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POLÍTICAS PÚBLICAS, PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E SERVIÇO SOCIAL. Simone de Jesus Guimarães 1 Maria DAlva Macedo Ferreira 2 Maria do Rrosário de Fátima e Silva 3 Ana Rojas Acosta 4 RESUMO Esta mesa reúne reflexões resultantes de pesquisas teóricas realizadas nos últimos três anos, por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí-UFPI e Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, acerca das políticas públicas na área da assistência social ao idoso, ao estudante universitário e às famílias em geral, analisando o papel do Estado e o compromisso ético político do Serviço Social no processo de formulação, implementação, execução e avaliação de políticas e programas sociais que visam a garantia de direitos a esses segmentos sociais na realidade brasileira. As reflexões aqui sintetizadas articulam o debate no campo da produção de conhecimento em Serviço Social de forma a elucidar os diferentes desafios que têm enfrentado os profissionais de Serviço Social, seja no campo da intervenção direta, seja no campo da produção de reflexões críticas que contribuam para reorientar o fazer cotidiano profissional na perspectiva de poder mediar o processo de assegurar direitos sobretudo, para as parcelas populacionais historicamente excluídas do acesso aos bens essenciais à existência humana. Os trabalhos que servem de base para as discussões da presente mesa são produtos de pesquisas vinculadas à atividade docente no espaço do ensino de Pós-Graduação stricto sensu nos Estados do Piauí e em São Paulo e também são oriundos de estudos realizados nos estágios de Pós - doutoramento na área básica de Serviço Social junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP. As análises que congregam o debate em questão foram sistematizadas considerando como procedimentos metodológicos a pesquisa qualitativa, bibliográfica e documental, iluminadas pelas matrizes teóricas do método histórico e dialético que permitiu aos pesquisadores o diálogo crítico e permanente com as tensões e contradições que cercam o processo de garantia e efetivação de direitos sociais na sociedade capitalista contemporânea. Nesse contexto a presente mesa tem o objetivo de socializar resultados de estudos e pesquisas nas áreas acima indicadas, compreendendo seus desdobramentos a partir dos eixos temáticos a serem abordados pelos autores consignantes: o primeiro trabalho tratará da produção de conhecimento do Serviço Social nos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais enfocando a relação Serviço Social e Seguridade Social; o segundo abordará as necessidades sociais da população idosa e o sistema de proteção social brasileiro; O terceiro discutirá a realidade dos jovens no ensino superior no país e a política de assistência estudantil das IES públicas; o quarto e último autor tratará da produção do conhecimento em Serviço Social sobre o uso de sistemas de informação social em busca da proteção às famílias em situação de vulnerabilidade inseridas em Programas de Transferência de Renda Palavras Chave: Políticas Públicas, Serviço Social, Assistência Social, Produção de Conhecimento. 1 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected] 2 Doutora. Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail [email protected] 3 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected] 4 Doutora.Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Campus Baixada Santista. E-mail: [email protected].

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POLÍTICAS PÚBLICAS, PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E SERVIÇO SOCIAL.

Simone de Jesus Guimarães1

Maria D’Alva Macedo Ferreira2

Maria do Rrosário de Fátima e Silva3

Ana Rojas Acosta4

RESUMO

Esta mesa reúne reflexões resultantes de pesquisas teóricas realizadas nos últimos três anos,

por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí-UFPI e Universidade Federal de São Paulo -

UNIFESP, acerca das políticas públicas na área da assistência social ao idoso, ao estudante universitário

e às famílias em geral, analisando o papel do Estado e o compromisso ético político do Serviço Social no

processo de formulação, implementação, execução e avaliação de políticas e programas sociais que

visam a garantia de direitos a esses segmentos sociais na realidade brasileira. As reflexões aqui

sintetizadas articulam o debate no campo da produção de conhecimento em Serviço Social de forma a

elucidar os diferentes desafios que têm enfrentado os profissionais de Serviço Social, seja no campo da

intervenção direta, seja no campo da produção de reflexões críticas que contribuam para reorientar o

fazer cotidiano profissional na perspectiva de poder mediar o processo de assegurar direitos sobretudo,

para as parcelas populacionais historicamente excluídas do acesso aos bens essenciais à existência

humana. Os trabalhos que servem de base para as discussões da presente mesa são produtos de

pesquisas vinculadas à atividade docente no espaço do ensino de Pós-Graduação stricto sensu nos

Estados do Piauí e em São Paulo e também são oriundos de estudos realizados nos estágios de Pós -

doutoramento na área básica de Serviço Social junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em

Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP. As análises que congregam o

debate em questão foram sistematizadas considerando como procedimentos metodológicos a pesquisa

qualitativa, bibliográfica e documental, iluminadas pelas matrizes teóricas do método histórico e dialético

que permitiu aos pesquisadores o diálogo crítico e permanente com as tensões e contradições que

cercam o processo de garantia e efetivação de direitos sociais na sociedade capitalista contemporânea.

Nesse contexto a presente mesa tem o objetivo de socializar resultados de estudos e pesquisas nas

áreas acima indicadas, compreendendo seus desdobramentos a partir dos eixos temáticos a serem

abordados pelos autores consignantes: o primeiro trabalho tratará da produção de conhecimento do

Serviço Social nos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais enfocando a relação Serviço Social e

Seguridade Social; o segundo abordará as necessidades sociais da população idosa e o sistema de

proteção social brasileiro; O terceiro discutirá a realidade dos jovens no ensino superior no país e a

política de assistência estudantil das IES públicas; o quarto e último autor tratará da produção do

conhecimento em Serviço Social sobre o uso de sistemas de informação social em busca da proteção às

famílias em situação de vulnerabilidade inseridas em Programas de Transferência de Renda

Palavras Chave: Políticas Públicas, Serviço Social, Assistência Social, Produção de Conhecimento.

1 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]

2 Doutora. Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail [email protected] 3 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected] 4 Doutora.Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Campus Baixada Santista. E-mail:

[email protected].

A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NOS CONGRESSOS

BRASILEIROS DE ASSISTENTES SOCIAIS NA ÁREA DA SEGURIDADE SOCIAL E O

PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Simone de Jesus Guimarães5

RESUMO

Analisar a produção de conhecimento do Serviço Social nos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais à luz do Projeto Ético-Político profissional (PEP) é objetivo deste trabalho. Suas ideias fazem parte de uma pesquisa de pós-doutoramento cujo objetivo é analisar os CBASs em sua relação com o PEP. Particularmente, apresentam-se os resultados do CBAS de 2010, tratando da produção que destaca a relação Serviço Social, Seguridade Social e Projeto Ético-Político. Aponta-se que a temática Seguridade Social é uma das principais abordadas, embora a relação entre essa temática e o Projeto Ético-Político Profissional não exerça o mesmo papel de destaque na produção analisada.

PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social. Produção de conhecimento. Projeto Ético-Político Profissional. Seguridade Social.

ABSTRACT

The objective of this work is to analyze the development of knowledge in the area of social work in the Brazilian Congress of Social Workers (CBASS) under the light of the professional Ethical-Political Project (PEP). The ideas here discussed are part of a post-doctoral research aimed at analyzing the CBASS in its relationship with the PEP. In particular, it is presented the 2010 CBAS results, dealing with the production that highlights the relationship between Social Work, Social Security and Ethical-Political Project. It points out that Social Security is a major theme addressed, although the relationship between this issue and the Professional Ethical-Political Project does not have the same prominent role in the measured production.

KEYWORD: Social Work. KnowledgeProduction. Ethical-Political

Professional Project. Social Security.

.

5 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem a finalidade de apresentar os resultados da pesquisa “O

Projeto Ético-Político do Serviço Social e os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais -

CBASs: influências e perspectivas”, que se está desenvolvendo junto à Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, com o objetivo de analisar, numa perspectiva crítico-

dialética, a produção de conhecimento dos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais

(CBASs), realizada no período 2004 a 2010, no que concerne à relação Serviço Social e

Projeto Ético-Político profissional (PEP). Especialmente, apresentará os resultados da

pesquisa desenvolvida nos Anais do CBAS de 2010 mas, principalmente, no que diz

respeito à produção sobre Serviço Social, Seguridade Social e Projeto Ético-Político.

Parte-se do princípio de que o Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais é um canal

importante de transmissão, divulgação, debate e desenvolvimento de ideias, práticas,

valores e conhecimentos defendidos e propagados pelo Projeto Ético-Político profissional;

projeto, esse, que vem se constituindo na autoimagem de um Serviço Social identificado

com as ideias que se originam no Movimento de Reconceituação do Serviço Social dos

anos de 1960, percorre os caminhos da “Intenção de Ruptura” (NETTO, 1991) e conquista

hegemonia, a partir dos anos de 1990; caminho que denominamos de Serviço Social crítico.

Serviço Social, cuja síntese, representativa, espelha-se: no Código de Ética, na Lei de

Regulamentação da Profissão e nas Diretrizes Curriculares (dos anos de 1990); na

produção e divulgação de conhecimento, da área, identificadas com o pensamento crítico

das Ciências Humanas e Sociais (principalmente o pensamento da tradição de Marx e dos

marxistas); nos movimentos e lutas dos profissionais; na condução dos rumos das entidades

da categoria (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS -,

Conselho Federal de Serviço Social – CFESS - e Executiva Nacional de Estudantes de

Serviço Social – ENESSO).

Nesse contexto, a produção de conhecimento apresentada e divulgada nos CBASs,

expressa, de algum modo, os significados, rumos e direções assumidas pelo PEP, também

denominado, aqui, de crítico, já que, no interior da profissão, convivem outros projetos

profissionais, que defendem rumos diversos ao Serviço Social no país. Essa produção,

ainda, revela os avanços limites, possibilidades e desafios, internos e externos, que são

postos àquele projeto profissional em sua trajetória na realidade profissional e social.

Face o exposto, este trabalho, inicialmente, mostrará os significados do Congresso

Brasileiro de Assistentes Sociais para essa categoria profissional; depois, estabelecerá uma

configuração geral da produção do CBAS de 2010; especialmente, discutirá a produção que

tem o Serviço Social e a Seguridade Social como eixo norteador de suas pesquisas e

experiências. No final, buscar-se-á estabelecer uma relação entre Serviço Social,

Seguridade Social e Projeto Ético-Político, revelando os significados e rumos da profissão e

desse Projeto profissional ao discutir a temática Seguridade.

2. DESENVOLVIMENTO

O Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) é o maior evento da profissão de

Serviço Social, pois reúne milhares de Assistentes Sociais, de norte a sul do Brasil, de

diferentes regiões, experiências, práticas e inserção profissional. Realizado de três em três

anos, em cidades diferentes, tem na sua organização as principais entidades

representativas da categoria, além de reunir, a cada ano, um número crescente de

trabalhos, na forma de comunicação oral e pôster, provenientes de estudos e experiências

profissionais, não só da área do Serviço Social, mas de áreas afins a essa profissão. O

CBAS é um momento ímpar de congraçamento da categoria. Nele, refletem-se temáticas

contemporâneas à profissão, discutem-se os seus rumos e direções face às exigências

objetivas, conjunturais, estruturais e situacionais da realidade social do país, e

desenvolvem-se manifestações culturais e políticas entre outras atividades.

Até hoje, foram realizados quatorze CBASs. No ano de 2013 ocorreu o último CBAS,

em São Paulo, com o tema “Impactos da crise do capital nas políticas sociais e no trabalho

do/a assistente social”. Em todos os Congressos realizados nos anos 2000, houve um

número expressivo de participantes, girando em torno de 3000 ou mais pessoas. Não

fugindo à tradição de mais de três décadas, os quatro últimos CBASs, discutiram e refletiram

sobre o Serviço Social no contexto do capitalismo brasileiro, indicando os principais

caminhos para a profissão. Mas, nem sempre foi assim. Os dois primeiros CBASs,

realizados em 1973 e 1976, não apresentavam a configuração geral dos demais. Nem do

ponto de vista organizativo nem do ponto de vista teórico-político. Sendo realizados no

período do apogeu da ditadura militar, receberam os influxos, desse momento, em relação

ao cerceamento de ideias, práticas e movimentos de oposição a esse regime ditatorial. Sem

contar, que a herança conservadora, presente no Serviço Social e na sociedade, ainda

dominava os rumos e direções principais da profissão. São tempos da “modernização

conservadora” e da “reatualização do conservadorismo” da/na profissão segundo Netto

(1991). A primeira, em moldes científicos e técnicos para fazer face aos ditames da

modernização conservadora imposta pela ditadura; a segunda, em moldes psicologizantes e

fenomenológicos para resgatar, sob novos patamares, o tradicionalismo e o

conservadorismo histórico do Serviço Social. Dentro dessa configuração, esses dois

Congressos, no aspecto organizativo, eram coordenados por entidades da profissão ligadas

direta ou indiretamente a esses condutos teórico-políticos, aqui, descritos.

