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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Comunicação Social Francisco C. S. Galvão DA CULTURA DA CELEBRIDADE À CULTURA DO ENCONTRO: um estudo sobre a comunicação do papa Francisco no Instagram Belo Horizonte 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Comunicação Social

Francisco C. S. Galvão

DA CULTURA DA CELEBRIDADE À CULTURA DO ENCONTRO:

um estudo sobre a comunicação do papa Francisco no Instagram

Belo Horizonte

2019

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Francisco C. S. Galvão

DA CULTURA DA CELEBRIDADE À CULTURA DO ENCONTRO:

um estudo sobre a comunicação do papa Francisco no Instagram

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação stricto sensu em Comunicação Social, da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

como requisito parcial para obtenção do título de

mestre em Comunicação.

Orientador: Professor Dr. Marcio Serelle.

Linha de pesquisa: Mediação, imagens e narrativas.

Belo Horizonte

2019

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Galvão, Francisco C. S.

G182d Da cultura da celebridade à cultura do encontro: um estudo sobre a

comunicação do papa Francisco no Instagram / Francisco C. S. Galvão. Belo

Horizonte, 2019.

192 f.: il.

Orientador: Marcio de Vasconcelos Serelle

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

1. Francisco Papa 1936- - Crítica e interpretação. 2. Instagram (Firm). 3. Redes

sociais. 4. Mídia digital. 5. Comunicação de massa em religião. 6. Comunicação

de massa - Aspectos religiosos - Igreja Católica. I. Serelle, Marcio de Vasconcelos.

II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação

em Comunicação Social. III. Título.

CDU: 261:659.3

Ficha catalográfica elaborada por Elizângela Ribeiro de Azevedo - CRB 6/6368

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Francisco C. S. Galvão

DA CULTURA DA CELEBRIDADE À CULTURA DO ENCONTRO:

um estudo sobre a comunicação do papa Francisco no Instagram

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação stricto sensu em Comunicação Social, da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

como requisito parcial para obtenção do título de

mestre em Comunicação.

Linha de pesquisa: Mediação, imagens e narrativas.

______________________________________________________________

Prof. Dr. Marcio de Vasconcelos Serelle − PUC Minas (Orientador)

_______________________________________________________________

Profª. Dra. Vera Regina Veiga França – UFMG (Banca Examinadora)

______________________________________________________________

Profª. Dra. Maria Ângela Mattos – PUC Minas (Banca Examinadora)

Belo Horizonte, 22 de agosto de 2019

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é reconhecer que nenhuma conquista, por mais exigente e pessoal que

possa parecer, nunca é totalmente solitária.

Saltar de uma graduação de teologia para um mestrado em comunicação social, não foi

uma passagem tranquila, para mim, aliás, foi uma decisão marcada por desafios e

inseguranças, mas, também, por um imenso desejo de crescimento, maturidade e disciplina.

Diante disso, agradeço, primeiramente, à minha família, por compreender o meu

tempo, a minha história e, apesar da distância geográfica, sempre se fazer presente.

À Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos, pelo suporte material e humano, através

da qual recordo, com afeto e gratidão, os padres Claudiano e Iraildo.

Ao padre Lucho Herrera, sj, que me proporcionou indispensável apoio espiritual

durante momentos importantes do mestrado e da vida pessoal.

À professora Vânia Noronha que, através do amigo Gabriel, leu meu pré-projeto e

ofereceu-me dicas valiosas (mesmo sem conhecer-me).

Aos professores Mozahir Salomão Bruck e Silvana Seabra Hooper que, através de um

momento de partilha, despertaram-me para um olhar menos teológico e mais comunicacional

sobre o papa Francisco.

À professora Ana Luisa de Castro Almeida que, generosamente, orientou-me nos

primeiros meses de ingresso no mestrado.

Ao meu orientador, Marcio Serelle, que, de maneira clara, sensível e inteligente,

conduziu-me no decurso dessa jornada fazendo-me acreditar, não obstante minhas inúmeras

limitações, que era possível.

Às professoras Vera França, Paula Simões e Maria Angela (Dedé) pelas valiosas

contribuições à minha pesquisa.

Ao Grupo de Pesquisa Mídia e Narrativa por fazer parte dessa trajetória e, de alguma

maneira, ajudar-me a encarar a difícil realidade humana com utopia e esperança.

Aos colegas e amigos do mestrado, especialmente, Gabi Barbosa, Julia Benatti e

Henrique Perini que trilharam comigo esse caminho de maturidade humana e intelectual.

Com resiliência, fé e boas amizades, nenhum sonho é distante demais para nós.

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Dialogar não significa renunciar às próprias ideias e tradições,

mas à pretensão de que sejam únicas e absolutas.

- Papa Francisco -

O papa Francisco é para mim a luz no fim do túnel.

- Zygmunt Bauman -

Hoje em dia as imagens são mais vivas que as pessoas.

- Roland Barthes -

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RESUMO

Esta dissertação objetiva investigar a produção simbólica do Papa Francisco em seu perfil do

Instagram, em contexto de celebrização social e midiatização do fenômeno religioso,

considerando aspectos da cultura do encontro, o estilo carismático do Pontífice e seu poder de

afetação junto ao público. Como ponto de partida, retomamos a eleição papal, em março de

2013, como um evento midiatizado e apresentamos, sob a ótica da mídia, uma breve biografia

do Papa Francisco. Para a fundamentação teórica recorremos, inicialmente, ao conceito de

midiatização (MARTINO, 2016; HJAVARD, 2014), compreendido como a articulação entre

o ambiente midiático e processos sociais, que atravessa as mais diversas instituições

socioculturais, como a família, o trabalho, a política e a religião. Em seguida, articulamos, a

partir de Driessens (2012), o conceito de celebrização como um metaprocesso que nos

permite compreender melhor a performance e inserção sociocultural da celebridade, em nosso

caso, o Papa Francisco. Através do conceito de carisma, entendido como “virtude” ou

qualidade especial atribuída aos chefes, profetas e líderes (WEBER, 1982), identificamos as

características marcantes do Papa e de seu discurso, as quais contribuíram para sua projeção

midiática e elevação ao status de pessoa célebre. Finalmente, nos debruçamos sobre a

expressão “cultura do encontro” – cunhada por Francisco – que propõe uma comunicação

simbólica baseada nos gestos, no afeto e na proximidade. Considerando as mídias sociais do

Papa, notadamente o Instagram, nossa análise repousa sobre três eixos importantes:

midiatização, cultura do encontro e celebridade/carisma, os quais foram desenvolvidos com

base nas postagens do feed de @franciscus na rede social Instagram. A partir do corpus

analisado foi possível observar, entre outras coisas, que Francisco reconhece, por um lado, o

potencial da midiatização da sociedade e da religião, mas não ignora sua complexidade e

ambivalências no cotidiano, bem como a sua influência nas relações sociais contemporâneas.

Além disso, os resultados corroboram a ideia de que, para o Bispo de Roma, não há

comunicação autêntica sem o envolvimento afetivo e concreto com as pessoas, especialmente

aquelas que são invisibilizadas pela “sociedade do descarte”. Nossa análise evidencia, ainda,

valores importantes da cultura do encontro, do carisma de Francisco e de seu poder de

identificação do público, tais como: proximidade, espiritualidade, ternura, alegria,

misericórdia.

Palavras-chave: midiatização, celebrização, carisma, Instagram, papa Francisco, cultura do

encontro.

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ABSTRACT

This dissertation aims to investigate the symbolic production of Pope Francisco in his

Instagram profile, in the context of social celebration and mediatization of the religious

phenomenon, considering the charismatic style and power of affectation to the public. We

also analyze how the principles of the "encounter culture" of its doctrine are mediated and

articulated in the notion of communication itself. As a starting point, we resumed the election

of Bergoglio in 2013 as a mediated event and presented, from a media perspective, a brief

biography of Pope Francis. For the theoretical basis, we first resort to the concept of

mediatization, understood as the articulation between the media environment and social

processes (MARTINO, 2016), which crosses in an intensified manner the most diverse socio-

cultural institutions, such as family, work, politics and religion (HARVARD, 2014). Next, we

articulate, from Driessens (2012), the concept of celebrity as a metaprocess that defines, in a

way, our mediatized societies and allows us to better understand the projection and socio-

cultural insertion of celebrity, in our case, Pope Francisco. Through the concept of charisma,

understood as a "virtue" or special quality inherent in heads, prophets and leaders (WEBER,

1982), we identified the pope's striking characteristics, which contributed to his mediatic

projection and elevation to celebrity status. Finally, we focus on the expression "culture of the

encounter", created by Francis at the beginning of his pontificate and proposing a symbolic

communication based on affection and closeness. Based on these assumptions, our analysis

rests on three important axes: mediatization, encounter culture and celebrity / charisma, which

have been developed based on the postings (photos, videos, captions) of the @franciscus feed

on the Instagram social network. From the corpus analyzed it was possible to observe, among

other things, that Francis recognizes, on the one hand, the potential of mediatization of society

and religion, but he does not ignore their ambivalences and complexity in daily life, as well as

their influence on social relations. The results confirm the idea that for the Bishop of Rome,

there is no authentic communication without involvement and closeness. The last part of the

analysis also shows important values of the charisma of Francis and his power of affectation

of the public, such as closeness, spirituality, tenderness, joy, mercy.

Key-words: mediatization, charisma, celebrization, Instagram, pope Francis, encounter

culture.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Twitter @Pontifex como “Sede Vacante”, após a renúncia de Bento XVI ............. 47

Figura 2 - Matéria do site The Independent, dia seguinte à eleição de Francisco .................... 51

Figura 3 - Matéria do site Le Figaro, logo após à eleição de Francisco .................................. 51

Figura 4 - Matéria do site The Guardian, logo após a eleição de Francisco ............................ 52

Figura 5 - Matéria do site argentino Clarín, logo após a eleição de Francisco ........................ 52

Figura 6 - Francisco carrega sua maleta na volta da JMJ, Brasil 2013 .................................... 55

Figura 7 - Papa Francisco a caminho do Panamá, JMJ 2019 ................................................... 56

Figura 8 - Papa João Paulo II beija o chão em sinal de humildade ......................................... 57

Figura 9 - Papa Francisco na capa da revista Time, 2013 ........................................................ 59

Figura 10 - Papa Francisco na capa da revista Rolling Stone, 2014 ........................................ 60

Figura 11 - Filme Papa Francisco conquistando corações, 2015 ............................................. 61

Figura 12 - Série da Netflix “Pode me chamar de Francisco”, 2016........................................ 61

Figura 13 - Filme “Papa Francisco, homem de Palavra”, 2018 ............................................... 62

Figura 14 - “Wake Up!”, o CD de rock do papa Francisco, 2015 ............................................ 62

Figura 15 - Fachada da Catedral de Buenos Aires ................................................................... 88

Figura 16 - Papa Francisco e Padre Alexandre Awi, 2013 ....................................................... 88

Figura 17 - Papa Francisco e Lionel Messi, 2013 .................................................................... 89

Figura 18 - Papa Francisco e Donald Trump, 2016 .................................................................. 89

Figura 19 - Papa Francisco e Angelina Jolie, 2016 .................................................................. 90

Figura 20 - Papa Francisco e Katy Perry, 2018 ........................................................................ 90

Figura 21 - Perfil @Pontifex no Twitter .................................................................................. 95

Figura 22 - Papa Francisco e Mark Zuckerberg, 2016 ............................................................. 96

Figura 23 - Fanpage “Papa Francisco – Amigos e Amigas” .................................................... 97

Figura 24 - Fanpage “Papa Francisco, o Papa da humildade” ................................................ 97

Figura 25 - Imagem do primeiro vídeo do papa sobre diálogo inter-religioso, 2016 ............... 99

Figura 26 - Aplicativo Click to Pray ...................................................................................... 100

Figura 27 - Papa apresenta o aplicativo Click to Pray ............................................................ 101

Figura 28 - Interface em português do portal “Vatican News” .............................................. 102

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Figura 29 - Feed do perfil @franciscus no Instagram ............................................................ 108

Figura 30 - Primeira foto do papa no Instagram, 2016 ........................................................... 111

Figura 31 - Primeiro encontro do papa com o cofundador do Instagram, fevereiro 2016 ..... 112

Figura 32 - Segundo encontro do papa com o cofundador do Instagram, março 2016 .......... 113

Figura 33 - Postagem 1 – foto de 19 de março de 2016 ......................................................... 122

Figura 34 - Postagem 7 – foto de 22 de março de 2016 ......................................................... 123

Figura 35 - Postagem 8 – vídeo de 23 de março de 2016 ....................................................... 124

Figura 36 - Postagem 39 – foto de 18 de abril de 2016 .......................................................... 124

Figura 37 - Postagem 3 – vídeo de 19 de março de 2016 ....................................................... 125

Figura 38 - Postagem 9 – foto de 24 de março de 2016 ......................................................... 126

Figura 39 - Postagem 20 – foto de 31 de março de 2016 ....................................................... 127

Figura 40 - Postagem 23 – vídeo de 3 de abril de 2016 ......................................................... 128

Figura 41 - Postagem 31 – foto de 11 de abril de 2016 .......................................................... 129

Figura 42 - Postagem 36 – foto de 16 de abril de 2016 .......................................................... 129

Figura 43 – Postagem do dia 22 de março de 2019 ................................................................ 130

Figura 44 – Postagem do dia 2 de fevereiro de 2018 ............................................................. 131

Figura 45 – Postagem do dia 26 de outubro de 2017 ............................................................. 131

Figura 46 – Postagem do dia 8 de maio de 2016 .................................................................... 132

Figura 47 - Postagem 17 – de 28 de março de 2016............................................................... 137

Figura 48 - Postagem 25 – de 5 de abril de 2016 ................................................................... 138

Figura 49 - Postagem 27 – de 7 de abril de 2016 ................................................................... 138

Figura 50 - Postagem 29 – de 9 de abril de 2016 ................................................................... 139

Figura 51 - Postagem 26 (Vídeo) – de 6 de abril de 2016 ...................................................... 140

Figura 52 - Postagem 30 (Vídeo) – de 10 de abril de 2016 .................................................... 140

Figura 53 - Postagem 35 (Vídeo) – de 15 de abril de 2016 .................................................... 141

Figura 54 - Postagem 6 – de 21 de março de 2016................................................................. 142

Figura 55- Postagem 16 – de 27 de março de 2016................................................................ 142

Figura 56 - Postagem 32 – de 31 de março de 2016............................................................... 143

Figura 57 - Postagem 34 – de 14 de abril de 2016 ................................................................. 143

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Figura 58 – Postagem de 19 de março de 2017 ...................................................................... 145

Figura 59 - Postagem de 25 de janeiro de 2017 ..................................................................... 145

Figura 60 – Postagem de 26 de julho de 2016 ........................................................................ 146

Figura 61 – Postagem do dia 20 de abril de 2016 .................................................................. 146

Figura 62 – Postagem do dia 2 de julho de 2016 ................................................................... 146

Figura 63 – Postagem 19 – de 30 de março de 2016 .............................................................. 148

Figura 64 – Postagem do dia 17 de março de 2017 ................................................................ 149

Figura 65 - Postagem 33 – de 13 de abril de 2016 ................................................................. 150

Figura 66 – Papa João 23 é carregado em sua cadeira ........................................................... 151

Figura 67 – Postagem 18 (Vídeo) – de 29 de março de 2016 ................................................ 152

Figura 68 - Postagem 37 (Vídeo) - de 17 de abril de 2016 .................................................... 153

Figura 69 - Postagem 28 (Vídeo) – de 8 de abril de 2016 ...................................................... 154

Figura 70 – Postagem do dia 25 de agosto de 2018 ............................................................... 155

Figura 71 – Postagem do dia 11 de agosto de 2017 ............................................................... 155

Figura 72 – Postagem do dia 18 de fevereiro de 2017 ........................................................... 156

Figura 73 – Postagem do dia 19 de outubro de 2016 ............................................................. 157

Figura 74 – Postagem do dia 22 de abril de 2016 .................................................................. 157

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Material midiatização (19 de março a 19 de abril de 2016) ............................. 122

Tabela 2 - Pessoas, gestos e temas da cultura do encontro ................................................ 134

Tabela 3 – Material cultura do encontro (19 de março a 19 de abril de 2016) ................... 137

Tabela 4 – Material celebridade/carisma (19 de março a 19 de abril de 2016) .................. 148

Tabela 4 – Comentários às postagens ................................................................................. 158

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12

2 MIDIATIZAÇÃO E CAMPO RELIGIOSO: PERSPECTIVAS, DISSENSÕES

E INCOMPLETUDES ............................................................................................. 17

2.1 A onipresença da mídia como ponto de partida .................................................... 17

2.2 Midiatização: uma história, múltiplos olhares ...................................................... 21

2.3 Midiatização: um conceito para além das “lógicas da mídia” ............................. 25

2.4 A midiatização: um processo interacional (em vias) de referência...................... 29

2.5 Midiatização e campo religioso: tensionamentos e avanços no catolicismo ........ 31

2.5.1 Midiatização e campo religioso: caminhos que se cruzam ...................................... 33

2.5.2 Religiosidades no ambiente midiático e o reencantamento do Sagrado ................. 40

3 CULTURAS DA CELEBRIDADE E DO ENCONTRO: AVANÇOS E

TENSÕES NO CAMPO RELIGIOSO................................................................... 46

3.1 Da renúncia de Bento XVI à eleição de Francisco: um evento midiatizado ....... 46

3.2 Bergoglio na mídia: fragmentos de uma biografia ................................................ 50

3.3 A comunicação do papa: um retorno à cotidianidade .......................................... 54

3.4 Francisco: de servo de Deus a celebridade ............................................................. 63

3.5 Celebrificação e celebrização .................................................................................. 70

3.6 Papa Francisco: um líder carismático .................................................................... 75

3.7 Comunicação e cultura do encontro: “Quem se comunica se faz próximo” ....... 83

4 AS REDES SOCIAIS DO PAPA FRANCISCO .................................................... 91

4.1 Rede, interação e laços sociais ................................................................................. 91

4.2 As redes sociais do papa Francisco: oficiais e não oficiais .................................... 94

4.2.1 @Pontifex: papa Francisco no Twitter ..................................................................... 95

4.2.2 Papa Francisco e o Facebook ................................................................................... 96

4.2.3 “O Vídeo do Papa” e “Click to Pray” ....................................................................... 98

4.2.4 Vatican News: o portal de notícias do Vaticano..................................................... 101

4.3 Breve histórico do Instagram ................................................................................ 104

4.3.1 O discurso institucional do Instagram ................................................................... 105

4.3.2 A plataforma Instagram e suas ferramentas de interação..................................... 107

4.4 O perfil @franciscus no Instagram: um espaço de encontro e proximidade .... 110

4.5 Considerações metodológicas ................................................................................ 115

4.6 Corpus e categorias de análise .............................................................................. 118

4.7 Análise e descrição dos eixos e categorias ............................................................ 121

4.7.1 Eixo midiatização .................................................................................................... 121

4.7.2 Eixo cultura do encontro......................................................................................... 134

4.7.3 Eixo celebridade/carisma ........................................................................................ 148

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 161

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 167

ANEXO A - 80 COMENTÁRIOS DAS POSTAGENS ..................................... 185

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12

1 INTRODUÇÃO

Após a inesperada renúncia de Bento XVI, em fevereiro de 2013, a Igreja Católica

reuniu, no Vaticano, um conclave (reunião de cardeais) que elegeria um novo papa, em março

daquele mesmo ano. Entre suspense e especulações midiáticas, o escolhido para liderar os

mais de 1,2 bilhão de fiéis da Igreja Católica no mundo foi Jorge Mario Bergoglio, argentino

de 76 anos, primeiro jesuíta e primeiro cardeal latino-americano a ocupar o cargo. Escolheu,

simbolicamente, o nome de Francisco, em referência a Francisco de Assis, amigo dos pobres e

da natureza (HERNÁNDEZ VELASCO, 2019).

Na época, vale recordar, a instituição católica enfrentava sérios escândalos ligados,

sobretudo, a abusos e casos de pedofilia, considerados como resultado de uma crise espiritual

do clero. Diante desse contexto de pouca credibilidade institucional, ressalta Gerard

O'Connell, em recente entrevista à BBC, os cardeais sentiram a “necessidade de escolher

como papa um homem verdadeiramente santo, um ‘homem de Deus’, em vez de um gerente

ou administrador, alguém que pudesse realizar uma reforma espiritual no Vaticano e na

Igreja” (HERNÁNDEZ VELASCO, 2019).

Diante das muitas expectativas e exigências da instituição milenar, Francisco parece

ter escolhido começar sua “reforma” pela linguagem, isto é, pelo modo como a Igreja Católica

comunica sua mensagem e se faz compreender. Aliás, houve quem dissesse que, depois

daquele dia 13 de março, a comunicação do Vaticano nunca mais seria a mesma,

especialmente no que se refere à “instantaneidade, espontaneidade, sinceridade e convicção”,

presentes no estilo comunicativo de Francisco, marcado, sobretudo, por sua simplicidade e

gestos simbólicos (VIGANÒ, 2017).

Não obstante sua postura discreta, porém vivaz, Francisco passou a arrebanhar

multidões tanto nas celebrações da Praça São Pedro, no Vaticano, quanto nas mídias sociais,

especialmente no Twitter e, posteriormente, no Instagram. Seu notável carisma fez dele uma

das celebridades religiosas mais populares do nosso tempo que, além de ser tema de diversos

filmes e séries, estampou capas de revistas famosas como Time (2013) e Rolling Stones

(2014).

Diferentemente de seu antecessor – que não demonstrava muita habilidade para com

as mídias – Francisco não apenas ganhou forte visibilidade em sua eleição, como conseguiu,

de certo modo, mantê-la ao longo de seus seis anos de pontificado. Seja através de seus

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13

documentos oficiais1, de seus discursos improvisados ou de suas postagens nas redes sociais,

ele tem atraído o afeto dos mais variados públicos.

Foram estas e outras características motivaram esta pesquisa. Inicialmente, nosso

objetivo era apenas estudar a “comunicação do papa”, mas, aos poucos, fomos

compreendendo que sua forma de conceber a comunicação evoca outros temas importantes

como midiatização (do campo religioso), celebrização social, carisma, além de um dado

simbólico fortemente presente naquilo que ele próprio denominou de “cultura do encontro”.

Diante disso, nosso estudo se propõe investigar, em contexto de celebrização social e

midiatização do fenômeno religioso, a produção simbólica do papa Francisco em suas redes

sociais, notadamente o Instagram, considerando o seu estilo carismático, célebre e

comunicativo, a sua reflexão acerca dos princípios da “cultura do encontro”, bem como, o

modo como estes são ali mediados e articulados à própria noção de comunicação.

Para tanto, fez-se necessário compreender, de antemão, o contexto midiático no qual a

Igreja e o papa estão inseridos. Além disso, foi imprescindível, para esse fim, articular alguns

conceitos – mídia, midiatização, celebridade, celebrização, carisma etc. – os quais

possibilitaram uma maior compreensão acerca da midiatização do campo religioso, do

processo de celebrização social do papa Francisco e de sua própria noção de comunicação

como sinônimo de “proximidade”.

Tais conceitos, embasados em autores como Roger Silverstone (2002), Eliseo Verón

(2013), Stig Hjarvard (2014), José Luis Braga (2009), Max Weber (1982), Chris Rojek

(2008), dentre outros, suscitam alguns questionamentos basilares, para os quais nem sempre

existem respostas prontas: qual a relação e o papel da mídia na produção simbólica da

religião? Que desafios comunicacionais o novo papa propõe para a Igreja e a sociedade do

século 21? Como Francisco tornou-se uma figura célebre, nas mídias sociais, em tão pouco

tempo? Que valores emergem de sua personalidade e de sua performance, especialmente em

seu perfil do Instagram? O que Francisco chama de “cultura do encontro”? Qual o seu poder

de afetação do público?

Diante dessas questões, a pesquisa foi dividida em quatro capítulos, sendo o primeiro

deles esta introdução. O segundo e terceiro capítulos integram a parte teórico-conceitual do

1 Carta Encíclica Lumen fidei (A luz da fé), junho de 2013; Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A alegria

do Evangelho), novembro de 2013; Carta encíclica Laudato si (sobre o cuidado da casa comum), maio de 2015;

Exortação Apostólica Amoris Lætitia (sobre o amor na família), março de 2016; Exortação Apostólica Gaudete

et exsultate (sobre o chamado à santidade), março de 2018; Exortação Apostólica pós-sinodal christus vivit

(Cristo vive – aos jovens e a todo o povo de Deus), março de 2019.

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trabalho; e o quarto analisa as mídias sociais do papa, com ênfase nas postagens (fotos,

vídeos, legendas) em seu perfil na rede social Instagram.

Desse modo, embasados, sobretudo, no pensamento de Silverstone (2002), Hjarvard

(2012) e Martino (2015), apresentamos uma síntese sobre a onipresença da mídia em nosso

cotidiano, em um processo que, além de fundamental e eternamente social, tornou-se, de certo

modo, essencial à experiência contemporânea. As mídias são importante agente de mudança

cultural e social capaz de moldar novos padrões de interação. Elas geram impactos profundos

nas agendas e rotinas de outras instituições, como política, família, trabalho, escola, religião

etc. Vimos que, as mídias sociais, especialmente as chamadas “novas mídias”, não apenas

contribuem para um “novo” modo de ser e estar no mundo, mas redefinem e reconfiguram as

relações sociais e a maneira como as coisas são feitas no cotidiano.

Ainda no segundo capítulo fizemos um rápido transcurso histórico do conceito de

midiatização, perpassando pelas tensões e ambivalências elucidadas por autores como Verón

(2013, 2014), Hjarvard (2014, 2012), Fausto Neto (2008), Martino (2016), dentre outros. Se,

por um lado, há quem defenda o caráter de “novidade” do conceito de midiatização,

referindo-o ao período da modernidade tardia (HJARVARD, 2014), por outro, há quem

acredite que a sua história, longe de ser um processo circunstancial da modernidade, coincide

com o longo prazo da história evolutiva da espécie humana (VERÓN, 2013).

Na tentativa de atenuar os conflitos históricos em torno do conceito e, em certo

sentido, ponderar a forte tendência à supervalorização da mídia, Braga (2009) esclarece que

não é a mídia que cria uma sociedade nova, isto é, as transformações sociais em função da

mídia não acontecem em decorrência das inovações técnicas, dado que o avanço tecnológico é

determinado socialmente.

Na parte final do segundo capítulo, relacionamos o conceito de midiatização ao campo

religioso, elencando alguns tensionamentos e avanços no catolicismo, haja vista que a Igreja

Católica, embora de maneira relativamente lenta, tentou ao longo da história se aproximar,

captar e responder aos sinais dos tempos comunicacionais (SABARDELOTTO, 2017).

Observamos que, na história do cristianismo, por exemplo, a disseminação dos textos escritos,

e mais tarde a invenção da imprensa, foram processos significativos que reestruturaram e

desafiaram o poder das autoridades religiosas (HJARVARD, 2014).

Nas últimas décadas, diversos pesquisadores se debruçaram sobre a relação entre

mídia e religião, mais especificamente, sobre a midiatização do campo religioso

(GASPARETTO, 2011; GOMES, 2010; HJARVARD, 2012; HOOVER, 2012; MARTINO,

2016; SABERDELOTTO, 2017) e, embora haja dissensos em suas reflexões, eles concordam

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que a internet e as novas mídias trouxeram maior complexidade ao nosso cotidiano e que para

compreender a profundidade desse fenômeno é necessário nos interessar não apenas pelo que

a mídia faz, como também pelo que fazemos com ela (SILVERSTONE, 2002).

O terceiro capítulo, por sua vez, se debruça sobre a figura célebre do papa Francisco

no contexto das mídias sociais e, com o auxílio de autores como Driessens (2012), França

(2014), Inglis (2012), Rojek (2008), Simões (2014), Weber (1982), dentre outros, busca-se

fundamentação em conceitos como celebrificação, celebrização e carisma, na tentativa de

compreender o estilo de liderança do papa Francisco e suas peculiaridades no campo

comunicacional, especialmente no que concerne à expressão “cultura do encontro” e sua

proposta de uma comunicação pautada na proximidade.

Em um primeiro momento, discorremos sobre a renúncia do papa Bento XVI e a

eleição de Francisco, ressaltando, assim, o papel das mídias na difusão (e espetacularização)

destes acontecimentos religiosos. Sob o olhar da mídia, apresentamos uma breve biografia do

papa Francisco.

Outro ponto importante do terceiro capítulo refere-se ao papa Francisco como

celebridade, dado que a internet e o fortalecimento das mídias sociais possibilitaram ao líder

religioso expressar o seu carisma e, assim, favorecer aos fiéis católicos e admiradores um

novo sentido de presença e comunidade. A partir da origem do conceito de celebridade

apresentado por Rojek (2008), fazemos uma rápida distinção, com base no pensamento de

Driessens (2012), entre os termos celebrificação e celebritização (ou celebrização).

Vimos que, o tema das celebridades remete a uma questão bastante “conflitiva” para o

âmbito religioso que é a questão da “comoditização”, visto que as estrelas e,

consequentemente, as celebridades são tanto o trabalho como a coisa que o trabalho produz,

isto é, são manufaturadas pela indústria da celebridade e produzem e ajudam a vender outras

commodities (DRIESSENS, 2012).

No item sobre o carisma, observamos que este é um elemento importante na

construção e compreensão do processo de celebrização do papa Francisco, já que as

características de um líder ou de um ídolo têm implicações no conceito moderno de

celebridade (ROJEK, 2008). Nesse momento da pesquisa, recorremos, então, aos estudos

sociológicos de Max Weber (1982), para quem a noção de carisma é compreendida como uma

“virtude” ou qualidade especial atribuída aos chefes, profetas e líderes. Na mesma perspectiva,

Rojek (2008) considera que a autoridade carismática é, por definição, inspiradora, já que esta

depende de ocorrências aparentemente milagrosas ou semimilagrosas.

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No quarto e último capítulo, além de retomar, de maneira mais descritiva, as mídias

sociais do papa Francisco (oficiais: Twitter e Instagram; não oficiais: YouTube, Facebook,

Click to Pray, Vatican News), apresentamos uma breve definição de rede social, interação social

e laços sociais (MARTINO, 2015; PRIMO, 2009; RECUERO, 2014;).

Ao adentrar, mais especificamente, a rede social escolhida para nossa análise, o

Instagram, apresentamos um breve histórico desde sua fundação, em 2010, perpassando por

aspectos importantes de seu discurso institucional até chegar às ferramentas de interação e

engajamento, as quais, como veremos, são pouco utilizadas pelo perfil do papa que, de modo

geral, restringe-se a postagens feitas diretamente no feed.

Vale ressaltar que, nossa metodologia se baseia na semiologia de Roland Barthes, o

qual recorre aos conceitos de denotação, conotação e mensagem linguística, para entender a

análise de imagens e suas respectivas legendas. Tal metodologia nos possibilitou, então,

analisar, inicialmente, 40 publicações no feed do papa (fotos, vídeos, legendas) feitas no

período de um mês, isto é, entre 19 de março de 2016 e 19 de abril de 2016. Para tanto

dividimos nossa análise em três eixos: midiatização, cultura do encontro e

celebridade/carisma.

Mediante o exposto, acreditamos que este trabalho poderá contribuir

metodologicamente para o campo da comunicação ao objetivar a análise de uma plataforma

midiática relativamente recente, o Instagram, cuja linguagem e processos interacionais

demandam novas abordagens, categorias analíticas e novas formas de monitoramento.

Além disso, o estudo pode trazer um importante contributo no tocante às discussões

acerca dos valores-princípio evocados pelas celebridades e figuras carismáticas

contemporâneas, bem como à descoberta de ferramentas e estratégias que favoreçam as novas

formas de religiosidade e evangelização no ambiente midiático.

De igual maneira, acreditamos que esta pesquisa poderá contribuir ainda com a

reflexão e resgate da dimensão simbólica da comunicação, muitas vezes ofuscada por uma

visão tecnicista e instrumental que, ao enaltecer uma comunicação midiacêntrica, instantânea

e superficial, tende a ignorar os valores humanos e os afetos.

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2 MIDIATIZAÇÃO E CAMPO RELIGIOSO: PERSPECTIVAS, DISSENSÕES E

INCOMPLETUDES

2.1 A onipresença da mídia como ponto de partida

Vivemos imersos no mundo digital onde o rádio, a televisão, o computador e,

sobretudo, o celular, com suas inúmeras possibilidades de conexões, parecem cada vez mais

inseparáveis de nosso cotidiano. Nessa conjuntura, a mídia2 – em todo seu fascínio,

onipresença e complexidade – tende a ocupar um lugar predominante exercendo, assim, forte

influência nas relações sociais, especialmente no modo como as pessoas, grupos e instituições

se comunicam, interagem, administram seus conflitos e, especialmente, na maneira como

apreendem o próprio mundo em que vivem. “Nossa mídia é onipresente, diária, uma

experiência essencial de nossa experiência contemporânea. É impossível escapar à presença, à

representação da mídia” (SILVERSTONE, 2002, p. 12).

Em um contexto no qual “a virtualidade se torna uma dimensão essencial da nossa

realidade” (CASTELLS, 2016, p. 11), a mídia se apresenta como um processo, um agente de

mudança cultural e social (HJARVARD, 2012) capaz de moldar novos padrões de interação

gerando, inclusive, impactos profundos nas agendas e rotinas de outras instituições, como

política, família, trabalho, escola, religião, “já que um número cada vez maior das atividades

destes domínios institucionais é realizado através tanto dos meios de comunicação interativos

quanto dos meios de comunicação de massa” (HJARVARD, 2012, p. 53).

Com efeito, os estudos da mídia e seus processos, não menos complexos que no

passado, tornaram-se um núcleo importante da discussão comunicacional, no que faculta a

investigação acerca de contextos e interações sociais (BRAGA, 2009). A mídia, conforme

2 De acordo com o dicionário da comunicação, mídia é o conjunto dos meios de comunicação que produzem em

massa e veiculam para uma massa indistinta de público (MARCONDES FILHO, 2009, p. 324). No Dicionário

Houaiss da língua portuguesa, mídia é todo suporte de difusão da informação que constitui um meio

intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; abrangem esses meios o rádio, o cinema, a televisão,

a escrita impressa em livros, revistas, boletins, jornais, o computador, o videocassete, os satélites de

comunicações e, de um modo geral, os meios eletrônicos e telemáticos em que se incluem também as diversas

telefonias (MÍDIA, 2001, p. 1919). Segundo Santaella (2007, p. 118), não muito tempo atrás, no final dos anos

1980, intelectuais acadêmicos ainda não utilizavam o termo “mídia” no Brasil. Os termos da moda intelectual

eram “meios de massa”, “cultura de massa”, “indústria cultural” e, com menos frequência, “tecnologias da

comunicação”. A autora acredita que, a crise na hegemonia dos meios de massa possibilitou que o emprego da

palavra “mídia” se generalizasse passando a denominar, sobretudo, os processos de comunicação mediados por

computador. Com essa generalização, todos os meios de comunicação, até mesmo os de massa, o livro e a fala,

passaram a ser referidos pela rubrica “mídia” até o ponto de qualquer meio de comunicação receber hoje a

denominação genérica “mídia” e o conjunto deles “mídias”, compondo, segundo a autora, aquilo que Albino

Rubim chamou de “Idade Mídia” (2000) e outros têm chamado de “cultura midiática” ou “era midiática”.

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destacou Silverstone (2012), deve ser entendida como um processo que, além de fundamental,

é eternamente social e está em constante mudança.

Ao identificar as transformações sociais e a centralidade da mídia no cotidiano dos

indivíduos, bem como a influência nas relações interpessoais, Silverstone (2002) chama

atenção para a dimensão humana nos estudos da comunicação e dos processos midiáticos.

Para ele, as pesquisas e estudos acerca da mídia, mais que uma tarefa meramente técnica e

superficial, deve ser “uma tarefa humanista, mas também humana”, capaz de recusar “as

tiranias do determinismo tecnológico e social” (SILVERSTONE, 2002, p. 10).

Quero mostrar que é por ser tão fundamental para nossa vida cotidiana que devemos

estudar a mídia. Estudá-la como dimensão social e cultural, mas também política e

econômica, do mundo moderno. Estudar sua onipresença e sua complexidade.

Estudá-la como algo que contribui para nossa variável capacidade de compreender o

mundo, de produzir e partilhar seus significados. (SILVERSTONE, 2002, p. 13).

As mídias sociais, especialmente as chamadas “novas mídias”, não apenas contribuem

para um “novo” modo de ser e estar no mundo, como redefinem e reconfiguram “o modo

como as coisas são feitas no cotidiano” (MARTINO, 2015, p. 239), de tal maneira que,

grande parte daquilo que planejamos e realizamos durante o dia é, contínua e

espontaneamente, perpassado pela mídia em suas mais diversas modalidades e nos mais

variados contextos sociais.

O principal serviço das “novas mídias”, de acordo com Stig Hjarvard (2012), é

produzir relações sociais entre as pessoas, estimulando cada vez mais os usuários a gerar o

conteúdo por si próprios. Nesse processo, observa Castells (2016, p. 11), cria-se “um hiato

geracional entre aqueles que nasceram antes da Era da Internet (1969) e aqueles que

cresceram em um mundo digital”.

A despeito da expressão “novas mídias”, é importante esclarecer que, na visão de

Hjarvard (2014), não se trata de ignorar ou separar “velhas mídias” para um lado e “novas

mídias” para outro, ou ainda, pensar que agora temos apenas as “novas mídias” e, por isso

mesmo, é preciso repensar tudo. Ao contrário, enfatiza o dinamarquês, o que temos de

entender é como todo o ambiente midiático, formado por “velhas” e “novas mídias”, tem se

transformado, já que, o que vemos, diariamente, é uma crescente “conexão” entre ambas, pois

“as novas mídias servem a uma variedade de funções comunicativas públicas, e seus usos

estão frequentemente entrelaçados com as mídias de massa” (HJARVARD, 2015, p. 57).

Embora haja diferenças notáveis entre as “velhas” e as “novas mídias”, Hjarvard

(2015, p. 61) destaca que “elas estão incorporadas de maneira semelhante no processo de

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midiatização através do qual a mídia passa a influenciar a institucionalização da interação

social na cultura e na sociedade”. Diante disso, o desafio, segundo ele, é pensar “como as

várias práticas comunicativas estão interligadas e como a mídia se coloca nessas diferentes

formas de comunicação” (HJARVARD, 2014, p. 265).

Se no século XX a sociedade teve de lidar com os impactos do surgimento do telefone,

do cinema, do rádio e da televisão, agora ela enfrenta, segundo Silverstone (2002, p. 16-17),

“o fantasma de mais uma intensificação da cultura midiática3 pelo crescimento global da

internet e pela promessa (alguns diriam ameaça) de um mundo interativo em que tudo e todos

podem ser acessados, instantaneamente”.4

A internet, as redes sociais, as novas mídias “são consideradas como revolucionárias

ou significativamente transformadoras da cultura e da sociedade, seja no nível do poder

político global, ou no nível das relações humanas individuais” (HJARVARD, 2015, p. 51).

Ademais, é importante salientar que, as novas mídias estão transformando não apenas o fazer

cotidiano e as relações humanas, mas também “formas antigas da comunicação de massa, tais

como rádio, televisão e jornalismo, na medida em que testemunhamos uma mudança

paradigmática na comunicação mediada” (HJARVARD, 2015, p. 51). Na mesma perspectiva,

Castells (2016, p. 19) observa que “a internet é cada vez mais usada para acessar os meios de

comunicação de massa (televisão, rádio, jornais), bem como qualquer forma de produto

cultural ou informativo digitalizado (filmes, música, revistas, artigos de jornal, bases de

dados)”. Para ele, então, “a internet já transformou a televisão” (CASTELLS, 1999, p. 20).

Traços dessa mudança são, por exemplo, os programas de rádio que fazem transmissões ao

vivo, em seus canais no YouTube, enquanto entrevistam seus convidados. Ou ainda, a forte

interação entre usuários das redes sociais com determinados programas televisivos (The

Voice, Masterchef, A Fazenda etc.). Diante desse “entrelaçamento midiático” Hjarvard (2014,

p. 265) assegura que “as redes sociais dependem fortemente da existência de meios de

comunicação de massa, como os meios de comunicação de massa dependem cada vez mais

das mídias de redes sociais”.

3 “Quando falamos em cultura midiática apreciamos as conexões entre a oralidade, visibilidade e tecnicidade,

num momento em que deixamos de ser meramente agentes passivos numa comunicação e formação cultural

massiva, excludente e vertical, e passamos à condição de agentes ativos num processo mais participante,

interativo, literalmente comunicacional” (PAIVA, 2008, p. 1). 4 “A evolução da linguagem falada à linguagem escrita envolveu entre 50.000 e 100.000 anos. A evolução da

escrita à mão até a imprensa foi de 4.500 anos. A evolução da imprensa ao processamento de textos foi de

somente 500 anos, e a evolução da linguagem baseada em computadores ao radicado na internet foi de somente

50 anos. A evolução da internet à web foi de somente 10 anos e, agora novos formatos baseados na rede (blogs,

iTunes, iPods, podcast etc.) vão aparecendo em questão de meses.” (LOGAN, 2015, p. 203 apud

SBARDELOTTO, 2017, p. 76).

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Sob esse enfoque, se pensarmos, por exemplo, no Instagram – rede social criada em

2010 e que comporta nosso objeto de análise – é cada vez mais comum encontrar perfis de

emissoras de televisão, rádios, jornais e programas de entretenimento, inclusive perfis

dedicados a novelas e personagens de ficção. Através de fotos, vídeos, transmissões online

etc., grandes e pequenas emissoras de televisão, incluindo as católicas, disponibilizam, em

seus perfis nas redes sociais, prévias de seus conteúdos e buscam, de alguma maneira, atrair

seus seguidores para suas programações na TV.

As três maiores emissoras televisivas brasileiras aderem ao Instagram e possuem

milhões de seguidores (Rede Globo, 7,8 milhões; SBT, 6 milhões e Rede Record, 3,4

milhões). Nesse ambiente, contudo, o número de seguidores das emissoras católicas está

muito aquém das supracitadas (TV Canção Nova, 673 mil; TV Aparecida, 322 mil; Rede

Século XXI, 75,6 mil). Com esse constante “imbricamento midiático” torna-se cada vez mais

difícil separar “antigas” e “novas mídias”.

Diversos autores reconhecem a onipresença da mídia na sociedade contemporânea e

buscam, a partir de diferentes referenciais teóricos, compreender seus processos e sua

influência no cotidiano de indivíduos e instituições. Para entender a mídia, porém, não basta

considerar apenas a complexidade dos processos comunicacionais e, por outro lado, ignorar a

própria realidade existencial do ser humano em suas relações, anseios e angústias, pois,

conforme indica Serelle (2016, p. 84), “o enredamento do midiático no cotidiano se tornou

fundamental para o modo como as pessoas administram suas vidas”. Serelle (2016) sublinha,

a partir de Silverstone (2002), que o nosso comum, em termos de humanidade e solidariedade,

é criado no cotidiano, por isso, “as ações e interações que acontecem no dia a dia acabam por

constituir (ou não) uma ética do cuidado e da responsabilidade que assumimos perante o

outro” (SERELLE, 2016, p. 83).

Segundo Silverstone, a mídia fornece molduras, recursos simbólicos para que

possamos nos movimentar na complexidade do cotidiano e produzir sentido a partir

de suas relações intricadas. Estamos cada vez mais dependentes dela para definir

nossa conduta em relação ao Outro, principalmente o outro distante, que só nos

torna visível por meio do midiático. (SERELLE, 2016, p. 84).

Diante disso, Hjarvard (2012) propõe, a partir do conceito de midiatização, a tarefa de

“tentar entender as maneiras pelas quais as instituições sociais e os processos culturais

mudaram de caráter, função e estrutura em resposta à onipresença da mídia” (HJARVARD,

2012, p. 54). O autor considera que, no contexto atual, experimentamos uma midiatização

intensificada da cultura e da sociedade que, em seu entendimento, não está limitada ao

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domínio da formação da opinião pública, “mas que atravessa quase toda instituição social e

cultural, como a família, o trabalho, a política e a religião” (HJARVARD, 2014, p. 23).

2.2 Midiatização: uma história, múltiplos olhares

Dada sua amplitude conceitual, existem diversas possibilidades de abordagens acerca

da midiatização. Alguns autores preferem uma perspectiva antropológica e historicamente

mais antiga (VERÓN, 2014; KROTZ; HEPP, 2013), outros, no entanto, optam por uma visão

mais moderna e contemporânea para explicar o conceito (HJARVARD, 2014; MARTINO,

2016). Na perspectiva de Verón (2014), por exemplo, os fenômenos midiáticos, marcados

pela aceleração e ruptura entre espaço e tempo, são uma característica de todas as sociedades

humanas e, segundo ele, teve início desde o primeiro estágio de semiose da espécie humana,

ou seja, há cerca de dois milhões e meio de anos, com a produção de ferramentas de pedra.

Partindo, então, de uma visão antropológica do Homo Sapiens, Verón (2013)

questiona o caráter de “novidade” do conceito de midiatização, afirmando que “a história da

midiatização, longe de ser um processo circunstancial da modernidade, coincide com o longo

prazo da história evolutiva da espécie” (VERÓN, 2013, p. 18,). Nesse sentido, o autor

compreende a midiatização como “a sequência de fenômenos midiáticos históricos que

resultam de determinadas materializações da semiose, obtidas por procedimentos técnicos”

(VERÓN, 2013, p. 147).

Verón (2001) argumenta que, para compreendermos a midiatização, é imprescindível

considerar a perspectiva histórica e gradual das transformações socioculturais, bem como a

própria evolução das sociedades “midiáticas” para as sociedades “midiatizadas” (VERÓN,

2001). Ele compreende a “sociedade midiática” como aquela na qual os meios de

comunicação se instalam e através dos quais se consideram as mil facetas da sociedade. De

acordo com o autor, nesse tipo de contexto, os meios funcionam como uma espécie de espelho

(mais ou menos deformante) através do qual as sociedades se olham e a partir do qual se

comunicam. Por outro lado, na sociedade midiatizada, esse espelho midiático deixa de ser a

cópia fiel da realidade passando a representar “uma simulação tecnicamente articulada de uma

nova realidade, a qual se complementa com um novo ator social o que, por sua vez, conta com

novas formas de estar presente no mundo” (SODRÉ apud PÉRSIGO; FOSSÁ, 2010, p. 9).

