polÍticas pÚblicas, produÇÃo de conhecimento e serviÇo social. · a produÇÃo de conhecimento...
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POLÍTICAS PÚBLICAS, PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E SERVIÇO SOCIAL.
Simone de Jesus Guimarães1
Maria D’Alva Macedo Ferreira2
Maria do Rrosário de Fátima e Silva3
Ana Rojas Acosta4
RESUMO
Esta mesa reúne reflexões resultantes de pesquisas teóricas realizadas nos últimos três anos,
por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí-UFPI e Universidade Federal de São Paulo -
UNIFESP, acerca das políticas públicas na área da assistência social ao idoso, ao estudante universitário
e às famílias em geral, analisando o papel do Estado e o compromisso ético político do Serviço Social no
processo de formulação, implementação, execução e avaliação de políticas e programas sociais que
visam a garantia de direitos a esses segmentos sociais na realidade brasileira. As reflexões aqui
sintetizadas articulam o debate no campo da produção de conhecimento em Serviço Social de forma a
elucidar os diferentes desafios que têm enfrentado os profissionais de Serviço Social, seja no campo da
intervenção direta, seja no campo da produção de reflexões críticas que contribuam para reorientar o
fazer cotidiano profissional na perspectiva de poder mediar o processo de assegurar direitos sobretudo,
para as parcelas populacionais historicamente excluídas do acesso aos bens essenciais à existência
humana. Os trabalhos que servem de base para as discussões da presente mesa são produtos de
pesquisas vinculadas à atividade docente no espaço do ensino de Pós-Graduação stricto sensu nos
Estados do Piauí e em São Paulo e também são oriundos de estudos realizados nos estágios de Pós -
doutoramento na área básica de Serviço Social junto ao Programa de Estudos Pós-Graduados em
Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP. As análises que congregam o
debate em questão foram sistematizadas considerando como procedimentos metodológicos a pesquisa
qualitativa, bibliográfica e documental, iluminadas pelas matrizes teóricas do método histórico e dialético
que permitiu aos pesquisadores o diálogo crítico e permanente com as tensões e contradições que
cercam o processo de garantia e efetivação de direitos sociais na sociedade capitalista contemporânea.
Nesse contexto a presente mesa tem o objetivo de socializar resultados de estudos e pesquisas nas
áreas acima indicadas, compreendendo seus desdobramentos a partir dos eixos temáticos a serem
abordados pelos autores consignantes: o primeiro trabalho tratará da produção de conhecimento do
Serviço Social nos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais enfocando a relação Serviço Social e
Seguridade Social; o segundo abordará as necessidades sociais da população idosa e o sistema de
proteção social brasileiro; O terceiro discutirá a realidade dos jovens no ensino superior no país e a
política de assistência estudantil das IES públicas; o quarto e último autor tratará da produção do
conhecimento em Serviço Social sobre o uso de sistemas de informação social em busca da proteção às
famílias em situação de vulnerabilidade inseridas em Programas de Transferência de Renda
Palavras Chave: Políticas Públicas, Serviço Social, Assistência Social, Produção de Conhecimento.
1 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]
2 Doutora. Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail [email protected] 3 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected] 4 Doutora.Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Campus Baixada Santista. E-mail:
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NOS CONGRESSOS
BRASILEIROS DE ASSISTENTES SOCIAIS NA ÁREA DA SEGURIDADE SOCIAL E O
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL
Simone de Jesus Guimarães5
RESUMO
Analisar a produção de conhecimento do Serviço Social nos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais à luz do Projeto Ético-Político profissional (PEP) é objetivo deste trabalho. Suas ideias fazem parte de uma pesquisa de pós-doutoramento cujo objetivo é analisar os CBASs em sua relação com o PEP. Particularmente, apresentam-se os resultados do CBAS de 2010, tratando da produção que destaca a relação Serviço Social, Seguridade Social e Projeto Ético-Político. Aponta-se que a temática Seguridade Social é uma das principais abordadas, embora a relação entre essa temática e o Projeto Ético-Político Profissional não exerça o mesmo papel de destaque na produção analisada.
PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social. Produção de conhecimento. Projeto Ético-Político Profissional. Seguridade Social.
ABSTRACT
The objective of this work is to analyze the development of knowledge in the area of social work in the Brazilian Congress of Social Workers (CBASS) under the light of the professional Ethical-Political Project (PEP). The ideas here discussed are part of a post-doctoral research aimed at analyzing the CBASS in its relationship with the PEP. In particular, it is presented the 2010 CBAS results, dealing with the production that highlights the relationship between Social Work, Social Security and Ethical-Political Project. It points out that Social Security is a major theme addressed, although the relationship between this issue and the Professional Ethical-Political Project does not have the same prominent role in the measured production.
KEYWORD: Social Work. KnowledgeProduction. Ethical-Political
Professional Project. Social Security.
.
5 Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem a finalidade de apresentar os resultados da pesquisa “O
Projeto Ético-Político do Serviço Social e os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais -
CBASs: influências e perspectivas”, que se está desenvolvendo junto à Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, com o objetivo de analisar, numa perspectiva crítico-
dialética, a produção de conhecimento dos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais
(CBASs), realizada no período 2004 a 2010, no que concerne à relação Serviço Social e
Projeto Ético-Político profissional (PEP). Especialmente, apresentará os resultados da
pesquisa desenvolvida nos Anais do CBAS de 2010 mas, principalmente, no que diz
respeito à produção sobre Serviço Social, Seguridade Social e Projeto Ético-Político.
Parte-se do princípio de que o Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais é um canal
importante de transmissão, divulgação, debate e desenvolvimento de ideias, práticas,
valores e conhecimentos defendidos e propagados pelo Projeto Ético-Político profissional;
projeto, esse, que vem se constituindo na autoimagem de um Serviço Social identificado
com as ideias que se originam no Movimento de Reconceituação do Serviço Social dos
anos de 1960, percorre os caminhos da “Intenção de Ruptura” (NETTO, 1991) e conquista
hegemonia, a partir dos anos de 1990; caminho que denominamos de Serviço Social crítico.
Serviço Social, cuja síntese, representativa, espelha-se: no Código de Ética, na Lei de
Regulamentação da Profissão e nas Diretrizes Curriculares (dos anos de 1990); na
produção e divulgação de conhecimento, da área, identificadas com o pensamento crítico
das Ciências Humanas e Sociais (principalmente o pensamento da tradição de Marx e dos
marxistas); nos movimentos e lutas dos profissionais; na condução dos rumos das entidades
da categoria (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS -,
Conselho Federal de Serviço Social – CFESS - e Executiva Nacional de Estudantes de
Serviço Social – ENESSO).
Nesse contexto, a produção de conhecimento apresentada e divulgada nos CBASs,
expressa, de algum modo, os significados, rumos e direções assumidas pelo PEP, também
denominado, aqui, de crítico, já que, no interior da profissão, convivem outros projetos
profissionais, que defendem rumos diversos ao Serviço Social no país. Essa produção,
ainda, revela os avanços limites, possibilidades e desafios, internos e externos, que são
postos àquele projeto profissional em sua trajetória na realidade profissional e social.
Face o exposto, este trabalho, inicialmente, mostrará os significados do Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais para essa categoria profissional; depois, estabelecerá uma
configuração geral da produção do CBAS de 2010; especialmente, discutirá a produção que
tem o Serviço Social e a Seguridade Social como eixo norteador de suas pesquisas e
experiências. No final, buscar-se-á estabelecer uma relação entre Serviço Social,
Seguridade Social e Projeto Ético-Político, revelando os significados e rumos da profissão e
desse Projeto profissional ao discutir a temática Seguridade.
2. DESENVOLVIMENTO
O Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) é o maior evento da profissão de
Serviço Social, pois reúne milhares de Assistentes Sociais, de norte a sul do Brasil, de
diferentes regiões, experiências, práticas e inserção profissional. Realizado de três em três
anos, em cidades diferentes, tem na sua organização as principais entidades
representativas da categoria, além de reunir, a cada ano, um número crescente de
trabalhos, na forma de comunicação oral e pôster, provenientes de estudos e experiências
profissionais, não só da área do Serviço Social, mas de áreas afins a essa profissão. O
CBAS é um momento ímpar de congraçamento da categoria. Nele, refletem-se temáticas
contemporâneas à profissão, discutem-se os seus rumos e direções face às exigências
objetivas, conjunturais, estruturais e situacionais da realidade social do país, e
desenvolvem-se manifestações culturais e políticas entre outras atividades.
Até hoje, foram realizados quatorze CBASs. No ano de 2013 ocorreu o último CBAS,
em São Paulo, com o tema “Impactos da crise do capital nas políticas sociais e no trabalho
do/a assistente social”. Em todos os Congressos realizados nos anos 2000, houve um
número expressivo de participantes, girando em torno de 3000 ou mais pessoas. Não
fugindo à tradição de mais de três décadas, os quatro últimos CBASs, discutiram e refletiram
sobre o Serviço Social no contexto do capitalismo brasileiro, indicando os principais
caminhos para a profissão. Mas, nem sempre foi assim. Os dois primeiros CBASs,
realizados em 1973 e 1976, não apresentavam a configuração geral dos demais. Nem do
ponto de vista organizativo nem do ponto de vista teórico-político. Sendo realizados no
período do apogeu da ditadura militar, receberam os influxos, desse momento, em relação
ao cerceamento de ideias, práticas e movimentos de oposição a esse regime ditatorial. Sem
contar, que a herança conservadora, presente no Serviço Social e na sociedade, ainda
dominava os rumos e direções principais da profissão. São tempos da “modernização
conservadora” e da “reatualização do conservadorismo” da/na profissão segundo Netto
(1991). A primeira, em moldes científicos e técnicos para fazer face aos ditames da
modernização conservadora imposta pela ditadura; a segunda, em moldes psicologizantes e
fenomenológicos para resgatar, sob novos patamares, o tradicionalismo e o
conservadorismo histórico do Serviço Social. Dentro dessa configuração, esses dois
Congressos, no aspecto organizativo, eram coordenados por entidades da profissão ligadas
direta ou indiretamente a esses condutos teórico-políticos, aqui, descritos.
É no CBAS de 1979 que, tal evento, passará por uma mudança profunda, com
repercussões para os posteriores congressos e para a profissão. A conjuntura do país passa
por transformações com a perda de legitimidade social dos militares; com o ressurgimento
dos movimentos sociais com um novo sindicalismo e novos movimentos populares.
Momento em que a reorganização dos movimentos dos Assistentes Sociais, revigora-se,
reiniciando suas lutas e participando das lutas mais gerais em curso. Esses e outros
elementos são favorecedores a novos rumos a serem traçados pelo Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais. Por conta da sua importância histórica, esse Congresso passou a ser
denominado de “Congresso da Virada”. Entre as mudanças identificadas a partir do CBAS
de 1979, destacam-se: a) as mesas de composição das conferências, mesas-redondas,
painéis etc., passam a serem formadas por estudiosos, pesquisadores, profissionais,
trabalhadores e entidades identificadas com as mudanças para o país e sintonizadas com
os interesses e necessidades da classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2005). É no
CBAS de 1979, que convidados da mesa oficial são substituídos por representantes da
classe trabalhadora que, naquele momento, expressavam as lutas populares e sindicais do
país; b) os temas e assuntos discutidos, nesses eventos, passam a refletir os interesses e
necessidades da categoria, da profissão e dos trabalhadores.
Nesses termos, os CBASs, havidos desde então, mais do que preocupação em dar
continuidade a esses propósitos, têm aprofundado, especialmente: as discussões em torno
do Serviço Social como uma profissão especializada na divisão social e técnica do trabalho,
em que a questão social, matéria prima do trabalho profissional, ganha destaque; as
análises sobre as políticas públicas são consideradas como respostas do Estado à questão
social, como parte importante das estratégias das classes dominantes para manter o status
quo vigente, e, ainda, como parte das lutas dos trabalhadores por melhores condições de
vida e de trabalho; c) as lutas e resistências, portanto, dos trabalhadores e dos Assistentes
Sociais passam a ser parte constituinte dos temas, debates e reflexões desses congressos;
d) a coordenação e condução desses eventos passam a ser da responsabilidade das
principais entidades da categoria, que, desde o CBAS de 1979, têm, nas suas direções,
caminhos e práticas sintonizadas com o Serviço Social crítico. Enfim, o CBAS de 1979, dá
uma “virada” ética, politica, teórica e organizativa na condução dos rumos dos CBASs e
contribui decisivamente para a profissão dar mais um salto qualitativo na direção do
amadurecimento e consolidação de um Serviço Social comprometido com a classe
trabalhadora.
