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Universidade Federal de Alagoas - UFAL Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - FEAC Mestrado Profissional em Administração Pública PROFIAP GILMAR SARMENTO DA SILVA JUNIOR POLITICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: uma proposta de implemen- tação da ferramenta Balanced Scorecard (BSC) voltada a execução do Plano Nacional de As- sistência Estudantil (PNAES) na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) MACEIÓ/AL 2017

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  • Universidade Federal de Alagoas - UFAL

    Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - FEAC

    Mestrado Profissional em Administração Pública – PROFIAP

    GILMAR SARMENTO DA SILVA JUNIOR

    POLITICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: uma proposta de implemen-

    tação da ferramenta Balanced Scorecard (BSC) voltada a execução do Plano Nacional de As-

    sistência Estudantil (PNAES) na Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

    MACEIÓ/AL

    2017

  • 1

    GILMAR SARMENTO DA SILVA JUNIOR

    POLITICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: uma proposta de implemen-

    tação da ferramenta Balanced Scorecard (BSC) voltada a execução do Plano Nacional de As-

    sistência Estudantil (PNAES) na Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

    Dissertação apresentada à Universidade Fede-

    ral de Alagoas sob a forma de relatório técni-

    co, como parte das exigências do Programa de

    Pós Graduação em Administração Pública,

    Mestrado Nacional em Administração Pública

    em Rede Nacional – PROFIAP, para obtenção

    do título de Mestre.

    Orientador: Prof. Dr. Paulo da Cruz Freire dos

    Santos

    MACEIÓ/AL

    2017

  • RESUMO

    O trabalho teve como finalidade elaborar uma proposta de intervenção para a Pro-Reitoria

    Estudantil (PROEST) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) a fim de implementar uma

    ferramenta de gestão que auxilie a equipe técnica e gestora no planejamento, execução, avali-

    ação e medição de desempenho organizacional. Essa pro-reitoria é responsável pela execução

    do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) cujo objetivo é ampliação dos meca-

    nismos de apoio à permanência e sucesso acadêmico dos estudantes em condição de vulnera-

    bilidade socioeconômica. Os programas, projetos e ações desenvolvidos pela Pro-Reitoria

    Estudantil, através do PNAES, têm grande repercussão na comunidade acadêmica devido a

    sua expressividade, capilaridade e qualidade nos seus serviços quanto unidade executora das

    políticas de assistência estudantil. Contudo, a avaliação de desempenho dos serviços ofertados

    é um gargalo enfrentado pela unidade, com medição de indicadores ineficaz ou inexistente.

    Para elaboração da ferramenta de medição de desempenho, foi adotada uma metodologia ex-

    ploratória com a utilização de levantamentos documentais, bibliográficos, questionários e

    entrevistas com corpo técnico, gestor e público-alvo com uma análise transversal quali-quanti.

    Para estruturação e medição de indicadores de medição de desempenho, foi adotado o Balan-

    ced Scorecard (BSC) que subdivide o sistema em quatro perspectivas: Cliente, Financeiro,

    Processos Internos e Aprendizado/Crescimento. A análise de cenário organizacional, através

    da ferramenta SWOT, permitiu traçar a melhor estratégia de atuação e os indicadores mais

    adequados de acordo com a realidade e características relevantes para o cumprimento da mis-

    são da unidade. A construção do mapa estratégico e painel de indicadores foram estabelecidos

    objetivos, metas, métricas e prazos que podem nortear a atuação nos níveis estratégico, tático

    e operacional da Pro-Reitoria Estudantil. A efetiva implementação do BSC traz para a PRO-

    EST a capacidade de mensurar e acompanhar continuamente a progressão dos serviços ofer-

    tados, assim como realizar os ajustes tempestivamente a fim de aumentar o grau de eficiência

    e eficácia.

    Palavras-Chave: Indicadores, Desempenho, Estratégia, Balanced Scorecard

  • ABSTRACT

    The study had as purpose to elaborate an intervention proposal for the Student Rectory

    (PROEST) of the Federal University of Alagoas (UFAL) in order to implement a manage-

    ment tool that assists the management and technical team in planning, execution, evaluation

    organizational performance measurement. This department is responsible for implementing of

    the National Student Assistance Plan (PNAES), whose objective is to expand mechanisms to

    support the permanence and academic success of students in a condition of socioeconomic

    vulnerability. The programs, projects and actions developed by PROEST, through PNAES,

    has a great repercussion in the academic community because of its expressivity, capillarity

    and quality in its services as well as in the execution. However, performance evaluation of the

    services offered has a bottleneck faced by the department, with ineffective or non-existent

    indicator measurement. For the elaboration of the performance measurement tool, an explora-

    tory methodology was adopted with the use of documental, bibliographic, questionnaries and

    technical interviews, manager and target audience with a cross-quali-quanti analysis. The Bal-

    anced Scorecard (BSC) was adopted for structuring and measuring performance measurement

    indicators whose tool divides the system into four perspectives: Customer, Financial, Internal

    Processes and Learning / Growth. The analysis of the organizational scenario with SWOT

    tool, made it possible to outline the best performance strategy and the most adequate indica-

    tors according to the reality and characteristics relevant to the fulfillment of the department's

    mission. The construction of the strategic map and panel of indicators, objectives, targets,

    metrics and deadlines have been established that can guide action at the strategic, tactical and

    operational levels of PROEST. The effective implementation of the BSC means that PROEST

    is able to continuously measure and monitor the progress of the services offered, as well as

    make timely adjustments to increase efficiency and effectiveness.

    Keywords: Indicators, Performance, Strategy, Balanced Scorecard

  • Lista de Ilustrações – Figuras

    Figura 1 Fluxo para Elaboração do Planejamento Estratégico ........................................ 41

    Figura 2 A perspectiva dos processos internos – o modelo da cadeia de valores genérica

    ................................................................................................................................. 47

    Figura 3 Perspectiva do Balanced Scorecard por Kaplan e Norton ................................ 48

    Figura 4 Matriz para Definição de Estratégia de Stevenson ........................................... 52

    Figura 5 Balanced Scorecard como uma estrutura estratégica para a ação .................... 53

    Figura 6 Modelo Balanced Scorecard de Execução da Estratégia .................................. 54

    Figura 7 Representação de Causalidade no Balanced Scorecard ................................... 58

    Figura 8 Mapa Estratégico de Relação Causa-Efeito ...................................................... 58

    Figura 9 Modelo BSC para organizações sem fins lucrativos sugerido por Kaplan e Norton

    ................................................................................................................................. 61

    Figura 10 Perspectivas do Balanced scorecard no setor público .................................... 62

    Figura 11 Modelo Genérico de Elaboração do Balanced Scorecard .............................. 65

    Figura 12 Passos para a definição do modelo de pesquisa .............................................. 71

    Figura 13 Análise SWOT da Pro-Reitoria Estudantil ..................................................... 99

    Figura 14 Posicionamento Estratégico a partir do resultado da análise SWOT .............. 102

    Figura 15 Mapa Estratégico da Pro-Reitoria Estudantil .................................................. 105

    Figura 16 Fluxo para construção de um sistema de medição de desempenho ................ 111

    Figura 17 Painel de controle de indicador do Balanced Scorecard no Excel (Microsoft Offi-

    ce) ................................................................................................................................. 120

  • Lista de Ilustrações – Quadros

    Quadro 1 PNAES e o seu enquadramento em múltiplas tipologias nas políticas públicas

    ................................................................................................................................. 24

    Quadro 2 Áreas estratégicas de atuação, linhas temáticas e órgãos envolvidos na proposta de

    assistência estudantil apresentada pelo FONAPRACE para o PNAES ........................... 31

    Quadro 3 Variáveis do Plano Nacional de Assistência Estudantil .................................. 37

    Quadro 4 Metodologia Base para Construção para Sistemas de Mensuração de Desempenho

    a partir do Balanced Scorecard e Seis Sigma................................................................... 56

    Quadro 5 Relação entre Ambiente Interno e Ambiente Externo .................................... 98

    Quadro 6 Propriedades essenciais para indicadores de mensuração de desempenho ..... 108

    Quadro 7 Elementos complementares para indicadores de mensuração de desempenho

    ................................................................................................................................. 109

    Quadro 8 Classificação de indicadores de desempenho.................................................. 110

    Quadro 9 Indicador de Resultado x Indicador de Esforço .............................................. 110

    Quadro 10 Painel de Desempenho do Balanced Scorecard da Pro-Reitoria Estudantil . 113

    Quadro 11 Plano de ação de implementação do Balanced Scorecard ............................ 122

  • Lista de Ilustrações – Gráficos

    Gráfico 1 Distribuição de Renda nos Países da América – Ano-referência: 2014 .......... 28

    Gráfico 2 Evolução do Repasse Financeiro ao PNAES, 2008 – 2013 ............................ 33

    Gráfico 3 Alunos em vulnerabilidade socioeconômica atendidos pela PROEST ........... 76

    Gráfico 4 Relação de alunos atendidos pela PROEST em situação de retenção ............. 77

    Gráfico 5 Ações prioritárias a partir da perspectiva dos discentes da UFAL .................. 89

    Gráfico 6 Ações prioritárias a partir da perspectiva do corpo técnico ............................ 91

  • Lista de Ilustrações – Tabelas

    Tabela 1 Investimento total na educação superior em relação ao PIB – Brasil 2003-2013

    ................................................................................................................................. 33

    Tabela 2 Renda familiar mensal dos estudantes por região – 2014 ................................. 78

    Tabela 3 Graduandos segundo a faixa etária – 1996 a 2014 (%) .................................... 79

