políticas de informação, incentivos e efeitos no mercado verde
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8/14/2019 Polticas de Informao, Incentivos e Efeitos no Mercado Verde
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Universidade de Braslia
FACE - Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade
e Cincia da Informao e Documentao
Departamento de Economia
Polticas de Proviso de Informao: Incentivos eEfeitos no Mercado Verde
Pedro Gasparinetti Vasconcellos
Braslia,
Outubro de 2007
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Pedro Gasparinetti Vasconcellos
Matrcula: 07/51227
Polticas de Proviso de Informao: Incentivos e
Efeitos no Mercado Verde
Monografia apresentada ao Departamento de
Economia da Universidade de Braslia como
requisito parcial para a obteno do ttulo de
Bacharel em Cincias Econmicas.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Madeira Nogueira
Braslia,
Outubro de 2007
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que a cada dia admiro mais
Este um selo de roupa de uma pequena empresa americana
que vende seus produtos na Frana. Aqui est a traduo:
- Lave com gua morna.
- Use sabo neutro.
- No use gua sanitria.
- No passe ferro.
- Lamentamos que nosso presidente seja um idiota.
- Ns no votamos nele.
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SUMRIO
RESUMO 6
ABSTRACT 7
I INTRODUO 8
II - O PROBLEMADA INFORMAO ASSIMTRICAEA IMPORTNCIADA PROVISODE
INFORMAO 12
2.1 Efeitos da Informao Assimtrica no Mercado 12
2.2 Efeitos da Informao Assimtrica sobre o Meio-Ambiente 15
2.3 Polticas de Proviso de Informao 19
2.4 Certificao e Selos Ambientais 20
2.5 Divulgao Pblica de Informao 25
2.6 Campanhas Educativas e de Conscientizao 27
III MOTIVAODOS CONSUMIDORES 29
3.1 Internalizando Externalidades 33
3.2 Motivao Moral, Reputao e Coao Social 37
3.3 Motivao de Investidores 39
3.4 Efeitos de Variaes no Mercado Verde com a presena de Substitutos 40
IV INCENTIVOSDAS FIRMASNO MERCADO VERDE 44
4.1 Efeitos de Mudanas na Demanda Verde sobre as Firmas 44
4.2 Incentivos para Diferenciao entre Firmas 46
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4.3 Incentivos de diferenciao devido a mudanas na demanda causadas
por diferenas na: 49
4.3.1 Percepo Ambiental dos Consumidores 49
4.3.2 Renda dos Consumidores 54
4.3.3 Eficincia dos Investimentos da Empresa 58
4.4 Efeitos dos Padres de Selos Ambientais 61
4.5 Efeitos da adoo de selo no comrcio internacional 62
4.6 O problema da credibilidade do selo 63
V O PAPELDO GOVERNO 68
5.1 reas de atuao do governo em polticas de informao: Reduzindo
os custos de informao e as externalidades sobre o meio ambiente 69
5.2 Modos de atuao do governo 73
5.2.1 Aplicao conjunta com Polticas Ambientais Tradicionais 75
5.2.1.1 Regulao por meio de Padro Ambiental 76
5.2.1.2 Adoo de Tributos e Subsdios 78
5.3 Efeitos Adversos das Polticas de Informao 83
5.4 Fatores Limitantes para o Desenvolvimento do Mercado 84
VI CONCLUSO 87
REFERNCIAS 89
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RESUMO
Esta monografia pretende apresentar as principais caractersticas do uso de
polticas de proviso de informao em um mercado em que os agentes levam emconsiderao os efeitos da produo e do consumo sobre o meio ambiente. Nesse
contexto, so discutidos os incentivos que levam esses agentes a formarem suas
preferncias e tomarem suas decises, assim como os efeitos destas sobre o mercado e
sobre a qualidade ambiental. Sob o ponto de vista dos consumidores, so analisados os
incentivos em um mercado com a presena do problema de informao assimtrica e
que apresenta a proviso de um bem pblico, a qualidade ambiental. Do ponto de vista
dos produtores, so analisados os incentivos para a diferenciao entre firmas e reduode emisses devido a mudanas na demanda e interveno governamental. Como
resultado, mostrada a importncia deste tipo de poltica devido sua capacidade de
minimizar, a custos relativamente baixos, o problema de informao assimtrica, o que
permite aos agentes internalizar a qualidade ambiental em suas preferncias,
contribuindo assim para a reduo das externalidades negativas sobre o ambiente e para
a mudana tecnolgica das firmas.
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ABSTRACT
This piece of work intends to present the main characteristics of the use of
environmental information disclosure policies in a market where agents are aware of the
production and consumption effects upon the environment. In this context, we discuss
the incentives that drive agents to form preferences and make decisions, as well as their
effects on the market and on environmental quality. On the consumers side, we analyse
the incentives in a market where there is asymmetric information and which presents the
provision of a public good, environmental quality. On the firms side, we analyse their
incentives to differentiate themselves and reduce their emission level because of
changes on demand and government intervention. As a result, the importance of this sort
of environmental policy is shown, owed to its capacity to minimize, with relatively low
costs, the asymmetric information problem, which in turn allows agents to internalise
their environmental preferences, contributing for the reduction of negative externalities
and for firms technological change.
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CAPTULO I INTRODUO
Consumidores vm se tornando cada vez mais crticos sobre as caractersticasqualitativas dos produtos que adquirem, gerando como conseqncia uma crescente
demanda por informaes que os permitam diferenciar tais atributos. Por esse motivo,
governos, grupos ambientais e industriais tm mostrado interesse em utilizar programas
de fornecimento de informao e certificao para revelar ao pblico caractersticas
referentes ao bem, empresa ou seus mtodos de produo para que os consumidores
possam discernir sobre aspectos qualitativos em suas decises de compra, encorajando
assim que firmas passem a usar tecnologias consideradas mais corretas e responsveis.
Isso permite s empresas sinalizar ao mercado que seus produtos apresentam qualidade
superior em relao a outros no certificados, possibilitando sua diferenciao e
gerando uma segmentao desse mercado.
Enquanto muitos atributos podem ser identificados antes ou mesmo depois da
compra de um bem, alguns so praticamente impossveis de serem observados pelo
consumidor, sendo custoso obter as informaes desejadas, mesmo aps a compra,
devido aos custos de transao do consumidor avaliar com preciso as caractersticas doproduto. Esse tipo de atributo chamado de credence attribute, ou atributo de crena,
referente impossibilidade de ser verificado pelo consumidor, sendo apenas
acreditado. Nesse caso, h uma assimetria de informao entre o produtor, que
conhece as caractersticas do que produzido, e o consumidor, que no tem como
observ-las por si s.
Estudos recentes mostram a existncia de um aumento da disposio a pagar dos
consumidores por bens ambientalmente responsveis em relao a outros no
responsveis, ou seja, as pessoas esto dispostas a pagar um prmio para adquirir bens
com certas caractersticas desejadas, mesmo que no observveis. Se um atributo
refletir, por exemplo, a poluio gerada na produo de um bem, pode se dizer que o
consumo deste gera indiretamente uma externalidade negativa para a sociedade. Logo,
os consumidores tentam internalizar as externalidades da produo por meio de um
padro de consumo mais responsvel.
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Para que seja possvel que as firmas mudem seu padro tecnolgico devido a
uma mudana no padro de consumo, em que bens de alta qualidade ambiental so
demandados, necessrio que o consumidor possa ter acesso s informaes necessrias
para sua tomada de deciso. Se produtos de baixa qualidade, tambm chamados de
lemons, so difceis de serem distinguidos de bens de alta qualidade, no haver
incentivo para que o consumidor compre bens com maior qualidade devido incerteza
de que o bem mais caro seja realmente melhor. A dificuldade de distino dos produtos
pode levar a um equilbrio indesejado em que apenas produtos de baixa qualidade so
comercializados.
Tendo como objetivo minimizar o problema de informao assimtrica que leva
a essa diminuio da disposio a pagar e mesmo a no escolha de bens de maiorqualidade ou que gerem menos externalidades, e conseqentemente, uma diminuio no
bem-estar social, cada vez mais so adotadas polticas de proviso de informao,
tambm chamadas de 3 gerao de polticas de controle de poluio.
Todos os instrumentos ambientais precisam de disponibilidade de informao
para poderem funcionar adequadamente. Por outro lado, a revelao pblica de
informao tornou-se ela prpria um instrumento de poltica ambiental, sendo til para
se atingir efetividade de metas ambientais junto com outros instrumentos ou mesmo em
casos em que instrumentos tradicionais so pouco efetivos. Por isso, o nmero de
polticas governamentais de informao vem aumentando rapidamente nos ltimos
anos, sendo que em 1999 j existiam mais de 20 programas em pases da OECD e
vrios outros em pases em desenvolvimento. (Nadai, 2000). A certificao de produtos
orgnicos um dos selos mais adotados e provavelmente um dos mais antigos. Outras
certificaes populares referem-se a nveis de poluio e processos de produo
sustentveis. Os selos em produtos se tornaram popular no norte europeu, sendo o
alemo Blue Angel o primeiro selo adotado em nvel nacional, sendo criado em 1977.
Outros exemplos so o Nordic Swan criado em 1989 na Escandinvia, o sueco
Environmental Choice, o Green Seal usado nos EUA, o ECO MARK no Japo e o NF
Environment na Frana.
A primeira gerao de instrumentos de controle de poluio composta por
medidas de carter legal para se atingir as metas ambientais, tais como a estipulao de
padres de emisso. Entretanto, esses mtodos muitas vezes se mostram muito custosos
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e incapazes de atingir suas metas em algumas circunstncias. Como resposta para essas
deficincias, a segunda gerao de instrumentos de poltica ambiental foi baseada no
funcionamento do mercado, como a adoo de impostos, licenas negociveis e outras
variaes, o que adicionou flexibilidade e melhorou a relao custo-efetividade do
controle de poluio. Mesmo esses instrumentos muitas vezes no conseguem atingir
suas metas de maneira eficiente, devido aos custos burocrticos, corrupo e falta de
eficincia ou da agncia regulatria para implementar e monitorar os instrumentos de
controle.
