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POLÍTICAS SOCIAIS: práticas e desafios Kátia Maheirie
1
Tatiana Minchoni2
Frederico Viana Machado3
Isabel Fernandes de Oliveira4
Kamilla Sthefany Andrade de Oliveira5
As políticas públicas, enquanto estratégias de intervenção estatal em relação a determinados problemas sociais, incidem em diferentes frentes de atuação, na tentativa, inclusive, de viabilizar a efetivação de alguns dos direitos sociais preconizados constitucionalmente. Entre a criação de uma política pública e sua operacionalização, por meio da oferta dos serviços públicos, existe um longo percurso que se apresenta desafiante, tanto pela importância da viabilização das diretrizes das políticas, quanto pela necessidade de contemplar a realidade da população alvo. Nesse ínterim, os profissionais que executam os serviços e possuem contato direto com a população e as demandas que a mesma apresenta, necessitam inventar e reinventar práticas em meio aos desafios que uma política pública apresenta. Nesse sentido, esta mesa temática se propõe a discutir as práticas e os desafios encontrados nas atuações em políticas públicas nos setores da assistência social e da educação. Especificamente, será discutida a experiência com coletivos promovida pelas equipes dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) da cidade de Florianópolis/SC, que podem se revelar como práticas potencializadoras dos contextos em que atuam; a relação que se estabelece entre as demandas educacionais e as propostas político-pedagógicas apresentadas por movimentos sociais e a execução das mesmas pelos órgãos governamentais da educação na cidade de Porto Alegre/RS; e a incorporação de ações voltadas ao rural/ruralidade a partir das deliberações da IX Conferência Estadual de Assistência Social do Rio Grande do Norte. Intenciona-se, com essa mesa, fomentar discussões acerca da absorção e incorporação das demandas apresentadas pelos movimentos sociais, seja em espaços deliberativos e/ou representativos, bem como do fazer profissional concretizado nos equipamentos, que ora são encontrados avanços, indo além das práticas tradicionais e ora negam os direitos de uma parcela da população.
1 Doutora. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail : [email protected]
2 Mestre. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail : [email protected]
3 Doutor. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail : [email protected]
4 Doutora. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail : [email protected]
5 Mestranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
COLETIVOS EM CENTROS DE REFERÊNCIA EM ASSISTÊNCIA SOCIAL: para onde apontam as práticas e seus desafios?
Kátia Maheirie 6
Tatiana Minchoni 7
O presente resumo aborda os Centros de Referência em Assistência Social – CRAS, visando compreender a experiência coletiva a partir de práticas desenvolvidas por sua equipe, tomando como base a discussão indivíduo/coletivo na base de seus fazeres. Para tanto, utilizaremos o relato de três edições das oficinas de fotografia nos CRAS do município de Florianópolis (SC. Por meio de tais informações, objetivamos compreender a experiência de trabalhos com tais coletivos, focando os avanços e recuos que encontram em suas práticas e, ao mesmo tempo, na potência destes trabalhos naqueles contextos. O material obtido nesta investigação é analisado a partir da análise de discurso, compreendido como ações situadas socialmente e na qual o texto é ponto de partida e de chegada. Procederemos na construção de “categorias” ou “unidades” a partir do próprio texto, ou seja, a posteriori, mesmo que alguns aspectos já sejam estabelecidos a priori. O “discurso”, tal como é entendido aqui, produz-se como ato, como acontecimento em um contexto específico, surgindo na relação dialógica entre posições sociais que se confrontam nos cenários da pesquisa. Destacamos algumas experiências promovidas pelas equipes atuantes nas políticas sociais, no que se refere ao trabalho com coletivos que vão além de práticas tradicionais, analisando a potência das objetivações em relação à promoção de sujeitos de direitos, dos processos de emancipação e do envolvimento comunitário. Palavras-chave: experiência coletiva, CRAS, oficinas
Collective in Reference Centers for Social Assistance: they point to the practices and challenges?
This paper discusses the Reference Centres for Social Welfare - CRAS, to understand the collective experience from practices developed by his team, based on the individual / collective discussion on the basis of their doings. Therefore, we will use the report of three editions of photography workshops in CRAS in Florianópolis (SC. Through this information, we aim to understand the experience of working with such collectives, focusing on the advances and setbacks they encounter in their practices and, at the same time, the power of these works in those contexts. The material obtained in this research is analyzed from the speech analysis, understood as situated actions socially and in which the text is the starting point and arrival. We will proceed in the construction of "categories" or "units" from the text itself, ie, a posteriori, even if some aspects are already established a priori. The "speech", as understood here, is produced as act as an event in a specific context, emerging in the dialogic relationship between social positions faced in the scenarios of the research. We highlight some experiences promoted by the teams active in social policies, with regard to working with groups that go beyond traditional practices, analyzing the power of objectivations regarding promotion subjects of rights, emancipation processes and community involvement. Keywords: collective experience, CRAS, workshops
6 Doutora. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail : [email protected]
7 Mestre. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail : [email protected]
INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda os Centros de Referência em Assistência Social
(CRAS), visando compreender a experiência coletiva a partir de práticas
desenvolvidas por sua equipe, tomando como referência a discussão indivíduo/coletivo
na base de seus fazeres. Nesse sentido, objetiva-se compreender a experiência de
oficinas de fotografia oferecida para usuários, e realizada por psicólogas/os,
estudantes de Psicologia e um fotógrafo profissional, focando os avanços e recuos
que encontram em suas práticas e, ao mesmo tempo, na potência destes trabalhos.
As experiências foram desenvolvidas em dois CRAS da cidade de Florianópolis/SC.
A inserção das/os psicólogas/os nas políticas sociais está relacionada,
historicamente, ao questionamento às práticas tradicionalmente realizadas pelas/os
profissionais da Psicologia, as quais estavam voltadas, sobretudo, às classes média e
alta da população brasileira, configurando-se como uma Psicologia voltada para as
elites. Soma-se a isso a preocupação com os rumos que a profissão vinha tomando,
aliado ao questionamento acerca da relevância social da Psicologia. Inicia-se, assim,
um movimento no âmbito da própria profissão, que clama por um compromisso social
da Psicologia brasileira com as camadas empobrecidas da população, buscando uma
inserção social mais significativa que aquela estabelecida até então (YAMAMOTO,
2009).
Na década de 1980, em processo de abertura democrática, a Psicologia em
articulação com movimentos sociais conquista espaços de trabalho no âmbito público,
os quais só se concretizarão posteriormente, a partir da operacionalização da garantia
dos direitos sociais preconizados na Constituição Cidadã, dentre eles, a Assistência
Social, a qual compõe o tripé da Seguridade Social juntamente com a Saúde e a
Previdência Social. Neste cenário, é importante destacar a mudança significativa da
concepção de Assistência Social no Brasil, que passa de práticas caritativas à direito
social, que deve ser garantido pelo Estado à toda população.
Entretanto, a efetivação deste direito será morosa, sobretudo devido à ofensiva
neoliberal, que atingiu o setor público de forma veemente, com a desmontagem de
vários setores, além de amplas privatizações (YAMAMOTO & OLIVEIRA, 2010). A Lei
Orgânica de Assistência Social só vem a ser regulamentada em 1993, o Plano
Nacional de Assistência Social, elaborado a partir das deliberações da IV Conferência
Nacional de Assistência Social, foi aprovado somente em 2004, e este processo
culmina com a aprovação da regulamentação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), em 2005, quando, de fato, começarão a ser implantados os serviços.