Em 2009, o CBAS de 1979 completou trinta anos. Nesse ano, as entidades da
categoria, organizaram comemorações alusivas à data com reflexões sobre o significado
histórico e político deste CBAS. Como parte dessas comemorações, a editora Cortez
publicou a revista de número 100, dedicada aos trinta anos do “Congresso da Virada” e da
publicação da Revista Serviço Social e Sociedade. Também foi publicado, na Revista
Inscrita, do CFESS, um número especial sobre o assunto. Na primeira publicação, texto de
Netto (2009, p. 666) diz: “O III Congresso operou uma decisiva transformação na dinâmica
profissional no país [...] quebrou o monopólio conservador nas instâncias e fóruns da
categoria profissional”. Na publicação do CFESS, texto de autoria da gestão 2008/2011,
coloca: “São três décadas de uma história construída com ousadia, coragem e compromisso
ético-político e profissional com as lutas da classe trabalhadora e com a emancipação
humana” (CFESS, 2009, p. 57).
Em resumo, a partir de 1979, gestam-se as condições, objetivas e subjetivas,
favorecedoras das mudanças à profissão. Estão dadas as condições para a conformação,
afirmação e consolidação de um novo projeto ético-político profissional, que passará a ser
chamado, na década de 1990, de Projeto Ético-Político (PEP), que representará a síntese
dos caminhos trilhados pelo Serviço Social, desde a Reconceituação, na perspectiva de
novos significados para a profissão no país. Como Projeto Ético-Político profissional será
constituído de um conjunto de valores, práticas, ideias, enfim, modos de ser e pensar a
profissão ou, como diz Netto (1999), trata-se de um projeto coletivo profissional, que
apresenta a autoimagem da profissão, elege valores, prioriza objetivos, prescreve normas e
estabelece diretrizes para as relações com os sujeitos e organizações com os quais mantém
relações profissionais.
Tal Projeto denomina-se, aqui, de Projeto Ético-Político profissional crítico. Isso por
quê? Porque se constitui na síntese representativa dos caminhos trilhados, pela profissão,
cujos horizontes se baseiam nos fundamentos, valores, princípios e práticas, consoantes à
“Intenção de Ruptura” (NETTO, 1991). Segundo, esse autor, essa perspectiva representa a
renovação do Serviço Social pós-Movimento de Reconceituação, que, influenciada pela
tradição do pensamento social crítico, em especial, o pensamento de Marx e da tradição
marxista, defende e se alia aos interesses e necessidades da classe trabalhadora em
direção à emancipação humana.
O PEP se consolida na década de 1990, conquistando hegemonia no que diz respeito
especialmente: à produção de conhecimento; às pesquisas realizadas; à formação
profissional; aos debates realizados no interior da profissão; às publicações em revistas e
livros; às lutas, movimentos e organização da categoria; aos instrumentos protetivos da
profissão. Nesse contexto, exprime-se, principalmente, no Código de Ética, na Lei de
Regulamentação da Profissão (aprovados em 1993) e nas Diretrizes Curriculares de 1996.
Mas, o Projeto Ético-Político crítico, não é o único projeto profissional existente. Ele convive,
em luta permanente, com outros projetos profissionais, que se opõem, de modo aberto ou
velado com o PEP crítico. Esses outros projetos caminham, em última instância, na direção
da tradição conservadora, presente na profissão e na sociedade, que se atualiza no Serviço
Social, pós Reconceituação, a partir de dois caminhos, já apontados: a modernização
conservadora e a reatualização do conservadorismo. Nas últimas décadas, essa herança
ganha novos contornos pelos “ventos pós-modernos” que se alimentam das micro-teorias e
de um modo de pensar e agir sobre a realidade voltada para o aqui, o agora e o imediato
das relações sociais, reforçando o status quo da sociedade capitalista.
Pelos CBASs, pós Congresso de 1979, transitam ideias e influências do Serviço Social
crítico e do Projeto Ético-Político correspondente. Isso se verifica, de modo mais direto ou
não, desde a concepção e organização de cada evento, até à definição do temário geral,
bem como na composição dos nomes convidados para as conferências e mesas-redondas e
ainda nas discussões e reflexões entre os participantes. Mas, é dentro da produção de
conhecimento, publicada nesses Congressos, que essas influências e ideias estarão
evidenciadas. Com base no exposto, realizou-se uma pesquisa, em nível de pós-
doutoramento, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - sob a supervisão da
Professora Doutora Maria Carmelita Yazbek - com o objetivo de analisar três CBASs, pós-
instituição dos atuais instrumentos normativos da profissão (o Código de Ética, a Lei de
Regulamentação da Profissão e as Diretrizes Curriculares), quais sejam: os CBASs de
2004, 2007 e 2010. Tal pesquisa visa caracterizar a produção que trata do Serviço Social
em sua relação com o Projeto Ético-Político profissional.
Os resultados gerais dessa pesquisa serão, a partir de agora, delineados, tendo como
horizonte o XIII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 2010, em Brasília,
com o título “Lutas sociais e o exercício profissional no contexto da crise do capital:
mediações e a consolidação do projeto ético-político do Serviço Social”. Por esse título
verifica-se, que, este Congresso, afirma a preocupação, dos organizadores do evento, em
consolidar o PEP no seio da categoria. Nesses termos, o “sentimento” dos organizadores,
na apresentação dos Anais, deixa claro isso, ao enfatizarem: “O XIII CBAS coloca no centro
da agenda o exercício profissional e os sujeitos políticos que hoje se inscrevem na
sociedade brasileira, tendo em perspectiva a busca das mediações necessárias na
articulação entre o projeto ético-político profissional e os projetos societários” (CFESS et al,
2010).
Com 2700 participantes inscritos, 1.132 trabalhos aceitos, 957 trabalhos considerados
válidos (comunicação oral e pôster)6 e 14 Eixos Temáticos7, o CBAS de 2010 notabiliza-se,
ainda, por ser um momento de grande mobilização dos Assistentes Sociais em luta pelas 30
horas semanais, sem redução de salário, para a categoria profissional. Dos 957 trabalhos
existentes e válidos (chamados, aqui, de TE), 507 trabalhos referiam-se ao Serviço Social
(denominados, agora, de TSS), e, destes, 179 trabalhos tratavam de PEP (sintetizados por
PEP). Isso significa dizer que: mais da metade dos TEs eram trabalhos de Serviço Social.
Quanto aos trabalhos de PEP, estes, representaram, em relação aos TSSs, 35% dessa
produção e em relação aos TEs somente 19% do conjunto dos trabalhos produzidos no
CBAS.
Dos 14 Eixos Temáticos, 3 Eixos reportavam-se à temática Seguridade Social,
distribuídos da seguinte forma: Seguridade Social: concepção e financiamento; Seguridade
Social: controle social e sujeitos políticos; Seguridade Social: formulação e implementação.
Do ponto de vista dos Trabalhos Existentes, ao se juntar os 3 Eixos de Seguridade, verifica-
se, em termos absolutos, um total de 186 TEs, representando, o primeiro lugar do conjunto
da produção existente nesse CBAS e significando, em termos percentuais 19% de todos os
Eixos Temáticos. Aqui, o Eixo relativo à formulação e implementação obteve mais da
metade da produção em torno do tema Seguridade Social, correspondendo a 103 trabalhos.
Mas, do ponto de vista dos Trabalhos de Serviço Social, os 3 Eixos de Seguridade
Social, juntos, representam, em termos absolutos, apenas 58 trabalhos ou 11% dos TSSs,
6 Trabalhos válidos, são todos aqueles que, no mapeamento geral da pesquisa, estavam completos:
do título à conclusão. 7 Os 14 Eixos Temáticos do CBAS de 2010 são: 1) Crise do capital, Estado e Democracia; 2) Infância,
Adolescência, Juventude e Velhice; 3) Raça, Etnia, Gênero e Orientação Sexual; 4) Família e Relações Sociais; 5) Justiça, Violência e Segurança Pública; 6) Movimentos Sociais, Lutas Sociais e Organização política da Classe Trabalhadora; 7) Projeto Ético-Político, Trabalho e Formação; 8) Ética e Direitos Humanos; 9) Educação, Comunicação e Cultura; 10) Espaço Sócio-ocupacional e Condições de Trabalho; 11) Seguridade Social: concepção e financiamento; 12) Seguridade Social: controle social e sujeitos políticos; 13) Seguridade Social: formulação e implementação; 14) Questão Urbana, Agrária e Meio Ambiente. É importante registrar: essa sequência não é necessariamente a mesma dada pela organização do evento.
sendo que, mais uma vez, o Eixo formulação e implementação ganha destaque. Por outro
lado, quando se compara a quantidade de trabalhos de Seguridade Social que tratam do
Serviço Social (58 trabalhos) com a quantidade total dos Trabalhos Existentes (957),
conclui-se que o percentual de Trabalhos de Seguridade Social é ainda menor, significando
apenas 6% do total do TEs. Visualizando-se esses dados, pode-se dizer: a) a produção de
conhecimento sobre Seguridade Social no CBAS representa o primeiro lugar em termos de
Trabalhos Existentes; b) em se tratando dos Trabalhos de Serviço Social, a produção sobre
Seguridade Social é pequena tanto se se considerar o conjunto dos TSS quanto ao se
reportar ao total de TE. No primeiro caso, corresponde a 11% e se situa no terceiro lugar
entre todos os TSSs; no segundo caso, não ultrapassa os 6% em número de TEs.
Finalmente, do ponto de vista dos trabalhos de PEP, a produção sobre Seguridade
Social, na junção dos 3 Eixos, corresponde apenas a 3% do total de trabalhos de PEP ou 6
trabalhos em termos absolutos, significando, junto com outros Eixos Temáticos, o quarto
lugar entre todos os Eixos. Essa realidade mostra, portanto, uma menor influência do PEP
nesse tipo de produção. Comparando-se essa mesma produção (Trabalhos de PEP
relativos ao Eixo Seguridade Social) com o total de Trabalhos de Serviço Social e, também,
com o total dos Trabalhos Existentes tem-se 1,1% e 0,6% respectivamente. Em resumo: a
temática Seguridade Social na relação com o Projeto Ético-Político tem tido pouca
ressonância tanto se se olhar o conjunto dos trabalhos de PEP quanto se se olhar os TSSs
e ainda os TEs.
Algumas análises podem ser estabelecidas ao se olhar os dados do XIII CBAS (mas,
também, dos CBASs de 2004 e 2007): a primeira, é que, neste CBAS, o número de
Trabalhos de Serviço Social cresceu ao se comparar com os CBASs de 2004 e 2007,
atingindo um pouco mais de 52% do total dos Trabalhos Existentes, mas nos dois primeiros
Congresso esse número ficou abaixo dos 50% dos TEs, ou seja, embora o Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais constitua-se no principal evento da categoria e da
profissão, nem sempre o tema “Serviço Social” tem se constituído em força propulsora
principal de objetos de estudo e de sistematização de experiências produzidos no mesmo;
segunda, ao se referir à produção sobre PEP, deve-se destacar que, esta, tem presença na
produção levada a efeito nos CBASs, mas, com pouca ressonância se se considerar o
conjunto dos TSSs e, bem menos ainda, se se considerar o conjunto dos TEs, embora o ano
de 2010 mostre um crescimento dos trabalhos de PEP em relação aos outros CBASs
analisados (em 2004, foram 95 trabalhos e em 2007, 103 trabalhos); terceira, a produção
em torno do Eixo Seguridade Social se torna bastante expressiva quando se visualizam
apenas os Trabalhos Existentes. No entanto, quando se faz referência à ligação entre
Seguridade Social, Serviço Social e Projeto Ético-Político, em termos da produção via Eixos
Temáticos, a discussão sobre Seguridade Social não tem o mesmo nível de influência,
sobretudo se se tomar por base os trabalhos de PEP.