Para Pérsigo e Fossá (2010, p. 2), “em uma sociedade midiática, a mídia é considerada

um campo social autônomo, que age por conta própria no ato da tematização e publicização,

possuindo o controle enunciativo”, de modo a assumir o papel de mediadora dos demais

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campos sociais no espaço público, reforçando, assim, uma espécie de “processo linear, onde

poucos produzem para muitos” (PÉRSIGO; FOSSÁ, 2010, p. 5). Já na sociedade midiatizada

ocorre, na visão de Pérsigo e Fossá (2010, p. 9), “uma transformação no papel dos meios, ou

seja, passam de meros suportes a atores do processo comunicacional”. Deste modo, a

percepção do “emissor” e do “receptor”, típica dos modelos clássicos da comunicação que se

processava nos meios de comunicação tradicionais, e que prezava a lógica “emissor-

mensagem-receptor”, ganha maior complexidade (PÉRSIGO; FOSSÁ, 2010, p. 10).

Nesta perspectiva, Verón (2001) argumenta que, em uma sociedade midiatizada, o

processo de midiatização torna-se muito mais complexo, uma vez que nesta não existe uma

única forma estruturante que norteie e explique a totalidade de seu funcionamento, pois a

midiatização opera através de diversos mecanismos segundo os setores da prática social que

interessa e, ao mesmo tempo, produz em cada setor distintas consequências.

Considerando a passagem da “sociedade midiática” para “sociedade midiatizada”,

Antonio Fausto Neto (2008) explica que uma designação econômica para diferenciá-las está

no fato de que

na primeira, as mídias estariam a serviço de uma organização de um processo

interacional e sobre o qual teriam uma autonomia relativa, face à existência dos

demais campos. Na segunda, a cultura midiática se converte na referência sobre a

qual a estrutura sóciotécnica-discursiva se estabelece, produzindo zonas de afetação

em vários níveis da organização e da dinâmica da própria sociedade. Nestas

condições, as mídias seriam o lugar (...) em que no plano da sociedade global ter-se-

ia o ‘trabalho’ sobre as representações sociais (Verón, 2004). As mídias perdem este

lugar de auxiliaridade e passam a se constituir uma referência engendradora no

modo de ser da própria sociedade, e nos processos de interação entre as instituições

e os atores sociais. (FAUSTO NETO, 2008, p. 93).

Partindo de uma visão antropológica da midiatização, Verón (2014) esclarece que esta

– embora retratada por alguns pesquisadores como um fenômeno recente – integra um

processo universal que caracteriza todas as sociedades humanas, do passado e do presente,

mais precisamente de sua capacidade de semiose (VERÓN, 2014, p. 14). Tal capacidade

semiótica, na visão do autor, se expressa, sobretudo, na produção dos chamados fenômenos

midiáticos.

De acordo com Verón (2014), o processo de midiatização pelo qual vive hoje a

sociedade já foi alvo de escrutínio histórico:

A ascensão da escrita; a passagem dos rolos aos códices, ou seja, o nascimento do

livro; a “revolução não reconhecida” da imprensa, na expressão feliz de Elizabeth

Eisenstein; a proliferação de panfletos e a subsequente ascensão dos jornais;

começando no meio do século XIX, novos dispositivos técnicos permitiram o

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surgimento, pela primeira vez, de fenômenos midiáticos consistindo na produção

inicial de imagens e sons que enquadram e sequenciam o tempo, dispositivos que

culminam, no século seguinte, com a invenção da televisão. Neste contexto, a

midiatização é apenas o nome para a longa sequência histórica de fenômenos

midiáticos sendo institucionalizados em sociedades humanas e suas múltiplas

consequências. (VERÓN, 2014, p. 15).

Numa visão claramente oposta à de Verón, Hjarvard (2014) argumenta que, embora as

mídias sempre tenham influenciado a cultura e a sociedade, desde a invenção da escrita até a

invenção da imprensa, ainda assim, não é condição sine qua non para considerar a

midiatização como um processo universal que caracteriza todas as sociedades, ou ainda,

caracterizá-la como “um tipo de processo civilizatório que vem acontecendo desde o início da

civilização” (HAJARVARD, 2014, p. 262), haja vista que a midiatização da cultura e da

sociedade ganhou consistência particularmente nos últimos anos do século XX.

Ao comentar a perspectiva de Verón, Hjarvard (2014) ressalta que esta “tem uma

ênfase mais semiótica, que até agora não foi bem integrada nas formas como os países do

norte europeu e da Europa Ocidental têm discutido a midiatização” (HJARVARD, 2014, p.

263).

Hjarvard (2014) sublinha, ainda, que a abordagem do processo de civilização que

“olha para qualquer tipo de influência da mídia na sociedade desde a Idade da Pedra, parece

apresentar um referencial muito mais geral para a compreensão da interação entre mídia,

cultura e sociedade” (HJARVARD, 2014, p. 262). Ademais, ele assume que essa perspectiva

“pode ser fértil para alguns propósitos, mas se afasta claramente da minha perspectiva

institucional, na qual a midiatização se refere à intensificação (ou aceleração) da importância

das diversas mídias nas sociedades modernas” (HJARVARD, 2014, p. 262). Não obstante o

reconhecimento do valor de tais pesquisas, Hjarvard (2014, p. 263) diz não ter “certeza sobre

o valor heurístico de classificar todos aqueles processos como instâncias da midiatização...

Acredito que a abordagem civilizatória da midiatização produz mais problemas que resolve”.

Por essa razão, ele prefere destinar o “uso do termo midiatização para o período da

modernidade tardia” (HJARVARD, 2014, p. 263).

Hjarvard (2012) ressalta que o termo midiatização tem sido utilizado em diferentes

contextos para caracterizar a influência que a mídia exerce sobre uma série de fenômenos,

mas poucos trabalhos foram realizados para definir ou especificar o conceito em si. “Apenas

muito recentemente os pesquisadores de mídia buscaram desenvolver um conceito que

exprimisse um entendimento mais coerente e preciso da midiatização como um processo

social e cultural (Krotz, 2007; Schulz, 2004)” (HJARVARD, 2012, p.55).

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O termo midiatização foi aplicado, pela primeira vez, ao impacto dos meios de

comunicação na comunicação política e a outros efeitos na política. O pesquisador

sueco da comunicação Kent Asp foi o primeiro a falar sobre a midiatização da vida

política, referindo-se a um processo pelo qual ‘um sistema político é, em alto grau,

influenciado pelas e ajustado às demandas dos meios de comunicação de massa em

sua cobertura da política’ (Asp, 1986, p. 359). Uma forma que essa adaptação

assume é quando os políticos formulam suas declarações públicas em termos que

personalizam e polarizam as questões para que as mensagens tenham uma melhor

chance de obter cobertura da mídia. (HJARVARD, 2012, p. 55).

Hjarvard (2012) observa que, já em 1978, quando o termo midiatização sequer tinha

sido utilizado, o sociólogo norueguês Gudmund Hernes empregou a expressão “sociedade

sacudida pela mídia” argumentando que esta “teve um impacto fundamental sobre todas as

instituições sociais e as relações entre elas” (HJARVARD, 2012, p. 55). Apesar de Hernes

não utilizar, de fato, o termo midiatização, seu conceito de “sociedade sacudida pela mídia” e

a “perspectiva holística que ele aplica sobre a sociedade são consonantes, em muitos aspectos,

com a concepção de midiatização” (HJARVARD, 2012, p. 55). Assim, Hjarvard (2012)

recorda que, em suas pesquisas, Hernes questionava como os meios de comunicação

redistribuem o poder na sociedade. Em outras palavras, ele buscava compreender como a

mídia altera tanto o funcionamento interno de outras entidades sociais quanto suas relações

mútuas. Em princípio, ressalta Hjarvard (2012), a perspectiva de Hernes, não se distancia dos

objetivos (mais tarde) pretendidos pelo conceito de midiatização.

Embora não haja consenso quanto à origem e significado do termo, pesquisas indicam

que a midiatização passou a integrar os estudos de comunicação a partir dos anos 1970

(MARTINO, 2016) e “foi incorporado com força nos estudos de comunicação a partir dos

anos 2000, mas o fenômeno ao qual o conceito se refere já acontecia há tempos” (MARTINO,

2015, p. 235).

Verón (2014) identifica que, nos anos recentes, muitos projetos de pesquisa e

perspectivas teóricas, ao redor do problema das relações entre mídias e sociedades, têm sido

vagamente identificados como pertencendo ao estudo da midiatização. Braga (2009), por sua

vez, afirma que, o estudo da mídia acabou se tornando um núcleo da discussão

comunicacional e que a midiatização da sociedade é hoje um elemento central. Para ele,

contudo, o que caracteriza o comunicacional não são apenas os elementos tecnológicos, mas,

sobretudo, os fenômenos da interação humana. De maneira semelhante, o papa Francisco

defende que “não é a tecnologia que determina se a comunicação é ou não autêntica, mas sim

o coração humano e a nossa capacidade de usar sabiamente os meios à nossa disposição”

(IGREJA CATÓLICA, 2016).

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2.3 Midiatização: um conceito para além das “lógicas da mídia”

Ao falarmos de midiatização, faz-se necessário, então, destacar que, no entorno do

conceito, existem pelo menos dois dilemas basilares, os quais não podem ser ignorados: o

primeiro, diz respeito ao dissenso entre pesquisadores quanto à dimensão histórica, ou seja,

acerca das origens da midiatização; o segundo, por sua vez, refere-se às divergências

conceituais entre os diversos estudiosos da área. A primeira questão já foi, de certo modo,

explicitada no tópico anterior. Queremos, agora, à luz de alguns autores, nos debruçar sobre o

conceito de midiatização propriamente dito.

Em primeiro lugar, falar de midiatização é muito mais que considerar apenas o uso dos

meios, como se estes fossem completamente autônomos, neutros, ou ainda, capazes de

provocar grandes mudanças sociais sem a intervenção ou mediação humana. Sobre esse

aspecto, Braga (2009) admite que, na pesquisa universitária brasileira, já houve avanços no

sentido de não dar foco excessivo aos “meios”. Ao invés disso, hoje se fala da mídia em

termos de processos, “cujas ações não se restringem ao objeto ‘meios’ nem ao objeto

‘receptores e suas mediações’, mas os incluem, a ambos, em formações muitíssimo

diversificadas e ainda articulados a outras formações” (BRAGA, 2012, p. 35).

Braga (2009) explica, contudo, que não se trata de negar o “meio”, mas perceber que

há processos mais difusos, a partir da mídia, os quais devem ser observados. Sob essa ótica,

ele ressalta que é preciso “desentranhar” o que há de comunicação nos diversos campos do

conhecimento; não separar em disciplinas, segundo a visão positivista, mas desentranhar e, na

visão do autor, a midiatização parece ser o lugar em que esse “desentranhamento” pode ser

feito.

Ainda sobre a tendência à supervalorização da mídia, Braga (2009) esclarece que, não

é a mídia que cria uma sociedade nova, quer dizer, as transformações sociais em função da

mídia não acontecem em decorrência das inovações técnicas, pois o avanço tecnológico é

determinado socialmente. Sob essa mesma perspectiva, Martino (2016, p. 35) ratifica que “a

mídia não transforma processos sociais”. Isso seria o que ele chama de “midiacentrismo”, ou

seja, “dar uma importância exagerada aos meios de comunicação como se fossem os

responsáveis por criar ou transformar atividades sociais... Os meios, em si, não fazem nada

quando não são colocados no conjunto das relações humanas” (MARTINO, 2016, p. 35).

Corroborando as ideias de Martino e Braga, citadas acima, Hjarvard (2015, p. 58)

afirma que “deveríamos também considerar as tecnologias de mídia como moldadas pelo

homem e pela sociedade, e como moldando a interação humana e social”. Todavia, ele

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ressalta que, “o equilíbrio entre a tecnologia de mídia como moldada e como molde da

interação humana e social pode, contudo, ser modificado ao longo do ciclo de vida da

tecnologia” (HARVARD, 2015, p. 58). Embasado no pensamento de Hjarvard, Martino

(2015) reitera que

uma sociedade mediatizada não é uma sociedade controlada pela mídia. O processo

não é de mão única, no sentido de que a mídia possa ter efeitos sobre as pessoas ou

instituições. O conceito de mediatização não trabalha em uma perspectiva causal,

como ‘o que a mídia faz com as pessoas’ mas a partir de um ponto de vista

relacional, no sentido de ‘como as pessoas relacionam suas práticas cotidianas com

as possibilidades abertas pelas mídias’, em um processo contínuo, sem começo nem

final, que possam ser facilmente estabelecidos. (MARTINO, 2015, p. 240).

Para compreendermos o processo de midiatização, segundo Braga (2006), a primeira

coisa a fazer é distingui-lo daqueles que caracterizam a sociedade dos meios, visto que essa

ampliação de abrangência comporta outras lógicas e padrões, isto é, “não podemos adotar

como explicação suficiente da midiatização a perspectiva de que se trata apenas da penetração

de todos os processos sociais por lógicas dos meios” (BRAGA, 2015, p. 16). O autor não nega

a presença de lógicas midiáticas no processo da midiatização, mas, recusa a ideia que reduz a

midiatização a uma simples influência das lógicas da mídia sobre os processos interacionais

dos demais campos sociais: “nos perguntamos se a midiatização corresponde tão

simplesmente a essa penetração de lógicas da mídia em uma cultura que sofre mudanças

apenas de forma inercial” (BRAGA, 2015, p. 18).

Ao problematizar a expressão “lógicas da mídia”, Braga (2015) observa que esta é às

vezes naturalizada, assumindo-se como evidente por si mesma, “sendo tomada (sem o afirmar

expressamente) quase como correspondente a uma estrutura profunda, pertencente à ordem

das coisas; e não como a construção social e histórica que efetivamente ocorre” (BRAGA,

2015, p. 19).

Na visão de Braga (2015), portanto, as “lógicas da mídia” correspondem a processos

estabelecidos por práticas sociais, as quais

foram sendo experimentadas e sedimentadas em diversos ângulos e espaços

(econômicos, políticos, institucionais, informativos, profissionais, interacionais) até

gerar padrões ancorados nas práticas, nos hábitos. Isso implicou um processo de

institucionalização dos próprios meios, que acabou configurando o que pode,

adequadamente, ser chamado de campo dos media. Esse campo, com suas práticas,

se organizou essencialmente como um processo empresarial, dados os custos das

tecnologias e de produção envolvidos, das operações e organização de recursos

humanos, de restrições técnicas - gerando fortes concentrações econômicas e, ao

mesmo tempo, uma busca acentuada de maximização do público a ser abrangido.

(BRAGA, 2015, p. 21).

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Portanto, esclarece Braga (2015, p. 23), “tratar das lógicas da tecnologia é descrever

como as interações associadas obedecem a elas, mas também as transformam”. Apesar de

reconhecer, como já dissemos, a forte incidência de lógicas da mídia nos processos de

midiatização, o autor reforça que “lógicas de midiatização correspondem então a algo muito

mais diversificado, menos globalmente apreensível, mais plural – e certamente menos

conhecido – do que lógicas da mídia” (BRAGA, 2015, p. 26).

Retomando, então, o conceito de midiatização, Braga (2006) o relaciona a pelo menos

dois âmbitos sociais: no primeiro, são tratados processos sociais específicos que passam a se

desenvolver (inteira ou parcialmente) segundo “lógicas da mídia”, como, por exemplo, a

midiatização de instâncias da política, do entretenimento, da aprendizagem, da religião etc. Já

em um nível macro, o autor refere-se à midiatização como um processo que afeta a sociedade

como todo, pois, conforme sinaliza Hjarvard (2012), a midiatização pode ser vista como um

processo pelo qual a sociedade, em um grau cada vez maior, está submetida a ou torna-se

dependente da mídia e de sua lógica. Aqui, o autor utiliza a expressão “lógica da mídia” para

referir-se “ao modus operandi institucional, estético e tecnológico dos meios, incluindo as

maneiras pelas quais eles distribuem recursos materiais e simbólicos e funcionam com a ajuda

de regras formais e informais” (HJARVARD, 2012, p. 65).

Martino (2016, p. 32) define a midiatização como a “articulação entre o ambiente

midiático e processos sociais”. Ele esclarece que tais processos, em linhas gerais, são as

diferentes maneiras como as pessoas interagem entre si, de modo que, cada tipo de interação

dá origem a um processo social diferente. Influenciado pelo pensamento de Hjarvard, Martino

(2015) diz que o conceito de midiatização “refere-se ao processo pelo qual a sociedade vai se

tornando progressivamente dependente da lógica da mídia, na medida em que elas estão cada

vez mais integradas nas operações de todas as instituições sociais” (MARTINO, 2015, p.

239).

Partindo do atual cenário da mídia e considerando-a como parte do tecido da

sociedade e da cultura, bem como uma instituição independente que se interpõe entre outras

instituições culturais e sociais, Hjarvard (2012, p. 55) admite que “a midiatização é um

processo de dupla face no qual a mídia se transformou em uma instituição semi-independente

na sociedade, à qual outras instituições têm de se adaptar”. Diante disso, o pesquisador

dinamarquês reconhece os desafios e as necessidades que as demais instituições sociais têm

de adequar suas “políticas midiáticas” aos contextos da mídia, a fim de cumprirem suas

funções na sociedade.

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Ciente desses desafios, o papa Francisco ressalta, em sua mensagem para o Dia

mundial das comunicações sociais de 2018 – sob o tema “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,

32). Fake news e jornalismo de paz” –, a importância de se combater as notícias falsas que

têm afetado, inclusive, o âmbito religioso.

A expressão fake news é objeto de discussão e debate. Geralmente diz respeito à

desinformação transmitida on-line ou nos mass-media tradicionais. Assim, a referida

expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou

distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação

pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros

económicos. A eficácia das fake news fica-se a dever, em primeiro lugar, à sua

natureza mimética, ou seja, à capacidade de se apresentar como plausíveis. Falsas,

mas verosímeis, tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a

capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos

generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e

fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração. A sua difusão

pode contar com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem

ao seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento,

ganham tal visibilidade que os próprios desmentidos categorizados dificilmente

conseguem circunscrever os seus danos. Nenhum de nós se pode eximir da

responsabilidade de contrastar estas falsidades. (IGREJA CATÓLICA, 2018).

Partindo da ideia de que a mídia praticamente não reflete sobre a sua própria prática,

Silverstone (2003) enfatiza que devemos encorajá-la a mudar. Para isso, observa o autor, a

mídia tem de ser estudada de tal modo que esse conhecimento se difunda em toda a sociedade,

criando uma massa de cidadãos alfabetizados em mídia capazes de desafiar seus pressupostos

éticos e funcionais. A partir daí teríamos o que ele denomina “Quinto Poder, constituído por

uma cidadania informada cuja missão seria fiscalizar o Quarto Poder – ou seja, a mídia”

(SILVERSTONE, 2003, p. 1).

Silverstone (2003) admite que a cidadania no século XXI requer um grau de

conhecimento que até agora poucos de nós têm, que requer do indivíduo que saiba ler os

produtos da mídia e que seja capaz de questionar suas estratégias. Isso, na visão do autor,

envolveria capacidades que vão além do que foi considerado alfabetização em massa na época

da mídia impressa. Para tanto, Silverstone (2003, p. 1) recomenda que “a alfabetização em

mídia é mais necessária do que nunca, precisamente porque ela é fundamental para a

construção de identidades, o senso de nós mesmos no mundo e nossa capacidade de agir

dentro dele”.

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2.4 A midiatização: um processo interacional (em vias) de referência

Ao longo da história, os meios de comunicação foram tradicionalmente considerados

como algo separado da cultura e da sociedade (HJARVARD, 2012, p. 54). Todavia, na atual

conjuntura social, as mídias já não podem ser vistas “como um corpo estranho na sociedade”

(BRAGA, 2012, p. 35), haja vista que, com a midiatização crescente dos processos sociais em

geral, “o que ocorre agora é a constatação de uma aceleração e diversificação de modos pelos

quais a sociedade interage com a sociedade” (BRAGA, 2012, p. 35). Por conseguinte, as

mídias sociais vêm deixando, cada vez mais, “o lugar de auxiliaridade e passam a se constituir

uma referência engendradora no modo de ser da própria sociedade, e nos processos e

interação entre as instituições e os atores sociais” (FAUSTO NETO, 2008, p. 93).

Braga (2006) observa que o processo de midiatização da sociedade se encontra tão

desenvolvido que, não raras vezes, é assumido como modo dominante. Contudo, ele admite

que alguns processos sociais já existiam sem a presença da mídia e que, portanto, as

interações ocorriam fora de qualquer interferência midiática. Aos poucos, esses processos

socioculturais passam a ser midiatizados, ou seja, organizados segundo o olhar midiático

(BRAGA, 2009).

Ao observar o crescente e rápido desenvolvimento dos processos sociais, Braga (2009)

passa a conceber a midiatização como o conjunto de “reformulações sociotecnológicas de

passagem dos processos mediáticos à condição de processualidade interacional de referência”

(BRAGA, 2006, p. 2). O autor esclarece que, a compreensão da midiatização como “processo

interacional de referência”, embora em estado avançado de implantação, ainda não é

completamente hegemônica e que, portanto, permite evitar a ideia de substituição, dado que

os sistemas e processos ligados à ideia de midiatização não simplesmente “substituem”

outros, mas, ao contrário, absorvem, redirecionam e lhes dão outro desenho.

Nas palavras de Martinho (2014, p. 36), “a convergência não significa que um meio

novo destrua ou invalide um meio antigo, mas entende que ambos se modificam mutuamente

em uma intersecção da qual emergem novos significados”.

Os novos processos sociais caracterizam grandes mudanças, mas isso não significa

que destroem ou salvam alguma coisa. Significa que trazem outros problemas e

outra sistemática social. Os outros modos continuam a existir. Por exemplo, a escrita

não eliminou a oralidade. Então, a midiatização como processo interacional de

referência transforma os demais processos, mas mantém espaços de oralidade e de

escrita. A escola é essencialmente uma instituição do livro. E, no entanto, ela é um

espaço de oralidade, caracterizado pelo processo de referência, que é o livro. Quanto

à midiatização, esta vai se tornando hoje o processo de referência para as interações

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– mas devemos assinalar que isso ainda está em curso, com lacunas e desafios.

(BRAGA, 2009, p. 10).

Na concepção de Hjarvard (2014), a teoria da midiatização não é um conjunto restrito

de conceitos ou uma teoria fechada que exclui outros enquadramentos sociais. Tampouco, “é

uma nova teoria que irá substituir teorias mais antigas como tal, mas, é mais um quadro que

nos permite generalizar e conectar ideias produzidas por estudos mais específicos de mídia e

comunicação em diversos setores da sociedade” (HJARVARD, 2014, p. 262).

Em síntese, dentro da lógica da midiatização, os processos sociais “da mídia”, passam

“a incluir, a abranger os demais, que não desaparecem, mas se ajustam” (BRAGA, 2006, p.

2). Não se trata apenas de hegemonia na preferência por determinados modos de interação;

mas também de uma perspectiva de organização social, já que, na concepção do autor, a

midiatização é largamente responsável pela constituição do tecido da sociedade e “os

processos interacionais de referência são os principais direcionadores na construção da

realidade social” (BRAGA, 2006, p. 3).

As ideias de Braga acerca da midiatização como “processo interacional de referência”

ajudam-nos, por um lado, a compreender a importância e a centralidade da mídia na sociedade

contemporânea e, por outro, faz-nos reconhecer os limites e incompletudes inerentes ao

próprio conceito, dado que, na concepção de Braga (2006, p. 10), “estamos ainda nos

primeiros passos de um trabalho tecnológico complexo e mutável”, por isso mesmo convém

pensar a midiatização não como um processo fechado e completo, mas, em constante

transformação, isto é, em vias de referência. Na mesma perspectiva, Fausto Neto (2009, p. 16)

afirma que “a midiatização produz mais incompletudes do que as completudes pretendidas, e

é bom que seja assim”.

Desse modo, podemos pensar que, dependendo do campo de abrangência, essa

incompletude inerente ao processo de midiatização pode apresentar-se de maneira mais ou

menos acentuada. Se pensarmos, por exemplo, no contexto religioso (católico), a questão nos

parece um pouco mais complexa e instável, haja vista que a comunicação na Igreja tem suas

particularidades e depende, em grande medida, do modo como cada líder religioso ou mesmo

cada papa eleito compreende e a articula os processos comunicacionais com a religiosidade,

como fizeram, em maior ou menor intensidade, os papas Paulo VI, João Paulo II e, nos

últimos anos, o papa Francisco. Este, por sua vez, reconhece que a Igreja teve seus avanços no

campo da comunicação, mas considera que ainda precisa melhorar muito, especialmente na

evangelização com as mídias sociais. Por isso, Francisco afirmou, em sua mensagem para o

Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2017, que a Igreja precisa encontrar um “estilo

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comunicador aberto e criativo, que não se prontifique a conceder papel de protagonista ao

mal, mas procure evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e

responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia” (IGREJA CATÓLICA, 2017).

2.5 Midiatização e campo religioso: tensionamentos e avanços no catolicismo

O cristianismo, considerado fundamentalmente um evento comunicativo (ZILLES,

2011; SAPADARO, 2012), tem enfrentado, na atualidade, grandes desafios quanto às

transformações, impactos e exigências da sociedade midiatizada, diante da qual as religiões,

de modo geral, veem-se obrigadas a repensar e atualizar suas práticas mais tradicionais de

comunicação e evangelização. É o caso da Igreja Católica que, embora de maneira

relativamente lenta e reticente em relação aos processos de midiatização, tentou ao longo da

história “se aproximar, captar e responder a esses sinais dos tempos comunicacionais”

(SABARDELOTTO, 2017, p. 25).

De acordo com Hjarvard (2014), os meios de comunicação sempre foram importantes

para a prática e difusão da religião, assim como, muitas vezes, as próprias transformações do

ambiente midiático tiveram relevante influência sobre seu desenvolvimento. O autor recorda

que, na história do cristianismo, a disseminação dos textos escritos, e mais tarde a invenção da

imprensa, foram processos significativos que reestruturaram e, em certa medida, desafiaram o

poder das autoridades religiosas.

Em um contexto no qual a imprensa se tornava a instituição da moda houve quem

acreditasse que esta suplantaria a própria religião, “justamente por ser mais rápida que outras

instituições que até ali vinham tomando conta do pensamento, como a Igreja Católica”

(BUCCI, 2014, p. 181).

Muito embora não seja de nosso interesse fazer um aprofundado recorrido histórico

acerca da relação entre Igreja Católica e comunicação – visto que nosso objeto de pesquisa se

situa no contexto das chamadas novas mídias e que, ampliar o campo histórico, poderia tornar

nosso estudo demasiado prolixo – consideramos importante retomar, ainda que brevemente,

alguns aspectos dessa conflituosa relação, a fim de compreender melhor o processo de

midiatização do campo religioso.

Quando Johann Gutemberg de Mainz inventou a prensa gráfica, por volta de 1450, a

Igreja ainda mantinha domínio sobre a produção do conhecimento e, conforme indica

Eisenstein (2008), nesse período, ela ainda não havia sido contestada de forma veemente em

seus dogmas e nas questões relativas ao controle da sociedade.

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Com o surgimento da imprensa, de fato, “os jornais começavam a ocupar um lugar da

Igreja. As homilias perdiam espaço para os editoriais” (BUCCI, 2014, p. 181). Diante da

“concorrência”, a Igreja se vê ameaçada e, como medida de autopreservação, adota uma

atitude de disputa em relação à imprensa, inclusive, considerando-a como um mal a ser

combatido (PUNTEL, 2011). “A postura eclesial era a de usar os meios de comunicação

como uma espécie de campo de batalha” (PUNTEL, p. 2011, 224). Gasparetto (2011, p. 102)

observa que “as relações da Igreja com o mundo dos media sempre foram conflituosas e

diferentes desde o início da modernidade, gerando certa insegurança no seio da instituição”.

De qualquer maneira, apesar de sua forte atitude negativa, a Igreja começou, lenta e

gradualmente, a perceber a utilidade dos meios eletrônicos de comunicação, na

difusão de suas mensagens, e a servir-se deles. Durante o período de 1878 a 1939, a

Igreja mostrou alguma flexibilidade em relação à imprensa e às novas tecnologias de

comunicação, particularmente ao cinema e ao rádio, mas ainda se movia com

cautela. (PUNTEL, 2011, p. 225).

A desconfiança da Igreja em relação à imprensa e aos demais meios de comunicação

social perdurou durante séculos “e houve muitas discussões para mudar as opiniões da Igreja

sobre os meios... Considerados simplesmente meios de difusão de mensagens negativas e do

mal” (PUNTEL, p. 2011, 225). Sob este aspecto, é importante ressaltar que, infelizmente,

nem todos os papas tiveram a mesma abertura e habilidade para lidar com os meios de

comunicação social e, conforme assinala a história, “foi somente com o papa Pio XII (1939-

1958) que a Igreja aprofundou e ampliou suas reflexões sobre as relações sociais dentro de

uma sociedade democrática e sobre o papel da informação na constituição da opinião”

(PUNTEL, 2011, p. 225).

Embora a Igreja tenha enfrentado, ao longo do tempo, “sérias dificuldades em

reconhecer os valores positivos nos meios de comunicação e em perceber suas

potencialidades” (PUNTEL, p. 2011, 224), agora, no contexto da sociedade midiatizada,

aquela Igreja, outrora desconfiada e cética em relação aos meios de comunicação, parece estar

disposta a reconciliar-se, de uma vez por todas, e fazer das mídias sociais seus novos púlpitos

de evangelização, pois, conforme indica Senna (2011), a Igreja “reconhece que, midiatizada,

dá continuidade ao processo de evangelização e atualiza seu papel de instituição religiosa apta

a corresponder aos anseios dos novos tempos” (SENNA, 2011, p. 8).

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2.5.1 Midiatização e campo religioso: caminhos que se cruzam

Diante desse novo contexto social, marcado pela midiatização da cultura e da

sociedade, é possível dizer que a Igreja Católica está disposta a abrir-se ao diálogo com a

mídia ou ainda existem ambiguidades nessa relação? Se, com a imprensa, houve uma espécie

de divórcio, podemos, hoje, falar de um casamento entre mídia e religião?

Nas últimas décadas, diversos pesquisadores se debruçaram sobre a relação entre

mídia e religião, mais especificamente, sobre a midiatização do campo religioso (Cf.:

HJARVARD, 2012; GASPARETTO, 2011; MARTINO, 2016; HOOVER, 2012; GOMES,

2010; SABERDELOTTO, 2017) e, embora haja dissensos em suas reflexões, eles concordam

que a internet e as novas mídias trouxeram maior complexidade ao nosso cotidiano e que,

para compreender a profundidade disso, é necessário nos interessar não apenas “pelo que a

mídia faz, como também pelo que fazemos com ela” (SILVERSTONE, 2002, p. 13).

Diante da complexidade da sociedade midiatizada, em contínua mudança, não basta

dizer que mídia e religião fizeram as pazes e que agora não há diferenças. É necessário

analisar os contextos socioculturais, ponderar as peculiaridades de cada campo e

problematizar as estratégias, tanto de um lado quanto de outro, tendo em vista que “a teoria da

midiatização não é um conjunto restrito de conceitos ou uma teoria fechada que exclui outros

enquadramentos teóricos” (HJARVARD, 2014, p. 262), como também, a religião não é um

fenômeno simples e facilmente moldável que, prontamente se adéqua aos caprichos da mídia

e, de um dia para outro, passa a operar a seu bel-prazer. As questões são mais complexas e

exigem tempo e ponderação. Nesse sentido, vale ressaltar, não é possível resumir o legado

histórico e comunicacional da Igreja Católica a um único período ou, ainda, a um único

papado, visto que cada época tem seus próprios desafios, necessidades e avanços.

Obviamente, a postura de Francisco em relação à mídia tende a ser mais aberta e próxima;

isso, porém, não significa que não haja discordâncias e ambivalências nessa relação. Ao

mesmo tempo em que o papa reconhece a importância da mídia para a difusão das verdades

cristãs, ele também sabe de seus limites, pois, como afirmou o pontífice em uma de suas

homilias, a mídia, muitas vezes, “começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a

calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas. Notícias falsas são um sinal de atitudes

intolerantes e hipersensíveis e levam apenas a difusão de arrogância e ódio” (FOLHA DE S.

PAULO, 2018).

Hoje, no contexto de uma comunicação cada vez mais rápida e dentro de um sistema

digital, assistimos ao fenômeno das notícias falsas, as chamadas Fake News. Falsas

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mas verossímeis, tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a

capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos

generalizados no seio de um certo tecido social, explorando emoções imediatas e

fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração. A sua difusão

pode contar com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem

ao seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento,

ganham tal visibilidade que os próprios desmentidos categorizados dificilmente

conseguem circunscrever os seus danos. (IGREJA CATÓLICA, 2018).

De acordo com Gasparetto (2011, p. 107), a Igreja já superou muitos conflitos

históricos em relação à comunicação e, por meio de “alguns dos seus setores”, estabelece

novas formas de relação com o campo dos media, “abandonando, em parte, as velhas posições

reflexivas intelectuais, e apropriando-se da própria lógica e cultura midiáticas como ‘insumo’

para seu trabalho de evangelização” (GASPARETTO, 2011, p. 107). Percebemos, no entanto,

que embora haja uma abertura por parte de “alguns setores” (menos conservadores) da Igreja,

esta ainda enfrenta resistências internas quanto à sua busca de “parceria” com a mídia. Além

do mais, as “velhas posições” da Igreja em relação aos meios de comunicação ainda não

foram completamente superadas por parte de alguns líderes e setores religiosos, o que nos

leva a intuir que o processo de midiatização da religião, embora inevitável, não é tão simples

quanto possa parecer. Talvez seja por isso que Hjarvard (2014) sugere: “Se você for estudar

midiatização, terá que empregar outras teorias, conceitos e metodologias para realmente

entender o que está acontecendo” (HJARVARD, 2014, p. 262).

Gasparetto (2011) declara que a midiatização é um fenômeno que colabora para

produzir um novo tipo de experiência religiosa, ou seja, uma “espécie de atividade na qual

estruturam-se novos protocolos de interação, onde o viver religioso se faz calcado pelas

operações de outra modalidade de comunicação, a midiática” (GASPARETTO, 2011, p. 110).

Segundo ele, é através da midiatização que o campo religioso e o midiático reconhecem a si

mesmos e também aos outros que estão ao seu redor.

De acordo com Hoover (2012), em tempos de midiatização, já não é possível pensar

mídia e religião como esferas separadas, dado que “as duas estão convergindo uma para a

outra” (HOOVER, 2012, p. 50). O autor destaca, contudo, que esta convergência não está

isenta de mudanças significativas tanto na mídia quanto na religião. Dentre os aspectos

primordiais desse câmbio, ele destaca uma queda vertiginosa no poder e na autoridade das

instituições religiosas, especialmente na última parte do século XX. Hoover (2012) afirma

que, “a confiança do público na religião e na autoridade clerical continua em declínio. A

participação na religião, pelo menos nas grandes instituições continua a diminuir em todo o

Ocidente” (HOOVER, 2012, p. 51). Diante disso, como se explica o “fascínio midiático” pelo

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papa Francisco? O que há de diferente nesse líder religioso que atrai tanto o olhar da mídia

quanto o afeto das multidões? Afinal, o que faz de Francisco um papa célebre?

Hjarvard (2012) recorda que, no passado, a mídia de massa era controlada

primordialmente por outras instituições sociais. No caso da imprensa política, por exemplo,

era significativamente influenciada pelas lógicas da instituição política. De maneira

semelhante, destaca o autor, muitos jornais e revistas eram parcialmente controlados pelas

instituições da religião, da cultura e da ciência. Contudo, Hjarvard (2012) avalia que as coisas

mudaram consideravelmente, tanto do lado da mídia quanto do lado da religião.

Hoje, várias mídias de massa perderam parte de sua dependência de outras

instituições e adquiriram um maior grau de controle sobre importantes recursos da

sociedade, incluindo informação pública e atenção. Podemos, portanto, pensar essas

mídias enquanto instituições semi-independentes na sociedade, controlando até certo

ponto as formas pelas quais outras instituições acessam os recursos comunicativos e

as esferas públicas. (HJARVARD, 2015, p. 56).

Se, por um lado, a religião está mudando, por outro, a mídia também o está, observa

Hoover (2012). Para ele, as mudanças mais importantes no campo da mídia foram de ordem

tecnológicas, com novos avanços na produção, transmissão e recepção midiática, levando a

uma explosão de canais e fontes de mídia. Sob esse prisma, o autor identifica que, uma das

grandes mudanças diz respeito justamente à “crescente abertura por parte da antiga ‘mídia

secular’ para acolher conteúdo sectário, religioso e espiritual” (HOOVER, 2012, p. 52).

Segundo Hoover (2012), nós experimentamos isso em grande parte como uma

‘mercantilização’ ou ‘popularização’ da religião. Ele explica que esse fato se deve ao simples

resultado das forças do mercado.

Como as barreiras de acesso aos meios de comunicação foram reduzidas, e mais e

mais canais e fontes midiáticas competem por audiência, os gostos e interesses de

tais audiências tornaram-se mais importantes. A procura e a demanda da audiência

estimulam uma crescente oferta de material religioso e espiritualmente significativo.

(HOOVER, 2012, p. 52).

Ainda acerca da questão das audiências e da abertura da mídia a pautas de cunho

religioso, Hoover (2012) aponta que esse processo acelerou-se mais ainda com o

desenvolvimento da mídia digital: internet, Web 2.0 e, mais recentemente, as chamadas novas

mídias. “Agora, uma série estonteante de reinvindicações, produções, símbolos, redes e

movimentos religiosos, espirituais, para-religiosos, implicitamente religiosos ou próximos à

religião podem colocar sua voz no mercado midiático” (HOOVER, 2012, p. 52).

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Reconhecer, todavia, que as mídias sociais possibilitaram uma grande ampliação do

campo de atuação da mensagem religiosa, não significa dizer que agora, finalmente, a religião

possui todas as “cartas na manga” e pode fazer uso das mídias a seu bel-prazer, pois,

conforme destaca Hjarvard (2014), quando organizações religiosas começam a fazer uso de

sites da internet ou de redes sociais como recurso para se comunicarem com seus seguidores,

eles podem gradualmente precisar adaptar-se às variadas regras sociais, tecnológicas e

estéticas que já foram institucionalizadas na sociedade para essas formas de comunicação

(HJARVARD, 2014, p. 23). No âmbito da Igreja Católica, Silvonei José Protz,

correspondente brasileiro da Rádio Vaticano, assegura que existe, sobretudo agora com a

presença de Francisco, uma grande preocupação com a linguagem, com o modo de comunicar

o evangelho.

Nós temos que aprender com a linguagem do momento. Não é que estamos

mudando o conteúdo, não é isto. Não estamos mudando a doutrina, estamos

mudando o modo de falar. Francisco é hoje o espelho para isso. Ele não mudou uma

vírgula daquilo que é doutrinal, mas ele nos ensinou que tocar o rosto de um

mendigo olhando nos olhos não é simplesmente dar a moedinha, é tocar a carne. E

quando fala-se de carne é encarnação. Nós também temos que nos encarnar nesta

comunicação com uma linguagem que seja eficaz. O papa nos pede que sejamos

comunicadores da verdade com a beleza da verdade. Francisco, hoje, quando abre a

boca e fala é ouvido porque é crível. As pessoas acreditam nele. Mas não é um

acreditar porque ele é o papa. Não. É porque ele é alguém que demonstra com gestos

concretos o que significa falar com amor diante de uma humanidade que sofre

(REDES..., 2017).

De acordo com Hoover (2012), “alguns aspectos novos e enquadramentos importantes

acompanham a crescente ‘comodificação’ ou midiatização da religião” (HOOVER, 2012, p.

52). O primeiro aspecto por ele apontado refere-se à percepção de que, na mídia, a religião se

torna cada vez mais uma prática estética. Desse modo, “os estudiosos da religião mencionam

um deslocamento, da religião para o religioso” (HOOVER, 2012, p. 52). Na visão do autor,

isso centraliza novamente a atenção sobre os atributos daquilo que circula em torno da

religião, assim, o gosto e a estética desempenham aí um papel cada vez maior. “Isso é mais

crítico quando nos lembramos de que os novos meios de comunicação são cada vez mais

visuais em suas lógicas e representações” (HOOVER, 2012, p. 52).

Um segundo aspecto elencado por Hoover (2012) – e que corrobora as ideias de

Hjarvard – diz respeito ao fato de que as religiões enfrentam hoje o desafio de uma esfera

cada vez mais autônoma da prática, isto é, “a mídia, que opera de acordo com suas próprias

lógicas e que se torna sempre mais a definidora do que é possível circular em termos de

ideias, valores e reinvindicações da verdade” (HOOVER, 2012, p. 53). Se, por um lado, a

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religião usufrui da mídia para a divulgação de suas práticas, por outro, ela precisa,

constantemente, adaptar-se às suas “leis” e lidar com os “limites” e ambiguidades inerentes à

própria mídia. Como consequência, afirma Hjarvard (2014),

as organizações religiosas podem ter que exercer sua autoridade de maneiras

diferentes, e os fiéis podem ter a capacidade de adotar uma orientação mais

individualista, interativa e consumista em relação às mensagens religiosas (Hjarvard,

2012b), em comparação com formas anteriores de comunicação religiosa.

(HJARVARD, 2014, p. 23).

No tocante ao que Hjarvard (2014) disse acima, Gomes (2009) compreende que,

“numa sociedade plural, a midiatização favorece o relativismo da experiência religiosa. Cada

um constrói a sua vida religiosa a partir do mosaico de todas as religiões às quais tem acesso”

(GOMES, 2009, p. 7). É o que Hoover (2012) denomina de “religião de cafeteria” que confia

mais no eu interior e nos seus próprios juízos do que em clérigos ou doutrinas. “O mundo da

religião e suas diversas linguagens, símbolos e estruturas, torna-se como uma cafeteria”

(HOOVER, 2012, p. 51).

Com o fortalecimento da midiatização e as múltiplas possibilidades das novas mídias,

alguns autores apontam para o risco de se “desenvolver uma religião individualista, com um

consumo a la carte” (GOMES, 2009, p. 7) ou, como afirma Spadaro (2012, p. 48), “pode-se

cair na ilusão de que o sagrado ou o religioso estejam ao alcance do mouse”. Na mesma

perspectiva de Hoover (2012), Spadaro (2012) entende que a rede pode ser facilmente

comparada a uma espécie de grande supermercado do religioso, “em que é possível encontrar

todo tipo de produto religioso com grande facilidade” (SPADARO, 2012, p. 48).

Hjarvard (2012) desenvolveu um quadro teórico para entender como a midiatização

implica uma transformação multidimensional da religião que afeta textos, práticas e relações

sociais religiosas e, consequentemente, o caráter da crença nas sociedades modernas. Segundo

ele, “a mídia tornou-se uma importante – se não a principal – fonte de informação e

experiência sobre essas questões, e os meios não apenas produzem e difundem a religião, mas

também a modelam de diferentes maneiras” (HJARVARD, 2012, p. 58). Além disso,

Hjarvard (2012) elucida que, os meios de comunicação assumiram, em alguns aspectos,

muitas das funções sociais anteriormente oferecidas pela igreja:

Eles contribuem para a produção e manutenção de comunidades sociais (Carey

1989; Morley 2000) e tornaram-se essenciais para a celebração pública de grandes

eventos nacionais e culturais (Dayan e Katz, 1992). Os meios ritualizam as

transições sociais em níveis micro e macro; proporcionam orientação moral e

promovem diversas formas de adoração através da cultura de fãs, de celebridades

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etc. (HJARVARD, 2012, p. 58).

Na mesma linha de Hoover (2012), Hjarvard (2012) reconhece que os meios de

comunicação interativos criaram novas possibilidades para que os indivíduos se engajem em

comunicação e práticas religiosas fora do campo de controle das igrejas, o que, na visão do

autor, não resulta em “um novo tipo de religião como tal, mas sim uma nova condição social

em que o poder de definir e praticar a religião mudou” (HJARVARD, 2012, p. 58).

Acerca das mudanças na relação mídia-religião, Hoover (2012) enumera três aspectos

específicos: em primeiro lugar, ele alega que, as religiões perdem cada vez mais o controle

sobre seus próprios símbolos, visto que “hoje os meios de comunicação e sua cultura da

celebridade podem definir o significado de sinais, símbolos e linguagens religiosas”

(HOOVER, 2012, p. 53).

Em segundo lugar, destaca Hoover (2012), nessa “disputa” entre mídia e religião,

algumas denominações religiosas claramente vão “ganhar” e algumas vão “perder”. “O fato

fundamental é que, para existirem hoje, as instituições que desejam estar ativas na esfera

pública precisam existir na mídia” (HOOVER, 2012, p. 53). O autor destaca, porém, que, em

se tratando desse tipo de adesão midiática, algumas religiões são melhores que outras.

“Especialmente aquelas que se ocupam mais com estruturas e autoridades têm sido mais

lentas em adotar esses meios de comunicação modernos” (HOOVER, 2012, p. 53).

Por fim, o terceiro aspecto elencado por Hoover (2012), diz respeito ao fato de que, as

tendências que envolvem a mídia e seus processos “relativizam” cada vez mais a autoridade

religiosa. Esta, na percepção do autor, é provavelmente a mais profunda e abrangente

implicação dessas tendências. Hoover (2012) acredita que, na medida em que as novas mídias

se interpõem elas mesmas na produção e na circulação de recursos religiosos e espirituais, e

na medida em que este crescente mercado midiático de ofertas religiosas continua a evoluir,

“as vozes de indivíduos e de autoridades religiosas tornam-se menos importantes e menos

significativas” (HOOVER, 2012, p. 53).