O SUAS é um modelo de gestão que integra os três entes federativos e atua de
maneira descentralizada e participativa, tendo como foco, em seus serviços e
programas, as famílias e seus membros, atuando com base na territorialização, na
matricialidade familiar, na proteção pró-ativa, na integração à seguridade social e às
políticas sociais e econômicas. Os serviços no âmbito do SUAS são organizados por
níveis de complexidade, quais sejam: a Proteção Social Básica (PSB) e a Proteção
Social Especial (PSE). A primeira tem como objetivo prevenir situações de risco,
desenvolvendo potencialidades de famílias, fortalecendo os vínculos familiares e
comunitários, tendo como serviço de referência o Centro de Referência em Assistência
Social. A Proteção Social Especial (PSE) abrange as situações de risco, em que
houve violação de direitos ou ameaça de, no qual o atendimento prestado varia de
acordo com o nível de complexidade, de média a alta complexidade. Na média
complexidade, a situação de violações em que os vínculos familiares e comunitários
estão mantidos, tem como serviço o Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS). A alta complexidade, as situações em que há violação de
direitos e os vínculos familiares e comunitários foram rompidos, terá referência em
Serviços de Acolhimento Institucional; Serviço de Acolhimento em República; Serviço
de Acolhimento em Família Acolhedora e Serviço de Proteção em Situações de
Calamidade Pública e de Emergência (BRASIL, 2004).
No que tange ao CRAS, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) preconiza que este deve prevenir situações de violações de direitos em
função da pobreza, fortalecendo as potencialidades e os vínculos familiares e
comunitários, possibilitando a ampliação do acesso a direitos sociais e cidadania. Em
outras palavras, o CRAS é a porta de entrada do SUAS e nele devem ser geridas
territorialmente as ações da rede de proteção básica, ou seja, para o desenvolvimento
do trabalho por parte da equipe multiprofissional, é necessário o bom conhecimento do
território, das famílias que lá vivem, suas particularidades, necessidades,
potencialidades, o mapeamento das vulnerabilidades já existentes (BRASIL, 2009),
além da cultura local.
Além disso, há uma primazia pela interdisciplinaridade nos processos de
trabalho, dada a complexidade da demanda trabalhada nos CRAS, para que
profissionais de diferentes áreas contribuam com conhecimentos distintos, visando a
prática no cotidiano dos serviços. Ainda, há a recomendação de realização de
atividades prioritariamente coletivas e contextualizadas, intervindo nos âmbitos grupal,
comunitário e familiar.
Dentre os diferentes profissionais que o SUAS integra, está a/o profissional de
Psicologia, que se depara com uma demanda que, historicamente, não esteve
habituado a lidar: a pobreza. De acordo com Oliveira et al (2014) “o trabalho na política
de Assistência Social colocou os psicólogos diante de uma demanda ainda mais
pauperizada e cujo foco de trabalho são as condições de vida das pessoas, a pobreza
estrutural” (pág. 104). Nesse sentido, as/os profissionais encontraram, e ainda
encontram, grandes dificuldades em seu campo de trabalho, principalmente para
delimitar e concretizar sua atuação.
Face a seu processo histórico e majoritário de centralização nos sujeitos com a
realização de práticas individuais e individualizantes, e tendo a Psicologia Clínica e a
psicoterapia enquanto práticas hegemônicas, o que se tem observado é que grande
parte das/os psicólogas/os têm recorrido à atividades semelhantes às da clínica
tradicional (OLIVEIRA et al, 2011; OLIVEIRA & AMORIM, 2012). No entanto, tais
práticas são incoerentes com as orientações técnicas do CRAS, que apresenta
especificamente as/aos profissionais da Psicologia, a recomendação de não utilização
da psicoterapia, tampouco a patologização dos sujeitos (Brasil, 2009).
Frente ao estranhamento das demandas de trabalho que se apresentam à
Psicologia nos serviços socioassistenciais, associada a escassez da discussão da
atuação da/o psicóloga/o em contextos de pobreza nos cursos de graduação, o
Conselho Federal de Psicologia (CFP) cria referências técnicas de atuação nos
diferentes serviços da Política Nacional de Assistência Social, ressaltando,
novamente, que a atividade psicoterápica não deve ser realizada na PSB, tampouco
categorizações, objetificações ou patologizações das pessoas atendidas. Recomenda
que as ações das/os psicólogas/os sejam realizadas com vistas ao desenvolvimento
da autonomia, da liberdade e da emancipação humana, a partir da compreensão da
“demanda e suas condições históricas, culturais, sociais e políticas de produção, a
partir do conhecimento das peculiaridades das comunidades e do território (inserção
comunitária) e do seu impacto na vida dos sujeitos” (CFP, 2008, p. 24).
Ainda que existam dificuldades nessa breve história da atuação da Psicologia
no SUAS, destacamos que algumas práticas coletivas têm sido implementadas de
forma interessante nos CRAS em Florianópolis e, neste trabalho, elegemos as
oficinas, em especial, as oficinas de fotografia desenvolvidas em três edições, com
usuários de dois CRAS, no sul da ilha.
MÉTODO
As Oficinas com fotografia acontecem em dois Centros de Referência em
Assistência Social do município de Florianópolis/SC, localizados na região sul da ilha.
As oficinas contam com a participação de um psicólogo do CRAS, estagiários
de Psicologia e, também de um fotógrafo profissional como ministrante das mesmas.
Nas duas primeiras edições da referida oficina, o público alvo era composto por
jovens, entre 14 e 17 anos, cuja família havia sido cadastrada no Cadastro Único, no
CRAS onde a oficina era oferecida. Na segunda edição, contamos com um público de
15 a 18 anos e, na terceira edição, em um CRAS diferente dos anteriores, trabalhamos
com o público adulto que já freqüentava os grupos promovidos por aquele CRAS.
Para todas as edições das oficinas de fotografia e visando a produção de uma
discussão acadêmica, realizamos observação participativa e utilizamos diário de
campo. Além disso, um grupo na rede social Facebook era criado para cada edição e
específica para os participantes de cada oficina. Na primeira edição, realizamos
também uma entrevista coletiva, objetivando conhecer os sentidos da participação
naquelas atividades.
A primeira edição da oficina de fotografia contou com seis participantes e
aconteceu nas dependências de duas escolas da rede pública de ensino, em espaços
públicos e nas próprias dependências do CRAS. Foram compostas por 11 encontros
de 3 a 4 horas de duração e finalizada com uma exposição das fotografias produzidas
pelo grupo, expostas em diferentes espaços públicos do território.
Na segunda edição, contamos com uma variação de cinco participantes e a
oficina ocorreu no próprio CRAS, nos mesmos moldes da primeira edição, contando
com 11 encontros, de 3 a 4 horas de duração. A finalização contou com a exposição
pública das imagens e a confecção de um calendário com as mesmas, distribuído
gratuitamente.
A terceira edição ocorreu em um CRAS diferente daquele das edições
anteriores e contou com a participação de nove a doze pessoas adultas. A finalização
pressupôs a produção de uma revista, composta pelas fotografias e um texto de
produção coletiva, focada nas imagens e sentidos dos usuários em relação ao
território em questão.
Para a realização das oficinas, o fotógrafo disponibilizava uma máquina
fotográfica profissional, mas o foco do equipamento para a apropriação das técnicas e
produção das imagens era o próprio celular de cada participante, uma vez que este
seria o equipamento possível em seus cotidianos.
Para análise das informações produzidas pelos participantes, utilizamos a
Análise de Conteúdo (AC), na qual partimos do discurso dos sujeitos para criarmos
categorias de análise a posteriori (COUTINHO, DIOGO & JOAQUIM, 2008). Estas
categorias tem como foco a relação dos usuários com o território, com base na
apropriação, experiência e relação com o lugar.
DISCUSSÃO
Nas três edições da oficina, pudemos perceber que aquele espaço se
constituiu como um espaço propício para construção de laços grupais e experiências
coletivas, mediadas pela imagem fotográfica, pela sensibilidade e ampliação do olhar e
na apropriação de suas técnicas.
Trabalhar a fotografia como exercício do olhar, apropriando-se de diferentes
técnicas de enquadramento e iluminação, tinha como propósito não ignorar as
especificidades da linguagem fotográfica, recusando colocá-la como mero acessório
prático-utilitário para o exercício da Psicologia. Ao contrário, nosso propósito em
trabalhar com oficinas de fotografia em contextos de Assistência Social almeja o
reconhecimento do respeito que a área das Artes Visuais merece ao dialogar com
outra área de conhecimento tão importante quanto ela. Sob esta ótica, entendemos o
trabalho interdisciplinar da equipe de assistência social nos centros de referência.