É no CBAS de 1979 que, tal evento, passará por uma mudança profunda, com

repercussões para os posteriores congressos e para a profissão. A conjuntura do país passa

por transformações com a perda de legitimidade social dos militares; com o ressurgimento

dos movimentos sociais com um novo sindicalismo e novos movimentos populares.

Momento em que a reorganização dos movimentos dos Assistentes Sociais, revigora-se,

reiniciando suas lutas e participando das lutas mais gerais em curso. Esses e outros

elementos são favorecedores a novos rumos a serem traçados pelo Congresso Brasileiro de

Assistentes Sociais. Por conta da sua importância histórica, esse Congresso passou a ser

denominado de “Congresso da Virada”. Entre as mudanças identificadas a partir do CBAS

de 1979, destacam-se: a) as mesas de composição das conferências, mesas-redondas,

painéis etc., passam a serem formadas por estudiosos, pesquisadores, profissionais,

trabalhadores e entidades identificadas com as mudanças para o país e sintonizadas com

os interesses e necessidades da classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2005). É no

CBAS de 1979, que convidados da mesa oficial são substituídos por representantes da

classe trabalhadora que, naquele momento, expressavam as lutas populares e sindicais do

país; b) os temas e assuntos discutidos, nesses eventos, passam a refletir os interesses e

necessidades da categoria, da profissão e dos trabalhadores.

Nesses termos, os CBASs, havidos desde então, mais do que preocupação em dar

continuidade a esses propósitos, têm aprofundado, especialmente: as discussões em torno

do Serviço Social como uma profissão especializada na divisão social e técnica do trabalho,

em que a questão social, matéria prima do trabalho profissional, ganha destaque; as

análises sobre as políticas públicas são consideradas como respostas do Estado à questão

social, como parte importante das estratégias das classes dominantes para manter o status

quo vigente, e, ainda, como parte das lutas dos trabalhadores por melhores condições de

vida e de trabalho; c) as lutas e resistências, portanto, dos trabalhadores e dos Assistentes

Sociais passam a ser parte constituinte dos temas, debates e reflexões desses congressos;

d) a coordenação e condução desses eventos passam a ser da responsabilidade das

principais entidades da categoria, que, desde o CBAS de 1979, têm, nas suas direções,

caminhos e práticas sintonizadas com o Serviço Social crítico. Enfim, o CBAS de 1979, dá

uma “virada” ética, politica, teórica e organizativa na condução dos rumos dos CBASs e

contribui decisivamente para a profissão dar mais um salto qualitativo na direção do

amadurecimento e consolidação de um Serviço Social comprometido com a classe

trabalhadora.

Em 2009, o CBAS de 1979 completou trinta anos. Nesse ano, as entidades da

categoria, organizaram comemorações alusivas à data com reflexões sobre o significado

histórico e político deste CBAS. Como parte dessas comemorações, a editora Cortez

publicou a revista de número 100, dedicada aos trinta anos do “Congresso da Virada” e da

publicação da Revista Serviço Social e Sociedade. Também foi publicado, na Revista

Inscrita, do CFESS, um número especial sobre o assunto. Na primeira publicação, texto de

Netto (2009, p. 666) diz: “O III Congresso operou uma decisiva transformação na dinâmica

profissional no país [...] quebrou o monopólio conservador nas instâncias e fóruns da

categoria profissional”. Na publicação do CFESS, texto de autoria da gestão 2008/2011,

coloca: “São três décadas de uma história construída com ousadia, coragem e compromisso

ético-político e profissional com as lutas da classe trabalhadora e com a emancipação

humana” (CFESS, 2009, p. 57).

Em resumo, a partir de 1979, gestam-se as condições, objetivas e subjetivas,

favorecedoras das mudanças à profissão. Estão dadas as condições para a conformação,

afirmação e consolidação de um novo projeto ético-político profissional, que passará a ser

chamado, na década de 1990, de Projeto Ético-Político (PEP), que representará a síntese

dos caminhos trilhados pelo Serviço Social, desde a Reconceituação, na perspectiva de

novos significados para a profissão no país. Como Projeto Ético-Político profissional será

constituído de um conjunto de valores, práticas, ideias, enfim, modos de ser e pensar a

profissão ou, como diz Netto (1999), trata-se de um projeto coletivo profissional, que

apresenta a autoimagem da profissão, elege valores, prioriza objetivos, prescreve normas e

estabelece diretrizes para as relações com os sujeitos e organizações com os quais mantém

relações profissionais.

Tal Projeto denomina-se, aqui, de Projeto Ético-Político profissional crítico. Isso por

quê? Porque se constitui na síntese representativa dos caminhos trilhados, pela profissão,

cujos horizontes se baseiam nos fundamentos, valores, princípios e práticas, consoantes à

“Intenção de Ruptura” (NETTO, 1991). Segundo, esse autor, essa perspectiva representa a

renovação do Serviço Social pós-Movimento de Reconceituação, que, influenciada pela

tradição do pensamento social crítico, em especial, o pensamento de Marx e da tradição

marxista, defende e se alia aos interesses e necessidades da classe trabalhadora em

direção à emancipação humana.

O PEP se consolida na década de 1990, conquistando hegemonia no que diz respeito

especialmente: à produção de conhecimento; às pesquisas realizadas; à formação

profissional; aos debates realizados no interior da profissão; às publicações em revistas e

livros; às lutas, movimentos e organização da categoria; aos instrumentos protetivos da

profissão. Nesse contexto, exprime-se, principalmente, no Código de Ética, na Lei de

Regulamentação da Profissão (aprovados em 1993) e nas Diretrizes Curriculares de 1996.

Mas, o Projeto Ético-Político crítico, não é o único projeto profissional existente. Ele convive,

em luta permanente, com outros projetos profissionais, que se opõem, de modo aberto ou

velado com o PEP crítico. Esses outros projetos caminham, em última instância, na direção

da tradição conservadora, presente na profissão e na sociedade, que se atualiza no Serviço

Social, pós Reconceituação, a partir de dois caminhos, já apontados: a modernização

conservadora e a reatualização do conservadorismo. Nas últimas décadas, essa herança

ganha novos contornos pelos “ventos pós-modernos” que se alimentam das micro-teorias e

de um modo de pensar e agir sobre a realidade voltada para o aqui, o agora e o imediato

das relações sociais, reforçando o status quo da sociedade capitalista.

Pelos CBASs, pós Congresso de 1979, transitam ideias e influências do Serviço Social

crítico e do Projeto Ético-Político correspondente. Isso se verifica, de modo mais direto ou

não, desde a concepção e organização de cada evento, até à definição do temário geral,

bem como na composição dos nomes convidados para as conferências e mesas-redondas e

ainda nas discussões e reflexões entre os participantes. Mas, é dentro da produção de

conhecimento, publicada nesses Congressos, que essas influências e ideias estarão

evidenciadas. Com base no exposto, realizou-se uma pesquisa, em nível de pós-

doutoramento, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - sob a supervisão da

Professora Doutora Maria Carmelita Yazbek - com o objetivo de analisar três CBASs, pós-

instituição dos atuais instrumentos normativos da profissão (o Código de Ética, a Lei de

Regulamentação da Profissão e as Diretrizes Curriculares), quais sejam: os CBASs de

2004, 2007 e 2010. Tal pesquisa visa caracterizar a produção que trata do Serviço Social

em sua relação com o Projeto Ético-Político profissional.

Os resultados gerais dessa pesquisa serão, a partir de agora, delineados, tendo como

horizonte o XIII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 2010, em Brasília,

com o título “Lutas sociais e o exercício profissional no contexto da crise do capital:

mediações e a consolidação do projeto ético-político do Serviço Social”. Por esse título

verifica-se, que, este Congresso, afirma a preocupação, dos organizadores do evento, em

consolidar o PEP no seio da categoria. Nesses termos, o “sentimento” dos organizadores,

na apresentação dos Anais, deixa claro isso, ao enfatizarem: “O XIII CBAS coloca no centro

da agenda o exercício profissional e os sujeitos políticos que hoje se inscrevem na

sociedade brasileira, tendo em perspectiva a busca das mediações necessárias na

articulação entre o projeto ético-político profissional e os projetos societários” (CFESS et al,

2010).

Com 2700 participantes inscritos, 1.132 trabalhos aceitos, 957 trabalhos considerados

válidos (comunicação oral e pôster)6 e 14 Eixos Temáticos7, o CBAS de 2010 notabiliza-se,

ainda, por ser um momento de grande mobilização dos Assistentes Sociais em luta pelas 30

horas semanais, sem redução de salário, para a categoria profissional. Dos 957 trabalhos

existentes e válidos (chamados, aqui, de TE), 507 trabalhos referiam-se ao Serviço Social

(denominados, agora, de TSS), e, destes, 179 trabalhos tratavam de PEP (sintetizados por

PEP). Isso significa dizer que: mais da metade dos TEs eram trabalhos de Serviço Social.

Quanto aos trabalhos de PEP, estes, representaram, em relação aos TSSs, 35% dessa

produção e em relação aos TEs somente 19% do conjunto dos trabalhos produzidos no

CBAS.

Dos 14 Eixos Temáticos, 3 Eixos reportavam-se à temática Seguridade Social,

distribuídos da seguinte forma: Seguridade Social: concepção e financiamento; Seguridade

Social: controle social e sujeitos políticos; Seguridade Social: formulação e implementação.

Do ponto de vista dos Trabalhos Existentes, ao se juntar os 3 Eixos de Seguridade, verifica-

se, em termos absolutos, um total de 186 TEs, representando, o primeiro lugar do conjunto

da produção existente nesse CBAS e significando, em termos percentuais 19% de todos os

Eixos Temáticos. Aqui, o Eixo relativo à formulação e implementação obteve mais da

metade da produção em torno do tema Seguridade Social, correspondendo a 103 trabalhos.

Mas, do ponto de vista dos Trabalhos de Serviço Social, os 3 Eixos de Seguridade

Social, juntos, representam, em termos absolutos, apenas 58 trabalhos ou 11% dos TSSs,

6 Trabalhos válidos, são todos aqueles que, no mapeamento geral da pesquisa, estavam completos:

do título à conclusão. 7 Os 14 Eixos Temáticos do CBAS de 2010 são: 1) Crise do capital, Estado e Democracia; 2) Infância,

Adolescência, Juventude e Velhice; 3) Raça, Etnia, Gênero e Orientação Sexual; 4) Família e Relações Sociais; 5) Justiça, Violência e Segurança Pública; 6) Movimentos Sociais, Lutas Sociais e Organização política da Classe Trabalhadora; 7) Projeto Ético-Político, Trabalho e Formação; 8) Ética e Direitos Humanos; 9) Educação, Comunicação e Cultura; 10) Espaço Sócio-ocupacional e Condições de Trabalho; 11) Seguridade Social: concepção e financiamento; 12) Seguridade Social: controle social e sujeitos políticos; 13) Seguridade Social: formulação e implementação; 14) Questão Urbana, Agrária e Meio Ambiente. É importante registrar: essa sequência não é necessariamente a mesma dada pela organização do evento.

sendo que, mais uma vez, o Eixo formulação e implementação ganha destaque. Por outro

lado, quando se compara a quantidade de trabalhos de Seguridade Social que tratam do

Serviço Social (58 trabalhos) com a quantidade total dos Trabalhos Existentes (957),

conclui-se que o percentual de Trabalhos de Seguridade Social é ainda menor, significando

apenas 6% do total do TEs. Visualizando-se esses dados, pode-se dizer: a) a produção de

conhecimento sobre Seguridade Social no CBAS representa o primeiro lugar em termos de

Trabalhos Existentes; b) em se tratando dos Trabalhos de Serviço Social, a produção sobre

Seguridade Social é pequena tanto se se considerar o conjunto dos TSS quanto ao se

reportar ao total de TE. No primeiro caso, corresponde a 11% e se situa no terceiro lugar

entre todos os TSSs; no segundo caso, não ultrapassa os 6% em número de TEs.

Finalmente, do ponto de vista dos trabalhos de PEP, a produção sobre Seguridade

Social, na junção dos 3 Eixos, corresponde apenas a 3% do total de trabalhos de PEP ou 6

trabalhos em termos absolutos, significando, junto com outros Eixos Temáticos, o quarto

lugar entre todos os Eixos. Essa realidade mostra, portanto, uma menor influência do PEP

nesse tipo de produção. Comparando-se essa mesma produção (Trabalhos de PEP

relativos ao Eixo Seguridade Social) com o total de Trabalhos de Serviço Social e, também,

com o total dos Trabalhos Existentes tem-se 1,1% e 0,6% respectivamente. Em resumo: a

temática Seguridade Social na relação com o Projeto Ético-Político tem tido pouca

ressonância tanto se se olhar o conjunto dos trabalhos de PEP quanto se se olhar os TSSs

e ainda os TEs.