Hjarvard (2014b) destaca que a pluralização das vozes religiosas na internet não

apenas desafia a autoridade das religiões organizadas, como também “propicia o

desenvolvimento de práticas de comunicação religiosa mais individualizadas e

interconectadas, inspiradas pela cultura geral da internet” (HJARVARD, 2014b, p. 140).

Segundo Hoover (2012), atualmente as religiões tradicionais são obrigadas a coexistir

com um mercado crescente e heterogêneo de religiões e espiritualidades, o qual já não se

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preocupa com forma, doutrina, tradição e história.5 Em vez disso, “floresce aquilo que os

estudiosos da religião chamam de religião ‘implícita’; ou ‘banal’ ou ‘informal’” (HOOVER,

2012, p. 54). Hoover (2012) explica que, a categoria que costumávamos pensar como ‘religião

civil’, já não diz respeito somente à comemoração de eventos seculares importantes ou a

eventos para-religiosos de luto ou a cerimônia de Estado. Sendo assim, a ‘religião civil’ é

também “desafiada a expandir-se para incluir uma gama de movimentos, imagens e práticas

menos formais e mais populares, que invadem de forma crescente a esfera da religião formal”

(HOOVER, 2012, p. 54).

De acordo com Hjarvard (2014b), os meios de comunicação, de modo geral, atuam

como distribuidores de três modalidades de religião, a saber: a “mídia religiosa” – que integra

serviços religiosos, pregações, confissões, debates; o “jornalismo religioso” – responsável por

notícias, atualidades e debates moderados; e a “religião banal” – que diz respeito à ficção

narrativa, ao entretenimento, ao serviço de autoajuda e conselhos de consumo. “Essas

representações midiáticas não oferecem uma imagem homogênea da religião; ao contrário,

comportam enorme variação no que se refere aos tipos de religião representados”

(HJARVARD, 2014b, p. 137).

Hjarvard (2014) entende como mídia religiosa as organizações e práticas midiáticas

eminentemente controladas e executadas por atores religiosos, sejam em nível coletivo ou

individual. Segundo ele, essas organizações e práticas podem englobar tanto os veículos de

massa quanto as redes sociais ou mesmo os dispositivos pessoais privados usados para

comunicação entre indivíduos religiosos.

Acerca do jornalismo religioso, Hjarvard (2014b) reconhece que, nas últimas décadas,

as questões religiosas têm recebido maior atenção nos veículos jornalísticos de muitos países.

Na visão do autor, a religião deixou a periferia dos noticiários para tonar-se tema ou aspecto

recorrente a ocupar os jornalistas, basta pensar, por exemplo, na quantidade de jornais e

canais televisivos que transmitem a eleição de um Papa. A temática religiosa “já não se

restringe a certas colunas religiosas ou jornais com perfil especificamente religioso, mas é

alvo regular da cobertura dos principais veículos de notícias” (HJARVARD, 2014b, p. 142).

Ainda sobre esse aspecto, Hjarvard (2014b) observa que, do ponto de vista institucional, a

maior atenção jornalística dispensada às questões religiosas reflete uma mudança no poder de

definir e enquadrar a própria religião.

5 A esse respeito, o papa Francisco reconhece, em seu primeiro documento oficial (Evangelii Gaudium – Alegria

do Evangelho, 2013), que “a fé católica de muitos povos encontra-se hoje perante o desafio da proliferação de

novos movimentos religiosos, alguns tendentes ao fundamentalismo e outros que parecem propor uma

espiritualidade sem Deus” (IGREJA CATÓLICA, 2013, p. 44).

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Finalmente, sobre a “religião banal”, já referida por Hoover (2012), Hjarvard (2014b)

esclarece que o designativo “banal” não significa que tais representações sejam menos

importantes ou irrelevantes; ao contrário, trata-se de elementos básicos e fundamentais “para a

produção de emoções e pensamentos religiosos. São banais no sentido de que seus

significados religiosos podem ser evocados independentemente de textos ou instituições

religiosas maiores” (HJARVARD, 2014b, p. 149).

2.5.2 Religiosidades no ambiente midiático e o reencantamento do Sagrado

Embasado no pensamento de Max Weber, Hjarvard (2014b) admite que o mundo

moderno, marcado pelo avanço constante da racionalidade, desencantou-se de tal maneira

que, “a imaginação mágica, a religião e as emoções – em uma palavra, a irracionalidade –

perderam terreno para a lógica onipresente das instituições modernas, e o homem moderno

gradualmente se viu aprisionado à ‘gaiola de ferro’ da racionalidade” (HJARVARD, 2014b,

p. 150).

Partindo desse contexto, e considerando os avanços no campo da mídia, Martín-

Barbero (2009) acredita que os meios de comunicação, especialmente o rádio e a televisão,

contribuíram fortemente para eliminar a distância entre o sagrado e o profano. Além do que,

na visão do autor, a chamada “Igreja eletrônica” está de alguma maneira devolvendo a magia

às religiões, pois estas haviam se intelectualizado, esfriado e se desencantado. Sob essa ótica,

confirma Gasparetto:

É o momento do reencantamento do mundo. Isto é, o mundo moderno secularizado

afetou as relações entre as pessoas, a mídia se apresenta como a motivadora através

do simbólico, do lúdico, para restabelecer o sentido perdido. É um

redimensionamento que a técnica faz no sentido de promover um novo religare,

uma aliança da técnica com o sensorial afetivo. (GASPARETTO, 2011, p. 103).

Segundo Hjarvard (2014b), as religiões podem, através dos meios de comunicação,

oferecer uma fonte de reencantamento do mundo moderno, dado que, “como condutores da

comunicação, os veículos de comunicação tornaram-se uma importante, se não a principal,

fonte de imagens e textos relacionados a magia, espiritualismo e religião” (HJARVARD,

2014b, p. 163). Contudo, adverte o autor, cumpre notar que, nem as velhas, nem as novas

modalidades de religião implicam necessariamente esse reencantamento, já que, por um lado,

a intelectualização do protestantismo moderno e, por outro, o rígido controle comportamental

entre certos grupos fundamentalistas islâmicos “são dois exemplos extremamente distintos de

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fenômenos religiosos que diminuem o potencial de encantamento da mídia” (HJARVARD,

2014b, p. 151).

Numa breve perspectiva história do processo de midiatização da religião, Hjarvard

(2014) destaca – além da transição do cristianismo de cultura oral para cultura escrita que

pavimentou sua expansão global – dois períodos históricos importantes: o primeiro refere-se à

invenção da tecnologia de impressão na Europa, por volta de 1450, a qual possibilitou a

produção e distribuição maciça dos textos cristãos, bem como o desenvolvimento de uma

relação mais pessoal entre palavra de Deus e os seguidores do protestantismo. “O

estabelecimento de uma indústria e profissão de comunicação independente, com impressores

e editores, fora dos limites da Igreja deu novo peso a outra autoridade: o mercado da literatura

religiosa” (HJARVARD, 2014, p. 139).

O segundo período, destacado por Hjarvard (2014), é mais recente. Trata-se do

desenvolvimento do tele-evangelismo nos Estados Unidos, e que depois se espalhou para o

restante do mundo, o qual ilustra essencialmente o modo como a televisão religiosa criou uma

nova plataforma pública para os movimentos evangélicos, possibilitando, inclusive, que

muitos tele-evangelistas se transformassem em célebres líderes carismáticos. Dentre os mais

famosos, segundo Gomes (2010), estavam: Pat Roberston, Rex Humbard, Billy Graham, Oral

Roberts, os quais tiveram seus programas transmitidos pela televisão brasileira, mas, “com o

tempo, eles foram sistematicamente substituídos por pregadores nacionais, tanto no rádio

quanto na televisão” (GOMES, 2010, p. 53). Nesse ponto, Martín-Barbero (2009) recorda que

o tele-evangelismo encontrou maior abertura por parte das igrejas pentecostais, as quais

destacaram-se pelo uso intensivo dos meios de comunicação de massa constituindo, assim,

uma verdadeira revolução cultural que implicou na adesão de milhões de pessoas, inclusive

católicas, ao protestantismo.

A televisão, segundo Gasparetto (2011), deixa de ser um simples meio que convoca as

pessoas para as manifestações nos templos e passa a prometer a elas que a experiência

religiosa pode ser vivenciada na comodidade de suas próprias casas. Nesse contexto,

conforme sinaliza Martino (2016, p. 67), “algumas denominações optaram por articular sua

mensagem com a linguagem dos fiéis acostumados a viver em uma sociedade midiatizada”.

Assim, destaca Hjarvard (2014b, p. 153), “a liturgia e a iconografia das religiões

institucionalizadas convertem-se em um arsenal de adereços para a encenação das narrativas

midiáticas”. Exemplo disso é a Igreja Universal do Reino de Deus que “é uma prática que já

nasceu midiática. Move-se com extrema facilidade no mundo da televisão, com uma rede que

se estende por todo o país” (GASPARETTO, 2011, p. 123).

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Hjarvard (2014) ressalta, todavia, que “mais do que servir de plataforma pública para a

difusão das ideias religiosas, a televisão modificou os próprios movimentos e organizações

religiosas” (HJARVARD, 2014, p. 139). Com efeito, explica o autor, “a televisão religiosa

introduziu novas formas de experiência religiosa e sentimentos de comunidade, bem como

influenciou a estrutura interna de poder nas organizações” (HJARVARD, 2014, p. 139).

No contexto brasileiro, conforme indica Gasparetto (2011, p. 116), “a televisão é um

exemplo de midiatização do campo religioso [...] Torna-se elemento essencial para que o

objetivo do campo religioso se concretize”. Ele destaca que o contexto histórico da religião na

TV no Brasil “começou a partir da década de 1960, com a transmissão de cultos e mensagens

religiosas pela televisão, as experiências televisivas católicas da TV Difusora, do Rio Grande

do Sul, e da TV Pato Branco, do Paraná” (GASPARETTO, 2011, p. 116). Desde então, a

Igreja Católica passa a investir, ainda que timidamente, na evangelização através de canais

televisivos não religiosos. Exemplo disso, “a Arquidiocese do Rio de Janeiro, em 1968,

começou a produzir os primeiros programas – transmissões de missas (‘Santa Missa em seu

Lar’), pela Rede Globo de televisão” (PUNTEL, 2012, p. 36).

Contudo, é somente a partir dos anos 1990 que acontece, de fato, maior investimento

por parte de dioceses e congregações em TVs católicas no Brasil (PUNTEL, 2012).

Provenientes desse contexto são, por exemplo, as seguintes emissoras católicas: Rede Vida

(1995), Canção Nova (1997, embora já fizesse retransmissões desde 1989), Rede Século 21

(1999) e TV Aparecida (2000), as quais continuam atuantes até hoje.

Muito embora a Igreja Católica tenha manifestado interesse pelos meios de

comunicação desde os primórdios da imprensa, perpassando pelo cinema, o rádio, a

televisão6, “essa preocupação tornou-se mais aguda com o desenvolvimento dos meios

eletrônicos” (GOMES, 2010, p. 130).

Com efeito, a internet e as mídias sociais são uma realidade que cada vez mais dizem

respeito à vida do crente e influem em sua “capacidade de compreensão da realidade e,

portanto, da fé e de seu modo de vivê-la” (SPADARO, 2012, p. 7). Para Spadaro (2012), os

processos midiáticos chegam a dar forma à própria realidade interferindo incisivamente na

experiência das pessoas e favorecendo uma ampliação das potencialidades humanas.

6 Nesse âmbito destaca-se a Carta encíclica Miranda Prorsus, do Papa Pio XII, 1957, sobre o cinema, o rádio e a

televisão, a qual pode ser considerada a primeira grande síntese da doutrina social da Igreja sobre a comunicação

social. Assim afirma o documento: “Os maravilhosos progressos técnicos, de que se gloriam os nossos tempos,

sem dúvida são fruto do engenho e do trabalho humano, mas são primeiro que tudo dons de Deus” (PUNTEL,

2010, p. 30).

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Se partirmos do pressuposto de que, “a rede não é um instrumento, mas um ambiente

no qual vivemos” (SPADARO, 2012, p. 7), então, a noção de religião como comumente

concebemos tende a mudar de perspectiva ou, pelo menos, deveria ser repensada enquanto tal,

haja vista que, “a tecnologia exprime o desejo do homem por uma plenitude que sempre o

supera tanto em nível de presença e relações quanto em nível de conhecimento: o ciberespaço

ressalta nossa finitude e exige uma completude” (SPADARO, 2012, p. 12).

De acordo com Hjarvard (2014), o cristianismo é desafiado de várias maneiras pela

midiatização da sociedade. Segundo ele, a nossa compreensão acerca do que significa religião

tem sido fortemente influenciada pela mídia e por várias formas de práticas simbólicas

associadas à mídia, como, por exemplo, rituais midiáticos e representações ficcionais do

sobrenatural que vão desde as chamadas “missas-shows”, na televisão ou na internet, até os

filmes hollywoodianos sobre Jesus Cristo e outras figuras bíblicas. “Nas sociedades

modernas, as mídias não só informam sobre religião, mas têm influenciado no entendimento

do que é religião” (HJARVARD, 2014, p. 265).

Hoover (2012) verifica que, no contexto das novas mídias, nos deparamos, cada vez

mais, com um tipo de fé fluida e em constante evolução, que, segundo ele, busca

agressivamente novos recursos, símbolos e experiências possibilitando, assim, uma espécie de

sincretismo através de uma fé altamente individualista e instantânea, talhada segundo as

necessidades e gostos de cada um. Diante disso, as religiões mais tradicionais, como no caso

do cristianismo, enfrentam sérios desafios, sobretudo no que se refere ao tipo de linguagem

para atrair esse novo tipo de público. Sobre isso, Spadaro (2012) sugere que a linguagem

informática também pode contribuir para a compreensão da fé, desde que se entenda a raiz

teológica de determinados termos, como “salvar”, “converter”, “justificar”, “compartilhar”

etc.

Quando se trata de lidar com o computador e os arquivos de vários tipos, atualmente

usamos continuamente palavras como ‘salvar’, ‘converter’, mas também ‘justificar’:

salvar um documento de texto, converter entre diversos tipos de formatos

eletrônicos, justificar a pagina à direita ou à esquerda. Estas três palavras são muito

conhecidas dos teólogos e por detrás delas há uma percepção importante que não

está simplesmente ligada a um modo de ‘dizer’ a fé, mas, talvez, de ‘pensá-la’.

(SPADARO, 2012, p. 32).

Segundo Martino (2016), com o advento das mídias sociais passamos da pergunta

“como as religiões usam os meios de comunicação?” para “como as religiosidades se

articulam no ambiente das mídias?” (MARTINO, 2016, p. 16). No âmbito da Igreja Católica,

as discussões a esse respeito ganharam força, sobretudo, a partir do Concílio Ecumênico

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Vaticano II7 (1962-1965) – “o concílio que se propôs a colocar a Igreja em diálogo com o

mundo moderno” (PASSOS, 2015, p. 15) – especialmente com a aprovação do Decreto Inter

Mirifica (“Entre as maravilhas”, 1963), primeira vez em que se abordou, em documento

próprio, a importância da comunicação social no processo de evangelização

(SBARDELOTTO, 2017, p. 25), no qual se reconheceram “as maravilhosas invenções da

técnica” e sua contribuição para “recriar e cultivar os espíritos” como também para “propagar

e firmar o reino de Deus”. Foi nesse mesmo período que, através da constituição pastoral

Gaudium et Spes – sobre a Igreja no mundo atual – que o Concílio declarou que “os novos e

mais perfeitos meios de comunicação social permitem o conhecimento dos acontecimentos e a

rápida e vasta difusão dos modos de pensar e de sentir; o que, por sua vez, dá origem a

repercussões em cadeia” (CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, 1997, p. 545).

Referindo-se aos impactos da mídia e seus desafios, os conciliares reconhecem que

a humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas

transformações se estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pela

inteligência e atividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem,

sobre os seus juízos e desejos individuais e coletivos, sobre os seus modos de pensar

e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas. De tal modo que podemos já

falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflete também na vida

religiosa. Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz

consigo não pequenas dificuldades. (CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II,

1997, p. 543).

Após o Concílio Vaticano II, é possível encontrar diversos documentos da Igreja8

retratando, direta ou indiretamente, a importância do diálogo com a modernidade e da

utilização dos meios de comunicação social no campo da evangelização, o que nem sempre

significou, obviamente, um avanço efetivo e eficaz na práxis pastoral, haja vista as

resistências internas e as dificuldades de adaptação inerentes a cada contexto paroquial.

7 O Concílio Vaticano II constitui o mais importante evento da Igreja Católica no século XX. Foi uma reunião

solene de bispos de todo o mundo, convocados pelo Papa João XXIII, para deliberar em comum sobre

importantes questões da sociedade, incluindo a comunicação. Pode-se considerar que, a palavra central da

mensagem do Concílio foi aggiornamento (atualização, modernização ou adaptação), pois, no entendimento de

João XXIII, a Igreja Católica não devia conformar-se em tornar-se um objeto de museu, mas devia abrir-se a um

novo aggiornamento (PUNTEL, 2010). 8 Instrução Pastoral Communio et Progressio, sobre os meios de Comunicação Social, 1971, sob o pontificado de

Paulo VI; Encíclica Redemptoris Missio, sobre a validade permanente do mandato missionário, 1990, sob o

pontificado de João Paulo II; Instrução pastoral Aetatis Novae, sobre as comunicações sociais, 1992, sob o

pontificado de João Paulo II; e, finalmente, em 2002, dois documentos publicados pelo Pontifício Conselho para

as comunicações sociais, respectivamente intitulados “Igreja e Internet” e “Ética na Internet”. Embora

anualmente, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa apresente uma mensagem, da qual se

pode também colher o pensamento da Igreja sobre a comunicação, é importante observar que, de 1971 a 1992, a

Igreja praticamente silenciou em termos de documentos sobre a comunicação (PUNTEL, 2010, p. 53).

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Não obstante os desafios, Sbardelotto (2017) identifica que, após o Concílio, diversas

iniciativas foram tomadas pelo Vaticano no tocante aos meios de comunicação, dentre elas, a

inauguração do site da Santa Sé (www.vatican.va), em 1997. Em 2001, João Paulo II, “el

primer papa mediático” (VERÓN, 2001, p. 15), enviou o primeiro e-mail pontifício no qual

foi anexada a exortação pós-sinodal Ecclesia in Oceania. Em 2011, o papa Bento XVI lançou

mundialmente o portal News.va que reúne em um único site as notícias produzidas pelas

diversas mídias do Vaticano. Em 13 de dezembro de 2012, ainda no papado de Bento XVI,

foram criadas as contas @pontifex no Twitter, em nove idiomas, as quais foram

potencializadas no pontificado de Francisco. Em 27 de junho de 2015, o papa Francisco

instituiu a Secretaria para a Comunicação, o novo Dicastério da Cúria Romana, dando origem

ao Vatican News, novo sistema de informação da Santa Sé. Finalmente, em 19 de março de

2016, foi criado o perfil @franciscus na rede social Instagram, objeto de análise deste estudo.

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3 CULTURAS DA CELEBRIDADE E DO ENCONTRO: AVANÇOS E TENSÕES NO

CAMPO RELIGIOSO

3.1 Da renúncia de Bento XVI à eleição de Francisco: um evento midiatizado

No auge de uma crise de credibilidade que afeta os mais diversos tipos de autoridades

e instituições religiosas, a Igreja Católica enfrentou um momento de particular fragilidade

com a surpreendente renúncia do papa Bento XVI, anunciada em 11 de fevereiro de 2013, e

que teve grande repercussão dentro e fora da Igreja, sobretudo por se tratar de “um

acontecimento inédito na era contemporânea” (SIMÕES; FERREIRA, 2015, p. 72), visto que

“o único precedente conhecido remonta a mais de sete séculos com a renúncia voluntária do

Papa Celestino V” (GASQUES, 2013, p. 16).

Embora Bento XVI tenha dito em sua carta de renúncia que chegou “à certeza de que

as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o

ministério petrino” (PAPA BENTO XVI, 2013), houve muitas especulações por parte da

mídia, conforme sinaliza Gasques (2013, p. 16): “a renúncia do Papa caiu como uma luva de

grandíssima oportunidade para esse instante de interlúdio midiático”, já que tal acontecimento

foi estampado nos principais meios de comunicação do mundo.

O impacto midiático, contudo, não se deu apenas através do rádio e da televisão, mas,

sobretudo, pelas mídias sociais. Conforme destaca Sbardelotto (2017), o mundo ficou sabendo

da renúncia, de antemão, também via Twitter, graças à jornalista italiana Givanna Chirri, que

acompanhava a transmissão da reunião ao vivo e fez a tradução simultânea do latim: “Foi ela

que disparou o tuíte que provocaria um abalo em todas as redações do mundo, dizendo em

italiano: Bento XVI renuncia. Deixa o Pontificado a partir do dia 28 de fevereiro”

(SBARDELOTTO, 2017, p. 115).

Após a renúncia do papa, oficializada em 28 de fevereiro de 2013, iniciou-se no

Vaticano o período chamado de “sede vacante”, ou seja, o intervalo em que a “Cátedra de

Pedro” fica vazia até a eleição de um novo papa. Aqui, é interessante perceber como a Santa

Sé lidou com o episódio do ponto de vista midiático, a partir do perfil de Bento XVI no

Twitter.

Os tuítes de Bento XVI foram deletados de todas as contas @Pontifex e repassados

para um arquivo da página News.va, por sua vez, a Santa Sé modificou a interface da

conta, alterando a foto do perfil (não mais uma foto de Bento XVI, mas o brasão da

Sé vacante) e também no nome do perfil (não mais Bento XVI, mas “Sede Vacante”,

ou seja, o termo latino que indica que a sede papal está vaga). (SBARDELOTTO,

2017, p. 115).

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Figura 1 - Twitter @Pontifex como “Sede Vacante”, após a renúncia de Bento XVI

Fonte: Benitez (2013).

A conta @Pontifex no Twitter ficou vacante, isto é, sem postagens, durante os 13 dias

de reuniões dos cardeais e o conclave que elegeria o papa Francisco no dia 13 de março de

2013 (SABEDELOTTO, 2017). O perfil só foi reativado após a fumaça branca indicar o

nome do novo líder da Igreja Católica. Esse gesto, do ponto de vista comunicacional, é

bastante simbólico e denota que “a relação mediada pela rede é sempre necessariamente

incompleta, se não estiver atrelada à realidade” (SPADARO, 2012, p. 61). Com efeito, indica

Serelle (2016, p. 89), “se não podemos, de fato, viver fora dessa mediação9, cabe-nos, a todo

momento, pensar as relações e as frestas entre o vivido e o representado”. Deste modo,

reconheceremos que, “embora necessária, a mediação é inevitavelmente incompleta e não

deve ser usada para nos afastar do mundo” (SERELLE, 2016, p. 89).

Da renúncia de Bento XVI à eleição de Francisco, a Igreja Católica tornava-se o centro

das atenções. Não faltaram assuntos para a mídia. Em torno da renúncia de Ratzinger, por

exemplo, levantaram-se muitas hipóteses: quais as razões que o levaram a tomar tal decisão?

Vazamento de documentos papais para a imprensa? Abusos sexuais? Intrigas? Roubos no

banco do Vaticano? Pressão por parte da Cúria Romana? Todos queriam saber “os reais”

motivos de sua renúncia.

9 De acordo com Silverstone, “a mediação é compreendida como um processo múltiplo, transformativo e

assimétrico, que envolve dimensões tecnológicas e sociais. Fundamental para o modo como nos relacionamos

com o outro no cotidiano, a mediação da mídia possui implicações éticas” (SERELLE, 2016, p. 75).

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Nesse contexto, Gasques (2013) recorda que os jornais La Republica e La Stampa

teriam apresentado um suposto relatório sobre os escândalos dentro do Vaticano, afirmando

que estes teriam forçado a renúncia de Bento XVI. Baseado no suposto relatório, Leonardo

Boff comentou:

O conteúdo gravíssimo destes relatórios reforçara, no meu entender, a vontade do

Papa de renunciar. Aí se comprova uma atmosfera de promiscuidade, de luta de

poder entre ‘monsignori10’, de uma rede de homossexualismo gay11 dentro do

Vaticano e desvio de dinheiro do Banco do Vaticano. Como se não bastassem os

crimes de pedofilia em tantas dioceses que desmoralizaram profundamente a

instituição-Igreja. (GASQUES, 2013, p. 24).

Gasques (2013) observa que, embora muitas vezes “apedrejado” pela mídia

internacional, não há como negar que a figura do papa ainda atrai o olhar das multidões, além

de movimentar milhões de turistas e, claro, muito dinheiro. Na visão do autor, apesar da crise

de autoridade que afeta a instituição católica, é inegável que o papa ainda seja uma “pessoa de

estima religiosa, social e política de grandeza inigualável às demais autoridades seculares”

(GASQUES, 2013, p. 21).

Quando começaram as reuniões do conclave que elegeria o novo papa, a mídia,

sempre ávida por novidades, intensificou suas especulações tentando, a qualquer custo,

adivinhar quem seria o novo líder da Igreja Católica, ou, ainda, que características o religioso

deveria possuir para ser “digno” do cargo. “Perfilaram as mais ilustres figuras dos cardeais

concorrentes ao pontificado. A mídia sensacionalista estava a desejar um novo papa que

fizesse tudo aquilo que ela deseja” (GASQUES, 2013, p. 21-22).

Para a cobertura da sucessão papal, o Vaticano registrou o credenciamento de 3.641

jornalistas, pertencentes a 968 empresas, provenientes de 61 países e 24 idiomas diferentes

(GASQUES, 2013). “Foram milhares de páginas escritas e centenas de horas em rádio e

televisão tentando acertar o nome do futuro papa para a Igreja Católica” (GASQUES, 2013, p.

24).

Os meios de comunicação intensificavam a expectativa dizendo a cada instante: “a

identidade do novo líder da Igreja Católica Romana deverá ser divulgada em minutos”

10 Durante muitos séculos, o Bispo de Roma costumava conceder títulos honoríficos aos sacerdotes dentro da sua

Casa Pontifícia, dentre eles, o de monsenhor. Bastante ambicionado pelos padres, o título foi usado ao longo dos

anos e logo foi dado a sacerdotes fora de Roma com a recomendação de um bispo; entretanto, no primeiro ano

do pontificado de Francisco, essa “honraria” foi “congelada” por tempo indeterminado, exceto em casos

específicos outorgados pelo próprio papa. 11 A terminologia correta é homossexualidade, haja vista que a expressão homossexualismo, além de pejorativa,

tende a considerar esta dimensão humana como uma patologia. “Etimologicamente, homossexualidade é uma

palavra composta de um prefixo grego (òmos) que significa ‘igual’ e de uma raiz latina (sexus) que significa

sexo e pode ser usada para designar tanto o homem quanto a mulher” (GOMES; TRASFERETTI, 2011, p. 24).

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(GASQUES, 2013, p. 34). Embora as resoluções do conclave se caracterizem como um dos

segredos mais bem guardados do Vaticano, a mídia não se conteve em presumir e citar vários

nomes, inclusive dos cardeais brasileiros Dom Odilo Scherer e Dom Cláudio Humes, como

supostos pretendentes a ocupar o posto de Bispo de Roma.

Era 13 de março de 2013. Milhares de fiéis superlotavam a Praça de São Pedro e

comungavam da mesma curiosidade. Dezenas de câmeras apontam para a janela do Vaticano

e, de repente, a fumaça branca confirma: “Habemus Papam: Jorge Mario Bergoglio”.

Veículos de comunicação do mundo inteiro se voltam para o Vaticano. A multidão estupefata

ergue seus celulares para eternizar o momento. Enquanto o novo papa saúda a multidão com

um simples “irmãos e irmãs, boa noite”, jornalistas dos mais diversos cantos do mundo

tentam, como uma espécie de “desafio biográfico” – para usar uma expressão de François

Dosse (2009) – responder à importante pergunta “quem é Jorge Mario Bergoglio?”.

De acordo com Dosse (2009), textos biográficos podem ser classificados em três

etapas ou modalidades, quais sejam: a Idade Heroica, a Modal e a Hermenêutica. Tais

abordagens, segundo o autor, não se dão, necessariamente, de modo isolado, uma vez que,

ambas podem surgir em um único período de tempo como também podem aparecer em uma

mesma obra, caracterizando, assim, a pluralidade e hibridez presentes no gênero biográfico

desde suas origens.

A primeira categoria, Idade Heroica, na visão de Dosse (2009), vai da antiguidade

clássica até a modernidade, e busca apresentar a história das vidas exemplares, por meio

de narrativas de heróis inspiradores, por meio de suas histórias edificantes com misto de

realidade e ficção. Nesse sentido, a figura retratada torna-se referência, exemplo virtuoso

a ser imitado. Uma característica marcante desse estilo é sua linearidade temporal, já que

os fatos seriam ordenados cronologicamente da infância para a maturidade.

Na segunda categoria, chamada Idade Modal, inclui biografias produzidas durante o

século XX, nas quais o indivíduo biografado não é mais apresentado como modelo a ser

seguido, já que seus valores só têm relevância na medida em que traduzem o sentido

coletivo de sua época. Conforme eclarece Dungue (2011), na Idade Modal,

o singular se torna uma forma de conhecer o geral, desse modo, o leitor seria capaz

de entender o comportamento médio dos diferentes grupos sociais daquele momento

específico. O percurso do biografado, recuperado por meio do relato, representa não

apenas o individual, mas também, em uma perspectiva mais ampla, o contexto de

sua época. (DUNGUE, 2011, p. 45).

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A terceira e última categoria biográfica, a Hermenêutica, caracteriza-se pela

multiplicidade de identidades, e seu discurso é predominantemente reflexivo, como uma

espécie de metabiografia, através da qual o biografado passa a ser abordado como o alter ego

e como uma entidade que permite ao autor da biografia se ver diante de um espelho ou

estranhar a si mesmo, a cultura, a sociedade e os valores que o moldaram (DUNGUE, 2011).

Aqui, explica Dungue (2011), a unidade biográfica passa a ser decomposta, considerando o

homem não apenas em sua singularidade, mas também tentando abarcar a sua identidade

múltipla, que, por isso mesmo, aparece representada de forma fragmentária pelos biógrafos,

em nosso caso, pelos jornalistas e as diversas mídias.

3.2 Bergoglio na mídia: fragmentos de uma biografia

Desde que foi eleito papa, centenas de livros, nas mais variadas línguas, foram escritos

com a finalidade de desvelar o “verdadeiro” rosto de Francisco, bem como o seu pensamento

e postura acerca dos mais diversos temas. Interessa-nos, por ora, não a imagem de Francisco

construída pelos livros e biografias, mas, a imagem midiatizada e amplamente difundida

desde sua eleição como Bispo de Roma, haja vista que é essa imagem das mídias sociais que

mais contribui para o seu processo de celebrização social.

Para esta percepção inicial acerca do papa Francisco, selecionamos matérias de alguns

sites famosos (The Guardian, Le Monde Diplomatique, Clarín etc.; portal G1, Exame, Terra,

O Globo, etc.) e observamos as principais características e virtudes de Bergoglio destacadas

por estes sites.

Após a eleição de Francisco, os veículos de comunicação, imbuídos de rapidez que lhe

é própria, começaram a traçar um “perfil” do novo papa. Na imprensa, na televisão, no rádio

e, sobretudo, na internet, todos queriam, urgentemente, saber a sua origem, sua formação, sua

história e seus gostos. Radical? Conservador? Progressista? As respostas eram as mais

variadas possíveis. Minuto a minuto circulavam dezenas de informações e curiosidades sobre

o novo Bispo, cada mídia ressaltando, obviamente, aspectos que considerava relevantes à sua

própria audiência.

Sites como O Globo (Brasil), Hoy (Ecuador), Le Monde Diplomatique (França) Clarín

(Argentina), no arroubo da pressa, cometeram gafe ao referir-se ao novo papa como Francisco

I contrariando, assim, o que diria em seguida o Vaticano: Bergoglio se chamará “apenas”

Francisco, em referência ao patrono da ecologia, Francisco de Assis.

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A propósito, no dia seguinte à eleição do “papa do fim do mundo”12, o jornal britânico

The Independent destaca em seu site três aspectos de Francisco: “homem humilde que saiu de

um palácio para um apartamento, cozinha suas próprias refeições e viaja de ônibus”

(VALLELY, 2013); O jornal francês Le Figaro chama atenção para o fato de ele ser Jesuíta e

próximo aos pobres (POUYAT, 2013); O The Guardian explica o sentido simbólico por trás

da escolha do nome Francisco (HOOPER, 2013). O famoso Clarín, da Argentina, destaca,

obviamente, o fato de Francisco ser Argentino (CLARÍN, 2013). E, assim, foi-se criando uma

espécie de narrativa biográfica (SIMÕES, 2012) do novo líder da Igreja Católica, a partir da

ótica midiática. Nesse sentido, vale recordar que, “ao olhar para as trajetórias de vida das

celebridades, construídas cotidianamente pela mídia, é importante olhar para esses dois eixos:

a biografia do protagonista de uma trajetória e o contexto em que esta se insere” (SIMÕES,

2012, p. 100).

Figura 2 - Matéria do site The Independent, dia seguinte à eleição de Francisco

Fonte: Vallely (2013)

Figura 3 - Matéria do site Le Figaro, logo após à eleição de Francisco

Fonte: Pouyat (2013)

12 Expressão utilizada pelo próprio Bergoglio, em sua primeira aparição pública, dia 13 de março, na Praça São

Pedro, no Vaticano.

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Figura 4 - Matéria do site The Guardian, logo após a eleição de Francisco

Fonte: Hooper (2013)

Figura 5 - Matéria do site argentino Clarín, logo após a eleição de Francisco

Fonte: Clarín (2013)

Após o anúncio “Habemus Papam”, o jornal do Vaticano L'Osservatore Romano

publicou uma edição extra com uma ampla biografia sobre o papa Francisco, esclarecendo,

inclusive, possíveis Fake News a respeito do novo Pontífice (SCAVO E BERETTA, 2018).

Cada gesto ou palavra de Francisco virava notícia e, rapidamente, percorria o mundo.

Por exemplo, o Jornal Nacional, da Rede Globo, dedicou cerca de 8 minutos para relatar

detalhes da eleição de Francisco e, ao discorrer como foi seu primeiro dia como líder do

Vaticano, destacou sua “simplicidade nos hábitos” (REDE GLOBO, 2013).

Um dos aspectos mais enfatizados pelos meios de comunicação foi, certamente, a

simplicidade do novo papa. O jornal brasileiro O Estado de S. Paulo escreveu: “Francisco usa

a simplicidade para reconquistar o mundo” (KATIA, 2013). Site Terra especulava:

“Simplicidade do Papa Francisco antevê transformações no Vaticano. Francisco já apresenta

um estilo próprio, simples, com gestos muito apreciados pelos fiéis e a opinião pública, que

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veem sua chegada como um ar novo para a Igreja” (TERRA, 2013). O site Gauchazh relatou

algumas qualidades do novo papa:

Papa Francisco: homem simples, humilde, de estilo discreto. Os hábitos do papa

Francisco, que costumava usar o transporte público em Buenos Aires, evitava o

brilho pessoal e nem mesmo comprou uma nova vestimenta quando foi ordenado

cardeal por João Paulo II, em 2001, contrastam com o ambiente sofisticado do

Vaticano, que passa a comandar agora. (GONZATTO, 2013).

O portal G1 destacava em manchete principal: “Veja o perfil do argentino Jorge Mario

Bergoglio, o novo Papa Francisco. Eleito tem 76 anos, nasceu em Buenos Aires e formou-se

técnico químico. Bergoglio virou sacerdote quase uma década após perder um dos pulmões”

(PORTAL G1, 2013A). Por fim, o site Exame, com uma pitada de humor, dizia: “Bergoglio,

o papa que sofre pelo time de futebol do coração. Ele é torcedor do time San Lorenzo de

Almagro, que foi fundado por um sacerdote” (EXAME, 2013).

Alguns meios de comunicação passaram horas, por exemplo, indagando sobre os

motivos que o levaram a escolher o nome de Francisco. Outros, ainda, ressaltavam a modéstia

de suas vestes brancas, de sua cruz peitoral, e indagavam sobre o fato de Francisco preferir

sapatos pretos em vez dos vermelhos luxuosos. Assim enfatizou o portal G1: “Papa Francisco

usa sapatos pretos em audiência com jornalistas. Não existe regra que obrigue uso dos

calçados na cor vermelha. No entanto, os calçados vermelhos são considerados tradicionais”

(PORTAL G1, 2013B).

A mídia, desde a eleição papal, tem explorado e enaltecido algumas características de

Francisco (simplicidade, discrição, proximidade, homem de diálogo, papa do povo, dentre

outras). Partindo desse estereótipo ou dessa imagem de Francisco amplamente difundida pela

mídia podemos nos questionar se tal imagem condiz com aquela construída “por ele” em seu

perfil do Instagram. É o que tentaremos, de algum modo, observar em nossa análise13.

A imagem de “papa humilde”, construída e enaltecida pela mídia, segundo Gasques

(2013), deve-se, sobretudo, ao fato de Francisco mostrar-se diferente em relação às demais

autoridades que se conhece. Na visão do autor, Francisco transcende à velha ideia de que

“toda autoridade reserva um ar de superioridade e de excentricidade próprio do poder que

13 Embora o nosso “foco biográfico” não sejam os livros sobre o papa, vale ressaltar uma curiosidade a este

respeito. Se compararmos as notícias dos sites com os títulos das obras, algumas delas publicadas em português,

veremos que há muita semelhança quanto às qualidades destacadas em relação ao pontífice: HIMITIAN,

Evangelina. A Vida de Francisco - o Papa do Povo, Objetiva, 2013; ESCOBAR, Mario. Francisco - o papa da

simplicidade, Harper Collins BR, 2013; PIQUE, Elisabetta. Papa Francisco - vida e revolução, Leya casa da

palavra, 2014; ENGLISCH, Andreas. Francisco - o Papa dos humildes, Universo dos livros, 2013; PART,

Michael. O Papa que ama o futebol - a Inspiradora história do menino que se tornou o Papa Francisco, Editora

Valentina Ltda, 2014.

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exerce” (GASQUES, 2013, p. 43), já que o seu estilo de liderança está muito mais pautado na

fraqueza e humildade que no poder e no domínio (NOUWEN, 2018). No fundo, Francisco

compreende que “o êxito, a fama, a influência, o poder e o dinheiro não nos transmitem a

alegria e a paz interiores por que ansiamos” (NOUWEN, 2012, p. 31).

Portanto, para além da superficialidade midiática e dos estereótipos reforçados pela

mídia é importante considerar alguns aspectos da comunicação de Francisco já que este, na

visão de Gasques (2013), tem surpreendido a muitos, não tanto por sua autoridade ou

eloquência, mas, sobretudo, por sua simplicidade, sorriso espontâneo, improvisação das

homilias e discursos, pelo estilo modesto de se apresentar e, sobretudo, pelo carisma embutido

em sua personalidade aberta e espontânea.

3.3 A comunicação do papa: um retorno à cotidianidade

O que há de incomum em carregar a própria maleta ao entrar em um avião? O que há

de errado em preferir sapatos pretos e modestos a sapatos vermelhos e sofisticados? O que há

de tão extraordinário em pagar a própria conta do hotel ou ir à ótica trocar as lentes dos

óculos? Todos esses gestos, aparentemente simples e corriqueiros poderiam, certamente,

passar despercebidos se o seu protagonista não fosse o próprio papa.

Diante da repercussão midiática dos gestos do novo papa, o jornal italiano Corriere

della sera classificou a maneira espontânea e próxima com que Francisco se comunica com os

jornalistas e a mídia como um verdadeiro “paradoxo comunicativo” (SCELZO, 2013, p. 276),

já que sua forma de se comunicar, na maioria das vezes, dispensa protocolos e supera as

formalidades. Sua maneira de tratar os jornalistas, com leveza e bom humor, faz com que a

comunicação flua com maior naturalidade, mesmo quando os temas não são tão simples de

serem abordados como a questão do aborto, da homossexualidade ou do abuso de menores na

Igreja.

Além da grande repercussão nos mais diversos meios de comunicação, os gestos de

Francisco causaram não apenas surpresa e admiração, mas uma espécie de endeusamento

midiático o que, de certa forma, contribuiu para “suavizar” algumas questões espinhosas

envolvendo a Igreja. “Os pequenos gestos dos primeiros dias do papa Francisco dominaram o

noticiário sobre o vaticano e deixaram em segundo plano as denúncias de corrupção e

pedofilia” (GASQUES, 2013, p. 45). Na avaliação de especialistas em marketing político, “o

Pontífice argentino, com atitudes cuidadosamente estudadas, conseguiu mudar, pelo menos

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neste primeiro momento, a imagem da Igreja Católica, já que o marketing da simplicidade

tem uma descomunal força de atração em todas as classes sociais” (GASQUES, 2013, p. 45).

Conforme sinalizamos anteriormente, desde sua eleição, cada pronunciamento e cada

gesto público de Francisco foram amplamente acompanhados e reproduzidos pelas mídias.

Exemplo disso foi o impacto midiático de sua visita ao Brasil, em 2013, por ocasião da

Jornada Mundial da Juventude, sua primeira viagem internacional. Spadaro (2013) recorda

que sua primeira viagem foi marcada por uma comunicação próxima e um apelo simbólico à

normalidade: “Esse evento extraordinário foi todo marcado por gestos corriqueiros, comuns.

Essa normalidade, aliás, caracteriza o pontificado do papa Francisco desde o momento de sua

eleição” (SPADARO, 2013, p. 13).

Na ocasião, uma foto do papa carregando sua maleta viralizou nas mídias sociais e,

rapidamente, percorreu o mundo. Francisco ficou surpreso com a repercussão.

A maleta preta foi registrada por muitos fotógrafos e comentada por numerosos

jornalistas que julgaram incomum um papa carregar a própria bagagem. ‘Não tinha a

chave da bomba atômica!’ – comentou o Papa durante a viagem de volta, ironizando

toda aquela atenção, que o deixou surpreso. ‘Eu a carregava porque sempre fiz isso:

quando viajo, levo minhas coisas. E o que tem dentro? Um barbeador, o breviário, a

agenda, um livro para ler – levei um sobre Santa Terezinha, de quem sou devoto.

Sempre levei minha bagagem quando viajo: é normal. Mas precisamos ser normais’.

E continuou: ‘Temos de nos acostumar a ser normais, à normalidade da vida’.

(SPADARO, 2013, p. 13).

Figura 6 - Francisco carrega sua maleta na volta da JMJ, Brasil 2013

Fonte: Ansa (2013

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Figura 7 - Papa Francisco a caminho do Panamá, JMJ 2019

Fonte: Vatican News (2019)

De acordo com Marco Belpoliti, o simples gesto de carregar a própria maleta denota

“afeição, continuidade, parcimônia”. Ele explica que, “olhando bem, é a velha maleta que o

cardeal Bergoglio usava no metrô, em Buenos Aires, quando visitava os bairros da periferia,

apenas um pouco desgastada e corroída pelo uso” (BELPOLITTI, 2013).

O ex-cardeal argentino não esquece, com a pasta na mão, a sua origem jesuíta, seja

no estilo sóbrio e essencial, seja na forma direta com a qual parece administrar as

coisas no Vaticano. A pasta de professor, portanto, também é a do jesuíta dirigente,

homem prático e à mão, acostumado a reflexões abundantes e decisões rápidas.

(BELPOLITTI, 2013).

O cardeal Wojtyla (papa João Paulo II), vale recordar, também passou por algo

semelhante quando, em 1963, em visita à sua antiga diocese, recém-chegado ao limite do

território milanês, fez com que o carro em que viajava parasse, desceu e beijou o chão. Aquele

gesto foi impactante e repercutiu enormemente nos meios de comunicação da época. Ao

tornar-se papa repetiu o gesto em todas as suas viagens durante seus 27 anos de pontificado.

“Depois do Papa Wojtyla, esse gesto de se ajoelhar e beijar o chão que visita, por parte dos

pontífices, se tornou habitual. Talvez o papa com uma maleta também vai se tornar algo

normal, de agora em diante” (BELPOLITTI, 2013).

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Figura 8 - Papa João Paulo II beija o chão em sinal de humildade

Fonte: Geremias (2015)

Com base em notícias exaustivamente circuladas nas mídias sociais, após a eleição de

Francisco, Gasques (2013) elenca 13 atitudes e gestos que revelam traços bastante simbólicos

da comunicação do novo líder da Igreja Católica: 1) ao ser escolhido como o novo papa,

Bergoglio não se sentou no trono, mas ficou de pé para receber os cumprimentos; 2) não usou

ornamento com ouro para se apresentar ao mundo; 3) em sua primeira aparição pública,

proferiu uma saudação simples na Praça de São Pedro: “irmãos e irmãs, boa noite”; 4) falou

como bispo de Roma e não como “autoridade” mundial; 5) na primeira saudação, curvou-se

diante da multidão e pediu para o povo rezar por ele; 6) já eleito papa, seguiu de ônibus para a

Casa Santa Marta onde estava hospedado; 7) em sua primeira manhã como papa, após ir rezar

na Basílica de Santa Maria Maior, foi pagar a conta do hotel; 8) após a eleição papal,

Francisco telefonou para o jornaleiro e o dentista; 9) dispensou os sapatos vermelhos adotados

por seus antecessores; 11) pediu aos argentinos que, ao invés de se deslocarem a Roma para

participar da missa de inauguração do pontificado, guardassem o dinheiro da viagem e o

dessem aos pobres; 12) na missa inaugural de seu pontificado, o papa Francisco desceu do

papamóvel para beijar uma pessoa com deficiência; 13) preferiu morar na Casa Santa Marta,

próximo a pessoas comuns, a viver “sozinho” no Palácio Papal, conforme manda a tradição.