A realidade exposta, aqui, toma por base a produção de conhecimento nos CBASs de
2004 a 2010 a partir dos Eixos Temáticos definidos pela organização do evento. Mas, a
pesquisa buscou também conhecer as temáticas/objetos de estudo dentro de cada
produção do Serviço Social. Assim, no CBAS de 2010, dos 507 Trabalhos de Serviço Social,
evidenciaram-se 28 temáticas/objeto de estudo 8 . A maior referência, com 42,6% das
intenções, está no tema prática profissional, seguindo-se, pela ordem, os temas formação
profissional e fundamentos teórico-metodológicos do Serviço Social, com 15,6% e 12,6%,
respectivamente, das intenções.
No que concerne à temática Seguridade Social, esta, foi desmembrada levando em
conta o tripé saúde, previdência e assistência social e o próprio tema Seguridade Social
(sem associação aos temas relativos a esse tripé) associado ao tema Política Pública
Social. Considerando-se isoladamente cada tema do tripé da Seguridade, tem-se, pela
ordem, de intenções: saúde (3,9%), assistência social (3,0%), e previdência (1,0%). A
temática Seguridade junto com o tema Política Pública e Social, por seu turno, obteve 0,8%.
Ao se juntar todas as intenções voltadas para o tema da Seguridade Social, o resultado
revela 9,7% das intenções, ficando, portanto, atrás dos três primeiros lugares já referidos.
Enfim, os dados apontam, mais uma vez, que a discussão sobre Seguridade Social e
Serviço Social teve pouco destaque ao se visualizar, também, a realidade dos temas/objetos
de estudo da produção de Serviço Social.
Em resumo, o que se constata a partir desses números? É que, embora a questão da
Seguridade Social seja uma temática historicamente importante para a profissão de Serviço
Social, inclusive ocupando o primeiro lugar no total dos TEs, mas, no que concerne à
relação Serviço Social e Seguridade Social diminui o interesse de estudos e sistematizações
de experiências sobre tal tema, tanto se se olhar os Eixos Temáticos quanto se olhar os
8 No levantamento das temáticas e se levando em conta o somatório dos três CBASs, obtiveram-se
39 (trinta e nove) temáticas variadas. No caso do CBAS de 2010 o número de temáticas representou um total de 28 temáticas, a saber, pela ordem: prática profissional, formação profissional, fundamentos teórico-metodológicos, trabalho, saúde, assistência social, movimentos sociais/organização dos Assistentes Sociais, pesquisa, história do Serviço Social, meio-ambiente, educação, previdência, questão agrária, sociedade civil/controle social, política pública/Seguridade Social, questão étnico-racial, questão urbana, direitos, ética, gênero, questão social, Sistema Penitenciário, Conselhos de Direitos, Cultura, violência, comunicação, militância política, orientação sexual.
temas/objetos de estudo de cada produção de Serviço Social. O mesmo ocorre quando se
trata da produção que associa Serviço Social, Seguridade Social e PEP, pois são poucos os
trabalhos que se voltam para essa discussão.
Do conjunto dessas análises não se deve esquecer: embora a referência quantitativa
seja importante ponto de reflexão, as influências do PEP, nos CBASs expressam-se para
além dos aspectos quantitativos; elas se espraiam dentro de cada Congresso (nas
conferências e mesas-redondas, nos debates, nas conversas entre os participantes, nas
atividades culturais e políticas etc.) e para fora do próprio Congresso (com o retorno dos
participantes e representantes das entidades a seus cotidianos profissionais e sociais). Não
se deve esquecer, também, que os dados, acima, não apresentam a totalidade do universo
de cada CBAS ou do conjunto desses CBASs; essa realidade, portanto, representa um olhar
sobre a produção de conhecimento nos CBASs a partir da amostra definida para a pesquisa
(objeto de análise deste trabalho) bem como dos critérios que levaram à definição dessa
amostra. Isso significa dizer que somente os trabalhos que faziam referência ao Serviço
Social e ao Projeto Ético-Político no Título, Resumo ou Introdução e nas Palavras-chave é
que foram pesquisados e analisados. Nesses termos, acredita-se que os demais trabalhos
que não se encontravam nessa amostra, de modo mais aberto ou não, receberam alguma
influência do PEP. Em vista disso não esquecer: não se deve fazer generalizações com os
dados aqui expostos.
Voltando-se aos resultados da pesquisa e se visualizando ainda mais os 14 Eixos
Temáticos, do CBAS de 2010, no que respeita aos Trabalhos de PEP, deve-se ressaltar que
um deles concentrou maior quantidade de trabalhos voltados para o PEP: o Eixo 7,
denominado de Projeto Ético-Político profissional, trabalho e formação, que apresentou
um total de 115 trabalhos, ou 64% em percentuais, considerando o total geral de todos os
Eixos (que produziram 179 trabalhos). Por conta da expressiva participação do Eixo 7, os
demais Eixos tiveram pouca expressão, não atingindo, no geral, 10% dos Trabalhos de
PEP. A exceção fica para o Eixo voltado para os Espaços Sócio-ocupacionais do trabalho
profissional, com 11% dessa produção. No caso dos Eixos sobre Seguridade Social, além
de juntos, terem obtido apenas 3% do total da produção o Eixo que trata da formulação e
implementação não obteve nenhuma produção de PEP.
Do exposto, fica a seguinte indagação: que significados, rumos e direções são
atribuídos à profissão de Serviço Social e ao PEP na produção do CBAS de 2010?
Considerando-se o conjunto dessa produção (mas, também dos demais CBASs), verifica-se
que, majoritariamente, o modo de ser e aparecer da profissão sintoniza-se àquilo que se
está expressando, aqui, como Serviço Social crítico, embora, essa mesma produção,
majoritariamente, não trate explicitamente do PEP crítico. Nesses termos o Serviço Social é
compreendido como uma especialização na divisão social e técnica do trabalho, destinado a
responder às necessidades e demandas provenientes da questão social, tendo como
horizonte a defesa da “classe-que-vive-do-trabalho”. Busca-se, inclusive, entender os
significados e rumos do Serviço Social, na contemporaneidade, nos marcos da globalização,
do neoliberalismo, da reestruturação produtiva e das influências da pós-modernidade no
cotidiano da profissão. Nesse último aspecto, as discussões em torno do neoliberalismo e
suas consequências para os trabalhadores e Assistentes Sociais têm maior relevância no
conjunto dessa produção.
Um aspecto chama a atenção no CBAS de 2010 (e nos demais): a compreensão do
Serviço Social como direito. Ou seja, boa parte dessa produção dá um sentido ao Serviço
Social como profissão ligada aos direitos. Essa visão deve ser entendida, levando-se em
conta, sobretudo, que a temática dos direitos ganha projeção, interna e externa à profissão,
após a promulgação da Constituição de 1988 e da normatização posterior de leis e políticas
sociais públicas destinadas a garantir os direitos sociais conquistados com essa
Constituição. Nesses termos, ainda que propostas governamentais, de cunho neoliberal, ao
mesmo tempo, interferissem em sentido contrário, na perspectiva da diminuição do papel
social do Estado ou da transferência de suas responsabilidades sociais para a sociedade e
o chamado Terceiro Setor, a temática dos direitos, ganha a agenda pública estatal e não
estatal a partir dos anos de 1990.
Nesse contexto, a profissão é influenciada e influencia a conjuntura pós-Constituição de
1988. Em nível interno, os atuais instrumentos protetivos da profissão, passam a dar
destaque à temática dos direitos. Particularmente, as Diretrizes Curriculares e o Código de
Ética têm sido, desde então, balizadores de um Serviço Social comprometido com os
direitos da população com a qual mantém relações profissionais. A própria organização dos
CBASs de 2004 a 2010, têm vários Eixos Temáticos, cujos títulos, estão relacionados a
essa temática. No caso do CBAS de 2010 ressaltam-se os Eixos “Direitos da Infância,
Adolescência, Juventude e Velhice” e “Ética e Direitos Humanos”. Mas, não se deve
esquecer: em todos os Eixos Temáticos a relação Serviço Social = a direitos é bastante
evidente.
As análises, acima, permite-nos fazer, pelo menos, duas considerações: a) avalia-se
como um avanço e amadurecimento profissional quando Assistentes Sociais, estudantes e
pesquisadores, associam o Serviço Social como profissão que luta e atua na perspectiva
dos direitos da população. Antes do Movimento de Reconceituação e até o final da década
de 1970, especialmente, essa discussão não se colocava fortemente, não só por conta das
estruturas e conjunturas sociais com as quais o profissional estava inserido, mas, também,
porque a herança conservadora da/na profissão era marcante; b) mesmo sendo positivo,
esse primeiro aspecto, não se deve limitar a compreensão dos significados e rumos do
Serviço Social à noção dos direitos. Isso porque, de um lado, a matéria prima do trabalho
profissional é a questão social e, esta, não se exaure na questão dos direitos, que, em
última instância, não extrapolam os limites substantivos das desigualdades sociais, base de
sustentação da sociedade capitalista brasileira; de outro lado, e em associação à
observação anterior, a perspectiva do Serviço Social crítico está estreitamente relacionada
às transformações radicais dessa sociedade tendo em vista a emancipação humana. Nesse
sentido, os rumos a serem perseguidos nos estudos, pesquisas, movimentos e práticas,
daqueles que defendem tal perspectiva, devem ser no horizonte da aliança com os projetos
societários contra hegemônicos. Em síntese, a questão dos direitos deve ser considerada
um ponto de partida estratégico para a profissão, mas não o ponto de chegada.
Levando em conta o conjunto dessas considerações, é que se coloca o PEP:
primeiramente, deve-se acentuar que, na produção do CBAS de 2010 (e nos demais
analisados) além do PEP se apresentar em menos de 40% dos Trabalhos de Serviço Social,
nem toda essa produção desenvolve estudos e análises mais amplas e profundas sobre
PEP e a relação Serviço Social e PEP. No caso dos Eixos Temáticos sobre Seguridade
Social e sua relação com o PEP, contatou-se, conforme já explicitado, que apenas 1,1% dos
TSSs e 0,6% dos TEs citam esse Projeto profissional; em segundo lugar, o PEP, de modo
global, é demonstrado, principalmente, como sinônimo de materialização do Código de Ética
e, dentro deste, como sinônimo da materialização dos princípios relacionados aos direitos.
Reforça-se, aqui, mais uma vez, a análise de que essa visão de Serviço Social e de PEP é
deveras limitada sobre os significados, rumos e possibilidades de um projeto profissional
que se coloca na direção da emancipação humana.
Mesmo, assim, encontra-se, na produção que enfatiza o PEP, análises mostrando ser,
este, um projeto coletivo, que conquista hegemonia nos anos de 1990, especialmente: na
formação, nos fundamentos teórico-metodológicos da profissão, na produção de pesquisas,
nas publicações, nos instrumentos protetivos do Serviço Social, na representação das
entidades da categoria e na condução das lutas empreendidas por essas entidades; projeto
que representa a autoimagem da profissão e se alia aos projetos societários que almejam
transformações substanciais para o país. Encontra-se, também, análises, identificando os
limites, as possibilidades e os desafios postos à profissão, sobretudo, na perspectiva dos
rumos do Serviço Social crítico e do PEP correspondente. Dentro dessas questões, as
principais ressalvas referem-se aos elementos conjunturais, estruturais e situacionais do
modo de ser do capitalismo em sua fase contemporânea: global, flexível e “pós-moderna”.