Algumas análises podem ser estabelecidas ao se olhar os dados do XIII CBAS (mas,

também, dos CBASs de 2004 e 2007): a primeira, é que, neste CBAS, o número de

Trabalhos de Serviço Social cresceu ao se comparar com os CBASs de 2004 e 2007,

atingindo um pouco mais de 52% do total dos Trabalhos Existentes, mas nos dois primeiros

Congresso esse número ficou abaixo dos 50% dos TEs, ou seja, embora o Congresso

Brasileiro de Assistentes Sociais constitua-se no principal evento da categoria e da

profissão, nem sempre o tema “Serviço Social” tem se constituído em força propulsora

principal de objetos de estudo e de sistematização de experiências produzidos no mesmo;

segunda, ao se referir à produção sobre PEP, deve-se destacar que, esta, tem presença na

produção levada a efeito nos CBASs, mas, com pouca ressonância se se considerar o

conjunto dos TSSs e, bem menos ainda, se se considerar o conjunto dos TEs, embora o ano

de 2010 mostre um crescimento dos trabalhos de PEP em relação aos outros CBASs

analisados (em 2004, foram 95 trabalhos e em 2007, 103 trabalhos); terceira, a produção

em torno do Eixo Seguridade Social se torna bastante expressiva quando se visualizam

apenas os Trabalhos Existentes. No entanto, quando se faz referência à ligação entre

Seguridade Social, Serviço Social e Projeto Ético-Político, em termos da produção via Eixos

Temáticos, a discussão sobre Seguridade Social não tem o mesmo nível de influência,

sobretudo se se tomar por base os trabalhos de PEP.

A realidade exposta, aqui, toma por base a produção de conhecimento nos CBASs de

2004 a 2010 a partir dos Eixos Temáticos definidos pela organização do evento. Mas, a

pesquisa buscou também conhecer as temáticas/objetos de estudo dentro de cada

produção do Serviço Social. Assim, no CBAS de 2010, dos 507 Trabalhos de Serviço Social,

evidenciaram-se 28 temáticas/objeto de estudo 8 . A maior referência, com 42,6% das

intenções, está no tema prática profissional, seguindo-se, pela ordem, os temas formação

profissional e fundamentos teórico-metodológicos do Serviço Social, com 15,6% e 12,6%,

respectivamente, das intenções.

No que concerne à temática Seguridade Social, esta, foi desmembrada levando em

conta o tripé saúde, previdência e assistência social e o próprio tema Seguridade Social

(sem associação aos temas relativos a esse tripé) associado ao tema Política Pública

Social. Considerando-se isoladamente cada tema do tripé da Seguridade, tem-se, pela

ordem, de intenções: saúde (3,9%), assistência social (3,0%), e previdência (1,0%). A

temática Seguridade junto com o tema Política Pública e Social, por seu turno, obteve 0,8%.

Ao se juntar todas as intenções voltadas para o tema da Seguridade Social, o resultado

revela 9,7% das intenções, ficando, portanto, atrás dos três primeiros lugares já referidos.

Enfim, os dados apontam, mais uma vez, que a discussão sobre Seguridade Social e

Serviço Social teve pouco destaque ao se visualizar, também, a realidade dos temas/objetos

de estudo da produção de Serviço Social.

Em resumo, o que se constata a partir desses números? É que, embora a questão da

Seguridade Social seja uma temática historicamente importante para a profissão de Serviço

Social, inclusive ocupando o primeiro lugar no total dos TEs, mas, no que concerne à

relação Serviço Social e Seguridade Social diminui o interesse de estudos e sistematizações

de experiências sobre tal tema, tanto se se olhar os Eixos Temáticos quanto se olhar os

8 No levantamento das temáticas e se levando em conta o somatório dos três CBASs, obtiveram-se

39 (trinta e nove) temáticas variadas. No caso do CBAS de 2010 o número de temáticas representou um total de 28 temáticas, a saber, pela ordem: prática profissional, formação profissional, fundamentos teórico-metodológicos, trabalho, saúde, assistência social, movimentos sociais/organização dos Assistentes Sociais, pesquisa, história do Serviço Social, meio-ambiente, educação, previdência, questão agrária, sociedade civil/controle social, política pública/Seguridade Social, questão étnico-racial, questão urbana, direitos, ética, gênero, questão social, Sistema Penitenciário, Conselhos de Direitos, Cultura, violência, comunicação, militância política, orientação sexual.

temas/objetos de estudo de cada produção de Serviço Social. O mesmo ocorre quando se

trata da produção que associa Serviço Social, Seguridade Social e PEP, pois são poucos os

trabalhos que se voltam para essa discussão.

Do conjunto dessas análises não se deve esquecer: embora a referência quantitativa

seja importante ponto de reflexão, as influências do PEP, nos CBASs expressam-se para

além dos aspectos quantitativos; elas se espraiam dentro de cada Congresso (nas

conferências e mesas-redondas, nos debates, nas conversas entre os participantes, nas

atividades culturais e políticas etc.) e para fora do próprio Congresso (com o retorno dos

participantes e representantes das entidades a seus cotidianos profissionais e sociais). Não

se deve esquecer, também, que os dados, acima, não apresentam a totalidade do universo

de cada CBAS ou do conjunto desses CBASs; essa realidade, portanto, representa um olhar

sobre a produção de conhecimento nos CBASs a partir da amostra definida para a pesquisa

(objeto de análise deste trabalho) bem como dos critérios que levaram à definição dessa

amostra. Isso significa dizer que somente os trabalhos que faziam referência ao Serviço

Social e ao Projeto Ético-Político no Título, Resumo ou Introdução e nas Palavras-chave é

que foram pesquisados e analisados. Nesses termos, acredita-se que os demais trabalhos

que não se encontravam nessa amostra, de modo mais aberto ou não, receberam alguma

influência do PEP. Em vista disso não esquecer: não se deve fazer generalizações com os

dados aqui expostos.

Voltando-se aos resultados da pesquisa e se visualizando ainda mais os 14 Eixos

Temáticos, do CBAS de 2010, no que respeita aos Trabalhos de PEP, deve-se ressaltar que

um deles concentrou maior quantidade de trabalhos voltados para o PEP: o Eixo 7,

denominado de Projeto Ético-Político profissional, trabalho e formação, que apresentou

um total de 115 trabalhos, ou 64% em percentuais, considerando o total geral de todos os

Eixos (que produziram 179 trabalhos). Por conta da expressiva participação do Eixo 7, os

demais Eixos tiveram pouca expressão, não atingindo, no geral, 10% dos Trabalhos de

PEP. A exceção fica para o Eixo voltado para os Espaços Sócio-ocupacionais do trabalho

profissional, com 11% dessa produção. No caso dos Eixos sobre Seguridade Social, além

de juntos, terem obtido apenas 3% do total da produção o Eixo que trata da formulação e

implementação não obteve nenhuma produção de PEP.

Do exposto, fica a seguinte indagação: que significados, rumos e direções são

atribuídos à profissão de Serviço Social e ao PEP na produção do CBAS de 2010?

Considerando-se o conjunto dessa produção (mas, também dos demais CBASs), verifica-se

que, majoritariamente, o modo de ser e aparecer da profissão sintoniza-se àquilo que se

está expressando, aqui, como Serviço Social crítico, embora, essa mesma produção,

majoritariamente, não trate explicitamente do PEP crítico. Nesses termos o Serviço Social é

compreendido como uma especialização na divisão social e técnica do trabalho, destinado a

responder às necessidades e demandas provenientes da questão social, tendo como

horizonte a defesa da “classe-que-vive-do-trabalho”. Busca-se, inclusive, entender os

significados e rumos do Serviço Social, na contemporaneidade, nos marcos da globalização,

do neoliberalismo, da reestruturação produtiva e das influências da pós-modernidade no

cotidiano da profissão. Nesse último aspecto, as discussões em torno do neoliberalismo e

suas consequências para os trabalhadores e Assistentes Sociais têm maior relevância no

conjunto dessa produção.

Um aspecto chama a atenção no CBAS de 2010 (e nos demais): a compreensão do

Serviço Social como direito. Ou seja, boa parte dessa produção dá um sentido ao Serviço

Social como profissão ligada aos direitos. Essa visão deve ser entendida, levando-se em

conta, sobretudo, que a temática dos direitos ganha projeção, interna e externa à profissão,

após a promulgação da Constituição de 1988 e da normatização posterior de leis e políticas

sociais públicas destinadas a garantir os direitos sociais conquistados com essa

Constituição. Nesses termos, ainda que propostas governamentais, de cunho neoliberal, ao

mesmo tempo, interferissem em sentido contrário, na perspectiva da diminuição do papel

social do Estado ou da transferência de suas responsabilidades sociais para a sociedade e

o chamado Terceiro Setor, a temática dos direitos, ganha a agenda pública estatal e não

estatal a partir dos anos de 1990.

Nesse contexto, a profissão é influenciada e influencia a conjuntura pós-Constituição de

1988. Em nível interno, os atuais instrumentos protetivos da profissão, passam a dar

destaque à temática dos direitos. Particularmente, as Diretrizes Curriculares e o Código de

Ética têm sido, desde então, balizadores de um Serviço Social comprometido com os

direitos da população com a qual mantém relações profissionais. A própria organização dos

CBASs de 2004 a 2010, têm vários Eixos Temáticos, cujos títulos, estão relacionados a

essa temática. No caso do CBAS de 2010 ressaltam-se os Eixos “Direitos da Infância,

Adolescência, Juventude e Velhice” e “Ética e Direitos Humanos”. Mas, não se deve

esquecer: em todos os Eixos Temáticos a relação Serviço Social = a direitos é bastante

evidente.

As análises, acima, permite-nos fazer, pelo menos, duas considerações: a) avalia-se

como um avanço e amadurecimento profissional quando Assistentes Sociais, estudantes e

pesquisadores, associam o Serviço Social como profissão que luta e atua na perspectiva

dos direitos da população. Antes do Movimento de Reconceituação e até o final da década

de 1970, especialmente, essa discussão não se colocava fortemente, não só por conta das

estruturas e conjunturas sociais com as quais o profissional estava inserido, mas, também,

porque a herança conservadora da/na profissão era marcante; b) mesmo sendo positivo,

esse primeiro aspecto, não se deve limitar a compreensão dos significados e rumos do

Serviço Social à noção dos direitos. Isso porque, de um lado, a matéria prima do trabalho

profissional é a questão social e, esta, não se exaure na questão dos direitos, que, em

última instância, não extrapolam os limites substantivos das desigualdades sociais, base de

sustentação da sociedade capitalista brasileira; de outro lado, e em associação à

observação anterior, a perspectiva do Serviço Social crítico está estreitamente relacionada

às transformações radicais dessa sociedade tendo em vista a emancipação humana. Nesse

sentido, os rumos a serem perseguidos nos estudos, pesquisas, movimentos e práticas,

daqueles que defendem tal perspectiva, devem ser no horizonte da aliança com os projetos

societários contra hegemônicos. Em síntese, a questão dos direitos deve ser considerada

um ponto de partida estratégico para a profissão, mas não o ponto de chegada.

Levando em conta o conjunto dessas considerações, é que se coloca o PEP:

primeiramente, deve-se acentuar que, na produção do CBAS de 2010 (e nos demais

analisados) além do PEP se apresentar em menos de 40% dos Trabalhos de Serviço Social,

nem toda essa produção desenvolve estudos e análises mais amplas e profundas sobre

PEP e a relação Serviço Social e PEP. No caso dos Eixos Temáticos sobre Seguridade

Social e sua relação com o PEP, contatou-se, conforme já explicitado, que apenas 1,1% dos

TSSs e 0,6% dos TEs citam esse Projeto profissional; em segundo lugar, o PEP, de modo

global, é demonstrado, principalmente, como sinônimo de materialização do Código de Ética

e, dentro deste, como sinônimo da materialização dos princípios relacionados aos direitos.

Reforça-se, aqui, mais uma vez, a análise de que essa visão de Serviço Social e de PEP é

deveras limitada sobre os significados, rumos e possibilidades de um projeto profissional

que se coloca na direção da emancipação humana.