    Tabela 4 Graduandos segundo o estado civil e a situação de trabalho, por região onde se loca-

    lizam as IFES (%) – 2014 ................................................................................................. 80

    Tabela 5 Graduandos segundo residência por região – 2014 .......................................... 82

    Tabela 6 Graduandos atendidos pelo programa de assistência estudantil por ação – 2014

    ................................................................................................................................. 84

    Tabela 7 Perfil dos graduandos segundo a situação de retenção ..................................... 86

    Tabela 8 Percepção dos discentes sobre as ações do PNAES executadas pela Pro-reitoria Es-

    tudantil na Universidade Federal de Alagoas ................................................................... 88

    Tabela 9 Indicador de Resultado / Perspectiva Cliente ................................................... 116

    Tabela 10 Indicador de Esforço / Perspectiva Cliente ..................................................... 117

    Tabela 11 Indicador de Resultado / Perspectiva Financeiro ............................................ 117

    Tabela 12 Indicador de Esforço / Perspectiva Financeiro ............................................... 118

    Tabela 13 Indicador de Resultado / Perspectiva Processos Internos ............................... 118

    Tabela 14 Indicador de Esforço / Perspectiva Processos Internos .................................. 118

    Tabela 15 Indicador de Resultado / Perspectiva Aprendizado e Crescimento ................ 119

    Tabela 16 Indicador de Esforço / Perspectiva Aprendizado e Crescimento .................... 119

  • Lista de Siglas

    ANDIFES Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino

    Superior

    ANEP Associação Nacional de Empresa de Pesquisa

    BSC Balanced Scorecard

    CAA Coordenação de Ações Acadêmicas

    CPE Coordenação de Políticas Públicas

    DCF Departamento de Contabilidade e Finanças

    ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

    FONAPRACE Fórum Nacional dos Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudan-

    tis

    GAD Gerência Administrativa

    GAE Gerência de Assistência Estudantil

    IFES Instituições Federais de Ensino Superior

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa

    MEC Ministério da Educação

    NAC Núcleo de Acessibilidade

    NAE Núcleo de Assistência Estudantil

    NPM New Public Management

    NTI Núcleo de Tecnologia da Informação

    PDCA “Plan, Do, Check, Action”

    PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

    PE Planejamento Estratégico

    PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

    PIB Produto Interno Bruto

    PNAES Programa Nacional de Assistência Estudantil

    PNE Plano Nacional da Educação

    PROEST Pro-Reitoria Estudantil

  • PROGRAD Pro – Reitoria de Graduação

    PT Partido dos Trabalhadores

    QP Questão de Pesquisa

    REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Univer-

    sidades Federais

    RU Restaurante Universitário

    RUA Restaurante Universitário

    SENCE Secretaria Nacional de Casas de Estudantes

    SIG Sistema Integrado de Gestão

    SINFRA Superintendência de Infraestrutura

    SISU Sistema de Seleção Unificada

    SWOT “Strenghths, Weaknesses, Oportunites, Threats”

    UFAL Universidade Federal de Alagoas

    UNE União Nacional dos Estudantes

  • Sumário

    1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

    1.1 Contextualização do tema..................................................................................... 13

    1.2 Problemática e Justificativa ................................................................................. 15

    1.2.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 17

    1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................ 17

    2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 18

    2.1 As Políticas Públicas e a Justiça Social: A necessidade latente de uma Política Pú-

    blica de Assistência Estudantil ...................................................................................... 18

    2.1.2 A Política Pública de Assistência Estudantil e o PNAES: Um Breve Histórico da

    sua Construção no Brasil ............................................................................................... 24

    2.1.3 O Plano Nacional de Assistência Estudantil e suas implicações nas instituições fe-

    derais de ensino superior ............................................................................................... 29

    2.1.4 A Assistência Estudantil na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) .......... 34

    2.2 Planejamento: Conceitos e Princípios ................................................................. 38

    2.2.1 Planejamento e Administração Estratégica ........................................................ 40

    2.2.2 Planejamento Estratégico no Setor Público ........................................................ 43

    2.2.3 Planejamento e Avaliação de Políticas Públicas na nova gestão pública: Eficiência,

    Eficácia e Efetividade ..................................................................................................... 43

    2.3 Balanced Scorecard ............................................................................................... 44

  • 2.3.1 Perspectivas do Balanced Scorecard ................................................................... 45

    2.3.2 Estratégia e Alinhamento Organizacional .......................................................... 49

    2.3.3 Balanced Scorecard e a execução da estratégia .................................................. 54

    2.3.4 Relações de Causa e Efeito ................................................................................... 57

    2.3.5 Vetores de Desempenho ........................................................................................ 59

    2.4 Balanced Scorecard no setor público .................................................................. 60

    2.4.1 Implementação do Balanced Scorecard no Setor Público ................................. 63

    2.4.2 Elaboração do Balanced Scorecard ..................................................................... 64

    3 METODOLOGIA ................................................................................................. 67

    3.1 Técnica de coleta e dados ...................................................................................... 69

    3.2 Unidade de análise e observação .......................................................................... 71

    3.3 Roteiro Metodológico ............................................................................................ 71

    4 Diagnóstico Organizacional.................................................................................. 76

    4.1 Política pública da assistência estudantil e o perfil dos discente atendidos pelo Pla-

    no Nacional de Assistência Estudantil .......................................................................... 76

    4.2 Plano Nacional de Assistência Estudantil na Universidade Federal de Alagoas

    ................................................................................................................................. 85

    4.3 Composição Orçamentária do Plano Nacional de Assistência Estudantil na Univer-

    sidade Federal de Alagoas .............................................................................................. 92

    4.4 Alinhamento estratégico entre os níveis hierárquicos ....................................... 93

    4.5 Planejamento estratégico e análise de cenário SWOT....................................... 96

    4.6 Objetivos estratégicos na perspectiva do Balanced Scorecard ......................... 103

    4.7 Indicadores do Sistema de Mensuração de Desempenho .................................. 107

    4.7.1 Painel de Desempenho dos Indicadores da Pro-Reitoria Estudantil ................ 112

  • 4.8 Proposta de Plano de ação para implementação do Balanced Scorecard........ 121

    5 Considerações Finais ............................................................................................. 124

    REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 128

    APÊNDICE ..................................................................................................................... 141

    APÊNDICE I - Descrição de Indicadores .................................................................... 141

    APÊNDICE II - Plano de Iniciativas ............................................................................ 174

    APÊNDICE III - Questionário I ................................................................................... 178

    APÊNDICE IV - Questionário II .................................................................................. 182

    APÊNDICE V - Roteiro de Entrevista ......................................................................... 184

  • 13

    1. INTRODUÇÃO

    1.1. Contextualização do tema

    Aumentar o acesso à universidade ainda é um dos grandes desafios para o governo

    brasileiro, contudo, as diversas ações de infra-estrutura e execução de políticas públicas de

    acesso ao ensino superior, inclusive as classes sócio-econômicas mais desfavorecidas, auxili-

    am na transformação de cenário nas Instituições Federais de Ensino Superior – IFES (LEITE,

    2015).

    Com a implementação do Plano Nacional da Educação (PNE), o governo tentou diri-

    mir problemas ligados à educação superior no Brasil, como: expansão, qualidade e democrati-

    zação. Reverter o quadro no qual o acesso à universidade é uma opção reservada às elites, foi

    por muito tempo, o maior dos desafios a serem ultrapassados. Como ações efetivas, têm-se a

    interiorização das IFES que geram mudanças drásticas na dinâmica dos municípios e regiões

    próximas, catalisando o desenvolvimento humano local a partir da formação acadêmica e pro-

    fissional dos próprios habitantes que não tem condições de deslocamento para outras regiões

    (PACHECO, 2014). Somente no Nordeste, o crescimento de ingressos nas universidades che-

    ga a 94% (INEP/MEC, 2015). Esse dado revela os esforços realizados na tentativa de diminu-

    ir a lacuna existente no acesso ao ensino superior.

    Contudo, o avanço das políticas de acesso à classes historicamente desfavorecidas tra-

    zem consigo problemas que são reflexos de uma sociedade desequilibrada quanto aos aspec-

    tos socioeconômicos. O novo perfil do estudante universitário brasileiro demanda uma aten-

    ção especial das IFES que executam o Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNA-

    ES, que tem como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação

    superior pública federal (decreto 7.234/2010).

    Diante desses aspectos, as Pro - Reitorias Estudantis das respectivas IFES se deparam

    com prioridades estratégicas na assistência estudantil que outrora, praticamente, não existiam

    (FONAPRACE, 2010). Apesar da clareza da problemática, a operacionalização das ações é o

    ponto crítico nas instituições de ensino, tendo em vista que muitas universidades públicas não

    conseguiram cumprir com o planejado para alcance das metas do Programa de Apoio a Planos

    de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - Reuni para receber o aumento

  • 14

    exponencial dos ingressos e executar as ações desenvolvidas nas áreas designadas pelo PNA-

    ES com excelência. Ao analisar a reestruturação das políticas públicas, percebe-se um Estado

    mais voltado a sociedade (usuário); especificamente às políticas públicas estudantis que de-

    mandam uma reforma administrativa e gestão nas IFES que compreende um maior foco no

    usuário-aluno (PACHECO, 2014; LEITE, 2015).

    O sucesso dessa política depende diretamente do planejamento estratégico a partir da

    análise do ambiente, atendimento das diretrizes organizacionais, implementação e controle

    estratégico que compreenda uma melhoria contínua no processo de execução das ações onde

    sua importância é reforçada pela necessidade de desenvolvimento nos períodos de turbulên-

    cia, transição e incertezas (CERTO, 2010; SILVA 2013). Para tanto, é essencial uma ferra-

    menta de mensuração que possibilite ao tomador de decisão uma visão ampla sobre as variá-

    veis e indicadores que auxiliem o acompanhamento das operações para a condução das metas

    e objetivos organizacionais.