O esquema de selo ambiental, que faz parte das polticas de proviso de
informao, age como um sinalizador, distinguindo a qualidade de produtos, firmas ou
processos. Como a qualidade ambiental no um bem privado, como, por exemplo, adurabilidade de um bem, a informao sobre ela torna-se um bem com caracterstica
pblica, o que gera incentivos para organizaes sociais investirem e apoiarem
esquemas de revelao de informao por meio de selos e certificaes (Sterner,2003b).
Tendo em vista que muitas firmas adotam atualmente esquemas de certificao e
proviso de informao de forma voluntria, mesmo que isso represente maiores custos,
tanto de certificao quanto de mudana tecnolgica, esse estudo tenta responder s
seguintes perguntas: Quais os incentivos levam uma empresa a participar de um
esquema de certificao e selo ambiental e quais os efeitos dessas polticas sobre o
mercado e a qualidade dos produtos? Alm disso, tenta esclarecer os principais
incentivos que os indivduos, consumidores, tm para participar desse mercado.
O captulo 2 deste trabalho esclarece quais so os efeitos da informao
assimtrica sobre o mercado, sobre o meio-ambiente e os tipos de polticas de
informao. O captulo 3 trata dos incentivos e motivao dos consumidores paraparticiparem do mercado verde e consumirem o bem qualidade ambiental na presena
de informao assimtrica, alm de discutir os efeitos de variaes na demanda sobre o
meio ambiente. O captulo 4 discute os incentivos das firmas para participarem do
mercado sob o ponto de vista de diferenciao de firmas, e as variveis que podem
influenciar nesse processo. O captulo 5 discute o papel do governo, reduzindo os custos
de informao e as externalidades sobre o meio ambiente, seus modos de atuao e as
possibilidades de uso conjunto de polticas ambientais de terceira gerao com outras
polticas tradicionais.
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O estudo motivado pela importncia desse tipo de poltica tanto para a
adequao tecnolgica das firmas demanda dos consumidores revelada por meio de
proviso de informao, como pelo fato de possibilitar o desenvolvimento de um padro
de consumo mais crtico e consciente por parte da populao. Algumas vezes, o tomador
de deciso relevante sobre assuntos ambientais pode no ser apenas a agncia
reguladora governamental, mas tambm os indivduos, consumidores, sendo que a
informao necessria para suas tomadas de deciso deve ser considerada um bem
pblico. certo que apenas a sua disponibilizao no suficiente para uma mudana
no padro de consumo, mas ela necessria para a formao de preferncias, o que
ajuda a apontar para demandas sociais.
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CAPTULO II - O PROBLEMADA INFORMAO ASSIMTRICAEA IMPORTNCIADA PROVISODE
INFORMAO
2.1Efeitos da Informao Assimtrica no Mercado
Na teoria tradicional de competio perfeita, firmas e consumidores so
tomadores de preos, tendo informao completa sobre a qualidade do bem e o preo do
mercado. Se uma firma cobrar acima desse preo ou oferecer um bem de qualidade
inferior ao do mercado, perder todos os seus consumidores, pois esses tm acesso a
outras firmas que competem com o preo de mercado. Entretanto, tais pressupostos
podem levar a resultados incorretos em relao ao comportamento dos agentes devido
ocorrncia de falhas no mercado.
A informao assimtrica, uma caracterstica que impede o funcionamento
perfeitamente concorrencial do mercado, existe quando um dos agentes de um mercado
tem uma informao relevante enquanto o outro, por sua vez, no a possui. A existncia
dessa assimetria faz com que os agentes econmicos no aloquem seus recursos da
maneira mais eficiente possvel, ou seja, em um cenrio first-best. Isso ocorre devido
incerteza em relao ao comportamento do outro agente envolvido na troca, e assim,
sobre o retorno esperado da transao. Por isso, um indivduo pode estar disposto a abrir
mo da eficincia alocativa para minimizar o risco e a incerteza da troca.
Os impactos distributivos gerados pela informao assimtrica podem ser
analisados pela renda informacional despendida, ou seja, o quanto deve ser pago para se
proporcionar os incentivos suficientes para superar as perdas geradas pelos riscos
causados por essa assimetria. Desse modo, pode-se dizer que existe um trade offentreeficincia alocativa e extrao de renda, que gerado pela informao incompleta.
Por causa da informao assimtrica, a firma no maximiza o valor social da
troca, mais precisamente, de seu lucro. Essa falha na alocao eficiente dos recursos no
deve ser considerada uma falha no uso racional de recursos da firma. A eficincia
alocativa apenas uma das partes do objetivo do principal (Laffont e Martimort,
2002).
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A informao imperfeita e custosa d s firmas poder de mercado, prejudicando
a resposta do mercado s variaes na qualidade e nos preos. Ela faz com que a curva
de demanda se torne menos do que infinitamente elstica, dando poder s firmas de
aumentar seus preos marginalmente, porm, sem perder todos os seus consumidores
(Stiglitz, 1989).
A presena de informao custosa afeta a elasticidade da demanda para
diferentes bens. Quando essa informao fornecida aos consumidores, a elasticidade
pode variar, aumentando ou diminuindo os preos e a variedade de produtos. No
exemplo dado por Stiglitz, considerando dois refrigerantes, sem nenhuma informao
no possvel distingui-los, sendo assim, substitutos perfeitos. Se os consumidores so
ento informados que um Coca-Cola e outro 7-Up, eles se tornam substitutosimperfeitos, a elasticidade demanda diminui.
Figura 1: Exemplo de mudana nas preferncias devido informao
Dada uma curva de restrio oramentria (R), em que os preos de ambos osrefrigerantes so iguais, e que o consumidor esteja disposto a adquirir refrigerantes,
mesmo sem saber qual, este estar indiferente ao tipo do refrigerante caso no saiba o
que est dentro de cada copo. Logo, h uma indefinio, como no primeiro grfico, em
que R = U, sua curva de indiferena. No segundo caso, em que as marcas so
informadas, o indivduo pode consumir segundo suas preferncias definidas, mudando a
forma de sua curva de indiferena para U*. No exemplo, ele ir consumir apenas Coca,
pois pode diferenciar as caractersticas e, como prefere este ao outro, ir consumir Qc, e
Qu ser igual a zero.
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A figura 1 mostra uma situao em que o consumidor no consegue distinguir
entre dois bens, e por isso indiferente proporo consumida de cada um. Por sua vez,
quando este se torna capaz de diferenciar a qualidade dos bens que pode consumir,
torna-se possvel ajustar seu consumo s suas reais preferncias, ou seja, suas
preferncias dado que todos os atributos relevantes a ele so observveis. Se as
caractersticas reveladas do bem 2 so preferidas s do bem 1, ocorre uma mudana na
curva de indiferena do consumidor, como mostrado na figura 2. Desse modo,
mantendo o mesmo nvel de utilidade, ele estar agora disposto a trocar uma quantidade
relativamente grande do bem 1 por um quantidade relativamente pequena do bem 2.
Existem alguns mecanismos que podem ser utilizados pelas prprias firmas para
diminuir o problema dos consumidores no conseguirem observar as qualidades dosprodutos que adquirem. Firmas podem desenvolver reputao ao manter um alto padro
de qualidade de bens ao longo do tempo. Isso feito para tentar sinalizar aos
consumidores a maior qualidade de seus produtos, tendo assim uma demanda mais
elevada por eles. Esse comportamento mantido pelo temor que a perda de reputao
produza maiores prejuzos do que a vantagem de fraudar esse padro, obtendo maiores
lucros temporariamente, mas perdendo a demanda mais disposta a pagar posteriormente.
Entretanto, segundo Cason (2002), no caso de bens de crena, a reputao
insuficiente para gerar bons resultados no aumento da qualidade dos produtos. Isso
ocorre pelo fato dos consumidores no terem garantias reais sobre a qualidade dos
produtos que adquirem. Mesmo no caso de um bem de experincia, a nica referncia
sobre a qualidade a qualidade observada no perodo anterior, ainda assim fazendo com
que haja falha na sinalizao entre produtor e consumidor.
A concesso de garantia outro mecanismo, um importante meio detransferncia de risco, mas que tambm transporta informao consigo. O fato da
empresa estar disposta a garantir seu produto contra quebras e defeitos significa que
existe uma pequena probabilidade que isso ocorra. Se ela neutra ao risco, a garantia
serve eficientemente como uma proviso de informao sobre a qualidade de seu
produto.
Outro mecanismo a divulgao voluntria, em que a firma fornece aos
consumidores informao sobre a qualidade de seus produtos. Firmas de alta qualidade
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tm incentivos de se diferenciarem para obterem preos mais altos para seus produtos.
As firmas que no fornecerem informao sobre a qualidade seriam consideradas de
baixa qualidade e, assim, receberiam preos menores. Se no houver custos para o
fornecimento de informao e houver penas severas para fraude, valeria a pena para
cada firma fornecer informao correta sobre a qualidade de seu produto (Stiglitz,
1989). A firma de pior qualidade ainda assim no teria incentivo para fornecer
informao, mas como todas as outras a fornece, a qualidade desta ltima firma seria
revelada de qualquer maneira por eliminao.
Muitas vezes as informaes fornecidas pelas empresas, por no serem
reguladas, podem ser falsas ou irrelevantes. Cason (2002) afirma que grande parte dos
comerciais de produtos que reivindicam ser ambientalmente amigveis no passa devagas afirmaes como O produto X ambientalmente amigvel, como tentativa de
alcanar a crescente demanda por esse tipo de produto. Como essas afirmaes no
sofrem nenhum tipo de regulao, esse cheap talk falha em sinalizar para os
consumidores sobre a real qualidade dos produtos anunciados, pois estes no tm como
saber se a informao confivel ou no.
