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Bertha de Borja Reis do Valle (coord.) / Ana Maria Alexandre Leite Eliane Ribeiro Andrade/ Eloiza da Silva Gomes de Oliveira José Luiz Cordeiro Antunes / Maria Fernanda Rezende Nunes Maria Inês do Rego Monteiro Bomfim / Marly de Abreu Costa Osmar Fávero / Suely Pereira da Silva Rosa 2009 POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

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Bertha de Borja Reis do Valle (coord.) / Ana Maria Alexandre LeiteEliane Ribeiro Andrade/ Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

José Luiz Cordeiro Antunes / Maria Fernanda Rezende NunesMaria Inês do Rego Monteiro Bomfim / Marly de Abreu Costa

Osmar Fávero / Suely Pereira da Silva Rosa

2009

POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO

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© 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: Steve Woods

IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

V181 Valle, Bertha de Borja Reis do (coord.) ; Leite, Ana Maria Alexandre; Andrade, Eliane Ribeiro. et al. / Políticas Públicas em Educação /

Bertha de Borja Reis do Valle; Ana Maria Alexandre Leite; Eliane Ribeiro Andrade. et al. — Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2009.296 p.

ISBN: 978-85-387-0136-1

1. Ensino Fundamental. 2. Políticas públicas. 3. Administração da Educação. 4. Avaliação Institucional. 5. Perspectivas Educa-cionais. I. Título.

CDD 379

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Bertha de Borja Reis do Valle

Ana Maria Alexandre Leite (Ana Leite)

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Ja-neiro (UERJ). Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora titular da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia. Experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional atuando princi-palmente em Formação de Professores, Políticas Públicas, Planejamento e Gestão da Educação.

Mestrado em Educação Brasileira. Possui graduação em Psicologia, licen-ciatura em Psicologia e é Psicóloga na Universidade Gama Filho (1986). Atualmen-te atua na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro no Convênio Unirio-Projovem. É Diretora Pedagógica do GESTAR (Grupo de Estudos e Ação Racial de Nova Iguaçu e Maricá). Tem experiência na área de Educação com ênfase em Edu-cação Inclusiva e desenvolve pesquisas nas áreas de Juventude, Relações Raciais na Escola.

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Cursa o Doutorado na Universidad Nacional de Buenos Aires, na Argentina. Mestre em Educação pela UERJ (1991). Possui graduação em Pedagogia pela Uni-versidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-1985). Atuou nos diferentes níveis/etapas/modalidades da Educação Básica. É professor Assistente da Universidade Federal Fluminense (UFF).

José Luiz Cordeiro Antunes

Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF-2004). Mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação-IESAE, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-1993) e Pós-Graduação em Avaliação de Progra-mas Sociais e Educativos pelo International Development Research Center (1985) e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1978) e em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá (UNESA-1980). Atualmente é professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Técnica em Assuntos Educacionais. Tem experiência na área da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação de Jovens e Adultos, juventude e políticas públicas.

Eliane Ribeiro Andrade

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora adjunta, coordenadora do Laboratório de Estudos da Aprendizagem Humana (LEAH) e do Curso de Pedagogia a distância da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atua na área de Psicologia, com ênfase em Aprendizagem e Desempenho Acadêmicos.

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

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Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-2005). Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Ja-neiro (UERJ-1995). Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universi-dade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Atualmente é técnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIRIO. Profes-sora adjunta da PUC-Rio. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Pré-Escolar, atuando principalmente em Educação Infantil, Alfabe-tização e Currículo.

Maria Fernanda Rezende Nunes

Cursa Doutorado em Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-2002). Possui Licenciatura em Pedagogia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Atualmente, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino Médio e em Educação Profissional, atuando principalmente nos seguintes temas: Formação Docente, Ensino Médio e Políticas Públicas.

Maria Inês do Rego Monteiro Bomfim

Marly de Abreu Costa

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1995). Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-1985). Possui graduação em Pedagogia pela UERJ (1965). Atualmente é professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Avaliação Educacional, de Instituições, Sistemas e Programas Educacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: Avaliação, Formação de Professores, Avaliação da Aprendizagem e Ensino Fundamental.

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Osmar Fávero

Doutorado em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP-1984). Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Possui graduação em Matemática pela Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1970). Atualmente é professor titular (aposentado) da Universidade Federal Fluminense (UFF), vinculado como profes-sor permanente especial ao Programa de Pós-Graduação em Educação. Tem ex-periência na área de Educação, atuando principalmente em Educação de Jovens e Adultos e Educação Popular.

Suely Pereira da Silva Rosa

Especialista em Supervisão Educacional e Educação. Graduada em Pe-dagogia com habilitação em Supervisão Educacional e Administração Escolar. Professora de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa e Brasileira. Autora de textos e livros sobre Educação.