Na perspectiva de uma comunicação próxima e simbólica, suscitada pelos gestos de

Francisco, o Cardeal Martini (1994) já havia recordado que não existe tradição religiosa que

não tenha recorrido a este tipo de comunicação. Tais formas de evangelização, segundo ele,

“sempre existiram na Igreja e que, talvez, os últimos séculos, condicionados pelo domínio da

razão, nos fizeram esquecer um pouco” (MARTINI, 1994, p.76).

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Segundo Martini (1994, p. 76) “parece que existe hoje um descuido em relação às

linguagens simbólicas e poéticas em favor de uma comunicação exata, rigorosa, controlada”.

Neste sentido, a comunicação do papa Francisco busca transcender todo e qualquer tipo de

rigorismo que impede o encontro verdadeiro e próximo entre as pessoas. Para tanto, é preciso

abertura e ressignificação da própria linguagem:

Não podemos negar à linguagem humana a validade de instrumentos e significados

muito maior. É experiência que fazemos frequentemente: por vezes as palavras não

são suficientes para manifestar a riqueza dos nossos sentimentos. Recorremos,

então, por exemplo, a gestos, a sinais, a símbolos que nos ajudem a comunicar o que

as palavras não são capazes de expressar. Todo presente, por exemplo, é guiado por

esta comunicação não puramente verbal, mas simbólica, ou seja, pela capacidade de

estabelecer uma comunicação mais rica do que as palavras. De fato, todos os

símbolos são mais expressivos, descortinam para além dos significados imediatos e

literais valores posteriores da comunicação. (MARTINI, 1994, p.80).

De acordo com Sbardelotto (2013), desde sua eleição, o papa Francisco tem sido um

exemplo da íntima ligação entre palavra e gesto, discurso e ação, anúncio e testemunho,

reflexão e prática. Dessa forma, sinaliza o autor, Francisco não apenas reconhece esse “outro”

multitudinário que está à sua frente, mas, defende que todas as pessoas têm algo a oferecer, as

quais demandam uma atitude contínua de escuta, abertura e acolhida.

O prefeito da secretaria de comunicação do Vaticano reconhece que o papa Francisco

“virou do avesso o estilo de comunicação do papado” (VIGANÒ, 2016, p. 7), uma vez que

sua maneira de se comunicar demonstra “instantaneidade, espontaneidade, sinceridade,

convicção” (VIGANÒ, 2016, p. 7).

Viganò (2016) defende que a comunicação de Francisco é uma comunicação global,

visto que ele fala indistintamente a todos e não exclui ninguém, embora busque dirigir-se

principalmente às periferias existenciais do mundo. “Ele mesmo faz-se comunicação com

seus gestos, sua espontaneidade, sua instantaneidade” (VIGANÒ, 2016, p. 7). Dizer, porém,

que sua comunicação é global não significa que não haja críticas e discordâncias,

especialmente no âmbito mais conservador da Igreja.

O fato é que Francisco tornou-se, em pouco tempo, uma das figuras públicas mais

comentadas e seguidas nas redes sociais. No Twitter, por exemplo, as nove versões

idiomáticas das contas @Pontifex alcançaram, até outubro de 2017, a marca de 40 milhões de

seguidores (EFE, 2017). Esse número equivale a mais de 10 vezes a quantidade de seguidores

deixada de herança pelo papa emérito Bento XVI (SBARDELOTTO, 2017).

No final de 2013, o papa Francisco foi eleito a pessoa do ano pela revista Time. A

publicação dizia que Bergoglio havia tirado o papado do palácio para levá-lo às ruas e

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suscitava a questão “como é que se pratica a humildade a partir do trono mais exaltado da

Terra?”.

Raras vezes um novo protagonista do palco mundial conseguiu chamar tanta atenção

tão depressa – a novos e velhos, fiéis e cínicos – como o Papa Francisco. No espaço

de nove meses, desde que assumiu funções, ocupou exatamente o centro das

conversas fulcrais dos nossos tempos: sobre a riqueza e a pobreza, a equidade e a

justiça, a transparência, a modernidade, a globalização, o papel das mulheres, a

natureza do casamento, as tentações do poder. Numa época em que os limites da

liderança são postos à prova em tantos lugares, eis que surge um homem sem

exército nem armas, sem reino a não ser um pequeno punhado de terra no meio de

Roma, mas com a vasta riqueza e o enorme peso da História atrás de si, para nos

lançar um desafio. Quando uma pessoa é uma celebridade aos olhos dos media,

todas as palavras que diz são dissecadas. Quando ele beija o rosto de um homem

desfigurado ou lava os pés a uma mulher muçulmana, a imagem ressoa muito além

das fronteiras da Igreja Católica. (GIBBS, 2013).

Figura 9 - Papa Francisco na capa da revista Time, 2013

Fonte: Gibbs (2013)

Em menos de um ano de seu pontificado, Francisco aparece, no início de 2014, em

outra capa de revista famosa, desta vez na revista de cultura pop Rolling Stone, que enfatizou

que os tempos estão mudando no Vaticano. Além disso, a edição destacou que, desde à

eleição de Bergoglio, o número de visitantes à praça de São Pedro triplicou para 6,6 milhões.

A revista reforçou ainda a simplicidade do líder religioso que, ao enfatizar sua preferência

pelos pobres, prefere um Ford Focus em vez de uma limusine com motorista (ROLLING

STONE, 2014).

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Figura 10 - Papa Francisco na capa da revista Rolling Stone, 2014

Fonte: Rolling Stone (2014)

Quando o papa Francisco aderiu ao Instagram, em março de 2016, alcançou a marca

de 1 milhão de seguidores em apenas 12 horas, e manteve-se no ranking até o início de 2019,

quando foi superado pelo cantor de K-Pop, Kang Daniel, de 22 anos, que alcançou 1 milhão

de seguidores em apenas 11 horas e 36 minutos (EXTRA, 2019).

Além dos dois perfis oficiais do papa Francisco no Twitter e Instagram, existem, no

Facebook, vários perfis e páginas dedicadas ao papa, como, por exemplo, “Papa Francisco –

Amigos e Amigas”, com 4.240.668 curtidas; “Francisco, o Papa da humildade”, com 354.905

curtidas; “Papa Francisco”, com 3.451.302 curtidas, etc. Além disso, no YouTube, existem os

canais oficiais Vatican News – em vários idiomas. Na conta em português há mais de 43 mil

inscritos – e The Pope Video também em vários idiomas, incluindo o português, com mais de

6 mil inscritos.14

Portanto, as mensagens e vídeos do papa Francisco são vistos e compartilhados por

milhões de pessoas das mais diversas denominações religiosas. Interessado em debater os

mais variados temas da sociedade (meio ambiente, aborto, homossexualidade, ordenação de

mulheres, tecnologia, etc.) o papa Francisco é considerado “uma personalidade de relevo

mundial, um grande comunicador global [...]. Em nome de todos os que acreditam na

comunicação transformadora em diálogo, colóquio, justiça, anúncio e fraternidade”

(VIGANÒ, 2016, p. 7).

Além da projeção em revistas de celebridades e nas mídias sociais, Francisco teve sua

biografia narrada em diversos documentários – “Papa Francisco conquistando corações”,

Pablo Bossi e José Ibáñez, 2015; “Pode me chamar de Francisco”, seriado da Netflix, 2016;

“Pope Francis: a man of his word”, Wim Wenders, 2018. Em 2015, porém, a grande surpresa

14 Conforme acesso em 25 de fevereiro de 2019.

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foi o lançamento de “Wake Up!”, o CD de rock do papa Francisco, contendo onze faixas nas

quais o pontífice declama cânticos em italiano, espanhol, inglês e português.

Figura 11 - Filme Papa Francisco conquistando corações, 2015

Fonte: Forlin (2017)

Figura 12 - Série da Netflix “Pode me chamar de Francisco”, 2016

Fonte: Junior (2017)

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Figura 13 - Filme “Papa Francisco, homem de Palavra”, 2018

Fonte: Wenders (2014)

Figura 14 - “Wake Up!”, o CD de rock do papa Francisco, 2015

Fonte: Folha de São Paulo (2015)

Adepto da simplicidade e do desapego, Francisco costuma criticar a idolatria do poder

e do dinheiro, dentro e fora da Igreja; frequentemente questiona seus seguidores sobre a busca

desenfreada por elogio e fama. Tudo isso, porém, ao invés de torná-lo “mais um” papa como

tantos outros que passaram pelo Vaticano, acaba por atrair ainda mais o olhar midiático, visto

que, a sua performance não apenas evoca valores importantes para a humanidade, como ele

próprio, com seus exemplos e gestos, torna-se uma inspiração para muitos, dentro e fora do

ambiente religioso. Diante desse paradoxo consideramos importante nos debruçar não apenas

sobre o que Francisco pensa acerca dos diversos temas da atualidade, mas, também, de que

maneira a sua performance possibilita ou corrobora a sua elevação ao status de celebridade.

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3.4 Francisco: de servo de Deus a celebridade

A consolidação da internet e o fortalecimento das mídias sociais possibilitaram a

lideranças e atores religiosos “novas oportunidades de comunicação com seus seguidores e

com o público em geral” (HJARVARD, 2014, p. 140). Desse modo, como observa Hjarvard

(2014), a midiatização da religião confere a seus líderes a possibilidade não apenas de

reconquistar a credibilidade, mas também de “estreitar laços com seus irmãos de fé e criar um

novo sentido de presença e comunidade” (HJARVARD, 2014, p. 140).

Se partirmos do pressuposto de que a mídia é “o meio ou dispositivo através do qual a

fama se espraia e se estabelece” (FRANÇA, 2014, p. 20), podemos facilmente intuir que a

nossa sociedade, envolta em crises e infinitas conexões, nunca esteve tão apta à fabricação de

celebridades, ou seja, ao surgimento de pessoas que “ostentam aquilo que uma determinada

sociedade, num determinado momento, valoriza” (FRANÇA, 2014, p. 25). A celebridade, em

última instância, representa o grito silencioso de uma humanidade sedenta por afeto, unidade

e reconhecimento.

A celebridade é também um daqueles adesivos que, num momento em que as esferas

da política, da sociedade civil e da vida doméstica estão cada vez mais fraturadas e

isoladas em seus respectivos guetos, servem para estimulá-las a uma reaproximação,

ajudando a manter a coesão social e os valores comuns. (INGLIS, 2012, p. 12).

Na mesma perspectiva, França e Simões (2018) observam que os sujeitos célebres

encarnam valores e preocupações de uma sociedade, “espelham as contradições e embates de

valores quando a sociedade enfrenta crises e fissuras e é analisando suas atitudes, seus

posicionamentos, bem como as reações que convocam que podemos apreender traços dessa

mesma sociedade” (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 19). Para as autoras, “é na ação e na

performance das celebridades que encontramos aquilo é valorizado (ou repudiado) em uma

sociedade. Ou seja, é na experiência dos famosos que podemos apreender os valores sociais”

(FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 6).

Nesse sentido, podemos nos perguntar o que faz com que as pessoas se identifiquem

tanto com a figura célebre de Francisco. Que valores ele suscita na Igreja, na sociedade e,

particularmente, nas redes sociais? Se, como afirmam França e Simões (2018, p. 19) “as

celebridades agem – e são julgadas – em função de sua maior ou menor proximidade com os

valores em alta”, as pessoas se identificam com Francisco por que portam em si as mesmas

qualidades ou por que as desejam possuir?

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As celebridades, não apenas povoam “o cenário midiático, mas igualmente o

imaginário social” (FRANÇA, 2014, p. 15), político e, mais do que nunca, o religioso, já que,

na visão de Driessens (2012, p. 9), “a celebridade se tornou um recurso valioso a ser utilizado

em lutas de poder”. Com efeito, corrobora Nouwen (2018), a ambição de ser uma estrela ou

herói individual, que é tão comum em nossa sociedade competitiva e interconectada, também

não é um sentimento estranho na Igreja: “lá também a imagem dominante é aquela do homem

ou mulher que conseguiu o sucesso sem a ajuda de ninguém, ou daquele que pode fazer tudo

sozinho” (NOUWEN, 2018, p. 35). E, se é verdade, que “as pessoas se modelam, em grande

parte, pelas vidas daqueles a quem admiram” (INGLIS, 2012, p. 22), então, os “ídolos”

precisam, mais do que nunca, serem vistos, tocados e fotografados, para serem, enfim,

imitados, comentados e compartilhados nas mídias sociais.

Se, numa determinada época, o estrelato se nutria da distância entre a estrela e seus fãs

(INGLIS, 2012), hoje, com as mídias sociais, o movimento parece ser justamente o contrário.

Quanto mais “próximo” é o famoso, isto é, quanto mais revela coisas de sua intimidade e de

seu cotidiano, maior tende a ser a identificação por parte dos seguidores. O mesmo vale

quando as celebridades revelam suas dores e angústias diante da existência. A esse respeito,

basta recordar, por exemplo, quando o padre Fábio de Melo, em agosto de 2017, revelou,

através de uma postagem em seu perfil do Instagram, que estava lutando contra a síndrome do

pânico. Ou ainda, quando o youtuber e humorista brasileiro, Whinderson Nunes, disse aos

seus seguidores, por meio do Instagram, que não estava bem e precisava dar uma pausa na

carreira. Esse tipo de atitude faz com que os fãs reconheçam seus ídolos como “um de nós”,

isto é, “o público compreende o sofrimento de seu ídolo, partilha as suas dores, é solidário nas

suas perdas e vicissitudes” (FRANÇA, 2014, p. 27).

No “tapete vermelho” das mídias sociais, “todos” podem desfilar à vontade, mas,

apenas uns poucos se tornam “dignos” de aplauso e reconhecimento. Embora as redes sociais

sejam a grande “praça pública” onde anônimos e famosos “se cruzam” a todo instante e onde

sagrado e profano “se tocam”, ainda existem barreiras e diferenças que, certamente, não serão

eliminadas com o acesso à internet, dada a “forte rivalidade pela circulação, algo que sem

dúvida é, em si, um forte ingrediente na lucrativa fábrica de celebridades” (INGLIS, 2012, p.

26). Sob essa perspectiva, Simões (2013) afirma que “independente do status que caracteriza

as celebridades, é inegável que seu processo de constituição foi transformado pelo

desenvolvimento da mídia” (SIMÕES, 2013, p. 7).

Com efeito, diante da “democratização” e expansão das novas mídias aflora-se,

também entre os indivíduos mais comuns, o intrínseco desejo por fama e reconhecimento,

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mas também de busca por modelos e referenciais. Assim, “as novas tecnologias, o

barateamento e facilitação dos processos de produção, a abertura dos canais de circulação e

divulgação de produtos possibilitam quase a qualquer um se lançar em rede” (FRANÇA,

2014, p. 29). Todas essas possibilidades, na visão de Senna (2011), afetam e potencializam

cada vez mais o campo religioso com suas celebridades midiáticas que “nos moldes das

celebridades profanas, integram o brilho das estrelas ao respeito pela fé, captando e

fidelizando seus fãs/devotos às novas práticas e apelos religiosos” (SENNA, 2011, p. 8).

Embora a construção da celebridade midiática se apresente como um processo novo,

ou seja, característico de nosso tempo, que se explica e é, em parte, “resultado da visibilidade

proporcionada pela mídia” (FRANÇA, 2014, p. 20), não podemos ignorar que o culto a

celebridades, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente na sociedade. “Os livros

clássicos da antiguidade (a Bíblia, Ilíada e Odisseia, para falar dos mais conhecidos), os

relatos dos vários povos, em todos os períodos da história, destacam a existência de figuras

que se tornaram referência e foram objeto de culto” (FRAÇA; SIMÕES, 2018, p. 3). Nesse

contexto, Rojek (2008) aponta que “a representação da mídia de massa é o princípio-chave na

formação da cultura da celebridade” (ROJEK, 2008, p. 15).

Numa perspectiva religiosa, Senna (2011) observa que, ainda que o processo de

celebrização atual guarde suas especificidades, este não é um fenômeno exclusivo da

religiosidade contemporânea.

Em se tratando de celebridades, além do espetáculo que as celebrações litúrgicas

produziram durante toda a história da Igreja, muitas pessoas se destacaram e se

tornaram, de acordo com seu tempo, personagens importantes na continuidade do

processo de evangelização. Ou seja, a Igreja sempre contou com a promoção e

atuação de suas celebridades religiosas. Elas podem ter correspondido aos interesses

institucionais da evangelização, perante os desafios de seu tempo, mas não

contaram, certamente, com a influência midiática da atualidade. (SENNA, 2011, p.

56).

De acordo com Torres (2013), de modo geral, as celebridades pertenciam às elites do

poder político, militar, religioso e cultural. Nesse âmbito, adverte o autor, o cristianismo

acaba contrariando, sobretudo nos primeiros tempos, o caráter elitista da celebridade, “mas

rapidamente se transforma ele mesmo em poder espiritual, para não mencionar em poder

temporal, criando e controlando a sua própria galeria de celebridades, umas mais carismáticas

que outras” (TORRES, 2013, p. 71-72).

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Partindo desse pressuposto, os “ídolos”, os “famosos” e as chamadas “estrelas”15,

outrora consideradas meras “figuras mundanas”, passam a habitar, paradoxalmente, o espaço

“sagrado” das religiões (ou seria o contrário?) através da projeção cada vez mais midiatizada

de seus líderes. Basta observar, por exemplo, a quantidade de figuras religiosas (pastores,

sacerdotes, bispos, freiras e monges) que arrebanham multidões em programas de rádio,

televisão e, sobretudo, em seus canais no YouTube e em seus perfis nas redes sociais.

Resguardadas as devidas peculiaridades, o mesmo se pode dizer do papa Francisco

que, diferentemente de seus antecessores, tornou-se em pouco tempo uma das celebridades

midiáticas mais populares do cenário religioso e uma das figuras públicas mais seguidas nas

redes sociais. Diante da grande popularidade do papa Francisco, alguém poderia, então,

indagar: “o fato de um papa já ser uma figura pública faz dele uma celebridade?”. Se

pensarmos, por exemplo, nos antecessores de Francisco, certamente chegaremos à conclusão

de que – excetuando o papa João Paulo II que costumava cativar multidões com seus gestos

grandiosos e espetaculares – nem todos os papas foram “idolatrados” e celebrados com a

mesma intensidade, pois cada um se torna célebre na medida de seu carisma, de sua aceitação

e de sua forma de comunicar-se com o mundo.

Para esclarecer melhor essa questão do grau de celebrização de uma pessoa, Rojek

(2008) propõe três categorias para explicar a origem de uma celebridade: a primeira categoria

ele chama de “conferida” – quando a fama tem a ver com a linhagem ou decorre da linha de

sangue –; a segunda, “adquirida” – quando advém do fato de uma pessoa se destacar por seus

talentos e aptidões excepcionais –; e a terceira, ele denomina “atribuída” – refere a pessoas

que, embora não apresentem grandes talentos particulares, acabam ganhando notoriedade a

partir de sua exposição midiática. Rojek (2008) observa, ainda, “que o surgimento da cultura

da celebridade adquirida significa a democratização do poder na sociedade”, ao mesmo tempo

em que “celebridades adquiridas, extraídas da massa e forma do povo, refletem o lustre, o

poder em declínio da celebridade conferida” (ROJEK, 2008, p. 131).

Embora as três categorias apresentadas por Rojek não sejam de todo excludentes (FRANÇA,

2014), convém destacar que o papa Francisco, ainda que apresente aspectos relacionados às

três categorias, se encaixa melhor nas duas primeiras. Aqui, vale destacar que, quando a Igreja

“confere” a um Bispo o título de papa, o status de celebridade não é automático. Se assim o

fosse, os papas anteriores seriam todos célebres, o que não é o caso. Essa passagem (ou

15 “Esses termos (ou qualificações) não são excludentes, embora não sejam sinônimos: cada uma acentua um

aspecto, um viés semântico. A palavra celebridade não é muito distinta das anteriores (fama, famosos, ídolos), e

de alguma forma condensa o significado de todas elas” (FRANÇA, 2014, p. 18).

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reconhecimento) de figura pública a celebridade implica não apenas a influência da mídia,

mas, outros elementos como performance, carisma, interação com o público etc. (conforme

trataremos mais adiante). Por ora, convém destacar que, “grosso modo, celebridades se

constituem a partir de três fundamentos: as qualidades que ostentam, o lugar institucional que

ocupam, sua presença / participação em algum acontecimento de destaque. Tais aspectos são

geradores de visibilidade; a visibilidade, se bem aproveitada, proporciona a fama” (FRANÇA;

SIMÕES, 2018, p. 4).

De acordo com Campos (2017, p. 56), “a figura de Francisco possui determinadas

características e particularidades que o destacam de seus antecessores e aumentam sua

visibilidade no cenário mundial”. A autora elenca diversas características do pontífice as

quais, segundo ela, despertam empatia e admiração em milhares de pessoas, inclusive

naquelas que se declaram sem religião.

A abertura de diálogo com diferentes crenças; a simplicidade do Papa em seus

hábitos cotidianos; a proximidade que mantém com os fiéis; a discussão de questões

polêmicas dentro da Igreja Católica; as falas exaltando a tolerância e o amor entre

todos sem distinção; a enorme preocupação com os pobres e minorias oprimidas; a

postura de igualdade que mantém com as pessoas são aspectos que fazem com que

Francisco seja admirado em várias partes do mundo. (CAMPOS, 2017, p. 56).

Rojek (2008) observa que, embora qualidades divinas sejam, com frequência,

atribuídas a ídolos e pessoas célebres, o significado moderno de celebridade deriva, por assim

dizer, da queda dos deuses e da ascensão de governos democráticos e sociedades seculares.

Ele esclarece, então, a etimologia da palavra celebridade:

A raiz latina do termo é celebrem, que tem conotação tanto de fama quanto de estar

aglomerado. Existe também uma conexão em latim com o termo celere, de onde

vem a palavra em português celeridade, significando “veloz”. As raízes latinas

indicam um relacionamento no qual uma pessoa é identificada como possuindo

singularidade, e uma estrutura social na qual a característica da fama é fugaz. Em

francês, a palavra célebre, “bem conhecido em público”, tem conotações

semelhantes. E, além disso, sugere representações da fama que florescem além dos

limites da religião e da sociedade cortesã. Em resumo, associa celebridade a um

público, e reconhece a natureza volúvel, temporária, do mercado de sentimentos

humanos. (ROJEK, 2008, p. 11).

A cultura da celebridade, na visão de Rojek (2008), não substitui a religião, mas, ao

contrário, é o ambiente no qual o reconhecimento e o pertencimento religioso são hoje

encenados. O autor ressalta, ainda, que adorar celebridades costuma ser condenado em

público como idolatria, haja vista sua conotação de escravidão, falsa consciência e “obra do

demônio” (ROJEK, 2008, p. 57).

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De modo geral, se entende por idolatria a adoração religiosa que tem por objeto um

ídolo, ou seja, algo ou alguém que ocupa o lugar de Deus e passa a ser adorado como se fosse

Deus. Esta seria uma ideia mais restrita ao âmbito religioso. Porém, o conceito de idolatria é

mais amplo, “já que pode invadir qualquer campo da vida humana, sempre que se substitua

Deus por algo diferente dele. Até hoje, o homem presta culto a ídolos e a falsas divindades”

(DICIONÁRIO TEOLÓGICO, 1998, p. 418-419).

Nesse sentido, a discussão acerca dos ídolos e da “adoração” de imagens, não raras

vezes, apresenta-se como questão espinhosa dentro da Igreja Católica. O próprio papa

Francisco – embora seja considerado um ídolo para muitos – criticou o fato de que hoje as

pessoas experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus, dentre os

quais ele cita “o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer... Ídolos falsos que prometem apenas

tristeza, escravidão e medo” (CIZA, 2013).

Na visão de Rojek (2008, p. 57), o tema dos ídolos e das celebridades “entra na mesma

classificação de trivialidade e superficialidade”, já que, de modo geral, a celebridade aparece

como “um recurso imaginário para onde se voltar em meios às dificuldades e aos triunfos,

para obter consolo, para suplicar sabedoria e felicidade”.

Na perspectiva da idolatria, Hjarvard (2014b) faz uma aplicação desta ao contexto das

mídias sociais. Embora reconheça que a adoração de símbolos, divindades e santos como uma

atividade fundamental das instituições religiosas, o autor afirma que “já não pertence a elas o

monopólio desse campo. Também os meios de comunicação frequentemente promovem

comportamentos de adoração” (HJARVARD, 2014b, p. 156).

Um segmento inteiro de revistas semanais vive de promover relações parassociais

(Horton e Wohl, 1956) entre um público formado por pessoas comuns e o mundo

glamoroso de personalidades da mídia, estrelas de cinema, famílias reais, ricos e

famosos, etc. As indústrias da televisão, do cinema e da música procuram

deliberadamente desenvolver fenômenos de culto, fã-clubes e a idolatria como

elementos essenciais de seus esforços de marketing, mas comportamentos

semelhantes à adoração podem também surgir espontaneamente. Da mesma forma,

as modernas estratégias corporativas de construção de marca buscam criar uma

relação tanto cultural quanto espiritual entre marca, colaboradores e consumidores.

(HJARVARD, 2014b, p. 156).

Na visão de Hjarvard (2014b), o contexto das mídias sociais possibilita uma

recontextualização da ideia de adoração e idolatria. Por isso, ele acredita que “as culturas de

fãs compartilham muitas das características dos grupos religiosos, embora possam diferir

quanto à substância do objeto de adoração” (HJARVARD, 2014b, p. 156). Ele esclarece que,

ainda que os fãs não acreditem necessariamente que os heróis e ídolos midiáticos possuam

poderes divinos, mesmo assim costumam tratá-los como se fossem santos. “Em verdade, os

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paralelos atestam o fato de que diversas atividades religiosas, como a adoração e a idolatria,

podem, sem grandes mudanças, ser recontextualizadas em ambientes mais ou menos

seculares” (HJARVARD, 2014b, p. 156).

Partindo da ideia de que celebridades são fabricações culturais, Rojek (2008) destaca

que a cultura da celebridade é uma cultura de falso êxtase, visto que as paixões que gera

“derivam de autenticidade encenada, e não de formas genuínas de reconhecimento e

pertencimento” (ROJEK, 2008, p. 100). Na concepção do autor, “a celebridade oferece

imagens monumentais de elevação e magia” (ROJEK, 2008, p. 100). Numa tentativa de

contrapor as idolatrias do mundo contemporâneo, o próprio papa Francisco se recusa (embora

retoricamente) a ser chamado de estrela ou ídolo:

Sabes qual era o título que os papas usavam e que se deve usar? Servo dos servos de

Deus. É um pouco diferente de uma celebridade. As estrelas são bonitas de se ver,

eu gosto de vê-las quando o céu está limpo no verão... Mas, o papa deve ser – deve

ser! – o servo dos servos de Deus. Sim, na imprensa se usa isso, mas há uma outra

verdade: quantas estrelas vimos que depois se apagam e caem. É uma coisa

passageira. Ao invés, ser ‘servo dos servos de Deus’, isso é bonito! Não passa! Não

sei… Assim, penso eu. (AFIPE, 2015).

Embora figuras religiosas midiáticas como papa Francisco, padre Marcelo Rossi,

padre Fábio de Melo, dentre outros, possam atrair multidões e ganhar a simpatia de crentes e

não crentes através de suas redes sociais, não podemos ignorar as tensões que perpassam esse

processo, dado que algumas dessas celebridades, muitas vezes, ganham a simpatia dos de

fora, porém, são rechaçadas pelos de dentro da Igreja. No entanto, por que acontece esse tipo

de recusa se a Igreja “sempre contou com a promoção e atuação de suas celebridades

religiosas”? (Senna, 2011, p. 56). Tais críticas e rejeições estão, certamente, relacionadas a

processos históricos ligados a uma visão dogmática que tende, a todo custo, separar o sagrado

do profano e o humano do divino criando, assim, uma ideia estereotipada da figura do

sacerdote e do papa como seres angelicais, distintos e distantes do “homem comum”.

Todavia, como veremos, o papa Francisco, com sua ideia de “cultura do encontro”16

contrapõe fortemente o tipo de pensamento rígido e conservador que, além de enaltecer e

divinizar a figura do sacerdote, tenta colocá-lo em um patamar tão elevado que dificulta sua

relação com os mais pobres e marginalizados da sociedade.

Se é verdade que “as celebridades costumam parecer mágicas ou sobrenaturais”

(ROJEK, 2008, p. 15) aos olhos de seus seguidores, então, o papa, como “representante de

16 “É cultura toda intervenção humana sobre o dado natural, modificado de modo a poder ser inserido numa

relação social” (ECO, 1997, p. 5).

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Jesus Cristo” na terra, possui mais “sobrenaturalidade” que as celebridades comuns? Há,

porventura, um grau maior de “divinização” e encantamento na celebridade religiosa?

Relacionando essa questão com o pensamento de Rojek (2008) – que identifica uma forte

encenação do fã em relação ao seu ídolo – podemos observar que tal encenação, muitas vezes

marcada pelo impulso e a emotividade, não é tão diferente em relação ao papa Francisco

(quiçá não seja mais intensa dependendo do grau de religiosidade do devoto), haja vista que a

sua performance e sua presença costumam causar fortes emoções. Nesse sentido, França e

Simões (2018) elucidam que “pessoas célebres chamam a atenção quando atravessam os

espaços de convivência comum, despertam emoções e produzem seguidores; são imitadas em

seu visual e comportamento e representam, de certa maneira, o ideal a que muito/as aspiram”

(FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 1). Inglis (2012), por sua vez, entende a celebridade como uma

espécie de projeção ampliada de nós mesmos, bem como de nossos significados e sentimentos

dominantes e mais prezados. Assim, a celebridade “vem sendo apontada pelos filmes, pela

televisão, pela imprensa e por qualquer espetáculo da vida moderna como aquela que

dramatiza o melhor e o pior da nossa perplexidade apaixonada” (INGLIS, 2012, p. 45).

No que concerne ao papa e seus admiradores, talvez essa questão da encenação seja

mais intensa, haja vista a emoção afetiva dos devotos e os sentimentos religiosos envolvidos.

O fato é que, para que uma pessoa seja considerada celebridade, ela precisa, sobretudo, ser

“reconhecida por um público e [pessoa] cuja fama pode variar conforme os ‘sentimentos

humanos’, ou seja, segundo as impressões do público que a reconhece” (SIMÕES, 2013, p.

3).

Diante de tanto sentimento e paixão pelas celebridades, dentro e fora das redes sociais,

é importante considerar a questão levantada por Inglis (2012, p. 26): “o que valemos para nós

mesmos se prestamos tanta atenção a celebridades?”, ou seja, “como conseguimos fazer

conviver nossas convicções morais com estas fugazes paixões”? (INGLIS, 2012, p. 26). Ou

dito de outro modo, “ao acentuarmos a mobilidade das celebridades hoje, não estamos falando

também do estado de instabilidade das nossas relações com o outro?” (FRANÇA, 2014, p.

35).

3.5 Celebrificação e celebrização

Quando um termo ou conceito se torna demasiado acessível, dentro ou fora da

academia, não é difícil incorrer-se no erro da banalização ou mesmo na aplicação indevida de

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seu significado, sobretudo se este traz em seu bojo amplas possibilidades interpretativas. Por

isso, “devemos ter cuidado para não sermos presas de fáceis interpretações funcionalistas

sobre a cultura da celebridade” (DRIESSENS, 2012, p. 9).

Assim, Driessens (2012) observa que “em debates recentes sobre a crescente

proeminência das celebridades na sociedade e na cultura, muitos acadêmicos começaram a

usar os termos celebrificação [celebrification] e celebritização [celebritization] de forma

misturada” (DRIESSENS, 2012, p. 8). Contudo, o autor esclarece que tais expressões

possuem significados distintos e que, para compreendermos o processo transformador de uma

celebridade, é importante distingui-los.

Para Driessens (2012, p. 8), “a celebrificação captura a transformação de pessoas

comuns e figuras públicas em celebridades”. Por outro lado, a celebritização, além de ser um

desenvolvimento estrutural de longo prazo, “se conceitua como um metaprocesso que captura

a natureza em mutação, assim como a inserção social e cultural da celebridade”

(DRIESSENS, 2012, p. 8). O autor reserva o termo celebritização para as mudanças sociais e

culturais contidas na celebridade, ou seja, algo que ocorre no nível da sociedade; ao passo que

a celebrificação “envolve as mudanças no nível individual ou, mais precisamente, o processo

pelo qual pessoas comuns e figuras públicas se transformam em celebridades” (DRIESSENS,

2012, p. 10), como no caso de um YouTuber, uma estrela de cinema, um político, uma

socialite ou mesmo um papa. Driessens esclarece que

esta transformação é uma confirmação da individualidade (BRAUDY, 1986, p. 7) e

consiste na personificação de uma subjetividade que reúne o ‘espetacular e o

corriqueiro, o especial e o medíocre’ (DYER, 2007 [1979], p. 35). Não obstante a

paradoxal natureza das celebridades como ordinárias e extraordinárias, elas ainda

estão distantes do comum. (DRIESSENS, 2012, p. 10).

A celebridade, segundo Driessens (2012, p. 9), “tornou-se uma característica que

define nossas sociedades midiatizadas”. Com base no pensamento de Couldry (2003),

Driessens afirma que “a transformação da pessoa comum em celebridade pode ser vista como

um ritual midiático que tanto confirma esta separação quanto legitima o mito do centro

midiático” (DRIESSENS, 2012, p. 10).

Ao classificar a celebritização como um metaprocesso, Driessens (2012) o compara a

processos como a globalização, à individualização e à midiatização, já que a todo

metaprocesso “falta um começo ou um final claro, e se dispersa no espaço e no tempo, não

estritamente seguindo uma direção específica” (DRIESSENS, 2012, p. 10). Sob esse prisma,

o autor adverte que “seria errado pensar na celebritização como simplesmente o aumento da

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celebridade no espaço e no tempo” (DRIESSENS, 2012, p. 10). Contrapondo a visão de

outros autores, que se restringem a pensar o processo de celebritização apenas

quantitativamente, Driessens (2012) defende que é fundamental levar em conta o

“metaprocesso que aponta para algumas mudanças na natureza da celebridade e sua inserção

social e cultural” (DRIESSENS, 2012, p. 11), ou seja, sua dimensão qualitativa.

Ainda sobre a diferença entre os dois termos em questão, Driessens (2012) assegura

que “a celebritização não se iguala à crescente celebrificação, nem a celebritização de um

campo social implica na celebrificação de todos os agentes deste campo” (DRIESSENS,

2012, p. 10). O autor conclui, então, que o fato de toda cultura ou nação ter seus próprios

heróis, estrelas e celebridades, não significa que haja igualdade entre esses atores, pois “assim

como outros recursos de poder, a celebridade está distribuída de forma desigual”

(DRIESSENS, 2012, p. 10). Por isso mesmo, ele defende que a cultura da celebridade

“poderia ser mais bem descrita como um combinado de várias pequenas e algumas maiores

culturas da celebridade, com diferentes níveis de sobreposição” (DRIESSENS, 2012, p. 11).

Se pensarmos, por exemplo, nas celebridades religiosas, veremos que também aí

existem diferenças e graus distintos de “celebração”, pois um padre que é idolatrado (apenas)

por seus paroquianos, a ponto de se reunirem ao redor do Bispo e tentar impedir sua

transferência a outra paróquia, é diferente de outro padre que não “possui” paróquia, mas, por

ouro lado, é reconhecido e seguido por milhões de pessoas em suas redes sociais. A mesma

diferença se apresenta entre um papa que consegue o afeto e admiração “apenas” dos

católicos e outro que, por seu carisma, transcende os muros da religião e passa a ser celebrado

em escala global.

De uma forma ou de outra, dentro e fora do contexto das mídias sociais, é possível

identificar distintos níveis e maneiras de se tornar uma celebridade. Para isso é importante

levar em conta as diferenças existentes “entre culturas individualistas e coletivistas,

sociedades ocidentais e não ocidentais, assim como suas implicações sobre o valor e as

formas de se atingir o status de celebridade” (DRIESSENS, 2012, p. 11).

Referindo-se à relação da fama com a mídia e à natureza mutável da celebridade,

Driessens (2012), influenciado por Cashmore (2006), recorda que “a celebritização foi

definida como a democratização da celebridade, ou a ideia de que ocorreu uma mudança na

ênfase, da fama adquirida, à fama gerada pela mídia” (DRIESSENS, 2012, p. 11). De acordo

com essa lógica radical, acrescenta Driessens (2012), uma pessoa não mais precisa realizar

alguma coisa ou possuir algum talento especial para tornar-se famosa, já que “aparecer na

mídia e simplesmente ser famoso é tido como suficiente” (DRIESSENS, 2012, p. 11).

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Tomemos como exemplo pessoas comuns que alcançaram fama nas redes sociais e, de

repente, foram chamadas para uma efêmera participação em programas de entretenimento na

televisão. O quadro “Famosos da internet”, do programa Eliana, no SBT, é um exemplo disso.

Contudo, essa breve participação em cadeia nacional não significa uma “perene consagração”

ao status da fama, mas, ao contrário, pode ser apenas mais um exemplo de oferta e demanda

do público por diversificação de celebridade (DRIESSENS, 2012), haja vista que “a mídia foi

forçada a criar ou descobrir novas ofertas ao ampliar o alcance da luz do palco”

(DRIESSENS, 2012). Com isso adentramos outra questão suscitada por diversos autores

(DRIESSENS, 2012, ROJEK 2008, FRANÇA, 2014, TORRES, 2014), que é o tema da

comoditização da celebridade.

Segundo Driessens (2012), “as estrelas e, consequentemente, as celebridades, são tanto

o trabalho como a coisa que o trabalho produz. São manufaturadas pela indústria da

celebridade e produzem e ajudam a vender outras commodities” (DRIESSENS, 2012, p. 10).

De fato, “o nome, a imagem, o cabelo e as roupas da celebridade, entre outros aspectos,

tornam-se commodities a serem vendidas e consumidas” (DRIESSENS, 2012, p. 20). Rojek

(2008), por sua vez, recorre às esferas do desejo e da compulsão pela novidade para explicar

que “o capitalismo exige que os consumidores desenvolvam desejo abstrato por bens de

consumo” (ROJEK, 2008, p. 201).

O desejo é necessariamente uma compulsão abstrata no capitalismo, porque a lógica

da acumulação econômica significa que ela deve ser transferida em resposta à

inovação de produtos e marcas. Essa qualidade abstrata torna o desejo alienável dos

consumidores, visto que eles são rotineiramente exigidos a substituir fortes desejos

por bens de consumo por outros novos. (ROJEK, 2008, p. 201).

Ao estimular compulsivamente o desejo de consumo, o capitalismo “transforma o

indivíduo de um objeto desejante em um objeto calculador de desejo” (ROJEK, 2008, p. 201),

ou seja, aqueles que consomem determinada marca ou produto (como no caso de uma

celebridade ou digital influencer) acabam construindo “uma fachada de personificação para

ser desejada pela massa abstraída. As culturas da moda e do gosto intensificam e espelham

essa tendência” (ROJEK, 2008, p. 201). Portanto, na visão de Rojek (2008), a cultura da

celebridade, em certa medida, é a expressão de um eixo cultural organizado em torno do

desejo abstrato, ou seja, uma ferramenta essencial de transformação em mercadoria através da

personificação do desejo.

Sob esse aspecto, a presença do papa no mercado das celebridades é, no mínimo

paradoxal, já que o seu discurso e seus gestos vão de encontro ao consumismo exacerbado e,

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de certo modo, denunciam a cultura do descarte. Embora o papa Francisco se oponha,

constantemente, à busca por autorreferencialidade entre o clero (SPADARO, 2013), “as

celebridades descartáveis estão aí como novos produtos para fazer funcionar a máquina do

consumo” (FRANÇA, 2014, p. 26) e, como indaga Torres (2014, p. 75), “se a imagem do

famoso é uma mercadoria, então a celebridade é uma indústria cultural em si mesma”.

Sob a ótica da comoditização, o próprio papa Francisco torna-se, de alguma forma,

“produto” desse processo, já que seu status de celebridade e sua circulação nos diversos meios

de comunicação faz gerar, continuamente, novos “produtos” a partir de sua imagem de pessoa

célebre. Paradoxalmente, quanto mais combate a autorreferencialidade (de uma Igreja fechada

em si mesma) e quanto mais tenta censurar o desejo de fama e poder por parte do clero, mais

o papa se celebrifica e, consequentemente, quem ganha com isso é o mercado das

celebridades. Exemplo disso são as incontáveis publicações que circulam diariamente sobre o

papa Francisco em sites e revistas de celebridade mudo afora. Revistas nesse estilo, recorda

Inglis (2012), “vendem como água, e seus editores e produtores desmerecem as críticas às

gargalhadas, com os bolsos cheios de dinheiro” (INGLIS, 2012, p. 294). É por essas e outras

razões que Driessens (2012) nos adverte para não ficarmos “deslumbrados pelo aparente

caráter diversificado e democrático da celebridade”, uma vez que essa “cultura” acaba

normalizando “um tipo específico de individualismo, um projeto de automelhoria que não

necessariamente considera o cuidado com o próximo como sendo uma prioridade”

(DRIESSENS, 2012, p. 14).

Apesar de estrelas e celebridades serem essenciais para criar públicos e mercados

(DRIESSENS, 2012), é importante observar que “não obstante esta função hegemônica da

celebridade, ela também pode ser contra-hegemônica, estimulando a consciência crítica”,

como no caso das celebridades que se envolvem em algum tipo de ativismo ou abraçam

alguma causa social, ambiental, política, religiosa etc. Não obstante a existência dessas

figuras críticas, Torres (2014, p. 86) assegura que “os líderes carismáticos de ruptura do

sistema estabelecido constituíram uma minoria, embora não desprezível, dos celebrizados ao

longo da história”.

Considerando esse contexto, o papa Francisco enquanto celebridade tenta, na medida

do possível, não se render à indústria cultural da fama como sendo apenas “mais uma

commoditie”, para tanto, ele tem buscado, com base em seu carisma e espiritualidade, usufruir

desse status de pessoa célebre para difundir os valores humanos e evangélicos, essenciais à

promoção da “cultura do encontro”. Essa, porém, não deve ser uma tarefa fácil, especialmente

para um homem de mais de oitenta. Assim, ele precisa, de certo modo, despir-se não apenas

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de sua autoridade, como deve, também, aprender a lidar com alguns estereótipos em torno da

figura de um sacerdote ou mesmo de um papa. Não obstante essa realidade, Francisco tem

demonstrado disposição para encarar – ora com seriedade ora com bom humor – as

peripécias, desafios e possibilidades que a mídia oferece.

3.6 Papa Francisco: um líder carismático

Jesus Cristo, São Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela,

Martin Luther King, João Paulo II, papa Francisco: o que essas ilustres figuras têm em

comum? O que as faz tão cativantes e inspiradoras? “Todas elas conquistaram o mundo, cada

uma em seu próprio contexto e missão, e são reconhecidas e lembradas por serem

personalidades carismáticas” (SHINYASHIKI, 2018, p. 15).

O carisma de uma pessoa é um elemento importante na construção e compreensão do

processo de celebrização, já que as características de um líder ou de um ídolo “têm

implicações no conceito moderno de celebridade” (ROJEK, 2008, p. 36). No caso de um

papa, talvez o carisma seja uma das qualidades mais definidoras em sua relação com a Igreja e

o mundo.

Nesse sentido, podemos indagar, o que diferencia um papa célebre das demais

celebridades do mundo contemporâneo? Por que alguns papas são esquecidos no tempo e

outros, no entanto, se eternizam na memória das pessoas? Possivelmente, não existem

respostas prontas para essas questões.

Embora possua significados distintos em determinados contextos, o termo carisma é

bem conhecido no âmbito religioso católico. Expressões como “carisma do fundador”,

“carisma da congregação”, “renovação carismática” são bastante comuns entre os religiosos.

Biblicamente, o termo carisma pode ter várias conotações: “presente”, “presente de Deus”,

“dom”, “dom de Deus”, “graça”, “gratuidade” etc. (RUIZ, 1999). No âmbito social, contudo,

a palavra carisma é usada, de modo geral, para qualificar as potencialidades ou talentos de

uma pessoa no que concerne à sua capacidade de comunicação e liderança.

Foi graças aos estudos do sociólogo alemão Max Weber que a palavra carisma

notavelmente se difundiu, não necessariamente como um dom ou experiência divina, mas

como “virtude” ou qualidade especial inerente aos chefes, profetas e líderes. Influenciado

pelas pesquisas de Rudolf Sohm, Weber (1982) aplica as qualidades carismáticas tanto a

heróis quanto a feiticeiros, assim como “a médicos e profetas, tal como juízes e chefes

militares, ou aos chefes das grandes expedições de caça” (WEBER, 1982, p. 284). Em sua

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visão, os fundadores das religiões mundiais e os profetas, bem como os heróis militares e

políticos, são os arquétipos do líder carismático, primeiro, por serem vistos como forças

revolucionárias na história, depois, porque eles têm em comum o fato de que as pessoas lhes

obedecem devido à crença em suas qualidades pessoais extraordinárias. Assim, “o portador do

carisma toma a tarefa que lhe é adequada e exige obediência e um séquito em virtude de sua

missão. Seu êxito é determinado pela capacidade de consegui-los” (WEBER, 1982, p. 285).

Contudo, acrescenta o autor, quando a missão do líder carismático não é reconhecida por

aqueles que, em sua opinião, deveriam segui-lo, então, ele entra em colapso. (Teria sido esta a

razão pela qual o papa Bento XVI renunciou ao pontificado?).

Em sentido e conteúdo, a missão pode estar dirigida a um grupo de homens que são

delimitados localmente, etnicamente, socialmente, politicamente, ocupacionalmente

ou de alguma outra forma. Se a missão dirige-se assim a um grupo limitado de

homens, como é comum, encontra seus limites dentro desse círculo. Se o aceitam,

ele é o Senhor deles – enquanto souber como manter essa aceitação, provando-se.

Mas não obtém seu ‘direito’ por vontade dos seguidores, como numa eleição, mas

acontece o inverso: é o dever daqueles a quem dirige sua missão reconhecê-lo como

seu líder carismático qualificado. (WEBER, 1982, p. 285).

