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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP
Marcio Cursino dos Santos
O Monitoramento Eletrônico nas prisões cautelares
Mestrado em Direito
São Paulo 2013
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP
Marcio Cursino dos Santos O Monitoramento Eletrônico de presos nas prisões ca utelares
Mestrado em Processo Penal
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito Processual Penal , sob a orientação do Professor Doutor Claudio Jose Pereira Langroiva.
São Paulo 2013
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
_______________________________
_______________________________
Para Cinthia, João Henrique e Guilherme,
minha esposa e meus amados filhos,
desculpando-me pelas horas de convívio
subtraídas.
Para Ana Maria e Roberto Cursino, um
casal forte, digno de exemplo de família,
muito obrigado, se falhei é porque não os
ouvi, se acertei é porque segui exatamente
o que vocês me ensinaram.
Para a pessoa que retrata fielmente o real
sentido de ser irmão, obrigado pelas
palavras de incentivo Betão.
Ao Professor Doutor Marco Antonio
Marques da Silva, homem probo e dono da
maior inteligência jurídica deste país e,
também da incrível capacidade de transmitir
seu vasto conhecimento, meu muito
obrigado.
Ao Professor Doutor Cláudio José
Langroiva Pereira, meu sincero
agradecimento por Deus ter colocado você
no meu caminho.
Ao compadre Dirceu Augusto da Câmara
Valle, pelo bem mais precioso que o
homem pode ter, a amizade.
Ao amigo de ontem, hoje e sempre Aldo
Botana Menezes, muito obrigado por ajudar
a construir o raciocínio, quando a mente se
esgota.
RESUMO
A presente dissertação tem por escopo o enfretamento do
direito do Estado de monitorar os presos que tem em seu desfavor
o decreto de qualquer das prisões cautelares, haja vista que
hodiernamente a utilização do monitoramento decorrente de
sentença penal condenatória com trânsito em julgado já faz parte da
labuta do Direito Penal de Execução, com o direito a intimidade do
preso que a partir do monitoramento a intensificação do Estado sob
o indivíduo se torna mais intensa, assim sendo o Estado ao invés
de proporcionar uma pseudo liberdade, na verdade intensifica a
vigilância daquele cidadão preso preventivamente, pretende nesta
pesquisa demonstrar que o monitoramente eletrônico mitiga alguns
valores constitucionais no Estado Democrático de Direito.
Palavras-chaves: Dignidade da pessoa humana, Prisõe s
cautelares, monitoramento eletrônico
ABSTRACT
The following dissertation has as an scope the coping of the State’s
right of monitoring the arrested that have on their disfavor the
decree of any of the precautionary arrestments, considering that in
our times the utilization of the current criminal sentence monitoring
condemnatory with transit in the judged already is part of the toil of
the Execution Criminal Law, with the right of the intimacy of the
arrested that from the monitoring and intensification of the State
under the individual becomes more intense, therefore the State
instead of providing a pseudo freedom, actually intensify the
surveillance of that citizen preventively arrested aims on this
research show that the electronic monitoring mitigates some
constitutional values in the Democratic State of Law.
Key words: Human being dignity, precautionary arrestments,
electronic monitoring.
1
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por escopo expor e avaliar a inserção
do monitoramento eletrônico de pessoas que em seu desfavor foi
expedido mandado de prisão temporária e ou preventiva, tal
possibilidade decorre da atual situação precária que enfrenta o sistema
prisional brasileiro, e assim sendo impede de cumprir os princípios e
finalidades, diante desse cenário surge o monitoramento eletrônico de
presos como alternativa não só para desafogar as penitenciárias, mas
sim enfatizar o status libertatis do preso.
O primeiro capítulo aborda o Estado Democrático de Direito,
demonstrando ser ele o responsável pela distribuição da justiça e
consequentemente aplicador da justiça penal em sede de execução
penal. De um lado mostra-se o Estado como aplicador de penas e por
um outro o direito individual do preso consubstanciado no valor absoluta
da dignidade humana, sua importância se traduz, pois o princípio da
dignidade humana pertence à classe dos princípios explícitos, art. 1°, III
da Constituição Federal, o que faz parte da estrutura da constituição
servindo de base para orientar a interpretação da própria constituição.
Para Jorge Miranda, “a dignidade da pessoa é da pessoa
concreta na sua vida real e quotidiana; não é de um ser ideal e
abstrato1.”
Para uma maior clareza a esse importante princípio ou o mais
importante que é o da Dignidade da Pessoa humana, há que ser feita um
amadurecimento por toda a socieade e principalmente daqueles que
1 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, v. IV, 3ª ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2000, p.
184.
2
compôe a comunidade jurídica de quais são os valores fundamentais e
não apenas dizer por dizer, ou saber que existe o princípio mas
desconhecer sua magnitude.
No capitulo dois serão analisadas as prisões assim sendo o
auto de prisão em flagrante como sendo a uníca forma de prisão que não
é decretada ou lavrada pelo Estado-Juiz, e sim pelo Estado Policialesco,
claro que a mantença da prisão em flagrante e sua legalidade são
sempre analisadas pelo magistrado.
Antes de analisarmos as diferentes formas de prisões
cautelares será observada o instituto da prisão sob o enfoque filosófico,
de fato em nosso País, hoje o modelo prisional passa por uma crise sem
precedente, mas temos que admitir que o modelo prisional “prisão” foi
uma conquista, aboliu-se a morte ou o suplício como forma de aplicar a
sanção penal, nascendo de tal sorte, o cárcere como medida de
ressocialização e prevenção do crime.
Observe-se que o mito do ideal de ressocialização que seria o
que esperar do modelo prisional, revela-se que a realidade da prisão
funciona como castigo pelo delito cometido, mesmo havendo previsão de
que uma das funções da pena seja a ressocialização.
Em face dessa realidade mister se faz que seja apresentado
uma forma de salvaguardar o direito de punir do Estado e o direito de
liberdade do cidadão que em seu desfavor vê um decreto de prisão
temporária ou preventiva e nesse diapasão é que neste trabalho abri-se
a possibilidade de utilização do monitormanto eletrônico em prisões
cautelares.
3
Serão demonstradas as espécies de prisões que antecedem a
sentença penal condenatória, suas caracteristicas algumas situações em
que poder-se-ia conceceder a possibilidade de utilização do
monitoramento eletrônico, ao invés de utilização prima facie da prisão.
O terceiro capítulo apresenta o sistema de monitoramento
trazendo a baila o conceito de monitoração, a legislação federal e
estadual sobre o tema, sua objetividada jurídica, que se espelha na
possiblidade do Estado intensificar a vigilância ou por outro viés faze
valer a aplicação do Direito Penal consubstanciado na execução penal.
No derradeiro capítulo quatro veremos num primeiro plano a
discussão existente no que a doutrina chama de tensão ou colisão de
direitos fundamentais, pois o conflito sempre existirá em se tratando de
direitos fundamentais, a guisa de exemplo temos o mesmo direito a
propriedade que tanto serve para embasar o direito dos “sem terra” como
da suporte ao direito dos grandes latifundiários.
Aqui no presente estudo será demonstrado a tensão existente
no direito de exercer em sua plenitude o jus puniendi utilizando o
monitoramento eletrônico para intensificar a vigilância além dos muros
das prisões e o direito do cidadão de não se ver privado de sua
liberdadade, pois como é cediço a monitoração eletrônica realça o
vedadeiro significado do seria liberdade vigiada.
4
1. Estado Democrático de Direito, Dignidade Humana e Sistema
Penal
1.1. Os Fundamentos do Estado Democrático de Direito.
A vida em sociedade remonta aos primórdios, quando os
indivíduos necessitavam de agrupar-se, para que houvesse a comunhão
de esforços, visando o bem comum, essa união foi vital para a
subsistência da raça humana, que no inicio apenas tinha como prioridade
a sobrevivência.
Nesse período não se tinha a idéia de comando, ser humano
se comportava como animais, com o passar dos milênios, houve a
necessidade de estabelecer comando, haja vista que os agrupamentos
humanos das tribos passaram para as aldeias, desta para as cidades até
chegar no Estado ( históricamente, o termo Estado foi empregado pela
primeira vez por Nicolau Maquiavel em sua obra O príncipe publicada em
1513) e este por seu turno ao londo da história assumiu vários papéis
cidades-estados, reinos, impérios e república2.
A necessidade de eleição de lideres, a outorga ou promulgação
de uma Constituição, trouxe irremediavelmente a detenção do poder
político e econômico nas mãos de um ou de um grupo, tornando o poder
absolutista.
Esse poder absolutista tem como principal característica a
opressão de certas camadas da sociedade, o que de certa forma leva a
insurreição e a necessidade de inconteste de se criar mecanismo que
2 MIRANDA Jorge: SILVA Marco Antonio Marques das (Coordenação) Tratatado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana – São Paulo : Quartier Latin, 2008 pag. 228
5
imponham freios à atividade estatal e restrição ao poder dos
governantes, dessa luta de classes nasce o Estado de Direito com
primado na legalidade.
O Estado de Direito expressão usada pela primeira vez por
Robert von Mohl (rechtsstaa), que no inglês significa rule of law, no
françês, usa-se o termo état constitutionnel, sendo que hodiernamente na
França tem-se trabalhado mais com o termo état de droit.
Cumpre anotar que o termo Estado de Direito no que tange ao
seu conceito já tinha sido utilizado por Thomas Hobbes, Jonh Locke e,
posteriormente também por Immanuel Kant 3
Em meados do século XIX o termo Estado de Direito se
limitava a determinar que o Estado só poderia se ocupar dos assuntos
pertinentes ao dieito, algum depois falava-se em Estado de direito social,
um Estado voltado ao bem-estar.
Nessa esteira, podemos afirmar que o surgimento dos direitos
individuais em face do poder soberano, dá a titularidade desses direitos
única e exclusivamente ao ser humano, esta noção de titularidade se
espraia no plano nacional e no plano internacional, de forma a sofrerem
influências mútuas.
O surgimento dos direitos fundamentais do cidadão em face
do próprio Estado e o direitos de liberdade do indivíduo contro o
autoritarismo, vem sendo insculpido na história através de movimentos
revolucionários, os direitos em face do Estado, precisamente contra o rei
3 Vide em especial o surgimento do conceito, H. KRüGER . Allgemeitne Staatslehre, 1964, p 776.
6
foram gerados pela Magna Carta inglesa de 1215 4, haja vista que nesta
época e naquele país só se justificavam os direitos dos cavaleiros em
face do rei, e não dos cidadãos e camponeses 5 .
Ainda podemos citar outros documentos importantes para
consolidar os direitos fundamentais, tais como a Petition of Rights inglesa
(1628), o Habeas Corpus Act (1679) o Bill of Rights (1689), esses
documentos expressavam os direitos fundamentais em sentido amplo, os
direitos fundamentais especificamente contra o autoritarismo, ou em
sentido estrito só são abordados expressamente, pela primeira vez em
1776, na Constituição da Virginia e, mais tarde, são expostos na
Constituição norte-americana, ao mesmo tempo se reconheceu na
França a existência de direitos fundamentais, na Déclaration des Droits
de I’Homme, de 1789.
No plano nacional a Constituição Federal de 1988 é a primeira
a dispor os direitos e garantias fundamentais na parte inicial, logo após
seu preâmbulo, tal iniciativa partiu do legislador constituinte, pois o Brasil
vivia um período de ditatura militar de 1964 a 1985, deste modo após
vinte anos de cerceamento às liberdades em geral a Constituição de
1988 também chamada de “Constituição Cidadã” trouxe no seu artigo 5°
um rol exemplificativo do direitos e garantias fundamentais.
Dentre os direitos e garantias fundamentais pode-se citar o
direito à vida, à liberdade, à intimidade, entre outros que estão
principalmente citados no art. 5° da Constituição 6.
4 Hodiernamente os direitos insertos na Magna Carta produzem efeitos, tal como o direito ao devido processo legal, o direito de ser julgados pelo seus pares, regras de competência the law of the land.
5 DOEHRING, Karl. Teoria do Estado. Luiz Moreira, Coordenador. Gustavo Castro Alves Araujo tradudor – Belo Horizonte : Del Rey, 2008
6 Os direitos fundamentais estão descritos no Título II da Constituição Federal, e abrangem os
direitos e deveres individuais e coletivos, os direitos sociais, os ligados à nacionalidade e os
7
Conforme José Afonso da Silva, os direitos individuais e
coletivos estão descritos no artigo 5° da Constitui ção Federal, e são os
direitos fundamentais que tocam ao indivíduo de forma isolada ou
abrangem grupos determináveis ou indetermináveis, intimamente ligados
à vida, a igualdade, a liberdade, a segurança e a propriedade.
Eles ”reconhecem a autonomia aos particulares, garantindo a
iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da
socieade política e do próprio Estado” 7.
Dentro de um Estado de Direito é fácil reconhecer que este
priorize os direitos, as liberdades e as garantias individuais, no entanto
para se verificar a transição do Estado de Direito para o Estado
Democrático de Direito, agregue-se um componente básico, qual seja a
Democracia, nesse diapasão Claudio José Langroiva Pereira sustenta:
“O componente democrático ou de soberania popular,
como garantia geral dos direitos do ser humano, qualifica
o Estado que busca numa nova condição de promotor de
justiça social, institutucionalizando um poder popular,
conservando a legalidade, mas agora diretamente
destinada a princípios de igualdade e justiça individual. A
democracia como conceito histórico, não dever ser
considerada na formação do Estado de Direito como um
elemento de natureza política, mas como reafirmação dos
direitos e garantias individuais que, por meio da
legalidade, o Estado institui atendendo à conquista da direitos políticos. É pacífico o entendimento em nossa Corte Suprema que os direitos fundamentais não estão adstritos à parte inicial do texto constitucional, mas sim espalhados por na Lei Maior.
7 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucinal Positivo. 32. Ed. São Paulo : Editora Malheiros, 2009, p. 176.
8
soberania popular. O Poder é exercido de forma indireta,
mas sempre através e em proveito do povo” 8.
O Estado Democrático de Direito assentado na soberania
popular, exige a efetiva participação do povo no trato da coisa pública e
segundo o Professor Doutor Marco Antonio Marques da Silva esta
participação não se exaure na simples formação das instituições
representativas, que constituem um estágio na evolução do Estado
Democrático, mas no seu completo desenvolvimento. Visa, assim, a
realizar o princípio democrático como garantia geral dos direitos
fundamentais da pessoa humana. 9
Como se percebe o Estado Democrático guarda estreita
relação com a democracia, o que se pergunta é se esta democracia seria
a mesma preconizada na Grécia antiga? Cremos que sim, ao menos no
que tange a idéia de governo do povo tem-se uma similitude.
Segundo Dalmo de Abreu Dallari o Estado Democrático
moderno nasceu das lutas contra o absolutismo, sobretudo através da
afirmação dos direitos naturais da pessoa humana, ainda o citado autor
identifica três grandes movimentos político-sociais que conduziram ao
Estado Democrático, quais sejam, a Revolução Inglesa influenciada por
Locke, tendo como texto básico o Bill of Rights de 1689, em segundo a
Revolução Americana tendo como marco a independência das treze
colônias, em 1776; e o terceiro a Revolução Francesa que inspirou os
8 PEREIRA, Claudio José Langroiva. Proteção Jurídico-Penal e Direitos Universais – Tip o, Tipicidade e Bem Jurídico Universal. São Paulo : Quartier Latin, 2008.
9 MIRANDA Jorge: SILVA Marco Antonio Marques das (Coordenação). Tratatado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana – São Paulo : Quartier Latin, 2008 pag. 229.
9
ideiais insertos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de
1789 10
O Estado Democrático, segundo observa Dalmo de Abreu
Dallari, ergue-se em torno de três pontos fundamentais: a) supremacia
da vontade popular; b) preservação da liberdade, c) igualdade de
direitos.11
Assim, o Estado Democrático de Direito , em decorrência do
senso de democracia como processo dinâmico está presente em nosso
texto constitucional no artigo 3° propiciando a rea lização dos objetivos da
Republica Federativa do Brasil, como bem assevera Kildare Gonçalves
Carvalho:
A seu turno, o Estado de Direito só é de dreito se for
democrático. O Estado de Direito é aquele que só
poder ser visto à luz do princípio democrático, que
legitima o domínio público e o exercício do poder.12
José Afonso da Silva observa que o “democrático qualifica o
Estado, o que irradia os valores da democracia sobre todos os elementos
constituvos do Estado, pois, sobre a ordem jurídica. A democracia que o
Estado de Direito realiza há de ser um processo de convivência social
numa sociedade livre, justa e solidária (art.3°,III ), em que o poder emana
do povo, que deve ser exercido em provjhheito do povo, diretamente ou
por seus representantes eleitos (art. 1°, parágrafo único); participativa,
porque envolve a participação crescente do povo no processo decisório e
na formação dos atos de governo; pluralista, porque respeita a
10 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 28. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2009. p. 146. 11 Idem, p. 151.
12 CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional . 15.ed. rev. atual. e ampl. . – Belo Horizonte : Del Rey. 2009.
10
pluralidade de idéias, culturais e étnicas, e pressupõe assim o diálogo
entre opiniões e pensamentos divergentes e a possibilidade de
convivência de formas de organização e interesses diferentes da
sociedade; há de ser um processo de liberação da pessoa humana das
formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento formal
de certos direitos individuais, políticos e sociais, mas especialmente da
vigência de condições econômicas suscetíveis de favorecer o seu pleno
exercício.13
Partindo de uma definição sobre o tema, o estado de Direito pode
ser definido como uma situação jurídica, um sistema institucional, onde
cada indivíduo é submetido ao desiderato do Direito posto imposto e
positivado, respeitando a hierarquia das normas e a separação dos
poderes, além da estrita observância dos direitos e garantias
fundamentais. Em outros termos, há como resumirmos a definição do
Estado de Direito à relação de poder entre os governantes e os
governados através das normas de direito criadoras e mantenedoras do
estado.O poder do Estado é uno e indivisível. A função do poder se
divide em três grandes funções: a função legislativa, a função judicial e a
função executiva.
Desta forma, a conceituação do Estado de Direito é oriunda da
própria constituição do Estado e de seus poderes constituídos,
originários e que regem a sua forma e evolução.
Doravante mencionado, o conceito de Estado Democrático de
Direito pode ser aplicado a qualquer Estado onde se estabelece como
prisma fundamental o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito
pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais, através do
estabelecimento de uma proteção jurídica.
13
SILVA, Curso de Direito Constitucional positivo, p.105-106.
