avaliação na escola cidadã

7
DP et Alii Avaliação na escola cidadã Jussara Margaret~ de Pau/a Loch' Na Rede Municipal de Ensino (RME) de Porto Alegre, um con- junto significativo de educadores lutam contra a face conservadora da escola e procuram construir alternativas progressistas e coletivas envolvendo os diferentes segmentos da comunidade escolar nessa direção. O processo de reestruturação curricular, proposto pela Ad- ministração Popular, busca essa consciência da escola como espaço integrante e indissociável dos demais aspectos que compõem a totali- dade social. Para isso a SMED, vem desde o início da segunda gestão num processo permanente de discussão, estudo e aprofundamento teórico-prático. Este texto é fruto da reflexão, sistematização e contribuição de to- dos os envolvidos, em diferentes momentos, através do seu fazer no desdobramento concreto do Projeto Constituinte Escolar, realizado em 1994-1995. Propomos começar analisando a escola tradicional, de concepção positivista neoliberal (voltada para o mercado), em que existe o tem- po de ensinar e o tempo de avaliar, enquanto momentos estanques: • diagnóstico no início do ano; • em cada bimestre ou trimestre de provas, testes, trabalhos, notas conceitos, recuperação: comunicação aos pais; • ao final do ano o tempo de classificar: aprovando ou reprovando o aluno como decorrência natural deste processo. • Professora de didática do curso de Pedagogia da PUCRS e Assessora Técnica da Coordenação Pedagógica da Secretaria Municipal de educação da prefeitura de Porto Alegre.

Upload: flavia-bandeira

Post on 19-Jan-2016

34 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação Na Escola Cidadã

DP et Alii

Avaliação na escola cidadã

Jussara Margaret~ de Pau/a Loch'

Na Rede Municipal de Ensino (RME) de Porto Alegre, um con-junto significativo de educadores lutam contra a face conservadorada escola e procuram construir alternativas progressistas e coletivasenvolvendo os diferentes segmentos da comunidade escolar nessadireção. O processo de reestruturação curricular, proposto pela Ad-ministração Popular, busca essa consciência da escola como espaçointegrante e indissociável dos demais aspectos que compõem a totali-dade social. Para isso a SMED, vem desde o início da segunda gestãonum processo permanente de discussão, estudo e aprofundamentoteórico-prático.

Este texto é fruto da reflexão, sistematização e contribuição de to-dos os envolvidos, em diferentes momentos, através do seu fazer nodesdobramento concreto do Projeto Constituinte Escolar, realizadoem 1994-1995.

Propomos começar analisando a escola tradicional, de concepçãopositivista neoliberal (voltada para o mercado), em que existe o tem-po de ensinar e o tempo de avaliar, enquanto momentos estanques:• diagnóstico no início do ano;• em cada bimestre ou trimestre de provas, testes, trabalhos, notas

conceitos, recuperação: comunicação aos pais;• ao final do ano o tempo de classificar: aprovando ou reprovando

o aluno como decorrência natural deste processo.

• Professora de didática do curso de Pedagogia da PUCRS e Assessora Técnica da CoordenaçãoPedagógica da Secretaria Municipal de educação da prefeitura de Porto Alegre.

Page 2: Avaliação Na Escola Cidadã

106 Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos

Os "conteúdos escolares" são organizados de forma linear, hie-rárquica e previamente determinados por bimestre, série, disciplina,sob justificativa de serem pré-requisitos de outros. Dessa forma a re-petência (repetição) é vista como um fator de aprendizagem uma vezque ficar mais tempo na mesma série é a alternativa para que o alunoalcance os pré-requisitos da série seguinte, o que na realidade pou-co acontece. Segundo o professor Celso Vasconcelos "a reprovaçãorepresenta a lógica da exclusão social no campo da educação; se arepetência fosse fator de aprendizagem não teríamos uma realidadede tantos alunos rnultirrepetentes'' (1993).