As três experiências com as oficinas de fotografia apontaram para a construção
de espaços coletivos nos quais os usuários se entrelaçavam em atividades estéticas
com foco na construção de laços comunitários e na apropriação do lugar e do
território. Por meio da experiência, os sujeitos puderam ressignificar lugares, serviços
e demandas. Eles puderam, também, ressignificar sua própria potência como sujeitos
trabalhadores e jovens que aspiram uma profissão.
As oficinas foram vistas como espaços que eram acolhedores e disparadores
de encontros alegres nos quais aprendiam novos desafios e apreendiam novos
olhares: “explorar um novo mundo (...) com chances de explorar por dentro das
máquinas, de expor ideias” (participante da oficina- 1ª edição).
Ao produzir imagens e se reconhecerem como produtores daquelas
objetivações, os sujeitos sentiam, pensavam e agiam como protagonistas de suas
produções, aumentando, por meio daqueles encontros, sua potência de ação
(SAWAIA, 2009) e o fortalecimento de si como sujeitos individuais e coletivos.
Na terceira edição, experimentamos uma experiência coletiva de trabalho
durante as oficinas, avançando, a nosso ver, as possibilidades de construção de laços
grupais e coletivos, ao dar visibilidade a um projeto estético em comum.
O contraponto a todos esses aspectos positivos das experiências foi a
característica baixa adesão dos usuários em atividades grupais, sendo comum
acontecer encontros com apenas três sujeitos, além da equipe coordenadora, nas três
edições das oficinas.
CONCLUSÃO
As políticas sociais no contexto da assistência social permanece no desafio de
chamar os(as) jovens a participarem das atividades e reconhecerem seus direitos. A
informação e as oportunidades se colocam como pontos importantes e encontrar as
diferentes formas de comunicação e oferecimento de novas oportunidades de fazer,
ouvir e olhar, continua sendo uma meta possível para as equipes dos CRAS.
Possibilitar o entendimento das políticas públicas para além do bolsa família se
faz uma tarefa importante e um objetivo fundamental para não cairmos em
assistencialismos historicamente estruturados. Informá-los sobre políticas públicas e
direitos humanos é também proporcionar experiências de apropriação de olhares
voltados para a construção do NÓS e do território que pertencem e reconstroem
cotidianamente.
Reconhecemos como aspecto que favoreceu o desenvolvimento da oficina, a
experiência de saída para os espaços públicos, visitando localidades as mais diversas,
familiares ou não, como ponto importante nas três edições das oficinas. Experiências
coletivas mostram-se fundamentais para se trabalhar com objetivos a curto, médio e
longo prazo dentro do serviço da equipe dos CRAS, construindo práticas específicas
com grupos naqueles contextos de trabalho.
Superar atuações e práticas individuais e/ou voltadas ao processo
psicoterapêutico se fazem extremamente promissoras no contexto da assistência
social e, para isso, é importante reconhecer que no coletivo se constroem sentidos,
desejos e horizontes muito diferentes da soma dos sentidos, desejos e horizontes
individuais. Pela via do NÓS constroem-se características e qualidades que não se
constrói pela via do EU e esta afirmação pressupõe desafios a nós, psicólogos, que
implicam em abandonar velhas certezas e práticas que se fizeram hegemônicas na
profissão.
Faz-se imprescindível arriscar e criar, a partir de novas práticas,
estratégias de atuação na promoção da emancipação dos sujeitos que buscam e/ou
que são alvo do atendimento dos CRAS a, junto a equipe multidisciplinar destes
centros, inventar espaços de construção de laços que venham a fortalecer os coletivos
e as comunidades no território.
REFERÊNCIAS
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Nacional de Assistência Social. Brasília: MDS, 2004.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
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Brasília: MDS, 2009.
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Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Referências Técnicas para atuação do(a)
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COUTINHO, M. C., DIOGO, M. F., & JOAQUIM, E. P. (2008). Sentidos do
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compromisso da Psicologia. In: BOC, Ana M. Bahia (Org). Psicologia e
compromisso social. São Paulo: Cortez Editora, 2009, p. 37-54.
O LUGAR DO RURAL E DA RURALIDADE NA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL DO RN
Isabel Maria Farias Fernandes de Oliveira8
Kamilla Sthefany Andrade de Oliveira 9
Resumo: As Conferências Estaduais de Assistência
Social têm sido espaços para a discussão de temas
importantes para o campo da assistência social. Uma das
questões que se destacam são as demandas relativas ao
meio rural. Portanto, o presente trabalho analisa as
demandas sobre ruralidade deliberadas e recomendadas
pelos municípios do RN, na IX CEAS. Realizou-se uma
sistematização e categorização das teses de vários
municípios e os resultados mostraram que os dispositivos
da assistência social vêm negando a garantia de direitos
a população rural.
Palavras-Chave: ruralidade; controle social; SUAS.
Abstract: Social Assistance State Conferences (SASC)
have been spaces for discussion of important issues for
social assistance field. They always provide directions for
operationalization of the Social Assistance Policy. One
important issue are the demands concerning rural areas.
Therefore, this study analyzes the demands of rurality
deliberated and recommended by the cities in RN, during
IX CEAS. The method was systematization and
categorization of thesis from several cities and results
revealed that social assistance´s equipments deny the
rights guarantee of the rural population.
Keywords: rurality; Social Assistance Policy; rights
guarantee.
8 Doutora. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail : [email protected]
9 Mestranda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
1. Introdução
Se comparado ao meio urbano, ao longo do tempo, o meio Rural foi tido
como um espaço de importância primária para o conjunto da sociedade haja vista uma
maior concentração populacional, bem como sua importância para a economia em
termos produtivos. Consonante a transformação da sociedade decorrente da dinâmica
do processo histórico, tanto econômico/setorial e político-administrativo, há ao longo
desse dinamismo novas configurações dos territórios (PONTE, 2004).
Com a Revolução Industrial do século XVIII, há uma inversão na
estruturação da economia, da política e do social. A atualização e modernização da
sociedade trouxeram perspectivas de que o meio urbano se sobrepunha a vida rural.
Isso acabou gerando dicotomias e o meio Rural passou a ter feição de espaço
periférico, atrasado, ultrapassado e residual (ABRAMOVAY, 2000; PÉREZ, 2001).
Entretanto, entender o espaço Rural desta maneira acaba reforçando
dicotomias e a necessidade de “urbanização do campo”, porém, aplicar elementos
urbanos ao Rural não significa levá-lo ao progresso, na verdade, significa adaptar o
Rural às formas exigidas pelo capital (ABRAMOVAY, 2000; PONTE, 2004), muito
embora haja diferenças nesses espaços. Na verdade, essas diferenças dizem de
peculiaridades importantes para o desenvolvimento da sociedade.
O Rural, enquanto espaço geográfico é aqui entendido como uma forma
eminentemente social, é uma instância social. “[...] o espaço não pode ser apenas
formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto nos
dá a Natureza. O espaço é tudo isso, mais a sociedade [...]” (SANTOS, 1992 apud
SANTOS, 2011, p. 1). Nesse sentido, o Rural é uma totalidade, totalidade esta que
assim como o urbano são produzidas através das relações sociais (SANTOS, 2011)
Para Wanderley (2000, p. 131), o Rural é uma dialética, uma vez que
“grupos e instituições o definem atribuindo sentido a estas diferenças e sua ação
notadamente política afeta estas diferenças, cria e revela outras, às quais são
atribuídos novos sentidos”. Isso diz de suas peculiaridades e de uma contínua
constituição de novas ruralidades. “O ‘rural’ não se constitui como uma essência,
imutável, que poderia ser encontrada em cada sociedade. Ao contrário, esta é uma
categoria histórica, que se transforma” (WANDERLEY, 2000, p.88).
Enquanto se permitir discursos monótonos das determinações incoerentes
do que é o Rural, compromete-se a idealização de políticas para as áreas
consideradas atrasadas, uma vez que o Rural ficará fadado a receber políticas sociais
que compensem possíveis decadências e pobrezas (ABRAMOVAY, 2000).