11
Nesta esteira, “A concepção de Estado Democrático de Direito
acarreta controvérsias que se baseiam na forma de se ver a questão da
liberdade na busca pela legitimidade do poder: no “Estado de Direito”, a
liberdade é negativa, de defesa ou de distanciamento do Estado; no
Estado Democrático, a liberdade é positiva, pois representa o exercício
democrático do poder, que o legitima. Os críticos dessa forma de Estado
dizem que essa concepção de liberdade representa o liberalismo político:
o homem civil precede o homem político. Assim, o liberalismo consagrou
uma concepção estática de Constituição, eliminando o problema dos
pressupostos ideológicos e sócio-econômicos, indispensáveis à
compreensão do conteúdo constitucional”14.
Partindo deste viés, a Constituição do Estado, na sua forma de
Estado Democrático de Direito é a própria Constituição, a carta política
que frisa e impõe erga omnes o respeito às liberdades direitos e deveres
individuais e coletivos, além de estabelecer a forma de governo, dos
comandos e principalmente, da forma democrática de Estado,
estabelecendo os limites de cada poder e os seus âmbitos de atuação.
Mas o Estado não pode ser definido como Estado Democrático de Direito
unicamente por reunir os requisitos de Estado de Direito e Estado
Democrático.
Deve o Estado estar imbuído de Direitos inerentes à
manutenção dos direitos individuais e coletivos, estabelecidos na sua
Constituição. Então, o Estado Democrático de Direito deve vir pautado
pela observância dos Direitos fundamentais, da soberania, da cidadania,
do direito aos trabalho, da livre iniciativa, do pluralismo político e da
máxima de que todo o poder emana do povo, quer seja diretamente ou
pela escolha de representantes. Tais pressupostos a serem observados
14
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 216.
12
pelo Estado Democrático de Direito visam garantir a Dignidade da
Pessoa Humana, na sua forma de preservação de direitos e liberdades.
A dignidade da pessoa humana, assim estabelecida como
fundamento da República Federativa do Brasil, consiste em afirmar que o
Estado existe em função de todas as pessoas e não estas em função do
Estado. Assim, toda e qualquer ação do ente estatal deve ser avaliada,
sob pena de declarar-se inconstitucional e de violar a dignidade da
pessoa humana, considerando se cada pessoa é tomada como fim em si
mesmo ou como instrumento, como meio para outros objetivos, ou seja,
o Direito é feito pelos cidadãos e para os cidadãos, afim de que se
estabeleça um patamar de igualdade, na medida que possível,
preservador dos direitos e garantias atinentes à dignidade da pessoa
humana.
Todavia, a problemática para o estabelecimento de uma
constituição se junge na preservação das liberdades e da dignidade da
pessoa humana. Sob este enfoque, um dos problemas encontrados e a
necessidade de se afirmar os direitos e deveres do indivíduo e da
coletividade. Eis que surge daí a necessidade de se impor uma
constituição. Mas daí surge a dicotomia constituição formal e constituição
real.
Notadamente se tem que a constituição formal é aquela escrita,
redigida respeitando-se o formalismo exigido para a criação do Direito.
Entretanto, há o direito intrínseco, aquele que não necessita estar escrito
para que seja observado. É de eficácia cogente e erga omnes, ainda que
jamais positivado.
Desta concepção há o enfoque trazido por Konrad Hesse, onde
questiona a validade de uma constituição de papel, pondo em dúvida a
eficácia de uma constituição escrita. Neste ponto, confrontando com a
teoria de Lassale, verificamos que tal posicionamento foi constituído não
13
do dever ser, mas do que verdadeiramente é, estabelecendo então uma
relação de poder, e não uma relação jurídica constitucional, mas há de
se sopesar com o contraponto válido de Hesse que frisa a necessidade
de uma constituição escrita, ao passo de que esta serviria para o direito
positivo, assim como estabelece relações de dever ser, base sólida do
direito.
No tema princípios podemos citar entre outros o da
Constitucionalidade, este na essência determina que toda a legislação
esteja em consonância com a Constituição, uma questão de hierarquia.
O principio da legalidade, não menos importante, que segundo
o Professor André Ramos Tavares, “funda-se no princípio da
legitimidade, segundo o qual as leis hão de guardar correspondência
com os anseios populares, consubstanciados no espírito constitucional”.
O principio da legalidade está dividido, de um lado o respeito a
lei posta, impedindo ainda que não se crie direito ou dever sem amparo
legal, desta forma, inexistindo lei, não podemos falar em exigência.
Entre os princípios constitucionais, temos os chamados
sensíveis, aqueles mostrados na constituição de maneira clara,
inequívoca, aqueles apontados e enumerados. Art. 34, VII, forma de
governo, sistema representativo.
Hodiernamente, consagrada em diversos países, a Dignidade
da Pessoa Humana já era reconhecida pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem.
“Todos os seres humanos nascem livres, e iguais em
dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
14
devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade”
A dignidade da pessoa humana, modernamente, alterou os
parâmetro de interpretação jurídica, concedendo de uma maneira geral,
tratamento diferenciado aos acusados.
Ainda na Declaração Universal dos Direitos do Homem, mais
precisamente em seu preâmbulo, temos:
O reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família e de seus direitos iguais e inalienáveis
constitui o fundamento da liberdade, da jsutiça e da paz no
mundo” e “considerando que, na Carta, os povos das
Nações Unidas, proclamam, de novo, a sua fé, nos
direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor
da pessoa humana, na igualdade de direito dos homens e
das mulheres, e se declaram resolvidos a favorecer o
progresso social, e a instaurar melhores condições de vida
dentro de uma liberdade mais ampla.”
Ainda temos, nem vale a pena citar, em um desses países
orientais, mulheres condenadas a morte por enforcamento, e ou,
apedrejamento, em função de suposto adultério cometido.
Ainda que tivesse cometido, seria plausível, dentro dos
parâmetros da dignidade da pessoa humana, a aplicação de tamanha
atrocidade? Obviamente que não.
15
Levando em consideração a realidade brasileira, em que pese
os avanços alcançados pela nossa legislação, os tribunais de
superposição, a revelia do clamor popular, tem levado a efeito os
parâmetros de julgamento, levando em consideração a dignidade da
pessoa humana, ainda que criticado pela opinião pública.
José Afonso da Silva, em seu livro, Curso de Direito
Constitucional Positivo:
“O Estado Democrático de Direito, “é uma criação do
liberalismo. Por isso, na Doutrina clássica, repousa na
concepção do Direito natural, imutável e universal; daí
decorre que a lei, que realiza o princípio da legalidade,
essência do conceito de Estado de Direito, é concebida
como norma jurídica geral e abstrata.”
O estado brasileiro, tem como fundamentos a soberania, a
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho
e da livre iniciativa e o pluralismos político.
A constituição, como um dos objetivos precípuos da República
Federativa do Brasil, a construção de uma sociedade livre, justa e
solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a
marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e de
outras formas de discriminação (artigo 3º).
Segundo o Ilustre Miguel Reale princípios são:
[...] verdades fundantes de um sistema de conhecimento,
como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem
sido comprovadas, mas também por motivos de ordem
16
prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos
exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.
JOSÉ AFONSO DA SILVA apresenta a seguinte classificaçao dos
princípios fundamentais:
Princípios político-constitucionais – Constituem-se
daquelas decisões políticas fundamentais concretizadoras
em normas conformadoras do sistema constitucional
positivo, [...]. Manifestam-se como princípios
constitucionais fundamentais, positivados em normas-
princípio [...]. São esses princípios fundamentais que
constituem a matéria dos arts. 1º a 4º do Título I da
Constituição. Princípios jurídicos-constitucionais - São
princípios constitucionais gerais informadores da ordem
jurídica nacional.
1.2. O valor absoluto da dignidade da pessoa humana.
A dignidade da pessoa é inevitavelmente traduzido pelo cunho
filosófico do valor do ser humano, que invariavelmente insculpido no
princípio fundamental da dignidade da pessoa humana.
Historicamente a Declaração Universal do Direitos Humanos, em
termos de escrito constitui num dos documentos fundamentais da história
recente da humanidade, sua importãncia repousa na idéia que esse
documento denunciou atos de barbárie e ainda afirmou que à vida, à
liberdade, à segurança, à educação, à saúde, dentre outros.
17
Sobre o tema, discorre Marco Antonio Marques da Silva :
“ O mundo vem lutando para que a dignidade
humana se realize por completo, tornando-se
uma autêntico paradigma ético; os direitos nela
inscritos constituem hoje um dos mais
importantes instrumentos de nossa civilização,
visando assegurar o convívio social digno, justo
e pacífico”15
Os direitos fundamentais foram, pela doutrina, divididos em
gerações ou dimensões Alexandre de Moraes esclarece que os direitos
fundamentais podem ser caracterizado como sendo “o conjunto
institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por
finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção
contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições
mínimas de vida em desenvolvimento da personalidade humana. 16
Os direitos humanos de primeira geração nascem do
enfretamento do tiranismo, das arbitrariedades governamentais, e tem
como base às liberdades públicas, são direitos relacionados à vida,
liberdade, atuam como verdadeiros freiaos à atuação do Estado na
liberdade individual.
Os direitos humanos de segunda dimensão17, surgiram no final do
século XIX. Sendo oriundo da insurgência de classes operárias
15
MIRANDA Jorge: SILVA Marco Antonio Marques das (Coordenação). Tratatado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana – São Paulo : Quartier Latin, 2008 pag. 224.
16 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo : Atlas, 2000, p. 39.
17 Preferimos o termo “dimensão” a “geração”, pois geração dá a idéia de que os primeiros se encerram como o nascimentos dos demais, o que em se tratanto dos Direitos Humanos, não se justifica, pois todas as dimensões devem ser somadas, agregadas, não são um fim em si mesma
18
oprimidas, no direito pátrio, os direitos sociais ganharam status em nível
constitucional e estõa insertos no artigo 6° da Con stituição Federal.
Segundo Marco Antonio Marques da Silva o objetivo dos direitos
humanos de segunda dimensão seria propoorcionar melhores condições
de vida aos cidadãos, através de iguais oportunidades e efetivo exercício
de direitos sociais e econômicos, respeitos às diferenças, erradicação da
pobreza, consoante a ética moral desenvolvida e por eles aperfeiçoada.18
Os direitos humanos de terceira dimensão determinam os
interesses difusos e coletivos e foram desenvolvidos no século XX, a
partir da idéia de que o indivíduo agora deve ser considerado inserido
dentro de uma coletividade e que esta detém a titularidade do direito,
consagram assim, o princípio da solidariedade.
Impulsionado pela concepção de igualdade, consolidada pelos
direitos fundamentais de segunda dimensão o princípio da solidariedade
introduziu na ordem jurídica uma ideologia baseada no respeito pela
dignidade humana , sobretudo no que se refere à qualidade de vida, e
isso fez com que traço de marcação do direitos fundamentais, de terceira
dimensão seja fato de se desprenderem, em princípio da figura do
homem-indivíduo, para assumir uma conotação difiusa19
Podem-se referir como direitos de terceira geração, o direito à
paz, á autodeterminação dos povos, ao meio ambiente, qualidade de
vida, a utilização e conservação do patrimônio histórico e cultural e o
direito à comunicação..
Os direitos humanos de quarta dimensão seriam aqueles que
surgiram dentro da última década, devido ao grau avançado de 18
MIRANDA Jorge: SILVA Marco Antonio Marques das (Coordenação). Tratatado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana – São Paulo : Quartier Latin, 2008 pag. 225.
19 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Dieitos Fundamentais. Op. Cit., p. 53
19
desenvolvimento tecnológico da humanidade, seriam os direitos ligados à
pesquisa genética surgida da necessidade de se impor uns controles a
manipulação do genótipo dos seres, em especial o do ser humano.
Paulo Bonavides enfatiza que a globalização política na esfera da
normatividade jurídica introduz os direitos de quarta dimensão,
correspondentes à derradeira fase de institucionalização do Estado
Social, e ainda para o autor supracitado em resposta à globalização dos
direitos fundamentais. Dentro dessa geração, estão inseridos os direitos
à democracia, a informação e as ações afirmativas.
Data permissa venia temos uma outra reflexão pouco diferente,
não é a democracia e a informação que irão fundamentar os direitos de
quarta dimensão, mas sim a concretização dos direitos de primeira,
segunda e terceira dimensão.
A democracia, a informação, ações afirmativas só se manifestam
se as liberdades públicas, a igualdade e a solidariedade foram
efetivamente garantidas. No entanto, não se deve olvidar que os direitos
de terceira dimensão, ainda estão flagrantemente insertos nos direitos de
quarta dimensão.
No que tange aos direitos de quarta geração, explica Marco
Antonio Marques da Silva, que os direitos de quarta geração “baseiam-se
na proteção dos valores éticos e morais, e na integridade da pessoa, no
que se refere ao avanço científico, por meio da bioética e do biodireito. A
bioética é tema que tem provocado calorosas e apaixonadas discussões
em diversos seguimentos da socieade, com batalhas ideológicas muitas
vezes sem fim.”
E ainda o Professor da Pontíficia Universidade Católica de São
Paulo, traz a baila, notícias acerca da bioética dizendo:
20
As primeiras notícias sobre a ética em pesquisas
científicas envolvendo seres humanos foram
apresentadas como recomendações divulgadas
no Tribunal de Nuremberg, ao final da II Guerra
Mundial, após condenações de médicos que,
durante o regime nazista da Alemanha,
realizaram experimentos contrários aos valores
humanos.20
Pauo Bonavides afirma, ainda, no que tange aos direitos de
quarta e quinta geração que "longínquo está o tempo da positivação
desses direitos, pois compreendem o futuro da cidadania e o porvir da
liberdade de todos os povos. Tão somente com eles será possível a
globalização política”, isto é, a quarta e quinta dimensão de diretos, está
longe de obter o devido reconhecimento no direito positivo, seja ele
interno ou internacional.
Como já dito anteriormente a valorização da dignidade da pessoa
humana, no âmbito jurídico está ligada aos movimentos revolucionários,
tais como a Revolução Inglesa, Americana e Francesa.
No Brasil, o princípio da dignidade da pessoa humana somente
foi reconhecido formalmente com o advento da Carta Política de 1988 e
para delinear o caminho a ser percorrido pelo intérprete, quis o legislador
constituinte colocar a dignidade da pessoa humana no seu artigo 1°
como fundamento da Republida Federativa do Brasil, juntamente com a
soberania, cidadania, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e
o pluralismo político.
20
MIRANDA Jorge: SILVA Marco Antonio Marques das (Coordenação). Tratatado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana – São Paulo : Quartier Latin, 2008 pag. 226.
21
No Brasil, Marco Antonio Marques da Silva, aponta com maestria
o significado da diginidade da pessoa humana como sendo:
“[…] o reconhecimento constitucional dos limites
da esfera de intervenção do Estado na vida do
cidadão e por esta razão os direitos
fundamentais, no âmbito do poder de punir do
Estado, dela decorrem, determinado que a
função judicial seja um fator relevante para
reconhecer-se o alcance real destes direitos.”21
Conforme o acima exposto, a dignidade da pessoa humana
guarda ,condições dignas de existência, realçando o indivíduo como
sendo o objeto principal dentro de uma ordem jurídica.
1.3. Princípios orientadores do sistema penal no Es tado
Democrático de Direito.
É da essência do Estado Democrático de Direito, subordinar-se
à Constituição e fundar-se na legalidade democrática, sujeitando-se ao
império da lei. Esta lei, deverá representar a vontade geral, o que só é
possível em um regime de divisão de poderes, onde tenha sido criada
por processo legislativo estabelecido na Constituição.
Desta forma, o Estado, seus administradores, não podem exigir
que os jurisdicionados não façam ou se abstenha de fazer alguma coisa,
senão em virtude de lei, motivo pelo qual, o princípio está consagrado no
artigo 5º, II, da Constituição, onde “ninguém será obrigado a fazer ou
21
SILVA, Marco Antonio Marques da. Acesso à Justiça Penal e Estado Democrático de Direito. São Paulo : Juarez de Oliveira, 2011. P.5.
22
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. (Princípio da
Legalidade).
Sistema Penal fechado, ausência de contradição,
independência e plenitude como máximas referidas caracterizado no
período clássico com Beccaria até o Neokantismo, escola de Baden.
O marco da mudança deste direito, de acordo com Professor
Marco Antonio Marques da Silva foi o finalismo de Hans Welzel,
criticando a estrutura Neokantiana, determinando novos rumos para o
direito penal, com a flexibilização do conhecimento valorativo,
aproximando-o o quanto Possível da sociedade.
1.4. Princípios fundamentais e proteção penal
Apesar das criticas, de que o sistema aberto pode gerar
insegurança, isto não ocorre em função do princípio da legalidade,
segundo Professor Marco Antonio Marques da Silva, uma conquista
histórica irrenunciável.
Conforme lição do Professor Marco Antonio Marques da Silva,
“no âmbito do direito penal, diversamente do
que possa afirmar, os princípios e as regras fornecem, no interior da
dogmática jurídica-penal, a segurança mínima que se pretende, inclusive
através de valores sociais de consenso, não se caracterizando o direito
penal como algo arbitrário.”
Aqui seria interessante tratar da finalidade do Direito Penal,
onde seria definida a verdadeira função deste ramo do direito.
23
O ilustre advogado Dr. Antonio Claudio Mariz de Oliveira,
assevera que
“o Direito Penal não tem por escopo exclusivo o combate
à criminalidade. As condutas que criminaliza e as sanções
que prevê, em verdade, reflete o querer social quanto a
comportamentos declarados como nocivos a sociedade. O
seu objetivo, assim, é tutelar bens, interesses e valores
que não puderam ser devidamente protegidos pelos
demais ramos do direito. Como ultima ratio, ele atua em
defesa de bens relevantes.
Para exercer este poder de que trata o ilustre advogado, ele
necessita garantir os princípios fundamentais basilares do nosso
ordenamento, evitando assim que os cidadãos tenham condenações
exacerbadas ou se sujeitem ao arbítrio e ou vingança, ainda que
praticadas pelo Estado.
Entre os princípios fundamentais, podemos citar a Dignidade
da Pessoa Humana, um dos mais importantes e incontestáveis princípios
sem prejuízo de outros não menos valiosos existentes em nosso
ordenamento.
Sistema garantidor de direitos fundamentais
Segundo os dizeres de Ruy Barbosa, uma coisa são os direitos
, outras as garantias, pois devemos separar, “no texto da lei fundamental,
as disposições meramente declaratórias, que imprimem existência legal
aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as
que, em defesa do direitos limitam o poder.
24
Ainda no Capitulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais ou
Coletivos”, não são mencionadas as garantias, porém, na grande sua
grande maioria constitui garantias.
As garantias constitucionais especiais, são concedidas pelas
normas jurídicas constitucionais aos particulares para exigir o respeito, a
observância , o cumprimento dos direitos fundamentais em concreto, a
fim do poder público fazer valer os direitos garantidos.