Para controlar esse problema, esquemas de certificao de produtos e processos
produtivos se propem a fornecer informao vinda da anlise de especialistas que
atestam a qualidade questionada. Aps a certificao, a informao deve ser repassada
aos consumidores, sendo feito por meio de selos de qualidade, que tem como objetivo
diferenciar a qualidade atestada dos demais concorrentes. Esse mecanismo ser
discutido mais detalhadamente ainda nesse captulo e tambm nos que se seguem.
2.2 Efeitos da Informao Assimtrica sobre o Meio-Ambiente
Do mesmo modo que a assimetria de informao pode ocorrer sobre uma
qualidade privada de um bem ou sobre as preferncias de um agente econmico, ela
pode afetar tambm um bem pblico. Os efeitos negativos gerados pela produo e pelo
consumo sobre o meio-ambiente, quando no internalizados pelos consumidores,
empresas ou governos devido falta de informao, aparecem como externalidades. A
presena de externalidades negativas, por sua vez, afeta negativamente o bem-estar
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social por levar a uma alocao em um nvel sub-timo do bem meio-ambiente ou
qualidade ambiental pela sociedade.
O Teorema de Coase foi o primeiro a apontar para a importncia do
fornecimento de informao para se resolver de maneira eficiente um problema de
externalidade ambiental. Quando a poluio ineficiente, impe custos nas vtimas
maiores que os custos de controle dessa poluio, ou seja, o benefcio marginal de
despoluir excede o custo marginal. Deste modo, dados os direitos de propriedade, as
vtimas iro se mobilizar para chegar a um acordo com o poluidor em que a alocao da
poluio seja eficiente. Caso haja um problema de informao assimtrica, nem todos
os agentes estaro cientes dos custos diretos ou indiretos da poluio, o que impede que
os agentes cheguem a uma soluo tima. Diminuindo os custos de obteno dainformao, se reduzem os custos de transao, aumentando a possibilidade de
participao de todos os agentes afetados pela externalidade.
Toda a sociedade est sujeita aos efeitos indiretos da falta de informao sobre o
meio ambiente e sobre os danos causados a ele pela produo e consumo humano.
Devido a esse fato e aos ganhos de escala que existem ao se informar um grande
nmero de pessoas, a proviso de informao tem caractersticas pblicas, sendo
decisiva para a percepo do risco e resoluo de problemas sobre o meio-ambiente, um
bem pblico. Por isso, sua falta caracterizada como uma falha de mercado. A falha na
proviso de informao, que leva a um problema de informao assimtrica entre os
agentes, por diminuir a qualidade ambiental devido ao aumento na quantidade de
poluio, considerada por si s, uma externalidade. Alm disso, informao
imprecisa ou parcial pode ser pior do que a falta completa de informao por poder
gerar um falso sentimento de segurana ou prover medos injustificados (Tietenberg,
1998).
A qualidade ambiental pode ser considerada um bem de experincia, isto ,
consumidores fazem suas escolhas ex ante de acordo com suas percepes sobre sua
qualidade, mas a utilidade, dada ex postao consumo, depende da qualidade ambiental
verdadeira, ou seja, sem problemas de informao. Quando a percepo dos
consumidores sobre o ambiente incorreta, o padro de consumo escolhido tambm
ser incorreto, pois faz com que suas escolhas difiram das que seriam feitas sob
informao perfeita.
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Um bem, ao gerar danos ao meio-ambiente em seu processo de produo ou de
consumo, e esses no serem computados na formao dos preos pelo mercado, gera
uma externalidade negativa sociedade. Caso os consumidores estejam dispostos a
pagar por um produto que no agrida o ambiente, ou que seja produzido de maneira
sustentvel, tambm chamados de bens verdes, esses devem antes de qualquer coisa
poder diferenciar a qualidade de um produto poluente e um no poluente para tomarem
sua deciso de compra. Se apenas o produtor souber da qualidade de seu produto e no
quiser ou no conseguir sinalizar de maneira eficiente essa qualidade para os
consumidores, haver ento um problema de assimetria de informao. Desse modo,
mesmo que um indivduo deseje comprar um bem ambientalmente amigvel, poder
estar consumindo um bem que gera efeitos negativos ao ambiente, e assim, causando
um dano indireto no desejado. As caractersticas desses efeitos indiretos da produo e
do consumo, as externalidades, sero discutidas no item 3.1 deste trabalho.
Existem bens que carregam caractersticas tanto de bem privado como de bem
pblico, que so os chamados bens pblicos impuros. Esses bens apresentam
caracterstica privada, que comum todos os produtos semelhantes e o que
primeiramente gera a utilidade, e ao mesmo tempo apresentam uma caracterstica
pblica, por exemplo, provendo qualidade ambiental por meio de um processo de produo sustentvel. Como a qualidade ambiental no apropriada direta e
exclusivamente pelo consumidor, sendo um bem pblico, o consumo de um bem verde
gera efeitos indiretos benficos ao poupar o meio-ambiente. Assim como apresentado
acima, caso haja um problema de sinalizao entre produtor e consumidor e assim,
informao assimtrica, o consumidor pode no conseguir identificar as externalidades,
positivas ou negativas, geradas pelo produto, sendo impedido de usufruir das
caractersticas escolhidas, e afetando assim a alocao de qualidade ambiental na
sociedade.
Quando a informao imperfeita, campanhas pblicas de informao e
conscientizao aumentam o bem-estar dos consumidores por permitir que faam suas
escolhas com maior nvel de informao, no distorcendo suas expectativas e, por isso,
maximizando suas utilidades. Em casos em que danos ambientais so particularmente
custosos para serem revertidos, campanhas de informao permitem que os
consumidores alterem seus comportamentos e preferncias, podendo ser mais eficientes
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em evitar perdas de bem-estar do que a prpria remediao do problema ambiental em
si (Leggett, 2002). Esse fenmeno pode ocorrer porque, mesmo que os consumidores
venham a se beneficiar de um melhoramento na qualidade ambiental, esse benefcio
depender da informao dada aos agentes para que esses tomem suas decises de
acordo com a situao real do ambiente.
Por exemplo, um acidente ambiental ocorre em uma praia, que a melhor opo
de lazer para um determinado indivduo, e a qualidade da gua do local caracterizada
como imprpria para banho. Por essa razo, agora ele decide ir para um parque, que
sua segunda opo de lazer, pois no lhe d o mesmo benefcio, ou utilidade. Mesmo
depois da rea ser recuperada, e por tanto tornar-se prpria para banho, se no houver a
divulgao dessa melhoria, o agente econmico continuar incorrendo perdas em seubem-estar caso se mantenha sua segunda opo, ainda evitando a praia. O mesmo ocorre
no caso inverso, em que a rea sofre um acidente ambiental, mas a informao sobre o
acontecimento no devidamente repassado populao. Nesse caso, o banhista estaria
exposto aos perigos de nadar em uma rea contaminada, apesar de que, se devidamente
informado, preferiria ir ao parque. Por isso, o poluidor deveria ser responsvel, alm da
reconstituio da rea degradada, da divulgao de informao sobre a real condio do
local para evitar perdas de bem-estar devido a escolhas viesadas de consumidores pelofato de haver informao incompleta (Leggett, 2002).
Para visualizar graficamente, imagine que um indivduo tenha apresente uma
curva de indiferena U no nvel em que consuma os bens X1 e X2 nas quantidades X1
e X2. Caso haja alguma deteriorao na qualidade do bem X1, sua curva de indiferena
passaria a ser U*, devido mudana em suas preferncias, j que X1 no oferece mais
os mesmos atributos que antes. Se este no capaz de perceber essa mudana na
qualidade, ele passa a consumir uma quantidade ineficiente de ambos os bens.
possvel visualizar que, dadas suas novas preferncias, as quantidades timas seriam
X2*( > X2) e X1*( < X1*), porm, continuando com as quantidades antigas, seu nvel
de utilidade estaria em um nvel inferior (U#) U*. Essa ineficincia ocorreria de
maneira semelhante no caso em que o consumidor deixa de ser informado da volta
qualidade original do bem X1.
Figura 2: Ineficincia devido informao assimtrica
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2.3 Polticas de Proviso de Informao
Atuando como complemento ou mesmo no lugar de outras polticas, a terceira
gerao de instrumentos de poltica ambiental, a de proviso de informao, visa
diminuir os custos de transao, causados principalmente pela informao assimtrica,
para que seja possvel se atingir metas ambientais da maneira mais eficiente possvel
(Tietenberg, 1998). Nesse caso, uma das principais funes do formulador de polticas
pblicas prover uma estrutura eficiente de fluxo de informao de qualidade para
minimizar o problema de informao assimtrica entre firmas e consumidores.
As polticas de proviso de informao tm como objetivo principal minimizar a
falha de mercado causada pela informao assimtrica. As razes e situaes em que
essa de poltica utilizada so resumidas por Stephan (2002) da seguinte maneira:
(1) Reduzir custos de informao: A proviso de informao pelo governo reduz os
custos de ao coletiva, o que permite aos agentes aumentarem seu poder de
barganha e presso sobre firmas poluidoras. A nova informao pode mudar a
relao de custos e benefcios de aes contra poluidores.
(2) Choque: A proviso de informao incentiva ao coletiva quando o
comportamento ambiental observado pior do que o esperado. Nesse caso o que
mudaria no seriam os custos de ao, mas a percepo de que os nveis
ambientais esto abaixo dos nveis aceitvel pela populao. Uma conseqncia
disso pode ser a mudana no valor da empresa poluidora no mercado.
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(3) Vergonha/Medo: A possibilidade de proviso de informao faz com que o
desempenho de uma firma melhore devido ao medo das reaes por ser
considerada de baixo desempenho por grupos de presso e pela mdia.