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Sumário

Ciência política e políticas públicas de Educação: aspectos históricos ....................................... 17

Ciência política: evolução do conceito .............................................................................. 17

Contexto mundial no final do século XX e o início do novo milênio ..................... 19

Contexto político brasileiro .................................................................................................. 22

Contexto nacional da Educação nas décadas de 1980 e 1990 ................................. 23

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional .............................................. 25

Condicionantes sociais e políticas da Educação ........... 33

Conquista da cidadania plena .............................................................................................. 33

Democracia como ideal político .......................................................................................... 37

Governabilidade e globalização .......................................................................................... 38

Formação de professores e as políticas de Educação .................................................. 41

Enfoque das políticas públicas recentes em Educação ............................................................ 49

A Educação Básica ..................................................................................................................... 51

A Formação Profissional .......................................................................................................... 55

O Ensino Superior ...................................................................................................................... 58

Concluindo .................................................................................................................................. 59

Concepção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96 ................... 67

Recordando a história .............................................................................................................. 67

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Fórum Nacional de Educação em Defesa da Escola Pública na LDB....................... 68

Continuando a história ............................................................................................................ 69

Fórum Nacional de Educação/Conselho Nacional de Educação ............................. 73

Concluindo .................................................................................................................................. 74

Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96 ................ 83

O que modificou? ...................................................................................................................... 84

Impasses e políticas atuais ..................................................................................................... 87

Finalizando nossa conversa ................................................................................................... 90

Organização e funcionamento da Educação Básica .......99

Um pouco de história ............................................................................................................100

A concepção de Educação Básica ......................................................................................102

A organização curricular da Educação Básica: a discussão da formação básica comum/formação comum/base nacional comum ............104

Os Parâmetros Curriculares da Educação Básica .........115

Como surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais? ..............................................117

Impasses e políticas atuais em relação à Educação .....127

Primeiro grande desafio para os educadores: o PNE – Plano Nacional de Educação, o PEE – Plano Estadual de Educação e o PME – Plano Municipal de Educação que queremos ..........................................129

Segundo grande desafio para os educadores: discutindo a gestão democrática ......................................................................................134

Terceiro grande desafio para os educadores: o financiamento da Educação ............................................................................................136

Quarto grande desafio para os educadores: construindo uma política global de valorização dos trabalhadores(as) em Educação (professores, funcionários técnicos-administrativos) .....................138

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Perspectiva educacional de inclusão ..............................147

Educação Especial ...................................................................................................................151

Educação Básica de Jovens e Adultos .............................163

Educação de Jovens e Adultos no Brasil de hoje .........................................................163

As diretrizes curriculares .......................................................................................................166

Os fóruns e os encontros nacionais de Educação de Jovens e Adultos ...............167

Algumas experiências em EJA ............................................................................................168

As relações políticas nacionais/políticas locais ............................................................172

Descontinuidade e falta de integração das políticas públicas ...............................175

Desafios da Educação Infantil ............................................183

Neoliberalismo: uma pausa para a história ....................................................................183

Educação Infantil e a legislação: letra morta .................................................................188

O MEC e a Educação Infantil: confrontando a realidade ...........................................191

Educação Infantil: implicações na prática ......................................................................192

Ensino Médio: a última etapa da Educação Básica.....201

O Ensino Médio na LDB .........................................................................................................203

A responsabilidade pela oferta de Ensino Médio ........................................................204

A autonomia das escolas: é preciso ousar ......................................................................204

A organização curricular do Ensino Médio: os avanços possíveis .........................206

A preparação geral para o trabalho no Ensino Médio: possibilidades.................208

Educação Profissional: o desafio de formar trabalhadores ...................................221

A Educação Profissional e a formação baseada em competências .......................222

A LDB e a legislação de Educação Profissional .............................................................224

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A avaliação institucional no Brasil ....................................235

Um pouco da história da avaliação institucional .........................................................236

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Prova Brasil ..........240

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)......................................................................241

Exame Nacional de Cursos (Provão) .................................................................................243

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) .............................244

Perspectivas futuras das políticas públicas ...................253

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Apresentação

Neste livro de Políticas Públicas em Educação você terá a oportunidade de refletir e de trocar ideias com seus colegas sobre a questão política da Educação em nosso país.

Nas duas aulas iniciais, você poderá fazer uma análise do conceito de ciên-cia política e do que entendemos por políticas públicas, além de refletir sobre os condicionantes sociais e políticas da Educação.

As aulas seguintes abordam enfoques recentes das políticas públicas, a concepção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) e as modificações introduzidas na Educação a partir de sua promulgação.

Outros assuntos que você terá oportunidade de estudar serão a organiza-ção e o funcionamento da Educação Básica em nosso país, os Parâmetros Curricu-lares Nacionais e os impasses e políticas atuais em relação à Educação.