25
2. As medidas pessoais e a Lei 12.403/11.
2.1. A prisão e o sistema prisional
A prisão pode assim ser conceituda como um ritual solene,
público, oneroso, ostensivo e doloroso, marcado por uma forma de poder
soberano, personificada pelo rei, dá lugar a novos procedimentos:
silenciosos, difusos, econômicos e sutis.
O que antes tinha a morte como certa, além do suplício torna-
se, agora em prisioneiro. É o fim das penas físicas, dos suplícios.
Aparece, enfim, a prisão.
Portanto, é de se identificar a presença de formas punitivas,
procedimentos e resultados diferentes. Constata-se, dessa forma, em
cada momento histórico, uma forma de exercício do poder.
Foucault considera a instituição-prisão como uma forma
“concentrada, exemplar, simbólica”22 de instituição disciplinar, certo que
de algum modo todas as instituições se caracterizariam pela forma
discreta do modelo prisional.
O surgimento da prisão, como modelo de punição
predominante da época, causa certa estranheza a Foucault,
especialmente por revelar duas ambiguidades.
A primeira ambiguidade é identificada pela incompatibilidade
que ela revela com os princípios que nortearam as propostas de reforma
humanista preconizadas pelo direito penal no início do século XVIII. O
movimento guiado pela reforma humanista pautava-se, basicamente,
pela diversidade de penas a serem aplicadas, orientando-se pelos
princípios da individualização das penas (que permitia a adequação da
pena ao crime praticado, contando, para tanto, com as características
22 FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU, 2003, p. 123.
26
pessoais de cada infrator) e proporcionalidade (que prestigiava a adoção
de uma pena razoável, ante os diferentes níveis de gravidade da ofensa
dirigida ao bem jurídico protegido).
A segunda ambiguidade relaciona-se a dois aspectos da
prisão: o de seu sucesso institucional (já que generalizada e marcada por
sua manutenção até nos dias atuais) e seu fracasso (sob o ponto de vista
da recuperação do indivíduo e do controle da criminalidade).
A partir dessas ambiguidades, a pergunta inevitável: como
justificar o nascimento da prisão?
A resposta foucaultiana esboça-se no sentido de que o
nascimento da prisão não se deveu, essencialmente, ao
desaparecimento do suplício e instalação de um novo tipo de punição
alinhada a um processo de “suavização” das penas.
O caráter humanitário da pena, em virtude disso, não dá conta
de sustentar o seu aparecimento. Foucault pondera que a explicação
deve ser buscada a partir da noção de “suplemento disciplinar em
relação ao jurídico”23.
Num certo sentido, significa dizer que a prisão não pôde ser
concebida, exclusivamente, em termos estritamente jurídicos
relacionados às teorias penais, mas, sobretudo, em termos disciplinares,
pois a função disciplinar exercida no espaço institucional da prisão teria o
condão de explicar a manutenção da prisão nas sociedades modernas,
donde se conclui que a discussão sobre a prisão deve focalizar mais o
domínio das relações de poder, e menos o domínio jurídico.
23 FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Rio de Janeiro: Vozes, 1997, p. 208.
27
Para Foucault, a conjuntura que permitiu o nascimento da
prisão relacionou-se a uma política de gestão dos ilegalismos, o que
implicava “recuperar o problema dos ilegalismos, ou seja, o problema de
qual seria o lugar da prisão na gestão da delinquência em face da sua
utilidade econômica e política”24.
O termo ilegalismo não é sinônimo de ilegalidade. Não se limita
à prática de um ato ilegal, antijurídico, contrário ao direito. É mais amplo.
Articula-se com elementos extrajurídicos (políticos, econômicos e
sociais), pois o ilegalismo remete à ideia de gestão de condutas ilegais,
irregulares, efetivamente praticadas. A utilização da expressão
irregulares sugere afastar a ideia intimamente ligada e restrita à lei25 e
que se aproxima de uma espécie de “margem de tolerância”26 que
permite retirar a eficácia obrigatória de regras. Estabelece-se, com isso,
um rompimento do rigorismo da lei.
O ilegalismo faz circular um jogo de interesses e forças, de
caráter político, econômico e social, num dado momento histórico, “em
que muitas vezes legalidade e ilegalidade não se opõem no plano efetivo
das práticas sociais aceitas”25. É, portanto, um regime funcional
estratégico que opera no interior de uma sociedade, segundo
determinada legislação, em que não se identifica a existência de um
sistema punitivo absolutamente neutro.
A prisão, nesse sentido, considera-se como um espaço
disciplinar privilegiado capaz de funcionar os ilegalismos. Entende-se, a
partir da perspectiva foucaultiana, que a prisão não é apenas uma forma
de punição, não se trata somente de um espaço construído e organizado
para fins de cumprimento de uma sanção jurídica tendente a restringir o
23 FONSECA, M. A. Michel Foucault e o direito. São Paulo: Max Limonad, 2002, p.173. 24 O termo “lei”, em Foucault, não possui um conceito preciso, de modo que há várias formas da noção de lei em seus trabalhos. Registre-se que os conceitos de “norma” e “lei”, no plano das práticas ligadas aos mecanismos de poder, apresentam implicações.
25 FONSECA, M. A. Michel Foucault e o direito. São Paulo: Max Limonad, 2002, p.133.
28
direito fundamental de locomoção de indivíduos, mas exerce-se nela uma
função mais complexa. Ela é, sobretudo, um local onde se desenvolve
uma função disciplinar que permite a constituição de saberes, o exercício
de mecanismos de poder e a produção de novos indivíduos. A prisão
teria, assim, a “função de não mais punir infrações de indivíduos, mas de
corrigir suas virtualidades”26.
Desse modo, a prisão volta-se ao controle e reforma
psicológica de indivíduos, evitando-se a prática de futuros atos delitivos,
estabelecendo-se, com isso, uma “ortopedia social”27, expressão utilizada
por Foucault para indicar a noção de um exercício de poder tendente a
corrigir os indivíduos, e não apenas puni-los.
Tem-se que a penalidade do século XIX reporta-se a um
controle sobre a periculosidade “não tanto sobre se o que fizeram os
indivíduos está em conformidade ou não com a lei, mas ao nível do que
podem fazer, do que são capazes de fazer, do que estão sujeitos a fazer,
do que estão na iminência de fazer”27.
Com efeito, o sistema punitivo, à luz da nova função de
controle sobre o comportamento dos indivíduos, ganhou outros
contornos.
A tarefa de controle deixou de ser exclusivamente judiciária.
Sedimentaram-se novas instâncias de poder, como as instâncias policial,
penitenciária, médica, psicológica, dentre outras, que passaram a
integrar o controle dos comportamentos dos indivíduos.
Identificam-se, assim, a existência de “poderes laterais”28
estranhos à atividade típica judicial e que atuariam sobre a conduta dos
reclusos. É o que sucede com o exercício de atividades administrativas
desempenhadas por agentes penitenciários e diretores prisionais que
26 Idem, ibid, p. 86. 27 Idem, ibid, p. 86.
29
exprimem certo controle e avaliação do condenado-recluso. A propósito,
vale lembrar que o poder exercido no ambiente da prisão não deriva do
Estado, de um órgão, uma classe social ou de qualquer outra instituição.
O poder não tem propriedade. É mais estratégia. É funcional.
Eis a prisão, forma institucional e modelo de vigilância
garantidor do exercício do poder disciplinar, uma instituição própria de
um tipo de sociedade a que Foucault designa por sociedade disciplinar.
2.2. Penas e o sistema Prisional Brasileiro
O conflito existente entre segurança e liberdade, dificulta a
harmonia que deveria existir entre a política criminal e a dignidade
humana. Segundo Professor Claudio José Pereira,
“Uma política criminalentendida como um conjunto de
métodos socialmente adequados ao combate ao delito,
deve ser reconhecida como missão social do Direito
Penal”.29
Franz V. Liszt, citado por Roxin, justifica a existência do
princípio da legalidade como instrumento de proteção à liberdade dos
cidadãos, sujeitando a ordem jurídica a uma interpretação da Lei, que
opere em conformidade com princípios científicos, frente a uma possível
arbitrariedade ilimitada do poder estatal.
Desta forma, surge a necessidade de criarmos outras maneiras
ou alternativas punitivas para resolução dos conflitos modernos da
sociedade, sempre primando pela dignaidade humana, tendência 29 PEREIRA, Claudio José Langroiva. Processo penal e Garantias Constitucionais. São Paulo Editora Quartier Latin, 2008, p 56.
30
moderna e supranacional.
Silva Sanchéz30 indica que o sistema garantista não impõe um
pensamento retrógrado, mas uma nova proposta que expressa uma
evolução de idéias penais, com a humanização e a prevenção geral ,
resguardando-se as garantias formais, criando alternativas à pena
privativa de liberdade, sem deixar de regular sua medida mais adequada
possível de aplicação.
A humanização das sanções criminais, tem como marco
Cezare Bonezana, o Marquês de Beccaria31 em seu livro os delitos e das
penas demonstra aspectos do direito penal, mas também expôs algumas
idéias sobre a prisão que culminaram na chamada humanização e
racionalização da pena privativa de liberdade, acenando que a pena
além do caráter punitivo, também poderia desenvolver uma finalidade
reformadora.
Indiscutível que desde a concepção que as prisões não podem
ser considerados porões, pois não deve predominar a sujeira e a fome,
pois denunciados e condenados dividiam o mesmo espaço, jogando-se
as traças o princípio da não culpabilidade.
Deve haver um controle do poder punitivo do Estado sobre o
indivíduo, tornando-o dócil. John Howard indubitavelmente contribui para
o processo de humanização, pois foi capturado em Portugal e sentiu os
horrores do encarceramento.
Não se pode afirmar que Beccaria conheceu o trabalho de
John Haward, mas este sem a menor sombra de dúvida conheceu o
30 SILVA SÁNCHES, Jesús Maria. A expansão do Direito penal – Aspectos da política criminal
nas sociedades pós-industriais. Tradução de Luiz 31
BECCARIA, Cezare Bonesana. Dos delitos e das penas. Trad. Silene Cardoso. São Paulo : ìcone, 2006, p. 25.
31
trabalho daquele. O que merece atenção que o estudo de Haward
preconizava que o pena não podia ser corporal, no entanto o estado em
que se encontrava as prisões inglesas de sua época, não tinham o
condão de ressocializar, e tão somente a prisão tinha como função
punitivia e terrorífica.
Apenas para ilustrar o pensamento de Haward, a prisão não
tinha como finalidade de formar “bons proletários”, mas tão somente
tinha como serventia impor o controle estatal sobre os indivíduos.
Em sintese, um dos pilares dos raciocínio de John Haward era
o do trabalho do condenado durante o período em que estivesse
encarcerado, inclusive o trabalho penoso, bem como o caráter da
religiosidade, talvez pelo fato de ser Calvinista e para tanto pugnava pelo
isolamento do condenado, pois somente assim poderia levar a uma
melhor reflexão da infração que havia sido praticada, evitando também a
promiscuidade.
2.3. O panótico de Jeremy Bentham
Jeremy Bentham (1748-1832), jurista inglês, destacou-se pela
exposição de reflexões relacionadas às penas. Justificava o exercício do
direito de punir do Estado, de modo que suas contribuições mereceram
destaque no domínio da criminologia.
Sob o ponto de vista do direito penal, sua contribuição mais
importante foi o panótico, que segundo Foucault Bentham se inspirou na
casa das feras que Le Vaux havia construído em Versailles, no entanto
Cristopher Hibber32 afirma que o panótico não foi idéia original de Jeremy
32 JERERY, Bentham. El panóptico, p.36 Apud. BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da
Pena de prisã: causas alternativas. São Paulo : Saraiva, 2011.
32
Bentham, mas de seu irmão o General-Brigadeiro Samuel Bentham, que
lhe mostrou o projeto que havia confeccionado para supervisionar o
trabalho no arsenal que dirigia.
Tanto na tese de Foucault como na de Hibber está clara a
preocupação de que o projeto permitisse controlar com facilidade o maior
número de pessoas, de tal sorte que está implícita e ao mesmo clara a
preocupação com o controle e a segurança.
Jeremy Bentham quando expôs os fundamentos de seu
desenho, enfatizou especialmente os problemas de segurança e controle
do estabelecimento prisional, e é neste pensar que, Michael Foucault
dedica maior atenção.
O pensamento do autor é marcado pelos princípios do
utilitarismo e da humanização das penas, o que pode ser visualizado na
seguinte passagem:
“um bom Governo é a imagem do pai, que não mortifica;
nem desterra seus filhos, senão depois de esgotar todos
os meios de os poder emendar. Facilitai os meios de cada
um poder ganhar a sua vida, desterrai a ociosidade, e os
delitos serão menos: educai a mocidade; na boa educação
e na paz e felicidade das famílias estão as sementes da
felicidade geral33.
A prevenção dos delitos também caracteriza suas
preocupações, haja vista que atribui ao Estado o dever de subsidiar
elementos educacionais mínimos aos cidadãos para atingir a felicidade
geral da sociedade.
33 BENTHAM, Jeremy. Teoria das penas legais e tratado dos sofistas políticos. São Paulo: Edijur, 2002, p. 11.
33
A prisão, por sua vez, mostra-se inseparável do universo de
suas análises, pois ele reconhece nela um meio pelo qual se possa
atingir a reabilitação do condenado, levando-se em conta uma forçada
vigilância que pudesse produzir a devida obediência e, por conseguinte,
a correção do indivíduo recluso.
De outro lado, a triste conjuntura penitenciária da Europa, por
volta de 1770, foi marcada por um sistema prisional que padecia de
vícios notadamente relacionados à distribuição espacial de reclusos e
condições de salubridade e segurança, o que tornou recorrente a
preocupação com a prisão. É nesse contexto que Bentham redige o
esquema panótico.
No final do século XVIII, pela inclinação ao tema penitenciário,
Bentham elaborou um projeto arquitetônico denominado “Panóptico”34,
obra que inicialmente descreve um conjunto minucioso sobre uma
disposição arquitetônica penitenciária fundamentada no princípio da
inspeção central, vigilância generalizada e rigorosa disposição do
espaço, a fim de promover um sistema de observação permanente e
ideal de todos os reclusos35.
A descrição do sistema panótico foi apresentada
genericamente pelo próprio autor como um plano para uma casa de
inspeção penitenciária, objeto do título da Carta II36.
O projeto arquitetônico, contudo, não se limitou à prisão, ante a
presença de uma disposição polivalente, econômica e universal de
vigilância sobre concentrações humanas, como, aliás, é expresso por
Bentham ao longo de sua obra, de maneira reiterada.
34 BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 35 O “Panóptico” é constituído por um conjunto de XXI Cartas redigidas em 1787, em Crecheff, na Rússia e remetidas à Inglaterra.
36 BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p.20.
34
O sistema de visibilidade panótico garantia, em suma: que
todos os vigiados, ainda que minimamente, não pudessem escapar do
olhar vigilante; que o vigiado soubesse que está sempre à mercê do
olhar vigilante, ainda que desconhecesse o momento exato em que ele
pudesse ser visto; que cada detalhe fosse observado; que o exercício da
vigilância indicasse uma ação contínua; que pudesse identificar,
descrever e controlar os corpos individualmente e que se alcançasse um
bom resultado com menor investimento possível.
Jeremy Bentham, com isso, reconhecia no projeto um
vantajoso modo de controle social, eis que favorecia métodos
economicamente viáveis de controle permanente de indivíduos:
Para dizer tudo em uma palavra, ver-se-á que ele é
aplicável, penso eu, sem exceção, a todos e quaisquer
estabelecimentos, nos quais, num espaço não
demasiadamente grande que possa ser controlado ou
dirigido a partir de edifícios, queira-se manter sob
inspeção um certo número de pessoas. Não importa quão
diferentes ou até mesmo quão opostos, sejam os
propósitos: seja o de punir o incorrigível, encerrar o
insano, reformar o viciado, confinar o suspeito, empregar o
desocupado, manter o desassistido, curar o doente,
instruir os que estejam dispostos em qualquer ramo da
indústria, ou treinar a raça em ascenção no caminho da
educação, em uma palavra, seja ele aplicado aos
propósitos das prisões perpétuas na câmara da morte, ou
prisões de confinamento antes do julgamento, ou casas
penitenciárias de correção ou casa de trabalho, ou
manufaturas, ou hospícios, ou hospitais, ou escolas37.
37 BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p.19.
35
O esquema panótico, dessa forma, aplicava-se às prisões, às
manufaturas, aos hospícios, aos hospitais, às escolas, nos termos das
recomendações constantes das Cartas XVII, XVIII, XIX, XX e XXI,
respectivamente.
A exposição do projeto de Bentham revelou preocupações
relativas à utilidade, à economia, à segurança e ao controle, aspectos
sob os quais, de algum modo, se inclinavam as investigações de
Foucault, o que é indicado no item seguinte.
O panótico de Bentham, segundo a concepção de Foucault,
seria uma forma disciplinar de exercício de poder que possibilitava uma
vigilância automática, econômica, eficiente e de coerção sutil de todos os
indivíduos a ele vinculados.
Foucault destaca que “O Panóptico é uma máquina de
dissociar o par ver-ser visto: no anel periférico, se é totalmente visto, sem
nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto”38,
reconhecendo que a visibilidade atuaria como se fosse uma
“armadilha”39.
Tem-se uma forma de funcionamento de poder que torna o
vigiado “objeto de uma informação, nunca sujeito numa comunicação”40,
tendo em vista que cada indivíduo encontra-se no devido lugar, trancado,
sem possibilidade de contato com os demais reclusos e com vigilância
garantida.
A sintetização dos efeitos do projeto arquitetônico é
apresentada por Foucault da seguinte forma:
Induzir ao detento um estado inconsciente e
permanente de visibilidade que assegura o 38 Idem, ibid, p. 167. 39 Idem, ibid, p. 166.
40 Idem, ibid, p. 166.
36
funcionamento automático do poder. Fazer com que
a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo
se é descontínua a sua ação; que a perfeição do
poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu
exercício; que esse aparelho arquitetural seja uma
máquina de criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce41.
Nesse sentido, Bentham considerou o princípio de que o poder
fosse “visível” e “inverificável”: a visibilidade permitiria que o poder se
exercesse de forma automática, por meio da torre central onde o detento
é constantemente vigiado; por sua vez, o efeito permanente do poder
garantia que o vigiado tivesse certeza de que estaria sendo observado,
ainda que descontínua a sua ação, o que tornava o poder inverificável.
As prisões no Ocidente revela o nascimento de uma sociedade
disciplinar. Tais disciplinas se apresentam como técnicas de controle e
adestramento de indivíduos que a partir do século XVIII começam a
proliferar no asilo, no exército, nía escola e nas prisões, todas voltadas a
promover especialmente a correção dos indivíduos, segundo
determinado comportamento que a sociedade da época passou a julgar
certo ou errado em função de suas conveniências.