Na mesma perspectiva, Rojek (2008) considera que a autoridade carismática é, por

definição, inspiradora, já que esta “depende de ocorrências aparentemente milagrosas ou

semimilagrosas, tais como profecias que se realizam, batalhas que são sempre vencidas, poderes

de cura que não falham, desempenhos artísticos cujos sucessos se repetem” (ROJEK, 2008, p.

36).

Referindo-se ao carisma da Rainha Elizabeth, simbolizado por uma série de valores

morais absolutos, Inglis (2012) entende que o carisma é ao mesmo tempo a irradiação e a

gravidade pessoal de uma figura pública e o halo simbólico de valor e significado que se

empresta a ela através de rituais, capazes de declarar e criar centralidade e importância. “A

excursão de Elizabeth era uma trama em favor do carisma, em que este fugaz conceito conota a

localização pública da autoridade e de seus benefícios, da fama e de sua aura sobrenatural”

(INGLIS, 2012, p. 15).

De acordo com Weber (1982), dependendo do contexto em que aplica, o carisma pode

ser visto como uma forma de domínio, ainda que diferentemente do domínio burocrático. Se

este segundo “depende de uma renda regular, e daí, pelo menos, a potiori (mais importante

ainda), de uma economia monetária e tributos em dinheiro, o carisma vive neste mundo,

embora não seja deste mundo” (WEBER, 1982, p. 285). Aqui, importa dizer, o sociólogo faz

recordar a máxima cristã “meu reino não é deste mundo” (João 18, 36), ou, como se diz

comumente nas ordenações sacerdotais “o sacerdote foi tirado do meio do povo”.

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Para ressaltar a inteira liberdade e desapego diante da “tentação do domínio”, Weber

(1982) cita o exemplo de São Francisco de Assis que, como tantos outros líderes carismáticos,

absteve-se da posse de dinheiro e de renda pecuniária em nome de uma missão ou vocação

que os transcende. Mas isso, ressalta o autor, não é, decerto, a regra, já que “até mesmo um

pirata genial pode exercer um domínio carismático, no sentido isento de valor em que usamos

aqui a palavra” (WEBER, 1982, p. 285). De maneira semelhante, “os heróis políticos

carismáticos buscam o saque e, acima de tudo, o ouro” (WEBER, 1982, p. 285). O autor

completa, então, que o carisma “sempre rejeita como indigno qualquer lucro pecuniário que

seja metódico e racional. Em geral, o carisma rejeita todo comportamento econômico

racional” (WEBER, 1982, p. 285).

Nessa perspectiva, vale recordar algumas atitudes desapegadas do papa Francisco

enquanto líder carismático. A primeira delas foi sua surpreendente escolha por continuar

usando as vestes, anel e cruz peitoral que sempre usou quando era cardeal em Buenos Aires; a

segunda coisa foi optar por morar na casa Santa Marta, no meio de hóspedes e pessoas

comuns, em vez de morar no palácio papal; além do que, ele renunciou à segurança dos

automóveis blindados para suas celebrações na praça de São Pedro e em suas viagens

internacionais. Na verdade, recorda Tornielli (2017), Francisco disse que só viajaria se

pudesse ter contato com as pessoas; uma última atitude, não menos surpreendente, foi quando,

no início de seu pontificado, ele disse que se sente mal quando vê um sacerdote ou uma

religiosa com um carro chique, enquanto muitos não têm o que comer. “Reconheço que o

carro seja necessário, pois nos ajuda a nos mover com facilidade. Comprem um carro mais

simples. E se você gostou do carro bonito, pense nas muitas crianças que morrem de fome.

Não pode ser assim!” (VENTURA, 2013).

Partindo da “pobreza” do líder carismático, Weber (2004) considera que “pela sua

natureza mesma, a existência da autoridade carismática é especificamente instável. O portador

pode perder seu carisma, pode sentir-se ‘esquecido pelo seu Deus’ tal como Jesus na Cruz”

(WEBER, 2004, p. 287). Quando isso ocorre pode parecer aos seus seguidores que o líder foi

abandonado por suas virtudes carismáticas. “É então que sua missão se extingue, e a

esperança aguarda e procura um novo portador do carisma” (WEBER, 2004, p. 287). Foi

basicamente o que aconteceu com a inesperada renúncia de Bento XVI. Para alguns, foi uma

atitude nobre e de grande humildade, para outros, uma espécie de fracasso e decepção, já que

a função pontifícia é um “carisma” vitalício. De um modo ou de outro, a Igreja teve de

encontrar um novo portador do carisma papal, neste caso, o papa Francisco.

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Em seus estudos, Weber (2004) aponta três tipos de dominação legítima: a dominação

legal, a dominação tradicional e a dominação carismática. Interessa-nos, portanto, apenas esta

última, dado que, para o autor, uma pessoa que possui carisma – faculdades mágicas,

revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória – tem maior poder de atrair a

devoção afetiva das pessoas. Nesse caso, “seus tipos mais puros são a dominação do profeta,

do herói guerreiro e do grande demagogo. O sempre novo, o extraordinário, o inaudito e o

arrebatamento emotivo que provocam constituem aqui a força de devoção pessoal” (WEBER,

2004, p. 135). No caso do papa Francisco e seu poder de devoção pessoal, basta pensar em

sua vinda ao Brasil, em julho de 2013, quando reuniu, na praia de Copacabana, no Rio de

Janeiro, cerca de três milhões e meio de pessoas. Todos queriam chegar o mais perto possível,

fotografá-lo, tocar em suas vestes, abraçá-lo, confessar-se com ele, ou mesmo dormir à beira

da praia para acordar mais próximo do palco.

Para Weber (2004), “a dominação carismática dos profetas e dos príncipes guerreiros

estende-se sobre os homens, em todas as épocas, através dos séculos” (WEBER, 2004, p.

136), algo possivelmente identificável em quase todas as autoridades primitivas, “com a

exceção do poder doméstico no sentido mais limitado, e o chefe é, com frequência,

simplesmente abandonado se o êxito não lhe permanece fiel” (WEBER, 1982, p. 288).

Em suma, seja em relação a líderes religiosos como Jesus Cristo, Buda, Dalai Lama,

papa Francisco ou a qualquer outra figura carismática, o que importa, na visão de Weber, é se

tais líderes foram considerados ou atuaram como tal, ou seja, se encontraram ou não

reconhecimento por parte da sociedade e de seus seguidores, já que o “fazer-se acreditar” por

meio de feitos e milagres é exigência inerente a todo profeta. “O senhor carismático tem de

se fazer acreditar como senhor pela ‘graça de Deus’, por meio de milagres, êxitos e

prosperidade do séquito e dos súditos. Se lhe falta o êxito, seu domínio oscila” (WEBER,

2004, p. 136-137).

Weber (2004) reconhece que “o tipo de dominação carismática foi brilhantemente

descrito pela primeira vez – ainda que sem apreciá-la como tipo – por R. Sohm em sua obra

sobre “Direito eclesiástico para a antiga comunidade cristã” (WEBER, 2004, p. 135-136).

Assim, Weber faz uso de uma linguagem tipicamente religiosa para explicar a relação de

obediência entre o líder e o discípulo. Segundo ele, o tipo que manda é considerado o líder, ao

passo que, aqueles que apenas obedecem são chamados de apóstolos ou discípulos. Tal

obediência, contudo, não se deve ao fato de o líder ocupar uma posição de destaque ou por

sua dignidade tradicional, mas, exclusivamente por suas qualidades excepcionais. “A validade

efetiva da dominação carismática baseia-se no reconhecimento da pessoa concreta como

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carismaticamente qualificada e acreditada por parte dos súditos” (WEBER, 2004, p. 140). Isto

significa dizer que, se o líder é “abandonado pelo seu deus ou quando decaem a sua força

heroica ou a fé dos que creem em suas qualidades de líder, então seu domínio também se

torna caduco” (WEBER, 2004, p. 135).

Em síntese, Weber está falando da capacidade de afetação do líder carismático em relação

àqueles que o admiram e o seguem. Basta pensarmos, por exemplo, o que acontece quando

um Bispo decide transferir um padre de uma paróquia a outra. Se este for um “pastor com

cheiro de ovelha”, como diz o papa,17 e for um líder carismático, a comunidade se rebelará

contra tal intento, se mobilizará e, finalmente, convencerá o Bispo a recuar de sua decisão.

Porém, se for um padre sisudo e mal-humorado, a probabilidade de mobilização por parte da

comunidade será, provavelmente, muito menor. Assim, também no contexto religioso, ser

reconhecido como celebridade e líder carismático tem seu status e sua importância. Sob outra

ótica, podemos pensar também naqueles sacerdotes que, ao atingirem o status de celebridade,

migram de suas congregações religiosas, para dioceses, a fim de terem maior liberdade para

administrar a fama e os próprios bens.18

Dentro ou fora do ambiente religioso, celebridades são “admiradas (ou detestadas),

provocam sentimentos de adesão e/ou repulsa, são tomadas como modelos (ou contra-

modelos), suscitam formas distintas de celebração” (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 4). Acerca

desse poder de afetação, assim afirma Simões (2014):

São os dons do corpo e do espírito que uma celebridade encarna que constroem esse

poder de tocar e sensibilizar a experiência dos sujeitos, que manifestam (ou não) seu

reconhecimento em relação às celebridades. Nessa interlocução entre as celebridades

e seus públicos, projeções, identificações e contraidentificações se realizam, o que

significa que somos afetados diretamente pelas pessoas célebres. (SIMÕES, 2014, p.

215).

Segundo Simões (2014), o poder de afetação da celebridade ou do líder carismático

pode ocorrer, basicamente, de três maneiras: através da projeção – quando um fã ou devoto

projeta seus sonhos de êxito, riqueza ou prestígio na experiência do famoso –, através da

identificação – quando o sujeito se vê ou se reconhece na história ou situação vivida pelo seu

ídolo –, ou ainda, em perspectiva contrária, por meio da contraidentificação – quando o fã

17 Expressão usada pelo papa Francisco em sua primeira Missa Crismal como Bispo de Roma, em 28 de março

de 2013. 18 Na Igreja Católica existem basicamente dois tipos de sacerdotes: o diocesano – que geralmente administra

uma paróquia sozinho – e o religioso – que é aquele que vive em comunidade e professa os votos de pobreza,

castidade e obediência. O padre Fábio de Melo, ao alcançar a fama migrou da Congregação do Sagrado Coração

de Jesus para a diocese de Taubaté. Outros padres como Antônio Maria, Juarez de Castro, Marcelo Rossi,

Reginaldo Manzotti, dentre outros, também se tornaram famosos e tiveram de aprender a lidar com o sucesso e

as exigências da instituição religiosa a qual pertencem.

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identifica ou reconhece os fracassos e deslizes da celebridade e resolve marcar o afastamento

de sua vida em relação à dela. “É nesse processo de interação entre as celebridades e seus

públicos, que se realiza a partir desses diferentes mecanismos, que se evidencia tanto o

carisma daquelas quanto o seu poder de afetação” (SIMÕES, 2014, p. 215).

Considerando os três “mecanismos de afetação” apresentados por Simões, é possível

aludir que o papa Francisco, desde o início de seu pontificado, sob a aura do homem simples e

carismático, tem conquistado o afeto e a estima dos mais variados públicos, de modo que, fãs

e devotos se projetam em seu ideal cristão, sempre aberto e disponível ao diálogo não apenas

com católicos, mas com todas as denominações religiosas. Ao mesmo tempo, sua trajetória e

testemunho de vida, marcados pela simplicidade, a modéstia e o despojamento, geram grande

identificação nas pessoas. Alguns dizem “o papa é gente como a gente”. Aquilo que Henri

Nouwen (2001) afirmou em relação à identificação dos seminaristas com seus mestres

espirituais parece aplicar-se ao mesmo sentido:

A identificação ainda é o principal processo pelo qual um homem encontra sua

vocação na vida. Personalidades fortes e convincentes, que oferecem uma atraente

visibilidade ao modo de vida, são as influências mais poderosas na escolha de vida

de um jovem. (NOUWEN, 2001, p. 85).

Por outro lado, em se tratando de um líder religioso com a mentalidade de Francisco,

decerto, sempre existirá a possibilidade da contraidentificação, já que “um revolucionário não

só atrai as pessoas, mas também as repele” (NOUWEN, 2018b, p. 69). Segundo Degrandis

(1993, p. 16), “é comum as pessoas sentirem rancor de quem representa a autoridade. Os

líderes podem esperar que os outros sintam inveja; faz parte do ofício” (DEGRANDIS, 1993,

p. 16).

No caso do papa argentino, a contraidentificação se dá não tanto por parte de seus fãs

e admiradores, mas, sobretudo, por parte de seus opositores, ou seja, uma minoria

conservadora católica que tenta, a qualquer custo, questionar ou mesmo ignorar sua

autoridade carismática. Com efeito, dizia Inglis (2012, p. 12), “a celebridade é reconhecida

em todo canto, mas nunca chega a ser plenamente compreendida”. Há quem sustente,

inclusive, que o estilo carismático de Bergoglio faz dele um dos homens mais odiados do

mundo atualmente. “Os que mais o odeiam não são ateus, protestantes, nem muçulmanos,

mas alguns de seus seguidores. Fora da Igreja, ele é muito conhecido como uma figura de

modéstia e humildade quase ostensivas” (BROWN, 2017). A estrela pop Madonna corrobora

essa ideia ao afirmar, em 2015, em entrevista à revista Rolling Stone, que “ela e o Papa

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Francisco pregam a mesma mensagem de Jesus que é amar o próximo como a si mesmo, e

não julgar” (GUIAME, 2015).

Não obstante à oposição interna, o carisma do papa Francisco o faz transcender as

paredes da instituição e conquistar novos adeptos e admiradores, pois, como afirma Weber

(1982), “o carisma pode fazer isso porque, pela sua natureza mesma, não é uma estrutura

‘institucional’ e permanente, mas, quando seu tipo é ‘puro’, é o oposto mesmo do

institucionalmente permanente” (WEBER, 1982, p. 286). Sob essa ótica, Weber (1982)

pondera que

o domínio carismático autêntico não conhece, portanto, os códigos jurídicos

abstratos e os estatutos e nenhum modo “formal” de adjudicação. Sua lei “objetiva”

emana concretamente da experiência altamente pessoal da graça celestial e da força

divina do herói. A dominação carismática significa uma rejeição de todos os laços

com qualquer ordem externa, em favor da glorificação exclusiva da mentalidade

genuína do profeta e herói. Daí, sua atitude ser revolucionária e transpor todos os

valores; faz que um soberano rompa todas as normas tradicionais ou racionais: “Está

escrito, mas eu vos digo”. (WEBER, 1982, p. 288).

Na concepção de Weber (1982), portanto, a dimensão carismática de uma autoridade,

especialmente em sua forma pura, “é o oposto polar dos laços formais e tradicionais e é tão

livre ante a venerabilidade da tradição quanto ante quaisquer deduções racionalistas de

conceitos abstratos” (WEBER, 1982, p. 289). Dessa maneira, “o líder carismático ganha e

mantém a autoridade exclusivamente provando sua força na vida. Se quer ser profeta, deve

realizar milagres; se quer ser senhor da guerra, deve realizar feitos heroicos” (WEBER, 1982,

p. 140).

Um último aspecto da liderança carismática apontado por Weber (1982), e que

convém problematizar, é a “separação inevitável” entre o líder carismático e o mundo, pois

“para fazer justiça à sua missão, os portadores do carisma, o mestre bem como seus discípulos

e seguidores, devem manter-se distantes dos laços deste mundo, distante das ocupações

rotineiras, bem como distantes das obrigações rotineiras da vida de família” (WEBER, 1982,

p. 286). A depender do contexto no qual o líder esteja inserido e do tipo de autoridade que ele

exerce sobre determinado grupo ou comunidade, isto é perfeitamente aplicável. No entanto,

em um contexto como o nosso, no qual, como já dissemos, a Igreja Católica enfrenta crises de

poder e credibilidade, é quase uma urgência que o líder carismático aprenda a encarnar o seu

carisma na cotidianidade, em meio ao barulho, à pressa e à vida conectada, pois hoje “o

misticismo é o contrário da fuga do mundo. A íntima união com Deus leva ao compromisso

mais criativo no mundo contemporâneo” (NOUWEN, 2008, p. 65).

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Weber (1982) recorda, ainda, o exemplo da ordem dos jesuítas que em seus estatutos

“impedem a aceitação de cargos na Igreja” (WEBER, 1982, p. 286). Mas isso, como sabemos,

foi superado em 2013, graças ao carisma do papa Francisco, ao ser eleito o primeiro papa

Jesuíta da história do catolicismo. Weber, então, acrescenta:

O sacerdote e o cavaleiro de uma ordem têm de viver no celibato, e numerosos

portadores de um carisma profético ou artísticos são, na realidade, solteiros. Tudo

isso indica a separação inevitável deste mundo a que são levados os que partilham

do carisma. Os modernos movimentos carismáticos de origem artística representam

‘independentes sem emprego remunerado’ (na linguagem cotidiana, pessoas que

vivem de rendas). Normalmente, tais pessoas são as melhores qualificadas para

seguir um líder carismático. (WEBER, 1982, p. 286-287).

Uma das características mais marcantes de um líder carismático é, certamente, seu

caráter revolucionário diante da vida e das pessoas ao seu redor. “Os que o encontram se

encantam com ele e querem saber mais sobre ele. Tudo com que ele entra em contato passa a

irresistível impressão de que ele haure sua força de uma fonte oculta que é forte e rica”

(NOUWEN, 2018b, p. 68). Tanto o líder carismático quanto o religioso revolucionário,

emanam uma notável liberdade interior e, assim, transmitem

uma independência que não é arrogante nem fria, mas que lhe permite estar acima

das necessidades imediatas e prementes. Ele é movido pelo que acontece a seu redor,

mas não deixa que as coisas o oprimam ou estraçalhem. Ele ouve com atenção, fala

com autoridade segura, mas não se precipita nem se abala facilmente. Em tudo o que

diz e faz, parece ter diante de si uma clara visão que os ouvintes podem conhecer de

modo indireto, mas não conseguem ver. Essa visão conduz sua vida. Ele lhe é

obediente. Por meio dela, sabe distinguir o que é importante do que não é. muitas

coisas que parecem de aflitiva de aflitiva urgência mal o perturbam; ele dá grande

importância a algumas coisas que os outros simplesmente ignoram. Ele não é

insensível ao que comove outras pessoas, mas dá a suas necessidades outro

significado ao contrapô-las à sua própria visão. (NOUWEN, 2018b, p. 68).

Por fim, somos instigados a pensar a relação carisma-celebridade-mídia. Nesse

contexto há quem acredite que “o carisma da celebridade contemporânea é um sucedâneo da

instituição midiática” (TORRES, 2014, p. 90). Isto é, na visão de Torres (2014), o carisma é,

em primeiro lugar, o carisma da própria mídia, visto que, “a maioria das celebridades e

famosos não tem carisma por si” (TORRES, 2014, p. 90).

Torres (2014) assegura que fora dos holofotes da televisão e das mídias sociais,

algumas figuras tidas como célebres “deixam de exercer e exibir qualquer carisma”

(TORRES, 2014, p. 90), já que este “define-se hoje mais pela recepção, pelas audiências, do

que pelo caráter ou pelas qualidades dos carismáticos” (TORRES, 2014, p. 90). Assim,

conclui Torres (2014, p. 92), “a celebridade é o principal carisma contemporâneo. Como

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muitos famosos não têm carisma no sentido clássico, o carisma é fabricado pela economia

própria, dos promotores da indústria cultural”.

Articular carisma-celebridade-mídia, em um contexto de mudanças socioculturais e

tecnológicas, não é uma tarefa fácil, pois há sempre o risco de apresentar uma reflexão

simplista e redutora. Certamente, a mídia tem um papel crucial na construção de celebridades

contemporâneas. No entanto, não podemos ignorar outras dimensões importantes desse

processo (as características individuais, os valores, a performance, a interação, entre outras).

Dito isto, não dá para afirmar, simplesmente, que a mídia é a única responsável pelo processo

de celebrização de uma pessoa.

Se pensarmos, por exemplo, no carisma do papa Francisco, veremos que seus “dons

carismáticos”, embora reconhecidos e enaltecidos pela mídia, em princípio não dependem

dela para existir. Podemos até cogitar que, sem essa mediação, sua projeção como papa seria

menor, mas isso não significa que ele perderia seu poder carismático ou seu status de figura

pública. Há, por assim dizer, uma espécie de complementaridade na relação carisma-

celebridade-mídia.

Se é verdade que o mundo contemporâneo está “carente” de pessoas autenticamente

carismáticas, figuras como o papa Francisco e outras celebridades desse porte, tendem a se

destacar ainda mais na esfera social, visto que, a busca por referenciais e modelos, bem como

o desejo de encontro fecundo e duradouro entre as pessoas, continuam latentes no coração

humano. Contudo, tal experiência, em última instância, só pode ser proporcionada por figuras

verdadeiramente carismáticas, pessoas que não apenas entretenham o público com suas

performances cômicas, mas, líderes capazes de ir além do entretenimento e compreender a

fundo o sofrimento humano e o desespero causados pela solidão, o isolamento, a carência de

afeto e intimidade, os relacionamentos arruinados, “o tédio, a sensação de vazio e depressão e

uma profunda sensação de inutilidade que enchem os corações de milhões de pessoas neste

nosso mundo norteado pelo sucesso” (NOUWEN, 2018, p. 20).

3.7 Comunicação e cultura do encontro: “Quem se comunica se faz próximo”

Uma das expressões mais recorrentes nos discursos e na prática comunicativa do papa

Francisco é “cultura do encontro” que, em sua perspectiva, deve contrapor a “cultura da

exclusão”, do “descarte”, da “globalização da indiferença”, não raras vezes, reforçados pela

cultura da celebridade onde “tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte,

onde o poderoso engole o mais fraco” (PAPA FRANCISCO, 2013, p. 39).

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Desde que foi eleito em 2013, Francisco “tem sido um exemplo da íntima ligação

entre palavra e gesto, discurso e ação, anúncio e testemunho, reflexão e prática” (BRESSANI,

2014, p. 95). Já em seu primeiro documento oficial, publicado em 2013, ele enfatiza a

importância de se “desenvolver uma cultura do encontro numa harmonia pluriforme”

(IGREJA CATÓLICA, 2013, p. 127) que possibilite uma comunicação mais humana,

próxima e autêntica entre as pessoas.

Um convite a trabalhar pela cultura do encontro de modo simples, como fez Jesus:

não só vendo, mas olhando, não apenas ouvindo, mas escutando, não só cruzando-se

com as pessoas, mas detendo-se com elas, não só dizendo “que pena, pobrezinhos!”,

mas deixando-se arrebatar pela compaixão; e depois aproximar-se, tocar e dizer:

“Não chores” e dar pelo menos uma gota de vida (IGREJA CATÓLICA, 2016).

A proposta do papa nos remete à ideia de “comunicação existencial”, utilizada pelo

filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883-1969), através da qual ele defende que, é

somente a partir da relação e do encontro com o outro que podemos realmente existir. Ele

explica que, na comunicação existencial,

cada um, manifestando-se aos outros, revela-se a si próprio, pois que esta revelação

não se realiza totalmente em uma existência isolada, mas só em conjunto com

outros. Uma comunicação autêntica exige uma pergunta e um responder sem fim –

uma verdadeira luta em comum para a conquista do ser. Na comunicação

existencial, e através dela, o eu, revelando-se ao outro, toma consciência de si

próprio; pondo-se a disponibilidade de outros, dilata a sua própria personalidade.

(RALHA, 2013).

Liesen (2009) explica, com base no pensamento de Karl Jaspers, que “consciência,

liberdade e transcendência constituem, portanto, a existência que só se realiza na

comunicação, já que ser é sempre ser-com-o-outro” (LIESEN, 2009, p. 103). Neste sentido, a

comunicação existencial promove o encontro de duas existências, através de uma mútua

abertura entre os indivíduos (LIESEN, 2009), já que o “mim mesmo”, sem o encontro com o

outro, é “sempre insuficiente” (LIESEN, 2009, p. 103).

Segundo Bressani (2014), estamos vivendo uma “cultura da comunicação” que

permite conceber a “cultura do encontro”, proposta por Francisco, como “desdobramento de

um novo modelo de comunicação que esteja a serviço das minorias, respeitando as diferenças,

promovendo a diversidade e tornando os indivíduos muito mais conscientes, comprometidos e

solidários entre si” (BRESSANI, 2014, p. 104).

Para compreendermos melhor a ideia de “cultura do encontro”, difundida pelo papa, é

necessário recorrer a duas fontes principais: a primeira refere-se à passagem bíblica do Bom

Samaritano (cf. Lucas 10, 29-37), através da qual o papa atualiza a proposta comunicativa de

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Jesus, pautada no encontro e na misericórdia; e a segunda diz respeito a uma experiência

pessoal contada pelo próprio pontífice em correspondência a um amigo.

A parábola do Bom Samaritano refere-se ao seguinte episódio narrado por Jesus:

Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após

havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto. Casualmente,

descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita,

atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. Certo samaritano em viagem, porém,

chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas

chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal,

conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois

denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: 'Cuida dele, e o que gastares a mais, em

meu regresso te pagarei'. Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem

que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Ele respondeu: ‘Aquele que usou de

misericórdia para com ele’. Jesus então lhe disse: ‘Vai, e também tu, faze o mesmo

(BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002, p. 1808).

Retomando esse texto, por ocasião do dia mundial das comunicações sociais de 2014,

o papa Francisco atualiza a parábola de Jesus e lança alguns questionamentos que, em nossa

compreensão, se apresentam como basilares para se compreender a profundidade e as

exigências de sua comunicação:

Como pode a comunicação estar ao serviço de uma autêntica cultura do encontro? E

– para nós, discípulos do Senhor – que significa, segundo o Evangelho, encontrar

uma pessoa? Como é possível, apesar de todas as nossas limitações e pecados, ser

verdadeiramente próximo aos outros? Estas perguntas resumem-se naquela que, um

dia, um escriba – isto é, um comunicador – pôs a Jesus: ‘E quem é o meu próximo?’

(Lc 10, 29). Esta pergunta ajuda-nos a compreender a comunicação em termos de

proximidade. Poderíamos traduzi-la assim: Como se manifesta a ‘proximidade’ no

uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado pelas tecnologias digitais?

Encontro resposta na parábola do bom samaritano, que é também uma parábola do

comunicador. Na realidade, quem comunica faz-se próximo. (IGREJA CATÓLICA,

2014).

Nesse trecho da mensagem de 2014, Francisco apresenta, de maneira consistente e

provocadora, a sua compreensão de comunicação, ao mesmo tempo em que reconhece os

desafios que a Igreja deve enfrentar para superar a comodidade e repensar a evangelização no

ambiente digital. Para ele, não há encontro verdadeiro, dentro ou fora das mídias sociais, sem

que haja proximidade, misericórdia e compaixão. Contudo, sinaliza o papa, quando a

comunicação humana tem como “fim predominante induzir ao consumo ou à manipulação das

pessoas, encontramo-nos perante uma agressão violenta como a que sofreu o homem

espancado pelos assaltantes e abandonado na estrada, como lemos na parábola” (IGREJA

CATÓLICA, 2014).

A comunicação do papa Francisco desafia não apenas a Igreja, como a própria

sociedade e suas mazelas sociais. Numa tentativa de atualizar a parábola de Jesus, o papa

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explica que o levita e o sacerdote não veem aquele homem ferido como seu próximo, mas

como um estranho de quem era melhor manter a distância. “Naquele tempo, eram

condicionados pelas regras da pureza ritual. Hoje, corremos o risco de que alguns mass-media

nos condicionem até ao ponto de fazer-nos ignorar o nosso próximo real” (IGREJA

CATÓLICA, 2014).

Francisco reconhece que hoje vivemos num mundo que está a tornar-se cada vez

menor, parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximo uns dos

outros. Não obstante os avanços tecnológicos, ele observa um paradoxo, já que “dentro da

humanidade, permanecem divisões, e às vezes muito acentuadas. A nível global, vemos a

distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres”

(IGREJA CATÓLICA, 2014). Em consonância com essa ideia, Serelle (2016) elucida que

a mídia falha em comunicação, segundo Silverstone, porque “apaga” o outro. Suas

estratégias de representação aniquilam a diferença, operando por meio da

assimilação completa desse outro; ou, em movimento contrário, propõem um abismo

absoluto, negando qualquer possibilidade de se estabelecer uma humanidade em

comum ou uma forma de proximidade com o outro. (SERELLE, 2016, p. 84).

Segundo Francisco, uma boa comunicação ajuda-nos a estar mais perto e a conhecer-

nos melhor entre nós, ou seja, nos torna mais unidos como uma grande família humana. Ele

adverte, contudo, que os muros que nos dividem só podem ser superados, se estivermos

prontos a ouvir e a aprender uns dos outros, ou seja, é necessário harmonizar as diferenças por

meio de formas de diálogo que nos permitam crescer na compreensão e no respeito (IGREJA

CATÓLICA, 2014). Nesse sentido, corrobora Serelle (2016, p. 85), “a comunicação deve ser,

então, uma ponte para o comum, fundamentada na diversidade”.

A cultura do encontro, na visão de Francisco, requer que estejamos dispostos não só a

dar, mas também a receber de outros. Por isso mesmo, a tecnologia e as mídias sociais podem

ajudar-nos nisso, “particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro

e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus” (IGREJA

CATÓLICA, 2014).

Ao mesmo tempo em que o papa defende a presença dos católicos na internet e nas

mídias sociais, ele também reforça o valor do encontro face a face. Para ele, todavia, não

basta circular pelas ‘estradas’ digitais, isto é, simplesmente estar conectados: “é necessário

que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos,

fechados em nós mesmos. Precisamos de amar e ser amados. Precisamos de ternura”

(IGREJA CATÓLICA, 2014).

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Partindo dessa mesma ideia, Martino (2015), inspirado na “Teoria da Proximidade

Eletrônica”, desenvolvida por Renee Human e Derek Lane – elaborada a partir de uma

pesquisa via internet com universitários a respeito de como eles mantinham contato com

amigos mais antigos que, por algum motivo moravam distantes –, adverte que, “fazer amigos

virtuais é fácil. Manter virtualmente os amigos feitos fora da internet é difícil” (MARTINO,

2015, p. 130), já que esse tipo de relacionamento mediado pelas redes sociais não dá conta de

lidar com toda a riqueza e complexidade do encontro face a face. Contudo, ressalta o autor,

“nada impede, portanto, que relacionamentos de amizade sejam criados de fato nos ambientes

virtuais. O problema, no entanto, acontece, quando se busca manter, na internet, uma amizade

que começou offline” (MARTINO, 2015, p. 131).

Ao que tudo indica, há uma mudança qualitativa nos relacionamentos face a face

que continuam apenas no online, quando, por exemplo, uma das pessoas se muda

definitivamente de cidade, ou, como no caso da pesquisa, se muda para cursar a

universidade em outro ponto do país. Nesses casos, toda a troca de informações

iniciada em um ambiente off-line e, portanto, moldada para essa realidade, é

subitamente transferida para um espaço diferente, no qual as regras e possibilidades

para a troca de informações são outras. Uma vez transpostas para a internet, as

relações face a face ganham novas características que, no entanto, aparentemente

não chegam a substituir os contatos pessoais no mundo físico. (MARTINO, 2015, p.

130).

Para Francisco, não são as estratégias comunicativas que garantem a beleza, a bondade

e a verdade da comunicação. Por isso mesmo, ele destaca que a rede digital pode ser um lugar

rico de humanidade: “não uma rede de fios, mas de pessoas humanas”. Quanto à suposta

neutralidade dos meios de comunicação, Francisco enfatiza que esta é só aparente, já que “só

pode constituir um ponto de referimento quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo”,

ou seja, o envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade de um comunicador. “É por

isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais”

(IGREJA CATÓLICA, 2014).

A segunda fonte para compreender a “cultura do encontro” está ligada ao contexto

religioso e familiar do próprio Bergoglio, muito antes de tornar-se papa. Ele relata, então, ao

amigo brasileiro, padre Alexandre Awi Mello:

Acho que preciso lhe contar algo sobre esta expressão. Quando refizeram a fachada

da catedral de Buenos Aires, optaram por copiar o modelo da Madeleine de Paris e,

como era a época da reorganização nacional e se buscava a unidade da nação,

optaram por esculpir no frontispício a cena do encontro de José com seus irmãos.

Essa imagem me tocou profundamente – acho que, em parte, devido à minha

história familiar e, em grande parte, pela graça de Deus. Em minha família, houve

uma longa história de desencontros. Tios, primos brigados e separados. Quando se

comentava algum caso desses ou se pré-anunciava alguma briga, eu, criança,

chorava muito, escondido, e às vezes oferecia algum sacrifício ou alguma

penitência, para que essas coisas não acontecessem. Isso me machucava muito.

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Graças a Deus, na minha casa, meus pais e os cinco irmãos vivíamos em paz. Acho

que esta história da minha infância me marcou muito e foi criando no meu coração a

vontade de que as pessoas não brigassem, de que continuassem unidas. E, se

brigassem, que depois se reconciliassem. Releio o que escrevi e me dá um pouco de

vergonha, mas acho que nesta história já uma espécie de semente do que, com o

passar dos anos e de maneira conceitual, chamei de ‘cultura do encontro’. É um

anseio que carrego desde criança (SHALOM, 2015).

Figura 15 - Fachada da Catedral de Buenos Aires

Fonte: Minuto de resiliência (2019)

Figura 16 - Papa Francisco e Padre Alexandre Awi, 2013

Fonte: Schoenstatt (2013)

Temos, portanto, duas chaves de leitura que sinalizam para a expressão “cultura do

encontro”: a primeira, de cunho bíblico, a segunda, de caráter familiar e pessoal. Ambas são

complementares e fundamentais para compreendermos o estilo da comunicação do papa.

Considerando o seu desejo por uma comunicação que esteja “ao serviço de uma autêntica

cultura do encontro”, nossa pesquisa busca atualizar a pergunta da parábola: “de quem o papa

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se faz próximo?”. E, partindo do “pressuposto de que as figuras de destaque em uma

sociedade sinalizam inquietações, anseios e valores de uma sociedade” (FRANÇA; SIMÕES,

2018, p. 3), pretendemos observar os gestos e atitudes do papa, no intuito de identificar os

possíveis valores e sentimentos por ele invocados a partir de sua proximidade com as pessoas

colocadas em cena.

Com efeito, o papa Francisco, na categoria de chefe de Estado do Vaticano e líder

máximo da Igreja Católica encontra-se, diariamente, com muitas pessoas, inclusive já

recebeu, no Vaticano, várias celebridades e figuras públicas do mundo contemporâneo: de

Lionel Messi a Angelina Jolie, de Leonardo DiCaprio a Katy Perry, de Arnold

Schwarzenegger a Donald Trump, dentre outros. Contudo, no cotidiano da vida e, inclusive,

em seu perfil do Instagram, quem é o seu “próximo”? Quem são, de fato, os verdadeiros

“protagonistas” de seus encontros, discursos e de suas mensagens? Estas e outras questões

serão analisadas com base nas fotografias e vídeos postados em seu perfil @franciscus no

Instagram.

Figura 17 - Papa Francisco e Lionel Messi, 2013

Fonte: Usa Today (2013)

Figura 18 - Papa Francisco e Donald Trump, 2016

Fonte: Ramos (2017)

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Figura 19 - Papa Francisco e Angelina Jolie, 2016

Fonte: Mccluskey (2016)

Figura 20 - Papa Francisco e Katy Perry, 2018

Fonte: Drysdale (2018)

Sob o enfoque da proximidade podemos pensar, então, que a cultura da celebridade –

marcada pela comoditização e a idolatria – e a cultura do encontro não são, em princípio, duas

faces da mesma moeda – ainda que em determinados contextos midiáticos estejam

inevitavelmente imbricadas. Se a primeira preza pelo poder, o luxo, a visibilidade a qualquer

preço e, de algum modo, impõe barreiras nas relações gerando distanciamento e

competitividade entre as pessoas, por outro, a cultura do encontro, deseja ser portadora da

comunicação, do diálogo, do respeito mútuo e da comunhão entre todos.

Na perspectiva de Francisco, portanto, a cultura do encontro – cada vez mais “tentada”

pela cultura da celebridade – fortalece os laços humanos e contribui para que as pessoas

vejam a humanidade como uma grande “casa comum”, um espaço harmonioso no qual todos

possam expressar seus valores e potencialidades.

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4 AS REDES SOCIAIS DO PAPA FRANCISCO

4.1 Rede, interação e laços sociais

Neste terceiro capítulo nos voltamos para as redes sociais do papa Francisco,

especialmente o Instagram. Antes, porém, recorremos ao conceito de redes sociais, a fim de

investigar melhor a sua dinâmica e poder de afetação nas relações contemporâneas, haja vista

que, “as redes sociais na Internet representam um novo e complexo universo de fenômenos

comunicativos, sociais e discursivos” (RECUERO, 2014, p. 61). Para Martino (2015), “a

noção de redes sociais é uma das maneiras de compreender como os laços entre seres

humanos são formados e se desenvolvem através do tempo” (MARTINO, 2015, p. 72).

De acordo com Alex Primo (2009), uma rede é formada por um conjunto de nós e suas

conexões. Ele explica que “um computador pode ser um dos nós em uma rede informática;

uma emissora local pode ser um nó em uma rede nacional de radiodifusão; uma estudante

pode ser um dos nós em uma rede social de um determinado colégio” (PRIMO, 2009, p. 399).

Partindo, portanto, dessa ideia, um nó pode ser um equipamento, uma pessoa, um grupo, uma

organização, um aeroporto etc. (PRIMO, 2009).

Para Recuero (2009), uma rede é uma metáfora para observar os padrões de conexão

de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. “A

abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os

atores sociais e nem suas conexões” (RECUERO, 2009, p. 24). Partindo, então, do conceito

de rede social – quando uma rede de computadores conecta uma rede de pessoas e

organizações – Recuero (2009) sugere que,

os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou

nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do

sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação

e da constituição de laços sociais. Quando se trabalha com redes sociais na Internet,

no entanto, os atores são constituídos de maneira um pouco diferenciada. Por causa

do distanciamento entre os envolvidos na interação social, principal característica da

comunicação mediada por computador, os atores não são imediatamente

discerníveis. Assim, neste caso, trabalha-se com representações dos atores sociais,

ou com construções identitárias do ciberespaço. Um ator, assim, pode ser

representado por um weblog, por um fotolog, por um Twitter [...]. (RECUERO,

2009, p. 25).

Assim, as redes sociais, na compreensão de Recuero (2009), são espaços de interação,

lugares de fala, construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua personalidade

ou individualidade. Essas apropriações, na visão da autora, funcionam como uma presença do

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“eu” no ciberespaço, isto é, um espaço privado que, ao mesmo tempo, é também público.

“Essa individualização dessa expressão, de alguém ‘que fala’ através desse espaço é que

permite que as redes sociais sejam expressas na Internet” (RECUERO, 2009, p. 27).

Em termos gerais, enfatiza Recuero (2009), as conexões em uma rede social são

constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre

os atores. Assim, entender como os atores constroem esses espaços de expressão é também

essencial para compreender como as conexões são estabelecidas.

O número de nós em uma rede, explica Martino (2015), acaba se multiplicando

exponencialmente a cada nova conexão estabelecida, acrescentando igualmente outras

conexões que permitem um aumento instantâneo de formas de contato e circulação de

informações. Ele acrescenta que,

não por acaso, nas redes sociais na internet, as informações podem circular entre um

número muito grande de pessoas em um espaço de tempo relativamente curto. O

resultado, nas redes online, é um fluxo ininterrupto de dados gerados, produzidos e

reproduzidos entre os participantes. (MARTINO, 2015, p. 74).

Martino (2015) destaca, com base no pensamento do sociólogo francês Pierre

Mercklé, três características específicas das redes sociais online: a primeira delas refere-se à

possibilidade de se criar um espaço pessoal de apresentação de si mesmo, onde se pode

colocar à disposição de todos as imagens e os textos que se escolher; o segundo aspecto trata-

se da possibilidade de acessar os perfis de outras pessoas, segundo as características e

possibilidades de cada rede social; o terceiro aspecto das redes sociais online diz respeito às

chances de se estabelecer relações com outros participantes em rede, na observação de seus

perfis, a partir de interesse e afinidades comuns.

A expressão “redes sociais online”, segundo Martino (2015), refere-se a um número

considerável de formas de interação entre indivíduos a partir da construção de páginas ou de

perfis. “Cada um desses, assim como cada uma das redes, tem suas próprias características e,

por conta disso, permite tipos diferentes de interação” (MARTINO, 2015, p. 74). Desse

modo, Martino acredita que a análise das relações nas redes sociais ajuda não apenas a

compreender o volume e a velocidade da troca de dados e conteúdos, como também “facilita a

percepção das possibilidades efetivas de se chegar a compreender o que, de fato, significa

uma relação social online, sua capacidade quase incalculável de multiplicação de conteúdo e

saberes – e, por que não, de poderes” (MARTINO, 2015, p. 74).

De acordo com Primo (2009, p. 399), “o que diferencia uma rede social é justamente o

laço social criado e mantido entre seus participantes”. O laço, para Recuero (2009), é a efetiva

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conexão entre os atores que estão envolvidos nas interações sociais. É aquilo que motiva uma

pessoa a manter contato com outra, seja através de laços de trabalho, laços afetivos, laços de

proximidade, e assim por diante. “O foco está em entender como a força dos laços existentes

entre os vários participantes interfere no estabelecimento de contatos e na divulgação de

mensagens entre os participantes” (MARTINO, 2015, p. 68).

Martino (2015), inspirado em Mark Granovetter, especula que, no contexto das redes,

é possível classificar, a partir de uma espécie de “mapa” de amizades ou relacionamentos, a

“força de um laço social”, com base em três fatores principais: primeiro, pela quantidade de

tempo que se despende com uma pessoa; segundo, pela intensidade emocional do vínculo; e

terceiro, a partir da intimidade, confiança mútua e reciprocidade. “Quanto maiores esses

fatores, mais forte é o laço existente” (MARTINO, 2015, p. 68). Essas três características,

porém, não se dão de maneira isolada, e não devem ser tratadas como um princípio rígido, já

que, “é possível gastar, por razões específicas, uma quantidade muito grande de tempo com

pessoas com quem se tem um vínculo emocional fraco e pouca intimidade, por exemplo”

(MARTINO, 2015, p. 69).

Além dos três fatores citados por Martino, Granovetter divide os laços entre contatos

em três categorias: fortes, fracos e ausentes.

Embora, em geral, a tendência na vida cotidiana seja dar mais importância aos laços

fortes, o autor propõe, em seu modelo, que os laços fracos podem ter uma

importância maior na dinâmica de funcionamento das redes por conta de seu

tamanho – quantitativamente, o número de ‘conhecidos’ é maior do que o de

‘amigos’ e ‘familiares’, aumentando a amplitude de divulgação de dados existentes

nesse tipo de contato. (MARTINO, 2015, p. 69).

Sob essa ótica, Martino (2015) esclarece que a força dos laços fracos está ligada à

distância existente entre pontos de uma rede, os quais permitem estabelecer contato com

pessoas fora do círculo mais próximo de amigos e parentes – os laços fortes – e, portanto,

criar ligações com indivíduos socialmente distantes, como por exemplo, com uma

celebridade. Dessa maneira, “os laços fracos ganham força na medida em que podem se tornar

pontes entre pessoas socialmente distantes” (MARTINO, 2015, p. 69), o que permite

aumentar, a partir desses laços menos diretos, o círculo de relacionamentos.

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4.2 As redes sociais do papa Francisco: oficiais e não oficiais

Quando Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa, em 13 de março de 2013, logo em sua

primeira aparição pública, ele demonstrou o desejo de percorrer com o povo um caminho de

fraternidade, de amor, de confiança (AQUILINO; COLLET, 2019). Tal propósito, porém, não

foi extensivo apenas aos fiéis que frequentam a igreja, mas, a todos aqueles que percorrem,

também, as “estradas digitais”, pois, Francisco entende que, também as mídias sociais, podem

ajudar a “sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido

de unidade da família humana; oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade

entre todos” (IGREJA CATÓLICA, 2014).

Com base nessa compreensão, uma das formas que Francisco encontrou de fazer-se

mais próximo das pessoas e, de certa maneira, romper um pouco o estereótipo de que o papa é

um ser “angelical, distante e intocável”, foi aderindo às redes sociais, especialmente ao

Twitter, em 2013, e ao Instagram, em 2016. Fazer isso significa, de certo modo, adaptar a sua

mensagem às exigências dessas novas mídias, sem ignorar, é claro, que “as novas

visualidades consistem em imagens de síntese” (ALLOA, 2015, p. 11). Sob esse enfoque, vale

ressaltar as palavras de Gustavo Entrala, responsável pela conta do papa no Twitter, em uma

entrevista ao Jornal Catalunya Cristiana. Segundo ele,

o papa se adequou aos poucos à rede social e com o tempo passou a escrever quase

todos os dias, sendo metade das mensagens digitada pelo próprio Francisco e outra

oriunda das suas pregações. As pessoas, hoje em dia, não têm muito tempo para

consumir o que a mídia oferece... A comunicação da Igreja tem de se adaptar a esta

nova situação. A maioria das pessoas não tem tempo para ler uma encíclica do papa.

Por isso, é preciso fazer de cada mensagem uma visão muito sintética, para que as

pessoas captem. O santo padre entendeu muito bem isso. (MEDRADO; PINHO,

2019, p. 144).

Embora o papa esteja “oficialmente presente” apenas no Twitter (@Pontifex) e

Instagram (@Franciscus), a sua imagem célebre e suas mensagens também circulam nas

demais redes como Facebook e YouTube, seja através das contas oficiais do Vaticano

(Vatican News), seja por meio de perfis, fanpage ou canais criados por seus fãs ou devotos.

Para a análise deste estudo adotamos o perfil @franciscus na rede social Instagram,

não apenas por ser uma espécie de álbum do cotidiano de Francisco, mas, por nos possibilitar

um olhar simbólico e, ao mesmo tempo, afetivo sobre a comunicação do Pontífice,

especialmente no que concerne à promoção da cultura do encontro representado pelas

imagens e textos em suas publicações.