Além disso, mostra-se, ainda, os limites e os desafios deste Serviço Social e do PEP face à
herança conservadora persistente na profissão e no país, que, em aliança com os rumos do
capitalismo contemporâneo, tem sido corresponsável pelo aprofundamento da questão
social e por respostas estatais que reforçam o status quo vigente. Mas, no conjunto dessa
produção reforça-se a ideia de que o Serviço Social crítico e o PEP se originam das lutas
que, boa parte da categoria, vem travando desde a Reconceituação por um Serviço Social
identificado com os reais interesses da “classe-que-vive-do-trabalho”, sujeitos principais dos
seus processos de inserção na realidade brasileira.
Finalmente, no que concerne à produção referente à Seguridade Social, seja
visualizando-a sob a perspectiva dos seus três Eixos Temáticos, seja levando em conta as
temáticas e objetos específicos a cada produção, as linhas gerais, esboçadas nas análises
dessa produção, não destoam das considerações expostas acima. O importante a ressaltar
é que: os caminhos principais dessa produção estão em sintonia com a discussão da
Seguridade Social como parte das conquistas da classe trabalhadora por garantia,
ampliação e efetivação de direitos.
3. CONCLUSÃO
Os CBASs são “veias abertas” da profissão por onde o PEP se expressa e, ao mesmo
tempo, influencia a categoria de diversas maneiras: através da produção publicada nos
Anais; através dos vários formatos que assume (conferências, mesas-redondas, debates,
manifestações individuais ou coletivas etc.); pelos rumos tomados (concepção, organização,
etc.); pelo que tem representado como momento de reunião e congraçamento, como síntese
de discussões e reflexões contemporâneas e, ainda, como explicitação e demarcação de
uma agenda pública e ético-política para os profissionais e a profissão. O Serviço Social
crítico e o PEP correspondente encontram solo favorável para suas explicitações e
influências. O CBAS de 2010 não fugiu a essa realidade. No que respeita ao CBAS de 2010,
este cresceu em relação aos outros dois eventos, tanto em relação ao número de Trabalhos
Existentes quanto no número de Trabalhos de Serviço Social e de Trabalhos de PEP. Em
síntese, o Projeto Ético-Político está presente na produção publicada nos CBASs
analisados. Numericamente sua influencia, no entanto, é, ainda, pequena. Nesses termos,
conclui-se que o PEP não exerce hegemonia na produção publicada no CBAS. Mas, suas
influências ultrapassam os movimentos, processos, dinâmicas e atividades internas, a cada
CBAS, para se situar no cotidiano dos profissionais e na agenda de reflexões, práticas e
movimentos gerais da profissão na sociedade.
.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Ricardo. O caracol e sua concha. São Paulo: Boitempo, 2005.
CFESS. 1979: outros “Congressos” virão. In: Revista Inscrita. Brasília: CFESS, n. 12, 2009.
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NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1991.
_____. A construção do projeto ético-político do Serviço Social frente à crise
contemporânea. In: CEAD. Capacitação em serviço social e política social. Brasília: CEAD,
1999.
_____. III CBAS: algumas referências para a sua contextualização. In: Revista Serviço
Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 100, 2009.
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: mecanismos de
acesso e permanência do estudante na Universidade Federal do Piauí
Maria D’Alva Macedo Ferreira9
RESUMO
O artigo discorre sobre a assistência estudantil no âmbito da Política Nacional de Assistência Estudantil direcionada para estudantes das universidades publicas. Por meio da pesquisa documental e bibliográfica fazendo parte da Pesquisa Analise da Política de Assistência Estudantil na UFPI, apresenta-se uma breve contextualização da educação superior no Brasil, a fim de perceber como a educação vai se constituindo numa política pública de caráter universal, fundamentada em princípios democratizantes. Diante dos processos de desigualdades sociais, políticos, econômicos e culturais, foi criada a Política Nacional de Assistência Estudantil objetivando acesso e permanência nas universidades publicas, em especial a Universidade Federal do Piauí.
Palavras chaves: Educação Superior, Assistência estudantil, educação superior
STUDENT ASSISTANCE IN HIGHER EDUCATION: access mechanisms and student's stay in
the Federal University of Piauí
ABSTRACT
The article discusses the student assistance under the National Policy on Student Assistance directed to students of public universities. Through the documentary and bibliographical research as part of research Analysis of Student Assistance Policy in UFPI , we present a brief background of higher education in Brazil in order to see how education will constitute a public policy of universal character, grounded in democratizing principles. On the processes of social inequalities, political, economic and cultural , the National Student Assistance Policy aiming access and permanence was created in the public universities , especially the Federal University of Piauí . Key words: higher education, student assistance, higher education.
9 Doutora. Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail [email protected]
I INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 concebe a Educação como direito
fundamental, universal, inalienável e um instrumento de formação ampla na luta pelos
direitos da cidadania e pela emancipação social, regulamentado na Lei de Diretrizes
de Base da Educação No entanto, apesar desse direito ser garantido no plano formal,
é grande a parcela de jovens brasileiros de classes sociais menos privilegiadas que
vivenciam, de forma extremamente injusta e desigual, os espaços institucioais, como
as universidade públicas brasileiras.
O contexto atual é marcado pela imensa desigualdade social, e a educação
ocupa um papel cada vez mais relevante no quadro dos direitos humanos, pois, ao
mesmo tempo em que constitui um direito fundamental nas sociedades modernas e
contemporâneas se apresenta como condição indispensável para que os indivíduos
sejam participes dos modelos de desenvolvimento implementados.
Diante dessa complexa realidade de desigualdades sócio, econômica e cultural
definida como questão social resultante das contradições capital x trabalho,
compreendida como o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o
surgimento da classe operária impôs no mundo no curso da constituição da sociedade
capitalista (CERQUEIRA FILHO, 1982). As políticas sociais, nesse contexto, se
constituem em mecanismo de mediação entre as necessidades de valorização e
acumulação do capital e as necessidades de manutenção da força de trabalho
disponível para o mesmo, amenizar os conflitos sociais, atendendo as necessidades
da população através de um conjunto de medidas governamentais.
Nesse complexo de desigualdade social, a implementação da política de
educação, no âmbito da educação superior requer políticas públicas que executem
ações específicas no campo da educação, não só na educação básica. No que se
refere à educação superior, o Brasil vem desenvolvendo política pública de acesso e
permanência dos estudantes pobres de baixa renda na universidade, uma vez que
ainda permanece a seletividade econômica e étnico-racial do ensino superior
brasileiro.
II APONTAMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
Com relação às suas raízes e peculiaridades, a construção do sistema de
educação superior, no Brasil, pode é considerada um caso diferente no conjunto
latino-americano, ma vez que, desde o século XVI, os espanhóis fundaram
universidades em seus domínios na América, as quais se caracterizavam como
instituições religiosas. O Brasil Colônia, no entanto, não criou instituições de ensino
superior em sua jurisdição até início do século XIX, ou seja, quase três séculos mais
tarde.
A primeira universidade brasileira foi criada em 1920, data próxima das
comemorações do Centenário da Independência (1922). Resultado do Decreto n°
14.343, a Universidade do Rio de Janeiro reunia, administrativamente, Faculdades
profissionais pré-existentes sem, contudo, oferecer uma alternativa diversa do sistema:
ela era mais voltada ao ensino do que à pesquisa, elitista, conservando a orientação
profissional dos seus cursos e a autonomia das faculdades (IELSAC, 2002).
Entre os anos de 1950 à 1970 foram criadas as universidades federais e
multiplicaram-se às universidades estaduais, municipais e particulares. Em 1961, entra
em vigor a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que
possibilitou a participação da livre iniciativa do ensino superior no Brasil. Em 1968, o
Congresso Nacional aprovou a Reforma Universitária, pela Lei n° 5.540, de 28/11/68,
fixando normas de organização e funcionamento do ensino superior.
Na década de setenta, a rede de ensino superior no país cresce. Em apenas
uma década, de 1970 a 1980, as matrículas nos cursos universitários subiram de
300.000 para um milhão e meio. Pode-se identificar vários fatores para esta
ampliação, mas merece destaque para o processo de modernização econômica do
país, que passou a exigir recursos humanos mais qualificados.
No ano de 1981, o Brasil contava com 65 universidades, sete delas com mais
de 20.000 alunos (OLIVEN, 2002, p.40). A segunda fase de forte expansão do sistema
de ensino superior ocorre a partir de 1995. Com a pressão pelo aumento da procura
de vagas no ensino superior e a incapacidade no setor público em oferecer mais
vagas, há uma expansão de vagas nas universidades privadas, período em que
muitos grupos do setor mercado manifestam interesse nas verbas públicas, marcando
uma fase de mercantilização do ensino superior.
Em 1994, foi realizado um primeiro levantamento amostral do perfil
socioeconômico dos alunos de graduação das IFES, porém este não teve a
consistência necessária para o apontamento de políticas em âmbito local e nacional.
Nos anos 1996 a 1997, foi realizada a pesquisa: Perfil Socioeconômico e Cultural dos
Estudantes de Graduação das IFES Brasileiras. No ano de 2000, outro importante
documento para conhecer o contexto da política em análise é uma carta de apoio
escrita pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis -
FONAPRACE, intitulada “Assistência Estudantil: uma questão de investimento”. O
texto evidencia o quanto a assistência estudantil deve ser vista enquanto uma política
de investimento e não de gasto, criticando as ações numa perspectiva assistencial até
então desenvolvidas. O Plano Nacional de Assistência aos Estudantes de Graduação
das Instituições Públicas de Ensino Superior foi elaborado em 2001 e a Aprovação do
Plano Nacional de Educação – PNE 2001 – 2010.
O FONAPRACE identificou, no ano de 2003, a necessidade de realizar uma
segunda pesquisa nacional, objetivando atualizar os dados relativos aos aspectos da
vida social, econômica e cultural dos estudantes de graduação das IFES brasileiras,
buscando indicadores que pudessem fundamentar a definição de políticas de
equidade, de acesso e de assistência estudantil, na perspectiva de atualizar o Plano
Nacional de Assistência Estudantil. A pesquisa foi realizada entre novembro de 2003 e
março de 2004, contando com a participação de 47 IFES, fornecendo dados para
traçar um perfil dos estudantes de graduação das IFES e suas famílias.
(FONAPRACE, 2004)
Os dados do Censo da Educação Superior, realizado em 2006, mostraram
que o número de jovens matriculados na graduação representava apenas 12,1% do
total da população brasileira de 18 a 24 anos, aumento pouco significativo se
compararmos que em 2001, a proporção era de 9%, portanto, uma das Metas do
Plano Nacional de Educação para o decênio 2011 – 2020 é de elevar a taxa bruta de
matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de
18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40%
das novas matrículas, no segmento público. Atualmente, 7 milhões matriculados,
sendo 1,9 milhão nas universidades públicas, com um gasto atual de R$ 24,8 bilhões.
Portanto, deve-se ter um aumento de matriculados em 12 milhões matriculados, sendo
3,9 milhões públicas.
O Censo de Educação Superior realizado pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2007 mostra que o Brasil
contava com a existência de 2.281 instituições de Educação superior, sendo 249 do
setor público e 2.032 do setor privado. Nesse sentido, diante do crescimento das
escolas de nível superior privadas no Brasil, observou-se, a partir da Reforma
Universitária (1995), o comprometimento do Brasil com “a democratização” do ensino
superior nos moldes neoliberal, de um lado, procura atender os anseios da sociedade,
por outro, cria parcerias com o setor privado compreendendo que o mercado pode
participar deste processo de ampliação da oferta de vagas para a população jovem,
com vistas miminizar as consequências de anos de história de exclusão grupos
sociais.
O Decreto 6.096 de 24 de abril de 2007 cria o ReUni, e a Elaboração do
novo Plano de Assistência Estudantil, e finalmente a Portaria Normativa nº 39 de 12 de
dezembro de 2007 instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES.
FONAPRACE, juntamente com a ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior formulou em 2007 um novo Plano de
Assistência Estudantil, com o objetivo de apresentar diretrizes norteadoras para a
definição de programas e projetos de assistência estudantil. Em 2010, o Decreto nº
7234 de 19 de julho de 2010, institui o PNAES - Programa Nacional de Assistência
Estudantil e o Plano Nacional de Educação 2011 – 2020.
III POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO E PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE
A Constituição de 1988 representou para o Brasil, o marco jurídico que
garantiu constitucionalmente a institucionalização dos direitos humanos na sociedade
brasileira. Nesse contexto, a educação aparece como condição essencial para a
garantia dos direitos humanos, pois possibilita uma maior conscientização dos
indivíduos e grupos acerca de seus direitos e deveres para com a sociedade. A
educação aparece nesse quadro como eficaz mecanismo para o exercício da
cidadania, capaz de tornar os cidadãos passivos, participantes ativos de sua própria
história. Ela se apresenta como principal ferramenta de mobilidade social rumo à
redução da desigualdade e da pobreza.
Assim, para que a educação cumpra esse papel nesse processo de
transformação sócio-cultural é imprescindível a implementação de políticas públicas
que fomentem ações específicas no campo da educação. Nesse sentido, o Brasil no
âmbito da educação superior, vem desenvolvendo políticas públicas de acesso e
permanência dos estudantes de baixa renda na universidade, uma vez que a
seletividade econômica e étnico-racial do ensino superior brasileiro continua intensa: o
segmento composto pelos 20% mais ricos ocupa 70% das matrículas no ensino
superior brasileiro, ao passo que os 40% mais pobres ocupam apenas 3% das vagas
(ROSEMBERG, 2003).
Para concretização dos objetivos das políticas públicas de acesso e
permanência, programas federais vêm sendo desenvolvidos, com o objetivo, não
apenas do acesso a universidade, mas a garantia da permanência durante os anos de
graduação, fazendo relação com o texto a seguir de CARVALHO (2005):
a população de baixa renda não necessita apenas de gratuidade integral ou parcial para estudar, mas de condições que apenas as instituições públicas, ainda, podem oferecer, tais como: transporte, moradia estudantil, alimentação subsidiada, assistência médica disponível nos hospitais universitários, bolsas de pesquisa, entre outros. (CARVALHO, 2005, p. 13)
Os principais programas de acesso e permanência no ensino superior no
Brasil são: O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) de
1999; Programa de Educação Tutorial (PET) de 1979; Programa Universidade para
Todos (ProUni) de 2003; Bolsa Monitoria; O Programa de Bolsa Institucional de
Iniciação à Docência (PIBID); Hospitais Universitários (HU); O programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) de 2007.
IV A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ E SUAS AÇÕES AFIRMATIVAS
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) é uma instituição de ensino superior,
que tem por objetivo cultivar o saber em todos os campos do conhecimento puro e
aplicado, formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para
inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da
sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua (UFPI, 1999)
Historicamente, o acesso ao ensino público ofertado pela UFPI se dava por
meio de vestibular, se aprovado, o mesmo será admitido em curso de graduação. Os
alunos podem ser alunos estrangeiros, em virtude de convênio cultural do Brasil com
outros países e candidatos já graduados em nível superior, como determina
Regimento Geral da UFPI, em seu artigo 79, da seção I, do Capítulo III ( UFPI, 1999,
p. 27).
Nos últimos anos, o processo de seleção do vestibular da Universidade vem
passando por mudanças, dentre elas a mudança do tradicional vestibular feito no final
do ensino médio pelo Programa Seriado de Ingresso a Universidade - o PSIU no ano
de 2003, visando valorizar o ensino médio e desmistificar a questão do vestibular
(UFPI, p.19).
Nele, a UFPI foi pioneira em reservar 5% das vagas do vestibular para
estudantes de escolas públicas no ano de 2008, disponibilizando 247 vagas para os
alunos cotistas. Já no ano de 2009 a Universidade passou a reservar 20% das vagas
para candidatos oriundos do ensino público, disponibilizando mais de mil vagas,
aumento esse resultado de um estudo sobre o desempenho dos alunos já
beneficiados com o sistema de cotas sociais (UFPI, p.19).
Após o ingresso na Universidade, que pode ocorrer por meio dessa forma de
acesso ao ensino superior citada anteriormente, o aluno conta com uma rede de apoio
acadêmico e social importantes para a sua formação.
A política de assistência estudantil na UFPI tem como princípio básico o
atendimento às demandas de alimentação, moradia, bolsas e apoio estudantil,
incluindo-se assistência médica, odontológica e psicossocial (UFPI, p. 64). Mas, os
serviços que dão concretude a assistência aos estudantes na UFPI já estavam sendo
garantidos antes mesmo do decreto de nº 7.234, do Governo Federal através do
Ministério da Educação, em dezembro de 2007, que instituiu o Programa Nacional de
Assistência Estudantil (PNAES).
Por meio dele a assistência estudantil passou a ser vista como estratégia de
combate às desigualdades sociais e regionais, servindo de instrumento para
ampliação e democratização das condições de acesso e permanência dos jovens no
ensino público superior federal, ou seja, transformando a assistência estudantil em
uma política de Estado
A assistência estudantil prestada pela UFPI, antes do decreto, era
direcionada para o apoio acadêmico e social aos alunos, promovendo condições
básicas para a sua permanência na instituição, atuando preventivamente nas
situações de repetência e evasão decorrentes de dificuldades sócio-econômicas
(GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01).
A política de Assistência Estudantil implantada em 2005 e reforçada pelo
Plano Nacional de Assistência Estudantil em 2007 tem assegurado o planejamento
orçamentário para a manutenção dos restaurantes universitários, as bolsas estudantis
e aos diversos programas que a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários -
PRAEC na UFPI mantém (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010, p.01)
A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários da Universidade
Federal do Piauí é a gestora dos programas e serviços por meio de suas
Coordenadorias, sendo elas a Coordenadoria de Nutrição e Dietética (CND), que tem
a finalidade de planejar, coordenar e supervisionar os serviços prestados pelas
unidades do Restaurante Universitário (RU) e pelo Serviço de Orientação Nutricional e
Dietética (SOND) e a Coordenadoria de Assistência Comunitária (CACOM) “que
planeja, executa, acompanha e avalia os programas e projetos de assistência
estudantil e comunitária mantidos pelo PRAEC” (UFPI, 2010).
Atualmente os Serviços e benefícios oferecidos pela PRAEC são: a Bolsa
Residência Universitária, a Bolsa de Apoio Acadêmico, a Bolsa Alimentação, o Projeto
Inclusão Social, o Atendimento Odontológico, o Auxílio ao Estudante Estrangeiro e o
Atendimento Psicossocial e Pedagógico, cada um será explicado nos parágrafos a
seguir.
A Bolsa Residência Universitária consiste em propiciar moradia e
alimentação ao estudante da UFPI em situação de vulnerabilidade social e econômica,
proveniente do interior do Piauí ou de outros estados, garantindo a sua permanência
na Instituição e conclusão do Curso no tempo regulamentar. A Bolsa de Apoio
Acadêmico é um benefício financeiro concedido ao estudante da UFPI em dificuldade
socioeconômica, tendo como contrapartida a prestação de serviços administrativos
nos diversos setores desta instituição, ou em projetos de extensão e de pesquisa
(UFPI, 2010).
A Bolsa Alimentação é um beneficio que garante o acesso do estudante em
dificuldade socioeconômica ao Restaurante Universitário, com isenção total da taxa.
Nos campi do interior do estado, a Bolsa Alimentação é concedida aos estudantes na
forma de auxílio financeiro. “Segundo VIEIRA (2010, p. 02 apud GUIMARÃES;
NOGUEIRA, 2010, p.01) o restaurante universitário é uma forma de garantir a
permanência do aluno na universidade, fazendo com que este tenha condições de
estudar e terminar seu curso no tempo regulamentar”.
O Projeto Inclusão Social integra a política de inclusão social e apoio ao
estudante com deficiência, facilitando a sua permanência na instituição e melhorando,
consequentemente, a sua qualidade de vida, sendo uma de suas atividades a
concessão de bolsa especial destinada aos universitários da UFPI que desejam e
tenham disponibilidade para auxiliar e acompanhar, nas atividades acadêmicas, os
colegas com deficiência (visual, auditiva e outras) (UFPI, 2010).
O Atendimento Odontológico é um benefício gratuito para toda a comunidade
universitária, com atendimento clínico na área de diagnóstico (clínico e radiológico),
restauração, prevenção e profilaxia de segunda a sexta-feira. Já o Atendimento
Psicossocial e Pedagógico é acessível à comunidade universitária, com a finalidade de
apoiar o estudante e o servidor, contribuindo para a superação de dificuldades sociais,
psicológicas e pedagógicas e por fim o Auxílio ao Estudante Estrangeiro que abrange
o atendimento Odontológico, o atendimento Psicossocial e Pedagógico e a Bolsa
Alimentação (UFPI, 2010).
V CONSIDERAÇÕES FINAIS
Identificam-se avanços no âmbito da assistência estudantil para o ensino
superior, tanto no que tange ao acesso quanto nas condições disponibilizadas para
que a população de baixa renda permaneça na universidade e conclua o curso
superior, por meio dos serviços proporcionados como transporte, moradia estudantil,
alimentação subsidiada, assistência médica disponível nos hospitais universitários,
bolsas de pesquisa, bolsa trabalho, etc..
A criação de mecanismos de acesso e permanência ao ensino superior
brasileiro, ainda que tenham se multiplicado e aprimorado nestes últimos anos, com
padrões mais extensos e democráticos, contribuindo para minimizar o distanciamento
entre as disparidades sociais, culturais e econômicas que dificultam o acesso e a
permanência dos estudantes de baixa renda na universidade pública brasileira, não
conseguem superar diante dos limites na oferta dos serviços e a grande demanda
apresentada pelos estudantes nas universidades publicas.
Com isto, aprende-se que a democratização das universidades publicas se
dá numa perspectiva neoliberal, o Estado cada vez mais sai da arena das políticas
publicas, descentraliza para o mercado sob a lógica da parceria, criando programas
como o FIES para proporcionar a ampliação de vagas, selecionando os mais pobres
para acessar ao financiamento a fim de cursar o nível superior no sistema privado,
diante da dificuldade de ter acesso a universidade pública
Assim, a Universidade Federal do Piauí, no âmbito da política pública para a
educação superior conta com os mecanismos de acesso e permanência no ensino
superior, dentre eles o sistema de cotas e de permanência, as bolsas remuneradas
que auxiliam na diminuição da evasão dos estudantes nos cursos, permitindo que os
mesmos concluam a graduação seguindo a grade curricular do curso.
Verifica-se que a cada ano cresce o número de estudantes que se escrevem
por benefícios remunerados, no entanto, a oferta destes serviços não cobre a
demanda apresentada. Nos últimos processos seletivos constata-se a redução das
bolsas e o aumento de estudantes escritos para concorrer às vagas ofertadas,
exigindo, com isto, critérios mais seletivos e excludentes.
5 REFERÊNCIAS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. Relatório de Gestão – 2004/ 2008. Teresina, 72 p.
VIEIRA, Jaudimar. In: GUIMARÃES, Mariana; NOGUEIRA, Larissa. Informativo Praec. Teresina: 2010, p. 02.
OS IDOSOS NA AGENDA DAS POLÍTICAS DE PROTECÃO SOCIAL NO
BRASIL
Maria do Rosário de Fátima e Silva10
RESUMO
Os idosos têm se constituído grupo de pressão tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. No Brasil, o crescimento acelerado da população idosa tem nas últimas décadas redimensionado a agenda pública estatal. Um marco legal importante é a Constituição vigente que reconhece o dever da família, da sociedade e do Estado em amparar as pessoas idosas, assegurando-lhes proteção social enquanto direito de cidadania. O artigo constitui síntese de pesquisa sobre o Sistema de Proteção Social Brasileiro e as Necessidades da População Idosa, realizada no Estágio de Pós-doutoramento na PUC-SP, privilegiando como metodologia a pesquisa bibliográfica e documental.