Inaugura-se, portanto, uma nova economia de poder que se
caracteriza muito mais por produzir, educar e adestrar o indivíduo do que
apenas reprimi-lo.
A partir do século XIX, a pena de prisão passou a ser o meio
mais adequado para ressocializar o deliquente, segundo Cézar Roberto
Bitencourt, naquela época imperou uma áurea otimista e a convicção de
que a prisão era o meio idôneo, para de fato concretizar as finalidades da
41 Idem, ibid, p. 116.
37
pena, porém essa atmosfera otimista logo deu espaço a um descrédito
da pena privativa de liberdade.
O sistema prisional brasileiro amargura deficiências desde a
chegada da família real na cidade do Rio de Janeiro, pois várias pessoas
foram desalojadas de suas casas para abrigar a comitiva portuguesa. A
cadeia pública da cidade do Rio de Janeiro era no térreo do Senado.
A execução da pena de prisão no Brasil há muito tempo é
objeto de questionamento entre os operadores do direito, tal tema deixou
de ser um assunto de interesse no seio jurídico, ganhando destaque em
jornais, nas escolas e nas conversas informais.
O sistema prisional ganha notoriedade a partir de eventos
televisivos, principalmente em virtude de rebeliões em presídios,
notadamente a rebelião no extinto presídio do Carandiru e que veio a
tona com o julgamento dos policiais que foram acusados das 111 mortes
que lá ocorreram. Além de outos problemas crônicos, tais como
superlotação, proliferação de doenças, torturas, a promiscuidade entre os
presos e os gastos públicos com a mantença desse sistema prisional.
No intuito de reverter esse quadro caótico o Poder Público,
mormente o Poder Legislativo busca alternativas para melhorar a
execução da pena privativa de liberdade, entre elas o monitoramento
eletrônico de presos.
38
2.4. As medidas cautelares e sua coercibilidade na fase inquisitorial
Desde os bancos acadêmicos da graduação até as últimas
instâncias do ensino superior, ouve-se dizer que o inquérito policial ou a
fase pré-processual se trata de uma peça meramente informativa,
desvalida de qualquer valor processual, onde vale dizer, o indiciado por
um longo período da história foi tratado como objeto da investigação.
O inquérito policial guarda grande valia, pois possue regras
procedimentais básicas disciplinas em lei ou advinda de reiteradas
decisões judiciais.
Ocorre que inversamente do que se pensa, na fase inquisitorial
o indiciado ou averiguado sofre ofensas diversas no que tange a suas
liberdades públicas, mormente os direitos de lr e vir, intimidade,
privacidade, segredo, imagem, propriedade e posse, em razão disso se
faz mister estudar o inquérito policial sob uma nova ótica, observando os
direitos e garantias asseguradas na Constituição Federal de 1988, bem
como os Tratados e Convenções Internacionais e a legislação
infraconstitucional.
O inquérito policial, por força de sua natureza investigativa e
inquisitória é sigiloso, o que implica que o indiciado e defensor devem
ficar afastados, pois não há acusação.
Entrementes, no inquérito policial nota-se em toda sua
persecução, surgem medidas cautelares, que tem como escopo
preservar as provas e, via de conseguência tem o condão de influenciar
o orgão acusador e o julgador, destacando que entre as medidas
cautelares, temos aquelas de natureza coercitiva, que são assim
chamadas de prisões cautelares.
Historicamente as prisões cautelares guardam uma relação de
precedência à prisão propriamente dita, outra relação das prisões
39
cautelares se verifica com o principio da presunção de inocência, tema
este que será abordado em tópico próprio, haja vista que na medida em
que as prisões cautelares foram se desenvolvendo, de igual forma o
princípio da presunção de inocência de igual forma ganhou contornos
mais específicos.
2.5. Do auto de prisão em flagrante delito.
A palavra flagrante deriva do latim flagrans, que significa em
chamas, ardente, exprimindo a idéia de que o crime está sendo cometido
ou acabou de ser cometido, é a ciência e consciência visual inequívoca
do crime, não se resume tão somente de alguém ser surpreendido na
prática do crime, mas também quando acaba de cometê-lo ou é
perseguido, segundo o que preceitua o artigo 304 do Código de
Processo Penal.
A Constituição Federal em seu artigo 5° inciso LXII I reza que é
direito do preso a comunicação imediata de sua prisão ao familiares, de
constituir advogado, de saber o motivo de sua prisão e o nome de seus
executores, muito embora não esteja previsto de forma expressa na
Constituição Federal o preso também tem direito receber a nota de culpa,
que é o documento forma estatal que atesta que o cidadão está sem
preso.
A prisão em flagrante diferentemente das outras prisões
cautelares pode ser executa a qualquer hora do dia e da noite, podendo
inclusive ser violado o domicílio que terminantemente é vedado pelo
ordenamento constitucional.
O inquérito policial pode ser iniciado também por meio da
prisão em flagrante, onde o Delegado de Polícia toma conhecimento do
fato criminoso pela cognição coercitiva.
40
Flagrante, deriva do latim flagran, flagrantis, verbo flagare, que
significa queimar, arder. Flagrante delito é o que se vê praticar no próprio
instante, a necessidade de conservar ou restabelecer a ordem jurídica,
ameaçada pela violação ou violada pelo acontecimento, isto é, a
ardência do crime, é o que está acontecendo, a certeza visual do delito.
A prisão em flagrante é admitida sem mandado porque há uma
certeza da ocorrência da infração penal (art. 5º, inciso LXI, da CF).
No estado de flagrância há evidências probatórias quanto ao fato e
sua autoria, tais evidência devem estar corroboradas com outros meios
de prova, assim sendo, justifica-se a prisão daquele que está acabando
de cometer a infração penal.
Como se sabe, toda medida cautelar sujeita-se a dois
pressupostos básicos: o fumus boni juris e o periculum in mora, os quais
devem estar presentes para a imposição da prisão em flagrante.
O estado de flagrância, é a mais convincente manifestação da
presença de suficientes indícios de autoria e prova da existência do
crime, permitindo-se conferir facilmente o primeiro requisito, qual seja a
“fumaça do bom direito”.
Já a verificação do periculum in mora orienta-se pelas mesmas
causas da prisão preventiva, prevista no artigo 312 do Código de
Processo Penal, isto é, a garantia da ordem pública ou da ordem
econômica. Se nenhuma dessas hipóteses estiver presentes, não há o
periculum in mora e a soltura do réu é forçosa, com a concessão de uma
das formas de liberdade provisória, descritas no parágrafo único do artigo
310 do CPP.
De acordo com o artigo 302 do Código de Processo Penal, são
três as modalidades de flagrante, assim vejamos: flagrante próprio,
flagrante impróprio e flagrante presumido. No ordenamento jurídico
41
brasileiro não é permitido o flagrante preparado, ou seja, aquele que há
induzimento ou provocação do estado de flagrância. Difere-se do
flagrante esperado, que é permitido.
O flagrante esperado ocorre quando não há nenhum
induzimento ou provocação ao indiciado para o cometimento do delito.
Auto é uma peça escrita onde se registra a narração de determinados
atos realizados.
Em qualquer modalidade de prisão em flagrante será o agente
preso, oportunidade em que a autoridade policial é obrigada a levar o
competente auto de prisão em flagrante, que vem a ser uma peça única,
escrita, em que é ditado pelo Delegado ao Escrivão, contendo o dia,
hora, local, titulo, nome, cargo da autoridade que preside o auto, além da
qualificação e depoimento do condutor, testemunhas, conduzido e a
declaração do ofendido, e por último o encerramento.
O auto de prisão em flagrante é subscrito pelo Escrivão de
Polícia, assinado pelo condutor, testemunhas e conduzido.
Se este não souber ou não quiser assinar, haverá a
necessidade de mais duas testemunhas a rogo para subscrevê-lo, depois
da ouvida de sua leitura na presença de todos os que assinaram.
Lavrado o auto de prisão em flagrante, o Delegado de Polícia
deve comunicá-lo ao juiz, por meio de ofício, expedir nota de culpa em
conformidade com o artigo 306, parágrafo único do Código de Processo
Penal.
42
2.6. Da Prisão Temporária
A medida provisória 111, de 24 de novembro de 1989, que se
converteu na Lei n. 7.960/89, foi inspirada na proposta de reforma do
Código de Processo Penal- Projeto de Lei n.1.655/83 que se baseou no
anteprojeto, elaborado por José Frederico Marques e revisto por José
Salgado Martins, Benjamim Moraes Filho e José Carlos Moreira Alves.
Pela origem espúria de não emanar do Poder Legislativo, mas
do Poder Executivo, questionou-se a constitucionalidade da Prisão
Temporária, gerando várias discussões no mundo doutrinário. Diziam
que a lei era ofensiva ao direito de liberdade, pois verteu-se de medida
provisória e não de projeto de lei, ferindo desta forma o princípio da
legalidade.
Mas a Ilustre Professora Ada Pellegrini Grinover salienta que:
“a prisão temporária não infringe a Constituição Federal, no
que diz respeito à autoridade competente para decretá-la, que
é a judiciária, nos expressos termos do disposto no artigo 5°,
LXI, da Constituição Federal. Entende que, “do mesmo modo, a
prisão temporária não infringe a Constituição, quando à sua
configuração de prisão cautelar, a uma de cujas formas a Lei
Maior alude, no mesmo inciso LXI do artigo 5°”, con tudo alerta
para a obediência irrestrita das exigências legais “diante do
preceito constitucional segundo o qual “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória””. Assim, sustenta que, “em face do estado
de inocência do acusado, a antecipação do resultado do
processo representa providência excepcional, que não pode
43
ser confundida com punição, somente justificadas em casos de
extrema necessidade”.42
Em suma, a prisão temporária é constitucional e não se
contrapõe a nenhum dos princípios basilares da Carta Maior, desde que
para sua decretação seja observada a base legal, provenha da
autoridade judiciária competente e contenha a devida fundamentação.
A Lei n. 7.960/89 sofreu poucas modificações, a partir da
Medida Provisória e as mais significativas são:
Artigo 1°, inciso I – de investigação criminal para investigações
do inquérito policial; inciso II – de investigado para indiciado, inciso III –
de fundada suspeita para fundadas razões.
A Lei 7.960/90 evitou aplicação desmedida da prisão
temporária ao restringi-la às investigações do inquérito policial, pois
desta forma evitam-se prisões para averiguações, que existiram e às
quais se faziam vistas grossas, em que o Judiciário acabava por honrar o
arbítrio policial.
O objetivo da legislação é implementar a prisão para investigar,
partindo-se de um fato para uma pessoa determinada e nunca para
prender para averiguar, partindo-se de pessoas para levantar fatos, de
modo aleatório, sem critério.43
42GRINOVER, Ada Pellegrine, Limites constitucionais à prisão temporária, Revista Jurídica Brasileira, n.207, pag. 35, jan.1995
43 FREITAS, Jayme Walmer de, Prisão Temporária: 2 ed.rev.,ampl. E atual. São Paulo: Saraiva,
2009, pag. 89/90.
44
Insta consignar que investigar não significa produzir elementos
que indiquem a autoria e a materialidade, mas sim, descobrir esses
elementos.
A prisão temporária, ao contrário da prisão preventiva somente
poderá existir caso ainda não existam indícios suficientes de autoria e
materialidade para o início do processo, sendo que tais elementos
somente serão descobertos com a privação da liberdade do investigado.
Considerando a natureza jurídica da prisão temporária como
sendo prisão penal cautelar, é medida extrema, cuja aplicação está
subordinada à estrita observância de seus pressupostos: periculum in
mora, ou periculum libertatis, e fumus boni iuris.
O fumus boni juris, consiste na plausibilidade do dano
proveniente da conduta do suspeito, advém de fundadas razões de
autoria e participação em um ou mais tipos penais, conforme redação do
inciso III do artigo 1° da Lei 7.960/89. A prova ra zoável da autoria ou
participação não é suficiente para a custódia, sendo imprescindível
prova, no mínimo provisória, da materialidade.
Já o periculum in mora ou periculum libertatis está previsto nos
incisos I e II do artigo 1° da Lei 7.960/89.
Inciso I – o encerramento imperativo para o sucesso da
investigação policial tem cunho instrumental, como visto, porque
destinado a amealhar subsídios probatórios para o inquérito ameaçado
com eventual fuga do suspeito ou indiciado. O periculum libertatis
também se destina a capitalizar material idôneo para o resultado do
45
futuro processo de conhecimento, sob o risco de serem perdidas provas
essenciais ao deslinde do fato.
Inciso II – previsão expressa, na situação do suspeito ou
indiciado, que nega ser identificado, pois eventual fuga fracassaria
totalmente a investigação criminal.
A prisão temporária somente vigorará durante o inquérito
policial, desde que comprovadamente imprescindível para suas
investigações sempre que houver fundadas razões de que o investigado
praticou um dos crimes previstos no artigo 1°, inci so III, da Lei n.7960/89.
O Artigo 1°, inciso I, da Lei 7.960/89, estabelece, in verbis:
“Artigo 1°. Caberá prisão temporária:
I- quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial”.
Imprescindível é o requisito indispensável, necessário, pois o
fato de restringir a liberdade para investigar é conditio sine qua nom da
decretação da prisão temporária.
Em relação à prisão temporária Carlos Kauffmann assim
explica:
Poderíamos dizer: se, mentalmente, perante a ocorrência
verificada, se abstrair a contribuição causal a que se quer dar o
valor da condição, e se concluir que, suprimida a prisão, a
investigação policial ficaria impossibilitada, a prisão será
imprescindível para as investigações do inquérito policial.44
44
KAUFFMANN, Carlos, Prisão Temporária. São Paulo: Quartier Latin, 2006, pag.127.
46
De acordo com Fernando Capez, o Inquérito Policial é “um
conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para apuração
de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal
possa ingressar em juízo”45.
A prisão temporária tem natureza acessória, pois se destina ao
resultado do inquérito policial, onde é decretada; é dotada de caráter
provisório e a instrumentalidade existe porque é meio e modo de garantir
a tutela ao inquérito policial e ao processo.
Dentre dos incisos I e II do Artigo 1° da Lei n.796 0/89, já
mencionados, temos o inciso III que diz respeito às condutas penais que
autorizam o a prisão temporária – Rol Taxativo:
a) homicídio doloso (artigo 121, caput, e seu parágrafo 2°);
b) sequestro ou cárcere privado (artigo 148, caput, e seus
parágrafos 1° e 2°);
c) roubo (artigo 157, caput, e seus parágrafos 1° , 2° e 3°);
d) extorsão (artigo 158, caput, e seus parágrafos 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (artigo 159, caput, e seus
parágrafos 1°, 2° e 3°);
f) estupro (artigo 213, caput, e sua combinação com o artigo
233,caput, e parágrafo único);
g) epidemia com resultado morte (artigo 267, parágrafo 1°);
h) envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte (artigo 270, caput,
combinado com o artigo 285);
45
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 17º ed., São Paulo, Saraiva: 2010, pag.109.
47
i) quadrilha ou banco (artigo 288), todos do Código Penal;
j) genocídio (artigos 1°, 2° e 3°, da Lei n° 2.889, de 1° de
outubro de 1956, em qualquer de suas formas típicas);
k) tráfico de entorpecentes;
l) crimes contra o sistema financeiro ( Lei 7.492, de 16 de
junho de 1976)”.
José Frederico Marques assevera que:
“não há sistema rígido de interpretação. O entendimento da lei
deve subordinar-se a método dúctil e flexível que permita ao
juiz, sem afastar-se da regra do jus scriptum, adotar, entre
várias interpretações possíveis, aquela que lhe pareça mais
razoável. 46
O legislador procurou estabelecer quais as condutas que, na
sua opinião, são consideradas graves e, portanto, admitem a prisão
temporária, retirando, assim, do subjetivismo judicial, a verificação da
gravidade de uma conduta isolada.
Se a prisão fosse cabível em qualquer conduta criminosa,
desnecessário se tornaria o extenso elenco do inciso III.
O requerimento e a representação
De acordo com o artigo 2° da Lei n. 7960/89 “a pris ão
temporária será decretada pelo Juiz, em face de representação da
autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o 46
MARQUES, Frederico, Elementos de direito processual penal, v.l,p.41
48
prazo de cinco dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade”.
A autoridade policial ou o órgão ministerial devem postular à
autoridade judiciária competente, sendo que a representação é o meio
mais comum, no entanto é a autoridade policial que está no front dos
crimes, razão pela qual, vai valer-se imediatamente, da prisão do
suspeito ou indiciado para buscar incrementos ao quadro probatório.
Tanto a representação quanto o requerimento devem fornecer
os fundamentos de fato e de direito, pelos quais se pede o
encarceramento.
De acordo com Jayme Walmer de Freitas:
É vedado o decreto prisional de ofício, por objetivar atender à
persecução penal extrajudicial, embora admitido nas demais
modalidades, em especial na preventiva. O artigo 311 do
Código de Processo Penal estabelece que “em qualquer fase
do Inquérito Policial ou da instrução criminal, caberá à prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público, ou do querelante, ou mediante
representação da autoridade policial”.47
A representação formulada pela Autoridade Policial ou pelo
representante do Ministério Público deve indicar pessoa certa (suspeito
ou indiciado) e no caso da decretação, o juiz deve estar seguro quando
ao sujeito passivo.
47
FREITAS, Jayme Walmer de, Prisão temporária, 2.ed.rev.,ampl.e atual. São Paulo: Saraiva, 2009, pag. 133.
49
O mandado de prisão deve designar com precisão a pessoa
contra quem é expedido, para boa e justa execução da ordem.
De acordo com preceito constitucional, a ordem de prisão deve
ser escrita e fundamentada pela autoridade judiciária competente, e o
juiz terá um prazo de vinte e quatro (24) horas para despachar a
representação ou requerimento.
Com relação à fundamentação, é exigência constitucional,
trata-se de obrigação do magistrado, pois todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário hão de ser públicos e todas as decisões
fundamentadas, sob pena de nulidade, (artigo 93, IX, da Carta Política).
Exige-se a necessidade de motivação da sentença, não como
uma exposição ordenada de fatos, mas como demonstração clara dos
fundamentos que determinaram a decisão, quer absolutória, quer
condenatória.
A fundamentação é requisito imprescindível por preceito
constitucional na visão dos tribunais, é considerada adequada mesmo
quando o despacho judicial for sucinto, mas desde que atenda aos
pressupostos legais. Ela se caracteriza com a explicação de dados
concretos sobre o fato.
O prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorrogável por
igual período, em caso de extrema necessidade e deve ser comprovada
e justificada pela autoridade policial em seu requerimento.