Mesmo, assim, encontra-se, na produção que enfatiza o PEP, análises mostrando ser,

este, um projeto coletivo, que conquista hegemonia nos anos de 1990, especialmente: na

formação, nos fundamentos teórico-metodológicos da profissão, na produção de pesquisas,

nas publicações, nos instrumentos protetivos do Serviço Social, na representação das

entidades da categoria e na condução das lutas empreendidas por essas entidades; projeto

que representa a autoimagem da profissão e se alia aos projetos societários que almejam

transformações substanciais para o país. Encontra-se, também, análises, identificando os

limites, as possibilidades e os desafios postos à profissão, sobretudo, na perspectiva dos

rumos do Serviço Social crítico e do PEP correspondente. Dentro dessas questões, as

principais ressalvas referem-se aos elementos conjunturais, estruturais e situacionais do

modo de ser do capitalismo em sua fase contemporânea: global, flexível e “pós-moderna”.

Além disso, mostra-se, ainda, os limites e os desafios deste Serviço Social e do PEP face à

herança conservadora persistente na profissão e no país, que, em aliança com os rumos do

capitalismo contemporâneo, tem sido corresponsável pelo aprofundamento da questão

social e por respostas estatais que reforçam o status quo vigente. Mas, no conjunto dessa

produção reforça-se a ideia de que o Serviço Social crítico e o PEP se originam das lutas

que, boa parte da categoria, vem travando desde a Reconceituação por um Serviço Social

identificado com os reais interesses da “classe-que-vive-do-trabalho”, sujeitos principais dos

seus processos de inserção na realidade brasileira.

Finalmente, no que concerne à produção referente à Seguridade Social, seja

visualizando-a sob a perspectiva dos seus três Eixos Temáticos, seja levando em conta as

temáticas e objetos específicos a cada produção, as linhas gerais, esboçadas nas análises

dessa produção, não destoam das considerações expostas acima. O importante a ressaltar

é que: os caminhos principais dessa produção estão em sintonia com a discussão da

Seguridade Social como parte das conquistas da classe trabalhadora por garantia,

ampliação e efetivação de direitos.

3. CONCLUSÃO

Os CBASs são “veias abertas” da profissão por onde o PEP se expressa e, ao mesmo

tempo, influencia a categoria de diversas maneiras: através da produção publicada nos

Anais; através dos vários formatos que assume (conferências, mesas-redondas, debates,

manifestações individuais ou coletivas etc.); pelos rumos tomados (concepção, organização,

etc.); pelo que tem representado como momento de reunião e congraçamento, como síntese

de discussões e reflexões contemporâneas e, ainda, como explicitação e demarcação de

uma agenda pública e ético-política para os profissionais e a profissão. O Serviço Social

crítico e o PEP correspondente encontram solo favorável para suas explicitações e

influências. O CBAS de 2010 não fugiu a essa realidade. No que respeita ao CBAS de 2010,

este cresceu em relação aos outros dois eventos, tanto em relação ao número de Trabalhos

Existentes quanto no número de Trabalhos de Serviço Social e de Trabalhos de PEP. Em

síntese, o Projeto Ético-Político está presente na produção publicada nos CBASs

analisados. Numericamente sua influencia, no entanto, é, ainda, pequena. Nesses termos,

conclui-se que o PEP não exerce hegemonia na produção publicada no CBAS. Mas, suas

influências ultrapassam os movimentos, processos, dinâmicas e atividades internas, a cada

CBAS, para se situar no cotidiano dos profissionais e na agenda de reflexões, práticas e

movimentos gerais da profissão na sociedade.

.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Ricardo. O caracol e sua concha. São Paulo: Boitempo, 2005.

CFESS. 1979: outros “Congressos” virão. In: Revista Inscrita. Brasília: CFESS, n. 12, 2009.

CFESS et al. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Brasília, 2010.

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1991.

_____. A construção do projeto ético-político do Serviço Social frente à crise

contemporânea. In: CEAD. Capacitação em serviço social e política social. Brasília: CEAD,

1999.

_____. III CBAS: algumas referências para a sua contextualização. In: Revista Serviço

Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 100, 2009.

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: mecanismos de

acesso e permanência do estudante na Universidade Federal do Piauí

Maria D’Alva Macedo Ferreira9

RESUMO

O artigo discorre sobre a assistência estudantil no âmbito da Política Nacional de Assistência Estudantil direcionada para estudantes das universidades publicas. Por meio da pesquisa documental e bibliográfica fazendo parte da Pesquisa Analise da Política de Assistência Estudantil na UFPI, apresenta-se uma breve contextualização da educação superior no Brasil, a fim de perceber como a educação vai se constituindo numa política pública de caráter universal, fundamentada em princípios democratizantes. Diante dos processos de desigualdades sociais, políticos, econômicos e culturais, foi criada a Política Nacional de Assistência Estudantil objetivando acesso e permanência nas universidades publicas, em especial a Universidade Federal do Piauí.

Palavras chaves: Educação Superior, Assistência estudantil, educação superior

STUDENT ASSISTANCE IN HIGHER EDUCATION: access mechanisms and student's stay in

the Federal University of Piauí

ABSTRACT

The article discusses the student assistance under the National Policy on Student Assistance directed to students of public universities. Through the documentary and bibliographical research as part of research Analysis of Student Assistance Policy in UFPI , we present a brief background of higher education in Brazil in order to see how education will constitute a public policy of universal character, grounded in democratizing principles. On the processes of social inequalities, political, economic and cultural , the National Student Assistance Policy aiming access and permanence was created in the public universities , especially the Federal University of Piauí . Key words: higher education, student assistance, higher education.

9 Doutora. Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail [email protected]

I INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 concebe a Educação como direito

fundamental, universal, inalienável e um instrumento de formação ampla na luta pelos

direitos da cidadania e pela emancipação social, regulamentado na Lei de Diretrizes

de Base da Educação No entanto, apesar desse direito ser garantido no plano formal,

é grande a parcela de jovens brasileiros de classes sociais menos privilegiadas que

vivenciam, de forma extremamente injusta e desigual, os espaços institucioais, como

as universidade públicas brasileiras.

O contexto atual é marcado pela imensa desigualdade social, e a educação

ocupa um papel cada vez mais relevante no quadro dos direitos humanos, pois, ao

mesmo tempo em que constitui um direito fundamental nas sociedades modernas e

contemporâneas se apresenta como condição indispensável para que os indivíduos

sejam participes dos modelos de desenvolvimento implementados.

Diante dessa complexa realidade de desigualdades sócio, econômica e cultural

definida como questão social resultante das contradições capital x trabalho,

compreendida como o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o

surgimento da classe operária impôs no mundo no curso da constituição da sociedade

capitalista (CERQUEIRA FILHO, 1982). As políticas sociais, nesse contexto, se

constituem em mecanismo de mediação entre as necessidades de valorização e

acumulação do capital e as necessidades de manutenção da força de trabalho

disponível para o mesmo, amenizar os conflitos sociais, atendendo as necessidades

da população através de um conjunto de medidas governamentais.

Nesse complexo de desigualdade social, a implementação da política de

educação, no âmbito da educação superior requer políticas públicas que executem

ações específicas no campo da educação, não só na educação básica. No que se

refere à educação superior, o Brasil vem desenvolvendo política pública de acesso e

permanência dos estudantes pobres de baixa renda na universidade, uma vez que

ainda permanece a seletividade econômica e étnico-racial do ensino superior

brasileiro.

II APONTAMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

Com relação às suas raízes e peculiaridades, a construção do sistema de

educação superior, no Brasil, pode é considerada um caso diferente no conjunto

latino-americano, ma vez que, desde o século XVI, os espanhóis fundaram

universidades em seus domínios na América, as quais se caracterizavam como

instituições religiosas. O Brasil Colônia, no entanto, não criou instituições de ensino

superior em sua jurisdição até início do século XIX, ou seja, quase três séculos mais

tarde.

A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data próxima das

comemorações do Centenário da Independência (1922). Resultado do Decreto n°

14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades

profissionais pré-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema:

ela era mais voltada ao ensino do que à pesquisa, elitista, conservando a orientação

profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades (IELSAC, 2002).

Entre os anos de 1950 à 1970 foram criadas as universidades federais e

multiplicaram-se às universidades estaduais, municipais e particulares. Em 1961, entra

em vigor a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que

possibilitou a participação da livre iniciativa do ensino superior no Brasil. Em 1968, o

Congresso Nacional aprovou a Reforma Universitária, pela Lei n° 5.540, de 28/11/68,

fixando normas de organização e funcionamento do ensino superior.

Na década de setenta, a rede de ensino superior no país cresce. Em apenas

uma década, de 1970 a 1980, as matrículas nos cursos universitários subiram de

300.000 para um milhão e meio. Pode-se identificar vários fatores para esta

ampliação, mas merece destaque para o processo de modernização econômica do

país, que passou a exigir recursos humanos mais qualificados.

No ano de 1981, o Brasil contava com 65 universidades, sete delas com mais

de 20.000 alunos (OLIVEN, 2002, p.40). A segunda fase de forte expansão do sistema

de ensino superior ocorre a partir de 1995. Com a pressão pelo aumento da procura

de vagas no ensino superior e a incapacidade no setor público em oferecer mais

vagas, há uma expansão de vagas nas universidades privadas, período em que

muitos grupos do setor mercado manifestam interesse nas verbas públicas, marcando

uma fase de mercantilização do ensino superior.

Em 1994, foi realizado um primeiro levantamento amostral do perfil

socioeconômico dos alunos de graduação das IFES, porém este não teve a

consistência necessária para o apontamento de políticas em âmbito local e nacional.

Nos anos 1996 a 1997, foi realizada a pesquisa: Perfil Socioeconômico e Cultural dos

Estudantes de Graduação das IFES Brasileiras. No ano de 2000, outro importante

documento para conhecer o contexto da política em análise é uma carta de apoio

escrita pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis -

FONAPRACE, intitulada “Assistência Estudantil: uma questão de investimento”. O

texto evidencia o quanto a assistência estudantil deve ser vista enquanto uma política

de investimento e não de gasto, criticando as ações numa perspectiva assistencial até

então desenvolvidas. O Plano Nacional de Assistência aos Estudantes de Graduação

das Instituições Públicas de Ensino Superior foi elaborado em 2001 e a Aprovação do

Plano Nacional de Educação – PNE 2001 – 2010.

O FONAPRACE identificou, no ano de 2003, a necessidade de realizar uma

segunda pesquisa nacional, objetivando atualizar os dados relativos aos aspectos da

vida social, econômica e cultural dos estudantes de graduação das IFES brasileiras,

buscando indicadores que pudessem fundamentar a definição de políticas de

equidade, de acesso e de assistência estudantil, na perspectiva de atualizar o Plano

Nacional de Assistência Estudantil. A pesquisa foi realizada entre novembro de 2003 e

março de 2004, contando com a participação de 47 IFES, fornecendo dados para

traçar um perfil dos estudantes de graduação das IFES e suas famílias.

(FONAPRACE, 2004)

Os dados do Censo da Educação Superior, realizado em 2006, mostraram

que o número de jovens matriculados na graduação representava apenas 12,1% do

total da população brasileira de 18 a 24 anos, aumento pouco significativo se

compararmos que em 2001, a proporção era de 9%, portanto, uma das Metas do

Plano Nacional de Educação para o decênio 2011 – 2020 é de elevar a taxa bruta de

matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de

18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40%

das novas matrículas, no segmento público. Atualmente, 7 milhões matriculados,

sendo 1,9 milhão nas universidades públicas, com um gasto atual de R$ 24,8 bilhões.

Portanto, deve-se ter um aumento de matriculados em 12 milhões matriculados, sendo

3,9 milhões públicas.

O Censo de Educação Superior realizado pelo Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2007 mostra que o Brasil

contava com a existência de 2.281 instituições de Educação superior, sendo 249 do

setor público e 2.032 do setor privado. Nesse sentido, diante do crescimento das

escolas de nível superior privadas no Brasil, observou-se, a partir da Reforma

Universitária (1995), o comprometimento do Brasil com “a democratização” do ensino

superior nos moldes neoliberal, de um lado, procura atender os anseios da sociedade,

por outro, cria parcerias com o setor privado compreendendo que o mercado pode

participar deste processo de ampliação da oferta de vagas para a população jovem,

com vistas miminizar as consequências de anos de história de exclusão grupos

sociais.

O Decreto 6.096 de 24 de abril de 2007 cria o ReUni, e a Elaboração do

novo Plano de Assistência Estudantil, e finalmente a Portaria Normativa nº 39 de 12 de

dezembro de 2007 instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES.

FONAPRACE, juntamente com a ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das

Instituições Federais de Ensino Superior formulou em 2007 um novo Plano de

Assistência Estudantil, com o objetivo de apresentar diretrizes norteadoras para a

definição de programas e projetos de assistência estudantil. Em 2010, o Decreto nº

7234 de 19 de julho de 2010, institui o PNAES - Programa Nacional de Assistência

Estudantil e o Plano Nacional de Educação 2011 – 2020.

III POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO E PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE

A Constituição de 1988 representou para o Brasil, o marco jurídico que

garantiu constitucionalmente a institucionalização dos direitos humanos na sociedade

brasileira. Nesse contexto, a educação aparece como condição essencial para a

garantia dos direitos humanos, pois possibilita uma maior conscientização dos

indivíduos e grupos acerca de seus direitos e deveres para com a sociedade. A

educação aparece nesse quadro como eficaz mecanismo para o exercício da

cidadania, capaz de tornar os cidadãos passivos, participantes ativos de sua própria

história. Ela se apresenta como principal ferramenta de mobilidade social rumo à

redução da desigualdade e da pobreza.

Assim, para que a educação cumpra esse papel nesse processo de

transformação sócio-cultural é imprescindível a implementação de políticas públicas

que fomentem ações específicas no campo da educação. Nesse sentido, o Brasil no

âmbito da educação superior, vem desenvolvendo políticas públicas de acesso e

permanência dos estudantes de baixa renda na universidade, uma vez que a

seletividade econômica e étnico-racial do ensino superior brasileiro continua intensa: o

segmento composto pelos 20% mais ricos ocupa 70% das matrículas no ensino

superior brasileiro, ao passo que os 40% mais pobres ocupam apenas 3% das vagas

(ROSEMBERG, 2003).

Para concretização dos objetivos das políticas públicas de acesso e

permanência, programas federais vêm sendo desenvolvidos, com o objetivo, não

apenas do acesso a universidade, mas a garantia da permanência durante os anos de

graduação, fazendo relação com o texto a seguir de CARVALHO (2005):

a população de baixa renda não necessita apenas de gratuidade integral ou parcial para estudar, mas de condições que apenas as instituições públicas, ainda, podem oferecer, tais como: transporte, moradia estudantil, alimentação subsidiada, assistência médica disponível nos hospitais universitários, bolsas de pesquisa, entre outros. (CARVALHO, 2005, p. 13)

Os principais programas de acesso e permanência no ensino superior no

Brasil são: O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) de

1999; Programa de Educação Tutorial (PET) de 1979; Programa Universidade para

Todos (ProUni) de 2003; Bolsa Monitoria; O Programa de Bolsa Institucional de

Iniciação à Docência (PIBID); Hospitais Universitários (HU); O programa de Apoio a

Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) de 2007.

IV A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ E SUAS AÇÕES AFIRMATIVAS

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) é uma instituição de ensino superior,

que tem por objetivo cultivar o saber em todos os campos do conhecimento puro e

aplicado, formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para

inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da

sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua (UFPI, 1999)

Historicamente, o acesso ao ensino público ofertado pela UFPI se dava por

meio de vestibular, se aprovado, o mesmo será admitido em curso de graduação. Os

alunos podem ser alunos estrangeiros, em virtude de convênio cultural do Brasil com

outros países e candidatos já graduados em nível superior, como determina

Regimento Geral da UFPI, em seu artigo 79, da seção I, do Capítulo III ( UFPI, 1999,

p. 27).

Nos últimos anos, o processo de seleção do vestibular da Universidade vem

passando por mudanças, dentre elas a mudança do tradicional vestibular feito no final

do ensino médio pelo Programa Seriado de Ingresso a Universidade - o PSIU no ano

de 2003, visando valorizar o ensino médio e desmistificar a questão do vestibular

(UFPI, p.19).

Nele, a UFPI foi pioneira em reservar 5% das vagas do vestibular para

estudantes de escolas públicas no ano de 2008, disponibilizando 247 vagas para os

alunos cotistas. Já no ano de 2009 a Universidade passou a reservar 20% das vagas

para candidatos oriundos do ensino público, disponibilizando mais de mil vagas,

aumento esse resultado de um estudo sobre o desempenho dos alunos já

beneficiados com o sistema de cotas sociais (UFPI, p.19).

Após o ingresso na Universidade, que pode ocorrer por meio dessa forma de

acesso ao ensino superior citada anteriormente, o aluno conta com uma rede de apoio

acadêmico e social importantes para a sua formação.

A política de assistência estudantil na UFPI tem como princípio básico o

atendimento às demandas de alimentação, moradia, bolsas e apoio estudantil,

incluindo-se assistência médica, odontológica e psicossocial (UFPI, p. 64). Mas, os

serviços que dão concretude a assistência aos estudantes na UFPI já estavam sendo

garantidos antes mesmo do decreto de nº 7.234, do Governo Federal através do

Ministério da Educação, em dezembro de 2007, que instituiu o Programa Nacional de

Assistência Estudantil (PNAES).

Por meio dele a assistência estudantil passou a ser vista como estratégia de

combate às desigualdades sociais e regionais, servindo de instrumento para

ampliação e democratização das condições de acesso e permanência dos jovens no

ensino público superior federal, ou seja, transformando a assistência estudantil em

uma política de Estado

A assistência estudantil prestada pela UFPI, antes do decreto, era

direcionada para o apoio acadêmico e social aos alunos, promovendo condições

básicas para a sua permanência na instituição, atuando preventivamente nas

situações de repetência e evasão decorrentes de dificuldades sócio-econômicas

(GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01).

A política de Assistência Estudantil implantada em 2005 e reforçada pelo

Plano Nacional de Assistência Estudantil em 2007 tem assegurado o planejamento

orçamentário para a manutenção dos restaurantes universitários, as bolsas estudantis

e aos diversos programas que a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários -

PRAEC na UFPI mantém (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01)

A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários da Universidade

Federal do Piauí é a gestora dos programas e serviços por meio de suas

Coordenadorias, sendo elas a Coordenadoria de Nutrição e Dietética (CND), que tem

a finalidade de planejar, coordenar e supervisionar os serviços prestados pelas

unidades do Restaurante Universitário (RU) e pelo Serviço de Orientação Nutricional e

Dietética (SOND) e a Coordenadoria de Assistência Comunitária (CACOM) “que

planeja, executa, acompanha e avalia os programas e projetos de assistência

estudantil e comunitária mantidos pelo PRAEC” (UFPI, 2010).

Atualmente os Serviços e benefícios oferecidos pela PRAEC são: a Bolsa

Residência Universitária, a Bolsa de Apoio Acadêmico, a Bolsa Alimentação, o Projeto

Inclusão Social, o Atendimento Odontológico, o Auxílio ao Estudante Estrangeiro e o

Atendimento Psicossocial e Pedagógico, cada um será explicado nos parágrafos a

seguir.

A Bolsa Residência Universitária consiste em propiciar moradia e

alimentação ao estudante da UFPI em situação de vulnerabilidade social e econômica,

proveniente do interior do Piauí ou de outros estados, garantindo a sua permanência

na Instituição e conclusão do Curso no tempo regulamentar. A Bolsa de Apoio

Acadêmico é um benefício financeiro concedido ao estudante da UFPI em dificuldade

socioeconômica, tendo como contrapartida a prestação de serviços administrativos

nos diversos setores desta instituição, ou em projetos de extensão e de pesquisa

(UFPI, 2010).

A Bolsa Alimentação é um beneficio que garante o acesso do estudante em

dificuldade socioeconômica ao Restaurante Universitário, com isenção total da taxa.

Nos campi do interior do estado, a Bolsa Alimentação é concedida aos estudantes na

forma de auxílio financeiro. “Segundo VIEIRA (2010, p. 02 apud GUIMARÃES;

NOGUEIRA, 2010, p.01) o restaurante universitário é uma forma de garantir a

permanência do aluno na universidade, fazendo com que este tenha condições de

estudar e terminar seu curso no tempo regulamentar”.

O Projeto Inclusão Social integra a política de inclusão social e apoio ao

estudante com deficiência, facilitando a sua permanência na instituição e melhorando,

consequentemente, a sua qualidade de vida, sendo uma de suas atividades a

concessão de bolsa especial destinada aos universitários da UFPI que desejam e

tenham disponibilidade para auxiliar e acompanhar, nas atividades acadêmicas, os

colegas com deficiência (visual, auditiva e outras) (UFPI, 2010).

O Atendimento Odontológico é um benefício gratuito para toda a comunidade

universitária, com atendimento clínico na área de diagnóstico (clínico e radiológico),

restauração, prevenção e profilaxia de segunda a sexta-feira. Já o Atendimento

Psicossocial e Pedagógico é acessível à comunidade universitária, com a finalidade de

apoiar o estudante e o servidor, contribuindo para a superação de dificuldades sociais,

psicológicas e pedagógicas e por fim o Auxílio ao Estudante Estrangeiro que abrange

o atendimento Odontológico, o atendimento Psicossocial e Pedagógico e a Bolsa

Alimentação (UFPI, 2010).

V CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificam-se avanços no âmbito da assistência estudantil para o ensino

superior, tanto no que tange ao acesso quanto nas condições disponibilizadas para

que a população de baixa renda permaneça na universidade e conclua o curso

superior, por meio dos serviços proporcionados como transporte, moradia estudantil,

alimentação subsidiada, assistência médica disponível nos hospitais universitários,

bolsas de pesquisa, bolsa trabalho, etc..

A criação de mecanismos de acesso e permanência ao ensino superior

brasileiro, ainda que tenham se multiplicado e aprimorado nestes últimos anos, com

padrões mais extensos e democráticos, contribuindo para minimizar o distanciamento

entre as disparidades sociais, culturais e econômicas que dificultam o acesso e a

permanência dos estudantes de baixa renda na universidade pública brasileira, não

conseguem superar diante dos limites na oferta dos serviços e a grande demanda

apresentada pelos estudantes nas universidades publicas.

Com isto, aprende-se que a democratização das universidades publicas se

dá numa perspectiva neoliberal, o Estado cada vez mais sai da arena das políticas

publicas, descentraliza para o mercado sob a lógica da parceria, criando programas

como o FIES para proporcionar a ampliação de vagas, selecionando os mais pobres

para acessar ao financiamento a fim de cursar o nível superior no sistema privado,

diante da dificuldade de ter acesso a universidade pública

Assim, a Universidade Federal do Piauí, no âmbito da política pública para a

educação superior conta com os mecanismos de acesso e permanência no ensino

superior, dentre eles o sistema de cotas e de permanência, as bolsas remuneradas

que auxiliam na diminuição da evasão dos estudantes nos cursos, permitindo que os

mesmos concluam a graduação seguindo a grade curricular do curso.

Verifica-se que a cada ano cresce o número de estudantes que se escrevem

por benefícios remunerados, no entanto, a oferta destes serviços não cobre a

demanda apresentada. Nos últimos processos seletivos constata-se a redução das

bolsas e o aumento de estudantes escritos para concorrer às vagas ofertadas,

exigindo, com isto, critérios mais seletivos e excludentes.

5 REFERÊNCIAS

APRILE, Maria Rita; BARONE, Rosa Elisa Mirra. Educação superior: políticas públicas para inclusão social. Revista @mbienteeducação, São Paulo, v. 2, n.1, p. 39-55, jan./jul. 2009.

CARVALHO, Cristina Helena Almeida de. Política de ensino superior e renúncia fiscal: da reforma universitária de 1968 ao ProUni. Trabalho apresentado na In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 28. Trabalho apresentado. Política de Educação Superior. Caxambu, out. 2005. Disponível em: <htpp://www. anped.org.br>. Acesso em: 20 de junho de 2006. CERQUEIRA FILHO, Gisálio. A “questão Social” no Brasil: Critica do Discurso Político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. FONAPRACE, II Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das IFES, Brasília, 2004.

GUIMARÃES, Mariana; NOGUEIRA, Larissa. Assistência Estudantil: uma realidade construída com ações positivas da UFPI. In: InformAtivoPraec, Teresina, n.1, p.1-4, 2010.

IESALC-Unesco Instituto Internacional para Educação Superior na América Latina e no Caribe. Educação Superior no Brasil. 2002. NASCIMENTO, Clara Martins do. A assistência estudantil consentida – na contrareforma universitária dos anos 2000 In. Universidade e Sociedade / Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – Ano I, nº1 (fev. 1991), Brasília: Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, 2014 – Ano XXIII Nº 53

OLIVEN, Arabela Campos. “Resgatando o significado do Departamento na Universidade brasileira” in MRTINS, Carlos Benedito. Ensino Superior Brasileiro. Revista São Paulo em Perspectiva. São Paulo, 1989. ROSEMBERG, Fúlvia. Ação afirmativa no ensino superior brasileiro: pontos para reflexão. 2007. Disponível em: <http://www.acoesafirmativas.ufscar.br/arquivos/acao-afirmativa-no-ensino-superior-brasileiro-pontos-para-reflexao-por-fulvia-rosemberg/view?searchterm=rosemberg UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. A UFPI / Campi / Teresina. Teresina, 2010. Disponível em:< http://www.ufpi.br/page.php?pai=87&id=23>.Acesso em: 20 abr. 2011. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. A UFPI / Pró-Reitorias / Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários – PRAEC. Teresina, 2010. Disponível em:< http://www.ufpi.br/page.php?pai=3&id=6>. Acesso em: 20 abr. 2011.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. Decreto nº 72.140, de 26 de abril de 1973. Dispõe sobre o da Universidade Federal do Piauí. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr. 1973.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. Resolução nº 45/ 1999, de 16 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o Regimento Geral da Universidade Federal do Piauí. Adaptação à LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), Teresina, 1999.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. Relatório de Gestão – 2004/ 2008. Teresina, 72 p.