(4)Comparao: A comparao do desempenho de uma firma local com outra de
melhor desempenho leva a um sentimento de que a poluio por ela causada
injusta, dada a diferena regional dos nveis de poluio. A proviso de
informao permite populao comparar o desempenho de diferentes
empresas.
(5) Agenda governamental: A informao no provida devido demanda de
grupos de interesse, mas apenas para alertar as pessoas de que a poluio um
motivo de preocupao do governo.
Nesse captulo, sero abordados trs tipos especficos de poltica de informao:
as de certificao e selos ambientais; de divulgao pblica de informao; de
campanhas de educao e conscientizao. Cada uma apresenta diferentes mtodos e
abordagens para um problema em comum: dar condies para que consumidores e
investidores superem problemas referentes informao incompleta, melhorando a
capacidade de tomada de deciso e percepo de preferncias.
2.4 Certificao e Selos Ambientais
Do ponto de vista de polticas pblicas, uma meta dos selos ambientais educar
consumidores sobre os impactos ambientais da produo, uso e descarte de produtos,
levando a uma mudana no padro de consumo e, finalmente, a reduo nos impactos
negativos gerados pelo consumo. Para que selos ambientais possam atingir seus
objetivos de poltica ambiental, consumidores devem possuir preferncias por melhorias
ambientais e responder informao contida no selo, mudando seu consumo para
produtos certificados. (Teisl et al, 2002).
Para analisar a proposta de um selo, que fornecer informao para os
consumidores diferenciarem qualitativamente produtos, necessrio entender a natureza
dos bens em que ele atua, chamados credence goods, ou seja, que tem seus valoresderivados de crenas ao invs de experincia prvia sobre os mesmos (Nada, 1999).
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tenham essa mesma reao, haver um deslocamento no equilbrio de ambos os
mercados, como mostrado na figura abaixo.
Figura 3: Mudanas nos equilbrios dos mercados devido informao
Bem Verde Bem Marrom
O esquema de selo ambiental pode ser dividido em trs categorias. A primeira
uma certificao em que companhias submetem seus produtos avaliao de uma
agncia independente, que qualifica a qualidade da empresa. A credibilidade dessa
informao est diretamente relacionada credibilidade do selo desenvolvida pela
agncia especializada. O segundo tipo de certificao feito pela prpria empresa, sem
nenhum tipo de superviso externa. So informaes passadas unilateralmente, em sua
credibilidade depender da credibilidade da prpria firma. O terceiro mtodo de
certificao feito atravs do fornecimento de dados brutos sobre caractersticas do
produto ou sobre os efeitos ao consumidor, sem nenhuma interpretao ou julgamento.
Um exemplo para esses selos so os dados nutricionais de produtos alimentcios. O selo
tambm pode ser categorizado pelo tipo de item certificado, podendo ser o prprio
produto, a firma, ou o processo de produo (Sterner, 2003a).
Os selos diminuem os custos de busca por informao, influenciando o nmero e
o peso dado para os atributos considerados por um consumidor durante seu processo de
deciso. Por tanto, se um consumidor tiver informao suficiente e confivel paradiferenciar produtos de baixa qualidade dos de alta qualidade, ele ter uma disposio
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extra a pagar de sobre os produtos de alta qualidade. Inversamente, a proviso de
informao pode tambm levar a uma reduo na disposio a pagar por bens de baixa
qualidade.
Esquemas de selos e certificados, apesar de tentarem corrigir problemas de
sinalizao no mercado, so fontes de algumas imperfeies no funcionamento do
mercado. Elas sero tratadas com maior detalhe nos prximos captulos, mas so
apresentadas resumidamente aqui: Como a maioria dos bens ambientais so bens
pblicos, o problema do free riderpode impedir os consumidores de revelarem suas
preferncias no mercado, impedindo o seu desenvolvimento. Eles tambm podem gerar
imperfeies no nvel de investimento, podendo induzir empresas a reduzir ou aumentar
o investimento em despoluio para um nvel sub-timo. Alm disso, eles podem serusados como uma barreira ao comrcio internacional por enquadrar produtos iguais de
diferentes origens em diferentes categorias. Firmas pequenas podem no conseguir
prover o nvel timo de selos ambientais se existirem economias de escala que elas no
consigam capturar; e que firmas grandes podem produzir muito poucos selos se
existirem deseconomias de escala na proviso de informao sobre as prticas
ambientais. Outro ponto que os selos ambientais podem ser inefetivos se no derem
oportunidade aos consumidores de revelar suas preferncias sobre as polticasambientais das firmas, o que ocorre no caso de haver dificuldade de checar a veracidade
da informao contida no selo. Por isso, a certificao pelo governo ou agncia
independente pode ser um importante facilitador para garantir maior credibilidade das
reivindicaes das firmas e, assim, revelar a preferncia de consumidores no mercado.
Outro fator que restringe a utilizao de selos a capacidade das firmas de
promover benefcios ambientais quando ela restringida pela maneira pela qual eles so
produzidos. Empresas com processos de produo muito complexos podem ter muitas
dificuldades em prover informao adequada sobre todos os efeitos que essa produo
causa sociedade. Firmas apresentam menor probabilidade de prover informao
especfica sobre um processo produtivo quanto maior for o nmero de impactos dessa
produo no meio-ambiente. Muitas vezes, ao invs de dar apenas uma informao
geral sobre esses impactos, as firmas com produes complexas escolhem por no
fornecer nenhum tipo de informao (Bruce e Laroiya, 2007).
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Segundo Greaker (2006), o governo ou uma firma, ao adotar uma poltica de
informao do tipo selo, deve levar em considerao para a escolha do critrio de
certificao a relao entre eficincia de despoluio e o aumento da disposio a pagar
pelos consumidores. O aumento na disposio a pagar deve ser suficiente para cobrir
os custos adicionais da firma de informar e prover um bem que possua caracterstica
pblica ou que simplesmente possua uma qualidade superior aos demais. Isso ser
discutido mais detalhadamente nos prximos captulos, mas por enquanto importante
ter a noo de que a informao deve ser provida de maneira eficiente e que o sucesso
desse tipo de poltica depende em ltima instncia da viabilidade econmica da
produo e consumo de bens de alta qualidade.
Um exemplo bem sucedido aparece no estudo de caso de Teisl et al(2002), emque foi analisado o impacto da adoo de um selo que reivindica a no matana de
golfinhos durante a pesca de atum na costa oeste dos EUA, o chamado dolphin-safe
label. Durante a pesca de atum, muitos golfinhos acabavam mortos devido aos mtodos
imprudentes de pesca utilizados. Aps a divulgao de vdeos que conscientizavam as
pessoas sobre o que ocorria durante a pesca, e assim, os efeitos indiretos do consumo de
atum enlatado, foi criado o selo que garantia a procedncia do atum, que seria pescado
com mtodos que minimizassem a morte de golfinhos.
O resultado da campanha foi que selo dolphin-safe realmente aumentou a fatia
de mercado de atum enlatado, que havia sido perdida aps a divulgao dos vdeos com
as cenas dos golfinhos sendo mortos durante a pesca do atum. As pessoas se mostraram
realmente dispostas a pagar um preo extra para evitar contribuir pessoalmente com a
mortalidade de golfinhos. Essa mudana de comportamento dos consumidores na
presena do selo acabou por afetar o comportamento dos produtores, que passaram a
mudar seus mtodos para atender a nova demanda. Isto , se uma poro dos
consumidores demanda produtos ambientalmente amigveis, a presena de um
programa de selo ambiental ir gerar incentivos s firmas de se diferenciarem no
mercado, produzindo bens com as caractersticas demandadas (Teisl et al, 2002, p355).
O sucesso desses selos pode ser medido pelo grau de uso, pela poro do
mercado atingida e pela popularidade pblica obtida. Por exemplo, os selos ambientais
suecos Environmental Choice e Nordic Swan atingiram 100% do mercado papel-
higienico, entre 50% e 70% do mercado de detergentes e 10% do mercado de sabo e
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xampu. Entretanto, no claro como essas fatias do mercado devem ser vistas, pois se
for prxima de zero, significa que no foi feito progresso, e por outro lado, se for muito
alta, o critrio pode ter sido muito frouxo ou mesmo o selo no teria sido necessrio. A
razo citada o sucesso dos selos ambientais na Sucia a presena de ONGs fortes e
assim, forte demanda por produtos verdes (Sterner, 2003a) .
2.5 Divulgao Pblica de Informao
Os crescentes custos de regulaes do tipo comando e controle para proteo
ambiental tm levado a mudanas no tipo de polticas adotadas para instrumentos mais
descentralizados, que promovem manejos mais flexveis e auto-regulados. Prover o
acesso pblico a bancos de dados ambientais um esforo para reduzir o papel da
burocracia governamental e incentivar a participao do setor privado na regulao
ambiental.
Os mercados financeiros e de produtos, enquanto funcionando bem, tm o
potencial de transmitir a reao pblica informao de desempenho ambiental
diretamente s empresas por meio de mudanas na demanda de produtos e nos preos de
suas aes comercializadas na bolsa. Ao sinalizar as preferncias pblicas para as
firmas, estas podem ser levadas a controlar e reduzir a poluio produzida. Em um
mercado de capitais eficiente, os preos das aes refletem a cada dia toda a informao
disponvel sobre o valor presente do fluxo esperado de lucros das empresas. A
divulgao de novas informaes sobre o nvel de poluio da firma pode causar
mudanas em seus preos se essa nova informao divergir da expectativa dos
investidores sobre seu nvel de poluio, que pode afetar sua lucratividade futura
(Khanna et al, 1998).
O estudo de caso de Foulon et al(2002), sobre o papel da divulgao de listas
com informaes sobre o desempenho ambiental de empresas de papel do Canad em
conjunto com polticas de comando e controle, mostrou que a apario na lista de
maiores poluidores levou as firmas a melhorarem seus desempenhos ambientais, tendo
at mesmo um impacto mais forte do que em firmas que foram apenas multadas por no
alcanarem os padres impostos.