50
2.7. A Prisão Preventiva
A prisão preventiva está inserta no artigo 311 do Código de
Processo Penal e antes da nova redação dada pela Lei 12.403/11 dizia
que:
Artigo 311- “Em qualquer fase do inquérito policial ou da
instrução criminal, caberá à prisão preventiva decretada pelo juiz, de
ofício, a requerimento do Ministério Público, ou do querelante, ou
mediante representação da autoridade policial”.
Mas com o advento da Lei 12.403/11 a redação passou a ser:
Artigo 311- “Em qualquer fase da investigação policial ou do
processo penal, caberá à prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício,
se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial”.
O que mudou no referido artigo foi apenas “inquérito policial” e
“instrução criminal” em “investigação policial” e “processo penal”. Trata-
se de alteração que ampliou, ainda que timidamente a possibilidade de
prisão preventiva para qualquer momento do processo penal, esteja, ou
não, na fase de instrução.
Após a sentença penal condenatória transitada em julgado, não
caberá mais se falar em prisão preventiva, pois a prisão, será ou não, a
sanção a ser aplicada pela infração cometida.
51
Devemos tomar muito cuidado com o dispositivo em questão,
pois não pode a prisão preventiva representar uma antecipação da pena,
ou seja, uma forma de manter o acusado preso durante eventuais
trâmites recursais após sentença condenatória recorrível.
Para que a prisão preventiva seja decretada, deve registrar a
presença concreta do motivo que a autorize, não servindo a condenação
recorrível de fundamento ou argumentação vazia de que o clamor público
é no sentido de que a pessoa deveria se recolher ao cárcere para
recorrer.
O Código de Processo Penal traz em seu artigo 312 a maneira
pela qual, a prisão preventiva deverá ser decretada.
Artigo 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria.
Parágrafo único: A prisão preventiva também poderá ser
decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas por força de outras medidas cautelares, (artigo 282, parágrafo
4°).
Fundamentos da prisão preventiva (periculum in mora)
O texto do caput foi mantido intacto, ou seja, a prisão
preventiva, de regra, só poderá ser decretada para garantir a ordem
pública, a ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou
para assegurar a aplicação da lei penal.
52
Mas o parágrafo único trouxe novidades, pois agora existe a
possibilidade de se decretar a prisão preventiva com fundamento no
descumprimento de obrigações impostas por medias cautelares. A lei
não diz, mas é claro que a referência é ao descumprimento injustificado
de obrigação.
Pressupostos da prisão preventiva (fumus boni iuris)
Os pressupostos da prisão preventiva continuam os mesmos,
ou seja, prova da materialidade do crime e indícios de autoria.
De acordo com Eugênio de Oliveria Pacelli:
A prisão preventiva, por tolher a liberdade do acusado antes do
trânsito em julgado da sentença, deve ser aplicada como
exceção e só se justifica “enquanto e na medida em que puder
realizar a proteção da persecução penal, em todo o seu iter
procedimental, e, mais, quando se mostrar a única maneira de
satisfazer tal necessidade.”48
Prisão Preventiva para garantia da ordem pública
No tocante a primeira condição reveladora do periculum
libertatis, é possível constatar divirja destacada doutrina quanto ao
caráter de providência efetivamente acautelatória do processo penal,
pois pretende-se assim enxergar, quando desta condição da prisão
preventiva, a ideia de uma custódia cautelar fruto do potestas coercendi
estatal, dada para a garantia da ordem pública e, igualmente, ordem
econômica, espécie da qual a primeira faz gênero, conquanto nestes
casos não estaria a prisão preventiva efetivamente protegendo o
processo, mas sim, a estabilidade social, configurando-se, portanto,
como medida de proteção do corpo social e não do processo.
48
PACELLI, Eugênio de Oliveira. Curso de Processo Penal. 12. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.p 487.
53
Importante ressaltar que a jurisprudência reiteradamente
reforça a necessidade de provas idôneas para que se utilize da prisão
preventiva, bem como das demais medidas cautelares.
Assim, tem-se o entendimento do Supremo Tribunal Federal
acerca da garantia da ordem pública.49
49 STF, HC 101.300-SP. Rel. Min. Ayres Britto, DJE 18.11.2010
Habeas Corpus. 1. O conceito jurídico de ordem pública não se confunde com incolumidade pública das pessoas e do patrimônio (artigo 144 da CF/99). Sem embargo, ordem pública se constitui em bem jurídico que pode resultar mais ou menos fragilizado pelo modo personalizado com que se dá a concreta violação da integridade das pessoas ou do patrimônio de terceiros, tanto quanto da saúde pública (nas hipóteses de tráfico de entorpecentes e drogas afins). Dai sua categorização jurídico-positiva, não como descrição do delito nem cominação de pena, porém como pressuposto de prisão cautelar; ou seja, como imperiosa necessidade de acautelar o meio social contra fatores de perturbação que já se localizam na gravidade incomum da execução de certos crimes. Não da incomum gravidade abstrata desse ou daquele crime, mas da incomum gravidade na perpetração em si do crime, levando à consistente ilação de que, solto, o agente reincidirá no delito. Donde o vínculo operacional entre necessidade de preservação da ordem pública e acautelamento do meio social. Logo, conceito de ordem pública que se desvincula do conceito de incolumidade das pessoas e do patrimônio alheio (assim como da violação à saúde pública), mas que se enlaça umbilicalmente à noção de acautelamento do meio social. 2. É certo que, para condenar penalmente alguém, o órgão julgador tem de olhar para trás e ver em que medida os fatos delituosos e suas coordenadas dão conta da culpabilidade do acusado. Já no que toca à decretação da prisão preventiva, se também é certo que o juiz valora esses mesmos fatos e valores, ele o faz na perspectiva da aferição da periculosidade do agente. Não propriamente da culpabilidade. Pelo que o quantum da pena está para a culpabilidade do agente assim como o decreto de prisão preventiva está para a periculosidade, pois é tal periculosidade que pode colocar em risco o meio social quanto à possibilidade de reiteração delitiva (cuidando-se, claro, de prisão preventiva com fundamento na garantia da ordem pública). 3. Na concreta situação dos autos, o fundamento da garantia da ordem pública, tal como lançado, basta para validamente sustentar a prisão processual do paciente. Não há como refugar a aplicabilidade do conceito de ordem pública se o caso em análise evidencia a necessidade de acautelamento do meio social quando àquele risco da reiteração delitiva. Situação que atende à finalidade do artigo 312 do CPP. 4. Não há que se falar em inidoneidade do decreto de prisão, se este embasa a custódia cautelar a partir do contexto empírico da causa. Até porque, sempre que a maneira da perpetração do delito revelar de pronto a extrema periculosidade do agente, abre-se ao decreto prisional a possibilidade de estabelecer um vínculo funcional entre o modus operandi do suposto crime e a garantia da ordem pública. Precedentes: HCs 93012 e 90.413, da relatoria dos Ministros Menezes Direito e Ricardo Lewandowski, respectivamente. 5. No caso, a prisão preventiva também se justifica na garantia de eventual aplicação da lei penal. Isso porque o paciente permaneceu foragido por mais de dois anos. 6. A via processualmente contida do habeas corpus não é o locus para a discussão do acerto ou desacerto na análise do conjunto factual probatório que embasa a sentença penal condenatória. 7. Ordem denegada.
54
Existe, pois, na prisão para garantir a ordem pública,
necessidade de uma mínima visão da proteção do processo, sem o que
sucumbe ao menor exame constitucional a ideia de exclusiva proteção
social como via legitimadora do cárcere precoce, pois insuficiente a
garantir o manejo da custódia cautelar.
No entanto, sendo possível constatar que a prisão cautelar
pode a um só tempo, se prestar a proteger o corpo social e o processo
penal, em menor ou maior intensidade, conforme o caso concreto, e bem
assim que, se não houver a demonstração da necessidade de proteção
do resultado útil final do processo, impossibilitado resta por maior que se
mostre a necessidade de precaver o meio social, o encarceramento
precoce, é que concebemos elemento também presente na prisão
cautelar para garantia da ordem pública, isto, porém, além da proteção
do corpo social, a medida se revista do condão de obter na esfera
processual, a, também, segurança na administração da justiça.
Prisão Preventiva para a garantia da ordem econômic a
A prisão preventiva como garantia da ordem econômica, visa-
se a “impedir que o agente, causador de seríssimo abalo à situação
econômico-financeira de uma instituição financeira ou mesmo de órgão
do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à sociedade a
impunidade de reinante nessa área”.50
Portanto, cabível será a prisão preventiva para garantia da
ordem econômica, quando dos autos do processo penal, cujo resultado
útil final deve ser protegido, se possam extrair concretos indícios de que
50
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 8. Ed.3.tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. P. 622.
55
o acusado tem envolvimento com o crime cuja lesão pecuniária seja de
monta e se faça justificado o temor de que, mantido o réu liberto,
prossiga lesando o erário público ou perpetrando delitos de natureza
econômica.
Prisão Preventiva por conveniência da instrução cri minal
A Prisão Preventiva por conveniência da instrução criminal,
significa a garantia da instrução do processo, zelar pelo seu bom
andamento e assim, impedir que atos ou pessoas possam influenciar o
seu andamento ou a sua conclusão.
De acordo com Guilherme de Souza Nucci:
”Configuram condutas inaceitáveis a ameaça a testemunha, a
investida contra provas buscando desaparecer com evidências, ameaças
ao órgão acusatório, à vítima ou ao juiz do feito, a fuga deliberada do
local do crime, mudando de residência ou cidade, para não ser
reconhecido, nem fornecer sua qualificação, dentre outras”.51
E por fim, a prisão preventiva para assegurar a aplicação da lei
penal, só será decretada para garantir que o Estado exerça seu direito de
punir, aplicando a sanção há quem comete a infração penal.
Destarte, que à prisão preventiva para garantia da futura
aplicação da lei penal, ganha especial relevo a aferição do ânimo
daquele que se subtraiu ao local do crime ou do curso do processo, se
constituindo tal elemento volitivo, apreciado em cada caso concreto,
como o fundamento da custódia processual.
51
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 8. Ed. 3. Tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. P. 623.
56
O artigo 313 do Código de Processo Penal, trás descritos as
condições da prisão preventiva são elas:
“Nos termos do artigo 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:
I- nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos;
II- se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
artigo 64 do Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940- Código
Penal;
III- se o crime envolver violência doméstica e familiar
contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva
quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta
não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso
ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se
outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
O artigo acima mencionado, apesar de sua previsão em
capítulo relativo à prisão preventiva, constitui-se em mais uma norma de
garantia do acusado em processo penal, que, merecendo ser
interpretada de modo a se adequar ao sistema processual penal, que
merecendo ser interpretada de modo a se adequar ao sistema
processual penal constitucional vigente, limita a incidência da custódia
preventiva- aos casos da prática de crimes dolosos apenados com
reclusão ou apenados com detenção quando acusado que não fornece
ou indica elementos necessários a esclarecer sua identidade ou que,
tendo praticado crimes, é reincidente em delitos dolosos, aí apenados
com detenção ou reclusão.
57
2.7.1. Prisão Preventiva e Violência Doméstica
O inciso III, do artigo 313 do Código de Processo Penal, prevê
a prisão preventiva nas hipóteses de crimes envolvendo violência
doméstica e familiar contra mulher, nos termos da lei específica, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência.
O constituinte de 1988, no parágrafo 8° do artigo 2 26, atendo
ao grave quadro, firmou comando no sentido de que “O Estado
assegurará a assistência à família para coibir a violência no âmbito de
suas relações”.
Já a Lei 11.340/2006 é uma resultante deste enfoque
constitucional, fruto da compreensão do legislador quanto à necessidade
de aportar a legislação infraconstitucional, inclusive a penal e a
processual penal, de instrumentos capazes de garantir a abstenção,
mesmo que forçada do comportamento violento em face do gênero
feminino nas relações domésticas.
A violência doméstica e familiar foi tratada em legislação
específica como uma das formas de violação dos direitos humanos,
havendo desta forma a necessidade de proteger o gênero feminino,
tendo o Estado à obrigação de atuar de modo a garantir o direito da
pessoa do referido sexo não ser vítima de violência.
58
2.7.2. Prisão Preventiva e a CPI
De acordo com o artigo 58, parágrafo 3° da Carta Ma gna:
“As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes
de investigação próprios das autoridades judiciais, além de
outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão
criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal,
em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um
terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e
por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores”.
A Comissão Parlamentar de Inquérito, não tem poder para
ordenar a prisão do investigado, senão vejamos:
Têm as Comissões Parlamentares de Inquérito poderes de
investigação, próprios das autoridades judiciárias, no entanto, no
exercício desses poderes, devem respeitar os limites formais a que estão
submetidos os membros do judiciário, quando da instrução do processo
criminal.
A Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso LX I diz que
“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar”. Portanto, somente em
duas situações é admitida a prisão, qual seja, “flagrante delito” e “ordem
judicial”.
59
O Supremo Tribunal Federal, já entendeu que a CPI não tem
poder de prisão, sendo tal medida exclusiva do Poder Judiciário, salvo
em caso, de flagrante delito.
Entendimento do Supremo Tribunal Federal.
Precedente: “A Constituição da República, ao outorgar às
comissões parlamentares de inquérito poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais (artigo 58, parágrafo 3°),
claramente delimitou a natureza de suas atribuições
institucionais, restringindo-as, unicamente, ao campo da
indagação probatória, com absoluta exclusão de quaisquer
outras prerrogativas que se incluem, ordinariamente, na esfera
de competência dos magistrados e Tribunais, inclusive aquelas
que decorrem do poder geral de cautela conferido aos juízes,
como o poder de decretar a indisponibilidade dos bens
pertencentes a pessoas sujeitas à investigação parlamentar. A
circunstancia de os poderes investigatórios de uma CPI serem
essencialmente limitados levou a jurisprudência constitucional
do Supremo Tribunal Federal a advertir que as comissões
parlamentares de inquérito não podem formular acusações e
nem punir delitos (RDA, 199/205, Rel. Min. Paulo Brossard),
nem desrespeitar o privilégio contra a autoincriminação que
assiste a qualquer indiciado ou testemunha (RDA, 196/97, Rel.
Min. Celso de Mello-HC 79.244-DF, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence), nem decretar a prisão de qualquer pessoa, exceto
nas hipóteses de flagrância (RDA, 199/205, Rel. Min. Paulo
Brossard)” (STF, MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de
12-5-2000).
60
É possível a prisão em flagrante delito por crime de falso
testemunho, decretada por comissão parlamentar de inquérito, como já
decidiu, corretamente, o Supremo Tribunal Federal.52
Prisão preventiva: “A preservação da respeitabilidade de órgão
do Legislativo – Comissão Parlamentar de Inquérito – prescinde de
medidas extremas, como é a prisão preventiva do acusado da prática
criminosa”.53
52
STF, HC 75.287-0-ML, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ, 1, de 30-4-1997, p. 16302.
53 STF, HC 85.646, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 14-10-2005).
61
3. O MONITORAMENTO ELETRÔNICO
No Brasil o monitoramento eletrônico de presos começou a ser
discutido em meados de 2001 com os projetos de lei apresentados pelo
Deputado Marcus Vicente e Deputado Vitório Medioli. Ambos os projetos
tinham a mesma proposta, ou seja, uma solução como o uso da
tecnologia para reduzir o número de presos nos presídios brasileiros,
viabilizando o seu retorno à sociedade de forma mais digna e humana.
Somente em 2007 a discussão foi retomada, o Estado de São
Paulo foi o primeiro a elaborar projetos que viabilizava a utilização do
monitoramento eletrônico de presos. Outros muitos projetos surgiram
após e todos objetivavam a mesma coisa: o monitoramento de presos.
Enfim em 2010, foi aprovado o projeto de lei do Senador
Magno Malta, sendo convertido na Lei 12.258/2010 que trata sobre o
monitoramento eletrônico de presos no Brasil. Tal lei foi elaborada para
alterar dispositivos do Código Penal, prevendo a utilização de
equipamento de vigilância indireta pelo condenado nos casos em que for
beneficiado com a as saídas temporárias ou com o cumprimento de sua
pena em regime domiciliar. Além das alterações no código penal, foi
alterado também a Lei de Execuções Penal, no título V, capítulo I, a
seção VI, tratando exclusivamente da monitoração eletrônica.
Em 2011, foi aprovada a Lei 12.403/2011, que fez alterações
no Código de Processo Penal, relativos à prisão processual, fiança,
liberdade provisória, demais medidas cautelares, estabelecendo no artigo
319 do Código, inciso IX, o monitoramento eletrônico como uma medida
cautelar diversa da prisão.
62
No Brasil o monitoramento eletrônico foi instituído através da lei
12.258/2010 que criou mecanismo para que o juiz da execução permita
ao condenado sair do cárcere, no entanto sua movimentação será
monitorada pelo Estado, de tal sorte que o preso, por óbvio ficará
proibido de frequentar determinados lugares
.
3.2. Conceito
O monitoramento eletrônico é uma alternativa dentro da
execução da pena, onde o condenado não será segregado, no entanto
terá sua movimentação vigiada pelo Estado, ficará inviabilizado de
frequentar determinados lugares, bem como de sair de sua residência
em determinados horários.
Guilherme de Souza Nucci conceitua o institituto como sendo
“a utilização de aparelhos próprios para fiscalizar, à distância, a atividade
o sentenciado, quando em gozo de benefícios penais, tal como o
livramento condicional”. 54
A Lei Paulista n° 12.906/08 que trata o assunto, co nceitua o
insittuto no parágrafo único do artigo 1°:
A vigilância eletrônica consiste no uso da
telemática e de meios técnicos que permitam, à
distância e com respeito à dignidade da pessoa
a ela sujeita, observar sua presença ou ausência
em determinado local e durante o período em
que, por determinação judicial, ali deva ou possa
estar.
54
NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de processo penal e execução penal .8ed. ver. Atul. e ampl. – São
Paulo : Revista do Tribunais, 2011 p. 1058
63
A Lei 12.403 de 05 de maio de 2011, que alterou o Código de
Processo Penal, no que pertine às prisões, imprimiu que o
monitoramento eletrônico passou a ser uma medida cautelar diversa da
prisão, ou seja, tem como objetivo primordial, evitar que o individuo não
fique encarcerado, antes da sentença penal condenatória.
No entanto, para que o monitoramento eletrônico de presos
surta efeitos e alcance os objetivos esperados, deverá ser implantado por
uma empresa qualificada para tal tecnologia e esta, exercer suas
atividades para o Estado, mediante processo licitatório.