As últimas aulas procuraram enfocar as políticas dos diferentes níveis e modalidades da Educação Básica, como a questão da Educação Inclusiva, da Edu-cação de Jovens e Adultos, os desafios da Educação Infantil, do Ensino Médio e do Ensino Profissionalizante.

Como últimos assuntos de leitura e estudo, você refletirá sobre as polí-ticas de avaliação institucional no Brasil e as perspectivas futuras da educação brasileira.

Este trabalho foi elaborado, sob a coordenação da Prof. Bertha do Valle, pelo grupo de pesquisadores da cidade do Rio de Janeiro – os demais autores do livro, que vêm, juntos, discutindo há vários anos a Educação Básica, em todos os seus níveis e modalidades, e o Ensino Superior no Brasil e participam de diversos fóruns de debates em defesa da educação pública e de qualidade para todos.

Esperamos que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão das políticas públicas em nosso país.

Boa leitura!

Bertha de Borja Reis do Valle

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Suely Pereira da Silva RosaO processo de discussão para a elaboração do projeto de lei que daria

origem à nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional durou oito anos, conforme o registro histórico desse processo. Com um tempo tão elástico, e com um Congresso renovável a cada quatro anos, era difícil manter uma discussão dentro de um nível de consenso geral. Foram na verdade três legislaturas, mais o impeachment do Collor, considerando, ainda, que as propostas começaram a ser apresentadas durante a Assem-bleia Constituinte. Estas mudanças, por ocasião do processo de votação, trouxe novos atores que apresentaram uma correlação de forças políticas desfavoráveis às propostas elaboradas pelas diferentes entidades ligadas ao magistério, o que se traduziu em um corpo de lei que não contemplou inúmeras propostas levadas pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pú-blica na LDB.

A retirada de alguns pontos considerados fundamentais foi a causa do descontentamento do grupo, já que muitos assuntos ficaram sem defini-ção, permitindo o uso de interpretações do grupo, quase sempre equivo-cadas e de justificativa para ações governamentais que nem sempre en-contram eco no texto da lei, e nesses casos, na intenção da lei.

Apesar da correlação das forças políticas não ter permitido mudanças que ultrapassassem o tradicional e que apontassem para uma gestão de-mocrática de escola, abrindo seus espaços para a participação de todos os envolvidos no processo educacional, o momento é de grande relevância para a Educação brasileira, que conseguiu promover ações que levaram muitos a discutirem a escola brasileira. Foi um marco histórico, se levar-mos em conta o grande número de entidades sindicais, acadêmicas e so-ciais que compuseram os diversos fóruns de discussão.

Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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Reservamos uma discussão sobre algumas modificações, lembrando também que a ação do Fórum Nacional não foi totalmente eficaz, mas conseguiu alterar o projeto inicialmente apresentado pelo senador Darcy Ribeiro.

No entanto, precisamos considerar que nossa discussão não tem a preten-são de abranger a totalidade deste debate enquanto proposta aprovada ou não, dada a complexidade de muitas questões, até entre as entidades participantes. Trabalharemos com os consensos não aproveitados.

O que modificou?A partir de nossos pressupostos é possível entendermos por que não po-

demos reduzir a nossa análise a uma posição de busca de perdas e ganhos ou de ranços e avanços, mas estaremos apresentando nosso balanço, levando em conta o contexto de sua elaboração.

As mudanças se corporificam quando a Comissão de Justiça do Senado, na figura do senador Hugo Napoleão, emite parecer de inconstitucionalidade do projeto que vinha da Câmara dos Deputados. Com certeza, mais uma das mano-bras políticas das forças governistas, na medida em que o projeto substitutivo havia passado por todas as comissões daquela Casa, que se constitui de forma idêntica ao do Senado e aprovado sem restrições pelas respectivas Comissões. Há ainda a se considerar que o projeto foi votado na plenária da Câmara e restrições por ressalva foi apresentada, apesar da quantidade de emendas e destaques que o substitutivo teve até chegar à plenária. Só nos resta acreditar em mais uma das manobras ardilosas criadas para impedir a apreciação do projeto aprovado na Câmara dos Deputados no Senado. Inconstitucional deveria ter sido considera-da a indicação para a relatoria do Projeto Darcy Ribeiro, o próprio apresentador da proposta. Inconstitucional deveria ter sido a falta de democracia que se deu no Senado quanto à discussão do projeto da senador Darcy Ribeiro que impediu a participação pública durante a tramitação do Projeto.

Analisando o texto da lei, podemos constatar que as modificações acabaram produzindo dubiedades e omissões a fim de escamotear a intervenção centra-lizadora do governo federal. Sob a justificativa de que era preciso ter uma lei “enxuta” como defenderam os seus criadores, acabamos com um documento que necessita de várias regulamentações, promovendo várias resoluções por parte do Conselho Nacional de Educação sem que democraticamente as mesmas sejam discutidas com o professorado.

