ¿no?

827) F1: (Chacha) [00:41:25] es mi secretaria en la casa, que me ayuda a cocinar, a

lavar. Y ella tiene que hacerse una cirugía muy pequeña, importante. Ella marcó y yo le quise

pagarle, le dije: "no quieres ir a mi médica?", ella dijo: "no, porque después es un tratamiento

un poquito largo, mejor algo cerca de mi casa, porque cerca de mi casa hay un puesto de salud

para hacer", OK. Tardaron tres meses para llamarla. OK, la llamaron, tenía que haber sido el

lunes. Le dije: "Bete, necesitas ir a la casa? Me dices si necesitas un remedio, ¿cómo te va a

ir?", etc. y tal. Ahí llego a la casa el lunes y la llamo: "Bete, ¿cómo fue? ¿Estás bien?

¿Necesitas de un remedio? ¿De algo?", "no me hicieron porque se ha hecho a perder la

máquina que era para hacer la cirugía", "y cuándo va a ser?", "no se sabe".

828) F3: Es así la salud pública.

238

829) F1: Entonces, y es una cirugía importante para ella, que si no se hace puede

quedar una cosa peor.

830) F3: (inint) [00:42:23]

831) F1: Entonces eso es muy delicado, es muy delicado. Cuando hablamos de

calidad de salud es pensar en eso, que pagamos impuestos y deberíamos tener buena

educación y deberíamos tener... entonces si tuviésemos una buena educación ni era necesario

tener que pagar tanto por un seguro de salud, de hecho.

832) F3: Ella...

833) F1: Perdón. Adelante.

834) F: Que esto de la salud pública, en la televisión, en los noticiarios y esas cosas,

habla mucho que hay personas que... yo vi a una mujer que tiene un problema en la pierna y

ella no anda bien. Ella manca. Y ella se quedó tres años esperando por una cirugía y hasta

hoy.

835) F3: Hay mucha gente que se muere antes.

836) F1: Ahora, por otro lado, si consigue ser atendida, les dan remedio, los

atienden bien, pero cuando consiguen, ¿no? Dime, cariño.

F3: (inint) [00:43:23]F: Cuando las personas no tienen mucho dinero para

comprar un seguro de salud, no tienen muchos hospitales públicos. El gobierno debería hacer

más

837) F: Cada uno, cuando tú recibes tu salario, tú puedes depositar un poco su

aposentaduría, ¿no?

838) F3: Esa es una jubilación privada. Pero hay otra jubilación.

839) F: O governo dá, não é?

840) F3: No.

841) F: (inint) [00:34:40] y el gobierno da un dinero, pero de acuerdo con su trabajo.

842) F1: ¿Será que los gobiernos nos regalan esta jubilación?

843) F: Sí.

844) F: No.

845) F: No.

846) F3: ¿No, regalar? ¿El gobierno? No.

847) F1: Debería pagar las personas, por ejemplo, que... vamos a pensar en un...

¿sabían que se jubila por invalidez también? Sí. ¿Cuándo una persona se jubila? ¿Se

aposenta? ¿Cuándo?

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848) F3: Yo trabajo con clases, ¿no? Doy clases. No tengo voz hace una semana. Si

yo sigo con eso durante seis meses y el médico me dice: "tú no puedes más ser profesora".

¿Qué pasa?

849) F: Você tem que fazer um adiantado, você tem que se aposentar adiantado.

850) F3: Jubilación por invalidez.

851) F1: Por invalidez, que ahí no puedo trabajar. Que es mi instrumento de trabajo

es ese y yo no puedo. ¿Entonces las personas se jubilan en este caso y cuál más?

852) F: 60 anos é o máximo.

853) F3: Por edad.

854) F1: Por edad.

855) F: Si cumple determinados años de trabajo.

856) F1: De trabajo.

857) F3: ¿Por tiempo de trabajo, esto dijiste? No, no fue lo que dijiste.

858) F: No, es por condiciones.

859) F1: Sí.

860) F: Físicas.

861) F1: Ahí es invalidez.

862) F3: Que termina en invalidez.

863) F1: Invalidez. Entonces, pero para que ocurra eso tiene que ir a un médico y

decir: "verdad, no puede más trabajar", ahí sí, el gobierno, con lo que tiene o... de dónde sale

este dinero?

864) F: De los impuestos.

865) F1: De los impuestos. ¿Quién paga impuesto, de qué pagamos impuesto?

¿Alguien sabe?

866) F: Todo mundo paga imposto. E tudo o que você compra até você comprar

uma bala tem imposto. Tudo tem imposto.

867) F3: Cuando nosotros recibimos nuestro sueldo, todas las personas tenemos que

aportar, digamos así al gobierno.

868) F1: Ya sale, ya sale. O sea, cuando...