    Desse modo, a ferramenta mais adequada para identificar variáveis de causa-efeito e

    estipular indicadores de medição é o Balanced Scorecard (BSC). Essa ferramenta permite aos

    gestores analisar a organização sob várias perspectivas e possibilita o alinhamento estratégico,

    sendo possível concentrar os esforços nos pontos críticos que necessitam de ações incremen-

    tais ou estruturais tendo em vista a melhoria contínua do desempenho e alcance de uma maior

    efetividade. O Balanced Scorecard ao relacionar o planejamento, objetivo e indicadores com

    a estratégia institucional garante um alinhamento das ações estratégicas, possibilitando a auto-

    avaliação de desempenho e atualização da estratégia organizacional tornando o planejamento

    dinâmico (KAPLAN E NORTON, 1997; GUIMARÃES, 2010; LADEIRA et al, 2010).

    Nesse panorama, o presente trabalho teve como motivação principal a mudança da

    gestão política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e a necessidade de alinhamento

    entre as novas propostas voltadas aos discentes da graduação e as ações a serem desenvolvi-

    das pela Pro-Reitoria Estudantil (PROEST) da UFAL, balizados pelo planejamento estratégi-

    co setorial, o Plano de Assistência Estudantil e o Plano de Desenvolvimento Institucional da

    UFAL (PDI) que afirma a responsabilidade social da UFAL na concessão do “apoio financei-

    ro aos/às discentes em situação de risco e vulnerabilidade social, prioritariamente, a fim de ser

    provida uma condição favorável aos estudos, bem como ser uma fonte motivadora para am-

    pliação do conhecimento [...]” (PDI; 2013. P. 92).

  • 15

    A Pro-Reitoria Estudantil é uma das seis pro-reitorias que compõem a estrutura orga-

    nizacional da UFAL cujo um dos principais objetivos é superintender, planejar e coordenar as

    políticas e atividades estudantis, promovendo ampla integração do corpo discente, da comuni-

    dade e Universidade (UFAL, 2014). A PROEST possui uma posição estratégica para a cons-

    trução e consolidação da política da nova gestão institucional que tem como um dos pilares a

    garantia do desenvolvimento acadêmico dos discentes com o perfil de vulnerabilidade socioe-

    conômica que, através das políticas de acesso ao ensino superior, vem crescendo dentro das

    IFES (FONAPRACE, 2016).

    A Pro-Reitoria Estudantil possui uma estrutura descentralizada com núcleos de assis-

    tência estudantil nos campi de Arapiraca, Delmiro Gouveia, Palmeira dos Índios, Penedo e

    Santana do Ipanema. Apesar dos núcleos estarem vinculados as diretrizes determinadas pela

    gerência da assistência estudantil do Campus A.C. Simões, os mesmos possuem autonomia

    para desenvolver ferramentas e metodologias que atendam as particularidades dos seus res-

    pectivos expedientes. A PROEST conta ainda com duas coordenações e duas gerências onde

    se encontram servidores com formação acadêmica e profissional de diversas áreas, responsá-

    veis pela elaboração, planejamento e execução de políticas estudantis e ações acadêmicas.

    Em razão do processo de modernização da política, com fortes reflexos na gestão or-

    ganizacional, a Pro-Reitoria Estudantil ocupa um espaço essencial para a concretização do

    plano de gestão dos próximos anos, com o desafio de administrar os anseios dos discentes

    harmonizando com a capacidade econômico-financeira em um cenário de contingenciamento

    de gastos e reestruturação político-administrativa. Keinert (2007) comenta que o novo contex-

    to exige do administrador público a capacidade de gerenciar a participação da comunidade na

    construção das diretrizes estratégicas. Essas mudanças introduziram um novo paradigma or-

    ganizacional com um entendimento transversal das organizações, onde a interação com ambi-

    ente, cliente, colaboradores com foco em resultados é fundamental.

    1.2. Problemática e Justificativa

    A Pro-Reitoria Estudantil, a partir das reivindicações da comunidade acadêmica, mais

    intensamente por parte dos discentes, nota a necessidade de uma oferta de maior expressivi-

    dade, capilaridade e qualidade nos seus serviços quanto unidade executora das políticas públi-

    cas estudantis (SANTOS, 2016). Assim como o atendimento legal do PNAES que exige uma

    avaliação efetiva quanto a ampliação da permanência e ao sucesso acadêmico de estudantes

    em condição de vulnerabilidade social e econômica na instituição (Decreto 7.416/2010).

  • 16

    O Plano de Desenvolvimento Institucional 2013-2017 traz a Pro-Reitoria Estudantil

    como responsável pela operacionalização, acompanhamento e avaliação da Política de Assis-

    tência Estudantil, em nível local, que deve ocorrer de forma contínua e articulada com as de-

    mais políticas governamentais, pois, sendo uma política de inclusão, constitui-se num meca-

    nismo de democratização do Ensino Superior (PDI/UFAL, 2013).

    Dessa forma, entende-se que a melhoria dos processos gerenciais e operacionais da

    PROEST é uma preocupação anseio da administração da própria instituição. E, devido ao

    aumento significativo da demanda - que vem crescendo a cada ano - e a estagnação do mon-

    tante de recursos repassados para execução do PNAES, a política de avaliação de programas e

    ações desenvolvidos pela PROEST torna-se ainda mais indispensável a fim de que seja bene-

    ficiado o maior número possível de alunos. A ferramenta de avaliação deve utilizar como nor-

    teador as variáveis dentro das áreas temáticas estabelecidas no Fórum Nacional dos Pro-

    Reitores de Assuntos Comunitários Estudantis (2007), a saber: Permanência, Desempenho

    Acadêmico, Assuntos da Juventude, Cultura, Lazer e Esporte.

    Atualmente, a Pro-Reitoria Estudantil realiza grande parte das suas ações utilizando-se

    apenas de planejamento operacional sem avaliação prévia do nível de prioridade, solidez, ma-

    turidade e efetividade. O atual método requer uma análise e intervenção a fim dirimir os pro-

    blemas gerados devido a falta de planejamento estratégico setorial eficaz e ferramentas robus-

    tas de avaliação de desempenho dos programas e ações.

    Portanto, quais os melhores indicadores para medição do desempenho que direcionam

    recursos e esforços com eficiência e eficácia a fim de atender todas as áreas de atuação postu-

    ladas PNAES e PDI 2013-2017?

    Em face do exposto, o estudo volta-se a uma proposta de intervenção objetivamente a

    Pro-Reitoria Estudantil a fim de construir uma ferramenta de gestão que auxilie a equipe e os

    gestores na execução das ações norteadas pelo planejamento estratégico voltado a superar

    antigos e decorrentes problemas que dificultam o desenvolvimento acadêmico pleno dos dis-

    centes da Universidade Federal de Alagoas.

  • 17

    1.2.1. Objetivo Geral

    Propor um modelo gerencial de suporte ao planejamento estratégico e avaliação de de-

    sempenho a partir da perspectiva do Balanced Scorecard (BSC) aplicado a Pro - Reitoria Es-

    tudantil da Universidade Federal de Alagoas.

    1.2.2. Objetivos Específicos

    a) Levantar e classificar os pontos críticos para cumprimento do Programa Nacional de

    Assistência Estudantil na UFAL

    b) Analisar o planejamento setorial e o alinhamento estratégico com a política institucio-

    nal e as diretrizes das políticas públicas de assistência estudantil.

    c) Analisar o cenário de atuação a partir do cruzamento entre as pontuações obtidas no

    ambiente interno (Forças e Fraquezas) e ambiente externo (Oportunidades e Amea-

    ças).

    d) Definir indicadores de desempenho que norteiem as medidas de gestão tomadas para

    alcance dos objetivos.

    e) Descrever os indicadores a partir de um painel de controle com metas e métricas.

  • 18

    2. REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1. As Políticas Públicas e a Justiça Social: A necessidade latente de uma Política Públi-

    ca de Assistência Estudantil

    Inicialmente, é necessário esclarecer os limites entre as diversas acepções que a litera-

    tura traz sobre Políticas Públicas (policies) para que seja possível entender o conceito de Polí-

    ticas Públicas de Assistência Estudantil.

    A literatura trata o conceito de políticas públicas sob diversos prismas. Lynn (1980)

    afirmou que política pública é o conjunto de ações governamentais que produzam efeitos es-

    pecíficos. Dye (1987. P.1) sintetizou a definição de política pública como “o que o governo

    escolhe fazer ou não fazer”. Laswell (1956) definiu que decisões e análises sobre política pú-

    blica implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, o porquê e que diferença

    faz. Em uma visão mais atual, a política pública trata da gestão dos problemas e das demandas

    coletivas através da utilização de metodologias que identificam as prioridades, racionalizando

    a aplicação de investimentos e utilizando o planejamento como forma de se atingir os objeti-

    vos e metas predefinidas.

    Carvalho (2013) afirma que a análise sobre políticas públicas necessita de uma visão

    multifacetada dos diversos fatores envolvidos, como instituições, atores, interesses econômi-

    cos, beneficiários, ideologia, dentre outros. Para análise do conteúdo das políticas públicas,

    utilizam-se tipologias desenvolvidas ao longo do tempo, por diversos autores. Gerston (2010)

    define políticas públicas como a combinação de decisões básica, compromissos e ações feitas

    por aqueles que detêm ou influenciam cargos de autoridade do governo. Segundo Secchi

    (2010), estas tipologias são esquemas de interpretação e análise de determinado fenômeno.