Políticas Públicas em Educação

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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Vejamos o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais. No art. 8.º do Título IV a Lei estabelece que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, seus respectivos sistemas de ensino”, deixando de aproveitar neste artigo e nos subsequentes a redação do Projeto da Câmara que previa uma organização sistêmica mais articulada. No entanto, ao falar no “regime de colaboração”, o parágrafo 1.º deixa claro que

[...] por exercer a coordenação da política nacional de Educação, sendo responsável pela articulação dos diferentes níveis e sistemas, e tendo função normativa, entre outras, pode procurar estabelecer com Estados e Municípios uma relação de subordinação real. ( OLIVEIRA; GONDRA, 1997, p. 69-70)

Por outro lado, o art. 9.º define as incumbências da União e nos subsequen-tes as relativas aos estados e municípios, deixando claro que este último deve “organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais de seus siste-mas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados”, cabendo à União a elaboração da política nacional de Educação e das competências e diretrizes para a Educação Básica, explicitando-se assegurar a formação básica comum. Diante do exposto percebe-se a preocupação em ga-rantir o controle da União sobre a implantação dos chamados “Parâmetros Cur-riculares Nacionais” elaborados sob a coordenação da Secretaria de Educação Básica, aprovado por meio do Parecer 3/97 do Conselho Nacional de Educação, com total ausência de consulta ao professorado – público-alvo.

O anunciado regime de cooperação se apresenta como acessório da Lei e o papel do professorado que deveria ser de participação vira de “espectador passivo”. Embora o parecer sobre os Parâmetros Curriculares tenha enfatizado que eles não se constituem em uma proposição pedagógica obrigatória, cabem ainda duas indagações:

O processo de avaliação do rendimento escolar referido no art. 9.º, inciso 1. VI da LDB considerará o estabelecido nos PCN?

Por que os PCN foram elaborados antes do Conselho Nacional de Educa-2. ção emitir parecer sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais?

Para a primeira questão, caso seja afirmativa a pergunta, estaremos incons-titucionalizando os PCN como modelo curricular único para o país, caso contrá-rio, entendemos que será efetivamente contribuição aos sistemas e às escolas. Quanto à segunda questão, não temos clareza dos motivos que levaram à apre-sentação dos PCN sem que as Diretrizes Curriculares Nacionais estivessem expli-

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citadas. Acreditamos que tenha sido por excessiva centralização da União sobre os Estados e Municípios.

Esperamos que as equipes pedagógicas dos estados e municípios possam propor a ampliação deste debate e chegarem ao “pluralismo de ideias e de con-cepções pedagógicas” explicitada no art. 3.º, III, da Lei 9.394/96.

Outro ponto que gostaríamos de chamar a atenção diz respeito à estrutura e funcionamento do ensino, considerando que o Título V – Dos Níveis e das Moda-lidades de Educação e Ensino – resgata algumas ideias do Projeto da Câmara em detrimento das propostas do Projeto Darcy Ribeiro. O art. 21 divide a Educação escolar em dois níveis – Educação Básica, formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Superior. O Projeto Darcy Ribeiro apre-sentava uma concepção diferente de Educação e, portanto, constata-se a ausên-cia do termo Educação Básica.

O art. 22 define as finalidades da Educação Básica com redação equivalente à da Câmara. Por obedecer a um critério diferente quanto aos níveis de Educação, o Projeto Darcy Ribeiro previa: I – Educação Infantil; II – Ensino Fundamental; III – Ensino Médio, dividido em: a) ginásio e b) curso preparatório para o Ensino Su-perior e IV – Ensino Superior. A proposta, ainda, para dar conta dos dois níveis do Ensino Médio, propunha a redução de oito para cinco anos, prejudicando, com certeza, a formação básica do cidadão, considerando que a Educação Básica es-taria dividida em dois ciclos com terminalidade.

O objetivo do Ensino Médio se apresenta como preparação para o Ensino Superior, contrário ao aprovado: etapa final da Educação Básica.

O projeto aprovado também propõe inovações quanto às possibilidades de organização da Educação Básica: séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudo, grupos não-seriados e outras (art. 23), contrariando a proposta de Darcy Ribeiro que previa a manutenção das séries anuais, períodos semestrais ou outros, a critério do respectivo sistema de ensino.

Fechando este bloco, vale ressaltar que o projeto do senador Darcy Ribeiro exclui a concepção de Educação Infantil, predominando o caráter assistencialis-ta que era contraditório com outros artigos de seu próprio projeto. A Educação Infantil seria Educação escolar, mas não no sistema de ensino.

Muitas outras questões poderíamos estar apontando entre perdas e ganhos apresentados pelo texto aprovado. No entanto, não era de nosso propósito nos

Políticas Públicas em Educação

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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estender em demasia neste ponto. Resolvemos optar pela estrutura e funciona-mento da Educação Básica e os Parâmetros Curriculares Nacionais por entender-mos que fazem parte direta em nosso cotidiano escolar.