No Estado de São Paulo, o monitoramento eletrônico vem sendo desenvolvido pelas empresas Sascar, de tecnologia de gestão da informação, Spacecom Monitoramento e a Daiken Indústria eletrônica, integrantes do Consórcio SDS, vencedor de procedimento licitatório cuja finalidade era a aquisição de tornozeleira eletrônicas para presos submetidos à Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo. O monitoramento eletrônico no Estado de São Paulo, segundo a empresa Spacecom Ltda, é desenvolvido por meio de um sistema denominado SAC24, que disponibiliza aos órgãos responsáveis pela execução penal recursos de hardware e software para a monitoração eletrônica de sentenciados, sendo o único sistema na área com tecnologia nacional e com características voltadas à realidade brasileira. Seu funcionamento ocorre por meio da utilização, por vinte e quatro horas por dia, da tornozeleira pelo apenado, junto com a Unidade Portátil de Rastreamento – UPR. Estes dispositivos comunicam-se através de rádio frequência, de maneira que ambos se policiam constantemente. A UPR permite que o aparelho seja rastreado por satélite (GPS) e pela rede de telefonia celular (LBS), de modo que as informações capturadas pela UPR são transmitidas para os
64
servidores da Spacecom via GPRS e disponibilizados ao usuário através de uma interface acessada pela internet.55
3.2. Objetividade jurídica
A objetividade jurídica da lei refere-se, de algum modo, ao bem
jurídico tutelado pelo Estado. Para efeito de vigilância eletrônica, a lei
protege a segurança da coletividade quanto ao regular cumprimento das
normas de execução penal.
O Estado, por meio da vigilância eletrônica de indivíduos,
garante a fiscalização e o controle de seus provimentos jurisdicionais
condenatórios56, com o fim de garantir a efetivação da sanção penal
imposta ao infrator da norma penal. Para tanto, o Estado conta com uma
série de órgãos públicos que exercem essa competência administrativa
específica.
Entretanto, é de se registrar que não há órgãos públicos
especializados para o controle da vigilância eletrônica de indivíduos-
condenados no Estado de São Paulo, ante a ausência de
regulamentação administrativa em torno das formas de sua efetivação.
56 FONSECA, André Luiz Filo-Creão. Omonitoramento e a sua utilização como meio de minimizador da dessocialização decorrente da prisão. Porto Alegre : Núria Fabris Ed., 2012. p.75
56É de se destacar que o Estado, no exercício da função jurisdicional, edita provimentos de natureza condenatória, cautelar, executória, cognitiva e mandamental, segundo critérios dispostos por leis ou atos administrativos normativos.
65
3.1.1.3 Hipóteses de utilização
A vigilância eletrônica, nos termos da legislação vigente, não
deve ser utilizada de maneira desarrazoada. Ao contrário, suas hipóteses
de utilização são consideradas de caráter cogente, isto é, de observância
obrigatória e pressupõem a presença de algumas situações
taxativamente57 enumeradas pela lei.
Dessa forma, admite-se tão-somente a utilização da vigilância
eletrônica, na medida em que a decisão judicial irrecorrível fixar,
alternativamente, uma destas cinco hipóteses: prisão em residência
particular; proibição de freqüentar determinados lugares; livramento
condicional; saída temporária; e, por fim, prestação de trabalho externo.
Diante da especificidade dessas hipóteses de utilização da vigilância
eletrônica, cabe explicitar ainda que de passagem algumas disposições
legais a elas relacionadas58.
A primeira hipótese de utilização da vigilância eletrônica refere-
se à prisão em residência domiciliar ou prisão albergue domiciliar.
Trata-se de uma forma de prisão que é dirigida aos
condenados maiores de 70 (setenta) anos de idade, aos acometidos de
doença grave, ao deficiente físico ou mental, à condenada com filho
menor ou à condenada gestante. A disposição é tratada pelo artigo 117
da Lei de Execução Penal (Lei Federal nº 7210/84), nos seguintes
termos:
57 A expressão “taxativamente” indica que não há outras hipóteses permissivas para fins de utilização da vigilância eletrônica, à exceção da vigilância obrigatória, cuja imposição decorre da lei, como indicado no item 3.1.1.4 (p. 81-82). 58 Este trabalho contém apenas os Anexos I e II, que trazem especificamente a legislação relacionada à vigilância eletrônica, o que exige a parcial reprodução de outros textos legislativos correlatos durante o desenvolvimento deste capítulo.
66
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: I- condenado maior de 70 (setenta) anos; II- condenado acometido de doença agrave; III- condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
A segunda hipótese diz respeito à utilização da vigilância
eletrônica em se tratando de pena que se relacione à proibição de
frequentar determinados lugares. Esta representa uma forma de
interdição temporária de diretos, porquanto limita a frequência do
condenado a bares, estádios esportivos, casas de prostituição, boates
etc, na conformidade do art. 47, inciso IV, do Código Penal.
A terceira hipótese versa sobre o livramento condicional. Por
intermédio dele, confere-se ao sentenciado a possibilidade de
cumprimento de parte da sanção penal em liberdade, oportunidade em
que recairá a vigilância eletrônica. O livramento condicional, por sua vez,
é disposto no Código Penal, como segue:
Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; III – comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V – cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crime dessa natureza.
67
A quarta hipótese cuida da saída temporária. Trata-se de uma
medida da execução penal que confere ao condenado o direito de visita
à família, a frequência a curso supletivo profissionalizante, a curso de
instrução do segundo grau ou superior, a participação em atividades que
concorram para o retorno ao convívio social (ainda que de ordem
recreativa, artística ou esportiva). A saída temporária é concedida pelo
Juiz de Direito competente para o acompanhamento da fase de
execução, com oitivas prévias dos representantes do Ministério Público e
da administração penitenciária, tudo de conformidade com o art. 122 da
Lei de Execução Penal.
A quinta hipótese cuida da prestação de trabalho externo. A
medida destina-se precipuamente à gradativa reincorporação do
condenado ao meio social, consistente na atribuição de tarefas gratuitas
a entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros
estabelecimentos congêneres.
Diante da apresentação das cinco hipóteses possíveis de
utilização mencionadas, é de se afirmar que atualmente a tecnologia da
vigilância tem incidência apenas durante a fase de execução da pena
imposta ao condenado.
3.4 Aplicação obrigatória
A ofensa aos bens jurídicos considerados valiosos pela
sociedade faz com que o Estado adote diversos meios de proteção
social. A vigilância eletrônica insere-se no conjunto dessas medidas
protetivas estatais.
68
Assim, a lei enuncia que a vigilância eletrônica torna-se
obrigatória nas hipóteses de crimes de tortura, tráfico ilícito de drogas,
terrorismo, formação de quadrilha ou bando e atividades que envolvam
organização criminosa, dotadas de significativo interesse jurídico-penal.
Aplica-se a vigilância obrigatória, ainda, à associação criminosa para a
prática de crimes considerados hediondos, consumados ou tentados, a
saber:
1-homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V); 2-latrocínio (artigo 157, §3º, in fine); 3-extorsão qualificada pela morte (art. 158, §2º); 4-extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§1º e 2º e 3º); 5-estupro (artigo 213 e sua combinação com o artigo 223, caput e parágrafo único); 6-atentado violento ao pudor (artigo 214 e sua combinação com o artigo 223, caput e parágrafo único); 7-epidemia com resultado morte (artigo 267,§1º); 8-falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (artigo 273, caput e §1º, e §1º - A, e §1º - B, com redação dada pela lei federal nº 9.677, de 2 de julho de 1998); 8-genocídio, previsto nos artigos 1º, 2º e 3º da lei federal nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado.
Portanto, a vigilância eletrônica é empregada de forma
obrigatória nas hipóteses de condenações criminais que indicarem
delitos de significativo potencial ofensivo reconhecidos pela lei.
69
3.5. Implantação
A temática da vigilância eletrônica é tratada pela Lei Federal nº
12.258/2010 e pela Lei Paulista nº 12.906/2008. A disposição legal,
contudo, não é suficiente para a implantação do dispositivo tecnológico.
Há que se ter uma regulamentação do comando da lei.
Frise-se que a disposição de qualquer ato legislativo veicula,
dentre outras características, a generalidade e a abstração. Vale lembrar,
a propósito dessas características, que a lei, em sentido formal “é a
norma geral e abstrata de conduta aprovada pelo Legislativo e
sancionada pelo Executivo”59.
Entretanto, a execução da lei (de caráter geral) exige a
produção de atos concretos, de natureza infralegal. Requer-se, assim, a
expedição de atos diversos da espécie legislativa, atos de natureza
infralegal, atos de natureza eminentemente administrativa capazes de
regulamentar a aplicação da lei.
3.2. legislação nacional sobre o tema.
Antes de apresentarmos o panorama da legislação brasileira
no que tange ao monitoramento eletrônico, merece atenção o fato de que
o monitoramente se faz em sede de execução penal, que pode assim ser
considerado como sendo “um processo de natureza jurisdicional, cuja
finalidade é tornar efetiva a pretensão punitiva do Estado, envolvendo
ainda atividade administrativa”60
59 MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 126. 60
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 8.ed. ver., atual. e ampl.
São Paulo : Editora RT, 2011, p. 998.
70
Nota-se que a execução da sentença penal condenatória
possui duas naturezas jurídicas, uma sendo atividade jurisdicional e outra
adminstrativa, esta por seu existe pois o efetivo cumprimento do
comando atinente à execuçã da pena se dê em estabelecimentos
prisionais afetos ao poder executivo, muito embora o juiz seja o
corregedor dos presídios, no entanto esta atividade correicional do
magistrado não retira o aspecto administrativo.
O caráter autônomo da execução penal, não lhe afasta do
Direito Penal61, nem tampouco do Direito Processual Penal, no entanto
sua autonomia se revela por possuir princípios próprios e legislação
especifica.
A Lei de Execução penal, nos arts.82 e seguintes previu
diferentes locais para o cumprimento da sentença, a saber, penitenciária,
a colônia agricola, industrial ou similar e casa do albergado, sendo assim
a Lei de Execução Penal instituiu a progressividade no cumprimento da
pena, com o fito de educar e ressocializar, entretanto o que se verifica é
uma distorção entre o ser e o dever ser, pois a realidade do sistema
carcerário nacional é alarmante e preocupante.
O Departamento Penitenciário Nacional informou através de
levantamento realizado que o total geral de presos no Brasil é de
548.003 até dezembro de 2012, o Estado de São Paulo possui a maior
população carcerária do País cerca de 195.695 e ainda nessa unidade
de federação o índice é de 474,39 presos para cada 100.000 habitantes,
61
Os regimes de cumprimento da penal são descritos no Código Penal, como sendo o regime fechado, o
semi-aberto e o aberto, consoante o Código o que vai definir em qual deles se encaixa o condenado é a
quantidade da pena imposta na sentença e as condições pessoais do condenado.
71
levando-se em conta que a população do Estado de São Paulo é de
41.256.160 de habitantes.62
Segundo dados fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça
no Estado de São Paulo são feitas nove mil prisões por mês e três mil
liberações.de tal sorte que a quantidade de presidiários cresce seis mil a
cada mês.
Em todo o País, a quantidade de pessoas presas nas cadeias e
penitenciárias brasileiras também registrou aumento de 35 mil no
primeiro semestre de 2012, elevando a população carcerária do Brasil
para 550 mil.
O crescimento verificado nos primeiro seis meses corresponde
ao dobro do aumento registrado em todo o ano passado, esta situação
demonstra a incompatibilidade entre o sistema hodierno e a execução
penal, pois se torna patente que não há vagas no sistema prisonal
brasileiro.
E assim sendo não se faz necessário muita reflexão que o
colapso no sistema penitenciário brasileiro é uma realidade a ser
enfrentada por toda sociedade, e no campo jurídico a doutrina defende a
idéia da falência da pena de prisão tendo em vista o descaso dado pelo
Poder Executivo ao sistema prisional, neste diapasão Cezar Roberto
Bitencourt escreve:
Durante muitos anos, imperou um ambiente otimista,
predominando a firme convicção de que a prisão poderia
ser meio idôneo para realizar todas as finalidades da
pena e que, dentro de certas condições, seria possível
62
Disponível em : http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7BD574E9CE-3C7D-437A-A5B6-
22166AD2E896%7D&Team=¶ms=itemID=%7BC37B2AE9-4C68-4006-8B16-
24D28407509C%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26%7D
72
reabilitar o delinquente. Esse otimismo inicial
desapareceu e atualmente predomina certa atitude
pessimista, que já não tem mais esperanças sobre os
resultados que se possuam conseguir com a prisão
tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode
afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise. Essa
crise abrange também o objetivo ressocializador da pena
privativa de liberdade, visto que grande parte das críticas
e questionamentos que se faz à prisão refere-se à
impossibilidade – absoluta ou relativa – de obter algum
efeito positivo sobre o apenado.63
Salta aos olhos que o tratatamento deferido aos presos seja
aqui no Estado de São Paulo como nos demais cantos de nosso País é
desumano, o que feri o princípio da humunidade da pena, ou como
prefere Guilherme de Souza Nucci tratando o tema “o princípio da
humanidade é adotado, constitucionalmente, envolvendo não apenas o
Direito Penal, como também o Direito da Execução Penal”.63
Diante da superlotação das cadeias públicas, centros de
detenção provisória e penitenciárias, surge o monitoramento eletrônico
de presos como uma das forma de humanizar o sistema penitenciário.
63
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão – causas e alternativas. 4 ed. São Paulo :
Editora Saraiva, 2011, p. 162.
73
3.7. O monitoramento eletrônico nos Estados unidos
Os Estados Unidos da América berço da industria
cinematográfica, foi o palco para inspiração do monitoramento eletrônico,
pois o Juiz Jack Love inspirou-se em um desenho animado do Homem-
aranha, precisamento da edição de Amazing Spider-Man de 1977, na
qual o rei do crime havia prendido um bracelete ao Homem-Aranha a fim
de monitorá-lo pelas ruas de Nova Iorque.
Um amigo do Juiz Jack Love de nome Mike Gross, técnico em
informática idealizou o bracelete em 1983 e o próprio magistrado de
Albuquerque, no Estado do Novo México, determinou a implatação em
cinco detentos.
Por conta desta implatação nascia, também, naquele momento
conforme esclarece Edmundo Oliveira64 a National Incarceration Monitor
and Control Services, a primeira empresa a produzir instalações
eletrônicas destinadas ao controle de seres humanos.
O sistema de monitoramento é adotado nos Estados Unidos
tanto na legislação estadual quanto na legislação federal. Na esfera
federal é utilizado esse sistema como alternativa ao sursis e á liberdade
condicional, ao passo que os Estados utilizam na aplicação de prisão
domiciliar.
64 OLIVEIRA, Edmundo. Direito Penal do Futuro: a prisão virtual, p. 28. Apud. GRECO, Rogério. Direito humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo : Saraiva, 2011. P. 386 e 387.
74
Antes da aplicação da medida, primeiro se faz um estudo do
impacto do crime na sociedade para avaliar se essa medida é cabível.
Em sendo cabível, é feito um exame do perfil psicológico do indivíduo
para verificar se o mesmo possui condições de se adaptar ao
equipamento eletrônico, a fim de se preservar sua integridade não só
física como também psicológica.
Nos Estados Unidos, o emprego de pulseira e tornozeleira já
está consolidada. O emprego de microchip subcutâneo já é uma
realidade e impede qualquer visualização por parte de terceiros, podendo
inclusive, conter todas as informações necessárias relativas ao
cumprimento da pena do condenado que dele se utiliza.65
A vigilância eletrônica, no Estados Unidos da América, é vista
com um expediente social que serve como sanção intermediária entre o
“probation” (“sursis”) e a pena privativa de liberdade, sendo mais punitiva
que o primeiro, uma vez que as condições do monitoramento são
verificadas de forma mais rigorosa, permitindo a aplicação de sanção de
forma mais rápida no caso de qualquer violação, mas menos grave que o
encarceramento. No entanto, os designers do aparelho desde início o
criaram com a finalidade de elevar a auto estima e a habilidade dos
valores sociais da pessoa que usa o instrumento.66
Atualmente nos Estados Unidos, há três tipos de
monitoramento eletrônico. Sistemas de sinal contínuo ou sistemas ativos
monitoram o infrator durante todo o dia, exceto quando ele ou ela está
permanentemente em casa. Já os contatos programados ou sistemas
passivos fazem chamadas telefônicas aleatórias à residência do infrator 65 GRECO, Rogério. Direito humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo : Saraiva, 2011. P. 389.
66 HATA, Fernanda Yumi Furukawa. Monitoramento eletrônico: aplicação no ordenamento jurídico brasileiro. São Paulo s.n, 2011. P. 42 e 43.
75
e perguntam-no sobre informações pessoais específicas ou contêm um
sistema de verificação de voz para verificar se é de fato o infrator que
está em casa, atendendo o telefone. Com o advento de novas
tecnologias, muitas jurisdições atualmente usam o Sistema de
Posicionamento Global, permitindo que o infrator seja localizado o tempo
todo.67
Interessante experiência ocorre no Estado de Illinois, onde a
maioria dos monitoramentos eletrônicos de infratores levados a cabo é
feita com o consentimento do participante. A Lei de Prisão Domiciliar de
Illinois exige especificamente que o infrator consinta com o
monitoramento e que outras pessoas morando na residência do infrator
sejam notificadas do monitoramento.68
3.5. O monitoramento eletrônico em Portugal.
Em Portugal, a vigilância eletrônica surge em 1998 com a
alteração do Código de Processo Penal, e em seu artigo 201 cria
mecanismo de monitoramento com o fito de fiscalizar a medida de
coação de obrigação de permanência na residência.
Interessante que a alteração na legislação Portuguesa tinha
por finalidade criar condições para que a obrigação de permanência na
residência, funcionasse como um substitutivo da prisão preventiva,
portanto em Portugal admite-se a utilização do monitoramento nas
prisões cautelares.
67 Monitoramento eletrônico: uma experiência à prisão? Experiências internacionais e perpectivas no Brasil. Brasilia, 2008.
68 Monitoramento eletrônico: uma experiência à prisão? Experiências internacionais e perpectivas no
Brasil. Brasilia, 2008.
76
Para poder demonstrar que o exemplo português trouxemos a
baila o teor do artigo 201 do Código Processual Penal Português:
Artigo 201 do Código de Processo Penal Português
Obrigação de permanência na habitação
1 - Se considerar inadequadas ou insuficientes, no
caso, as medidas referidas nos artigos anteriores, o
juiz pode impor ao arguido a obrigação de não se
ausentar, ou de não se ausentar sem autorização, da
habitação própria ou de outra em que de momento
resida ou, nomeadamente, quando tal se justifique,
em instituição adequada a prestar-lhe apoio social e
de saúde, se houver fortes indícios de prática de
crime doloso punível com pena de prisão de máximo
superior a 3 anos.
2 - A obrigação de permanência na habitação é
cumulável com a obrigação de não contactar, por
qualquer meio, com determinadas pessoas.