Assim a avaliacão escolar é usada como instrumento de coer-, .ção e controle social, muitas vezes justificando-se "naturalmente"a seleção social, a discriminação e até a punição de determinadosgrupos.

A RME, durante o processo "Escola Constituinte", ao propor noPrincíPio n. 37 que "o currículo deve acolher a diversidade, explicitar etrabalhar as diferenças, garantindo a todos o seu lugar e a valorizaçãode suas especificidades, ao mesmo tempo em que aproveita o contatocom essas dificuldades para questionar o seu próprio modo de ser",comprometeu-se em combater a escola conservadora excludente, derepetidos fracassos através de "uma proposta político-pedagógica pro-gressista voltada para as classes populares na superação das condiçõesde dominação a que estão submetidas, proporcionando uma açãopedagógica, dialética, onde se efetive a construção do conhecimentoe a relação entre aprendizagem e desenvolvimento pela ComunidadeEscolar" (PrincíPio n. 39).

Transformar, portanto, a escola, o currículo e conseqüente-mente o processo avaliativo de caráter classificatório sentensivoe excludente marcado pela aprovação X reprovação, ao final decada série em um processo inclusivo, interativo e de promoçãodos sujeitos, tem sido um dos grandes desafios da escola funda-mental organizada por ciclos de formação na busca de concretiza-ção destes princípios.

Avaliação na escola cidadã 107

Esta transformação não é fácil, não está pronta, porém constru-ções e reconstruções têm sido feitas ao longo desta caminhada e já seevidenciam na nossa prática cotidiana.

A proposta de avaliação na escola cidadã propõe uma ruptura com es-sas visões tradicionais, funcionalistas ou sistêmico-mecanicistas que per-meiam a educação e conseqüentemente as práticas pedagógicas decor-rentes delas, assumindo uma posição contra-hegernónica que contemplao desenvolvimento do sujeito e de todos os sujeitos do ato educativo.

Parte do entendimento de avaliação enquanto a possibilidade devir a ser ou de fazer um outro de si mesmo, a construção de cada ume do coletivo como diferentes, saudáveis, alegres cidadãos. É a práticada nossa existência se construindo a partir da avaliação que fazemosde nós mesmos e das incorporações que fazemos a partir da percep-ção - atuação do outro conosco, de tal forma que assim como "sofre-mos" a interferência do outro, também interferimos na realidade dooutro. Realidade esta entendida como construção social e não comoalgo meramente objetivo e natural; como, compreensão da ação hu-mana concreta e contextualizada em que as tentativas de compre-ensão e apreensão do mundo têm sentido naquele momento, paraaquele sujeito, naquele grupo, e é na investigação dessas tentativas dedesvelamento que precisamos intervir. Nenhuma nota, conceito ou"certo ou errado" poderá expressar e trabalhar esse momento.

O caráter da avaliação tem, portanto, outra lógica, diferente, éato político. Propicia e vivencia mudança, avanço, progressão, enfim,aprendizagem.

Na perspectiva da Escola Cidadã, proposta pelos princípios, idéiase diretrizes levantados no Constituinte Escolar a avaliação se caracte-riza como processual, contínua, participativa, diagnóstica e investiga-tiva princípios esses que são descritos da seguinte forma:• Processual e contínua:

- intimamente ligada à concepção de conhecimento e currículocomo a construção histórica, singular e coletiva dos sujeitos;

Page 3: Avaliação Na Escola Cidadã

108 Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos

- processo permanente de ação-reflexão-ação;- contínua, isto é, ocorre durante o processo de aprendizagem

dos alunos e não após, com a finalidade de proporcionar avan-ço conceitual, progressão, inclusão e reinclusão no sentido doautoconhecimento e autopromoção do sujeito.

• Participativa:- Envolve todos os segmentos: pais/mães, alunos/as, professo-

res/ as, funcionários/as como:* co-partícipes* co-autores* co-responsáveis na práxis durante o processo de aprendiza-

gem, retomando, reorganizando e reeducando os envolvidospor meio de reuniões, assembléias e conselhos de classe, desérie / etapa ou ciclo.