PALAVRAS – CHAVE: Idosos, proteção social, agenda pública, direitos
ABSTRACT The elderly are an articulation group in developed countries and in developing countries. The rapid increase in the elderly population have resized the state public agenda in recent decades. The current Constitution that recognizes the role of the family, society and the State to assist the elderly is an important legal framework . This constitution ensures social protection as a right of citizenship. The article summarizes research on the Brazilian Social Protection System and the demands of the elderly population, completed the Post -doctoral internship at PUC-SP. It was used as methodology the bibliographical and documentary research.
KEYWORDS: Elderly , social protection, public agenda , rights
10
Doutora.Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
A longevidade conquistada no final do século XX e que se afirma com
os avanços da ciência e da tecnologia no século XXI, traz embutida em sua
proposição o desafio da execução de políticas públicas que assegurem qualidade de
vida ao segmento social idoso. Este contingente populacional tem pressionado
quantitativamente a densidade demográfica nos países desenvolvidos e em
desenvolvimento como o Brasil, sobretudo nas três últimas décadas, exigindo um novo
direcionamento da agenda pública estatal no sentido de reconhecer suas
especificidades e atender as suas necessidades.
As reflexões que compõem este artigo fazem parte de uma pesquisa mais
ampla sobre o Sistema de Proteção Social Brasileiro e Português e as Necessidades
da População Idosa, realizada durante o Estágio de Pós – Doutoramento em Serviço
Social no Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A referida pesquisa teve por objetivo
analisar o processo de constituição e concretização desses sistemas de proteção
social, destacando as ações destinadas ao atendimento das necessidades dos idosos,
buscando identificar as peculiaridades de cada realidade no trato social com as
questões que cercam o processo de envelhecimento populacional. No tocante á
realidade brasileira objeto de reflexão do presente artigo, priorizamos a interpretação
da agenda pública governamental para identificar o nível de investimento em medidas
concretas das diretrizes de políticas públicas que se destinam a assegurar proteção
social aos idosos.
No Brasil a constituição do sistema de proteção social envolveu dois
grandes marcos históricos: o primeiro período pós 1930, quando se reconhece direitos
sociais na área trabalhista e previdenciária e o segundo marco, pós Constituição de
1988, quando se amplia o padrão de proteção social com a incorporação da
perspectiva da seguridade social, cujo tripé compreende as ações na área das
politicas de saúde, assistência social e previdência.
O estudo em questão privilegiou como metodologia de análise a pesquisa
bibliográfica e documental. Na pesquisa bibliográfica realizada a partir da
sistematização de produções teóricas sobre a constituição e concretização do sistema
de proteção social no Brasil, buscou-se a apreensão da proposta nos aspectos gerais
e nas suas peculiaridades referentes ao atendimento das necessidades da população
idosa. A pesquisa documental procurou interpretar a agenda pública estatal
buscando localizar as diretrizes direcionadas ao atendimento das demandas dos
idosos. Para tanto, foram realizados levantamentos nos planos, políticas e programas
governamentais concebidos e implementados no período de meados dos anos 90 aos
dias atuais, buscando-se averiguar a coerência entre os mecanismos legais e as
ações efetivamente implementadas.
2. O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A AGENDA PÚBLICA NA REALIDADE
BRASILEIRA.
Um Olhar sobre a realidade brasileira quando já se completou a
primeira década do século XXI, vai encontrar a presença massiva dos idosos. Entre
2000 e 2010, de acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia
Estatística - IBGE, a população idosa passou de 14,5 para 20,6 milhões de pessoas.
“Em 2011 a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD estimou as pessoas
idosas em cerca de 23 milhões, representando quase 12% da população total.
Segundo estimativas do IBGE, a população idosa em 2030, deve ultrapassar a marca
de 30 milhões”. (BRASIL, PPA 2012-2015, 2013, p.69). Esta realidade inquestionável
indica a necessidade do redirecionamento da agenda pública governamental de modo
a acomodar a atenção prioritária às ações destinadas aos idosos e às crianças
enquanto faixas etárias que se localizam nos pontos extremos da trajetória de vida do
ser humano. Mais do que redimensionar a agenda pública as necessidades dos idosos
enquanto sujeitos de direitos exige da sociedade brasileira a ressignificação da velhice
no cotidiano da existência humana. Trata-se de reconhecer o lugar social a ser
assegurado àqueles que acumularam sabedoria e experiência ao longo da sua
trajetória de vida.
O novo significado social atribuído à velhice inaugura um novo
posicionamento na sociedade local contrariando uma tradição que sempre cultuou
com veemência o padrão da juventude como se fosse uma fase permanente na vida.
Esta tradição revela que a sociedade brasileira não aprendeu a cultivar e a valorizar a
sabedoria dos mais velhos, afastando a pessoa idosa para fora da cena pública,
obrigando-a a recolher-se aos seus aposentos, contribuindo dessa maneira para
reforçar o estigma da inutilidade da sua condição.
É muito recente na sociedade brasileira a preocupação com o processo
do envelhecimento da população. As necessidades e limitações apresentadas pelos
idosos antes destinadas à caridade das instituições religiosas e filantrópicas, começa a
figurar na agenda pública governamental como prioridade somente no ano de 1988,
com o advento da nova Constituição. Como desdobramentos das prerrogativas postas
pelo texto constitucional identificamos nos anos 90 e anos 2000, a adoção de algumas
medidas de políticas públicas, por parte do Estado no sentido de garantir proteção
social como direito de cidadania principalmente àqueles idosos que não detinham os
meios de se auto sustentar e nem a sua família. Essa preocupação pública com o
processo do envelhecimento foi forçada em grande parte pela organização dos idosos,
realçando-se nessa linha o protagonismo do movimento social dos trabalhadores
aposentados na luta pela garantia de direitos conquistados pela dedicação a uma
longa jornada laboral.
O movimento dos aposentados posicionou na cena pública dos anos 80
no Brasil os idosos como um novo sujeito político que reivindicava direitos a uma
velhice com dignidade. A legitimidade desta luta foi reconhecida pela Constituição de
1988 no capítulo VII da Ordem Social, Art. 30, que reconhece o dever da família, da
sociedade e do Estado de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação
na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar social e garantindo-lhes o
direito à vida (BRASIL, 1988)
2.1. O idoso como eixo de preocupação das políticas públicas no Brasil:
O ser humano longevo se põe na sociedade contemporânea como uma
conquista da humanidade conforme já mencionamos na introdução destas reflexões.
No entanto garantir qualidade de vida aos anos adicionados á existência por esta
conquista da civilização humana se coloca como exigência dos novos tempos. No
Brasil apesar dos marcos legais que estabelecem diretrizes relacionadas ao
atendimento das necessidades da população idosa ainda estamos vivenciando a
perspectiva da concretização desses direitos, ressaltando-se o direito a envelhecer
com dignidade e com qualidade de vida a ser assegurado pela efetivação de políticas
públicas sob a responsabilidade do Estado.
A efetivação desses direitos põe desafios a serem enfrentados pelo
Estado na composição de sua agenda pública cuja materialização ocorre no âmbito
das ações governamentais. Esta agenda conforme Berzins (2003), deverá incorporar
entre outras diretrizes: a execução de políticas e programas que garantam o
envelhecimento digno e sustentável; a execução de políticas que promovam o
envelhecimento ativo, propiciando qualidade aos anos adicionados á vida; a
implementação de políticas e programas que promovam uma sociedade inclusiva e
coesa para todas as faixas-etárias. .
A conformação desta agenda pública subtende o reconhecimento de
direitos á vida, à dignidade e à longevidade como direitos de cidadania e dever do
Estado. Do lado do Estado nesta ótica de responsabilização e recorrendo à
contribuição de Demo (1996), é fundamental definir o papel do Estado como espaço
estratégico de equalização de oportunidades e como agente de assistências e
serviços públicos. Em termos de política social como ação mediadora do Estado é
fundamental na perspectiva do autor, o enfrentamento de dois desafios: a defesa do
lugar do Estado como serviço público necessário e estrategicamente equalizador de
oportunidades e a defesa do controle democrático popular sobre as suas ações por
meio da cidadania organizada.
A perspectiva do envelhecimento encarada como vitória da
humanidade e não enquanto problema recupera o papel do Estado como espaço
estratégico e equalizador de oportunidades de reinserção social da pessoa idosa como
sujeito de direitos e como eixo de preocupação das políticas públicas. Estas políticas
são materializadas através de programas e projetos que buscam estabelecer novos
papéis sociais aos idosos, estimulando a sua independência e autonomia na vida
social. Neste aspecto ainda segundo Berzins (2003), com o aumento da longevidade
há a necessidade da adoção de políticas públicas que habilitem o idoso e reforcem a
sua presença e o seu lugar na sociedade.
Como síntese das garantias constitucionais no campo das políticas
públicas dirigidas ao segmento social idoso no Brasil, foi promulgada em 1994, a
Política Nacional do Idoso - PNI, através da Lei nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994,
tendo por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Antes da
promulgação da PNI, em 1993 a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, Lei nº
8.742, já reconhecia a pessoa idosa com um dos seus segmentos de atenção
prioritária. No ano 2003 foi criado pelo governo brasileiro o Estatuto do Idoso, Lei nº
10.741, de 1º de outubro de 2003, destinado a regular os direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.
Em 2004 a área da assistência social ganhou o estatuto de política
pública quando foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social, através de
Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2004, do Conselho Nacional de Assistência
Social e incorporada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á fome –
MDS, com o objetivo de prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção
social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles
necessitarem.
Outra prerrogativa legal de reconhecimento de direitos aos idosos ocorreu
em 19 de outubro de 2006, quando foi assinada pelo Ministério da Saúde, a Portaria nº
2.528, que aprovou a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, regulamentando
uma iniciativa anterior do mesmo ministério, datada de 1999, cuja portaria nº 1.395,
estabelecia a necessidade de uma política de saúde direcionada aos idosos no país.
Essas políticas públicas fazem parte das medidas de proteção social destinadas ao
segmento populacional idoso no país.
A luta pela garantia dos direitos previstos tanto na PNI quanto no
Estatuto do Idoso tem despertado a população idosa no Brasil, especialmente aqueles
que experimentam alguma forma de engajamento social, a vontade de participar
politicamente do processo decisório das questões que lhes dizem respeito. Neste
sentido os idosos têm buscado participar dos canais democráticos já conquistados a
exemplo dos conselhos, conferências e fóruns de debates onde a defesa dos seus
direitos esteja incluída como pauta.
A Política Nacional do Idoso (PNI) com desdobramentos em níveis,
estadual e municipal e o Estatuto do Idoso são legislações sociais regulamentadas
pelo Estado brasileiro e que orientam as ações a serem implementadas pelo poder
público no atendimento dos direitos da pessoa idosa em cada instância federativa,
observando-se a intersetorialidade destas ações com as demais políticas sociais,
objetivando atenção prioritária às necessidades desse segmento social. A PNI
estabelece entre outras diretrizes, a viabilização de formas alternativas de
participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração ás
demais gerações (BRASIL, 2010). O Estatuto do Idoso por sua vez ao regulamentar
esta política reconhece no seu Artigo 2º, que o idoso goza de todos os direitos
fundamentais inerentes á pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades
e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (BRASIL,
2003)
2.2. O idoso enquanto sujeito político de direitos:
Outro aspecto importante a ser considerado na trajetória de construção da
cidadania da pessoa idosa se refere à sua participação política nos espaços de
controle democrático das ações do Estado. Registra-se como exemplo os Conselhos
de Direitos dos Idosos criados no Brasil em âmbito federal, estadual e municipal, como
instâncias de controle social das ações governamentais no campo da formulação,
implementação e execução de políticas públicas destinadas ás pessoas idosas. Estes
conselhos foram propostos pelo texto constitucional vigente no Brasil, como espaço de
participação da sociedade civil no controle da gestão pública.