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Adicionalmente, a poltica de proviso de informao utilizada no caso
praticamente no gerou custos adicionais, pois foi apenas preciso publicar as
informaes que j eram coletadas pela agencia ambiental. Ao invs de permanecer nas
mos do regulador, a informao divulgada, criando fortes incentivos adicionais para
o controle da poluio. (Foulon et al, 2002)
O estudo de Khanna et al(1998), sobre a divulgao de informao de emisses
txicas por indstrias qumicas americanas, mostra que as empresas tiveram retornos
negativos no valor de suas aes no dia seguinte ao que foi divulgado o relatrio com os
valores das emisses txicas de vrias firmas. Entretanto, esse estudo mostra tambm
que a magnitude da reao dos investidores depende do quanto os resultados ambientais
divulgados so no-antecipados. Desse modo, as maiores penalidades no valor dasaes no foram necessariamente para os maiores poluidores, mas para aqueles que no
eram conhecidos como poluidores antes da divulgao. Alm disso, poluidores que
apareceram por repetidas vezes na lista tm mudanas significantes no valor de suas
aes.
Alm disso, mostra que no h perda de efetividade de polticas de informao
depois de divulgaes repetidas. Pelo contrrio, a repetio ao longo do tempo dos
resultados permite a avaliao e criao de reputao para promover uma diferenciao
entre as firmas. A perda no valor das firmas causada pela divulgao de resultados
ambientais induziu-as a, posteriormente, reduzir significativamente suas emisses
poluentes. De modo semelhante, reaes positivas a um bom comportamento ambiental
podem gerar incentivos para que a firma continue a melhorar seus resultados devido ao
aumento em seu valor.
2.6 Campanhas Educativas e de Conscientizao
Enquanto as polticas de divulgao pblica de informao afetam o mercado ao
divulgar o desempenho ambiental de empresas, as diferenciando conforme seus
resultados, campanhas educativas e de conscientizao buscam divulgar aos
consumidores as caractersticas relevantes para suas escolhas, afetando assim suas
preferncias. Esse tipo de campanha importante, pois fica um passo antes da
divulgao sobre o desempenho de firmas ou sobre a qualidade de produtos. Sua
proposta fazer com que os consumidores tenham melhores condies de interpretar as
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informaes j disponveis no mercado ou mesmo de outras campanhas de divulgao
de informao. O consumo uma funo do risco esperado, assim como do preo e de
outros fatores relacionados. Mudanas no risco esperado devido atuao de
campanhas de conscientizao e educao podem ajudar na valorizao das decises de
consumo na presena de novas informaes (Shimshacket al, 2007).
O nvel de educao e de informao da populao prvio s campanhas um
fator importante para o de grau de sucesso e alcance das informaes divulgadas.
Segundo Shimshack et al (2007), a compra de jornais e revistas est diretamente
relacionados com o consumo ps-campanha. A freqncia de leitura de jornais pode ser
considerada uma proxy da exposio a informao, pois estas pessoas tero menores
custos de aquisio de informao e tero maior probabilidade de absorver avisosrelevantes sobre riscos no consumo. Por sua vez, a educao superior pode ser uma
proxy da capacidade de assimilar a informao apropriadamente, ou seja, reduzindo de
fato o consumo.
Entretanto, a grande parcela da populao que no l periodicamente jornais ou
no tem ensino superior, est fracamente preparada para responder de maneira
satisfatria a esse tipo de campanha. Isso sugere que campanhas de conscientizao
devem ser extensas e bem focadas nos grupos de risco, fazendo uso tambm de
propagandas em locais pblicos e promovendo a utilizao de selos de qualidade.
O estudo de Shimshacket al(2007) apresenta uma anlise de uma campanha nos
EUA que se props a divulgar para a populao os riscos sade que o consumo de
peixe contaminado por mercrio pode levar. O mercrio pode causar danos
neurolgicos durante a formao do sistema nervoso do ser humano, por isso, o pblico
alvo da campanha so mulheres em idade frtil e crianas.
Os resultados do estudo mostram que polticas baseadas em informao podem
ser efetivas: Consumidores mais predispostos a serem atentos e com maior capacidade
de assimilao de informao diminuram significativamente o consumo de peixe.
Consumidores pertencentes ao pblico alvo da campanha responderam campanha de
conscientizao reduzindo o consumo de peixe, sendo que os consumidores com nvel
superior, em particular, respondem mais fortemente.
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Outro resultado interessante o de que essas polticas tm conseqncias
distributivas, pois alguns grupos ficam mais expostos ao mercrio simplesmente porque
as campanhas no os alcanaram. Esses grupos colocados em risco so principalmente
os menos educados, que no responderam s campanhas. Alm disso, as campanhas de
informao que tenham um pblico alvo definido podem produzir efeitos no
programados em que consumidores reduzem o consumo mesmo no estando no grupo
de risco da campanha (Shimshacket al, 2007).
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CAPTULO III MOTIVAODOS CONSUMIDORES
A demanda de um consumidor funo de vrios parmetros, entre eles o preo
do produto, o preo do seu substituto, de sua qualidade, da renda do seu comprador.Para valorar precisamente a qualidade de um bem ou servio, necessrio que o
indivduo tenha acesso informao sobre as caractersticas desejadas e relevantes. Isso
se torna particularmente custoso para o consumidor de um bem de crena, que no
consegue observar por si s algumas caractersticas devido a impossibilidades tcnicas e
outros custos de transao.
Por exemplo, o leite pode conter uma caracterstica que alguns consumidores
podem considerar relevante, mas que no pode ser observada por eles, mesmo aps sua
compra. Se um alimento puder ter sido produzido com dois tipos de mtodos de
produo, com a utilizao de hormnios ou no, ele ter uma caracterstica referente
presena ou no de hormnio na criao dos animais produtores, sendo ela temida
devido incerteza dos possveis danos causados sade pelo seu consumo. Desse
modo, por dar diferentes valores aos diferentes tipos de leite, o consumidor ter
incentivos para tentar diferenci-los. Alm disso, como o consumo de leite produzido
com complementos hormonais gera, para esse tipo de consumidor, uma utilidade
esperada negativa, este estar disposto a pagar um valor adicional para evitar os riscos
associados a essa caracterstica. o chamado preo-prmio, pago pela presena de um
atributo adicional contido em um bem ou servio.
Na situao apresentada acima, foi considerado que a caracterstica relevante
afeta diretamente o consumidor, gerando expectativas de risco sua sade. Por tanto,
sua motivao para diferenciar e consumir o leite desejado puramente privada, ou seja,afetar seu bem-estar de maneira direta. Entretanto, existem produtos que afetam o
indivduo de maneira indireta, por meio de seus efeitos sobre bens pblicos, como por
exemplo, o meio ambiente.
Como dito no captulo anterior, existem bens que, alm de terem caractersticas
privadas, como sabor, potncia ou durabilidade, tm tambm uma caracterstica pblica.
As caractersticas privadas so aquelas que normalmente so levadas em considerao
para se atribuir uma qualidade que ir beneficiar e gerar utilidade para seu comprador.
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As caractersticas pblicas de um bem no so diretamente apropriveis pelo
consumidor, mas geram um efeito indireto sociedade, e por isso pode afetar
marginalmente o indivduo. Os bens que contm essas duas qualidades so chamados de
bens pblicos impuros, pois uma parte de suas caractersticas oferece algum bem
pblico, como por exemplo, qualidade ambiental.
Nesse caso, a conscincia, ou percepo ambiental, influi na tomada de deciso
da compra de bens e servios (Rodriguez-Ibeas, 2007). Para produtos que causam
efeitos indiretos sociedade, podemos incluir a conscincia do individuo sobre o
ambiente como um fator que influencia as preferncias individuais, podendo incluir
atributos alm dos que geram as qualidades privadas, ou mudando a importncia dada a
cada um deles, o que leva a mudanas na disposio a pagar dos consumidores.
Podemos analisar as preferncias por dois bens pblicos impuros distintos da
seguinte maneira. Ambos contm exatamente a mesma caracterstica privada, porm, o
segundo tem uma qualidade ambiental, enquanto o primeiro, por poluir o meio ambiente
no seu processo de produo, tem uma caracterstica de mal.
Figura 3: Bens pblicos impuros
Caracterstica Privada Caracterstica Ambiental
Um consumidor no ciente das caractersticas ambientais dos bens ir escolher
as quantidades Qp1 e Qp2 para seu consumo segundo sua curva de indiferena Up em
relao qualidade privada. Porm, ao internalizar as caractersticas ambientais de
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ambos em suas preferncias, levando em conta Up e Ua, o consumidor passar a ter
uma nova curva de indiferena (U*).
Preferncias Considerando o Atributo Ambiental
No exemplo, a quantidade consumida do bem 1 passa a ser Q1 < Qp1, enquanto
a do bem 2 passa a ser Q2 > Qp2. Caso o consumidor no tenha acesso informao
sobre a qualidade ambiental, ou simplesmente no a considere em suas preferncias,
este continuar consumindo Qp1 e Qp2. Entretanto, o consumidor com preferncia por
qualidade ambiental que no tenha acesso informao sobre ela, estar consumindo
quantidades ineficientes, o que leva a uma perda de bem-estar, como mostrado na figura
2 do captulo anterior.
Um consumidor verde dar preferncia a bens com caractersticas pblicascomo: Eletricidade verde, que mais cara que eletricidade produzida por combustveis
fsseis, pois parte do preo investido na construo de usinas de energia renovvel;
Embalagens de comidas e bebidas feitas com materiais menos agressivos ao meio-
ambiente ou reciclveis; Detergentes e sabes que contenham produtos qumicos menos
poluentes e que facilitam o tratamento de gua; Alimentos orgnicos, que no fazem uso
de agrotxicos, tendo um impacto menor sobre o ecossistema.