• Investigativa e diagnóstica:- o aluno é o parâmetro de si mesmo;- respeita o processo de construção de conhecimento do aluno

considerando o acúmulo de conhecimentos dele;- considera o erro construtivo como ponto de reflexão, busca de

alternativa e desafio para novas construções;- inclui a medida mas não se esgota nela: a observação, o registro

e a reflexão constantes são alguns dos múltiplos instrumentospara levantar dados e "ver" a realidade.

Nesse sentido a avaliação como nos diz Saul

é dimensão intrínseca do ato de conhecer e portanto fundamentalmentecompromissada com o diagnóstico do avanço do conhecimento quer naperspectiva de sistematização, quer na produção do novo conhecimento demodo a se constituir em estímulo para o avanço da produção do conheci-mento (1986, p. 129).

A avaliação faz parte do ato educativo, do processo de aprendi-zagem. Avalia-se para diagnosticar avanços e entraves, para intervir,agir, problematizando, interferindo e redefinindo os rumos e cami-nhos a serem percorridos.

Avaliação na escola cidadã 109

o desafio que as escolas têm proposto a si próprias, já expressa aavaliação dentro de uma concepção emancipatória através de práti-cas reconstruídas tais como:• anotações sobre as produções dos alunos;• registros de observações ou produções dos alunos;• dossiê;• relatórios descritivos de desempenho individual;• auto avaliação do aluno, do grupo, da turma e dos educadores;• reunião pais/alunos/professores para análise do dossiê pela famí-

lia - "ver pelo olhar da família";• conselhos de classe, etapa/ciclos, participativo;• assembléias avaliativas;• reuniões pedagógicas.

Um dos conceitos inseridos na Proposta Político-Pedagógica daEscola Cidadã por ciclos de formação é o de "progressão". É umdos elementos centrais da proposta, senão o elemento central, poisassegura o direito de todos à continuidade e à conclusão da educaçãobásica pelo menos de nove anos. É preciso entendê-lo enquanto umprocesso pelo qual passam todos os sujeitos envolvidos durante todoo tempo de sua formação.

A idéia de progressão já se evidencia: primeiro na "enturmação"de alunos e alunas, pois as crianças pré-adolescentes e adolescentessão enturmadas conforme o contexto de desenvolvimento que apre-sentam dentro das idades em que se encontram e as atividades peda-gógicas de cada turma são pensadas a partir de suas vivências, saberese experiências considerando ainda a manifestação de diferentes rit-mos, tempos, dificuldades, potencialidades dentre outras.

Essa enturmação se dá em cada ano do ciclo, considerando asquatro fontes diretrizes do currículo: socioantropológica, sociopsico-pedagógica, epistemológica, filosófica ou se apresenta no conjuntodo ciclo pelas chamadas "Turmas de Progressão" (TPs). Essas TPsse constituem em mais uma estratégia necessária enquanto todas as

Page 4: Avaliação Na Escola Cidadã

110 Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos

escolas não consigam superar as visões ainda classificatórias e exclu-dentes.

Nas TPs as turmas são menores, constituídas de mais ou menosvinte alunos. O trabalho pedagógico se origina na investigação dasituação de cada aluno em particular e do grupo em geral, se propon-do a criar condições para que as aprendizagens ocorram. Portantopossibilita assim, que em qualquer tempo os/as alunos/as possamprogredir e serem enturmados, no ano de ciclo, a seus pares aproxi-mados em conhecimento e fases de desenvolvimento.

A previsão e o importante trabalho das professoras volantes ouitinerantes atuando junto com as professoras referências tambémcontribuem na superação do trabalho isolado e individual que ca-racterizavam a ação do titular. Cria-se um "coletivo de educadores"em cada ciclo em que há co-responsabilidade na aprendizagem e nosucesso dos alunos. A solidariedade no planejamento, na execuçãoe avaliação se estabelece na busca constante da aprendizagem dosalunos.