Registramos, ainda neste texto, a manutenção de oito anos para o Ensino Fundamental e o caráter obrigatório, além da gratuidade na escola pública. O Projeto Darcy Ribeiro reduzia esse tempo para quatro ou cinco anos.

Acreditamos que esta comparação poderá ser continuada por cada um de vocês que tiverem interesse em conhecer os principais debates ocorridos duran-te a elaboração e tramitação da Lei 9.394/96.

Assim, a análise até aqui destacada focaliza temas importantes para a nossa categoria profissional, lembrando o alerta que nos é trazido pelo Prof. Pedro Demo:

[...] as insatisfações que a Lei deixou ou manteve, diga-se ainda que toda Lei importante sofre, no Congresso, inevitavelmente sua marca histórica própria, sobretudo a interferência de toda sorte de interesses, muitas vezes pouco “educativos”. (DEMO, 1997, p. 10)

A partir desse pressuposto e conhecendo a composição do Congresso, não poderíamos, mesmo, esperar uma Lei que apontasse para uma abertura demo-crática, com a participação da sociedade.

Impasses e políticas atuaisReforçando os conceitos desta aula, um impasse que tem provocado inúme-

ras discussões nos encontros educacionais é a exacerbação do caráter centrali-zador do governo federal ao retirar do texto aprovado a construção de um Sis-tema Nacional de Educação e criado um Conselho Nacional de Educação (CNE) dividido em duas Câmaras: a de Educação Básica e a de Educação Superior, com “funções normativas e de supervisão e atividade permanente”.

Quanto à gestão dos sistemas e instituições educacionais, prevaleceu a visão de reforçar as prerrogativas centralizadoras e impositivas das chamadas “autori-dades educacionais”, derrotando a concepção de participação da comunidade em todas as instâncias deliberativas e órgãos colegiados, na escolha dos diri-gentes, nos financiamentos, por meio de uma prática transparente dos recursos educacionais.

Outras omissões encontram-se na lista dos impasses criados pelo novo texto da Lei 9.394/96 que vamos abordar neste momento.

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A omissão em relação ao número de alunos/classe, deixando a decisão �para os sistemas de ensino a partir das características regionais e locais, é no mínimo fechar os olhos para os “inúmeros estudos e a prática que comprovam os prejuízos que turmas muito numerosas acarretam para os resultados finais” (VALLE, 1994, p. 17). Nas disposições transitórias este assunto retorna sob a forma de “meta a ser alcançada.” Vale a pena nos lembrarmos que vivemos hoje a discussão do processo de inclusão dos alunos portadores de necessidades educativas especiais, que precisam de atendimento de qualidade e que não é possível fazê-lo com 40 crianças em uma sala de aula.

Na busca de uma Educação Básica mais democrática, o art. 11 possibilita o �estabelecimento de um Sistema Único de Educação Básica, o que exigirá não só a articulação dos setores envolvidos, bem como a ampliação para outros setores da sociedade civil organizada.

Embora a lei incorpore a concepção de Educação Básica, no momento �de determinar recursos não se verificou a ampliação destes e o Ensino Fundamental passa a ter prioridade sobre a Educação Infantil e o En- sino Médio. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Funda-mental e de Valorização do Magistério (Fundef) provoca uma contradição no espírito da LDB, pois exclusivisa recursos apenas para o Ensino Funda-mental. Este fato hoje superado, uma vez que o prazo de funcionamento do Fundef terminou, sendo aprovada a Lei 11.494 que cria o Fundeb, com atendimento a todos os segmentos da Educação Básica.

O art. 67 da nova LDB destina aos sistemas de ensino a valorização dos �profissionais da Educação, assegurada em estatutos e planos de carreira do magistério. Como fazê-lo sem recursos disponíveis? Este artigo con-templa ainda uma antiga reivindicação da categoria: o aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remune-rado para esse fim, tais como a aprovação da lei que garante a educação continuada, com remuneração e licença a cada sete anos. No entanto, al-guns pontos carecem de regulamentação.

O piso salarial profissional, ainda que lembrado, é genericamente tratado �no texto da lei, o que significa que continua distante a sua regulamentação. No entanto, foi assinada a lei que concede piso nacionalmente unificado para os professores. Procure acompanhar a proposta, pois a lei possui regras a serem observadas.

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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O texto de lei convoca, em muitas passagens, a participação efetiva dos �profissionais da escola na elaboração do projeto pedagógico nos “perío-dos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro-fissional”, art. 13, inciso V, porém sabemos que a questão da carga horária do professor se constitui em grave empecilho e a lei não faz referência “às obrigações paralelas de remuneração e planejamento por parte dos estabelecimentos e sistemas de ensino, de modo a manter respeitados os horários, carga horária e direitos trabalhistas dos docentes”(OLIVEIRA; GONDRA, 1997, p. 79).