VIEIRA, Jaudimar. In: GUIMARÃES, Mariana; NOGUEIRA, Larissa. Informativo Praec. Teresina: 2010, p. 02.

OS IDOSOS NA AGENDA DAS POLÍTICAS DE PROTECÃO SOCIAL NO

BRASIL

Maria do Rosário de Fátima e Silva10

RESUMO

Os idosos têm se constituído grupo de pressão tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. No Brasil, o crescimento acelerado da população idosa tem nas últimas décadas redimensionado a agenda pública estatal. Um marco legal importante é a Constituição vigente que reconhece o dever da família, da sociedade e do Estado em amparar as pessoas idosas, assegurando-lhes proteção social enquanto direito de cidadania. O artigo constitui síntese de pesquisa sobre o Sistema de Proteção Social Brasileiro e as Necessidades da População Idosa, realizada no Estágio de Pós-doutoramento na PUC-SP, privilegiando como metodologia a pesquisa bibliográfica e documental.

PALAVRAS – CHAVE: Idosos, proteção social, agenda pública, direitos

ABSTRACT The elderly are an articulation group in developed countries and in developing countries. The rapid increase in the elderly population have resized the state public agenda in recent decades. The current Constitution that recognizes the role of the family, society and the State to assist the elderly is an important legal framework . This constitution ensures social protection as a right of citizenship. The article summarizes research on the Brazilian Social Protection System and the demands of the elderly population, completed the Post -doctoral internship at PUC-SP. It was used as methodology the bibliographical and documentary research.

KEYWORDS: Elderly , social protection, public agenda , rights

10

Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

A longevidade conquistada no final do século XX e que se afirma com

os avanços da ciência e da tecnologia no século XXI, traz embutida em sua

proposição o desafio da execução de políticas públicas que assegurem qualidade de

vida ao segmento social idoso. Este contingente populacional tem pressionado

quantitativamente a densidade demográfica nos países desenvolvidos e em

desenvolvimento como o Brasil, sobretudo nas três últimas décadas, exigindo um novo

direcionamento da agenda pública estatal no sentido de reconhecer suas

especificidades e atender as suas necessidades.

As reflexões que compõem este artigo fazem parte de uma pesquisa mais

ampla sobre o Sistema de Proteção Social Brasileiro e Português e as Necessidades

da População Idosa, realizada durante o Estágio de Pós – Doutoramento em Serviço

Social no Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social na Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A referida pesquisa teve por objetivo

analisar o processo de constituição e concretização desses sistemas de proteção

social, destacando as ações destinadas ao atendimento das necessidades dos idosos,

buscando identificar as peculiaridades de cada realidade no trato social com as

questões que cercam o processo de envelhecimento populacional. No tocante á

realidade brasileira objeto de reflexão do presente artigo, priorizamos a interpretação

da agenda pública governamental para identificar o nível de investimento em medidas

concretas das diretrizes de políticas públicas que se destinam a assegurar proteção

social aos idosos.

No Brasil a constituição do sistema de proteção social envolveu dois

grandes marcos históricos: o primeiro período pós 1930, quando se reconhece direitos

sociais na área trabalhista e previdenciária e o segundo marco, pós Constituição de

1988, quando se amplia o padrão de proteção social com a incorporação da

perspectiva da seguridade social, cujo tripé compreende as ações na área das

politicas de saúde, assistência social e previdência.

O estudo em questão privilegiou como metodologia de análise a pesquisa

bibliográfica e documental. Na pesquisa bibliográfica realizada a partir da

sistematização de produções teóricas sobre a constituição e concretização do sistema

de proteção social no Brasil, buscou-se a apreensão da proposta nos aspectos gerais

e nas suas peculiaridades referentes ao atendimento das necessidades da população

idosa. A pesquisa documental procurou interpretar a agenda pública estatal

buscando localizar as diretrizes direcionadas ao atendimento das demandas dos

idosos. Para tanto, foram realizados levantamentos nos planos, políticas e programas

governamentais concebidos e implementados no período de meados dos anos 90 aos

dias atuais, buscando-se averiguar a coerência entre os mecanismos legais e as

ações efetivamente implementadas.

2. O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A AGENDA PÚBLICA NA REALIDADE

BRASILEIRA.

Um Olhar sobre a realidade brasileira quando já se completou a

primeira década do século XXI, vai encontrar a presença massiva dos idosos. Entre

2000 e 2010, de acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia

Estatística - IBGE, a população idosa passou de 14,5 para 20,6 milhões de pessoas.

“Em 2011 a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD estimou as pessoas

idosas em cerca de 23 milhões, representando quase 12% da população total.

Segundo estimativas do IBGE, a população idosa em 2030, deve ultrapassar a marca

de 30 milhões”. (BRASIL, PPA 2012-2015, 2013, p.69). Esta realidade inquestionável

indica a necessidade do redirecionamento da agenda pública governamental de modo

a acomodar a atenção prioritária às ações destinadas aos idosos e às crianças

enquanto faixas etárias que se localizam nos pontos extremos da trajetória de vida do

ser humano. Mais do que redimensionar a agenda pública as necessidades dos idosos

enquanto sujeitos de direitos exige da sociedade brasileira a ressignificação da velhice

no cotidiano da existência humana. Trata-se de reconhecer o lugar social a ser

assegurado àqueles que acumularam sabedoria e experiência ao longo da sua

trajetória de vida.

O novo significado social atribuído à velhice inaugura um novo

posicionamento na sociedade local contrariando uma tradição que sempre cultuou

com veemência o padrão da juventude como se fosse uma fase permanente na vida.

Esta tradição revela que a sociedade brasileira não aprendeu a cultivar e a valorizar a

sabedoria dos mais velhos, afastando a pessoa idosa para fora da cena pública,

obrigando-a a recolher-se aos seus aposentos, contribuindo dessa maneira para

reforçar o estigma da inutilidade da sua condição.

É muito recente na sociedade brasileira a preocupação com o processo

do envelhecimento da população. As necessidades e limitações apresentadas pelos

idosos antes destinadas à caridade das instituições religiosas e filantrópicas, começa a

figurar na agenda pública governamental como prioridade somente no ano de 1988,

com o advento da nova Constituição. Como desdobramentos das prerrogativas postas

pelo texto constitucional identificamos nos anos 90 e anos 2000, a adoção de algumas

medidas de políticas públicas, por parte do Estado no sentido de garantir proteção

social como direito de cidadania principalmente àqueles idosos que não detinham os

meios de se auto sustentar e nem a sua família. Essa preocupação pública com o

processo do envelhecimento foi forçada em grande parte pela organização dos idosos,

realçando-se nessa linha o protagonismo do movimento social dos trabalhadores

aposentados na luta pela garantia de direitos conquistados pela dedicação a uma

longa jornada laboral.

O movimento dos aposentados posicionou na cena pública dos anos 80

no Brasil os idosos como um novo sujeito político que reivindicava direitos a uma

velhice com dignidade. A legitimidade desta luta foi reconhecida pela Constituição de

1988 no capítulo VII da Ordem Social, Art. 30, que reconhece o dever da família, da

sociedade e do Estado de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação

na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar social e garantindo-lhes o

direito à vida (BRASIL, 1988)

2.1. O idoso como eixo de preocupação das políticas públicas no Brasil:

O ser humano longevo se põe na sociedade contemporânea como uma

conquista da humanidade conforme já mencionamos na introdução destas reflexões.

No entanto garantir qualidade de vida aos anos adicionados á existência por esta

conquista da civilização humana se coloca como exigência dos novos tempos. No

Brasil apesar dos marcos legais que estabelecem diretrizes relacionadas ao

atendimento das necessidades da população idosa ainda estamos vivenciando a

perspectiva da concretização desses direitos, ressaltando-se o direito a envelhecer

com dignidade e com qualidade de vida a ser assegurado pela efetivação de políticas

públicas sob a responsabilidade do Estado.

A efetivação desses direitos põe desafios a serem enfrentados pelo

Estado na composição de sua agenda pública cuja materialização ocorre no âmbito

das ações governamentais. Esta agenda conforme Berzins (2003), deverá incorporar

entre outras diretrizes: a execução de políticas e programas que garantam o

envelhecimento digno e sustentável; a execução de políticas que promovam o

envelhecimento ativo, propiciando qualidade aos anos adicionados á vida; a

implementação de políticas e programas que promovam uma sociedade inclusiva e

coesa para todas as faixas-etárias. .

A conformação desta agenda pública subtende o reconhecimento de

direitos á vida, à dignidade e à longevidade como direitos de cidadania e dever do

Estado. Do lado do Estado nesta ótica de responsabilização e recorrendo à

contribuição de Demo (1996), é fundamental definir o papel do Estado como espaço

estratégico de equalização de oportunidades e como agente de assistências e

serviços públicos. Em termos de política social como ação mediadora do Estado é

fundamental na perspectiva do autor, o enfrentamento de dois desafios: a defesa do

lugar do Estado como serviço público necessário e estrategicamente equalizador de

oportunidades e a defesa do controle democrático popular sobre as suas ações por

meio da cidadania organizada.

A perspectiva do envelhecimento encarada como vitória da

humanidade e não enquanto problema recupera o papel do Estado como espaço

estratégico e equalizador de oportunidades de reinserção social da pessoa idosa como

sujeito de direitos e como eixo de preocupação das políticas públicas. Estas políticas

são materializadas através de programas e projetos que buscam estabelecer novos

papéis sociais aos idosos, estimulando a sua independência e autonomia na vida

social. Neste aspecto ainda segundo Berzins (2003), com o aumento da longevidade

há a necessidade da adoção de políticas públicas que habilitem o idoso e reforcem a

sua presença e o seu lugar na sociedade.

Como síntese das garantias constitucionais no campo das políticas

públicas dirigidas ao segmento social idoso no Brasil, foi promulgada em 1994, a

Política Nacional do Idoso - PNI, através da Lei nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994,

tendo por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para

promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Antes da

promulgação da PNI, em 1993 a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, Lei nº

8.742, já reconhecia a pessoa idosa com um dos seus segmentos de atenção

prioritária. No ano 2003 foi criado pelo governo brasileiro o Estatuto do Idoso, Lei nº

10.741, de 1º de outubro de 2003, destinado a regular os direitos assegurados às

pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.

Em 2004 a área da assistência social ganhou o estatuto de política

pública quando foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social, através de

Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2004, do Conselho Nacional de Assistência

Social e incorporada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á fome –

MDS, com o objetivo de prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção

social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles

necessitarem.

Outra prerrogativa legal de reconhecimento de direitos aos idosos ocorreu

em 19 de outubro de 2006, quando foi assinada pelo Ministério da Saúde, a Portaria nº

2.528, que aprovou a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, regulamentando

uma iniciativa anterior do mesmo ministério, datada de 1999, cuja portaria nº 1.395,

estabelecia a necessidade de uma política de saúde direcionada aos idosos no país.

Essas políticas públicas fazem parte das medidas de proteção social destinadas ao

segmento populacional idoso no país.

A luta pela garantia dos direitos previstos tanto na PNI quanto no

Estatuto do Idoso tem despertado a população idosa no Brasil, especialmente aqueles

que experimentam alguma forma de engajamento social, a vontade de participar

politicamente do processo decisório das questões que lhes dizem respeito. Neste

sentido os idosos têm buscado participar dos canais democráticos já conquistados a

exemplo dos conselhos, conferências e fóruns de debates onde a defesa dos seus

direitos esteja incluída como pauta.