869) F3: Sí, es automático. Se llama INSS.

870) F1: (Vamos a hacer de cuenta) [00:36:48] que yo gano mil reales, hacemos de

cuenta que yo gano mil reales, cuando me va a pagar, yo me gano 900, porque 100 se fue en

el INSS, que será para mi jubilación.

871) F: Pero seria bom a gente dar...

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872) F3: Tenemos que pagar impuesto.

873) F: Se tem gente que rouba imposto das pessoas, que podia ser usado em

comida, escola pública, melhorar a educação, saúde, podia ser melhor o mundo, mais gente

poderia ter mais chance de ter moradias boas, saúde.

874) F2: Sí, es porque, también una cuestión muy importante que es una de las

principales bases para un país tener desenvolvimiento es la educación. Porque personas con

baja educación, que a veces son obligadas a salir de las escuelas y dejar sus estudios porque

tienen que ayudar a la familia a trabajar, pagar cuentas. En el futuro no es muy bueno, porque

cuando quieren conseguir un empleo de buena calidad, por tener baja escolaridad, no van a

conseguir un empleo de buena calidad y no van a tener un salario muy bueno.

875) F3: Educación es otro de ese y empleo es otro de ese.

876) F: Cuando tú se jubila, tú ganas un dinero, ¿no? Pero si tú no dio ningún dinero

para guardar (inint) [00:38:30], ¿tú ganas dinero?

877) F1: No.

878) F: ¿Y tiene un mínimo o máximo?

879) F1: Buena tu pregunta. Existe un salario mínimo. No puedo contratar una

persona y decir: "ah, te voy a pagar 100". No. Tiene que tener un salario mínimo para pagar.

Yo no sé cuánto está.

880) F: 800...

881) F3: ¿Sueldo mínimo?

882) F: Sí, porque...

883) F3: Depende, hay el estatal y el nacional. El nacional es un poco más bajo.

¿Por qué? Porque el estatal, São Paulo es la ciudad más rica, entonces es un poquitito más

mayor. Yo creo que está, este año, porque ya en enero cambia siempre, creo que está 1.050,

algo así.

884) F: Pero eso no da para pagar ningún plan de salud.

885) F3: ¿De salud? No.

886) F1: Primero que para recibir este salario mínimo tienes que trabajar en algo. Y

han visto que a veces esas señoras en esa edad no pueden.

887) F: Si tú ganas tu dinero de jubilación y gastó, ¿que tú haces?

888) F3: ¿Cómo así? No entendí tu pregunta.

889) F: Tú ganas 1.050 reales, tú gastaste en luz de casa, casa, comida y tal. ¿Qué tú

haces?

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890) F3: Yo te voy a decir, la mayoría de la población brasileña cobra entre mil, 2

mil y vive con eso.

891) F1: Y muchas veces no le da para pagar un buen plan de salud.

892) F3: Ustedes no saben qué es eso, porque son de familias más... ¿cómo diría?

893) F: Por eso que (inint) [00:40:11] que pensar. Cuando estás muy buena, estás

consiguiendo comer, no estás con fome, tienes que pensar en las personas que están en

condiciones, están sentindo fome, no están consiguiendo se divertir, hay que trabajar, no

tienen tiempo de descanso, solo para conseguir sustentar la familia y por eso que las personas

son solidarias, para poder ayudar. Mas se todo el mundo hace su parte, vamos a conseguir

ayudar más personas y no vas a tener tanto eso en nuestro país, porque vamos a ayudar. É

isso.

894) F1: Sofia, tienes muy buenas ideas. Muy buenos pensamientos, reflexiones.

Chichos, todo eso es verdad, pero también les tengo que decir que es verdad que pagamos

muchos impuestos y que, si de hecho este dinero lo utilizaran de la mejor manera, este país

sería muy bueno. Mira, la (chacha) [00:41:19] que trabaja en casa, ella se hizo un examen y

tiene que hacerse un...

895) F3: Es la empleada familiar, ¿no?

896) F1: (Chacha) [00:41:25] es mi secretaria en la casa, que me ayuda a cocinar, a

lavar. Y ella tiene que hacerse una cirugía muy pequeña, importante. Ella marcó y yo le quise

pagarle, le dije: "no quieres ir a mi médica?", ella dijo: "no, porque después es un tratamiento

un poquito largo, mejor algo cerca de mi casa, porque cerca de mi casa hay un puesto de salud

para hacer", OK. Tardaron tres meses para llamarla. OK, la llamaron, tenía que haber sido el

lunes. Le dije: "Bete, necesitas ir a la casa? Me dices si necesitas un remedio, ¿cómo te va a

ir?", etc. y tal. Ahí llego a la casa el lunes y la llamo: "Bete, ¿cómo fue? ¿Estás bien?