Este é também um importante avanço na proposta para as profes-soras: termina o isolamento, a solidão; o exercício cotidiano docentenão pode mais aceitar fechar a porta da sala de aula e ser "dona" damesma. Organizam os tempos e espaços de forma diferenciada: aprofessora volante ou itinerante poderá entrar junto, trabalhar comgrupos pequenos enquanto a professora referência reagrupa o ciclo,ou outros movimentos que se fizerem necessários.

As três modalidades ou tipos de avaliação: formativa, sumativa eespecializada indicam cada uma delas, formas diferenciadas de pro-gressão:

Avaliação Formativa - investiga, diagnostica, se dá no cotidiano. Énesta modalidade que se investigam os processos de construção doconhecimento e neles se intervém. Durante essa modalidade se orga-niza um dossiê - pasta individual- com o registro das aprendizagenssignificativas realizadas pelos alunos/a. Es e regi tro ão on tituí-

Avaliação na escola cidadã 111

dos de trabalhos, produções individuais e grupais de relatórios cons-truídos coletivamente pelo grupo de educadores, dos educandos, pe-los próprios pais e outros documentos que poderão ser analisados natrajetória doia aluno/a na escola.

Os trabalhos que servirão de amostra no dossiê não precisam seros mesmos para todos as/as alunos/as, pois cada um é parâmetro desi mesmo, devem sim é ser "datados" e retratar o processo particularde cada um. Cada dossiê é diferenciado mostrando o caminho decada sujeito no seu processo de aprendizagem, as diferentes hipótesesconstruídas, as alternativas encontradas na resolução das questões, amaneira como os conceitos trabalhados na escola estão sendo cons-truídos etc.

Esta modalidade, avaliação formativa, está presente desde a en-turmação e tem duração trimestral. O importante para todos, alunosdos anos do ciclo ou das TPs, é a garantia do avanço nas aprendiza-gens e que são responsabilidade e compromisso coletivo dos sujeitosenvolvidos no processo: aluno, pais-mães, professores ...

Contamos, ainda, com a existência do laboratório de aprendiza-gem que pretende investigar e compreender os processos cognitivospelos quais passam as/as alunos/as na costrução do conhecimento,em horários extraclasse. Contribui, também, com as/as professo-res/ as referências na sua intervenção em sala de aula durante oprocesso de construção do conhecimento pelo educando. Pretendeainda criar alternativas didático-pedagógicas de atendimento aosalunos não só aos do laboratório de aprendizagem assim como dedisseminá-Ias e difundi-Ias entre todos os educadores, integrandoas atividades do laboratório de aprendizagem com o trabalho dasturmas e contribuindo na discussão do trabalho pedagógico na salade aula.

O laboratório de aprendizagem atende a grupos pequenos de alu-nos que poderão ser diferentes conforme a realidade de cada escola

d alu I os.

Page 5: Avaliação Na Escola Cidadã

112 Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos

Avaliação Sumativa (de sumário e não de soma) - É a globalizaçãoda avaliação formativa que acontece ao final do ano, para todos os/ asalunosías) do ano do ciclo e de um ciclo para outro, pois todos pro-gridem. Aponta os modos ou tipos de progressão que são três:

a) Progressão Simples - para os estudantes que acompanharam otrabalho desenvolvido sem encontrar maiores dificuldades.Alunos que avançaram na aprendizagem.

b) Progressão com plano didático de apoio - para os estudantes queainda manifestam algumas dificuldades, que necessitam deuma intervenção mais individualizada. Este plano deve serelaborado pelo coletivo de educadores a partir do dossiê dosalunos.

c) Progressão sujeita a uma investigação especializada - requeridapelos educadores para casos de alunos que necessitam deuma investigação mais aprofundada sobre as dificuldadese que extrapolam os limites da escola apresentando neces-sidade de atendimento mais amplo. Realizada por todos osprofissionais possíveis de contribuir para a organização dotrabalho no ano seguinte: orientadora educacional, supervi-sara escolar, educadores e volantes do ciclo. Laboratórios deaprendizagem, coordenador cultural e recorrendo a outrosprofissionais como assistentes sociais, psicólogos, agentes desaúde, médicos e outros em parceria com a SMS, Universida-des, redes de atendimento.