    Para Rua e Romanini (2013) é possível classificar e examinar as políticas públicas com base

    em diferentes combinações de distintas variáveis. Como principais tipologias têm-se:

    a) Tipologia de Lowi - alerta para uma percepção segundo a qual a “política de-

    termina a política” (LOWI, 1972, p. 299). A tipologia identifica a política pú-

    blica de acordo com o impacto esperado na sociedade. O modelo estabelece

    quatro tipos: a) regulatórias: Envolvem discriminação no atendimento das de-

    mandas de grupos distinguindo os beneficiados e prejudicados, estabelecendo

    controle, regulamento e padrões de comportamento; b) distributivas: quando

    benefícios alocados beneficiam necessidades individualizadas; c) redistributi-

  • 19

    vas: concessão de benefícios a um grupo específico, intervindo na estrutura

    econômica social, através de mecanismos que diminuam a desigualdade; e d)

    constitutivas: “definem as competências, jurisdições, regras da disputa política

    e da elaboração das políticas públicas” (SECCHI, 2010, p.18)

    b) Tipologia de Wilson: “ao contestar as afirmações de Lowi, construiu uma tipo-

    logia cujo critério é o padrão de distribuição dos benefícios e dos custos da po-

    licy.” (WILSON, 1973 apud RUA E ROMANINI, 2013, p. 48). Segundo Rua e

    Romanini a tipologia de Wilson pode ser classificada em: a) Clientelista: bene-

    fícios concentrados e custos distribuídos; b) Majoritárias: benefícios e custos

    distribuídos pela coletividade; c) Empreendedoras: benefícios coletivos e cus-

    tos concentrados sobre certos grupos; e d) Grupo de Interesse: benefícios e cus-

    tos estão concentrados sobre certos grupos.

    c) Tipologia de Gormley: defende que os problemas diferem quanto à complexi-

    dade e quanto ao conflito entre os atores afetados. Os padrões de interação dos

    atores (politics) nas políticas regulatórias variam sistematicamente entre as is-

    sue areas, a depender do grau de visibilidade das políticas (saliência) e a ne-

    cessidade de conhecimento especializado para formulação e implementação de

    uma política pública (complexidade técnica) (GORMLEY, 1986). Os padrões

    identificados por Gormley (1986, apud Rua e Romanini, 2013, p. 49) são: a)

    política de sala operatória: alta complexidade técnica e saliência; b) política de

    sala de reuniões: alta complexidade técnica e baixa saliência; c) política de au-

    diência: baixa complexidade técnica e alta saliência; e d) política de baixo es-

    calão: baixa complexidade técnica e saliência.

    d) Tipologia de Gustafsson: adota um critério de tipificação baseado na intenção

    dos governantes de implementar a política e a disponibilidade de conhecimento

    para sua formulação e implementação. Divide-se em: a) política real: há inten-

    ção e conhecimento disponível; b) pseudopolítica: há intenção, mas não há co-

    nhecimento disponível; c) política simbólica: não há intenção, mas há conhe-

    cimento disponível; e d) política sem sentido: não há intenção nem conheci-

    mento disponível (GUSTAFSSON, 1983, p. 269-287).

    De forma mais sucinta, Rua e Romanini tipificam as políticas públicas de acordo com

    suas características setoriais, que vão além dos aspectos administrativos. Podem ser classifi-

    cadas em:

  • 20

    “Políticas sociais: destinadas a prover o exercício de direitos sociais como saúde, edu-

    cação, habitação, previdência social; Políticas Econômicas: tem como objeto a ges-

    tão da economia interna visando a promoção da inserção do país na economia exter-

    na. Ex.: política monetária, cambial, fiscal; Políticas de Infraestrutura: aquelas dedi-

    cadas a assegurar as condições para a implementação e a consecução dos objetivos

    das políticas econômicas e sociais. Ex.: política de transporte rodoviário, hidroviá-

    rio, ferroviário; Políticas de Estado: aquelas que visam garantir o exercício da cida-

    dania, a ordem interna, a defesa externa e as condições essenciais à soberania nacio-

    nal. Ex.: política de direitos humanos, segurança pública, defesa, relações exterio-

    res.” (2013, p. 52).

    Referente a ‘Política de Estado’, essa tipologia refere-se especificamente às “policy

    areas” relacionados ao papel fundamental do Estado. Diferente das políticas de governo, que

    são políticas passageiras vigorando somente durante o mandato de seus formuladores. As po-

    líticas de governo podem torna-se uma política de Estado, dependendo da sua essencialidade e

    viabilidade (BRANT, 2010; RUA; ROMANINI, 2013). A política de assistência estudantil é

    um exemplo de política de governo, mas que deveria ser tratada como política de Estado sob a

    égide da Constituição Federal de 1988.

    Rua e Romanini discutem ainda sobre outro critério de classificação para as políticas

    sociais, tendo como critério a finalidade da política pública:

    “Políticas Compensatórias: implementadas com o propósito de minimizar distorções

    sociais profundas. Ex.: políticas de cotas, políticas de demarcação de terras indíge-

    nas; Políticas Emancipatórias: aquelas que se dirigem ao empoderamento e a auto-

    nomização dos grupos sociais inicialmente vulneráveis, de modo a promover sua in-

    dependência frente à ação do Estado. Ex.: reforma agrária, inclusão produtiva, quali-

    ficação profissional.” (2013, p.51).

    Rua e Romanini lançam ainda uma discussão sobre dois critérios relevantes para clas-

    sificar as políticas públicas, quanto à natureza ou grau de intervenção na realidade:

    “Políticas Estruturais: destinam-se a interferir em relações estruturais como renda,

    emprego, produtividade. Ex.: política de geração de empregos, política de desenvol-

    vimento produtivo; Políticas Conjunturais ou emergenciais: representam interven-

    ções tópicas, orientadas para aliviar uma situação temporária. Ex.: a redução da fo-

    me.” (2013, p. 51).

    As autoras utilizam ainda como critério a abrangência, classificando as políticas públi-

    cas em:

    “Políticas Universais: aquelas anunciadas a todos os cidadãos. Ex.: SUS; Políticas

    Segmentais: aquelas que caracterizam um fator determinado (como idade, condição

    física, gênero). Ex.: Estatuto do Idoso e política de cotas no ensino superior; Políti-

    cas Fragmentadas: aquelas designadas a grupos específicos dentro de cada segmento

    da sociedade. Ex.: Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).” (RUA e

    ROMANINI, 2013. P. 52).

  • 21

    Apesar dos vários métodos de análise para classificar as políticas públicas, o objetos

    em contextos diversos, o objetivo sempre se resume a resolução de problemas visíveis, deno-

    minada de “problema público”, segundo a abordagem multicêntrica.

    Secchi analisa que:

    Um problema expressa a diferença entre a situação atual (um status quo ‘inadequa-do’) e um ideal possível, onde para um problema ser considerado ‘público’ este deve

    ter implicações para uma quantidade notável de pessoas. (2010, p. 7).

    A essência conceitual das políticas públicas é o problema público. Desse modo, o que

    determina se uma política é pública, ou não, seria a sua intenção de responder a um problema

    “público” (não um problema político), independe dos atores sociais e executores da política

    (SECCHI, 2010; RUA; ROMANINI, 2013).

    As políticas públicas constituem um dos meios de concretização dos direitos que estão

    codificados nas leis de um país. Nesse sentido, a “Constituição não contém políticas públicas,

    mas direitos cuja efetivação se dá por meio de políticas públicas”. Percebe-se que as políticas

    públicas devem sair do nível abstrato dos direitos para a concretização de projetos e progra-

    mas que viabilizem a o plano de governo e a justiça social.

    Quanto a isso, Dias e Matos (2012) explicam que uma política pública implica o esta-

    belecimento de uma ou mais estratégias orientadas à solução de problemas públicos e/ou à

    obtenção de maiores níveis de bem-estar social. Resultam de processo de decisão surgido no

    seio do governo com participação da sociedade civil, onde são estabelecidos os meios, agentes

    e fins das ações a serem realizadas para que se atinjam os objetivos estabelecidos.

    Grande parte dos tipos descritos é orientada para uma finalidade comum de satisfação

    das necessidades sociais e atendimento das demandas socialmente expressas, como aponta

    Rua e Romanini (2013). Através das políticas públicas se promove a justiça social, que influ-

    encia diretamente a vida dos cidadãos e o caminho da sociedade. Através da justiça social é

    possível diminuir drasticamente as diferenças de oportunidade, aumentando a potencialidade

    do ser, já a inexistência dessa igualdade vai à contramão da liberdade e, conseqüentemente, do

    desenvolvimento do indivíduo. Como esclarece Sen (2010, p. 67), “toda forma de privação de

    capacidade é considerada como uma perda da amplitude da liberdade pessoal”. Tem-se como

    exemplo: fome, analfabetismo, doenças físicas e mentais. Segundo Sen (2010), essas capaci-

    dades representam a “liberdade substantiva”, que permitem um maior leque de escolhas para

  • 22

    cada indivíduo. Essas afirmações reforçam o entendimento quanto a necessidade de políticas

    públicas estruturais e emergenciais na busca do equilíbrio social.

    Sen (2010) frisa que a expansão das “capacidades” pode ser aumentada pela política

    pública – como meio -, mas também, pode ser influenciada pelo uso efetivo das capacidades

    participativas do povo. O autor também cita que as “liberdades instrumentais” devem ser con-

    sideradas no processo social de desenvolvimento, pois estão relacionadas às liberdades políti-

    cas, às facilidades de mercado e às oportunidades sociais. Ou seja, A justiça social só é alcan-

    çada através das “liberdades instrumentais” que condicionam a “liberdade substantiva” e, as-

    sim, potencializar o desenvolvimento humano.