Os Conselhos de Direitos dos Idosos têm como atribuição a fiscalização e
o controle social das ações de governo relacionadas á operacionalização da política
pública voltada para o atendimento dos direitos da pessoa idosa, como também
influenciar no processo de formulação dessa política, participando do debate no
espaço dos fóruns e conferências específicas convocadas e realizadas periodicamente
em âmbito federal, estadual e municipal. Este avanço democrático da Constituição
contribuiu para restabelecer a relação entre Estado e sociedade na concretização do
interesse público. Está claramente evidenciado na Constituição, especificamente no
capítulo destinado às políticas de seguridade social que compõem o tripé: saúde,
assistência social e previdência, que a gestão destas políticas se fará assegurando-se
a primazia da condução do Estado com a participação da sociedade. Nos conselhos e
nas conferências a participação dos idosos tem contribuído para fortalecer a sua
consciência crítica e o seu protagonismo social enquanto sujeito político.
As três áreas integrantes da seguridade social brasileira se encontram
permeadas pelas necessidades dos idosos enquanto sujeito social que transita pelas
três políticas sociais conformando direitos. Na saúde lhes é assegurado a prevalência
do atendimento fundamentado no princípio do direito universal; na assistência social é
assegurada a proteção social básica e especial através de ações que objetivam
assegurar provisão de suas condições de vida e garantir a sua defesa em situações
de violação de direitos; na previdência social lhes é assegurado o benefício social
diante de uma jornada laboral completada, ou um benefício de prestação continuada
àqueles que não tenham condições de se auto sustentar e nem a sua família.
3. CONCLUSÃO
A análise das informações sistematizadas pela pesquisa revelou de um
lado um cenário que apresenta um panorama de conquista e reconhecimento de
direitos aos idosos brasileiros e de outro, a expectativa da sua efetivação. Neste
sentido põe-se a perspectiva da emancipação da pessoa idosa como sujeito político
com capacidade de interferir nas decisões que lhes dizem respeito, contribuindo para
qualificar e fortalecer a sua participação cidadã. Esta perspectiva supõe a
compreensão das determinações políticas, sociais e culturais que cercam o processo
do envelhecimento, entendendo a velhice enquanto construção social e histórica
revestida do caráter da heterogeneidade.
Num país continental como o Brasil, atravessado por profundas
desigualdades sociais registra-se diferentes e heterogêneas formas de envelhecer.
Estão presentes neste processo os aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos
no tocante ao acesso de bens e serviços sociais disponibilizados, revelando situação
de exclusão de grande parcela dos idosos dos bens essenciais à existência humana.
A correção dessas defasagens de natureza social implica o reposicionamento dos
idosos no seu lugar social no tempo presente, superando preconceitos e estigmas e
questionando os padrões utilitários da sociedade capitalista que ressalta a inutilidade
dos idosos para uma sociedade assentada na produtividade material. Trata-se de
buscar redirecionar a agenda pública e pautá-la em uma nova lógica regida pela
eqüidade e pela justiça social, fundamentada em princípios éticos que ressaltem a
prevalência do ser humano no processo de desenvolvimento de uma nação, de um
Estado e de uma municipalidade. O sistema de proteção social para além da
prevenção e proteção dos riscos sociais precisa garantir permanentemente o bem
estar social dos cidadãos independente de sua faixa etária e condição social.
4. REFERÊNCIAS
1. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Cap. VII. Título da
Ordem Social, Art.30, Brasília, 1988.
2. BRASIL, Política Nacional do Idoso. Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome - MDS. Brasília, 2010.
3. BRASIL, Estatuto do Idoso. Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome – MDS. Brasília, 2003.
4. BRASIL, Plano Mais Brasil PPA 2012-2015; agendas transversais –
monitoramento participativo: pessoa idosa, ano base 2012. Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão/SPI. Brasília, 2013.
5. BERZINS, M. A. V. da S. Envelhecimento populacional; uma conquista para
ser celebrada. In: Serviço Social e Sociedade. (75), p. 19-34. São Paulo: Cortez,
2003.
6. DEMO, P. A questão do Estado. In P. Demo. Política social, educação e
cidadania. (2), (43-54). Campinas: Papirus, 1996.
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SERVIÇO SOCIAL SOBRE O USO DE
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO SOCIAL EM BUSCA DA PROTEÇÃO ÀS FAMÍLIAS,
EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE, INSERIDAS EM PROGRAMAS DE
TRANSFERÊNCIA DE RENDA.
Ana Rojas Acosta11
RESUMO:
Este trabalho apresenta parte do levantamento da produção do
conhecimento na área de Serviço Social, especificamente
sobre aquelas famílias em situação de vulnerabilidade e
inseridas em programas de transferência de renda, onde se
faz uso de sistemas de informação social na busca pela
proteção social. Analisa a produção do conhecimento, a partir
dos trabalhos apresentados nos Encontros Nacionais de
Pesquisadores em Serviço Social - ENPESS desde sua IX
edição, em 2004 à última, XIV, realizada em 2014, com vistas
que a formulação, implementação, execução e avaliação de
políticas e programas sociais sejam pautados na
instrumentalização do Assistente Social.
Palavras chave: Sistemas de informação, gestão social,
produção do conhecimento, instrumentos.
ABSTRACT
This paper presents part of the survey of knowledge production in the area of Social Work, specifically on those families in vulnerability situations and inserted into income transfer programs, where social information systems are used in the quest for social protection. It analyzes the knowledge production from papers presented at the National Meeting of Researchers in Social Work - ENPESS, since its IX edition in 2004 until its last one, XIV, held in 2014, in order that the formulation, implementation, execution and evaluation of the social programs and policies were guided at the instrumentalization of the social worker.
Keywords: information systems, social management, knowledge production, tools.
11
Doutora.Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Campus Baixada Santista. E-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
Este estudo tem por objetivo analisar a produção acadêmica em Serviço
Social, publicada nos ENPESS dos anos de 2004 a 2014, tendo como horizonte os
avanços e perspectivas assumidas pelo Serviço Social na sua intervenção profissional
a partir do uso de sistemas de informação de gestão social, principalmente no que se
refere à proteção às famílias em situação de vulnerabilidade, inseridas em programas
de transferência de renda.
Esta pesquisa, em nível de pós-doutoramento, vem se realizando, desde
julho de 2014, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - sob a supervisão das
Professoras Doutoras Myrian Veras Baptista e Maria Carmelita Yazbek,
Os aspectos analisados em cada produção - além do número de autores
por trabalho apresentado, as instituições a que pertencem e seus Estados de origem –
a proporção e profundidade dos trabalhos teóricos/empíricos apresentados, em relação
a outras temáticas; a especificidade do objeto pesquisa no contexto do tema básico; a
metodologia de pesquisa desenvolvida; e, os resultados alcançados.
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo e quantitativo de natureza
documental, cujos insumos básicos foram os trabalhos produzidos nos referidos
encontros. Segundo o Minayo (2008) a pesquisa qualitativa responde a questões muito
particulares. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos
humanos se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar
suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.
Realizamos leitura das principais categorias teóricas e empíricas
identificadas nos respectivos trabalhos produzidos ao longo do período de 2004 a
2014, nas quais o uso de sistemas de informação de gestão social no Serviço Social
foi apresentado, isto para aproximarmos às inferências e/ou sua relação com a
instrumentalidade, particularmente, a informacional.
Nesse sentido, buscando atender aos objetivos propostos realizamos
levantamento de toda a produção relacionada ao tema da pesquisa, publicada em cada
evento - ou seja, aqueles que abordaram assuntos que dizem respeito diretamente aos
sistemas de informação e a sua utilização em Programas de Transferência de Renda
com vistas à proteção social,
Esse levantamento geral da produção existente nos arquivos do ENPESS,
nessa década, teve por finalidade estabelecer uma configuração geral dos trabalhos
que tratam diretamente dos sistemas informacionais e da proteção social nos
Programas de Transferência de Renda - PTR, seus objetivos de pesquisa e suas
experiências. Com a realização desse levantamento buscamos indicar aspectos quali-
quantitativos da produção levantada, destacando-se, entre outros aspectos, os acima
indicados.
A partir do mapeamento produzido, estabelecemos uma configuração geral
da produção nas seis edições, seguida de leitura analítica dos trabalhos, buscando
entender o tema, o objeto de estudo, a metodologia, as propostas, os objetivos e os
resultados alcançados.
Nesse sentido, entendemos que esta atividade foi a mais intensa na
produção desta pesquisa, pois para melhor nos organizar, estabelecemos eixos
sínteses analíticos sobre a instrumentalidade no exercício da intervenção profissional
do Assistente Social, fundamentais para a análise e sistematização geral do
conhecimento produzido nesses Encontros.
O ponto de partida para a atualização da discussão sobre do tema objeto
desta pesquisa foi a revisão bibliográfica, considerada como marco referencial
prioritário. Procuramos autores que estudem e discutam a instrumentalidade, na sua
especificidade de sistemas de informação de gestão e proteção social e as tendências
modernas que contemplem a utilização de novos instrumentos do fazer-profissional.
Dado ao fato de termos por referência o número de produção do serviço
social nessa área, tendo em conta sua apresentação nos Encontros, a pesquisa foi de
caráter universal, ou seja, foram analisados todos os trabalhos apresentados e
relacionados ao objeto desta pesquisa, mas que, a modo de exemplo dessa primeira
aproximação apresentamos neste trabalho, a análise de uma edição, isto é, da edição
realizada em 2004.
2. DESENVOLVIMENTO
A opção pela análise de uma década da produção do conhecimento, isto é
de 2004 a 2014, deve-se ao fato que em 2004 foi aprovado a Política Nacional de
Assistência Social – PNAS onde a categoria profissional do Serviço Social tem uma
participação muito atuante, desde sua formulação, implantação e implementação ao
largo desse período.
Nesse sentido, os órgãos da categoria profissional do Serviço Social,
através de suas escolas de formação profissional, organizadas na sua Associação
Brasileira de Ensino e Pesquisa – ABEPSS e seu Conselho Federal de Serviço Social
– CFESS, que orienta, disciplina, normatiza, fiscaliza e defende o exercício profissional
do/a assistente social no Brasil, em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço
Social (Cress) vem realizando permanente, entre os membros da categoria, diversos
encontros, seminários, fóruns e congressos a fim de debater questões que afetam a
sociedade brasileira.
Portanto, para fins deste estudo e, no âmbito referido acima, foram
identificados dez encontros realizados dentre os pesquisadores que se observam a
seguir:
Quadro I. Encontros de Pesquisadores
Encontros Titulo Estado/Local Período
IX
Encontro
Os desafios da Construção do Conhecimento
em Serviço Social
Porto Alegre/ Rio
Grande do Sul
30 de novembro a 02 de
dezembro de 2004.
X Encontro Crise Contemporânea: Emancipação Política e
Emancipação Humana: Questões e desafios do
Serviço Social no Brasil.
Recife/Pernambuco 04 ao 08 de dezembro
de 2006
XI
Encontro
Trabalho, Políticas Sociais e Projeto Ético-Político
Profissional do Serviço Social: Resistência e
Desafio
São Luis/ Maranhão 01 a 06 de dezembro de
2008
XII
Encontro
Trabalho Crise do Capital e Produção do
Conhecimento na Realidade Brasileira: pesquisa
para quê, para quem e como?
Rio de Janeiro 6 a 10 de dezembro de
2010
XIII
Encontro
Serviço Social, acumulação capitalista e lutas
sociais: o desenvolvimento em questão
Juiz de Fora / Minas
Gerais
5 a 9 de novembro de
2012
XIV
Encontro
Lutas Sociais e Produção de Conhecimento:
Desafios para o Serviço Social no Contexto de
Crise do Capital
Natal / Rio Grande
do Norte
30 de novembro a 04 de
dezembro de 2014
Fonte: Elaboração própria baseada em Anais de ENPESS, Fevereiro 2014.
Do quadro acima o que se destaca é que a construção/produção do
conhecimento tem sido pauta constante nos encontros, o que referenda a necessidade
de identificar qual o uso, e qual instrumentalidade cotidiana no fazer profissional do
assistente social para atender as demandas do cotidiano. Dos seis encontros, objeto
desta análise, três expressam sua necessidade de debate diante da categoria
construção/produção do conhecimento.