A Política Nacional do Idoso (PNI) com desdobramentos em níveis,

estadual e municipal e o Estatuto do Idoso são legislações sociais regulamentadas

pelo Estado brasileiro e que orientam as ações a serem implementadas pelo poder

público no atendimento dos direitos da pessoa idosa em cada instância federativa,

observando-se a intersetorialidade destas ações com as demais políticas sociais,

objetivando atenção prioritária às necessidades desse segmento social. A PNI

estabelece entre outras diretrizes, a viabilização de formas alternativas de

participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração ás

demais gerações (BRASIL, 2010). O Estatuto do Idoso por sua vez ao regulamentar

esta política reconhece no seu Artigo 2º, que o idoso goza de todos os direitos

fundamentais inerentes á pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que

trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades

e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento

moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (BRASIL,

2003)

2.2. O idoso enquanto sujeito político de direitos:

Outro aspecto importante a ser considerado na trajetória de construção da

cidadania da pessoa idosa se refere à sua participação política nos espaços de

controle democrático das ações do Estado. Registra-se como exemplo os Conselhos

de Direitos dos Idosos criados no Brasil em âmbito federal, estadual e municipal, como

instâncias de controle social das ações governamentais no campo da formulação,

implementação e execução de políticas públicas destinadas ás pessoas idosas. Estes

conselhos foram propostos pelo texto constitucional vigente no Brasil, como espaço de

participação da sociedade civil no controle da gestão pública.

Os Conselhos de Direitos dos Idosos têm como atribuição a fiscalização e

o controle social das ações de governo relacionadas á operacionalização da política

pública voltada para o atendimento dos direitos da pessoa idosa, como também

influenciar no processo de formulação dessa política, participando do debate no

espaço dos fóruns e conferências específicas convocadas e realizadas periodicamente

em âmbito federal, estadual e municipal. Este avanço democrático da Constituição

contribuiu para restabelecer a relação entre Estado e sociedade na concretização do

interesse público. Está claramente evidenciado na Constituição, especificamente no

capítulo destinado às políticas de seguridade social que compõem o tripé: saúde,

assistência social e previdência, que a gestão destas políticas se fará assegurando-se

a primazia da condução do Estado com a participação da sociedade. Nos conselhos e

nas conferências a participação dos idosos tem contribuído para fortalecer a sua

consciência crítica e o seu protagonismo social enquanto sujeito político.

As três áreas integrantes da seguridade social brasileira se encontram

permeadas pelas necessidades dos idosos enquanto sujeito social que transita pelas

três políticas sociais conformando direitos. Na saúde lhes é assegurado a prevalência

do atendimento fundamentado no princípio do direito universal; na assistência social é

assegurada a proteção social básica e especial através de ações que objetivam

assegurar provisão de suas condições de vida e garantir a sua defesa em situações

de violação de direitos; na previdência social lhes é assegurado o benefício social

diante de uma jornada laboral completada, ou um benefício de prestação continuada

àqueles que não tenham condições de se auto sustentar e nem a sua família.

3. CONCLUSÃO

A análise das informações sistematizadas pela pesquisa revelou de um

lado um cenário que apresenta um panorama de conquista e reconhecimento de

direitos aos idosos brasileiros e de outro, a expectativa da sua efetivação. Neste

sentido põe-se a perspectiva da emancipação da pessoa idosa como sujeito político

com capacidade de interferir nas decisões que lhes dizem respeito, contribuindo para

qualificar e fortalecer a sua participação cidadã. Esta perspectiva supõe a

compreensão das determinações políticas, sociais e culturais que cercam o processo

do envelhecimento, entendendo a velhice enquanto construção social e histórica

revestida do caráter da heterogeneidade.

Num país continental como o Brasil, atravessado por profundas

desigualdades sociais registra-se diferentes e heterogêneas formas de envelhecer.

Estão presentes neste processo os aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos

no tocante ao acesso de bens e serviços sociais disponibilizados, revelando situação

de exclusão de grande parcela dos idosos dos bens essenciais à existência humana.

A correção dessas defasagens de natureza social implica o reposicionamento dos

idosos no seu lugar social no tempo presente, superando preconceitos e estigmas e

questionando os padrões utilitários da sociedade capitalista que ressalta a inutilidade

dos idosos para uma sociedade assentada na produtividade material. Trata-se de

buscar redirecionar a agenda pública e pautá-la em uma nova lógica regida pela

eqüidade e pela justiça social, fundamentada em princípios éticos que ressaltem a

prevalência do ser humano no processo de desenvolvimento de uma nação, de um

Estado e de uma municipalidade. O sistema de proteção social para além da

prevenção e proteção dos riscos sociais precisa garantir permanentemente o bem

estar social dos cidadãos independente de sua faixa etária e condição social.

4. REFERÊNCIAS

1. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Cap. VII. Título da

Ordem Social, Art.30, Brasília, 1988.

2. BRASIL, Política Nacional do Idoso. Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome - MDS. Brasília, 2010.

3. BRASIL, Estatuto do Idoso. Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome – MDS. Brasília, 2003.

4. BRASIL, Plano Mais Brasil PPA 2012-2015; agendas transversais –

monitoramento participativo: pessoa idosa, ano base 2012. Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão/SPI. Brasília, 2013.

5. BERZINS, M. A. V. da S. Envelhecimento populacional; uma conquista para

ser celebrada. In: Serviço Social e Sociedade. (75), p. 19-34. São Paulo: Cortez,

2003.

6. DEMO, P. A questão do Estado. In P. Demo. Política social, educação e

cidadania. (2), (43-54). Campinas: Papirus, 1996.

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SERVIÇO SOCIAL SOBRE O USO DE

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO SOCIAL EM BUSCA DA PROTEÇÃO ÀS FAMÍLIAS,

EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE, INSERIDAS EM PROGRAMAS DE

TRANSFERÊNCIA DE RENDA.

Ana Rojas Acosta11

RESUMO:

Este trabalho apresenta parte do levantamento da produção do

conhecimento na área de Serviço Social, especificamente

sobre aquelas famílias em situação de vulnerabilidade e

inseridas em programas de transferência de renda, onde se

faz uso de sistemas de informação social na busca pela

proteção social. Analisa a produção do conhecimento, a partir

dos trabalhos apresentados nos Encontros Nacionais de

Pesquisadores em Serviço Social - ENPESS desde sua IX

edição, em 2004 à última, XIV, realizada em 2014, com vistas

que a formulação, implementação, execução e avaliação de

políticas e programas sociais sejam pautados na

instrumentalização do Assistente Social.

Palavras chave: Sistemas de informação, gestão social,

produção do conhecimento, instrumentos.

ABSTRACT

This paper presents part of the survey of knowledge production in the area of Social Work, specifically on those families in vulnerability situations and inserted into income transfer programs, where social information systems are used in the quest for social protection. It analyzes the knowledge production from papers presented at the National Meeting of Researchers in Social Work - ENPESS, since its IX edition in 2004 until its last one, XIV, held in 2014, in order that the formulation, implementation, execution and evaluation of the social programs and policies were guided at the instrumentalization of the social worker.

Keywords: information systems, social management, knowledge production, tools.

11

Doutora.Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Campus Baixada Santista. E-mail: [email protected].

INTRODUÇÃO

Este estudo tem por objetivo analisar a produção acadêmica em Serviço

Social, publicada nos ENPESS dos anos de 2004 a 2014, tendo como horizonte os

avanços e perspectivas assumidas pelo Serviço Social na sua intervenção profissional

a partir do uso de sistemas de informação de gestão social, principalmente no que se

refere à proteção às famílias em situação de vulnerabilidade, inseridas em programas

de transferência de renda.

Esta pesquisa, em nível de pós-doutoramento, vem se realizando, desde

julho de 2014, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - sob a supervisão das

Professoras Doutoras Myrian Veras Baptista e Maria Carmelita Yazbek,

Os aspectos analisados em cada produção - além do número de autores

por trabalho apresentado, as instituições a que pertencem e seus Estados de origem –

a proporção e profundidade dos trabalhos teóricos/empíricos apresentados, em relação

a outras temáticas; a especificidade do objeto pesquisa no contexto do tema básico; a

metodologia de pesquisa desenvolvida; e, os resultados alcançados.

Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo e quantitativo de natureza

documental, cujos insumos básicos foram os trabalhos produzidos nos referidos

encontros. Segundo o Minayo (2008) a pesquisa qualitativa responde a questões muito

particulares. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das

aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos

humanos se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar

suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.

Realizamos leitura das principais categorias teóricas e empíricas

identificadas nos respectivos trabalhos produzidos ao longo do período de 2004 a

2014, nas quais o uso de sistemas de informação de gestão social no Serviço Social

foi apresentado, isto para aproximarmos às inferências e/ou sua relação com a

instrumentalidade, particularmente, a informacional.

Nesse sentido, buscando atender aos objetivos propostos realizamos

levantamento de toda a produção relacionada ao tema da pesquisa, publicada em cada

evento - ou seja, aqueles que abordaram assuntos que dizem respeito diretamente aos

sistemas de informação e a sua utilização em Programas de Transferência de Renda

com vistas à proteção social,

Esse levantamento geral da produção existente nos arquivos do ENPESS,

nessa década, teve por finalidade estabelecer uma configuração geral dos trabalhos

que tratam diretamente dos sistemas informacionais e da proteção social nos

Programas de Transferência de Renda - PTR, seus objetivos de pesquisa e suas

experiências. Com a realização desse levantamento buscamos indicar aspectos quali-

quantitativos da produção levantada, destacando-se, entre outros aspectos, os acima

indicados.

A partir do mapeamento produzido, estabelecemos uma configuração geral

da produção nas seis edições, seguida de leitura analítica dos trabalhos, buscando

entender o tema, o objeto de estudo, a metodologia, as propostas, os objetivos e os

resultados alcançados.

Nesse sentido, entendemos que esta atividade foi a mais intensa na

produção desta pesquisa, pois para melhor nos organizar, estabelecemos eixos

sínteses analíticos sobre a instrumentalidade no exercício da intervenção profissional

do Assistente Social, fundamentais para a análise e sistematização geral do

conhecimento produzido nesses Encontros.

O ponto de partida para a atualização da discussão sobre do tema objeto

desta pesquisa foi a revisão bibliográfica, considerada como marco referencial

prioritário. Procuramos autores que estudem e discutam a instrumentalidade, na sua

especificidade de sistemas de informação de gestão e proteção social e as tendências

modernas que contemplem a utilização de novos instrumentos do fazer-profissional.

Dado ao fato de termos por referência o número de produção do serviço

social nessa área, tendo em conta sua apresentação nos Encontros, a pesquisa foi de

caráter universal, ou seja, foram analisados todos os trabalhos apresentados e

relacionados ao objeto desta pesquisa, mas que, a modo de exemplo dessa primeira

aproximação apresentamos neste trabalho, a análise de uma edição, isto é, da edição

realizada em 2004.

2. DESENVOLVIMENTO

A opção pela análise de uma década da produção do conhecimento, isto é

de 2004 a 2014, deve-se ao fato que em 2004 foi aprovado a Política Nacional de

Assistência Social – PNAS onde a categoria profissional do Serviço Social tem uma

participação muito atuante, desde sua formulação, implantação e implementação ao

largo desse período.

Nesse sentido, os órgãos da categoria profissional do Serviço Social,

através de suas escolas de formação profissional, organizadas na sua Associação

Brasileira de Ensino e Pesquisa – ABEPSS e seu Conselho Federal de Serviço Social

– CFESS, que orienta, disciplina, normatiza, fiscaliza e defende o exercício profissional

do/a assistente social no Brasil, em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço

Social (Cress) vem realizando permanente, entre os membros da categoria, diversos

encontros, seminários, fóruns e congressos a fim de debater questões que afetam a

sociedade brasileira.

Portanto, para fins deste estudo e, no âmbito referido acima, foram

identificados dez encontros realizados dentre os pesquisadores que se observam a

seguir:

Quadro I. Encontros de Pesquisadores

Encontros Titulo Estado/Local Período

IX

Encontro

Os desafios da Construção do Conhecimento

em Serviço Social

Porto Alegre/ Rio

Grande do Sul

30 de novembro a 02 de

dezembro de 2004.

X Encontro Crise Contemporânea: Emancipação Política e

Emancipação Humana: Questões e desafios do

Serviço Social no Brasil.

Recife/Pernambuco 04 ao 08 de dezembro

de 2006

XI

Encontro

Trabalho, Políticas Sociais e Projeto Ético-Político

Profissional do Serviço Social: Resistência e

Desafio

São Luis/ Maranhão 01 a 06 de dezembro de

2008

XII

Encontro

Trabalho Crise do Capital e Produção do

Conhecimento na Realidade Brasileira: pesquisa

para quê, para quem e como?

Rio de Janeiro 6 a 10 de dezembro de

2010

XIII

Encontro

Serviço Social, acumulação capitalista e lutas

sociais: o desenvolvimento em questão

Juiz de Fora / Minas

Gerais

5 a 9 de novembro de

2012

XIV

Encontro

Lutas Sociais e Produção de Conhecimento:

Desafios para o Serviço Social no Contexto de

Crise do Capital

Natal / Rio Grande

do Norte

30 de novembro a 04 de

dezembro de 2014

Fonte: Elaboração própria baseada em Anais de ENPESS, Fevereiro 2014.