    Tais implicações levantadas por Sen, de certa forma, podem ser consideradas com-

    plementares às ideias de Rawls, que partem de uma concepção geral de justiça baseada na

    ideia de que todos os bens primários – liberdades, oportunidades, riqueza e entre outros -,

    devem ser distribuídos de maneira igual ou compatível com o sistema semelhante. Rawls

    (2000) argumenta que os “princípios de justiça” emergem na posição original através de um

    acordo unânime:

    a) Cada pessoa tem um direito igual a um esquema plenamente adequado de li-

    berdades básicas iguais que seja compatível com um esquema similar de liber-

    dade para todos;

    b) As desigualdades sociais e econômicas devem satisfazer duas condições. Pri-

    meira, elas devem estar associadas a cargos e posições abertos a todos em con-

    dições de igualdade equitativa de oportunidades. Segunda, elas devem ser para

    o maior benefício dos membros menos favorecidos da sociedade.

    Resta claro que a visão da liberdade adotada envolve tanto os processos que permitem

    a liberdade de ações e decisões como as oportunidades reais que as pessoas têm, dadas as suas

    circunstâncias pessoais e sociais. E, assim como há a expansão da capacidade, também pode

    haver a sua diminuição através da privação de “liberdade” que pode surgir em razão de pro-

    cessos inadequados – como a violação do direito ao voto ou de outros direitos políticos ou

    civis -, ou da falta de oportunidade para realizar o que gostariam – também podem ser deno-

    minadas de condições, como a fome, analfabetismo.

    É importante frisar que Sen estabelece uma relação de causa e efeito entre liberdades

    instrumentais e liberdades substantivas partindo do plano estatal (ações) até o indivíduo e o

  • 23

    desenvolvimento das suas capacidades. Já Rawls (2000) coloca que é preciso se estabelecer

    um sistema padronizado com foco na justiça e isonomia.

    Leite (2015), em seu trabalho, salienta o papel do Estado sobre os arranjos sociais e a

    mobilidade dos indivíduos entre as classes sociais. A autora esclarece que, atualmente, o Bra-

    sil se encontra em um social-liberalismo onde o Estado, através das políticas públicas, tenta

    amenizar as imperfeições do sistema capitalista que oprime as classes mais desfavorecidas

    economicamente.

    O social-liberalismo surge como resposta às mobilizações de movimentos sociais con-

    tra a postura neoliberalista dos governos que, historicamente, atendem aos anseios da classe

    burguesa que, por sua vez, utiliza-se de mão-de-obra barata gerada pela desigualdade social

    provocada pela própria conjuntura político-econômica de livre mercado com interferência

    mínima do Estado. Desse modo, as mobilizações forçaram os gestores públicos a fazer uma

    revisão de suas posições políticas e ideológicas devido ao recrudescimento da pobreza e da

    desigualdade social a nível mundial (Leite, 2015)

    Pode-se afirmar que as políticas públicas, em geral, implicam o estabelecimento de es-

    tratégias orientadas à solução de problemas públicos e/ ou à obtenção de maiores níveis de

    bem-estar social, resultando de um processo de decisão entre o governo com participação da

    sociedade civil, onde são estabelecidos os meios, agentes e fins das ações a serem realizadas

    para que se atinjam os objetivos estabelecidos (DIAS; MATOS, 2012).

    Em suma, os objetivos das políticas públicas sociais estão voltados ao bem-estar, ao

    equilíbrio e a justiça social e, nesse sentido, são evidenciadas pela política pública de assis-

    tência estudantil quando considerado o argumento de Rawls quanto a desigualdades social e

    econômica e aos efeitos negativos das mesmas sobre a parcela mais pobre da sociedade. Par-

    tindo desse pensamento, o governo brasileiro, através de uma política pública de assistência

    estudantil e ações afirmativas, elaborou e implementou programas de reestruturação e sociais

    com objetivo de diminuir as desigualdades historicamente acumuladas com prejuízo direto às

    camadas sociais mais baixas e marginalização dos mesmos.

    É importante observar que as teorias expostas anteriormente não são excludentes, ou

    seja, uma ou mais característica presente em uma das teorias pode e faz parte de outras. O

    próprio PNAES, como um dos resultados da política pública estudantil, apresenta característi-

    cas classificações diversas quanto a tipologia em política pública, a saber:

  • 24

    Quadro 1 - PNAES e o seu enquadramento em múltiplas tipologias nas políticas públicas

    Política Social Destinada a prover exercício de direitos sociais

    Política de Audiência

    Formulação não demanda conhecimentos especializados,

    mas atrai muita atenção da sociedade, freqüentemente por

    envolver ideologia e valores.

    Política Compensatória São implementadas devido as distorções sociais profun-

    das

    Política Conjuntural Representam intervenções orientadas para aliviar situa-

    ções específicas

    Política Segmental Implementadas em segmentos específicos por fatores ou

    critérios determinados.

    Fonte: Elaborado pelo autor (2017)

    A política de assistência estudantil atua em um novo contexto nas Instituições Federais

    de Ensino Superior (IFES) onde os programas de reestruturação de acesso promoveram um

    maior fluxo nos ingressos do ensino superior por jovens de classes historicamente desfavore-

    cidas, sendo essa nova política indispensável para a busca da justiça social e desenvolvimento

    humano pleno da sociedade.

    2.1.2. A Política Pública de Assistência Estudantil e o PNAES: Um Breve Histórico da

    sua Construção no Brasil

    A política pública de assistência estudantil foi construída a partir de documentos, pes-

    quisas e reuniões promovidas pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitá-

    rios e Estudantis (FONAPRACE) desde meados de 1987. Os esforços concentravam-se na

    sensibilização junto ao Ministério da Educação (MEC) sobre a necessidade definição de polí-

    ticas de ação que atendessem a demanda latente de apoio a permanência dos estudantes nas

    IFES (FONAPRACE, 2012).

    Segundo Raasch (2012) durante o acentuado período de fortes movimentos sociais e

    político contra a Ditadura Militar, marcado pelo processo de redemocratização da sociedade

    brasileira, surgem duas grandes frentes políticas de embate sobre as questões educacionais e a

    assistência estudantil: A criação do Fórum Nacional dos Pró-reitores de Assuntos Comunitá-

    rios e Estudantis (FONAPRACE) e o apoio da Associação Nacional dos Dirigentes das Insti-

    tuições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), no sentido do fortalecimento das políticas

    de assistência nas IFES. Vasconcelos (2009) cita que, em 1987, o FONAPRACE e a ANDI-

    FES se destacaram na defesa da integração regional e nacional das instituições de ensino su-

  • 25

    perior, objetivando garantir a igualdade e oportunidades aos estudantes das IFES na perspec-

    tiva do direito social.

    Carvalho (2013) esclarece que o FONAPRACE foi resultado da articulação entre re-

    presentantes das instituições de ensino superior que buscavam o estabelecimento de uma polí-

    tica nacional de assistência estudantil. Desde então, o FONAPRACE se instalou como órgão

    assessor da ANDIFES, não como órgão de classe, mas como grupo de formuladores e execu-

    tores que formaram uma coalizão na defesa da assistência estudantil como uma política públi-

    ca de direito.

    Durante muitos anos, foi discutida a assistência estudantil por esse fórum tendo sem-

    pre como ponto-chave a incorporação dos estudantes em situação de vulnerabilidade socioe-

    conômica no processo de democratização da universidade pública e gratuita (Carvalho, 2013).

    A atuação do fórum sempre foi pautada na produção de debates e documentos e na busca de

    apoio político, junto às autoridades do legislativo e executivo (FONAPRACE, 2007).

    Leite (2015) acrescenta que a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Secretaria

    Nacional de Casas de Estudantes (SENCE) também agiram como atores importantes no pro-

    cesso de reivindicação com pressão política articulada pelos próprios estudantes e mobiliza-

    ções nacionais. Essas representações legítimas dos estudantes lutaram juntamente com o FO-

    NAPRACE para sensibilizar o MEC da importância da assistência estudantil institucionaliza-

    da levando em consideração casos de total colapso da mesma em muitas IFES. Apesar dos

    discursos de todas as representações serem convergentes para um ponto em comum, não havia

    provas quantitativas da real necessidade ou situação enfrentada em cada uma das instituições.

    Desse modo, com objetivo de levantar um diagnóstico situacional, para embasamento

    dos argumentos junto ao governo da necessidade de uma política pública de assistência estu-

    dantil institucionalizada, o FONAPRACE realizou duas pesquisas nacionais para traçar o per-

    fil socioeconômico e cultural dos discentes de graduação das IFES. A primeira entre 1996 e

    1997 e a segunda entre 2003 e 2004. Para traçar o perfil socioeconômico e cultural dos estu-

    dantes de graduação das IFES, foi adotado o critério da Associação Nacional de Empresa de

    Pesquisa (ANEP). Constatou-se que 42,8% dos estudantes pertenciam as categorias C, D e E

    – categorias que englobam alunos provenientes de famílias cujos chefes têm atividades ocu-

    pacionais que exigem pouca ou nenhuma escolaridade. As condições socioeconômicas dos

    estudantes de graduação das IFES refletem uma realidade semelhante àquela e que é submeti-

    da a população brasileira. Em condições adversas, o desempenho acadêmico é prejudicado,

  • 26

    pois os estudantes não dispõem de recursos para suprirem suas necessidades básicas e, ainda

    menos, para despesas típicas do universitário (FONAPRACE, 2007).