¿Necesitas de un remedio? ¿De algo?", "no me hicieron porque se ha hecho a perder la

máquina que era para hacer la cirugía", "y cuándo va a ser?", "no se sabe".

897) F3: Es así la salud pública.

898) F1: Entonces, y es una cirugía importante para ella, que si no se hace puede

quedar una cosa peor.

899) F3: (inint) [00:42:23]

900) F1: Entonces eso es muy delicado, es muy delicado. Cuando hablamos de

calidad de salud es pensar en eso, que pagamos impuestos y deberíamos tener buena

educación y deberíamos tener... entonces si tuviésemos una buena educación ni era necesario

tener que pagar tanto por un seguro de salud, de hecho.

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901) F3: Ella...

902) F1: Perdón. Adelante.

903) F: Que esto de la salud pública, en la televisión, en los noticiarios y esas cosas,

habla mucho que hay personas que... yo vi a una mujer que tiene un problema en la pierna y

ella no anda bien. Ella manca. Y ella se quedó tres años esperando por una cirugía y hasta

hoy.

904) F3: Hay mucha gente que se muere antes.

905) F1: Ahora, por otro lado, si consigue ser atendida, les dan remedio, los

atienden bien, pero cuando consiguen, ¿no? Dime, cariño.

906) F3: (inint) [00:43:23]

907) F: Cuando las personas no tienen mucho dinero para comprar un seguro de

salud, no tienen muchos hospitales públicos. El gobierno debería hacer más.

908) F3: Hay algunos que cortan los hospitales.Além de dar mais emprego para las

personas, también iban a gastar un poco más, mas ia ayudar las personas hacer otras cosas.

Por ejemplo, esta señora podría hacer la cirugía se tivesse muitos hospitales públicos.

909) Profesora Leky: ¿Qué habéis aprendido a lo largo de nuestra labor en la

residencia de las señoras?

910) Nicole: Es muy triste la situación de las personas mayores. No ganan casi nada y

todo es más caro, los pañales de crianças son más baratos que de viejitos.

911) Andrea: Que la jubilación debería ser más, porque no consiguen pagar todo lo

que precisan.

912) Que la jubilación debería ser más, porque no consiguen pagar todo lo que

necesitan.

913) sim.

914) Daniel: Que es importante cuidarse. Después de una edad las personas pueden

quedarse como la señora acamada, Mariana. Cuando jugamos en la primera clase de hacer

actividades sencillas con aparatos que daban dificultad para hacer, yo me quede muy

preocupado.

915) ¿alguien más quiere aportar?

916) Norma: Que hay que pensar en actividades que ellas puedan divertirse. Pienso

que fue buena idea el show de talentos. Porque ellas no pueden salir de allá.

917) Alice ¡Yo quiero hablar!

918) Espera Alice, tu compañera pidió la palabra antes de ti.

243

919) María Laura: Que hay personas que precisan de ayuda de otros. Nosotros

conseguimos ayudar un poco, pero si continuamos a vender los “jogos-americanos” en las

fiestas del cole, ellas pueden recibir como salario.

920) Profesora Leky: ahora tú.

921) Iba decir lo mismo que María Laura, que los salvamanteles han sido importantes

922) Elvira: Show de Talentos – A mí me gustó mucho porque ellas se divirtieron

mucho y la señora que solo emite sonidos canto “parabéns”. La otra señora que no quería

comprar la entrada canto “Fuscão Preto” y al final ellas bailaron. Y yo canté remedando Elis

Regina. Daniel fue Faustão

923) Profesora Marisol ¿Alguien más quiere hablar?

924) Marcelo: Los teatros que hacíamos aquí y luego allá. Recuerdo que en la primera

clase simulamos situaciones de personas viejitas, y cuando llegamos allá vimos cosas

parecidas. Gisele sabia más porque vive con su abuelita.

925) Vanessa: Atelier de Pintura: Esa actividad yo creo que mudou la vida de ellas.

Porque ahora pueden comprar lo que necesitan. Pero no vasos de vidrio, pero pueden comprar

vasos nuevos de plástico o ir al médico.

926) María: Atelier de Pintura porque fue la actividad que más nos costó y la que

cambio la vida de las señoras.

927) ¿Por qué costó?

928) María: porque ellas no querían hacer.

929) Carolina: Salón de belleza, porque no importa la edad, es importante que las

personas se sientan valoradas. A todas las mujeres les gusta estar arrumadas. Até mesmo a

Mariana. Yo fui peluquera.

244

ANEXO A – APRESENTAÇÃO SOBRE O TRABALHO VOLUNTÁRIO –

PROFESSORA ROCIO EIRAS/2018

245

ANEXO B – PARECER COMITÊ DE ÉTICA – PLATAFORMA BRASIL

246

247