Mesmo com os recursos escassos, anunciados sistematicamente, não se �conseguiu garantir a proposta de verbas públicas apenas para as escolas públicas.

Em muitos outros Títulos e Capítulos encontraremos dubiedades, omissões, impasses e obstáculos que deverão tomar conta de nosso interesse com o ob-jetivo de organizarmos discussões e propostas a serem encaminhadas à repre-sentação local do magistério que tem como obrigação defender nossos direitos. Porém, cada um precisa cumprir a sua parte para que o seu sindicato possa assu-mir a representatividade do seu grupo de profissionais.

Essas dubiedades, omissões, impasses ou obstáculos acabam se traduzindo em prejuízos para a Educação. No entanto, dada a correlação de forças, o gover-no necessitava de uma lei que desse conta de seu projeto político, assegurando--lhe o comando das formulações das leis em Educação, bem se aproveita para “redefinir o campo político do Legislativo, no qual circulava o Fórum, movimento invisível para o Executivo” (PINO, 1997, p. 6).

O Projeto do senador Darcy Ribeiro, segundo a Prof.ª Ivany Pino (1997, p. 6), cumpre o papel de ancorar as políticas apresentadas pelo Executivo, segundo a urgência da matéria, mediante medidas provisórias ou projetos de lei.

Estes fatos nos permitem compreender por que o substitutivo da Câmara sofria críticas de detalhista. Quanto mais genérica fosse, mais necessitaria de medidas provisórias, emendas constitucionais, projetos de leis e resoluções do próprio Ministério da Educação, permitindo, com isso, a reordenação da Lei de Diretrizes e Bases, por meio de tais mecanismos. Neste sentido, justificam-se a quantidade de resoluções baixadas pelo Conselho Nacional de Educação, os Projetos de Lei aprovados e os que se encontram em tramitação na Câmara dos Deputados.

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Sob este prisma, a LDB assume um papel legitimador das reformas que estão sendo apresentadas e aprovadas, não só por iniciativa do Ministério da Educa-ção como de alguns Estados e Municípios.

É verdade que esta Lei de Diretrizes e Bases não representa o sonho dos edu-cadores, no entanto, ela avançou no que foi possível, tais como na questão da estrutura e funcionamento da Educação, englobar em uma única lei toda a legis-lação de ensino, reconhecer a Educação Infantil enquanto sistema de Educação, permitir a organização do ensino de acordo com as necessidades de cada loca-lidade, dentre outros.

Finalizando nossa conversaNão podemos negar a importância do Fórum Nacional em Defesa da

Escola Pública na LDB enquanto interlocutor sobre a teoria e a prática da Edu-cação, considerando conforme já explicitado, o conjunto de entidades que o legitimavam. Esse fórum mobilizou educadores de cada canto deste país. Pro-moveu em nível nacional, estadual e municipal vários seminários, palestras, encontros, debates e congressos a fim de se buscar coletivizar as propostas de cada entidade representativa. As consensuais eram imediatamente incorporadas à pauta de reivindicações e as divergentes eram colocadas em processo de discus-são e votação. Em vários Estados e Municípios foram criados fóruns locais a partir de entidades organizadas, que contribuíram não só nas discussões, mas princi-palmente nos momentos de definições políticas e/ou de diretrizes de conteúdo, mobilizando seus grupos que partiam de cada Estado, em caravana, para Brasília, o que fazia aumentar e consolidar a representatividade do fórum. Estas caravanas se compunham de pesquisadores de vários Estados, de universidades, de centros de pesquisa, de técnicos de Secretarias de Educação, professores de escola básica e ensino técnico, ligados aos Fóruns Estaduais ou entidades sindicais.

A estes atores coletivos cabia “o papel de assegurar as políticas globais e ar-ticuladas como moderadoras das desigualdades econômicas e sociais e de res-ponder ao aumento das demandas no contexto de uma maior divisão do traba-lho e expansão do mercado, na sociedade de massas” (PINO, 1997, p. 6).

Vimos como as forças conservadoras se organizaram para traçar estratégias que impedissem a aprovação no Senado do Substitutivo Cid Sabóia, a fim de

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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incluir o projeto do senador Darcy Ribeiro, elaborado ainda no Governo Collor, com a participação do Ministério de Educação, conforme relata a Prof.ª Ivany Pino (1997, p. 7).