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Para que as caractersticas pblicas sejam demandadas voluntariamente,
necessrio que exista uma conscincia individual ou mecanismos sociais capazes de
superar o problema do free rider. O problema do free rider, ou caroneiro, ocorre
quando, devido presena de um bem no-excludente, seja extremamente custoso para
agentes privados definirem direitos de propriedade de modo que todas as partes
envolvidas na produo e consumo sejam includas. Desse modo, os custos de transao
se tornam maiores do que os possveis ganhos de produo ou troca, o que anula os
incentivos para a participao dos agentes no mercado. O resultado disso que, para um
indivduo, seu esforo no altera seu benefcio, pois o resultado de seu esforo no
aproprivel, porm, o benefcio que ele ir usufruir no depende do seu esforo. O
resultado dessa falha nos incentivos individuais que o nvel de bem-estar social
alcanado fica em um nvel sub-timo, ou seja, caso no houvesse o problema de free
ridera sociedade poderia usufruir um maior nvel de bem-estar social.
A meio-ambiente um exemplo de bem no-excludente que sofre esse problema.
A ao coletiva pode melhorar sua qualidade marginalmente, o que ir beneficiar a
sociedade como um todo. Porm, como os indivduos no conseguem se apropriar dos
resultados de seus esforos e a no participao de um indivduo no afeta a qualidade
ambiental perceptivelmente, esse tem o incentivo de trapacear, se tornando umcaroneiro. Um exemplo em pauta atualmente a participao de pases contra o
aquecimento global. Se todos os pases incentivassem esforos para a reduo da
emisso de gases causadores do efeito estufa, o problema do aquecimento global
poderia ser eficientemente combatido, gerando benefcios a todos. Entretanto, no h
mecanismos para punir aqueles que no participem dos esforos para a reduo da
emisso de gases, que custosa, e seus benefcios dependem principalmente do esforo
agregado, o que gera incentivos para a no participao, se apropriando dos benefcios,sem arcar com os custos.
O problema dofree riderprejudica no s a participao e desenvolvimento do
mercado verde, como tambm a formao de grupos de ao civil que atuem em causas
sociais e ambientais. Tendo em vista esse problema, iremos analisar mecanismos e
incentivos que levam indivduos a participar do mercado por qualidade-ambiental.
Ao se analisar um bem verde, percebe-se um trade offentre a utilidade vinda dascaractersticas normalmente preferidas de um bem e o comportamento moral esperado
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por parte da sociedade. Segundo Conrad (2005), existem pelo menos trs justificativas
para esse fato: Primeiro, pode se assumir que os consumidores agem com certo grau de
idealismo, internalizando parte das externalidades negativas da produo de bens que
compram. Segundo, o desvio do comportamento social ambiental padro punido com
a perda de reputao ambiental, coagindo os indivduos de m reputao ambiental.
Terceiro, o consumidor pode ter um efeito de warm glow, ou seja, o indivduo busca
utilidade ao fornecer uma pequena quantidade de bem pblico sociedade. A percepo
ambiental d utilidade por si s, mesmo que no leve a melhoras ambientais. Esses
fatores levam a mudanas na disposio a pagar por qualidade ambiental, assim como
por bens que a provm indiretamente.
Para ilustrar as afirmaes, em uma pesquisa feita sobre reciclagem de materiaisdomsticos na Noruega (Bruvoll et al, 2002), foram feitas perguntas para observar quais
afirmaes refletem as motivaes que levaram prtica da reciclagem. 41% das
pessoas que costumam reciclar lixo concordam com a afirmao eu reciclo em parte
porque quero que os outros pensem que sou uma pessoa responsvel, 71%
concordaram com eu reciclo em parte porque quero pensar em mim como uma pessoa
responsvel e 88% concordaram que reciclam porque eu devo fazer aquilo que quero
que os outros faam.
3.1 Internalizando Externalidades
Externalidades so efeitos indiretos da produo ou do consumo que afetam o
bem estar de terceiros, mas que no so levados em considerao pelo mercado na
formao dos preos dos bens ou servios causadores desses efeitos. Nesse caso, os
custos privados diferem tanto dos benefcios privados como dos custos sociais, fazendo
assim com que haja uma ineficincia na alocao dos recursos, levando a uma
diminuio do bem-estar social. Um exemplo clssico de externalidade negativa a
poluio produzida pelo processo de produo de uma indstria que despejada sem
tratamento em um rio, o que afeta negativamente a qualidade da gua da populao que
vive abaixo da corrente do rio.
Figura 4: Presena de externalidade negativa no mercado
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Fonte: Pindyck, Rubinfeld, 1999.
Na presena de uma externalidade negativa, o custo marginal social (CMgS)
maior do que o custo marginal privado (CMg). A produo eficiente ocorre quando a
quantidade produzida Q*, em que a demanda (D) se iguala curva CMgS. Porm,
quando os agentes no consideram tais efeitos indiretos na formao de suas
preferncias, considerando apenas os custos privados, o equilbrio do mercado ocorre
em Q. Do ponto de vista social, as firmas estariam produzindo uma quantidade
excessiva em relao ao que seria socialmente eficiente. Esse excesso existe pois o
mercado no est considerando os efeitos negativos da produo sobre os indivduos
afetados pela poluio. Assim, o custo social dessa ineficincia dado pela rea cinza
do grfico, a diferena entre CMgS e D dos bens produzidos alm da quantidade tima.
Coase (1960) argumentou que as externalidades existem porque nem a indstria
nem a comunidade detm a gua que est sendo poluda e, por isso, falta um mercado: omercado da poluio. Neste mercado alguns agentes estariam dispostos a pagar para ver
a quantidade de produo de poluio reduzida, quer dizer, a poluio teria um preo.
Por exemplo: a poluio de uma indstria infere custos aos moradores que
vivem prximos a ela. Internalizar essa externalidade significa incluir os custos
causados pela poluio para que se usufrua dos resultados de sua produo. Mas quem
paga por isso? Caso a indstria tenha os direitos legais de poluir o rio, a prpria
comunidade pode estar disposta a pagar pela instalao de um filtro que diminua as
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emisses. Entretanto, o princpio usualmente adotado o do poluidor pagador, ou
seja, quem polui paga pelos custos externos causados a terceiros.
Existem alguns cenrios possveis para a resoluo desse problema. Por
exemplo, o governo pode atribuir firma um imposto equivalente ao custo marginal de
sua poluio para igualar os custos privados aos custos sociais. Tambm pode atribuir
uma multa pela poluio, caso ela esteja acima de padres estabelecidos, ou mesmo
proibir a produo poluidora. Para no desviar o foco do tema do captulo, a anlise das
possibilidades de resoluo do problema de externalidade ser feita baseada na situao
em que os consumidores de uma firma poluidora podem gerar incentivos para que essa
internalize em seus custos de produo os custos da poluio gerada.
Por exemplo, caso existam duas firmas idnticas que sejam potenciais
poluidoras. A firma A instala um filtro, e por isso tem um processo de produo limpo
e ambientalmente amigvel, e a outra, B, no o instala, gerando custos sociais externos
para a sociedade. Ao instalar um filtro para internalizar os custos da poluio, a firma
A faz com que seu processo de produo se torne mais caro do que o de B, pois o
preo mdio de cada bem produzido se torna maior com o custo fixo do filtro sendo
includo. Nesse caso, as firmas diferenciaram a qualidade de bem pblico (qualidade
ambiental) de seus produtos. A firma A oferta um produto mais caro, porm de
qualidade superior, enquanto a firma B oferta um bem mais barato, pois no teve de
arcar com os custos do filtro, no oferecendo nenhuma qualidade ambiental.
Nesse caso, os consumidores que estiverem dispostos a internalizar a
externalidade atravs de seu consumo, tero de pagar a diferena de preos repassada
aos consumidores devido diferena nos custos entre a empresa A e B. Essa
diferena no preo que os consumidores esto dispostos a pagar chamada de preo-prmio, que representa a utilidade adicional gerada ao consumidor pela incluso da
caracterstica pblica ao bem. Segundo Ferraro, et al (2005), pagar esse preo-prmio
seria equivalente a fazer uma doao direta para a proviso de servios ambientais a
uma organizao especializada, s que esse pagamento feito por meio do mercado
verde, ou seja, de um modo indireto. Esse preo-prmio assumido como sendo um
indutor para que os produtores usem e protejam o ecossistema de modo a prover
servios ambientais juntamente com o bem privado.
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Organizaes ambientais sem fins lucrativos ou o prprio governo podem fazer
o papel de direcionar doaes com fins de prover servios ambientais, por exemplo, por
meio de subsdios a produtores que atinjam alguma meta ambiental. Esses tipos de
pagamentos diretos costumam ser mais eficientes do que pagamentos indiretos,
entretanto, para indivduos com baixa valorao do meio ambiente, fazer doaes
diretamente para grupos ambientais pode ter um grande custo de transao, enquanto
faz-las por meio do mercado verde pelo de pagamento de preo-prmio de um bem
privado pode diminuir os custos de transao, tornando o processo menos custoso
(Ferraro et al, 2005).
O mercado verde, de produtos menos agressivos do ponto de vista ambiental,
representa o meio pelo qual um bem pblico pode ser fornecido privadamente, ou seja, um mercado de bens pblicos impuros. Esse tipo de produto geralmente recebe um
preo-prmio pelo fato da disposio a pagar dos consumidores refletir o valor dado
para dos servios ambientais que so produzidos em conjunto com o bem privado
(Ferraro et al, 2005).
Se um consumidor compra um produto verde, ele voluntariamente internaliza
parte das externalidades negativas do ciclo de vida do bem. Entretanto, provvel que
ele no consiga perceber os efeitos de sua escolha no ambiente, pois geralmente apenas
comportamentos individuais agregados conseguem afetar de maneira perceptvel o
meio-ambiente. Como dito anteriormente, essa dificuldade na percepo e apropriao
do esforo em favor do meio-ambiente pode levar ao problema do free rider. Uma
motivao para a superao da distoro de incentivos gerada por esse problema a
conscincia individual que d importncia a manter um padro de consumo sustentvel.