Avaliação Especializada - Pode ser realizada sempre que necessárioou será indicada, quando for o caso na progressão de um ciclo paraoutro. É destinada àqueles educandos que necessitam de apoio edu-cativo especial e muitas vezes individualizado.

Para atender crianças com necessidades especiais, contamos aindacom o atendimento em turno contrário aos alunos, pela SIR: Sala deIntegração e Recurso. É atendida por pedagogos especiais em turnooposto ao horário regular da turma, para alunos com necessidades

Avaliação na escola cidadã 113

especiais contínuas ou transitórias. O atendimento poderá ser indi-vidual ou em grupo.

Constitui-se num espaço e modalidade de trabalho pedagógicocomplementar e específico para a investigação e atendimento aos alu-nos que apresentarem necessidades educativas especiais.

Finalizando quero citar o depoimento do segmento de pais/mãesna discussão realizada no IV Encontro de Conselhos Escolares emdezembro de 1995:

Na avaliação deve ser visto o aproveitamento dos alunos dentro do que a

escola propôs e discutir os porquês das dificuldades de assimilação dessesconhecimentos. A escola não existe para avaliar pessoas e aprovar ou repro-var, mas para fazê-Ias adquirir conhecimentos e crescer plenamente.

Luckesi (1996), neste sentido, faz uma distinção entre julgamentoe avaliação, diz que o julgamento define uma situação, do ponto devista do sim e do não, do certo e do errado; a avaliação acolhe algu-ma coisa, ato, pessoa ou situação, reconhece-a como é (diagnóstico)para agir; não há uma separação entre o certo e o errado; há o queexiste e esta situação que existe é acolhida para ser modificada. Naavaliação não há seleção e exclusão. Ele define a avaliação da aprendi-zagem como um "ato amoroso, no sentido de que a avaliação por si,é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo." Tem portanto, objetivode diagnosticar, acolher e reincluir o educando, pelos mais variadosmeios, no processo de aprendizagem, de tal forma que integre todasas suas experiências de vida.

Nesse sentido é importante destacar o papel dos sujeitos envol-vidos:

Alunos: o aluno é sujeito responsável pelo ato de aprender. A apren-dizagem é de sua responsabilidade na relação com o professor, comseus colegas e com o conhecimento. Ninguém aprende pelo outro,ninguém dá do seu conhecimento a outro. O conhecimento é constru-ído pelo sujeito e portanto, a sua avaliação também, ninguém melhorque o próprio aprendiz para dizer o que está aprendendo ou não.

Page 6: Avaliação Na Escola Cidadã

114 Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos Avaliação na escola cidadã 115

Pais: Compromisso com o vir a ser de seus filhos, é o pai e amãe que escutam, ouvem, vêem, "sabem" no que seu filho avança ounão, percebem suas dificuldades. Necessidade de se envolver, não seomitir, de buscar espaços na escola para pensar juntos e concretizaralternativas que venham a contribuir na aprendizagem e na formaçãode seus filhos.

Funcionários: Enquanto educador, também é parceiro, ouvintedos alunos na hora do recreio, nos corredores quando "cuida" delespara que o professor possa sair da aula por alguns momentos e por-tanto "o conhece" e tem muito a dizer e contribuir neste processo.

Professores: Enquanto principais sujeitos desta transformação,por isso e para isso quero usar as palavras de Paulo Freire:

(. ..) Se a minha opção é democrática, progressista, não posso ter uma prática

reacionária. Não posso discriminar o aluno em nome de nenhum motivo.A percepção que o aluno tem de mim não resulta exclusivamente de comoatuo mas também de como o aluno entende como atuo. Evidentemente,

não posso levar meus dias como professor a perguntar aos alunos o queacham de mim ou como me avaliam. Mas devo estar atento à leitura quefazem de minha atividade com eles. Precisamos aprender a compreender asignificação de um silêncio, ou de um sorriso ou de uma retirada da sala.