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4.2.1 @Pontifex: papa Francisco no Twitter

Figura 21 - Perfil @Pontifex no Twitter

Fonte: Igreja Católica (2012)

A empreitada midiática do papa Francisco começa com a adesão ao Twitter, logo após

sua eleição. Denominada @Pontifex, a conta foi criada por seu antecessor, Bento XVI, meses

antes de sua renúncia. Francisco decide, então, dar continuidade ao perfil no Twitter, o qual se

apresenta em nove idiomas, incluindo o português.

Dada sua aceitação e popularidade, depois que Francisco assumiu o pontificado, a

conta @pontifex cresceu surpreendentemente. Em janeiro de 2013, as contas do Pontífice

somavam 2 milhões de seguidores. Até a renúncia de Bento XVI somava-se 3 milhões de

seguidores. Com a chegada de Francisco, sua frequência de publicações e suas mensagens, as

contas do Twitter superaram rapidamente os 4 milhões em abril de 2013. Um ano depois, a

conta @Pontifex chegou aos 13 milhões de seguidores (ACI DIGITAL, 2014).

Antes mesmo de completar um ano de sua adesão ao Twitter, o papa Francisco foi

considerado o líder mundial com maior influência nesta rede social. Por essa razão, em

outubro de 2013, o “Blogfest”, festival que reúne importantes especialistas em redes sociais

na Europa, nomeou o papa Francisco como a “Personalidade do Ano”, devido à

“proximidade, frequência e determinação” das palavras que escreve no Twitter (ACI

DIGITAL, 2013).

No final de 2017, antes de completar cinco anos do pontificado de Francisco, a conta

@Pontifex chegou a 40 milhões de seguidores, aproximando-se de outros líderes e

celebridades: Donald Trump (40,3 milhões de seguidores), Barack Obama (mais de 95

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milhões) Katy Perry (104 milhões), Justin Bieber (mais de 102 milhões) (ESTADO DE

MINAS, 2017).

Atualmente, os nove perfis @pontifex estão distribuídos da seguinte maneira:

português (4,14 milhões de seguidores), espanhol (16,9 milhões), inglês (17,9 milhões),

italiano (4,87 milhões), francês (1,33 milhões), polonês (1, 04 milhões), latim (907 mil),

alemão (636 mil) e árabe (431 mil).19

4.2.2 Papa Francisco e o Facebook

Figura 22 - Papa Francisco e Mark Zuckerberg, 2016

Fonte: Juana (2016)

Em agosto de 2016, o papa Francisco reuniu-se com o fundador e diretor do Facebook,

Mark Zuckerberg, para tratar de assuntos relacionados aos avanços da tecnologia no mundo

contemporâneo. Em um comunicado, a Santa Sé informou que “eles falaram sobre como

utilizar as comunicações para amenizar a pobreza, encorajar a cultura do encontro e fazer com

que uma mensagem de esperança possa chegar especialmente às pessoas mais necessitadas”

(JUANA, 2016). O encontro, porém, não resultou na criação de um perfil pessoal do papa no

Facebook.

Diferentemente do que acontece com o Twitter e Instagram, no Facebook não existe

nenhum perfil pessoal do papa, o que existe, na verdade, são vários perfis e páginas dedicadas

ao papa (feitas por fãs/devotos). Em português, as páginas mais famosas são: “Papa Francisco

– Amigos e Amigas” e “Francisco, o Papa da humildade”, ambas criadas em 13 de março de

2013, data da eleição de Francisco. A primeira possui 4.252.797 seguidores e 4.271.993

19 Acesso em 12 de março de 2019.

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curtidas; a segunda, 385.225 seguidores e 373.366 curtidas. Em outras línguas há iniciativas

parecidas, como por exemplo, a Fanpage “Papa Francisco”, em espanhol, que possui

3.512.352 seguidores e 3.485.741 curtidas.20

Figura 23 - Fanpage “Papa Francisco – Amigos e Amigas”

Fonte: Leigos católicos (2013)

Figura 24 - Fanpage “Papa Francisco, o Papa da humildade”

Fonte: Fanpage (2013)

20 Conforme acesso em 13 de março de 2019.

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Na página “Papa Francisco – Amigos e Amigas” consta uma descrição bastante

simbólica e, de certo modo, corrobora o nosso estudo, especialmente no que concerne à

“cultura do encontro”:

Assim que o Papa Francisco foi eleito, um grupo de jovens católicos se sentiu

inspirado a dedicar a ele uma página no Facebook. E a ação foi rápida: a “Papa

Francisco – Amigos e Amigas” se tornou em pouco tempo uma das mais numerosas

comunidades da rede em homenagem ao Santo Padre. A proposta da página é muito

simples, tão simples quanto o próprio Papa, tão simples quanto o próprio Cristo:

além de divulgar as mensagens e iniciativas do Santo Padre, compartilhar também

vídeos, imagens e links capazes de ajudar os leitores a seguirem com grande

entusiasmo o caminho de Jesus, construindo juntos a “cultura do encontro”, que

nada mais é do que a vivência prática do Evangelho no dia a dia. Em sua bela

trajetória, a “Papa Francisco - Amigos e Amigas” tem conquistado milhares e

milhares de internautas interessados no testemunho e no magistério do Santo Padre.

A Aleteia é parceira da página na promoção da cultura do encontro (LEIGOS

CATÓLICOS, 2013).

Na descrição da página “Papa Francisco, o Papa da humildade” consta que “esta

página é uma homenagem ao Papa Francisco e a humildade demonstrada no dia em que nos

foi apresentado pedindo que a igreja o abençoasse primeiro” (FANPAGE, 2013). As duas

páginas, como é possível perceber, reforçam características marcantes da comunicação e do

carisma de Francisco, como: humildade, cultura do encontro, simplicidade.

4.2.3 “O Vídeo do Papa” e “Click to Pray”

A presença do papa Francisco no YouTube está ligada, mais especificamente, ao canal

“O Vídeo do Papa” (e os canais Vatican News), uma iniciativa da Rede Mundial de Oração do

Papa (Apostolado da oração), movimento da Igreja Católica que deu origem projeto “O Vídeo

do Papa”, a fim de difundir os pedidos de orações mensais do Pontífice através da linguagem

audiovisual.

Criado em 6 de janeiro de 2016 e publicado mensalmente no site oficial do projeto

(https://thepopevideo.org) e nas redes sociais (Facebook, Youtube, Twitter e Instagram), “O

Vídeo do Papa” é uma produção audiovisual de mais ou menos um minuto, na qual o papa

Francisco aparece, sentado, frente a uma câmera, motivando as pessoas a rezar com ele pelas

mais diversas realidades (meio ambiente, fome, diálogo inter-religioso, velhice, imigração,

etc.). Em seu primeiro vídeo (cf. figura 25), ele apresenta, de maneira bastante simbólica, a

questão do diálogo inter-religioso e enfatiza a importância do amor como fonte universal de

proximidade entre as pessoas de outras denominações religiosas.

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Figura 25 - Imagem do primeiro vídeo do papa sobre diálogo inter-religioso, 2016

Fonte: Rr.sapo (2016)

Os vídeos são dinâmicos, curtos e diretos. Além do que, apresentam um visual atraente

e profissional. Nos vídeos, o Pontífice fala em espanhol, e o material é legendado em nove

idiomas, dentre eles, o português. De acordo com La Machi, agência de comunicação

responsável pela produção dos vídeos, a ideia teve grande aceitação por parte do público e,

desde sua primeira produção, tem se multiplicado exponencialmente nas redes sociais

(LAMACHI, 2016). Na versão em português, no YouTube, o canal possui pouco mais de 6

mil inscritos. Já a versão em espanhol possui 20.766 inscritos. A maior expressividade do

projeto talvez esteja no perfil do Facebook, o qual possui 263.775 seguidores e 263.356

curtidas. No Instagram, o perfil “O vídeo do papa” possui apenas 655 seguidores. O primeiro

vídeo (sobre o diálogo inter-religioso, criado em janeiro de 2016) foi postado somente em 17

de julho de 2018, e alcançou apenas 136 visualizações. Já no perfil do Twitter, versão em

português, “O vídeo do papa” possui 334 seguidores. O primeiro vídeo postado data de 5 de

fevereiro de 2016 (sobre o respeito pela criação) e teve somente 4 curtidas e foi retuitado

apenas 3 vezes.21

Além de “O vídeo do papa”, o Apostolado da Oração lançou, em novembro de 2014, o

“Click to Pray” [clique para rezar], o App oficial da Rede Mundial de Oração do Papa,

atualmente disponível em português, espanhol, francês, alemão, inglês e italiano. A cada mês

são publicadas as intenções e pedidos do Papa pela missão da Igreja (os mesmos de “O vídeo

do papa”). O aplicativo, disponível para os sistemas Android e iOs, disponibiliza três seções

principais: “Reza com o Papa” – com as intenções de oração mensal do Papa pelos desafios

que a humanidade e a missão da Igreja enfrentam; “Reza cada dia” – com um ritmo de oração

21 Todas as informações foram acessadas nas respectivas redes sociais no dia 14 de março de 2019.

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que propõe três momentos diários; e “Reza em rede” – que é um espaço onde os usuários

(entre eles o Papa Francisco) podem partilhar as suas orações diárias com outros usuários do

aplicativo.

Figura 26 - Aplicativo Click to Pray

Fonte: Murray (2019)

Em sua descrição no site (https://clicktopray.org), a Rede de Oração do Papa garante:

Click to Pray te acompanha durante o teu dia. Liga-te a milhares de pessoas que

todos os dias encontram um objetivo (nos desafios da humanidade e da missão da

Igreja que o Papa nos propõe nas suas intenções, em cada mês) para rezar, viver e

edificar o mundo com que sonhamos. Dá sentido à tua vida e energia à tua oração.

Torna-te membro desta iniciativa do Papa para ligar corações dispostos a colaborar

com ele na missão de Jesus. Juntos, cada dia é diferente. Muda a tua vida, para que

nenhum dia seja igual (FORNOS, 2019).

No Ângelus do dia 20 de janeiro de 2019, o papa Francisco apresentou, na Praça do

Vaticano, o aplicativo Click to Pray e incentivou os fieis a fazerem uso do aplicativo,

especialmente durante a JMJ no Panamá, em 2019. Na ocasião, Francisco afirmou que “a rede

pode nos ajudar a rezar juntos. Por isso, gostaria de apresentar o aplicativo oficial da Rede

Mundial de Oração do Papa: Click to Pray” (MURRAY, 2019). Com um tablet em mãos,

aberto no aplicativo Click to Pray, com a ajuda do padre Frédéric Fornos, SJ, diretor nacional

do Apostolado da Oração, Francisco convidou os jovens a baixarem o aplicativo e a continuar

a rezar com ele o Terço pela paz, especialmente durante a JMJ no Panamá.

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Figura 27 - Papa apresenta o aplicativo Click to Pray

Fonte: Murray (2019)

Assim como “O vídeo do papa”, o “Click to Pray” possui perfis nas redes sociais

(Facebook, YouTube, Twitter e Instagram). No canal do YouTube (português), há 1.730

inscritos. A primeira publicação, datada de 21 de novembro de 2014, é um pequeno vídeo de

45 segundos, intitulado “Click to Pray Mala de Mulher”, e teve 4.457 visualizações. No

Facebook, o perfil “Click to Pray” possui 168.853 seguidores e 168.808 curtidas. No

Instagram, possui 47 publicações e 1.222 seguidores. No Twitter existe um perfil ativo, com

34 seguidores, mas não há nenhuma publicação.22

4.2.4 Vatican News: o portal de notícias do Vaticano

Em 27 de junho de 2015, o papa Francisco instituiu, através de um Moto Próprio23, o

novo Dicastério24 da Cúria Romana voltado para a comunicação, o qual tratará de integrar o

Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, a Sala de Imprensa da Santa Sé, o Serviço

de Internet, a Rádio Vaticano, o Centro Televisivo Vaticano, o periódico oficial da Santa Sé,

L’Osservatore Romano, a Tipografia Vaticano, o Serviço Fotográfico e a editora do Vaticano,

a Libreria Editrice Vaticano. Tais organismos, desde então, passaram a trabalhar de maneira

mais unificada atendendo às indicações da nova Secretaria para a Comunicação.

22As informações deste parágrafo foram acessadas em 14 de março de 2019. 23 Motu próprio é um documento normativo expedido diretamente pelo Papa. 24 O Dicastério para a Comunicação é um dos organismos executivos da Santa Sé (dentre os 55 existentes), o

qual funciona como uma espécie de ministério que integra os vários departamentos ou áreas relacionadas à

comunicação do Vaticano.

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Em um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé, certifica-se que o atual contexto

comunicativo, caracterizado pela presença e o desenvolvimento dos meios digitais e por

fatores de convergência e de interatividade, requer repensar o sistema informativo da Santa

Sé, o qual responderá cada vez melhor às exigências da missão da Igreja (JUANA, 2015).

No documento, o papa Francisco determina que “o novo Dicastério, de acordo com a

Secretaria de Estado, assumirá o site da web institucional da Santa Sé: www.vatican.va e o

serviço de Twitter do Sumo Pontífice: @Pontifex” (IGREJA CATÓLICA, 2015).

Uma das principais iniciativas do novo Dicastério para a comunicação foi a criação do

portal “Vatican News”, em dezembro de 2017, o qual reunia, em um primeiro momento, 6

línguas, entre as quais o português. Atualmente, o portal disponibiliza notícias em 33

línguas.25

Figura 28 - Interface em português do portal “Vatican News”

Fonte: Vativan News (2019)

Por ocasião da inauguração do portal, Silvonei José, jornalista brasileiro que trabalha

no Vaticano, afirmou:

Neste fim de semana se parte com uma equipe de cerca de 70 pessoas em 6 divisões

linguísticas – italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e português – e com 4 áreas

temáticas: Papa, Vaticano, Igreja e Mundo. “Vatican News”, portanto, passa a ser o

novo sistema de informação da Santa Sé. Uma aventura que começou em 27 de

junho de 2015 com o Motu Próprio do Papa Francisco, que instituiu a Secretaria

para a Comunicação, o novo Dicastério da Cúria Romana (JOSÉ, 2017).

Silvonei explica que, no seu interno, confluirão progressivamente cerca de 350

profissionais, entre redatores e técnicos provenientes de todas as 40 redações linguísticas da

25 Conforme acesso em 17 de março de 2019.

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Rádio Vaticano e das 9 instituições que compõem a Secretaria para a Comunicação. “A partir

de 1º de janeiro de 2017, o percurso se completará com a agregação do jornal L’Osservatore

Romano, do Serviço Fotográfico e da Tipografia Vaticana” (JOSÉ, 2017).

O portal “Vatican News” tornou-se, a partir da criação do Dicastério, a nova marca que

representa grande parte do sistema comunicativo da Santa Sé, “na intenção de simplificar a

imagem e de superar o grande número de logotipos do passado”, destacou Silvonei. Para ele,

“a partir de agora, o logotipo identificará também as redes sociais: Twitter, Facebook e

Youtube, para cada uma das redações linguísticas e Instagram, com um perfil comum a todas

as línguas” (JOSÉ, 2017). No Facebook, a fanpage Vatican News possui 3.372.232

seguidores; no Twitter, 50,8 mil; no Instagram, 220 mil; e no canal do Youtube, online 24h,

49.984 mil inscritos.26

Na visão de Silvonei, o “Vatican News”, superando o conceito de simples

convergência digital, pretende responder e, em certo sentido, antecipar as contínuas

transformações de lugar e forma da comunicação, buscando “responder eficazmente às

exigências da missão da Igreja diante dos desafios, principalmente do ambiente digital

contemporâneo” (JOSÉ, 2017).

Embora as mídias sociais supracitadas veiculem notícias diárias e divulguem

massivamente as mensagens do papa Francisco, especialmente através de textos, é no seu

perfil do Instagram (@franciscus), por meio de imagens e textos breves, onde podemos

visualmente “capturar” alguns traços da “cultura do encontro” representada por uma

comunicação afetiva, gestual e simbólica de Francisco. Se, pensar a imagem, como afirma

Boehm (2015), é refletir sobre o seu entrelaçamento e aquilo que ela mostra “sob os olhos”,

como o papa é representado em suas imagens do Instagram? Que sentimentos são suscitados

e que valores são enfatizados? Como são narradas as suas experiências cotidianas e quem são

os atores e situações colocados em cena? De que maneira seus discursos e sua identidade são

articulados através de imagens e textos na rede social? Estas e outras questões norteiam nossa

análise e, ao mesmo tempo, justificam a nossa escolha pela rede social Instagram, pois

acreditarmos que, por meio da imagem do papa em seu perfil, é possível identificar alguns

traços da midiatização do campo religioso, da “cultura do encontro” – marcada por uma

comunicação simbólica, afetiva e gestual –, mas, também, sinais do processo de celebrização

do papa Francisco, através de sua performance, seu carisma e seu poder de afetação do

público.

26 Conforme acesso em 24 de março de 2019.

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4.3 Breve histórico do Instagram

Criado em outubro de 2010, pelo brasileiro Mike Krieger e o norte-americano Kevin

Systrom, o Instagram é uma rede social voltada para o compartilhamento de fotos e vídeos,

através da qual é possível “compartilhar momentos cotidianos, em que o usuário narra

detalhes do seu dia a dia através do seu próprio olhar e da sua câmera” (MUSSE, 2017, p.

138). Em seu site, o Instagram se define como “uma maneira divertida e peculiar para

compartilhar a sua vida com os amigos por meio de uma série de imagens”

(SBARDELOTTO, 2016). Assim, “todos” viram fotógrafos de si mesmos e, com o próprio

celular, podem registrar suas aventuras e compartilhá-las em seu perfil. Os indivíduos passam

a se narrar através de sua subjetividade para aqueles com quem se está conectado (MUSSE,

2017, p. 138).

Em menos de um ano de sua existência, a rede social de fotos e vídeos já alcançava a

marca de 10 milhões de usuários, com mais de 150 milhões de fotos postadas (MUSSE,

2017). Com efeito, naquele mesmo ano, o Instagram foi eleito pela Apple como o aplicativo

do ano.

Inaugurado oficialmente em 6 de outubro de 2010, o Instagram nasceu como um

aplicativo exclusivo para telefones com sistema iOs – restrito ao sistema operacional da Apple

– e, somente depois, em abril de 2012, tornou-se acessível também para Android – sistema

operacional criado pelo Google – permitindo, assim, o acesso de aparelhos de outras marcas

como Sansung, Motorola etc., o que aumentou consideravelmente o número de adeptos.

Em abril de 2012, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, comprou o Instagram

por US$ 1 bilhão. Depois disso, o número de usuários subiu, em julho de 2012, para 80

milhões. Em 2014, esse número chegava a 300 milhões, o que significa “2,5 bilhões de likes

por dia e 70 milhões de publicações por dia” (MUSSE, 2017, p. 139). A rede social

continuava crescendo em todo o mundo, de tal modo que, em dezembro de 2016, ela passa a

contar com 600 milhões de usuários cadastrados.

O Instagram encerrou 2018 com mais de 1 bilhão de usuários. Somente no Brasil, em

outubro de 2018, o número de perfis chegava a 64 milhões, o que o colocava em 3º lugar no

ranking mundial da rede social, perdendo apenas para os Estados Unidos, com 121 milhões de

usuários, e para a Índia, com 71 milhões (TARDÁGUILA, 2019).

Vale ressaltar que, de tempos em tempos, o Instagram vai agregando novas

funcionalidades, de modo a “encontrar novas formas de criar uma melhor experiência de fotos

pelo celular” (PORTAL G1, 2012), como por exemplo, o acréscimo da função Instagram

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stories, em agosto de 2016, e do canal de vídeos chamado IGTV, lançado em junho de 2018.

Na ocasião, Kevin Systrom comemorou um bilhão de usuários na rede social e ratificou que

“o Instagram sempre foi um lugar onde as pessoas podem se conectar com quem as inspira,

educa e entretém todos os dias” (INSTAGRAM, 2018).

4.3.1 O discurso institucional do Instagram

De acordo com o site oficial do Instagram, sua missão, aparentemente desinteressada,

é “fortalecer seus relacionamentos com as pessoas e com as coisas que você adora”. Nos

termos de uso, a rede social é apresentada como um serviço, “Serviço Instagram”,

caracterizado por sete aspectos: 1. Oferecer oportunidades personalizadas de criar, conectar,

comunicar, descobrir e compartilhar; 2. Promover um ambiente seguro, inclusivo e positivo;

3. Desenvolver e usar tecnologias que nos ajudam a servir consistentemente nossa crescente

comunidade; 4. Fornecer experiências consistentes e contínuas em outros Produtos das

Empresas do Facebook; 5. Garantir uma infraestrutura global estável para nosso Serviço; 6.

Conectar você com marcas, produtos e serviços de maneiras importantes para você; 7.

Pesquisa e inovação.27

No primeiro aspecto, o Instagram se autodenomina como uma “experiência” e

reconhece que “as pessoas são diferentes”. Por isso, “desenvolvemos sistemas que tentam

entender com quem e com o que você e as outras pessoas se importam, e usamos essas

informações para ajudá-lo a criar, encontrar, compartilhar e participar de experiências

importantes para você”.

Em vários momentos de seu discurso institucional, o Instagram se apresenta não como

uma “empresa”, mas, como “simples mediador” entre a rede e o usuário assegurando, assim,

que, “parte do que fazemos é destacar conteúdo, recursos, ofertas e contas que possam ser de

seu interesse e oferecer formas para você experimentar o Instagram, com base no que você e

as outras pessoas fazem dentro e fora do Instagram”.

No segundo aspecto, o Instagram se apresenta como uma “comunidade” que busca

promover um ambiente seguro, inclusivo e positivo: “Desenvolvemos e usamos ferramentas e

oferecemos para os membros de nossa comunidade recursos que contribuem para tornar as

experiências deles positivas e inclusivas”. Não obstante, com o seu crescimento, a rede social

27 Informações extraídas do site oficial do Instagram (https://help.instagram.com/581066165581870) em sua

versão em português.

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tem apresentado dificuldades em lidar com algumas questões como: depressão, suicídio28,

perfis falsos, fake news, entre outras. Com efeito, o Instagram não oferece sistema de

denúncia de notícias falsas (TARDÁGUILA, 2019).

O Instagram anunciou oficialmente que tomaria medidas drásticas para acabar com

as interações inverídicas. Num post publicado em inglês, informou que havia

construído ferramentas “capazes de identificar contas que usam esses serviços [das

falsas interações]” e que passaria a remover da plataforma todas as atividades não

autênticas. "Esse tipo de comportamento é ruim para a comunidade (...) e viola

nossos termos de uso", explicou. De acordo com a direção do Instagram, contas que

fossem pegas com likes, comentários ou seguidores falsos receberiam alertas por

escrito e instruções para trocar senhas. (TARDÁGUILA, 2019).

No terceiro aspecto, o Instagram retoma a ideia de “comunidade” e de “serviço”, ao

afirmar que “uma grande parte de nosso Serviço é criar e usar tecnologias de última geração

que nos ajudam a personalizar, proteger e aprimorar o Serviço em uma escala incrivelmente

grande para uma ampla comunidade global”.

O quarto aspecto promete “fornecer experiências consistentes e contínuas em outros

Produtos das Empresas do Facebook”. Quando alguém faz uma postagem no Instagram, por

exemplo, existe a possibilidade de compartilhá-la tanto no Facebook quanto no WhatsApp. A

tendência é que essas três redes sociais, a partir de 2020, estejam cada vez mais integradas,

conforme destacou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg (MANHÃS, 2019).

O quinto aspecto garante ao usuário do Instagram “uma infraestrutura global estável

para nosso Serviço”. Para tanto, esclarece o termo de uso, “precisamos armazenar e transferir

dados entre nossos sistemas ao redor do mundo, inclusive fora de seu país de residência”.

Nesse ponto, o usuário é “obrigado” a abrir mão de sua privacidade.

O penúltimo aspecto reforça o anterior, ao assegurar que “usamos dados do Instagram

e de outros Produtos das Empresas do Facebook, bem como de parceiros, para exibir a você

anúncios, ofertas e outros conteúdos patrocinados que acreditamos ser significativos para

você”. Neste caso, o poder de escolha do usuário em relação aquilo que ele pode ver é

claramente anulado, ainda que o Instagram diga que “tentamos fazer com que esse conteúdo

seja tão relevante quanto todas as suas outras experiências no Instagram”.

Finalmente, no último aspecto, sobre “pesquisa e inovação”, o Instagram reforça suas

estratégias de mercado e garante usar “as informações que temos para estudar nosso Serviço e

28 Recentemente, uma adolescente cometeu suicídio, na Malásia, após postar pesquisa no Instagram. A jovem de

16 anos, que morava no estado de Sarawak, morreu logo depois de postar a pesquisa: “É muito importante. Me

ajudem a escolher entre D/L”, postou a adolescente, usando as letras D de “death” (morte em inglês) e L de

“life” (vida). Um total de 69% dos seguidores votaram pela morte e 31% pela vida. (AFP, 2019).

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colaborar com terceiros em pesquisas para tornar nosso Serviço melhor e contribuir para o

bem-estar de nossa comunidade”.

Observamos, então, que o discurso do Instagram começa com termos relacionados a

“oportunidades personalizadas”, “ambiente seguro”, “experiência”, “comunidade”, “serviço”

e termina com um discurso voltado para o fortalecimento das estratégias de mercado,

exigindo de seus usuários uma contrapartida: “como parte de nosso acordo, você também nos

concede permissões necessárias para fornecermos o Serviço”. Dentre essas permissões está

aquela relacionada ao conteúdo publicado por cada pessoa:

Quando compartilha, publica ou carrega conteúdo protegido por direitos de

propriedade intelectual (como fotos ou vídeos) em nosso Serviço ou em conexão

com ele, você nos concede uma licença não exclusiva, gratuita, transferível,

sublicenciável e válida mundialmente para hospedar, usar, distribuir, modificar,

veicular, copiar, exibir ou executar publicamente, traduzir e criar trabalhos derivados

de seu conteúdo. Permissão para usar seu nome de usuário, foto do perfil e

informações sobre seus relacionamentos e ações com contas, anúncios e conteúdo

patrocinado. (INSTAGRAM, 2019).

Com a onipresença das mídias sociais em nosso cotidiano parece cada vez mais difícil

colocar em prática a ideia de Silverstone de que é preciso “aprender a fazer escolhas sobre o

que e como consumir” (SILVERSTONE, 2003). Crianças, adolescentes, jovens, adultos e

idosos, todos estão conectados, mas, são muito poucos os que questionam ou buscam

compreender a manipulação e as estratégias de mercado por trás dos discursos mansos e

aparentemente desinteressados dos criadores das mídias sociais. Essa é uma questão que, na

visão de Silverstone, demandaria a instituição de um programa de “alfabetização de mídia”,

através do qual os “indivíduos em seu espaço doméstico” pudessem “ser encorajados a tomar

decisões informadas sobre seu consumo de mídia”, com maior consciência e criticidade

(SILVERSTONE, 2003).

4.3.2 A plataforma Instagram e suas ferramentas de interação

Mais que um simples aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos, o Instagram

tornou-se em pouco tempo uma das redes sociais mais populares do momento e a que mais

promove interação e engajamento entre seus usuários (BORINI, 2018). Através do Instagram,

pessoas, grupos, religiões, empresas etc. narram o seu cotidiano, compartilham suas

experiências e afirmam suas identidades. Para facilitar esse processo, a plataforma

disponibiliza, basicamente, cinco modalidades de interação entre os inscritos na plataforma,

isto é, através do feed, do stories, da IGTV, por meio de live e pelo Instagram direct.

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O feed, pode-se dizer, é o “cartão de visita” de cada usuário do Instagram. É nele que

cada um se expressa através de suas fotos, vídeos e legendas. Em outras palavras, é o “álbum

pessoal” através do qual visitantes podem acessar todo o conteúdo e postagens publicadas no

perfil de cada usuário.

Conforme a descrição no site do Instagram, o feed “é um lugar em que você

compartilha e se conecta com as pessoas e as coisas importantes para você”. Por isso, “ao

abrir o Instagram ou atualizar o feed, as fotos e os vídeos que acreditamos ser mais

importantes para você aparecerão primeiro no feed”.

Figura 29 - Feed do perfil @franciscus no Instagram

Fonte: Instagram (2019)

O stories do Instagram é uma ferramenta que possibilita aos usuários compartilhar

publicações (fotos, vídeos, enquetes, textos etc.) que expiram em 24 horas. Utilizado por

outras redes sociais – Snapchat, Facebook, WhatsApp, Messenger, Skype – a ferramenta

stories se diferencia do feed por apresentar uma dinâmica de postagens voltadas para o

compartilhamento de experiências momentâneas relacionadas ao cotidiano dos usuários.

Além do que, no stories há uma infinidade de filtros e formas de dinamizar as postagens, ao

passo que no feed é mais limitado. A ferramenta stories, todavia, nunca foi utilizada pelo

perfil @franciscus.

A IGTV, incorporada pelo Instagram em julho de 2018, é uma ferramenta voltada

exclusivamente para vídeos. Diferentemente dos vídeos do YouTube, a IGTV é indicada para

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vídeos na vertical (em junho de 2019 passou a aceitar vídeos na horizontal), para facilitar o

acesso e manuseio pelo celular. Os vídeos devem ter entre 15 segundos e 10 minutos de

duração. Já as contas verificadas (como no caso de @franciscus) podem enviar vídeos de até

60 minutos, mas devem ser carregados de um computador. O tamanho máximo do arquivo

dos vídeos com duração de dez minutos ou menos é de 650MB, ao passo que os vídeos com

duração de até 60 minutos é de 3,6 GB. Recentemente (7 de fevereiro de 2019), o Instagram

fez uma pequena modificação quanto ao conteúdo da IGTV. Ao publicar um vídeo no canal, o

usuário tem a opção de marcá-lo para aparecer no feed, facilitando, assim, maior acesso por

parte dos seguidores. Sobre a IGTV, alerta o site do Instagram: “queremos criar a melhor

experiência possível para todos no Instagram. Isso significa que os vídeos que não seguem

nossas Diretrizes da Comunidade podem ser removidos do Instagram”.

Assim como o stories, esta é outra ferramenta que não é utilizada pelo perfil do papa

no Instagram, aliás, os vídeos do papa são publicados no próprio feed, os quais, adequando-se

às exigências da plataforma, não ultrapassam 1 minuto de duração.

A live no Instagram é a ferramenta que possibilita aos usuários entrar ao vivo e

conectar-se em tempo real com seus seguidores. Embora seja adepto das transmissões ao vivo

– como fez com alunos das Scholas Ocurrentes em 4 de setembro de 2014 e 5 de fevereiro de

2015 através do Google Hangout – Francisco nunca entrou ao vivo pelo Instagram.

Além das modalidades citadas temos também o Instagram direct. Assim como no

Facebook, essa ferramenta permite que seus usuários se comuniquem por meio do envio de

mensagens instantâneas, para uma ou mais pessoas, incluindo o compartilhamento de

conteúdos dos stories, da IGTV ou do próprio feed.

Outras ferramentas como filtros, hashtags, localização, marcação de outros perfis,

links etc., podem ser acrescentados à fotografia do feed, a fim de facilitar um maior acesso a

suas informações e, com isso, o usuário pode utilizar as ferramentas de acordo com a

“mensagem que deseja transmitir” (MUSSE, 2017, p. 144). Assim, a experiência no

Instagram – como o próprio nome sugere – está marcada pela instantaneidade e a rapidez, a

começar pela constante transformação ou adaptação de suas ferramentas de interação.

Todavia, aquilo que para alguns pode parecer supérfluo e efêmero (o afã pela novidade), para

o Instagram é o que o torna uma rede social atrativa e com grande poder de engajamento entre

seus usuários.

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4.4 O perfil @franciscus no Instagram: um espaço de encontro e proximidade

Criado em 19 de março de 2016, durante o Jubileu da Misericórdia29, isto é, três anos

após a eleição de Bergoglio, o Instagram do pontífice alcançou, em pouco mais de 40

minutos, 82 mil seguidores (PORTAL G1, 2019). Em apenas 12 horas, o número de

seguidores sobe para um milhão, deixando para trás o recorde anterior alcançado pelo Ex-

jogador David Beckham, cuja conta levou 24 horas para chegar a um milhão (CANALTEC,

2016).

Atualmente, o perfil @franciscus conta com 701 publicações, entre fotografias e

vídeos, e é seguido por 6 milhões de pessoas.30 Paradoxalmente, como ocorre com sua conta

no Twitter, o papa não segue nenhum outro perfil. Esse fato parece comum entre as

celebridades que possuem milhões de seguidores no Instagram, como no caso da

apresentadora Oprah Winfrey, das cantoras pop Adele, Taylor Swift e Beyoncé. Com relação

a outras figuras públicas, por exemplo, do âmbito político, ocorre algo um pouco diferente.

Embora estas celebridades sigam alguns perfis, o número de seguidores é sempre maior – Jair

Bolsonaro, 11,7 milhões de seguidores, mas segue apenas 459 perfis; Barak Obama, 22,3

milhões de seguidores, segue apenas 14, incluindo o de sua esposa e de suas próprias

fundações; Donald Trump possui 12,9 milhões de seguidores, segue apenas 8 perfis, ao que

indica serem de seus familiares. O mesmo acontece com alguns padres célebres – Padre Fábio

de Melo possui 14,2 milhões de seguidores, segue apenas 690; Padre Reginaldo Manzotti é

seguido por 1,9 milhões, mas segue apenas 159; Padre Marcelo Rossi é seguido por 2,4

milhões, segue apenas o papa Francisco.31

De acordo com o ex-prefeito da Secretaria para as Comunicações do Vaticano, Dario

Viganò, a ideia do perfil do papa no Instagram, além de comunicar-se com o mundo fora da

igreja, é uma maneira de mostrar também o aspecto emocional e afetivo de seu pontificado.

“Escolheremos algumas fotos feitas pelo serviço fotográfico, que enfatizem os aspectos de

proximidade e de inclusão que o papa Francisco vive todos os dias”, disse ele à Rádio

Vaticano (EXAME, 2016). Ainda de acordo com Viganò, “o Instagram vai ajudar a contar o

pontificado através de imagens, para que as pessoas compartilhem os gestos de ternura e

misericórdia do Papa Francisco” (PORTAL G1, 2016).

29 Teve início em 8 de dezembro de 2015 e concluiu-se em 20 de novembro de 2016. Durante esse período, as

reflexões do papa Francisco se voltaram para a temática da misericórdia. 30 Acesso em 23 de abril de 2019. 31 Conforme dados acessados nos respectivos perfis do Instagram, em 16 de maio de 2019.

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Escritas sempre em várias línguas (geralmente inglês, português, espanhol, alemão,

francês, italiano), as mensagens do papa no Instagram retratam os mais variados temas da

sociedade e, nesse sentido, são curtidas e comentadas por milhares de pessoas (religiosas e

não religiosas) do mundo inteiro. Sua primeira postagem, por exemplo, onde ele pede apenas

que “rezem por mim”, teve 326 mil curtidas e 35 mil comentários.

Figura 30 - Primeira foto do papa no Instagram, 2016

Fonte: Instagram (2019)

A adesão do papa Francisco ao Instagram foi um tanto diferente dos usuários comuns.

Primeiramente, ele anunciou, estrategicamente e com antecedência, nos meios de

comunicação do Vaticano que iria aderir ao Instagram; depois, marcou um encontro com o

diretor executivo e cofundador da rede social de fotos e vídeos, Kevin Systrom, no Vaticano.

No dia 26 de fevereiro de 2016, eles tiveram, então, a primeira reunião. Após o primeiro

contato, Kevin postou uma foto com o papa em seu perfil e demonstrou contentamento pelo

encontro. Na legenda da foto, ele disse que teve a honra de conhecer o Francisco e falar com

ele sobre o poder das imagens para unir pessoas em diferentes culturas e línguas. Ressaltou

ainda que, estar com o papa, foi uma das experiências mais memoráveis de sua vida.

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“Celebrou-se, assim, um ‘compartilhamento’ de intenções comunicacionais (‘unir as pessoas’)

entre a empresa e a Igreja” (SABRDELOTTO, 2016).

Figura 31 - Primeiro encontro do papa com o cofundador do Instagram, fevereiro 2016

Fonte: Instagram (2019)

Kevin encontrou-se novamente com o papa Francisco, em 19 de março de 2016, a fim

de acompanhá-lo em sua primeira postagem no perfil @franciscus. Contente com a parceria,

Systrom afirmou que, ver o papa Francisco postar sua primeira foto no Instagram foi um

momento incrível. Com um aperto de mão e um sorriso, ele dá as boas-vindas ao papa e,

certamente, influenciado pelo pensamento do pontífice, assegura que suas mensagens de

“humildade, compaixão e misericórdia” deixarão uma marca duradoura no Instagram.

Sbardelotto (2016) observa que “é praticamente com as mesmas palavras que o papa se define

na própria plataforma, em sua descrição pessoal, em inglês: Eu quero caminhar com vocês

pelo caminho da misericórdia e da ternura de Deus” (SBARDELOTTO, 2016).

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Figura 32 - Segundo encontro do papa com o cofundador do Instagram, março 2016

Fonte: Instagram (2019)

A parceria entre a comunidade católica e a comunidade Instagram, através do perfil

@franciscus, teve grande repercussão midiática. Canais de televisão e sites do mundo inteiro

transmitiram ou noticiaram o momento em que o papa Francisco postou sua primeira foto no

Instagram. Sbardelotto (2016) ressalta que,

seguindo as pegadas comunicacionais dos seus antecessores, Francisco dá mais um

passo, em um movimento que vem se desdobrando ao longo dos anos por parte da

Igreja, em termos de aproximação e inculturação digital. Tal movimento pode ser

inserido naquilo que a teóloga Elizabeth Drescher, professora da Santa Clara

University, a universidade jesuíta em pleno Vale do Silício, nos EUA, chama de

“Reforma digital” (SBARDELOTTO, 2016).

De acordo com a diretora teológico-pastoral do Dicastério Vaticano para a

Comunicação, Nataša Govekar, o perfil do papa é como um grande “álbum pessoal”, onde o

pontífice pode ser ele mesmo. Nesse sentido, ela observa que as publicações mais apreciadas

em seu perfil são aquelas onde o “Papa é o Papa”, onde reza, abençoa, encontra as pessoas e,

com a sua proximidade, entra em relação com milhares de fiéis e seguidores (GOVEKAR,

2018). Desse modo, Francisco vai criando, através de suas postagens, uma narrativa de si, a

qual “será ressignificada a partir da leitura da imagem feita por outros usuários contemplando

o jogo de significados e da tentativa de cada indivíduo em, através de uma única foto,

conseguir representar o máximo de discurso sobre si e sobre suas identidades” (MUSSE,

2017, p. 153).

A referência do perfil do papa como esse grande “álbum pessoal” nos remete à

expressão “álbum afetivo”, utilizada por Musse (2017) para referir-se ao feed dos usuários da

rede social, através do qual “pode-se interpretar a construção da identidade do usuário”

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(MUSSE, 2017, p. 151). A autora explica que, antigamente, a fotografia estava mais

relacionada à memória, hoje, porém, sua função é mais de conectar pessoas, por isso, ela

prefere a expressão “álbum afetivo” (digital) em vez de falarmos de “álbum de família”

(analógico), pois, no caso do Instagram é através do feed ou do histórico de publicações que

cada usuário pode criar uma história sobre si ou sobre algo que deseja narrar; essa história,

observa Musse (2017), pode “revelar aspectos bastante pessoais daquele indivíduo, como por

exemplo: lugares que frequenta, o que acha relevante postar, quem aparece em suas fotos etc.”

(MUSSE, 2017, p. 151).

Talvez seja essa “narrativa de si”, remetida à autenticidade, que atraia tanto as pessoas

ao Instagram do papa Francisco, já que suas postagens demonstram uma comunicação afetiva,

direta, próxima e menos rígida (em relação a seu antecessor, Bento XVI). Esse interesse pelo

“álbum afetivo” do pontífice não se restringe apenas a seus fãs, devotos e seguidores, mas tem

despertado, inclusive, a curiosidade de pesquisadores das mais diversas áreas do

conhecimento (comunicação, teologia, sociologia, ciência da religião, psicologia etc.). No

âmbito da comunicação do papa – especificamente no Instagram – podemos citar, por

exemplo, alguns trabalhos: “A comunicação de papa Francisco no Instagram no contexto

multicultural contemporâneo”, dissertação de mestrado de Jociane Marchesan Oling – PUC

Rio Grande do Sul, 2018; “O papa é pop: uma análise do perfil do papa Francisco na

plataforma digital Instagram”, trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, de autoria de

Odlinari Ramon Nascimento da Silva, Universidade Federal da Paraíba, 2017; “Fronteiras da

religião: a comunicação no Instagram entre o papa Francisco e as mulheres”, artigo de

Cláudio de Musacchio e Jociane Marchesan Oling, na Revista Signos do consumo, USP,

2017; “@Franciscus, o papa no Instagram. Uma breve análise comunicacional”, artigo de

Moisés Sbardelotto publicado na Revista Unisinos IHU-Online, 2016.

Sendo assim, nesse universo de possibilidades de significados propostos pelo perfil do

papa Francisco no Instagram, nosso estudo explorará, com base em fotos, vídeos e legendas

do feed de @franciscus, três eixos importantes: midiatização, cultura do encontro e

carisma/celebridade. Antes, porém, de explicitar cada um desses eixos, juntamente com nosso

corpus de análise, apresentamos nossa metodologia.

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4.5 Considerações metodológicas

A metodologia adotada para a análise das fotografias, vídeos e legendas do papa na

rede social Instagram parte do conceito de semiologia, segundo o qual “todos os fenômenos

de cultura são sistemas de signos32, isto é, fenômenos de comunicação” (ECO, 1997, p. 3).

Nesse sentido, vale recordar brevemente, o conceito surge, inicialmente, “no campo da

medicina para a função de interpretação dos signos que são os sintomas ou síndromes que

levam ao diagnóstico de determinada doença” (MUSSE, 2017, p. 152). No âmbito das

ciências humanas, a semiologia surge com o propósito de “elaborar uma ciência geral dos

signos. No princípio, a maioria dos estudos relativos à semiótica, diziam respeito à fala e,

consequentemente, às palavras e seus significados” (MUSSE, 2017, p. 152).

Com os estudos de Charles Sanders Peirce (1839-1914), Ferdinand de Saussure (1857-

1913), Roland Barthes (1915-1980), Umberto Eco (1932-2016), dentre outros, a semiologia33

amplia seu campo de abrangência e “chama atenção para todas as formas de comunicação

existentes, por exemplo, os gestos, os rituais, os sinais etc.” (MUSSE, 2017, p. 152). Assim, a

semiótica, “enquanto prática analítica, desconstrói exaustivamente o conjunto de mensagens

transmitidas e as amplia para enunciados e textos midiáticos” (ANTONIN, 2009, p. 417).

Partindo desses pressupostos, adotaremos nesta pesquisa a perspectiva semiológica de

Roland Barthes por compreender que sua análise da relação texto-imagem, através dos

conceitos de mensagem linguística, denotação e conotação, contempla os objetivos

pretendidos em nossa análise.

Qual o conteúdo da mensagem fotográfica? O que transmite a fotografia? Como o

sentido chega à imagem? Onde termina o sentido? E, se termina, o que existe além dele? Qual

a relação entre texto e imagem? Haverá sempre texto no interior, abaixo ou à volta da

imagem? A imagem suplica certas informações do texto, por um fenômeno de redundância,

ou é o texto que acrescenta à imagem uma informação inédita? Estas e outras questões são

suscitadas por Barthes. Em síntese, o que ele busca saber é “o que significam as imagens e o

que fazem, o modo como elas se comunicam como signos e símbolos, que tipo de poder elas

têm de afetar as emoções e o comportamento humano” (MITCHELL, 2015, p. 165).

32 “Um signo é aquilo que se repete. Sem repetição, não há signo, pois não poderíamos reconhecê-lo, e é o

reconhecimento que origina o signo” (BARTHES, 1990, p. 277). 33 Esta “ciência dos signos” tem origem em duas diferentes tradições: Semiologia (correspondente à tradição

europeia, iniciada por Saussure) e Semiótica (correspondente à tradição anglo-saxônica, iniciada por Peirce).

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Barthes (1990) parte da ideia de que “toda imagem é polissêmica e pressupõe,

subjacente a seus significantes, uma ‘cadeia flutuante’ de significados, podendo o leitor

escolher alguns e ignorar outros. A polissemia leva a uma interrogação sobre o sentido”

(BARTHES, 1990, p. 28).

Para Barthes (1990), em uma fotografia é possível identificar três tipos de mensagens,

a saber: a mensagem linguística (verbal), a mensagem denotada (icônica) e a mensagem

conotada (simbólica). Assim, afirma o autor, a imagem literal é denotada, e a imagem

simbólica é conotada.

De acordo com Barthes (1990), a mensagem linguística – expressa pelo código da

língua em que foi escrito o texto ou a legenda da foto – busca responder, de maneira mais ou

menos direta, mais ou menos parcial, à pergunta “o que é?”, ajudando, deste modo, a

identificar pura e simplesmente os elementos da cena e a própria cena, como veremos em

algumas fotografias do papa.

Comentando Barthes, Umberto Eco (1997) concorda que o registro verbal tem como

função principal “ancorar a mensagem”, pois frequentemente “a comunicação visual se

mostra ambígua e conceptualizável de modos diversos. Essa ancoragem, todavia, não se

realiza de modo puramente parasitário. O texto realiza sua função de ancoragem pondo, ele

próprio, em ação vários artifícios retóricos” (ECO, 1997, p. 161).

Todavia, Barthes questiona:

A mensagem linguística será constante? Haverá sempre texto no interior, abaixo ou

à volta da imagem? Para encontrar imagens sem palavras, será, talvez, necessário

remontar as sociedades parcialmente analfabetas, isto é, uma espécie de estado

pictográfico da imagem; na verdade, desde o aparecimento do livro a vinculação

texto e imagem é frequente. (BARTHES, 1990, p. 31).