No incentivo a descentralização das políticas, e em contra posição ao
regime autocrático burguês, que se caracterizava por um regime sem democracia com
políticas pública que privilegiavam o grande capital (GOHN, 2004), vê-se a
necessidade de valorização da participação dos atores da sociedade civil, a
redefinição do papel das instituições, e a importância das esferas municipais e mais
precisamente das prefeituras locais e dos atores da sociedade civil, o que suscita um
debate das transformações nas relações sociais, econômicas, ambientais e culturais
que envolvem o espaço rural (SCHNEIDER, 2004).
Com base nisso, é perceptível que o Rural apresenta uma dimensão
política de luta e de reinvindicação que vem se enlanguescendo nos últimos tempos
como uma forma de conseguir seus direitos. O Rural é campo de políticas públicas, de
propostas de políticas de desenvolvimento que comtemplem suas peculiaridades e
singularidades (PONTE, 2004). Muito embora o cenário de participação popular tenha
sofrido modificações ao longo da história ainda se percebe pouca participação cidadã
na gestão pública, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações da
administração pública no acompanhamento das políticas.
Apesar disso, no campo da assistência social, por exemplo, algumas
ações têm sido importantes, pois se não quebram paradigmas assistencialistas e
efetivam o Controle Social, pelo ao menos são espaços que se propõem a tais
finalidades. Um exemplo disso são as Conferências Estaduais de Assistência Social
(CEAS), as quais têm sido espaços de planejamento, avaliação e controle da política
de Assistência Social. Uma das questões que figura nesse campo são as demandas
relativas ao meio rural.
A última Conferência realizada no Rio Grande do Norte (RN), teve,
portanto, o objetivo analisar, propor e deliberar, as diretrizes para a gestão e
financiamento do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), tomando como base
as responsabilidades de cada ente federado, de forma a propor formas de
aperfeiçoamento do SUAS (BRASIL. Lei n. 8.742, de 07 de dezembro de 1993).
Nessa direção, o objetivo deste trabalho é analisar, no campo da
assistência social, as demandas sobre ruralidade deliberadas e recomendadas pelos
municípios do RN na IX CEAS.
2. MÉTODO
Trata-se de um trabalho exploratório e que obedeceu a alguma etapas, tais
quais: 1) acesso aos relatórios das Conferencias Municipais realizadas em 161
municípios do RN, 2) Criação de um Banco de Dados para categorização de cada tese
referente a demandas rurais; 3) Categorização das teses deliberadas e
recomendadas; 4) Análise das teses que estavam em conformidade com a proposta
deste trabalho.
Para organização das informações, inicialmente, houve treinamento da
equipe de pesquisa, a fim de sistematizar tais dados em um banco no programa Excel,
no qual constavam os eixos temáticos, o número de identificação dos municípios, o
nome dos municípios, além das recomendações e deliberações das Conferências
Municipais. Ou seja, além dos dados de identificação dos relatórios, as principais
informações analisadas foram as teses (recomendações e deliberações). De acordo
com o Informe n. 9/2013 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), as
recomendações são deliberações anteriores cuja manutenção na agenda do SUAS foi
considerada pertinente nas discussões realizadas na Conferência, enfatizando-se a
importância de sua implementação. Já as deliberações são propostas novas que não
foram contempladas em nenhuma deliberação das Conferências anteriores e que
devem ser instituídas (BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social, 2013).
Após sistematizar todas as teses apresentadas pelos municípios do RN na
etapa municipal, cada tese foi analisada particularmente, a fim de identificar as
proposições que se referiam a ruralidade e contexto rural. Para isso, empregou-se
numa busca no banco de dados os seguintes descritores, isolados ou em combinação:
contexto rural, ruralidade, população rural, comunidades rurais, rural, itinerante,
volante, busca ativa, zona rural, interiorização, interior e integralidade. Selecionadas
as teses sobre ruralidade, procedeu-se a análise, com destaque para a acessibilidade
das populações rurais aos serviços da assistência social, considerando a crítica
marxista às políticas sociais no Estado brasileiro sob o domínio do capital.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nestes resultados, busca-se elucidar os principais dados das
conferências municipais de 161 municípios do RN, tendo em vista a não realização da
etapa municipal da Conferência em seis municípios. Esses resultados serão
apresentados pelos eixos temáticos que organizaram a própria Conferência.
No eixo de Cofinanciamento obrigatório da Assistência Social, que prediz a
responsabilidade de cada ente federado na execução da Política Nacional de
Assistência Social (BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome,
2004), o que leva em conta seu porte, a complexidade dos serviços prestados e as
diversidades regionais, foi perceptível que o total de dez teses, do total de 522,
referentes a demandas sobre ruralidade deliberava sobre a busca de Cofinanciamento
junto ao Estado e a União para estruturação dos serviços, estruturas físicas
adequadas, formação continuada e transportes para prestação de serviços, e um
cofinanciamento maior para os recursos humanos com intuito de qualificar e ofertar um
melhor serviço. Além disso, as deliberações se referiam a implantação de um CRAS
itinerante para atender as populações rurais; e contratação de mais profissionais.
Apesar do reconhecimento pelo poder executivo estadual das ações no
âmbito da assistência social, como anunciado na mesa de abertura da IX CEAS, e,
principalmente, do cofinanciamento como eixo estruturante da política, não há garantia
de que as necessidades que foram deliberadas nesse eixo, especialmente no tocante
à ruralidade, serão priorizadas.
Entretanto, vale ressaltar a importância de se discutir o cofinanciamento
nesta política a partir dos três entes federados, com distribuição de recursos próprios
nos fundos de assistência social por parte dos estados e dos municípios. Em segundo
lugar, é imprescindível a participação ativa dos Conselhos Municipais de Assistência
Social nos processos de elaboração, apreciação e acompanhamento da execução dos
instrumentos de planejamento, ou seja, da proposta orçamentária para a área (NATAL.
Conselho Municipal de Assistência Social, 2013).
No eixo sobre Gestão do SUAS, que deve ser descentralizado e
participativo, as 34 teses deliberadas sobre ruralidade requerem ação mais ativa da
Vigilância Socioassistencial. A Vigilância Social (ou Socioassistencial) trata de
processos ligados diretamente a identificação de indicadores de vulnerabilidade social,
de risco social e de informações relevantes sobre o território (RIZZOTI; SILVA, 2013).
A compreensão de vulnerabilidade de algumas pessoas em relação a
outras é mais do que conhecer seus comportamentos de risco ou preventivos, buscar
identificar crenças e valores compartilhados, mas é entender que a subjetividade do
sujeito se alia a objetividade e pragmatismo das realizações de programas e projetos
que o envolvem (AYRES; CALAZANS; SALETTI, 2005).
Quanto à Gestão do Trabalho, foram identificadas 530 teses, entretanto,
apenas cinco tratavam de ruralidade. O ponto chave das deliberações refere-se à
integralidade da atenção assistencial, além da implantação de serviços de
fortalecimento de vínculos.
O termo integralidade tem suas raízes já na discussão sobre os princípios
e diretrizes do Sistema Único de Saúde, quando se refere ao atendimento integral,
visando dar prioridade as atividades preventivas, sem que isso gere prejuízo dos
serviços assistenciais. Em poucas palavras, o atendimento integral trata da não
fragmentação da atenção e proteção dos sujeitos usuários das políticas,
reconhecendo, portanto, a interferência de fatores socioeconômicos, políticos e
culturais (PINHEIRO; MATOS, 2001).
O quarto eixo, Gestão dos Serviços, Programas e Projetos, composto por
530 deliberações, soma 54 teses com demandas sobre aspectos da população rural.
Essas teses tinham conteúdos que deliberavam a solicitação de programas de
qualificação e geração de emprego e renda; programas e projetos para jovens; curso
de capacitação para a população; construção de Centros de Convivência; Pró-Campo;
Academia da Terceira Idade; serviços itinerantes, como o CRAS e CREAS; realização
de palestras voltadas para a população rural; assim como a importância de trabalhar
na assistência numa perspectiva da integralidade.