O modo ilustrado, neste trabalho, segue uma primeira aproximação de
análise do IX Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, intitulado “Os
desafios da Construção do Conhecimento em Serviço Social” e realizado na
Pontifícia Universidade Católica de Rio Grande do Sul, cidade de Porto Alegre, de 30
de novembro e 02 de dezembro de 2004.
Em concordância com o afirmado, na abertura deste evento, pode-se aferir
que a produção do conhecimento na área, intensificou-se a partir de 1970, desde sua
imbricação com os primeiros cursos de Pós-graduação e, pela reforma universitária
que incorporou o Serviço Social à universidade brasileira.
Desse modo, a produção do conhecimento, segundo os organizadores do
evento foi que:
“Ainda que prioritariamente alicerçada na pós-graduação com núcleos de pesquisa consolidados, constata-se, hoje, a efetiva presença da investigação no ensino de graduação. As diretrizes curriculares reconhecem a investigação como elemento constitutivo – e não apenas complementar – tanto da formação, quanto do exercício profissional. A pesquisa de situações concretas, aliadas às suas determinações macro-sociais, é condição necessária tanto para superar a defasagem entre o discurso genérico sobre a realidade social e os fenômenos singulares com os quais o assistente social se defronta no seu cotidiano, quanto para desvelar as possibilidades de ação contidas na realidade”. (Apresentação do evento, anais).
Nesse, sentido, pode-se aferir que a organização deste encontro expressa
sua tendência política critica ao definir dentre seus interesses de discussão em eixos
tais como:
I) Formação profissional onde aborda temáticas como a) Fundamentos do
Serviço Social que trata história, teoria e método; ética em Serviço Social;
Serviço Social, Trabalho e Reprodução Social. Serviço Social, Direitos e
Cidadania, Serviço Social e Questão Social; b) Formação Profissional –
Estado da Arte: Implantação e implementação das diretrizes curriculares
(currículo, disciplinas, estágio, supervisão, diretrizes, conteúdos
curriculares); Pesquisa e Produção do conhecimento; Supervisão e Estágio
supervisionado; Implantação e implementação da Pós-Graduação;
II) Articulação entre Formação e Exercício Profissional onde tratam de a)
Serviço Social, Política Social, Estado e Sociedade: Estado e
Sociedade; Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência); Política
Social – Trabalho, Educação, Habitação, Meio Ambiente, Segurança
Alimentar, Questão rural-urbana, Drogas e Dependência Química,
Segurança Pública; Política Social – Criança e Adolescente, Pessoas
Portadoras de Deficiência, Idoso, etnia e gênero; Família e sistemas de
proteção social; Movimentos Sociais, Organizações da sociedade civil e
Cidadania;;Violência e cidadania; Planejamento e Avaliação de Política;
Espaços sócio-ocupacionais;
b) Intervenção profissional - Fundamentos Éticos-Políticos, Teórico-
Metodológicos e Instrumental Técnico-Operativo; Gestão e avaliação
de programas, projetos e serviços sociais (assessoria, consultoria, gestão
de recursos humanos, gestão orçamentária, gestão de serviços); Processos
políticos-organizativos da sociedade civil (consultoria e assessoria a
organizações sociedade civil, mobilização e articulação comunitária);
Exercício profissional e pesquisa; e
III) Educação Continuada: Implementação de programas de educação
continuada; Sistemas inovadores de educação continuada; Perfil de
demanda na área de Serviço Social para Educação Continuada.
Os 546 trabalhos apresentados neste encontro foram distribuídos em eixos
que se seguem no
Gráfico nº 1 - Trabalhos por eixos
48
59
228
125
0 50 100 150 200 250
EIXO 1 – FUNDAMENTOS DO
SERVIÇO SOCIAL
EIXO 2 – FORMAÇÃO
PROFISSIONAL E O
PROCESSO INTERVENTIVO DO
SERVIÇO SOCIAL
EIXO 3 – QUESTÃO SOCIAL E
TRABALHO
EIXO 4 –POLÍTICA SOCIAL
Notadamente o eixo que trata da questão social é a de maior demanda,
haja vista a diversidade de assuntos abordados nela, tais como: trabalho e classes
sociais, práticas sociais, instituições sociais, lutas sociais e organizações, questão
agrária, questão urbana e sócio-ambiental, questões étnico-raciais, de gênero e de
geração, controle social e participação social e estado, direitos e democracia.
Com o propósito de responder ao objetivo deste trabalho, realizamos busca
pelas palavras chaves tais como sistemas de informação, onde não identificamos
trabalho algum.
Buscamos com a palavra gestão social e identificamos dois unicamente
dos trabalhos no eixo 4 de política social intitulados Gestão Social pública e Gestão
Social Contemporânea: uma questão central na análise das políticas sociais
brasileiras.
Já a palavra Serviço Social foi identificado em 28 trabalhos, destes catorze
foram no sub-eixo de Fundamentos teóricos-metodológicos do Serviço Social, quatro
trabalhos no sub-eixo de Pesquisa em Serviço Social, sete no sub-eixo Projeto Ético-
Político do Serviço Social e três no sub-eixo de Ética e Serviço Social.
Proteção social teve a apresentação da produção de quatro trabalhos,
identificados três no sub-eixos de Seguridade e Políticas setoriais procedentes do
Estado de Rio de Janeiro e um no sub-eixo Planejamento e gestão de políticas,
programas e projetos sociais, oriundo da Parnaíba.
A família ou famílias foram abordadas em 4 trabalhos do total dos
apresentados neste Encontro, sendo que foram identificados no Eixo 3: Questão
Social e Trabalho, distribuídos dos no sub-eixo: Estado, Direito e Democracia, um no
sub-eixo Questões étnico-raciais, de gênero e de geração e um no sub-eixo de
Práticas sociais, instituições sociais, lutas sociais e organizações. A procedência dos
dois primeiros foi de Alagoas e Piauí, seguidos de Rio Grande do Sul e São Paulo
respectivamente.
A palavra vulnerabilidade se apresentou nos eixos dois e três deste
evento, com dois trabalhos em ambos os eixos.
No eixo dois encontramos os trabalhos intitulados Vulnerabilidade e
Violência: aproximações de análise e Exclusão, Vulnerabilidade Social e Redes de
Inclusão e no eixo três os trabalhos trataram de Aids: conhecimentos e vulnerabilidade
entre mulheres idosas de Campina Grande-PB e Vulnerabilidade Juvenil à Violência: o
caso da cidade de Vitória-ES.
No gráfico a seguir aprecia-se a totalidade dos trabalhos identificados foram
quarenta distribuídos da forma que se apresenta a seguir\;
Gráfico nº 2 Produção por categorias x objeto de estudo
Produção por categorias x objeto de estudo
Gestão Social
70% (28)
Proteção Social
10% (4)
Familias
10% (4)
Vulnerabilidade
10% (4)
Sistemas de
Informação0%
Sistemas de
Informação
Gestão Social
Proteção Social
Familias
Vulnerabilidade
Notadamente a palavra sistemas de informação não aparece nenhum
trabalho identificado, o que denota que a categoria profissional no produzia
conhecimento sobre esta ferramenta que muito poderia contribuir para a execução de
seus afazeres profissionais cotidianamente.
Portanto, realizamos busca com outras palavras aproximadas ao objeto de
estudo tal como tecnologia(s). No eixo 1, sub eixo Projeto ético-político do Serviço
Social o trabalho intitulado: O Potencial da Tecnologia da Informação para o
Fortalecimento do Projeto Ético-Político Profissional procedente do estado do Rio de
Janeiro. Porém a completude deste trabalho não foi identificada anexa aos anais do
evento.
No eixo dois houve a identificação de um trabalho intitulado Impactos das
Tecnologias de Informação no Serviço Social, também do Rio de Janeiro, porém ao
fazer a busca da completude do trabalho o encontramos com o seguinte titulo
Inovações Tecnológicas, Revolução Informacional e Processos de Metamorfoses nos
Serviços Da Light-Rio.
Foram encontrados dois trabalhos no eixo 4, sub-eixo Planejamento e
gestão de políticas, programas e projetos sociais intitulados Avaliação de Políticas
Sociais: proposta de indicadores em tecnologias sociais, oriundo da Bahia e Inserção
das Tecnologias na Política Pública de Educação no Município de Aracaju-SE que não
se identificou anexo aos anais deste Encontro.
Do exposto pode se afirmar que o acesso a completude dos trabalhos é
dificultado, seja por alteração do nome da produção, seja pela não apresentação do
trabalho para a disseminação nos anais correspondentes. Razão pela qual a leitura do
conteúdo destas pode-ser exclusivamente de dois dos quatro trabalhos com esta
palavra de tecnologias. Isto é os trabalhos Inovações Tecnológicas, Revolução
Informacional e Processos de Metamorfoses nos Serviços Da Light-Rio, do Rio de
Janeiro e Avaliação de Políticas Sociais: proposta de indicadores em tecnologias
sociais da Bahia.
Cabe ainda mencionar que na busca por esta palavra identificamos o nome
de uma mesa redonda intitulada: Revolução informacional e metamorfoses urbanas,
cuja procedência da proposta foi da UNB, onde foi apresentada a comunicação
intitulada Revolução Informacional, Condições Gerais de Produção Capitalista e
Contradições Urbanas da UFRJ que vincula a temática objeto desta pesquisa.
3. CONCLUSÃO
Da análise preliminar do primeiro encontro apresentado, objeto desta
pesquisa, pode-se aferir que, no período analisado a categoria profissional ainda
estava em fase de aproximação aos sistemas de informação baseados na informática.
A instrumentalidade do profissional do Serviço Social e das outras
categorias profissionais, responsáveis pela implantação da PNAS, demandavam, de
capacitação para sua implementação a fim de conta do tamanho do desafio dos novos
programas sociais nessa fase da política nacional protetiva.
A produção do conhecimento, ainda que incipiente, na categoria
profissional fez com que se criaram grupos de estudos nas universidades referência
de educação continuada e que parecerias com as instituições de ensino se tornassem
necessárias.
Compreendemos que no mundo globalizado, onde as informações são
transmitidas das mais diversas formas, principalmente, lançando mão do cbyespacio,
é necessário que o serviço social se aproprie e usufruía corretamente destas
ferramentas para ir criando e construindo espaços a novas estratégias e
instrumentais que qualifiquem a intervenção, no campo das políticas públicas.
Na década dos 80, quando do inicio da revolução informacional nos
países em desenvolvimento, na área das ciências sociais autores como Jean
Lojkine12 afirmavam que as novas tecnologias traziam e/ou colocavam em risco o
monopólio do pensamento, quer dizer, uma das características da divisão do trabalho
e, indagavam se era possível uma recomposição de funções na divisão do trabalho,
entre os que decidem e os que executam. Isto é, que os sistemas devem se
adequar as demandas e necessidades de seus usuários e não o contrário.
Nas seguintes edições dos ENPESS verificamos novas formas de
estabelecimentos de vínculos entre instituições de ensino e o setor público na busca
pela formação acima mencionada. A completude deste estudo será oportunamente
socializada quando da sua finalização.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Diretrizes Gerais
para o Curso de Serviço Social. Brasília: ABEPSS, 2012. In: http://abepss.org.br.
Acesso em 23 de novembro de 2013.
BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CNAS). Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004 / Norma Operacional Básica – NOB SUAS. Brasília, Novembro de 2005. Disponível em <http://www.mds.gov.br/cnas/politica-e-nobs/pnas-2004-e-nobsuas_08-08-2011.pdf/download>. Acesso em: 06 mar. 2015. ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, Os desafios da
Construção do Conhecimento em Serviço Social”, PUCRS, Porto Alegre, 2004.
12
Sociólogo francês que discute a temática desde os anos 80.
IAMAMOTO, Marilda. O trabalho do assistente social frente às mudanças do
padrão de acumulação e de regulação social. In: Capacitação em Serviço Social e
Política Social. módulo 1. Brasília: UnB, CFESS, 1999. p. 111-128.
YAZBEK, M. C.; GIOVANNI, Geraldo Di; SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Política
Social Brasileira no século XXI: a prevalência dos Programas de Transferência de
Renda. 1. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2004. 223 p.