Barthes (1990) explica que o efeito de conotação é provavelmente diferente conforme

o modo de apresentação da linguagem ou da palavra. Trazendo para o contexto do Instagram,

por exemplo, quando o usuário posta uma imagem e, em vez de legenda textual, opta por

utilizar “hashtags” ou “emotions”, ele certamente aumenta a possibilidade de interpretação da

mensagem ou, ainda, ajuda a “completar a mensagem que se quer passar, dando mais

informações para aqueles que farão a leitura daquela imagem, de uma certa forma,

direcionando a interpretação que se espera daquela imagem” (MUSSE, 2017, p. 155).

Ainda segundo o semiólogo francês, quanto mais “próxima” está a palavra da imagem,

menos parece conotá-la; “devorada, de uma certa forma, pela mensagem iconográfica, a

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mensagem verbal parece participar de sua objetividade: a conotação da linguagem ‘purifica-

se’ através da denotação da fotografia” (BARTHES, 1990, p. 20).

Segundo Barthes (1990), a legenda que acompanha uma imagem carrega consigo uma

“extensão limitada, para duplicar a imagem, isto é, participar de sua denotação. Por vezes, a

palavra pode chegar a contradizer a imagem, produzindo uma conotação compensadora”

(BARTHES, 1990, p. 20). Aliás, acrescenta o autor, “é impossível à palavra duplicar a

imagem; pois, na passagem de uma estrutura à outra, elaboram-se, fatalmente, significados

segundos” (BARTHES, 1990, p. 21). Diferentemente da mensagem simbólica, “a mensagem

linguística orienta não mais a identificação, mas a interpretação, constitui uma espécie de

barreira que impede a proliferação dos sentidos conotados” (BARTHES, 1990, p. 33).

Passando, então, da mensagem linguística à mensagem denotada (icônica), Barthes

ressalta que, de todas as imagens, “só a fotografia possui o poder de transmitir a informação

(literal) sem a compor com a ajuda de signos descontínuos e regras de transformação”

(BARTHES, 1990, p. 35). Assim, a denotação diz respeito ao sentido usual ou literal já

contido na própria imagem.

De acordo com Barthes, é ao nível da mensagem denotada, isto é, da mensagem sem

código, que podemos “compreender plenamente a irrealidade real da fotografia; sua

irrealidade é a irrealidade do aqui, pois a fotografia nunca é vivida como uma ilusão, não é

absolutamente uma presença, e é necessário aceitar o caráter mágico da imagem fotográfica”

(BARTHES, 1990, p. 36). Barthes (1990, p. 39) explica que, “a palavra denotada nunca

remete a uma essência, pois é sempre representada por uma palavra contingente, um sintagma

contínuo (o discurso verbal), orientado no sentido de uma certa transitividade prática da

linguagem”.

A imagem denotada, na medida em que não implica código algum – como no caso da

fotografia publicitária – desempenha, na estrutura geral da imagem icônica, um papel

específico que se pode começar a precisar, já que, “a imagem denotada naturaliza a

mensagem simbólica, inocenta o artifício semântico, muito denso (sobretudo em publicidade),

da conotação” (BARTHES, 1990, p. 37).

Quanto à ideia de conotação, Fontanari (2016) explica, a partir de Barthes, que a

conotação diz respeito à aptidão que o signo tem de “receber novos significados que acoplam

ao seu sentido original em decorrência do seu uso pelos falantes da língua, como se fossem

notas, anotações. Daí o termo co-notar, notar duas vezes” (FONTANARI, 2016, p. 148).

Nas palavras de Barthes (1990), “graças a seu código de conotação, a leitura da

fotografia é, pois, sempre histórica; depende sempre do ‘saber’ do leitor, tal como se fosse

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uma verdadeira língua, inteligível apenas para aqueles que aprenderam seus signos”

(BARTHES, 1990, p. 22).

Valendo-se, então, da mensagem publicitária que, em sua visão, “constitui uma

conotação particular (na medida em que ela é franca)”, Barthes discorre – em “A aventura

semiológica” – que “toda a publicidade diz o produto (é a sua conotação) mas ela conta outra

coisa (é a sua denotação)” (BARTHES, 1987, p. 169). Portanto, “numa palavra, quanto mais

uma frase publicitária contém duplicidade, ou, para evitar uma contradição nos termos, quanto

mais ela é múltipla, melhor preenche a função de mensagem conotada” (BARTHES, 1987, p.

168).

4.6 Corpus e categorias de análise

Conforme explicitamos anteriormente, o Instagram disponibiliza diversas ferramentas

de compartilhamento de conteúdo e troca de experiências entre os usuários (feed, IGTV,

stories, live, direct, etc.). Contudo, o papa Francisco, como dissemos, utiliza apenas o feed

para divulgar suas mensagens, seja através de vídeos ou fotografias. Por essa razão, nossa

análise se restringirá apenas ao “álbum pessoal” do papa, isto é, às postagens do feed.

Vale ressaltar que, quando um usuário do Instagram utiliza apenas o feed, seu

engajamento tende a ser menor em comparação àqueles que usam outras ferramentas como o

stories ou IGTV. No caso do papa, o engajamento entre o público se dá, sobretudo, pelas

curtidas e comentários em suas postagens, mas, como o papa nunca responde a seus “fãs”,

nem curte postagens de outros usuários, a sua interação (ou relação direta) com seus

seguidores, por meio da plataforma, é praticamente nula.

Dito isto, o nosso corpus de análise contemplará as fotos e os vídeos, com suas

respectivas legendas (quando houver), durante o primeiro mês de postagens do perfil, isto é,

entre 19 de março de 2016 (primeira foto publicada) e 19 de abril do mesmo ano, totalizando

40 publicações, entre fotos e vídeos. Isto, porém, não nos impede de fazer links, incluir ou

analisar postagens e conteúdos de outros meses, desde que venham contribuir para maior

entendimento de nossos eixos de análise.

Optamos por esse período por perceber que foi a época em que houve mais postagens

durante um mês, já que, nos anos seguintes, nesse mesmo período (19 de março a 19 de abril),

a frequência de publicações diminuiu drasticamente: 19 de abril de 2017, 28 postagens; 19 de

abril de 2018, 13 postagens; 19 de abril de 2019, 21 postagens. Além disso, a análise desse

primeiro mês da presença do papa Francisco no Instagram nos possibilitou, entre outras

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coisas, observar o desenvolvimento inicial do perfil (em termos de frequência de publicações,

visualizações, curtidas e comentários etc.), as possíveis estratégias de conteúdo (o que se

escolhe para postar), além da qualidade técnica e estética do material (considerando as

exigências e os limites “impostos” pela própria plataforma). Finalmente, a escolha do corpus

de análise levou em conta que, foi, também, neste mês, que o papa alcançou o seu primeiro

milhão de seguidores na rede social (o que diz muito sobre seu status de celebridade).

Para isso, dividimos nossa análise em três eixos importantes: midiatização do campo

religioso, cultura do encontro e celebridade/carisma. Ressaltamos, de antemão, que esses três

eixos, embora com suas especificidades, não se dão de maneira isolada. Inclusive poderão, no

decurso da análise, revelar outras questões com as quais não contávamos no início da

pesquisa.

a) Midiatização

Sendo a midiatização esse grande “guarda-chuva” que abarca toda a nossa pesquisa,

tentaremos, com base em nosso corpus de análise, nos debruçar sobre algumas questões já

suscitadas no primeiro capítulo: como se dá a relação entre mídia e campo religioso? Em

outras palavras, como aparece a ‘lógica da midiatização’ nas postagens do papa na plataforma

Instagram? Para isso, selecionaremos as publicações que, em nosso entendimento, apresentam

aspectos ou sinalizam para a midiatização do campo religioso, considerando, sobretudo, o

tema central da postagem no contexto comunicativo mais amplo da plataforma Instagram.

b) Cultura do encontro

O segundo eixo refere-se à expressão “cultura do encontro”, o qual nos permitirá

observar a maneira como o cotidiano do papa é narrado em seu perfil, o que ele faz, com

quem ele se encontra, como se dá sua comunicação com as pessoas colocadas em cena. Como

o papa age em cada encontro? Quais são os gestos, palavras e sentimentos envolvidos? Quais

as características simbólicas de sua comunicação?

Nesse eixo buscaremos confirmar (ou não) o que foi dito por diversos autores em

nosso segundo capítulo sobre o fato de Francisco preferir uma comunicação mais humana,

simbólico, testemunhal e simples, já que sua compreensão de comunicação tem a ver com

proximidade. E, como ele mesmo costuma recordar em seus discursos e homilias, a

comunicação verdadeira acontece “não só vendo, mas olhando, não apenas ouvindo, mas

escutando, não só cruzando-se com as pessoas, mas detendo-se com elas... deixando-se

arrebatar pela compaixão; e depois aproximar-se, tocar”.

Portanto, o ponto de partida de nossa coleta para o eixo “cultura do encontro” foi a

pergunta já suscitada no segundo capítulo deste estudo: “de quem o papa se faz próximo na

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rede social Instagram?”. Essa questão nos levou também a nos questionar “que gestos e

possíveis sentimentos estão imbricados nesses encontros?”.

c) Celebridade/carisma

Nessa etapa da análise olharemos para o papa como uma figura pública (autoridade

religiosa) que, ao revelar a força de seu carisma, alcançou o status de celebridade e, com forte

presença nas mídias sociais, evoca temas e sentimentos que, ao mesmo tempo em que atraem

o interesse de milhões de fãs, tendem a revelar aspectos e anseios da própria sociedade.

Pobreza, velhice, meio ambiente, diálogo inter-religioso, infância, juventude, família,

imigração, fama, guerra, poder são alguns dos assuntos que integram seus discursos, homilias

e postagens nas redes sociais.

Nesse eixo, portanto, nos voltaremos para o papa como uma celebridade carismática,

buscando observar, em suas publicações, o seu poder de afetação do público e identificando

quais os valores e virtudes carismáticas mais marcantes em suas postagens e que reforçam a

devoção afetiva das pessoas.

Optamos por analisar celebridade e carisma juntos por compreender que, no que se

refere ao papa Francisco, não há como concebê-las separadamente, pois, como nos recorda

Rojek (2008), em nosso segundo capítulo, as características de um líder ou de um ídolo têm

implicações no conceito moderno de celebridade. Isto, porém, não significa negar a influência

da mídia ou dos dispositivos midiáticos na construção do processo de celebrização que faz de

Francisco um papa célebre, conforme sinalizamos, no segundo capítulo, quando tratamos da

relação carisma-celebridade-mídia.

Por fim, na tentativa de compreender melhor o poder de afetação do papa em relação a

seus fãs, escolhemos as duas postagens de maior alcance em seu perfil (a primeira foto e o

primeiro vídeo postados em 19 de março de 2016) e selecionamos 40 comentários de cada

postagem (escritos em língua portuguesa) e, com base nos conceitos de “projeção,

identificação e contraidentificação”, articulados a partir de Simões (2014), em nosso segundo

capítulo, analisamos os tipos de reações e sentimentos envolvidos entre celebridade-fã.

Recordamos, porém, que não se trata aqui de realizar um estudo de recepção, mas, de lançar

um olhar sobre o poder de afetação do papa sobre o seu público do Instagram. Em outras

palavras, os comentários dos fãs confirmam o carisma de Francisco? Quais as qualidades

pessoais mais exaltadas por eles?

As duas postagens escolhidas foram as mais curtidas e comentadas desde a criação do

perfil. A foto, postada no dia 19 de março de 2016, obteve 326.254 mil curtidas e 34,9 mil

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comentários. O vídeo, também postado no mesmo dia, alcançou 952.276 mil visualizações e

15,5 mil comentários.

4.7 Análise e descrição dos eixos e categorias

Em um primeiro momento de nossa análise observamos a quantidade de postagens

durante o primeiro mês do papa no Instagram (19 de março a 19 de abril de 2016), bem como

a sua frequência de publicações, já que, a quantidade de postagens por dia tende a atrair mais

pessoas e engajar novos seguidores.

No período acima referido foram realizadas 40 postagens no feed do papa, incluindo

fotos e vídeos. Quanto à frequência de postagens, vimos que, neste primeiro mês, eram feitas

diariamente, entre 1 e 3 publicações por dia.

Observamos, previamente, alguns aspectos importantes relacionados às postagens: em

sua maioria, as imagens retratam o cotidiano de Francisco (missas, reuniões, encontros etc.);

as fotografias, em sua maioria, prezam pela qualidade estética, isto é, apresentam boa

resolução, além de demonstrar certa originalidade (sem filtros); a maioria das imagens e

vídeos contêm legendas (geralmente em italiano, espanhol, inglês, francês, alemão e

português); de modo geral, os vídeos não apresentam boa resolução, o que nos leva a intuir

que ou são imagens de celular, ou foram reutilizados de outras plataformas, como por

exemplo, YouTube.

Após selecionado o material empírico distribuímos as 40 publicações entre os três

eixos de análise, de acordo com a sua adequação aos temas, podendo uma mesma imagem ou

vídeo apresentar aspectos referentes aos três eixos ou apenas a um deles. Partimos, então, do

eixo midiatização.

4.7.1 Eixo midiatização

Considerando que o processo de midiatização se faz presente, de alguma forma, em

todas as postagens do perfil @franciscus – pois existe, por parte do papa e sua equipe, uma

intenção comunicativa midiatizada, que prevê a conexão com um público amplo por meio

principalmente de celular, na plataforma Instagram, que é marcadamente utilizada por jovens.

Desse modo, buscamos identificar e classificar as postagens que apresentam características ou

aspectos da midiatização da mensagem “religiosa”. Conforme tabela 1 identificamos 10

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postagens, sendo 7 fotos e 3 vídeos, os quais, em nosso entendimento, se encaixam no eixo

midiatização, embora apresentem também características aplicáveis aos demais eixos:

Tabela 1 – Material midiatização (19 de março a 19 de abril de 2016)

Postagem

Data

Foto

Vídeo

Visualizações

ou curtidas

Comentários

01 19.03.2016 x 326.280 mil 34,9 mil

03 19.03.2016 x 952.236 mil 15,5 mil

07 22.03.2016 x 244.241 mil 5.854

08 23.03.2016 x 419.039 mil 3.179

09 24.03.2016 x 206.878 mil 3.674

20 31.03.2016 x 189.164 mil 2.357

23 03.04.2016 x 519.720 mil 2.636

31 11.04.2016 x 111.336 mil 1.197

36 16.04.2016 x 148.310 mil 1.313

39 18.04.2016 x 176.658 mil 2.844

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 33 - Postagem 1 – foto de 19 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Partimos, então, da análise da imagem 1 publicada no perfil do papa. Trata-se de uma

fotografia em que ele aparece ajoelhado e apoiando-se em um genuflexório, com as mãos

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unidas e os olhos fechados. Na legenda, um pedido de oração em 9 idiomas diferentes,

incluindo o português: “Rezem por mim”. É o mesmo pedido feito no dia de sua eleição

diante da multidão que o aguardava na Praça São Pedro, no Vaticano. Com esse pedido, o

papa sinaliza que também as redes sociais podem ser um “lugar” de oração e fortalecimento

da fé. Além de confirmar a midiatização do campo religioso, a publicação nos remete ao que

disse Francisco em sua mensagem para o dia mundial das comunicações de 2014:

“particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de

solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus” (IGREJA CATÓLICA,

2014).

Figura 34 - Postagem 7 – foto de 22 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

As publicações 7, 8 e 39 tratam, basicamente, de pedidos de oração do papa. Na

imagem 7, ele aparece de pé, em atitude de oração, com um terço nas mãos, cabeça inclinada

e olhos fechados. Na legenda se lê em forma de pedido a Deus: “Confio à misericórdia de

Deus as pessoas que perderam a vida”. A publicação refere-se ao atentado em Bruxelas no

dia 22 de março de 2016. As hashtags que aparecem abaixo da postagem confirmam:

#Bruxelles, #Bruxelles, #Bruxelles, #Bruselas, #Bruxelas, #Brüssel. É interessante observar,

nesta e em outras postagens, a presença de hashtags nas publicações do perfil, as quais têm a

principal finalidade de impulsionar o conteúdo postado e aumentar o acesso por parte de

pessoas do mesmo nicho religioso ou que citaram a mesma tag em suas publicações. Assim,

com base nas hashtags utilizadas, o próprio algoritmo do Instagram se encarrega de divulgar a

postagem. Aqui, motivado por uma questão que exige “resposta” imediata, Francisco utiliza a

rede social para expressar sua solidariedade e fazer-se “próximo”.

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Figura 35 - Postagem 8 – vídeo de 23 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

A postagem 8 é um vídeo, com duração de 15 segundos. Nele, imagens de velas

acessas, rostos tristes se intercalam com a imagem do papa de joelhos em atitude de oração. O

vídeo contém um fundo musical fúnebre. Trata-se de mais uma homenagem às vítimas dos

atentados em Bruxelas. O vídeo acompanha a seguinte legenda (desta vez, não aparece em

português): “Aseguro mi oración y mi cercanía a la querida población belga, a todos los

familiares de las víctimas y a todos los heridos”. Vimos que as postagens 7 e 8 tratam do

atentado em Bruxelas, o qual causou grande comoção e repercussão mundial por meio da

mídia.

Figura 36 - Postagem 39 – foto de 18 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Na postagem 39, o tema da oração também se faz presente. Em uma foto tirada na

“Domus Sanctae Marthae”, conforme localização do Instagram, o papa aparece, de joelhos e

olhos fechados, apoiado sobre um genuflexório, quase na mesma posição da foto 1. Na

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legenda se lê em forma de prece: “Rezemos pelas vítimas dos terremotos no Equador e no

Japão. Que a ajuda de Deus e dos irmãos conceda a todos força e sustento”. Também aqui o

papa Francisco expressa, por meio do Instagram, seu apoio e “proximidade” às vítimas.

Essas quatro publicações em que o papa aparece rezando e suplicando orações a seus

seguidores, apontam para um discurso que tende cada vez mais superar a distância entre

mundo “real” e “virtual”, entre a oração feita no púlpito e aquela feita nas redes sociais. A

postura de Francisco no Instagram demonstra que a rede também é lugar de oração,

solidariedade e fortalecimento da fé.

Seja por meio de uma imagem, uma prece rápida ou de uma mensagem de vídeo,

Francisco acredita que também a rede pode ser um instrumento importante para se expressar

compaixão pelo sofrimento humano, muitas vezes causado por catástrofes naturais, crimes e

outras formas de violência do mundo globalizado. Nesse sentido, o Instagram torna-se, para o

papa, uma “forma de presença”, de encontro e solidariedade. Sua postura nos faz recordar as

palavras de seu antecessor, Bento XVI, em sua última mensagem para o dia mundial das

comunicações sociais de 2013, em que ele afirma: “no ambiente digital existem redes sociais

que oferecem ao homem atual oportunidades de oração, meditação ou partilha da Palavra de

Deus” (IGREJA CATÓLICA, 2013).

Figura 37 - Postagem 3 – vídeo de 19 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

A postagem 3 é, na verdade, o primeiro vídeo publicado no perfil do papa, o qual tem

a duração de 15 segundos. Neste, Francisco aparece, ao lado de Kevin Systrom, diante de uma

mesa com um tablet, para oficializar sua entrada na comunidade Instagram, proferindo, com

certa simpatia, as seguintes palavras: “Inicio um novo caminho, no Instagram, para percorrer

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com vocês a estrada da Misericórdia e da ternura de Deus”. Em seguida, o papa clica na tela

do tablet e faz sua primeira postagem. As palavras de Francisco no vídeo, além de aparecerem

como legenda da publicação (em seis idiomas, incluindo o português), passam a incorporar a

“bio”, isto é, a descrição do perfil do papa na rede social. Este é o vídeo mais visto e

comentado de todo o perfil, alcançando 15,5 mil comentários e 952.258 mil visualizações.

O vídeo em questão, talvez seja o exemplo mais claro de que aquelas tensões

existentes entre mídia e religião – já elucidadas no primeiro capítulo – estão sendo, em parte,

superadas por Francisco. Desse modo, o papa parece consciente da relação entre mídia e

religião e, sobretudo, da importância de se utilizar as redes sociais para difundir a mensagem

“religiosa”. No vídeo, portanto, o papa deixa claro o seu objetivo com sua adesão ao

Instagram: “promover a misericórdia e a ternura”; e ele o fará, sobretudo, através de sua

própria imagem. Assim, Francisco busca ratificar a sua mensagem para o dia mundial das

comunicações de 2016, na qual ele afirma que, “aquilo que dizemos e o modo como o

dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão

de Deus para todos” (IGREJA CATÓLICA, 2016).

Figura 38 - Postagem 9 – foto de 24 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

A postagem 9 é uma fotografia do papa beijando o pé de uma pessoa, durante a

cerimônia do lava-pés, da qual vários refugiados muçulmanos na Itália participaram e tiveram

seus pés lavados pelo pontífice. A postagem não acompanha nenhum tipo de legenda. Além

do dado simbólico, o que nos chama atenção nessa imagem é que ela, diferentemente da

maioria no feed, não apresenta boa resolução. Na verdade, trata-se de uma imagem “printada”

de um vídeo; é o que indica a metade do logo no canto inferior esquerdo da foto, escrito “ctv”.

Aqui, vale destacar, transmite a ideia de que, muito mais que uma preocupação simplesmente

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estética, o perfil do papa está preocupado, primordialmente, com a mensagem, com o

conteúdo.

Figura 39 - Postagem 20 – foto de 31 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

A postagem 20 trata-se de uma fotografia, tirada na sala de audiências Paulo VI,

conforme indica o Instagram. A imagem retrata a primeira selfie do perfil em que o papa

aparece, bem à vontade, ao lado de vários jovens. Na legenda se lê: “Jovens, Deus aposta em

vós, crê em vós, espera em vós!”. Além da narrativa que inclui empatia e proximidade, a

imagem demonstra uma tentativa, por parte da Igreja, de atualizar-se ou mesmo adentrar o

mundo dos jovens, já que a selfie costuma ser uma prática recorrente, especialmente, entre a

juventude.

Outra perspectiva nos leva a pensar que, a partir do momento em que o papa, na

categoria de maior autoridade católica do mundo, aceita participar de uma selfie, ele está, de

alguma maneira, concordando com a possibilidade que esta foto possui de viralizar e

percorrer o mundo, especialmente através das redes sociais. Com isso, Francisco reconhece

não só o poder e a onipresença da mídia, conforme destacamos no primeiro capítulo deste

estudo, mas a urgência de mostrar para a instituição católica que esta precisa atualizar sua

linguagem, isto é, a sua forma de comunicar-se com os jovens, com o mundo.

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Figura 40 - Postagem 23 – vídeo de 3 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Na postagem 23, o papa aparece em um vídeo de 39 segundos, sentado numa cadeira,

falando de frente para a câmera. A gravação nos remete à mesma proposta e cenário do

projeto “O vídeo do papa”, mencionado no início do terceiro capítulo. De maneira

espontânea e enérgica, ele pronuncia as seguintes palavras, em espanhol: “Desejo estar entre

vós como missionário da misericórdia, da ternura de Deus, mas permiti que vos possa

encorajar a ser também vós missionários deste amor infinito de Deus. Que a ninguém falte o

testemunho da nossa fé, do nosso amor. Que todos saibam que Deus perdoa sempre, que

Deus está sempre ao nosso lado, que Deus nos ama”. Enquanto o papa fala, o texto aparece,

simultaneamente, em inglês, na parte inferior do vídeo. A legenda (em vários idiomas,

incluindo o português) é transcrita a partir do vídeo, seguida das seguintes hashtags:

“#Tenerezza, #Ternura, #Zärtlichkeit, #Tendresse, #Tenderness, #Misericordia,

#Misericórdia, #Barmherzigkeit, #Miséricorde, #Mercy, #Cattolico, #Católico, #Katholik,

#Catholique, #Catholic”. Aqui, mais uma vez, podemos perceber que o papa, ao aceitar

gravar o vídeo, ele aceita (estrategicamente) a midiatização da mensagem que deseja

transmitir. Dessa maneira, ele destaca e reforça o seu desejo de ser, através do Instagram,

“missionário da misericórdia”, ratificando, portanto, aquilo que ele já havia dito, em outras

palavras, no vídeo da postagem 3. Na segunda parte da mensagem, ainda com maior

convicção, ele desafia o seu público a fazer o mesmo: “...mas permiti que vos possa encorajar

a ser também vós missionários deste amor infinito de Deus”. Aqui, Francisco sinaliza para

uma comunicação que pretende ser, ao mesmo tempo, pessoal e “universal”.

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Figura 41 - Postagem 31 – foto de 11 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Na postagem 31, o papa aparece em uma foto de uma reunião com cardeais, na “Casa

Santa Marta”, conforme indica a localização. Na legenda se lê em forma de súplica: “Seja a

misericórdia a guiar os nossos passos, a inspirar as nossas reformas, a iluminar as nossas

decisões”. Abaixo da legenda aparecem 16 hashtags em vários idiomas: #Misericordia,

#Misericórdia, #Barmherzigkeit, #Miséricorde, #Mercy, #CatholicChurch, #IglesiaCatólica,

#IgrejaCatólica, #KatholischeKirche, #ChiesaCattolica, #Églisecatholique, #Cattolico,

#Católico, #Katholik, #Catholique, #catholic. Além do pedido em forma de prece, já citado

anteriormente em outras postagens, olhando atentamente a imagem podemos identificar

alguns elementos que sinalizam, de alguma forma, aspectos da presença da mídia no

“ambiente religioso”. Apesar de não serem tão jovens, alguns dos cardeais aparecem mexendo

no tablet ou computador. Enquanto isso, o papa Francisco olha para a câmera, o que indica

que ele sabe que algo de “midiático” está acontecendo ali.

Figura 42 - Postagem 36 – foto de 16 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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Na postagem 36, o papa é fotografado em Lesbos, em visita do dia 16 de abril de

2016. Trata-se, na verdade, de uma montagem de 7 fotos de sua viagem. Na foto principal, ao

centro, um homem se ajoelha diante de Francisco e, com as mãos unidas, chora. O papa faz

um gesto de acolhida. Nas seis fotos menores aparecem pessoas com cartazes, multidão

reunida em torno do papa, um homem segurando uma criança e o encontro entre o papa e o

Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu. A legenda da foto é clara e direta:

“Viemos a fim de chamar a atenção do mundo para esta grave crise humanitária e implorar

a sua resolução”. Através das fotos se percebe uma tentativa de “driblar” a plataforma através

da montagem de várias fotos simultâneas, já que a ferramenta não oferece essa possibilidade.

Ao que indica, a montagem das fotos foi feita em outro aplicativo e, depois, postadas no feed.

Além das postagens acima descritas, há outras no feed do papa que retratam, mais

explicitamente, a midiatização do campo religioso. Selecionamos apenas quatro para

corroborar nosso eixo de análise da midiatização:

Figura 43 – Postagem do dia 22 de março de 2019

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Francisco aparece com algumas jovens, alunas do projeto Scholas Ocurrentes, no

Vaticano. Na foto, ele aparece sorridente com um tablet nas mãos. O objetivo das jovens é

fazer com que Francisco complete a codificação de um aplicativo, criado por elas, para

difundir a cultura do encontro. Em um vídeo, no canal do projeto, no YouTube, as alunas

ajudam o papa a completar a tarefa. Ao final, ele clica em “concluir”. Na legenda do vídeo

está escrito: “a primeira linha de código escrita por um papa”. Ao final do vídeo, ele fala

sobre a tecnologia e a criatividade dos jovens (SCHOLAS...2019).

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Figura 44 – Postagem do dia 2 de fevereiro de 2018

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

O papa aparece com um tablet nas mãos, na janela do Vaticano. De frente para a

multidão e, com a ajuda de um jovem, ele motiva a todos a se inscrevem no aplicativo da JMJ.

Na legenda da foto se lê: “eu me inscrevi como peregrino na Jornada Mundial da Juventude.

Convido todos os jovens do mundo a viver com fé e entusiasmo este evento de graça e

fraternidade”.

Figura 45 – Postagem do dia 26 de outubro de 2017

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Papa Francisco conversa com tripulantes da Estação Espacial Internacional. Na

legenda da foto se lê: “caros irmãos, vocês são os representantes de toda a família humana no

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grande projeto de pesquisa desta Estação Espacial”. Durante mais de dois minutos, o pontífice

dialoga com os astronautas e faz-lhes várias perguntas, entre elas, “qual seu pensamento sobre

o Homem no universo?”. De acordo com o portal G1, “essa é segunda vez na história que um

Papa se comunica com pessoas no espaço, depois que seu antecessor, Bento XVI, fez a

mesma coisa em abril de 2011” (PRESSE, 2017).

Figura 46 – Postagem do dia 8 de maio de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

A foto traz o brasão34 do papa no canto superior esquerdo, com uma mensagem, em

italiano, feita a próprio punho, e assinada por Francisco. Na legenda está a tradução: “A você,

que da grande comunidade digital, me pede bênção e oração, quero dizer: você será o dom

precioso em minha oração ao Pai. E você não se esqueça de rezar por mim e pelo meu ser

servo do Evangelho da Misericórdia. Franciscus”. A mesma fotografia foi postada no

Instagram do papa. Publicar uma foto com a própria letra, além de revelar autenticidade,

demonstra certa proximidade, ou pelo menos, o desejo de mostrar ao público que o papa está

“presente” de alguma forma. Do ponto de vista da midiatização podemos pensar no desejo

implícito, por parte do papa, em humanizar a rede, isto é, recordar que esta é feita de pessoas,

como ele costuma dizer em suas mensagens anuais para o dia mundial das comunicações

sociais.

Portanto, na análise das postagens referentes ao eixo midiatização, foi possível

perceber que, para o papa Francisco, a relação entre Igreja e mídia tende a ser cada vez mais

estreita, pois, como observamos, sobretudo nos dois vídeos (3 e 23), ele não demonstra

34 Há um dado simbólico quanto ao brasão que aparece no canto superior esquerdo da imagem. Ao ser eleito

papa, Bergoglio decidiu conservar, nas características essenciais, o brasão que usava como cardeal de Buenos

Aires, escolhido desde a sua consagração episcopal e distinto por uma simplicidade linear. Ele decidiu escolher,

como mote e programa de vida, a expressão de são Beda “miserando atque elegendo”, que significa “olhou-o

com misericórdia e o escolheu”.

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nenhum incômodo ao falar diretamente para a câmera e enviar mensagens a seus seguidores.

Aliás, frente às câmeras, sua performance parece espontânea e natural, como numa tentativa

certeira de fazer da mídia uma espécie de “segunda natureza”, através da qual a mensagem

“religiosa” possa transcender os moralismos e doutrinas e, finalmente, midiatizada, consiga

cumprir, com maior fluidez, a máxima cristã: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho

a toda criatura” (Marcos 16, 15).

Outro aspecto importante diz respeito a seus pedidos de oração, através do Instagram,

os quais denotam que, para Francisco, “vida cotidiana” e “vida conectada” são duas realidades

que estão cada vez mais imbricadas no dia a dia das pessoas e, como ele próprio observa

frequentemente em seus discursos, a Igreja deve, cada vez mais, penetrar o mundo digital e aí

plantar sua semente de esperança, de preferência com uma linguagem que seja humanizadora

e acessível a todos.

Observando, ainda, o conteúdo das postagens no feed do papa, identificamos que

existe, assim como em seu Twitter, uma preocupação com a mensagem que se deseja

transmitir, cuidando para que esta seja sintética, conforme sinalizamos no início do terceiro

capítulo. Tanto os vídeos quanto as fotografias costumam trazer mensagens sintéticas e com

poucas palavras, quando é o caso do uso de legendas.

Outro aspecto importante da midiatização da mensagem do papa pode ser observado

na escolha das fotos de capa dos vídeos. O Instagram, ao carregar um vídeo, oferece a opção

de escolher uma foto (entre aquelas do vídeo ou não) para “resumir” aquele conteúdo. Quando

se opta por determinada foto se está tentando, de alguma maneira, chamar a atenção do

público para determinado tipo de conteúdo ou mensagem contida no vídeo publicado. No caso

dos vídeos do papa, todas as fotos de capa foram escolhidas a partir do próprio vídeo.

Se, como afirma Hoover (2012), mídia e religião estão convergindo uma para a outra

e, se, como dissemos no primeiro capítulo deste estudo, a midiatização é um fenômeno que

colabora para produzir um novo tipo de experiência religiosa, o papa Francisco é, certamente,

um dos grandes propagadores desta nova realidade, pois, segundo ele, “também e-mails, sms,

redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas” (IGREJA

CATÓLICA, 2016).

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4.7.2 Eixo cultura do encontro

Antes de delimitar a análise deste eixo nos detivemos sobre as 40 postagens, a fim de

tentar responder, inicialmente, algumas questões relacionadas à cultura do encontro: com

quem o papa se encontra com maior frequência em seu perfil do Instagram? Que tipo de

comunicação ou que gestos fazem parte desse encontro? Que temas ou sentimentos são

suscitados a partir das fotos/vídeos/legendas?

A seguir criamos uma tabela com base nas postagens e suas respectivas legendas,

identificando as pessoas ou situações colocadas em cena, os gestos ou ações realizadas pelo

papa e os temas ou sentimentos abordados. Vale ressaltar que, das 40 postagens analisadas,

em apenas duas delas a figura do papa não aparece ou não é mencionada (foto 13/imagem de

Cristo; foto 22/foto do papa João Paulo II).

Tabela 2 – Pessoas, gestos e temas da cultura do encontro

Postagem Tipo de

postagem

Pessoas ou

situações

Gestos ou ações Temas ou sentimentos

1 foto Papa sozinho Rezando Proximidade, silêncio,

serenidade, paz, espiritualidade

2 foto Papa sozinho Rezando Silêncio, cristianismo,

serenidade, paz, espiritualidade

3 vídeo Papa sozinho Falando Proximidade, comunicação,

simpatia, alegria, ternura,

misericórdia

4 foto Papa sozinho Mãos segurando

uma palma

Catolicismo, liturgia,

simplicidade, humildade,

espiritualidade

5 foto Papa sozinho Rezando Silêncio, paz, espiritualidade,

Deus, cristianismo

6 foto Jovem Acariciando um

rosto

Proximidade, empatia,

confiança, ternura, amor, Deus

7 foto Papa sozinho Rezando Proximidade, silêncio, paz,

espiritualidade, misericórdia,

solidariedade, Deus, vida

8 vídeo Papa sozinho Rezando Família, sofrimento,

solidariedade, tristeza,

espiritualidade, proximidade,

luto

9 foto Lava-pés Beijando um pé Proximidade, serviço,

humildade, ternura,

misericórdia, cristianismo

10 foto Papa sozinho Rezando Espiritualidade, amor, liturgia,

catolicismo

11 foto Papa sozinho Beijando a cruz Cristianismo, fé

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12 foto Pessoas Rezando Silêncio, misericórdia,

espiritualidade

13 foto Imagem de

Cristo

x Cristianismo, Igreja,

espiritualidade

14 foto Papa sozinho Proferindo

homilia

Alegria, espiritualidade,

catolicismo

15 foto Papa sozinho Incensando o

ícone de Cristo

Amor, espiritualidade,

cristianismo

16 foto Pessoas Tocando as

mãos

Proximidade, alegria

17 foto Criança Abraçando Proximidade, alegria, ternura,

esperança

18 vídeo Família,

criança,

grávida,

pessoas,

Bento XVI,

idoso,

Abraçando,

cumprimentando

abençoando,

brincando,

acariciando,

beijando

Proximidade, ternura, alegria,

misericórdia, catolicismo

19 foto Papa sozinho Confessando Humildade, simplicidade,

perdão, espiritualidade

20 foto Jovem Selfie Proximidade, juventude,

alegria, Deus

21 foto Papa sozinho Refletindo Serenidade, alegria, Criação

22 foto Foto do papa

João Paulo II

x Cristianismo, Igreja, Santidade,

espiritualidade

23 vídeo Papa sozinho Falando Deus, amor, comunicação,

autoconfiança, alegria, ternura,

motivação, misericórdia,

catolicismo

24 foto Papa sozinho Beijando o

evangeliário

Deus, misericórdia, Igreja,

evangelho

25 foto Criança Abraçando Proximidade, ternura, união

26 vídeo Criança Abraçando,

conversando,

beijando

Proximidade, humildade,

alegria, ternura, simpatia

27 foto Criança Tocando as

mãos

Proximidade, amor, Deus,

ternura

28 vídeo Família,

povo, casais,

idoso,

criança,

grávida

Abençoando,

abraçando,

sorrindo,

acolhendo

Proximidade, alegria,

espiritualidade, ternura,

misericórdia, espontaneidade

29 foto Criança /

Família

Abençoando Proximidade, família, alegria

30 vídeo Criança Abraçando,

segurando nas

mãos, apagando

vela do bolo,

acariciando

pomba branca,

Proximidade, ternura, carinho,

alegria

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brincando

31 foto Cardeais Reunião Espiritualidade, misericórdia,

Igreja

32 foto Idoso Abraçando Proximidade, velhice, Deus,

ternura, misericórdia

33 foto Pessoas Rezando Proximidade, igreja, perdão,

comunidade, cristianismo

34 foto Pessoas Rezando Proximidade, cristianismo,

Deus, simplicidade

35 vídeo Criança Abraçando,

beijando,

segurando nas

mãos, acolhendo

Proximidade, humildade,

alegria, ternura, simpatia

36 foto Pessoas Tocando as

mãos

Ternura, misericórdia,

compaixão, ecumenismo,

proximidade

37 vídeo Criança,

família,

refugiados

Acolhendo,

tocando nas

mãos,

acariciando a

cabeça das

crianças

Proximidade, alegria, ternura,

misericórdia, solidariedade

38 foto Diácono Abençoando Proximidade, vocação,

cristianismo, Igreja,

espiritualidade

39 foto Papa sozinho Rezando Deus, espiritualidade, silêncio,

paz

40 foto Papa sozinho,

multidão ao

fundo

Mãos tocando

uma pomba

branca

Amor, paz, alegria

Fonte: Elaborado pelo autor.

Analisando a tabela acima, vemos que, no primeiro ponto (pessoa ou situação), duas

realidades se destacam: primeiramente, o papa aparece “sozinho” 17 vezes (em fotos), quase

sempre em atitude de oração. Em segundo lugar, ele aparece em contato com “crianças”, seja

abraçando, acariciando ou beijando-as, um total de 10 vezes (4 vezes em fotos; 6 vezes em

vídeos).

No segundo aspecto (gestos e ações), observamos que o gesto mais frequente do papa

é quando ele se apresenta “rezando”, o qual aparece em 10 postagens, na maioria das vezes

pedindo orações por situações de calamidade (catástrofe, atentado, sofrimento da humanidade

etc.). O segundo gesto mais praticado por ele é o “abraço”, o qual aparece 8 vezes, incluindo

fotos e vídeos.

No terceiro aspecto (temas ou sentimentos), vemos que os assuntos que mais se

repetem nas 40 postagens (fotos/vídeos/legendas) são: Proximidade, 22 vezes;

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Espiritualidade, 17; Ternura, 15; Alegria, 13; Misericórdia, 12; Cristianismo, 9 vezes, e assim

por diante. Essa classificação sinaliza para alguns aspectos importantes referentes à cultura do

encontro, dentre os quais, a “proximidade”, que é, para o papa Francisco, a melhor expressão

de um comunicador.

Com base, então, nessa seleção inicial, delimitamos o eixo cultura do encontro em 11

postagens, sendo 8 fotos e 3 vídeos. Vale dizer que, a maioria das postagens refere-se a

encontros do papa com crianças, conforme sinalizado na tabela anterior.

Tabela 3 – Material cultura do encontro (19 de março a 19 de abril de 2016)

Postagem

Data

Foto

Vídeo

Visualizações

ou curtidas

Comentários

06 21.03.2016 x 171.331 mil 3.729 mil

16 27.03.2016 x 186.687 mil 2.463 mil

17 28.03.2016 x 191.923 mil 1.957 mil

25 05.04.2016 x 188.662 mil 2.063 mil

26 06.04.2016 x 423.857 mil 2.636 mil

27 07.04.2016 x 141.651 mil 1.296 mil

29 09.04.2016 x 153.868 mil 1.084 mil

30 10.04.2016 x 460.589 mil 2.329 mil

32 12.04.2016 x 175.189 mil 1.737 mil

34 14.04.2016 x 159.300 mil 1.190 mil

35 15.04.2016 x 416.798 mil 4.165 mil

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 47 - Postagem 17 – de 28 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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Na parte de localização, disponibilizada pelo Instagram, há indicação de que a foto foi

tirada na Praça São Pedro, Roma. Ao fundo é possível ver algumas pessoas observando a

cena. Na foto, o papa aparece de costas em um abraço coletivo. Apenas o rosto da

criança/adolescente ganha visibilidade, além de suas mãos que, afetuosamente, tocam as

costas de Francisco (uma terceira pessoa, talvez o pai do garoto, participa do abraço). O

menino sorri enquanto o abraça. A legenda aparece em seis idiomas, incluindo o português:

“Cristo, minha esperança, ressuscitou!”.

Figura 48 - Postagem 25 – de 5 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

A foto foi tirada em Morelia Michoacán, na visita do papa ao México, na qual ele

aparece abraçando uma criança/adolescente e uma senhora (provavelmente a mãe da menina).

Enquanto abraça, a garota demonstra alegria e contentamento em seu semblante. A legenda

destaca o tema da ternura, bastante presente nos discursos e homilias do papa: “Ternura:

palavra quase esquecida e de que o mundo atual, todos nós temos necessidade!”.

Figura 49 - Postagem 27 – de 7 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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Em um plano detalhe, a fotografia, tirada em San Giovanni in Laterano, mostra o papa

tocando delicadamente as mãos de uma criança. A legenda ratifica a delicadeza do gesto:

“Como é grande e profundo o amor de Deus por nós... sempre agarra a nossa mão, nos

sustenta!”. Nessa foto também aparecem 12 hashtags, com destaque para os temas da ternura

e da misericórdia, em várias línguas: #tbt, #throwbackthursday, #Misericordia, #Misericórdia,

#Barmherzigkeit, #Miséricorde, #Mercy, #Tenerezza, #Ternura, #Zärtlichkeit, #Tendresse,

#Tenderness.

Figura 50 - Postagem 29 – de 9 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Tirada na Basílica de São Pedro, em Roma, o papa aparece acolhendo a uma família

(pai, mãe, duas crianças). Ele toca a cabeça do pai e da mãe, enquanto as crianças observam o

gesto. A mãe sorri. Na legenda, há uma convocação a todas as famílias: “Cada família pode

tornar-se uma luz na escuridão do mundo!”. As hashtags enfatizam temas do documento

Amoris Laetitia – sobre o amor na família: #AmorisLaetitia, #Family, #Familia, #Famille,

#Famiglia, #Familie, #Parents, #Hijos, #Figli, #pais, #Eltern, #Cattolico, #Católico,

#Katholik, #Catholique, #catholic.

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Figura 51 - Postagem 26 (Vídeo) – de 6 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

O vídeo tem a duração de 29 segundos. A imagem de capa tenta antecipar a cena

quando mostra o papa “a caminho”. Ao fundo, dezenas de pessoas com suas câmeras erguidas

seguem os passos do pontífice. O papa caminha em direção a uma criança que aparece ao lado

da mãe. Ele abaixa-se para beijar a menina. Ela entrega-lhe um pequeno presente. Ele

continua abaixado enquanto conversa com a criança. A menina lhe responde algo e esboça um

leve sorriso. O papa a abençoa e beija sua cabeça. Ouvem-se gritos e aplausos da multidão. A

legenda do vídeo enfatiza a estima do papa pelos sofredores: “Desejo estar o mais perto

possível de vós, mas de modo particular de quantos sofrem”.

Figura 52 - Postagem 30 (Vídeo) – de 10 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Se, no vídeo anterior, apenas uma criança protagonizava a cena, neste aparecem

dezenas delas. O vídeo tem a duração de 45 segundos e se resume em um grande encontro

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entre o papa e as crianças, na Praça São Pedro. A cena começa com o papa caminhando com

as crianças, segurando nas mãos de algumas delas. O vídeo, embalado por um fundo musical

alegre, intercala fotos de desenhos coloridos produzidos pelas próprias crianças. Depois, o

papa aparece com elas ao redor de um grande bolo colorido apagando as velas após o

pontífice contar até três. A cena seguinte mostra o pontífice acariciando uma pomba branca e

as crianças repetindo seu gesto. Ao final do vídeo aparece o título de um dos documentos do

papa – “Amoris Laetitia – Francisco”. A legenda confirma as palavras do documento, em seu

número 22: “Os filhos são um dom maravilhoso de Deus, uma alegria para os pais!”. A capa

do vídeo é um desenho feito por uma criança, onde se lê em italiano “AMORE IN

FAMIGLIA”.

Figura 53 - Postagem 35 (Vídeo) – de 15 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Aqui, a cena do vídeo 26 parece repetir-se. A capa do vídeo, numa tentativa de resumir

a proposta do vídeo de 22 segundos, mostra uma criança isolada, apoiada sobre uma coluna,

como que em atitude de espera. De repente, o papa Francisco aparece, caminhando em

direção ao papamóvel. A ver o menino, ele estende a mão. Os dois se encontram, o papa

abaixa-se e encosta o rosto para que a criança o beije, em seguida, ele retribui o gesto

beijando o garoto acompanhado de um toque no rosto do menino. A cena é registrada pela

multidão que, comovida com o gesto do papa, faz barulho. Não há legenda, nem hashtag no

vídeo. Apenas um fundo musical suave e emotivo.

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Figura 54 - Postagem 6 – de 21 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Nessa fotografia, em plano detalhe, sem indicação de onde foi tirada, o papa toca o

rosto de um homem que o mira com um olhar penetrante. Na legenda, novamente, o tema da

ternura que já se faz visível na fotografia: “Não podemos amar, sem experimentar a Sua

ternura surpreendente!”.