Reforçando esta avaliação, cabe mencionar a visão do Prof° Pedro Demo, que define com muita propriedade a relação LDB e o Congresso Nacional:

[...] a LDB é uma “pesada”, que envolve muitos interesses orçamentários e interfere em instituições públicas e privadas de grande relevância nacional como escolas e universidades. Não teria qualquer condição de passar com um texto “avançado”, no sentido de ser a “lei dos sonhos do educador brasileiro”. Como o Congresso Nacional é sobretudo um “pesadelo”, as leis importantes não podem deixar de sair com sua cara, e são, pelo menos em parte, também um pesadelo. Lei realmente “boa” só pode provir de um Congresso “bom”. Não é, obviamente, nosso caso, pelo menos por enquanto. (DEMO, 1997, p. 10)

É importante registrarmos a necessidade da sociedade civil ocupar seu as-sento na condução das políticas públicas em nosso país se queremos a demo-cratização das relações sociais. Não podemos permitir a acomodação e a manu-tenção das linhas conservadoras nas questões educacionais. É um trabalho lento que precisa de todos nós!

Como diz a Prof.ª Bertha Valle (1996) “não basta o texto da lei, há de se partir para uma ação político-social, a fim de sairmos das boas intenções para concre-tizarmos as ações”, e isso só acontecerá a partir da mobilização da sociedade civil como um todo.

Se as metas forem colocadas – reduzir o analfabetismo, universalizar a Edu-cação Básica e promover o processo de inclusão, com efetiva qualidade – esta-remos caminhando rumo a um novo horizonte educacional, que dependerá da participação de cada um de nós, no sentido de fazer nossos governantes apre-sentarem ações concretas para cada uma das metas anunciadas.

As modificações aqui apresentadas nos indicam as profundas reformas que acontecem na Educação brasileira e que não podem deixar de ser acompanha-das atentamente pelos educadores.

Procure fazer parte destas discussões, conhecendo em sua cidade as organi-zações que fazem parte do Fórum Nacional de Educação, apresentando suges-tões, entendendo que uma das dificuldades para os problemas educacionais é a descontinuidade das políticas públicas para a área.

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Texto complementar

Por uma educação democrática(Diretoria da APEOESP, 2008)

Nenhuma lei é capaz, por si só, de operar transformações profundas, por mais avançada

que seja, nem tampouco de retardar, também por si só, o ritmo de progresso da sociedade,

por mais retrógrada que seja.

Otaíza Romanelli

Consideramos, no início desta exposição, a dificuldade de fazermos um balanço da nova LDB sem levarmos em conta o contexto de sua elaboração para que a análise não se reduzisse a uma posição esquemática e polarizada do ganhou/perdeu. Desta forma, abordaremos alguns pontos mais impor-tantes da Lei, iniciando pelos seguintes artigos, recuperados da lei anterior-mente aprovada na Câmara dos Deputados:

Por pressão do Fórum Nacional e dos partidos comprometidos com os interesses populares, o artigo 4.°, que trata do direito à Educação e do dever de educar, acabou recebendo uma redação que garante, embora não tão plenamente como seria desejável, itens importantes como: a oferta de educação escolar para jovens e adultos adequada às necessidades e dispo-nibilidades; programas de atendimento ao educando; e padrões mínimos de qualidade do ensino, definidos como variedade e quantidade mínimas, por alunos, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

O artigo 11, que trata da organização da Educação Nacional, prevê a pos-sibilidade dos municípios optarem por se integrar ao sistema estadual de ensino ou de compor com ele um sistema único de ensino ou de compor com ele um sistema único de Educação Básica. No atual contexto, em que a municipalização do Ensino Fundamental está em discussão, a possibilidade de lutarmos pela constituição de um sistema único de Educação Básica pode se tornar um forte eixo de mobilização da sociedade na perspectiva da ga-rantia de escola pública para todos.

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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Outro ponto recuperado é o artigo 23 do capítulo que trata da organi-zação da Educação Básica. O projeto inicial do senador Darcy Ribeiro previa a organização da Educação Básica dividida em ciclos com terminalidade. O texto atual deixa livre esta organização. Estabelece as formas possíveis de organização da Educação Básica: séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudo, grupos não seriados e outras.

No artigo 26, que trata da estruturação curricular da Educação Básica, observa-se uma alteração do teor do Projeto Darcy Ribeiro sobre o ensino de Arte e Educação Física, colocando-as como componentes curriculares obrigatórios. Neste artigo, recupera também os pontos do texto da Câmara sobre: a obrigatoriedade do estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política e o ensino de, pelo menos, uma Língua Estrangeira Moderna, a partir da 5.ª série.

O artigo 32 determina a duração mínima de 8 anos para o Ensino Funda-mental (o projeto a reduzia para 4 ou 5 anos), além de assegurar seu caráter obrigatório e a gratuidade na escola pública.

O artigo 67, no ponto que trata da formação dos professores, assegura o aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com “licenciamento pe-riódico remunerado para esse fim”. Observa-se a incorporação do projeto da Câmara.