3 - Para fiscalização do cumprimento das obrigações
referidas nos números anteriores podem ser
utilizados meios técnicos de controlo à distância, nos
termos previstos na lei.
Hodiernamente, em Portugal a Lei regente sobre o tema em
tela é a Lei n.º 33/2010, de 02 de Setembro de 2010, que se encontra no
axexo deste trabalho.
No artigo 2° da citada lei mencionada de que forma que pode
ser efetuado a monitoração que pode ser:
a) por monitoração telemática posicional;
b) verificação de voz;
77
c) outros meios tecnólogicos que venham a ser reconhecidos
como idôneos.
Importante ressaltar que Lei n.° 33/2010 em seu a rtigo 3°
menciona quais são os princípios orientadores na execução da medida, e
o primeiro deles é o respeito a diginidade da pessoa humana, e por conta
desse principio é que no artigo 4° exigie-se o cons entimento do arguido
ou condenado, esse consentimento é prestado pessoalmente perante o
juiz, sempre na presença de defensor. E ainda as pessoas maiores de 16
anos que coabitem com o arguido ou condenado, também dever
consentir na utilização da vigilância eletrônica.
O procedimento para aplicação da vigilância eletrônica vem
disciplinada no art. 7º. da Lei 33/2010 e este informa que a medida é
decidida a qualquer tempo, durante a fase pré-processual, de ofício, e a
requerimento do Ministério Público ou do acusado. E uma vez concedida
a medida a decisão é comunicada ao arguido ou condenado e ao
defensor.
Vale lembrar que o governo Portugues contratou uma empresa
privada para gerenciar o funcionamento da vigilância eletrônica, tal qual é
feita em alguns países.
Os direitos do arguido ou condenado estão previstos no artigo
5° da Lei 33/2010.
a) Participar na elaboração e construção do plano de
reinserção social delineado pelos serviços de reinserção social em
função das suas necessidades;
b) Receber dos serviços de reinserção social um documento
onde constem os seus direitos e deveres, informações sobre os períodos
78
de vigilância eletrônica, bem como um guia dos procedimentos a serem
observados durante a respectiva execução;
c) Atender aos telefonemas realizados pelos serviços de
reinserção social que executam a decisão judicial.
Os deveres do arguido ou condenado estão previsto no no
artigo 6° do referido diploma legal:
a) Permanecer nos locais onde é exercida vigilância
electrónica durante os períodos de tempo fixados;
b) Cumprir o definido no plano de reinserção social;
c) Cumprir as indicações que forem dadas pelos
serviços de reinserção social para a verificação de
voz;
d) Receber os serviços de reinserção social e
cumprir as suas orientações, bem como responder
aos contactos, nomeadamente por via telefónica,
que por estes forem feitos durante os períodos de
vigilância electrónica;
e) Contactar os serviços de reinserção social, com
pelo menos três dias úteis de antecedência, sempre
que pretenda obter autorização judicial para se
ausentar excepcionalmente durante o período de
vigilância electrónica, fornecendo para o efeito as
informações necessárias;
f) Solicitar aos serviços de reinserção social
autorização para se ausentar do local de vigilância
electrónica quando estejam em causa motivos
imprevistos e urgentes;
g) Apresentar justificação das ausências que
ocorram durante os períodos de vigilância
electrónica;
79
h) Abster-se de qualquer acto que possa afectar o
normal funcionamento dos equipamentos de
vigilância electrónica;
i) Contactar de imediato os serviços de reinserção
social se ocorrerem anomalias que possam afectar o
normal funcionamento do equipamento de vigilância
electrónica, nomeadamente interrupções do
fornecimento de electricidade ou das ligações
telefónicas;
j) Permitir a remoção dos equipamentos pelos
serviços de reinserção social após o termo da
medida ou da pena.
Inidicia-se a execução da medida no prazo máximo de
quarenta e oito horas após a ciência da decisão do tribunal, onde os
serviços de reinserção social deverão propiciar a instalação dos meios
técnicos de vigilância na presença do arguido ou condenado (artigo 8° da
Lei n.° 33/2010).
Revoga-se a vigilância eletrônica quando o arguido ou
condeando atende ou descumpre quaisquer dos comandos normativos
insertos no artigo 14°. da Lei 33/2010, a saber:
a) Se o arguiido ou condenado revogar o consentimento;
b) Se o arguiido ou condenado danificar o equipamento de
monitorização com intenção de impedir ou dificultar a vigilância ou, por
qualquer forma, iludir os serviços de vigilância ou se eximir a esta;
c) Se o arguiido ou condenado violar gravemente os deveres a
que está sujeito;
Previsão interessante é o que se verifica no artigo 26°, da Lei
33/2010 que estabelece a utilização de meios técnicos de controle à
80
distância para fiscalização das medidas de afastamento nos casos de
violência doméstica, sendo que a execução da medida inicia-se quando
instalados todos os meio s de vigilância eletrônica junto a vítima e o
arguido ou condenado.
Considerando que o modelo implantado em Portugal se
adequa à realidade brasileira, o Brasil assinou, em 21/10/2010, um
acordo de cooperação com Portugal, durante a 16° Co nferência de
Ministros da Justiça de Países Ibero-americanos, na Cidade do México
que inclui transferência de informações, cooperação técnica e prestação
de assistência técnica e jurídica entre os dois países.
81
O Monitoramento eletrônico e os Direitos Fundamenta is
4.1. A colisão entre Princípios Fundamentais.
A nutureza complexa das relações entre aqueles que compõe a
sociedade, o ideal democrático dominante, e o acesso à justiça exigiram
a previsão, e de igual forma a proteção dos direitos fundamentais,
previstos no ordenamento juridico constitucional.
Com a nova ordem constitucional pós 1988, surgi também,
novos problemas para a efetivação dos direitos e para a determinação da
correta aplicação de cada um deles. De tal sorte, inevitável também, foi o
surgimento da colisão ou dos conflitos entre direitos de índole
constitucional.
Convém mencionar que seria de bom alvitre antes de se
adentrar no tema da colisão entre princípios fundamentais propriamente
dito e suas eventuais formas de dirimir tais conflitos que se delineasse a
estrutura das normas de direitos fundamentais, para tanto se faz mister a
distinção entre regras e princípios, pois sem ela, não seria possivel
desenvolver uma teoria adequada quanto às restrições e funções dos
direitos fundamentais, nem uma teoria equânime no que diz respeito as
colisões desses direitos.
Assim sendo sobre o tema discorre sobre o tema Robert Alexy
que
Não faltam indícios de que a distinção entre regras e
princípios desempenham um papel no contexto dos
82
direitos fundamentais. As normas de direitos
fundamentais são não raro caracterizada como
“princípios”.69
No que tange aos crítérios para se dintinguir regras de
princípios, o mais utilizado seria o critério da generalidade, para este
critério os princípios possuem grau elevado de abstração, ao passo que
o grau de abstração das regras é significativamente mais baixo, os
princípios guardam uma relação de orientação, por isso devem possuir
um grau de abstração maior, para poder abarcar a correta aplicação do
direito como um todo.
Acerca dos princípios Robert Alexy, lhes emprega a
terminologia de mandamentos de otimização70
… são caracterizados por poderem ser satisfeitos em
graus variados e pelo fato de que a medida devida de
sua satisfação não depoende somente das
possibilidades fáticas, mas também das possibilidades
jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é
determinado pelos princípios e regras colidentes.
Sobre as regras Robert Alexy diz que elas podem ser ou não
satifeitas, se a regra vige no ordenamento jurídico ela vale, portanto deve
ser feito aquilo que ela exige, assim as regras possuem determinações
no âmbito daquilo que é fático e juridicamente possível.
69
Alexy, Robert. Teorias dos direitos fundamentais. 2 ª ed.,Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2011, p.86.
70 Alexy, Robert. Teorias dos direitos fundamentais. 2 ª ed.,Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2011, p.90.
83
Com o fito de contemporizar esse impacto em nossa ordem,
deve-se atentar para o âmbito de proteção dos direitos fundamentais,
cuja incorreta compreensão gera as chamadas colisões aparentes. É
mister que se verifique qual parcela da realidade está protegida pelo
texto constitucional. Este exame dissolverá diversas dúvidas quanto à
aplicação de direitos fundamentais, pois impede que haja interferência
indevida do âmbito de proteção de um direito no de outro, em razão da
determinação de seus limites imanentes.
É possível, entretanto, que os âmbitos de proteção de dois ou
mais direitos fundamentais interpenetrem-se, o que gera a situação de
colisão autêntica, visto que não se trata mais de simplesmente fixar a
parcela da realidade que está sendo protegida, posto que esta se
encontra no raio de atuação de dois ou mais direitos.
Esta é a razão principal pela qual se diz serem similares as
colisões de direitos fundamentais e a colisão de princípios.
De fato, em ambos os casos é insuficiente uma simples análise
de validade. Faz-se necessária uma ponderação entre os diversos
valores albergados.
Efetivamente, o estudo sempre demonstrará como meta o
desenvolvimento de critérios através dos quais sejam fixadas decisões
uniformes para casos similares de colisões de direitos fundamentais.
Como parâmetros primeiros, temos os princípios da unidade da
constituição e da concordância prática, que mostram a colisão como uma
anomalia de um sistema – representado pela Constituição – que não
pode conviver com contradições em seu bojo.
84
Deve-se sempre optar pela solução que garanta a manutenção
da unidade da Constituição e da máxima efetividade de suas
disposições.
Na técnica de ponderação sobreleva, ainda, o princípio da
proporcionalidade, elevado à categoria de axioma do constitucionalismo
moderno, por representar importante ferramenta para barrar a atuação
exorbitante do Estado, significando uma exigência de aplicação de
medidas adequadas, necessárias e razoáveis na atuação estatal.
Seus subprincípios garantem ao intérprete noções seguras
para uma interpretação desprovida de excessos. Como último parâmetro
para a solução da colisão de direitos fundamentais, apresentarse-á o
princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. Com efeito, este
princípio encontra-se na Constituição Federal brasileira como um dos
fundamentos do nosso Estado Democrático de Direito.
A partir deste status, certamente será fácil constatar que
qualquer interpretação que se faça das normas constitucionais deve levá-
lo em consideração, como critério determinante, inclusive.
Com efeito, os direitos fundamentais representam
concretizações e exigências do princípio da dignidade da pessoa
humana. Portanto, sempre que houver colisão entre eles, a interpretação
deve se aproximar ao máximo da realização deste princípio fundamental,
sempre tendo em vista a perspectiva de um Estado facilitador do
exercício das liberdades, que atue com o fim último de enaltecer a figura
do indivíduo como um ser dotado de dignidade e, portanto, sujeito – e
não objeto - de direitos.
Os parâmetros estabelecidos representam apenas propostas
para a solução de colisões de direitos fundamentais. São balizas e
caminhos que podem ser observados pelo aplicador
85
Por vezes, o operador do direito se depara com situações em
que é obrigado a decidir na aplicação do direito constitucional o que é
mais importante o direito de determinada pessoa ou o direito de outra, na
ciência jurídica as lides envolvendo essas circunstancias é sua própria
essência. Comuns também são as situações onde se precisa decidir
entre a prevalência de determinado direito fundamental sobre o outro,
tendo em vista a diversidade de direitos fundamentais protegidos pela
nossa Constituição.
Os Direitos Fundamentais previstos na Constituição Federal,
bem como aqueles que derivam de tratatos internacionais, não surgiram
ao mesmo tempo, nem tampouco foram concebidos de forma aleatória,
sofreram no transcurso da história transformações e evoluiram dando
origem as dimensões do direitos fundamentais.
Como exemplo pode-se citar o choque entre o direito a
transmissão de informação de determinada empresa jornalística e o
direito a privacidade e a intimidade de certo político renomado. Partindo
desse ponto, verifica-se a necessidade de se conhecer as técnicas
utilizadas para se solucionar os conflitos envolvendo direitos
fundamentais. A jurisprudência nacional entra comumente em contato
com circunstâncias dessa natureza, busca-se nesse ensaio conhecer o
trabalho realizado em alguns julgados do STF que se utilizaram da
técnica da ponderação de princípios para decidir qual princípio prevalece
sobre o outro em casos concretos.
Inicialmente, torna-se imprescindível conhecer os direitos
fundamentais, sua classificação, gerações, para posteriormente
chegarmos a conclusão de que os direitos fundamentais possuem
natureza de princípios. Por terem natureza principiológica os direitos
fundamentais possuem forte conteúdo axiológico, ou seja, são
carregados de valores dentro do ordenamento jurídico nacional.
86
Os princípios por sua vez, não são vistos mais atualmente
como eram no positivismo, como valores éticos a serem seguidos pela
sociedade, atualmente os princípios são carregados de normatividade, o
que os faz um tipo de norma, assim como as regras. Os princípios
constitucionais são normas que sustentam e sevem de fundamento
jurídico para o ordenamento constitucional, são os valores primordiais e
as bases do sistema normativo da sociedade. Não são considerados
apenas meros programas ou sugestões para ações da iniciativa privada
ou do Poder Público, eles dão a direção para as atividades pois possuem
verdadeira força vinculante.
4.2. O monitoramento eletrônico e a presunção de in ocência
A presunção de inocência ou não-culpabilidade vem descrita
na Constituição Federal no artigo 5°, inciso LVII q ue assim menciona
“niguém sera considera culpado até o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória”.
A norma acima mencionada tem por objetivo garantir que seja
previamente desconsiderado a culpabilidade do sujeito que não tem
sentença penal condenatória acobertado pelo trânsito em julgado, e
ainda consoante a incorporação ao ordenamento jurídico pátrio do Pacto
Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos e do Pacto de São José da Costa Rica,
precisamente em seu artigo 14 , n° 2 e o do artigo 8°, n°2, 1ª amplia-se o
espectro de proteção da presunção de inocência, passando a ser
protegido de forma mais intensa o cidadão, sendo vedada qualquer
presunção em face de acusação sofrida.71
71
“A garantia da presunção de inocência é vetor cultural do processo, e atua no status do acusado e
como indicativo do sistema probatório, exigindo, igualmente uma defesa substancial e não apenas
87
No plano da eficácia das normas ou princípios constitucionais,
temos um abismo entre o real e o ideal, se olharmos do ponto de vista
prático o monitoramento do preso que use a tornozeleira e que fosse
surpreendido pela milícia em atitude suspeita, seria de imediato contra si
levantada a hipótese de que realmente cometerá ou que cometeu
alguma infração a ordem penal, haja vista que é portador de tornozeleira
eletrônica.
O que se coloca no parágrafo acima é a estimatização daquele
que ainda não milita em seu desfavor sentença penal condenatória com
trânsito em julgado, pois como é ventilado no presente trabalho a
possibilidade de monitoração eletrônica nas prisões cautelares, não se
podendo conceber tratatamento preconceituoso.
Sobre o tema Roberto Delmanto Júnior, assevera:
O direito à presunção de inocência, portanto, afigura-se
como uma pilastra de todo e qualquer Estado
Democrático de Direito, abragendo, como referido, não
só a questão do ônus da prova, mas, também a
inadmissibilidade de qualquer tratamento preconceituoso
em função da condição de acusado, do direito ao
resguardo de sua imagem, silêncio que não importa em
admissão de culpa, a local condigno que lhe seja
destinado na sala de audiências ou no plenário do Júri,
ao não uso de algemas, salvo casos excepcionalíssimos
e, por fim, à cautelaridade e excepcionalidade da prisão
provisória (…).72
formal. Desta maneira, traduzirá a forma de tratamento do acusado, não mais visto como um objeto do
processo, mas sim sujeito de direitos dentro da relação processual “ CHOUKR,Fausi Hassan. Processo
penal à luz da Constituição. Bauru: Edipro, 1999, p. 27.
72 As modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração. P.68.
88
Nesse diapasão, a jurisprudência vem afastando a prisão como
forma, ainda que implícita, de antecipação de aplicação da pena: “A
prisão preventiva é medida excepcional e deve ser decretada apenas
quando devidamente amparada em fatos concretos que demonstrem a
presença dos requisitos legais, em observância ao princípio
constitucional da presunção de inocência, sob pena de antecipar
reprimenda a ser cumprida no caso de eventual condenação.”73
Na fase pré-processual a presunção de inocência ganha
importância, pois como é cediço, há quem entenda que o inquérito
policial é um procedimento meramente administrativo, que tem como
objetivo a colheita de provas para embasar futura ação penal, pois bem
não se costuma emprestar a devida importância ao inquérito policial, no
entanto nesta fase, nota-se que vários direitos do cidãdão estão em
jogos, e claro devem ser respeitados.
A guisa de exemplo podemos citar os antecedentes criminais,
que tem por serventia auxiliar o magistrado lá na aplicação da pena, mas
na fase inquisitorial em hipótese alguma deve servir de norte para indiciar
alguém.74
No plano processual a presunção de inocência incide também
sobre outros princípios e garantias como o direito à prova, ao duplo grau
de jurisdição e ainda na fase pré-processual.
73
STJ - 5ª Turma – HC 119757/SP – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – j. 19.02.2009 – Dje 16/03/2009.
74 O indiciamento é ato exclusivo da autoridade policial, pois a atividade de persecução é atribuição
constitucionalmente garantida, não devendo o delegado de polícia no seu mister, caso não haja indícios
de autoria e materialidade, atender a requisição do representante do Ministério Público ou do
Magistrado
89
4.3. O valor constitucional na utilização dos equi pamentos
Quando Miguel Reale construiu a teoria tridimensional do
direito, claramente se percebe que o valor dentro dessa teoria, possui um
peso considerável, pois este valor agrega as caracteristicas, as vontades
e principalmente momentâneo de uma sociedade, permita-se a guisa de
exemplo que num passado não muito distante era aceitável em nossa
sociedade lavar a alma com sangue diante do flagra de uma traição
descoberta pelo conjugê varão, hoje tal atitude de longe não é tolerada
pela socieade, pois os valores sofrem mutações ao longo do tempo.
Identificar os valores significa interpretar os diplomas legais,
mas estes devem ser interpretados a partir do espirito constitucional,
neste esteira Luis Roberto Barroso preleciona que :
“A interpretação conforme a Constituição, pode ser
apreciada como um princípio de interpretação e como
uma técnica de contrle de constitucionalidade. Como
princípio de interpretação, decorre ele da confluência dos
dois princípios anteriores: o da supremacia Constituição
e o da presunção de constitucionalidade. Com base na
interpretação conforme a Constiutição, o aplicador da
norma infraconsticional, dentre mais de uma
interpretação possível, deverá buscar aquela que
compatibilize com a Constituição, ainda que não seja a
que mais obviamente decorra do seu texto. Como técnica
de constrole de constitucionalidade, a interpretação
conforme a Constituição consiste na expressa exclusão
de uma determinada interpretação da norma, uma ação
corretiva que importa em declaração de
inconstitucionalidade sem redução de texto. Em qualquer
de suas aplicações, o princípio tem por limite as
90
possibilidades sêmanticas do texto, para que o intérprete
não se converta indevidamente em legislador positivo”.75
Neste estudo deve ser ponderado os valores consitucionais
como imagem, honra, privacidade e intimidade do monitorado e as novas
tecnologias e principalmente as consequências na utilização dessas
tecnologias, é uma das consequências que provoca o progresso
tecnológico, é o veloz desenvolvimento de diversas modalidas de
controle, por meio do uso de dispositivos de vigilância física.