Do quadro acima o que se destaca é que a construção/produção do

conhecimento tem sido pauta constante nos encontros, o que referenda a necessidade

de identificar qual o uso, e qual instrumentalidade cotidiana no fazer profissional do

assistente social para atender as demandas do cotidiano. Dos seis encontros, objeto

desta análise, três expressam sua necessidade de debate diante da categoria

construção/produção do conhecimento.

O modo ilustrado, neste trabalho, segue uma primeira aproximação de

análise do IX Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, intitulado “Os

desafios da Construção do Conhecimento em Serviço Social” e realizado na

Pontifícia Universidade Católica de Rio Grande do Sul, cidade de Porto Alegre, de 30

de novembro e 02 de dezembro de 2004.

Em concordância com o afirmado, na abertura deste evento, pode-se aferir

que a produção do conhecimento na área, intensificou-se a partir de 1970, desde sua

imbricação com os primeiros cursos de Pós-graduação e, pela reforma universitária

que incorporou o Serviço Social à universidade brasileira.

Desse modo, a produção do conhecimento, segundo os organizadores do

evento foi que:

“Ainda que prioritariamente alicerçada na pós-graduação com núcleos de pesquisa consolidados, constata-se, hoje, a efetiva presença da investigação no ensino de graduação. As diretrizes curriculares reconhecem a investigação como elemento constitutivo – e não apenas complementar – tanto da formação, quanto do exercício profissional. A pesquisa de situações concretas, aliadas às suas determinações macro-sociais, é condição necessária tanto para superar a defasagem entre o discurso genérico sobre a realidade social e os fenômenos singulares com os quais o assistente social se defronta no seu cotidiano, quanto para desvelar as possibilidades de ação contidas na realidade”. (Apresentação do evento, anais).

Nesse, sentido, pode-se aferir que a organização deste encontro expressa

sua tendência política critica ao definir dentre seus interesses de discussão em eixos

tais como:

I) Formação profissional onde aborda temáticas como a) Fundamentos do

Serviço Social que trata história, teoria e método; ética em Serviço Social;

Serviço Social, Trabalho e Reprodução Social. Serviço Social, Direitos e

Cidadania, Serviço Social e Questão Social; b) Formação Profissional –

Estado da Arte: Implantação e implementação das diretrizes curriculares

(currículo, disciplinas, estágio, supervisão, diretrizes, conteúdos

curriculares); Pesquisa e Produção do conhecimento; Supervisão e Estágio

supervisionado; Implantação e implementação da Pós-Graduação;

II) Articulação entre Formação e Exercício Profissional onde tratam de a)

Serviço Social, Política Social, Estado e Sociedade: Estado e

Sociedade; Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência); Política

Social – Trabalho, Educação, Habitação, Meio Ambiente, Segurança

Alimentar, Questão rural-urbana, Drogas e Dependência Química,

Segurança Pública; Política Social – Criança e Adolescente, Pessoas

Portadoras de Deficiência, Idoso, etnia e gênero; Família e sistemas de

proteção social; Movimentos Sociais, Organizações da sociedade civil e

Cidadania;;Violência e cidadania; Planejamento e Avaliação de Política;

Espaços sócio-ocupacionais;

b) Intervenção profissional - Fundamentos Éticos-Políticos, Teórico-

Metodológicos e Instrumental Técnico-Operativo; Gestão e avaliação

de programas, projetos e serviços sociais (assessoria, consultoria, gestão

de recursos humanos, gestão orçamentária, gestão de serviços); Processos

políticos-organizativos da sociedade civil (consultoria e assessoria a

organizações sociedade civil, mobilização e articulação comunitária);

Exercício profissional e pesquisa; e

III) Educação Continuada: Implementação de programas de educação

continuada; Sistemas inovadores de educação continuada; Perfil de

demanda na área de Serviço Social para Educação Continuada.

Os 546 trabalhos apresentados neste encontro foram distribuídos em eixos

que se seguem no

Gráfico nº 1 - Trabalhos por eixos

48

59

228

125

0 50 100 150 200 250

EIXO 1 – FUNDAMENTOS DO

SERVIÇO SOCIAL

EIXO 2 – FORMAÇÃO

PROFISSIONAL E O

PROCESSO INTERVENTIVO DO

SERVIÇO SOCIAL

EIXO 3 – QUESTÃO SOCIAL E

TRABALHO

EIXO 4 –POLÍTICA SOCIAL

Notadamente o eixo que trata da questão social é a de maior demanda,

haja vista a diversidade de assuntos abordados nela, tais como: trabalho e classes

sociais, práticas sociais, instituições sociais, lutas sociais e organizações, questão

agrária, questão urbana e sócio-ambiental, questões étnico-raciais, de gênero e de

geração, controle social e participação social e estado, direitos e democracia.

Com o propósito de responder ao objetivo deste trabalho, realizamos busca

pelas palavras chaves tais como sistemas de informação, onde não identificamos

trabalho algum.

Buscamos com a palavra gestão social e identificamos dois unicamente

dos trabalhos no eixo 4 de política social intitulados Gestão Social pública e Gestão

Social Contemporânea: uma questão central na análise das políticas sociais

brasileiras.

Já a palavra Serviço Social foi identificado em 28 trabalhos, destes catorze

foram no sub-eixo de Fundamentos teóricos-metodológicos do Serviço Social, quatro

trabalhos no sub-eixo de Pesquisa em Serviço Social, sete no sub-eixo Projeto Ético-

Político do Serviço Social e três no sub-eixo de Ética e Serviço Social.

Proteção social teve a apresentação da produção de quatro trabalhos,

identificados três no sub-eixos de Seguridade e Políticas setoriais procedentes do

Estado de Rio de Janeiro e um no sub-eixo Planejamento e gestão de políticas,

programas e projetos sociais, oriundo da Parnaíba.

A família ou famílias foram abordadas em 4 trabalhos do total dos

apresentados neste Encontro, sendo que foram identificados no Eixo 3: Questão

Social e Trabalho, distribuídos dos no sub-eixo: Estado, Direito e Democracia, um no

sub-eixo Questões étnico-raciais, de gênero e de geração e um no sub-eixo de

Práticas sociais, instituições sociais, lutas sociais e organizações. A procedência dos

dois primeiros foi de Alagoas e Piauí, seguidos de Rio Grande do Sul e São Paulo

respectivamente.

A palavra vulnerabilidade se apresentou nos eixos dois e três deste

evento, com dois trabalhos em ambos os eixos.

No eixo dois encontramos os trabalhos intitulados Vulnerabilidade e

Violência: aproximações de análise e Exclusão, Vulnerabilidade Social e Redes de

Inclusão e no eixo três os trabalhos trataram de Aids: conhecimentos e vulnerabilidade

entre mulheres idosas de Campina Grande-PB e Vulnerabilidade Juvenil à Violência: o

caso da cidade de Vitória-ES.

No gráfico a seguir aprecia-se a totalidade dos trabalhos identificados foram

quarenta distribuídos da forma que se apresenta a seguir\;

Gráfico nº 2 Produção por categorias x objeto de estudo

Produção por categorias x objeto de estudo

Gestão Social

70% (28)

Proteção Social

10% (4)

Familias

10% (4)

Vulnerabilidade

10% (4)

Sistemas de

Informação0%

Sistemas de

Informação

Gestão Social

Proteção Social

Familias

Vulnerabilidade

Notadamente a palavra sistemas de informação não aparece nenhum

trabalho identificado, o que denota que a categoria profissional no produzia

conhecimento sobre esta ferramenta que muito poderia contribuir para a execução de

seus afazeres profissionais cotidianamente.

Portanto, realizamos busca com outras palavras aproximadas ao objeto de

estudo tal como tecnologia(s). No eixo 1, sub eixo Projeto ético-político do Serviço

Social o trabalho intitulado: O Potencial da Tecnologia da Informação para o

Fortalecimento do Projeto Ético-Político Profissional procedente do estado do Rio de

Janeiro. Porém a completude deste trabalho não foi identificada anexa aos anais do

evento.

No eixo dois houve a identificação de um trabalho intitulado Impactos das

Tecnologias de Informação no Serviço Social, também do Rio de Janeiro, porém ao

fazer a busca da completude do trabalho o encontramos com o seguinte titulo

Inovações Tecnológicas, Revolução Informacional e Processos de Metamorfoses nos

Serviços Da Light-Rio.

Foram encontrados dois trabalhos no eixo 4, sub-eixo Planejamento e

gestão de políticas, programas e projetos sociais intitulados Avaliação de Políticas

Sociais: proposta de indicadores em tecnologias sociais, oriundo da Bahia e Inserção

das Tecnologias na Política Pública de Educação no Município de Aracaju-SE que não

se identificou anexo aos anais deste Encontro.

Do exposto pode se afirmar que o acesso a completude dos trabalhos é

dificultado, seja por alteração do nome da produção, seja pela não apresentação do

trabalho para a disseminação nos anais correspondentes. Razão pela qual a leitura do

conteúdo destas pode-ser exclusivamente de dois dos quatro trabalhos com esta

palavra de tecnologias. Isto é os trabalhos Inovações Tecnológicas, Revolução

Informacional e Processos de Metamorfoses nos Serviços Da Light-Rio, do Rio de

Janeiro e Avaliação de Políticas Sociais: proposta de indicadores em tecnologias

sociais da Bahia.

Cabe ainda mencionar que na busca por esta palavra identificamos o nome

de uma mesa redonda intitulada: Revolução informacional e metamorfoses urbanas,

cuja procedência da proposta foi da UNB, onde foi apresentada a comunicação

intitulada Revolução Informacional, Condições Gerais de Produção Capitalista e

Contradições Urbanas da UFRJ que vincula a temática objeto desta pesquisa.

3. CONCLUSÃO

Da análise preliminar do primeiro encontro apresentado, objeto desta

pesquisa, pode-se aferir que, no período analisado a categoria profissional ainda

estava em fase de aproximação aos sistemas de informação baseados na informática.

A instrumentalidade do profissional do Serviço Social e das outras

categorias profissionais, responsáveis pela implantação da PNAS, demandavam, de

capacitação para sua implementação a fim de conta do tamanho do desafio dos novos

programas sociais nessa fase da política nacional protetiva.

A produção do conhecimento, ainda que incipiente, na categoria

profissional fez com que se criaram grupos de estudos nas universidades referência

de educação continuada e que parecerias com as instituições de ensino se tornassem

necessárias.

Compreendemos que no mundo globalizado, onde as informações são

transmitidas das mais diversas formas, principalmente, lançando mão do cbyespacio,

é necessário que o serviço social se aproprie e usufruía corretamente destas

ferramentas para ir criando e construindo espaços a novas estratégias e

instrumentais que qualifiquem a intervenção, no campo das políticas públicas.

Na década dos 80, quando do inicio da revolução informacional nos

países em desenvolvimento, na área das ciências sociais autores como Jean

Lojkine12 afirmavam que as novas tecnologias traziam e/ou colocavam em risco o

monopólio do pensamento, quer dizer, uma das características da divisão do trabalho

e, indagavam se era possível uma recomposição de funções na divisão do trabalho,

entre os que decidem e os que executam. Isto é, que os sistemas devem se

adequar as demandas e necessidades de seus usuários e não o contrário.

Nas seguintes edições dos ENPESS verificamos novas formas de

estabelecimentos de vínculos entre instituições de ensino e o setor público na busca

pela formação acima mencionada. A completude deste estudo será oportunamente

socializada quando da sua finalização.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Diretrizes Gerais

para o Curso de Serviço Social. Brasília: ABEPSS, 2012. In: http://abepss.org.br.

Acesso em 23 de novembro de 2013.

BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CNAS). Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004 / Norma Operacional Básica – NOB SUAS. Brasília, Novembro de 2005. Disponível em <http://www.mds.gov.br/cnas/politica-e-nobs/pnas-2004-e-nobsuas_08-08-2011.pdf/download>. Acesso em: 06 mar. 2015. ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, Os desafios da

Construção do Conhecimento em Serviço Social”, PUCRS, Porto Alegre, 2004.

12

Sociólogo francês que discute a temática desde os anos 80.

IAMAMOTO, Marilda. O trabalho do assistente social frente às mudanças do

padrão de acumulação e de regulação social. In: Capacitação em Serviço Social e

Política Social. módulo 1. Brasília: UnB, CFESS, 1999. p. 111-128.

YAZBEK, M. C.; GIOVANNI, Geraldo Di; SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Política

Social Brasileira no século XXI: a prevalência dos Programas de Transferência de

Renda. 1. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2004. 223 p.