Serviços como estes estão no alcance da Proteção Social Básica e
Proteção Social Especial. O primeiro visa prevenir riscos através do desenvolvimento
de potencialidades e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; nesse nível
deve haver o desenvolvimento de serviços, programas e projetos, locais de
acolhimento, convivência e socialização das famílias e indivíduos. Por outro lado, o
segundo nível destina-se a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou
social, em que os direito foram violados ou ameaçados. O CREAS, por exemplo, tem o
papel de coordenar e fortalecer a articulação dos serviços com a rede de assistência
social e as demais políticas públicas (BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate a Fome, 2014).
As 28 teses de demanda sobre o rural que compõem o eixo de Gestão dos
Benefícios do SUAS (5o eixo) traz a tona a necessidade de efetivação da busca ativa
aliada à equipe volante ou ao CRAS itinerante. Para isso, faz-se necessário uma
equipe adicional, que integra um CRAS; esta equipe deve ter como objetivo prestar
serviços de proteção social básica no território de abrangência do CRAS, para
atendimento a famílias que vivem em locais de difícil acesso e ou estão dispersar no
território (BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, 2009).
Além disso, percebe-se a necessidade de os municípios e serviços
fazerem parcerias e ações de cidadania; além de questões no tocante as condições de
trabalho e previdência dos trabalhadores rurais.
Por fim, o último eixo, Regionalização, está composto por 89 teses de
demandas sobre o rural para a assistência social. As teses possuem conteúdos sobre
a necessidade de descentralização dos trabalhos do CRAS e CREAS, especialmente
de caráter itinerante, o que justifica outras teses que deliberam sobre a expansão dos
programas e serviços socioassistenciais para zona rural e áreas de difícil acesso.
No que diz respeito às Recomendações (ou seja, teses apresentadas em
Conferências anteriores, mas não executadas pela gestão pública), a IX CEAS contou
com 969 teses, sendo que dessas apenas 27 relacionam assistência social e
ruralidade, demonstrando a recenticidade da ênfase nessa questão, a despeito das
arraigadas características que acompanham a realidade social das populações rurais.
A maior parte dessas teses está concentrada nos eixos 4 e 6 (Gestão dos Serviços,
Programas e Projetos e Regionalização, respectivamente). Assim, referem-se à
ausência de ações voltadas para a renda da população rural, à ausência da busca
ativa e de equipes volantes ou CRAS itinerantes, enfatizando a necessidade de
valorização da diversidade regional. Embora a quantidade de recomendações seja
pequena, essas não destoam das deliberações apresentadas na IX CEAS: ainda que
a cobertura de serviços socioassistenciais tenha crescido, o CRAS itinerante e o
CREAS são mencionados como unidades não existentes ou que não atingem a
população rural, seja porque esse público está em locais de difícil acesso, seja pelas
condições de trabalho dos técnicos – com destaque para a ausência de infraestrutura,
especialmente veículos para cobertura de territórios extensos, e de pessoal, contando
com profissionais não capacitados para suprir as demandas dessa população, o que
se traduz na precariedade de serviços, programas e projetos.
4. CONCLUSÃO
O presente trabalho buscou analisar, no campo da assistência social, as
demandas sobre ruralidade deliberadas e recomendadas pelos municípios do Rio
Grande do Norte, na IX Conferência Estadual de Assistência Social do RN (IX CEAS).
O Rural é uma totalidade, totalidade esta que assim como o urbano são produzidas
através das relações sociais, relações estas que podem ser incentivadores de diversos
debates, de lutas e reinvindicações.
Muito embora haja dificuldades na discussão daquilo que é peculiar das
populações rurais, é perceptível que estão sendo engendradas ações politicas,
contraditórias ou não, de maior participação popular e de caráter democrático.
Entretanto, mesmo diante dessa perspectiva, este estudo revela que as populações
rurais de alguns municípios do estado do Rio Grande do Norte estão com baixo
acesso a serviços e programas da assistência social, de modo que é possível destacar
que em todos os eixos de análise, em algum momento, o CRAS e o CREAS aparecem
como serviços que quando não existentes, estão centralizados de sobremaneira a
negar os direitos dessa população rural que geralmente está em locais de difícil
acesso; além de que não há evidências de descrições de atividades ou demandas
necessárias a serem desenvolvidas in loco nas áreas rurais.
As demandas sobre ruralidade têm sido, aos poucos, postas em questão,
como foi discutido; entretanto, não vêm sendo uma prioridade. O que é perceptível é
que o capital predomina sobre as necessidades verdadeiramente humanas, de modo a
fazer com que a reprodução social dos indivíduos e da totalidade social esteja a
serviço da burguesia. O Estado, ilusoriamente, deixa entender que através da
igualdade formal, política e jurídica, retratada neste estudo pela importância da
participação civil, do Controle Social, mantém e reproduz a desigualdade social. A
afirmação de igualdade é o objetivo velado de se manter a dominação (LESSA;
TONET, 2011).
5. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento
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PSICOPOLÍTICA DAS FRONTEIRAS ESTATAIS: análise de discursos de ativistas e gestores públicos sobre políticas de
educação na cidade de Porto Alegre
Frederico Viana Machado 10
Resumo: Apresentaremos resultados parciais de pesquisa investiga a relação entre Movimentos Sociais e Estado, tomando como foco de problematização as políticas de educação da cidade de Porto Alegre/RS. Interessa-nos compreender como as diferentes demandas educacionais e propostas político-pedagógicas forjadas no âmbito dos Movimentos Sociais são negociadas no interior do órgãos governamentais. Apresentaremos análises preliminares de entrevistas realizadas no primeiro semestre de 2015, com ativistas e com agentes públicos. Nossa análise aponta para a construção de espaços de experimentação exteriores às instituições públicas e para processos de ruptura e ressignificação política que se dão nas relações cotidianas que ocorrem nos espaços governamentais.
Palavras-Chave: Políticas de Educação; Movimentos Sociais; Estado; Subjetivação Política; Pedagogias Políticas.
Abstract: We present partial results of a research that investigates the relationship between social movements and the state, focusing the educational policies of Porto Alegre / RS. We are interested in understanding how the different educational demands, political and pedagogical proposals, forged in the context of Social Movements, are traded within the government agencies. Preliminary analysis of the interviews conducted in the first half of 2015 with activists and public agents. Our analysis indicate spaces of social experimentation out of the public institutions and processes of disruption and policy reframing that occur in everyday relationships in the government spaces. Keywords: Education Policies; Social movements; State;
Political Subjectivity; Political Pedagogies.
10
Doutor. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail : [email protected]
INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresentará os resultados preliminares de uma
pesquisa que investiga a relação entre Movimentos Sociais e Estado, tomando
como foco de problematização as políticas de educação da cidade de Porto
Alegre/RS. Desdobramos nossa investigação a partir de duas questões
norteadoras centrais e complementares: Em primeiro lugar, compreender como
as diferentes demandas educacionais e propostas político-pedagógicas
forjadas no âmbito dos movimentos sociais são negociadas no interior dos
órgãos governamentais.
Em segundo lugar, investigar quais processos de subjetivação política se
dão nos espaços estatais, como são elaborados pelos diferentes atores
políticos e qual sua relação com os conceitos de democracia, cidadania e
participação. Futuramente estas questões serão tratadas conjuntamente, pois
os discursos elaborados pelos movimentos sociais serão contrapostos aos
produzidos nos âmbitos institucionais, de modo a estabelecermos um diálogo
entre estes dois espaços de politização, suas práticas pedagógicas e propostas
educacionais.
Deste modo, o objetivo geral deste trabalho é identificar e analisar os
processos de subjetivação política que ocorrem em espaços estatais, com
enfoque nas Políticas de Educação, a partir de um diálogo entre atores
políticos institucionais e não institucionais. De modo ainda bastante preliminar,
buscou-se compreender as demandas que os movimentos sociais endereçam
ao campo educacional e os tipos de pedagogias que tais movimentos
desenvolvem, bem como mapear os diferentes sentidos atribuídos a elas e os
sentimentos de pertencimento articulados por agentes públicos. Além disso,
lançou-se luz sobre os modos como estes atribuem significado à atuação
técnica e política, atentando para a diferenciações com relação à atuação dos
agentes estatais e dos ativistas.