Figura 55- Postagem 16 – de 27 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Tendo o céu azul como plano de fundo, a foto representa três mãos que se buscam ao

ar livre, uma delas é a do papa. Não há indicação de onde a fotografia foi tirada

(provavelmente na Praça São Pedro, em cima do papamóvel). Há uma legenda que diz:

“Levai a todos a alegria de Cristo Ressuscitado”.

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Figura 56 - Postagem 32 – de 31 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Nesta publicação, o papa aparece na companhia de senhora idosa. Os dois estão muito

próximos e se comunicam com o olhar. Francisco a toca afetuosamente em seus ombros como

se fosse abraçá-la. A legenda tenta traduzir o sentido da imagem: “A velhice é um tempo de

graça, no qual o Senhor nos renova a sua chamada!”. Abaixo da legenda aparecem 15

hashtags, em idiomas diferentes, incluindo o português: #elderly, #idosos, #ancianos,

#anziani, #alten, #Tenerezza, #Ternura, #Zärtlichkeit, #Tendresse, #Tenderness, #Cattolico,

#Católico, #Katholik, #Catholique, #catholic.

Figura 57 - Postagem 34 – de 14 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Aqui, o papa Francisco aparece junto a um círculo de pessoas unidas por um abraço

coletivo. A localização do Instagram indica que a foto foi tirada em Marino, Itália, em uma

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visita do pontífice àquela comuna italiana. Na legenda se lê: “Encontramos Jesus no irmão

mais frágil, do qual aprendemos que Deus nos ama com a simplicidade do coração!”.

As sete primeiras postagens do eixo cultura do encontro colocam as crianças como

centro das atenções no discurso do papa Francisco. Aliás, esse é um tema muito recorrente no

feed do papa, mas, também em suas homilias, viagens e discursos.

Se observarmos, por exemplo, o primeiro ano de postagens no Instagram do papa,

veremos que, das 275 fotografias postadas no primeiro ano (19 de março de 2016 a 19 de

março de 2017), 46 dessas imagens retratam momentos e encontros entre o pontífice e as

crianças (sem contar os 103 vídeos do mesmo período). É um dado bastante significativo, o

qual nos faz perguntar “por que o papa Francisco dá tanta importância aos menores?”.

Diante dessa questão, podemos levantar algumas suposições. Primeiramente, a relação

do papa com as crianças apresenta uma característica marcante de Jesus, pois, segundo as

narrativas evangélicas, ele também tinha uma estima especial pelos pequenos: “deixai as

criancinhas virem a mim e não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos

digo, aquele que não receber o Reino de Deus como uma criancinha, não entrará nele” (Lucas

18, 16-17).

Em segundo lugar, podemos pensar a atitude de Francisco como um gesto de inclusão,

mas, sobretudo, de reconciliação, por parte da Igreja Católica, em relação os casos de

pedofilia e abusos envolvendo sacerdotes. “Estes vieram à tona com mais intensidade nas

últimas duas décadas, em ondas de denúncia sem precedentes que tiveram ampla cobertura

nos meios de comunicação” (LIMA, 2019).

Assim, trazer a criança para o centro do “discurso midiático” pode ter esse sentido

simbólico de reparação. Sob essa ótica, vale recordar a realização do primeiro Encontro sobre

a Proteção dos Menores, ocorrido no Vaticano, ente os dias 21 e 24 de fevereiro de 2019, do

qual papa Francisco foi mediador. De acordo com o padre jesuíta Hans Zollner, esse foi “um

encontro de pastores que pela primeira vez enfrentarão a questão da proteção dos menores na

Igreja de maneira constante, levando em consideração estruturas e procedimentos em nível

mundial” (ZOLLNER, 2019).

Portanto, quando o papa Francisco beija, acaricia, abraça uma criança no meio da

multidão e diante das câmeras, pode ter vários significados, dentre os quais, está o seu

insistente desejo de tirar as crianças, os fracos e sofredores da margem da sociedade. Mas isto,

segundo ele, só é possível através da comunhão, da unidade e, sobretudo, da cultura do

encontro, que deve perpassar não apenas o cuidado dos mais frágeis da sociedade, mas, de

modo universal, o cuidado da “Casa Comum”, isto é, de toda a Criação.

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Na segunda parte da análise deste eixo, temos cinco fotografias diferentes, porém

conectadas pelo gesto das mãos. Em todas elas, as mãos do papa parecem corroborar a

mensagem que se deseja transmitir. De fato, se olharmos as imagens do feed veremos que as

mãos sempre ocupam lugar de destaque, seja abençoando, acenando, rezando ou tocando nas

pessoas, como, por exemplo, nas postagens abaixo:

Figura 58 – Postagem de 19 de março de 2017

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Figura 59 - Postagem de 25 de janeiro de 2017

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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Figura 60 – Postagem de 26 de julho de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Figura 61 – Postagem do dia 20 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Figura 62 – Postagem do dia 2 de julho de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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A simbologia das mãos nas postagens nos remete a um pensamento do papa que serve

de fundamento para as diretrizes das Scholas Ocurrentes35. Ele diz que, para educar os jovens,

é preciso harmonizar três tipos de linguagem: da cabeça, do coração e das mãos,

possibilitando, assim, um encontro fecundo através do toque e do afeto (SCHOLAS..., 2019).

Em síntese, para Francisco, o que importa para gerar a cultura do encontro é a linguagem do

coração que, “pelo afeto, reúne; pela necessidade de cada um, organiza; e, em busca do bem

comum, luta” (BRASILEIRO, 2018).

No vídeo institucional 2019 das Scholas Ocurrentes, disponível no canal do YouTube,

o papa Francisco reforça que, as escolas também precisam ser um lugar de encontro onde os

jovens “possam pensar o que sentem e o que fazem; possam sentir o que pensam e o que

fazem; e possam fazer o que sentem e o que pensam”. Dessa maneira, ressalta ele, a cultura

do encontro se apresenta como uma nova maneira de viver, sobretudo, com utopia,

valorizando a diversidade de culturas para, assim, alcançar não a uniformidade, mas, a

harmonia entre todos (SCHOLAS..., 2019).

Por fim temos as postagens 32 e 34. A primeira traz o tema da velhice, também muito

presente nas postagens do papa, e a segunda, retrata a unidade e o bem comum entre todos,

em vista dos mais fracos da sociedade. Conforme dissemos no segundo capítulo, com base

nas palavras de Viganò (2016), a comunicação de Francisco apresenta não apenas

“instantaneidade, espontaneidade, sinceridade, convicção”, mas, de maneira muito marcante,

“proximidade e inclusão”, sem deixar de lado os aspectos “emocional e afetivo”, dos quais

trataremos no eixo celebridade/carisma.

Ressaltamos, porém, que as postagens 2, 4, 5, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 21, 22, 24, 38 e

40, nas quais, em sua maioria, o papa Francisco aparece sozinho, não serão consideradas no

próximo eixo, por não abordarem diretamente questões relacionadas a celebridade/carisma.

Além do mais, grande parte das imagens/legendas retratam apenas aspectos religiosos

referentes à semana santa de 2016.

35 Scholas Occurrentes é um projeto político pedagógico de “educação pela paz” que tem o papa Francisco como

padrinho e apoiador. A iniciativa é a primeira plataforma online através da qual escolas do mundo inteiro

buscam construir a “cultura do encontro”. De acordo com o papa Francisco, o projeto pretende mudar o olhar

sobre a aprendizagem dos jovens. A iniciativa foi inspirada em dois projetos que Francisco criou quando era

arcebispo de Buenos Aires: a Escola de Vizinhos e as Escolas Irmãs. A sede do projeto fica no Vaticano.

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4.7.3 Eixo celebridade/carisma

O conceito de celebridade, conforme apresentamos no segundo capítulo desta

pesquisa, ajuda-nos a olhar o papa Francisco como uma figura pública do meio religioso que,

em pouco tempo, alcançou o status de pessoa célebre, dentro e fora das redes sociais, pelo

poder de seu carisma, mas, também, por sua habilidade em transitar nas mídias sociais

(especialmente Twitter e Instagram).

Passamos agora à análise das 5 postagens referentes ao eixo celebridade/carisma. Estas

foram escolhidas de acordo com a maior aproximação com este eixo de análise, embora

apresentem características ou aspectos dos eixos anteriores.

Tabela 4 – Material celebridade/carisma (19 de março a 19 de abril de 2016)

Postagem

Data

Foto

Vídeo

Visualizações

ou curtidas

Comentários

18 29.03.2016 x 536.277 mil 6.823 mil

19 30.03.2016 x 198.002 mil 2.042 mil

28 23.03.2016 x 368.655 mil 1.536 mil

33 13.04.2016 x 140.974 mil 1.247 mil

37 17.04.2016 x 406.839 mil 2.114 mil

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 63 – Postagem 19 – de 30 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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A primeira foto, tirada na “St Peters Basilica, Vatican City”, refere-se à postagem 19,

do dia 30 de março de 2016, na qual o papa aparece ajoelhado diante de um sacerdote no

confessionário. Francisco costuma receber a confissão regularmente, mas em privado. Desta

vez ele quis fazê-la em público, como um gesto simbólico que denota testemunho e exemplo.

A cena viralizou nas mídias sociais e reforçou, ainda mais, o aspecto de humildade do

papa célebre. O portal G1 foi um dos sites brasileiros que noticiou o acontecimento: “seu

mestre de cerimônias, monsenhor Guido Marini, apontou a cabine vazia ao papa, mas

Francisco foi direto para outra, ajoelhou-se diante de um sacerdote surpreso e confessou a ele

por alguns minutos” (PORTAL G1, 2014). Na legenda da foto se lê: “Perdoa, se queres ser

perdoado!”.

A cena da confissão aconteceu mais de uma vez, como mostra outra postagem do dia

17 de março de 2017:

Figura 64 – Postagem do dia 17 de março de 2017

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Esta atitude incomum do papa Francisco nos remete àquilo que disse Weber (1982)

sobre a dominação carismática, visto que, em determinadas ocasiões, um soberano pode

romper todas as normas tradicionais ou racionais, como se dissesse “está escrito, mas eu faço

do meu jeito”. Romper a tradição é, para Weber (1982), sinal de liberdade.

Na perspectiva da celebrização podemos falar de uma identificação não mais pela

força, a beleza ou o poder da celebridade, mas, pelo viés da fragilidade. Muitos seguidores se

sentem, assim como o papa, pecadores e necessitados do perdão divino. Através desse

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acontecimento ou desse gesto, a celebridade papa Francisco desperta ou revela alguns “flashes

de nossa vida social”, para usar uma expressão de França e Simões (2018). Assim, as

celebridades não apenas sinalizam para os valores de determinada sociedade ou instituição,

como “agregam preocupações, tendências, aspirações que dizem dos púbicos que as

admiram” (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 6). Pessoas célebres, portanto, “exibem traços e

características valorizados em uma sociedade em determinado momento – o que pode ser

percebido a partir das ações que as celebridades realizam no contexto social” (FRANÇA;

SIMÕES, 2018, p. 6).

Esse tipo de postura do papa Francisco, diga-se de passagem, acontece com certa

frequência em suas atividades cotidianas: quando muda o roteiro da viagem e visita uma

família pobre, quando resolve abrir uma lavanderia para moradores de rua no Vaticano,

quando vai à ótica trocar seus óculos sem a presença dos seguranças, quando para o carro na

estrada e cumprimenta as pessoas, quando dá carona para crianças refugiadas no papamóvel,

quando deixa de lado as folhas do discurso feito por seu secretário etc. Atitudes

extraordinárias e cheias de novidades como essas, na perspectiva de Weber (1982), provocam

certo arrebatamento emotivo, isto é, gerando maior identificação e reconhecimento por parte

do público.

Sem querer problematizar o grau de veracidade de sua performance, os gestos de

Francisco frente às câmeras nos fazem recordar as palavras de Barthes (1984, p. 22): “a partir

do momento em que me sinto olhado pela objetiva, tudo muda: ponho-me a posar, fabrico-

me, instantaneamente em outro corpo, metamorfoseio-me antecipadamente em imagem. Essa

transformação é ativa: sinto que a fotografia cria meu corpo ou o mortifica, a seu bel-prazer”.

Figura 65 - Postagem 33 – de 13 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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A segunda fotografia mostra o papa como um “homem comum”, no meio de uma

procissão. À frente da multidão um homem carrega uma cruz. Todos, com semblantes

reflexivos, o seguem. Com suas vestes brancas, o papa se destaca no meio do povo. Na

legenda se lê: “A Igreja não é uma comunidade de seres ‘perfeitos’, mas de discípulos que

seguem o Senhor porque se reconhecem pecadores e necessitados do seu perdão”. Além de

apresentar-se como um ser imperfeito e pecador, Francisco “deixa de lado” os títulos, a fama,

o status, para fazer-se um com sua comunidade de fé.

Essa imagem do papa Francisco caminhando com o povo é bem diferente daquelas da

época em que os papas eram carregados, no meio da multidão, em suas “cadeiras gestatórias”,

uma espécie de trono papal no qual eram transportados por vários homens com suas vestes

vermelhas, conforme imagem abaixo:

Figura 66 – Papa João 23 é carregado em sua cadeira

Fonte: Academia Internacional de Estudos Litúrgicos (2013)

Somente após o Concílio Vaticano II (1962-1965) essa prática ostensiva foi abolida do

papado. Com Francisco, a distância e a ostensividade, por assim dizer, deram lugar à

simplicidade e à proximidade. Se antes a figura do papa impunha certa pompa e autoridade,

com Francisco parece acontecer o contrário, já que, quanto maior a simplicidade de seus

gestos, e quanto menos atenção ele dá aos holofotes, mais prestígio e fama ele parece

alcançar.

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Figura 67 – Postagem 18 (Vídeo) – de 29 de março de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Passamos agora à análise dos três vídeos. O primeiro deles tem a duração de 1 minuto,

tempo máximo permitido pela plataforma para publicação de vídeos no feed. Com uma

música instrumental suave, o vídeo começa com o papa Francisco abençoando e tocando na

barriga de uma mulher grávida, seguido de outras cenas abraçando e interagindo com

crianças, abençoando pessoas idosas e saudando, com um abraço, o papa emérito Bento XVI.

Na legenda do vídeo aparecem apenas hashtags, escritas em várias línguas, fazendo menção

aos termos ternura, misericórdia, católico: “#Tenerezza, #Ternura, #Zärtlichkeit, #Tendresse,

#Tenderness, #Misericordia, #Misericórdia, #Barmherzigkeit, #Miséricorde, #Mercy,

#Cattolico, #Católico, #Katholik, #Catholique, #Catholic”.

O que se pode observar, a partir do rosto e dos gestos das pessoas que se aproximam

do papa no vídeo é que estas o encaram realmente como alguém muito especial e importante.

Algumas pessoas se emocionam quando estão em sua presença, outras lhe oferecem

presentes, beijam suas mãos, tocam em suas vestes. Com efeito, alguns o admiram como a

uma celebridade, um ídolo, outros, como um “santo” capaz de devolver-lhes o milagre da

alegria, da saúde ou da esperança na vida. Em outras palavras, o “fazer-se acreditar” por meio

de feitos e milagres, como destaca Weber (2004) em nosso segundo capítulo, é exigência

inerente a todo profeta. A capa escolhida para o vídeo ilustra bem essa questão apontada pelo

sociólogo.

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Figura 68 - Postagem 37 (Vídeo) - de 17 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Este segundo vídeo tem a duração de 54 segundos e mostra mais um gesto incomum

praticado por Francisco. Ao retornar da visita à Ilha de Lesbos, na Grécia, Francisco levou

consigo, para morar no Vaticano, 12 refugiados “muçulmanos” da Síria, incluindo crianças,

pertencentes a três famílias. O vídeo mostra esse gesto do papa, com as famílias dentro do

avião papal sendo cumprimentadas pelo pontífice. Na legenda do vídeo, as palavras de

Francisco: “É um pequeno gesto. Mas aqueles pequenos gestos que todos nos devemos fazer

para estender a mão a quem precisa!”.

Quando Francisco realiza esse gesto simbólico, mais pessoas podem identificar-se

com ele, inclusive aquelas que não possuem nenhuma ligação com a Igreja Católica. Nesse

sentido, tanto sua popularidade quanto seu poder de afetação tendem a aumentar pela via da

identificação, pois, figuras carismáticas que possuam faculdades mágicas, revelações ou

heroísmo, poder intelectual ou de oratória, segundo Weber (2004), têm maior poder de atrair a

devoção afetiva das pessoas.

Se observarmos, mais atentamente, o conteúdo das postagens anteriores, veremos que

em algumas delas, aparecem, concomitantemente, aspectos tanto de um quanto de outro eixo

de análise. Nesse vídeo, porém, “midiatização”, “cultura do encontro” e

“celebridade/carisma” aparecem cada vez mais imbricados e articulados à própria noção de

comunicação proposta pelo papa.

Quando Francisco toma a decisão de levar as famílias para o Vaticano ele sabe,

certamente, do impacto midiático que sua ação implicará dentro e fora da Igreja. Seus gestos e

cumprimentos às famílias dentro do avião papal são fielmente acompanhados pelas câmeras.

A presença da mídia é constante. Assim, o papa parece não apenas ter consciência disso,

como demonstra habilidade para usar a mídia a seu favor (ou a favor da mensagem que deseja

transmitir). E o faz, sobretudo, pela proximidade e o encontro afetivo com as pessoas. Como

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resultado dessa performance (ou desse carisma) temos a identificação do público e a

popularização da figura do papa como homem bom, simples e humilde, conforme destacamos

no início do segundo capítulo.

Figura 69 - Postagem 28 (Vídeo) – de 8 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

O último vídeo referente a esse eixo tem a duração de 45 segundos e coloca a família

como centro da mensagem. Com um fundo musical alegre, o papa aparece abraçando e

cumprimentando a vários tipos de famílias (brancos, negros, jovens, idosos...). Na legenda do

vídeo se lê: “A força da família reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a

amar”. A frase faz referência ao número 53 da Exortação apostólica Amoris Laetitia,

documento do papa Francisco sobre o “Amor na Família”, assinado por ele no mesmo dia da

criação do perfil no Instagram, 19 de março de 2016. Em suas próprias palavras Francisco se

autodenomina “missionário da misericórdia”, como vimos no vídeo da postagem 23, do dia 3

de abril de 2016.

No vídeo, pessoas formam fila para cumprimentar o papa e tirar fotos com ele, gesto

comum na relação celebridade-fã. Ele as toca, as abraça, sorri, tira fotos com elas e, talvez, o

seu maior diferencial, ele as abençoa como um gesto próprio dos profetas carismáticos. Os

olhares das pessoas parecem querer dizer “ele não é só uma celebridade comum, mas um

enviado de Deus”. Com efeito, “os fãs se deslocam grandes distâncias para ver seu ídolo,

fazem filas para comprar ingressos, colecionam fotos e informações. É observando a emoção

que despertam e os sentimentos de que são revestidos que podemos avaliar a força e o grau de

celebrização dos famosos” (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 7).

Além dos gestos apontados nas cinco postagens acima existem outros praticados pelo

papa que demonstram não apenas proximidade com o público, mas, tendem a aumentar o seu

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poder de afetação e identificação por parte de seus seguidores. Destacamos, a partir do feed,

cinco postagens e cinco gestos distintos bastante comuns, sobretudo em suas viagens.

Figura 70 – Postagem do dia 25 de agosto de 2018

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Francisco aparece subindo as escadas do avião, no aeroporto internacional Fiumicino,

Roma, Itália. Como de costume, carrega sua pasta preta que se tornou uma espécie de símbolo

associado à sua figura desde a Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio de Janeiro,

conforme nos referimos em nosso segundo capítulo.

Figura 71 – Postagem do dia 11 de agosto de 2017

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

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Francisco é fotografado na Sala Paulo VI, no Vaticano. Na cena, ele troca o seu

solidéo com o de uma pessoa da multidão. Esse é um gesto, diga-se de passagem, bastante

criticado pelos conservadores, já que a palavra solidéo (das palavras latinas soli mais Deo)

indica que, “só a Deus” o papa deve tirar o solidéo da cabeça. Diante dessa atitude,

aparentemente simples, é possível aferir que, a celebrização do papa Francisco, bem como seu

poder de afetação do público, tem estreita relação com essa quebra constante de protocolos.

Figura 72 – Postagem do dia 18 de fevereiro de 2017

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Francisco aparece com uma indígena mapuche que, com seus trajes coloridos, toca o

rosto do papa enquanto ele se inclina para receber a oração/cumprimento. Essa imagem gerou

identificação e polêmica nas redes sociais. Muitos acharam um gesto nobre da parte do papa

Francisco em relação aos indígenas, mas, alguns “grupos católicos conservadores criticaram o

fato, visto como um sacrilégio. Afirmam que é a primeira vez que um Papa permite ser

abençoado por uma seguidora de ritos pagãos. E chamaram a mapuche de bruxa” (ARIAS,

2018). Em outras ocasiões, principalmente mulheres “comuns”, aparecem tocando a cabeça

do papa ou traçando o sinal da cruz em sua testa. Podemos perceber nesse tipo de postagem

uma tentativa de dar voz às mulheres, ou tirá-las, de alguma forma, do anonimato no qual a

própria Igreja e a sociedade as colocaram ao longo da história.36

36 Acerca dessa temática destacamos aqui um trecho da recente entrevista do papa Francisco à jornalista

Valentina Alazraki, da emissora mexicana Televisa: “Um mundo sem mulheres não funciona. Não porque é a

mulher que tem os filhos, deixemos de lado a procriação. Uma casa sem uma mulher não funciona. Há uma

palavra que está para sair do dicionário, porque causa medo em todos: a ternura. É patrimônio da mulher. Porém,

daqui ao feminicídio, à escravidão, o passo é breve. Qual é o motivo do ódio, não saberia explicar. Talvez algum

antropólogo poderá explicar melhor. E como se cria este ódio, matar mulheres é uma aventura? Não sei explicar.

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Figura 73 – Postagem do dia 19 de outubro de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Francisco aparece sorridente, no papamóvel, compartilhando uma cuia de chimarrão

com um fiel. Esse gesto foi realizado, pela primeira vez, na Jornada Mundial da Juventude, no

Rio de Janeiro, em 2013. Desde então, tornou-se algo comum em suas viagens pelo mundo.

Além disso, denota certa intimidade entre celebridade-fã, já que, “o chimarrão na Argentina é

muito mais do que apenas uma bebida, é um costume, um momento de irmandade, um

vínculo. Ninguém toma chimarrão porque está com sede, mas porque se trata de um ritual que

acompanha o encontro” (CULTURA ARGENTINA, 2019).

Figura 74 – Postagem do dia 22 de abril de 2016

Fonte: Dicastério para a comunicação (2019)

Mas é evidente que a mulher continua em segundo plano e a expressão de surpresa quando uma mulher tem

sucesso indica isso muito bem” (ALAZRAKI, 2019).

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Em viagem ao Quênia, Francisco aparece com uma pá nas mãos adubando uma planta.

Algumas pessoas (incluindo dezenas de fotógrafos) observam o seu gesto bastante comum em

suas viagens, o qual faz referência a seu documento Laudato Si – sobre o cuidado da casa

comum, lançado em maio de 2015.

Cada um dos cinco gestos citados acima aparecem mais de uma vez no feed do papa.

Carregar a própria pasta nas viagens, trocar o solidéo com os fãs, deixar que alguém reze em

sua cabeça, dividir o chimarrão e plantar ou adubar uma árvore são gestos carregados de

significados, os quais tendem a extrapolar a dimensão puramente religiosa e impactar a

própria sociedade como todo. Além disso, são gestos que, “midiatizados”, buscam “traduzir”

a comunicação do papa e construir a cultura do encontro. Tudo isso, certamente, aumenta e

reforça o poder de afetação do público, conforme veremos na última parte da análise do eixo

celebridade/carisma.

Conforme sinalizamos anteriormente, a seleção dos comentários dos fãs foi feita com

base na fotografia e no vídeo mais popular do perfil, isto é, a primeira e a terceira postagem

do perfil, realizados no dia 19 de março de 2016, data da abertura oficial da conta. Na foto, o

papa pede aos seguidores que rezem por ele; no vídeo, ele afirma que o seu “novo caminho”

através do Instagram será marcado pela “misericórdia” e “ternura de Deus”.

Ao analisar os 80 comentários, os distribuímos em cinco blocos: as virtudes

carismáticas destacadas pelos fãs, os comentários em forma de pedidos ao pontífice, orações

dos seguidores pelo papa, expressões mais diretas de afeto e reações diversas.

Tabela 4 – Comentários às postagens

Categoria Comentários na

foto

Comentários no

vídeo

Total de comentários

foto + vídeo

Virtudes 4 14 18

Pedidos dos fãs 11 5 16

Rezando pelo papa 20 3 23

Expressões de afeto 1 13 14

Reações diversas 4 5 9

Fonte: Elaborado pelo autor.

Após classificar os posts em 5 blocos, descrevemos os resultados referentes a cada um,

a começar pelas virtudes carismáticas ou expressões usadas pelos fãs para referir-se às

qualidades pessoais do papa Francisco.

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1. Virtudes carismáticas: amor, respeito, caridade, perdão, moderno, sensacional,

diferente, síntese divina, enviado de Deus, esperança, pleno, sereno, admirável, o papa

é pop, acolhedor, ternura, afeto, amor, dom divino, maravilhoso, conectado, exemplo,

caridade, caráter, humano, serenidade, proteção, honestidade, sabedoria, fé, homem de

Deus, próximo do povo.

Nesse primeiro item, observamos 32 qualidades referenciadas ao papa nos 80

comentários. Algumas delas como “amor”, “fé” apareciam mais de uma vez em posts

diferentes, no entanto, registramos apenas uma vez para evitar repetição. Alguns comentários

destacavam apenas uma qualidade do papa, outros, porém, chegavam a destacar até três ou

quatro.

2. Pedidos dos fãs: “Abençoa o Brasil”; “pela minha família”; “por mim”; “uma

mensagem de paz para mim”; “cura do meu filho”; “bênção para alcançar a graça de ir

à Basílica de São Pedro”; “por todos nós”; “por nós brasileiros”; “pela restauração de

uma amizade”; “gostaria de receber seu perdão”.

No item dois, temos os pedidos dos fãs para o papa Francisco. Alguns pedidos como “por

mim”, “pela minha família” foram feitos mais de uma vez por usuários diferentes, mas, na

lista acima, consideramos apenas uma vez, para não repetir.

3. Rezando pelo papa: “Deus o abençoe”; “que a santíssima trindade lhe proteja”;

“muita paz, sorte, saúde e muitas graças de Deus”; “por todos os dias de minha vida”;

“Deus te proteja”; “conte com minhas orações”; “vós necessitais tanto, eu sei”;

“sempre está em minhas orações”; “rezo e rezarei sempre”, “abençoado por Deus e

Nossa Senhora”; “os anjos estão contigo”; “rezaremos pelo senhor”; “todos os dias”;

“Pai Nosso que estais no céu...”; “que a paz do Senhor guie nosso pastor”; “rezo por

você, o mundo te ama”.

No item três, temos as expressões de oração pelo papa, isto é, a confirmação do pedido

feito na legenda da foto (“rezem por mim”). Grande parte dos usuários confirma que rezaria

ou que estava rezando pelo pontífice. Embora o papa não responda a seus comentários, os fãs

escrevem como se estivessem, de fato, conversando ou sendo “ouvidos” pelo seu “ídolo”.

4. Expressões de afeto: “amo este papa”; “o papa Francisco nos comove”; “nosso Chico

é show”; “amado papa”; “precisamos de ti”; “tem minha admiração”; “obrigada por

estar sempre ao nosso lado”; “que presente de Deus”; “nós te amamos”; “fofo”; “te

adoro, papa”; “papa Francisco, te amo”; “que alegria estar mais perto e ti”.

No item quatro, observamos as declarações carinhosas dos fãs. Expressões como “fofo”,

“te amo” aparecem mais de uma vez em comentários diferentes. Aqui é possível sentir, mais

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claramente, que parece existir uma relação de intimidade e confiança em relação a fã-

celebridade. Alguns se sentem realmente próximos do papa.

5. Reações diversas: “Airton Sena está sempre conosco, amém”; “tu não pode curtir

essa página, seu pecador herege”; “santo padre, não precisa apertar o tablet com tanta

força, ok?”; “Oi Papa, beijos de Gigi”; “Sou de São Lourenço-MG”; “siga o Insta do

papa”.

No quinto e último item, temos algumas reações “inusitadas” por parte dos fãs. Como

podemos observar, algumas delas não têm nenhuma conexão direta com o conteúdo abordado

nas postagens analisadas.

Olhando para os conceitos de projeção, identificação e contraidentificação, sinalizados por

Simões (2014), e relacionando-os com os comentários das duas postagens, concluímos que,

de fato, muitas pessoas se inspiram em Francisco, ou seja, se projetam em seu exemplo, suas

atitudes e, principalmente, em sua maneira de viver a vida e a própria fé.

Quanto à identificação, podemos perceber, com base nas 32 qualidades destacadas, que o

público se identifica e se reconhece no carisma de Francisco, expressos em suas palavras e,

sobretudo, em seus gestos.

No que se refere à contraidentificação, não encontramos, entre os 80 comentários

analisados, nenhuma manifestação contrária ao papa, pelo menos nos comentários em

português. O mesmo não se pode dizer dos comentários em espanhol.

Portanto, observamos que, o quadro de valores convocados e as temáticas abordadas pelo

papa, em seu feed do Instagram, desafia a sociedade em geral a uma nova maneira de pensar

as relações sociais e a própria ideia de comunicação. Para isso, em muitas ocasiões, o papa

abre mão de discursos longos, para comunicar-se de maneira espontânea e com poucas

palavras aderindo, assim, à lógica midiática; em outros momentos, ele prefere o silêncio, o

abraço, o poder dos pequenos gestos. Desse modo, o papa Francisco vai construindo, a partir

de uma “autonarrativa”, aquilo que ele chama de cultura do encontro. Assim, destaca

Francisco, em sua mensagem para o dia mundial das comunicações de 2019, podemos “abrir

o caminho ao diálogo, ao encontro, ao sorriso, ao carinho… Esta é a rede que queremos: uma

rede feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas

livres”.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O início de uma pesquisa é, geralmente, marcado por expectativas e desejo de

respostas. Com o percurso do trabalho, porém, vamos nos dando conta de que as dúvidas,

indagações e lacunas fazem parte do processo, aliás, são elas que, em determinados

momentos, nos salvam do imediatismo e da ilusão de que o conhecimento sobrevive de

receitas prontas.

Quando demos início a esse estudo sobre o papa Francisco, muitos caminhos e

possibilidades surgiram à nossa frente. Porém, não imaginávamos que sua figura pudesse

suscitar questões tão complexas, atuais e relevantes para a sociedade e, inclusive, para a

compreensão da própria comunicação.

Para compreender Francisco foi necessário, antes de tudo, tentar entender o contexto

midiático no qual ele e a Igreja estão inseridos, bem como os desafios advindos dessa

realidade, com a qual a instituição católica tem de conviver e, mais que isso, usufruir desse

meio para difundir a mensagem cristã, conforme indica o papa em seus documentos e,

sobretudo, em seus discursos e gestos.

Para tanto, nos debruçamos, inicialmente, sobre a ideia de “onipresença da mídia”,

embasados, sobretudo, no pensamento de Silverstone (2002), Castells (2016) e Hjarvard

(2014). Como parte desse processo, desenvolvemos uma reflexão, com base em diversos

autores e perspectivas, acerca do conceito de midiatização, o qual perpassou, de uma forma ou

de outra, a nossa pesquisa.

Ao articular o conceito de midiatização do campo religioso, percebemos que, não

obstante alguns tensionamentos históricos, foi possível identificar, a partir da leitura de alguns

autores, avanços significativos na relação mídia-religião. Vimos que, sobretudo no contexto

atual, seus caminhos se cruzam em muitos aspectos, de tal modo que se torna cada vez mais

difícil uma total separação desses dois campos, já que a mídia torna-se, mais do que nunca, o

ambiente no qual o “sagrado” repousa sua mensagem e suas estratégias, a fim de atrair novos

adeptos e seguidores. Por outro lado, a mídia (especialmente as “novas mídias”) acaba

moldando e “comoditizando” a própria religião por meio da projeção midiática de seus líderes

tornados célebres.

Sob essa ótima, foi possível observar que, notadamente, de João Paulo II em diante, a

Igreja Católica, tem buscado fortalecer a sua relação com os meios de comunicação,

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ampliando o seu campo de atuação por meio do rádio, da televisão e, mais fortemente, por

meio de sua presença nas mídias sociais.

Com a chegada de Francisco, em março de 2013, acontece na Igreja Católica uma

espécie de reviravolta comunicacional. Com isso, não estamos ignorando o trabalho realizado

por seus antecessores, mas, dizendo apenas que, no pontificado de Francisco, o tema da

comunicação não apenas ganhou centralidade como buscou imprimir no catolicismo um

“rosto” mais humano, simples e próximo das pessoas.

Não nos referimos apenas a mudanças estruturais, como a implementação do

Dicastério para a Comunicação, mas, sobretudo, uma reforma da linguagem, isto é, do modo

como a instituição religiosa se comunica e se faz compreender no mundo. É aí que entra –

estrategicamente ou não – a ideia de Francisco em difundir a cultura do encontro, a qual tem

como foco principal uma comunicação mais afetiva, autêntica e simbólica. Nessa perspectiva,

ressaltou Letícia Soberón, em entrevista à Revista Unisinos, “o Papa Francisco é em si mesmo

criador de eventos midiáticos” (MAINERO, 2014).

Em síntese, a proposta do papa vai de encontro, como ele mesmo diz na Evangelii

Gaudium, àquela Igreja doente, rígida, com cara de ONG, fechada na autorreferencialidade.

Assim, reconhece Francisco, “a cultura mediática e alguns ambientes intelectuais transmitem,

às vezes, uma acentuada desconfiança quanto à mensagem da Igreja, e um certo desencanto”

(IGREJA CATÓLICA, 2013, p. 52). Nesse sentido, ele não apenas reconhece a falta de

credibilidade da instituição, como tenta, ele mesmo, colocando-se em cena, reconquistar a

confiança perdida.

Diante dessa realidade, vimos que a figura célebre e carismática de Francisco

contribuiu, de alguma maneira, para que a imagem da Igreja Católica voltasse a circular

“positivamente” na mídia, já que, na gestão do papa Bento XVI, o foco maior das notícias

estava nos escândalos relacionados ao Banco do Vaticano e aos casos de pedofilia. Nessa

época, vale recordar, quanto mais a figura de Francisco era exaltada e celebrada pela mídia,

menos relevantes se tornavam (para os meios de comunicação) os temas polêmicos da Igreja.

Mais tarde, quando estes vieram à tona – com os casos de abusos envolvendo os cardeais

George Pell (australiano), Theodore McCarrick (americano) e Philippe Barbarin (francês) – a

figura de Francisco já estava, de certo modo, “consolidada” midiaticamente, o que contribuiu

para que as questões fossem resolvidas de maneira mais “suave”, isto é, sem tanta repercussão

negativa para a Igreja. Aliás, alguns sites, ao noticiarem os casos de abuso, até enalteciam,

implicitamente, a figura de Francisco, como uma espécie de “salvador da pátria”: “Papa

Francisco expulsa da Igreja ex-cardeal americano acusado de abuso sexual” (o Globo);

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“Exclusão de Theodore McCarrick é a primeira de um cardeal na história da Igreja devido a

abusos” (Folha de S. Paulo); “Papa Francisco: Tolerância zero ao horrível pecado dos abusos

sexuais na Igreja” (ACI Digital).37

Se, como afirma Mainero (2014), “cada Pontífice tem seus carismas e seu estilo

pessoal”, e, se “a comunicação vaticana se matiza segundo o Papa do momento”, Francisco

parece ter sido aquele que tem apresentado maior abertura ao processo de midiatização do

campo religioso católico e, consequentemente, contribuído para que a instituição milenar

recobrasse um pouco de sua credibilidade diante da sociedade contemporânea. Todavia, é

importante dizer, a admiração ao papa nem sempre significa uma adesão à Igreja e suas

doutrinas.

Dito isso, a análise do perfil do papa na rede social Instagram nos possibilitou um

olhar mais amplo acerca da midiatização do campo religioso, do processo de celebrização

social de Francisco, bem como de seu poder de afetação do público por meio de seu carisma.

Além disso, ajudou-nos a perceber aspectos importantes da cultura do encontro e do estilo

comunicativo do líder da Igreja Católica.

No âmbito da midiatização foi possível observar que, embora a performance de

Francisco, bem como seus gestos e ações frente às câmeras, pareçam naturais e

desinteressados, há, certamente, uma estratégia midiática neles que é a de levar a mensagem

do papa ao maior número de pessoas através da plataforma. Para alcançar esse objetivo,

porém, é preciso adequar-se às exigências da ferramenta, isto é, aos limites e regras impostos

por ela. Uma das principais características dessa adequação, presentes no perfil do papa, é o

cuidado com o conteúdo, isto é, com as mensagens de síntese apresentadas nas postagens de

Francisco. A maioria dos vídeos analisados, como vimos, não chegava a um minuto de

duração, que é o limite máximo para postagem de vídeos no feed. Para o Instagram, quanto

mais direta e sintética é a mensagem, maior a probabilidade de viralizar e alcançar mais

pessoas. Outro aspecto importante dessa relação diz respeito ao uso frequente de hashtags nas

publicações do papa. Estas, além de impulsionar o conteúdo, servem para demarcar os

assuntos contidos em cada postagem. Existe, portanto, uma preocupação não apenas com o

conteúdo postado, mas, também, com o uso estratégico de algumas ferramentas

disponibilizadas pela plataforma.

37 “O julgamento aparece na apreciação das qualidades e atitudes do célebre (a propósito da posição do papa

Francisco com relação à pedofilia na Igreja católica; do discurso de Donald Trump sobre os imigrantes nos

EUA), e é muito importante” (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 7).

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Como vimos no primeiro capítulo dessa pesquisa e, posteriormente, na análise do eixo

sobre midiatização, o papa Francisco, desde o início de seu pontificado, tem demonstrado

peculiar capacidade de diálogo com a mídia, pois ele acredita que “os meios atuais permitem-

nos comunicar e partilhar conhecimentos e afetos” (IGREJA CATÓLICA, 2015), mas, às

vezes, “também nos impedem de tomar contato direto com a angústia, a trepidação, a alegria

do outro e com a complexidade da sua experiência pessoal” (IGREJA CATÓLICA, 2015).

Com essa consciência, Francisco descreve, na mensagem para o dia mundial das

comunicações de 2019 – “somos membros uns dos outros (Ef 4, 25): das comunidades de

redes sociais à comunidade humana” – o papel que a mídia deve ocupar na vida e nas relações

sociais:

Se uma família utiliza a rede para estar mais conectada, para depois se encontrar à

mesa e olhar-se olhos nos olhos, então é um recurso. Se uma comunidade eclesial

coordena a sua atividade através da rede, para depois celebrar juntos a Eucaristia,

então é um recurso. Se a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e

experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente de mim, para rezar

juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo que nos une, então é um

recurso. (IGREJA CATÓLICA, 2019).

Quanto ao tema da cultura do encontro, vimos em nossa análise que o discurso do

papa (em seus documentos, mensagens, homilias etc.) tende a se concretizar em seus gestos,

tanto nas fotografias quanto nos vídeos analisados, conforme indicado na tabela 2 do eixo

cultura do encontro. Com efeito, o termo “proximidade” apareceu 22 vezes, indicando

momentos em que o papa abraça, beija, toca e abençoa as pessoas.

Quanto à dimensão da espiritualidade (que aparece 17 vezes na tabela 2), esta é,

geralmente, retratada em fotografias em que o papa aparece sozinho. Não seria uma

contradição à cultura do encontro? Sobre essa questão, Francisco apresenta, na Evangelli

Gaudium (2013), uma crítica àqueles que vivem uma espiritualidade cômoda, individualista e

fechada em si mesmos confundindo, assim, a vida espiritual “com alguns momentos

religiosos que proporcionam algum alívio, mas não alimentam o encontro com os outros, o

compromisso no mundo, a paixão pela evangelização” (PAPA FRANCISCO, 2013, p.52).

Se olharmos, com atenção, o feed do papa, veremos que aparecem, com frequência,

imagens dele sozinho, em atitude de oração. Mas, ao mesmo tempo, há muitas outras

fotografias e vídeos que o retratam em contato direto com as pessoas. Há, aqui, um dado

simbólico que não pode ser ignorado, pois, um cristão, na visão do papa, deve cultivar uma

espiritualidade profunda, mas, esta só tem sentido se este for capaz de “sair” de sua

comodidade e ir ao encontro do outro. É o que Francisco busca fazer. Nesse sentido, para ele,

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a expressão “Igreja em saída” tem especial valor, pois, em sua visão missionária, é preciso

alcançar as periferias geográficas e existenciais do mundo sendo “missionários que

‘primeireiam’, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam.” O missionário,

segundo Francisco, é aquele que comunica a ternura de Deus, alguém que “vive um desejo

inexaurível de oferecer misericórdia... numa constante saída para as periferias do seu território

ou para os novos âmbitos socioculturais.” (IGREJA CATÓLICA, 2013, p. 21).

Acerca da celebrização e do carisma, foi possível perceber, desde o início do segundo

capítulo, com a coleta de notícias de alguns sites, características marcantes da figura de

Francisco – “homem simples”, “humilde” “próximo dos pobres”, “de estilo discreto” etc. – as

quais foram confirmadas e ampliadas na análise do eixo celebridade/carisma, conforme

descrito na tabela 4.

A última parte de nossa análise acentuou aspectos importantes da relação afetiva entre

o papa e seus seguidores. Observamos que as qualidades elencadas pelo público, nos

comentários das duas postagens analisadas, demonstram forte ligação afetiva dos fãs em

relação ao pontífice. Além disso, corroboram a ideia de “valor-princípio” de que tratam

França e Simões (2018)38, pois, “é por este caminho que o estudo das celebridades ganha

relevância para nossos estudos – na medida em que elas sinalizam e representam algo que

uma sociedade, em tal momento, valoriza” (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 8).

No item 2 do eixo celebridade/carisma, como vimos, os fãs fazem vários pedidos ao

papa, os quais revelam, de alguma forma, seus anseios pessoais, mas, também, o rosto de uma

sociedade carente de “heróis, celebridades e profetas carismáticos” confirmando, de certo

modo, que, em um contexto no qual as instituições sociais surgem carentes de confiabilidade,

figuras como o papa Francisco são vistas como referenciais, portadores de esperança em uma

sociedade marcada por “valores que oscilam, que estão sendo descartados, e novos valores

que surgem para se instalar. Celebridades nos ajudam a olhar para isto – desde que saibamos

desviar os olhos delas em si mesmas e consigamos perceber aquilo que elas dão a ver

(FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 19).

Diferentemente de outras celebridades religiosas, como o padre Fábio de Melo – que

interage com os seguidores do Instagram respondendo a algumas mensagens e pedidos de

orações – o papa Francisco, embora se faça “presente” em suas postagens quase diárias no

feed, não estabelece laços com seu público através de comentários, respostas ou curtidas. Mas,

38 Heinich (2017) destaca três significações principais nos usos atuais do termo “valor”: o valor-grandeza, o

valor-objeto e o valor-princípio. Mas é sobretudo o terceiro sentido, de valor-princípio, que nos interessa aqui.

Mais do que estudar as celebridades em si, em seu valor intrínseco, nos interessa indagar o que elas representam;

que valores estão em jogo (FRANÇA; SIMÕES, 2018, p. 8).

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se o fizesse, certamente seria “notícia” nos vários perfis de fofoca do Instagram, como

acontece com outras celebridades que, de alguma maneira, interagem com seus fãs, uma vez

que, “detalhes da vida privada das celebridades atraem a atenção de seus públicos, e a

imprensa sensacionalista se esbalda com os escândalos em que elas se envolvem” (FRANÇA;

SIMÕES, 2018, p. 19).

Por fim, podemos pensar no modo como o carisma do papa se articula ao ambiente

midiático. Como ponto de partida, temos, de um lado, uma autoridade religiosa que, desde o

momento em que ocupou a cena pública, demonstrou certo carisma e, por outro, temos o olhar

da mídia que, ao identificar traços carismáticos dessa figura – “simples, despojada, humilde,

empática” – a “consagra” como uma celebridade do nosso tempo. Percebemos, já nesse

primeiro momento, certa relação (coerência) entre aquilo que o papa é e realiza, com aquilo

que a mídia “necessita”, no atual contexto, para celebrizar uma pessoa.

Em um segundo momento, temos um papa que, ao tornar-se célebre, irrompe a

comodidade do discurso puramente religioso e faz das mídias sociais o seu “novo púlpito”.

Tendo consciência dos desafios desse novo ambiente de evangelização, ele busca adaptar-se a

algumas de suas exigências, questiona seus limites, reflete o cotidiano e propõe um novo

olhar sobre as relações humanas e sobre a própria comunicação da Igreja, por meio de uma

linguagem afetiva e próxima.

Consideramos, ainda, que o papa Francisco não se enquadra no estereótipo de

“commoditie” do mundo digital ou “celebridade narcisista”, pois a sua linguagem nas mídias

sociais busca, o tempo inteiro, valorizar a alteridade e reconstruir o sentido de família humana

pautado na comunhão e na coletividade.

Dessa maneira, o Bispo de Roma ganha o afeto da multidão que o segue nas redes

sociais, mas, por outro, é duramente criticado por uma ala conservadora da Igreja que,

habituada a cumprir à risca os dogmas e preceitos, não consegue alcançar aquilo que

consideramos a radicalidade evangélica proposta por Francisco, que, no fim das contas, não é

uma nova forma de religião, mas, um novo jeito de viver e comunicar o Amor através da

cultura do encontro.

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ANEXO A - 80 COMENTÁRIOS DAS POSTAGENS

Comentários na foto da postagem 1

Virtudes carismáticas

Pedidos ao papa

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186

Rezando pelo papa

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187

Expressões de afeto

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188

Reações diversas

Comentários no vídeo da postagem 3

Virtudes carismáticas

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189

Pedidos ao papa

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190

Rezando pelo papa

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5

Expressões de afeto

191

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6

Reações diversas

192