Esse tipo consumidor atribui maior utilidade a bens e servios que internalizem os
custos externos gerados direta e indiretamente pelo seu consumo, independentemente do
fato dos benefcios desse padro de consumo poderem ser diretamente apropriados ou
no.
3.2 Motivao Moral, Reputao e Coao Social
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A mudana na disposio a pagar do consumidor por bens ou servios
ambientais pode ser influenciada tanto por motivaes morais individuais, quanto por
sanes sociais. Essas sanes, uma forma de punio informal, seriam aplicadas
devido a um desvio em alguma conduta socialmente aceita, por exemplo, consumo de
bens causadores de externalidades negativas. Elas fazem com que um indivduo que
infrinja certos padres socialmente aceitos sofra uma desutilidade devido punio,
gerando incentivos para que no atue como um caroneiro.
Para a motivao moral, Nyborg (2006) assume, similarmente ao caso em que o
indivduo punido pela sociedade, que este tenta manter uma imagem de pessoa
ambientalmente responsvel, que a motivao moral existe como uma auto-sano ao
comportamento ambientalmente no-responsvel. Essa imagem melhorada conformea pessoa tem o comportamento mais prximo do nvel ideal considerado pela sociedade.
Quanto maior for o padro social de consumo verde, maior o nvel moral a ser
perseguido para se melhorar a imagem individual. Dois fatores influenciam na
responsabilidade mantida por um indivduo. Primeiro, a percepo das pessoas de como
outras pessoas esto se comportando em uma situao, mesmo sem levar em
considerao as sanes sociais. Assumindo que um indivduo saiba dos efeitos
externos causados por suas aes, mas no est certo se isso sua responsabilidade oude alguma outra pessoa ou instituio. No havendo nenhuma regra formal que
responda isso, algo natural de se fazer olhar ao redor e observar quem toma a
responsabilidade para si. Segundo, os indivduos podem ter valores como reciprocidade
e justia, estando dispostos a cooperar, esperando que o resto da sociedade tambm
contribua. Ambas motivaes, ceteris paribus, levam a um aumento na parcela de
alternativas pr-ambientais escolhidas pela sociedade (Nyborg et al, 2006).
Como o benefcio moral para o consumidor depende das externalidades que seu
consumo gera para os outros membros da sociedade e da participao dos demais no
mercado verde, quanto mais rgido o nvel do padro moral, maior a chance de se
superar o problema dofree rider. Isso ocorre porque o esforo individual se torna mais
prximo do esforo coletivo, que, no caso de ser positivo, facilita a percepo e
apropriao dos resultados ambientais.
No caso da motivao do consumo verde vir de normas e sanes sociais, existeum comportamento de manada. Dependendo da rigidez dessas normas, pode se chegar
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ou a uma adeso uniforme de todos os indivduos ou a se ignorar os bens verdes. Isso se
deve ao fato de que os custos de um indivduo comprar um bem verde so maiores do
que o benefcio por ele percebido. Os benefcios passam a ser maiores que os custos a
partir de certo grau de participao da populao. A partir desse ponto hipottico, o
novo tipo de consumo evidencia seus benefcios sociais e gera externalidades positivas,
que podem ser percebidas e apropriadas por todos (Nyborg et al, 2006).
Figura 5: Dinmica do desenvolvimento da parcela de indivduos verdes
Fonte: Nyborg et al, 2006.
Em que a o ponto em que o custo do produto mais seus custos externos se
igualam aos ganhos privados vindos de uma auto-imagem positiva por se consumir o
bem verde, mais os benefcios externos observados por um indivduo se 100% da
populao consumisse bens verdes. A partir do ponto a, a parcela da populao que
verde far com que os prximos indivduos com preferncias verdes possam
comear a perceber os ganhos privados alm de perceberem uma maior presso para
manterem sua imagem de indivduo responsvel. Esses, por sua vez, sero incorporados
na parcela verde da populao, fazendo com que os benefcios privados e a presso
social seja cada vez mais perceptvel e atuante sobre os indivduos.
A utilizao de impostos ou subsdios pode induzir a demanda a mudar at
atingir o nvel de equilbrio em que o padro moral social gere incentivos para que a
maioria o siga, tornando perceptvel que parte das externalidades foram internalizadas
pelo consumo. Como implicao poltica, mostra-se que mesmo impostos temporrios
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podem ser eficientes em atingir o equilbrio de demanda desejado, o que contrasta com
a percepo de que a eficincia econmica requer o uso de imposto Pigouviano, igual
aos custos sociais marginais da poluio. No caso, um imposto menor do que o custo
social pode fazer com que os efeitos da imagem individual gerem os incentivos para a
mudana de comportamento da populao e levem a internalizao de parte das
externalidades negativas (Nyborg et al, 2006).
Outro meio de induzir a percepo ambiental e elevar o padro moral social o
uso de campanhas de informao e publicidade. Esse tipo de poltica, ao aumentar a
percepo dos indivduos por meio de um fluxo de informao mais abrangente, faz
com que o indivduo assimile que outras pessoas podem estar consumindo mais
produtos verdes e que os benefcios desse consumo podem ser sentidos, incentivando aparticipao e a motivao moral. Em contraste, se o indivduo for motivado pela
aprovao social recebida ao invs de ser motivado por seus prprios princpios morais,
campanhas para aumentar a percepo ambiental podem no ser eficientes, j que a
recompensa ou punio social se tornam mais importantes do que suas preferncias
ambientais em si.
3.3 Motivao de Investidores
Os investidores, que buscam maximizar o valor dos retornos de suas aes, tm,
assim como os consumidores, incentivos de natureza puramente privada e incentivos
que refletem benefcios sociais. Eles podem aplicar em empresas verdes, com posturas
sociais e ambientais mais responsveis, devido aos motivos apresentados acima, estando
dispostos a abrir mo de parte dos retornos em favor dos benefcios sociais gerados poruma empresa verde. Por outro lado, existem motivos mais convencionais que podem
dar preferncia a investimentos em firmas verdes.
Investidores podem reagir de maneira mais negativa para nveis maiores de
emisso de poluio pelo fato delas poderem indicar baixa eficincia de produo e
potenciais altos custos de controle de poluio e com outras futuras punies
ambientais. Os investidores podem tambm comparar o desempenho ambiental entre as
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firmas e reagir negativamente quelas que piorarem em relao s demais firmas
(Khanna et al, 1998).
argumentado que, para fazer redues nos custos, firmas que focam
diretamente descobrem oportunidades para economias de energia, reduo nos
desperdcios e na produo de lixo, reciclagem e diminuio nos custos de transporte.
Tambm argumentado que melhoras no desempenho ambiental aumentam a lealdade
dos trabalhadores, melhorando a capacidade de contratar e reter mo-de-obra
qualificada, especialmente os trabalhadores com maior conscincia ambiental.
Outro argumento refere-se aos custos de capital e custos de seguros. Melhorar o
desempenho ambiental pode reduzir o risco de acidentes e de sanes legais. Se
comunicado aos acionistas, a diminuio desses riscos ir diminuir o retorno de capital
requerido por eles, aumentando o valor das aes e reduz tambm os custos da empresa
com seguros (Telle, 2006).
3.4 Efeitos de Variaes no Mercado Verde com a presena de Substitutos
Os consumidores, na formao de suas preferncias, so influenciados pordiversos fatores. Alm do preo e da qualidade do bem verde, da renda do consumidor,
de suas preferncias e padres culturais, a disponibilidade de substitutos para o
consumo e suas variaes em preo e qualidade tambm podem afetar tanto o padro de
consumo dos indivduos como tambm os impactos causados na qualidade do meio
ambiente.
Kotchen (2005) analisa os efeitos da presena de bens substitutos sobre a
demanda por bens verdes e sobre a qualidade ambiental, dependendo dos preos do
mercado e da percepo ambiental dos consumidores. O modelo considera um bem
pblico impuro, produzido conjuntamente com caractersticas privadas e pblicas,
levando em considerao a disponibilidade de um bem substituto no mercado, podendo
ser ou um bem convencional ou uma doao direta, pois considerado que a
caracterstica ambiental de um bem verde pode ser disponibilizada separadamente, tanto
por meio da compra de bens verdes como por doaes diretas.
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Considere o caso em que o nico substituto para o bem verde um bem
convencional, que tenha apenas caractersticas privadas. Como a qualidade ambiental
considerada um bem normal, e no um inferior, um aumento na renda far com que sua
demanda tambm aumente, logo, a quantidade demanda ou a proporo de atributo
ambiental no produto aumentar. Pelo mesmo motivo, um aumento no preo do bem
verde ir diminuir sua quantidade demandada, assim como se o preo do bem substituto
diminuir, h um redirecionamento da demanda, substituindo o bem verde pelo comum.
No caso do bem substituto ser qualidade ambiental adquirida por doaes
diretas, dado o exemplo de um tipo de cultivo de caf. Existem plantaes de caf que
podem ser cultivadas sob a mata original de florestas tropicais ao invs de se utilizar o
mtodo tradicional de desmatamento e plantio em reas abertas. O cultivo de cafambientalmente amigvel, alm de sua caracterstica privada normal, tem uma
caracterstica ambiental pblica, pois as reas no desmatadas servem como refgio da
biodiversidade local.
Nesse caso, os consumidores tm oportunidades de adquirir qualidade ambiental
de duas maneiras substitutas, ou fazendo doaes diretas, por exemplo, para
organizaes que atuem contra o desmatamento de florestas tropicais, ou comprando
caf com o atributo ambiental, fazendo uma transferncia de maneira indireta para esse
fim, como podem fazer doaes diretas a instituies engajadas na proviso de
qualidade ambiental,.