    As pesquisas de perfil socioeconômico dos estudantes realizado pelo FONAPRACE

    sustentaram os argumentos colocados pelos pro-reitores em reuniões junto ao governo, de-

    monstrando que para alcançar a plenitude acadêmica, é necessário associar à qualidade do

    ensino ministrado uma política efetiva de investimento em assistência, a fim de atender às

    necessidades básicas de moradia, alimentação, saúde, esporte, lazer, cultura, inclusão digital,

    transporte, apoio acadêmico e outras condições (FONAPRACE, 2014).

    Já em 2001, é aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE), atendendo as reivindi-

    cações diretas do FONAPRACE e, posteriormente, o Plano Nacional de Assistência Estudan-

    til (PNAES). Esse programa demonstra o esforço do Estado em cumprir suas obrigações regi-

    das pela a Constituição Federal de 1988, que consagra a educação como dever do Estado e da

    Família (art. 205, caput) e tem como princípios a igualdade de condições de acesso e perma-

    nência na escola (art. 206, I).

    Outro fator importante para a implementação do PNAES, foi a instituição do Progra-

    ma de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI),

    cujos principais objetivos são: garantir às universidades as condições necessárias para a am-

    pliação do acesso e permanência na educação superior; assegurar a qualidade por meio de

    inovações acadêmicas; promover a articulação entre os diferentes níveis de ensino, integrando

    a graduação, a pós-graduação, a educação básica e a educação profissional e tecnológica; e

    otimizar o aproveitamento dos recursos humanos e da infraestrutura das instituições federais

    de educação superior (art. 1º, decreto 6.096/2007). O REUNI é uma das ações integrantes do

    Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) em reconhecimento ao papel estratégico das

    universidades federais públicas para o desenvolvimento econômico e social.

    As medidas pós-REUNI mudaram drasticamente as IFES, aumentando exponencial-

    mente o número de ingressos das classes historicamente desfavorecidas, marginalizadas e,

    conseqüentemente, distantes do ensino superior. Contudo, o ingresso desses alunos é apenas o

    primeiro desafio, pois mesmo após o acesso no ensino superior, o aluno ainda enfrenta os

    mesmos problemas sociais e econômicos, prejudicando o desenvolvimento acadêmico e per-

    manência na universidade.

  • 27

    De acordo com Santiago, Norberto e Rodrigues (2008), em estudo sobre políticas de

    inclusão nas universidades brasileiras, constataram que cerca de 40% da população das clas-

    ses economicamente desfavorecidas não veem na universidade um meio de crescimento pes-

    soal ou ascensão social e aqueles que ingressam esbarram na dificuldade de permanência de-

    vido a problemas preexistentes ao ingresso. Considerando esses aspectos, de exclusão dos

    jovens economicamente desfavorecidos no ensino superior mesmo após o acesso, compreen-

    de-se que a assistência ao estudante nessas condições se faz necessária a profunda desigualda-

    de social encontrada no Brasil (SPOSATI, 2006).

    Alves (2002) ressalta que a busca da redução das desigualdades socioeconômicas faz

    parte do processo de democratização da universidade e da própria sociedade brasileira que

    não se esgota com o acesso à educação superior gratuita. É necessária a criação de mecanis-

    mos eficientes que garantam a permanência dos mais vulneráveis em busca do equilíbrio e

    maior igualdade social. Kingston e Holian (2007) partem do pensamento que a educação é

    peça fundamental da estrutura social e se torna indispensável para a mobilidade social dos

    indivíduos, onde a capacidade dos mesmos está ligada a igualdade de oportunidades. Nesse

    contexto, significa que todas as pessoas, independente de suas origens sociais, têm chances

    iguais de alcançar uma posição social desejável.

    Contudo, o Brasil é um país com cenário oposto ao ideal, com desigualdade econômi-

    ca e social histórica, o Estado não é um catalisador de oportunidades a sociedade que dificulta

    a ascensão social. A concentração de renda onde poucas famílias detêm o poder financeiro

    sobre muitos estados, enquanto a grande parcela da sociedade vive na pobreza, ainda é uma

    realidade.

    A concentração da renda é uma variável importante para a análise de implementação

    das políticas públicas de assistência estudantil, uma vez que a educação é fator fundamental

    para a desconcentração da renda. O Brasil, como exemplo, é um dos países com maior taxa de

    concentração de renda do mundo, revelando um grande problema social, em 2014, obteve

    52,7 no índice de GINI, cuja condição ideal de total distribuição quando o valor é igual a 0 e

    de total desigualdade (concentração total) quando o valor é igual a 100.

    Como explicação para a desigualdade econômica, Marió e Woolcock (2008) desta-

    cam que a contribuição da variável educação na explicação das diferenças individuais de ren-

    da é em torno de 33%. E, apesar do Brasil ter adotado recentemente políticas públicas redis-

    tributivas com objetivo de diminuir a desigualdade econômica, os efeitos de tal política são

  • 28

    apenas incrementais. A real e profunda transformação só acontece pela educação cujo resulta-

    do é alcançado em longo prazo.

    O Gráfico 1 demonstra a desigualdade encontrada entre o Brasil e demais países da

    América:

    Gráfico 1 – Distribuição de Renda nos Países da América– Ano-referência: 2014

    Fonte: Elaborado pelo autor (2017)

    Costa e Gartner (2015) comentam que a redução da desigualdade, de forma eficaz, só

    poderá ser feita através da educação, contudo, esse é um método a longo prazo e com indica-

    dores de difícil medição. Sendo assim, os investimentos em educação não serão automatica-

    mente convertidos em diminuição da desigualdade, contudo, ainda assim necessário para a

    transformação sólida de uma sociedade.

    Em estudo sobre desigualdade de renda e nível de escolaridade, Viana, Salvato e Fran-

    ça (2011) demonstram que há uma forte correlação entre a desconcentração de renda e maior

    nivelamento entre a educação (para todas as classes sociais). Ou seja, quanto maior o nível

    educacional de uma população, menor será a concentração de renda e maior a igualdade e

    justiça social.

    Durante os primeiros mandados do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, percebe-se

    uma aproximação do governo para resolução das pautas propostas pelos movimentos e comu-

    nidade estudantis. Leite (2015) analisa que as diretrizes e decisões estratégicas adotadas pelos

    primeiros mandados do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) em prol da educação par-

    tiram mais fortemente de forças políticas do que ideológicas. As forças políticas (governo e

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Índice de GINI

    Índice de GINI

  • 29

    sociedade) têm maior ou menor intensidade a depender dos fenômenos sociais, conjuntura

    econômica e momento político. Em uma democracia, os interesses de grupos sociais e a to-

    mada de decisão dos governantes (gestor) estão diretamente ligados ao modelo político. Bob-

    bio (2015) esclarece que os atos ocorridos com transparência, diálogo e interesse público fa-

    zem parte do ‘poder visível’ da democracia onde o Estado utiliza-se da sua discricionariedade

    a fim de atender a necessidade e/ou anseios da maioria.

    Nesse contexto, surge o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) em decor-

    rência da pressão social e dos diálogos entre governo e pró-reitores estudantis das IFES com

    objetivo de viabilizar a igualdade de oportunidades entre todos os estudantes e contribuir para

    a melhoria do desempenho acadêmico, a partir de medidas que buscam combater situações de

    evasão.

    2.1.3. O Plano Nacional de Assistência Estudantil e suas implicações nas instituições fe-

    derais de ensino superior

    O Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) foi instituído a partir da Portaria

    Normativa nº 39 de 12 de Dezembro de 2007 que, após um período marcado por diversas dis-

    cussões e encaminhamentos junto à ANDIFES e ao MEC, culminou na sanção do Decreto

    7.234 de Julho de 2010, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com finalidade

    ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal (FO-

    NAPRACE, 2012).

    A construção dos artigos e incisos do Decreto foi dada a partir de estudos realizados

    pelo FONAPRACE e diálogos e acordos em conjunto com o governo. Antes mesmo da publi-

    cação do Decreto alguns princípios, objetivos e áreas temáticas já fora definidas a fim de con-

    templar as medidas assistencialistas mais abrangentes e efetivas aos estudantes das Institui-

    ções Federais de Ensino Superior.

    Segundo o FONAPRACE (2007), o PNAES deve ser regido pelos seguintes princí-

    pios, a saber:

    I. A afirmação da educação superior como uma política de Estado;

    II. A gratuidade do ensino;

    III. A igualdade de condições para o acesso, a permanência e a conclusão de curso nas

    IFES;

  • 30

    IV. A formação ampliada na sustentação do pleno desenvolvimento integral dos estudan-

    tes;

    V. A garantia de democratização e da qualidade dos serviços prestados à comunidade

    estudantil;

    VI. A liberdade de aprender, de ensinar, de pesquisar e de divulgar a cultura, o pensa-

    mento, a arte e o saber;

    VII. A orientação humanística e a preparação para o exercício pleno da cidadania;

    VIII. A defesa em favor da justiça social e a eliminação de todas as formas de preconcei-

    tos; e

    IX. O pluralismo de ideias e o reconhecimento da liberdade como valor ético central.

    Como objetivos específicos relacionam-se:

    I. Promover o acesso, a permanência e a conclusão de curso dos estudantes das IFES, na

    perspectiva da inclusão social e democratização do ensino;

    II. Viabilizar a igualdade de oportunidades aos estudantes das IFES, na perspectiva do di-

    reito social assegurado pela Carta Magna;

    III. Redimensionar as ações desenvolvidas pelas instituições e consolidar programas e

    projetos, nas IFES, relacionados ao atendimento às necessidades apontadas nas pes-

    quisas sobre o perfil do estudante de graduação, a partir das áreas estratégicas e linhas

    temáticas definidas;

    IV. Adequar os programas e projetos articulados e integrados ao ensino, à pesquisa e à ex-

    tensão;

    V. Assegurar aos estudantes os meios necessários ao pleno desempenho acadêmico; e

    VI. Promover e ampliar a formação integral dos estudantes, estimulando e desenvolvendo

    a criatividade, a reflexão crítica, as atividades e os intercâmbios: cultural, esportivo,

    artístico, político, científico e tecnológico.