Para enfrentar estas questões no contexto das políticas educacionais,
abordaremos o Estado como um espaço no qual ocorrem trocas pedagógicas e
relações formativas que se dão a partir dos conflitos entre atores e que se
constituem como pedagogias políticas. Para investigarmos as dinâmicas e os
discursos estabelecidos entre atores nos espaços estatais, considerando a
diversidade dos discursos políticos que neles se articulam, uma perspectiva
psicopolítica foi especialmente relevante.
Tal abordagem tem nos permitido abordar o Estado como um espaço de
interações sociais concretas, considerando não apenas os aspectos estruturais
das políticas públicas e órgãos governamentais – como orçamentos, conflitos
de interesses e correlações de força, fluxos institucionais, precariedades dos
estabelecimentos, entre outros elementos – mas também os aspectos
subjetivos presentes no âmbito governamental – tais como os sentimentos de
pertencimento geradores de identidades coletivas, os processos de
subjetivação política e a atribuição de significados que atravessa a formação de
discursos sobre a democracia, a política e, sobretudo, sobre o que significa
“estar” no Estado. Uma perspectiva psicopolítica, ressalta-se, compreende a
articulação entre estes âmbitos, não como uma somatória de fenômenos
paralelos, mas como um processo inseparável, complexo e reflexivo.
Uma vez que a previsão de encerramento desta pesquisa é dezembro
de 2016, Neste trabalho apresentamos as análises preliminares de entrevistas
realizadas no primeiro semestre de 2015, com cidadãos engajados em
Movimentos Sociais relevantes para a temática de estudo, bem como com
agentes do estado (Prefeitura de Porto Alegre), envolvidos na produção, gestão
e operacionalização de políticas educacionais.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual será utilizado o método da
Análise Sociológica do Sistema de Discursos, proposto por Álamo (2010). Este
método permite integrar, a partir da noção de níveis, diferentes abordagens da
análise de discurso. Fairclough (2001), um dos expoentes da análise crítica do
discurso, influenciada pela noção de discurso de Foucault (2007), aponta para
um aspecto fundamental, que diz respeito à associação entre linguagem e
ação, a qual implica em uma leitura da formação de discursos como
articulações realizadas dentro de uma estrutura discursiva atravessada por
relações de poder. Deste modo, a noção de discurso utilizada neste projeto diz
respeito aos processos de significação que produzem sentido, articulando
linguagem e ação em um campo hierarquizado.
Seguindo a demanda metodológica dos objetivos delineados e da
análise de discurso, utilizaremos primordialmente metodologias qualitativas
(Klandermans, Staggenborg & Tarrow, 2003), que serão trianguladas como
forma de buscar uma aproximação maior com o campo de pesquisa (Creswell,
2003). As ferramentas metodológicas utilizadas serão:
a) Observações de Campo. Através desta técnica, busca-se captar as
dinâmicas interacionais que não sejam possíveis de acessar por meio da
análise de documentos e das entrevistas. Inclui a participação em
algumas atividades relativas aos movimentos sociais, bem como
observação do campo, durante a execução das entrevistas (local,
relações, praticas...), enriquecendo-as.
b) Entrevistas semiestruturadas com técnicos do governo e militantes de
movimentos sociais. Este instrumento foi, ate agora, o recurso mais
importante, que nos permitiu explorar melhor os objetivos específicos
desta pesquisa, ainda que seus resultados sejam preliminares.
Por meio das entrevistas, buscamos analisar os pontos de tensão entre
essas duas dimensões atuantes na produção das políticas públicas, gestores
públicos e ativistas de movimentos sociais. Para a construção dos dados,
futuramente, recorreremos também à análise de documentos e buscaremos
enriquecer os dados coletados através das entrevistas com observação de
campo no contexto dos Movimentos Sociais, bem como seu acompanhamento
através de plataformas virtuais.
As entrevistas com esses sujeitos futuramente nos permitirão investigar
a inter-relação entre três focos de tensão, que são caros a esta pesquisa: a) os
processos de mobilização e a participação política institucionalizada (Machado,
2013); b) a política governamental e o aparelhamento das políticas públicas
(Ricci, 2010); c) o campo educacional, tensionando entre uma perspectiva
escolar e institucional e sua interpretação e inovação por movimentos sociais
diversos (Gohn, 2012; Maraschin, 2003; Sass, 2001).
Até o momento foram realizadas nove entrevistas semiestruturadas,
sendo: três pessoas envolvidas com as políticas públicas de educação,
alocadas na Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (SMED), e
cinco pessoas envolvidas em movimentos sociais diversos.
Entrevistamos cinco ativistas envolvidos em grupos de cunho
autonomista voltados diretamente para o campo da educação. Entre diversas
frentes de atuação, estes ativistas trabalham em projetos como a "Universidade
Pós-desescolarizada", interessada em desenvolver estratégias pedagógicas
alternativas, o "Mobicidade", que luta por mudanças nas formas de ocupação
do espaço público, tais como a ampliação das ciclovias e o fortalecimento dos
espaços de socialização, a "Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta
Favela", que desenvolve oficinas de teatro e apresentações de espetáculos de
cunho político e contextatório. Além dos grupos citados, estes cinco ativistas se
envolvem direta ou indiretamente com diversos coletivos de Porto Alegre, tais
como a ocupação “Utopia e Luta”, a “Ecovila Arca-verde”, a “Comuna do
Arvoredo”, o “Coletivo Massa Crítica”, o “Movimento pelo Passe Livre”, dentre
outros. Entrevistamos também uma ativista da Associação Gaúcha de Proteção
Ambiental (AGAPAN), organização não governamental fundada em 1971, com
atuação marcante na cidade de Porto Alegre.
Entrevistamos três gestores ligados às políticas públicas de educação e
cultura, sendo que um deles ainda se encontra em exercício na Secretaria de
Educação de Porto Alegre(SMED), um se desligou deste órgão dois anos atrás,
e outro foi cedido para trabalhar na câmara dos vereadores há três anos, para
trabalhar no gabinete de um parlamentar envolvido diretamente com o campo
da educação.
Os movimentos sociais que fizeram parte de nosso recorte empírico
nesta analise preliminar foram escolhidos, por um lado, por se constituírem
como movimentos sociais que foram tradicionalmente associados aos ¨novos
movimentos sociais¨ (Gohn, 2010), como e o caso dos movimentos
ambientalistas e, por outro lado, por se encontrarem mais associados a nova
onda de protestos e aos movimentos de ocupação, que possuem uma proposta
radicalmente distribuída, sem centralidades ou logica de representação, de
cunho mais redistributivo e não-institucionalizados.
Escolhemos os movimentos ambientalistas como campo empírico por
identificarmos nestes coletivos discursos políticos que confrontam diretamente
as práticas educacionais, demandando, ao mesmo tempo, uma perspectiva
pedagógica engajada das práticas escolares (Tommasi, 2012; Carvalho, 2008)
e uma perspectiva educacional que ultrapasse a escola como espaço
privilegiado para a incidência das políticas públicas de educação (Tommasi,
2012; Carvalho, 2008; Vieira & Bredariol, 2006).
Já os movimentos que aqui chamamos de autonomistas, interessam-
nos, sobretudo, por seu viés anti-institucional (ou a-institucional, como preferiria
Abad & Cantarelli, 2013), e pela centralidade das demandas que envolvem
mudanças estruturais e redistributivas nos discursos políticos que enunciam. A
partir do mapeamento destes atores, pudemos sistematizar rápida e
preliminarmente suas demandas educacionais e práticas pedagógicas,
contrapondo as diferentes perspectivas políticas sobre o campo educacional.