O tom menos cortês com que foi feita a pergunta. Afinal, o espaço peda-gógico é um texto para ser constantemente "lido", interpretado, "escrito" e

"relido". Neste sentido, quanto mais solidariedade exista entre o educadore educandos no "trato" deste espaço, tanto mais possibilidades de aprendi-zagem democrática se abrem na escola.

Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quan-to hoje em face da esperteza com que a ideologia dominante insinua aneutralidade da educação. Desse ponto de vista, que é reacionário, o espaçopedagógico, neutro por excelência, é aquele em que se treinam os alunospara práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo

fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.

Minha presença de professor, que não passa despercebida dos alunos naclasse e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não

posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunosa minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de op-

tar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade.Ético, por isso mesmo, tem que ser meu testemunho.

Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção

no mundo.

C .. ) O diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que osseres humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como afazem e refazem ... Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que saber-

mos e não sabemos, podemos a seguir, atuar criticamente para transformara realidade (1996).

Concluindo, é importante ter presente e salientar a concepçãoque permeia toda a proposta dos ciclos de formação e em especialneste assunto - avaliação - as funções de investigação - pesquisa- diagnóstico e de participação que perpassam todos os momentos/tempos/espaços e todos os sujeitos envolvidos na constante posturade ação-reflexão-ação sobre a vida vivida no cotidiano escolar. Op-tamos por centrar nossa discussão não nos instrumentos e técnicashistoricamente usados, mas nos mecanismos, estratégias e iniciativasforjados nesta concepção e garantidos pela própria proposta.

Há que refletir, questionar e problematizar se, e até que ponto,estes mesmos mecanismos e estratégias estão contribuindo na for-mação de cidadãos porto-alegrenses, riograndenses, brasileiros e domundo, mais sensíveis, solidários, apaixonados, éticos, coletivos,construtores de uma cidadania melhor.

Page 7: Avaliação Na Escola Cidadã

11 Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos

f rências bibliográficasAZEVEDO,J. C. Escola cidadã: construção coletiva e participação popular. ln. SILVA,L. He-

ron. Escola cidadã no contexto da Globalização. Petrópolis: Vozes, 1998.FREIRE,Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e

Terra, 1996.FREITAS,A. L. S. O processo de reestruturação curricular e a formação permanente de educadores

da RME de Porto Alegre: refletindo o processo de constituição da escola por ciclos de formação.Porto Alegre, 1997. (mimeo.)

LOCH,J. M. P. Avaliação emancipatória: um processo de construção coletiva da RME dePorto Alegre. ln: Cadernos Pedagógicos, n. 4. Porto Alegre, SMED, 1996.

ROCHA,S. J. e KRUG, A. R. F. Buscando compreender a progressão no processo avaliativodas escolas por ciclos de formação. ln: Reflexões da escola cidadã: dialogando sobre ciclos deformação. n. 4, abro 1998.

SAUL,A. M. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e à prática de avaliação e reformulação decurrículo. São Paulo: Cortez, 1995.

ROCHA,Silvio (org.). Ciclos de Formação - Proposta Política-Pedagógica da Escola Cidadã.In. Cadernos Pedagógicos. Porto Alegre; Secretaria Municipal de Educação, n. 9, 1996.

__________ . Princípios e diretrizes da constituinte escolar. Porto Alegre, 1995.TORRES,G. e SALES,M. T. Hacia una teoria contra-hegernónica de Ia evolución. In: Revista

Espaço Pedagógico. Passo fundo, vol. 2, n. 1, 1995.VASCONCELLOS,C. S. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação

escolar. Cadernos Pedagógicos, São Paulo: Liberrad, n. 8, 1993.