    Quanto ao desenvolvimento das ações de assistência estudantil, o PNAES, em seu art.

    3º, § 1º elenca as seguintes áreas: moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção à saú-

    de, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso, participação e apren-

    dizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habi-

    lidades e superdotação.

    O PNAES divide-se em áreas estratégicas de atuação com gestão descentralizada das

    ações com objetivo de uma melhor gestão participativa da política pública de assistência estu-

  • 31

    dantil e garantia de condições de permanência e desenvolvimento acadêmico no ensino supe-

    rior, as quais podem ser observadas na tabela 2.

    Quadro 2 – Áreas estratégicas de atuação, linhas temáticas e órgãos envolvidos na proposta de assistência

    estudantil apresentada pelo FONAPRACE para o PNAES

    ÁREAS LINHAS TEMÁTICAS ÓRGÃOS ENVOLVIDOS

    Permanência - Moradia

    - Alimentação

    - Saúde (física e mental)

    - Transporte

    - Creche

    -Condições básicas para atender

    os portadores de necessidades

    especiais

    - Assuntos Estudantis

    - Ensino

    - Pesquisa

    - Extensão

    Desempenho Acadêmico - Bolsas

    - Estágios remunerados

    - Ensino de Línguas

    - Inclusão Digital

    - Fomento à participação políti-

    co-acadêmica

    -Acompanhamento psico-

    pedagógico

    - Assuntos Estudantis

    - Ensino

    - Pesquisa

    - Extensão

    - Parcerias com órgãos públicos

    e entidades com fins sociais.

    Cultura, Lazer e Esporte - Acesso à informação e difusão

    das manifestações artísticas e

    culturais

    - Acesso a ações de educação

    esportiva, recreativa e de lazer

    - Assuntos estudantis

    - Ensino

    - Pesquisa

    - Extensão

    - Parcerias com órgãos públicos

    federais, estaduais, municipais e

    entidades da sociedade civil.

    Assuntos da Juventude - Orientação profissional sobre

    mercado de trabalho

    - Prevenção a fatores de risco

    - Meio ambiente

    - Política, ética e cidadania

    - Saúde, Sexualidade e depen-

    dência química

    - Assuntos Estudantis

    - Parcerias com órgãos públicos

    federais, estaduais, municipais e

    entidades da sociedade civil.

    Fonte: FONAPRACE (2007)

  • 32

    Durante os três primeiros anos do PNAES (2007-2010), instituído pela Portaria Nor-

    mativa nº 39 de 12 de Dezembro de 2007, houve várias reivindicações e discussões quanto a

    melhoria contínua e necessária no próprio Programa e na postura do governo quanto à aloca-

    ção de recursos medidas duradouras por parte dos movimentos estudantis. Devido aos vários

    momentos legítimos para discussão da política de assistência estudantil veio o Decreto Presi-

    dencial 7.234 de Julho de 2010, como resposta positiva do governo sobre o entendimento das

    reivindicações colocadas pelos movimentos e durante os fóruns.

    Contudo, os movimentos estudantis (UNE e SENCE) não estavam satisfeitas apenas

    com o decreto, justificando que a assistência estudantil, como está posta atualmente, não deve

    está sujeita a discricionariedade de um plano de governo ou política de partidos (Leite, 2015;

    FONAPRACE, 2011); para isso seria preciso transformar o PNAES em lei passando de uma

    política pública de governo para uma política pública de Estado.

    A causa teve total apoio da ANDIFES que solicitou ao FONAPRACE o mapeamento

    do perfil social, econômico e cultural dos estudantes de graduação presencial das IFES brasi-

    leiras. O mapeamento (pesquisa) foi intitulado de “III Perfil Socioeconômico e Cultural dos

    Estudantes de Graduação das IFES”, enfatizando que a mesma “serviria de parâmetro na con-

    solidação e transformação do PNAES em um projeto de lei” (FONAPRACE, 2011).

    No relatório consta que a pesquisa tinha como principais objetivos:

    Conhecer o nosso alunado e buscar indicadores para formular políticas de equidade, acesso e assistência estudantil, essenciais no contexto da indissociabilidade entre en-

    sino, pesquisa e extensão, e assim redobrar esforços para garantir a permanência de

    todos os estudantes, viabilizando a conclusão de seus cursos agindo preventivamente

    nas situações de retenção e evasão. Essa pesquisa é referência para a definição de

    várias políticas e ações no âmbito das nossas instituições. Por meio dessas constru-

    ções coletivas poderemos avançar nas políticas de inclusão e assim, discutir, ampliar

    e melhor distribuir os recursos para assistência estudantil (FONAPRACE, 2011,

    p.4).

    Todas as políticas e ações de acesso e permanência formuladas e implementadas nos

    últimos anos já geram reflexos positivos dentro das IFES. Segundo o INEP (2015), o número

    de estudantes considerados em situação de vulnerabilidade econômica – com renda familiar

    per capita de até um salário mínimo e meio – aumentou em 20% dentre o total de estudantes.

    Esse número demonstra o abismo que existia entre as classes sociais mais baixas e o ensino

    superior. A informação ressalta a importância das políticas públicas de permanência estudantil

    e a necessidade do alcance dessa política aos estudantes.

    Assim, pode-se afirmar que:

  • 33

    A promulgação do Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, em 12

    de dezembro de 2007, representa um marco histórico e de importância fundamental

    para a questão da assistência estudantil. Conquista alcançada através do fruto de es-

    forços coletivos de dirigentes, docentes e discentes representando a consolidação de

    uma luta histórica em torno da garantia da assistência estudantil enquanto um direito

    social voltado para igualdade de oportunidade aos estudantes do ensino superior pú-

    blico (VASCONCELOS, 2009, p.16).

    Com a promulgação do PNAES, o governo se compromete formalmente e legalmente

    com assistência estudantil de forma a garantir os direitos antes não observados, como retrato

    desse novo contexto, observa-se o aumento nos investimentos com a educação superior nos

    últimos anos, conforme demonstrado na Tabela 1:

    Tabela 1– Investimento total na educação superior em relação ao PIB – Brasil 2003-2013

    Ano PIB (trilhão) Educação Superior (%)

    2003 1,720 0,9

    2004 1,959 0,8

    2005 2,172 0,9

    2006 2,41 0,8

    2007 2,718 0,9

    2008 3,108 0,9

    2009 3,328 0,9

    2010 3,887 1,0

    2011 4,375 1,1

    2012 4,806 1,1

    2013 5,316 1,2

    Fonte: Adaptado de INEP/MEC e Banco Central do Brasil (2015).

    Desde sua implementação até 2013, o PNAES já recebera do MEC mais de dois bi-

    lhões de reais, sendo o repasse de valor crescente a cada ano, conforme demonstrado no Grá-

    fico 2:

    Gráfico 2 – Evolução do Repasse Financeiro ao PNAES, 2008 - 2013

  • 34

    Fonte: Portal Brasil (2013)

    A distribuição de recursos do Ministério estabelece alguns critérios de seleção, como o

    índice de desenvolvimento humano do município de localização, o número de alunos e vagas

    oferecidas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O esforço e dispêndio financeiro

    são visíveis para cumprir com as obrigações geradas pelo PNAES, contudo, a efetividade só é

    alcançada quando as IFES conseguem executar toda a potencialidade dos projetos em prol dos

    estudantes. Deve haver qualidades essenciais para se garantir resultados positivos das ações

    provenientes das políticas públicas. E, a partir do momento da promulgação do PNAES e a

    realização dos repasses financeiros, as IFES tem uma responsabilidade ainda maior na efetiva

    execução da assistência estudantil.

    As implicações foram imediatas, uma vez que, finalmente, havia uma política com di-

    retrizes claras e recursos financeiros destinados exclusivamente para a assistência estudantil.

    Porém, a concretização do PNAES comporta uma série de responsabilidades estatais devido a

    sua multiplicidade de ações que abrange diversas áreas de atuação direcionada a um grande

    grupo de discentes com dificuldades e limitações, como: socioeconômicas, cultural, física,

    política, educacional, emocional dentre outros. A abrangência do escopo de atuação demons-

    tra o desafio a ser enfrentado pelas IFES responsáveis pelo planejamento e operacionalização

    da política.

    2.1.4. A Assistência Estudantil na Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

    As políticas de assistência ao estudante têm como finalidade garantir a igualdade de

    oportunidades aos estudantes das IFES públicas na perspectiva do direito social; proporcionar

    as condições básicas para sua permanência na instituição e assegurar meios necessários ao

    pleno desempenho acadêmico (RAASCH, 2012; GATTI; SANGOI, 2000).

    Quanto à assistência ao aluno da graduação, a UFAL possui uma Pro-Reitoria Estu-

    dantil (PROEST) responsável pela coordenação e execução dos eixos propostos pelo PNAES.

    A PROEST segue as orientações expressas no Decreto nº. 7. 234, de 19 de Julho de 2010,

    referente ao Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que aponta para a necessida-

    de de os gestores universitários trabalharem com uma visão integral da assistência ao estudan-

    te, garantindo não só o acesso desse estudante às Instituições Federais de Ensino Superior

    (IFES), como também sua permanência sob condições dignas e favoráveis ao seu processo de

    formação profissional (Relatório de Gestão – UFAL, 2014).