ESTADO, MOVIMENTOS SOCIAIS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
EDUCAÇÃO
A relação entre o Estado e a sociedade civil deve ser contextualizada, no
campo teórico, dentro do que autores como Ortiz (2006), Tejerina (2005),
Creveld (2004), entre outros, nomearam como a “Crise do Estado Moderno”, ou
a “Crise do modelo Estado-Nação” (Eder, 2003). A noção de “Crise do Estado”
coloca inúmeras questões para as ciências humanas e sociais,, pois o Estado-
Nação foi, e em grande medida ainda é, a instituição primeira do pensamento
sociológico.
Para além de ser o objeto empírico da ideia de sociedade da sociologia,
o Estado-Nação é também entendido como “seu molde cognitivo, o que dá
forma a nosso imaginário, o que modela as categorias com as que as ciências
sociais pensam seu objeto” (Gatti, 2005, p. 3). Entre uma infinidade de
questões políticas e teóricas, a crise do Estado coloca dificuldades para
pensarmos o cotidiano das instituições governamentais e suas políticas
públicas em termos propriamente políticos, em outras palavras, a partir de
princípios que não estejam limitados por uma perspectiva técnico-
administrativa de gestão do Estado (Abad & Cantarelli, 2013).
Abad & Cantarelli (2013) apontam que atribuir sentido ao “estar no
estado” é um problema importante nos dias de hoje, pois a carência de
“pensamento estatal” vem dificultando a “ocupação do Estado”. Segundo os
autores as subjetividades construídas no âmbito estatal contemporâneo não
tomam mais o Estado como referencial e disto se origina uma carência de
reflexões sobre o Estado e sobre as formas de ocupá-lo. Ao contrário do
anarquismo antiestatal ou do estado mínimo liberal, a ocupação do estado hoje
se orienta mais no sentido da gestão pela busca da eficácia técnica, pela
transparência e horizontalidade, típicas da lógica empresarial: “como um efeito
não calculado do desprestígio da política, a convivência comum se
transformou, pouco a pouco, em um assunto de técnicos ou moralistas” (Abad
& Cantareli, 2013 p. 28).
Embora estejam considerando o caso argentino, a análise dos autores
guarda paralelos com o contexto brasileiro. Podemos afirmar que as
concepções sobre o Estado no Brasil também transitam de um repúdio à
opressão estatal - herança de uma história repressiva e autoritária -, a um
descrédito acerca de sua capacidade de resolver os problemas sociais -
herança da jovem e vilipendiada democracia brasileira, atravessada por
governos neoliberais, persistentes relações coloniais, a difícil abordagem da
corrupção, a falta de integridade pública, a cronificação de centralismos,
personalismos e populismos (Ricci, 2010).
Para Abad & Cantarelli (2013), essa carência de pensamento estatal
está condicionada a três aspectos relacionados: a) perda de centralidade do
Estado; b) predominância de um senso comum apolítico e aestatal; b) ausência
de uma ética estatal comum. Podemos identificar elementos desta “Crise do
Estado” no Brasil, tanto na opacidade das fronteiras partidárias e ideológicas
(Samuels, 2007; 2004), como no descrédito da população frente às instituições
públicas, bem como na dificuldade encontrada para distinguir claramente as
diferenças entre os diversos grupos políticos que disputam a ocupação do
Estado (dificuldade recorrentemente expressada por diversos participantes dos
protestos que vêm ocorrendo no Brasil, sobretudo de 2013 em diante).
Ao mesmo tempo, vemos que o Estado alcançou uma hegemonia
absoluta no plano global atual. Quase todos os territórios do planeta estão
organizados pelo modelo Estado-Nação, fruto da expansão do projeto moderno
(Eder, 2003; Wood, 2005). No Brasil, paralelamente ao ambivalente projeto
desenvolvimentista, que concilia avanços nas políticas sociais com práticas
liberais de gestão, o Estado cresceu nos últimos anos, ampliando a
abrangência das políticas públicas no campo da saúde, educação, assistência
social e outras, com destaque para um aumento das especificidades das
populações atendidas, tais como as minorias sociais e grupos vulneráveis
(Pogrebinsch, 2010)
Neste contexto, vemos que o descrédito do Estado e da política
institucional caminha lado a lado com a importância ou mesmo a urgência de
um aprimoramento estatal e de um aprofundamento da reflexão política acerca
desta instituição (Abad & Cantarelli, 2013). Em um momento no qual as
ideologias e os projetos coletivos tornam-se mais fragmentados (Hall, 2005) é
ainda mais premente investigarmos: os espaços estatais e as relações
pedagógicas e processos intersubjetivos construídos pelos diversos atores que
neles interagem, tais como gestores, agentes públicos, movimentos sociais etc.
A perspectiva psicopolítica que orienta este trabalho ressalta a
importância de investigarmos estas questões no plano concreto das relações
cotidianas que se objetivam como discursos sobre os princípios de cidadania e
democracia (Machado, 2013). Deste modo, as políticas e práticas educacionais
se constituem como um campo empírico estratégico, seja no âmbito
institucional das práticas escolares e das políticas de educação, seja no âmbito
ampliado das pedagogias culturais11, uma vez que estamos tratando de
processos de significação dos papeis sociais de atores políticos e da
socialização política envolvida nas relações que os indivíduos desenvolvem
com as instituições.
Destaca-se que já existe uma ampla discussão acerca dos processos
pedagógicos instaurados pelos diversos movimentos sociais que interpelam o
Estado, apontando que estes atores se constituem como laboratórios para
alternativas existenciais, políticas e, até mesmo, organizacionais (Gohn, 2010,
2012; Arroyo, 2012, 2010; Jezine & Almeida, 2010). Autores como Boneti
(2010), Kauchakje (2010), Calado (2010), Souza (2010), entre muitos outros,
têm apontado que os movimentos sociais, sobretudo os movimentos populares
que escapam dos processos de institucionalização operados pelas políticas
públicas (Alvarenga, Nascimento, Nobre & Alentejano, 2012), vem
apresentando alternativas interessantes para os problemas que investigamos
nesta pesquisa, a partir de práticas e propostas pedagógicas inovadoras.
As políticas de educação, além de serem setorialmente delimitadas, o
que favorece nosso recorte metodológico, configuram-se como um campo
privilegiado para a análise dos processos políticos, pois, como argumenta
Gohn (2012), “há um elemento, um fator, de ordem educacional, na temática da
participação social por meio dos movimentos sociais”. Ora, se refletiremos
sobre a democracia, a ampliação da cidadania e as possibilidades institucionais
de transformação frente aos conflitos políticos, é importante investigarmos
exatamente o espaço estatal responsável pela elaboração de políticas públicas
que promovam, nas palavras de Sass (2000, p. 58), “a formação de um certo
tipo de personalidade social”. Estamos partindo, obviamente, de uma
concepção de educação que ultrapassa a aquisição de “conhecimentos
abstratamente adquiridos” (Sass, 2000:63). Desse modo, interpretando Sass
(2000, p. 63), uma perspectiva psicopolítica pode ajudar a repensarmos a
11
Maraschin (2003:237) retoma o conceito de “pedagogias culturais, para falar de agenciamentos sociais que funcionam como dispositivos pedagógicos, para além dos muros escolares”.
educação, voltando-a “para a formação do indivíduo autoconsciente e
autônomo”.
Por outro lado, Robertson (2009), analisando os efeitos da reformulação
das políticas educacionais na Europa (conhecida como o processo de
Bolonha), argumenta que as articulações políticas em torno da educação estão
fortalecendo relações inter-regionais, como forma de superar problemas de
escala, postos pelo modelo Estado-Nação e a intensificação dos processos de
globalização. Para o autor, as políticas de educação fazem parte das
estratégias de construção do Estado no mercado global. Neste contexto,
compreendidas aqui na tensão entre propostas pedagógicas inovadoras
cunhadas por movimentos sociais e as pressões por conformidade dos projetos
globais de liberalização e mercadorização, as políticas de educação se tornam
um analisador privilegiado das relações políticas atuais.