Como as demandas dos consumidores so diferentes nos dois casos, uma sendo
relativa a bens verdes, que contm atributos ambientais, e a outra, a qualidade ambiental
de forma pura, possvel analisar como mudanas tecnolgicas e os preos de bens
substitutos afetam ambos os tipos de demanda.
A intuio pode dizer que a demanda por qualidade ambiental decrescente em
relao aos preos de um bem verde. Entretanto, se as caractersticas privada e pblica
forem substitutas ou o efeito renda for suficientemente pequeno, isso pode no ocorrer.
Caso haja uma diminuio no preo do bem verde, um dos preos que o compe, o do
bem privado, tambm diminuir, fazendo com que se torne relativamente mais barato se
obter o atributo ambiental por meio do bem verde. Essa diminuio do preo torna a
substituio em direo qualidade privada relativamente mais vantajosa que antes,
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pois ela se torna mais barata em relao qualidade ambiental pura. Se esse efeito
substituio for mais forte do que o efeito renda da diminuio do preo do bem verde,
isso far com que haja uma reduo na demanda por qualidade ambiental. Desse modo,
a demanda pelo bem pblico impuro aumenta, porm a demanda direta pela qualidade
ambiental pode diminuir, fazendo com que um aumento na demanda por um bem verde
no aumente necessariamente a demanda total por qualidade ambiental, devido ao efeito
de disperso nas doaes diretas (Kotchen, 2005).
O mesmo pode ocorrer com uma diminuio do preo de se prover qualidade
ambiental por meio de doaes. Na maioria dos casos, essa diminuio benfica ao
meio ambiente, entretanto, isso tem efeitos sobre os preos dos seus substitutos. O preo
da qualidade privada se torna relativamente elevado, pois adquirir qualidade ambientalpor meio de um bem verde se torna relativamente mais caro, o que faz com que os
consumidores o substituam o bem verde por doaes diretas. Dependendo da proporo
desse efeito substituio, a demanda por qualidade ambiental pode at decrescer devido
a uma diminuio da qualidade ambiental demandada do bem verde causada pelo
aumento do preo relativo da caracterstica privada. Dependendo da relevncia do bem
verde na qualidade ambiental, esta pode mesmo diminuir se as doaes no aumentarem
suficientemente (Kotchen, 2005).
Todos os efeitos descritos acima podem ocorrer tambm no caso da mudana dos
preos relativos serem causadas por mudanas tecnolgicas que interfiram nos custos
tanto do bem verde como das doaes diretas. Uma mudana no padro tecnolgico de
um bem verde muda a quantidade de qualidade ambiental gerada pela produo de uma
unidade do bem, o que muda o preo implcito de se obter esse atributo ambiental.
Uma anlise semelhante pode ser feita ao se considerar, ao invs da tecnologiacomo determinante da proporo entre o atributo ambiental e o privado de um bem,
considerar a percepo ambiental como determinante dessa proporo demandada pelos
consumidores. Programas de conscientizao e selos ambientais buscam aumentar essa
percepo. Uma maior conscincia ambiental faz com que a diferena entre o preo do
bem verde e do bem convencional diminua, ou seja, a desvantagem de se comprar um
bem verde devido ao seu custo maior diminui em relao ao bem convencional devido
ao aumento na disposio a pagar pela caracterstica verde. Por isso, quanto maior for a
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percepo ambiental dos consumidores, maior ser a proporo de caracterstica
ambiental demandada nos produtos.
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CAPTULO IV INCENTIVOSDAS FIRMASNO MERCADO VERDE
4.1 Efeitos de Mudanas na Demanda Verde sobre as Firmas
Consumidores tm mostrado cada vez maior preocupao com a postura
ambiental de empresas e com a qualidade dos bens consumidos. primeira vista isso
poderia gerar maiores custos a elas, prejudicando o desempenho das firmas. Por outro
lado, h oportunidades desses produtores se beneficiarem dessa mudana na demanda,
caso sejam bem sucedidos em diferenciar seus produtos dos demais. Respondendo s
mudanas na demanda social e s oportunidades geradas por isso, observado tambm
um aumento na preocupao das empresas em relao postura ambiental. Isso leva a
um crescimento na adoo de esquemas de certificao e garantia de qualidade para
sinalizar aos consumidores e investidores essa postura, assim como a preocupao com
a imagem ambiental transmitida por campanhas de divulgao de resultados ambientais
e conscientizao.
Em um regime de padro mnimo imposto pela agncia reguladora, cada firma
tem o incentivo de alcanar esse padro fazendo o mnimo de esforo de despoluio para atingi-lo. Entretanto, essa hiptese no leva em considerao os efeitos da
publicidade gerada pelos diferentes nveis de poluio de cada firma, que pode ter nisso,
um incentivo para despoluir alm da meta estabelecida pelo regulador. A informao
contida em campanhas de divulgao de nveis de emisses pode gerar incentivos
similares ao de um selo ambiental. Quando os resultados ambientais atingidos por cada
empresa so divulgados em campanhas, estas do a chance s firmas de se
diferenciarem em busca de maiores retornos. Se a agncia ambiental estipula uma
reduo de 50% nas emisses para todas as firmas, divulgando os resultados
publicamente com a inteno de expor aqueles que no atingiram essas metas, algumas
firmas podem tentar aproveitar essa oportunidade de exposio na mdia para se
diferenciarem das demais como firmas ambientalmente mais amigveis.
Segundo Arora e Gangopadhayay (1995), a literatura oferece vrias explicaes
para o desempenho ambiental acima das metas estabelecidas: As firmas podem tentar se
antecipar a futuros enrijecimentos na regulao. Isso pode ocorrer caso essa antecipao
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resulte em redues de custos no longo prazo, mesmo que no curto prazo parea ser
apenas um adiantamento em relao ao regulador; As firmas podem tambm tentar
influenciar a formao de regulao. Se algumas firmas alcanarem nveis maiores do
que os padres estabelecidos, os formuladores de poltica podem considerar isto um
sinal de que estes podem enrijecer os padres para a indstria como um todo. Uma
firma pode desejar que esses padres sejam enrijecidos caso isso v inferir maiores
custos a seus rivais; As firmas podem ir alm das metas para ganharem reputao de
empresas ambientalmente amigveis. Entretanto, pode haver falta de incentivos para
que isso ocorra devido imperfeies na capacidade de diferenciar qualidades das
empresas, o que deixa de acontecer em casos em que a agencia reguladora torna essas
informaes disponveis ao pblico.
O incentivo para que uma firma alcance as metas de forma voluntria vem da
demanda verde e o marketingverde na indstria. Firmas podem agir responsavelmente
para internalizar as externalidades da poluio, respondendo demanda por despoluio
dos consumidores. Dado que os consumidores esto informados sobre o desempenho
ambiental das firmas, haver uma maior disposio a pagar por bens que gerem menores
nveis de poluio, incentivando sua produo. Entretanto, o fato do desempenho
ambiental em vrios setores industriais pode ser visto como um indicativo de um efeitonegativo na lucratividade de bom desempenho ambiental negativo ao invs de positivo.
Se pudesse ser claramente documentado que realmente vale a pena ser verde, parece
razovel que expanses de regulaes ambientais tradicionais e monitoramento seriam
desnecessrios. Ao invs disso, um regulador pode atingir melhorias no desempenho
ambiental ao utilizar polticas que informam e guiam as firmas sobre o melhor
desempenho ambiental para que se aumentem os lucros. Porm, nem sempre essas
situaes favorveis adoo de polticas de informao so possveis, fazendo com
que seja invivel essa substituio de polticas tradicionais como meio de melhorar o
desempenho ambiental das firmas (Telle, 2006).
Em um mercado verde, a competio em qualidade ambiental se difere da
competio convencional de qualidade de maneira crucial: Ela influi nas externalidades
segundo a qualidade do bem ou servio produzido. Desse modo, quando firmas se
diferenciam em qualidade ambiental, existem dois efeitos sobre o bem-estar social. O
primeiro ocorre quando, ao competirem em qualidade ambiental, as firmas aumentam o
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esforo para reduzir a poluio, reduzindo suas externalidades. O segundo efeito ocorre
quando a diferenciao diminui a competio, aumentando o poder de mercado das
firmas (Lombardini-Riipinen, 2005).
4.2 Incentivos para Diferenciao entre Firmas
Qualquer bem de consumo pode ser analisado em termos de sua diferenciao
em relao a outros bens substitutos. A relao entre o nvel de diferenciao e o
consumo depende das preferncias dos consumidores. Isso, por sua vez, depende da
existncia de economias de escopo, por exemplo, quando uma firma se especializa em
um tipo de produto com determinada qualidade especfica (Eaton e Lipsey, 1989).
Muitas indstrias produzem um grande nmero de bens similares, porm,
mesmo que sejam parecidos, raramente so idnticos. Entretanto, esse conjunto de bens
produzidos apenas um pequeno conjunto de todos os produtos que poderiam ser
possivelmente produzidos. Isto , existe um trade-offentre a diferenciao mxima de
produtos, que ir satisfazer um maior nmero de consumidores, e os ganhos de escopo
vindos da restrio do leque de opes de produtos oferecidos no mercado. Essa relao
pode fazer com que a as empresas se especializem em determinados nichos de mercado,
atuando sobre um tipo especfico de consumidor com um produto diferenciado dos
demais concorrentes como modo de maximizarem seus lucros.
Esses diferentes nichos existem porque os consumidores, ao observar suas
preferncias em relao a um bem, analisam tambm as diferenas na qualidade de
diferentes bens substitutos. Essas preferncias variam entre os consumidores, sendo que
existem vrias caractersticas pessoais que influenciam o padro de consumo alm darenda dos consumidores. Para evitar a competio por um mesmo mercado consumidor,
o que fazer com que os preos sejam igualados aos custos marginais das em