O artigo 69 assume capital importância para a garantia da manutenção e desenvolvimento do Ensino Público, pois estabelece os percentuais mínimos para aplicação (União: 18%, Estados, DF e municípios: 25% ou o que constar nas constituições estaduais ou leis orgânicas). Além disso, prevê o repasse, a cada 10 dias, dos recursos vinculados à Educação. Ou seja, a cada dez dias o poder executivo, em todas as esferas, sob pena de responsabilidade civil e criminal, deverá repassar, no mínimo 25% da arrecadação efetuada e das transferências recebidas às respectivas secretarias de Educação. O artigo 70 especifica as despesas consideradas como manutenção e desenvolvimento do ensino e o artigo 71 relaciona as despesas que não devem ser incluídas como tal.

Outras questões também foram recuperadas, mas sabemos da limitação de sua implantação. É o caso da composição da Educação Básica, assim de-

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finida no artigo 21: “A Educação escolar compõe-se de: I - Educação básica formada pela educação infantil, ensino fundamental e médio; [...]”. Verifica--se neste dispositivo a incorporação da concepção de Educação Básica re-querida pelas entidades da Educação. No entanto, no momento de destinar recursos para a manutenção da Educação Básica, na verdade, não se verifica a ampliação destes e o Ensino Fundamental passa a ser prioritário, em detri-mento da Educação Infantil e do Ensino Médio.

A Lei 9.424/96, que regulamentou o “Fundo de Manutenção e Desenvolvi-mento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério” confirma nosso destaque anterior. Ela está em contradição com o espírito da LDB, neste ponto, pois trabalha com a ideia de desmembramento da Educação Básica e exclusivisa a atenção do governo e da sociedade para com o Ensino Funda-mental. [...]

AtividadesNesta aula você pôde conhecer um pouco mais das ardilosas estratégias que

acontecem no Congresso Nacional e como as omissões e as dubiedades dificul-tam o avanço da Educação brasileira.

1. Houve várias ocorrências, conforme relatadas no texto, deixando o Fórum em Defesa da Escola Pública na LDB desgastado; no entanto, um fator pro-vocou um grande descontentamento no grupo. Após identificá-lo no texto, justifique o ocorrido.

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96

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2. Um dos pontos a ser destacado na proposta da sociedade civil organiza-da era o de participação nas definições das políticas públicas da educação. Aponte ações onde se percebe a não-participação da sociedade nos rumos educacionais.

3. O artigo 22 da LDB ao definir as finalidades da Educação Básica apontou para avanços na organização desse segmento educacional. Teça comentários so-bre estas possibilidades organizativas.

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4. Identifique os pontos positivos da Lei 9.394/96 e os correlacione com o coti-diano de seu trabalho profissional.

Dicas de estudoAlgumas alterações são de fundamental importância para o desenvolvimen-

to do ensino, como é o caso dos recursos financeiros. Aprovada a Lei 11.494, em 20/06/2007 que cria o Fundeb em substituição ao Fundef que deixa de exis-tir, considerando que seu prazo de funcionamento era de 10 anos e, portanto, acabou. Assim sendo, sugerimos a leitura da seguinte página na internet: <www.planalto.gov.br/Ccivil_03/Ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm>, que traz aspec-tos sobre essa nova lei, que além do prazo, traz outras observações que precisam ser acompanhadas.

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Modificações introduzidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/961. A retirada de pontos considerados como fundamentais em defesa da

escola pública foi um fato que provocou o aborrecimento, fazendo com que muitos assuntos ficassem sem definição, permitindo as in-terpretações equivocadas e as ações governamentais justificadas na “intenção da lei”.

2. As resoluções do Conselho Federal de Educação ao serem editadas apontaram desde o início para o isolamento da sociedade civil. As resoluções chegaram ao cenário brasileiro prontas, elaboradas por técnicos, sem que democraticamente tivessem sido discutidas com o professorado. Assim se deu com os Parâmetros Curriculares Nacio-nais, anunciando que o anunciado regime de cooperação ficaria como acessório da Lei.

3. Pela primeira vez encontramos uma lei de ensino que apontasse para uma grande flexibilização na organização da Educação brasileira. Os sistemas poderão prever séries anuais, anos, ciclos, períodos semes-trais, e outras que favoreçam os sistemas locais. Isto significa dizer que o importante é aprendizagem da criançada, seja de uma ou outra for-ma. A Lei está privilegiando o processo educacional.

4. Mais uma resposta de cunho pessoal. Porém, achamos importante que cada profissional individualmente ou reunidos possam estabele-cer uma relação da norma (LDB) com o seu fazer cotidiano, levantando aspectos que estão em vigor e dos que não estão, apontar quais fatos impedem que seja colocada em prática a atual LDB, propondo alter-nativas que podem fazer vigorar a LDB 9.394/96. É importante que o grupo conheça bem a legislação de ensino que torna a organização das turmas, da escola e o fazer pedagógico dentro de um campo defi-nido.

Gabarito

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