Inegável, afastar a idéia de que a partir do momento que
colocamos um dispositivo eletrônico, seja ele tornozeleira, chip, bracelete
ou qualquer outro meio estamos utilizando o corpo como meio de
prevençao ao delito cometido, na prisão não há qualquer utilização do
corpo para efetivar do direito de punir do Estado.
Nesse palmilhar, a intensificação na vigilância aumenta e
muito, o direito a liberdade foi mitigado, pois como já dito a liberdade
sofreu uma diminuição, no atual estágio de evolução social e tecnológica
estamos assistindo a uma progressiva extensão das formas e controle
social, motivadas principalmente por razões de segurança.
O intérprete constitucional deve estar atento, pois a ordem
social, alinhada a ordem constitucional e seus respectivos valores, clama
por menos privacidade e mais segurança, portanto nota-se que
atualmente a insegurança pública gera a mitigação da privacidade.
O direito à liberdade não tem meio termo ou meias palavras, a
liberdade não é, e nem pode ser fracionada, discute-se acerca da
natureza da liberdade, pois fica a pergunta o que é ser livre? Mire-se
numa definição de liberdade dada por Kildare Gonçalves: 75
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, 6ª ed., Saraiva: São Paulo, 2008, p.
371-372.
91
“A liberdade, em sentido geral, consiste no estado de não
estar sob o controle de outrem, de não sofrer restrições
ou imposições, tendo aqui sentido negativo, o qual,
juridicamente, quer dizer que à pessoa não são vedadas
alternativas de ação. É a ausência de oposição ou
impedimentos externos, que muitas vezes tiram o poder
de cada um de fazer o que quer: nesse sentido, liberdade
não se confunde com capacidade, e a falta de
capacidade, não limita a liberdade (Hobbes). Mas
significa também a faculdade ou poder que a pessoa tem
de adotar a conduta que bem lhe parecer, sem que deva
obediência a outrem”.76
A intervenção estatal, por meio da vigilância eletrônica, no
estado de liberdade do cidadão, fere a dignidade humana, pois mutatis
mutandi, a liberdade é inerente à pessoa humana, e a expressão da
individualidade do homem como ser pensante, e ainda Kildare Gonçalves
menciona que:
“ A liberdade é a distância do outro, o espaço social para
o indivíduo perseguir seus próprios fins, dar a si mesmo
as regras e normas de sua ação. A liberdade como
núcleo dos direitos fundamentais, não é apenas negativa,
ou seja liberdade de fazer o que a lei não proíbe, nem
obriga, mas liberdade positiva, que consiste na remoção
dos impedimentos ( econômicos, sociaise políticos) que
possam obstruir a auto-realização da personalidade
humana, o que implica na obrigação, pelo Estado, de
assegurar os direitos sociais através de prestações
76
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 15. Ed., ver. Atual. e ampl. Belo Horizonte: Del
Rey 2009. P. 764.
92
positivas com vistas a proporcionar as bases materiais
para efetivação daqueles direitos”.77
4.4. O direito de honra e imagem do monitorado.
A vida privada e a intimidade, pertencem ao chamado direito de
estar só, porque salvaguardam a esfera de reserva do ser humano,
insuscetível de intromissões externas, ainda merece destaque se há
diferença entre privacidade e intimidade, num primeiro plano ambas
refletem o conteúdo particular de cada ser humano.
A idéia de vida privada é mais ampla, pois envolve todos os
relacionamentos do indivíduo, tais como suas relações comerciais, de
trabalho, de estudo, de convívio diário, ao passo que a intimidade, se
dirige às relações íntimas e pessoais do indivíduo, seus amigos,
familiares, companheiros que participam de sua vida pessoal.
A privacidade no Brasil tem envergadura constitucional e se
encontra no artigo 5° inciso X, porém seu espectro ganha dimensões em
todas as áreas do conhecimento, notadamente nas ciências jurídicas,
porém antes de abordamos a privacidade do monitorado frente ao uso de
equipamentos eletrônicos de vigilância, covém abordamos outas
aspectos, tais como honra imagem e intimidade.
A honra é um bem imaterial de pessoas físicas e jurídicas, no
que tange as pessoas físicas, esse direito a honra alcança o valor íntimo
do homem, como também a estima dos outros, ou seja o que os outros
pensam a nosso respeito, assim sendo valores morais como o nome, boa
reputação, sentimento ou consciência da própria dignidade pessoal
77
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 15. Ed., ver. Atual. e ampl. Belo Horizonte: Del
Rey 2009. P. 764.
93
refletida na consideração dos outros e num sentimento próprio, nesse
diapasão Kildare Gonçalves Carvalho completa da seguinta forma:
“ A honra assim sendo “ Envolve, portanto, a honra
subjetiva e a honra objetiva, a primeira tendo por núcleo
o sentimento d auto-estima do indivíduo, o sentimento
que possui acerca de si mesmo, e a honra objetiva
significando o conceito social que o indívíduo possuia”78.
Segundo Kildare Gonçalves Carvalho, o direito à imagem,
envolve duas vertentes:
“…a imagem-retrato e a imagem-atributo. No primeiro
sentido significa o direito relativo à reprodução gráfica
(retrato, desenho, fotografia, filmagem, dentre outros) da
figura humana, podendo envolver até mesmo partes dos
corpo da pessoa, como a voz, a boca, o nariz, as pernas,
etc. No segundo sentido, é entendida como a imagem
dentro de um determinado contexto, é dizer, o conjunto
de atributos cultivados pelo indivíduo e reconhecidos
pelo meio social.79
Parece-nos que a imagem que se protege do monitorado é a
imagem-atributo, é a sua imagem refletida no contexto social em que
vive, ora qualquer aparelho eletrônico que tenha por finalidade o
monitoramento eletrônico, irá culminar inegavelmente na exposição da
imagem do monitorado.
Imaginemos a situação daquele monitorado que busca o
primeiro emprego, a pergunta que se faz qual o nível de dificuldade que 78
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 15. Ed., ver. Atual. e ampl. Belo Horizonte: Del
Rey 2009. P. 753.
79 Idem.
94
esse monitorado irá enfrrentar para conseguir esse emprego e se é que
ele vai conseguir?
O Brasil é um País carregado de preconceitos de toda ordem,
cremos que além de não conseguir um emprego, e considerando ainda a
exposição de sua vida privada e esta hodiernamente pelo acesso à
justiça como forma de proteção aos direitos da personalidade.
É de se atentar que recentes súmulas do STJ vêm
consolidando o entendimento de que certas condutas causam afronta
aos sentimentos mais íntimos do ser humano, gerando situações por
vezes merecedoras até mesmo de uma presunção absoluta de prejuízo
(dano in re ipsa),
O estudo feito sobre a correlação entre vida privada e suas
esferas chama-se ‘teoria dos círculos concêntricos da esfera da vida
privada’80 ou ‘teoria das esferas da personalidade’, que ganhou relevo na
doutrina alemã, a partir de 1953, com Heinrich Hubmann81.
Segundo essa teoria a vida privada do ser humano é dividida
em três círculos, de acordo com sua densidade, sendo que a maior
esfera seria a privacidade, outra menor que a primeira seria a esfera da
intimidade ou da confidência e a menor esfera estaria posicionado o
segredo.
Nos meados da década de 1950, aproximadamente por volta
do ano de 1957, Heinrich Henkel também tripartiu a vida privada em
círculos concêntricos, perfazendo camadas sobre camadas, mas,
diferentemente da teoria anterior, inclui como círculo nuclear o do
segredo, deixando o círculo da intimidade como intermediário e o da 80 COSTA JR., Paulo José da. O direito de estar só: tutela penal da intimidade. 4. ed. São Paulo: RT, 1995, p 29. . 81 HUBMANN, Heinrich. Das persönlichkeitsrecht. Münster: Böhlau-Verlag, 1953, apud COSTA JR., Paulo José da, Op. Cit., p. 30.
95
privacidade como círculo externo. Este entendimento foi difundido no
Brasil por Paulo José da Costa Junior.
Não obstante a grande carga dogmática da matéria acima
explanada, é de se perceber que a diferenciação entre camadas, seja
qual for a classificação adotada, é de suma importância para o momento
do dano moral no ordenamento jurídico pátrio, na medida em que quanto
mais íntima for a interferência de terceiros dentro da vida privada da
‘vítima’, maior a afronta ao direito da personalidade e, por conseguinte,
maior a represália merecida, que poderá refletir na exasperação da
quantificação do dano extrapatrimonial que dele advirá.
Não obstante a importância da repercussão patrimonial que tal
lesão poderá causar, os graus de proteção de referidos direitos será
maior quanto mais profunda for a invasão na escala de privacidade.
A privacidade é o círculo da vida privada em sentido estrito em
que repousam as relações interpessoais mais rasas, na qual não há um
amplo grau de conhecimento da vida alheia, beirando o coleguismo. O
acesso ao público é restrito, mas seu grau de adstrição é o menor dentre
as 3 esferas, sendo que o interesse público é motivo plausível para sua
violação.
É neste círculo que repousa, por exemplo, o sigilo de dados
telefônicos (acesso à relação de ligações efetuadas e recebidas), que
pode ser quebrado pelo Poder Judiciário ou por CPI. Nesta esfera
também se encontram os episódios de natureza pública que envolvam o
indivíduo, extensíveis a um círculo indeterminado de pessoas e por isso
não protegidos contra a divulgação.
96
A intimidade é o círculo intermediário (Vertrauensphäre), que
congloba informações mais restritas sobre o ser humano, compartilhadas
com reduzido número de pessoas de seu ambiente familiar, amigos
íntimos e profissionais que têm conhecimento das informações em razão
do ofício (a exemplo de psicólogos, padres e advogados).
É neste círculo que se encontram protegidos o sigilo domiciliar,
profissional e das comunicações telefônicas, que sofrem restrições mais
agudas para sua abertura, a exemplo da última cuja quebra só pode ser
decretada por decisão judicial fundamentada.
O segredo é o círculo mais oculto das esferas da privacidade
lato sensu, no qual são guardadas as informações mais íntimas do Eu,
que muitas vezes não são compartilhadas com outros indivíduos e sobre
as quais o interesse público não poderá se imiscuir, a exemplo da opção
sexual, filosófica e religiosa.
4.5. O direito à intimidade e o monitoramento eletr ônico.
Toda inovação legislativa assim que cumpre seu ciclo e entra
no cenário jurídico, po si só causa discussão na doutrina, jurisprudência
e no meio acadêmico, a discussão torna-se mais acalorada quando
aliado à discussão normal agrega-se a utilização da tecnologia no
cumprimento da pena.
Ecoaram vozes por todo o Brasil acerca do monitoramento
eletrônico de presos, uns defendendo o novo a tese da impossibilidade
de sua utilização, sob o argumento de que monitoramento iria expor de
forma indevida o condenado, pois todos iriam saber através do aparelho
eletrônico que aquele estava cumprindo pena, o que de certa forma
poderia atentar contra sua liberdade.
97
Assim conforme esclarece Luzón Peña82, tem se discutido
sobre o fato de a vigilância eletrônica ser ou não uma intromissão
excessiva e intolerável ao direitos fundamentais do condenado ou
mesmo do preso provisório ,(grifo nosso) principalmente no que diz
respeito à sua dignidade aqui representada pelo seu direito à intimidade.
Como bem lembrado pelo Professor Marco Antonio Marques
da Silva não existe direito absoluto, a não ser a dignidade da pessoa
humana, posto que nem o direito à vida é absoluto, no entanto frise-se
que a liberdade poderia ser de certo modo flexibilizada no caso da
utilização do monitoramento eletrônico, nesta esteira de raciocínio é o
pensamento de Rogério Greco:
“ No caso do monitoramento, entendemos que, entre
colocar o condenado num sistema falido que, em vez de
ressocializá-lo , fará com que retorne completamente
traumatizado ao convívio em socieade, com toda certeza,
será preferível o seu controle pelo Estado em algum local
extramuros, previamente determinado. Esse local poderá
ser a sua própria residência, ou outro qualquer que
viabilize a execução da pena, com o seu perfeito
controle.83
Ainda nesse palmilhar na defesa da mantença do equipamento
eletrônico continua Rogério Greco:
“… Tudo será realizado da maneira mais discreta
possível, ou seja, a utilização da tornozeleira, da
82
LUZÓN PEÑA, Diego –Manuel. Control electrónico y sanciones alternativas a la prison, p. 60. Apud
GRECO, Rogério. Direito humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo :
Saraiva, 2011. P. 395.
83 GRECO, Rogério. Direito humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo :
Saraiva, 2011. P. 396.
98
caneleira, do cinto ou a implatação de microchip será
feita de modo a não ofender a dignidade do condenado,
evitando sua desnecessária exposição. Assim, por
exemplo, seria inviável o uso de aparelhos que
envolvessem o pescoço do condenado, ou mesmo algum
outro que o expusesse de forma excessiva84.
Em que pese a consideração feita pelo Professor Rogério
Greco de que o Estado deve tomar todas as precauções para não expor
de forma excessiva a imagem do monitorado, data permissa venia,
entendemos que a colocação de qualquer dispositivo de rastreamento
eletrônico no preso, seja aviltante a sua dignidade.
Vale lembrar que mais uma vez lembramos que o corpo esta
sendo utilizando como maneira de reprimir o injusto, de retribuir o mal
feito à sociedade, ora tal utilização é o suplício, ou seja o corpo sendo
utilizado como meio retribuição.
E ainda a utilização de microchip se torna ainda mais aviltante,
pois de qualquer forma havera no corpo do condenado ou do preso
provisório a inserção de aparelho eletrônico e para tanto, ainda que
pequeno, ainda que quase imperceptível, mas haverá um corte, uma
lesão em detrimento do monitorado.
A cautela na utilização do monitoramento eletrônico deve
sempre existir, pois a preservação da dignidade humana em todos os
setores do direito deve ser uma preocupação constante, através do
estudo da parca doutrina sobre o tema nota-se uma inquietante
84
GRECO, Rogério. Direito humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo :
Saraiva, 2011. P. 396
99
preocupação com a ressocialização do condendado, e o monitoramento
eletrônico seria uma alternativa.
A concepção de ressocialização na execução penal é presente
e se emerge como uma das finalidades da execução da pena, no entanto
merece destaque o pensamento de Winfried Hassemer comentando no
que ele denomina de relegitimação imerecida da pena privativa de
liberdade vejamos:
“Sob o ponto de vista do estado de Direito, mesmo o
interesse científico mais bem-intecionado e
fundamentado no tratamento do deliquente deverá falhar
na observância dos limites das condições mínimas de
existência do indivíduo e dos limites da proporcionalidade
da intervenção. Não somente o pequeno criminoso
habitual, cujo tratamento eficaz poderia exigir uma
prolongada intervenção terapêutica, mas também
qualquer criminoso deve eficazmente poder reivindicar
que a assistência social que lhe for impingida pelo Direito
Penal ressocializador só se realize até o ponto que esteja
em conformidade com a intesidade da ofensa ao bem
jurídico que seu crime produziu. Esse ponto é de dificil
identificação. Um direito penal do estado de Direito deve
envidar todos os esforços no sentido de evitar qu um
interesse no tratamento, ainda que plasivelmente
fundamentado, reduza os limites das condições mínimas
da existência humana no caso concreto, ou até os
elimine completamente.85
85 HASSEMER, Winfried. Direito penal: fundamentos, estrutura, politica. Tradução: Adriana
Beckman Meireles. Porto Alegre : Sergio Antonio Fabris. 2008. P. 236.
100
Conclusões
Manoel Gonçalves Ferreira Filho observa com sobriedade que
o processo legislativo não é fruto da vontade geral e bem se percebe tal
assertiva em nosso País, pois o fenômeno do Direito Penal de
Emergência faz florescer “leis de improviso” ou ainda um arsenal
legislativo feito a toque de caixa com o intuito de silenciar a inércia ou
ineficiência de outros setores estatais.
A Lei 12.258/2010 que trouxe a lume o monitoramente
eletrônico, foi inspirada no sistema norte-americano, portanto não foi o
monitoramento uma criação genuinamente brasileira, o que deveras,
pode causar em sua aplicação no campo prático certa frustrução, haja
vista que o sistema de monitoramento eletrônico é feito por meio de um
sistema de posicionamento Global, e como todo sistema de informação
pode, e na prática ocorre erro, ou mal funcionamento do sistema.
Deve ser ponderado que a tecnologia está à disposição para
servir o homem em sociedade, assim sendo o monitoramento de presos,
funciona como meio utilizado para enfrentar obstáculos como, por
exemplo, os malefícios oriundos do cárcere, tais como doenças,
superlotação e ausência do convívio em sociedade.
Aponta-se que a utilização do monitoramento eletrônico se
apresenta com um marco no direito penitenciário, pois como já dito a
monitoração contribui para a diminuição da superlotação carcerária e
ainda insere o indivíduo na sociedade, proporcionando uma maior
socialização, possibilitando ao monitorado que desenvolva atividade
laborativa lícita.
101
Com o advento da Lei n° 12.258/2010 o monitoramento
eletrônico passa a ser admitido nos casos de saída temporária e prisão
domiciliar, e a título de notícia, a cidade de limeira no Estado de São
Paulo, foi uma das pioneiras a permitir a presos que cumprem os
requisitos de saída temporária e prisão domiciliar que utilizassem a
monitoração e os resultados foram satisfatórios.
O monitoramento eletrônico em Portugal é utilizado no caso de
violência doméstica, aliás o modelo português se adequa ao nosso, pois
resguarda a dignidade da pessoa humana, na medida em que o arguido
ou condenao de acordo com linguajar daquele país deve consentir, e
ainda seus familiares maiores de 16 anos, de igual forma devem
consentir.
O monitoramento eletrônico de presos, analisado sob uma
perspectiva do indivíduo arranha a dignidade humana, o melhor seria que
os estabelecimentos prisionais garantissem a integridade física e moral
do preso, e mais cumprissem a missão de ressocializar, assim sendo não
precisariamos monitorá-los, a prisão não seria uma masmorra medieval e
sim um local destinado reeducar indivíduos que se desviaram do
caminho do bem.
102
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