Finalmente, é fundamental mencionar um documento expedido pela
CAPES em junho deste ano (Brasil, 2013), ainda no calor das manifestações
políticas daquele período, apontando que os maiores desafios no campo da
educação brasileira são a efetivação do universalismo e a qualificação da
educação básica. Este documento sinaliza o teor político das transformações
que se fazem necessárias, e aponta que o atual modelo de educação já não
atende mais às “necessidades e expectativas da sociedade”. Assim, produzir
conhecimento que contribua para a ampliação das perspectivas pedagógicas
que fundamentam as políticas educacionais é uma demanda atual e urgente da
sociedade brasileira, como vêm apontando as autoridades na área (Brasil,
2013).
O POLÍTICO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
No plano teórico, os problemas que compõem esta pesquisa podem ser
abordados pela discussão sobre a despolitização da esfera pública. Diversos
autores, como Alain Badiou, Jacques Rancière, Slavoj Zizek, Etienne Balibar,
entre outros, influenciados pelo pensamento deleuziano e críticos tanto ao pós-
estruturalismo como ao relativismo pós-moderno, vêm apontando que as
últimas décadas foram marcadas por processos de despolitização bem como
de encolhimento da democracia e da esfera pública (Swyngedouw, 2011). O
argumento destes autores se desdobrará em nossa análise na “tensão entre,
de um lado, a política, que é sempre específica, particular e local, e, por outro
lado, os procedimentos universalizados da democracia política, que opera sob
os significantes da igualdade e liberdade” (Swyngedouw, 2011:371).
Neste contexto, a ideia de subjetivação12 será importante para
ampliarmos a compreensão das identidades a partir de uma perspectiva
dinâmica e tensionada. Ao trazermos esta tensão para o campo dos conflitos
políticos, o conceito de subjetivação política, elaborado por Rancière (2010),
será fundamental para nossa análise, pois a subjetivação é tomada como um
processo de desidentificação ou de desclassificação que interpela a ordem
institucional estabelecida em um determinado campo sensível, em outras
palavras, é o esforço individual e coletivo de reconhecer-se entre identidades
(Rancière, 2009). Esta noção de subjetivação política constitui o alicerce a
partir do qual articulamos os diferentes tipos de demandas (reconhecimento e
redistribuição) e pertencimentos (igualdade e diferença) na compreensão dos
discursos políticos, a partir das diversas e conflitantes leituras e concepções
das práticas pedagógicas e perspectivas educacionais que oscilam entre os
âmbitos institucionais e não-institucionais da esfera pública13.
Os movimentos sociais são, desse modo, laboratórios de ideias que
muitas vezes criam práticas educativas e pedagógicas a partir de reflexões
sobre problemas concretos do cotidiano e, mesmo que demandem do poder
público, suas propostas muitas vezes não chegam às escolas ou às políticas
12
Nas palavras de Ranciére (2006:52), “por subjetivação, entender-se-á a produção, mediante uma série de atos de uma instância e de uma capacidade de enunciação que não eram identificáveis em um campo de experiência dado, cuja identificação, portanto, corre lado a lado com a nova representação do campo da experiência”. 13
Machado (2013) analisa a relação entre Estado e sociedade civil a partir das seguintes tensões: técnica e política (que versa sobre a legitimidade dos lugares e funções); igualdade e diferença (que versa sobre a identidade dos atores, que pode enunciar dissensos ou forçar a dissipação da subjetivação política a partir da reificação identitária); e, finalmente, consenso e conflito (que analisa a qualidade dos conflitos que são legitimados nas interações sociais, apontando horizontes da transformação social e das possibilidades legítimas de interpelação democratizante).
de educação (Gohn, 2012). Um desdobramento possível é perguntarmo-nos
sobre os motivos pelos quais muitas práticas pedagógicas criadas pelos
movimentos sociais não são revertidas em políticas públicas e mudanças
institucionais efetivas. O que aconteceria com o Estado e suas instituições se
estes legitimassem estas demandas?14
Os dados nos mostram que, sobretudo os movimentos autonomistas,
diferentemente de serem simplesmente contrários às instituições
governamentais e políticas públicas de educação, buscam desenvolver suas
ações à margem destas, objetivando suas concepções políticas a partir de
ações concretas desenvolvidas coletivamente no cotidiano. Em alguns
aspectos, inclusive, fizeram uma distinção entre os aspectos legais e concretos
nas políticas públicas de educação, destacando a relação entre processos
instituídos e instituintes:
Um ponto de vista que a gente está operando depois do encontro de ontem é de operar um pouco na educação de si, uma educação em que eu confio na minha autopoiesis, e ai tudo bem, eu já estou aceitando também, vamos aceitar uma escola legalizada, com toda a regulação burocrática, aceita-se isso, mas vamos seguir na educação de si, pra poder mudar isso, poder confiar em vários processos, se ela ficar muito engessada e dura a gente faz outra coisa de novo, e quem quiser ficar no engessamento fica. (...) Outra coisa é que as políticas públicas de educação são muito boas, não são ideais, as perfeitas que eu adoraria que fossem, mas muitas políticas, a legislação já é muito boa, a prática não reflete isso, a LDB é bacana, tem muita coisa muito legal.
Se articulando a esta concepção da atuação das instituições, também
encontramos, na fala dos gestores, elementos que apontam para processos de
ressignificação das práticas organizacionais, apontando para iniciativas
autônomas no interior nas instituições públicas:
14
Estas questões, bastante pertinentes ao momento atual, podem ser desdobradas em tantas outras, tais como: o que acontece quando regimes diferenciados de saber se interpelam? O que acontece quando o índio vai para a universidade, ou quando a escola vai para a aldeia? O que acontece quando uma determinada identidade imprime sua perspectiva de conhecimento nos regimes universalistas de funcionamento institucional? Como poderíamos abordar estas questões a partir de uma perspectiva psicopolítica?
A gente trabalha muito com mutirão. A nossa rede [Rede Municipal de Educação] hoje tem essa marca, porque tudo tem a ver com aquele pano de fundo inicial, que é o protagonismo, o trabalho em equipe, o trabalho participativo, o trabalho democrático, que vai culminar no que? Mutirão! O que é um mutirão, senão a forma mais democrática de reorganizar um lugar? Ou de planejar junto? Um mutirão.
Também apontando para processos de ressignificação institucional,
encontramos na fala de uma gestora um exemplo de processos que rearticulam
a relação entre o instituído e o instituinte:
As políticas se constituem apesar do governo. Então eu digo sempre assim, quando você consegue construir uma política de rede em rede, pode trocar secretária a vontade, pode sair e pode entrar, porque a própria rede vai exigir a continuidade. (...) Como eu digo, protagonismo e a participação. Quando eu falo de processo democrático eu falo em todos os sentidos. E um governo democrático pra mim, e eu não tenho medo de dizer, eu acho que [nome do Secretário de Educação] pra nós, muita gente critica: “ah, não botou luzes na educação ambiental”, não, ele não botou luzes, mas ele nos permitiu trabalhar. Ele permitiu a construção de um projeto e isso pra mim é tudo. Tu querer disputar... (xxx) teve politicagem, teve, teve ranger de dentes, teve, mas todo governo tem, não minta pra mim pq eu já presenciei, todos tem. Não tem um partido que não faça isso. Todos fizeram. Mas eu tive uma visão diferente desse governo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os discursos analisados até o presente momento apontam para a
construção de espaços de experimentação institucional exteriores às
instituições públicas, bem como para processos de ruptura e ressignificação
política que se dão nas relações cotidianas que ocorrem nos espaços
governamentais. Embora tratando de concepções e práticas políticas muito
distintas, identificamos alguns pontos de convergência nas concepções de
democracia e cidadania entre os atores de diferentes âmbitos de atuação.
Estes pontos de convergência podem ser importantes para teorizarmos sobre
processos de transformação social de modo a articularmos práticas
institucionais e autonomistas de disputa política.
Na medida em que os dados forem sendo mais bem analisados, como já
apontam as análises preliminares, os resultados desta pesquisa poderão nos
ajudar a compreender melhor os modos de subjetivação política no interior das
instituições governamentais. Além disto, os discursos analisados oferecerão
subsídios para uma perspectiva mais elaborada acerca dos discursos políticos
construídos em espaços estatais, considerando a articulação dos movimentos
sociais com as políticas públicas.
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