  • 35

    De forma objetiva, a Pro-reitoria Estudantil executa as ações através de suas coorde-

    nações e gerências de forma descentralizada a partir da perspectiva de um atendimento priori-

    tário aos alunos em vulnerabilidade social, abordada pelo ISDR (Internacional Strategy For

    Disaster Reduction) e apresentada por De León (2006, p.13), refere-se ao “conjunto das con-

    dições e processos resultantes de fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais que aumen-

    tam a susceptibilidade da comunidade aos impactos e riscos”.

    Em média, a PROEST atende mensalmente 5500 estudantes em diversas ações dividas

    nas quatro áreas de atuação propostas pelo FONAPRACE (Permanência, Desempenho Aca-

    dêmico,Cultura, Lazer e Esporte Assuntos da Juventude). As principais ações desenvolvidas

    pela PROEST em 2015 foram: bolsas BPG, PAINTER, BDAI, ajuda de custo, auxílio mora-

    dia, auxílio alimentação, comensais gratuitos no Restaurante Universitário, Residência Uni-

    versitária, Atendimento psico-pedagógico, Centro de Inclusão Digital e Apoio Acadêmico aos

    alunos com limitações físicas (Relatório de Gestão - UFAL, 2016).

    Prioritariamente, os gastos do PNAES estão relacionados ao custeio de bolsas, auxílios

    e ajuda de custo devido ao perfil socioeconômico de vulnerabilidade de muitos estudantes que

    ingressam na UFAL. A IV Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de

    Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior Brasileiras demonstra que, dentre

    todas as regiões, o nordeste possui 28,21% dos graduandos em vulnerabilidade socioeconô-

    mica, ficando atrás apenas da região sudeste que possui 30,55% (FONAPRACE, 2016).

    A pesquisa reforça ainda que grande parte dos graduandos atendidos pelo PNAES se

    concentra na área de conhecimentos humanos e procuram por estágios ou algum trabalho re-

    munerado para complementar a renda familiar. Fator que pode prejudicar o desenvolvimento

    acadêmico e, posteriormente, profissional do estudante devido a carga horária excessiva, res-

    ponsabilidades dividas e atuação no mercado em área distinta que não agrega valor a forma-

    ção. Isso demonstra a necessidade de uma política e ações que possibilitem ao estudante uma

    permanência diária de maior duração na universidade a fim de que o mesmo possa comple-

    mentar sua formação através do ensino, pesquisa e extensão.

    Apesar do tripé do desenvolvimento acadêmico pleno está contemplada também no

    PNAES, a PROEST utiliza-se principalmente do seu corpo técnico e estrutura própria para

    desenvolvimento das ações sem o envolvimento direto das demais pro – reitorias, que poderi-

    am contribuir diretamente em diversos processos e etapas em ações específicas de impacto

    significativo, maior capilaridade e transparência.

  • 36

    Os números revelam que o gestor deve utilizar-se de um planejamento adequado para

    que todas as ações propostas pelo PNAES sejam atendidas, mas com a devida proporção após

    analisar a realidade local entre perfil, capacidade técnica, estrutura, processos e orçamento. O

    FONAPRACE (2016) aponta que os desafios da assistência estudantil são ainda maiores com

    tendência crescente devido a todo contexto social e as políticas de acesso às universidades

    federais e todas as suas respectivas pro - reitorias estudantis.

    Paralelo ao processo de expansão e interiorização das IFES vivenciado nos últimos

    anos, que garantiu a abertura de novos cursos e a ampliação de vagas, as universidades multi-

    plicaram as situações em que a permanência dos estudantes pressupõe uma atenção especial,

    com o fim de se evitar as altas “taxas de retenção e evasão”, as quais terminam por evidenciar

    negligência ou desperdício dos recursos públicos investidos no ensino superior nos últimos

    anos.

    A política de cotas adotadas como diretriz, no campo das ações afirmativas do governo

    federal, evidencia a decisão governamental de “promover a inclusão social pela educação”,

    item também presente no referido decreto que regulamenta o PNAES. Essa decisão política,

    que garante o acesso e amplia o ingresso de estudantes que vivem sob condições de vulnerabi-

    lidade e risco social, repercute diretamente nas ações da PROEST que tem como objetivo pre-

    cípuo prestar apoio e atendimento aos estudantes, através de políticas que os assistam nas se-

    guintes dimensões: moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção a saúde, inclusão di-

    gital, cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de

    estudantes com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e

    superdotação.

    Contudo, assim como nas demais universidades, a PROEST possui limitações ineren-

    tes a maior parte do setor público, como: capacidade laboral devido ao quadro de corpo técni-

    co reduzido e alocação inadequada, quanto a falta ou má utilização de sistemas gerenciais e de

    informação para auxílio na tomada de decisão, recursos financeiros contingenciados, interfe-

    rência política e processos mal formulados (SANTOS, 2016). Por isso, é de fundamental im-

    portância o mapeamento dos pontos fortes e fracos/ pontos facilitadores e obstrutores nas uni-

    versidades para implementação efetiva da do PNAES, assim como uma ferramenta de acom-

    panhamento e avaliação do desempenho e qualidade.

    Osuna e Márquez (2000) comentam que a avaliação do processo de implementação e

    gestão do programa, trata-se de examinar a maneira na qual ele é gerido e executado. É medir

  • 37

    a capacidade de um organismo em relação à concepção, implementação, monitoramento e

    avaliação de programas e avaliar o grau de envolvimento dos gestores com essas tarefas, a sua

    atitude, a formação, organização e pessoal e a adoção de recursos para realizá-las de forma

    otimizada. Para tanto é preciso conhecer as variáveis de influencia dependentes e independen-

    tes e a relação de causa/efeito entre as mesmas, ou seja, os aspectos-chaves que afetam dire-

    tamente a qualidade do Programa.

    Assim como há variáveis para análise de medição para a política pública de assistência

    estudantil, também se pode analisar o desenvolvimento das áreas apontadas pelo PNAES co-

    mo variáveis de desempenho do Programa pelas Pro - Reitorias Estudantis como responsáveis

    principais pela sua execução.

    Quadro 3 – Variáveis do Plano Nacional de Assistência Estudantil

    Variável Indicador

    Moradia Oferta de residência universitária

    Alimentação Oferta de vagas para comensais

    Manutenção Oferta de bolsas permanência

    Transporte Oferta de transporte para deslocamento

    Intermunicipal e eventos

    Saúde Número de atendimentos e políticas de

    atenção a saúde

    Inclusão digital Oferta de vagas para projetos de I.D

    Cultura, esporte e lazer Oferta de oportunidades e eventos

    Creche Oferta de vagas para alunos

    Apoio psicopedagógico Número de atendimentos

    Participação e aprendizagem de alunos com deficiência Oferta de apoio para participação de con-

    gressos, seminários, eventos; quantidades

    profissionais para auxílio do desenvolvi-

    mento das atividades; quantidade de proje-

    tos de infraestrutura com acessibilidade

    Fonte: Adaptado de Plano Nacional de Assistência Estudantil (portaria normativa nº 39 – 2007)

    As variáveis devem ser analisadas a partir do modelo da oferta x demanda tendo como

    critérios o grau de necessidade na perspectiva dos estudantes e maturidade dos processos refe-

    rentes a cada uma das variáveis e entendimento sobre como deve ser desenvolvida cada uma

    das ações.

    Os indicadores de oferta acima são explicitados no relatório de gestão a fim de atender

    uma solicitação do Tribunal de Contas da União (TCU) evidenciando a forma de cálculo, pe-

    riodicidade de medição e padronização (Relatório de Gestão – UFAL, 2016).

  • 38

    Para isso, se faz necessário um diagnóstico organizacional sobre alinhamento estraté-

    gico das ações e desenvolvimento de uma ferramenta capaz de direcionar os esforços e anali-

    sar o desempenho das ações, atividades e processos.

    2.2. Planejamento: Conceitos e Princípios

    O planejamento surgiu a partir da necessidade de atender a clientela de instituições

    privadas e públicas diante das mudanças ocorridas pela globalização. É considerado como

    início do plano de ação que será futuramente colocado em prática (WRIGHT; KROLL;

    PARNELL, 2009).

    Branco (2014) analisa que através do exercício de planejar aprende-se sobre as de-

    mandas e necessidades externas e sobre a capacidade de resposta da empresa mesmo quando

    não são implementados os planos inicialmente construídos.

    A palavra planejamento pode ser conceituada de diversas formas, segundo muitos au-

    tores, considerando sua amplitude e abrangência. Para tanto, Steiner (1969) estabelece as cin-

    co dimensões do planejamento:

    I. Assunto Abordado (tema): produção, pesquisa, finanças, marketing, recursos

    humanos etc;

    II. Elementos (fases): propósitos, objetivos, estratégias, políticas, orçamentos,

    normas e procedimento etc;

    III. Tempo (extensão): longo, médio ou curto prazo;

    IV. Unidade Organizacional (espaço): onde o planejamento é elaborado. Pode ser

    corporativo, subsidiárias, grupos funcionais, divisões e departamentos etc;

    V. Características (perfil): pode ser representada por complexidade ou simplicida-

    de, qualidade ou quantidade, confidencial ou público, formal ou informal.

    Partindo dos aspectos abordados pelas cinco dimensões anteriormente apresentadas,

    Oliveira (2013) afirma que planejamento pode ser conceituado como um processo desenvol-

    vido para